Voz de Esperança Mai/Jun 2022

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MAI - JUNHO / 2022

O SEMINÁRIO É UMA EXCELENTE ESCOLA DE FORMAÇÃO

Diretor: Pe. Mário Martins Chaves Rodrigues Ano XXIV - 6ª Série | Nº 88 | Bimestral 1,00 €

“Valeu a pena frequentar o Seminário, pois ainda sinto aquela base formativa e cultural que lá colhi e que jamais esquecerei. Formamos uma segunda família muito unida oriunda de uma excelente escola frequentada, na altura, por várias centenas de alunos.” Salvador de Sousa Pág. 2

SENTIR O HUMANO TRANSCENDENTE “É necessário ao sacerdote de hoje «ter um conhecimento e formação em várias áreas, desde a científica à filosófica.» (…) É necessário ter amor pela formação e pela literatura, pois a partir dela conseguimos chegar à intimidade da raiz das comunidades.” Tiago Nogueira Pág. 8

EDITORIAL

TOCADOS PELO OLHAR DE DEUS “O olhar amoroso e criador de Deus alcançou-nos de forma singular em Jesus… o mesmo olhar de Jesus, cheio de amor, pousa sobre cada um de nós”, afirma o Papa Francisco na sua Mensagem para o 59.º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, assinalado no dia 8 de maio. Ora, e continuando a dar ênfase à celebração dos 450 anos da fundação do Seminário Conciliar de Braga, numa edição em que destacamos a dimensão da cultura e dos estudos, de singular importância na vida de um Seminário, somos reafirmados na certeza de que permanecemos guardados sob o olhar paternal e terno de Deus, nomeadamente através daqueles que cruzam o caminho dos irmãos como responsáveis pelas áreas da formação. Na verdade, somos tocados pelo olhar de Deus… um olhar que somos chamados a acolher e ao qual somos desafiados a responder, segundo o prisma da Caridade, sem perdermos a perspetiva bela da Cruz, ponto central de vida e salvação. De facto, seja qual for a vocação a que o Senhor nos interpela, todos somos chamados para o Amor, chamados para construir a família humana e dar testemunho da alegria da ressurreição, assumindo um papel ativo e determinante na edificação de uma Igreja que queremos cada vez mais Sinodal e Samaritana, com a diligência de quem, como Maria, se apressa para tomar parte no serviço. A propósito, lembra-nos o texto Visão, citando as palavras do já falecido Cón. Oliveira Fernandes, sacerdote responsável nos Seminário Arquidiocesanos durante largos anos, que “os superiores não só vivem com eles (alunos), mas, e isto é fundamental, vivem para eles e a eles se entregam numa doação total por amor a Cristo.” Efetivamente, a vida dos nossos Seminários, relatada também nas notícias aqui partilhadas, e sempre sob a orientação maternal da Senhora do Sim, põe-nos de novo em confronto com as palavras do Santo Padre a propósito da vocação, iluminados pela luz acesa nos olhos de Deus: “A nossa vida muda quando acolhemos este olhar. Tudo se torna um diálogo vocacional entre nós e o Senhor, mas também entre nós e os outros.”


VISÃO

O SEMINÁRIO É UMA EXCELENTE ESCOLA DE FORMAÇÃO Salvador de Sousa

Desde tenra idade que, motivado pelo meu saudoso tio e padrinho, Padre Salvador Araújo de Sousa, e também pelos meus pais e outros familiares, ingressei no Seminário de Nossa Senhora da Conceição juntamente com mais 120 colegas, no ano letivo de 1966/67, que, com certeza, foram guiados também por uma luz inspiradora para que fôssemos beber de uma fonte de água que nos saciou e deu vida ao nosso caminhar futuro. O falecido Cónego Oliveira Fernandes, um grande pedagogo em todas as vertentes da nossa formação, escreveu, no livro/calendário de 1966/67, na introdução respeitante à secção do Seminário Menor, quando se referia à inter-relação entre formadores e alunos, que «os superiores não só vivem com eles (alunos), mas que, e isto é fundamental, vivem para eles e a eles se entregam numa doação total por amor a Cristo.» Senti tudo isso nos oito anos que frequentei o meu segundo lar, dotado com as potencialidades de formar cidadãos para o sacerdócio presbiteral, mas também para o sacerdócio que nos tem guiado nesta nossa vida como pessoas empenhadas na vida familiar, na vida da Igreja e nas várias vertentes de uma sociedade. É isso que vou presenciando nos contactos que tenho com a grande maioria de todos aqueles que passaram por esta grande casa de formação, os meus condiscípulos. 2

