Gatilho Nº 21 @ Fevereiro 2016

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FILIPE COELHO Criador da banda desenhada dos irmãos Falo e Falinho, em entrevista.

P’RA TI JOSÉ GONÇALVES

SKILLS & THE BUNNY CREW MARIA LUKOVA


m| Rua Dr. Fernando Brochado, Edf. Relas r/c Fr. C 4600-279 Amarante, Portugal t| 255 433 387 @| geral@megapublicidade.com comercial@megapublicidade.com


A arte não é um espelho para reflectir o mundo, mas um martelo para forjá-lo. - Vladimir Maiakovski -

GATILHO # Nº21.FEVEREIRO.2016

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2016

Gatilho Associação para o Desenvolvimento Artístico-Cultural Local Publicidade:

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Pág. 4 e 5 .................................... P’ra ti Pág. 6 e 7 .................................... Curtas Pág. 8 e 9 ................................... Maria Lukova

Design e Paginação:

Gilberto Bento Pinto

Redacção:

Carla Vera Bento Gabriela Teixeira

Pág. 13 ......................................... David Bowie por Anabela Magalhães Pág. 14 e 15 ................................ Curtas Pág. 17 a 22................................ Entrevista Filipe Coelho Elsa Cerqueira Filipe Coelho João Duro Lúcia Cunha Cátia Santos João Maia Diogo Cardoso Zé Diogo José Gonçalves Anabela Magalhães Nuno Cardoso

info@gatilho.pt

Pág. 23 a 26 ............................. Skills & The Bunny Crew Pág. 27 ........................................ As Aventuras de Falo e Falinho

Fotografia de José Pedro Ferreira

Colaboradores:

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Rua Teixeira de Vasconcelos nº 43 4600-104 Amarante

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POESIA VISUAL DE PATRÍCIA AZEVEDO O BEM E O MAL ... NA "NOITE" "MATERIALISMOS QUE MATAM MAIS DO QUE ARMAS» Está patente até ao fim do mês de Fevereiro, na Porta 43, a exposição "Poesia Visual" da jovem Patrícia Azevedo. A prova de que as novas gerações vieram para "ficar" num Real criativo altamente visionário e inteligente. Logo, nas primeiras telas, acontece uma espécie de "desconstrução" do Bem e do Mal. O processo é geométrico, ou seja, há Matemática.. Uma ordem lógico racional a explicar? Parece que sim. No entanto, a artista escreve em, A Noite, "agora tudo é possível, Tudo pode ser feito Entre murmurios agora audíveis Evocam na noite"... É que todos as telas que apresenta são baseadas nos poemas que escreve... "à noite" ... Transmite-lhe serenidade ... O magnetismo vai até ao quadro em tinta da china... " Recuperado pela Natureza", onde reside o grande Fim, para esta activista artística ... A mente, os sentimentos e a natureza são os três suportes base na vida da autora, que também apresenta "impressões monotonia" ou o estudo do movimento e do corpo humano ... Metamorfose. É desta forma, que a Arte ascende a Mitologia, onda a phantasia do criador é pura e sentida e inteligente, portanto. "Materialismos que matam mais do que armas", escreve Patrícia em "Poetry is not dead". O mundo não é mais uma impressão. Benvindos ao Futuro! A visitar até 28 de fevereiro Segunda a Sexta das 10h00 ás 12h00 - 14h00 às 18h00 Sábado das 15h00 às 18h00

