e_busílis n.º07

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ABRIL 2015

Arejar ĂŠ preciso



[editorial]

Praticamente ninguém procura cumprir compromissos ou promessas Acreditamos que todos os partidos Defendem a existência do Estado, Enquanto estrutura e meios, Para executar as suas políticas. A questão central é sabermos Ao serviço de quem estão essas políticas, O tipo de utilização do aparelho de Estado E o aproveitamento do poder, Para servir interesses de grupos E não de todos. O que está em causa É a dimensão social do Estado Enquanto entidade empregadora, Ou a sua reduzida dimensão. O que está em causa É a modernização e a democratização Do aparelho de Estado, Ou a arrogância, o autoritarismo, As matrizes, os paradigmas e os projetos, que transferem Competências e milhões de euros Para amigos e conhecidos. O que está em causa É a destruição de Funções sociais do Estado E dos direitos dos cidadãos, Desacreditando o sistema público, Privatizado e destruindo


Enquanto podem. Nesta estratégia global, Enquadram medidas e mais medidas Que tentam condicionar a liberdade De expressão e de organização, Que tentam desvalorizar e reduzir A autoestima, o empenho, a história e a cultura profissional Dos trabalhadores da segurança social, Com salários desvalorizados, Carreiras profissionais bloqueadas E os postos de trabalho ameaçados.

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Pasme-se, A gestão e as políticas implementadas Criam pobreza e não riqueza social. Alguns companheiros nossos, Com o salario que recebem do seu trabalho, Não conseguem pagar despesas familiares básicas, Como a renda de casa, a alimentação, Os medicamentos, a água, a luz, Enfim, verdadeiros “luxos supérfluos” A que nos habituámos. Hoje já não é suficiente Trabalhar para pagar as despesas! No ano de 2014, o CCD de Lisboa: * Prestou apoio a nove trabalhadores estudantes; * Disponibilizou crédito sem juros a trinta e seis Associados, para adquirirem livros escolares; * Realizou seiscentos e trinta rastreios da glicose, Colesterol e tensão arterial, mil e quinhentos Atos médicos e consultas de psicologia; * Apoiou 16 associados para a gestão e Reestruturação de planos de vida,


Face às suas dificuldades socioeconómicas; * Concedeu apoio a setenta e três e A cento e oitenta associados, para aquisição De medicamentos e de óculos com receita médica, A crédito e sem juros; * Atribuiu apoio financeiro, sem juros, A vinte e nove associados, em situações sociais graves, No valor global de 10.148,71 euros; * Entregou diariamente, em média, Refeições gratuitas a trinta e cinco associados, Com problemas sociais graves. O CCD de Lisboa e os restantes CCDs da Segurança Social, Não receberam o apoio do Estado que lhes é devido. Mas, Concretizaram as atividades previstas, Foram e serão solidários, Cumprindo e concretizando a sua dimensão social. Duas Notas Finais: * Há dias, um membro dos Órgãos Sociais da ANCCD referia terem – lhe dito que “ eles não gostam dos CCDs”. Perguntamos nós: “e dos sindicatos, e dos trabalhadores, e dos utentes, eles gostam?”. * A afirmação “ Por outro lado, num tempo, como é o nosso, em que praticamente ninguém procura cumprir compromissos ou promessas” não foi produzida por nenhum dirigente dos CCDs ou trabalhador da segurança social, mas sim, nomeadamente, por Padre Lino Maia, Eng. Macário Correia, Maria de Lurdes Pombo. Eles sabem do que falam!

Vitor Duarte

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o que eles dize m... Segundo dados da OCDE, o fosso entre ricos e pobres está no pior nível dos últimos 30 anos. As grandes fortunas, nos últimos três anos, cresceram milhões de euros. Este é o mais desigual país em termos de distribuição de rendimentos, uma vez que o rendimento dos 10% mais ricos é hoje dez vezes superior ao dos 10% mais pobres. CGTP

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Portugal é dos países da União Europeia com pensões mais baixas. Em 2011, os idosos portugueses tinham menos condições para viver a sua velhice com qualidade do que no resto da União Europeia. Em 2014, a pensão média de um milhão cento e setenta mil reformados era de 336 euros. Neste ano, um milhão oitocentos e noventa e um mil pensionistas de velhice tinham uma pensão média de 414,50 euros. Movimento Unitário de Reformados, Pensionistas e Idosos

e2º Trimestre´15 | Centro de Cultura e Desporto da Segurança Social de Lisboa e Vale do Tejo | 7ª edição | propriedade CCD de Lisboa e Vale do Tejo, Alameda D. Afonso Henriques nº 42, 1900-181 Lisboa, T. 218 409 010 | director: Vítor Duarte | conselho editorial: Direcção do CCD da Segurança Social | redacção, layout e paginação: Formiga Amarela, Oficina de Textos e Ideias Lda.


Segurança Social fez 374 mil penhoras, numa média mensal de 433,5 milhões em bens de trabalhadores e empresas. Correio da Manhã

O regime de requalificação prevê a colocação de funcionários públicos em inatividade, a receberem 60% do salário no primeiro ano e 40% nos restantes anos. Os funcionários com vínculo de nomeação, anterior a 2009, podem ficar na segunda fase até à aposentação, porque não podem ser despedidos. Mas os funcionários com contrato de trabalho em funções públicas posterior a 2009 podem enfrentar a cessação do contrato, se não forem recolocados noutro serviço público no prazo de um ano. Fonte oficial

Segurança Social foi obrigada a reintegrar funcionária enviada para a requalificação. Esta é a primeira sentença conhecida, nas dezenas de providências cautelares intentadas de forma individual nos tribunais administrativos. A Segurança Social já anunciou que vai recorrer desta decisão

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Público

A lista de trabalhadores da Segurança Social que vão para a requalificação já está completa e abrange 613 pessoas, número abaixo dos quase 700 inicialmente previstos, disse à Lusa fonte sindical.Segundo a mesma fonte, o número de assistentes operacionais envolvidos no processo é de 462 em vez dos 526 inicialmente previstos. Foi publicada uma lista de 151 trabalhadores das carreiras especiais da Segurança Social (educadores de infância, técnicos de diagnóstico e de terapêutica e enfermeiros), que passaram de imediato para a requalificação, embora tenham processos em curso nos tribunais. O ISS tem atualmente 8.442 postos de trabalho e diz ter necessidade de 7.780. O Observador


Notícias Já aconteceram! Encontro Cultural de Setúbal

No passado dia 14 de Fevereiro, o CCD realizou um Passeio de Cicloturismo – 1º INTER-CONCELHOS – , de aproximadamente 20 km, entre a Praça do Comércio e o Parque das Nações.

O CCD organizou o Encontro Cultural de Setúbal dos dias 11 e 12 de Abril .

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Passeio de cicloturismo

Visita Mosteiro de Alcobaça e Nazaré

Visita a Coimbra O CCD vai organizou, no dia 15 de Abril, uma visita à região de Coimbra.

A 18 de Fevereiro, o CCD organizou uma visita ao Mosteiro de Alcobaça e Nazaré.


fomos a Salamanca A ANCCD e o CCD de Lisboa realizaram, de 27 a 29 de Março, uma visita a Salamanca, ao Santuário Senhora de la Peña de Francia e às aldeias medievais de Bejar, La Alberca. Foram nesta viagem 79 pessoas

Começámos por visitar a Catedral de Salamanca, logo pela manhã. Após a visita à Catedral saímos para Bejar, aldeia medieval com mais de 400 anos, e almoçámos num restaurante local. À tarde visitámos Bejar. No Domingo, 29 de Março, visitámos La Alberca, monumento histórico e artístico de Espanha, e à tarde, saímos para visitar o Santuário Senhora de la Peña de Francia. Após visita ao Santuário, regressámos a Lisboa

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Notícias Estão abertas as incrições para o Encontro Desportivo e Cultural do Algarve 2015

De 7 a11 de Outubro, vai realizar-se o Encontro Desportivo e Cultural do Algarve, que este ano decorrerá em Alvor – Portimão, no Hotel Alvor Baía ★★★★, em regime Tudo Incluído. O Programa terá uma parte desportiva e outra cultural, que serão organizadas em função do número provisório de inscritos. Atividades Desportivas – Minigolfe, Voleibol masculino, feminino e misto, futebol de sete, marcha/ caminhada, minimaratona, tiro com arco e tiro de carabina, petanca, ténis de campo masculino e feminino, ténis de mesa masculino e feminino, e jogos de mesa (xadrez, damas, crapô, sueca, dominó, e outros que obtiverem inscrições). Atividades Culturais – Atividades culturais em parceria com as autarquias limítrofes, Câmara Municipal de Lagos, Monchique, Silves, Aljezur. Os interessados podem inscrever-se em atividades desportivas ou em atividades culturais. O período de Inscrições decorre exclusivamente durante os meses de Abril e Maio, sendo que os preços variam conforme o mês de inscrição. Mais informações no site do CCD.


