Revista P&V - GIC 2014

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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS

MARINHA GRANDE

POENTE

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Esta revista faz parte da edição nº 2612 de 5 de junho de 2014 do Jornal da Marinha Grande e não pode ser vendida separadamente

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UM E MUITOS PROJETOS Editorial

Criado no início do presente ano lectivo, o Gabinete de Imagem e Comunicação (GIC) resultou da fusão do Clube de Jornalismo, Jornal Ponto & Vírgula, CalazansTV, Clube de Informática e Gabinete de Imagem. Procurou-se, desta forma, potenciar os recursos humanos afetos aos projetos e constituir uma equipa coesa que, através de diferentes meios de informação e comunicação, assumiu a responsabilidade de dar visibilidade ao que se fez no Agrupamento de Escolas Marinha Grande Poente (AEMGPoente) contribuindo assim para a construção duma nova identidade, ao mesmo tempo que, dando conta das realizações das diferentes escolas, evidenciou a identidade de cada uma delas. O GIC assumiu o compromisso de dar cobertura e difundir, em primeiro lugar, aquilo que nas escolas acontece para além das rotinas, o que constitui o primeiro critério de noticiabilidade. Mas não só. Entendemos que a dinâmica de uma comunidade educativa é toda ela noticiável, porque tudo o que acontece nas escolas é parte integrante da vida dos alunos, dos professores, dos funcionários, dos pais, enfim de todos quantos a integram, e transborda todos os dias, para além dos muros. Por essa razão, demos voz a alunos, professores, funcionários, encarregados de educação e todos aqueles que, vindos de fora para dinamizar atividades, integraram, ainda que por momentos, esta comunidade educativa. Com os recursos humanos e técnicos de que dispomos (sempre escassos face às nossas legítimas ambições), concretizamos cinco edições do Ponto & Vírgula em formato digital, sempre disponíveis na primeira quarta feira de cada mês e, nas mesmas datas atualizámos os programas da CalazansTV. Acreditamos que a pergunta frequentemente ouvida “Quando é que sai?” começa a corresponder a alguma expetativa e á criação de um hábito de ler/ver estes media. O número de visualizações atingidas até à data (mais de 10.100) é outro indicador de confiança, e encoraja-nos a continuar.

Mas um projeto mediático escolar não é viável nem desejável apenas com uma pequena equipa. Por isso, o entendimento dos três professores que constituem o seu núcleo duro (Alice Marques, Carlos Carvalho e José Nobre) é o de que tudo o que fizemos só foi possível com a colaboração de dezenas de alunos e professores que connosco colaboraram, escrevendo reportagens e notícias, enviando textos de opinião, histórias vida, crónicas, desenhos e vídeos com os quais enriquecemos o conteúdo das nossas edições. Uma referência indispensável e um enorme agradecimento vai para a aluna do 11º D, Ana Rita Aparício, responsável pela maior parte das entrevistas editadas no P&V. Queremos realçar também a disponibilidade dos alunos João Sousa e Diogo Oliveira Do curso de Animação 2D/3D graças aos quais foi possível a edição de conteúdos da CalazansTV. A aposta do GIC centrou-se este ano nas edições do jornal P&V e nalguns programas da CalazansTV. O que fizemos mereceu reconhecimento nacional no âmbito dos projetos mediáticos escolares, como pudemos contatar em eventos nos quais estivemos presentes. Foi o caso da nossa participação no III Encontro RTEN subordinado ao tema “As rádios e as televisões escolares ao serviço das comunidades educativas” que decorreu em Lisboa nos dias 9 e 10 de maio. No próximo ano lectivo, o GIC passará a estar integrado numa estrutura educativa mais ampla, Tecnologias Educativas, Comunicação e Imagem (TECI), dele fará parte também o Espaço Memória e, como consta no Regulamento Interno recentemente aprovado, a Rádio Calazans. Mas este médium, teoricamente existente, precisa de entrar “no ar”, isto é de produzir e editar conteúdos/programas, pelo que desde já apelamos aos elementos da comunidade escolar interessados que façam chegar até nós a sua vontade de colaborar. Partimos para este projeto também com o objetivo de realizar oficinas de formação em jornalismo, o que, apesar do fôlego inicial, por

razões várias, nem todas da nossa responsabilidade, não conseguimos concretizar. Por isso, este continuará a ser um objetivo para o próximo ano, para podermos dotar de ferramentas necessárias à produção e edição de conteúdos, uma equipa mais alargada. Esta edição em papel, única, do jornal Ponto & Vírgula, é dedicada essencialmente a duas dinâmicas que envolveram a comunidade no presente ano lectivo: os projetos e a transição para o AEMGPoente. Inclui, portanto, como matérias de fundo, uma entrevista com o “novo” director, Cesário Silva, um texto de reflexão sobre projetos e a rubrica Vox Populi, através da qual, professores e alunos expressam os seus pontos de vista sobre a vida da escola. Para além disso, mantivemos a matriz do P&V digital, publicando opinião, histórias de vida, reportagens e notícias. A equipa do GIC agradece a todos quantos contribuíram para que este projeto se concretizasse e renova os votos de poder continuar a contar com estes colaboradores e com todos os outros que agora, reconhecendo o seu interesse, manifestem vontade de se juntar a nós, para o enriquecer. Um agradecimento especial vai para o ex-presidente da CAP e agora director, Cesário Silva, pela confiança que depositou na equipa do GIC, ao atribui-lhe a responsabilidade de construir e dar visibilidade ao projeto duma comunidade educativa que envolve mais de três milhares de pessoas! A equipa

calazanstv.ccems.pt

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Edição: Jornal da Marinha Grande

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Director: António José Ferreira

Redação: Alice Marques, Eduarde Harbuzyuk, Eulália Cabo, Fernanda Leitão, Filipa Brites, Helena Pires, Jorge Alves, Rui Fernandes, Wilson Francisco

Esta revista faz parte da edição nº 2612 do Jornal da Marinha Grande e não pode ser vendida separadamente

Impressão: Gráfica Diário do Minho

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Coordenação:

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Tiragem: 2000 exemplares

Produção gráfica: gabineteimagem eseacd

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“VAMOS FALAR DE DEPENDÊNCIAS” Alice Marques e Rui Fernandes

Vigiar e (não) Punir! Integrado no Projeto Educação para a Saúde (PES), decorreu no grande auditório da Calazans Duarte, no dia 5 de maio, uma “conversa” sobre drogas, entre técnicos de várias instituições que trabalham com jovens, um grupo de risco de potenciais dependentes. Representantes da Comissão Administrativa Provisória (CAP), do Agrupamento de Escolas Marinha Grande Poente, Gabinete de Apoio ao Aluno e à Família (GAAF), Associação de Pais e Encarregados de Educação, Associação de Estudantes, Programa Escola Segura, Centro de Saúde e Centro de Respostas Integradas (CRI) falaram de consumo de drogas e consequências, em perspetivas diferentes mas integradas. Esperava-se grande afluência de professores, que são, entre todos os que podem agir nos casos de consumo de substâncias ilícitas ou as socialmente toleradas, os primeiros a detetar e a lidar diariamente com as situações, mas isso não se verificou. Apesar da escassez de público, a sessão decorreu como planeada, porque, como disse o coordenador do PES, professor Rui Fernandes, “as sessões fazem-se com os presentes, não com os ausentes”. Este professor de Biologia contextualizou a “conversa” como resultado de contactos com o Centro de Saúde local na preparação de ações do P ES , s e n d o o o b j et i vo s i ste m at i za r o conhecimento impressionista que se tem das situações de consumo de drogas nas escolas e sobretudo “pensar, em conjunto, no que podemos fazer”. Rui Fernandes deu conta daquilo “que se diz por aí: que os alunos consomem e traficam drogas, que nas aulas não se concentram porque chegam pedrados…”. Ele próprio testemunhou situações das quais pode deduzir que “os alunos estiveram a consumir drogas no intervalo do almoço, ouviu conversas de alunos, viu pagamentos entre alunos, fez medições de tensão arterial na aula e verificou tensões excecionalmente baixas…!” A professora Helena Pires acrescentou o seu testemunho relativamente àquilo que julga ser a

presença contínua de um traficante junto à entrada da escola: “o mesmo indivíduo, o mesmo carro, à mesma hora… alunos entram, há movimentos de troca no interior e os alunos saem…” Estas “impressões” foram expostas à agente Margarida, da Escola Segura, com a pergunta: o que faz a polícia? A identificação, o controlo na retaguarda e eventual encaminhamento para a Brigada AntiDroga, são parte da estratégia de dissuasão do consumo de substâncias ilícitas. Contudo, como frisou a agente, “é preciso ter em conta que nós só podemos trabalhar a partir das informações que nos chegam dos professores ou da direção das escolas e a nossa função não é hostilizar nem punir. Essa função cabe a outros organismos e nós trabalhamos em articulação com eles”. Ana Soledade, do CRI, esclareceu as professoras presentes sobre a atual lei portuguesa relativamente ao consumo e tráfico de drogas, que data de 2000. O consumo não é criminalizado, mas o tráfico sim, e existe uma “tabela” que determina, para cada droga, o que se considera posse com intenção de traficar, ou posse para consumo próprio. Esta técnica listou as drogas ilícitas mais consumidas por jovens: cocaína, heroína e ecstasy, esta última não em contexto escolar) mas lembrou que “a droga mais consumida é socialmente tolerada: o álcool”. Adriana Nobre, presidente da associação de estudantes, partilhou a mesma perceção da realidade escolar: “ mesmo que não se veja, quem estiver atento percebe que aqui na escola se consomem drogas – cheira-se, ouvem-se as conversas… eu conheço colegas que consomem, mas desconheço que trafiquem. Uma associação de estudantes pouco ou nada pode fazer, e a perceção que eu tenho é a de que este fenómeno está a alastrar, apesar de haver cada vez mais informação sobre os malefícios do consumo”. A conversa prolongou-se por 2 horas, com a descrição dos procedimentos adotados por cada instituição com responsabilidades na área da

toxicodependência, que começam muito antes de vigiar e (não) punir! Como em todos os males, vale mais prevenir do que remediar. Daí a importância das conclusões e sobretudo das propostas de ação saídas desta conversa. Concluiu-se que a identificação e sinalização por parte dos professores é fundamental para que possam ser acionados os mecanismos legais e a ajuda adequada a cada uma das situações detetadas. Relativamente às formas de atuação foi referido que uma das principais ferramentas que permite a ação dos professores (inclusive a revista dos alunos ou das mochilas), já existe: o Regulamento Interno. Mas tal como noutras situações não basta que a lei exista, é preciso fazer cumpri-la. Considera-se também importante o apoio de pais e encarregados de educação nas ações desenvolvidas pela escola, pelo que a instituição deve reunir com eles e informá-los atempadamente da forma de atuação da Direção nesta matéria. Também a formação de professores, alunos, auxiliares de educação e encarregados de educação foi sugerida, para dotar todos de competências que permitam enfrentar os desafios que o consumo das drogas coloca. A articulação entre as várias entidades é imprescindível para uma ação consertada que permita minorar os efeitos deste flagelo. Foi esta a ideia mais global que resultou da conversa e alguns compromissos foram assumidos, desde já, na área da formação.


A DESCOBERTA DE UMA MISSÃO Filipa Brites – (Curso EFA – Turma V)

Foi então, que se lembrou de que ajudar o próximo, de alguma forma, seria importante para si e para os outros.

