Voz de Esperança Jul/Ago 2022

Page 1

JUL - AGO / 2022

“CANTAR MISSA” E A FORMAÇÃO MUSICAL NO SEMINÁRIO CONCILIAR

Diretor: Pe. Mário Martins Chaves Rodrigues Ano XXIV - 6ª Série | Nº 89 | Bimestral 1,00 €

“Os seminaristas de hoje, como os de outrora, se formam em tudo o necessário para a Simbiose entre Culto e Caridade que é a marca da religião verdadeira. É para isso que cultivam ao mesmo tempo, necessariamente, a música e a liturgia…” José Carlos de Miranda Pág. 2

DA ESPERA À ESPERANÇA “Estamos imanados de uma esperança de que a morte não tem a última palavra, conscientes de que Cristo veio instaurar a vida eterna. Deste ponto de vista, o nosso presente é já um tempo da eternidade.” Renato Costa Pág. 9

EDITORIAL

A MELODIA DE UM SIM Escuta-se um prelúdio de amor… Deus chama-nos! Na pauta dispõem-se as diferentes notas musicais, compõe-se a melodia da vida. Fazem-se os arranjos necessários para vencer os medos e acomodar as dúvidas, a Palavra do Senhor é o diapasão para a afinação do coração que, por sua vez, aprende a amar, a cantar e a dançar esta música de Deus… eis a nossa resposta, o Sim à nossa vocação! Ainda a celebrar os 450 anos da fundação do Seminário Conciliar de Braga, destacamos nesta edição a dimensão da música, fundamental na formação de um seminarista e na vida de um Seminário, nomeadamente pelo papel que assume no contexto da liturgia, elevando a nossa alma, gerando alegria e festa. A propósito, o texto Visão lembra-nos, precisamente, que “no culto do Deus verdadeiro, a Palavra de Deus e a resposta dos seus filhos nasce revestida do canto”. De facto, a música é uma forma de arte de beleza ímpar, que nos coloca num diálogo íntimo e próximo com o Senhor Jesus. Na envolvência sublime com que nos extasia e embala provoca-nos na certeza de que todo aquele que é chamado é interpelado a compor com arte o amor de Deus recebido, convertendo-o em amor doado aos outros. Eis a Igreja Samaritana que queremos edificar. Ao mesmo tempo, a música também nos aproxima dos irmãos. A busca da harmonia, a melodia do Sim que queremos dar, a perfeição do canto a uma só voz, perante as exigências do respeito mútuo, da tolerância, do silêncio e da escuta, recordam-nos que a música é um elemento agregador e promotor da comunhão. Eis a Igreja Sinodal com que sonhamos e com a qual nos queremos comprometer. Na verdade, é este hino festivo que sempre se procura ouvir nos nossos Seminários. Às portas do merecido tempo de descanso, depois de mais um ano percorrido, também as notícias aqui publicadas entoam a mesma sinfonia, porque a vocação ao sacerdócio, enquanto chamamento de Deus, enquanto caminho conjunto para a alegria e para o amor verdadeiro, deve permanecer viva e querida no coração de cada um como um eco melodioso e belo!


VISÃO

“CANTAR MISSA” E A FORMAÇÃO MUSICAL NO SEMINÁRIO CONCILIAR José Carlos de Miranda

