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P.10 / COM A PALAVRA John Hattie fala sobre o impacto da aprendizagem
UMA PUBLICAÇÃO DO SINEPE/RS Nº 128 /// ANO XXII /// JUNHO - JULHO 2018
Um olhar para as práticas docentes
P.30 / radar Fake news em pauta na sala de aula
2 /// COMEÇO DE CONVERSA
Avaliar para evoluir CARINE FERNANDES Editora da Educação em Revista
mais de 800 metaestudos de 50 mil artigos de pesquisa, cobrindo mais de 80 milhões de estudantes. Leitura imperdível! Os destaques desta edição não param por aí. Na seção ‘Pedagógico’, abordamos as contribuições do design para a educação e apresentamos ideias bem interessantes de como aplicar o conceito na prática. Já em ‘Gestão’, discutimos a expansão da educação a distância a partir das novas regras que entraram em vigor no ano passado e os cuidados que as
A avaliação faz parte do dia a dia do professor e é utilizada como instrumento para o seu trabalho. Mas, e quando a escola propõe inverter esse olhar para a avaliação das suas próprias práticas? Sabemos que o desafio é grande, mas não se pode fugir, pois só assim será possível avaliar o impacto da aprendizagem dos estudantes e obter melhores resultados no aprendizado. Quando bem estruturada, a avaliação também
IES devem ter ao decidir entrar no mercado da EAD. A Revista também está sintonizada com os temas atuais em debate na sociedade, como as fake news. Na seção ‘Radar’, especialistas comentam a importância de tratar do assunto em sala de aula, como forma de educar os estudantes a terem senso crítico e fazerem um filtro do que leem na internet. Ótima leitura!
contribui para o desenvolvimento profissional dos docentes, deixando de ser vista como punição. Por considerarmos o tema relevante, dedicamos boa parte desta edição para tratar do assunto. Na reportagem de capa, especialistas falam da importância do processo avaliativo e de como deve ser conduzido; nos artigos de opinião, abordamos avaliação de desempenho, mudança cultural e como se dá a aprendizagem em adultos. Em ‘Com a Palavra’, trazemos o professor da Universidade de Melbourne, na Austrália, John Hattie para tratar do assunto. Ele identificou as estratégias mais eficazes para a aprendizagem em uma pesquisa que analisou
/// EXPEDIENTE EDIÇÃO: Carine Fernandes. Produção: Carine Fernandes (MTB 15449), Patrícia Gastmann (MTB 15336) e Wagner Miranda de Figueiredo (MTB: 18739). Reportagens: Carine Fernandes, Vívian Gamba (MTB 9383) e Padrinho Conteúdo. Infográficos: Hermes Moura. Capa: Istock Photo. Diagramação: Prya Estúdio de Comunicação. Revisão: Rosane Vargas e Milton Gehrke. Conselho Editorial: Osvino Toillier, Hilário Bassotto, Flávio D’Almeida Reis, Mônica Timm de Carvalho, Naime Pigatto, Raquel Boechat, Ruy Carlos Ostermann, Ângela Ravazzolo, Rosângela Florczak e Gustavo Borba. Antenas: Adriana Gandin, Alfredo Fedrizzi, Caio Dibi, Crismeri Corrêa, Fernando Becker, José Moran, Laura Dalla Zen, Márcia Beck Terres, Mauro Mitio Yuki e Rodrigo Capelato. DIRETORIA: Presidente em exercício: Osvino Toillier, 2º Vice-Presidente: Oswaldo Dalpiaz, 1º Secretário: Marícia da Silva Ferri, 2º Secretário: Iron Augusto Müller, 1º Tesoureiro: Hilário Bassotto, 2º Tesoureiro: João Olide Costenaro. Suplentes: Maria Helena Rodrigues Lobato, Ruben Werner Goldmeyer, Joacir Della Giustina, Laura Coradini Frantz, Nestor Raschen, Jacinta Maria Rothe, Carlos Roberto Milioli. CONSELHO FISCAL: Titulares: Ademar Joenck, Inacir Pederiva, Cátia Teresinha Lange. Suplentes: Isaura Paviani, Maria Angelina Enzweiler, Guilherme Kühne. ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO E MARKETING: Coordenador: Prof. Osvino Toillier. Assessora de Comunicação e Marketing: Luciana Moriguchi Jeckel Lampugnani. Assessora de Imprensa: Carine Fernandes. Jornalista: Wagner Miranda de Figueiredo. Assistente de Comunicação: Tamara Stucky. Criação: Hermes Moura. Comercial: Bruno Pinheiro. FALE CONOSCO – Redação: Cartas, comentários, sugestões, matérias – educacaoemrevista@sinepe-rs.org. br. Comercial: Anúncios e assinaturas – comercial@sinepe-rs.org.br. Informações: Telefone (51) 3213.9090 e www.educacaoemrevista.com.br. ISSN: 1806-7123 A Educação em Revista não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressam o pensamento dos respectivos autores.
INFORME COMERCIAL 3
O que uma empresa tem a ver com a educação? Como seria o mundo se a Mercur não existisse mais? Este foi o questionamento que - há dez anos - levou a empresa a caminhar em busca de uma nova forma de atuação. Reduzir impactos, rever caminhos, corrigir erros,
Por acreditar na educação para a vida como um
redesenhar planos em todos os processos. Assim, ao longo
processo contínuo em que a pessoa aprende, experimenta,
dos anos, a Mercur vem construindo uma atuação centrada
empreende e se legitima através da interação com o
em ser uma organização comprometida com a construção
outro e com o coletivo, alguns produtos foram sendo
de relacionamentos que valorizam a vida, a partir de
ressignificados à medida que novos aprendizados eram
iniciativas locais de bem-estar.
construídos. Um exemplo é a Tinta Guache com Bico
Hoje o sentido de bem-estar das pessoas e a
Dosador que surgiu a partir de observações realizadas nas
capacidade de ajudá-las em seus próprios contextos
escolas, onde havia muito desperdício de tinta, dificuldade
é que definem a criação dos produtos e serviços da
de organizá-la em embalagens menores, para que todos
empresa. Para repensar o seu papel na educação, a
tivessem acesso e total controle desta tinta pelo professor.
Mercur construiu parcerias com o Instituto Paulo Freire
O novo frasco surgiu para preservar o produto por mais
e com profissionais de educação que contribuíram com
tempo, além de oferecer ao educador a possibilidade de
grandes diálogos, problematizações acerca da atuação na
iniciar com as crianças conversas significativas para além
empresa nesta área, ampliando assim, gradativamente,
dos conteúdos obrigatórios do currículo escolar, como a
a visão de mundo dos colaboradores Mercur, por
cooperação e o incentivo à autonomia através do ato de
conseguinte, da empresa. A perspectiva de ensinar-
servir-se sozinhas, controlando movimentos e expressando
aprendendo e aprender-ensinando, do educador Paulo
necessidades, sempre com o objetivo de atentar à liberdade
Freire, tem feito uma grande diferença na construção de
com responsabilidade. Descobri que não é meu, é nosso! é
ambientes colaborativos na empresa.
a mensagem. Afinal, quanto mais cedo se descobre que o
Saindo pelos portões da fábrica, como resultados práticos para todas as mudanças internas, encontramos a decisão de eliminar personagens nos produtos da educação - pois além de não contribuir, segregavam crianças, gerando
mundo é de todos nós e que precisamos cuidar dele juntos, ampliamos forças, não é mesmo? E assim encontramos a resposta para a nossa pergunta lá do início: todo mundo tem a ver com a Educação.
competitividade e criando necessidade nas pessoas. Ao conversar com educadores, descobriu também que com sua expertise poderia ajudar pessoas com deficiência por meio da cocriação de recursos de Tecnologia Assistiva, projeto que veio a se chamar Diversidade na Rua.
EDUCAÇÃO EM REVISTA ///
4 /// SUMÁRIO
06 CAPA Avaliação docente para os alunos aprenderem mais e melhor
10 COM A PALAVRA John Hattie traz dicas sobre como maximizar o impacto da aprendizagem
16 22 GESTÃO
PEDAGÓGICO Design: uma nova experiência para a educação
Novas regras da EAD desafiam as IES
28 DIVERSIDADE Confira perguntas e respostas sobre a inclusão na prática
30 RADAR Fake news em pauta na sala de aula
PORTO ALEGRE RECEBE DEBATE SOBRE EDUCAÇÃO Evento promovido pelo Sistema Positivo de Ensino propõe o debate sobre o atual cenário e possibilidades para o campo da educação Os avanços tecnológicos e as novas gerações – tanto de pais quanto de alunos – trouxeram para dentro das escolas a necessidade urgente de acompanhar as mudanças. “Quando se trata de educar e mediar o conhecimento, não se pode permanecer no mesmo ponto de antes. É preciso refletir, conhecer e discutir para avançar rumo ao futuro”, afirma a Diretora Pedagógica da Editora Positivo, Acedriana Vicente Sandi. Para inserir o debate de ideias no caminho mais próximo a tais avanços, acontece, em 16 de julho, na cidade de Porto Alegre, o evento “Um Dia Positivo!”. Promovido pelo Sistema Positivo de Ensino, o encontro pretende reunir aproximadamente 100 gestores e 400 professores de escolas da região. Para Acedriana, “é preciso ir muito além de oferecer um ensino associado às novas tecnologias. Devemos estar aptos a preparar o aluno não apenas para a aprendizagem das disciplinas, mas para trabalhar conteúdos que lhe sejam significativos e façam parte da sua realidade”. Na programação, o educador e consultor Leandro Henrique de Souza fala sobre os pontos-chave que precisam ser considerados nesse processo de mudança e adaptação: tecnologia, novas gerações, novidades no mercado de trabalho e competências que precisam ser ensinadas para a formação dos novos profissionais.
O jornalista e filósofo Clóvis de Barros Filho fala sobre ética na educação. Também está prevista no evento a palestra sobre como promover o ensino da língua inglesa com excelência internacional, com Luiz Fernando Schibelbain, Diretor do PES (Positivo English Solution).
Enquanto os gestores assistem às palestras, os professores participam do programa de cursos. O tema deste ano é “A educação mudou. As aulas, também.”. “As mudanças propostas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) vão permitir ao estudante desenvolver o senso crítico para assimilar melhor o conteúdo e a realidade ao seu redor, além da conquista de maior autonomia”, afirma Acedriana. O programa de cursos do Sistema Positivo de Ensino reflete essas mudanças e propõe aos professores diferentes possibilidades, visando ao aprimoramento contínuo dos docentes para o enfrentamento das mudanças em sala de aula. São 5.800 horas de cursos presenciais que orientam os professores nas práticas escolares, a fim de potencializar o ensino e a aprendizagem. Além de Porto Alegre, estão previstas edições do evento “Um Dia Positivo!” em Curitiba (PR), Salvador (BA), São Paulo (SP), Manaus (AM), Belém (PA) e Ribeirão Preto (SP). Em 2018, o evento aconteceu em Brasília (DF), Cuiabá (MT), Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ) e Florianópolis (SC). O Sistema Positivo de Ensino é o maior e mais tradicional sistema voltado ao ensino particular no Brasil, presente em 1.890 escolas e atendendo mais de 500 mil alunos em 950 municípios do território nacional. No Rio Grande do Sul, são 88 escolas com mais de 31 mil alunos atendidos, sendo seis delas em Porto Alegre.
AVALIAÇÃO DOCENTE PARA OS ALUNOS APRENDEREM MAIS E MELHOR
VANESSA CUENCA/ COLÉGIO SANTA INÊS
POR VÍVIAN GAMBA
VANESSA CUENCA/ COLÉGIO SANTA INÊS
6 /// CAPA
VANESSA CUENCA/ COLÉGIO SANTA INÊS
7
F
alar de avaliação docente não é novidade. Muitas escolas
“Não é tarefa simples identificar o nível de proficiência
já têm esse trabalho incorporado às suas práticas. Mas
em Matemática ou o estágio de desenvolvimento da
com que propósito? Mais do que saber se o professor é
compreensão leitora de um estudante, por exemplo.”
pesquisador, se domina a tecnologia, se cumpre regras, é preciso saber se ele, de fato, consegue impactar a aprendizagem dos
Como começar
seus estudantes. “Tem muita gente com currículo exemplar, mas
É dever da escola organizar um conjunto de indicadores
que não consegue transformar esse conhecimento em habilidade
para evidenciar aquilo que ela quer, que propõe desenvolver.
e competência docente. Esse é o maior problema. Ficamos
Os critérios envolvidos e a forma com que a escola vai
fazendo avaliação com base em questões comportamentais
sistematizar essa avaliação são definidos a partir do contexto,
(como ser assíduo e pontual), em conhecimento, mas não na
da estratégia dessa organização, explica a professora do PPG
qualidade da intervenção pedagógica”, alerta a mestre em
de Gestão e Negócios e de Gestão Educacional da Unisinos e
gestão educacional e diretora executiva da Plataforma de Leitura
doutora em psicologia Patrícia Martins Fagundes Cabral. “O
Elefante Letrado, Mônica Timm de Carvalho.
que podemos apontar são três grandes blocos de competência:
A qualificação do professor é muito importante.
o domínio conceitual e estratégico, que inclui mobilidade,
Indiscutível. E, assim como em outras profissões, a busca por
conhecimento, proatividade e visão sistêmica; habilidades
aperfeiçoamento, novos aprendizados e formações é essencial.
técnicas – domínio técnico para fazer uma hora do conto,
Mas, segundo Mônica, é preciso entender se todas essas coisas
por exemplo – com a identificação de gaps; e, por fim, as
que o professor aprende estão coladas a uma avaliação sobre as
habilidades intra e interpessoais, que é o que está para além do
crianças estarem ou não aprendendo. “É a questão primordial, e
técnico, do conceitual e do estratégico.”
isso não acontece nas escolas.” Entre as principais razões, está o fato de não existirem
É necessário ter em mente que as escolas são diferentes entre si, e o que serve para uma não serve para outra. Os
protocolos de identificação de impacto do professor na
públicos são diversos, as realidades, as propostas e as
aprendizagem do aluno. “Eles não são claros e não foram
promessas de valor de cada instituição, também. Tal como os
definidos no Brasil”, afirma Mônica. Uma referência nesse
projetos político-pedagógicos são o diferencial de uma escola,
tipo de trabalho é o professor neozelandês John Hattie (ver
os critérios para a condução dessa avaliação da mesma forma
entrevista com ele na página 10 desta edição), que lidera
serão. “A maneira como um projeto político-pedagógico define a
pesquisadores do Instituto de Pesquisa em Educação de
avaliação dos alunos tem que ser considerada na avaliação dos
Melbourne, na Universidade de Melbourne (Austrália), e da
professores. Se estou falando de projeto mais construcionista,
Universidade de Auckland (Nova Zelândia) em estudos que
voltado para habilidades não conceituais, isso tem que ser
incluem indicadores de desempenho e avaliação em educação,
transportado para a avaliação docente”, alerta Patrícia.
medidas de criatividade e modelos de ensino e aprendizagem.
Uma consultoria externa, para dar início ao processo, é válida.
