Em Preto & Branco

ANO I - EDIÇÃO 001 TORRES, MAIO/2020 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA, POIS A INFORMAÇÃO É UM DIREITO DE TODOS

UM INFORMATIVO INDEPENDENTE E COMUNITÁRIO

LIVRE, MAS SEM OPORTUNIDADES LIVRES DO PRESÍDIO, MAS NÃO DO PRECONCEITO. COMO O PROGRAMA DESENVOLVIDO PELA VARA DE EXECUÇÕES PENAIS PODE AJUDAR NA RESSOCIALIZAÇÃO DE PRESOS EM TORRES

02 | empreto&branco

Pelo mundo existe uma teoria que o jornalismo impresso está com os dias contados. A agilidade da internet acaba tornando obsoleto o conteúdo do papel. Há, no entanto, uma ala de pesquisadores que acreditam que não, o jornal ou a revista não acabarão, mas terão que passar por adaptações a fim de conviver de forma harmônica e complementar com a internet e suas plataformas.

Particularmente concordo com esta segunda teoria, e não é um pensamento retrógrado. O jornal impresso permite uma coisa que agilidade da internet não oferece: tempo. Por ser muito dinâmica, as diversas plataformas da web te atropelam com conteúdo a todo instante. Às vezes você nem terminou de ler uma notícia e já tem outra chegando, que vai se acumulando com mais outra e assim sucessivamente. Você não filtra o conteúdo, não absorve o essencial e, não raro, cai nas chamadas fake news.

Jesus

fosse

Comunicação com qualidade

poesia - BRUNO NEGRÃO

E se

opinião

TORRES / MAIO 2020

?

Preto

O jornal impresso é o contrário. Ele te oferece a tranquilidade para ler e pensar sobre o conteúdo. Quando feito por profissionais, ele te oferece todas as bases para que crie sua opinião ou para que fique ciente dos fatos. O jornal impresso é o oásis de calmaria em meio a turbulência virtual. Sobretudo no interior, muitos “jornaizinhos”, como são carinhosamente chamados pelos moradores, sobrevivem. E bem.

Essa introdução toda é para dizer que o EmPreto&Branco, este novo canal de comunicação que chega até você, tem essa intenção, oferecer um momento de reflexão em meio à correria digital. Vamos trabalhar com conteúdo focado em Torres, chamando a atenção para questões do município, apontando problemas estruturais e sociais e, por vezes, soluções para tais. Sim, somos pretensiosos.

Falando em “somos”, o projeto EmPreto&Branco foi pensado por dois amigos, saudosos da forma como o jornalismo era feito em anos passados e certos que ainda há espaço para expôr ideias de forma clara e transparente. Mário Dutra Santos Júnior, advogado e radialista, tem uma forte vinculação com Torres. Além de advogar por causas sociais do município, nos últimos quatro anos comandou um programa na radio Cultural FM. Beto Caletti, jornalista, radialista, há mais de duas décadas vai em busca de boas pautas, principalmente daquelas que pode fazer com que a comunicação seja realmente social, ou seja, em prol das pessoas.

Sejam todos bem-vindos à primeira edição deste informativo, independente, que tem como missão levar reflexão e ideias novas para a população de Torres.

EXPEDIENTE

EmPreto&Branco é um informativo independente e mensal.

MISSÃO: Ser um veículo de comunicação engajado com pautas sociais, que promovam o bem-estar dos moradores de Torres VALORES: Honestidade na informação

Respeito às necessidades da comunidade

Independência no conteúdo editorial

Acesso à informação de forma democrática Editor: Jornalista Beto Caletti (Reg. Prof. 8849 MTB/RS)

(betopcaletti@gmail.com) Fale com o editor: (51) 9 9601-9776 (somente whatsapp) Periodicidade: Mensal EmPreto&Branco é uma publicação independente, sem relação com partidos políticos ou entidades representativas. Todo o conteúdo é produzido pela redação do informativo, sendo aceita contribuições de material jornalístico, desde que não ofenda a honra ou a integridade de outras pessoas ou entidades.

Ei meu, ei meu, e se Jesus fosse preto?

Tô falando dele mesmo, o filho da dona Maria Nunca conheceu o pai e nem teve emprego Se pá que faz aniversário em dezembro Já parou para pensar se ele fosse preto?

Ou esqueceu que ele nasceu na periferia?

Ei meu, ei meu, e se Jesus fosse preto?

Desses todo metido a malandrinho Um dia ele saiu de casa com uns trocado A mãe falou pra pagar a conta d’água, ele foi com dinheiro contado Mas parou em frente ao mercado e gastou tudo em vinho Ei meu, ei meu, E se Jesus fosse preto?