Chamamos hoje “música” a uma das belas artes: a que toma por matéria o som e o torna significativo e belo. Mas, enquanto para as artes figurativas, como a pintura e a escultura, temos designações que remetem para o labor do artista, para esta, dos sons, fomos buscar o nome às Musas, as divindades que acompanhavam Apolo Citaredo e inspiravam o “canto” dos Poetas. A ars musica ou “das musas” nasceu, assim, ao serviço da Palavra Sagrada e seria pleonasmo, na Antiguidade, chamar-lhe “sacra”. Os poetas gregos, com efeito, “cantavam” as histórias divinas e os vates romanos “vati-cinavam” (de canere, cantar) as mensagens do além, e outro serviço não tinha a harmonia ou concordia dos sons senão o de revestir a palavra que, deste modo, paramentada, se tornava sagrada. Também o Deus revelado se fez mediar pela Palavra; e também Ele se agradou dos Salmos em que o Rei David “cantou” de harpa em punho o Cristo que haveria de nascer da sua Casa. O Templo sempre foi, e é, por excelência e propriedade, a Casa da Música. As outras casas da música nasceram das alegorias modernas do Teatro Lírico e, depois, das aulas dos concertos. Mas mesmo na era moderna, a de uma música que também pode cantar sem mais as coisas do mundo, não por acaso, a primeira sala de concerto, ao pé da Igreja Nova de S. Filipe de Néri, se chamou Oratório e, o primeiro género coral-sinfónico, Oratória. Oração e canto continuam entretecidos. Ora, se o Templo nasceu Casa da Música, o Sacerdote sempre foi cantor. Não diz o povo que se estuda no seminário para “cantar missa”? Também no culto do Deus verdadeiro, a Palavra de Deus e a resposta dos seus filhos nasce revestida do canto; e cede mesmo, por vezes, ao puro som, capaz de significar quando a palavra humana fica aquém do coração. A formação do sacerdote passou sempre, pois, idealmente, pelo canto das horas, de catedrais e mosteiros. E quando a reforma católica instituiu os benfazejos Seminários, logo 2

cuidou que os sacerdotes fossem formados ao som de uma liturgia quotidiana em que, também, na música, se desse ao culto divino o melhor de uma civilização. O Seminário de Braga chama-se justamente “Conciliar”, do Concílio tridentino a que São Bartolomeu dos Mártires quis dar logo cumprimento na sua Arquidiocese. Nele, os seminaristas de hoje, como os de outrora, se formam em tudo o necessário para a Simbiose entre Culto e Caridade que é a marca da religião verdadeira. É para isso que cultivam ao mesmo tempo, necessariamente, a música e a liturgia, aqueles que um dia, se Deus quiser, hão de “cantar Missa”.


PALAVRA AOS REITORES 1. A música implica ritmo, disciplina, dedicação, empenho, capacidade de escuta. Que benefícios traz para a formação de um seminarista? Cón. António Macedo: É fundamental que cada seminarista, cada um com as suas qualidades, receba formação musical, mas sempre pensando na liturgia, no canto gregoriano e tudo o que diz respeito às funções litúrgicas que virá a exercer. 2. Se a voz de Deus que chama é melodia e prelúdio de amor, como pode a música ajudar cada um a fazer o seu caminho de discernimento vocacional? Mons. António Moreno: A música pode e deve ajudar a fazer o discernimento vocacional. Tal será uma realidade na medida em que seja bem compreendida e saboreada, o que exige que tal tenha sido bem transmitida, não só por professores competentes intelectualmente falando, mas com os dotes pedagógicos. Que bom será então saborear essas melodias que nos falam do amor infinito que Deus nos tem. 3. Pela sua dimensão criativa e multidimensional, a música é também expressão da resposta ao chamamento de Deus. Como pode esta alegria pulsar vida e esperança do Seminário para toda a Igreja diocesana? Cón. António Sepúlveda: Referindo-nos a um período de mudança de vida de muitos jovens, o Seminário deve encontrar na música também uma expressão da resposta ao chamamento de Deus. A música, enquanto instrumento que nos ajuda a uma maior interioridade, pode e deve ajudar ao discernimento de cada um, de acordo com a idade e fase em que um jovem se encontra. Importa, por isso, que a qualidade da música que se ensina nos Seminários seja essa expressão da vida e esperança que a Igreja precisa.

