Voz de Esperança Mar/Abr 2023

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Diretor: Pe. Mário Martins Chaves Rodrigues

Ano XXIV - 6ª Série | Nº 93 | Bimestral

1,00 €

O JOGO DAS ESCONDIDAS

“No caminho da vocação, muitas vezes jogamos às escondidas com Deus, e o engraçado é que Deus entra no jogo. Ouvimo-lo chamar pelo nosso nome e escondemo-nos… Como «a pachorra do Senhor é maravilhosa», Ele não se cansa de esperar, nem desiste de apontar-nos a meta da felicidade.”

Ir. Laurinda Faria

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UM TEMPO ILUMINADOR…

“Cada um de nós é mestre de si mesmo. Mais, cada um deve desvelar um processo interior de trabalho intenso e autêntico que conduz a «uma mente lúcida e um coração compassivo».”

Ano Propedêutico Pág. 9

EDITORIAL

É PRECISO PERDER PARA DEPOIS SE GANHAR!

“É preciso perder para depois se ganhar e, mesmo sem ver, acreditar.” Esta é a certeza que nos chega aos ouvidos e ao coração, convertida em música e encanto, pela melodiosa voz de Mariza, na sua canção “O melhor de mim”! Na verdade, e também isto se afina como canto e com todo o encanto, o melhor de nós acontece, descobre-se, quando nos damos, quando, como Jesus, abraçamos a Cruz, quando, como Maria, partimos apressadamente para amar e servir, como evoca este caminho de preparação final para a vivência da JMJ’23, “porque quem quiser salvar a sua vida há-de perdê-la; mas quem perder a sua vida por causa de Jesus há-de encontrá-la” (Mt 16, 25).

O tempo da Quaresma e da Páscoa que agora vivemos, confronta-nos, precisamente, com o mesmo imperativo. É preciso descobrir a tenda que somos, desprovermo-nos de ilusões vãs e acessórios, assumir diante de Deus e dos irmãos a crueza da nossa miséria, perdermos tudo o que nos pode perder d’Ele, para depois ganharmos, para depois nos revestirmos de vida e de festa! Na verdade, Deus habita-nos, escolhe morada na fragilidade pobre da nossa tenda, para nos libertar, isto é, para nos chamar a oferecer a nossa vida e nos permitir vencer a nossa esterilidade, pois “se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dará muito fruto.” (Jo 12, 24).

Na mesma linha, também o texto da secção Visão nos lembra que, “no jogo vocacional, perder é ganhar”. Quando Deus chama é mesmo assim! E Ele nunca deixa de chamar! Na resposta a dar-Lhe está sempre a perda de muito do que carregamos, para carregarmos ‘apenas’ a Cruz e ganharmos a vida nova pascal que dela brota e nos congrega na comunhão da Igreja sinodal samaritana!

Ora, na vida e na missão dos nossos Seminários aprende-se a lógica audaciosa e interpelativa deste jogo vocacional. Na vida de um vocacionado canta-se esta renúncia e esta confiança firme no Senhor: “É preciso perder para depois se ganhar e, mesmo sem ver, acreditar”! Porém, a vocação confere especial beleza à canção da vida e completa-lhe o refrão com esta alegria maior: “Cremos que a noite sempre se tornará dia e o brilho que o sol irradia há-de sempre nos iluminar”!

MAR - ABR / 2023
Pág.

O JOGO DAS ESCONDIDAS

Todos nós jogámos às escondidas, quando éramos crianças: «… 28, 29, 30! Alerta, alerta, minha cara descoberta!» E corríamos à procura dos jogadores agachados detrás das portas ou em qualquer esquina, para os apanhar.

A pachorra de Deus

No caminho da vocação, muitas vezes jogamos às escondidas com Deus, e o engraçado é que Deus entra no jogo. Ouvimo-lo chamar pelo nosso nome e escondemo-nos, mas

a sua insistência vai criando em nós: saudades inexplicáveis do infinito; desejo sincero de espiritualidade; sensação de pertencer a Alguém que está-para-além-de-tudo; sonho de vencer os próprios limites; sensibilidade perante pessoas que vivem na solidão e no abandono; desafio de lutar pela justiça e pela paz… Sentimos que a nossa vida pode construir uma história diferente, mas não nos decidimos a avançar.

