Esta revista faz parte da edição nº 2809 de 6 junho de 2018 do Jornal da Marinha Grande e não pode ser vendida separadamente
MARINHA GRANDE
AGRUPAMENTO DE ESCOLAS
POENTE
gic
gabinete imagem e comunicação
junho 2018
., interculturalidade
CHINA中国
CHINA, TÃO LONGE E TÃO PERTO
Editorial
Tomo de empréstimo o título que o nosso colaborador José d'Encarnação deu à sua crónica, esta 3ª edição do P&V dedicada à interculturalidade leva-nos até à China, esse país longínquo a que os portugueses chegaram há cinco séculos, fazendo com os seus habitantes o que ficou conhecido por “negócios da China.” A China dos negócios veio até nós nos finais do século XX, com restaurantes, lojas de utilidades, contrafações das marcas, suscitando sentimentos contraditórios. Dessa China vieram também milhares de pessoas, que trouxeram até nós pedaços da sua cultura milenar. No mundo global do século XXI, a cultura chinesa faz parte da paisagem das grandes cidades do ocidente. E também das pequenas, como a Marinha Grande. Já passaram pela escola Calazans Duarte muitos adultos chineses que aqui vieram aprender ou aperfeiçoar a língua portuguesa e, nas diversas escolas do Agrupamento, meninos e meninas têm integrado turmas e se não fosse o seu rosto tão característico, já nada os/as distinguiria dos outros meninos/as. Por outro lado, a língua oficial chinesa, o mandarim, há 3 anos que faz parte da oferta formativa de língua estrangeira na Calazans. A professora Chen Chen, e as manas chinesas, Jiarong e Jiaying e a Ziyi Qian estão presentes nesta edição. Elas são a voz da China. Aceitar os outros, condição essencial da integração, significa também conhecer e valorizar as suas culturas, partilhando com eles
espaço, como fazemos através do jornal. Essa incursão pela cultura chinesa traduz-se na pesquisa, interpretação e reescrita sobre as diversas vertentes culturais. Foi o que fizeram as nossas/os nossos jovens repórteres que, graças aos media, puderam penetrar na China, trazendo até aos leitores informação sobre esse país distante. E o longe se fez perto! Nesta última edição do P&V do presente ano letivo, não podemos deixar de, mais uma vez nomear os nossos/as nossas colaboradores/as, que sacrificando tempo do estudo ou do lazer, mensalmente e sem falhas, nos fizeram chegar os seus textos; Anaísa Lucena, Anastasia Khimich, Diogo Heleno, Inês Duque, Mariana Farto, Manuel Ferreira, Sofia Puglielli e Sabrina Gil. Os/as que terminam em breve o 12º ano, deixarão a escola, rumarão às universidades e será esse certamente o seu novo espaço de expressão. A sua colaboração no P&V fica como herança para futuros colaboradores. Esperamos contar com os que ainda ficam na escola para, em 2018/19, continuarmos a fazer uma publicação de que todos se orgulhem. Não podendo trazer “notícias frescas”, refrescamos a memória dos leitores, com reportagens diversas sobre o que se passa na escola e/ou transborda para outro espaços. Diogo Heleno é o repórter em destaque nesta edição, pois para além da rubrica habitual, M… de Mulheres, assina 2 reportagens sobre eventos em que participaram alunos da Calazans Duarte. No âmbito do projeto Parlamento dos Jovens -
Coordenador: José Nobre
AGRUPAMENTO DE ESCOLAS
MARINHA GRANDE
POENTE
Redação Residentes: Alice Marques, Alda Santos, Anaísa Lucena, Anastasia Klimich, Diogo Heleno, Inês Duque, José d’Encarnação, Manuel Ferreira, Mariana Farto, Sabrina Gil e Sofia Puglieeli.
Prémio Reportagem, o nosso repórter do P&V Diogo Heleno, recebeu uma menção honrosa com a Reportagem que temos o prazer de publicar nesta edição. Há meses que esperávamos a notícia, recebida, finalmente, no dia 11 de maio de 2018. Por isso, embora possa parecer uma “peça requentada”, como se diz na gíria jornalística, não podemos deixar de a publicar. A equipa do P&V felicita o jovem repórter pela excelência da reportagem. A edição destaca também o ensino profissional, dando a conhecer o curso Profissional de Técnico de Design, anunciando a nova oferta 2018/19 – C.P. Técnico de Apoio à Gestão e reportando uma palestra e a participação no Fórum Emprego e Formação. http://na Guilherme Stephens, os desafios do As obras Agrupamento para os próximos 4 anos mereceram a nossa atenção. Aos nossos leitores alunos desejamos que terminem o ano com sucesso e gozem as férias. Aos professores, desejamos um fim de ano sem muito stress e umas merecidas férias. Para os/as encarregados de educação, uma palavra de estímulo para continuarem a acompanhar o percurso dos vossos filhos. A todos os outros que nos lêem, em papel ou no ecrã digital, prometemos voltar em setembro. Nunca saberemos quantas pessoas nos leem. Mas acreditem que, seja uma dezena, uma centena, ou milhares, continuaremos a fazê-lo com o mesmo respeito por todas. Porque o fazemos com gosto e sentido de cidadania!
.,gic Coordenação:
junho 2018
Redação: Carla Panta, Carmen Santarém, Fátima Alendouro, Hermínia Lima, Isilda Silva, Jyaing Bian, Jiarong Bian, Ziyi Qian. Impressão: Gráfica Diário do Minho
Tiragem: 4000 exemplares
Produção gráfica: gabineteimagem eseacd
gabinete imagem e comunicação
ENTRAR NO 1.º CICLO COM OS 2 PÉS III Carla Panta
No dia 3 de maio, decorreu no miniauditório da Escola Secundária Calazans Duarte, a terceira edição da palestra “Entrar no 1º. Ciclo com os dois pés”. A iniciativa foi promovida pelos departamentos da Educação Pré-Escolar e 1º Ciclo do Ensino Básico e destinou-se às famílias das crianças de 5 e de 6 anos que frequentam os jardins-de-infância deste Agrupamento de Escolas. A sessão foi dinamizada pelo psicólogo educacional Dr. Paulo José Costa, doutorando em Psicologia e Assistente de Psicologia do Serviço de Pediatria do Hospital Santo André (Leiria). Após a respetiva apresentação, passou ao esclarecimento de dúvidas colocadas pelos presentes, que incidiram nas competências que uma criança deve ter quando faz a transição da educação pré-escolar para o 1.º Ciclo. No final, foi servido um pequeno lanche, gentilmente preparado pelos alunos do Curso de Cozinha e Pastelaria da Escola Secundária Eng. Acácio Calazans Duarte.
O Dr. Paulo Costa deixou-nos sete conselhos essenciais para todos os pais e que aqui partilhamos: 1 – Deixe-se guiar pelo seu filho/aluno e siga o seu ritmo; 2 – Não estimule a competição ou a pressão na educação; 3 – Elogie e encoraje as ideias e a criatividade, não critique; 4 – Promova a auto-estima e a perceção de auto-eficácia; 5 – Seja um “espetador” atento e apreciador; 6 – Treine as competências atitudinais e socioemocionais; 7 – Controle o seu desejo de dar demasiada ajuda: encoraje-o a resolver os seus problemas com a sua orientação e promoção da autonomia! As famílias e docentes presentes ficaram muito satisfeitos com a atividade, que validou mais uma vez a articulação entre os departamentos envolvidos: educação pré-escolar e 1.º ciclo do ensino básico.
Grandes vidas, pequenas histórias
HISTÓRIAS DOS ALUNOS DO CURSO PFOL PUBLICADAS EM LIVRO Alice Marques Foram 25 os alunos da turma da professora Alice Marques que em finais de abril terminaram o Curso de Português Para Falantes de Outras Línguas (PFOL) e são 25 as histórias reunidas no livro com o título Grandes Vidas, Pequenas Histórias. A ensinar português a estrangeiros há vários anos, esta professora acredita que “escrever para os outros lerem ou para eles mesmos relerem” é uma motivação extra para aprender a língua portuguesa e por isso tem dinamizado o projeto do livro das histórias de vida em todas as turmas que lecionou. Mas este é um livro muito especial, diz-nos. “Pelas histórias, pela alegria com que foram escritas, pela possibilidade de fazer uma edição profissional e pela capa, muito criativa, da autoria do professor e designer José Nobre.” O livro não está à venda nas livrarias mas pode ser requisitado para leitura na Biblioteca da Escola Calazans Duarte ou na Biblioteca Municipal. ponto & vírgula agrupamento de escolas marinha grande poente
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Obras de requalificação da Guilherme Stephens
VISITA GUIADA Alice Marques
As obras de requalificação da escola Guilherme Stephens avançam em velocidade cruzeiro. Depois da primeira fase, em 2017, visível, há muito, nos novos telhados dos blocos, as obras da segunda fase, iniciadas em 18 de dezembro, em breve estarão prontas. O sub-diretor do Agrupamento Poente, Mário Marques, proporcionou-nos uma visita guiada no dia 9 de maio e garante que “tudo estará pronto em poucas semanas”. Assim, 2018/19 arrancará seguramente numa escola bastante melhorada, com espaços mais funcionais e salas muito mais confortáveis. As obras desta segunda fase, a cargo da empresa Valeixa Construção Civil, Lda., que ganhou o concurso público, têm um orçamento previsto de 400 mil euros e até ao momento não houve derrapagem financeira. Embora uma pintura nova em todos os blocos não conste desta fase, já são visíveis, em quase todos os blocos de aulas, as novas caixilharias de
alumínio que suportam vidros, não duplos, mas quádruplos, cujos estores interiores também já foram instalados. Mas as obras mais profundas e que não se veem por fora estão a decorrer no ginásio, no pavilhão multiusos e, a muito curto prazo, serão feitas também na cantina e biblioteca. No ginásio, a pintura de todo o espaço interior e o chão de madeira, novinho em folha, estão prontos e, no dia desta visita guiada, técnicos da empresa construtora e da Câmara Municipal solicitaram a presença do nosso guia, para últimos acertos sobre o envernizamento e as marcações. Manuela Ambrósio, coordenadora da escola, substituiu-o, começando por mostrar o balneário dos rapazes, e lamentando que “nesta fase não haja orçamento para arranjar também o das raparigas”, embora estes não apresentem sinais de degradação. O pavilhão multiusos, cuja utilização era pontual e cada vez menos, dependendo de haver
funcionários, foi renovado do chão ao teto, faltando apenas os bancos (iguais aos do espaço alunos/bar da Calazans) cujo orçamento é suportado pela Associação de Pais da Guilherme Stephens. É agora um espaço utilizado a toda a hora pelos alunos e alberga também o bar e a papelaria, que saíram do espaço chamado polivalente, onde, no dia desta visita, as obras avançavam a bom ritmo. E enquanto os bancos coloridos não chegam, as mesas pretas, compradas com o dinheiro do orçamento participativo, cuja proposta ganhadora foi a da turma 8ºG, servem as necessidades. Também renovado de cima abaixo, o polivalente tornar-se-á a biblioteca, num espaço amplo e cheio de luz natural (e, no inverno, de candeeiros de teto despretensiosos, mas modernos e de bom gosto). A mudança da biblioteca permitirá que a cantina fique com o dobro do espaço e sejam feitos anexos para instalar os equipamentos de cozinha. Mário Marques e Manuela Ambrósio consideram que a compreensão dos professores relativamente aos incómodos causados pelas obras foi exemplar. Mesmo tendo de se deslocar à Calazans Duarte, para onde, semanalmente, vinham turmas de 8º ano, conforme os blocos que estava a ser intervencionados, não houve manifestações de desagrado. O planeamento das obras (bloco a bloco), as pequenas equipas de trabalhadores e a rapidez com que montam as portas e janelas ou assentam mosaicos certamente contribuiram para que nunca tenham sequer pensado que seriam as obras de Santa Engrácia!
Festival de Teatro Juvenil
COMPANHIA CALABOCA MOSTROU O SER SEM SOMBRA P&V
A companhia de teatro da Calazans Duarte, CalaBoca, voltou a marcar presença no Festival de Teatro Juvenil de Leiria, levando ao palco do Teatro Miguel Franco, na noite
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de 26 de abril, a peça Ser sem Sombra, uma adaptação teatral de Alexandre Honrado, do texto original de António Torrado, O Homem sem Sombra. Sendo um texto com alguma complexidade, que conta “muitas histórias dentro duma
história”, como explicou Ermelinda Silva, a professora que dirige o Clube de Teatro, de que faz parte a CalaBoca, sendo responsável pela encenação e direção de atores, preparar esta apresentação pública exigiu de todos um empenho excecional, tendo em
Tomás Vicente e Ana Maria pisaram um palco não escolar pela primeira vez e
conta que se trata de alunos cujos horários escolares deixam pouco tempo livre. O trabalho sobre o texto, feito pela diretora e pelos atores/atrizes da companhia, com a inclusão de referências da atualidade, quer em falas quer em personagens, é um dos “segredos” para tornar acessível ao público e aos próprios atores/atrizes, um texto, à partida, bastante inacessível. Acresce a isso que, para alguns deles, esta foi a primeira apresentação em palco, o que torna mais notável e merecedor de aplausos, o desempenho de todos eles. Catarina Brito
e Beatriz Menino protagonizaram as personagens principais e fizeram-no com a mestria de profissionais. Falando ao Ponto & Vírgula sobre a sua personagem, Madalena, Catarina Brito reconheceu que “foi um grande desafio” pois precisou de “sair da sua zona de conforto, habitualmente um registo mais humorístico”, lhe deu algum trabalho construir uma personagem que visivelmente “ tinha algumas perturbações”, mas ficou muito satisfeita com o resultado. Beatriz Menino foi a Sombra e, sem sombra de dúvida, uma revelação.
fizeram-no com graça e segurança. Rita Marques, uma “veterana” em palco, esteve no seu melhor, bem como todos os outros com os quais o P&V não falou. Num teatro quase cheio, ouviram-se merecidos aplausos. Mas não só. Algumas vozes exprimiam-se lamentando que “tanto trabalho e tão bom desempenho não tivessem uma digressão pelo país”.