4. No Seminário, de que modo é que a música pode ser um fator agregador e promotor da comunhão? Cón. Manuel Tinoco: A A música, no Seminário, pode ter um papel agregador e promotor de comunhão, na medida em que conseguir que o canto de todos (coro) se faça ouvir, soe como se fosse uma só voz a cantar. O cantar em coro exige disciplina, ordem, respeito, silêncio, atenção, escuta. Enquanto papel agregador e promotor de união e comunhão, pode ser essencial para o futuro serviço pastoral dos candidatos ao sacerdócio. 5. Poderá a música promover um diálogo mais próximo entre os Seminários, a Igreja e a sociedade em geral? Como? Cón. José Paulo Abreu: A música é arte, é linguagem prazenteira, é veículo de expressão de sentimentos e convicções. Na liturgia, serve para muito: para chamar à penitência, para clamar glórias a Deus, para gerar alegria e festa, para elevar a alma. Uma Igreja sem música não deixa de ser uma Igreja. Mas é uma Igreja triste. Às vezes, muito triste. 6. Através da música, cada um pode melhor descobrir os seus dons e carismas, colocando-os ao serviço. Como é que esta riqueza se reflete na vida de um Seminário e dos seus seminaristas? Cón. Vítor Novais: A Igreja, desde sempre, preserva a música, cultivando-a e tornando-a uma presença fecunda ao serviço da liturgia. A música é um elemento de inegável importância na celebração litúrgica e na mediação dos celebrantes com a Palavra Divina, orientando para o encontro pessoal com Jesus Cristo. No que concerne à dimensão musical na formação presbiteral, procuramos apontar diretrizes, mas nunca soluções estáticas. A nossa missão é abrir novos caminhos, mas – sobretudo - consolidar o terreno conquistado, permitindo novos avanços. 3


ARTE

A ÚLTIMA CEIA Luís da Silva Pereira

Escolhi , desta vez, a Última Ceia para ilustrar a máxima proposta para o presente Ano Pastoral dedicado ainda à virtude da caridade: “onde há amor nascem gestos”. Toda a vida de Cristo, desde o primeiro momento da sua conceção até ao último suspiro sobre a cruz, é um só gesto de amor, feito de todos os gestos da sua vida, mesmo que pareçam um escândalo. Por isso, quando Cristo anuncia que dará o seu corpo a comer, alguns dos seguidores perguntaram como seria isso possível e, escandalizados, decidem abandoná-lo. Ora, a Última Ceia é o momento em que se vai concretizar esse inimaginável gesto de amor que é dar-se a si próprio como alimento. Constitui a mais extraordinária despedida de amigos que a Humanidade alguma vez presenciou. A iconografia da Última Ceia é muito variada, embora alguns dos seus elementos se mantenham sempre os mesmos, naturalmente. A mais antiga representação parece ser a de um mosaico do séc. VI, em Santo Apolinário de Ravena. Nele se vê Cristo reclinado com os apóstolos, como se fossem romanos. Curiosamente, na mesa foram colocados dois peixes, em vez de um cordeiro. Recordemos que o peixe é também um dos símbolos centrais de Jesus Cristo e da eucaristia. Quando a

4

mesa é redonda ou retangular, Cristo situa-se no meio. Os apóstolos, ora em número de doze, ora em número mais reduzido, encontram-se geralmente sentados, mas casos há em que estão de pé, como estariam os judeus na celebração pascal. Os artistas ora acentuam a traição de Judas, geralmente identificado pela bolsa, ora relevam a terna intimidade de S. João. Umas vezes, Judas ainda está presente, aparentemente distraído do que se passa; outras vezes, já se encontra de saída ou ausente da sala. Não costuma apresentar nimbo, que é atributo de santidade. Com frequência, vemos aos pés dele um cão. Uns intérpretes sugerem que ele simboliza a fidelidade, por oposição à traição do apóstolo. Outros levantam a hipótese de lembrar a frase do evangelho de S. Mateus que aconselha a não dar aos cães as coisas santas. Jesus Cristo ora levanta os olhos para o céu, ora toma o pão e reparte-o pelos apóstolos. Alguns pintores representam Cristo de pé, distribuindo a sagrada comunhão em forma de hóstia, como atualmente. Com alguma frequência, aparecem na cena criados que trazem os alimentos para a mesa e, por vezes, até se vislumbra a um canto a cozinha onde a refeição foi preparada.