Como «a pachorra do Senhor é maravilhosa», Ele não se cansa de es-

perar, nem desiste de apontar-nos a meta da felicidade. Caminha ao nosso lado com tanta delicadeza que mal damos pela sua presença; e só espera que o nosso olhar se cruze com o seu. Jesus fez assim com os primeiros companheiros que escolheu para partilharem a sua missão: chamou-os, acompanhou-os nas lides quotidianas, mostrou-lhes um caminho diferente, comunicou-lhes o entusiasmo por um mundo novo, realizou ações extraordinárias diante deles. Mas nem isto bastou para os transformar imediatamente em seus discípulos. A cada passo, eram invadidos pela dúvida, o medo do desconhecido, a surpresa diante da escolha de Jesus… e perguntavam a si próprios: quem sou eu para entrar nesta aventura? Que sei, que posso, que tenho que sirva para algo? Como ter a certeza da vocação? A ousadia e a capacidade de arriscar desses pescadores simples e ignorantes das letras, foram-lhes dadas pelo Espírito Santo no dia de Pentecostes: «Sereis minhas testemunhas… até os confins do mundo» (At 1, 8).

O clube dos resistentes

No jogo das escondidas, há os afoitos que procuram todas as vias de saída para chegarem à meta sem serem «apanhados», querem responder à chamada, arriscam tudo e vivem com alegria. Há também os resistentes que, para não serem

VISÃO 2
Ir. Laurinda Faria - Congregação das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus

descobertos, permanecem inertes e agachadinhos no seu buraco; estes perdem o jogo, com certeza, e não vão a sítio nenhum.

No itinerário vocacional surge frequentemente a mesma tentação: julgamos que não valemos grande coisa, que Deus não tem nada a lucrar com a nossa colaboração, que não estamos preparados para ser discípulos, que não encontramos na comunidade cristã o fogo do discipulado, que… e que… Tudo isso é verdade, mas quem disse que seria diferente? Jesus escolheu homens e mulheres com defeitos e limitações, e avisou-os de que segui-lo não seria fácil, não se tratava de ganhar poder, facilidades ou benesses políticas. Deixou claro: «Estou no meio de vós como quem serve» (Lc 22, 27), «dei-vos o exemplo para que façais como eu fiz» (Jo 13, 15). Os que ousaram arriscar tiveram a mesma sorte que o seu Mestre, mas nasceu dentro deles uma fonte de felicidade.

A sorte de perder o jogo

No jogo das escondidas, o contador não desiste enquanto não encontra todos os participantes. Quando um dos jogadores chega à meta gloria-se: «Não me apanhaste, ganhei!» mostrando o poder da liberdade.

Jesus não desiste de procurar-nos, por mais que nos escondamos. No jogo vocacional, perder é ganhar. O apóstolo Paulo reconhece a sua

maestria no jogo das escondidas. Orgulhoso cidadão romano, genuíno fariseu bem-falante, profundo conhecedor da lei, corajoso defensor dos costumes, poderoso nas palavras e feroz na luta contra todos os que ele julgava «infiéis» à religião, um dia perdeu o jogo: «Jesus Cristo chamou-me» (Gal 1, 1), «fui alcançado por Cristo» (Fp 3, 13). Viu uma luz e ouviu uma voz, levantou-se do chão em que vivia (At 9, 1-10) e seguiu aquele Mestre, com uma confiança inteligente e uma entrega absoluta.

Paulo foi firme na sua decisão, porque viu na sua vocação um projeto de maior valor: «esquecendo-me daquilo que está para trás e

lançando-me para o que vem à frente, corro em direção à meta» (Fp 3, 13-14). Atirou-se de cabeça.

