Voz de Esperança Jan/Fev 2017

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JAN - FEV / 2017

MARIA, SENHORA DA ALEGRE SURPRESA “Aquela que vive aberta às surpresas que lhe chegam de Deus”.

Director: P.e Mário Martins Chaves Rodrigues Ano XXII - 6ª Série | Nº 56 | Bimestral 1,00 €

Vânia Pereira p. 2-3

DAR O SALTO “Com eles crescemos e perspectivamos o futuro”. Rafael Cepa p. 7

EDITORIAL

ENCHAM-SE DE ALEGRIA OS QUE TE ADORAM! No cristianismo, o termo adorare (‘prestar culto’) implica a fé no Deus vivo e pessoal que entra em relação consciente com as pessoas humanas. Assim, o ato de adorar dirige-se só e exclusivamente a Deus: «Adorarás o Senhor teu Deus» (Dt 6, 13-15; Mt 4, 10; Lc 4, 8). Neste contexto, podemos recordar a adoração dos Magos ao Menino Jesus, termo com que o Evangelho de Mateus (2, 1-12) qualifica os estrangeiros que vieram adorar Jesus acabado de nascer. Não obstante outras interpretações, é claro que o interesse pelos magos na narração de Mateus é sobretudo de carácter teológico: eles representam os estrangeiros-pagãos que se tornam destinatários da salvação, juntamente com Israel, como consequência da sua adoração e fé em Jesus. Porém, a tradição e a piedade popular transformaram-nos em reis, nuance captada a partir do salmo 71, 10 («Os reis de Társis e das ilhas oferecerão tributos») e de Isaías 60, 6 («De Sabá virão todos trazendo ouro e incenso»). Do mesmo modo que o número três se concluiu em base das ofertas que traziam (ouro, incenso e mirra), também os seus nomes – Melchior, Baltazar e Gaspar – se tornam mediáticos a partir de um evangelho apócrifo do séc. VI. Neste tempo em que se respira o espírito do Natal, os Seminários Arquidiocesanos desejam, através do jornal Voz de Esperança que agora chega às suas mãos, que o Natal seja efetivamente uma realidade presente em todos os dias e em todos os acontecimentos que os preenchem, e um próspero Ano Novo. Assim, conscientes de que o sentido do Natal de Jesus Cristo vai além da recordação do dia do seu nascimento, sublinhamos a alegria da adoração Àquele que nasceu entre nós, espelhada no rosto dos Magos e dos pais de Jesus, Maria e José, e a sua manifestação como Salvador da humanidade, ontem e hoje, sinais evidentes, presentes e eloquentes da renovação interior do homem que baseia a sua dignidade na do Filho de Deus encarnado.


VISÃO

ADORAÇÃO DOS MAGOS MARIA E A SURPREENDENT ADORAÇÃO DOS MAGOS Vânia Pereira

Maria, Senhora da Alegre Surpresa! Maria, Mulher do Espanto e do Encanto! Bem podíamos invocar assim aquela que aceitou ser a mãe do Filho de Deus. Maria, modelo de Fé para todos os homens, “feliz porque acreditou” (cf. Lc 1, 45), tal como lhe disse a sua prima Isabel, é aquela que vive aberta às surpresas que lhe chegam de Deus. Nela, descobrimos algo absolutamente belo e fascinante: todo o coração que acolhe a vontade do Senhor, confiado e obediente, passa a viver aberto às maravilhas das surpresas que d’Ele advêm, passa a viver sob o véu delicado do espanto e do encanto diante do assombro do Amor divino. Ora, uma das maiores surpresas com que Maria foi confrontada, pouco depois do nascimento de Jesus, foi a adoração dos Magos. Depois de os pastores das redondezas da gruta de Belém terem ido adorar o seu Menino, porque interpelados por um coro celeste que lhes “anunciou o nascimento do Salvador” (cf. L c 2, 11), o que já por si é surpreendente, Maria contempla um inesperado paradoxo: os grandes da terra, os sábios vindos de longe, ilustres senhores, “caíram de joelhos, prostraram-se e adoraram” (cf. Mt. 2, 11) o seu Menino Jesus, frágil, pequenino, indefeso, nascido como um enjeitado, esquecido e marginalizado na pobreza fria e crua de um curral de animais. Porém, Maria permanece serena e confiante perante o inesperado, totalmente confiante nos desígnios do Deus que ama e quer servir, “conservando todas estas coisas no coração e nelas meditando” (cf. Lc 2, 51). Por isso, “cheia

