Gatilho Nº 22 @ Março 2016

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OUTSIDER

CAPITÃO MOCHO DEPOIS DO LANÇAMENTO DO PRIMEIRO EP

ENTREVISTA

ANTÓNIO J. NUNES APRESENTA - STILLS NA PORTA43

Especial com Master VISHNU DEVA (JOSÉ JORGE COSTA)


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Tudo o que a mente constrói parece ser uma ilusão. O importante é deixar correr o Sentir, ou o alimento da consciência. Vishnu Deva chama-lhe o “substracto”! A partir daqui a palavra de ordem parece ser a Harmonia ou a consciência que se dissolve no Universo. A mente é apenas um limite desta viagem que apela à exploração do interior do Ser! O reencontro com Deus real.

GATILHO # Nº22.MARÇO.2016

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Filipe Coelho Lúcia Cunha Cátia Santos João Maia Diogo Cardoso Zé Diogo José Pedro Ferreira Rita Almeida Luís Matos Florbela Ferreira

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A nova rubrica da Gatilho. Para a primeira publicação Florbela Ferreira escolhe a aldeia preservada de Canadelo, onde imperam a quietude e as águas cristalinas do rio Ôlo.

Pág. 9 ........................................... Especial Yoga com Master Vishnu Deva Pág. 16 ......................................... Meditação e Terapia do Som com Ângelo Pinto Pág. 19 ........................................ Entrevista António Jorge Nunes Pág. 27........................................ Outsider com Capitão Mocho Pág. 30 ...................................... Lugares da Minha Terra por Florbela Ferreira Pág. 31 ........................................ As Aventuras de Falo e Falinho

Fotografia de António Jorge Nunes

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Livro “Sem penas” Woody Allen Para quem está situado no “projecto” alienante artístico de Woody Allen, este livro representa, uma descida ao real imaginário, preenchido de “dados” surreais e estranhos. “Sem Penas” confunde os conceitos implantados, até os divinos, no que parece ser uma descida vertiginosamente “louca” pela realidade, levantando interrogações pelo caos insano que contêm as histórias, leves e curtas desta obra, divulgada entre os “mais velhos”, com um entendimento mais “extravagante” da vida, nos fins dos anos 80. Era uma época louca. Em, Portugal, recentemente libertos da opressão fascista, em que recaia forte vigilância da polícia politica sobre a arte considerada, “subversiva” ler qualquer coisa sobre “prostituição intelectual”, ou mulheres do dia a dia, que para ganhar a vida, discorrem sobre filosofia, política ou arte. Os amantes excitam-se com o poder desta”sabedoria”, uma nova vanguarda de mulheres que encontram no sexo, outro ponto de “atenção”. E entre Sócrates ou Jean Paul Sartre, encontram-se os corpos em mistérios?! Para ler …

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Filme “Death Proof” Quentin Tarantino Com Kurt Russel, no principal papel que veste a pele de um assassino que tem fetishe com raparigas, que em Liberdade dançam soltas em bares, e exaltam a Sensualidade. Miúdas giras que gostam de brincar …. Assinado pelo mestre Quentin Tarantino, o desenlace final do filme, faz lembrar uma reminiscência de Laura Palmer de David Linch, que é assassinada de forma obscura e as investigações do FBI não encontram o “autor” … Aqui, em Death Proof, depois de algumas mortes macabras, e arrepiantes (não aconselhável a sensibilidades agudas) o grupo das jovens que Kurt tenta matar, que se diverte a fazer malabarismo em carros, a alta velocidade numa auto estrada desértica norte americana; as protagonistas da cena final, não sentem medo e contra-atacam, dando origem a uma “grande sova” ao assassino. Prova de …. Morte só …

Disco “Infinite” Eminem Em 1996 surge na América do Norte, um nome que viria a ser o maior agitador da juventude, depois de 2Pac. Eminem apresenta nesse ano, “Infinite”, o primeiro passo, para o artista que mais impacto causa no mundo pelas suas músicas não conformistas e que levam ao despertar da consciência. E, em teorias conspirativas até se “fala” num possível “próximo alvo” do …. “sistema”… No entanto, no despertar a mensagem é “serena” e aponta já para os “desígnios de génio” de Eminem ou o Infinito... Trata-se de uma mistura deliciosa de uma sonoridade groovy com um beat hip hop que faz progredir ao ritmo poderoso da voz deste rapper branco Apesar de pouco divulgado, Infinite viria a revelar-se um álbum marcante na forma de fazer evoluir a música e o hip hop! E se há “agressividade” ela é de imediato suavizada … Um artista que Sente forte. Controverso! Agente provocador! Infinite ou música que não é mais, do que um elixir e êxtase… E a dor parece “anular-se” … Para revisitar, em modo transcendência!!!

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PASCOAES INSPIRA CONCURSO DE FOTOGRAFIA ILUSTRE AMARANTINO “A iniciativa é para evoluir” garantem Um sucesso! É a palavra exacta para resumir este primeiro concurso de fotografia Ilustre Amarantino, dedicado ao pioneiro do saudosismo Teixeira de Pascoaes. As participações vieram de todo o país e já está na estampa, a 2ª edição, tendo como pano de fundo inspirador Eduardo Teixeira Pinto, o fotógrafo amarantino da alma do povo! António Cunha, da cidade de Chaves, foi o grande premiado. “Gosto de Amarante e já não é a primeira vez que fotografo em Amarante. Tem um centro histórico, com a ponte de S. Gonçalo e a Igreja, muito característico e muito pitoresco e a fotografia proporciona-se”, afirmou o premiado. O júri constituído por Verónica Teixeira Pinto, presidente da Associação para a Criação do Museu Eduardo Teixeira Pinto, e os fotógrafos António Pinto e Francisco Piqueiro, nomeou este flaviense, “pela incalculável qualidade fotográfica”! A exposição está patente ao público até 17 de abril no Salão Nobre da Sede da União de Freguesias de Amarante e no Café Bar. Fiquem atentos à próxima edição deste Ilustre Amarantino, uma iniciativa para “continuar”, nas palavras do poder municipal, até porque se trata de uma alta promoção para a cidade de Amarante nesta área artística! Para Joaquim Pinheiro, presidente da União de Freguesias de Amarante, o concurso é uma aposta que não só não deve parar como deve “evoluir”, garantindo, “teremos uma próxima edição do concurso, feita com mais tempo e mais maturidade. O ilustre amarantino escolhido será Eduardo Teixeira Pinto, fotógrafo amarantino reconhecido e premiado a nível nacional e internacional”, revelou o presidente.

