Os Pensadores

Page 1


OS PENSADORES

DO CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, SAÚDE E

DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA SUSTENTABILIDADE E A 20ª SEMANA NACIONAL

© 2024 Jefferson Jurema

Os pensadores do Congresso Internacional de Educação Física, Saúde e Sustentabilidade e a 20a Semana Nacional de Ciências e Tecnologia

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, armazenada em um sistema de recuperação ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outro, sem a autorização prévia do autor ou de acordo com as disposições da Lei de Direitos Autorais (Lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1998).

Publicado por: Livre Editora

Diagramação e Projeto Gráfico: Epifânio Leão

Revisão ortográfica: Ivaneide Lima

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Jurema, Jefferson

Os pensadores do Congresso Internacional de Educação Física, Saúde e Sustentabilidade e a 20ª Semana Nacional de Ciências e Tecnologia [livro eletrônico] / Jefferson Jurema. – Manaus AM: Livre, 2023. PDF

Vários colaboradores

Bibliografia.

DOI: 10.29327/5389061

ISBN: 978-65-85771-04-7

1. Congressos. 2. Ciência e tecnologia 3. Educação fisica 4. Saúde 5. Sustentabilidade I. Título.

23-184666

Índices para catálogo sistemático:

CDD-613.706

1. Educação Física : Congressos : Promoção da saúde 613.706

Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415

OS PENSADORES

DO CONGRESSO INTERNACIONAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, SAÚDE E

SUSTENTABILIDADE E A 20ª SEMANA NACIONAL

DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA

Governo do Estado do Amazonas

Wilson Miranda Lima Governador

Universidade do Estado do Amazonas

André Luiz Nunes Zogahib Reitor

Kátia do Nascimento Couceiro Vice-Reitora

Isolda Prado de Negreiros Nogueira Horstmann Diretora

Maria do Perpetuo Socorro Monteiro de Freitas Secretária Executiva

Wesley Sá Editor Executivo

Raquel Maciel Produtora Editorial

Isolda Prado de Negreiros Nogueira Horstmann (Presidente)

Allison Marcos Leão da Silva

Almir Cunha da Graça Neto

Erivaldo Cavalcanti e Silva Filho

Jair Max Furtunato Maia

Jucimar Maia da Silva Júnior

Manoel Luiz Neto

Mário Marques Trilha Neto

Silvia Regina Sampaio Freitas

Conselho Editorial

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO

CAPÍTULO 1

Vivendo e aprendendo com a Ciência

Jefferson Jurema, Antônio César R. Braga, Letícia Mena Barreto, Zilma Queiroz Nattrod, Francisco Celson Sousa de Sales Filho, Renata Villaça Duarte, Vinícius Azevedo Machado

CAPÍTULO 2

Panorama filosófico da aldeia científica: a Amazônia é logo ali, no território de pesquisadores iniciantes

Jefferson Jurema, Francisco Celson, Antônio Braga, Zilma Nattrodt, Renata Vilaça Duarte, Vinícius Azevedo Machado

CAPÍTULO 3

A Educação Física no Ensino Superior como prática de formação humana

Catarina da Silva Souza, José Luís Simões

CAPÍTULO 4

Envelhecimento saudável no estado do Amazonas: uma abordagem pedagógica

Élvio Rúbio Gouveia, Bruna Raquel Gouveia, Adilson Marques, Krzysztof Przednowek, Jefferson Jurema, Maria Antonieta, Tinoco, Andreas Ihle

CAPÍTULO 5

Medidas clínicas de desempenho físico funcional em idosos: uma abordagem do teste de sentar e levantar

Joanne Figuereido, Luis Mochiziki, Raphael Sakugawa, Ewertton Bezerra

CAPÍTULO 6

A Tecnologia na educação em tempo de pandemia: reflexões a partir do Pensamento Freireano

Túlio Magno da Silva Campos, José Luís Simões

CAPÍTULO 7

Vínculo e cuidado às emoções de bebês na Abordagem Pikler: percepção de professoras de uma instituição de Educação Infantil sobre suas práticas educativas

Manoela Aureliano dos Santos, Ana Paula Fernandes da Silveira Mota, José Luis Simões

CAPÍTULO 8

Revolução grisalha cabocla?! Porventura as águas do Rio Negro apresentam fragmentos do elixir da juventude? Nuances relativas à pessoa idosa da cidade de Manaus: formação, desafios, conquistas e rede de serviços à disposição de tal população

Átila Castro Paiva

CAPÍTULO 9

Os desafios da Terceira Idade com a tecnologia e a teinserção

CAPÍTULO 10

O Processo pedagógico da atividade física, do desporto e da promoção da saúde: evidências

Élvio Rúbio Gouveia, Andreas Ihle, Helder Lopes, Krzysztof Przednowek, Marcelo de M. Nascimento, Bruna Raquel Gouveia, Adilson Marques

CAPÍTULO 11

Desportodiversidade: sim ou não? sim!

Porthos da C. Castello Branco, Thainá Lima Sicsú

CAPÍTULO 12

Raízes Fincadas na cultura e na natureza

Vanderlan Mota

CAPÍTULO 13

Veias abertas

Vanderlan Mota

CAPÍTULO 14

Educação Física escolar: o uso múltiplo de material sustentável e alternativo da floresta amazônica

Vanderlan Mota

CAPÍTULO 15

TROCA DESIGUAL

Vanderlan Mota

CAPÍTULO 16

MEDIDAS CLÍNICAS DE DESEMPENHO FÍSICO

FUNCIONAL EM IDOSOS: UMA ABORDAGEM DO TESTE DE SENTAR E LEVANTAR

Joanne Figuereido, Luis Mochiziki, Raphael Sakugawa, Ewertton Bezerra

APRESENTAÇÃO

A competência e a amizade devem caminhar juntas e de mãos atadas. Sabemos que o mundo atual trabalha para distanciar estas duas palavras de modo imperativo para sobressair os interesses mediáticos modernos. Pois, assim nasceu a ideia de realização do Congresso de educação física, saúde e sustentabilidade no âmbito da Semana Nacional de Ciências e Tecnologia que nos arrasta a compreensão ampla de que ensino se faz com segurança na pesquisa e na extensão. É com base sólida na compreensão destes fatores que a Universidade se mostra e cria identidade da verdadeira função que lhe compete: servir a população buscando formas de ensino que sejam sustentáveis ao desenvolvimento intelectual de seus participes. Somente pela sala de aula não há comprometimento total humanitário que a Amazônia urge. Se faz necessário sair e ver o mundo de fora onde as metástases intelectuais acontecem e que devemos combatê-las, fomentando o conhecimento e a razão socrática. Ainda neste contexto, somente a cultura letrada e a participação efetiva de homens e mulheres do bem poderão libertar o Ser vivente de suas limitações naturais. Ter contato com a ciência, com o mundo lá fora, com pessoas que já vivenciaram algo diferente de nós é quando vamos conseguir abrir portas para a ampla compreensão do pequeno mundo em que vivemos. Usamos o termo de uma doença, a metástase, para parafrasear sua evolução, criando novos caminhos, desta feita, pela disseminação da cultura, do conhecimento e a verdadeira razão, do contrário ao câncer da ignorância. Se eu pudesse contribuir com a escrita no sentido de valorar a palavra, eu diria que a metástase intelectual que almejo, é aquela em que o saber entra na circulação intelectual e, por meio dela, se disseminam e se alojam em outras partes do corpo, como tecidos e órgãos distantes do local onde o primeiro ensinamento se iniciou, formando novos Seres viventes para uma sociedade humana e que credita na ciência. É da metástase intelectual que estou a falar, meu povo amado que luta contra as amarras da ignorância constantemente.

Aproveito o ensejo para estratificar a nossa amizade com as Universidades da Madeira, de Madri e com a de Pernambuco, que permitiram a vinda a Manaus de seus principais afluentes da pes-

quisa para aqui fazer uso da boa palavra esclarecedora e animada. Nomeadamente, os professores doutores Manoel Grandal, Elvio Rúbio Gouveia e José Luiz Simões. Agradecimentos extensivos à Universidade de São Paulo que nos permitiu conhecer o professor doutor Luiz Mochizuki. À Universidade de Santa Catarina que nos cedeu a paciência e conhecimento da professora doutora Eliana Bahia. Aos professores doutores Everton de Souza Bezerra e João Libardone e seus colaboradores da Universidade Federal do Amazonas, que muito enriqueceram o nosso evento. Ao professor catedrático da Universidade do Estado do Amazonas, doutor Euler Esteves Ribeiro, o Magnifico Reitor da Fundação Universidade Aberta da Terceira Idade. Num sentimento de gratidão terra a terra chamo à baila as professoras doutoras Elieusa Menezes e Raika Tapajós do curso de enfermagem pela brilhante apresentação no Congresso Internacional. Por fim e, com certeza mais importante, meus agradecimentos ao Reitor da Universidade do Estado do Amazonas, professor doutor André Nunes Zogahib e ao Pró-reitor de Extensão Darlissom Ferreira, que permitiram a realização plena e suave deste evento.

A Sílvia Borges, Atila Paiva, Porthos Castelo Branco, Alexandre Chaves, Alexandre Romano e De Angelis de Cesares, Raika Tapajos, Altair Seabra.

Tivemos a grata satisfação de colher informações educacionais das nossas parceiras administrativas. Neste mesmo som, às secretarias de educação do estado e do município, que foram representadas pela professora mestre Hemely Areias (SEDUC) e professora doutora Cristiane Montenegro (SEMED).

Agradecemos ao professor especialista Raimundo Gomes de Araújo, que tem dedicado seus conhecimentos para favorecer todas as pessoas da terceira idade com práticas memoráveis conduzidas por quem compreende e conhece da vivência com os idosos. Amigo, Deus sabe da tua missão como educador.

O nosso Congresso foi sucesso graças à participação do professor doutor Sileno Fortes, que com sal calma e cautela, esclareceu a temática do idoso do ponto de vista médico, sem sofrimento e com resignação. Poucos médicos são humanizados para o exercício da profissão e o senhor está no pódio dos vencedores neste campo. Neste sentido, a ESA é um celeiro de pessoas de boa índole e nossa homenagem vai

ao encontro do professor doutor Manoel Neto, que é dominante nos assuntos de saúde que envolvem a atividade física.

Não poderíamos passar sem importância, a grande contribuição que a Escola Superior de Tecnologia (EST) deu ao evento, na inteligência e capacidade de explicação do professor doutor Jucimar Maia Junior e da professora mestre Cristina Gomes Araújo.

Poucas pessoas são letradas na UEA para falar com propriedade sobre as questões indígenas. Neste diapasão, trago a apresentação do mundo científico de duas pessoas de notório saber nesta temática. Na saúde, eu falo do professor doutor Altair Seabra, que despontou no contexto nacional com informações sobre a saúde dos Povos Amazônicos e, na pedagogia, a mais expert de todas as mulheres deste estado, a professora doutora Célia Aparecida Bettiol. O mundo amazônida fica em tranquilidade quando estas pessoas estão em missão de pesquisa junto aos povos autóctones.

E, como a hora é agora e já que estamos falando das boas cabeças da UEA, aproveito para agradecer à professora Mestre Liliane Coelho, que é o manancial das pesquisas científicas em sua iniciação.

Trabalhar com a terceira idade exige um forte comprometimento e a necessidade de pesquisar sempre, assim tenho o prazer de compartilhar os ensinamentos de Floramara Teles, que além de ser nossa colaboradora é minha amiga particular. Me sinto honrado de ser aprendiz de uma professora completa.

Alô meus colaboradores e assistentes, em nome dos meus considerados Antônio César Rodrigues Braga e Letícia Mena Barreto, pela perseverança nos projetos. Pela capacidade intelectual na escrita e pelo desafio constante para superar nossos momentos de turbulências. Sem o apoio destes alunos eficientes, nada seria possível. Os filhos muitas vezes estão distantes da biologia, mas estão muito perto da fisiologia da amizade.

Quem deseja almejar as melhores Revistas de publicação internacional mundo afora que se arrisque. Nossa missão foi encerrada com sucesso, graças ao empenho de pessoas comprometidas com a educação, principalmente, a educação dos menos favorecidos. Esta foi a proposta deste congresso, este é o nosso resultado enquanto promotores do saber e da sabedoria.

CAPÍTULO

1 VIVENDO E APRENDENDO COM A CIÊNCIA

Jefferson Jurema

Antônio César R. Braga

Letícia Mena Barreto

Zilma Queiroz Nattrodt

Francisco Celson Sousa de Sales Filho

Renata Villaça Duarte

Vinícius Azevedo Machado

Todos os dias somos colocados em prova diante da nossa capacidade de perseverar no cotidiano. As lutas são duras contra tudo e contra todos. Nunca encontramos facilidades. Nossos feitos, os eventos, os projetos, as concorrências nunca vieram fáceis e sempre foram dificultadas pelo calor da inveja, da injúria e dos infortúnios dos concorrentes. É nossa índole para lutarmos todas as vezes que entramos numa disputa. O cenário que nos convida é sempre de uma tarefa extremamente difícil, quiçá pela natureza oculta daqueles que pensam no bem de uma maneira individualista e desconexa da sociedade atual.

Nesse cenário utilizado, o sentido paradoxal de contradição, de ilógico, ao vermos que qualquer ação que visa o bem enquanto a navegação de alto-mar, neste sentido, caminha para a produção do recorte bloqueador tendo como universo figurante as mais estapafúrdias desculpas desconcertantes. Sendo o local, a Iluminação. A pressão dos que falseiam o voto. São os lunáticos que acossam para provar que não temos competência para tal. Tudo conspira para fundar a ideia de que a

Universidade vai além do ensino e que não há razões em vigorar o “tripé” de ações dela. A arma de tiro ao alvo está exatamente na corrente para que os desafiadores e promulgadores da competência sejam respeitados e que a incompreensão seja varrida do nosso cotidiano.

Aqui o grito de alerta vai para a incompreensão daqueles que vivem no complexo da mediocridade achando que uma amena informação é suficiente para suprir a necessidade de aprendizagem das pessoas. Aqueles que relutam contra a sua pobreza imitando os pequenos concorrentes que pensam em grandes, mas agem como pequenos na qualidade do progresso humano. Onde que um simples aviso de retomada de aulas é mais importante do que a realização de um Congresso Internacional? É esse enfrentamento que nos torna mais resistentes à cultura do nada. Ao nada na cultura e nos faz compreender a pequenez infinita das associações, que em última instância são meros receptores da coluna social e anual de quem adentra no ensino superior.

Vivemos a didática do plágio assistido, não podemos reclamar. Vivemos no mundo que preza pela importância do voto e oferecemos condições rudimentares para que os discentes tenham voz fazendo o que não pôde dar certo a vários anos passados. Alimentamos o errado para ter a comunicação com aquilo que achamos que parece ser jovem. Repetimos nossos erros pelo temor da força da massa estudantil. Não esqueçam: eles têm, em princípio, vida de gado. É um povo que chega marcado, conforme assevera Zé Ramalho em sua canção.

Nossa função é desmitificar aquilo que a Universidade pode oferecer de bom para transformar o Belo em conhecimento. Nossa missão é fugir dos mecanismos arcaicos oriundos das gerações que impunham o sofrimento humano como totem de superação para os recém-chegados. Não estão entendendo: leiam a teoria interpretativa de Paul Ricoeur ou então ouçam a Elis Regina em sua poesia genial. Aqui, ignóbil do amanhã te dou uma palha, mas te ensinar a ser leal é de berço. Sobre este assunto não posso te oferecer muito, me desculpe: “Minha dor é perceber / Que apesar de termos feito tudo, tudo / Tudo o que fizemos / Nós ainda somos os mesmos / E vivemos / Ainda somos os mesmos / E vivemos / Ainda somos os mesmos / E vivemos como os nossos pais”. Reafirmo: o

Congresso é mais importante do que exercer a versão tupiniquim da recepção social.

As voltas dadas pelo mundo científico, às vezes, podem ser incompreensíveis se este mundo não estiver atento aos acontecimentos e as mudanças de comportamento da sociedade atual. Onde prolifera a sabedoria intensa, deixa o ambiente preparado para fluir valores de respeito e consideração para com o próximo. Explorar o potencial humano buscando o capital intelectual é uma arte que poucos se alvoroçam a fazer.

Dentro das possibilidades do universo formativo temos os encontros com personagens intelectualizadas como essencial para fazer crescer e desertar a Ciência no âmbito estudantil. Ora, a troca de experiência tem sido o elemento motor em todas as idades favorecendo quem busca o conhecimento como prática cidadã comum. Não é à toa que Sócrates reunia os seus seguidores para compartilhar experiência e aprender com o sucesso ou com o erro dos outros. Assim o mundo vem evoluindo. Congressos são organizados na certeza que ali estará um campo de informações que vão emular a natureza científica.

Evidencio este momento cultural promovido pela UEA como um marco divisor na vida acadêmica dos discentes. Por uma via, jovens ansiosos para ver a publicação de seus artigos evoluir, submetidos à aprovação, colocados ao trilhamento dos avaliadores e, por fim, sendo publicado no livro final do evento. Na outra via, vejo os artistas do saber preocupados com suas apresentações e com o funcionamento de todas as informações que serão ditas por eles e sacadas e dissecadas pela plateia. Esse clima de amenidades é contagiante e estimulante ao mesmo tempo. Contagiante, pois, como uma doença infecciosa que vai tomando conta dos envolvidos em dois naipes diferenciados pela expectativa. Os estudantes com suas necessidades prementes, os pesquisadores com sua vontade de interagir e construir saber a partir do que eles sabem. Essa é a lógica estrutural de um evento científico, e acompanhar as temáticas individuais, conhecendo os lados foi, e será muito interessante. Uma nova aprendizagem que pude acompanhar durante o período de construção do projeto até a sua realização em último dia de troca de aprendizagem e saber.

Mas, de qual saber se fala? Daquele construído pela experiência simbólica dos participantes; daquele que vimos a mistura de idades elevando a classe estratosférica de quem ensina e de quem aprende; daquele que mostra tacitamente que podemos fazer acontecer sem estar preocupado com os brios que o evento pode nos dar; daquele que demonstra em humildade e desejo de acertar sem esperar que outras pessoas façam o certo e concomitantemente, façam melhor; daquele em que pessoas de bem pensam verdadeiramente nos alunos e na forma como eles podem acender ao conhecimento, tendo como foco a prática da pesquisa; daquele, por fim, que demonstrou superioridade em ser complacente com a dificuldade do outro e na hora certa procurou ajudar em detrimento de se auto servir. Essa foi a nossa proposta e o preparo para nossa equipe estar sempre atenta que o mais importante não é o que lidera, mas o que lidera com sabedoria indicando que podemos sim, estar no Amazonas e ser protagonista de uma mudança sistemática de comportamento.

Por escrever sobre a temática regional, vamos conduzir o discurso para a metáfora de que tudo existe em consonância na Amazônia e que somos a maior potência idílica da superfície da terra. Calma, meus diletos leitores, estou construindo um panorama onde a palavra idílica resulta de seu segundo sentido, não obstante do uso da profissão dos pastores em conduzir seus seguidores ao campo fértil do saber, extirpando a cultura da cabeça baixa e enterrada no chão que tanto tem acompanhado os resignados intelectuais e exploradores da Amazônia cultural.

Ainda nesta esteira de verificação de aprendizagem e sentido das palavras sinto que a equipe de coordenação se enquadra de conduta das ações na metáfora de pessoas boas, competentes que trabalham e são puros e bucólicos quando estão diante das dificuldades. Mas, o sonhar é possível quando se almeja a compreensão da pobreza intelectual alheia. O Congresso foi um devaneio na realização deste sonho e que tanto frutificou em publicações e conhecimentos. Vivemos a eutanásia da utopia, dos mecanismos do ócio prejudicial, somos predadores dos que invejam o sucesso competente em detrimento dos bloqueios insanos da não realização. Oramos em favor dos que nos perseguem e suplicamos pelo

crescimento intelectual deles. Não existe coesão social de forma unilateral; nosso crescimento é diretamente relacionado ao crescimento dos outros que nos cercam. É perceptível que estamos num círculo de pessoas que nos veem e que pouco reconhecem nossos valores. Esse é o mundo de disputas inválidas e que não levam a lugar algum.

Assim, e em sentido figurado, percebemos o quanto estamos exercendo nossa parcela de civilização e oferecendo oportunidade ímpar para que os menos favorecidos sejam objeto de nossa proposta. Objetivamos o ideal sincrético em sua forma elementar para favorecer o crescimento de quem está mirrado minguante na mesmice. O espetacular universo do viver na boa ação e em comunidade de aprendizagem é o mínimo que oferecemos a quem sempre procura o castigo como recompensa. Essa é a nossa essência idílica que encerra com retrato da paisagem, do saber e da sabedoria.

Mas enfim... lutamos para promover a liberdade dos discentes diante do mundo dos desafios estudantis. Nosso interesse girou em oferecer algo que fosse desafiador para toda a comunidade estudantil. Os temas, as escolhas dos palestrantes e a construção do universo de divulgação dos resultados mostram um pouco de nossa força e a necessidade que temos de doar muito mais do que receber. Cada pessoa que nos conduziu neste evento tinha um pressuposto de atender bem e ser cooperativa para todos os envolvidos no processo.

O conceito mais abrangente para quem deseja vencer é similar ao sofrer por uma causa de justiça e de desafios. Digo isso para cimentar que a pseudo facilidade que a oposição holofoteia em cima de nossa equipe de trabalho. Muitas pessoas são objeto do desejo de ser o que somos. Mas graças a condição de evolução de Charles Darwim, uns são capacitados e outros sobem na arquibancada do desejo sem ter as reais condições para fazer o que nós fazemos. A nossa intenção não é sacramentar a inteligência em detrimento do progresso das pessoas. Qual o quê? Somos um grupo que desperta a curiosidade de muitos incompetentes que procuram desonrar uma imagem construída a duras penas, mas que não podendo competir sentem-se no direito de desonrar.

AÇÃO DE AMOR EM PROL DOS NECESSITADOS: PROTAGONISMO INTELECTUAL

O protagonismo é uma necessidade no mundo atual, mas uma característica de poucos. Afirmamos ao refletirmos sobre os eventos recentes do mundo e de nosso país, onde com devido planejamento, flexibilidade e coragem para enfrentar os problemas que surgem. Mas antes de conversarmos sobre os fatores que tornam tal afirmativa tão poderosa, convém a explicação de seus termos principais, elucidando seus significados e contexto.

Consultando ao dicionário Dicio, temos que o protagonismo é a qualidade da pessoa que se destaca em qualquer situação ou acontecimento, exercendo o papel mais importante dentre os demais. Esse preâmbulo torna-se importante, pois podemos destacar duas características de um protagonista: destaque e importância.

Esses substantivos, embora sejam apenas duas palavras que juntas não somam 18 caracteres, são duas características invejáveis a quem não as possuem, às pessoas que tentarão ser os antagonistas das nossas histórias, somando-se às dificuldades inevitáveis para a realização de qualquer tipo de missão. A conceituação do termo está feita, é hora de começarmos a contextualizar nosso protagonismo e explicar sua necessidade.

Nossa visão tange bem o pensamento de Santos (2019), no qual o meio acadêmico, principalmente na área da saúde, é um meio, infelizmente, predominantemente elitista, marcado por desigualdades sociais, raciais e de gênero que se refletem na composição do corpo docente e discente das universidades. Ainda, no diálogo com esse autor, não podemos negar que sim, houve protagonismo para exercer mudanças no meio por intermédio de políticas públicas, como a implementação de um sistema de cotas e de programas de assistência estudantil, contudo, o trabalho para as mudanças estão longe de estarem finalizados, há muito a ser feito para superar as barreiras que impedem o acesso e a permanência de grupos sub-representados na academia.

Abordando brevemente também os autores Altbach, Reisberg e Rumbley, em artigo publicado em 2010, vemos que o meio acadêmico internacional também enfrenta desafios para se tornar mais inclusivo e diverso. Esse problema não é apenas de países

em desenvolvimento, mas um problema global. Logo, podemos apontar alguns fatores que contribuem para a elitização do ensino superior no cenário global, sendo: a concentração de recursos e prestígio em poucas instituições; a hegemonia do inglês como língua franca da ciência; a competição por rankings e indicadores de produtividade; a falta de reconhecimento e valorização das saberes locais e alternativos; e a supervalorização de algumas áreas do conhecimento em detrimento de outras.

Contudo, vamos voltar a observar nossa região, onde podemos analisar a necessidade de eventos na Amazônia que atuem na popularização da ciência no nosso estado, com intenção de favorecer o intercâmbio do conhecimento no âmbito regional, nacional e internacional. Nossa intenção foi apenas abordar essa necessidade, que foi modicamente evidenciada via um protagonismo recente.

Esse protagonismo veio por meio da realização do Congresso Internacional de Educação Física, Saúde e Sustentabilidade, realizado pela Universidade do Estado do Amazonas e trazendo um elenco de peso para compor o circuito de palestrantes. Mas, seus maiores diferenciais foram a sua gratuidade, não tendo nenhuma cobrança para participar do mesmo; A transmissão do evento em todo estado do Amazonas, por intermédio do sistema de IPTV da Universidade do Estado do Amazonas e da SEDUC-AM; e a publicação dos anais do congresso de forma oficial, com ISSN e DOI.

Portanto, voltamos a afirmar que o protagonismo é uma necessidade no mundo atual, mas uma característica de poucos. Poucas pessoas têm a coragem de se expor às críticas e ao fracasso que são, sim, um dos resultados possíveis de um protagonista, e menos ainda têm a capacidade de transformar essas experiências, mesmo quando falhas, em um conhecimento para os demais. Contudo, o desenvolvimento dessa capacidade pode ser alcançado pelos demais por meio da educação e popularização do conhecimento, além da despolarização da população. Portanto, ansiamos pela maior participação de todos como protagonistas. Afinal, quando trabalhamos juntos para um fim em comum, a relação protagonista-antagonista desaparece, deixando um ambiente de colaboração mútua e torna o futuro um pouco menos incerto.

Desejo externar o quanto foi gratificante realizar o I Congresso Internacional da Educação Física, Saúde Sustentabilidade; a 20ª Semana Nacional de Ciências e Tecnologia; e a Semana Nacional do Idoso no grupo de pesquisa CEGEPAM do CNPQ. Montar a equipe e sentir a sinergia que encontramos durante o projeto e na execução é implacável ao sentido de gratidão. Externo meus profundos agradecimentos à Pro-reitoria de extensão na pessoa do professor doutor Darlisom Sousa Ferreira e sua equipe, na pessoa da Flávia Roberta e Ana Caroline, pela paciência e compreensão. Pelas aulas de como administrar recursos e tabelas; pela amabilidade e respeito no trato e na comunicação; pela oportunidade de trabalho na tranquilidade de recursos por Edital de concorrência. Agradeço à Fundação Muraki, que nos ajudou na consecução plena deste projeto e ao Reitor André Nunes Zogahib, pela demonstração de amizade e carinho conosco.

Caminhamos para a finalização deste contributo, deixando o óbvio falar pelas palavras que ainda não escrevemos: se cometemos erros é sentido de que a aprendizagem é longitudinal e a verdade não nos é plena enquanto ser vivente e cumpridores da responsabilidade inata. Que ainda precisamos de paciência para caminhar ao lado de quem pouco aprendeu ou nunca quis exercitar a humildade de quem não sabe. Somos uma escola, e, com todo respeito, uma escola que tem ainda alunos relutantes ao aprendizado, principalmente, aquele feito e originado pelos mais velhos e experientes. O litígio e a querência mostram o distanciamento entre a paz e a convivência. Parafraseando o Caetano Veloso, eu quero pátria no deseja incessante de fortalecer a Pátria-ESA. Não nos interessa a fratria entre os litigantes exteriores em laços e com problemas preconceituais de que o que temos é venenoso e contagioso. Evitem cuspir no prato que um dia te criou, que ofereceu forças indeléveis na construção do manancial que te originou, que prestou relevância ao DNA que hoje reflete o teu sustento e de tua família.

O que recebemos em troca a não ser a tua personalidade originariamente corrompida e contaminada que te faz ser: infiel, ingrata carreando um bando de incompetentes.

Aqui não se trata de um drama de novela com final feliz. Aqui é uma fabula que fez a transposição de um mar em via Crúcis Nave-

gáveis. Onde a chamada pobreza impera esta equipe e consegue retirar leite de tetas endurecidas. Onde a falta de compreensão tenta reinar, oferecemos o retrato fiel do trabalho pela insistência. Onde muros se constroem em nome do teor administrativo, mostramos que é possível romper barreiras na busca da valoração de quem demanda a existência universitária. Quantas pessoas deixaram de acreditar que seriamos capazes de realizar um evento com a solidez e eficiência como este.

Ainda assim, não posso deixar de analisar a conduta dos que promoveram evento de igual nome e data, apenas com o fito de mostrar que somos pequenos. Pequenos podemos ser, mas com a hombridade de ter pedigree intelectual alto e não pertencer a plebe rude vira-latas que se sujeita ao fracasso de suas ações com a peculiar desculpa do “não sabia”. Essa marca sem patente odeia o sucesso dos pequenos.

Exalto o valor agregado que cada célula humana trouxe em sua bagagem. Ninguém sabia fazer e arriscamos a construir um evento com a nossa feição e responsabilidade. Soberano que fomos na doce humildade de aprender com nossos próprios erros. Se uma pessoa ou entidade se recusa a fazer, fazemos nós com a certeza de que nada é falível e tudo pode ser substituído. Revelo o temor de não dar certo, mas empunho sob minha força para que a tentativa seja feita e a consequência seja avaliada pelo empenho e dedicação que cada cabeça da composição deste grupo representa. Não se constitui tarefa fácil administrar egos proliferantes e egos procrastinadores. Os primeiros querem realizar a todo custo e muitas vezes, pelo excesso de competência atropelam a lenta dinâmica corporativa da instituição. Os segundos mostram que, às vezes, ser relapsos e atemporais, se constituem numa necessidade de crescimento e ofertam capacidade criativa para quem acredita na força interativa oriundas de sua débil responsabilidade. Entre a razão e a evasão, vencemos! Atravessamos as trincheiras normativas de todos os setores e conseguimos atropelar a incompetência, fazendo da crença na equipe o principal vilão que tudo pode dentro do espectro da intelectualidade avassaladora. Somos fortes, por sermos um povo unido e desafiante. Temos falhas, mas somos protagonistas da aprendizagem por competência e habilidades natas. Obrigados meus alunos queridos por mim e vigiados por Deus!

Nestes tempos, tenho me dedicado a ler um pensador brasileiro que na sua ampla humildade fala da filosofia como poucos intelectuais mundo afora. Falo do magnata do saber, o professor Mário Sérgio Cortella, que num processo de identificação qualitativa e no exercício da interpretação mostra o que devemos evitar para salvar a ESA de um processo de decadência: “A decadência de uma sociedade começa quando o homem pergunta a si próprio: O QUE IRÁ ACONTECER?, em vez de inquirir: O QUE POSSO FAZER?” para melhorar as relações e crescer mutuamente no cenário desconcertante. Estamos dispostos a colaborar, sempre!

REFERÊNCIAS

ALTBACH, Philip G.; REISBERG, Liz; RUMBLEY, Laura E. Trends in global higher education: tracking an academic revolution. Rotterdam: Sense Publishers, 2010.

Cortella, Mário Sérgio. Não nascemos prontos. Petrópolis, RJ: Vozes, 2015.

PROTAGONISMO. In: Dicio,  Dicionário Online de Português. Porto: 7Graus, 2020. Disponível em: <Protagonismo – Dicio, Dicionário Online de Português>. Acesso em: 31 out. 2023.

SANTOS, Boaventura de Sousa. A universidade no século XXI: para uma reforma democrática e emancipatória da universidade. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2019.

CAPÍTULO

2

PANORAMA FILOSÓFICO DA ALDEIA CIENTÍFICA: A AMAZÔNIA É LOGO ALI, NO TERRITÓRIO DE PESQUISADORES INICIANTES

Jefferson Jurema

Francisco Celson

Antônio Braga

Zilma Nattrodt

Renata Vilaça Duarte

Vinícius Azevedo Machado

É ponto assente que a Universidade pode e deve ser protagonista de ações comunitárias e científicas envolvendo os alunos e os pesquisadores. A informação passa a ser conteúdo de movimentação intelectual, em que prevalece a experiência e o grua de esclarecimento de quem já vivenciou o cotidiano universitário. Por falar em vivências somos cônscios de que o mundo gira em torno de quem pode compartilhar seus dotes acadêmicos com quem inicia uma profícua carreira profissional. Evidencia-se, assim, a importância do movimento intelectual de indivíduos experientes ao passo que os incipientes estejam dispostos a aprender, a fim de que o progresso na construção dos alicerces do academicismo científico seja possível.

Nesta esteira, vemos que algumas instituições se distanciam deste intento com a estreita justificativa da não necessidade de compartilhar aprendizado pela vivência acadêmica entre os neófitos e os ságicos professores com potencial de ensino. No espaço do conhecimento, a função cognitiva é um dos mais belos acontecimentos na vida humana. Como um universo, o conhecimento é seletivo e para que tenha função na

vida deverá ser seletivo, produtivo e com capacidade de servir para alguma função no cotidiano. Eis a chave para quem almeja a diferenciação acadêmica. Recebemos, então, demasiada carga de informação que são selecionados de forma eficaz para reter aquelas que nos serão úteis em detrimento daquelas que não servem para evoluir o presente e o futuro da própria cognição. É como se tivéssemos um seletor automático, que filtrando o que será útil em função de nossas necessidades emergentes daquilo que não utilizaremos em breve. O fato decisivo está na origem, na condução e no valor que a informação já serviu para outros polos condutores sobrepujarem suas dificuldades transformadas em exemplo para todos nós. Quem gravita no espaço é o corpo celestial. Informação gravita na inteligência feito ar procurando pulmão. Quem nunca sentiu a emoção de ouvir um professor contar suas incursões de pesquisa. Quem nunca procurou saber mais sobre uma pessoa porque um dia leu seus escritos em livros, notícias ou artigos científicos. Quem nunca idealizou construir vida acadêmica tendo como espelho um bom professor. No eixo das necessidades humanas surge bem patente a necessidade de crescimento como forma de ampliação dos mecanismos de concorrência individual. Quem nunca desejou o lugar mais alto da sociedade que enobrece os caminhos daqueles persistentes colaboradores chamados pesquisadores. O começo de uma vida acadêmica não pode se constituir no fim de uma vida em pesquisa. Juntos e dividindo experiências seremos fortes e construiremos um amanhã profícuo.

MUNDO GLOBAL, ALDEIA GLOBALIZADA

Em todos os momentos da história pensamos que a solidão nos persegue e muito rápido descobrimos que não estamos solitários. É o vizinho chato que faz barulho. É o professor que passa atividades imensas que envolvem grandes horas conversando com autores presentes em letras e nem sempre entendemos o que eles realmente desejam nos dizer. A construção das relações interpessoais e a perspectiva da Universidade em facilitar e incrementar recursos no aporte de realização de encontros é decisivo para o sucesso. A construção do campo afetivo aproveitando a competência como farol de Alexandria é a garantia de sucesso e da certeza que o programa vai ser cumprido à risca. Aqui vem muito patente para

todos nós que a amizade e a competência são esteios que podem sustentar um Congresso com a viril participação dos discente e da comunidade em geral.

De certa forma, a morada da sabedoria é universal e em um discurso extremo, todas as informações são produtos de empenho de pesquisadores renomados que além de falar para a nossa claque, já domina a ciência como demanda dentro e fora do nosso país.

É nesse contexto que vêm à tona os congressos científicos, os quais têm dentre seus objetivos primordiais, sobretudo, o intercâmbio intelectual entre acadêmicos de localidades diversas e a apresentação de inovações nos campos da ciência, seja ela a pura, com proposições de modelos basilares para explicação de fenômenos, ou a aplicada. Essa, no caso, voltada para o desenvolvimento tecnológico de ferramentas capazes de transpor a conjectura dos modelos teóricos desenvolvidos para uso em prol da resolução de adversidades. Nesse sentido, são nesses ambientes de permuta dos princípios científicos que uma característica inerente ao indivíduo faz-se presente, a cognição (OLIVEIRA, 2002).

Nessa circunstância, pode-se definir a função cognitiva como um conjunto dinâmico de processos mentais por meio dos quais a informação sensorial é obtida – oriunda dos órgãos dos sentidos -, transformada, retida e posteriormente reutilizada mediante processos que envolvem a memória - seja ela de curto ou longo prazo -, atenção e execução de outras funções do organismo. O funcionamento desses fenômenos é viabilizado pela área associativa pré-frontal do encéfalo, a qual realiza processamento tanto de informações motoras quanto não-motoras, pelo tecido nervoso e suas inter-relações com os sistemas subjacentes (HALL et al, 2021).

Por conseguinte, a questão acerca do quão fulcral é a existência e a participação em eventos dessa modalidade de divulgação científica torna-se pertinente. Isso é devido à gama de oportunidades que um congresso científico é capaz de disponibilizar para os acadêmicos e participantes externos do evento. Nessa ótica, é notório a constituição multifacetária de um congresso com atividades voltadas para estimular diferentes campos do conhecimento e diversas competências individuais daqueles expostos às oportunidades

disponíveis, indo desde palestras expositivas com congressistas de renome, rodas de conversas até cursos qualificadores. O que se estima é o enriquecimento intelectual das pessoas envolvidas no processo. Sabemos que estamos, geograficamente, isolados dos acontecimentos dentro e fora do nosso País. No entanto, entendemos que oportunidade de crescer é algo inerente na sociedade pós-moderna e agarramos com todo afinco quando dela somos prisioneiros. Elevamos a discurso para o mérito da equipe de organização que vem a cada ano trilhando valores imperceptíveis de amadurecimento e aprendizagem. Voltemos então ao assunto de garimpar riquezas, não as do vil metal e dos registros de propriedade. Mas sim, as riquezas da impregnação curricular. Outras que dizem “respeito” à propriedade intelectual no ganho efetivo de conhecimentos e experiências. Outras no campo do amadurecimento profissional e tantas outras nas modalidades afetivas e emocionais. Meus pequenos colaboradores antes do congresso, viram cientistas internacionais depois dele. Essa riqueza ninguém nos tira, mesmo que depois da morte seremos lembrados como pioneiros de uma Amazônia íngreme, mas que nos tornamos em território habitável com prosperidade. Aí gravita o “respeito” que impomos diante de nossos adversários, inclusive a distância geográfica e a qualidade do evento.

Todos esses atributos desenvolvidos no congresso pela equipe são fulcrais para o incremento, ainda maior, da pesquisa científica no polo amazônico, tendo em seu cerne a busca por reduzir o descompasso desta localidade frente a outras regiões do país e do globo. Isso demonstra seu potencial inato para contribuir no desenvolvimento da ciência e da sustentabilidade. Logo, destacam-se tais aptidões emitidas pelos discentes a fim de estimular a produção de novas bases intelectuais.

Dessa forma, é no processo de exposição a ideias e a tecnologias inovadoras do universo científico que o acadêmico será estimulado ao desabrochar de novos meios de compreender a realidade da pesquisa e da ciência que o cercam, o que acarreta uma maior atividade da função cognitiva, característica essa fundamental para o pesquisador, em virtude da sua natureza produtora de conhecimentos, os quais poderão vir a ser utilizados em diferentes âmbitos do meio social. Quando nos colocamos na condição de modificadores do meio social é que entendemos por

demais amplo a função precípua da Universidade em disseminar conhecimentos por todas as formas de ação. Lembramos neste caminho sombrio que percorremos que um dia uma música já deu som em nossos aparelhos auditivos tentando relacionar o poder político com o poder do conhecimento: “Eu presto atenção no que eles dizem, mas eles não me dizem nada”. A política diz o sentido repetitivo da mentira enquanto a ciência demanda a verdade na realização de momentos inesquecíveis para o meio social. Talvez, aqui resida o alicerce para um mundo social mais compreensível do que aquele em que vivemos. Entendemos que a sociedade terá seus benefícios alargados quando pudermos oferecer uma educação solidificada nos conceitos da aprendizagem para saber fazer independente do quê. Neste sentido, procuramos um meio social capaz de desvencilhar suas dificuldades utilizando conceitos da escola, do tecnicismo ou da independência intelectual capaz de criar seres verdadeiramente humanizados.

Portanto, é perceptível que a intrínseca relação estabelecida entre congressos científicos e o exercício da função cognitiva é essencial para o desenvolvimento dos futuros e atuais pesquisadores do país. Isso se deve em razão da descoberta de novas concepções que irão incrementar as capacidades e habilidades já existentes. Assim, modelos de intercâmbio intelectual dessa modalidade tornam-se cruciais.

A concepção desejada com este evento foi sempre aquela na qual pudéssemos caminhar ensinando, mas aprender com o nosso caminho. O poeta Don Antônio Machado nos agracia com a magna concepção da trilha em suas epigramas quando assim escreve: “Caminhantes, não há caminho, o caminho se faz ao andar”. Contudo, se faz necessário obter uma rota segura e eficaz para que a rodagem a ser percorrida se torne longa e cansativa. Assim, caminhar com quem gosta de ensinar, na teoria viva de Rubem Alves é um prazer edificante que muda a concepção do ensinar por ser poderoso juntando a concepção do compartilhar por ser generoso.

Todos esses atributos nos credenciam para chamar ao barulho as concepções do pensamento de Immanuel Kant.

O pesquisador, frente às diferentes variáveis que compõem o fenômeno, o qual está sobre estudo e investigação, deve ter a au-

tonomia de buscar evidências capazes de corroborar a veracidade ou falseabilidade da tese apresentada inicialmente, tese essa que guiará o processo de apuração da verdade. Essa estrutura de investigação, pautada na atitude de testar hipóteses existentes, em prol de eliminar aquelas inverídicas e permanecer com as que possuem evidências e não foram falseadas, está no cerne da filosofia da ciência, sendo então fulcral para o indivíduo atuar de maneira proativa (COUTO et al, 2021).

Nessa conjuntura, é imprescindível rememorar, que o destaque acerca dessa característica particular do pesquisador atual perante o conhecimento foi debatido e explicitado pelo filósofo iluminista alemão Immanuel Kant, ainda no século XVIII. Após a difusão dos preceitos iluministas, em diferentes âmbitos sociais, questões sobre o uso da razão e a postura perante o saber tomaram destaque nas discussões filosóficas da época.

Por conseguinte, é nesse contexto que o filósofo Kant disserta a respeito do questionamento “O que é o Esclarecimento?”. Nesse sentido, Kant descreve o Esclarecimento como um processo de mudança da denominada menoridade para a maioridade, com tais conceitos consistindo, respectivamente, na inaptidão de discernimento sem o auxílio de um terceiro, e capacidade de compreensão, mediante as próprias faculdades mentais, de determinada questão (KANT, 1985).

Sob essa ótica, é perceptível que o pesquisador, enquanto agente primordial da produção científica no meio acadêmico, deve passar de maneira contundente pelo processo de esclarecimento, haja vista que o ato da pesquisa se sucede por meio de averiguação e análise, muitas vezes, individual ou em pequeno grupo, sendo então necessário estar na maioridade kantiana para possuir a capacidade para produção. Nesse sentido, para alcançar a maioridade, o pesquisador e estudante devem estar a par de diferentes ferramentas e estarem inseridos em meios que possam viabilizar esse comportamento. Dentre as diversas maneiras, pode-se destacar os congressos científicos, os quais permitem o contato desse indivíduo com profissionais do campo que possuem a perícia e experiência para com a metodologia científica e a postura perante a produção e acúmulo do saber, o que leva ao cientista a conhecer diferentes pensamentos e ideias, por meio de distintas atividades

– palestras, cursos, rodas de conversa e entre outros -, o que promove o discernimento da pessoa.

Outrossim, é nesse clima de busca da independência intelectual que um outro conceito kantiano se faz presente nessa constante busca do aprimoramento das questões que cercam o pesquisador, o denominado imperativo categórico. Esse conceito, bem como o do Esclarecimento, também surge do epicentro do fervor do período Iluminista, do qual Kant foi destaque com seu pensamento pautado na razão.

Mas no que consiste tal imperativo e como está ele relacionado com o cientista contemporâneo? Kant o descreve como uma espécie de lei moral a qual o indivíduo deve seguir, nela as máximas devem ser realizadas somente se forem universais. Além disso, dentro da explicitação desse conceito, o autor descreve um outro princípio, o do fim em si mesmo, nesse elucida que nunca a utilização da humanidade deve ser como um meio, mas sim como um fim em si mesma. Essas duas questões são fundamentais para o pesquisador atual, haja vista que seus atos estão e devem ser pautados sempre, respectivamente, na metodologia científica estruturada e em vigor - a fim de evitar vieses, deturpações dos fenômenos observados e alcançar modelos científicos cada vez mais abrangentes e sólidos -, e na ética do pesquisador, o qual deve possuir como conceito basilar o não uso de pessoas em pesquisas coercitivas.

Ainda nesse contexto, os congressos surgem como um meio para ratificação desses conceitos, mostrados por Kant desde o século XVIII, por meio da interação com pesquisadores de renome e com experiência, os quais servirão de guia e exemplo para aqueles ainda incipientes e jovens no meio científico.

Portanto, a exposição do pesquisador em congressos científicos acarreta no incremento de seus saberes e contribui para alcançar o estado no qual o ser humano deve estar perante a vida e a sabedoria para Immanuel Kant, a maioridade, na qual é estabelecida a liberdade intelectual e a independência perante o pensamento de terceiros, além de o direcionar para um caminho mais moral e ético, o qual será fundamental para a constante busca do aprimorar do fazer científico.

As nossas preocupações ganham fôlego no esquema atual, no qual a vida de consumo passa a ser o paradigma operante e as ne-

cessidades de ampliação do conhecimento tomam formas de facilitadas construtivas destruidoras. Nunca houve tanto frigir com relação à aprendizagem, e o uso das tecnologias. Lembramos que o ensino remonta a criação humana desde os primórdios até a data futura, passando pela vida, mas aprendendo cruelmente sobre a morte. Portanto, de um lado temos os pensadores construtivos da aprendizagem que somam o ato de aprender por ensino e por prática pedagógica. Por outro lado, temos a tecnologia que entra em nossa casa sem pedir licença e ainda promove verdadeiro alvoroço em nossas concepções. Eis que chamamos para fazer parte desta conversa a iminência intelectual do francês verdadeiro e onipresente na sociologia pós-moderna.

A ARTE E A CULTURA NA PERSPECTIVA DE GILLES LIPOVETSKY

Lipovetsky (2004, p. 71) afirma que “a arte contemporânea é caracterizada pela ‘estetização generalizada’ da vida, na qual a arte se torna um elemento onipresente na cultura de consumo”, uma vez que é uma forma de expressão que permite aos indivíduos conectarem com o mundo e com os outros, de forma que a comunicação não-verbal de se apresentar em sociedade transcende as barreiras culturais e linguísticas. E a cultura, por sua vez, é um “conjunto de valores, crenças, normas, costumes, tradições, conhecimentos e práticas que caracterizam uma sociedade ou um grupo social” (Lipovetsky, 2004).

Manifestar a sociedade através da expressão artística revela a cultura em que ela está imersa. Nesse contexto, o coletivismo transforma os hábitos em atributos compartilhados por todo um povo, que não se limita apenas à língua e à estrutura social, mas abrange modos de comportamento e a apresentação de suas imagens individuais. Nesse prisma, o individualismo torna-se essencial para que tal sociedade não aja como uma colmeia, o que nos leva a um questionamento: o que acontece se esta sociedade, eventualmente, passar a procurar por individualismo de forma exacerbada?

Tal questão leva-nos a hipermodernidade, caracterizada pelo narcisismo, hiperconsumo e a busca pelo status, uma vez que a globalização, juntamente com os avanços tecnológicos, guiou a

sociedade ao desejo de romper com as necessidades do passado e olhar para o futuro, com o sentido dos prazeres individuais e singulares, sendo estes refletidos no consumismo não mais por suprimento de necessidades físicas e funcionais, mas por satisfação do ego, sendo estimuladas, inclusive, pela intensificação do crédito, levando à obsessão pelo novo.

As dificuldades em promover um pensamento coletivo e a subutilização das ferramentas proporcionadas pelo próprio sistema visando uma sociedade aprimorada são algumas das ramificações da hipermodernidade. Nesse contexto, a diferenciação social passa a ser fundamentada em bens materiais e no culto ao individualismo. A cultura do consumo excessivo já não satisfaz plenamente a necessidade de autoafirmação, o que molda não apenas hábitos e preferências, mas também influencia na construção das próprias identidades. Isso resulta em uma sociedade que, na busca pela singularidade, paradoxalmente, acaba agindo de maneira mais homogênea, a menos que se trate de interesses pessoais específicos.

Lipovetsky (2005, p. 23-24) afirma que “A pós-modernidade encarna, aparentemente, apenas o superficial. Mas, ao mesmo tempo, representa o contrário: obrigação de rentabilidade, competição, performance, ser operacional, ter sucesso”. A sociedade pós-moderna passa a caracterizar-se por necessidades não materiais, simbólicas e narcisistas, em que a simbologia busca o consumo de prazeres materiais. A inovação constante, a necessidade do novo e a moda efêmera e mutável estão focadas na satisfação de desejos individuais, levando a uma quebra de paradigmas em meados do século XX e a uma nova sociedade com valores deturpados pelo consumo excessivo. Neste espectro, a cultura e a arte na perspectiva de Gilles são afetadas pela hipermodernidade, resultando na grande crítica à sociedade pós-moderna: sua face narcisista, através da cultura do consumo de massa.

REFERÊNCIAS

COUTO, F. F.; SARAIVA, L. A. S.; CARRIERI, A. DE P. From Kant to Karl Popper: Reason and Critical Rationalism in Organization Studies. Organizações & Sociedade, v. 28, n. 96, p. 55-72, jan. 2021.

GONÇALVES, J. R. S. Edward Sapir: Forma cultural e experiência individual. Sociologia & Antropologia, v. 2, n. 4, p. 25-33, 2012. Disponível em: https://doi.org/10.1590/2238-38752012v242.

HALL, John E.; HALL, Michael E. Guyton & Hall tratado de fisiologia médica. 14 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2021, 1121 p.

KANT, I. Fundamentação da metafísica dos costumes. Tradução Paulo Quintela. Lisboa: Edições 70, 2005.

KANT, I. Resposta à pergunta: que é o “Esclarecimento”? Textos Seletos. Tradução de Floriano Sousa Fernandes. Petrópolis: Vozes, 1985. p. 100-117.

LIPOVETSKY, G. A era do vazio: ensaios sobre o individualismo contemporâneo. Tradução de Sérgio Tellaroli. Barueri: Manole, 2005. p. 23-24.

OLIVEIRA, S. L. Tratado de Metodologia Científica: projetos de pesquisas, TGI, TCC, monografias, dissertações e teses. 2 ed. São Paulo: Pioneira Thomsom Learning, 2002. Scimago Institutions Rankings. (2012).

CAPÍTULO 3

A EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO SUPERIOR COMO PRÁTICA DE FORMAÇÃO

HUMANA

1 Estudante do Curso de Doutorado em Educação – PPGEdu – UFPE. Docente da Universidade Federal do Agreste de Pernambuco – UFAPE. E-mail: souzauag@gmail.com

2 Docente do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. E-mail: joseluis2711@yahoo.com.br

RESUMO

As universidades brasileiras, durante a década de 1970, ofereciam a disciplina de Educação Física, como componente curricular obrigatório, nos seus mais diversos cursos, com objetivos e conteúdos específicos que deveriam atender aos interesses do período político vigente. Considerando seu contexto histórico, no presente estudo, buscamos compreender, a partir de uma pesquisa de cunho bibliográfico, o papel da Educação Física atualmente, como componente curricular obrigatório no Ensino Superior uma vez que, foi necessária uma ruptura com a prática na qual ela foi inserida no ambiente universitário, proporcionando uma nova perspectiva a seu respeito. Neste sentindo, discutimos sobre: o cenário de inserção da disciplina nas universidades do país, assim como seus objetivos e as suas consequências; a Educação Física enquanto prática que contribui com a formação humana necessária para a emancipação do sujeito e seu reconhecimento enquanto partícipe de uma sociedade; e também

Catarina da Silva Souza ¹ José Luís Simões ²

a necessidade de ressignificar os conteúdos da disciplina, buscando integrá-los aos projetos de pesquisa e extensão de forma interdisciplinar, gerando novos conhecimentos e melhorando a vida das comunidades. Torna-se necessária sua contínua reflexão e discussão enquanto prática que atua na formação do sujeito autônomo e crítico, buscando atrelar aos conteúdos da cultura corporal os aspectos que possibilitem seu reconhecimento enquanto parte importante do contexto universitário. Também é necessário desenvolver atividades interdisciplinares de pesquisa e extensão com os demais cursos oferecidos na universidade, que conduzam o conhecimento produzido até a sociedade, trazendo melhorias para o seu dia a dia e promovendo seu reconhecimento enquanto prática que promove transformação social.

Palavras-chave: Educação Física, Ensino Superior, Formação Humana.

ABSTRACT

Brazilian universities, during the 1970s, offered the subject of Physical Education, as a mandatory curricular component, in their most diverse courses, with specific objectives and contents that should meet the interests of the current political period. Considering its historical context, in the present study, we seek to understand, from a bibliographical research, the role of Physical Education today, as a mandatory curricular component in Higher Education, since it was necessary to break with the practice in which it was inserted in the university environment, providing a new perspective on it. In this sense, we will discuss: the scenario of insertion of the discipline in the country's universities, as well as its objectives and consequences; Physical Education as a practice that contributes to the human training necessary for the emancipation of the subject and his recognition as a participant in a society; and also the need to give new meaning to the contents of the discipline, seeking to integrate them into research and extension projects in an interdisciplinary way, generating new knowledge and improving the lives of communities. Its continuous reflection and discussion becomes necessary as a practice that acts in the formation of the autonomous and critical subject, seeking to link aspects that enable its recognition as an important

part of the university context to the contents of body culture. It is also necessary to develop interdisciplinary research and extension activities with other courses offered at the university, which take the knowledge produced to society, bringing improvements to its daily life and promoting its recognition as a practice that promotes social transformation.

Keywords: Physical Education, Higher Education, Human Formation.

INTRODUÇÃO

A Educação Física enquanto componente curricular obrigatório nos diversos cursos de Ensino Superior no Brasil, apresenta-se como prática que deve contribuir com a formação humana imprescindível ao convívio em sociedade. Entretanto, analisando historicamente, percebemos que nem sempre foi assim. O contexto de ditadura civil-militar vivido no país, durante a década de 1970, no período em que a disciplina foi incluída como prática obrigatória neste nível de ensino, fixou objetivos que a destituía da responsabilidade com o desenvolvimento crítico dos estudantes.

Nosso objetivo é compreender o papel da Educação Física como componente curricular obrigatório no Ensino Superior atualmente, uma vez que, considerando seu contexto histórico, foi necessária uma ruptura com a prática alienante com a qual ela foi inserida no ambiente universitário, proporcionando uma nova perspectiva a seu respeito.

Neste sentindo, se faz necessário discutirmos sobre: o cenário de inserção da disciplina nas universidades do país, assim como seus objetivos e as suas consequências; a Educação Física enquanto prática que contribui com formação humana necessária para a emancipação do sujeito e seu reconhecimento enquanto partícipe de uma sociedade;e também a necessidade de ressignificar os conteúdos da disciplina, buscando integrá-los aos projetos de pesquisa e extensão de forma interdisciplinar, gerando novos conhecimentos e melhorando a vida das comunidades.

Para atingir os objetivos do presente estudo, realizamos, através de uma abordagem qualitativa, a pesquisa bibliográfica que, segundo Severino, “[...] é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses etc” (2007, p.122).

Inicialmente foi realizada uma pesquisa bibliográfica desenvolvida a partir de livros, revistas e artigos, e através desta revisão adquirimos embasamento teórico para melhor aplicar, analisar, relacionar e interpretar as questões referentes à temática abordada. Desta forma, os textos utilizados foram nossa fonte de pesquisa, e partir deles, direcionamos nossas análises.

Em um primeiro momento, discutimos sobre aspectos históricos da Educação Física no Ensino Superior, a fim de contextualizar sua inclusão como prática obrigatória neste nível de ensino. Após, analisamos como a Educação Física contribui para a formação humana e a necessidade de sua integração com a pesquisa e a extensão no contexto da interdisciplinaridade na universidade.

Após realizar o estudo dos textos, problematizamos e sistematizamos as informações coletadas de forma a estabelecer reflexões e considerações a respeito das temáticas, contemplando os objetivos da pesquisa.

Vale ressaltar que, como existem poucas universidades que mantêm a disciplina de Educação Física como componente curricular obrigatório, se torna difícil encontrar bibliografias que tratem especificamente do tema, o que nos motiva a continuar refletindo e discutindo sobre este aspecto.

Tal reflexão se faz necessária, uma vez que, atuando como docente de uma universidade pública federal com a referida disciplina, por vezes, os alunos iniciam o semestre bem desconfiados e intrigados com a sua presença como componente obrigatório, questionando sua legitimidade naquele espaço, cenário que vai mudando ao longo da vivência. Deste modo, a cada nova turma, torna-se necessário este trabalho de conscientização quanto a importância da sua prática neste contexto.

Além disso, para cumprir o papel da universidade como produtora de conhecimento científico, também é necessário o desenvolvimento de atividades de pesquisa e extensão que contemplem seus objetivos, sendo este mais um desafio a ser enfrentado

em um ambiente onde a Educação Física, devido ao seu contexto histórico, perdeu espaço enquanto disciplina voltada para o desenvolvimento da ciência.

Para isso, torna-se necessária sua contínua reflexão e discussão enquanto prática que atua na formação do sujeito autônomo e crítico, buscando atrelar aos conteúdos da cultura corporal os aspectos que possibilitem seu reconhecimento enquanto parte importante do contexto universitário. Com esse propósito, também é necessário desenvolver atividades interdisciplinares de pesquisa e extensão com os demais cursos oferecidos na universidade, que conduzam o conhecimento produzido até a sociedade, trazendo melhorias para o seu dia a dia, promovendo seu reconhecimento enquanto prática que promove transformação social.

DESENVOLVIMENTO

A EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO SUPERIOR

Analisando a história do Ensino Superior no Brasil observamos que, durante um determinado período, a Educação Física era prática obrigatória neste nível de ensino. Através do Decreto nº69.450 de 1 de novembro de 1971, a disciplina passa a ser obrigatória no ensino superior, tendo como objetivo “práticas, com predominância, de natureza desportiva, preferencialmente as que conduzam à manutenção e aprimoramento da aptidão física, à conservação da saúde, à integração do estudante no campus universitário à consolidação do sentimento comunitário e de nacionalidade” (BRASIL, 1971).

A conjuntura política neste período se caracterizava por um regime de ditadura civil-militar que almejava manter certo controle sobre o ambiente acadêmico, desta forma, segundo Rodrigues (2023), a intenção era, de fato, desarticular e desestabilizar o movimento estudantil contra a ditadura.

Neste sentido, havia o controle do tempo livre através do desenvolvimento de práticas predominantemente esportivas sem objetivos formativos, ou seja, não existia preocupação com a qualidade dos conteúdos da disciplina, nem com a emancipação do sujeito.

Foram inúmeras as consequências negativas deste modo de trabalhar a Educação Física no Ensino Superior. A falta de compromisso com o desenvolvimento crítico e o seu distanciamento dos conteúdos acadêmicos contribuiu para a sua discriminação como disciplina relevante no processo de formação dos discentes e também na produção de conhecimento. Diante deste cenário, a Educação Física “perdeu seu significado acadêmico e se constituiu como uma atividade física voltada para a promoção do talento esportivo, principalmente através da organização de diversos tipos de campeonatos tendo como referência o esporte espetáculo” (RODRIGUES, 2023, p.49).

Ainda segundo o autor, existiam dificuldades quanto a permanência dos estudantes nestas aulas, devido aos seus compromissos com os estudos, falta de tempo e até pouca educação corporal para o exercício da modalidade específica.

Entendendo a Educação Física como parte de um currículo maior de formação universitária, seria imprescindível que sua relevância fosse reconhecida durante o processo formativo, entretanto, diante deste cenário, sua prática não justificava sua permanência enquanto prática científica.

Acompanhando as mudanças ocorridas no cenário político brasileiro durante a década de 1980, dentre elas, o processo de abertura democrática, Saviani (2007) indica que ocorreram grandes mudanças nas propostas educacionais que apontavam para propostas pedagógicas contra hegemônicas, isto é, “que em lugar de servir aos interesses dominantes, se articulassem com os interesses dominados” (SAVIANI, 2007,p.400)..

De fato, estas propostas visavam um trabalho voltado para o estímulo ao desenvolvimento crítico do aluno atrelando, no ambiente universitário, os conteúdos às atividades de ensino, pesquisa e extensão. Segundo Saviani (2007), surgiram propostas na tentativa de orientar práticas educativas inovadoras, como por exemplo, a pedagogia da educação popular, pedagogia da prática, pedagogia crítico social dos conteúdos e pedagogia histórico crítica.

Tais mudanças, causaram impacto também nas disciplinas de Educação Física, problematizando e criticando a forma como era tratada não só na Educação Básica, mas também, no Ensino Superior.

A partir de então, a nova forma de trabalhar a Educação Física voltada para a dimensão reflexiva se opôs à prática que até então era realizada na universidade, logo, “a disciplina Educação Física só se manteve no Ensino Superior por uma determinação da legislação educacional” (RODRIGUES, 2023, p. 51).

Com a aprovação da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, a Nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), ocorreram algumas mudanças que afetaram também a disciplina de Educação Física, passando a não ser mais componente curricular obrigatório no Ensino Superior. A partir de então, as universidades ganharam autonomia para retirar a disciplina das suas matrizes curriculares, permanecendo até hoje em poucas universidades, com o objetivo recreativo e/ou com turmas de treinamento.

Na universidade, devido a estes acontecimentos, a Educação Física perdeu o espaço de disciplina que estimula a reflexão crítica contribuindo para a construção do conhecimento científico através do ensino, da pesquisa e da extensão. Além disso, se distanciou do seu papel de contribuição com a formação humana necessária à vida em sociedade.

Para entender a Educação Física enquanto parte de um currículo de formação universitária, cabe esclarecer seus conteúdos e seu papel na formação dos profissionais das mais diversas áreas. Considerando o currículo como um conjunto de aspectos que serão ensinados e aprendidos, se faz necessário um processo de escolha de fatores que dentro da nossa cultura precisam ser passados de geração em geração, seguindo uma linha de progressão e proporcionando reflexão e desenvolvimento crítico ao estudante, visando contribuir com a sua formação humana.

A EDUCAÇÃO FÍSICA E A FORMAÇÃO HUMANA

Para discutir sobre a Educação Física como componente curricular no ambiente universitário, se faz necessário entendê-la como parte de um processo integral de formação humana que vai além da formação profissional e científica imprescindível ao nível superior de ensino, contribuindo para a emancipação do sujeito.

Entendemos que é indiscutível a necessidade de trabalhar os conteúdos específicos que cada curso superior exige, a fim de

qualificar os sujeitos para exercer suas funções na sociedade. Da mesma forma, reconhecemos os conteúdos da Educação Física que compõem a cultura corporal e a necessidade de trabalhar cada um de acordo com suas especificidades.

O que queremos tratar nesta discussão é a necessidade de ir além, por entender que a educação possibilita a formação humana através do desenvolvimento ético implicando reflexões sobre os temas que estão relacionados como solidariedade, tolerância, responsabilidade, identidade, direito, entre outros. Considerando ética como a ciência da conduta, na concepção “[…] que a considera como ciência do fim, para o qual a conduta dos homens deve ser orientada e dos meios para atingir tal fim, deduzindo tanto o fim quanto os meios da natureza do homem[…]” (ABBAGNANO, 2000, p.380).

Neste sentido, Boto (2001) discute esta questão entre educação e formação humana, a partir do entendimento da relação entre a autonomia da vontade e a formação pedagógica que a habilita, isto porque, a ação ética está ancorada na intencionalidade da ação, assim, o sujeito moral é capaz de decidir, escolher seus atos, e esta capacidade de escolha é orientada pelo reconhecimento da fronteira entre o justo e o injusto.

Porém este aspecto é entendido pela autora como um processo e desta forma, continuamente ao longo da vida e das experiências acumuladas, faz parte de um exercício contínuo de aprender a escolher. Neste sentido, busca analisar esta aproximação possível entre moralidade e educação do juízo moral.

Bauman (2009) discute sobre a arte da vida como um longo processo que envolve escolhas. O autor parte do entendimento da vida como uma obra de arte que está sendo criada, uma vez que é vivida por seres humanos que possuem vontades e liberdade de escolha, considerando também a existência de acontecimentos que fogem ao seu alcance.

Considerando que, ainda segundo o autor, em nossa sociedade líquido-moderna as escolhas geralmente estão associadas aos ideais neoliberais de consumo, espera-se que cada indivíduo se responsabilize por elas, sendo seus resultados bons ou não. Por isso, Bauman (2009), considera que cada indivíduo é um artista e este aspecto da vida é um tipo de “decreto do destino universal” (2009, p.76).

Neste sentido, nosso intuito é refletir sobre a temática enquanto sujeitos da educação (professor e aluno), perpassando por questões que se fazem presentes no nosso dia a dia, tendo por base a preocupação em refletir sobre “[…] o campo da ética, não como um dado natural e essencial, mas, sobretudo, como uma experiência apreendida, acumulada e pedagogicamente construída” (BOTO, 2001, p.123).

Para isso, cabe também o entendimento acerca do papel do professor neste longo e necessário processo de formação humana dos educandos. Neste sentido, através do ato educativo, o professor apresenta e familiariza as novas gerações com o patrimônio cultural construído e acumulado historicamente, possibilitando, a partir disso, a “renovação” do mundo.

Do ponto de vista histórico, a defesa pela educação voltada para os valores humanos e sociais não é característica unicamente da sociedade atual. Em seu livro, Hourdakis discute sobre a concepção da teoria de Aristóteles e sua relação com a educação, desta forma, ele defende a felicidade como o “objetivo fundamental de sua teoria política e pedagógica” (2001, p.11).

Neste sentido, a noção de ética estaria relacionada à doutrina das virtudes como por exemplo, justiça, piedade, saúde e força, estando, desde então relacionado aos seus atos, que tenderiam para o “bem”, aproximando-se do prazer e da felicidade. Assim, a ética é entendida como ação dirigida ao bem, que depende das nossas decisões, tendo como objetivo a busca por uma vida de acordo com parâmetros valorozos, assim,

[…] o agir ético, então, corresponderia a um dado exercício da alma, exercício continuado e cotidiano, motivado pela própria suposição da universalidade do bom enquanto bem comum e compartilhado (BOTO, 2001, p. 126).

Podemos citar também, trazendo a discussão para a modernidade, a reflexão acerca do movimento Iluminista do séc. XVIII e seu objetivo de transformação da sociedade e regeneração coletiva através da razão. Neste período, Rousseau defende a vontade humana e sua liberdade de escolha como características de sua distinção, ou seja, o poder da escolha e o reconhecimento de si como um ser livre (BOTO, 2001).

Sobre este aspecto, é importante destacar alguns elementos que justificam a análise de Rousseau neste contexto de formação humana buscando conciliar o pleno desenvolvimento do indivíduo e a liberdade social. Para Valdemarim (2007, p.147),

no texto Do Contrato Social, é estabelecido o artifício que permite a soberania e a igualdade a todos os homens, e pela Educação – no Emílio – se garante a melhor expressão da vontade geral, condição necessária à efetivação da soberania, unindo uma determinada concepção de sociedade (própria do seu tempo) e as indicações para sua realização (destaques da autora).

Sendo assim, a possibilidade de escolha do ser humano coloca a vontade humana como característica do dilema ético, entre o bem e o mal, necessitando de aprendizado para saber escolher e neste aspecto, “os filósofos da ética fizeram o possível para estabelecer uma ponte entre as duas margens do rio da vida: o auto-interesse e a preocupação com os outros” (BAUMAN, 2009, p. 124).

A filosofia de Immanuel Kant (1724-1804), que entende o campo da ética como uma particularidade do homem uma vez que, possui a capacidade de escolha, também é citada por Boto (2001), compreendendo o Imperativo Categórico como o “Bem”, constituindo-se como um dever, uma obrigação. Neste sentido o homem escolheria as normas, fazendo com que elas adquirissem validade universal devido à moralidade, regulando assim, o campo do agir.

Isto quer dizer que as nossas ações devem estar de acordo com a noção de “Bem” considerada universal, traduzindo isto tanto pelas suas estratégias como pelos seus propósitos. Neste sentido, Pagni (2007, p.179) afirma que a educação constituiria “um processo em que os homens se identificam com as leis da moral por intermédio da razão e, por ela, passam a guiar a ação, conforme o ideal de perfeição humana ao qual aspiram”.

Kant criou um modelo ético que se baseou na capacidade de julgar inerente ao ser humano e, desta forma, a vontade se destacava como uma ideia de autonomia do sujeito, reconhecendo as distinções entre o bem e o mal. Por isso, acreditava no poder do conhecimento como produção da autonomia, tornando possível o seu usufruto de forma plena.

O acesso a este conhecimento, contribuiria para a tomada de consciência do indivíduo quanto à sua liberdade, conferindo sua independência fundamentada na capacidade racional de decidir por si mesmo o que é o dever, ou seja, a possibilidade do indivíduo, através da razão, agir com autonomia, acima dos interesses particulares.

Desta forma, o indivíduo precisa aprender a agir eticamente principalmente através do exemplo, revelação e imitação, sendo assim desenvolvido através da prática. Assim, a sociedade que se preocupa com a formação humana dos cidadãos encontra na educação uma relevante fonte de disseminação de valores e princípios importantes para seu desenvolvimento.

Tratando-se destas responsabilidades que envolvem a educação, o professor inserido neste contexto, deve trabalhar visando a construção do conhecimento interdisciplinar do aluno, mostrando sua verdadeira finalidade. Segundo Sampaio,

educar é dar sentido às práticas e atos do cotidiano. É mais que desenvolver a inteligência e habilidades. É fazer do indivíduo um ser útil a sociedade e ao mundo. É através dessa missão que a educação irá ganhar importância e credibilidade no seio da sociedade (2007 p.69).

A educação que aborda a formação humana preocupa-se em como buscar desenvolver nos alunos valores importantes para a convivência em sociedade, como por exemplo, a solidariedade, a justiça e a cooperação.

Neste sentido, a educação possibilita a emancipação do sujeito, seu reconhecimento enquanto parte de uma sociedade e a sua tomada da consciência quanto ao seu valor na construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Tais aspectos brevemente citados demonstram que a visão mais crítica do universo escolar apresenta peculiaridades que a transformam em um componente imprescindível para a formação humana e social. Desta forma, Sampaio (2007, p.37) defende que “é necessário repensá-la e fazê-la servir à vida, à realização humana, social e ambiental”.

Assim, entendemos que a Educação Física, do nível básico ao nível superior, necessita deste entendimento quanto a sua relevância para a formação humana dos estudantes. Cada componente curricular deve buscar trabalhar seus conteúdos objetivando a emancipação do sujeito, permitindo aos indíviduos seu engajamento na luta pela construção de uma sociabilidade para além dos interesses neoliberais.

Para a Educação Física este aspecto se torna ainda mais relevante, uma vez que, seus conteúdos trabalham essencialmente com a cultura corporal, envolvendo um conjunto de atitudes e valores que contribuem para o reconhecimento do indivíduo como produtor e transformador da realidade social.

CONCLUSÃO

Ao analisarmos uma parte da história da Educação Física no Ensino Superior no Brasil, é possível identificar os aspectos que a fizeram ser vista como uma prática destituída de importância para o desenvolvimento profissional e humano neste contexto, além de desarticulada com o objetivo de produção de conhecimento através do ensino, pesquisa e extensão nos diversos cursos oferecidos dentro de uma universidade.

Neste sentido, a Educação Física, do nível básico ao superior, tem trabalhado para ressignificar seus conteúdos, proporcionando práticas que transcendam o fazer por fazer, de forma que os estudantes compreendam sua relevância para a vida.

Ao considerarmos o contexto universitário e sua demanda diante da sociedade, precisamos repensar o compromisso com a formação dos profissionais que atuarão nela, trabalhando os conteúdos de forma que os alunos possam reconhecer e valorizar os novos conhecimentos.

Neste sentido, a Educação Física como componente curricular no ensino superior não pode se limitar a práticas recreativas e de treinamento. Como docentes, não podemos continuar a repetir os erros históricos que descaracterizam nossa área de atuação, causando discriminação e falta de reconhecimento. Precisamos continuamente ressignificar os conteúdos para que os alunos possam reconhecê-los e utilizá-los no seu dia a dia, sendo ele agrônomo, médico veterinário, zooctenista ou engenheiro.

Para isso, torna-se necessária sua contínua reflexão e discussão enquanto prática que atua na formação do sujeito autônomo e crítico, buscando atrelar aos conteúdos da cultura corporal os aspectos que possibilitem seu reconhecimento enquanto parte importante do contexto universitário. Para isso, também é necessário desenvolver atividades interdisciplinares de pesquisa e extensão com os demais cursos oferecidos na universidade, que conduzam o conhecimento produzido até a sociedade, trazendo melhorias para o seu dia a dia, promovendo seu reconhecimento enquanto prática que promove transformação social.