Para descobrir a própria vocação, ajudará conversar com pessoas em quem confiamos e podem desfazer as nossas dúvidas: catequista, sacerdote, religiosa ou outras pessoas comprometidas nos ministérios eclesiais. Os jovens, especialmente, ganharão integrando-se em algum grupo de catequese, acólitos, cantores, leitores, acolhimento, voluntariado, etc. A oração, o retiro espiritual, a meditação de textos bíblicos, as experiências de solidariedade darão uma ótima ajuda para o discernimento vocacional.

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A VISITAÇÃO

O dia das Misericórdias celebra-se a 31 de Maio, dia da festa litúrgica da Visitação de Nossa Senhora a sua prima Santa Isabel. “Onde há amor nascem gestos” é também uma das máximas que preside ao triénio que temos estado a viver, dedicado à virtude da caridade. A Visitação é o primeiro gesto de amor que vemos Nossa Senhora fazer logo depois de saber que sua prima ia ser mãe. Foi esse

gesto de solidariedade com quem iria precisar da sua ajuda, até porque Santa Isabel já não era jovem, que levou à escollha da festa da visitação para dia das Misericórdias. Por isso escolhi, para o comentar, um dos mais belos conjuntos escultóricos em terracota existentes em Braga. Encontra-se sobre a porta lateral da igreja da Misericórdia, embora as esculturas que agora lá se podem admirar sejam

cópias. Os originais guardam-se, louvavelmente, no Palácio do Raio, dados os perigos que corriam expostos às intempéries.

Não se conhece o autor das esculturas. Conhecemos, sim, o ano em que foram modeladas. Foi em 1660, como está registado nos Livros de Recibo e Despesa dos mordomos da Misericórdia de 1651-1660 e de 1660-1672. Dei a conhecer esses registos em artigo

ARTE
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Luís da Silva Pereira

que escrevi para o primeio número da revista Misericórdia de Braga, publicado em Dezembro de 2005, pp 12-15.

O grande historiador de arte Vítor Serrão, em estudo publicado na revista Museu, 7, 1998, pp. 137173, defendeu a hipótese de ter sido o escultor maneirista Gonçalo Rodrigues, falecido provavelmente em Braga, por volta de 1620, o autor do grupo escultórico. Baseia-se nas semelhanças estilísticas da Visitação com outras obras de Gonçalo Rodrigues, nomeadamente “o lançamentos dos pregueados dos tecidos, as posturas torsas e anticlássicas, não isentas de atarracamentos e hesitações, as cabeças de olhar amendoado com pes -

soalismos de modelação”. Entre a presumível morte do escultor, em 1620, e a data da modelação das esculturas, em 1660, decorrem 40 anos. Esta distância temporal, contudo, não prova categoricamente que não tenha sido ele o autor do risco. Podia tê-lo desenhado e só passados quarenta anos ter surgido a oportunidade da sua concretização. Temos, no entanto, dúvidas.

Por seu lado, Robert Smith chamou a atenção para a importância do grupo escultórico na história da arte, pelo menos aqui em Braga. Segundo ele, esta cena terá servido de inspiração ao escultor barroco bracarense Marceliano de Araújo para esculpir a Visitação que incorporou no atual rebábulo da Misericórdia. Além disso, os meninos sentados nas esferas terão inspirado os que se encontram no chafariz do Pelicano, na Praça do Município, também ele atribuído a Marceliano de Araújo.

Se repararmos atentamente, podemos cair na conta da delicadeza humana e espiritual que transparece das esculturas da Visitação. Santa Isabel inclina-se para Nossa Senhora, como quem vai ajoelhar-se, reconhecendo que é indigna de receber a mãe de Deus. Nossa Senhora, por sua vez, inclina-se para ela, colocando-lhe as mãos nos braços, impedindo que

se incline até ao chão. A postura de ambas as figuras indica, ao mesmo tempo, humildade e dignidade, e disposição interior para se acolherem mutuamente e mutuamente se ajudarem.