Na obra ‘Aprendizagem visível’, resultado de 15 anos de estudo,
Porque o olhar viciado é um dos problemas enfrentados por
Hattie mostra que professores com alto impacto na melhoria
qualquer organização. “A presença de um interlocutor de fora
da aprendizagem dos seus alunos estão o tempo inteiro
elimina esse viés. Ele tem esse distanciamento ótimo, de enxergar
modulando suas intervenções didático-pedagógicas com base
aquilo que quem está no processo não enxerga”, aponta Mônica.
nas evidências de como elas impactam as crianças. Se não deu certo, eles retomam, refazem, mudam a lógica. Até que
Engajamento
consigam que todas aprendam. Porque todas podem aprender.
O instrumento de avaliação sempre foi o espaço de poder do
Para a mestra em gestão educacional, muitas vezes
professor, e quando a instituição propõe a inversão desse olhar,
faltam conhecimentos técnicos em educação e também nas
não é simples, afirma Patrícia. “Sabemos das resistências que
áreas específicas, para que se estabeleça uma avaliação mais
esse tema tem, em função da compreensão, do entendimento de
efetiva sobre a situação atual do aluno e sobre o que é preciso
como tudo isso é vivido.” Ela destaca que é preciso entender que a
fazer para que ele chegue às aprendizagens desejadas.
avaliação é um momento de um processo mais amplo, a gestão do
EDUCAÇÃO EM REVISTA ///
8 /// CAPA
desempenho. E que mesmo que a expressão usada seja “avaliação”, ela está na perspectiva de um processo, não de um evento. A resistência acontece porque, muitas vezes, as próprias organizações colocam a avaliação num patamar de punição. “A avaliação, em si, não é boa nem má. A maneira como isso se integra aos princípios de gestão é que vai definir se os professores vão aderir mais ou menos a isso como um modelo para o seu crescimento”, avalia Mônica. A escola é um lugar em que alunos e professores precisam aprender. Mas as instituições de ensino, via de regra, não têm currículos corporativos pensados para a formação de seus professores. “A avaliação docente tem que redundar na melhor equalização
/// Coordenação pedagógica deve se constituir como liderança
desse conteúdo de currículo corporativo. Identificando as fragilidades dos professores é que eu vou definir quais são as
como líder seja bem feito, tem que sentir retroalimentação.
pautas para que eles estudem e se qualifiquem. Temos que
As lideranças estratégicas têm que ser bem trabalhadas para
mostrar como a avaliação docente tem aplicação direta em todos
desenvolver líderes com essas competências. Senão, como
os fazeres da escola, trabalhar em cima disso e gerar decisões e
liderados, os professores não conseguem se espelhar. É um
encaminhamentos”, encoraja a especialista.
processo estratégico, que se estrutura para gerir o processo, e
Para que os professores se permitam participar desse processo e o engajamento ocorra, de fato, é fundamental que
não só para fazer avaliação”, alerta a psicóloga. Outro ponto importante é garantir espaço de planejamento
todos entendam a avaliação como um fator que vai conduzir ao
dos professores. “Não existe qualidade de ensino se (esse
desenvolvimento, à melhoria, a uma relação de ganha-ganha
trabalho) não for feito a muitas cabeças. Precisamos discutir o
para todos. “O discurso de avaliar para melhorar, para que
que é prioritário ensinar ou não, qual é o jeito melhor de ensinar
apareçam virtudes, potencial e novas possibilidades de entrega
naquela realidade, naquela escola. Tem um professor que
tem que aparecer na prática. Passa por implicações sobre como
trabalha com uma área e outro com outra? Como eles podem
essa cultura (organizacional) lida com o erro, como delimita
se integrar em nome de propostas educacionais maiores?”,
suas condições de entrega. É um olhar muito mais sistêmico, e a
propõe Mônica. Esse planejamento, além de definir expectativas
escola tem que estar disposta a dialogar sobre isso”, diz Patrícia.
de aprendizagem e reorganizar e repensar currículos para aderir à realidade, completaria-se-ia com um ato contínuo de
Transparência e liderança
autoavaliação: esse formato de aula está resultando no quê?;
Então, nesse processo de avaliação, a instituição tem que
quantos alunos estão progredindo?; o que é possível fazer
se posicionar não com ameaça, mas com transparência, orienta
com aqueles que não evoluíram? “É uma posição de professor
Patrícia. “É importante ter claro, sempre que vou avaliar alguém,
investigador, pesquisador de suas próprias práticas. Na lógica
de que ponto eu parto, qual a combinação dessa avaliação com
da educação 3.0, de ensino mais personalizado, isso é condição
essa pessoa, com esse grupo. E deixar claro o que vai acontecer
essencial para o negócio funcionar”, acredita Mônica.
depois desse momento, que repercussões isso tem.” As lideranças são fundamentais e dão o tom de todo o trabalho. À direção cabe dar o rumo da instituição e transmitir,
Mãos na massa O Colégio Anchieta, de Porto Alegre, já planeja um
com clareza, no nível tático, quais os elementos que precisam
trabalho nessa linha, de acompanhamento docente. Segundo
ser percorridos; e às coordenações pedagógicas, constituírem-
o coordenador do projeto, professor Cleiton Gretzler, o
se, verdadeiramente, como lideranças. A literatura aponta que
processo não é definido como “avaliação”, mas tem o objetivo
um dos grandes gargalos das organizações são as lideranças
de acompanhar e retroalimentar as práticas pedagógicas.
intermediárias. “Qual o principal problema? Para que seu papel
A ideia surgiu num trabalho maior realizado na instituição,
9 um sistema de qualidade de gestão escolar. “Identificamos que não tínhamos evidências suficientes para dar conta dos indicadores que estavam nesse sistema.” Segundo o professor, ao olhar para as próprias práticas, as perguntas essenciais que surgiam eram: existem coerência
“A avaliação, em si, não é boa nem má. A maneira como se integra aos princípios de gestão é que vai definir se os professores vão aderir”, Mônica de Carvalho
e sequências das atividades (início, desenvolvimento, fechamento)? Qual a pertinência e o uso pedagógico dos
O resultado do aluno é tudo o que se quer. Ele precisa
recursos? O tempo tem sido bem utilizado? Há domínio de
aprender, e o resultado dele vai revelar o quanto a escola é
conteúdos disciplinares e capacidade para transferi-los e
eficiente. O Enem, por exemplo, faz parte disso, mas não é tudo.
integrá-los de forma adequada ao processo de aprendizagem?
“É um elemento muito importante, mas apenas um. O exame
Foram pensados, então, em três eixos que ajudariam a
não consegue dizer tudo sobre o resultado do meu aluno e o que
chegar a essas respostas: 1) o processo de acompanhamento
foi feito no processo formativo dele”, pondera Mônica.
do planejamento dos professores, que já é feito pelo setor
Um ensino pautado em evidências requer trabalho.
pedagógico; 2) o acompanhamento da prática didática, que
Requer líderes que incitem professores a pensar sobre quais
engloba metodologia, clima e gestão de tempo; e 3) o processo
evidências coletar para ver se a aprendizagem está acontecendo.
de reflexão acerca dos pontos observados. “Esse é o ponto mais
É sair da zona do “achismo”, que não oferece nada mais do
importante. A partir do que foi observado, garantir espaços
que o levantamento de hipóteses, para trabalhar com mais
de crítica, de observação, de retomada, de aprimoramento,
cientificidade e profissionalismo. Com novos balizadores,
de ajustes. E, com esse feedback, ver o que fazer, sempre em
melhoram os professores, melhoram os alunos, melhora a
relação à aprendizagem que a gente deseja.”
instituição. Razões de sobra para começar.
O primeiro momento foi de autoavaliação, que durou
que, se aprovado pelo conselho acadêmico, fará com que o
A pauta desta reportagem foi construída em reunião realizada na Regional Metropolitana, no Colégio Anchieta, e contou com a participação dos seguintes educadores: Adriana Ribas (Colégio Maria Imaculada), Cleiton Gretzler e Dóris Trentini (Colégio Anchieta), Eliane Alves de Bragança (Colégio Batista), Elizete Delima Carneiro (Escola Mãe Admirável), Fabiana Pires e Maria Waleska Cruz (Colégio Santa Inês), Fabiane Franciscone (Rede La Salle), Keila Gaspar Martins (Colégio Sinodal do Salvador), Letícia Bastos Nunes (Colégio Farroupilha), Rafael Korman (Colégio Israelita), Shirley S. Cardoso (Rede Marista), Silvia Batista (Colégio
acompanhamento docente seja aplicado, de fato, em toda a escola.
Dom Bosco) e Tula Peruzzo (Escola Nossa Senhora do Brasil).
cerca de um ano, o segundo de estudo, para traçar linhas de ação, ainda está em andamento. “Estamos na prototipagem. A gente sabe que na prática escolar não tem muito isso. Estamos engatinhando. A ideia é encontrar um protótipo que de alguma forma dê as evidências de que precisamos.” Essas testagens, que devem ocorrer até o final do ano, darão origem a um documento
Ampliando Horizontes, Transformando Vidas Assessoramento escolar: palestr as, dinâmicas e tr einamentos par a todos os funcionár ios da escola. Consultoria escolar: avaliação e inter venção nas necessidades do aluno com deficiência em sala de aula. Nosso time de profissionais... Uma equipe inter disciplinar com pr ofissionais das ár eas de fisioter apia, terapia ocupacional e fonoaudiologia.
“ Evoluir é uma questão de escolha ” Contatos: (51) 99291.6998 - Anelise / (51) 99272.1169 - Cintia / (51) 99262.9426 - Mariana EDUCAÇÃO EM REVISTA /// E-mail: comercial@evoluirpoa.com.br www.evoluirpoa.com.br
10 /// COM A PALAVRA
“Professores devem ser avaliadores do seu próprio ensino” POR CARINE FERNANDES
O
que de fato funciona para aumentar o impacto da aprendizagem? Qual a importância do feedback? A motivação realmente faz a diferença para aprender?
Quais estratégias são mais eficazes para a formação de professores? Para buscar essas respostas, o professor e diretor do
impacto, quando professores e alunos têm altas expectativas
Instituto de Pesquisa Educacional de Melbourne da Universidade
e quando os critérios para a avaliação das lições são explícitos
de Melbourne, na Austrália, John Hattie, liderou um estudo
e elas são desafiadoras (não tão difícil nem muito chata).
gigantesco, realizado durante 15 anos, que analisou mais de 800
Também funciona quando há confiança suficiente para que
metaestudos de 50 mil artigos de pesquisa, cobrindo mais de 80
os erros sejam vistos como oportunidades de aprender;
milhões de estudantes. Acredita-se que essa é a maior análise de
quando o feedback não é apenas fornecido, mas recebido e
dados já feita na área de educação em toda a história acadêmica. A
compreendido, e ajuda os alunos a saberem o melhor a seguir;
pesquisa resultou no livro ‘Aprendizagem visível para professores:
e quando há um foco em aprender mais do que em ensinar.
como maximizar o impacto da aprendizagem’. Para o especialista,
Entre as influências mais poderosas sobre a aprendizagem
o principal fator de sucesso na aprendizagem dos alunos é o
estudantil está a eficiência coletiva dos professores.
professor e o que faz um bom docente não são seus títulos, mas sim seus métodos de ensino. Nesta entrevista exclusiva a
Em geral, os professores trabalham sozinhos e existem poucos
Educação em Revista, Hattie, que é PhD pela Universidade de
momentos de troca. Por que um trabalho coletivo é importante?
Toronto, no Canadá, fala sobre o que, efetivamente, funciona na
Precisamos da crítica uns dos outros para nosso crescimento
educação e traz dicas para os trabalhos dos professores. Confira:
e para fazer a diferença no aprendizado. O sucesso está mais
Educação em Revista – Fale um pouco sobre a sua pesquisa
trabalho, por isso compartilhar esse pensamento é fundamental.
relacionado ao “como” os professores pensam sobre o seu que estudou por mais de 15 anos milhões de estudantes para identificar o que funciona para melhorar a aprendizagem dos
E quais são as atitudes precursoras do sucesso nas
alunos. O que de fato funciona e o que não funciona? O que
escolas que precisam ser desenvolvidas nos programas de
mais chamou a sua atenção nesse estudo?
formação de professores?
John Hattie – O que mais chamou a atenção foi que quase
Os programas de formação precisam identificar e trabalhar
tudo que fizemos para os estudantes funciona, mas a
as evidências que podem melhorar o aprendizado de alunos,
pergunta é: o que funciona melhor para concentrar nossos
juntamente com os professores. Muitas vezes, as capacitações
esforços? As intervenções mais eficazes ocorrem quando
focam em outras áreas que não são tão importantes quanto a
professores e alunos trabalham juntos para avaliar seu
busca por evidências de aprendizagem.
O senhor afirma que, muitas vezes, o professor prioriza o
Qual a importância do feedback na avaliação e como
ensino, e não a aprendizagem. Por quê?
preparar o professor para receber críticas?
Os professores adoram falar sobre como ensinam, partilham
Há evidências de que cerca de 80% do que ocorre em uma
recursos, refletem sobre os seus próprios métodos. Mas o
sala de aula o professor não vê ou não ouve, por isso é
que importa mesmo não é como eles ensinam, mas sim qual
fundamental que os professores procurem evidências de
o impacto do seu ensino, só assim poderemos considerar a
seu impacto por meio de métodos e não somente das suas
aprendizagem dos alunos. Precisamos ser mais inteligentes
próprias observações, como buscar e receber feedback
sobre o aprendizado, conhecer as melhores estratégias
sobre o impacto do professor, com quem, sobre o que e a
de aprendizado para os alunos, se eles têm estratégias
que magnitude é crucial. É importante observar como os
alternativas quando a primeira estratégia talvez não funcione.
alunos reagem ao professor, e não observar o professor, ou seja, olhar para a reação da plateia, e não para o palestrante,
A avaliação sistemática das práticas docentes ainda é
porque o mais importante não é o método, mas sim o
incipiente no Brasil. Quais dicas o senhor dá para as escolas
resultado. Se o professor souber ver o retorno dos alunos,
que buscam adotar essas práticas de gestão?
será mais assertivo na decisão de seguir em frente, se está
Não tenho problemas com a prestação de contas, mas colocaria
funcionando, ou mudar para ter melhores resultados.
essa análise a cargo da escola, e não de mantenedoras ou outras instâncias. A escola pode fornecer evidências de que
O que é a aprendizagem visível, que o senhor aborda no
todos os seus alunos, em um ano de trabalho, evoluíram
livro com esse título?
ou não. Não vejo problemas em a escola avaliar o professor,
A aprendizagem é, naturalmente, mais frequentemente
desde que perceba quais práticas impactam negativamente
invisível, por isso é importante encontrar maneiras de ouvir
ou positivamente no desenvolvimento dos alunos. Eu avaliaria
como os alunos estão pensando, elaborar estratégias de
então a qualidade dessa evidência sobre o impacto.
aprendizado. A aprendizagem visível visa desviar a atenção do ensino para o impacto do ensino na aprendizagem do
Como o professor pode buscar evidências que tragam um
aluno. É um papel reforçado para os professores à medida
diagnóstico do seu desempenho em sala de aula?
que eles se tornam avaliadores de seu próprio ensino. O
Você pode usar medidas de crescimento e aproveitamento,
aprendizado e o ensino visíveis ocorrem quando os profes-
artefatos de trabalho do aluno (por exemplo, mostrar
sores veem a aprendizagem através dos olhos dos alunos.
dois trabalhos de seis meses de alguns alunos para
Os professores são mais bem-sucedidos quando se tornam
mostrar o crescimento), usando a voz do aluno sobre seu
avaliadores de seu próprio ensino.
crescimento na aprendizagem. Existem muitos métodos, e nenhum por si só é suficiente.
