Gazeta da Zona Leste - 1976

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GAZETA DA ZONA LESTE

DESDE 1978 nº 1.976 SÃO PAULO, 7 DE DEZEMBRO DE 2025

MEIO AMBIENTE

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

Zona Leste ganha árvores frutíferas e medicinais

gazetavirtual.com.br

VITRINE

Camila Márdila ressalta a sororidade como Lulu Prado em ‘Ângela Diniz’

Em “Ângela Diniz: Assassinada e Condenada”, minissérie da HBO Max, Camila Márdila interpreta Lulu Prado, uma das mulheres que cercam a protagonista vivida por Marjorie Estiano em sua breve e intensa passagem pelo Rio de Janeiro dos anos 1970. Lulu funciona como lente e afeto: uma amiga encantada pela luminosidade de Ângela e, ao mesmo tempo, testemunha direta do choque entre uma mulher livre e uma sociedade disposta a puni-la por isso. > VEJA + PÁGINA 7

Espetáculo de Natal do Arsenal da Esperança

A Prefeitura de São Paulo implanta minifl orestas nas UBSs da cidade. A Zona Leste é contemplada em várias unidades com o plantio de árvores frutíferas e ervas medicinais. > VEJA + PÁGINA 4

O espetáculo de Natal do Arsenal da Esperança, encenado por voluntários e ex-acolhidos da casa, artistas e músicos que acontecerá nos próximos dias 18, 19 e 20, às 20 horas, na sede da instituição, na Mooca, tem entrada solidária. > VEJA + PÁGINA 3

DIVULGAÇÃO

editorialeditorial

Nossos inimigos não são quem imaginamos

Eu acredito na humanidade. Com todo egoísmo e materialismo em que a consciência humana ainda está presa, precisamos admitir que estamos evoluindo. Já tivemos várias engenhocas de torturas, já queimamos pessoas em fogueiras, já nos escravizamos, dizimamos populações nativas. Ainda somos cruéis, mas o nível de crueldade vem diminuindo. Já não toleramos mais discriminações. A quantidade de organizações humanitárias aumentou consideravelmente nas últimas décadas. Em meio a uma transição de um mundo analógico para um digital, as gerações não conseguem se entender. Pais não estão sabendo lidar com os filhos. Falamos mal das gerações novas, mas esquecemos que são frutos da anterior. A saúde mental vai de mal a pior. Colocamos a culpa no estresse do trabalho. Mas por que crianças estão tendo os mesmos sintomas, sem trabalhar? Os inimigos nós já elegemos, o carbono, os bilionários e as pessoas de esquerda ou de direita, sempre quem pensa diferente de nós. Será que eles são realmente inimigos ou somente fruto da nossa própria forma de enxergar a vida? Queremos diminuir a emissão de carbono, mas não aceitamos reavaliar o nosso consumo pessoal. Compramos o que desejamos e não o que precisamos. Falamos mal dos bilionários, mas esperamos que a economia do nosso país cresça e ofereça melhores oportunidades, esquecendo que são eles que têm talento para fazer negócios prosperarem.

COMPORTAMENTO

O melhor perfil é você: siga e curta

Sem medo de ser feliz ou de se perder no caminho. Seguir, curtir e acompanhar todos os passos deste perfil sempre foi, é e será a experiência mais incrível que se possa ter: você.

Você ser original, autêntico e único é o perfil da hora, o que tem o poder de lhe dar as melhores dicas a todo instante. É certo que seguir a si mesmo é um grande desafio, mas também é verdade que quanto mais se conhece e curte, mais iluminado este caminho fica.

Como numa aventura cibernética, imagine-se entrando num labirinto em direção a si mesmo: se você for persistente e seguir adiante, tenha certeza, vai curtir de verdade e se maravilhar cada vez mais. E o inusitado de tudo isso é que a aventura acontece “dentro”, em nosso interior, e o que se passa “fora”, no mundo a nossa volta, representa indicadores de que se está errando ou acertando neste processo que também podemos chamar de jogo da vida.

