Smart Sampa chega ao Aeroporto de Congonhas com novas câmeras de reconhecimento facial. Prefeitura destaca resul-
LANÇAMENTO GRUPO
Dira Paes exalta a força da tevê aberta
Vivendo os dramas de um ciclo de maternidade solo na trama de “Três Graças”, a intérprete de Lígia ressalta a comunicação direta com o público desde o início do enredo do horário nobre. > VEJA + PÁGINA 7
Além das compras de fim de ano
Com a proximidade do fim do ano, muitos trabalhadores já contam os dias para receber o tão aguardado 13º salário. Com planejamento, o benefício pode ir muito além das compras de fim de ano. > VEJA + PÁGINA 4
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Geração Z: entre o desencanto e a busca por sentido
POR
GAUDÊNCIO TORQUATO
Ageração Z, nascida entre 1997 e 2010, é a primeira totalmente digital — hiperconectada, globalizada e insegura quanto ao futuro. Enquanto seus pais acreditavam na ascensão social, os jovens de hoje enfrentam incertezas. Estudam mais, ganham menos e lidam com um mercado corroído pela automação. Rejeitam hierarquias rígidas, preferem ambientes transparentes e valorizam saúde mental. São menos consumistas e mais alinhados a causas e valores. A economia global prometeu integração, mas entregou precariedade. O desencanto é mundial: no Quênia, protestos contra impostos; no Marrocos, críticas ao contraste entre estádios e serviços públicos; em Madagascar e Nepal, reações à censura e ao desemprego; no Togo, resistência a reformas autoritárias. Na Europa, jovens protestam contra autoritarismo e austeridade; na Sérvia, uma tragédia ferroviária impulsiona mobilização cívica; na França, o “Bloquons tout” expressa exaustão. Na América Latina, o cenário se repete. No Peru, jovens desafiam o estado de emergência; no Chile, seguem mobilizados por um novo pacto social. Nos EUA, cresce a frustração com o bipartidarismo. Sofia Ong’ele diz: “nunca houve tantos movimentos sem liderança ao mesmo tempo”. Para essa geração, o ceticismo virou instinto de sobrevivência. Protestam com hashtags, boicotes e vídeos curtos. Lutam por meio ambiente, diversidade e ética digital. Paradoxalmente, rebelam-se contra a tecnologia: desativam notificações, denunciam manipulações, abandonam redes. O desencanto abre espaço para novas formas de cidadania. Democracias precisam reconectar-se com esses jovens.
CONEXÃO HUMANA
O antídoto para a Epidemia de Solidão
POR ANA BEATRIZ BARBOSA
Vivemos uma era paradoxal: nunca estivemos tão conectados digitalmente e, ao mesmo tempo, tão isolados emocionalmente. A Organização Mundial da Saúde já reconhece a solidão como um dos grandes desafios da saúde pública no século XXI. Seus impactos vão além do emocional — afetam o sistema imunológico, aumentam o risco de doenças cardiovasculares e estão associados à depressão e à ansiedade.
A pandemia de COVID-19 intensificou esse cenário. O distanciamento social, embora necessário, deixou marcas profundas. Crianças, adolescentes, adultos e idosos enfrentam hoje uma nova realidade: a dificuldade de se reconectar. A saúde mental tornou-se pauta urgente, e o cuidado com o emocional passou a ser tão essencial quanto o físico.
Estudos mostram que a qualidade das relações humanas é um dos principais fatores de proteção contra transtornos mentais. Ter com quem conversar, sentir-se ouvido e acolhido, participar de grupos e atividades coletivas são atitudes que fortalecem o bem-estar. A empatia, o afeto e o senso de pertencimento são remédios poderosos — e gratuitos.
A saúde emocional exige desaceleração, presença e vínculos reais. É preciso resgatar o valor das pequenas interações: um café compartilhado, uma conversa sem pressa, um abraço sincero.
A tecnologia pode ser aliada, mas não substitui o contato humano. Redes sociais, quando bem utilizadas, aproximam. Mas o uso excessivo, sem filtro emocional, pode gerar comparações tóxicas, sensação de inadequação e isolamento. O equilíbrio é chave.
A saúde mental também precisa ser desmistificada. Buscar ajuda psicológica não é sinal de fraqueza, mas de coragem. Profissionais da área devem ser vistos como parceiros na jornada do autoconhecimento e da cura. E as políticas públicas precisam garantir acesso universal a serviços de saúde mental, com acolhimento, escuta qualificada e continuidade de cuidado.
O combate à solidão começa com a valorização da escuta e da empatia. Sua atuação pública e presença em mídias facilita o acesso a imagens de divulgação para jornais e revistas.