A pintura que, desta vez, escolhi para comentar é do pintor expressionista alemão Emil Nolde, que nasceu em 7.8.1867 e faleceu em 13.4.1956. Consideram-no o melhor expressionista do seu país. O quadro, de 1909, é de uma fortíssima concentração psicológica e espiritual. Nada há nele que nos distraia das personagens e dos seus sentimentos. Não vemos um só elemento que nos permita situar a cena num edifício, numa sala. O que interessa é a intensa experiência mística que Cristo e os apóstolos estão a viver. Repare-se nos olhos semicerrados de todos, no estreitíssimo espaço em que todos se encostam uns aos outros, como se formassem um só corpo. Repare-se no braço que a personagem do nosso lado direito coloca no ombro do que está à sua esquerda, e na mão que a personagem à nossa esquerda coloca na mão do que está à sua direita. A figura de Cristo, segurando a taça entre as mãos, parece completamente transfigurado e todos os outros personagens se concentram totalmente nele. Vivem uma emoção profunda e parece que conseguimos adivinhar o que se passa no coração de cada um. Os tons avermelhados e empastelados parecem indiciar dramaticamente o que vai acontecer assim que a ceia terminar.


5


SEMINÁRIO MENOR

CANTAR AS DOBRAS DO MANTO DE MARIA, SENHORA DE MAIO ENTOAR AS MELODIAS DO ONTEM QUE SE TORNAM DO SEMPRE João Pereira Pinto, 12º Ano

Maria é, desde tempos muito longínquos, a mais celebrada das mulheres por toda a Cristandade. Aliás, já antes do nosso território se conhecer como “Portugal”, o nosso país já era conhecido por ser “Terras de Santa Maria”. Pode, desta forma, alguém externo à nossa cultura lusitana inferir o nosso forte vínculo à Virgem Maria, assumido sob múltiplas devoções e invocações, que a referenciam como amparo e refúgio nas mais diversas necessidades e nos diferentes momentos das nossas vidas. Os Seminários Arquidiocesanos de Braga não são impermeáveis a esta cultura mariana indelével nas nossas gentes e, por isso, o Seminário de Nossa Senhora da Conceição, Seminário Menor da Arquidiocese de Braga, celebrou a Senhora “de

6

Maio” com a recitação comunitária diária da oração do terço. Este ano quis a Providência e o ritmo do nosso calendário litúrgico que coincidissem o Tempo Pascal com todo o mês de Maio, tipicamente conhecido por “Mês de Maria”. O também chamado “mês das flores” foi findo com o entoar do hino bizantino do “Akathistos” (em grego, “cantado de pé”), saído do Concílio de Calcedónia em 451. A comunidade dos seminaristas preparou com esmero, zelo e piedade esta celebração que canta Maria e as maravilhas que Deus nela realizou desde a Anunciação até à Parusia. Estruturada pela sistemática e compassada estrutura “cântico-antífona-litania-narração”, as belas poesias resultantes do consenso de fé e das deliberações do Magistério dos

primeiros séculos da Igreja foram entoadas a Maria, a Mulher do Sim generoso e desinteressado, tomada por exemplo por aqueles que, dia a dia, querem crescer olhando o céu. A celebração de fé e louvor ao Deus, que por e em Nossa Senhora operou maravilhas na História, foi adornada pela fragância e pelo ascendente fumo do incenso da oração, pelas melodias juvenis e despontantes do canto reverencial e pela Palavra sempre viva e encarnada em Cristo Jesus. Celebrar este hino oriundo da Igreja de Bizâncio assumiu-se, em suma, como o momento de cantar as dobras do manto de Maria, essa “Senhora de Maio”, que nos inspira sempre a renovar o nosso “Sim” e a viver na fragilidade da nossa condição as graças do divino que em nós age.


