Entornos

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ESPECIAL

ESPECIAL

ESTADO DE MINAS DOMINGO, 13 DE AGOSTO DE 2017

ENTORNOS

ALÉM DA METROPÓLE

ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS

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MUNICÍPIOS

9.460 KM ²

A BH DOSVIZINHOS MARTA VIEIRA, TERESA CARAM E LUCAS NEGRISOLI*

DE EXTENSÃOTERRITORIAL

1,6%

DETODAS ASTERRAS MINEIRAS

5

MILHÕES DE HABITANTES

26%

DA POPULAÇÃO DO ESTADO

3,35

MILHÕES DE ELEITORES

24%

DO ELEITORADO DE MINAS

R$ 206,6 BI TOTAL DO PIB

40%

DO PIB ESTADUAL

Com o devido respeito ao escritor que melhor definiu Minas Gerais – João Guimarães Rosa –, na Minas que são muitas, “inconfidente, brasileira, paulista, emboaba, lírica e sábia”, Belo Horizonte chega aos 120 anos também como sinônimo de “muitas outras”, uma espécie de metrópole sem limites. A BH que acolhe todo dia dá emprego e proporciona renda a milhares de trabalhadores e estudantes de dezenas de cidades abrigadas em seu entorno, das vizinhas mais industrializadas Contagem, Betim e Pedro Leopoldo a Nova Lima dos condomínios residenciais e que processa ouro extraído em grande profundidade, e a Ribeirão das Neves, em busca de saídas para desenvolver a sofrida economia local. Dentro desses limites, onde pulsa a vida de 34 municípios que formam a terceira maior região metropolitana do Brasil, pelo menos 450 mil pessoas se deslocam, quase 85% delas em direção à capital. Tamanha interdependência faz desses mais de 380 mil forasteiros em BH, assim como de quem parte da capital para trabalhar e consumir na vizinhança, protagonistas de histórias de amor e ódio pela cidade que recebe, mas sufoca em razão de deficiências do seu sistema de serviços públicos essenciais, como numa panela de pressão. Essa é a sensação da babá Maria Aparecida Pereira Nogueira, de 52 anos, quando se vê espremida na fila do metrô ou dentro dos ônibus num trajeto de até 3h20min de duração de casa, no Bairro Santana, em Ribeirão das Neves, ao apartamento da patroa, no Bairro Buritis, Região Oeste de BH. Os ponteiros do relógio marcam 5h40 no momento em que Cida se prepara para tomar a primeira das três conduções e começar a jornada diária às 8h45. Terminadas as tarefas do dia, às 17h, o retorno nem sempre indica a hora certa de pisar de novo em casa. O tempo da volta sempre dependerá do trânsito e da sorte nos ônibus tomados no percurso. “Meu sonho é ser pobre por apenas um dia. Estou cansada de ser pobre todo dia”, diz a babá, que adotou

BH como local de trabalho, a exemplo de tantos outros moradores da região metropolitana, devido à escassez do emprego, não raro combinada aos baixos salários, em cidades mais pobres do entorno da capital mineira. Prova disso é que 60% dos moradores de Neves que trabalham têm o seu ganha-pão garantido em outros municípios, segundo levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Não bastasse a falta de oportunidades para trabalhar perto de casa, o drama vivido, de forma marcante, por quem depende do transporte público na Grande BH é traduzido em números desanimadores: 19%, em média, dos trabalhadores levam mais de uma hora por dia para chegar ao trabalho. Outro problema grave para quem trafega entre a capital e sua vizinhança é a segurança pública. A assistente financeira Naiara Dias (acima), de 26, transita diariamente entre o endereço de moradia em BH e o local de trabalho em Contagem e enfrenta o risco de caminhar pelas ruas no começo das manhãs – ela acorda às 5h – e à noite. “Nos horários de pico a superlotação no metrô é demais. Há dia em que eu não consigo nem entrar no vagão. O maior problema é a segurança. No trajeto que faço ocorrem muitos assaltos”, reclama. Atraída pela experiência e o salário numa indústria de alimentos instalada em Contagem, há seis anos ela faz o trajeto de casa à estação do metrô José Cândido da Silveira, com destino ao Bairro Eldorado, ponto de partida do ônibus especial mantido pela empresa. No percurso de volta, Naiara desce do metrô às 20h30 e segue por 15 minutos em rua já deserta. No aniversário da capital, ela e a babá Cida Nogueira é que pedem um presente. O desejo é o mesmo: de ter acesso na Grande BH a sistemas públicos eficientes de transporte e segurança. (*) Estagiário sob a supervisão de Teresa Caram


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