O que significa de fato seguir a nós mesmos e o que nos impede de ir adiante, já que a proposta é de que seja a maior e melhor das aventuras? Aí é que se justifica comparar a experiência a um la-

birinto. Porque, afinal, devemos, antes de tudo, responder com sinceridade se nos conhecemos de fato. Sem nos conhecermos, sem identificar quais são as nossas qualidades – forças ou fraquezas que possam nos impactar –, como poderemos saber se estamos avançando ou andando em círculos no processo? Mas como podemos nos conhecer? Prestando atenção a nós mesmos, colocando-nos como o perfil a ser seguido, curtido – e até “descurtido” quando não aprovamos o nosso modo de ser. É o que muitos chamam de ouvir a voz interior, aquela que está afinada com os nossos valores, princípios e a que poderá nos levar ao encontro do nosso “Eu Ideal”.

Voltando à imaginação de uma aventura cibernética, pense na recompensa da chegada. De quão maravilhoso deve ser o pódio dos que chegaram lá, daqueles que se ouviram de fato, apesar de tantos ruídos exteriores: nossa rotina diária com seus afazeres, compromissos, divisões de papéis – como profissionais, mães ou pais – e demais desafios sociais.

Desperte para a verdade de que a completude está dentro de cada um de nós. Só você tem o poder de dar sentido à vida e de fazer de si mesmo o único e melhor influenciador.

Clélia Gorski é escritora, jornalista e publicitária

Cannabis medicinal: um passo que pode mudar o setor

Arecente autorização da Anvisa para que a Embrapa pesquise o cultivo de cannabis sativa ocorre em um momento de expansão do setor no Brasil. Segundo o anuário da consultoria Kaya Mind, o mercado nacional deve fechar 2025 com uma movimentação de R$ 971 milhões, enquanto o número de pacientes em tratamento com medicamentos à base de cannabis saltou para 672 mil. Esses dados mostram que o país não pode mais tratar a cannabis medicinal como um tema periférico.

Permitir que uma instituição pública com o prestígio da Embrapa conduza pesquisas estruturadas representa um avanço científico e regulatório.

Do ponto de vista prático, essa pesquisa abre portas para resultados que podem transformar completamente o setor. A Embrapa poderá identificar cultivares mais estáveis e produtivas, desenvolver técnicas de plantio que reduzam custos, aprimorar formas de controle de qualidade e padronização, além de gerar dados robustos sobre segurança e eficácia dos compostos medicinais. Isso também cria oportunidades para que pequenas empresas, laboratórios e polos tecnológicos se conectem a uma cadeia produtiva

nacional, incentivando inovação e competitividade.

A autorização também traz um impacto simbólico importante: reforça que a cannabis medicinal é, de fato, um tema de saúde pública. O respaldo de órgãos como a Anvisa e a Embrapa ajuda a reduzir o estigma que ainda envolve o assunto e oferece mais segurança a pacientes, profissionais e investidores.

Com pesquisas avançadas, o Brasil poderá ampliar o conhecimento sobre a planta, descobrir novas aplicações terapêuticas e desenvolver produtos mais acessíveis. Hoje, boa parte dos tratamentos depende de importações, o que encarece o custo final para as famílias. Um ecossistema produtivo nacional, baseado em ciência e regulação eficiente, pode reduzir preços e democratizar o acesso.

A decisão da Anvisa não encerra o debate — ela abre o caminho para uma nova fase. Se conduzido com rigor e transparência, esse movimento permitirá que o país avance para modelos de cultivo controlado, fortaleça sua indústria, gere inovação e finalmente coloque a cannabis medicinal em um lugar estratégico dentro da bioeconomia brasileira. É um passo que reconhece o presente e projeta um futuro mais justo, científico e acessível para todos.