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Vila de Alvor

Ria, junto a Alvor


a รง n a r F a Viagem 12

14 a 21 de Agosto


blemáticos da hecer locais em n co leza a os n rcais de rara be CCD vai da rtugal. São lo deste ano do Po a as ri es fé rt fo de a to em que é s mui A grande viag lturais daquilo be, tem ligaçõe de valores cu e, como se sa qu os a rm ic te ór st em hi a França carga simbólic uma grande e que carregam rer: em vai percor Europa. A viag

y, a n r e p E , s e y les, Tro l i a s r e V , s i r ches, Pa n a r v A , n e a n, C Reims, Roue chel, St. Malo, Rennes, i Mont Saint-M s / 8 dias oite n 7 , s e r t r a h C tas! r e b a s e õ ç i r c Ins ões no site do

Mais informaç

CCD.

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Carta Aberta ao Primeiro Ministro Aprovada no VI Congresso da ANCCD, por unanimidade dos CCD's presentes, a Carta Aberta ao Primeiro Ministro realça a história dos CCD's e sua importância na estrutura da Segurança Social, o seu papel fulcral no preenchimento de necessidades primárias e outras, a necessidade de enquadramento legal dos protocolos com a tutela, sendo que a suspensão dos apoios e da cooperação põe em causa serviços e actividades fundamentais para o equilíbrio social necessário ao bom funcionamento dos serviços. Deixamos aqui, na íntegra, o texto da Carta Aberta.

Exmº Sr. Primeiro Ministro Com conhecimento ao Sr. Ministro da Solidariedade Trabalho e Segurança Social Os Centros de Cultura e Desporto da Segurança Social há cerca de sete décadas que desenvolvem atividades de caráter cultural, desportivo, recreativo e social junto dos trabalhadores da Segurança Social a nível nacional, contribuindo inequivocamente para o bem estar profissional, intelectual, cultural e social, influenciando positivamente o desempenho exemplar deste setor da Administração Pública. O Estado sempre reconheceu e valorizou estes contributos, apoiando os CCD através de acordos no âmbito da cooperação, disponibilizando apoios logísticos, financeiros e recursos humanos para as Direções destas Associações.


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Estes Centros de Cultura e Desporto, apoiados e incentivados pelos sucessivos Governos da República, ampliaram e diversificaram as suas atividades, em particular as de natureza cultural e social. Foram criados centenas de postos de trabalho em todas as regiões, para dar resposta a necessidades imediatas dos mais de nove mil trabalhadores da Segurança Social que, muitas vezes, só encontram nos Centros de Cultura e Desporto a única e a última resposta solidária para os seus problemas. O intercâmbio de experiências profissionais, a transmissão de competências entre gerações também estimula e eleva a cultura profissional no setor.

A intervenção dos CCD influencia, positivamente, a produtividade e permite uma capacidade de resposta às necessidades. Os Governos, através de Despachos Ministeriais, legitimados pelos Decretos-Lei de execução orçamental, regulamentam a base de apoio e de cooperação aos Centros de Cultura e Desporto, permitindo que as associações elaborem os planos de atividade e orçamentos, estabelecendo e assumindo compromissos com associados, trabalhadores e prestadores de serviços das Associações, cumprindo desígnios e objetivos estabelecidos pela cooperação. Há um contrato estabelecido entre o Estado e os trabalhadores da Segurança

O intercâmbio de experiências profissionais e a transmissão de competências entre gerações também estimulam e elevam a cultura profissional no setor.


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Há compromissos assumidos com eventos internacionais que estarão em causa, se o quadro de cooperação e apoio aos CCD não for regularizado.

Social, representados pelos CCD que, sem a concretização da cooperação estabelecida, não podem honrar os compromissos assumidos, nomeadamente o pagamento de salários, de fornecedores, bem como dar respostas às necessidades mais prementes dos trabalhadores da Segurança Social. Ano após ano, quer o Estado, quer os CCD têm cumprido os seus compromissos, dentro do que foi estabelecido em Despacho publicado para o efeito. No ano de 2013, o Despacho SESS n.º 9739/2013, estabeleceu para projetos e iniciativas, um apoio financeiro global de € 600.000, dos quais € 60.000 deveriam ser atribuídos no prazo máximo de sessenta dias após a entrega dos planos de atividades e orçamentos para o ano de 2014, uma vez que o restante foi entregue no ano de 2013, conforme legalmente estabelecido. O Decreto-Lei n.º 52/2014 de 07 de abril, estabelece no seu artigo n.º50 que o orçamento da Segurança Social apoie financeiramente os Centros de Cultura e Desporto no

desenvolvimento das suas atividades, tendo em consideração o quadro de atividades programadas e as respetivas despesas de administração, devendo as transferências ser definidas, regulamentadas e autorizadas pelo membro do Governo responsável pela área da Segurança Social. Até à presente data, não foram estabelecidos contactos entre as entidades oficiais e os representantes dos CCD a fim de serem definidas as regras de atribuição dos apoios a conceder, nem foi publicado o despacho ministerial previsto no Decreto-Lei da execução orçamental para o ano de 2014. Do mesmo modo, aguarda-se o pagamento dos 10% relativos à regularização do apoio previsto para o ano de 2013. Esta situação está a criar graves problemas de gestão às Associações, levando a que algumas se tivessem visto obrigadas a despedir trabalhadores. Há fornecedores que já suspenderam a entrega de bens e produtos, para atividades essenciais, que são dirigidas a uma parte significativa dos milhares de trabalhadores dos Institutos Públicos de Segurança Social.


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Encontro de CCD’s, Jogos Euros

Há compromissos assumidos com eventos internacionais que estarão em causa, se o quadro de cooperação e apoio aos CCD não for regularizado. Neste quadro de grandes dificuldades diárias, os Órgãos Sociais dos CCD e da Direção Nacional da ANCCD decidiram: Alertar o Sr. Primeiro Ministro para as graves consequências que a suspensão da cooperação está a criar aos Centros

de Cultura e Desporto da Segurança Social, aos trabalhadores da Segurança Social bem como a todos os agentes económicos intervenientes nas atividades. Neste contexto, os CCD serão obrigados a continuar a despedir trabalhadores e a adiar atividades de interesse relevante, designadamente de conteúdo social; Informar o Sr. Primeiro Ministro que, a manter-se a situação, os CCD, a curto

prazo, não terão meios para proceder ao pagamento de salários e do subsídio de Natal das centenas de trabalhadores que têm a seu cargo. Face a esta situação, os Órgãos Sociais dos CCD e da ANCCD, como último recurso decidiram dirigir-se ao Sr. Primeiro Ministro, no sentido de solicitarem a sua intervenção com vista à resolução urgente da situação agora exposta.


Notícias Bares e refeitórios

O ataque mais visível ao associativismo A frase está gasta, mas serve na perfeição: nem tudo pode ser medido contabilisticamente. No caso dos CCD’s e do cumprimento ou não dos compromissos do Estado em matéria de apoios, o que está em causa não é o dinheiro envolvido mas uma opção política que acredita ou não acredita no associativismo com dimensão social. Esta política está a matar o associativismo.

A

história da gestão dos Bares e Refeitórios da responsabilidade do CCD de Lisboa e Vale do Tejo é uma história rica que atravessa agora um dos seus momentos mais penosos. Independentemente das críticas que sempre houve, muito dentro do espírito de que "a galinha do vizinho é sempre melhor que a minha" ou

daquele triste costume, muito deste cantinho, de exigir tudo e criticar sem cessar o que é nosso e gerido pelos nossos pares e ficar calado perante as atrocidades de terceiros, a verdade é que a qualidade dos bens e produtos e a qualidade dos serviços dos Bares e Refeitórios do CCD foram bastamente elogiadas. A relação qualidade preço foi quase sempre imbatível.


