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de COVID-19

artigo

Hermeson Cláudio

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Doutorando em Educação pela UFC (PPGE/UFC)

A AMAZONIZAÇÃO EM TEMPOS DE COVID-19

Ohistoriador inglês Eric Hobsbawm (2011), ao discorrer sobre o curto século XX, atribuiulhe a metáfora era dos extremos, pois nenhum outro século conheceu tamanha assimetria entre os pólos, sejam eles de quais áreas forem com suas suspeitas, dúvidas e esgarçamentos, da sociabilidade às condições do conhecimento.

A partir dessa assimetria, pode-se ponderar que no primeiro quinto do século XXI assiste-se o exacerbamento dos tempos fraturados, resgatando outra metáfora hobsbawniana, pois no prelúdio deste velho novo século a sociedade global submerge “ao golpe triplo da revolução da ciência e da tecnologia [iniciada ainda] no século XX, que transformou antigas maneiras de ganhar a vida antes de destruí-las, da sociedade de consumo de massas e da decisiva entrada das massas na cena política como consumidores.

No admirável mundo novo a informação, a transparência e o consumo são espectros entrelaçados entre o visível e o invisível de uma humanidade que se precipitou no submundo do ciberespaço, com sua implacável teologia algorítmica. Novas gerações se erguem em uma aldeia global quantofrênica sob a junção do Estado-Mercado projetando o paradoxal crepúsculo da educação e do conhecimento, cujo destino epocal subjaz na Inteligência Artifi cial.

No mundo pontocom da era digital emerge um novo arcana imperii: o GAFA (acrônimo de “Google, Amazon, Facebook e Apple”) cuja economia virtual tem empreendido uma revolução em múltiplos campos, da tecnologia às fi nanças, da educação à saúde, resultando em novos processos de estranhamento e reifi cação do indivíduo, conceituado na era digital como ser on-line (conectado) ou offline (desconectado – anátemas de uma era digital).

Com a internet das coisas (IoT – Internet of Things) o indivíduo se conecta a dispositivos eletrônicos que compartilham informações com ele, com aplicativos baseados em nuvem e entre si. Dispositivos portáteis para aplicações vestíveis (wearables) coletam dados sobre seus usuários – requisitos de condicionamento físico, saúde e entretenimento, por exemplo.

“Às organizações da era digital é atribuída o impulso da humanidade em direção a novas fronteiras, até então inimagináveis.”

A Amazon, empresa multinacional de tecnologia (considerada uma das cinco grandes empresas de tecnologia, juntamente com Google, Apple, Microsoft e Facebook), seguindo os parâmetros estabelecidos nos aplicativos vestíveis, tem microgerenciado o desempenho de seus “colaboradores” – funcionários e contratados – ao ponto de lançar severas dúvidas sobre “quem controla quem”, na relação dispositivos e “colaboradores”.

O desenvolvimento das forças produtivas, por seu turno, sob a batuta da amazonização tem resultado em novas formas de negócios até então inimagináveis. No ano de 2018, como parte de sua estratégia de ampliação do uso de drones, a Amazon anunciou seu programa de incentivo de entregas de mercadorias aos vizinhos de seus clientes, cujas agendas difi cultam o recebimento das encomendas. A ideia é remunerar os vizinhos de seus clientes por este serviço de assistência, ou seja, o que seria uma ação de solidariedade entre vizinhos passa a ser uma extensão do mercado de distribuição – ação semelhante aos primeiros passos do Uber, quando remunerava o sistema de carona.

Nesse sentido, as metáforas atribuídas ao COVID-19 são convidativas à tensão e ao caos da “pandemia digital” que se espalha mais rápido do que o próprio vírus.

Às organizações da era digital é atribuída o impulso da humanidade em direção a novas fronteiras, até então inimagináveis - na afi rmação desse imaginário, que poderia ter sido retirado da obra fi ccional de Júlio Verne.

A lógica operacional da Amazon é expressa pela ênfase na personalização – no comércio e processo de descoberta online. Assim, no fl uxo de informações do ciberespaço a Amazon se espalha como um vírus.

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