Projeto Horta Biológica - Escola Sobreira, Paredes

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PROJETO DE RECUPERAÇÃO DA HORTA BIOLÓGICA

DA ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA E SOBREIRA

Dezembro de 2022
2 2 ÍNDICE Página 1. ENQUADRAMENTO E FUNDAMENTAÇÃO 3 2. INOVAÇÃO PEDAGÓGICA E BENEFÍCIOS DE PROJETO 4 3. FASES DE EXECUÇÃO E METODOLOGIA DE IMPLEMENTAÇÃO 5 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS E PROJEÇÃO 12

1. ENQUADRAMENTO E FUNDAMENTAÇÃO

A ideia que suporta este projeto surgiu no ano letivo 2019/2020 no âmbito do trabalho pedagógico desenvolvido com os alunos de uma turma reduzida de sexto ano, composta maioritariamente por elementos com dificuldades de integração escolar e várias retenções no seu percurso escolar. O trabalho proguediu de forma diferenciada e num quadro de inovaçção pedagógica, tendo por base a gestão articulada do currículo e a promoção de domínios de autonomia curricular. Nos anos letivos seguintes, outras turmas trabalharam o projeto, em fazes sequenciais coerentes, enriquecendo-o com novos contributos e componentes. Foram sempre aplicadas metodologias ativas de ensino e promovidas aprendizagens transdisciplinares. Os alunos trabalharam sempre em modalidade de projeto e foram para ativa na construção de novos conhecimentos.

Nas páginas seguintes descrevem-se as várias fases do trabalho pedagógico desenvolvido, ao mesmo tempo que se explicitam os conteúdos, os fundamentos e os objetivos, as medições e os cálculos matemáticos, as ilustrações e os desenhos técnicos, os materiais e os pormenores da sua utilização.

Importa agora dar continuidade ao projeto e rentabilizá-lo ainda mais do ponto de vista pedagógico. Para isso é necessário passar à próxima fase – a implementação. Sendo implementadas todas as ideias subjacentes, descritas e planificadas neste documento, a nossa escola ficará munida de uma ferramenta pedagógica forte, que abre a oportunidade para a dinamização de um conjunto de atividades temátivas bastante significativas e atuais, como a produção sustentável de alimentos, as alterações climáticas e a promoção da biodiversidade.

Uma ideia forte subjacente ao projeto de recuperação da horta biológica da escola é o aproveitamento da água da chuva através da construção de um mecanismo simples de recolha e aprovisionamento, que será instalado no espaço ocupado pela horta biológica da escola, que atualmente se encontra degradado. Essa construção recorre a materiais simples que dão corpo a um engenho que foi concebido e projetado tendo em conta as características físicas do local. A água recolhida será utilizada nas atividades associadas ao espaço, que pretende ser multifuncional e agregar várias valências pedagógicas transversais que potenciam a educação para a sustentabilidade. Essas atividades englobam a cultura de plantas hortícolas, aromáticas e medicinais no solo e em vaso, a cultura de plantas em sistema hidropónico, o cultivo de um canteiro de plantas floridas para atração de polinizadores, a germinação de plantas arbóreas para reflorestação e a produção de um composto natural através de um sistema de compostagem doméstica duplo.

Está previsto um forte intercâmbio com os familiares dos alunos e outros elementos da comunidade, quer na fase deimplementação, quer, principalmente, na fase de dinamização, que deverá materializar-se, por exemplo, na cedências de sementes e plantas de culturas típicas locais, na troca de ensinamentos mútuos relativamente a técnicas simples e tradicionais de horticultura e na partilha de momentos de convivência enriquecedora entre gerações. As ideias apresentadas potenciam a continuidade do trabalho interdisciplinar descrito, trazendo para a escola ensinamentos significativos e transversais, estando muitos deles na posse de gerações mais antigas e que correm o risco de se perderem, como as culturas e variedades locais e os saberes associados à diversidade de práticas hotícolas tradicionais.

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2. INOVAÇÃO PEDAGÓGICA E BENEFÍCIOS DE PROJETO

O projeto de recuperação da horta biológica da escola destaca-se pelas inovações propostas para o espaço, tornando-o mais apelativo, mais funcional, mais dinâmico e mais diversificado.

Uma das inovações introduzidas aproveita uma infraestrutura física descaracterizada pré-existente na escola para conformar um mecanismo simples e de fácil execução destinado à recolha, aprovisionamente e utilização da água da chuva. Esta ideia potencia, a longo prazo, um conjunto de ações de elevado interesse pedagógico e ambiental que integram um projeto mais amplo, seguindo uma lógica de interdependência, coerência e circularidade. Todo o trabalho desenvolvido está sustentado por sub-projetos detalhados, em formato de cartazes informativos ilustrados, que descrevem com detalhe os objetivos e os procedimentos, assim como numa maqueta que evidencia, tridimencionalmente, o projeto e a relação simbiótica entre todos os seus componentes.