AGRUPAMENTO POENTE PRESENTE NO IX FÓRUM EMPREGO&FORMAÇÃO P&V
O Agrupamento de Escolas Marinha Grande Poente participou mais uma vez no Fórum Emprego &Formação, que decorreu nos dias 2,3 e 4 de maio, no Mercado de Sant'Ana em Leiria. Esta é já a IX Edição da iniciativa promovida pelo semanário Região de Leiria com o apoio da Câmara Municipal. Visitado essencialmente por alunos de 9º e 12ºanos, o Fórum foi sobretudo uma mostra da oferta formativa profissionalizante das escolas do distrito, estando também presentes as instituições locais de Ensino Superior, bem como a Universidade de Coimbra e Aveiro. O espaço do Agrupamento Poente, concebido e executado pelo designer José Nobre, primou pela clareza da informação e pela gentileza dos alunos e professores que durante os três dias asseguraram a presença contínua no stand. Nesta edição, as “honras da casa” ficaram a cargo dos alunos e professores dos cursos profissionais de Técnico de Polímeros e Técnico de Cozinha / Pastelaria. ponto & vírgula agrupamento de escolas marinha grande poente
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“A escolha é tua”
SESSÃO DE DIVULGAÇÃO DA OFERTA FORMATIVA DA CALAZANS DUARTE Alice Marques “ A escolha é tua”- anunciava o diapositivo projetado no auditório, com o qual se iniciou a sessão de divulgação da oferta formativa pós 9º ano, da Calazans Duarte, no dia 3 de maio. Mas como não há escolhas sem conhecimento das alternativas, toda a informação sobre as ofertas disponíveis para o próximo ano letivo foi apresentada a alunos e encarregados de educação, pela Psicóloga do Serviço de Psicologia e Orientação (SPO), Susana Orosa, após o que se seguiu uma comunicação do diretor Geral do Centimfe, Rui Tocha, e diversos testemunhos de ex-alunos da Calazans Duarte, que, na hora de escolher, optaram por cursos profissionais. Em rigor, toda a sessão se centrou nas vantagens desta escolha, ainda considerada, por muitos, uma escolha de segunda. As
As modalidades formativas após a conclusão de um curso profissional de nível secundário incluem o prosseguimento de estudos numa licenciatura, submetendo-se os alunos aos exames nacionais, ou frequentando um TESP nos institutos politécnicos, curso intermédio com a duração de 4 semestres, sendo o último de estágio, que dá acesso direto a uma licenciatura na mesma área, podendo os alunos beneficiar dos créditos obtidos nas cadeiras daquele curso. O diretor geral do Centimfe, Rui Tocha, fez uma comunicação em diversos registos, desde o da sua condição de pai que “erradamente quis escolher pela filha”, ao seu percurso pessoal até se tornar diretor duma instituição cujo trabalho pioneiro em Investigação e Desenvolvimento na área dos moldes e
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necessidades do mercado de emprego/empregabilidade destes cursos foram apresentadas como um trunfo, contrariando a “imagem preconceituosa”, sobre os mesmos, que é, como disse Susana Orosa, “cada vez mais, coisa do passado”. São 10 (dez) os cursos profissionais que a Calazans Duarte pretende abrir no ano 2018/19, em áreas tão diversas como a metalomecânica, cozinha, saúde e gestão. Nesta última área, a direção da escola aposta na abertura do Curso Profissional de Técnico de Apoio à Gestão, ao qual dedicamos uma peça nesta edição (ler: Nova Oferta para 2018/19). Susana Orosa apresentou dados estatísticos sobre os cursos terminados em 2017, que provam que “os alunos que frequentam um curso profissional de que gostam, não faltam, não desistem e têm bons resultados”, disse,
polímeros é internacionalmente reconhecido. O nível de desenvolvimento tecnológico das sociedades e a rapidez com que tudo se transforma são, na opinião de Rui Tocha, condições que já não permitem pensar numa “escolha profissional para toda a vida”, tendo aconselhado os jovens a “escolher fazer o que gostam, mas sem esquecer as contas para pagar” e recomendando aos pais que “retirem a pressão sobre a decisão dos filhos”. Conhecedor da realidade das empresas tecnológicas, Rui Tocha explicitou quais as competências que as empresas procuram hoje, para além do “saber fazer técnico”: “flexibilidade, abertura ao multiculturalismo, espírito de equipa, criatividade, espírito crítico”, nas quais a escola tem de apostar. Os testemunhos de ex-alunos da Calazans,
citando o presidente da Associação Nacional das Escolas Profissionais (ANESPO) a que acrescentou: “serão também bons profissionais”.
todos ainda muito jovens, vieram confirmar o que de mais importante foi dito sobre a escolha dum curso profissional. Joana Cardoso queria um curso de artes visuais, mas mesmo conhecendo os preconceitos sobre os cursos profissionais, consultou os planos curriculares e optou pelo Técnico de Animação 2D/3D e até hoje não se arrependeu. Diz que “aprendeu imenso na escola e nos estágios”; passou pelo design gráfico e webdesign, arranjou emprego na área do desenho técnico de moldes e está a fazer um TESP de produção industrial que lhe dará acesso, em setembro, a uma licenciatura nesta área. Altamente motivada no trabalho e nos estudos, deixou uma importante mensagem aos jovens: “ Um curso profissional é um passaporte para o mundo do trabalho, mas não condiciona o nosso futuro, antes pelo contrário; por isso, não excluam opções por preconceito ”. Bruna Nogueira, cuja primeira escolha pós 9º ano foi um curso profissional de Técnico de Contabilidade, hoje exerce funções num escritório de uma empresa intermediária de ferramentas para moldes. Reconhece que o curso a preparou “de facto para o mundo do trabalho” e lhe deu “motivação para
prosseguir o caminho para o que sempre quis ser: Técnica Oficial de Contas.” Damir Kurbonov desde pequeno queria ser médico dentista. Encontrou, no Curso profissional de Técnico Auxiliar de Protésico, uma via para se aproximar do seu sonho. A trabalhar num laboratório de próteses dentárias há 5 anos, diz-se “muito feliz naquilo que faz” e tenciona passar de técnico auxiliar a técnico protésico. João Mesquita terminou o 9º ano e seguiu os amigos. Foi para um curso de ciências e tecnologias, onde as médias de 12, no 10º e 11º ano, lhe fizeram ver claramente que essa via não o levaria à universidade, a um curso ligado à saúde. E assim, já no final do 1º período do 12º ano, vencendo todas as resistências exteriores, mudou de curso e foi para o profissional de Técnico Auxiliar de Saúde. Já era bombeiro voluntário e gostava dos cuidados préhospitalares. Hoje é bombeiro profissional e a
sua ambição a curto prazo é tornar-se tripulante de ambulância de socorro. Mas um TESP na área da saúde e uma licenciatura em gerontologia são os seus objetivos a médio prazo. Paulo Figueiredo andou um pouco perdido. Estudar não lhe dizia muito. O que ele queria mesmo era ser cozinheiro. Bem orientado, entrou num CEF, a que se seguiu um curso profissional de cozinha. Há um ano e meio que trabalha numa marisqueira em Fátima. Satisfeito com o percurso que fez até aqui, pretende continuar na área da gastronomia e não excluí a hipótese de procurar carreira noutro país. Luís Gaudêncio, desde menino, parecia ter o destino traçado. Filho de sargenta da força aérea e agente da PSP, submetido aos testes de orientação, “a melhor opção era a força aérea”. Os resultados fizeram-no sorrir! Mais ou menos como “aquela pergunta idiota que os professores da primária nos fazem: o que queres ser quando fores grande?”-comenta este jovem.
Fez a ronda pelas escolas, universidades, viu os planos curriculares. Foi para um curso profissional de metalomecânica, mas era “uma turma de rufias e até quis desistir”. Foi-se aproximando dos colegas, foi gostando do curso e… ficou. Enfrentou os preconceitos, inclusive da namorada, que desdenhava de “namorar com um serralheiro”. Querendo continuar a estudar, mas sem estar preparado para as provas de acesso à Universidade, foi parar a um CET (designação anterior dos atuais TESP) de automação, em Castelo Branco. Fez o curso mas não ficou por lá. Voltou à terra, foi trabalhar na Iberomoldes e entrou numa licenciatura no ISDOM, que já terminou. Experimentando, soube o que queria ser. A trabalhar atualmente numa empresa de moldes e plásticos, sabe exatamente o que quer experimentar a seguir: liderar uma equipa de gestão industrial. Porque não há escolhas para a vida, há escolhas ao longo da vida!
CALAZANS DUARTE COMEMORA 44 ANOS DA REVOLUÇÃO DO 25 DE ABRIL P&V
Os 44 anos do 25 de Abril foram assinalados na Calazans Duarte com uma palestra promovida pelos professores de História, destinada a alunos do 9º e 12ºanos, que teve lugar no grande auditório, no dia 24 de abril. Com o título “Presos políticos durante a ditadura”, a palestra teve como orador João Neves, cuja detenção pela PIDE/DGS, prevista para o dia 27 de abril de 1974, não chegou a efetivar-se. Contudo, este lutador pela democracia não deixou de relatar alguns factos sobre prisões políticas, vividos pelo pai, esse sim, preso político em Caxias, e por muitos outros de que teve conhecimento, ainda muito jovem. Antes de João Neves tomar a palavra, o auditório ouviu dois poemas pela voz da sua autora, Fátima Leitão, assistente operacional da Calazans Duarte, de homenagem aos vidreiros e à liberdade*. A temática da palestra alargou-se muito para além do que o título sugeria, abordando as miseráveis condições de vida de muitas famílias
antes do 25 de Abril, o analfabetismo, a emigração, a guerra colonial, as organizações salazaristas inspiradas nas outras ditaduras europeias nazi-fascistas, a falta de liberdade, a censura e a corajosa luta dos resistentes, percorrendo quatro décadas de história, tornando-se uma esclarecedora aula sobre a ditadura de Salazar. Os acontecimentos do dia 25 de Abril, bem como o acaso do cravo vermelho e o simbolismo que adquiriu, mereceram uma descrição pormenorizada por parte de João Neves, que, em vários momentos, trouxe ao auditório versos das canções da resistência, de Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Carlos Ary dos Santos e Sérgio Godinho. Respondendo a algumas perguntas do auditório, João Neves lembrou aos jovens que, tal como há quatro décadas, “é preciso continuar a lutar para cumprir os objetivos do 25 de Abril”. E se a liberdade parece ter-se tornado na mais importante bandeira da revolução, é bom não esquecer, como realçou, com as palavras de Sérgio Godinho, que Só há liberdade a sério quando houver A paz, o pão habitação saúde, educação Só há liberdade a sério quando houver Liberdade de mudar e decidir quando pertencer ao povo o que o povo produzir.
Papoilas* Flores que crescem livres Em qualquer campo Sem amarras, cor de sangue, vermelhas. Rompendo entre extenso verde esperança Com o vento esvoaçam suas pétalas, Espalhando livremente no ar Gritos de Abril de novo . (Fátima Leitão, 17.10.2015)
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UM MÊS UM CURSO Curso Profissional de Técnico de Design Industrial
Textos e fotografias de Alice Marques A equipa do P&V encerra a rubrica Um Mês um Curso com duas reportagens sobre o Curso Profissional de Técnico de Design Industrial. Ao longo do ano letivo, passamos em revista cursos profissionais de áreas diversas, dando a conhecer os cursos, as suas saídas (profissionais
e académicas), as motivações dos alunos e o nível de satisfação dos potenciais empregadores. Com esta rubrica esperamos ter contribuído para combater alguns preconceitos que ainda persistem sobre esta via escolar. Não só porque a escola deve ter ofertas formativas adequadas a
todos os perfis de alunos, mas também porque, como citou a psicóloga Susana Orosa numa sessão de divulgação da oferta formativa, “Os países mais desenvolvidos do mundo são os que apostam mais na vertente profissionalizante da formação”.
“AS EMPRESAS TÊM DE APOSTAR NO DESIGN” Vários anos depois de ter formado técnicos de design gráfico, a Calazans Duarte voltou a apostar num curso em que a criatividade é um dos principiais requisitos, desta vez no design industrial. No ano letivo que agora termina, a turma de 10º ano do Curso Profissional de Técnico de Design Industrial foi frequentada por 13 alunos e esta oferta formativa mantém-se no catálogo para 2018/19. O P&V falou com os professores da área técnica, a coordenadora de curso e diretora de turma, professora Fátima Roque, docente das disciplinas de Design Industrial e Design de Comunicação, e com Rui Coelho, professor de Tecnologia e Materiais e Desenho Assistido por Computador (CAD, sigla em inglês) para avaliar a pertinência desta oferta formativa. Rui Coelho reconhece que “o mercado de trabalho local mostrou-nos que o design industrial é mais pertinente que o design gráfico; estágios e saídas profissionais serão mais fáceis para este curso, pois as empresas de design gráfico praticamente desapareceram do concelho”. Fátima Roque também reconhece a pertinência deste curso e vai mais longe na sua análise: “algumas empresas perderam oportunidades por se limitarem a reproduzir e não terem inovado no design, por isso agora reconhecem a necessidade de ter os seus próprios designers”. Esta necessidade das
empresas é confirmado pela diversidade das que foram contactadas para aceitar estagiários - de plásticos, moldes, vidro, cartão e cozinhas préfabricadas”, algumas das quais se mostraram interessadas, mas “recusaram por não terem designers para acompanhar os estagiários”. Apesar disso, foi possível arranjar o primeiro estágio para todos os alunos, que neste primeiro ano terá a duração de quatro semanas. A área técnica do curso, cuja base de conteúdos é o Catálogo Nacional de Qualificações, foi definida a partir desta proposta nacional, sobre a qual o responsável do Departamento de Formação Profissional, Luís Semedo, trabalhou, para apresentar uma base de trabalho ao grupo de professores.Estes organizaram a sequência dos módulos, nalguns acasos fundiram conteúdos, adaptando em função do número de horas de que o Plano Curricular dispõe para esta área. Numa aula do professor Rui Coelho, ficamos a perceber melhor os critérios organizativos. Por exemplo, a necessidade de conhecer os materiais e escolher um adequado, antes de projetar uma peça, porque “no desenho tudo é possível, mas é necessário conhecer as caraterísticas dos materiais para saber se e como é possível construi-la”, explicou este professor. Tendo em conta a amplitude do conceito design e a diversidade de conhecimentos que o curso proporciona, “mesmo quem seja muito criativo,
pode seguir para uma área técnica”, acrescenta aquele professor. Eventualmente haverá algum desajustamento no software de desenho disponível na escola e o que é utilizado por algumas empresas. Contudo, “se os alunos dominarem o DAC também podem, em contexto de trabalho, adaptar-se a programas mais modernos como o Cimatron, Solidworks…”, conclui Rui Coelho.