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A VANGUARDA DA ARTE EM AMARANTE EM “EXIBIÇÃO” NA PORTA 43 Os formandos da Gatilho mostraram num trabalho exposto até ao final de Março, o desenvolvimento das suas produções artísticas, marcadas por um forte grau de criatividade. O original comanda. Vale tudo na criação destes alunos, orientados por Diogo Cardoso. Há telas “cerebrais”, em que cores que contrastam fortemente, levam quase a energia da experiência estética de Ana Sofia Miranda como uma força centrífuga. Aqui, a mente parece ser um caos, que acaba por iluminar. Os quadros têm como nome, Derrame (2016) e Carga Cerebral (2015) Há uma nova “arquitectura” a acontecer por estes lados. Há uma clara mensagem “shocking” em todas as “criações artísticas” e o todo resulta numa exibição cheia de informação que recorre às várias formas de arte, em que cada elemento contribui para a perfeição do todo apresentado. Escuta-se “Mother” de John Lennon, é impossível não sentir. A atmosfera criada, como uma realidade envolve-nos num ambiente de vanguarda futurista. Lia Vasconcelos exibe trabalhos em 2d, que nasceram a partir de um vídeo. Intitulado “Dos fragmentos à unicidade”, os 5 quadros narram a “descoberta final”. O humano encontra-se. E sobrevive! A autora transmite o “intelecto” de todos os que a conhecem, na sua obra. É evolução! Rosa Mendes apresenta Infinidade Interseptada. Um desenho em cartão que remete para mundo artificiais visionários: apenas produção em série de humanos e corpos mecânicos que obedecem sem pensar sem emoção à fonte originária de manipulação… Forte! Depois sucedem-se as fotografias de José Pedro e Gonçalo Alves que têm os nomes sugestivos Monólogo com o inconsciente, Desassossegado Inatangível, Viagem no tempo, Encantamento … A realidade parece estar assim assegurada, a Arte em Amarante não morre, porque há “mentes assim”, irrequietas pelo conhecimento. Exploração. Progressão altamente criativa. E o real nunca … morrerá!!

ANTÓNIO JORGE NUNES! É O PRÓXIMO NOME A RETER. Apresenta a partir de 1 de Abril, na galeria da Porta 43, uma original exposição de fotografia que nos remete para as profundezas da alma Humana. Fotografa o mundo, passou pela tribo dos Maasai, no Quénia onde a alta espiritualidade emana, e se capta, no íntimo do Ser. O resultado colectivo da mostra, deixa antever uma envolvência de mistério da realidade do Planeta. E o Sentirmento explora o … Infinito.. Quando a Arte é irreverente e transcendência, quase uma mensagem poética. Recomenda-se! |7|



Especial com Master VISHNU DEVA (JOSÉ JORGE COSTA)


“YOGA OU PARA ALÉM DA ILUSÃO” Tudo o que a mente constrói parece ser uma ilusão. O importante é deixar correr o Sentir, ou o alimento da consciência. Vishnu Deva chama-lhe o “substracto”! A partir daqui a palavra de ordem parece ser a Harmonia ou a consciência que se dissolve no Universo. A mente é apenas um limite desta viagem que apela à exploração do interior do Ser! O reencontro com Deus real. Vishnu Deva leva este “sistema” a cerca de 200 crianças de Amarante todas as semanas …ou a insustentável leveza de Ser, diríamos. As palavras são de Vishnu Deva, mestre de Yoga amarantino, pela Associação de Yoga Integral de Portugal. O mestrado durou 3 anos, em que implicou idas constantes a Lisboa no último ano! Desde então, trabalha em acção social, com IPSS – Instituições de Solidariedade Social, acendendo consciências tanto de crianças como de adultos. “O yoga não se encerra nos Asanas, como se chama às várias posturas para relaxar… Quando me procuram e me dizem que apenas querem praticar uns exercícios de yoga para ter um corpo bonito e para andar relaxado, eu aviso logo que não sou o professor certo para isso e pergunto qual é a diferença entre um ignorante ansioso e um ignorante relaxado ...” risos. Acrescenta, para ficar claro “quando falamos em yoga, falamos em autoconhecimento, falamos em trabalho Interior, tens de tomar consciência do porque vives com depressão, com ansiedade ou porque vives infeliz”. Cátia, uma jovem que acompanha a conversa e que tem como base filosofias “escolares e até autodidactas mais mentais” na construção da Realidade e do Ser, tenta perceber o que é “ser e estar para além da mente” quando este mestre nos diz, “a maioria das pessoas, a

VISHNU DEVA (JOSÉ JORGE COSTA)

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a sociedade, vive na mente, vive identificada com os seus pensamentos, com o seu corpo. No yoga, tomamos contacto com o nosso Eu Real, com a Consciência… Com a Presença interior... A Consciência é o substrato onde tudo acontece, o corpo, a mente, o sentimento, o Mundo. Na Consciência tudo é como é. Nada existe por acaso e tudo existe por acaso” ensina. “Nascemos então do caos?” pergunta-se. Vishnu Deva é claro: “O caos apenas existe na mente, se a mente estiver voltada para dentro, para o Ser, existe paz, se a mente estiver voltada para fora, para o mundo, então existe caos e sofrimento. Nós somos a Consciência Imutável onde todas as diferenças são percebidas, onde o corpo é percebido, onde a mente é percebida, onde os sentimentos são percebidos, onde os outros são percebidos, onde o mundo é percebido... Nunca nascemos, nem nunca morremos, estivemos sempre aqui e sempre havemos de estar, mas a tua mente não pode entender isto, apenas o podes reconhecer na Consciência…Todas as limitações estão na tua mente… A liberdade, a felicidade plena está no Ser, no Coração, na Consciência… Pergunta à tua mente Quem És… Qual é a resposta?... Já agora, pergunta à tua mente o que é o Amor... Qual é a resposta?... Não é engraçado a mente não saber responder a estas simples perguntas?...”, remata deixando no ar uma envolvência de mistério”…

“O caos apenas existe na mente, se a mente estiver voltada para dentro, para o Ser, existe paz, se a mente estiver voltada para fora, para o mundo, então existe caos e sofrimento.

