Vida e obra do plagiário Paulo Francis

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© Kristina Sherk

da Folha de S.Paulo e ex-chefe de reportagem de BHARATI MUKHERJEE, AUTORA DE MISS NEW INDIA aos EUA comoBrasileira refugiada, sem e O Estado de S.Paulo. do saber Livro,inglês, também já ganhou o Prêem 1990, formou-se no ensino médio e foi mio Clio, da Academia Paulistana de História, “Ratner conseguiu criar uma obra que, ao mesmo tempo, machuca e anima prooradora oficial da turma. É pós-graduada Com uma prosa lírica e comovente, ela nos lança no meio do pesapela obra Getúlio Vargas e o seu tempo, fundamente. além summa cum laude pela Universidade de Cornell, delo que se tornou realidade para ela,VIDA e, mesmo assim,DO na PLAGIÁRIO escuridão da fome e da E OBRA PAULO de ter recebido a Medalha de Koeler, em 1957, violência, nunca nos abandona no desespero. Ela sempre nos oferece um fio de onde se especializou em história e literatura , DE FERNANDO JORGE, É A GRANDE pelos grandes serviços prestados à culturaesperança brae de amor. Ela nosFRANCIS oferece asas.” do Sudeste Asiático. Nos últimos anos, viajou sileira. Apaixonado por ela, também escreveu CRÍTICA PUBLICADA EMDE LIVRO DURANTE NAOMI BENARON, AUTORA RUNNING THE RIFTA VIDA e viveu no Camboja e no Sudeste Asiático, as biografias do Aleijadinho, de Santos Dumont, DE PAULO FRANCIS . escrevendo e pesquisando, o que culminou em “Um livro surpreendente, ao contrário de tudo o mais que emergiu do Camboja Bilac e Ernesto Geisel. E seu romance dePaulo estreia,Setúbal, À sombraOlavo da figueira. e suas tragédias. Em contraste com outros que abordam o período do Khmer LUÍS EBLAK, Folha de S.Paulo, 22-05-2010 tem livros sobre Lutero, Hitler e Barack Obama, Ela mora em Potomac, Maryland. Vermelho, este não é um livro de memórias — é literatura, literatura de alto nível.” dignos de serem lançados em vários países. PHILIP SHORT, AUTOR DE POL POT Visite seu site em www.vaddeyratner.com.

BIOGRAFIA LITERATURA ESTRANGEIRA ISBN (13) 978-85-8130-345-1 ISBN (13) 978-85-8130-253-9

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VIDA E OBRA DO PLAGIÁRIO PAULO FRANCIS

“À sombra da figueira é um dos mais extraordinários e belos atos de contar histórias que jamais encontrei. Este livro realiza a perturbadora façanha de ser, ao mesmo tempo, completamente comovente e incrivelmente bonito. Há certos momentos da história que se encontram entre os mais poderosos da literatura. É uma obra-prima que nos leva pelas melhores e piores coisas que os seres humanos podem FERNANDO JORGE escritor e jornaOS EXEMPLOS LEVANTADOS POR fazer nesta vida, o que nos deixa, correspondentemente, humildes e enobrecidos.” lista, é figura que provoca polêmica e admiração. FERNANDO JORGE SÃO INCONTESTÁVEIS, CHRIS CLEAVE, AUTOR DE PEQUENA ABELHA BEM Seus premiados livros causam discussões e inDOCUMENTADOS: O SENHOR PAULO FRANCIS “O livro de Vaddey Ratner é arrebatador em sua habilidade de humanizar e persocitam a crítica e o público leitor a importantes ESCREVIA MAL,ElaPLAGIAVA SOBRETUDO nalizar o genocídio cambojano dos anos 1970. nos faz olhar, impávidos, para a reflexões. Elogiado por seus livros extremamenmaldade de que a humanidade é capaz, mas nos dá uma criança para segurar CITAÇÕES E IDEIAS, ERRAVA FEIO NASnossa te pesquisados e rigorosamente documentados, mão — uma sofrida e crível criança —, para que não nos sintamos avassalados. À OSTENTAÇÕES DE SUA PSEUDO-CULTURA… sombra Fernando Jorge obteve um de seus ápices emda figueira é um acontecimento literário de real importância.” Vaddey Ratner tinha cinco anos de idade NÃO TINHA COMPROMISSO ALGUM COMDE A ROBERT OLEN BUTLER, AUTOR 1987, quando lançou Cale a boca, jornalista!, quando o Khmer Vermelho assumiu o poder, A GOOD SCEN T FROM STRANGE MOUN TAIN EXATIDÃO DOS FATOS OUA RESPEITO PELA em 1975. Depois de quatro anos de trabalhosrelato sobre as tortucontundente e minucioso HONRA E DIGNIDADE ALHEIAS . forçados, fomeras e o risco de execução, ela e sua brasileiros duransofridas por jornalistas “Uma persuasiva voz nova no mundo da literatura. Por meio da madura história de mãe fugiram enquanto muitosmilitar dos membros uma menina sensível, Ratner dramatiza tanto a brutalidade do Khmer Vermelho te o período pós-1964. Autor agraciado SOLANO VIANNA, em 22-03-1997, ex-editora quanto o custo emocional daIRENE sobrevivência.” de sua família morreram. Em 1981, ela chegou com o Prêmio Jabuti, concedido pela Câmara

FERNANDO JORGE

ELOGIOS A

“Uma obra-prima... completamente comovente e incrivelmente bonito.” CHRIS CLEAVE, AUTOR DE PEQUENA ABELHA

“HISTÓRIAS COMO ESTA TOCAM FUNDO, E, OUSO DIZER, MUDAM NOSSA VIDA.” Bookreporter.com

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aulo Francis nunca chegou a ser um grande escritor ou um respeiCamboja, Sudeste da Ásia, 1975. A ditadura mais sanguinária do século, liderada pelo sádico Pol Pot, executa um plano tado ensaísta, mas foi, enquanto totalmente insano: transformar o país num modelo viveu, o mais polêmico, o mais comunista agrário, ainda que à custa do extermínio de milhares de pessoas. Um terço da população vai cortejado e sem dúvida mais odiado jornalismorrer neste processo. Uma barbárie sem preceta brasileiro. Neste livro ousado, corajoso e dentes na história. Um exército de jovens fanáticos se encarrega tãodevirulento quanto o próprio Francis foi (e esvaziar as cidades e levar populações inteiras para as enquanto o jornalista ainda vivia), áreas rurais, onde trabalharão como escravos epublicado serão torturados e mortos, se considerados improdutivos. Fernando Jorge desmascara o intelectual “Não há benefício em manter você vivo; destruísupostamente rigoroso, apontando-lhe plá-lo não resulta em perda!”, sussurram estes fanáticos nos ouvidos de suas vítimas — antes de matá-las. gios, erros e injustiças. Para Paulo Francis, É esse verdadeiro inferno que espera por Raami, Lula uma sensível menina cambojana de sete anos. Ela, era um jumento, além de cachaceiro; assim, como todos que vivem na capital Phnon Vicentinho, um escravo; a ex-ministra Dorotéa Pehn, acabam de saber que o exército vermelho sirigaita; Roberto Marinho, um venceu. O povo, no entanto, não sabe como Werneck, reagir diante da queda da monarquia, pois as razões da “Homem Porcaria”; Rui Barbosa, ladrão; e o revolução ainda são obscuras. ministro Sérgio Motta, stalinista caipira. Para Raami é uma garotinha frágil. Ela teve poliomielite e as sequelas limitam seus movimentos. Fernando Jorge, Paulo Francis não passou Pior: Raami é filha do Príncipe Tigre, da realeza cambojana. Uma delicada princesinha cujade vidaum incompetente utilizador de adjetitem algo de mágico: seu mundo parece um jardim vos, insultos, frases roubadas ou desvirtuencantado, cercado de anjos. adas. Do paraíso dos palácios para o inferno do ter- A vida e os escritos de Paulo Francis ror vermelho: os jovens soldados do Khmer Vermelho são analisados e os erros apontados com logo chegam à sua casa e levam todos para a escrarigor, todos documentados. Acima das crítividão nos campos. Jogada numa realidade de violência, fome e cas severas do autor, que às vezes se irrita incerteza, Raami se agarra aos vestígios felizes de naturalmente com os absurdos do criticado, sua infância, enquanto luta por sua improvável sobrevivência. este livro é bem humorado, engraçado e alFome, tortura, execuções brutais e epidemias devastadoras ameaçam a sanidade dos prisioneiros. tamente instrutivo. Ao nos apontar os erros Raami e sua família terão que reunir todas as suas e disparates de Paulo Francis, Fernando forças para não sucumbirem ao desespero, nem se perderem uns dos outros para sempre. Jorge nos dá uma verdadeira aula de cultura Um relato impressionante, que comoveu a críe conhecimento. tica em todo o mundo.