Tipo tu, que não tem nem Uber no celular Pra chegar na quebrada só se for na pernada Um dia ele chegou e a rua tava alagada Não dá nada, Por cima dela ele teve que caminhar Ei meu, ei meu E se Jesus fosse preto?

Até porque, ele também não teve acesso a estudo Mas inteligente Aprendeu com puta, ladrão e indigente Que a lei na rua é diferente Não se julga ninguém, é cego, surdo e mudo Ei meu, ei meu, e se Jesus fosse preto?

Tudo bem, eu sei que aqui o papo é sério Mas vamos supor, se ele fosse da nossa cor Não seria respeito chamá-lo de Senhor Mas, sim, de Nego Véio.

Ei meu, ei meu E se Jesus fosse preto?

Desses que só andam na estica O cabelo longo, na verdade, um black De vez em quando até uns beck E a santa ceia, só uns muleke Matando a larica.

Ei meu, ei meu, e se Jesus fosse preto?

Seria engraçado Ao falar pra atirar a primeira pedra Esses troxa que adora cagar regra Iam dizer “Que merda, Olha lá mais um neguinho viciado” Ei meu, ei meu, e se Jesus fosse preto?

Esse papo de pedir perdão ia ser vitimismo E quem hoje vê problema em cuspir na cruz Se ele não tivesse olhos azuis Ia falar “Chuta que é Cristianismo” E se Jesus fosse preto?

Desses que não tem medo Que querem que todos escutem sua voz Mesmo que isso gere algum algoz Foda que a sina desses muleke tipo nóiz, É morrer Cedo Ei meu, ei meu será que Jesus não era mesmo preto?

Eu tô achando...

Preto igual o rock n’roll , Egito Machado de Assis e outros tantos Bom, aí mesmo se ele fosse preto, Pra vender a sua imagem e ser aceito

IAM TER QUE DIZER QUE ELE ERA BRANCO

empreto&branco | 03

TORRES / MAIO 2020 Fotos: Acervo Pessoal/Divlgação

Pesca predatória e a mortandade de animais

RAÍZES DE DANDARA A pausa temporária no comércio faz Cristiane focar em outras atividades no município. Um dos projetos mais recentes que participou foi o Raízes de Dandara.

Este projeto contou com uma exposição fotográfica com trabalhadoras negras do SESC, além de outras convidadas. As imagens foram feitas pela fotógrafa Tina Fon. “No dia da exposição fotográfica houve uma palestra sobre quem era Raízes de Dandara e o que é ser mulher negra no Brasil”,

explica. Este projeto deve ser estendido para outras unidades do SESC no Estado. A participação de Cristiane no Raízes de Dandara, abriu as portas do SESC para que organizasse reuniões com mulheres. Os encontros mensais tiveram que ser suspensos por conta do surto de coronavírs. A ideia, no entanto, é prosseguir quando tudo se normalizar. “Pretendemos trabalhar com a comunidade falando sobre as tranças, o turbante, quem foram Abdias do Nascimento, Anastácia, quem foi Dandara. A gente tem sempre que falar da nossa cultura para fortalecê-la”.

EMPODERAMENTO O empoderamento do negro sempre foi uma das suas preocupações. Um exemplo está na Semana da Consciência Negra, que ela trabalhou em conjunto com a capoeira, sua paixão. “Eu não acho certo a gente trabalhar a consciência só em novembro.

Também não acho certo capoeirista ser só capoeirista de perna.

Capoeirista tem muita informação para dar, além da história, de trazer a ancestralidade, a história do negro que quase não é mais falada”, pondera.

Em Esteio, onde começou o trabalho há quase duas décadas, levou a capoeira para praticamente todas as escolas municipais, sempre com apoio da Secretaria Municipal da Educação.

“Sempre achei que a capoeira deveria fazer parte da educação, para valorizar o povo negro, para que a criança negra, desde a educação infantil, possa se tornar uma criança negra forte, sabendo sua história”. Em Torres este trabalho pedagógico é no Estúdio Pro Forma, na Lagoa do Violão, às segundas e quartas.

DIFICULDADES CULTURAIS

Engana-se quem pensa que tratar a questão do negro em Torres seja algo simples. “Trabalhar com o povo negro é complicado. Cada um traz a sua história, suas heranças, suas culturas. Nem todo negro consegue ser negro. Nem todo negro consegue se empoderar de sua história também”, lamenta. Para ela, alguns já estão conformados por causa de tudo que já viveram e convictos de que não precisam mudar.