TODOS OS ALUNOS GOSTAM DO CURSO
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Em entrevista aberta, numa aula da professora Fátima Roque, os alunos e as alunas do Curso Profissional de Técnico de Design Industrial falaram livremente das suas motivações, das suas expetativas iniciais e para um futuro próximo, do que gostam e do que não gostam. O sentimento geral pode ser resumido numa frase: independentemente de tudo, todos estão a gostar do curso. Poucos escolheram este curso como primeira opção, mas todos têm algo em comum: gostam de desenhar. Houve quem tivesse pensado primeiro em Ciências e Tecnologias, mas cedo percebesse que um curso indicado para prosseguimento de estudos estava muito além da sua vontade de estudar. Foi o caso de Pedro Pereira, Nuno Trindade e Débora Pacheco. Houve quem tivesse preferido Informática (Edgar Coelho), Desporto (Sérgio Santos), Manutenção de Máquinas CNC (Tomás Seco) Artes Visuais (Inês Santos e Bruna Lourenço), Línguas e Humanidades (João Barquinha) ou Multimédia (Pedro Cordeiro, Pedro Felício). Razões diversas A OFERT NOVA 19 018/
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CURSO PROFISSIONAL DE TÉCNICO DE APOIO À GESTÃO
Continuando a apostar na diversidade e na resposta às necessidades das empresas, a Calazans Duarte oferece para 2018/19, o Curso Profissional de Técnico de Apoio à Gestão. Em reunião de rede escolar, a direção apresentou duas propostas: Técnico de Apoio à Gestão e Técnico de Contabilidade. A Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria pronunciou-se a favor do primeiro. Em conversa com o Coordenador Pedagógico, Rui Rei,
fizeram-nos desistir daquilo que, no fundo, era apenas uma ideia vaga e 13 alunos vieram a integrar a turma de Técnico de Design Industrial. O horário muito cheio e algumas disciplinas teóricas que não percebem para que servem são as queixas comuns. “E a Geometria Descritiva é muito difícil”, dizem-me, sem pudor. Comum também é a certezas destes jovens quanto ao futuro próximo: quando terminarem o curso querem trabalhar. Há quem se veja a trabalhar em fábricas, principalmente de moldes, mas há também quem se veja num gabinete, a criar objetos; e há também quem ainda não tenha pensado nisso. Para já, as disciplinas técnicas têm contribuído para que a motivação e o gosto pelo curso tenham vindo a aumentar. Reconhecem o interesse e a importância do que até agora têm aprendido, para aquilo que virão a fazer depois. Alguns admitem que não estavam muito informados sobre o que iriam aprender e pensavam que “era só desenho” como disseram o Nuno Trindade, o Sérgio Santos e o Edgar
Coelho. Mas estão a começar a perceber que o design é muito mais do que fazer desenhos. A ideia de conceber objetos, projetá-los e produzilos está ser interiorizada por todos. É por isso que alguns já começam a ficar preocupados com a PAP. Vagamente, porque sabem apenas vagamente o que lhes será exigido. Para já, tornar-se designer, ser um/a criativo/a, inventar objetos que possam vir a ser produzidos, não faz parte das suas preocupações. Apenas Nuno Trindade parece ter pensado nisso. Seguramente por passar a maior parte do dia sentado, ele gostava de projetar “uma cadeira escolar confortável”. E até há quem seja mais ambicioso. O Edgar Coelho “gostava de inventar uma máquina para organizar melhor a vida das pessoas, para economizar melhor o dinheiro”. Há algo de intuitivo nesta vaga ideia. A que não será alheio o facto de este jovem sempre ter pensado num curso de informática, computadores…
procuramos saber o que distingue os dois cursos. “Contabilidade é um curso mais específico, dá mais competências nesta área, esclareceu este docente. A escola tem recursos humanos com formação adequada para a área técnica de qualquer um deles: “todos foram também professores do ensino superior e têm experiência de trabalho em empresas e/ou gabinetes”, acrescentou Rui Rei. Os professores do grupo farão a adequação do plano curricular do curso a partir do Catálogo Nacional de Qualificações, trabalhando a área
técnica, dando-lhe uma estrutura coerente. “A sequencialidade dos módulos, que deve ter em conta a precedência de conhecimentos para cada um, é o critério essencial”, esclareceu o coordenador Rui Rei. Cristina Carapinha, docente de Contabilidade, considera relevantes conteúdos dos módulos. O problema é que “como em qualquer curso profissional, são conteúdos de grande exigência, de nível superior, o que cria dificuldades, exigindo uma adaptação que os torne acessíveis a alunos de ensino secundário”, acrescentou.
OS LUSÍADAS EM S. BENTO Texto e fotografias de Diogo Heleno Foi nos dias 22 e 23 do mês de maio de 2017 que as paredes marmóreas de S. Bento ouviram a palavra dos mais jovens deputados do país, na sessão nacional do projeto “Parlamento dos Jovens”, que para alguns mais pareceu uma ação heróica de uma epopeia clássica, tamanhos os "perigos e guerras esforçados" (ou seja, tudo o que fizemos até chegar a Lisboa),que muitas vezes nos pareceram revelarse maiores “do que prometia a força humana".
CONSTITUIÇÃO PORTUGUESA!? Afinal, o texto que dirige o nosso país está escrito naqueles livros que quase espanto provoca àqueles que logo reparam na grossura da sua goteira. Há uma ironia amarga nisto – do país onde vivemos e de que herdámos tanto, tão pouco sabemos sobre o texto que o norteia. Na realidade, a Constituição não parece ser um livro muito apetecível de se ler, e ainda menos esta apetência se nota nos jovens e adolescentes, especialmente no mundo em que
vivemos, repleto de hashtags, selfies e emojis. Todavia, a Constituição não trata disto; apesar de parecer muitas vezes algo abstrato, é aquilo que faz o país mover-se, e que visa assegurar os direitos e deveres de todos. Este ano de 2017, a edição do “Parlamento dos Jovens” subordinou-se, celebrando igualmente os 40 anos da Constituição da República Portuguesa, ao mote “Os jovens e a Constituição: tens uma palavra a dizer!”, numa iniciativa que nos fez superar muitos “perigos” e enfrentar ainda mais. Na verdade, este tema parece ter sido consentâneo com o alvo deste
OS PRIMEIROS ENSAIOS Aquilo que haveria mais tarde de se revelar uma experiência incrível, no começo revelou ser um desafio que mais pareceu uma experiência científica. Com os primeiros ensaios, começámos por moldar os argumentos e as objeções. Logo nos primeiros dias, conseguimos perceber que o que fazíamos era algo diferente, onde nos
poderíamos superar e até dizer: "Cessem do sábio Grego e do Troiano / As navegações grandes que fizeram; / Cale-se de Alexandro e de Trajano / A fama das vitórias que tiveram;", Que nós temos uma palavra a dizer! Também temos ideais que pretendemos defender. As campanhas eleitorais trouxeram às mesas de voto 167 alunos do 9º ano da Escola Secundária
PARLAMENTO
NA CIDADE DE LEIRIA
projeto que afinal já faz 22 anos, uma vez que despertou o interesse a muitas dezenas de jovens que participaram e se agarraram a esta iniciativa, no mínimo desafiadora – primeiro em sessões escolares, depois em sessões distritais e finalmente na sessão nacional, que, nos passados dias 22 e 23 do mês de maio, conheceu o que mais de 128 jovens deputados de Portugal continental, ilhas e até além-fronteiras – com a participação das comunidades portuguesas da Suíça e Timor Leste – tentaram transmitir, ora nos discursos loquazes, ora nos debates exaltados e entusiastas.
Engenheiro Acácio Calazans Duarte, tendo a lista T conseguido passar com maioria, tendo sido realizada, alguns dias depois, a sessão escolar que em remate, levou à sessão distrital do círculo de Leiria três jovens deputados – Inês Ferreira, Bruno Matos e Diogo Heleno, sendo este último aquele que tão entusiasticamente escreve esta reportagem.
Foi no dia 20 de fevereiro, em Leiria, que se realizou a sessão distrital que veio a receber mais de 84 alunos de 27 escolas do distrito. Contámos nesta sessão com a presença do Sr. Deputado Pedro Pimpão. Ainda antes da apresentação, debate e discussão dos projetos, Pedro Pimpão respondeu às interrogações dos jovens deputados ali presentes, que questionaram sobre assuntos tão largamente falados e que fazem correr tanta tinta, tais como
a eutanásia, o crescente apoio dos blocos extremistas ou o problema dos refugiados. Durante o debate, que iria decidir qual dos projetos iria representar a cidade de Leiria em Lisboa, os discursos e objeções audazes e as discussões controversas foram dignas de uma assembleia autêntica. Aquando da anunciação dos resultados da votação, que haveriam de decidir quem passaria à próxima e última fase, não deixámos de dar um grito de alegria quando soubemos que a nossa escola, que haveria de estrear-se na
sessão nacional do Parlamento dos Jovens do ensino básico, tinha passado. Daí a 3 meses iríamos estar em Lisboa, a representar a nossa cidade, com um projeto que pretendia dissolver a imunidade política, promover a divulgação de estatísticas de indicadores ambientais e garantir a gratuitidade do ensino público em Portugal. Saímos do edifício apenas com uma certeza – a de que iríamos experienciar algo de que nunca nos iríamos esquecer.
Sentíamos, no momento em que chegámos à MAIO capital, alguma euforia e muita alegria, sempre 22 acompanhada por um certo singelo nervosismo. Ao chegar, vimos que em S. Bento os séculos se diluem naquele que é hoje a sede do Parlamento. É um pouco escárnio saber que hoje, o local onde os deputados reúnem, fiscalizam e legislam, tem um certo ar sagrado,
origem das tantas preces que as mesmas paredes ouviram os beneditinos dizer há 4 séculos atrás. Quando entrámos, fomos generosamente recebidos e foram dadas as boas-vindas aos deputados e jornalistas. Logo que entrámos nas salas das comissões, fezse antever que aquele dia e o próximo seriam de
muito trabalho: uma "viagem" que em muitos sentidos excedia o que pensávamos. Leiria, conjuntamente com Beja, Bragança, Santarém, Porto, Viseu, Madeira e a comunidade portuguesa da Suíça (representando o círculo da Europa), reuniram na 1.ª Comissão, cujos trabalhos foram conduzidos pelas senhoras deputadas Ana Virgínia Pereira, do PCP, e
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sessão estavam e já tinham aprovado o projeto de recomendação que representaria a 1ª Comissão, e onde agora procediam à votação para alterar o texto que seria levado ao Plenário. Antes de finalizarem os trabalhos das comissões, almoçámos no “Refeitório dos frades”, como é conhecida aquela sala da Assembleia da República em alusão à sua função original. Nesta sala, os painéis de azulejo decoram as paredes e tingem o ar de cores aprazíveis, que deram às refeições que aí tomamos notável harmonia apesar da mais de centena de pessoas que aí estava. Quando retornámos às salas de comissões, os trabalhos continuaram até que no final houve ainda tempo para todos tirarmos uma fotografia de grupo. Antes de sairmos do edifício da Assembleia, tive a oportunidade de entrevistar a Sra. Deputada
Margarida Balseiro Lopes, que também participara neste projeto em 2009, entrevista esta na qual foram sublinhados a importância que este projeto tem na vida política, profissional e cívica dos que a experienciam e a forma como pode “enriquecer-nos a nós mesmos, tornando-nos pessoas e cidadãos melhores e mais atentos ao que nos rodeia” Quando pensávamos que a surpresa tinha terminado, eis que nos presentearam com uma atuação divertida do grupo de improviso “Os improváveis”. Acabado o primeiro dia na Assembleia, dirigimonos ao Inatel de Oeiras, onde pernoitámos. No dia seguinte acordámos com a luz forte do sol a convidar-nos a levantar da cama e a começar um dia que, sabíamos, seria diferente de todos aqueles que já tínhamos visto nascer.
No início parecia estar tudo a decorrer a meio gás, mas logo tudo se revelou de mais nervosismo do que antes, tal a euforia do que iria acontecer. Antes da abertura solene do plenário, na Sala do Senado, houve um minuto de silêncio pelas vítimas do atentado que acontecera na véspera, em Manchester. Após este momento, o Sr. Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, abriu a sessão plenária com um discurso no qual destacou “a missão” que é dada aos deputados, que em muitos aspetos levanta uma responsabilidade maior que somente a de uma profissão, a importância da participação da população na vida política do país e finalizou aconselhando-nos a estar sempre alerta, uma vez que a democracia e os direitos não são perenes;daí, afirmou, termos de ir “regando todos os dias esta espécie de flor que é a
democracia”. Após a abertura da sessão, deu-se início aos trabalhos, conduzidos pelo presidente da mesa, Miguel Seco. O primeiro período foi dedicado às perguntas aos deputados da Assembleia da República presentes na sessão, sendo eles Maria Germana Rocha (PSD), Porfírio Silva (PS), Joana Mortágua (BE), Patrícia Fonseca (CDS-PP), Ana Virgínia (PCP) e Heloísa Apolónia (PVP). Após este mesmo período, os jornalistas acorreram à porta por onde haveriam de sair os deputados presentes no primeiro período da sessão, para os entrevistar. Durante as entrevistas, falou-se de temas tão atuais como a ascensão de partidos extremistas que têm vindo a surgir na Europa, a privatização da TAP, o desemprego juvenil, o entrave ao desenvolvimento do país oferecido pela UE, que segundo a Sra. Deputada Heloísa Apolónia “dá com uma mão e tira com duas”; e de outras
matérias, tais como a mudança curricular de forma a abranger a cidadania, afirmada pela Sra. MAIO Deputada Maria Germana como importante e 23 “que neste momento está a fazer falta”; ou a redução da carga horária, tendo sido sublinhada pela Sra. Deputada Ana Virgínia a importância da “prática desportiva e do associativismo”, o desenvolvimento artístico ou o aligeiramento das metas curriculares, para que haja tempo para a “formação integral do indivíduo” com base num “crescimento harmonioso”. Depois de acabados os trabalhos, tivemos a oportunidade de fazer uma conferência de imprensa com a presença de Alexandre Quintanilha, presidente da comissão de educação e ciência. Aí, foi abordada a importância do projeto Parlamento dos Jovens, o sistema educativo português, o processo de saída do défice excessivo, entre outros assuntos,em que se destacou também o fraco ponto & vírgula agrupamento de escolas marinha grande poente
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Margarida Balseiro Lopes, do PSD, sendo esta última deputada uma antiga aluna da escola que agora represento, tendo também sido ela uma das motivadoras deste projeto na nossa escola. Durante a comissão, não se pôde deixar de reparar no exotismo dos sotaques, que rendaram numa teia as pronúncias daqueles que vieram dos mais distintos lugares. Enquanto as vozes dos jovens deputados se destacavam em debates capazes de se elevar quase até à estratosfera, os jornalistas foram convidados a fazer uma rápida visita guiada ao edifício da Assembleia da República. Durante a visita ficámos a conhecer aquela que é a sede do Parlamento e que, afinal, tem muito mais para contar do que somente política. Após a visita, voltámos para as salas das comissões, onde poder-se-á dizer que "Já no largo oceano navegavam", pois já a meio da
investimento oferecido à promoção do ensino artístico em Portugal, tema que fora escolhido pelo círculo de Leiria para interrogar Porfírio Silva e que tinha já sido questionado a Pedro
DESPEDIDAS No final, bastaram os discursos de Pedro Pimpão e de Alexandre Quintanilha para prefaciarem o desenlace desta experiência. A meio daquelas falas oratórias, algumas palavras não deixaram de pairar sobre o ar, marcando a memória daquela que foi uma experiência inesquecível. No final, acima de todos pareciam pairar máximas: “Nunca deixem que decidam por vós”, “Sejam felizes e
Pimpão aquando da sessão distrital e que, em suma, é um problema que se pretende resolver para que o ensino artístico seja acessível a todos.
façam de Portugal um país melhor”, “Nunca tenham medo de arriscar, de pensar ideias novas, de ter perguntas diferentes, de imaginar respostas diferentes”. Afinal parece que a epopeia terminara. Concluindo, posso dizer que os dois dias passaram quase tão rápido como uma flecha, mas ainda assim valeram como muitos mais. Na mão uma série de folhas amarrotadas, ao peito
uma câmara cheia de fotografias por descobrir, na memória um momento que jamais esquecerei.