As ideias apresentadas resultaram de um trabalho interdisciplinar e transdisciplinar, que permitiu ultrapassar os conteúdos das próprias disciplinas, procurarando e relacionando informação pertinente de fontes diversas e conjeturando novas ideias e modelos, dando assim corpo a um trabalho de elevado valor pedagógico e baseado em metodologias ativas de ensino. Nesse sentido, está perfeitamente alinhado com os documentos estruturantes da atividade educativa “Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória” e “Projeto de Autonomia e Flexibilidade Curricular”.

O projeto e as ideias que encerra conformam um benefício ambiental direto, na medida em que promove o aproveitamento de um recurso natural vital. A água doce é essencial à continuidade da vida humana e das atividades que a suportam, mas é um bem escasso, pois representa apenas 1% do total da água do planeta. O benefício ambiental deste projeto prolongar-se-á por longo prazo, permitindo a continuidade do processo de recolha, aprovisionamento e utilização da água da chuva por anos sucessivos. Realçam-se as mais valias ambientais que a concretização desta ideia e do projeto onde está inserida permitirão atingir ao longo do tempo, como sejam a produção biológica de produtos hortícolas obtidos principalmente a partir de variedades de plantas locais, a produção de plantas aromáticas e medicinais, a produção de espécimes arbóreos autóctones para reflorestação, o benifício dos polinizadores e a promoção da reciclagem de nutrientes através da compostagem. Haverá também um benefício económico, na medida em que a utilização de água da chuva no espaço da horta biológica evitará a utilização da água da rede pública.

O maior benefício está, no entanto, o associado às mais-valias pedagógicas das atividades que o projeto permitirá desenvolver. Essas atividades contribuirão para a qualidade da formação e para a capacitação transversal proporcionada aos alunos da escola que deverão estar cada vez mais alinhadas com os princípios do desenvolvimento sustentável e da resposta aos cidadãos perante os grandes desafios da atualidade. Destaca-se o envolvimento dos alunos em atividades práticas, num contexto e num espaço que lhes permitem adquirir novos conhecimentos e novas competências, incluindo a capacidade de compreender e viver num mundo em constante mudança.

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3. FASES DE EXECUÇÃO E METODOLOGIA DE IMPLEMENTAÇÃO

A primeira fase consistiu no diagnóstico feito ao local onde, em anos transatos, funcionou a horta da escola. O problema facilmente identificado foi o grau de degradação do espaço, tendo sido apontadas, como principais causas, a falta de água para a rega das culturas, a degradação da cobertura plástica das estufas e a invasão por plantas indesejáveis (ver figuras 1 e 2).

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Figura 1 – Trabalho de campo durante a fase de diagnóstico. Figura 2 – Trabalho de campo durante a fase de diagnóstico.

Os problemas diagnosticados conduziram a uma situação de difícil manutenção das culturas implementadas no espaço e a um progressivo ambandono do mesmo. Perdia-se, assim, também, a possibilidade de dinamização de um conjunto de atividades de elevado interesse pedagógico, ambiental e, até, social e cultural, que ali poderiam ocorrer envolvendo grupos de alunos e até familiares.

A fase seguinte consistiu numa investigação orientada para a dinamização do espaço, tendo em conta as atividades que se poderiam concretizar de forma a potenciar os benefícios ambientais. Com recursos à diversidade de informação disponível na internet foram consultados dezenas de sítios para recolha de informação cientificamente sustentada e útil para o projeto. Surgiram, desta forma, várias ideias com sentido e coerentes entre si, muitas delas concebidas também com o contributo dos familiares dos alunos (ver figura 3).

As ideias desenvolvidas resultaram em vários sub-projetos dão suporte visual ao projeto e aproveitam a componente comunicacional do projeto global.

Todos os sub-projetos foram apresentados em cartazes devidamente detalhados (ver figuras 4, 5, 6, 7 e 8), para que possam servir a componente comunicacional do projeto e também para explicitar os fundamentos científicos e técnicos do projeto e apoiar a sua implementação (identificação de materiais e indicação de procedimentos de instalação). Aplicaram-se técnicas de ilustração e desenho técnico, incluindo o uso realista de cores, medidas, proporções e perspetivas visuais. Procederam-se a medições e cálculos matemáticos diversos, como volumes e áreas. Também foi construída uma maqueta, com recurso, maioritariamente, a materiais reutilizados. Estes subprojetos, ou “projetos de pormenor”, e a maqueta construída também informam sobre os recursos materiais necessários para a execução, os quais integram uma lista longa da qual fazem parte, entre outros: plástico de cobertura das estufas; tela de cobertura de solo; casca de pinheiro; blocos de delimitação de canteiros (ou outros materiais para o mesmo fim); ferramentas de jardinagem; vários tipos de recipientes; madeira (que pode ser reutilizada); mangueiras e torneiras; sementes e plantas. Serão necessários, também, serviços de mão-d’obra e pichelaria.