Michele Farran é empresária e fundadora da Cannabis Company

Para não virar piada de salão

Ofuncionário nem costumava beber, mas, como estava sendo servido pelo chefe, achou indelicado recusar. Resultado: ficou embriagado e decidiu explicar tintim por tintim o que, na sua opinião, o outro deveria mudar na administração do setor. Não, ele não foi demitido. Mas a historinha virou folclore e é lembrada até hoje na empresa. Essa é só uma das mancadas que o profissional pode dar se não tiver um mínimo de preocupação com a postura nas festas de

fim de ano Que sempre rendem mexericos. De fato, não existem regras nem manual de boas maneiras. Na opinião de alguns dirigentes de companhias, ninguém repara num ou noutro excesso que os funcionários cometem na hora da festa. Afinal, se a proposta é fugir da rotina estressante e integrar a equipe, todos devem ficar o mais à vontade possível. Para outros executivos, entretanto, o momento é estratégico e algumas regrinhas podem ser seguidas.

Jaime Braz Romano
Redação: Antonia Cristina Romano
Revisão: Fabiana Nascimento
Mauro Tadeu Silva
André Neves é economista e empresário

ARSENAL DA ESPERANÇA

Espetáculo de Natal tem entrada solidária

Oespetáculo de Natal do Arsenal da Esperança, encenado por voluntários e ex-acolhidos da casa, artistas e músicos chega a sua terceira edição. Neste ano, serão três apresentações nos próximos dias 18, 19 e 20, às 20 horas, na sede da instituição, na Mooca.

Aberto ao público, a entrada solidária será mediante doação de 2 kg de alimentos não perecíveis.

FUTURO MELHOR

O espetáculo “Zé Mulão e a Esperança de Natal” é um projeto de iniciativa do Arsenal da Esperança que busca resgatar e despertar a esperança no coração das pessoas para acreditarem em um futuro melhor.

O momento também proporciona uma confraternização entre os assistidos pela casa, que acolhe por dia 1.200 homens em vulnerabilidade social.

De acordo com Padre Simone, a casa acolhe pessoas de qualquer origem, religião, cultura e situa-

ção social e, por isso, é uma ponte entre mundos aparentemente diferentes e distantes entre si. Em 2026, a instituição completará 30 anos e, neste período, já acolheu mais de 78 mil pessoas.

Há três anos o projeto natalino é dirigido e tem roteiro assinado pelo artista Geraldo Lacerdine.

“Acredito que a arte tem um potencial de transformação e dirigir e escrever um espetáculo como esse, é uma maneira de trazer à tona temas importantes da

O projeto chega a 3ª edição e será apresentado nos dias 18, 19 e 20 de dezembro na sede do Arsenal da Esperança, na Mooca

atualidade e, ao mesmo tempo, refletir sobre esses temas a partir do teatro e da música”, afirma Lacerdine.

“Construir esse espetáculo dentro de uma instituição como o Arsenal da Esperança é mostrar possibilidades incríveis de trabalho com a arte, que resgata e transforma as pessoas de dentro para

fora”, completa o artista, que interpreta o contador de histórias.

O ESPETÁCULO

O enredo conta a história de Zé Mulão que perdeu a esperança na humanidade e vive pelas ruas puxando uma carroça com badulaques que foi acumulando ao longo da vida.

Apesar de tudo, é um homem de bem, disposto

a ajudar as pessoas que encontra pelo caminho. SERVIÇO Espetáculo: “Zé Mulão e a Esperança de Natal”. Quando: 18, 19 e 20 de dezembro, às 20 horas. Classificação livre. Local: Arsenal da Esperança, Rua Dr. Almeida Lima, 900, Mooca. Entrada: 2kg de alimentos não perecíveis.

DA REDAÇÃO

ZONA LESTE

UBSs da capital ganham miniflorestas que contribuem com o meio ambiente e a saúde

APrefeitura de São Paulo acaba de implantar miniflorestas nas UBSs da cidade. Com árvores frutíferas, espécies da Mata Atlântica e ervas usadas em chás e remédios caseiros, as áreas verdes vão contribuir com o meio ambiente e a saúde, regenerando o ecossistema local e aproximando a natureza do cuidado.