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de alegria, apresentou aos Magos o seu Filho primogénito” (LG 57), contemplando sob o encanto da Fé que “todos os povos da terra adoram o seu Senhor” (cf. Sl 72, 11), tornado homem, como os homens àquele seu Menino, no seu seio gerado, no seu manto aconchegado e no seu colo embalado. Esta é a surpresa que Maria tem diante dos seus olhos: o mundo pagão, de que os Magos são representantes, encontra-se pela primeira vez com o Salvador, “adora-O, venera-O e presenteia-O com ouro, incenso e mirra” (cf. Mt. 2, 11), expressando de forma inequívoca a universalidade da mensagem cristã, a grandeza e a riqueza do Reino de Amor e de Vida que Cristo Jesus vem inaugurar. Neste momento, a Virgem Maria apresenta e revela aos Magos, estudiosos que “seguiram a luz da estrela até Belém” (cf. Mt. 2, 9), Aquele que é a Luz do Mundo, a Luz que brilha no seu colo materno e que há-de resgatar das trevas cada um dos filhos de Deus. Os Magos, por sua vez, adoram o verdadeiro e único Rei, cuja realeza se há-de manifestar plenamente, anos mais tarde, no alto da Cruz, ao entregar a Sua vida por nós no mais perfeito ato de Amor! Também Maria verá a sua maternidade tornar-se universal nesse momento de dor e de entrega, quando se torna, como Jesus lhe anuncia, a Mãe de todos os homens, dizendo-lhe, na presença do discípulo João: “mulher, eis aí o teu filho”, e àquele, “eis aí a tua mãe” (cf. Jo 19, 26-27). Como refere o Papa Francisco, “ao pé da cruz, na hora suprema da nova criação, Cristo conduz-nos a Maria;

conduz-nos a ela, porque não quer que caminhemos sem uma mãe; e, nesta imagem materna, o povo lê todos os mistérios do Evangelho.” (EG 285) Deste modo, porque Maria acolheu o chamamento do Senhor, dando-Lhe o seu Sim, permanecendo como fiel discípula de Jesus e seguindo-O até ao fim, alcança a surpresa e o encanto supremos da sua vocação de Mãe: Mãe de Jesus, Mãe da Igreja, Mãe dos homens, Mãe solícita, atenta, diligente, terna, plena de Amor! Assim também acontece com todo aquele que se abre, atento e vigilante, ao chamamento de Deus e responde positivamente à vocação a que o Senhor o interpela. Por isso, o Salmista canta com confiança, e com o mesmo espanto e encanto de Maria, que “se enchem de alegria os que procuram o Senhor” (cf. Sl 40, 17), deixando-se envolver pela surpresa que emana da Fé. Para prosseguir neste caminho da busca do Senhor Jesus, Maria é companheira de viagem de todo o vocacionado, pois “ela é a missionária que se aproxima de nós, para nos acompanhar ao longo da vida, abrindo os corações à Fé com o seu afeto materno. Como uma verdadeira Mãe, caminha connosco, luta connosco e aproxima-nos incessantemente do amor de Deus” (EG 286). Maria, a Senhora da Alegria, da Alegre Surpresa, a Mulher do Espanto e do Encanto, nunca descura a sua vocação de Mãe de cada um de nós e nunca cessa de nos conduzir para Jesus, dizendo-nos, cheia de Fé: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2, 5).