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«Pela imagem da Lua que dança". Em Arder. De Alfredo Ferreira. Trata-se de um dos alguns poemas luso galegos que viram nascer a luz do dia, numa co-produção entre várias organizações destes territórios que a história desuniu, mas que conserva uma mesma procura Cultural. E, a poesia apresentada em Terra, marcada por uma incomensurável espiritualidade das fotografias que documentam a omnipotência da Natureza e o mistério do homem, enquanto ser Universal, em plenitude com a Vida. A Sensação que fica é a de beleza... Levando a um apaziguamento e à claridade. Exemplo disso é Mirando aun ceo arboreado" de Maribel Valdivieso ou o "Sereno Despertar"... Há outros, que se deixam "enlevar" numa dimensão divina do Amor entre mortais. Em Folham Fundem a Luz, que deixa discorrer uma forte carga erótica entre amantes, "sinto o mundo na claridade, extensa da tua carne e os electrões fechados no desejo (...) sou desassossego. O sexo brilha agora num outro centro expansivo". Autoria de João Madureira. Ou, em Poema Infinito a fusão dos corpos e bocas selvagens que se querem, se amam e se procuram "são estes os primeiros sinais dos beijos loucos e desinquietos que dormirão na tua boca"! Arrebatadora, a natureza do homem e da mulher. A mensagem é clara. A dignidade do Homem "terra" que sente forte, e entende este quinto Elemento da força! E, claro, ou não fosse uma tradição luso galega, o amor pelo pensamento puro quando se lê "na marisma de um pensamento cordial, maravilha do sacro no quotidiano", ainda em Arder. Terra, está disponível na Porta 43 e que nos faz sentir uma forte ligação com o "divino" da Vida! Só de referir as fotos, "O Viajante" e "O leitor", de Diogo Cardoso, incluídas nesta publicação, em que a banalidade do dia a dia, parece transformar se em Arte. Mundo Embelezado! É já uma característica deste formador artistico da Gatilho. "Cultura que Une" ou "Mater Terra" .... para conhecer...

CAPITÃO MOCHO AO VIVO NO CCA. Os Capitão Mocho apresentam-se ao público com o seu primeiro EP de originais. A sala escolhida é o auditório do Centro Cultural de Amarante, o concerto vai contar também com a participação do amarantino Paulo Cafeteira, responsável pela primeira parte do evento. As portas abrem-se às 21h00 do dia 27 de fevereiro no CCA.

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MARIA LUKOVA A VIOLINISTA BÚLGARA APAIXONADA POR AMARANTE Chegou a Amarante em Março de 2014 com o violino numa mão e com o azul dos olhos cheio de sonhos! Tinha sido contratada pela Orquestra do Norte e logo travou amizade com muitos amarantinos. De início era “a menina estrangeira” mas rapidamente conquistou o seu espaço nos corações das pessoas e passou a ser simplesmente Maria, a responsável pela Bulgária ser tema recorrente nas conversas de um considerável grupo de amigos. Natural de Sofia, Maria toca violino desde os 5 anos. A mãe foi a sua primeira professora. Dos 7 aos 18 anos estudou música a par das disciplinas convencionais, frequentou durante 4 anos o Conservatório de Sofia e tirou um Mestrado em Antuérpia (Bélgica). Desde os tempos de estudante que tocou em várias orquestras no lugar de substituta, nomeadamente na Bulgária, Bélgica e Holanda. Como instrumentista profissional tocou em Orquestras de Sofia e Veliko Ternuvo no seu país natal, em Bruxelas e mais recentemente teve a experiencia portuguesa, isto para além de ter participado em gravações e de ter feito algumas tournées como instrumentista convidada. Maria sempre viu o seu gosto musical dividido entre a música clássica e as sonoridades mais étnicas e como tal, enquanto vivia na Bulgária, participou em alguns projectos com amigos músicos que podem ser rotulados de etnoambient e em 2012 venceu um concurso com uma composição em parceria com o amigo Pablo Stojchev “Taxime”, que foi criada aquando de uma estadia em Istambul. Também destaca algumas colaborações com o dj búlgaro e igualmente amigo Klimment e a participação em diversos festivais folk onde tocou violino e gaita de foles. De facto, o que mais prazer dá a Maria é tocar ao vivo e acrescenta “para mim um verdadeiro músico precisa de actividade fora da orquestra. Caso só esteja dedicado à orquestra, então para mim não é um músico, é um trabalhador” mas claro que concorda que as orquestras são o porto seguro para os músicos dentro da música clássica porque são a melhor forma de ter um ordenado fixo. Terminado o contrato com a Orquestra do Norte, Maria fez algumas audições em Portugal e Espanha mas, apesar de chegar sempre aos finalistas, não conseguiu novo contrato e decidiu então colocar o universo das orquestras um pouco

...para mim um verdadeiro músico precisa de actividade fora da orquestra. Caso só esteja dedicado à orquestra, então para mim não é um músico...