A figura masculina do lado de Nossa Senhora é S. José que acompanhou a esposa, vendo-se na mão direita o chapéu e, na mão esquerda, o bordão em que se apoiou na viagem. Do lado de Santas Isabel, encontra-se o seu marido Zacarias que, por ser já idoso, se apoia numa muleta.

Todo o conjunto exprime respeito e veneração mútuos, profunda delicadeza e desejo de entreajuda, ilustrando bem a máxima de que do amor nascem gestos.

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COMUNICAÇÃO E PERDÃO ENCONTRO DE RECOLEÇÃO ESPIRITUAL

No dia 7 de janeiro, os seminaristas do Seminário de Nossa Senhora da Conceição participaram em mais um momento de Recoleção Espiritual, orientado pelo Pe. Pedro Antunes, Diretor Espiritual na comunidade, debruçando-se, desta feita, sobre a temática da comunicação e do perdão.

O encontro, como habitualmente, iniciou-se na Capela Cheia de Graça com a oração de Laudes. Seguiu-se um momento de explicação sobre as formas de perdão e de comunicação. Trazendo algumas propostas de cenário já preparadas, e contando também com os contributos e sugestões dos seminaristas,

o Pe. Pedro explicou as diversas formas de comunicação, não só aquela que se faz ouvir, não só aquela que as faces transparecem, mas até mesmo aquilo que um simples gesto pode transmitir, desde uma ideia de agrado a uma ideia de tristeza. As propostas apresentadas, embora subtis, são capazes de provocar a criatividade e a espontaneidade com que se fala.

Estando num contexto de comunidade de jovens, o encontro abordou também a questão do perdão e da comunicação violenta ou afetiva. Num exercício pessoal, de interioridade e silêncio, cada um procurou responder às perguntas: “O que é

que eu preciso de perdoar, para poder ser mais feliz?; De que forma a minha comunidade me mostra que sou amado por Deus?”. O objetivo deste exercício pessoal implicaria cada um perceber que a interação com as pessoas é importante, saudável e necessária.

Neste tempo de reflexão pessoal, cada um elencou as suas próprias conclusões, que, mais tarde, no momento de lectio divina dedicada ao texto do domingo que se seguiria, pôde partilhar com os restantes, concretizando e experimentando, assim, e mais uma vez, toda a riqueza gerada pela comunicação com os outros.

SEMINÁRIO MENOR
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COMUNIDADE DO SEMINÁRIO MENOR EM RETIRO ESPIRITUAL

Nos passados dias 17, 18, 19 e 20 de fevereiro, no Mosteiro Beneditino de Santa Escolástica, em Roriz, Santo Tirso, a comunidade do Seminário Menor de Braga realizou o seu retiro espiritual, sob orientação do Pe. Álvaro Balsas, sacerdote da Companhia de Jesus e diretor espiritual do mesmo Seminário.

Deste modo, o retiro teve início na sexta-feira, dia 17, por volta das 19h00, com a chegada ao Mosteiro de Santa Escolástica. Após o jantar, foram apresentados os horários de oração, de refeição e de descanso, sendo reforçados o valor e a importância do silêncio durante todo o retiro, sendo esse o primeiro passo para uma melhor relação com Deus e um melhor olhar sobre nós mesmos, e, por isso, necessário para uma frutífera vivência do retiro.

Os dois dias que se seguiram foram os mais intensos a nível espiritual, com quatro momentos de apresentação de um texto bíblico para oração e um comentário feito pelo sacerdote orientador, onde cada um era convidado a recolher apontamentos sobre aquilo que considerasse mais pertinente para a sua relação com Deus e para a sua vida.

Também nestes dois dias, no período pós jantar, foi proposto pelo orientador um momento de partilha do dia e daquilo que foi a oração de cada um, ou seja, uma breve avalia-

ção, em que cada um mencionou o que para si foi mais fácil e o que foi mais difícil e exigente. Também durante este tempo, o grupo participou num colóquio sobre a situação relativa aos abusos sexuais por parte de clérigos.

