PNLD 2026 EM - CAT 1 - COLEÇÃO 360 -LÍNGUA PORTUGUESA 3

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MARIA TEREZA ARRUDA CAMPOS

LUCAS SANCHES ODA ÁREA DO

PORTUGUESA LÍNGUA

MANUAL DO PROFESSOR

PORTUGUESA LÍNGUA

MARIA TEREZA RANGEL ARRUDA CAMPOS

Formada em Letras – Português pela Universidade de São Paulo (USP), possui Mestrado e Doutorado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com estágio na Sorbonne Université – Paris VIII. Atua como professora, curadora e consultora em Educação.

LUCAS KIYOHARU SANCHES ODA

Formado em Letras pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e em Filosofia pelo Centro Universitário Ítalo Brasileiro, possui Mestrado em Linguística pela Unicamp e Doutorado em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Atua como professor de Língua Portuguesa e é autor de histórias em quadrinhos.

ÁREA DO CONHECIMENTO: LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS 1

1a edição São Paulo – 2024
ENSINO MÉDIO
ANO

Copyright © Maria Tereza Rangel Arruda Campos, Lucas Kiyoharu Sanches Oda, 2024

Direção-geral Ricardo Tavares de Oliveira

Direção de conteúdo e negócios Cayube Galas

Direção editorial adjunta Luiz Tonolli

Gerência editorial Roberto Henrique Lopes da Silva e Nubia de Cassia de M. Andrade e Silva

Edição Ana Luiza Martignoni Spínola (coord.)

Maria Fernanda Neves, Patricia Quero, Sarita Borelli

Preparação e revisão Maria Clara Paes (coord.)

Ana Carolina Rollemberg, Cintia R. M. Salles, Denise Morgado, Desirée Araújo, Eloise Melero, Kátia Cardoso, Márcia Pessoa, Maura Loria, Veridiana Maenaka, Yara Affonso

Produção de conteúdo digital João Paulo Bortoluci

Gerência de produção e arte Ricardo Borges

Design Andréa Dellamagna (coord.)

Sergio Cândido (criação), Ana Carolina Orsolin, Everson de Paula

Projeto de capa Sergio Cândido

Imagem de capa Pixel-Shot/Shutterstock.com

Arte e Produção Rodrigo Carraro Moutinho (coord.),

Manuel Miramontes

Diagramação Lima Estúdio Gráfico

Coordenação de imagens e textos Elaine Bueno Koga

Licenciamento de textos Erica Brambilla

Iconografia Erika Neves do Nascimento, Leticia dos Santos Domingos (trat. imagens)

Ilustrações André Ducci, Andrea Ebert, Carlos Caminha, Daniel Bueno, Henrique Kipper, Lasca Estúdio

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Campos, Maria Tereza Rangel Arruda

360º Língua Portuguesa: 3o ano: Maria Tereza Rangel Arruda Campos; Lucas Kiyoharu Sanches Oda. 1. ed. São Paulo: FTD, 2024.

Componente curricular: Língua Portuguesa.

Área do conhecimento: Linguagens e suas Tecnologias.

ISBN 978-85-96-04666-4 (livro do estudante)

ISBN 978-85-96-04667-1 (manual do professor)

ISBN 978-85-96-04672-5 (livro do estudante HTML5)

ISBN 978-85-96-04673-2 (manual do professor HTML5)

1. Língua Portuguesa (Ensino médio) I. Oda, Lucas Kiyoharu Sanches. II. Título.

24-228177

Índices para catálogo sistemático:

CDD-469.07

1. Língua portuguesa : Ensino médio 469.07

Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427

Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Todos os direitos reservados à

EDITORA FTD

Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo – SP CEP 01326-010 – Tel. 0800 772 2300

Caixa Postal 65149 – CEP da Caixa Postal 01390-970 www.ftd.com.br central.relacionamento@ftd.com.br

Em respeito ao meio ambiente, as folhas deste livro foram produzidas com fibras obtidas de árvores de florestas plantadas, com origem certificada.

Impresso no Parque Gráfico da Editora FTD CNPJ 61.186.490/0016-33

Avenida Antonio Bardella, 300 Guarulhos-SP – CEP 07220-020 Tel. (11) 3545-8600 e Fax (11) 2412-5375

APRESENTAÇÃO

Cara estudante, caro estudante,

Somos a semente, ato, mente e voz, magia

Não tenha medo, meu menino povo, memória

Tudo principia na própria pessoa, beleza

Vai como a criança que não teme o tempo, mistério

REDESCOBRIR. Intérprete: Elis Regina. Compositor: Gonzaguinha. In: SAUDADE do Brasil. Produção: Guti Carvalho e César Camargo. Rio de Janeiro: WEA, 1980. 2 LPs.

Na canção da vida, muitas vezes é preciso seguir em frente, superar desafios, superar-se. Também é preciso fazer planos e investir neles, projetar futuros, arriscar. Na etapa do Ensino Médio, além dos desafios do presente, você sabe que existem escolhas adiante, aguardando suas decisões. Oportunidades, sonhos, realidade, adversidades: no jogo da vida, às vezes também é preciso redescobrir a força da própria voz para continuar.

Esta coleção quer participar desse jogo de muitas maneiras, trazendo inúmeros textos – dos mais antigos aos mais atuais, literários, não literários, de diversos gêneros – que dialogam entre si, com o passado e o presente, e também dialogam com você, apresentando um repertório de autores e obras com suas diferentes experiências e seus pontos de vista. A obra também traz discussões sobre temas urgentes para este tempo, desafiando você a compreender, refletir, opinar, trocar, compartilhar. Acreditamos que a coleção pode incentivar você a construir uma visão de mundo própria, mantendo-se aberto à avaliação de pontos de vista diferentes e, assim, ajudar você a ajustar o que é seu, o que é do outro e o que é de todos, a entender limites e a valorizar o coletivo.

O domínio da língua e de suas astúcias é fundamental nesse diálogo de que você também irá participar ativamente: escrevendo, gravando, postando, expondo opiniões e compartilhando várias propostas. Ainda, dominar a norma-padrão é fundamental nas trocas sociais formais e em exames que exigirão de você esse conhecimento. Mas usar uma língua é mais que isso: é também ajustar nossa performance oral ou escrita ao público a que nos dirigimos, aos objetivos de cada situação comunicativa.

Neste momento tão especial da sua vida, em que você se prepara para se lançar nas aventuras do mundo adulto, desejamos que essas propostas o ajudem a pensar o mundo e a si mesmo. E saber que sempre será possível agir, transformar, dizer sim à vida pessoal e coletiva, ser quem você quer ser. Todo sucesso é o que desejamos!

Os autores

CONHEÇA SEU LIVRO

Na frente de Literatura, além da leitura do(s) texto(s) principal(ais), você encontrará a seção No fio do tempo, que propõe diálogos entre os textos iniciais e a tradição literária. Além disso, nessa frente, a subseção Contexto retoma os aspectos sociais e históricos em que os textos apresentados foram produzidos. Por fim, há o boxe Ler literatura, que pretende ajudar você a se formar como leitor literário.

Já na frente de Leitura, há textos de gêneros diversos, cujas atividades levarão você a compreender como circulam, qual é o público-alvo, em que contexto foram produzidos e, sobretudo, quais ideias cada um apresenta e defende.

Cada volume desta coleção é organizado em nove unidades. Cada unidade conta com uma Abertura, cujas imagens e atividades propostas apresentam o núcleo temático predominante em cada uma delas.

As unidades são divididas em frentes que dialogam entre si: Literatura, Leitura e Análise linguística. Nelas, você vai poder ler textos literários, diversos gêneros textuais e desenvolver seus conhecimentos linguísticos.

A frente de Análise linguística traz a reflexão e a sistematização dos conhecimentos linguísticos seguidas de atividades que apresentam os conceitos em situações reais de uso. Na subseção Astúcias da língua, você poderá refletir um pouco mais sobre esses usos em textos diversificados.

Os boxes Ler o mundo e O X da questão convidam você e seus colegas a interagir e conversar, a formular hipóteses sobre os textos que serão lidos, preparando-os, assim, para o que será discutido.

Sempre que você encontrar a seção Pensar e compartilhar, que aparecerá em todas as frentes da coleção, você será convidado a analisar e compreender os textos literários, os gêneros discursivos e os conhecimentos linguísticos, bem como refletir sobre eles.

A seção Ler aparece duas vezes no volume e sempre trará um texto de uma área de conhecimento diferente para auxiliar você a desenvolver habilidades de leitura nas áreas de Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.

Por fim, a seção Roteiro traz diversas indicações de leitura, podcasts, filmes, entre outras, com informações detalhadas, além do título: especificações técnicas, sinopses e imagens.

A seção #nósnaprática é o momento de colocar em prática seus conhecimentos adquiridos e produzir textos escritos, orais e multimodais.

A seção Integrando com relaciona o assunto estudado na unidade com temas de diversos componentes curriculares das outras áreas do conhecimento.

Na seção #fazerjunto, em parceria com seus colegas, você vai realizar um trabalho colaborativo que envolve produção de gêneros multimidiáticos e práticas de pesquisa.

Ao longo dos volumes, boxes vão ampliar seu conhecimento com informações importantes, como: #sobre, que apresenta autores, artistas, entre outras figuras públicas; #ficaadica, que apresenta indicações de filmes, livros, músicas, podcasts, sites etc.; Saiba mais, que acrescenta informações importantes relacionadas ao assunto em estudo; conceito e #paralembrar, que trazem conceitos novos e fazem relembrar conceitos já vistos nos Anos Finais do Ensino Fundamental; e Hiperlink, que busca auxiliar na ampliação dos conhecimentos por meio de práticas de pesquisa.

OBjETOS EDUCACIONAIS DIGITAIS

Os ícones a seguir identificam os diferentes tipos de objetos educacionais digitais presentes neste volume. Esses materiais digitais apresentam assuntos complementares ao conteúdo trabalhado na obra, ampliando a aprendizagem.

Os sites indicados nesta obra podem apresentar imagens e eventuais textos publicitários junto ao conteúdo de referência, os quais não condizem com o objetivo didático da coleção. Não há controle sobre esses conteúdos, pois eles estão estritamente relacionados ao histórico de pesquisa de cada usuário e à dinâmica dos meios digitais.

VÍDEO PODCAST
INFOGRÁFICO CLICÁVEL
CARROSSEL DE IMAGENS
MAPA CLICÁVEL

SUMÁRIO

Literatura: Seca de direitos 10

Texto: Torto arado, Itamar Vieira Junior 10

◗ No fio do tempo: Modernismo – Segunda geração (prosa):

Chão seco e espinhos 14

Texto: Vidas secas, Graciliano Ramos 14

◗ Integrando com Geografia: O ambiente físico molda identidades 27

Leitura: Artigo de divulgação científica –Ameaça às populações de macacos 28

Texto: “Ameaças aos macacos”, Rodrigo de Oliveira Andrade (Pesquisa Fapesp) 28

Análise linguística: Coordenadas e subordinadas na dinâmica do texto 34

◗ Astúcias da língua: Organização sintática de títulos e legendas ........................................................................... 38

◗ Integrando com Sociologia: Os jagunços: mito e realidade ............................................................................. 97

Leitura: Editorial – O jornal também fala 98

Texto 1: “Cerrado em risco” (Folha de S.Paulo) 98

Texto 2: “A queda do Cerrado” (O Popular) 99

Análise linguística: Concordância nominal 102

◗ Astúcias da língua: Dêiticos ........................................ 106

#nósnaprática: Editorial 109 ◗ Roteiro 111

Literatura: Tempo de tomar partido 46

Texto 1: “andrômaca”, Luiza Romão 46

Texto 2: “museu nacional”, Tatiana Pequeno ....................... 47

◗ No fio do tempo: Modernismo – Segunda geração (poesia): Tempo de seres humanos partidos 51

Texto 1: “Sentimento do mundo”, Carlos Drummond de Andrade 51

Texto 2: “Nosso tempo”, Carlos Drummond de Andrade ....... 52

◗ Integrando com Química: Química na poesia ............... 57

Leitura: Poema em prosa, poema visual e videopoema – Poesia para além do verso ......... 63

Texto 1: “Palavras”, Manoel de Barros 63

Texto 2: “Dizendo quase nada”, Lenora de Barros 64

Análise linguística: Concordância verbal 67

◗ Astúcias da língua: Os verbos e o tempo do enunciador .. 74

#nósnaprática: Recriação de poema em vídeo ... 79

◗ Roteiro ............................................................................... 81

Literatura: Perder-se dentro de si 114

Texto: Pequena coreografia do adeus, Aline Bei ......... 114

◗ No fio do tempo: Modernismo – Geração de 45:

A dificuldade de ser gente 118

Texto: “Os obedientes” (Felicidade clandestina: contos), Clarice Lispector 118

◗ Integrando com Filosofia: Existencialismo e os direitos das mulheres na literatura 123

Leitura: Artigo de divulgação científica –Compartilhando saberes .......................................... 128

Texto: “Estudo comprova: mulheres são menos creditadas na ciência do que homens”, Luisa Costa (Superinteressante).. 128

Análise linguística: Regência nominal 132

◗ Astúcias da língua: Acordos e referências: mecanismos de construção da coesão 135

#nósnaprática: Artigo de divulgação científica .......................................................................... 139

e

Literatura: O sertão dentro da gente 84

Texto: Vermelho amargo, Bartolomeu Campos de Queirós 84

◗ No fio do tempo: Modernismo – Geração de 45: O sertão dos avessos .......................................................... 88