Tudo o que sou (aqui posso garantir o mesmo pensar da grande maioria daqueles que tiveram a sorte de frequentar estas valorosas casas de formação!), devo-o, em primeiro lugar, à minha família, amigos e conterrâneos e, em segundo lugar, a esta dignificante escola que me lançou para a vida em sociedade com uma formação integral e com os valores que me incrementaram e que prezo muito por assimilá-los num ambiente de liberdade, de aconselhamento e, sobretudo, no diversificado e qualificado programa curricular que nos arquitetou em inúmeras áreas. Além das disciplinas que hoje fazem também parte dos programas, tivemos Latim, Física, Civilidade, Canto Coral, Piano, Órgão/Harmónio e Polifonia desde o 1º ano (hoje, 5º ano). Mais tarde, no curso filosófico, além das disciplinas usuais, o programa con-

templava, ainda, Liturgia, Grego, História da Arte, História da Civilização Portuguesa, História Universal da Civilização, Canto Gregoriano, Pedagogia, Sociologia e Organização Política. A atividade letiva decorria durante a manhã e a tarde era destinada ao estudo e a alguns intervalos para o convívio. Valeu a pena frequentar o Seminário, pois ainda sinto aquela base formativa e cultural que lá colhi e que jamais esquecerei. Formamos uma segunda família muito unida oriunda de uma excelente escola frequentada, na altura, por várias centenas de alunos. Anualmente, temos o prazer de nos reencontrarmos por anos de ingresso e através da Associação dos Antigos Alunos dos Seminários de Braga, revivendo esses valiosos tempos passados nestes espaços que fazem parte da nossa vida educacional.


PALAVRA AOS REITORES 1. Para lá da formação académica, que outras áreas considera determinantes na formação de um seminarista? Cón. António Macedo: Todas aquelas que vão ajudar na formação, como, por exemplo, o contacto com as diversas missões que um seminarista pode vir a assumir como sacerdote. Conhecer os diversos movimentos laicais, instituições de caridade, juventude, movimentos de casais, etc. 2. Que sinergias e relação de complementaridade deve existir entre o Seminário e uma Faculdade de Teologia, por exemplo? Como promover a sinodalidade neste contexto? Mons. António Moreno: Como a vocação Sacerdotal é de altíssima responsabilidade, a Faculdade deve estar ao seu serviço e não o contrário. É importantíssima a formação dos professores. Os bons professores universitários ao serviço de uma Universidade Católica devem estar em sintonia total com os ensinamentos da Igreja. Além da formação intelectual de todos se espera também uma sólida formação pedagógica. 3. O mundo da cultura está muitas vezes ao serviço da fé e da espiritualidade. De que modo pode e deve essa simbiose acontecer na vida de um Seminário? Cón. António Sepúlveda: O mundo da cultura deve estar ao serviço da fé e da espiritualidade. A cultura é uma dimensão muito importante na vida de um Seminário, porque ajuda a formar para o mundo de hoje, com caraterísticas próprias, com uma espiritualidade própria, com um modo de viver a fé que precisa de instrumentos próprios. 4. O Seminário pode e deve também promover a dinamização cultural da sociedade onde se insere. Como considera que essa interação pode ser potenciada e tornada mais profícua?

