Edição 133

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P.12 / COM A PALAVRA Especialista explica como se desenvolve a criatividade

UMA PUBLICAÇÃO DO SINEPE/RS Nº 133 /// ANO XXII /// JULHO-AGOSTO 2019

P.22 / PEDAGÓGICO Emoções entram no currículo

BNCC: O QUE MUDA NA AVALIAÇÃO


PREOCUPADO EM ACOMPANHAR A EVOLUÇÃO DO ENSINO? VÁ NA CERTEZA SISTEMA ETAPA O Grupo Etapa dedica-se 100% à educação há 50 anos. É líder em premiações em olimpíadas culturais e aprovações em universidades internacionais. Toda essa experiência pode ser levada para a sua escola por meio do Sistema Etapa. Desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, nosso material didático é desenvolvido e atualizado por uma equipe de professores rigorosamente selecionados e preparados, com ampla vivência escolar. Além disso, é produzido em editora e gráfica próprias, o que garante sua entrega antecipada às escolas. Ligue para 0800 727 8080 ou acesse sistemaetapa.com.br e conheça o sistema educacional que vai ajudar a sua instituição a atingir um patamar ainda mais alto.



4 /// COMEÇO DE CONVERSA

BNCC sempre em pauta

trazem algumas orientações sobre qual caminho seguir. Outro destaque desta edição é uma entrevista exclusiva com o especialista em processo criativo, o professor escocês Charles Watson. Ele traz dicas de como podemos ser mais criativos, afirma que o erro é benéfico para a criatividade e desmitifica o “ócio criativo”. A Revista também leva os leitores para uma viagem

CARINE FERNANDES

a Israel. A seção ‘Internacional’ conta como foi a missão

Editora da Educação em Revista

educacional de um grupo de diretores do Rio Grande do Sul para o país, reconhecido mundialmente como referência

Certamente, um dos temas mais presentes nas discussões pedagógicas das escolas neste ano é a implantação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Para auxiliar as instituições

em Educação Básica e Superior e pelo desenvolvimento de tecnologias de vanguarda. Esta edição mostra também como está a tramitação, na

nesse trabalho, a Educação em Revista vem publicando

Câmara dos Deputados, do projeto que trata da educação

uma série de reportagens que tratam de questões práticas

domiciliar, as repercussões caso seja aprovado e discute a

envolvendo a mudança curricular. Um dos temas mais sensíveis

parceria da família nos casos de inclusão. Ótima leitura!

da mudança, sem dúvida, é a avaliação da aprendizagem. Como avaliar as competências e as habilidades? O que muda? É o fim da “decoreba”? A reportagem de capa desta edição discute o tema com especialistas e procura mostrar caminhos que podem orientar o trabalho dos professores e da equipe pedagógica. Ainda sobre a BNCC, a seção ‘Pedagógico’ aborda as habilidades socioemocionais, outra grande ênfase da Base que ainda gera muitas dúvidas entre os educadores. Como tratar de emoções e sentimentos no currículo? Será que um projeto específico e pontual atende ao que propõe a BNCC? Especialistas ouvidos na reportagem debatem o assunto e

/// EXPEDIENTE EDIÇÃO: Carine Fernandes. Produção: Carine Fernandes (MTB 15449) e Patrícia Gastmann (MTB 15336). Reportagens: Carine Fernandes, Vívian Gamba (MTB 9383) e Padrinho Conteúdo. Infográficos: Hermes Moura. Produção da capa: Luciana Moriguchi Jeckel Lampugnani. Foto da capa: Depositphotos.com. Diagramação: Prya Estúdio de Comunicação. Revisão: Rosane Vargas e Milton Gehrke. Conselho Editorial: Osvino Toillier, Hilário Bassotto, Flávio D’Almeida Reis, Mônica Timm de Carvalho, Naime Pigatto, Raquel Boechat, Ruy Carlos Ostermann, Ângela Ravazzolo, Rosângela Florczak e Gustavo Borba. Antenas: Adriana Gandin, Alfredo Fedrizzi, Caio Dibi, Crismeri Corrêa, Fernando Becker, José Moran, Laura Dalla Zen, Márcia Beck Terres e Mauro Mitio Yuki. DIRETORIA: Presidente: Bruno Eizerik, 1º Vice-Presidente: Osvino Toillier, 2º Vice-Presidente: Oswaldo Dalpiaz, 1º Secretário: Marícia da Silva Ferri, 2º Secretário: Iron Augusto Müller, 1º Tesoureiro: Hilário Bassotto, 2º Tesoureiro: João Olide Costenaro. Suplentes: Maria Helena Rodrigues Lobato, Ruben Werner Goldmeyer, Joacir Della Giustina, Laura Coradini Frantz, Nestor Raschen, Jacinta Maria Rothe, Carlos Roberto Milioli. CONSELHO FISCAL: Titulares: Ademar Joenck, Inacir Pederiva, Cátia Teresinha Lange. Suplentes: Isaura Paviani, Maria Angelina Enzweiler, Guilherme Kühne. EQUIPE: Direção: Milton Léo Gehrke. Assessoria pedagógica: Naime Pigatto e Claudete Chiarello. Centro de Desenvolvimento em Gestão (CDG): Vera Lúcia Corrêa. Assessoria de Comunicação e Marketing: Luciana Moriguchi Jeckel Lampugnani, Carine Fernandes, Eduardo Oliveira, Tamara Stucky, Hermes Moura e Bruno Pinheiro. Financeiro: Matheus Philippi. Secretaria: Jaqueline Maria Rodrigues da Rosa e Suelen Schroeder Ferreira. Recepção: Emília Pires e Joana Reni Vielhuber. Serviços Gerais: Ereni Souza da Silva e Naira Elizabetti Real. FALE CONOSCO – Redação: Cartas, comentários, sugestões, matérias – educacaoemrevista@sinepe-rs.org.br. Comercial: Anúncios e assinaturas – comercial@sinepe-rs.org.br. Informações: Telefone (51) 3213.9090 e www.educacaoemrevista.com.br. ISSN: 1806-7123 A Educação em Revista não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressam o pensamento dos respectivos autores.


SUMÁRIO /// 5

12 COM A PALAVRA “O erro é uma precondição para a criatividade”

06 CAPA BNCC e uma nova avaliação da aprendizagem

18 GESTÃO Projetos do ensino superior contribuem com a comunidade

42 DIVERSIDADE Confiança da família é chave para a inclusão

22 PEDAGÓGICO A vez do currículo socioemocional

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


6 /// CAPA

BNCC E UMA NOVA AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM POR VÍVIAN GAMBA


7

A

s novas perspectivas de ensino traçadas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) trazem para a Educação Básica uma preocupação além

daquelas referentes à reorganização curricular, a diferentes

“Nosso costume, na escola, é avaliar o que o professor ensina, e não o que as crianças desenvolvem”, Lino de Macedo.

procedimentos em sala de aula e à inclusão de um novo olhar sobre as habilidades e as competências: a avaliação da

No caso das habilidades ligadas às áreas do conhecimento,

aprendizagem. Se o processo muda, a avaliação também deve

Macedo sugere, no contexto da escola, a recuperação da prova

ter uma nova roupagem, adaptar-se ao que está sendo proposto.

oral, que pode ser individual ou coletiva. Mas não “aquela prova

E este é mais um desafio para as escolas: saber de que forma

oral”, marcada com antecedência e causadora de pânico, em que

avaliar seus alunos a partir de agora.

os alunos eram chamados um a um para responder a questões

A avaliação da aprendizagem não pode se resumir a

e cujos objetos de conhecimento deveriam estar na ponta da

perguntas e exercícios, de forma direta, até porque não

língua. O tom é de debate, para verificar o posicionamento do

se avalia habilidade dessa forma. “Temos que criar uma

aluno frente a situações relativas aos componentes curriculares,

situação-problema, jogando a pergunta para dentro de algum

nas quais ele se posiciona e argumenta. “É outra forma de

contexto, levando o aluno a refletir, a mobilizar – não só o

colocar as questões na classe que não aquela do lápis e do

cognitivo, mas também o comunicativo, o socioemocional”,

papel, do certo ou errado. O aluno não responde errado porque

coloca a pedagoga e consultora Priscila Boy. “A perspectiva

quer. Ele pode não saber, estar distraído, ter perdido o foco da

da avaliação muda porque, se eu mudo as metodologias e

questão, estar cansado, com pressa. Nesse sentido, a ideia da

deixo esse aluno ser mais participativo, mais protagonista, eu

BNCC é trocar esse modelo de certo e errado por tarefas, por

tenho também que dar a oportunidade para ele se posicionar

posicionamentos frente a N situações.” Para o professor, esse

dessa forma na hora de avaliar”, justifica.

trabalho deve ser feito de forma sistemática. “Os alunos falam

Mas como aprender a avaliar competências e habilidades?

muito pouco, e isso é uma pena. Eles têm que falar mais.”

Diferentemente de objetos de conhecimento, elas não são transmitidas, são desenvolvidas. “E o nosso costume, na

Competências socioemocionais

escola, é avaliar o que o professor ensina, e não o que as

As competências socioemocionais são o “calcanhar de

crianças desenvolvem”, aponta o professor emérito do

Aquiles” desse novo processo. Elas convergem para três

Instituto de Psicologia da USP e assessor do Instituto Pensi

pilares: o autoconhecimento (o tanto que o aluno conhece

(Pesquisa e Ensino em Saúde Infantil) do Hospital Infantil

dele mesmo); o conhecimento do outro (para trazer bons

Sabará, Lino de Macedo. “O desenvolvimento da criança gera

relacionamentos); e o planeta (eu, o outro e o nós). “Primeiro

a aprendizagem. Gera uma estrutura que dá a ela condições

eu cuido de mim, me conheço; depois eu conheço outro, para

de aprender tais e quais conteúdos e, assim, possibilita a aprendizagem em certos [e cada vez maiores] níveis de dificuldade, de complexidade”, argumenta. Então, é necessário avaliar os processos de desenvolvimento dos alunos. A BNCC coloca dois tipos de competências: as de ordem geral e as competências por área do conhecimento. Para Macedo, as competências gerais só podem ser avaliadas por meio de situações-problema, como exemplificou Priscila. “Acho interessante fazer recortes de acontecimentos e pedir que as crianças avaliem e se posicionem num contexto de alternativas e argumentem a favor ou contra, naquelas competências que implicam autocuidado, considerar a perspectiva do outro, gestão de conflitos”, afirma o professor.

/// Prova oral é uma boa opção para avaliar o conhecimento

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


8 /// CAPA

respeitá-lo, para me relacionar bem com ele, para dialogar com a diferença, com a diversidade; e depois a gente cuida do planeta, que é a cidadania, a responsabilidade”, explica Priscila. “Mensurar isso não é algo simples. Autoconhecimento, autocuidado, isso tudo é subjetivo. As escolas não estão

“A ideia da BNCC é trocar este modelo de certo e errado por tarefas, por posicionamentos frente a N situações”, Lino de Macedo.

sabendo lidar, e os especialistas não têm todas as respostas.” A psicóloga e gerente da especialidade de geração de

ambas podem ser desenvolvidas intencionalmente ao mesmo

evidências no Instituto Ayrton Senna, Gisele Alves, ressalta

tempo e devem ser associadas a dados disponíveis em outras

que há particularidades na avaliação das competências

fontes de informação sobre os estudantes, considerando o

socioemocionais. “Uma das principais diferenças é a não

sujeito em sua integralidade, e ambas devem ser contempladas

repetição do que é avaliado ao longo do tempo e a variação do

em conjunto na interpretação dos resultados de avaliações que

que é avaliado, que passa a depender de cada estudante e de

consideram o processo de aprendizado e desenvolvimento dos

seus objetivos individuais de desenvolvimento socioemocional,

estudantes. “As características cognitivas e as socioemocionais

estabelecidos junto ao professor.” O mais importante, para

são passíveis de desenvolvimento por meio de experiências

ela, é buscar um caminho para que todas as competências

formais e informais de aprendizagem em todas as fases do

socioemocionais sejam avaliadas de forma equilibrada,

desenvolvimento humano e, em conjunto, são capazes de

possibilitando que cada estudante se desenvolva plenamente e

influenciar e impulsionar ainda mais diversos resultados de

conforme suas necessidades e objetivos.

vida imediatos e futuros (como desempenho acadêmico,

Embora as avaliações devam focar aspectos a serem avaliados separadamente, como competências socioemocionais

empregabilidade, saúde e bem-estar físicos e psicológicos, qualidade de vida, entre outras)”, explica.

e competências cognitivas, suas interpretações não devem segregar as dimensões socioemocionais das cognitivas, destaca

É o fim da “decoreba”?

