Educação em Revista - Edição 140

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P.20 / PEDAGÓGICO Como debater temas polêmicos

P.26 / GESTÃO UMA PUBLICAÇÃO DO SINEPE/RS ›› Nº 140 ›› ANO XXIV ›› JANEIRO/FEVEREIRO/MARÇO 2021

A OPÇÃO PELO HÍBRIDO Após a experiência de 2020, momento aponta para a consolidação e o amadurecimento deste (novo) formato de ensino

Planejamento para o 2º ano de pandemia




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››› Sumário

6 SINEPE EM AÇÃO Sindicato comemora o seu aniversário

14 INSPIRE-SE

FOTOS DEPOSITPHOTOS

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Experiências no retorno ao presencial

26 GESTÃO Sugestões para o planejamento em 2021

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CAPA

20 ››› PEDAGÓGICO Mediar debates polêmicos com os alunos, em sala de aula, exige mente aberta dos professores

PESQUISA Artigo sobre práticas de alfabetização

34 DIVERSIDADE Como educar alunos com altas habilidades

36 RADAR O recomeço após as perdas para a Covid-19

38 INOVAÇÃO Um clube de ciências que se tornou on-line

16 ››› COM A PALAVRA Claudia Costin analisa o que gestores e educadores podem aprender com a pandemia

Educação em Revista | Nº 140 | Janeiro/Fevereiro/Março 2021

Quais os caminhos para o desenvolvimento do ensino híbrido em 2021

EDILSON RODRIGUES - AGÊNCIA SENADO, DIVULGAÇÃO


Editorial ›››

DIRETORIA: Presidente: Bruno Eizerik, 1º Vice-

Presidente: Osvino Toillier, 2º Vice-Presidente: Oswaldo Dalpiaz, 1ª Secretária: Marícia da Silva Ferri, 2º Secretário: Iron Augusto Müller, 1º Tesoureiro: João Olide Costenaro, 2º Tesoureiro: Hilário Bassotto. Suplentes: Maria Helena Rodrigues Lobato, Ruben Werner Goldmeyer, Nestor Raschen, Carlos Roberto Milioli, Antônio Roberto Lausmann Ternes, Celassi Bernardete Dalpiaz, Bárbara Perlin Nissola. CONSELHO FISCAL: Titulares: Ademar Joenck, Inacir Pederiva, Guilherme Kühne. Suplentes: Isaura Paviani, Maria Angelina Enzweiler, Elenar Luisa Berghahn. DELEGADOS REPRESENTANTES: Bruno Eizerik e Osvino Toillier. Suplentes: Hilário Bassotto e Oswaldo Dalpiaz.

EQUIPE: Direção: Milton Léo Gehrke. Assessoria pedagógica: Naime Pigatto e Claudete Chiarello. Centro de Desenvolvimento em Gestão (CDG): Vera Lúcia Corrêa. Assessoria de Comunicação e Marketing: Luciana Moriguchi Jeckel Lampugnani, Carine Fernandes, Eduardo Oliveira, Hermes Moura, Bruno Pinheiro e Alana Schneider. Financeiro: Matheus Philippi. Atendimento: Jaqueline Maria Rodrigues da Rosa e Suelen Schroeder Ferreira, Emília Pires e Joana Reni Vielhuber. Serviços Gerais: Ereni Souza da Silva e Naira Elizabetti Real. REVISTA: Coordenação: Carine Fernandes

(MTB 15.449). Supervisão: Bianca Garrido (MTB 11.778). Edição: Carlos Guilherme Ferreira (MTB 11.161). Reportagens: Pedro Henrique Pereira, Igor Morandi e Tatiana Py Dutra. Capa: Deposit Photos. Diagramação: Padrinho Agência de Conteúdo. Revisão: Milton Gehrke. Conselho Editorial: Prof. Osvino Toillier, Prof. Hilário Bassotto, Prof. Flávio D’Almeida Reis, Profª Mônica Timm de Carvalho, Profª Naime Pigatto, Profª Raquel Boechat, Prof. Ruy Carlos Ostermann, Profª Ângela Ravazzolo, Profª Rosângela Florczak e Prof. Gustavo Borba. Antenas: Adriana Gandin, Alfredo Fedrizzi, Caio Dibi, Crismeri Corrêa, Fernando Becker, José Moran, Laura Dalla Zen, Márcia Beck Terres, Mauro Mitio Yuki e Rodrigo Capelato. Foto de capa: Deposit Photos. FALE CONOSCO – Redação: Cartas, comentários, sugestões, matérias – educacaoemrevista@sinepe-rs.org.br Comercial: Anúncios e assinaturas – comercial@sinepe-rs.org.br. Informações: Telefone (51) 3213.9090 e www.educacaoemrevista.com.br. ISSN: 1806-7123

A Educação em Revista não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressam o pensamento dos respectivos autores.

NOSSO PAPEL NO RECOMEÇO DE 2021 CARLOS GUILHERME FERREIRA Editor da Educação em Revista

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primeira edição da Educação em Revista em 2021 traz a essência de uma espécie de recomeço para o setor educacional. Enquanto escrevo estas linhas, a vacina contra a Covid-19 já tinha se iniciado, mesmo em escala reduzida, e as escolas gaúchas vivenciavam a expectativa pela volta às atividades. Normalidade, na acepção antiga da palavra? Ainda não. Mas estamos a caminho. Nesse sentido, nossa revista procurou olhar para a frente de uma forma útil e prática, a fim de efetivamente contribuir com o público. A reportagem de capa traz os caminhos para o desenvolvimento do ensino híbrido após uma espécie de “quebra de resistência” com esse formato, acontecida em 2020. O híbrido será predominante? Confira a partir da página 8. Seguimos no assunto. Nas páginas 16 a 18, entrevistamos a consultora Claudia Costin, uma figura respeitada nacionalmente e inserida no debate da educação – é colunista do jornal Folha de S. Paulo e fonte frequente nas reportagens de telejornais como o Jornal Nacional, da Rede Globo. Claudia traz uma reflexão sobre os aprendizados da pandemia. Diz ela, ao comentar o processo de ensino emergencial remoto: “Tentava-se pegar cinco horas de aula e dar cinco horas de plataforma, mas houve um processo de aprender fazendo que é muito rico. O monitoramento da aprendizagem veio de maneira organizada. Esse

processo pode ajudar muito as escolas a pensarem no futuro da educação.” E esse horizonte passa, obrigatoriamente, também pela parte organizacional das instituições de ensino. Em Gestão, esquadrinhamos sugestões para colaborar com os planejamentos operacional, financeiro e pedagógico, tendo em vista a realidade de um segundo ano de pandemia. E não esquecemos da sala de aula. Em tempos de notícias de origem duvidosa e difusão facilitada, o professor reafirma seu papel de mediador e de porto seguro para os alunos. Cabe a ele a difícil tarefa de desmistificar assuntos polêmicos junto aos estudantes, ajudando-os a aprender a filtrar o que é ou não verdadeiro. Conversamos a respeito com a presidente do Instituto Palavra Aberta, Patricia Blanco. Ela traz luz à discussão: “Fatos são confundidos com posicionamentos, e há a exigência de interpretarmos a intenção, a autoria e o contexto de cada mensagem que recebemos, com o intuito de não curtirmos, comentarmos e compartilharmos mentiras ou conteúdos tóxicos sem saber.” Para facilitar a tarefa, nossa reportagem traz um guia para uma espécie de “entrevista” com a informação: são seis perguntas para verificar o quão confiável ela é. Algo semelhante ao lead, nomenclatura do parágrafo inicial de uma reportagem jornalística, onde constam as informações mais importantes. Tal qual a imprensa, a educação também tem um importante papel a cumprir. E isso efetivamente segue ocorrendo. 

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››› Sinepe em ação

FOTOS REPRODUÇÃO

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72 ANOS DE UMA BELA HISTÓRIA Sinepe/RS comemorou o aniversário, em dezembro, por meio de uma live. Relembre a história do Sindicato e sua importância na educação gaúcha

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ara comemorar os 72 anos de fundação, o Sinepe/RS promoveu uma live de aniversário, transmitida pela TV Sinepe, no Youtube. O evento ocorreu em 3 de dezembro e contou com um retrospecto do trabalho desenvolvido, homenagens às instituições jubilares, apresentação de projetos para 2021 e música ao vivo com a cantora Gaby Christo. Mais de 1,7 mil visualizações foram registradas. Para o presidente da entidade, Bruno Eizerik, foi uma oportunidade para enaltecer o empenho das instituições privadas ao longo do ano. “É uma data em que homenageamos o ensino privado. Vivemos meses difíceis, de inúmeros desafios. O trabalho e o comprometimento de nossas instituições garantiram que a educação se adaptasse ao ensino remoto e que conseguíssemos chegar ao final do ano com a retomada das atividades presenciais. Como Sindicato, temos muitos motivos para agradecer e comemorar a atuação de nossos associados.”

CONTEÚDO ONLINE DISPONÍVEL Assista à festa dos 72 anos do Sinepe/RS: encurtador.com.br/imqr0

O evento contou com o patrocínio da UNO Educação, Projeto Moderna Compartilha, Educate, HCC Energia Solar e Bernoulli Sistema de Ensino.

Nossa fundação, na década de 40 A história do Sinepe/RS se funde à da educação gaúcha. Na década de 40, o então Sindicato dos Estabelecimentos

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de Ensino, com sede no Rio de Janeiro, buscou descentralizar e fortalecer a iniciativa dos Estados, a fim de possibilitar uma maior congregação entre as entidades locais. O movimento ganhou força com a política trabalhista do período, e as associações conquistaram espaço, inclusive a das escolas particulares. Com o crescimento e a consequente necessidade de fortalecimento e organização do movimento, houve a necessidade do Rio Grande do Sul ter seu próprio Sindicato. O primeiro passo foi a criação de uma associação, em 25 de julho de 1947. Em seguida, iniciaram-se as tratativas para a constituição do Sindicato. A transformação foi aprovada no mês de outubro do mesmo ano e o então diretor do Colégio Marista Rosário, Irmão José Otão, foi eleito o primeiro presidente. Quarenta e quatro estabelecimentos de 16 cidades assinaram a ata de fundação. E, em 3 de dezembro de 1948, foi concedida a carta sindical, que garantiu à entidade usufruir de seus direitos de representante das instituições particulares do RS. 


Sinepe em ação

EXPECTATIVAS PARA AS AULAS PRESENCIAIS

CAMPANHA DO SINEPE/RS APRESENTA BOAS PRÁTICAS DA REDE PRIVADA O Sinepe/RS coloca em evidência novamente a campanha #CompartilheBoasPráticas, criada para divulgar o trabalho da rede privada em 2020 e fortalecer as instituições por meio de uma rede colaborativa. Em 30 episódios, professores, gestores e coordenadores de diferentes cidades do Estado apresentam ações e projetos adotados pelas instituições de ensino para atender a comunidade escolar durante as atividades remotas e no retorno às aulas presenciais. Os vídeos estão disponíveis numa playlist especial no Youtube. Encerrada em janeiro, a campanha mostra a atuação das instituições frente aos desafios impostos pela pande-

mia durante 2020. São exemplos de iniciativas pedagógicas, recursos para aproximar os pais da rotina dos filhos, práticas artísticas e esportivas, uso de ferramentas tecnológicas e estratégias específicas para cada etapa de ensino. Cada episódio é uma demonstração do trabalho e da reinvenção da rede privada para dar continuidade ao ensino de crianças e jovens e manter a qualidade de seus serviços. 

CONTEÚDO ONLINE DISPONÍVEL Assista ao episódio final da campanha

No início de março, devido ao agravamento da pandemia, foi decretada pelo Governo do Estado a bandeira preta no modelo do distanciamento controlado em todas as regiões. A Educação Infantil e os 1º e 2º anos do Ensino Fundamental teriam aulas presenciais, considerando a dificuldade de alfabetização das crianças em aulas virtuais e o problema que os pais enfrentam por não ter com quem deixar os filhos quando vão trabalhar. Mas isso acabou proibido, assim como ocorreu nos demais níveis de ensino. O governo do Estado tentou, sem sucesso, derrubar essa restrição na Justiça. Outra medida anunciada é que o setor educacional não pode, até a publicação desta edição, entrar no sistema de cogestão regional. Para o presidente do Sinepe/RS, Bruno Eizerik, a flexibilização para as aulas presenciais será importante para as crianças voltarem ao convívio escolar e para as famílias, que terão um ambiente seguro para deixar seus filhos. “Nossas escolas estão preparadas para receber os estudantes, cumprindo rigorosamente todos os protocolos sanitários”, destaca o dirigente. 

ASSESSORIA PEDAGÓGICA À DISPOSIÇÃO DOS ASSOCIADOS O setor Pedagógico e de Legislação Educacional trabalha para esclarecer dúvidas relacionadas à elaboração e à aplicabilidade de documentos institucionais, tais como: Regimento Escolar, Proposta Pedagógica e Planos Curriculares. Também busca identificar necessidades de aprimoramento das

instituições, planejando eventos que proporcionem à equipe gestora-pedagógica a reflexão sobre a sua atuação. No período de excepcionalidade, o setor atua para auxiliar as instituições de ensino na oferta das atividades remotas e na organização pedagógica para o retorno às aulas presenciais. 

As consultas devem ser feitas às segundas, quartas e quintas-feiras, pelo telefone

(51) 3213-9090 Segundas-feiras: das 8h30 às 11h30 e das 14h às 16h30. Quartas-feiras: das 8h30 às 11h30. Quintas-feiras: das 14h às 16h30.

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››› Reportagem de capa

A construção do caminho no ensino híbrido

A modalidade de ensino remoto adotada em 2020 deixou lições e quebrou barreiras, aproximando estudantes, professores e gestores da modalidade híbrida – mas é preciso mais do que combinar atividades remotas e presenciais. Trata-se de preencher as lacunas de um jeito novo de ensinar.