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Esta é a história de uma menina, que apesar de já ter os seus 16 anos, continuava a ser uma menina. Certo dia, um daqueles dias chatos sem nada para fazer, aconteceu que se pôs a pensar na sua vida e chegou à conclusão de que a sua vida era inútil, que tinha de fazer alguma coisa; não tinha vindo ao mundo só por acaso. Repleta de ambições e conquistas por realizar, sabia que havia coisas mais importantes. Foi então, que se lembrou de que ajudar o próximo, de alguma forma, seria importante para si e para os outros. “Eu tenho visto muitas coisas, grandes desastres e muitas maravilhas; e sabia que daquela menina ainda viria algo especial! Continuei a invadir-lhe os pensamentos e os seus sonhos, durante a noite, à espera de saber qual seria o seu próximo passo”. Tempos depois, a menina lá saiu do conforto da sua casa e dirigiu-se aos bombeiros voluntários, para se inscrever. Que grande surpresa! Afinal, aqueles sonhos e pensamentos não eram só promessas a si própria! Depois de um ano em formação, com tantas questões na sua cabeça, o seu desejo de ajudar o próximo estava a demorar a conseguir realizar-se. Foi então, que surgiu a dúvida: seria aquele o caminho certo? Ela apercebeu-se de que aquilo não seria tão fácil quanto aparentava. Mas, eis senão quando, a menina magricela começou os seus serviços. Tarefas após tarefas, umas difíceis, outras mais fáceis, aquilo tinha-se tornado sério: salvar vidas, fosse criança, jovem, adulto ou idoso, pobre, rico, feio ou bonito, sem distinções; apenas estavam ali pessoas prontas a ajudar o próximo, sem querer nada em troca e sem julgar ninguém. Num dos seus dias de serviço, estava tudo muito calmo. Estando apenas a conviver com os seus

colegas bombeiros, a menina foi chamada para uma ocorrência. Tudo apontava para que fosse algo muito simples. Contudo, na chegada ao local, esperava-os uma senhora, que necessitava da ajuda dos bombeiros. Já na ambulância, essa senhora informou-os de que tinha cancro em fase terminal. Foi então, que a menina começou a ficar com as emoções todas trocadas, por ver que aquela pessoa tinha sido uma das escolhidas por algo mais além, para possuir aquele tipo de doença monstruosa. Reparando no olhar da senhora, transparecia uma serenidade imensa, alguma tristeza e algo que parecia ser a necessidade de um simples carinho. A menina apenas sorriu e deu-lhe as suas mãos. Naquele instante, o olhar mudou completamente: agora havia ali um olhar de profundo agradecimento, como se, finalmente, já estivesse pronta para partir. Como um sorriso pode ser único e poderoso para alguém! Quase sem se aperceber, a menina tornara-se mulher, enfrentara diferentes realidades e tornara-se também muito diferente. Agora já se sentia útil e sabia que o pouco, para uns, é o muito, para outros. Histórias de muita gente continuaram a tocar-lhe no seu coração, a criar diferentes emoções e a fazê-la pensar o que era viver. “Eu, vivendo de roubar sonhos e pensamentos, aprendi que a vida não é feita de promessas, nem de palavras, mas sim de atitudes. Como sempre tenho razão, acertei, pois, da menina viria algo especial, ajudando diferentes pessoas: cresceu, amadureceu, formou ideias e, de outra forma, sofreu. A menina tornou-se mulher sobre a minha visão. Sem dúvida, esta foi uma das maravilhas que vi”.


BREVE HISTÓRIA DE UMA FAMÍLIA Eduarde Harbuzyuk (Cursos EFA – Turma V)

Hoje em dia, ouvem-se bastantes histórias dos antepassados e quase todas elas parecem ter muitas semelhanças: nas leis e regras de convívio, no comportamento das pessoas, fora ou dentro de casa, no acesso ao ensino, à arte, à música e muito mais. A história dos meus antepassados é um pouco diferente, pois passava-se na antiga URSS. Também as histórias são diferentes entre os meus avós, tanto por parte da minha mãe como do meu pai.Vou começar pelos meus avós paternos: eles são pessoas simples; ambos têm o sexto ano de escolaridade. A minha avó, na atualidade, é secretária duma empresa, e o meu avô trabalhava em empresas agrícolas; conduzia e trabalhava com máquinas. Na atualidade, está reformado e passa a maior parte do tempo na sua quinta, ou então a jogar cartas com os amigos. Por seu lado, os pais da minha mãe tiveram uma vida completamente diferente: ambos completaram o ensino superior. O meu avô foi general da tropa russa e a minha avó foi enfermeira. Ela contava-me que, no seu tempo, não se aceitavam mulheres no cargo de médico, e foi só por isso, que ela não conseguiu o que queria – seguir a medicina. Depois, passado algum tempo tornou-se professora de matemática e de físico-química. O meu avô morreu quando eu tinha oito anos, por isso não me lembro nada do que ele me contava. Por seu lado, a minha avó morreu há dois anos e gostava muito de me contar as histórias dela, de quando era nova. A vida de ambas as famílias foi bastante difícil: quando os meus avós eram pequenos, a minha avó, por parte do meu pai, conta que, nessa época, ela e o irmão tinham que partilhar a mesma roupa. Por seu lado, a outra avó, quando trazia trabalhos de casa, fazia-os e tinha que os mostrar à mãe, embora esta não soubesse ler nem escrever. A minha avó sabia disso, mas mesmo assim contava-lhe tudo sobre os trabalhos que fazia, porque havia muito respeito nas famílias. Nos tempos deles, havia pouca, ou nenhuma higiene: quando eles eram pequenos, não tinham casa de banho dentro de casa. Até nos tempos em que os meus avós paternos já eram mais velhos, para terem água quente, tinham que ir a um banho público, nos estabelecimentos próprios para o efeito. A sua casa foi-lhes dada, porque, naquele tempo, as

casas eram dadas às pessoas que trabalhavam mais de 10-15 anos (não tenho a certeza destes prazos). Os passatempos mais comuns, na altura deles, era jogar às cartas, ou jogos de tabuleiro e pouco mais. Os meus avós maternos tiveram as mesmas condições de higiene, ou até piores. No entanto, quando se formaram e tiveram os seus empregos definitivos, viviam bastante bem para época, viajavam muito, pela Rússia toda, ou até pela Alemanha e por outros países. E tinham sempre as últimas tecnologias em casa. Nos seus tempos livres, liam livros, tocavam piano ou então estavam com os amigos a jogar jogos do tipo xadrez.Desde aqueles tempos, a agricultura evoluiu bastante; está toda robotizada e tudo é feito por máquinas. Isso tudo levou à perda de muitos postos de trabalho, sendo um dos principais fatores para o aumento do desemprego.Os salários tiveram um aumento muito grande. Naquele tempo, recebia-se de salário mínimo 100 rublos, o equivalente A 10€, mas conseguia-se alimentar uma família durante um mês ou mais. Os ordenados eram muito fraquinhos mas os preços dos alimentos e das coisas essenciais eram muito muito baixos. Havia assim um certo equilíbrio. Eles viveram num regime comunista, autoritário. Por exemplo: eram completamente proibidos desenhos, ou quaisquer formas de manifestação política, que pudessem ser consideradas reacionária, fascista, ou nazi; as pessoas podiam ir presas. Uma vez, o meu tio tinha comprado um disco dos “Kiss” (uma coisa rara de se encontrar). O meu avô viu isso e ralhou-lhe bastante, só por causa dum "s" que, segundo penso, seria parecido com o símbolo nazi, tendo depois mandado o disco para o lixo. Como já tinha escrito antes, os meus avós maternos tinham praticamente tudo: televisões a preto e branco, um telefone em casa, etc. O meu

avô até tinha uma mota própria. Eles eram bastante cultos, tinham a sua própria biblioteca, que, quando me lembro, até ficava "parvo" com o tamanho daquela divisão da casa, só para livros! Os meus avós, por parte do meu pai, já não eram assim tão beneficiados: tinham sempre que comprar as coisas que quisessem, no que diz respeito a aparelhos eletrodomésticos, ou outros mais avançados tecnologicamente, em mercados de segunda mão, tinham que se deslocar em transportes públicos, sabendo as últimas notícias através da rádio, ou então pelos amigos. Só viajavam para trabalhar, ou algo do género.Entre o tempo "deles" e o "nosso" muita coisa mudou; muitas vezes, para o bem: o desenvolvimento da tecnologia, que permite comunicar para todas as partes do mundo, através de vídeo-mensagens; o progresso na saúde, que teve um impacto elevado nas populações, pois, conseguem-se fazer operações fenomenais e salvar pessoas que, se calhar, há poucos anos, não sobreviviam como acontecia no fim do século XIX, quando era muito comum ouvir dizer: "Eu tenho 5 filhos e um morreu". É incrível como estes avanços todos ocorreram só num curto espaço de 100 anos. No entanto, também houve consequências más, no decurso destes últimos anos: a poluição, a destruição da camada de ozono, o aparecimento das máquinas, que destroem e poluem, o desaparecimento das florestas e até uma enorme acumulação de lixo nos oceanos, rios, como sucede ao pé da costa dos Estados Unidos da América, onde existe uma acumulação de 5 toneladas de lixo parecida com uma gigantesca lixeira flutuante. Tudo tem as suas consequências. Agora a humanidade tem que pensar mais um pouco no futuro do planeta, se é que quer que os seus futuros familiares sejam felizes.

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DAR VISIBILIDADE AO ESPAÇO MEMÓRIA P&V

A preservação e conservação do passado são fundamentais para a construção de uma identidade.

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Subindo o lance de escadas a partir do segundo patamar da mediateca da Calazans Duarte, desemboca-se num espaço algo semelhante a um sótão. Mas este é um sótão muito especial. Não é e s c u ro, n ã o te m ca i xo te s m i ste r i o s o s amontoados, não tem teias de aranha. É cheio de luz, visível do exterior e escrupulosamente limpo e arrumado. Nele se conta a história duma escola que há quase seis décadas foi a Industrial e Comercial da Marinha Grande e hoje é sede do Agrupamento de Escolas Marinha Grande Poente. História contada através de algum mobiliário, instrumentos didácticos, muitas fotografias e documentos diversos, em expositores: livros, cadernos diários, testes, cadernetas, pautas. É o Espaço Memória, projecto concretizado desde o ano lectivo 2011/2012, mas ainda desconhecido da maioria dos atuais utentes da Calazans, como constatou o P&V através duma sondagem informal. O P&V e a Calazans TV associam-se aos responsáveis do projeto, para dar visibilidade a este espaço, que é parte integrante da identidade da escola, como foi expresso no documento que o lançou e do qual transcrevemos: “A preservação e conservação do passado são fundamentais para a construção de uma identidade. É na articulação da memória, da história e da identidade local que se desenvolverá (…) o projecto Espaço Memória. (…). Este projeto mover-se-á entre dois eixos: (…) o patrono da escola, Engenheiro Acácio Calazans Duarte, a sua ligação à escola, à indústria vidreira e à comunidade marinhense; por outro lado, a história da nossa escola, herdeira da Escola Industrial e Comercial da Marinha Grande que, ao longo de décadas tem marcado de forma indelével a educação e formação nesta localidade”. Em entrevista ao P&V, Rui Coelho, professor de artes e coordenador deste projeto, explicitou os objetivos, falou do que já foi feito, do que se projeta para o futuro, dalguns constrangimentos que impedem uma maior visibilidade do Espaço Memória e de como ultrapassá-los. “Para concretizar este projeto, no primeiro ano, foi feito o levantamento do espólio e catalogação, e foi montada a exposição, na qual, como é visível, prevalece a imagem, dadas as características deste espaço físico. Foi um trabalho de professores com a colaboração da Associação de Antigos Alunos da escola. Foi inaugurado em 12 de