Na UBS Cidade Nova São Miguel, localizada na Zona Leste, o cenário começou a ser transformado em outubro, com o plantio de cerca de 150 árvores de 40 espécies em uma área de 300 metros quadrados.

Ali foram plantados pés de acerola, figo, goiaba, moringa, romã, fruto-do-sabiá, urucum, mulungu, ingá, aroeira-pimenteira, jenipapo, cabeludinha, limão-cravo e cambuci, além de babosa, boldo, capim-limão, capuchinha, carqueja, mirra, manjericão, lavanda, melissa, erva-cidreira, hortelã, erva-baleeira e arnica.

BEM-ESTAR

A gestora da UBS, Ana Claudia Pinheiro Padilha, destaca que áreas verdes contribuem para o bem-estar e a saúde mental de quem as utiliza. “Isso fortalece os vínculos entre unidade, profissionais e comunidade, ampliando a visão de saúde como resultado da interação entre meio ambiente, qualidade de vida e participação social.”

Unidade da Zona Leste foi a segunda a receber o plantio de árvores frutíferas e ervas medicinais

Paciente da unidade há oito anos, a babá Mariana Belmonte participou do plantio de outubro com um grupo de crianças.

“Vim porque queria tirar meus filhos de casa e também porque plantar é uma delícia”, conta ela, que recordou os sabores da infância ao ver tantas mudas de árvores frutíferas. “Lembrei da casa da minha mãe, onde tinha amora, manga, limão, goiaba...”. Já a agente de desenvolvimento socioambiental Elma Passos, que trabalha com compostagem, disse que ficou com água na boca ao pensar nas jabuticabas que poderá colher no futuro.

“É uma iniciativa muito interessante”, elogiou. A iniciativa da miniflo-

resta é fruto da parceria entre o Programa Ambientes Verdes e Saudáveis (Pavs), da Secretaria Municipal da Saúde, e a ONG Formigas-de-Embaúba — que, apenas em 2024, já plantou quase 2 mil árvores de 134 espécies junto com mais de 8 mil estudantes da rede municipal, tornando as escolas espaços mais verdes e vivos, onde o aprendizado acontece em contato direto com a natureza.

PULMÃO VERDE

Segundo Almir Amorim, gestor local do Pavs, a médio prazo, além de colaborar para o meio ambiente, a minifloresta da UBS Cidade Nova São Miguel funcionará como espaço terapêutico, de educação em saúde, de convivência comuni-

tária e até de espera humanizada para consultas.

“No longo prazo, também esperamos a integração da minifloresta

com a área de mata ciliar do córrego nos fundos da UBS, formando um corredor verde”, acrescenta Almir, prevendo a conso-

lidação do espaço como um verdadeiro “pulmão verde comunitário”.

“Ter mais árvores significa menos calor, mais saúde e uma vida mais sustentável para a comunidade”, ressalta o coordenador do Pavs, Patrício Gomes Moreira, lembrando que a iniciativa se soma ao Avança Saúde Ambiental, realizado em parceria com a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, que desde abril vem promovendo o plantio de árvores em espaços públicos e, até setembro, já havia alcançado 4.825 mudas. “Assim, ao cumprir o eixo do Pavs voltado à biodiversidade e arborização, colaboramos com a meta da Prefeitura de São Paulo de plantar 120 mil árvores até o fim deste ano.”