DEPOSITPHOTOS

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Segue ›››

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››› Reportagem de capa PEDRO PEREIRA

pedro@padrinhoconteudo.com

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epois de períodos de adaptações com o ensino remoto e da condução do ano letivo de 2020 em formato híbrido, as instituições de ensino têm a oportunidade de analisar o que funcionou – e amadurecer essa realidade em seus currículos. Ainda diante de um quadro de consolidação do calendário de vacinação, o desafio é conciliar o retorno gradual às atividades presenciais. Mas uma coisa é certa: todo mundo entendeu que é possível oferecer um ensino de qualidade mediado por tecnologia. A adaptação ao contexto de isolamento social começou com o ensino remoto emergencial, sem muita clareza de como trabalhar com as atividades domiciliares. Passou pelo remoto intencional, em um segundo momento, com atividades preparadas já pensando na realidade da pandemia e, no fim do ano letivo, algumas iniciativas já conseguiam contemplar o modelo misto, com aulas remotas e presenciais ao mesmo tempo, em um ensaio para o híbrido. No entanto, é fundamental entender que o conceito de hibridismo vai muito além da combinação de atividades presenciais e remotas. “Ensino híbrido requer personalização, entender que cada aluno aprende de um jeito e nessa modalidade posso atender aos dois da mesma forma, à medida em que indico um vídeo para quem gosta muito de ver e áudio para quem gosta de ouvir. Pressupõe personalização para atender a qualidade de aprendizagem”, explica a escritora, consultora e palestrante Priscila Boy. Se 2020 foi difícil, 2021 será complexo. Recai sobre as instituições uma expectativa de planejamento com base nas experiências emergenciais, ou seja, todos esperam uma condução mais sólida do processo de aprendizagem porque houve tempo para ajustar a metodologia. O problema é que, para

isso, deve-se levar em consideração aspectos legais, sanitários e pedagógicos. São muitas incertezas. Dependendo de decretos ou resoluções governamentais, fica difícil planejar o ano letivo sem saber com clareza se (ou quando) os alunos estarão em sala de aula ou em casa. Além disso, há a questão do vírus propriamente dito: mesmo que exista previsão legal de atividades presenciais, o comportamento dos grupos é muito variável. “Pela primeira vez na história, a decisão de levar o filho para a escola está nas mãos dos pais. E isso pode mudar de um dia para o outro. Um caso (de Covid-19) em uma família pode resultar em uma série de alunos em casa”, exemplifica o consultor-chefe da META Aprendizagem, Paulo Tomazinho.

PRISCILA BOY Consultora e palestrante

“Existia um preconceito enorme com educação a distância. Agora, notamos a potência da EaD, da ferramenta digital. Então, a barreira foi quebrada.” PAULO TOMAZINHO Consultor-chefe da META Aprendizagem

“É o grande momento da educação, com muita serenidade, olhar todo o conteúdo que precisa ensinar e ver o que é essencial.“ FABIANA PIRES Coordenadora pedagógica

“É como se estivéssemos em uma sequência didática em dois passos. Um no presencial e outro com grupo a distância.”

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Oportunidade para avançar Ainda que muitas instituições já viessem utilizando equipamentos digitais e interativos nas atividades curriculares, a pandemia serviu para derrubar ainda mais a resistência a esse tipo de ferramenta. “Dentro do meio acadêmico existia um preconceito enorme com educação a distância, uma desqualificação. Era vista como algo menor, mas agora notamos a potência da EaD, da ferramenta digital. Então, a barreira foi quebrada”, acredita Priscila Boy. Depois de sete anos implementando a tecnologia aos poucos na sala de aula, o Colégio Santa Inês, de Porto Alegre, precisou acelerar para atender aos alunos durante a pandemia. Mesmo assim, não foi simples. “Vamos para um curso, assistimos, treinamos na oficina, mas não é a mesma coisa quando precisamos aplicar. Foi um ano importante para exploração de novas possibilidades”, pondera a coordenadora pedagógica do Ensino Médio do colégio, Fabiana Pires. Uma das primeiras ações já está definida: as atividades de turno inverso, que ocorrem duas tardes por semana, vão permanecer 100% on-line mesmo depois de tudo voltar ao normal, integrando ferramentas de realidade aumentada e gamificação. Já as regras de distanciamento serão cumpridas dividindo as turmas em dois grupos, que irão ao colégio em semanas alternadas. A proposta é oferecer exercícios para os alunos que estiverem no remoto, com exploração de soluções digitais e desafios lógicos. “É como se estivéssemos em uma sequência didática em dois passos. Um no presencial e outro com grupo a distância. Depois trocam os passos, mas estão na mesma sequência didática. Avançam juntos”, explica a coordenadora.


Reportagem de capa ›››

As lições de 2020 O que o primeiro ano da pandemia ensinou sobre ensino híbrido. O professor é resiliente Uma das mensagens mais importantes do ano passado foi a de que os professores têm a capacidade e a vontade de se reinventar e se adaptar. É hora de aproveitar isso e avançar no uso de tecnologia, interatividade e análise de dados.

Menos aulas expositivas O hibridismo sugere utilizar metodologias ativas e de experimentação, por meio de projetos que desenvolvam competências. A dica é encontrar o que há de mais importante em cada conteúdo para apresentar aos alunos e, depois, trabalhar na prática os temas complementares.

Disponibilidade de conteúdo Repositórios permanentes e bem organizados ganham a simpatia dos alunos e dos responsáveis. Ter acesso aos conteúdos e avaliações a qualquer momento e de forma prática se tornou outro ponto importante para o ensino híbrido.

Moderação Algumas atividades mostraram melhor aproveitamento no modelo remoto em comparação com o presencial, mas é preciso analisar com atenção na hora de definir a mudança. Há ferramentas para os dois tipos de interação.

Segue ›››

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››› Reportagem de capa Para tudo isso se encaixar no ano letivo de 2021, o Colégio Santa Inês tem uma receita: estruturar os objetos de conhecimento para ir direto ao que é mais importante e, por meio das atividades, compreender o todo. “Em vez de trabalhar o conceito de identificação, já partimos direto para as comparações. A identificação entrava ao ter de comparar”, exemplifica Fabiana. “É o grande momento da educação, com muita serenidade, olhar todo o conteúdo que precisa ensinar e ver o que é essencial. Assim como na música, descobrir qual é o refrão das aulas para caber nesse ano letivo e nesse tipo de atividade”, compara Tomazinho. O modelo de atividade a que se refere é o fato de não transpor aulas presenciais para transmissões ao vivo, mas inserir outras dinâmicas e formas de interatividade. Uma das lições de 2020 foi a de que os alunos não conseguem permanecer por três ou quatro horas acompanhando

uma aula meramente expositiva. Para que o conteúdo seja aproveitado, Tomazinho sugere uma dinâmica diferente, a partir da identificação do que é primordial em cada assunto: um terço do tempo de exposição, outro terço dedicado a atividades para exercitar o que foi passado e a última parte para interatividade sobre tudo que foi trabalhado. Para garantir a experiência de aprendizado personalizado, o Colégio Santa Inês utiliza outras potencialidades da interação mediada por tecnologia. São dados precisos sobre o aproveitamento dos alunos que não apenas norteiam a tomada de decisões, como também ajudam as famílias a fazer esse acompanhamento e antecipar eventuais dificuldades de progressão. Uma plataforma é abastecida com os resultados das avaliações parciais em, no máximo, 15 dias depois da conclusão. As informações ficam disponíveis aos alunos e familiares, mas também

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a uma equipe multidisciplinar responsável pela análise do desenvolvimento – como o professor regente de cada série, psicólogo e a coordenação. Assim é definido o suporte pedagógico, com atividades de reforço, e, também, o apoio socioemocional. “Com o boletim fechado não se tem mais o que construir, seria apenas uma recuperação. O objetivo é pensar durante o processo e reverter a situação muitas vezes já no primeiro trimestre”, conta Fabiana. Em sala de aula, os professores podem observar padrões de respostas que indiquem se o grupo está indo no caminho correto, por exemplo. O emprego da tecnologia não apenas para transmitir conhecimento, mas também para avaliá-lo e monitorá-lo, é mais uma característica do ensino híbrido que fica como legado desse período complexo. Para a sua implementação por completo, o assunto precisa constar na proposta pedagógica da escola. 

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Entre Aspas ›››

Lucia Giraffa Professora titular da Escola Politécnica-Computação da PUCRS, pesquisadora e professora permanente do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Educação – Escola de Humanidades/PUCRS. Doutora em Ciências da Computação pela UFRGS e Pós-Doutora na Universidade do Texas (Austin) no College of Education.

Educação on-line é mais do que uma evolução da EaD O contexto pandêmico vivenciado de forma intensa, no primeiro semestre de 2020, reforçou as discussões relacionadas ao ensino online utilizando como recurso as plataformas virtuais e as reflexões advindas de tal uso no que tange a materiais, metodologias e formação docente (e discente).

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denominada Educação On-line é mais do que uma “evolução” da Educação a Distância (EaD) com a utilização AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem –, onde são disponibilizados materiais digitalizados ou digitais (sim, existe uma diferença e já vamos falar nisso). É um novo espaço integrado que emerge do contexto da cibercultura, onde temos a oportunidade de produzir, consumir e acessar conhecimentos diversos. Neste mundo digital onde se estabeleceu uma cultura digital, existe a necessidade de criarmos materiais em linguagem e em formato multimodal que potencializem os elementos que temos a nosso dispor, considerando a ubiquidade e a hiperestrutura expressa nos links colocados em sites, livros digitais e outros. Materiais digitais não são conceitualmente iguais a materiais digitalizados

(cito como exemplo texto, figuras convertidos para PDF) disponibilizados nas salas virtuais. Estamos falando de organizar o conhecimento tirando proveito da multiplicidade de recursos em diversos formatos, para proporcionar uma experiência de aprendizagem diversa daquela a que estamos habituados na presencialidade. Este espaço virtual estabelecido pela rede mundial se constitui na extensão da presencialidade (mundo físico), onde as distâncias desaparecem, as barreiras físicas são transpostas e, até mesmo, a questão da língua pode ser resolvida por softwares que nos auxiliam a traduzir textos e falas. Podemos trabalhar de forma síncrona (conectados simultaneamente com um “ir e vir” de informações de forma interativa) ou assíncrona (sem interação simultânea). Estas oportunidades implicam em construir abordagens metodológicas que permitam retirar o potencial de tais espaços e neste desafio/oportunidade reside a necessidade do trabalho docente. Sim, quem faz novas metodologias ou as adaptam são professores. A tecnologia é coadjuvante, afinal sempre usamos tecnologias no ambiente escolar analógico (quadro, giz, caneta, lápis e outros) e agora utilizamos recursos digitais. Necessitamos de formação docente e um entorno que contribua para promoção da inovação pedagógica que tanto queremos. A questão não se restringe apenas

ao aspecto da formação docente. É mais ampla e envolve o ecossistema escolar como um todo. Gestores, docentes, família, discentes (necessitam aprender a estudar, produzir e consumir conhecimento de maneira multimodal) e colaboradores imersos numa infraestrutura adequada. A urgência da pandemia em 2020/1 e a emergência de 2020/2 mostraram o abismo da desigualdade do sistema escolar brasileiro e destacaram (aquilo que já sabíamos) no que tange à importância do acesso à internet como um direito universal a que todos devemos ter. São milhões de alunos alijados dos estudos pela falta de acesso adequado. Implicações que reforçam a necessidade de políticas públicas urgentes para atender à já precária educação do país. Os sistemas privado e comunitário de ensino trouxeram respostas mais rápidas por diversas razões, mas mesmo neles o docente enfrentou (e enfrenta) as restrições da sobrecarga de trabalho, escassez de materiais digitais disponíveis, avaliação limitada por recursos e concepções pedagógicas apoiadas em provas escritas e presenciais. A migração rápida fez com que adequássemos o presencial ao virtual da maneira que foi possível. Legados deste ano tumultuado (que se estende em 2021 até a vacinação ser uma realidade) podem ser expressos pela criatividade, resiliência e engajamento dos docentes. Aprendemos muito. Sigamos. 

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Inspire-se ›››

››› Inspire-se

Duas formas de voltar ao presencial

SETREM, DIVULGAÇÃO

Grupos menores para manter atividades Em um momento de pandemia, mesmo com flexibilização de regras de afastamento, a retomada de aulas presenciais foi motivo de polêmica. Na Sociedade Educacional Três de Maio (Setrem), no noroeste do Estado, a grande maioria dos mil estudantes matriculados em 12 cursos de graduação não aderiu ao retorno. Entretanto, cerca de 10% deles seguiram em atividades presenciais, como práticas acadêmicas em laboratório e estágios. Conforme o diretor do Setrem, professor Sandro Ergang, essa realidade exigiu uma avaliação rigorosa dos protocolos de segurança

Instituições do RS respeitaram protocolos sanitários e adaptaram os seus modelos de funcionamento TATIANA PY DUTRA

tatianapydutra@padrinhoconteudo.com

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020 trouxe pelo menos dois grandes desafios para as instituições de Educação Superior. O primeiro foi ingressar no sistema remoto sem muito tempo para se preparar adequadamente para esta demanda. E o segundo, retomar o trabalho presencial. Apesar de a maior parte das IES ter suspendido as aulas tradicionais na primeira quinzena de março, algumas conseguiram restabelecer as atividades in loco. Houve quem pudesse seguir com trabalhos de laboratório, estágios e até aulas, conforme a anuência dos alunos. A flexibilização exigiu adaptação aos protocolos sanitários para evitar o contágio pela Covid-19 e a preservação dos grupos de risco, além do respeito a particularidades locais ou regionais. No Estado, a Sociedade Educacional Três de Maio (Setrem) e o Instituto Superior de Educação Ivoti são exemplos de instituições que se adaptaram à nova realidade. Confira nestas páginas como foram as experiências.

SETREM

INSTITUTO IVOTI, DIVULGAÇÃO

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orientados pelo governo do Estado, indo além da aferição de temperatura (foto ao lado) e da disponibilização de álcool em gel. As regras de distanciamento levaram, por exemplo, a uma redução das atividades em grupo nos laboratórios. Práticas que eram compartilhadas foram individualizadas, estabelecendo-se um rodízio de equipamentos. Ergang avalia que não houve prejuízo ao aprendizado dos alunos no novo modelo, ainda que as adaptações tenham elevado os custos de operação em quase todas as atividades. “No curso de Enfermagem, algumas práticas são feitas em hospi-

tais. Então, tivemos de fazer uma conversa muito próxima com a gestão das unidades para garantir o uso de equipamento de proteção individual (EPI). Alguns são fornecidos pelos próprios hospitais, mas aumentamos a contrapartida financeira para que eles tivessem essa proteção”, conta o diretor. Ergang acrescenta, ainda, quea instituição forneceu parte dos EPIs para os alunos. Apesar de alguns percalços, o diretor acredita que o trabalho foi desempenhado a contento e comemora: “não tivemos registrado nenhum caso de Covid-19 na instituição por conta da presencialidade”. 