REFERÊNCIAS

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

BAUMAN, Zygmunt. A Arte da vida. Tradução de: Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro, Zahar, 2009.

BOTO, Carlota. Ética e educação clássica: virtude e felicidade no justo meio. Educação & Sociedade [online]. 2001, v. 22, n. 76 [Acessado 27 Outubro 2021] , pp. 121-146. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0101-73302001000300008>. Epub 25 Out 2001. ISSN 1678-4626.

BRASIL. Decreto nº 69.450, de 01 de novembro de 1971. Regulamenta o artigo 22 da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, e alínea c do artigo 40 da Lei nº 5.540, de 28 de novembro de 1968 e dá outras providências. Disponível em: https://www2. camara.leg.br/legin/fed/decret/1970-1979/decreto-69450-1-novembro-1971-418208-publicacaooriginal-1-pe.html . Acesso em: jan. 2023.

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional. Disponível em: https:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm#:~:text=L9394&text=Estabelece%20as%20diretrizes%20e%20bases%20 da%20educa%C3%A7%C3%A3o%20nacional.&text=Art.%20 1%C2%BA%20A%20educa%C3%A7%C3%A3o%20abrange,civil%20e%20nas%20manifesta%C3%A7%C3%B5es%20culturais. Acesso em: jan. 2023.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas,1987.

HOURDAKIS, Antoine. Aristóteles e a educação. Tradução de Luiz Paulo Rouanet. São Paulo: Edições Loyola, 2001.

PAGNI, Pedro Angelo. Iluminismo, Pedagogia e Educação da Infância em Kant. In: PAGNI, Pedro Angelo; SILVA, Divino José (orgs.). Introdução à Filosofia da Educação: temas contemporâneos e história. São Paulo:Avercamp, 2007.

RODRIGUES, Rogério. Educação Física no Ensino Superior: uma prática ressignificada como conteúdo acadêmico. Revista @rquivo Brasileiro de Educação, Belo Horizonte, v. 3, n. 5, p. 48-61, 18 mar. 2016. Disponível em: http://periodicos.pucminas.br/index.php/ arquivobrasileiroeducacao/article/view/P.2318-7344.2015v3n5p48 . Acesso em: jan. 2023.

SAMPAIO, Dulce Moreira. A pedagogia do ser: educação dos sentimentos e valores humanos. 4. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

SAVIANI, Demerval. História das Ideias Pedagógicas no Brasil. Campinas, SP: Autores Associados, 2007.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Filosofia. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2007.

VALDEMARIN, Vera Teresa. Pedagogia, Educação da Infância e o futuro do homem: Por que ler Rousseau hoje. In: PAGNI, Pedro Angelo; SILVA, Divino José da. (orgs). Introdução à Filosofia da Educação: temas contemporâneos e história. São Paulo:Avercamp, 2007.

CAPÍTULO 4

ENVELHECIMENTO SAUDÁVEL NO ESTADO DO AMAZONAS: UMA ABORDAGEM PEDAGÓGICA

Élvio Rúbio Gouveia1,2,3

Bruna Raquel Gouveia1,3,4,5

Adilson Marques6,7

Krzysztof Przednowek8

Jefferson Jurema9

Maria Antonieta Tinoco10

Andreas Ihle3,4,11,12

1 LARSYS, Interactive Technologies Institute, Portugal

2 Department of Physical Education and Sport, University of Madeira, Portugal

3 Center for the Interdisciplinary Study of Gerontology and Vulnerability, University of Geneva, 1205 Geneva, Switzerland

4 Regional Directorate of Health, Secretary of Health of the Autonomous Region of Madeira, 9004-515 Funchal, Portugal

5 Saint Joseph of Cluny Higher School of Nursing, 9050-535 Funchal, Portugal

6 CIPER, Faculty of Human Kinetics, University of Lisbon, 1495-751 Lisbon, Portugal

7 Environmental Health Institute (ISAMB), Faculty of Medicine, University of Lisbon, 1649-020 Lisbon, Portugal

8 Institute of Physical Culture Sciences, Medical College of Rzeszów University, Rzeszów University, Rzeszów, Poland

8 Department of Psychology, University of Geneva, 1205 Geneva, Switzerland

9 Higher School of Health Sciences, Amazonas State University, Manaus 69065-001, Brazil

10 Coordination of Physical Education and Sport, Federal Institute of Science and Technology Education of Amazonas

1 Swiss National Centre of Competence in Research LIVES – Overcoming vulnerability: Life course perspectives, 1015 Lausanne, Switzerland

12 Institute of Physical Culture Sciences, Medical College of Rzeszów University, Rzeszów University, Rzeszów, Poland

RESUMO

A atividade física desempenha um papel crucial na saúde mental e bem-estar das pessoas idosas, sendo uma abordagem eficaz na prevenção e tratamento da depressão, especialmente quando comparada a tratamentos farmacológicos limitados. Além disso, o envelhecimento saudável está ligado à função cognitiva, sendo a inatividade física um fator de declínio na capacidade funcional em idosos. A função cognitiva pode ser afetada pelo envelhecimento, com a memória, a fluência verbal e a função executiva podendo declinar. Fatores como atividade física, estilo de vida intelectualmente estimulante, nutrição, saúde mental e suporte social desempenham um papel crucial na função cognitiva de idosos.

A síndrome metabólica, um conjunto de fatores de risco cardiometabólicos inter-relacionados, é um problema de saúde pública, aumentando o risco de doenças cardiovasculares e diabetes. A prevalência varia entre países e regiões do mesmo País, influenciada por

fatores como obesidade, estilo de vida sedentário, sexo, predisposição genética e idade. A relação entre síndrome metabólica e esses fatores é complexa e ainda não está totalmente compreendida, destacando-se a importância de mais investigação.

A sarcopenia, a perda de massa muscular associada ao envelhecimento, torna os idosos mais vulneráveis a quedas, um problema comum entre eles. As quedas podem resultar em graves consequências, como fraturas e risco de morte. A relação entre sarcopenia e quedas varia com a idade, género e níveis de atividade física, sendo crucial entender essas relações para promover o envelhecimento saudável, especialmente em regiões com falta de informação, como o estado do Amazonas.

Neste texto destaca-se a importância da atividade física na saúde e bem-estar dos idosos, bem como a necessidade contínua de investigação e intervenção nas áreas da saúde mental, função cognitiva, síndrome metabólica, sarcopenia e prevenção de quedas. Um maior conhecimento do comportamento destas variáveis irá contribuir para a promoção de um envelhecimento saudável e consequentemente uma melhoria da qualidade de vida das pessoas idosas.

ABSCTRACT

Physical activity plays a crucial role in the mental health and well-being of the elderly, effectively preventing and treating depression, especially when compared to limited pharmacological treatments. Furthermore, healthy aging is linked to cognitive function, with physical inactivity being a factor in the decline in functional capacity in the elderly. Cognitive function can be affected by aging, with memory, verbal fluency, and executive function potentially declining. Factors such as physical activity, intellectually stimulating lifestyles, nutrition, mental health, and social support play a crucial role in the cognitive function of the elderly.

Metabolic syndrome, a cluster of interrelated cardiometabolic risk factors, is a public health issue, increasing the risk of cardiovascular diseases and diabetes. Prevalence varies among countries and regions within the same country, influenced by factors such as obesity, sedentary lifestyles, gender, genetic predisposition, and age. The relationship between metabolic syndrome and

these factors is complex and not yet fully understood, underscoring the importance of further research.

Sarcopenia, the age-related loss of muscle mass, makes the elderly more vulnerable to falls, a common issue among them. Falls can result in severe consequences, including fractures and mortality risk. The relationship between sarcopenia and falls varies with age, gender, and physical activity levels. It is crucial to understand these connections to promote healthy aging, especially in regions lacking information, such as the state of Amazonas.

This text emphasizes the importance of physical activity in the health and well-being of the elderly and the ongoing need for research and intervention in mental health, cognitive function, metabolic syndrome, sarcopenia, and fall prevention. Greater knowledge of the behaviors of these variables will promote healthy aging and, consequently, improve the quality of life of the elderly.

INTRODUÇÃO

No último século, principalmente nos países industrializados, têm-se verificado uma grande mudança nas atividades de vida diária das sociedades. Hoje, assiste-se a uma diminuição drástica da necessidade das pessoas se envolverem em atividades físicas exigentes e desafiantes. Os avanços tecnológicos têm contribuído em larga medida para esta diminuição significativa da atividade física diária e contribuído para um aumento da hipocinésia, cujas consequências são manifestas no aumento de condições diferenciadas de morbilidade e diminuição da qualidade de vida (Bouchard, Blair and Haskell, 2007). Neste sentido, numa perspetiva de saúde pública, muitas organizações de saúde de renome internacional tais como American Hearth Association, American Academy of Pediatrics, American Medical Association, the Centers for Disease Control and Prevention, the President’s Council on Physical Fitness and Sports, and U.S. Department of Health and Human Services, enfatizam a importância de uma participação regular em atividades físicas ao longo da vida para atingir uma boa saúde. Estas recomendações fundamenda-se numa evidência científica e empírica inquestionável de que os indivíduos mais ativos, quando comparados com aqueles que são fisicamente menos ativos, tendencialmente apresentam taxas mais baixas de doença cardíaca coronária, hiperten-

são, diabetes, cancro do cólon e mama, um nível superior de aptidão cardiorrespiratória/muscular, uma composição corporal mais saudável e melhor saúde óssea, níveis elevados de saúde funcional, baixo risco de queda e uma melhor função cognitiva (Warburton et al., 2007, Bauman et al., 2005; Paterson et al., 2007).

Existe, portanto, uma forte evidência para uma relação dose-resposta entre o nível de atividade física diária e todas estas doenças e/ou condições de saúde descritas anteriormente (ACSM, 2014). Neste contexto, é também importante sublinhar que a capacidade aeróbia (i.e., a aptidão cardiorrespiratória) tem uma relação inversa com o risco de morte prematura por qualquer causa, mas particularmente, com as doenças cardiovasculares. Assim, níveis elevados de aptidão cardiorrespiratória estão associados a níveis elevados de atividade física habitual, que por sua vez estão associados com muitos benefícios de saúde (Kodama et al., 2009). Recentemente, o American College of Sports Medicine e a American Hearth Association apresentaram recomendações específicas da atividade física para a saúde em adultos e adultos idosos, onde além da componente aeróbia recomendam também treino específico de flexibilidade, trabalho neuromotor e força muscular (ACSM, 2014).

A síndrome metabólica é definida por um conjunto de fatores de risco de origem metabólica, entre os quais fazem parte, a obesidade, a dislipidemia [triglicerídeos elevados e baixo colesterol lipoproteíco de alta densidade (HDL)], a hipertensão arterial e a resistência à insulina. Os indivíduos com síndrome metabólica têm um risco mais elevado de desenvolver doenças crónicas tais como a cardiovascular, diabetes mellitus tipo 2, acidente vascular cerebral, doença vascular periférica, doença do fígado e problemas renais (Jiang e Torok, 2008; Katzmarzk, 2007; Li et al. 2006; Laukkanen et al. 2004; Pereira e Pereira, 2011). Embora a etiologia da síndrome metabólica permaneça obscura, as características do estilo de vida, nomeadamente a atividade física, parece desempenhar um papel central no desenvolvimento da obesidade, um dos indicadores da síndrome metabólica com implicações na doença cardiovascular e na diabetes mellitus tipo 2. Muitos estudos em adultos e adultos idosos têm apresentado uma relação inversamente, entre níveis baixos de atividade física e de aptidão cardiorrespiratória com a síndrome metabólica (Rennie et al. 2003;

Franks et al. 2004; Ekelund et al. 2005). Portanto, a necessidade de informação mais sólida acerca da prevalência da síndrome metabólica e sua associação com níveis distintos de atividade física e aptidão física tornam-se extremamente pertinentes não só em termos educativos, mas também no domínio da saúde pública.

A atividade física e a aptidão cardiorrespiratória têm sido previamente associadas com a função cognitiva, particularmente em idosos. Vários estudos têm sugerido que a prática regular de exercício físico é uma intervenção não farmacológica promissora para prevenir o declínio cognitivo relacionado com a idade e as doenças neurodegenerativas (Bherer, Erickson and Liu-Ambrose, 2013). Com o objetivo de investigar as relações entre a aptidão cardiorrespiratória e a função cognitiva, Freudenberger et al., (2016) concluiram que um elevado consumo máximo de oxigénio (VO2max) estava associado a uma melhor função cognitiva global e com melhor desempenho nos domínios cognitivos de memória, função executiva e habilidades motoras em adultos e adultos idosos. Contudo, mais estudos são necessários para investigar o potencial de um estilo de vida mais ativo e de um nível de aptidão cardiorrespiratória mais elevado como uma opção terapêutica contra o declínio cognitivo em adultos e adultos idosos.

A qualidade de vida relacionada com a saúde é hoje considerado um importante preditor de mortalidade entre os adultos e os adultos idosos. O conceito de qualidade de vida é multidimensional e multicausal, ou seja, incorpora diferentes dimensões tais como a cognitiva e emocional, a aptidão e saúde, a social e a socioeconómica (Spirduso; Francis; MacRae, 2005). Vários estudos têm sugerido que níveis elevados de atividade física estão associados a níveis superiores de aptidão física (ACSM, 2014), a um perfil cardiometabólico mais favorável (ACSM, 2014), a níveis mais baixos de depressão (Hallgren et al., 2016) e a níveis mais elevados de qualidade de vida relacionada com a saúde (Wanderley et al., 2011).

Um conhecimento detalhado sobre os fatores que mais influenciam a qualidade de vida relacionada com a saúde podem permitir identificar grupos de risco e o desenho de intervenções ao nível da comunidade focadas na alteração de comportamentos de risco. A este respeito, muitos estudos têm identificado vários

fatores que contribuem para a qualidade de vida relacionada com a saúde em adultos e adultos idosos. As características demográficas (idade, sexo, estado civil), a composição corporal, a aptidão funcional (equilíbrio, força, resistência aeróbia), a mobilidade, as atividades instrumentais da vida diária, os estilos de vida (incluindo a atividade física, o comportamento sedentário, o perfil nutricional, o tabagismo, o consumo de álcool), a educação, a ansiedade e depressão, os medicamentos, o perfil da doença crônica, o apoio social, a satisfação com a vida, o status socioeconômico, as quedas e o estado cognitivo são os preditores mais comumente discutidos na qualidade de vida relacionada com a saúde (Wanderley et al., 2011; Giuli et al., 2014; Hawton et al., 2011; Thiem et al. 2014).

A atividade física e o exercício físico parecem contribuir para um estilo de vida mais saudável e independente, potenciador da capacidade funcional e qualidade de vida relacionada com a saúde em adultos e adultos idosos. Contudo, mais estudos ao nível da comunidade, e em diferentes contextos, são necessários para investigar as potencialidades de um estilo de vida mais ativo e de um nível de aptidão cardiorrespiratória mais saudável. Tal informação irá suportar o desenvolvimento de políticas de saúde, que incluam estratégias gerais para aumentar os níveis de atividade física e aptidão, visando a manutenção e/ou melhoria da saúde e qualidade de vida.

A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA NA SAÚDE MENTAL E BEM-ESTAR DE IDOSOS

A análise da relação entre a atividade física e a melhoria dos danos causados pela depressão é um tema em discussão, especialmente devido aos desafios enfrentados pelos idosos, que frequentemente apresentam comprometimentos cognitivos e problemas decorrentes de outras patologias. Em muitos casos, esses indivíduos recorrem a tratamentos farmacológicos, por vezes sem pleno entendimento dos efeitos da atividade física sobre a depressão. Entretanto, de acordo com um estudo de revisão realizado por Moraes, em 2007, os medicamentos apenas reduzem os sintomas em cerca de 50%. Portanto, para alcançar uma remissão mais abrangente, torna-se fundamental considerar outras abordagens terapêuticas além do uso de medicamentos. Entre esses métodos

alternativos, a atividade física destaca-se como um tratamento não medicamentoso capaz de desempenhar um papel significativo, tanto na prevenção quanto no tratamento de pessoas afetadas pela depressão.

Com base na gerocinesiologia (área do conhecimento que visa compreender como a atividade física se relaciona com a saúde e o bem-estar da população idosa no processo de envelhecimento), é cada vez mais evidente a consolidação da importância da atividade física e da aptidão funcional na população idosa (Jones & Rose, 2005). Atualmente, observa-se uma grande desmotivação e desinteresse das pessoas em participar em práticas relacionadas com a atividade física. Uma grande parte dessa falta de interesse em se exercitar está relacionada aos avanços tecnológicos, que contribuem significativamente para a diminuição da atividade física diária e resultam na deficiência das funções ou atividades motoras, refletindo no aumento das taxas de incidência de doenças e na diminuição da qualidade de vida (Bouchard, Blair & Haskell, 2007). A inatividade física tem sido considerada como um dos fatores preditivos mais fortes da incapacidade física em adultos idosos. Paterson e Stathokostas (2002) destacaram a inatividade física como um dos fatores-chave quando se trata do declínio da capacidade funcional.

De acordo com Lima (2015), durante essa fase da vida, um notável declínio na saúde dos idosos é a depressão, uma doença psiquiátrica recorrente e incapacitante, caracterizada pela perda de satisfação ou motivação nas atividades diárias e pelo humor deprimido. Os transtornos depressivos, isoladamente ou em combinação com outras circunstâncias, são os distúrbios mais prevalentes em idosos, que muitas vezes não respondem satisfatoriamente aos tratamentos medicamentosos, em comparação com pessoas mais jovens.

A relação entre os aspectos sociais, físicos e mentais, a independência financeira e a autonomia nas atividades diárias, bem como a sociabilização e a estrutura familiar, que de certa forma favorecem a saúde e a segurança, contribuirão para o desenvolvimento de um envelhecimento ativo e saudável (Queiroz, 2014). Assim, pode-se afirmar que o papel da atividade física na promoção da saúde mental dos idosos será fundamental.

A prática de atividade física para idosos tem sido considerada um fator de extrema importância na melhoria e manutenção do desempenho nas atividades diárias, contribuindo assim para uma melhor qualidade de vida (Rajeski; Craven; Ettinger; McFarlane; Shumaker, 1996). Estudos indicam que o exercício e a atividade física estão diretamente relacionados com a melhoria em vários aspectos da qualidade de vida relacionados à saúde. Segundo Domingues e Neri (2009), a atividade física torna-se um fator primordial na prevenção de doenças crônicas e no tratamento básico ou suplementar de alguns distúrbios de saúde em idosos, a fim de manter a saúde e as capacidades funcionais. Entre os vários benefícios, a prática de atividade física torna-se um elemento valioso para pessoas de todas as faixas etárias, especialmente para os idosos (Benedetti, 1999), mantendo a saúde em dia, proporcionando longevidade e minimizando os sintomas depressivos (Cheik et al., 2003).

DETERMINANTES DA FUNÇÃO COGNITIVA EM ADULTOS IDOSOS

Um envelhecimento saudável está diretamente associado ao grau de declínio de várias funções, incluindo as sensoriais, motoras e cognitivas. Estes declínios são principalmente influenciados por fatores genéticos e estilos de vida (Zhao; Tranovich; Wright, 2014; Zimerman, 2000). O declínio das funções cognitivas relacionadas à idade está frequentemente ligado à perda de independência, institucionalização e baixa qualidade de vida (St John, Montgomery et al., 2002).

A avaliação da função cognitiva geralmente envolve testes que avaliam diversos subdomínios, como memória verbal de curto e longo prazo, memória de trabalho, fluência verbal (ou seja, funcionamento executivo), raciocínio indutivo e memória prospectiva (ou seja, a capacidade de lembrar-se de realizar atividades programadas previamente) (Kliegel; Martin; Jäger, 2007).

Entre as perdas cognitivas associadas ao envelhecimento, a memória é indiscutivelmente a mais afetada e frequentemente relatada como uma queixa entre os adultos mais velhos (Barros de Oliveira, 2010). Especificamente, destacamos a memória de trabalho, que é essencial para a realização de operações aritméti-

cas, e a memória de longo prazo, que inclui a memória episódica relacionada a eventos específicos ligados a tempo e lugar (Barros de Oliveira, 2010; Kliegel et al., 2007).

Problemas de fluência verbal e função executiva, frequentemente associados a alterações no volume e funcionamento do córtex pré-frontal e neurotransmissores, como a dopamina, ou à diminuição da substância branca cerebral (Raz et al., 2005), estão relacionados ao declínio motor (Andrews-Hanna et al., 2007) e a baixos desempenhos em tarefas que envolvem memória imediata, memória de longo prazo e velocidade de processamento de informações (Gunning-Dixon; Raz, 2000).

Entre os fatores potencialmente modificáveis, o estilo de vida, a atividade física, a nutrição, a qualidade de vida relacionada à saúde, à depressão, o suporte social e o estatuto socioeconômico têm sido descritos como determinantes da função cognitiva, especialmente em idosos.

Um estilo de vida intelectualmente estimulante, com atividades complexas, leitura ou jogos, tem sido identificado como um preditor do desempenho cognitivo em adultos mais velhos (Wang et al., 2002). Além disso, vários estudos sugerem que a prática regular de atividade física é uma intervenção não farmacêutica promissora para prevenir o declínio cognitivo relacionado à idade e a doenças neurodegenerativas (Bherer, Erickson e Liu-Ambrose, 2013; Spirduso et al., 2005; Taylor e Johnson, 2008).

Acredita-se que a nutrição desempenha um papel significativo na progressão do declínio cognitivo entre adultos mais velhos, que são mais vulneráveis a deficiências nutricionais. Embora a relação entre o desempenho cognitivo e o estado nutricional seja complexa e não totalmente compreendida, acredita-se que a desnutrição possa contribuir para a perda cognitiva (Malara et al., 2014).

As limitações na função cognitiva têm um impacto direto na qualidade de vida relacionada à saúde, afetando o funcionamento físico, social e emocional (Ribeiro e Yassuda, 2007). A depressão, amplamente reconhecida por afetar a atenção, memória, concentração, motivação, capacidade de aprendizagem e tomada de decisão, está intimamente associada a défices cognitivos (Gallo et al., 2003; Poon, 1992). Por outro lado, o apoio social tem demonstrado ser um fator protetor importante da função cognitiva.

Portanto, o suporte social e emocional, juntamente com uma integração sólida na comunidade, contribuem para uma proteção mais eficaz da função cognitiva (Fratiglioni et al., 2000).

Além disso, melhores condições de vida, incluindo maior oferta de atividades, melhores cuidados médicos, recursos materiais favoráveis, acesso à literatura e sistemas educacionais ao longo da vida, estão associados a um melhor desempenho na função cognitiva (Balters e Smith, 2003).

Embora muitos estudos identifiquem os fatores que contribuem para o declínio da função cognitiva, uma compreensão mais profunda dessas correlações contribuirá para um melhor planeamento de estratégias de intervenção, ajudando a prevenir a perda de autonomia e independência física entre adultos mais velhos.

ATIVIDADE FÍSICA, SÍNDROME METABÓLICA E FATORES DE RISCO

A síndrome metabólica é um agrupamento de fatores de risco cardiometabólicos inter-relacionados, que ocorrem com mais frequência em conjunto do que individualmente (Alberti et al., 2009). As anormalidades metabólicas que caracterizam a síndrome metabólica incluem pressão arterial elevada, glicose elevada no sangue, excesso de gordura corporal na região da cintura e níveis anormais de colesterol ou triglicerídeos (Eckel et al., 2005).

A literatura atual afirma que a síndrome metabólica é um fator de vulnerabilidade (Ihle et al., 2018a; Ihle et al., 2018b; Ihle et al., 2017) e um grande problema de saúde pública, cuja prevalência está aumentando em todo o mundo (Mazloomzadeh et al., 2018; Márquez-Sandoval et al., 2011; Azimi-Nezhad et al., 2012; Salas et al., 2014). Indivíduos com síndrome metabólica têm 2,5 vezes mais probabilidade de morrer de doenças cardiovasculares em comparação com seus pares sem síndrome metabólica (I Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Síndrome Metabólica, 2005). Além disso, esses indivíduos têm uma probabilidade de cinco vezes mais desenvolver diabetes mellitus tipo 2 (IDF, 2006).

Na última década, vários estudos contribuíram para estimar a prevalência da síndrome metabólica e os seus fatores de risco. Esse mapeamento tem uma importância vital na identificação pre-

coce de riscos e aumenta a eficácia de intervenções específicas destinadas a prevenir o futuro deterioramento do estado de saúde. No Brasil, numa amostra representativa (Pesquisa Nacional de Saúde, em 2013) mostrou uma prevalência de síndrome metabólica de 7,5% em homens e 10,3% em mulheres (Elyssia et al., 2018). De Carvalho Vidigal (2013) numa revisão sistemática que incluiu adultos brasileiros saudáveis entre 19 e 64 anos, relatou uma prevalência de 29,6% para a síndrome metabólica. Nessa revisão, foram considerados 10 estudos; no entanto, nenhum deles recolheu informações da região amazônica. A prevalência relatada nessa revisão para o contexto brasileiro foi maior do que a média da população adulta mundial, estimada entre 20 e 25% (IDF, 2006). No entanto, a maior prevalência foi observada em Portugal (47,2%, semelhante em mulheres e homens; (Santos et al., 2019), na Indonésia (28% em homens e 46% em mulheres) e na Holanda (36% em homens e 24% em mulheres; (Sigit et al., 2020). A pertinência de estudar a síndrome metabólica no Amazonas assenta na ausência de informação, mas também pelo fato do Amazonas ser caracterizado por desigualdades socioeconômicas e de saúde, o que coloca sérios desafios ao sistema público de saúde (Garnelo et al., 2017).

Entre os fatores explicativos modificáveis para esse fenómeno, destaca-se o aumento da obesidade e a adoção de estilos de vida sedentários nas décadas passadas (Elyssia et al., 2018, López-Martínez et al., 2013, Pérez-Martínez et al., 2017). Outros fatores também desempenharam um papel no desenvolvimento da síndrome metabólica, como variáveis individuais (ou seja, sexo), predisposição genética (Abou Ziki et al., 2016), tabagismo e padrões alimentares não saudáveis (Pérez-Martínez et al., 2017), envelhecimento (de Carvalho Vidigal et al., 2013), e envolvimento contextual (Elyssia et al., 2018). No entanto, essas relações ainda não são totalmente compreendidas na literatura. Por exemplo, em relação às diferenças relacionadas ao sexo, alguns estudos não encontraram diferenças entre homens e mulheres (Salaroli et al., 2007; Marquezine et al., 2008; Gronner et al., 2011; Dutra et al., 2012). Outros relataram uma maior prevalência de síndrome metabólica entre os homens em comparação com as mulheres (Sigit et al., 2020, Vaughan et al., 2009), e outros encontraram uma maior prevalência em mulheres em comparação com os homens (Pimenta et al., 2011; de Oliveira et al., 2011; da Rocha et al.,

2011). Esses resultados contraditórios podem abrir novas perspetivas de investigação na procura de possíveis explicações que vão além das diferenças associadas aos níveis hormonais comumente aceites (Pucci et al., 2017).

Existe um consenso na literatura de que a idade avançada, menor nível de educação, uma baixa atividade física e um índice de massa corporal mais elevado aumentam a probabilidade de ocorrer síndrome metabólica (Pucci et al., 2017). Primeiro, o aumento relacionado à idade na prevalência da síndrome metabólica é significativamente influenciado pela grande prevalência de fatores de risco metabólico desenvolvidos em idades mais avançadas, em particular, acima de 65 anos (Kuk & Ardern, 2010). Segundo, as pessoas mais desfavorecidas, com menor nível de educação, desempregadas e com menor renda, têm maior vulnerabilidade para desenvolver síndrome metabólica (Blanquet et al., 2019). Terceiro, a prática regular de atividade física tem sido considerada uma importante intervenção no estilo de vida para prevenir a síndrome metabólica. Alguns estudos demonstraram que a atividade física regular reduz os fatores de risco relacionados à síndrome metabólica e a doenças vasculares associadas (Yang et al., 2008). No entanto, as relações entre atividade física e síndrome metabólica parecem depender de fatores relacionados ao tipo e à intensidade da atividade física, bem como de variáveis individuais e envolvimento contextual. Por fim, o agrupamento de múltiplos componentes de risco dentro da síndrome metabólica é amplamente aceite como resultado da obesidade, especificamente a obesidade abdominal (Wang et al., 2020). As informações sobre a prevalência da síndrome metabólica e sua relação com preditores independentes, como demografia, estilo de vida e medidas clínicas, precisam de mais esclarecimento.

SARCOPENIA E ATIVIDADE FÍSICA

A sarcopenia é a perda de massa muscular e força que ocorre com o envelhecimento (Rosenberg, 1989). O Grupo de Trabalho Europeu sobre Sarcopenia em Idosos (EWGSOP2) definiu este conceito como uma perturbação progressiva e generalizada dos músculos esqueléticos, que envolve a perda de massa muscular e função, estando associada a vários resultados adversos, incluindo quedas, declínio funcional, fragilidade e mortalidade (Cruz-Jentoft

et al., 2019). A sarcopenia é considerada um problema de saúde pública, afetando a maioria dos idosos e tornando-os mais vulneráveis a quedas (Pelegrini et al., 2018).

A quedas são um problema comum e muitas vezes grave entre os idosos (Zhang et al., 2019), aumentando significativamente as comorbidades e a utilização de serviços de saúde. No Brasil, a prevalência de quedas varia entre 10,7% e 59,3% em idosos (Leitão et al., 2018), e as quedas têm sido associadas a fraturas e ao risco de morte (Pimentel et al., 2018).

Além disso, o medo de cair é outro problema associado (Santos & Figueiredo, 2019), uma vez que aumenta as limitações na realização de atividades básicas (ou seja, tarefas do dia a dia), o declínio da saúde e o risco de internamento (Sousa et al., 2016).

A relação entre sarcopenia e quedas na literatura é ainda controversa. Por exemplo, uma revisão sistemática recente e uma meta-análise mostraram que a sarcopenia foi identificada como um fator de risco para quedas em idosos que vivem na comunidade, mas não em lares de idosos (Zhang et al., 2019). No entanto, outros estudos têm demonstrado uma relação entre a sarcopenia e o risco de quedas, com níveis mais elevados de sarcopenia associados a um maior número de quedas (Landi et al., 2012; Lera et al., 2017; Matsumoto et al., 2017; Menant et al., 2016; Tanimoto et al., 2014). Ainda assim, existem estudos que não encontraram uma relação significativa entre os níveis de sarcopenia e o número de quedas na população idosa (Clynes et al., 2015; Dietzel et al., 2015; Schaap et al., 2018).

A inconsistência encontrada na literatura sobre a relação entre sarcopenia e quedas sugere que esta relação pode depender de outros fatores, como a idade, o género e o nível de atividade física/comportamento. De acordo com as orientações atuais, embora a sarcopenia e as quedas sejam processos multifatoriais, a diminuição do nível de atividade física é considerada um dos mecanismos subjacentes da sarcopenia, agravando o risco de quedas (American College of Sports Medicine [ACSM] 2018; Freiberger et al., 2011; Montero-Fernández & Serra Rexach, 2013). Recentemente, um estudo realizado no Amazonas relatou que homens e mulheres idosos apresentavam um desempenho fraco na força do corpo inferior e baixa resistência aeróbica em comparação com

outras populações (Lima et al., 2021). Clinicamente, esses parâmetros de aptidão funcional são indicadores viáveis de risco para quedas e futuras incapacidades (Lenardt et al., 2019; Sousa et al., 2016). Portanto, um melhor entendimento destas relações nesta população particular (ou seja, mais vulnerável) apoiará políticas de saúde pública que promovam um envelhecimento saudável. A falta de estudos no estado do Amazonas e os resultados contraditórios encontrados na literatura sobre a associação entre sarcopenia e o risco de quedas destacam a importância de contribuir com mais conhecimento sobre o tema.

A PROBLEMÁTICA DAS QUEDAS EM PESSOAS IDOSAS

Compreendendo as implicações do envelhecimento, torna-se claro que este processo desencadeia uma série de alterações morfológicas, funcionais e bioquímicas no organismo, tornando-o progressivamente mais vulnerável e exigindo uma atenção crescente em termos de cuidados de saúde (Abdala et al., 2017). Entre as preocupações mais prementes, destacam-se uma série de situações que aumentam o risco de desequilíbrio e quedas.

As quedas e as suas consequências estão atualmente no centro de debates entre gerontologistas e profissionais de exercício físico, uma vez que têm efeitos devastadores para muitos idosos (Kenny et al., 2017). Globalmente, cerca de um terço dos adultos com 65 anos ou mais que vivem na comunidade sofrem quedas todos os anos, o que representa um grande desafio para a saúde pública em vários países (Horne et al., 2014). As quedas frequentemente resultam em perda funcional, levam ao ingresso prematuro em instituições de longa permanência para idosos e contribuem para o aumento da morbidade e mortalidade (Antes et al., 2015). No Brasil, a prevalência de quedas em idosos, conforme relatado por da Silva et al. (2020), é de 32,1%. Além disso, os resultados das lesões pós-queda representam a sexta causa de morte em idosos com 65 anos ou mais.

Segundo a definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma queda é caracterizada como o deslocamento não intencional do corpo para um nível inferior à posição inicial, com incapacidade de correção em tempo hábil, sendo determinada por múltiplos

fatores e comprometendo a estabilidade (Vieira et al., 2018). Este conceito é usualmente definido como qualquer evento que leva a um movimento não planeado e inesperado em direção ao solo ou a um nível inferior (Taheri-Kharameh et al., 2019), ou ainda como um evento de queda que ocorre quando alguém se levanta, se senta, se deita ou caminha, independentemente das suas causas subjacentes, seja em um mesmo nível ou em níveis inferiores (Tsai et al., 2020).

As quedas podem ocorrer em qualquer faixa etária, mas revelam-se mais complexas e problemáticas na população idosa (Belona, 2021). Elas podem resultar em graves consequências sociais e de saúde, incluindo hospitalização, incapacidade permanente, mudança de residência, perda de independência, isolamento e depressão (Waterman et al., 2016). As quedas são a causa mais comum de lesões não intencionais em idosos (Kenny et al., 2017), tendo impactos negativos tanto na qualidade de vida quanto na independência funcional, e estão associadas ao aumento da morbidade, mortalidade e custos de saúde (Montero-Odasso et al., 2021). Além disso, contribuem substancialmente para a carga global de doenças (Bjerk et al., 2019) e estão entre os principais fatores de risco para a população idosa (Abreu et al., 2018). É importante ressaltar que as quedas têm uma natureza multifatorial, ou seja, a sua frequência e gravidade dependem de vários fatores intrínsecos e extrínsecos à pessoa idosa (Falsarella et al., 2014). Por essas razões, representam um grave e crescente problema de saúde pública em vários países. As implicações econômicas das quedas também são significativas, indo desde a hospitalização até a institucionalização, resultando em custos crescentes para os serviços de saúde e para as famílias (Antes et al., 2015).

Até o momento, as informações sobre a prevalência de quedas em pessoas idosas no estado do Amazonas são escassas, uma vez que os estudos que abordam esse tema são dispersos e apresentam amostras desequilibradas. Além disso, há uma falta de conhecimento sobre as características das quedas, como o local em que ocorrem, as razões por trás delas e as atividades associadas. Essa informação é de extrema importância para a implementação de programas educacionais destinados à prevenção de quedas na comunidade.

CONCLUSÃO

A relação entre a atividade física, a saúde mental e o bem-estar em pessoas idosas é um tópico de crescente importância, dada a crescente população idosa e os desafios de saúde que enfrentam. A depressão é uma preocupação significativa entre os idosos, muitos dos quais recorrem a tratamentos farmacológicos, que frequentemente têm resultados limitados. Os estudos mais recentes têm demonstrado que a atividade física desempenha um papel fundamental na prevenção e tratamento da depressão em idosos, proporcionando uma abordagem não medicamentosa eficaz.

Além disso, a função cognitiva em adultos idosos é um aspecto crítico do envelhecimento saudável. Fatores como a atividade física, estilo de vida intelectualmente estimulante e nutrição desempenham um papel importante na preservação da função cognitiva. O apoio social e o acesso a melhores condições de vida também contribuem para a saúde cognitiva dos idosos.

A síndrome metabólica é uma preocupação crescente à medida que a população envelhece, e a atividade física tem um papel significativo na prevenção e tratamento destas condições. O envelhecimento também está associado à sarcopenia, o que pode aumentar o risco de quedas em idosos. A prevenção de quedas é essencial, uma vez que as quedas representam uma das principais causas de morbilidade e mortalidade entre os idosos. A atividade física desempenha um papel fundamental na prevenção da sarcopenia e na redução do risco de quedas.

Em resumo, a atividade física é uma intervenção não farmacológica valiosa para promover a saúde mental, a função cognitiva, a saúde metabólica e a prevenção de quedas em idosos. Compreender estas ligações é essencial para promover um envelhecimento ativo e saudável, além de apoiar políticas de saúde pública direcionadas à população idosa. É necessário mais investigação e ações educacionais para abordar estas questões de forma eficaz e melhorar a qualidade de vida das pessoas idosas.

REFERÊNCIAS

ABDALA, R. P.; BARBIERI JUNIOR, W.; BUENO JUNIOR, C. R.; GOMES, M. M. J. R. B. d. M. d. E. Gait pattern, prevalence of falls and fear of falling in active and sedentary elderly women. Revista Brasileira de Medicina do Esporte.

Abou Ziki, M. D., & Mani, A. (2016). Metabolic syndrome: Genetic insights into disease pathogenesis. Current Opinion in Lipidology, 27, 162–171.

Abreu, D. R. d. O. M., Novaes, E. S., Oliveira, R. R. d., Mathias, T. A. d. F., Marcon, S. S., & Coletiva, S. (2018). Fall-related admission and mortality in older adults in Brazil: trend analysis, 23, 11311141.Alberti, K.G.; Eckel, R.H.; Grundy, S.M.; Zimmet, P.Z.; Cleeman, J.I.; Donato, K.A.; Fruchart, J.C.; James, W.P.; Loria, C.M.; Smith, S.C., Jr. (2009). Harmonizing the metabolic syndrome: A joint interim statement of the International Diabetes Federation Task Force on Epidemiology and Prevention; National Heart, Lung, and Blood Institute; American Heart Association; World Heart Federation; International Atherosclerosis Society; and International Association for the Study of Obesity. Circulation, 120, 1640–1645.

American College of Sports Medicine. (2014). ACSM’s guidelines for exercise testing and prescription. Ninth Edition. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins.

American College of Sports Medicine. (2018). ACSM’s Guidelines for Exercise Testing and Prescription (10th ed.).

Andrews-Hanna, J., Sbyder, A., Vincent, J., Lusting, C., Head, D., Raichle, M., & Bunckner, R. (2007). Disruption of large-scale brain systems in advanced aging. Neuron, 56(5), 924-935.

Antes, D. L., Schneider, I. J. C., & d’Orsi, E. J. R. B. d. G. e. G. (2015). Mortality caused by accidental falls among the elderly: a time series analysis, 18, 769-778.

Azimi-Nezhad, M.; Herbeth, B.; Siest, G.; Dadé, S.; Ndiaye, N.C.; Esmaily, H.; Hosseini, S.J.; Ghayour-Mobarhan, M.; Visvikis-Siest, S. (2012). High prevalence of metabolic syndrome in Iran in comparison with France: What are the components that explain this? Metab. Syndr. Relat. Disord., 10, 181–188.

Balters, P., & Smith, J. (2003). New frontiers in the future of aging: From successful aging of the young old to the dilemmas of the age. Gerontology, 49(2), 123-135.

Barros de Oliveira, J. (2010). Psicologia do envelhecimento e do idoso. 4. ed. Edição Revista. Porto: Livpsic.

Batista, J. P. da S., Reis, L. A. R., Ribeiro, Í. A. P., & Mendes, C. M. M. (2020). O uso de medicamentos por idosos e a frequência de quedas / The use of medicines by elderly people and the frequency of falls. Brazilian Journal of Development, 6(5), 24773-25067. https://doi.org/10.34117/bjdv6n5-091.

Bauman, A., Lewicka, M., & Schöppe, S. (2005). The Health Benefits of Physical Activity in Developing Countries. Geneva, World Health Organization.

Belona, J. A. d. M. (2021). Intervenção psicomotora na diminuição dos riscos de quedas em idosos institucionalizados: uma abordagem psicocorporal. Universidade de Évora.

Benedetti, T. R. B. (1999). Resumo de dissertação: Idosos Asilados e a Prática de Atividade Física. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano, 1(1), 108.

Bherer, L., Erickson, K. I., & Liu-Ambrose, T. (2013). A review of the effects of physical activity and exercise on cognitive and functions in older adults. Journal of Aging Research.

Bjerk, M., Brovold, T., Skelton, D. A., Liu-Ambrose, T., Bergland, A. J. A., & aging. (2019). Effects of a falls prevention exercise program on health-related quality of life in older home care recipients: a randomized controlled trial, 48(2), 213-219.

Blanquet, M.; Legrand, A.; Péllissier, A.; Mourgues, C. (2019). Socio-economic status and metabolic syndrome: A meta-analysis. Diabetes Metab. Syndr., 13, 1805–1812.

Bouchard, C., Blair, S.N., & Haskell, W.L. (2007). Physical Activity and Health. Champaign. Human Kinetics.

Cheik, N. C., Reis, I. T., Heredia, R. A. G., Ventura, M. L., Tufik, S., Antunes, H. K. M., & Melo, M. T. (2003). Efeitos do exercício físico e da atividade física na depressão e ansiedade em indivíduos idosos. Revista Brasileira de Ciências do Movimento, 11(3), 45-52.

Clynes, M. A., Edwards, M. H., Buehring, B., Dennison, E. M., Binkley, N., & Cooper, C. (2015). Definitions of Sarcopenia: Asso-

ciations with Previous Falls and Fracture in a Population Sample. Calcified Tissue International, 97(5), 445-452.

Cruz-Jentoft, A. J., Bahat, G., Bauer, J., Boirie, Y., Bruyere, O., Cederholm, T., ... Zamboni, M. (2019). Sarcopenia: revised European consensus on definition and diagnosis. Age Ageing, 48, 1631. [DOI: 10.1093/ageing/afy169] da Rocha, A.K.S.; Bós, A.J.G.; Huttner, E.; Machado, D.C. (2011). Prevalence of metabolic syndrome in indigenous people over 40 years of age in Rio Grande do Sul, Brazil. Rev. Panam. Salud Publica, 29, 41–45.

de Carvalho Vidigal, F.; Bressan, J.; Babio, N.; Salas-Salvadó, J. (2013). Prevalence of metabolic syndrome in Brazilian adults: A systematic review. BMC Public Health, 13, 1198.

de Oliveira, G.F.; de Oliveira, T.R.; Rodrigues, F.F.; Corrêa, L.F.; de Arruda, T.B.; Casulari, L.A. (2011). Prevalence of metabolic syndrome in the indigenous population, aged 19 to 69 years, from Jaguapiru Village, Dourados (MS). Braz. Ethn. Dis., 21, 301–306.

Dietzel, R., Felsenberg, D., & Armbrecht, G. (2015). Mechanography performance tests and their association with sarcopenia, falls, and impairment in the activities of daily living – a pilot cross-sectional study in 293 older adults. J Musculoskelet Neuronal Interact, 15, 249-256.

Domingues, P. C., & Neri, A. L. (2009). Atividade Física habitual, sintomas depressivos e doenças auto relatadas em idosos da comunidade. Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde, 14(3), 164-173.

Dutra, E.S.; de Carvalho, K.M.B.; Miyazaki, E.; Merchán-Hamann, E.; Ito, M.K. (2012). Metabolic syndrome in central Brazil: Prevalence and correlates in the adult population. Diabetol. Metab. Syndr., 4, 1–9.

Eckel, R.H.; Grundy, S.M.; Zimmet, P.Z. (2005). The metabolic syndrome. Lancet, 365, 1415–1428.

Ekelund, U., Brage, S., Franks, P., Hennings, S., Emms, S., Wareham, N. (2005). Physical Activity Energy Expenditure Predicts Progression Toward The Metabolic Syndrome Independently Of Aerobic Fitness In Middle-Aged Healthy Caucasians. Diabetes Care, 28(5), 1195-1200.

Falsarella, G. R., Gasparotto, L. P. R., & Coimbra, A. M. V. J. R. B. d. G. e. G. (2014). Quedas: conceitos, frequências e aplicações à assistência ao idoso. Revisão da literatura. 17, 897-910.

Franks, P., Ekelund, U., Brage, S., Wong, M., Wareham, N. (2004). Does the association of habitual physical activity with the metabolic syndrome differ by the level of cardiorespiratory fitness? Diabetes Care, 27, 1187–1193.

Fratiglioni, L., Wang, H. X., Ericsson, K., Maytan, M., & Winblad, B. (2000). Influence of social network on occurrence of dementia: a community-based longitudinal study. Lancet, 355, 1315-1319.

Freiberger, E., Sieber, C., & Pfeifer, K. (2011). Physical activity, exercise, and sarcopenia - future challenges. Wien Med Wochenschr, 161(17-18), 416-425. [DOI: 10.1007/s10354-011-0001-z]

Garnelo, L.; Sousa, A.B.L.; Silva, C.D.O.D. (2017). Regionalização em Saúde no Amazonas: Avanços e desafios. Cien. Saude Colet., 22, 1225–1234.

Giuli C, Papa R, Bevilacqua R, Felici E, Gagliardi C, Marcellini F, Boscaro M, Robertis M, Mocchegiani E, Faloia E, Tirabassi G. (2014). Correlates of perceived health-related quality of life in obese, overweight, and normal weight older adults: an observational study. BMC Public Health, 14, 35.

Gronner, M.F.; Bosi, P.L.; Carvalho, A.M.; Casale, G.; Contrera, D.; Pereira, M.A.; Diogo, T.M.; Torquato, M.T.C.G.; Souza, G.M.D.; Oishi, J.; et al. (2011). Prevalence of metabolic syndrome and its association with educational inequalities among Brazilian adults: A population-based study. Braz. J. Med. Biol. Res., 44, 713–719.

Gunning-Dixon, F., & Raz, N. (2000). The cognitive correlates of white matter abnormalities in normal aging: a quantitative review. Neuropsychology, 14(2), 224-232.

Hallgren M, Nakitanda OA, Ekblom Ö, Herring MP, Owen N, Dunstan D, Helgadottir B, Forsell Y. (2016). Habitual physical activity levels predict treatment outcomes in depressed adults: A prospective cohort study. Prev Med, 88, 53-58. doi: 10.1016/j.ypmed.2016.03.021.

Hawton A, Green C, Dickens AP, Richards SH, Taylor, RS, Edwards, R, Greaves CJ, Campbell JL. (2011). The impact of social isolation on the health status and health-related quality of life of older people. Qual Life Res, 1, 57-67.

Horne, M., Skelton, D. A., Speed, S., & Todd, C. (2014). Falls Prevention and the Value of Exercise: Salient Beliefs Among South

Asian and White British Older Adults. Clinical Nursing Research, 23(1), 94-110. doi: 10.1177/1054773813488938.

Ihle, A.; Gouveia, É.R.; Gouveia, B.R.; Freitas, D.L.; Jurema, J.; Machado, F.T.; Kliegel, M. (2018a). The Relation of Hypertension to Performance in Immediate and Delayed Cued Recall and Working Memory in Old Age: The Role of Cognitive Reserve. J. Aging Health, 30, 1171–1187.

Ihle, A.; Gouveia, É.R.; Gouveia, B.R.; Freitas, D.L.; Jurema, J.; Tinôco, M.A.; Kliegel, M. (2017). High-Density Lipoprotein Cholesterol Level Relates to Working Memory, Immediate and Delayed Cued Recall in Brazilian Older Adults: The Role of Cognitive Reserve. Dement. Geriatr. Cogn. Disord., 44, 84–91.

Ihle, A.; Oris, M.; Fagot, D.; Chicherio, C.; van der Linden, B. W.A.; Sauter, J.; Kliegel, M. (2018b). Associations of educational attainment and cognitive level of job with old age verbal ability and processing speed: The mediating role of chronic diseases. Appl. Neuropsychol. Adult, 25, 356–362.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2018). Projeções da população.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. (2020). Projeções da população.

International Diabetes Federation (IDF). (2006). The IDF Consensus Worldwide Definition of the Metabolic Syndrome. IDF: Brussels, Belgium.

Jiang J, Torok N (2008). Nonalcoholic Steatohepatitis and the Metabolic Syndrome. Metabolic Syndrome and Related Disorders, 6, 1-7.

John St., P. D., Montgomery P. R., Kristjansson, B., & McDowell, I. (2002). Cognitive scores, even within the normal range, predict death and institutionalization. Age Ageing, 31(5), 373-378.

Jones, C. J., & Rose, D. (2005). Physical Activity Instruction of Older Adults. Champaign, IL: Human Kinetics.

Katzmarzyk PT (2007). The metabolic syndrome: an introduction. Appl Physiol Nutr Metab, 32, 1-3.

Kenny, R. A., Romero-Ortuno, R., & Kumar, P. J. M. (2017). Falls in older adults, 45(1), 28-33.

Kliegel, M., Martin, M., Jäger, T. (2007). Development and validation of the Cognitive Telephone Screening Instrument (COGTEL) for the assessment of cognitive function across adulthood. J. Psychol; 141:147-170.

Kodama S, Saito K, Tanaka S, Maki M, Yachi Y, Asumi M, Sugawara A, Totsuka K, Shimano H, Ohashi Y, Yamada N, Sone H. (2009). Cardiorespiratory fitness as a quantitative predictor of all-cause mortality and cardiovascular events in healthy men and women: a meta-analysis. JAMA, 301(19), 2024-2035.

Kuk, J.L.; Ardern, C. (2010). Age and sex differences in the clustering of metabolic syndrome factors: Association with mortality risk. Diabetes Care, 33, 2457–2461.

Landi, F., Onder, G., Russo, A., Liperoti, R., Tosato, M., Martone, A. M., Capoluongo, E., & Bernabei, R. (2014). Calf circumference, frailty, and physical performance among older adults living in the community. Clin Nutr, 33(3), 539-544. [DOI: 10.1016/j. clnu.2013.07.013]

Laukkanen JA, Laaksonen DE, Niskanen L, Pukkala E, Hakkarainen A, Salonen JT (2004). Metabolic syndrome and the risk of prostate cancer in Finnish men: a population-based study. Cancer Epidemiol Biomarkers Prev, 13, 1646-1650.

Leitão, S. M., Oliveira, S. C. d., Rolim, L. R., Carvalho, R. P. d., Filho, J. M. C., & Junior, A. A. P. (2018). Epidemiologia das quedas entre idosos no Brasil: uma revisão integrativa de literatura. Geriatrics, Gerontology and Aging, 12(3), 172-179. [DOI: 10.5327/ z2447-211520181800030]

Lenardt, M. H., Falcão, A. S., Hammerschmidt, K. S. A., Barbiero, M. M. A., Leta, P. R. G., & Sousa, R. L. (2021). Sintomas depressivos e fragilidade física em pessoas idosas: revisão integrativa. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia , 24(3), e210013.

Lera, L., Albala, C., Sanchez, H., Angel, B., Hormazabal, M. J., Marquez, C., & Arroyo, P. (2017). Prevalence of Sarcopenia in Community-Dwelling Chilean Elders According to an Adapted Version of the European Working Group on Sarcopenia in Older People (EWGSOP) Criteria. J Frailty Aging, 6(1), 12-17. [DOI: 10.14283/jfa.2016.117]

Li C, Ford ES (2006). Definition of the metabolic syndrome: what’s new and what predicts risk? Metabolic Syndrome and Related Disorders, 4, 237-251.

Lima, A., Marques, A., Peralta, M., Henriques-Neto, D., Bordado, J., Faber, M., Silva, R., & Rúbio, Élvio. (2020). Functional fitness in older people: A population-based cross-sectional study in Borba, Amazonas, Brazil. Nuevas Tendencias en Educación Física, Deportes y Recreación, (39), 731-736. https://doi.org/10.47197/ retos.v0i39.78549.

Lima, E. P., Assunção, A. A., & Barreto, S. M. (2015). Prevalência de depressão em bombeiros. Cadernos de Saúde Pública, 31(4), 733-743.

López-Martínez, S.; Sánchez-López, M.; Solera-Martinez, M.; Arias-Palencia, N.; Fuentes-Chacón, R.M.; Martínez-Vizcaíno, V. (2013). Physical activity, fitness, and metabolic syndrome in young adults. Int. J. Sport Nutr. Exerc. Metab., 23, 312–321.

Malara, A., Sgrò, G., Caruso, C., Ceravolo, F., Curinga, G., Renda, G. F., Spadea, F., Garo, M., Rispoli, V. (2014). Relationship between cognitive impairment and nutritional assessment on functional status in Calabrian long-term care. Clin Interv Aging; 9:105-10. doi: 10.2147/CIA.S54611.

Márquez-Sandoval, F.; Macedo-Ojeda, G.; Viramontes-Hörner, D.; Fernández Ballart, J.D.; Salas Salvadó, J.; Vizmanos, B. (2011). The prevalence of metabolic syndrome in Latin America: A systematic review. Public Health Nutr., 14, 1702–1713.

Marquezine, G.F.; Oliveira, C.M.; Pereira, A.C.; Krieger, J.E.; Mill, J.G. (2008). Metabolic syndrome determinants in an urban population from Brazil: Social class and gender-specific interaction. Int. J. Cardiol., 129, 259–265.

Martone, A. M., Marzetti, E., Salini, S., Zazzara, M. B., Santoro, L., Tosato, M., ... Landi, F. (2020). Sarcopenia Identified According to the EWGSOP2 Definition in Community-Living People: Prevalence and Clinical Features. J Am Med Dir Assoc. Matsumoto, H., Tanimura, C., Tanishima, S., Osaki, M., Noma, H., & Hagino, H. (2017). Sarcopenia is a risk factor for falling in independently living Japanese older adults: A 2-year prospective cohort study of the GAINA study. Geriatr Gerontol Int, 17(11), 2124-2130.

Mazloomzadeh, S.; Rashidi Khazaghi, Z.; Mousavinasab, N. (2018). The Prevalence of Metabolic Syndrome in Iran: A Systematic Review and Meta-analysis. Iran J. Public Health, 47, 473–480.

Menant, J. C., Weber, F., Lo, J., Sturnieks, D. L., Close, J. C., Sachdev, P. S., Brodaty, H., & Lord, S. R. (2016). Strength measures are better than muscle mass measures in predicting health-related outcomes in older people: time to abandon the term sarcopenia? Osteoporos Int, 28(1), 59-70.

Montero-Fernández, N., & Serra Rexach, J. (2013). Role of exercise on sarcopenia in the elderly. Eur J Phys Rehabil Med, 49(1), 131-143.

Montero-Odasso, M., Van Der Velde, N., Alexander, N. B., Becker, C., Blain, H., Camicioli, R., . . . aging. (2021). New horizons in falls prevention and management for older adults: a global initiative, 50(5), 1499-1507.

Moraes, H. (2007). O exercício físico no tratamento da depressão em idosos: revisão sistemática. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, 29(1), 70-79.

Paterson, D. H., & Stathokostas, L. (2002). Physical Activity, Fitness, and Gender in Relation to Mortality, Survival, Quality of Life, and Independence in Older Age. In R. J. Shephard (Ed.), Gender, Physical Activity, And Aging (pp. 99-120). United States of America: CRC Press.

Paterson, D.H., Jones, G.R., & Rice, C.L. (2007). Ageing and physical activity: evidence to develop exercise recommendations for older adults. Applied Physiology, Nutrition and Metabolism, 32, S69–S108.

Pelegrini, A., Mazo, G. Z., Pinto, A. d. A., Benedetti, T. R. B., Silva, D. A. S., & Petroski, E. L. (2018). Sarcopenia: prevalence and associated factors among elderly from a Brazilian capital. Fisioterapia em Movimento, 31(0).

Pereira, S., and Pereira, D. (2011). Síndrome metabólico e atividade física. Acta Médica Portuguesa, 24, 785-790.

Pérez-Martínez, P.; Mikhailidis, D.P.; Athyros, V.G.; Bullo, M.; Couture, P.; Covas, M.I.; Koning, L.; Delgado-Lista, J.; Díaz-López, A.; Drevon, C.A.; et al. (2017). Lifestyle recommendations for the prevention and management of metabolic syndrome: An international panel recommendation. Nutr. Rev., 75, 307–326.

Pimenta, A.M.; Gazzinelli, A.; Velásquez-Meléndez, G. (2011). Prevalência da síndrome metabólica e seus fatores associados em área rural de Minas Gerais (MG, Brasil). Cien. Saude Colet., 16, 3297–3306.

Pimentel, W. R. T., Pagotto, V., Stopa, S. R., Hoffmann, M., Andrade, F. B., Souza Junior, P. R, ... Menezes, R. L. (2018). Falls among Brazilian older adults living in urban areas: ELSI-Brazil. Rev Saude Publica, 52 Suppl 2(Suppl 2), 12s.

Poon, H., Calabrese, V., Scapagnini, G., & Butterfield, D. (2004). Free radicals: key to brain aging and heme oxygenase as a cellular response to oxidative stress. The Journals of Gerontology, 59(5), 478-493.

Poon, L. W. (1992). Toward an understanding of cognitive functioning in geriatric depression. IPA Research Awards in Psychogeriatrics, 4, 241-266. doi: 10.1017/S1041610292001297.

Pucci, G.; Alcidi, R.; Tap, L.; Battista, F.; Mattace-Raso, F. (2017). Sex- and gender-related prevalence, cardiovascular risk and therapeutic approach in metabolic syndrome: A review of the literature. Pharmacol. Res., 120, 34–42.

Queiroz, B. M., Coqueiro, R. S., Leal, J. S. Neto, Borgatto, A. F., Barbosa, A. R., & Fernandes, M. H. (2014). Inatividade Física em idosos não institucionalizados: estudo de base populacional. Ciência & Saúde Coletiva, 19(8), 3489-3496.

Rajeski, W. J., Craven, T., Ettinger, W. H. Jr., McFarlane, M., & Shumaker, S. (1996). Self-efficacy and pain in disability with osteoarthritis of the knee. The Journals of Gerontology. Series B, Psychological Sciences and Social Sciences, 51(1), 24-29.

Ramires Elyssia, M.; Menezes, R.C.; Longo-Silva, G.; Santos, T.G.; Marinho, P.M.; Silveira, J.C. (2018). Prevalência e Fatores Associados com a Síndrome Metabólica na População Adulta Brasileira: Pesquisa Nacional de Saúde, 2013. Arq. Bras. Cardiol., 110, 455–466.

Raz, N., Linderbergue, U., Rodrigues, K., Kennedy, K., Head, D., Williamson, A., Acker, J. (2005). Regional brain changes in aging healthy adults: general trends, individual differences, and modifiers. Cerebral cortex, 15(11), 1676-1689.

Rennie, K., McCarthy, N., Yazdgerdi, S., Marmot, M., Brunner, E. (2003). Association of the metabolic syndrome with both vigorous

and moderate physical activity. International Journal of Epidemiology, 32, 600-606.

Ribeiro, P. C. C., & Yassuda, M. (2007). Cognição, estilo de vida e qualidade de vida na velhice. In: Neri, A. L. (Ed.) Qualidade de vida na velhice: enfoque multidisciplinar (pp. 189-209). Campinas: Atheneu. Rosenberg, I. H. (1989). Epidemiologic and methodologic problems in determining nutritional status of older persons: Summary comments. Am J Clin Nutr, 50(5), 1231-1233.

Salaroli, L.B.; Barbosa, G.C.; Mill, J.G.; Molina, M.C.B. (2007). Prevalência de síndrome metabólica em estudo de base populacional, Vitória, ES–Brasil. Arq. Bras. Endocrinol. Metabol., 51, 1143–1152.

Salas, R.; Bibiloni, M.d.M.; Ramos, E.; Villarreal, J.Z.; Pons, A.; Tur, J.A.; Sureda, A. (2014). Metabolic syndrome prevalence among Northern Mexican adult population. PLoS ONE, 9, e105581. Santos, S., & Figueiredo, D.M.P. (2019). Predictors of the fear of falling among community-dwelling elderly Portuguese people: An exploratory study. Ciência & Saúde Coletiva, 24(1), 77-86.

Schaap, L.A., van Schoor, N.M., Lips, P., & Visser, M. (2018). Associations of Sarcopenia Definitions, and Their Components, With the Incidence of Recurrent Falling and Fractures: The Longitudinal Aging Study Amsterdam. The Journals of Gerontology, Series A: Biological Sciences and Medical Sciences, 73(9), 1199-1204.

Sigit, F.S., Tahapary, D.L., Trompet, S., Sartono, E., Van Dijk, K.W., Rosendaal, F.R., & De Mutsert, R. (2020). The prevalence of metabolic syndrome and its association with body fat distribution in middle-aged individuals from Indonesia and the Netherlands: A cross-sectional analysis of two population-based studies. Diabetology & Metabolic Syndrome, 12, 1–11.

Sociedade Brasileira de Hipertensão; Sociedade Brasileira de Cardiologia; Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia; Sociedade Brasileira de Diabetes; Sociedade Brasileira de Estudos da Obesidade. (2005). I Diretriz brasileira de diagnóstico e tratamento da síndrome metabólica. Arq. Bras. Cardiol ., 84, 3–28.

Sousa, J. A. V. d., Stremel, A. I. F., Grden, C. R. B., Borges, P. K. d. O., Reche, P. M., & Silva, J. H. d. O. d. (2016). Risk of falls and associated

factors in institutionalized elderly. Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste, 17(3).

Spirduso, W. W., Francis, K. L., & MacRae, P. G. (2005). Physical dimensions of aging. Second Edition. Champaign, IL: Human Kinetics.

Taheri-Kharameh, Z., Poorolajal, J., Bashirian, S., Heydari Moghadam, R., Parham, M., Barati, M., & Rasky, E. (2019). Risk factors for falls in Iranian older adults: a case-control study. Int J Inj Contr Saf Promot, 26(4), 354-359. doi:10.1080/17457300.2019. 1615958.

Tanimoto, Y., Watanabe, M., Sun, W., Sugiura, Y., Hayashida, I., Kusabiraki, T., & Tamaki, J. (2014). Sarcopenia and falls in community-dwelling elderly subjects in Japan: Defining sarcopenia according to criteria of the European Working Group on Sarcopenia in Older People. Arch Gerontol Geriatr, 59(2), 295-299.

Taylor, A. W., & Johnson, M. J. (Eds.) (2008). Physiology of exercise and healthy aging. Champaign, IL: Human Kinetics, Inc.

Thiem, U., Klaaßen-Mielke, R., Trampisch, U., Moschny, A., Pientka, L., & Hinrichs, T. (2014). Falls and EQ-5D rated quality of life in community-dwelling seniors with concurrent chronic diseases: a cross-sectional study. Health and quality of life outcomes, 12(1), 1-7.

Tsai, Y.-J., Yang, P.-Y., Yang, Y.-C., Lin, M.-R., & Wang, Y.-W. J. B. g. (2020). Prevalence and risk factors of falls among community-dwelling older people: results from three consecutive waves of the national health interview survey in Taiwan, 20(1), 1-11.

Vaughan, C.; Schoo, A.; Janus, E.D.; Philpot, B.; Davis-Lameloise, N.; Lo, S.K.; Laatikainen, T.; Vartiainen, E.; Dunbar, J.A. (2009). The association of levels of physical activity with metabolic syndrome in rural Australian adults. BMC Public Health, 9, 273.

Vieira, L. S., Gomes, A. P., Bierhals, I. O., Farias-Antunez, S., Ribeiro, C. G., Miranda, V. I. A., . . . Tomasi, E. (2018). Falls among older adults in the South of Brazil: prevalence and determinants. Rev Saude Publica, 52, 22. doi:10.11606/s1518-8787.2018052000103.

Wanderley FA, Silva G, Marques E, Oliveira J, Mota J, Carvalho J. (2011). Associations between objectively assessed physical activity levels and fitness and self-reported health-related quality

of life in community-dwelling older adults. Qual Life Res, 20(9), 1371-1378. doi: 10.1007/s11136-011-9875-x.

Wang, H., et al. (2002). Late-Life Engagement in Social and Leisure Activities Is Associated with a Decreased Risk of Dementia: A Longitudinal Study from the Kungsholmen Project. Am J Epidemiol, 155(12), 1081-1087.

Wang, H.H.; Lee, D.K.; Liu, M.; Portincasa, P.; Wang, D.Q. (2020). Novel Insights into the Pathogenesis and Management of the Metabolic Syndrome. Pediatric Gastroenterol. Hepatol. Nutr., 23, 189–230.

Warburton, D.E., Katzmarzyk, P.T., Rhodes, R.E., & Shephard, R.J. (2007). Evidence-informed physical activity guidelines for Canadian adults. Applied Physiology, Nutrition, and Metabolism, 2007, 32, S16–S68.

Waterman, H., Ballinger, C., Brundle, C., Chastin, S., Gage, H., Harper, R., . . . Pilling, M. J. T. (2016). A feasibility study to prevent falls in older people who are sight impaired: the VIP2UK randomised controlled trial, 17(1), 1-14.

Yang, X.; Telama, R.; Hirvensalo, M.; Mattsson, N.; Viikari, J.S.; Raitakari, O.T. (2008). The longitudinal effects of physical activity history on metabolic syndrome. Med. Sci. Sports Exerc., 40, 1424–1431.

Zhang, Huang, P., Dou, Q., Wang, C., Zhang, W., Yang, Y., & Zeng, Y. (2019). Falls among older adults with sarcopenia dwelling in nursing home or community: A meta-analysis. Clinical Nutrition. doi:10.1016/j.clnu.2019.01.002.

Zhao, E., Tranovich, M. J., Wright, V. J. (2014). The role of mobility as a protective factor of cognitive functioning in aging adults: a review. Sports Health; 6:63-9. doi: 10.1177/1941738113477832.

Zimerman, G. I. (2000). Velhice: aspectos biopsicossociais, Porto Alegre: Artmed.

CAPÍTULO 5

MEDIDAS CLÍNICAS DE DESEMPENHO FÍSICO

FUNCIONAL EM IDOSOS: UMA ABORDAGEM DO TESTE DE SENTAR E LEVANTAR

Joanne Figuereido1

Luis Mochiziki2

Raphael Sakugawa3

Ewertton Bezerra1

1 Universidade Federal do Amazonas

2 Universidade de São Paulo

3 Universidade Federal do Mato Grosso

INTRODUÇÃO

O processo de envelhecimento é reconhecido como um fenômeno singular, condicionado e determinado por aspectos intrínsecos e/ou extrínsecos os quais os seres humanos estão sujeitos (SILVA, 2015). A fragilização biológica e fisiológica que acomete os idosos, que antes era considerada efetivamente “normal” no processo de envelhecimento, hoje, já é observada como uma transformação multifatorial e multicausal, em conjunto com a influência significativa do ambiente e do estilo de vida de cada um (CHO et al., 2014).

Uma condição de saúde comum na população em processo de envelhecimento é a redução de funcionamento neuromuscular, o que leva ao desequilíbrio e alteração da coordenação motora, redução do tempo de reação, da agilidade corporal e da autonomia de mobilidade. Essas alterações podem comprometer as atividades da vida diária (AVD) como: tomar banho, vestir-se, transferir-se de um lugar ao outro. Além disso, podem afetar as atividades instrumentais da vida diária (AIVDs) como limpeza da casa, fazer compras, gerenciar finanças,

realizar tarefas domésticas, podendo chegar a incapacidade e dependência (PATRIZIO et al., 2021).4

Diante disso, a tarefa motora de sentar-se e levantar é considerada um pré-requisito fundamental para a mobilidade e independência funcional, uma vez que esse movimento faz parte das diversas atividades da vida diária (POLLOCK et al., 2014). Uma avaliação que envolva a mensuração de variáveis que abrangem o entendimento da influência das forças sobre o movimento do corpo, podem identificar os padrões de movimento analisado, assim como, os fatores que afetam a sua execução, permitindo futuras comparações, baseando-se na observação e experiência clínica, permitindo assim que o profissional compreenda as características específicas da tarefa motora do sentar-se e levantar (KNUDSON, 2007).

Desta forma, parece que a avaliação da capacidade para levantar e sentar de uma cadeira pode consistir em uma estratégia útil para identificar idosos com maior risco de apresentar deficiência de força e potência muscular de membros inferiores (DA; FREIRE; RIBEIRO, 2020) , logo, o teste de sentar-se e levantar tem o potencial de ser instrumento valioso para diferentes profissionais de saúde, que desejam, uma ferramenta para avaliar a capacidade física funcional de pacientes idosos, sejam eles, institucionalizados, hospitalizados e até mesmo em ambiente clínico e domiciliar (WHITNEY et al., 2005).

Tais recursos podem ser somados a outros testes de medida baseada em desempenho físico funcional e que apresentem validade convergente a do teste de sentar-se e levantar, como o teste de salto vertical. O salto vertical é uma habilidade motora fundamental na realização de inúmeras atividades, pois demanda um desempenho coordenado do sistema locomotor e recrutamento muscular, realizando o ciclo muscular de alongamento-encurtamento em um curto período de tempo. Ele pode ser utilizado em ambientes não laboratoriais, sendo uma medida muito empregada para verificar adaptações neuromusculares decorrentes do treinamento de força e potência (ARAÚJO, LG; ALVES, J; MARTINS ACV; PEREIRA, 2016).

4 Tanto no ambiente clínico quanto no de pesquisa. Para medir a função física, clínicos e pesquisadores têm tradicionalmente confiado em instrumentos que se concentram na capacidade do indivíduo de realizar tarefas funcionais específicas (por exemplo, as escalas de Atividades da Vida Diária [AVD] ou as escalas de AVD Instrumentais).

Ponderando a simplicidade na execução e avaliação dos métodos, acredita-se que, com base nos resultados do teste de sentar-se e levantar, possa ser mais simples para o profissional de saúde sensibilizar os indivíduos avaliados a seguirem modos de vida mais ativos e orientar de forma mais científica a prática da atividade física regular.

TESTE DE SENTAR-SE E LEVANTAR: ASPECTOS HISTÓRICOS

No cenário atual, avaliar funcionalidade do idoso tem se tornado um elemento crucial em ambientes clínicos e de pesquisa. Apesar das medidas de rotina na realização de testes de auto relato, os testes padronizados de desempenho físico têm sido empregados com maior frequência desde a década de 80 (GURALNIK et al., 1989). Os testes de desempenho físico, podem apresentar benefícios sobre os testes de auto relato em termos de legitimidade, reprodutibilidade, sensibilidade à variação, aplicabilidade a estudos transculturais e a aptidão de caracterizar elevados níveis de função, mesmo que ainda se tenha muito trabalho a fazer nessa área (SIU et al., 1993). Há necessidade de medidas práticas e funcionalmente relevantes, por exemplo, para medir a força de membros inferiores, pode-se destacar o TSL (BOHANNON, 2006).5 Um bom desempenho no teste relativamente simples de SL da cadeira apresenta-se como um indicador útil na prevenção da incapacidade em procedimentos de triagem das condições de saúde da população idosa (DOS SANTOS et al., 2013).

Os primeiros autores a descrever o TSL foram Maryellen Csuka e Daniel McCarty, no ano de 1985. Eles afirmam, que se trata de um método simples, rápido e reprodutível, prestando-se à prática ambulatorial e suficientemente sensível para quantificação de força muscular das extremidades inferiores, permitindo uma definição de normal e sensível a detectar alterações dentro da faixa de normalidade. A realização do teste compreende a repetição de 10 manobras de SL, na qual primeiramente foi testado para padronização. Foram selecionados 139 indivíduos saudáveis com idade entre 20 a 65, sendo 77 homens e 62

5 A metanálise desses 13 artigos indicou que os julgamentos sobre o desempenho normal devem ser baseados na idade. A análise demonstrou que indivíduos com tempos para 5 repetições deste teste superiores aos seguintes podem ser considerados como tendo um desempenho pior que a média: 11,4 segundos (60 a 69 anos).

mulheres, 12 sujeitos normais e de várias idades realizaram primeiramente o teste por três vezes para verificar a reprodutibilidade, posteriormente os demais realizaram o teste, com reprodutibilidade de 8,8%. Todos foram feitos em uma cadeira de plástico moldado com 44,5 cm de altura e 38 cm de profundidade, iniciaram um suporte de prática para posicionamento e aprendizagem da tarefa, os indivíduos foram encorajados a realizar a tarefa o mais rápido possível, o tempo necessário para finalizar 10 posturas completas a partir da posição sentada foi registrado com um cronômetro com precisão de 10 segundos, no qual unificaram tempo de execução e posteriormente associaram altura e peso e relacionaram com a idade, todas as posições foram realizadas com sapato baixo ou descalços, o uso simultâneo das extremidades superiores não foi permitido. O teste padronizado foi usado para avaliar e acompanhar seis pacientes com polimiosite clássica ou dermatomiosites (CSUKA; MCCARTY, 1985).