SEMINÁRIO MENOR

CAMINHAR JUNTOS

ENCONTRO DE PAIS Marco Magalhães, 10º Ano

No passado dia 5 de junho, os pais dos seminaristas do Seminário de Nossa Senhora da Conceição reuniram-se, em verdadeiro espírito de comunhão e partilha, reafirmando o desejo e a alegria de um caminho que ganha um renovado sentido quando feito em conjunto, no Monte de São Gregório, em Maximinos, Braga, a fim de viverem um dia destinado ao delicioso convívio entre todos. O encontro iniciou com a celebração da Eucaristia dominical, no interior da Capela, naquele que era o dia em que a Igreja celebrava a Solenidade de Pentecostes e o término do Tempo Pascal. Terminada a celebração, todos se dirigiram para o espaço exterior, nas imediações da Capela, onde teve lugar o almoço partilhado, recheado

pelas iguarias que uns e outros prepararam com esmero e amor. Depois de fortalecidos pela refeição, a tarde foi repleta de desafios. Primeiro, teve lugar um momento de caráter mais lúdico em que os pais, juntamente com os seminaristas, se dedicaram e divertiram com a prática de vários jogos tradicionais, como jogo da malha, cartas, tiro ao alvo, e até mesmo futebol, dividindo-se em diferentes equipas. Estes jogos promoveram uma competitividade saudável e até mesmo um espírito de entreajuda entre todo o grupo de participantes, pais e filhos. O encontro prosseguiu depois nas instalações do Seminário de Nossa Senhora da Conceição, onde o grupo se dirigiu e onde se realizaram as audições semestrais de piano. Neste momento, foi

apresentado o trabalho e o progresso individual de cada seminarista realizado ao longo dos últimos meses. Assim, depois da riqueza já vivida nas horas anteriores, esta iniciativa terminou com a beleza da música que dilatou ainda mais a alegria de cada um dos presentes, renovando-os no desejo de continuar a caminhar juntos, contribuindo para uma Igreja mais sinodal.

7


SEMINÁRIO MAIOR

VOCAÇÃO: UM CHAMAMENTO AO AMOR INSTITUIÇÃO NO MINISTÉRIO DE ACÓLITO João Santos , 5º Ano

No passado dia 8 de maio, a Igreja celebrou o Domingo do Bom Pastor e o 59º Dia Mundial de Oração pelas Vocações. Para além destas duas celebrações, a Comunidade dos Seminários Arquidiocesanos de Braga teve ainda um outro motivo de alegria: a Instituição no ministério de Acólito dos seminaristas Carlos Abreu, Pedro Fraga e Tiago Nogueira. A presidir a esta Celebração esteve o Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Braga, D. Nuno Almeida. Na sua homilia, o prelado ressalvou que a figura do Bom Pastor, apresentada biblicamente por S. João, nos faz redescobrir a doação, a simplicidade, o serviço, a dedicação total e o amor gratuito, pois aquele que é Bom Pastor também é mestre de amor, na medida em que, pelo amor, dá a sua vida!

8

E foi com base nesta doação da vida, através do amor, que D. Nuno apresentou a vocação: um chamamento ao amor que entra em diálogo com Deus, que tem uma tarefa e uma missão para cada um de nós. Para reforçar esta ideia, o bispo auxiliar partilhou com os presentes uma citação da mensagem do Papa Francisco para este Dia Mundial das Vocações: «A vocação nasce, graças à arte do Escultor divino que, com as suas “mãos” de oleiro, nos faz sair de nós mesmos, para que se delineie em nós a obra-prima que somos chamados a ser». É esta procura constante do sentido da vida que deve apontar para a vocação que cada um de nós é chamado a viver. Neste sentido, o prelado convidou os candidatos ao acolitado a responderem à vocação a que Deus os

chamou, sendo que estes são desafiados a imitar o Bom Pastor no dom da vida, que brota de Cristo e que deve ser testemunhada dentro e fora dos recintos sagrados. É a partir da Eucaristia, local onde são alimentados, sobretudo pelo pão, que encontrarão forças para desempenharem o seu ministério, que será mais verdadeiro a partir do momento em que ofereçam a Jesus as mãos, os pensamentos e o tempo. Porém, Deus não os deixará sem recompensa e conceder-lhes-á a alegria verdadeira que apontará para uma felicidade mais completa. Por fim, D. Nuno Almeida deixou um apelo àqueles que estão no Seminário: que se deixem forjar para se tornarem bons pastores, segundo o coração do único Bom Pastor, Jesus Cristo.