INSTITUTO IVOTI

Educação híbrida foi realidade em 2020 No Instituto Superior de Educação Ivoti, a opção de retorno à presencialidade foi definida em uma reunião virtual com os alunos no dia 20 de outubro. A instituição já contava com um plano de contingência aprovado pelo Centro de Operações e Emergência (COE) para afastar o risco de contágio pelo coronavírus. Porém, a adesão à modalidade não foi tão alta quanto a direção esperava. “Fizemos uma reunião virtual no dia 20 com participação de 75% do grupo. No dia seguinte, houve disciplinas em que 100% dos alunos estavam presentes. Mas tivemos turmas com apenas 30%, 40% dos estudantes presentes, ou mesmo

com nenhum. O professor, na instituição de ensino, precisou dar aula virtual, também”, comenta a diretora, Doris Helena Schaun Gerber. A baixa adesão dos 260 estudantes fez com que o Instituto Ivoti os consultasse sobre a escolha de voltar ou não à sala de aula. Os resultados foram interessantes. “(Os que não voltaram) disseram que preferiam acompanhar a aula remota, porque estava sendo bem conduzida pela instituição. Os que fizeram opção pelo ensino presencial (foto ao lado) estavam satisfeitos também, porque em casa seria mais fácil de se distrair. Um aluno de música chegou a dizer que se sentia

mais seguro dentro da instituição do que fora”, conta. Para orientar os alunos, foi produzida uma apresentação com slides, explicando as novas áreas para estacionamento, portões de entrada e saída, e como funcionaria a higienização das salas de aula nos intervalos. Além disso, as turmas maiores seriam transferidas para auditórios para garantir o distanciamento - mas essa medida não precisou ser posta em prática até o fim do ano letivo, em 22 de dezembro. Em paralelo ao retorno às aulas presenciais, os estágios da graduação seguiram sendo realizados. Também a distância. 

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EDILSON RODRIGUES - AGÊNCIA SENADO, DIVULGAÇÃO

››› Com a palavra

››› Para Claudia Costin, o papel do professor é ensinar o aluno a pensar usando o referencial teórico de sua disciplina

“Precisamos fazer o mapa do foco” Ex-diretora de Educação do Banco Mundial, Claudia Costin analisa as lições que gestores e educadores podem tirar da quarentena PEDRO PEREIRA

pedro@padrinhoconteudo.com

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entro e fora da sala de aula, a pandemia de coronavírus vai deixar um legado interessante no que diz respeito à capacidade de adaptação de toda a comunidade escolar. É nisso que acre-

dita a diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas, Claudia Costin. Nesta conversa com a Educação em Revista, ela fala do uso de tecnologia para mediação do processo de aprendizagem, mas também da aplicação de inteligência artificial no acompanha-

Educação em Revista | Nº 140 | Janeiro/Fevereiro/Março 2021

mento personalizado dos alunos – e a consequente necessidade de capacitação dos profissionais para isso. Educação em Revista – Como a senhora avalia as soluções encontradas pelas instituições de ensino para a quarentena imposta pela pandemia? Claudia Costin – Foram muito diversas. Existe um lado de profundo sofrimento. Uma pesquisa do Instituto Península mostra que os professores, das redes pública e privada, se sentiam muito despreparados para essa realidade. Uma coisa é usar presencialmente as plataformas digitais, outra é um processo de ensino emergencial remoto, como tivemos que construir da noite para o dia. As primeiras atividades eram muito chatas. Tentava-se pegar cinco horas de aula e dar cinco


Com a palavra ››› horas de plataforma, mas houve um processo de aprender fazendo que é muito rico. O monitoramento da aprendizagem veio de maneira organizada. Esse processo pode ajudar muito as escolas a pensarem no futuro da educação. A gente pode e deve construir em cima do que a gente aprendeu nesse período. Depois do ensino remoto emergencial, as instituições de ensino conseguiram implementar o ensino híbrido, de fato, durante a pandemia? A gente avançou. O rodízio (grupos de alunos indo à escola em dias alternados) é interessante porque obrigou o ensino híbrido, mas há outras coisas muito importantes e já existem ferramentas para isso, como a questão da personalização do processo de ensino. O Brasil, e o Rio Grande do Sul é um dos casos mais graves, ainda tem uma cultura de “eu ensino. Aprendeu, aprendeu. Não aprendeu, eu reprovo”, como se a função do professor fosse ser um mero fornecedor de aulas, e não um assegurador de aprendizagens. Isso é um ponto extremamente importante. Em muitos casos, o professor ainda se percebe como especialista sobre um tema, que faz palestra e escreve no quadro. Essa visão não faz mais sentido no século XXI. O papel do professor é ensinar o aluno a pensar usando o referencial teórico da sua disciplina. Para isso, a aula tem de ser muito diferente e ele tem, sim, que monitorar a aprendizagem de cada aluno. Parece fácil de falar e dificílimo de fazer em classes com 40 alunos, mas hoje já existem ferramentas tecnológicas que podem ajudar o professor. Com inteligência artificial, por exemplo. Plataformas que identificam exatamente o gap de cada aluno. É difícil usar em escala para o país inteiro, mas escolas particulares de bom nível conseguem fazer isso. Acho que vai se generalizar em poucos anos.

“O Brasil ainda tem uma cultura de ‘eu ensino. Aprendeu, aprendeu. Não aprendeu, eu reprovo’, como se a função do professor fosse ser um mero fornecedor de aulas, e não um assegurador de aprendizagens.”

No período da pandemia, o que se aprendeu sobre ensino híbrido? Em termos pedagógicos e também em função da quebra de paradigma. Não tenho dúvida de que houve aprendizado e vou contar por quê. Fui do júri de um prêmio que a Shell organiza todo ano, sobre ensino matemático e científico para Ensino Fundamental II e Ensino Médio. Quando li os trabalhos, fiquei encantada. Vários combinaram pensar matematicamente e cientificamente, em projeto sobre a própria Covid-19, com alunos fazendo a distância. Quando os professores foram obrigados a se reinventar para adotar uma nova estratégia de ensino, perceberam uma possibilidade interessante de ensinar os alunos a se reinventar. Essa reinvenção vai ser fundamental para nossos alunos neste século. A inteligência artificial vai continuar substituindo o trabalho humano, até mesmo os que demandam competências intelectuais. E qual o caminho para prepará-los para essa realidade? Eu fui uma das leitoras críticas da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), no sentido de dar sugestões.

Fiquei impressionada ao ver como ela, embora tenha algumas limitações e um ponto ou outro que não concordo, acabou sendo muito contemporânea. O texto se dirige tanto às competências mais básicas quanto àquelas mais complexas, como pensamento sistêmico e resolução colaborativa de problemas com criatividade. Coisas que serão necessárias para o século em que vivemos. Inclusive a aprendizagem baseada em projetos ou problemas, que permite maior integração entre as disciplinas. O que é fundamental na retomada gradativa das atividades presenciais nas instituições de ensino? Precisamos fazer, dentro da BNCC, o que chamamos de mapa do foco. Ou seja, identificar as aprendizagens que, na volta às aulas, ou mesmo durante a EaD, não se pode deixar de aprender. Isso vai ajudar a olhar para o tempo de aprendizagem que resta neste contínuo 2020-2021 e trabalhar de uma maneira um pouco mais focada, para garantir que todos aprendam. Na volta, primeiro temos de fazer um certo acolhimento dos alunos, lidar com a questão da saúde mental, que não é pouca coisa. Depois, identificar a necessidade de recuperação da aprendizagem. Em terceiro lugar, a gente tem que criar um sistema para além do escalonamento. Tudo isso vai nos ajudar a construir o ensino híbrido, mas será importante trabalhar com os professores não só os aprendizados que já tiveram com o digital, mas as metodologias ativas. Porque o outro lado é justamente a metodologia ativa. Em casa tenho que ter aula expositiva para assistir, ou uma pesquisa mobilizadora, e na sala de aula o professor atua como assegurador de aprendizagem ensinando a pensar usando os conceitos que assisti, na aula de vídeo, por exemplo. Segue ›››

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››› Com a palavra EDILSON RODRIGUES - AGÊNCIA SENADO, DIVULGAÇÃO

“Em muitos casos, o professor ainda se percebe como especialista sobre um tema, que faz palestra e escreve no quadro. Essa visão não faz mais sentido no século XXI.” “Quando os professores foram obrigados a se reinventar para adotar uma nova estratégia de ensino, perceberam uma possibilidade interessante de ensinar os alunos a se reinventar.”

E qual o papel da tecnologia na aplicação de um modelo híbrido, contemplando o processo individualizado de aprendizagem? Nisso a inteligência artificial, em vez de ser maldição, pode ser uma bênção. Você vai ter muito dado sendo gerado sobre a aprendizagem do aluno. Cada vez temos ferramentas mais amigáveis para oferecer ao professor, mas ele vai ter que aprender uma prática diferente, que é atuar com base em dados. Parece elementar, mas não é. Ele vai ter que olhar, ter um diagnóstico um pouco mais claro de cada aluno, onde ele se situa nesse processo de desenvolvimento de competências. E até pensar em que terapêuticas adicionais esse aluno vai precisar, para além do que está projetado na plataforma adaptativa.

Como contemplar as diferentes realidades dos alunos para transmitir o conteúdo e garantir que cada um desenvolva o pensamento da forma mais adequada para si? Vai ser muito importante construir em cima de uma coisa que aconteceu na pandemia, que é o diálogo entre família e escola. A pandemia não permitiu mais que a família ficasse distante da escola. Teve de haver um diálogo organizado sobre como seria, se toda família tinha computador, onde pôr a criança para estudar, avisar que não está participando ou se tem chegado atrasada. 

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Quem é Claudia Costin l Diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas, é professora visitante na Faculdade de Educação de Harvard (EUA). Entre outros cargos, atuou como Diretora Global de Educação do Banco Mundial, como secretária municipal de Educação do Rio de Janeiro e de Cultura do Estado de São Paulo. Também ocupou a vice-presidência da Fundação Victor Civita.


Educação em Revista pergunta ›››

Marcia Adriana de Carvalho Professora e Conselheira Presidente do Conselho Estadual de Educação (Ceed RS) do Rio Grande do Sul

Quais são as normas definidas pelo CEEd RS em tempos de pandemia?

O

ano de 2020 foi afetado pela pandemia da Covid-19 e impactou a sociedade global na construção de respostas para perguntas que nunca foram pensadas. Perguntas estas que também afetaram a área educacional. Assim, para subsidiar gestores públicos e privados na tomada de decisões, foram publicados lei e decretos, portarias e atos normativos para orientar as instituições de ensino sobre como proceder nesse período atípico e excepcional vivenciado por todos. Nesse sentido, o Conselho Estadual de Educação do RS (CEEd RS), enquanto órgão normativo do Sistema Estadual de Ensino, foi pioneiro, entre os conselhos estaduais e distrital, ao exarar o Parecer CEEd RS nº 001/2020, logo no dia 18 de março de 2020, com orientações essenciais para as instituições de ensino integrantes do sistema sobre o desenvolvimento das atividades escolares, excepcionalmente, enquanto permanecerem as medidas de prevenção à Covid-19. Esse primeiro parecer autorizou a realização de atividades domiciliares, ou seja, atividades não presenciais, mediadas ou não pelas Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs). O documento também previu formas de prevenção e cuidados, de acordo com os órgãos de saúde, passando pelas atividades, metodologias, recursos disponíveis, formas de registro e comprovação de realização das mesmas, a partir de materiais didáticos e/ou recursos tecno-

lógicos disponíveis, assegurando o padrão de qualidade, até a orientação sobre a validação, ao final do período de excepcionalidade, conforme planejamento elaborado. Na sequência, muitas dúvidas continuaram a chegar ao Colegiado, assim como a possibilidade de retorno à presencialidade. Diante disso, o CEEd RS mobilizou as instituições que compõem o Grupo de Estudos e Debates Permanentes do Regime de Colaboração (GEDP RC) para elaborar o documento “INDICATIVOS PEDAGÓGICOS PARA A REABERTURA DAS INSTITUÇÕES DE ENSINO NO RS”, com a participação de representantes da Secretaria de Educação (SEDUC/RS), da União dos Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME/RS), da União dos Conselhos Municipais de Educação (UNCME/RS), da Federação das Associações dos Municípios (Famurs), e do Sindicato das Instituições do Ensino Privado (SINEPE/RS), sob a coordenação do CEEd/ RS, visando a contribuir com os gestores educacionais no tocante ao planejamento de retorno às atividades escolares de forma presencial, com ênfase nos indicadores pedagógicos como acolhimento, avaliação diagnóstica e a comunicação com a comunidade escolar. Já no mês de julho, o CEEd RS exarou o Parecer nº 002/2020, detalhando a necessidade de que o planejamento das instituições de ensino fosse organizado de tal forma que explicitasse, além das aprendizagens essenciais para o ano impactado pela pandemia, a forma de

atendimento de todas as etapas e modalidades de ensino ofertadas, o canal de comunicação com a comunidade escolar, o processo de avaliação, bem como os mecanismos de busca ativa quando o controle de participação nas atividades domiciliares verificasse qualquer afastamento do vínculo com os estudantes, além de orientar sobre prazos e procedimentos correlatos. No mês de agosto a Lei federal nº 14.040/2020, estabeleceu normas educacionais a serem adotadas durante o estado de calamidade pública, sendo que a regulamentação de seus dispositivos foi efetivada pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), em dezembro de 2020, período em que o Conselho do RS também exara o Parecer CEEd RS nº 004/2020, orientando sobre os procedimentos a serem adotados para a integralização da carga horária do ano letivo de 2020 e o replanejamento curricular de 2020/2021. O ano de 2021 começa e, com ele, a esperança de imunização da população mundial, brasileira e gaúcha se renova. Na educação, as orientações e normativas exaradas para o ano 2020 ainda permanecem para o ano letivo de 2021, ou seja, as atividades não presenciais, mediadas ou não pelas TDICs, exclusivamente ou concomitante com atividades presenciais, de forma parcial e gradativa, ainda são a realidade possível para efetivar o direito à educação com qualidade e equidade no Sistema Estadual de Ensino do Rio Grande do Sul. 

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››› Pedagógico

Mente aberta para o debate Professores precisam estar preparados para trabalhar com temas polarizadores e para incentivar reflexões sobre a importância do combate à disseminação das fake news

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TATIANA PY DUTRA

tatianapydutra@padrinhoconteudo.com

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ntigamente, o termo polarização servia para descrever uma oposição marcante: quente-frio, duro-macio, molhado-seco etc. Nos nossos dias, a palavra é associada a grupos com posicionamentos diferentes, tão convictos de suas crenças que abrem mão do diálogo e da tolerância com quem pensa de forma diferente. Não raro, os tratam como inimigos. Da política ao futebol, essa oposição radical compromete as relações e, até mesmo, o pensamento democrático. E, de tão presente em nossas vidas, invade todos os ambientes, inclusive o da escola. Mas seria a sala de aula um lugar para tratar esse tipo de divergência? Doutora em Psicologia e professora do Departamento de Comunicação Organizacional da Universidade de Brasília (UnB), Tatiana Lionço diz que é um dever da escola abordar esses temas, já que é impossível impedir que eles cheguem à sala de aula. “A Lei de Diretrizes Básicas (LDB) e a Constituição preveem (para o currículo) temas de formação para a cidadania e muitos deles vão esbarrar em dissensos. E, mesmo que professores não os incluam na prática didática, a comunidade ou alguma coisa vai trazer esses assuntos controversos para escola. Um evento ou uma notícia vai acabar repercutindo no ambiente escolar”, afirma.