Ora, desde dezembro de 2010 que o apoio do Estado aos CCD's para a gestão dos Bares e Refeitórios foi suspenso. Os serviços sociais da Administração Pública têm-se recusado a celebrar qualquer tipo de acordo de cooperação para a gestão dos bares e refeitórios, como se não tivessem nada a ver com a dimensão social destes equipamentos e os CCD's fossem umas entidades quaisquer que exploram aqueles equipamentos visando o lucro. Entretanto, o aumento do IVA para a restauração veio criar dificuldades acrescidas, como se não bastassem as dificuldades económicas do país, o empobrecimento e a redução do poder de compra dos trabalhadores. A quebra nas receitas, para se ter uma ideia, foi de 23% em 2012. Acrescente-se que a maioria dos equipamentos e meios para confeção dos alimentos tem um elevado número de anos de utilização, estão obsoletos

e desgastados, obrigando a reparações constantes, suportadas pelos CCD's. Ou seja, neste curto espaço de tempo, cortaram-se os apoios à gestão, diminuíram-se as receitas e aumentaram os custos operacionais. Manter a qualidade, sem aumentar os preços, prestar apoios sociais a quem precisa (são fornecidas dezenas de refeições gratuitas a quem comprovadamente delas precisa) e substituir-se ao Estado nas suas obrigações, eis o que os CCD's têm feito, à custa de medidas de gestão rigorosas e duras. Mais de 50 postos de trabalho desapareceram, prevêem-se encerramentos de bares e refeitórios um pouco por todo o pais, alteram-se regras de funcionamento por forma a diminuir ao máximo os desperdícios e rentabilizar recursos humanos. Em face da situação de crise, muitos trabalhadores trazem refeições de casa que são consumidas no local de

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trabalho. Esta situação, se articulada com os CCD’s, teria encontrado soluções para fazer refeições dignas. Assim, na região de Lisboa, desde Janeiro de 2013, num curto espaço de tempo, saíram dos refeitórios cerca de 250 talheres, 180 copos e 135 pratos de sobremesa. É justificável que se presuma serem utilizados para consumir os produtos trazidos de casa. A situação atingiu tal dimensão

que os CCD's não têm meios para responder sozinhos e encontrar soluções que devem ser garantidas pelas entidades empregadoras. A situação dos bares e refeitórios é apenas uma parte, eventualmente a mais visível, da situação a que os CCD's estão expostos. No limite, é a sobrevivência destas associações que está em causa, numa altura em que as carências sociais mais gritam pelo movimento associativo e numa

altura em que a cultura de serviço público está a desaparecer a passos largos da Administração Pública e o orgulho de pertencer a um serviço com uma identidade própria, como é o da Segurança Social, está a desaparecer, com reflexos evidentes na produtividade e qualidade dos serviços prestados aos contribuintes e cidadãos. É um património que se está a atirar pela borda fora.


Crise nos bares e Refeitórios Os bares e refeitórios estão a atravessar momentos de grandes dificuldades que obrigam a alterações de funcionamento para eliminar, tanto quanto possível os fatores de desperdício, tanto quanto possível material como de horas de trabalho. O objetivo final é manter a natureza social do funcionamento, o serviço prestado aos trabalhadores, a qualidade dos produtos e o equilíbrio da gestão.

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m 2014, considerando as receitas obtidas e uma parte das despesas diretas (salários dos trabalhadores do CCD e pagamento aos fornecedores), verificamos que, na gestão dos bares e refeitórios, existe um resultado negativo de cerca de 13.682,00€, resultado acumulado mês após mês. Em 2014, foram servidas

115.116 refeições. Não é coisa pouca. São, pelo menos, três os fatores que influenciam negativamente a gestão: Redução das receitas, originada pela diminuição do número global de trabalhadores, dos seus salários e do seu poder de compra; Peso excessivo do custo global dos produtos e dos salários pagos, relativamente às receitas; Incumprimento da cooperação

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estabelecida entre o Estado e os CCD’s e a discriminação imposta, ao CCD de Lisboa e outros, pelas entidades responsáveis no apoio ao funcionamento de refeitórios na administração pública. No ano de 2010, o CCD recebeu do Estado o apoio financeiro global de 727.450,49€; em 2011, recebeu 628.306,02€; em 2012, recebeu 178.991,54€; Em 2013, recebeu


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144.197,12€; em 2014 verifica-se um débito do Estado ao CCD, superior a 160.000,00€. O apoio financeiro, previsto e legislado no Dec. Lei da execução orçamental para o ano de 2014, não foi regulamentado pelo Governo da República e os 10% relativos à comparticipação financeira do ano de 2013, aguardam pagamento, lesando o CCD de Lisboa em mais de 160.000,00€, que deveriam ser utilizados no apoio às atividades para o bem-estar social e profissional dos trabalhadores. Na segurança social, até 2010, a cooperação estabelecida com os CCDs incluía o apoio ao funcionamento dos bares e dos refeitórios. A partir dessa data, esse apoio cessou,

devendo ser os Serviços Sociais da Administração Publica a responder por essa necessidade, o que não se verificou até hoje, em várias regiões do País, nomeadamente em Lisboa. Esta discriminação, considerando os apoios atribuídos por esses serviços sociais, nomeadamente a empresas de restauração do sector privado, representa, no caso do CCD de Lisboa, uma quebra nas receitas de mais de 70.000,00€, fortemente penalizadas também pelo agravamento do IVA para a restauração. Na administração pública em geral, são os Serviços Sociais da Administração Pública que têm a responsabilidade de garantir a existência de refeitórios para os trabalhadores ou de fazerem acordos com entidades

que possam prestar esses serviços, e cumprir esses objetivos. Este incumprimento e esta discriminação imposta pela tutela rompe acordos estabelecidos e lesa gravemente uma das principais funções sociais dos CCD’s. Acrescente-se que os CCD’s, em muitas das funções que têm, se substituem à tutela nas suas obrigações sociais e aqui não colhe o argumento da


privatização, já que é sabido e provado, já por mais de uma vez, que isso piora e encarece os serviços, para além de tudo ficar mais caro à própria tutela. Neste momento, a manutenção dos bares e refeitórios passa obrigatoriamente pelo equilíbrio das respectivas contas, corrigindo-se funcionamentos que criam parte do desequilíbrio verificado. Os CCD’s vão fazer a sua parte: alterar normas de funcionamento com

vista a uma gestão mais apertada que elimine todos os desperdícios possíveis, contando para isso com os trabalhadores da Segurança Social. A tutela terá de fazer a sua, que é cumprir os acordos que existem e contribuir para os apoios sociais aos seus trabalhadores, ao invés de os retirar, num quadro de dificuldades gerais. O objetivo dos CCD’s é manter a qualidade dos produtos e a diversidade

das ementas. Poderemos recuperar, simplificando os procedimentos e eliminando parte considerável de sobras, não aproveitáveis, que configuram uma utilização deficiente de recursos e consomem parte das receitas. Neste quadro de dificuldades, a marcação prévia das refeições será determinante para evitar desperdícios que não beneficiam ninguém, para além de permitir simplificar a gestão dos recursos humanos existentes, garantindo o serviço de pequenos-almoços, almoços e lanches. Estamos convictos de que estas medidas permitirão ao CCD respeitar os compromissos assumidos com os seus trabalhadores e fornecedores, mantendo os bares e refeitórios a funcionar na região de Lisboa com dignidade e qualidade.

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Uma responsabilidade coletiva

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J

á são sobejamente conhecidos os novos modelos de funcionamento dos bares e refeitórios. As novas regras, nada complicadas, já levam pouco mais de um mês de experiência e ainda não possibilitam saber se atingem os objetivos pretendidos de maior rigor na gestão, recuperação das perdas e manutenção da relação qualidade preço, para além do cumprimento de uma obrigação social que nos assiste enquanto associação de trabalhadores sem fins lucrativos. Como é referido em texto aqui nesta revista, o ano passado registou re-

ceitas globais inferiores às despesas diretas (salários dos trabalhadores e pagamentos aos fornecedores). Entre outras razões, importa reter que a tutela não cumpre os protocolos assumidos no passado relativamente a esta questão, revelando uma insensibilidade social que é inaceitável. O objetivo dos CCD's é melhorar a gestão sem por em causa a qualidade dos produtos e a existência dos bares e refeitórios. Com a colaboração de todos estamos certos que ultrapassaremos as dificuldades. A importância das novas regras pode ser aferida se tivermos em conta que há refeitórios onde só o

custo dos produtos significa entre 66,76% e 71,90% das receitas obtidas nos respetivos locais. A estes valores há muitos outros custos a acrescentar, como os salários dos trabalhadores do CCD, obrigações de funcionamento e encargos fiscais. Não é coisa pouca. Uma planificação mais rigorosa, com a colaboração de todos, permitirá uma gestão mais eficaz dos produtos adquiridos, sem sobras que onerem o resultado final e que ninguém aproveita, para além de possibilitarem igualmente uma melhor gestão de pessoal. As regras poderão, aqui e ali, por exceção bem justificada, ser outras. Isto é, poderão ser encontradas soluções que cubram situações concretas diferenciadas, desde que devida e antecipadamente comunicadas. O objetivo, repete-se, é melhorar a gestão sem por em causa a qualidade e a prestação do serviço e a existência dos bares e refeitórios. Que se desiluda quem julga que a gestão privada é melhor que a gestão própria feita pela associação de todos nós. Todos os dias, por esse país fora, muitos trabalhadores comprovam esta realidade.


CCD’s

Uma questão de sobrevivência

Uma rápida vista de olhos pelos estudos que já se fizeram sobre o fenómeno do homem ser social e da sua necessidade de associativismo leva-nos à conclusão de que esta forma de o homem se organizar é tão antiga como ele próprio. Permanentemente em crise, o associativismo em Portugal nunca morreu, resistiu a tudo e, a bem dos equilíbrios sociais, importa que não morra. Uma sociedade saudável precisa da sociedade civil. Sem ela, a democracia definha. O homem precisa de criar laços identitários com o que o rodeia, sob pena de termos gente perdida à procura de um sentido para o que está a fazer e lá colocar a âncora que lhe dá substância.