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pouco de lado e mergulhar numa introspecção para se reencontrar e redefinir como violinista a solo, “o que é muito interessante e inspirador mas ao mesmo tempo é incerto”, desabafa. Quando se fala de Amarante os seus olhos voltam a brilhar! “Adoro Amarante, adoro Portugal”, diz num português que não disfarça as suas origens. Maria sempre se sentiu bem-vinda na cidade, fez amigos e nesta altura mais “experimental” da sua carreira encontrou alguns músicos com quem foi fazendo parcerias, dos quais destaca Verena Basto e Nuno “Astro” Ribeiro com quem criou os Flea Hop e que deram 2 concertos (Porta 43 – segundo aniversário da Gatilho - e Café do Manel) e já têm alguns temas gravados. A solo, a violinista já tocou na festa de aniversário do D'arcos e na Casa da Juventude e está também a gravar um cd que incluirá peças de Bach, uma interpretação de um tema búlgaro e a sua composição “Taxime”. Desta fase o que mais a entristece é a inexistência de remuneração: “acho que as pessoas não estão habituadas a terem de pagar por um espectáculo musical. Amarante já é uma cidade pequena com poucas perspectivas para projectos diferentes mas mesmo assim as pessoas, em especial os mais jovens, quando saem à noite, preferem gastar dinheiro em algo para beber do que em espectáculos culturais pagos”, diz algo desiludida e acrescenta que trabalhar sem retorno financeiro derruba qualquer motivação. Neste sentido 2016 trar-lhe-á novos voos, para Londres mais concretamente, onde pretende estudar Jazz e canto e onde espera encontrar músicos para partilhar e criar novos projectos. Lá encontrará mais concorrência mas isso só a ajudará a ser cada vez melhor! Enquanto não parte, Maria gostaria de dar mais um ou outro concerto em Amarante, mesmo que seja gratuito e tem o desejo de regressar, seja em férias ou mesmo a trabalho porque Portugal ocupa um lugar muito especial no seu coração. Neste momento, a sua única certeza é que tem esperança na ligação entre as pessoas e em especial entre músicos e, embora tenha pela frente uma nova demanda, sente que vai encontrar quem partilhe do mesmo sentimento! Esperemos quem sim! Texto: Gabriela Teixeira

...em especial os mais jovens, quando saem à noite, preferem gastar dinheiro em algo para beber do que em espectáculos culturais pagos...

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david bowie Cresci com ele depois do 25 de Abril de 1974.Acompanhou-me a vida ao longo de décadas e décadas. Hoje acordei com a rádio a difundir essa enorme perda mundial que foi a morte de David Bowie, o Camaleão, o Criativo, o Reinventor de si próprio, o Percursor/ Apontador de caminhos jamais percorridos, o Genial, o Belo... foi um desses Homens Raros que todos nós, comuns mortais, devemos saber respeitar e escrever com letra muito maiúscula. deixou-nos, mas, generoso, legou-nos uma obra imensa em termos de quantidade e de qualidade partilhada ano após ano com cada um de nós. Hoje também eu partilho com os leitores da Gatilho este David Bowie único, e escolho este «Girls Loves Me» dizendo-lhe que sim, as raparigas sempre o amaram. E os rapazes, espertos, também. Agradecida, David Bowie. Até ao fim dos meus dias. Até sempre.

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“Uma cultura Humana … Ou não?”