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ARTE

ALEGRIAS DE NOSSA SENHORA (3) ADORAÇÃO DOS MAGOS Luís da Silva Pereira

Este óleo, pintado em 1828, é a Adoração dos Magos, de Domingos António de Sequeira (Lisboa, 1768Roma, 1837). Pertencia aos Duques de Palmela, que o compraram à filha do pintor, em 1845, mas passou recentemente a ser propriedade do Museu Nacional de Arte Antiga. Representa uma das alegrias de Nossa Senhora, a adoração dos magos, episódio narrado unicamente por S. Mateus 2, 1-11. O que primeiro chama a atenção é a maravilhosa luz envolvente que tudo ilumina. Uma luz deslumbrante, mas, ao mesmo tempo, suave, quase leitosa. Mais do que um raio, parece o halo de uma estrela. Magistralmente pintada, torna-se o centro simbólico do quadro. Significa que nasceu a luz das nações, simbolizadas nos reis magos. Esse é, aliás, o sentido profundo da Epifania. Outro aspecto do quadro que prende a atenção imediata é a quantidade de figurantes, cerca de 150, embora só alguns possam ser individualizados. Desde logo, Nossa Senhora, de pé, mostrando o Menino ao colo. S. José, atrás, segurando o manto azul da Senhora, parece com a atenção fixada numa prenda. O Menino olha para cima, significando que ele é que é a luz que orienta os caminhos dos homens.

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Podemos identificar os reis, as personagens mais próximas da Sagrada Família. Ajoelhado, do nosso lado esquerdo, está Belchior, oferecendo ouro. Ao meio, prostrado por terra, está o rei Gaspar, que vai oferecer a mirra trazida por um pajem, atrás dele. Do lado direito vemos Baltasar, o rei preto ou mouro. Deduzimos que oferece incenso por segurar nas mãos uma espécie de naveta enquanto, mesmo ao lado, um outro negro faz o gesto de incensar com um turíbulo. Nas primitivas iconografias, os reis eram todos da mesma idade e vestiam todos da mesma maneira, mas, a partir do séc. XII, começam a diferenciar-se por passarem também a simbolizar as três idades do homem: a juventude (será o rei preto); a meia-idade (à esquerda); e a velhice (o que se prostra por terra). Este costuma apresentar longas barbas e calva bem visível, sobre a qual, nalgumas iconografias, o Menino coloca ternamente a mão. A partir do séc. XIV, passam também a simbolizar os três continentes então conhecidos. Gaspar representa a Ásia; Baltasar, a África; Belchior, a Europa. Se, nas primeiras iconografias, os reis apareciam sozinhos, co-

meçam depois a ser acompanhados por comitivas cada vez mais numerosas, sobretudo a partir do séc. XIV. O número de figurantes aumenta mais ainda no séc. XV, quando os pintores juntavam, na mesma cena, os reis e os pastores. Sequeira recolhe esta tradição iconográfica. Se bem repararmos, no primeiro grupo, à nossa frente, do lado esquerdo, está um pastor que parece degolar uma ovelha. Não vemos aqui o burro e a vaca, como noutras iconografias, mas, à nossa esquerda, encontramos quatro cavalos, dois camelos e um elefante que transporta um palanque. São sinais de riqueza dos reis, como também o são as roupas e as jóias, as umbelas, à esquerda, ou o turíbulo, à direita. Parece haver uma preocupação com a exactidão histórica, bem como um certo gosto pelo que é exótico e oriental. Tudo isso, aliado à presença de um edifício arruinado à nossa direita, revela já uma sensibilidade romântica. E não queria terminar sem chamar a atenção para a dimensão profundamente religiosa deste e dos últimos trabalhos de Domingos Sequeira, verdadeiras obras-primas nas quais se revela toda a sua maturidade técnica e humana.