maio de 2012, com uma exposição temporária com materiais trazidos por antigos alunos. Mas é evidente que este espaço, embora no projeto de requalificação da escola tenha sido pensado para este fim, não tem condições para se mostrar. No ano seguinte, assegurou-se a manutenção do mesmo, e este ano, eu, a Maria de Lurdes e o Mário Rui, professores de história, decidimos apostar na divulgação, concretizando três ideias: criar um site, que já está pronto, ao qual se pode aceder através do site da escola, fazer um filme e organizar visitas de turmas.” Se o espaço condiciona a as visitas e a exposição de mais espólio, algum armazenado no sótão propriamente dito, outro ainda na posse de antigos alunos e professores, pensou-se que o antigo hall de entrada poderia tornar-se uma extensão e é isso que pretende fazer-se. Mas há outros constrangimentos. A equipa é pequena e sobretudo é pouco o tempo atribuído para este trabalho (3 horas semanais), pelo que só o afeto e empenho generoso dos professores podem compensar estas limitações. A expetativa de que um site multiplique as visitas, embora virtuais, é moderada. Rui Coelho, cuja história de vida está ligada a esta escola, primeiro como aluno e depois como professor, está convencido de que “apesar da apetência dos jovens pelos espaços virtuais”, serão sobretudo “antigos alunos, antigos professores, pessoas que viveram a escola há algum tempo, para quem ela já é um espaço memória” a visitar o site, e isso “pode suscitar a vontade de visitar o espaço real”. Filomena Ferreira, membro da Associação dos Antigos Alunos, falou ao P&V do envolvimento na montagem deste espaço. Para esta antiga aluna, com mais memórias, os constrangimentos à visibilidade são os mesmos: “é visível de fora, mas invisível de dentro, porque o acesso é muito condicionado e o espaço muito pequeno para ser visitado”. Esta colaboradora do projeto está convencida de que um local de passagem seria mais adequado, teria muito mais visibilidade. Mas ao contrário de Rui Coelho, Filomena acredita que atuais alunos da escola, por exemplo, aqueles cujos pais também aqui foram alunos, “têm curiosidade sobre esse tempo e são potenciais visitas, e apenas as dificuldades de acesso ao espaço os impedem de cá vir”.


TASQUINHAS NA GUILHERME STEPHENS NO DIA DA EUROPA P&V

Uma exposição de cartazes a concurso, sobre o tema Ano Europeu contra o Desperdício Alimentar Professoras da escola Guilherme Stephens e da Calazans Duarte juntaram-se para realizar uma atividade comemorativa do Dia da Europa, 9 de maio. Uma exposição de cartazes a concurso, sobre o tema Ano Europeu contra o Desperdício Alimentar, foi montada no átrio da escola Guilherme Stephens. Rodrigo Nobre, aluno do 7º ano, foi o vencedor, com um sugestivo cartaz que mostramos nesta notícia. Para além disso, o átrio transformou-se numa espécie de praça europeia com “restaurantes” de vários países. Lá estavam as salsichas alemãs, os crepes e muita doçaria francesa, os churros espanhóis, as pizzas italianas, as saladas gregas, entre outros petiscos. E porque vivemos num mundo global, todos os ingredientes foram comprados nos supermercados locais e a c o m i d a c o n fe c i o n a d a p o r p ro fe s s o ra s portuguesas! Os alunos ajudaram: a servir e a… comer! Neste ano que o Parlamento Europeu declarou como o Ano Europeu contra o Desperdício Alimentar, o P&V pode verificar que no Dia da Europa, aqui, nada se desperdiçou, a avaliar pela situação às 12 horas: alguns “restaurantes” já tinham esgotado o stock de pratos. O Parlamento Europeu tomou esta decisão para que os estados membros façam alguma coisa para evitar o escandaloso desperdício de alimentos, num mundo onde tanta gente passa fome. De acordo com um estudo publicado pela Comissão Europeia, antes da entrada da Croácia na UE, nos 27 Estados-Membros “produziam” 89 milhões de toneladas de desperdícios de comida, prevendo-se chegar aos 126 milhões de toneladas em 2020, caso não tomem medidas preventivas urgentes. O Dia da Europa assinala a data da “Declaração Schuman”, uma proposta deste “pai” da CEE/ União Europeia, que em 1950, no dia 9 de maio, propôs à República Federal da Alemanha e aos outros países europeus que quisessem associarse, a criação de uma comunidade de interesses pacíficos. Esta declaração é considerada o começo do que é hoje a União Europeia. Mas foi só em 1985, na Cimeira de Milão, que os chefes de estado e de governo dos países que na altura eram membros da CEE decidiram passar a comemorar o Dia da Europa. ponto & vírgula agrupamento de escolas marinha grande poente

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COM TUDO ISTO, ONDE FICA O GOZO DAS PALAVRAS? Jorge Alves

“Eu sou um pronome, pronome pessoal, sou da primeira pessoa, sujeito singular”. Se ensinar gramática da Língua Portuguesa, ou, como agora se diz: as questões do funcionamento da Língua fosse assim tão lúdico, tão alegre, tão divertido, como pressupõe a letra desta música dos “Deolinda”, como estariam felizes os nossos alunos e motivados os seus professores! Contudo, se observarmos com rigor a situação atual, o panorama não é tão colorido nem divertido. Após a imposição das novas terminologias gramaticais para a Língua Portuguesa, felizmente, já não tão radicais como as primeiras versões das famigeradas TLEB, assistimos a uma constante angústia, por parte dos professores, para transmitirem conceitos ainda não totalmente apropriados e, que, quando os analisamos em maior profundidade e de forma mais atenta, não passam de meras transposições das antigas fórmulas, com algumas adaptações de pormenor, com conceitos e nomenclaturas tão abstratizantes e por vezes de tão difícil definição, que se torna quase impossível, para alunos cujo poder de abstração é ainda tão limitado, compreenderem, a fim de os aplicarem devidamente, com absoluta propriedade. Comecem, por exemplo, a analisar a nova classificação dos nomes e acabem, se conseguirem lá chegar, nas funções sintáticas das orações subordinadas na frase, para verem como nos atolamos em pântanos que, querendo ser matematicamente exatos, acabam por ser diáfanas e imprecisas definições, como quaisquer elucubrações filosóficas feitas por amadores. Daí, vermos, quotidianamente, a angústia de quem tem de transmitir esses conceitos, todos os dias preparando fichas, fazendo consultas, cotejando

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informações, para ver se consegue, com a maior clareza e exatidão, transmitir, da forma mais precisa, esses ensinamentos. Assim, também, os jovens, que têm de estudar tais matérias, com a angústia de nunca saberem se as suas respostas, por mais convincentes e assertivas que consigam, são as mais corretas, ou se o “centro do alvo” não estaria um pouco mais ao lado, sendo motivo suficiente para terem uma inesperada e dececionante avaliação, parecendo-lhes, por vezes, que tudo não passará de uma questão de sorte, qual acertar no totobola. Pois é: como quase tudo o que se tem transformado no nosso ensino nos últimos anos, mais uma vez, esta “revolução gramatical” foi feita sem atender, quer a uma boa preparação dos docentes, quer, muito menos à especificidade do público a quem se dirigia. Se era para facilitar a compreensão do funcionamento da língua, com conceitos e nomenclaturas tão complexas, nunca o conseguirão; se é para a tornar mais acessível, não parece que o caminho mais correto seja este; se é uma questão de motivação, ao que parece, tanto os professores como os alunos não encontraram muitas razões para a sentirem, tão estranhos, absurdos e complexos são estes assuntos!

Quero esclarecer, que a inovação e as mudanças, sempre que devidamente justificadas e apoiadas em sólidos alicerces, nunca me assustaram e desejo ardentemente que o estudo da Língua Portuguesa seja muito mais motivador do que tem sucedido até à atualidade, já que se trata do conhecimento da nossa Língua materna, um dos valores mais ricos da nossa cultura, a “ferramenta” que mais utilizamos no nosso quotidiano, mas gostaria que este estudo não se perdesse na aquisição forçada, como num castigo, de conceitos absurdos e desmotivantes, que não deixam tempo à fruição das palavras, à leitura e escrita criativas, à livre expansão das ideias e dos sentimentos, em suma: à transmissão de muitos dos nossos valores culturais e literários. O estudo da Língua, assim como da literatura, não se pode cingir ao decorar de nomes difíceis, ou de fórmulas, como hoje se nos afigura, em muitas situações de ensino, e muito menos ao decorar e ao papaguear de lengalengas, como se fazia no nosso ensino tradicional, no tempo da “outra senhora”. Ainda me lembro de ouvir os meus colegas a dizer, de fio a pavio e vice-versa todas as proposições, os advérbios, a classificação das orações, assim como os afluentes do rio Douro, ou as estações de

“Eu sou um pronome, pronome pessoal, sou da primeira pessoa, sujeito singular”.


caminho-de-ferro da linha da Beira Alta, sem nunca terem escrito excelentemente, ou terem ganho algum gosto pela leitura. Mais tarde, quando comecei a lecionar, encontrei jovens alunos dos 6º e 7º anos a desenharem perfeitamente as árvores da gramática generativa, com todos os SN, SV e SP no lugar, sem nunca perceberem o que isso significava, nem entenderem como, na realidade, isso era concretizado na prática quotidiana e correta da escrita. E maior impressão isto me fazia, porquanto, eu vinha de terminar a licenciatura, tendo como um dos derradeiros professores, o próprio autor da Nova Gramática Generativa da Língua Portuguesa, o Prof. Paiva Raposo, que nos trazia, para nós nos deleitarmos, ou para darmos grandes nós à cabeça, os mais recentes manuscritos do seu guru, o mais renomado linguista dos últimos tempos, Noham Chomsky. Na altura, fiquei absolutamente estarrecido,

quando vi que os mesmos conceitos, que tão acaloradamente e tão dificultosamente discutíamos na faculdade, eram dados, sem dó nem piedade, aos jovens de 11 a 14 anos, nas nossas escolas! Veja-se o absurdo! Atualmente, assistimos a coisas semelhantes: alguém, nas salas das faculdades concluiu, e muito bem, que se deveria renovar a nomenclatura da gramática da língua portuguesa e, logo, algumas “inteligências” acharam que se deveria ensinar essas coisas aos jovens do Ensino Básico e Secundário, antes que essas ideias, tão inovadoras, pudessem cair no esquecimento. Por isso, agora, como antigamente, haverá muitos alunos que saberão dizer, na perfeição, o que são deíticos, classificar os nomes, os advérbios, os pronomes, ou as funções das orações subordinadas nas frases, sem nunca adquirirem hábitos de escrita ou de leitura. Não sou eu que terei a solução milagrosa para este

problema. Não sei, ainda, se isto não será uma das muitas fatalidades sem remédio que nos assolam. Muito menos sei apontar outros caminhos. O que me parece é que muita da nossa literatura está a ser esquecida; os autores verdadeiramente contemporâneos e que, felizmente, têm vindo a renovar de sobremaneira as nossas letras, custam a entrar nos nossos programas e nas nossas aulas. Por fim e não menos grave, não me parece que a imaginação e a criatividade dos nossos alunos sejam verdadeiramente premiadas, quer pelos programas, quer pelas metodologias geralmente usadas, quer pela absurda intenção de se prepararem os alunos, apenas, para um exame, que lhes é apresentado como a coisa mais definitiva das suas vidas. Por isso, quando tiver, novamente, de ensinar alguma coisa do funcionamento da Língua Portuguesa, talvez ensine primeiro a letra da canção dos “Deolinda”.