Verena Basto expõe … Mistérios do subconsciente Quem conhece, admira o acto genial criativo!!! A artista plástica Verena Basto que, diríamos traduz para uma realidade manchada pela “escuridão” … às vezes … teletransporta-nos para o universo fantasioso da mente, numa exposição a conhecer, no Café do Manel, em Amarante. São várias as ilustrações “fílmicas”. Todas transmitem o brilho e a marca original desta jovem criadora, em que tonalidades de cores… suaves em desenhos irreais da figura humana, num mundo “infantil” de tanta cor ….se fixam no “sujeito que contempla”! Experiência altamente estética e dinâmica, e diz-se que “o extase estético liberta nos da dor”. Ressaltam as tonalidades Terra, como se constituísse o embrião!!! A explicação … Verena, observa o real e narra …. Em introspecções filosóficas e existencialistas. Tão delicado o “quadro”, que recria a Realidade do Ser, enquanto Agente activo “imaginante”. Ilumina-nos com as “raparigas engraçadas que fazem preces … elevam as mãos ao poder dos Elementos …as aves, e voo da Liberdade. Simbólico… sentido!!! A elegia da Vida!!! São obras plásticas que são Equilibrio e …. A exploração das ínfimas partes das capacidades humanas. Ou suprahumana, é caso para dizer. Uma abertura gritante nas portas da percepção …. Dos “inquietos pelo conhecimento”. Arte quase como … visionária. Há simbologia, numa sequência de “imagens” que nos remetem para a ancestralidade! Egípcios em veneração ao Sol? A viagem parece carregada de uma forte “consciência do ritual”, em que o primitivo se destaca, na consciência cósmica que Verena, pinta. “Humanos… ou não Humanos” … O mundo parece ser dominado pela fantasia dos artistas! Amarante na Vanguarda da Phantasia!!! Verena Basto, num trilho de mistério …

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in T창megaSousa.pt

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[ ENTREVISTA ]

FILIPE COELHO Criador da banda desenhada dos irm達os Falo e Falinho, em entrevista.


FILIPE COELHO e os Irmãos Falo e Falinho Gatilho - Vamos começar por falar da tua colaboração, com a bd falo e falinho para a associação gatilho ... Trata se de uma crítica sempre cheia de humor sobre a sociedade e as instituições actuais. A linguagem é a de rua, e os irmãos falo e falinho são "Duros para sempre"! Achas que este tipo de ironias é um processo que mistura o satírico com os muitos fins infantis que reservas às tuas personagens, que têm por missão combater as injustiças da princesa do Tâmega? Fala nos disso... FILIPE COELHO - Eu tento que tenha humor, algumas vezes consigo melhor que outras. Costumo recorrer mais à sátira porque normalmente as aventuras são criticas e a mensagem acaba por ser melhor compreendida pelas pessoas mas também uso outros tipos de humor como o non-sense, o mordaz e também algumas piadas mais simples. Agora estou a tentar fazer algumas aventuras com humor negro de maneira a ter opções em aberto, quanto mais abrangente melhor, para não ter que ficar confinado só a um tipo de humor ou grafismo. A missão não é só combater injustiças, pode ter outro tema qualquer, desde piadas pessoais, sociais, de pura brincadeira, tudo cabe dentro das aventuras. Comecei a trabalhar com a gatilho depois da exposição da Casa Marela. O Gilberto falou comigo e propôs-me a participação porque gostava de ter uma página de B.D. na revista , eu achei porreiro pois era uma motivação extra para continuar a fazer as aventuras e um bom modo de divulgação. Gatilho - Achas que Amarante e no fundo o Globo, até porque falas e desenhas de "Amarante para o mundo", têm temáticas suficientes para um futuro risonho para estes dois combatentes ?! De “Amarante para o mundo” foi ideia do Zé Gonçalves que partilhou uma aventura no facebook e pôs-lhe este titulo, que eu não considero descabido pois as aventuras apesar de terem como base Amarante, faço questão de frisar isso, também comentam casos nacionais, internacionais, de outras galáxias e até da 5ª dimensão ,por isso temáticas são sem duvida mais que suficientes, só os nossos governos... Gatilho - Donde te surgiu a inspiração dos protagonistas, que têm como grandes companhias de vida, os diabos? Surgiu-me na altura da inauguração da Casa Marela, como iam abrir a galeria pelas festas do Junho ,lembraram-se de fazer a | 18 |