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SEMINÁRIO MENOR

ENCONTRADOS PELA GRAÇA DA MISERICÓRDIA Rui Esteves, 9º ano e Ricardo Silva, 11.º ano

A vivência do Ano Jubilar da Misericórdia teve para todos os cristãos um sabor renovado na experiência da misericórdia de Deus, na medida em que cada pessoa pôde parar diante de Deus, confrontando-se com Ele, para d’Ele acolher a expressão do seu rosto misericordioso. Dispostos a fazer esta experiência, os seminaristas do Seminário de Nossa Senhora da Conceição fizeram o seu retiro anual, de 1 a 4 de novembro, no Centro Espírito Santo e Missão (CESM), na Silva, Barcelos. Nestes dias, foi possível refletir acerca da misericórdia, mediante a relação entre Maria e Jesus e o episódio de Zaqueu, sob a orientação do Padre Eduardo Miranda, missionário do Espírito Santo, diretor do CESM e atual diretor espiritual do Seminário Menor de Braga. Deve salientar-se, de igual modo,

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a presença de André Azevedo, missionário espiritano que deu o seu testemunho, falando da sua experiência em África e do seu percurso de vida que é comum ao de cada espiritano. Estes dias foram especialmente marcantes, pois permitiram-nos sair da rotina e refletir sobre esta temática tão importante num ambiente diferente, em que predominou a natureza. Nesse sentido, tivemos oportunidade de rezar nos jardins da Casa e de estar em maior contato com a Natureza, onde tem especial destaque uma árvore muito resistente, denominada Ginko Biloba, que constituiu para todos um símbolo de força na adversidade. Na continuidade da experiência do rosto de Misericórdia de Deus, no dia 13 de dezembro toda a comunidade do Seminário de Nossa Senhora da Conceição teve a oportunidade de celebrar o Sacramento da Recon-

ciliação, integrado numa Celebração Penitencial com Eucaristia. Chegados ao final de mais uma etapa deste caminho, somos convidados a olhar para trás e a interiorizar todos os momentos, todas as falhas e todas as vitórias. No fundo, a darmos sentido à nossa caminhada de Advento, que procura construir a casa de Maria, construir a nossa casa, para acolhermos esse momento de amor alegre e misericordioso que é o Natal. E, por isso, colocamo-nos diante da misericórdia de Deus, precursora de um Deus que vive em nós, que para nós se quer fazer presença viva. Esta celebração foi presidida pelo Padre Eduardo Miranda, mas pudemos ainda contar com a presença do Padre Manuel Batista, também nosso diretor espiritual; do Padre Bruno Peixoto, franciscano; do Padre Miguel Almeida, jesuíta, e do Padre Afonso Sousa, da comunidade Shalom, a quem deixamos aqui um reconhecimento de gratidão pela disponibilidade demonstrada para nos ajudarem a encontrar a misericórdia de Deus. Sob o olhar atento de Maria, debruçámos a nossa reflexão na passagem bíblica: “Encontraste graça diante de Deus” (Lc 1, 30), salientando o papel fundamental da nossa padroeira neste caminho de aproximação a Deus. Desconstruindo-nos para nos podermos edificar, perspetivamos o Natal, abrindo o nosso coração ao mistério da Encarnação.


DAR O SALTO Rafael Cepa, 12.º Ano

No caminho que percorremos, novas etapas se avizinham, sendo necessário irmos saltitanto os pedaços de terra que sobram do que já passou. Com eles crescemos e perspetivamos o futuro, dando saltos maiores que oferecem consistência ao caminho. Assim, entre os dias 20 e 22 do mês de dezembro, o 12.º ano desceu à capital com a equipa formadora, tendo passado também por Óbidos e Sintra, precisamente para conseguir ter o tempo necessário para limpar o pó, que muitas vezes não deixa transparecer o essencial para avançar no caminho. Num ambiente mais descontraído, com um intuito cultural e já vivendo o Natal, visitámos a vila de Óbidos, dirigindo-nos depois para Lisboa, o que aconteceu já no dia 21. Na capital, pudemos visitar o Museu Nacional dos Coches e, de tarde, percorrer muitas das ruas para atentar em alguns dos tesouros es-

condidos na velha cidade. Ao jantar, fomos agraciados com a presença do Sr. Padre José Tolentino Mendonça, a quem desde já agradecemos a disponibilidade amiga e o interesse demonstrado no nosso acolhimento, tendo-nos levado à alma da cidade, uma casa de fado, em que nos foi possível sentir a verdadeira Lisboa de

glórias e desamores. No dia seguinte, visitámos Sintra, mais concretamente o Convento dos Capuchos e a Quinta da Regaleira, o que, novamente, constituiu uma experiência cultural muito impressiva. Deste modo, reforçadas as relações, regressámos a nossa casa, com outro ânimo, capaz de reavivar os saltos.

