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O empreendimento e um novo normal
O empreendedorismo e um novo normal
Cenário de crise trouxe desafios, mas a criatividade proporcionou novas oportunidades aos empreendedores, que tiveram que se reinventar
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Fotos: Jamiele Cavalcante
Vitor Pinheiro encontrou uma solução para se manter na pandemia: vender tortinhas de limão
JAMIELE CAVALCANTE
Oempreendedorismo não é uma tarefa fácil e no cenário de incertezas que vivemos, em meio a uma pandemia que atinge não só a saúde, mas praticamente todas as áreas da sociedade, a capacidade para encontrar novas formas de produzir ou prestar serviços para continuar atendendo a demanda dos consumidores são ainda mais relevantes.
A pandemia chegou, a economia parou e o medo do desemprego assombrou os lares brasileiros. A imprevisibilidade do cenário futuro fatalmente acarretará o fechamento de diversos empreendimentos.
Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que cerca de 700 mil pessoas passaram a fazer parte da estatística do desemprego nas duas primeiras semanas de junho no Brasil, o que elevou o índice de desocupação de 11,8% para 12,4%.
Apesar dos acontecimentos ruins, o brasileiro tem levado ao pé da letra a ideia de que crise gera oportunidade. Entre 7 de março e 4 de julho deste ano, o Portal do Empreendedor registrou 551.153 novos microempreendedores no país, 16.788 a mais do que no mesmo período de 2019.
Enquanto empresas de todos os segmentos e portes fecham as portas em decorrência das complicações financeiras geradas pela pandemia, outras nascem da necessidade de ter uma nova fonte de renda ou simplesmente da vontade de tirar uma velha ideia do papel.
Milena Trindade, 22, começou a vender roupas femininas pela internet. Ela disse que o sonho de ter seu próprio negócio era de três anos atrás, mas que devido à correria do dia a dia, vinha adiando a ideia.
“Quando a pandemia começou, minha rotina mudou drasticamente. Trabalhando como corretora de imóveis, saía de casa às 9h e não tinha hora para voltar. A semana era corrida. Quando tudo parou e comecei a trabalhar em casa, a ideia foi se estabilizando na minha cabeça, mas eu tinha medo pelo cenário que estamos vivendo. Eu já tinha uma boa reserva e comecei a economizar


Fachada da loja da empreendedora Milena Trindade
cada vez mais. Foi quando comecei a estudar a área, os fornecedores, o meu público-alvo e o que as pessoas estavam consumindo. Conversei com vários amigos sobre a ideia e todos me incentivaram. Depois de muita pesquisa e ver que as compras e-commerce era o que estava em alta, decidi começar minha própria loja”, afirma Milena.
No atual cenário, temos dois tipos de empreendedores: de um lado, há pessoas excluídas do mercado de trabalho ao longo da crise econômica que juntaram criatividade e boa vontade para investir no próprio negócio. Do outro, há empresários que optaram por manter os investimentos, certos da retomada do lucro no pós-pandemia.
O número de empresas abertas no Brasil voltou a crescer em junho, depois de uma grande queda dos investimentos nos meses de abril e maio, decorrentes da crise econômica geradas pela pandemia.
Vitor Pinheiro, 21, começou a vender tortinhas de limão. Ele conta que iniciou seu negócio na pandemia para realizar um sonho e ter uma renda extra.
“Faço faculdade de educação física e trabalho o dia todo. Começar a vender as tortinhas me ajudou a ter uma renda extra para pagar a faculdade e ter uma independência maior. Tento conciliar meu tempo entre a faculdade, trabalho e as vendas das tortinhas, pois com a pandemia, meu horário de trabalho ficou incerto, então sempre quando tenho uma folga anuncio nas redes sociais. Aí as pessoas fazem as encomendas e começo a produção para as entregas”, disse Vitor.
Em tempos de covid-19 e isolamento social, quem deseja empreender precisa estar atento à comunicação e relacionamento com o cliente.
Diante de um negócio e público desconhecidos, é necessário estabelecer uma relação de confiança e fidelidade para manter um empreendimento consistente em condições adversas e saudável o bastante para continuar no longo prazo.
Milena afirma: “O crescimento no começo é o mais difícil. É um trabalho de formiguinha que você precisa focar e insistir. Nem sempre vai sair a quantidade de vendas que você esperava. As dificuldades são inúmeras. Nem sempre é o que a gente imagina.”
“A palavra certa é resiliência. Li uma frase que me motiva a continuar: ‘daqui a um ano você vai agradecer por ter começado hoje’, e é isso que eu penso, quero chegar longe e olhar para trás com orgulho e muito aprendizado.”