(Tradução: Mirela Motta)
Fonte: Livro Aprendizagem Visível para Professores
12 /// ENTRE ASPAS
Múltiplos olhares para a avaliação docente
A
identificar gaps que dificilmente seriam vistos ao olhar somente para dentro. Outro item que pode enriquecer o cruzamento dos dados para a análise são as avaliações institucionais, pois ampliam o olhar para elementos muitas vezes esquecidos, como o clima institucional e a infraestrutura, entre outros que, igualmente, compõem os processos de ensinar e de aprender. Com múltiplos pontos de análise qualitativos e quantitativos em mãos, por meio do cruzamento dos dados é possível construir um olhar mais assertivo sobre diferentes contextos e processos, como, por exemplo, o desempenho do professor. Além dos resultados dos estudantes, tal visão abarca outros
temática de avaliações de desempenho tem se tornado
fatores que influenciam o desempenho nas práticas docentes e,
cada vez mais evidente em instituições de ensino. Para
por consequência, o desempenho dos estudantes. Ou seja, olhar
que haja assertividade na análise sobre diferentes fatos
para o desempenho do professor consiste, em última instância,
ou processos, o olhar sobre os resultados, além de necessitar de dados concretos, também precisa estar atento às subjetividades
em uma autoanálise de todo o universo escolar. Cabe ressaltar ainda que o uso da tecnologia facilita
e às interdependências que perpassam o ambiente escolar.
sobremaneira a organização dos dados e das informações para
Desse modo, para que tenhamos uma visão completa sobre
uma análise mais eficiente e assertiva dos dados, os quais,
determinado contexto, necessitamos de múltiplas fontes de
além de fragilidades, apontam possibilidades e conquistas.
informação, a fim de subsidiar o desenho de diferentes cenários
Por vezes, a atenção institucional é voltada demasiadamente
para tomadas de decisão. Portanto, a análise de desempenho,
para as fraquezas, em detrimento da valorização e da
além de avaliar o passado, deve estar a serviço da projeção de
potencialização das conquistas. Finalizo essa reflexão com o
futuro, seja qual for o setor ou a área de atuação.
seguinte questionamento, que poderá nos levar a um novo ponto
Em instituições de ensino, a principal entrega é o aprendizado
de partida: a avaliação do desempenho docente não deveria
dos estudantes, o qual, por sua vez, depende, prioritariamente,
conduzir, também, para o compartilhamento de boas práticas,
da ação docente. Como então avaliar a atuação do professor? O
assim como para a importância do olhar sobre as implicações de
que acontece em muitos casos é que as instituições alicerçam
todas as instâncias da instituição, a partir dos resultados obtidos?
sua avaliação em uma fonte frágil de informações, com poucos pontos de análise, que levam a um desenho míope da realidade. Partindo desse pressuposto, poder-se-ia perguntar também: do que depende a atuação do professor? Afinal, a escola é um sistema orgânico e interdependente. Apesar de haver várias interpretações que dependem muito dos pressupostos teórico-metodológicos de cada instituição, há alguns aspectos que precisam ser levados sempre em consideração nas avaliações de desempenho do professor. A análise deve ser realizada ao longo de todo o ciclo escolar, com base em objetivos e metas claros e coerentes com a proposta pedagógica da instituição. A coleta de informações pode estar pautada em acompanhamento individualizado, análise de materiais pedagógicos e observações em sala de aula, entre outros. Cruzar os dados de avaliações internas com avaliações externas ao longo do ciclo também é fundamental, pois ajuda a
MIGUEL ÂNGELO SCHMITT Vice-diretor do Colégio Santa Inês, mestre em Teologia, com MBA Executivo Internacional e especialização em Dinâmica dos Grupos e em Gestão Escolar.
INSPIRE-SE /// 13
Olhar crítico às práticas docentes
U
tilizar instrumentos de avaliação que promovam
matriz de habilidades e competências, divididas por
o acompanhamento e o desenvolvimento dos
Área do Conhecimento e nível de ensino. Os resultados
docentes, alinhados a uma efetiva formação
acadêmicos são cruzados com questionários respondidos
docente e a práticas de gestão é fundamental para
por estudantes e pais, que mensuram itens como o nível de
obter bons resultados. É nisso que os colégios da Rede
qualidade do ensino, o desenvolvimento das competências
Marista investem. Os docentes são desenvolvidos e
e o ambiente educativo.
acompanhados com base em um mapa de competências,
Após o cruzamento, são realizadas análises e planos
criado a partir de um projeto estratégico que define o
de ação pela equipe diretiva e pelo corpo docente. No plano
foco de atuação, as responsabilidades e as competências
da gestão, são trabalhados pontos fortes e oportunidades
comportamentais e técnicas. Entre os aspectos avaliados
de melhoria e, depois, estabelecidas metas de inovação
estão: aprendizado contínuo, inovação e qualidade,
ou de melhoria contínua. Os professores realizam seu
responsabilidade e compromisso, negociação e diálogo,
plano de ação a partir das competências com menor
relacionamento interpessoal, entre outros. A formação
desempenho e, para cada uma delas, identificam as
continuada está vinculada a estudos e aprofundamentos
habilidades e as estratégias de ensino que precisam ser
teóricos e metodológicos. “É assim que se pensa a
trabalhadas na sua Área de Conhecimento.
formação integral do educador marista, com domínio técnico, comportamental e metodológico para trabalhar
Um exemplo desse processo de aperfeiçoamento está no Colégio Marista Assunção, que desenvolve estratégias
conceitos e conhecimentos significativos para o mundo
para que os docentes se sintam confiantes na aplicação
contemporâneo, aliados aos valores institucionais”,
de novos percursos de aprendizagem, como check-list
pondera a supervisora pedagógica dos Colégios e
para questões de prova, exposição dos planejamentos
Unidades Sociais da Rede Marista, Shirley Cardoso.
de sequências didáticas, oficinas de gestão de sala,
O acompanhamento junto à gestão e às coordenações
metodologias ativas, entre outros. “Eu percebo que as
é feito semestralmente ou de acordo com as demandas
ferramentas e as oficinas proporcionam a nós, docentes,
e se complementa à aplicação anual de um robusto
uma maior segurança frente ao que se espera do nosso
processo de monitoramento: o Sistema Marista de
desempenho, ao mesmo tempo em que nos subsidiam na
Avaliação (Sima). A avaliação externa, estabelecida desde
aplicação de um ensino inovador”, afirma o assessor de
2007, consiste na aplicação de provas com base em uma
área e professor de Geografia Ronaldo Noguez.
EDUCAÇÃO EM REVISTA ///
14 /// PONTOS DE VISTA
Andragogia e Quando falamos em novas práticas de gestão e de avaliação docente, é importante pensar sobre como preparar os profissionais para a mudança e na forma como eles aprendem novos conhecimentos, para que o processo de transformação seja bem aceito pelo grupo e traga uma aprendizagem efetiva. Convidamos duas especialistas para falar mais sobre esses aspectos, confira:
O
mundo está vivendo o poder da tecnologia e da
Precisamos explorar essa temática, realizar rodas de
conectividade. Uma das maiores transformações da
conversas dessas necessidades, habitar todos os espaços,
história humana. Estamos tratando de mudanças
expressando a importância desse novo formato no mundo
fundamentais de como vivemos, desempenhamos nossas
complexo. Somente com análise do resultado, conhecemos
tarefas, estabelecemos relações, desenvolvemos liderança e
pontos de melhoria que será possível vencer a imprevisibilidade.
consideramos a educação.
É preciso reconhecer que hoje estamos muito mais expostos
O sistema educacional também foi afetado. A educação,
pelo ambiente mais colaborativo e de cocriação, exigir maior
por muitos anos, foi tratada de forma linear e padronizada,
posicionamento e participação de todos os envolvidos, mostrar
alunos divididos em séries, formando alunos idênticos,
a importância do desenvolvimento pessoal por meio do
entendendo que todos deveriam ter o mesmo conhecimento.
autoconhecimento e de capacitação nas esferas do novo contexto.
Esse modelo padronizador é justamente o contrário do que
O crescimento profissional se dá quando passamos a
nosso mundo complexo precisa hoje; precisamos de gente
compreender como nossos comportamentos afetam as
diversa, com mentalidade expandida, com habilidades
outras pessoas e impactam nosso trabalho. Estar de mente
diferentes e capazes de resolver problemas diversos.
aberta para conhecer como a nossa performance pode ofertar
Tempos atrás, as instituições de ensino não se percebiam como a necessidade em buscar processos de gestão e
melhores resultados nos permite sermos profissionais destacados no ambiente em que atuamos.
performance, pois estava estabelecida uma visão de que a educação era um bem de todos e que as instituições não precisavam mostrar seus diferenciais. Frente ao entendimento de mudança, instalam-se novas formas de trabalhar nas instituições de ensino, fazendo-se necessários sistemas avaliativos para buscar melhor qualificação da própria instituição, do corpo docente e dos alunos. Assim, naturalmente, aparece a resistência à mudança, porque as pessoas acham que a mudança está sendo feita nelas e não COM ou POR elas, e desconhecem como as mudanças as afetarão. Sendo assim, é descortinado um descontentamento e uma força contrária a esse novo sistema, instalando-se o retorno ao conhecido. E a mudança acaba, muitas vezes, sendo difícil de ser implementada. Afasta-se a possibilidade de as instituições de ensino serem berço da educação dos novos tempos.
CRISMERI DELFINO CORRÊA Psicóloga, especialista em Recursos Humanos, diretora da Possibilità – Consultoria Organizacional e vice-presidente de Desenvolvimento Humano e Inovação da ABRH-RS.
15
e mudança cultural
A
prendizagem, um processo contínuo e – por que
Para que o adulto esteja aberto a iniciar uma trajetória para
não dizer? – fundamental para nossa vida, que
aquisição de um novo conhecimento, ele precisa perceber
está em constante modificação. Aprendemos
que há uma necessidade a ser atendida, além de identificar
desde que nascemos e seguimos aprendendo ao longo de
os ganhos que obterá. Vendo sentido nos possíveis ganhos
toda a vida. Porém, a forma como aprendemos vai sendo
do processo, há uma maior probabilidade de que os novos
alterada conforme vamos crescendo, acompanhando o
conhecimentos adquiridos possam ser internalizados e, assim,
nosso desenvolvimento. Assim como a Pedagogia tem suas
aplicados para a vida.
características, a aprendizagem de adultos, ou Andragogia, é repleta de particularidades, que valem o estudo e a reflexão. Uma das características do adulto é estar em uma fase
Em si, o processo andragógico requer experimentação. É preciso que o adulto vivencie aquele conhecimento, praticando-o constantemente em sua vida, para que ele se
de independência, ou seja, já independe da família ou dos
torne uma habilidade. A avaliação, nesse processo, é individual,
professores na sua busca por novos conhecimentos. Muitos,
e o termômetro é o uso que se faz daquela aprendizagem. O
por sua vez, podem entender que suas crenças e opiniões
próprio sujeito aprendiz avalia o quanto do que aprendeu faz
já estão formadas, pois foram sendo construídas desde
sentido para suas necessidades e escolhas de vida.
quando eram crianças, a partir de vivências e leituras dos
Dessa forma, a Andragogia pode ser vista como um
fatos que ocorreram até então. Isso pode impactar na crença
movimento de busca por atender a uma nova necessidade
de que, ao deixarem para trás a infância, deixaram também a
que se apresenta. Para que seja eficaz, precisa ser genuína,
vulnerabilidade e a necessidade de aprender. Nesse sentido,
ou seja, o adulto precisa perceber os motivos que o levam a
pode haver certa resistência quanto a admitir que estão em
empreender na busca por uma nova aprendizagem, abrindo-se
constante movimento e que, para acompanhá-lo, o processo de
a essa vivência e aplicando-a em sua vida.
aprendizagem ainda se faz presente em sua vida, resistência essa que faz parte de nossas características humanas. O adulto tem, ainda, o poder de decisão. Ele escolhe os cursos que deseja realizar, sua formação acadêmica, que área profissional seguir. E, decidindo, estará presente em sua totalidade, ou seja, presença de escuta, atenção. E mesmo se, por alguma razão, tenha que realizar algum evento de formação, seja formal, seja continuada, sem ter percebido internamente tal necessidade, provavelmente sua presença será apenas física, pois uma das premissas para que a aprendizagem seja efetiva a um adulto é a abertura desse sujeito a um novo conhecimento. Para que esse movimento de abertura seja realizado, o aspecto percepção também precisa ser levado em consideração. Cada um possui sua própria percepção sobre uma necessidade, um fato ou sobre si. Essas percepções são concebidas de acordo com o histórico de vida de cada um.
GISELE COZER CHIESA Assessora de RH no Colégio Farroupilha, especialista em Gestão de Educação Corporativa e Formação em Dinâmica dos Grupos SBDG.
EDUCAÇÃO EM REVISTA ///
16 /// PEDAGÓGICO
Design: uma nova experiência para a educação POR VÍVIAN GAMBA
A
principal característica do design é projetar alguma
A ideia é que a projetação leve em conta um espaço de trocas
coisa. Num viés estratégico, no lugar de um objeto,
conjuntas, em que o professor ainda esteja na centralidade,
projeta-se uma experiência. E como isso funciona
mas no qual o que importa seja o aluno, do ponto de vista de
quando se trata de educação? Um exemplo é o projeto de uma classe. Como essa classe vai ter utilidade para repercutir o
construção efetiva do conhecimento, defende Borba. Foi a partir dessa leitura que o design chegou ao que é hoje:
processo de aprendizagem entre professor e aluno? “O design
uma ferramenta para fazer com que a sala de aula desapareça
tem a função de reconstruir um espaço que tradicionalmente
como obstáculo e passe a ser um espaço democrático onde todo
separa o professor e o aluno, cria um distanciamento entre
mundo tenha acesso ao conhecimento da melhor forma. “Cada
professor que tem conhecimento e o aluno que está recebendo.
aluno consegue ter seu espaço para construir o aprendizado, o
Esse espaço foi projetado historicamente para isso. Hoje, a
professor consegue circular de uma forma que é mais fácil e
gente sabe que esse ambiente não pode ser mais assim”, explica
efetiva para ele, dependendo do estilo dele. Quando consigo
o especialista em educação e inovação e diretor de graduação
desenhar (a sala) de uma maneira que é totalmente flexível, esse
da Unisinos, Gustavo Borba. Isso porque, nesses moldes, não
ambiente se adapta aos (diferentes) professores e alunos, essa é
há como causar o impacto que deveria numa sociedade digital.
a grande sacada”, acredita o diretor.