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3a edição, revista e aumentada

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Copyright © 2016 by Fernando Jorge Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor no Brasil em 2009

Editor e Publisher Luiz Fernando Emediato

Diretora Editorial Fernanda Emediato

Produção Editorial Desenho Editorial

Foto de capa Bob Wolfenson

Composição Silvia de Cerqueira Cesar

Revisão Hebe Ester Lucas

Dados internacionais de catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Jorge, Fernando Vida e obra do plagiário Paulo Francis: o mergulho da ignorância no poço da estupidez / Fernando Jorge. – 3. ed. rev. e aum.. – São Paulo: Geração Editorial, 2016. ISBN 978-85-8130-345-1 1. Francis, Paulo, 1930-1997 2. Jornalistas – Brasil – Biografia I. Título. 16-00380

CDD-920.50981

Índices para catálogo sistemático: 1. Brasil : Jornalistas : Biografia 920.50981

GERAÇÃO EDITORIAL Rua Gomes Freire, 225 – Lapa CEP: 05075-010 – São Paulo – SP Telefax : (+55 11) 3256-4444 E-mail: geracaoeditorial@geracaoeditorial.com.br www.geracaoeditorial.com.br Impresso no Brasil Printed in Brazil

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Dedicatória para a Adriana Calca em Outro

Este livro é dedicado à plagiária Adriana Calcanhotto (Adriana Calca em Outro), que em duas crônicas do jornal O Globo, a primeira intitulada “Vai Vai Vai Vai” (20-10-2013), e a segunda com o título de “Ubuntu” (15-12-2013), plagiou a tese do meu livro Se não fosse o Brasil, jamais Barack Obama teria nascido, lançado pela Novo Século Editora, e também a minha descoberta, revelada nessa obra, da fonte inspiradora do mais famoso soneto de Vinicius de Moraes. Graças ao roubo da Calca em Outro, a 5a edição do livro logo se esgotou e foi lançada a 6a. Obrigado, plagiária! Continue a me plagiar. Sem dúvida você segue os métodos do plagiário Paulo Francis. Além disso os textos da Calca em Outro estão repletos de besteiras, de disparates e de gravíssimos erros de português. Num desses textos, ela chama o falecido José Wilker de cachorro e Portugal de forca. Pergunto: Portugal é instrumento de suplício? Outro absurdo, na crônica “Falemos de coisas sérias” (25-1-2015), publicada no mesmo periódico, a insultadora xinga de “inominável editora” a jornalista Fátima Sá, do Segundo Caderno de O Globo. Verdadeiro achincalhe, pois o adjetivo “inominável”, de dois gêneros (masculino e feminino) é pejorativo e significa “baixo, desprezível, horrível”, etc.

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Sumário

Agradecimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Solidariedade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Dedicatória muito sincera . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . A razão deste livro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Introdução à terceira edição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Como Nelson Hoineff mostrou o Paulo Francis . . . . . . . . . . . . .

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1 • A vida de um plagiário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 • Os plágios intermináveis de Paulo Francis . . . . . . . . . . . . . . 3 • As intermináveis informações erradas de Paulo Francis . . . 4 • Os gravíssimos erros de português do Paulo Francis . . . . . . 5 • A ignorância berrante de Paulo Francis no setor da história da pintura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 • Os erros monumentais de Paulo Francis no campo da literatura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 • Os impressionantes erros de Paulo Francis no campo da História . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 • As difamações nojentas do Paulo Francis . . . . . . . . . . . . . . . 9 • Outros aspectos da ignorância e da personalidade de Paulo Francis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Posfácio – Fernando Jorge, um controversista militante . . . . . . . . . Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Depoimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Índice onomástico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Agradecimento

O autor teve a valiosa ajuda, para complementar o seu acervo de informações e de documentos, do pesquisador Jorge Ferrão, da Editora Abril, e dos pesquisadores João Paulo Garrido Pimenta e Fernando Braga, do Arquivo do Estado de São Paulo. Valiosa também foi a colaboração do livreiro Eugênio César dos Anjos Mota, de Dárcio Sgarbi e Gérson Thomaz Santos, técnicos em computação gráfica, de Alan César Sales Maia, técnico em diagramação e editoração eletrônica, de Nilson de Jesus Melo, operador de máquinas copiadoras, do fotógrafo Cleones R. N. (Cleones Ribeiro Novaes) e dos seguintes funcionários da Biblioteca Mário de Andrade, de São Paulo: Lúcia Neíza Pereira da Silva, diretora; Flávia Silveira Lobo, chefe da Seção de Extensão Cultural; Ilka Machado da Rocha Pinheiro, chefe da Seção de Microfilme; Miguel Derosa, operador de microfilmagem; Maria Fátima Lopes Thaumaturgo e Márcia Cristina Cortez Mauro, ambas bibliotecárias. A revisão do texto ficou a cargo do competente Clóvis Meira, ex-revisor de quase todos os jornais paulistas, inclusive de O Estado de S. Paulo, e autor de um belo ensaio, intitulado Três faces de Lima Barreto (João Scortecci Editora, São Paulo, 1994). Expressamos a nossa gratidão a todas essas pessoas. Muitas contribuíram para solucionar os vários problemas surgidos no decorrer de uma pesquisa minuciosa, efetuada em coleções, arquivos, jornais, livros e revistas, desde o dia 27 de janeiro de 1991 até o dia 14 de junho de 1996.

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Solidariedade

Defensor do Direito e da Justiça, o autor hipoteca a sua solidariedade ao Poder Judiciário do seu país, a Sepúlveda Pertence, presidente do Supremo Tribunal Federal, e a todos os membros desse Poder que foi achincalhado pelo plagiário Paulo Francis na seção “Diário da Corte,” do dia 7 de março de 1996. Para o senhor Francis “o Judiciário Brasileiro é um escândalo secreto” e se mostra, em boa parte, “corrupto até a medula”. Ele apoia o fechamento dessa instituição e também a prisão da maioria dos seus membros. Portanto, devem ser presos, de acordo com o raciocínio do senhor Paulo Francis, os juízes dos seguintes órgãos do Poder Judiciário: do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais do Trabalho, dos Tribunais Eleitorais e dos Tribunais Militares. A solidariedade do autor, por conseguinte, é extensiva a juristas ilustres, a eminentes cultores do nosso Direito, na lista dos quais podemos incluir o doutor Guido Andrade, presidente da seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB); o desembargador Paulo Medina, presidente da Associação dos Magistrados do Brasil (AMB); o desembargador Álvaro Lazzarini, presidente da Primeira Câmara de Direito Privado; o doutor Marco Aurélio Mendes de Farias Mello, presidente do Tribunal Superior Eleitoral e ministro do Supremo Tribunal Federal; os desembargadores Roberto Maron, Lindberg Montenegro, João Wehbi Dib e Fernando Whitaker da Cunha.

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Francis Bacon (1561-1626)

“NÃO HÁ PRAZER COMPARÁVEL AO DE PISAR FIRME NO VANTAJOSO TERRENO DA VERDADE” “No pleasure is comparable to the standing upon the vantage ground of truth”

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Dedicatória muito sincera

Dedico este livro aos amigos ou admiradores do senhor Paulo Francis, abaixo relacionados, para que eles, após a leitura, possam reavaliar o caráter, a competência, a cultura e a honestidade intelectual desse cidadão que além de ser um grande plagiário e um grande ignorante, é do mesmo modo um grande difamador de muitas pessoas honradas. Antônio Pimenta Neves Caio de Alcântara Machado Daniel Piza Danuza Leão Décio de Almeida Prado Décio Pignatari Delfim Netto Edla Van Steen Fábio Feldman Luiz Fernando Mercadante Luiz Gutemberg Luís Schwarcz Hamilton dos Santos Manoel Pio Corrêa Marcílio Marques Moreira Marília Gabriela Matthew Shirts

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Mauro Rasi Fausto Wolf Millor Fernandes George Moura Nelson de Sá Gilberto Paim Nelson Motta José Arbex Renato Bandeira José Castello Roberto Gusmão José Lewgoy Roberto Muylaert José Lino Grünewald Rogério Fasano José Onofre Ruy Castro Kito Junqueira Sábato Magaldi Lucas Mendes Sérgio Figueiredo Luís Carlos Maciel Wagner Carelli Luís Erlanger Todos eles são inteligentes, reconheço, mas não há dúvida: a inteligência também tem os seus ingênuos e os seus dias sem Sol, de céu encoberto, dias que não deixam ver certas coisas...