TOCÁNDAR EM SERPA Wilson Francisco

As viagens do Tocándar a Serpa têm muitas histórias e uma delas, como diz Paulo Tojeira, “foi numa noite em que todos os membros do Tocándar ficaram acordados e de repente alguém disse: “Venham ver o pôr-do-sol a nascer” e então, a partir daí, a expressão “Pôr-do-sol a nascer” deu nome a uma música que mais tarde foi feita. Desde o ano 2000 o Tocándar continua a ir a Serpa, no Alentejo, todos os anos. Este ano, no sábado, dia 19 de abril chegada a hora prevista para a partida, todos os membros compareceram com muito entusiasmo e com algum sono, cheios de malas de viagem. Depois de uma viagem divertida e secante (estava muito calor) chegamos a Serpa e receberam-nos muito bem. Mara Lopes, Paulo Tojeira e Diogo Ferreira foram 3 dos responsáveis a gerir esta viagem artística de 2 dias. Participaram 34 membros e mais de 20m3 de instrumentos musicais, como bombos, caixas, etc. A companhia “Incentivotour” mais propriamente a senhora Rosa, foi a motorista com mais paciência do mundo mas também com entusiasmo que nos levou a Serpa pelo terceiro ano consecutivo. O Tocándar participou no Cortejo Histórico e Etnográfico, no domingo de Páscoa, dia 20 de Abril, e também fizeram 3 Arruadas, no sábado, dia 19. ponto & vírgula agrupamento de escolas marinha grande poente

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“OS PROJETOS VIVEM MUITO DE QUEM ESTÁ À FRENTE DELES” Alice Marques

“Um coordenador deve ser uma placa giratória entre colegas que se propõem a realizar atividades diferentes do currículo escolar, mas que o complementem”

Num ano de transição – de agrupamento de escolas Guilherme Stephens + escola Secundária Calazans Duarte para Agrupamento de Escolas Marinha Grande Poente – pode dizer-se que ao nível dos projetos articulados, o que se fez, fez-se bem! Esta é uma conclusão consensual, que podemos deduzir do balanço feito em entrevista dada ao P&V pelos 3 coordenadores de projetos do Agrupamento: Paulo Tojeira, Dulce Calado e Júlia Leigo. Mas há mais tópicos consensuais: o envolvimento de alunos ainda não é satisfatório, o horário atribuído aos professores para coordenar os projetos é escasso, os professores estão assoberbados com tarefas que lhes ocupam a mente e desmotivados para se envolver em atividades para além do horário obrigatório. Paulo Tojeira, coordenador dos projetos da Calazans Duarte há meia dúzia de anos, define assim a função: “um coordenador deve ser uma placa giratória entre colegas que se propõem a realizar atividades diferentes do currículo escolar, mas que o complementem”. Crítico exigente, começou por considerar que “aquilo que o projeto educativo da Calazans Duarte escola tem de original, não é original, porque a opinião da escola não existe, tem de assentar em modelos definidos na lei”, referindo-se em particular à oferta formativa dos Cursos Vocacionais e do PIEF. Segundo este professor, “há diferentes atitudes dos professores em relação a estes cursos, que vamos percebendo aqui e ali, mas, por serem situações muito recentes ainda não suscitaram a necessidade de uma reflexão séria”. Na sua opinião, estes cursos precisam de “respostas diferentes do currículo escolar, mas a escola ainda não se deu conta da necessidade de oferecer outros envolvimentos”. A escola Calazans Duarte, como outras, envolve-se em dois tipos de projeto, para além das atividades extracurriculares que não se integram nesta categoria: os projetos nacionais, com a evidente vantagem de já terem alguma estruturação prévia, como é o caso do Eco-Escolas, Desporto Escolar, PEPA, Euroscolas ou Parlamento dos Jovens, mas que podem, ainda assim “ser criativos, a nível de escola” esclarece Paulo Tojeira, e os projetos genuinamente originais da escola, por exemplo: O Clube de Teatro, o GIC, as Jornadas da Saúde, o Projeto Inclusão, para citar só alguns cujas atividades tiveram este ano grande visibilidade. Mas os projetos não podem viver só de quem os dirige. Na opinião deste coordenador, “têm de viver da capacidade de atrair os jovens a envolverse neles”, situação que segundo ele é insatisfatória: “os projetos que existem ainda não envolvem massa significativa de alunos”. Este envolvimento não é fácil, porque, diz o coordenador, “se por um lado é vantajoso haver estabilidade na gestão dos projetos, mantendo as pessoas que já têm conhecimento dos mesmos, por outro lado é preciso criatividade permanente, até porque todos os anos há novos alunos, diferentes”. Em relação aos pais, o “envolvimento é ainda menor e alguns nem olham com bons olhos o envolvimento dos filhos”, acrescenta Paulo Tojeira. “Há pais que resistem, porque estão mal informados. Todos temos responsabilidade em passar a mensagem da importância das atividades extracurriculares na formação dos jovens”.

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Dulce Calado, uma das coordenadoras dos projetos da Guilherme Stephens de há cinco anos a esta parte, que fala essencialmente de atividades, considera que estas estão devidamente enquadradas na meta e objetivos que pretendem atingir: atitudes e valores. Também para esta coordenadora, embora haja muitos alunos envolvidos, em particular no projeto Eco-escolas, “já houve muito mais envolvimento”. Reforçando a convicção de que os projetos vivem muito de quem está à frente deles, Dulce Calado atribui estas “baixas” ao afastamento temporário, por razões de saúde, da professora Célia Soeima, “a alma” deste projeto. No caso da Guilherme Stephens, o menor envolvimento, também de professores, deve-se “à desmotivação provocada pelo contexto político, e não é só em relação aos projetos mas à escola em geral”. A esta explicação, acresce o fator instabilidade: “há muitos professores novos, que

não têm identificação com o PE, e muitos que vêm de longe. Como se pode pedir a um professor que faz diariamente 150 ou 200 quilómetros para vir à escola, que se envolva em projetos?!” – questiona esta professora. Júlia Leigo, que assumiu a co-coordenação de projetos nesta escola só este ano, mas é professora de Educação Visual aqui, há vários, embora reconheça algumas perdas, prefere valorizar o que há de positivo: “desapareceu o Clube de Fotografia, há menos projetos, porque para tudo é preciso tempo, condições físicas dignas… mas em contrapartida acho que o que se faz é melhor, mais consistente, mais integrado. Quanto aos alunos, envolver-se, ou não, depende de muitos imponderáveis: “quem os motiva, depois há os que gostam de intervir sempre, outros que vão atrás… e depois há aqueles que não gostam de se envolver em nada, simplesmente porque não gostam da escola”.

Pensar os projetos para o Agrupamento de Escolas O ano lectivo que se aproxima do fim, ano de transição, tem um saldo positivo. Júlia Leigo realça o projeto da escola de Casal de Malta – Origens de Portugal -, envolvendo crianças, educadoras e pais, na conceção e execução de um produto que a escola sede de Agrupamento, a Calazans Duarte, teve oportunidade de receber e mostrar. E acredita que é possível trabalhar em articulação vertical, desde que se entenda o Agrupamento como um todo. Já Dulce Calado é mais cautelosa na sua visão prospectiva: “Com vontade, não será mais difícil fazer projetos que envolvam as escolas de vários ciclos. Esse passo já foi dado este ano, com o projeto Origens de Portugal, com o Teatro para os mais pequenos… mas para trabalhar em articulação vertical, é preciso mudar uma certa mentalidade que alguns professores ainda têm: - o meu ciclo é mais importante que o teu”- conclui a professora. Paulo Tojeira sistematiza assim as questões para o futuro: “Um projeto educativo para um Agrupamento deve salvaguardar a identidade de cada escola, não pode anulá-la. Temos de evoluir duma forma progressiva. E partilhar ideias sobre os projetos para a comunidade. A articulação podia e devia ser feita pelo Conselho Municipal de Educação, que não funciona. Na partilha dos objetivos do PE e logo na definição da Rede Escolar. É preciso envolver outras instituições. E sermos criativos. Todos os professores são voluntários nos projetos, porque o horário é apenas simbólico. Quanto aos alunos, para além do prazer pessoal, era importante haver formas de reconhecimento. É preciso ganhar a comunidade para o valor dos projetos. Todas as motivações para trabalhar em projetos são legítimas. Depois há que dar-lhes a volta, para que esses projetos tenham repercussão no enriquecimento do currículo”. ponto & vírgula agrupamento de escolas marinha grande poente

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ATÉ 2018… TEMOS DIRETOR! Alice Marques Meio século é a sua idade. Há vinte e seis anos, deixou as águas quentes do Algarve e rumou ao norte, até à Marinha Grande, que passou a ser a sua terra! Aqui se apaixonou, namorou, casou e foi pai de duas meninas, hoje já no ensino superior, uma delas prestes a terminar. Vinte e seis anos na Calazans Duarte, dez dos quais em órgãos de gestão, sendo cinco como Secretário do Conselho Diretivo, 4 anos como Diretor e um como Presidente da Comissão Administrativa Provisória. Sem surpresas, Cesário Silva, único candidato ao concurso para Diretor do Agrupamento de Escolas Marinha Grande Poente, foi eleito pelo Conselho Geral no dia 20 de maio. A decisão foi unânime. O “novo “ Diretor do Agrupamento, no primeiro ato público após a eleição, deu uma entrevista ao P&V. Nela falou do seu projeto para o AEMGPoente até 2018 e deixou claros os ideais que o movem: “equidade com justiça, oportunidades iguais para todos os alunos, contribuir para fazer de todos cidadãos de primeira”

Alice Marques: No projeto de intervenção com que se apresentou a concurso, considera que “um diretor deve ser como um maestro, deve saber dirigir a orquestra mas não precisa de saber tocar todos os instrumentos”. Revê-se nessa metáfora? Cesário Silva: Verdadeiramente. Apesar de o cargo ser unipessoal, só faz sentido exercê-lo em equipa. Mas nesta orquestra, qual é o instrumento que sabe tocar? Bem, em tempos, quando estive numa banda, eu tocava saxofone. Nesta orquestra acho que o meu instrumento é a relação com as pessoas. O procedimento concursal, não é propriamente um exercício de democracia direta. Pensa que este modelo fragiliza a sua base de apoio? Confesso que ficaria mais satisfeito se a auscultação fosse direta. Mas reconheço que esta é a forma de o modelo atual valorizar o Conselho Geral como órgão de topo, ao atribuir-lhe a responsabilidade da eleição do director. A sua eleição foi consensual? Segundo me comunicaram ontem, a eleição foi por unanimidade. Na introdução do seu projeto, evidencia a dimensão do Agrupamento e a diversidade dos públicos a que este procura dar resposta. Que balanço faz do ano de transição, em que foi o Presidente da CAP Eu diria que foi um ano de grande aprendizagem. Tive de contatar com realidades distintas, saí muito do gabinete e da escola, contatei com alunos de diferentes faixas etárias, pais e professores diferentes. Tudo foi diferente. Aqui já nos conhecemos muito bem. Foi um ano em que foi preciso fazer sentir a muitas pessoas que precisávamos de trabalhar em conjunto e confiar uns nos outros. O facto de as escolas estarem fisicamente afastadas da sede, onde se concentra a maior parte do trabalho, exigiu sobretudo confiança. Qual foi o setor em que houve mais dificuldades na transição, eventualmente algumas resistências? Eu não diria que houve resistências. Mas o setor em que que sem dúvida as pessoas sentiram mais a transição foi na Guilherme Stephens. De um dia para o outro a escola perde a direção do Agrupamento e passa ter um coordenador. No setor administrativo fizemos sentir a importância da centralização de serviços na escola sede. As pessoas perceberam isso,