As alternativas ao TSL de 10 repetições evolucionaram, sendo a principal delas o TSLCV (GURALNIK et al., 1994). No ano de 1995, o pesquisador Richard W. Bohannon, publicou um artigo sobre Sit-to-stand test for measuring performance of lower extremity muscles, no qual descreveu medições sobre o TSL, que anteriormente haviam sido apresentadas e testadas por vários autores. O artigo relata que o TSL, demanda o mínimo de instrumentação, especificamente um cronômetro e uma cadeira sem braços padrão. Nem todos os artigos mencionam a medida da cadeira, porém alguns relatórios apresentam medidas de 40 cm Newcomer, et al. (1993), 44,5 cm Csuka, et al. (1985) ou 46 cm Bohannon, et al. (1994) de altura, o que segundo Weiner, et al. (1993), pode interferir na independência dos idosos, sendo necessário, uma cadeira de altura constante para avaliação na comparação do desempenho dos idosos testados em série (BOHANNON, 1995; CSUKA; MCCARTY, 1985; NEWCOMER; MAHOWALD, 1993; WEINER et al., 1993). Sugere-se nos artigos de Bohannon, et al. (1994) e Thapa, et al. (1994), que a cadeira em uso no TSL, deve ser ligeiramente almofadada e com as costas estabilizadas contra a parede (BOHANNON; HULL; PALMERI, 1994; THAPA et al., 1994). Outra característica importante apresentada na maioria dos estudos, retrata que o TSL deve ser realizado sem o uso dos membros superiores e ainda determinam que a extremidade superior seja flexionada à frente do tórax (GURALNIK et al., 1994).

Os estudos relatam que a avaliação de fidedigna apresentada no TSL, corresponde ao tempo necessário para realização de um determinado número de repetições, como SL 1 vez Judge, et al. (1994) e Binder, et al. (1994); SL 3 vezes Thapa, et al. (1994); SL5 vezes Seemen, et al. (1994), Guralnik, et al. (1994); SL 10 vezes Csuka, et al. (1985), Newcomer, et al. (1993) e Guralnik, et al. (1994) ou com o número de repetições completadas em um determinado tempo, como 10 segundos ou 30 segundos (BINDER et al., 1994; BOHANNON; HULL; PALMERI, 1994; CSUKA; MCCARTY, 1985; GURALNIK et al., 1994; JUDGE, 1994; NEWCOMER; MAHOWALD, 1993; SEEMAN et al., 1994; THAPA et al., 1994). Neste sentido, o artigo de Bohannon, et al. (1995), apontam que as medições de tempo são sem dúvida mais precisas do que a contagem de repetições, porém, indivíduos que são muito fracos, podem não ser capazes de completar o número necessário de repetições. Consequentemente, uma contagem do número de repetições completadas durante um período de tempo pode ser preferível para muitas populações (BOHANNON, 1995).

Tendo como meta modificar o TSL para avaliar uma maior proporção da população de idosos, C. Jessie Jones, Roberta E. Rikli e Willian Beam, em (1999), através da publicação do artigo A 30-s Chair-Stand Test as a Measure of Lower Body Strength in Community-Residing Older Adults experimentaram usar como padronização para o TSL um “TEMPO” protocolo de 30 segundos. O procedimento envolve a gravação do número de repetições que uma pessoa pode completar em 30 segundos, em vez da quantidade de tempo que leva para completar um pré-determinado número de repetições. Usando o protocolo SL 30 segundos, é possível avaliar grandes variações nos níveis de habilidade, com um possível intervalo de pontuação entre zero (para aqueles que não conseguem completar nem uma posição) para um máximo de vinte ou mais em indivíduos altamente aptos (JONES; RIKLI; BEAM, 1999). A validade do teste se comprovou pela comparação ao desempenho do SL 30s com uma medida de critério de força corporal de 1-RM (repetição máxima) do leg press ajustado ao peso (resistência/peso corporal), sendo o leg press, considerado uma medida de critério especialmente adequada para avaliação da parte inferior do corpo e mensuração de força em adultos mais velhos, porque reflete uma série de atividades da vida diária, como levantar de uma cadeira, sair de uma banheira, pegar um objeto do chão (RIKLI E., ROBERTA;JONES JESSIE, 1999).

Houve também a versão estudada pelo professor doutor Cláudio Gil Araújo, o TSL do solo (TSL), desenvolvida no fim dos anos 90. A fim de priorizar a combinação da teoria e prática, o pesquisador conta que examinando pacientes de todas as idades ao longo dos anos, percebeu que a destreza para a realização de determinados movimentos e ações tendia a diminuir com o envelhecimento e com o sedentarismo, uma das ações cotidianas e aparentemente mais naturais é SL do solo (GIL; DE ARAÚJO, 1999).6 Dentre as pesquisas realizadas a equipe fez a prova com mais de dois mil voluntários. Eles tinham de se sentar no chão e, depois, levantar-se, se possível, sem a ajuda dos membros superiores. Tudo isso sem perder muito equilíbrio. Os participantes eram pontuados de acordo com sua desenvoltura e foram acompanhados por seis anos. No fim, descobriu-se que, entre os menos ágeis, a taxa de mortalidade chegava a ser quase 20% superior. Já os com notas mais altas viviam longe de doenças atreladas ao sedentarismo, tinham menor risco de quedas e apresentavam um índice de morte de apenas 3% (DERC, 2013). O TSL é um teste fidedigno e sensível a variações de cada uma das variáveis estudadas, a lógica que permeia a avaliação é a de que, quanto maior a dificuldade do indivíduo em realizar os atos, mais apoios no solo e no próprio corpo serão utilizados e sua medida consiste simplesmente em quantificar quantos apoios (mãos e/ou joelhos ou, ainda, as mãos sobre os joelhos ou pernas) o indivíduo utiliza para sentar-se e levantar do chão. Atribuem-se notas independentes para cada um dos dois atos de SL. A nota máxima é 5 para cada um dos dois atos (LIRA, 2000).

Estudos relacionados ao TSL foram ganhando espaço e forma ao decorrer dos anos e testados em diferentes patologias e idades. Um dos métodos utilizados para a avaliação da capacidade funcional dos pacientes pós cirurgia cardíaca é o TSL 1 minuto, por permitir dentre outras já citadas, avaliar as condições aeróbicas e cardiopulmonares. Nesse teste o paciente é instruído a SL no período de um minuto o

6 Mas também em níveis apropriados de potência e força muscular, flexibilidade e estabilidade postural. Assim, é conveniente que, sob as perspectivas da saúde pública e clínica, existam ferramentas de triagem simples e altamente sensíveis que tornem possível a avaliação dessas variáveis no consultório. O propósito deste artigo é introduzir o Teste de Sentar e Levantar (TSL).

maior número de vezes possível (GIL; DE ARAÚJO, 1999)7. No estudo de Radtke (2015) apresenta que o TSLCV tem boa confiabilidade teste-reteste (CCI= 0,87) para pacientes com doenças ou intervenções cardíacas (intervenção coronária percutânea, revascularização do miocárdio, infarto agudo do miocárdio, substituição de válvula cardíaca e hipertensão arterial sistêmica), (RADTKE et al., 2015).

O TSL1minuto também foi utilizado no estudo de Ozalevlia, (2007) publicado no artigo Comparison of the Sit-to-Stand Test with 6 min walk test in patients with chronic obstructive pulmonary disease. Pelo fato de SL ser uma atividade comum, assim como a caminhada, concluíram que o TC6 e o TSL1minuto, podem ser usados para determinar o estado funcional em pacientes com DPOC, nesse estudo foi verificado que, assim como o TC6, o TSL1minuto está correlacionado com a gravidade da dispneia, idade e qualidade de vida. Esses resultados mostram que o TSL1 minuto é sensível para sintomas respiratórios e clínicos de pacientes com DPOC, sendo capaz de identificar fraqueza muscular periférica nesses pacientes sem causar alterações hemodinâmicas como: aumento da pressão arterial, da frequência cardíaca e diminuição da saturação pulsada como como acontece no TC6, logo, sua aplicação é mais fácil e produz menos estresse cardíaco (OZALEVLI et al., 2007).

Assim como TSL1minuto, o TSLCV são validados para DPOC, pois apresentam excelente confiabilidade teste-reteste (CCI= 0,99 e 0,97, respectivamente). Um número de repetições menor ou igual a 12 no TSL1 está associado a maior risco de mortalidade em dois anos para indivíduos com DPOC, porém não está associado a maior risco de exacerbação da doença. O TSL 30s também é validado para DPOC, porém, a confiabilidade teste-reteste não foram descritos (BISCA et al., 2015). Para pacientes com fibrose cística, o TLS1minuto também foi validado, tem excelente confiabilidade teste-reteste (CCI= 0,95) (MACIEL et al., 2020).

É cada vez mais aceito e mais atual a eficiência do TSL, diversos estudos apontam a grande aceitação para o TSLCV, mostrando ser prático, confiável e com excelente aceitação clínica. O Quadro 1 traz um resumo desses estudos.

7 Mas também em níveis adequados de força e potência muscular, flexibilidade e estabilidade postural. Portanto, é conveniente que, tanto na perspectiva da saúde pública quanto na clínica, haja ferramentas de rastreio simples e altamente sensíveis que permitam a avaliação dessas variáveis em consultório. O objetivo deste artigo é introduzir o Teste de Sentar e Levantar (SRT).

QUADRO 1 – ESTUDOS SOBRE O TESTE DE SENTAR E LEVANTAR

AUTOR OBJETIVO

(MONG; TEO; NG, 2010)

Examinar o intraexaminador, interexaminador e confiabilidade teste-reteste do teste de sentar e levantar de 5 repetições (5-teste STS de repetição); pontuações, correlação de STS de 5 repetições pontuações de testes com força muscular de membros inferiores e desempenho de equilíbrio e pontuações de corte entre os 3 grupos de sujeitos: os jovens, os idosos saudáveis e os sujeitos com acidente vascular cerebral.

Determinar a confiabilidade intra examinador e teste-reteste do teste de sentar e levantar 5 repetições (FTSTS) na doença de Parkinson (PD); caracterizar o desempenho do FTSTS em PD em diferentes estágios da doença; determinar preditores de desempenho FTSTS em PD; determinar a utilidade do STFTS para discriminar entre caidores e não caidores com DP, identificando uma pontuação de corte para delinear entre esses grupos.

Avaliar a validade do teste de cinco vezes sentar e levantar (FTSST) como medida de equilíbrio dinâmico em idosos. Um segundo objetivo foi quantificar a confiabilidade relativa e absoluta, bem como a mudança mínima detectável (MDC) do FTSST em idosos.

MÉTODO

Estudo transversal. Local: Centro de reabilitação universitário.

Participantes: Uma amostra de conveniência de 36 sujeitos: 12 Indivíduos com acidente vascular cerebral crônico, 12 idosos saudáveis e 12 jovens sujeitos. Principais medidas de resultado: tempo de teste STS de 5 repetições pontuações; medidas de dinamômetro manual de flexores do quadril, e flexores e extensores do joelho; força muscular dos dorsiflexores e plantares do tornozelo; Escala de Equilíbrio de Berg (BBS); e limites de estabilidade (LOS) usando posturografia dinâmica.

Estudo de medição de indivíduos residentes na comunidade com DP idiopática.

Local: Laboratório de uma escola de medicina.

Participantes: Os participantes (N 82) foram recrutados por amostragem de base populacional. A amostra final contou com 80 participantes. Dois foram excluídos por critérios de exclusão e um doença não relacionada, respectivamente.

Vinte e nove mulheres (idade média de 73,6 anos) realizaram duas tentativas dos testes FTSST, timed up and go (TUG) e alcance funcional (FR). A validade do FTSST como medida de equilíbrio dinâmico foi avaliada pela quantificação da força das relações entre o FTSST e duas medidas de equilíbrio dinâmico, TUG e FR, por meio do coeficiente de correlação de Pearson. Medidas de confiabilidade relativa [coeficiente de correlação intraclasse (ICC)] e absoluta [erro padrão de medida (SEM)], bem como o MDC no nível de confiança de 95% (MDC 95 ) foram calculados para o FTSST.

CONCLUSÃO

O teste STS de 5 repetições é uma ferramenta de medida confiável que se correlaciona com a força muscular dos flexores do joelho mas não a capacidade de equilíbrio em indivíduos com acidente vascular cerebral.

O FTSTS é um método rápido, de fácil administração medida que é útil para a determinação bruta do risco de queda em indivíduos com DP.

O FTSST é uma medida válida de equilíbrio dinâmico e mobilidade funcional em idosos. O alto ICC e baixo SEM e SEM% sugerem excelente confiabilidade relativa e absoluta e reprodutibilidade do FTSST em idosos. A mudança no desempenho do FTSST deve exceder 2,5 segundos para ser considerada uma mudança real além do erro de medição.

(GOLDBERG et al., 2012)

(JORDRE et al., 2013)

(EJUPI et al., 2015)

Comparar os resultados do teste de sentar e levantar 5 repetições (FTSST) em atletas seniores com mais de 60 anos com as normas para adultos da mesma idade residentes na comunidade (2) determinar os efeitos da idade.

O FTSST foi realizado em 276 (104 homens, 172 mulheres) atletas seniores com idades entre 50 e 91 anos (idade média = 64,9, DP = 15) relatando uma média de 4 horas de treinamento cardiovascular e 1 hora de treinamento de força por semana. Todos estavam ativamente engajados em competições nacionais ou estaduais de jogos seniores.

Atletas seniores apresentam velocidade de FTSST significativamente maior do que as normas derivadas de idosos residentes na comunidade. Novas diretrizes normativas são apresentadas para auxiliar a triagem desses atletas nesta medida de desempenho funcional.

(MAKIZAKO et al., 2017)

Objetivo (1) examinar a viabilidade de um teste cinco vezes sentar e levantar (5STS) baseado em Kinect de baixo custo e portátil para discriminar entre caidores e não caidores e Objetivo (2) investigar se este teste pode ser usado para clínica supervisionada, avaliações de risco de queda supervisionadas e não supervisionadas em casa.

Um total de 94 idosos da comunidade foram avaliados pelo teste 5STS baseado em Kinect em laboratório e 20 participantes foram testados em suas próprias casas. Um algoritmo foi desenvolvido para calcular automaticamente as medidas relacionadas ao tempo e à velocidade a partir dos dados do sensor baseado no Kinect para discriminar entre caidores e não caidores. As associações dessas medidas com testes clínicos padrão de risco de queda e os resultados de avaliações domiciliares supervisionadas e não supervisionadas foram examinadas.

Em resumo, descobrimos que o teste 5STS baseado em Kinect discriminou bem entre os caidores e não caidores e foi viável para administrar em ambientes clínicos e domiciliares supervisionados. Este teste pode ser útil em ambientes clínicos para identificar caidores de alto risco para intervenção adicional ou para avaliações regulares em casa no futuro.

Determinar os pontos de corte ótimos do Teste de Sentar e Levantar Cinco Vezes e do Teste "Up & Go" cronometrado para prever o desenvolvimento de incapacidade e examinar o impacto do baixo desempenho em ambos os testes na predição do risco de incapacidade em idosos residentes na comunidade

Uma população de 4.335 idosos residentes na comunidade (média de idade = 71,7 anos; 51,6% mulheres) participou das avaliações iniciais. Os participantes foram monitorados por 2 anos para o desenvolvimento de deficiência.

As avaliações do funcionamento dos membros inferiores com o teste de sentar e levantar cinco vezes e o teste "Up & Go" cronometrado, especialmente o baixo desempenho em ambos os testes, foram bons preditores de incapacidade futura em idosos residentes na comunidade.

(ALCAZAR et al., 2018)

Avaliar a validade da nossa equação de potência muscular do teste sit-to-stand (STS) contra a força muscular exercida por indivíduos mais velhos em um exercício dinâmico usando um instrumento validado, e avaliar a associação da potência muscular STS com a função física e cognitiva, sarcopenia e qualidade de vida em uma grande coorte de idosos.

Quarenta idosos da comunidade (70–87 anos) e 1804 idosos (67–101 anos) participantes do Toledo Study for Healthy Aging foram incluídos nesta investigação. ßA velocidade de sentar e levantar (STS) e a potência muscular foram calculadas usando a massa corporal e estatura do sujeito, a altura da cadeira e o tempo necessário para completar cinco repetições STS, e comparados com os obtidos no exercício leg press usando um transdutor de posição linear. Além disso, o desempenho STS, função física (velocidade da marcha) e cognitiva, sarcopenia (índice muscular esquelético (SMI)) e qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) foram registrados para avaliar a associação com os valores de potência muscular STS.

O teste de potência muscular STS mostrouse uma ferramenta válida e, em geral, clinicamente mais relevante para avaliar a trajetória funcional em idosos em comparação com os valores tradicionais do tempo STS. Os baixos requisitos de tempo, espaço e material do teste de potência muscular STS, tornam este teste uma excelente escolha para sua aplicação em grandes estudos de coorte e no cenário clínico.

(SEKHON et al., 2019)time to perform the five-times-sit-to-stand (FTSS

Velocidade lenta de caminhada, tempo para realizar o teste de cinco vezes sentar e levantar (FTSS) e síndrome de risco cognitivo motor (MCR) definida como velocidade de marcha lenta combinada com queixa cognitiva subjetiva) têm sido usados separadamente para rastrear indivíduos mais velhos em risco de declínio cognitivo. Este estudo busca (1) comparar as características de idosos com MCR, definida pela velocidade de marcha lenta e/ou aumento do tempo de FTSS; e (2) examinar a relação entre MCR e seus componentes motores, bem como comprometimento cognitivo leve amnéstico (a-MCI) e não amnéstico (na-MCI).

Um total de 633 indivíduos livres de demência foram selecionados a partir do estudo transversal Gait and Alzheimer Interactions Tracking. Velocidade de marcha lenta e tempo de FTSS aumentado foram utilizados como critérios para a definição de MCR. Os participantes foram separados em cinco grupos, de acordo com o status de MCR: MCR conforme definido por (1) velocidade de marcha lenta exclusivamente (MCRs); (2) aumento do tempo de FTSS exclusivamente (MCRf); (3) velocidade de marcha lenta e aumento do tempo de FTSS (MCRsaf); (4) MCR; independentemente do teste de mobilidade utilizado (MCRsof); e (5) a ausência de MCR. O estado cognitivo (ou seja, a-MCI, na-MCI, cognitivamente saudável) também foi determinado.

Indivíduos com MCRf são distintos daqueles com MCRs. O status MCRf não está relacionado ao status MCI da mesma forma que os MCRs. Os MCRs estão relacionados negativamente com a-MCI e positivamente com na-MCI. Esses resultados sugerem que o FTTS não pode ser usado para definir MCR quando o objetivo é prever o risco de declínio cognitivo, como demência futura.

(GHAHRAMANI; STIRLING; NAGHDY, 2020)

Investigar a variabilidade na transição sentar para levantar e sentar (STSTS) durante o teste de cinco vezes sentar para levantar (FTSS) em idosos com diferentes histórias de queda.

Participaram do estudo 75 sujeitos mais velhos (80,5 ± 7,5) e vinte e cinco mais jovens (27,7 ± 6,5). Os participantes mais velhos foram categorizados em três grupos de não caidores, caidores uma vez e caidores múltiplos com base em suas histórias de queda. Os indivíduos foram equipados com uma unidade de movimento inercial (IMU) na parte inferior das costas e solicitados a se levantarem completamente e, em seguida, sentarem-se novamente cinco vezes seguidas. A rotação angular do tronco no plano sagital foi registrada. Usando o método de distorção do tempo dinâmico (DTW), a primeira transição STSTS de cada sujeito foi comparada com a última transição e a variabilidade foi medida. A correlação entre a variabilidade STSTS e a escala de equilíbrio de Berg (BBS) dos participantes mais velhos foram investigadas.

Os resultados demonstraram uma forte indicação de variabilidade na transição STSTS em caidores mais velhos e uma correlação significativa entre a variabilidade STSTS e BBS. Os resultados sugerem que a análise de variabilidade da transição STSTS tem potencial para ser usada para análise de risco de queda em idosos.

(ÖZDEN;

2020)

Determinação da confiabilidade teste-reteste e validade concorrente dos cinco tempos teste sentar e levantar (TFST) e teste do degrau (ST) em idosos com artroplastia total do quadril (ATQ).

Foi realizado um estudo transversal e prospectivo com 32 pacientes com artroplastia total de quadril unilateral. FTST, ST e Timed Up & Go Test foram avaliados na primeira sessão de avaliação. A confiabilidade teste-reteste foi avaliada realizando duas repetições do TFST e ST. Além disso, o estado funcional dos pacientes foi avaliado com o Harris Hip Score (HHS). A confiabilidade teste-reteste do FTST e ST foi avaliada pelo coeficiente de correlação intraclasse (ICC). Na análise de validade concorrente, o coeficiente de correlação de Pearson foi analisado. Além disso, o erro padrão de medição (SEM95) e a alteração mínima detectável (MDC95) valores de FTST e ST também foram calculados.

O TFST e o ST são testes de desempenho válidos e confiáveis em idosos com ATQ unilateral primária.

(MENTIPLAY et al., 2020)

Examinar a relação que o equilíbrio em pé e a força muscular têm com o teste sentar e levantar cinco repetições (5STS) após acidente vascular cerebral.

Sessenta e um participantes após acidente vascular cerebral foram recrutados de dois hospitais neste estudo observacional transversal. Os participantes foram submetidos à avaliação dos cinco tempos de sentar e levantar (medido com um cronômetro), força muscular bilateral de membros inferiores de sete grupos musculares individuais (dinamometria manual) e em pé equilíbrio (posturografia computadorizada). Correlações parciais (controle de massa corporal e altura) foram usadas para examinar associações bivariadas. Modelos de regressão com testes F parciais (incluindo co variáveis pertinentes) comparados à contribuição da força (ambos os membros) e equilíbrio para cinco vezes o tempo de sentar e levantar.

A força do grupo muscular extensor do joelho juntamente com medidas de capacidade de equilíbrio em pé (comprimento total do trajeto e velocidade do trajeto anteroposterior) ambos contribuem de forma independente para cinco vezes sentar-de-levantar.

(YEE et al., 2021)

O teste de sentar e levantar (STS) tem sido implantado como medida substituta de força ou desempenho físico no diagnóstico de sarcopenia. Este estudo examina a relação de duas variantes comuns do STS - Five Times Sit-to-Stand Test (5TSTS) e 30 s Chair Stand Test (30CST) - com força de preensão, massa muscular e medidas funcionais, e seu impacto na prevalência de sarcopenia na comunidade - idosos residentes.

Trata-se de uma análise transversal de 887 adultos residentes na comunidade com idade ≥50 anos. Os participantes completaram uma bateria de testes de aptidão física - 5TSTS, 30CST, força de preensão, velocidade de marcha, Timed-Up-and-Go (TUG) para equilíbrio dinâmico e teste de caminhada de seis minutos (TC6) para resistência cardiorrespiratória. A massa muscular foi medida usando análise de bioimpedância elétrica segmentar multifrequência (BIA). Realizamos análise de correlação entre o desempenho STS e outras medidas de aptidão e massa muscular, seguida de regressão linear múltipla para os determinantes independentes do desempenho STS.

No construto da sarcopenia, os testes STS representam melhor o desempenho físico muscular do que a força muscular. Diferentes subconjuntos da população com possível sarcopenia são identificados dependendo do teste utilizado. A falta de associação do desempenho STS com a massa muscular resulta em menor prevalência de sarcopenia confirmada em comparação com a força de preensão, mas pode refletir melhor as mudanças na qualidade muscular.

(PARK et al., 2021)

As ferramentas tradicionais de triagem de fragilidade física (FP) consomem muitos recursos e são inadequadas para avaliação remota. Neste estudo, usamos cinco vezes o teste de sentar e levantar (5×STS) com sensores vestíveis para determinar PF e três fenótipos principais de fragilidade (lentidão, fraqueza e exaustão) objetivamente.

Idosos (n = 102, idade: 76,54 ± 7,72 anos, 72% mulheres) realizaram 5×STS usando sensores acoplados ao tronco e coxa e perna bilateral. A duração de 5×STS foi registrada usando um cronômetro. Dezessete variáveis derivadas de sensores foram analisadas para determinar a capacidade de 5×STS para distinguir PF, lentidão, fraqueza e exaustão. Foi utilizada a regressão logística binária e calculada sua área sob a curva.

Nosso estudo sugere que o 5×STS baseado em sensores pode fornecer biomarcadores digitais de FP, lentidão, fraqueza e exaustão. A simplicidade, a facilidade de administração na frente de uma câmera e a segurança do 5xSTS podem facilitar uma avaliação remota de FP, lentidão, fraqueza e exaustão via telemedicina.

(BALTASAR-FERNANDEZ et al., 2021)(iii

Avaliar a associação da força de sentar e levantar (STS) e dos parâmetros de composição corporal [índice de massa corporal (IMC) e índice músculo esquelético das pernas (IMC)] com a idade; fornecer pontos de corte para baixo poder relativo de STSrel (STSrel), fornecer dados normativos para idosos com bom funcionamento e avaliar a associação de STSrel baixo com resultados negativos.

Desenho transversal (1369 idosos). Parâmetros de potência STS avaliados por equações validadas, IMC e Legs SMI avaliados por absorciometria de raios-X de dupla energia foram registrados. Foram utilizadas análises segmentadas e de regressão logística ajustadas por sexo e idade e curvas características do operador receptor.

Observou-se que o STSrel declinou até a idade de 85 anos como resultado da perda da força específica do STS e do SMI das pernas em homens. Nas mulheres, o STSrel diminuiu até a idade mais avançada devido à perda da potência STS específica e ao aumento do IMC antes dos 80 anos, e devido à perda da potência STS específica e SMI das pernas após os 80 anos

(VAN CAPPELLEN-VAN MALDEGEM et al., 2022)

A auto realização de um teste de cinco vezes sentar e levantar (FTSTS), sem a supervisão habitual de um profissional médico, oferece oportunidades valiosas para a prática clínica e pesquisa. Este estudo teve como objetivos: (1) determinar a validade do teste FTSTS auto realizado em comparação com um teste de referência supervisionado e (2) determinar a confiabilidade de um teste FTSTS auto-realizado por sobreviventes de câncer.

Os sobreviventes de câncer (n = 151) realizaram dois testes FTSTS. Um teste FTSTS de referência adicional foi supervisionado por um fisioterapeuta. O coeficiente de correlação intraclasse (ICC), erro estrutural de medida (SEM) e diferença clínica minimamente importante (MID) foram calculados comparando-se um teste FTSTS auto-realizado com o teste de referência e comparando-se dois testes FTSTS auto-realizados. As Diretrizes para Relatórios de Confiabilidade e Estudos de Acordos (GRASS) foram usadas.

O teste FTSTS auto-realizado é uma medida válida e confiável para avaliar a função corporal inferior e tem potencial para ser usado como ferramenta objetiva de (pré-)triagem para fragilidade em sobreviventes de câncer.

CARACTERÍSTICAS BIOMECÂNICAS DO TESTE DE SENTAR-SE E LEVANTAR

Alcançar a posição de pé a partir da posição sentada é um movimento constantemente realizado durante as atividades de vida diária, sendo fundamental para a atuação independente de outras ações como a marcha, que requer, sobretudo, a capacidade de assumir a posição ortostática; para os idosos a dificuldade na realização deste movimento pode ocorrer por fatores extrínsecos e intrínsecos, a caracterização biomecânica desta ação permite considerar alterações importantes da aptidão muscular funcional do idoso, que segundo Goulart, (2003) e Etnyre, (2007), durante a realização da tarefa motora do SL existe uma série de alterações biomecânicas, inicialmente caracterizada por um período de inércia horizontal e outro vertical (ETNYRE; THOMAS, 2007; GOULART et al., 2003)

Outras caracterizações como a do autor Roebroeck, (1994), define que há uma mudança do centro de massa corporal de forma ascendente, da posição sentada para de pé, mantendo o equilíbrio. Para Vander Linden, (1994) advém de um movimento de transição para a postura ereta com extensão dos membros inferiores, com a movimentação do centro de massa de uma posição estável para uma menos estável (ROEBROECK et al., 1994; VAN DER LINDEN; BRÉDART; BEERTEN, 1994).

Em estudos realizados por diferentes autores, apontam, que na tarefa motora do SL primeiramente ocorre um deslocamento anterior do centro de massa do corpo para dentro da superfície de suporte, gerando um impulso na direção do eixo horizontal, através da rotação do tronco em direção ao quadril e dos segmentos da perna em direção ao tornozelo (DE MORAES, 2010; GOULART et al., 2003; SANDE DE SOUZA et al., 2011; SCHENKMAN et al., 1990).8 O movimento horizontal é finalizado com a desaceleração dos segmentos do corpo, mudando a direção do deslocamento da massa corporal para o eixo vertical, o que implica na realização da extensão do quadril, joelho e tornozelo até atingir a posição ortostática (GOULART et al., 2003).

8 Padrões cinéticos e cinemáticos durante uma tarefa de sentar-levantar parcialmente restrita em sujeitos com e sem doença de Parkinson (DP).

Durante a tarefa motora do SL, ocorre a ativação dos músculos do quadríceps, que realiza a extensão do joelho de forma concêntrica, permitindo a ação do levantar, e de forma excêntrica o músculo reto femoral, que realiza a flexão do quadril, resistindo a gravidade, para a ação do sentar. Os músculos isquiotibiais têm a função de extensão do quadril e flexão do joelho, são principalmente usados para a ação de ortostatismo. O glúteo máximo é o principal extensor do quadril, sendo responsável pela ação do levantar-se, também ajuda a controlar o movimento do quadril na ação do sentar. O músculo gastrocnêmio tem como ação principal trabalhar a flexão plantar do pé, porém, ajuda a flexionar o joelho na ação do sentar-se, junto com o sóleo, que também é um forte flexor plantar, atuam para estabilizar a perna abaixada enquanto se levanta para uma posição ortostática. O tibial anterior, atua em uma ação excêntrica para evitar a hiperflexão do tornozelo quando se realiza a ação do sentar, ajudando a estabilizar a perna quando em posição ortostática. Os músculos abdominais e paravertebral, não agem diretamente nos movimentos de sentar e levantar, no entanto, são necessários, pois, atuam como estabilizadores e mantem o tronco ereto, inibindo movimentos compensatórios (GOULART et al., 2003; HAMILL, et al., 2016)

Diferentes metodologias são descritas na literatura para a avaliação e mensuração das variáveis relacionadas a tarefa motora do SL, como análise cinemática tridimensional, avaliação cinética e determinação da atividade muscular através da eletromiografia de superfície (BURNETT et al., 2011)9. Analisar forças aplicadas ao movimento humano como a gravidade, a inércia, a força de reação ao solo (externas) e a força dos músculos (interna) como propulsores da força do organismo vivo, está diretamente integrado ao estudo da biomecânica, uma análise biomecânica pode ser feita através de duas perspectivas, a Cinemática e a Cinética, a qual será elucidada. Para realizar uma análise cinética de qualquer movimento, é necessário fazer um levantamento de quais forças interferem na realização do referido movimento. A análise cinéti-

9 Atividades essenciais da vida diária incluem a capacidade de se levantar de uma posição sentada e sentar a partir de uma posição em pé. Embora muitos estudos de alta qualidade tenham sido realizados sobre essas tarefas funcionais comuns, o objetivo da pesquisa atual é quantificar os índices de simetria (IS).

ca pode proporcionar informações importantes sobre como o movimento é produzido ou como uma posição é mantida (HAMILL, et al., 2016).

Para realizar a análise cinética das forças, se utiliza do método da dinamometria, que se refere a todo tipo de processos que tem em vista a medição de forças, bem como a medição da distribuição de pressões. Neste método, um instrumento habitualmente adotado é a plataforma de força tridimensional, que é um dispositivo padrão de medição em biomecânica, ele mede a magnitude e a direção da força, através força de reação ao solo, nos eixos X (médio lateral), Y (antero posterior, e Z (vertical), sendo um parâmetro amplamente utilizado nas áreas de análise em biomecânica (BENDA; RILEY; KREBS, 1994; NAVES, 2001)

A análise da ação e da força muscular realizada no movimento se SL, tem sido alvo de muitos estudos, como no estudo de Chorin, (2015) Determination of reliable force platform parameters and number of trial to evaluate sit-to-stand movement, que teve o objetivo principal de determinar a condição, padrão e quantidade de experimentos mais relevantes para realizar os movimentos de SL. Participaram do estudo vinte e um sujeitos do sexo masculino, com idade entre 21 e 60 anos com média de 33,9 ± 12,3 anos. Para isso utilizaram uma plataforma de forma e dividiram o estudo em parâmetros mecânicos (força máxima, média e impulso) e temporais, medidos nos eixos vertical, médio-lateral e anteroposterior, foi analisado cinco condições do teste de sentar e levantar, como: as variações da altura da cadeira, velocidade de movimento e utilização ou não utilização dos membros superiores, visando identificar repetitividade em diferentes procedimentos uniformizados, a maioria dos componentes mecânicos e parâmetros temporais pareciam ser significativamente diferentes para cada condição (p<0,05). Mais precisamente, a velocidade de movimento (condição rápida vs. velocidade de conforto), variação da altura da cadeira (velocidade de conforto vs. fascínio pelo conforto sem apoio de braço vs. altura da cadeira de 40 e 59 cm, respectivamente), uso ou não do apoio de braço (velocidade de conforto vs. fascínio pelo conforto usando apoio de braço), induziu diferenças significativas nos parâmetros coletados.

Além disso, os dados temporais mostraram uma diminuição no tempo de execução com o aumento da altura da cadeira (1,71s du-

rante fascínio pelo conforto sem apoio de braço vs. 1,54s durante altura da cadeira de 40 e 59 cm, respectivamente) e velocidade de movimento (1,06s durante condição rápida vs. 1,73s durante velocidade de conforto). Em relação ao eixo vertical, os resultados mostraram repetitividade forte à perfeita para todos os parâmetros (ICC: 0,72 – 0,90), principalmente para o movimento de SL, realizado o mais rápido possível com um ângulo de 90º do joelho quando sentado, sem usar apoios de braços. Independentemente das condições de desempenho, os resultados também mostraram que os parâmetros mais repetíveis foram a média e pico de força no eixo médio-lateral, e o impulso medido nas três direções. Três tentativas devem ser realizadas para alcançar alta reprodutibilidade. Na conclusão do estudo, sugeriram que a condição da ação de SL de forma rápida, com angulação da articulação do joelho de 90°, com os braços cruzados sobre o peito, é a condição mais confiável para avaliar o desempenho durante o movimento do SL e levantar (CHORIN et al., 2015).

Fato que pode ser explicado no estudo de Van De Heijden, (2009), realizado com dez mulheres jovens entre 18 e 28 anos de idade, no qual relata que estratégias adaptadas para levantar de uma cadeira ocorrem pela fraqueza muscular. Foi realizada uma simulação experimental que permitiu investigar separadamente os efeitos da redução da capacidade muscular e da mudança de estratégia na dinâmica do movimento na qual, hipoteticamente, uma mudança de estratégia de sentar para levantar poupa os músculos que ficam sobrecarregados quando a fraqueza muscular se desenvolve. Os jovens realizaram a tarefa motora do SL sobre uma plataforma de força, sob duas razões de carga/capacidade e em duas estratégias diferentes. Para simular fraqueza muscular, a carga/relação de capacidade foi manipulada adicionando 45% da massa corporal para um colete de peso. O colete de peso garantiu uma justa distribuição da massa. As participantes realizaram manobras de SL com e sem adição de massa; foram utilizadas a estratégia de transferência de momento e a estratégia de estabilização. Durante a tarefa motora do SL, foram feitas análises de vídeo sagital 2D e medidas de forças de reação do solo. Momentos e potências articulares para a articulação do tornozelo, joelho e quadril foram calculados. A estratégia mais usada em condição normal foi a estratégia de transferência de momento. Aumentar a carga sem

a adaptação da estratégia resultou em momentos de extensão da articulação do joelho significativamente maiores (13%). Permitindo uma mudança de estratégia na condição carregada, que poupou os extensores da articulação do joelho (6%) e transferiu o esforço para os músculos extensores da articulação do quadril (57%) e flexores plantares (67%). Esses resultados sugerem que a capacidade dos extensores da articulação do joelho limita o desempenho da tarefa motora do sentar e levantar quando ocorre fraqueza muscular (VAN DER HEIJDEN et al., 2009).

São vários os estudos relacionados à caracterização neurofisiológica dos músculos do membro inferior tanto em indivíduos saudáveis, como pertinentes a padrão patológico, porém, existe pouco conhecimento em relação à atuação neurofisiológica da tarefa do SL em idosos e em diferentes grupos musculares do membro inferior, assim como, diferentes posicionamentos sobre os testes funcionais em idosos, sugerindo o padrão do TSLCV como uma medida de potência, e TSL 30s como uma medida de resistência, porém, há lacuna na literatura quanto aos estudos em idosos que possam analisar o alto desempenho muscular, tendo em vista que a medida mais utilizada ao longo dos tempos modernos para o entendimento da potência muscular de membros inferiores, foram os saltos, principalmente destacados os testes de SCM e os de SA, mesmo assim, o desempenho dos testes de salto como discriminadores do alto desempenho muscular de membros inferiores em idosos, talvez de forma errônea, ofereçam estudos escassos para essa população, sendo apresentados nos tópicos a seguir, estudos que utilizaram da técnica para seu entendimento.

AVALIAÇÃO E ANÁLISES COMPARATIVAS –SALTO VERTICAL

Similarmente ao TSL para avaliação da capacidade motora dos membros inferiores, o SCM, necessita de um desempenho ordenado do corpo com recrutamento muscular em ciclos de alongamento e encurtamento em curto período de tempo, além de ser uma habilidade motora essencial para a realização de diversas atividades, podendo ser utilizado em ambientes não laboratoriais. O SCM vem sendo utilizado no âmbito esportivo, bem

como em crianças e adolescentes, para analisar funcionalidade e potência, no entanto esse método não está bem esclarecido em idosos. Durante o SV, os músculos das extremidades inferiores atuam rapidamente e com grande força, na tentativa de imprimir a maior velocidade possível no momento em que o corpo deixa o solo, pois esta velocidade é que determinará a altura do salto (NAVES, 2001). As mudanças substanciais relacionadas à idade podem ser observadas na força muscular dos membros inferiores, avaliada pelo SCM. Estas podem ser notadas mais cedo do que déficits na força de membros superiores observadas pela preensão manual ou medidas funcionais, sugerindo que o SCM pode representar uma ferramenta importante e possivelmente clínica para detectar déficits precoces em idosos (BUSCH et al., 2013). Apesar da ampla utilização dos testes tradicionais, há perspectivas de que o SCM poderá ser uma alternativa mais completa para a avaliação funcional em idosos, considerando que todas as variáveis que constituem as atividades de vida diária, por exemplo, tenham relação com esse teste (SHIN; DEMURA, 2007).

ESTUDOS CLÍNICOS DO TESTE DE SENTAR E LEVANTAR ASSOCIADO AO SALTO VERTICAL

A maior parte do funcionamento humano gira em torno de desempenhos compostos por tarefas de movimentos multiarticulares, como caminhar, levantar-se de uma posição sentada ou subir escadas, como enfatizado no estudo de Thompson, (2018) Effects of Age, Joint Angle, and Test Modality on Strength Production and Functional Outcomes, no qual investigou o impacto da idade, ângulo da articulação do joelho e modalidade de teste de força na produção de força máxima e rápida da parte inferior do corpo e avaliou a transferência dessas características para a função relacionada à mobilidade. A pesquisa foi realizada com vinte jovens saudáveis (10 homens, 10 mulheres; média ± DP: idade = 21,9 ± 2,6 anos) e dezoito idosos (8 homens, 10 mulheres; idade = 71,1 ± 5,9 anos), as intervenções foram o SCM, caminhada de 10 m e 400 m; TSLCV; avaliações de força isométrica; teste de agachamento. Para os resultados, indivíduos mais velhos exibiram reduções de força máxima e força explosiva para os modos de teste

isométrico de força simples e múltipla, respectivamente. As principais descobertas revelaram reduções de força explosiva devido à idade avançada (BINI; DE FREITAS; MASCARENHAS, 2019). Em súmula, o estudo chegou à conclusão que ao examinar os efeitos relacionados à idade nas capacidades de força da parte inferior do corpo usando testes tradicionais de força em dinamômetro, precisa levar em consideração a influência da própria massa corporal nos resultados dos testes de força relacionados à idade, além de que o caráter repetitivo da tarefa de levantar de 5 cadeiras pode gerar demandas motivacionais diferentes do que uma contração isométrica singular ou desempenho de salto vertical, onde a alta demanda de força do levantar da cadeira converge com a natureza repetitiva da tarefa que requer um nível mais alto de motivação, principalmente no final do teste (THOMPSON et al., 2018)

Outro fator importante de avaliação é a densidade mineral óssea, que está relacionada a atividade física, força muscular, pico explosivo de potência, tamanho do músculo, como avaliado no estudo de Belavý, (2016), onde foi estudado quais aspectos do desempenho neuromuscular estão associados à massa óssea, densidade, força e geometria. Foram examinadas 417 mulheres com idade entre 60 e 94 anos, embasados no teste de SCM, TSL, teste de força de preensão e área transversal do músculo do antebraço e da panturrilha. Para os resultados concluiu-se que os indivíduos com maior potência de salto também têm, em média, maior força de preensão (BELAVÝ et al., 2016). A tarefa do SCM explosivo normalmente explica maiores proporções de variância dos parâmetros tibiais e ósseos do quadril do que a tarefa de SL (BINI; DE FREITAS; MASCARENHAS, 2019).

Em resumo, os achados forneceram evidências de que a influência da carga mecânica no osso é mais importante para a geometria óssea e o conteúdo mineral do que a densidade mineral óssea volumétrica. O desempenho de SL exibiu nenhuma relação ou relações relativamente fracas com as medidas ósseas. Enquanto que o teste SCM, foi principalmente observada com a geometria óssea cortical e a massa óssea do que com a densidade óssea, além disso, no antebraço proximal (rádio e ulna) a relação do tamanho do músculo e da força de preensão com a força óssea (módulo seccional) foi maior do que com a densidade óssea (BELAVÝ et al., 2016).

Em avaliação ao equilíbrio, velocidade da marcha e capacidade funcional em idosos, fatores de grande influência nas atividades de vida diária, apresentado no estudo de Coelho Júnior, (2018) com uma amostra 468 mulheres idosas em média de idade entre mais de 60 anos, dentro de um estudo transversal, com avaliação funcional, no qual a intervenção foi avaliar o Teste do Time Up Go (TUG); força de preensão manual; teste de suporte de uma perna (apoio unipodal); TSL; teste de velocidade; SCM; TC6. Tiveram como resultados correlações significativas do TUG, TSL, SCM, força de preensão manual e TC6. Em conclusão capacidades físicas associadas ao desempenho do TUG não está totalmente correta, uma vez que a contribuição das capacidades físicas para o desempenho do TUG é alterada de acordo com o tempo para realizar o teste, ou seja, mulheres idosas utilizam um alto componente de força muscular, enquanto outras variáveis, como a capacidade aeróbica, têm apenas uma pequena participação (COELHO-JUNIOR et al., 2018).

Os teste de SV e TSL se apresentam como testes simples e de elevada importância dentro da literatura, sendo de fácil aplicabilidade e de grande performance na área da pesquisa, considerando a problemática apresentada e considerando a importância de avaliações que forneçam de forma completa e mais precoce as alterações relacionadas à funcionalidade no envelhecimento, se torna fundamental investigar as evidências científicas sobre o uso TSL assim como do SA e SCM em indivíduos idosos, a fim de fundamentar sua aplicação nessa população.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a inclusão do teste de sentar-se e levantar no exame físico de consultório ou prévia participação em programa de atividade física, torna-se possível para o profissional de saúde diagnosticar alterações importantes da aptidão muscular funcional e prontamente repassar esta informação ao avaliado. Nesse sentido, o teste de sentar-se e levantar pode tornar-se um instrumento extremamente interessante e prático para essa finalidade, já que envolve ações que requerem autonomia física mínima.

REFERÊNCIAS

ALCAZAR, J. et al. The sit-to-stand muscle power test: An easy, inexpensive and portable procedure to assess muscle power in older people. Experimental Gerontology, v. 112, n. September, p. 38–43, 2018.

BALTASAR-FERNANDEZ, I. et al. Relative sit-to-stand power cut-off points and their association with negatives outcomes in older adults. Scientific Reports, v. 11, n. 1, p. 1–10, 2021.

BELAVÝ, D. L. et al. Greater association of peak neuromuscular performance with cortical bone geometry, bone mass and bone strength than bone density: A study in 417 older women. Bone, v. 83, p. 119–126, 2016.

BENDA, B. J.; RILEY, P. O.; KREBS, D. E. Biomechanical Relationship Between Center of Gravity and Center of Pressure During Standing. IEEE Transactions on Rehabilitation Engineering, v. 2, n. 1, p. 3–10, 1994.

BINDER, J. R. et al. Functional Magnetic Resonance Imagmg of H u m a n Auditory Cortex. p. 662–672, 1994.

BINI, V. E.; DE FREITAS, N. A. R.; MASCARENHAS, L. P. G. Análise da força muscular de membros inferiores em idosos: uma revisão sistemática. Multitemas, p. 173–190, 16 dez. 2019.

BISCA, G. W. et al. Simple lower limb functional tests in patients with Chronic Obstructive Pulmonary Disease: a systematic review. ARCHIVES OF PHYSICAL MEDICINE AND REHABILITATION, 2015.

BOHANNON, R. W. SITTO-STAND TEST FOR MEASURING PERFORMANCE O F LOWER EXTREMITY MUSCLESO Perceptual and Motor Skills. [s.l: s.n.].

BOHANNON, R. W. REFERENCE VALUES FOR THE FIVE-REPETITION SIT-TO-STAND TEST: A DESCRIPTIVE META-ANALYSIS O F DATA FROM ELDERS’. O Perceptual and Motor Skills, v. 103, p. 215–222, 2006.

BOHANNON, R. W.; HULL, D.; PALMERI, D. Muscle Strength Impairments and Gait Performance Deficits in Kidney Transplantation Candidates. American Journal of Kidney Diseases, v. 24, n. 3, p. 480–485, 1994.

BUATOIS, S. et al. Research Report A Simple Clinical Scale to Stratify Risk of Recurrent Falls in Community- Dwelling Adults Aged 65 Years and Older. 2010.

BURNETT, D. R. et al. Symmetry of ground reaction forces and muscle activity in asymptomatic subjects during walking, sit-to-stand, and stand-to-sit tasks. Journal of Electromyography and Kinesiology, v. 21, n. 4, p. 610–615, 2011.

BUSCH, A. et al. Resistance exercise training for fibromyalgia ( Review ). n. 12, 2013.

CHO, K. et al. On the properties of neural machine translation: Encoder–decoder approaches. Proceedings of SSST 2014 - 8th Workshop on Syntax, Semantics and Structure in Statistical Translation, p. 103–111, 2014.

CHORIN, F. et al. Determination of reliable force platform parameters and number of trial to evaluate sit-to-stand movement. Aging Clinical and Experimental Research, v. 27, n. 4, p. 473–482, 2015.

COELHO-JUNIOR, H. J. et al. The physical capabilities underlying timed “Up and Go” test are time-dependent in community-dwelling older women. Experimental Gerontology, v. 104, p. 138–146, 2018.

CSUKA, M.; MCCARTY, D. J. Simple Method for Measurement of Lower Extremity Muscle Strength. The American Journal of Medicine, v. 78, p. 77–81, 1985.

DA, G.; FREIRE, S.; RIBEIRO, F. A. Uso do teste de levantar e sentar da cadeira para identificar fraqueza muscular de membros inferiores em idosos. 2020.

DE MORAES, R. Relação entre Percepção e Ação durante os Movimentos de Sentar e Levantar em Indivíduos Idosos. [s.l: s.n.].

DERC, R. sumário. p. 33–64, 2013.

DOS SANTOS, R. et al. Força de membros inferiores como indicador de incapacidade funcional em idosos. v. 19, n. 3, p. 35–42, 2013.

DUNCAN, R. P.; LEDDY, A. L.; EARHART, G. M. Five times sit-to-stand test performance in Parkinson’s disease. Archives of Physical Medicine and Rehabilitation, v. 92, n. 9, p. 1431–1436, 2011.

EJUPI, A. et al. Kinect-Based Five-Times-Sit-to-Stand Test for Clinical and In-Home Assessment of Fall Risk in Older People. Gerontology, v. 62, n. 1, p. 118–124, 2015.

ETNYRE, B.; THOMAS, D. Q. Event standardization of sit-to-stand movements. Physical Therapy, v. 87, n. 12, p. 1651–1666, 2007.

GHAHRAMANI, M.; STIRLING, D.; NAGHDY, F. The sit to stand to sit postural transition variability in the five time sit to stand test in older people with different fall histories. Gait and Posture, v. 81, p. 191–196, 2020.

GIL, C.; DE ARAÚJO, S. Teste de sentar-levantar: apresentação de um procedimento para avaliação em Medicina do Exercício e do Esporte. Rev Bras Med Esporte. [s.l: s.n.].

GOLDBERG, A. et al. The five-times-sit-to-stand test: Validity, reliability and detectable change in older females. Aging - Clinical and Experimental Research, v. 24, n. 4, p. 339–344, 2012.

GOULART, F. et al. O movimento de passar de sentado para de pé em idosos: implicações para o treinamento funcional. Acta Fisiátrica, v. 10, n. 3, p. 138–143, 2003.

GURALNIK, J. M. et al. Physical Performance Measures in Aging ResearchJournal of Gerontology. MEDICAL SCIENCES. [s.l: s.n.]. Disponível em: <http://geronj.oxfordjournals.org/>.

GURALNIK, J. M. et al. A Short Physical Performance Battery Assessing Lower Extremity Function: Association With Self-Reported Disability and Prediction of Mortality and Nursing Home AdmissionJournal of Gerontology: MEDICAL SCIENCES. [s.l: s.n.]. Disponível em: <http://geronj.oxfordjournals.org/>.

HAMILL, JOSEPH; KNUTZEN, KATHLEEN M.; DERRICK, T. R. 06 - Bases Biomecanicas do Movimento Humano.pdf. 4. ed. [s.l: s.n.].

JONES, C. J.; RIKLI, R. E.; BEAM, W. C. A 30-s chair-stand test as a measure of lower body strength in community-residing older adults. Research Quarterly for Exercise and Sport, v. 70, n. 2, p. 113–119, 1 jun. 1999.

JORDRE, B. et al. The Five Times Sit to Stand Test in senior athletes. Journal of Geriatric Physical Therapy, v. 36, n. 1, p. 47–50, 2013.

JUDGE, T. A. Individual differences in the nature of the relationship between job and life satisfaction. n. 1 994, 1994.

KNUDSON, D. FUNDAMENTALS OF BIOMECHANICS. Second Edi ed. [s.l: s.n.].

LIRA, V. ARTIGO ORIGINAL Teste de sentar-levantar : estudos de fidedignidade. n. January, 2000.

MACIEL, L. M. et al. The first five-year evaluation of cystic fibrosis neonatal screening program in São Paulo State, Brazil Uma avaliação dos primeiros cinco anos do programa de triagem neonatal da fibrose cística no Estado de São Paulo , Brasil Una evaluación de los primer. v. 36, n. 10, 2020.

MAKIZAKO, H. et al. Predictive Cutoff Values of the Five-Times Sit-to-Stand Test and the Timed “Up & Go” Test for Disability Incidence in Older People Dwelling in the Community. v. 98, n. 3, p. 162–171, 2017.

MENTIPLAY, B. F. et al. Five times sit-to-stand following stroke: Relationship with strength and balance. Gait and Posture, v. 78, n. January, p. 35–39, 2020.

MONG, Y.; TEO, T. W.; NG, S. S. 5-Repetition Sit-to-Stand Test in Subjects With Chronic Stroke: Reliability and Validity. Archives of Physical Medicine and Rehabilitation, v. 91, n. 3, p. 407–413, 2010.

NAVES, E. Desenvolvimento de uma plataforma de força para análise da performance biomecânica Eduardo Lázaro Martins Naves § Texto da dissertação apresentada à Universidade Federal de Uberlândia como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências. [s.l: s.n.].

NEWCOMER, K.; MAHOWALD, M. Validity and reliability of the Timed-Stands-Test for patients with rheumatoid arthritis and other chronic diseases. The Journal of Rheumatology, n. February, 1993.

OZALEVLI, S. et al. Comparison of the Sit-to-Stand Test with 6 min walk test in patients with chronic obstructive pulmonary disease. Respiratory Medicine, v. 101, n. 2, p. 286–293, fev. 2007.

ÖZDEN, F.; COŞKUN, G.; BAKIRHAN, S. The test-retest reliability and concurrent validity of the five times sit to stand test and step test in older adults with total hip arthroplasty. Experimental Gerontology, v. 142, n. September, 2020.

PARK, C. et al. Toward Remote Assessment of Physical Frailty Using Sensor-based Sit-to-stand Test. Journal of Surgical Research, v. 263, p. 130–139, 2021.

PATRIZIO, E. et al. Physical Functional Assessment in Older Adults. Journal of Frailty and Aging , v. 10, n. 2, p. 141–149, 2021.

POLLOCK, A. et al. Physical rehabilitation approaches for the recovery of function and mobility following stroke ( Review ). n. 4, 2014.

RADTKE, T. et al. The 1-min sit-to-stand test — A simple functional capacity test in cystic fi brosis ? Journal of Cystic Fibrosis, p. 8–11, 2015.

RIKLI E., ROBERTA;JONES JESSIE, C. Development and Validation of a Functional Fitness Test for Community-Residing Older Adults. Journal of Aging and Physical Activity, v. 7, p. 129–161, 1999.

ROEBROECK, M. E. et al. Biomechanics and muscular activity during sit-to-stand transfer. Clinical Biomechanics, v. 9, n. 4, p. 235–244, 1994.

SANDE DE SOUZA, L. A. P. et al. The effect of the partially restricted sit-to-stand task on biomechanical variables in subjects with and without Parkinson’s disease. Journal of Electromyography and Kinesiology, v. 21, n. 5, p. 719–726, 2011.

SCHENKMAN, M. et al. Whole-body movements during rising to standing from sitting. Physical Therapy, v. 70, n. 10, p. 638–651, 1990.

SEEMAN, T. E. et al. Predicting Changes in Physical Performance in a High-Functioning Elderly Cohort : MacArthur Studies of Successful Aging. v. 49, n. 3, p. 97–108, 1994.

SEKHON, H. et al. Motoric cognitive risk syndrome: Could it be defined through increased five-times-sit-to-stand test time, rather than slow walking speed? Frontiers in Aging Neuroscience, v. 11, n. JAN, 2019.

SHIN, S.; DEMURA, S. Relationship between the Step Test with Stipulated Tempos. 2007.

SILVA, E. Universidade Estadual Da Paraiba Centro De Ciências Biológicas e da Saúde-Ccbs. 2015.

SIU, A. L. et al. Measuring Functioning and Health in the Very Old The Jewish Homes for the Aging of Los Angeles, Reseda Journal of Gerontology: MEDICAL SCIENCES. [s.l: s.n.]. Disponível em: <http://geronj.oxfordjournals.org/>.

THAPA, P. B. et al. Elderly Nursing Home Residents. p. 280–286, 1994.

THOMPSON, B. J. et al. Effects of Age, Joint Angle, and Test Modality on Strength Production and Functional Outcomes. International Journal of Sports Medicine, v. 39, n. 2, p. 124–132, 2018.

VAN CAPPELLEN-VAN MALDEGEM, S. J. M. et al. Self-performed Five Times Sit-To-Stand test at home as (pre-)screening tool for frailty in cancer survivors: Reliability and agreement assessment. Journal of Clinical Nursing, n. December 2021, p. 1–11, 2022.

VAN DER HEIJDEN, M. M. P. et al. Muscles limiting the sit-to-stand movement. An experimental simulation of muscle weakness. Gait and Posture, v. 30, n. 1, p. 110–114, 2009.

VAN DER LINDEN, M.; BRÉDART, S.; BEERTEN, A. Age‐related differences in updating working memory. British Journal of Psychology, v. 85, n. 1, p. 145–152, 1994.

WEINER, D. K. et al. Does Functional Reach Improve With Rehabilitation? n. August, p. 796–800, 1993.

WHITNEY, S. L. et al. Clinical Measurement of Sit-to-Stand Performance in People With Balance Disorders: Validity of Data for the. v. 85, n. 10, p. 1034–1045, 2005.

YEE, X. S. et al. Performance on sit-to-stand tests in relation to measures of functional fitness and sarcopenia diagnosis in community-dwelling older adults. European Review of Aging and Physical Activity, v. 18, n. 1, p. 1–11, 2021.

CAPÍTULO 6

A TECNOLOGIA NA

EDUCAÇÃO EM TEMPO DE PANDEMIA: REFLEXÕES A PARTIR DO PENSAMENTO

FREIREANO

Túlio Magno da Silva Campos José Luís Simões

1 Aluno do doutorado em educação da UFPE.

2 Professor do doutorado em educação da UFPE.

INTRODUÇÃO

Ao final do ano de 2019 fomos surpreendidos com o surgimento de um quadro viral que estava ocorrendo em países Asiáticos e Europeus, o Novo Coronavírus (COVID-19). Em 30 de janeiro de 2020 a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou o caso como emergência de saúde internacional, em virtude da elevada contaminação, ao estágio de pandemia de Covid-19 no dia 11 de março do mesmo ano. A principal medida de prevenção adotada por diversos países para conter a propagação do Novo Coronavírus foi o isolamento social. No Brasil, mesmo com forte resistência do Governo Federal, o isolamento ocorreu para evitar as aglomerações de pessoas em ambientes fechados e abertos, por não existir dados que mostrassem como conter a ação do vírus no organismo humano.

A princípio, houve a paralisação total ou parcial de todos os serviços não considerados essenciais para a sociedade. Com o avançar dos dias várias atividades buscaram ser readequadas a essa situação. Várias empresas e trabalhadores

informais passaram a utilizar a internet como uma ferramenta para se conectar com seus clientes e manter seus negócios funcionando, surgem assim novas possibilidades de trabalho, como as teleconsultas (consultas médicas a distância), e a consolidação de serviços que já vinham sendo testados em menor demanda como: as entregas via delivery, utilização de aplicativos para pagamentos e transações bancárias sem a necessidade de se deslocar até uma agência, reuniões de trabalho por videoconferência e no âmbito educacional a utilização de plataformas de ensino para as aulas à distância.

Nesse contexto, esse novo ‘‘normal’’ fez demandar, de nós educadores, uma reorganização das nossas aulas frente a um novo método de ensino. Contudo, novos desafios surgiram com esse modelo de ensinar e aprender, por exemplo: manter o aluno concentrado, realizar aula motivante, interativa, dentre outros desafios que nos levam a pensar de que maneira o professor estando em espaços físicos diferentes do aluno não acaba reproduzindo o método tradicional e bancário? Sobre isso, é importante ressaltar que o método bancário é “um ato de depositar, em que os educandos são os depositários e o educador, o depositante” (FREIRE, 2017, p. 80).

É válido destacar que os desafios na educação são muitos e se renovam frente ao novo momento político, social, econômico e tecnológico que nos encontramos. A escola no Brasil, como a conhecemos, foi implantada com o claro objetivo de consolidar as expectativas do mercado capitalista. Para isso, sofre com constantes pressões e influências do momento histórico e da concepção política que se faz vigente no país.

As discussões sobre a qualidade do ensino, a relação professor-aluno, o ambiente escolar, e sobre a qualificação do ensino para o mercado de trabalho são pautas que vêm permeando os estudos sobre educação há várias décadas. Nesse sentido, com o avanço tecnológico se tornando sempre presente em nossa sociedade e com sua inserção sendo cada dia mais eminente na educação escolar, estudos sobre essa prática não poderiam deixar de ocorrer.

Ensinar a distância é o mais novo desafio a ser enfrentado pelo sistema educacional, uma vez que esse modelo continua sendo

utilizado por diversas instituições de ensino de maneira parcial ou integral, tanto na educação básica como no ensino superior. Contudo, precisamos salientar que o ensino a distância vai muito além de oferecer aos alunos e professores a possibilidade de se conectarem em salas de aula virtuais em momentos síncronos e assíncronos, pois não basta simplesmente reproduzir o mesmo modelo didático realizado em salas de aula presenciais. Tornando as discussões sobre o papel do professor, a relação professor e aluno, o papel social da escola, a qualidade do ensino e sua importância na sociedade, frente a esse novo modo de conceber o ensino são temas de suma importância a serem estudados na sociedade. Por isso, buscamos assim realizar um pequeno ensaio sobre esse vasto campo de conhecimento e possibilidades que nos deparamos a partir do pensamento freireano.

DESENVOLVIMENTO

O acesso à informação no contexto atual é quase que ilimitado. Novas ferramentas tecnológicas surgem quase que diariamente, e com elas novas possibilidades de construção do conhecimento se fazem cada dia mais latentes nessa nova sociedade. Mas é preciso termos clareza de que apenas a informação não traz o conhecimento necessário para a vida, que o contexto da aprendizagem vai muito além do acesso aos buscadores de pesquisa, aos tutoriais, aos textos frios disponibilizados na internet e aos vídeos no youtube. Segundo Alarcão:

esta era começou por se chamar a sociedade da informação, mas rapidamente se passou a chamar sociedade da informação e do conhecimento a que, mais recentemente, se acrescentou a designação de sociedade da aprendizagem. Reconheceu-se que não há conhecimento sem aprendizagem. E que a informação, sendo uma condição necessária para o conhecimento, não é condição suficiente (2008, p. 17).

Para que possamos realmente garantir aos nossos estudantes uma educação crítica e reflexiva, precisamos tomar consciência

sobre a utilização das novas ferramentas tecnológicas presentes no nosso cotidiano e trazê-las para o contexto educacional de uma maneira crítica, na qual confrontamos e ensinamos aos educandos a confrontar as informações apresentadas frente a sua veracidade e aprofundamento. Sem dúvida, é preciso evitar que voltemos a cair nos mesmos equívocos que ocorreram com o surgimento do Telensino, o primeiro formato de ensino “assíncrono” no Brasil, que teve como objetivo ser o maior programa de correção de fluxo no Ensino Médio.

É válido lembrar que esse programa de correção de fluxo utilizava em sua metodologia de ensino fitas de vídeo do telecurso 2º grau e material pedagógico fornecidos pela Fundação Roberto Marinho. As aulas eram ministradas com um número máximo de 40 alunos/turma sendo acompanhadas por orientadores pedagógicos, contratados e capacitados pela fundação. "Os contratados orientavam os alunos quanto à aprendizagem das aulas que eram desenvolvidas na televisão".

Como podemos perceber, não é de hoje que surgem propostas com o intuito de utilização da tecnologia no âmbito educacional e para a educação à distância. Cada sociedade tem seu tempo e relação com o uso de diferentes ferramentas e técnicas de ensino. Atualmente encontramos novas ferramentas que vão além do rádio e da televisão, ou seja, por meio da internet. Além disso, podemos utilizar smartphone, tablets, computadores, softwares, aplicativos e redes sociais para acessarmos novas fontes de informação gerando novas possibilidades de conhecimento e de aprendizado.

Entretanto, estas mesmas tecnologias que conectam as pessoas em dispositivos e meios, conectam o educador e o educando aos conhecimentos para além dos muros da escola. Além disso, podem oferecer alguns riscos, como o de se virtualizar as relações, privilegiar-se uma aproximação da tecnologia ao invés de ter relações pessoais, apresentar informações superficiais, errôneas e que não possibilitam a reflexão ou criticidade por serem vistas como sendo fórmulas prontas ou verdades concretas e absolutas. Sobre isso, como afirma Paulo Freire (1968), não podemos atribuir à tecnologia a responsabilidade pela escolha que fazemos ao definir como iremos utilizá-la. Para o autor:

[...] seria simplismo atribuir a responsabilidade por esses desvios a tecnologia em si mesma. Seria uma outra espécie de irracionalismo, o de conceber a tecnologia como uma entidade demoníaca, acima dos seres humanos. Vista criticamente, a tecnologia não é senão a expressão natural do processo criador em que os seres humanos se engajam no momento em que forjam o seu primeiro instrumento com que melhor transformam o mundo (FREIRE, 1968a, p. 98).

É preciso, portanto, termos muito cuidado com a intencionalidade que se tem na proposição do ensino por meio da utilização das tecnologias, pois como afirma Lévy: “por trás das técnicas agem e reagem ideias, utopias, interesses econômicos, estratégias de poder, toda a gama dos jogos dos homens em sociedade” (LÉVY, 2010, p. 24).

A tecnologia tanto pode empoderar nossos alunos com o conhecimento necessário para a sua emancipação social, como pode aliená-lo, torná-lo dócil e obediente às informações postas pelo mercado. Tudo isso, fruto da intencionalidade que se aplica, uma vez que, a tecnologia não é boa nem má em si própria.

Sendo assim, é preciso que tenhamos clareza do que gostaríamos de propor como aprendizagem essencial para nossos alunos, frente às inúmeras fontes de conhecimento que existem pagando ou gratuitamente em vídeos, textos, jogos ou podcast. Entre tantas alternativas de fontes, cabe ao professor a atribuição de curador de conteúdos, no qual o educador irá filtrar e selecionar as melhores e os mais adequados conteúdos a serem utilizados no processo de ensino-aprendizagem. É de fundamental importância, compreendermos os conhecimentos técnicos e sabermos como utilizá-los na educação de forma adequada.

A educação não se reduz à técnica, mas não se faz educação sem ela. Utilizar computadores na educação, em lugar de reduzir, pode expandir a capacidade crítica e criativa de nossos meninos e meninas. Dependendo de quem o usa, a favor de quê, de quem e para quê. O homem concreto deve se instrumentar com o recurso da ciência e da tecnologia para melhor lutar pela causa de sua humanização e de sua libertação (FREIRE, 2001a, p.98).

A utilização da tecnologia, informática, internet e hardware, sendo orientada da maneira correta proporcionará aprendizagens significativas aos alunos, possibilitando a criação e construção de conhecimentos que realmente ampliem a capacidade crítica dos educandos. Para isso, é necessário que os professores criem situações em que o conteúdo das aulas faça sentido para o aluno, para que as produções escolares sejam significativas. Segundo Freire e Valente (2001, p.31):

[...] Informática na Educação significa a integração do computador no processo de aprendizagem dos conteúdos curriculares de todos os níveis e modalidades de educação. A informática na Educação de que estamos tratando enfatiza o fato de o professor da disciplina curricular ter conhecimentos dos potenciais educacionais do computador e ser capaz de alternar, adequadamente, atividades não informatizadas de ensino-aprendizagem e atividades que usam o computador. No entanto, a atividade de uso do computador pode ser feita tanto para continuar transmitindo a informação para o aluno e, portanto, para reforçar o processo instrucionista de ensino, quanto para criar condições para o aluno construir seu conhecimento em ambientes de aprendizagem que incorporem o uso do computador.

As atividades desenvolvidas em sala de aula devem abrir espaços para contatos com uma “comunidade em rede” por meio de recursos midiáticos. A internet contribui de forma significativa para a ampliação dos conhecimentos compartilhados entre professores, alunos e comunidades.

Se apropriando de maneira séria das ferramentas tecnológicas os estudantes serão capazes de explorar novos conhecimentos, reconhecer-se como parte da comunidade, ampliar suas apropriações culturais sem perder de vista as suas raízes, criar hipóteses e contribuir de forma crítica na construção social. Algo de extrema importância de ser realizado, uma vez que a tecnologia não é neutra, é intencional, não se produz nem se usa sem uma visão de mundo, de homem e de sociedade que a fundamente.

[...] para mim, a questão que se coloca é: a serviço de um as máquinas e a tecnologia avançada estão? Quero saber a favor de quem, ou contra quem as máquinas estão sendo postas em uso [...] Para mim os computadores são um negócio extraordinário. O problema é saber a serviço de quem eles entram na escola (FREIRE, 1984a, p.1).

O uso da tecnologia na escola está imbuído de concepções políticas, econômicas, partidárias e ideológicas, e isto não pode ser negado. No entanto, não devemos demonizar ou endeusar a tecnologia na educação. O que precisamos fazer é ter certeza do nosso papel e das nossas escolhas frente à utilização desses instrumentos. Como Freire chega a afirmar, o problema não é tecnológico, mas político, “e se acha visceralmente ligado à concepção mesma que se tenha de produção” (FREIRE, 1968a, p. 99).

Com a pandemia da COVID-19 a concepção política que vinha sendo construída a favor da hibridização do ensino ganhou ainda mais força e notoriedade em nossas Redes de Ensino, muitos pais e educadores comungam ou discordam dessa maneira de abordar a educação, sem se questionar sobre quem serão os beneficiados com a hibridização do ensino ou com a sua prática integralmente a distância.

A tecnologia cada dia mais se faz fundamental em nossas vidas. Mais do que nunca observamos isso com o surgimento do Novo Coronavírus. É preciso que tenhamos clareza de que a tecnologia está realmente a serviço do povo, do ensino, do progresso, comungando com nossa realidade, nossas raízes, nossa cultura e não sendo implantada de fora para dentro, de cima para baixo com a simples perspectiva de atingir as expectativas de mercado (FREIRE, 1976, p.24).

CONCLUSÃO

As tecnologias exercem um importante papel em nossa sociedade e na educação não teria como ser diferente, principalmente quando experienciamos a utilização de várias tecnologias durante o período de isolamento social vivido por conta da COVID-19. Contudo, é necessário o professor ter clareza da sua responsabilidade, enquanto educador, em construir uma prática pedagógica reflexiva para aproximar o uso dessas tecnologias à realidade de vida dos seus educandos.

É preciso propor ações críticas e reflexivas frente aos conteúdos a serem trabalhados em sala de aula em ou em outros espaços por meio dos recursos tecnológicos. Por isso, o papel do professor é o de selecionar, articular, pedagogizar e coordenar os conteúdos estudados e as atividades desenvolvidas. O educando necessita de um mediador para essa tarefa, uma vez que sozinho esse saber não acontece, pois não basta colocar o aluno na frente do computador, é necessária uma interação mútua de professor e aluno nesse processo de construção de conhecimento.

É importante termos clareza que a tecnologia irá sempre nos acompanhar, novas ferramentas surgirão e essa renovação constante será sempre um desafio no processo pedagógico, mas não há porque temer a evolução tecnológica e nem porque negá-la, precisamos nos apropriar desses novos conhecimentos e estarmos sempre nos reciclando para oferecer o melhor para nossos educandos, tendo sempre em mente que a tecnologia é um meio e não um fim. É preciso tratar de forma crítica tanto as tecnologias empregadas no processo educacional, como as intencionalidades em sua utilização e os conteúdos propostos e selecionados.

Por fim, gostaríamos de salientar a importância de visitarmos educadores como Paulo Freire para entendermos como devemos nos relacionar com as novas práticas pedagógicas/tecnológicas. Embora não tenhamos escrito algo relacionado diretamente ao contexto social e educacional que vivemos atualmente, os escritos freireanos vão muito além do seu tempo, contemplam a nossa realidade atual e por isso, a partir deles é possível traçarmos novas contribuições para o processo educativo atual.

REFERÊNCIAS

ALARCÃO, I. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. São Paulo: Editora Cortez. 2008.

FREIRE, F. M. P. & VALENTE, J. A. (orgs.) aprendendo para a vida: os computadores na sala de aula. São Paulo: Cortez, 2001.

FREIRE, P. A Educação na Cidade. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2001a.

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2017.

FREIRE, P. Pedagogia dos sonhos possíveis. São Paulo: Editora Unesp, 2001.

FREIRE, P. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992, 145 p.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. 9. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. 13. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1996.

FREIRE, P. A máquina está a serviço de quem? Revista BITS, p. 6, maio de 1984.

FREIRE, P. SHOR, I. Medo e Ousadia: o cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

FREIRE & PAPERT. O futuro da escola. São Paulo: TV PUC, 1996.

LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 2010.

CAPÍTULO 7

VÍNCULO E CUIDADO ÀS EMOÇÕES DE BEBÊS NA ABORDAGEM PIKLER:

PERCEPÇÃO DE PROFESSORAS DE

UMA

INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO INFANTIL

SOBRE SUAS PRÁTICAS EDUCATIVAS

RESUMO

Manoela Aureliano dos Santos - manoela.santos@ufpe.br

Ana Paula Fernandes da Silveira

Mota - ana.fsilveira@ufpe.br

José Luis Simõesjoseluis2711@yahoo.com.br

As emoções assumem um importante papel na educação, o que pode facilitar ou não a aprendizagem, dependendo dos tipos de relações que se estabelecem na escola, sobretudo quando se trata do vínculo entre o adulto e a criança que se encontra na Educação Infantil. Este artigo apresenta uma análise da percepção de quatro professoras, de uma instituição de Educação Infantil em Fortaleza, que desenvolvem práticas educativas inspiradas na abordagem Pikler. A partir dos estudos realizados por Emmi Pikler (PIKLER, 1969; FALK, 2011, 2016) e alguns princípios da teoria da Educação Emocional em Casassus (2009) verificamos a pertinência da qualidade do vínculo do educador e o cuidado às emoções de bebês. Por meio do método qualitativo e do uso da entrevista semi-estruturada, os resultados mostraram que a relação genuína entre o adulto-criança pode apresentar contribuições transformadoras e atitudes necessárias para uma aprendizagem na perspectiva da formação humana.