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Numa época em que as massas tendem a procurar esta filosofia de vida oriental “ajuda entender que na verdade todo e qualquer sofrimento serve o propósito do despertar, que quem tu és está para além da mente e que o teu pensamento é meramente ilusório e está viciado com o que te ensinaram….” Cátia não consegue responder ao que aparentemente parece tão simples. ”Os Satsang´s que realizo nas minhas aulas servem para te despertar, são palestras que te levam de volta à tua essência, levam-te à desconstrução de tudo o que oculta o teu Ser, seja concepções pessoais, políticas, religiosas ou sociais… Tens de ter a coragem de ficar sem nada, sem ego e tudo acontece naturalmente… Levo-te o entendimento para que possas ver por ti mesma Quem És e os ensinamentos necessários para que possas viver de acordo com Isso ”! Vishnu Deva continua quando o confrontamos com uma das afirmações do neurocientista António Damásio “o sentimento é a base da consciência”, indo mais fundo. “ Eu diria que a consciência é o substrato onde o sentimento acontece!” conclui. Sentimo-nos “irrequietas” com a conversa que flui naturalmente. “Se estiveres sintonizada no teu Ser, sem pensamentos, vibrando na tua presença interior viverás numa energia de amor, sem medos, de aceitação, de paz interior e alegria constantes. Isso significa que estás a amar-te a ti mesma… Amor, Ser,

Consciência, Deus, são palavras diferentes que significam a mesma coisa”. Divertido. Verdadeiro. Alegre. Feliz. “Cada vez mais me sinto uma criança onde nada me perturba”, diz suavemente. O segredo parece ser uma forma “honesta” de viver, na procura do conhecimento espiritual. “Eu Sou o que Sou” sorri .. Amor, parece ser assim a forma de “poderes mudar o teu mundo”. O trilho a percorrer do desconhecido e o infinto da potência altamente criativa que é o Amor…

"Somos Mãe e Fil ha e juntas descobrimos no yoga, algo que veio mudar as nossas vidas, por completo. É um refúgio, é um mundo à parte que estamos inseridas, mas que nos sentimos muito bem. O yoga ajudou-nos a lidar melhor com as exigências da vida e é com orgulho que escolhemos este caminho. Há uma estabilidade emocional que nos ajuda a manter o nosso "Eu" em ativo. Não há palavras sequer para descrever todo este processo mas o que é certo é que a nossa vida mudou... e para melhor. Um especial Obrigada a este Mestre que nos guiou desde do princípio do caminho das nossas vidas!!!» Vanda Sampaio e Fátima Sampaio | 12 |


As crianças do yoga “Na descoberta do Ser e ser Feliz” A tarde está sorridente e amena, ali no Pátio das Laranjeiras, na Porta 43. A ideia é a conversa “sempre focada no despertar” ou Satsang, uma das práticas a que Vishnu Deva recorre com as muitas pessoas que o procuram, na Adesco, em Amarante, ou na Associação Humanitária de Santiago, em Figueiró. “O objectivo das minhas aulas não é ajudar-te a dormir melhor no teu sonho, no teu sofrimento… O objectivo da minhas aulas é acordar-te do sonho, é colocar-te além de toda e qualquer espécie de sofrimento, é o samadhi, é levar-te a viver a Plenitude de Ser ” explica-nos, deixando uma advertência nuclear: ” A maioria das pessoas vive nas suas mentes, vivem numa prisão interior construída por elas mesmas numa vida de sofrimento ”. A consciência ampliada leva o Homem à descoberta de outros Eu, profundos, artísticos e espirituais. “O yoga é o contrário da “ilusão” ou da mentira. Trata-se de “Libertação”, diz-nos. O fim, é a reconciliação com o Uno ou com o Universo Deus, “o mundo só existe na tua mente, deixa o mundo seguir no seu fluir natural e preocupate em acordares! Tu não vês o mundo como ele é, tu vês o mundo como tu és. Se quiseres mudar o mundo, muda-te a ti mesmo, vira a tua mente para dentro, vira a tua mente para o Ser e não conhecerás outra coisa que não seja Felicidade, sê a mudança que queres ver no mundo”, continua filosoficamente, deixando correr a ideia que tudo obedece a um fluxo natural e equilibrado. Toda a prática de Yoga deve culminar na meditação, no reconhecimento de Quem És. A meditação que “não é mais nem menos do que permanecer

"Há cerca de 2 anos sem saber muito bem como, fui parar às aulas de Vishnu Deva, o que eu não sabia era o tesouro que estava para encontrar, numa busca desmedida no tempo perdi a conta aos anos em que procurei por algo que afinal estava no meu interior. As aulas do meu Mestre são um mergulho no meu Interior, no meu Ser, na minha essência, um encontro com o meu Eu Real. Cada aula é uma viagem ao estado de paz interior, de plenitude, de bem-estar.» Carmo Silveira | 13 |