PROJETO μSatCalazans Diogo Heleno Foi nos passados dias 26, 27, 28 e 29 do mês de abril de 2018, que a equipa μSatCalazans, representante da Escola Secundária Eng.º Acácio Calazans Duarte, esteve na ilha açoriana de Sta. Maria na final da 4.ª edição do programa CanSat
Portugal, com vista a participar numa experiência que se revelou autenticamente inesquecível – uma iniciativa que desafiou durante longos meses alunos do ensino secundário de todo o país a projetar e construir
um modelo funcional de um microssatélite, o qual constituiu o objeto da competição nestes 4 dias.
do Norte) à distância de poucos metros, como se a escala de um mapa fosse ignorada e considerado como real os poucos centímetros que separam Atenas de Copenhaga.
Perdido num qualquer póster afixado na escola, provavelmente já leste este nome estranho em algum lugar. Na verdade supera muito mais do
que o valor de um «nome estranho» ou de uma amálgama de origem inglesa que poucos conhecem o significado (pois reúnem-se as palavras can – lata – e sat[ellite] – satélite),tratando-se, pois, de um projeto educativo da ESA (EuropeanSpaceAgency) que no ano de 2017 aproximou estudantes de 16 escolas europeias (que se estendem desde as ilhas gregas da bacia do Mediterrâneo aos fiordes dinamarqueses que transpõem o Mar
CanSat O objetivo do projeto prende-se com a conceção e construção de um CanSat que seja capaz de sobreviver a um lançamento. Após o lançamento (feito a partir de um pequeno foguetão, drone,
EQUIPA Foi no mês de outubro de 2017 que seis alunos do 10.º e 12.º anos– Anaísa Silva, António Pereira, Beatriz Oliveira, Diogo Heleno, Guilherme Serrão e Francisco Lopes – (grupo no qual orgulhosamente me incluo) responderam
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O Cansaté um microssatélite do tamanho de uma lata de refrigerante. Por outras palavras, é um modelo funcional de um microssatélite, em que todos os sistemas-base (antena, sensores, bateria)estão integrados neste volume reduzido.
balão ou, no caso da fase final em Portugal, de um avião) durante a descida, o CanSat deve executar uma missão científica, comunicar os dados a um computador no solo e aterrar de forma segura. A missão inclui a análise dos dados colhidos. De entre estes dados, distinguem-se aqueles que foram comuns a todos os 16 participantes a nível nacional – medições de temperatura e pressão atmosféricas – e aqueles que partem do próprio
projeto individual de cada equipa – no caso da equipa representante da nossa escola, tratou-se do índice de radiação ultravioleta, concentração de dióxido de carbono, geomagnetismo, e ainda vídeos da superfície terrestre filmados a partir de uma câmara de infravermelhos e dados de posição global (GPS), todos estes emitidos por telemetria (através de ondas eletromagnéticas recebidas por uma antena terrestre).
positivamente ao professor Rogério Nogueira para constituírem equipa e participarem no projeto CanSat.Coordenados pelo professor, cada elemento da equipa assumiu responsabilidades aos níveis da documentação, tratamento gráfico de dados, paraquedas, comunicação, gestão financeira, eletrónica, software, telemetria e estrutura mecânica. Durante (quase) todas as quartas-feiras (e outros dias) dos meses que se seguiram, a equipa juntou-se numa pequena sala nos laboratórios
da escola, tendo trazido à luz um microssatélite funcional capaz de fazer todas as medições necessárias e enviá-las à distância, um paraquedas semi-elipsoidal complexo, uma antena Yagi-Uda de 7 elementos e um software necessário ao envio e receção, bem como (des)codificação dos sinais enviados e recebidos pelo microssatélite e pela estação terrestre, respetivamente.
Colaboraram com a nossa equipa, na elaboração
de um logótipo, os professores Manuel Silva e José Nobre e as suas turmas de artes. O professor Paulo Santos constituiu-se como um mentor para a programação e eletrónica e sempre participou ativamente nos trabalhos da equipa. O Tomás Vicente, aluno do 9.º ano, colaborou como web designer. A professora
Fátima Alendouro deu uma preciosa ajuda na elaboração dos relatórios e apresentações em inglês. Responderam positivamente à nossa solicitação as empresas Ribermold, Somema, RapidTool, CODI e Bourbon AP que, em conjunto com a nossa escola, foram as nossas patrocinadoras, às quais agradecemos.
Após duas horas que absorveram grande parte da energia da equipa, começávamos a ver os cumes amarelos e esverdeados da ilha de Sta. Maria e isso não significava 4 dias de descanso, mas sim 4 dias de trabalho que mais do que abundante foi cansativo, mas compensador. Entre os dias 26 e 29 de abril, a equipa empenhou-se ao máximo em todas as atividades propostas, fazendo o seu máximo, ora nas
tendas de trabalho, no meio de bips, chaves de fendas, panos fluorescentes, fios, díodos e dos LEDs vermelhos e azuis das estruturas elétricas e da azáfama comum a cada uma das 16 equipas participantes, ora na informalidade dos quartos de hotel, onde até horas tardias se ouviam repetir ininterruptamente os mesmos discursos na outra mesma língua, para que nada falhasse na manhã seguinte junto aos júris e outras equipas. Foram 4 dias de grande trabalho, 4 dias de grande esforço, 4 dias de grande aprendizagem. E conquanto não deixar de se sentir a frustração que é habitual quando após meses de trabalho se vê todo o suor focado em algo que não funcionou como esperado, estes 4 dias foram de uma inesquecível experiência, não só aquela recebida com os discursos de Manuel Paiva, da Universidade Livre de Bruxelas, Rui Agostinho, do Observatório Astronómico de
Lisboa, Ana Noronha, da Ciência Viva, Manuel Heitor, Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior ou até de Hugo Marée, Diretor da ESA Education, ou todos aqueles que nos receberam na Estação da ESA em Sta. Maria ou do centro de simulação da SATA, mas também aquela que os membros da equipa ganharam com o contacto com os outros e entre si próprios. Com o encontro em que participámos, certamente que se cumpriu a perspetiva de que iríamos ampliar a nossa visão científica e humana e da importância da investigação espacial para a vida humana, bem como constituiu uma oportunidade de adquirir experiência prática num projeto espacial de pequena escala. De resto, queríamos agradecer a todos os que tornaram possível esta vivência que certamente não se irá desvanecer tão depressa.
COLABORADORES
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VESTIR A CAMISOLA ERASMUS
Porque somos SIS (Social Innovator Students) Isilda Silva
No âmbito do Programa Erasmus+, durante dois anos, um grupo de alunos da Calazans Duarte desenvolveu competências de empreendedorismo social, através de workshops de inovação, criatividade, liderança e cidadania nos quatro países envolvidos: Reino Unido (Irlanda do Norte), Grécia, Turquia e Portugal. Visitaram fábricas e centros de investigação, assistiram a palestras, trabalharam e refletiram em conjunto sobre problemas que afetam o mundo em que vivemos. Na Grécia, primeiro país de acolhimento em mobilidade, tiveram a oportunidade de visitar um parque bastante degradado nos arredores da cidade de Atenas e de refletir sobre os contornos de uma cidadania ativa e participativa, capaz de propor iniciativas que permitam melhorar a qualidade do ambiente que nos rodeia.
Na Marinha Grande foram trabalhadas sobretudo as competências de liderança e de trabalho em equipa; o Pinhal do Rei foi a nossa primeira sala de aula, a que se seguiu uma visita guiada ao Centimfe,à empresa Vitrimolde e ao Poeiras Glass Factory, onde os alunos tiveram a oportunidade de soprar o vidro. E foi com base nesse património que os alunos conceberam e planificaram os seus primeiros projetos que foram avaliados por um grupo de professores e um empresário local. Já na Irlanda do Norte, os alunos foram convidados a conceber em maquete um projeto de reutilização e poupança de água, não sem antes terem visitado o Idea Center da escola parceira onde se desenvolvem os mais variados projetos de âmbito escolar. Finalmente, no passado mês de abril, em Istambul, Turquia, os alunos visitaram TUBITAK (Turkey Research and Innovation Center) e
apresentaramo balanço das competências desenvolvidas durante estes dois anos. Uma vez mais, os nossos alunos destacaram-se pela excelente prestação neste projeto; na sua bagagem levaram consigo o projeto de intervenção social e comunitário da nova Diretora Júnior e três projetos de inclusão: um para inclusão cultural de estrangeiros residentes na cidade, um outro que visa melhorar a inclusão de alunos estrangeiros na escola e ainda um projeto de voluntariado para combate à solidão de alunos que, pelas suas especificidades pessoais, se encontram social e culturalmente mais fragilizados. Em jeito de balanço, a voz dos alunos é que conta. E eles são unânimes na afirmação: «Sem dúvida que este projeto permitiu tornarmo-nos mais competentes e melhores pessoas. Obrigado (a)Erasmus+».
O AGRUPAMENTO POENTE A CAMINHO DA INTERNACIONALIZAÇÃO Carmen Santarém, Coordenadora do Clube Europeu Com quatro projetos Erasmus+ ativos, dois dos quais em fase final, o agrupamento fez candidaturas para o biénio de 2018-2020. Os projetos promovem a aprendizagem, dão a conhecer outras culturas, sistemas de educação e formação, incentivam a criatividade, a inovação, o espirito de partilha e o empreendedorismo; promovem a igualdade, a inclusão e uma cidadania ativa.
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O projeto “Being a European: Find your way to the future – school, job and life in Europe” - fez a sua última mobilidade, desta à Grécia, depois da Alemanha, dos Países Baixos, da Suécia e de Portugal. Os alunos visitaram escolas, universidades, bibliotecas, museus, empresas, centros tecnológicos, quintas biológicas, assistiram a aulas e viveram com uma família estrangeira; durante dois anos pesquisaram e produziram documentos, aprenderam e
desenvolveram as suas competências pessoais, sociais, cívicas, culturais, linguísticas e digitais. A experiência reflete-se nas seguintes palavras: Ana Raquel Fidalgo: - O programa Erasmus+ foi uma das melhores experiências na minha vida. ... Acredito que todos deviam de ter a oportunidade de participar, guardamos memórias, não só entre alunos, mas também com os professores. Rita José: - I think that this experience did not
only enable me to meet new people, but also allowed me to get to know myself. It was a week of unforgettable moments. Marta Gomes:- O Erasmus + foi a experiência mais marcante da minha vida. Conheci novas pessoas, criei novas amizades e desenvolvi o alemão eo inglês. Foi uma viagem que me ajudou a crescer. Maria Ferreira: - A minha semana na Grécia foi cheia de novas experiências. Andei pela primeira vez de avião, conheci pessoas espectaculares. Juliana Esteves: - A viagem à Holanda foi sem dúvida marcante. Ao longo de uma magnífica semana foi-nos possível apreciar a simpatia dos holandeses.
Margarida Salvador: - A ideia de ir para outro país, para casa de uma família desconhecida pode ser aterrorizadora ao início, mas é uma experiência incrível. Diana Silva: - Foi uma experiência muito interessante, abriu horizontes, mas também nos fez valorizar o nosso país. Ana Paz: - I always liked to travel, to get to know new places, people, cultures. This week was spectacular, I made lots of new friends, the activities at school were great fun. Ana Guerra: - Considero esta experiência muito esclarecedora, relativamente ao estar sem os pais. E fez-me perceber que o nosso país investe muito na nossa educação.
Victória Ruivo: - It was definitely the best week of my life. I made friends for life. I will never forget the opportunity my school gave me. Rodrigo Nobre: - Gostei muito da experiência maravilhosa na Grécia. Tanto as pessoas como a terra são fantásticas. Alexandra Nogueira: - O projecto pretende criar oportunidades de estágios e de emprego. A minha experiência na Suécia foi única e tive a oportunidade de partilhar experiências e momentos que nunca mais irei esquecer. Agradecemos a todos que nos ajudaram nesta jornada – direção, professores, funcionários e pais.
Programa Erasmus + numa escola da Alemanha
A DIFERENÇA ESTÁ… NO TEXTO! Hermínia Lima
No início do ano letivo surgiu a hipótese de me inscrever no projeto Erasmus +. Apesar de ter hesitado, acabei por escolher a Alemanha entre uma série de países europeus. O projeto consistiu na observação de aulas na escola de Oberschule Westercelle,que fica numa cidade pequena, no interior da Alemanha. Agarrei nesta oportunidade com toda a força porque queria muito ver como os miúdos alemães aprendem. Como professora de História, sempre vi a Alemanha como um país associado à mais agoniante e hedionda chacina perpetrada no século XX. Envolveu-se em duas guerras mundiais e ambas perdeu humilhantemente, depois de ter semeado o horror e a destruição.