Divulgação
Para a gestora da UBS, áreas verdes contribuem para o bem-estar e a saúde mental
Divulgação

Feira de Natal para as festividades do fim de ano

Dezembro chega com o clima do Natal por toda a cidade. É nessa época que as pessoas buscam por opções para a ceia de Natal e Ano-Novo, além de produtos para a decoração e dos tradicionais presentes para os familiares e amigos secretos. A proposta da Feira Vegana de Natal JMA é oferecer uma reflexão sobre como manter as tradições desta época do ano com mais conscientização ambiental e, principalmente, respeito aos direitos dos animais à vida. Para isso, promove dois eventos, no próximo dia 14, na Liberdade, e no dia 21 de dezembro, Vila Mariana, das 12 às 19 horas, com entrada gratuita. A feira é organizada, há 11

anos, pelo Encontro Vegano JMA, com a valorização dos pequenos empreendedores veganos e, neste ano, traz opções veganas de chester, tender, lombo, peito de peru recheado, presunto recheado, queijos, panetones, chocotones, bolos natalinos, doces, salgados, sobremesas, brownies, biscoitos, refrigerantes orgânicos, sucos, entre outras delícias sem origem animal.

Nos setores de presentes, o evento incentiva a moda circular com um brechó, além de uma variedade ecológica com camisetas, cosméticos orgânicos, artesanatos, ecojoias com capsulas de café, itens de decoração, óleos essenciais, calçados, itens para cães e gatos. Para a composição das sa-

ladas de Natal, receitas caseiras e criativas, ainda haverá uma feira orgânica com frutas, verduras e legumes na Vila Mariana. Os interessados podem encomendar quitutes e presentes com os expositores para as festividades de fim de ano.

SERVIÇO

1) Feira Vegana de Natal - Edição na Liberdade

Quando: 14/12/2025 (domingo); das 12 às 19 horas; Rua Galvão Bueno, 596 , Liberdade, na Associação Brasileira de Cultura Japonesa.

2) Feira Vegana de Natal - Edição na Vila Mariana Quando: 21/12/2025 (domingo); das 12 às 19 horas; Rua Joaquim Távora, 605, Vila Mariana.

Divulgação
A Feira Vegana de Natal acontece em dose dupla com uma edição na Liberdade e outra na Vila Mariana

“Matilde”, uma comédia dedicada a Paulo Gustavo

Uma história que começou há 20 anos, quando Paulo Gustavo, na época estudante de Artes Cênicas da CAL (Casa das Artes de Laranjeiras), convidou Malu Valle para dirigir o espetáculo “Infrautas”, um compilado de esquetes cômicas que marcou o início da carreira dele e de seu colega de cena Fábio Porchat, ganha em 2025 um novo e especial desfecho. O projeto que impulsionou a carreira de Paulo, consolidando uma amizade profunda entre ele e Malu, em 2015 ganhou novas proporções com a ideia do espetáculo “Matilde”, quando o ator quis inverter os papeis e convidou Malu para estar em cena, sob sua direção.

“Matilde” apresenta a história de uma mulher de 60 anos, aposentada, que vê sua rotina pacata em Copacabana ser transformada ao alugar um quarto para Jonas (Ivan Mendes), um ator de 36 anos em busca de sua grande oportunidade. Com humor e sen- Malu Valle e Ivan Mendes

sibilidade, o texto de Julia Spadaccini aborda temas como envelhecimento, solidão, relações intergeracionais e os desafios da sociedade patriarcal.

O espetáculo investe na comédia para explorar os medos e anseios de Matilde e Jonas, personagens que se provocam, se desafiam e se transformam ao longo da narrativa, em reflexões sobre a discriminação etária e os estigmas sociais impostos às mulheres mais velhas, questionando tabus sobre sexualidade e identidade na terceira idade.

SERVIÇO

Matilde, de 04 a 21/12 e de 8 a 25/01, às quintas e sextas às 19h e sábados e domingos às 17h. Centro Cultural Banco do Brasil - Rua Álvares Penteado, 112 –Centro Histórico

Duração: 80 minutos, Ingressos: R$30 (inteira) e R$15 (meia-entrada), disponíveis no site bb. com.br/cultura e na bilheteria do CCBB São Paulo.

estão fazendo história com “Matilde”, em turnê pelo Centro Cultural Banco do Brasil

Camila Márdila ressalta a sororidade como Lulu Prado em ‘Ângela Diniz...’

