Pev junho 17 s

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Esta revista faz parte da edição nº 2759 de 1 junho de 2017 do Jornal da Marinha Grande e não pode ser vendida separadamente

MARINHA GRANDE

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS

POENTE

gic

gabinete imagem e comunicação

junho 2017

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voem. as vossas asas já estão fortes.


CALAZANS DUARTE, UMA ESCOLA COM PROJETOS Editorial Centenas de atividades de enriquecimento curricular integram anualmente o Plano Anual de Atividades (PAA). Muitas delas fazem parte de projetos que a Calazans Duarte vem desenvolvendo há vários anos, alargando-os às escolas do Agrupamento Poente, consolidando uma cultura de escola, um dos eixos do Projeto Educativo. São eventos desportivos, ações para a educação ambiental, educação para a saúde, educação de género, teatro, literatura, música, ciência, para citar só algumas. Há também atividades anuais, que se vão tornando marcos assinaláveis e muito aguardados, como é o caso dos Prémios Calazans, este ano já na XI Edição, evento em que, para além do reconhecimento do mérito e excelência dos alunos, a comunidade escolar tem o prazer de assistir a performances teatrais, musicais e de dança feitos por jovens talentosos. Há projetos inovadores, nascidos na escola, como o Diretor Júnior, já no segundo ano, e outros que, sendo propostas do Ministério da Educação, são apropriados de forma criativa pelos alunos, como é o caso do Orçamento Participativo que, esperemos, trará ainda este ano uma esplanada e a revitalização da Rádio. O intercâmbio com escolas de outros países é uma prática consolidada na Calazans há mais de duas décadas, com o apoio financeiros dos programas europeus, e que este ano já permitiu a deslocação de vários grupos de alunos e professores e também ser escola anfitriã. (ver Texto sobre Erasmus+) Outros projetos, alguns dos quais resultam de propostas nacionais, decorrem a partir da Mediateca. São, por exemplo, concursos de poesia, de fotografia, sessões com escritores, o Parlamento Jovem e Euroescolas. E, se este ano, os estudantes da Calazans não lograram chegar até Estrasburgo, isso não será, seguramente, desencorajador de futuras participações. O Café com Livros, o Hoje há intervalo e o Sarau anual são outras iniciativas da mediateca. O trabalho com outras instituições reforça o envolvimento da escola na construção de mais valor para a comunidade e contribui também

três anos de edição digital (sem contar com 8 edições em papel, distribuídos com o Jornal da Marinha Grande) são motivo qb para continuarmos a apostar neste projeto. Muito do que se faz na Calazans Duarte ficou espelhado no P&V. Noticiamos o que foi possível, sendo o critério principal a disponibilidade. Ficou por divulgar quase tudo do âmbito desportivo, por impossibilidade de cobrir os eventos. Mas o departamento de educação física tem os seus media de divulgação e continuamente fez chegar a informação a centenas de leitores. No próximo ano letivo muitos projetos continuarão e outros terão início. (ver “2017/18 será um ano de muito trabalho, a enfrentar com criatividade”) A equipa de alunos ficará desfalcada, porque quase todos terminarão o 12º ano. Não sendo isso impeditivo de continuarem a fazer parte da equipa, vontade que alguns já manifestaram, sabemos que viverão noutras cidades e a nova vida académica os solicitará para outros projetos. Mas estamos certos de que serão capazes de mobilizar outros colegas, que ainda vão ficar nesta escola, para dar continuidade ao trabalho que lançaram. À Beatriz Roldão, Catarina Sousa, Catarina Colaço, Carolina Duque, Fábio Casaleiro, Irina Oliveira, Francisco Fernandes, Marina Lopes e Marta Lobo, os professores do P&V desejam sucesso nos exames que se aproximam e esperam que esta experiência no GIC tenha sido apenas a primeira tentativa de levantar voo! Voem. As vossas asas já estão fortes.

para reforçar o prestígio da Calazans Duarte. Este ano, a co-organização da XIV Semana de Educação e Juventude deu origem a um dos mais ricos eventos deste género no concelho. A diversidade das atividades e dos públicos a que chegaram compensaram certamente o esforço de todos que nela trabalharam. As palestras sobre ciência trouxeram à Calazans renomados cientistas, o mesmo acontecendo com iniciativas do projeto Eco-escolas. Estas atividades, ambientes de aprendizagem diferentes da sala de aulas, são reconhecidas pela direção e pela maioria dos professores como um valioso contributo para a formação dos jovens como pessoas e como cidadãos. Haverá alguns que pensarão o contrário. A extensão dos programas, a pressão dos resultados académicos, em particular nos anos de exame, contribuem seguramente para que alguns professores desvalorizem o que não é objeto de avaliação/classificação. O GIC, em particular o Ponto & Vírgula, tem procurado ser um espaço de informação e partilha, no qual a comunidade escolar se reveja, e também um instrumento de construção da cultura de escola. Este ano cumprimos o objetivo ambicioso de dar a conhecer todas as escolas do Agrupamento, através da rubrica Um mês uma escola e de dar voz a muitos ex-alunos da Calazans, na rubrica Anos Depois. Mas a maior satisfação dos professores que coordenam este projeto foi ter conseguido constituir uma equipa de 9 alunos, que enriqueceram todas as edições do P&V, escrevendo sobre música, dança, cinema, banda desenhada, feminismo, talentos, problemas do século XXI ou neste jornal escolar deram os primeiros passos na divulgação de escrita mais poética. Indispensáveis foram também os muitos alunos que aqui publicaram os seu primeiros textos, produzidos em contexto de aula, dando ao ato de escrever um sentido social. A equipa do P&V felicita a professora Sofia Duarte por suscitar nos alunos a vontade de escrever para publicar e espera poder continuar a contar com ela no próximo ano. As 100 mil visualizações que o P&V conseguiu em

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Redação: Alice Marques, André Gadomskyi, APECD, Beatriz Menino, Beatriz Roldão, Bianca C., Catarina Sousa, Catarina Colaço, Carolina Duque, Cármen Santarém, Fábio Casaleiro, Francisco Fernandes, Irina Oliveira, Jorge Alves, Mariana Loureiro, Marina Lopes, Margarida Amado, Margarida Regueira, Marta Lobo junho 2017

AGRUPAMENTO DE ESCOLAS

MARINHA GRANDE

POENTE

Impressão: Gráfica Diário do Minho

Tiragem: 2000 exemplares

Produção gráfica: gabineteimagem eseacd

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EM JEITO DE REFLEXÃO…

Associação de Pais e Encarregados de Educação dos Alunos da Escola Secundária Eng.º Acácio Calazans Duarte A educação dos jovens é um tema que pela sua extrema importância diz, obrigatoriamente, respeito a toda a sociedade. E terá, necessariamente, de se adaptar às necessidades, às mudanças sociais, culturais e económicas da sociedade onde está inserida. Sabemos que o aluno mudou… e sobre isso não temos controlo….novas realidades, novas expetativas e novas motivações. Cabe a todos, Escola, Associação, Pais/Família, criar e estimular um ambiente educativo saudável de modo a formar alunos/filhos competentes e felizes. Isto é, devemos transformar essas novas realidades em desafios/oportunidades. Mas ….cada um no seu lugar. Escola e Pais/Família, cada um tem as suas funções na educação dos jovens. À Família cabe a função de educar, de auxiliar no estabelecimento das relações afetivas e na interiorização das regras sociais. O papel da escola está ligado à componente pedagógica com as suas regras de funcionamento. Assim, a escola, sozinha, não é suficiente para garantir um bom rendimento escolar dos alunos, assim como os p a i s s oz i n h o s ta m b é m n ã o c o n s e g u e m proporcionar uma formação integral e integrada dos filhos, pois sabemos que pode haver casos em que os pais têm até têm dificuldade em saber como ajudar os filhos nos estudos em casa e outros não têm essa possibilidade. Assim, Escola e Família complementam-se. Pais/Família e Escola devem ser parceiras no compromisso comum de promover a realização dos sonhos de cada aluno. A participação dos Pais e Encarregados de Educação (Pais/EE) na Escola é um direito consignado na lei. Mas, além de ser um direito é, também, um dever cívico. Sabemos que a participação ativa dos pais nas estruturas da escola (Associação de Pais, Conselho Pedagógico, Representantes dos Pais, Conselho Geral…) é vista pelos filhos como uma demonstração de empenho e interesse pelo seu sucesso. No entanto, constata-se que, à medida que o aluno avança nos estudos, a mobilização dos Pais relativamente à Escola, diminui. Assim, para contrariar este facto, a Escola e respetivas estruturas deve promover mecanismos de modo a proporcionar a aproximação das famílias à Escola e deste modo promover a sua

mobilização, na qual a Associação de Pais tem um papel fundamental. As famílias devem estar mais envolvidas nas atividades relacionadas com a Escola quer sejam organizadas pela Direção, quer sejam organizadas pela Associação de Pais, ou propondo,elas próprias, novas atividades; atividades de âmbito pedagógico, social, lúdico ou outro. A Associação de Pais, órgão muito importante e independente da Escola, do Estado, dos partidos políticos, das organizações religiosas e de quaisquer outras instituições ou interesses, tem um papel deveras importante….como instrumento facilitador para fortalecer a comunicação e integração da Família na Escola. A Associação é um espaço aberto onde todos têm a possibilidade de participar na realização de ações que sejam verdadeiramente capazes de melhorar o rendimento escolar e bem-estar dos estudantes de modo a que tenhamos jovens felizes e com sucesso. Escola e Associação devem estimular todas as partes envolvidas (Alunos, Pais, Direção, Diretores de Turma, Representantes dos Pais, Associação de Estudantes, Delegados de Turma, Funcionários …) a darem sua opinião e participação ativa para que se construa uma escola cada vez mais unida pela sua nobre missão. Ou seja, pretende-se uma participação mais efetiva de toda a comunidade escolar, visando uma maior aproximação e interação entre todos para a melhoria da Escola e do processo educativo, com os consequentes benefícios para os nossos jovens. Essa colaboração devendo ser recíproca, pode revestir-se das mais variadas formas: - Ajudar a manter a Associação de Pais dinâmica, seja fazendo parte da mesma ou ajudando nos eventos que a mesma organize, ou propor e participar em novas actividades, pois qualquer ajuda/contribuição é importante. - Divulgação – É muito importante o envolvimento das Famílias, dos representantes dos Pais, dos Diretores de turma, como parceiros na divulgação e apelo à participação da comunidade escolar nas ações/atividades a realizar;

soluções, sugestões ou outros; - Direção da Escola ajudar a manter as Associações de Pais ativas, facilitando espaço físico, apoio, reuniões de coordenação com a Direção da escola (o que já se verifica e tem sido uma mais-valia); - Desenvolver ações em conjunto com Professores e Direção das escolas, de forma a promover/melhorar a formação dos jovens e dos Pais/Família; - Colaborar com a Escola na organização de acontecimentos festivos, na melhoria do espaço escolar, e na resolução de problemas. Refira-se, de passagem, que na última e usual atividade - Noite de Variedades - que a Associação organizou e que se revestia de muita importância, até pela finalidade dos fundos angariados (GAAF e meios materiais para melhoria para a restauração), gostaríamos de ter tido mais adesão dos Pais. No entanto não faltarão outras oportunidades para participar!!! Relembramos, por fim, algumas das atividades que a Associação tem desenvolvido ao longo dos últimos anos e que tem contemplado temas de importância extrema, tais como: ·

Saúde : “Questionário de risco da Diabetes” e “da Saúde Mental”; Caminhada do Solidária;

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Prevenção de comportamentos indesejáveis; “Violência no namoro”, “Bullying”, “Cyberbullying”, “Toca a Todos falar de Sida”;

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Cultura-lazer - Noites de Variedades, “Café com Livros”;

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Responsabilidade Social e Ambiental – Colaboração com o projeto Eco-Escolas, Campanhas de Angariação de bens alimentares e outros, para ajudar famílias carenciadas e a Associação Novo Olhar II.

Como podemos observar todas os temas e atividades se revestem de capital importância e refletem preocupações e interesses que são de todos.

- Apresentação de problemas, mas também de

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“DAR SANGUE PARA SALVAR”

CALAZANS DUARTE CONTINUA A RECOLHER DÁDIVAS DE SANGUE P&V

Tal como vem acontecendo há vários anos, a escola Calazans Duarte volta a estar na linha da frente da campanha “Dar sangue para salvar”. A sessão de angariação de novos dadores de sangue e inscrição no Registo Nacional de Dadores de Medula Óssea decorreu no dia 8 de maio e compareceram 64 potenciais dadores. Desses, 41 são novos dadores de sangue e 53 estão agora inscritos como potenciais dadores de medula. Esta iniciativa, integrada no Projeto Educação para a Saúde (PES), foi mais uma vez promovida pela professora Clara Oliveira, que há mais de uma década se dedica a esta causa, e contou com a colaboração do professor Rui Fernandes, bem como do presidente da Associação do Dadores de Sangue da Marinha Grande, Aníbal Curto. Um médico, dois enfermeiros e dois assistentes operacionais completavam a equipa que, entre as 15:00 e as 19:00, “não parou”, como disse ao P&V Clara Oliveira. Incansável nestas campanhas, esta professora lamenta a “fraca adesão de professores” (apenas três); em contrapartida é com grande satisfação que destaca a presença de muitos jovens, em particular alunos da EPAMG. Também Aníbal Curto reconhece a importância de jovens dadores, como prova de que “esta não é uma geração rasca, mas uma geração com valores”, disse. Aliás, a Associação da Marinha Grande regista uma média de dadores até aos 35 anos muito superior à nacional (34% versus 19%), o que é motivo de regozijo. Segundo os

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dados que forneceu ao P&V, dos 6037 dadores do concelho (excluindo os conseguidos na sessão), 11% têm entre 18 e 25 anos; a faixa etária dos 26 aos 35 corresponde a 23%; 43% têm entre 36 e 45 anos; 23% entre 51 e 65. “A importância das sessões de esclarecimento junto da população escolar é incontestável”, reconhece. A recolha foi antecedida por uma sessão de esclarecimento para turmas do 12º ano, no dia 4 de maio, em que estiveram também presentes Sofia Lisboa (vocalista dos Silence 4), Teresa Nóbrega e Norberto Santos, todos com histórias para contar relacionadas com a necessidade de dadores de medula óssea. Rui Fernandes, Clara Oliveira e Aníbal Curto explicaram com clareza tudo o que os dadores de sangue e potenciais dadores de medula devem saber, do ponto de vista da biologia, do autoconhecimento do corpo e sobretudo da cidadania, porque “dar sangue pode salvar vidas”, mensagem repetida, com estas e outras palavras, ao longo da sessão. Teresa Nóbrega, que perdeu o filho (foi aluno da Calazans), vítima de uma aplasia da medula, porque um dador compatível só foi conseguido tarde demais para um transplante de medula, deixou um apelo emocionado aos potenciais dadores. Norberto Santos deu o seu testemunho sobre como se tornou dador de medula, sete anos depois de ser inscrito no Registo Nacional, evocando a felicidade que ainda hoje o invade quando pensa que o seu gesto “contribuiu para que algures, alguém continuasse a viver”.