17
“O fundamental é a compreensão de que cada um de nós é um projetista”, Gustavo Borba
à criatividade do professor e dos alunos, pois o processo é sempre coletivo. O conceito do design thinking é totalmente compatível com o que se propõe para uma educação de qualidade, mais humanizada, dialógica, aberta para as mudanças da sociedade.” Então, no contexto da escola, o design tem a função
O uso do design em educação é bastante novo. Começou em
de facilitar os processos de aprendizagem a partir de uma
2012, quando a empresa de design e consultoria em inovação
construção de experiência. Entre professor e aluno, entre
IDEO, fundada em 1991, em Palo Alto, Estados Unidos, lançou
professor e professor e entre aluno e aluno. Pode, sim, começar
o material ‘Design Thinking for Educators’, afirma a diretoraexecutiva do Instituto Educadigital, Priscila Gonsales. Foi pelas
por uma mudança estrutural do ambiente, mas extrapola o físico. “É um meio. Quem pensa mais na educação, na experiência, leva
mãos dela e do instituto que esse material foi adaptado e lançado
em conta outros elementos menos tangíveis que o elemento
em português, em 2014: ‘Design Thinking para Educadores’.
físico. Começamos a projetar coisas mais intangíveis, como
Segundo Priscila, o design thinking pode apoiar a ritualização
gerar engajamento entre professor e aluno”, afirma Borba.
de boas práticas em sala de aula, práticas que tenham como
No momento atual, em que se está em uma emergente
foco a aprendizagem ativa e os pilares da Unesco: aprender a
cultura digital, Priscila acredita que o design é ainda mais
aprender, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a
interessante, pois favorece o trabalho colaborativo e incentiva
ser. O professor, ao mesmo tempo em que trabalha um tema ou
o compartilhamento de conhecimento, a geração de hipóteses
conteúdo, trabalha habilidades socioemocionais como empatia,
para solucionar um problema, a experimentação mão na
resolução de problemas, resiliência e cooperação. “É um incentivo
massa. “Em uma instituição de ensino, o design thinking pode
EDUCAÇÃO EM REVISTA ///
18 /// PEDAGÓGICO
favorecer a inovação à medida que foca na melhoria de vida das
professores foram capacitados em design estratégico, e a ideia
pessoas da instituição, sejam elas funcionários, estudantes ou
era que problemas de interesse dos alunos fossem debatidos
comunidade. Inovação no design thinking é valor percebido. Por
e resolvidos. No início, a tendência foi usar ferramentas
isso, não se lança uma inovação, ela simplesmente acontece
mais formais para conduzir o trabalho. Então foi projetado
pela interação com as pessoas.”
conjuntamente com os professores algo diferente para o segundo
O campus de Porto Alegre da Unisinos já foi projetado
projeto, sempre a partir dos interesses dos alunos. “Legal que a
para uma dinâmica diferenciada em sala de aula. A mesa do
gente está construindo uma história, o colégio está encarando
professor não fica entre ele e os alunos, é uma mesa de apoio
assim e todo mundo topou experimentar. Quando a gente está
(para computador, materiais), na lateral da sala. As paredes
experimentando, se der errado já deu um pouco certo, porque
são riscáveis. As classes e cadeiras têm rodinhas, para uma
temos como aprender com aquilo e melhorar”, ensina Borba.
fácil movimentação. No final do ano passado, a Unisinos fez
Borba acredita que, para começar esse trabalho, há duas
uma pesquisa com 1100 alunos sobre o uso da sala de aula e,
questões principais: a administração da escola, que tem que
conforme Borba, os professores perceberam coisas que nem
perceber a necessidade de fazer algo diferente, e construir o
tinham se dado conta de como eram importantes quando a sala
engajamento dos professores, um desafio que ele vivenciou
foi projetada. “Tenho um relato qualitativo de um aluno sobre as
como professor. “Tenho minha aula preparada há anos. Ia lá, dava
paredes riscáveis, por exemplo, de como era difícil ele apresentar
a aula, e tudo bem. Não funciona mais assim. Hoje é impossível
um trabalho quando ia lá na frente, com todos os colegas
pensar um professor entrar na sala de aula sem ter projetado a
olhando. ‘Quando eu apresento na parede que eu escrevo, sinto
aula para aquele grupo específico. A aula do semestre passado
que a turma me dá um abraço.’ Porque as pessoas ficam em volta
não vai servir. São outras pessoas, outra turma. É tudo diferente.
dele. Então ele tem a sensação de abraço, não de fuzilamento.”
Esse nível de flexibilidade e de adaptabilidade é a ideia que
O retorno dos alunos nesse estudo mostrou que o espaço
os professores têm que comprar. O jeito mais fácil é ver que a
diferenciado facilitou o processo de aprendizagem, as salas
direção está disposta e investe neles para isso.” O fundamental
geram engajamento e eles se sentem mais convidados a irem
é a compreensão de que cada um de nós é um projetista e o que
para a aula numa sala desse tipo do que numa sala tradicional.
fazemos em aula é projetar para a experiência de aprendizagem
Praticar. Ter mente aberta para o novo e para ousar
que teremos com nossos alunos, afirma.
experimentar. Essa é a receita de Priscila para incorporar o
CONTEÚDO ONLINE DISPONÍVEL
design no dia a dia da sala de aula. Um projeto desenvolvido
Conheça o livro ‘Design Thinking para Educadores’ educacaoemrevista.com.br
no Colégio Anchieta é um exemplo dessa experimentação. Os
“O Futuro eu que invento”
Siga a rota proposta pelo Design Thinking para realizar um projeto criativo com sua equipe de alunos! Mãos à obra!
Gere novas ideias!
1 Crie seu desafio!
O quarto passo chamamos de "brainstorming" (tempestade de ideias). Muitas ideias possíveis para solucionar o desafio devem surgir. É hora de botar a criatividade para funcionar, compartilhar possibilidades e, em grupo, escolher uma ideia ou uma combinação de ideias para resolver o desafio.
O primeiro passo é identificar o problema a partir de um tema, como por exemplo a cidade, o bairro, a comunidade, a escola, uma praça etc. A seguir, crie um painel com “sonhos e pesadelos” relacionados ao tema. O desafio a ser criado começa com uma pergunta "Como podemos + verbo (ação) + finalidade (para que)?"
Seja curioso! O segundo passo é a investigação empática. Inicie pesquisas de campo, busca de informações na internet, observações, entrevistas, e construa a “Persona”, uma ferramenta que permite um olhar apurado em relação ao perfil das pessoas envolvidas no desafio.
Entenda o sentido!
2
O terceiro passo vai trazer “insights” (percepções) para ajudar no momento de geração das ideias. Analise as informações coletadas na fase anterior e entenda melhor os principais aspectos e características relacionadas às pessoas envolvidas no desafio que precisam ser consideradas.
3
4 5 Invente algo!
Final da trilha e momento de dar vida à ideia. Crie um protótipo para representar a ideia: um vídeo, desenhos, história em quadrinhos, uma maquete com brinquedos etc. Apresente a outros colegas, receba feedback e elabore um plano de ação.
Fonte: Priscila Gonsales
PEDAGÓGICO NA PRÁTICA /// 19
Design thinking é mão na massa
D
bicicletas que eles usam como meio de transporte para chegar à escola. A equipe formada por alunos do Ensino Médio planejou fazer um bicicletário com pneus velhos. Além de resolver o problema existente, os estudantes puderam conhecer melhor conceitos sobre educação ambiental, coleta seletiva e sobre como reutilizar materiais sólidos, dando-lhes novas funções e utilidades. Em Porto Alegre, o Colégio Anchieta deu início, este ano, a uma atividade integradora orientada pelo design, por meio
esign thinking pressupõe projeto, experimento,
da qual os alunos do 6º e do 7º anos do Ensino Fundamental
prática. Então, a ideia de desenvolver algo novo
desenvolvem três projetos ao longo do ano. O segundo
na escola com base no design pede, mais do que
projeto está ligado a uma ação já tradicional das crianças
qualquer outra coisa, mãos na massa. No livro ‘Design
Thinking para Educadores’, a diretora-executiva do Instituto
dessas séries: o apadrinhamento de uma entidade social. “Mas, neste ano, o desafio vai ser usar o design para criar uma
Educadigital, Priscila Gonsales, reúne uma série de exemplos
solução solidária para essas crianças, que vai depender da
de instituições brasileiras que colocaram o design em prática
criatividade deles, de até onde a mente deles puder voar”,
na sala de aula. O Centro Educacional Pioneiro, de São Paulo,
afirma o coordenador do projeto, Silvio Almeida Junior.
foi uma delas. Com o objetivo de promover a reflexão entre os
Tudo será feito por meio de um jogo de tabuleiro próprio
estudantes do Ensino Fundamental 1 sobre o comportamento
para a sala de aula, que foi idealizado e construído pelos
em relação ao uso das mídias digitais, especialmente em
professores. “Durante as aulas, ao jogar, os alunos passam
relação às noções de público e privado, a professora Débora
por todas as fases criativas do design para prototipar uma
Sebriam propôs uma atividade: como podemos navegar com
solução focada nas pessoas”, explica o professor. É uma
segurança na internet?
mudança para a escola, para os professores, para as famílias
Um primeiro encontro de Cocriação teve por objetivo
e para os alunos, que não estão acostumados com essa
mapear com as crianças seus próprios hábitos de navegação.
cultura. Mas estão todos empolgados com esse novo caminho
Na fase da Descoberta, por meio de um mapa da empatia,
e com as novas possibilidades de aprender.
elas construíram uma persona, ou seja, uma representação das características físicas e psicológicas da turma. Na Ideação, as crianças debateram entre si e elencaram quais ações seriam importantes para uma navegação segura, considerando os hábitos de navegação mapeados em cada grupo e as características presentes nas “personas” representadas. Ao final, na fase da Experimentação, os grupos fizeram uma apresentação dos protótipos que haviam surgido, destacando procedimentos fundamentais, como: não combinar de se encontrar com estranhos; não publicar seu endereço; não escrever comentários maldosos; não postar fotos íntimas; perguntar para os pais quando tiver dúvidas. Na Escola Estadual Rainha da Paz, em Ananindeua, no estado do Pará, a professora de Geografia Ana Claudia Lopes resolveu organizar um grupo para pensar, usando o processo de design thinking, como resolver um problema enfrentado todos os dias pelos alunos: onde estacionar as mais de 100
/// No Anchieta, alunos estão utilizando o design para criar uma ação solidária
EDUCAÇÃO EM REVISTA ///
20 /// inovação
Colégio Israelita investe em educação 3.0
O
Colégio Israelita Brasileiro, de Porto Alegre, está implantando, desde 2015, um programa de inovação
educacional chamado ‘Israelita 3.0’. O projeto já
conjunto de competências que tornam possível a autogestão das aprendizagens. O programa contempla maior tempo de interação com os objetos de aprendizagem e diferenciação do ensino para atender aos diferentes estilos de aprendizagem. Também prevê uma especial atenção às competências leitora e lógico-matemática, oferecimento de ênfases no currículo, qualificação da proficiência em Língua Inglesa, integração das novas tecnologias educacionais, ênfase nos conteúdos procedimentais e na aplicabilidade dos conteúdos aprendidos e foco no desenvolvimento das competências socioemocionais. O diretor da instituição, Janio Alves, conta que, para chegar à proposta, a instituição passou por um processo
está sendo desenvolvido na Educação Infantil e no Ensino
de planejamento estratégico e de pesquisa pedagógica por
Fundamental 1 e, neste ano, chegou ao Ensino Fundamental
três anos. “Vivemos tempos de profundas mudanças nos
2. A iniciativa propõe a revisão da organização dos tempos
campos social e econômico que requerem um reordenamento
e dos espaços da escola, a readequação do currículo e a
sistêmico do processo formativo e uma revisão do papel da
aplicação de novos métodos de ensino, visando a uma
escola. Esta precisa migrar do paradigma industrial, baseado
qualificação no ‘Projeto Político Pedagógico’. Nesta nova
na padronização e na transmissão de informações, para
concepção de ensino, o professor assumiu um novo papel,
uma educação significativa que, sem abandonar o domínio
de designer de currículo, com foco nas aprendizagens dos
acadêmico e uma forte bagagem cultural, desenvolva a
alunos. Já os estudantes são estimulados a desenvolver um
criatividade e o pensamento inovador, o empreendedorismo
21 e a resolução de problemas, a ética e a consciência global,
de formação identitária, elementos essenciais na construção
a colaboração e a liderança, a aprendizagem para toda a
de uma forte bagagem cultural”, destaca o diretor.
vida, a gestão pessoal e o autoconhecimento. A literatura
Neste ano, com a implantação no Ensino Fundamental
pedagógica convencionou chamar esse novo paradigma de
2, foram incluídas novas disciplinas, como a Global
Educação 3.0”, justifica o diretor.
Studies, ministrada em inglês, que aborda os objetivos
Entre as mudanças, no Ensino Fundamental, por exemplo,
de desenvolvimento global da ONU e Pensamento Crítico
adotou-se a educação de tempo integral, ampliando-se a carga
e Empreendedorismo, com a proposta de desenvolver
horária para sete horas diárias. Janio explica que, para isso,
um pensamento complexo e orientado para a solução de
foi feita uma ampla reorganização, não apenas do currículo
problemas reais. Também foi desenvolvido um currículo
escolar, mas no regime de contratação dos professores-
socioafetivo, focado no desenvolvimento de habilidades sociais
tutores, na reestruturação dos serviços de alimentação e do
e apoiado num sistema de tutoria, com o propósito de preparar
Plano Diretor da Escola (com a criação de novos espaços
os jovens para uma vida autônoma e colaborativa.
de aprendizagem e convivência). A busca pela proficiência
A previsão é concluir a implantação do projeto em toda a
em Língua Inglesa, outro destaque da proposta, passa por
escola até 2020, chegando até a terceira série do Ensino Médio.
estratégias como a dupla docência, mínimo de cinco períodos semanais, além de outros componentes curriculares (como
“Não podemos esquecer que essa transformação das práticas educacionais está sendo implementada para impactar nas
Música, Artes e Educação Física) trabalhados em inglês. O
aprendizagens dos alunos e, portanto, deve estar sustentada
desenvolvimento de um currículo socioemocional orientado
em evidências e num amplo trabalho baseado em dados, o
para o desenvolvimento de habilidades sociais é outro
que implica uma mudança no modelo mental em operação na
diferencial do programa, assim como o desenvolvimento de
escola tradicional. Para tanto, além da realização periódica de
um padrão de aula que começa pela problematização e conclui
avaliações externas (AVALIA, Oxford Placement Test, entre
com a conceitualização e a sistematização dos conhecimentos.
outras), é necessário formar uma inteligência institucional
“No entanto, não se deve concluir que a inovação faz terra arrasada da tradição. Acompanhando o uso das novas
voltada para a análise da dados”, ressalta o diretor. Ele conta que o Israelita tem o apoio de um escritório de projetos e
tecnologias, a continuidade com uma rica herança cultural,
processos dedicado à análise dos dados internos e externos
baseada em valores milenares, está presente na ênfase na
e ao desenvolvimento de metodologias de trabalho para que
literatura, no desenvolvimento da criatividade e nos projetos
essas análises cheguem ao professor e impactem a sala de aula.