Texto: Grande sertão: veredas, João Guimarães Rosa .... 88

Literatura: O verso e o não verso 148

Texto 1: “g”, Micheliny Verunschk 148

Texto 2: “assumo”, Luz Ribeiro 149

Texto 3: [Livro aberto], Rodrigo Ciríaco ............................. 149

◗ No fio do tempo: A poesia depois de 1945: O poema é pedra, o poema é objeto 153

Texto 1: “Tecendo a manhã”, João Cabral de Melo Neto ...... 153

Texto 2: “Não há vagas”, Ferreira Gullar ............................ 154

◗ Integrando com Arte: Desafiando fronteiras entre disciplinas 159

Leitura: Anúncio publicitário – Para vender, convencer 164

Texto: Ecolápis de cor: caras e cores, Faber Castell .... 164

Análise linguística: Regência verbal 168

◗ Astúcias da língua: Mecanismos de progressão: o papel das conjunções ...................................................... 173

◗ #fazerjunto: Revista interativa 179

◗ Roteiro 181

UNiDADE #nósnaprática: Anúncio publicitário e campanha........................................................................ 177

Novos gritos no ar 182

Literatura: À procura de nós .................................. 184

Texto 1: [se me arrancaram pela raiz], Lubi Prates 184

Texto 2: “Soneto da Faria Lima”, Gregorio Duvivier 185

◗ No fio do tempo: A poesia marginal: Literatura à margem 188

Texto 1: [o poeta que há em mim], Chacal 188

Texto 2: “Cogito”, Torquato Neto 189

◗ Integrando com Arte: Música e poesia marginal .......... 192

Tropicália ....................................................................... 196

Leitura: Proposta política – Propostas para o futuro ................................................................................ 198

Texto: [Propostas de candidatos à Prefeitura de Serra Talhada], Tribunal Superior Eleitoral .................................. 198

Análise linguística: Crase 203

◗ Astúcias da língua: Verbos: construir e esvaziar sentidos ........................................................................... 206

#nósnaprática: Carta de reivindicação ........... 209

◗ Roteiro 211

Texto: "A comédia do trabalho" (Companhia do Latão 7 peças), Sérgio de Carvalho e Márcio Marciano 248

◗ No fio do tempo: O teatro no final do século XX:

Um drama demasiado humano 254

Texto: “Eles não usam black-tie” (O melhor teatro), Gianfrancesco Guarnieri 254

◗ Integrando com Arte: Um teatro multimídia ............... 265

Leitura: Notícia de telejornal – Bom dia, boa tarde, boa noite 266

Texto: “Fernanda Montenegro é eleita para Academia Brasileira de Letras” (Jornal Nacional) .............................. 266

Análise linguística: Estrutura de palavras ...... 271

◗ Astúcias da língua: Os gestos, as expressões e a entonação 274

#nósnaprática: Telejornal ......................................

Literatura: Daqui em diante, o futuro? .............. 214

Texto: A extinção das abelhas, Natalia Borges Polesso 214

◗ No fio do tempo: A literatura do final do século XX: Juventudes: vozes em distensão ........................................ 219

Texto 1: Feliz ano velho, Marcelo Rubens Paiva 219

Texto 2: Capão pecado, Ferréz 221

◗ Integrando com Arte: Literatura e arte urbana 231

Leitura: Pôster acadêmico – Divulgar o conhecimento 232

Texto: O teatro no contexto escolar do ensino médio: a arte de expressar a narrativa, Janielly

Azevedo Silva e Glênio Morais Régis (UFRN) 232

Análise linguística: Colocação pronominal .... 236

◗ Astúcias da língua: Colocação pronominal em uso ..... 240

#nósnaprática: Apresentação oral de conteúdo científico.................................................... 243

◗ Roteiro 245

Literatura: Uma comédia demasiado humana ........................................................................... 248

O último voo do flamingo, Mia Couto

◗ No fio do tempo: A literatura africana lusófona: A luta, sempre a luta 289

Texto: Mayombe, Pepetela ............................................. 289

◗ Integrando com Sociologia: Literatura e Antropologia .................................................................... 299

Existir, resistir, reexistir: literatura em Portugal 300

Leitura: Autobiografia e biografia – Eu, personagem 302

Texto: Nelson Mandela: longa caminhada até a liberdade, Nelson Mandela ............................................. 302

Análise linguística: Processos de formação de palavras: derivação e composição ......................307

◗ Astúcias da língua: Campo semântico e produção de sentidos 310

#nósnaprática: Videocurrículo 313

◗ Ler Ciências Humanas e Sociais Aplicadas........... 315

◗ Roteiro ............................................................................ 317

◗ Referências bibliográficas comentadas 318

OBJETOS EDUCACIONAIS DIGITAIS

Infográfico clicável: A censura literária de Getúlio Vargas 24

Vídeo: A Era de Ouro do Rádio................................................... 59

Carrossel de imagens: O universo roseano 88

Podcast: O trabalho do jornalista ............................................... 98

Infográfico clicável: Conquistas femininas na história do Brasil 124

Vídeo: Lygia Pape: vida e obra 159

Podcast: Nuvem Cigana ......................................................... 192

Podcast: A IA e o mercado de trabalho 214

Carrossel de imagens: A efervescência cultural dos anos 1980 ..... 228

Vídeo: Asdrúbal Trouxe o Trombone 263

Mapa clicável: África: curiosidades sobre países lusófonos 288

Infográfico clicável: Como publicar uma autobiografia? ............. 302

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TERRA ÁRIDA, SOCIEDADE HOSTIL

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

A instalação a seguir, Um campo da fome (2022), foi produzida pelo artista mineiro Matheus Rocha Pitta (1980-), que utilizou barro e concreto como matérias-primas.

PITTA, Matheus Rocha. Um campo da fome. 2022. Horta de barro e concreto, 7 200 m2. Usina de Arte, Água Preta (PE). Não escreva no livro.

1. Essa instalação permanente é uma horta feita de barro e restos de concreto, composta de 30 canteiros retangulares cercados. Ela foi planejada e executada durante a pandemia da covid-19, que matou mais de 700 mil pessoas no Brasil.

a) Que elementos dessa instalação remetem à ideia de horta e alimentação?

Em primeiro plano, podem ser observados cajus e batatas feitos de barro; em segundo plano, mandiocas.

b) Se a instalação se apresenta como uma horta disposta em vários canteiros, o que explicaria o título

Um campo da fome?

Espera-se que os estudantes percebam que, embora as figuras representem frutas, legumes e raízes, esses elementos são feitos de barro, mesmo material da terra, e não são capazes de alimentar ninguém.

MATHEUS ROCHA PITTA

2. O formato, a cor e a divisão dos espaços são semelhantes; em ambas, há buracos no chão. Essa semelhança produz o sentido de que tanto a horta quanto o cemitério acolhem a morte – a horta por não produzir nada, ser seca; o cemitério por cumprir sua função de guardar os corpos enterrados.

2. Observe as fotografias a seguir: a primeira é uma visão aérea da instalação; a segunda, de um cemitério à época da covid-19.

Um campo da fome, de Matheus Rocha Pitta, em Água Preta (PE). Fotografia de 2022.

Cemitério Vila Formosa, em São Paulo (SP), preparado para receber vítimas da covid-19. Fotografia de 2020.

• Q ue semelhança é possível identificar entre a imagem da instalação Um campo da fome e a do cemitério? Que sentido produz essa semelhança?

3. Observe a obra de arte a seguir, do artista paulista Candido Portinari (1903-1962). Depois, responda às questões.

a) C andido Portinari criou algumas das mais importantes obras do Modernismo brasileiro. Influenciado pelo painel Guernica (1937), do artista espanhol Pablo Picasso (1881-1973), Portinari produziu, nos anos 1930 e 1940, obras de temática social. Que características das personagens a pintura apresentada destaca? A que contexto elas remetem?

b) Considerando o projeto modernista de construção de uma nacionalidade original, que aspecto do Brasil a obra Retirantes destaca?

3. b) Ela destaca os problemas sociais decorrentes da seca, bem como a fome e a precariedade social.

PORTINARI, Candido. Retirantes. 1944. Óleo sobre tela, 190 cm x 180 cm. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand.

A geração de 1930, herdeira da geração de 1922, introduziu na literatura brasileira uma reflexão crítica sobre a sociedade do país, abordando a fome, a miséria, os abusos de poder. Produzidas em um contexto político, econômico e social conturbado, as obras dessa geração introduziram realidades até então ignoradas pela literatura e colocaram em cena não apenas injustiças e desigualdades mas também a permanente falência das políticas públicas, que deveriam atender a todos, sobretudo aos mais necessitados. Assim, as obras de arte de Portinari, por exemplo, ampliaram a reflexão sobre nacionalidade iniciada pela primeira geração modernista.

3. a) As personagens retratadas são extremamente magras, com aparência de fome; o cenário parece seco, o que remete à secura do sertão.

CHARLES JOHNSON

Seca de direitos

O Brasil é um dos países recordistas em conflitos no campo relacionados à terra. Ao mesmo tempo, é recordista em produção agrícola e se destaca pelo tamanho das áreas que destina à produção de alimentos.

Para discutir

1 Você sabe dizer que conflitos envolvem o campo e a terra? Formule uma hipótese.

2 No campo, nem sempre os direitos humanos e trabalhistas são garantidos. Um exemplo disso foi o resgate, em 2023, de 300 pessoas que trabalhavam em lavouras de café em situação análoga à escravidão. No mesmo ano, pessoas foram resgatadas nas mesmas condições em plantações de cana-de-açúcar. Considerando seu conhecimento sobre a história brasileira, a que pode ser associada essa exploração trabalhista no Brasil?

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Torto arado, do autor Itamar Vieira Junior, é uma obra que mergulha na vida de uma comunidade rural no sertão baiano. A narrativa se passa na região da Chapada Diamantina (BA), provavelmente entre 1960 e 1980, e se desenvolve em torno das irmãs Bibiana e Belonísia. Elas descobrem uma faca antiga escondida sob a cama da avó e uma delas se fere gravemente, perdendo a fala. No trecho que você vai ler, o tio das personagens chega à fazenda com a família, em Água Negra, onde elas moram. A narradora é Bibiana.

Texto

Anos depois do acidente que emudeceu uma de suas filhas, meu pai, incentivado por Sutério, havia convidado o irmão de minha mãe para residir em Água Negra. O gerente queria trazer gente que ‘trabalhe muito’ e ‘que não tenha medo de trabalho’, nas palavras de meu pai, ‘para dar seu suor na plantação’. Podia construir casa de barro, nada de alvenaria, nada que demarcasse o tempo de presença das famílias na terra. Podia colocar roça pequena para ter abóbora, feijão, quiabo, nada que desviasse da necessidade de trabalhar para o dono da fazenda, afinal, era para isso que se permitia a morada. Podia trazer mulher e filhos, melhor assim, porque quando eles crescessem substituiriam os mais velhos. Seria gente de estima, conhecida, afilhados do fazendeiro. Dinheiro não tinha, mas tinha comida no prato. Poderia ficar naquelas paragens, sossegado, sem ser importunado, bastava obedecer às ordens que lhe eram dadas. Vi meu pai dizer para meu tio que no tempo de seus avós era pior, não podia ter roça, não havia casa, todos se amontoavam no mesmo espaço, no mesmo barracão. Para convencê-lo, meu pai disse que o arrozal era bom de trabalhar. Que ali chovia, tinha terra boa, que, ‘olha’, abria os braços mostrando a roça e o quintal, mostrando a mata ao redor deles, ‘aqui não nos falta nada’. ‘Você tem os meninos, isso é de ajuda. Tem um passarinho preto miudinho assim’, mostrava as falanges dos dedos dando a dimensão aproximada da praga, ‘que ataca o arrozal de manhã cedo. Os meninos podem ajudar a espantar eles. Aqui todo mundo acorda cedo para espantar os passarinhos, só assim fazemos boa colheita’.

lER O MUNDO
Não escreva no livro.

Com a chegada do tio, ganhamos um tocador de pífaro para alegrar as festas de santos, porque as festas dos encantados eram dominadas pelos atabaques. Por muitos anos, a música do pífaro de nosso tio dominou nossas celebrações e as mais distantes, quando viajávamos para festejar São Francisco e outros santos de nossa estima nos povoados de Remanso e Pau-de-Colher. No dia de São Sebastião, santo de devoção de nosso pai e celebrado na sua data de nascimento, havia a maior festa, a que mais agregava gente e a que mais trazia devotos de fora da fazenda. Muitos vinham de longe para seguir os rituais da brincadeira para festejar com bebidas e comidas as dádivas que haviam recebido dos encantados. Nós, crianças, permanecíamos distantes das atividades principais, os mais novos em brincadeiras ao redor da casa; os mais jovens disputando a atenção dos adultos. Eu e Belonísia ouvíamos a conversa das filhas de dona Carmeniuza e dona Tonha. Elas falavam da visita dos patrões às roças da fazenda. Queriam saber

Itamar Vieira Junior (1979-) é um escritor e geógrafo baiano, doutor pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Sua formação acadêmica influencia sua literatura ao oferecer uma perspectiva aguçada sobre território, identidade e desigualdade social. Torto arado (2019), seu romance mais famoso, recebeu aclamação crítica e diversos prêmios literários, incluindo o Prêmio Leya 2018, o Prêmio Jabuti 2020 e o Prêmio Oceanos 2020. Itamar também publicou a coletânea de contos Doramar ou a Odisseia: Histórias (2021), que reúne contos de diversos períodos. O trabalho do autor é reconhecido por dar voz às populações marginalizadas e por defender, por meio da literatura, a justiça social. O autor consolidou-se como um dos mais importantes da literatura contemporânea brasileira.

se eles haviam chegado por aqui, se tinham levado as batatas do nosso quintal também. ‘Mas as batatas do nosso quintal não são deles’, alguém dizia, ‘eles plantam arroz e cana. Levam batatas, levam feijão e abóbora. Até folhas pra chá levam. E se as batatas colhidas estiverem pequenas fazem a gente cavoucar a terra para levar as maiores’ – disse Santa, arregalando os olhos para mostrar sua revolta. ‘Que usura! Eles já ficam com o dinheiro da colheita do arroz e da cana.’ Poderiam muito bem comprar batata e feijão no armazém ou na feira da cidade. Nós é que não conseguíamos comprar nada, a não ser quando vendíamos a massa do buriti e o azeite de dendê, escapulindo dos limites da fazenda sem chamar a atenção. ‘Mas a terra é deles. A gente que não dê que nos mandam embora. Cospem e mandam a gente sumir antes de secar o cuspo’ – alguém disse, num sentimento de deboche e indignação.