Empreender traz alternativas de sustento para a própria família e, quem sabe, para outras. Isso pode ser uma saída honrosa e rentável. Se você faz parte de um exército de trabalhadores sem trabalho, o caminho do empreendedorismo é forte arma para enfrentar esse momento. O sonho de Vitor se tornou realidade
O pão nosso de cada dia
Vendedores enfrentam sol e o vírus da covid-19 para sobreviver com venda de balas em meio ao trânsito de Ribeirão Preto
Foto: Thiago Mokwa
O baterista Messias leva música à avenida Nove de Julho, em Ribeirão

THIAGO MOKWUA
Com a pandemia em Ribeirão Preto, muitos perderam o emprego e foram tentar a vida em outras áreas, como entregadores de aplicativos, motoristas de Uber, entre outros.
Mas há algumas pessoas que, mesmo antes do coronavírus, já buscavam meios alternativos para sobreviver. Muitas delas, por falta de oportunidades, vivem da venda de balas em semáforos ou usam a criatividade para criar seus próprios produtos.
Em decorrência da pandemia, a vida delas ficou mais difícil e perigosa, pois trabalham em contato direto com outras pessoas.
No semáforo da avenida Nove de Julho, João Paulo Messias criou um chinelo personalizado com formato estrelado, e nomeou sua mercadoria de “Estrela da praia”. Messias chama a atenção do público tocando bateria, cujas noções do instrumento ele diz ter aprendido no YouTube.
Messias chegou a Ribeirão há 20 anos com o sonho de ser dançarino, porém, por falta de oportunidades e outros problemas, acabou fazendo vários trabalhos na rua como catador de recicláveis, flanelinha e vendedor de chicletes em boates.
Hoje ele mora em Morro Agudo e todos os dias viaja para Ribeirão, dorme pouco e trabalha muito para conseguir comer. Ele vende balas e suas sandálias customizadas no semáforo.
“É muito difícil, porque fico muito perto de todo mundo, não como direito e vivo queimado por causa do sol. Minha saúde está em risco, mas não dá para parar de trabalhar, porque se parar eu morro de fome. Trabalhando eu corro risco de morrer de coronavírus. ”
Marcelo Ramos, conhecido como Marcelinho, também trabalha no semáforo. Ele sempre fica num dos semáforos da avenida Portugal, perto da avenida Diederichsen. Ele possui uma deficiência mental, não tem família e vive do que arrecada vendendo balas e chicletes na rua.
“Ter que ficar aqui no sol, sempre exposto ao vírus, é muito difícil, mas não posso parar. Tenho que comer. Quando todo mundo ficou em casa, cheguei a ficar dias sem comer. Algumas vezes o Burger King me dava um lanche e um refrigerante para ajudar a passar o dia, mas por muitas vezes nem um real por dia eu conseguia.”
No centro da cidade, Luís Oliveira fica no semáforo do calçadão vendendo doces e brinquedos. Ele relatou que sua renda caiu quase a zero após o início da pandemia.
“Estou passando fome, meus filhos também, minha mulher consegue ajudar, mas mesmo assim é muito pouco. Eu fico aqui, sempre de frente com a morte invisível e preocupado com as crianças, de passar alguma coisa para elas, ou pior, de deixar elas sem pais.”
Foto: Felipe Camargo
Geralmente, uma criança é abusada por alguma pessoa de seu próprio convívio

Os malefícios da pornografia
Consumo exagerado de materiais pornográficos tem refletido negativamente na sociedade
FELIPE CAMARGO
Amenina de 10 anos que foi estuprada pelo próprio tio e que sofreu abusos do mesmo por quase metade de sua vida teve sua gravidez interrompida em agosto. A história ganhou repercussão nas redes sociais, não só pela urgência do caso, mas pelo fato de que as informações pessoais da vítima foram vazadas ao público, inclusive em qual hospital seria feito o procedimento, onde manifestantes ligados a religiões, organizados por um grupo antiaborto, protestaram do lado de fora da unidade de saúde.
Enquanto isso, no mundo virtual, mais especificamente nos sites pornográficos, títulos como “Sexo com o pai”, “Sexo com padrasto”, “Fiz sexo com minha filha”, “Fiz sexo com minha enteada adolescente” ficaram em alta, arrecadando mais de 50 milhões de visualizações cada.
A indústria pornográfica é responsável pela morte, tortura, sequestro, abusos e suicídio de milhares de mulheres ao redor do mundo, direta ou indiretamente falando, não se precisa de muito mais que uma rápida pesquisa para saber de tudo isso. Porém esse é só o início de um problema que se encontra enraizado na estrutura sociocultural de nossas vidas.
Ao mesmo tempo que discutimos sobre a representatividade das mulheres, a pornografia está desconstruindo-a, moldando nosso comportamento sexual a partir do ponto de vista mais tóxico possível: a existência da mulher única e exclusivamente destinada para suprir a pulsão sexual masculina. Isso é algo que está estampado em qualquer pornô, ela está lá apenas como um objeto, um produto a ser consumido, e dos mais de 250 artistas mais buscados nesses sites apenas 15 serem homens, junto com a alta demanda por tags que descrevem características étnicas e etéreas das mulheres são a prova disso.
No entanto se engana quem acredita que elas são as únicas afetadas por essa realidade. A pornografia pode ser tão prejudicial para o cérebro de quem vê quanto o vício em outras drogas.