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A razão deste livro

Provei documentadamente, no ano de 1987, que o senhor Hélio Silva era um grande plagiário, pois o seu livro Nilo Peçanha – A revolução brasileira – 1990-1910, lançado em 1983, é um plágio irrefutável, a cópia quase completa do livro A vida de Nilo Peçanha, de Brígido Tinoco, obra publicada em 1962 pela Editora José Olympio. Como o Hélio Silva havia se tornado “o historiador mais famoso do Brasil”, a minha denúncia teve larga repercussão. Descobri nessa época, além disso, outros plágios escandalosos desse autor. Ele roubou longos trechos, sem inserir as aspas e sem citar os nomes dos autores, das seguintes obras: A política geral do Brasil, de José Maria dos Santos (J. Magalhães, São Paulo, 1930); A República que a revolução destruiu, de Sertório de Castro (Freitas Bastos, Rio de Janeiro, 1932); A tormenta que Prudente de Morais venceu!, de Silveira Peixoto (Editora Guaíra, Curitiba, 1942). Por causa das minhas acusações, o jornal O Estado de S. Paulo fez duas reportagens extensas, publicadas nas edições dos dias 7 de maio e 4 de junho de 1987 do seu “Caderno 2”. Eu provei de fato, com documentos fornecidos às mencionadas reportagens, que o Hélio Silva era um grande plagiário. Surpresos, os diretores do jornal me pediram um texto sobre os roubos literários do Hélio e então escrevi o artigo “O maior caso de plágio no Brasil”, publicado na edição do dia 30 de maio de 1987 do matutino dos Mesquitas. Perdendo a serenidade, num ímpeto de raiva, o plagiário declarou pelo telefone à repórter Bia Figueira de Mello, do “Caderno 2”:

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– Esse tal Fernando Jorge é um caronista! Bia não entendeu: – Caronista? – Sim, é isto mesmo! É um caronista porque quer pegar carona na minha fama! E “o historiador mais famoso do Brasil”, a espumejar de ódio, não encontrou outro argumento para refutar as minhas acusações. Membro do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, e uma das vítimas dos plágios do Hélio Silva, o jornalista Silveira Peixoto admitiu que eu proclamei a verdade. O jornal O Globo, por iniciativa de Walter Fontoura, apresentou uma página inteira com as minhas denúncias, sob o título “Cenas de plágio explícito”, na sua edição do dia 6 de maio de 1987. Também apareceu no mês seguinte uma reportagem sobre esses roubos, na edição do dia 4 de junho do Jornal do Brasil. Minuciosa reportagem, na qual apontei novos plágios do Hélio Silva, foi publicada na edição do dia 24 de junho de 1987 do Correio Braziliense, feita pelo jornalista Nunzio Briguglio. Em suma, as minhas denúncias contra os plágios do Hélio Silva tiveram tanta repercussão, causaram-lhe um prejuízo tão grande, que ele acabou confessando a um dos meus mais estimados amigos, o editor Ênio Silveira: – Fiquei muito desmoralizado, Ênio, devido a essas acusações do Fernando Jorge, e por este motivo desisti de me candidatar à Academia Brasileira de Letras. Ouvi isto da boca do próprio Ênio, que ainda acrescentou: – Fernando, segundo me disse o Hélio Silva, ele apenas se esqueceu de colocar algumas aspas. Ele alega que foi só um pequeno lapso. Eu respondi: – Foi só um pequeno lapso, Ênio? Que cinismo, que cara de pau exibe o Hélio Silva! Ele plagiou mais de noventa por cento do texto da biografia do Nilo Peçanha, escrita pelo Brígido Tinoco! Basta salientar o seguinte: esta biografia tem 282 páginas. O meu querido amigo Thomaz de Aquino de Queiroz, dono de uma bela inteligência e de um espírito sutil, costuma dizer que por causa das minhas denúncias, e por se sentir atormentado pelo remorso 18

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de ter sido um plagiário, o Hélio Silva entrou depois para um mosteiro, virou monge... Bem, evoquei estes fatos com o objetivo de mostrar que quando acuso alguém de ser plagiário é porque estou estribado na mais radiosa das verdades, e não em lendas, miragens, presunções. Jamais agi como um nefelibata, um habitante das nuvens, ao longo da minha carreira de escritor e jornalista. Só gosto de sonhar com os pés na terra e endosso esta advertência de Gustave Flaubert: “Toma cuidado ao menos com os teus sonhos: são a sereia das almas. Ela canta, nos chama, a seguimos e nunca mais voltamos”. (“Prends garde seulement à la rêverie: c’est la sirène des âmes, ele chante, elle appele, on y va et l’on n’en revient pas”.) Este livro prova, de maneira insofismável, como fiz em relação ao Hélio Silva, que o senhor Paulo Francis é também um grande assaltante dos textos alheios. Um plagiário crônico, renitente, contumaz. Após obter informações sobre o conteúdo desta minha obra, quando ela estava sendo escrita, a simpática Danda Prado comentou: – O seu livro contra o Paulo Francis vai ser muito pessoal e muito acusatório. Mas é claro, Danda Prado, e nem poderia deixar de ser assim, pois todas as obras dessa natureza adquirem os traços característicos dos seus autores e da cultura que eles armazenaram. Até sustento: não existe nenhuma crítica literária impessoal. Por quê? É porque cada crítico literário de peso – Sílvio Romero, Araripe Júnior, José Veríssimo, Agrippino Grieco, Tristão de Ataíde, Antônio Cândido, Wilson Martins, Fábio Lucas – cada um desses críticos tem a sua psique, as suas idiossincrasias, os seus afetos e os seus rancores, as suas reações mentais ou emocionais, os seus conhecimentos especializados. E na excelente crítica francesa é a mesma coisa, quanto a Villemain, Sainte-Beuve, Taine, Brunetière e Jules Lemaître. A impessoalidade não existe na polêmica ou na crítica literária. Ela é um mito, um conceito falso. Não há uma fórmula para se escrever um livro como este, onde exponho em plena luz, eliminando os rodeios de palavras, os plágios, os erros, as calúnias e o apedeutismo do Paulo Francis. Eu deveria narrar tudo isto com estilo seco, incolor, algébrico, estilo idêntico ao do relatório de um banco? Prefiro ser natural, espontâneo, como aliás 19

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tenho sido em todas as minhas obras, e por esta razão joguei no texto a minha flama, os meus sarcasmos, as minhas esculhambações, os meus arrebatamentos, mas apoiado em dados concretos, na verdade crua, numa idônea, sólida e indestrutível documentação. Todas as minhas denúncias estão bem escoradas, não podem alimentar dúvidas. Meu lema: sangue quente, a fim de injetar o calor da vida no texto, e cabeça fria, a fim de raciocinar, de usar a lógica, porém sem que a quentura do sangue possa derreter os gelos do cérebro analítico. Li tudo do senhor Paulo Francis.Todos os seus livros, todos os seus comentários, todas as suas entrevistas. Li e anotei. Hoje conheço mais os seus textos do que ele, porque possuo uma boa memória e a do Francis é péssima. Quando examino os plágios desse apedeuta no Estadão, as suas centenas de informações erradas, os seus solecismos, os seus ataques pessoais, os seus insultos aos membros do Poder Judiciário, sempre me lembro do ilibado doutor Júlio de Mesquita Filho, dos seus escrúpulos na publicação das notícias, se estas não fossem totalmente corretas, dos cuidados até excessivos desse jornalista para evitar a injustiça, a infâmia, a baixeza, os enxovalhos, os atentados às regras mais simples do idioma de Machado de Assis. Amigo leitor: Paulo Francis é a ignorância mais bem paga do Brasil. Ignorância feliz, bem nutrida, deseducada, vaidosa, maldosa, vitoriosa, arrotadora, peidorenta. Nunca mais, entretanto, ele será o mesmo, após a publicação deste livro, nunca mais, ainda que continue a colaborar no Estadão, em O Globo, no Zero Hora da capital gaúcha e em vários outros jornais, porque a sua imagem, perante a visão dos que pretendem ler esta minha obra até o fim, passará a ser a de um grande plagiário e a de um grande ignorante, a imagem de um autor de centenas de informações absurdas e erradas, a imagem de um asqueroso achincalhador das honras alheias e do caráter dos digníssimos membros do nosso Poder Judiciário. Indiscutivelmente este meu livro coloca na seguinte situação os jornais que publicam a página do senhor Francis: se continuarem a publicá-la vão continuar a permitir a divulgação, por causa dos textos dessa página, do roubo literário, da ignorância, do disparate, da informação errada, da injúria torpe, nojenta, abominável. E também 20

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a propaganda do racismo, do colonialismo, da venda da Amazônia a uma potência estrangeira e dos leilões, no mercado internacional, de todo o nosso patrimônio e de todas as nossas riquezas, o leilão da Petrobras, da Companhia Vale do Rio Doce, das nossas jazidas de calcário e de areias monazíticas, dos depósitos de óxidos metaloides, do cobre da mina Camacuã, do manganês do Riacho de Santana, da bauxita de Paramirim, dos itabiritos da Serra do Espinhaço. Paulo Francis tem admiradores leais, sinceros, como os jornalistas Daniel Piza, Fausto Wolff, José Onofre, Luiz Guttemberg, Luiz Fernando Mercadante, Nelson Motta e Ruy Castro. São pessoas inteligentes, capacitadas, mas eu as desafio, qualquer uma delas, a provar que tudo isto que relato aqui no meu livro é mentira, difamação. Proponho até o seguinte: escrevam e publiquem uma obra para pulverizar, reduzir a cinzas, todas as minhas acusações. Informa o número 1.425 da revista Veja, de 3 janeiro de 1996, que Adriane Galisteu, a última namorada do piloto Ayrton Senna, soltou estas palavras, ao comentar o seu livro O caminho das borboletas: “Escrevi o livro para tirar o pé da lama”. Não é o meu caso. Eu escrevi este livro para mostrar a Verdade, com v maiúsculo e sem aspas, e a única lama que encontrei foi a lama dos ataques rasteiros do Francis à honra das pessoas dignas. Ataques de escorpião ou de cobra venenosa. Sob tal aspecto, os textos do Paulo Francis não são atuais. Eles são fecais.