Sofia Lisboa, vocalista da banda Silence 4 (de que fez parte David Fonseca) contou como sobreviveu a uma leucemia linfoblástica aguda, graças à medula da sua irmã. Mais importante do que a sua história de luta e coragem, que pode ser lida no seu livro Nunca desistas de viver (existe na biblioteca da escola) foram as muitas mensagens que deixou aos jovens: a importância de ser dador porque a compatibilidade é raríssima; a altíssima probabilidade de, hoje, 1 em cada 3 pessoas vir a ter cancro e a assustadora previsão da Organização Mundial de Saúde: daqui a 10 anos, 3 em cada 4 pessoas podem vir a ter cancro. Carlos Martins, o jogador de futebol cujo filho precisou, há uns anos, de um dador de medula, história conhecida através dos media e que mobilizou milhões de pessoas, deixou também o seu testemunho nesta sessão, através de gravação vídeo. “Pensem em motivos para não darem sangue e ponham-se no lugar de quem precisa, a ouvir as vossas desculpas…”. Foi com este apelo que Rui Fernandes encerrou a sessão. Apesar de não serem muitos os presentes que podem desde já ser dadores de sangue e potenciais dadores de medula, pois a idade mínima é de 18 anos, esta sessão terá tocado a consciência de muitos. Eles passarão a mensagem. Estas campanhas junto dos jovens são fundamentais para mobilizar a solidariedade e o amor pelo próximo. Assim se explicam os números de dadores que referimos nesta notícia.


AGRUPAMENTO POENTE VOLTA A PARTICIPAR NO FÓRUM EMPREGO E FORMAÇÃO P&V O Agrupamento de Escolas Marinha Grande Poente esteve presente no VIII Fórum de Emprego e Formação que decorreu no Mercado de Sant'Ana, Leiria, nos dias 3, 4 e 5 de Maio. Promovido pelo jornal Região de Leiria, com o apoio institucional da Câmara Municipal da cidade e Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria, o Fórum é uma iniciativa na qual as escolas do distrito e os Institutos Politécnicos divulgam a sua oferta formativa e o IEFP também a sua oferta de empregos. Palestras e workshops vários completam este Fórum. O Agrupamento Poente, com um expositor amplo, personalizado e visualmente agradável, expôs a sua oferta formativa para o próximo ano letivo, do pré-escolar ao secundário, com destaque para os cursos profissionais que, por terem uma forte componente prática, permitem que o Fórum seja também uma mostra de alguns produtos que neles se fazem. Aliás, a aposta do Fórum é sempre nesta vertente profissional, sendo a maioria dos expositores de escolas profissionais do distrito.

SUCESSO Bianca C.

O que é o sucesso? Será que é ter o melhor carro, a roupa e os sapatos de marca ou morar numa mansão de luxo rodeado de jóias? É o facto de andarmos assinalados com os logótipos de uma marca conhecida, ou lutar contra os nossos desejos ou ânsias em prol da boa imagem pública? Todas essas coisas caras e luxuosas não são o verdadeiro sucesso de uma pessoa. Para mim, o sucesso é mais do que todas essas coisas fúteis e

materialistas que no fundo não são mais do que aparentam ser. O sucesso é poder dizer que os sonhos que se tiveram em criança se tornaram nos objetivos e conquistas do adulto. O sucesso é poder dizer que, por mais difícil que o caminho tenha sido, nunca desistiu de continuar. Uma pessoa bem sucedida é alguém que consegue manter as pessoas que ama ao seu lado e que não está sozinha nem nos momentos vitoriosos, para poder partilhar a felicidade, nem

nos momentos maus, para se poder apoiar em alguém e não sofrer sozinha. Para que serve todo o dinheiro do mundo e a melhor casa se no final do dia uma pessoa volta para essa mesma casa fria e solitária, sem ninguém com quem partilhar os bons e maus momentos do dia? Para que serve ter o melhor carro se todos os quilómetros nele são passados sozinho sem ninguém com quem partilhar as melhores viagens? Claro que o dinheiro também é importante, mas o sucesso vindo dele é o facto de poder pagar todo o processo para a realização dos seus sonhos. É o facto de poder pagar uma casa num sítio onde sempre se quis morar e poder dar conforto à sua família. Embora o sucesso mude de pessoa para pessoa, até os mais pequenos pormenores da nossa vida podem ser considerados um sucesso. Algo tão simples como o facto de conseguir tirar uma boa nota num teste ou conseguir acabar de ler um livro. O sucesso não precisa de ser algo grande, basta ter os olhos e a mente abertos para o nosso redor.

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ERASMUS +

Calazans Duarte soma e segue em frente Cármen Santarém

No presente ano letivo, a Calazans Duarte apostou forte nos intercâmbios Erasmus+. Dois projetos Erasmus+ KA2 aprovados, "Being a European: Find your way to the future School, Job and Life in Europe" (Alemanha, Países Baixos, Suécia e Grécia) e "Social Innovator Students" (Turquia, Grécia e Irlanda do Norte). Sete saídas previstas com alunos e professores até ao final do ano letivo 2017/18, envolvendo cerca de 40 alunos acompanhados por dois professores em cada intercâmbio ao estrangeiro. E soma mais um projeto aprovado, formação para os nossos docentes, o projeto "Aprender Para Innovar" (KA1). O projeto "Aprender para Innovar" pretende capacitar os docentes nas áreas da reorganização do trabalho com os alunos e da estimulação de práticas indutoras de criação de ambientes inovadores de aprendizagem, através do confronto e/ou contacto com outras experiências europeias e da partilha de experiências inovadoras que possam ser adaptadas ou adotadas pelo agrupamento. Mais informações serão publicadas nas próximas edições. Falando dos projetos KA2, em fevereiro foi a Alemanha, em abril a Grécia, em maio os Países Baixos e em setembro será a Suécia; para 2018 haverá mais. Mas setembro também será um mês marcado pela presença de alunos vindos da Irlanda do Norte, da Grécia e da Turquia. Alunos, professores, pais e a comunidade em geral darão as boas vindas a estes países durante uma semana. André Farto Pedro, Duarte Agostinho Quitério

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de Jesus, Catarina Gomes Basílio, Jani Carolina Ferreira Rodrigues, Juliana Rosa da Silva Ascenso, Juliana Trindade Vicente, Maria Filipe Rodrigues e Nicoleta Talmaci viajaram rumo a Atenas (Grécia) entre 22 e 29 de abril. E como os projetos não são feitos só de trabalho de projeto, workshops e aulas, estes alunos visitaram o Environmental Awareness Park Antonis Tritsis, o Centro Cultural Fundação Stavros Niarchos, a Acrópole de Atenas e o Museu da Acrópole, o Museu Arqueológico Nacional e Náuplia. Já Ana Rita Costa José, Diana Leal Silva, Juliana Pedro Esteves, Margarida Rosete Salvador, Mariana Fernandes Reis e Rita Oliveira Bento visitaram o país das túlipas, com os seus campos coloridos a perder de vista, de 7 a 13 de maio. A cidade que os acolheu foi Hoorn. Para além de aulas, de apresentações de empresas nacionais dos cinco países e de um workshop dedicado à "Conceção de produto até ao cliente final", estes alunos visitaram os moinhos históricos de Zaanse Schans, a empresa Boon Edam em Edam, a empresa Syngenta em Enkhuizen, a empresa NDSM dockyard em Amesterdão, e a cidade de Amesterdão. Perguntando a todos do que gostaram mais, os alunos foram unânimes: "O país, as pessoas, as famílias, as novas amizades ... lembranças que ficam para toda a vida." Todos teriam ficado mais uma semana ou duas. Mas o que é o Erasmus? É o programa comunitário mais antigo e um dos mais bem sucedidos. Celebra este ano os seus 30 anos de

existência. Em jeito de balanço, este programa não só atingiu os seus objetivos iniciais, como soube reinventar-se, adaptou- se e criou novos objetivos e expectativas. Ao objetivo inicial e fulcral, a mobilidade de estudantes para formação, juntaram-se outros como as mobilidades para estágios, a mobilidade de docentes, de não docentes e de recémdiplomados; deixou de ser um exclusivo de quem frequenta o ensino superior para abrir portas ao ensino básico, secundário, profissional e de educação de adultos. Ajudou a conhecer melhor os países membros da UE e gerou a "Geração Erasmus", que se habituou a estudar num país, a fazer um estágio noutro, a viajar pelos diversos países europeus, aproveitando o alojamento oferecido pelos amigos que foram fazendo nas mobilidades, e até a constituir família. O Erasmus+ financia milhares de alunos, docentes, estagiários, voluntários, entre outros, pois o seu maior objetivo é reforçar o desenvolvimento de competências e empregabilidade, bem como apoiar a modernização dos sistemas de educação, formação e de apoio à juventude. Realizar uma mobilidade Erasmus é, para um potencial empregador, a garantia que o candidato detém as soft skills necessárias às exigências do mercado de trabalho atual (competências linguísticas, capacidade comunicativa, flexibilidade, resiliência, entre outras). Para mais informação, veja (ou reveja) o programa Prós e Contra "A geração Erasmus", de 15 de maio.


TEATRO EM ALEMÃO

Almada – a minha experiência Marta Lobo A ida para Almada com o grupo de teatro alemão da nossa escola tem sido uma tradição para mim, durante os últimos três anos do secundário. Eu e o meu grupo de teatro – Die Träumer – temos participado no concurso Alemão em Cena desde 2015. Neste concurso, somos nós que temos de escrever a nossa própria peça de teatro de acordo com o tema dado e depois temos de a representar em palco. Assim, durante estes três anos, no início de maio, íamos até Almada, passar 4 dias na Pousada da Juventude de Almada e atuar no Forum Municipal Romeu Correia. Para além de atuarmos, também temos a possibilidade de participar em workshops que depois apresentamos aos outros. Workshops como o de circo, o de dança e o de fala e movimento. São workshops divertidos, engraçados, nos quais temos a oportunidade de deixarmos de ser tímidos, falar e divertirmo-nos

com outras pessoas ali presentes. Como isto é um concurso em alemão, as peças são todas as escritas e atuadas em alemão. Os professores, tanto dos workshops como diretores do concurso, falam em alemão e é uma grande oportunidade, para aqueles que estão a aprender alemão, de aprofundar o conhecimento e o à vontade com a língua. Lutávamos pelos 4 dias em Almada. Não havia nenhum prémio no concurso Alemão em Cena mas, para nós, o prémio eram esses 4 dias em que parecia que vivíamos num mundo diferente. Tivemos a possibilidade de socializar com pessoas de todo o país, fazer amigos e ter memórias para a vida inteira. Ainda hoje, eu e os meus colegas do grupo falamos e rimos de histórias e memórias do primeiro, segundo e último ano, memórias que guardaremos para sempre. O tempo parece que pára quando estamos em Almada. Esquecemo-nos de que temos escola,

responsabilidades... só nos preocupamos com o aqui e o agora. Em geral, é uma maravilhosa experiência, que recomendo a todas as pessoas que tenham a oportunidade de a viver. Se estás a tirar alemão na nossa escola, fala com a tua professora ou professor e tenta informar-te sobre este concurso de teatro. É uma experiência de uma vida e realmente algo que nunca irás esquecer e farás amigos para a vida inteira. Por isso informa-te e tenta participar nesta atividade. Vais melhorar o teu alemão e fazer amigos e memórias que vão durar a vida toda.

dO OPINIAO

LEITOR

Dar uma opinião sobre algo que é feito com tanto empenho e tanta dedicação, cujo produto, em cada mês que se dá a conhecer ao mundo, é sempre um momento de revelação e de agradáveis descobertas, é extremamente fácil, embora tenhamos que nos sujeitar a alguns lugares-comuns, porquanto, não poderemos deixar de dizer que este jornal, o “Ponto & Vírgula”, é uma “janela” por onde perpassam as

múltiplas visões das diversas almas que constituem o nosso corpo escolar, abrangente e multicolor, como diverso e multifacetado é o nosso Agrupamento de Escolas Marinha Grande Poente. Para mim, no entanto, este jornal, mais do que essa janela transparente, é um farol, uma luz de revelação, pois, em cada nova edição, fico verdadeiramente surpreendido com os talentos que se dão a conhecer, com a lucidez e pertinência do que se escreve, para além da sensatez revelada por quem o produz, obtendo como resultado um documento que não se esgota na efemeridade do momento da sua publicação, mas que pode servir como instrumento de trabalho, como ponto de partida para salutares debates, tanto entre colegas,

professores, como com os nossos alunos. No meu caso particular, já por diversas vezes utilizei textos publicados no “Ponto & Vírgula” como ponto de partida para a realização de trabalhos de alunos, assim como tenho motivado alguns deles a publicarem os seus textos neste nosso (e deles) jornal, para que ele continue assim, rico, diverso, interessante e inteligente. Por tudo isto, só tenho que agradecer a esta extraordinária equipa, pelo seu esforço, empenho e dedicação, por nos proporcionar um jornal escolar que, sem dúvida, será uma referência de grande qualidade em qualquer lado, levando mais longe o nome da nossa escola. Jorge Alves, professor

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ASSOCIAÇÃO DE ESTUDANTES: PROMETEMOS E CUMPRIMOS Mariana Loureiro A gratidão é um dos maiores dons do ser humano. Ao longo deste ano tive o prazer de trabalhar com um grupo excecional de pessoas a quem a minha gratidão pessoal é particularmente difícil de expressar. A união e o consenso dentro da Associação de Estudantes foram essenciais para o planeamento e a construção de um ano cheio de alegrias onde conseguimos cumprir os objetivos que impusemos. O trabalho incansável que todos demonstrámos foi sempre no sentido de entregar a toda a comunidade escolar, em especial aos alunos, uma escola melhor para todos. Tem sido uma das grandes preocupações da nossa Associação a concretização dos objetivos apresentados. Em dezembro do ano passado, em colaboração com os alunos da disciplina de Educação Moral e Religiosa — a quem devemos reconhecer todo o mérito pela iniciativa, esta coordenada pela professora Alexandra Varela —, promovemos uma recolha de alimentos para o projeto Escola Solidária, que ajuda famílias carenciadas nas suas necessidades alimentares. Os alunos de artes, em cooperação com a Associação, têm procedido à personalização do espaço escolar; realizamos bancas de venda de produtos alimentares para financiar os nossos projetos e integrar melhor a comunidade escolar no auxílio à concretização dos nossos objetivos; fizemos um torneio de matraquilhos, para aproximar os alunos dos membros da direção da Associação de Estudantes; conseguimos

dO OPINIAO

LEITOR

O Ponto & Vírgula é um projeto muito interessante, que apresenta duas componentes que se destacam: o aspeto gráfico e o conteúdo. Graficamente, nota-se que há uma preocupação de colocar os textos e as fotografias nos locais mais adequados. A fonte utilizada e o corpo da letra parecem-me igualmente os mais