/// Estudantes são estimulados à autogestão das aprendizagens
EDUCAÇÃO EM REVISTA ///
22 /// GESTÃO
Novas regras da EAD desafiam as IES POR VAGNER BENITES E PEDRO PEREIRA
23
A
portaria do Ministério da Educação (MEC) que regulamentou a oferta de cursos superiores na modalidade a distância (EAD) completou um ano no
final de maio. Com menos burocracia e regras mais objetivas para implantação e funcionamento dos cursos, a atenção
“Um ótimo conceito no curso presencial não necessariamente acontece da mesma forma com os cursos a distância”, Josiane Tonelotto
recai agora sobre a gestão das instituições e o planejamento pedagógico das opções oferecidas.
Se antes era um diferencial ou uma opção para quem não
A modalidade caiu no gosto dos brasileiros, e muitas
tinha tempo ou poder aquisitivo para fazer um curso presencial,
instituições avançaram na oferta de cursos para dar conta da
o EAD hoje é pré-requisito para toda instituição. Quem garante
demanda em alta. Os dados mais recentes do Censo da Educação
é o fundador da Educa Insights, Luiz Trivelato. “Ela pode decidir
Superior de 2016 apontam um crescimento de 50% no número
operar isso em maior ou menor escala, mas a decisão de ter ou
de alunos no país entre 2010 e 2015, com cerca de 1,3 milhão de
não ter acho que não existe mais. Todas as instituições devem
estudantes matriculados (sendo 102 mil apenas no Rio Grande
ter a possibilidade de ofertar cursos a distância e aí decidir
do Sul). Segundo estimativa da consultoria Educa Insights, dois
de acordo com seu mercado, tíquete médio e público-alvo o
anos depois esse número já está próximo dos 2 milhões. O perfil
curso que será oferecido, de que forma, com qual intensidade
dos alunos nos últimos anos não se alterou tanto. Hoje eles são
de encontros para atividades”, sustenta. O consultor considera
um pouco mais jovens, mas ainda acima da média de idade dos
ultrapassado o pensamento de não ter EAD, até porque existem
que optam por cursos presenciais, e seu poder aquisitivo, via de
diferentes formas de aplicá-lo: universidade inteira a distância,
regra, continua menor na mesma comparação.
apenas alguns cursos ou somente parte deles.
O SISTEMA DE ENSINO que já
NASCEU NO TOPO
EFICIÊNCIA E CREDIBILIDADE COMPROVADAS PELOS RESULTADOS EXPRESSIVOS DE SEUS ALUNOS A liderança no mercado editorial se une a uma das escolas mais conceituadas do Brasil: Editora Moderna e Organização Educacional Farias Brito. Sistema Farias Brito de Ensino é resultado da soma de experiências e competências de duas instituições, que compartilham os mesmos valores e estão alinhadas pela mesma missão: uma educação multicultural e de resultado para as novas gerações.
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24 /// GESTÃO
no mercado EAD. A falta de um plano para a etapa após o credenciamento junto ao MEC é a principal causa de prejuízos para as instituições, de acordo com Trivelato. “O EAD é mais que o simples credenciamento junto ao Ministério da Educação. Isso é um processo burocrático, legal. Quais os próximos passos? Onde ela vai abrir? Onde ela vai crescer? Quais cursos vai lançar? Quanto vai cobrar? Como isso se complementa com o ensino presencial? As instituições deixam para pensar muito tarde nisso e perdem oportunidade de iniciar uma operação da forma correta. Assim elas perdem recurso e tempo junto ao mercado. Esse é um grande prejuízo”, avalia. Pensar em uma proposta pedagógica alinhada com as necessidades do mercado é outro ponto que tem sido deixado de lado pelos gestores, segundo a reitora do EAD Laureate, Josiane Tonelotto. “O primeiro ponto importante é ter um bom projeto pedagógico, que seja capaz de atender a todas as necessidades dos estudantes e os prepare para o que o mercado espera deles, além do atendimento daquilo que o MEC preconiza com relação às habilidades e às competências básicas para o profissional”, comenta.
OS ERROS MAIS COMUNS NA GESTÃO DE CURSOS EAD:
1 2 3 4 5
Erros a serem evitados
o caso de compreender que determinado professor não se
Como em qualquer setor, otimizar o emprego de recursos é
enquadra no perfil de trabalho a distância, permanecendo
fundamental. No caso do ensino, explica Josiane, isso se dá pela
Fonte: Educa Insights
Com a decisão tomada para ingressar nessa área, o gestor precisa de um bom planejamento para conseguir se destacar
alocado em cursos presenciais.
junção, tanto quanto possível, de disciplinas e corpo docente que
A abertura de novos polos educacionais é outro ponto
tenham sinergia – e isso serve para o ensino presencial também.
importante que merece atenção. Deve seguir uma série de
Um erro bastante comum, segundo ela, é a comparação entre
etapas a fim de não se tornar uma jornada frustrada. Antes de
cursos EAD e presenciais. “Nós temos duas modalidades de
abrir novas unidades, é fundamental que a instituição tenha
entrega de educação que são totalmente diferentes e um ótimo
domínio do funcionamento do EAD. Para isso, o ideal é começar
conceito no curso presencial não necessariamente acontece da
com a modalidade em suas sedes presenciais, como laboratório,
mesma forma com os cursos a distância”, alerta. A preparação
para adequar, aprimorar e consolidar a atuação do corpo
do corpo docente para as especificidades do ensino a distância
docente e dos gestores. Uma vez amadurecida a experiência
é um passo importante, especialmente no que diz respeito às
com EAD, chega o momento de expandir a atuação.
tecnologias e às metodologias online. O conhecimento dos
Além da tecnologia, o plano de aula também é importante
temas trabalhados pelo professor não é uma garantia de que ele
para o sucesso de um curso a distância. Modelos de ensino
saberá repassá-lo aos alunos na nova plataforma.
importados começam a ser observados no Brasil, como a
O primeiro e mais importante passo é considerar que grande parte do corpo docente foi formada em um contexto
sala de aula invertida (flipped classroom, em inglês). Por esse conceito, o aluno recebe o conteúdo fora da instituição, no
de tecnologia e de modelos pedagógicos diferentes; portanto,
horário que julgar mais conveniente, e vai para a sala de aula
precisa passar por um período de familiarização com as
fazer atividades práticas e debater com colegas e educadores,
ferramentas empregadas no EAD. Muitas vezes, inclusive, é
ou seja, a lição de casa migra para a escola.
NA PRÁTICA GESTÃO /// 25
IES investem no mercado do ensino a distância
D
outro, a segurança de que estamos prontos para incluir o curso no portfólio da Instituição, preservando os nossos propósitos de qualidade e os diferenciais que temos”, analisa Ligia. No ano passado, a Faculdade EST, de São Leopoldo, recebeu a autorização para ofertar cursos de Graduação e Pós-Graduação Lato Sensu na modalidade EaD. São cinco cursos de especialização a distância, dentro das principais áreas de conhecimento abordadas pela instituição: Docência no Ensino Superior e Profissional, Mobilização de Recursos e Sustentabilidade, Ensino Religioso, Bíblia e Aconselhamento Pastoral. Para 2019, estão previstos os cursos de Especialização em Direitos Humanos e Religião,
epois de completar um ano de implantação, o
Ética, Hebraico Bíblico, Histórias em Quadrinhos e Cultura
Decreto nº 9.057/2017, que regulamenta a Educação
Pop. “Essa aprovação é fruto de planejamento estratégico
a Distância (EaD) no país, motivou a criação ou
da Faculdades EST que, através da oferta de cursos em
ampliação da oferta de ensino a distância no Rio Grande
EaD, pretende consolidar e ampliar sua missão nas áreas
do Sul. É o que mostra recente pesquisa do Sindicato do
de sua atuação, em coerência com as transformações
Ensino Privado do Rio Grande do Sul (SINEPE/RS) com 14
sociais, culturais e educacionais”, ressalta o reitor Wilhelm
instituições de Ensino Superior. O estudo apontou que 10 das
Wachholz. Os cursos Lato Sensu na modalidade a distância da
14 instituições de Ensino Superior sondadas abriram novos
Faculdades EST refletem dois pilares institucionais: tradição
cursos ou pretendem criar novas opções para os alunos.
e inovação. “Tradição no ensino, na pesquisa e na extensão e
Um exemplo disso é o Grupo Uniftec. Com a expansão do
inovação no uso de novas tecnologias, na ausculta do contexto
EaD, a instituição já contabiliza a implantação de 14 polos,
e das demandas e na vanguarda de abordagens de temas
localizados estrategicamente na região da Serra, no Vale do
contemporâneos para a teologia”, ressalta o coordenador do
Caí, no Vale do Taquari, na região Metropolitana e na região
Núcleo de Educação a Distância, Iuri Andreas Reblin.
central do Estado, além da cidade paulista de Guarulhos e da capital São Paulo. Com o reconhecimento do IGC 4 pelo MEC, o grupo tem autorização para abrir até 150 polos de educação a distância por ano, mas a política da instituição é de, neste momento, focar no Rio Grande do Sul. “É importante assinalar que a faixa etária deste público vem se reduzindo rapidamente e, cada vez mais, o público mais jovem se aproxima da educação a distância. A maior parte dos alunos está em cursos na área de gestão e faz a primeira graduação”, analisa a diretora de EaD do Grupo Uniftec, Ligia Futterleib. A instituição já planeja a ampliação de mais cursos na modalidade EaD, com a oferta do Curso de Gestão de TI já para o próximo processo seletivo e de Engenharia Elétrica, com atividades práticas regulares nas unidades do grupo e nos polos cuja estrutura física contemple as necessidades do curso. “Nossa estratégia para a ampliação de cursos perpassa por duas situações que se imbricam e complementam: por um lado, a indicação do mercado quanto à oportunidade da oferta; por
/// EST passou a ofertar cinco especializações a distância
EDUCAÇÃO EM REVISTA ///
26 ///INSTITUCIONAL
Novo setor do SINEPE/RS visa à internacionalização da educação gaúcha
Organização de missões acadêmicas para países onde existem possibilidades de parcerias com as escolas de Educação Básica e instituições de Ensino Superior; 2) Seminários e Feiras Internacionais: Participação em feiras e eventos internacionais, bem como organização de seminários e cursos para promover o desenvolvimento de capital humano das instituições associadas ao SINEPE/RS; 3) Acordos e Parcerias Internacionais: Negociação de acordos com entidades representativas de governos de diferentes países no Brasil,
Inaugurado em janeiro deste ano, o novo setor do
bem como com instituições de ensino internacionais; e 4)
SINEPE/RS de Relações Internacionais pretende auxiliar as
Mobilidade: Criação, entre as escolas associadas, de um polo
instituições de ensino associadas na promoção de missões,
de atratividade para professores e alunos que queiram passar
seminários, feiras, acordos e parcerias internacionais. Uma
um período no Brasil ou no exterior.
das primeiras ações da área foi a realização de um convênio
O setor de Relações Internacionais atende de segunda a
entre o SINEPE/RS e o Conselho Britânico, a fim de capacitar
quinta-feira, das 9h às 16h, pelo telefone (51) 3213-9090 ou
os associados do Sindicato por meio de cursos e eventos,
pelo e-mail relacoesint@sinepe-rs.org.br.
que serão posteriormente divulgados. O setor conta com uma consultora externa, que atuará na prospecção de novas possibilidades, leitura de novos cenários e propostas inovadoras de currículos pelo mundo. “Acabou a percepção de que nós estamos dentro de um feudo. A verdade é que já somos responsáveis pela formação de alunos planetários”, afirma o presidente em exercício do SINEPE/ RS e coordenador do setor, Osvino Toillier. O novo serviço é exclusivo para os associados do Sindicato O setor de Relações Internacionais do Sindicato tem quatro campos de atuação: 1) Missões Internacionais:
Boas práticas em educação serão apresentadas em outubro Nos dias 2 e 3 de outubro, serão apresentadas iniciativas
são finalistas dos Prêmios SINEPE/RS 2018 – 16º Prêmio Gestão de Comunicação, do 13º Prêmio de Responsabilidade Social e do 9º Prêmio Inovação em Educação. A participação é gratuita. As inscrições estarão abertas em breve no portal do SINEPE/RS (www.sinepe-rs.org.br). A professora de Arte do Colégio Marista Santa Maria, Maria Goreti Cortes, apresentou o projeto ‘MArte – Maristas em Arte’, em 2017, e conta sobre a importância da participação no evento, enfatizando o surgimento de novas ideias ao longo das apresentações. “A importância
inovadoras em sala de aula e na gestão pedagógica, ações
de conhecer os detalhes de outros projetos está na troca
eficazes de responsabilidade social e estratégias de captação e
de vivências e experiências que qualificam a nossa prática
retenção de alunos, em evento gratuito na sede do SINEPE/RS
diária em sala de aula. Além disso, amplia nossa formação
(Av. Praia de Belas, 1212 – 12º andar, Porto Alegre). Os trabalhos
continuada para novos olhares”, afirma.
PERGUNTA DO LEITOR /// 27
A recomendação da escola na era digital Temos clareza de que a recomendação é um dos fatores mais importantes na escolha de uma nova escola. Até quem não se
conexão, e, mesmo sem sabermos, a marca de nossa escola está sendo debatida, comentada, elogiada e criticada. Estar online significa que a escola acaba de criar um ponto de contato tão importante quanto o balcão da secretaria da escola, da biblioteca ou um anúncio publicitário e, até mesmo, tão importante como a forma como se relaciona com um fornecedor, afinal, tudo comunica a marca. Tão importante quando estar presente hoje nesses espaços online é saber o que fazer lá, assim como também interagir de forma adequada nessa nova arena online. Não conseguimos controlar a opinião das pessoas nesses
conhece pode recomendar, seja em grupos de WhatsApp, sites
espaços online, afinal, o digital aceita tudo. Mas cabe a nós
ou redes sociais. Como a escola pode trabalhar esse aspecto
sempre buscar produzir conteúdo relevante a nosso respeito,
em um momento de múltiplas plataformas e conexões?
pois os bons conteúdos se disseminam. Capriche no conteúdo.