Palavras-chave: Abordagem Pikler. Educação infantil. Vínculo. Cuidado. Emoções.

ABSTRACT

Emotions play an important role in education, which can facilitate learning or not, depending on the types of relationships that are established at school, especially when it comes to the bond between the adult and the child in Early Childhood Education. This article presents an analysis of the perceptions of four teachers from an Early Childhood Education institution in Fortaleza, who develop educational practices inspired by the Pikler approach. Based on the studies carried out by Emmi Pikler (PIKLER, 1969; FALK, 2011, 2016) and some principles of the theory of Emotional Education in Casassus (2009), we verified the relevance of the quality of the educator's bond and care for babies' emotions. Through the qualitative method and the use of semi-structured interviews, the results showed that the genuine adult-child relationship can present transformative contributions and attitudes necessary for learning from the perspective of human formation.

Keywords: Pikler approach. Early childhood education. Bond. Care. Emotions.

INTRODUÇÃO

A Educação Infantil representa uma das mais importantes etapas para o desenvolvimento global das crianças. No caso de bebês, quando iniciam as experiências na creche, os cuidados, as interações e os espaços precisam ser pensados para atender suas necessidades, considerando o aspecto físico, motor, cognitivo, social e emocional, fundamentais à sua formação.

A educação para bebês requer uma organização que pense no processo de constituição psíquica do sujeito, não bastando apenas cuidar das necessidades básicas para garantir a integridade do corpo, mas, promover um ambiente físico e socioemocional, cujos educadores se ocupem dos bebês com responsividade, atribuindo significados, cultivando afetividade em um espaço que permite, além da socialização e da aprendizagem, a formação humana.

A partir da curiosidade e do interesse pessoal pela experiência docente com bebês, surge a motivação para pesquisar na área de Educação Infantil, especificamente a faixa etária até 3 anos, dia-

logando com algumas experiências formativas e profissionais registradas em meu percurso. Na experiência como auxiliar de sala na Educação Infantil, com crianças entre 1 ano e meio e 3 anos, percebi que o atendimento a crianças tão pequenas exigia um olhar mais atento, principalmente porque não havia algum tipo de formação. Também foi possível constatar que as funções na escola eram hierarquizadas, havendo uma dicotomia no processo de cuidar e educar, cujas auxiliares ficavam encarregadas de cuidar e as professoras de educar, em uma perspectiva limitada que compreende tais ações separadas.

Quando ingressei no curso de Pedagogia e passei a ter uma formação que me levou a compreender que não há uma separação nos papéis de quem educa e cuida, percebi que as experiências do cotidiano como dar banho em uma criança, alimentá-la, limpá-la ou vesti-la, por exemplo, quando acompanhadas de atenção, comunicação e trocas interativas, podem ser experiências educativas, a depender da postura e da intencionalidade pedagógica do adulto que cuida.

Estudos como os de Schmitt (2014), Fochi (2013), Coutinho (2010) e Guimarães (2008) evidenciam que ainda há muito a ser avançado em relação ao atendimento das crianças nas creches e às particularidades da docência com bebês. Historicamente, a Educação Infantil vai assumindo concepções diversas em relação à sua finalidade e função social. A educação das crianças de 0 a 3 anos, por exemplo, passou grande parte desse processo ocupando uma posição periférica no sistema escolar (SCHMITT, 2014). O reconhecimento da condição da criança como sujeito de direitos é um fato recente na história do Brasil. É a partir da década de 80 do século XX que a criança pequena passa a ser respeitada como um sujeito histórico e de direitos no âmbito dos dispositivos legais, conferindo-lhe também a garantia do direito à educação (BRASIL, 1988, 1990; 1996).

É essencial que na Educação Infantil, o processo de aprendizagem seja promovido por meio de uma relação entre educador-criança, baseada no respeito e na afetividade. As relações podem promover “um espaço de educação, em que o encontro com o outro, a brincadeira, a ampliação dos repertórios linguísticos, sociais e culturais, mediante a ação social pelo corpo,

trocas e descobertas” (COUTINHO, 2010, p. 213), aproximam as possibilidades de favorecer o desenvolvimento integral do ser. Para tais argumentos, Guimarães (2008) afirma que a particularidade na docência com bebês se encontra na sutileza das relações sociais estabelecidas no cotidiano. A autora destaca que o desafio de trabalhar com bebês se encontra, principalmente, na comunicação, pois interpretá-los demanda disponibilidade, conhecimento e interesse do adulto. Para os bebês que ainda não falam, por exemplo, Fochi (2013) diz que eles devem ser reconhecidos como sujeitos com potencial, pois o desejo de se relacionar e se comunicar com outras pessoas é expresso nos olhares, gestos, balbucios, choros, sorrisos e movimentos que comunicam suas necessidades.

Ao participar do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Infantil e Formação Humana (GEPEIFH), vinculado ao CNPq/UFPE/ CE, despertei a motivação em pesquisar sobre emoções e relações humanas na creche, especialmente, por ter percebido o quanto as emoções têm um papel preponderante na educação, pois, muito embora o conhecimento cognitivo seja importante, as emoções podem facilitar ou obstruir a aprendizagem (CASASSUS, 2009).

De igual modo, como assinala o autor, acreditamos que os docentes têm um papel fundamental no desenvolvimento emocional das crianças e a escola representa esse campo de interações, sobretudo, na relação estabelecida entre a criança e o educador, que segundo Casassus (2009) é crucial para a formação humana.

As experiências realizadas no grupo de estudo e pesquisa oportunizaram o acesso a algumas das contribuições deixadas por Emmi Pikler (1902-1984), uma pediatra austríaca, radicada na Hungria, que se dedicou aos estudos e pesquisas da atenção educativa e cuidados a crianças de 0 a 3 anos, destacando as capacidades e necessidades dos bebês e apresentando ideias inovadoras com uma série de detalhes que dizem respeito ao desenvolvimento integral da criança, a qual é conhecida como abordagem Pikler.

Devido à maioria de seus escritos serem encontrados em húngaro, francês ou alemão, existe um número reduzido de suas obras traduzidas em português. No entanto, alguns autores, como Appell e David (2011), Soares (2017) inclusive, colaboradores

diretos, como Falk (2011; 2016) que trabalhou ao lado de Pikler, apresentam discussões acerca do respeito ao bebê, da valoração da atividade autônoma, da importância do vínculo afetivo entre o adulto e o bebê e da liberdade do movimento livre, que formam a base estruturante dos princípios defendidos por Emmi Pikler. Tais princípios são possíveis de serem considerados no terreno da pedagogia e levados para o contexto da Educação Infantil, a fim de repensarmos as práticas cotidianas com os bebês.

A partir do percurso descrito, alguns questionamentos surgiram: Como a filosofia Pikler pode contribuir para a formação afetiva nessa etapa de ensino, considerando a qualidade do vínculo dos educadores e o cuidado às emoções dos bebês? É possível relacionar alguns aspectos desta abordagem com a teoria da Educação Emocional? De que modo a Abordagem Pikler pode inspirar educadores da Educação Infantil para desenvolverem suas práticas educativas?

Para responder as indagações levantadas, sentimos a necessidade de conhecer experiências pedagógicas inspiradas na Abordagem Pikler que se propõem a educar crianças. Para além de uma explanação teórica, consideramos que se aproximar da prática educativa é crucial para provocar reflexões sobre o fazer docente.

Diante dos questionamentos, buscamos como objetivo geral compreender como a abordagem Pikler pode inspirar práticas educativas na Educação Infantil, considerando a qualidade do vínculo dos educadores e o cuidado às emoções de bebês. Quanto aos específicos, a pesquisa pretendeu: a) verificar quais são os aspectos referentes à qualidade do vínculo do educador na prática educativa com bebês; b) compreender a pertinência do cuidado às emoções do bebê, a partir de alguns princípios teóricos da abordagem Pikler, dialogando-os com a teoria da Educação Emocional; e, c) analisar a percepção de professoras, de uma instituição de Educação Infantil, quanto às implicações da abordagem Pikler em suas práticas educativas com bebês, considerando o vínculo e o cuidado às emoções.

Ao realizarmos um levantamento exploratório de produções científicas em educação sobre a Abordagem Pikler, identificamos que além de escassa, a produção é consideravelmente recente. A

pesquisa de Santos, Santos e Villachan-Lyra (2019) apresenta uma revisão da literatura sobre a abordagem Pikler. O mapeamento realizado teve como principais fontes as publicações dos periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES); da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD); e, do Google Scholar, entre o período de 2009 a 2019. As autoras identificaram um total de 181 publicações, dentre estas, 7 atenderam a um dos requisitos referentes à qualidade do cuidado para a educação de crianças de 0 a 3 anos, sendo algumas utilizadas na discussão teórica deste trabalho.

Além de tais estudos encontrados, também nos pautamos nas contribuições das obras de Appell e David (2011), Falk (2011, 2016), que sob inspiração dos ensinamentos de Pikler deram continuidade ao estudo que defende o bebê como um ser ativo, potente, competente e capaz de se desenvolver autonomamente.

Nas próximas seções, traremos a apresentação da metodologia com os procedimentos utilizados na trajetória investigativa, a análise dialogando com os principais marcos teóricos que fundamentam a temática em discussão e os resultados obtidos no estudo realizado, e, por fim, nas considerações finais, os desdobramentos possíveis desta pesquisa para o campo da Educação Infantil.

METODOLOGIA

Para esta pesquisa, adotamos uma abordagem qualitativa, pois segundo Minayo (2001), temos a possibilidade de trabalhar com uma diversidade de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes que correspondem a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à instrumentalização de variáveis. Assim, requer de quem pesquisa um olhar mais atento, afetivo e sobretudo, ético, de maneira a viabilizar a compreensão de como uma pedagogia que tem como propósito o desenvolvimento integral do ser, se aplica a práticas educativas na Educação Infantil, e colabora para compreender, potencializar ou aprimorar as emoções de bebês.

A pesquisa, que tem como objetivo compreender como a abordagem Pikler pode inspirar práticas educativas na Educação Infantil, considerando a qualidade do vínculo dos educado-

res e o cuidado às emoções de bebês, delineia-se exploratória, do tipo estudo de caso, a fim de investigar aspectos específicos do campo de pesquisa em questão. Desta feita, utilizando-se da realização de um levantamento bibliográfico, destacando a filosofia da abordagem Pikler, também foram realizadas entrevistas, do tipo semiestruturadas, com uma gestora e quatro educadoras de crianças de 0 a 3 anos, vinculadas a uma instituição da rede privada localizada na cidade de Fortaleza, no estado do Ceará. O critério para escolha de tal instituição se deveu ao fato de ser um espaço que se autodenomina ter práticas educativas inspiradas nos princípios da abordagem Pikler. Tomamos conhecimento da existência de tal escola a partir de uma visita técnica realizada pela coordenadora do GEPEIFH, cuja ocasião promoveu trocas com o grupo de pesquisa Diálogos Pikler, vinculado à Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Em razão do contexto da pandemia da Covid-19, o que impossibilitou a execução desta pesquisa no locus da escola, além da distância geográfica, optamos pela realização das entrevistas através de videoconferência pela plataforma Google Meet, sendo gravadas e posteriormente transcritas. Foi assegurado às participantes da pesquisa o sigilo de suas identidades e da instituição na qual estão vinculadas. A entrevista semiestruturada individual nos possibilitou, segundo Marconi e Lakatos (2010), a liberdade para desenvolver cada situação na direção que consideremos adequada. Entendemos que essa técnica foi uma forma de explorar mais amplamente as perguntas que foram abertas e respondidas dentro de uma conversação informal, sendo tal instrumento primordial para a análise.

Para analisar os dados utilizamos a técnica de análise de conteúdo que se configura em Bardin (2011) realizando pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados. A partir do levantamento teórico-bibliográfico, que representa uma parte importante de estudo de textos (artigos, teses e livros), ao passo que envolve uma aproximação com a reflexividade dos atores investigados, elencamos duas categorias de análise, a qualidade do vínculo e o cuidado às emoções, a fim de obter indicadores que propiciem a interpretação e inferência de conhecimentos a partir da percepção que as professoras, da Educação Infantil, têm sobre suas práticas educativas, expressando suas compreensões teóri-

cas a partir dos estudos que realizam sobre a abordagem Pikler, e, como percebem tais compreensões repercutindo no fazer docente, sobretudo, no que se refere à relação de vínculo e cuidado às emoções dos bebês.

A seguir, apresentaremos a análise e os resultados, com base nas categorias, considerando as contribuições da qualidade do vínculo das educadoras e o cuidado às emoções de bebês, à luz da Abordagem Pikler, no ambiente escolar da Educação Infantil.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nesta seção, apresentaremos a análise, discussão e interpretações dos dados obtidos nesta investigação. Fundamentamos esta sistematização, tomando como aporte metodológico a análise de conteúdo (BARDIN, 2011). Inicialmente, nos propomos a apresentar a caracterização do locus da pesquisa e da amostra das participantes, contextualizando como a escola se fundamenta mediante a abordagem Pikler. Para isso, detivemos nosso olhar sobre os componentes apresentados pela gestão da instituição que em entrevista expõe o porquê dos conceitos piklerianos constituírem parte da filosofia da escola e como acontecem as orientações pedagógicas para que os princípios filosóficos e a prática educativa das professoras estejam em consonância.

A escola teve suas atividades iniciadas no ano de 2018 e atende, exclusivamente, à primeira etapa da educação básica. Recebe crianças a partir dos 5 meses até 5 anos de idade e funciona nos turnos manhã e tarde. A intenção de ter um espaço educativo voltado, efetivamente, para crianças pequenas permitiu a aproximação com os estudos sobre a abordagem Pikler que vinham sendo realizados por uma professora da Universidade Federal do Ceará, o que contribuiu para compreender e priorizar as experiências, conhecimentos e curiosidades das crianças.

O processo formativo baseado na abordagem Pikler foi iniciado 2 anos antes da escola inaugurar. A gestora, juntamente com algumas estudantes do curso de pedagogia da Universidade Federal do Ceará, que já teriam tido contato com a abordagem na graduação, iniciaram as primeiras formações mais direcionadas a um método preciso e unificado no atendimento às crianças, so-

bretudo aos bebês. Conforme a gestora expressou, ter os conceitos piklerianos como parte da filosofia da escola corresponde ao que a gestão acredita ser fundamental ao atendimento da criança, uma prática calorosa, aconchegante, tranquila, mais humanizada e menos mecanizada.

Dessa forma, buscar sua própria formação e aprofundar seus conhecimentos sobre a abordagem Pikler por meio de cursos da Association Pikler-Lóczy France (APLF), segundo a gestão, foi fundamental para as orientações pedagógicas que guiam as ações desenvolvidas na escola e que coadunam com o que apresenta Falk (2011) sobre ter o olhar atento e saber observar as crianças, para tentar compreender o que expressa a posição do corpo, dos gestos, da voz, dedicando tempo, buscando satisfazer, principalmente, suas necessidades individuais.

Logo, para que os princípios filosóficos e a prática educativa das professoras sejam coerentes, a escola prima por um aspecto fundamental do saber docente, a formação de professores, visto que, cada profissional que entra na escola, tendo ou não conhecimento sobre a abordagem Pikler, participa de um processo de formação, contínua e a longo prazo. Como nos diz Tardif (2012), os saberes docentes se materializam através de uma formação, de práticas coletivas, de uma pedagogia institucionalizada, e ao mesmo tempo, através dos seus próprios saberes. Nesse propósito, o refinamento dos conceitos se dá por meio da prática, ou seja, acontece em função das ações e das situações presentes no ambiente de trabalho, o que na escola entendemos estar estritamente ligado às relações da criança com o adulto, da criança com a criança e do adulto com o adulto, suscitado pela observação da vida cotidiana, do comportamento e do desenvolvimento da criança, como propõem os princípios adotados pela instituição investigada.

Para efeito dessa pesquisa, contamos com a participação de quatro docentes. Para nos referir às professoras entrevistadas, garantindo o anonimato, utilizaremos o código P acompanhado de um número distinto para cada participante, o que corresponde às turmas frequentadas por crianças de 0 a 3 anos (P1: Berçário; P2: Infantil I; P3: Infantil II e P4: Infantil III). O Quadro 1 a seguir, apresenta a caracterização das participantes.

QUADRO 1. CARACTERIZAÇÃO DAS PARTICIPANTES

Faixa etária das crianças que cuida-educa

P1 27 Pedagoga 1 ano 4 anos 4 anos A partir dos 5 meses

P2 29 Pedagoga 9 meses 4 anos 4 anos 1 ano

P3 23 Pedagoga 2 anos 5 anos 3 anos 2 anos

P4 26 Pedagoga 6 anos 10 anos 4 anos 3 anos

Fonte: Os autores, 2021

Quanto ao perfil da amostra, verificamos que todas as participantes possuem, relativamente, pouco tempo de formação em Pedagogia, com exceção de P4 que apresenta um tempo maior comparada às outras. Outro fator que merece nossa atenção é que embora P4 seja uma das mais jovens, é mais experiente que P2, por exemplo, já que iniciou sua experiência em sala de aula ainda no primeiro ano da graduação, o que conforme Tardif (2012) nos faz refletir sobre a formação dos saberes docentes não se limitar apenas aos conhecimentos teóricos recebidos na universidade, mas demonstra que a experiência de trabalho parece ser uma fonte privilegiada do saber-ensinar.

Para analisar os dados obtidos nas entrevistas, foi organizada uma tabela com as respostas das participantes, para que, posteriormente, a partir das categorias identificadas, estabelecêssemos relações com as questões norteadoras da pesquisa.

Quanto à pertinência das categorias de análise, conforme já explicitado, utilizamos: (1) a qualidade do vínculo, e (2) o cuidado às emoções, provenientes dos princípios piklerianos (APPELL; DAVID, 2011; FALK, 2011, 2016) bem como, subcategorias que serão apresentadas mais à frente, com base nos relatos das próprias educadoras. Entendemos que essas foram significativas em atendimento aos objetivos da pesquisa, dialogando com o aporte teórico calcado, sobretudo, na abordagem Pikler e com alguns aspectos do campo da Educação Emocional.

Professora Idade Formação
Tempo de formação
Tempo de atuação na Educação Infantil
Tempo de atuação na escola pesquisada

1. IMPRESSÕES SOBRE A QUALIDADE DO VÍNCULO

Pensar nessa categoria, a partir da abordagem pikleriana, permite-nos refletir sobre a forma de ligação que se estabelece entre a criança e o adulto. O estudo realizado pela médica nos apresenta uma concepção de que o sentido dessa relação vai muito além da presença física. Para compreender os aspectos necessários a uma boa qualidade do vínculo apresentamos duas subcategorias que foram identificadas a partir do relato das participantes da pesquisa: o respeito à criança e a relação adulto-criança.

O respeito à criança é um dos pilares fundantes da abordagem Pikler. Entender esse ser como competente, ativo e autônomo é compreender que o bebê não é um objeto manipulável que está apto apenas a receber o que o adulto oferece, mas que desde o nascimento é possível estabelecer com ele uma relação de colaboração (Soares, 2017). Nos relatos das educadoras, do berçário ao Infantil III, aparece esse entendimento de que o bebê “não é um ser passivo, mas sensível a tudo que acontece em torno dele” (P2).

Percebe-se então, que o bebê é capaz de realizar suas observações e demonstrar curiosidades a partir de suas necessidades, pois de acordo com P1 “embora seja um ser que está se formando, ele traz dentro de si capacidades que vão se desenvolvendo”, reiterando as discussões apresentadas nessa pesquisa sobre o bebê ser alguém dotado de inteligência, devendo-se respeitar, sobretudo, seu tempo, ritmo, gestos e sinais. Nessa ótica, Tardos (2016) defende o processo de autonomia, ao qual o bebê é capaz de aprender e realizar ações, de acordo com as diferentes fases de seu desenvolvimento.

Sobre isso, P1 pontua que:

Conhecemos muito pouco do bebê, de desenvolvimento [...] os bebês ainda estão muito distantes da gente, agora que eles estão se aproximando, agora que a gente tá conhecendo, acredito que muita coisa vai mudar a partir de agora, dessa visão, dessas concepções. (P1)

A partir dessa resposta, a professora quis dizer que para ela a abordagem pode apresentar contribuições para pensar o bebê

em cada etapa de seu desenvolvimento, uma vez que integrado ao seu meio, favorecerá a construção da autoestima, autonomia e segurança afetiva em uma relação de respeito e confiança.

Dessa experiência inovadora, Falk (2011) apresenta que os ideais de Emmi Pikler se pautavam em condições pessoais, materiais e organizacionais de educação para que:

A criança se sentisse competente em suas relações e atividades progressivamente enriquecidas; pudesse reconhecer-se [...] nas relações com as pessoas do seu entorno imediato ou mais distante; respeitasse a si mesma e aos outros; estivesse aberta e preparada para aceitar novos conhecimentos; seguisse capaz de estabelecer relações afetivas duráveis e profundas e de integrar-se ativamente na sociedade (FALK, 2011, p. 29)

Assim, reiteramos que a prática educativa com bebês deve proporcionar aprendizagens através de cuidados que devem ser pensados dentro de um conjunto de ações que criam oportunidades para um desenvolvimento pleno e humanizado. Para isso, compreendemos a importância de se educar não somente o olhar, mas o toque e a escuta, pois à medida que aprendemos a respeitar as necessidades essenciais da criança, também aprendemos o sentido de considerá-la e tratá-la como uma pessoa completa em cada instante da sua vida (FALK, 2016). A isso atribuímos às falas das professoras quando relatam enxergar o bebê como “ser ativo e colaborativo” (P1); “capaz e competente” (P2); “potente e atuante” (P3) e, que “merece respeito a toda a sua potência e principalmente em relação ao seu corpo” (P4).

Para isso, valem-se da observação do comportamento individual (GONZALEZ-MENA E EYER, 2014) e ocupam-se de registros que colaboram para discussões, estudos e acompanhamentos do processo maturacional da criança, o que coaduna com as experiências/vivências apresentadas em estudos (FALK, 2011; SANTOS; SANTOS; VILLACHAN-LYRA, 2019) sobre essas práticas possibilitarem, eminentemente, o atendimento pleno às reações da criança, seja na posição do seu corpo, em seus gestos ou na sua voz. Nessa perspectiva, ressaltamos outro ponto crucial para garantir a boa qualidade do vínculo, considerado pela abordagem Pikler fundamental à constituição da segurança afetiva: a relação adulto-criança.

Sobre isso, P1 e P2 relataram que “assumem um papel de acompanhamento” no desenvolvimento desse ser, buscando adequar suas práticas às necessidades do bebê. E como disse P1, “é a partir daí que ele vai fazer tudo, que ele vai brincar, que ele vai se desenvolver, então eu acho que nosso papel seja justamente esse, de apoiar o desenvolvimento integral desse bebê”.

Observamos nos relatos das professoras que a busca por estabelecer uma relação estável e genuína com a criança se inicia desde o processo de adaptação dela ao novo espaço da escola, sendo necessário para isso estabelecer, previamente, uma relação adulto-adulto, pois nesse período os pais/responsáveis permanecem na escola até que a criança se sinta segura para ampliar a continuidade do vínculo. As falas também reforçam que manter a continuidade permitirá à criança realizar explorações e descobertas, mover-se com liberdade e aproveitar os momentos de cuidados ofertados a ela, pois o brincar para a criança, não é apenas um passatempo, mas representa sua atividade principal (SOARES, 2017). A partir disso, compreende-se que a continuidade e a estabilidade serão capazes de fazer com que a criança se sinta confiante, segura e aberta ao mundo exterior que ela buscará conhecer (FALK, 2011).

Tal constatação é importante para pensar sobre como as instituições de Educação Infantil devem conceber a qualidade do vínculo para crianças de 0 a 3 anos. Isto porque é imprescindível compreender que crianças, principalmente nessa fase inicial, necessitam que sejam criadas pelos adultos as condições necessárias para desenvolver ideias, noções e recordações, adquirindo conhecimentos adequados para sua vida (FALK, 2016).

Ressaltamos um elemento instigador que foi relatado pela professora P4 :“Eu ‘tô’ nessa turma desde o Infantil I. Eu venho acompanhando essa turma, então fiquei com eles com um ano, com dois anos e agora eu ‘tô’ com eles com três anos”. Essa fala nos leva a inferir que uma continuidade planejada e refletida, confirma o que Falk (2016) pontua como primordial em todos os contextos que recebem crianças: a base para uma segurança afetiva que afetará todos os aspectos da sua vida.

Dessa maneira, concordamos com Melo (2017), quando afirma que a qualidade da relação adulto-bebê dependerá da concep-

ção de criança que os adultos têm, pois quando nos relacionamos com eles, precisamos estabelecer uma sincronia interacional ou reciprocidade (SANTOS, 2020) o que ocorre quando o bebê/ a criança pequena, na interação com o outro, recebe respostas às suas expressões e gestos, na mesma sintonia, nutrindo uma relação segura com sua figura de referência.

Concomitante a isso, P2 relatou:

Meu papel na relação com o bebê é acompanhar o desenvolvimento dele. É pensar tempo, materiais e ver esse bebê como um ser que eu acompanho o desenvolvimento. Eu estou acompanhando, eu não estou ensinando ele a se desenvolver, logo, se eu acompanho, eu adequo a minha prática às necessidades dele. (P2)

P4 também diz que seu papel na relação com o bebê é de observadora:

A partir da observação, preparar um espaço pra que ele se desenvolva e dentro desse espaço orientar quando preciso. Não é interferir porque o processo de desenvolvimento é da criança, é dela, é individual. Então o professor tá ali pra ajudar, pra orientar quando preciso, e principalmente, organizar o espaço. (P4)

Os relatos apresentados acima revelam que na interação adulto-criança se constrói um modelo para atender as necessidades do bebê, ou seja, uma “coreografia de cuidados” que envolve, primeiramente, o respeito a esse ser e um olhar atento às suas necessidades. Isso requer a preparação de um ambiente seguro e tranquilo para que ele possa mover-se com liberdade, sendo capaz de realizar experimentos que proporcionem o desenvolvimento físico, psíquico e emocional, principalmente na relação que estabelece com seus pares. Nos momentos dos cuidados corporais, o bebê é convidado a participar de forma ativa, sendo fundamental uma conexão com o adulto através de uma correspondência no olhar, nos gestos e no toque, sempre de forma delicada e respeitando seu ritmo para que ele se sinta feliz e confiante, desenvolvendo-se, portanto, de forma tranquila e equilibrada.

Na abordagem Pikler percebemos a regularização desses aspectos, que constituem um conjunto de saberes, e que, aliados ao vínculo construído com o educador, permitirá a compreensão de que a criança consegue algo por sua própria iniciativa, sendo capaz de desenvolver conhecimentos mais avançados do que aquela que recebe soluções prontas (FALK, 2011).

2. O OLHAR SOBRE O CUIDADO ÀS EMOÇÕES

Nesta categoria de análise, teremos os relatos das professoras sobre suas percepções acerca do cuidado às emoções de bebês. A percepção das educadoras, a partir da prática desenvolvida com as crianças, levou-nos a identificar que as emoções estão ligadas aos valores que se dão à autonomia e ao vínculo afetivo, estabelecidos na relação adulto-criança. Para uma melhor compreensão do que propomos investigar, elencamos duas subcategorias: a comunicação emocional e, as conexões genuínas, a fim de proporcionar o diálogo com os pressupostos discutidos no campo da Educação Emocional.

Comunicar-se é uma necessidade do ser humano, deste modo, entendemos que isso implica estar disponível para o outro, o que requer uma atenção plena e o cuidado às reações que se manifestam e que necessitam ser respondidas através de uma conexão mútua, principalmente ao se tratar de crianças pequenas. Identificamos nas falas das professoras que a comunicação emocional ocorre durante toda a organização da rotina que se estabelece com o bebê. Antes, esclarecemos que a comunicação emocional pode corresponder ao que Casassus (2009) discute sobre uma conexão consciente, que representa um sentimento de segurança e confiança que permite se abrir à participação. Para Souza e Melo (2018) essa participação estará presente nos momentos de cuidado que são ofertados ao bebê, em que o adulto concentra toda sua atenção, estabelecendo uma relação olho no olho, o que também acontece por meio da escuta, do toque e da fala.

No caso de P1, embora haja essa comunicação através do brincar e dos cuidados, ela destaca a importância da relação com a família:

É importante a relação com a família, pois os bebês trazem

muitas especificidades, e se a gente não perguntar, a gente não consegue trabalhar bem, se eles não dormiram bem, eles não vão passar a manhã bem, então a gente tem que estar ciente de tudo isso, porque são pequenas coisas que interferem na rotina deles. Por isso que todo dia a gente pergunta como foi a noite, se comeu, se dormiu bem, porque é a partir daí que nosso trabalho começa. (P1)

Em relação ao berçário, muitos bebês ainda não apresentam uma linguagem verbal estruturada, sendo sua comunicação realizada pelo diálogo tônico-emocional (SOARES, 2017). Sobre isso Souza e Melo (2018) explicam que “nessa idade, a criança não se comunica por meio de palavras, mas por meio do olhar e do corpo, percebendo emoções no toque do adulto, em sua fala e seu olhar, o que chamamos de comunicação emocional” (SOUZA; MELO, 2018, p. 224).

A partir do que a professora relatou, notamos uma iniciativa antecipadora da educadora em investigar as condições de bem-estar do bebê, o que se evidencia nos achados de Gonzalez-Mena e Eyer (2014) como uma forma de ajudar a reagir melhor aos desafios que estejam relacionados ao temperamento da criança, podendo responder às suas necessidades de forma cuidadosa e atenciosa. Já na fala de P4, é dito que na roda inicial, nome dado pelas crianças para o momento da acolhida, sempre se fala dos sentimentos:

[...] se dá abertura pra outros sentimentos, às vezes a criança não tá bem, ela tá com sono, ela tá cansada, ela tá chateada, ela está triste. Então, a gente sempre nomeia os outros sentimentos pra eles, se tá frustrada, então a gente sempre tá ali nomeando todos os sentimentos, os de alegria, os de euforia, mas também de chateação, de tristeza. Então, abre-se esse espaço pra eles falarem. (P4)

Desse modo, concordamos que essa vivência pode colaborar para preparar o desenvolvimento da consciência emocional, ampliando o papel do professor e o espaço da compreensão emocional da criança (CASASSUS, 2009). Essa experiência, para a criança, poderá favorecer o ser competente que ela é, capaz de

realizar ações com autonomia, o que na filosofia Pikler proporciona o desenvolvimento de conhecer-se a si mesma e do mundo que a rodeia (FALK, 2011).

Diante desses fatores evidenciados, constatamos que possibilitar a expressão das emoções e dos sentimentos, é apoiar a criança na construção do vínculo e do sujeito. No entanto, nem sempre essas expressões são compreendidas e interpretadas pelo adulto como deveria, sendo fundamental conhecer a criança. Para isso, se faz essencial na educação das crianças o contato com adultos de referência, aqueles a quem possam estabelecer uma relação estável e de confiança, pois o contrário, pode provocar uma regulação das emoções suscetível a decepções e frustrações nos bebês/crianças pequenas (SANTOS, 2020). Nessa perspectiva, Falk (2011) afirma que a atenção despersonalizada leva a criança a perder seus traços individuais. Isso inclui, portanto, que os cuidados realizados pelo adulto precisam ser através de trocas verdadeiras e pessoais, o que de acordo com os relatos das professoras, percebemos acontecer através das conexões genuínas.

Essas conexões, exigem, portanto, o que temos apresentado nessa discussão sobre conhecer a criança, o que tornam necessárias observação atenta e sensibilidade emocional quando estão envolvidas relações com o outro (CASASSUS, 2009). Nesse sentido, P1 parece entender tal necessidade:

A gente vai no dia a dia passando a entender melhor essas emoções, mas é tudo uma construção, inicialmente a gente não compreende muito bem, porque a gente não conhece o bebê”, dessa forma, “a gente vem conseguindo lidar muito bem com essas emoções, a partir do momento que a gente se propõe a observar esse bebê, a estar ali presente, observando, muito atento ao que ele tá sentindo, a gente vai identificando essas emoções pra melhor lidar, pra melhor auxiliar o bebê nesses momentos. (P1)

Já P2 narra um aspecto importante nessa relação educador/ bebê e que merece tal atenção, por entendermos que também é necessário o olhar para o cuidar de quem cuida:

[...] todos os dias eu estou trabalhando em mim mesma a minha paciência, a minha resiliência. No meu acolhimento, quando eu tô aberta, tem dias que a gente não tá bem, é verdade. E quando eu não estou bem, eu chego pras crianças, se for necessário, algumas crianças percebem, pra você ver como a relação de vínculo ela é muito forte, que as crianças percebem que a gente não está bem. Elas vêm, elas acolhem, tem crianças que já tem fala estruturada e perguntam: ‘você tá bem? (P2)

A sensibilidade da professora, corresponde ao que Casassus (2009, p.208) anuncia: “Um professor pode ser mais consciente de seus vínculos e dos padrões de relação que estabelece quando é mais consciente de sua própria emocionalidade”. O autor destaca que isso faz parte de um processo de autoempatia, sendo um instrumento importante para que o professor possa se nutrir, se escutar e se fortalecer. Ao refletirmos sobre essa resposta, percebemos que a base da conexão genuína são as emoções. São elas que permitirão a construção de vínculos, colaborando de tal modo para que o educador saiba como e quando orientar na criança o processo de suas relações humanas e de sua aprendizagem como um todo.

De acordo com P3:

a criança precisa entender, precisa compreender esse misto de emoções que está relacionado ao cuidado [...] nomear pra ela, esclarecer pra ela, porque ela não entende ainda, ela não compreendeu isso, e a partir do momento que a gente, fala, nomeia, explica e esclarece, tudo fica mais fácil e eles já conseguem falar quando estão chateados. (P3)

Já para P2, faz parte de um processo em que “eles estão aprendendo a ser no mundo e a gente está ali pra organizar essas emoções pra ajudar eles a organizarem essas emoções”. Dialogando com essa perspectiva, entendemos ser necessário que o professor desenvolva a capacidade, sobretudo do olhar, de observar os pequenos detalhes, pois quando essa habilidade se desenvolve, como é possível verificar a partir das contribuições da abordagem Pikler, conseguimos alcançar condições favoráveis para que haja a compreensão e o cuidado às emoções na educação de bebês.

CONCLUSÕES/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Falar da educação de bebês ou de crianças pequenas, sobretudo, nos espaços escolares, implica o professor adquirir conhecimentos e reflexões imprescindíveis às ações educativas com crianças, em seus primeiros anos de vida. Compreendemos que este novo ser demanda cuidados para além do atendimento das necessidades físicas e cognitivas, o que nos leva ao encontro da abordagem Pikler, que apresenta princípios que mostram o quão é necessário um olhar que atenda à criança em sua totalidade. Isso também implica a valorização da dimensão emocional que está ligada à forma como a criança se comunica e estabelece uma relação de segurança afetiva com o adulto.

Tais aspectos foram evidenciados nos relatos de professoras que trabalham com crianças de 0 a 3 anos e que se inspiram nessa filosofia para desenvolver suas práticas educativas. Os resultados dos estudos apontaram que há uma preocupação em torno da formação afetiva nessa etapa de ensino, o que presume a qualidade do vínculo e o cuidado às emoções que foram os principais aspectos analisados nessa pesquisa. Percebeu-se que o respeito à criança como sujeito participante e colaborador ativo nas ações (FALK, 2016) permite uma relação estável e de confiança com o adulto, nutrindo uma interação segura com sua figura de referência. Este, por sua vez, estabelece uma comunicação emocional através do que a abordagem compreende como coreografia de cuidados, o que corresponde ao modo como o adulto olha, fala, toca e escuta o bebê, sendo a base formativa para essa primeira fase da vida. Desse modo, o cuidado às emoções se constituirá por meio de uma conexão genuína, exigindo, sobremaneira, conhecer a criança, tornando necessárias observação atenta e sensibilidade emocional quando envolve relações com o outro (CASASSUS, 2009).

Nesse contexto, reiteramos que a abordagem Pikler apresenta um contributo transformador para reflexão e desenvolvimento de práticas que atendem às necessidades fundamentais para a evolução da criança. Percebe-se que o olhar atento, a atenção plena, os gestos delicados e a qualidade da dedicação ao bebê, se aproximam de atitudes necessárias para uma aprendizagem na perspectiva da formação humana. Logo, o papel do educador se faz essencial, pois conforme Golse (1999 apud Freitas, 2021) “é no encontro com o outro que o bebê constrói sua história, e é essa presença que permitirá sua passagem da condição de ser para a condição de existir”.

REFERÊNCIAS

APPELL, Geneviève; DAVID, Myriam. Lóczy, uma insólita atención personal. In: FALK, Judit (org). Educar os três primeiros anos: a experiência de Lóczy. Araraquara: JM Editora, 2011.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2011.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Centro Gráfico, 1988.

________. Estatuto da Criança e do Adolescente Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 13 de jul. 1990. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069compilado.htm> Acesso em: 09 out. 2020

________. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96. Brasília: 1996. Disponível em <http://www.planalto. gov.br/ccvil_03/leis/L9394.htm> Acesso em: 09 out. 2020

CASASSUS, Juan. Fundamentos da Educação Emocional. Brasília: Unesco, Liber Livro Editora, 2009.

COUTINHO, Ângela Maria Scalabrin. A ação social dos bebês: um estudo etnográfico no contexto da creche, 2009. Tese (Doutorado em Estudos da Criança) – Programa de Pós-Graduação em Estudos da Criança, Universidade do Minho, Portugal, 2010.

FALK, Judit (org).  Educar os três primeiros anos: a experiência de Lóczy. Araraquara: JM Editora, 2011.

______________. Abordagem Pikler, educação infantil. São Paulo: Omnisciência, 2016.

FOCHI, Paulo Sérgio. Mas os bebês fazem o quê no berçário, heim?: documentando ações de comunicação, autonomia e saber-fazer de crianças de 6 a 14 meses em contextos de vida coletiva. Dissertação (mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2013.

FREITAS, Anita Viudes C. As expressões dos bebês e o processo de constituição da linguagem. In: Diálogos Piklerianos Red Pikler Nuestra América – Volume 1, São Paulo, Brasil, 2021.

GONZALEZ-MENA, Janet; EYER, Dianne W. O cuidado com bebês e crianças pequenas na creche: um currículo de educação e cuidados baseados em relações qualificadas. Porto Alegre: AMGH, 2014.

GUIMARÃES, Daniela Oliveira. Relações entre crianças e adultos no berçário de uma creche pública na cidade do Rio de Janeiro: técnicas corporais, responsividade, cuidado. 2008. 222 f. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2008.

MARCONI, Marina de A.; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

MELO, Suely Amaral. O cuidado e a educação dos bebês e a formação de dirigentes. Nuances: Estudos sobre EducaçãoDepartamento de Educação e Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual Paulista, UNESP, campus de Presidente Prudente/SP. 2017. Disponível em: https://revista.fct. unesp.br/index.php/Nuances/article/view/5273/PDF Acesso em: 03 out 2021.

MINAYO, M. C. S. (org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes, 2001.

MOTA, Ana Paula F.S. Desenvolvimento emocional e relacional na educação infantil: implicações do PATHS e do ACE à formação humana da criança e do educador. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Pernambuco/ Centro de Educação. Recife: O autor, 2010.

MURRAY, Edward I. Motivação e emoção. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1973.

PIKLER, Emmi. Moverse en Libertad: desarrollo de la motricidade global. Madrid: Narcea, 1969.

SANTOS, Maria C. M.; SANTOS, Mayara P.M.; VILLACHAN-LYRA, Pompéia. As contribuições da abordagem pikler para educação de crianças de 0 a 3 anos: uma revisão da literatura. Anais VI CONEDU. Campina Grande: Realize Editora, 2019. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/59165>. Acesso em: 03 out 2021.

SANTOS, Maria Carolina M. A qualidade dos cuidados aos bebês e crianças pequenas em contexto de acolhimento institu-

cional: diálogos com a Abordagem Pikler. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal Rural de Pernambuco/ Fundação Joaquim Nabuco Programa de Pós-graduação em educação, culturas e identidades. Recife, 2020.

SCHMITT, Rosinete Valdeci. As relações sociais entre professoras, bebês e crianças pequenas: contornos da ação docente. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2014.

SILVA, Luiz Henrique G; STRANG, Bernadete de Lourdes S. A obrigatoriedade da educação infantil e a escassez de vagas em creches e estabelecimentos similares. In: Pro-posições. v. 31. Campinas, SP. 2020. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/19806248-2016-0069 Acesso em: 23 nov 2021.

SOARES, Suzana Macedo. Vínculo, movimento e autonomia: educação até 3 anos. Coleção primeira infância educar de 0 a 6 anos. São Paulo: Omnisciência, 2017.

SOUZA, João Francisco de. Prática Pedagógica e Formação de Professores. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2012.

SOUZA, Regina A. M.; MELLO, Suely Amaral In: SILVA, José R.; SOUZA, Regina A.M.; MELLO, Suely A.; LIMA, Vanilda, G. L. (orgs.) Educação de bebês: cuidar e educar para o desenvolvimento humano. São Carlos: Pedro e João editores, 2018.

TARDIF, Maurice. LESSARD, Claude. Oficio de professor – histórias, perspectivas e desafios internacionais. Petrópolis: Vozes, 2012.

TARDOS, Anna. Autonomia e/ou dependência. In: FALK, J. (org). Abordagem Pikler Educação Infantil. Coleção primeira infância educar de 0 a 6 anos. São Paulo: Omnisciência, 2016.

VILLACHAN-LYRA, Pompéia; QUEIROZ, Ericka F.F.; MOURA, Rosemery B; GIL, Márcia. Entendendo o desenvolvimento infantil: contribuições das neurociências e o papel das relações afetivas para pais. [S.I.] Appris editora, 2018.

CAPÍTULO 8

REVOLUÇÃO GRISALHA CABOCLA?! PORVENTURA AS ÁGUAS DO RIO NEGRO APRESENTAM

FRAGMENTOS DO ELIXIR DA JUVENTUDE?

NUANCES RELATIVAS À PESSOA IDOSA DA CIDADE DE MANAUS: FORMAÇÃO, DESAFIOS, CONQUISTAS

E REDE DE SERVIÇOS À DISPOSIÇÃO DE TAL POPULAÇÃO

1 Profissional de Educação Física e Fisioterapeuta. Doutorando em Ciências do Desporto – Universidade do Porto. Contatos: paivaatilaac09@ gmail.com Instagram: @paivaatila

INTRODUÇÃO

Desde o advento da revolução industrial uma considerável porção da população mundial migra do campo e passa a viver em cidades. Entretanto, hodiernamente esse processo (urbanização) recebeu nova catalisação levando ao pujante crescimento das cidades. Além do intenso processo de urbanização a população mundial vive um exponencial processo de envelhecimento. Dados do OMS (2009) afirmam que nos anos 2000 a população de Pessoas idosas no mundo, era de 600 milhões e que no ano de 2050 tal população chegará a aproximadamente 2 bilhões. Concomitantemente, a cidade de Manaus, Brasil vive os reflexos de tal conjuntura, sua população geral apresentou um extraordinário crescimento, passando de um milhão para mais de dois milhões de pessoas só nas últimas três décadas, gerando uma flagelante exigência por infraestrutura e serviços. Respectivamente, sua população, apresentando idade superior a 60 anos, que hoje é de 210 mil pessoas, poderá atingir o número de 500 mil em apenas duas décadas (IBGE, 2023).

Em meio a todos esses processos estão as Pessoas idosas, as quais estão a passar por uma verdadeira metamorfose, mudanças de hábitos, padrões e estilo de vida é a nova ordem e o surgimento de um idoso high-tech parece inevitável e esse cada vez mais vem se multiplicando pelas cidades em um processo denominado, aqui de “Revolução Grisalha”4 (Cabrillo & Cachafeiro, 1992).

Desta forma, urge a necessidade de melhor compreensão da Pessoa idosa da cidade de Manaus e de estudos que contemplem a temática urbanização e envelhecimento do homem amazônida, para um melhor entendimento e possível adequação da infraestrutura e serviços das cidades e melhora das atitudes sociais para com a Pessoa idosa.5

METAMORFOSE DO VELHO: LAMENTO DE UM CABOCLO PELA NÃO EXPATRIAÇÃO CULTURAL DO AMAZÔNIDA MANAUARA

Como canta o poeta acerca da cidade de Manaus: “Porto de lenha tú nunca serás Liverpool, com a cara sarnenta e olhos azuis [...]” (Torres e Filgueiras, 1970).

Iniciamos essa discussão parafraseando “Torrinho”, um artista amazônico, que utiliza seus versos, envoltos a saudosismo, lamentos e manifestos crítico e social, de certa forma, para alertar a respeito do árduo processo e preço a se pagar pelo tão almejado ‘progresso’. Um progresso onde o ‘imperialismo do concreto’ é almejado. Árvores são derrubadas e substituídas por prédios e ruas, rios são canalizados e aterrados, e a fauna e flora são extinguidas. E quando de sorte, suas memórias são resumidas a velhos álbuns de fotografia, pois quando do contrário, apenas pó de carvão é o seu destino.

4 Termo utilizado pelos autores (Cabrillo e Cachafeito, 1992), em alusão ao exponencial crescimento da população idosa no mundo.

5 Pessoa idosa: Assim grafado, com ‘P’ maiúsculo para catalisar o valor da pessoa e inferiorizar o estado ou condição que a pessoa apresenta, conforme descrito por Garcia (2017).

Isso sem se falar do extermínio cultural, em que nota-se a hipervalorizarão do costume ‘alheio’ e as tentativas de substituição dos costumes e hábitos locais. Assim como, em um processo de informática, o copiar e colar (Crtl+C / Ctrl+V) cultural, também foi e é muito empregado em uma insaciável busca pelo ‘progresso’. Mas que progresso é esse? Vale a pena negar a si próprio e adotar o alheio como derradeiramente a melhor opção de hábito e costumes? Qual o verdadeiro preço a se pagar por tal? Quando será percebido que um desenvolvimento planejado, buscando harmonia com o meio e a respeitar a biodiversidade e a diversidade humana sempre será um caminho, quiçá não o mais simples, porém apropriadamente o caminho que trará melhores resultados e equacionará em uma sociedade melhor?

Algumas sociedades perpassam por constantes ‘modismos’ socioculturais, onde nesse frenético processo, não há o devido espaço para o respeito e consideração aos ‘velhos’ costumes, velhos hábitos, velhos pensamentos, velhos indivíduos, velhos, velhos, velhos... Em um derradeiro descaso e digamos ‘quase aniquilação’ a um dos maiores bens humanos: as histórias de vida, suas memórias, princípios, experiências, saberes... ou seja, a sua cultura.

Em tempos de vultuosa globalização, a imposição ou catalítica absorção da ‘glocalização alheia’ parece ser o caminho a ser seguido. O que aponta como uma tendência mundial, mas com a face de um caminho quase sem volta, no qual cada vez mais tem se criado sociedades, culturas, homens e mulheres com cara de cidadão do mundo, ‘apatriados’, porém acolhidos pela Mãe Terra, ou Pachamama6 para os mais íntimos. Esperemos que o processo de ‘globalização cultural’, catapultado no momento que as Naus e Caravelas portuguesas lançaram-se aos 7 Mares, quando das Grandes Navegações, e hoje concebido por uma quase ‘telepatia’ possibilitada pelos avanços tecnológicos, principalmente a internet, não retire de nós toda a essência amazônica. Do mundo e para o mundo sim, porém caboclo por natureza.

Porém fica a indagação, o melhor para outrem deverá ser estabelecido como ideal a todos os outros? Espera-se piamente que tal tendência traga apropriadas implicações sociais.

6 Pachamama: de origem aymará, ela é a deidade suprema dos indígenas nativos do Oeste da América do Sul, honrada como Mãe – das montanhas e dos homens; Senhora dos frutos e rebanhos; Gardiã contra pragas e moléstias; Protetora da viagens e caçadas; Padroeira da agricultura e tecelagem.

Uma outra questão que se julga pertinente trazer à baila é o paulatino processo de urbanização mundial e vultuoso envelhecimento das populações. Sabe-se que desde o início da revolução industrial um fenômeno migratório de populações que viviam no campo em direção às cidades se estabeleceu em maior intensidade e perdura até os dias de hoje. Tal tendência à urbanização estabeleceu-se há séculos e perdura até hodiernamente. Cada dia é maior a relação da população existente nas cidades em comparação à população do campo. Desta forma, o crescimento populacional vem gerando uma grande pressão e clamor por desenvolvimento e serviços nas cidades. Entretanto, o aumento da oferta de serviços (infraestrutura, saúde, educação, habitação...) não acompanham o crescimento populacional, o que vem gerando não um crescimento das cidades, mas um verdadeiro ‘edema’ populacional nas cidades (Kalache, 2008; Brumes, 2001).

O que vem resultando em um processo de ‘urbanização caótica’, a qual chega acompanhada de um ‘caldeirão’ de problemas sociais e um crescimento desorganizado, desorientado e a desrespeitar as primícias para o estabelecimento do pleno bem-estar humano, social, cultural e equilíbrio da biodiversidade. Tal situação parece ser mais pujante em grandes cidades de países em desenvolvimento como o Brasil. Desta feita, alerta-se que em meio a essa discussão emerge ainda o fato de as populações humanas estarem a apresentar uma maior longevidade. Nunca na história humana, tantos indivíduos chegaram a idades tão avançadas (Kalache, 2008; United Nations, 2009). Tal processo apresenta-se de forma tão latente que autores a chamam de “revolução grisalha” (Cabrillo & Cachafeiro, 1992).

Não seria um erro deduzir, todavia adverte-se que não é intenção desse texto ser pejorativo em suas colocações, todavia os termos ‘Pessoa idosa’, ‘idoso’ e ‘velho’ são utilizados como sinônimos, pois entende-se que, se o nome dado ao processo de vivencia ou ganho de anos de vida é envelhecimento, então, aquele que passa ou é acometido por tal processo pode ser denominado velho. Porém, volta-se a afirmar que o termo é utilizado com todo o respeito à pessoa que o detém.

Pois assim como escreveu Millôr Fernandes: “Qualquer idiota consegue ser jovem. (...) É preciso muito talento para envelhecer”.

Com o exponencial aumento da população de Pessoas idosas, a demanda a serviços específicos, o preparo e adaptação de toda a infraestrutura das cidades, se faz necessário, para que dessa forma seja garantido o direito de ir e vir, além de incitar a dignidade humana (Kalache, 2008).

Ademais, reveste-se de particular importância, o fato de que além do exponencial aumento da população idosa, novas versões de Pessoas idosas estão a surgir, são os ‘novos velhos’ que surgem em nossas sociedades e estão a implantar, não apenas, uma verdadeira revolução grisalha (Cabrillo & Cachafeiro, 1992), mas também estão a estabelecer uma metamorfose grisalha.

Já que se vive dias de rápidas, quiçá ultra mudanças, imaginem, nossos ‘velhos’ também estão a mudar. Já não reconhecemos em nossos ‘velhos’, velhos estereótipos. Aqueles vovozinhos sentados à varanda em cadeiras de balanço, cena comum em filmes ao retratar pessoas idosas, já não condiz com a maioria das Pessoas idosas. Esse ‘novo velho’ apresenta-se em uma versão high-tech, aparelho celular na mão, a fazer uso de redes sociais, é ativo em grupos sociais, reivindicador político, consumista e praticante de atividade física regularmente (Nery, 2007).

As bengalas estão a serem trocadas por halteres de ginástica, o entardecer sentado nos bancos do parque está tornando-se em corridas pelo parque e as visitas aos netinhos e familiares estão cada vez mais tornando-se passeios e viagens turísticas. Como dito, esse é o ‘novo-velho’ que vem estabelecendo-se em nossa sociedade.

Porém alerta-se que Pessoa idosa não é uma única categoria de pessoas, não se pode resumir o velho a tal condição, pois há diversidade no ‘ser velho’, além do que, existe o envelhecer do velho. O que não permite uma única categorização, uma única classe: ‘velho’. Uma vez que, envelhecer é um processo heterogênico, ou seja, uma condição individual e progressiva que apresenta influência de fatores intrínsecos e extrínsecos, como genética, faixa etária, estado de saúde, fatores culturais etc. (OMS, 2009). Essa situação é claramente exemplificada ao compararmos quatro indivíduos que socialmente são consideradas Pessoas idosas: duas delas apresentando 65 anos de idade, uma a apresentar 75 anos e outra apresentando 85 anos de idade. Se

analisarmos as condições física, o grau de independência, entre outros fatores, desses indivíduos, notoriamente encontraremos inúmeras disparidades entre eles. E a depender da influência –intrínseca, extrínseca - recebida pelos indivíduos de 65 anos, também poderá ser encontrada condições, necessidades e realidades bem dessemelhantes.

Nesse sentido, quais razões levam toda essa diversidade humana ser classificada socialmente apenas como velhos? Se faz necessário uma maior atenção às diversas ‘versões’ de ser velho. Levando em consideração as reais necessidades e características ‘nessas’ fases da vida. Assim, como em outros estágios da vida, a velhice merece etapas e maior aplicação a cada uma delas. Pois do contrário, continuar-se-á a dar maior ênfase às questões da juventude e a segregar a Pessoa idosa em um cruel e único escalão. Fato que ganha veemência pela afirmação a seguir: “Não deve ser fácil ser velho numa sociedade fortemente marcada por valores conotados para com a juventude” (Garcia, 2015).

Deve-se (re)pensar a velhice o quanto antes, mesmo ainda jovens, pois devemos proporcionar melhores condições de vida aos já velhos e buscar garantir dias melhores às próximas gerações de Pessoas idosas, ou seja, a nós mesmos. Do contrário, poderemos cometer um grande erro que muitos de nossos anciãos cometeram: não pensar a velhice enquanto jovens. Enquanto o fulgor da juventude pulsa nas veias é mais difícil pensar em questões próprias da velhice. Muitos dos problemas, entraves e desafios sociais e urbanos enfrentados pela Pessoa idosa de gerações anteriores ou hodierna é fruto da falta de empatia do jovem de outrora, quer seja pela falta de experiência de vida, quer pela falta de empatia ou influenciado pela menor expectativa de vida apresentada em décadas passadas, sendo este último fato determinante para a existência de uma menor população de Pessoas idosas na sociedade à época. Sejamos sensatos, somos ou estamos a envelhecer e consequentemente seremos velhos, do contrário a única fórmula que foge a essa regra é se tornar um cadáver jovem e atraente. Sob essa ótica é urgente que (re)pensemos a velhice, sob os aspectos urbanos de nossas cidades. Será que os aspectos sociais que hoje a mim são apresentados: edificações, ruas, calçadas, transpor -

tes, serviços, saúde, segurança, trabalho, respeito e cidadania, são ou estão da forma que eu quererei receber quando eu estiver velho? Responda para si. Mas corramos, pois o tempo é inexorável e não podemos cercearmos das discursões e implementações a serem feitas. Devemos construir e preparar a(s) cidade(s) para nós e para as futuras gerações. A parafrasear a conhecida canção “Pra não dizer que não falei das flores” de Geraldo Vandré: “[...] Vem vamos embora, que esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera acontecer [...]”, a qual nos incita à ação, a sair do estado de inércia e a realizar as mudanças que desejamos e que são necessárias. Busquemos uma cidade melhor, mais acolhedora e amigável a todos os cidadãos, independentemente de sua faixa etária, estado ou condição de saúde. Os aspectos urbanos de nossas cidades não podem ser privatizados aos veículos automotores e nem a vitalidade dos jovens. Se faz necessário que a (re)pensemos nossas cidades com medidas que satisfaçam as díspares naturezas da diversidade humana.

MANAÓS: PORTO DE LENHA, PARIS DOS

TRÓPICOS OU CAPITAL INDUSTRIAL DA AMAZÔNIA

Não querendo romantizar este ensaio, cientes de que ‘velhos maus costumes’ devem ser deixados no passado, e a acreditar que o mútuo respeito às ‘diversas’ diversidade humana (faixa etária, sexo, gênero, deficiência, cultura, credo...) devem ser consideradas e respeitadas é que inserimos a cidade de Manaus nessa discussão.

Como que o “Porto de lenha”, cantado nos versos do poeta, é hoje a metrópole da Amazônia? Sob essa ótica buscar-se-á discutir acerca dos desafios impostos à cidade de Manaus ante o processo de envelhecimento humano.

A cidade de Manaus, capital do Estado do Amazonas, apresenta-se localizada na região Norte do Brasil, encravada no ‘coração’ da floresta, ou seja, no centro geográfico da Amazônia e bem próxima à confluência dos Rios Negro e Solimões, os dois mais importantes rios que formam o gigantesco rio Amazonas. Sua origem no ano de 1668 visava assegurar a soberania da Coroa

Portuguesa na região contra invasões estrangeiras e garantir a conquista do elemento nativo, pois à época o território brasileiro era de domínio português (Manaus, 2018; Mello, 1986; Monteiro, 1971). Com tal finalidade ergueu-se o Forte Português, “São José da Barra do Rio Negro” que ao seu entorno surgiu um aglomerado de indígenas, das tribos dos povos Manaós e Barés, que habitavam a região (Monteiro, 1971). Na avidez de catequizar os nativos, os portugueses edificaram uma capela, em homenagem a Nossa Senhora da Conceição, a qual tornar-se-ia a padroeira do lugar. E assim, estava selado o surgimento do pretencioso “Porto de lenha”.

A partir daí a acanhada povoação foi desenvolvendo-se de forma mui tímida até que em 1832 foi declarada Vila de Manaus. Posteriormente, no dia 24 de outubro de 1848, a vila se tornou uma cidade. Porém, a princípio foi nomeada Cidade da Barra do Rio Negro. E apenas alguns anos depois, foi finalmente declarada “Cidade de Manaus” (Manaus, 2018; Mello,1986; Monteiro, 1971). Todavia, em consequência a uma economia estagnada, a cidade de Manaus – “Porto de lenha”, como brada o poeta - conservou um aspecto muito simples até a década de 1860, quando um fenomenal e providencial produto surge no cenário mundial, apresentando-se como uma verdadeira glocalização, o “ciclo da borracha” se inicia e junto com o látex extraído das seringueiras amazônicas vinham também a urgência e as condições para a construção de uma cidade moderna. A ampla demanda da indústria mundial pela borracha fez a exportação da seringueira ( hevea brasiliensis ) triplicar, e junto com a mesma a necessidade por serviços e mãos de obra, fazendo a economia regional catapultar e contribuir significantemente para a economia brasileira. Assim em 1860, também se inicia um efetivo crescimento demográfico que seria catalisado no final da década de 1890, quando sua população cresceu de 15 mil para 80 mil habitantes, durante os anos de 1889 a 1915 (IBGE, 2010; 2023; Manaus, 2018).

De repente, o pacato núcleo populacional torna-se a segunda maior cidade brasileira da Amazônia, ao passar do século XIX para o século XX. Enfim, Manaus já não podia ser vista como “porto de lenha”, contrariando todas expectativas. E como obra do destino passou a possuir um dos maiores e mais modernos portos fluviais

da América do Sul. Ao mesmo tempo, inicia-se a construção de uma cidade planejada, embasada em um pretencioso projeto. No entanto, a maior metamorfose que passou a cidade de Manaus foi ao longo da administração do governador Eduardo Ribeiro (18921896). A infraestrutura da cidade passa a contar com sistemas de abastecimento de água, captação de esgoto, luz elétrica, telefonia e até linhas de bonde. Foram tempos áureos, onde dois grandes hospitais, pontes e praças foram construídos, pessoas de várias partes do mundo migravam para as bandas de cá e residências e edifícios públicos foram edificados. Algumas dessas edificações perduram até os dias de hoje e formam a rica memória construída ao logo do “fausto da borracha”.

Toda a infraestrutura desenvolvida na cidade de Manaus, fazia com que ela não deixasse a desejar, em modernidade, a nenhuma outra cidade brasileira à época, tanto que Manaus era conhecida como a “Paris dos trópicos”. Entretanto o interesse pela borracha Amazônica foi atenuando ao ponto de sucumbir a cidade em uma verdadeira crise econômica. Manaus ficou esquecida por certo período, e como quase não apresentava nenhuma conexão com o restante do país, também não experimentava do progresso e processo de industrialização vividos especialmente na zona Centro-Sul do Brasil. No entanto, após longo período imêmore, ‘ameaças’ de internacionalização da Amazônia e uma ávida expectativa de conexão com o restante do país, levaram o governo brasileiro a criar um plano de desenvolvimento, objetivando viabilizar uma base econômica na Amazônia Ocidental, promover a melhor integração produtiva e social dessa região ao país, garantindo a soberania nacional sobre suas fronteiras (Brasil, 2023).

O modelo de desenvolvimento econômico foi implantado entre os anos 1950 e 1960, e denominado “Zona Franca de Manaus” (ZFM), com o objetivo de trazer um novo processo de desenvolvimento à região. Desenvolveu-se a indústria e o comércio, consequentemente houve a exigência de maior mão de obra e serviços e com a carência profissional uma nova ‘onda’ migratória é estabelecida (Brasil, 2023).

FORMAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DA PESSOA IDOSA MANAUARA

“Por inúmeros aspectos, as nuances do envelhecimento devem ser compreendidas no contexto sociocultural onde está sendo efetivado, estando assim indissociável das díspares concepções de mundo e de homem” (Garcia, s.d. p.74).

Adentrando as nuances relativas à formação e características da Pessoa idosa que vive no loco deste ensaio, atores sociais marcados pelo inexorável tempo e contexto sociocultural de Manaós, palavra usada pelos antigos nativos que habitavam a região onde hoje está situada a cidade de Manaus, que de famigerada “Porto de lenha”, passou a ostentar o título de “Paris dos Trópicos”, sucumbiu economicamente com a perda da produção da borracha e como uma “Fênix” ressurgiu, como que das cinzas, e hoje apresenta-se como maior centro urbano, industrial e financeiro da Região Norte do Brasil. Manaus passou por um crescimento demográfico exponencial, onde apenas nas últimas duas décadas (1990 e 2000) teve sua população duplicada, o que a elegeu como capital brasileira mais populosa do norte do Brasil e da região amazônica. A cidade vivenciou um novo processo de explosão demográfica em razão de diversos fatores sociais, principalmente oferta de emprego e renda, devido ao intenso processo de industrialização iniciado com a implantação da Zona Franca de Manaus em 1967, hoje Polo Industrial de Manaus (PIM)7, que exerceram grande atratividade e trouxeram milhares de migrantes (Nazareth; Brasil e Teixeira, 2011). A sua população atual, em 2023, é de cerca de 2.063.547 habitantes (IBGE, 2023). Entretanto, tal crescimento trouxe consigo grandes desafios à administração governamental, assim como, problemas em aspectos de infraestrutura e sociais. Vale salientar ainda, que a infraestrutura urbana de Manaus apresenta deficiências, principalmente no que toca ao acesso a serviços básicos pela população.

7 ZFM – PIM: Um dos mais modernos centros industriais e tecnológicos em toda América Latina, reunindo mais de 550 indústrias, gerando cerca de 500 mil empregos diretos e indiretos (Brasil, 2021).

Notoriamente o crescimento desordenado da cidade impactou direto e negativamente em sua estrutura. A falta de planejamento urbano aliado ao intenso processo de migração culminou na criação de muitas zonas habitacionais de ocupação irregular, que possuem condições precárias de moradia.

Junto a essa condição está outro fator preponderante, que é o rápido e vultoso crescimento da população idosa da cidade. Em uma série histórica o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra uma evolução do número de Pessoas idosas na cidade de Manaus. Nas últimas cinco décadas, o quantitativo de habitantes acima de 60 anos aumentou exponencialmente, saltando de 10.584 habitantes em 1970 para 108.902 habitantes no ano de 2010 – aumento cerca de 10 vezes - e chegando a 210.000 habitantes em 2022, o que revela um aumento de 20 vezes ao longo das últimas cinco décadas. O percentual de idosos na população geral quase que duplicou no período de 1970 a 2010 e praticamente triplicou quando comparado com o ano de 2022. O índice que era de 3,40% evoluiu para 6,04% em 2010 e atingiu 10,17% da população total da cidade no ano de 2022 (IBGE, 2017; 2023). Porém, se mantidas as expectativas atuais em duas décadas essa população poderá ultrapassar o número de 500.000 Pessoas idosas (IBGE, 2017; 2023).

TABELA 1. POPULAÇÃO DE PESSOAS IDOSAS DE MANAUS NAS ÚLTIMAS 5 DÉCADAS E O SEU PERCENTUAL EM RELAÇÃO A POPULAÇÃO TOTAL DA

CIDADE

População de Pessoas idosas de Manaus nas últimas 5 décadas e o seu percentual em relação à população total da cidade

Fonte: Adaptado de (IBGE, 2023)

Como visto na tabela anterior, a cidade de Manaus vem apresentando, nas últimas décadas, um constante aumento de sua população de Pessoas idosas e para além desse fato, outro fator que chama atenção é que os dados dos últimos estudos também revelam que ocorreu ainda uma redução de 53,4% de pessoas abaixo dos 30 anos de idade. Já os maiores de 30 anos, cresceram para 46,6%, e o número de crianças de 10 a 13 anos apresentou uma queda, passando de 8,8% em 2012 para 6,9% em 2022, dados que apontam claramente para uma continuidade na tendência de envelhecimento da população manauara, que mesmo com os transtornos e a correria da vida urbana, a população da capital amazonense tem vivido mais (IBGE, 2023).

Como já relatado por esse ensaio, parte desse vultuoso crescimento populacional da cidade de Manaus ocorreu devido ao processo de migração de indivíduos oriundos de todo Brasil, no entanto uma considerável parcela desse processo migratório, desse período, se deu pela população de diversos municípios dos interiores do Estado do Amazonas e de outros estados considerados amazônicos, que migraram para a capital Manaus (Nazareth; Brasil e Teixeira, 2011). E esses novos grupos de moradores trouxeram consigo muitos conhecimentos de quem viveu na floresta, influenciando assim, o cotidiano, os costumes e a culinária apresentada na cidade. A alimentação à base de carnes mais magras e frutos amazônicos, pode ser um dos motivos que influenciaram positivamente para a maior longevidade da população manauara (Ribeiro e Cruz, 2012). No que tange a alimentação, a floresta fornece frutos como o tucumã8 (astrocaryum tucuma) e a pupunha9 (bactris gasipaes) que são ricos em vitaminas “A” e pró-carotenos. Há também a ingestão de castanha do Brasil (bertholletia excelsa H.B.K.), que é rica em proteínas e gorduras não saturadas (Ribeiro e Cruz, 2012), além do camu-camu10 (myrciaria dúbia (H.B.K.) McVaugh), que apresenta 60 vezes mais vitamina “C” que o limão (Smiderle e Souza 2008; Ribeiro e Cruz, 2012). Isso sem falarmos do fruto apreciadíssimo pelos amazônidas que é o açaí11 (euterpe

8 Fruto Amazônico

9 Idem

10 Ibidem

11 Ibidem

oleracea), um alimento muito rico em nutrientes essenciais para a manutenção da saúde humana, o qual é rico em proteínas e fibras, é energético e possui aproximadamente 40% de lipídeos em base seca. Além de ser uma boa fonte energética, o açaí também é rico em antioxidantes, podendo fornecer substâncias capazes de combater possíveis prejuízos que podem ser causados pelos radicais livres no corpo humano (Carvalho, 2021). Outro alimento bem apreciado pelo amazônida é o guaraná (paullinia cupana) que comprovadamente é um fruto perfeito e tem todas as condições de melhorar a vida, pois é anti-inflamatório, diurético, estimulante, antioxidante por excelência e beneficia a memória por vasodilatação cerebral. É ainda anticancerígeno, previne diabetes e contribui para o aumento da força muscular (Ribeiro e Cruz, 2012).

Os peixes compõem a dieta básica do habitante no Amazonas e Manaus é a capital brasileira onde mais se consome essa iguaria, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (IBGE, 2019). E, como é sabido, os peixes são alimentos ricos em proteínas, vitaminas e minerais e possuem menor teor de gordura quando comparados às carnes vermelhas e aves, sendo um excelente substituto nutricional para as mesmas. O peixe Jaraqui (semaprochilodus), que apresenta em sua composição mais ômega 3 que o salmão, é o peixe mais consumido pela população da cidade. O "homem da floresta" come peixes, mandioca (manihot esculenta) e frutos amazônicos, também quase não ingeria trigo, que possui glúten. Ao passo que, a farinha de mandioca, uma espécie de raiz tuberosa, apresenta em sua composição grande quantidade de amido, cálcio, fósforo e vitaminas, não tem glúten e está presente em diversos pratos da culinária amazônica (Ribeiro e Cruz, 2012). Um outro fato, importante a ser destacado são os dados da Pesquisa Nacional de Saúde que mostram que entre as capitais brasileiras, Manaus apresenta a menor taxa de consumo de bebidas alcóolicas (1x na semana) entre adultos (14,8%) da população geral (IBGE, 2020). Desta feita, a somatória dos aspectos mencionados resulta em uma dieta mais balanceada à base de carnes mais magras e frutos amazônicos, formam a dieta do homem da floresta e podem ter influenciado positivamente para o aumento da longevidade manauara (Ribeiro e Cruz, 2012).

Inegavelmente, e seria até um equívoco não atribuir, os contributos que o maior acesso aos serviços de saúde e saneamento básico

trouxeram para a ampliação da longevidade da população manauara ao longo dos últimos 40-50 anos. Esse maior acesso à rede de saúde e os cuidados com a prevenção de doenças foram fulcrais nesse processo. Ao migrarem do interior para a capital, as pessoas obtiveram melhores condições de cuidar da saúde. Passaram a ter maior e melhor acesso a vacinas, assistência em saúde, melhores condições de saneamento básico e a todo um contexto que não tinham no interior. Essa população que envelheceu em Manaus, nesse período, influenciada pela “dieta do homem da floresta”, a trabalhar em condições diferentes das do campo - sobretudo o trabalho registrado e sob a égide das leis trabalhistas - e assistida por melhores serviços de saúde contou com uma porção de apoios que promovem a qualidade da vida e por isso pode viver mais (Ribeiro e Cruz, 2012).

Nos últimos anos o poder público, a sociedade civil organizada e a iniciativa privada vêm se esforçando para aprimorar a infraestrutura e os diversos serviços destinados aos munícipes manauaras, como é o caso das Pessoas idosas. Em consonância com a Política Nacional para a Pessoa Idosa, criada em 1994 (Brasil, 2010), com o advento do Estatuto da Pessoa Idosa (Brasil, 2022), o fortalecimento das instituições e o amadurecimento do imaginário social diversos foram os avanços dentro dessa temática. A Pessoa idosa pode contar com uma gama de serviços que visam garantir o bem-estar, a cidadania, o viver e o envelhecer com dignidade na cidade.

Sob essa ótica, ganha particular relevância relatar que de acordo com o Art. 196, “A saúde é um direito de todos cidadãos e dever do Estado Brasileiro, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução de risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação” (BRASIL, 1988). Isto posto, é importante esclarecer que o Estado do Amazonas, apesar de sua imensa vastidão territorial, quase que concentra em sua totalidade, os serviços de saúde de alta complexidade na cidade de Manaus, isso muito provavelmente pela baixa densidade demográfica apresentada pelo Estado que é de 2,53 habitantes/km² enquanto a capital Manaus apresenta uma densidade demográfica de 181 habitantes/km² (IBGE, 2023), o que, em quesito relativo aos serviços de saúde, de certa forma beneficia a população da capital Manaus em relação à população que vive no interior do Estado.

AS AÇÕES E SERVIÇOS DISPONÍVEIS À PESSOA

IDOSA MANAUARA

Características à parte, vale ressaltar que as ações governamentais de saúde voltadas para a Pessoa idosa na cidade de Manaus além de serem norteadas pela Carta Magna Brasileira (Brasil, 1988), elas ainda buscam seguir as orientações da Política Nacional de Saúde do Idoso (Brasil, 2006) e do Estatuto da Pessoa Idosa (Brasil, 2003; 2022) que instituem a garantia de que toda Pessoa idosa tenha uma assistência de forma integral, promovendo a saúde – consultas, exames e atendimentos com profissionais de saúde; manutenção de sua capacidade funcional - que continue ativa, a realizar suas atividades do cotidiano, dentro e fora de casa; da autonomia - que continue participando da sociedade, seja a trabalhar, seja contribuindo ou emitindo sua opinião acerca de determinadas situações, e colaborando para um envelhecimento ativo e saudável; participando de grupo de idosos, adotando hábitos saudáveis - como praticar regularmente atividades físicas, buscar os serviços médicos preventivamente, parar de fumar, diminuir a ingestão de álcool, entre outros. Desta feita, o sistema de saúde na cidade de Manaus aufere ações e constitui-se por unidades ambulatoriais, clínicas, prontos-socorros e hospitais fomentados pelos Governos Federal, Estadual e Municipal e também por empresas privadas, que oferecem serviços nas esferas primárias, secundárias e terciárias de saúde.