A saúde emocional é coletiva. Cuidar de si é também cuidar do outro. Em tempos de tanta desconexão, promover vínculos é um ato revolucionário — e profundamente terapêutico.
DESENVOLVIMENTO HUMANO
Ciclos familiares e o impacto emocional na infância
POR GAB SAAB
As crianças nascem, crescem e se desenvolvem no contexto familiar, que se estende ao ambiente escolar e social.
Famílias em geral, costumam ser disfuncionais e normalmente não percebem condutas e padrões comportamentais porque, ao vivenciarem hábitos, entendem aquilo como o certo e consequentemente repetem ciclos.
É na primeira infância que acontece a formação psicóloga, cujo ambiente de convivência é fator determinante para o crescimento saudável.
Todos nós herdamos padrões comportamentais de familiares que se repetem de uma geração a outra. Essa transgeracionalidade chega aos descendentes como acontece com as transmissões via Bluetooth, sem necessidade de conexão direta para captar e reproduzir hábitos e valores.
Isso também pode acontecer automaticamente mesmo sem convivência entre familiares, como nos casos em que netos podem repetir padrões de avós que nunca tiveram convívio, ou seja, herdam atitudes similares.
A família é responsável por acolher, ensinar e repassar valores, promovendo um ambiente seguro para desenvolver empatia e habilidades emocionais na construção de boas relações pessoais e sociais.
Estudos indicam que o ambiente de convivência é fator determinante para o desenvolvimento emocional da criança.
O desafio da família é reconhecer os padrões de repetição de ciclos relacionais de seus antecessores e, com sabedoria, transformá-los em condutas assertivas na transmissão de comportamentos e valores lapidados.
Em meu livro “A Magia da Relação”, busco conscientizar pais e filhos sobre a importância das conexões saudáveis para o desenvolvimento pessoal e bem-estar coletivo, afinal, os bons relacionamentos começam na primeira educação.
Estarmos atentos ao que transmitimos às crianças também nos permite questionar as próprias condutas, a fim de não perpetuar comportamentos violentos e intolerantes. A Magia da Relação está em conviver em paz e harmonia, ligados por uma união de amor e respeito.
Gab Saab é especialista em neuropsicanálise e psicologia jurídica
há 20 anos O QUE ERA NOTÍCIA EM 20 de novembro de 2005 EDIÇÃONº 977
Ermelino faz plenária
ASubprefeitura de Ermelino Matarazzo realizou, este mês, a II Plenária de Participação Social, com a presença do subprefeito Eduardo Camargo Afonso, o vereador Adolfo Quintas, entidades sociais e os líderes comunitários da região. O objetivo deste encontro foi esclarecer as prestações de contas à comunidade sobre as reivindicações realizadas na I Plenária em junho deste ano, e também ressaltar as atuais ações desenvolvidas. Na abertura do evento, houve a apresentação do grupo teatral da Cooperativa Paulista de Teatro. Esta é mais uma
iniciativa da Secretaria de Participação e Parcerias que visa através da interpretação mostrar de forma objetiva e descontraída à comunidade o funcionamento das atividades da Subprefeitura. Durante a plenária, as coordenadorias de Obras e Infraestrutura, Assistência e Desenvolvimento Social, Defesa Civil, Saúde e Educação, mostraram que as reivindicações estão sendo atendidas e, entre outras ações, seguem a Agenda 21, que visa, junto com a sociedade, trabalhar os problemas locais. Ipal da nova estação será pela Avenida Assis Ribeiro.
Ana Beatriz Barbosa Silva é médica psiquiatra
Revisão: Fabiana Nascimento
Gaudêncio Torquato é escritor e jornalista
SEGURANÇA REFORÇADA
Tecnologia de ponta reforça vigilância em área de grande circulação
DA REDAÇÃO
Oprefeito Ricardo Nunes (MDB)
anunciou na última terça-feira, dia 11, a instalação de 20 novas câmeras de segurança com reconhecimento facial no Aeroporto de Congonhas, como parte da expansão do programa Smart Sampa. A iniciativa visa reforçar a vigilância em uma das áreas de maior fluxo da capital, com equipamentos posicionados em pontos estratégicos como embarque, desembarque e calçadas externas. Com mais de 40 mil câmeras espalhadas por
São Paulo, o Smart Sampa é considerado o maior sistema de monitoramento urbano da América Latina. Segundo dados da Prefeitura, o programa já contribuiu para a captura de mais de 2.200 foragidos da Justiça, além de 3.400 prisões em flagrante e a localização de 119 pessoas desaparecidas.