Segue ›››

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››› Pedagógico

PATRÍCIA BLANCO Presidente do Instituto Palavra Aberta

“Fatos são confundidos com posicionamentos, e há a exigência de interpretarmos a intenção, a autoria e o contexto de cada mensagem que recebemos, com o intuito de não curtirmos, comentarmos e compartilharmos mentiras ou conteúdos tóxicos sem saber.”

De forma geral, disciplinas como Língua Portuguesa, Geografia, História, Sociologia, Filosofia, nas quais se costuma debater a vida em sociedade, são as que têm mais potencial para acolher esse tipo de debate. Para Tatiana, esses momentos são uma oportunidade para que o professor, no papel de mediador, trabalhe, além de temas transversais, as premissas básicas do debate e do diálogo racional. “Os alunos vão aprender a argumentar, a ouvir o contraditório e a não considerar uma derrota mudar de opinião com base em argumentos novos. Isso amplia os horizontes para além da polarização”, diz Tatiana. A professora observa que, para que seja bem-sucedida, a conversação entre os alunos precisa ter regras bem pré-definidas. “Às vezes, acontece de os estudantes desrespeitarem o posicionamento de colegas, o que provoca um processo de silenciamento. Os educadores devem fazer a mediação: todos podem falar e todos podem ser questionados com argumentos contrários. É parte do processo de Educação Básica desenvolver essa habilidade do livre

pensamento. Os alunos precisam entender que a atividade não se tratará apenas de repetir uma ‘verdade’ ou discutir qual a ‘verdade mais verdadeira’. Mas ajudar as pessoas a exercerem a capacidade reflexiva. Não adianta ter uma posição firme sem saber justificar isso”, esclarece. Tatiana adverte que essas atividades precisam ser permeadas de empatia. A ideia de qualquer conversa não é fazer um jogo de confronto. O objetivo é ouvir o ponto de vista alheio e, quem sabe, enxergar pontos de concordância no raciocínio do oponente — que não pode ser considerado um inimigo só por pensar de forma diferente. Coordenador pedagógico das séries iniciais da Escola Medianeira de Santa Maria, Clides Aliande Loreto Pereira considera inevitável tratar de temas polarizadores, já que são propostos pelos próprios alunos. Até mesmo os pequenos. Por isso, ele sugere que os alunos sejam preparados para debater de forma lúdica, com debates e júris simulados. Obras de Machado de Assis, como o conto “O Enfermeiro” e o romance “Dom Casmurro” se prestam bem ao papel. “Quando trabalhamos a produção textual, por exemplo, percebemos no texto que o aluno tem o conhecimento de vários temas, mas não sabe utilizá-los de forma adequada. Não sabe o que é formal ou informal, o que é opinião e o que é um fato. Falta esse direcionamento”, opina o professor.

O problema das fake news Os especialistas recomendam que também comece na idade escolar o treinamento para reconhecer e driblar notícias falsas, popularmente chamadas de fake news. Foi no ano passado, em meio à profusão de informações (precisas ou não) sobre a Covid-19 que a Organização Mundial de Saúde (OMS) cunhou o termo “infodemia”. Nunca a humanidade teve tão fácil acesso a informações,

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jamais foi tão difícil distinguir se são ou não confiáveis e tampouco foi tão perigoso deixar de fazer essa distinção. Presidente do Instituto Palavra Aberta, Patricia Blanco defende a educação midiática como forma de defesa contra as manipulações escondidas nas mensagens desinformativas. “Fatos são confundidos com posicionamentos, e há a exigência de interpretarmos a intenção, a autoria e o contexto de cada mensagem que recebemos, com o intuito de não curtirmos, comentarmos e compartilharmos mentiras ou REPRODUÇÃO

Mais do que um recurso  O Guia da Educação Midiática (Instituto Palavra Aberta, 2020) sugere que as fake news e, até, os temas polarizantes sejam usados como objeto de estudo para os alunos, e consequente reflexão.  “Um exemplo: usar mídias como recurso é fornecer ou pedir que os alunos encontrem textos de mídia que apresentem lados opostos de um argumento científico. Se, além disso, eles tiverem de avaliar a credibilidade das fontes, apontando falsas equivalências e identificando técnicas de manipulação para então concluir qual dos argumentos tem mais peso, isso sim é educação midiática”.


Pedagógico ››› conteúdos tóxicos sem saber. Tal cenário exige uma nova alfabetização, uma educação compatível com essa realidade ultraconectada. Não adianta tratarmos dos sintomas se não prevenirmos a doença, pois estaremos enxugando gelo. Para cada “fake news” tirada do ar em uma rede social, o que será feito com o print dela, disseminado por milhares de grupos de WhatsApp?”, pergunta Patrícia. Na Escola Erico Verissimo, de Pelotas, as armadilhas virtuais são tratadas de forma recorrente há alguns anos. Os enganos escondidos na Wikipédia foram o primeiro alvo. “Anos atrás, tratávamos muito sobre isso, porque como é uma enciclopédia livre, muitas pessoas podem colocar informações erradas ali. Então, sempre ensinamos aos alunos a conferir as fontes daqueles dados e buscar outras, para saber se os fatos que ali constavam eram verídicos ou não. Isso, aliás, é uma das recomendações que damos hoje contra as fake news”, diz o coordenador pedagógico da Érico Veríssimo, Rodrigo Ferreira Gonçalves. Contra a desinformação, diz, os professores devem estimular os estudantes a duvidar, questionar, checar. “O aluno hoje é uma pessoa que tem contato com a informação por celular, tablet. Com aquele aparelho ele vai absorver informações verídicas e informações erradas. O professor pode mostrar como ele pode filtrar esses dados que, muitas vezes, absorve sem questionar. Então é buscar saber se a fonte é confiável, se o jornalista é sério, se o veículo de onde saiu a matéria é conceituado. Não dá para o aluno simplesmente olhar uma notícia de internet e acreditar”, diz. Na opinião do coordenador, a pandemia pode, inclusive, facilitar o trabalho dos estudantes. Com aulas remotas e acesso liberado a ferramentas de busca, algumas dúvidas sobre fake news são facilmente respondidas: “normalmente, não permitimos o celular em sala de aula. Agora, os alunos estão conectados para fazer o trabalho, fundamentar o argumento”. 

‘ENTREVISTANDO’ A INFORMAÇÃO Para avaliar a confiabilidade de qualquer mensagem, é importante que os alunos sejam incentivados a “entrevistar” seu conteúdo com algumas perguntas que podem indicar a intencionalidade de seu criador, seu público-alvo e evidências de desinformação. Adapte estas perguntas para diversas faixas etárias, buscando sempre desenvolver o hábito cotidiano de leitura reflexiva. Fonte - Quem criou isso? Esta fonte é confiável? O que você sabe sobre quem escreveu ou publicou? Essa pessoa ou organização tem autoridade ou credibilidade para falar sobre o assunto? A mensagem foi publicada em veículo confiável?

Audiência - Para quem isso foi criado? A escolha de imagens ou linguagem pode indicar uma tentativa de agradar um público ou perfil específico.

Contexto - Qual é a história maior?

Execução - Como essa informação está sendo apresentada?

Esta mensagem traz a história completa ou apenas parte dela? Qual o contexto social, cultural, político ou econômico que pode estar impactando o modo como recebemos e percebemos a mensagem?

Estilo ou tom da linguagem, escolha de imagens e sons, elementos gráficos e recorte de conteúdo (o que é mostrado e o que ficou de fora) contribuem para causar sensações diversas no público e afetam o impacto da mensagem.

Propósito - Por que isso foi criado? Observe se a mensagem tem a intenção de informar ou se foi criada para exercer influência ou vender. Táticas de venda, linguagem emotiva e chamados a ação (“repasse”, “clique”, compre”) são pistas para entender a motivação.

Evidência - As informações se sustentam? Os fatos contidos na mensagem precisam ser baseados em evidências, com número e dados de fonte qualificada; afirmações devem ter o respaldo de testemunhas e especialistas. Na dúvida, verifique se o mesmo conteúdo aparece em outros lugares, com as fontes citadas.

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››› Pedagógico na prática REPRODUÇÃO

››› Júri simulado com alunos do curso de Pedagogia discutiu a validade das aulas remotas na Educação Infantil

Um júri para exercitar o raciocínio crítico Exemplo da Fasa, de Santo Ângelo, demonstra a importância de atividades para incentivar a fundamentação dos diferentes pontos de vista

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e a polarização é causada por adultos, nada mais justo que a educação de jovens adultos contemplar esses temas. Aqui, novamente, o professor aparece como mediador de conflitos e orientador de práticas que promovam maior conhecimento dos assuntos e a tolerância com o pensamento divergente. “Praticamente todos os temas (abordados na Educação Superior) têm um cunho político. Tudo se baseia em escolhas e formas de vê-los. Para estimular o conhecimento e o aprofundamento nessas temáticas em classes de graduação, é preciso fazer pesquisas. O professor pode mediar fontes de pesquisa e informação confiável à luz da ciência, já que você consegue trabalhar o método cien-

tífico em todos os cursos”, diz a coordenadora pedagógica da Faculdade Santo Ângelo (Fasa), Gracielli Dall’osto Persich. A pesquisa dos alunos pode ser o passo inicial para outra experiência bem-sucedida nos cursos da Fasa, inclusive no ensino remoto: o júri simulado. Nesse tipo de debate, as equipes favoráveis e contrárias ao tema são definidas por sorteio. A ideia é tentar evitar que a afinidade prévia entre membros do grupo, bem como ideias pré-concebidas sobre o tema, comprometam o propósito da atividade. Depois, os estudantes devem fazer trabalhos de pesquisa para embasar os argumentos que serão apresentados no debate. A professora Gracielli enumera experiências positivas com o júri simulado.

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Uma das mais recentes foi realizada por ela própria com alunos do 2º e 4º semestres do curso de Pedagogia. Os futuros professores discutiram a validade das aulas remotas na Educação Infantil: “Os grupos precisaram pesquisar sobre leis, sobre o que vem sendo feito no Brasil, no nosso Estado e em outros estados. Tiveram de se aprofundar e deixar seus pontos de vista de lado para, por fim, apresentar sua tese. Eu não tive um papel de juíza. Houve a defesa do ensino remoto, a acusação e, por fim, nós, enquanto turma, comentamos os pontos de vista. Ao fim, cada um tomou uma decisão. Foi uma atividade muito rica”. A busca pelo conhecimento ativo que a pesquisa proporciona é, segundo a coordenadora pedagógica, uma das grandes vantagens do modelo. Isso porque muitos estudantes defendem posições com pouco conhecimento sobre o tema. Outra característica positiva é estimular a reflexão dos estudantes. Isso os tornará mais hábeis para se defender de argumentos falaciosos ou mesmo fake news. “Muitas vezes, o aluno está em casa, recebendo informações que são fake news, mas não tem habilidade para identificá-las. Então a sala de aula é um local para exercitar a criticidade”, afirma Gracielli. 


Em destaque›››

Estudo Nota 10 realiza captação de alunos e fornece suporte

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Estudo Nota 10 é um programa social que faz captação de alunos para preencher vagas determinadas, que têm como objetivo facilitar o acesso de estudantes a instituições que sejam referências em qualidade de ensino. As escolas nos disponibilizam vagas e o programa é responsável em fazer toda divulgação nas redes sociais, por meio de campanhas, sem custo para a escola. O aluno captado é enviado à escola com suas informações e um relatório diagnóstico de perfil comportamental. Nossos honorários são a primeira mensalidade de cada ano paga diretamente pelo responsável, ou seja, a

escola concede um mês de mensalidade para o programa. As demais mensalidades com a bolsa de 50% são pagas diretamente pelo aluno à escola, como também as demais taxas, caso houver. Essa primeira mensalidade é cobrada no valor de 100%, no ano seguinte o valor pago corresponde a 75% e, no terceiro ano em diante, ao valor de 50%. A escola deverá manter suas vagas atualizadas em nosso site, conforme orientação do Estudo Nota 10. Para que sua escola tenha uma Gestão Nota 10, além da captação temos ferramentas de suporte, tais como sistema de atendimento com robô via WhatsApp, o Maria Bot, sistema de gestão de informações e comunicação ABC Educação e plataforma LGPD. Seja um parceiro Estudo Nota 10 e gere uma gestão Nota 10 em sua escola! Conte conosco! 

Priscila Boy fala sobre o Novo Ensino Médio

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Lei 13.415 passou a ditar as regras de funcionamento do Novo Ensino Médio no nosso país. Estabelece mudanças na carga horária, organização curricular, traz itinerários formativos de livre escolha, traça as disciplinas obrigatórias, fala sobre atividades on-line, ou seja, um novo formato de Ensino Médio, um novo modelo para atender às demandas do século XXI. A Lei obriga a escola a oferecer pelo menos 3.000 horas durante todo o curso, e destinar até 1.800 horas da sua carga horária total para a BNCC. Os itinerários formativos terão a carga horária que sobrar da soma da carga horária total. Temos possibilidades de itinerários formativos integrados e, também, de ensino técnico. É possível, por exemplo, integrar Matemática com Ciências

da Natureza, Ciências Humanas com Linguagens, assim como elaborar itinerários com diferentes formatos: clubes, laboratórios, debates, oficinas. Na Portaria n.º 1432/2019, estão descritos os eixos estruturantes: Investigação científica, os processos criativos, Mediação e intervenção sociocultural, Empreendedorismo. Para receber a certificação de conclusão do Ensino Médio, o aluno deverá escolher um itinerário para compor a sua carga horária total. Ele cursaria as 1.800 horas de formação geral básica, mais o itinerário formativo. O Novo Ensino médio nos traz a possibilidade de pensar novas formas de ensinar, para um mundo em constante transformações. Quer aprender a desenhar o novo ensino médio? Inscrições abertas para o curso em www.priscilaboy.com.br. 