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o final do séc.XIX, Alexeievitch Kropotkin (mais conhecido pelas suas posições políticas como anarco comunista, que foi preso, do que como cientista), em resposta ao darwinismo social e ao famoso artigo de Thomas Huxley "The Struggle for Existence" (Luta pela Existência) publica as conclusões dos seus estudos e experiências para mostrar que a competição agressiva por meios de sobrevivência não é o principal fator para a Evolução

como defendiam muitos darwinistas. Ele examina a cooperação em comunidades animais, passa pelas sociedades pré-feudais e cidades medievais, chegando aos tempos modernos para concluir que, embora a competição exista, o mutualismo é a principal força a garantir a sobrevivência e o progresso de um grupo como um todo. Para Kropotkin, o ser humano primitivo era um animal indefeso, seria dificil que ele evoluísse através de uma competição intensa e individual. A

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zoologia e a paleontologia demonstram que o homem primitivo vivia em bandos, não em famílias. Posteriormente, surge a organização em clãs, com regras rígidas para serem respeitadas. Por outras palavras, o homem primitivo não era levado, nem exclusiva nem principalmente, por desejos e paixões individuais, mas um ser social, com acções motivadas pelo grupo. Kropotkin diz mesmo que o individualismo irrefreável é um fruto moderno. Sem qualquer ponta de determinismo, a influência cultural nos comportamentos pode ser diminuída, mas não eliminada, isto é, a cultura e os genes não devem ser vistos como factores antagónicos no comportamento, mas como factores que interagem. Este factor é importante para entender a sociobilogia e como a cultura, sendo um factor ambiental, afecta a maneira como serão expressos os genes que tenham relação com o compor-

tamento social. Esta é a matéria central do livro de 1976 de Richard Dawkins "O Gene Egoísta". A ideia de cooperação de grupo, reforça-se com estudos de Robert Trivers que aponta a ideia de altruísmo recíproco como eficaz para a explicação de actos altruísticos entre indivíduos não necessariamente aparentados (ou seja, da mesma família, onde esses actos poderiam ser considerados normais). O que é que isto tem a ver com o associativismo? Tudo, porque demonstra a necessidade intrínseca do homem em organizar-se em grupos, para entre eles garantirem sobrevivência, progresso e bem-estar do grupo como um todo, coisa que individualmente não conseguiriam, como o homem primitivo já sabia instintivamente. Fazendo história, vale a pena recordar que na Grécia antiga, nos séc. V e VI, muitas sociedades de caracter mútuo se formaram, com

intuitos diversos, fossem de caracter religioso, económico, social, político, mas a maioria transformou-se em sociedades de beneficência ou socorro mútuo, especialmente com direito aos funerais. O mesmo aconteceu em Roma, onde ficaram conhecidas como "Collegium", que ofereciam benefícios relacionados com despesas de funeral e sepultura, com os recursos a serem obtidos através de contribuições mensais dos membros. Se pensavam que as associações que hoje por aí existem são novidades do século XX, podem tirar o cavalinho da chuva. Interessante é verificar a relação que existe entre esta necessidade de associação e a passagem dos regimes feudais a governos comunais que deram origem a cidades que foram suporte do desenvolvimento monetário e mercantil. Curioso como a economia feudal se substitui por outra que tem raiz numa necessidade associativa e hoje é suporte da sociedade de mercado e capitalista. Recorde-se que é a necessidade de desenvolvimento do comércio, através das feiras, que passaram de periódicas a fixas, que faz com que sejam criadas as cidades. Ora, o que é que tudo isto demonstra, mesmo com os desenvolvimen-


União Comercial de Mulheres nos EUA, 1900’s

tos ocorridos em tempos mais recentes? Que a preocupação que tem sempre dominado o homem, através dos séculos, é o sentimento de previdência. Veja-se como, na época do capitalismo concorrencial, marcado pelo liberalismo económico, o Estado, em nome da livre concorrência, controla a vida económica dos trabalhadores. Durante o fascismo, com a proibição das associações operárias e sindicatos, estes tiveram de organizar-se sobre a forma de associações de defesa mútua, para poderem procurar soluções para a problemática do desemprego, das mortes, dos auxílios às famílias e aos inválidos etc.. Foi justamente esta união que tornou os trabalhadores não só uma força social relevante como uma entidade politicamente incontornável e foi em virtude dessa importância que surgiram as primeiras leis sociais eficientes.

Ora, nos anos 40 do século passado, em pleno Estado Novo, surgiram as primeiras organizações associativas de caracter social, recreativo, desportivo e cultural no seio dos trabalhadores da previdência, à margem das organizações sindicais corporativas, com direcções afectas ao regime. Esta é uma história longa.

O movimento mutualista ou associativo (mais primitivamente, as sociedades de socorro mútuo) operam de acordo com quatro princípios fundamentais: Democracia - os órgãos directivos são eleitos por um homem um voto e devem respeitar os anseios e desejos dos associados que representam; a Liberdade - a filiação é facultativa; Responsabilidade - as actividades associativas são da responsabilidade de todos, uma vez que apelam à participação de todos; Solidariedade - a discriminação entre pessoas com bens materiais e financeiros diversos não é permitida. Estes quatro princípios continuam válidos e são a força do movimento associativo. O capitalismo e os empresários mais conscientes da potencial força reivindicativa destas associações,

Operários no início do séc. XX

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Cooperativa ‘A Voz do Operário’

tentaram absorvê-las para o interior das suas empresas e corporações. Eles próprios criaram creches, fundos para apoio a funerais, a situações familiares desesperadas, criaram aldeamentos operários e apoio médico básico. Isto desarmava a necessidade de associativismo e qualquer ideia revolucionária que pudesse haver. O associativismo, a haver, ficava-se pelas áreas recreativas e desportivas. Acontece que a Revolução Industrial chegou tarde a Portugal. Artur Martins escreve, em ensaios dedicados ao tema, que "no que respeita ao Associativismo que hoje

conhecemos em Portugal, podemos afirmar que a sua génese se verificou no século XIX sob forte e fundamental influência de duas alterações substanciais: a Revolução Industrial, iniciada em Inglaterra, ainda no séc. XVII e a Revolução Francesa (1789-1793), com a consigna “Liberdade, Igualdade, Fraternidade”. O novo pensamento e acção revolucionaram todo o Mundo e também Portugal, conduzindo à Revolução Liberal (1820). De qualquer modo, Portugal no início do século XIX vivia uma profunda crise: Invasões francesas,

1807 a 1811; Retirada da Corte, gentes e cabedais para o Brasil (29/11/1807); Ocupação militar inglesa iniciada em Agosto de 1808. Estas circunstâncias levaram a uma incipiente industrialização, com o consequente atraso em relação à restante Europa e à pobreza generalizada da população, abundando a fome e a doença; Inexistência de sistema social e alta taxa de analfabetismo. Em 1878, mais de 50 anos depois da Revolução Liberal, o analfabetismo atingia cerca de 82% da população." Neste quadro, a que acresce a abolição das corporações, em 1834,


Manifestação de operários

as populações viram-se obrigadas a associarem-se para minimizarem as dificuldades por que passavam, como bem diz Costa Goodolphim (A Associação Historia e Desenvolvimento das Associações Portuguezas, Lisboa, Typographia Universal, 1876 ) : “O operário, associando-se ao operário, tirando todas as semanas da sua féria uma pequena parcella, garante os recursos para os dias de doença, e por esta forma, sem vender, sem empenhar, sem os seus morrerem de fome, recupera a saúde no regaço da família. Eis a associação de soccorros mútuos…” “O operário precisa ter uma associação sua, onde todos os sócios sejam seus companheiros, onde elle passe uma parte da noite, lendo ou estudando em livros ao alcance da sua intelligencia e

do seu saber. Estas sociedades podem ser chamadas de instrucção popular ou de temperança.” É pois neste contexto que as populações se organizam, constituindo associações, de forma a encontrarem, solidariamente, respostas para as suas necessidades." A Dra. Margarida Gomes, estudiosa destes fenómenos afirma que "a formação de associações pode assumir-se como uma possibilidade efectiva de grupos de cidadãos lutarem e afirmarem a sua identidade. As organizações de tipo associativo são o eixo nuclear de qualquer política de desenvolvimento, na medida em que constituem um pilar decisivo na construção de solidariedades, são a expressão de uma forma de vida em comunidade, que favorece o exercício da democracia e da cidadania.