"Posso dizer que mudou tudo depois de começar a frequentar as aulas de yoga. Comecei por ter consciência de quem sou. Mudou a minha autoconfiança, a minha maneira de estar na vida e na sociedade. Agora tenho consciência de que sou somente um ser de amor, um ser de luz, um ser perfeito e imperfeito, o melhor que há na vida. Se sou isto tudo o que é que me falta? Nada. O yoga fáz-me sentir amor, paz interior e traz-me bemestar e o Mestre Vishnu Deva transmite tudo isso com alegria e muito sentido de humor. » Manuela Cunha

focado na Consciência, no Ser, focado na presença Eu Sou, no pano de fundo onde tudo acontece”, clarifica. Neste nível, “ O Infinito Sou Eu”, remata Vishnu Deva. E o yoga e as crianças? “O yoga e as crianças aconteceu através do convite do Prof. Jorge Pinto, presidente do Infantário Creche O Miúdo para dar aulas a crianças dos 3, 4, e 5 anos de idade. Na sala de aula tudo aconteceu naturalmente, passei a fazer parte do mundo imaginário deles: para os pequeninos eu sou uma história viva!” Este mentor espiritual todas as semanas contacta com cerca de 200 crianças no projecto da sua autoria que recebeu o galardão ES+ atribuído pelo Instituto de Empreendedorismo Social e pela Câmara Municipal de Amarante: “A Floresta Secreta dos Animais do Yoga” no infantário creche O Miúdo! Muito em breve, também será editado o seu primeiro livro que levará A Floresta Secreta dos Animais do Yoga a muito mais crianças e famílias por esse mundo fora. A ideia é levá-los “à ciência do Ser e do ser Feliz”. Vale a pena conhecer um pouco da História infantil que Vishnu Deva criou para estes “pequenos aprendizes”. “Num dia triste estava sentado à beira rio observando a natureza quando surgiu um gato e me tocou nas costas. Tudo flui e a história acontece. “Queres conhecer a floresta secreta dos animais do Yoga” perguntou-me o gato que, frisa “nesta floresta mágica vais aprender o Yoga e nunca mais vais ficar triste. Logo à noite, quando fores dormir, pensa no teu coração e eu vou aparecer com o Leão e vamos buscar-te quando estiveres a dormir. Assim foi, levaram-me para a floresta secreta dos animais do yoga onde recebi todos os ensinamentos deste sitio mágico. O Leão baptizou-me Vishnu Deva e disse-me: agora vais ensinar o Yoga que aprendeste a todos os meninos que tenham um bom coração para que nunca fiquem tristes ….” É desta forma que se apresenta às crianças do Miúdo. Através dos vários animais do yoga, muitos criados por ele mesmo e das suas histórias originais, o mestre combate o preconceito que a sociedade tende a incutir desde tenra idade . O Leão é

nesta floresta mágica vais aprender o Yoga e nunca mais vais ficar triste. Logo à noite, quando fores dormir, pensa no teu coração e eu vou aparecer com o Leão | 14 |


divorciado. Os filhotes são muito felizes. O cão do Yoga só tem 3 patas, há um Pato negro entre os brancos, mas “são todos giros” e a Baleia é gordinha e por isso também é “gira”, ensina. “Os resultados são avassaladores. Fantásticos a todos os níveis. ”Para conhecer … talvez o Yoga… ou um “sistema” que anula o sofrimento, o reencontro com a Consciência Imutável. “Vive para além do corpo e da mente, encontra o Coração, encontra o Ser”… finaliza Vishnu Deva. “E acende-se nele o Amor que agora liberto dos limites da razão se revela imenso, infinito, estendendo-se a todo o Universo”.

"O Yoga mudou totalmente a minha vida. Vishnu Deva para mim tem sido um Amigo e Mestre, um SÀBIO, que nos ensina o caminho do não caminho, a desconstrução de crenças, dogmas que nos foram incutidos até então.Ensina-nos a sermos felizes, a saber quem somos realmente, a vivermos em amor, p a z , h a r m o n i a , t r a n q u i li d a d e , equilibrio, a vermos o mundo com o coração e não com a mente, tambem digo, sinto-me uma mulher com muita sorte por ter encontrado este Mestre e por me tornar no ser humano que sou. Ser yogue é muito mais que exercício físico, é aprender viver a vida através do SER...» Helena Silva | 15 |


ÂNGELO PINTO “Estou a dar vida, a despertar a fonte nas pessoas”. A ideia é apresentar a “terapia” ao colectivo amarantino que este viajante do Planeta, encontrou no Yoga, na meditação e … na terapia do Som. “Estou a dar vida, a despertar a fonte nas pessoas”. É assim que começa a conversa mística que a Gatilho teve com Ângelo Pinto, ou Orange como também é conhecido. A ideia é apresentar a “terapia” ao colectivo amarantino que este viajante do Planeta, encontrou no Yoga, na meditação e … na terapia do Som. Sim. Foi uma conversa musical e profundamente “geométrica”, ou não fosse o deambular do Universo “matemático”, bem como tudo o que existe! A envolvência é altamente espiritual. É quase um templo sagrado, que se respira ali, em salas que misturam uma decoração que apela à fantasia, e que conecta o Imaginário a níveis de significação mais elevados. É obrigatório Sentir. Os objectos expostos vão para além do imediato. Transformam-se em essência em quem contempla … Há imagens do Nepal, tapetes de simbologias que nos remetem para tempos de ancestralidade, em que homens eram feitos deuses. Há ainda espalhados pela sala em que Orange nos recebe, instrumentos musicais que marcam pelo exotismo e pela profundidade que o som atinge. Vêm de África, austrália, da Índia, de onde este yoggy, chegou recentemente, numa jornada de encontro com o “mundo”. Até porque a India é uma das sementes lançadas para elevar a condição humana… apesar da deformação constante ocidental, propositada ou não, que tende a exibir a pobreza, acentuando o fosso entre o “mundo material” ou a prisão e a morte … e o “mundo espiritual” ou a Liberdade. E, tendo em conta que o yoga é um “sistema” de equilibro físico, energético, espiritual e mental, que pretende a iluminação, ou a ligação do individuo com o seu Eu Universal e Divino. “Quem é Deus?” perguntamos. Ângelo é simples, “Deus somos nós. Portanto tudo é uma manifestação divina e Deus é tudo. A verdade imutável”. O próprio Homem na descoberta da vida. O infinito da mente uno com o corpo, com o Universo, como resultado de uma atitude sincera de vida. Orange fala-nos de mundos paralelos. Numa realidade global em que a violência é constante e banalizada pelas ditas democracias, onde não há respeito pela vida humana, aqui sente se mundos opostos: pacifistas. Plenos de beleza. Tudo é sagrado. Um êxtase. Um elixir embriagante. “Que tendo consciência dele poderia levar à explosão” de tanto prazer e fascínio. “Só existe tempo presente. Uma oferenda” remata o instrutor amarantino. O planeta é suspeitopara viver em Amor e Harmonia. Não há tempo para viver… Assim ciências evoluídas como é o caso do yoga ou da meditação ou através da “teoria do som”, pode muito bem ser o caminho “para a sobrevivência planetária: um estado de um Eu superior, ou a verdadeira natureza e conscicência Humana” sorri Orange que emana o brilho suave dos que vivem na … Verdade. “Tudo é perfeito …. Neste momento” Se o Homem é um ser infinito que flui em equlibrio – o campo das energias - não podíamos deixar de levantar a questão da origem das múltiplas doenças que assolam o globo. Parece não existir a tal matemática lógica à qual tudo se reduz. Fala-se então, nas corporações e tentativa de domínio total, em que interessa mais a

