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carta aos professores

prezados professores,

este manual, criado especialmente para vocês, tem a intenção de discutir e apresentar as atividades relacionadas à leitura do romance O Vestido, de Carlos Herculano lopes, publicado pela editora geração. seu objetivo primordial é levar até vocês informações sobre a obra e uma colaboração sobre formas de explorá-la com seus alunos, na nossa opinião, sobretudo, do último ano do ensino médio. tanto eles quanto vocês, mesmo fora da área de língua portuguesa, já terão recebido os exemplares do livro, possivelmente até os vídeos, e agora este manual, a partir do qual esperamos oferecer novas experiências sobre esta obra e para além dela, de modo que seus alunos estejam cada vez mais familiarizados com a nossa literatura contemporânea e mais interessados na leitura literária.

se já leram o livro, possivelmente também viram, entre os paratextos, um estudo apresentado ao estudante, com o objetivo de ajudá-lo em uma segunda leitura desta obra, cuja história, plantada numa pequena cidade mineira nos meados do século XX, tem como tema central a reconstrução familiar a partir do afeto.

observamos, no texto referido, o fato de que, em estudos de arte, análises e discussões são feitas de um ponto de vista, mas que as obras de arte permitem, sempre, ângulos diferentes e fecundos de interpretação, mesmo porque elas são inesgotáveis: sempre se podem descobrir nelas cantos novos e inexplorados. dessa forma, mesmo adotando — como é inevitável — um ponto de vista, estamos abrindo possibilidades para outras formas de vê-la, e não imaginando que só há uma análise possível dela. o próprio edital do meC, propondo o aproveitamento da obra literária por vários professores da escola, além dos de língua portuguesa, sugere essa possibilidade, criada certamente pelas próprias características da obra de arte: o uso da conotação e sua consequente plurissignificação.

tais enfoques, distintos, podem e devem ser, segundo entendemos, complementares, e não excludentes. eles não são um problema das manifestações artísticas: são a sua maior riqueza. podemos dizer que a obra de arte é, mesmo sem saber, democrática e generosa: aceita e aplaude as suas diferentes leituras. por isso mesmo, Umberto eco, um de nossos maiores estudiosos e escritores, fala em “obra aberta”, com muitas entradas e muitas saídas, por onde entrem e saiam seus fruidores, conforme sua história de vida, seu envolvimento com artes e com a literatura.

dada essa complementaridade de enfoques, é fundamental que um bom planejamento da escola cuide da leitura não só do romance de que vamos tratar, mas também deste

sumário

o vestido

manual, de modo que os professores estejam à vontade quanto à organização dessa nova experiência de exploração da obra: que áreas a trabalharão, em que sequência, ou se uma só se incumbirá dela. desse modo se garantirá o melhor aproveitamento da obra pela turma, com muitos avanços e sem maiores redundâncias.

Nesse sentido, sem conhecer os docentes nem o planejamento escolar, nas sugestões a cada grupo de professores, seguiremos a própria organização indicada no mesmo edital do meC/fNde, privilegiando, e não impedindo, o movimento dos professores por diferentes áreas: não podemos esquecer que a literatura, como todas as artes, abre possibilidades, e não as fecha.

lembremos, já nesta conversa inicial, alguns pontos tratados no estudo da obra proposto aos alunos.

No reiterado convite ao estudante para a segunda leitura da obra, nossa intenção ia além de apresentar as razões e vantagens dela. pretendíamos, sobretudo, garantir a eles o direito que todo leitor tem de primeira leitura “independente”, sem intermediários, um encontro aberto com o inesperado, assegurado aos próprios teóricos, especialistas e críticos: o diálogo desarmado entre autor e leitor.

muitas vezes, na ânsia de ganhar o aluno para determinada leitura, falamos dela muito mais do que é necessário para motivá-lo. ao contrário, apresentar informações indispensáveis e criar dúvidas e desafios em torno da leitura funcionará sempre como motivação, mas nunca como a “sua” leitura da obra. têm toda razão os teóricos que insistem na posição de que, nesse primeiro encontro, é fundamental que chegue ao fruidor, não a voz de outros (nem mesmo a do professor), mas a do criador. essa voz pode soar difícil, agradável, questionável, mas a “tradução” ou análise de qualquer outra dificultará as descobertas, questionamentos e opiniões pessoais do seu novo leitor.

Como veremos, a segunda leitura não retifica a primeira: abre horizontes, ilumina ângulos, mas, em princípio, nem sempre muda um dado fundamental: o gostar ou não da obra, elegê-la como uma de suas leituras de cabeceira.

por isso, é tão fundamental a segunda leitura, propiciada quase exclusivamente pela escola, que tem (ou deveria ter) não somente o objetivo de desenvolver em cada aluno o gosto e a procura espontânea da literatura, mas também o de tornar a leitura do aluno mais qualificada, propiciando o desenvolvimento de seu senso estético, seu espírito crítico, seu imaginário e sua criatividade. É uma das nossas oportunidades de ajudá-lo na percepção mais arguta e sensível não apenas do livro e da arte, mas também do mundo e da vida.

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o vestido

No grande leque de opções oferecidas neste manual, para essa segunda leitura e os desdobramentos dela, a experiência de vocês e o conhecimento dos alunos é que vão poder definir aquelas que parecem mais adequadas à sua turma do momento, de modo a ajudar cada um a manter ou descobrir o prazer da leitura literária.

sabemos, como vocês, que essa não é, em geral, uma tarefa fácil. e, como em todo o processo educacional, as mudanças demoram a se evidenciar. mas nós, professores, temos paciência. e sabemos esperar e conviver com as situações difíceis (e driblá-las) de alunos que não gostam de determinada obra lida, ou de literatura, preferindo outras experiências artísticas; ou de alunos que, pela história de vida, leem pouco, ou leem mal: vamos tentando novas estratégias, livros novos, experiências desafiadoras. sabemos perfeitamente que, se alunos têm o direito de não gostar de ler, nós temos a obrigação de acenar-lhes com a literatura, de achar que será possível, sempre, que eles descubram a arte, autores e obras que valham a pena. e — felizmente! — isso acontece mais do que supomos: muitos depoimentos e pesquisas mostram que a arte — especialmente, a literatura — pode ser descoberta tardiamente, por pessoas inimagináveis, por razões impensáveis. afinal, nós todos, humanos, estamos sempre procurando a transcendência. Como disse/diz fernando pessoa: a vida não basta — precisamos saber mais do que somos, onde estamos, para onde vamos, o que nos espera…

desejamos a seus alunos, e também a vocês, que a leitura e as atividades baseadas na obra O Vestido proporcionem momentos de prazer e do melhor encontro com a arte.

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equipe técnica da editora Geração