As associações voluntárias, movidas por fins e metas que não se traduzem na obtenção de lucro, geralmente englobam, na sua estrutura, a presença de voluntários, que se mobilizam para concretizar fins sociais. As colectividades assumem uma importância social, cultural, política e económica bastante significativa. Por não aceitar a filosofia consumista e economicista dominante, como forma de regular a actividade e a intervenção dos seus protagonistas no interior das sociedades, o movimento associativo ainda não viu devidamente reconhecido o contributo essencial que fornece, nem vislumbra nos poderes instituídos uma atitude que lhe permita aumentá-lo substancialmente não lhes reconhecendo as funções sociais desempenhadas por este movimento."

Os CCD’s da Segurança Social

Chegados aqui, importa falar dos CCD's da Segurança Social. Os primórdios destas organizações ficaram lá para trás, nos anos 40 do século passado. O regime de então não estava para facilitar, pelo que tudo deveria ser homologado pelo governo, incluindo a aprovação dos nomes que compunham

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Manifestação de operários

os órgãos dirigentes. Dado que as iniciativas de aproveitamento dos tempos livres dos trabalhadores permaneciam totalmente entregues ao associativismo espontâneo e privado, coisa que desagradava ao poder instituído, o Governo criou a FNAT (Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho), que no seu artigo 2.º reza: “A F.N.A.T. tem por fim aproveitar o tempo livre dos trabalhadores portugueses de forma a assegurar-lhes o maior desenvolvimento físico e a elevação do seu nível intelectual e moral.” Apesar desta tentativa de subordinar os trabalhadores, o movimento associativo continuou a deixar sementes para o futuro. Se após o 25 de Abril o Estado

revelou preocupações de caracter social, o que fez com que muito do associativismo e colectivismo radicasse em áreas recreativas, culturais e desportivas, hoje já não é assim. No caso da Segurança Social, o Estado abdicou de parte das suas obrigações sociais para com os seus trabalhadores atribuindo essa tarefa aos CCD's, assinando protocolos de cooperação que transferiam muitas das suas obrigações para estas associações, que cresceram em actividades, em dinâmica e em importância social, contribuindo e muito para uma realidade que hoje tende a desaparecer que é a particularidade de os trabalhadores da Segurança Social sentirem as especificidades próprias de um serviço que, no seio da

administração pública, não é como os outros. Havia um sentimento de família, de camisola, de identidade comum que está, progressivamente, a desaparecer, à medida que os CCD's vão perdendo dinâmica, actividade e importância. Os reflexos nos serviços fazem-se sentir. A perda de identidade, de sentimento de que o que se está a fazer é especial, substituída pela ideia de que o local de trabalho é um sacrifício mais nesta labuta diária da sobrevivência, piora os serviços, elimina a ideia de serviço público e diminui a produtividade. As tentativas de acabar com estas organizações, seja por via do estrangulamento financeiro, seja pela via da criação de dificuldades aos homens e mulheres que estão à frente dos seus destinos não tem nada de ideológico, é apenas um boomerang que se atira e que vai acertar inevitavelmente nas próprias cabeças. Afinal de contas, ainda há muito a aprender com os capitalistas, empresários e industriais das primeiras dezenas de anos da Revolução Industrial. A defesa dos CCD's, que os trabalhadores da Segurança Social têm de encetar, radica, no limite, na ideia do homem primitivo: é uma questão de sobrevivência.


Notícias

Cicloturismo, caminhadas e petanca Arejar é preciso O CCD sabe de fonte segura que o que faz falta é arejar a malta e, para isso, está a retomar três boas iniciativas de ar livre que os sócios, familiares e amigos podem, e devem, aproveitar: o cicloturismo, as caminhadas e a petanca. O cicloturismo é uma iniciativa mensal que desafia os participantes a pedalar por percursos de interesse turístico nacional. Se lhe parece uma boa iniciativa, contacte o CCD, quantos mais interessados, mais interessante se tornará. Não temos ainda uma data nem local previsto para o próximo turismo ao pedal, mas já não falta muito. Informe-se no CCD. As caminhadas, que são sempre testadas primeiro, para aferir o seu grau de dificuldade e interesse, levará os papa-léguas do CCD sempre, mas sempre pelo melhor caminho. Esta é mais uma iniciativa mensal do CCD que pretende não só por o pessoal a mexer, como também promover o saudável convívio entre os participantes. A próxima caminhada é em Monsanto. Fique atento, em breve vai surgir uma data. A petanca. A petanca carece ainda de um espaço apropriado para os jogos e também ainda não tem jogadores, mas a haver vontade e participantes, o espaço surge num instantinho. Para que arranque este projecto só é preciso que contacte o CCD, o resto é o mais fácil. Uma coisa é garantida, escolha a actividade que escolher, terá momentos inesquecíveis e a sua saúde agradece.

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25 de Abril de 1974 — 2015

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Uma assombrosa mudança De 1974 para cá, Portugal mudou. É outro país, outra realidade social de onde emergiu uma classe média que deu suporte a uma democracia que, aos poucos, se foi enquistando numa oligarquia que tomou conta do poder. Por exemplo, Cavaco Silva já leva 22 anos de exercício de poder, entre Ministro das Finanças, Primeiro-Ministro e Presidente da República. Mesmo o relativamente jovem Passos Coelho já leva mais de 20 anos de vida política activa, desde as jotas.


Portugal é outro país. Olhamos para os dados da educação e o que se conseguiu foi esmagador e surpreendente. A escola pública conseguiu um milagre. Na saúde, não podemos deixar de ter um esgar de incredulidade sobre o que se passava antes do 25 de Abril. A esperança de vida e a mortalidade infantil são esclarecedores sobre o papel do Serviço Nacional de Saúde. Na protecção social é o mesmo, ou não tivesse sido a Segurança Social uma das mais importantes conquistas dos trabalhadores.

População e famílias

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Nota: Os dados sobre a actualidade referem-se aos anos de 2011, 2012 ou 2013


Os dados não deixam mas nem meio mas, a importância da Revolução operada em Abril de 74 retirou os portugueses de um atraso obscurantista sem paralelo na Europa. Hoje, muitos destes dados e, sobretudo, direitos laborais e sociais estão a ser retirados, mas isso não faz esquecer, antes lembra, que o ponto de partida de Abril de 74 era demasiado mau para querermos um regresso ao passado.

Protecção Social

Consumo, contas


e eleições

Educação

Contudo, importa lembrar que, apesar destes avanços registados, estamos ainda longe das médias europeas a vários níveis. Desde logo, na produtividade (responsabilidade de obsoletas organizações do trabalho, de não modernização das empresas e de uma obstinada aposta perdida nos baixos salários como forma de competitividade), nos índices salariais e na desigualdade na repartição do rendimento, onde ainda somos campeões.


Mulheres

A destruição da classe média, que está actualmente a ser operada, não augura nada de bom para o futuro. Daqui a 10 anos, quando tivermos novos dados comparativos, esperamos não observar recuos assinaláveis em conquistas que são direitos inalienáveis como a saúde, educação, justiça, protecção social, direitos laborais, etc...


Saúde

Justiça


Cultura Livros passados

Fevereiro

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A RIDÍCULA IDEIA DE NÃO VOLTAR A VER-TE - de Rosa Montero - ed: Porto Editora - 176 pgs

Quando Rosa Montero leu o diário que Marie Curie começou a escrever depois da morte do marido, sentiu que a história dessa mulher fascinante era também, de certo modo, a sua. Assim nasceu A ridícula ideia de não voltar a ver-te: uma narrativa a meio caminho entre a memória pessoal da autora e as memórias coletivas, ao mesmo tempo análise da nossa época e evocação de um percurso íntimo doloroso. São páginas que falam da superação da dor, das relações entre homens e mulheres, do esplendor do sexo, da morte e da vida, da ciência e da ignorância, da força salvadora da literatura e da sabedoria dos que aprendem a gozar a existência em plenitude. (in site wook) P. Pub: 14,40€ CCD P.P: 12,02€ CCD – Crédito: 13,44€

O fotógrafo e a rapariga - de Mário Cláudio - ed: d.Quixote - 96 pgs

Uma pequena ficção absolutamente sublime sobre o autor de Alice no país das maravilhas. Com o fotógrafo e a rapariga, conclui mário cláudio uma trilogia dedicada às relações entre pessoas de idades muito diferentes, ( …). No presente volume, os protagonistas são o britânico Charles Dodgson, que se celebrizou com o pseudónimo Lewis Carroll com que assinou, entre outros, o clássico alice no país de maravilhas, e Alice Lidell, a rapariga que o inspirou, posando provocadoramente para os seus retratos e alimentando as suas fantasias. (in site leya). P. Pub: 11,90€ ccd p.P: 10,02€ ccd – crédito: 11,11€