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“Pela ressonância, o corpo e a mente, vibra com os sons que ouvimos. A música é multidimensional.

“doença do que a cura” ou não fosse o lucro e a doença a base do sistema de medicina. “ Eles até atrasam e impedem investigações para a cura”, remata! Teoria da conspiração? A realidade tem sido a prova… Agora, num sistema que aponta para uma “Ilusão” – os conceitos não se sentem… Será que o yoga pode ser um dos meios de pacificar o Homem e a realidade? Neste conjunto de Harmonia … também entra a “terapia do som”! Incita ao desenvolvimento de frequências cerebrais que permitem estados de meditação ou transcendentais, como é o caso das ondas alfa, ou do sonho, como as teta ou a concentração, por exemplo ondas Delta… São apenas algumas referências. É fácil. “Pela ressonância, o corpo e a mente, vibra com os sons que ouvimos. A música é multidimensional. Uma forma de conexão com o interior, com o “coração” concedendo-lhe uma força intensa e … Superior!” explica-nos, simplificando. “Tudo é frequência. Até a galáxia”. Combate-se, assim “a ilusão dos conceitos em mentes e corpos que se libertam através das frequências da música, a geometria divina” conclui este discípulo de Shiva. O Deus que destrói a hipocrisia, incompatível com a consciência divina e a Unidade… para Construir. Shiva enviou os seus enviados à Terra para a presentear com “Asanas”, gesto sagrado despertado no 3º olho” e que os yoguis do Himalaia trouxeram à civilização. “Uno com a dança… Uno com tudo” diz… Continua-se a Sentir …. “Tudo é perfeito neste momento”… E assim se eterniza o Presente!!! | 17 |



ENTREVISTA

ANTÓNIO JORGE NUNES APAIXONADO PELAS ARTES, ESPECIALMENTE A FOTOGRAFIA. SENTE A NECESSIDADE DE TRANSMITIR OS SEUS SENTIMENTOS E ESTADO DE ESPIRITO ATRAVÉS DAS IMAGENS.


repente, já não basta “dar ao gatilho” (usei esta expressão só por vossa causa ). Nesta fase, começas também a procurar a aprovação dos outros. Será que gostam, será que não gostam? Como é que posso melhorar? Há uma série de inseguranças e a validação externa é uma necessidade. Começas a repetir-te e a deixar de sentir o mesmo prazer. Fazes o mesmo que toda a gente, porque alinhas na bitola do que os outros gostam e começas a perder o interesse. Passei por uma fase de zanga com a fotografia. Nada me agradava ou me parecia suficientemente especial. Não sentia qualquer interesse em fotografar o mesmo, com a mesma abordagem visual, com as mesmas técnicas e enquadramentos. Passei de chegar a casa com cartões

Gatilho - O que é que te despertou interesse na fotografia? Antonio Jorge Nunes - Sempre tive interesse em artes visuais. Pintura, cinema, fotografia…. Deve ser uma daquelas coisas para que temos uma propensão natural. Gosto especialmente do facto de a fotografia poder transmitir uma série de coisas sem um único som ou uma única palavra. Gosto também da multiplicidade de leituras e sentimentos que uma mesma imagem pode transmitir a diferentes indivíduos. Existe uma espécie de camuflagem, em que aquilo que as pessoas vêm pode ou não ser aquilo que quisemos dizer, mas dizemo-lo na mesma e isso é o importante. Há uma necessidade de comunicar, mas não queremos

Quando comecei, era só pelo gozo de captar imagens. Fotografava tudo sem qualquer objetivo que não fosse o prazer de fotografar

necessariamente tornar-nos transparentes.

cheios de imagens para não tirar a máquina do saco uma e outra vez. Essa “zanga” fez-me perceber que a fotografia que queria fazer não devia ter nada a ver com os outros. Era uma necessidade de me projetar nessas imagens e pôr cá para fora todos esses sentimentos e estados de espírito. A fotografia era (e é, de certa forma) catarse. A partir daí as minhas imagens passaram a ter um cunho mais pessoal e, se calhar, reconhecível (não no sentido do reconhecimento do autor, mas da linguagem). Daí, tenho vindo a aprofundar a técnica e a experimentar coisas novas sempre que posso: Infravermelhos, lentes basculantes, técnicas de pós-processamento, todo o tipo de distâncias focais, luz natural e controlada, enfim… é um mar de coisas que me continuam a dar um

GAT - Qual foi a tua evolução enquanto fotógrafo?! Interfere no Humano, os teus trabalhos artísticos? AJN - Terá forçosamente que haver uma interferência, não sei é se é da arte no Humano, como dizes, ou o contrário. Há imagens que te causam angústia, deleite ou são a simples homenagem a algo ou alguém. Podem ser obscuras ou incrivelmente alegres. Muitas são reflexo de quem as tira, outras são imagens de quem ou do que é retratado. Quando comecei, era só pelo gozo de captar imagens. Fotografava tudo sem qualquer objetivo que não fosse o prazer de fotografar. Mas o tempo vai passando e, de

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grande sentido de realização na parte técnica e que me permitem transmitir melhor o que quero enquanto evoluo como fotógrafo. Considero-me eclético no gosto e na abordagem. Posso andar numa fase de experimentação ou a abordar determinado tema ou linguagem e passar para algo completamente diferente a seguir. Não sinto necessidade de me colar a nenhum movimento ou tendência e, desde há muito tempo, fico contente quando uma imagem minha toca a alguém, mas está tudo bem se a imagem só falar comigo.