MFO Advogados presta auxílio jurídico durante a pandemia

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o dia 17 de março, fará um ano da decisão mais difícil e complexa que afetou as instituições de ensino privado no RS: o seu fechamento para as aulas presenciais em razão da Pandemia de Covid-19. Desde então, os desafios têm sido constantes, e procuramos destacar apenas alguns deles, em que a MFO Advogados presta indispensável auxílio jurídico aos seus clientes: > Orientação a respeito das discussões envolvendo a redução de parcelas de anuidade escolar em razão da aparente suspensão das aulas e, por lógica, dos serviços prestados. > O trabalho remoto, os reflexos na relação de emprego e as medidas a serem adotadas pelas Instituições de Ensino; a forma de lidar com os profissionais em grupo de risco; dentre outras situações das rotinas. > Adequação à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais e sua vigência a partir de 18/9/2020. > O retorno das aulas presenciais, no que se convencionou chamar, equivocadamente, de ensino híbrido. > Perda de Receitas. As instituições de ensino já sofreram redução significativa de suas receitas com as limitações até então impostas quanto à impossibilidade de realização de atividades em turno invertido, atividades extracurriculares e turno integral. . Acreditávamos já ter vivido o pior que a pandemia poderia nos trazer mas, ao iniciar o ano letivo de 2021, vimos crescer os casos de contaminação e mortes causados pela Covid-19. Mais uma vez, emergem os mesmos conflitos e questões que precisam identificados e mediados tal qual se fez ao longo de 2020. Esse é o trabalho da MFO Advogados. 

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››› Gestão

Como planejar 2021 DEPOSITPHOTOS

lidade, e o comportamento das pessoas é definitivo para o sucesso do plano. A escola, com seu caráter educador, tem a oportunidade de ensinar ao cobrar atenção a esses cuidados. O Colégio Farroupilha, de Porto Alegre, firmou parceria com o Hospital Moinhos de Vento para definir o conjunto de ações que dão segurança para o retorno às atividades presenciais. “Em 2020 já tinha sido tudo mapeado, em um planejamento feito em conjunto com o hospital. Sempre temos em mãos vários cenários desenhados. Isso dá mais tranquilidade e ajuda, inclusive, a deixar a equipe mais segura pelo fato de ter um

O segundo ano da pandemia reserva uma série de incertezas, dificultando a preparação das instituições de ensino para os campos técnico, operacional e financeiro. É fundamental ter capacidade de adaptação e prever diferentes cenários. PEDRO PEREIRA

pedro@padrinhoconteudo.com

Desafios operacionais acompanha cenários A retomada das atividades exige uma extensa lista de cuidados por parte das instituições, que precisam pensar nos detalhes. Além disso, é fundamental

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em saber se, ou quando, os alunos retornam em definitivo para a sala de aula, instituições de ensino precisaram programar o ano letivo de 2021 sem um cenário definido. O primeiro ano da pandemia deixou lições e, para alguns, uma prévia de como deve funcionar o retorno gradativo ao sistema presencial. Mas outras dúvidas ainda pairam, como o calendário de vacinação, a quantidade de alunos em casa, protocolos de saúde e até mesmo a necessidade de investimento em tecnologia. Ao particpar de um dos encontros on-line do Sinepe/RS, o especialista em

administração financeira e controladoria, Antônio Ternes, relembrou uma premissa essencial, agora no campo financeiro: houve queda na receita, mas os custos não reduziram. Diante disso, as instituições precisam analisar diferentes possibilidades, partindo do ideal (voltar ao normal o quanto antes) e chegando na chance de não haver estabilidade até o fim do ano.

profissional da saúde dentro do colégio, um ambulatório”, conta a diretora pedagógica do colégio, Maricia Ferri. Além dos hábitos adequados, a estrutura física também precisa estar preparada para atender aos protocolos sanitários sem comprometer o desenvolvimento pedagógico. O retorno presencial exige distanciamento, ocupação limitada de cada espaço, limpezas periódicas ao longo de cada turno – não apenas das salas, mas também de equipamentos. Para acompanhar e fiscalizar o cumprimento dessas normas, é preciso contar com uma equipe ampla, medindo temperatura no acesso aos prédios e controlando a movimentação nos elevadores, por exemplo. Essas pessoas precisam estar preparadas para conduzir da melhor forma. Já alguns serviços terceirizados tiveram os contratos suspensos. A retomada implica não apenas em renegociação, mas também no alinhamento de todos os cuidados sanitários que, em última instância, são responsabilidade das instituições. “Temos um setor de gestão para todos os terceirizados, com processo de formação e acompanhamento. No momento em que

contar com a contrapartida das famílias e dos alunos e, para que cada um faça sua parte, a comunicação é ponto chave. Com a saúde sempre em primeiro lugar, o planejamento operacional deve acompanhar os cenários. Ao longo do ano, provavelmente haverá momentos com maior ou menor flexibi-

››› Banco

MARICIA FERRI Diretora pedagógica do Colégio Farroupilha, de Porto Alegre

“Sempre temos vários cenários desenhados. Isso dá mais tranquilidade e ajuda, inclusive, a deixar a equipe mais segura (...).” VIVIAN BATISTA DA SILVA professora livre-docente da Faculdade de Educação da USP

“A escola precisa pensar em como gerir os tempos, espaços, distribuir os conteúdos. Isso deve ser feito pela própria equipe de professores. Não acredito em encontrar um modelo que todo mundo copie e dê certo.”

isso for retomado, todos cumprirão os protocolos, sob supervisão deste setor. Fica em contrato”, explica Maricia.

O desafio da negociação Com a chegada da pandemia, muitas famílias se viram em situação financeira delicada. Algumas instituições negociaram individualmente, outras optaram por oferecer desconto a todos os alunos. Mas, em comum, todas precisaram equilibrar cortes e investimentos.

sinalizado de acordo com os protocolos, no Farroupilha

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››› Gestão Conforme especialistas, uma saída é analisar caso a caso e entender que os benefícios mais importantes precisam chegar para as pessoas que mais precisam. Da mesma forma, é preciso olhar para a própria instituição. Especialista em controladoria e finanças, Tatiane Pereira também participou de Encontro On-line do Sinepe/RS e defendeu que custos e caixa sejam avaliados constantemente, permitindo que a organização analise as suas condições financeiras e construa um orçamento viável, a curto prazo. Se em primeiro lugar vem a saúde, logo em seguida está a manutenção do emprego. Ainda que as instituições tenham um limite econômico-financeiro, o esforço deve ser concentrado na permanência dos professores e funcionários. A responsabilidade, diante dos desafios, é equilibrar queda de receita com investimento para ter qualidade. Maricia Ferri conta que o Colégio Farroupilha optou por manter todos os treinadores das equipes de competição esportiva vinculados à instituição mesmo durante a quarentena. “(As equipes) são um diferencial, os profissionais receberam em dia e integralmente, e isso é estratégico porque precisamos deles envolvidos. Assim que as atividades estiverem liberadas, estarão 100% conosco e trazendo os alunos junto”, projeta. Além de descontos, vale a oferta de outros produtos, como cursos de extensão e atividades extracurriculares, cujos investimentos muitas vezes já foram absorvidos e podem representar um ganho importante para os alunos. Buscar receitas extras também ajuda: oferecer serviços nas férias e firmar parcerias e convênios são alternativas. Em relação ao conteúdo, o grande desafio agora é aprender, com a perspectiva de retomada gradual das atividades, como garantir que a escola funcione e que tanto os alunos que estão em casa quanto os que vão à instituição sejam atendidos. “A escola precisa pensar em como gerir os tempos, espaços, distri-

Os pilares da gestão em tempos de crise Operacional  Adequação da estrutura física – Sinalização dos espaços e campanha de comunicação junto aos alunos e às famílias. Redes sociais são ferramentas importantes.  Treinamento da equipe – Preparação dos profissionais para que fiscalizem com uma abordagem educativa e propositiva.  Tecnologia – Investimento em internet estável e potente para garantir a fluência das atividades e diminuir a chance de dispersão dos alunos. Financeiro  Conter evasão – Descontos e vantagens como cursos e atividades extracurriculares de graça são atrativos que podem funcionar.  Buscar novas fontes de receita – Convênios e parcerias podem compensar a queda de matrículas e a dificuldade de reajuste nas mensalidades.  Comunicação – Mostrar os investimentos em estrutura e capacitação da equipe dá segurança para que alunos e famílias continuarem apostando na instituição. Pedagógico  Avaliação da aprendizagem – Diagnóstico preciso ajuda a preencher lacunas mais rapidamente.  Projetos interdisciplinares – Integração de conteúdos e trabalho em equipe agilizam e dão mais dinamismo ao processo de ensino.  Criatividade e personalização – A proposição de atividades deve levar em conta o perfil e a idade dos alunos e oferecer soluções adequadas para cada turma.

buir os conteúdos. Isso deve ser feito pela própria equipe de professores. Não acredito em encontrar um modelo que todo mundo copie e dê certo”, alerta a professora livre-docente da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Vivian Batista da Silva. As soluções precisam levar em consideração até mesmo a idade dos alunos, mas ideias como projetos interdisciplinares têm a oportunidade de dar conta do aprendizado de alunos que não ocupam o mesmo espaço, ao mesmo tempo. Para isso, é preciso ouvir os professores e contar com um diagnóstico preciso sobre 2020 e quais conteúdos

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precisam de recomposição. Para ajudar no processo de aprendizagem, Vivian sugere que os educadores proponham uma situação em que os alunos estejam envolvidos em casa e na escola: “tem que levar em consideração não a tecnologia em si, mas de que maneira ela pode ajudar a dar aquela aula, a partir da natureza do conhecimento e o que está sendo posto como desafio. Ela traz uma metafóra, a de construir o avião durante o voo. “Sabemos que temos que cuidar dos estudantes e da aprendizagem, é o nosso grande compromisso. Mas ainda não temos uma receita e um espaço pronto”, avalia. 


Gestão na prática ›››

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As estratégias de adaptação do Fátima Após inadimplência em 2020, instituição se preparou

O

maior desafio do Colégio Nossa Senhora de Fátima, de Santa Maria, veio dos primeiros anos. Praticamente todos os pais cancelaram as matrículas dos filhos, suspendendo a receita que daria guarida para a operação. Nos outros níveis também houve perdas e alta inadimplência, pressionando o caixa a ponto de a mantenedora lançar mão de uma reserva que mantém por princípio para honrar compromissos. “A escola perdeu especialmente o berçário e o maternal”, lembra o vice-diretor, Antônio José Campagnolo. Como tentativa de contenção, foi oferecido desconto nas mensalidades, de forma linear. Layout4_MeiaPagina_AF.pdf 1 10/03/2021 19:58:26 O benefício foi suspenso em 2021, mas

nenhum reajuste será aplicado. Diante desse cenário, a direção optou por uma projeção conservadora: dos pouco mais de 1,5 mil alunos que iniciaram o ano da pandemia, se dois terços continuassem em suas turmas estaria de bom tamanho. A estimativa acabou superada, e o número deve ficar em torno de 1,2 mil. “Considero o saldo positivo”, diz Campagnolo. A angústia se dá pela necessidade de distanciamento e cuidados como o uso de máscara e álcool em gel, o que, segundo ele, muitos alunos ainda não compreenderam totalmente. “Quando as coordenações conversavam, eles diziam que estavam com saudade de voltar, correr no pátio, abraçar os colegas, e

isso não pode”, alerta. A solução foi enviar comunicados e cartilhas. Entre os investimentos está uma conexão mais consistente de internet. Afinal, é preciso atender a cerca de 50 salas conectadas ao mesmo tempo. Um corpo técnico também já foi contratado para prestar suporte em tempo integral. Câmeras e microfones foram trocados por modelos mais eficientes. “O que se pretende é que a aula dada às 8h no colégio seja acompanhada em casa”, conta Campagnolo. Além disso, a escola pretende manter a rotina de identificação e apoio para a recomposição de conteúdos. As atividades são oferecidas de forma presencial, on-line, durante as aulas ou em turno inverso. O importante, segundo o vice-diretor, não é a quantidade de conteúdo, mas a qualidade.

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››› Pesquisa

Tamara Martielle de Arruda Pedagoga, pós-graduada em Neuroaprendizagem e Práticas Pedagógicas pela Universidade Pitágoras Unopar, pós-graduada em Alfabetização pela UNIJUI, professora no Colégio Sagrado Coração de Jesus- Rede Verzeri/Ijuí. E-mail:tamaramartielle@hotmail.com

Alfabetização: práticas inspiradas na proposta geempiana Resumo:

O

presente artigo tem como objetivo repensar a prática educativa, sucessos e fracassos presentes no processo de alfabetização. Sabemos que no processo de aprendizagem muitos enredos são constituídos, pois envolvem-se a família, a escola, a sociedade e o sujeito que aprende e ensina. Neste sentido para contribuir para tais reflexões buscou-se analisar o documentário “Que letra é essa?” dirigido por Pedro Rocha que irá possibilitar uma reflexão crítica e sensível sobre o processo de alfabetização infantil. E para ressignificar o ensino e a aprendizagem da leitura e escrita será proposto um estudo sobre a proposta do Geempa (Grupo de Estudos sobre Educação Metodologia de Pesquisa e Ação), coordenado por Esther Grossi considerando suas práticas educativas potencializadoras no processo de alfabetização. Palavras-chave: Alfabetização, Geempa, Prática educativa.

PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DO PATRICK: UM ENFRENTAMENTO COM A REALIDADE EDUCACIONAL BRASILEIRA Para compreender os entraves e as possibilidades que envolvem o processo de alfabetização o presente artigo

está embasado no documentário “Que letra é essa?” dirigido por Pedro Rocha em Santa Maria, Rio Grande do Sul. Neste estudo apresenta a história de Patrick, um menino fadado ao fracasso escolar, com histórico de repetência e muitas dificuldades que impediam sua aprendizagem de ler e escrever. As primeiras cenas do documentário foram registradas na metade do ano letivo de 2002, Patrick com sete anos está na primeira série do ensino fundamental. A partir deste momento, o cotidiano do menino foi apresentado no documentário, como: sua relação com a família, a comunidade, os professores e os colegas. Porém, o tempo passou, em 2004 Patrick com nove anos pela terceira vez permanecia na primeira série do ensino fundamental. O documentário apresenta argumentos das professoras de Patrick e de seus pais, e ambos apresentam um diálogo que se confronta com distintos significados de alfabetização. No discurso escolar, ao descrever o Patrick, as professoras relatam que ele é agitado, inquieto, sem hábito e formação social. Enfatizam em seus diálogos que o ambiente familiar não contribui para a sua aprendizagem. Justificam que a causa da não aprendizagem está na doença, vermes, porque irrita e deixa desatenta a criança, à escassa alimentação, falta de atenção e de estímulo, e à precariedade na moradia, elementos que prejudicam o rendimento do processo de

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ensino e aprendizagem do Patrick. Ao dialogar sobre a reprovação do Patrick as professoras relatam que o menino não tinha maturidade para seguir à segunda série do ensino fundamental. Que por falta de bagagem (dificuldades/conhecimentos) e condições socioeconômicas o aluno não consegue aprender. Afirmam também que Patrick não possui bom exemplo para se inspirar e também um espaço para realizar seus estudos. E mencionam que a escola é o único ambiente que dá um estímulo ao aluno devido a condição financeira da família. Também salientam as dificuldades presentes no sistema de ensino que impedem os avanços no contexto educativo. Eis a questão: será que o fracasso escolar está inteiramente relacionado à pobreza? E qual a responsabilidade da escola diante dessa situação? Será que as metodologias de aprendizagem foram analisadas e reorganizadas com vistas a ajudar esse aluno durante o processo de alfabetização? De outro lado, apresentam-se os argumentos dos pais de Patrick que se opõem ao diálogo das professoras, considerando que seriam as responsáveis pelo fato de o menino não aprender a ler e a escrever. Os pais de Patrick demonstram em seus diálogos compreender a função social da escola, destacam a importância de formar bons cidadãos, reconhecem a influência do professor e a parceria entre escola e família.


