Nutrição e Fisiopatologia nas Doenças Hepáticas | Wilza Peres / Juliana Coelho / Tatiana de Paula

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Tatiana Pereira de Paula | Guilherme Ferreira da Motta Rezende

►►Fisiopatologia e Critérios Diagnósticos O comprometimento renal é frequente na cirrose hepática e está associado a pior prognóstico da hepatopatia. Uma forma específica de insuficiência renal observada em pacientes com cirrose em fase avançada, já apresentando hipertensão porta e ascite, é a síndrome hepatorrenal (SHR). Embora esta expressão tenha sido compilada em 1939, somente em 1978 é que a síndrome foi definida e seus critérios diagnósticos estabelecidos. Em 1996, foi criado o Clube Internacional de Ascite, cuja primeira atividade foi a revisão e proposição de novos critérios diagnósticos.1,2 A SHR é uma complicação grave da cirrose, caracterizada por perda progressiva da função renal, sem alterações histológicas que justifiquem esse quadro potencialmente reversível. Sua gravidade e reversibilidade tornam urgente o diagnóstico, assim como a instituição de tratamento adequado. De fato, pacientes com SHR submetidos a transplante hepático podem recuperar plenamente a função renal após o transplante.3 A fisiopatologia da SHR tem estreita relação com aquela da hipertensão porta (Figura 21.1). O acometimento renal decorre de redução drástica do volume circulante efetivo devido a extrema

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vasodilatação esplâncnica e redução do débito cardíaco. Em decorrência da hipertensão porta, há aumento de substâncias vasodilatadoras na circulação esplâncnica e consequente ativação de sistemas vasoconstritores e antinatriuréticos, tais como o sistema nervoso simpático, sistema renina-angiotensina-aldosterona, endotelina e arginina-vasopressina. Translocação bacteriana e angiogênese mesentérica também contribuem para a síndrome. Como consequência, há retenção de água e sódio, vasoconstrição renal e redução da taxa de filtração glomerular.4 O diagnóstico de SHR é baseado na medida da creatinina sérica e na exclusão de outros fatores que podem levar a insuficiência renal em pacientes com cirrose. Na Tabela 21.1 estão listados os critérios estabelecidos pelo Clube Internacional de Ascite para definição de SHR. Para o diagnóstico diferencial deve-se descartar a insuficiência renal aguda por hipovolemia, em decorrência de hemorragia digestiva ou uso de diuréticos, além de doença renal intrínseca e nefropatia por nefrotoxicidade. Alguns critérios anteriormente utilizados para estabelecimento do diagnóstico de SHR, como concentração de sódio na urina e no soro ou osmolaridade urinária e plasmática, passaram a ser considerados critérios secundários para definição da síndrome.2

C o p y r i g h t ©2 0 1 5E d i t o r aR u b i oL t d a . P e r e se t a l . Nu t r i ç ã oeF i s i o p a t o l o g i an a sDo e n ç a sHe p á t i c a s . Al g u ma sp á g i n a s , n ã os e q u e n c i a i s , ee mb a i x ar e s o l u ç ã o .

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Aspectos Clínicos e Nutricionais da Síndrome Hepatorrenal

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