Cón. Manuel Tinoco: O Seminário deve promover a dinamização cultural, que exige a racionalidade (inteligência), para que ganhe raízes, motive as pessoas e possa fazer caminho na sociedade onde está inserido. Pode ajudar o Seminário conhecer os meios que a sociedade usa e, assim, como ponto de partida, ‘aprender’ o seu caminho para a sua própria dinamização. 5. Como é que o “saber” gerado hoje nos nossos Seminários pode estar mais ao serviço de toda a Igreja, das suas comunidades e movimentos? Cón. José Paulo Abreu: Ninguém dá o que não tem. Um sacerdote sem espiritualidade, sem forte vivência de fé, não passará de “bronze que soa ou címbalo que retine”. Também um sacerdote sem conteúdos ao nível da Teologia, da Sagrada Escritura, da História da Igreja, da Espiritualidade… estará condenado a divagar sobre futilidades. 6. As Capelas dos nossos Seminários são uma expressão clara do diálogo da Igreja com o mundo da cultura. Eleja um ícone presente nestes espaços em que essa relação se destaque. Cón. Vítor Novais: No n. 115 da Exortação Evangelii Gaudium, o Papa Francisco afirma que “a graça supõe a cultura e o dom de Deus encarna-se na cultura de quem o recebe”. No meu entendimento, creio ser mais enriquecedor, para lá da eleição de um ícone das referidas obras, afirmar que a fé cristã é culturalmente mediada, porque não acedemos à verdade evangélica sem as condições históricas e culturais de cada um. No fundamental, desejo que cada ícone seja expressão das buscas de cada pessoa, potenciando o bem que aí se revela. E, assim, gerar no humano o contacto com as perguntas da atualidade. Concluindo, cada imagem presente nas referidas capelas, talvez ainda melhor do que a palavra, procura revelar em nós o mistério do Ser. Esta é, na minha perspetiva, uma maravilhosa possibilidade que a arte nos oferece. 3


ARTE

A CRUZ Luís da Silva Pereira

Continuamos a ilustrar a máxima “onde há amor nascem gestos”, que orienta o presente ano pastoral, integrado ainda no triénio dedicado à virtude da caridade. Optámos pelo tema da morte de Cristo. Não há maior gesto de amor do que dar a vida pelos amigos, como refere o evangelho segundo S. João15, 13-15. Foi o que fez o Senhor, morrendo por nós na cruz. Aí deu tudo que tinha para dar. Até a própria mãe nos deu. A pintura que vou comentar é de Mathis Gothardt Neithardt, mais conhecido por Mathias Grünewald. Nasceu em Wurtzburgo, na Alemanha, em 1470, e morreu em Halle, também na Alemanha, em 1528. Foi um pintor genial dos fins do gótico, quando a representação do sofrimento atinge laivos de paroxismo. Fala-se até em fase expressionista, tão intensa é a irrupção da emotividade na obra de arte. Trata-se de um óleo sobre madeira. Integra um políptico pintado, entre 1512 e 1516, para o mosteiro de Santo Antão, em Isenheim, que tinha anexo um hospital onde se tratava o Fogo de Santo Antão. Era uma doença causada por um fungo nos grãos de centeio. Causava manchas vermelhas na pele, violentas alucinações e uma sensação de intenso ardor nos membros dos doentes, resultando em gangrena das mãos e dos pés. 4

Esta é a mais violenta representação da morte de Cristo cujo corpo se apresenta brutalmente torturado, cravado de espinhos e coberto de manchas escuras como se já estivesse em decomposição. Os pés não se apoiam em qualquer supedâneo e surgem como se tivessem sofrido uma violenta torsão. A coroa de espinhos é um monte de ramos espinhosos, e o pano que lhe envolve a cintura, um farrapo. Os lábios parecem recobertos de saliva ressequida pela sede. Os nervos dos pulsos estão retesados e os dedos das mãos contorcidos como que tetanizados pela rigidez da morte. Fugindo à iconografia habitual, o pintor coloca São João evangelista do lado direito da cruz, junto a Nossa Senhora, como se quisesse acentuar a ligação filial entre ele e a mãe que o Senhor acabara de lhe dar. Também de modo pouco vulgar, S. João ampara a Virgem pela cintura, enquanto lhe segura o braço. Vê-se pela palidez do rosto que ela está prestes a desmaiar. A cor branca do manto acentua a palidez. Quer o seu rosto, quer o de S. João revelam emoção incontrolável. De igual modo, os dedos crispados de Maria Madalena, aos pés da cruz, assim como a boca entreaberta e os cabelos espalhados pelas costas, revelam o paroxismo da dor. Que é Maria Madalena sabemos pela caixa de perfumes colocada no chão.