Hoje o vício em pornografia é considerado um problema de saúde pública, ela distancia o sujeito do real ato sexual, apresentando a ele um forte choque de excitação causada por toda cenografia presente nos vídeos, com atores, atrizes, edição e cenas impressionantes.
Esses estímulos ativam áreas do cérebro relacionadas ao neurotransmissor chamado dopamina, que entre outras funções é um dos responsáveis pela sensação de prazer e gratificação. O uso frequente desses estímulos ocasiona numa perca da sensibilidade dessas áreas, fazendo o usuário buscar um conteúdo mais “forte”, para satisfazer sua necessidade de adrenalina.
Para nossos antepassados, essas descargas de dopamina eram limitadas a eventos como procriação e uma caça bem sucedida. Porém hoje com o advento das novas tecnologias temos acessos a picos massivos na palma de nossas mãos. Sempre que recebemos um like em uma rede social sentimos uma dessas descargas.
Porém essa abundancia de dopamina no cérebro é excitante a curto prazo, mas leva a quadros de depressão e desmotivação no longo prazo, assim interferindo na nossa capacidade de realizar planos, estratégias, trabalhos e atividades diárias. Na verdade, perdemos o interesse nessas coisas.
Além disso, o vício em pornografia está relacionado a masturbação compulsiva, perda de libido, ejaculação precoce, impotência sexual e isolamento social. Segundo estudos, cerca de 30% a 40% dos adolescentes masculinos já apresentam sinais de estarem sofrendo dessa dependência.
Amor sobre a mesa
Ação voluntária em Pitangueiras sustenta famílias vulneráveis durante a pandemia
MARIA CAROLINA FRANCISCO
Um projeto voluntário de doações de marmitas vem sustentando mais de 70 famílias de Pitangueiras durante a pandemia do covid-19. Criado no mês de abril deste ano, o projeto “Marmitas de Amor” uniu voluntários para a produção de marmitas diariamente. As refeições são entregues todos os dias nas casas de famílias carentes que passam por necessidades nesse período.
Devido à quarentena, muitos estabelecimentos foram fechados e alguns serviços estão estagnados. Com isso, as empresas precisaram demitir um grande número de funcionários, e a parcela da população desempregada aumentou drasticamente.
Muitas famílias começaram a passar por diversas dificuldades. Sem trabalho, não possuem dinheiro para comprar nem o alimento básico para se sustentarem. O projeto “Marmitas de Amor” tem feito toda a diferença para essas pessoas durante a pandemia.
Idealizado por Rosely Lopes Beato, 40, advogada, o intuito do projeto é contribuir com famílias carentes para que possam ter o que comer. Ela diz que houve uma razão ainda maior que lhe inspirou a iniciar essa ação. “Quando recebi o diagnóstico do câncer de mama, perguntei a Deus: Por que comigo? Alguns meses após essa pergunta tive a resposta”.
A advogada afirma que devido à agressividade dos tratamentos oncológicos, seu estômago não Projeto ajuda famílias carentes que não têm o que comer

aceitava nenhum tipo de alimento. “Certo dia, eu estava muito fraca e com muita fome, pois estava há um bom período sem me alimentar. Foi então que me perguntei o que seria pior: ter a geladeira cheia de comida e não conseguir comer ou a situação de muitas outras pessoas que têm a mesma fome que eu, mas que não têm o que comer?”
Rosely afirma que após esses questionamentos, convidou uma amiga para ajudá-la na produção de 100 marmitas para distribuírem às famílias necessitadas do município. “As primeiras marmitas foram financiadas por mim e pela minha amiga. Mas quando decidimos que iríamos distribuir todos os dias, começamos a fazer campanhas para arrecadação de alimentos.”
Segundo ela, agentes comunitárias da cidade também ajudaram na ação. “Pedimos uma listagem das famílias em estado de miserabilidade. Elas gentilmente nos forneceram e então começamos o projeto.”
Desde sua criação no mês de abril, o projeto se manteve de pé com doações. Dessa forma já foram produzidas aproximadamente 20 mil marmitas até os dias atuais. “O Marmitas de Amor sobrevive semana a semana, nunca paramos de pedir doações. Essa é uma parte bem constrangedora de tudo porque é muito difícil pedir, muitas pessoas não entendem o nosso propósito”, disse.
Hoje o projeto conta com dez voluntários ativos e são entregues duzentas marmitas de segunda a sexta-feira. “Temos o compromisso de levar esses alimentos para as famílias e não temos nenhum retorno financeiro para a realização dessa obra. O que fazemos é de coração”, afirmou. Rosely ainda diz que toda doação em dinheiro também é bem-vinda, pois assim conseguem comprar os mantimentos para dar continuidade na produção das marmitas. Durante a entrevista ela sugere: “Se você que está lendo essa matéria e quiser nos ajudar, poderá contribuir com qualquer quantia ou alimentos. Toda ajuda é bem-vinda”.