A Fórmula da Saudade | Podemos fugir dos outros, mas não de nós mesmos -

de Daniel Oliveira - ed: oficina do livro - 248 pgs Uma história inspirada em factos reais, com vários elementos autobiográficos ao longo de todo o livro. A conhecida apresentadora de televisão Camila vaz vê-se obrigada a fugir de portugal para atenuar o escândalo provocado pelo lançamento do livro a persistência da memória. Quando finalmente decide reaparecer em público, recebe um jornalista num hotel do rio de janeiro, no último dia do ano - e rapidamente o encontro se torna um espaço de confissão e sedução, despertando sentimentos e memórias de ambos há muito perdidos no tempo. (…). O que sucede depois de acontecer o pior? Será possível condensar a saudade numa fórmula universal que descodifique o amor, a morte, a vida? E como é que uma conversa entre um homem e uma mulher se pode tornar uma viagem ao íntimo da alma humana. (In site leya). P. Pub: 15,90€ ccd p.P: 13,22€ ccd – crédito: 14,84€ 39

Costa gomes: O Último Marechal - de Maria Manuela Cruzeiro - ed: D. Quixote

- 516 pgs

Sendo o ano de 2014 a conjugação de duas efemérides, os 40 anos do 25 de Abril e o centenário do Marechal Costa Gomes, este é o momento oportuno para uma nova edição desta obra. Assim, o reaparecimento das memórias de Costa Gomes contribuirá para o esforço colectivo de preservação deste acontecimento central da nossa contemporaneidade, mas também para resgatar a figura de um dos protagonistas da Revolução, que não tendo sido um militar vulgar, um político vulgar nem um católico vulgar, não foi um herói falhado, mas também não foi um herói de Abril. Costa Gomes devido ao seu perfil enigmático, indecifrável, quase esfíngico, que tanto perturbou os portugueses no tempo revolucionário e que ainda hoje continua a perturbar os estudiosos e o público em geral, pode ser qualificado como o representante do princípio da realidade contra o princípio do prazer – é aquele que apelidamos de anti-herói da Revolução de Abril e a quem hoje homenageamos com esta nova edição (in site Leya). P. Pub: 17,99€ CCD P.P: 14,89€ CCD – Crédito: 16,79€


Cultura Livros passados

Março

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FOLHAS POLÍTICAS – José Saramago - Ed: Porto Editora – 248 pgs

«Não vai faltar quem me acuse de que alguns destes textos são desapiedados e injustos, que, tendo sido já politicamente inoportunos e impertinentes na própria época em que foram escritos, muito mais o vêm a ser agora, e que, argumento final, não é atitude das mais prudentes e sensatas da minha parte, considerando que todos temos os nossos «telhados de vidro», reabrir as chagas que o tempo, melhor ou pior, teve a caridade de cicatrizar. Disso, como do resto, pensará cada um o que quiser, e por isso responderá. Em todo o caso, creio que estas Folhas Políticas, de cuja honradez cívica não reconheço a ninguém o direito de duvidar, levam dentro verdades suficientes para que sejam capazes de defender-se sozinhas, sem ajuda. Nem sequer a minha.» José Saramago. (in site fnac). P. Pub: 15,50€ CCD P.P: 12,90€ CCD – Crédito: 14,47€ O IRMÃO ALEMÃO

– de Chico Buarque – Ed: Companhia das Letras - 192 Pgs

Aos 22 anos Chico Buarque descobriu que tinha um irmão alemão. Sergio Buarque de Holanda, reputado historiador e crítico literário, pai de Chico, vivera na Alemanha entre 1929 e 1930, enquanto correspondente de um jornal. A efervescente Berlim dos anos 30 serviu de cenário a um romance com uma mulher alemã, de quem teve um filho que nunca chegou a conhecer. Chamava-se Sérgio Ernst. Quase cinco décadas depois da descoberta, Chico Buarque decidiu fazer da existência desse irmão – e do silêncio em torno dele –a matéria do seu próximo romance. Mas antes precisava de saber exactamente o que lhe acontecera. Dessa busca nasce este romance. Magistralmente conduzida por um narrador obsessivo, delirante, megalómano e profundamente solitário sem o querer ser, a narrativa enreda o leitor numa trama em que realidade e devaneio se confundem permanentemente. A páginas tantas, a busca de narrador e autor passa a pertencer igualmente ao leitor, também ele desesperadamente procurando esse irmão desconhecido. ( in site tinta da china ). P. Pub: 15,90€ CCD P.P: 13,22€ CCD – Crédito: 14,84€


José Medeiros Ferreira: A Liberdade Interventiva

- Ed. Tinta da China - 420 pgs

COORDENAÇÃO: Carlos Almeida, Carlos Gaspar, Eduardo Paz Ferreira, Maria do Carmo Figueiredo, Maria Emília Brederode Santos, Maria Inácia Rezola, Mário Mesquita, Miguel Medeiros Ferreira, Onésimo Teotónio Almeida, Pedro Aires Oliveira. José Medeiros Ferreira (1942-2014) foi um dos mais destacados líderes estudantis da «geração de 1962», uma figura de referência na fase final da ditadura e um dos arquitectos da orientação europeia do Portugal pós-autoritário. Este é um livro de memórias, uma antologia biográfica onde amigos, companheiros de luta académica, cúmplices do exílio genebrino, políticos, entre muitos outros, recordam tanto a sua intervenção cívica e empenhamento na causa pública, como a sua transbordante alegria, contagiante amizade e gosto pela vida. (in site tinta da china). P. Pub: 16,90€ CCD P.P: 14,02€ CCD – Crédito: 15,77€ LUSITANO FADO de Luís Corredoura

- Ed: Marcador – 392 pgs 41

A verdade pode ser muito mais complexa do que a mentira. A justiça parece adormecida, perante um poder oculto, uma sociedade apática, um Portugal parco de virtudes públicas e com demasiados vícios privados. Mas há quem queira denunciar essa maré de corrupção, venalidades, falsos costumes e aparências que há muito se vê, sente e cheira. Tudo na vida tem um preço. Mas Alberto está disposto a tudo fazer para salvar a honra e divulgar a verdade, mesmo que isso implique o maior dos sacrifícios. Lusitano Fado é uma história surpreendente de coragem e determinação, de mistério e revelação, de vingança e corrupção, mas também de paixão, companheirismo e amizade, que vai empolgar os leitores mais exigentes e que não deixará ninguém indiferente. A história é sempre escrita pelos vencedores, mas os vencidos também têm memória… ( in site Presença). P. Pub: 18,95€ CCD P.P: 15,66€ CCD – Crédito: 17,69€ VIAGEM AO CORAÇÃO DOS PÁSSAROS - de Possidónio Cachapa -

Ed: Marcador - 176 pgs

Viagem ao Coração dos Pássaros remete-nos para um universo único mas que se repete sempre no tempo dos seres humanos. Fala-nos das contradições e dialéctica do mundo, do amor, da vida, mas também dos seus opostos. É um livro que se lê num sopro, como se fosse um instante, numa viagem que o leitor faz ao coração, o seu próprio, e o dos protagonistas da história, realista, autêntica e bela. Possidónio Cachapa conduz-nos através da sua escrita profunda, revelando-nos os dons que todos temos e as nossas virtudes mas também as nossas debilidades e fraquezas, numa simplicidade narrativa que nos prende da primeira à última página. ) (in site Almedina). P. Pub: 15,00€ CCD P.P: 12,50€ CCD – Crédito: 14,00


Cultura

Livros Abril

OS PASSOS EM VOLTA de Herberto Helder - ed. Porto Editora

(2015) – 192 pgs

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Aparentemente um livro de contos, histórias de enredos simples, mas romanticamente transcendentes, representam os passos de um homem em torno da sua existência, sem respostas paradigmáticas, num vazio que se procura transformar em matéria. Sobeja-lhe o corpo, divino, prodigioso e redentor, onde regressa sempre. Talvez pudesse ouvir passos junto à porta do quarto, passos leves que estacariam enquanto a minha vida, toda a vida, ficaria suspensa. Eu existiria então vagamente, alimentado pela violência de uma esperança, preso à obscura respiração dessa pessoa parada. Os comboios passariam sempre.(…) Penso que desejaria somente a presença incógnita e solitária dessa pessoa atrás da porta.» (excerto). (in site wook). P. Pub: 16,60€ CCD P.P: 13,78€ CCD – Crédito: 15,49€