ANÁLISE DE IMAGENS EM TEMPO REAL
A integração das câmeras de Congonhas ao sistema central permite análise de imagens em tempo real, aumentando a capacidade de resposta das forças de segurança.
“Estamos investindo em tecnologia para proteger os cidadãos e tornar São Paulo uma cidade mais segura”, afirmou Nunes durante o lançamento.
Além das câmeras públicas, o programa permite que equipamentos privados — como os de residências e comércios — sejam conectados à rede, ampliando o alcance da vigilância colaborativa.
A medida é vista como estratégica para a segurança urbana, especialmente em locais com grande circulação de pessoas e turistas.
O Aeroporto de Congonhas já conta com câmeras de reconhecimento facial em áreas de embarque e desembarque
JÁ REPAROU QUE SÃO PAULO TÁ CADA DIA MAIS VERDE?
Já são 120 árvores plantadas pela Prefeitura, um feito inédito na cidade. Além disso, São Paulo tem a maior frota de veículos elétricos do Brasil, 1.000 veículos, e caminhões de coleta seletiva passando em 100% das ruas da cidade. Separe o seu lixo entre comum e reciclável e consulte os dias e horários em que o caminhão de coleta passa na sua rua. É só acessar coleta.prefeitura.sp.gov.br
JÁ REPAROU QUE SÃO PAULO TÁ CADA DIA MAIS VERDE?
Já são 120 árvores plantadas pela Prefeitura, um feito inédito na cidade. Além disso, São Paulo tem a maior frota de veículos elétricos do Brasil, 1.000 veículos, e caminhões de coleta seletiva passando em 100% das ruas da cidade. Separe o seu lixo entre comum e reciclável e consulte os dias e horários em que o caminhão de coleta passa na sua rua. É só acessar coleta.prefeitura.sp.gov.br.
120 mil
Sergio Barzaghi/SECOM
SUAS FINANÇAS
Veja dicas para usar bem o seu 13º salário
Divulgação DA REDAÇÃO
Com a proximidade do fim do ano, muitos trabalhadores já contam os dias para receber o tão aguardado 13º salário. A primeira parcela deve ser paga até 30 de novembro, e a segunda até 20 de dezembro, conforme determina a legislação. Mas, além de representar um alívio no orçamento, o benefício pode se tornar um importante aliado da saúde financeira — desde que seja bem administrado. De acordo com o professor Ahmed El Khatib, o uso consciente do 13º começa com o diagnóstico da situação financeira pessoal. “Quem tem dívidas deve priorizar o pagamento, especialmente aquelas com juros mais altos, como cartão de crédito, cheque es-
pecial ou empréstimos consignados. Essa é a melhor forma de reduzir o impacto dos juros e recuperar o equilíbrio financeiro”, recomenda o educador.
FORMA PLANEJADA
Para quem está com as contas em dia, o 13º pode servir a outros propósitos igualmente estratégicos. “O ideal é destinar o valor para uma reserva de emergência, planejar as férias ou aproveitar compras de fim de ano à vista e com desconto. O importante é evitar o gasto por impulso e usar o dinheiro de forma planejada”, acrescenta Ahmed. O docente alerta para o cálculo do valor, que é simples, o salário bruto é dividido por 12 e multiplicado pelo número de meses trabalhados no ano. Quem trabalhou o ano todo recebe o valor integral; quem
entrou depois recebe de forma proporcional.
ALÉM DAS COMPRAS DE FIM DE ANO “Na primeira parcela, não há descontos. Já na segunda, incidem INSS e Imposto de Renda, quando aplicável”, explica Ahmed. “Algumas empresas também permitem antecipar o pagamento durante as férias, caso o funcionário solicite entre janeiro e junho.” Com planejamento, o 13º pode ir muito além das compras de fim de ano — pode ser o ponto de partida para uma vida financeira mais equilibrada. “Usar o 13º de forma inteligente é uma forma de começar o próximo ano com menos dívidas e mais tranquilidade financeira”, conclui o docente.
A primeira parcela deve ser paga até 30 de novembro, e a segunda até 20 de dezembro
525 unidades próprias de saúde na região
Distribuída em três Coordenadorias Regionais de Saúde e 12 subprefeituras, a rede municipal reúne UBS, UPA e serviços correlatos para ampliar cobertura e reduzir filas
DA REDAÇÃO
Com mais de 4,5 milhões de moradores estimados no último censo municipal, a Zona Leste de São Paulo conta agora com 525 estabelecimentos e serviços próprios da Secretaria Municipal da Saúde, segundo levantamento disponível no portal da Prefeitura.