Tiago Rigo, coordenador de Comunicação e Marketing dos
Teste novas possibilidades. Busque inovar sempre. Não se
Colégios e Unidades Sociais da Rede Marista.
baseie no que as outras escolas fazem, mas tente criar uma forma única de se comunicar com a sua comunidade. Busque
P
surpreender as pessoas. Mas lembre-se de que precisamos
arte-se da premissa, hoje, de que a recomendação de
sempre monitorar e controlar tudo o que está sendo dito sobre
outras pessoas é um dos fatores mais importantes na
a marca de nossa escola. E atue prontamente caso julgue
escolha de uma nova escola. Até mesmo a opinião de
necessário, mas sempre com bom senso, transparência e no
terceiros ou pessoas desconhecidas costuma ser levada em
tempo adequado. E não estamos falando aqui de uma vigilância
consideração, seja em grupos de WhatsApp, fóruns de discussão,
constante, mas sim de uma observação atenta sobre tudo o
sites ou redes sociais. Mas como a escola pode trabalhar esse
que está sendo dito sobre a nossa comunidade. Estar presente
aspecto em um momento de múltiplas plataformas e conexões?
nesses espaços digitais exige preparação. Quer expor a marca
Essa é uma questão candente e que exige uma reflexão séria e
da sua escola nas redes sociais? A receita de bolo é: prepare-se,
responsável. Primeiramente, devemos analisar as redes sociais
capacite-se, planeje-se, monitore, acompanhe, crie um processo,
como esses novos ambientes digitais onde se constroem jogos
atue de forma relevante e muito, mas muito criteriosa.
discursivos e narrativas superenvolventes. O magnetismo criado pelas redes sociais é muito intenso, pois no mundo online não há todas as exigências do mundo real, certo? Tudo parece ser mais fácil, conveniente e estar ali diante de nossos olhos. E as pessoas estão conectadas a maior parte do tempo, 24 horas por dia, é irreversível, é um caminho sem volta. Não conseguimos mais imaginar nossas vidas sem conexão. Olhando com o viés de nossas escolas, devemos encarar todas essas redes sociais como ambientes e plataformas mercadológicas onde estamos criando, nada mais, nada menos, do que mais um ponto de contato nosso com pais, alunos e demais públicos de interesse. A partir do momento em que nossa escola decide criar um fanpage no Facebook ou um perfil no Instagram, precisamos estar cientes de que estamos abrindo a guarda, uma porta online, mais exposta e mais mensurável, e é preciso estarmos preparados. Temos hoje uma cultura da
MARCOS HILLER Palestrante e professor convidado de escolas como FGV Management e FIA-USP. É também sócio da True Stories. marcos@truestories.com.br
EDUCAÇÃO EM REVISTA ///
28 /// diversidade
O
atendimento a alunos com deficiência envolve particularidades como avaliação da aprendizagem, atividades de acessibilidade
e pedagógicas na sala de atendimento educacional especializado, entre outros serviços. Para auxiliar as escolas nesse trabalho, reunimos, a seguir, alguns dos principais pontos que devem ser levados em consideração para esse trabalho, confira: Quais alunos precisam de atendimento especializado? Conforme a Resolução CNE/CEB nº 04/2009, os alunos-alvo do Atendimento Educacional Especializado (AEE) são aqueles com deficiência e impedimentos de longo prazo de natureza
física, intelectual, mental ou sensorial; alunos com transtornos globais do desenvolvimento – neuropsicomotor, nas relações sociais, na comunicação ou estereotipias motoras, como autismo clássico, síndrome de Asperger, síndrome de Rett e transtorno desintegrativo da infância (psicoses); e alunos com altas habilidades/superdotação, com potencial elevado e grande envolvimento com as áreas do conhecimento humano, isoladas ou combinadas: intelectual, liderança, psicomotora, artes e criatividade. O que é o atendimento educacional
Inclusão na prática
caracteriza-se pelo conjunto de atividades, recursos
Por VÍVIAN gAMBA
estudantes com altas habilidades/superdotados) a
especializado? O Atendimento Educacional Especializado (AEE) de acessibilidade e pedagógicos organizados, institucional e continuamente, com o objetivo de complementar ou suplementar (no caso dos formação do estudante para a sua participação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendizagem. Os recursos sensoriais podem ser utilizados em alunos com diferentes tipos de deficiência, complementando e auxiliando as atividades em sala de aula, como forma de facilitar e ampliar as possibilidades de aprendizado, sugere a fisioterapeuta da equipe de Assessoria e Consultoria em Inclusão Escolar da Evoluir, Anelise Neumann.
29 Quem é o professor do AEE? A atuação docente no AEE exige a formação inicial que habilite o professor para o exercício da docência e formação específica para a Educação Especial. Ele responde pela elaboração e pela execução do plano de AEE, avaliando a
A visão diferenciada da equipe técnica auxilia no desenvolvimento de atividades específicas de acordo com as necessidades do aluno.
funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade; organiza os atendimentos; ensina e usa a tecnologia assistiva de forma a amplia habilidades funcionais
Anelise também destaca a importância de rever conceitos por
dos alunos, promovendo sua autonomia e participação; e
parte do corpo discente: as deficiências motoras, cognitivas e
orienta professores e famílias sobre os recursos pedagógicos
psíquicas não podem ser consideradas fatores incapacitantes.
e de acessibilidade utilizados pelo aluno. Esse professor
“Nesse momento, a visão interdisciplinar faz-se necessária
também pode realizar a assessoria aos professores da sala de
como forma de apoio e complemento na avaliação
aula regular que possuem estudantes com deficiência.
escolar, respeitando as características, as habilidades e as dificuldades de cada aluno. Dessa forma, a inclusão se torna
E a sala de recursos?
realmente efetiva”, afirma a especialista.
A sala de recursos multifuncionais é um setor de apoio da escola, organizada com material didático, recursos
O que é o PDI?
pedagógicos, tecnológicos e de acessibilidade, onde é
O Plano de Desenvolvimento Individualizado (PDI) é o
realizado o AEE. É nesse espaço que são desenvolvidas
instrumento orientador do trabalho do professor da sala
atividades de natureza pedagógica, individualmente ou
de recursos, construído a partir dos dados coletados no
em pequenos grupos, no turno inverso, conduzidas pelo
processo de avaliação. O professor especializado, juntamente
professor com formação em Educação Especial.
com a equipe técnico-pedagógica, identifica as áreas comprometidas e as áreas em que o estudante apresenta
Como é realizada a avaliação pedagógica do estudante?
potencialidades, que podem ser exploradas e aprimoradas,
A equipe técnico-pedagógica da escola, juntamente com o
e leva em conta as características de aprendizagem dos
professor do AEE, responde pela avaliação do estudante, que
estudantes e suas condições biopsicossociais. A finalidade
abrange aspectos como trajetória escolar, relação família-
é desenvolver um trabalho que possa se refletir na
escola, raciocínio lógico e resolução de situações-problema.
aprendizagem dos conteúdos curriculares da sala de aula
Laudos, pareceres e demais documentos de especialistas
regular. Para Anelise, a visão diferenciada da equipe técnica
poderão instruir esse processo, mas não serão determinantes
auxilia no desenvolvimento de atividades específicas de
na tomada de decisão da escola.
acordo com as necessidades individuais do aluno, facilitando a aquisição de novos conhecimentos. “A participação ativa
Quais aspectos pontuais são levados em conta nessa avaliação? Motivos de preocupação em relação ao desenvolvimento cognitivo (concentração, memória, expressão oral, escrita
de técnicos com formação e experiência em atendimentos a pessoas com deficiência facilita a instrumentalização dos professores no trabalho diário de diferentes áreas”, complementa a especialista da Evoluir.
e de leitura, compreensão de fatos, ordens, etc.), ao desenvolvimento motor (lateralidade, equilíbrio, tônus, etc.)
Esses tópicos tiveram como base a obra ‘Processo de
e às relações afetivas são pontos a serem considerados
inclusão na escola’, guia do SINEPE/RS sobre Atendimento
na avaliação dos estudantes. Além desses, também se
Educacional Especializado que teve como organizadoras
inclui identificação de competências e habilidades do
Josi Farias Jandrey e Naime Pigatto. Esse material foi
estudante que podem ser exploradas e aprimoradas, fatores
distribuído para as escolas associadas e está disponível
socioambientais e dados sobre o progresso escolar esperado.
para venda na sede do Sindicato.
EDUCAÇÃO EM REVISTA ///
30 /// radar
Fake news em pauta na sala de aula Por Pedro Pereira
31
F
rases como “eu li no Facebook” e “recebi no WhatsApp” têm se tornado cada vez mais comuns quando se questiona de onde veio uma informação. As redes
sociais e os aplicativos de bate-papo se transformaram nos mais ágeis meios de comunicação, mas eles também são utilizados para fins não tão nobres. Todo cuidado é pouco no momento de acreditar e, principalmente, passar adiante alguma informação recebida virtualmente. Por tudo isso, a consciência sobre a importância social das informações repassadas precisa ser desenvolvida também no ambiente escolar. “É preciso esclarecer aos adolescentes o mecanismo de funcionamento dessas redes e despertar o espírito crítico em direção a uma ‘cultura de
verificação’”, defende a jornalista Taís Seibt, que estuda a prática de fact-checking (checagem de fatos) em sua pesquisa de doutorado em Comunicação pela UFRGS. Ela é cofundadora do Filtro Fact-checking, iniciativa da ONG Pensamento.org para verificação de fatos, dados e declarações públicas com foco no Rio Grande do Sul. Taís explica que os jovens não estão habituados a consumir conteúdos jornalísticos e se informam, basicamente, por meio das redes sociais, por isso é preciso retomar noções básicas sobre credibilidade, como atenção a títulos bombásticos,
organização italiana Factcheckers, da Itália, para a International
origem da informação, atualidade da notícia, relação da foto
Fact-checking Network (IFCN) e traduzido para o português
com o conteúdo. “Diante de títulos bombásticos, cheios de
pelo Truco, projeto de fact-checking da Agência Pública, e
exclamações, é bom pesquisar o assunto em outras fontes
pelo Aos Fatos, plataforma de fact-checking formada por
e ver se as fontes primárias, veículos consolidados ou
profissionais de diversas áreas. O público-alvo são estudantes
plataformas de fact-checking já trataram do tema”, explica.
a partir de 15 anos que, no plano de aula, debaterão sobre um
Os efeitos no dia a dia podem ser devastadores. Em 2014,
referendo em um país fictício chamado Agritânia para decidir
no Guarujá (SP), Fabiane de Jesus foi espancada até a morte
sobre a liberação do consumo de transgênicos. Para informar
depois que um boato com a foto de uma mulher parecida com
a população, os checadores do jornal Agritânia Hoje devem
ela relatava o sequestro de crianças para rituais de magia
investigar o que é fato ou não nos dois lados do debate e, ao
negra. O caso é emblemático porque a vida de uma pessoa foi
final, produzir um relatório. O jogo é composto por cinco
diretamente atingida. Em uma visão mais ampla, os efeitos
conjuntos de 25 cartas, cada um deles trazendo uma pergunta
sobre eleições e a democracia ainda estão sendo observados
com notícias verdadeiras, distorcidas e falsas que devem ser
pelos pesquisadores. As fake news foram personagem
checadas pelos alunos. Os estudantes devem analisar as
relevante na recente eleição americana que conduziu Donald
notícias contidas nas cartas e indicar a opinião mais adequada
Trump à Casa Branca, por exemplo.
entre as opções do painel. Caso julguem necessário, poderão criar títulos e textos diferentes dos contidos no material.
Atividades em sala de aula
Para os professores, o conteúdo apresenta um manual com
A boa notícia é que existem grupos multidisciplinares
contexto e sugestões de fontes para auxiliar na avaliação
de profissionais que pensam em formas de conscientizar os
da checagem feita pelos alunos. Além disso, há um ‘Guia do
alunos sobre as fake news. O jogo “Cheque Isso!” foi criado pela
Professor’ e um ‘Guia de Checagem de Fatos’.
EDUCAÇÃO EM REVISTA ///
capacita
32 /// RADAR
O smartphone como aliado
sucesso das atividades. Para dialogar com usuários contumazes
Se a convivência com smartphones em sala de aula é
das redes sociais sobre um assunto diretamente ligado a elas, é
um desafio para os educadores, agora esse adversário pode
primordial que os termos e os recursos gráficos estejam alinhados
jogar a favor. A plataforma é totalmente responsiva, ou seja,
com o conteúdo a que os alunos estão familiarizados.
programada para funcionar com a mesma eficiência em computadores e dispositivos móveis e foi desenvolvida para os
Nem só as “news” podem ser “fake”
estudantes. O projeto foi idealizado pela Lupa, primeira agência
A coordenadora de tecnologia da escola Eliezer Max do Rio
de fact-checking do Brasil, e realizado em parceria com o Canal
de Janeiro e fundadora do MidiaMakers, que capacita professores
Futura – contando ainda com o apoio de empresas como
para projetos na área, Mariana Ochs, também refuta a
Google. “Precisamos desmitificar o conceito de fake news: ou
terminologia fake news e ressalta que qualquer conteúdo precisa
é fake ou é news. Se é news, é uma notícia que foi verificada
ser analisado com visão crítica e capacidade de questionamento.
por quem produziu, subentende-se que foi checada como
“O ecossistema de desinformação é muito mais complexo,
acontece com o trabalho de todo jornalista”, explica o gerente
abarca não só coisas fabricadas, mas também fora de contexto,
de marketing da agência Lupa e coordenador do projeto,
tendenciosas, coisas que levam a entender errado, título que diz
Douglas Silveira. O ‘Fake ou News’ foi criado com foco nas
uma coisa diferente do conteúdo, que é uma tática desonesta
eleições deste ano, mas o objetivo, segundo o coordenador, é
para chamar a atenção ou desinformar”, exemplifica.
que se apoie em temas que estejam em evidência para orientar enquanto debate assuntos pertinentes para a sociedade. Hoje, por exemplo, o material vai de “como identificar um
Por isso, segundo ela, o trabalho junto aos alunos deve ser de letramento midiático, a fim de que eles avaliem a qualidade da informação também em trabalhos, pesquisas acadêmicas
perfil falso” até pontos mais específicos, como “quem pode
e no cotidiano. “Um aluno comentou em sala de aula que os
ser candidato a presidente”, prevenindo que as correntes de
youtubers [produtores de conteúdo para o YouTube] eram
WhatsApp ditem regras falsas sobre o pleito. As atividades
altruístas porque não cobravam nada em troca, faziam os
estão disponíveis gratuitamente no site do projeto e se
vídeos de graça. Isso acendeu um sinal de alerta. Preparamos
dividem no que os organizadores chamam de trilhas do
aulas sobre o mercado, merchandising, patrocínios, posts
conhecimento – vídeos, artigos, links externos que compõem
pagos e agora eles estão produzindo uma websérie cujo
um percurso explicando tudo sobre cada tema.
primeiro episódio é sobre o preço do like”, conta Mariana.
No site, também é possível baixar imagens que têm ares de “meme” para questionar ou apontar notícias falsas com bom humor. Isso porque a questão da linguagem é fundamental para o
Ao verificar que havia bastante conteúdo sobre o assunto em inglês, mas pouca coisa para a língua portuguesa, Mariana realizou, em abril deste ano, o Mediathon, evento que reuniu educadores, designers de conteúdo e educadores, em São Paulo, para criar e disseminar materiais gratuitos para as escolas brasileiras com o tema do fact-checking. Desse encontro, saíram diversas atividades, cartazes, sites, formulários automáticos e infográficos que estão disponíveis na internet. Observa-se um crescimento interessante no número de agências especializadas em checagem de notícias no Brasil. E já que a inconsistência das informações disseminadas não deve acabar tão cedo, iniciativas como essas e a conscientização nas escolas são o melhor antídoto.