Pesquisa ››› Nota-se que os pais de Patrick, dentro de suas condições, possibilitavam situações de estudo, boa alimentação, higiene, carinho. Porém, expressam seu descontentamento na maneira como as professoras conduzem o processo de aprendizagem do Patrick e contestam as possíveis justificativas das educadoras para a não aprendizagem do menino. Sabemos que em nosso país diferentes contextos educacionais são vivenciados pelos professores, crianças e suas famílias. Enfatiza-se que a escola precisa estar amparada por políticas públicas educacionais para dar conta das demandas presentes no processo de ensino e aprendizagem. Investir na infraestrutura do espaço escolar, recursos pedagógicos e na formação continuada de seus professores são fatores relevantes para qualificar a prática pedagógica. Portanto, muitos são os aspectos e reflexões a considerar a partir do documentário e trajetória de vida do Patrick para compreender o processo de alfabetização e o fracasso escolar. Uma realidade vivida por muitos brasileiros que contribuiu negativamente para o aumento das taxas de analfabetismo. Saliento que ao analisar as informações presentes no documentário não se busca apontar o “culpado” para o fracasso escolar relacionado ao ato de ler e escrever. E sim repensar possibilidades significativas para contribuir nas ações de todos os envolvidos no processo de alfabetização. A RESSIGNIFICAÇÃO DO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DE PATRICK: CONTRIBUIÇÕES DA PROPOSTA GEEMPIANA O que aconteceu com o Patrick? Será que se alfabetizou? A resposta é sim, ao participar do GEEMPA (Grupo de Estudos sobre Educação, Metodologia de Pesquisa e Ação), em 2004. Alfabetizou-se em três meses. Visando compreender e analisar o caso de Patrick a partir do seu documentário, fracassos e sucessos presentes no processo de al-

fabetização, o Geempa elaborou um Caderno de Atividades denominado “Que letra é essa? Do gozo da ignorância ao prazer de aprender” cuja organizadora é a escritora e embaixadora do Geempa, Esther Pillar Grossi. Contribuindo assim para ressignificar e possibilitar estratégias potentes para qualificar a aprendizagem de ler e escrever. Ao apresentar o caderno de atividades, esta relata que: Estamos no Geempa, produzindo este Caderno de Atividades, para ampliar e aprofundar nossa reflexão a respeito das dificuldades de aprender de alguns alunos e também com o desejo de ainda incorporá-los no patamar esperado no contrato didático firmado em cada turma para este ano letivo. Os documentários que servem de contexto semântico para este caderno mostram de forma muito clara que as razões pelas quais Patrick não aprende não estão nele, nem nas condições socioeconômicas em que vive, nem em desestruturações de sua família. Estes documentários podem ajudar a tirar o peso das costas de alunos que não estão aprendendo, levando os responsáveis pelos sistemas de ensino, bem como o professorado, a revisar seus conceitos e preconceitos com relação a estes alunos (2010, p. 7).

Enfatiza-se a função do professor em acreditar no processo e, junto com o aluno, superar as dificuldades, em vez de querer encontrar respostas para a não aprendizagem fora da escola e descentrando sua própria responsabilidade em relação às aprendizagens desses alunos. Colocar a responsabilidade, por exemplo, no comportamento do aluno, permite destacar expressões como: “Eles não têm interesse”, “Eles são desatentos nos estudos”, “Eles vêm sujos e mal vestidos para a aula”, “Eles são de famílias desestruturadas e desinteressadas”, “Eles são desnutridos” (GROSSI, 2010, p. 8). Na verdade, é necessário apostar na postura docente e refletir sobre ela, assumindo compromisso ético de potencializar a capacidade de aprender dos

alunos. Desta forma, frente ao fracasso escolar de seus alunos, o educador deve relacionar suas próprias aprendizagens. Ressalta-se, também, a subjetividade de cada aluno ao se relacionar com planejamentos e situações de aprendizagens. Por meio das situações de aprendizagem, a criança apresenta seus anseios, curiosidades, sentimentos e dificuldades. O processo de ensino e aprendizagem acontece tanto para os alunos quanto para os professores, ou seja, o professor também é um aprendente que, junto com os alunos, constrói conhecimentos. “[...] Somente na medida em que o professor se compromete profissionalmente, como categoria ou como parte de um grupo, ele vai poder apostar nestas aprendizagens difíceis e complexas, que só vingam em âmbito social e cultural [...]” (GROSSI, 2010, p. 8). Nessa perspectiva, ao estudar a proposta do Geempa, será apresentado e analisado o processo de alfabetização, a partir do Caderno de Atividades aqui já mencionado, pontuando dados sobre a sensibilidade, a arte, a função do desejo e das dramáticas envolvidas nessas aprendizagens. Assim, juntamente com as múltiplas linguagens, as artes são importantes para a aprendizagem dos sujeitos. Elas são percebidas nas dramáticas dentro e fora da sala de aula. Destaca-se a linguagem como uma forma de expressão das sensações, ansiedades, alegrias... Ou seja, as artes e suas linguagens são ferramentas que oferecem ao aluno situações de aprendizagem que possibilitam a construção de conhecimentos com êxito. Para compreender as sensações percebidas pelos alunos frente às situações artísticas, o professor deve considerar a subjetividade de cada aluno, assim como seu contexto escolar e social. Enfatiza-se a função dos professores frente a essas realidades, com o objetivo de refletir, pensar e repensar seu planejamento. Essas são estratégias necessárias para o processo de ensino e aprendizagem. Segue ›››

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››› Pesquisa O espaço da sala de aula é um ambiente possibilitador de aprendizagens e, por meio dele são expressas muitas dramáticas nas diferentes interações tanto com a turma quanto com as pessoas que a rodeiam. Diálogos, trabalhos em grupos, brincadeiras, jogos, músicas, contação de histórias, leituras, escritas, expressões pessoais são possibilidades para aprendizagem escolar. Percebe-se que a ação docente é de suma importância para que aconteça a aprendizagem tão esperada ou não. Repensar a práxis pedagógica, é necessário devido à grande demanda escolar e social. Na busca por ensinar a todos, é fundamental que o professor interaja com seu grupo de alunos, descubra gostos e anseios, os quais são expressos por meio do diálogo. Ao referir a expressão ensino a todos se sabe que, muitas vezes, isso não é possível, considerando que cada aluno é subjetivo e se relaciona de diferentes maneiras com seus conhecimentos. Nesse sentido, destacam-se os estudos de Sigmund Freud, estudioso mencionado no Caderno de Atividades do Geempa. A partir do pensamento de Freud, Grossi afirma sobre a arte e a ação do professor: [...] Preparar aulas ao longo de um período letivo implica muitas ciências simultaneamente as artes, envolvendo complexidades e profundidades, além de muita sensibilidade de quem as prepara. Ser professor de verdade, isto é, ser aquele que consegue, ao fim e ao cabo, ensinar a todos os alunos num período previsto determinado é, como disse Freud, algo da ordem do impossível. Ou seja, a tarefa do professor é absolutamente da esfera desejante, a única capaz de perseguir o impossível. O impossível é seu alimento, ou melhor, sua fome geradora. Com isto, queremos dizer que ensinar é muito mais do que aplicar técnicas, por mais elaboradas que o sejam (2010, p. 17).

A tarefa do professor não é nada fácil,

e este deve estar disposto e ter o compromisso com cada aluno. Persistir e pesquisar são funções importantes a serem incorporadas ao processo de ensino e aprendizagem. O professor, assim como seus alunos, é um ser aprendente que deve ir além de metodologias (técnicas) e considerar seu relacionamento construído durante o período letivo. Estabelece, assim, vínculos afetivos que possibilitarão a interlocução com os alunos e suas aprendizagens (dificuldades) escolares. “Ensinar é muito mais do que ciência e arte. Ensinar é esta tarefa impossível que somente a força extraordinária do desejo pode dar conta” (GROSSI, 2010, p.17). Compreende-se por desejo o querer, relacionado à satisfação, à vontade e à motivação. No ambiente escolar, o desejo deve ser despertado nos alunos por meio da mediação de professores e demais profissionais envolvidos. Ressalta-se que os educadores também são fontes de desejo, uma vez que também são aprendendes. “[...] o desejo inventa, criativa e lucidamente, diante do que se apresenta como irrealizável” (GROSSI, 2010, p. 17). Jogos e brincadeiras fazem parte da proposta do Geempa, enfatiza-se o Glossário Alfabetizador que envolve imagem e sua respectiva escrita relevante a um determinado texto em estudo. A partir do estudo do glossário alfabetizador, são desencadeadas diferentes situações de aprendizagens caracterizadas por sua dinamicidade e interação. Destaca-se que o glossário alfabetizador é um instrumento de pesquisa que objetiva a construção de numerosos conhecimentos. Ou seja, é um apoio que possibilita a aprendizagem de ler e escrever, uma metodologia que auxilia no processo de alfabetização. Salienta-se na proposta geempiana a aula-entrevista, que se refere ao diálogo e à realização de atividades que buscam identificar as hipóteses de cada aluno sobre o processo de alfabetização. “A aula-entrevista é um momento privilegiado de trocas de conhecimentos entre

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a professora e seus alunos” (GEEMPA, 2010, p. 10). A realização dessa atividade requer dos professores planejamentos e objetivos claros. Assim, a testagem é aplicada individualmente, e as escritas dos alunos são registradas em uma folha A4 em branco, sem margem com o auxílio de um lápis. “Caracterizar o processo dos alunos não é nenhum julgamento de mérito, aprovando-os ou reprovando-os, mas, simplesmente, é um suporte para o professor conduzir sua ação pedagógica” (GEEMPA, 2010, p. 11). Doze itens são elencados na aula entrevista: conversa inicial, escrita do próprio nome, leitura do próprio nome, escrita de quatro palavras e uma frase, elaboração e ditado de um texto, leitura do texto digitado, leitura de quatro palavras e uma frase, elaboração e escrita de um texto, escrita de letras, nome das letras, associação das letras com o som das iniciais de palavras e classificação das unidades linguísticas (desenho, letras, números, textos). A partir destes elementos, o professor irá constatar em qual nível de aprendizagem o aluno se encontra: nível pré-silábico (1 e 2), silábico, alfabético ou alfabetizados. ”A aula-entrevista é um encontro a dois, do professor com cada um de seus alunos. É um momento especial de aprendizagem, tanto para o professor quanto para o aluno. Por conseguinte, é uma modalidade de aula didática geempiana [...]” (GEEMPA, 2010, p. 12). Neste sentido, a aula-entrevista é uma ferramenta pedagógica que contribui na prática pedagógica do professor em diagnosticar as aprendizagens (conhecimentos prévios) construídas ou não de cada aluno. E assim, a partir dessas análises, têm-se elementos norteadores para a reflexão e planejamento de situações de aprendizagens que possibilitarão o desenvolvimento da linguagem e da escrita. Outro fator fundamental na proposta do Geempa é a formação dos grupos áulicos, ou seja, alunos organizados em grupos na busca da construção de co-


Pesquisa ››› nhecimentos. Ao considerar cada aluno subjetivo e com culturas distintas, acredita-se que, por meio da interação social, os alunos podem aprender uns com os outros. Dessa forma, numa sala de aula, a organização dos alunos em pequenos grupos é uma forma de operacionalizar a interação entre eles, a qual é fundamental numa situação de ensino-aprendizagem. Isto deriva de que “aprender-se em interação com os demais” o qual se deduz do princípio ainda mais amplo de que “se aprende resolvendo problemas”. Sem que os alunos trabalhem em pequenos grupos, a interação se limita ou as trocas com um colega próximo ou fundamentalmente às trocas de cada aluno com a professora (GROSSI, 2005 p. 71).

Assim a interação é um elemento básico para a construção da democracia, quando todos são responsáveis por participar e qualificar o processo de ensino e aprendizagem. Destaca-se que a eleição dos Grupos Áulicos não é feita por comportamento, mas com base nas escadas de conhecimento. Ser coordenador “não é mandar nos outros e, sim, colaborar e ser responsável pelo bom funcionamento do grupinho” (BETTS, 2005 p. 56). Sobre a votação Jaime Alberto Betts completa que: No momento da eleição, as crianças são chamadas a exercerem seu desejo e discernimento, escolhendo aquele que gostariam para ser chefe de seu grupinho e que, ao mesmo tempo, acham que seria um bom chefe [...] Desta forma, elas são chamadas a exercerem seu desejo com discernimento, submetendo-o, através do voto, à vontade social, na medida em que seu candidato pode ou não ser eleito. O processo de escolha obriga as crianças a chegarem a um consenso sobre quem desejam escolher para entrar no grupinho [...] (2005 p.62).

Nessa situação, as crianças põem

em prática a cidadania e assumem um compromisso com seu voto. Diálogos e desejos são expressos nessa prática, e o professor, capaz de auxiliar as crianças a resolverem seus conflitos e, juntos, construir meios para resolvê-los. “Neste procedimento, trata-se de o adulto ajudar as crianças a expressarem e organizarem seus desejos relacionais. O educador fará isto na medida em que ele próprio tiver clareza em seus sentimentos e relações com os outros [...]” (BETTS, 2005 p. 65). Nesta proposta de aprendizagem, os alunos são sujeitos de hipóteses e desejos, que, em conjunto, constroem conhecimentos. Estabelecendo relações de trabalho em sala de aula, o tempo e o espaço são constituidores de alunos críticos e reflexivos, assumindo responsabilidade com sua aprendizagem. Nessa perspectiva, sobre a influência do desejo na construção de conhecimentos, Grossi expressa que: “Todo desejo é desejo do outro” e “todo conhecimento é conhecimento do outro” na medida em que da solicitação do “olhar” do outro nasce o desejo, e na medida em que do direcionamento do mundo cultural que nos cerca é que se encaminha a construção dos conhecimentos. Portanto, o desejo de aprender sustentado pelo contexto em que está um sujeito, e é nesse sentido que a estruturação dos pequenos grupos pode ser um auxílio à aprendizagem (2005, p. 79).