Em “Ângela Diniz: Assassinada e Condenada”, minissérie da HBO Max dirigida por Andrucha Waddington, Camila Márdila interpreta Lulu Prado, uma das mulheres que cercam a protagonista vivida por Marjorie Estiano em sua breve e intensa passagem pelo Rio de Janeiro dos anos 1970. A série revisita o feminicídio que marcou a história do país e expôs a violência de gênero institucionalizada pela tese da legítima defesa da honra, derrubada apenas em 2023. Nesse contexto, Lulu funciona como lente e afeto: uma amiga encantada pela luminosidade de Ângela e, ao mesmo tempo, testemunha direta do choque entre uma mulher livre e uma sociedade disposta a puni-la por isso. “Ela é uma mulher que se torna grande amiga de Ângela, que se apaixona pela presença dela desde quando ela pisa no Rio de Janeiro”, resume Camila. A atriz conta que a história já fazia parte de sua memória afetiva por conta do podcast “Praia dos Ossos”, lançado em 2020, que inspira a minissérie. O impacto, segundo ela, permaneceu vivo até o set. “É uma história que ficava ali, sempre me acompanhando. Então, foi uma honra fazer parte da série com a Marjorie Estiano fazendo a Ângela”, entrega. A relação entre as duas personagens, construída entre festas, confidências e o cotidiano da alta sociedade carioca, é também um contraponto para a violência central do enredo. A série apresenta amigas que não se rivalizam, mas se fortalecem.

No julgamento – ponto nevrálgico da narrativa –, Lulu assume um papel emocional e político. Acompanhada de Yara de Novaes e Renata Gaspar, Camila reviveu a indignação que ecoa até hoje. “Era angustiante. Você não consegue ficar quieta na cadeira, ouvindo, porque as falas eram aquelas! Dava vontade de mandar ‘cala a boca’, falar ‘não é bem isso’”, relata. Essa dimensão coletiva reforça, para a atriz, o peso simbólico da protagonista e da própria trama. “Enquanto a gente fazia

Flávia Alessandra valoriza os pequenos rituais, as conversas diárias e os momentos sagrados que constroem a intimidade familiar

a série, eu sentia em todo mundo a escolha de bancar essa personalidade da Ângela, que incomoda tanto homens quanto mulheres”, analisa.

Lulu é também fruto de uma criação híbrida: compilada de relatos reais e recriada pela dramaturgia como figura de porto seguro. “A construção da Lulu veio muito internamente da série, como função dentro do roteiro. A gente precisa dessa amiga que está na festa, está na praia, mas também está buscando a filha no aeroporto, fazendo companhia em casa, achando um novo apartamento, emprestando ombro para chorar”, descreve. A personagem, que circula com desenvoltura pela elite carioca, também incorpora as contradições desse meio. “Estamos falando de uma alta sociedade que usufrui de liberdade, mas tem limites, porque depois fica complicado de defender”, observa.

Para Camila, Lulu passa por um amadurecimento profundo ao longo da minissérie. A liberdade de Ângela, tão admirada por uns quanto mal interpretada por outros, atravessa e transforma quem convive com ela. “Sinto que a Lulu é uma personagem que cresce com a presença da Ângela. Ela tem acesso a todos os espaços, mas não tem essa dimensão que o assassinato da Ângela traz de uma consciência social, de uma consciência política”, reflete.

Em um Brasil que ainda convive com índices alarmantes de feminicídio e discursos que relativizam a violência, a atriz acredita que a minissérie pode reacender debates urgentes. “Essa tese (da defesa da honra) pode não existir mais juridicamente desde 2023, mas ainda é a base do pensamento, a origem de toda violência de gênero”, afirma. E entende que o título do projeto, “Assassinada e Condenada”, traduz um mecanismo ainda presente. “Tudo que tem a violência de gênero tem essa base introjetada”, critica.

“Ângela Diniz: Assassinada e Condenada” – HBO Max.

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