«...tenho a perspetiva de que nesta cultura de Agrupamento todos devem trabalhar com permeabilidade entre os ciclos, com projetos transversais que rentabilizem serviços e recursos e proporcionem a todas as crianças e jovens do Agrupamento as melhores condições de ensino e aprendizagem. »

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mas reconheço que a mudança para um espaço onde “caíram” pode ter gerado, no início, algum desconforto. Creio, contudo que lhes fizemos sentir que somos uma equipa e não os professores e funcionários daqui e os dali. Qual foi o ato de reconhecimento público conseguido em 2013/2014 de que mais se orgulha? Orgulho-me de vários reconhecimentos, mas sem dúvida a escola ter recebido o Selo Intercultural foi muito importante. Fomos uma das 10 escolas do país, entre várias dezenas a nível nacional. O Selo Intercultural é o reconhecimento do nosso trabalho diário para a inclusão, que nem sempre valorizamos internamente. A nível pessoal, o que me deixa satisfeito é a forma como me acolhem nas várias escolas. Até os miúdos me fazem sentir que sou bem vindo. Voltando ao seu projeto para os próximos 4 anos… no plano estratégico põe em destaque o Reforço da Cultura de Agrupamento. Não receia que esse reforço de uma nova identidade acabe por diluir as identidades das escolas que o integram? Penso exatamente o contrário, que é na construção de uma nova identidade que as outras se reforçam. Tenho a perspetiva de que nesta cultura de Agrupamento todos devem trabalhar com permeabilidade entre os ciclos, com projetos transversais que rentabilizem serviços e recursos e proporcionem a todas as crianças e jovens do Agrupamento as melhores condições de ensino e aprendizagem. O seu projeto é essencialmente de continuidade. Neste sentido, vai manter também a equipa que teve na CAP? Sim, a equipa vai ser essencialmente de continuidade. Estamos a trabalhar em áreas complementares e assim devemos continuar. Tenho apenas a dúvida em relação à professora Cristina Carapinha, que, como sabe concorreu a directora do outro Agrupamento, mas não foi eleita. Mas quero esclarecer essa ideia de continuidade, que não pode ser vista como estática. Ao longo dos últimos cinco anos muita coisa mudou e minha visão de escola também. A continuidade é manter o que é importante mas sobretudo é manter a capacidade para compreender as mudanças e estarmos abertos à diversidade, à inovação e reforçarmos o nosso

papel na comunidade. Pensa manter os mesmos professores à frente dos projetos consistentes do Agrupamento? A distribuição de serviço é a tarefa mais difícil de um diretor. Obriga a conhecer bem as pessoas, para distribuir com equilíbrio entre aquilo que cada um faz melhor e o que melhor serve os alunos. Outro aspeto é a motivação das pessoas para os cargos, a sua disponibilidade para continuarem ou se querem dar o lugar a outros. E ainda há projetos cuja liderança resulta de procedimentos concursais, como é o caso da Mediateca. Por isso eu falo com as pessoas relativamente às quais posso auscultar as motivações. E tudo isto tem de ser tido em conta, se não geram-se conflitos. Vai continuar a apostar em mais cursos vocacionais? Vou continuar a apostar na diversidade da oferta educativa e formativa. No vocacional com certeza, que vejo como uma boa aposta para alunos com mais de 13 anos para concluírem o 3º ciclo e 16 para concluírem o nível secundário. Construir uma “território de inclusão” é uma linha de ação do seu projeto. Sendo também este um objetivo de continuidade, é lógico perguntar então se foi feita uma reflexão profunda sobre o impacto das ofertas… chamemos-lhe inclusivas, que justificam a continuidade desses cursos? As avaliações que se podem fazer ainda são pouco consistentes. O universo de público alvo ainda é muito reduzido para se avaliar o impacto. Mas o que sabemos é que cada vez temos mais diversidade de públicos e são precisas respostas diferentes para públicos diferentes. Tenho como princípio que a escola tem de promover a equidade com justiça. E isso só se consegue com a diversidade de oferta formativa, para que todos façam aprendizagens que os tornem cidadãos de primeira e também certificados no seu percurso académico. E vai continuar também com cursos EFA? Claro. Vamos manter a oferta de EFA tipo C. E como as escolas públicas não podem ter EFA de dupla certificação, vamos manter a parceria com o IEFP para promover esses cursos. E no caso do Português para Estrangeiros, está disponível para já no próximo ano candidatar a escola às unidades do nível B1 e B2? Sim. Já transmiti essa intenção superiormente. E

comuniquei também que, dada a procura, para o próximo ano queremos abrir cinco turmas. A escola consegue ser também o espaço de socialização e contribuir para a integração dos estrangeiros. Penso que temos conseguido cumprir bem essa função, por isso é para continuar. Tenciona, neste mandato, voltar a candidatar a escola à criação de um CQEP? (Centro de Qualificação e Ensino Profissional) De momento só temos a possibilidade de fazer um acordo tripartido, entre o Agrupamento, o IEFP e a ANQEP. Para promover essa valência de oferta formativa para adultos que inclua o reconhecimento de competências. Nós, escola, podemos fornecer esse serviço. Se o fazemos como promotor ou como parceiro, não é o mais relevante. Depois, se a ANQEP entender que o podemos fazer autonomamente, tendo um CQEP, melhor ainda. A Calazans Duarte assumiu durante mais de uma década uma dimensão europeia através de programas de intercâmbio. Também está nos seus horizontes retomar estes intercâmbios? Esses programas não morreram, as modalidades de intercâmbio é que agora são diferentes. Os grupos de alunos são mais pequenos e os dias de intercâmbio são menos. Nos últimos três anos, excluindo o presente ano letivo, tivemos um projeto com a Roménia, a Polónia, a Turquia, a Escócia e a Áustria. Este ano estamos em processo de candidatura e se for aprovada, o Agrupamento irá coordenar o projeto internacionalmente, através do Clube Europeu. Também estamos este ano no programa PEPA que já proporcionou atividades importantes para aprendizagem da língua alemã, e também através dele dois professores, o Francisco e a Cármen farão um estágio na Alemanha. No documento de candidatura expressa também a necessidade de reforço das parcerias com instituições e empresas. Tem em vista algum novo parceiro em particular ou apenas manter/reforçar o que já existe? Há duas dimensões a considerar. Há parcerias que temos de renegociar noutros termos, concretamente com o IPL, por causa dos cursos vocacionais de secundário; mas todo o trabalho de rede de parcerias tem de ser reforçado, à medida que a diversificação da oferta formativa

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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS

MARINHA GRANDE

POENTE

vai aumentando. Para já, a rede atual é suficiente, mas novas ofertas exigirão novas parcerias. Em termos de reorganização considera a introdução de atividades relacionadas com Ciências Experimentais e Filosofia para crianças no 3º e 4º ano. Já pensou com que professores pode contar para essas atividades? E em que horário? Este ano já se fizeram algumas experiências muito interessantes e concluímos que são áreas a desenvolver. Com clubes de ciência, deslocando professores às salas do 1º ciclo, ou trazendo os alunos a esta escola. O objetivo é estimular precocemente o gosto pela ciência e aqui temos os recursos humanos e materiais. O projeto filosofia para crianças também fez uma experiência interessante. Estas atividades têm de deixar de ser pontuais e tornar-se um trabalho continuado. Os professores podem ter horas para isso na componente não letiva. Refere também a necessidade de em tempo de interrupção de atividades letivas apoiar, de forma personalizada, alunos a quem tenham sido detetadas mais dificuldades. Está a pensar numa “Escola de Férias”? Podemos chamar-lhe assim. Temos de potenciar os recursos humanos disponíveis. Os professores que conhecem bem as dificuldades de alguns alunos têm de tentar que elas sejam ultrapassadas a tempo e não se arrastem para os anos seguintes. Mas nós já tivemos um projeto assim, que chamamos A Tempo. Só não conseguimos que fosse aprovada a possibilidade de voltar a avaliar. Era um projeto desta escola. Curiosamente, este ano, vai ser posto em prática a nível nacional, com a possibilidade de os alunos do 4º e 6º ano que reprovarem voltarem a fazer exame em julho. As turmas de 9º ano passarão a funcionar todas na Calazans. Mas não vi referência às de 7º e 8º. Sim, todo o 9º ano vai funcionar aqui e todas as turmas de 7º e 8º anos na Guilherme Stephens. Reconhece que há edifícios que necessitam de

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uma intervenção profunda e urgente, sendo a Stephens a prioritária. Mas a manutenção deste edifício não é da competência da autarquia. Vai candidatar o edifício a um programa de requalificação? Vamos promover um espaço de encontro entre Agrupamento, Autarquia e Direção Geral para procurar a melhor resposta. No caso da Stephens é preciso uma requalificação de fundo, para melhorar significativamente alguns espaços E quanto às escolas básicas a necessitar de intervenção, já acordou com a Vereadora da Educação algum compromisso? Durante este ano lectivo passei por todas as escolas básicas, com os presidentes de junta e a vereadora e concluímos que temos um excelente parque escolar, ainda que algumas escolas precisem de intervenção. Neste verão vamos intervir em Casal de Malta e na Várzea, essencialmente para remoção das coberturas com amianto. E há a Francisco Veríssimo a precisar de obras de requalificação. Importa dizer que, as juntas de freguesia assumiram competências nessa matéria, com transferência de um pacote orçamental para isso e esta proximidade torna tudo menos burocrático. De todas as medidas a que se propõe para os próximos 4 anos, qual lhe parece a que será mais difícil de conseguir implementar com sucesso? Digamos que é na comunicação que teremos de investir mais. Temos de conseguir partilhar informação, envolvendo todo o agrupamento e a comunidade educativa no sentido mais lato. Construir uma imagem leva tempo, mas uns segundos bastam para a destruir. E construir uma imagem exige confiança no trabalho dos profissionais e transparência na comunicação. Digamos que esta é a pedra de toque. Tudo o que ambiciona para o Agrupamento, que resumo na frase sua: “fazer dele um Agrupamento de excelência e de referência” só pode ser conseguido com uma equipa de excelência: direção, funcionários,

professores…acha que tem essa grande equipa? Acho que sim. Temos excelentes profissionais, professores motivados para apostar em coisas diferentes sabendo que que o que se faz em cada um dos ciclos não se esgota nele, mas repercute-se nos outros ciclos. Este trabalho transversal responsabiliza-nos a todos. Independentemente de se gostar ou não do seu estilo de liderança, toda a gente lhe reconhece uma enorme capacidade de trabalho. Onde vai buscar essa energia? Apesar de eu ser racional e ter uma formação de base assente no fazer e saber fazer, a minha energia vem do lado emocional. De conseguir ver para além do visível, de sentir que posso interferir na vida das pessoas. As pessoas são a minha fonte de energia. Os alunos, colegas, pais, funcionários, mas em boa parte os alunos. Vai continuar a dar aulas a uma turma? Vou pois. E de preferência uma das mais difíceis que são as mais desafiadoras. Preciso de sentir o pulsar da escola e de entender as dificuldades dos professores. Tenho de lhe perguntar isto: as suas motivações também vêm das suas convicções ideológicas, da sua visão do papel da escola na construção duma sociedade melhor? Em certa medida, com certeza. Mas não as vou buscar ao vazio dos chavões tipo a escola é um instrumento de mobilidade social! É preciso fazer coisas, pôr medidas em prática que concretizem isso. Se os chavões bastassem, tínhamos os problemas todos resolvidos. Qual vai ser a “menina dos seus olhos” nestes 4 anos? Gostava de chegar a 2018 e poder dizer que cumprimos todos os ideais da escola, que requalificamos o que era necessário, mas sobretudo que as pessoas confiaram no nosso trabalho e temos o reconhecimento da comunidade. Para terminar como começamos, com uma metáfora: as meninas dos meus olhos vão ser a confiança e o reconhecimento!