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Introdução à terceira edição

Um livrinho falso, anêmico e capenga

O livrinho não parece uma biografia. Parece uma obra de ficção, uma novela mal estruturada. É por isto que eu chamo o imaginoso Paulo Eduardo Nogueira de ficcionista. Imaginoso porque no seu livrinho Paulo Francis – polemista profissional, lançado pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, ele biografou um Francis bonzinho, de excelente caráter, que nunca existiu, a não ser na sua fantasia. Aliás, o Francis não era polemista profissional e sim um xingador profissional. Mostrava-se exímio na arte sórdida de achincalhar as pessoas. Investia contra as honras alheias, covardemente protegido por longa distância, a salvo dos revides imediatos, dos murros dos ofendidos, pois morava em Nova York. Devido aos seus insultos, às difamações que ia expelindo como o vômito de uma hiena fedorenta, ele foi esbofetado pelo escritor Guilherme Figueiredo num restaurante e pelo ator Adolfo Celi no palco do teatro Aurimar Rocha, diante de uma platéia lotada, lá no Rio de Janeiro. O ator Paulo Autran, fiel amigo da atriz Tônia Carrero, vítima das infâmias do Paulo Francis, quando viu este na entrada de um teatro, aproximou-se dele e escarrou na sua cara. Paulo Francis não reagiu, aceitou a merecida cusparada… É um depoimento da atriz Cacilda Becker.

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Vida e obra do plag i ári o Paulo F ranc i s

Após ler o meu livro Vida e obra do plagiário Paulo Francis – O mergulho da ignorância no poço da estupidez, publicado pela Geração Editorial, a jornalista Irene Solano Vianna, editora da Folha de S.Paulo, afirmou o seguinte num artigo, ao comentar essa minha obra: “O sr. Paulo Francis escrevia mal, plagiava sobretudo citações e ideias, errava feio nas ostentações de sua pseudo cultura. E o mais grave de todos os pecados, não tinha compromisso algum com a exatidão dos fatos, ou respeito pela honra e dignidade alheias”. Veja, amigo leitor, é este o Paulo Francis que o ficcionista Paulo Eduardo Nogueira admira com entusiasmo, é este o Paulo Francis que era “jornalista” entre aspas, desonesto, caluniador, racista, incapaz de escrever de forma simples e correta, larápio literário descarado, plagiador das frases de Shakespeare, James Baldwin, Winston Churchill, Dostoievski, Albert Einstein, Machado de Assis, Nelson Rodrigues, Roberto Campos, Artur Azevedo, Sérgio Porto, Ibrahim Sued, etc, etc. Sustento, a Imprensa Oficial do Estado de S.Paulo, dirigida pelo competente Hubert Alquéres, não devia ter lançado o livrinho do ficcionista Paulo Eduardo Nogueira sobre o difamador Paulo Francis. A senhora Cecília Scharlach, coordenadora editorial, e a senhora Viviane Vilela, assistente editorial, são profissionais de valor e tiveram de cuidar – sinto pena delas – de uma obra falsa, aleijada, muito defeituosa e lacunosa. Ambas cometeram o ato heroico de ler o texto indigesto do ficcionista Paulo Eduardo Nogueira. Livrinho anêmico, capenga, arrasado pelo jornalista Luís Eblak, que escreveu estas palavras num artigo publicado na edição do dia 22 de maio de 2010 da Folha de S.Paulo: “A principal falha do biógrafo, porém, é não dialogar com outros livros sobre o Francis. Nogueira só cita em poucas linhas um livro que deveria ser mais bem explorado: Vida e obra do plagiário Paulo Francis (1997), de Fernando Jorge. A obra de Jorge é a grande crítica publicada em livro durante a vida de Francis”. Paulo Eduardo Nogueira, nas páginas 83 e 84 do seu livrinho caolho, daltônico e manquitola, declara que o meu livro pretendia provar que Paulo Francis era racista, ignorante, plagiário.Vou corrigir o ficcionista Nogueira: pretendia não, eu provei, senhor ficcionista. E provei de tal modo que o senhor é incapaz de garantir que eu menti. Prove, vamos! 24

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Querendo fazer pouco caso do meu livro, o ficcionista Nogueira acrescentou: “Acuado pelo processo judicial, Francis comentou com amigos e familiares que a Petrobras estava por trás da publicação, para desmoralizá-lo. Jamais leu o livro ou pensou em medidas judiciais contra o autor (Fernando Jorge). Recebeu apenas uma cópia de uma resenha, enviada por amigos, mas jogou-a no lixo sem lê-la, dando de ombros”. Desfechei uma retumbante gargalhada, ao ler estas linhas. Quanta mentira! A Petrobras nunca me financiou. E se o Paulo Francis ousasse processar-me, iria perder de maneira estrondosa… Outra coisa, ele leu o meu livro sim, eu soube por intermédio de uma fonte idônea. Na opinião do jornalista Alberto Dines, expressa numa entrevista concedida ao Correio Popular de Campinas, o meu livro, e o processo da Petrobras contra o Francis, causaram a sua morte.Verdade ou exagero? Se é verdade, sou o pai do “primeiro livro assassino do mundo” e mereço aparecer no Guinnes, o livro dos recordes… O ficcionista Paulo Eduardo Nogueira, no seu livrinho sobre Paulo Francis, não quis frisar que em outubro de 1996, no programa de televisão Manhattan Connection, o leviano e desbocado Francis, sem apresentar nenhuma prova, acusou Joel Rennó, presidente da Petrobras, e os outros diretores dessa empresa, de terem “formado a maior quadrilha de assaltantes do Brasil”. Que fez o senhor Joel Rennó, de forma correta? Entrou na Justiça americana com um pedido de indenização de 100 milhões de dólares. Paulo Francis tremeu, apavorou-se. E Sônia Nolasco, sua esposa, disse que o processo da Petrobras era “sórdido”. Eu pergunto: sórdido por quê? Então qualquer fulano tem o direito de achincalhar uma honesta e poderosa empresa do nosso país, naquela época (a corrupção apareceu anos depois), cobrindo-a de lama podre, prejudicando-lhe a reputação? Isto deve ser aceito? E fato incrível, o jornalista Elio Gaspari hipotecou solidariedade ao difamador! Paulo Eduardo Nogueira distorceu a verdade. Tentou exibir o Paulo Francis como vítima, porém se houve uma vítima, esta foi a Petrobras, acusada, sem qualquer prova, de estar agindo como uma bandida! Repito: sem qualquer prova. Nogueira se mostra tão cego diante do Francis, que nas páginas 77 e 78 do seu livrinho falso, omisso, procurou provar, sem conseguir, que 25

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ele não era racista ou preconceituoso. Era sim! Vou agora descrever um episódio nojento da vida do Paulo Francis, revelador do seu racismo empedernido, tão desumano como o sádico racismo dos nazistas em relação aos judeus. Quando este meu livro Vida e obra do plagiário Paulo Francis foi lançado no ano de 1997, pela Geração Editorial, três meses antes da morte de Francis, a sucursal do Jornal do Brasil, aqui em São Paulo, convidou-me para dar uma entrevista. Fui à sucursal e lá o repórter Júlio Fonseca me disse: – Trabalha aqui um fanático admirador do Paulo Francis. Desejo apresentá-lo ao senhor. Eu respondi: – Não faça isto. O meu livro é contra o Francis e talvez esse homem queira me agredir. Aí vou revidar, pois não sou covarde. Vai ser muito desagradável. O jornalista me tranquilizou: – Não se preocupe. Ele é calmo, bem educado. Fiquei inquieto. Afinal de contas, se o sujeito era um fanático admirador do Francis, o seu fanatismo não podia combinar com tranquilidade… Logo surgiu na minha frente um homem de cor, baixo, atarracado, nordestino. Dirigindo-se a mim, perguntou: – É o senhor que escreveu um livro contra o Paulo Francis? Preparei-me para reagir, disposto a lhe aplicar um rabo-de-arraia, se ele avançasse contra mim. Sou capoeirista. Explico, o rabo-de-arraia é o golpe certeiro com o qual o capoeirista arremessa o corpo, num rápido movimento giratório, e joga a perna na direção das pernas do adversário, cortando-as por baixo e atingindo-lhe a cabeça. Mas não foi preciso, o homem sorriu de maneira doce e soltou estas palavras: – Se o senhor escreveu um livro contra o Paulo Francis, eu agradeço, fico feliz. Odeio o Francis. – E por que o senhor o odeia? Ele informou: – O meu nome é Sebastião Ferreira da Silva. Todos aqui no Jornal do Brasil me chamam de Ferreirinha. Nasci em Pernambuco e trabalhava como motorista para a Folha de S.Paulo. Um dia o meu chefe me 26

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disse: olhe, o Paulo Francis veio de Nova York e você, amanhã, deve ir ao seu apartamento para o levar aonde ele quiser. Algo emocionado, o Ferreirinha fez uma pausa e prosseguiu: – No dia seguinte, às onze horas da manhã, fui lá no apartamento do Francis. Ele estava sentado num sofá e quando me viu, falou assim: você já chegou, meu escravo? – Ele o chamou de escravo? – É, ele me chamou de escravo. Eu respondi: olhe, doutor, não sou escravo de ninguém. Aí ele respondeu: é meu escravo sim, porque você é preto, nordestino, pernambucano. – E o senhor, o que fez? – Respondi: não sou seu escravo. Mas ele insistiu: é o meu escravo sim, porque sou branco e você pertence a uma raça inferior, que só existe para obedecer a nós, os brancos, de raça superior. – O Francis não estava bêbado ou drogado? – Não, não estava. Durante os quinze dias em que ele ficou aqui, só me chamava de escravo. Na frente dos outros não fazia isto. Eu protestava. Ele dizia: se está achando ruim, faço você perder o seu emprego. – Depois, o que aconteceu? – O meu chefe me chamou, após alguns dias, e me disse: amanhã o Paulo Francis vai voltar para Nova York.Vá lá no apartamento dele, a fim de levá-lo até o aeroporto e pegar as suas várias malas de lona. Eu não quis ir e falei pro meu chefe: tô cansado de ser humilhado, não vou, mas ele disse que eu tinha que ir. – E o senhor foi? – Fui. Quando cheguei lá, o Paulo Francis, sentado no sofá, logo me disse: você já chegou, meu escravo? Respondi: é melhor o senhor parar com isto, hoje não estou com a cabeça boa, a minha cuca tá quente. Aí ele gritou… cala a boca, escravo, senão eu faço você perder o seu emprego! – E aí, o que houve? – Aí, doutor, eu perdi a cabeça. Avancei na direção dele, cuspi na sua cara e xinguei o Francis de filho da puta, sem parar. Depois, com a ponta do meu sapato bicudo, arrebentei com pontapés as suas doze malas de lona. Ele gritava, parecia um doido. Antes de ir embora, 27