VIEIRA JUNIOR, Itamar. Torto arado. São Paulo: Todavia, 2019. p. 41-45.

pífaro: flauta simples de seis furos. encantados: entidades sobrenaturais. usura: cobrança de juros. No texto, tem o sentido de “ganância”, de “avidez”.

ANDREA
EBERT
Foto do autor em 2023.

1. b) Espera-se que os estudantes destaquem toda a cultura do campo, como as festas religiosas e a música do pífano mencionadas no romance, típicas dessas regiões e ameaçadas pelo avanço da monocultura e pelo fim das pequenas propriedades.

PENSAR E COMPARTIlHAR

1. Leia o trecho a seguir, de uma reportagem sobre o escritor Itamar Vieira Junior e o contexto de produção da obra Torto arado

1. a) Espera-se que os estudantes destaquem disputas por terras, invasões, grilagem. Também vale

condições de meio rural, que frequentemente

negando aos trabalhadores salário e direitos

colocando-os em condições

[…] Vieira Junior só retomaria a história [Torto arado] vinte anos depois, quando, formado geógrafo e funcionário público do Incra, conheceu as realidades de indígenas, quilombolas, ribeirinhos e assentados no sertão baiano e maranhense. ‘Ao longo de 15 anos, aprendi muito sobre a vida no campo e vi um Brasil muito diverso do que vivemos cotidianamente nas cidades. Existe uma vida muito pulsante no campo, uma vida que está em risco, porque essas pessoas vivem em constante conflito na defesa de seus territórios. Tudo isso reacendeu a chama de escrever Torto arado’, conta o escritor […].

OLIVEIRA, Joana. “Tudo em ‘Torto arado’ é presente no mundo rural do Brasil. Há pessoas em condições análogas à escravidão”. El País, São Paulo, 3 fev. 2021. Disponível em: https://brasil. elpais.com/cultura/2020-12-02/tudo-em-torto-arado-ainda-e-presente-no-mundo-ruralbrasileiro-ha-pessoas-em-condicoes-analogas-a-escravidao.html. Acesso em: 23 set. 2024.

Capa do livro Torto arado.

a) Em 2023, foram registrados no Brasil 2 203 conflitos rurais, incluindo 31 assassinatos, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Considerando o trecho que você leu do romance Torto arado e seus conhecimentos, explique quais seriam as possíveis motivações desses conflitos e assassinatos.

b) O que faz parte dessa “vida pulsante do campo” que, segundo o escritor, está em risco?

2. O pai da narradora propõe ao cunhado que venha trabalhar em Água Negra.

a) Quem é Sutério?

Sutério é o gerente da fazenda.

b) Os trechos entre aspas, no primeiro parágrafo, indicam as falas de qual personagem?

Indicam as falas do pai da narradora.

c) O esforço de convencimento do pai da narradora está expresso em discurso indireto livre. Copie, no caderno, um trecho que mostre esse discurso e explique o efeito que produz na narrativa.

Resposta possível: Todo o trecho que vai de “Podia construir casa de barro, nada de alvenaria, nada que demarcasse o tempo de presença das famílias na terra” até “bastava obedecer às ordens que lhe eram dadas”. Esse discurso parece se dirigir

O discurso direto é a fala dos diálogos registrada na voz das personagens. Exemplo: “Mas a terra é deles. A gente que não dê que nos mandam embora”.

também ao leitor, como se esse esforço de convencimento também estivesse voltado a ele.

No discurso indireto, é o narrador quem reproduz a fala das personagens. Exemplo: “Alguém lembrou que a terra era deles. Disse que se não dessem os mandavam embora”.

O discurso indireto livre é aquele em que se mistura a fala do narrador com a fala da personagem. Exemplo: A terra era deles; que não dessem e eram mandados embora .

3. Releia: “queria trazer gente que ‘trabalhe muito’ e ‘que não tenha medo de trabalho’, nas palavras de meu pai, ‘para dar seu suor na plantação’”.

a) Essas falas exaltam um tipo de postura diante do trabalho. Que valores estão pressupostos nesse discurso? A quem esses valores interessam?

b) Esse discurso sobre o trabalho está de acordo com a remuneração oferecida a quem chegava a Água Negra? Explique.

c) Copie no caderno a alternativa que descreve como o trabalho é apresentado no trecho do romance que você leu.

Embora o discurso indicasse promessas para aqueles que trabalhassem muito, a recompensa era apenas a permissão de moradia nas terras; não teriam direito a salário e teriam de entregar o que produzissem. Resposta: alternativa III

3. a) O valor do trabalho como atividade mais importante da vida, e o valor do esforço, condição para receber recompensas, que só viriam se o trabalhador se esforçasse muito, se não tivesse medo de trabalhar nem se importasse em colocar seu suor e sua dedicação máxima no trabalho. Esses valores interessam ao dono das terras, embora sejam expressos pelo pai da narradora.

Não escreva no livro.

6.a) Batizado (afilhados)

São Francisco

Outros santos

São Sebastião Música dos pífanos

I. O t recho exalta o empreendedor de si, já que, livre das amarras de um contrato de trabalho, o empregado pode investir na plantação que for mais rentável.

II. O t recho mostra os desdobramentos das leis trabalhistas, que passaram por alterações nos últimos anos e permitiram um contrato de trabalho mais livre entre contratante e contratado.

III. O t recho mostra um contrato de trabalho que parece dar continuidade à lógica escravocrata que perdurou no Brasil até o século XIX.

4. Os trabalhadores eram obrigados a construir casas de barro, e não casas de alvenaria, que são construções mais duradouras. O que os patrões pretendem com essa imposição?

Deixar evidente que a terra em que viviam os trabalhadores não era deles em nenhum momento.

5. Releia o trecho a seguir.

Muitos vinham de longe para seguir os rituais da brincadeira para festejar com bebidas e comidas as dádivas que haviam recebido dos encantados. Nós, crianças, permanecíamos distantes das atividades principais, os mais novos em brincadeiras ao redor da casa; os mais jovens disputando a atenção dos adultos. Eu e Belonísia ouvíamos a conversa das filhas de dona Carmeniuza e dona Tonha. Elas falavam da visita dos patrões às roças da fazenda.

a) A festa que reunia o maior número de pessoas celebrava o aniversário do pai da narradora e São Sebastião. O que revela a popularidade de uma festa que reúne essas duas celebrações?

Revela certa liderança do pai da narradora e a importância da religião na vida de todos.

b) Observe o lugar social ocupado por adultos, crianças e jovens. Como é possível descrever a relação entre eles?

As relações são estratificadas, colocando lado a lado os interesses próprios de cada idade.

c) A s mulheres falavam da visita dos patrões às roças da fazenda. Qual é o foco de interesse dessa conversa?

O hábito dos patrões de se apropriarem do que as famílias produziam para a própria subsistência.

6. No trecho, a religiosidade é um fator muito forte nas relações entre as personagens.

a) No caderno, complete o organizador a seguir com as referências religiosas que são pedidas.

Religião de tradição cristã

Religião de tradição africana

b) D e que forma essas tradições religiosas atuam, no trecho do romance, como um momento de união e reflexão por parte das personagens?

É nas festas religiosas que as personagens podem se encontrar e discutir sobre a vida, inclusive sobre a condição de opressão em que vivem.

A literatura pode condensar vários discursos que atravessam as relações sociais, representando as tensões sociais no campo do trabalho, da cultura, da vida íntima etc.

7. Pode-se perceber uma dualidade na atitude dos trabalhadores perante os patrões, que é ao mesmo tempo de revolta e de servidão resignada. Considere o trecho a seguir e explique como os trabalhadores são presos à lógica de servidão e exploração desse contexto.

‘[…] E se as batatas colhidas estiverem pequenas fazem a gente cavoucar a terra para levar as maiores’ – disse Santa, arregalando os olhos para mostrar sua revolta. […] ‘Mas a terra é deles. A gente que não dê que nos mandam embora. Cospem e mandam a gente sumir antes de secar o cuspo’.

ENTÃO...

7. Espera-se que os estudantes percebam que os trabalhadores reconhecem o direito do patrão de recolher produtos da roça pessoal deles, porque, afinal, ele é o dono da terra. Por outro lado, o patrão já lucra com a sua plantação de arroz e cana em grande escala, e isso gera a revolta dos trabalhadores. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Ao explorarem temas sociais e contextos próprios de certos territórios do Brasil, Torto arado e outras produções literárias contemporâneas dialogam com a literatura em prosa da segunda geração modernista. Essa literatura mergulha na realidade rural e das periferias urbanas, dando destaque às comunidades marginalizadas, às profundas desigualdades sociais e à luta pela sobrevivência com dignidade. Nesta unidade, você vai conhecer mais da produção em prosa da segunda geração da literatura modernista no Brasil.

Encantados Música dos atabaques Bebidas e comidas nas festividades

Chão seco e espinhos

O X DA QUESTÃO

As inovações e rupturas promovidas pela primeira geração modernista deixaram aberto um caminho de maior liberdade para a produção literária. A geração de 1930, herdeira das conquistas estéticas da geração de 1922, introduz na literatura brasileira uma nova abordagem sobre a miséria.

A década de 1930 viveu um cenário político, econômico e social marcado por guerras e uma profunda depressão econômica. Esse cenário favoreceu a produção de obras que refletiam criticamente a sociedade e os indivíduos. Mostrando uma realidade injusta, as obras da geração de 1930 ampliam a reflexão sobre nacionalidade iniciada pela primeira geração modernista. A seca nordestina, a exploração do trabalho e a desigualdade social, a falta de perspectiva dos indivíduos aparecem nessa literatura como aspectos de um Brasil que ainda precisava ser descoberto, tanto pela política quanto pelos próprios brasileiros.

Para discutir

1 Considere seu conhecimento sobre a paisagem e as condições do sertão brasileiro. Que problemas são enfrentados nessa região?

2 Considere seu bairro ou sua cidade. Você identifica neles alguma desigualdade? Qual? Explique.

3 C omo as condições de vida precárias podem impactar a constituição da subjetividade de uma pessoa?

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Você vai ler a seguir o trecho do romance Vidas secas. A obra conta a história de uma família que procura um lugar onde seja possível viver, sonhar, criar os filhos, encontrar alguma paz e felicidade. Esse lugar, no entanto, feito de aridez e espinho, de injustiça e abandono, não oferece nada do que Fabiano, Sinhá Vitória, seus filhos e a cachorra Baleia procuram. O trecho que você vai ler descreve a partida da família.

Texto

Saíram de madrugada. Sinhá Vitória meteu o braço pelo buraco da parede e fechou a porta da frente com a taramela. Atravessaram o pátio, deixaram na escuridão o chiqueiro e o curral, vazios, de porteiras abertas, o carro de bois que apodrecia, os juazeiros. Ao passar junto às pedras onde os meninos atiravam cobras mortas, Sinhá Vitória lembrou-se da cachorra Baleia, chorou, mas estava invisível e ninguém percebeu o choro.

Desceram a ladeira, atravessaram o rio seco, tomaram rumo para o sul. […]

[…] A viagem parecia-lhe sem jeito, nem acreditava nela.

Preparara-a lentamente, adiara-a, tornara a prepará-la, e só se resolvera a partir quando estava definitivamente perdido. Podia continuar a viver num cemitério? Nada o prendia àquela terra dura, acharia um lugar menos seco para enterrar-se. […]

Agora Fabiano examinava o céu, a barra que tingia o nascente, e não queria convencer-se da realidade. Procurou distinguir

taramela: trava para fechar uma porta ou uma janela.

juazeiro: árvore típica da Caatinga. barra: o horizonte onde desponta a primeira claridade do dia ou onde o sol se põe.

Não escreva no livro.

qualquer coisa diferente da vermelhidão que todos os dias espiava, com o coração aos baques. As mãos grossas, por baixo da aba curva do chapéu, protegiam-lhe os olhos contra a claridade e tremiam.

[…]

Afastaram-se rápidos; como se alguém os tangesse, e as alpercatas de Fabiano iam quase tocando os calcanhares dos meninos. A lembrança da cachorra Baleia picava-o, intolerável. Não podia livrar-se dela. Os mandacarus e os alastrados vestiam a campina, espinho, só espinho. E Baleia aperreava-o. Precisava fugir daquela vegetação inimiga.