GAT - Ao mesmo tempo que Registas a Infinitude do Espaço, transmites a Serenidade necessária à alma. O que tentas captar? AJN - Se calhar isso mesmo. Sinto uma incrível admiração pelo que nos rodeia e pelo equilíbrio tremendo que vejo em todas as coisas. Gosto de colocar as coisas em escalas estranhas (vivemos na idade do umbigo e somos tão insignificantes no grande quadro das coisas) ou de realçar uma pequena parte de uma cena só porque a achei especial. Acho que muitas vezes, é um “olhem para isto! Já viram bem o que aqui está?” Como disse antes, muitas imagens são uma projeção mais do que um retrato de algo. Não têm todas o mesmo propósito, nem foram feitas só para serem “bonitas” ou estarem tecnicamente perfeitas.

Considero-me eclético no gosto e na abordagem. Não sinto necessidade de me colar a nenhum movimento ou tendência

GAT - Tens um álbum intitulado Streets. Parecem ser ruas em que a Luz incide “sempre”… como se a realidade fosse Vida ou beleza. És um narrador da realidade? AJN - Podíamos começar por questionar o que é a realidade, pois parece-me tudo uma questão de perspetiva. A tal história de que para uns o limão é fresco, para outros é só amargo. Nesse registo | 21 |


específico, sim, torno-me um narrador da realidade, mas não necessariamente para contar toda a história nem a história que toda a gente se lembra. Interessa-me mais realçar algo peculiar do que fazer um registo documental. Interessa-me mais a diferença do que o óbvio. Tudo depende do fim dessa ou dessas imagens e se o estou a fazer para mim ou para alguém. GAT - Estiveste no Quénia … Fala-nos dos Maasai … Como foi o encontro com esta tribo africana? AJN - De certo modo uma desilusão, mas não tanto por culpa deles, que só estavam a fazer o que se espera de uma tribo (ou várias tribos), mais pelas expectativas geradas antes dessa viagem. É sempre perigoso ter expectativas e prefiro muitas vezes ir completamente despreparado para uma viagem e levar com os baques todos à medida que as coisas vão acontecendo do que chegar ao fim e fazer o trajeto que vem nos guias. Vive-se mais e sente-se mais quando as coisas são menos filtradas. Na verdade, existem duas facetas para os Maasai. Uma, de um povo orgulhoso e cheio de tradição, com uma ligação muito mais visceral ao que é estar vivo e às necessidades reais. É de certa forma mais pura a forma como vivem e os objetivos por que se regem. Por outro lado, não estão livres da corrupção material e do poder e, aquilo que vês, é claramente filtrado, encenado e preparado para o consumo do turista. Não sei se quem visita estes países vê realmente os Maasai (e quem fala destes, falará de outros povos). Há uma máquina muito bem montada para receber “os senhores do dinheiro” e é tudo simpatias e espetáculo. Não é muito diferente de ir ao circo. Há palhaços, mas ninguém sabe se estão realmente a rir. Divagações à parte, gostei da outra parte e foi essa que tentei captar. Um sentido de orgulho que existe naquele povo e que não passa despercebido. GAT - O que mais te fascinou? AJN - Nos Maasai ou no Quénia? Nos Maasai, um sentido de vida primário (no sentido de, mais próximo das origens e necessidades básicas) e por isso, fascinante e também a sua ligação íntima ao meio que os rodeia. A forma como vivem, em perfeita sintonia com todas as maravilhas e todos os perigos. O respeito que verifiquei, mesmo dos animais mais ferozes, para com aquele povo é algo que só assistindo se percebe. Do Quénia, bem, tenho que dizer que qualquer pessoa devia ir a África pelo menos uma vez na vida. É o ritmo, o calor, o

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cheiro e toda uma série de sensações que por muito que se tentem descrever, só terão verdadeiro significado se vividas. As planícies a perder de vista, um céu estrelado como nunca viste cá, porque estás a centenas de quilómetros de qualquer poluição luminosa, o pó, os por-do-sol, enfim… aquilo tudo que dizem naqueles programas da televisão. GAT - O quotidiano parece ser envolvido em tonalidades de Sagrado …. É alta a espiritualidade das tuas fotos, no registo deste Universo dos Maasai.. Queres comentar? AJN - É como te disse antes. Existe um orgulho natural naquele povo. O orgulho de ser, simplesmente. Existe algo de superior naquela forma de estar. GAT - Os teus “Retratos” ou as pessoas mantêm a sua originalidade enquanto Individuos? Isso da originalidade é uma coisa um bocado subjetiva. Foi como eu os vi, ou o que eu vi neles. Mais do que olhar para as pessoas, tento ver para dentro delas. Se isso é quem realmente são, são outros quinhentos. GAT - Fala-nos um pouco do retrato “Mona Lisa's Smile”… que retrata o poder de uma miúda… hipnotizadora quase a contemplação? AJN - Fiz essa imagem há uns bons anos, em Covelo do Monte. A miúda (chama-se Edite) deve ser hoje uma mulher e nunca mais a vi ou soube nada dela. Esses miúdos tinham qualquer coisa de especial. Olhavam-te de uma forma verdadeira. De certo modo, mostraram-nos uma vida bem mais pura e mais real do que a que vi nos Maasai. A neutralidade dessa expressão, de quem apenas está, sem que percebas se o que esboça é um sorriso ou mera contemplação. O facto de não perceberes bem como ler aquele rosto, é o que me faz gostar tanto desse retrato. Não foi preparado ou encenado embora haja uma certa pose, natural, da miúda. Não lhe pedi para sorrir ou ficar séria. Aliás, acho que nem se apercebeu que foi fotografada nesse preciso momento (embora não tenha sido tirada às escondidas). GAT - Que projectos tens planeados? Também mexes com outras artes, como cinema ou pintura. A fusão será um caminho para a “invenção” de novas formas de Criar? Estou numa fase de avaliação. 2015 foi um ano cheio de experiências diferentes onde fotografei tudo, desde casamentos a fotografia institucional/comercial, passando por um projeto giríssimo com a Associação Ajuda Animais em Amarante a que talvez dêmos seguimento este ano. Agora estou num período de reflexão, olhando para trás para tentar perceber o que virá a seguir. Continuar a viajar, com toda a certeza.