A esfera municipal é representada pela Secretaria Municipal de Saúde (Semsa Manaus), a qual foi criada em 20 de novembro de 1975, por meio da lei nº 1240, e apresenta como diretriz gerir o sistema municipal de saúde, observando os princípios e fundamentos do Sistema Único de Saúde (SUS), possibilitando ações de vigilância e atenção à saúde dos munícipes da cidade de Manaus (Manaus, 2021). Seus serviços e ações de saúde são desenvolvidos em consonância com a Política Nacional de Atenção Básica - PNAB (Brasil, 2012), que prioriza a promoção da saúde, a prevenção de doenças e agravos, o diagnóstico e tratamento, a reabilitação e redução de danos. Coordena os cuidados e é ordenadora das redes de atenção à saúde, constituindo-se como a porta de entrada preferencial do SUS (Manaus, 2021). Suas unidades estão distribuídas conforme o texto a seguir:

Atualmente a Rede de Atenção à Saúde Municipal é composta por 288 Unidades Básicas de Saúde (UBS), das quais 10 UBSs com horário ampliando de atendimento; 6 Clínicas da Família, destacando que uma delas funciona em regime de plantão de 12h de segunda a domingo; 4 Unidades Básicas de Saúde Móvel terrestres; 2 Unidades Básicas de Saúde Fluviais (UBSF); 5 Policlínicas; 4 Centros de Especialidades Odontológicas (CEO); 4 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS); 1 Centro Especializado de Reabilitação (CER); 48 unidades do Serviço Móvel de Urgência (Samu), distribuídas em unidades de suporte básico e de suporte avançado; 2 unidades fluviais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu Fluvial); 6 laboratórios, sendo 4 Distritais, 1 de Especialidades e 1 de Vigilância; 2 Centrais de Atendimento do Programa Leite do meu Filho; além da Maternidade Dr. Moura Tapajóz; da Vigilância Sanitária (Visa Manaus); do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest); e do 1 Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) (Manaus, 2021, s/p).

Como visto na citação acima, a administração municipal apresenta uma ampla rede para o atendimento em saúde de seus munícipes, no entanto, a rede municipal não apresenta nenhuma unidade de saúde destinada integralmente para a atenção, assistência e saúde da Pessoa idosa.

Ao verificarmos os serviços de saúde existentes na cidade da Manaus que são administrados pelo Governo Estadual que neste caso é representado pela Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SES-AM), a qual apresenta, entre outros, a incumbência de: “[...] promover a descentralização para os municípios dos serviços e das ações de saúde; [...] prestar apoio técnico e financeiramente os Municípios e executar supletivamente ações e serviços de saúde; [...] gerir sistemas públicos de saúde de alta complexidade, de referência estadual e regional” (BRASIL, 1990, Art. 17). Verifica-se a seguinte conjuntura de unidades de saúde e suas respectivas zonas de localização dentro da cidade de Manaus: 1 Central de Medicamentos do Amazonas (CEMA), localizado no bairro Praça 14 de Janeiro; Zona Sul da cidade; 1 Fundação Centro de Controle de Oncologia do Amazonas, localizado no bairro Dom Pedro l, Zona Centro-Oeste; 1 Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor

Vieira Dourado (FMT – HVD), localizado no bairro Dom Pedro l, Zona Centro-Oeste; Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas Dra. Rosemary Costa Pinto (FVS – RCP), localizado no bairro Colônia Santo Antônio, Zona Norte; Fundação Hospital Adriano Jorge (FHAJ), localizado no bairro Cachoeirinha, Zona Sul da cidade; Fundação Hospital Alfredo da Mata (FUHAM), localizado no bairro Cachoeirinha, Zona SUL; Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (FHemoam), localizado no bairro Dom Pedro l, Zona Centro-Oeste da cidade e a Fundação Hospital do Coração Francisca Mendes (FHCFM), localizado no bairro Cidade Nova, Zona Norte de Manaus. Entre os hospitais e prontos-socorros (HPS) estão o HPS 28 de Agosto, localizado no bairro Adrianópolis, Zona Centro-Sul da cidade; o HPS Dr. Aristóteles Platão Bezerra de Araújo, localizado no bairro Jorge Teixeira, Zona Leste da cidade e o HPS Dr. João Lúcio Pereira Machado, localizado no bairro Coroado, Zona Leste da cidade. Como hospital geral (HG) tem-se o HG Dr. Geraldo da Rocha, localizado no bairro Colônia Antônio Aleixo, Zona Leste da cidade. Complementando o serviço de atendimentos de urgências tem-se 10 unidades de saúde, conhecidas por Serviços de Pronto Atendimento (SPAs) e Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) que se faz saber: SPA Alvorada, localizado no Bairro Alvorada, Zona Centro-Oeste; SPA Chapot Prevost, localizado no bairro Colônia Antônia Aleixo, Zona Leste da cidade; SPA Coroado, localizado no bairro Coroado, Zona Leste da cidade; SPA e Policlínica Dr. Danilo Corrêa, localizado no bairro Cidade Nova, Zona Norte da cidade; SPA e Policlínica Dr. José de Jesus Lins de Albuquerque, localizado no bairro Redenção, Zona Centro-Oeste; SPA Enfª Eliameme Rodrigues Mady, localizado no bairro Monte das Oliveiras, Zona Norte; SPA Joventina Dias, localizado no bairro Compensa, Zona Oeste; SPA São Raimundo, localizado no bairro de mesmo nome, Zona Sul; SPA Zona Sul, localizado no bairro Colônia Oliveira Machado, Zona Sul de Manaus; UPA Campos Sales, localizado no bairro Tarumã, Zona Oeste e UPA José Rodrigues, localizado no bairro Nossa Senhora de Fátima, Zona Norte. Entre as unidades de saúde conhecidas como policlínicas estão: Policlínica Antônio Aleixo, localizada no bairro Colônia Antônio Aleixo, Zona Leste da cidade; Policlínica Cardoso Fontes, localizada no bairro Centro, Zona Sul da cidade; Policlínica Codajás, localizada no bairro Cachoeirinha, Zona Sul; Policlínica

Gilberto Mestrinho, localizado no bairro Centro, Zona Sul da cidade; Policlínica João dos Santos Braga, localizada no bairro Nova Cidade, Zona Norte e Policlínica Zeno Lanzini, localizada no bairro Tancredo Neves, Zona Leste de Manaus. E, a integrar as Unidades de Atenção Psicossocial estão o Centro de Atenção Psicossocial Dr. Silvério Tundis, localizado no bairro Santa Etelvina, Zona Norte da cidade, o Centro de Reabilitação em Dependência Química Ismael Abdel Aziz, localizado na rodovia AM-010, Km 53, Zona Rural de Manaus e o Centro de Saúde Mental do Amazonas, localizado no bairro Planalto, Zona Centro-Oeste (Amazonas, 2023a). Ademais é preciso ressaltar que no âmbito da SES-AM são dispostas unidades de saúde que realizam o atendimento direcionado e exclusivamente à Pessoa idosa, são os Centros de Atenção Integral à Melhor Idade (CAIMI) que estão assim distribuídos: CAIMI Ada Rodrigues Viana, localizado no bairro Compensa, Zona Oeste; CAIMI André Araújo, localizado no bairro Cidade Nova, Zona Norte de Manaus e CAIMI Paulo Lima, localizado no bairro Colônia Oliveira Machado, Zona Sul da cidade. Os CAIMI’s são unidades de saúde de média complexidade, especializadas em atender aos principais problemas e agravos de saúde da população idosa. Estes se apresentam como centros de referência ao atendimento e prevenção à saúde das Pessoas idosas, assegurando-lhes o direito à assistência médica, nos diversos níveis do Sistema Único de Saúde, mediante programas e medidas profiláticas, além de contribuir para o desenvolvimento de uma política de envelhecimento consciente e saudável (Amazonas, 2023a). São caracterizadas como Policlínicas de referência para a saúde da Pessoa idosa, de acordo com Cadastro Nacional de Estabelecimento em Saúde – CNES, desta forma oferecem atendimentos em áreas especializadas da saúde. Nessas unidades a Pessoa idosa recebe atenção, assistência e diversos serviços de saúde, pois essas unidades contam em seu corpo técnico com uma equipe multiprofissional formada por assistentes sociais, dentistas, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, fonoaudiólogo, médicos especialistas, nutricionistas, psicólogos e técnicos de enfermagem. Outrossim, os serviços de saúde oferecidos por esses estabelecimentos de assistência à saúde da Pessoa idosa, contribuem para o fortalecimento da rede assistencial do Sistema Único de Saúde e favorece a tão almejada humanização da assistência em saúde (Amazonas, 2023a). Além das

citadas unidades de saúde, ainda integram o sistema gerido pela SES-AM 11 Centros de Atenção Integral à Criança (CAIC) e 7 maternidades, serviços estes que não estão diretamente ligados à assistência da Pessoa idosa, mas constam para título de informação quanto aos serviços dispostos pela SES-AM (Amazonas, 2023a). Ademais, compondo a rede de assistência em saúde pública na cidade de Manaus existe o Hospital Universitário Getúlio Vargas que é administrado pela esfera Federal por meio do Ministério da Educação. No entanto, além das unidades públicas existem mais de 10 hospitais e dezenas de clínicas particulares. Apesar de toda essa estrutura a disposição da população, são comuns relatos, principalmente na mídia, de Pessoas idosas a relatar demora e dificuldade para alcançar atendimento – sobretudo de especialidades em saúde e exames complementares de maior custo, descasos e até maus tratos quando buscam os serviços de saúde.

Ao abordarmos questões relativas ao viés social e à proteção da Pessoa idosa em Manaus, apresentam-se algumas entidades e órgãos públicos que se destacam nessa finalidade. Iniciando esse arranjo tem-se a Secretaria de Estado da Assistência Social do Amazonas (SEAS-AM), a qual compõe a estrutura administrativa do Poder Executivo do Estado do Amazonas, e responsabiliza-se pela gestão plena da Política Estadual de Assistência Social associando-se a órgãos governamentais e instituições não governamentais que integram a rede socioassistencial do Estado (Amazonas, 2023b). A SEAS-AM responsabiliza-se pela efetivação da política de Estado voltada para a organização e financiamento de serviços, programas e benefícios sociais destinados às famílias, crianças, adolescentes, Pessoa idosa, Pessoas que apresentam deficiência, e pessoas em situação de vulnerabilidade e risco social (Amazonas, 2023d). Todavia, além do importante trabalho voltado à assistência social a SEAS-AM, em conjunto com outros órgãos governamentais, administra 7 Centros Estaduais de Convivência da Família (CECF): o CECF André Araújo, localizado no bairro Raiz, Zona Sul de Manaus, o CECF 31 de Março, localizado no bairro Japiim, Zona Sul; o CECF Maria de Miranda Leão, localizado no bairro Alvorada, Zona Centro-Oeste; o CECF Teonizia Lobo, bairro Amazonino Mendes, Zona Norte da cidade; o CECF Magdalena Arce Daou, localizado no bairro Santo Antônio, Zona Oeste; o CECF Padre Pedro Vignola, localizado no bairro Cidade Nova,

Zona Norte e o Centro Estadual de Convivência do Idoso – Aparecida, localizado no bairro de mesmo nome, Zona Sul de Manaus (Amazonas, 2023d). Esses centros de convivência são espaços aparelhados com estrutura física, equipamentos e profissionais que desenvolvem trabalhos nas áreas: da cultura (danças e teatro), de ensino profissionalizante, de esporte (hidroginástica, musculação, ginástica funcional, futebol e natação), de lazer, de saúde (fisioterapia, psicologia, enfermagem) e serviços sociais. Oferecem diversas atividades e atendem a crianças, jovens, adultos e Pessoas idosas, com exceção do Centro Estadual de Convivência do Idoso que atende e oferece atividades exclusivamente à Pessoa idosa (Amazonas, 2023b). Nesse contexto, dado aos serviços ofertados, fica claro perceber a importância dos Centros de Convivência da Família, sobretudo o Centro de Convivência do Idoso, para o desenvolvimento do bem-estar, qualidade de vida e saúde da população de Pessoas idosas da cidade de Manaus.

A seguir a panóplia de serviços disponíveis à Pessoa idosa na cidade de Manaus reveste-se de particular importância a Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Cidadania (Semasc) que executa as políticas públicas municipal para proteção às famílias e aos indivíduos e ainda atividades essenciais para o desenvolvimento humano, formação da cidadania e promoção da equidade e justiça social. Em Manaus, a Semasc operacionaliza diversos equipamentos da rede socioassistencial voltados à população em situação de vulnerabilidade social, à proporção que desenvolve na cidade outras políticas públicas nas áreas: direitos da mulher, direitos humanos, segurança alimentar e nutricional (Manaus, 2021b). A principal ferramenta para implantação de suas políticas são os 20 Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) espalhados pela cidade, os quais se mostram como os principais equipamentos de desenvolvimento dos serviços socioassistenciais da Proteção Social Básica. Constituem-se como um espaço de concretização dos direitos socioassistenciais nas comunidades que estão inseridos, materializando a política de assistência social (Manaus, 2021b). É o local que possibilita, em geral, o primeiro acesso das famílias e cidadãos aos direitos socioassistenciais e à proteção social. Estrutura-se, assim, como porta de entrada dos usuários da política de assistência social para a rede de Proteção Básica e referência para encaminhamentos à Proteção Especial, contando

com uma equipe profissional de referência para o desempenho de tais serviços (Manaus, 2021b). No que tange à Pessoa idosa, a Semasc realiza o acompanhamento e, ou a articulação com outros órgãos governamentais quanto a denúncias relacionadas à violência contra os idosos, com visitas técnicas, orientações e encaminhamentos para o acesso de benefícios vinculados ao Cadastro Único: Carteira do Idoso, o Benefício de Prestação Continuada (BPC), acesso ao Registro Tardio (Certidão de Nascimento) para os idosos que tiveram o pleno exercício de sua cidadania cerceado durante muito tempo e encaminhamento de idosos a instituições de acolhimento do município de Manaus. Além da participação em movimentos sociais e de reforço de direitos (Manaus, 2021b).

Nesse ínterim estão dispostos os serviços para defesa, proteção e promoção de bem-estar da Pessoa idosa que são desenvolvidos pela Secretaria de Estado de Justiça, Direitos Humanos e Cidadania (SEJUSC-AM), órgão vinculado ao Governo do Estado do Amazonas, que por meio de sua Secretaria Executiva Adjunta de Direitos da Pessoa Idosa (SEADPI), executa ações voltadas à promoção, proteção e defesa dos direitos de pessoas na faixa etária de 60 anos ou mais, com observância no dispositivo da Lei Federal 10.741/2003 e da Lei Federal 14.423/2022 - Estatuto da Pessoa Idosa (Brasil, 2003; 2022). Esta por sua vez realiza atendimentos psicossociais, jurídicos, serviço social, auxílios voltados à saúde e gerencia projetos como: Idoso Empreendedor e o Vida e Saúde do Idoso Ativo (Amazonas, 2023c). Ao passo que também executa demandas no sentido de que haja a articulação entre órgãos governamentais e entidades particulares em assuntos relacionados às atividades desenvolvidas pela sua gerência e ainda ações para o aprimoramento, estruturação e ampliação da rede de proteção, defesa e promoção de bem-estar e qualidade de vida da Pessoa idosa no Estado do Amazonas (Amazonas, 2023c). Contudo, dentre os serviços disponibilizados, evidenciam-se por buscar garantir o amplo atendimento e acessibilidade ao público fim, os projetos: “Ônibus do Idoso”12, uma unidade móvel que percorre áreas da cidade de Manaus e alguns municípios do interior do Estado para identificação e assistência em casos de violação dos direitos da Pessoa idosa, além do serviços de fisiote-

12 Ônibus: palavra utilizada na Língua Portuguesa, em sua variação linguística regional brasileira, sendo equivalente a palavra autocarro, utilizada em Portugal.

rapeutas e auxílios voltados à saúde; o projeto “Idoso Empreendedor” que em conjunto com a Agência de Fomento do Estado do Amazonas (AFEAM) dá assistência para que a Pessoa idosa inicie e estabeleça um empreendimento no mercado de trabalho; e ainda as atividades desenvolvidas pelo projeto “Vida e Saúde do Idoso Ativo” (Amazonas, 2023f) que é realizado em parceria com grupos e associações de Pessoas idosas cadastrados pela SEADPI. O projeto visa proporcionar de forma preventiva, a melhoria da qualidade de vida e bem-estar das pessoas envelhecentes e idosas, por meio de ações e serviços de equipe multiprofissional formada por profissionais de educação física, dança, fisioterapia, nutrição, serviço social, psicologia, técnico de enfermagem, entre outros (AADESAM, 2021), que ofertam de forma sistemática práticas esportivas, recreativas, culturais, educativas e reabilitação fisioterapêutica assegurando o bem-estar do corpo e da mente, as potencialidades, a autonomia, a garantia de direitos, o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários e a inclusão social (Amazonas, 2023f). Desta feita, são 74 (setenta e quatro) núcleos atendidos, cada um com aproximadamente 40 (quarenta) Pessoas idosas, que estão distribuídos pela capital Manaus e 10 (dez) núcleos atendidos em municípios como Amaturá, Careiro da Várzea, Iranduba, Itacoatiara, Manacapuru, Novo Airão, Parintins, Presidente Figueiredo, Rio Preto da Eva e Tefé, no interior do Estado (Amazonas, 2023f; AADESAM, 2021). À vista de seus dados e números de serviços ofertados à população de Pessoas idosas não é exagero afirmar que a SEJUSC, por meio da SEADPI, trata-se inegavelmente de um fulcral órgão governamental que fomenta a execução das políticas destinadas e contribui para o bem-estar e qualidade de vida da Pessoa idosa na cidade de Manaus, assim como no interior do Estado do Amazonas.

No tocante, é pertinente trazer à lúmen o fato que a SEADPI em conjunto com a Secretaria de Estado da Pessoa com Deficiência do Amazonas (SePcD-AM) inaugurou, em outubro de 2023, sua nova sede física na capital Manaus, localizada no Parque das Laranjeiras, bairro Flores, Zona Centro-Sul da cidade. O complexo conta com estruturas física, material e humana que possibilitam o atendimento para além das funções administrativa e a gestão de projetos das secretarias, pois adjunto a estrutura foi criado o Centro Estadual de Cuidados para Idosos e Pessoas com Deficiência (CECIPcD) que disponibiliza serviços direcionados e exclusivos à

Pessoa idosa e à Pessoa que apresenta deficiência. O CECIPcD é um espaço adaptado para receber e atender as necessidades de sua clientela específica e ainda oferecer serviços como: fisioterapia, hidroterapia, hidroginástica, musicoterapia, dança, atividade física e diversas outras terapias e acolher a demandas concernentes às Pessoas idosa e, ou que apresenta deficiência (Amazonas, 2023c). Em vista disso pode-se verificar que o CECIPcD se trata, inegavelmente, de mais um espaço destinado à promoção da proteção, direitos, saúde e bem-estar da Pessoa idosa amazonense13. Ademais, integrando os serviços destinados à Pessoa idosa apresenta-se Centro Integrado de Proteção e Defesa da Pessoa Idosa (CIPDI), o qual foi criado em julho de 2007, conforme as diretrizes da Lei 10.741/2003 – Estatuto do Idoso, entretanto, somente foi integrado ao organograma da SEJUSC no ano 2017. Apresenta como objetivo promover a proteção e a defesa dos direitos da pessoa idosa, ao passo que seus serviços são disponibilizados por meio de equipe técnica multiprofissional, em atendimentos psicossociais, registro de denúncias, orientações e encaminhamentos, bem como atividades específicas desenvolvidas pelos profissionais assistentes sociais e psicólogos, como visitas domiciliares, mediações de conflitos, elaboração de relatórios sociais e relatórios psicológicos (Amazonas, 2023c). Entre outros serviços, destacam-se também, a participação da equipe psicossocial do CIPDI em Ações Temáticas voltadas ao segmento idoso, cujos objetivos são a sensibilização dos usuários quanto aos direitos garantidos à Pessoa idosa e a promoção do envelhecimento ativo (Amazonas, 2023c). Nessa mesma ótica, somando-se aos serviços de proteção à Pessoa idosa citados, reverte-se de particular importância a Secretaria de Estado de Segurança Pública do Amazonas (SSP-AM) que mantém a Delegacia Especializada em Crimes Contra o Idoso (DECCI), localizada no bairro Parque 10 de Novembro, Zona Centro-Sul, órgão vinculado a Polícia Civil do Estado do Amazonas que apresenta como competência realizar diligencias e investigar todo e qualquer crime previsto no Estatuto da Pessoa Idosa, ou outros crimes previstos em outras legislações que estejam vinculados à Pessoa idosa (Amazonas, 2023e). Contudo, ao abordarmos a ques-

13 Amazonense: gentílico, palavra que designa a pessoa que nasce no Estado do Amazonas, Brasil.

tão legislação é importante relatarmos que em Manaus existem o Conselho Municipal do Idoso e também está sedeado o Conselho Estadual do Idoso, este último com jurisdição em todo Estado do Amazonas. Esses são órgãos colegiados, consultivos e normativos. Que por sua vez apresentam por finalidade congregar e conjugar esforços do Poder Público e suas autoridades, da iniciativa privada e de grupos organizados, que apresentem como objetivos a consecução das políticas relativas à Pessoa idosa, efetivando-a como instrumento de garantia da cidadania (Amazonas, 2023c; Manaus, 2021b).

Ora, outro importante projeto de relevância histórico-social para a população de Pessoas idosas desenvolvido na cidade de Manaus é o Programa Idoso Feliz Participa Sempre – Universidade da 3ª Idade Adulta (PIFPS-U3IA), o qual é vinculado à Pró-Reitoria de Extensão (PROEXT) e à Faculdade de Educação Física e Fisioterapia (FEFF) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). O referido programa é desenvolvido desde o ano 1993 nas dependências da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal do Amazonas, localizada no bairro Coroado, Zona Leste de Manaus, contando sempre com a atuação de estagiários e Profissionais de Educação Física a desenvolver atividades educativas, culturais, de promoção à saúde e atividades físicas como caminhada ecológica, dança de salão, educação física gerontológica, ginástica gerontológica, gerontovoleibol, ‘hidromotricidade’, musculação gerontológica, natação e pilates. Atende a centenas de alunos e também se mostra como um espaço voltado para o estudo e pesquisa das nuances que envolvem a Pessoa idosa, o processo de envelhecimento e a prática de atividades físicas (UFAM, s.d.).

Pensando na recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) e valorização da Pessoa idosa, a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) criou em 2007 a Universidade Aberta da Terceira Idade (UnATI) como objetivo de produzir e disseminar conhecimentos por meio do desenvolvimento de ensino e pesquisa no processo de envelhecimento aos profissionais dos diversos campos do conhecimento. Hoje, a instituição é denominada Fundação Universidade Aberta da Terceira Idade (FUnATI) e se consolidou como um centro de referência, de ensino, pesquisa, extensão e assistência à saúde, direcionados para os assuntos próprios ao envelhecimento humano e à formação de profissionais na área da

Gerontologia e especializados na saúde da Pessoa idosa, no Estado do Amazonas (FUnATI, 2021). A FUnATI conta com uma Policlínica Gerontológica, a oferecer serviços de saúde por meio de uma equipe multiprofissional em saúde composta por assistente social, cirurgiões dentistas, enfermeiros, fisioterapeutas, médicos (geriatra, gerontólogo, clínico geral e oftalmologista), nutricionista, profissionais de educação física e psicólogos. Somam-se a esses profissionais, técnicos de enfermagem, técnicos administrativos e serviços de apoio aos sistemas de informação do SUS e Sistema de Regulação – SISREG (FUnATI, 2021). Essa por sua vez, objetiva ofertar serviços para pessoa idosa, visando à promoção da saúde, prevenção de doenças, estímulo ao autocuidado, manutenção e/ ou recuperação da capacidade funcional que repercutirão em um envelhecimento ativo e de melhor qualidade. Nesse contexto, fica claro que a FUnATI, por meio de seus serviços de ensino, pesquisa, extensão e da materialização de sua Policlínica Gerontológica, reconheceu a importância de esquematizar a prestação de serviços de saúde considerando as necessidades específicas da população idosa, cuja saúde é caracterizada pela presença de múltiplas condições clínicas, decréscimo fisiológico e funcionalidade reduzida (FUnATI, 2021).

Ao abordarmos a questão esporte e lazer para a Pessoa idosa destacam-se dentro da aparelhagem governamental do município de Manaus a Fundação Manaus Esporte e a Fundação Dr. Thomas que desenvolvem pertinentes trabalhos relativos à promoção de saúde, prática de atividades físicas, atividades socioculturais e educacionais para a Pessoa idosa manauara. A Fundação Manaus Esporte (FME) é um instrumento do governo municipal direcionado para o fomento da garantia dos direitos individuais e coletivos da população de Manaus na área do desporto e lazer. Em sua essência, como executor de políticas públicas, apresenta como princípio o desenvolvimento do esporte de base, assim como o trabalho de inclusão social (Manaus, 2023a). Atualmente a FME trabalha desenvolvendo programas de atividades físicas para os munícipes de Manaus, de todas as faixas etárias, em seus 18 Núcleos de Esporte e Lazer (NEL’s) e 1 velódromo, divididos pelas seis zonas urbanas da capital amazonense, sendo que destes, 16 NEL’s apresentam grupos de Pessoas idosas, assim como aulas/atividades desportivas específicas para tal clientela (Manaus, 2023a). Assim sendo, os 16

NEL’s que trabalham com a Pessoa idosa estão dispostos pela cidade os seguintes endereços: NEL – Mini Vila Olímpica do Coroado, localizado no bairro Coroado, Zona Leste da cidade; NEL Alvorada, localizado no bairro Alvorada I, Zona Centro-Oeste; NEL Campos Elíseos, localizado no bairro Planauto, Zona Centro-Oeste da cidade; NEL Cidade de Deus, localizado no Bairro de mesmo nome, Zona Norte; NEL Cidade Nova, localizado no bairro Cidade Nova, Zona Norte; NEL Dom Jackson, localizado no bairro Compensa I, Zona Oeste da cidade; NEL Dom Pedro, localizado no bairro de mesmo nome, Zona Centro-Oeste; NEL Japiim, localizado no bairro Japiim, Zona Sul de Manaus; NEL Ninimberg Guerra, localizado no bairro São Jorge, Zona Centro-Oeste; NEL Redenção, localizado no bairro de mesmo nome, Zona Centro-Oeste; NEL Rouxinou, localizado no bairro Cidade Nova I, Zona Norte; NEL Santa Etelvina, localizado no bairro de mesmo nome, Zona Norte da capital amazonense; NEL Santa Luzia, localizado no bairro de mesmo nome, Zona Sul da cidade; NEL São Francisco, localizado no bairro de mesmo nome, Zona Centro-Sul; NEL Vale do Amanhecer, localizado no bairro Petrópolis, Zonas Centro-Sul da cidade; NEL Zezão, localizado no bairro São José, Zona Leste da capital amazonense (Manaus, 2023a). Nos referidos NEL’s a população idosa pode contar com atividades como: caminhada orientada, hidroginástica, natação, ginástica gerontológica, gerontoatletismo, gerontovoleibol, oficinas de memória, jogos de salão (boliche, bocha, dominó, taco no disco, lance livre na cesta, jogo de argolas, lançamento ao alvo), danças, passeios e atividades socioculturais. Essas atividades são orientadas por Profissionais de Educação Física que se empenham em promover saúde, qualidade de vida e lazer a todos que buscam os serviços do NEL’s (Manaus, 2023a). Dentre os diversos eventos desenvolvidos pela FME, destaca-se por sua relevância para o segmento de Pessoas idosas, a intitulada “Olimpíada da 3ª Idade”, evento desenvolvido anualmente no mês de setembro e em 2023 está em sua 23ª edição. A “Olimpíada da 3ª Idade” realizada na cidade de Manaus, conta com a participação de dezenas de grupos de idosos, tanto oriundos da capital Manaus, como do interior do Estado do Amazonas. Nesse evento as Pessoas idosas denominadas gerontoatletas, mostram toda a plenitude de suas capacidades físicas, cognitivas, afetivas e socioculturais. Ao longo de duas semanas são disputadas diversas modalidades desportivas, assim como artísticas e culturais como gerontovoleibol,

gerontoatletismo, natação, jogos de salão, danças, coreografias, desfiles e disputa de melhor torcida. Ao passo que campos, salões, piscinas e quadras poliesportivas ficam repletos de acirradas disputas temperadas por muita alegria, vitalidade, paixão e rivalidade. Ora, em tese, a tão almejada vitória pode até ser a finalidade dos gerontoatletas e dos grupos de idosos, porém o caminho-meio é repleto de socialização, confraternização e amizade. Recorrentemente, a Olimpíada da 3ª Idade é um evento que celebra não só a cultura desportiva, mas também a saúde, a longevidade e a vida.

E, a completar a rede de serviços dispostos para a Pessoa idosa na cidade de Manaus apresenta-se a Fundação Dr. Thomas (FDT) que quiçá seja a instituição que apresente a melhor infraestrutura à serviço do bem-estar e melhora da qualidade de vida da Pessoa idosa manauara. Por sua vez, em âmbito municipal a FDT apresenta a responsabilidade de administrar e avaliar a execução da Política Municipal do Idoso, mediante o desenvolvimento de ações estratégicas capazes de garantir os direitos sociais da Pessoa idosa manauara e assegurar a promoção de sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade (Manaus, 2023b). Nesse sentido, a FDT apresenta um complexo, conhecido como Parque Municipal do Idoso, localizado no bairro Nossa Senhora das Graças, Zona Centro-Sul, que disponibiliza o Programa de Longa Permanência e o Programa Conviver. O Programa Longa Permanência, desenvolvido pela FDT, é um serviço permanente, que disponibiliza assistência em caráter asilar à Pessoa idosa em risco social, com ou sem vínculo familiar, cuja família seja carente de recursos financeiros ou que tenha sido vítima de violência. A FDT é a única instituição de longa permanência para idosos nos três graus de dependência em Manaus e a única totalmente administrada polo poder público da Região Norte (Manaus, 2023b).

São atendidos aproximadamente 150 Pessoas idosas, divididos em grau de dependência. Dentro do programa, eles recebem alimentação (seis refeições por dia), atendimento e acompanhamento médico, psicológico, fisioterapêutico, nutricional, acompanhamento social e atividades ocupacionais de recreação e cultura (Manaus, 2023).

Ademais a FDT disponibiliza à população manauara o Programa Conviver, que ocorre nas dependências do Parque Municipal do Idoso e beneficia cerca de 1500 Pessoas idosas todos os dias

com atividades físicas, laborativas, recreativas, culturais e de educação para a cidadania. Para mais, o Parque dispõe de uma estrutura idealizada para bem servir o público de Pessoas idosas, contando com piscina térmica, ginásio coberto, auditório com 250 lugares, pista de caminhada, salas de aula, dança e arte, lanchonete e salão de beleza. Somando-se a isso estão as seguintes atividades que são oferecidas: caminhada orientada, pilates funcional e solo, ginástica, alongamento, hidroginástica, gerontovoleibol, natação, ginástica elaborada, ginástica terapêutica, yoga, meditação, dança de salão, dança coreográfica, academia ao ar livre, sala de musculação, estúdio de pilates, teatro, canto, coral, flauta doce, violão, oficina da memória e da cidadania, artesanato, seresta prosa e poesia, dominó e sinuca. Todas as atividades são ministradas por uma equipe multiprofissional, constituída por assistentes sociais, psicólogos, professores de educação física, instrutores, auxiliares de enfermagem, funcionários dos setores técnico e administrativo. Conforme verificado e devido à magnitude dos serviços ofertados pela FDT, trata-se inegavelmente de uma instituição que se especializou e oferta uma estrutura e serviços voltados a atender as necessidades inerentes às nuances da Pessoa idosa, buscando aplicar um atendimento integral diante das díspares necessidades que compõem o arranjo relativo ao processo de envelhecimento humano. Apesar do majestoso serviço oferecido pelo Parque Municipal do Idoso, ele ainda apresenta um grave problema, sendo o seu principal problema é que ele é único na cidade de Manaus. E, apesar de estar localizado em uma região centralizada da cidade, muitos idosos encontram dificuldades para chegar até o local, principalmente aqueles que moram em regiões mais distantes do parque ou que precisam fazer algumas conexões entre ônibus para poder chegar ao local. Todavia, a pensar em minimizar essa questão a FDT iniciou no ano de 2022 o projeto “Viver Bem” no qual fomenta e dá suporte a nove associações de Pessoas idosas, oferecendo assim atividades para promoção do lazer, convívio social, ocupação, atividade física e recreação para aproximadamente 600 idosos das diversas zonas urbanas da cidade.

Ademais, é importante considerar outros serviços que despontam quanto aos serviços ofertados à Pessoa idosa manauara, os quais se faz saber:

– Lar São Vicente de Paulo - Instituição Filantrópica, que objetiva disponibilizar a caridade com justiça, sempre a buscar a qualidade nos atendimentos aos seus residentes. Além de assegurar proteção integral à Pessoa idosa com vínculos familiares e ou comunitários rompidos/fragilizados via acolhimento institucional qualificado. Localiza-se no bairro São Raimundo, Zona Sul da cidade.

– Casa de apoio a hansenianos e ex hansenianos. Apoia a Pessoas idosas que enfrentam ou foram acometidos pela patologia hanseníase. Está localizada no bairro Coroado, Zona Leste de Manaus.

– Residencial Casa Gene - A Casa Gene Manaus é o mais novo conceito de creche para a Pessoa idosa em Manaus. Desenvolve um trabalho em que proporciona um ambiente onde, ao longo do dia, desenvolva atividades programadas. Assim, a Pessoa idosa estimula sua saúde física, mental e social e constrói novos vínculos. Localiza-se no bairro Parque 10 de Novembro, Zona Centro-Oeste da cidade.

DESAFIOS, PROBLEMAS E CONSTRANGIMENTOS APRESENTADOS À PESSOA IDOSA MANAUARA

A juventude não pode saber como um idoso pensa e se sente. Mas os idosos são culpados se eles se esquecerem como é ser jovem. (J.K. Roling)

Diversos foram os serviços relativos à Pessoa idosa manauara apontados por esse ensaio, o que pode até induzir o leitor a ordinária crença de que Manaus apresenta uma plenitude quanto a disposição de serviços e acolhimento ao idoso, todavia recordamos que a população idosa da cidade é de aproximadamente 210 mil pessoas, um número grande de pessoas que pode ser comparado ao número total de pessoas de muitas cidades. Nesse contexto, fica claro que mesmo havendo diversos serviços os mesmos devem ser multiplicados e melhorados para o bem da população de Pessoas idosas da cidade de Manaus.

Os primeiros passos foram dados e a cidade começou a se preparar para ofertar as condições necessárias às características da Pessoa idosa, condições que muitas das vezes se apresenta como

sendo de muitos outros atores sociais, de todas as idades, mesmo que temporariamente, e desenvolveu estruturas e serviços para ampliar o bem-estar, qualidade de vida e saúde do grupo populacional que mais cresce em nossa cidade.

Ao longo dos últimos anos Manaus vem se estruturando para ofertar uma melhor estrutura e serviços a aqueles que tiveram o privilégio do envelhecimento. Hoje tem-se os Centro de Convivências em Manaus, fomentados pelo Governo Estadual e Municipal, portas de entrada para a propagação dos princípios básicos do envelhecimento com qualidade e dos serviços à disposição da população. Os dados revelados apresentam muito mais que números e serviços, mostram que Manaus e o Estado do Amazonas vêm se preparando para esse processo em que o Brasil imergiu hodiernamente, que nascem e morrem menos pessoas. É importante considerar que os governos municipal e estadual vêm se empenhando em ofertar melhores serviços, como é o caso da saúde, a população envelhescente tem a sua disposição o sistema de saúde chamado CAIMI's (Centros de Atenção Integral à Melhor Idade) Unidades Básicas de Saúde (UBSs), as quais apresentam um olhar peculiar para os cuidados da pessoa que envelhece.

Trata-se inegavelmente de inúmeros avanços, contudo, deve-se ainda, avançar a largos passos, caso almejemos superar tal paradoxo e tornarmos uma cidade verdadeiramente acolhedora, amiga e que possibilite dignidade aos seus cidadãos que tanto contribuíram para sua formação. Apesar de avanços na rede de saúde, ainda há um grande déficit de estrutura, serviços e profissionais preparados e treinados para atender a Pessoa idosa. A população idosa clama por um hospital público especializado em Geriatria e Gerontologia, onde as nuances relativas ao envelhecimento sejam compreendidas. Ademais, as estruturas e serviços relativos à prática de atividade física devem ser multiplicadas em todas as zonas da cidade, pois não podemos alijar os cidadãos dessa tão importante medida não farmacológica que se praticada em ‘dosagem’ adequada traz tanto benefícios a saúde do indivíduo, combatendo o sedentarismo que está estreitamente ligado ao desenvolvimento de patologias cardiovasculares, principal causa de mortes no país (Brasil, 2023).

Nossas vias, calçadas, parques e praças devem ser seguros e convidativos aos munícipes para a prática de atividade física e ao

lazer, não o contrário, como se é comum observar em nossa cidade hodiernamente. Não devemos involuir e sim evoluir em políticas e ações públicas, pois o que se observa é uma verdadeira privatização e concessão dos espaços e vias públicas para os veículos automotores e a criminalidade, deixando o cidadão inseguro, trancado ou propício a uma verdadeira odisseia, se ousar desafiar boa parte das vias públicas seja para se exercitar, ou como meio para deslocamento com modais não automotivos.

Quiçá, entre os aspectos urbanos da cidade de Manaus que mais preocupam a Pessoa idosa sejam: o trânsito e os serviços de transporte coletivo. Nesses, todos os dias, em nossa cidade, diversos ‘não-exemplos’ a seguir e desfavores sociais são vivenciados pelas Pessoas idosas. São a impaciência, o desrespeito, a apatia e o crime que assolam nossos velhos diariamente.

E para ilustrar tal realidade apresentamos alguns exemplos, que são trechos de nossas entrevistas recolhidas a partir do depoimento de Pessoas idosas que participaram de uma de nossas pesquisas em andamento, como é o caso de A. S. P., 63 anos moradora do bairro Santa Etelvina relatou: “Eu preciso sair todos os dias para apanhar o ônibus, e quase todo dia tem um motorista ‘gaiatinho’ que vê que é um velho na parada e não para” (Paiva, 2022). Agora vejamos o caso de M.P.P., 66 anos, morador do bairro Coroado:

Meu filho, fico até chateado, porque eu entro no ônibus e lá está aquele marmanjão, com fone de ouvido, sentado na cadeira do idoso, e o pior! Quando me vê, finge que tá dormindo e não levanta, de jeito nenhum, da cadeira pra eu sentar e ninguém faz nada. O jeito é ir em pé, não é!? (Paiva, 2022).

Vamos a outro caso, agora de S.R.N.S., 65 anos, moradora do bairro Santo Antônio:

Nossa esses motoristas são tudo doido mesmo, parece que estão com a mãe na forca, não sabem esperar ninguém. Um dia desses eu fui entrar no ônibus e o motorista arrancou. Eu cai, machuquei meu punho, bati minha cabeça e se não fosse a moça que me ajudou eu estaria até hoje lá jogada [...] Aqui nes-

se cruzamento, é perigosíssimo, os motoristas ficam buzinando, essas calçadas são altíssimas e ainda tem esse pessoal dessas barraquinhas que ficam no meio da passagem e a gente tem que ficar indo pro meio da rua se quiser passar (Paiva, 2022).

Como visto nos relatos acima, se faz necessário uma mudança de paradigma social, onde os demais atores sociais possam desenvolver empatia, ser educados para uma melhor relação e convívio com as necessidades do outro e respeite a diversidade humana e principalmente se veja como a Pessoa idosa de amanhã e que quererá respeito e dignidade. Ademais, os órgãos fiscalizadores encabeçados pelo poder público precisam se empenhar para que se faça valer o direito dos cidadãos, pois é inadmissível o atual estado de inércia no que tange a irregularidade na construção de calçadas, muros e edificações em geral e o descaso quanto a imposição de obstáculosbarracas, placas entre outros – em via pública, alijando o cidadão do direito de ir e vir ou no mínimo expondo-o a riscos desnecessários. Quando não se fazem ausentes, a grande maioria das calçadas são irregulares, quebradas, escorregadias ou extremamente altas, dificultando em muito o trânsito de pessoas.

Outro aspecto a ser ponderado é o fato de que esforços devem ser empregados para que as políticas, as estruturas e os serviços saiam das zonas centrais da cidade e se expandam para as áreas mais longínquas da cidade, em uma verdadeira interiorização dentro do município das políticas, estruturas e serviços observados em zonas mais centrais.

CONCLUSÕES ACERCA DAS NUANCES RELATIVAS À PESSOA IDOSA MANAUARA

Por conseguinte, além de uma alimentação mais saudável e de melhores serviços de saneamento e saúde, uma boa parcela da população de Pessoas idosas tem colhido ainda os benefícios de uma prática regular de exercícios físicos, os quais, como já visto neste ensaio, apresentam capacidade para influenciar positivamente para a ampliação da longevidade da população (Paiva, 2022; Moura, 2020). A maior procura, o aumento e melhora de acesso às práticas de atividades físicas são fatores considerados cruciais para a

longevidade. Levando a cidade a apresentar Pessoas idosas mais ativas que se exercitam regularmente e colhem as benesses dessa prática, haja vista que um do viés da longevidade é o exercício físico. Em Manaus, há serviços municipal, estadual e ofertados pela sociedade civil que disponibilizam a prática de atividade física, onde a Pessoa idosa conta também com uma rede de serviços –exames periódicos, fisioterapia, psicologia, assistência social, nutrição, cultura, entre outros – que vão para além da prática regular de atividade física catapultando assim a possibilidade de longevidade e o envelhecimento ativo e saudável.

Contudo, no ano de 2019, a Pesquisa Nacional de Saúde verificou o engajamento da população brasileira para com a prática regular da atividade física e esse estudo trouxe um dado preocupante que se faz necessário ressaltar. Apenas (31,1%) da população manauara com idade acima de 18 anos praticam atividade física ao nível recomendado pela OMS, sendo este o menor valor percentual entre as capitais brasileiras (IBGE, 2020). Nesse ínterim é importante que se desenvolvam ensaios para averiguar os motivos desse não engajamento da população e que se desenvolvam políticas de incentivo e condições apropriadas para o desenvolvimento das atividades físicas.

Muitos foram os avanços relativos às estruturas e serviços ofertados à população de Pessoas idosas. Os governos têm empregado esforços para implementar medidas e serviços adequados à essa população. Contudo, em algumas áreas a inércia parece prevalecer e os avanços são tímidos. Faz-se necessário um esforço comum entre governos e díspares atores sociais para que haja uma verdadeira evolução acerca dessas questões, que em alguns casos estão impregnadas em etarismo, falta de empatia e ignorância. No mais, que os esforços da presente geração sejam indeléveis e ávidos pela busca de constantes melhorias para a sociedade e dessa forma não sejamos surpreendidos pelo inexorável tempo a cobrar por nosso descaso e negligência para com as necessidades da Pessoa idosa e nos condene a sermos velhos em um mundo inóspito à senilidade.

Desta feita apresentou-se nuances relativas ao cotidiano da Pessoa idosa Manauara, características, serviços, desafios, constrangimentos e facilidades apresentados pela cidade. Ficou

evidente, diante de todo o contexto apresentado que se trata, inegavelmente, de informações que bradam pelo surgimento de estudos, planos e ações que possam indicar caminhos a seguir e, ou configurar as nuances da cidade para que essa possa proporcionar dignidade, cidadania, ser acolhedora, eficiente e amiga da Pessoa idosa, assim como de seus munícipes como um todo.

REFERÊNCIAS

BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA

DO BRASIL DE 1988. Presidência da República; Casa Civil; Subchefia para Assuntos Jurídicos, 1988. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 3 jun. 2018.

BRASIL. Polo Industrial de Manaus. gov.br, 06 ago. 2021. Disponível em: https://www.gov.br/suframa/pt-br/assuntos/polo-industrial-de-manaus. Acesso em: 28 set. 2023.

BRASIL. Lei nº 14423, de 2022. Presidência da República; Casa Civil; Subchefia para Assuntos Jurídicos, 2022. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm. Acesso em: 22 nov. 2022.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa. Brasília: Imprensa Nacional, 2006. Disponível em: http://bibliotecadigital.economia.gov.br/handle/123456789/590. Acesso em: 13 nov. 2019.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Estatuto do Idoso. 3ª. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. ISBN 978-85-334-1845-5. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/estatuto_idoso_3edicao.pdf. Acesso em: 3 maio 2018.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Atenção à Saúde da Pessoa Idosa e Envelhecimento: Série Pactos pela Saúde 2006, v. 12. Brasília: Ministério da Saúde, v. I, 2010. ISBN 978-85-334-16208. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/ atencao_saude_pessoa_idosa_envelhecimento_v12.pdf. Acesso em: 13 maio 2019.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. BIBLIOTECA VIRTUAL EM SAÚDE. Biblioteca Virtual em Saúde - Climatério. Biblioteca Virtual

em Saúde - Ministério da Saúde, 22 janeiro 2022. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/climaterio/. Acesso em: 22 jan. 2022.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE; SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE; DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO BÁSICA. Política Nacional de Atenção Básica. 1ª. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. ISBN 978-85-334-1939-1. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/publicacoes/geral/pnab.pdf. Acesso em: 14 mar. 2019.

BRASIL. Presidência da República. Constituição federal de 1988. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 11 nov. 2018.

BRUMES, K. R. Cidades: (Re)definindo seus papéis ao longo da história. Caminhos de Geografia, 2(3), 47-56, 2001. Disponível em: https://seer.ufu.br/index.php/caminhosdegeografia/article/ view/15260. Acesso em: 12 fev. 2018.

CABRILLO, F.; CACHAFEIRO, M. L. A revolução grisalha. Lisboa: Planeta editora, 1992.

FUNATI. Guia Básico da Rede de Atenção à Pessoa Idosa: Programa Saúde Social da Policlínica Gerontológica da FUnATI. 1ª. ed. Manaus: FUnATI, 2021. Disponível em: https://funati.am.gov. br/wp-content/uploads/2021/07/GUIA-BASICO-FUNATI-1.pdf. Acesso em: 10 fev. 2022.

GARCIA, R. P. (S/D). O idoso na sociedade contemporânea. In: Jorge Mota e Joana Carvalho (Eds.). A qualidade de vida no idoso: o papel da actividade física. Porto: Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto. p. 74-83.

GARCIA, R. P. No labirinto do desporto: horizontes culturais contemporâneos. Belo Horizonte: Casa da Educação Física, 2015.

GARCIA, R. P. Inclusão e jogos paralímpicos: sim ou não? Não! Federação Portuguesa de Desporto para Pessoa com Deficiência. Lisboa, Ano 3, v. 3, n. 1, p. 20-21, 2017.

IBGE. Pesquisa Nacional de Saúde - 2019. Rio de Janeiro: IBGE, 2020. 113 p. ISBN 978-65-87201-33-7. Disponível em: https://www.pns.icict.fiocruz.br/wp-content/uploads/2021/02/ liv101764.pdf. Acesso em: 02 jul. 2023.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2022. Disponível

em: https://www.ibge.gov.br/busca.html?searchword=expectativa%20de&. Acesso em: 24 jan. 2022.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE, 2023. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/. Acesso em: 12 ago. 2023.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/. Acesso em: 2 jul. 2023.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2017. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia--sala-de-imprensa/2013-agencia-denoticias/releases/16131-ibge-divulga-as-estimativas-populacionais-dos-municipios-para2017. Acesso em: 02 jun. 2018.

KALACHE, A. O mundo envelhece: é imperativo criar um pacto de solidariedade social. Ciências e saúde coletiva. 13(4), p. 11071111, 2008.

Manaus (Município). A história da cidade. Prefeitura Municipal de Manaus, [s.I.]: Manaus, 2018. Disponível em: http://www.manaus.am.gov.br/cidade/historia/ Acesso em: 20 de maio de 2018.

MANAUS (MUNICÍPIO). A história da cidade. Prefeitura Municipal de Manaus, [s.I.]: Manaus, 2018. Disponível em: http://www. manaus.am.gov.br/cidade/historia/ Acesso em: 20 maio 2018.

MANAUS (MUNICÍPIO). Secretaria Municipal de Saúde - Manaus. Prefeitura de Manaus, 2021a. Disponível em: https://semsa. manaus.am.gov.br/apresentacao/. Acesso em: 2 nov. 2022.

MANAUS (MUNICÍPIO). Secretaria Municipal da Mulher, Assistência Social e Cidadania (Semasc). Prefeitura Municipal de Manaus, 2021b. Disponível em: https://semasc.manaus.am.gov. br/sobre-a-semasc/. Acesso em: 7 jul. 2023.

MANAUS (MUNICÍPIO). Fundação Manaus Esporte. Prefeitura Municipal de Manaus, 2023a. Disponível em: https://www. manaus.am.gov.br/fme/centros-de-esporte-e-lazer/. Acesso em: 12 out. 2023.

MELLO, O. Topônimos Amazonenses. Rio de Janeiro: Imprensa Oficial, 1986.

MONTEIRO, Ypiranga M. Fundação de Manaus. 4. ed. Manaus: Editora Metro Cúbico, 1971.

MOURA, Caroline R.B. A melhoria da qualidade de vida e os benefícios da atividade física em idosos: uma revisão sistemática. Brazilian Journal of Health Review. Disponível em: https://ojs.brazilianjournals.com.br/ojs/index.php/BJHR/article/view/14993. Acesso em: 10 fev. 2023.

NERY, M. Sociedade: A nova velha geração. In: Desafios do desenvolvimento. 4 (32), 2007. Disponível em: http://www.ipea. gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=1143:reporagens-materias&Itemid=39. Acesso em: 12 jun. 2018.

NAZARETH, Tayana; BRASIL, Marília; TEIXEIRA, Pery. Manaus: crescimento populacional e migrações nos anos 90. Revista paranaense de desenvolvimento, Curitiba, n. 121, p. 201-217, jul./ dez. 2011. Disponível em: https://ipardes.emnuvens.com.br/revistaparanaense/article/view/431/695. Acesso em: 07 jul. 2023.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Guia Global das Cidades Amigas das Pessoas Idosas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2009. Disponível em: https://gulbenkian.pt/publications/ guia--global-das-cidades-amigas-das-pessoas-idosas/. Acesso em: 02 fev. 2018.

PAIVA, Átila C. E aí, não sou mais criança! Por que e para que a pessoa idosa brinca? In: AQUINO, Tiago et al. Brincar: Diálogos sobre conceitos, práticas e experiências. 1. ed. São Paulo: Supimba, 2022. p. 44-48.

PAIVA, Átila C. Aspectos urbanos da cidade de Manaus que influenciam a Pessoa Idosa praticar atividade física (Diário de Campo). Pesquisa em andamento [s,I.]: Manaus, 2022.

RIBEIRO, E. E. R.; CRUZ, I. B. M. Dieta Amazônica: saúde e longevidade. Manaus: Ed. da Amazônia, 2012.

TORRES, José Evangelista; FILGUEIRAS, Aldísio. Música Porto de Lenha. [si nomina] Manaus, 1991

UNITED NATIONS. World Population Ageing 2009. New York, 2009. Disponível em: https://www.algec.org/biblioteca/ WPA2009_WorkingPaper.pdf. Acesso em: 12 fev. 2018.

CAPÍTULO 9

OS DESAFIOS DA TERCEIRA IDADE COM A TECNOLOGIA

E A REINSERÇÃO

O envelhecimento da população é uma realidade em todo o mundo, e à medida que as pessoas entram na terceira idade, enfrentam uma série de desafios, especialmente no que diz respeito à tecnologia e à reinserção na sociedade. Com o avanço das inovações tecnológicas e as mudanças no tecido social, é fundamental abordar essa questão de forma sensível e adaptativa.

A revolução tecnológica tem sido uma bênção e um desafio para as pessoas idosas. Por um lado, a tecnologia trouxe inúmeras melhorias na qualidade de vida dos idosos, proporcionando acesso a informações, serviços de saúde e formas de manter contato com familiares e amigos. No entanto, a adaptação a dispositivos eletrônicos, aplicativos e mídias sociais pode ser intimidante para muitas pessoas idosas, que não cresceram imersos na era digital. Superar o medo e a resistência à tecnologia é um desafio que a terceira idade enfrenta, mas que pode ser vencido com treinamento adequado e apoio da família.

O Estatuto da Pessoa Idosa assegura no seu artigo 21, cursos especiais para idosos com conteúdos relativos às técnicas de comunicação, computação e demais avanços tecnológicos, para sua integração com a vida moderna. Entretanto, a falta de investimentos governamentais nesses cursos e a pouca disseminação de informação impede essa parcela da população de usufruir do seu direito e, conse-

quentemente, provoca uma nova forma segregacionista chamada "analfabetismo digital".

Neste sentido, a FUnATI em parceria com a Defensoria Pública do Estado do Amazonas vem ofertando o Curso de Formação do Defensor Digital 60+ para pessoas idosas com o objetivo de inseri-las no mundo digital e aprender como utilizar aplicativos bancários, de transporte e de alimentação entre outros, além de os instrumentalizar contra os golpes digitais, identidicar fakenews, deepweb, etc.

Em uma sociedade onde as relações interpessoais estão cada vez mais dependentes da tecnologia, a terceira idade, por possuir dificuldades em utilizar equipamentos eletrônicos, acaba sendo excluída. Uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo com 100 pessoas acima de 65 anos, analisou o nível de aceitação em relação aos aparelhos tecnológicos. Descobriu-se que, em sua maioria os idosos aceitam, mas há rejeição. Cerca de 40% dos entrevistados apresentam receio de estragar e 24% afirmam ter medo de usar novas tecnologias. De fato, estar inserido nesse ambiente o qual passa por um processo rápido de evolução, submete as pessoas a uma aprendizagem contínua e se tratando de terceira idade, a busca por qualidade de vida social, cultural e tecnológica se faz cada vez mais necessária e presente.

A reinserção na sociedade é outro grande desafio para as pessoas idosas. À medida que as responsabilidades de trabalho diminuem e a aposentadoria se torna uma realidade, muitas das pessoas idosas se veem com mais tempo livre. No entanto, a solidão e o isolamento social podem se tornar problemas sérios. A tecnologia, quando usada de maneira apropriada, pode ser uma ferramenta valiosa para combater a solidão, permitindo a participação em grupos online, cursos virtuais, e até mesmo o trabalho remoto em algumas situações.

Além disso, a terceira idade pode ser um período de redescoberta e reinvenção. Muitos idosos têm uma riqueza de conhecimentos e experiências acumuladas ao longo da vida que podem ser compartilhados com as gerações mais jovens. A tecnologia oferece a oportunidade de criar blogs, vlogs e participar ativamente em fóruns e grupos de discussão, compartilhando seu conhecimento e histórias de vida. Isso não só ajuda a reintegrar os

idosos na sociedade, mas também fortalece o tecido social e promove uma maior compreensão intergeracional.

Contudo, é essencial que a sociedade como um todo esteja ciente dos desafios que os idosos enfrentam com a tecnologia e a reinserção. É importante promover a inclusão digital por meio de programas de alfabetização tecnológica voltados para a terceira idade. Além disso, as famílias desempenham um papel crucial ao oferecer apoio e paciência para ajudar os idosos a superar os obstáculos tecnológicos e emocionais.

Finalizando, a terceira idade e a tecnologia não precisam ser incompatíveis. Com a abordagem certa, os idosos podem se beneficiar das maravilhas da era digital e, ao mesmo tempo, contribuir para a sociedade de maneiras significativas. A reinserção na sociedade, com o auxílio da tecnologia, pode ser uma jornada recompensadora, desde que haja sensibilidade, compreensão e apoio de todos os envolvidos.

CAPÍTULO

10 O PROCESSO PEDAGÓGICO DA ATIVIDADE FÍSICA, DO DESPORTO E DA PROMOÇÃO DA SAÚDE: EVIDÊNCIAS

Élvio Rúbio Gouveia1,2,3

Andreas Ihle3,4,5

Helder Lopes2,6

Krzysztof Przednowek7

Marcelo de M. Nascimento8

Bruna Raquel Gouveia1,3,9,10

Adilson Marques 11,1

1 LARSYS, Interactive Technologies Institute, Portugal

2 Department of Physical Education and Sport, University of Madeira, Portugal

3 Center for the Interdisciplinary Study of Gerontology and Vulnerability, University of Geneva, Switzerland

4 Department of Psychology, University of Geneva, 1205 Geneva, Switzerland

5 National Centre of Competence in Research LIVES – Overcoming vulnerability: Life course perspectives, Switzerland

6 Research Center in Sports Sciences, Health Sciences, and Human Development (CIDESD), Portugal

7 Institute of Physical Culture Sciences, Medical College of Rzeszów University, Rzeszów University, Rzeszów, Poland

8 Department of Physical Education, Federal University of Vale do São Francisco, Petrolina, Brazil

9 Regional Directorate of Health, Secretary of Health of the Autonomous Region of Madeira

10 Saint Joseph of Cluny Higher School of Nursing

11 CIPER, Faculdade de Motricidade Humana, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal

12 ISAMB, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal

INTRODUÇÃO

Portugal experienciou recentemente uma mudança demográfica com o aumento da população idosa, como resultado da baixa taxa de natalidade e um aumento da esperança média de vida. Em 2002, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (2002), a esperança média de vida ao nascimento em Portugal era de 76 anos para os homens e 82 anos para as mulheres. Mais recentemente, no triénio 20202022, a esperança de vida à nascença foi estimada em 81 anos, sendo 78,1 anos para os homens e 83,5 anos para as mulheres (INE, 2023).

O processo de envelhecimento leva a profundas modificações nos sistemas cárdio-pulmonar, músculo-esquelético, nervoso e imunológico. Em repouso o volume pulmonar decresce cerca de 30% dos 25 até aos 85 anos de idade. Da mesma forma ocorre uma redução progressiva do pico de fluxo ventilatório e da capacidade pulmonar com o aumento da idade (ACSM, 2021; Taylor & Johnson, 2008). O envelhecimento é também caracterizado por um decréscimo da massa óssea, resultan-

do na redução na densidade mineral óssea (Padilla Colón et al., 2018). Cerca de 25% da função muscular, definida com a ocorrência do pico de força máxima, é perdida por volta dos 65 anos de idade. Mudanças negativas no sistema nervoso central são observadas na neurotransmissão, condução nervosa e controle da motricidade fina. Em adição, verifica-se um decréscimo da resistência aos agentes infeciosos, na ordem dos 5-30% (Taylor & Johnson, 2008).

O efeito em rede destas modificações está associado a um decréscimo da autonomia e qualidade de vida dos adultos idosos. Apesar de fatores ambientais e genéticos explicarem parcialmente este declínio, mudanças nos níveis de atividade física podem ter um papel relevante. Os benefícios da atividade física ou do exercício regular refletem-se na melhoria das funções cardiovascular e respiratória, redução dos fatores de risco para a doença coronária e diminuição da morbilidade e mortalidade (American College of Sports Medicine, 2021). Com base nos fatos apresentados, este texto tem como objetivo discutir e contextualizar a evidência científica construída nos estudos de investigação realizados pela equipe que o redigiu. Pretendemos destacar o processo pedagógico da atividade física, do desporto e da promoção da saúde, de modo a permitir que os profissionais de desporto e da saúde atuem com base numa metodologia fundamentada na evidência disponível.

SAÚDE METABÓLICA

Atividade física e lipoproteínas de alta densidade

Estudos anteriores têm demonstrado que o colesterol das lipoproteínas de alta densidade (HDL-C) parece ser um fator protetor no desenvolvimento de doenças cardiovasculares (de Freitas et al., 2011). Além do transporte reverso de colesterol pela remoção do colesterol de tecidos extra-hepáticos, o HDL-C também é conhecido por desempenhar outras funções (por exemplo, anti-inflamatória, antioxidante, aumento do óxido nítrico), o que pode contribuir para a ateroproteção e a redução das doenças coronárias (Ahmed et al., 2016). Isso pode ser importante para as pessoas idosas, uma vez que foi observado que as concentrações de colesterol tendem a

ser mais baixas em adultos mais velhos (Wang et al., 2019), com alta prevalência de doenças cardiovasculares relacionadas à dislipidemia (Félix-Redondo, Grau, & Fernández-Bergés, 2013). Como alvo terapeutico, o HDL-C tem suscitado um interesse substancial, uma vez que foi encontrada uma forte associação entre fatores de estilo de vida, HDL-C e morte por doença cardíaca coronária (Chanti-Ketterl et al., 2017). Por exemplo, estudos anteriores mostraram que o HDL-C está em grande parte relacionado a diferenças em fatores de estilo de vida, como atividade física (Franczyk et al., 2023; Gouveia et al., 2017), hábitos de tabagismo e consumo de álcool (Wu et al., 2001), distribuição de gordura corporal (Fonong et al., 1996) e status socioeconômico (SES) (Verschuren et al., 1994). No entanto, a associação entre fatores do estilo de vida e HDL-C, particularmente em pessoas idosas, ainda é um tema em discussão. Existem estudos que mostram uma associação entre as mudanças nos padrões de atividade física e as mudanças no HDL-C (Franczyk et al., 2023). Essas mudanças estão relacionadas a alterações na estrutura e no funcionamento das propriedades do HDL-C. Por outras palavras, a prática de atividade física pode afetar os níveis de colesterol HDL e suas características estruturais e funcionais. No entanto, alguns estudos em pessoas mais velhas não apoiam a hipótese de que a atividade física seja um preditor independente dos níveis de HDL-C (Fonong et al., 1996). Além disso, o tabagismo (Wu et al., 2001) e o consumo de álcool (Wu et al., 2001; Park & Kim, 2012) são outros comportamentos modificáveis que têm sido associados a níveis reduzidos de HDL-C. No entanto, em pessoas idosas estudos mostram resultados controversos em relação a esses fatores (Wu et al., 2001). Isso sugere que a relação entre tabagismo, consumo de álcool e HDL-C não foi ainda bem explorada nas pessoas idosas.

Outro fator de risco importante associado à dislipidemia é a distribuição de gordura corporal. Estudos mostraram que uma alta acumulação de gordura abdominal está associada a complicações metabólicas e a um aumento do risco de doença cardíaca coronária em adultos (Powell-Wiley et al., 2021). A literatura disponível sugere que o HDL-C pode estar relacionado à atividade física, tabagismo, consumo de álcool e distribuição de gordura corporal, mas os resultados, especialmente em pessoas idosas, não são consistentes até o momento.

Os resultados de um estudo desenvolvido por esta equipe de investigação (Gouveia et al., 2017), apoiam que a atividade física no desporto e nos tempos livres está positivamente relacionada com os níveis de HDL-C. Essas associações mantêm-se, mesmo quando as análises são controladas por fatores não modificáveis (sexo e idade), tabagismo, consumo de álcool, distribuição de gordura corporal e SES. Estes resultados estão de acordo com outros estudos em adultos mais velhos que sugerem uma relação entre a atividade física e o HDL-C, especialmente para atividades desportivas regulares, mesmo após o controle de fatores de risco conhecidos modificáveis e não modificáveis. As evidências dos nossos resultados permitem ajudar a sustentar a ideia de que, também em adultos mais velhos, um nível superior de atividade física pode melhorar os níveis de HDL-C (Franczyk et al., 2023).

Existem diversas implicações pedagógicas que podem ser retiradas para a prática. O enfoque deve ser na educação para a saúde, de modo a melhorar a literacia em saúde das pessoas mais velhas em relação a como podem influenciar positivamente os seus níveis de HDL-C e, assim, diminuir o risco de doenças cardiovasculares. A educação e a sensibilização são ferramentas valiosas para promover a saúde e o bem-estar na população idosa, as quais devem ser integradas nos programas de educação em saúde e na promoção da atividade física.

SAÚDE MÚSCULO-ESQUELÉTICA

Saúde muscular

A sarcopenia, ou a perda gradual de massa muscular esquelética e força que ocorre com o avançar da idade, está associada a um aumento da mortalidade, mesmo após a realização de ajustes em relação a variáveis clínicas significativas (Visser & Schaap, 2011). Além disso, esta condição vem acompanhada de declínio funcional e incapacidade (Janssen et al., 2002). Com o avançar da idade, sobretudo a partir dos 40-45 anos, tanto a massa magra como a massa muscular esquelética diminuem progressivamente, embora sejam escassos os dados longitudinais abrangendo períodos mais longos (Baumgartner, 2005). O decréscimo gradual de massa magra ou da massa muscular esquelética conduz, em última instância, à sarcopenia, frequentemente definida como massa ma-

gra inferior a 2 desvios-padrão abaixo da média de adultos jovens (25-30 anos) e saudáveis (Baumgartner et al., 1998; Fielding et al., 2011; Janssen et al., 2002).

A prevalência de sarcopenia abaixo dos 70 anos ronda os 10-20% em homens e mulheres brancos e hispanicos do Novo México, EUA, mas, em pessoas acima dos 80 anos, a prevalência ultrapassa os 50% (Baumgartner et al., 1998). A perda de massa muscular esquelética está associada a uma diminuição da força muscular, potência e capacidade funcional (Izquierdo et al., 1999; Visser et al., 2002). Paralelamente à diminuição relacionada com a idade da massa muscular esquelética e da função, o volume e a intensidade da atividade física também decrescem com a idade (American College of Sports Medicine [ACSM] et al., 2009; Kruger et al., 2007; Speakman & Westerterp, 2010). A questão de se o aumento da prevalência de sarcopenia é uma causa ou uma consequência da redução da atividade física com o envelhecimento permanece ainda por esclarecer.

Desde os anos 1980, diversos ensaios clínicos controlados e randomizados (RCTs) têm fornecido ampla evidência de que o treino de resistência de alta intensidade melhora a força, potência, desempenho funcional e a área de secção transversal muscular e a massa muscular, mesmo em pessoas idosas (Whiteford et al., 2010). O treino de resistência (2-3 dias por semana para os principais grupos musculares) é considerado uma intervenção crucial para combater o declínio da força muscular, potência, desempenho funcional e a sarcopenia, sendo recomendado como parte de um estilo de vida saudável e ativo para adultos mais velhos (ACSM et al., 2009; Nelson et al., 2007). Contudo, apenas 10-15% dos adultos mais velhos realizam exercícios de fortalecimento muscular pelo menos duas vezes por semana (Nelson et al., 2007; Winett et al., 2009). As atividades físicas mais populares entre adultos mais velhos são a caminhada, a jardinagem, o golfe e atividades aeróbicas de baixo impacto (ACSM et al., 2009), as quais não garantem a preservação da massa muscular esquelética e da força funcional.

Existe ainda um longo caminho a percorrer para um melhor entendimento sobre o impacto da atividade física na diminuição relacionada com a idade na massa muscular em pessoas idosas. Recentemente, foi demonstrado que as pessoas idosas que eram

praticantes regulares de caminhada e, sobretudo aqueles que caminhavam a maiores velocidades apresentavam uma massa muscular acima do limiar da sarcopenia ou uma maior massa magra corporal (Fiser et al., 2010). O número de passos também estava associado a um aumento da força nas pernas e à qualidade muscular em mulheres mais velhas, mas não foram encontradas associações com a massa magra das pernas em homens e mulheres (Scott et al., 2009). No entanto, permanece ainda por esclarecer se, e quais os tipos de atividade física proporcionam mais benefícios na preservação muscular em populações mais velhas.

Os resultados dos nossos estudos têm evidenciado uma diminuição da massa magra e da massa gorda ao longo das faixas etárias, particularmente após os 75 anos, e confirma a persistência de uma dismorfia sexual na massa muscular na idade avançada (Gouveia et al., 2016). Estes resultados sublinham ainda uma associação positiva significativa entre a atividade física e a massa magra muscular. Conclui-se que o um aumento adicional de cinco unidades na pontuação total de atividade física pode levar a um aumento de 1,5 a 2 kg na massa muscular. Isto sugere que o aumento da prevalência de sarcopenia com o avançar da idade pode ser retardado com a implementação de programas de atividade física específicos. Contudo, são necessários mais estudos longitudinais e de intervenção, com medições mais objetivas da atividade física, para confirmar esta associação e fornecer evidências mais sólidas sobre o papel da atividade física na preservação da massa muscular e da função muscular em pessoas idosas.

Saúde óssea

A osteoporose é uma doença caracterizada por uma baixa densidade mineral óssea, deterioração micro-arquitetural do tecido ósseo e aumento do risco de fratura. As fraturas ósseas resultantes da osteoporose parecem ser um importante problema de saúde em todo o mundo. De fato, padrões demográficos e tendências seculares já sugeriam que este problema iria aumentar nos anos seguintes (U.S. Department of Health and Human Services, 2014).

A massa óssea é principalmente determinada em termos genéticos (Kelly et al., 1990). No entanto, pelo fato dos ossos se adaptarem às forças que eles suportam (Heinonen, 2001), a qualidade ós-

sea também depende de fatores relacionados com o envolvimento e os estilos de vida (Lim et al., 2021) entre os quais a atividade física e o consumo de cálcio (Babaroutsi et al., 2005). Atualmente, a maioria dos clínicos, que tratam a osteoporose vertebral e do fémur focam a sua atenção na densidade mineral óssea, e raramente consideram a a aptidão funcional e a prevenção ou a predição de quedas. No entanto, o tratamento da osteoporose está a avançar e a sua prevenção parece estar a ganhar importância (U.S.D.H.H.S, 2014). De fato, o risco de fratura é influenciado pelos dois, força óssea e as quedas. Medidas da aptidão funcional e performance motora são preditores das quedas e ambos, densidade mineral óssea e performance física são preditores independentes do risco de fratura (Lim et al., 2021).

A evidência relacionando variações na atividade física e níveis de aptidão com a densidade mineral óssea em pessoas adultas idosas saudáveis, é ainda inconclusivo. Teoricamente, tem sido considerado que as forças de contração do músculo-esquelético geram uma grande reação de forças durante as atividades normais, e essas forças pensam-se ter um efeito local adaptativo na massa óssea. Recentemente, tem sido mostrado que a aptidão funcional está associada com a densidade mineral óssea em populações adultas idosas. No entanto, outros têm confirmado uma associação entre a aptidão funcional e a densidade mineral óssea apenas nas mulheres (Stewart et al., 2002), enquanto outros não encontraram nenhuma associação em mulheres e homens (Lindsey et al., 2005; Miller et al., 2009).

As evidências sugerem que uma redução na massa corporal (Edelstein & Barrett-Connor, 1993), tecido magro total e massa gorda total (Edelstein & Barrett-Connor, 1993), níveis reduzidos de atividade física (Pluijm et al., 2001), fragilidade geral, baixos níveis de equilíbrio (Cawthon et al., 2008), níveis baixo de força corporal (Cawthon et al., 2008;) e níveis baixos de capacidade aeróbia (Vico et al., 1995) são fatores de risco para a força e a saúde óssea e aumento do número de fraturas.

Do ponto de vista do processo pedagógico, intervenção na prática com pessoas idosas deve incidir na capacitação para cada pessoa adotar um estilo de vida saudável que inclua uma dieta equilibrada, atividade física regular e uma abordagem abrangente

para manter a saúde óssea. A prevenção de fraturas e problemas relacionados à osteoporose é fundamental, especialmente em adultos mais velhos.

SAÚDE MENTAL

Relações da qualidade de vida relacionada com a saúde em pessoas idosas

A qualidade de vida tem sido cada vez mais debatida como um resultado fundamental na investigação gerontológica, devido ao seu papel significativo na promoção do envelhecimento bem-sucedido. Este é um conceito complexo que tem sido descrito em várias vertentes (Gouveia et al., 2017; Ihle et al., 2021). Na nossa investigação atual, concentramo-nos na qualidade de vida relacionada com a saúde (HRQoL). Neste contexto, damos atenção às perceções dos indivíduos sobre a sua saúde física e mental, bem como às suas diferentes dimensões, como o funcionamento físico, o desempenho de papéis físicos, a dor corporal, as perceções de saúde geral, a vitalidade, o desempenho de papéis sociais e emocionais, e a saúde mental (Ware e Sherbourne, 1992).

É amplamente aceito que vários fatores afetam a HRQoL nas pessoas idosas. Por um lado, encontramos uma relação negativa entre a HRQoL e questões como a obesidade (Dhana et al., 2016), sintomas depressivos (Sivertsen et al., 2015), o isolamento social (Hawton et al., 2011) e quedas (Stenhagen et al., 2014). Por outro lado, identificamos uma associação positiva entre a HRQoL e a prática de atividade física (PA) (Haider et al., 2016) e a aptidão funcional (Takata et al., 2010; Olivares et al., 2011; Haider et al., 2016). Embora estes estudos tenham abordado a HRQoL, ainda precisamos de uma compreensão mais profunda das relações subjacentes.