[…]

[…] A manhã, sem pássaros, sem folhas e sem vento, progredia num silêncio de morte. A faixa vermelha desaparecera, diluíra-se no azul que enchia o céu. Sinhá Vitória precisava falar. Se ficasse calada, seria como um pé de mandacaru, secando, morrendo. Queria enganar-se, gritar, dizer que era forte, e a quentura medonha, as árvores transformadas em garranchos, a imobilidade e o silêncio não valiam nada. Chegou-se a Fabiano, amparou-o e amparou-se, esqueceu os objetos próximos, os espinhos, as arribações, os urubus que farejavam carniça. Falou no passado, confundiu-o com o futuro. Não poderia voltar a ser o que já tinham sido?

[…] Iriam para diante, alcançariam uma terra desconhecida. Fabiano estava contente e acreditava nessa terra, porque não sabia como ela era nem onde era. Repetia docilmente as palavras de Sinhá Vitória, as palavras que Sinhá Vitória murmurava porque tinha confiança nele. E andavam para o sul, metidos naquele sonho. Uma cidade grande, cheia de pessoas fortes. Os meninos em escolas, aprendendo coisas difíceis e necessárias. Eles dois velhinhos, acabando-se como uns cachorros, inúteis, acabando-se como Baleia. Que iriam fazer? Retardaram-se, temerosos. Chegariam a uma terra desconhecida e civilizada, ficariam presos nela. E o sertão continuaria a mandar gente para lá. O sertão mandaria para a cidade homens fortes, brutos, como Fabiano, Sinhá Vitória e os dois meninos.

RAMOS, Graciliano. Vidas secas. 70. ed. São Paulo: Record, 1995. p. 116-126.

#SOBRE

Nascido em Quebrangulo, no estado de Alagoas, Graciliano Ramos (1892-1953) teve uma infância marcada pela seca do sertão. Interessou-se cedo pelas letras e chegou a publicar textos pequenos em jornais e poemas em revistas. Em 1914, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como revisor. No ano seguinte, voltou para Alagoas e foi morar na cidade de Palmeira dos Índios, onde trabalhou como jornalista e comerciante. Em 1927, foi eleito prefeito da cidade e chamou a atenção do governador do estado pela maestria com que escreveu seu primeiro relatório como prefeito, o que lhe possibilitou publicar seu primeiro livro: Caetés (1933). Em 1936, foi preso, acusado de ter participado de um levante comunista, mas, no ano seguinte, foi libertado. Em 1938, foi nomeado inspetor secundarista no Rio de Janeiro, enquanto continuou sua produção literária. Destacam-se em sua obra os romances São Bernardo (1934), Angústia (1936) e Vidas secas (1938).

Foto do autor em 1934.

tanger: conduzir, estimular a marcha de animais.

alastrado: tipo de planta; arbusto com espinhos; xiquexique.

1. b) Professor, acate as percepções e respostas dos estudantes. Discuta as escolhas que fizerem e peça a eles que justifiquem. Se possível, seria interessante se filmassem a cena, de fato, o que poderia ser feito com um celular, e compartilhassem o vídeo em uma página da turma na internet. O mais importante é constatarem a plasticidade da narrativa, a dinâmica cinematográfica que ela cria.

PENSAR E COMPARTIlHAR

1. As formas verbais que iniciam cada parágrafo compõem a sequência das ações das personagens: “Saíram de madrugada”; “Desceram a ladeira, atravessaram o rio seco, tomaram rumo para o sul”; “Fabiano examinava o céu”; “Afastaram-se rápidos”; “Iriam para diante”.

a) O que sugere o movimento das personagens?

Sugere uma fuga.

b) Suponha que essa cena fizesse parte de um filme. Considere o ritmo do filme, as cores, o gênero, a posição da câmera (mais distante ou mais próxima das personagens, os closes e as panorâmicas): que instruções você daria ao diretor para filmá-la? Que efeito provocaria no público?

2. Embora as formas verbais sugiram movimento e o texto narre o deslocamento das personagens, várias frases sugerem imobilidade, sinalizando que nada irá mudar. Copie, no caderno, as frases do texto que expressem a ideia de imobilidade.

o rio seco, àquela terra dura, um lugar menos seco para enterrar-se, espinho, só espinho, manhã, sem pássaros, sem folhas e sem vento, (Sinha Vitória seria) um pé de mandacaru, secando

3. Ao se referir à paisagem, o texto usa expressões que podem ser associadas a diferentes campos lexicais. Copie o organizador a seguir no caderno e complete-o com as expressões correspondentes.

Campo lexical é o conjunto de palavras que pode ser associado a uma mesma área de significação. Por exemplo: professor, aula, caderno, apostila, pátio e intervalo podem fazer parte do campo lexical de escola.

(carro de bois) apodrecia, (cobras) mortas, (viver num) cemitério, (um lugar menos seco para) enterrar-se, (silêncio) de morte, (Sinhá Vitória estaria) morrendo, carniça

chiqueiro e curral vazios

Decadência

Morte

Aridez

Calor

4. Agora, compare o trecho de Vidas secas com um trecho do romance O guarani, de José de Alencar (18291877), de 1857, um dos principais livros da estética romântica, que consolidou uma imagem de natureza brasileira no século XIX frequentemente retomada por várias produções artísticas ao longo do tempo.

A vegetação nessas paragens ostentava outrora todo o seu luxo e vigor; florestas virgens se estendiam ao longo das margens do rio, que corria no meio das arcarias de verdura e dos capitéis formados pelos leques das palmeiras.

4. a) Todo o trecho sugere isso. Professor, peça aos estudantes que se atentem aos substantivos luxo, vigor, e a adjetivos como grande, pomposo, (dramas) majestosos.

Tudo era grande e pomposo no cenário que a natureza, sublime artista, tinha decorado para os dramas majestosos dos elementos, em que o homem é apenas um simples comparsa.

ALENCAR, José de. O guarani. [Brasília, DF]: Ministério da Cultura: Fundação Biblioteca Nacional: Departamento Nacional do Livro, [202-]. E-book. Reprodução da 20. ed. (1996) da obra, digitalizada pela Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro (USP). Localizável em: p. 3 do PDF. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000135.pdf. Acesso em: 23 set. 2024.

a) A paisagem em O guarani é fértil, generosa. Copie trechos que mostrem isso.

b) Que imagem de país se pode ler em cada paisagem?

4. b) O país de O guarani é grandioso, majestoso, fértil; nele, as pessoas e a natureza se aliavam para formar uma identidade original. O país de Vidas secas é subdesenvolvido, pobre e parece não ter interesse em sua gente.

5. É possível estabelecer uma relação entre a paisagem de Vidas secas e a condição das personagens. Qual?

A vida das personagens também é seca: elas não têm nada, nem para onde ir.

6. Releia este trecho de Vidas secas : “Afastaram-se rápidos; como se alguém os tangesse, e as alpercatas de Fabiano iam quase tocando os calcanhares dos meninos”.

6. a) Sugere que são como animais, bichos do sertão.

a) O que o uso do verbo tanger (forma verbal tangesse) sugere sobre as personagens?

b) O t recho também sugere que Fabiano caminha perto demais dos filhos. A que comportamento essa atitude pode ser associada?

Ao comportamento de uma manada, o que reforça o sentido do verbo tanger claridade, (faixa) vermelha, quentura (medonha)

2. “Procurou distinguir qualquer coisa diferente da vermelhidão que todos os dias espiava”; “Queria enganar-se, gritar, dizer que era forte, e a quentura medonha, as árvores transformadas em garranchos, a imobilidade e o silêncio não valiam nada”; “Os meninos em escolas, aprendendo coisas difíceis e necessárias. Eles dois velhinhos, acabando-se como uns cachorros, inúteis, acabando-se como Baleia. Que iriam fazer? Retardaram-se, temerosos”.

7. A linguagem contribui para a construção do sentido do texto.

a) P redominam no texto períodos compostos por orações coordenadas. Copie um exemplo no caderno.

b) Que efeito essa opção reforça?

“Desceram a ladeira, atravessaram o rio seco, tomaram rumo para o sul.” Professor, chame a atenção dos estudantes para a justaposição das orações, elaboradas de modo a compor um ritmo regular, que remete mesmo à noção de Reforça a aridez da paisagem e da condição de vida das personagens.

verso. O uso desse recurso poético sugere o ritmo da marcha das personagens.

c) O texto também faz uso do discurso indireto livre como forma de aproximar o leitor das personagens. Copie, no caderno, um exemplo de uso desse discurso.

Sugestão de resposta: “Não poderia voltar a ser o que já tinham sido?”.

d) Por que o texto quer aproximar o leitor das personagens?

8. A vida das personagens está seca. De quê?

Para emocioná-lo, tocá-lo, torná-lo mais sensível às dificuldades das personagens, provocar empatia. De assistência, oportunidade, política pública.

9. Releia este trecho: “Chegariam a uma terra desconhecida e civilizada, ficariam presos nela. E o sertão continuaria a mandar gente para lá. O sertão mandaria para a cidade homens fortes, brutos, como Fabiano, Sinhá Vitória e os dois meninos”.

a) A que problema social o autor se refere?

b) Como o narrador do texto se coloca diante desse problema?

9. a) À seca do Nordeste e à migração de seus habitantes, que chegam ao Sul em busca de trabalho e encontram a marginalização, a moradia precária, a falta de saneamento, a pobreza. Outro tipo de vida seca.

Na obra de Graciliano Ramos, o cenário nordestino da seca , das fazendas ou da cidade funciona como um fundo de contraste no qual se destaca o desajuste existencial das personagens. Os heróis ou anti-heróis renegam o mundo ao qual pertencem. Tentam interpretar sua situação objetiva com base em um universo subjetivo. Nele, passado, presente e futuro se misturam, originando uma atmosfera de opressão e de pesadelo.

Literatura regionalista?

Grande parte da crítica literária brasileira classificou a produção hegemônica da prosa da segunda geração modernista como literatura regionalista. Essa classificação, embora destaque a valorização das especificidades culturais e sociais de regiões como Norte, Nordeste e Sul, revela também uma postura que estabelece a literatura do Sudeste como não regional, o que lega às produções de outras regiões um tom pitoresco, localista. A crítica literária contemporânea reflete sobre as implicações desse conceito, propondo classificações como literatura em uma região, literatura sobre uma região ou mesmo literatura de um território, relacionando a ideia de um povo à sua terra, com todas as implicações sociais, culturais e de construção de subjetividades. No panorama contemporâneo, a literatura sobre regiões tem escritores que tratam do Centro-Oeste, como Paulliny Tort (1979-), do Sul, como José Falero (1987-), e do Norte, como Edyr Augusto (1954-), entre vários outros autores que exploram a diversidade de territórios brasileiros.

Fotografia de Paulliny Tort em 2021.

Fotografia de Edyr Augusto em 2014.

Fotografia de José Falero em 2023.

SAIBA MAIS
9. b) Coloca-se como crítico. O texto faz uma denúncia dos problemas sociais que assolam as populações no Nordeste brasileiro.

Leia, agora, um trecho de outro livro da segunda geração modernista, considerado um dos melhores romances do autor Jorge Amado, Terras do sem-fim (1943), que narra os conflitos entre os coronéis Sinhô Badaró e Horácio da Silveira na região cacaueira da Bahia. O trecho a seguir narra a chegada do lavrador Antônio Vítor, que sonhava em possuir uma fazenda própria, e sua descoberta de como funcionava o negócio do cacau.

A música vinha em surdina, os jogadores haviam parado a ‘ronda’. O velho fitou o jovem bem dentro dos olhos, depois relanceou a vista pelos demais homens e mulheres que estavam presos às suas palavras:

— Já ouviram falar em ‘caxixe’?

— Diz que é um negócio de doutor que toma a terra dos outros…

— Vem um advogado com um coronel, faz caxixe, a gente nem sabe onde vai parar os pés de cacau que a gente plantou…

Espiou em volta novamente, mostrou as grandes mãos calosas:

— Tão vendo? Plantei muito cacaueiro com essas mãos que tão aqui… Eu e Joaquim enchemos mata e mata de cacau, plantamos mais que mesmo um bando de jupará que é bicho que planta cacau… Que adiantou? — perguntava a todos, aos jogadores, à mulher grávida, ao jovem.

Ficou novamente ouvindo a música, fitou longamente a lua:

— Diz que a lua quando tá assim cor de sangue que é desgraça na estrada nessa noite. Tava assim quando mataram Joaquim. Não tinham por que, mataram só de malvadez.

— Por que mataram ele? — perguntou a mulher.

#SOBRE

Nascido em uma fazenda, o escritor baiano Jorge Amado (1912-2001) teve a infância marcada por uma tocaia que quase matou seu pai e por uma epidemia de varíola que obrigou a família a se mudar para a região do cacau, onde Jorge testemunhou a exploração do trabalho realizada pelos coronéis nas fazendas. Em 1918, foi estudar em Ilhéus (BA). Lá, começou a se interessar por literatura e a colaborar com jornais e revistas. Em 1930, mudou-se para o Rio de Janeiro (RJ) e, no ano seguinte, iniciou a faculdade de direito. Aproximou-se dos escritores modernistas e do comunismo. Publicou, em 1931, seu primeiro romance, O país do carnaval. Em 1936, foi perseguido e preso pela primeira vez. Libertado, viajou pela América Latina e escreveu Capitães da Areia (1937). De volta ao Brasil, foi preso novamente pela ditadura de Getúlio Vargas, seus livros foram considerados subversivos e, por isso, queimados. Depois de uma sucessão de prisões e experiências na política, exilou-se na Europa. Em 1951, recebeu o Prêmio Stálin da Paz, mas, anos depois, rompeu com o comunismo após as denúncias das torturas e atrocidades na antiga União Soviética.

jupará: mamífero também conhecido como macaco-da-meia-noite.