Num ano de muitas mudanças, em que se trabalhou para tornar operacional o Agrupamento de Escolas Marinha Grande Poente, o Ponto & Vírgula quis dar voz ao máximo de membros da comunidade educativa em construção. Fê-lo, publicando, na versão digital, opinião de professores e alunos, entrevistas a pessoas que representam sectores vários da comunidade educativa, notícias sobre os projetos, sobre aulas e outras atividades, nas quais muitos tiveram voz. Vox Populi, a rubrica desta página da edição de papel, pretende ser um espaço onde alunos e professores expressam as suas opiniões relativamente aos projetos do Agrupamento e da escola sede, às mudanças que ocorreram e ao seu funcionamento em geral. 1) Quais os projetos desenvolvidos este ano na escola que consideraste mais interessantes/importantes. Porquê? 2) Na tua opinião, quais foram os pontos fortes e os pontos fracos do processo de transição para a criação “real” do Agrupamento de Escolas Marinha Grande Poente? 3) Na tua opinião, quais são os aspetos a realçar (positivos ou negativos) sobre a oferta formativa da escola Calazans Duarte?

1) Todos os projetos/clubes são interessantes e importantes para a comunidade escolar. Nuns anos há alguns que são mais visíveis, noutros anos serão outros. Verdadeiramente importante seria a implementação de uma política (nacional) que garantisse tempo para que os professores pudessem trabalhar esta área tão importante para a formação dos nossos alunos. 2) O nosso Agrupamento (tal como outros) surgiu por imposição legal e não por necessidade e vontade das escolas que agora estão agrupadas. Até agora e no que neste momento posso perspetivar, não vejo vantagens consideráveis. Vejo, aliás, muitas desvantagens. Faria muito mais sentido a “construção” de um Conselho Local de Educação, que articulasse efetivamente uma política local para a educação. 3) A escola tem fornecido diversos tipos de formação, que regra geral correspondem às necessidades das realidades locais e regionais. Esta oferta pode e deve ser melhorada. Mas todo o processo deverá desenvolver-se num quadro que não promova o aparecimento de uma escola com cursos para “pobres” e outros para “ricos”. A escola (instituição) não deve ser o alfobre de criação de gerações formatadas para obedecer.

1) Penso que pela sua visibilidade, pela diversidade das atividades desenvolvidas, pelo número de alunos que envolve e, particularmente, pelos objetivos que estão em causa, o Projeto Educação para a Saúde tem a vantagem de chegar a grande número de alunos, a uma comunidade educativa alargada, e a virtude de dotar os jovens alunos de conhecimentos que lhes permitem assumir atitudes responsáveis e valores. 2) Este processo que nos foi imposto, em modo acelerado, obrigou-nos a digerir as eventuais mudanças… as inevitabilidades permitem sobreviver, fazer, resolver, reagir. Mas também é verdade que é tudo muito recente e ainda não sou capaz de fazer essa leitura sobre as vantagens e desvantagens (percebo as vantagens para a tutela). Decerto que a CAP tem essa perceção, pois são eles que têm que resolver os problemas e fazer a gestão desta grande “empresa”. O caminho faz-se caminhando e as escolas saberão responder aos desafios, às dificuldades. 3) A escola tem sabido responder àquilo que dela se espera. Criou várias soluções, vários cursos, várias opções que dão resposta às necessidades de um grande número de alunos, das famílias e das empresas e do mercado de trabalho. Os cursos profissionais e vocacionais têm permitido a inclusão de muitos alunos e proporcionado a formação e qualificação de uma fatia da população.

Jorge Monteir o of. Pr

Ana Paula San ª f to o Pr

f. Paulo Tojeira Pro

s

1) Neste ano letivo, destaco os projetos relacionados com a Comunicação, Ambiente, Ciência, Europeu, Saúde, Parlamento dos jovens e Justiça uma vez que são vetores que integram o desenvolvimento da comunidade escolar, preparando-a para exercer no seu dia-a-dia uma melhor cidadania. 2)O fato de todos os alunos do 9ºano do Agrupamento frequentarem a Escola Calazans Duarte, permite uma melhor transição para o Ensino Secundário, nomeadamente, na informação para a escolha do curso, bem como, o conhecimento do funcionamento da escola. A dimensão da estrutura do Agrupamento terá reflexos na sua organização, intercomunicação dos recursos humanos e a eficiência dos mesmos. Durante o ano lectivo, os directores dos cursos profissionais e vocacionais têm que proceder com frequência, ao ajustamento dos horários das turmas e dos professores de modo a que todas as disciplinas/módulos/unidades sejam concluídas até à data prevista. Por isso, julgo que seria mais eficaz que uma pessoa apenas fizesse a gestão do programa de sumários. Desta forma, seria possível uma organização em tempo útil do registo dos respectivos sumários, proporcionando aos directores de curso um melhor controlo dos mesmos. A existência neste ano letivo do curso vocacional do Ensino Secundário talvez justificasse, à semelhança do que acontece nos cursos ponto & vírgula agrupamento de escolas marinha grande poente

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. Ana Oliveira

P 1) Não tenho opinião. 2) Os pontos fortes foram a articulação interciclos, a formação de professores conjunta, a preparação articulada de várias atividades para os alunos, a vinda dos alunos mais novos à escola Calazans. Os pontos fracos decorrem de esta decisão de agregação ter sido imposta pela tutela apenas por critérios economicistas e não por razões pedagógicas, o que faz com que nem todos os agentes envolvidos neste processo já tenham tido possibilidade de se apropriar desta nova realidade. 3) O mais positivo prende-se com a diversidade

da oferta formativa (para jovens: para além dos cursos científico-humanísticos, há também cursos vocacionais, cursos profissionais e cursos de aprendizagem; para adultos: cursos EFA – escolares e de dupla certificação – e cursos de português para falante para falantes de outras línguas).

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ia Duarte . Sof ª f ro

profissionais, o cargo de director de curso integrado num “Departamento de Educação de Formação Profissional e Vocacional”.

1) Esta Escola, felizmente, é muito dinâmica, sempre com atividades e projetos e uma das iniciativas mais relevantes foi a do Ensino Especial que envolveu toda a comunidade educativa. À semelhança do que sucedeu o ano anterior, o projeto de participação no Parlamento dos Jovens e o do PES de recolha de medula também me parecem importantes. 2)Um dos pontos fortes, se me é permitido, foi a grande capacidade de adaptação dos

professores que se encontram a lecionar nas duas escolas que têm realidades totalmente diferentes; um dos pontos fracos é o desfasamento em termos de estrutura física da Guilherme em relação à Calazans. A escola básica necessita de uma rápida intervenção em termos de estrutura física dos espaços internos e externos. 3) A Calazans tem de conciliar muitos aspetos que condicionam a oferta formativa, dos quais se destacam: distribuição da rede escolar, oferta formativa de outras instituições que lhe estão próximas e os recursos humanos que dispõe para concretizar essa oferta formativa. E dito isto, pretende oferecer-se cursos com empregabilidade ou que motivem os alunos. No entanto, nem sempre é possível ter a oferta formativa que se deseja pelos fatores anteriormente enunciados. Penso, no entanto, que é sempre tida em atenção a questão da empregabilidade e das necessidades da região, logo é uma oferta formativa que se adequa à comunidade em que a Escola está inserida.

Perguntas aos alunos: 1) Quais as atividades mais interessantes em que participaste este ano na escola? Porquê? 2) Consideras que a escola fornece os meios necessários para apoiar os alunos, quer a nível académico quer a nível pessoal e os incentiva a ter sucesso? 3) Quais os pontos fortes e os pontos fracos desta escola? 4) Aconselharias outras pessoas a frequentar esta escola? Porquê?

1) Participei na entrega dos Prémios Calazans e na ida a Lisboa em que a Escola recebeu o selo intercultural 2) Sim 3) Pontos Fortes: a escola não tem confusões e é segura. Pontos fracos: penso que não tem. 4) Sim, porque desde que vim para a Calazans a passei a gostar da escola. Nas outras escolas era diferente. Na Calazans consegui receber um Prémio Calazans graças aos professores que nos apoiaram desde o início, principalmente a professora Sofia Duarte

1) FAIR PLAY. Porque envolve todos os alunos da escola e são 3 dias de muita emoção e interligação entre alunos. 2) Sim 3) Pontos fortes: Atividades extracurriculares, mediateca com boas instalações, ginásio com bons equipamentos. Pontos fracos: material informático danificado; pavilhão (chove lá dentro); mesas do bar sujas; poucas auxiliares nos diversos pisos; balneários em mau estado. 4) Sim, porque apesar de tudo, o ensino, em geral é bom.

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1) As atividades mais interessantes em que participei este ano na escola foram: o “Fair Play”, pois é uma atividade desportiva adorada por muitos alunos e professores, que exige dos participantes empenho, espírito de equipa, motivação, entre outros aspetos, e promove a sensibilização. Outras atividades foram as palestras no auditório que, na maioria das vezes, nos deram a conhecer aspetos importantes de como viver, não tão explorados pelas diversas disciplinas. 2) As atividades mais interessantes em que participei este ano na escola foram: o “Fair Play”, pois é uma atividade desportiva adorada por muitos alunos e professores, que exige dos participantes empenho, espírito de equipa, motivação, entre outros aspetos, e promove a sensibilização. Outras atividades foram as


1) As atividades mais interessantes em que participei este ano na escola foram algumas palestras sobre variadíssimos temas como Segurança na Internet, o divórcio, distúrbios alimentares, entre outras. Foram as atividades mais interessantes porque aprendi várias coisas bastante úteis. 2) Sim, sem dúvida, um bom exemplo de apoio a nível académico sãos os Centros de Aprendizagem. 3) Pontos fortes: muito boas instalações (de um modo geral), visto que é uma escola moderna e “nova”, professores competentes na sua grande maioria, a simpatia e prestabilidade dos funcionários, a ajuda tanto académica como pessoal que a escola disponibiliza a todos os seus alunos, as várias atividades que a escola faz como palestras, o Fair Play, etc. Pontos fracos: balneários pequenos, para algumas turnas, a fraca educação de alguns alunos, o grande problema do lixo deixado pelos alunos nas mesas do bar. 4) Sim, aconselharia, porque acho que os pontos fortes da Calazans “anulam” todos os pontos fracos.

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1) As atividades mais interessantes foi sem dúvida o Fair Play, pois acho que também é importante os alunos se distraírem. 2) Sem dúvida alguma. 3) Para mim, é das melhores escolas que eu já frequentei. Apenas acho que os balneários masculinos são um pouco pequenos para uma turma com cerca de 10 rapazes. E se possível deviam acrescentar mais um computador no bar, pois a fila, nos intervalos fica muito grande. 4) Sim, aconselho. Acho que tem excelentes condições, é bastante espaçosa, tem ótimos professores e auxiliares.