CONTEÚDO ONLINE DISPONÍVEL
/// Professores podem utilizar jogos e atividades online para tratar do assunto
Confira os sites educativos com exercícios e jogos para trabalhar o assunto e veja as perguntas que devem ser feitas diante de uma notícia recebida nas redes sociais. educacaoemrevista.com.br
EDUCAÇÃO EM REVISTA PERGUNTA /// 33
Como a sua instituição trabalha as metodologias ativas? O Colégio São Carlos, no decorrer dos últimos três anos,
O aluno como protagonista da sua aprendizagem e o professor como mediador do conhecimento: essa é uma das premissas básicas das metodologias ativas. Cada vez mais escolas buscam conhecimento sobre essa prática para mudar antigos métodos de ensino. Conheça a experiência destas duas escolas: Trabalhamos as metodologias ativas em interface ao
vem utilizando diferentes metodologias com o propósito de
currículo, desenvolvendo o projeto ‘Personalização e Ensino
promover uma aprendizagem ativa, a qual tem por objetivo
Híbrido: experiências com aprendizagem ativa no Colégio
descentralizar o papel do professor. Dentro desse contexto,
La Salle Santo Antônio’. Por meio das metodologias como
obtivemos excelentes resultados utilizando a Metodologia
gamificação, sala de aula invertida, personalização e ensino
por Questionamento. Essa técnica foi aplicada nas turmas de
híbrido, os estudantes estão protagonizando suas aprendizagens
segunda e terceira séries do Ensino Médio, na disciplina de
e estabelecendo uma parceria mais profícua com os professores.
Língua Portuguesa, com o conteúdo específico de Redação
Nas ações associadas ao projeto, os estudantes participam de
(dissertativo-argumentativa). O trabalho foi desenvolvido ao
aulas diferenciadas, com uso de plataformas digitais gamificadas
longo de dois anos; os alunos iniciaram a técnica produzindo
voltadas ao ensino da matemática e gameshows baseados
parágrafos argumentativos e, aos poucos, em duplas e
em questionários, pesquisas e quizzes nas aulas de Ciências e
por questionamento entre os pares e a professora, foram
Matemática. Em uma das atividades de ciências, os estudantes
conhecendo a estrutura do texto dissertativo e os elementos
foram encorajados a criarem questões de múltipla escolha
de coesão. Após essa etapa, houve a prática de elaboração de
com base nas dúvidas que emergiram de estudos orientados
textos com temas atuais.
pelo professor previamente. A partir das questões criadas, foi
A Metodologia por Questionamento foi tão eficaz que o Colégio São Carlos conquistou o 1º lugar na redação do
desenvolvido um quiz gamificado no aplicativo Kahoot. As formações continuadas com os professores têm
ENEM em Caxias do Sul. Com certeza, os resultados obtidos
contribuído com um movimento de mudança que repercutiu
nos dão a segurança de que as metodologias que promovem
na construção de práticas mais dinâmicas e articuladas
uma aprendizagem ativa são fortes aliadas no processo de
com metodologias ativas, alcançando níveis importantes no
migração do ensino para a aprendizagem.
engajamento dos nossos estudantes em relação às atividades.
AMÁLIA MARIA TOIGO
CRISTINA MARTINS
Professora de Língua Portuguesa, Literatura e Redação Colégio São Carlos, de Caxias do Sul
Coordenadora do Núcleo de Informática Educacional Colégio La Salle Santo Antônio, de Porto Alegre
EDUCAÇÃO EM REVISTA ///
34 /// COMPARTILHAR
MARTIN LUTHER INAUGURA SALA MAKER RODRIGO ANGELI/CML
O Colégio Martin Luther (CML), de Estrela, inaugurou a Sala Maker, com o objetivo de incentivar os alunos a elaborar, desenvolver e avaliar projetos e estudos de maneira mais prática, interativa e lúdica. Com ferramentas, máquinas e equipamentos à disposição, o espaço é oferecido aos estudantes do Ensino Médio. “Mais do que um laboratório ou oficina, é um completo cenário onde o aprender, o ensinar e o criar ocorrem de maneira mais proativa, instigante, também criativa e divertida”, destaca a /// Espaço estimula a criatividade e a invenção
diretora, Andréa Desbessel.
MARISTA ROSÁRIO FORMA EDUCADORES EM ARTE LITERÁRIA Incentivar a leitura é uma prática constante no Marista Rosário, de Porto Alegre. Para potencializar essa prática, a Biblioteca da escola, em parceria com as coordenações pedagógicas, criou o programa ‘Formação de Educadores em Arte Literária’. Durante o ano, serão realizados cinco encontros de formação continuada com temáticas ligadas à literatura. A primeira iniciativa do projeto trouxe o escritor Maurício Corrêa Leite, criador do projeto ‘Malas de Leitura’, que desde os anos 80 implementou o projeto de mesmo nome nas aldeias indígenas em Mato Grosso e em escolas da zona rural, promovendo o intercâmbio entre
/// Alunos exercitam a prática de se colocar no lugar do outro
COLÉGIO LA SALLE CARAZINHO TRABALHA A EMPATIA
culturas por meio dos livros. JULIANA MATOS
Desde o início do ano letivo, o Colégio La Salle, de Carazinho, vem desenvolvendo projeto sobre empatia. O ‘túnel da empatia’, onde alunos e colaboradores viveram situações em que deveriam se colocar no lugar do outro, o ‘Café com letras’, em que os alunos discutiram e refletiram sobre o livro ‘O Extraordinário’, e a gincana de integração na Semana de La Salle foram algumas das ações já realizadas. A Páscoa também foi trabalhada com esse enfoque. As famílias e os alunos produziram cestas com doces para serem distribuídas para crianças carentes. Até o final do ano, várias atividades serão desenvolvidas, a fim de que a /// Escritor Maurício Corrêa Leite em encontro de formação
comunidade se envolva e participe.
35 35
XADREZ É COMPONENTE CURRICULAR NO CEAT Há dez anos, o jogo de xadrez integra as aulas de Educação Física das turmas de 5ª e 6ª séries do Colégio Evangélico Alberto Torres – CEAT, de Lajeado. Em 2018, o jogo passou a integrar os componentes curriculares também da Matemática. Nas turmas-piloto do projeto, junto com os tabuleiros, vai para a sala de aula um banner que explica a nomenclatura das peças e as jogadas. Os alunos participam de torneios de xadrez realizados em Estrela, onde a escola se destaca pelo maior número de inscritos de fora da cidadesede, com média de 40 alunos.
FUTEBOL NA ESCOLA E PAZ NO ESTÁDIO Para oferecer aos alunos uma melhor compreensão sobre o futebol, nas aulas de Educação Física, os estudantes do Fundamental II e Médio do Instituto de Educação Franciscana Nossa Senhora da Glória, de Carazinho, conheceram as principais regras do esporte e realizaram práticas referentes aos fundamentos básicos do jogo. A atividade envolveu várias partidas, no Estádio Paulo Coutinho, para praticar o conhecimento. Os times possuíam
Dom Feliciano inaugura ambiente de aprendizagem
nomes relacionados à paz, como forma de ressaltar que somente a valorização da cultura pela paz será capaz de promover o respeito no campo e nas arquibancadas.
O Colégio Dom Feliciano, de Gravataí, inaugurou a Sala do Presente, ambiente com um design inovador e amplo espaço físico, construído com estruturas que estimulam a mobilidade, a integração e o uso de tecnologias. A sala é usada da Educação Infantil ao Ensino Médio e possibilita o trabalho simultâneo com diferentes turmas em estações de aprendizagem. O objetivo é criar um novo conceito de interação entre o professor e o aluno, para ampliar o tempo de estudo, melhorar o ambiente colaborativo de trocas e estimular a autonomia do estudante em seu processo de aprendizagem.
EDUCAÇÃO EM REVISTA ///
36 /// COMPARTILHAr
Alunos do Medianeira levam alegria a idosos O projeto ‘Detetive no Mundo das Letras’ levou os alunos do Pré 2 do Colégio La Salle Medianeira, de Cerro Largo, até o Asilo Lar Conviver. A aluna Yasmin sugeriu o passeio em seu estudo da letra A, projeto no qual o aluno apresenta aos colegas uma letra de acordo com a sua criatividade. No Lar Conviver, os alunos conversaram, distribuíram abraços e sorrisos, dançaram com os idosos e entregaram uma cesta básica. A experiência resgatou sentimentos bons e a valorização de valores, como o respeito com os mais velhos, indo muito além do aprendizado do alfabeto.
Joana D’Arc comemora 100 anos Há 100 anos, as Irmãs de São José de Chambéry inauguravam o Colégio Santa Joana D’Arc, em Rio Grande. Desde a inauguração, em 2 de abril de 1918, a centenária Instituição vem cumprindo a missão de educar. Em 2010, as Irmãs escolheram o Grupo Educacional Bom Jesus para dar prosseguimento à trajetória. De acordo com o gestor do Bom Jesus Joana D’Arc, Rodrigo Gularte Lovato, “é uma honra ter a oportunidade de fazer parte de uma história tão notória para Rio Grande. Nós, que somos nascidos na cidade, sempre admiramos a trajetória da Escola e sabemos que as Irmãs dedicaram suas vidas para que o Joana D’Arc cumprisse o
Alunos do Santa Rosa criam música com clique do mouse Durante o primeiro trimestre deste ano, os alunos da Educação Infantil Nível II do Colégio Santa Rosa, de Carlos Barbosa, criaram suas próprias músicas com alguns cliques durante as aulas de informática. Com o objetivo de aprimorar a coordenação motora para o manuseio do mouse e estimular a criatividade, utilizaram o programa Song Maker, que é uma espécie de sequenciador online que permite criar música a partir do navegador. A novidade faz parte do Chrome Music Lab, no qual é possível encontrar diversas ferramentas para quem está tendo os primeiros contatos com conceitos musicais.
compromisso de educar com primor e seriedade”.
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ALUNOS DO SÃO CARLOS PROMOVEM FEIRA DAS MULTIPLICAÇÕES Os alunos dos 3os anos do Ensino Fundamental do Colégio São Carlos, de Caxias do Sul, encontraram uma forma criativa de memorizar uma das operações matemáticas básicas fundamentais: a multiplicação. Para relacionar a adição com a sentença multiplicativa, organizaram a Feira das Multiplicações. Escolheram uma sentença matemática e a representaram com materiais concretos, em sua maioria, doces. Realizaram o registro da mesma sentença de duas formas: uma fazendo uso da adição e outra, da multiplicação. A criatividade dos alunos chamou a atenção dos pais e dos visitantes.
/// Doces foram utilizados para representar sentenças matemáticas
SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS HOMENAGEIA SUA FUNDADORA As Irmãs Apóstolas do Colégio Sagrado Coração de Jesus, de Bento Gonçalves, reuniram pais, educadores, alunos, amigos e a comunidade em geral para participar da Páscoa da Família Cleliana. A programação contou com o show do padre Ezequiel Dal Pozzo, em homenagem à vida e à missão da /// Alunos usaram óculos de realidade virtual na atividade
ALUNOS DA IENH USAM GAMES PARA APRENDER CONTOS
Bem-Aventurada Madre Clélia Merloni, fundadora da escola, que será beatificada ainda neste ano pelo Papa Francisco. Um dos momentos mais esperados foi o lançamento do Hino ‘Grão de Trigo’, letra e música do padre Ezequiel Dal Pozzo, homenageando as virtudes de Madre Clélia.
‘Sete histórias de gelar o sangue’, de Antônio Schimeneck, foi o livro escolhido pelos alunos do 7º ano B do Ensino Fundamental Bilíngue da IENH – Unidade Fundação Evangélica, de Novo Hamburgo, para a primeira leitura de toda a turma. Para motiválos para uma produção textual, a professora Carolina Müller oportunizou um momento de jogo imersivo no Laboratório de Informática, e também foram instalados aplicativos nos celulares para uso nos óculos de realidade virtual. Os alunos registraram suas impressões sobre os contos lidos e sobre os jogos em um mural digital no site padlet.com. CONTEÚDO ONLINE DISPONÍVEL Conheça o mural organizado pelos alunos educacaoemrevista.com.br
/// Irmãs Apóstolas lembram Madre Clélia Merloni
EDUCAÇÃO EM REVISTA ///
38 /// COMPARTILHAR
SÃO JUDAS NA PRAÇA PARTICIPA DA VIRADA SUSTENTÁVEL A Escola de Educação Infantil São Judas Tadeu, de Porto Alegre, realizou mais uma edição do projeto ‘São Judas na Praça’ no Parque Germânia. O evento integrou a programação oficial da 3ª Virada Sustentável de Porto Alegre. Com o objetivo de permitir maior conexão com a natureza, o São Judas na Praça acontece uma vez por semestre e envolve toda a comunidade escolar. São desenvolvidos exercícios como a vermicompostagem e o plantio de hortaliças e praticadas atividades como pilates, pinturas, culinária e hora do conto.
ANDRÉ PADILHA
Rede La Salle renova sua marca no Brasil Durante a Semana de La Salle, foi apresentada a nova marca da Rede, que reestruturou sua identidade visual. A nova marca tem seu uso indicado pela administração mundial da Rede, com sede em Roma, e aos poucos vem sendo implantada nos mais de 80 países com atuação Lassalista. Ela terá a adesão das mais de 100 unidades brasileiras da congregação. A marca
COLÉGIO LUTERANO CONCÓRDIA COMPLETA 75 ANOS
Lassalista traz as cores azul e amarela, tendo como
Em março de 1943 o Colégio Luterano Concórdia iniciou
marca a atuação Lassalista em cinco continentes e as
a sua missão educacional na cidade de Canoas. Mantido
particularidades das pessoas que dão vida à Rede.
pela Comunidade Evangélica Luterana Cristo de Canoas, o Colégio completou 75 anos em 2018. Muitas atividades estão ocorrendo para celebrar a data, como a homenagem na Câmara de Vereadores de Canoas. O diretor, Sérgio Lutz, lembra que é momento de agradecer a todas as famílias, alunos, professores, pastores, técnicos e membros da mantenedora por toda a dedicação e amor que tiveram e têm ao colégio. “Somente com a contribuição de cada um é possível comemorar esta marca”, afirma.
símbolo principal uma estrela, acompanhada pela escrita “La Salle”. A estrela de cinco pontas irregulares
POR DENTRO DA LEI /// 39
Lato sensu e as mudanças trazidas pela nova regulamentação
E
sensu, todas as demais serão submetidas a credenciamento específico perante o Conselho Nacional de Educação. Além disso, a nova resolução permite, expressamente, o estabelecimento de convênio ou termo de parceria entre instituições credenciadas para a oferta conjunta de cursos de especialização. Assim, nas hipóteses em que houver duas instituições assumindo mutuamente responsabilidades de cunho educacional, a oferta poderá ser formalmente compartilhada. A extinção da obrigatoriedade de elaboração individual de monografia ou trabalho de conclusão de curso é outra modificação trazida pela nova regulamentação. Ficou ao
m abril de 2018, mais de dez anos após a entrada
arbítrio das ofertantes, mantida a carga horária mínima de 360
em vigor da Resolução nº 1, de 8 de junho de 2007,
horas, definir, em seu Projeto Pedagógico de Curso (PPC), a
foi instituído no país o novo marco regulatório da
possibilidade de prever trabalhos discentes, como o TCC.
pós-graduação lato sensu. A dimensão da complexidade da revisão promovida no Conselho Nacional de Educação (CNE)
Outro registro importante diz respeito à possiblidade de conversão de créditos de disciplinas cursadas por estudantes que
é percebida pelo simples fato de que a comissão formalmente
não concluírem a dissertação de mestrado ou tese de doutorado
estabelecida para revisar as regras até então vigentes teve
em certificado de especialização. Por fim, a exigência sobre o
sua primeira reunião em 9 de abril de 2013 e seus trabalhos
corpo docente também foi revista: o percentual anteriormente
concluídos exatamente cinco anos depois. Em 9 de abril de
exigido, de 50% de mestres ou doutores, foi estabelecido em 30%.