Fotografia do escritor em 1989.

— O coronel Horácio fez um caxixe mais Dr. Rui, tomaram a roça que nós havia plantado… Que a terra era dele, que Joaquim não era dono. Veio com os jagunços mais uma certidão do cartório. Botou a gente pra fora, ficaram até com o cacau que já tava secando, prontinho pra vender. Joaquim era bom no trabalho, não tinha mesmo medo do pesado. Ficou acabado com a tomada da roça, deu de beber. E uma vez, já bebido, disse que ia se vingar, ia liquidar com o coronel. Tava um cabra do coronel por perto, ouviu, foi contar. Mandaram tocaiar Joaquim, mataram ele na outra noite, quando vinha pra Ferradas…

O velho silenciou, os homens não perguntaram mais nada. […] A música morria aos poucos na noite. O vento aumentava de minuto a minuto. O velho voltou a falar:

10. Os coronéis, através do caxixe, instrumento judicial que legalizava uma fraude, invadiam terras de pequenos lavradores e as tomavam para si, bem como a produção deles. Os trabalhadores, por sua vez, ou se submetiam aos desmandos desses coronéis ou se rebelavam e eram mortos.

— Joaquim era um homem de paz, ele não ia matar ninguém. O coronel Horácio bem sabia, os cabras também sabiam. Ele disse aquilo porque tava bêbedo, não ia matar ninguém. Era um homem do trabalho, queria era ganhar com que viver… Sentiu que tomassem a roça, isso sentiu. Mas só falou porque tinha bebido… Não era homem pra matar… Liquidaram ele pelas costas… […]

A música cresceu mais uma vez dentro da noite, a lua subia rapidamente para o céu. […] A mulher grávida apertou o braço de Filomeno, falou baixinho: — Tou com medo…

A harmônica cessou sua música. O luar se derramava em sangue.

AMADO, Jorge. Terras do sem-fim. Ilustrações: Clóvis Graciano. 55. ed. Rio de Janeiro: Record, 1987. p. 31-33.

10. O trecho que você leu explicita, pela voz de um dos lavradores, como era realizada a exploração do cacau pelos coronéis da Bahia. Explique o que os coronéis faziam.

11. A descrição do ambiente destaca a música e a lua. Explique a função poética de cada um desses elementos no trecho.

12. Os romances de Jorge Amado sempre atingiram grande sucesso entre o público leitor por seus enredos romantizados e também por sua linguagem fluida, próxima da fala. Explique como essa linguagem é construída. Exemplifique suas afirmações com trechos do texto.

Nos diálogos, o enredo apresenta a fala informal das personagens, carregada de desvios da norma-padrão, com abreviações (tou), léxico regional (caxixe, cabras), desvio de concordância (nós havia plantado), utilização inadequada de pronome (mataram ele). Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Alguns dos principais romances de Jorge Amado denunciam o comportamento violento dos coronéis do cacau e as misérias do sertão e das cidades em geral. Esses romances, embalados pelo engajamento político do autor, apresentam uma visão romantizada da realidade nordestina. Povoados por personagens idealizadas, misturam documento e ficção. A luta social assume característica de lenda e epopeia; as populações marginalizadas da Bahia (lavradores, pescadores, meninos de rua etc.) tornam-se heróis quase míticos.

do filme Capitães da Areia, de 2011.

11. A lua que se destacava no céu tinha cor de sangue, metáfora para o sangue derramado com a morte de Joaquim e sugestiva de outras mortes que poderiam acontecer. A música se inicia “em surdina”, como se preparasse a narração proibida da morte de Joaquim; depois, vai diminuindo conforme a narrativa se desenvolve. Durante a narração da tocaia, a música aumenta, como se atingisse o clímax, depois cessa, e é substituída pelo silêncio, acompanhando o medo que toma conta do lugar.

Frame

Agora você vai ler o trecho de um romance considerado uma das obras mais importantes da literatura brasileira, a trilogia de O tempo e o vento, de Erico Verissimo. Essa é uma obra de fôlego, que mostra como a história dialoga de maneira íntima com os dramas individuais e como esses dramas acabam sendo determinantes para uma sociedade, para um povo. O trecho a seguir, do primeiro livro da trilogia, O continente, apresenta uma das personagens mais impactantes da obra: o capitão Rodrigo Cambará, que acabara de chegar a Santa Fé e se enamorara de Bibiana Terra, compromissada com Bento Amaral. Depois de insultos mútuos, os dois decidem se enfrentar em um duelo para disputar Bibiana. O gaúcho Erico Verissimo (19051975) dedicou-se desde muito cedo à sua paixão pela leitura. Depois da separação dos pais, passou por sérias dificuldades financeiras e teve vários empregos, que sempre conciliou com os livros que lia vorazmente. Depois de ser balconista, bancário e farmacêutico, resolveu dedicar-se à literatura. Tornou-se editor da revista O Globo e publicou, em 1933, seu primeiro romance, Clarissa, que alcançou grande sucesso e foi seguido por outros best-sellers. Em 1947, começou a escrever sua principal obra, a trilogia O tempo e o vento, constituída pelos romances O continente (1949), O retrato (1951) e O arquipélago (1961). Ambientados no Rio Grande do Sul, narram a saga de três famílias – Amaral, Terra e Cambará – e suas disputas políticas e sentimentais que começam no século XVIII, na Colônia do Sacramento, e migram para a cidade de Santa Fé, prolongando-se até 1945, ano que assinala o fim da ditadura de Getúlio Vargas (1882-1954).

Chegaram quase ao mesmo tempo ao ponto marcado para o encontro. Apearam em silêncio e amarraram seus cavalos. […] O crescente no céu parecia uma talhada fina de melancia. Se eu mato esse homem não posso ficar em Santa Fé e perco Bibiana — refletiu Rodrigo. Se ele me mata, perco tudo. É uma situação dos diabos.

Viu a adaga lampejar nas mãos do outro. Um vento morno batia-lhe no rosto, entrava-lhe pelas narinas com um cheiro de água. No campo vagalumes pingavam de fogo o corpo da noite.

[…]

— Vou te mostrar o que acontece quando se bate na cara dum homem, patife — rosnou ele. E sentiu que a raiva o fazia feliz.

#SOBRE

Fotografia do escritor em 1973.

apear: descer do cavalo. crescente: lua crescente.

CARLOS CAMINHA

13. A descrição do cenário, com a noite escura por causa da lua crescente, iluminada pelos vagalumes, destaca os lampejos que saíam das adagas dos lutadores, os gritos, o suor, bem como a insatisfação de Rodrigo por não conseguir ver o corte na cara de Bento, o vento morno, vagalumes que “pingavam de fogo o corpo da noite”, entre outras possibilidades.

— Quem vai te mostrar sou eu, canalha.

pranchaço: batida com a prancha da adaga. atarantadamente: de forma perturbada.

E dizendo isto Bento avançou brandindo a adaga. Os ferros se encontraram no ar com violência e tiniram. No primeiro momento Rodrigo teve de recuar alguns passos. Mas logo firmou pé no chão e desviou todos os pranchaços do outro. Bento quis atingir-lhe a cabeça com o lado da adaga, mas o capitão aparou o golpe no ar com tal firmeza, que a arma do adversário se lhe escapou da mão e caiu ao solo. Rápido, Rodrigo deu-lhe um pontapé e atirou-a longe, fora do alcance de Bento, que começou a recuar devagarinho, arquejando como um animal acuado.

— Pode pegar a adaga! — gritou-lhe Rodrigo. — Não brigo com homem desarmado.

Bento correu, apanhou a arma e tornou a arremeter. Por alguns instantes os dois inimigos terçaram armas; disseram-se palavrões, enquanto suas camisas se empapavam de suor. Por fim se atracaram num corpo a corpo furioso, cabeça contra cabeça, peito contra peito. […] […]

Empregando toda a sua força, que o ódio aumentava, o capitão conseguiu prender a mão direita do outro entre suas coxas; e depois, imobilizando com a sinistra o braço que Bento Amaral tinha livre, com a destra segurou a adaga e aproximou-lhe a ponta da cara do inimigo, que atirou a cabeça para trás, num pânico, e começou a bufar e a cuspir.

— Te prepara, porco! — gritou Rodrigo. — É agora.

E riscou-lhe verticalmente a face. O sangue brotou do talho. Bento gemia, sacudia a cabeça e houve um momento em que seu sangue respingou o rosto de Rodrigo e uma gota lhe entrou no olho direito, cegando-o por um breve segundo.

— Falta a volta do R!

E num golpe rápido fez uma pequena meia-lua, às cegas. Bento cuspiu-lhe no rosto, frenético, e num repelão safou-se e tombou de costas, deixando cair a adaga.

Rodrigo imaginou que ele ia levantar-se, apanhar de novo a arma e voltar ao ataque. Mas Bento, sentado no chão, com a mão no rosto, ficou a olhar atarantadamente para todos os lados. […]

— Não vou te matar, miserável — disse Rodrigo. — Mas não costumo deixar serviço incompleto. Quero terminar esse R. Falta só a perninha…

E caminhou para o adversário, devagarinho, antegozando a operação, e lamentando que não fosse noite de lua cheia para ele poder ver bem a cara odiosa de Bento Amaral.

VERISSIMO, Erico. O tempo e o vento: o continente, primeiro tomo. Porto Alegre: Globo, 1982. p. 233-235.

13. No trecho, a cena do duelo é descrita de maneira detalhada, o que ajuda a construir a aparência real do ocorrido. Além das ações, outros elementos contribuem para simular essa realidade. Identifique-os e explique a importância deles.

14. Um elemento característico da literatura da geração de 1930 é a adequação linguística à região em que se passa a narrativa. Identifique no trecho marcas linguísticas tipicamente gaúchas, que contribuem para uma melhor caracterização de cenário e personagens.

15. As personagens simbolizavam valores que seriam típicos da cultura gaúcha interiorana do século XIX. Identifique, no trecho, que valores guiam as ações dessas personagens.

14. A descrição da lua como uma “talhada fina de melancia”, a utilização do pronome da segunda pessoa te, bem como a utilização de léxicos típicos das variedades regionais gaúchas, como crescente, pranchaço, sinistra.

Erico Verissimo produziu uma obra vasta, em que o Rio Grande do Sul (RS) e os gaúchos são personagens de um universo poético, delicado e épico. Em seus romances, o contexto social, político e cultural de uma determinada época penetra de tal forma na vida das personagens que transforma suas relações e comportamentos. Essa transformação, por sua vez, origina mudanças no contexto mais amplo e promove novas mudanças nas personagens e na sociedade.

15. Um valor que se destaca é a honra, que, quando ferida, origina conflitos de morte. Rodrigo, insultado por Bento ao tomar um tapa na cara, tem de lavar sua honra com sangue. No entanto, para mostrar sua superioridade, não mata, pois considera covarde matar o inimigo quando desarmado; arma-o de novo somente para poder humilhá-lo, e nessa humilhação sente prazer ao deixar a inicial de seu nome no rosto do rival.

Entre o português, o espanhol e o “portunhol”

A influência do espanhol no português brasileiro é um fenômeno que remonta às origens ibéricas das línguas. O português e o espanhol, ambos descendentes do latim vulgar, desenvolveram-se em paralelo na Península Ibérica, resultando em muitas semelhanças lexicais, gramaticais e fonéticas. O projeto colonial espanhol e português trouxe esses idiomas para as Américas, e com eles uma base comum que favorece a influência mútua. Além disso, a convivência histórica entre portugueses e espanhóis, como nas dinastias e alianças políticas, também contribuiu para essa interinfluência. Houve momentos de imposição política de “cima para baixo”, como na época da união das coroas ibéricas (1580-1640), em que Portugal esteve submetido ao governo da Espanha. Em razão de uma crise na sucessão portuguesa, os dois reinos foram regidos por um único monarca, Felipe II da Espanha.

Nas regiões de fronteira do Brasil com países hispano-americanos, como Argentina, Paraguai, Bolívia e Uruguai, a influência do espanhol no português brasileiro é ainda mais pronunciada. Nesses locais, o contato diário e direto entre falantes de ambos os idiomas promove uma mistura linguística conhecida como “portunhol”, uma mescla informal de português e espanhol. Cidades como Foz do Iguaçu (PR) e Ponta Porã (MS) são exemplos de locais onde essa convivência é evidente, tanto no vocabulário cotidiano quanto nas práticas culturais.

MOURO, António. Retrato de Felipe II. 1560. Óleo sobre tela, 198 cm x 102 cm. Patrimônio Nacional, Mosteiro do Escorial, Espanha.

Além das fronteiras, o espanhol também tem impacto significativo em outras áreas do Brasil graças à imigração e ao turismo. Nos grandes centros urbanos, a presença de hispano-americanos e o aumento das relações comerciais e culturais com países de língua espanhola incrementam o intercâmbio linguístico. A música, a culinária e a mídia são canais onde o espanhol se faz presente e influencia o português brasileiro. Expressões como hola (olá), gracias (obrigado) e hablar (falar) são frequentes em algumas regiões do Brasil, evidenciando a dinâmica e contínua interação entre essas duas línguas de origem latina e colonial.