Surpreendentemente reergueu-se depois dos conflitos, sendo hoje o país mais rico da União Europeia. Como foi isso possível? Como sempre considerei a educação como um dos pilares da sociedade, achei que ir a uma escola alemã, iria compreender o “segredo” deste povo. A experiência decorreu ao longo de uma semana, durante a qual foram observadas vinte e quatro aulas de 45 minutos, de diferentes disciplinas e contextos educativos como Inglês, Artes, Robótica, Tecnologias, Física, Cozinha e Vídeo, em turmas do 5º ao 8º ano. Finalmente iria ver com os meus olhos como os jovens alemães aprendem nas escolas. Sempre achei que estavam muito à frente nas pedagogias e
nos equipamentos. Porém, a realidade foi muito diferente. A escola era bastante mais antiquada que a nossa Calazans Duarte e, ao contrário do que eu estava à espera, poucos alunos eram louros e altos. As turmas apresentavam todas uma acentuada multiculturalidade, com cerca de 1/3 dos alunos de origem Curda. Soube através de uma professora que estes alunos já nasceram na Alemanha e estavam bem integrados nas turmas, quer a nível sociocultural quer a nível linguístico. Algumas turmas integravam alunos com necessidades educativas especiais. No que diz respeito à carga horária dos alunos da escola de Oberschulle assemelha-se à dos portugueses. No entanto, a organização ponto & vírgula agrupamento de escolas marinha grande poente
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curricular, a partir do 7º ano, apresenta algumas disciplinas que não existem na matriz curricular do ensino básico do nosso país como Política, Cozinha ou Robótica (que considero muito importantes). No caso da disciplina de Cozinha, os alunos trabalhavam organizados em grupo com um grande sentido de responsabilidade e um comportamento irrepreensível. Já na disciplina de Robótica, cada aluno desenvolvia o seu projeto; no entanto, verificava-se um grande espírito de entreajuda e colaboração entre pares. Quanto aos horários, as aulas começam mais cedo que nas nossas escolas, às 07:50h e terminam para a maioria dos alunos às 13:10h. Os alunos com aulas de tarde, de uma forma geral, têm disciplinas práticas com teor profissionalizante, numa escola profissional com a qual Oberschule Westercelle tem parceria, e que tivemos oportunidade de visitar. Estas disciplinas estão organizadas semestralmente e estão orientadas para o mundo do trabalho como construção civil, pintura de interiores,
metalomecânica, etc. Relativamente às práticas pedagógicas implementadas nas aulas teóricas como Inglês ou Física, não podiam ser mais tradicionais: os professores começavam a aula sempre com a verificação e correção do trabalho de casa e, de seguida, faziam uma introdução ao tema em estudo de forma expositiva, com o recurso ao smartboard ou utilizando estratégias como o brainstorming. Geralmente, após uma breve explicação, davam indicação aos alunos para realizarem as atividades individualmente ou a pares. Até aqui nada de novo, achei eu!Embora as metodologias aplicadas não fossem inovadoras, fui-me apercebendo das principais diferenças e essas estavam na maneira como os alunos interagiam no contexto da sala de aula. Na maior parte das turmas que observei, os alunos demonstravam uma grande autonomia e o comportamento era, de forma geral, muito adequado. Tratavam os professores pelo nome e os alunos (poucos) que revelavam não estar muito empenhados na realização das atividades,
não demonstravam atitudes desestabilizadoras. Verifiquei,com estranheza, que estes nunca foram chamados à atenção pelos professores. No final das aulas, os alunos colocavam as cadeiras sobre as secretárias e um grupo de alunos, previamente escalonado, varria a sala. O civismo também se trabalha! Não senti que se sentissem diminuídos por fazerem esta tarefa. Foi uma experiência enriquecedora e inesquecível. Contribuiu, sem dúvida, para refletir sobre o que é importante na prática pedagógica. Pela minha parte, concluí que ajudar os jovens a desenvolver competências, num ambiente de compreensão e respeito mútuo, será um dos segredos de uma educação de excelência.
ERASMUS + KA1:
Um projeto a repetir! Uma oportunidade a não perder! Fátima Alendouro
Quando, há cerca de um ano atrás, surgiu a possibilidade de os docentes da nossa escola participarem neste projeto, eu não quis perder a oportunidade, fosse na vertente de formação fosse na vertente de JobS hadowing, e também não importava o país. Na verdade, pareceu-me irrelevante a escolha, pois qualquer uma constituiria, com toda a certeza, uma aprendizagem. Este ano letivo, a possibilidade tornou-se uma realidade… e desengane-se quem pensa que é uma decisão fácil! Em termos profissionais é preciso reorganizar as atividades letivas e em termos pessoais é necessário orientar a vida familiar. Contudo, conhecer outras realidades educativas e culturais é fundamental para que possamos crescer enquanto profissionais, abrindo os nossos horizontes e, consequentemente, os dos nossos alunos. Uma semana na Suécia, mais exatamente na pequena vila de Surahammar, Vestaras. O primeiro dia começou bem cedo e, ao chegar à escola, que tão bem nos acolheu, deparei-me com uma quietude e tranquilidade que me fez duvidar que estava, de facto, numa escola. É certo que a escola é relativamente pequena, cerca de trezentos alunos, mas, até mesmo durante os intervalos, as brincadeiras típicas de
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adolescentes entre os 12 e os 15 anos decorriam num quase murmúrio, tão estranho à nossa realidade escolar! Certamente uma questão cultural que contrasta com a expansividade que nos caracteriza a nós, portugueses. A ausência de auxiliares educativos também surpreendeu. Existiam apenas dois funcionários que faziam o acompanhamento de alguns alunos mais problemáticos ou com necessidades específicas, fora ou dentro da sala de aula. Facto curioso que me deixou a pensar... Ao frequentar as aulas, maravilhei-me com as condições de trabalho e recursos disponíveis. Cada professor tem a sua secretária com o seu computador; cada professor tem a sua sala de aula equipada com armários gigantescos onde pode guardar todo o material necessário; os alunos têm ao seu dispor lápis, afiadeiras e borrachas em cada sala (as esferográficas são inexistentes até mesmo nos exames!); cada aluno tem ao seu dispor um iPad ou computador para utilizar nas aulas, o que permite ao professor diversificar as estratégias e atividades, tornando as aulas mais interativas e os alunos mais autónomos. Na escola não há muros nem cercas, os alunos circulam livremente. Não há receio de que se escapulam nem de que estranhos invadam o espaço. Nem mesmo nas escolas da pré ou do primeiro ciclo. Sem dúvida uma sensação de l
liberdade e segurança! Após uma semana intensa de muitas aulas, ficou a sensação de que, embora com mais ruído e menos recursos, a nossa educação faz muito pelos nossos alunos.E fica a questão: e se conseguíssemos juntar tudo o que nós, professores portugueses, já fazemos (claro, sem deixar nunca de inovar e acompanhar a evolução da sociedade) com os recursos físicos e tecnológicos que os professores suecos têm ao seu dispor? Este pensamento faz-me sorrir... seria uma professora ainda mais feliz!
Cesário Silva, diretor até 2022
DESAFIOS PARA O PRÓXIMO MANDATO P&V
O Conselho Geral analisou o seu trabalho e propôs a Cesário Silva a recondução para mais um mandato no cargo de Diretor do Agrupamento de Escolas Marinha Grande Poente. Ele aceitou. Há 4 anos, fez manchete no P&V o título Temos Diretor até 2018, que quase repetimos agora projetando-o para 2022. Tiramos o diretor do gabinete e, durante um passeio pelo espaço exterior da Calazans, ele fez um breve balanço dos desafios do primeiro mandato e anunciou os que aí vêm. Em abril de 2013, quando foi criado o Agrupamento, o grande desafio era, segundo o diretor, “criar uma identidade de agrupamento, ancorada e suportada por todos os profissionais da educação e também pelos pais.” Desafio vencido por todos?- pergunto-lhe. Ele sabe que esta identidade “não se constrói por decreto”, que para interiorizá-la e aderir é preciso saber o que se tem ganhar e que é preciso tempo. Todavia, está seguro de que, quatro anos volvidos, “deixamos de ser nós e as outras escolas do Agrupamento e passamos a ser nós, o Agrupamento”. E se eram grandes os desafios! Foram assumidos, ano após ano, na vertente organizativa, pedagógica e, não menos importante, na gestão do espaço físico de uma dezena de edifícios escolares. Nesta vertente, em colaboração com a autarquia e a DGEST, foram requalificadas as instalações de Casal de Malta, Francisco Veríssimo e Fonte Santa, o Jardim de Infância da Ordem teve visíveis melhorias e,na Guilherme Stephens, está prestes a terminar a segunda fase de uma intervenção de fundo (Ver, nesta edição, Visita Guiada). Mas
há ainda muito a fazer. “Na Guilherme, requalificados os espaços comuns, devemos insistir na terceira fase das obras, entrar nas salas de aulas, mas sem esquecer o balneário feminino do ginásio”, reforça Cesário Silva, que antevê, para uma escola com aquele modelo arquitetónico, uma intervenção profunda, de salas intercomunicantes. Há que manter o foco nas instalações escolares. Nesse sentido, avançam já este mês as obras de requalificação da escola da Moita, dotando-a de melhores condições com espaços para Educação Física e Atividades Extracurriculares, enquanto se aguarda com alguma expetativa a criação do Centro Escolar da Várzea, já em fase de projeto. Os maiores desafios pedagógicos do mandato anterior, TEIP (Território Educativo de Intervenção Prioritária) e PPIP (Projeto Piloto de Inovação Pedagógica), ainda não estão ganhos e são para continuar. Quanto ao PPIP “só foi possível o convite para integrar o grupo de escolas que o iniciou e abraçar o projeto porque já tínhamos estabilidade e confiança para correr esse risco”, explica o diretor. Mas, “não menos importante, foi o alargamento do TEIP a todas as escolas do Agrupamento, conceito que impõe práticas partilhadas de apoio aos alunos, intervindo precocemente, cada vez mais numa vertente preventiva e não remediadora”, acrescenta. É na vertente pedagógica que os desafios para este segundo mandato se anteveem de monta, porque envolvem a adesão de dezenas de professores. É preciso continuar a dotá-los de capacidade de intervir na sala de aulas com estratégias focadas no aluno e na aprendizagem, reforçar a intervenção e envolvimento dos Coordenadores Pedagógicos e de
Departamento. Assumindo as margens de autonomia que o Agrupamento conquistou e/ou a lei prevê, o ano letivo 2018/19 iniciar-se-á com a cobertura total do PPIP nas turmas de segundo ciclo e, se for esse o entendimento dos docentes, alargando-o às turmas de 7º ano. E quanto ao 10º ano, está também lançada a discussão para a gestão flexível dos 25% do currículo. O diretor, visionário e otimista, parte para este desafio com uma confiança que assenta em bons alicerces. A escola da Fonte Santa começa a tornar-se uma referência. Trabalho colaborativo entre professoras e cooperativo entre os alunos de diferentes turmas são uma mudança possível e foi feita sem resistências. Enquanto for diretor, Cesário Silva deverá continuar doutorando! Até cair o n, a tese vai continuar em banho maria. Ele será doutorado não porque “começou, tem de acabar” mas se e quando tiver alguma antevisão de prazer e não tiver de retirar tempo àquilo que realmente precisa de fazer: ser diretor de um Agrupamento, a tempo inteiro!
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DA CHINA, COM ESPANTO* Alice Marques
Onze horas depois de sair do aeroporto de Amesterdão, o 747 da KLM sobrevoa o céu de Xangai. É noite. Vista a uns quilómetros de altitude, aquela cidade, de mais de 15 milhões de habitantes, parece-se com qualquer outra, gigantesca, em qualquer lugar do mundo. Uma espécie de nebulosa de estrelas. Em alguns minutos, o imponente Boeing aterra numa das inúmeras pistas do aeroporto de Pudong, uma obra prima da engenharia, da arquitetura e da funcionalidade. Rapidamente ultrapassadas as formalidades alfandegárias, encontramo-nos no imenso hall das chegadas. A luz branca de milhares de lâmpadas torna visível um espaço estranhamente familiar. A presença da língua inglesa nos anúncios de néon, nas marcas das cadeias de lojas e bares, ajuda a construir esta estranha familiaridade. Enorme e bastante silencioso, àquela hora da noite, naquele espaço cosmopolita, como são todos os aeroportos, apenas os traços orientais dos rostos dos muitos que ainda chegam tornam evidente que aterrei na Ásia. É impossível a qualquer ocidental partir para uma primeira viagem à China sem uma dúzia de ideias feitas, sem mil e uma imagens sobre o que vai encontrar. E é preciso desconstruir essas ideiase apagar as imagens para, de olhos bem abertos, olhar, ver e recuperar o espanto. Foi o que fiz. Integrada na missão empresarial europeia que se deslocou à província de Jilin, na Manchúria, lá nos confins do nordeste da China, para mais um Euro-Asia Business Meeting, eu sabia que não veria a Praça de Tiananmen, nem a Cidade Proibida, nem caminharia pela Muralha da China, que continuariam no meu imaginário,
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míticas e intocáveis até uma próxima viagem. Mas a Manchúria, que afluía à minha memória como uma montanha sagrada, onde princesas guerreiras viviam aventuras inenarráveis, foi a maior surpresa. Foi no aeroporto de Changchunque comecei a recuperar o espanto! E conservei-o em cada esquina, em cada rua da cidade e em cada espaço noturno. O Ocidente penetrou nas profundezas da Ásia! Os edifícios, as ruas, os automóveis, o vestuário, os jovens nas discotecas, os centros comerciais, a presença constante de produtos de consumoe referências simbólicas europeias e americanas transformaram a estranha familiaridade numa espécie de desencanto. Afinal eu estava na China, numa cidadezinha de 7 milhões de seres e, à exceção da comida, da escrita chinesa e das dificuldades (mais que muitas) em me fazer entender (não é verdade que muitos chineses falem inglês e mesmo os que falam não o falam como nós!) eu começava a sentir que também aquele mundo era a minha casa! Onde esperava encontrar história e identidade, encontrei uma cidade moderníssima, com alinha do horizonte continuamente desenhada por arranha céus e pelo brilho metálico das gruas, ruas atulhadas não de bicicletas nem de riquexós, mas de automóveis topo de gama, ouvi música latina mas não chinesa e até comi, com talheres, bacon e ovos ao pequeno almoço. A enorme zona industrial de Changchun –Jilin, em construção acelerada, constituiu uma surpresa ainda maior, não pelo planeamento (aqui sim, há uma tradição que se mantém) mas pela capacidade de concretizar tão rapidamente. Xangai trouxe-me outros espantos. Pelo
gigantismo (é difícil imaginar uma metrópole de 15 milhões de seres humanos, quando se vive numa cidade de 35 mil, num país com pouco mais de 10 milhões), pelo arrojo e beleza dos edifícios que recortam o céu azul da cidade, pela segurança e muito particularmente pela oportunidade excecional de viajar suavemente no MAGLEV, a 430 km por hora! Mas foi em Xangai que pude também descobrir a China que se estende em superfície na sombra dos arranha céus onde as grandes multinacionais se instalaram. A China dos bairros operários maoistas, das pequenas lojas e mercados de rua, das bicicletas, dos restaurantes com candeeiros vermelhos de papel suspensos do teto, onde não há talheres e onde nos recebem com chá. Gostei dessa China, onde tudo conserva a identidade, onde é impossível comunicar sem falar a língua deles, mas onde, apesar de tudo, nos entendemos. Nesta China, senti-me uma estranha numa terra estranha, num lugar que não era a minha casa, mas me devolveu a consciência de que o mundo só continuará grande e extraordinário enquanto conservar a sua diversidade.