2018, foi publicado no Diário Oficial da União o resultado final do
São muitas as novidades trazidas pelo novo marco
trabalho: a Resolução nº 1, de 6 de abril de 2018. As diferenças
regulatório, que, inclusive, acompanha a ampla reformulação
advindas com o novo regramento são substanciais e alteram de
das normas que regem a educação superior no Brasil
forma relevante o atual cenário de oferta.
ocorrida no final de 2017. Sendo assim, é fundamental que as
A primeira delas, e aqui me permito não fazer gradação de
IES atentem à nova normativa legal, já que a regra anterior
impacto e relevância, mas apenas sigo o curso da redação da
permanece válida somente até a conclusão das turmas que já
resolução vigente, diz respeito à exigência de que as instituições
estão em andamento, nos termos do seu PPC.
de educação superior (IES) tenham pelo menos um curso de graduação nas modalidades presencial ou a distância reconhecido. Antes, bastava que a IES tivesse um curso autorizado em qualquer das modalidades para que pudesse ofertar a pós-graduação. Outra novidade é o restabelecimento do chamado “credenciamento especial”. Além das IES, há a possibilidade de oferta por instituições de qualquer natureza que ofereçam stricto sensu, escolas de governo e instituições que desenvolvam pesquisa científica ou tecnológica, desde que sejam de reconhecida qualidade ou relacionadas ao mundo do trabalho. Excetuando as entidades que já oferecem pós-graduação stricto
“As diferenças advindas com o novo regramento são substanciais e alteram de forma relevante o atual cenário de oferta”
BRUNO COIMBRA Assessor jurídico da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES).
EDUCAÇÃO EM REVISTA ///
40 /// PESQUISA
Comunicação e gestão de crises nas organizações educacionais POR ROSÂNGELA FLORCZAK *
RESUMO Articular o conhecimento sobre Comunicação e Gestão de Crises é fundamental para compreender as possibilidades de intervenção no espaço das práticas. A partir de exploração teórica, este artigo propõe a problematização sobre o cenário comunicacional contemporâneo, compreendendo que vivemos em uma ambiência que faz transcender o modelo instrumental da comunicação no contexto das organizações e coloca as práticas comunicacionais a serviço do relacionamento entre sujeitos em situação de igualdade, enquanto emissores e receptores de mensagens/conteúdos. Essas novas perspectivas fazem emergir diferentes possibilidades de gerenciar o diálogo com os interlocutores das organizações educacionais em situações que fogem da regularidade e se caracterizam como situação de crise. Palavras-chave: Comunicação; Organizações Educacionais; Gestão de Crises; Diálogo
41 1 Contexto breve e necessário No final da década de 80 do século 20 o filósofo
comunicação começa a assumir seu estatuto normativo, ou seja, começa a ser compreendida no espaço das relações,
italiano Gianni Vattimo anunciou a vida na Sociedade
transcendendo o caráter meramente instrumental e
Transparente. A multiplicação vertiginosa da comunicação
utilitarista herdado do modelo matemático .
a que assistimos hoje, segunda década do século 21, é
“Informar não é comunicar”, decreta Wolton (2010, p.
ainda mais intensa do que as antecipações do filósofo.
11). Apesar de não existir comunicação sem informação, o
Talvez nunca na história da humanidade tenha se falado
comunicar é mais difícil, pois impõe a questão da relação, a
tanto em comunicação como nos tempos vividos. E,
questão do outro, da sintonia entre emissor e receptor, e
muito provavelmente, a incidência do termo comunicação
o resultado é incerto. Chegando ao terceiro elemento que
seja superada apenas pela circulação do termo crise.
constitui o pano de fundo para tratarmos da comunicação
Transparência. Comunicação. Crise. Três fenômenos que
na gestão das crises, tema do artigo, é imprescindível
se encontram e interagem para formar o pano de fundo da
que possamos compreender, em meio à diversidade de
reflexão proposta neste artigo.
interpretações do termo, de qual crise estamos tratando.
Para entender melhor a Sociedade Transparente que
Problematizamos, aqui, aqueles eventos que, conforme
marca a lógica das relações sociais contemporâneas,
conceitua Lerbinger (1997), trazem ou têm potencial para
recorremos novamente ao filósofo italiano. O que Vattimo
trazer à organização uma futura ruptura. Partilhamos também
chamou de “tomar a palavra” (1992, p. 12) nada mais é do
da definição de Wilcox (1992, p. 191), segundo o qual as crises
que a apropriação de espaços legítimos que promovem
são um ou uma série de acontecimentos extraordinários que
a emancipação dos emissores no contexto da Sociedade
afetam a integridade do produto [ou serviço], a reputação ou a
Aberta (WOLTON, 2006). Das massas de receptores
estabilidade financeira de uma organização.
passivos de mensagens, passamos rapidamente a um tempo no qual a mídia está ao alcance da mão, e qualquer pessoa pode produzir conteúdo, ou seja, mensagens, tornando-se emissor. Na Sociedade Transparente ou Sociedade da
2 Quando escolas e universidades mudam o foco de sua ação Estabelecidos os conceitos que definem o cenário que recortamos para nossa sistematização, precisamos visualizá-los no espaço das organizações
Comunicação Generalizada, Vattimo (1992) afirma que
educacionais. Antes, porém, esclarecemos que, como
fica evidente a instabilidade, a oscilação, o movimento. O
Nóvoa (1992) e Hutmacher (1992), entendemos que
autor afirma: “viver neste mundo múltiplo significa fazer
escolas, universidades e outras partes formais do
a experiência da liberdade como oscilação contínua entre
sistema de educação e ensino precisam ser vistas como
pertença e desenraizamento” (VATTIMO, 1992, p. 16).
organizações. A escola é um agrupamento relativamente
De caráter polissêmico e onipresente na vida
permanente de forças de trabalho, um coletivo humano
dos indivíduos, nas relações e nas organizações, a
orientado e atravessado por questões de poder, dispondo
comunicação “é resultado do formidável movimento
de recursos e orientado para uma finalidade.
de emancipação social, cultural e política nascido no
Especialmente diante dos desafios contemporâneos
Ocidente”, afirma Wolton (2006, p. 25). Por muito
que recaem sobre as escolas e as instituições de ensino
tempo confundida com transmissão de informações, a
superior, a abordagem de escolas e universidades como organizações abre espaço para definição de sistemas de gestão que incluam, junto do saber pedagógico,
“A presença da comunicação na prevenção e na gestão de crises transcende em muito a dimensão técnica instrumental”
outros saberes essenciais para o desempenho eficaz da organização educacional. O conhecimento das Ciências da Comunicação e, mais especificamente, da subárea Comunicação Organizacional, é um destes novos saberes que podem contribuir na gestão educacional.
EDUCAÇÃO EM REVISTA ///
42 /// PESQUISA
“O elemento transversal presente em todas as etapas do processo de prevenção e gestão de crises é o diálogo”
Há que se compreender, porém, que a presença da comunicação na prevenção e na gestão de crises transcende em muito a dimensão técnica instrumental. Todas as ações devem ser pautadas por ela. O elemento transversal presente em todas as etapas do processo
Como jamais visto em outros tempos, assistimos
de prevenção e gestão de crises é o diálogo. Desde
à escola e à universidade envolvidas em um clássico
a inclusão do tema na pauta dos gestores até a
movimento que configura a crise e que pode ser expresso
avaliação do impacto sofrido, é fundamental que haja
em um famoso jargão dos profissionais da área de
movimentos planejados de escuta e de apresentação de
comunicação: “a crise pode ser claramente percebida
posicionamentos como atitude de todos os envolvidos. Na
quando a organização muda de editoria nos veículos de
Sociedade Transparente, é cada vez mais difícil manter
comunicação de massa”. Ou seja, espera-se encontrar
posicionamentos convencionais das organizações em
notícias de organizações educacionais publicadas em
momentos de crise, tais como: busca de cerceamento e
editorias de educação e não em espaços de jornais e
sigilo de informações, transferência de responsabilidades,
telejornais que tratam de notícias policiais. Da mesma
minimização das consequências, desatenção com os
forma, nas redes sociais, as organizações passam a ser
públicos interlocutores, entre outros. É preciso encarar a
protagonistas de postagens negativas. Ações de bullying
crise e comunicar-se antes, durante e depois.
entre estudantes, descontrole de professores e estudantes que geram gestos de violência, denúncias graves envolvendo comportamento de agentes do processo educativo, invasões, sequestros, desastres naturais, fechamento, venda entre outros temas, têm levado cada vez mais, na atualidade, essas organizações a serem motivo de notícias fora dos espaços de educação. A consequência direta é o impacto na reputação de uma organização e, em estágios mais graves, de todo o sistema. Conforme Srour (2008, p. 65), quando a reputação é boa, traduz-se em admiração, confiança e respeito; quando é má, conduz para a desconfiança, a rejeição e o estigma. Acreditamos que o saber da comunicação organizacional é fundamental para a prevenção e o gerenciamento das crises. A exposição da crise se dá pelos registros por meio de recursos tecnológicos e pela propagação dos conteúdos nas redes sociais na internet. Blogs, perfis no Facebook, vídeos no Youtube e posts no microblog Twitter, entre outros, têm crescido em importância no desenvolvimento de crises organizacionais. Nas escolas e nas universidades, não é diferente. A sala de aula, até pouco atrás tempo território fechado, inviolável, é descortinada com o uso desses recursos. As crises e os conflitos são registrados e percorrem longos trajetos geográficos, repercutindo ainda mais rapidamente e fugindo de qualquer possibilidade de controle. Novo assunto para a pauta de escolas e universidades
Artigo originalmente publicado no livro A comunicação nas organizações educacionais – contribuições do ECOM Encontro de Comunicação Marista / Lidiane Amorim e Rosângela Florczak organizadoras. Porto Alegre: CMC, 2011. 2 O sentido de emancipação aqui utilizado não tem o aprofundamento filosófico proposto por Vattimo, que problematiza os limites do conceito no contexto da racionalidade e da objetividade científica. Quer simplesmente expressar a definição de estar livre de uma tutela. 3 Teoria Matemática é um dos mais sólidos exemplos de empréstimo de modelo de cientificidade das ciências exatas para as ciências do homem e da sociedade. A teoria foi consolidada pelo matemático e engenheiro elétrico norte-americano Claude Shannon, por encomenda dos laboratórios Bell Systems. Shannon contou com a contribuição de Weaver ao publicar sua teoria pela Universidade de Illinois (1949). Considerada, em sua essência, como uma teoria sobre a transmissão ideal de mensagens, o sistema geral de comunicação proposto por Shannon é o da transferência de informação (mensagem) de uma fonte por meio de um transmissor que a converte em sinal, o qual é recebido por um receptor que novamente a converte em mensagem e a entrega ao destinatário. 1
*Doutora e mestra em Comunicação, atua como professora do Curso de Jornalismo, Administração e Publicidade e Propaganda e da Pós-graduação em Comunicação Corporativa da ESPM-Sul. É diretora do Capítulo RS da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (ABERJE) e também consultora na área e sóciadiretora da Engaje Comunicação.
CONTEÚDO ONLINE DISPONÍVEL Acesse as referências bibliográficas deste artigo. educacaoemrevista.com.br
EM DESTAQUE /// 43
ROSETTA STONE AUXILIA ESCOLAS EM APRENDIZADO DE IDIOMAS Líder mundial no segmento, a Rosetta Stone fornece soluções que envolvem tecnologia, metodologia de imersão e integração ao plano de ensino para a aprendizagem de idiomas nas escolas. As atividades trabalham as habilidades fundamentais: pronunciação, compreensão oral, leitura, escrita e gramática. Os
UNOI EDUCAÇÃO TRAZ A CULTURA MAKER PARA A AULA O UNOi educação, uma solução educacional do Grupo Santillana, está
relatórios permitem que os professores avaliem o progresso e acompanhem individualmente os alunos. A prática poderá ocorrer no laboratório de informática, celular, tablet ou computador. A equipe da ASG, representante da Rosetta Stone no Brasil, fornece o atendimento e os serviços para implementar a ferramenta e acompanhar cada um dos clientes. Conheça mais no site www.asgit.com.br/rosetta-stone.
renovando seu catálogo para 2019. A nova proposta tem um importante cunho da cultura maker, movimento que reforça a ideia de que todos somos capazes de criar, construir ou consertar com nossos próprios recursos. Com base em uma matriz que conecta em rede alunos, professores, escolas e famílias, por meio de ambientes, recursos de aprendizagem e metodologias, o Projeto UNOi promove nos alunos as competências para o mundo contemporâneo, trabalhando habilidades por meio de metodologias ativas, eixos e conteúdos temáticos, seguindo a BNCC e os pilares da Unesco. Para mais informações, ligue para (51) 99846-6022 ou envie um e-mail para mbastos@unoi.com.
INFORMAÇÃO NA PALMA DA MÃO O GVmobile, produzido pela GVDASA Inteligência Educacional, é um aplicativo para acesso fácil e rápido às informações acadêmicas e financeiras dos estudantes. Com ele, é possível consultar faltas e notas, realizar pagamento de parcelas, visualizar ocorrências pedagógicas, horários e disciplinas. Para os professores, o app garante facilidade e agilidade em importantes tarefas, como digitação de notas e frequências. Conheça o case do Centro Universitário Unicarioca, que utiliza o aplicativo: https://materiais.gvdasa.com. br/caseunicarioca_sinepe. Solicite acesso gratuito e experimente a versão de avaliação do aplicativo pelo telefone (51) 3591-1700 ou e-mail relacionamento@gvdasa.com.br.
EDUCAÇÃO EM REVISTA ///
hÁ 70 ANOS O SINEPE/RS agrega e protagoniza. Une e fortalece. Questiona e desafia. Ensina e aprende. É mestre e é aluno.
Sabemos que novos desafios virão e estamos preparados!