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1) Na minha opinião, as atividades mais interessantes são o FAIR PLAY e as visitas de estudo que me permitiram adquirir vários conhecimentos. (Mas este ano não participei porque estou num curso EFA noturno) 2) Sim, a escola fornece todos os materiais necessários e até diversos descontos a quem tem mais dificuldades económicas e também existem infraestruturas que fornecem apoios de forma a ajudar os alunos a nível académico. 3) A escola está bem localizada, existem vários apoios e diversas atividades que a escola oferece. 4) Sim. Porque durante o tempo que a frequentei, achei que era uma escola com bom ambiente e que oferece os meios de trabalho e os apoios para os alunos terem “sucesso”.

de apoio na obtenção de certos materiais, no que diz respeito ao curso de Artes Visuais, a qualidade de construção de certas áreas constituintes da escola, como é o caso dos balneários e do campo desportivo parcialmente coberto e o aspecto interior pouco apelativo derivado da predominância da cor cinzenta. 4) A minha experiência enquanto aluno de Artes Visuais nesta escola tem sido muito positiva, pelo que recomendo a qualquer aluno do concelho da Marinha Grande que queira ingressar no curso de Artes Visuais a frequentar a ESEACD. ciclo) l( 3 º a on

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palestras no auditório que, na maioria das vezes, nos deram a conhecer aspetos importantes de como viver, não tão explorados pelas diversas disciplinas. 3) Alguns dos pontos fortes desta escola são: a mediateca, que dispõe de muitos recursos para os alunos, e os centros de aprendizagem, onde professores das várias disciplinas estão dispostos a ajudar-nos a ultrapassar algumas dificuldades na sua disciplina. Alguns dos pontos fracos desta escola são: os recintos desportivos, que em dias de chuva nos impedem de ter aulas de Educação Física, os balneários que são muito pequenos, dificultando a gestão do tempo que temos para higiene. Outro ponto fraco é a reduzida quantidade de comida no bar, para os alunos que almoçam à última hora, não tendo assim oportunidade de escolha. 4)- Sim, aconselharia outras pessoas a frequentar esta escola. É uma escola com bom ambiente, com bons cursos e apresenta os materiais necessários à nossa aprendizagem e formação.

1) No que diz respeito às atividades desenvolvidas pela escola não posso exprimir a minha opinião, pois não me envolvi em nenhuma. 2) A minha opinião acerca do assunto em questão, irá reflectir a minha experiência enquanto aluno docurso de Artes Visuais. Relativamente aos materiais necessários para o curso de Artes Visuais verifico que a escola deveria disponibilizar os equipamentos necessários para o bom funcionamento da disciplina de Oficina Multimédia e apoiar os alunos na obtenção de materiais de arte para a disciplina de Desenho A, uma vez que estes tendem a apresentar preços bastante elevados, quando de boa qualidade de fabrico. Ao nível do apoio académico e pessoal penso que a escola, dentro das suas disponibilidades, providencia aos alunos o auxílio necessário para o desenvolvimento das suas capacidades incentivando o seu sucesso. 3) Diria que os pontes fortes desta escola são o bom acompanhamento académico e apoio pessoal fornecidos. Os pontos fracos são, a falta ponto & vírgula agrupamento de escolas marinha grande poente

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PROIBIDO FALAR, PROIBIDO CALAR! P&V

Calazans Duarte comemorou os 40 anos da revolução de abril

Os 40 anos da Revolução dos Cravos foram comemorados nos dias 23 e 24 de abril na Escola Calazans Duarte com Conversas Proibidas, título que traz à memória a censura, a repressão e a clandestinidade de uma época histórica e simultaneamente evoca a necessidade de hoje se contar essa história. Foi uma iniciativa do grupo de professores de história e teve a participação de duas professoras e dois antifascistas marinhenses, que, na clandestinidade, lutaram para tornar possível o 25 de Abril de 1974. Na manhã de 23, as duas professoras, cuja história profissional está ligada a esta escola, Alice Marques (ainda a lecionar) e Leonília Rijo (aposentada) falaram para um auditório de alunos do 6º ano, da escola Guilherme Stephens, sobre como era a escola antes do 25 de Abril. Alice Marques, que nasceu e cresceu numa aldeia do concelho de Cantanhede, traçou um retrato das escolas dos meios rurais, pondo em destaque a educação desigual entre rapazes e raparigas, que a marcou, bem como a várias gerações. Leonília Rijo, natural da Marinha Grande, falou da sua experiência escolar nesta terra operária, onde as diferenças mais visíveis tinham sobretudo a ver com o grupo social de pertença. Tendo iniciado a sua carreira de professora antes do 25 de abril de 1974, Leonília Rijo (professora Lili, nome carinhoso pelo qual foi conhecida por várias gerações de alunos) teve ainda oportunidade de

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realçar o que foi esta escola, então Escola Industrial e Comercial da Marinha Grande, e quanto ela contribuiu para a formação das gentes desta vila. A história desta terra de operários vidreiros, nos seus tempos de menino, foi o ponto de partida para a conversa de Henrique Neto, um marinhense bem conhecido, que partilhou com José Jacinto, também marinhense, a conversa do dia 24, para um auditório de alunos do 9º e do 12º ano. Figura habitual como comentador de política e economia nos meios de comunicação social, Henrique Neto, que foi operário, empresário de moldes e deputado da Assembleia da República, quis demonstrar, durante esta conversa, como é possível hoje, a qualquer cidadão, ter voz na “praça pública”, por exemplo, participando nos fóruns dos media. Assim, interveio no Fórum da TSF, a partir do auditório, nesta manhã que a rádio dedicou ao tema democracia. Uma intervenção totalmente impensável antes do 25 de Abril. Tornou-se membro do MUD (Movimento de Unidade Democrática, uma organização que se opunha ao regime de Salazar, fundada em 1945 e ilegalizada em 1948,) Juvenil, com 15 anos, e foi a partir desta referência que contou como, mesmo na clandestinidade, “os jovens se auto-formavam” e como circulava a informação que foi minando o regime: “fazíamos papéis, numa tipografia

clandestina que funcionava em minha casa, e esses papéis eram distribuídos aos operários, às vezes à saída da missa, mesmo com risco de sermos presos, como aconteceu uma vez, em que foram todos, menos eu que tinha ficado a proteger a tipografia”, recordou Henrique Neto. Outro episódio contado por este marinhense foi a propósito das eleições de 1969: “reunimo-nos em Leiria, em casa do Dr. José Vareda, e quando eu ia a sair fui barrado por um agente da Pide que me disse: Identifique-se! Eu dei um passo atrás, fechei-lhe a porta na cara e fui lá dentro falar com os outros. Ninguém saiu. Ficamos ali durante dois dias e aproveitámos para fazer propaganda política, telefonando para a rádio portuguesa e até para estrangeiras, porque eles não cortaram logo o telefone. A emissora nacional não podia transmitir essa propaganda oposicionista, mas fazia-o através de senhas, por exemplo: passavam a música “Daqui não saio, daqui ninguém me tira”. Fomos apoiados por muitos marinhenses que lá foram levar-nos comida e até colchões”. José Jacinto evocou a memória do patrono da escola, Engenheiro Calazans Duarte, de quem foi aluno, e como este professor contribuiu para a formação dos jovens operários, exigindo que eles “frequentassem a escola, depois do trabalho”. Atento às atuais circunstâncias económico-sociais do país, exortou os jovens presentes no auditório, “a lutarem pelos seus direitos, sobretudo pelo direito a um futuro, que neste momento o país não garante”. José Jacinto, operário vidreiro em várias fábricas da Marinha Grande, foi um sindicalista clandestino que, em 1972, na chamada Primavera Marcelista, o regime deixou entrar como “intruso” no então sindicato corporativo dos vidreiros. Recordou lutas operárias travadas na Marinha Grande, por exemplo, já na fase final do regime, a greve geral em 14 de março de 1974, em que “todas as empresas vidreiras encerraram durante dois dias”.


Henrique Neto

José Jacinto

O 25 DE ABRIL DE 1974 NA MARINHA GRANDE

Nesta conversa, os dois convidados deram também testemunho do que foi o dia 25 de abril de 1974 na Marinha Grande. Homenageando o anti-fascista Joaquim Carreira, que passou 12 anos nas prisões, Henrique Neto contou: “quando soubemos da notícia, pelo telefone, fizemos uma reunião no Tremelgo para decidir como devíamos celebrar o acontecimento. Alguns queriam logo ir

ao posto da GNR fazer barulho. Foi o Joaquim Carreira que sugeriu: vamos para Praça Stephens manifestar-nos, mostrar que já estamos livres. Não vamos esperar que a liberdade nos venha anunciada de Lisboa”. Respondendo a perguntas do auditório, Henrique Neto pode ainda dar uma explicação “simplificada”, como o próprio disse - sobre como

a guerra colonial foi decisiva para o 25 de Abril e sobre as diferenças entre o socialismo e o co m u n i s m o, e J o s é J a c i nto re co rd o u , emocionado, a luta das mulheres marinhenses, companheiras, esposas, mães, em particular das empalhadeiras, apelando à coragem dos jovens para travarem as lutas pelo seu futuro, “honrando a tradição marinhense”.

calazanstv.ccems.pt ponto & vírgula agrupamento de escolas marinha grande poente

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NA ESCOLA TAMBÉM HÁ... TEATRO Helena Pires

Com cinco anos de existência, o Clube de Teatro da Calazans inaugurou este ano, no dia 28 de Abril, a sua participação no Festival de Teatro Juvenil de Leiria, cuja vigésima edição decorre no Teatro Miguel Franco, de 27 de Abril a 30 de Maio. Em palco esteve “O Regresso de Natacha”, de Ricardo Neves das Neves, peça escrita em 2005 e já anteriormente representada em Leiria, em 2007, na sala Jaime Salazar Sampaio, pelo grupo Te-Ato, com encenação de João Lázaro. As personagens foram interpretadas pelos alunos António Santos, 12º E; Isa Severino, Luís Matos, 12º O; e Patrícia Matos, 12º H, dirigidos pela atriz Sandra José, da Companhia de Atores, com a colaboração de Helena Varela, professora da escola, e Patrícia Silva, aluna do 11º D. Em cena, numa hilariante sequência de diálogos non-sense, os quatro jovens atores multiplicam-se

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em personagens, equilibradas em réplicas absurdas, tendo apenas como denominador comum a voz e a palavra. Presos num cenário espartano (apenas uma mesa e um banco), porque ali “nunca há táxis”, constroem a metáfora da vida: a impossibilidade ou a recusa da fuga, o retorno à infância, a construção do progresso, os encontros e desencontros, o absurdo das galinhas que o não são, a morte como derradeiro final e, sobretudo, na fala de uma das personagens, “a constante inação do mundo”, a revelar a inutilidade de tudo. Para estes jovens atores, democraticamente escolhidos entre todos os elementos do teatro por ser este o último ano que frequentam a Calazans, foi o culminar de um trabalho que iniciaram há dois anos atrás. O ritmo dos ensaios nem sempre é fácil de coadunar com as atividades letivas, mas o

gosto pelo teatro, o empenho, o sentido de responsabilidade e, principalmente, o espírito de grupo prevaleceram. São eles, pois, os primeiros a estar de parabéns. No final, o público, que, na sua maioria, se deslocou ao Teatro Miguel Franco em transporte gratuitamente disponibilizado pela Câmara Municipal da Marinha Grande, aplaudiu de pé, estes jovens promissores. Nos rostos a satisfação de uns momentos bem gargalhados e a perplexidade por ter chegado ao fim. Um segundo ato viria mesmo a calhar... Mas agora, mais, só mesmo no próximo ano! A terminar, uma palavra de agradecimento à Direção da Calazans, que sempre acreditou no projeto deste Clube de Teatro e cujo apoio foi fundamental na organização desta deslocação a Leiria.