*Em Setembro de 2010 fui à China, integrada numa missão empresarial europeia. Escrevi vários textos, sobre os negócios na China, e tive espaço no JMG para este “postal” da China. Em junho de 2018, solicitada a escrever sobre a China, para esta edição do P&V, recuperei esse texto.
A CHINA, TÃO LONGE E TÃO PERTO!... José d'Encarnação
A minha sensação é mesmo essa: embora longínqua, a China sempre esteve perto de mim desde criança. Não tive colegas chineses na escola nem na Universidade; e, nesse aspecto, a imagem que me ocorre leva-me a Bordéus, ao ano lectivo de 1977/1978, quando ali se receberam os primeiros estudantes universitários chineses que vinham descobrir o Ocidente. Pasmávamos ao vêlos sempre juntos, pequeninos, todos vestidos da mesma maneira, uma farda azul, de ganga. Recordo que foram – pela estranheza que nos causavam a todos – entrevistados pelo jornal do Campus
universitário e a única questão que retive foi sobre a comida, ao que eles responderam ser espantoso nós bebermos água fria à refeição, enquanto eles bebiam água quente… Já antes, porém, ouvira falar de «negócios da China», certamente para evocar esses primeiros contactos com os Portugueses, que trocariam coisas de nada com preciosas porcelanas. Vi, na colecção de cromos das Raças Humanas, que eles eram, de facto, pequeninos, de raça amarela, e – que confusão me fez! – as mulheres tinham como modelo de elegância os pés bem pequeninos e sofriam atrocidades para os manterem nuns sapatinhos minúsculos. Compreendi, ao estudar o Taoismo, no meu 1º ano da Universidade, que se tratava, na verdade, de uma civilização milenar, que privilegiava o domínio do espírito sobre o corpo, que inventara a bússola… E hoje, ao ir ao «chinês», a Loja do João do meu bairro, e vejo como ele e a mulher falam tão bem o português e sabem orientar-se de olhos fechados no emaranhado enorme que é a loja, vem-me
sempre à mente a «viagem» que fiz no Futuroscópio de Poitiers e depois repeti na Expo 78: a visão da Muralha da China a três dimensões. Quem fez essas maravilhas… estudou muito, teve – tem! – uma enorme sabedoria!
ALUNOS DA CALAZANS DUARTE APRENDEM MANDARIM Alice Marques
Chama-se Chen Chen e não passa despercebida na escola. Na sala dos professores, na mediateca, ou aguardando a hora de aula nas salas, esta professora de Mandarim sente-se “perfeitamente integrada” no corpo docente da Calazans Duarte. Natural de Dalian, cidade na província de Liaoning, com cerca de 5,6 milhões de habitantes, no Nordeste da China, foi aí que fez toda a escolaridade, incluindo a Universidade, onde se preparou para ser professora de Inglês. A viver em Portugal desde outubro de 2017, são ainda escassas as suas frases em Português, mas foi possível conversar com ela em Inglês, perceber como se adaptou e o que pensa deste cadinho linguístico em que se estão a tornar as escolas portuguesas. A Calazans Duarte não é a sua primeira escola europeia. Contratada através
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da cooperação entre Ministérios da Educação e o Instituto Confúcio, Chen Chen já foi professora de Inglês em Milão. Em Portugal, divide o seu trabalho profissional entre a Calazans, onde ensina Mandarim a 22 alunos do 10º ano, e o Instituto Politécnico de Leiria, onde é professora de Cultura Chinesa e Mandarim no Curso de Tradutores. Vencidas as dificuldades iniciais decorrentes sobretudo da língua, Chen Chen tem vivido estes meses como “uma experiência fantástica”. Participando nas reuniões dos conselhos de turma e reunindo também com os professores do grupo de Inglês, fala dos alunos portugueses como qualquer professor: “alguns são muito bons alunos, trabalhadores e gostam de aprender; outros nem por isso, mas é assim em todas as turmas e em todas as escolas”. Muito bem acolhida pela direção, não é raro passar ali alguns minutos conversando sobre as diferenças,
entre o ensino na China e em Portugal. O Inglês é atualmente a 1ª língua estrangeira escolhida pelos estudantes chineses, logo a partir da escola básica. Mas há outras escolhas de línguas europeias, como o espanhol, francês, alemão. Para Chen Chen as razões são óbvias: a presença na China da cultura em língua inglesa, particularmente os filmes e música dos EUA, solicita os jovens a aprender a língua: “o Inglês é a língua através da qual eles aprendem o mundo”. Quanto à escolha do Mandarim pelos estudantes portugueses, ainda residual, é sobretudo a “curiosidade e talvez também um sentido de utilidade futura que os leva a escolher.” Num país com cerca de 1,3 mil milhões de habitantes, há centenas de línguas e dialectos mas o Mandarim é a língua oficial: “tudo na escola é estudado em Mandarim”.
Chen Chen vê a língua como veículo de comunicação e por isso privilegia a oralidade. Nem sempre foi assim. “Há 20 anos, estávamos muito focados na escrita”. À pergunta o que aprende em dois anos um estudante estrangeiro de Mandarim, esta professora considera que aprende “o suficiente para saber apresentar-se, caraterizar-se, falar dos gostos e do lazer e dirigir-se a algumas instituições e serviços na China, como hospitais, bancos, lojas, etc, “Escrever é mais difícil”, diz ela. Os alunos olham para os carateres chineses com curiosidade e receio, acham que nunca vão aprender a desenhá-los. Mas afinal “é assim com todas as línguas que usam diferentes carateres; à medida que vão aprendendo a desenhá-los aumenta o gosto pela escrita e portanto pela língua”.
FESTA DO BARCO DRAGÃO FESTIVAL DUAN WU Ziyi Qian
O Festival Duan Wu (Festival do Barco Dragão) é um importante festival na China. Este ano, é no 18 de junho (no quinto dia da quinta lua do calendário chinês). Há duas origens para este festival. Uma é relembrar o famoso poeta chinês
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Qu Yuan, a outra é a adoração do dragão. O dragão é umacriatura boa e representa poder, força, nobreza e boa sorte. Como é que os chineses celebram o festival Duan Wu? Durante o dia, participam nas corridas de barco dragão e comem zongzi. Ozongzi (recheio de arroz) é um prato típico da
cozinha chinesa. Dentro do zongzi há arroz cozido com porco ou outros recheios. No exterior são duas folhas de bambú. Hoje em dia, o festival Duan Wu é um dia especial para a reunião da família.
QINGTIAN, A MINHA CIDADE Jyaing Bian
Nasci em Qingtian (青田), uma pequena cidade na província de Zhejiang, rodeada de montanhas, onde passa o Rio Oujiang, no sudeste da China. O número de habitantes é muito elevado, por isso muitas pessoas emigram para outros países. Qingtian tem uma fruta famosa chamada Yang Mei que cresce de maio a julho de cada ano. Vende-se para vários países e em Portugal
também podemos encontrar. É uma cidade muito quente no verão, por isso todas as pessoas gostam de comer Yangmei. Fazem gelado e sopa com esta fruta porque é refrescante. O artesanato tradicional de Qingtian são as esculturas em pedra. Há muitas lojas onde se vendem e é um bom negócio local. Moro em Portugal há cerca de dois anos, mas gosto muito de voltar à minha cidade. É aqui que grande parte da minha família vive.
Se viajar para a China um dia, visite esta bela cidade.
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PALADARES DA CHINA Jiarong Bian A China tem uma grande população e muitas cozinhas.A cozinha chinesa é muito popular no mundo inteiro. Subdivide-se em oito cozinhas principais: Shandong, Guangdong, Jiangsu, Zhejiang (a da minha região), Sichuan, Fujian, Hunan e Anhui. O Hotpot- huǒguō, em chinês ( 火锅) é um prato típico muito fácil de preparar. Usamos uma panela grande com água a ferver, juntamos
饺子的食谱
Ingredientes
M3achávssae:nas de farinha de trigo 1/4 1/4 chávcolherenadedechááguade frisala Rechei o : 1 chávena de carne de porco ou vaca moída
os ingredientes que queremos e comemos enquanto cozinhamos. O huǒguō pode ter muitos ingredientes, como por exemplo carne, marisco, peixe, legumes e temperos variados. Todos, na China, adoram este prato que faz lembrar o fondue que os portugueses comem. Os dumplings ou raviolis chineses (veja a receita!) são também uma comida muito tradicional, em forma de meia-lua. Temos quatro métodos de os cozinhar: cozidos na sopa,
Preparação Coloque a farinha e o sal numa tigela e misture muito bem. Vá
LHIINNESEGS) S P C MLIS D(URAVIO
11 colcolhherer dede sopachá dede salmolho de soja 11/4colhercolherde desopacháde devinhopimentdeaarrozbrancachinmoíêsda,ou ouxereza gost(sherry) o 31 tcolaloheresde cebolde sopainho pidecadoóleo de gergelim 1/2 chávcolherenadedesopaacelgdea gengi picadabre fresco, finamente picado 1/2 1 dente de alho amassado
a vapor, fritos ou no forno. Comemos estes pastéis durante o feriado do Ano Novo - 新年 Em minha casa, cá em Portugal, eu e a minha família preparamos sempre comida chinesa porque é fácil, variada e muito saudável. É uma cozinha com muitos sabores diferentes experimente e vai ficar fã!
acrescent a ndo a água, aos poucos, e mi s t u re. Quando a massa est á miEntmalnuterávetos.aentl,o,nãomistumuiretotodosseca,os inestgrediá prontentesa.doDeirecheixeo. a massa descansar 30 Façabolcíarculdeos golcomfe.a Commassaume roldepoio des bolmadeiinhasra,maiabras ou amenosbolindoha tadamanhomassa,de umaformando deenchamais metouamenos 7 cm.círculPonhao cíorculrecheio nao.mãoDobree, como umacírculcolo haoerummeidecíorculchá,eo feche, de desse o com apert aendo.. Se a massa não colar, passe um pouco de água naspont a s e apert Cozianheáguaos dumplnumaingspaneldaaseguigrandente manei ra:mais ou menos 12 dumplings. Tape. Ferv eponha Quando a água ferv e r, acrescent e 1/2 cháv e na de água fri a . T a pe. novamentemai, acrescent ez. maiRets ir1/2 cháveinnags deda águaágua fricoma. TumaQuando ape.escumadei Repifervta reoa.r processo s uma v e e os dumpl Sirva com molho de soja.
EU VIM DE LONGE... “Os professores portugueses são mais amigáveis”
A viver em Portugal há 2 anos, Jiarong e Jiaying, nascidas na China, encontram-se a estudar no 9º ano, na escola secundária Calazans Duarte. Gostam de estar em Portugal e adoram pastéis de nata. Para esta edição do P&V, que dedicamos à China, entrevistamo-las com a ajuda de duas intérpretes, para ultrapassar algumas dificuldades com as línguas. Sabrina Gil traduziu para inglês para a professora Chen Chen, que traduziu para mandarim.
Anastasia Khimich: São gémeas verdadeiras ou falsas gemeas? Jiarong/Jiaying:Falsas. AK: Têm um irmão mais novo. Ele também estuda nesta escola? Jiarong/Jiaying: Não, ele estuda na escola Guilherme Stephens. AK: Há quantos anos estão aqui na Marinha Grande? Jiarong/Jiaying: Viemos para cá há quase dois anos, porque os nossos pais estão a trabalhar aqui. AK: Qual foi a maior dificuldade que enfrentaram na escola? Jiarong/Jiaying: A maior dificuldade é, sem dúvida, a língua, porque o português é uma língua muito difícil. AK: Como têm conseguido ultrapassar essa dificuldade? Jiarong/Jiaying: Temos aulas para aprender português, com a professora Rosa, mas ainda assim é bastante complicado. AK: Têm amigos/amigas na turma? E na escola? Jiarong/Jiaying: Alguns, mas é difícil interagir e comunicar com eles, mais uma vez por causa das dificuldades com a língua. Fora da turma ainda não temos.
AK: Sentem-se integradas na turma? Jiarong/Jiaying: Mais ou menos, é complicado sentimo-nos completamente integradas pelo que já referimos. AK: E na escola? Jiarong/Jiaying: Não, pois não parece haver forma de isso ser possível com as limitações linguísticas que, por agora, temos. AK: Há diferenças entre as raparigas e os rapazes portugueses e as do teu país? Quais? Jiarong/Jiaying: Sim, definitivamente. Existem muitas diferenças: os adolescentes portugueses são muito maduros e crescidos, pois têm mais independência que os adolescentes chineses, que passam, literalmente, o dia inteiro na escola. Em relação às relações entre rapazes e raparigas, os portugueses são mais descontraídos. Na China, o namoro adolescente não é encorajado, pois o foco deve ser apenas a escola e a preparação para os exames. AK: E os professores, são diferentes? Jiarong/Jiaying: Sim, a relação aluno-professor é muito diferente. Os professores chineses são muito severos e existe um tremendo respeito e até medo deles. Em Portugal, os professores são mais amigáveis e próximos dos alunos. AK: Fora da escola, como ocupam o vosso tempo?