Em Portugal, atualmente, haveria até cidadãos que desejariam a anexação do país pela Espanha. Como Portugal é muito pequeno, tanto em território quanto em número de habitantes, esses cidadãos temem que o país mergulhe na irrelevância. Para evitar esse risco, prefeririam integrar-se à Espanha. O escritor português Valter Hugo Mãe (1971-) escreveu um livro intitulado A máquina de fazer espanhóis (2016), que trata justamente desse desejo de integração com a Espanha. O título do livro refere-se a Portugal: como alguns de seus cidadãos querem se tornar espanhóis, Portugal seria uma “máquina de fazer espanhóis”.

Capa do livro A máquina de fazer espanhóis.

SAIBA MAIS

Outros escritores da segunda geração modernista

As obras de José Lins do Rego, Dalcídio Jurandir, Rachel de Queiroz e Dinah Silveira de Queiroz são patrimônios da literatura brasileira, especialmente no contexto do Modernismo da segunda geração. O paraibano José Lins do Rego (1901-1957), com sua série de romances conhecida como ciclo da cana-de-açúcar, destacou-se pela representação da vida e dos costumes do Nordeste brasileiro. Obras como Menino de engenho (1932) e Fogo morto (1943) revelam a decadência do engenho de açúcar e as transformações sociais e econômicas da região. Seu estilo é marcado pela riqueza de detalhes, pela linguagem que guarda marcas de variedades regionais e pela crítica social.

Fotografia das escritoras Rachel de Queiroz (à direita) e Dinah Silveira de Queiroz, em 1981.

Frame do filme Menino de engenho, de 1965.

O paraense Dalcídio Jurandir (1909-1979), por sua vez, abordou a realidade amazônica em obras como Chove nos campos de cachoeira (1941) e Marajó (1947). Seus textos são conhecidos pela descrição vívida das paisagens amazônicas e pela exploração das dificuldades enfrentadas pelos habitantes da região.

A cearense Rachel de Queiroz (1910-2003), pioneira entre as escritoras brasileiras, destacou-se com O quinze (1930), que conta, por meio da saga do vaqueiro Chico Bento e sua família, como os sertanejos enfrentaram o drama da seca de 1915 no Ceará. Sua narrativa combina realismo com uma forte sensibilidade social.

A paulista Dinah Silveira de Queiroz (1911-1982), com obras como Floradas na serra (1939) e A muralha (1954), trouxe à literatura brasileira temas históricos e psicológicos, explorando a condição humana e os conflitos internos de suas personagens.

Juntos, esses autores e autoras propuseram uma reflexão sobre o país que ampliou os horizontes literários e promoveu a ideia de uma identidade nacional diversificada e complexa.

Agora é com você! Pesquise os romances desses escritores e escolha um para buscar mais informações. Você deverá apresentar seu trabalho para a turma, que irá eleger pelo menos uma obra para uma leitura integral. Considere destacar os seguintes aspectos:

• resumo do enredo;

• relações entre personagens e o ambiente em que se inserem;

• tensões e problemas sociais vivenciadas pelas personagens;

• perspectivas de mudanças na sociedade que se esboçam nesses romances;

• motivos que levam você a defender a leitura integral desse romance.

Professor, a turma pode eleger mais de um romance para leitura integral. Se a atividade for possível de acordo com o cronograma, combine uma data para finalização da leitura. Como forma de explorar o romance, os estudantes podem sugerir as questões a serem debatidas em sala de aula. Você pode acrescentar as que considerar relevantes e que não tiverem sido abordadas pelos estudantes. Estratégias

professor.

HIPERlINK
Não escreva no livro.
ARQUIVO/AGÊNCIA O GLOBO

O Brasil em conflito

O fim da República Velha se deu em 1930, depois que um golpe de Estado levou Getúlio Vargas ao poder. Getúlio criou o Ministério do Trabalho e ampliou os direitos trabalhistas, como férias, 13o salário e redução da jornada de trabalho. Criou também o Ministério da Educação e um sistema educacional que se propunha universal. Apesar dos avanços, o governo de Getúlio não iniciou a reforma da Constituição. O estado de São Paulo se rebelou contra essa situação e, em 1932, iniciou a Revolução Constitucionalista, rapidamente reprimida.

O mundo em guerra

Anúncio de propaganda de Getúlio Vargas sobre seu papel formador para as crianças do do Brasil.

A JUVENTUDE no Estado Novo. [ca. 1940]. 1 cartaz. Localizável em: p. 15 do PDF. Disponível em: https://expo-virtual-cpdoc. fgv.br/sites/expo-virtual-cpdoc.fgv.br/files/ documentos/gv-133f_1.pdf. Acesso em: 23 set. 2024.

A Segunda Guerra Mundial eclodiu em 1939. Os nazistas, que tinham o projeto de dominar a Europa, invadiram vários países naquele continente para obter mais territórios, mercados e matérias-primas. Ao mesmo tempo, promoveram o extermínio de milhares de judeus em campos de concentração. Somente depois da entrada de União Soviética e Estados Unidos na guerra é que os exércitos de Hitler foram derrotados. O Japão, já rendido, foi massacrado por duas bombas atômicas nas cidades de Hiroshima e Nagazaki. O governo de Getúlio Vargas, simpático ao fascismo, apoiou tardiamente os países aliados por pressão dos Estados Unidos e enviou a Força Expedicionária Brasileira para enfrentar os nazistas na Itália.

A economia e o mercado crescem

O governo de Getúlio Vargas desenhou um projeto nacional centrado na industrialização e no comércio. Por isso, incentivou o desenvolvimento dos setores de energia, siderurgia, mineração e educação. Ao mesmo tempo, impôs uma censura radical e a privação de direitos individuais. Abriu o país à influência cultural dos Estados Unidos e seu modelo de vida, pautado pelo consumo.

Os intelectuais se envolvem

A Universidade de São Paulo (USP), criada em 1934 pelo governo paulista, formou-se segundo o modelo francês, voltado não à reprodução de saberes, mas à pesquisa. Nessa perspectiva, formaram-se os primeiros intelectuais que elaboraram interpretações originais para o Brasil. A publicação de Casa-grande & senzala (1933), de Gilberto Freyre (1900-1987), identifica o patriarcalismo como um comportamento típico de nossa sociedade. Defende a miscigenação como um fato positivo para o desenvolvimento do povo brasileiro. Em 1936, o

CPDOCFUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, RIO DE JANEIRO

historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) lança Raízes do Brasil , que também defende a miscigenação e traz a ideia do homem cordial, homem público que pauta suas ações pelos favorecimentos e camaradagens. O historiador Caio Prado Júnior (1907-1990) publica Formação do Brasil contemporâneo (1942), em que mostra como o Brasil, desde o descobrimento, fazia parte de um empreendimento econômico português e era apenas uma colônia de exploração.

Persistência das secas e dos coronéis

No contexto dos intensos conflitos vividos no mundo, a arte voltou-se para uma reflexão mais madura sobre o indivíduo e a sociedade e se engajou em um projeto que denunciava aspectos da realidade, propondo transformações com base em novos posicionamentos políticos e filosóficos.

A segunda geração modernista, influenciada pelo contexto histórico, denuncia aspectos da sociedade antes negligenciados ou romantizados. Na prosa, as obras usam uma linguagem coloquial para registrar os problemas sociais de diferentes regiões, em romances engajados. Assim, adotando um olhar diferente do que o Romantismo dirigia à natureza, volta-se para a falta, para a natureza que nega a vida, e denuncia realidades de regiões abandonadas pelo poder público. A segunda geração modernista produziu também romances intimistas, que procuravam entender o papel do ser humano frente à vida em uma sociedade fragmentada e vazia.

Nos romances de Graciliano Ramos, o contexto nordestino – da seca e do coronelismo – é pano de fundo para uma discussão que revela como o meio pode hostilizar o ser humano e, ao mesmo tempo, determinar sua própria humanidade. Já o escritor Jorge Amado exalta em suas obras a beleza do cenário baiano, mas também manifesta um posicionamento político que leva os leitores a refletir sobre as condições das classes menos favorecidas e seu cotidiano. Erico Verissimo, por sua vez, produziu uma obra em que o Rio Grande do Sul e os gaúchos são apresentados de forma sensível e reflexiva.

Torto arado estabelece um elo significativo com a literatura em prosa da segunda geração modernista ao retomar e revitalizar temas centrais dessa tradição, como a exploração das realidades regionais e a crítica social: as complexidades da vida agrária, a luta pela terra e a resistência das comunidades tradicionais.

Capa do livro Casa-grande & senzala
EDITORA RECORD
MARTINS, Aldemir. Cacimba seca. 1945. Óleo sobre madeira, 68 cm x 54 cm.
COLEÇÃO PARTICULAR

lER lITERATURA

A literatura engajada

“A voz que canta uma canção / se for preciso canta um hino” – esses versos, escritos em 1967, fazem parte da canção “Viola enluarada”, dos compositores cariocas Marcos Valle (1943-) e Paulo Sérgio Valle (1940-). A canção traduzia uma disposição a resistir à opressão da ditadura então vigente. Como ela, outras canções foram compostas e entoadas nesse período com o propósito de denunciar a repressão, conclamar a resistência e exaltar a liberdade.

Assim como no cancioneiro brasileiro, a literatura brasileira produziu obras que se engajaram na crítica a questões históricas, buscando a adesão do leitor a uma causa, uma ideia.

O conceito de literatura engajada foi formulado pelo francês Jean-Paul Sartre (19051980). Em sua obra Que é a literatura? (1948), ele afirma: […] O escritor ‘engajado’ sabe que a palavra é ação: sabe que desvendar é mudar e que não se pode desvendar senão tencionando mudar. Ele abandonou o sonho impossível de fazer uma pintura imparcial da sociedade e da condição humana. […] a função do escritor é fazer com que ninguém possa ignorar o mundo e considerar-se inocente diante dele. […]

SARTRE, Jean-Paul. Que é a literatura? Tradução: Carlos Felipe Moisés. 3. ed. São Paulo: Ática, 2004. p. 20-21.

Embora enunciada em 1948, poucos anos após o final da Segunda Guerra Mundial, essa ideia pode ser associada a várias obras da literatura brasileira e universal. O francês André Malraux (1901-1976), por exemplo, no romance A esperança (1937), descreve os primeiros meses da guerra civil espanhola, entre 1936 e 1939, denunciando ao mundo os horrores que depois Picasso representaria no seu grande e famoso mural Guernica . Conforme tratado nesta unidade, alguns dos romances brasileiros da década de 1930 também denunciaram a desigualdade, a exploração e o abandono social, econômico e político sobretudo de populações do Nordeste, habitantes de regiões de seca extrema, negligenciadas pelo poder público. Vidas secas é um dos mais representativos romances com essa inclinação, ao lado de Menino de engenho, de José Lins do Rego, e de O quinze , de Rachel de Queiroz. Quarup (1967), de Antônio Callado (1917-1997), não é apenas um grito em defesa da cultura indígena e da necessidade de proteção de suas terras mas também um retrato dos conflitos instalados na Região Centro-Oeste depois do golpe civil-militar de 1964. Marrom e amarelo (2019), de Paulo Scott (1966-), expõe com vigor o racismo estrutural na sociedade brasileira e provoca o leitor com a pergunta: quem é branco no Brasil? O verso final do poema “A flor e a náusea”, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), traduz esse que também é um poder da literatura e da arte em geral: “Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio”. Também a canção, a pintura, o romance, o poema, a arte em geral podem ser essa lâmina que corta, expõe, recrutando a ação do leitor.

Não escreva no livro.

Para discutir

1. Considere não apenas sua realidade próxima mas o contexto do país, do mundo: que ideia ou que causa precisa do engajamento de todos? Que temas, em sua opinião, valeriam um romance? Discuta com os colegas apresentando argumentos que justifiquem sua opinião.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

InTEGranDO COm...

1. Professor, como atividade suplementar para tratar de uma produção literária tão relevante no cenário brasileiro, sugere-se organizar a classe em duplas e orientar uma pesquisa sobre a relação entre literatura e geografia nas obras de Rachel de Queiroz e de José Lins do Rego. Essa pesquisa pode ser substituída por uma análise se os

GEOGRAFIA

O ambiente físico molda identidades

estudantes escolherem um romance para ler integralmente. Que papel desempenha o ambiente no romance? Como participa do desenvolvimento das personagens? Que aspecto social é afetado por esse ambiente? O trabalho pode ser escrito ou apresentado para a turma e compor a avaliação dos estudantes.

Na prosa da segunda geração do Modernismo brasileiro, as interrelações entre literatura e geografia são complexas e fundamentais para a construção das narrativas e das personagens. Os romances de José Lins do Rego, por exemplo, deixam claro como o espaço geográfico do Nordeste açucareiro influencia diretamente a narrativa e o desenvolvimento de suas obras. Em Menino de engenho e Fogo morto, a descrição minuciosa do ambiente rural nordestino captura as especificidades culturais, sociais e econômicas da região e os desafios dos habitantes locais. Aspectos geográficos moldam identidades e configuram as relações entre personagens e entre elas e o ambiente; assim, permitem aprofundar a compreensão dos leitores nas complexas dinâmicas sociais e econômicas da região. Essa abordagem enriquece a literatura com uma dimensão adicional de profundidade e autenticidade.