A pasta informa ainda que a Zona Leste conta atualmente com 4.759 médicos vinculados aos equipamentos públicos de saúde sob gestão do SUS Municipal. Em toda a rede, a SMS conta com mais de 26 mil médicos atuando no atendimento à população. O Conselho Regional de Medicina de São
Paulo informa que possui registro de 7.759 médicos na Zona Leste.
SERVIÇOS
Na CRS III, responsável pelas regiões mais periféricas, estão 77 unidades: Cidade Tiradentes abriga 45 serviços, incluindo uma UPA 24 horas e 20 UBS; em Ermelino Matarazzo são 32 postos de saúde. Já a CRS IV, que cobre Guaianases, Itaim Paulista e Itaquera, soma 133 estabelecimentos – 37 em Guaianases, 41 em Itaim Paulista e 55 em Itaquera –, entre UBS, centros de atenção psicossocial (Caps) e policlínicas.
A maior concentração aparece na CRS V, onde se localizam sete subprefeituras: São Mateus (48 unida
des), São Miguel Paulista (44), Aricanduva/Formosa/ Carrão (60), Mooca (50), Penha (39), Sapopemba (46) e Vila Prudente (28), totalizando 315 infraestruturas próprias. Nessa região, destacam-se três UPAs, duas policlínicas e 280 UBS, além de núcleos de vigilância epidemiológica e centros de especialidades odontológicas.
Segundo a SMS, esse arranjo garante cobertura mínima de uma UBS para cada grupo de 12.000 habitantes na maioria das áreas, com investimentos recentes em reformas e equipamentos. “A integração entre as unidades reforça o cuidado contínuo e reduz o tempo de espera para consultas”, afirma a coordenadora regional da CRS V.
Divulgação
Bonitinha, mas ordinária, de Nelson Rodrigues
Adistopia criada pelo premiado diretor teatral Nelson Baskerville a partir da tragédia carioca de Nelson Rodrigues ressurge como um espelho cruel das hipocrisias brasileiras, amplificadas pelo recente avanço da extrema direita.
Em um cenário sufocante de pneus e borracha, a peça acompanha Edgard, um homem marcado pela miséria apesar de anos de dedicação ao patrão Werneck. Ele recebe do chefe uma proposta tentadora: casar-se com Maria Cecília, jovem rica e “bonitinha”, mas envolta em um passado controverso. O dilema entre dinheiro e moralidade o arrasta por um universo de desejos reprimidos, traições e valores distorcidos.
A encenação expõe as principais hipocrisias da sociedade brasileira, intensificadas pelo recente avanço da extrema direita no país, que ficou camuflada durante muitos anos. E, para representar essa sociedade corrompi-
premiado
cariocas para criar um espelho cruel das hipocrisias brasileiras
da pelo poder e pela aparência, aparecem em cena figuras mascaradas com sacolas plásticas de supermercado e vestidas com figurinos manchados por lama.
A trilha sonora do espetáculo, executada ao vivo, mescla sucessos de Astor Piazzolla (Vuelvo al Sur e Adios Nonino) com uma variada lista de músicas brasileiras, que vão de Roberto Carlos a José Augusto. Elas embalam as desventuras de Edgard que, por uma situação de miserabilidade, vê-se na encruzilhada entre tornar-se um “próspero” milionário ou honrar a educação e ética transmitida por seu pai.
SERVIÇO
Otto Lara Resende ou Bonitinha, mas ordinária ou no Brasil todo mundo é Peixoto - Teatro Núcleo Experimental - Rua Barra Funda, 637 - Barra Funda. Temporada: até 27 de novembro, às quintas-feiras, às 20h30. Ingressos: R$60 (inteira). Classificação: 18 anos. Duração: 110 minutos
O
diretor Nelson Baskerville parte de uma das famosas tragédias
ENTREVISTA
Em ‘Três Graças’, Dira Paes exalta a força da tevê aberta
Um dos pilares da trajetória de Dira Paes sempre foi se comunicar com o Brasil. Por isso mesmo, as novelas, mesmo que tenham chegado um tanto tarde à sua carreira, representam uma parcela importante de seu caminho pessoal e profissional. Vivendo os dramas de um ciclo de maternidade solo na trama de “Três Graças”, a intérprete de Lígia ressalta a comunicação direta com o público desde o início do enredo do horário nobre. “A novela tem esse poder único de se comunicar com um público amplo e diverso. Nada alcança tanta gente como uma novela. Sabemos da responsabilidade que isso carrega, e por isso entregamos momentos intensos, dramáticos, mas também cheios de humor, afeto e leveza – do jeito que o Aguinaldo gosta, surpreendendo e tocando o coração de quem assiste”, afirma.