SEMINÁRIO MAIOR

DA ESPERA À ESPERANÇA VIA LUCIS Renato Costa, 5º Ano

No passado dia 13 de maio, a comunidade do Seminário Conciliar uniu-se para celebrar a Via Lucis (caminho da luz). A mesma teve início quando o sol se começou a pôr, evidenciando a verdadeira Luz. À semelhança da Via Crucis, também a Via Lucis é composta por catorze estações que refletem a ressurreição de Jesus, mais precisamente os textos dos Evangelhos que relatam este acontecimento. No decorrer desta celebração, fomos percorrendo vários espaços comuns do Seminário, espaços estes que fazem parte da nossa formação e que nos ajudam a entender que a ressurreição, mais do que um conceito, é uma realidade que tem de estar presente no nosso quotidia-

no, enquanto cristãos. «A vida não acaba no sepulcro. Pelo contrário, emerge explosiva do sepulcro de Cristo. A cruz não é a meta do caminho, mas o caminho que desemboca na Ressurreição. A existência não é um penoso percurso para a morte, senão Vida recebida e comunicada! No centro da fé cristã está a Ressurreição de Jesus.» (Pe. Nuno Ventura) É uma oração que tem um significado profundo. Nela, passamos da espera à esperança. «Durante séculos a Via Crucis envolveu os fiéis no primeiro momento do acontecimento pascal, nomeadamente a Paixão, e ajudou a fixar os seus aspetos mais importantes na sua consciência. Analogamente, a Via Lucis, quando celebrada em fidelidade ao texto

do Evangelho, pode transmitir efetivamente aos fiéis uma compreensão viva do segundo momento do acontecimento pascal, a saber, a Ressurreição do Senhor.» Estamos imanados de uma esperança de que a morte não tem a última palavra, conscientes de que Cristo veio instaurar a vida eterna. Deste ponto de vista, o nosso presente é já um tempo da eternidade. Concluindo, com isto queremos afirmar que Jesus está vivo e que vive no meio de nós. Mesmo que, por vezes, e à semelhança dos discípulos, tenhamos dúvidas, Jesus estará connosco para nos ajudar nas nossas situações mais delicadas e a espalharmos esta mensagem de amor.

9


SEMINÁRIO MAIOR

HOJE ENTROU A SALVAÇÃO NESTA CASA CELEBRAÇÃO PENITENCIAL DE PENTECOSTES Saul Narciso, 5º Ano

Cinquenta dias passados após a Páscoa, celebramos o dia de Pentecostes. E, para melhor preparar a celebração da descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos, a comunidade do Seminário Conciliar viveu a Celebração Penitencial de Pentecostes. Utilizando como mote principal desta Celebração Rm 5, 20: “Onde aumentou o pecado, superabundou a graça”, começamos a sua preparação no dia 30 de maio. Ao longo de três dias de preparação, fomos caminhando rumo ao sacramento da reconciliação onde, no primeiro dia de preparação, nos foi proposto um encontro com Deus, através dos nossos sentidos: da leitura de textos e da escuta de peças de órgão, intercalados pelo silêncio orante que in-

10

vadia o nosso interior e nos permitia escutar a voz de Deus ecoar no nosso coração. Este encontro é um bom momento para nos abstrairmos dos ruídos a que estamos sujeitos diariamente e nos focarmos naquilo que deve ser sempre o nosso horizonte. Nos outros dois dias, a preparação foi feita através de interpelações na oração da manhã e na Eucaristia. Estas interpelações refletiam essencialmente sobre a nossa relação com Deus, com nós mesmos e com os nossos irmãos. A Celebração Penitencial teve lugar no dia 2 de junho, e iniciou-se na Igreja de S. Paulo. Após a homília, cada um, dentro da sua liberdade, foi convidado a aproximar-se do Sacramento da Reconciliação. Nesse dia, pudemos contar com a presen-