É um dos seus atributos mais frequentes. Algo inesperada é a presença de S. João Batista. Nesta altura, o Batista já tinha sido morto. Contudo, nos finais da Idade Média e no Renascimento, aparece, algumas vezes, representado no Calvário. Como é caraterístico, veste uma pele de camelo e aponta com um dedo para Cristo ou para um cordeiro, que está, neste caso, a seus pés, vertendo sangue para um cálice. Esta famosa representação do Cordeiro poderá ter sido inspirada no célebre políptico de Jan van Eyck conhecido por Adoração do Cordeiro Místico, pintado em 1432, e que se encontra na catedral de Gent, na Bélgica. Podemos ainda ler uma frase em latim, retirada do evangelho segundo S. João 3, 30: “Illum oportet crescere, me autem minui”. Significa “convém que ele cresça e eu seja diminuído” (ou, como vulgarmente se traduz, “convém que Ele cresça e eu diminua”). O livro na mão recorda que é o último profeta do Antigo Testamento. O fundo escuro da pintura lembra que a morte de Cristo foi seguida por um eclipse do sol. Essa escuridão torna ainda mais dramática esta espantosa crucificação, momento cimeiro da pintura europeia.


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SEMINÁRIO MENOR

A ALEGRIA DO (RE)ENCONTRO

ENCONTRO DE PAIS DO SEMINÁRIO MENOR Rodrigo Costa, 10º Ano

Na manhã do dia 13 de março, domingo, os pais da comunidade do Seminário de Nossa Senhora da Conceição foram convidados a participar num encontro de partilha e convívio, por todos acolhido e desejado, sendo marcado pela alegria de todos se poderem reencontrar. Esta iniciativa começou com uma breve recoleção familiar, dirigida por um dos diretores espirituais do Seminário, o Pe. Álvaro Balsas, sj. Tal como tem acontecido em todos os encontros desta natureza, a reunião foi iniciada por um momento musical, em que um ou dois 6

seminaristas, sentando-se ao piano, executam uma peça. Este foi um encontro há muito esperado pela comunidade, uma vez que ao longo dos últimos meses a pandemia impediu que os mesmos acontecessem de modo frequente e nas condições ideais. Assim sendo, esta comunidade alargada, que envolve os pais e familiares dos seminaristas, deseja agora, mais do que nunca, reunir-se e fortalecer os laços de amizade e de afeto, promovendo, assim, um ambiente sadio entre todos, nomeadamente entre as diferentes famílias e

entre estas e a Equipa Formadora. Após a reunião, foi tempo de lanche e confraternização, onde as famílias e os seminaristas se reuniram num único grupo. Terminado o lanche, teve lugar a celebração da Eucaristia, presidida pelo Pe. Álvaro Balsas. Naquele que era o II domingo da Quaresma, dedicado à transfiguração do Senhor, o sacerdote explicou, durante a sua partilha, a importância da verdade e da transparência nas nossas ações, tal como Jesus revelou aos discípulos que estavam com Ele a sua verdadeira identidade.


SEMINÁRIO MENOR

CAMINHAR JUNTOS

ENCONTRO DE PRÉ-SEMINÁRIO Diogo Fernandes, 9º Ano

No fim de semana de 25 a 27 de março, o Seminário de Nossa Senhora da Conceição promoveu um encontro de pré-seminário especial, em moldes diferentes do habitual, que envolveu não só os pré-seminaristas mas também os seminaristas residentes na comunidade, sendo todos desafiados a fazer um caminho conjunto e partilhado. Assim, a partir das 19h00 do dia 25, os jovens pré-seminaristas chegaram ao Seminário, começando por tomar parte na celebração da Eucaristia, naquele que era o dia em que se celebrava a Solenidade da Anunciação do Senhor. Seguiu-se depois o jantar participado por todo o grupo. No sábado, dia 26 de março, o dia começou com o pequeno-almoço, por volta das 8h30. Mais