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SEMINÁRIO MAIOR

VIGÍLIAS DE ORAÇÃO NA SEMANA DOS SEMINÁRIOS 2016 – PÓVOA DE LANHOSO E BRAGA Eduardo Amaral, 1.º Ano

Vivemos, neste oito dias, a Semana de Oração pelos Seminários. Durante a semana, as aulas; ao fim de semana, os seminaristas ganham outra obrigação que não (apenas) o estudo: testemunhar a alegria de se sentirem chamados por Deus ao sacerdócio. Neste período de oração pelos futuros sacerdotes e pelas casas onde são formados, os seminários maior e menor deixam de ser apenas edifícios e ganham a forma de jovens em movimento, que vão ao encontro das comunidades para provocar outros jovens a que estejam atentos a um qualquer chamamento a que possam fazer ouvidos surdos; provocar os familiares, para que in-

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centivem este despertar de sentidos; provocar os párocos a serem esse sinal de amor de Deus, que conquista e apaixona os mais jovens, pois pode haver neles vontade de seguir o seu exemplo. Com a intenção de provocar esse despertar, é também através da oração que se alcançam frutos. Assim, nos dias 4 e 11 de novembro, o seminário organizou vigílias de oração pelas vocações, sob o tema “Movidos pela misericórdia de Deus”. No dia 4, os seminaristas foram ao encontro da comunidade da paróquia da Póvoa de Lanhoso, no salão paroquial, contando para tal com a presença de D. Nuno Almeida, bispo auxiliar de Braga.

Na sexta feira seguinte, dia 11, a vigília teve lugar na igreja de São Paulo, no seminário maior de Braga. Ali acorreram jovens de vários pontos da diocese. A igreja, cheia, rezava e cantava; as vozes que se elevavam pediam, cantando palavras de S. João Paulo II, “Abri as portas a Cristo! Não temais, não tenhais medo! Escancarai os vossos corações ao amor de Deus”. Deste modo, pela alusão à “porta” por onde entraram os jovens para aquela que é a casa das vocações sacerdotais, começaram a orar. Durante a homilia, o Arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, aludiu à figura da casa como local de partida, mas também de chegada: como o local de onde saímos, mas também aonde queremos sempre regressar. É assim o seminário: local de chegada destes mais de 50 jovens, que mais tarde dele partirão para serem pastores à imagem de Jesus Cristo. Ao “Laudate omnes gentes”, seguiu-se um momento de adoração em silêncio, com leituras e cânticos. Este foi o momento central da vigília, pois ali, diante d’Aquele que chama, todos os presentes oraram pelos seminaristas, as pequenas sementes de Deus. Finalmente, teve lugar no claustro do seminário um convívio entre todos os presentes, com castanhas assadas para festejar S. Martinho e, assim, quem sabe, deixar que a semente dê o seu fruto.


FESTA DAS FAMÍLIAS 2016 Diogo Martins, 1.º Ano

No dia 8 de Dezembro, decorreu no Seminário Nossa Senhora da Conceição a tradicional Festa das Famílias da comunidade seminário. Como sempre, este momento de celebração e convívio contou com a participação dos seminaristas e respetivas famílias, além das equipas formadoras de ambos os seminários e, ainda, dos diáconos da Arquidiocese de Braga. “A cheia de graça nós vimos saudar”. Assim cantámos no início da celebração da Eucaristia, presidida por D. Francisco Senra Coelho, bispo auxiliar, que assinalou o dia. A Eucaristia decorreu num ambiente de grande alegria, por vermos ali reunida, em torno de altar, a grande família que é o Seminário. Na homilia, D. Francisco apresentou uma reflexão sobre o Sim dado por Nossa Senhora ao Anjo no momento da Anunciação. Relem-