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patrocínios para a ajuda da realização do torneio desportivo anual “Fair Play”; temos ainda estabelecido em várias ocasiões um contacto estreito e interpessoal entre a Associação e a Direção da escola a fim de garantir a preservação do interesse maior dos alunos. Mais um dos nossos objetivos cumpridos foi a Gala de Solidariedade, realizada dia 1 de abril, onde conseguimos angariar €878.5 para duas instituições de intervenção social (a ATLAS e O Girassol), valor dividido proporcionalmente. Já nesta reta final do ano lectivo, procederemos à organização de um Baile de Finalistas para os alunos do 9º e do 12º ano de escolaridade. Espero que quem ficar com o cargo da Associação de Estudantes continue a tentar desenvolver ideias mais interessantes do que as que já foram desenvolvidas, de forma a criar mais diversão do que a que já foi criada, de trabalhar mais com os alunos do que já foi trabalhado, de fazer melhor do que já foi feito. A experiência que tive enquanto Presidente da Associação de Estudantes foi incrível e há poucas palavras para expressar o que sinto. Devo um enorme obrigado aos membros da Associação, a todos os alunos, à direção da escola, a todos os professores e funcionários e ainda ao Ponto & Vírgula. Resta-me dizer que fiz tudo ao meu alcance para cumprir o prometido. As propostas que a Associação de Estudantes apresentou foram projetos que foram desenvolvidos e bem executados por todos os membros da direção. Esses projetos podem resumir-se a isto: apoiar

apropriados. Os títulos são apelativos e «respiram» nas páginas. Quanto ao conteúdo, muito diversificado, observa-se uma preocupação de apresentar textos bem escritos, uns mais longos, outros de dimensão média, o que facilita a vida aos leitores, a generalidade «preguiçosa» quando se deparam com grandes narrativas. Felicito o Agrupamento de Escolas Marinha Grande Poente bem como o Gabinete de Imagem e Comunicação (GIC) por manter este projeto como forma de comunicar as suas iniciativas, abrindo o estabelecimento de ensino não só à comunidade escolar mas também ao exterior. Bom seria que todas as edições fossem impressas em papel mas sei bem dos custos que

os alunos em qualquer altura, independentemente da filiação de lista. Lá estivemos e estaremos até ao fim, prestáveis, competentes e disponíveis, sempre.

isso representa. Aliás, os encartes que periodicamente fazem no Jornal da Marinha Grande valorizam - e muito – o único semanário que se publica atualmente no nosso concelho. A terminar, não posso deixar de destacar, entre outros, o trabalho da Professora Alice Marques pelo entusiasmo que sempre empresta aos projetos em que se envolve, bem com os restantes professores e alunos da «nossa» escola que estão de parabéns pelo jornal que nos surpreende a cada número. Finalmente, uma palavra ao Prof. Cesário Silva, que tanto tem dado à Calazans. Parabéns a todos, sem exceção. António José Ferreira, diretor do JMG


PROFESSORA AMERICANA ENSINA EM INGLÊS NA VÁRZEA Alice Marques/alunos 10ºM

A escola da Várzea, que faz parte do Agrupamento Poente, integrou este ano o projeto ensino bilingue. Acolheu, em Março, Nora Green, dos Estados Unidos da América, que durante três meses foi professora dos meninos do pré-escolar. Quatro dias por semana, 3 horas por dia, Nora trabalhava em língua inglesa os conteúdos curriculares que eram primeiro trabalhados em português. Os alunos do 10º M do curso profissional técnico de comércio, sob proposta da professora Isabel Castro (que também foi tradutora), entrevistaram esta professora e ficaram a saber muitas coisas sobre ela. Nora Green nasceu na cidade de New London, no Connecticut, um estado da costa leste dos EUA. Aqui viveu, aqui estudou e se formou para ser professora, e é aqui que tem a sua família e amigos, de quem diz “já ter muitas saudades”. Na sua apresentação aos meninos da Várzea, disse que gosta de gatos e nem se importaria de “ser um”, estar com a família e amigos, ir à praia, correr e fazer caminhadas com a sua melhor amiga. Ah! E também gosta de ler. Os seus livros preferidos são os das aventuras fantasiosas de Harry Potter, da escritora americana JK Rowling. A sua vinda para Portugal para ensinar a língua inglesa aos pequeninos aconteceu quase por acaso. Veio através de uma agência americana dO OPINIAO

LEITOR

Enfim, as prioridades prementes esvaíram-se e pude saborear mais uma edição de P&V. Uma edição não é bem o termo, se bem compreendi, porque a coluna da esquerda, que nos abre as diferentes rubricas, acaba por nos mostrar, datados, os textos que aí foram inseridos antes dos actuais. Catarina Sousa ensaiou-se bem como feminista, ao retratar-nos uma Simone de Beauvoir cuja intimidade poucos conhecerão na verdade. Apreciei uma frase na reportagem sobre 'Romantismo doutros tempos', quando a repórter confessa que devia ter tirado mais

de ensino no estrangeiro, que trabalha com o Ministério da Educação de Portugal no recrutamento de professores de inglês. Como aprendeu espanhol, Nora concorreu ao mesmo programa para Espanha, mas não conseguiu um lugar e decidiu então concorrer para Portugal. E foi assim que veio. E adorou a experiência. Quatro coisas já ela sabia sobre este país: “que as pessoas falavam português; que ficava perto do oceano Atlântico e de Espanha; que a capital era Lisboa e que Portugal era o maior exportador de vinho do Porto no mundo”. Nos três meses passados em Portugal , aprendeu “muitos factos interessantes”, como disse na entrevista. Por exemplo, que “Portugal viveu sob uma ditadura na maior parte do século 20, que JK Rowling se inspirou no ditador Salazar e deu esse nome a uma das personagens do livro Harry Potter depois de ele ter falecido” e que numa visita a Lisboa ficou a saber muito da história portuguesa. Nora está prestes a voltar para casa. Em geral, não faz muitos planos para a vida, mas gostaria de continuar a ser professora, nos Estados Unidos, voltar à universidade para fazer o mestrado e ter sua própria independência, numa casa própria. Nesta sua experiência como professora em Portugal, Nora trabalhou como voluntária e ainda pagou 900 dólares à ONG que promove estes intercâmbios, para cobrir algumas despesas. Na Marinha Grande, Nora

viveu em casa da professora Isabel Castro, a única que respondeu ao apelo do diretor Cesário Silva para acolher uma assistente de língua inglesa por três meses, para poder concretizar o projeto. O projeto ensino bilingue precoce, que abrangeu inicialmente alunos do 1º ao 4º anos, é uma iniciativa do Ministério da Educação(ME), através da Direção Geral da Educação (DGE), em parceria com o British Council Portugal, e foi lançado num conjunto de escolas públicas portuguesas durante o quadriénio 2011/2015. Os resultados positivos alcançados ao nível da proficiência em língua inglesa levaram o ME a abrir novas candidaturas em 2016/17,alargandoo ao pré-escolar, sendo a escola da Várzea uma das participantes.

notas, mas deixou-se embalar pela música e esqueceu-se do 'papel' que tinha de desempenhar. Apreciei, porque, em meu entender, reportagem não é apenas contar o que aconteceu, mas dizer o que se sentiu; se uma iniciativa não desperta sentimentos, não nos arrebata… não passa de uma sequência de actos que de actos não passaram! Muito bom o depoimento de Lígia Silva trazido pela pena de Margarida Amado. Vai para uma escola – ou um jardim… - que não existe e, pouco a pouco, sem desânimo, acaba por o construir. No entanto, do que Lígia disse há uma ideia que me ficou: o seu anátema contra a «escolarização» do pré-escolar, com detrimento de espaço para o «momento das histórias», da criatividade, do… «puxar pela cabeça»! O veneno da uniformização… Louvor que não pode omitir-se é à rubrica »Anos depois», como já tive ensejo de referir, porque mostra o papel que – queira-se ou não – a Calazans Duarte – desempenhou na formação.

Como responsável ERASMUS da minha Faculdade durante anos, não pude deixar de ficar contente com o testemunho da Ana Rita, que fez ERASMUS na PUC, em Ipanema; e, de modo especial – arquitecta que é, da Parfois (nunca imaginaria que a Parfois carecesse de arquitectos!...) – por ter aconselhado os estudantes a seguirem a área de que gostarem, porque assim mais facilmente se realizam na vida. Sábia, a opinião de Bianca Maia sobre a «passagem do tempo». E fixei a sabedoria da sua frase: «do que nos vale um armário cheio de roupas caras ou uma garagem repleta de bons carros se não temos ninguém ao nosso lado com quem envelhecer?». Enfim, P&V – um mundo de histórias, de vidas, de aprendizagens bem firmes! Parabéns! Com um forte abraço a toda a equipa. J.d'E. Professor Universitário e Jornalista

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A ideia desta rubrica é simples: esta é a última edição do P&V do presente ano letivo; quando regressarmos “às bancas” será mês de eleições autárquicas. Junte-se a estes factos, a ideia do senso comum: os jovens não se interessam por política. Nós discordamos. Achamos que eles se interessam por tudo o que é interessante. E, ao contrário do que pode parecer, eles são críticos dos políticos e conseguem imaginar-se no papel deles. Foi esse o desafio que propusemos e estes são os “programas eleitorais dos candidatos”

Francisco Fernandes - 18 anos

A direção de um executivo camarário é, como se sabe, um grande desafio. E a política democrática — a forma mais representativa de exercer o poder —, por ser uma conquista no nosso país e a mais importante ferramenta para a catalisação da cidadania no exercício da administração pública, requer constantemente propostas novas, inovadoras, que envolvam a comunidade local naqueles que são os seus direitos e deveres. É nesta conformidade que delineei um programa político na perspetiva de um adulto muito recente que pouca (para não dizer nenhuma) experiência política tem. A nossa cidade, uma cidade que é historicamente industrial, deve trabalhar para manter esta identidade. Num século em que a tecnologia maquinizada substitui o trabalho braçal (e o nosso concelho é um bom exemplo disso) e em que as cidades se tornam crescentemente pólos de desenvolvimento tecnológico, as comunidades devem esforçar-se para preservar o trabalho que ainda há, esse trabalho que emprega, inclusivamente, largos números de pessoas que não tiveram uma educação teórica cada vez mais exigida pelo mercado laboral. Se eu fosse Presidente da Câmara, trabalharia no sentido da cativação de investimento (nacional ou estrangeiro) no nosso

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concelho direcionado para as grandes indústrias. É bem sabido que a situação económica que se afigura na nossa nação e a integração europeia num mercado que, ainda que livre, não se revelou frutífero para vários setores da economia portuguesa, não permitem uma gestão mais folgada da nossa questão industrial; é, contudo, nestes momentos em que a figura administrativa de um Presidente tem especial relevância: medidas económicas de incentivo como a isenção tributária para empresas que localizem filiais no nosso concelho, lideradas por um executivo dinâmico e inovador, parecem-me ser opções viáveis (e indispensáveis) para o nosso desenvolvimento. É necessário também reformular a forma como pensamos o ensino dentro do nosso concelho. Havendo ainda uma dependência relativamente às decisões de Lisboa, a verdade é que me parece que um ensino fundamentalmente teórico seja incompatível com a realidade do nosso concelho. Se eu fosse Presidente da Câmara, estudaria e desenvolveria ideias para aumentar e atribuir mais importância à educação profissional e vocacional. Ante uma cidade altamente industrial e uma sociedade que cada vez mais requer qualificações — sejam elas académicas ou profissionais —, é preciso direcionar o nosso ensino nesse sentido. Criaria programas de divulgação e incentivo ao ensino profissional e vocacional, bem como ações de quebra de estigmas, isto é, de conceitos préconcebidos acerca da validade e valor este ensino, muitas vezes marginalizado quando posto em frente do científico-humanístico. Ademais, creio ser de extrema importância repensar a integração da sociedade civil na governação. Portugal, que é um país assumidamente, em termos constitucionais, descentralizado e que desde 1976 valoriza o poder local, enfrenta ainda uma ausência da

participação civil no exercício da política. Seja nos elevados números de abstenção ou no domínio partidário do sistema político, a verdade é que necessitamos de mudanças. Enquanto a lei eleitoral não for alterada no que diz respeito aos preceitos das candidaturas independentes a órgãos autárquicos, devem procurar-se novas formas de aumentar a atuação civil. Mesmo já existindo ferramentas deste perfil, se eu fosse Presidente da Câmara ampliaria as plataformas de comunicação entre as instituições de poder público e a nossa comunidade local, visando um incentivo à participação desta na vida administrativa do concelho — a criação de um fórum digital exclusivo da nossa comunidade para a divulgação e debate de projetos, bem como um fórum físico para os mesmos fins, que contemple a participação, tanto na apresentação como na discussão, do executivo municipal, de especialistas sobre o assunto debatido e, naturalmente, dos cidadãos. O desenvolvimento de uma assembleia jovem para uma melhor integração dos grupos etários mais novos nas tomadas de decisões e para a projeção da sua consciência de cidadania são ideias que me parecem interessantes, realizáveis e manifestamente benéficas. Embora tudo isto seja conjetural, é muito relevante. Esta noção de catalisar os cidadãos a agirem, a pensarem e a imaginarem o que poderiam fazer pelas suas comunidades não deve ser desvalorizada. Independentemente do sentido político que o nosso concelho siga nas próximas eleições autárquicas, é necessário — melhor: imperativo — que este envolvimento continue. Enquanto houver pensamento e sentido crítico, o futuro da Marinha Grande está assegurado.


Beatriz Menino - 14 anos Se eu fosse presidente da câmara, não faria nada mais do que fazer tudo o que me fosse possível para melhorar aquilo que eu considero que deve e pode sê-lo, na minha visão, enquanto cidadã comum…porque afinal todos somos cidadãos comuns, independentemente da função que desempenhemos ou viremos a desempenhar na sociedade…e quem sabe se entre nós não está o presidente da câmara destas novas gerações… Enquanto presidente, um dos meus principais objetivos seria, estando sempre aberta a novas propostas, mudar alguns “preconceitos” e desigualdades presentes na nossa tão amada cidade…Ideia a implementar: todos os cidadãos desempenham uma determinada função na sociedade e não podem viver uns sem os outros, quer sejam presidentes (orientadores), polícias (protetores), canalizadores (“engenhocas”), professores (“estimuladores de mentes criativas e dinâmicas”), jovens (o futuro)… Para a construção de um mundo melhor ninguém se pode considerar superior a ninguém, mas sim