Gisele, pois uma tem relação no desenvolvimento da outra,

Quando se trabalha dentro da perspectiva de habilidades, do saber fazer, não faz sentido investir muito tempo em decoreba. Antes, o professor dava a metragem de um ambiente e perguntava quanto de piso era necessário para cobrir aquele espaço. Os alunos decoravam a fórmula da área, aplicavam e pronto, acertavam. Hoje, no mercado de trabalho – sempre levado em conta como exemplo de aplicações práticas dos problemas –, isso não é suficiente. Os pisos têm formatos diferentes, há variáveis intervenientes no espaço, como uma porta de vidro, uma janela, uma coluna. “Você tem que saber usar o objeto de conhecimento no contexto. Não adianta nada você saber [somente] a fórmula da área e, diante de um problema real, não saber o que fazer ou sempre depender de alguém. Na perspectiva de competências e habilidades, você não vai desprezar a decoreba. Mas não será mais sem sentido, sozinha em si mesma, e sim para resolver uma situação-problema”, exemplifica Priscila. “Eu não sou contra o decorar. Acho que decorar é saber de cor, de coração, é ter aquilo dominado de uma forma rápida”, afirma Macedo. Assim como fazemos ao decorar telefones

/// Habilidades são avaliadas com situações problema

importantes, apesar de termos os números gravados na agenda


do celular. O que ele critica é o decorar sem saber a razão. “A internet, a cultura digital, a inteligência artificial facilitaram muitas coisas, mas nos tornaram mais apressados, distraídos. Há multiplicidade de informação, muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo. As pessoas ficam hiperativas e com problemas de foco. E o decorar precisa ser entendido como pensar bem, valorizar, reter a informação porque ela é valiosa.” A máquina substitui muitas coisas, mas não dispensa a criança de “decorar” o que faz bem para a saúde dela, destaca Lino. Isso implica compreender, discutir, rever, atualizar, e não impor, exigir que os alunos aprendam coisas que não fazem sentido para eles. “O decorar continua, mas a cobrança não faz mais sentido.”

/// Aluno precisa saber usar o conhecimento no contexto

Mão na massa Independentemente de quais atividades a escola elencar

de plástico. Temos como mensurar ações, dialogando com

para fazer suas avaliações, Gisele destaca a importância da

projetos, para que eles mostrem que os comportamentos estão

“presença pedagógica”. “Nada substitui o olhar e a atenção

sendo modificados. É uma forma de avaliar as competências

do professor sobre a escola, a turma e cada estudante. Esse

socioemocionais com mais assertividade.”

processo precisa ser intencional para conseguir possibilitar

Em relação às avaliações coletivas, de grande escala,

um acompanhamento atencioso de cada aluno”, afirma. Além

é preciso saber qual o objetivo dela, argumenta Macedo.

disso, a escola pode lançar mão de ferramentas padronizadas

“Quando tem função seletiva, é muito difícil não entrar nessa

que permitam o mapeamento sistematizado de como as

questão do certo ou errado. Que tipo de aluno uma escola de

competências socioemocionais são manifestadas pelos

engenharia precisa ter ou uma escola de medicina quer? Faz

estudantes no contexto escolar e sobre como podem ser

sentido a competição.” Em relação ao Enem, ele acredita que

trabalhadas e desenvolvidas nos ambientes de aprendizagem.

o problema é que virou vestibular, uma busca pela melhor

“O uso desse tipo de ferramenta permite reduzir os níveis

nota. Ele prefere a finalidade da primeira versão do Enem,

de subjetividade no processo avaliativo de competências

que era informar às escolas sobre o desenvolvimento de

socioemocionais, informando a todos os atores do processo

competências doa alunos nas provas. “Uma escola que se

educacional o que está sendo trabalhado e avaliado. As

aproxima da vida tem que orientar [os alunos] para essa

informações oriundas da avaliação podem servir a propósitos

situação, não para a ‘escola seguinte’”, acredita.

somativos e formativos, ou seja, respectivamente, avaliando

A mudança vai exigir repensar a prática pedagógica, revendo

o processo de ensino-aprendizagem socioemocional no final

velhos métodos de avaliação com novas “lentes”, a partir da

dele e/ou enquanto ele ocorre.”

perspectiva proposta pela BNCC. E essa tarefa deverá ser feita

Priscila coloca como boas estratégias os mapeamentos de perfil comportamental. Um mapeamento de ações em relação ao planeta é um exemplo. “A gente pode fazer um projeto com metas, como trazer latinhas para a escola, recolher lixo, controlar o uso da água, fazer uso de coisas sustentáveis, não usar copos

“Você não vai desprezar a decoreba. Mas não será mais sem sentido, sozinha em si mesma”, Priscila Boy.

também pelos cursos de licenciaturas, para que os futuros professores estejam mais preparados para esses novos tempos. A pauta desta reportagem foi construída em reunião realizada na Regional Vale do Rio Pardo, no Colégio Mauá, em Santa Cruz do Sul, e contou com a participação dos seguintes educadores: Ana Cristina dos Santos, Cláudia Kniphoff Kroth, Mártin B. Goldmeyer, Nestor Rachen, Rafael Rizzolo Fetter e Waldy Luiz Lau Filho (Colégio Mauá), Claudia Heinew Freitas Beck e Salete Ceretta (Escola Anchieta), Cristiane Iserhard Machado e Valderez Maria Kern (Escola Educar-se), Liliane Vinhas Seitenfus (Colégio Sagrado Coração de Jesus), Maiara de Oliveira Carvalho (Escola HCB), Tiago Becker (Colégio Gaspar Silveira Martins).


10 /// ENTRE ASPAS

O protagonismo do professor na implementação da BNCC

A

a participação ativa de todos os segmentos; b) valorizem as controvérsias, sem elas sua pedagogia estará empobrecida. 3. Criem grupos de trabalho para o planejamento de sua proposta curricular. Dialoguem com profissionais especializados em currículo, viabilizem a compra de livros e a realização de palestras em suas escolas ao longo do ano. Uma dica: evitem terceirizar a produção de seus direcionamentos curriculares, isto é, contenham o assédio de empresas que ofertam soluções mágicas e não conhecem as demandas de sua instituição. 4. Apostem no protagonismo de seus professores e estudantes, sem eles a BNCC pode se converter em uma

maioria das escolas está revisando suas propostas

mera tentativa de padronização. Seria recomendável,

curriculares, contratando serviços e organizando

inclusive, a criação de um plano de formação continuada

os encontros de formação continuada de seus

para os professores e a promoção de núcleos de escuta

professores. Neste ano, consolida-se um novo conjunto

de preocupações vinculadas à implementação da Base

ativa para envolver os estudantes. 5. Apresentem como demanda permanente para o diálogo

Nacional Comum Curricular (BNCC). Ainda que a temática

universidade-escola as possibilidades de construir modelos

venha sendo tratada, o desafio deste ano encontra-se na

formativos centrados a partir das efetivas necessidades

mobilização de esforços escolares para a criação de novos

da escola. Importante que as escolas, ao construírem suas

arranjos curriculares. Minha experiência de pesquisador

comissões para pensar a implementação da BNCC, coloquem-se

do campo dos Estudos Curriculares e consultor de vários

em interlocução com as IES, visando qualificar os processos de

sistemas de ensino tem sido significativa na construção de

formação inicial e continuada de seus profissionais. As escolas

uma ampla discussão acerca desse processo, procurando

precisam assumir um papel indutor neste momento; afinal,

revitalizar o papel ativo dos professores na consolidação das políticas curriculares. Mesmo que, eventualmente, possamos traçar algumas

como as tendências progressistas do século XX nos ajudaram a ambicionar, desejamos professores que sejam intelectuais do seu próprio fazer pedagógico, capazes de uma ação crítica e criativa!

críticas ao desenvolvimento desse documento ou aos conceitos nele inseridos, precisamos assumir a tarefa de fabricar uma leitura crítica e criativa da BNCC. Isso favorecerá o engendramento de outros modos de formação inicial e continuada de professores. Realizarei cinco sugestões que visam qualificar e ampliar a compreensão desse processo pelas escolas. 1. Incentivem a criação de grupos de estudos entre os professores para a leitura e a apropriação crítica do documento. É importante que esses profissionais conheçam os conceitos estruturantes, as competências básicas e as orientações específicas para sua área do conhecimento. 2. Promovam iniciativas de diagnósticos de sua comunidade escolar. Reconhecendo que a Base não é currículo, mas a estrutura em que este será construído, o conhecimento

ROBERTO RAFAEL DIAS DA SILVA

da escola trará elementos valiosos para a construção da nova

Doutor em Educação. Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da UNISINOS. E-mail: robertoddsilva@yahoo.com.br.

proposta. Aqui, cabem ainda duas ressalvas: a) estimulem



DIVULGAÇÃO/COLÉGIO FARROUPILHA

12 /// COM A PALAVRA

“O erro é uma precondição para a criatividade” POR CARINE FERNANDES

É

“ócio criativo” e afirma que o erro é uma precondição para a criatividade. Ele também crítica o sistema de ensino tradicional: “está mais interessado em ensinar ‘o que pensar’ em vez de ‘como pensar’”. Confira os principais trechos da conversa: Educação em Revista – Como se define uma pessoa criativa? Charles Watson – Existem muitas definições de criatividade. A palavra se tornou clichê a ponto de me sentir relutante em usála sem antes deixar claro o que eu quero dizer. Trabalho com o conceito de Criatividade Significativa, ou “CS”, para abreviar. É a criatividade que tem consequências que vão para além da esfera pessoal. Então, em vez de ideias esporádicas que nos surgem de vez em quando, estou me referindo à criatividade

comum pensar que a criatividade é um dom e que

de médio e longo prazos, a uma vida de comprometimento

poucos têm a sorte de “nascer” criativos. Mas isso é

com a produção de fatos criativos que têm algum valor para

um grande engano, segundo o educador e palestrante

o contexto cultural em que eles são criados. Uma pessoa

escocês Charles Watson. Especialista em processo criativo,

criativa, então, traz como resultado contribuições inesperadas

ele afirma que a criatividade é fruto de trabalho duro, de ser

e inovadoras para seu campo de atuação.

apaixonado pelo que se faz e não tem relação direta com talento.

Mesmo que pareça que os indivíduos criativos têm

Nesta entrevista concedida a Educação em Revista, Watson

personalidades muito diferentes, eles também têm muitas

fala sobre como podemos ser mais criativos, desmitifica o

coisas em comum. Pessoas criativas são frequentemente


13 apaixonadas por suas respectivas atividades. Como resultado disso, elas tendem a trabalhar duro, a serem comprometidas, persistentes, curiosas, corajosas e inteligentes (até certo ponto).

“Pessoas criativas são apaixonadas por suas respectivas atividades”

Elas também têm um alto nível de tolerância à ambiguidade e, apesar de terem medo de cometer erros – como todo mundo –,

se torna em realizá-las. Existe um tipo de retroalimentação

elas entendem a importância dos erros na dinâmica criativa e,

positiva envolvida nessas atividades. Quanto mais você toca

portanto, estão mais inclinadas a tomar riscos.

piano, melhor se torna, o que o faz querer tocar mais.

É preciso talento para ter ideias criativas?

A criatividade é um dom ou qualquer um pode ser criativo

Em primeiro lugar, é bom dizer que ter ideias não é suficiente

desde que se desenvolva essa habilidade?

para a criatividade. Todo mundo tem ideias, mas nem todo

A maioria das pessoas pode ser mais criativa, sim, desde

mundo é capaz de colocá-las em prática, e criatividade tem a ver,

que haja condições cognitivas, motivacionais, sociais e

justamente, com colocar ideias em prática.

econômicas favoráveis para a sua atividade. Ou seja, que a

Mas não é simplesmente transformar ideias em algo concreto.

pessoa esteja trabalhando com algo que traga verdadeiro

Funciona na outra direção também. Fatos concretos são tão

significado para sua vida – além de apenas o salário no

responsáveis por transformar ideias quanto as ideias são

fim do mês. Qualquer indivíduo que trabalhe duro e esteja

responsáveis por transformar os fatos. Criatividade envolve um

profundamente envolvido em uma atividade por um período

feedback loop constante – da ideia para o concreto e de volta à

de aproximadamente 10 anos, que seja capaz de enfrentar

ideia, que em geral é modificada por sua experiência física. Existe

seus próprios limites, que seja intensamente curioso,

um nome bem simples para isso: tentativa e erro. Não é que a

persistente e que não seja avesso a correr riscos e seja

inspiração produza trabalho, é o trabalho que produz inspiração.

capaz de tolerar desconforto, ambiguidade e a dissonância

Pesquisas recentes sugerem que talento, se existir, não é

cognitiva que toda atividade criativa inevitavelmente envolve,

realmente importante em uma vida de contribuições criativas. Se

tem uma boa chance de produzir algum tipo de contribuição

por “talento” você quer dizer uma habilidade inata para realizar

criativa para o seu campo de atividade. Claro que ajuda se o

alguma atividade como tocar piano, pintar um quadro, jogar

mesmo indivíduo viver em uma sociedade que valorize sua

basquete – ou qualquer coisa do gênero –, bom, existe pouca

atividade e que seja tolerante a novas ideias. E ainda tem a

ou nenhuma evidência para isso, até porque as redes neurais

questão da sorte – que também é bastante importante.

necessárias para realizar essas atividades são formadas quando

A criatividade não é um dom, é fruto de muitas posturas e

se pratica essas atividades. Quanto mais você as pratica, melhor

atitudes que temos perante as nossas atividades.