Tendo em conta a importância crucial da HRQoL para as pessoas idosas e a necessidade de abordagens personalizadas para melhorá-la, é fundamental considerar a possibilidade de que o padrão de relação da HRQoL com os seus correlatos possa variar consoante fatores individuais. No entanto, até ao momento existe uma escassez de evidências sobre esta questão. Por exemplo, embora as diferenças de gênero na HRQoL de adultos mais velhos

(com os homens a reportarem uma HRQoL superior) e as desigualdades relacionadas tenham sido amplamente debatidas em investigações anteriores (Olmedo-Alguacil et al., 2016), estas diferenças de gênero continuam por explicar de forma mais abrangente. Neste contexto, a evidência sobre as diferenças de gênero na relação entre a HRQoL e os seus correlatos na terceira idade ainda é insuficiente (Hart, 2016).

Os resultados de estudos recentes têm destacado a importância da promoção da atividade física como uma intervenção fundamental para melhorar a qualidade de vida relacionada com a saúde em homens mais velhos. Além disso, evidencia-se a necessidade premente de investigações adicionais neste campo. Parece-nos evidente que existem lacunas no conhecimento existente, particularmente no que se refere aos fatores que influenciam a HRQoL e como esses fatores diferem entre homens e mulheres mais velhos. Portanto, ao planear intervenções destinadas a melhorar a HRQoL de pessoas idosas mais velhas, especialmente no que concerne à sua saúde física, é essencial considerar as diferenças de gênero. São ainda necessários estudos abrangentes e de longo prazo para aprofundar a compreensão deste tópico, o que servirá de base para o desenvolvimento de políticas e intervenções personalizadas, adaptadas às necessidades específicas de cada sexo.

Novas abordagens com recurso às novas tecnologias na estimulação cognitiva

Existe, atualmente, evidência de que o exercício físico regular (Bherer et al., 2013; Northey et al., 2018) e o treino cognitivo (Ihle et al., 2018) são intervenções não farmacológicas que podem atenuar o declínio cognitivo relacionado com a idade e melhoram a função cognitiva em pessoas idosas.

Os mecanismos biológicos pelos quais o exercício físico e o treino cognitivo favorecem melhorias na função cognitiva não estão completamente esclarecidos. Estudos com animais indicam que os mecanismos neurobiológicos associados aos benefícios do exercício físico podem ser explicados a dois níveis: supramolecular (um aumento na rede neuronal que se torna mais funcional) e molecular (mudanças induzidas com base no fator neurotrófico derivado do cérebro e aumento da produção de fator de cres-

cimento semelhante à insulina 1; Bherer et al., 2013). Nos seres humanos, os resultados sugerem que o exercício físico está associado a mudanças nas estruturas cerebrais, como o aumento da massa cinzenta e branca nas regiões frontal, pré-frontal e temporal (Colcombe et al., 2003) e um hipocampo esquerdo e direito maiores (Erickson et al., 2009). Benefícios complementares através de mudanças na estrutura e função cerebral também têm sido observados como resultado do treino cognitivo (como o aumento do volume cerebral, espessura cortical, densidade, coerência das vias de massa branca e maior ativação relacionada com tarefas; Belleville & Bherer, 2012). No entanto, permanece em aberto a questão da intensidade, duração, frequência e tipo de exercício e atividades cognitivas mais eficazes para estimular a função cognitiva em pessoas idosas.

Com o foco na prevenção do declínio cognitivo relacionado com a idade e na estimulação de diferentes domínios da função cognitiva, tem sido dada muita atenção a programas de treino físico e cognitivo combinados, uma vez que estes têm demonstrado efeitos mais significativos do que um módulo de treino unidimensional (Stojan & Voelcker-Rehage, 2019). A literatura recente mostra que intervenções baseadas em múltiplas atividades que combinam exercício físico e treino cognitivo parecem ser geralmente mais eficazes na melhoria da cognição em pessoas idosas (Bruderer-Hofstetter, 2018). Atualmente, os "exergames" (ou seja, videojogos fisicamente ativos) têm sido propostos como uma nova solução tecnológica para ajudar as pessoas idosas a melhorar a sua capacidade funcional geral (Muñoz et al., 2019). Os "exergames" combinam exercício físico e tarefas cognitivamente exigentes num ambiente digital. Alguns exemplos de sistemas comerciais de "exergames" incluem a Nintendo, Wii, Xbox Kinect ou Dance Revolution (Stojan & Voelcker-Rehage, 2019). Apesar das barreiras conhecidas relacionadas com custos, disponibilidade, configuração e necessidade de conhecimentos tecnológicos, acredita-se que o uso de "exergames" para combinar atividade física e tarefas cognitivas pode ser uma estratégia eficaz para melhorar a função cognitiva, especialmente em pessoas idosas (Stanmore et al., 2017).

Embora haja alguma relutância em usar novas soluções tecnológicas devido à falta de aptidão das pessoas idosas, os "exerga-

mes" parecem ser pelo menos igualmente ou até mais eficazes do que outras intervenções físicas isoladas na função cognitiva de pessoas idosas saudáveis (Stojan & Voelcker-Rehage, 2019). No entanto, apesar destas descobertas, os efeitos dos "exergames" na função cerebral e cognitiva ainda são pouco compreendidos. Até ao momento, poucos estudos também analisaram a retenção dos ganhos em domínios da função cognitiva no seguimento de intervenções com "exergames". Continua igualmente incerto quais são os domínios cognitivos (como memória a curto e longo prazo, memória de trabalho, funções executivas, raciocínio indutivo, etc.) que podem beneficiar mais com as intervenções com "exergames".

Os nossos estudos têm demonstrado que a combinação de "exergames" personalizados com um programa de exercícios multicomponente de aptidão funcional tem o potencial para manter e melhorar a função cognitiva, especialmente no que diz respeito à memória verbal a curto e longo prazo em idosos que vivem na comunidade (Gouveia et al., 2021). É fundamental realizar investigação adicional para aprofundar a compreensão dos mecanismos subjacentes aos efeitos dessa intervenção e para avaliar sua eficácia em estudos pragmáticos em larga escala.

SAÚDE FUNCIONAL

Equilíbrio e mobilidade

Os déficits no equilíbrio e a diminuição da mobilidade (por exemplo, diminuição na velocidade da marcha, redução do comprimento da passada e diminuição da cadência) são fatores de risco importantes modificáveis associados às quedas em pessoas idosas (Rose, 2010). As quedas, que são comuns em pessoas idosas com mais de 65 anos, são consideradas uma das principais causas de lesão (Jin, 2018). Devido ao aumento do risco de quedas em pessoas idosas, por várias razões (por exemplo, fraqueza e fragilidade, problemas de equilíbrio, problemas cognitivos, problemas de visão, medicamentos, doenças agudas e outros riscos ambientais), a promoção e implementação de estratégias específicas de prevenção de quedas baseadas em preditores modificáveis deve ser uma prioridade no ambiente de vida comunitária (Jin, 2018).

As alterações associadas à idade no padrão de marcha (Doyo et al., 2011), estabilidade postural (Gill et al., 2001), equilíbrio dinâmico e equilíbrio estático (Lohne-Seiler, Kolle, Anderssen e Hansen, 2016) favorecem consistentemente os adultos mais jovens em comparação com os mais idosos. Por outro lado, as diferenças relacionadas com o gênero no equilíbrio e na mobilidade em adultos mais velhos que vivem na comunidade não têm sido consistentes (Lohne-Seiler et al., 2016; Doyo et al., 2011). No entanto, permanece incerto quais são os fatores que podem reverter, ou pelo menos moderar a taxa de declínio funcional em vários sistemas associados ao equilíbrio e à mobilidade (ou seja, sistemas cardiovascular, pulmonar, musculoesquelético, nervoso, sensorial e cognitivo). Portanto, os nossos estudos têm procurado desvendar a contribuição dos estilos de vida e das componentes de aptidão funcional na explicação da variância no equilíbrio e na mobilidade, após o controlo de variáveis não modificáveis (idade e sexo) e outros fatores de risco (Gouveia et al., 2019; Nascimento et al., 2023). Por exemplo, entre as variáveis que são consideradas fatores de risco comuns para os déficits no equilíbrio e na mobilidade estão os níveis baixos de atividade física e a obesidade (Brown & Flood, 2013). Há evidências de que a atividade física regular em pessoas idosas está associada a uma melhoria nas tarefas motoras diárias estáticas e dinâmicas (Dawe et al., 2018), bem como a uma redução significativa de incapacidades físicas graves (Pahor et al., 2014). No entanto, ainda não está claro se a atividade física previne ou atrasa a incapacidade de mobilidade e qual a frequência, intensidade e tipo que são mais eficazes. Dificuldades relacionadas com diferentes métodos de avaliação da atividade física, com muitos e variados tipos de atividade física e com a dificuldade de acompanhar especialmente a adesão a longo prazo a atividades não supervisionadas causam inconsistências nos resultados encontrados na literatura. Relativamente à obesidade, existe uma relação esperada entre o excesso de gordura corporal e um aumento do risco de deficiência na função física (Rikli & Jones, 2013). No entanto, existe evidência que suportam uma relação negativa entre a adiposidade e o declínio da mobilidade (Benavent-Caballer et al., 2016).

A preservação da mobilidade funcional e do estilo de vida independente nas pessoas idosas depende fundamentalmente da

capacidade das pessoas em manter as componentes de aptidão funcional, como força muscular, resistência aeróbica, flexibilidade, agilidade e equilíbrio dinâmico (Rikli & Jones, 2013). Apesar da evidência científica que sublinha a importância da manutenção da capacidade de aptidão funcional na preservação do equilíbrio e da mobilidade durante o processo de envelhecimento, ainda existe uma lacuna significativa no que diz respeito à determinação do nível exato de aptidão funcional necessário para manter a independência física em pessoas idosas. Além disso, a contribuição individual de diferentes componentes de aptidão funcional na explicação das variações interindividuais na mobilidade e no equilíbrio permanece amplamente por explorar.

Os nossos estudos desenvolvidos no contexto da Região Autónoma da Madeira (Gouveia et al., 2019) realçam que o equilíbrio e a mobilidade estão negativamente associados à idade e ao IMC, e positivamente relacionados com a atividade física e as componentes da aptidão funcional (força dos membros inferiores, flexibilidade do tronco e resistência aeróbica). Além disso, os homens apresentaram parâmetros de equilíbrio e mobilidade superiores comparativamente às mulheres. Adicionalmente, os três componentes de aptidão funcional estudados (força, flexibilidade e resistência aeróbia) em conjunto, explicaram a maior parte da variabilidade no equilíbrio e em todos os parâmetros de mobilidade. Concluímos, assim, que um melhor desempenho na força dos membros inferiores, na flexibilidade e, especialmente, na resistência aeróbica, para além de variáveis não modificáveis (ou seja, idade e sexo), a atividade física e o IMC são fundamentais para manter ou melhorar o equilíbrio e a mobilidade e, assim, prevenir quedas em pessoas idosas.

CONCLUSÃO

Os nossos estudos evidenciam que o colesterol de lipoproteínas de alta densidade (HDL-C) está associado a fatores protetores contra doenças cardíacas. A atividade física, a distribuição de gordura corporal e outros comportamentos, como tabagismo e consumo de álcool, desempenham um papel na relação entre o HDL-C e a saúde. Os resultados deste estudo sugerem que a atividade física, especialmente a atividade desportiva regular, está

positivamente relacionada com os níveis de HDL-C, em pessoas idosas, quando controlados por outros fatores. Portanto, a prática de exercício físico pode contribuir para melhorar os níveis de HDL-C em pessoas idosas, promovendo a saúde cardiovascular. A sarcopenia está associada ao aumento da mortalidade e declínio funcional. A sarcopenia afeta mais de 50% das pessoas com mais de 80 anos. O treino de resistência é eficaz para combater a sarcopenia, mas apenas 10-15% das pessoas idosas fazem trabalho de resistência muscular adequado. Os estudos apontam que o aumento da atividade física está relacionado com maior massa muscular, especialmente em pessoas mais velhas. A atividade física parece ter um papel importante na prevenção da sarcopenia em pessoas idosas, mas são necessários mais estudos para confirmar estas relações. Além disso, a densidade mineral óssea está ligada à qualidade óssea e ao risco de fraturas. A atividade física e a aptidão funcional estão associadas à densidade mineral óssea, mas os resultados são variados, especialmente em homens. A redução da massa corporal, fragilidade, baixa força corporal e capacidade aeróbica estão relacionadas a um maior risco de fraturas ósseas. Em resumo, a saúde muscular e óssea em idosos está relacionada com a atividade física, treino de resistência e outros fatores, mas a relação entre eles ainda não é totalmente clara.

A qualidade de vida relacionada com a saúde é importante para os idosos, sendo afetada por fatores como obesidade, sintomas depressivos, isolamento social, atividade física e aptidão funcional. Os estudos sugerem que homens mais velhos podem beneficiar da promoção da atividade física para melhorar sua qualidade de vida relacionada com a saúde, mas ainda há lacunas no conhecimento, especialmente sobre diferenças associadas ao género.

O exercício físico e treino cognitivo podem atenuar o declínio cognitivo em pessoas idosas. Os mecanismos exatos não são claros, mas a evidência sugere mudanças cerebrais positivas associadas ao exercício físico e treino cognitivo. Programas que combinam exercícios físicos e treino cognitivo, como os "exergames", mostram eficácia na melhoria da função cognitiva.

Finalmente, o equilíbrio e a mobilidade são fundamentais para a saúde das pessoas idosas e a prevenção de quedas. Fatores como

idade, IMC, atividade física e aptidão funcional estão relacionados a essas funções. Os homens tendem a ter melhor equilíbrio e mobilidade do que as mulheres. A aptidão funcional, incluindo força, flexibilidade e resistência aeróbica, são cruciais para manter ou melhorar essas habilidades e prevenir quedas em idosos.

Contudo, é legitimo que nos questionemos, porque é que existindo tantas e claras evidências científicas acerca dos potenciais benefícios da atividade física na saúde, continuam a subsistir tantas resistências e dificuldades, institucionais e pessoais, para que exista uma prática generalizada, devidamente personalizada em função das capacidades e necessidades de cada um, nomeadamente dos idosos?

Para além das habituais justificações relacionadas com as dificuldades de acesso e de tempo, para incluir a atividade física estruturada nas rotinas diárias, desde as idades mais baixas, há uma variável que pode assumir uma importância estruturante na inclusão da atividade física e desportiva num estilo de vida ativo e saudável. Referimo-nos concretamente ao processo pedagógico, que muitas vezes, privilegia (por desconhecimento) uma “pedagogia do medo”, ou seja, “tens de fazer atividade física para não ficares doente”, em detrimento de uma “pedagogia do prazer”, na qual a verdadeira satisfação de ter uma atividade física adequada às motivações de cada um, potencia e permite um melhor domínio de si, das relações intersociais e do contexto.

São assim necessários mais estudos que se debrucem, não só sobre os processos pedagógicos de informação e transmissão das evidências científicas que associam positivamente a atividade física à saúde, em qualquer idade, mas também em paralelo à necessidade de desenvolver e monitorizar programas de operacionalização da prática de atividade física, que utilizem as estratégias, métodos e modelos de ensino, mais adequados para que o processo pedagógico seja tão personalizado quanto possível.

A este nível, convém realçar que os meios tecnológicos hoje existentes já permitem uma monitorização dos processos, seja por parte de que orienta a atividade, seja por parte do próprio “utente”. O que convenhamos poderá ser uma excelente ferramenta para potenciar a retenção e fidelização a uma prática regular de atividade física em contexto formal e informal.

REFERÊNCIAS

Ahmed, H. M., Miller, M., Nasir, K., McEvoy, J. W., Herrington, D., Blumenthal, R. S., & Blaha, M. J. (2016). Primary low level of high-density lipoprotein cholesterol and risks of coronary heart disease, cardiovascular disease, and death: Results from the multi-ethnic study of atherosclerosis. American Journal of Epidemiology, 10, 875–883. http://dx.doi.org/10.1093/aje/kwv305.

American College of Sports Medicine (2021). ACSM’s resource manual for guidelines for exercise testing and prescription. 11th Edition. Philadelphia: Lippincott Williams & Wilkins.

American College of Sports Medicine, Chodzko-Zajko, W.J., Proctor, D.N., Fiatarone Singh, M.A., Minson, C.T., Nigg, C.R., Salem, G.J., & Skinner, J.S. (2009). ACSM Position Stand. Exercise and physical activity for older adults. Medicine and Science in Sports and Exercise, 41, 1510–1530. https://doi.org/10.1249/MSS.0b013e3181a0c95c

Babaroutsi E, Magkos F, Manios Y, Sidossis LS (2005) Body mass index, calcium intake, and physical activity affect calcaneal ultra- sound in healthy Greek males in an age-dependent and parameter specific manner. J Bone Miner Metab 23,157–166.

Baumgartner, R.N., Koehler, K., Gallagher, D., Romero, L., Heymsfield, S., Ross, R., . . . Lindeman, R. (1998). Epidemiology of sarcopenia among elderly in New Mexico. American Journal of Epidemiology, 147, 755–763. https://doi.org/10.1093/oxfordjournals.aje.a009520 Belleville, S., & Bherer, L. (2012). Biomarkers of cognitive training effects in aging.  Current Translational Geriatrics and Experimental Gerontology Reports, 1, 104–110.

Benavent-Caballer, V., Sendín-Magdalena, A., Lisón, J. F., Rosado-Calatayud, P., Amer Cuenca, J. J., Salvador-Coloma, P., ... Segura-Orti, E. (2016). Physical factors underlying the timed “up and go” test in older adults. Geriatric Nursing, 37(2), 122–127. https:// doi.org/10.1016/j.gerinurse.2015.11.002.

Bherer, L., Erickson, K.I., & Liu-Ambrose, T. (2013). Physical exercise and brain functions in older adults. Journal of Aging Research, 2013, 197326. https://doi.org/10.1155/2013/197326.

Brown, C. J., & Flood, K. L. (2013). Mobility limitation in the older patient: A clinical review. Journal of the American Medi-

cal Association, 310(11), 1168–1177. https://doi. org/10.1001/ jama.2013.276566.

Bruderer-Hofstetter, M., Rausch-Osthoff, A.K., Meichtry, A., Münzer, T., & Niedermann, K. (2018). Effective multicomponent interventions in comparison to active control and no interventions on physical capacity, cognitive function and instrumental activities of daily living in elderly people with and without mild impaired cognition - A systematic review and network meta-analysis. Ageing Research Reviews, 45,1-14. doi: 10.1016/j.arr.2018.04.002.

Bryant, E., Trew, M., Bruce, A., Kuisma, R., & Smith, A. (2005). Gender differences in balance performance at the time of retirement. Clinical biomechanics, 20(3), 330-5.

Bushman, B., & American College of Sports Medicine. (2017). ACSM's Complete Guide to Fitness & Health-2nd Edition. Champaign, IL: Human Kinetics.

Cawthon PM, Fullman RL, Marshall L, Mackey DC, Fink HA, Cauley JA, Cummings SR, Orwoll ES, Ensrud KE, Osteoporotic Fractures in Men (MrOS) Research Group (2008) Physical performance and risk of hip fractures in older men. J Bone Miner Res 23 (7):1037–1044.

Chanti-Ketterl, M., Gamaldo, A., Andel, R., & Thorpe, R. J. (2017). The association be- tween lipoproteins, disability, and physical function among older Costa Rican adults. Journal of Aging and Health. http://dx.doi.org/10.1177/0898264317690866 [Epub ahead of print].

Colcombe, S.J., Erickson, K.I., Raz, N., Webb, A.G., Cohen, N.J., McAuley, E., & Kramer, A.F. (2003).Aerobic fitness reduces brain tissue loss in aging humans. The Journals of Gerontology, Series A: Biological Sciences and Medical Sciences, 58,176-80.

Dawe, R.J., Leurgans, S.E., Yang, J., Bennett, J.M., Hausdorff, J.M., Lim, A.S., Gaiteri…. Buchman, A.S. (2018). Association Between Quantitative Gait and Balance Measures and Total Daily Physical Activity in Community-Dwelling Older Adults. The journals of gerontology. Series A, Biological sciences and medical sciences, 73(5), 636-642. doi: 10.1093/gerona/glx167.

de Freitas, E. V., Brandão, A. A., Pozzan, R., Magalhães, M. E., Fonseca, F., Pizzi, O., ... Brandão, A. P. (2011). Importance of high-density lipoprotein-cholesterol (HDL-C) levels to the incidence of cardiovascular disease (CVD) in the elderly. Archives of Gerontology and Geriatrics, 2, 217–222. http://dx.doi.org/10.1016/j.archger.2010.03. 022.

Dhana, K., Berghout, M. A., Peeters, A., Ikram, M. A., Tiemeier, H., Hofman, et al. (2016). Obesity in older adults and life expec- tancy with and without cardiovascular disease. International Journal of Obesity, 40(10), 1535–1540. doi:10.1038/ ijo.2016.94.

Dondzila, C. J., Perry, C. K., & Bornstein, D. B. (2018). Enhancing support for physical activity in older adults: A public health call to action. Journal of Public Health Management and Practice, 24(1), e26. https://doi.org/10.1097/PHH. 0000000000000559.

Doyo, W., Kozakai, R., Kim, H., Ando, F., & Shimokata, H. (2011). Spatiotemporal components of the 3-D gait analysis of community-dwelling middle-aged and elderly Japanese: Age- and sex-related differences. Geriatrics & gerontology International, 11(1), 39-49. https://doi.org/10.1111/j.1447-0594.2010.00632.x.

Edelstein SL, Barrett-Connor E (1993) Relation between body size and bone mineral density in elderly men and women. Am J Epidemiol 138:160–169.

Eggenberger, P., Schumacher, V., Angst, M., Theill, N., & de Bruin, E.D. (2015). Does multicomponent physical exercise with simultaneous cognitive training boost cognitive performance in older adults? A 6-month randomized controlled trial with a 1-year follow-up. Clinical Interventions in Aging, 10,1335.

Erickson, K.I., Prakash, R.S., Voss, M.W., Chaddock, L., Hu, L., Morris, K.S., …Kramer, A.F. (2009). Aerobic fitness is associated with hippocampal volume in elderly humans. Hippocampus, 19, 030-9. https://doi.org/10.1002/hipo.20547.

Fiser, W.M., Hays, N., Rogers, S., Kajkenova, O., Williams, A., Evans, C., & Evans, W. (2010). Energetics of walking in elderly people: Factors related to gait speed. The Journals of Gerontology. Series A, Biological Sciences and Medical Sciences, 65, 1332–1337. https://doi.org/10.1093/gerona/glq137

Franczyk B, Gluba-Brzózka A, Ciałkowska-Rysz A, Ławiński J, Rysz J. The Impact of Aerobic Exercise on HDL Quantity and Quality: A Narrative Review. Int J Mol Sci. 2023 Feb 28;24(5):4653. https://doi.org/10.3390/ijms24054653

Gaiteri., & Buchman, D. A. (2018). Association between quantitative gait and balance measures and total daily physical activity in community-dwelling older adults. The Journals of Gerontology Series A, Biological Sciences and Medical Sciences, 73(5), 636–642. https://doi.org/10.1093/gerona/glx167.

Gill, J., Allum, J., Carpenter, M. G., Held-Ziolkowska, M., Adkin, A. L., Honegger, F., ... Pierchala, K. (2001). Trunk sway measures of postural stability during clinical bal- ance tests: Effects of age. Journals of Gerontology Series A, Biological Sciences and Medical Sciences, 56(7), 438–447.

Gouveia, B. R., Jardim, H. G., Martins, M. M., Gouveia, É. R., Freitas, D. L., Maia, J. A., ... Rose, D. J. (2016). An evaluation of a nurse-led rehabilitation programme (the ProBalance Programme) to improve balance and reduce fall risk of community-dwelling older people: A randomised controlled trial. International Journal of Nursing Studies, 56, 1–8. https://doi.org/10.1016/j.ijnurstu.2015.12.004.

Gouveia, E. R., Blimkie, C. J., Maia, J. A., Lopes, C., Gouveia, B. R., & Freitas, D. L. (2014). Multivariate analysis of lifestyle, constitutive and body composition factors influen- cing bone health in community-dwelling older adults from Madeira, Portugal. Archives of Gerontology and Geriatrics, 59(1), 83–90. https://doi. org/10.1016/j. archger.2014.03.001.

Gouveia, É. R., Gouveia, B. R., Ihle, A., Kliegel, M., Marques, A., & Freitas, D. L. (2019). Balance and mobility relationships in older adults: A representative population-based cross-sectional study in Madeira, Portugal. Archives of gerontology and geriatrics, 80, 65-69.

Gouveia, É. R., Gouveia, B. R., Ihle, A., Kliegel, M., Marques, A., & Freitas, D. L. (2019). Balance and mobility relationships in older adults: A representative population-based cross-sectional study in Madeira, Portugal. Archives of Gerontology and Geriatrics, 82, 186-192.

Gouveia, É. R., Gouveia, B. R., Maia, J. A., Blimkie, C. J., & Freitas, D. L. (2016). Skeletal Muscle and Physical Activity in Portuguese Community-Dwelling Older Adults. Journal of Aging and Physical Activity, 24(4), 567-574. https://doi.org/10.1123/japa.2015-0129.

Gouveia, É. R., Ihle, A., Kliegel, M., Freitas, D. L., Jurema, J., Tinôco, M. A., Odim, A., Machado, F. T., Muniz, B. R., Antunes, A. A., Ornelas, R. T., & Gouveia, B. R. (2017). The relationship of physical activity to high-density lipoprotein cholesterol level in a sample of community-dwelling older adults from Amazonas, Brazil. Archives of Gerontology and Geriatrics, 73, 195-198. https://doi. org/10.1016/j.archger.2017.08.004.

Gouveia, E. R., Maia, J. A., Beunen, G. P., Blimkie, C. R., Fena, E. F., & Freitas, D. L. (2013). Functional fitness and physical activity of Portuguese community-residing older adults. Journal of Aging and Physical Activity, 21(1), 1–19.

Haider, S., Luger, E., Kapan, A., Titz, S., Lackinge, C., Schin- dle, K. E., et al. (2016). Associations between daily physical activity, handgrip strength, muscle mass, physical performance and quality of life in prefrail and frail community-dwelling older adults. Quality of Life Research: an International Journal of Quality of Life Aspects of Treatment, Care and Rehabilitation. doi:10.1007/s11136-016-1349-8.

Heinonen A (2001) Biomechanics. In: Khan K, McKay H, Kannus P, Bailey D, Wark J, Bennell K (eds) Physical activity and bone health. Human Kinetics, Champaign, pp 23–34.

Huuskonen, J., Vaisanen, S. B., Kroger, H., Jurvelin, C., Bouchard, C., Alhava, E., & Rauramaa, R. (2000). Determinants of bone mineral density in middle-aged men: A population-based study. Osteoporosis International, 11, 702–708.

Iannuzzi-Sucich, M., Prestwood, K.M., & Kenny, A.M. (2002). Prevalence of sarcopenia and predictors of skeletal muscle mass in healthy, older men and women. The Journals of Gerontology. Series A, Biologi- cal Sciences and Medical Sciences, 57(12), M772–M777.

Ihle, A., Albiński, R., Gurynowicz, K., & Kliegel, M. (2018). FourWeek Strategy-Based Training to Enhance Prospective Memory in Older Adults: Targeting Intention Retention Is More Beneficial than Targeting Intention Formation. Gerontology, 64, 257-265. doi: 10.1159/000485796.

Ihle, A., Gouveia, B. R., Gouveia, É. R., Cheval, B., Nascimento, M. D. M., Conceição, L., ... & Kliegel, M. (2021). Physical activity dimensions differentially predict physical and mental components of health-related quality of life: evidence from a sport for all study. Sustainability, 13(23), 13370.

Ihle, A., Gouveia, É.R., Gouveia, B.R., & Kliegel, M. (2017). The Cognitive Telephone Screening Instrument (COGTEL): A Brief, Reliable, and Valid Tool for Capturing Interindividual Differences in Cognitive Functioning in Epidemiological and Aging Studies. Dementia and Geriatric Cognitive Disorders Extra, 7, 339-45. https://doi.org/10.1159/000479680.

Instituto Nacional de Estatística (2023). Tábuas de mortalidade Para Portugal 2020-2022. Instituto Nacional de Estatística, Lisboa.

Izquierdo, M., Ibanez, J., Gorostiaga, E., Garrues, M., Zúñiga, A., Antón, A., . . . Häkkinen, K. (1999). Maximal strength and power characteristics in isometric and dynamic actions of upper and lower extremities in middle-aged and older men. Acta Physiologica Scandinavica, 167, 57–68. https://doi.org/10.1046/j.1365201x.1999.00590.x

Janssen, I., Heymsfield, S., & Ross, R. (2002). Low relative skeletal muscle mass (Sarcopenia) in older persons is associated with functional impairment and physical disability. Journal of the American Geriatrics Society, 50, 889–896. https://doi.org/10.1046/ j.1532-5415.2002.50216.x

Jin, J. (2018). Prevention of Falls in Older Adults. Journal of the American Medical Association, 319(16), 1734. https://doi. org/10.1001/jama.2018.4396.

Lim, Y., Ha, J., Yoon, KH., Baek, KH., & Kang, MI. (2021). Measures of physical performance as a predictor of fracture risk independent of BMD: The Chungju metabolic disease cohort study. Bone, 145, 115878. https://doi.org/10.1016/j.bone.2021.115878

Lohne-Seiler, H., Kolle, E., Anderssen, S. A., & Hansen, B. H. (2016). Musculoskeletal fitness and balance in older individuals (65–85 years) and its association with steps per day: A cross sectional study. BMC Geriatrics, 12(16), 6. https://doi.org/10.1186/ s12877-016-0188-3.

Miller, L., Pierson, L., Pierson, M., Kiebzak, G., Ramp, W., Herbert, W., & Cook, J. (2009) Age influences anthropometric and fitness-related predictors of bone mineral in men. Aging Male 12(2–3),47–53.

Muñoz, J.E., Gonçalves, A., Gouveia, E.R., Cameirão, M.S., & Badia, S.B. (2019). Lessons Learned from Gamifying Functional Fitness Training through Human-Centered Design Methods in Por-

tuguese Older Adults. Games for Health Journal, 8(6):387-406. https://doi.org/10.1089/g4h.2018.0028.

Nascimento, M. D. M., Gouveia, É. R., Gouveia, B. R., Marques, A., França, C., Marconcin, P., ... & Ihle, A. (2023). Sex differences in falls: the mediating role of gait stability ratio and body balance in vulnerable older adults. Journal of Clinical Medicine, 12(2), 450.

Nelson, M.E., Rejeski, W., Blair, S., Duncan, P., Judge, J., King, A., . . . Castaneda-Sceppa, C. (2007). Physical activity and public health in older adults: Recommendation from the American College of Sports medicine and the American Heart Association. Medicine and Sci- ence in Sports and Exercise, 39, 1435–1445. https://doi. org/10.1249/ mss.0b013e3180616aa2 Northey, J.M., Cherbuin, N., Pumpa, K.L., Smee, D.J., & Rattray, B. (2018). Exercise interventions for cognitive function in adults older than 50: a systematic review with meta-analysis. British Journal of Sports Medicine, 52,154-160. https://doi. org/10.1136/bjsports-2016-0965

Olmedo-Alguacil MM, Ramírez-Rodrigo J, Villaverde-Gutiérrez C, Sánchez-Caravaca MA, Ferrándiz EA Ruiz-Villaverde A (2016) Health-related quality of life, gender, and culture of older people users of health services in the multicultural landscape of the city of Ceuta (Spain): a cross-sectional study. Journal of Transcultural Nursing 27, 603–610

Padilla Colón, C. J., Molina-Vicenty, I. L., Frontera-Rodríguez, M., García-Ferré, A., Rivera, B. P., Cintrón-Vélez, G., & Frontera-Rodríguez, S. (2018). Muscle and Bone Mass Loss in the Elderly Population: Advances in Diagnosis and Treatment. Journal of Biomedicine (Sydney), 3, 40-49. https://doi.org/10.7150/jbm.23390. Pahor, M., Guralnik, J. M., Ambrosius, W. T., Blair, S., Bonds, D. E., Church, T. S., Espeland, M. A., Fielding, R. A., Gill, T. M., Groessl, E. J., King, A. C., Kritchevsky, S. B., Manini, T. M., McDermott, M. M., Miller, M. E., Newman, A. B., Rejeski, W. J., Sink, K. M., Williamson, J. D., & LIFE study investigators (2014). Effect of structured physical activity on prevention of major mobility disability in older adults: The LIFE study randomized clinical trial. Journal of the American Medical Association, 311(23), 238796. https://doi.org/10.1001/jama.2014.5616.

Park, H., & Kim, K. (2012). Relationship between alcohol consumption and serum lipid levels in elderly Korean men. Archives

of Gerontology and Geriatrics, 2, 226–230. http://dx.doi.org/10.1016/j.archger.2011.08.014..

Pluijm, S., Visser, M., Smit, J., Popp-Snijders, C., Roos, J., & Lips, P. (2001). Determinants of bone mineral density in older men and women: body composition as mediator. Journal of Bone and Mineral Research, 16, 2142–2151.

Powell-Wiley, T. M., Poirier, P., Burke, L. E., Després, J. P., Gordon-Larsen, P., Lavie, C. J., Lear, S. A., Ndumele, C. E., Neeland, I. J., Sanders, P., St-Onge, M. P.; American Heart Association Council on Lifestyle and Cardiometabolic Health; Council on Cardiovascular and Stroke Nursing; Council on Clinical Cardiology; Council on Epidemiology and Prevention; and Stroke Council. (2021). Obesity and Cardiovascular Disease: A Scientific Statement From the American Heart Association. Circulation, 143(21), e984-e1010. https://doi.org/10.1161/CIR.0000000000000973.

Rikli, R. E., & Jones, C. J. (2013). Senior fitness test manual development and validation of a functional fitness test for community-residing older adults. Champaign, IL: Human Kinetics.

Scott, D., Blizzard, L., Fell, J., & Jones, G. (2009). Ambulatory activity, body composition, and lower-limb muscle strength in older adults. Medicine and Science in Sports and Exercise, 41, 383–389. PubMed doi:10.1249/MSS.0b013e3181882c85

Sivertsen H, Bjørkløf GH, Engedal K, Selbæk G, Helvik AS. Depression and Quality of Life in Older Persons: A Review. Dement Geriatr Cogn Disord. 2015;40(5-6):311-39. doi: 10.1159/000437299.

Speakman, J.R., & Westerterp, R. (2010). Associations between energy demands, physical activity, and body composition in adult humans between 18 and 96 y of age. The American Journal of Clinical Nutrition, 92, 826–834. PubMed doi:10.3945/ ajcn.2009.28540

Stanmore, E., Stubbs, B., Vancampfort, D., de Bruin, E.D., & Firth, J. (2017). The effect of active video games on cognitive functioning in clinical and non-clinical populations: A meta-analysis of randomized controlled trials. Neuroscience and Biobehavioral Reviews , 78, 34-43. doi:10.1016/j.neubiorev.2017.04.011.

Stenhagen, M., Ekström, H., Nordell, E., & Elmståhl, S. (2014). Accidental falls, health-related quality of life and life satisfaction: a prospective study of the general elderly popula- tion. Archives of Gerontology and Geriatrics, 58(1), 95–100. doi:10.1016/j.archger.2013.07.006.

Stewart KJ, Deregis JR, Turner KL, Bacher AC, Sung J, Hees PS, Tayback M, Ouyang P (2002) Fitness, fatness and activity as predictors of bone mineral density in older persons. J Intern Med 252,381–388.

Stojan,R., & Voelcker-Rehage, C. (2019). A Systematic Review on the Cognitive Benefits and Neurophysiological Correlates of Exergaming in Healthy Older Adults. Journal of Clinical Medicine, 8(5). https://doi.org/10.3390/jcm8050734.

Takata, Y., Ansai, T., Soh, I., Awano, S., Yoshitake, Y., Kimura, Y., et al. (2010). Quality of life and physical fitness in an 85-year-old population. Archives of Gerontology and Geriatrics, 50(3), 272–276. https://doi.org/10.1016/j.archger.2009.04.005.

Taylor, A.W., & Johnson, M.J. (2008). Physiology of Exercise and Healthy Aging. Champaign, IL: Human Kinetics.

U.S. Department of Health and Human Services (2014). Bone health and osteoporosis: a report of the Surgeon General. U.S. Department of Health and Human Services, Office of the Surgeon General.

Vico, L., Pouget, J., Calmels, P., Chatard, J., Rehailia, M., Minaire, P., Geyssant, A., & Alexandre, C. (1995). The relations between physical ability and bone mass in women aged over 65 years. Journal of Bone and Mineral Research, 10(3), 374–383.

Visser, M., & Schaap, L. (2011). Consequences of sarcopenia. Clinics in Geriatric Medicine, 27, 387–399. https://doi.org/10.1016/j. cger.2011.03.006

Visser, M., Kritchevsky, S., Goodpaster, B., Newman, A., Nevitt, M., Stamm, E., & Harris, T. (2002). Leg muscle mass and composition in relation to lower extremity performance in men and women aged 70 to 79: The Health, Aging and Body Composition Study. Journal of the American Geriatrics Society, 50, 897–904. https://doi.org/10.1046/ j.1532-5415.2002.50217.x

Wang, M. C., Hu, H. Y., Lin, I. F., & Chuang, J. T. (2019). Plasma lipid concentrations and survival in the geriatric population: A re-

trospective cohort study. Medicine (Baltimore), 98(49), e18154. https://doi.org/10.1097/MD.0000000000018154.

Ware, J. E., & Jr, Sherbourne, C.D (1992). The MOS 36-item short-form health survey (SF-36). I. Conceptual framework and item selection. Medical care, 30(6), 473–483.

Wu, D. M., Pai, L., Sung, P. K., Hsu, L. L., & Sun, C. A. (2001). Joint effects of alcohol consumption and cigarette smoking on atherogenic lipid and lipoprotein profiles: Results from a study of the Chinese male population in Taiwan. European Journal of Epidemiology, 17, 629-635.

CAPÍTULO 11

DESPORTODIVERSIDADE: SIM OU NÃO? SIM!

Porthos da C. Castello Branco Thainá Lima Sicsú

1 Doutor em Ciências do Desporto pela Faculdade de Desporto da Universidade do Porto – Portugal. Mestre em Educação Especial com Especialização em Dificuldades de Aprendizagens Específicas pela Universidade do Minho – Portugal. Especialista em Docência Universitária pela Faculdade La Salle de Manaus. Graduado em Educação Física pela Faculdade La Salle de Manaus. E-mail: porthos_ccb@yahoo.com.

2 Mestranda em Ciências do Movimento Humano pela Universidade Federal do Amazonas. Pós-Graduada em Avaliação Psicológica pelo Instituto de Graduação e Pós-graduação. Bacharel em Psicologia pelo Centro Universitário do Norte. Atua como psicóloga clínica, por meio da abordagem de terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), e em consonância com a psicologia baseada em evidências, com foco em prevenção e promoção da saúde mental. E-mail: thainasicsu.ts@gmail.com.

RESUMO

Antes de tudo este artigo é uma reflexão muito pessoal de seus autores, sobre assuntos que tocam a Educação Física, talvez se opondo contra a opinião da maioria – resistindo. Estamos perante um estudo que toma como referência inicial os conhecimentos produzidos pelas áreas das chamadas ciências do desporto e não aqueles que parecem ser preponderantes. Portanto, o presente trabalho apresenta uma reflexão sobre a dialética existente entre a diversidade e o desporto ou simplesmente desportodiversidade, buscando discutir o conhecimento gerado pela área. As conclusões de uma contribuição dessa natureza são circunstanciais aos trajetos que seguimos, porém, aceitamos que outros olhares sobre a temática abordada, poderão de alguma maneira produzir reflexões diversas, podendo não coincidir com as que apresentamos nesse momento histórico, e que tivemos a oportunidade de extrair de nossos estudos e reflexões.

Palavras-chave: Educação Física; Ciências do Desporto; Desporto; Desportodiversidade.

ABSTRACT

First of all, this article is a very personal reflection by its authors, on issues that touch Physical Education, perhaps opposing the majority opinion – resisting. We are facing a study that takes as its initial reference the knowledge produced by the areas of so-called sports sciences and not those that seem to be preponderant. Therefore, the present work presents a reflection on the dialectic between diversity and sport or simply sportdiversity, aiming to discuss the knowledge generated by the area. The conclusions of a contribution of this nature are circumstantial to the paths we follow, however, we accept that other perspectives on the topic addressed may, in some way, produce different reflections, which may not coincide with those we presented at this historical moment, and which we had the opportunity to extract from our studies and reflections.

Keywords: Physical Education; Sports Sciences; Sport; Sportdiversity.

1. DESPORT, DESPORTO, SPORT, ESPORTE: DESPORTODIVERSIDADE

Neste subtópico, usamos autores que utilizam em seus trabalhos as nomenclaturas “desporto” ou “esporte”4. A respeito desta discussão, Lyra Filho (1973, p. 13) destaca em seu trabalho ser, nem Desporto nem Sport, Esporte. Desporto e um arcaísmo, ... não tem havido outra opção ... [na escrita e na fala] dos portugueses. A palavra desport já era de uso no francês antigo, significando prazer, descanso, espairecimento, recreio. Os ingleses a tomaram por empréstimo, convertendo-a, depois, no vocábulo sport.

É importante acrescentar o artigo 8° – da Constituição da República Federativa do Brasil (1988) –, dispondo na alínea “q” do item XVII, que diz

4 Grifos nossos.

legislar sobre diretrizes e bases da educação nacional; normas gerais sobre desportos. [O autor ajunta que não deseja] ser denunciado como infrator dessa Carta Magna. Mas a denúncia pode prosperar, com mudança de acusado, pois não são raras, na legislação do país, às vezes em que os autores dos respectivos textos oficializam o vocábulo “esporte”5 .

Portanto, o desporto é considerado um dos fenômenos socioculturais mais relevantes da atualidade. Apropriamo-nos das afirmações de Santos (2015, p. 14), ao dizer, “no mundo contemporâneo, o esporte incorpora a condição de um fenômeno social que apresenta uma linguagem universal”. Neste sentido, Costa (1997) discorre que o desporto moderno é pensado como uma liturgia do mundo, celebrada à escala planetária, em que o homem-jogador participa como elemento ativo, dando sentido a sua existência. Mesmo que discutamos muito sobre a conceituação do desporto – nos mais diversos contextos e lugares –, não há um debate consensual do fenômeno e uma definição unânime. Até porque percebemos alguns estudiosos da área apresentarem diferentes versões, particularmente. Assim sendo, não pretendemos formular um conceito, visto que a ideia é acrescentar a discussão da diversidade encontrada no desporto, recorrendo às falas alguns autores.

De certa maneira, a história do desporto na sociedade é revestida de muitas possibilidades explicativas e de apresentação, com a ideia de não historiar sobre o mesmo. Mas colocamos em destaque a visão de situar o leitor numa perspectiva do que pode ser o desporto, com sua importância entre nós, como um pouco do fenômeno social, em si. Nos primeiros tempos do século XXI, Tubino (2011) diz que o homem e a sociedade em geral enfatizam a qualidade de vida e o entretenimento, estando nestes dois aspectos o esporte sempre presente com suas dimensões sociais. Os usos sociais do desporto têm-se alterado ao longo dos tempos e – por essas e outras –, abre-se a possibilidade de o mesmo ser entendido como uma atividade cultural de criação do ser humano, ao mesmo tempo ser visto

5 Idem.

como atividade cultural que é rica em significados que formam o homem.

A essa discussão Tubino (1993) acrescenta que nos campos do conhecimento humano, o esporte – pela ação de seus estudiosos e adeptos –, tornou-se também uma ciência. Foi uma ideia bem aceita nas comunidades internacionais científicas esportivas – uma ciência do esporte –, que compreende a medicina, a psicologia, a sociologia, a antropologia e a biomecânica esportiva, a história, a filosofia e a pedagogia do esporte e quaisquer outros campos de conhecimento humano, com conexões científicas com os fatos esportivos. Ademais, se observarmos o desporto – pela ótica dos vários campos de conhecimento humano –, não será difícil perceber a existência da diversidade no desporto, nesse caso epistemológica. Essa nítida ligação com as diversas áreas importantes para a humanidade, como saúde e educação, empresta ao desporto uma característica interdisciplinar. É nesse ponto que entra o pensamento de Garcia (2015, pp. 164-165), quando discute a compreensão do desporto ser aquilo que acrescentamos a natureza e,

a atividade física, mesmo àquela já imbuída de valores humanos. Se correr, saltar, arremessar e lutar, são atividades naturais (é evidente que temos de ter alguma reserva na formulação desta conceção), ... [que são] gestos e/ou condutas. Desporto ... é o sentido cultural, mesmo axiológico, que o homem a cada momento atribui a esses elementos motores constitutivos do patrimônio natural. Correr por si só não é desporto, exceto se o superior sentido atribuído a essa corrida for o desportivo ... Desporto é tudo aquilo que em cada momento se considera ser desporto.

A despeito disso tudo, o desporto é uma estrutura de sentidos proporcionados pela cultura que atribui determinados sentidos, significados e valores aos diferentes movimentos humanos, numa clara inter-relação entre os planos individual/particular e social/ coletivo. Desse modo, somos levados a acreditar que não é condição suficiente para que determinada atividade ou atitude assuma a condição de desporto a simples afirmação do desejo individual,

mas a sua aceitação por parte da sociedade ou do grupo a que se afilie. De modo geral, as respostas não são definitivas, pois, da mesma forma que a sociedade expressa complexidade, também o desporto assim se manifesta.

Nessa ordem de reflexão, Garcia (2015) reforça que não é a ação para se movimentar, mesmo que se realize conscientemente. Ou seja, a motricidade humana é significativa e legítima das ciências do desporto, em que o comportamento do homem em cada momento – perante o movimento desenvolvido –, configura-se nas práticas, com elevação ou não ao status de desporto. E Tani e Manuel (2004, p. 120) colocam em realce de que “o esporte deve ser entendido como um património cultural da humanidade” que – ao ser criado –, transmite, transforma e adquire ao longo dos tempos, uma natureza dinâmica. Nesse particular, Tubino (1993, p. 13) afirma ser o desporto “um fenômeno profundamente humano, de visível relevância social na história da humanidade e intimamente ligado ao processo cultural de cada época”. Isso nos leva a pensar que – o homem enquanto pessoa e mais ainda – o desporto deve estar a serviço de formação do ser humano, para além de qualquer outra função.

Sob tal acepção, Garcia (2015, p. 56) explica o desporto de forma interpretativa, com uma noção clara da complexidade na busca de novos caminhos de que ele “não é somente um capricho intelectual, mas parte de um imperativo ético de quem tem ... responsabilidades acrescidas no areópago da ciência”. No âmbito das argumentações anteriormente feitas do desporto, consideramos o ser humano está imerso num contexto rico e variado de acontecimentos expressos em suas manifestações. Destarte, Tubino (2011) parte da premissa do desporto – situando-se na segunda metade do século XX –, como um dos mais importantes fenômenos sociais do mundo, pela abrangência de seu envolvimento e de suas relações. É possível explicar esta interpretação, principalmente, pela mudança conceitual das últimas décadas, quando deixou a perspectiva no rendimento desportivo de incorporação dos objetivos educativos e do bem-estar social.

2. DIREITO AO DESPORTO: A HETEROGENEIDADE DE SEUS PARTICIPANTES E DE SUAS

MANIFESTAÇÕES

Na perspectiva do direito à prática desportiva, a Carta Internacional da Educação Física e do Desporto (Unesco, 1978) – em seu artigo primeiro –, consolidou sobre a prática da Educação Física e do Desporto, como um direito fundamental de todos, assegurando em seus itens 1, 2 e 3 que

1) Todo ser humano tem o direito fundamental de acesso à Educação Física e ao Desporto, que são essenciais para o pleno desenvolvimento da sua personalidade. A liberdade de desenvolver aptidões físicas, intelectuais e morais, por meio da Educação Física e do Desporto, deve ser garantida [sic] dentro do sistema educacional, assim como em outros aspectos da vida social; 2) Todas as pessoas devem ter oportunidades plenas, de acordo com as tradições nacionais do Desporto, de praticar a Educação Física e o Desporto, com isso melhorando sua forma física e atingindo um nível de realização no desporto que corresponda ao seu talento e; 3) Oportunidades especiais devem ser disponibilizadas aos jovens, incluindo crianças em idade pré-escolar, idosos e ... [Pessoas com] deficiências, a fim de possibilitar o desenvolvimento pleno de sua personalidade, por meio de programas de Educação Física e de Desporto adequados às suas necessidades (Unesco, 1978, p. 3).

Nesse contexto, ressignifica/amplia a partir do pressuposto do direito de todas as Pessoas ao acesso à prática de Educação Física e do Desporto, de que grande parte da população teve acesso as suas manifestações práticas – educacionais, populares ou de desempenho –, com a possibilidade da descoberta de novos caminhos na área profissional da Educação Física e o Desporto para interpretá-los. Daí destacamos a vertente do desporto paralímpico, ou desporto de alta performance praticado por Pessoas com deficiência. Por certo, Tubino (2011, p. 15) esclarece que esse documento além de consolidar toda a discussão internacional sobre o desporto, serviu de marco para um novo conceito desse

fenômeno. Lançou a perspectiva do direito à prática desportiva, aumentando consideravelmente a significação social do desporto reconceituado. Nestas perspectivas e afirmações, ficamos diante da necessidade de discutir a variante do Desporto para Pessoas com deficiência, no entendimento do SER. Diante disto, partilhamos do pensamento de Costa (1997), ao dizer que o desporto é o homem, enquanto fenômeno social que tem como atores principais os atletas, sendo o maior símbolo do jogo no mundo, em que o centro se encontra o homem-jogador. A esse respeito, o autor destaca ainda que falar do desporto é falar do homem e que estudar o desporto é estudar a própria sociedade na prática, dando-lhe uma significação humana. Até porque este fenômeno se encerra no mistério mais profundo do seu funcionamento. Talvez, o que nos limita, ou ao menos a muitos, é o entendimento que se tem deste “homem que o pratica” e por isso é comum falarmos somente de uma perspectiva, a dos praticantes mais comuns –pessoa sem deficiência – e que tem maior visibilidade no cenário sociodesportivo.

Na sociedade contemporânea, as demandas se acentuam motivadas por transformações que apontam diferentes gostos, necessidades e conquistas das pessoas e de grupos sociais, enquanto direitos sociais. Por certo, Tubino (2011) sublinha que o direito de todos à prática desportiva é compreendido, por intermédio de três manifestações desportivas que são, na essência, as formas de exercício de direito, constituindo-se nas efetivas dimensões do desporto mediante: o desporto-educação; o desporto-participação ou o desporto-popular; desporto- performance ou rendimento e essas matrizes têm desdobramentos. O autor alerta que o desporto-educação não deve ser compreendido como uma extensão ou ramo do desporto- performance ou de rendimento dentro da escola. Ao contrário, em vez da reprodução do esporte de rendimento está a manifestação que,

deve ser mais um processo educativo na formação dos jovens, uma preparação para o exercício da cidadania. O esporte-educação tem um caráter formativo. Por isso, ele deve ser desenvolvido na infância e na adolescência, na escola e fora dela,

com a participação de todos, evitando a seletividade e a competição acirrada (Tubino, 2011, p. 36).

Nesse sentido, o desporto-educação tende a refletir a cultura desportiva produzida por uma comunidade socioeducativa. Em uma democracia, acreditamos na existência do Estado com vista à promoção do bem-estar social do indivíduo. Portanto, o desporto educacional se manifesta com distinção do aspecto do desporto de maior conteúdo socioeducativo, baseando-se em “princípios educacionais e escolares”, como participação, cooperação, coeducação, integração e responsabilidade. A educação tem um fim eminentemente social, ao compreender o desporto como manifestação educacional, exigindo o chamado desporto-educação como um conteúdo fundamentalmente educativo.

Destarte, Tubino (2011, p. 39) afirma que o desporto-participação ou desporto- popular se apoia no “princípio do prazer lúdico”, no lazer e na utilização construtiva do tempo livre, em que

esta manifestação esportiva não tem compromisso com regras institucionais ou de qualquer tipo e tem na participação o seu sentido maior, podendo promover por meio dela o bem-estar dos praticantes, que é a sua verdadeira finalidade. O esporte-participação, pelo envolvimento das pessoas nas atividades prazerosas que oferece, proporciona ainda o desenvolvimento de um espírito comunitário, de integração social, fortalecendo parcerias e relações pessoais. Ele propicia o surgimento de uma prática esportiva democrática, já que não privilegia os talentos, permitindo o acesso de todos. É a manifestação do esporte que mais se aproxima do jogo, sem esquecer a sua ligação com a saúde.

Por esse ângulo, o desporto-participação na contemporaneidade necessita que se aja para além das finalidades com características para se tornar um centro de atividades comunitárias, com a participação de todas as pessoas. Por isso, devemos envolver os indivíduos nas atividades prazerosas, com vista ao desenvolvimento de um espírito comunitário, de integração social, fortale-

cendo parcerias e relações pessoais. Esta manifestação propicia o surgimento de uma prática desportiva igualitária, já que não privilegia as capacidades desportivas, o que favorece a participação de todos.

Na sequência dessa explanação, Tubino (2011, p. 41) destaca ainda o desporto-performance ou de rendimento que muitos chamam de desporto de alto nível ou alta competição, sendo a

manifestação esportiva que norteou o conceito de esporte durante muito tempo, e hoje representa apenas uma parte da abrangência desse conceito. Foi a partir do esporte de rendimento que surgiram o esporte olímpico e ... [o esporte paralímpico que são esportes como instrumentos político-ideológicos]. O esporte de rendimento é disputado obedecendo rigidamente às regras e aos códigos existentes, específicos de cada modalidade esportiva. Por isso é considerado um tipo de esporte institucionalizado, do qual fazem parte federações internacionais e nacionais que organizam as competições no mundo todo.

Ao mesmo tempo em que percebemos a relevância dessa dimensão social do desporto, com seu fundamento alicerçado no “princípio da superação”, traz consigo o propósito de alcançar o êxito desportivo, sobre o prisma da vitória sobre adversários nos mesmos códigos, exercido sob as regras preestabelecidas pelos organismos internacionais de cada modalidade. A este pensamento, Garcia (2015) traz uma relevante contribuição, desvendando a existência de categorias verdadeiras que fundamentam o desporto, em que uma delas é a “superação”6, intimamente ligada com o rendimento desportivo. O autor enfatiza que – ao ir mais depressa, mais longe ou mais alto, a trilogia do desporto moderno preconizada, no fim das contas, por Pierre de Coubertin com Citius, Altius, Fortius –, constitui-se num autêntico imperativo ético da vida humana, naquilo que consideramos ser a eterna aspiração à transcendência.

6 Grifos nossos.

3. DESPORTO DE ALTO RENDIMENTO: UMA MIRÍADE DE DIVERSIDADES

A esse respeito, é também a dimensão social que propicia os espetáculos desportivos – Olímpiadas e Paralimpíadas –, onde uma série de possibilidades sociais pode acontecer. Um olhar sobre esta perspectiva de desporto situa o presente estudo, observando atentamente sua matriz paralímpica de desempenho humano. Neste cenário, o desporto acompanha as mudanças, por exemplo, com perspectivas de inserção além das práticas existentes, revelando novas possibilidades com outros praticantes em suas “matrizes”7 ou formas. Com isto, ousamos mencionar a dimensão do desporto paralímpico, com o formato de atendimento das demandas e as necessidades de uma sociedade diversa – Pessoas com deficiência. Mundialmente, a expansão da concepção de desporto e a velocidade dos acontecimentos têm possibilitado o aparecimento sistemático de novas modalidades desportivas. Com o objetivo de classificar essas modalidades, foram identificadas vertentes ou correntes do movimento desportivo, para ser entendidas como manifestações da diversidade dentro do desporto. Tomamos como exemplos: o desporto olímpico e paralímpico; o desporto de tradição não olímpica; as artes marciais; o desporto de aventura ou de desafio; o desporto de relação com a natureza; o desporto intelectivo; o desporto de identidade cultural e; o desporto de expressão corporal.

Na sequência dessa explanação, ajuntamos as análises de Tubino (1993; 2011) quando diz que cada uma dessas expressões encontradas no desporto, é diversa, ao pensar em: estrutura física para a prática – instalações; equipe multiprofissional – profissionais; metodologias de treinamento; tecnologias – evolução tecnológica no desporto; pesquisa científica – epistemologia; afiliação a um grupo – socialização; cultura – local onde nasceu e; classificação funcional – no caso específico do desporto paralímpico etc. Neste sentido, cogitamos a existência talvez, no contexto do desporto, daquilo que denominamos de “desportodiversidade”8. Todavia, ao discutir sobre a diversidade encontrada no contexto do

7 Idem.

8 Grifos nossos.

desporto paralímpico, Garcia (2017) adverte à observação da Pessoa com deficiência a partir da diversidade humana. Ele diz que, durante muito tempo, olhava os Jogos primordiais de competição olímpica, como uma manifestação apenas para homens, limitando-se fortemente a uma concepção de sociedade que agora é repudiada. Recentemente, as mulheres participaram como olímpicas, com as modalidades competitivas dos homens. Assim,

homens e mulheres são duas modalidades da diversidade humana, participando nos Jogos de igual forma, atendendo-se apenas a essa condição diversa. Não há uns Jogos para a condição masculina nem outros para a condição feminina. Não! Há Jogos que atendem à diversidade. Por esta ótica o desporto adapta-se a quem o pratica. É por isso que as redes de voleibol das competições masculina e feminina possuem alturas diferentes, ou os pesos dos engenhos para as provas atléticas de lançamento são também diferentes,... [conforme] o sexo e as idades dos praticantes, não devendo a expressão ‘desporto adaptado’ ser sinónimo de ‘desporto para Pessoas com deficiência’. Essa adaptação vai ao encontro das diversidades dos seus praticantes. Nos Jogos Olímpicos são consideradas ainda outras manifestações de diversidade humana, nomeadamente o peso corporal em modalidades como o pugilismo, halterofilismo e o judô. Tenha-se 50 ou 120 quilogramas há nos jogos atividades destinadas a todas essas pessoas, não existindo uns Jogos para ‘magros’ e outros para ‘gordos’, como já não há – já houve – jogos para homens e outros para as mulheres. O sexo e/ou peso corporal patenteiam a diversidade humana e não a diferença. Não se diz que ... é diferente por se pesar 50 ou 120 quilogramas. A performance desportiva evidenciada por homens, mulheres, pessoas com peso mais leve ou mais pesado é equivalente. Todos conseguem resultados excecionais (Garcia, 2017, p. 18).

Do mesmo modo é significativa a excelência revelada nos jogos paralímpicos dos desportistas, com os melhores atletas do mundo nas suas respectivas modalidades. São atletas com treinos nos mais elevado níveis desportivos, na busca da excelência hu-

mana. Ou melhor, é aquilo que o ser humano consegue alcançar. Antes de tudo, consideramos os atletas paralímpicos de alto rendimento desportivo, ao nível municipal, nacional e internacional. São Pessoas com deficiência que – por meio de seu talento, de seu potencial desportivo, de muito esforço, de treinamento planejado e, de participação em diversos ciclos de competições regionais, nacionais e internacionais – conquistaram as suas vagas para os grandes eventos desportivos como: os campeonatos mundiais; os jogos parapan-americanos e; os paralímpicos das diversas modalidades. As conquistas atléticas não são em nada inferiores àquelas conquistadas nos jogos olímpicos, embora percebamos que a sua celebração e reconhecimento são inferiores.

Como reforço às nossas reflexões, identificamos que os jogos olímpicos não acolhem as Pessoas com deficiência, pelo contrário as excluem. Atualmente, existem jogos olímpicos para uns, e outros jogos para as Pessoas com deficiência que são assim arredadas da maior competição desportiva mundial. O atleta paralímpico nasceu incluído dessa sociedade que acreditamos ser diversa. Por esta razão, antes de pensarmos na inclusão, devemos refletir profundamente sobre a não exclusão. Pois, não excluir é muito mais relevante, vantajoso, benéfico e descomplicado do que atenuar com políticas de inclusão. Até porque não devemos entender o desporto em sua matriz paralímpico, como uma vitrine de exceções. Muito pelo contrário, devemos compreendê-lo a partir da diversidade humana que o concretiza. Por essa via de raciocínio, Sousa (2014, p. 7) salienta que,

a diversidade é o espelho do desporto paralímpico – os diferentes tipos de deficiência, as inúmeras adaptações necessárias à sua prática, a classificação desportiva, entre outros fatores –transformam esta área de investigação numa teia de relações e inter-relações que importa revelar.

Por conseguinte, Duarte e Silva (2012) referendam de uma parte significativa dessas deficiências nos atletas paralímpicos é causada por lesões, resultantes de acidentes de trânsito, quedas, queimaduras, atos de violência, guerras e conflitos, em que colocamos em destaque: as limitações físicas e/ou cognitivas – relacionadas ao trauma recente; a paralisia – relacionada ao trauma

na medula espinhal; a amputação completa ou parcial de membros; a malformação de membros – resultantes em deficiência na mobilidade; o trauma psicológico; a deficiência sensorial – visual e auditiva. Destarte, para a realização de treinamentos e as competições no âmbito do desporto paralímpico, há a necessidade da realização de inúmeras modificações nos espaços de concretização das práticas com: a adaptação de espaços para receber as diversas modalidades paralímpicas – quadras, piscinas, campos; a instalação de luminárias; a construção de rampas de acesso para cadeirantes; os vestiários e os banheiros adaptados; os elevadores etc. Todos esses ambientes de adaptação devem promover mais acessibilidade aos seus participantes.

Cada modalidade tem sua classificação funcional no desporto paralímpico, com a busca de uma concorrência justa e igual, no âmbito das competições, evitando a ameaça de uma competição unilateral. Ou seja, a demanda de condição igualitária dos atletas –no sentido de disputa desportiva –, é colocada em categorias para a competição, com base em suas deficiências, chamadas de classes desportivas. O sistema de classificação utilizado pelo International Paralympic Committee (IPC) determina os atletas elegíveis em um desporto, agrupados para a competição, enquanto que os atletas, no desporto paralímpico, agrupam-se pelo grau de limitação de atividades, resultantes de deficiência. Neste sentido, as diferentes modalidades desportivas exigem que eles realizem diversas atividades, tais como: corrida; propulsão de cadeira de rodas; remo; tiro ao alvo; atletismo; natação; tênis de mesa; basquetebol em cadeira de rodas; voleibol sentado; futebol de cinco; judô etc. Com essas atividades, desenvolvem-se várias modalidades desportivas, com demandas de atividades múltiplas, em que o impacto da deficiência de cada desporto é também diverso. E para minimizar esse impacto no desempenho desportivo, a classificação é específica para cada desporto. Assim, o International Paralympic Committee (2020) impõe a classificação funcional no desporto paralímpico, com a resposta de três questões no processo de avaliação do desportista paralímpico: 1) O atleta tem uma deficiência elegível para este desporto paralímpico? 2) O comprometimento qualificado do atleta atende aos critérios mínimos de deficiência do desporto? 3) Qual classe desportiva descreve com mais precisão a limitação de atividade do atleta?

A inserção da Pessoa com deficiência num ambiente “novo”9 é revestida por inúmeros significados e diversas possibilidades traduzidas a partir de cada olhar. Não obstante, apropriamo-nos nas inferências de Bourdieu (1989), quando afirma que – quanto à visão e à compreensão de cada pessoa ter, sem a negação dessa prática, mediante a sua inserção –, não podemos ignorar o ambiente das interações. Pois, este promove a “inclusão”10 de as pessoas de algum modo, estar à “margem”11, mesmo com os avanços e as conquistas adquiridas na sociedade contemporânea. Embora concordemos ou não a Pessoa com deficiência se encontra ainda à margem de muitos direitos e bens sociais e culturais, sendo certas contradições expostas e inclusas de modo que o processo mantém barreiras “invisíveis”12, reais e, enxergadas por poucos. Pois, faltam-lhes os instrumentos necessários para o seu desenvolvimento. Ou seja, é preciso reconhecer que as sociedades se transformam e tendem a “reproduzir” suas estruturas, traduzindo seus momentos, suas necessidades e suas demandas históricas. Nesse contexto de mudança, parece que é requerido do desporto cada vez mais, talvez seja pelo seu alcance social. Mas não é só dele que as novas opções e os novos espaços de práticas atendam aos grupos sociais “emergidos”13 , caracterizando-se o desporto paralímpico, nessa ordem social e cultural.

4. DESPORTO PARALÍMPICO COMO MODELO DE ATENDIMENTO À DIVERSIDADE HUMANA

Então, buscamos essas características dos Jogos Paralímpicos que começaram em paralelo aos jogos olímpicos de Roma, em 1960. A esse respeito, Parsons e Winckler (2012) definem o termo paralímpico ser uma associação entre o prefixo grego “para”14 – significando paralelo –, e o termo “olímpico”15 – representando a condição paralela entre os jogos olímpicos e paralímpicos. É importante remarcar que o desporto paralímpico é uma manifes-

9 Grifos nossos.

10 Idem.

11 Ibidem.

12 Ibidem

13 Ibidem

14 Ibidem

15 Grifos nossos.

tação – um fenômeno recente –, se for comparado à história do desporto olímpico. Com a consolidação, a sua “criação”16 invoca, provavelmente, de forma intencional ou não, essa condição paralela de que falam Parsons e Winckler (2012), referindo-se à realização dos jogos retratados no momento máximo do desporto. Mesmo porque o desporto paralímpico revela um cenário concreto das relações humanas – enquanto espaço de manifestação das práticas e competições, como qualquer outro arranjo social –, com a protagonização dos atletas, treinadores, dirigentes, entre outros. Neste universo, ocorrem coisas desconhecidas e ignoradas por muitos de nós. Ao tomar o exemplo disso, existem pessoas que não sabem desse ambiente ser seletivo demais, traduzindo uma restrição de acesso de a Pessoa com deficiência se constituir um atleta paralímpico. Ainda que imaginemos/vejamos os desportistas paralímpicos e o espaço como integrante de um processo “inclusivo”17, falamos de desporto competitivo de desempenho, invocado nesta tônica de processos seletivos. Assim, estamos diante de um ambiente mais restrito, com a prática de 22 modalidades de verão e as 06 de inverno do programa paralímpico.

Nesse sentido, os estudos de Costa e Sousa (2004) destacam as modalidades que fazem parte do programa dos jogos de desporto – individual e coletiva –, de larga tradição competitiva, coincidindo com as modalidades olímpicas, adaptadas necessariamente, com vista à prática de acesso de Pessoas com deficiência. Importa dizer que, das marcas da expressividade criativa do homem, a Bocha paralímpica e o Goalball são de origem exclusivamente paralímpica, sendo o primeiro criado singularmente às pessoas com paralisia cerebral e o segundo, às pessoas com deficiências visuais. Assim, observamos que o International Paralympic Committee (2021) organiza as modalidades paralímpicas de verão, como: Para atletismo, Para badminton, Para basquetebol em cadeira de rodas, Bocha paralímpica, Para canoagem, Para ciclismo, Para esgrima em cadeira de rodas, Futebol de cinco, Goalball, Para halterofilismo, Para hipismo, Para judô, Para natação, Para remo, Para rugby em cadeira de rodas, Para taekwondo, Para tênis de mesa, Para tênis em cadeira de rodas, Para tiro esportivo, Para tiro com arco, Para triatlo e, Para voleibol

16 Idem.

17 Ibidem.

sentado18 e; as modalidades paralímpicas de inverno como: Esqui cross-country, Curling em cadeira de rodas, Esqui alpino paralímpico, Biatlo – combina esqui cross-country com tiro esportivo, Hóquei no gelo, Snowboard paralímpico.

Quanto à restrição de acesso de Pessoa com deficiência, é ainda marcada pelo processo de classificação funcional desportiva que é extremamente diverso, tornando os atletas elegíveis ou inelegíveis à prática, sobretudo, da excelência. Com base nessa acepção, agregamos Freitas e Santos (2012), com relação à classificação funcional ser, indubitavelmente, um dos fatores limitantes de entrada no desporto paralímpico que permite o processo de justiça de competição. Os autores evidenciam a classificação desportiva haver, por vários anos, motivo de discórdia e intolerância no convívio de atletas e técnicos, por conta do

pouco conhecimento e do seu verdadeiro objetivo. Ao longo do tempo, o conhecimento dos procedimentos, dos perfis de classes e das limitações da classificação proporcionou aos treinadores e classificadores melhores condições de entender e auxiliar seus atletas na escolha do esporte e na participação desses em eventos esportivos (Freitas & Santos, 2012, p. 49).

Além do mais, Costa e Winckler (2012) são enfáticos com as afirmações de que o desporto paralímpico não é acessível a todos, mas aqueles com as características desportivas elegíveis de cada modalidade. Por sua vez, Sousa, Corredeira e Pereira (2013, p. 06) salientam a complexidade que envolve os atletas de elite com deficiência, em virtude da diversidade edificadora do desporto paralímpico. Para além dos diferentes tipos de deficiência, são inúmeras as adaptações necessárias à sua prática, acrescendo ainda a multiplicidade de classes desportivas em competição.

17 Stieler et al., 2021, pp. 61-99. Para diferenciar as modalidades paralímpicas das olímpicas, o IPC adotou em 2017 o prefixo “Para” antes das modalidades. Assim deve-se grafá-lo com a inicial em letra maiúscula e dar um espaço depois.

Uma vez mergulhados na realidade do desporto paralímpico, Costa e Winckler, (2012) referendam que o desporto para Pessoas com deficiência segue os mesmos princípios do desporto para corpos eficientes. Porém, destacamos que o desporto ajuda essas pessoas a restaurar o contato com o mundo ao seu redor, facilitando e acelerando sua inclusão, reintegração ou integração. Uma vez que os dados contidos no documento da Política de Diversidade e Inclusão do International Paralympic Committee (2017) mostram que independente de da inserção num espaço em que prevalece a competição, muito se diz no âmbito do desporto paralímpico, com uma de suas missões em avançar nas questões que tocam a inclusão desses atletas. De fato, este é um ponto a considerar para a promoção da inclusão no entendimento do desporto para a viabilização da prática desportiva de forma inclusiva ou não e para a discussão da elegibilidade de atletas com deficiência. São questões essenciais que desafiam os participantes e os profissionais refletir sobre as diversas facetas da prática desportiva na perspectiva inclusiva. No entanto, isto implica os conhecimentos, os saberes e os valores produzidos culturalmente, tematizados com a humanização dos indivíduos na educabilidade do sujeito da prática desportiva.

Portanto, refletimos sobre o desporto em um ambiente diverso, vasto, cósmico, com o pensamento no humanismo. Assim, o desporto se envolve em uma aventura humana, abrindo possibilidades para a compreensão melhor de todos nós. O papel do desporto em muitas de suas manifestações pode ser de grande importância para o bem da humanidade, com a inclusão de Pessoas com deficiência no desporto que podemos considerar um ateliê – laboratório – ou como diria Comenius (1985) uma oficina de humanidade. Até porque o desporto, com sua justificação axiológica, supera – o que dele se espera –, abrangendo uma infinidade de campos humanos, com o bloqueio de efeitos nefastos e históricos da exclusão de Pessoas com deficiência imposta ao homem, às pessoas, ao ser humano. Nessa perspectiva, Garcia (2015) referenda que o sujeito do desporto é o ser humano, seja com atuação numa das suas vastas manifestações, seja com a fruição numa arquibancada ou em casa frente à televisão, assumindo sempre a centralidade desse ato cultural. Pois, o SER humano, se reinventa, quando assumimos o pensamento de Agnes Heller (1982, p. 68) de que “muitas são as maravilhas do mundo, e nenhuma tão maravilhosa como o homem”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Historicamente falando, vivemos e interagimos na sociedade, com as condições contraditórias de possibilidades do discurso com regras, constituindo-se as formulações paradoxais próprias de ser diversidade como: diversidade metafísica; diversidade epistemológica; diversidade estética; diversidade cósmica; diversidade da vida; diversidade da natureza; diversidade biológica; diversidade humana; diversidade cultura/antropológica; diversidade social; diversidade psicológica; diversidade etnicorracial; diversidade de gênero; diversidade das línguas; diversidade educativa; diversidade da Pessoa com deficiência, entre tantas outras mais. O que cogitamos nas linhas acima é, considerar a existência de diversidade desportiva ou desportodiversidade.

REFERÊNCIAS

Bourdieu, P. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.

Brasil. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. Comenius, J. A. Didática Magna. 3ª edição. Porto: Tip. Bonfim – M. H. Santos Souza, 1985.

Costa, A. M., & Sousa, S. B. Educação Física e Esporte Adaptado: História, Avanços e Retrocessos em Relação aos Princípios da Integração/Inclusão e Perspectivas Para o Século XXI. Revista Brasileira de Ciência do Esporte. Campinas, 2004. v. 25, n. 3, pp. 27-42, Maio.

Costa, A. M., & Winckler, C. A Educação Física e o Esporte Paralímpico. Ind. Mello, M. T.; Oliveira Filho, C. W. (Editores). Esporte paralímpico (pp. 15-20). São Paulo: Editora Atheneu, 2012.