primeira exposição com o tema os “Caralhos de São Gonçalo”. Uns tempos antes a Rita Sá perguntou-me se eu estava interessado em participar, eu achei a iniciativa espectacular e disse-lhe uns dias depois que gostava de o fazer mas que ainda não sabia como. Se optava pela pintura ,uma vez que é ao que estou mais habituado, se faria uns desenhos ou outras ideias que tinha tido. Entretanto soube que a exposição ia ter bastante afluência de participantes, desde pintores, designers, escultores, escolas e muitos outros e concluí que queria fazer qualquer coisa diferente. Foi aí que me lembrei da B.D., comecei a fazer uns esboços que evoluíram rápido e acabei por fazer a primeira aventura em género de apresentação dos irmãos Rosquilho Gonçalo, o Falo e o Falinho.


...existem aventuras em que a critica politica e social está presente e pode acabar por funcionar como um alerta ou uma visão diferente sobre algum problema...

Gatilho - De referir a linguagem de rua – calão – que usas nas tuas bandas desenhadas, assim como os próprios discursos juvenis. O alvo especial é cativar a juventude e ao mesmo tempo chamar a atenção de uma forma "imaginativa" para certos problemas?

Os diabos nascem da necessidade de aumentar a família e intervenientes nas histórias, depois de pensar em várias personagens, lembrei-me deles porque fazem parte da história da cidade e foi de forma natural que se tornaram parte das aventuras mas mais personagens estão para aparecer. Gatilho - Parece ser uma forma bastante original de lidar com a História da cidade? Sim, acho que sim. Já se fizeram B.D.`s e utilizaram outros suportes para contar a história e divulgar Amarante mas sempre de um modo muito histórico e sério, penso que é a primeira vez que se adaptam os costumes, as lendas e as personagens de Amarante num trabalho deste género.

Por vezes existem aventuras em que a critica politica e social está presente e pode acabar por funcionar como um alerta ou uma visão diferente sobre algum problema, mas não tenho como pretensão denunciar ou combater injustiças. Gosto mais de pensar que são personagens um pouco irreverentes, é como os amigos que se encontram na rua, falam como os amigos falam, de tudo e de nada, normalmente com algum humor, por isso o calão pareceu-me o caminho a seguir. Gatilho - Numa delas dizes "eu não penso só bebo binho" é complicado Pensar em Amarante?! Isso foi dito por um amigo meu, o Litos, que tem umas tiradas fantásticas, numa ocasião em que alguém o estava a tirar do sério ele saiu-se com essa, foi um vai-te foder baixinho com muita pinta. Actualmente não acho que seja complicado pensar, com a informação e ao conhecimento a que temos acesso acho que só não pensa quem se auto-atrofia e se mantém acomodado. À uns anos atrás acho que se podia dizer isso por falta de educação e informação que era sonegada às pessoas tanto pelo estado como pelas religiões que impunham a ignorância. Hoje em dia existem outros mecanismos para isso bem mais | 19 |