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Quanto às outras artes. Gosto muito de cinema, mas não me sinto ainda preparado para tentar. Sinto-me de tal forma esmagado pelo brilhantismo de tantos nessa área que tenho a certeza que não faria nada mais do que medíocre (com sorte). Não temos que tocar todos os mesmos instrumentos. Já fiz umas experiências com time lapse, que é uma técnica em que várias imagens são mostradas em sequência, como um vídeo, acelerando (ou abrandando) o ritmo natural das coisas e achei-lhe imensa piada. Adoro cinema, mas a minha linguagem (até ver) é a fotografia. Pintura, não creio. Costumo dizer a brincar que fotografo porque não consigo pintar. GAT - E apoios? Como é ser Fotógrafo em Portugal? E, mais concretamente, em Amarante? AJN - Esta pergunta é daquelas… Ser fotógrafo em Portugal é como ser qualquer outra coisa em Portugal (e, se calhar, em qualquer lado). Na maior parte das vezes, é mais importante quem és e o meio em que te moves do que o que fazes. Se te dás com as pessoas certas e estás disposto a fazer o que se espera de quem pertence a esse meio, terás provavelmente sucesso e verás o teu trabalho reconhecido, premiado e divulgado. Se o que fazes é porque gostas e porque sentes e não queres saber do protocolo, enfim, as coisas são um bocado diferentes. A fotografia ainda é vista como uma arte pobre, para mais agora que qualquer telefone é uma máquina fotográfica. Amarante é um meio terrivelmente pequeno. São sempre os mesmos em todas as situações. Há muito andar em bicos de pés e muita comparação negativa. Não acredito que não haja mais gente a criar coisas e a criá-las bem, mas, por cá, os protagonistas são sempre os mesmos. Por outro lado, existe um bairrismo (que acho que não é só nosso, em

Amarante é um meio terrivelmente pequeno. São sempre os mesmos em todas as situações. Há muito andar em bicos de pés e muita comparação negativa.

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Amarante) que nos limita imenso. É tudo sobre nós e sobre o que nós fazemos, quando a universalidade devia ser hoje uma coisa muito mais simples de entender e de abraçar. Continuamos a ter defesas contra tudo o que é de fora (uma certa impermeabilidade a “estranhos” e ao que nos é estranho) e talvez isso nos esteja gravado nos genes. Não faço fotografia para ganhar a vida ou para agradar a ninguém. Nunca senti qualquer entrave, quando solicitei ajuda/apoio/divulgação a diferentes entidades da terra, tirando a limitação do tema, que é sempre o mesmo. Por outro lado, acontecem coisas estranhas, como ter havido um prémio de fotografia com alguma projeção, ganho por dois amarantinos e, na sua (quase invisível) divulgação aquando da exposição que existiu e ninguém soube, não foram referidos os nomes dos vencedores, nem a imagem de suporte à notícia divulgada no site da CMA foi uma das fotos premiadas. Tiranos o sono? Não. É um bocadinho estranho? Talvez. Amarante teve aquele que foi um dos melhores fotógrafos cujo trabalho conheço. Tive o enorme prazer de conhecer Eduardo Teixeira Pinto aqui há uns anos, numa tertúlia fotográfica, e de ter contacto com o seu trabalho. Era de uma humildade impressionante e dizia com toda a naturalidade que teria “umas 50 fotos de salão” feitas ao longo da vida. Agora, que já não está entre nós, começa a ter alguma divulgação o seu trabalho, mas, enquanto foi vivo, era o homem das sandálias a quem ninguém dava o valor que alguém com o trabalho que ele criou, devia ter. Fala-se do Cartier-Bresson (que até tem fotos feitas em Amarante) e outros nomes como o apogeu da arte fotográfica, mas, na minha opinião, este Amarantino não era em nada inferior a esses fotógrafos. A diferença esteve na escolha que fez de ficar na terra e viver da forma que quis, sem ligar à tal fama ou protagonismo que para tantos é quase o objetivo primordial. Não é preciso falar de Bresson ou de outro qualquer para que valha a pena falar-se do trabalho de Eduardo Teixeira Pinto. Não estou a fazer sequer comparações, mas este é um bom exemplo de um grande valor da terra que nunca teve o reconhecimento devido enquanto vivo. GAT - A arte pode salvar o mundo? AJN - Será que o mundo precisa ser salvo? Se me perguntares se a arte pode salvar o “nosso” mundo, dir-te-ia que pelo menos ajudará. Nós temos a impertinência de achar que o mundo somos nós, mas quero crer que o mundo vai por cá andar muito tempo depois de nós fazermos a nossa parte. Se a arte é fundamental para a nossa afirmação enquanto seres pensantes que questionam a sua existência e procuram um propósito para ela, então a resposta é um rotundo sim. | 25 |

Nós temos a impertinência de achar que o mundo somos nós, mas quero crer que o mundo vai por cá andar muito tempo depois de nós fazermos a nossa parte.


i n a u g u r a ç ã o

01|Abril|2016#22h00 gatilhoportaquarentaetrês www.antonionunes.com

patente até 30 de abril


CAPITテグ MOCHO


CAPITÃO MOCHO EM ENTREVISTA GATILHO - “E, agora na Cultura, banda Capitão Mocho apresenta o seu mais recente trabalho: “Não me apetece” …. “não tenho que vestir não me convides para sair hoje não estou para amar, hoje não me apetece… não”… a irreverência que marca a vossa sonoridade… Apresentem-se em tons “rock and rol” para Amarante e para o Mundo!!!! CAPITÃO MOCHO - Somos uma banda com mensagem forte, onde a palavra é o principal instrumento! Os sons melódicos e as explosões rítmicas estão sempre ao serviço da palavra.