Na história das nove, Lígia é mãe de Gerluce, papel de Sophie Charlotte, e avó de Joélly, de Alana Cabral. É uma mulher resiliente, que enfrentou desafios desde cedo ao engravidar na adolescência e criar sua filha sozinha. Teve Gerluce com Joaquim, vivido por Marcos Palmeira, que nunca assumiu a filha e com quem ela mantém uma animosidade até hoje. “O Joaquim, vivido pelo Marcos Palmeira, representa um momento malresolvido na vida dela. Porque você não pode amar quem não ama sua filha e sua neta. Há uma tentativa de resgate dessa relação até para Lígia poder se libertar dela”, defende.
P – Você interpreta Lígia, uma mulher que inicia sua trajetória sozinha e constrói uma família marcada por vínculos profundos. O que mais a tocou nessa jornada de solidão e força feminina?
R – A Lígia me trouxe muitas reflexões. Ela começa a vida sozinha na Chacrinha e constrói uma amizade com a filha, como se amadurecessem juntas. É uma mulher que abriu caminhos, que foi a primeira das “Três Graças”. A casa delas é o coração da história, e só é possível viver num ambiente com tantas faltas quando há muita troca emocional. Isso me emociona profundamente.
P – A novela aborda o ciclo da gravidez na adolescência. Como essa temática ressoa em você e na construção da personagem?
R – É um tema urgente. A gravidez in-
No próximo ano, Dira lançará os longas “Agentes Especiais” e “Sedução” esse salto geracional na sua carreira e na sua vivência pessoal?
desejada interrompe sonhos, como aconteceu com a Lígia e depois com a filha. E o mais forte é que esse ciclo não se quebra. A Lígia acolhe, mas também carrega frustrações. Ela talvez tenha sido uma mãe melhor para a neta do que para a filha. A maturidade traz isso. E mesmo com orgulho da filha, há um desejo de que ela tivesse vivido outras experiências.
P – Você já interpretou muitas mães. Agora, vive uma avó. Como foi
R – Eu já fui mãe do Brasil inteiro (risos). E avó também, como a Lucimar de “Salve Jorge”, que era uma jovem avó. Não convivi com minhas avós, mas elegi a Tia Vidinha como minha avó do coração. Ela tinha um tempo diferente, um olhar que me marcou. Então, essa transição não me estranha. Está no meu DNA.
P – Você fala com carinho sobre suas
colegas de cena. Como tem sido contracenar com essas mulheres e viver essa sororidade em cena?
R – É lindo. Há uma verdadeira rede de apoio entre nós. A gente depende das amigas, das primas, das tias, das avós. Essa interseção feminina é o que faz a vida dar certo. E isso está na novela. Trabalhar com a Alana, com quem estive quando ela tinha 12 anos, e com a Sophie, que vi crescer, é um presente. É como se a vida e a arte se entrelaçassem.
P – A novela também toca em temas sociais e de gênero. Qual é o papel da arte, na sua visão, nesse debate?
R – A arte tem de ser voz. A desigualdade de gênero ainda é uma realidade e precisamos falar sobre isso. A novela alcança muita gente e é uma ferramenta poderosa para provocar reflexão. A gente faz isso com drama, com comédia, com o jeito do Aguinaldo, que surpreende. E é assim que a gente planta sementes de mudança.
P – Apesar de estar com uma ampla frente de capítulos, você ressaltou como tudo ainda é muito incerto sobre o futuro da personagem. Como é viver esse processo criativo em tempo real?
R – É como teatro. A gente faz sem se observar. Quando as chamadas começam a ir ao ar, a gente começa a ter uma ideia do que estamos construindo. Acho um momento especial para o ator. E vou aproveitando cada segundo desse processo vivo. além disso, o Aguinaldo é um autor que surpreende do começo ao fim.
P – De que forma?
R – O Aguinaldo não é um autor de ideias fechadas ou previsíveis. Ele surpreende, provoca, reinventa. Por isso, estamos todos curiosos e felizes, com essa vontade genuína de fazer o melhor e compartilhar essa alegria com o público.
P – Você mencionou que Lígia começa a novela fragilizada por uma doença. Como essa vulnerabilidade transforma a dinâmica familiar?
R – A doença desequilibra tudo. Quando a matriarca adoece, a estrutura da casa balança. E isso revela quem está ali de verdade. A novela mostra que, na hora da dor, é a família – ou quem você escolhe como família – que segura sua mão. É um convite à reflexão: com quem podemos contar? Temos de saber escolher nossos parceiros. Às vezes, não é nem o seu cônjuge que é o seu parceiro em uma hora que você precisa da sua saúde.