brou, ainda, que todos nós somos chamados a uma vocação e, a exemplo de Maria, somos convidados a dar o nosso Sim a Deus. Na parte da tarde, decorreu no Auditório Vita uma sessão cultural para os seminaristas e respetivas famílias, equipas formadoras, e com a presença amiga e fraterna de D. Jorge Ortiga, Arcebispo, e de D. Nuno Almeida, bispo auxiliar. Este momento cultural foi inteiramente dinamizado pelos seminaristas, tendo sido apresentadas algumas peças de Piano e as já aguardadas apresentações dos Coros do Seminário Menor e Maior de Braga. É de salientar, ainda neste âmbito, a apresentação de duas peças musicais do Pe. Manuel Faria, executadas pelo Coro do Seminário Maior, “Olhos Negros” e “Cântico da Manhã”, em jeito de homenagem, neste ano em que se comemora o cen-

tenário do seu nascimento. Refira-se, ainda, que a cargo do Tempo Propedêutico esteve o tradicional “quebra-gelo” que animou todos os presentes. Após o intervalo, decorreu a antestreia da peça de teatro “Viva o Teatro! Variações do teorema de Clinto e as vantagens de uma espiga ao Sol”, que esteve a cargo do Grupo de Teatro S. João Bosco. No final da sessão cultural, as famílias puderam usufruir da apresentação do grupo de Cantares do Seminário Conciliar, que interpretou algumas músicas populares conhecidas de todos os presentes. Para terminar o dia, partilhámos todos uma fatia de bolo, dando assim por terminada a Festa das Famílias, num dia que fica marcado pelo espírito da verdadeira e grande família que são os Seminários.

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SEMINÁRIO MAIOR

SIETZE DE VRIES NO CONCERTO INAUGURAL DOS ÓRGÃOS PRADELLA E ROHLF Seminário Conciliar de Braga

Há novos órgãos de tubos em Braga, que vêm enriquecer o património existente, na qualidade do que de melhor se construiu e usufruiu ao longo de séculos. De facto, os órgãos de tubos voltam a encher de música a Pólis, não apenas igrejas e capelas. A promoção da cultura, também a este nível, abre janelas de esperança e de superação nos dramas da existência, na redescoberta duma sensibilidade plural e orgânica, sobretudo no combate à cegueira dos ouvidos. O Seminário Conciliar de Braga move-se no contexto deste esfoço partilhado, tendo em atenção a formação musical (da cultura da música em geral, mas também da música sacra e da litúrgica em particular) dos candidatos ao ministério ordenado das dioceses de Braga e Viana do Castelo. Não só por esta missão específica, investiu na aquisição de novos órgãos: um órgão de 5 registos com 2 teclados e pedaleira, na capela dos Padroeiros, e um órgão de arca de 1 registo (bordão 8’), na capela do Tempo Propedêutico. Ambos foram construídos segundo os princípios tradicionais e artesanais da organaria, o primeiro por Giovanni Pradella e o segundo por Johannes Rohlf, organeiros da Itália e da Alemanha, respetivamente. O concerto inaugural dos órgãos realizou-se no passado dia 9 de dezembro. O organista convidado foi Sietze De Vries. Este organista, que veio da Holanda, tem-se afirmado como um 10

concertista e organista litúrgico de renome internacional. Estudou com Wim van Beek (Órgão), Jos van der Kooy (Órgão e Improvisação) e Jan Jongepier (Improvisação), obtendo o Diploma Superior de Órgão e o Diploma Holandês de Profissional de Música Sacra com especialização em Improvisação. Conquistou 15 primeiros prémios em concursos de Órgão nacionais e internacionais, alguns deles ainda enquanto estudante nos Conservatórios de Groningen e Haia. Destes destaca-se o 1.º Prémio do Concurso Internacional de Improvisação de Haarlem – 2002, onde já tinha sido finalista nas duas edições anteriores. Sietze De Vries exerce uma carreira muito intensa como concertista, tocando frequentemente por toda a Europa, bem como nos Estados Unidos, Canadá, Rússia, África do Sul e Austrália. É ainda muito requisitado para lecionar Improvisação, sendo Professor no Conservatório de Groningen, Professor convidado na Southern University in Collegedale TN (USA), na McGill Summer Organ Academy in Montreal (Ca-