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


14 /// COM A PALAVRA

Como a escola pode estimular a criatividade dos alunos? Este assunto é vasto, mas eu diria primeiro que pessoas em geral, e crianças em particular, tendem a absorver melhor a informação quando esta diz respeito a questões que são de verdadeiro interesse para elas. Todo processo formal de educação depende da receptividade de quem está aprendendo, não apenas da informação disponibilizada. Pessoas aprendem mais e melhor quando o assunto a ser apreendido diz respeito às suas vidas e experiências. E isso me parece ser ignorado pela maioria dos sistemas educacionais. /// Charles falou sobre o tema em evento do Colégio Farroupilha Críticos do atual sistema de ensino afirmam que a escola mata a criatividade dos alunos, por quê?

precisa são um lápis, “uma pilha de papel e especialmente uma

Na verdade, não lido diretamente com educação infantil no Brasil

lata de lixo”, sugerindo que a grande maioria de nossas ideias

além de acompanhar a educação das minhas filhas de 7 e 10

será dispensável. Em outras palavras, se a proporção de ideias

anos de idade. Mas eu vejo o resultado do sistema educacional

boas para ideias ruins é por volta de 10% (o que eu considero ser

em adultos com deficiências em pensamento crítico e déficit total

uma estatística otimista) e você só tem 3 ideias por ano, você

em pensamento divergente. Isso sugere que o sistema está mais

pode ter problemas do ponto de vista criativo. Agora, se você

interessado em ensinar “o que pensar” em vez de “como pensar”.

tem 50 ideias por ano, você teria 5 ideias boas, e se você tiver 5

Os alunos, em vez de receberem as ferramentas para a construção

ideias boas, ninguém se lembrará das ruins. De fato, uma mente

de um pensamento autônomo e independente, estão decorando

criativa produziria mais erros do que uma mente menos criativa.

informações a serem regurgitadas em provas que ainda por cima usam deliberadamente o formato múltipla escolha.

Muito se fala sobre o “ócio criativo”, a expressão popularizada pelo escritor italiano Domenico de Masi. Como entende esse

Qual a importância do erro no processo criativo?

conceito e por que as boas ideias surgem nesses momentos?

A Idade da Pedra não chegou ao fim porque acabaram as

“Ócio criativo” não tem nada a ver com preguiça, com inativi-

pedras. A história das boas ideias é caracterizada por uma não

dade ou com o que o autor chama de “ócio dissipador, alienante,

linearidade inerente, por trancos e barrancos e bifurcações

que faz com que nos sintamos vazios, inúteis, nos faz afundar

inesperadas – muitas delas baseadas em erros.

no tédio e nos subestimar”. O “ócio criativo” ao qual ele se

Quando se trata de criatividade, erros são mais do que

refere é o envolvimento, em horas livres, com atividades que

permitidos, são uma precondição para a criatividade. A

trazem significado para a vida do praticante (quality time) e

única coisa que a ausência de erros prova é que não estamos

que não são normalmente associadas ao dia a dia do trabalho

experimentando novas ideias. É verdade que os erros podem

obrigatório (como hobby, por exemplo). Todo criador sabe

ser dispendiosos, mas também podem abrir as portas para

que, enquanto investe verticalmente na busca de respostas

novas descobertas. Portanto, qualquer sistema que penaliza o

criativas, é importante, de tempos em tempos, aliviar a pressão,

erro corre o risco de enfraquecer sua resiliência em lidar com

focando em coisas diferentes, dando assim oportunidade para

futuros problemas.O físico teórico e vencedor do Nobel Richard

reorganização e ressignificação das ideias envolvidas. De vez

Feynman, considerado um dos pensadores mais criativos do

em quando, as coisas mais importantes são registradas mais

século XX, diz que as únicas coisas de que um físico teórico

rapidamente na periferia do campo visual – capturadas melhor no canto da visão, onde você observa com um olhar desatento.

“Não é que inspiração produz trabalho, é o trabalho que produz inspiração”

Insights acontecem quando menos esperamos. Mas também é importante saber que para pensar (ou perceber) fora da caixa tem que, antes, haver uma caixa.


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16 /// POR DENTRO DA LEI

Normas de convivência escolar

E

stamos vivendo tempos de incertezas, de relacionamentos frágeis, de quebra de paradigmas, de inexistência de valores sólidos.

Nesse contexto, a Escola retrata a turbulência que

movimenta a sociedade, por meio das vivências cotidianas entre os atores que lá interagem: direção, equipe técnica, professores, alunos, colaboradores, pais e comunidade. O espaço “Escola” é de ensino e de aprendizagem, mas, para que esse processo se efetive, é necessário

ocorrem no âmbito escolar, envolvendo os segmentos que compõem a comunidade escolar e que se fundamentam

harmonia, respeito mútuo, convivência saudável,

nos princípios da solidariedade, da ética, da pluralidade

interação, alegria da troca, da cooperação, sentimento de

cultural e do respeito às diferenças.

conquista, ou seja, desenvolvimento de cidadania. Nesse sentido, o Conselho Estadual de Educação/

Cabe destacar que há diferença entre “indisciplina e violência”. A indisciplina está relacionada com o desrespeito às regras que

RS, buscando orientar as instituições de ensino quanto

garantem o bom convívio social. Já a violência desrespeita as

à inserção das normas de convivência nos Regimentos

regras que garantem a integridade física e/ou psíquica do outro

Escolares, exarou o Parecer CEEd nº 820/2009 e, mais

ou até mesmo do próprio aluno. Rompe os limites da privacidade

tarde, o Parecer CEEd nº 282/2015. Essas normativas são

e invade a liberdade do outro. Importante lembrar que o ato de

balizadoras para a construção deste texto.

violência cometido por adolescente é ato infracional, descrito no

Alguns excertos importantes serão transcritos dessas

art. 103 do ECA. Assim, a ocorrência de violência contra pessoa

normas, a fim de subsidiar a elaboração deste guia de

ou patrimônio da escola, ao ser prevista em legislação específica,

conduta que deve ter visão pedagógica e educativa e não

possibilita que o diretor da instituição encaminhe o responsável

ser uma listagem de castigos e sanções.

aos órgãos próprios, para os devidos procedimentos.

A escola, no exercício de sua autonomia, prevista na

Educar exige respeito mútuo, daí se destaca a importância

LDB, pode definir suas regras; assim, tem a prerrogativa

da prática de ações educativas voltadas para o aprendizado

de estabelecer em seu Regimento Escolar as normas de

responsável dos alunos, que precisam assumir as

convivência, que apresentam os direitos e os deveres

consequências de suas atitudes de desrespeito às regras e de

voltados ao convívio harmônico, como também à

reparação do dano, pois a cada regra descumprida corresponde

responsabilização do aluno sobre seus atos. Isso significa possibilitar ao aluno o desenvolvimento de suas potencialidades e levá-lo à compreensão de que ele é sujeito social de direitos e obrigações. Esse trabalho precisa levar em conta um conjunto de procedimentos que orientam as relações interpessoais que

“A escola, no exercício de sua autonomia, prevista na LDB, tem a prerrogativa de estabelecer em seu Regimento Escolar as normas de convivência”


uma sanção a ser aplicada, que é diferente de punição, já que

mas também os direitos, os deveres e a responsabilização de

esta coíbe, intimida e não enseja responsabilização.

todos os que convivem formalmente no ambiente escolar.

A escola deve envolver a família no processo de construção e aplicabilidade das normas. Os pais precisam

Ao concluir, é importante salientar que a BNCC, ao dar ênfase para as competências socioemocionais, busca

respeitar o Regimento Escolar, pois, ao matricular seu filho,

resgatar a importância da convivência harmônica. Então,

compactuam com a filosofia, os princípios, as orientações,

é preciso também respeito à autoridade e a valorização

a conduta, a dinâmica e os procedimentos da instituição.

da troca de experiências sadias que contribuem para o

Para que as normas de convivência sejam eficazes,

aprendizado colaborativo entre as crianças, os jovens e os

alguns aspectos devem ser observados na sua construção

educadores, visando ao desenvolvimento de uma cultura

e aplicação, conforme o Parecer CEEd nº 820/2009:

que enseje a colaboração, a empatia e o autocuidado.

1. que sejam formuladas e justificadas com clareza, proporcionalidade e razoabilidade; 2. que sejam construídas e conhecidas por todos; 3. que sejam aprovadas por Conselho Escolar ou instância similar; 4. que seja exigido o seu cumprimento; 5. que todas as medidas adotadas sejam o resultado de um processo dialogado, devidamente registrado com o conhecimento da parte interessada, com ciência dos pais ou responsáveis, se alunos menores de 18 anos, assegurando o direito à ampla defesa e que expressem os compromissos assumidos pelos envolvidos para superação dos conflitos ocorridos. Diante desse cenário normativo, ainda cabe ressaltar que o Regimento Escolar é o instrumento formal e legal que guia, como

SÔNIA MARIA VERÍSSIMO DA FONSECA Presidente do Conselho Estadual de Educação/RS

uma espécie de contrato social, as relações entre os atores do cenário escolar; como destaca a norma do CEEd, desenha as

CONTEÚDO ONLINE DISPONÍVEL

relações e define papéis. Nesse sentido, também nele devem estar

Acesse os pareceres do CEEd nº 820/2009 e nº 282/2015 www.educacaoemrevista.com.br

expressos não só os direitos, os deveres e as sanções aos alunos,


18 /// GESTÃO

Conhecimento para apoiar a comunidade POR PEDRO PEREIRA

/// Faccat atua na área da saúde


19

Q

uando instituições de Ensino Superior conseguem aliar a formação acadêmica a serviços e apoio às comunidades onde estão inseridas, é sucesso

na certa. As pesquisas de sala de aula e laboratórios são

colocadas em prática e são criados vínculos com os cidadãos,

“Trocamos experiências e estamos em contato com o público. Isso é muito bom para nosso crescimento”, Maria Fernanda da Silva

o que pode estimular futuros alunos. E essa interação, por vezes, conta com a ajuda de parceiros externos, como ocorre

o que aprendem em sala de aula. As atividades, realizadas

no programa ‘A União Faz a Vida’, da Sociedade Educacional

muitas vezes em conjunto com entidades sociais dos

Três de Maio (SETREM). Em parceria com o Sicredi União

municípios, beneficiam cidadãos como o casal de aposentados

RS, ele ajuda a desenvolver a cooperação e a cidadania em

Romildo Groess, 66 anos, e Tereza Groess, 58. Moradores de

escolas municipais de 11 cidades do Noroeste gaúcho.

Parobé, eles saudaram a movimentação promovida na praça

Professores da instituição prestam assessoria pedagógica

central da cidade, na qual alunos da disciplina Farmacologia II

para a elaboração de projetos e atividades. “O programa

orientaram os participantes sobre a importância de cuidar da

oportuniza aos alunos experiências por intermédio de

saúde. “Destacamos os riscos da automedicação, orientamos

projetos nas escolas”, explica o coordenador do Núcleo

sobre o uso correto e aplicação da insulina, entre outras dicas”,

de Extensão da Setrem, Valsênio Gaelzer. Os detalhes

explica a professora da disciplina, Rubellita Holanda.

foram apresentados no evento ‘Experiências que inspiram,

Acadêmica do curso de Enfermagem, Maria Fernanda da

vidas que transformam’, realizado em maio, no Campus

Silva ressalta a importância desses momentos para colocar

Setrem, com a participação de secretários municipais de

em prática o conhecimento teórico. “Trocamos experiências

Educação, diretores de escolas, coordenadores pedagógicos,

e estamos em contato com o público. Isso é muito bom para

professores responsáveis pelo programa e alunos dos

nosso crescimento pessoal e profissional.”

municípios atendidos. Alunos e professores das escolas

Na unidade básica de saúde de Rolante, estudantes

participantes do projeto visitaram laboratórios e salas de aula

da disciplina de Prática do Cuidado IV realizaram oficina

do campus, como forma de inspiração para seus trabalhos.

para gestantes sobre os cuidados e a higiene com recém-

A iniciativa levou a Escola Municipal de Ensino

nascidos. Já no bairro Morro da Cruz, em Taquara, uma

Fundamental Santo Inácio, do interior do município de

intervenção comunitária alertou sobre a importância de

Alecrim, a uma expedição investigativa para entender a

se fazer a separação correta do lixo, com a distribuição de

realidade dos agricultores da comunidade local. Entre as

tonéis para que os moradores separem o lixo orgânico dos

dificuldades, a sucessão familiar. “A maioria dos proprietários

materiais recicláveis. A ação foi parte das atividades da

de terra tem mais de 60 anos. Então, levantamos a questão: o

disciplina de Prática do Cuidado III.

que nós, como escola, podemos fazer para que esses jovens (filhos dos agricultores) fiquem na agricultura?”, conta o diretor da Escola Santo Inácio, Élio Brzuska. O Programa ‘A União Faz a Vida’ atua nos municípios de Alecrim, Giruá, Porto Lucena, Tuparendi, São Borja, Santo Antônio das Missões, Cândido Godói, Porto Xavier, Catuípe, Novo Machado e Tucunduva. Missão saúde Ações de prevenção e conscientização são o foco dos acadêmicos dos cursos de Enfermagem, Fisioterapia e Psicologia das Faculdades Integradas de Taquara (Faccat), que atendem comunidades do Vale do Paranhana para praticar

/// Setrem atua em 11 cidades do Noroeste gaúcho

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


20 /// GESTÃO

Fechando a conta Em Porto Alegre e região, os beneficiados são contribuintes de baixa renda e pequenas empresas, que podem contar com serviço contábil e fiscal gratuito oferecido pelo Núcleo de Assessoramento Fiscal (NAF) das Faculdades Integradas São Judas Tadeu. Lançado em 2011, é o primeiro projeto do gênero no país com apoio da Receita Federal. Já são mais de 300 pessoas atendidas por mais de 150 alunos. Além da sede do núcleo, no bairro Cristo Redentor, em Porto Alegre, as atividades são levadas a outros pontos com grande circulação de pessoas. Durante os meses de março e abril deste ano, por exemplo, foram realizados 47 atendimentos no Shopping Lindóia e na sede da Receita Federal.