Margarida Regueira - 11 anos Desde criança que sempre sonhei ser presidente da Câmara. Sempre gostei de mandar. Gosto que as coisas sejam feitas à minha maneira. Dizem que não é fácil ser presidente da Câmara, mas eu não acredito nisso, eu torno sempre as

aceitar as diferenças! O meu grande objetivo seria que, todos juntos, tornássemos a nossa cidade num lugar ainda melhor: mais culta, mais saudável para viver, mais dinâmica, com novos postos de trabalho em novas áreas que valorizassem o que é nosso… Assim, as metas que me moveriam seriam: 1. Mais informação; 2. Mais valorização; 3. Mais saúde; 4. Um lugar melhor! 1.Mais informação: O nosso futuro são as novas gerações. É necessário apoiar o ensino e promovê-lo, também, às gerações anteriores. O espaço escolar deverá ser utilizado, não só como centro de ensino, mas como ponto de referência de cultura. Nele deverão ser realizadas, na minha opinião, exposições, recolhas de sangue e debates nos quais qualquer membro da sociedade pudesse participar. Além disso, o espaço escolar deverá também ser utilizado como sede de eventos da cidade, de forma a tornar igualmente possível a angariação dos meios necessários para melhorar o que for pretendido. É, também, extremamente importante sensibilizar os jovens para a solidariedade… Porque não serem os mais novos a ensinar os mais velhos, adquirindo, simultaneamente, eles próprios outro tipo de conhecimentos? 2.Mais valorização: É necessário promover a cooperação entre os cidadãos: em todos os grandes centros de emprego serão dinamizadas “formações” sobre a importância da cooperação e desenvolvimento pessoal.É necessário valorização e formação pessoal para que possamos dar o devido valor ao que é nosso - à nossa arte (o vidro), à nossa indústria (os moldes), à nossa beleza enquanto cidade (o turismo).É mais que indispensável reavivar o movimento associativo, visando um

maior apoio, a organização de mais atividades conjuntas. Há que propor, também, a recuperação de espaços abandonados, em benefício de novos locais destinados à nossa cultura (incluindo o desporto e a arte). 3.Mais saúde: É necessário adquirir e tomar consciência do quão importante é adotar um estilo de vida mais saudável! Sugeria, então, a organização de mais atividades desportivas em espaços verdes, feiras no âmbito da alimentação saudável, atividades culturais. É importantíssimo garantir um ambiente não poluído a todas as gerações, reduzindo, por exemplo, as emissões de gases poluentes, uma vez que a Marinha é um local com inúmeras fábricas e nem todos os seus habitantes detêm totais conhecimentos sobre reciclagem. Proporia o estabelecimento de protocolos com essas fábricas de forma a reduzir a emissão desses gases, visando também uma melhoria no que toca às condições de trabalho/segurança dos trabalhadores. É, ainda, necessário preservar os habitats e todos os seres que neles habitam. Promover muito mais projetos de voluntariado, integrando os jovens, é, também, uma das possíveis soluções. Estes programas incluiriam, entre outros, limpar a mata e as praias, criar mais pontos de reciclagem e trazer para o exterior todas a atividades possíveis, pois é necessário trazer os marinhenses para as ruas, para a natureza.É necessário melhorar, de facto, a qualidade de vida, não apenas a níveis económicos. 4.Um lugar melhor…para um mundo melhor, no qual, se podemos melhorar, então, melhoramos juntos! Eis a minha grande motivação, caso fosse presidente…

coisas mais fáceis. Se eu fosse a Presidente da Câmara da Marinha Grande, melhoraria a cidade, de modo a que as pessoas pudessem viver de uma forma mais harmoniosa, mais feliz e sem stress. Se hoje em dia andam stressadas, daqui a uns anos nem se fala… Começaria por organizar um grupo de pessoas que se voluntariassem para recolher o lixo e fizessem cartazes que incentivassem à não poluição. Arranjaria um espaço, como por exemplo, um pavilhão, que apresentasse as mínimas condições para que os sem-abrigo pudessem lá permanecer temporariamente; arranjava-lhes trabalho e um pequeno ordenado para a alimentação e vestuário. Mais tarde, poderiam deixar o espaço,

para procurarem uma casa, visto que já tinham amealhado algum dinheiro. Se eu fosse presidente da Câmara falava com o Ministério da Saúde para que fizesse um minihospital para que o hospital principal não estivesse sempre cheio. Requalificaria a escola, de modo a que as crianças pudessem ter condições nas aulas e no recreio. Falava com o Governo para que ele pudesse diminuir o número de horas semanais (de trabalho), para que as famílias pudessem estar mais tempo juntas. Se eu vier a ser Presidente da Câmara, quero tornar a vida, no concelho, mais simples, sem que haja tanta confusão. ponto & vírgula agrupamento de escolas marinha grande poente

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UM MÊS UMA ESCOLA

ESCOLA SEC. ENGº ACÁCIO CALAZANS DUARTE “2017/18 será um ano de muito trabalho, a enfrentar com criatividade” Alice Marques Diz-lhe a intuição e não só, que “2017/18 vai continuar a ser um ano de muito trabalho, com novos desafios, mas sobretudo com vontade de fazermos sempre melhor”. Será o último ano do segundo mandato do diretor Cesário Silva. São 8 anos, no frenesim que todos lhe reconhecem, mas nenhum sinal de cansaço transpareceu na entrevista ao P&V. Perspetivar um novo ano parte da análise da realidade, hoje. Para o Diretor do Agrupamento Poente, os pontos fortes do ano que ainda decorre são essencialmente três: “poder, neste momento, fazer parte de um grupo que discute alguns aspetos da reforma da educação, como o currículo, novas metodologias, novas formas de aprendizagem”, afirmou referindo-se ao PPIP. “Sentir que o Agrupamento tem uma identidade que permite aceitar desafios, propostas, sem grandes medos” é o ponto que refere em segundo lugar. Ao qual acrescenta um terceiro: “o impacto das medidas como escola TEIP, sem que esta designação tenha conotação negativa, que nos encoraja a apostar em medidas para a promoção do sucesso e melhoria das aprendizagens para todos”. Sermos um centro Qualifica é outro ponto forte elencado. Quanto aos pontos fracos elenca sobretudo dificuldades: “acréscimo de trabalho, em muitas frentes, trabalho muito intensivo com pouco tempo para planear com antecedência e, de momento, um défice de assistentes técnicos no setor administrativo, o que exige uma enorme cooperação de todos.” Mas nenhuma destas dificuldades representa motivo para desinvestir nos projetos em curso.

dO OPINIAO

LEITOR

Só uma equipa fortemente empenhada de alunos e professores consegue, mensalmente,

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Assim, os que envolvem alunos, como o diretor júnior ou o orçamento participativo são para continuar, tal como todos os que envolvem professores: TEIP; GIC, Companhia CalaBoca, Eco-escolas, PPIP, Qualifica, Clube Europeu nas suas 3 vertentes, REEI (Rede de Escolas para a Educação Intercultural, com projeto pedagógico já aprovado e cuja candidatura financeira já está em análise), para referir apenas os que de imediato vêm à conversa. A afetação de professores a estes projetos, como parte da componente não letiva, ou saindo do crédito de horas atribuído à escola parte da reflexão sobre o seu impacto. “É preciso pôr na balança os recursos disponíveis e as ações a desenvolver, porque o crédito nunca é o que gostaríamos de ter e por isso precisamos de o gerir com parcimónia”, diz Cesário Silva. Mas muito do que se faz na escola resulta também do envolvimento pessoal dos professores nos projetos. “Essa dedicação está para além do tempo atribuído e os envolvidos nem sequer o contabilizam”, acrescenta. É por isso que a atribuição de funções aos professores não é mera distribuição de serviço, mas tem de partir do “conhecimento das pessoas a quem o distribuímos”. A três meses de encerrar formalmente o ano letivo, a direção já está a preparar o próximo. Há hipóteses em cima da mesa, mas “nada fechado”, diz Cesário Silva. Além disso, este é ano de concurso nacional, haverá mobilidade, chegarão novos professores. O Qualifica deverá arrancar no início do novo ano letivo, e o diretor espera que “venha a tornar-se um centro de referência na educação

e formação de adultos, continuando um caminho já feito pelo CNO, e aproxime ainda mais a escola da comunidade”. Quanto ao PPIP, espera que se consigam implementar as ações previstas para a Escola da Fonte Santa e 2º ciclo. Sobre a REEI, espera que esta seja “uma rede de partilha de práticas e também seja vista como um comprometimento com a concretização do espírito que presidiu à sua criação: diferenciar o tipo de apoios em função do público, trabalhar a cidadania, educar não apenas para tolerância mas para a aceitação, de facto, da diferença”. Referindo-se especificamente aos alunos com necessidades educativas especiais, e desafiado a comentar um certa “guetização”, Cesário Silva reconhece que ainda “é preciso fazer um esforço para termos uma escola realmente inclusiva, perceber que o trabalho com alunos com certas caraterísticas tem de ser feito, sempre que possível, na sala de aulas, evitando os espaços separados que favorecem a ideia de guetos”. Para continuar a merecer reconhecimento e credibilidade, este diretor acredita que é fundamental “não ter receio de correr riscos e que essa confiança se ganha por contaminação: se a direção arrisca é porque confia nos professores e os professores arriscam se sentirem apoio da direção.” No final de um ano de intenso trabalho, Cesário Silva continua com as pilhas carregadas. Segundo ele, essa energia tem um nome: “criatividade. É a criatividade que permite recriar o tempo, o espaço, as relações e transformar muito do trabalho em prazer”.

brindar-nos com este extraordinário jornal escolar. O motivo do entusiasmo com que todas as primeiras quartas-feiras de cada mês "folheio" esta edição on-line do P&V é perceber como os "mais jovens" escrevem como os mais velhos, ou seja, como os nossos alunos produzem textos críticos, reflexivos, reveladores de maturidade, criatividade e inteligência, mas também a forma como os "mais velhos" se embrenham no mundo e nos espaços dos mais novos, ou seja, como os professores

colaboradores escutam e dão voz aos alunos, aos seus projetos e interesses. Este jornal é um entrecruzar de histórias, conhecimentos, experiências, é uma voz que traz para a ribalta os sonhos, as emoções e as concretizações de todos os que fazem parte deste maravilhoso mundo da educação: dos que ainda cá estão, dos que já saíram e dos que nos visitam. Aos elementos do P&V só posso agradecer estes extraordinários momentos! Sofia Duarte, Professora


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OLHANDO OS MAIS “ESPECIAIS” DOS “ESPECIAIS” E agora? Jorge Alves

Esta é a pergunta com que muitos se irão confrontar daqui a dias, quando tomarem consciência de que chegaram ao momento das grandes decisões, à escolha do rumo que irão dar à sua vida. Para muitos, ou por sua iniciativa, ou com a ajuda de quem mais os estima, estas opções já foram facilitadas, embora o enfrentar de um mundo desconhecido seja sempre um período de grandes desafios e de enormes incertezas. Para outros, aqueles que a vida e a sociedade marcou, por serem mais frágeis, por precisarem de maiores cuidados e de uma redobrada atenção, talvez a sorte, o destino, ou qualquer outro ente decisório já lhes marcaram a rota: a luta pela sobrevivência quotidiana num mundo adverso e cruel. Até agora, sem que eles tivessem consciência, estiveram num casulo protetor, como crisálidas, que os defendiam dos perigos, ouvindo-lhes as mágoas, festejando as suas alegrias, fornecendolhes aquela mão amiga nas horas mais difíceis. E, quais pais protetores, se nos momentos em que as suas condutas se desviavam mais da sensatez das normas e da convivialidade os chamavam à atenção, tentando repô-los no certo rumo, esses mesmos, nos momentos de maiores fragilidades

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destes seres, eram aqueles que os ouviam, aconselhavam, ajudavam, até nas coisas mais triviais, como se, em cada momento, aquelas a quem eles se habituaram a chamar “storas”, discreta e silenciosamente, por um passe de mágica, se tornassem suas mães, enfermeiras, conselheiras, assistentes sociais ou advogadas… Só que, essa mesma escola, esse casulo protetor, na ânsia de tanto os defender da crueldade de uma sociedade inumana e violenta, também já os tinha marcado de forma indelével e definitiva. Na ânsia de tanto os proteger, esta mesma escola, resguardando-os e defendendo-os, tentava abrir-lhe algumas portas, mas já lhes fechara muitas outras. E agora? Agora, após doze anos de escolaridade protegida, em que estes seres cresceram como crisálidas, esta mesma escola diz-lhes, de um momento para o outro: “Já que têm asas, voem”! Mas estes seres, a não ser que alguém, com a sua generosidade, lhes descubra as qualidades e lhes promova as habilidades, voarão sem rumo certo, ao acaso das circunstâncias, mais propensos a serem etiquetados como inferiores e estigmatizados por suas diferenças do que ao

triunfo numa vida digna e estimulante. Por isso, ao ver estas “borboletas” a romperem os seus casulos, depois de ter compartilhado com elas tantas emoções e tão grandes aprendizagens, gostaria, fazendo-me porta-voz de uma escola que não me creditou para tal, enviar-lhes uma mensagem diferente – talvez a única lição que lhes devesse ter ensinado: “Mesmo que penseis que a esta escola vos terá dado muito pouco, uma coisa insignificante, talvez apenas uma pequena pedra para construírem o edifício do vosso futuro, mesmo que seja assim tão pequena, não a desperdicem: não a atirem contra alguém, logo que tenham de se que confrontar com a primeira adversidade, perdendo-a irremediavelmente. Guardai-a bem. E, em cada dia, subi para cima dela. Se repararem bem, com muita atenção, verão que, sempre que isso façam, estarão um pouco mais perto do sol. E, essa mesma pedra, que agora parece uma coisa tão insignificante, poderá ser a primeira com que construireis o castelo dos vossos sonhos futuros”.

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COMPANHIA CALABOCA “O teatro é uma profunda forma de educar” Alice Marques

A duas semanas de levar ao palco do Festival de Teatro Juvenil de Leiria uma nova peça, alunos e professoras da Companhia CalaBoca atarefam-se no quarto ensaio de Sempre Não, uma adaptação de um texto com o mesmo nome baseado numa recolha feita por Teófilo Braga (Presidente da República Portuguesa, em 1915, que foi também poeta e ensaísta), publicada em 1883, nos Contos Tradicionais do Povo Português. Poderia perguntar-se como é possível que um texto com mais de um século possa interessar a adolescentes do século XXI?! A resposta só pode ser dada vendo a peça. Divertida, explorando situações do quotidiano, com malícia qb, dentro dos limites da moral e bons costumes, Sempre Não traz a marca do CalaBoca: atualização do texto pela professora Maria José Ladeiro (Mizé, como é mais conhecida) com os contributos preciosos da professora Ermelinda Silva e dos jovens que integram a Companhia. “Na maior parte das vezes é assim: pegamos num texto e atualizamo-lo, ou tomamo-lo simplesmente como ponto de partida para um texto de teatro” disseram ao P&V as professoras que levam a cabo este importante projeto. Quando há tempo, podem mesmo escrever “um texto de raiz”. Enquanto os jovens atores dizem as falas, ainda a ler o texto, Ermelinda, Mizé e alunos vão completando as indicações cénicas, dando sugestões sobre gestos, olhares, entoações, pausas, movimentos no palco, pois é lá que verdadeiramente o teatro acontece. Num ambiente descontraído mas de grande empenho, os atores vão repetindo as falas até atingirem o ponto em que todos dirão: “é isso!” O nome da Companhia CalaBoca, nasceu de “um brainstorming, em que participou também o aluno Wilson Francisco, estando nós a procurar um nome que remetesse para a Calazans (Cala) e ao mesmo tempo para um conceito ligado ao teatro. Surgiu então Boca de boca de cena, que é o espaço teatral de excelência”, diz-nos

Ermelinda Silva. Um verdadeiro achado! A CalaBoca é um projeto do Clube de Teatro que por sua vez é um projeto da Mediateca. Esta relação faz com que a companhia assuma anualmente alguns compromissos: apresentar uma peça infantil (este ano Dona Arfando, Vou Andando apresentada no SOM, na XIV Semana da Educação e Juventude) e uma peça para o público juvenil, que é esta que estão a preparar para o festival de teatro de Leiria. Mas este ano não se ficaram por aqui: montaram todo o espetáculo apresentado nos Prémios Calazans, que incluía uma peça adaptada de um texto de Gil Vicente, Todo o Mundo e Ninguém, que voltaram a apresentar na Gala de Beneficência e no Café com Livros, este ano no auditório da Resinagem. Mas como é que estes jovens, que frequentam do 9º ao 12º ano, com um horário quase de operário do século XIX, arranjam tempo para ensaiar, decorar as falas, ir ao palco e às vezes em tournée?! Porque o fazem com gosto, porque o teatro lhes dá uma liberdade única. Ensaiam 2 horas por semana, num horário que é definido no início do ano, segundo a disponibilidade do máximo de alunos inscritos no clube. E muitas horas “extra” quando o dia da representação se aproxima. No dia da estreia tudo tem de estar interiorizado de forma a passar as emoções para o público: falas, entoações, gestos, olhares, sorrisos… porque o faz de conta tem de parecer verdade! Já passaram pela CalaBoca meia centena de alunos, nos últimos 3 anos. Ermelinda e Mizé, que trabalham com a companhia respetivamente há 3 e 2 anos, são uma dupla que se completa. Nenhuma delas tem formação em teatro, as duas são autodidatas e para as duas ele preenche um lugar especial na vida. Ermelinda, professora de Matemática, fez uma ação de Formação com a atriz Sandra José - que adaptou para 11 atores/atrizes, a peça monólogo Apareceu Dona Margarida - e há vários anos que faz teatro amador no grupo do Sport