Jiarong/Jiaying: Fora da escola, passamos grande parte do nosso tempo livre a ajudar os nossos pais na loja deles. AK: Quais são as maiores diferenças entre a terra onde nasceram e a Marinha Grande? Jiarong/Jiaying: As diferenças que mais notamos estão relacionadas com a escola, como, por exemplo, o facto de na China a exigência ser muito maior, pois os alunos trabalham imenso e ficam na escola, por vezes, até às 11 da noite. Em Portugal tudo é mais tranquilo nesse aspeto. AK: Pretendem continuar no ensino secundário nesta escola? Em que área? Jiarong/Jiaying: Não sabemos, depende da situação de trabalho dos nossos pais. Ainda não sabemos a área, mas seria opção escolher uma área na qual não dependêssemos tanto das capacidades linguísticas. AK: E depois do secundário... Pretendem estudar numa universidade portuguesa? Jiarong/Jiaying: Ainda não sabemos, seria difícil, mais uma vez, devido ao português. AK: Preferem a China ou Portugal? Jiarong/Jiaying: Depende: na China sentimonos verdadeiramente em casa, mas em Portugal temos mais tempo livre.
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CHAMAR A MÚSICA Singer: o maior concurso de canto do mundo tem lugar na China A cultura chinesa é uma das mais famosas do mundo. Sendo o país mais populoso do planeta, não admira que a sua cultura possua uma herança musical muito rica, que vai desde a música tradicional chinesa, conhecida por ser calma, lenta e espiritual, às mais novas correntes musicais deste século. É algures entre a tradição e a modernidade que se situa “Singer”, o mais exigente e impressionante concurso de canto televisivo da atualidade. Ao contrário do que acontece no ocidente, em que cantores amadores tentam a sua sorte em concursos sem qualquer rigor ou veracidade, no “Singer” são convidados a participar artistas já consagrados, de renome, chineses e não só, para competir num concurso de extrema exigência e nível. É um programa onde a cultura chinesa, a diversidade e a genialidade musical se encontram para proporcionar momentos de incredibilidade a uma audiência de cerca de 100 milhões de espetadores por semana. De uma excelência que ultrapassa o limite do que parece ser possível, os cantores que concorrem possuem, na sua maior parte, uma técnica vocal aperfeiçoada ao pormenor, vozes de extensões sobre-humanas e uma musicalidade profissionalíssima, e cantam não só em mandarim, como também noutras línguas. A sexta edição, em 2018, muito falada no ocidente, teve como vencedora a cantora britânica Jessie J, que foi a primeira artista internacional a ganhar o programa, tendo cantado “I WillAlwaysLoveYou”, de Whitney Houston, no episódio final. Por edições anteriores, passaram outras vozes notáveis e até exóticas, como o cantor Dimash, que possui uma voz tão versátil que se consegue transformar naquilo que quiser, seja num barítono de voz pesada e escura, seja numa cantora soprano que alcança as notas mais altas. Em suma, “Singer” mostra-nos que é possível produzir conteúdo televisivo de verdadeira qualidade artística. É mais um produto cultural que reflete e representa a sublime cultura chinesa e que a leva a todas as partes do mundo e dá a conhecer vocalistas de excelência. Para chamar a música, podem aceder aos vídeos das atuações das diversas edições do programa, das quais se sugere “SOS d’un terrien en detresse”, interpretado por Dimash.
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PÉ DE DANÇA China no coração tipos de dança tiveram um “nascimento” e uma evolução até aos dias de hoje. Na China existem vários estilos de dança, desde as tradicionais até às mais dançadas pelo mundo inteiro (exemplo: ballet, hiphop,…). No entanto, escrevo apenas sobre duas danças tradicionais. DANÇA DO DRAGÃO Uma delas intitula-se de 舞龙 (Wu Long), que significa “Dança do Dragão”. Esta dança nasceu durante a Dinastia Han (206 a.C a220 d.C) e começou pelo chinês que mostrou grande respeito para com o dragão chinês (segundo a mitologia chinesa, foi um dos quatro animais sagrados convocados por PanKu (o deus criador) para participarem na criação do mundo). Era bastante frequente em celebrações festivas durante a Dinastia Song (960 a 1279), sendo muito popular. Simbolizava boa sorte e prosperidade no ano que se segue a todos os seres humanos na Terra. A dança do dragão também era ensinada a aprendizes de Artes Marciais Chinesas no seu tempo livre para assim ganharem incentivos. Como é efetuada a coreografia? É necessário uma equipa de pessoas hábeis para manipularem um dragão e lhe darem vida. Este dragão tinha a forma de uma longa serpente (podia chegar aos 35 metros) com um corpo formado por varas que unem, a partir de arcos, a parte da cabeça e da cauda nas extremidades. Antigamente eram utilizados materiais como madeira e bambu decorados com uma tela para construir o dragão. Hoje em dia utiliza-se mais o alumínio e plástico. A história conta-nos que a dança do dragão é executada de várias maneiras, tipos e cores. Às vezes o verde é escolhido como cor principal do dragão (grande colheita). Outras cores possíveis: o amarelo (as cores solenes do império); o dourado ou a prata (simbolizando prosperidade); o vermelho (excitamento). Para a execução desta dança é necessário, então, um grande grupo de pessoas bastante habilidosas e fisicamente capazes e, também, grandes despesas.
Nesta edição irei escrever sobre um tema ligado à cultura asiática, mais precisamente, da cultura chinesa. Irei abordar alguns tipos de dança e um pouco sobre a sua história, visto que todos os
DANÇA DO LEÃO Outra dança tradicional intitula-se 舞獅 (Wushi) em que uma pessoa se veste de leão que salta e se movimenta energicamente com a cabeça, as mandíbulas e olhos da fantasia ou então por um grupo de pessoas que constituem as pernas
dianteiras e traseiras do leão. É mais usada em exibições de acrobatas chineses. É acompanhada de gongos, tambores e fogos-de-artifício, o que representa uma chuva de boa sorte. Este leão é considerado uma criatura guardiã em várias culturas asiáticas. A dança do leão é especialmente popular na cultura chinesa, pois remete para uma história existente há mais de mil anos. Existem vários estilos de dança do leão, mas os mais populares são a nortista e a sulista. A dança do leão nortista teve origem nas regiões setentrionais da China e era usada para o entretenimento da corte imperial. O leão nortista é geralmente de cor vermelha, laranja e amarela (às vezes com pelagem de cor verde para a leoa), é de aparência desgrenhada e tem uma cabeça dourada. É uma dança muito acrobática e é realizada principalmente como entretenimento. A dança do leão sulista é de natureza mais simbólica. Ela é realizada geralmente como uma cerimónia para exorcizar espíritos maléficos e para invocar sorte e felicidade. O leão sulista exibe uma vasta variedade de cores e tem uma cabeça peculiar com grandes olhos, um espelho na testa e um chifre único no centro da cabeça. No entanto, existiu um lado negro desta dança… Durante os anos 1950-60 em Hong Kong, pessoas que se juntavam aos grupos de dança do leão tinham perfis de bandidos e havia muitas brigas entre trupes de dançarinos e escolas de Kung Fu. Durante festivais e performances, quando grupos de dança do leão se encontravam, havia brigas entre os grupos. A violência chegou a tal ponto que o governo de Hong Kong teve de proibir completamente a dança do leão. Agora, como em muitos outros países, os grupos de dança do leão devem obter uma autorização das autoridades para poder realizar a dança. Embora ainda haja um certo grau de competitividade, os grupos tornaram-se bem menos violentos e agressivos. Sistematizando, existem vários estilos de dança em toda a Ásia e em todo o mundo e todas elas com uma história para contar e passar de geração em geração. Com efeito, devemos falar sempre que pudermos do nosso passado e da nossa herança histórica e devemos aprender também sobre a cultura dos outros. Sem mais demoras, deixo-vos a pensarem e a refletirem sobre este nosso mundo cheio de arte e movimento por descobrir. ponto & vírgula agrupamento de escolas marinha grande poente
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HOJE FAZ ANOS O grande massacre na praça Tiananmen
Não hoje, mas no dia 4 de junho, assinalou-se uma data marcante para toda a China, o grande massacre da Praça Celestial da Paz em Pequim. Mais precisamente, esta vaga de protestos iniciou-se no dia 14 de abril de 1989, com um grande movimento de estudantes, revoltados contra o regime político, bastante opressor, devido às reformas políticas impostas que estavam a causar mais desemprego. Esta revolução começou calmamente, apenas com pedidos de audiência com o presidente, que nunca foram aceites. Em seguida, os estudantes deram início a greves. Foi na praça de Tiananmen que tudo se intensificou: os alunos juntaram-se, realizando greves de fome com o objetivo de conseguirem mudar o regime político. Um dos líderes do Partido Comunista, que estava no poder, Zhao Ziyang, foi expulso como consequência de se ter aliado aos estudantes. Foi nessa mesma praça, no dia 4 de junho, que ficou marcado um grande acontecimento que faz parte da nomeada “história macabra” da China, pois a única solução dos comunistas para
acabar com os motins foi enviar tanques para a praça, matando muitos manifestantes. Este episódio é descrito com pessoas esmagadas, feridas,caídas no chão…um horror!No dia 5 de junho, um jovem desarmado invadiu a Praça da Paz Celestial e anonimamente fez parar uma fileira de tanques de guerra. Nunca houve consenso quanto ao número de vítimas. Consoante os meios de comunicação, as estimativas referem perto dos 10 mil feridos, número diferenciado de mortos, entre 400 e 800, sendo estes escondidos pelo governo, afirmando este que eram apenas 200 e que alguns deles eram forças militares do estado. Após este dia horrendo, muitas pessoas foram perseguidas, torturadas, aprisionadas, incluindo as suas famílias por estarem a praticar atos contra o regime. Em suma, este assunto ainda é um grande tabu para o Estado chinês, e só agora, após quase 30 anos é que é possível a algumas mães praticarem luto, sem sofrerem consequências. Mas hoje, dia 6 de junho, faz anos que, por exemplo:
1599 - nasceu Diego Velasquez, pintor barroco da corte espanhola. Pintura mais conhecida: As meninas. 1944 - Dia D, desembarque dos Aliados no Normandia, 2ºguerra mundial. 155 mil soldados das forças aliadas, desembarcaram na costa norte da França, mudando o rumo da guerra. Também para me despedir de todos os leitores, escrevo umas linhas sobre este mês de junho. A cada dia que passa cheira mais a férias de verão, que para uns é logo o início de um descanso de quase três meses e para outros é uma grande agitação por causa dos exames e candidaturas ao ensino superior. E já agora, como esse é o meu caso, não podia deixar de me lamentar. Nesse grande país, China, a que o P&V dedica esta edição, as férias também começam por esta altura. Lamentavelmente, todos os estudantes acima referidos, que tentaram lutar contra o regime, não conseguiram ter direito às férias, porque lutavam contra as opressões do regime. Mas as novas gerações não deixarão esquecer Tiananmen!
M... DE MULHERES Jiang Qing, “cão de guarda de Mao Zedong”
Hoje, (quase) todo o produto que compramos, propagandeado por luzes coloridas em vitrinas reluzentes, preambulado em leads de revistas de moda internacionais, ou simplesmente ordenado como soldados de chumbo numa prateleira de uma loja qualquer não foge à habitual etiqueta com as palavras «made in China» impressas a tinta preta. E, por vezes, esta ideia de monopólio comercial, produção em série e larga escala sobrepõe-se à ideia da China florescida na bacia do Rio Amarelo, das concubinas, seda floreada e pólvora, porcelana e imperadores. E contribuiu para isto um homem muito influente, revolucionário, um político e teórico comunista cuja saída do poder deu origem às políticas de crescimento económico que hoje se refletem na soberania da China no plano comercial – MaoTse-Tung ou Mao Zedong, porventura aquele que liderou o regime mais sanguinário da História. E na verdade, atrás d' O Grande Timoneiro, como se intitulava, Mao teve ao seu lado, em particular, uma mulher incrível que haveria de se tornar a sua 4.ª esposa – Jiang Qing – atriz que haveria de desempenhar um papel de protagonista no plano político afora o protagonismo dos palcos. Jiang Qing nasceu em Zhucheng, a 19 de março de 1914, com o nome de nascimento de 李淑蒙, LǐShūméng. Filha de Li Dewen, enquanto estudava escolheu o nome de 李云鹤, LǐYúnhè, literalmente “Garça nas nuvens”. No ano de 1926, o pai de Jiang morreu e esta viu-se obrigada a mudar-se para Tianjin, onde trabalhou como aprendiz numa fábrica de cigarros. No ano seguinte, Jiang haveria de ser aceite numa escola de teatro experimental e drama. Durante este período, o talento de Jiang sobressaiu e levou a que se juntasse a círculos de artistas e pisasse palcos como os de Pequim e Xangai. Foi após o Incidente da Ponte Marco Polo, batalha sino-japonesa que haveria de marcar a 2.ª guerra entre a República da China e o Império do Japão, a 7 de julho de 1937, que destruiu a indústria cinematográfica e artística da cidade de Xangai que Jiang acabou por se despedir dos palcos e se juntou à sede do partido comunista para se juntar à revolução. Foi neste contexto que conheceu Mao. Aos 45 anos, Mao tinha o dobro da idade de Jiang, o
que escandalizou o público da época. Foi a 28 de novembro de 1938 que Jiang e Mao se casaram numa cerimónia privada. Com a ascensão de Jiang ao poder, a sua carreia política e artística foi propulsionada e cargos de diretora de filmagens, de departamentos de propaganda e de membro do comité do ministério da cultura somaram-se aos de primeira-dama do país. Destacou-se na atitude desta primeira-dama a perseguição aos inimigos políticos que ela incentivava, entre eles o proeminente líder do Partido Comunista Chinês, Zhou Enlai, cujos filhos foram torturados e mortos, Sun Yang na cave da Universidade de Renmin e Sun Weishi numa prisão secreta. Entre 1973 e 1974, Jiang dirigiu uma campanha contra Zhou. Em 1975, outra campanha destinava-se ao fracasso político de Zhou que, mesmo após morrer, ainda foi alvo de uma outra contra o luto prestado a si. Jiang Qing assistiu à morte do seu marido às 00:10 do dia 9 de setembro de 1976, mostrando poucos sinais de tristeza. Um regimento especial dos serviços secretos decidiu pela retirada do poder de Jiang, de forma a manter a estabilidade política do país, a qual foi presa e julgada, ao ser acusada de perseguição sistemática a artistas durante a Revolução Cultural que caracterizou o período de governação do seu marido. Uma das principais acusações foi de ter disfarçado um grupo de homens como sendo da Guarda Vermelha para saquear as casas de alguns artistas na tentativa de destruir qualquer fotografia ou registo dos seus primeiros anos de carreira. Durante este julgamento, Jiang demitiu os seus advogados, preferindo ser ela própria a defender-se contra tais acusações, julgamento marcado pela frase por si proferida: Eu era o cão de guarda do presidente Mao. Eu mordia qualquer um que ele mandasse morder. Jiang acabou por ser sentenciada à morte, mas a sua sentença acabou por ser alterada para prisão perpétua. Enquanto estava na prisão, a Jiang foi diagnosticado cancro da garganta, tendo acabado por se suicidar a 14 de maio de 1991, aos 77 anos de idade, enforcando-se numa casa de banho do hospital.