/// Idosos recebem visitantes inusitados em projeto da UniRitter

Alunos que participam do NAF compartilham o conhecimento adquirido por meio de palestras para a comunidade acadêmica. Eles promovem encontros todos

Notam-se mudanças positivas emocionais, afetivas,

os semestres para tratar de assuntos de interesse geral das

comportamentais e psicomotoras. Incluímos o cavalo para

turmas, como dúvidas sobre a declaração anual do Imposto

proporcionar sensação de empoderamento a eles”, explica

de Renda, cálculo de ganho de capital e questões referentes

a professora de Medicina Veterinária e coordenadora do

ao Microempreendedor Individual (MEI).

projeto, Ilusca Finger. A Assessoria Institucional de Extensão Universitária e

Pet Terapia

Responsabilidade Social da UniRitter desenvolve outras 14

O Lar de Idosos Gustavo Nordlund, em Porto Alegre,

ações de impacto social. Uma delas é o Chemen, promovido

recebe semanalmente visitantes inusitados: cães do projeto

pelo curso de Relações Internacionais, que orienta

‘Pet Terapia – Terapia Assistida por Animais Desencadeando

refugiados em busca de documentação regularizada e

Bem-Estar’, levados por alunos da UniRitter. Os animais

emprego. Outro, o Sajuir, oferece atendimentos jurídicos

ajudam estudantes e professores dos cursos de Medicina

gratuitos à população. O programa ‘Regularização

Veterinária, Farmácia, Enfermagem, Psicologia, Fisioterapia,

Fundiária’ respalda o direito social à moradia. Além disso,

Biomedicina e Nutrição, além de especialistas de cada área,

alunos de Nutrição, Fisioterapia e Psicologia ajudam

a somar conhecimentos e conseguir mensurar a diferença

clínicas de saúde com consultas gratuitas à população

proporcionada na qualidade de vida dos idosos.

carente. A instituição estima que, anualmente, 35 mil

Recentemente, um cavalo foi incluído nas visitas, para animação ainda maior dos moradores. “Antes da chegada

pessoas são impactadas por essas ações. Muito mais do que envolver os alunos em atividades

dos animais, os pacientes se mantêm reservados e quietos.

que permitem aplicar seus conhecimentos na prática,

Depois, saem dos quartos, brincam, sorriem, dançam.

as iniciativas dessas instituições de ensino superior ensejam um ambiente de cooperação e cumprem o papel de formadoras de cidadãos. Seja em setores que

“Pacientes brincam, sorriem, dançam. Notam-se mudanças positivas emocionais, afetivas, comportamentais e psicomotoras”, Ilusca Finger.

sugerem contato pessoal, como as ciências da saúde, seja em assuntos burocráticos, como contabilidade, alunos e professores conseguem encontrar formas de contribuir para o desenvolvimento das comunidades onde estão inseridos.


EDUCAÇÃO EM REVISTA PERGUNTA /// 21

Mediação previne conflitos escolares

O

bullying é um tipo de violência que nem sempre é

brutal e evidente nem deixa marcas físicas. A maioria

das vezes são agressões marcadas pela humilhação,

Um em cada dez estudantes brasileiros é vítima de bullying, segundo pesquisa feita pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). A gestão de conflitos no ambiente escolar é cada vez mais necessária e surgem novas técnicas para auxiliar a escola, como a mediação. Como esse recurso pode ajudar a harmonizar as relações no ambiente escolar?

familiares, passem a funcionar em rede de cooperação. A mediação é o meio para a instrumentalização da cultura da paz, que facilita a gestão cooperativa e a resolução

pela discriminação, pela negligência, pela raiva, pela rejeição

de conflitos, capacitando pessoas para o convívio com os

que destroem a integridade dos estudantes, interferindo no

atributos de respeito, autoconhecimento, interdependência,

seu desenvolvimento e na sua aprendizagem. Nesse contexto,

responsabilidade e cooperação, e a escola é o ambiente ideal

a cultura da paz como ação preventiva para novos tempos vem

para essa construção e formação.

conquistando importante espaço nas instituições de ensino. Estamos diante de uma realidade escolar bastante

No ambiente escolar, a mediação possibilita novas atitudes e paradigmas preservando os relacionamentos, fortalecendo

desafiadora, na qual se tornaram comuns os conflitos

vínculos eficientes e desenvolvendo valores para superar os

próprios, com as famílias, entre as crianças e os jovens

conflitos. Nessa técnica, as divergências são tratadas como

e mesmo com a comunidade. As relações interpessoais

oportunidades para o desenvolvimento pessoal, de forma

influenciam e caracterizam a escola como harmoniosa

construtiva, responsável e isenta de julgamentos.

ou competitiva; condicionada, portanto, ao modelo de

O encaminhamento de ações da mediação, como solução,

convivência e das estratégias adotadas para a redução de

prevenção ou como informação, influencia na gestão de

conflitos. A forma como as divergências e as diferenças são

conflitos usuais, bem como na construção de uma nova

tratadas determinarão a cultura e o estilo de ser da escola.

cultura organizacional escolar.

O contexto social indica uma necessidade de serem repensadas as práticas pedagógicas, valorizando a convivência pacífica, estabelecendo diálogos e ações positivas capazes de transformações concretas e efetivas. É preciso reconstruir o potencial para convivência em sintonia com os princípios e os fundamentos da mediação, aperfeiçoando as habilidades relacionais com metas comuns em beneficio do fortalecimento dos vínculos, da qualidade do ensino e da instituição. A transformação de uma realidade a partir da conduta pessoal tem evidenciado que, na medida em que os profissionais da escola começam a apresentar atitudes mais acolhedoras, conciliadoras, criando ambientes éticos e alinhados com os princípios da cultura da paz, todo o processo de aprendizagem e das relações de convivência começam, igualmente, a apresentar resultados significativos. Isso eleva os índices de aprendizagem e reduz os índices de violência e faz com que todos da comunidade escolar, incluindo pais e

LUCIANA SEVERO Mediadora de Conflitos, membro do Grupo de Estudos de Mediação da Ajuris/RS e pós-graduanda em Mediação de Conflitos. É assessora de Comunicação e Marketing Educacional.

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


22 /// PEDAGÓGICO

Emoções entram no currículo POR VÍVIAN GAMBA

H

Habilidades socioemocionais devem fazer parte do

currículo das escolas – a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) traz isso de forma clara na sua

proposta. Muitas instituições de ensino já abordam valores

comuns a algumas dessas competências, mas é preciso estar atento à forma como isso é feito. Debates e atividades pontuais, como aulas sobre empatia ou palestras sobre bullying, não dão conta dessa demanda, acreditam os especialistas. A formadora de professores e equipes pedagógicas e doutoranda em Psicologia da Educação (PUC/SP) Alcielle Santos entende a abordagem das competências socioemocionais no currículo das escolas como uma proposta de construção de um projeto de educação integral, que deve cuidar das cinco dimensões do processo de desenvolvimento humano – cognitiva, cultural, social, física e emocional. “O desenvolvimento de competências emocionais é processual e, como tal, demanda um investimento processual, sistêmico, orgânico, que precisa abraçar as diversas disciplinas do currículo e dialogar com a identidade da escola. É muito diferente eu fazer um projeto para falar sobre empatia e um trabalho em que as crianças se coloquem no lugar do outro, tenham uma escuta sensível, não cometam condutas que possam ser entendidas como bullying”, explica.


23 É possível ter um componente curricular para cuidar disso? Sim, afirma Alcielle. “Mas não quer dizer que eu precise de um componente curricular para fazer isso. Eu posso ter um itinerário processual que considere diferentes contextos e seja construído simultaneamente em trabalho colaborativo por professores de

“O desenvolvimento de competências emocionais é processual e [...] precisa abraçar as diversas disciplinas do currículo”, Alcielle Santos

diferentes disciplinas já existentes no currículo.” A psicóloga e presidente do programa Escola da Inteligência,

professores, orienta Alcielle. Os gestores devem pensar, ainda,

Camila Cury, acredita que as escolas devam fazer o que ela

numa metodologia para a formação dos professores. “Não

chama de alfabetização da emoção. “Assim como você ensina

deve ser uma aula expositiva ministrada por um coordenador

uma criança a aprender a ler ou pensar matematicamente

pedagógico, mas vivências pensadas pelos formadores como

de maneira regular, trabalhar as emoções deve ser algo

meios de sensibilização e de criação de experiências por parte

sistematizado, monitorado, avaliado e acompanhado.” A

dos formandos. Vivências criam experiências, modificam

metodologia da Escola da Inteligência consiste em fazer com

pessoas, causam mudanças processuais”.

que a criança reconheça suas emoções, aprenda a lidar com

Anita concorda: “O professor precisa passar por um processo

elas e, a partir disso, aprenda a lidar com o outro. “Temos uma

em que ele desenvolve [as habilidades socioemocionais] nele

turma de personagens com características saudáveis e não

mesmo, e isso não ocorre por meio do discurso. Você aprende a

saudáveis. Não há o bom ou o mau.” A partir das histórias

amadurecer vivendo situações carregadas afetivamente. Você

de vida deles, é possível que as crianças se identifiquem,

vive, você conhece a emoção, nomeia-a e então reflete. Se você

estabeleçam um vínculo e façam a leitura de determinados

começar pelo reflexo da emoção, corre o risco de impedir que ela

comportamentos que podem ser modificados ou desenvolvidos.

surja, por conta da teorização”.

“[O objetivo é] expandir as características saudáveis e trabalhar

Mas como a escola pode se tornar um lugar onde a

as características não saudáveis. O conceito é muito mais amplo

circulação do afeto seja vista? Trabalhar a circulação do afeto

e complexo do que certo e errado”, defende Camila.

não é fazer terapia ou querer que as crianças sejam boazinhas, alerta Anita. “É criar um lugar onde as pessoas apareçam mais

Professores em formação

verdadeiramente como pessoas e onde o professor desenvolva

Quanto mais os professores estiverem envolvidos com

um tipo de olhar e de escuta que busque compreender o que

esses conceitos, muito mais significativo será o trabalho, afirma

está acontecendo e fazer intervenções que ajudem a criança e o

Camila. E a única forma de fazer isso é com capacitação. Para

adolescente a tomar consciência do que está acontecendo.”

uma geração fruto de uma escola diferente do que a que se quer construir, o caminho pode ser tortuoso. “A escola sempre foi comprometida com conhecimento, conteúdo, disciplina.

Como fazer? “O ser humano é complexo. É mais uma postura, uma

Mas agora também é lugar de encontro de pessoas, onde elas

disponibilidade interna de ouvir, de acolher, intervir, trazer à

aprendem a conviver. O professor – filho dessa escola – não

consciência, abrir um espaço de expressão”, acredita Anita. Isso

tem ideia de como fazer isso, de forma geral”, acredita a

pode ser feito por meio de desenhos, de histórias, de projeções.

psicóloga e psicopedagoga consultora da Unesco e autora

Há uma série de recursos mediadores, que promovem o

de estudo-base sobre competências socioemocionais para o

desenvolvimento de habilidades socioemocionais. O jogo, para

Conselho Nacional de Educação, Anita Abed. “Os professores

a psicopedagoga, é o melhor deles, “porque é uma situação

devem ter uma orientação teórica e filosófica muito consistente,

mais leve, uma brincadeira, não trata de analisar uma situação

precisam modernizar suas concepções do que é conhecimento,

concreta de vida”. O jogo envolve disputa, ganhar e perder, a

ensinar, aprender, de qual é o seu papel.”

necessidade de ficar calmo, manter-se centrado, concentrado;

A iniciativa Movimento pela Base e grupos como a

envolve atenção, autonomia, escolha, protagonismo, relações

Fundação Lemann, portal Porvir e Instituto Ayrton Senna

humanas – porque se joga com outra pessoa, parceiro ou

estão escrevendo muitos documentos que podem ajudar os

oponente –, justifica. “Quando a gente joga, transparece mais,

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


24 /// PEDAGÓGICO

o que torna os processos do aluno visíveis para o professor, que pode intervir na maneira como o aluno joga – você está distraído, tem que prestar mais atenção; você perdeu, o que acontece quando você não está atento? “O jogo funciona como uma tela de proteção, tanto para expressar aquilo que está se

“Os professores precisam modernizar suas concepções do que é conhecimento, ensinar, aprender, de qual é o seu papel”, Anita Abed

passando como para o professor conseguir enxergar e intervir.” Outro recurso “muito legal” é a metáfora, avalia Anita. “Elas

estatística para que possamos ver o quanto ela está mais

são ótimas para trabalhar conceitos que envolvem emoção.”

próxima do desenvolvimento de determinada competência. A

Em vez de falar em fração, perguntar quem já jogou na loteria.

avaliação é feita em relação à própria criança.”