Operário. Mizé, professora de Português, só pisou o palco em criança, mas desde que se lembra, pelas escolas onde andou, sempre usou o teatro como estratégia pedagógica e animou mesmo workshops para colegas. Contudo, confessa, “com a Ermelinda eu voltava a pisar o palco”, desafio a que esta responde “eu faria com ela uma peça de Aristófanes, de Brecht ou de preferência uma escrita por nós”. Esta cumplicidade é o segredo do sucesso de um trabalho que fazem com enorme satisfação e cuja importância não se cansam de reconhecer: “o teatro é uma profunda forma de educar, leva ao autoconhecimento, aprendemos quem são os outros, ajuda-nos a distanciarmo-nos de nós próprios através das personagens que representamos, promove o enriquecimento cultural, literário, linguístico e ajuda muito a lidar com situações na sala de aulas”, resume Ermelinda. Ao que Mizé acrescenta: “ fingindo emoções, sentimentos, aprende-se a lidar com eles; isso é muito importante para o crescimento pessoal dos jovens!” Espírito de equipa, coragem e generosidade são outros valores que estes jovens desenvolvem na companhia de teatro. Ermelinda e Mizé vão continuar a ser professoras e ligadas ao teatro. Mizé gostava de ter mais tempo para ler e escrever e Ermelinda quer continuar a orientar jovens sim, mas sobretudo a pisar o palco. Esse é o grande desafio como atriz amadora: “sair da minha zona de conforto, descobrir-me e descobrir os outros”. Para todos os que pisam o palco, o maior reconhecimento “são as palmas do público”, diznos. Mas há outras formas que também o traduzem. Ela acrescenta: “por exemplo, serem convidadas para integrar o elenco de outras companhias, como neste momento acontece com a Filipa, a Rita e a Catarina, que já fazem parte da companhia do SOM. E, tão ou mais importante, é a autodescoberta do talento e escolha de um futuro no teatro. Assim será com a Filipa Ferreira que espera ser colocada numa escola superior de Teatro no Reino Unido”. ponto & vírgula agrupamento de escolas marinha grande poente

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“A ÚLTIMA EDIÇÃO” Segundo o Evangelho de Lucas, "Ele chamou para si os seus discípulos, e deles escolheu doze, a quem chamou de apóstolos" (Lucas 6:13). A sua missão era espalhar “a palavra”. Segundo a tradição cristã, eles reuniram-se numa “Última Ceia” antes de Jesus ser crucificado. Quinze séculos depois, Leonardo da Vinci pintou “A Última Ceia”. Em 2017, a equipa do P&V, que reúne crentes, agnósticos e ateus, sentou-se à volta da mesa para fazer “A Última Edição”. O André Gadomskyi fez uma bela fotografia destes “apóstolos”, que ao longo de um ano letivo levaram palavras aos leitores, esperando não ser crucificados!

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ANOS DEPOIS... Alice Marques/Margarida Amado

Esta edição, a última de 2016/17, é dedicada à escola sede do Agrupamento Poente, a Calazans Duarte. Por isso, na rubrica Anos depois, damos voz a professores que também aqui foram alunos. Na entrevista ao P&V, Rui Coelho, professor de disciplinas da área das artes, e Margarida Valente, professora de matemática, falaram da sua experiência como alunos desta escola e como se tornaram aqui professores, das mudanças na escola, algumas das quais protagonizaram, e das suas expetativas a médio prazo.

“O currículo do curso de artes é hoje muito melhor” Rui Coelho. 57 anos. Nasceu na Marinha Grande e sempre aqui viveu, exceto quando foi estudante universitário. Sem saber bem “o que queria ser quando fosse grande” tornou-se arquiteto. Foi aluno de Siza Vieira e de Souto Moura, seus mestres de referência. Professor por decisão ponderada, sempre manteve um gabinete de arquitetura. Mais de 400 edifícios, entre blocos de apartamentos, vivendas individuais, armazéns, fábricas e espaços requalificados, sobretudo na Marinha Grande, têm a sua assinatura. Discretos, como ele próprio. P&V: Em que anos frequentaste a Calazans Duarte? Rui Coelho: Andei nesta escola desde 1972/73 até 1975/76. Fiz o curso geral de mecânica, que equivalia ao atual 9º ano, mas era um curso com vertente técnica. Depois fiz o curso complementar de mecanotecnia em Leiria, na escola Domingues Sequeira. P&V: Passaram 40 anos! Ainda tens memórias desse tempo? RC: Claro que sim. Tinha entre 12 e 14 anos, mas lembro-me bem do espaço, de colegas e de professores. Só havia o edifício principal, da então chamada Escola Industrial e Comercial da Marinha Grande, e uns pavilhões naquele espaço que agora é jardim, do lado da avenida José Vareda. Lembro-me das bicicletas, pois podíamos andar ali junto aos pavilhões. Lembrome de algumas aulas e de alguns professores: o Olívio Carreira, o Fernando Jorge (depois fomos colegas muitos anos), mestre Godinho, mestre Barosa, professor Anaquim, mestre Alves… P&V: Eras bom aluno? Ou a arquitetura não exigia notas tão altas como agora? RC. Era um aluno de 15-16, num tempo em que um 14 já era uma boa nota! Mas acho que só comecei a ter consciência de que precisava de estudar quando entrei no curso geral de mecânica. Os professores valorizavam muito os bons alunos. Mas a minha ideia não era a arquitetura, era a engenharia mecânica. P&V: Então como é que foste parar à arquitetura? RC: Foi um pouco por acaso. Depois do complementar, tínhamos de fazer o propedêutico, com exame a 5 disciplinas. Eu e o Manel Silva (sempre fomos colegas) lá fomos ao gabinete de acesso ao ensino superior, a Leiria, sem qualquer orientação, porque não havia

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nada disso em 1979, os dois sem saber o que iríamos escolher. Seria natural uma engenharia, mas também podia candidatar-me a arquitetura pois tinha feito matemática e desenho. Eu tinha paixão pelo desenho desde miúdo. Foi no gabinete que olhei para os cursos e escolhi. Mas só consegui entrar na terceira fase, e para essa só havia vagas na Belas Artes no Porto. O Manel conseguiu entrar em Lisboa. Separamo-nos como colegas, nesse ano, mas voltámos a encontrar-nos no último ano do curso, que eu fui fazer a Lisboa, e depois como professores. P&V: Como foi a tua adaptação ao Porto? RC: Nos primeiros tempos, sentia-me completamente desenraizado. Literalmente fora da coelheira. Foi muito difícil adaptar-me. Mas tive dois colegas que iam de um meio mais urbano e me ajudaram. Vivi seis meses num quarto numa cave, com dois colegas invisuais, um paraplégico, um coxo e um ladrão. Como fui tarde para o Porto, só consegui arranjar este alojamento, de rapazes que trabalhavam num centro para pessoas com deficiência. Depois fui viver com um colega de Chaves. Mas estes meses foram uma experiência incrível. P&V: E como te adaptaste à universidade? Sentias-te bem preparado? RC: Nada preparado. Quem escolhia arquitetura era sempre pessoal dos liceus e estavam muito melhor preparados. A nível cultural e técnico eu sentia-me um zero! Mas tinha uma grande capacidade de trabalho e vontade. Na universidade as exigências eram muitas. Tínhamos aulas todos os dias das 9:00 às 18:30, menos à quarta à tarde, e passávamos fins de semana a trabalhar. Muitos não aguentavam. O Porto era aberto mas muito competitivo. Tratávamos os professores por tu mas eles tinham uma exigência brutal. Para teres uma

ideia: no 1º ano, entramos 120 e só passaram 80 para o 2º. Tínhamos apenas uma nota, que era atribuída em conselho. Eu passei com 11. Foi aí que realmente me convenci de que podia ser arquiteto. Tinha imensas falhas, de cultura e até na língua portuguesa, não tinha lido quase nada…sentia-me deslocado e num ano tive de recuperar 3 de atraso cultural. Depois fui melhorando como aluno. P&V: As belas artes no Porto são muito prestigiadas. Tiveste grandes professores? RC: Sim, fui aluno de dois grandes arquitetos portugueses: Siza Vieira e Souto Moura. P&V: Achas que os alunos das artes visuais vão atualmente melhor preparados para a universidade? RC: Ah sim! Muitíssimo melhor do que eu fui. E mesmo melhor do que os que iam do liceu. O currículo do curso de artes visuais inicia-os em muitos aspetos artísticos. Eu não sabia nada. Nem de arte nem do que era ser arquiteto. Era na universidade que tínhamos o primeiro contacto com arte e com a ideia da profissão. P&V: Foste terminar o curso a Lisboa. Porquê? RC: No Porto, para terminar, era necessário fazer um estágio e apresentar uma tese. E era muito difícil para alguém da província arranjar um lugar para estagiar. Para além das notas altas era preciso ter conhecimentos… P&V: Cunhas, queres tu dizer? RC: Isso! Bons conhecimentos! P&V: Em Lisboa não havia estágio? RC: Em Lisboa não. Por isso, eu e mais meia dúzia pedimos transferência para lá para fazer o 5º ano. Reencontrei-me com o Manel e arranjamos um quarto para os dois, mas fui para outra turma. P&V: Vinhas a casa regularmente? RC: Vinha uma vez por mês. O meu pai levava-


me a Pombal onde eu apanhava o comboio. Poucas vezes fui de autocarro. Demorava uma eternidade, sobretudo para o Porto. Ainda não havia auto-estrada. P&V: Como decidiste tornar-te professor? RC: No 5º ano, em Lisboa, eu e o Manel arranjamos trabalho como professores na escola de Miraflores. Isso foi determinado pela necessidade de me sustentar e ajudar financeiramente os meus pais. Era uma escola de bairro e já havia alunos com problemas de comportamento. Mas gostei muito dessa experiência, fui muito apoiado por colegas. Pensar em ser arquiteto era arriscado. Ser arquiteto na província não é fácil. O arquiteto era visto como alguém excêntrico. Reinavam os desenhadores, os projetos não precisavam de ser feitos nem assinados por arquitetos. Eu comecei na arquitetura aqui na Marinha a dar apoio a um gabinete de um desenhador. E como tinha gostado da experiência em Miraflores, concorri para dar aulas. Fui para a Escola Preparatória (agora a Stephens) substituir o Pedro Correia que já era escultor e foi para Lisboa fazer arquitetura. Também o Manel começou aí. P&V: Mas depois acabaste (acabaram os dois) por vir para a Secundária? RC: Isso mesmo. Em 86/87 eu e ele concorremos para a secundária e ficamos os dois, como professores provisórios. Depois fizemos a profissionalização, em 2 anos, e cá estamos. Quando fiz a profissionalização já tinha decidido que queria fazer carreira no ensino. Mas tive sempre um gabinete de arquitetura e sempre acumulei o ensino com profissional liberal. Pedindo sempre autorização para acumulação. Dei também aulas na EPAMG, três anos. P&V: Ainda tens o gabinete? RC: Sim, tenho. Embora seja sozinho, todo o trabalho é feito obrigatoriamente com engenheiros. P&V: Há por aí muitos edifícios com a tua

assinatura? RC: Alguns. O edifício Horizonte (fiz com o Manel, em 1990), o edifício Nobre, uns anos mais tarde, muita habitação individual, armazéns, fábricas, renovação dos interiores deste edifício, quando se construiu o bloco B, e também algumas coisas em Leiria e Alcobaça, mas pouco significativas. São cerca de 400 projetos. P&V: Os teus filhos também foram alunos desta escola? RC: A minha filha já saiu há uns anos, fez o curso superior de cinema e está em Londres. O meu filho anda aqui, no curso de socioeconómicas. P&V: Como foi (ainda é) viver aqui um duplo papel? RC: Foi fácil. Eu não era, nem sou, o encarregado de educação, não acompanhava muito a vida escolar. Foi sempre a mãe e fê-lo muito bem. Os colegas nem sabiam (nem sabem) que são meus filhos. Da Ana sabiam os professores de artes, porque ela fez artes visuais. P&V: Quais são principais diferenças entre a tua escola como aluno e a atual, como professor? RC: Há muitas diferenças, nem todas para melhor. A indisciplina atual é o mais preocupante. Antes do 25 de Abril, a disciplina era muito rigorosa, até demais. Agora é descontracção a mais. As metodologias mudaram, para melhor: antes eram aulas muito expositivas, passávamos as aulas a ouvir e a copiar o que o professor escrevia no quadro. Agora as aulas são muito mais atraentes, mas os alunos desligam! Nós tínhamos tempo e espaço para brincar, para gastar as energias. Os alunos de hoje, nos intervalos, ficam agarrados ao telemóvel, às vezes sentados nos corredores… depois vão para as aulas e têm de descarregar as energias. O currículo das artes é muito melhor, os alunos vão muito melhor preparados para os cursos superiores. Sobre os outros não me pronuncio. P&V: E os dos cursos profissionais?

RC: Da área das artes também são melhores e em geral os alunos saem melhor preparados para o mercado de trabalho. Têm muitas disciplinas técnicas, práticas e os estágios. P&V: Na tua opinião, o que é urgente mudar na escola? RC: A atitude dos alunos. Os professores já mudaram muito, mas os alunos também têm de mudar. Antes eu gostava de vir para a escola. Agora já não venho com o mesmo entusiasmo. Enfrentamos turmas complicadas (não é o caso das artes) e é muito desgastante. P&V: Pensas ficar até à idade da reforma? RC: Já pensei várias vezes em sair e viver só da arquitetura. Mas é muito difícil numa cidade de província. Acho que os arquitetos e os engenheiros civis, estes ainda mais, não conseguem viver só do trabalho como profissionais liberais. Mas as penalizações, numa reforma antecipada, são elevadíssimas. Decidi que só volto a pensar nisso aos 60 anos! P&V: E quando te reformares? RC: Os arquitetos não se reformam. Vê o Siza Vieira, com mais de 80 anos, e ainda está pujante a fazer projetos. Continuarei a fazer arquitetura, está fora de questão abandonar esse trabalho. Ainda bem que o mantive estes anos todos. É uma experiência que trago para as aulas e isso é muito positivo para os alunos. P&V: Quem são os teus arquitetos de referência? RC: Siza Vieira, Souto Moura, Carrilho da Graça. E em particular os modernistas Le Corbusier, e Mies van der Rohe e Rietveltd, da Bauhaus. P&V: Que opinião tens do P&V? RC: É um projeto espectacular. Útil e importante para os alunos que colaboram, para crescerem como estudantes e como pessoas. Leio sempre e verifico a evolução dos alunos de artes que este ano integram a equipa. É notável.