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LUZES, CÂMARA... AÇÃO Cinema na China - Flowers of war
A China tem a terceira maior indústria de cinema mundial, sendo que, praticamente, 60% dos filmes que passam nas 44 mil salas do país são nacionais. Além disso, é o segundo maior mercado consumidor de cinema, ultrapassando 6 mil milhões de dólares todos os anos (este ano prevê-se que ultrapasse o mercado americano). Uma boa parte dos estúdios de cinema de Hollywood necessita do mercado chinês para fazer os seus filmes render ou também para os co-produzir; isto faz com que Hollywood também procure agradar ao público asiático, inserindo por exemplo personagens asiáticas nos filmes, elementos da cultura chinesa ou até filmando parte do filme em locais do continente asiático. Contudo, o contrário também pode acontecer. É o caso do filme de que vos venho aqui falar hoje. "As Flores da Guerra" (2012) é um filme totalmente produzido na China, mas tem elementos da cultura ocidental, introduzidos no filme para assim chegar melhor às bilheteiras. Exemplo disso é o facto de o personagem principal ser desempenhado por um ator de Hollywood (Christian Bale) e parte do filme ser falado em Inglês.
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Este filme retrata uma história intensa e pesada datada do ano de 1937 no decorrer da segunda guerra sino-japonesa, a invasão de Nanki, por parte dos japoneses, onde um americano (Christian Bale) procura refugiar-se num convento católico, juntamente com um grupo de mulheres de um bordel e as alunas do convento. Para as proteger dos ataques, faz-se de padre, para tentar levá-las em segurança para fora da cidade. Baseado na obra de Geling Yan, este filme é-nos entregue pelas mãos do cineasta Yimou Zhang que conta, de uma maneira extraordinária, uma narrativa surpreendente e emocional, ao encargo de Heng Liu (argumento). Este filme mostra tudo o que tem de mostrar para tocar no coração das pessoas de diferentes formas, retratando os males da guerra e todo o sofrimento provocado por ela. O filme não é baseado em factos verídicos, mas podia muito bem ser, pois todo o teor do filme é real, não ocultando nada. Nenhuma prestação desiludiu. Christian Bale esteve à frente do filme da forma fantástica a que já nos habituou e a evolução da sua personagem ficou bem assente no decorrer da história. Assim como a maioria do elenco feminino, dando principal destaque a Ni Ni (seu
primeiro trabalho) e a Xingi Zhang que também conseguiram surpreender. A banda sonora e os efeitos sonoros também foram um elemento vital para a construção de toda a longa-metragem, encaixando como se fosse uma peça de puzzle na trama da história, bem como todo o cenário desolador do filme, onde existe um convento deslumbrante no meio de uma cidade em ruínas, em plena destruição e afundada em sofrimento. Embora a sua duração seja extensa, de 146 minutos, a ação e intriga do filme conseguem prender qualquer um que esteja a vê-lo. Acabamos por sair da história satisfeitos, comovidos e sobretudo abstraídos de tudo aquilo por que todas as personagens passaram ou vieram a passar. Em suma, este filme merecia ter sido reconhecido e visto por mais gente, como era intenção dos produtores, (arrecadou apenas 95 milhões de dólares na China e teve um custo de 94 milhões de dólares) mas pouco rendeu e também não foi bem aceite pela crítica internacional. Na verdade, não consigo encontrar qualquer falha que deteriorasse a narrativa, como a crítica defende. Se apreciarem este género, vejam o filme. Não se vão mesmo arrepender.
SÉCULO XXI A verdade por detrás da economia chinesa
Hoje em dia, a escravatura é proibida em todos os países do planeta, mas a verdade é que a escravatura não morreu no século XXI. É maior do que nunca. Nos últimos 20 anos, a China tornou-se o maior exportador de bens de consumo do mundo, estando no topo da lista das potências económicas; mas por detrás dessa maravilha económica que lhes aconteceu, estão escondidos mais de 5 milhões de homens, mulheres e crianças que foram aprisionados e forçados a trabalhar. "Nós não trabalhamos para viver, vivemos para trabalhar, somos como prisioneiros, não temos vida, só trabalhamos" como pode ler-se no sitehttp://www.sense-lab.com/single-
post/2017/01/23, aplica-se totalmente a estes homens e mulheres chinesas. Presos sem um julgamento, milhões de pessoas são escravizadas, forçadas ao trabalho duro. Os direitos humanos, como a liberdade religiosa, são considerados crime e penalizados com três anos de trabalho em condições desumanas. Lao jiao significa: reeducação pelo trabalho; é o nome dado a esta "filosofia" e sistema, no qual milhões de pessoas são condenadas a realizar tarefas complexas, as quais, se não forem cumpridas em um certo período de tempo, serão penalizadas com o abuso físico. Muitos desses trabalhadores não têm contratos formais e não têm acesso à lei, o que os torna vítimas frequentes da exploração do trabalho. Também é comum vender escravos para empregos. É-lhes negado o acesso aos serviços sociais básicos, trabalham 20 horas por dia (das cinco
da manhã até a uma da manhã do dia seguinte) em troca de pão e água. E se enfrentam humilhações, multas e, no caso das mulheres, até mesmo assédio sexual! E nem sequer têm permissão para receber visitas! O governo chinês demonstrou o seu compromisso para abordar a questão da escravidão e publicou o Plano Nacional de Ação para Combater o Tráfico de Pessoas (plano de ação) 2013-2020. Este lado da moeda deixa muitas empresas chinesas numa posição frágil e isso só mostra que a humanidade de hoje deixa de lado os valores para obter dinheiro. A cobiça tomou conta da sociedade. Esta situação na China é apenas um exemplo de quão longe a nossa ambição pode ir.
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TEXTOS E AFINS Literatura chinesa
A literatura chinesa, desconhecida para muitos dos ocidentais, é uma das mais belas e complexas do mundo, oferecendo aos seus leitores uma nova abordagem da realidade. Em primeiro lugar, na época clássica, a literatura chinesa constava basicamente de obras filosóficas e poéticas, de entre as quais se destacam as dos filósofos Mêncio, Laozi e Zhuangzi. Neste período, a obra poética mais importante foi Shijing, um livro constituído por trezentos e cinco poemas, que se acredita terem sido selecionados pelo famoso Confúcio. Em segundo lugar, na época medieval viveu-se um belo período literário, caracterizado principalmente por poemas populares chineses, merecendo particular realce Li Bai, da dinastia de Tang, um dos poetas mais famosos desta época,
abordado no texto seguinte. Já na época moderna, após a Revolução Cultural Chinesa, de 1966 a 1978, tem sido permitida aos escritores uma maior liberdade criativa. No entanto, a ditadura chinesa continua opressiva em relação a abordagens mais radicais, como é o caso do famoso Mo Yan. De nome verdadeiro Guan Moye, este galardoado escritor chinês, vencedor do Prémio Mao Dun em 2011 e do Prémio Nobel da Literatura em 2012, entre outros, é autor de um livro cuja circulação foi proibida na China devido ao seu cariz sexual e às críticas subjacentes ao governo chinês presentes no mesmo: “Peito Grande, Ancas Largas”. A originalidade e o sentido de humor deste autor estão também implícitos no seu pseudónimo, Mo Yan, de tradução “Não fale”. Em suma, apesar de toda a evolução literária, na contemporaneidade, a China continua a ser um
tanto opressiva para com os seus escritores, nomeadamente Mo Yan, vice-presidente da Associação dos Escritores Chineses, um dos autores mais publicados no exterior no país, por abordar temas sensíveis, como o aborto, a fome e a própria história da China, com um realismo dilacerante.
Li Bai – Bebendo sozinho ao luar Considerado o maior poeta romântico da dinastia de Tang, Li Bai nasceu no ano de 701 em Sui Ye, na China (atualmente Quirguistão), e veio a falecer sessenta e um anos depois, no antigo condado de Dangtu. Tendo permanecido como poeta ao serviço do imperador durante muitos anos, são-lhe atribuídos mais de um milhar de poemas, no entanto, a autenticidade de uma grande parte deles não é certa. Este poeta demonstra tão intensa devoção à lua que se crê que, apesar de casado, a sua única amada era unicamente o grande e cintilante satélite natural terrestre, a grande musa da maioria dos seus cantos. A sua afeição à lua era tanta que se acredita que Li Bai, numa noite de
embriaguez, caiu do seu barco, no rio Yangzi, ao tentar abraçar o reflexo da lua, tendo este ato de amor acabado por se tornar fatal para o mesmo. Esperemos que finalmente se tenha encontrado com a sua apaixonada. “Bebendo sozinho ao luar” é um dos mais afamados trabalhos do poeta. Este sublime poema descreve a noite de um sujeito solitário que, numa noite de primavera, enquanto ingere vinho, tem como únicas companheiras a sua sombra e a lua, com as quais se diverte. Estes versos são simples e alegres, mas também um tanto melancólicos, visto o sujeito poético ter de regressar ao lar. Como referido no poema, os três companheiros só se poderão vir a reunir na Via Láctea, o que demonstra o distanciamento e
consequente impossibilidade de relacionamento entre o sujeito poético e a sua amada. Concluindo, Li Bai tornou-se imortal através da sua escrita, sendo as sua obras traduzidas em inúmeros idiomas e, portanto, mundialmente conhecidas e apreciadas. A sua influência é notável não só no Oriente, mas também no Ocidente, uma vez que as suas ideias tiveram um grande impacto nas correntes literárias imagista e modernista do século XX. Fonte: https://www.revistas.usp.br/clt/article/viewFile/ 897013/9604
SANTOS
OS PONTOS E AS VÍRGULAS DA EDUCAÇÃO ESPECIAL A Intervenção Precoce na Infância
A educação de uma criança é um processo complexo, que envolve muitos intervenientes, muitas decisões,…mas também é um processo dinâmico, devido à heterogeneidade e à constante modificabilidade da criança e da família dentro da sociedade. O desenvolvimento na infância é um processo dinâmico de interações entre os diferentes intervenientes (pessoas) e as relações que estabelece com o meio, inicialmente na célula familiar e logo depois num núcleo mais alargado. Neste sentido, a família é o primeiro contexto social da criança, a família é a primeira escola dos filhos e sê-lo-á toda a vida. O que se passa no contexto familiar influencia direta ou indiretamente o desenvolvimento da criança e vice-versa. Daí o grande enfoque da Intervenção Precoce na Infância (IPI), ser hoje a família no seu todo onde está inserida a criança. É neste sentido, construído a partir das capacidades da família, usando os recursos naturais antes dos recursos profissionais ou materiais, que assentam os aspetos fundamentais das práticas centradas na família. A Equipa Local de Intervenção (ELI) da Marinha Grande existe desde 2007, a funcionar na sede, sita nas instalações da entidade gestora, a ADESER II, IPSS em Casal de Malta e é fruto dos contributos do Ministério da Segurança Social, Ministério da Educação e Ciência e Ministério da Saúde. Atualmente integra a rede de equipas do Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância criado em 2009 pelo Decreto-Lei n.º 281/2009. É constituída por uma técnica de política social e coordenadora da equipa (Bárbara Prudêncio), uma educadora de infância (Andreia Fernandes), uma psicóloga (Ana Sofia dos Santos) e uma terapeuta da fala (Maria José Graça) afetas a tempo inteiro e conta, duas horas por semana, com a colaboração de uma enfermeira (Ana Laura Baridó), que trabalham em modelo de intervenção transdisciplinar. Neste momento tem em acompanhamento, sensivelmente, 60 crianças e famílias e desde o seu início teve ativos 441 processos. Relativamente ao trabalho da equipa
diretamente com as famílias e outros cuidadores, sejam educadores-de-infância, amas, avós ou outros elementos significativos, importa frisar que com a alteração que a filosofia da intervenção sofreu, nos últimos anos, o trabalho segue a linha orientadora que as famílias e os cuidadores significativos são quem faz a diferença na vida de cada criança. Desta forma, e tendo em consideração que um dos objetivos da Intervenção Precoce é potenciar as oportunidades de aprendizagem de cada criança para que estas consigam desenvolver competências funcionais e participar significativamente nos ambientes em que estão inseridas, a intervenção tem por base o trabalho direto junto dos cuidadores, através da partilha de informação, da demonstração e da modelagem de comportamentos, bem como através de outras técnicas que permitam aos cuidadores aumentar as ditas oportunidades da sua criança, em todos os momentos do seu quotidiano. Todo o trabalho das técnicas da ELI é orientado pelas preocupações, necessidades e prioridades de cada família, sendo definido com cada família através da elaboração do Plano Individual de Intervenção Precoce e visando potenciar os seus recursos e promover a sua autonomia. Quanto à população-alvo, crianças entre os 0-6 anos de idade que reúnam critérios de elegibilidade mínimos para a intervenção ou que embora não os reúnam, requerem
preocupação que justifique manter um sistema de vigilância à situação.Quanto ao contacto com a ELI, pode ser feito por qualquer elemento da comunidade que tenha preocupação com uma criança, através da ida à Sede (ADESER II, IPPS – Rua Aníbal H. Abrantes, Casal de Malta), do contacto telefónico 244560683 ou 910738375 ou através de e-mail elimarinhagrande@gmail.com. Passadas três décadas dos primeiros serviços de IPI, em Portugal e meia década da criação do Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância (SNIPI), é necessário que o mesmo seja operacionalizado, estabeleça a adequada uniformização, planificação e organização, deste setor em todo o território nacional porque ainda somos confrontados com uma grande variabilidade de situações neste setor nas diferentes regiões do país. A criação das ELI (Equipas Locais de Intervenção) foi uma tentativa de uniformização, mas sabemos das graves insuficiências de meios humanos e da enorme área de abrangência que algumas têm. (Nota: Agradecemos o contributo da ELI da Marinha Grande, na pessoa da sua coordenadora, para a elaboração deste artigo.)