A crise climática chega à literatura

No século XXI, as adversidades ambientais já não se restringem apenas a uma região, como era o caso do Nordeste nos romances da segunda geração modernista. Atualmente, a crise climática pode transformar qualquer região do país – e do mundo – em um ambiente profundamente hostil. Incêndios florestais, por exemplo, se espalharam por vários biomas brasileiros em 2024. Nesse mesmo ano, o Rio Grande do Sul passou por chuvas torrenciais durante muitos dias, que deixaram o estado inteiro praticamente submerso e levaram milhares de pessoas a viver em abrigos provisórios.

Nesse cenário tão inquietante, quem serão os novos protagonistas da literatura? Uma resposta a essa questão pode estar no livro Contra fogo (2024), de Pablo L. C. Casella (1978-). Seu protagonista é Deja, líder de uma brigada de voluntários que combate incêndios florestais na Chapada Diamantina (BA). Seu afeto pela natureza lhe causa problemas financeiros e familiares. Às vezes, ele abandona sua ocupação como guia turístico para combater um incêndio – e fica sem dinheiro para pagar as contas ou passa vários dias longe da família durante as missões de combate ao fogo – sofrendo as consequências desse distanciamento.

1. Que desafios o sertão ainda apresenta às populações locais? Forme dupla com um colega, pesquisem em sites de notícia e selecionem quatro notícias ou reportagens que tratem de questões como essas. Escolham portais conhecidos e confiáveis. Façam um resumo de cada uma e, em um dia combinado com o professor, troquem as informações com os colegas.

Cidade de Lençóis, localizada na Chapada Diamantina (BA). Foto de 2019.

Não escreva no livro.

2. Resposta pessoal. Professor, destaque desastres como o de Mariana e Brumadinho (MG), além dos ocorridos na região dos estudantes.

Ameaça às populações de macacos

Vários romances da geração de 1930 retrataram a seca no sertão nordestino como elemento determinante no destino das personagens. A seca, no entanto, vai além do sertão. Ela atinge hoje várias regiões, desafiando a sobrevivência de biomas, espécies animais e vegetais. Tem ficado mais e mais evidente a responsabilidade do ser humano pelo aquecimento global e suas consequências preocupantes – secas, enchentes, aumento do nível do mar etc.

Agora, você vai ler um artigo de divulgação científica que aborda um dos muitos tópicos dessa discussão. Antes, porém, faça a atividade a seguir.

Para discutir

1. Professor, observe as respostas e liste-as no quadro. Respostas possíveis: poluição por meio de gases dos automóveis e das indústrias; poluição dos esgotos; descartes ilegais de resíduos; mineração; desmatamento; caça e pesca ilegais; alto consumo de carne; uso de agrotóxicos.

1 Ao longo de sua vida escolar e fora dela, certamente você já entrou em contato com discursos que defendem uma vida sustentável. Segundo seu conhecimento e percepção, quais são as ações humanas que interferem de forma direta na natureza?

2 Houve algum desastre ambiental noticiado pela mídia ou ocorrido em sua região? Qual?

3 Por que as ações predatórias da humanidade continuam ocorrendo, mesmo que suas consequências negativas sejam amplamente conhecidas? Formule uma hipótese.

Espera-se que os estudantes percebam que a lógica do lucro acima de qualquer consequência é um dos maiores motivadores dessa predação. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Você vai ler a seguir alguns trechos de um artigo de divulgação científica publicado na revista Pesquisa Fapesp, em 2018. Essa revista é uma publicação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), que financia pesquisas científicas nas mais diversas áreas.

Texto

ECOLOGIA

Ameaças aos macacos

Cerca de 60% das espécies de primatas podem desaparecer até o fim do século, segundo estudo

Aproximadamente 60% das espécies de primatas do mundo, incluindo chimpanzés e orangotangos, correm risco de extinção devido à redução de hábitat causada pela expansão das fronteiras agrícolas e, em menor escala, pela exploração madeireira e em razão da caça de animais silvestres. Caso nada seja feito nas próximas décadas pelos governos locais e órgãos internacionais, esses primatas, que, em alguns casos, já apresentam declínio populacional significativo, podem desaparecer até

Se nada for feito, as populações de lêmure-da-cauda-anelada podem desaparecer até 2100.

lER O MUNDO
Não escreva no livro.

o fim deste século. O alerta consta de um estudo desenvolvido por um grupo internacional de 72 especialistas em primatas, entre eles pesquisadores de várias instituições do Brasil.

Os quatro países em situação mais delicada são justamente os que concentram o maior número de espécies. Indonésia, Madagascar, República Democrática do Congo (RDC) e Brasil abrigam dois terços das 439 espécies de macacos conhecidas no mundo, de acordo com um levantamento publicado em junho na revista PeerJ. O Brasil tem 102 espécies de primatas, 39% delas estão ameaçadas de extinção (ver gráfico). […]

A expansão das fronteiras agrícolas é a principal ameaça à conservação desses animais em todos os países analisados. De 1990 a 2010, cerca de 1,5 milhão de quilômetros quadrados das áreas de ocorrência de macacos foram destinadas à agricultura, colocando em risco muitas espécies no Brasil e na Indonésia. Nas últimas duas décadas, esses países perderam 46,4 milhões e 23 milhões de hectares (ha) de cobertura florestal, respectivamente. No mesmo período, a República Democrática do Congo registrou perda de aproximadamente 10 milhões de ha de área florestal. Em Madagascar esse número foi de 2,7 milhões de ha.

Uma das consequências do desmatamento, segundo os pesquisadores, é a transformação de áreas contínuas de mata em trechos isolados. Esse efeito, chamado fragmentação, está obstruindo as rotas de dispersão usadas pelos zogue-zogues (Callicebus spp.) para migrar de um lugar para outro nas florestas no sul do estado de Rondônia, por exemplo.

Com base nos dados levantados, os pesquisadores desenvolveram um modelo computacional capaz de gerar projeções sobre a expansão das fronteiras agrícolas até o final deste século nos quatro países, e o impacto que isso teria sobre as espécies de primatas nessas regiões. O cenário mais pessimista, baseado no atual ritmo de degradação ambiental experimentado por eles, estima que os hábitats dos primatas encolherão 78% no Brasil, 72% na Indonésia, 62% em Madagascar e 32% na República Democrática do Congo até 2100. Segundo o estudo, o Brasil tem mais a perder do que os outros países porque Elaborado com base em: ESTRADA, A. et al. Primates in peril: [...].

Elaborado com base em: ESTRADA, A. et al. Primates in peril: [...].
PeerJ, [s. l.], v. 6, p. 1-57, jun. 2018.
ANA PAULA CAMPOS/REVISTA PESQUISA

o agronegócio aqui é bem mais forte e de caráter mais expansionista do que nos outros países analisados.

[…]

Outro inimigo dos primatas é a caça comercial ou de subsistência, que se expandiu nos últimos anos por conta do crescimento urbano próximo aos seus hábitats. Estima-se que 85% das espécies de macacos sejam caçadas na Indonésia, 64% em Madagascar, 51% na República Democrática do Congo e 35% no Brasil. É o caso dos macacos-aranha (Ateles geoffroyi), frequentemente abatidos na Amazônia. Na Mata Atlântica, os principais alvos são os macacos-prego-do-peito-amarelo (Sapajus xanthosternos) e o muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides). Na República Democrática do Congo, a caça está dizimando os gorilas (Gorilla gorilla) e os bonobos (Pan paniscus).

[…]

Se nada for feito, as populações de muriqui-do-sul podem desaparecer até 2100.

A contaminação por doenças infecciosas também favorece o declínio de algumas espécies de primatas. Entre outubro de 2002 e janeiro de 2004, surtos de ebola mataram mais de 90% dos gorilas e quase 80% dos chimpanzés do Santuário de Fauna Lossi, na República Democrática do Congo. No Brasil, […] desde 2016 o surto de febre amarela que se abateu no Sudeste do país dizimou milhares de macacos, incluindo espécies ameaçadas, como o macaco-sauá (Callicebus personatus) e o bugio-ruivo (Alouatta guariba mitans).

[…]

Ações articuladas

Diante disso, os autores do estudo defendem uma articulação entre diferentes setores sociais, de legisladores nacionais e internacionais a organizações não governamentais e a sociedade civil, em prol da conservação dos primatas. […] Hoje, apenas 17% das áreas de ocorrência de primatas na Indonésia e 14% na República Democrática do Congo estão dentro dos limites das áreas de proteção ambiental — no Brasil e em Madagascar esse número sobe para 38%. […]

Artigo científico

ESTRADA, A. et al. Primates in peril: The significance of Brazil, Madagascar, Indonesia and the Democratic Republic of the Congo for global primate conservation. PeerJ. v. 6, p. 1-57. jun. 2018.

ANDRADE, Rodrigo de Oliveira. Ameaças aos macacos. Pesquisa Fapesp, São Paulo, ed. 270, ago. 2018. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/ameacas-aos-macacos/. Acesso em: 23 set. 2024

#SOBRE

Jornalista científico e doutor em História da Ciência pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Rodrigo de Oliveira Andrade atua como repórter em diversas revistas de ciência, incluindo a Nature, uma das principais revistas científicas do mundo. Os temas sobre os quais escreve relacionam-se à forma como os países da América Latina lidam com políticas ambientais, doenças tropicais, organismos geneticamente modificados e questões de aquecimento global.

Fotografia do jornalista em 2018.

1. e) A função é fazer referência ao texto do qual vieram as informações divulgadas, e nota-se que seu conteúdo é o mesmo do texto da revista Pesquisa Fapesp: extinção de macacos. Professor, destaque para os estudantes que o artigo científico tem mais de 50 páginas e está escrito em inglês. O jornalista precisou fazer um grande esforço de síntese para apresentar, em poucas páginas, as informações principais do artigo científico.

PENSAR E COMPARTIlHAR

1. Agora que você já leu o texto, responda às questões a seguir.

1. d) O autor é jornalista e doutor em História da Ciência, formação que o credencia a escrever artigos de divulgação científica.

a) L ocalize a data em que foi publicada a revista que traz o artigo de divulgação científica.

A data em que foi publicada a revista é agosto de 2018.

b) Faça uma pesquisa para identificar os principais desastres ambientais na década em que foi publicada a revista e as principais espécies ameaçadas de extinção no Brasil no ano em que ela foi publicada. Qual seria a relevância de um estudo científico como o do artigo publicado?

c) Qual é a importância de se manter uma publicação que populariza pesquisas científicas, como a revista Pesquisa Fapesp?

Divulgar pesquisas de qualidade realizadas no Brasil e incentivar o surgimento de novos pesquisadores.

d) A reportagem foi escrita por Rodrigo de Oliveira Andrade. Leia a biografia do autor no boxe #sobre e identifique os dados que ajudam a garantir a credibilidade do texto.

e) No final do texto, aparece a indicação Artigo científico. Explique sua função e o provável conteúdo desse artigo.

1. b) Espera-se que os estudantes percebam que é por meio de estudos acadêmicos que medidas são sugeridas para amenizar ou resolver os problemas ambientais.

O artigo de divulgação científica tem como objetivo tornar acessível a um público não especialista os conteúdos e as conclusões de pesquisas científicas de diferentes áreas. Para isso, mantém controle do vocabulário e deve explicar as ideias mais complexas por meio de exemplos, comparações etc.

2. Em um artigo de divulgação científica, também é possível identificar uma camada argumentativa, já que ele reproduz os argumentos da pesquisa que está divulgando.

a) Identifique a tese defendida pelo texto.

Para evitar a extinção de espécies de macacos, devem ser criadas áreas de proteção ambiental que garantam seu hábitat.

b) Que tipo de argumentos são utilizados prioritariamente para defender essa tese?

c) A reportagem reproduz fotografias de duas espécies de macacos. Que efeito argumentativo se produz com essas imagens?

2. b) A apresentação de dados estatísticos e gráficos que comprovam tanto a ameaça de extinção desses primatas como as causas dela: redução de hábitat causada pela expansão das fronteiras agrícolas, expansão da contaminação por doenças infecciosas e caça comercial de primatas.

Para divulgar textos científicos, diversos gêneros podem ser produzidos, a depender do público leitor e do meio de publicação. Tradicionalmente esses gêneros, como reportagens, notícias e artigos, circulam no campo jornalístico e midiático. Assim, eles combinam as características do campo de estudo e pesquisa, que divulga a ciência, com as do campo jornalístico-midiático.

3. No segundo parágrafo, são apresentados os primeiros dados relacionados à extinção, como: existem 439 espécies de macacos conhecidas no mundo.

a) Q ual foi o critério para a seleção de apenas quatro países para serem analisados no artigo de divulgação científica?

São os países com maior população de macacos, sendo Congo e Brasil os que apresentam 2/3 deles.

b) O texto informa que Congo e Brasil apresentam 2/3 das 439 espécies de macacos conhecidas no mundo. Faça um gráfico de barras que represente dois terços da totalidade do número de macacos. Esse gráfico deve ter legenda numérica e título indicativo de seu conteúdo.

c) Como ficaria esse mesmo número em porcentagem?

4. Releia o gráfico “Crise de extinção”.

Seriam aproximadamente 66% das espécies de macacos vivendo no Congo e no Brasil.

a) Quais dados ele traz?

Número de espécies de macacos em diferentes países, número de espécies em extinção e número de espécies ameaçadas de extinção em quatro países.