“Férias” da loja por seis meses

Tina Fon Fotografia/Divlgação

A pandemia do Covid-19, o coronavírus obrigou as pessoas a ficarem em suas casas, no chamado isolamento social. Esse isolamento, no entanto, não impede que as pessosa sigam traçando seus objetivos e metas para 2020 ainda. E foi nessa pausa forçada que a empresária, pedagoga e mestre de capoeira Cristiane Gomes nos deu essa entrevista. Ela é uma figura já conhecida pela comunidade, seja pelas suas ações sociais realizadas junto a algumas entidades, seja pelo trabalho como contra-mestre de capoeira.

Entre tantas ações Cristiane dedicou os dois últimos anos à função de empresária. Pouco antes do isolamento obrigado pelo coronavírus, ela havia dado uma pausa no empreendimento, ou férias como prefere dizer, para voltar daqui uns meses. “Recebi uma proposta para reabrir em outro lugar, que acho muito bom, perto da praia. Eu disse que ia tirar umas férias de seis meses e que depois a gente conversava”, explica. A ideia da loja veio depois de ter participado de várias feiras de artesanato em Torres. “Foi um projeto que deu muito certo, pois contribuiu com a minha caminhada e a de muitas pessoas”.

Projeto Raízes de Dandara

foi amplamente debatida no ano passado na Rádio Cultural FM de Torres. No inverno do ano passado, principalmente nas áreas da Praia Grande e Prainha, diversos pinguins e leões marinhos foram encontrados mortos. “Há quase 50 anos que venho a Torres e quase 13 morando aqui, nunca vi tantos animais mortos na nossa costa”, disse à epoca o radialista Lauro Santos.

O radialista Mário Dutra Santos Júnior, produtor e co-apresentador do programa Espaço Entrevista da Rádio Cultural FM, lembrou que a pesca predatória já foi pauta de reunião na Câmara de Vereadores, mas não surtiu efeitos imediatos e práticos. “Infelizmente é um fato que está acontecendo aqui e toda faixa litorânea do Estado”, lamentou.

Acervo Pessoal/Divlgação

A força da mulher negra de Torres

Assim como todas as cidades litorâneas, Torres tem uma comunidade que necessita da pesca para sobreviver. Os profissionais da pesca, devidamente organizados na Colônia de Pescadores e Aquicultores Z7, buscam nas águas do município o seu sustento, dentro dos períodos liberados para a prática. Além das adversidades da natureza, os pescadores convivem com outro inimigo, a pesca predatória. Pessoas comuns, munidas de seus caniços, redes, tarrafas e outros apetrechos, buscam os peixes em épocas e locais inadequados. Além de retirarem de forma ilegal os animais da natureza, por vezes acabam poluindo as águas.

Essa poluição acarreta, de forma direta, na mortandade de animais marinhos. Essa pauta

Mário Júnior lamentou a mortandade de animais marinhos

Um novo perfil político precisa surgir este ano Se o calendário eleitoral não sofrer alterações por causa da pandemia de coronavírus, este ano, em outubro, teremos eleições municipais. Prefeito e vereadores estarão disputando o voto do eleitorado de Torres.

Mas, qual o perfil de político que o eleitor deve escolher? Sem entrar em nomes ou siglas partidárias, o tema foi amplamente debatido no ano passado, pouco mais de um ano antes do pleito, já demonstrando preocupação com o assunto.

O radialista e advogado Mário Dutra Santos Júnior entende que o candidato eleito deve prestar contas, ser transparente em seu mandato, como forma de justificar a confiança que o eleitor depositou nele. “O que eu vejo na Câmara de Torres é que pelo menos metade dos vereadores não estão preparados para a função parlamentar.

Como pessoas públicas eles têm a obrigação de dar publicidade a seus mandatos”, diz.

Por publicidade, entenda-se conceder entrevistas, participar dos veículos de comunicação do

município. “Eu encaminho ofício convidando para o programa e muitas vezes nem dão resposta.

Alguns pensam que o que está nas redes sociais basta, que não precisam falar com os veículos de imprensa”, complementa.

Ele salientou ainda as diferenças de quem vota em grandes cidades como Porto Alegre, daqueles eleitores de redutos menores.

“Em Porto Alegre e nas grandes cidades eles votam no partido.

Aqui, votam na pessoa, porque se identificam com as propostas dela”. O radialista defende uma mudança na postura do eleitor, para evitar que o mesmo se frustre quando as promessas do seu candidato não se cumprirem. “Antes de escolher, pesquise, tente conhecer a história da pessoa, o envolvimento nas causas que ela defende, se realmente faz jus à sua escolha”.

O radialista Lauro Santos complementa. “Muitos que estão lá na Câmara não tem ideia do seu papel, não sabem qual a função deles e não conhecem o Regimento Interno da Casa”.