subtis, por exemplo, a manipulação e imposição da informação. Mas a verdade é que cabe às pessoas utilizar os direitos que possuem para perguntar, duvidar e tirar conclusões. Hoje felizmente temos uma coisa fascinante que é a liberdade, é uma pena se não tivermos a responsabilidade de a usar e aproveitar, até porque ficou e ainda fica humanamente muito cara. Gatilho - Há quem diga que a Gatilho é "Uma pedrada no charco", como é que vês este núcleo, inclusive tu como activista activo desta causa... e porquê esta colaboração com a Gatilho? O que se está a fazer na Gatilho e na Porta 43 é fora de série, atualmente em Amarante é a única forma de divulgação que os artistas menos conhecidos têm disponível para dar voz à sua obra com a mais valia de que tanto para os convidados a participar como para os leitores o custo é zero. Não se vê isto em qualquer lado, enalteço o altruísmo das pessoas que trabalham na associação e na revista, que o fazem, e vou usar uma expressão comum mas correcta, por amor à arte. Gatilho - Sabemos que tens andado a explorar a tua veia de Dj de punk e rock and rol, no Darcos! Com um passado rico e altamente cultural, como é que vês esta experiência? Sou um gajo que coloca umas musicas a tocar, mais como hobby, não me vejo como um DJ propriamente dito, porque não tenho formação nem conhecimento para fazer o que eles fazem, como por exemplo, pôr qualquer tipo de som que lhes é pedido. Conheço o Fabio (DJ Fritzen) ou DJ Pantera prós amigos e esse sim é rapaz para por qualquer coisa que lhe peçam, desde musica eletrónica, house, dub, rock, etc. Eu só passo as musicas que conheço e dentro da onda que ouço. Gosto muito de passar a musica que passo quando mais não seja para divulgar um pouco de musica diferente do que se ouve noutros lados e que acaba por ser quase tudo igual. Penso que quanto mais diversificado melhor, pois podemos escolher o que queremos sem ter que ir em modas popularuchas. Não é que tenha alguma coisa contra porque acho que há alturas para ouvir de tudo mas não quero passar a vida a ouvir Kizomba, R&B, Pimba, House, e coisas do género em todo o lado.

Hoje felizmente temos uma coisa fascinante que é a liberdade, é uma pena se não tivermos a responsabilidade de a usar e aproveitar,

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Gatilho - Já há roadies que vão ter contigo e "passa esta" ou "aquela" ... parece que todos os teus sets têm sempre um formato diferente, o que tentas passar? Predominantemente Rock&Roll, Punk, Metal mas posso ir a Blues, Jazz, Funk e outros géneros musicais ou musicas que me pareçam bem. Faço questão de passar sempre musica portuguesa seguida ou intercalada com música estrangeira porque temos realmente bandas fantásticas, tudo dependendo do pessoal que lá está para me aturar. O Punk é uma cena mais pessoal por ser um dos géneros que mais gosto, mas a maioria das pessoas têm o preconceito de que são gajos com comportamentos poucos convencionais, aos berros com as guitarras ao máximo e a partir tudo. Também os há, mas é verdade que existem bandas com uma musicalidade mais composta e organizada com musicas espectaculares e com sonoridade bastante original que gosto de dar a conhecer para aguçar a curiosidade e no caso de já conhecerem que possam curtir um som que normalmente não passa em bares. Gatilho - Nomeia lá algumas bandas e canções que te dêem gozo tocar? E, já agora, um tema que está em discussão desde tempos imemoriais, no cenário musical tuga, e tu como um roadie que sempre acompanhou o panorama do rock e não só mundial e nacional " um Dj passa música ou toca música"? Gosto muito de passar a “Easy way out” , a “My baby got run over” e outras dos The Adicts, a “1977” ou a “I Fought the law” na versão dos Clash, a “She does it right” dos Dr. Feelgood, a “Cherry Bomb” dos Runways, muitas dos Ena Pá 2000, Cramps, Crass, Bauhaus, the sound, Sex pistols, Bad Brains, Doors, Black Sabath, Led Zepplin, ACDC, Motorhead, Rage Against The Machine, Prodigy, Nirvana, algumas cenas indie e muitas, muitas outras. O que eu faço é passar a musica que os outros tocam, por isso ponho ou passo musica. Mas há DJ's que produzem o som que passam e fazem umas manobras nas mesas de mistura, acho que aí faz sentido dizer que tocam, apesar de... Gatilho - E quê "Punks not dead em Amarante?" Not dead em Amarante nem em lado nenhum, curiosamente quem fez a musica “Punk is Dead” foram os Crass, excelente banda Punk, se não estou em erro em 1978, em que diziam que o Punk estava morto a partir do momento em que se tornou mainstream e algumas bandas, inclusive os Clash, eles frisam isso na musica, assinaram com grandes editoras discográficas perdendo a essência Punk, mais tarde os Exploited fizeram a “Punks Not Dead” mas compreendo o ponto de vista dos Crass. Em Amarante, há um grupo grandito que gosta do género, praí umas cinco pessoas! Não, há bastante gente que ouve mas que, e bem, ouvem outras coisas. Eu vejo o Punk como um género musical onde o inconformismo, a transgressão e superação de limites impostos e a intervenção estão muito presentes, se bem, que estas definições estão noutro tipo de movimentos, sendo o som do Punk, normalmente, mais simples, nu e cru faz mais sentido para mim.