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cuspi mais uma vez na sua cara, bati a porta do seu apartamento com toda a minha força e ele ficou lá sozinho, berrando como um bezerro desmamado. – O senhor perdeu o emprego de motorista da Folha de S.Paulo? – Não, mas fui transferido para outro setor… Eis aqui a prova indestrutível, meus amigos, do racismo do Paulo Francis, do seu ódio aos pretos, aos nordestinos. Racismo e ódio que o ficcionista Paulo Eduardo Nogueira, num livrinho clorótico, farisaico, repleto de lacunas, não quis ver. Endereço do Ferreirinha, do nordestino Sebastião Ferreira da Silva, prova viva, grande vítima do racismo do ídolo do ficcionista Nogueira: Parque Cecap, Bloco 13, apartamento D21, Condominio Paraná, Guarulhos, São Paulo, CEP: 07190-905

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Como Nelson Hoineff mostrou o Paulo Francis

O documentário Caro Francis, de Nelson Hoineff, apresentado nos cinemas e na televisão, é falso como Judas e o Joaquim Silvério dos Reis, delator dos inconfidentes de Minas Gerais, pois não mostra o racismo, os plágios, as difamações, as canalhices, a ignorância, os infindáveis erros de português de Paulo Francis. Nelson esteve no meu lar com sua equipe de filmagem, gravou durante meia hora o meu depoimento sobre o Francis, mas não teve a honestidade, a imparcialidade de o colocar no filme. Apareço neste de forma rápida. Talvez o Nelson Hoineff tenha ficado com medo de exibir a verdadeira face do plagiário, a fim de não desagradar a Rede Globo, da qual o Francis era comentarista. Coitado do Nelson Hoineff, coitado! Ele emporcalhou a sua carreira de documentarista e se ler esta nota, vai ficar sem jeito, cheio de vergonha...

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1 A vida de Um plagiรกrio

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Por que o Paulo Francis se transformou num ridicularizador e num crítico impiedoso do povo nordestino

Franz Paulo Trannin Heilborn, mais conhecido pelo pseudônimo de Paulo Francis, nasceu em 2 de setembro de 1930, numa casa da rua São Clemente, do bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro. Nasceu perto da embaixada americana e da casa de Rui Barbosa. Este, no futuro, iria ser achincalhado por ele, pois Francis colocou em dúvida a sua honestidade, chamou o grande brasileiro de ladrão. Os pais do menino – Adolpho Luiz Heilborn e Irene Trannin Heilborn – pertenciam à classe média e já tinham um filho de dois anos, o garoto Fred. Desde criança, e sobretudo na adolescência, Paulo Francis foi ficando com a cara do seu avô, Paul Heilborn, um alemão madrugador, que usava gravata-borboleta e era o proprietário de belo sobrado em Copacabana, na rua Toneleros, onde o major-aviador Rubens Vaz, o fiel amigo de Carlos Lacerda, tombou assassinado em 5 de agosto de 1954. Bonitinho, o menino Francis. Louro, de olhos azuis, rosto redondo e uma sensibilidade à flor da pele. Se a mãe ou alguém lhe dissesse uma palavra rude, as lágrimas irrompiam logo dos seus olhos. Temperamental, além disso. Certa vez, como ele próprio contou, desferiu vários pontapés numa senhora, amiga de sua família, pois esta quis boliná-lo... E era lavado por uma preta velha, a Laudina, mas não tolerava que as pessoas o vissem nu. Um dia o seu avô ouviu estas palavras do pirralho, ao encontrá-lo nesse estado, no interior da banheira:

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– Vai à merda, seu... Certa criada, uma babá, introduziu o menino nos labirintos do sexo, na época em que ele tinha cinco anos: “Acontecia ‘qualquer coisa’ dentro de mim, o clímax, nunca me ocorreu analisar. Gostava e pedia mais”. No terreno da casa do avô e num morro próximo, o Paulinho brincava com Fred e o primo Carlito. Punha fogo em formigueiros e às vezes se feria nos bambus pontiagudos. Fred batia no irmão com frequência, porque Francis era o xodó, o filho preferido da dona Irene. Esse menino mimado adorava os soldadinhos de chumbo e o jogo de botão. Fazia “guerras” no soalho. Como ele acentuou, havia tempo de sobra para ser “normal”. Aliás, no seu livro de memórias, O afeto que se encerra, publicado em 1981, revelou isto: masturbava-se nessa época, “tocava punhetinhas matinais, vespertinas e noturnas”. Ou se servia das empregadas domésticas, a fim de praticar o sexo oral. Confissões que nos enviam a Gilberto Freyre. O sociólogo pernambucano, no capítulo IV do segundo volume de Casa-grande & senzala, ao descrever os costumes do nosso passado, estudou de modo minucioso a vida erótica e o “desbragamento sexual do rapaz brasileiro”. Esta última expressão é dele. Pois bem, se Gilberto tivesse lido as Memórias do Francis, encontraria em tal obra os elementos necessários para mostrar, em pleno século XX, a persistência desse “desbragamento sexual”. Bem cedo, ainda de calças curtas, Paulo Francis entregou-se ao álcool. A confissão está na página 16 do livro O afeto que se encerra. Tinha apenas onze anos de idade quando chegou completamente bêbado em sua residência, quase de quatro, depois de ingerir muita cachaça numa festa junina. Ostentando até uma franqueza louvável, ele admitiu que jogava carambola com os malandros cariocas. Passou noites assim. Carambola é a mistura de bilhar e sinuca e é também, como informa o Dicionário da gíria brasileira, de Euclides Carneiro da Silva, a prisão de todos os membros de uma quadrilha. Já na idade de oito anos, Paulo Francis começou “a perceber a ambivalência, a ambiguidade, a falsidade” do que lhe pregavam.Vamos dar a palavra ao desiludido: 34

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“Uma cacetada emocional me levou a essa precocidade crítica. Não importa. Nos tornamos o que somos. Me fechei em mim mesmo, perplexo, rancoroso, engatinhando sarcasmos”. Que “cacetada emocional” teria sido essa, se isto é verdade? Traumas de infância marcam qualquer vida, é impossível negar, mas em relação a esse fato ele silencia, no seu livro de memórias. Portanto, só devemos especular. Foi apenas um simples choque emocional? Um violento trauma sexual? Freud se convenceu de que um trauma, no início da existência, pode ser seguido imediatamente por uma neurose. Chamou a isto de “um esforço de defesa”. Ao discorrer sobre os sintomas da angústia e da inibição, o pai da psicanálise concluiu: em nenhum neurótico adulto da raça branca, pertencente à “classe superior urbana”, em nenhum neurótico desse tipo, deixam de aparecer os sinais de uma neurose adquirida na infância. As crianças de sua família, salientou o nosso biografado, não podiam falar durante as refeições, exceto se fossem solicitadas. Ficavam também de mãos cruzadas, enquanto não comiam. Inquieto, Paulo Francis mexia sem parar nos descansos dos talheres, mas era interrompido pela voz enérgica do avô: – Frantz! Pronúncia alemã. Certa vez, a fim de irritar o moralismo do avô, ele expeliu esta frase no decorrer de um almoço: – A vida é vinho, mulheres e canções. Paul Heilborn contestou: – A vida é sacrifício, trabalho e realização. Indaguemos: a “cacetada emocional” que Francis recebeu veio de um parente ou de uma pessoa na qual ele depositava confiança? Talvez a cacetada tenha partido de um “moralista”. Se isto é verdade, está explicada a virulência dos seus ataques a pessoas honradas e a instituições respeitáveis, como o nosso Poder Judiciário. Golpes dessa natureza geram às vezes o ódio inextinguível, o tenaz desejo de vingança, num espírito apunhalado pela hipocrisia. Esse espírito se rebela contra a aparência de muitas coisas. Curioso, uma das palavras que o Francis mais utiliza nos seus textos é o substantivo filistino, mas sempre com a intenção de se referir aos hipócritas, aos fariseus, e não para designar 35