nadá) e no Sydney Conservatory Organ Academy (Australia). No concerto inaugural, Sietze De Vries interpretou o seguinte programa: Improvisação: Prelúdio; Van Soldt manuscript (anónimo séc. XVI): a. Brande Champanje, b. Brabanschen ronden dans ofte Brand; Johann Adam Reincken (1643-1722): Fuga em Sol menor; Improvisação no órgão Rohlf; Georg Muffat (1653-1704): Nova Cyclopeias Harmonica (Ad malleorum Ictus Allusio); Georg Friedrich Händel (1685-1759): Ária com variações (‘The harmonious blacksmith’); Improvisação sobre o cântico ‘Cantai um cântico novo’. No final, depois de um generoso aplauso, voltou ao órgão Rohlf, para brindar a assintência com uma improvisação. Foi um concerto memorável. A assistência ficou profundamente impressionada com a performance do organista, nomeadamente com a sua sapientia manus, pois toda a sua pessoa estava nelas; e, além de si, promovia-nos na geratividade do seu doar-se, na música. Obrigado, Sietze!


PASTORAL UNIVERSITÁRIA

PROJETO SEMENTES: PONTO DE CHEGADA OU PONTO DE PARTIDA? Leonor Maltez, Licenciada em Psicologia

Qualquer projeto de voluntariado requer uma entrega e disponibilidade interiores de, quanto mais não seja, doar o nosso tempo e trabalho. Contudo, é igualmente uma entrega que vem cheia de expectativas do que vamos encontrar pelo caminho, do que vai ser o nosso papel, de como vamos ser acolhidos, de como vamos acolher... Um projeto de voluntariado como o Sementes, em que nos encontramos com um grupo de pessoas que não conhecemos e vamos partir, com o propósito de ajudar, para um país longínquo, com a sua identidade e cultura próprias, levanta um conjunto de interrogações: Ajudar em quê? Fazer o quê? Como chegar ao outro? Será que o outro está a chegar a mim? É, assim, um processo que abarca muitas dúvidas também. Então, um projeto tão vocacionado para o outro acaba por nos tocar a nós mesmos de uma forma única, sendo capaz de nos mudar e transformar nas coisas mais subtis e imperceptíveis da vida, assim como nas coisas mais estruturais e orientadoras da nossa conduta. A minha experiência com o projeto Sementes deu-se em 2014, no primeiro ano em que o projeto foi para o terreno em Cabo Verde. Por isso, posso confessar que me sinto privilegiada por ter feito parte da primeira equipa de missionários. Dois anos depois, ver a evolução e voltar ao projeto, desta vez na equipa de coordenação, está ser muito estimulante, sem nunca deixar de ser um desafio. Já na preparação da quarta edi-

ção, consigo observar um crescimento em mim, mas também no projeto, que é estruturado e fundamentado não nas expectativas, como referi anteriormente, mas na realidade que encontramos e nas pessoas que nos propomos ajudar. Acima de tudo, a nossa participação é fundamentada numa atitude e valores cristãos, o que nos leva quase a uma “fórmula perfeita”, porque estamos fundamentados em valores universais, maiores do que a minha cultura ou a tua cultura, do que as minhas ideias ou as tuas expectativas, abrindo-nos à realidade e sabendo que há Alguém que parte connosco em missão. A missão é feita sempre pelas pessoas que a constituem. Depois de dois anos, um dos aspetos mais marcantes do projeto prende-se com a forma de ligação que o mesmo privilegia. Estamos a ligar países diferentes, a saber: o país dos voluntários com o país de acolhimento da missão: Cabo Verde, Guiné ou Moçambique. Mas se observarmos bem, estamos também a ligar várias pessoas: os missionários, que vêm de diferentes cursos, com diferentes abordagens da realidade, e