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Gatilho - Que idade tens? E, qual a tua inspiração como artista e individuo, pertencente a um colectivo? Sou puto pra 42 anos e rapaz para gostar de muita coisa, algumas muito diferentes, sem idolatrar ninguém em particular, posso gostar muito de uma obra de um artista e doutra não gostar nada. Na juventude procurei movimentos, bandas, artistas, e conceitos com que me identificasse melhor. Entretanto, reparei que a oferta era tanta e tão variada que era muito limitado ficar refém de algum em particular. Tento tirar proveito do que para mim faz mais sentido e me toca mais pessoalmente. Gosto de artes plásticas em geral, desde o clássico ao contemporâneo e do expressionismo e dadaísmo em particular. No cinema vou desde o “Pátio das Cantigas” (antigo) à “Guerra das Estrelas”. Também gosto de ler mas como não tenho muito tempo nem cabeça fresca, acabo por adormecer e ter que reler , o que é uma chatice. Lembro-me que me deu muito gozo ler “Eurico, o Presbitero”. Na BD, comecei, desde pequeno, a ler a revista “Falcão” e a “Texas” e a apanhar algumas secas com o Vasco Granja, a ler comics como “Marvel” ou “Disney” e gosto muito do “Astérix”. Gatilho - Acreditas que apesar de o povo parecer "amorfo" na maioria das vezes, não podemos desistir de o Educar? Vivemos numa altura em que as pessoas se sentem meros piões, tendo a sensação que a vida está estagnada e sem perspetivas de futuro o povo fica amorfo. Estamos a perder a força de trabalho dos nossos jovens e dos não tão jovens, dos menos aos mais qualificados, com a imigração. Por cá o emprego é muito pouco e a maioria que se arranja é precário ou como diz o meu amigo Nuno “vivemos tempos de escravatura gourmet”. Por estas e outras razões igualmente importantes temos que nos permitir sonhar com melhores condições de vida, e assim não desistir de nos educar e apoiar mutuamente, visto que temos muito a aprender uns com os outros, como seres sociáveis, fantásticos, únicos e capacitados que somos.

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SKILLS & THE BUNNY CREW EM ENTREVISTA GATILHO - Parece tratar se de um hip hop “electrizante”…Como nasceu a ideia de criarem o projecto e este tipo de sonoridade com “base instrumental” rock? Skills & The Bunny Crew nasce da minha vontade de me afastar dos beats e criar algo orgânico. Uma banda que pudesse elevar o som que eu já fazia a outro patamar. Em 2008 falei com o Zé (baixista) e com o Pedro (guitarrista) e partilhei com eles a minha ideia. Mostrei-lhes as músicas e disse-lhes que queria fazer uma banda. Eles aceitaram. A ideia era pegar em músicas minhas (composições e letras antigas), e transformar aquilo em formato de power trio. Em 2009 o Tropa junta-se a nós e chegamos à fórmula final, criando assim esta sonoridade que alguns chamam de Hip Rock. Não tardou muito para que S&TBC não fosse apenas uma

ideia minha. Passou a ser uma identidade própria, fruto da química criativa de 4 músicos. GATILHO - O hip hop/ hip rock é uma arma em Portugal? Se tivermos em conta algumas teorias conspirativas mundiais que dizem que os “rappers” são os alvos predilectos a abater pelo sistema… Há alguma verdade nisto, no vosso entender? Até há quem diga, que Bezegol pode muito bem ser o seguinte o Zeca Afonso? Qualquer fonte de reflexão, seja ela um quadro, um cineasta, um músico ou outro agente cultural ou do conhecimento, é um inimigo da ignorância, do conformismo da desinformação. | 24 |

