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Abandono de animais e adoção na pandemia
LUIZA LUZ
Minhas duas gatinhas são essenciais na minha vida. Tive depressão uns anos atrás e, naquela época, meus cachorros eram minha alegria. Quando que um deles faleceu, fiquei muito mal. Depois que adotei as duas gatinhas sou outra pessoa. Me sinto completa com elas, elas sabem quando não estou bem, vêm me dar carinho e me enchem de alegria todo dia. Adotá-las foi a melhor escolha. Principalmente nessa pandemia, que está deixando a gente maluco... Elas mudaram a minha vida e eu sei que mudei a vida delas as adotando.”
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É o que diz Yara Borges Casaroti, de 20 anos, estudante de enfermagem, em um relato sobre a adoção de animais. Segundo uma pesquisa feita pelo Instituto H2R, a pedido da Comissão de Animais de Companhia (Comac) no ano de 2020, disponibilizada pela Revista Galileu, a adoção de pets se tornou uma tendência no Brasil. Cães e gatos, os bichinhos mais escolhidos pela população, foram mais adotados em ONGs e resgatados nas ruas do que comprados naquele ano.
O resgate de animais, infelizmente, não é uma prática tão comum no país. Durante a pandemia, os números foram se intercalando: ora havia mais adoções, ora havia mais abandonos. Há pesquisas que apontam que o número de pessoas que adquiriu um pet cresceu, enquanto outras dizem que desabrigo foi maior. Animais não são brinquedos descartáveis. Eles exigem cuidado, atenção, carinho e dedicação. A adoção deve ser planejada com calma, para que os bichinhos não saiam como prejudicados no final, e não venham a fazer parte dos 30 milhões de animais abandonados no Brasil, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
De qualquer forma, no município de Ribeirão Preto, o número de cães e gatos adotados cresceu durante a pandemia. Apesar do número alarmante, dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) apontam que apenas 40% dos cães domésticos foram adotados, enquanto 60% dos donos optaram por comprar uma raça especifica.
“Mas por que muitas pessoas escolhem cães de raça ao invés de vira-latas?”, é a pergunta que não quer calar. Muitos dos donos acreditam que pelo fato de o animal possuir o famoso “pedigree” ou ser pertencente a uma linhagem “pura”, sem mistura com demais outras espécies, ele terá maior valor comparado àqueles que são mestiços. Um pensamento que, se parado para analisar, não faz o menor sentido. Todos os cães, gatos, são iguais. Alguns possuem personalidades diferentes dos demais, mas
“somente por serem suas características, e não por estar interligado a raça. O comportamento do animal condiz com os ensinamentos do seu dono; afinal, é ele quem o molda.
“Muitas pessoas têm preconceito com animais de ruas porque pensam que eles são sujos e doentes, então a grande maioria prefere comprar pela opção de escolher a raça, cor e porte. E também por status, na cabeça de algumas pessoas um cão Spitz, por exemplo, faz mais sucesso do que um vira-lata”, relatou Carolina Borges, 20, proprietária do Carol Pet-Sitter em Ribeirão Preto, estabelecimento que cuida de animais enquanto seus donos estão ocupados ou viajando.
Carolina também relata que dentre os pets que recebe, grande parte
Adoção de cães e gatos aumentou em Ribeirão Preto durante a pandemia
Abandono de animais e adoção na pandemia

deles são comprados, pertencentes a raça Spitz Alemão, mais conhecido como Lulu da Pomerânia. O que, coincidentemente, condiz com dados obtidos pela Confederação Brasileira de Cinofilia, sediada no Rio de Janeiro, que estabelece padrões para criação, emite registros, pedigrees e promove premiações de cães de raça pura no Brasil. Segundo uma pesquisa feita no ano de 2020, essa é a raça mais popular do Brasil.
Além destes dados, a pesquisa também revela que o crescimento da população animal aumentou nos últimos anos, contando com cerca de 55,1 milhões de pets. Muitos desses que, na preferência daqueles que deveriam ser os seus donos, não são escolhidos por não possuírem raça ou “linhagem pura”.
O pedigree não deveria definir o futuro de um animal. A raça ou a falta dela não diz respeito ao caráter, o amor incondicional e apego que cão ou gato pode oferecer ao seu futuro dono. Diante de dados coletados pelo Instituto Pet Brasil, em 2019, mais de 172 mil animais, entre cães e gatos, se encontram em situação de rua. Número esse que, possivelmente, deve ter aumentado.
E que pode ser diminuído. Muitos desses pets se encontram nas ruas, em centros de adoção, esperando por um lar. Se puder optar entre compra e adoção, adote. Tudo o que eles querem é uma casa confortável, um dono para amar e brincar. Animais sem raça definida são tão amáveis quanto aqueles que possuem raças específicas. A única diferença entre ambos, é que os vira-latas sempre são os menos escolhidos.