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TORRES / MAIO 2020

Susepe/Divlgação

“Após cumprir a condenação é tempo de buscar se desligar das amizades e pessoas conhecidas que tenham relação com o crime ou com o aprisionamento”

PRESÍDIO ESTADUAL FEMININO DE TORRES Capacidade de Engenharia: 78 População Carcerária: 65 presos (janeiro/2020) ANEXO DO PE FEMININO Capacidade de Engenharia: 22 População Carcerária: 9 presos (janeiro/2020) Fonte: Susepe

Manual do Projeto Voltar a Confiar Os Primeiros 100 Dias em Liberdade

TEMAS ABORDADOS NO MANUAL 1- Direitos 2- Trabalho 3- Família 4- Saúde 5- Educação 6- Moradia 7- Comunidade DOCUMENTOS IMPORTANTES PARA COMEÇAR A VIDA NOVA

Liberdade com dúvidas e medos “O manual abarca as sete áreas fundamentais para a reinserção, aquelas que requerem mais urgente atenção de quem retorna à comunidade”

requerem mais urgente atenção de quem retorna à comunidade e às suas famílias”, disse.

O material, que tem a assinatura do juiz e Direito da VEPMA, Luciano André Losekann, adota uma linguagem simples, o que facilita a leitura, e é acompanhada de muitas imagens explicativas. O manual apresenta os principais problemas em cada uma das áreas, indicando os trâmites para resolvê-los.

TORRES O advogado Mário Dutra Santos Júnior acredita que o programa Voltar a Confiar pode ser aplicado em Torres, que conta com uma penitenciária estadual feminina. “A realidade de muitos apenados, inclusive essas mulheres que cumprem sua condenação em Torres, é o abandono e o preconceito por parte do mercado de trabalho. Acredito que uma parceria envolvendo todas as esferas da sociedade poderia mudar esse quadro e mostrar que essas pessoas tem o direito de reconstruir suas vidas”.

Mário lamenta a falta de oportunidades para um ex-condenado, mas acredita que a adoção de uma iniciativa como esta é o primeiro passo para a reinserção na vida em comunidade e no mercado profissional. Em Porto Alegre há bons exemplos de ex-condenados que se reintegraram completamente à sociedade.

Simone Zanella, Assistente Social Acervo Pessoal/Divlgação

Todo preso que já cumpriu a sua pena, ou que está próximo de cumpri-la, tem o mesmo sonho: conseguir um trabalho e voltar a conviver em harmonia com a sociedade. Isso, no entanto, nem sempre é possível, seja pelo medo ou receio do próprio ex-condenado em se frustrar, seja pela negativa de algumas empresas em contrata-los.

Ciente dessas dificuldades, a Vara de Execução de Penas e Medidas Alternativas (VEPMA), de Porto Alegre, passou a desenvolver em junho de 2015 o Programa Voltar a Confiar. A VEPMA é encarregada da execução das penas restritivas de direitos (PRDs) em suas diversas modalidades e também do acompanhamento e fiscalização das condições do livramento condicional.

O projeto, além de desenvolver oficinas temáticas destinadas a liberados condicionais, egressos e seus familiares, identificou que era importante colocar à disposição informações sobre os principais organismos que contam com programas de suporte pós-penitenciário. Simone Fagundes Messias Zanella, assistente social e coordenadora do programa, fala um pouco mais sobre a origem do programa.

“A constatação de que se requerem maiores esforços na fase pós-penitenciária fez com que se desenhasse e iniciasse a execução do programa em nível local (Porto Alegre). O manual abarca as sete áreas fundamentais para a reinserção, aquelas que

Mário Jr e Simone Zanella

Certidão de cumprimento de pena (certidão negativa) Este documento, de direito de toda pessoa que cumpriu sua pena, deve ser obtido no setor conhecido como “Distribuição” da Comarca onde foi processo. Para obtê-lo é preciso apresentar: nNome completo do solicitante, do pai, mãe, e data de nascimento nNúmero do RG nNúmero do CPF (se tiver o documento em mãos) nIndicar para que fins pretende a obtenção da certidão negativa Cédula de Identidade Pode ser obtida diretamente no Tudo Fácil ou no Posto de Identificação Azenha, com prazo de entrega aproximado de 7 a 10 dias (em Porto Alegre) nA primeira via é gratuita, conforme Lei n. 12.687, de 18 de julho de 2012 nA segunda via é necessário pagar uma taxa. Porém, com o Serviço Social do Programa Voltar a Confiar fazendo o encaminhamento e havendo comprovação da vulnerabilidade social do indivíduo,a cédula é fornecida grauitamente Ficha de Proteção Social Inscrição no Programa Voltar a Confiar da VEPMA, no qual os liberados condicionais, egressos e seus familiares serão atendidos e acompanhados conjuntamente com os equipamentos sociais disponíveis pelas políticas públicas