O que é o bilhete? Um pedaço. Onde mais tem um pedaço?

Anita considera complicada a avaliação por muitos

Bolo. “Eu vou chegar lá, na definição da fração, mas antes disso

dos instrumentos desenvolvidos especificamente para

estou recheando-a de vários sentidos.” Mais uma aplicação:

as habilidades socioemocionais, especialmente os de

pensar na fração de qual a parte que você mais gosta de você

autopercepção. Há muitos em que a própria criança dá uma

mesmo, de 0 a 10. Se a criança é muito divertida, das 10 coisas

nota de 0 a 10 ao se identificar com uma situação – “fico

dentro dela, quanto ‘divertido’ representa? “Estou trazendo

nervoso quando estou numa prova”, por exemplo. “Uma pessoa

outras noções ligadas à mesma essência, de parte-todo.

tímida não é tão bem considerada quanto uma extrovertida

Posso trabalhar coisas emocionais, temas do dia a dia. Isso

na nossa cultura. Corremos sério risco de entrar num juízo

é importante: o professor saber que pode inserir elementos

de valor”, pondera. O que é ter habilidades socioemocionais

emocionais, afetivos e relacionais em qualquer conteúdo.”

desenvolvidas?, questiona a psicopedagoga. “Antes de pensar em como avaliar, temos de pensar nos parâmetros. Se

Como avaliar?

pensarmos numa avaliação para comparar o Joãozinho de hoje

Evidentemente, essas mudanças implicam mudanças

com o de ontem, como ele trata suas emoções, a sua relação

na avaliação, um tema bastante delicado. “As habilidades socioemocionais são muito mais subjetivas que as cognitivas”,

com o mundo, então vale a pena”, acredita. Desenvolver uma habilidade socioemocional significa ajudar

justifica Camila. A Escola da Inteligência fez uma parceria

a pessoa a ser o melhor dela, lidar da melhor maneira consigo

com a Fundação Carlos Chagas e o Instituto Politécnico do

mesma, com os outros e com o que acontece na vida. “Reconhecer

Porto para esse processo de avaliação, realizado a partir de

e desenvolver suas potencialidades e se apoiar nelas, assim

inventários que mensuram as habilidades sociais – o quanto

como reconhecer as fragilidades e desenvolvê-las”, aponta Anita.

essa criança é empática, o quanto é capaz de lidar com a dor, o

Há aquele que desenha superbem e não escreve. Vai precisar

quanto tem disciplina. “A criança tem uma situação-problema

escrever, mas deve desenhar cada vez melhor. O desenvolvimento

e alternativas de como agir. Cruzamos os dados de forma

deve levar em conta a diversidade e a riqueza das pessoas. “Existem mecanismos mais qualitativos que o professor pode e deve usar. Portfólio, diário de anotações, registros de como a criança está melhorando no domínio de x, y, z emoções. Isso é um instrumento de avaliação mais condizente”, acredita. O importante, em todo esse processo, é tentar repensar que sociedade queremos construir e o que, de fato, é preciso saber. A BNCC tem esse propósito.

CONTEÚDO ONLINE DISPONÍVEL

/// Jogo promove desenvolvimento socioemocional

Confira documentos do Movimento pela Base, da Fundação Lemann, do Porvir e do Instituto Ayrton Senna para auxiliar os professores. www.educacaoemrevista.com.br


PEDAGÓGICO NA PRÁTICA /// 25

Educação socioemocional presente na sala de aula

O

“Percebemos mudanças no modo dos alunos verem a si mesmos e no desenvolvimento da sua autoestima e confiança. Muitos solicitam entrevistas individuais para expor suas dificuldades e pedir ajuda. Na primeira avaliação trimestral, a grande maioria demonstrou estar realizando um profundo caminho de autoconhecimento”, salienta a psicóloga da escola e responsável pelo programa, irmã Sabrina Thayse Nunes de Lima. Na Escola Técnica Machado de Assis (FEMA), em Santa Rosa, os alunos têm uma hora por semana, dentro da grade curricular, para trabalhar a educação socioemocional. O componente curricular é oferecido

desenvolvimento das habilidades socioemocionais

desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, e os

está no foco das escolas particulares do Rio

temas são trabalhados por meio da reflexão. O professor

Grande do Sul antes mesmo das determinações

promove atividades e debates para que os alunos saibam,

da BNCC. No Colégio Santa Inês, em Porto Alegre, por

ao longo da vida, lidar com nervosismo, administrar

exemplo, o assunto é trabalhado há 12 anos por meio do

conflitos e adquirir autocontrole. A pauta inclui o

programa ‘Convivência Escolar’. As atividades incluem

aumento da tolerância e do respeito, a postura criativa,

rodas de conversa (já entre os pequenos), momentos de

o combate e a prevenção ao bullying e ao uso de drogas,

interação com crianças de diferentes idades e turmas

conteúdos ligados ao preparo do crescimento emocional

e compartilhamento de espaços. A partir do 1º ano do

dos estudantes. “É muito gratificante saber que em cada

Ensino Fundamental, os alunos participam de assembleias

aula está sendo plantada uma sementinha do bem, por

escolares nas quais são convidados a conversar sobre

meio da qual eles mesmos já conseguem identificar as

acontecimentos do cotidiano escolar, identificar pontos

emoções na vida cotidiana. Com certeza, teremos no

positivos e os que podem melhorar e buscar alternativas

futuro pessoas que saberão lidar muito melhor com

para conflitos. Do Ensino Fundamental Anos Finais ao

ganhos e perdas. É um poderoso método que promove

Ensino Médio, os estudantes contam com a disciplina

mudanças permanentes e leva à conquista efetiva de

Relações Escolares e Autonomia (REA). Em encontros

sonhos e objetivos”, afirma a professora do 2° ano do

semanais, os grupos têm um espaço privilegiado para

Ensino Fundamental Ana Paula Weremchuk.

o diálogo, a reflexão e o planejamento de ações. Com DIVULGAÇÃO / FEMA

a mediação dos regentes e do núcleo pedagógico, os alunos praticam a autonomia e desenvolvem habilidades socioemocionais que possibilitam acolhimento, inclusão, respeito e empatia. Na Escola Maria Imaculada, de Porto Alegre, o assunto também virou componente curricular, oferecido uma vez por semana a partir do 5°ano do Ensino Fundamental. O objetivo é inspirar, motivar e orientar os alunos a construírem projetos de vida sadios, felizes e prósperos. Para isso, são trabalhados temas voltados ao autoconhecimento, ao empreendedorismo e à educação financeira para um consumo consciente. Desenvolvida desde 2017, a iniciativa já apresenta resultados.

/// Escolas propõem interação entre as crianças e reflexões

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


ESTÊVÃO ZILIOLI / ACERVO PESSOAL

26 /// INOVAÇÃO

Os caçadores de notícias falsas POR PEDRO PEREIRA

N

ão era raro um aluno chegar às aulas de Biologia do

A imersão em novas tecnologias teve início em 2014, quando

professor Estêvão Zilioli com informações duvidosas

o colégio propôs a busca por novas ferramentas de ensino e

sobre os conteúdos ou lendas urbanas sem qualquer

a equipe optou pelo Google for Education. Zilioli fez cursos

comprovação científica. Foi então que ele percebeu que as fake

on-line, buscou referências de outros países e, quase dois anos

news, populares no espectro político, atrapalhavam também

depois, começou a implementar algumas das funcionalidades

o aprendizado. Foi a oportunidade para implementar um

da plataforma. “A gente tende a pensar a tecnologia como

projeto de checagem de dados que cresceu e hoje contribui

uma coisa fria, robotizar, automatizar, mas o que percebi é

para a formação de senso crítico dos alunos em relação ao

que especialmente a colaboração aumentou”, afirma. A opção

conhecimento que adquirem.

de editar um documento simultaneamente e de produzir os

“Para quem nasce no mundo digital, é difícil reconhecer as fontes mais seguras. Comecei a estimular pesquisas

trabalhos em diferentes mídias mexeu com os alunos. Depois de participar de uma oficina da Agência Lupa,

aprofundadas sempre que eles traziam questões que, eu sabia, não eram cientificamente comprovadas”, conta Zilioli, também coordenador de Tecnologia Educacional do Colégio Super Ensino, de Ourinhos (SP). Se a aula era sobre

62% dos brasileiros

Alimentação e medicamentos foram os primeiros temas que

ouvidos em pesquisa reconheceram ter acreditado em notícias falsas

despertaram para a necessidade de desconfiar.

Fonte: pesquisa do Instituto Ipsos

formação de tumores, logo surgiam as curas milagrosas.


27 especializada em checagem de notícias, Zilioli colocou em prática o projeto de caça às informações duvidosas. O trabalho foi estruturado entre o final de 2017 e o início de 2018. Funciona no turno inverso e é opcional para alunos

“Para quem nasce no mundo digital, é difícil reconhecer as fontes mais seguras” Estêvão Zilioli

de Ensino Médio – e alguns do nono ano que insistem em participar. Nasceram, então, os Hoax Busters (ou Caça-boatos, em tradução livre do inglês). A iniciativa foi aprovada pelo

“Hoje eles fazem checagem até de materiais didáticos”,

Google for Education e levou seu criador a se tornar um Google

diverte-se Zilioli, comentando a naturalidade com que o senso

Innovator, junto com outros 35 profissionais de todo o Brasil.

crítico passa a fazer parte do cotidiano dos alunos. O próximo

Toda quinta-feira à tarde, os cerca de 20 alunos recebem

passo é desenvolver atividades para alunos do Ensino

um tema e se dividem em grupos para fazer a checagem. A

Fundamental, que deverão ser guiadas pelos estudantes do

orientação é que eles observem se a notícia tem autor (com

Ensino Médio. “Será algo em forma de cards, mais lúdico”,

contato), se as fontes são citadas e, depois de concluída

antecipa o coordenador. Além disso, o projeto será replicado

a leitura, voltem ao título para verificar se ele condiz com

em outras instituições. Já existem quatro planos de aula

o conteúdo. Todas as apurações são levadas ao site do

disponíveis no site do projeto.

projeto com as devidas fontes e links para matérias e artigos

Pesquisa do Instituto Ipsos divulgada no fim de 2018

usados para confrontar a ideia inicial. Os estudantes são

mostra que os brasileiros são os que mais acreditam em

responsáveis por todas as checagens e seus nomes e e-mails

notícias falsas em todo o mundo: 62% reconheceram ter

ficam disponíveis para que os leitores entrem em contato.

passado pela experiência. A mesma pergunta foi feita em

Para ficar dentro da linguagem dos alunos, os selos

outros 26 países e, em segundo lugar, apareceram Arábia

de verificação que as agências costumam usar foram

Saudita e Coreia do Sul, com 58%. A Itália apresentou o

adaptados pela equipe com a ajuda da designer Karla Vidal,

menor índice, abaixo da metade do Brasil: 29% admitem ter

colega de Zilioli no Google Innovator. Eles recriaram as

acreditado em notícias falsas. Se depender dos Hoax Busters,

classificações verdadeiras, falsas, antigas ou exageradas

os números brasileiros devem melhorar.

utilizando expressões como “OMG! Que exagero”, “não afoba” e “o buraco é mais embaixo”. As imagens foram também transformadas em figurinhas de WhatsApp para serem compartilhadas com amigos e familiares quando informações duvidosas circulam nos grupos.