Por sua vez, o último dia do retiro, 20 de fevereiro, contou com três momentos de apresentação de um texto bíblico, com uma reflexão para cada texto realizada pelo Pe. Álvaro Balsas,

sempre seguidos de oração pessoal. Depois da última oração pessoal, por volta das 15h00, foi celebrada a Eucaristia, como ação de graças pelo tempo vivido, e com o desafio e missão de levarmos os frutos do retiro para a nossa vida.

No final houve tempo para o lanche e para um breve momento de confraternização, com o regresso ao Seminário a acontecer por volta das 16h30.

SEMINÁRIO MENOR
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José Miguel Salgado, 10º Ano

ENCONTRO DE REIS

Após três longos anos de uma pausa forçada a que esta pandemia nos obrigou, as famílias dos seminaristas de ambos os Seminários reuniram-se para mais um importante momento de salutar convívio: o habitual encontro de Reis, promovido pelos Seminários Arquidiocesanos de Braga. Ainda em tempo de Natal, e regressados da pausa letiva marcada por esta época festiva, iniciamos um novo ano e retomamos os nossos compromissos académicos conscientes de que fazemos caminho com e nesta “família de famílias”, como a denominou D. José Cordeiro.

Este encontro iniciou com um momento cultural dinamizado pelo Grupo de Teatro Artes d’Alegria, da Associação Cultural e Recreativa Se-

mear Alegria, pertencentes à freguesia de Celeirós. Este Grupo de Teatro, fundado em 2015, apresentou-nos a peça “A Farsa de Natal” que, além de divertidos momentos, continha uma forte mensagem que nos fez refletir sobre o verdadeiro espírito do Natal e sobre a vida de aparências em que facilmente nos envolvemos, mesmo sem termos consciência disso.

No final deste momento cultural, o nosso Arcebispo, D. José Cordeiro, dirigiu-nos algumas palavras. Na linha do tema que dava mote à peça de teatro apresentada, recordou os verdadeiros valores do Natal, bem como o que é essencialmente celebrado.

Já na Eucaristia, e dia em que celebramos a Solenidade da Epifania do Senhor, D. José Cordeiro destacou

os mistérios celebrados neste Tempo do Natal e, em particular, nesta Solenidade, chamando ainda a atenção para o facto de o Anúncio da Páscoa e das Festas Móveis evidenciar que em todas as festas, em tudo o que celebramos, a “Igreja que peregrina sobre a terra proclama a Páscoa do seu Senhor”, numa referência à centralidade do Mistério Pascal.

No final da Eucaristia, o Grupo de Cantares do Seminário Conciliar manteve a tradição ao brindar os presentes com o tradicional cantar dos Reis, num anúncio alegre e festivo do nascimento do Salvador e no desejo de um bom ano de 2023.

O encontro prosseguiu com um salutar convívio desta “família de famílias” da qual fazem parte os nossos Seminários arquidiocesanos.

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Carlos Furtado, 4º Ano
SEMINÁRIO MAIOR

UM TEMPO ILUMINADOR…

RETIRO DO ANO PROPEDÊUTICO

Terminada a época de exames, foi tempo de retiro que, nas palavras do Frei Luís de Oliveira (OFM), «é um tempo propício para a compreensão da história pessoal e, ao mesmo tempo, iluminador, desencantador e crítico na relação com Deus e com os outros.»

Com este espírito, os seminaristas do Ano Propedêutico realizaram o seu retiro anual no Mosteiro Beneditino de Santa Escolástica, em Roriz, entre os dias 23 e 28 de janeiro. Ao longo desta semana, discorreram sobre o seu percurso e a importância da confiança, da autenticidade e da alegria na vivência deste caminho de mistério a percorrer por quem escolhe seguir Cristo, e que está intrinsecamente ligado ao próximo. Ao longo dos seis dias, o grupo tomou consciência de que cada um de nós é mestre de si mesmo. Mais, que cada um deve desvelar um processo interior de trabalho intenso e autêntico que conduz a «uma mente lúcida e um coração compassivo».