“ESTARMOS PRESENTES VALORIZA O TRABALHO DAS ESCOLAS” Alice Marques Responsável pelos pelouros da Educação, Turismo, Saúde e Geminações, a autarca Alexandra Dengucho define-se como “uma pessoa acessível, comunicativa e disponível”. A sua chegada ao elenco camarário em Novembro de 2013, trouxe uma nova dinâmica aos serviços pelos quais é responsável e já contagiou outros. Não é uma autarca de gabinete, embora aí passe algumas horas, a despachar assuntos e a atender munícipes. Passa 90% do seu tempo (é vereadora apenas a meio tempo) na “rua” a contatar com a realidade. Concedeu prontamente uma entrevista ao Ponto & Vírgula, durante a qual apresentou a sua visão da educação no concelho e prometeu reativar o Conselho Municipal de Educação. Considera o seu trabalho como parte de um todo e reconhece ter tido sempre o apoio do Presidente da Câmara, que, ao delegar nela os pelouros, lhe conferiu também alguma autonomia, pese embora todas as decisões serem analisadas em reunião do Executivo. Em 6 meses de exercício autárquico, já visitou todas as escolas públicas do concelho, em visitas formais, e esteve presente em eventos, nos estabelecimentos privados, para os quais foi convidada. Construiu uma visão otimista do estado da educação e do ensino no seu território de ação: “as escolas estão bem entregues; directores, coordenadores e professores com os quais contatei parecem-me muito profissionais e competentes. E as escolas em geral são agradáveis, cuidadas e estão bem apetrechadas”, disse ao P&V. Nestes primeiros meses de mandato, preocupou-se também em conhecer os problemas que, apesar de tudo, existem em algumas: “são, em geral, problemas que exigem intervenção nos edifícios e como as obras não são o meu pelouro, passo ao vereador responsável, Paulo Vicente”, esclareceu Alexandra Dengucho. Sobre o que não conhece bem não gosta de pronunciar-

se. Foi o caso do processo de constituição dos Agrupamentos, sobre o qual assegura que “muito melhor do que eu, os responsáveis das escolas, os alunos e os professores estão em condições de avaliar as vantagens e desvantagens desse processo”. Do que conhece dos projetos educativos das escolas, das atividades que desenvolvem, em algumas das quais teve oportunidade de estar presente, conclui que as “escolas têm uma dinâmica muito importante e os projetos devem continuar a apostar no desenvolvimento dos valores da cidadania, da solidariedade e do conhecimento, exigências básicas das sociedades atuais”. Algumas escolas básicas fechadas preocupam-na, mas reconhece que a “demografia tem responsabilidade nisso”, e considera que o concelho “está bem servido em quantidade de escolas e há que cuidar e melhorar as que existem”. Sobre a oferta formativa tem também uma opinião positiva: “a oferta formativa nos diversos níveis é adequada às necessidades do concelho, tendo em conta a oferta das públicas e privadas”- declarou ao P&V. O Conselho Municipal de Educação é o seu calcanhar de Aquiles. Reconhece que “existe mas não funciona” e quer torná-lo num “órgão interventivo, pô-lo a funcionar”. Imprimiu à vereação a sua forma de estar: dinâmica, rapidez na resolução dos problemas, pressionar os outros membros a agir com celeridade, quando as soluções não são da sua competência, e disponibilidade para os munícipes. É neste estilo de autarca que Alexandra Dengucho se revê. Razão pela qual afirma que “estar presente nos eventos das escolas é uma parte importante da função autárquica e valoriza o trabalho que as escolas levam a cabo”.


ENSINO VOCACIONAL, UM DESAFIO A CONTINUAR Eulália Cabo

Para os alunos que integram estas turmas, a escola poderá não ser o seu mundo, mas compreendem agora a importância desta instituição, pois é ela que lhes fornecerá, através destes cursos, as ferramentas necessárias para mais facilmente alcançarem o que tanto pretendem: o ingresso numa carreira profissional. Pelo segundo ano consecutivo é proposto e aceite pela Calazans Duarte fazer parte de uma experiência-piloto: curso vocacional de nível básico, no passado ano letivo e, este ano, o curso vocacional de nível secundário. O sucesso da experiência passada comprova-se com o facto de termos, agora, em funcionamento três turmas de nível básico e uma aposta forte na mesma resposta educativa para o nível secundário. Porquê esta oferta? O que são afinal os cursos vocacionais? A quem servem? Quais as expetativas? Estas serão algumas das questões que se colocam à partida. O objetivo principal será o de criar uma via que corresponda às necessidades dos alunos, tendo como finalidade a inclusão de todos na escolaridade obrigatória. Criar uma alternativa mais adaptada aos jovens que procuram um ensino mais prático, mais técnico e mais ligado ao mundo das empresas, dotando esses jovens de ferramentas que lhes permitam enfrentar os desafios do mercado de trabalho. Outra das mais-valias será a idade de ingresso nestes cursos, a partir dos 13 anos, evitando que os alunos vivam o insucesso escolar até haver lugar a uma alternativa, possibilitando-lhes desenvolver ou mesmo descobrir, desde cedo, o gosto por determinadas áreas. Ligar a escola às empresas parece ser, igualmente, uma condição essencial para o cumprimento dos objetivos da via vocacional. Esta ligação tem por finalidade "sensibilizar os jovens para a realidade

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empresarial envolvente e possibilitar o estreitamento entre os universos empresarial e escolar" ( Portaria n.º 292-A/2012). Os momentos de estágio formativo são aguardados com expectativa e interesse, pois constituem a tão esperada experiência no mundo do trabalho, permitindo a consolidação de conhecimentos em contexto real. Para a maioria destes alunos os aspetos mais positivos prendem-se com a possibilidade de encontrar, através destes cursos, uma saída profissional, a existência de uma componente prática forte e a possibilidade de ter contacto com empresas e o mundo real do trabalho. Para as famílias, esta via, com uma componente mais prática, constitui a única forma de os seus educandos voltarem a ver a escola como um lugar atrativo, onde vale a pena estar com um objetivo traçado.

MODELO FORMATIVO No ensino básico, a matriz curricular inclui as disciplinas de Português, Matemática, Inglês e Educação Física (Componente Geral) e Ciências Sociais – História e Geografia, Ciências Naturais e Físico-Química (Componente Complementar). As áreas da Componente Vocacional são as escolhidas pela escola – no caso: Acabamentos Gráficos, Comércio, Cozinha, Eletricistas de Instalações Elétricas, Informática e Serralharia Mecânica, Instalações Elétricas, Comércio são as

opções, ocupando 40% da carga horária semanal. Quem termina o 9º ano pode prosseguir estudos no ensino regular, se realizar os exames nacionais; no ensino profissional, desde que conclua com sucesso todos os módulos do curso; ou, ainda, o ensino vocacional de nível secundário, desde que tenham concluído 70% dos módulos das componente geral e complementar e 100% dos módulos da componente vocacional. No ensino secundário, os cursos vocacionais certificam profissionalmente com o nível 4 e desenvolvem-se em áreas de formação de acordo com o Catálogo Nacional de Qualificações. Esta oferta destina-se a alunos que concluíram o 3ºciclo do ensino básico ou equivalente, completaram 16 anos de idade ou que, tendo frequentado o ensino secundário, pretendam reorientar o seu percurso escolar para uma oferta educativa mais técnica. A matriz curricular divide-se em quatro componentes: Geral - Português, Comunicar em L í n g u a E st ra n ge i ra e Ed u ca çã o F í s i ca ; Complementar – Matemática e oferta de escola; Vocacional – Formação Tecnológica e Estágio Formativo, com uma duração total de 1.400 horas. Para o próximo ano letivo, o agrupamento, propôs desenvolver as seguintes áreas de formação: Técnico de Multimédia; Técnico de Turismo Ambiente e Rural; Técnico de Instalações Elétricas e Técnico de Planeamento Industrial de Metalurgia e Metalomecânica.


DIA ZOOM NA CALAZANS! Fernanda Leitão

O dia 2 de Maio foi um dia flash para os alunos de uma turma de 10º ano da Escola Calazans Duarte. Durante quase sete horas, fez-se Zoom e cumpriram-se apenas três regras fundamentais: divertir, divertir e… divertir! Com o objetivo de promover nos jovens a descoberta dos seus talentos, a Zoom Talentos Associação de Leira passou pela escola e deixou uma infinidade de mensagens positivas, boa disposição e uma onda de alegria contagiante. Trata-se de uma formação que aposta no desenvolvimento pessoal e que pretende ajudar os jovens a encontrarem os seus talentos, a descobrirem as suas paixões, a explorarem todo o seu potencial e a escolherem o seu caminho. Não é todos os dias que se vivem momentos de interação a este nível, numa formação dinâmica, pedagógica, divertida e reveladora. Baseada em conteúdos e dinâmicas de várias áreas de desenvolvimento pessoal (Psicologia Dinâmica, Coaching Motivacional, etc.), a formação Zoom tem passado por várias escolas do país e sempre com resultados surpreendentes. Os alunos tiveram oportunidade de experimentar um turbilhão de sensações que lhes permitiram, por exemplo: fazer um diagnóstico às áreas da sua vida; listar os seus valores, paixões, talentos e necessidades, para descobrir a suas zonas de realização; aprender que tolerar, respeitar e compreender o outro, são indispensáveis; reconhecer que todos nós somos únicos e temos talentos, e que descobri-los e usá-los é a forma mais simples de ser feliz; explorar a técnica do feedback como melhor forma de evoluir e fazer evoluir o outro; aprender que todos os desafios têm uma solução, mesmo que nos pareçam ser, à primeira vista, uma missão impossível; e reconhecer que podemos sempre escolher entre ser passageiro ou condutor da nossa própria vida. No final, alunos e professora foram unânimes em considerar a pertinência deste dia e a utilidade destas dinâmicas recheadas de ensinamentos divertidos. Os alunos aceitaram de corpo e alma as propostas dos Zoom, reforçaram a sua autoestima e a união do grupo/turma, ao mesmo tempo que desenvolveram o seu sentido de tolerância; descobriram, de forma surpreendente, os seus talentos e definiram sonhos e objetivos para a sua vida.Um agradecimento especial à Zoom Talentos Associação – núcleo de Leiria, que, de forma voluntária, com uma entrega e dedicação únicas, nos proporcionaram este dia fantástico e cheio de emoção, acreditando que é possível fazer a diferença com esta aliança nas escolas. E tu jovem, o que te faz vibrar? Quais são as tuas paixões? ponto & vírgula agrupamento de escolas marinha grande poente

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S O M

A conclusão da obra do Auditório José Vareda, necessita da sua ajuda, Faça o seu DONATIVO! individualmente ou enquanto empresa.

NIB: 0046 0205 00600015130 31 Ajude-nos a reconstruir o Auditório, você ganha, ganha a cultura na Marinha Grande. geral@operariomarinhense.com | 244 503 984 - 929 048 637


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