toda a comunidade, que se disponibiliza a doar um bocadinho do que tem para tornar possível uma experiência de partilha, crescimento e doação. Trata-se, por isso, de uma forma, para todos inquietante, de unir e estimular a nossa própria comunidade a ter uma postura mais ativa para a caridade e para a reflexão pessoal. Este ano pudemos contar com 27 missionários no início da preparação, que vai culminar na partida para um país africano. A preparação é feita desde novembro até junho, com reuniões semanais no Centro da Pastoral Universitária, trabalhando o conceito de missão cristã e com modalidades de formação – dois retiros e uma ação de voluntariado em grupo –, assim como a promoção, organização e participação de atividades de angariação de fundos que visam sustentar a missão. Há muito trabalho pela frente, mas a alegria e partilha geradas dentro do grupo, e com a comunidade, dão-nos a força e criatividade para caminhar, realizando os propósitos da missão e sabendo sempre que não estamos sós. 11


PASTORAL DE JOVENS

XVIII FEJ 2016 – AVEIRO “DAI-LHES VÓS MESMOS DE COMER” Grupo de Jovens de Nogueira, Arquidiocese de Braga – DAPJ No passado dia 12 de novembro de 2016, participámos em mais um Fórum Ecuménico Jovem. Este é um encontro que sempre nos possibilita a reflexão em torno de um tema, com o especial contributo das diferentes perspetivas sustentadas pelas várias Igrejas cristãs que integram o Fórum. Foi um dia muito enriquecedor, preenchido com muita reflexão e partilha. Chegámos por volta das 10h30 e fomos calorosamente acolhidos ao som da música, a que se seguiu a oração inicial, já com o auditório cheio. Após as boas-vindas, o Pe. João Gonçalves presenteou-nos com uma exposição, em jeito de provocação, acerca do que é isto de “darmos nós mesmos de comer”. O que é, afinal, dar de comer? É só o pão? E a fome espiritual, de apoio e afeto? E quem tem de dar de comer? O governo, as organizações? Eu, tu, toda a gente? E quando devemos dar de comer? Quando a pessoa pede? Só naquele dia? Ao longo da vida? Esta provocação lançou o tom e fez germinar as reflexões do resto do dia. Partilhámos ainda de manhã, em pequenos grupos, o que queriam dizer para nós aquelas palavras. Falámos sobre a fome material e a espiritual. Refletimos sobre o dar hoje o peixe do dia e ensinar a pescar como competência de combate à fome para o resto da vida. Debatemos igualmente a responsabilidade de todos e de cada um, em casa, na Igreja, nas paróquias, nos grupos de jovens, e também nas Juntas de Freguesia, nas Câmaras

Municipais, nos Governos. Concluímos que as várias Igrejas têm os seus mecanismos próprios, diferentes no nome e na organização, mas iguais nos objetivos, na luta pela igualdade, pela justiça e pela solidariedade, sendo que todos devemos fazer parte desta luta e dar de comer a quem tem fome. À hora do almoço, a palavra de ordem foi “partilha”. Demos de comer uns aos outros através dos alimentos que todos levámos para o encontro. Da parte da tarde, orientados para o plano B por vontade da água descida das nuvens, o Pe. Tony Neves fez um retrato histórico do FEJ e levou-nos ao tempo da “cortina de ferro”, o célebre Muro que separava a Alemanha oriental da ocidental. A celebração final, sempre diferente do que estamos habituados porque integra as diferentes Igrejas, pautou-se pela interiorização das reflexões do dia e o relembrar que Jesus é o pão da vida, pela oferta de produtos de higiene pessoal a pessoas carenciadas, produtos esses levados por cada um dos participantes no FEJ, e pela inovação, quando se fez um gesto simbólico de partilha do pão a todos os presentes. Numa altura em que ressurgem ideias antigas como a construção de muros, fomos convocados a procurar formas de construir pontes e relações cada vez mais fortes e sustentadas na fé em Jesus Cristo, para colocarmos em prática a verdadeira solidariedade e não fugirmos à responsabilidade, que cada um tem, de dar de comer.

Os artigos publicados no “Voz de Esperança” seguem, ou não, o novo acordo ortográfico consoante a escolha dos autores.

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