CONTEÚDO ONLINE DISPONÍVEL Saiba mais sobre o projeto do Colégio Super Ensino O site oferece planos de aula www.educacaoemrevista.com.br

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


FOTOS VALDEREZ MARIA KERN

28 /// INTERNACIONAL

Lições de Israel POR PEDRO PEREIRA

/// Escola Haim Hefer não utiliza notas no sistema de avaliação

P

or iniciativa do Departamento de Relações

O roteiro teve início pela escola judaica Haim Hefer, cujo

Internacionais do SINEPE/RS, 26 gestores de

destaque começa pelo fato de não utilizar notas no sistema de

instituições de ensino privado do Rio Grande do

avaliação. O diretor do Colégio Mauá, de Santa Cruz do Sul, e

Sul participaram de uma missão educacional de 12 dias em

integrante da diretoria do SINEPE/RS, Nestor Raschen, conta

Israel, em maio deste ano. O destino foi escolhido por seu

que o ensino é personalizado e cada aluno tem seu programa

reconhecimento mundial como referência em Educação

de objetivos. “Quatro vezes por ano, ocorrem encontros entre

Básica e Superior e pelo desenvolvimento de tecnologias de

professor, aluno e pais. O aluno relata seu aprendizado e o

vanguarda em áreas como Engenharia e Medicina.

que ainda não atingiu, diz o que se propõe alcançar e o que


29 fará para chegar aos seus objetivos.” A instituição atende alunos do 1º ao 6º anos do Ensino Fundamental e trabalha com base no amor, procurando o que há de bom em cada criança – o logotipo da escola é um coração. Não surpreende, portanto, a hospitalidade com que

“(Em Haim Hefer,) aluno relata seu aprendizado, diz o que se propõe alcançar e o que fará para chegar aos seus objetivos”, Nestor Raschen

foi recebida a delegação gaúcha: bandeiras de Brasil e Israel na entrada da escola, em espaço nobre. Dentro da sala de aula, foco no desenvolvimento de habilidades e competências: o aluno tem responsabilidade

bolsistas voluntários e muitos trabalham na própria instituição – em cafeterias, bibliotecas ou fazendo leitura de livros para cegos.

pelo próprio aprendizado, escolhe suas atividades entre as diversas oferecidas. Raschen destaca a “respiração

Tecnologia israelense

para a alma”, exercício de relaxamento em que os alunos

Em Haifa, terceira maior cidade de Israel (atrás de

deitam e controlam a respiração ao som de uma música

Jerusalém e Tel Aviv), a comitiva visitou a Universidade

suave, por cerca de 25 minutos – experiência demonstrada

Technion, uma das dez melhores do mundo quando se

pelos anfitriões e experimentada pela comitiva junto aos

fala de tecnologia e que ostenta outros três prêmios

estudantes israelenses.

Nobel, na área de química. Quem acolheu a delegação do

O presidente do SINEPE/RS, Bruno Eizerik, observa

SINEPE/RS foi o professor Dan Shechtman, que recebeu

que é comum as crianças irem sozinhas para a escola desde

o prêmio em 2011. Ele destacou a importância dos

o primeiro ano do Ensino Fundamental. “É um país muito

investimentos em educação para o desenvolvimento de

mais seguro do que o Brasil. Interessante, porque elas têm

um país e apontou a melhoria da Educação Básica como

muito mais liberdade e autonomia, mas também muito mais

fundamental para o Brasil.

responsabilidade”, observa. Outro ponto positivo apontado por Eizerik é o respeito à diversidade. O grupo visitou escolas baseadas em outras

Em Tel Aviv, o grupo visitou o Centro de Inovação e Tecnologia voltada à Educação (MindCet), ligado à universidade local. É de lá que saem 80% do material

culturas e religiões, como drusa e católica, todas com financiamento total ou parcialmente público (não existe escola 100% privada em Israel). A universidade de oito prêmios Nobel Ver o país ganhar um prêmio Nobel é um sonho que habita o inconsciente coletivo de boa parte da população brasileira. Pois só a Universidade Hebraica de Jerusalém viu oito vezes o reconhecimento parar nas mãos de seus pesquisadores. Entre os apoiadores de sua criação, em 1918, figuram cientistas como Albert Einstein. “Com foco na excelência de ensino, ela se destaca pela pesquisa científica com resultados aplicados”, elogia o diretor-geral do Colégio Israelita, Janio Alves. Além dos prêmios Nobel, ele lembra que a instituição também coleciona uma centena de medalhas em diversos campos científicos e das humanidades e que, de seus departamentos, já saíram mais de 7 mil patentes. Embora seja paga, a universidade promove o acesso de alunos

/// Grupo conheceu centro de desenvolvimento de profissionais da educação

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


30 /// INTERNACIONAL

/// Experiência foi tão positiva que o SINEPE/RS cogita fazer uma nova missão em Israel educativo utilizado em Israel, incluindo aplicativos para

com habilidades pedagógicas e tecnológicas e que

dispositivos móveis. Sua criação foi motivada pela

atuem em escolas para, a partir deles, criar programas e

constatação de que há uma distância enorme entre o mundo

aplicativos específicos para a educação.

tecnológico e o que acontece na educação. Os programas desenvolvidos pela instituição estão

O sentimento comum entre os participantes da comitiva foi que Israel dá muita importância para a

baseados em oito temas principais: realidade virtual,

educação e colhe bons frutos por isso. “Em primeiro

realidade aumentada, internet das coisas, aprendizagem

lugar, na vida do israelense, surge a religião, em especial

móvel (uso de smartphone, notebook ou tablet),

o judaísmo. Em segundo, a educação, o objetivo de

criação de jogos, inteligência artificial, cultura maker e

vida deles”, pontua a diretora da Escola Educar-se, de

programação. “Eles incentivam o surgimento de startups

Santa Cruz do Sul, Valderez Maria Kern. Ela acredita

que desenvolvem programas para a área da educação.

que até mesmo a (necessária) vocação bélica tenha

Professores criam startups e testam com seus alunos”,

contribuído para isso. “Como uma proteção em relação

relata Raschen. Segundo ele, é possível desenvolver tais

a ataques, bombas, guerra química, eles precisam desse

programas no Brasil; porém, para isso, faz-se necessária

conhecimento. Um exemplo disso são os antimísseis

uma maior integração entre o mundo tecnológico,

criados por eles”, reflete.

universidades e escolas. “É preciso uma atuação conjunta

O valor à educação faz com que os professores

para que a tecnologia na educação não se resuma apenas à

sejam chamados para se atualizar e ajudar na criação

lousa digital ou ao livro digital”, analisa.

de novos métodos, jogos e tecnologias, que depois vão

Para o diretor-geral do Colégio Sinodal, de São Leopoldo, Ivan Renner, “o mais importante foi constatar que, muitas vezes, a tecnologia da qual se fala é aquela ampliada para a educação, como uma tela de computador aumentada no lugar do quadro branco ou verde” . Segundo ele, o grande objetivo do MindCet é buscar professores

Dentro da sala de aula, foco nas habilidades e nas competências: o aluno tem responsabilidade pelo próprio aprendizado


31

Gestores que participaram: Ademar Pereira (Fenep) • Ester Cristina Pereira

Sentimento comum da comitiva foi que Israel dá muita importância para a educação e colhe bons frutos por isso

(Escola Atuação/ PR) • Ana Lurdes Marques Ramos (Escola N. Sra Carmo/RJ) • Bruno Eizerik

Para o diretor do Colégio Israelita, a lição que ficou

(SINEPE/RS) • Carla Juliana Mônaco (Colégio

para o Brasil é o ecossistema educacional construído por

Santa Teresinha, Campo Bom) • Ir. Claire da

Israel que envolve ensino superior, centros de pesquisa,

Silva (Colégio Madre Imilda, Caxias do Sul) •

startups e edtechs, centros de formação de professores e

Cristiane Iserhard Machado (Educar-se, Santa

uma rede de escolas públicas que trabalham em uníssono

Cruz) • Ir. Elenar Luisa Berghahn (Colégio D.

pela excelência de ensino.

Feliciano, Gravataí) • Eroni Mazzocchi Koppe

A experiência foi tão positiva que o SINEPE/RS

(Escola Interativa, Flores da Cunha) • Ilana

cogita repetir a dose. Já pensando na próxima missão,

Finkielsztejn Eilberg (Colégio Israelita, Porto

o presidente Bruno Eizerik revela que há possibilidade

Alegre) • Ir. Ilária Matte (Colégio Santos

de retorno a Israel no próximo ano. “Não apenas

Anjos/SC) • Ivan Renner (Colégio Sinodal, São

pela questão educacional, mas também cultural. Em

Leopoldo) • Ir. Jane Terezinha Segaspini (Colégio

Jerusalém, andamos por ruas construídas 100 anos antes

Dom Feliciano, Gravataí) • Janio Alves (Colégio

de Cristo. Isso é viver a história.”

Israelita, Porto Alegre) • Joselba Zimmermann Pompeu Braggio (Colégio Santa Maria/PR) • Josi Jandrey (SINEPE/RS) • Júlio César Chiapin (Caminho do Saber, Caxias do Sul) • Maria Luiza Dimer (Colégio Dora Dimer, Gravataí) • Ir. Maria Sônia (Colégio Espírito Santo, Canoas) • Ir. Marili Aparecida Fernandes (Colégio Santa Maria/PR) • Mônica Lisete Froeder (Colégio Sinodal, Ibirubá) • Nestor Raschen (Colégio Mauá, Santa Cruz do Sul) • Rosane Werworn (Escola Notre Dame Menino Jesus, Passo Fundo) • Sueli Rosane Gonzatti (Colégio Mãe de Deus, Porto Alegre) • Ir. Pierina Bernardi (Colégio Dom Feliciano, Gravataí) • Valderez Maria Kern (Educar-se, Santa Cruz do Sul)

para as escolas. Para Valderez, a missão perpassa o objetivo educacional, pois as experiências vividas dão embasamento para ideias a serem levadas até mesmo aos gestores públicos. “Tenho certeza de que poderíamos levar sugestões para o prefeito, para o secretário de Turismo, do Meio Ambiente, para a Promotoria e muitos órgãos ligados à área da educação.”

/// Receptividade foi um dos destaques para a delegação

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


32 /// COMPARTILHAR

LEITURA PARA PROMOVER A EMPATIA NO SANTA TERESINHA Com o objetivo de incentivar os alunos a pensarem e refletirem sobre o outro, respeitarem as diferenças e serem gentis, foi desenvolvida a leitura do livro ‘Extraordinário’, de R. J. Palácio. Os estudantes da turma do 7º ano do Colégio Santa Teresinha, de Campo Bom, foram convidados a conhecer o personagem August Pullman e discutir sobre o livro, que trata de questões como bullying, exclusão social, rejeição e diferenças. O trabalho foi estruturado a partir da competência 9 da BNCC, ‘Empatia e Cooperação’. Além da leitura e dos debates, os alunos produziram peças teatrais.

IMPORTÂNCIA DA RECICLAGEM EM PAUTA NO BOM CONSELHO Depois de dez anos de existência do projeto ‘Recicle suas atitudes’ no Colégio Salvatoriano Bom Conselho, em Passo Fundo, a iniciativa foi reformulada e ganhou mais engajamento dos estudantes, que participaram, inclusive, da escolha do novo logotipo do projeto. Nesta nova fase, todos os copos plásticos da escola foram substituídos por xícaras reutilizáveis, e as salas e pátio receberam lixeiras de resíduos recicláveis e orgânicos. Também foram realizadas formações com educadores e estudantes para

Jogos matemáticos divertem e ensinam no Lourdes Em comemoração ao Dia Nacional da Matemática, em 06 de maio, os alunos do Ensino Fundamental e Médio do Colégio Nossa Senhora de Lourdes, de Farroupilha, participaram da atividade ‘Matemática em todos os cantos’. Nas salas de aula e em ambientes externos, os estudantes foram desafiados a estimular o raciocínio lógico por meio de jogos como Tangram, 4Ts, desafio das argolas, pulando corda com a tabuada, entre outros. Embora esses recursos já sejam utilizados frequentemente como metodologias ativas de aprendizagem, nesse dia tiveram maior ênfase. Nos corredores da escola, foram expostas curiosidades sobre o tema.

sensibilizá-los sobre a correta separação e destinação final dos resíduos sólidos produzidos na escola. Em um mês, foi coletada uma tonelada de resíduos.


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EXPERIÊNCIAS NO LABORATÓRIO DO SANTA DOROTÉIA GANHAM DESTAQUE JÉSSICA STREB DE SOUSA / COLÉGIO SANTA DOROTEIA

A fim de registrar e divulgar as experiências realizadas nos laboratórios de Química, Física e Biologia, o Colégio Santa Doroteia, de Porto Alegre, criou uma página exclusiva em seu site para os Dorolabs. A ideia surgiu diante do volume, da qualidade e da originalidade das experiências realizadas durante as aulas. Lá estão desde os registros das observações dos alunos do 3º ano do Ensino Fundamental sobre as transformações dos estados físicos da água até experimentos vinculados aos estudos do Ensino Médio sobre química orgânica. Em breve, a página deve receber também vídeos feitos pelos próprios alunos com suas experiências.

/// Atividades serão divulgadas no site da escola

COLÉGIO BATISTA CRIA RÁDIO POWER KIDS Os professores do Colégio Batista, de Porto Alegre, criaram a Rádio Power Kids com os alunos do 5º ano. Com a iniciativa, os estudantes participam da gravação e da edição dos programas, da produção de pauta, da realização de entrevistas, da criação de jingle e da escolha de músicas, desenvolvendo a criatividade, a desenvoltura e a oratória. O projeto tem como objetivo didático despertar a curiosidade dos alunos sobre os diversos tipos de textos e incentivar a /// Alunos missionários com crianças em Maputo

COLÉGIO SAGRADO REALIZA AÇÃO MISSIONÁRIA EM MOÇAMBIQUE

leitura. A partir do trabalho, a turma foi desafiada a estudar diferentes gêneros textuais e escrevê-los, o que resultará na criação de um livro até o final do ano.