...a música é o nosso escape. É a forma mais directa de expormos alegrias frustrações, raiva ...

GATILHO - Capitão Mocho, uma banda da Lixa tem dado que falar, com altas e energéticas performances ao vivo… Ser músico por cá é “ser alternativo”? CM - Não nos preocupamos muito com isso. Todos temos vidas profissionais intensas e desgastantes e a música é o nosso escape. É a forma mais directa de expormos alegrias, frustrações, raiva e êxtase, no fundo todo tipo de sentimentos que debitamos durante os espectáculos. Se isso nos faz alternativos não sabemos, mas acreditamos que nos faz diferentes e genuínos. GATILHO - Contem-nos um bocado da vossa história? CM - A nossa história começa no final de 2009 quando nos juntamos pela primeira vez os cinco para experimentarmos o nosso entendimento musical. E foi de tal forma que nesse primeiro dia fizemos o nosso single. Passamos 2 anos de maturação de processos e de criação intensa até nos sentirmos preparados para nos apresentarmos ao público. A excelente receptividade e a fidelização de um crescente número de pessoas motivou-nos a continuar e a evoluir de espectáculo em espectáculo. | 28 |


GATILHO - Lançaram recentemente um EP homónimo… Qual o significado que atribuem a esta edição??

GATILHO - Como tem sido a ligação entre os Capitão Mocho e Amarante?! São vários os concertos que já apresentaram pela cidade…

CM - Este EP tem por objectivo ser um princípio, uma montra. Daí termos decidido que se chamaria "Capitão Mocho"! É o nosso cartão de visita e através do qual esperamos abrir as portas à gravação de um álbum. E claro, como o princípio de qualquer história, é determinante para nós!

CM - Amarante é uma cidade que sentimos como nossa! Foi aqui que demos o nosso primeiro concerto, foi aqui que gravamos o nosso EP e onde gravamos grande parte das cenas do nosso videoclip. A empatia com o público de Amarante existe desde o primeiro momento. Há coisas que não se explicam mas se sentem, nós sentimo-nos adoptados pela cidade!

GATILHO - Estão a apresentar ao vivo este trabalho. Ainda recentemente estiveram num concerto casa cheia, no Centro Cultural de Amarante. Como aconteceu a vibração?

GATILHO - E a reacção do público? CM - O carinho com que o público nos presenteia tem sido uma constante. Por regra temos tocado sempre para plateias bem preenchidas e a sintonia entre a banda e os ouvintes enche-nos de alegria. Temos sempre vontade que chegue rápido a data do próximo concerto.

CM - A apresentação no CCA é algo que ainda estamos a digerir. Foi de tal forma intenso que ainda vivemos um período de ressaca da onda de adrenalina dessa noite. A comunhão com o público foi perfeita e no final estávamos exaustos e incrivelmente gratos a todos que marcaram presença e participaram activamente na nossa festa.

GATILHO - O vosso som é “original” e tem personalidade …Nirvana, Tool ou Metálica ou os portuenses Zen, são algumas das inspirações da vossa banda… O que é preciso para irem beber inspiração a grupos referência do panorama musical planetário e que marcaram gerações? CM - No fundo o que é preciso é ouvir muita música. Todos nós somos ávidos consumidores de música e essas influências ficam-nos entranhadas na pele. Depois, mesmo que de forma inconsciente, o processo de criação fica marcado por todas as vivências musicais que carregamos connosco.

...O rock jamais morrerá! Ele evolui, sofre mutações diversas mas estará sempre presente...

GATILHO - Capitão Mocho … ou afinal o rock não morreu? CM - O rock jamais morrerá! Ele evolui, sofre mutações diversas mas estará sempre presente de cada vez que baixos, guitarras e baterias se casem para expulsar o que lhes vai na alma.

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CANADELO ALDEIA PRESERVADA Com uma população que ronda os 120 habitantes (censos 2011) Canadelo é uma aldeia, um pequeno paraíso, no extremo do concelho de Amarante, mais ou menos, a 13 km da cidade: relativamente perto mas suficientemente longe para sentir que chegando àquele pedaço de terra entre a serra do Marão e a serra da Meia Via, entramos num mundo diferente. O tempo para e somos invadidos por uma quietude e uma beleza natural que nos transmite paz e convida a relaxar. Canadelo aldeia preservada é conhecida pelo seu aglomerado de casas de xisto e telhados de lousa, concentrado em volta da igreja matriz, entre ruas apertadas e caminhos agrícolas acompanhados pelo trepidar das águas, que geradas na montanha abrem caminho e percorrem as canadas até ao rio. O rio Ôlo de águas límpidas e cristalinas atrai centenas de banhistas e campistas todos os verões. As suas praias são pequenos lugares mágicos cobertos de uma vegetação que tem tanto de autóctone como de selvagem e cujas sombras convidam a uma tarde relaxante. Lugar inspirador, terra natal do poeta Ilídio Sardoeira, Canadelo é motivo de visita em qualquer altura do ano: na primavera com as cerejeiras em flor e os campos a brotar de vida; no verão para um banho refrescante no Ôlo: no outono para percorrer caminhos que mais parecem uma paleta de cores e no Inverno para sentir os ventos gélidos vindos do alto das montanhas… mas Canadelo é também símbolo do abandono a que estão condenadas as aldeias envelhecidas deste país, fruto de uma política que não investe no potencial dos seus recursos naturais e na memória histórica destes lugares. Mas Canadelo é a minha aldeia, o meu lugar favorito no mundo.

BOUÇA DA REGADA www.boucadaregada.com QUINTA DA POUSADELA www.pousadela.com

Florbela Ferreira Fotografias: Luis Matos

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