Foi com muito agrado e interesse que dediquei algum do meu tempo à leitura do P&V. E foi uma descoberta! Surpreendeu-me a diversidade de artigos, a apresentação, a linguagem clara e acessível. Percebi que é um produto da comunidade escolar, que não se fecha em si, que se abre ao mundo que a rodeia.

biodiversidade, muito pelo extraordinário retrato que nele é feito da "personalidade" que é o orador e, “ last but not the least", as palavras entusiásticas do artigo sobre os deuses menores da Química. Feito com paixão!

dO OPINIAO

LEITOR

Élia Vala, ex. aluna da Calzans

De entre o que li, sem desprimor para os restantes, destaco o "delicioso" artigo sobre os meninos autistas, aquele que fala sobre o facto de podermos viver sem dinheiro, mas não sem ponto & vírgula agrupamento de escolas marinha grande poente

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“A matemática é uma disciplina como as outras” Margarida Valente. Nasceu em Coimbra. Tem 46 anos, 44 vividos na Marinha Grande. Pensou em ser médica, mas um incidente tirou-lhe a vontade. Queria ser meteorologista. Ou professora de geografia, mas a mãe disse-lhe que para isso “ia andar sempre com a mala de cartão”. Escolheu ser professora de matemática e tem feito tudo para desmistificar o “bicho papão”. “Porque a matemática é uma disciplina como as outras”. P&V: Em que anos frequentaste a Calazans Duarte? Margarida Valente: Fiz do 5º ao 9º, no externato Afonso Lopes Vieira e aqui do 10º ao 12º, entre 1985/86 e 1987/88. P&V: Que memórias tens desses anos? MV: Lembro-me bem do espaço, era muito diferente: havia só o bloco A e uns pavilhões muito degradados; de professoras que ainda cá estão, como a Isilda Silva, a Isilda Robalo, a Margarida Amado, de quem fui aluna 15 dias, porque depois ela foi para o Conselho Diretivo; de colegas de turma, por exemplo a Teresa da mediateca, o Nelson Gomes, agora professor de informática aqui. Eu sou boa fisionomista e lembro-me de todos. Ainda sou amiga de alguns. E apanho os filhos deles como alunos, já tive o da Ambrosina, o da Isilda Silva... P&V: Como soubeste que querias ser professora de Matemática? MV: Eu era das ciências e tecnologias e no 12º ano fui para a área de economia. Eram tantos alunos nesse tempo que o 12º ano só funcionava à noite, com 3 disciplinas. Eu fiz um curso com matemática (com a Isabel Rocha), Geografia (com a Manuela Miranda) e Biologia com uma professora que já cá não está e também não me lembro do nome. Houve um tempo em que eu queria ser médica. Mas quando tinha 15 anos o meu pai foi operado e morreu por falta de assistência, numa clínica privada. Isso perturbou-me muito e decidi que já não ia ser médica. Então decidi que queria ir para o Instituto de Meteorologia. Por isso é que escolhi geografia no 12º ano. Também dava para professora de Geografia. Mas a minha mãe

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disse-me: “como professora de geografia vais andar sempre com a mala de cartão…”. A minha mãe era professora do 1º ciclo, por isso ser professora era algo que desde miúda eu não punha de parte. P&V: Mas acabaste por entrar em matemática? MV: Concorri para matemática em Coimbra, como 1ª opção, e entrei. O curso foi de 5 anos, nos dois últimos tínhamos que optar por uma via e eu optei pelo ramo educacional. O 5º ano foi estágio, que fiz na escola Afonso Lopes Vieira, na Gândara. P&V: Eras boa aluna? A média para entrar em matemática era alta? MV: Tive média de candidatura de 15, mas as médias exigidas eram mais baixas. Nesse tempo, 15 era uma nota boa. Ter média de 18 era quase impensável. P&V: Adaptaste-te facilmente à vida académica em Coimbra? MV: Foi muito fácil. A minha família mora quase toda em Coimbra, por isso fui viver para casa de tios. Depois uma prima veio estudar para o ISMAG na Marinha Grande (agora ISDOM) e trocávamos de quarto: ela ficava no meu na Marinha e eu no dela em Coimbra. Nunca tive de me preocupar com o almoço ou o jantar… mas o meu tio controlava-me. Dizia-me que tinha de fazer o papel de pai. P&V: Vinhas a casa com que regularidade? MV: Todos os fins de semana. Ia e vinha de autocarro. Só no 4º ano, já tinha a carta de condução, é que passei a levar o carro velho da minha mãe. P&V: Sentias-te bem preparada academicamente quando entraste na

Universidade? MV: Sentia-me bem preparada, mas… o degrau é grande! Muito trabalho, porque as frequências e exames eram muito exigentes. Costumo dizer aos meus alunos que o que têm de estudar para um exame nacional de 3 anos é o que terão de estudar para uma frequência. Na universidade exigiam de nós como se não houvesse amanhã. E faziam questão de nos dizer: “ se querem facilidades, mudem de cidade e de curso”. P&V: Fizeste o estágio na Gândara e depois vieste logo para a Secundária da Marinha Grande? MV: Não. Ainda estive mais dois anos na Afonso Lopes Vieira. Foi lá que conheci o Tony, no ano de estágio. P&V: Há quantos anos estás na Calazans? MV: Desde 1996/97. Mas em 2002/2003, fiquei com horário zero, quando deixamos de ter o 3º ciclo e voltei para a Gândara. Depois voltamos a ter e eu voltei também a dar aulas ao 3º ciclo e à noite. P&V: É difícil ser professora de uma disciplina considerada um “bicho papão” por muitos alunos? MV: Ser professora de matemática é como ser professora de qualquer outra disciplina. Eu sempre tentei desmistificar essa ideia. Quero que os alunos gostem de matemática. Digo-lhes sempre: desistir é o caminho mais fácil. Não desistir é difícil, mas muito prazeroso. Claro que exige muito trabalho e método. Fico muito satisfeita quando há alunos que mudam de opinião sobre a matemática. E tenho muitos alunos que gostam da disciplina. P&V: Os teus filhos são alunos desta escola.


Como geres esse duplo papel de professora e mãe? MV: Sim, andam os dois aqui. O meu filho no 12º e a minha filha no 10º, na área de socioeconómicas. Eu sou encarregada de educação do João e o Tony é da Beatriz. Ser E.E na mesma escola é … saber logo no intervalo como se comportaram os nossos filhos. E às vezes há formas muito indelicadas de fazer comentários. Eu procuro sempre conter-me como professora de filhos de colegas, mas nem todos são assim. P&V: Sentes-te bem nesta escola? MV: Gosto muito de trabalhar nesta escola. O grupo de matemática é muito dinâmico, muito prá frente. Os professores de matemática da Calazans querem sempre estar atualizados. Gosto disso. P&V: Quais são as diferenças mais notórias entre a tua escola como aluno e a de agora, como professora? MV: Muitas coisas são diferentes. As aulas eram mais expositivas, os professores não se preocupavam tanto se os alunos aprendiam ou não; os alunos só eram avaliados pelos testes… O papel social da escola mudou muito. O objetivo era ensinar as disciplinas. Agora tem objetivos mais amplos, novos desafios. Deve formar homens e mulheres, com valores humanos e afetivos, e isso é ponderado na

avaliação. Tem de ser. Os alunos têm de aprender a pensar, a desenvolver espírito crítico. Nada disso era exigido na escola em que eu fui aluna. Hoje há discussão nas aulas sobre os métodos de resolução de problemas. Isso é muito bom, aumenta a autoconfiança, melhora a capacidade de pensar perante tarefas novas. O mundo lá fora também é mais exigente. Os alunos têm de aprender a pensar. P&V: Achas que os alunos saem melhor preparados do que os da tua geração de aluna? MV: Saem melhor preparados. Pelo menos nós, professores, fazemos por isso. Mesmo o currículo atual é mais vantajoso. Às vezes temos feedback de alguns sobre como estão a enfrentar a universidade e é muito bom saber como têm sucesso. P&V: E os alunos dos cursos profissionais? Como achas que saem da escola secundária? Preparados para o mundo do trabalho? E para a universidade? MV: Saem bem preparados para o mercado de trabalho, mas vamos ser claras: não saem tão bem preparados para prosseguir estudos superiores. Os programas não são tão exigentes, são mais curtos. Só se eles se prepararem fora da escola. Por isso os institutos têm os anos de preparação. P&V: Na tua opinião, o que é preciso mudar na escola para que ela seja mais eficiente nos seus

objetivos? MV: A escola seria mais eficaz com turmas mais homogéneas. Há muita heterogeneidade de conhecimentos e capacidades dentro duma turma. Poderíamos orientar melhor e evitar, muitas vezes, que os alunos com mais capacidades ficassem à espera que os outros terminem as tarefas para podermos avançar. Acho que a filosofia da escola deve ser o encaminhamento de acordo com as capacidades e competências dos alunos. P&V: Pensas terminar a tua carreira como professora? MV: Às vezes penso: se eu pudesse mudava de emprego. Já fomos uma classe estimada, reconhecida socialmente. Agora não. E em termos económicos estamos “congelados” há dez anos; e lá fora o mundo continua a girar. P&V: Tens hobbies? MV: Sou dona de casa e mãe. Gosto das tarefas da culinária. E gosto de ler. Gosto de ficção com fundamento científico. De Dan Brown. E também de Sofia de Mello Breyner. E do Miguel S Tavares. P&V: O que achas do nosso jornal P&V? MV: Gosto muito. Cumpre bem a missão a que se propõe: autoconhecimento da comunidade escolar, o que fazemos e o que nos propomos fazer. É um projeto a manter.


CHAMAR A MÚSICA A música já foi chamada Para esta última (!) edição do P&V do ano 2016/17, foi-nos proposto fazer um balanço do nosso ano e da nossa experiência no jornal, tal como das nossas aprendizagens. Viemos para o jornal por convite. E que belo convite! A rubrica que nos foi atribuída foi a de “música” porque ambas adoramos esta forma de arte. Ao longo do ano escrevemos sobre música, tentando abranger vários estilos e diferentes épocas, não muito distantes, que vão desde os anos 60 até aos dias de hoje. No total escrevemos 7 artigos, (com este, 8) sendo que 3 deles foram publicados na edição em papel. Decidimos abordar e escrever este último texto de um modo um pouco diferente: visto que somos duas pessoas a escrever esta rubrica, optamos por cada uma contar a sua perspetiva nesta experiência e assim tornar a opinião mais detalhada. Irina Oliveira: Eu já tinha escrito no ano passado (2015/2016) dois longos artigos para o jornal online sobre a História do Rock e sobre a História do Rock em Portugal, porque sempre adorei música, e o Rock e todos os seus subgéneros fazem parte da raiz do meu gosto musical, embora este não seja restrito, de modo algum, a este estilo. Este ano, a mim e à Carolina, foi proposto manter uma rubrica mensal; aceitei sem hesitação e ambas concordámos fazê-la sobre música. Na minha experiência aprendi bastante sobre músicas que são minhas favoritas, mas as quais não tinha explorado inteiramente. Foi um gosto fazê-lo e ver os textos publicados! Como boa portuguesa, cumpri os prazos de entrega, mas sempre no limite, e apercebi-me que normalmente trabalho

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sob pressão. Estou infinitamente ligada à música: é uma área que me diz muito como apreciadora e como cantora e guitarrista. Consegui perceber que o meu forte não é jornalismo, mas acho o trabalho de crítica musical interessante. Pretendo continuar com a minha banda, no futuro. Este domínio significa muito para mim e acho a música uma parte essencial da minha vida, tal como da de muitos de vocês, imagino! Dar-me-ia um gosto enorme ver esta rubrica continuada por outros alunos da escola, para o ano, por isso apelo a que continuem a dar valor à cultura e à arte, ao desporto, à literatura, à política. Interessem-se! Saio desta escola com o coração cheio e com a esperança que este jornal e rubrica continuem! Carolina Duque: Tudo começou no início... e não é que é mesmo verdade?! Vejamos: quando eu digo "início" refiro-me ao primeiro dia de aulas, em que a professora de História da Cultura e das Artes, Alice Marques, me perguntou se queria fazer parte da equipa do jornal. Para dizer a verdade, não queria muito aceitar a proposta porque se nunca fui uma boa “escritora” nos testes como iria eu desenrascar-me tendo de escrever mensalmente uma rubrica? Mas bem, depois decidi tentar… e talvez pela razão acima evocada, tenha optado por dividir a rubrica com a Irina. Posso também acrescentar que "Chamar a música" tem um tema que me é familiar e que eu adoro. Eu sei que visto assim parece um pouco uma "frase feita", mas é verdade: a música está presente no nosso dia a dia e estando no curso de Artes sei que um vídeo fica muito mais rico com ela, tal como a nossa

vida. Ao todo fizemos uns bons 7 artigos (com este, 8), nos quais buscámos trazer aos leitores informação sobre variadíssimos estilos de música, que lhes propusemos ouvir, desde folk, rock (alternativo, progressivo), reggae, hip hop. Ver os artigos serem publicados era sempre um entusiasmo, pelo menos para mim. Eu sentia que estava a fazer algo que nunca tinha feito antes. Estava mesmo a sair da minha zona de conforto e senti-me bem com isso! Aprendi que as ideias que tenho para escrever às vezes são boas, mas pô-las em escrita é que pode ser mais complicado, e que realmente duas cabeças pensam melhor que uma! Acho que deixei de ser tão insegura em relação à escrita. Comecei a ter um novo sentido de responsabilidade e, para ser sincera, outra vez, estas edições serviram-me muito para treinar a minha capacidade mental de conseguir transmitir uma certa ideia através de palavras. Eu nunca pensei que conseguisse atenuar este meu problema de uma forma tão divertida. Gostava realmente de continuar a escrever, mas talvez seguir ou começar com uma rubrica diferente, porque acima de tudo eu sei que estou aqui para aprender e acho que qualquer jornalista, ou qualquer pessoa, aprende, sempre com intuito de ficar mais culto e também para partilhar as suas aprendizagens. Despedimo-nos deixando para trás esta escola, e também o P&V, com uma certa tristeza, visto que esta nossa fase está a acabar, mas ao mesmo tempo contentes porque uma nova estará mesmo a chegar.