Destaca-se que a formação dos grupos áulicos acontece somente em votações. Esses grupos tanto podem ser formados a partir do desejo do professor quanto dos alunos. Salienta-se que os grupos não são fixos e, durante o ano letivo, trocas devem acontecer em média entre um mês e meio a dois meses de trabalho. Sobre a organização desses grupos, Esther Grossi destaca que “o número de grupos a serem formados depende do tamanho da turma, adotando-se como orientação básica que quatro

participantes por grupo é um número adequado [...]” (2005, p. 76). Nesse viés, ao trabalhar com grupos áulicos, propicia-se aos alunos o convívio com as diferenças e semelhanças, o confronto com as rivalidades, agressões, invejas, falta de limites e o desenvolvimento da solidariedade, o respeito pelo outro, a capacidade de colaboração, a realização e a aceitação de crítica construtiva. Esse procedimento pedagógico possibilita a participação de todos os envolvidos com a aprendizagem, considerando que cada aluno possui suas próprias compreensões e desejos que, ao expressar por meio da interação com os colegas, confronta-se com as demais realidades percebidas pelo outro. Enfatiza-se que o professor deve estar atento e sensível para perceber as relações entre os alunos, tanto com os colegas quanto com a aprendizagem. Portanto, ao refletir sobre o processo de alfabetização de Patrick a partir do documentário pode-se perceber aspectos relevantes para compreender os desafios presentes na aquisição de conhecimentos que envolvem a leitura e escrita. Neste viés, acredita-se que as práticas pedagógicas inspiradas pela proposta do Geempa potencializam o processo de alfabetização democrático e de qualidade, carregado de sentidos e significados aos educandos.  REFERÊNCIAS: BETTS, Jaime Alberto. Grupos Áulicos: A interação social na sala de aula. Org. Ana Luiza Carvalho da Rocha. Porto Alegre: GEEMPA, 2005. GEEMPA. Aula-entrevista: Caracterização do processo rumo à escrita e à leitura. Porto Alegre, 2010. GEEMPA. Caderno de atividades a partir dos documentários: Que letra é essa? e Do gozo da ignorância ao prazer de aprender: caderno do professor. Porto Alegre, 2010. GROSSI, Esther Pillar. Grupos Áulicos: A interação social na sala de aula. Org. Ana Luiza Carvalho da Rocha. Porto Alegre: GEEMPA, 2005. ROCHA, Pedro. Que letra é essa? Documentário. Santa Maria, 2004. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=NtyL4NEEIEE&t=11s Acesso em: 02 de novembro de 2020.

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Como identificar e educar os alunos com altas habilidades O que as escolas precisam saber para atender àqueles com capacidades muito acima da média e ajudá-los a desenvolver um potencial promissor TATIANA PY DUTRA

tatianapydutra@padrinhoconteudo.com

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á uma ideia comum – inclusive, entre educadores – quando o assunto são pessoas com altas habilidades/ superdotação. A de que são indivíduos com saberes extraordinários em diversas áreas. Isso é chamado de “mito da inteligência geral”. Outra ilusão está relacionada ao célebre Quociente de Inteligência (QI), método que avalia a inteligência por meio da capacidade de raciocínio lógico-matemático do indivíduo. Porém, nas últimas décadas do século 20, a Educação e a Ciência identificaram tipos de inteligência que não podem ser medidas pelo QI. Como nem todo mundo sabe disso, pessoas com altas habilidades/ superdotação que não se destacam em matemática ou ciências acabam ignorados. E as instituições de ensino precisam saber como atendê-los. “É como se fossem invisíveis. Podem passar por ótimos alunos mas ser ignorados em suas potencialidades”, diz a especialista em Altas Habilidades/Superdortação (AH/SD) dos colégios Rainha do Brasil e João XXIII, Rosângela Russo.

Teorias de Renzulli e de Gardner O atendimento especializado para AH/SD considera, principalmente, as

teorias dos psicólogos Joseph Renzulli e Howard Gardner. O primeiro preconiza que seu comportamento reflete uma interação entre habilidade acima da média, criatividade e comprometimento com a tarefa. Isso se manifesta no perfil acadêmico, que envolve competências analíticas especialmente nas habilidades linguística e lógico-matemática; e no Produtivo-Criativo, relacionado ao desenvolvimento de ideias, produtos e expressões artísticas originais. Já Gardner começou a desenhar sua teoria observando o trabalho de mestres da arte, cuja inteligência não poderia ser medida pelo QI. Acabou por categorizar múltiplas inteligências (veja quadro), afirmando que muitas são sufocadas pelo perfil nivelador das escolas. Essas inteligências podem surgir isoladas ou combinadas: o diferencial da pessoa será o desejo de se aprofundar. Quanto ao comportamento, será o de um aluno típico: podem ser tímidos, extrovertidos, ter transtornos de aprendizado etc. “Na Escola Emílio Meyer, trabalhei com um aluno com dupla condição por cinco anos. Ele tinha autismo e AH/SD. Se alfabetizou aos três anos, aprendeu inglês e mandarim sozinho. Tinha muito conhecimento de Matemática, Português, História, Geografia, mas dificuldades de relacionamento”, exemplifica Rosângela. É comum que alunos com AH/SD não detectadas pareçam entediados

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em sala de aula. “A criança chega em casa e diz que não quer mais ir à escola. Ela tem quatro anos, alfabetizou-se sozinha, tem inteligência muito acima da média e fica entediada com a aula”, comenta a vice-presidente da Associação Gaúcha de Apoio às Altas Habilidades e Superdotação (AGAAHSD), Lúcia Lamb.

Caminhos para alimentar a curiosidade O que a escola pode fazer por crianças que precisam de mais e mais conhecimentos? Fornecê-los. Uma alternativa é submeter o aluno à aceleração curricular. Nesse caso, é preciso fazer uma avaliação diagnóstica para que comprove domínio de conteúdo, além de maturidade, para avanço de série. Outra possibilidade é oferecer suplementação ou complementação acadêmica ao estudante. “São de três tipos, nos quais o aluno vai aprofundando um conhecimento de interesse dele. Se quiser pesquisar o DNA de uma planta, vamos procurar recursos para que essa pesquisa aconteça. É construção de conhecimento. Quando chegar na terceira fase, vamos para a publicação, produzindo um folder, portfólio, fanzine”, explica. Mas mesmo sem todos os aparatos e especialistas, é possível atender bem a esse público ávido por conhecimentos, diz a vice-presidente da AGAAHSD. “Às vezes, a escola, por ter corpo docente bem formado, já faz um aten-


Diversidade ››› As inteligências de Gardner Linguística

Cinestésica-corporal

l Identificada em pessoas que se comunicam com clareza, falando ou escrevendo. Têm facilidade em debater, argumentar e aprender outros idiomas.

l Presente em pessoas capazes de dominar o movimento corporal, a explosão dos músculos e o controle motor.

Barreiras impedem de identificar as mentes Apesar de haver diretrizes nacional e estadual sobre a educação para portadores de AH/SD, há insuficiência de políticas para garantir sua identificação. Não há mapeamento desses talentos e, sem valorização local, pode haver “fuga de mentes”. “Sabe quantas pessoas são identificadas nas escolas do interior do Rio Grande do Sul a cada ano? Uma ou zero, sendo que a OMS estima que os AH/ SD sejam 7% da população. Somos um país que não identifica, que não valoriza e ainda faz bullying com quem é muito inteligente”, diz Lucia Lamb. Se o aluno parece avançado demais para a faixa etária ou série, ele pode ser encaminhado para uma psicopedagoga, para uma educadora especial ou pedagoga especialista em AH/SD, que vai acompanhá-lo para confirmar o diagnóstico. 

Superdotado, um termo antiquado l No Brasil, as expressões “superdotação” e “superdotado” geralmente vêm acompanhadas de “altas habilidades”. Isso porque elas se referem a conceitos antiquados e errôneos sobre inteligência, como memorização rápida ou habilidade ao tocar um instrumento. É possível que o termo caia em desuso no futuro.

Lógico-matemática

Naturalista

l Característica de quem tem facilidade em solucionar problemas matemáticos, enxergar projeções geométricas e fazer deduções.

l É a inteligência das pessoas que se interessam por fenômenos da natureza, da ciência e do experimento.

Espacial

Interpessoal

l Notada em quem tem facilidade de entender proporções, mapas, gráficos e diagramas. Nessa inteligência também se enquadram pessoas que se destacam pela expressão pictórica, fazendo desenhos, pinturas e esculturas.

l Diz respeito à construção de relacionamentos, capacidade de sociabilidade, cooperação e comunicabilidade.

Musical l Pode ser identificada naqueles que são sensíveis a ritmo, timbre, som e voz.

Intrapessoal l Inteligência relacionada à forma de pensar e conhecer o mundo do próprio indivíduo, suas características e habilidades.

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DEPOSITPHOTOS

dimento adequado. Se a criança quer aprender mais, ofereça mais. A escola que incentiva a pesquisa já está um passo à frente”, afirma Lúcia, acrescentando que laboratórios são ambientes excelentes para atendimento. Segundo ela, a AGAAHSD dá capacitação para professores de escolas interessadas. E isso pode fazer muita diferença, como veremos a seguir.

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››› Radar

O desafio de recomeçar Diretora de escola conta como foi retomar as atividades após a morte de um professor vitimado pela Covid-19 IGOR MORANDI

igor@padrinhoconteudo.com

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ais de 260 mil mortes no Brasil por Covid-19. Este é o resultado de uma pandemia que chegou de surpresa, provocada por um vírus desconhecido – assim como a necessidade de seguir orientações de prevenção jamais impostas. Mas não são apenas números, são pessoas: familiares, amigos, colegas de trabalho, de escola e de faculdade, que antes conviviam diariamente uns com os outros e se viram obrigados a manter distância. Nesse contexto, o apoio mútuo se mostrou fundamental – até mesmo para lidar com perdas precoces. É o caso do Centro Sinodal de Ensino Médio Dorothea Schäfke, de Taquara, que teve de se adaptar à nova realidade a partir de março. Inclusive com o pior dos cenários: a morte de um professor que contraiu o coronavírus. Era 27 de julho de 2020 quando a esposa do professor Ricardo (nome fictício) comunicou o falecimento à diretora Simone Weber. Ao mesmo tempo, toda a comunidade passava a ter conhecimento do ocorrido, por

Ricardo ser conhecido e muito querido no município. Simone conta que foi triste não poder proporcionar à família a oportunidade de fazer o velório nas dependências da escola, além de não passar pelos ritos de despedida tão importantes, por mais doloroso que o momento fosse. “Eu o conhecia desde a adolescência. Na escola, compartilhamos do mesmo sonho, qualificar cada vez mais a área extracurricular. Ele era extraordinário”, comenta Simone. Os estudantes, acostumados com a rotina presencial do colégio e o contato olho a olho com Ricardo, não o viam desde o dia 17 de março de 2020. Com a volta das aulas presenciais, prevista para este ano, esse contato não será mais possível, mas Ricardo marcou eternamente a história dos alunos e do Dorothea Schäfke, em seus 12 anos de contribuição ao colégio. Não poder se despedir presencialmente de pessoas próximas é uma das tantas angústias ocasionadas pela pandemia. Independentemente de como cada cultura lida com a morte, a Covid-19 impediu as pessoas de viverem o luto em sua essência. No Brasil, por exemplo, a tristeza é o principal sentimento estampado no rosto dos enlutados. Já no México, há uma celebração histórica, o Dia de Los Muertos, conhecida mundialmente, comparada ao carnaval brasileiro. Ambos os cultos, assim como o de outras culturas, tiveram de ser diferentes nesse 2020-2021. Por isso, o diálogo e o apoio de

outras pessoas é fundamental neste momento. Ainda na noite do dia 27 de julho, a equipe diretiva do colégio Dorothea Schäfke se dispôs a conversar com as famílias da comunidade escolar, após o obituário ter sido encaminhado. Na época, o colégio estava em recesso. Mas, com a volta dos estudantes e professores, remotamente, houve suporte emocional. “Conversamos com os alunos sobre seus sentimentos em relação à perda e como pensavam em seguir em frente”, diz a diretora Simone. Com os professores, fizeram uma reunião para compartilhar lembranças e prestar apoio. Além disso, a escola fez uma homenagem em uma live. Neste momento, apegar-se às boas lembranças e receber amparo é indispensável, porque os problemas emocionais e mentais acarretados pela pandemia podem se somar ao luto, que é algo natural, transformando-o em uma patologia, explica a médica psiquiatra Marcela Pohlmann. “O luto patológico acontece quando a pessoa, além de sentir que o mundo empobreceu pela perda, sente que uma parte dela própria morre. Muitas vezes, essa dificuldade de aceitação leva a quadros de depressão”, destaca. Em casos assim, o mais adequado é seguir as recomendações de um especialista, psicólogo ou psiquiatra. De qualquer forma, voltar às atividades, com o apoio emocional de outras pessoas, é uma forma de superar a dor e ajudar o cérebro a se reorganizar à nova realidade.

MARCELA POHLMANN Médica psiquiatra

“O luto patológico acontece quando a pessoa, além de sentir que o mundo empobreceu pela perda, sente que uma parte dela própria morre. Muitas vezes essa dificuldade de aceitação leva a quadros de depressão.” SIMONE WEBER Diretora do Centro Sinodal de Ensino Médio Dorothea Schäfke

“Eu o conhecia desde a adolescência. Na escola, compartilhamos do mesmo sonho, qualificar cada vez mais a área extracurricular. Ele era extraordinário.”