Chegados ao local, foi hora de preparar a anima para o retiro que nos permitiu afastar das nossas tarefas quotidianas e das nossas preocupações. «Não há um retiro, mas sim cinco retiros», como afirmou o Frei Luís, recordando-nos que este é um caminho individual e, em cada um, dependendo do percurso pessoal, as diversas reflexões suscitam distintas reflexões e despertam deter-

minadas emoções.

Em virtude do ambiente proporcionado, onde a calma e a paz abundavam, acolhemos toda a experiência como um momento exímio para apreciar alegremente o silêncio e a tranquilidade e para nos deixarmos habitar pelo calor humano da partilha, das experiências, das emoções e da história de cada um.

Por este meio, a vivência de um ensinamento, de um discernimento e uma opção vital pela fé, aventura-se a descobrir o bem e o belo da vida em Cristo. Algo que não deve ser vivido com um olhar melancólico voltado para o passado, antes pelo contrário, deve ser vivenciada por inteiro, um lema que nos tem acompanhado ao longo deste ano. Isto significa que devemos focar-nos no presente, com todas as suas emoções e sentimentos, desde os melhores aos menos bons, projetando levemente o futuro, mantendo o olhar no hoje.

Deste retiro, permanece, em suma, a ideia de que «da fé, mesmo que façamos todos os esforços para a sustentar com os nossos recursos intelectuais, somos cada vez mais sensíveis à sua misteriosa gratuitidade. É uma luz que encontramos acesa, que podemos apagar se queremos e cuja chama podemos aumentar acrescentando mais pavio ou mais cera à vela acesa. Mas não teríamos sido nunca capazes de

a acender pela primeira vez, e uma vez apagada não temos poder próprio para devolver-lhe a chama.», LDO.

Transcreve-se o texto que foi mote e ponto de partida para a reflexão destes tempos de espiritual crescimento.

«O melhor mestre está dentro de nós mesmos. Temos de trabalhar em nós pacientemente para purificar o entendimento e desenvolver uma mente lúcida e um coração compassivo.

Os ensinamentos de Jesus são o suporte e o mapa espiritual, mas devem ser agregados a nós e por nós ser assimilados, com firmeza, sem tibieza de espírito nem de sensibilidade.»

9 SEMINÁRIO MAIOR
Ano Propedêutico

FORMAÇÃO DE LEITORES NO ARCIPRESTADO DE FAFE

Neste encontro, foi igualmente referido o papel fundamental do leitor, tanto na Igreja como fora dela, enfatizando-se a comunhão que é estabelecida entre o leitor e a assembleia ouvinte. Na Igreja, vive-se a comunhão. Portanto, este é chamado a exercer o seu ministério em comunhão com os outros, porque, na Igreja, não existe apenas um leitor, mas todos aqueles que lhe prestam serviço.

«Na liturgia, o leitor presta um serviço imprescindível a cada assembleia celebrante, porque a leitura da palavra de Deus faz parte integrante de qualquer celebração litúrgica, por mais simples que seja».

Após uma visita ao Arciprestado de Fafe, aquando da Semana de Oração pelos Seminários, a comunidade do Seminário Conciliar de Braga regressou às terras de Fafe, desta vez para a formação dos leitores.

Assim sendo, no sábado, dia 28 de janeiro, um grupo dos seminaristas do 4º ano participou nessa formação, orientada pelo Cónego Hermenegildo Faria, com o objetivo de se prepararem para a proclamação das leituras, quer na Eucaristia, quer em outros eventos em que sejam convidados a participar. Foi um momento vivido de forma comunitária, com uma participação muito ativa por parte dos leitores que estiveram

presentes e que coincidiu com a preparação do ministério do leitor que os seminaristas do 4º ano se preparam para receber ainda este ano. O encontro foi dividido em dois momentos. O primeiro consistiu na apresentação do livro do leitor, feita pelos seminaristas, em que foram dadas algumas indicações sobre o papel do leitor na vida e no ensino da Igreja; o leitor na história da liturgia do primeiro milénio; a formação bíblica do leitor; a sua formação litúrgica e preparação técnica; e os diversos géneros literários de leituras com os quais se deve familiarizar. Num segundo momento, procedeu-se à abordagem das questões práticas. Assim, o Cónego Hermenegildo explicitou a forma mais adequada de se proclamar a palavra de Deus, realçando a atenção que os leitores deverão ter quando esta é feita durante a missa.