tarde, pelas 9h30, realizou-se um momento de oração. De seguida, os seminaristas residentes apresentaram aos pré-seminaristas alguns lugares da casa, destacando algumas questões interessantes sobre os mesmos, sem esquecer a temática que preside a toda a caminhada de Pré-Seminário do presente ano pastoral – “Seminário: Uma Casa ComVida”. Depois dessa dinâmica, o grupo dedicou-se a uma atividade muito desgastante, mas divertida, que consistiu numa caminhada até á praia fluvial de Adaúfe. Durante o percurso foi proposto um grande leque de atividades, desde fazer uma cruz até recriar a parábola do bom Samaritano. Já mais tarde, houve tempo para jogar futebol. Seguiu-se um momento de maior reflexão, dedicado à avaliação dos

projetos do pré-seminário. Mais tarde, já depois do jantar, teve lugar a celebração da Via-Sacra, a partir do modelo proposto pelas Jornadas Mundiais da Juventude. No dia seguinte, domingo, depois do pequeno-almoço, por volta das 9h30, o grupo reuniu-se para proceder à avaliação do encontro, com muitos pontos a destacar e para discutir. Seguiu-se a celebração da Eucaristia, onde os jovens, apesar de marcados pelo cansaço do fim de semana, tiveram oportunidade de viver um encontro com o Senhor Jesus, agradecendo-Lhe pela riqueza e pela alegria dos momentos partilhados e as experiências vividas ao longo desta iniciativa que, certamente, deu ainda mais vida à casa que é o Seminário e à vida de cada um destes participantes. 7


SEMINÁRIO MAIOR

SENTIR O HUMANO TRANSCENDENTE

ENCONTRO COM A ESCRITORA LÍDIA JORGE Tiago Nogueira, 5º Ano

No dia 25 de fevereiro, a comunidade do Seminário Conciliar de Braga teve a honra de receber a escritora Lídia Jorge. Às suas palavras, estiveram também atentos o Arcebispo de Braga, D. José Cordeiro, o Arcebispo Emérito, D. Jorge Ortiga, e o Pe. Dr. Costa Santos, figura incontornável na formação de várias gerações de alunos deste Seminário. Diante da sua humanidade, simplicidade e criatividade, a comunidade do Seminário questionou qual deveria ser a formação proporcionada pelos Seminários aos seus alunos, nestes tempos hodiernos, a fim de melhor os preparar para o futuro. A resposta de Lídia Jorge é taxativa – “a formação de hoje tem de ser variada”, sendo necessário ao sacerdote de hoje “ter um conhecimento e formação em várias áreas, desde a científica à filosófica”.

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A ilustríssima escritora afirmou que é necessário ter amor pela formação e pela literatura, pois a partir dela conseguimos chegar à intimidade da raiz das comunidades. Salientou a necessidade de se recorrer à história dos princípios, aos mitos, às histórias populares, à poesia, pois demonstram as bases da fé e das vivências religiosas da humanidade, desde a sua origem até aos nossos dias. E é a partir dessas fontes de humanidade e de sagrado que se encontra um aspeto da verdadeira humanidade: somos seres de transcendência. Lídia Jorge pediu que os futuros sacerdotes, que serão futuros guias de comunidades e mensageiros da Palavra, voltassem a contar esses mitos originários, para que se volte a sentir o humano transcendente.

Em resposta a algumas perguntas dos seminaristas, Lídia Jorge salientou a importância da cultura, da necessidade de se apostar na mesma, sendo que cada um deve dar tempo e espaço áquele gosto especifíco que se desenvolve por uma ou outra arte: escrita, pintura, escultura, teatro… Defendeu ainda que “há humanidade na arte! Há amor!”. Lídia Jorge partilhou ainda com a comunidade do Seminário a necessidade de investir na literatura: cada um deve investir na literatura e retirar dela um rasgo de transcendência, reiterando que o ser humano, para além de um animal racionalmente superior, é, acima de tudo, um ser transcendental, sublinhando que a literatura é a base segura da ética, da moral e da deontologia e que ela é a disciplina mais formativa.