Costa, A. S. À Volta do Estádio. O Desporto, o Homem e a Sociedade. Porto: Campo das Letras – Editores S. A., 1997.

Duarte, E., & Silva, M. P. M. Pessoas com Deficiência: Aspectos Epidemiológicos. Ind. MELLO, M. T., WINCKLER, C. (org.). Esporte paralímpico (pp. 27-33). São Paulo: Editora Atheneu, 2012.

Freitas, P. S., & Santos, S. S. Fundamentos Básicos da Classificação Esportiva para Atletas Paralímpicos. In: Mello, M. T., &

Winckler, C. (org.). Esporte paralímpico (pp. 45-49). São Paulo: Editora Atheneu, 2012.

Garcia, R. P. No labirinto do desporto: horizontes culturais contemporâneos. Belo Horizonte: Casa da Educação Física, 2015.

Garcia, R. P. Inclusão e Jogos Paralímpicos: Sim ou Não? Não! Revista Científica da Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com deficiência. Ano 2017, Volume 3. (pp.14-19) Lisboa – Pt.

Heller, A. O Homem do Renascimento. Tradução Conceição Jardim e Eduardo Nogueira. Lisboa: Editorial Presença, 1982.

International Paralympic Committee. History Of The Paralympic Movement. Consult. 01 Abril 2021, disponível em https:// www.paralympic.org/ipc/history.

International Paralympic Committee. IPC Diversity and Inclusion Policy. International Paralympic Committee, 2017. Consult. 31 Março 2021, disponível em https://www.paralympic.org/sites/ default/files/document/170313091602678_2017_January_IPC+Diversity+and+Inclusion+Policy_FINAL.pdf.

International Paralympic Committee. IPC Operational Stricture. Consult. 01 Abril 2021, disponível em https://www.paralympic.org/ipc-structure.

International Paralympic Committee. Paralympic Sports. Consult. 31 Março 2021, disponível em http://paralympic.org/sports.

International Paralympic Committee. Sports. Consult. 26 Março 2022, https://www.paralympic.org/.

International Paralympic Committee. What is Classification? Consult. 31 Março 2020, disponível em http://www.paralympic. org/classification.

Lyra Filho, J. Introdução a Sociologia dos Desportos. Rio de Janeiro: Bloch, Brasília, INL, 1973.

Parsons, A., & Winckler, C. Esporte e a Pessoa com Deficiência - Contexto Histórico. In: Mello, M. T., & Winckler, C. (org.). Esporte paralímpico (pp. 3-14). São Paulo: Editora Atheneu, 2012.

Santos, F. X. Ethos dos dirigentes e a Figuração do Futebol de Espetáculo: O Caso do Sport Club do Recife. 275f. Tese (Doutorado em Sociologia) - Universidade Federal de Pernambuco, 2015.

Sousa, A. A Experiência Vivida de Atletas Paralímpicos: Narrativas do Desporto Paralímpico Português. Porto: A. Souza. Dissertação de Doutoramento em Ciências do Desporto apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, 2014.

Stieler, E., Mata, C. P., Schuchter, C. M. C., Bernardina, G. R. D., Nascimento, C. D., Costa, T. R., Santos, M. D. M., & Silva, A. (2021). Modalidades Esportivas do Programa Paralímpico. In. Silva, A., & Mello, M. T. (org.). Esporte Paralímpico: da organização ao alto rendimento (pp. 61-99). São Paulo: Editora dos Editores Eireli.

Tani, G., & Manoel, E. J. Esporte, Educação Física e Educação Física Escolar. Ind. Gaya, A., Marques, A., e Tani, G. (org.). Desporto para Crianças e Jovens: Razões e Finalidades (pp. 113-142). Porto Alegre: Editora de UFRGS, 2004.

Tubino, M. J. G. O Que é Esporte? São Paulo: Brasiliense, 1993.

Tubino, M. J. G. Dimensões Sociais do Esporte. São Paulo: Cortez, 2011.

Unesco. Carta Internacional da Educação Física e Desportos, 1978.

RAÍZES FINCADAS

NA CULTURA E NA NATUREZA

Muito se tem falado sobre a Amazônia, quem a conhece e outros que nem tanto, que moram lá e outros que passaram em ser o portas e hotéis da selva. Nasce na Amazônia, no interior da Amazônia e estou construindo a minha carreira acadêmica estudando a, porém não a conheço, ou melhor, conheço-a aos pedaços. Por isso, ao lixo falar das cidades da Amazônia, começa com duas ressalvas : é possível compreender a Amazônia a partir de suas cidades? Caso afirmativo, quais cidades, visto que assim como a biodiversidade, há uma diversidade que vai de duas metrópoles com perto de 2 milhões de habitantes há pequenos povoados com pouco mais de mil habitantes. Portanto, vou falar das pequenas cidades localizadas as margens dos rios, das quais poucas e pouco se fala. Vou falar delas porque entendo que é é possível, ao compreender as vírgulas descobrir parte da complexidade da Amazônia. Não porque essas cidades sejam importantes no ponto de vista econômico e político, mas porque são lugares em que são modos de vida que diferem significativamente do padrão caracterizado como Urbano em outras regiões do Brasil.

A PRIMEIRA VISÃO

A vida nas cidades amazônicas está ligada ao Rio e a floresta. Transportando-os, surgem os aglomerados de casas simples que, vistas uma vez, nunca mais serão esquecidos. Não porquê deixem, como outra cidade de memoráveis, uma imagem extraordinárias nas recordações,mas por que tem a propriedade de permanecer na memória rua por rua, casa por casa, apesar de não possuírem particular beleza.É mais ou menos assim que Italo Calvino descreve uma cidade imaginária no livro Cidades Invisíveis (1990),e é assim que temos o primeiro contato com a maioria das cidades amazônicas localizadas a beira dos rios.

Dessas cidades, temos a primeira visão de longe quando o barco em que navegamos se aproxima. Se for dia, vemos a torre da Telefônica-antes víamos a torre da igreja. À noite, é o clarão da cidade que se achega vagarosamente, sem pressa.A viagem é longa, mas a chegada a cidade, desde que temos a primeira visão, parece interminável, dando-nos tempo para os aconteceres e para a concretização dos SER.

Finalmente, chega-se ao porto, em que tudo é transitório.A improvisação do local onde param os barcos dá a quem chega a impressão de que, nas pequenas cidades da Amazônia, nada é perene, tudo é temporário, inacabado e precocemente deteriorado.O porto é por onde se chega e se vai; ele contém a possibilidade do entendimento da cidade, pois a vida começa no porto, menos pelo movimento, mas pelo fato de que ele infere em quase tudo que a cidade possui e que nela falta. O porto é intermediário entre o rio, a floresta e a cidade lugar privilegiado dos enigmas Amazônicos, transfigurados em enigmas do mundo, a nos interrogar sobre o nosso passado, presente e futuro. O rio, a floresta e a cidade tem no porto a fronteira entre a realidade e a ficção, possibilitando-nos leituras múltiplas e espaços-tempos diversos.

É quase sempre assim que se chega à maioria das cidades de beijinhos e delas se tem a primeira impressão, que nem sempre fica, pois a concretude de um arruamento caótico, de equipamentos urbanos inexistentes ou inadequados, da outra pressão dessas pequenas cidades mergulhados na inércia. Todavia, essa inércia pode ser apenas aparente, pois quase sempre se usa concepções anteriormente formuladas para realidades de Urbano em movi-

mentos, encontro na Amazônia e isso pode não ser encontrado à primeira vista e talvez nem na última.

A interpretação que se pode dar as pequenas florestas perdidas na imensidão dos rios e da floresta muitas vezes é fugidia, pois busca parâmetros lógicos que nem sempre são capazes de explica-las. Todavia apesar das limitações que se tenha o importante é perceber, desde a chegada, que ele Nessas cidades estão as raízes caboclas fincadas no chão, preciosos arquivos culturais do mundo amazônico, que são as dimensões simbólicas de uma cultura que tem uma em permanecer (LOUREIRO, Somanlu, 2002, p. 117- 126)

O QUE SÃO AS PEQUENAS CIDADES?

Quais os parâmetros para se definir uma pequena cidade?Não há uma definição absoluta. Como assinala Oswaldo Amorim Filho (2001, p. 1-34), ao analisar as idades médias, o primeiro critério ainda demográfico,porém esse critério serve apenas para identificar o grupo ou a faixa na qual a cidade está inserida. Portanto, outros critérios devem ser arrolados, especialmente para uma região com Amazônia. Num esforço de definição apontam-se:

A baixa articulação as cidades do Entorno;

As atividades econômicas quase nulas com predomínio de trabalho ligado aos serviços públicos;

A pouca capacidade de oferecimento de serviços mesmo os básicos ligados a saúde a educação e a segurança;

A predominância de atividades caracterizadas como Rurais;

As pequenas cidades são, portanto, cidade locais (RIBEIRO, 1998), com atuação restrita, cuja articulação e mediada se dá com um centro subordinado a outro de nível hierárquico superior. Por outro lado, o processo de surgimento das pequenas cidades da Amazônia não precisa de suas especificidades, e é neste sentido que ganha a relevância o conhecimento sobre elas, visto que do ponto de vista demográfico no último período intercensitário (1991 – 2000), a Região Norte apresentou a maior taxa de crescimento relativo da população urbana no Brasil, 18,26% com média de urbanização de 69,87%.Observa-se que houve o aumento do número de cidades e a diminuição do tamanho das mesmas, pois,

em 1991, o tamanho médio das cidades era de 5,2 mil habitantes e, em 2000 de 2,07 mil. Tomando como exemplo o estado do Amazonas do censo de 2000, 62 cidades dez tinham menos de 5 mil habitantes e vinte e umaentre 5 a 10 mil habitantes.

Quase sempre são pequenos núcleos que se emancipam com fraca ou nenhuma infraestrutura, tendo como base econômica o repasse de recursos públicos e, embora apresentem a estrutura de cidade, carecem de atividades econômicas caracterizados como urbanas,o que faz com que a população urbana Se dedique a atividades rurais tradicionais como Pesca e extrativismo.

Esses núcleos urbanos diferem dos criados as margens das estradas, os quais se constituem nas novas espacialidades urbanas da Amazônia a partir dos anos 70, em decorrência da construção de novos eixos de circulação que são os vetores de expansão da Fronteira para a implantação dos projetos de colonização e da instalação de grandes projetos públicos e privados ao mesmo tempo em que ocorre a integração do território possibilitando a circulação de pessoas e objetos a desarticulação de fluxos pretéritos e o surgimento de outros como essa desarticulação de fluxos não é circunscrita em si mesma não apenas dois eixos desaparecem mas desarticulam se atividades e os modos de vida a elas ligados o regatão por exemplo geralmente os patrões de circulação impostos pela modernização determinam o desaparecimento de algumas atividades e o surgimento de outras daí os impactos decorrentes. No caso específico das cidades localizadas as margens dos rios, observa-se que elas perderam sua incipiente dinâmica Econômica em decorrência da crise do extrativismo, mas mantiveram certa importância local Como suporte de serviço à população, visto que, embora às condições gerais de infra-estrutura e serviços na Amazônia sejam precários, a pouco existentes ainda está concentrada nas cidades, enquanto que, em municípios fronteiras, o fluxo e transporte das drogas Continua em grande escala.

AS PEQUENAS CIDADES NO NOSSO AGORA

A outro lado que também deve ser considerado para compreender as cidades amazônicas. Nas últimas décadas do século XX, a vida nas cidades e na Amazônia mudou de modo significati-

vo. Mesmo nas cidades pequenas, em pouco mais de uma geração, as informações tornaram-se mais ágeis, pois os lugares foram atingidos por técnicas que possibilitaram maior circulação de ideias e o acesso à modernização.

Isso contribui concreta e subjetivamente para o surgimento de novo processo Urbano, o qual se apresenta complexo. Em consequência, a mudanças de proporções espantosas tanto positivas como negativas ponto de um lado, as cidades passam a ser associadas as ideias de novo, do moderno; de outro, passam a ser associadas a baixa qualidade de vida, epidemias, inércia e lugar da destruição e da violência, as quais sempre ganham adjetivação que as associa ao espaço urbano.

A questão que se vislumbra é como compreender as estratégias das populações e do Poder local para a superação das dificuldades de acesso à educação, saúde e telecomunicações, como essa articulação se insere numa rede de organização do movimento social local (sindicatos, cooperativa, Nações Indígenas), bem como destas com o movimento ambientalista (ONG’s) , inserindo a Amazônia como pauta de discussão internacional, relacionada a questão ambiental neste sentido, as pequenas cidades da beira do rio parecem ter sua dinamicidade ligada a dimensão da sustentabilidade e da biotecnologia, comandados quase sempre por ONG’s que estão articuladas ao mundo, quase sempre sem se articular com os lugares. Cobertas com a capa da Solidariedade, a maioria dessas ONG’s cria espaços artificiais, desprovidos de memória, desprezando a história EA cultura específicas, levando a construção de objetos iguais, independentemente dos lugares onde estão localizados.

DA PAISAGEM NATURAL AO ESPAÇO DA CULTURA

Na Amazônia as espacialidades urbanas , especialmente das cidades localizadas as margens dos rios, foram impostas, o que não seguir Onde fica reconhecer, de um lado, que em suas formas não são homogêneas e de outros, que guarda resíduos de relações pretéritas como os sinais de resistências. Na verdade, essas especialidades revelam as diferentes estratégias dos diversos agentes produtores do espaço urbano que buscam a partir das condições

concretas defender seus interesses, o que leva a compreender a paisagem como o resultado das 10 horas Nações das políticas do estado, das relações sociais de produção, e mais que isso, como depositaria de vida sentimentos e Emoções traduzidas no cotidiano das pessoas Tais relações concretizam-se em espacialidades real ou imaginária quer as cidade de estejam na beira do rio ou na beira da estrada, na várzea, ou na terra firme.

A análise das pequenas cidades amazônicas deve levar em consideração a floresta EA água com o ponto de partida e não de chegada. Nas pequenas cidades amazônicas, localizadas no meio da floresta e as margens dos rios, o ambiente deste espaço pode ser levado inconscientemente a estabelecer a dimensão de especialidade a partir do Encantamento da realidade física. Entretanto, a generosidade da paisagem natural e mais e o que fica é o construído artificialmente (SANTOS, 1997, P. 51). É claro que o conjunto formado pelos sistemas naturais existentes numa região com a Amazônia ainda é muito importante e não pode nem deve ser desconsiderado, porém a a que se concentrar as análises de novo que a elas a crescem os homens. Do ponto de vista geográfico, a uma existência natural, todavia, são as relações sociais que dão a existência real (Ibidem).

AS PEQUENAS CIDADES: ESPACIALIDADES E CONTRADIÇÕES

Há em curso um processo visando tornar essas pequenas cidades da Amazônia cada vez mais iguais com a tendência de que as suas formas escapem a história e a cultura do lugar, tornando-as reféns Da Lógica de um mundo distante, nas possibilidades ilimitadas. Busca se projetar formas espaciais para unificar o ambiente simbólico, visando atender os interesses de determinados segmentos da sociedade, sem atentar para a especificidade histórica e cultural de cada lugar (CASTELLS, 1999,P.441)

Essas novas temporalidades e spasilidade são aliadas ao lugar, visto que eu poder, a produção e a riqueza são projetados para o mundo enquanto a experiência, a vivência, a cultura e a história são realizadas nos lugares ponto em decorrência disso, pode-se ter acesso as mais avançadas tecnologias, que são vendidas como sinais de progresso e de crescimento, mas a maioria das pessoas não têm acesso às redes e cidades básicas.

As pequenas cidades amazônicas apresentam essa contradição: são articuladas a relações pretéritas caracterizados pela inércia e, ao mesmo tempo, articulares à dinamicidades contemporâneas que ligam ao mundo especialmente a partir da biodiversidade e da sociodiversidade. Essa contradição, e de resto não é exclusiva da Amazônia, possibilita a simultaneidade nas inovações como o sinal da modernização na essa contradição, E de resto não é exclusiva da Amazônia, possibilita a simultaneidade nas inovações como o sinal da modernização na paisagem (especialmente ligado a comunicação, mas também aos equipamentos).

Todavia, a resistência de, e, como consequência, essas pequenas cidades representam, neste início do Século XXI, uma das mais raras permanências, refletindo e iluminando meticamentea cultura de cultura que, como assinala O Poeta João Paes Loureiro, Continuará a ser uma luz brilhando e que pensa em tirar mesmo com as chamas das queimadas das florestas, com a extração dos recursos naturais, com a poluição dos rios e com a mudança das relações dos homens entre si, que não conseguem destruir irremediavelmente. Nas pequenas cidades amazônicas ainda até há um tempo para a vivência de uma forma ilimitada, “ com seres Sobrenaturais, Porque somente a imaginação consegue ultrapassar os horizontes. Foi a boiúna que, ao agitar-se, fez o barranco ruir; o Curupira fez o caçador perder-se na mata; a Iara fez afogar-se de sedução aquele que, aparentemente, não tinha razões para morrer no rio; a tristeza não veio da Alma, mas do Canto da Acauã” (LOUREIRO, op. cit.).

Há nesses aglomerados aí né fica caracterizada pelos tempos lentos e, concomitante, à dinamicidade dos tempos rápidos (SANTOS,op. cit.; p. 266-267), o que caracteriza a inversão da Amazônia no mundo análise desses dois aspectos (a inércia e a dinamicidade), Como já contou Roberto Lobato Corrêa (1987, p. 39-68),O que são ao mesmo tempo antagônicos e complementares, necessita de pesquisas de Campo a curadas Por que eles podem clarear o papel das cidades ribeirinhas e, especialmente, se esse novo momento na Amazônia representa um processo caracterizado pela dinamicidade ou se, ao contrário, significa permanência na inércia

Deve-se considerar também que as estruturas e as dimensões sócioespaciaisna Amazônia hoje são compartilhadas de modo dife-

rente ao que era até então. Novos sujeitos, indígenas, movimentos sociais, empresas ONGs e mídia produzem especialidades diversas e articulam as estruturas pré-existentes quase sempre locais as dimensões globais. No curso dessa articulação, o poder se dilui entre vários sujeitos, grupos de indivíduos minorias étnicas pacifistas instituições que não se articulam apenas ao Estado Nacional e, em alguns casos, já atingiram um grau de relação e supranacionais . Aqui as pequenas cidades amazônicas emersas numa inércia de tempos lentos ganha um papel relevante visto que comportam Elementos da natureza ainda não conhecidos e, como esse processo ainda necessita de uma base logística, Tais cidades podem representar essa base, visto que estão ligadas ao mundo, por exemplo, pelas telecomunicações. Compreender esse processo em curso e verificar se ele tem consequências significa a busca de desvendar a Amazônia.

AS PEQUENAS CIDADES COMO ESPAÇO DE ESPERANÇA

As pequenas cidades amazônicas não são apenas produtos no nosso tempo, mas de tempos pretéritos cristalizados na paisagem, algumas delas foram criadas no período da colonização e outras na economia da Borracha ponto porém, na aprendizagem dessas cidades pequenas são muitos poucos os objetos que retomam esses períodos. A que surge outras questões fundamental para se compreender as cidades na Amazônia, qual seja, de que a paisagem Urbana não se resume apenas ao conjunto de objetos, mas contém também modos de vida, os quais como os primeiros, são resultantes das relações de produção continuamente produzidas, reproduzir as, criadas e recriadas um, contendo as dimensões da sociedade de cada tempo. Além disso, a paisagem Urbana também comporta as coisas da natureza. Aí cidades de hoje são lugares bem diversos das cidades pretéritas, não só porque o conjunto arquitetônico e a infraestrutura foram profundamente modificados.Foram mudados também a terra, a floresta e os rios, mais, sobretudo, e de modo considerável, a cultura, quer pela dinamicidade, quer pela estagnação. Para compreender esse processo é preciso considerar a paisagem para além do aparente ponto para tanto, é preciso atravessar o Rio, pois do outro lado do Rio a sempre a esperança. A complexidade contemporânea não permite compreendê-las apenas rela-

cionando-as a crise, imensa nos diagnósticos das carências, mas também como virtualidades, como possibilidades.

Por isso, é necessária a superação de formas simples de interpretações e de intervenções, reconhecendo que essas práticas são engendradas a partir de condições objetivas e estão mediadas pelas condições e conflitos da sociedade. É preciso apontar para outra visão de Amazônia que não seja apenas se naturalizar o que é social, tampouco desconhecer as suas características e uma lentes, considerando social O que é natural ponto para, esse equívoco foi o que norteou o modo de intervenção na Amazônia que predomina até hoje. Tal intervenção leva a adoção de estratégias para a resolução de questões que, na maioria dos casos a, não são as mesmas das populações locais pontos concebidas desta forma, a política de estado ou governo define, orienta e estabelece mecanismos operativos para a Amazônia, fincados em estratégias que visam ao ao crescimento econômico, mas não contribuem para o desenvolvimento de sua população, Pois diz respeito à natureza da Amazônia e principalmente a cultura dos amazônidas.

As novas ações propostas para a Amazônia e especialmente para as pequenas cidades deveriam contribuir para superar a visão funcional e caricatural de que a Amazônia é só recursos naturais e fontes de recursos inesgotáveis a serem descobertos e explorados pontos a Amazônia é muito mais do que isso; é, em todos os cantos, o lugar de Encantos. Sua realidade complexa e contraditória ultrapassa a paisagem natural ou artificial aparente para circo inscrever-se em cultura e sociodiversidade.

O estado não é responsável por tudo, mas numa região como a Amazônia o papel do estado é relevante como e não tou e como mediador de conflitos. As ações do Estado deveriam buscar as condições da urbanidade, o que significa articular as políticas públicas visando os espaços coletivos como o signo da nova cidade, mas não só como funcionalidade da produção e da circulação, mas como o lugar das pessoas. Além disso, deve-se perseguir a busca de criar tempos e espaços para vida em toda a sua dimensão. Isto passa pelo resgate da Cidadania que exige a concretude Dê uma vida decente, que pressupõe o acesso as condições dignas da vivência. Ainda que a ausência de bens e serviços seja abominável, são intoleráveis na falta de tempo, a de lazer e de informações para os que moram nas

pequenas cidades dos beiradões “ uma vez que o espaço não é o reflexo da sociedade, é sua expressão” (CASTELLS, op. cit.: p. 435), as mudanças só ocorreram a partir das transformações da sociedade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse é um texto sem conclusão, pois pesquisas necessitam ser feitas e, mesmo quando concluídas, revelaram uma verdade, não é verdade. O único ponto a se destacaré que as pequenas cidades amazônicas revelam especialidades que não coincidem com o inventário dos objetos no espaço nem do discurso sobre a sua representação. Nesse sentido, pode-se concluir que a especialidade oculta as consequências de, o que indica a construção de pesquisas que considerem a amazônia não apenas como uma área a ser conhecida, mas como o conhecimento do lugar, capaz de revelar formas e conteúdos espaciais que foram transformadas e/ou permaneceram.

Compreender a Amazônia a partir das pequenas cidades é muito mais do que analisar a forma das cidades, significa compreender a vida das pessoas simples, de onde brotam dimensões de Especialidades que fazem sempre são desconsideradas as vírgulas pois estão eivadas de coisas simples, transmutados numa sensação de extrema obviedade pela frequência do estar sempre por aí (OLIVEIRA, 2000). Nesse sentido, para além das formas das cidades, a homens e mulheres para os quais a história e a geografia das cidades amazônicas são feitas e não esperadas . Há outro jeito de fazer e outro modo de esperar. Há outros tempos-espaços mediadas por outra ordem, outra razão e outros sentimentos.

As pequenas cidades amazônicas são importantes porque contém vida, vidas, natureza. Porém, muito mais do que pelo fatalismo de uma vida governada pela determinação da natureza, a cultura amazônica que se estrutura como lógica e como razão, da qual também compartilham um sonho, a esperança e a resistência.

A PRODUÇÃO DE UM LUGAR NA AMAZÔNIA

Calvino descreve como viajante ver uma cidade ao longo: “ Há duas maneiras de se alcançar de Despina: de navio ou de camelo. A cidade se apresenta de forma diferente para quem chega por terra ou por mar.”

Chega-se a maioria das cidades da Amazônia pelo rio e delas é possível ser contemplar uma paisagem cujo limite é o Reencontro das paralelas no horizonte em que o céu e as águas parecem se abraçar, quer se olhe em direção ao Ocidente ou Oriente. A paisagem citadina à vista se ao longe, aparecendo aos poucos, preguiçosamente aos olhos de quem se aproxima Sem pressa de chegar. Quase sempre, o primeiro sinal é a torre da igreja, tão distante que até parece Nunca será alcançada ponto assim Vista, a maioria destas pequenas cidades situadas as margens dos rios se constituem numa “ pausa repousante da monótona sucessão de matas que cobrem as imagens do Amazonas. Destacam-se, nítidas e coloridas, do fundo verde escuro da vegetação. A igrejinha branca e luminosa com seu telhado cor de barro (...) e uma fila de casas baixas , pintadas de cores claras, de frente para o rio. (...) assim vista do Rio, a cidade aparece um quadro emoldurado pela folhagem Verde escura nas Mangueiras enormes e das Palmeiras majestosas que eles guarnecem as beiras. Parece um Recanto sedutor”.

No entanto, uma estreita “prancha” que liga o meio de transporte, motor de Recreio,, se encarrega de estabelecer a realidade e o quadro de moldura passa a ter outra dimensão. Quase sempre localizadas em terrenos altos, as cidades tem um padrão Urbano característico com ruas e caminhos que terminam invariavelmente no porto a rua da frente ou a Rua Primeira tem as melhores casas e as ruas de trás, casebres cobertas de palha.

As cidades amazônicas, pelo menos as localizadas as margens dos grandes rios, parecem ter sido criadas para serem vistas de longe pois de perto toda a dimensão de beleza que existia no primeiro olhar esvai-se no arruamento ou caótico, nas Casas Novas mais com as fachadas desbotados e precocemente envelhecidas. Talvez fosse melhor que o dela só se tivéssemos a primeira impressão.

Nesse sentido, a cidade de Presidente Figueiredo não é condescendente com viajante, na onde Fazendo nenhuma concessão e desliga ela não se aproxima os áudios do Viajante, ele a ver quando chega, advertindo-o : aqui não há lugar para a contemplação pontos ao contrário de Despina, que se apresenta Diferente ao viajante com, venha ele por terra ou por mar, Presidente Figueiredo não se diferencia a, foi só é possível chegar a ela por um lado:

por terra. Mas ela difere das outras cidades porque tem especificidades que não estão na paisagem parente, mas na dimensão concreta da cidade enquanto o resultado da produção e da reprodução da sociedade.

O IR OU NÃO SAIR DO LUGAR – A BR 174

A estrada modifica a paisagem tendo uma repercussão geográfica que não se limita ao superficial, indo além, indicando a intensidade e a importância das relações entre os homens pontos a própria Estrada, sua construção, seu declive, as condições, as condições anteriores à ela e as relações que se instalaram no lugar a partir da possibilidade de circulação constituem-se num fato geográfico.

A estrada BR – 174 tem grande importância na análise da espacialidade do município de Presidente Figueiredo, Pois foi com sua construção que se criou o município e viabilizou a construção da usina hidrelétrica de Balbina; instalaram-se projetos agropecuários e implantou-se o projeto de mineração do Rio Pitinga.

Através da estrada BR – 174 que se vai e se vende Presidente Figueiredo am . Os 107 km que vão de Manaus a sede do município constituem-se num caminhão de terra batida interiorizado no sentido norte para atravessar 785 km de floresta, ligando aí cidade de Manaus e Boa Vista.

Uns poucos privilegiados podem alcançar Balbina ou Pitinga por via aérea ponto entretanto, para a cidade de Presidente Figueiredo, a via de acesso é sempre a estrada, embora as pessoas se utilizam de formas diferenciadas para circular que estão relacionadas a capacidade de pagamento de cada uma, indo do caminho até a carona nos caminhões passando pelo transporte coletivo até os carros particulares.

Apesar de o caminho para Presidente Figueiredo não ser o Rio e sim a estrada, ou deslocar-se ocorre da mesma forma que para outros lugares na Amazônia, explicitando as precárias condições de deslocamento existentes na região onde “ no convés superior das embarcações (1° classe) viajavam ( e continuam viajando) os bem-aventurados da sorte e do dinheiro; no convés de baixo (3° classe), a plebe se amontoa como verdadeiro gado humano”.

A precariedade do transporte fluvial de passageiros e existe atualmente na Amazônia, difere das condições que existiam, especialmente no Rio Amazonas, no século passado. “ é impossível estar mais bem aparelhado para a comunidade do Viajante do que os vapores do Amazonas. São admiravelmente mantidos e com asseio extremo (...) a mesa é perfeita e cuidadosamente servida, e a comida excelente, se bem que pouco e a comida excelente, se bem que pouco variada”. Embora seja necessário considerar que esse tipo de transporte que atende a uma minoria, é preciso reconhecer sempre Joaquim Roriz que faziam a ligação entre as principais cidades localizadas no Rio Amazonas e seus afluentes bem diferentes dos motores de linha que fazem a mesma ligação atualmente. Em vários aspectos qualitativos, o transporte fluvial de passageiros na Amazônia é inferior ao da navegação do século passado e do início do século XX.

Apesar das condições inaceitáveis da segurança, rapidez, higiene, preços e conforto que caracteriza o transporte de passageiros nos rios da Amazônia, viajar num desses barcos de linha que fazem a ligação entre as principais cidades do Amazonas tem um estranho encanto.

Quando o barco vem para capital, homens e mulheres de todas as idades, de rostos Queimados e um olhar de intensa profundidade, com suas poucas roupas quase sempre molhadas, misturam-se aos frutos de seu trabalho. Ao tomarem o barco, armam a rede onde repousam seus cansados corpos.Os barcos menores não oferecem refeições, sendo necessário trazer uma pequena marmita improvisada, uma dessas latas de leite em pó, com um pouco de peixe frito, farinha e frutas na alimentação é compartilhada numa corrente de solidariedade ao se aproximar da capital, os atravessadores invadem o barco e compra uns que as pessoas trazem quase sempre preços e ínfimos.

O Retorno não é muito diferente, a não ser quando o barco se aproxima das cidades onde as pessoas desembarcam ponto no período que antecede a chegada ao Porto, as pessoas envolvem-se numa intensa preparação. Perfumam-se, colocam-se a melhor roupa, preparam a criançada no burburinho de festa. O regozijo não é menor entre os que esperam o barco no porto. Apesar de todas as dificuldades, no convés dos barcos que cortam os rios da

Amazônia a vida se Desenrola, correndo parada como a água do rio que tem paciência e vai passando sem-fim.

Este sentido de festa, pelas próprias características do meio de transporte, não existe quando se vai para Presidente Figueiredo. A similaridade está na precariedade do ônibus, no desrespeito aos direitos do cidadão e no custo relativamente elevado da passagem.

O ESPAÇO DO COTIDIANO E A EXISTÊNCIA HUMANA NOS TRÓPICOS

A análise do processo de produção do espaço no lugar específico da Amazônia pressupõe o entendimento de que a produção do espaço não se encerra em si mesma a medida que é condição, meio e produto da sociedade ou seja, a produção do espaço é aqui Considerada no seu sentido mais geral, abrangendo a produção e a reprodução das relações sociais.

O ponto de partida é o entendimento do espaço encontro lugar das práticas individuais e coletivas, das experiências materiais, religiosas e culturais que são determinantes das formas de relação e das concepções que cada grupo tem do, com e no espaço. Nesse sentido, o espaço é um produto histórico e social resultante de um processo de produção e consequência do trabalho humano, pois “ toda sociedade produz seu espaço, ou, se preferir, toda sociedade produz um espaço”.

Mas o espaço não é um produto qualquer, “ ele vive fora do indivíduo e se empolgue tanto a este quanto a sociedade considerada como um todo”. Ou seja, o espaço é produto, mas também se brinca na produção da sociedade, produção tomada no sentido mais amplo, não se restringindo ao econômico, mas a reprodução da vida, pois o espaço não se depende apenas das relações de produção, mas abrangendo outras dimensões como a política a cultura e o lazer em ponto então, sua produção possui a dimensão da totalidade que abarca o cotidiano.

Numa visão Inicial, o cotidiano é o repetitivo, o conjunto de atividades com aparências modestas o ponto ele abrange as coisas, o dia a dia das pessoas; “ é humilde e o sólido, aquilo que vale por si mesmo, é o insignificante (aparentemente); ele ocupa e preocupa e, no entanto, não tem necessidade de ser dito (...) traz o signo do

novo e da novidade: o brilho, o paradoxal marcado pela tecnicidade ou pelo mundano”. O cotidiano simplesmente é e está.

Mesmo considerado apenas nesta visão do aparente, o cotidiano pode ser o ponto de partida para a investigação da realidade, pois ela não está à margem da vida de cada dia .

O cotidiano é isso, mas não só. “ Seria algo mais: não uma queda vertiginosa, nem o bloqueio ou obstáculo, mais um campo de uma renovação simultânea, uma etapa E umtrampolim, un momento composto de momentos ( necessidades, trabalho, diversão, produtos e obras, passividade e criatividade, finalidade, etc.), interação dialética da qual seria impossível não partir para realizar o impossível (totalidade dos possíveis)”.

O cotidiano é também a receptáculo da passividade, da Esperança, da repetitividade em fadona, da falta de perspectiva em fim da miséria do dia a dia nos confins da Fronteira. Todavia, é, sobretudo, O que contém a possibilidade de mudança da vida, pois ele também possui uma dimensão de riqueza não apenas material, concentrada nas mãos de poucos, mas do virtual que reproduz a vida e que aponta para o fato de que o social não se restringe ao econômico, pois se refere as relações sociais entre os indivíduos, entre estes e o grupo e destes com a sociedade Além disso, é no nível do cotidiano que as relações se humanizam, contrapondo-se a uma globalização que tendência a homogeneizar os costumes e modos de vida ponto no cotidiano que é margem as resistências .

Considerado o cotidiano numa cidade da Fronteira não parece fora do Propósito, Afinal, a fronteira é o lugar onde as pessoas vivem bem ou mal, ricas ou Miseráveis. “ é no cotidiano que elas ganham ou deixou de ganhar a vida, não duplo sentido: não sobreviver ou sobreviver, apenas sobreviver ou viver plenamente ponto é no cotidiano que se tem prazer o se sofre”, se vive ese buscar mecanismo que possibilitem a reprodução de uma nova vida não sai com o nome, mas social e cultural ponto. Vida, sempre em sua dimensão mais ampla. Sobretudo é na fronteira que se coloca de forma mais clara a tendência de imposição do cotidiano como parte de um processo de homogeneização baseado na predominância do valor de troca sobre o valor de uso.

Portanto, tentar compreender o cotidiano e buscar o desvendamento da realidade. Mas, ao mesmo tempo, esse cotidiano pode

esconder a realidade. “ A análise da vida de cada dia constitui - em certa medida, apenas – a via de acesso a compreensão e a descrição da realidade; além das suas possibilidades, ela falseia a realidade”. Neste sentido, a realidade não pode ser compreendida apenas se desde o em dando o cotidiano, mas numa Dimensão em que estes incluem na atualidade o cotidiano tem que ser compreendido no contexto social em que o espaço da Fronteira é produzido, não sendo apenas a soma mecânica de atividades diversas, mas a totalidade que as engloba e que determina a produção do espaço.

Há uma tendência do Capital em produzir o espaço na fronteira neste Considerando o passado enquanto dimensão do vivido e não levando em conta o futuro em conta a possibilidade. Ambos são aniquilados pelo imediatismo das Nações. Neste processo não se destrói a natureza como, e principalmente, se destroem modos de vida. Em consequência da violência de como as relações sociais de produção passam a ocorrer, a comprometimentos capazes de não garantir a sua reprodução no futuro, em especial das populações locais(índios, roseiros, seringueiros, ribeirinhos, pequenos agricultores, pescadores e trabalhadores assalariados).

Isso ocorre principalmente porque o espaço que se produz hoje na Amazônia introduz a mediação do mercado e da terra como mercadoria na relação do homem com a natureza visando garantir a reprodução para a capital na sua forma mas predatória ponto em alguns casos como em Pitinga e em Balbina, criança e uma moderna tecnologia de extração de minérios e de produção de energia, imprimindo novas formas de disciplinamento da produção do espaço e da organização do trabalho, modificando ou a Niquelândia relações anteriormente existentes, produzindo o quadro de insuficiência que inviabiliza a sobrevivência da produção que já ocupava o lugar.

A nova dinâmica se “ Expresso de forma conflitiva, de um lado, pela racionalidade dos grandes Empreendimentos que tem como substrato a produtividade e o lucro, valorizando os recursos naturais e por meio da capital e de outro, pela racionalidade fundada no valor da terra pelo trabalho que a ela incorporou de labradores na agricultura de subsistência”. Os grandes projetos modificam o meio ambiente e os modos de vida, produzem um espaço sob seu controle.

Nas áreas sob a influência dos grandes projetos não há Desenvolvimento Social, entendida não apenas como investimentos e crescimentos econômicos mas como transformações estruturais que levem a melhoria de índices quantitativos representados por investimento e sociais sobre os quais se Funda um desenvolvimento consistente e duradouro. Neste sentido é preciso considerar que Desenvolvimento Social é na sua essência muito mais do que o simples crescimento da produção de uma determinada área. “ não se trata de um processo puramente qualitativo e mecânico, passível de ser medido estatisticamente ano a anos. O desenvolvimento econômico, acima de tudo, constituem um processo qualitativo de mudança estrutural”. Portanto, a implantação de grandes projetos na Amazônia não significa Desenvolvimento Social para a região, pois não existe relação entre as inovações técnicas, o crescimento econômico e a melhoria das condições de vida das populações locais e o respeito pela sua história.

A produção do espaço, na fronteira, dá-se a partir de um processo conflituoso, onde as novas relações destroem e reconstroem antigas relações, pois um novo não exclui o velho. Esse processo coloca como cliente a produção do espaço controlado e homogeneizado que, no entanto, não se concretiza em sua inteireza, à medida que o novo espaço não se produz excludentemente. Ele produz as diferentes e as resistências que não restaram as relações sociais anteriores, mas as recriam em outras dimensões.

O novo, completamente novo, não existe e é nas brechas encontradas no processo de produção que a população do lugar e Os migrantes criam as condições de resistência, visando alcançar as transformações do espaço produzido. No âmbito da Amazônia como um todo, quais ações podem ser percebidas nas resistências da população indígena e dos caboclos tentando interferir na produção duas pastas de maneira que o direito a diferença lhe seja garantido. No nível local, pequenas ações têm contribuído para que a flora em formas de lutas visando não permitir que o espaço se produzia exclusivamente as funções da classe dominante e de acordo com as estratégias de do Estado pontos na maioria das vezes são ações localizadas sem conseguir articulação mais ampla. Isso, no entanto, não retira o caráter político que eles dá sustentação.

O HORIZONTE DAS CIDADES NAS SELVAS

A CIDADE NO HORIZONTE DO PROVÁVEL

A produção do espaço preso por em movimento está legalmente determinado que implica na a própria produção da Sociedade. Cada transformação ocorrida no processo civilizatório produz espaços diferenciados. O espaço não é um produto qualquer, mas o produto das relações concretas do homem em sociedade no transcurso de seu processo de humanização. Esse processo ocorre a partir da prática socioespacial que o homem vai construindo ao longo do processo histórico. Neste sentido, as cidades da Amazônia não são apenas fenômenos localizados no espaço geográfico, mais determinações de espaço em tempo encontro produtos históricos que o tra passam a noção de localização e de duração vincular-se a dimensão da história e da produção e reprodução não apenas de objeto, mas principalmente da vida.

Quando os europeus iniciaram o processo de colonização da Amazônia, a região não era um grande vazio demográfico, portanto, não estava desocupada. A ocupação nos primeiros séculos significou “ uma forma peculiar de colonização que longe de acrescentar novos contingentes humanos a área, sangrava ininterruptamente em suas populações indígenas”. A ocupação, na Perspectiva do colonizador, teve início a partir do século XVII e se limitou a parte Litorânea não se estendendo para o interior da região Amazônica que praticamente não sofreu ação da “ocupação” portuguesa nos seiscentos.

A “ocupação” portugueses se deu através dos fortes militares e das Missões religiosas que mais tarde se transformaram em povoações e posteriormente algumas foram elevadas a condição de vilas.

Não se pretende aqui fazer história na cidade da Amazônia, mas recuperar a história das cidades na Amazônia, buscando identificar o virtual que não se tornou real e que em determinados momentos históricos se colocou como possibilidade da emergência de outras formas de produção do espaço. Por outro lado, não se abrangerá toda a Amazônia, mais uma parte dela o que corresponde a área da antiga capitania de São José do Rio Negro que em linhas Gerais é o atual Estado do Amazonas.

A criação do que viriam a ser depois das primeiras cidades desta parte da Amazônia não ocorreu de forma autônoma ou dissociada tão pouco diferente das restantes da região. O que ocorreu Nesta parte da Amazônia de certo modo ocorreu em toda a região e representou as determinações de Portugal encontro estratégias de ampliação de novos mercados para os países europeus.

As primeiras tentativas de ocupação portuguesa na Amazonas ocorreu na segunda metade do século 20 e 7,42 missionários Jesuítas entraram em contato com os índios estarão mães reunidos numa missão localizada a Possivelmente na foz do rio Tarumã a missão foi abandonada em 1661 mas durante esse período serviu especialmente como ponto de apoio para o descimentos de índios, 600 no primeiro ano e mais 700 um ano depois.

Em 1660, a hora em 2006 criou a missão Saracá (Silves) que se constitui no mais antigo povoamento continuo dos portugueses no Amazonas. A mesma ordem religiosa criou a missão Santo Elias de Jaú no baixo curso do Rio Negro.

Ainda na década de 60, em 1669, foi criada a primeira guarnição militar portuguesa, o forte de São João do Rio Negro, situada cerca de 18 milhões da Foz do Rio Negro. Esses povoamento e serviram de Base a ocupação portuguesa, especialmente no Vale do Rio Negro, e para a exploração mais ao norte com a criação de uma missão no Rio Branco pelos missionários Carmelitas. Essas “ocupações” e mais o povoado Cabori também no Rio Negro se constituíram nas únicas formas de povoamento português no Amazonas a final do século XVII.

Na metade do século XVIII, durante o governo do Marquês de Pombal (1750 - 77), Portugal adotou medidas que modificaram no processo de colonização na parte ocidental da Amazônia. No ano de 1755 foram criadas na capitania de São José do Rio Negro, a companhia Geral do grão-pará e Maranhão e, através do diretório foi abolida a administração temporal que os religiosos exerciam as missões indígenas que passaram a ficar sob a responsabilidade de administradores de leigos, bem como foi determinada a transformação de aldeias em Vilas e povoados no período de cinco anos que vai de 1755 a 1760,quarenta e seis missões estavam localizadas na capitania de São José do Rio Negro Que contava nesta época 11 núcleos de povoamento além das vilas conto ao término

do período pombalino, a capitania de São José do Rio Negro contava com 23 povoações e uma população não indígena da ordem de 1.476 habitantes.

Ao final do século XVIII, Portugal já tinha consolidado o seu domínio na Amazônia ocidental, garantido a posse da região e praticamente definido os limites fronteiriços ao norte e a oeste existentes até hoje a presença Portuguesa era mais acentuada no Vale do Rio Negro e no alto Solimões, incipiente no Baixo Amazonas e Vale do madeira e inexistente nos demais vales.

A localização dos povoados de amostra à primeira vista uma estratégia Militar de Portugal em ocupar e conquistar região no caso da Amazônia ocidental, a preocupação era especialmente com os espanhóis, em decorrência de não se ter estabelecido até metade do século XVIII a fronteira dos domínios da Espanha e Portugal por causa disso eram comum as incursões dos espanhóis a oeste pelo Solimões e ao norte através do Rio Negro onde também havia disputas com holandeses e ingleses.

No alto Solimões, os primeiros povoamentos não indígenas foram criados pelos espanhóis por volta de 1689 quando estabeleceram 5 missões religiosas sobre responsabilidade dos Jesuítas. Após algumas tentativas infrutíferas, em 1710 os portugueses destruíram as missões e expulsaram Os Missionários espanhóis, entregando os aos Carmelitas portugueses. Em 1743, um viajante descreve a situação no Solimões: “ Coari é o último dos seis povoados dois missionários Carmelitas portugueses, cinco dos quais formados a partir dos destroços da antiga missão do padre Samuel Fritz e compostos de um grande número de diversas Nações, a maioria transplantada”.

A “ocupação” portuguesa na Amazônia nos séculos XVII e XVIII não pode ser vista apenas como uma questão política de estabelecer o domínio espacial de um vasto território. Embutida na estratégia de defesa e estava uma questão Econômica motivada pelo mercantilismo português que colocava a Amazônia como uma alternativa para a reconstrução de “seu empório asiático”, perdido para outras Nações europeias.

As Vilas criadas no século 18 estavam localizadas em pontos estratégicos as margens do rio Amazonas ou na foz seus principais afluentes e tinham como funções: defesa, cobrança e controle de

tributos entreposto comercial de produtos extrativos e agrícolas, base para o pareamento de índios e sede do poder temporal, representação do estado e do poder espiritual através das Missões religiosas.

As Vilas também representavam para os colonizadores espaços privilegiados de expansão de um processo civilizatório com a imposição da Língua Portuguesa e restrição ao uso da língua geral, obrigatoriedade da frequência a escola e o incentivo ao casamento entre soldados e índias.

O Casamento entre saudades e índias tinha como objetivo e discutir a cultura dos brancos e era persuadido pelo diretório e considerado pelos governantes como “utilíssimos para por este modo facilitar a civilização dos índios, sendo um dos meios mais importantes para o estabelecimento dessa capitania”.

Mas apesar do processo desigual de como se davam as relações, houve neste caso quase sempre o efeito contrário. “Os casamentos, que se tanto persuadiu a lei de 4 de abril de 1775, tem sido pela maior parte pouco afortunado; Por que em um lugar de as índias tomarem os costumes de brancos, e insistem adotados os daquelas”. Isto mostra que a realidade esta carregada de possíveis e que cada relação se estabelecem uma espacialidade que não está exemplos de contradições.

A especialidade nas Vilas do século XVIII refletir a realidade vivenciada pelas populações da época. A captura da Tartaruga se constitui a uma das principais ocupações dos moradores das vilas e dos povoamentos que utilizavam a carne na alimentação e recolher os ovos para retirada do Óleo destinado à exportação ou o consumo dos povoados como fonte de energia para iluminação. Na época da coleta dos óvulos, que corresponda ao período da Vazante, as Vilas ficavam praticamente vazias, pois as pessoas se dirigiam as praias para escavação dos tabuleiros, retirando os ovos e fazendo a purificação do Óleo.“Numa manhã cerca de 400 pessoas estavam Reunidas das bordas do Banco de Areia, tendo cada família preparando o seu abrigo. (...) Havia grandes traços de cobre, para o preparo do óleo e centenas de jarros vermelhos estavam espalhados pela areia”.

Os Quintais destinados as tartarugas para posterior consumo faziam parte da paisagem das vilas e a sua construção se constituir

em alguns casos de uma obrigação do poder público. Entretanto, na maioria das vezes eram as pessoas que construíram este espaço. “A outra Face da casa da para um Pomar não cercado onde algumas Laranjeiras fornecem sombra a um viveiro de tartarugas, preparando para alojar espécies vivos no pátio de todas as casas se encontram distantes, sempre vem provido, pois a carne tartaruga constitui a base essencial da alimentação dos habitantes”.

O espaço que a sendo produzido refletia não apenas uma determinação externa, mas se constitui a partir das condições específicas. Obviamente estas eram apenas residuais, porém de qualquer forma o espaço produzido não estava imune a elas.

Ao final do século XVIII, as povoações estavam dispersas no sentido linear, estendendo-se na direção leste-oeste desde a foz do rio Amazonas, penetrando cerca de 3.000 km até a vila de São Francisco Xavier de Tabatinga. A direção da penetração do povoamento com os tratava com as poucas densidades da “ocupação” Portuguesa no sentido norte-sul que se limitava a ocupação do Vale Rio Negro e a vila de Borba e ao povoado São Francisco de Crato no Rio Madeira.

Durante os séculos XVII e XVIII predominou na Amazônia a exploração das drogas do sertão e a Agricultura introduzida a partir de 1750, limitar as proximidades das margens dos rios e concentrada principalmente na parte leste da região. O domínio político de Portugal sobre a região foi garantido, no plano interno, especialmente pela posição estratégica do fortes e dos povoamentos. Entretanto, não se pode dizer que até esta data tem ácido ocorrido a interiorização de atividades econômicas, nem que tenha ocorrido o significativo povoamento naperspectiva do colonizador.

Tal situação se refletir na espacialidade das vilas que se constituíram em pequenos pontos para estocagem de produtos extrativos e agrícolas. A agricultura teve um certo impulso em decorrência de incentivos consentidos pela política pombalina no final do século XVIII, as Vilas perdem o ímpeto como Locus de defesa, Possivelmente em decorrência do acordo diplomático celebrado entre Portugal e Espanha fixando os limites da Amazônia Lusitana. Em 1783, por exemplo, o forte de São José do Rio Negro foi desativado, demonstrando que com a consolidação do domínio português na Amazônia algumas bases intermediárias perdem as funções de defesa.

Do ponto de vista espacial não houve mudanças significativas quanto ao surgimento de novas vilas e/ou povoamentos nas primeiras décadas do século XIX na capitania de São José do Rio Negro na década de vinte, entretanto, houve mudanças importantes refletidas na criação e/ou supressão de vilas.

Em 1825 o governo Imperial, através do aviso nº 283, aboliu a junta governativa do Rionegro incorporando a capitania a província do Pará em 1833, para execução do Código de Processo Penal, foi criada a comarca do alto Amazonas com quatro Vilas que deveriam servir de sede aos termos: Barra do Rio Negro (Manaus),Luséa (Maués), Tefé e Mariuá (Barcelos). Pelo mesmo ato as demais Vilas retornaram à condição de povoado pontos.

Em meados do século 19 vários acontecimentos contribuíram para a modificação de paisagem da região e determinaram, em Minas Gerais, o arcabouço do que viria a ser a malha urbana do Amazonas. Dentre os acontecimentos estão: a elevação do Amazonas à categoria da província em 1850, a introdução da navegação a vapor em 1853, a exploração intensiva dos seringais e o movimento revolucionário dos Cabanos. Quando foi instalada a província do Amazonas em 1852 havia uma cidade, Barra do Rio Negro, capital da nova província, 28 freguesias e 31 povoados.

Desses acontecimentos, a exploração do látex e a interiorização da navegação a vapor foram os que tiveram maior relevância na configuração da malha Urbana, Especialmente na Amazônia ocidental.

A introdução da navegação a vapor, além de melhorar a comunicação decorrente da facilidade de transporte, transformou os povoados e Vilas em Pontos de paradas obrigatórias não apenas para desembarque e embarque de cargas, mas para tomar lenha que servia de combustível para os vapores. “ Na Amazônia, (...) os transportes e se fizeram por água; eles tiveram também necessidade de mudar: a navegação se faz de dia, é preciso escalas para noite. São precisas também outras escadas onde se possam mudar as guarnições de remadores ao longo dos rios de circulação. Essas margens se povoaram de pequenos centros; a navegação a boa não suprimiu, ela reclamou ao contrário um novo tipo de escala, o porto de lenha; vendo as Caldeiras tocadas Aline a vírgula de 30 a 30 km mais ou menos era preciso refazer a provisão de combustí-

vel, Isto é, dizer o número de portos”. No Amazonas, os principais portos de lênia estavam localizados nas Vilas. Dada a distância entre elas, existiam nas margens dos principais rios vários portos da quase sempre nos barracões ponto um dos poucos se dinamizaram, mas a maioria entrou em decadência junto com a borracha, na medida que houve um refluxo da navegação a vapor.

Como a exploração do látex se identificou a ocupação por população não indígena da parte mais ao leste da Amazônia. Nos valores dos rios madeira e, puros e juro a, foram criados e/ou recriados povoados visando servir de apoio à exploração do látex e que posteriormente se transformaram em Vilas e mais tarde cidades, tais como: Manicoré e Humaitá no Madeira; Lábrea, Boca do Acre e Canutama no Purus; Carauari e Eirunepé noJuruá; Codajás no Solimões.

No período mais intenso da exploração da Borracha, entre 1860 e 1921 sendo criadas as vilas nos autos dias da margem direita do rio Amazonas, ao mesmo tempo foi diminuindo o povoamento do Vale do Rio Negro que por volta de 1845 contava com apenas 18 povoados dos 32 povoados existentes no final do século XVIII. Barcelos, que teve uma grande importância em decorrência de ter sido a primeira sede da capitania, contava em 1845 com apenas 72 habitantes, embora 50 anos antes da sua população tivesse atingido 640 habitantes em todo o Vale do Rio Negro, em meados do século XIX, não havia mais de 7.000 habitantes não-indígenas, com um desconhecimentode aproximadamente 20% da população em 60 anos.

O resultado do período da borracha na Perspectiva do surgimento de novas Vilas do Estado do Amazonas teve maior significado no final do século XIX e, Especialmente na última década pontos no ano de 1892 se consolidou a base da divisão municipal do Estado e estabeleceram-se os critérios para criação de novos municípios, sendo determinada a estrutura do poder municipal e da nova divisão do Amazonas. A divisão Municipal criada e estruturadas nesta época Serviu de base para a existentes de hoje que de maneira geral é apenas uma derivação daquela.

a divisão Municipal criada no governo de Eduardo Ribeiro (1892 - 1896) com tinha uma estratégia de hegemonia no espaço. Esse processo se estabelecia através de uma força de deslocamen-

to de valores que tinha nas cidades e/ou Vilas seu ponto de apoio. A divisão Municipal estabelecida na época era uma estratégia política de consolidação do processo civilizatório cuja principal característica era a imposição pontos. As cidades e/ou as Vilas foram concebidas como local da troca, do Poder, da guarnição, mas também e principalmente propulsoras de novos modos de vida.

Por exemplo, na última década do século XIX, algumas Vilas do interior possui um jornais. Embora com predomínio de informações locais e regionais, estes jornais traziam notícias do Brasil e do mundo, especialmente sobre artes. É possível encontrar colunas com capítulos da novela de Eça de Queiroz“O Mandarim”, contos de Machado de Assis ou ainda citações de Victor Hugo. Até 1889 o número de jornais impressos no interior e na Capital tá passavam a cem.

A atividade desenvolvida no período da borracha de um certo impulso na criação de vilas e povoados pontos entretanto, não significou quantitativa e qualitativamente um processo de surgimento das cidades. Ao contrário, determinou a existência de poucas cidades, dispersas e sem importância regional em termos populacionais e econômicos. Apesar da Borracha ter representado no período de 15 anos (1898 a 1912) no mínimo 20% das exportações brasileiras anualmente, os benefícios ficaram reduzidos a Belém e Manaus onde uma minoria que teve em pequenas partes do excedente econômico, transformando as duas cidades mais importantes da região Manaus, por exemplo, cresceu como um centro de comércio e umas poucas indústrias de beneficiamento de produtos extrativos, mas não encontrou caminhos para transformar o capital comercial em industrial.

A existência de pequenas cidades, distribuída de forma linear, com infraestrutura urbana a mínima, localizadas quase sempre nas margens dos rios e sem articulação entre si, e decorre do tipo de atividade econômica baseada no extrativismo vegetal, com produtos destinados à exportação em estadoin natura Ou no máximo semi beneficiados esse tipo de atividade não contribuiu para a criação da infraestrutura visando a transformação de matéria-prima na própria região em decorrência, tampouco havia a criação de atividades urbanas complementares a transformação da matéria-prima que exige concentração de mão de obra, O que poderia ensejar a criação de novas Vilas.

A malha Urbana Que isso aí foi configurando na Amazônia, é especialmente no Amazonas, foi influenciada grandemente pelo extrativismo pontos no entanto, há um limite de atividade extrativa vegetal em decorrência da composição orgânica do Capital empregado com predominância no capital variável sobre o capital constante em virtude da ausência quase total do equipamento que se resumia ao Barracão e da falta de investimentos em maquinaria. Todo a exploração estava baseada na extração da mais-valia Absoluta, facilitada pela abundância de mão de obra, ausência de mecanismos de mediação entre patrões e empregados e da condição de isolamento a que era submetido o seringueiro ponto apenas uma parte da mais-valia extraída dos seringais foi aproveitada localmente ficando retirada nas mãos de uma minoria privilegiada porém, a maior parte foi apropriada por segmentos de classe dos países importadores da Borracha. A mais-valia retida localmente não foi aplicada na reprodução da atividade econômica, mas em consumo supérfluo e em obras suntuosas. O idealismo de uma “elite” residente em Belém e Manaus era a fantasia, o capricho e a extravagância. Nos seringais, os meios de trabalhos utilizados pelos seringueiros eram quase somente seu próprio corpo. “Os meios de trabalhos não são só mediadores do grau de desenvolvimento da força do trabalho humana, mas também indicadores das condições sociais nas quais se trabalha”. Pode-se dizer que a riqueza produzida na Amazônia na época da Borracha provinha de dois líquidos: da seiva da heveabrasiliensese do sangue dos seringueiros.

A forma de exploração da força de trabalho TV reflexos da especialidade das vilas e povoados surgiram com a exploração do látex, cuja distância social dos dois principais centros urbanos da região só é comparável a distância física decorre das enormes Estações dos rios e na grande Floresta aquela é o resultado da concentração de renda, da ganância da riqueza para os poucos e da miséria e morte para muitos pontos o resultado foi que a renda própria dos residentes, Além de muito inferior a renda interna, era obtida a um elevado custo social e humano, mal distribuída, no regime predatório da força de trabalho A forma de exploração da força de trabalho TV reflexos da especialidade das vilas e povoados surgiram com a exploração do látex, cuja distância social dos dois principais centros urbanos da região sul é comparável a distância física decorre das enormes Estações dos rios e na grande Floresta. Aquela

é o resultado da concentração de renda, da ganância da riqueza para os poucos e da miséria e morte para muitos. “O resultado foi que a renda própria dos residentes, Além de muito inferior a renda interna, era obtida a um elevado custo social e humano, mal distribuída, no regime predatório da força de trabalho”.

A maioria da população não estava nas poucas Vilas existentes, mas embrenhada no interior da floresta. As vilas e as poucas cidades continuaram com as mesmas funções para as quais haviam sido criadas: representação do poder público para arrecadação de impostos, sede de missões religiosas, base para circulação de produtos extrativos para exportação e internação de produtos alimentícios básicos que vinham de Belém e Manaus . A estreita relação com o mercado externo fez com que as Vilas, especialmente as da Amazônia ocidental, não conseguissem se dinamizar, alternando curtos períodos de pequena dinamicidade com longos de grande estagnação.

Após o boomda Borracha, mais um desses períodos de estagnação se abateu sobre a região não significando, no entanto, uma crise generalizada, especialmente para a população local em primeiro lugar porque o ciclo da borracha não contribuiu para a melhoria do nível de renda das populações locais que eram e continuaram sendo muito pobres em segundo lugar, a crise provocou o refluxo da parte dos Migrantes nordestinos para a região de origem, diminuindo a pressão sobre as fontes de alimentos. Finalmente houve um certo aumento de produtos extrativos, especialmente a castanha e a Madeira que absorveu a mão de obra liberada dos seringais. Com essa visão corrobora Josué de Castro, quando sustenta que a valorização da Borracha significou a desvalorização e a degradação do homem brasileiro.

Mas há uma dimensão espacial nesse processo, pois a resistência da população nativa (não necessariamente indígena mas, Cabocla) ou dos que já haviam se fixado e se adaptado a região e tinham por isso conhecimentos sobre o espaço, conseguindo estabelecer novas formas de sobrevivência ponto neste sentido, a borracha levou a destruição, mas também criou os mecanismos da Resistência. Isso parece tanto mais verdadeiro quando comparado ao impacto ocasionado no interior da Amazônia e nos principais centros urbanos de, Belém e Manaus.

Do ponto de vista da malha Urbana, a crise da Borracha teve reflexos significativos tanto em termos quantitativos como qualitativos não surgiram novas vilas e as existentes passaram por um processo de estagnação. No Estado do Amazonas, após a crise da Borracha, Vilas foram elevadas a condição da cidade e foram criados e suprimidos municípios. No entanto, não havia perenidade nesse exatos, pois quase sempre eram em seguida revogados. De maneira geral, a divisão administrativa do Estado em 1940era praticamente a mesma de 1892 embora do período tenha ocorrido a criação e a extinção de vários municípios.

Na década de quarenta, por força da ação governamental para a Amazônia com a criação da SPVEA e de uma certa forma como reflexo dos investimentos realizados na década de quarenta, 16 novos municípios foram criados elevando o total para 44.

Na década de 60, a expansão da Fronteira baseada a política de incentivo e insenção fiscais levada a efeito pelo Governo Federal estabeleceu modificações significativas na malha urbana da Amazônia. Esta política atrair grandes empresas nacionais e estrangeiras, incentivou projetos agropecuários, minerais, madeireiros e industriais, concomitante ao processo de produção monitorado do espaço através do controle do fluxo migratório de uma política de colonização. Os incentivos fiscais possibilitaram que empresas privada adquirissem, a partir de subsídios, extensas áreas de terra Além disso, o estado construiu a infraestrutura básica necessária para sua instalação com estradas, portos e rodovias e redes de comunicações.

A política de incentivos fiscais aplicado a Amazônia contribuiu para o surgimento de novos núcleos de povoamento que foram criados em torno dos canteiros de obra e as margens das estradas, e para revigoramento de núcleos tradicionais atingidos pela rede Viária começou a se produzir uma rede urbana que tinha como eixo de circulação Não mais do Rio, mas a estrada. “Até então, em toda a história da área, os povoados maiores pertenciam a beira ponto agora havia povoadas que, sem serem da beira do rio, constituíam uma espécie de alimento da civilização na própria Fronteira camponesa ponto parece, no entanto, que com o tempo e a construção de novas estradas, os novos povoados serão vistos como pertencendo a uma beira de um novo tipo: à beira da estrada”.

Os rios da Amazônia serviram de vias de comunicação por onde chegaram as novas formas de relações sociais na região, na mesma forma que serviram para fixação de bases para a “ocupação” e irradiação de novos modos de vida. Os rios também foram as vias que garantiram o domínio político em diferentes épocas, Como já se viu anteriormente. O modelo de crescimento adotado para a região a partir de 1964 tentam abandonar enche eixo de circulação e buscou o novo, a estrada. Foi como se a premissa do geógrafo de que “o navio desde a água, a onda cortada fecha-se e o sulco apaga-se; a terra conserva mais finalmente o vestígio dos caminhos que desde muito cedo os homens pisaram. A estrada imprimisse no solo semeia a vida: casa, povoados, Vilas, cidades”, fosse aplicável a todos os lugares indistintamente.

A estradas construídas da Amazônia bem como a política de incentivos fiscais apresentaram resultados diferenciados para a região. No Estado do Amazonas, a mudança do eixo de circulação da beira do rio para a beira da estrada bem como o surgimento de novos núcleos urbanos não se deu com a mesma intensidade da ocorrida na Amazônia ocidental.

Houve apenas um pequeno Impulso em meados da década de setenta até início dos anos 80, quando da construção da BR-319, ligando Manaus a Porto Velho, cruzando com a BR-230 que cortava a parte sul do estado de estradas deram uma certa importância a cidade de Humaitá e determinaram a transferência da sede do município do careiro de uma área da Várzea para o quilômetro 100 da BR-319.

A redivisão Municipal ocorrida em 1981 contempla a criação de novos municípios em áreas de estradas como presidente Figueiredo (BR-174), e o preto da Eva (AM-10), Iranduba (AM-80) posteriormente foi criado o município de Apuí, surgida a partir do projeto de assentamento Rio Juma, localizado na Transamazônica.

As estradas AM-10 e AM-80 são duas mais importantes do estado e liga a capital a cidade de Itacoatiara e Manacapuru localizadas a 280 e 80 km de distância, respectivamente ponto existem mais duas estradas de Pouca importância dos pontos a estrada da Várzea, ligando Manaus a partir de 10 a cidade de Silves e outra partir da br-319 ligando a Autazes. A BR-319 está interditada e aBR-174 em precárias condições de tráfego. Em decorrência, a

base da circulação no Estado do Amazonas continua sendo Rio e, de uma certa forma, permanece a estrutura de cidades criadas na época da Borracha com uma rede urbana dentre tica, tendo Manaus com o principal centro Urbano.

Segundo os dados do censo demográfico de 1991 a cidade de Manaus concentrava 47,82% da população total do estado, enquanto as três principais cidades do interior apresentava as juntas 11,30% da população da capital, o que demonstrava a pouca dinamicidade das cidades do interior do Amazonas.

Mas a questão não se resume a dinamicidade das cidades quer do ponto de vista econômico quer do ponto de vista demográfico. É preciso compreender, que o modo como o grupo se organiza para produzir e atender suas necessidades não implica per setoda a sociedade. Também, o processo de produção não se contempla nem se encerra em si mesmo Ponto considerar apenas o econômico e/ou demográfico, ou mesmo colocar a luz em primeiro plano, choca-se com numerosas objeções. Estudado a sociedade a partir do ou exclusivamente das dimensões quantitativas tomando as separadamente destrói o que é repetitiva de compreender o processo de produção da sociedade, entendendo a produção no sentido Mais amplo. É essa maneira de analisar a sociedade não capeta Ah e transformações e o vividos e não abre caminho para o entendimento da vida, pois as relações sociais de produção encerram múltiplas contradições sociais, políticas e econômicas .

As cidades amazônicas foram e são produzidas a partir de contradições e de conflitos que não estão circunscritos apenas as questões quantitativas respectivamente econômicas. Excluir o vivido pode ser uma forma Sutil de camuflar o que o precede e o sucede nesse sentido, a produção do urbano na Amazônia tem o componente importante que não pode ser desconsiderado encontro configuração nas cidades: a cultura indígena.

A base econômica foi fixada a partir da exploração de recursos naturais extraídos da floresta e dos rios, tendo mão de obra indígena um de seus sustentáculos. A questão que se coloca é, existe influência da cultura indígena nas cidades amazônicas?

A cultura indígena se enquadra enquanto manifestação da cultura popular sendo quase sempre vista como fazendo parte de “uma manifestação cultural dominada, invadida, aniquilada pela

cultura de massa e pela indústria cultural, invadida pelos valores dominantes (...) manipulada pela folclorização nacionalista, demagogicamente e exploradora, em suma como impotente Face a dominação, arrastada pela potência destrutiva da alienação”.

É necessário, entre tanto, como sugere Marilena chauí, cautela quanto a considerar a cultura popular apenas na Perspectiva da perda ponto no caso da cultura indígena este aspecto parece relevante, pois apesar de sempre ter sido colocada como perdedora e não se querer aqui estabelecer parâmetros de investimento cultural, é possível identificar em algumas cidades amazônicas, especialmente naquelas situadas as margens dos rios, são influência na alimentação: os vinhos de abacaba, açaí, patauá, o peixe moqueado,a Carimã, a Piracaia; na cestaria especialmente o paneiro; nos instrumentos de pesca, o arco e a flecha.

Mas é na habitação das pequenas cidades da Amazônia e até na nas periferias das cidades maiores que a 1 marcante traço da influência indígena até agora pouco valorizado pelos que estudam a região trata-se do terceiro ou batido que guarda semelhança com o terreiro das aldeias indígenas. Esse terreiro faz parte da frente das casas ( só identifiquei em casas de madeira) e embora pertença ao terreno não é cercado, não faz parte do quintal que só se inicia a partir da parede Externa frontal da casa . Essa parte da frente da casa entre a casa e a rua é formada por uma área de terra batida, muito limpa, quase sempre com uma árvore ao centro Para fazer sombra e um banco . Não é ajardinada e embora possa ser facilmente identificada como pertencendo a uma determinada casa, parece mais um espaço coletivo onde as pessoas se reúnem para conversar e as Crianças para brincar.

VEIAS ABERTAS

UM ATO CRIATIVO E GENEROSO

Em 1930, Jorge Amado, aos 18 anos, escreveu O país do carnaval, um romance que se inicia com expoentes da próspera burguesia brasileira em conversa frívola sobre o destino do país:

O senador, com o prestigio que lhe dava a posição, resumiu toda a conversa: – É o país de mais futuro do mundo!

– Perfeitamente! – falou um rapaz que chegara no momento. – O senhor acaba de definir o Brasil. (O senhor sorriu nervoso.) O Brasil é o país mais verde por excelência. Futuros, esperançoso ... Nunca passou disso...Vocês, brasileiros, velhos que já foram rapazes que são a esperança da Pátria sonham o futuro. “Dentro de cem anos o Brasil será o primeiro país do mundo.” Garanto que aquele detestável cronista Pero Vaz Caminha teve essa mesma frase ao achar Cabral, por um acaso, o país que viera expressamente descobrir.

Onze anos depois, em 1941, o escritor austríaco Stefan Zweig retomou o conceito de Jorge Amado e transformou seu tom irônico em profético, com um livro intitulado exata-

mente Brasil, um país do futuro. Zweig escreveu enquanto toda a Europa, queimando em uma guerra fratricida, aparecia como a antítese do Brasil, paraíso de pacífica convivência.

Entre 1964 e 1984, por vinte anos, o Brasil, oprimido por uma ditadura militar apoiada pelos Estados Unidos, ouviu repetidas vezes a frase: “O Brasil é o país do futuro”. Como disse um ator de cujo nome não me recordo, “o certo é que os militares não inventaram o mito da aproximação de um futuro brilhante, mas simplesmente readaptaram uma crença profundamente enraizada no imaginário brasileiro”. Segundo Gilberto Freire, essa máxima “é uma ideia vulgar, uma espécie de instituição popular atrelada ao imaginário social ou ao somatório de crenças e imagens que o Brasil tem de si mesmo”. Affonso Romano de Sant’Anna também já ironizou sobre o assunto com um poema intitulado “Que país é esse”, que termina com a seguinte estrofe: “Há 500 anos propalamos:/ este é o país futuro, /antes tarde do que nunca, / mais vale quem Deus ajuda, /e a Europa ainda se curva.”

Todavia, tal máxima revelou-se profética: o Brasil democrático de hoje demonstra que o seu futuro chegou, e não só pelo o fato de ter um alto percentual de população jovem, mas também porque é uma das poucas democracias do planeta cujo PIB cresce a trinta anos, cujas distâncias sociais diminuem, a qualidade de vida melhorada e a alternância no poder é assegurada por eleições democráticas regulares. É o único grande país que não trava guerras com nenhum outro nem quer dominar nenhuma nação. É a única que não trava guerras com nenhum outro na qual, por oito anos, um presidente sociológico incrementou a riqueza nacional e por outros oito anos um presidente sindicalista tratou de redistribuí-la.

Primeiro a Europa e depois os Estados Unidos acreditaram possuir o modelo vencedor e, por causa dele, defenderam ter o direito de colonizar o mundo todo, apropriando-se dos recursos alheios. Os imperadores com seus exércitos, o cristianismo com seus missionários, o Iluminismo com seus filósofos, o liberalismo com seus economistas, o consumismo com seus ideólogos e a doutrina empresarial com seus gurus teorizaram, cada qual a seu turno, sua própria superioridade e a partir disso criaram um modelo para impor ao planeta Terra. Impor com armas, com a fé, com as mercadorias, com a moeda, com as bolsas, com a mídia e com a cultura. Enquanto isso, o Brasil submeteu-se e, de certa forma, aceitou o modelo europeu por 450 anos e depois o americano por cinquenta

anos. Mas isso não o impediu de cultivar seu próprio caráter, feito –como explicaram os antropólogos locais – de miscigenação, sincretismo, alegria, sensualidade, simpatia, acolhimento, solidariedade, esperança e beleza. E, assim, quase sem dar-se conta, sem teoriza-lo, sem exibi-lo, construiu na prática um modelo de extraordinária vitalidade, pedaço a pedaço, como se fosse uma preciosa favela assinada por Oscar Niemeyer. Já em 1941, Stefan Zweig deu-se conta desse modelo e de sua possível função salvadora para o Ocidente: “Se a civilização do nosso velho mundo sucumbir numa luta suicida, sabemos que no Brasil está em formação uma nova civilização pronta a tornar real, mais uma vez, tudo aquilo que nós – das mais nobres gerações – em vão desejamos e sonhamos: uma civilização humana e pacifica.”

Essa civilização, que o Brasil criou para si mesmo a partir de sua natureza generosa e de sua história dolorosa, agora espera para ser oferecida ao resto do mundo, que dela necessita. Darcy Ribeiro (1922-1997), um dos maiores intelectuais brasileiros, considerava que tal projeto poderia ser útil somente aos países pobres: “O mundo subdesenvolvido tem os olhos postos em nós. Espera do Brasil alguma solução para nossos problemas comuns... Nós, e só nós, brasileiros, podemos definir esse projeto do Brasil que queremos ser”.

