Atlas de Endoscopia Digestiva

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Capítulo 2

Capítulo

Doença do Refluxo Gastroesofagiano

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DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFAGIANO Paulo Roberto Alves de Pinho • Cynthia Maria Ribeiro Moraes Magalhães • Mariceli Santos Costa

A doença do refluxo gastroesofagiano (DRGE) é definida como afecção crônica decorrente da passagem retrógrada, não forçada, de parte do conteúdo gastroduodenal para o esôfago e/ou órgãos adjacentes ao mesmo, acarretando variável expressão de sintomas e/ou sinais, esofagianos e/ou extra-esofagianos, associados ou não a lesões teciduais macroscópicas. Cerca de metade dos indivíduos acometidos pela DRGE irá expressar lesões macroscópicas na mucosa do esôfago. Número expressivo de portadores da DRGE possui alterações anatômicas na junção esofagogástrica que facilitam a ocorrência desse refluxo. O objetivo deste capítulo é sistematizar as informações geradas pela endoscopia digestiva alta diagnóstica no atendimento dos indivíduos com DRGE.

ANATOMIA O esôfago é um órgão cilíndrico iniciado a 16cm da arcada dentária, com cerca de 25cm de extensão, com compressões extrínsecas fisiológicas produzidas seqüencialmente pelo arco aórtico, pelo brônquio fonte esquerdo e pelo átrio esquerdo. Inicia-se caudalmente ao músculo cricofaríngeo e atravessa o hiato diafragmático para unir-se ao estômago cerca de 20mm abaixo do diafragma. O esôfago distal tem seu eixo longitudinal desviado para a esquerda e anteriormente. É revestido por epitélio escamoso estratificado, não queratinizado, que apresenta, à endoscopia digestiva, coloração clara, perolada, opaca, e fica bem distinto do epitélio gástrico que se apresenta na coloração vermelho-alaranjada, citada freqüentemente como salmão (Figura 2.1). A união dos dois tipos de epitélio identifica a junção epitelial escamocolunar, e no indivíduo normal está

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localizada na margem distal de uma região de maior pressão luminal, circular, situada na porção caudal do esôfago, com cerca de 20mm de extensão, chamada esfíncter esofagiano inferior, situada desde o plano do diafragma até 20 a 30mm abaixo do mesmo. A mucosa esofagiana que reveste essa região do esfíncter esofagiano inferior permite identificar vasos subepiteliais colocados em paralelo e em disposição longitudinal na extensão de 20 a 30mm, correspondendo à chamada zona de paliçada (Figura 2.2). A união entre os epitélios escamoso do esôfago e cilíndrico glandular do estômago é chamada linha Z, e habitualmente é bastante nítida. Essa junção epitelial pode ser ainda mais ressaltada pela aplicação tópica da solução de Lugol na mucosa esofagiana, que resulta no aumento do contraste entre os dois epitélios (Figura 2.3). O esôfago é um órgão com força de retração, e mantém-se atravessando o hiato diafragmático com um segmento intra-abdominal, por estar fi xado ao diafragma pelo ligamento ou membrana frenoesofagiana. Este ligamento é uma reflexão de tecido conjuntivo, com fibras elásticas, localizado na fáscia subperitoneal que reveste a superfície abdominal do diafragma e forma uma bainha ao redor do corpo esofagiano distal, semelhante a um cone, atravessado longitudinalmente pelo corpo do esôfago. Distalmente, o ligamento frenoesofagiano está fixado na face abdominal do diafragma e cranialmente no esôfago torácico inferior (Figura 2.4). Durante a deglutição há encurtamento do corpo esofagiano, e a junção esofagogástrica pode se deslocar cranialmente por até 20mm, retornando à posição de repouso após o final da deglutição. Também durante o esforço do vômito ou do soluço pode haver igual deslocamento cranial da junção esofagogástrica, e desde já fica dito que tais deslocamentos não são hérnia de hiato.

9/30/2008 3:48:50 PM


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