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o povo bíblico estabelecido no litoral da Palestina, desde o século XII antes de Cristo. Ele lia as histórias em quadrinhos de O Globo Juvenil e gostava de ver os filmes da Metro Goldwyn-Mayer com Esther Williams, Mickey Rooney e Red Skelton. Todavia, aos quatorze anos, depois de ler o romance Crime e castigo, de Dostoiévski, decidiu ser escritor. Então se dedicou à leitura, de maneira voraz e desenfreada. Meio estrábico, começa a usar óculos aos sete anos. Nessa idade, junto do seu irmão Fred, entra como interno num colégio de padres beneditinos, o São Bento, a princípio na ilha de Paquetá e mais tarde na Muda da Tijuca. Sentia-se ridículo de quepe, enfiado num uniforme azul-marinho, onde as dragonas azul-claras reluziam. Os padres, quase todos alemães, eram ultraseveros. Desciam as varas de marmelo nos lombos dos maus alunos, ou os obrigavam a permanecer de joelhos, horas e horas seguidas. Entretanto, jogavam bola com os garotos, e Paulo Francis passou a ajudar os beneditinos na missa. Logo se tornou muito devoto. Pensou até em ser padre, seduzido pela musicalidade do latim e pela imponência da liturgia católica: “Amei a missa tridentina, certo, mas me dava direito a tomar café com o padre assistido, antes dos colegas. A mesa dos padres oferecia pão, café, leite, manteiga, frutas, mel, à vontade. A nossa, média, meia bisnaga, uma fruta. Fé ou fome? Um pouco das duas coisas.” Constantemente, nas reminiscências, Paulo Francis não esconde a sua obsessão pelos assuntos sexuais. Recorda que o irmão o ensinou a evitar os “sodomizadores, mais velhos, de meninos desprevenidos”, os tarados da escola: “Havia muito disso no São Bento, à noite, e também ‘meia’ esfregação mútua, sem penetração. Escapei ileso...” Segundo as informações de Francis, ele fazia pipi na cama e a sua timidez o conduziu à semigagueira, acompanhada de um arranque ao falar, de certa agressividade. Carente de afeto, ficou amigo de outro gago, um colega frágil, sensível, meio trôpego, e como este era sempre hostilizado por um colega maior, de onze anos, Francis o atacou e o fez desabar no solo, batendo-lhe na cabeça. Fred tirou o irmão de cima do colega mais velho, quando a vítima já estava desacordada e vertendo sangue. 36

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A cabeça do filho dos Heilborn começou a crescer de modo desproporcional em relação ao corpo. Ele chegou a admitir que parecia ter “elefantíase na cabeça” e que se assemelhava a “uma caricatura de David Levine”. Saindo bem satisfeito de um longo nado, Francis ouviu a sua mãe dizer isto: – Como ficou feinho, meu filhinho querido... Tais palavras o machucaram, e por esta razão ele colocou a seguinte frase no seu livro O afeto que se encerra: “Morri de ódio, mas já tínhamos ‘rompido’ quatro anos atrás”. Assim como não citou o nome da pessoa que lhe aplicou “uma cacetada emocional”, também não esclareceu por que havia “rompido” com a mãe, a meiga e virtuosa Irene Trannin Heilborn, descendente de franceses. Esta, na companhia do filho, às vezes chorava em silêncio, murmurando: – Como sou infeliz! Por que se sentia infeliz? Francis nunca explicou. Mas se a mãe não tinha equilíbrio emocional, com o filho isto também acontecia, pois ele, aos sete anos, numa reunião de família na casa do avô, de repente saiu na disparada e deu um pulo, caindo sobre o peitoril da janela aberta. E plantou-se ali, a olhar para baixo, numa altura de mais de quinze metros. Um dos membros da família se aproximou e manso, sereno, proferiu algumas palavras suaves: “Não me enganou um minuto. Me deixei trazer à segurança. Não pretendia mesmo pular, que eu saiba. E recusei, correndo da sala, que Irene (a mãe) saciasse o próprio susto me acarinhando. Não admitia que amigos me abraçassem, que pusessem sequer a mão no ombro”. Esses problemas emocionais e psicológicos nos ajudam a compreender melhor a alma de Paulo Francis. Gago na infância, estrábico, reprimido, complexado, traumatizado, parecendo ter “elefantíase na cabeça”, vítima de uma “cacetada emocional”, ele resolveu depois vingar-se do mundo. E como? Vingou-se insultando, achincalhando, zombando da lógica e da verdade. Sempre agiu assim porque nunca fez uma autocrítica e porque nunca ninguém se atreveu a criticá-lo, a mostrar os seus erros gravíssimos, as suas berrantes lacunas culturais, a sua insofismável desonestidade literária. 37

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*** Mais dois fatos contribuíram para encher o seu espírito de ódio e de fúria. O primeiro: a morte de sua mãe, em 13 de setembro de 1944, quando ele tinha quatorze anos. Paulo Francis se abriu nesta confidência: “Minha mãe era minha vida. Escrevo a frase, paro e pasmo... não minto...Vivia grudado nela, enquanto pude e me permitiram...” Irene Trannin Heilborn ficou grávida aos trinta e nove anos de idade, extemporaneamente. Cada vez mais fraca, os seus lençóis se cobriam de sangue, devido a frequentes hemorragias internas. A família, preocupada, chamou um médico famoso da época, o doutor Sílvio Sertan, mas este nunca quis examinar a mãe de Francis. Por comodismo, receitava pelo telefone, embora o estado de Irene fosse piorando. Ao visitar a enferma, a sua irmã Zillah tomou a iniciativa de interná-la na Casa de Saúde São José. Essa tia de Francis descompôs o marido de Irene e lançou, pelo telefone, umas palavras duras no ouvido do invisível doutor Sertan. O médico imprevidente extraiu um grande quisto sebáceo da cintura de Irene. Ela deu à luz um menino, porém acabou morrendo de eclampsia, septicemia e fraqueza geral. Paulo Francis afirmou que a mãe havia falecido por causa da inadvertência do seu pai e da negligência do médico: “Adolpho não sabia o que fez. Sertan não fez o que sabia”. Ódio e mágoa, uma profunda dor, aparecem nestas palavras de Francis: “Sertan posando de esculápio que luta abnegado contra o último suspiro da paciente. Minha catatonia era de tal ordem que nem a excelente ideia de estrangulá-lo, ou arrebentá-lo a pontapés, me passou pela cabeça. Daí em diante há a memória daquele arfar que marca o fim próximo da respiração e o fim que julguei definitivo da minha capacidade de amar qualquer pessoa”. Apesar de carregar tantos defeitos, Paulo Francis amava realmente a sua mãe. Ele a amava de modo tão profundo que talvez pensasse como Miguel de Unamuno, pois este assegurou no seu Romancero del destierro: 38

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“El pobre Adán cayó porque no tuvo madre, no fué niño...” (“O pobre Adão caiu porque não teve mãe, não foi menino...”) Agora, amigo leitor, o segundo fato que fez a alma tortuosa do Francis sangrar, crispar-se de ódio e de fúria: a morte do seu irmão Fred, aos trinta e quatro anos de idade, no ano de 1962. O avião da Cruzeiro do Sul, um Convair, no qual Fred viajava, despencou, incendiou-se, e durante seis dias ele viu o irmão todo estropiado num hospital de São Paulo, a gemer, a sofrer, já cego de um olho, repleto de queimaduras e prestes a perder um braço. Fred não resistiu, devido a uma falha dos rins. Morreu logo após receber um beijo quente, sincero, carinhoso, do mano pouco expansivo. Antes do enterro, sentindo um “desespero homicida”, Paulo Francis chorou de raiva na capela do cemitério de São João Batista. Montenegro Fernandes, tenente da FAB, no laudo pericial das causas do acidente, denunciou a “negligência criminosa” da companhia aérea. E o jornal O Globo publicou o depoimento de um dos sobreviventes da queda do Convair, um húngaro que havia sido piloto de avião na Segunda Guerra Mundial. Quando ocorreu a decolagem do aparelho, esse húngaro pôde ver um dos motores pegar fogo. Avisou a aeromoça, mas ela procurou tranquilizá-lo. Ele insistiu, identificou-se como piloto. Tudo inútil. Paulo Francis narrou estes fatos. Indignado, o inconsolável irmão de Fred desencadeou uma campanha contra a Cruzeiro do Sul, na sua coluna diária do jornal Última Hora do Rio de Janeiro. A coluna, bastante lida, chamava-se “Paulo Francis informa e comenta”. Decorridos alguns anos, o responsável pela coluna explicou: “Minha intenção era destruir a ‘reputação’ da Cruzeiro, processá-la criminalmente e, se possível, levá-la à ruína”. Não realizou o plano, mas no futuro iria desviar o seu ódio, a sua fúria, a sua revolta implacável contra as mortes estúpidas da mãe e do irmão, para o achincalhamento do Poder Judiciário e dos nomes de várias pessoas, como Tônia Carrero, Ruth Escobar, Rui Barbosa, Antônio 39

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Houaiss, Roberto Marinho, Caetano Veloso, José Genoino, Tarso de Castro, Cid Moreira, Caio Túlio Costa, Márcio Moreira Alves, Eduardo Matarazzo Suplicy e Luiz Inácio Lula da Silva...