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››› Inovação

A fim de estimular os estudantes durante a pandemia, Colégio Marista Ipanema, de Porto Alegre, adapta o clube de ciências para a internet IGOR MORANDI

igor.morandi@padrinhoconteudo.com

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LESSANDRA SILVA WINTER WEBER professora de ciências

“É importante estimular a pesquisa científica em todas as áreas de conhecimento, boa parte dos encontros trabalha diretamente com ciências da natureza, mas sempre procuramos envolver todos os campos.” MARIA EDUARDA GIERING professora do Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da Unisinos

“Trata-se de um processo de descoberta que nos permite relacionar fatos isolados e formar conhecimentos coerentes sobre o mundo natural. A ciência é um modo de descobrir o que existe no universo e de como as coisas funcionam.” mentos como este, tratar de ciência é indispensável. “É importante estimular a pesquisa científica em todas as áreas de conhecimento. Boa parte dos encontros trabalha diretamente com ciências da natureza, mas sempre procuramos envolver todos os campos”, destaca Lessandra. O clube de ciências do Marista Ipane-

Educação em Revista | Nº 140 | Janeiro/Fevereiro/Março 2021

Quando o assunto é ciência, a representação que vem à mente é a de jalecos brancos, vidrarias, óculos, microscópio. Porém, a dedução do porquê algo está em mau funcionamento e do motivo pelo qual as flores crescem mais quando expostas ao sol são exemplos de que pessoas comuns fazem ciência. “Trata-se de um processo de descoberta que nos permite relacionar fatos isolados e formar conhecimentos coerentes sobre o mundo natural. A ciência é um modo de descobrir o que existe no universo e de como as coisas funcionam”, explica a professora do Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da Unisinos e coordenadora do Grupo de Pesquisa do CNPq Comunicação da Ciência: Estudos Linguísticos e Discursivos, Maria Eduarda Giering. Entender a presença da ciência no cotidiano, é saber da importância do seu estudo desde a escola. O conhecimento científico permite desenvolver tecnologias e vacinas, tratar doenças ou mesmo entender a necessidade de lavar as mãos com frequência. Faz parte de coisas complexas e simples. Além de a ciência contribuir para a resolução de problemas, ajuda na tomada de decisões informadas, algo importante em meio à crises. Teorias conspiratórias e desinformações fazem com que pessoas desacreditem em estudos científicos. Mas a ciência é verdadeira, comprova e funciona, mesmo que suas descobertas sejam provisórias e, futuramente, substituídas por respostas mais avançadas. “A popularização da ciência é uma construção cultural e incentiva o pensamento crítico, a curiosidade e transforma nossas vidas e a sociedade”, ensina Maria Eduarda.

››› No período pré-pandemia, atividades dos alunos ao ar livre eram comuns Um dia no clube de ciências online 1º momento l A professora Lessandra leva ao encontro virtual o tema escolhido por ela e pelo grupo de estudantes, por meio de vídeos, reportagens e PowerPoint. 2º momento l O clube discute o assunto e levanta hipóteses sobre o tema. 3º momento l É feito um experimento. 4º momento l Os resultados são discutidos.

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m tempos de pós-verdade, os fatos perdem espaço para apelos emocionais e ideológicos em defesa das próprias crenças. Nesse sentido, a verdade irrefutável da ciência é questionada por alguns. Este problema se estende em meio a crises, como a da Covid-19: o coronavírus é ignorado, e a vacina, vítima de teorias. Por isso, saber a importância da ciência, desde o período escolar, é fundamental. O Colégio Marista Ipanema, por exemplo, conta com um clube de ciências desde 2012, para o 6º ano, e 2018, para o 7º ano, com o objetivo de estimular o estudo científico, formulando hipóteses obtidas por meio de experimentos práticos. No entanto, com a chegada da pandemia e a necessidade de distanciamento, a escola teve de se adaptar. A surpresa indesejada do coronavírus não deu tempo para muitos planejamentos. O colégio de Porto Alegre iniciou as aulas remotas em março, e teve de enfrentar um período desafiador, comenta a professora de ciências e responsável pela atividade no Marista Ipanema, Lessandra Silva Winter Weber. “No primeiro momento, a maior dificuldade foi manter a atenção e o comprometimento dos estudantes com as aulas e o manuseio de uma plataforma que desconheciam”, diz Lessandra. É claro que o clube de ciências não poderia ficar de fora dessa adaptação à nova realidade. Até porque, em mo-

ma passou a ser on-line depois de as aulas tornarem-se híbridas, em novembro. A professora teve de levar o laboratório para a própria casa, além de alguns materiais e vidrarias que eram utilizados nos encontros presenciais. Presencial ou remoto, o clube ocorre no extraclasse, turno inverso às aulas. O encontro se dá por meio da plataforma Teams, e todos os estudantes das turmas de 6º e 7º anos podem participar. Em 2020, a média era de 30 alunos por encontro. O terceiro momento da aula, de experimento, é o preferido dos pequenos cientistas, conta a professora Lessandra. “Eles curtem as aulas práticas, porque são extremamente curiosos”, diz. O Marista Ipanema aproveitou essa curiosidade para transformar o dia a dia dos estudantes em experimentos práticos. Ou seja, quaisquer elementos e dúvidas referentes ao que ocorre na natureza ou sobre química e física são reproduzidos no clube pelos alunos. “Um cuidado que tomei com o clube on-line foi pensar em experimentos práticos que eles pudessem fazer em suas casas, com materiais de fácil acesso”, destaca Lessandra. Mesmo com medidas extras necessárias, o desafio remoto teve um diferencial positivo. O número de estudantes pôde ser maior, já que presencialmente haveria restrições às aglomerações dentro do laboratório. Além disso, conforme a professora responsável, não houve perdas em relação ao clube presencial. Por isso, em 2021 se manterá on-line até que as aulas voltem à normalidade.

Estudar Ciências, para que (m)?

ARQUIVO PESSOAL

Nada se cria, tudo se transpõe

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CONHEÇA O PROJETO FÓSFORO ECOLÓGICO No contexto das atividades de

Iniciação Científica, os estudantes do 9º ano do Colégio Marista Santa Maria, de Santa Maria, produziram um protótipo de Fósforo Ecológico. Segundo dados pesquisados, no Brasil são consumidas em média 380 caixas de fósforo (com 100 palitos) por hora, com descarte dos palitos e das caixas que armazenam o produto. Por se tratar de um item de baixo peso, esses materiais descartados não se tornam atrativos para a reciclagem. Partindo desse cenário, os estudantes sintetizaram um composto químico que substitui a cabeça do palito de fósforo, o qual será armazenado em um frasco que permitirá facilmente a troca por refil, constituindo um componente mais durável e reutilizável para o fósforo, diminuindo seu descarte no ambiente. A pesquisa conquistou o 1º lugar na IV Mostra Científica Ecoinovar, realizada pela Universidade Federal de Santa Maria. 

INICIATIVA DO COLÉGIO NOTRE DAME ESTIMULA A FORMAÇÃO DE LEITORES  De uma inquietação: assim, o

docente de Língua Portuguesa, William Dahmer, define o sentimento que o inspirou a viabilizar, no Colégio Notre Dame Passo Fundo, o projeto dedicado à apresentação e à discussão do texto literário. Surgiu, então, o Lite-horário – iniciativa por meio da qual estudantes do 8º Ano do Ensino Fundamental e do 1ª Ano do Ensino Médio, além de educadores convidados, compartilham sugestões de obras e sua própria experiência de leitura. Visando colocar o livro como centro da discussão, como possibilitador e transformador de realida-

des, o Lite-horário é publicado no perfil da instituição de ensino no Instagram. Dessa forma, além de engajar e motivar a comunidade educativa em prol do fomento à formação leitora, os estudantes, ao projetarem um interlocutor real no próprio texto, têm de articular diferentes recursos linguísticos para, na escrita, convencerem que o livro indicado possibilitou uma experiência válida e agradável. Assim, eles tornam-se protagonistas de todo o processo: da leitura integral da obra, passando pela construção de experiências literárias e, por fim, o diálogo com outros leitores. 

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COLÉGIO MARISTA SANTA MARIA, DIVULGAÇÃO

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COLÉGIO GABRIEL TABORIN, DIVULGAÇÃO

ESCOLA DE MARAU CRIA A PLATAFORMA BOOKFLIX  No Colégio Gabriel Taborin, na

cidade de Marau, os alunos do 5º ano protagonizaram um projeto chamado Bookflix. Com a intenção de estimular e chamar a atenção para a importância da leitura, a atividade permitiu relacionar a prática com o serviço de streaming por assinatura que permite assistir a séries e filmes. Para a efetivação deste trabalho, os alunos deveriam escolher um

livro significativo, destacando o nome da obra, autor, a foto da capa e um breve resumo, mas sem spoiler. Semanalmente, um aluno apresentou a obra escolhida para a turma, contando sobre essa experiência e incentivando os demais à leitura do livro indicado. As apresentações aconteceram por meio da plataforma virtual adotada pelo Colégio e propiciaram reflexões sobre histórias

referentes ao mundo da leitura e da imaginação, integrando ainda com conteúdos de diversas áreas do conhecimento. Segundo a professora Isadora Machado Cardoso Lopes, idealizadora do projeto, “o Bookflix contribuiu para tornar essa prática prazerosa e significativa, explorando o encantamento da literatura neste ano em que os livros foram uma excelente companhia para todos”.

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FRANCISCO FRANTZ, DIVULGAÇÃO

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O CANAL DO CHAMPAGNAT PARA SE PREPARAR AO VESTIBULAR EDUCAR-SE PROMOVE FORMATURA NO SISTEMA DRIVE-THRU

Mesmo com as indefinições so-

bre como será a realização dos vestibulares em 2021, o Colégio Marista Champagnat, de Porto Alegre, produz e disponibiliza de forma gratuita a toda a comunidade podcasts com resumos das leituras obrigatórias. Com o objetivo de facilitar o acesso à cultura e informação, a iniciativa, que integra o projeto intitulado Biblioteca Contada, oferece resumo de obras como Valsinha, de Chico Buarque, Úrsula, de Maria Firmina dos Reis, e As meninas, da autora Lygia Fagundes Telles. Além de contemplar aqueles que se preparam para ingressar no ensino superior, o projeto disponibiliza, em formato de vídeos, a contação de histórias diversas para os públicos da Educação Infantil e Ensino Fundamental. As leituras, disponíveis em vídeos e podcasts, podem ser encontradas em www.maristachampagnat.org. br e no canal do Youtube (Colégio Marista Champagnat). 

 O dia 18 de dezembro marcou a

conclusão do Ensino Médio na Escola de Educação Básica Educar-se, de Santa Cruz do Sul. Na ocasião, 31 estudantes do 3º ano do Ensino Médio participaram de cerimônia de formatura drive-thru. O evento foi realizado

no pórtico de entrada da instituição, no bloco 8, e transmitido pelo canal da Escola no YouTube (youtube.com/educarseescola). O novo formato se fez necessário devido aos protocolos estabelecidos para a prevenção contra a Covid-19. A mesa foi composta pela diretora Valderez Maria Kern, pela vice-diretora Cristiane Iserhard Machado e pelo professor conselheiro da turma, Eduardo Barreto de Araújo.  IENH, DIVULGAÇÃO

WHATSAPP EM DEBATE ON-LINE  Discutindo sobre o comportaCRISTINA CHIARELLO, DIVULGAÇÃO

mento das pessoas no WhatsApp, alunos da Instituição Evangélica de Novo Hamburgo (IENH) participaram de um debate on-line. Com auxílio da professora Carolina Müller, os alunos refletiram sobre como as pessoas devem interagir em grupos de mensagens. A partir da divergência acerca das publicações realizadas nos grupos de WhatsApp, foi proposto um debate às turmas, no

qual elas foram divididas em dois grupos: a favor – defendendo que cada um pode se expressar como quiser, sem se preocupar em ofender alguém – e contra – argumentando que é preciso ter cuidado com as postagens a fim de evitar constrangimentos e ofensas. Carolina comenta: “foi um momento muito significativo, pois proporcionou aos alunos a possibilidade de ampliarem suas habilidades comunicativas e argumentativas”. 


Por dentro da lei ›››

Jorge Lutz Muller Coordenador da assessoria jurídica do SINEPE/RS. OAB-RS 7.563.

Mediação jurídica

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Judiciário brasileiro, de há muito, não dá conta do elevadíssimo número de processos. E faz algum tempo, já, que se cogitam e experimentam meios alternativos de solução de controvérsias, além da tradicional conciliação que os magistrados são compelidos a propor. O Código de Processo Civil/CPC de 2015, em seu art. 165, consagrou o instituto da mediação, que já vinha sendo praticada sob o amparo de normas internas do Conselho Nacional de Justiça. Determinou aos tribunais a criação de “centros judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e mediação” . A mediação se distingue da conciliação, pois não se destina apenas a resolver uma questão pontual (o litígio deduzido em juízo, normalmente episódico, e que, no mais das vezes, não põe em cena todo o contexto litigioso) e sim busca aproximar partes inseridas numa relação de trato continuado, isto é, uma relação que tende a prosseguir e por isso aponta para uma coexistência futura, a ser preservada e aperfeiçoada. O foco da conciliação é resolver o litígio posto em juízo; a mediação vai além, pois o seu foco maior é prospectivo, isto é, visa a aproximar as partes e capacitá-las para diálogo e convivência presente e futura, que podem ou não resultar em acordos (tanto atuais como futuros).

Segundo o CPC, o conciliador “poderá sugerir soluções” (art. 165, 2º), enquanto o mediador “auxiliará aos interessados a compreender as questões e os interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento da comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem benefícios mútuos” (art. 165, § 3º). Como se percebe, o papel maior do conciliador é obter um acordo, ao passo que o mediador deve buscar, antes do mais, instrumentar as partes para o cotejo de suas posições, sem, necessariamente, propor e/ou obter acordo. O objetivo maior da mediação não é o acordo em si mesmo e sim a dissolução dos óbices que estejam dificultando a compreensão recíproca das partes. Visa a desarmar a beligerância e a rigidez, mercê da facilitação do diálogo e do enaltecimento da responsabilidade conjunta para encontrar uma solução equitativa. Eventual acordo será um desdobramento da dissolução dos óbices, ou seja, um objetivo mediato e não imediato. Todavia, há um ponto essencial: a substituição do paradigma adjudicatório (decisão proferida pelo Estado) pela alternativa da mediação supõe um relativo equilíbrio entre as partes: se não houver alguma paridade de forças, a solução obtida através de mediação poderá refletir, tão somente, esse desequilíbrio. Por exemplo, numa discussão entre Administração Públi-

ca e administrados, há, quase sempre, uma discrepância d’armas fundamental, pois o Poder Público invoca em seu prol inúmeras “supremacias” e privilégios. E se, mesmo assim, a decisão judicial favorecer os administrados, seu cumprimento, no Brasil, costuma ser remetido para as calendas (vide precatórios). Sem falar em que os administrados, muitas vezes, transigem em excesso simplesmente porque não dispõem de recursos para aguardar a demora de uma decisão judicial. É bom que a litigiosidade (no Brasil há mais de 100 milhões de “causas” para uma população de 210 milhões de habitantes) seja, tanto quanto possível, encaminhada para as vias alternativas de composição do litígio. Mas não se deve perder de vista hipóteses em que o acordo obtido possa apresentar-se como claramente “opressivo” para uma das partes ou, então, “malandro” para uma delas ou para ambas. Aí, a substituição da decisão judicial por tal espécie de composição pode implicar esmaecimento de valores constitucionais que mereceriam ser preservados. Assim também no contexto das escolas: a mediação que nelas venha a ser praticada pode contribuir para o apaziguamento de ânimos e para o aprofundamento dos temas. Mas deve, também, atentar para a preservação de certos limites éticos e disciplinares cuja transposição possa sinalizar descrédito para a proposta pedagógica adotada. 

Educação em Revista | Nº 137 | Abril\Maio\Junho 2020

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