Atualmente, o chamado Terceiro Mundo é pobre de riqueza, e o Primeiro Mundo é pobre de esperança. O modelo brasileiro é rico de sugestões ambos. Seu modelo espera somente ser mais conceitualizado, ser explicitado e oferecido ao mundo pelos intelectuais brasileiros, assim como já tentaram fazer no século XX Gilberto Freyre, Darcy Ribeiro e outros grandes inventores do Brasil ou como já haviam feito, no curso dos séculos, Platão e Aristóteles para o modelo clássico, Santo Agostinho e Gregório Magno para o modelo católico, para o modelo iluminista, Thomas Jefferson e Benjamim Franklin para o modelo norte-americano.

Elaborar o modelo e oferecê-lo ao mundo não é um ato de soberba, mas de generosidade. É um ato criativo que requer mentes humanas capazes de observar do alto, qual pássaro em voo, os destinos da humanidade um ato criativo que retoma a usada modéstia de Ismael Nery, os jovens mestiço no qual se misturava a cultura índia, africana e holandesa e que amava dizer: “Não quero ser Deus por orgulho... Quero ser Deus por necessidade, por vocação.”

Na sequência, tentei sintetizar os materiais históricos e sociológicos que podem ser valorizados para desenhar o modelo brasileiro. Trata-se de um patrimônio imenso de livros, pesquisas, reportagens, monumentos, quadros, filmes, fotografias, além de lugares e objetos que cobrem o arco de muitos séculos plenos de obras e dias de descobertas e invenções pontos por questão de síntese tive de fazer escolhas que, provavelmente, descontentaram tanto os brasileiros, para os quais esse Capitulo parecerá cheio de Notícias já conhecidas como os nomes brasileiros, para os quais parecer a carência de informações essenciais.

As passagens sobre as quais me dê tive são, na minha opinião, as mais significativas para os propósitos de um modelo brasileiro ainda ser definidos e sobre o qual somente os intelectuais brasileiros teriam condições de escrever. Em particular, tentei enquadrar o Brasil no contexto da América Latina; chamar a atenção para passagens essenciais da história brasileira; descrever aquelas que Darcy Ribeiro chamaria “matrizes” indígenas, portuguesas, africanas e mundiais do povo brasileiro contém, está as especificidades sociológicas desse “povo novo”; sintetizar as ideias de cinco dentre os muitos” pensadores que inventaram o Brasil” assim definidos por Fernando Henrique Cardoso (Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Stefan Zweig, Caio Prado Jr., Darcy Ribeiro); oferecer ao leitor os dados oferecer ao leitor os dados estatísticos essenciais do Brasil de hoje; relatar 8 experiências escolhidas entre tantas contestações coletivas com que os brasileiros confrontam o poder direta ou indiretamente (carnaval, modernismo, antropofagia, tropicalismo, sincretismo religioso, Teologia da Libertação, movimento dos Trabalhadores Rurais sem-terra, manifestação de 2013); delinear os traços essenciais da “cara brasileira”.

O QUE ME REVELA A AMÉRICA LATINA

Cristóvão Colombo, Américo Vespúcio – o primeiro a localizar o estuário do rio Amazonas e alcançar o Cabo de Santos Agostinho -, Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral – que chegou a Porto Seguro ao estado da Bahia em 22 de abril de 1500 -, Fernão de Magalhães, Francisco Pizarro, Hernán Cortez e dezenas de outros grandes e pequenos conquistadores perscutaram o continente sul-americano para tomar posse de territórios, metais preciosos, plantações, corpo e bens dos indígenas, enquanto os missionários franciscanos, beneditinos, mercenários, carmelitas e jesuítas vinham tomar posse de suas almas.

Nas terras inexploradas, Colombo acreditava que encontraria homens com calda e focinho de cachorro, enquanto outros estavam convencidos de que viviam os indígenas monstruosos. Na realidade, com base em seus próprios testemunhos, encontraram povos gente assim como açúcar, noz-moscada, Pimenta, canela, alho cebola, batata, tomate, café e especiarias; encontraram prata e ouro, algodão e cacau para levar de volta à Pátria e escravos para entregar em plantações, minas e manufaturas.

Vinho a América Latina, sobretudo ao Brasil, várias vezes por ano, a quase 30 anos. Desenvolve um sentimento por essa terra que não conseguia esclarecer nem mesmo para mim, até que li a poderosa Memória do fogo (1982 – 1986) do uruguaio Eduardo Galeano: uma daquelas grandes obras de sociologia e literatura “que despertar uma consciência, reúnem pessoas interpretam e, despertar uma consciência, reúnem pessoas interpretam, explicam, denunciam, documentam e provocam mudanças”, como disse Isabel Allende no prefácio de outra obra-prima de Galeano, As veias abertas da América Latina (1970-1994).

Em Memória de fogo, Galeano afirma: “imaginei que América Latina fosse uma mulher e que me confessasse ao ouvido e seus segredos, os atos de amor e as violências sofridas que a forjaram.” Assim, entende como aproximar-me Desta Terra deliciosa, sem interrogá-la, compreendendo e ela mesmo decidiria se e quando confiaria alguns pensamentos eu a mim. Sendo europeu, não posso Pretender obter confidências afetuosas e explícitas como aquelas reservadas a Galeano, seu filho legítimo, uma vez que parte distante do meu bem-estar provavelmente deriva das muitas violências que meus antepassados europeus lhe infligiram. Posso somente imaginar o que isso soaria essa mulher latina com sua graça decorosa.

Talvez me lembrasse que as obras-primas dos Ourives florentinos, e quem sabe até o célebre saleiro de Benvenuto Cellini, foram cunhadas com o ouro das obras-primas de ourives Mexicanos e peruanos, que as tripulações de Cortez e Pizzarro barbaramente reduziam a língua antes para contrabandear.

Talvez me lembrasse que em três séculos das minas de Cerro Rico em Potosí engoliram oito milhões de indígenas obrigados a trabalhar como mineradores; que dentre aqueles oito milhões havia centenas de arquitetos escritores Engenheiros astrônomos e matemáticos degradados a nível de gado humano.

Poderia lembrar que os livros foram reduzidos da escravidão e sacrificados para abarrotar com toneladas de prata os bancos italianos e a pirataria inglesa, motivo pelo qual a renda per capita da Itália e da Inglaterra é hoje 36 vezes maior do que a da Bolívia.

Poderia lembrar que muitas mulheres bolivianas preferiam matar os próprios filhos a permitir que fosse escravizados nas minas.

Poderia me contar que o Pizzarro bastaram 180 soldados e 37 cavalos para conquistar Cajamarca, e a Cortéz, 508 soldados, 16 cavalos de 10 caminhões para tomar posse de Vera Cruz.

Poderia me dizer que a varíola, o tifo, a sífilis, a cárie e o tracoma trazidos pelos europeus geraram contaminação, exterminando mais da metade da população indígena, desprovida de defesas imunitárias.

Poderia me contar aqui entre 1503 e 1660, só os navios espanhóis que atracaram em Sevilha, provenientes da América Latina, descarregaram 185 toneladas de ouro e 16 mil toneladas de prata.

Poderia lembrar que em um século e meio, os 80 milhões de Astecas e Incas e Maias foram reduzidos a 3,5 milhões, enquanto as outras regiões 2 milhões de índios foram reduzidos à 4 mil famílias. Quem sabe me contar se, com antigo ou, a sorte reservada a qualquer um que se revelasse: os sacerdotes mexicanos Miguel Hidalgo e José Maria Morelos foram fuzilados por incitar os pobres à revolta; o cacique Túpac Amaru, descendente direto dos imperadores incas, incentivou uma grande rebelião, decretou a libertação dos escravos e, feito Prisioneiro, foi entregue aos magistrados do Rei, que o torturaram na praça de Cuzco com a mulher e os filhos, cortaram-lhe a língua , prenderam pernas e braços a quatro cavalos - que não conseguiram esquartejá-lo - decapitaram no e mandaram a cabeça para Tinta, um braço para Tungasuca, ou outro para Carabaya, uma perna para Santa Rosa, a outra para Livitaca. E a descendência foi exterminada até a quarta geração.

Poderia lembrar que inclusive intelectuais refinados e esclarecidos do calibre de Voltaire e Bacon, De Maistre e Montesquieu, Hume e Hegel consideravam os índios “homens degradados”.

Por fim, me sussurraria que McNamara, Secretário de Defesa dos Estados Unidos, referindo-se aos sul-americanos, dizia que os cérebros dos Pobres pensavam cerca de 25% menos do que o cérebro dos ricos.

CAPÍTULO 14

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: O USO MÚLTIPLO DE MATERIAL

SUSTENTÁVEL

E ALTERNATIVO DA FLORESTA AMAZÔNICA

Em cada recanto do vasto território brasileiro, é possível testemunhar a efervescência das brincadeiras infantis. Contudo, é na região amazônica, em comunidades isoladas, principalmente no Estado do Amazonas, que esta análise se aprofundará. Nessas localidades, culturas lúdicas florescem, muitas vezes desconhecidas das sociedades contemporâneas, oferecendo lições valiosas sobre a riqueza das experiências infantis. Ao observar de perto as crianças dessas comunidades, não apenas se descortinam culturas singulares, mas também um universo intrinsecamente conectado a mitos e costumes ancestrais, profundamente entrelaçado com a natureza.

Nesse labirinto paisagístico, permeado por florestas exuberantes, matas densas e morros imponentes, as crianças das diversas comunidades amazônicas emergem como verdadeiras detentoras de saberes que escapam à compreensão comum. Elas não apenas dominam a terra sob seus pés, mas também as árvores que escalam com seus pés ágeis e descalços, os cursos dos rios, paranás e igarapés onde as brincadeiras se transformam em festas, e os

animais que surgem e desaparecem, tornando-se seus parceiros de brincadeira.

Essas crianças estão profundamente conectadas à natureza, e seus brinquedos são literalmente “nascidos” das árvores, da terra, dos rios, dos mitos e costumes que povoam suas imaginações, sistemas orgânicos e os ensinamentos transmitidos por gerações de pais e avós. Barquinhos, casinhas, peões, petecas e uma infinidade de faz de conta não apenas reproduzem seus modos de vida, mas também o vasto universo em expansão que constitui quem elas são.

Esta interação única resulta em códigos cognitivos distintos, tanto no que diz respeito à conexão com a natureza quanto à habilidade da criança em transformar materiais complexos da floresta amazônica em brinquedos imaginativos. A mata oferece materiais sazonais, como sementes, madeira, galhos, troncos, pedras, latinhas, chinelos de borracha, miriti e cortiça, dos quais as crianças, com grande habilidade e imaginação, constroem seus brinquedos e inventam brincadeiras. Essas atividades têm suas raízes em regras e valores intrínsecos à relação entre o homem e a natureza, transformando o cotidiano em uma experiência lúdica.

No contexto atual da educação brasileira, a disciplina de Educação Física assume a responsabilidade de incorporar todas as características e experiências únicas dessas crianças no ambiente escolar, enriquecendo-as e estimulando o desenvolvimento de habilidades que não seriam adquiridas fora da escola.

Dentro desse contexto, a Educação Física escolar deve oferecer oportunidades para a participação em atividades corporais, incentivando relações equilibradas e construtivas entre os alunos, sem qualquer forma de discriminação. Além disso, é essencial valorizar atitudes de respeito mútuo, dignidade, companheirismo e solidariedade em situações lúdicas, transmitindo informações sobre hábitos saudáveis de vida e despertando o gosto pela atividade física de forma produtiva e prazerosa.

Esta obra visa apresentar, de forma sintética, a área da Educação Física no Brasil, destacando seus desafios e oportunidades, ao mesmo tempo que explora a possibilidade de integração com o contexto amazônico. Em seguida, abordaremos as atividades lúdicas, suas concepções e perspectivas em relação aos jogos, brinca-

deiras e cultura popular, culminando na discussão sobre a confecção de brinquedos pedagógicos utilizando materiais sustentáveis e alternativos provenientes da floresta amazônica.

Assim, espera-se que este trabalho contribua não apenas para o enriquecimento econômico sustentável, mas também para moldar uma perspectiva diferenciada entre professores e estudantes diante do vasto leque de materiais alternativos e tradicionais que a floresta oferece. Ao longo das próximas páginas, aprofundaremos nosso entendimento sobre essa rica interação entre crianças, natureza e educação, explorando a possibilidade de implementar práticas pedagógicas inovadoras que valorizem a singularidade cultural e ambiental da região amazônica.

CAPÍTULO 15 TROCA DESIGUAL

CAFÉ COM AMOR

A partir do século XVI, as riquezas que Espanha e Portugal rabina vão da América Latina não eram suficientes nem para pagar os débitos despropositados que esses dois países perdulários contra com banqueiros de Florença e Roma, que lucravam financiando as Guerras entre papas e príncipes e mantinham em paz a própria consciência comprando indulgências e praticando o mecenato. Mais tarde, sempre passando por Lisboa e Madri, as riquezas latino-americana e financiaram o capitalismo industrial de Inglaterra e Holanda e Alemanha, enquanto a América do Sul se afogava na fome voraz do mundo colonial.

Galeano dizia que existem “países especializados em ganhar e países especializados em perder: eis o significado da divisão internacional do trabalho”. A economia da América Latina é há quinhentos anos um manual de globalização da exploração, com roteiro que se repetiu ponto por ponto na produção de ouro e diamantes no Brasil prata na Bolívia, petróleo na Venezuela e madeira, açúcar, algodão,

café, borracha, cacau, ferro e petróleo em toda a parte da América do Sul. Conforme uma dessas culturas revelava-se rentável, uma área do continente sul-americano era devastada, queimada, esburacada povoada por escravos e espremida até que na própria a América do Sul, na Antilhas ou na África se encontrasse outra área ainda mais fértil e ainda mais fácil de explorar.

Possuir uma planta valiosa, porque frutos procuradas pelo mercado internacional, significava possuir um tesouro que precisava ser protegido da expectativa de apropriação de potências concorrentes, como hoje fazemos com uma nova invenção científica. Mas não havia patentes protetores para sementes e plantas, somente rígida e proibições atento os controles alfandegários e penas severíssimas para quem tentasse furtar ainda aqui poucos exemplares. Até o início do século XVIII, por exemplo, o Brasil Nunca havia conseguido mudas de café, o qual era cultivado na Martinica, na Jamaica e na Guiana Francesa conta-se que em 1727, um certo Francisco de Melo Palheta, militar brasileiro em missão na Guiana, cortejou com sucesso a mulher do governador local, convencendo-a a doar-lhe algumas plantinhas de café como prova de amor. Como se sabe, o amor é cego e imprudente. A dama honrou a prova escondendo habilmente uma dúzia das preciosas plantinhas em um maço de flores, sem suspeitar que por causa daquele ato de amor, o Brasil se tornaria o maior produtor de café e colocaria Guiana para escanteio.

BORRACHA E ASTÚCIA

Há séculos que se repetem guerras entre os países pobres, quase sempre orquestradas com perspicácia pelos países ricos. Lá pelo fim do século XVIII, por exemplo, descobriu-se que a goma de borracha brasileira, é obtida através de uma incisão no tronco da Havea brasilienses, produtora de látex e então presente no Brasil com 300 milhões de árvores, poderia ser usada para apagar. E esse já era um bom motivo para valorizar sua produção. Mas em 1839, o norte americano Charles Goodyear inventou um método de vulcanização com qual, acrescentando-se enxofre ao látex e escaldando tudo, obtinha-se um material resistente e elástico, extremamente útil para fabricação de tubos, sapatos e utensílios domésticos. Depois, com o advento da bicicleta e do automóvel,

a borracha tornou-se a matéria-prima dos pneus, disputando em importância comercial com o carvão o petróleo, a madeira e o ferro. O percentual das exportações brasileiras devidas a borracha saltou de 10% para 40%, e o Brasil tornou-se praticamente monopolista de borracha, ainda que este monopólio não se traduzisse em bem-estar para os seringueiros condenados a colheita do látex. No “boom” da borracha na Amazônia pelo menos meio milhão de indígenas e escravos morreram de epidemias, tuberculose e malária: “esse sinistro ossário”, escreve Aurélio Pinheiro em A margem do Amazonas (1937), “foi o preço pago à indústria da borracha”.

Prevenido pelo caso do café, o Brasil tomou uma série de cautelas para evitar que a planta da Borracha fosse furtada, e transformou as plantações amazônicas em fortaleza inexpugnável, assim como ocorrerá na época das minas de ouro de Ouro Preto. Mas em 1863, Henry Wickham, um inglês colecionador de orquídeas e donos de seringais no Brasil conseguiu contornar as proibições alfandegárias transportando furtivamente 70 mil mudas de havea, O que seria um aclimatadas em que Kew Garden e depois transferidas para plantações racionalmente organizada em Ceilão, Cingapura, Sumatra e Java. Em 1914, Malásia e Sri Lanka supera em o Brasil nesse setor. Logo depois, com a Segunda Guerra Mundial, “a batalha da borracha” sacrificou as epidemias e a fome ao menos outros 50 mil trabalhadores só na Amazônia. Por fim, em 1970, o Brasil comprou no exterior a metade da Borracha sintética é qual necessitavam suas indústrias.

PROIBIDO PRODUZIR NA COLÔNIA

Por 450 anos, a cultura da burguesia brasileira foi um remake complementar e as avessas da cultura da burguesia europeia: enquanto os empreendedores do venda continente possuíam toda a astúcia do Mercantil para explorar Uma colônia Tão rica em Recursos, os empreendedores radicados no Brasil tinham somente interesse imediato em dilapidar, depois de tudo conseguir a golpes de chicote nas costas dos escravos. Bastam dois exemplos do que Samir Amin chamaria “troca desigual”, pela qual as matérias-primas produzidas em zonas restritas a monocultura, vendidas abaixo do curso para os industriais da Europa e dos Estados unidos, retornaram sobre a forma de caros

produtos manufaturados. Um primeiro exemplo é o cacau que, por um baixo preço, partia para Londres, Paris e Viana saído das terras úmidas de Carúpano, na Venezuela, ou do Recôncavo, no sul da Bahia, e retornavam sobre a forma de chocolatinhos tão refinados quanto caros. Enquanto isso, exército e de peones e de escravos dançavam sua existência nas plantações insalubres, remunerados com um punhado de carne-seca, farinha ou feijão, dizimados por fome, cansaço, escorbuto, tifo e tuberculose.

Um segundo exemplo refere-se ao algodão. Em 1703, foi assinado o Tratado de Methuen entre Portugal e Inglaterra, pelo qual a Inglaterra favorecia o comércio de vinhos Portugueses e, em troca, Portugal abria seus mercado e de suas colônias para as manufaturas têxteis britânicas. Alguns anos depois, em 1785, A coroa portuguesa, com base em um acordo com a Coroa inglesa, ordenou que o Brasil destruísse todos os seus teares e suas fiações. Assim, a Indústria Têxtil da Grã Betânia, que já empregava mais de um milhão de Operários, ficou sem correntes. E o algodão cultivado com sobrecarga desumana nos campos do nordeste brasileiro, embarcado em São Luís do Maranhão, Chegava à Manchester ou New Lanark, onde era fiado e tecido com grande proveito pelos industriais escoceses, que vendia seus tecidos também na América do Sul. Com uma globalização já plenamente realizada, a nascente burguesia inglesa oprimia o proletariado local, e ambos, ainda que em medida diferente, o priminho o proletariado brasileiro, com a cumplicidade predatória e obtuso da burocracia Portuguesa e dos brasileiros proprietários de terras.

O Brasil, que produzir açúcar e algodão, poderia ter ganhado dois vezes mais se tivesse refinado primeiro fiado e tecido o segundo. Mas agora já não possuía teares e, em 1715, também foi proibido de refinar o açúcar. Assim, perdia duplamente: quando vendia as matérias-primas para a Inglaterra abaixo do custo, e quando comprava os produtos manufaturados na Inglaterra a altos preços. Na metade do século XVIII, havia 120 refinarias de açúcar na Inglaterra, e três quartos do algodão fiado pelas suas indústrias têxteis eram provenientes das colônias.

CAPÍTULO 16 O

CURSO

DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA, DE OFERTA ESPECIAL, NA

MODALIDADE DE ENSINO PRESENCIAL

MEDIADO POR TECNOLOGIA, DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS: UMA ANÁLISE DOCUMENTAL.

RESUMO

Vinícius Azevedo Machado

Jefferson Jurema Silva

1 Doutor em Medicina Social pelo Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Professor Adjunto do Curso de Enfermagem da Universidade do Estado do Amazonas.

2 Doutor em Educação Física pela Faculdade de Ciência e Desporto da Universidade do Porto; Professor Adjunto do Curso de Enfermagem da Universidade do Estado do Amazonas.

Este artigo intentou descrever, densamente, a proposta pedagógica do Curso de Licenciatura em Educação Física, de oferta especial, da Universidade do Estado do Amazonas. Por meio de análise de documentos oficiais de domínio público, como resoluções, pareceres, portarias e editais, foram identificados os marcos legais e conteúdos relacionados à modalidade de Ensino Presencial Mediado por Tecnologia, à composição do corpo discente e docente, e o projeto de integralização curricular do curso. Verificou-se que a universidade intentou promover o acesso à formação inicial de professores de Educação Física para a Educação Básica a estudantes de 11 municípios do interior do Estado do Amazonas, e que a modalidade de oferta especial por meio de Ensino Presencial Mediado por Tecnologia é uma estratégia institucional para alcançar todo o território amazonense. Os estudantes egressos das escolas públicas do estado compõem o principal perfil de acesso ao curso e a seleção de professores para atuar no curso

buscou aqueles com maior qualificação acadêmica, tempo de experiência no Magistério Superior e domínio das competências e procedimentos didático-pedagógicos. A integralização curricular se efetivou com 3.245 horas, equivalentes a 157 créditos, visando a qualificação para a docência na Educação Básica em diferentes realidades do contexto educacional e o exercício da cidadania.

Palavras-chave: Licenciatura em Educação Física; Formação Inicial de Professores; Educação Básica.

INTRODUÇÃO

O objetivo deste artigo é descrever a proposta pedagógica do Curso de Licenciatura em Educação Física, de oferta especial, da Universidade do Estado do Amazonas. Para tanto, foi realizada uma análise documental a fim de identificar os marcos legais e conteúdos relacionados a 4 aspectos da proposta: a modalidade de Ensino Presencial Mediado por Tecnologia, a composição do corpo discente, do corpo docente, e o projeto de integralização curricular do curso. A descrição considerou a Resolução CNE/CES Nº 004/2009, a Resolução CNE/CP Nº 002/2015, a Resolução CNE/CES Nº 006/2018, a Resolução CNE/CP Nº 002/2019, o Parecer CNE/CP Nº 002/2015 e o Parecer CNE/CES Nº 584/2018, que versam sobre as diretrizes curriculares nacionais para a formação de inicial de professores de Educação Física para atuar na Educação Básica; a Resolução Nº 002/2013 – CONSUNIV/UEA, a Resolução Nº 005/2019 – CONSUNIV/UEA e a Resolução Nº 061/2023 – CONSUNIV/UEA, que definem a estrutura pedagógica do curso; a Resolução Nº 034/2018 – CONSUNIV/UEA, o Edital Nº 049/2018 – GR/UEA e o Edital Nº 050/2018 – GR/UEA, que determinam as condições de acesso dos candidatos ao curso; a Portaria Nº 168/2020 – GR/UEA, a Portaria Nº 380/2020 – GR/UEA, a Portaria Nº 407/2020 – GR/UEA e o Edital Nº 029/2020 – GR/UEA, incluindo os documentos a ele vinculados Convocação dos Aprovados e Ata de Escolha de Municípios pelos Candidatos Aprovados, que tratam da seleção dos professores assistentes do curso. Todos os documentos citados são de domínio público e estão disponíveis nos sites do MEC e da Universidade do Estado do Amazonas.

Nesta empreita, não procedemos com análises críticas da proposta pedagógica do curso – este será um trabalho posterior –, o

foco foi descrever densamente os seus elementos estruturantes. E, tendo em vista que o curso supracitado integra um conjunto de ações institucionais por meio das quais a universidade tem se feito presente no interior do Estado do Amazonas, a relevância científica deste artigo diz respeito a oferecer a pesquisadores uma fonte de dados secundários, de descrição densa, para a produção da história do Curso de Licenciatura em Educação Física, de oferta especial, da Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Estado do Amazonas. A história deste curso se alinhava a história que inúmeros outros que a universidade tem oportunizado, na modalidade oferta especial por meio do Ensino Presencial Mediado por Tecnologia, a estudantes do interior.

O ENSINO PRESENCIAL MEDIADO POR TECNOLOGIA

De acordo com Pessoa et al. (2023), o Ensino Presencial Mediado por Tecnologia (EPMT) é uma ferramenta engendrada na 5ª geração de tecnologias aplicadas à Educação à Distância; isto é: a geração da Internet WEB, caracterizada pela inteligência da aprendizagem flexível, cujo intento é garantir, à distância, o acesso à Educação.

Operacionalmente, no Estado do Amazonas – tanto na Educação Básica quanto no Ensino Superior – as aulas são ministradas e transmitidas via satélite, em tempo real, de estúdios de Internet Protocol Television (IPTV), situados na capital, para salas de aula nos municípios do interior, adequadamente preparadas para o manejo de recursos tecnológicos diversos no processo de ensino-aprendizagem. Como observou Santos (2018), os recursos pedagógicos desta modalidade de ensino estão divididos em quatro seguimentos básicos: equipamentos tecnológicos, equipe técnica, corpo docente e corpo discente.

No que diz respeito aos aspectos metodológicos, o ensino é presencial, síncrono, porque, simultaneamente à ministração das aulas pelos professores titulares nos estúdios, os estudantes estão acompanhando nas salas de aula. E, o manejo dos recursos tecnológicos permite a interação entre estes professores e os estudantes. Além disso, os estudantes em sala de aula contam com a presença física de um professor assistente, responsável por fazer a me-

diação do processo de ensino-aprendizagem em curso. Além dos recursos tecnológicos necessários para dar suporte à transmissão das aulas e à interação entre os participantes, aos estudantes são disponibilizados materiais didáticos como vídeos com a gravação das aulas ministradas, apostilas com os conteúdos curriculares, as cartelas com as apresentações realizadas pelos professores titulares, roteiros de estudos, exercícios de fixação de aprendizagem, dentre outros (PESSOA et al., 2023).

Sobre a estrutura dos cursos de graduação na modalidade EPMT na UEA, Santos (2018) registrou que o acesso se faz mediante concurso vestibular, estando seus conteúdos relacionados com as três séries do Ensino Médio, conforme os eixos norteadores dos Parâmetros Curriculares Nacionais, estabelecidos na Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional, bem como aqueles definidos no Referencial Curricular Amazonense para o Ensino Médio. Os estudantes matriculados em cursos desta modalidade devem cumprir os mesmos requisitos de frequência determinados para os cursos de oferta regular, na modalidade presencial. Mas, quanto ao processo de avaliação, há diferenças em razão de a modalidade EPMT ser destinada, exclusivamente, a cursos de oferta especial. Este tipo de oferta – distintamente dos cursos regulares, cuja entrada dos estudantes é anual – é designada, prioritariamente, a municípios do interior do Amazonas com menor infraestrutura institucional e/ou demandas pontuais de formação profissional em áreas específicas. Assim, a oferta especial de um curso de graduação é concedida um grupo determinado de municípios e, simultaneamente, em cada um deles é aberta uma turma, geralmente. Podendo, ao findar da formação destas turmas o curso não mais se repetir nos mesmos municípios. Isso implica, por exemplo, em dificuldades para oferecer aos estudantes a oportunidade de repetir uma disciplina em caso de reprovação. Portanto, os estudantes que não atingirem a média na soma das avaliações ordinárias, têm a oportunidade de realizar uma recuperação por meio de um instrumento denominado Plano de Estudo, a fim de garantir o maior aproveitamento dos recursos aplicados em sua educação. Nesta modalidade de ensino, é fundamental o zelo pelo engajamento dos estudantes e a prevenção do abandono do curso (SANTOS, 2018).

Na UEA, a Resolução Nº 002/2013 – CONSUNIV/UEA, de 17 de janeiro de 2013, publicada no Diário Oficial Eletrônico do Estado do Amazonas (DOE) na mesma data, que dispõe sobre as diretrizes para a estruturação e organização curricular dos cursos de graduação, instituiu as bases para a criação de cursos de licenciatura na modalidade EPMT. Na seção que versa sobre os cursos de graduação, o Art. 3º, Inciso I, determina que os cursos de graduação podem ser oferecidos na modalidade de “Licenciatura, destinado à formação de profissionais, em Nível Superior, para o exercício do magistério na Educação Básica”, e, conforme o Art. 4º, “os cursos de graduação poderão ser ofertados regularmente ou em caráter especial e, quanto à modalidade de ensino, de forma presencial, presencial mediado por tecnologia, à distância ou mista” (UEA. Resolução Nº 002/2013 – CONSUNIV/UEA).

Não obstante, por meio da Resolução Nº 005/2019 – CONSUNIV/UEA, de 08 de janeiro de 2019, publicada no DOE em 17 de janeiro de 2019, foi aprovada a oferta especial do Curso de Licenciatura em Educação Física, na modalidade EPMT, para os municípios de Barcelos, Boa Vista do Ramos, Eirunepé, Ipixuna, Iranduba, Jutaí, Manicoré, Nova Olinda do Norte, São Sebastião do Uatumã, Santo Antônio do Içá e Tapauá.

De acordo com o Art. 2º da resolução supracitada, o curso foi vinculado à Escola Superior de Ciências da Saúde da Universidade do Estado do Amazonas (ESA/UEA), com previsão de início para o 2º semestre letivo do ano de 2019, funcionamento em turno matutino, carga horária mínima de 3.200 horas e tempo de integralização de 8 semestres letivos – atendendo à Resolução CNE/ CES Nº 004/2009, de 04 de abril de 2009, que dispõe sobre carga horária mínima e os procedimentos relativos à integralização e duração dos cursos de graduação em Biomedicina, Ciências Biológicas, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição e Terapia Ocupacional, bacharelados, na modalidade presencial, e à Resolução CNE/CP Nº 002/2015, de 01 de julho de 2015 e ao Parecer CNE/CP Nº 002/2015, de 09 de junho de 2015, que definem as Diretrizes Curriculares Nacionais para Formação de Professor da Educação Básica.

Já o número de vagas, ofertadas por município, para o ingresso no curso, por meio do Concurso Vestibular e do Sistema de Ingres-

so Seriado (SIS), realizados em 2018, acesso 2019, foi apresentado na Resolução Nº 034/2018 – CONSUNIV/UEA, de 04 de julho de 2018, publicada no DOE na mesma data, no Edital Nº 049/2018 –GR/UEA, de 04 de julho de 2018, e no Edital Nº 050/2018 – GR/ UEA, de 04 de julho de 2018.

A Resolução Nº 034/2018 – CONSUNIV/UEA determinou a oferta de cursos de graduação, com as respectivas vagas, turnos e municípios para o ingresso nos cursos de graduação, em 2019. Foram ofertadas 5.337 vagas, sendo 2.222 para Manaus e 3.115 para o interior. Dentre elas, 340 foram destinadas para pessoas com deficiências (PcD) e 264 para indígenas. O Curso de Licenciatura em Educação Física, de oferta especial, contou com 440 vagas, sendo 264 disponibilizadas pelo Concurso Vestibular e 176 disponibilizadas pelo SIS. Dessas vagas, 22 foram destinadas a indígenas e 33 a PcD.

Quanto à importância e ao alcance deste curso, vale lembrar que a UEA se destaca entre as universidades mais capilarizadas na América Latina, sendo, no Brasil, a maior universidade multicampi. No Amazonas, ela está presente nos 62 municípios que compõem o Estado, com sede na cidade de Manaus, promovendo ensino, pesquisa e extensão universitária. E, isto corresponde ao intento de fundar, por meio da Educação, “novas bases para transformar [o] desenvolvimento econômico em progresso social para a sua população”, como afirmou Santos (2018, s/p, Seção Introdução).

Para o autor, o “Ensino Presencial Mediado por Tecnologia, (...) tem sido a grande ‘sacada’ adotada pela UEA a fim de atingir ou se fazer presente em todos os municípios do Estado do Amazonas com essa dimensão continental” (SANTOS, 2018, s/p, Seção Referencial Teórico). O autor complementa que é missão institucional da UEA a transformação da sociedade amazonense promovendo educação, conhecimento científico para a Amazônia brasileira e continental, valores éticos voltados para a integração do homem à sociedade e para o aperfeiçoamento dos recursos humanos na região.

A COMPOSIÇÃO DO CORPO DISCENTE

A formação inicial de professores de Educação Física para a Educação Básica tem sido objeto de preocupação não apenas dos pesquisadores da área, mas, também daqueles que, de uma manei-

ra geral, ocupam-se de compreender as transformações mais amplas no âmbito da Educação brasileira. O crescente interesse na Educação Física Escolar, possivelmente, deve-se ao refinamento da compreensão do papel social do professor na formação integral dos estudantes. Não obstante, a atualização da noção de cultura corporal do movimento lançou luz sobre o debate da qualidade de vida, do aprimoramento do desenvolvimento humano quanto aos aspectos da coordenação motora geral, equilíbrio, percepção de tempo e espaço, consciência corporal, além do reconhecimento das identidades étnicas e dos vínculos territoriais (ALTMAN et al., 2017; MOTOSO, SOUZA, 2018).

A esse respeito, destacam-se temáticas como os aspectos políticos das diretrizes curriculares, as perspectivas didáticas da formação, as especificidades dos contextos de atuação profissional, a atuação profissional quanto aos posicionamentos críticos-reflexivos em relação aos valores hegemônicos da cultura corporal do movimento, o abandono docente e o desinvestimento pedagógico no trabalho docente, dentre outras (BOHRER, SCHWENGBER, 2023).

Decerto, o maior ou menor sucesso na formação inicial dos professores de Educação Física para a Educação Básica mantém relação estreita com a compreensão, em termos de proposta pedagógica, dos vínculos entre o perfil de entrada do estudante e o processo educativo que concebe o profissional egresso. Nesse sentido, os editais da UEA para o Concurso Vestibular e o SIS, 2018, acesso 2019, dão pistas sobre as estratégias institucionais para a elaboração de um perfil para o ingresso de estudantes para o Curso de Licenciatura em Educação Física, de oferta especial. O Edital Nº 049/2018 – GR/UEA fixou as diretrizes correspondentes ao Concurso Vestibular de 2018, acesso 2019. As 264 vagas disponibilizadas para o curso supracitado foram distribuídas em 5 grupos: Grupo 1: candidatos que concluíram integralmente o Ensino Médio, em modalidade regular, em escolas públicas do Estado do Amazonas; Grupo 2: candidatos que concluíram o Ensino Médio em escolas de qualquer natureza, em qualquer modalidade de ensino, e, pelo menos, 3 séries da Educação Básica no Estado do Amazonas; Grupo 3: candidatos que concluíram o Ensino Médio em escolas de qualquer natureza, em qualquer modalidade de ensino, de qualquer Estado da Federação ou Distrito Federal; Grupo

8: candidatos pertencentes a uma das etnias indígenas do Estado do Amazonas, com Certidão do Registro Administrativo expedida pela FUNAI, que concluíram o Ensino Médio no Estado do Amazonas; Grupo 9: candidatos com deficiência(s), que comprovem, por meio de laudo pericial, aptidão para cursar a graduação escolhida. O ato da matrícula é vedado a candidatos dos grupos 1, 2, 8 e 9 que possuam Ensino Superior completo e a candidatos de todos os grupos que possuam matrícula institucional em curso de graduação em instituição pública de Ensino Superior (UEA. Edital Nº 049/2018 – GR/UEA).

QUADRO 1. DISTRIBUIÇÃO DE VAGAS DO CURSO

DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA, DE OFERTA ESPECIAL ESA/ UEA, VESTIBULAR 2018, ACESSO 2019.

Número de vagas distribuídas por grupos de acesso

MUNICÍPIOS

Fonte: anexo da Resolução Nº 034/2018 – CONSUNIV/UEA; Edital Nº 049/2018 – GR/UEA

O Edital Nº 050/2018 – GR/UEA fixou as diretrizes correspondentes ao SIS, triênio 2019/2021. As 176 vagas disponibilizadas para o Curso de Licenciatura em Educação Física, de oferta especial, foram distribuídas em 4 grupos: Grupo A: candidatos que concluíram o Ensino Médio, integralmente, em escolas públicas do Estado do Amazonas; Grupo B: candidatos que concluíram o Ensino Médio, integralmente, em escolas de qualquer nature-

za do Estado do Amazonas; Grupo F: candidatos pertencentes a uma das etnias indígenas do Estado do Amazonas, com Certidão do Registro Administrativo expedida pela FUNAI, que concluíram o Ensino Médio no Estado do Amazonas; Grupo G: candidatos com deficiência(s), que comprovem, por meio de laudo pericial, aptidão para cursar a graduação escolhida, e que concluíram o Ensino Médio no Estado do Amazonas. O ato da matrícula é vedado a candidatos, de qualquer um dos grupos, que possuam Ensino Superior completo e/ou matrícula institucional em curso de graduação em instituição pública de Ensino Superior (UEA. Edital Nº 050/2018 – GR/UEA).

QUADRO 2. DISTRIBUIÇÃO DE VAGAS DO CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA, DE OFERTA ESPECIAL ESA/ UEA, SIS/UEA, TRIÊNIO 2019/2021.

de vagas distribuídas por grupos de acesso

MUNICÍPIOS

Fonte: UEA. Resolução Nº 034/2018 – CONSUNIV/UEA, Anexo; UEA. Edital Nº 050/2018 – GR/UEA

Considerando o perfil dos candidatos por grupos de acesso, bem como o número de vagas destinadas a cada um desses grupos, é possível inferir, adotando como estratégia de análise o paradigma indiciário, de Carlo Ginzburg (1992), que houve, por parte da UEA, uma maior aposta no ingresso de estudantes egressos das escolas públicas da Rede Estadual de Educação. E isso, certamen-

te, tem impacto na proposta pedagógica do curso, uma vez que ela se inclina à valorização da Educação Pública. Outro sinal importante a esse respeito aponta para o efeito da interiorização da UEA no Amazonas com a oferta especial de um curso de graduação nesta área específica.

O esforço da instituição em priorizar um perfil para o acesso – no caso, o estudante egresso das escolas públicas amazonenses – indica a constituição de uma identidade desejada pela proposta pedagógica do curso. Claro que a identidade é contingente, sujeita às causalidades. No entanto, também diz respeito a um pertencimento comum que, por sua vez, é próprio de uma linguagem e de uma visão de mundo compartilhadas. Do ponto de vista dos estudos sociológicos, a dimensão coletiva da identidade corresponde à maneira como alguém ou algum grupo se reconhecem, expressando concepções, representações e papéis sociais desempenhados no âmbito familiar, profissional, escolar, dentre outros (SOUZA JÚNIOR et al., 2023).

A COMPOSIÇÃO DO CORPO DOCENTE

A composição do corpo docente do Curso de Licenciatura em Educação Física, de oferta especial, se dá em três segmentos: 1) a Coordenação de Curso, composta por um professor responsável pela Coordenação-Geral, um professor responsável pela Coordenação Pedagógica e um professor responsável pelas atividades relacionadas à Secretaria Acadêmica; geralmente, professores efetivos da instituição; 2) os Professores Titulares, contratados pela instituição para produzir o material didático-pedagógico e ministrar as disciplinas nos estúdios de IPTV; e 3) os Professores Assistentes, contratados pela instituição para acompanhar os estudantes e mediar o processo de ensino-aprendizagem das turmas nos municípios. O propósito da contratação destes professores é a condução do processo formativo completo, desde o ingresso dos estudantes nas turmas até a conclusão do curso.

A composição corpo de professores assistentes foi realizada por meio de processo simplificado para contratação temporária, conforme o Edital Nº 029/2020 – GR/UEA, de 06 de março de 2020, destinado a selecionar 11 docentes na categoria de Pro-

fessor Temporário, além de cadastro reserva, em acordo com a Constituição Federal, Art. 37, Inciso IX, a Constituição do Estado do Amazonas, Lei Nº 2.607, de 28 de junho de 2000, alterada pela Lei Nº 2.616, de 26 de setembro de 2000, e a autorização governamental constante no Processo Administrativo Nº 2019/00010581/UEA. Este edital compreenderia o período de 09/03/2020, com a abertura para as inscrições dos candidatos, até 08/04/2020, com a divulgação da lista de candidatos aprovados no resultado final. Porém, devido a entreves institucionais, a homologação das inscrições e a realização das provas foram postergadas para o período entre os dias 16/09 e 16/10/2020 (UEA. Edital Nº 029/2020 – GR/UEA, Homologação das Inscrições e Resultado da Análise Documental e Curricular; UEA. Portaria Nº 407/2020 – GR/UEA).

O processo seletivo contou com duas etapas, a análise documental e curricular e a prova didática, acompanhadas e realizadas pela Comissão Realizadora, constituída pela Portaria Nº 168/2020 – GR/UEA, de 06 de março de 2020, e pela Banca Examinadora, constituída pela Portaria Nº 380/2020 – GR/UEA, de 25 de setembro de 2020.

Na primeira etapa, a análise documental, de caráter eliminatório, apurou se o candidato satisfazia as condições determinadas para a participação no processo seletivo. Portanto, além dos documentos de identificação pessoal, verificou-se a comprovação dos requisitos mínimos exigidos na área de conhecimento da prova: O Diploma de Conclusão de Graduação e o Histórico Escolar. A análise curricular considerou duas dimensões, a titulação acadêmica na área do concurso, contando 5 pontos para o doutorado e 2 pontos para o mestrado, e a experiência no Magistério Superior, contando 0,5 pontos por semestre completo até o limite de 5 pontos.

Na segunda etapa, a atribuição de pontos para a prova didática considerou: a) a qualidade do plano de aula, avaliando a adequação dos objetivos, dados essenciais do conteúdo apresentado, seleção coerente dos procedimentos didáticos, construção dos instrumentos de verificação da aprendizagem, somando 2,4 pontos; e b) a qualidade do desenvolvimento da aula, avaliando a introdução, apresentação sequencial do conteúdo, relevância dos dados

apresentados em função dos objetivos, atualidade das informações, exatidão, domínio e segurança na exposição dos conteúdos, exposição clara e objetiva com adequação da linguagem, variação dos procedimentos didáticos, síntese integradora – revisão, aplicação e utilidade da informação, instrumentos de verificação da aprendizagem –, adequação ao tempo de 40 a 60 minutos de aula, somando 7,6 pontos. Os critérios de desempate consideraram o maior tempo de atuação no Magistério Superior, idade igual ou superior a 60 anos, prevalecendo o mais idoso, conforme a Lei Nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, maior nota na segunda etapa, e melhor classificação na primeira etapa (UEA. Edital Nº 029/2020 – GR/UEA).

O edital supracitado informou, também, que o regime de contrato de trabalho dos professores assistentes seria regido pela Lei Ordinária Estadual Nº 2.607, de 29 de junho de 2000, que dispõe sobre a contratação de pessoal por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público, sob Regime de Direito Administrativo, nos termos prescritos na Constituição Federal, Art. 37, Inciso IX, e na Constituição do Estado do Amazonas, Art. 108, §1º, e pela Lei Estadual Nº 3.656, de 1º de setembro de 2011, que institui o plano de cargos, carreiras e remuneração do Magistério Público Superior e dos Servidores Técnicos e Administrativos da UEA. Ademais, ficou vedado para este fim o contrato de servidores da Administração direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e/ ou dos Municípios, nem empregador ou servidor de suas subsidiárias e controladas, ressalvadas as acumulações lícitas previstas na Constituição Federal, Art. 37, Inciso XVI, e na Constituição do Estado do Amazonas, Art. 109, Inciso XV (UEA. Edital Nº 029/2020 – GR/UEA).

De acordo com a Portaria Nº 407/2020 – GR/UEA, de 15 de outubro de 2020, que homologou o resultado final da seleção para a contratação temporária dos professores assistentes, 11 candidatos foram aprovados para as vagas e 8 candidatos foram classificados como cadastro reserva. A convocação dos aprovados foi realizada em 23 de outubro de 2020 (UEA. Edital Nº 029/2020 – GR/UEA, Convocação), a fim de que procedessem com a escolha de lotação, respeitando a ordem de classificação (UEA. Edital Nº 029/2020 –GR/UEA, Ata de Escolha dos Municípios pelos Aprovados).

QUADRO 3. LOTAÇÃO DOS 11 PROFESSORES ASSISTENTES DO CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA, DE OFERTA ESPECIAL ESA/UEA

CANDIDATO MUNICÍPIO DE LOTAÇÃO

1º classificado

Iranduba

2º classificado Boa Vista do Ramos

3º classificado

4º classificado

Nova Olinda do Norte

Barcelos

5º classificado São Sebastião do Uatumã

Tapauá

6º classificado

7º classificado

8º classificado

9º classificado

10º classificado

11º classificado

Manicoré

Jutaí

Eirunepé

Santo Antônio do Içá

Ipixuna

LOCAL DE ATUAÇÃO VÍNCULO INSTITUCIONAL

Prédio/Unidade da UEA

Prédio/Unidade da UEA

Núcleo de Ensino Superior de Nova Olinda do Norte

Instituição Parceira: Escola Estadual São Francisco de Sales

Instituição Parceira: Escola Estadual Fernando de Miranda

Instituição Parceira: Escola Estadual Marcelino Champagnat

Núcleo de Ensino Superior de Manicoré

Núcleo de Ensino Superior de Jutaí

Núcleo de Ensino Superior de Eirunepé

Prédio/Unidade da UEA

Núcleo de Ensino Superior de Ipixuna

Fonte: UEA. Edital Nº 029/2020 – GR/UEA, Ata de Escolha dos Municípios pelos Aprovados; UEA. Edital Nº 029/2020 – GR/UEA, Convocação; UEA. Portaria Nº 407/2020 – GR/UEA

A partir dos pré-requisitos definidos no Edital Nº 029/2020 – GR/UEA para a contratação de professores assistentes, percebe-se que a instituição ambicionou a seleção de professores com mais alta qualificação acadêmica, maior tempo de experiência no Magistério Superior e domínio das competências e procedimentos didático-pedagógicos próprios da atividade docente.

Nesse sentido, Campanholi (2020), considerando a complexidade da docência na formação inicial de professores de Educação Física, assinala a importância da qualificação e da experiência. Esta, por sua vez, requer saberes de naturezas distintas, constituídos tanto na cultura formativa deste professor quanto em sua competência para compreender o sentido pedagógico das suas escolhas no processo de ensino-aprendizagem. Não obstante, a ação docente postula, além do manejo adequado dos conteúdos próprios da área de atuação, uma concepção ampliada do processo educacional, pois é ele quem define todas as questões pedagógicas envolvidas nessa prática.

Ainda sobre a valorização do maior tempo de experiência no Magistério Superior, importa dizer que os saberes docentes estão entrelaçados com aqueles elaborados no cotidiano e, portanto, as transformações pessoais e profissionais assumem um movimento dialético na medida em que se tornar professor só pode se dar na construção de relações orgânicas com a cultura escolar. Em outras palavras, os professores universitários são capazes de se beneficiar da sua experiência na docência utilizando-a no processo formativo dos acadêmicos. A experiência é a relação com o vivenciado, então, a ação de compartilhar experiências com os discentes se refere a um saber docente que é reeditado nesse movimento. Uma vez que a formação do licenciado em Educação Física tem relação estreita com o mundo do trabalho e os vínculos com a profissão, é desejável que o docente formador tenha ampla experiência nesse campo (CAMPANHOLI, 2020).

O PROJETO PEDAGÓGICO DO CURSO

O Projeto Pedagógico do Curso (PPC) de Licenciatura em Educação Física, de oferta especial, foi aprovado pela Resolução Nº 061/2023 – CONSUNIV/UEA, de 18 de outubro de 2023. Neste documento, as normativas que ordenam as diretrizes pedagógicas do curso foram atualizadas em relação àquelas dispostas na Resolução Nº 005/2019 – CONSUNIV/UEA, que aprovou a oferta do curso. Portanto, a Resolução CNE/CES Nº 004/2009, a Resolução CNE/CP Nº 002/2015 e o Parecer CNE/CP Nº 002/2015, foram substituídos pela Resolução CNE/CES Nº 006/2018, de 18 de dezembro de 2018, o Parecer CNE/CES Nº 584/2018, que instituem as Diretrizes Curriculares para os cursos de graduação em Edu-

cação Física, em nível superior de graduação plena, e a Resolução CNE/CP Nº 002/2019, de 20 de dezembro de 2019, que definem as diretrizes nacionais para a formação inicial de professores para a Educação Básica e institui a Base Nacional Comum para a formação inicial de professores da Educação Básica (UEA. Resolução Nº 061/2023 – CONSUNIV/UEA).

Embora o início do curso estivesse previsto para o 2º semestre letivo de 2019, conforme a Resolução Nº 005/2019 – CONSUNIV/UEA, a resolução de aprovação do PPC, em seu Art. 1º, §1º, aponta que o “Curso de Licenciatura em Educação Física (...) [teve] início das atividades acadêmicas em 23/11/2020” (UEA. Resolução Nº 061/2023 – CONSUNIV/UEA). Isso decorreu em razão de entraves administrativos, e, em especial, dos desdobramentos da pandemia de COVID-19 no Estado do Amazonas.

Outra mudança que aparece neste documento, diz respeito à carga horária e integralização do curso. No Art. 2º,

a integralização curricular do curso de Licenciatura em Educação Física, de oferta especial, (...) será efetivada com 3.245 (três mil, duzentos e quarenta e cinco) horas, equivalentes a 157 (cento e cinquenta e sete) créditos, com duração de 9 (nove) semestres letivos, equivalente a 4 (quatro) anos e 6 (seis) meses (UEA. Resolução Nº 061/2023 – CONSUNIV/UEA).

De acordo com Finoqueto, Bersch, Ribeiro (2021, p.13), a Resolução CNE/CES Nº 006/2018, “emergiu ao apagar das luzes do ano de 2018”, efetivando, por meio do Parecer CNE/CES 584/2018, a “divisão de conhecimentos que atribuiu ao bacharelado os conhecimentos do arcabouço do Sistema Único de Saúde (SUS) e à licenciatura a Formação de Professores e Educação Básica”. A docência na Educação Física Escolar, então, é percebida como ação educativa e processo pedagógico intencional, metódico, voltada para a produção e transmissão de conhecimentos específicos da área, interdisciplinares e próprios da Pedagogia, conceitos, princípios e objetivos formativos para a apreensão de valores éticos, linguísticos, estéticos e políticos intrínsecos à formação científica e cultural, bem como na ação dialógica frente a diversidade humana (FINOQUETO, BERSCH, RIBEIRO, 2021).

QUADRO 4. INTEGRALIZAÇÃO CURRICULAR DO CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA, DE OFERTA ESPECIAL ESA/ UEA

COMPONENTES CURRICULARES

Conhecimentos específicos, educacionais e pedagógicos que fundamentam a Educação e suas articulações com os sistemas, escolas e práticas educacionais, na busca da integração das três dimensões das competências profissionais docentes – conhecimento, prática e engajamento profissional (Resolução CNE/CP Nº 002/2019, Art. 1º, Inciso I).

Conteúdos específicos da graduação em Educação Física, componentes, unidades temáticas e objetos de conhecimentos da BNC, bem como o domínio pedagógico desses conhecimentos, assegurando-lhes na condição de Licenciado em Educação Física, aquisição de competências profissionais – conhecimento, prática e engajamento profissional (Resolução CNE/CP Nº 002/2019, Art. 11, Inciso II).

Práticas ao longo do curso, por meio de componentes curriculares de desenvolvimento de procedimentos próprios ao exercício da docência (Resolução CNE/CP Nº 002/2019, Art. 11, Inciso III)

Estágio Supervisionado em Educação Física – 1ª Infância, 60h, 2 créditos; Estágio Supervisionado em Educação Física – 2ª Infância, 60h, 2 créditos; Estágio Supervisionado em Educação Física no Ensino Fundamental I, 60h, 2 créditos; Estágio Supervisionado em Educação Física Inclusiva, 60h, 2 créditos; Estágio Supervisionado em Educação Física no Ensino Fundamental II, 60h, 2 créditos; Estágio Supervisionado em Educação Física no Ensino Médio, 60h, 2 créditos; Estágio Supervisionado em Educação Física no EJA, 45h, 2 créditos (Resolução CNE/CP Nº 002/2019, Art. 11, Inciso III).

CARGA HORÁRIA CRÉDITOS

Fonte: BRASIL. MEC. Resolução CNE/CP 002/2019; UEA. Resolução 061/2023 – CONSUNIV/UEA

Ainda sobre a proposta pedagógica do curso, vale descrever o perfil do egresso conforme o Art. 1º, §2º, da Resolução 061/2023 – CONSUNIV/UEA. O texto registra que os valores institucionais que fundamentam a composição curricular do curso correspondem à liberdade, consciência ética, compromisso social, inovação e criatividade, visando, por meio da formação inicial do licenciado, a qualificação para a docência na Educação Básica, tendo em vista “atuar em diferentes realidades do contexto educacional, com sensibilidade para interpretar as ações dos estudantes e contribuir para o processo ensino-aprendizagem e para o exercício da

cidadania” (Resolução 061/2023 – CONSUNIV/UEA, Art. 1º, §2º).

Assim, no que diz respeito às competências, espera-se do egresso a capacidade de:

a) pautar-se por princípios da ética democrática, colocando a Educação Física a serviço da dignidade humana, da justiça, do respeito mútuo, da participação, da responsabilidade, do diálogo e solidariedade para atuação como profissional e como cidadão;

b) orientar suas escolhas e decisões metodológicas e didáticas por valores democráticos e por pressupostos epistemológicos coerentes;

c) reconhecer e respeitar a diversidade manifestada por seus alunos, em seus aspectos sociais, culturais, físicos, desportivos e recreacionais detectando e combatendo todas as formas de discriminação;

d) utilizar conhecimentos sobre a realidade econômica, cultural, política e social para compreender o contexto e as relações em que está inserida a prática educativa;

e) participar coletiva e cooperativamente da elaboração, gestão, desenvolvimento e avaliação do projeto educativo e curricular da escola, atuando com os conhecimentos em Educação Física em diferentes contextos da prática profissional, além da sala de aula;

f) conhecer os conteúdos básicos da Educação Física que serão objeto da atividade docente, adequando-os às atividades escolares próprias desde a Educação Infantil até os últimos anos da Educação Básica;

g) relacionar os conteúdos básicos referentes à Educação Física com os fatos, tendências, fenômenos ou movimentos da atualidade ou os fatos significativos da vida pessoal, social e profissional dos alunos;

h) gerenciar situações didáticas eficazes para a aprendizagem e para o desenvolvimento dos alunos, utilizando conhecimentos da área da Educação Física, das temáticas sociais transversais ao currículo escolar, dos contextos sociais considerados relevantes para a aprendizagem escolar, bem como as especificidades didáticas envolvidas;

i) contextualizar e interrelacionar conceitos e propriedades da Educação Física, bem como utilizá-los em outras áreas do conhecimento e em aplicações variadas e, em especial, em poder interpretar matematicamente situações ou fenômenos que emergem de outras áreas do conhecimento ou de situações reais;

j) utilizar estratégias diversificadas de avaliação da aprendizagem, considerando dos conhecimentos em Educação Física e, a partir dos seus resultados, formular propostas de intervenção pedagógica, considerando o desenvolvimento de diferentes capacidades dos alunos;

k) compreender a necessidade do contínuo aperfeiçoamento profissional, sendo sua prática profissional também fonte de produção de conhecimento (UEA. Resolução Nº 061/2023 –CONSUNIV/UEA, Art. 1º, §2º).

Concluída a formação inicial, tornar-se professor se dá por meios dos saberes próprios da experiência de vida e do ambiente de trabalho. A experiência escolar será prolongada ao longo da vida profissional, compreendendo situações relacionadas a aperfeiçoamento, salário, carreira, estrutura do ensino, autonomia profissional, dentre outras. A formação inicial, no entanto, intenta promover o aporte teórico e prático necessários ao exercício da docência, por meio da transmissão de um conjunto de conhecimentos advindos das Ciências da Educação e do Pensamento Pedagógico, na forma de saberes disciplinares, curriculares, profissionais e experenciais (AMARAL, PINTO, NÓBREGA-THERRIEN, 2020).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Curso de Licenciatura em Educação Física, de oferta especial, ESA/UEA, por meio do EPMT, intentou promover o acesso à formação inicial de professores para a Educação Básica a estudantes de 11 municípios do interior do Estado do Amazonas. Esta modalidade de oferta é prioritária para municípios com menor infraestrutura institucional e/ou demandas pontuais de formação profissional em áreas específicas, podendo não

se repetir após sua conclusão. A UEA se destaca como a maior universidade multicampi do Brasil, estando presente nos 62 municípios do estado, e o EPMT tem sido uma estratégia fundamental atingir e se fazer presente em todo o território amazonense. Não obstante, para o curso supracitado, num universo de 5.337 vagas referentes ao Concurso Vestibular e ao SIS 2018, acesso 2019, foram disponibilizadas 440, com a formação de 11 turmas de 40 estudantes.

O cuidado da universidade em compor como perfil principal de acesso o estudante egresso das escolas públicas amazonenses, indica a constituição de uma identidade desejada pela proposta pedagógica do curso. Certamente, esse é um aspecto importante, pois se inclina à valorização da Educação Pública.

A composição do corpo docente se constituiu de três segmentos: a Coordenação de Curso, os Professores Titulares e os Professores Assistentes, cujo propósito é a condução do processo formativo desde o início até o seu encerramento. Percebeu-se que o processo de seleção dos profissionais desse segmento ambicionou a contratação de professores com maior qualificação acadêmica, tempo de experiência no Magistério Superior e domínio das competências e procedimentos didático-pedagógicos próprios da atividade docente.

O PPC do curso foi aprovado pela Resolução Nº 061/2023 –CONSUNIV/UEA, registrando o início das atividades acadêmicas em 23 de novembro de 2020, e a integralização curricular efetivada com 3.245 horas, equivalentes a 157 créditos, com duração de 9 semestres letivos, equivalente a 4 anos e 6 meses. Os conteúdos curriculares corresponderam a conhecimentos voltados para liberdade, consciência ética, compromisso social, inovação e criatividade, visando a qualificação para a docência na Educação Básica, considerando diferentes realidades do contexto educacional e o exercício da cidadania.

REFERÊNCIAS

Resoluções

CNE. Câmara de Educação Superior. Resolução CNE/CES Nº 004/2009, de 04 de abril de 2009. Dispõe sobre carga horária mínima e procedimentos relativos à integralização e duração dos cursos de graduação em Biomedicina, Ciências Biológicas, Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição e Terapia Ocupacional, bacharelados, na modalidade presencial. Brasília: Conselho Nacional de Educação, 2009. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb004_09. pdf> Acesso em: 13/03/2024.

________. Resolução CNE/CES Nº 006/2018, de 18 de dezembro de 2018. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Educação Física e dá outras providências. Brasília: Conselho Nacional de Educação, 2018. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/docman/dezembro-2018-pdf/104241-rces006-18/file> Acesso em: 13/03/2018.

CNE. Conselho Pleno. Resolução CNE/CP Nº 002/2015, de 01 de julho de 2015. Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação inicial em nível superior (cursos de licenciatura, cursos de formação pedagógica para graduados e cursos de segunda licenciatura) e para a formação continuada. Brasília: Conselho Nacional de Educação, 2015. Disponível em: < http://portal.mec. gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=136731-rcp002-15-1&category_slug=dezembro-2019-pdf&Itemid=30192> Acesso em: 13/03/2024.

________. Resolução CNE/CP Nº 002/2019, de 20 de dezembro de 2019. Define as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica e institui a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica (BNC–Formação). Brasília: Conselho Nacional de Educação, 2019. Disponível em: < http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_ docman&view=download&alias=135951-rcp002-19&category_slug=dezembro-2019-pdf&Itemid=30192> Acesso em: 13/03/2024.

UEA. Conselho Universitário. Resolução Nº 002/2013 – CONSUNIV/UEA, de 17 de janeiro de 2013. Dispõe sobre diretrizes para estruturação e organização curricular dos Cursos da UEA e dá outras providências. Manaus: Conselho Universitário, 2013. Disponível em: < https://xfiles.uea.edu.br/data/legislacao/ato/ p6678.pdf> Acesso em: 13/03/2024.

________. Resolução Nº 034/2018 – CONSUNIV/UEA, de 04 de julho de 2018. Aprova ad referendum a oferta de cursos de graduação, com as respectivas vagas, turnos e municípios de funcionamento para ingresso na Universidade do Estado do Amazonas, por meio do Concurso Vestibular e do Sistema de Ingresso Seriado – SIS, 2018, Acesso 2019. Manaus: Conselho Universitário, 2018. Disponível em: <https://xfiles.uea.edu.br/data/legislacao/ato/ p4721.pdf> Acesso em: 13/03/2024.

________. Resolução Nº 005/2019 – CONSUNIV/UEA, de 08 de janeiro de 2019. Aprova ad referendum a oferta especial do Curso de Licenciatura em Educação Física, a ser ministrado na modalidade de Ensino Presencial Mediado por Tecnologia (EPMT), nos municípios de Barcelos, Boa Vista do Ramos, Eirunepé, Ipixuna, Iranduba, Jutaí, Manicoré, Nova Olinda do Norte, São Sebastião do Uatumã, Santo Antonio do Içá e Tapauá. Manaus: Conselho Universitário, 2019. Disponível em: <https://xfiles.uea.edu.br/ data/legislacao/ato/p5575.pdf> Acesso em: 13/03/2024.

________. Resolução Nº 061/2023 – CONSUNIV/UEA, de 18 de outubro de 2023. Aprova o PPC do Curso de Licenciatura em Educação Física, de oferta especial, nos municípios de Barcelos, Boa Vista do Ramos, Eirunepé, Ipixuna, Iranduba, Jutaí, Manicoré, Nova Olinda do Norte, São Sebastião do Uatumã, Santo Antônio do Içá e Tapauá, ministrado via Ensino Presencial Mediado por Tecnologia (EPMT), vinculado a Escola Superior de Ciências da Saúde (ESA/UEA). Manaus: Conselho Universitário, 2023. Disponível em: < https://xfiles.uea.edu.br/data/legislacao/ato/p22152. pdf> Acesso em: 13/03/2024.

Portarias

UEA. Gabinete do Reitor. Portaria Nº 168/2020 – GR/UEA, de 6 de março de 2020. Constitui as Comissões Realizadoras para contratação temporária de Professores para a Universidade do Estado do Amazonas. Manaus: Gabinete do Reitor, 2020. Disponível em: <https://xfiles.uea.edu.br/data/legislacao/ato/p21336. pdf> Acesso em: 13/03/2024.

________. Portaria Nº 380/2020 – GR/UEA, de 25 de setembro de 2020. Constituir a Banca Examinadora para contratação temporária de Professores para a Universidade do Estado do Amazonas. Manaus: Gabinete do Reitor, 2020. Disponível em: < https://xfiles.uea. edu.br/data/legislacao/ato/p21893.pdf> Acesso em: 13/03/2024.

________. Portaria Nº 407/2020 – GR/UEA, de 15 de outubro de 2020. Homologa o resultado final da seleção para contratação temporária de professores para o curso de Licenciatura em Educação Física, na modalidade Mediado por Tecnologia, da Escola Superior de Ciências da Saúde da Universidade do Estado do Amazonas. Manaus: Gabinete do Reitor, 2020. Disponível em: < https://xfiles.uea. edu.br/data/legislacao/ato/p21918.pdf> Acesso em: 13/03/2024.

Pareceres

CNE. Conselho Pleno. Parecer CNE/CP Nº 002/2015, de 09 de junho de 2015. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação Inicial e Continuada dos Profissionais do Magistério da Educação Básica. Brasília: Conselho Nacional de Educação, 2015. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/docman/agosto-2017-pdf/70431-res-cne-cp-002-03072015-pdf/file> Acesso em: 13/03/2024.

CNE. Câmara de Educação Superior. Parecer CNE/CES Nº 584/2018, de 3 de outubro de 2018. Diretrizes Curriculares Nacionais do curso de graduação em Educação Física. Brasília: Conselho Nacional de Educação, 2018. Disponível em: < http://portal. mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=99961-pces584-18&category_slug=outubro-2018-pdf-1&Itemid=30192> Acesso em: 13/03/2024.

Editais

UEA. Gabinete do Reitor. Edital Nº 049/2018 – GR/UEA, de 04 de julho de 2018. Torna público, para conhecimento dos interessados, que a UEA fará realizar Concurso Vestibular 2018, acesso 2019 para ingresso nos cursos de graduação da Universidade do Estado do Amazonas nos termos da Lei Estadual Nº 2.894, de 31 de maio de 2004, da Lei Estadual Nº 3.972, de 23 de dezembro de 2013, da Lei Estadual Nº 4.399, de 07 de dezembro de 2016, da Resolução Nº 034/2018 e deste Edital. Manaus, Gabinete do Reitor, 2018. Disponível em: < https://static.mundoeducacao.uol.com.br/ vestibular/arquivos/35374cdf9136b44b079005998f261d43. pdf> Acesso em: 13/03/2024.

________. Edital Nº 050/2018 – GR/UEA. Torna público que estarão abertas as inscrições ao Sistema de Ingresso Seriado, SIS/ UEA, triênio 2019/2021, para acesso de candidatos aos cursos de graduação da Universidade do Estado do Amazonas, para ingresso em 2019 (Prova de Acompanhamento III), 2020 (Prova de Acompanhamento II) e em 2021 (Prova de Acompanhamento I) nos termos da Lei Estadual Nº 2.894 de 31 de maio de 2004, da Lei Estadual Nº 3.972, de 23 de dezembro de 2013, da Lei Estadual Nº 4.399, de 07 de dezembro de 2016, da Resolução Nº 33/2013, Resolução Nº 034/2018 e deste Edital. Manaus: Gabinete do Reitor, 2018. Disponível em: < https://selecao1.uea.edu.br/xfiles/data/ xselecao/1279.pdf> Acesso em: 13/03/2024.

________. Edital Nº 029/2020 – GR/UEA, de 06 de março de 2020. Torna público que estarão abertas as inscrições para o Processo Seletivo Simplificado destinado a selecionar 11 (onze) docentes na categoria de Professor Temporário e formação de Cadastro Reserva, visando atender as necessidades do Curso de Licenciatura em Educação Física da Escola Superior de Ciências da Saúde da Universidade do Estado do Amazonas, de acordo com o disposto no Art. 37, Inciso IX, da Constituição Federal, no Art. 108, §1º da Constituição do Estado do Amazonas, Lei Nº 2.607, de 28 de junho de 2000, alterada pela Lei Nº 2.616, de 26 de setembro de 2000, nos termos da autorização governamental constante no Processo Administrativo Nº 2019/00010581, e nas normas

constantes deste Edital e seus Anexos. Gabinete do Reitor, 2020. Disponível em: < https://selecao1.uea.edu.br/xfiles/data/xselecao/6269.pdf> Acesso em: 13/03/2024.

________. Edital Nº 029/2020 – GR/UEA (Convocação, de 23/10/2020). Disponível em: < https://selecao1.uea.edu.br/xfiles/ data/xselecao/7246.pdf> Acesso em: 13/03/2024.

________. Edital Nº 029/2020 – GR/UEA (Ata de Escolha de Municípios pelos Candidatos Aprovados, de 23/10/2020). Disponível em: < https://selecao1.uea.edu.br/xfiles/data/xselecao/7290.pdf> Acesso em: 13/03/2024.

Referências citadas

ALTMANN, Helena; AYOUB, Eliana; GARCIA, Emília Fernández; RICO, Elena Ramízez; POLYDORO, Soely Aparecida Jorge. Gênero e Cultura Corporal do Movimento: práticas e percepções de meninas e meninos. Florianópolis, SC: Revista Estudos Feministas, 26(1): e44074, 2017, dx.doi.org/10.1590/ 1806-9584.2018v26n144074. pp. 1-16. Disponível em: < https:// www.scielo.br/j/ref/a/6XmG586RrD6shHNRkn6vQQh/?format=pdf&lang=pt> Acesso em: 13/03/2024.

AMARAL, Bruna Lucas de Melo; PINTO, Cesar Augusto Sadalla; NÓBREGA-THERRIEN, Silvia Maria. Prática Docente no Ensino Superior e os Saberes da Formação Inicial: constituindo a identidade profissional. Presidente Prudente, SP: Nuances –Estudos sobre Educação, v. 31, pc52020, p.238-255, jan./dez., 2020, ISSN: 22360441. DOI: 10.32930/nuances.v31i0.8325. Disponível em: < https://revista.fct.unesp.br/index.php/Nuances/article/view/8325/ pdf> Acesso em: 13/03/2024.

BOHRER, Eloísa de Souza Borkenhagen; SCHWENGBER, Maria Simone Vione. A Formação Inicial em Educação Física e a Experiência do Cuidado de Si: uma revisão narrativa. Curitiba, PR, v.16, n.1, e854, pp.01-22, 2023. < https://openurl.ebsco. com/EPDB%3Agcd%3A7%3A13087111/detailv2?sid=ebs -

co%3Aplink%3Ascholar&id=ebsco%3Agcd%3A164166708&crl=c> Acesso em: 13/03/2024.

CAMPANHOLI, Carolini Aparecida Oliveira. A Formação Pedagógica e a Experiência Docente na Educação Básica na Constituição dos Professores Universitários do Curso de Licenciatura em Educação Física da UEL. Tese (Doutorado em Educação Física) – Universidade Estadual de Maringá, Programa de Pós-Graduação Associado em Educação Física, UEM/UEL, área de concentração Práticas Sociais em Educação Física, 2020. Disponível em: <https://cev.org.br/media/biblioteca/4059921.pdf> Acesso em: 13/0

FINOQUETO, Leila Cristiane Pinto; BERSCH, Ângela Adriane Schimdt; RIBEIRO, Camila Borges. Embates Históricos em torno das Diretrizes Curriculares Nacionais para os Cursos de Educação Física: perspectiva de unidade da formação ou avanço da fragmentação? Rio de Janeiro, RJ: Revista Fluminense de Educação Física, v. 02, n.02, dez. 2021. Disponível em: <https://periodicos.uff.br/edfisica-fluminense/article/view/51693> Acesso em: 13/03/2024.

GINZBURG, Carlo. Mitos, Emblemas e Sinais: morfologia e história. Tradução de Federico Carotti. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 1992.

MOTOSO, Maria Aparecida de Sousa; SOUZA, Leonardo Rodrigues. A Importância das Aulas de Educação Física no Ensino Médio: um olhar além da escola. Montes Claros, MG: Revista Multitexto, v.6, n.1, 2018. Disponível em: < https://www.ead.unimontes.br/multitexto/index.php/rmcead/article/view/296/171> Acesso em: 13/03/2024.

PESSOA, Sérgio da Silva; FONSECA, Marcelo Pires; LIMA, Francisco Lúcio Pinto de; CORREIA FILHO, Wlademir Leite. O Ensino Presencial Mediado por Tecnologia: quinta geração do Ensino à Distância. Peer Review Jornals, vol. 5, nº 5, 2023DOI: 10.53660/295.prw615ISSN: 1541-1389. pp. 177-193. Disponível

em: <http://peerw.org/index.php/journals/article/view/295/221> Acesso em: 13/03/2024.

SANTOS, Nilson Souza. O Ensino Presencial Mediado Por Tecnologia Bacharelado Em Ciências Econômicas. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 04, Ed. 01, Vol. 02, pp. 84 -101. Dezembro de 2018. ISSN:2448-0959. Disponível em: <https://www.nucleodoconhecimento.com.br/tecnologia/ensino-presencial> Acesso em: 13/03/2024.

SOUZA JÚNIOR, Orlando Marreiro de; JANUARIO, Paulo Clepard Silva; MIRANDA, Maria Luiza de Jesus; RODRIGUES, Graciele Massoli. Conhecimento sobre Identidade Profissional Docente na Educação Física. Porto Alegre, RS: Revista Movimento, v.29, e29028, 2023. DOI: https://doi.org/10.22456/19828918.120687. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/mov/a/ xrvsCDCmTL9WPnW6BCN8H3f/?format=pdf&lang=pt> Acesso em: 13/03/2024.

Este livro se revela como uma porta para o vasto e dinâmico universo da educação, pesquisa e inovação, inspirado no Congresso Internacional de Educação Física, Saúde e Sustentabilidade e da 20ª Semana Nacional de Ciências e Tecnologia. Ao virar suas páginas, o leitor será imerso em um universo onde a competência e a amizade caminham juntas, explorando os temas abordados pelo congresso, desde os desafi os da educação na terceira idade até as questões ambientais e de saúde na Amazônia. Este livro não é apenas uma compilação de conhecimentos; é um testemunho do poder da colaboração e do intercâmbio intelectual entre diferentes universidades e especialistas. Aqui, você encontrará percepções valiosas e estudos de caso que ilustram a importância da educação sustentável e inclusiva, proporcionando ferramentas para entender e enfrentar os desafi os contemporâneos. Indispensável para educadores, estudantes, pesquisadores e todos aqueles comprometidos com a educação e o desenvolvimento humano, este livro é um guia essencial para navegar pelas complexidades do nosso tempo e encontrar caminhos inovadores para um futuro mais promissor e consciente.

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.