MANUAL DE FELICIDADE PARA NEURÓTICOS

de Nuno Amado

- ed: Oficina do Livro (2015) 264 pgs O escritor Gaspar Stau e o psiquiatra Amadeu Amaro são encarregados pela União Europeia de realizar um Manual de Felicidade para Neuróticos. Pelas suas conversas, viagens e encontros passam as mais variadas pessoas e histórias que inspiram ao estranho duo estratégias criativas de buscar a felicidade. Mas não poderá ela encontrar-se também em estudos científicos, na nostalgia proustiana de um publicitário ou mesmo num prato de carne de alguidar com migas de espargos? …) É um romance que, em diferentes vozes e estilos, numa narrativa em que cabem Paris e Lisboa, prostitutas e filósofos, redenção e desespero, Oscar Wilde e cozido à portuguesa, procura o encanto, a melancolia e o humor que existem na busca da felicidade. Nuno Amado nasceu em Lisboa, onde se licenciou em Psicologia Social e das Organizações e Psicologia Clínica. É doutorado em Psicologia do Desenvolvimento pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada/ Universidade Nova. Atualmente divide a sua actividade entre a prática clínica e o ensino, ocupando a posição de Professor Adjunto no Instituto Superior de Educação e Ciências. As suas actividades de investigação têm-lhe permitido publicar e participar em vários congressos científicos em Portugal e no estrangeiro. P. Pub: 15,50€ CCD P.P: 12,90€ CCD – Crédito: 14,47€


OS MAUS DA HISTÓRIA DE PORTUGAL

de Ricardo Raimundo - ed: Esfera dos

Livros – (2014) - 280 pgs A história costuma exaltar os grandes nomes da nação, as figuras que marcaram uma época, os heróis que venceram batalhas e conquistaram novos mundos, os reis que serviram o nosso país com dedicação… pois, ao longo destas páginas, o que vai encontrar são os maus da nossa história. Os reis cruéis de temperamento violento, os assassinos sem escrúpulos, os homens que a troco de uma vil recompensa não hesitaram em trair o país, as mulheres fatais que enfeitiçaram os homens de poder, levando-os à perdição, os ambiciosos e gananciosos que não olharam a meios para atingir os seus fins, e todo o tipo de gente de má rês… Ricardo Raimundo: licenciado em história pela Faculdade de Letras de Lisboa. Em 2006 tornou-se mestre em história moderna pela Faculdade de Letras de Lisboa. Desde 2007 é doutorando em história moderna na faculdade de letras de lisboa, com bolsa de investigação da fundação para a ciência e tecnologia. Colabora no centro de estudos de história religiosa da Universidade Católica Portuguesa. (In site wook). P. Pub: 16,00€ ccd p.P: 13,30€ ccd – crédito: 14,93€ 43

O MISTÉRIO DAS BANDEIRAS NEGRAS : O Último Marechal

De Nuno Rogeiro - ed: Verbo (2015) - 256 Pgs Considerado ímpio por muitos crentes, e impróprio por muitos constitucionalistas, o dito “Estado Islâmico” tomou de assalto a atenção mundial, em poucos meses. (…). Com base num análise, reapreciação e reflecção com protagonistas e especialistas de vários países, do Médio Oriente à Ásia, e com a ajuda de novos dados, entrevistas e documentos desclassificados, Nuno Rogeiro tenta ir mais a fundo no entendimento deste fenómeno, que afetou afeta e afetará muito mais do que aquilo que aparentemente domina. O hastear de bandeiras negras antes do utópico “ Siriraque”, a criação de mapas de dominação do mundo, as decapitações e a barbárie, perderão, com este livro, o ar de mistério. (in site fnac). P. Pub: 15,50€ CCD P.P: 12,90€ CCD – Crédito: 14,47€


Pendurados pela gravata Uma gravata com o nó bem feito é o primeiro passo sério na vida.

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OscarWilde

Umberto Eco resumiu bem o problema: “O facto de eu me apresentar de manhã no escritório com uma gravata vulgar às riscas fala por si, fala por si igualmente o facto de eu a substituir, de repente, por uma gravata psicadélica e fala por si o facto de eu ir à reunião do conselho de administração sem gravata”. Nem mais. A gravata é inútil, senão como acessório decorativo, mas carrega em si uma carga simbólica como nenhuma outra peça de vestuário. O facto de os novos detentores do poder na Grécia fazerem gala de não usar gravata só pode ser visto como acto simbólico de uma ruptura que querem fazer com o passado de uma classe política de que rejeitam as ideias e a postura. Mas, a história da gravata é longa e rica.


A

parecer sem gravata em cerimónias oficiais, com alguma solenitude, é como aparecer descalço.

Soldados Chineses com tecidos ao pescoço

Dá nas vistas, toda a gente comenta e pode-se mesmo ser “aconselhado” a sair pelas portas do fundo. A gravata é apenas um acessório e um acessório aparentemente inútil, excepto no que tem de decorativo. Alberto Moravia, proeminente escritor italiano, escreveu que “uma peça de vestuário útil, por exemplo o colete, é, precisamente por ser útil, insignificante”. E acrescentou

que “(...)o homem moderno já só tem um acessório que lhe permite revelar a sua própria visão do mundo, assinalar a sua presença própria: a gravata”. A gravata é o único toque de fantasia consentido a todos os homens e, para além disso, um símbolo de respeitabilidade, associado a cargos, funções ou ocasiões. Mas, se usá-la tem esse caracter simbólico, não usá-la também o tem e, talvez até, bem mais acentuado. Quando AlexisTsipras do Syriza grego se apresenta sem gravata, fá-lo com um propósito bem definido que é o de se distanciar do político tradicional que não dispensa o acessório. O seu ministro das Finanças Varoufakis até vai mais longe, usa as fraldas das camisas fora das calças. O ar blasée estudado tem propósitos simbólicos, mas define um estilo. Por cá, só em ocasiões solenes, em que o protocolo é mais rígido, é que os dirigentes do PCP usam gravata (curiosamente Carlos Carvalhas, anterior secretário-geral do PCP não a dispensava, mas este era economista de formação académica e não operário como Jerónimo de Sousa, sendo certo que operários e gravata

só em casamentos, funerais e baptizados). Já os do Bloco de Esquerda dispensam-na quase sempre. Mas, a obrigação da gravata só abrandou nos anos 60 e 70 do século passado, com as mudanças sociais e culturais que emergiram nessas décadas. Mais uma vez, a falta dela era uma forma de recusa da norma, da regra. Mas, esta história da gravata já vem de longe e nem sempre foi a inutilidade apenas decorativa que é hoje. Os registos mais antigos datam do primeiro imperador da China (Séc.III antes da nossa era), cujos soldados envergavam tecidos atados em volta do pescoço. Os solados de infantaria romanos, representados na coluna de Trajano também os usavam. Entretanto, esses lenços desapareceram e só voltariam novamente em período de guerra. Precisamente, a guerra dos 30 anos que devastou a Europa (sim, a Europa nunca aprendeu com as suas guerras) entre 1618 e 1648. Esta guerra religiosa mobilizou milhares de mercenários em ambos os lados. Os mercenários croatas, maioritários no exército do rei de França, usavam lenços atados ao pescoço. Rapidamente, os soldados franceses os imitaram, uma vez

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que o lenço era mais cómodo que o cabeção engomado que usavam antes. E, eis o lenço difundido no seio da aristocracia do séc. de Luís XIV. Pode-se dizer que foi o princípio da obrigatoriedade de milhões de homens em todo o mundo darem nozinhos em volta do pescoço logo pela manhã.

Detalhe da Coluna de Trajano

A etimologia da palavra “gravata” é estranha. Parece provado que nada tem que ver com a palavra “croata”. Sabe-se apenas que em Itália se usava a palavra cravata para designar o focale, que era o tal lenço ao pescoço do tempo de Trajano. Os franceses, sempre muito dados a modas, em 1650, popularizam o lenço de cambraia ou de musselina com um nó prolongado por rendas. O próprio Luís XIV cria o cargo de “gravateiro do rei”, fidalgo que todas as manhãs tinha a incumbência de o ajudar a dar o nó e a enfeitar a gravata. Fino! A duquesa de Vallière, uma das favoritas do rei, seja lá o que isso significava na altura, é a

primeira mulher a usar o apetrecho, em 1670 (no séc.XIX dará o nome a uma popular gravata masculina). A moda, entretanto, já chegara a Inglaterra, em 1655. Aqui, em 1715 surge um novo tipo de gravata, baptizado de stock e que consiste numa tira de musselina ou cambraia que se põem em volta do pescoço e sem pender no peito. E. com mais ou menos variantes, é isto que irá ornamentar os pescoços masculinos até cerca de 1850.As peripécias em volta deste ornamento nunca mais acabam. Há os excêntricos que se adornam com volumosas quantidades de pano em volta do pescoço, a moda lançada nas corridas de Ascott que se iniciam em Ascot, onde se cruzaram a gravata tradicional e os papillons. Na América, em 1780, passa a estar na moda o bandana, um lenço de cores vivas de origem indiana, usado descuidadamente em volta do pescoço, para um século mais tarde terem surgido xailes com motivos caxemira.Vamos dar um salto no tempo e recordar Josef von Sterneberg que, ao ver a peça Duas Gravatas repara numa jovem de nome Marlene Dietrich com quem viria a fazer vários filmes, trabalhando a luz sobre o rosto da actriz de forma brilhante e criando assim o mito Dietrich. Precisamente, esse mito haveria de usar amiúde

gravata, dando-lhe um charme irresistível. Estávamos em 1929, mas já antes, em 1845, Georges Sand (para quem, eventualmente, não souber, trata-se do pseudónimo de uma romancista numa altura em que as mulheres não escreviam romances, não se dedicavam à boémia cultural e não arrastavam amores cruzados, por onde andou o infeliz Chopin) fazia gala em as usar, dando nas vistas, pela ligeira provocação em que o acto consistia. Antes, em 1925, o gravateiro americano Jesse Langdorf regista a sua invenção que mais não é do que a gravata de hoje, cozida em três partes e cortada em viés. Em 1935, o duque de Windsor lança a moda do nó grande que veio a ter o seu nome e cinco anos mais tarde os motivos decorativos nas gravatas são já os mais variados. Em 48, a casa Hermés lança a sua linha de gravatas e uns anos mais tarde, (conferir com os filmes da época) um cowboy do Arizona inventa a bola, gravata-atacador que os rockers americanos e os Teddy Boys ingleses adoptam. Com nós largos ou mais apertados, mais finas ou mais largas, mais ou menos espampanantes, a gravata pode ser um adereço de bom gosto ou fazer parte de uma espécie de farda de quem atende público.


