PARTE I | Fundamentos da Cirurgia Endovascular
pesados não eram seguros para seres humanos. Décadas depois, e após esforços feitos para diminuir a toxicidade, a descoberta do iodo como meio de contraste foi acidental. Por volta de 1920, compostos à base de iodo eram usados no tratamento da sífilis. Foi então que o médico norte-americano Osborne e seus colaboradores observaram que a urina de pacientes sifilíticos tratados com iodo era radiopaca, e realizaram então, em 1923, na Clínica Mayo, o primeiro pielograma. No mesmo ano, Barberich e Hirsch3,4 empregaram brometo de estrôncio para realizar o primeiro angiograma de femoral. Depois disso, em 1924, o iodeto de sódio foi usado pelo médico norte-americano Brooks para realizar uma angiografia.3,5 Em 1927, o neurologista português Antônio Egas Moniz (Figura 1.3)6 começou a estudar a possibilidade de utilizar raios X como meio de contraste para que pudesse visualizar os vasos sanguíneos do cérebro. Suas primeiras experiências foram com cadáveres de animais, pelos quais conseguiu, com sucesso, localizar neoplasias e hematomas no cérebro, tornando-se precursor das cirurgias nesta delicada região. O achado mereceu até uma apresentação solene de duas séries de pacientes perante a Sociedade de Neurologia de Paris. Em pouco tempo a pneumoencefalografia, ou seja, a injeção de ar nas cavidades ventriculares (Figura 1.4), deixou de ser usada, e em seu lugar o mundo conheceu a inovadora angiografia cerebral (Figura 1.5),7 técnica que demonstra os efeitos expansivos das massas intracranianas e que viria a se tornar o principal objetivo da neurorradiologia. Moniz et al. (1950)6 tentavam visualizar as artérias cerebrais de animais utilizando vários sais e metais pesados, inclusive o iodo. Moniz também foi responsável por estudar e aprimorar em parte o meio de contraste, em 1927, e por utilizar solução de iodo sódico a 22% para realização de imagens da circulação cerebral por punção direta da artéria carótida comum.3,5 Assim, sob a hipótese de que o aumento do tamanho molecular do meio
Figura 1.4 Pneumoencefalografia, injeção de ar nas cavidades ventriculares
Figura 1.5 Primeira angiografia cerebral realizada no Brasil por Brandão Filho e Egas Moniz, em 1929
Figura 1.3 Antônio Egas Moniz, precursor das angiografias cerebrais
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de contraste poderia levar à redução de sua toxicidade, surgiu o Thorotrast (dióxido coloide de tório) (Figura 1.6), que de início foi amplamente empregado. Porém, após evidências de não ser biodegradável e de ter propriedades potenciais de promover surgimento de tumorações malignas no organismo (Figura 1.7), teve seu uso limitado.3 Posteriormente, em 1929, foram desenvolvidas pelo médico português Reynaldo dos Santos, com a colaboração de Augusto Lamas e José Pereira Caldas, a arteriografia de membros inferiores e a aortografia por punção translombar (Figura 1.8).8,9 Com relação ao meio de contraste, na mesma época teve início a percepção de que, se a carga de iodo fosse aumentada, ocorreria uma elevação direta da radiopacidade, objetivo alme jado de 1933 a 1960. Paralelamente, houve um aumento da
C o p y r i g h t ©2 0 1 6E d i t o r aR u b i oL t d a . B e l c z a k . C i r u r g i aE n d o v a s c u l a r eAn g i o r r a d i o l o g i a . Al g u ma sp á g i n a s , n ã os e q u e n c i a i s , ee mb a i x ar e s o l u ç ã o .
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