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Figura 3 – Fase de investigação, conceção e produção de conteúdos em ambiente de metodologia de projeto
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Figura 4 - Projetos para a recuperação da estufa pequena, dedicada à germinação de sementes, à cultura de plantas aromáticas e medicinais e à instalação de uma cultura hidropónica, e para a instalação de um sistema de recolha, aprovisionamento e distribuição de água das chuvas. Figura 5 - Projeto para a recuperação da estufa grande, dedicada à cultura de plantas hortícolas.
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Figura 6 - Projetos para a recuperação da estufa pequena, dedicada à germinação de sementes, à cultura de plantas aromática e medicinais e à instalação de uma cultura hidropónica, e para a instalação de um sistema de compostagem caseira e de apoio à cultura hidropónica Figura 7 - Projetos para a instalação de canteiros exteriores destinados à cultura de plantas hortícolas e para a instalação de um mini-horto florestal destiado à produção de espécies arbóreas para reflorestação.

A última fase até ao momento consistiu na construção de uma representação tridimensinal do projeto, para a qual se recorreu a materiais reutilizados, alguns deles provenientes de lixo marinho. A maqueta resultante, construída à escala de 1:20 (ver figuras 9 e 10), expressa bem a ideia para a recolha, aprovisionamento e utilização da água da chuva, assim como o contributo de todos os outros componentes para o projeto global de recuperação da horta biológica da escola.

Deve salientar-se que todo o projeto de recuperação tem subjacente a sua própria sustentabilidade, na medida em que limita as operações de manutenção. Os detalhes relativos à sua execução permitem contrariar alguns problemas que têm tendência a ganhar expressão ao longo do tempo, como a falta de água e o excesso de evaporação pelo solo, o crescimento de ervas indesejáveis, a dificuldade em trabalhar o solo, a falta de composto natural para fertilização e a falta de plantas germinadas para plantação. Destaca-se, neste caso a atenção dada aos canteiros - que devem ser delimitados, preenchidos com um substrato adequado e cobertos com uma tela que impessa o crescimento de ervas indesejávies quando não estão a ser utilizados - e aos corredores de passagem - que devem ser coberos igualmente com um tela, também para limitar o crescimento de ervas indesejáveis, sobre a qual se propõe colocar casca de pinheiro de forma a dar uma aspeto mais natural ao espaço. Todos os materiais são de fácil aplicação, não exigindo procedimentos técnicos específicos, o que propicia a participação de elementos da comunidade local. A água da chuva recolhida será utilizada na rega de plantas no solo (hortícolas e de jardim) e de plantas envasadas (arbóreas, aromáticas e medicinais), na germinação de sementes, no sistema de cultura hidropónica e na produção de composto.

Houve uma preocupação estética ao nível da conceção e implantação das diferentes valências do projeto, precavendo a mobilidade de grupos de utilizadores, a conveniência de proximidade entre algumas estruturas a serem implementadas e a dinâmica das ações a desenvolver no âmbito dadinamização do espaço.

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Figura 8 - Projetos para a instalação de canteiros exteriores destinados à cultura de plantas hortícolas e plantas produtoras de flores para atração de insetos polinizadores
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Figura 9 – Fases iniciais da construção da maqueta do projeto de recuperação da horta biológica da escola.
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Figura 10 – Aspeto final da maqueta do projeto de recuperação da horta biológica da escola.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS E PROJEÇÃO

O projeto de recuperação da horta biológica da Escola Básica e Secundária de Sobreira nasceu num cenário de diferenciação, inovação e inclusão pedagógicas, desenhado para ir de encontro às características e necessidades especiais dos alunos de uma turma de sexto ano durante o ano letivo 2019/2020. O trabalho foi enquadrado nas diretrizes de documentos oficiais que regem a atividade educativa (ver figura 11) e mereceu a atenção da equipa da IGEC que nesse ano letivo procedeu à Avaliação Externa do Agrupamento de Escolas de Sobreira, tendo-o referido no seu relatório como exemplo de iniciativa de inovação pedagógica e de promoção do domínio de autonomia curricular.

Espera-se, agora, apresentar o projeto a entidades que possam apoiar ou patrocinar a sua implementação, associando-se à causa pedagógica e à causa ambiental, naquilo que será certamente um forte contributo para a sustentabilidade e para a formação de crianças e jovens informados e capacitados. O apoio que vier a ser alcançado constituirá também um incentivo forte para a concretização mais célere do projeto, ou seja, para a fase de implementação. Pretende-se que esta fase dê início a uma profícua colaboração da comunidade local no âmbito deste projeto. Os familiares dos alunos, em particular, mas também outros atores sociais e culturais locais, serão convidados a participar ativamente não apenas na fase de implantação das infraestruturas do projeto, mas, principalmente, na fase de dinamização que se prolongarão, esperemos, por muitos anos. Estes atores da comunidade trarão muitos contributos com proveito para a formação transversal dos alunos, levando-os a adquirir uma relação mais íntima e mais identitária com o ambiente geográfico e sócio-cultural local.

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Figura 11 – O trabalho desenvolvido no âmbito do projeto de recuperação da horta biológica da escola está alinhado com as orientações expressas em vários documento que regem a atividade educativa.

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