Esta formação serviu ainda para a preparação dos futuros leitores, uma vez que a Igreja é o lugar onde o povo de Deus se reúne para ouvir e celebrar a memória de Deus. Por isso, é extremamente importante formar os leitores que vão exercer este ministério. Importa reconhecer a importância que ele tem na Igreja, ou seja, a missão de comunicar aos outros o que está por escrito e de dialogar com Deus, servindo-se da leitura proclamada em assembleia. Na verdade, no seu serviço, o leitor assume duas tarefas: a de comunicar com Deus através do seu ministério, proclamando a Palavra revelada ao povo de Deus; e a de fazer chegar a Palavra revelada ao coração de cada um dos crentes que, reunidos em assembleia, a escutam.

Neste sentido, a todos os leitores cabe a tarefa e a responsabilidade de fazer chegar aos fiéis, com toda a clareza, aquilo que é proclamado.

MAIOR
Guilherme Martins, 4º Ano
SEMINÁRIO
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A CAMINHO DA JMJ’23…

A caminho da JMJ’23, partilhamos o testemunho da Sandra Santos, uma jovem da paróquia de Santa Maria de Vila Nova de Sande, Arciprestado de Guimarães e Vizela. A Sandra, que integra o Grupo IGNIS, uma iniciativa da Congregação da Aliança de Santa Maria, sente que a Igreja é também a sua “casa” e deseja “que a JMJ seja um ponto de partida para mudar o nosso «olhar»: para começarmos a olhar o mundo ao nosso redor com os olhos de Deus”.

1. Faltando apenas alguns meses para a realização da JMJ’23, sentes que “há pressa no ar”? E como está o teu coração?

Nesta contagem decrescente para o início da JMJ´23, sinto cada vez mais este entusiasmo e alegria interior em levantar e partir apressadamente para este encontro.

Ver a quantidade de jovens que deixam os seus afazeres e preocupações para darem o seu testemunho, através de todas as iniciativas da JMJ, demonstra esta Igreja que se põe a caminho para o encontro com Deus e com os irmãos. Como jovem, sinto esta necessidade de ter “pressa” para

mover, para ir ao encontro do outro e se pôr ao serviço, dando o seu testemunho de fé.

2. O Papa Francisco está constantemente a interpelar os jovens, referindo que “o melhor de vocês é serem criativos, poetas” e pedindo que “façam essa poesia da criatividade a olhar para agosto de 2023”. Que versos deste poema queres escrever com o Papa, os outros jovens e a Igreja?

Neste poema, quero escrever com o Papa, com os jovens e com a Igreja a criatividade e originalidade da busca contínua de Deus. Quero escrever versos de coragem, de não termos medo de testemunhar a nossa fé. Quero escrever versos de humildade e amor, para que sejamos capazes de nos abaixar perante o nosso irmão, para o servir e amar.

Quero escrever versos de esperança, para que a JMJ seja um ponto de partida para mudar o nosso “olhar”: para começarmos a olhar o mundo ao nosso redor com os olhos de Deus. E que esta poesia nos estimule na busca constante pela santidade.

3. Na Igreja, nomeadamente nos grupos que integras, assim como na vivência e celebração dos Sacramentos, sentes-te em ‘casa’? A Igreja é também a ‘casa’ dos jovens?

Sem dúvida que sinto a Igreja como uma “casa”, como um lugar de acolhi-

mento e de aconchego, como um espaço de encontro, partilha e unidade. Contudo, acho que há muitos jovens que ainda não veem a Igreja como este porto de abrigo, talvez pelo medo do julgamento, de não ser aceite e de não ser escutado. Este também é um desafio para todos os que integram a Igreja: acolher de braços abertos o irmão que se aproxima. Mas também a Igreja deverá ser, como nos diz o Papa Francisco, uma “casa de portas abertas” pronta para levar para o exterior este amor que Deus tem por cada um de nós, para “lançar pontes, abater muros e semear a reconciliação”.

