8 | Forum Estudante | jan+fev’20
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alma calma É preciso ter
Depois de Golpada e Doença da Juventude, o Teatro Aberto apresenta a peça Alma, de Tiago Correia. Dando continuidade ao ciclo temático dedicado às dores da adolescência, este é o texto vencedor da edição de 2018 do Grande Prémio de Teatro Português. Por Vera Valadas Ferreira
“Eles não sabem nada sobre nós, não sabem nada, não percebem mesmo nada”, diz o rapaz, imobilizado numa cama, referindo-se aos adultos. Dois amigos visitam-no e tentam perceber o que se passou. Mas as palavras perdem sentido. As imagens nas redes sociais falam mais alto e mais depressa. Os três guardam segredos que os afastarão de forma violenta. Até aparecer uma desconhecida, tão isolada quanto eles, que parece deter a palavra mágica para abrir a “caverna”. Eis a sinopse de Alma, “a história de quatro adolescentes em busca de um futuro que apazigue o vazio dos dias”, em cena na Sala Vermelha do Teatro Aberto, em Lisboa, até 29 de março. Tiago Correia assina este texto vencedor da edição de 2018 do Grande
Prémio de Teatro Português SPA/Teatro Aberto. A dramaturgia é de Pedro Filipe Marques e Cristina Carvalhal, também encenadora. Alma é um espetáculo para maiores de 16 anos, com cenário e figurinos de Ana Vaz, desenho de luz de Cárin Geada, sonoplastia de Sérgio Delgado e trabalho de vídeo de Pedro Filipe Marques. Sair da caverna É a encenadora Cristina Carvalharl que define à FORUM esta história teatral como “quatro adolescentes em conflito, antes de mais consigo próprios”. “Frases curtas. Silêncios breves. Sob um aparente diálogo há toda uma conversa a que não temos acesso. O excesso de energia, desejos, vulnerabilidades, ideais e hormonas que associamos a este “começar da estrada” revela-se num texto de uma extrema lisura no
que diz respeito a palavras e ações”, avisa-nos. Bernardo Lobo Faria, Bruna Quintas, Guilherme Moura e Sofia Fialho compõem o elenco da peça que gira em torno de um rapaz imobilizado numa cama que é visitado por dois amigos. “O que é que pode acontecer quando ninguém verbaliza como ele foi ali parar? E quando subitamente a violência estala dizemo-nos surpreendidos! Tal como ele, ou como os prisioneiros daquela famosa caverna, que conhecemos da antiguidade, acedemos apenas a sombras, a ecos da “verdade”. “Há quem diga que lá dentro é tudo um simulacro e que é preciso sair para passar a olhar à nossa volta. Ter um espírito livre, capaz de devolver a um jovem corpo, uma alma até agora desconhecida”, conclui.