Dez alunos do Ensino Médio e três educadores do Colégio Sagrado Coração de Jesus, de Bento Gonçalves, estiveram em Missão na cidade de Maputo, em Moçambique. A atividade fez parte das ações desenvolvidas pelo Grupo “Despertos”, que tem como objetivo promover a reflexão sobre o cuidado com o outro. Os participantes envolvem-se também em outras atividades, como encontros com alunos de escolas públicas, visita a idosos em asilos, convívio com crianças e adultos com deficiência mental e visita a orfanato para crianças portadoras do HIV.

/// Alunos treinam para as gravações com o auxílio de tablets

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


34 /// COMPARTILHAR

ALUNOS DO SANTA CATARINA APRENDEM A ADMINISTRAR AS EMOÇÕES O Colégio Santa Catarina, de Novo Hamburgo, desenvolve há dois anos um projeto para ampliação da percepção sensorial infantil, com os alunos da Educação Infantil, na faixa etária dos 3 anos. A iniciativa tem como objetivo ampliar o conhecimento da criança sobre o seu corpo, para que ela possa reconhecer, identificar e administrar adequadamente as emoções. As atividades do projeto envolvem leituras, visitas externas e atividades dirigidas, como relaxamento e produção artística. Como resultado, os alunos estão conseguindo administrar suas emoções e ansiedades, demostrando segurança e autonomia em atividades dentro e fora da sala de aula.

/// Alunos em momento de relaxamento

NOSSA SENHORA DA GLÓRIA TEM SEMANA DEDICADA ÀS MÃES No SIB Instituto de Educação Franciscana Nossa Senhora da Glória, de Carazinho, a semana celebrativa para as mães foi de intensa programação, envolvendo os alunos desde o Berçário até o Ensino Médio. As mães, ou pessoas que desempenham o papel, como avós, tias e pais, participaram /// A obra traz conteúdos interativos

SANTO FUNDADOR DA REDE LA SALLE GANHA BIOGRAFIA INTERATIVA

de atividades especiais, como a prática da yoga. A programação contou, ainda, com oficinas sobre ‘A magia de ser mãe’, música, dança, corredor sensorial, brincadeira de adivinha, confecção de mandalas e embelezamento das mães.

A Rede La Salle lançou a versão em Português da biografia internacional e digital ‘Caminhando Juntos’. A publicação foi escrita em primeira pessoa, a partir do relato do Irmão Jean Jacquot, que foi aluno lassalista, integrante da primeira geração de Irmãos e que viveu e acompanhou o fundador La Salle até seus últimos dias. A obra possui nove capítulos interativos, com centenas de conteúdos complementares, ricos em detalhes e informações que contextualizam historicamente os fatos, como fotos e documentos originais. CONTEÚDO ONLINE DISPONÍVEL Conheça a publicação www.educacaoemrevista.com.br

/// Momento dedicado à prática de yoga entre mãe e filho


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LIÇÕES SOBRE ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL NA PRÁTICA Para incentivar a alimentação saudável ainda na infância, o Colégio Notre Dame, de Passo Fundo, criou uma horta para as crianças matriculadas no turno integral. Os pequenos envolvem-se em atividades desde o plantio até a colheita dos primeiros pés das hortaliças. As atividades começaram em março, quando os alunos tiveram o primeiro contato com o espaço. No turno inverso ao das aulas, aprenderam a cuidar das plantas e a reconhecer novos aromas, cores e texturas. Também faz parte do projeto a realização de oficinas de culinária e gastronomia, nas quais são elaboradas receitas saudáveis ou adaptadas para quem possui restrições alimentares.

LABORATÓRIO MÓVEL DE INFORMÁTICA NO COLÉGIO MARISTA SANTA MARIA O Colégio Marista Santa Maria, de Santa Maria, inaugurou neste ano o Laboratório Móvel de Informática. São 24 notebooks de alta tecnologia equipados com diversos programas e funcionalidades para serem usados na dinâmica das aulas e em outros ambientes. Com os equipamentos, os professores desenvolvem aulas sobre o Pacote Office 3.5, armazenamento de arquivos em nuvem,

Oficina promove pensamento computacional No Colégio Marista Rosário, de Porto Alegre, os alunos do 9º ano do Ensino Fundamental e do 1º ou do 2º anos

fazem revisão para prova de Matemática com jogos digitais e elaboram trabalhos de aula no ambiente virtual 3.0. No dia do lançamento do Laboratório Móvel, os estudantes foram surpreendidos com uma visita do R2D2, uma réplica do robô protagonista da saga ‘Star Wars’.

do Ensino Médio têm a oportunidade de desenvolver o raciocínio lógico, a programação em blocos, a modelagem em CAD e a construção de robôs. As atividades ocorrem no projeto ‘P3C MP’, desenvolvido no LabCriar, ambiente de aprendizagens inaugurado neste ano. A oficina, ministrada pelos educadores Gabriel Vargas, Guilherme Bilhalva e Michele Wigner, é composta por três módulos que abordam metodologias e plataformas, integração e colaboração e desafio. Os participantes com aproveitamento nas três etapas recebem certificado.

EDUCAÇÃO EDUCAÇÃOEM EMREVISTA REVISTA/// ///


36 /// COMPARTILHAR

MARISTA SÃO FRANCISCO DESENVOLVE LIDERANÇAS O Colégio Marista São Francisco, de Rio Grande, promove espaços para o desenvolvimento da liderança estudantil. Por meio do Conselho de Líderes, os alunos do 2º ano do Ensino Fundamental ao Ensino Médio podem atuar na representação de suas turmas, em diálogo com colegas, professores e direção. Por meio desses espaços legítimos de representação, os estudantes passam a ser voz ativa em seus grupos, garantindo a autonomia como elemento vital para uma escuta verdadeira.

ESCOLA NOSSA SENHORA DO HORTO COMEMORA 110 ANOS A Escola de Ensino Fundamental Nossa Senhora do Horto, de Uruguaiana, dirigida pela Instituição Irmãs Filhas de Maria Santíssima do Horto, completou 110 anos de atuação educativa na cidade. Diversas celebrações marcaram o momento, como a Caminhada da Alegria, com destino à Igreja Matriz do Carmo, onde ocorreu uma Missa Festiva. Foi realizado um jantar comemorativo em que foram homenageadas com o troféu Gratidão a Irmã Valdete Pirocca e a professora e ex-aluna Izar Ligia Papaleo Brum. Outro destaque da programação foi a V Mostra Documentário ‘Horto, 110 anos- uma história pra contar’, uma seleção

Feira oportuniza imersão no mundo dos games Antigos e contemporâneos, culturais e pedagógicos, analógicos e digitais, de console, de tabuleiro... jogos para todos os gostos foram reunidos na Comic Con da Escola Notre Dame Menino Jesus, de Passo Fundo. A feira, inspirada no maior evento sobre cultura pop promovido no Brasil, a Comic Con Experience, foi organizada pelos educadores e pelos estudantes do 5º e do 6º Ano do Ensino Fundamental e contou com a participação dos alunos matriculados a partir do 4º Ano e no Integral Notre Dame. Os estudantes participaram de disputas e de um concurso de fantasias, o que incentivou as crianças e os pré-adolescentes a exercitarem a criatividade, caracterizando-se como personagens do universo Geek.

de documentários produzidos pelos alunos do Fundamental II, apresentados ao público escolar.


INSTITUCIONAL /// 37

Organize um Dia D da BNCC na sua instituição Falta um semestre para que as escolas de Educação Infantil e Ensino Fundamental coloquem em prática a BNCC em seus currículos. Por isso, é importante que as instituições

falar sobre competências e habilidades, competências gerais da base, habilidades do Ensino Fundamental, objetivos de aprendizagem e desenvolvimento na Educação Infantil, os três agrupamentos etários na Educação Infantil, assim como os campos de experiência: esses são os pontos fundamentais a serem abordados nessa formação continuada. CONTEÚDO ONLINE DISPONÍVEL Confira mais dicas e sites que podem ajudar na organização e discussão sobre a BNCC www.educacaoemrevista.com.br DIVULGAÇÃO / COLÉGIO SANTA INÊS

se organizem para trabalhar a documentação, o planejamento e a formação do corpo docente para esta nova jornada. Para incentivar essa “parada”, desde o início do ano o governo do Estado tem promovido o Dia D da BNCC, um dia destinado a estudos e preparação para a aplicação da Base no magistério público. As próximas datas estão previstas para 29 de agosto e 23 de outubro. As escolas privadas têm autonomia para se engajar nessa mobilização ou definir o seu próprio dia D. Para auxiliar as instituições nesse trabalho e aproveitar ao máximo esse tempo, o SINEPE/RS traz algumas dicas para as instituições. O primeiro passo é pensar na formação continuada dos professores dentro da escola, com foco na BNCC e no Referencial Curricular Gaúcho – estudar como esses documentos estão estruturados, que elementos são centrais e que elementos são diferentes dos documentos em vigência hoje em todas as escolas. A partir dessa análise,

Instituições podem ter projetos reconhecidos em premiação estadual Boas práticas de comunicação, iniciativas voltadas ao bem-

gratuitas. Os trabalhos deverão ter um ciclo mínimo de seis meses. No ano passado, o Colégio Sinodal Gustavo Adolfo, de Lajeado, participou pela primeira vez da premiação e conquistou Ouro com um projeto de incentivo à leitura. “Vencer a premiação confirma que a nossa busca vem gerando resultados que também podem servir de exemplo estadual a outras instituições”, afirma o diretor Edson Wiethölter. A Fundação Educacional Machado de Assis –

estar social e ambiental e trabalhos pedagógicos inovadores

Fema, de Santa Rosa, participa há mais tempo da premiação e

podem ganhar destaque estadual ao participar dos Prêmios

acredita que a iniciativa é inspiradora por disseminar práticas que

SINEPE/RS – 17º Prêmio Gestão de Comunicação, 14º Prêmio de

somam para uma educação de excelência. “Somos motivados a

Responsabilidade Social e 10º Prêmio Inovação em Educação. A

participar dos Prêmios, visto que temos ações muito peculiares

iniciativa é voltada para escolas e instituições de ensino superior

e que precisam ser evidenciadas”, afirma a diretora pedagógica

associadas ao SINEPE/RS. As inscrições estão abertas até o

Mônica Gasparetto. Ela conta que a instituição já está preparando

dia 02/08 por meio do hotsite premios.sinepe-rs.org.br/ e são

novos projetos para inscrever na edição 2019.

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


38 /// RADAR

Educação domiciliar em pauta no Congresso POR PEDRO PEREIRA


39

T

ramita no Congresso Nacional uma proposta para que as famílias tenham o direito de educar seus filhos em casa. Trata-se do homeschooling,

regulamentado em mais de 60 países e conhecido no Brasil como “educação domiciliar”. Os defensores

alegam que a formação não fica comprometida – ao contrário, consideram até melhor. Especialistas contestam, especialmente em função da socialização. Argumentos à parte, ainda restam dúvidas sobre o real compromisso dos legisladores em levar essa discussão adiante. O presidente da Associação Nacional de Educação Domiciliar (ANED), Rick Dias, afirma que a entidade não combate a escola, tampouco é contra o ensino praticado nas instituições. “Nosso principal objetivo é o reconhecimento da autonomia educacional da família.” O grupo promove a modalidade e apoia famílias que buscam na Justiça o direito de educar os filhos em casa. Segundo Dias, a prática consiste num estilo de vida (diferente), pois exige comprometimento dos pais ou tutores, que se tornam os responsáveis legais pela educação das crianças e adolescentes em tempo integral. Educar os filhos em casa vai muito além de memorizar conteúdos, defende a ANED, pois ensina o aluno a aprender. “Um dos princípios da educação domiciliar é levar o filho ao autodidatismo, depois ele segue sozinho. Ela desenvolve na criança o gosto pelos estudos. Às vezes nem precisa apresentar os conteúdos”, garante o presidente da entidade, publicitário, que educa seus filhos em casa.

esses valores se encontram com o que é socialmente desejável: não se deve agredir ninguém, orientação sexual é uma coisa

Socialização

natural e assim por diante. Quando esses valores não são

Para a professora da Faculdade de Educação da

compatíveis, a instituição pode orientar o aluno e até mesmo

Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Telma

ajudar a resolver problemas na família. “Se não é na escola, vai

Vinha, o desenvolvimento do aluno vai além do conteúdo

acontecer onde? Isso não se avalia em exame”, alerta.