*** As reações emocionais do Paulo Francis diante de certos acontecimentos são estranhas, diferentes. Nas suas Memórias conta que quando a sua avó morreu, a senhora Alice, ele foi ao cinema Pirajá ver o filme Capitão Blood, onde o astro é Errol Flynn. Nenhuma palavra de tristeza, de pesar, de saudade, nenhuma... Narra o fato como quem registra a comemoração de um feliz acontecimento. Em 1943, estudante do Colégio Santo Inácio, o adolescente Paulo Francis se tornou grande amigo de Marcello Aguinagua, um jovem alto, cabeludo, “o primeiro hippie brasileiro”, e que fora expulso desse colégio porque esfolou a perna de um colega com uma lâmina de barbear. Aliás, o próprio Paulo Francis correu o risco de ser expulso do Santo Inácio no segundo ano, por causa de três suspensões. Graças a Marcello, ele entrou num bordel pela primeira vez e ali os dois beberam muita cerveja e muito Martini seco. Essa mistura explosiva foi incapaz de derrubá-los. O pai do novo amigo era o dono de um sítio enorme, perto da estrada União-Indústria. Ambos ficavam lá, nos verões. Depois de sofrer quatorze tombos, Francis conseguiu montar nos cavalos. E por intermédio dos Aguinaguas conheceu “um jovem esforçadíssimo”, que lutava “contra a pobreza e a falta de vantagens iniciais”. Tal jovem se chamava Ibrahim Sued. Nunca o filho de dona Irene havia visto uma pessoa como o Ibrahim, “alguém tão disposto a encontrar uma posição na vida, à custa de sacrifícios”. Francis e Marcello, segundo a declaração do primeiro, excediam-se na violência e estiveram em todos os prontos-socorros do Rio de Janeiro. O ex-ajudante dos padres beneditinos nas missas dominicais aprendeu onde se deve bater e a esquivar-se dos golpes: era necessário, na aplicação das porradas, ir “ao saco, ao pescoço ou ao rim, aos pontapés, de preferência, e sempre de lado”. Adolpho, após um certo tempo, já não aguentava mais a vagabundagem do filho. Quem conta isto é o próprio Paulo Francis. Então, a 40

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fim de arrumar um emprego, o rapaz se submeteu a um teste de inglês e foi admitido numa companhia aérea, a Panair. Lia as obras de Machado de Assis e uma delas o deslumbrou, o Memorial de Aires. Também começou a percorrer os textos de outros autores, nacionais e estrangeiros. Mas entregou-se a leituras ecléticas, desordenadas, que nada acrescentam à formação cultural de um escritor ou de um jornalista. Ele nunca meteu isto na sua cabeça: leituras sem critério seletivo, caóticas, geram a confusão, erguem babéis no cérebro, são os frouxos alicerces dos conhecimentos pouco seguros. Brutus Pedreira, o criador do grupo teatral Os Comediantes, estimulou o seu interesse pelo teatro. Acolhido por Paschoal Carlos Magno, o jovem Paulo Francis entrou como ator secundário no grupo que o diplomata dirigia, o Teatro do Estudante do Brasil. Obteve os papéis de Engstrand e de frei Lourenço, o primeiro em Os espectros, de Ibsen, e o segundo em Romeu e Julieta, de Shakespeare. Paschoal criou o nome que ele exibe até hoje: Paulo Francis. Seria impronunciável, no seu entender, o nome verdadeiro, Franz Heilborn. Fascinado pelos assuntos sexuais, sob o domínio dessa obsessão, o novo ator iria contar, no futuro, que nessa época a mãe de sua namorada, diante dele, manifestou um certo temor. Por qual motivo? A mãe explicou: Paulo Francis tinha a fama de ser alcoólatra, cocainômano e homossexual... Francis lhe disse que se fosse homossexual, ela nada devia temer, pois a sua filha não mostrava nenhuma inclinação para o lesbianismo... Homem agradável, o homossexual Paschoal Carlos Magno (ele foi amante do ator inglês Michael Redgrave). Com a sua simpatia e o seu doce olhar de odalisca, obtinha hospedagem gratuita de todos os governadores dos estados, nas excursões do Teatro do Estudante.Apoiado pelo presidente Getúlio Vargas, conseguiu dois aviões, a fim de levar o seu grupo a Belém e a Manaus. Na capital do Amazonas, muito bêbado, de pileque, envolto em lençóis, Paulo Francis pôs os pés numa sacada do hotel onde se hospedara e vomitou um discurso de quarenta minutos, abarrotado de asneiras e de disparates. Ouvindo o bestialógico, um fulano berrou: – Tu tá bêbado!

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Homenageados em Manaus, os atores foram recebidos friamente em Fortaleza e na capital de Pernambuco. Suando demais, nu, sem qualquer roupa, atormentado pelo forte calor do Recife, o ator Paulo Francis estava com uns seis colegas, também todos nus, no quarto do seu hotel. De súbito resolveu aparecer assim na janela do quarto, mas um policial viu o “tarado”, correu e lhe deu a ordem de prisão: – Esteje preso! Deixemos o calorento contar o resto da história: “Éramos hóspedes oficiais do Estado. Nem cheguei à delegacia, a prisão sustada pelo governador. Esses pernambucanos, hem, aquela peixeira, hem, cala-te boca”. O episódio foi evocado por Paschoal Carlos Magno numa entrevista publicada na edição do dia 26 de julho de 1973 do Pasquim: “Agora, esse rapaz [o Paulo Francis], ele queria ser o dono da companhia... ele começou a fazer tamanhas complicações que eu disse: ‘Olha, Paulo, você volta de Pernambuco porque eu já não aguento mais’. Não é questão de fofoca, a questão é que ele desequilibrava todo o grupo!” Francis não trouxe boas recordações dessa viagem pelo Norte e pelo Nordeste, como ator do Teatro do Estudante. Iria referir-se, mais tarde, à “desolação de Manaus, Belém, Fortaleza, Natal, João Pessoa, Teresina, São Luís e Recife”. Detestou, nesses lugares, “a subnutrição, a miséria, o atraso, a inconsciência quase absoluta do que é bem-estar, do que é uma sociedade civil, o isolamento cultural acima do crível, o atordoamento do ser humano bestializado por um clima (nos dois sentidos do termo) intolerável, inconcebível...” Sim, detestou tudo isto, e apesar de ter mencionado “o crime secular de uma classe dirigente”, ele fornece aos leitores do seu texto a impressão de que os brasileiros daquelas regiões, os nossos valorosos irmãos nordestinos, são os causadores de tal situação. A rigor, nessa viagem, Paulo Francis não se distinguiu como ator. Paschoal Carlos Magno assegurou, na entrevista aqui citada: “... não podia ser um bom ator [o Francis]. Contudo, insistiu, insistiu, e foi comigo no Teatro do Estudante pelo norte do Brasil acima”. Jaguar, um dos entrevistadores de Paschoal, fez este curto comentário: – Pobre Norte. 42

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De fato o Norte foi uma vítima do canastrão Paulo Francis. E se o acolheu bem, generosamente, não mostrou nenhum entusiasmo pela sua arte cênica. Francis nunca mais se esqueceu disso, sobretudo de haver recebido a ordem de prisão, dada por um policial pernambucano. Desde aí, a partir do seu retorno ao Rio de Janeiro, transformou-se num ridicularizador e num crítico impiedoso do povo nordestino, como iremos ver em outras passagens deste livro.

*** Logo depois de desembarcar no Rio de Janeiro, irritado com a reação do Paschoal Carlos Magno às suas loucuras, aos seus porres monumentais, e com a falta de entusiasmo dos nordestinos pela sua genial arte dramática, Paulo Francis decidiu criar um grupo de atores, uma companhia de teatro. Apresentou esses atores, tirados do Teatro do Estudante, numa casa de espetáculos do bairro de Copacabana. Ele queria prejudicar o Paschoal, vingar-se, porém fracassou, pois a companhia morreu em curto espaço de tempo. Diante do desenhista Ziraldo e de Olga Savary, Sérgio Augusto e Albino Pinheiro, o caricaturista Jaguar declarou a Paschoal Carlos Magno: “– Agora, Paschoal, você fez coisas fantásticas na vida, mas entre outras coisas você teve uma falha terrível: você lançou o Paulo Francis como ator!” Todos caíram na gargalhada, como se esta fosse um apoio alegre e ruidoso às palavras de Jaguar. O Pasquim registrou isto, na sua edição do dia 26 de julho de 1973. Francis jamais quis aceitar o fato de ser um canastrão. Lutou desesperadamente para se tornar um bom ator. Abrindo a alma, escreveu o seguinte: “... há poucas sensações tão intensas quanto aparecer num palco em face de centenas de pessoas. É uma grande suruba emocional”. Vemos aí nesta última frase a sua obsessão pelas coisas sexuais, pois como nos ensina Mário Souto Maior, no Dicionário do palavrão e termos afins, a “suruba” é a orgia sexual com mais de duas pessoas. Graças à sua esperteza, à sua habilidade na arte de obter apoio e adesões, Francis foi o ator mais votado, em 1952, para o Prêmio Revelação da Crítica. 43