ça de vários sacerdotes que se disponibilizaram a ouvir os penitentes, dando oportunidade a cada um para se aproximar, da melhor forma possível, da reconciliação. Após a confissão individual, cada um foi convidado a dirigir-se à Capela de S. Pedro e S. Paulo, onde encontraria exposto o Santíssimo Sacramento. Nesse momento, e enquanto se aguardava o fim da reconciliação individual, cada um viveu o seu encontro mais pessoal com Cristo. Após esse momento decorreu a Eucaristia, oportunidade para cada um agradecer a graça do perdão por Cristo concedido. E foi assim que a comunidade do Seminário Conciliar viveu mais uma Celebração Penitencial de Pentecostes e se preparou para a festa da descida do Espírito Santo.


PASTORAL UNIVERSITÁRIA

O FIM DE UMA ETAPA ACADÉMICA: O QUE CONSTRUÍMOS E O QUE NOS ESPERA? Lídia Azevedo, Medicina, Universidade do Minho

Nós somos o resultado de todas as experiências que vivemos. E com a chegada, em breve, do fim da minha caminhada académica, estou certa de que realizar este percurso é uma experiência profundamente valiosa, que enriquece todos os jovens universitários nas mais variadas dimensões, que vão além do escopo intelectual. O principal objetivo de obter um grau académico é, de facto, adquirir competências teórico-técnicas que nos permitam exercer de uma forma qualificada uma profissão, mas aquilo que se constrói durante o curso é muito mais do que um conjunto de conhecimentos. Nenhum curso se completa sozinho e, por isso, ao longo destes anos construímos uma rede de pessoas à nossa volta, composta pelos professores, que nos marcaram como um exemplo a seguir e que moldaram o tipo de profissionais que seremos; pelos colegas, que nos acompanharam nesta viagem, vivendo os mesmos desafios que nós; pelos amigos, colegas com quem criámos uma ligação mais próxima, de apoio mútuo, cuja relação levaremos para a vida; por entidades como a Pastoral Universitária, que enriqueceram a nossa experiência académica e pessoal com desafios de crescimento da nossa vivência espiritual e humana. Com todos criámos memórias especiais que nos marcarão para sempre e às quais voltaremos com muito carinho quando pensarmos neste trajeto. Nesta reta final, acumulamos uma série de expectativas para o futuro,

sonhamos com tudo o que poderá vir. Urge em nós a necessidade de definir novos objetivos que delineiem a direção para a qual continuaremos a caminhar. O futuro é incerto e o maior desafio para todos os finalistas é o desconhecido. Vivemos, mais uma vez, tempos atribulados, com tantas incógnitas no que concerne a questões socioeconómicas que em muito desafiarão quem quer começar agora a construir uma vida independente. Um dos primeiros desafios que nos espera é a procura de emprego. Teremos tanto a ponderar sobre cada posto de trabalho: se nos realizará enquanto profissionais, que exigências extraordinárias nos trará, se o nosso trabalho será reconhecido, se nos disponibilizarão todos os meios que precisamos para dar o nosso melhor… Entretanto, seremos instigados a não deixar que o passar do tempo nos faça esquecer que o grau académico e os conhecimentos com ele adquiridos são apenas a base para continuar a evoluir. Os conceitos estão permanentemente a progredir, novas ideias são provadas e outras, previamente

aceites, são deixadas para trás. Paralelamente, numa época em que tudo evolui tão rápido e numa sociedade em que a prevalência do burnout tem aumentado, teremos de descobrir como podemos cuidar de nós mesmos e da nossa relação com Cristo e com os outros. Será, também, um desafio não nos permitirmos estagnar no tempo e acreditar que é possível construir um mundo melhor. Continuar a contribuir para nos tornarmos numa sociedade mais humana, que respeita os seus irmãos e a nossa Casa Comum; pugnar para que ninguém seja tratado de forma diferente com base na etnia, aparência física, religião ou estrato social e defender que o respeito pelo próximo nunca se perca, assim como o empenho para não infligir ao outro sofrimento físico, mental ou social com as nossas ações ou palavras. Deste modo, são muitos os desafios que nos esperam. Porém, acredito que temos as ferramentas necessárias para os superar com paciência e com eles crescer, tornando-nos cada vez melhores pessoas e profissionais. 11