SEMINÁRIO MAIOR

UM GRITO CHAMADO ISAÍAS Pedro Fraga, 5º Ano

Um grito, no meio da guerra. Um grito no meio da Quaresma. Um grito no meio da vida. Um grito que «entre passos e passagens, tudo transforma.» Enquanto ouvia a música, lembrava-me de Nelly, a humilhada e ofendida? Lembrava-me também dos gritos de consolação? Lembrava-me dos gritos da perversão? Lembrava em particular desta passagem: “Alarga o espaço da tua tenda, estende sem medo as lonas que te abrigam” (Is 55). O espetáculo Um grito chamado Isaías foi uma proclamação que, com uma suavidade aberta, teve o poder de nos arrebatar, como folhas na terra, para uma dimensão imaginativa e atenta. Fomos acompanhados por uma narrativa que, timidamente, exercia sobre nós uma reminiscência musical, um ato recordatório que modelou os nossos sentidos para essa habitação de uma “presença real, onde se «Apa-

gam as chamas e cessam os trabalhos/ Reclino-me um pouco desconjuntado na estrutura do teu corpo/ Como quem caminha nos amenos bosques da escritura.». Isaías é o livro com uma marca profunda, exaurida, com uma dissonância atonal que, por um lado, rompe com o âmago da situação social e política das instituições e dos seus contemporâneos, mas que, por outro, possui uma força de sedução que, na sua profundeza poética, nos teleguia para a esperança mais profunda, para a essência da coisa. Submete à verdade mais humilde e universal, tal trivialidade mesteiral, que, no toque rítmico da música, foi capaz de nos desvelar. Como dizia Sophia de Mello Breyner Andresen: «há uma necessidade vital de todos os momentos procurar encontrar a raiz das coisas, o mundo fundamental e o mundo original e é isso que me leva escrever a poesia». De forma particular, é uma porta de en-

trada que nos permite aceder a esse desejo que se expande e que, na “alva do cosmos”, nos mobiliza para uma ética atencional e vigilante que nos exercita à abertura dos olhos para a sensibilidade da compaixão. Ora, será o tempo de caminharmos, de forma pendular, diante do mundo, de o revitalizarmos, de acolhermos estes silêncios e os seus abismos e de os podermos transfigurar, sobrepondo os excessos e imprimindo ao emotivo mundo que «nesse desejo de luz pela qual à sua passagem, entre passos e passagens, tudo transforma.». Tal como Isaías, incarnamos o canto da nova Jerusalém, onde o humano vive e Deus se manifesta, para assim o encaminharmos «para as fanais do teu reino e da terra prometida, Deus que ressuscitaste Jesus dos mortos, por quem vem o Espírito que dá a vida e como um nó nos une, no cântico da vida diferida e na esperança».

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SEMINÁRIO MAIOR

CAMINHADA QUARESMAL Carlos Furtado, 3º Ano

A quarta-feira da Semana Santa é um dia especial para o Seminário Conciliar, dia que alia o culminar do Tempo da Quaresma a importantes momentos de oração, de convívio e de cultura. Este ano, os locais escolhidos para estes momentos que caracterizam a Caminhada Quaresmal foram a cidade de Vila do Conde e ainda Laúndos, uma freguesia que já pertence ao concelho da Póvoa de Varzim. A atividade teve início na manhã dessa quarta-feira, com a celebração da Eucaristia no Mosteiro de Santa Clara, em Vila do Conde. Já alimentados pela Palavra e pelo Pão da Eucaristia, pudemos desfrutar, a partir do Monte do Mosteiro e do seu magnífico Claustro, da bonita paisagem que nos oferecia a cidade “espraiada