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O nosso canastrão talvez até quisesse superar o seu xará, o Paulo Autran, pois este, em 1949, já havia estreado com grande sucesso na peça Um deus dormiu lá em casa, de Guilherme Figueiredo. Aliás, é de 1952 outra peça de Guilherme, A raposa e as uvas, em três atos. Devorado pela inveja, Paulo Francis alardeou o seu desprezo pelo teatrólogo nascido em Campinas, quando escreveu estas palavras no ano de 1981: “... os ‘velhos’ estavam em retirada, o que incluía autores do tipo Pongetti e Guilherme Figueiredo, de que nunca mais se ouviu falar desde então”. Texto mal escrito. Este “de que nunca mais se ouviu falar” é horrível e contém um erro de português. Além disso, as peças de Guilherme continuam vivas, são encenadas em vários países, até na Rússia, em Israel, no Japão, na China, na Áustria, nos Estados Unidos, mas o ator Paulo Francis está bem morto e já adquiriu o título de Defunto Vitalício do Teatro Brasileiro. Na ânsia de se tornar um ator notável, ele foi a Nova York, a Morningside Heights, com o objetivo de ingressar num curso de especialização teatral da Universidade de Columbia. Lá ouviu as preleções do crítico Eric Bentley, o introdutor dos métodos de Bertold Brecht no teatro anglo-americano. E nessa época devorou os textos de Karl Marx, porém não tardaria a se considerar um trotskista, de modo sincero ou por exibicionismo, teatralidade. Voltando ao Brasil, como nenhum diretor de teatro ousou contratá-lo, a fim de aparecer nas peças apresentadas nos palcos de São Paulo e do Rio de Janeiro, o ator Paulo Francis tomou uma decisão, para se vingar dessa indiferença: metamorfoseou-se num feroz crítico de teatro da Revista da Semana (1956-1957), do Diário Carioca (1959-1962), da Última Hora (no mesmo período) e também da revista Senhor (idem). Tentou ser original, inconfundível. Nos seus textos avinagrados da Revista da Semana, por exemplo, procurava chocar o leitor com afirmativas escandalosas: “... a imoralidade, grosseria ou não, é matéria cênica legítima e tradicional... Os instintos sexuais necessitam, evidentemente, de vazão, seja como for”. Ator fracassado, e com o tenaz recalque dos canastrões invejosos, ele se vingava metendo o pau no desempenho dos bons atores. Eis um 44

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trecho da sua crítica sobre a peça Gata em telhado de zinco quente, de Tennessee Williams: “Walmor Chagas (Brick) não pontua suas falas no primeiro ato e, frequentemente, mostra-se demasiado indiferente à presença de seus companheiros”. Porretada desferida na edição do dia 25 de maio de 1957 da Revista da Semana. Um ataque estúpido contra o ator gaúcho que desde 1955 brilhava no TBC, no Teatro Brasileiro de Comédia, fundado por Franco Zampari. Segundo me informou a Cacilda Becker (a Maggie da peça de Tennessee Williams), o crítico Paulo Francis mentiu, inventou isto com o propósito de exibir a sua “competência”, pois o desempenho do Walmor foi admirável, correto, perfeito, e recebeu os aplausos unânimes do público e da crítica honesta... A própria Cacilda, no entanto, não escapou das mordidas do Francis, de uma censura injusta, perversa, oriunda de frustrações pessoais. Leia, amigo leitor, estas linhas do canastrão metamorfoseado em crítico teatral: “Possui falhas [Cacilda Becker] como atriz e graves: 1) sua voz é monocórdica e assume frequentemente uma cadência radiofônica; 2) fala com um sotaque ítalo-paulista, que depois de ouvido por algum tempo, torna-se soporífero”. Vivia repetindo o advérbio frequentemente, como certos carnavalescos batem sempre no mesmo pandeiro. Este latido em cima da Cacilda está na Revista da Semana, na sua edição do dia 11 de maio de 1957. Outras atrizes, menos famosas, também eram atingidas pelas dentadas do raivoso canastrão. No Diário Carioca do dia 14 de abril de 1963, num comentário intitulado “Cleópatra e Chica”, o ex-ator aplicou esta mordida: “O Teatro Nacional de Comédia [sic] prepara um espetáculo que dará oportunidade a Beatriz Veiga de maltratar conhecido dramaturgo alemão. Cito apenas o que é essencial ao acontecimento”. Agindo dessa maneira, Paulo Francis extravasava o seu ódio, a sua revolta. Como não conseguiu ser um bom ator, punia os que eram bons atores. E foi se excedendo, exagerando cada vez mais. Certo dia cometeu um erro fatal, que iria lhe custar um preço muito caro, pois acabou sendo agredido e humilhado diante de dezenas de pessoas. 45

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Narro o episódio em outro capítulo deste livro, baseado numa informação da empresária Ruth Escobar. Mas vamos resumir o fato: Francis, num dos seus textos repletos de veneno, de bílis malcheirosa, fez um ataque pessoal a Tônia Carrero, difamou-a, e Adolfo Celi, o companheiro da atriz, por causa do insulto, arremessou um vigoroso bofetão na cara do difamador. Isto aconteceu no palco do Teatro Aurimar Rocha, em frente de uma plateia lotada. Cacilda Becker me disse, na época desse episódio, que o Paulo Autran, grande amigo da Tônia Carrero, quando viu o Paulo Francis na entrada de um teatro, aproximou-se do difamador e escarrou na sua cara. Francis não reagiu, como não havia reagido na outra vez, após ser esbofeteado pelo Adolfo Celi, mas duas semanas depois, ao avistar o Paulo Autran a uma distância de vinte metros, gritou para ele: – Paulo Autran, olhe aqui! O ator olhou e aí, solenemente – protegido por aquela cautelosa distância – o Paulo Francis jogou uma cusparada no chão...

*** Há um episódio da vida do crítico de teatro Paulo Francis que merece ser lembrado. Em 1957, no ano do início da construção de Brasília e do lançamento do primeiro satélite fabricado pelo homem, o Sputnik I, da União Soviética, os editores Diaulas Riedel e Mário Fittipaldi, os escritores Edgar Cavalheiro e Mário da Silva Brito, estavam com o editor Ênio Silveira na sala deste, conversando. De repente entrou na sala o Guilherme Figueiredo, grande amigo do Ênio, que de modo exaltado indagou: – Quem é esse... (palavrão) do Paulo Francis? O Ênio quis saber: – Por que você está tão irritado, Guilherme? Cheio de fúria, o talentoso teatrólogo exibiu um exemplar do Diário Carioca, a edição do dia 16 de agosto de 1957, onde havia uma crítica ofensiva, injusta e estúpida do Francis à sua peça Um Deus dormiu lá em casa. Eis um trecho dessa crítica: “Guilherme Figueiredo tem pretensões a crítico da sociedade, mas não passa de cronista social, expõe as coisas sem ir além de sua superfície, sem compreendê-las inteiramente. Ele quer ser o Proust de Copacabana, 46

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mas deve contentar-se com menos, com o título de filho de Ibrahim Sued com Antônio Maria: fica sendo assim um bobo da corte...” Francis vivia dizendo que o dramaturgo Guilherme Figueiredo já estava morto, porém ele não sabia disso, e que analisá-lo era como dissecar um cadáver, equivalia a um exercício de mera curiosidade científica. Por ser também amigo do Paulo Francis, o editor Ênio Silveira tentou defender o agressor: – Calma, Guilherme, calma, o Paulo Francis é um sujeito intelectualmente honesto... Ainda furibundo, o teatrólogo rugiu: – É, mas com toda a honestidade dele, eu vou lhe quebrar a cara! Todos tentaram dissuadi-lo: – Você não deve fazer isto! – Dê ao Francis o seu desprezo, nada mais! O teatrólogo continuou a rugir: – Vou lhe quebrar a cara! Vou arrebentar as suas fuças! Guilherme permaneceu algum tempo na sala e depois que ele saiu o Ênio disse para o Diaulas Riedel, o Mário Fittipaldi, o Edgar Cavalheiro e o Mário da Silva Brito: – Vocês estejam certos de uma coisa: o Guilherme Figueiredo vai cumprir a sua promessa. Eu o conheço muito bem. Algum tempo depois, o Paulo Francis se encontrava num restaurante do Rio de Janeiro, almoçando com vários amigos. Então, nesse momento, o Guilherme Figueiredo entrou no restaurante. Um amigo do teatrólogo, ao vê-lo, fez esta pergunta: – Você não anda à procura do Paulo Francis? Ele respondeu: – Sim, por quê? – O Francis está aqui neste restaurante, lá no fundo. – Ah, é? – É. De maneira firme, com passos rápidos, compassados, vigorosos, o Guilherme Figueiredo foi até a mesa do Francis e de cara fechada perguntou a este: – O senhor é o Paulo Francis? 47

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– Sou. – Eu sou o Guilherme Figueiredo – declarou imediatamente o teatrólogo, aplicando no difamador um épico e estrondoso bofetão. Como um edifício alto que houvesse recebido nos seus alicerces a explosão de uma poderosa carga de dinamite, o Paulo Francis desabou em cima dos pratos, dos copos, dos talheres, das travessas e a sua cara ficou toda lambuzada de arroz, de feijão, de farofa, de tomates amassados. Nem a Queda da Bastilha provocou tanto barulho. Pois é, e o George Moura ainda teve a coragem de produzir uma dissertação de mestrado sobre a crítica teatral do Paulo Francis no Diário Carioca. Texto que depois se transformou num livro, aliás bem feito, bem escrito, intitulado Paulo Francis – O soldado fanfarrão (Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 1996). Mas o que é isto, George Moura, o que é isto? Você acha que os insultos, as infâmias e os ataques pessoais do Francis eram críticas de peças teatrais? Você pensa que os dois bofetões na cara do achincalhador – o do Adolfo Celi e o do Guilherme Figueiredo – foram aplicados gratuitamente, sem lógica, sem razões que os justificassem, apenas por que os dois esbofeteadores tinham maus instintos? Você pensa assim, George Moura, pensa?

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