PASTORAL DE JOVENS

JMJ’23: ACOLHIMENTO E VOLUNTARIADO – COMO FAZER? Departamento Arquidiocesano da Pastoral de Jovens

Os artigos publicados no “Voz de Esperança” seguem, ou não, o novo acordo ortográfico consoante a escolha dos autores.

Agradecemos os donativos que alguns assinantes nos fazem chegar. Não sendo de pagamento obrigatório, o Jornal só é viável com as vossas ajudas de custo! As ofertas deste bimestre totalizam 165 €.

Podem enviar o vosso donativo para o endereço abaixo descrito, ou directamente para o NIB: 0007 0602 00472310008 15.

Que o Senhor vos conceda o Seu amor e Graça. A “pré-jornada” ou “dias nas dioceses” é o encontro que antecede a semana da JMJ e que consiste na integração dos jovens vindos de todo o mundo nas comunidades paroquiais, nas várias dioceses do país. Os dias nas dioceses serão na semana anterior à JMJ, de 26 a 31 de julho de 2023. Na Arquidiocese de Braga está previsto o acolhimento de cerca de 20.000 jovens durante estes dias. Por isso, é preciso unir esforços e responder, como Igreja, a este desafio. Assim, recordamos o apelo para as FAMÍLIAS DE ACOLHIMENTO se inscreverem, mostrando a sua disponibilidade para: 1. Providenciar dormida para, pelo menos, dois jovens durante os Dias Na Diocese; 2. Disponibilizar um local onde os jovens possam fazer a sua higiene diária; 3. Garantir os pequenos-almoços e, pontualmente, uma outra refeição principal; 4. Se possível, facilitar o transporte de e para os pontos de encontro (de manhã e ao final do dia); 5. Comunicar e dialogar com os jovens, mesmo que não domine a língua de origem, deve procurar outras formas de interação. Além disso, ao longo destes dias, sobretudo para os momentos de grandes atividades e/ou celebrações conjuntas, serão também precisos VOLUNTÁRIOS que, em estreita articulação com o DAPJ, serão os grandes auxiliadores para que tudo corra

pelo melhor durante este tempo especial para toda a Juventude e Igreja Arquidiocesana. Para esclarecimento de dúvidas e/ou mais informações, cada um poderá contactar o seu pároco ou a sua Equipa Arciprestal. Amares: coaamares@arquidiocese-braga.pt Barcelos: coabarcelos@arquidiocese-braga.pt Braga: coabraga@arquidiocese-braga.pt Cabeceiras de Basto: coacabeceiras@ arquidiocese-braga.pt Celorico de Basto: coacelorico@arquidiocese-braga.pt Esposende: coaesposende@arquidiocese-braga.pt Fafe: coafafe@arquidiocese-braga.pt Guimarães e Vizela: coaguimarães.vz@ arquidiocese-braga.pt Póvoa de Lanhoso: coaplanhoso@arquidiocese-braga.pt Terras de Bouro: coaterrasbouro@arquidiocese-braga.pt Vieira do Minho: coavieiram@arquidiocese-braga.pt Vila do Conde/Póvoa de Varzim: coavcpv@ arquidiocese-braga.pt Vila Nova de Famalicão: coavnfamalicao@ arquidiocese-braga.pt Vila Verde: coavilaverde@arquidiocese-braga.pt

Propriedade do Seminário de Nossa Senhora da Conceição

Rua de S. Domingos, 94 B 4710 - 435 Braga Telf: 253 202 820 | Fax: 253 202 821 www.fazsentido.pt seminariomenor@fazsentido.pt vozdeesperanca@fazsentido.pt N.º de Registo: 1152 88 Depósito Legal N.º 40196/91 Tiragem: 4000 Exemplares


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.