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entre pinhais, rio e mar” (como a descrevia José Régio) e que parecia surgir como presságio de um dia muito bem passado. Descendo o Monte, fomos ao encontro da Vila do Conde dos Poetas e dos Descobrimentos. Começamos pela visita à Casa-Museu do poeta vilacondense José Régio, onde pudemos apreciar a vasta obra literária que nos deixou e ainda uma coleção de antiguidades, sobretudo de Arte Sacra, destacando-se vários elementos referentes a Cristo e a Maria. Esta visita deu-nos a possibilidade de conhecermos belíssimas imagens de Cristo, onde eram visíveis as marcas da Paixão bem como as do tempo que a antiguidade lhes conferiu. Este momento cultural tornou-se ainda mais significativo pelo facto de nos

encontrarmos na Semana Santa, momento em que nos preparamos para a vivência do Mistério da Paixão. Já da parte da tarde, e depois de um tempo de convívio pelos jardins do Centro de Memória, atravessamos o centro histórico vilacondense, marcado pelo estilo manuelino, e caminhamos até à zona ribeirinha para uma visita à Alfândega Régia, à Nau Quinhentista e à Capela de Nossa Senhora do Socorro, símbolos da antiga e profunda ligação desta cidade ao Mar e à época dos Descobrimentos. A nossa caminhada prosseguiu em Laúndos, com a visita ao Santuário de Nossa Senhora da Saúde, local da peregrinação do Arciprestado de Vila do Conde e Póvoa de Varzim. Mais tarde, subimos o escadório que nos levou do Santuário até à Capela de São Félix, onde pudemos rezar a Via Sacra, acompanhando os passos que o próprio escadório nos apresentava. E foi neste fim de tarde de oração que recordamos a Paixão de Cristo numa oração que, assinalando o culminar da Quaresma, nos preparava já para uma melhor vivência do “Coração” do Ano Litúrgico, o Tríduo Pascal e a Páscoa do Senhor. O dia terminou com um jantar no Salão da Junta de Freguesia de Laúndos, que proporcionou mais um momento de alegre convívio a este grupo que chegou ao fim desta caminhada sentindo-se ainda mais comprometido com Cristo e com a Comunidade do Seminário.


PASTORAL UNIVERSITÁRIA

CAMINHAR PELAS

MISSÕES UNIVERSITÁRIAS Beatriz la Féria, Curso de Medicina, UMinho, Coordenadora do Projeto Sementes 2022

O 25 de abril foi o dia para o Projeto Sementes retomar a sua já tradicional Caminhada Solidária, na sua 4ª edição, num ano em que o projeto cumpre 9 anos de missões nacionais e internacionais de curta duração, que envolveram, até ao momento, quase duas centenas de jovens universitários. A edição deste ano conta com 18 jovens universitários, que se preparam para partir em missão desde novembro, com encontros semanais, retiros, ações de voluntariado local, entre outras atividades. Penso que a Caminhada Solidária seja, de entre todas as atividades de angariação de fundos que desenvolvemos, a que melhor aborda os objetivos que envolvem o Projeto. O espírito de grupo é vivido muito intensamente ao longo de toda a fase de preparação, envolvendo diferentes ações. Nos meses que antecederam o evento, empenhamo-nos em angariar todos os géneros e materiais necessários para a sua realização, envolvendo várias empresas como parceiras. Também o jogador Francisco Moura, do Sporting Clube de Braga, apadrinhou esta caminhada, enquanto que o Município de Braga nos apoiou na organização logística e formal do evento, juntamente com a Polícia Municipal, que garantiu toda a segurança necessária. Para além disso, houve todo um trabalho de divulgação, partilha do evento e angariação de inscrições de pessoas de diferentes gerações e proveniências que intensificou ainda mais todo o trabalho das jovens sementes.

Chegados ao dia, e depois de muitas horas de trabalho e de algum nervosismo, tudo estava preparado para começar. Cada uma das Sementes, em verdadeiro sentido de missão, proporcionou a quase duas centenas de participantes um momento de saudável convivência e de verdadeiro espírito de partilha. O que torna esta caminhada ainda mais especial é a diversidade de pessoas que se juntam para caminhar pela mesma causa: crianças, jovens, adultos e pessoas mais velhas; familiares, amigos, conhecidos ou apenas os que têm vontade de caminhar, de diferentes proveniências e locais. O contacto com a comunidade é assim um ponto central desta caminhada. Numa primeira abordagem, podemos pensar que o Projeto Sementes se destina principalmente a proporcionar uma missão de voluntariado em África a jovens universitários. Porém, seria impossível sermos voluntários lá fora sem primeiro o sermos na nossa comunidade. Daí a importância do voluntariado local que realizamos em instituições de