[Crónica] As atribulações do homem da SwissLeaks

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Chama-se Hervé Falciani o homem que deu origem ao escândalo SwissLeaks, o tal que revelou ao mundo uma lista imensa de gente que fugiu ao fisco através de depósitos na sucursal suíça do banco HSBC, nela estão nomes de políticos, desportistas, estrelas pop, banqueiros, traficantes vários e actores. Foram 180,6 mil milhões de euros de fraude fiscal, que envolvem 100 mil clientes. Falciani juntou-se a “gente ilustre” como Edward Snowden que se encontra refugiado na Rússia de Putin e a Julian Assange, fechado na Embaixada do Equador na Grã Bretanha.

ale a pena lembrar as situações de Assange, Sowden e Bradley Manning. Quanto a Assange, há declarações das autoridades americanas que mostram que ele deve ser considerado como um inimigo não armado, como alguém a abater. É evidente, tendo em atenção os antecedentes das autoridades americanas que o objectivo é condenar Assange de frorma pesada, por forma a desencorajar futuros julians heróis. A prisão perpétua, dizem os especialistas, não é de descartar, caso haja uma extradição para aquele país. A corroborar esta tese está o caso do soldado Bradley Manning, que está preso na base naval de Quantico. Este foi mantido nu, em isolamento, impedido de dormir, sob iluminação direta e vigilância de câmeras 24 horas por dia. Trata-se do que

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a CIA chama de “tortura sem contato” (no-touch torture). Por outras palavras, os antecedentes não deixariam dormir mesmo os mais fleumáticos. No caso de Snowden, foi em Hong Kong que ele se reuniu com o jornalista Glenn Greenwald e a cineasta e jornalista Laura Pointrass e lhes entregou os documentos que comprovavam as suas afirmações da existência de programas de vigilância em massa por parte da NSA. Foi um escândalo descobrir que ninguém estava a salvo de escutas, rigorosamente ninguém. Em 22 de Junho de 2013, as autoridades federais dos Estados Unidos apresentaram acusações formais contra o ex-agente da CIA pela divulgação de dados secretos do governo que revelaram detalhes do projeto de monitoramento global, denominado PRISM, que

monitorou as conversas telefónicas e transmissões na internet de cidadãos dos EUA e de outros países. De acordo com informações oficiais, Snowden também foi acusado de espionagem, roubo e transferência de propriedade do governo em documentos confidenciais. A matéria já deu entrada num tribunal da Virgínia. É caso para tirar o sono a quem quer que seja por muitos anos. E não, não estamos a falar de estados totalitários, fascistas, comunistas ou de radicais islãmicos. estamos a falar de estados democráticos que se afirmam de referência moral e ética. Mas, voltemos a Fasciani. Nasce em 1972 no Mónaco e consegue a dupla nacionalidade italiana e francesa. Em 2001, entra para os quadros do HSBC na sucursal suíça como engenheiro informático e cai-lhe nas mãos a responsabilidade pela gestão

da base de dados. É aí que detecta fugas de impostos. Ingénuo, propõe um novo sistema que, obviamente é rejeitados pelos seus superiores, ou a fuga aos impostos não fosse uma vantagem competitiva do banco. Entre 2006 e 2008 reúne provas que implicam 130 mil clientes numa mega fraude fiscal. Passa a informação às autoridades suíças totó - e estas nada fazem. Vai para o Líbano e revela lá o plano de evasão fiscal em curso a alguém próximo do administrador local da sucursal do banco e é desencadeada uma investigação por espionagem industrial na Suíça. Em Dezembro, é preso. Interrogado, é libertado e vai para França. É preso outra vez. Os suíços exigem a extradição e o procurador de Nice abre um processo para investigar a fraude fiscal. Franceses e suíços zangamse. Falciani vai para Espanha, a


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Hervé Falciani

conselho de especialistas nestas coisas e é logo preso em Barcelona, em Julho, a coberto de mandato internacional, sendo libertado em dezembro sob fortes medidas de segurança (8 guarda costas e colete à prova de bala) a prevenir as ameaças à sua vida. A ida para Espanha revela-se acertada. O crime de violação do sigilo bancário

não está previsto na lei espanhola. Estamos já em 2012. Em 2015, a investigação conduzida pelo International Consortium of Investigative Journalists, com a participação de mais de 130 jornalistas começa a publicar a lista dos nomes que figuram na lista da fraude fiscal. O meu não está lá. Uma pena. Um escândalo.

Em jogo estão 180,6 mil milhões de euros. Ninharias, que provam que há um mundo inteiro por descobrir por baixo dos panos e que este capitalismo de casino está a arruinar os povos e a necessitar de regras e penas pesadas para os prevaricadores e não perseguições a quem denuncia as ilegalidades.


fbuk (Tristan k)

Afinal, não há pobres

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eio num comunicado da CGTP que a pobreza atinge 30% da população portuguesa e se não fosse a Segurança Social atingiria 48% da população, ou seja, cerca de metade dos portugueses seria pobre se a malta aqui da Segurança Social deixasse de processar as prestações. Logo a seguir, leio num jornal de referência que, segundo os novos critérios governamentais para aferir a pobreza, esta baixou consideravelmente, pelo menos para metade. Por outro lado, registo umas afirmações de um senhor muito católico de uma Misericórdia dizer que em Portugal só passa fome quem quer. E, se puxar a fita ainda mais atrás, até leio que a ministra francesa da saúde recomendou aos sem abrigo do seu país para

recolherem a casa, que está um frio de rachar e eles estavam a estragar os índices de mortalidade para essa época do ano. E se puxar pela memória até me lembro de dizerem que andámos todos a gastar acima das nossas possibilidades, o que é bem verdade, pois o ordenado não chega para tudo. Ou como ou pago a prestação da casa, as duas coisas é que não. Se calhar, é por isso que os funcionários da Segurança Social andam a ser despedidos. Estamos ricos, não precisamos, e como a lógica agora é assistencialista... Como começo a acreditar que anda tudo maluco e os hospitais psiquiátricos não têm capacidade para tanta gente, o melhor é ir ali num instantinho beber umas bejecas até tudo isto fazer sentido.


Eu sou um ronaldete

C

onfesso aqui desde já: eu sou um ronaldete. Vamos lá fora, e falamos em Portugal e as pessoas sorriem benevolentes e perguntam-nos: “What?” Explicamos que somos aquele país dos descobrimentos e... “sailors?”, perguntam eles. Aí quase perdemos a paciência, mas ainda vamos fazendo mais uma tentativa. Temos aquela dívida, como os gregos. “Ah! Spain!” Não, porra. Perdemos a paciência. Cristiano Ronaldo. Ronaaaaldo. “Aaaaah! Oh, yes, great player, great goals, what a man!!! Me gusta Madri”. Falo em Lisboa, claro. “Ya, sure, he begins there”. E pronto! Já temos assunto de conversa. Falamos, claro, da história com a Irina e da cor dos olhos dela (por decoro, não falamos do resto), do Real, dos golos, da rivalidade com o Messi, enfim, conversamos sobre alguma coisa. Cristiano Ronaldo já é uma marca com valor superior à marca Portugal. Ronaldo é planetário, Portugal, não. Ronaldo é o melhor do mundo na sua área, nenhum político o é na sua. Ronaldo mede muito mais de metro e oitenta, Marques Mendes tem de subir a um escadote. Ronaldo é rico e o país não. Ronaldo tem as miúdas giras atrás dele, as miúdas giras francesas, inglesas, suecas e alemãs não querem saber do portuguesinho acanhado e pobre que não se chame Ronaldo e não jogue à bola. As miúdas giras só se riem para mim quando lhes falo do Ronaldo. É quanto basta para eu ser um ronaldete.

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