...chegamos à fórmula final, criando assim esta sonoridade que alguns chamam de Hip Rock....


GATILHO - Os Skills & The Bunny Crew são incomodativos para o conformismo, “o cinzento da mente”? Como é a recepção do público à banda?

GATILHO - Acham que através da vossa música conseguem despertar consciências, o que levaria a um nível individual de Inteligência e de Liberdade, o que poderia ser perigoso: subversão… Até porque têm inspirações de uma banda incontornável de “denúncia” e que sempre lutou pela Igualdade, e que faz pensar: Rage Against the Machine… Há alguma tentativa de, com a vossa criação artística, educarem?

A música que fazemos, as letras que escrevo pretendem uma coisa, essencialmente: gerar uma emoção. Se ela é positiva ou negativa, vai depender do momento, experiência, vivência de cada pessoa que ouve. A reacção que vejo na cara das pessoas que nos ouvem pela primeira vez é quase sempre a mesma: primeiro ficam atentas, como se se passasse algo de diferente, depois começam a dançar devagar e no fim costumam estar já com os braços no ar a curtir como se não estivesse ninguém a ver. É muito interessante.

Educar é uma palavra paternalista demais. Gosto de acreditar que estou a deixar algo de útil. Com sensibilidade, bom senso e espírito. E nem sempre escrevo sobre política. Já escrevi sobre sexo sem compromissos. Mas mesmo quando o fiz ou faço, tento que o meio seja a mensagem: ou seja, uso as palavras como o próprio sexo deveria ser, com ritmo, amor, raiva, requinte, liberdade, sem constrangimentos.

GATILHO - Falam de acontecimentos da vida quotidiana, amor e crítica social! Para quem escuta parece ser uma produção quase inconsciente, o “ritmo das Letras”, a forma como p r o g r i d e a m e n s a g e m . Tr a t a s e d e “automatismo”?

GATILHO - A música pode derrubar fascismos. Querem comentar? Um cérebro curioso e engenhoso pode fazer milagres. Inventar a roda, levar o homem à lua, construir pirâmides. Se a música te ajudar a colocar as coisas em perspectiva ou em questão, quando

Entre nós, a música acontece. É a única resposta que posso dar.

...Educar é uma palavra paternalista demais. Gosto de acreditar que estou a deixar algo de útil. Com sensibilidade, bom senso e espírito.....

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elas estão em banho-maria ou acorrentadas, ela pode fazer tudo o resto. Ela dá-te o combustível. Tu levas a chama ao sítio certo. GATILHO - Em 2014, lançaram Musa de Guerra. Trata-se de um álbum sobre mulheres divas porque são “Amor revolucionário?” Os Skills & The Bunny Crew Amam? Musa de Guerra tem a ver com caos e ordem. Esse amor, em tempos de desordem ou desnorte, é o que te move para fazer a mudança. "I pray for change. You pray for chains." Nós amamos. Não mais do que o próximo, não menos do que quem consegue realmente abrir os olhos e ver tudo o que esta ostra gigante tem para nos oferecer, assim que nos libertamos das correntes modernas. GATILHO - Músicas da vossa vida. Grace - Jeff Buckley Prince - Sign O´Times Led Zeppelin - Achilles Last Stand RATM - Wake Up Amália - Fado Português

...chegamos à fórmula final, criando assim esta sonoridade que alguns chamam de Hip Rock....

...e tantas, tantas outras.

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