Braga e da própria caminhada, que nos permitem sair da sala onde nos reunimos semanalmente e contactar diretamente com a comunidade. Sem estas ações locais, que reúnem várias pessoas em prole de um bem maior, o Sementes seria apenas um projeto de missão em África e não um projeto que pretende formar voluntários para serem verdadeira missão no dia-a-dia. A opção pelo Sameiro como o culminar da caminhada é também uma escolha simbólica, pois, após o esforço de subirmos o monte e não desistirmos do caminho que nos propusemos fazer, há a recompensa de sermos recebidos no Santuário, com a proteção de Nossa Senhora. Uma verdadeira metáfora do caminho que cada um de nós, jovens sementes, faz ao longo deste percurso de preparação para as missões. Concluída a caminhada, e apesar de cansados, sentimo-nos ainda mais entusiasmados com a vontade de querer partir em missão. Estamos muito agradecidos a todos os que se juntaram a nós para apoiar as missões 2022. 11


PASTORAL DE JOVENS

APELO AOS JOVENS: ACOLHIMENTO E VOLUNTARIADO! Departamento Arquidiocesano da Pastoral de Jovens

As Jornadas Mundiais da Juventude aproximam-se a passos largos. Pouco a pouco, é tempo de concretizar o caminho pastoral e formativo que tem vindo a ser desenvolvido nos últimos anos. Como Maria, os jovens da Arquidiocese são chamados a “correr apressadamente”. Sem a colaboração e esforço de todos, as JMJ’23 serão apenas um evento isolado em Lisboa. A presente, a nossa Arquidiocese vai-se organizando para acolher as pré-jornadas, mas isso só será possível se todos acolhermos este momento tão especial no nosso ‘manifestar a fé’. São duas as necessidades práticas que advêm do acolhimento das pré-jornadas: •

Agradecemos os donativos que alguns assinantes nos fazem chegar. Não sendo de pagamento obrigatório, o Jornal só é viável com as vossas ajudas de custo! As ofertas deste bimestre totalizam 85€.

Podem enviar o vosso donativo para o endereço abaixo descrito, ou directamente para o NIB: 0007 0602 00472310008 15.

Que o Senhor vos conceda o Seu amor e Graça.

FAMÍLIAS DE ACOLHIMENTO: As famílias que aceitarem viver as JMJ’23 de maneira mais profunda, poderão manifestar a sua disponibilidade (quanto antes) junto das respetivas equipas arciprestais. Estas famílias receberão o número de jovens lhes for possível acolher durante as pré-jornadas, proporcionando-lhes: • • • •

Os artigos publicados no “Voz de Esperança” seguem, ou não, o novo acordo ortográfico consoante a escolha dos autores.

Dormida (idealmente, para dois jovens, durante os dias de pré-jornadas na Arquidiocese); Local onde os jovens possam fazer a sua higiene diária; Pequenos-almoços e, pontualmente, alguma refeição principal; Na medida do possível, facilitar o transporte de e para os pontos de encontro diários (de manhã e ao fim do dia); Comunicar e dialogar com os jovens (ainda que não se se conheça um idioma comum, existem sempre outras formas de interação).

JOVENS VOLUNTÁRIOS: Os jovens que se inscrevem como voluntários ajudarão no necessário para responder às necessidades das pré-jornadas na Arquidiocese. Do mesmo modo, os jovens poderão inscrever-se também como voluntários durante as JMJ’23 para, em Lisboa, ajudar também no que que for preciso. Para se inscrever como voluntário basta fazê-lo em: https://forms.gle/qNmSGF79Ja65BBsS8.

Juntos tornamos as JMJ’23 possíveis, mais acolhedoras e verdadeiramente expressão da fé em Jesus Cristo. Obrigada a todos!

Propriedade do Seminário de Nossa Senhora da Conceição

Rua de S. Domingos, 94 B 4710 - 435 Braga Telf: 253 202 820 | Fax: 253 202 821 www.fazsentido.pt seminariomenor@fazsentido.pt vozdeesperanca@fazsentido.pt N.º de Registo: 1152 88 Depósito Legal N.º 40196/91 Tiragem: 4000 Exemplares


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