4. Que importância consideras ter uma JMJ na vida de um jovem que se questione sobre o projeto de vida que Deus escolheu para ele?

Acho que a JMJ é um encontro muito enriquecedor para todos os jovens, incluindo aqueles que ainda estão a discernir a vontade de Deus nas suas vidas. O hino da JMJ diz-nos “Tu que andas à procura de ti/Parte à descoberta, vem ver o que eu vi/(…)/E parte, sem medo, nesta missão”. Como jovens, estamos todos convidados, a exemplo de Maria, a nos pôr a caminho e, juntamente com os jovens de todo o mundo, abrir o nosso coração a Deus para escutar a Sua voz. E como diz o Papa Francisco, “que cada um de nós saia melhor do que chegou”.

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PASTORAL DE JOVENS

DO SIMBÓLICO AOS SÍMBOLOS PARA UMA ITINERÂNCIA COM SENTIDO

Departamento Arquidiocesano da Pastoral de Jovens

Vivemos recentemente o tempo em que os símbolos das JMJ passaram de arciprestado em arciprestado. De modo singular, a juventude da Arquidiocese quer que estes símbolos sejam manifestação da fé professada e potenciadores do encontro com Cristo nas realidades quotidianas. Mais do que procurar momentos de encontro arciprestal e/ou paroquial em torno destes símbolos num contexto marcadamente eclesial, o desafio lançado pelo DAPJ foi o de que estes encontros acontecessem no âmbito das atividades e contextos próprios dos jovens, fossem estes ligados às escolas/universidades, fossem eles ligados aos meios de entretenimento, aos âmbitos culturais e/ou ligados à saúde. Mas... que significam os símbolos para que seja pertinente a sua itinerância? De que modo são eles auxiliadores num caminho de fé vivida e de encontro real com Cristo?

A Cruz peregrina foi construída a propósito do Ano Santo, em 1983, e confiada aos jovens no Domingo de Ramos do ano seguinte pelo Papa João Paulo II. Assumindo-se como autêntico sinal de fé, a grande cruz de madeira tem vindo a circular – em peregrinação física e espiritual – pelos cinco continentes, tendo já marcado presença em 90 países. Esta peregrinação que conhece múltiplas formas de transporte (das mais convencionais às mais exóticas), tem-se afigurado como elemento congregador e expressão de uma fé que se manifesta em cura, perdão e reconciliação, uma vez que tem sido presença frequente em igrejas, hospitais, prisões, centros prisionais juvenis, escolas/universidades, centros comerciais, etc.. Em momentos particulares da história, esta cruz tornou-se sinal de

esperança, como quando esteve em Praga (atual República Checa) quando a cortina de ferro dividia e Europa. Aqui, a comunhão eclesial e a unidade dos crentes à Cruz e à presença do Papa reconfiguraram as relações, sobretudo entre os jovens. Do mesmo modo, quando visitou o Ground Zero, em Nova Iorque, pouco depois do 11 de setembro de 2001, naquele que seria o dia de recordar os ataques terroristas e as mais de 3000 vítimas mortais, tornou-se num momento de esperança, tanto para o modo de encarar a morte como para a forma de pensar a unidade entre diferentes nações e religiões. Algo similar viria a repetir-se no Ruanda em 2006.

O ícone da Nossa Senhora Salus Populi Romani tem, desde 2000, acompanhado a cruz peregrina. Este ícone da Virgem Maria com o Menino nos braços, foi introduzido pelo Papa João Paulo II como símbolo da presença de Maria junto dos jovens. Associada a uma das mais populares devoções marianas em Itália, a imagem da Virgem peregrina procura abrir o mesmo caminho espiritual: o encontro com Cristo. Neste caso, a Virgem torna-se companheira e auxiliadora no afastar de todas as circunstâncias que, de algum modo, poderão afastar do caminho de encontro com Deus.

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