PÉ DE DANÇA Dançar a escrever

“…,5, 6, 7, 8”, assim marca um coreógrafo ou bailarino a contagem que dará início ao momento coreográfico. Desta forma introduzo o que será o último artigo do “Pé de Dança” deste ano de estreia. Este mês tenho a oportunidade de fazer uma reflexão sobre a minha passagem pelo “Ponto & Vírgula”. Não farei nada mais nem nada menos do que começar a história pelo início e, dessa maneira, dizer como cheguei à equipa GIC. Inicialmente, o interesse fez-se despertar pelo meu gosto pela arte de dançar, que rapidamente desabrochou num convite para participações em espetáculos. Posteriormente, com o avançar do secundário, acabei por ser entrevistado pela Beatriz Roldão, que colabora também no GIC. É nesse momento que surge uma certa curiosidade da minha parte em experimentar o que seria escrever para um jornal, tentando intervir com alguns artigos, ocasionalmente. É na chegada ao fim do 11ºano que surge a preocupação, por parte da equipamãe do GIC, de criar uma equipa sólida e mais vinculada à responsabilidade de apresentar, todos os meses, uma rubrica. É aqui que o “Pé de Dança” surge como uma das inovações do “Ponto & Vírgula”. A convite da professora Alice Marques, agarrei a oportunidade de desenvolver a minha arte, a dança, de uma forma não tão literal, mas sim através da escrita. Curiosamente, não me senti nada intimidado com a ideia, até porque no fim do 12ºano seguiria para a licenciatura em dança, logo esta rubrica permitiria que eu albergasse algum conhecimento novo e atualizado sobre o mundo da dança. Assim, desenvolvi ao longo deste último ano uma rubrica na qual abordei os mais distintos tipos de dança, desde as suas origens às influências em território nacional. Porém, e não desvalorizando todo o conhecimento cultural que adquiri, considero que a maior recompensa foi a descoberta de uma perspetiva diferente do que é fazer arte e do que é gostar de arte, independentemente da sua forma de expressão. Passo a explicar. Por vezes, não tomamos consciência de que existem inúmeras oportunidades de construirmos algo que nos dá gosto, sem o fazer concretamente, ou seja, é possível explorar novas áreas de uma determinada área sem realmente ingressar nela. Parece confuso, mas é simples. No meu caso, gosto muito de dança e do que muitos estilos procuram

mostrar, todavia nunca tinha associado a dança a outro tipo de arte ou a outra vertente que me permitisse explorar a dança de outra forma. Até que me deparei com esta rubrica onde pude aumentar consideravelmente a minha cultura em termos artísticos no mundo da dança. Basicamente, dancei de outra forma. Na altura em que se deu a estreia da rubrica, encontrava-me lesionado e a escrita ajudou-me a preencher parte do vazio que sentia por não poder cumprir o meu papel enquanto aprendiz de bailarino. Como já disse, aprendi a dançar de outra forma e esta foi a maior “dádiva” que podia receber. É preciso quebrar barreiras e procurar coisas inovadoras e desafiantes ao invés de nos fecharmos na nossa zona de conforto. De uma forma mais pedagógica e com um olhar mais direcionado para a escola, esta rubrica deu, a alguém que nunca foi grande fã de escrever ou ler, a capacidade, a confiança e o gosto pela escrita que nunca imaginei vir a ter. Foime dada uma responsabilidade, um texto, uma rubrica, por mês. Parece algo relativamente simples e, na realidade, até o é, principalmente durante o 12ºano, pois existe alguma liberdade e tempo, visto que a carga horária é menor. Mas não foi fácil, pelo menos

nem todos os meses o foi! Chegar ao fim do mês, ver os prazos de entrega a terminar e a inspiração (e a vontade) só surgir naquele preciso momento em que te deitas ou na hora em que te devias deitar! Às vezes o esforço compensa e este foi o caso! Com a rubrica a tomar forma e o legado a ganhar dimensões, começam a notar-se melhorias e surgem críticas construtivas que, no meu caso, me ajudaram a evoluir e a definir melhor a minha escrita, enquanto me permitiram corrigir vícios, que, quer queiramos quer não, surgem. Despeço-me com o desejo de que esta “Última Edição” não seja realmente a última. O “P&V” é u m a o p o r t u n i d a d e p a ra m u i t o s a l u n o s descobrirem e experimentarem algo novo nas mais diferentes áreas do jornalismo. Nunca me imaginei a gostar de escrever quanto mais a pertencer a uma redação de um jornal! Mas a verdade é que isso se realizou. Termino a agradecer à equipa do GIC, que me deu a motivação para alcançar este desafio e para vencer desafios que possam surgir no futuro. Não podemos terminar sem…um “Pé de Dança”!

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PRECISA-SE HERÓI Precisa-se herói para inspirar o mundo

Ao longo deste ano dediquei-me à tarefa de mensalmente escrever um artigo sobre um herói à minha escolha. Foi gratificante poder ver o meu trabalho recompensado, sobretudo ao ser publicado em papel, e foi nesses momentos que senti, pela primeira vez, que alguém valorizava o meu trabalho e via em mim algo mais do que a estranha repulsa que as minhas paixões parecem criar nos outros. Com a chegada do fim do ano, chega também a última edição e como tal, o meu momento de reflexão sobre este percurso. Apesar de já ter feito em 2015 uma contribuição para o GIC, (na rubrica Zoom talentos com o texto “Dançar é a minha vida” – uma entrevista ao Fábio Casaleiro) sinto-me uma recém-chegada. Maioritariamente por agora avançar com um projeto original e somente meu, que me deixou mais confortável do que o anterior projeto, que me pedia para entrevistar pessoas. Esta oportunidade de projeto surgiu quando ter problemas de comunicação se mostrou como um entrave para essa rubrica pré-definida. Perguntaramme então: “sobre o que é que gostas de escrever” e eu respondi “super-heróis”. O nome “Precisa-se herói” vem associado ao primeiro artigo que escrevi, sobre o Luke Cage, já que ele foi um dos fundadores do grupo “Heroes for Hire”, um grupo de pessoas com superpoderes que podiam ser contratados para ajudar numa situação em que se precisasse de um “herói”. “Precisa-se herói” é um pedido de ajuda, mas não de ajuda física, (algo como uma tabuleta numa loja - Precisa-se Colaborador/a); não se pede força bruta, mas sim uma mudança de mentalidades. Na esperança de o fazer, eu dediquei-me a desconstruir alguns mitos sobre as personagens e a abordar temas polémicos da sociedade atual como o racismo, a violência e a ascensão do ódio, contrapondo-os com os heróis que melhor se

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distinguem na luta contra estas situações. Não o fiz só numa tentativa de informar sobre temáticas que os media não abordam, mas também para dar a oportunidade aos leitores de fugir deste mundo e procurar um refúgio, uma situação mais agradável e com final mais feliz. Na minha opinião esta abordagem foi até bastante educacional, já que me permitiu pesquisar sobre diversos temas e encontrar heróis que os representassem, aprofundando ainda mais o meu conhecimento sobre diversos heróis e fortalecendo a minha curiosidade de aprender mais sobre outros. Por um lado, acredito que o meu tipo de abordagem foi também original, já que é invulgar encontrar pessoas que tentam cotejar os heróis e os seus atos com acontecimentos do mundo. Mas a minha tentativa de confrontar a realidade com os heróis não pode ser melhor explicada que com esta afirmação do Stan Lee, em 1970 (considerado um dos pais da banda desenhada, já que é o criador de personagens como o Homem-Aranha, o Hulk, o Quarteto Fantástico e os X-Men): “De tempo a tempo recebemos cartas de leitores que nos perguntam porque é que pomos tanta moral nas nossas bandas desenhadas. Eles salientam que a banda desenhada é suposto ser literatura escapista e nada mais. Mas por alguma razão, eu não consigo vê-la dessa maneira. Acredito que uma história sem uma mensagem é como um homem sem alma. Aliás, mesmo a mais popular literatura escapista – os contos de fadas e as lendas dos heróis – continham lições morais e filosóficas. (…) Nenhum de nós vive em vácuo – nenhum de nós se mantém intocado pelos eventos do dia-a-dia – estes eventos modelam as nossas histórias assim como a maneira como vivemos. Claro que as nossas histórias podem ser chamadas de escapistas mas lá porque alguma coisa existe para nos divertirmos, não significa que tenhamos de cobrir os

nossos cérebros enquanto disfrutamos dela!”. Honestamente, defender qualquer tema neste ramo é um pouco difícil. Tanto porque as pessoas associam os heróis aos filmes e séries que se fazem para crianças… ou talvez, simplesmente, já não tenham esperança de encontrar um herói e aceitam, por isso, render-se ao nosso mundo conturbado. Como não será difícil perceber, muitas vezes me disseram que eu precisava de crescer. E para quem se pergunta porque é que eu escrevo sobre super-heróis, a resposta é simples: porque acredito que eles inspiram as pessoas e que podem mudar mentalidades e nós, os leitores, temos a obrigação de tentar também mudar o mundo. Por isso, apesar das críticas e da desaprovação, eu acho que é necessário acreditar em alguma coisa, nem que seja numa personagem fictícia de banda desenhada, e por isso quero continuar a ser útil na propagação desta ideia: que os super-heróis podem mudar o mundo. Como uma espécie de Padre António Viera, que via nos peixes qualidades que esperava encontrar nos homens e tentava ensiná-los a serem melhores com esses exemplos, eu vejo as qualidades dos heróis e tento explicar porque são elas tão importantes no nosso mundo, numa esperança de inspirar outros a conquistá-las e a mudar o mundo. Por agora vou escrevendo pequenos textos sobre o significado político de algumas personagens e no futuro talvez possa escrever ou ilustrar as suas novas aventuras. Não importa o que estarei a fazer no futuro, só espero que possa estar ligado a esta ideia de inspirar os outros a mudar o mundo. Afinal “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”! (Mas não podíamos acabar esta rubrica sem desconstruir mais um mito: esta frase nunca foi proferida pelo tio Ben, foi sim pelo narrador do volume 15 do Amazing Fantasy em 1962. Quem diria?!)


M DE MULHER “Mulheres: a luta continua”

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Entrei no Ponto e Vírgula quando ainda não havia rubricas distribuídas por colaboradores. Escrevia de tudo um pouco, umas notícias ali, uma entrevista acolá e reportagens quando havia tempo. Mas este ano foi diferente. O jornal ficou mais sério e criaram-se rubricas. Havia compromissos e parecia menos escolar mas mais profissional. Em setembro, numa quarta feira, a equipa reuniu-se para discutir o futuro do P&V e decidir sobre as diversas rubricas que viriam ser trabalhadas ao longo do ano letivo. O critério era o interesse de cada uma pelos temas a abordar. Fiquei empolgada e pensei logo na temática do feminismo. Sabia que mais ninguém reunido à volta daquela mesa iria escolher esse tema, por isso não fiquei com medo de o “reclamar”. Já antes de entrar na escola me intrigavam os assuntos feministas, mas ainda estava

tudo no meu subconsciente. Sentia que havia problemas e injustiças a resolver, apenas não sabia quais, nem como me comprometer com elas. Uma das pessoas que mais me influenciou a seguir este caminho foi a minha exprofessora de História e Cultura das Artes, atual coordenadora do P&V e feminista assumida: Alice Marques. As suas aulas de HCA eram (e aposto que ainda são) críticas e dinâmicas. Notava-se o exaustivo estudo e a paixão pela área em cada palavra que saía da boca daquela professora que, como nós todas, sentiu e ainda sente, a dificuldade que é ser mulher. Pouco a pouco comecei realmente a aperceber-me de que a nossa cultura venera os homens e esconde as mulheres. Por exemplo, nas Belas Artes Clássicas, a mulher é sempre objeto artístico e nunca artista. Ou pelo menos eu assim pensava. A verdade é que durante demasiados séculos às mulheres foi negado o acesso ao mundo

artístico e a vários outros mundos. E mesmo aquelas que conseguiram romper a barreira da cultura masculina e penetrar nesse mundo foram silenciadas ou ignoradas. Por isso, achei necessário um espaço no jornal em que não só pudesse explorar e denunciar, talvez, as injustiças e atrocidades cometidas contra as mulheres de todo o mundo e que acontecem todos os dias sem nós vermos, mas também fosse uma plataforma para divulgar nomes de cientistas, escritoras, filósofas, artistas e trabalhadoras que estiveram escondidas e ainda não aparecem nos manuais escolares. E aprendi bastante. Não posso dizer que sou uma feminista a sério, mas sinto que solidifiquei um pouco o meu conhecimento sobre o tema. Espero um dia poder ser ativista e ajudar na luta pela igualdade de género. Gostava de aprender mais e quiçá, tirar um mestrado em Estudos Feministas! A luta continua!

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SÉCULO XXI Por um bom futuro!

Comecei a escrever com 10 anos. Era uma minipoeta que pensava que tinha um talento enorme. Gostava de pensar assim. Gostava de me imaginar no topo do mundo, orgulhosa com tudo o que havia escrito. Mas bem, eu tinha 10 anos. Era uma miúda com sonhos maiores que o universo. E talvez isso me tenha tornado no que sou hoje. Porque quando somos crianças sonhadoras, pensamos para além do que pode correr mal. E, hoje em dia, isso já não existe. Cresci. E, com esse crescimento, aumentou um dos sonhos que eu transportava: ser escritora. Claro que eu estava completamente alheia ao difícil negócio dos livros e nem queria saber, para ser sincera. Comecei a escrever na internet com 11 anos e isso deu-me um gosto enorme. Voltei a crescer. Com 15 anos comecei a trabalhar a sério. Sonhei com um livro e comecei a escrevê-lo. Acabei-o e dei-lhe uma rota; pedilhe para passar a sua mensagem aos júris do concurso para onde o enviei. Agora é só esperar. Apesar de escrever histórias onde o amor é uma das coisas principais, eu sempre gostei de opinar

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sobre o mundo. Ele é uma coisa tramada. Tanto nos surpreende pela positiva, como pela negativa. Eu revolto-me muito facilmente com injustiças, portanto, quando um colega de turma me falou do jornal da escola, eu pensei logo numa secção para crónicas. Crónicas sobre este século. Sobre o século XXI. Orgulho-me do que escrevi em todas as edições. O que falta aos jovens deste tempo é sentido crítico. Imagino que o tenham, mas não o mostram. Ou pelo menos não mostram como devia ser. O mundo onde vivemos está virado de pernas para o ar. Temos fome, sede, temos crianças a morrer todos os dias com doenças fáceis de prevenir e tratar. Nós somos a próxima geração que irá gerir tudo. Podemos fazer uma diferença enorme. Podemos mudar muita coisa. O problema é saber o que fazer. Mas aqui estão algumas dicas de uma rapariga de 18 anos: 1. Vais a caminhar pela escola e vês alguém a deitar lixo para o chão. Não queres chamar a pessoa à atenção? Tudo bem. Mas apanha o lixo e coloca-o no devido sítio. Achas que é errado?

Dizes que não é empregado de ninguém? Pois bem, é verdade. Mas outra verdade é que se todos ignorássemos o óbvio, o lixo chegava ao teto. 2. Recolha de alimentos em supermercados. Não tens muitas possibilidades? Tudo bem. Junta uns “pretos” (ou moedas de cêntimo) e compra um pacote de arroz da marca branca. 3. Passas bastante tempo a jogar no computador ou simplesmente a bisbilhotar a vida das outras pessoas no facebook. Tens mais do que tempo para abrires uma janelinha no motor de busca e ver notícias recentes do mundo onde vives. Vais ficar impressionado. 4. Achas tudo isto uma perda de tempo? Não posso fazer nada quanto isso. Apenas tu podes mudar a tua ideia sobre tudo o que leste. E é tudo. Por hoje e pelos próximos meses. O meu único pedido é que pensem no nosso mundo e não apenas em vocês próprios. Por um bom futuro!