científico e depende de uma socialização contínua. “As

As experiências vividas quando se passa mais tempo

relações na família são naturalmente assimétricas, já na

com a família podem ser mais positivas do que a convivência

escola os princípios valem para todos”, explica. Ela observa

escolar, acredita Rick Dias. “O aluno vai ao supermercado, ao

que a família tem valores próprios em assuntos como religião,

museu, à consulta médica, a parques, integra grupos de apoio

homossexualidade, violência doméstica, enquanto na escola

que se juntam periodicamente para atividades pedagógicas. São homens e mulheres que abrem mão de projetos pessoais,

“Um dos princípios da educação domiciliar é levar o filho ao autodidatismo, depois ele segue sozinho”, Rick Dias

carreiras, para se dedicar aos filhos”, destaca. Doutora em Psicologia Educacional, Telma é uma das coordenadoras de um grupo que pesquisa a melhoria na qualidade da convivência escolar, o desenvolvimento

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


socioafetivo e o papel da escola nesse processo. Ela defende que a socialização não pode ser pontual nem mediada por um adulto e considera a escola o ambiente certo para isso, pois abre a visão para o mundo ao colocar o aluno em contato com diferentes culturas, sem abrir mão de transmitir o conhecimento científico. “Se [a família] ensina que não houve ditadura ou [defende o] criacionismo, mesmo errando essas questões o aluno pode passar por média e continuar com essas ideias. Por outro lado, mesmo que seja contrário, frequentando a escola vai encontrar o conhecimento científico”, compara Telma. Assim como educar é papel da família, mas deve contar

/// Cerca de 7 mil famílias praticam o homeschooling no Brasil

com apoio da escola, o ensino curricular é tarefa da escola, sem, no entanto, dispensar a participação da família. O presidente do Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe/

e automaticamente é exigida a matrícula em uma instituição

RS), Bruno Eizerik, questiona a capacitação dos pais ou

credenciada pelo Ministério da Educação (MEC).

responsáveis para serem fiéis depositários da educação de

A professora Telma Vinha observa que a preocupação

crianças e adolescentes. “Muitas vezes os pais não concordam

deve ser mais ampla, pois quem tiver condições de

com o que é dito na escola, mas fundamentalmente a escola e

contratar bons preceptores certamente terá resultados

a família se completam. A boa escola é a que integra a família,

satisfatórios nos exames. O problema está na real verificação

a que está dentro da comunidade”, acredita.

da construção de valores. “Quem garante que o aluno não aprendeu a resposta apenas para a prova, mas não

Projeto em tramitação Números da ANED apontam que cerca de 7 mil famílias

necessariamente aquilo tenha sido ensinado?”, questiona. Ainda não há previsão de votação na Câmara dos

praticam o homeschooling no Brasil, totalizando algo

Deputados, de onde o texto ainda seguiria para o Senado

em torno de 15 mil alunos. Elas recorrem à Justiça para

e, caso aprovado, para posterior sanção da Presidência

obter autorização. Em 2018, o Supremo Tribunal Federal

da República. Isso sem contar os prazos para emissão de

(STF) optou por não reconhecer a modalidade, alegando

parecer das comissões internas.

que a Constituição contempla o ensino público ou privado

Bruno Eizerik avalia que a proposta pode ser engavetada

com matrícula obrigatória em uma instituição de ensino.

por não haver hoje uma discussão latente no país, mas

O assunto, portanto, exige revisão da legislação e uma

ressalta que o SINEPE/RS acompanha a tramitação com

regulamentação específica.

bastante atenção. “A preocupação é muito grande, porque a

O projeto de lei do deputado Eduardo Bolsonaro, encaminhado em 2015, foi desarquivado em fevereiro deste ano. O texto abrange toda a Educação Básica, submetendo

gente não pode dissociar família e escola. Elas devem estar juntas quando a gente fala em educação e ensino.” Em recente missão educacional realizada em Israel,

os alunos a avaliações periódicas. Se passar pelo Congresso

Eizerik conta que a palavra mais ouvida foi diversidade.

sem ressalvas, fica definido que a reprovação por dois anos

Por isso defende que os jovens não sejam criados dentro

consecutivos anula a autorização para a educação domiciliar

de “bolhas”, sem contato com outras crianças e contextos diferentes daqueles em que vivem. “Estamos escondendo

“As relações na família são naturalmente assimétricas, já na escola os princípios valem para todos”, Telma Vinha

a cabeça embaixo da terra. A escola está ruim? Então não mandamos mais os nossos filhos. Não se está atacando o problema. Esta não é uma prioridade quando se fala em educação no nosso país.”


EM DESTAQUE /// 41

A SINGULARIDADE DO MACKENZIE EDUCACIONAL O Mackenzie Educacional foi criado com o propósito de oferecer material didático de excelência acadêmica para a Educação Básica, com a chancela de uma instituição que atua há 148 anos no segmento da educação brasileira. As inovadoras abordagens didático-pedagógicas, fruto da experiência do corpo editorial, conciliadas a projetos gráficos exclusivos, asseguram a total compatibilidade dos livros à idade dos alunos que utilizarão os materiais. A singularidade do projeto se encontra no alinhamento dos conteúdos aos mais relevantes valores e princípios universais, que promovem o respeito ao próximo e o cuidado com o mundo em que vivemos. É estabelecer, desde cedo, os fundamentos para a formação de alunos cidadãos, responsáveis, solidários, comprometidos com a vida.

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL É ALIADA NO COMBATE À EVASÃO ESCOLAR De acordo com o Inep, mais de 1,2 milhão de alunos trancaram a matrícula em universidades brasileiras em 2017. Atenta às necessidades desse mercado, a GVdasa Inteligência Educacional lançou uma solução de inteligência artificial que permite às IES identificar, antecipadamente,

CANTINAS DO TIO JULIO PROMOVE INICIATIVAS DIFERENCIADAS

as tendências à evasão, possibilitando que sejam tomadas ações proativas para retenção de seus estudantes. “Estamos investindo em novas tecnologias para desenvolver soluções

A Cantinas do Tio Julio está oferecendo promoções especiais a

que contribuam significativamente para a evolução das

escolas que contratarem a empresa ainda neste ano: desconto

instituições de ensino”, diz Vera Boufleur, CEO da GVdasa.

de 35% no pacote fechado para o consumo anual de lanches e

Saiba mais em: gvdasa.com.br/solucoes/gvanalytics/.

refeições. Os funcionários também são beneficiados. Aqueles que adquirirem o cartão pré-pago recebem 15% de desconto em suas compras. A empresa tem outras promoções aos clientes: os três melhores alunos que se destacarem nas avaliações realizadas recebem um mês de consumo gratuito de lanches. A empresa atua há 36 anos no mercado de alimentação, com 153 unidades, atendendo 305 mil alunos. Oferece lanches, refeições e ceias para alunos e comunidade escolar. Mais informações: www.cantinasdotiojulio.com.br/ facebook.com/cantinas. tiojulio/ instagram.com/cantinasdotiojulio ou pelo e-mail: cantinasdotiojulio@gmail.com.

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


42 /// DIVERSIDADE

Confiança da família é chave para a inclusão POR VÍVIAN GAMBA

A

escolarização é uma fase bastante desafiadora para

vai se estabelecer a partir do momento em que a escola

os pais, especialmente para aqueles que têm filhos

apresenta seu projeto político-pedagógico de forma explícita,

com necessidades especiais. A preocupação com a

transparente. Porque nesse projeto está constituída a ação

inclusão é uma variante da preocupação que têm todos os pais:

da escola, que tipo de estudante pretende formar, a proposta

de que o filho tenha uma boa adaptação na escola, receba o

curricular, que metodologias são adotadas e, especificamente,

melhor atendimento e se desenvolva da melhor forma, tanto

como ela entende e percebe a inclusão.”

nos aspectos cognitivos quanto nos emocionais. E, para que isso ocorra, é imprescindível a parceria entre escola e família, uma relação de confiança e de dedicação mútuas. O caminho começa pela escolha da escola. É importante

É fundamental que a escola possa esclarecer à família os princípios filosóficos, pedagógicos e legais que vão sustentar a educação inclusiva naquela instituição, pontua Cristina. “Escola e família são dois contextos básicos inquestionáveis

que a família visite diferentes espaços educativos e tenha

na formação do ser humano. Atuam de forma diferente,

informações acerca de suas propostas pedagógicas, levando

mas seus interesses são próximos e interconectados. Então,

em consideração as peculiaridades e os interesses do filho,

no momento em que a família opta por uma determinada

acredita a orientadora educacional especializada responsável

escola, é imprescindível que ali se estabeleça uma

pelo Atendimento Educacional Especializado (AEE) do Colégio

relação mútua de confiança, de cooperação, de parceria

Anchieta, Cristina Basques Ferreira. Além disso, que busque

e de complementaridade das ações, com vistas ao pleno

uma instituição cujo modelo educacional tenha concordância

desenvolvimento desse estudante”, afirma a orientadora.

com o perfil da família, com seus valores. “Cabe à família

Constatada alguma deficiência ou alta habilidade, é

avaliar que tipo de escola imagina para o seu filho, onde

obrigação da escola oferecer o AEE e um direito da família

ele estará mais bem adaptado e terá melhores condições

aderir ou não a essa modalidade de atendimento, explica

de se desenvolver. A relação (entre família e instituição)

Cristina. Há situações de fragilidade da família em entender


43 as limitações que uma deficiência impõe ou o quanto é exigente a superdotação, por exemplo, quando é necessário suplementar ou complementar os processos educativos de desenvolvimento do aluno. O aluno precisa passar por uma sondagem, por meio de

“Escola e família (...) atuam de forma diferente, mas seus interesses são próximos e interconectados”, Cristina Basques Ferreira

um processo de avaliação para que a escola conheça suas potencialidades e suas possibilidades de aprendizado, explica

preciso entender que os professores são especialistas na área

a assessora pedagógica do SINEPE/RS, Naime Pigatto.

pedagógica. E os pareceres e laudos médicos os auxiliam a

Dessa forma, é desenvolvido o Plano de Desenvolvimento

trabalhar com mais segurança”, pondera Naime.

Individualizado (PDI) desta criança ou adolescente, definido

Não é raro que família e até mesmo determinados

dentro da escola, pelos professores. “É importante que a

profissionais da área da saúde entendam que a instituição

família entenda que o trabalho da escola é realizado com o

deve cumprir o que diz o parecer técnico ou o laudo médico.

olhar de vários especialistas que buscam atender o aluno da

Eles podem, sim, ser fundamentais para determinados

melhor maneira possível, de acordo com o que acreditam ser

encaminhamentos, mas não determinam os fazeres de sala

o melhor para o seu desenvolvimento.”

de aula, afirma Cristina: “A trajetória de um estudante com

A família precisa compreender que o AEE é um espaço

deficiência, altas habilidades/superdotação deve ser planejada

que vai contribuir para a eliminação de barreiras, que vai

a partir de uma gama de atividades, recursos de acessibilidade

buscar – junto com o professor de sala de aula, os serviços da

e pedagógicos organizados de forma institucional e

escola, a própria família e profissionais da saúde – ajuda para

sistemática pelo AEE. Tem que se ter muita clareza de que o

entender e elaborar as estratégias mais eficientes possíveis

eixo orientador do AEE é pedagógico, não clínico”.

para que o aluno desenvolva suas potencialidades. “O AEE

Segundo ela, essa é uma questão histórica, do modelo

vai projetar situações para promover esse desenvolvimento

médico mais atuante sobre a instituição. O que faz a diferença,

da criança e para facilitar que a inclusão se efetive, na sala de

para ela, nesse caso, é um projeto político-pedagógico (PPP)

aula, tanto relativa a questões acadêmicas, de conhecimento,

muito bem explicitado, que dê respaldo para que a escola

que é a função da escola, quanto a questões das relações com

delegue o que é o seu fazer. “Assim como a escola não emite

os pares”, alega a orientadora.

parecer clínico, dentro da escola quem conhece os processos,

E qual o papel dos especialistas que atendem essa

a estrutura, a organização dos processos de aprendizagem é

criança fora da escola? E os laudos médicos? Eles orientam a

a escola. Ela tem que dar conta daquilo que é a sua função, e

escola? Sim, orientam, mas é necessário estabelecer limites

a partir daí ela busca estabelecer uma parceria.”

entre orientação e interferência. “Todos querem ajudar. Mas é

O trabalho multidisciplinar realizado com os alunos, de forma geral, e especificamente com os alunos com algum tipo de deficiência ou altas habilidades/superdotação, requer exatamente isto: um olhar parceiro, no qual cada membro da equipe tenha o seu fazer e a sua área de atuação e todos trabalhem com as mesmas expectativas e objetivos. “Entendemos que há o sonho, o desejo (da família) de ver o seu filho feliz. A escola também tem esse desejo. E isso significa aprender de maneira saudável e qualitativa”, acredita Naime. E é muito importante que as famílias sintam a segurança da escola quanto ao conhecimento desse processo. Segurança essa que começa naquele pacto inicial, quando a família faz a escolha da escola. A confiança se mostra, então, como o

/// Família às vezes não entende as limitações do aluno

primeiro e o último passo para que a inclusão ocorra, de fato.

EDUCAÇÃO EM REVISTA ///


Quem ganha é o ensino.

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27/05 a 02/08

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