LUZES, CÂMARA... AÇÃO “Terei sempre o cinema” Comecei neste jornal como um bom filme começa: com algo a dizer. Há três anos, depois de escrever um pequeno texto para um teste de avaliação de português em que falava da minha adoração pelo cinema. Muito devo a esta arte, ou a este conjunto de artes, fundamental na minha formação como cidadão, na minha perspetiva analítica e crítica e na minha forma de percecionar o mundo. Cresci a ver filmes, continuo a fazêlo e espero que nunca termine, mas foi aqui, no Ponto & Vírgula, que tive a oportunidade de expor um exercício fundamentalmente maior, este de, como escreveu Saramago, mais do que ver, reparar. O primeiro texto cinematográfico que aqui publiquei foi justamente sobre Saramago, uma análise ao livro e filme «Ensaio sobre a Cegueira», por (feliz) insistência da professora Margarida Amado, a quem devo agradecer sobejamente por me ter iniciado neste recompensador empreendimento que é de escrever para um jornal. Isto porque não há gosto maior do que poder escrever sobre o que se tem interesse, de poder apresentar aos outros algo que estimamos e, inversamente, descobrirmos um novo gosto, encontrarmos paixões perdidas, ouvirmos «as sereias cantando no fundo de uma voz trémula, que pela primeira vez nos revela uma obra-prima ou nos dá a conhecer uma ideia nova.» (Marguerite Yourcenar, «Memórias de Adriano»)

E então escrevi: escrevi sobre o jovem «Harry Potter e a Pedra Filosofal», sobre o belíssimo «Uma História de Amor», sobre o frenético «Birdman», sobre o castigador «Precious», sobre o divertidíssimo «O Lobo de Wall Street», sobre o futurístico «Ex Machina», sobre o austral «Tabu», sobre o viciante «Trainspotting», sobre o apaixonante «La La Land», sobre o doloroso «12 Anos Escravo» e sobre o poderoso «Carta da Guerra». Todos eles fantásticos, todos eles exaltam, da sua própria maneira, as virtudes da sétima arte. Tive ainda espaço, por proposta da professora Alice Marques (cujo trabalho incansável e singular neste jornal é impossível de não reconhecer), de escrever sobre séries de televisão. Em menor número, escolhi «Breaking Bad», «House of Cards», «A Teoria do Big Bang» e «Westworld», provas indeléveis do valor do pequeno ecrã na atualidade e, com certeza, no futuro. Este produto manufaturado desde o século XIX, uma sequência de imagens projetadas num ecrã em qualquer canto do mundo, tem um poder ciclópico. Se já não é dúvida para ninguém a relevância do cinema enquanto cultura de massas e a influência que exerce nos comportamentos sociais, é, porém, ainda espantosa a forma como influi o espírito humano. Há uma indomabilidade no cinema e nos seus homens que se encontra em poucos trabalhos artísticos. É a conjugação da ardência de contar histórias da literatura, da paixão da música, da forma da pintura, da voluptuosidade

do teatro. Talvez seja isto que o faz ser tão completo. E foi assim, entre filmes, séries e textos, que construí um pequeno espólio que guardarei preciosamente. Em formato digital ou em papel (no qual devo destacar o ótimo trabalho do professor José Nobre), o Ponto & Vírgula definiu estreitamente a minha relação com o cinema. Embora ela já existisse — e, devo dizer, com solidez —, foi definitivamente neste espaço que essa minha paixão pelo cinema foi catalisada, potencializada, completada. Muito devo a este jornal; muito lhe deve também a nossa escola. O fantástico grupo de alunos com quem tive um enorme gosto de partilhar espaço no jornal são um fenomenal exemplo de atividade e de mobilidade dentro da nossa comunidade escolar. Na minha primeira peça aqui publicada escrevi: «[Senti] Uma adoração por tudo: sentar-me, ver a publicidade incómoda e assistir ao filme, perto dele e longe de tudo o mais. Obrigado, cinema.» Creio que não mudaria nada. E agora que iniciarei uma nova época da minha vida, ter escrito isto, quando escrevi e por que escrevi, para quem escrevi e sobre o que escrevi, ganha um significado especial. Em tempos pensei que fosse o delineamento do meu interesse por ele; julgo já ter descoberto ser mais. Não sei se voltarei a escrever sobre filmes, espero que sim, mas não me temoriza. Tenho conforto na ideia de encontrar dentro de algo sem nome uma paixão ardente. De exumar do meu ateísmo aborrecido algo esotericamente profético. Em «Casablanca», Richard conforta Ilsa dizendo, no final, «We'll always have Paris» — eu conforto-me sabendo que sempre terei o cinema.


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TEXTOS E AFINS Escrever porquê?

A arte da literatura sempre fez parte da minha vida. Eu lembro-me de, quando ainda mal tinha um palmo e meio de altura, ir à biblioteca municipal com a minha mãe e andar no meio dos livros. Eu ficava perdida entre as prateleiras, perdida entre os livros, perdida entre as histórias. Eu lembro-me da minha mãe me ler livros antes de eu ir dormir, livros que íamos buscar à biblioteca ou até livros que eu tivesse em casa. Lembro-me, ainda hoje, de a minha mãe me ler livros como o Bambi, a Rapunzel e a Bela Adormecida, e lembro-me do quão entusiasmada eu ficava com as histórias. Desde pequena, os livros tiveram uma presença muito forte na minha vida. Embora eu gostasse imenso de ler, a escrita nunca foi algo que me tivesse surgido no pensamento. Escrever nunca me veio à cabeça, até uma certa altura no 7º ano. A minha professora de português, que na altura estava grávida e já não estava a dar aula, foi substituída por uma nova professora. Logo na nossa primeira aula, como ela não nos conhecia bem, pediu-nos para escrevermos uma composição sobre o que quiséssemos. Lembro-me de toda a turma ter demonstrado insastifação porque não tinham imaginação para escrever, mas também me lembro de sentir algo em mim, um entusiasmo por escrever. Podia soltar a minha imaginação.

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Com a insastifação da maioria da turma, a professora passou a dar um tema: escrevermos sobre umas férias. Quais férias?! Até podíamos inventar. Eu escolhi os dois: modificar uma das minhas férias para ficar mais fantástica. Na altura, eu tinha lido “O Pêndulo” de Edgar Allan Poe – eu sei que esta história não é a mais apropriada para uma criança de 12 anos, mas sempre me interessei pelo estilo do autor – e criei uma história em que, quando perdida num nevão, encontrava um colar brilhante perdido na neve e, quando o ia buscar, um pêndulo soltavase e passava onde estava o fio e uma mulher aparecia entre umas árvores e olhava para mim. Era um texto muito simples – hoje quando o releio, noto a diferença na minha escrita – mas a professora gostou dele, disse-me que estava muito bom e que mal podia esperar pelos próximos. Ao contrário do que alguns professores pensam, não é a desvalorizar a nota de um aluno que o motivam, é a demonstrar orgulho e dando valor ao trabalho que realmente se motiva os alunos. E foi assim que eu fiquei motivada para escrever. Foi ao ver o olhar de orgulho que a professora me dirigia que eu soube que queria continuar a escrever, queria fazer outras pessoas – a professora, os meus pais, os meus amigos, estranhos – orgulhosos da minha escrita. E, desde então, nunca parei. Escrevi e continuo a

escrever. Melhorei o meu método de escrita e procuro sempre continuar a melhorar. Tenho sempre comigo um caderninho, pequeno, com uma caneta, onde posso escrever em qualquer lugar e onde procuro escrever todos os dias. E, com este caderninho, consegui melhorar imensamente a minha escrita e sei que, quando acabar o caderno, a minha escrita terá melhorado ainda mais. A minha experiência com o Ponto & Vírgula começou de uma maneira inesperada. Eu nem sabia da existência do grupo até que o Francisco, que assina a rubrica sobre cinema, me falou sobre o grupo, uma vez que eu gostava de escrever. Depois de vencida a minha timidez, juntei-me ao jornal da nossa escola e fui acolhida com muito amor e amizade, assim como muitos conselhos sobre como melhorar e me tornar uma melhor escritora. A melhor dica que posso deixar a alguém que sonhe em escrever ou que queira melhorar a sua escrita é esta: arranja um pequeno caderno onde possas escrever e obriga-te a escrever todos os dias. Mesmo quando não queres, mesmo quando não te sentes inspirado, escreve. Ao escreveres todos os dias, o ato da escrita torna-se mais fácil e mais fluído. Por isso, escreve. Escreve como eu fiz e irás apaixonar-te por esta arte.


ZOOM TALENTOS

A escrita é muito mais do que uma expressão, é um regalo para a alma A vida é feita de escolhas, algumas mais fáceis do que outras. Por exemplo, quando vais ao Mc Donalds e queres escolher algo diferente mas acabas sempre por escolher o mesmo! No entanto acaba sempre por acontecer alguma mudança. Cheguei ao 12º ano e vi logo que ia ter imenso tempo livre, por isso decidi entrar no P&V, não só para melhorar a minha escrita mas também para descobrir novas histórias à medida que entrevistava, ou seja, decidi arriscar na rubrica Zoom Talentos. Não só me fascinava ver a força de vontade em seguir um sonho, das pessoas que entrevistava, como a sua paixão pelo que faziam. Quis colaborar nesta nova experiência, não

apenas para melhorar as minhas capacidades na escrita, mas também para descobrir a essência de pessoas desconhecidas, o que elas guardavam, e dar a conhecer os seus mistérios. Eventualmente acabei por descobrir que não seria pela minha participação no P&V que a minha nota de português iria subir, mas pelo menos mantive a esperança até ao fim. Não pretendo trabalhar a escrita profissionalmente, mas mais como hobby, um escape à realidade, em que possa expressar-me sem limites ou regras. Apenas letras que me ajudem a descobrir quem sou, podendo assim entrar no cérebro caótico desta adolescente. No entanto, quero continuar a enaltecer as pessoas cujo mérito deve ser recompensado; portanto

sempre que puder, pegarei na caneta. Espero que deem continuidade à minha rubrica e, mais importante ainda, deem visibilidade aos talentos por aí escondidos! Deem destaque a pessoas que merecem ser valorizadas pelo seu esforço e mérito. Foi uma experiência inesquecível que me ajudou a encontrar a minha verdadeira essência e principalmente alertou-me para o meu sentido desorientado, dado que entregava o trabalho sempre em cima da hora. Por vezes nem era esquecimento, era… deitar-me no sofá a ver séries. Bem, agora que já confessei o meu pecado talvez Deus reconsidere e me ajude também para os exames. Bem preciso.

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HOJE FAZ ANOS Celebramos História!

De uma sugestão para apresentações orais nas aulas de História da Cultura e das Artes, surge uma inovadora e curiosa rubrica na qual celebramos, todos os meses, o aniversário de acontecimentos, personalidades e feitos relevantes para a Humanidade. Desde o início, o objetivo sempre foi levar até aos nossos leitores a memória do passado, quer de modo a motivar para o conhecimento de factos históricos, quer de forma a manter alguma ligação à disciplina que terminámos no 11ºano. Inicialmente, a ideia surgiu da professora Alice Marques que apresentou à turma de Artes Visuais uma forma dinâmica de conhecer e explorar momentos marcantes na História do mundo. Todavia, a turma acabou por mostrar pouca dedicação e interesse, o que não se tornou impedimento para realizar esta valiosa sugestão. Com a curiosidade num nível consideravelmente elevado, decidimos desenvolver este projeto que se tornou numa das mais vistas rubricas do “Ponto & Vírgula”, intitulada “Hoje faz anos”.

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Como o próprio nome indica, procuramos celebrar o dia de publicação de cada edição do jornal escolar. É caso para dizer que todos os meses foram meses de festa e celebração. Ao longo deste ano, exploramos os mais diversos temas. Recuperamos a origem da Universidade de Coimbra em 1290, viajamos ao século XVIII recuperando o Terramoto de 1755, passamos também pelo ano de 1890, o do Ultimato Britânico a Portugal. Relembramos o desaparecimento de Maddie e homenageamos a tripulação vítima de uma das maiores tragédias da NASA. Segundo uma das co-autoras da rubrica, Catarina Sousa, “a forma de adquirir cultura através da elaboração de uma rubrica como esta, é que ela é uma forma fácil de memorizar certos factos históricos”. Esta opinião é partilhada pelo co-autor Fábio Casaleiro que ingressou no projeto como forma de se manter atualizado e interveniente no estudo de História, visto que iria fazer melhoria do exame da disciplina. “Considero importante não nos desligarmos de certas disciplinas, principalmente no meu caso, pois terei de fazer

uma melhoria de nota. Projetos como este mostram-nos que, de uma forma descontraída e lúdica, é possível adquirir conhecimentos que complementam qualquer currículo escolar”, defendo eu, Fábio. Com uma rubrica em mãos, procuramos dar aos nossos leitores textos de qualidade do início ao fim. Confessamos que nem sempre tivemos o maior interesse em certos acontecimentos, mas todos eles são importantes, nem que seja só para conhecimento de cultura-geral ou para nós próprios praticarmos este tipo de escrita, mais objetiva e informativa. Concluímos com um pedido a todos os alunos e futuros alunos da nossa escola: quando pensarem no trabalho que dá intervir em projetos como o jornal da escola, esqueçam as desvantagens, que são mínimas, e lembrem-se do elevado número de vantagens. Nomeadamente sobre esta rubrica, esperamos que este não seja mais do que o início de uma rubrica com longa vida. Existem milhares de acontecimentos que aguardam alcançar o nosso jornal. Vens celebrar connosco mais um aniversário?!


MINISTRO DA EDUCAÇÃO ESTEVE NA CALAZANS DUARTE P&V Ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, visitou a escola Calazans Duarte, no dia 19 de maio. Personalidades autárquicas, responsáveis por organizações empresariais, diretoras dos outros Agrupamentos do concelho e deputadas da Assembleia da República juntaram-se à comitiva ministerial, que foi recebida em festa.

Jovens do Tocándar deram-lhe as boas vindas à entrada da escola e, no último ponto da agenda, a sessão no grande auditório, um grupo musical de alunos da Calazans também deu música ao senhor Ministro. Durante a visita, que durou cerca de uma hora e meia, Tiago Brandão Rodrigues cumpriu todos os

pontos da agenda: inaugurou simbolicamente o centro QUALIFICA, esteve em salas de aulas, laboratórios vários, na cozinha pedagógica, no espaço memória e no auditório para uma sessão com várias turmas. O Ministro falou sobretudo com alunos, dirigindo-se-lhes sempre de maneira quase informal, fazendo perguntas e respondendo a perguntas destes. O diretor Cesário Silva fez as honras da casa. Na sessão do auditório, que teve os momentos formais de discursos, o presidente da Câmara Municipal da Marinha Grande, Paulo Vicente, evidenciou sobretudo o significado desta visita, considerando-a “ sinal de proximidade do governo ao poder local”. O diretor do AE aproveitou a oportunidade para desafiar o presidente da Câmara a lançar o concurso para a 2ª fase das obras na Guilherme Stephens, falou dos projetos do Agrupamento e anunciou a criação, com vários parceiros locais, da “Academia pro-estágio” cujo objetivo é a formação de tutores para orientar os estágios dos alunos dos cursos profissionais. Tiago Brandão Rodrigues respondeu a perguntas de alunos, ou, como o próprio disse “submeteuse a uma prova oral”. Opiniões colhidas informalmente pelo P&V, demonstram que a avaliação do Ministro foi “satisfatória”. No seu discurso formal, disse ter-se “sentido em casa” e enalteceu caraterísticas peculiares da Marinha Grande, considerando-as “um legado que vocês devem continuar”, concluiu, dirigindo-se aos alunos. Já no final da sessão, o Ministro ainda foi presenteado com o livro “Da Ucrânia a Portugal. Histórias de Gente de Coragem”, por dois alunos do curso de Português para Falantes de Outras Línguas (PFOL) e com o Prémio Calazans de Mérito Académico, o Prémio Guilherme de Mérito Académico e ainda um exemplar do P&V, entregue pela direção.

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O QUE É O O Programa Qualifica é um PROGRAMA programa vocacionado para a qualificação de adultos que tem QUALIFICA? por objetivo melhorar os níveis de educação e formação dos adultos, contribuindo para a melhoria dos níveis de qualificação da população e a melhoria da empregabilidade dos indivíduos.

QUAIS OS Aumentar os níveis de qualificação e OBJETIVOS DO melhorar a empregabilidade dos dotando-os de competências PROGRAMA ativos, ajustadas às necessidades do de trabalho; QUALIFICA? mercado - Reduzir significativamente as taxas de analfabetismo, literal e funcional, combatendo igualmente o semianalfabetismo e iletrismo; - Valorizar o sistema, promovendo um maior investimento dos jovens adultos em percursos de educação e formação; - Corrigir o atraso estrutural do país em matéria de escolarização no sentido de uma maior convergência com a realidade europeia; - Adequar a oferta e a rede formativa às necessidades do mercado de trabalho e aos modelos de desenvolvimento nacionais e regionais.

ail.com

te@gm n e o p e agrand h n i r a 75 140 sm 5 a l 4 o 4 c 2 s : e f Tel ag.


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