3. b) Professor, oriente os estudantes a desenhar uma forma, dividir em três e pintar apenas as duas partes inferiores de cor diferente, indicando a legenda respectiva: Proporção de macacos no Congo e no Brasil. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

b) Q ual é a forma do gráfico que apresenta as informações relativas à extinção e às ameaças aos primatas?

Gráfico de barras.

4. c) O mapa que destaca em amarelo os países a que se referem os números e a silhueta de um macaco, representando o ser a que se referem os números.

c) A s demais informações numéricas do gráfico estão articuladas a outras linguagens. Quais? Como se articulam?

2. c) Além de ilustrar algumas espécies referidas no texto, as fotografias podem comover o leitor pelo contato direto com a imagem dos animais. Professor, seria interessante distinguir os argumentos usados no texto verbal dos usados no texto não verbal: no texto verbal, os argumentos detêm-se em dados objetivos e apoiam-se na razão, constituindo de fato uma argumentação; no texto não verbal, as imagens apelam à emoção do leitor, adotando estratégia persuasiva para conquistá-lo.

4. d) Indicar a localização dos países pesquisados para o leitor que os desconhece; apresentar, de modo econômico, um contexto mais amplo da questão tratada no artigo.

5. c) Ganha, pois, ao admitir que não trabalha com dados exatos, mas aproximados, comunica que trabalha com os números de forma responsável, respeitando a verdade dos fatos e o próprio leitor.

d) Qual é a relevância da inserção desses outros elementos no gráfico?

e) Analise agora as cores selecionadas para a apresentação dos gráficos: amarelo e tons de vermelho. Qual é a lógica dessa seleção e combinação de cores?

f) Qual outro dado, não mencionado no texto escrito, o gráfico apresenta?

As espécies com população em declínio.

O amarelo representa tanto os países como o macaco, relacionando as duas informações. O vermelho relaciona-se ao sinal de alerta para o risco de extinção.

5. O artigo refere-se à expansão das fronteiras agrícolas como fator de ameaça para os primatas.

a) Qual é a relação da expansão agrícola com a extinção dos macacos?

A expansão agrícola destrói o hábitat dos macacos.

b) Releia: “De 1990 a 2010, cerca de 1,5 milhão de quilômetros quadrados das áreas de ocorrência de macacos foram destinadas à agricultura”. Que expressão indica que o número apresentado é aproximado?

A expressão cerca de.

c) Ao apresentar um número aproximado, o artigo ganha ou perde em credibilidade? Por quê?

6. Com relação ao número de caça de macacos em Madagascar, considere o seguinte gráfico:

Caça de macacos – Madagascar

TOTAL

ALVO DE CAÇA

Elaborado com base em: ANDRADE, Rodrigo de Oliveira. Ameaças aos macacos. Pesquisa Fapesp, São Paulo, ed. 270, ago. 2018. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/ameacas-aos-macacos/. Acesso em: 23 set. 2024.

6. a) Espera-se que os estudantes respondam 64%, com base no texto, ou 65%, com base no gráfico.

a) Que porcentagem de macacos como alvo de caça está representada no gráfico?

b) Qual é a imprecisão que esse tipo de gráfico pode trazer para o texto?

Não é possível medir com exatidão os números nas figuras dos macacos.

c) Que tipo de recurso poderia ser utilizado para minimizar essa imprecisão?

7. Considere o gráfico a seguir, que representa o número de queimadas na Amazônia. Ele foi elaborado com base em dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Série histórica do bioma: Amazônia

6. c) A legenda de número. Professor, se a turma tiver interesse no estudo do gráfico articulado a textos de diferentes gêneros, discuta com os estudantes como seria possível manipular o leitor usando esse recurso. Por exemplo, no caso do gráfico em discussão, poderia apresentar visualmente um número menor de macacos para representar um número maior e vice-versa. Os gráficos, em geral, têm grande poder de convencimento, mas o uso de um mesmo gráfico pode servir a interesses diversos. O gráfico aqui apresentado, por exemplo, também pode ser lido do ponto de vista de um comerciante que busca áreas de concentração de primatas.

Elaborado com base em: FAKE sciences e manipulação tentam encobrir as queimadas na Amazônia. Neo Mondo, São Paulo, 4 set. 2019. Disponível em: https://neomondo.org.br/2019/09/04/fake-sciences-e-manipulacao-tentamencobrir-as-queimadas-na-amazonia/. Acesso em: 23 set. 2024.

SHABANA

7. a) Não necessariamente; há uma variação, mas de modo geral elas diminuíram se comparadas aos anos anteriores a 2019.

a) Em um primeiro momento, desconsiderando a legenda, pode-se dizer que, historicamente, as queimadas na Amazônia estão diminuindo? Explique.

b) Ainda considerando apenas as barras, o que se pode dizer da quantidade de queimadas em 2019?

Pode-se dizer que é a menor quantidade de queimadas de todos os anos.

c) O gráfico apresenta um comentário, que não faz parte dele, mas que compromete seu conteúdo. Explique qual é.

O comentário de que, enquanto os demais anos consideram as medições de todos os meses, o de 2019 considerava somente até agosto e, por isso, seria tão baixo.

d) Quais são os cuidados que um leitor deve ter para evitar esse tipo de manipulação?

Deve verificar tanto a procedência dos dados quanto a metodologia da pesquisa, bem como a confiabilidade de seu meio de publicação e a credibilidade do autor.

Os gráficos utilizados tanto em textos de divulgação científica quanto nos textos em geral são criados para organizar dados e facilitar a leitura deles. Para isso, articulam informações numéricas a diferentes recursos visuais. Para reproduzir esses dados com maior confiabilidade, um gráfico deve utilizar uma proporção adequada das imagens com relação aos números dos dados, bem como apresentar legendas claras. O gráfico, dependendo do modo como está composto, pode produzir também diferentes leituras e diferentes sentidos. Cabe ao leitor verificar se as informações estão sendo representadas de forma confiável, bem como checar a fonte dessas informações.

8. Outra característica de artigos científicos é a recorrência de um conjunto lexical específico de cada área. Mesmo se destinando à divulgação científica para um público não especializado, o uso de um dado conjunto lexical é inevitável.

a) Q ue tipo de expressões encontradas no texto são tipicamente utilizadas pela Biologia?

Os nomes científicos dos animais.

b) Considerando que o público leitor da revista Pesquisa Fapesp pode ser tanto geral quanto especializado em apenas uma área do conhecimento, qual é a importância da utilização de termos técnicos da área da Biologia?

É importante porque não apenas garante precisão às informações que pertencem ao campo científico como

também garante maior credibilidade à reportagem, na medida em que ela explicita claramente sua referência científica.

Textos de divulgação científica, para evitar equívocos, recorrem a um conjunto lexical técnico específico da área divulgada. Esses termos, no entanto, devem ser explicados, sempre que possível, para que o público não especializado não tenha sua leitura prejudicada.

9. Como você estudou, o texto recorre a vários recursos para construir sua credibilidade e idoneidade. No entanto, mesmo em textos muito formais e técnicos, ainda é possível perceber algum grau de subjetividade e juízos de valor. Releia o último parágrafo e responda às questões.

a) Qual é a tese apresentada na conclusão?

Devem ser criadas áreas de proteção ambiental.

b) Qual argumento final é utilizado para justificar essa tese?

Os dados estatísticos relacionados às áreas de proteção nos quatro países.

c) Além do texto, que outro recurso é utilizado para reforçar esse argumento?

O gráfico, que permite maior visualização desses dados.

d) Que expressão permite identificar um grau de subjetividade e juízo de valor na apresentação dos dados do último parágrafo? Explique.

Embora os textos de divulgação científica busquem um elevado grau de objetividade e impessoalidade, podem apresentar diferentes níveis de subjetividade através da utilização de alguns adjetivos e advérbios, que agregam valorações às discussões e aos dados apresentados.

9. d) Além do posicionamento explícito em favor da criação de áreas de proteção, a expressão apenas, a qual indica que, para o autor do artigo, o percentual de áreas de ocorrência de primatas que se localizam em áreas de proteção ainda é insuficiente.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

1. b) As orações: que ‘trabalhe muito’; ‘que não tenha medo de trabalho’. Elas se ligam ao termo gente. 1. c) Conjunção coordenativa aditiva e. Ela soma duas qualidades necessárias ao trabalhador que o gerente queria trazer para a fazenda. 1. d) Os trabalhadores devem se esforçar muito e ser muito dedicados para atender ao ímpeto exploratório manifestado pelos patrões.

Coordenadas e subordinadas na dinâmica do texto

Releia o trecho a seguir, de Torto arado

1 O p eríodo em destaque é composto por cinco orações.

a) Identifique a oração principal.

O gerente queria.

b) O período apresenta duas orações adjetivas. Identifique as orações e os termos que elas qualificam.

c) A s orações adjetivas estão relacionadas por meio de uma conjunção. Identifique-a, classifique-a e explique o sentido que expressa no período.

d) O que revelam os atributos expressos pelas orações adjetivas sobre os trabalhadores e os donos da terra de Água Negra?

e) Que sentido expressa a oração introduzida pela preposição para? A que termo do período ela está associada?

2. a) A oração: “porque substituiriam os mais velhos”. Oração coordenada sindética explicativa.

2. b) Porque ela se coloca “no meio” da coordenada explicativa, interrompendo-a antes de ser concluída.

Anos depois do acidente que emudeceu uma de suas filhas, meu pai, incentivado por Sutério, havia convidado o irmão de minha mãe para residir em Água Negra. O gerente queria trazer gente que ‘trabalhe muito’ e ‘que não tenha medo de trabalho’, nas palavras de meu pai, ‘para dar seu suor na plantação’. Podia construir casa de barro, nada de alvenaria, nada que demarcasse o tempo de presença das famílias na terra. Podia colocar roça pequena para ter abóbora, feijão, quiabo, nada que desviasse da necessidade de trabalhar para o dono da fazenda, afinal, era para isso que se permitia a morada. Podia trazer mulher e filhos, melhor assim, porque quando eles crescessem substituiriam os mais velhos. Seria gente de estima, conhecida, afilhados do fazendeiro. Dinheiro não tinha, mas tinha comida no prato. Poderia ficar naquelas paragens, sossegado, sem ser importunado, bastava obedecer às ordens que lhe eram dadas. Vi meu pai dizer para meu tio que no tempo de seus avós era pior, não podia ter roça, não havia casa, todos se amontoavam no mesmo espaço, no mesmo barracão.

VIEIRA JUNIOR, Itamar. Torto arado São Paulo: Todavia, 2019. p. 41.

1. e) Expressa finalidade e está associada a trazer: “queria trazer [gente] para dar seu suor […]”.

Não escreva no livro.

2 O período em destaque apresenta uma explicação e uma oração intercalada.

a) Qual oração expressa a explicação? Copie a oração no caderno e classifique-a.

b) A oração quando eles crescessem está intercalada. Por que se pode dizer isso?

c) Que sentido expressa a oração intercalada? Como ela se classifica?

Expressa sentido de tempo. Trata-se de uma oração subordinada adverbial temporal.

3 Os períodos destacados em lilás e em verde são compostos por coordenação. Qual é a diferença entre as orações coordenadas que os compõem?

3. No período em lilás, a coordenada é sindética, pois se liga à oração a que se coordena por meio de uma conjunção adversativa, mas. Já no período em verde, as orações são assindéticas, pois se coordenam sem a presença de uma conjunção. No trecho que você acabou de ler, os períodos compostos, ao desenvolverem a narrativa, estabelecem conexões entre termos, ideias, fatos, informações, ações que são apresentadas em dada sequência. O período composto é uma estrutura sintática que pode ser formada por

coordenação, por subordinação ou por coordenação e subordinação. Cada oração dentro do período composto pode apresentar uma ideia completa ou depender de outra para completar seu sentido. Observe.

Agora Fabiano examinava o céu, a barra que tingia o nascente, e não queria convencer-se da realidade.

oração principal oração adjetiva restritiva oração coordenada sindética aditiva

Nesse período, uma oração adjetiva qualifica um termo da oração principal restringindo o sentido do substantivo barra; à principal se coordena a outra oração, que soma uma informação: “Fabiano examinava o céu, a barra e não queria convencer-se da realidade”.

Agora, observe o período a seguir.

Iriam para diante, alcançariam uma terra desconhecida. oração coordenada assindética

Ele é composto por duas orações, sendo a segunda coordenada à primeira sem necessidade de uma conjunção. Por isso, é classificada como coordenada assindética.

Observe agora o período a seguir.

Caso nada seja feito nas próximas décadas pelos governos locais e órgãos internacionais, esses primatas, que, em alguns casos, já apresentam declínio populacional significativo, podem desaparecer até o fim deste século

O período é composto por subordinação. A primeira oração introduz a ideia de condição: se nada for feito… Trata-se de uma subordinada adverbial condicional e está associada ao fato de que primatas podem desaparecer, informação que está na oração principal. A oração introduzida pelo pronome relativo que expressa um atributo que explica algo sobre os primatas a que o texto se refere: eles já apresentam declínio populacional.

No período a seguir, a forma verbal estima seguida do pronome apassivador se tem como sujeito uma oração substantiva subjetiva introduzida pela conjunção integrante que

Estima-se que 85% das espécies de macacos sejam caçadas na Indonésia.

As orações coordenadas e subordinadas se relacionam no texto para compor sentidos, expressando ideias e garantindo a lógica estrutural dele.

A coordenação e a subordinação são recursos estruturais da língua que podem ser mobilizados para a produção de sentido. É sempre fundamental observar não apenas o valor semântico de conjunções como também as relações lógico-sintáticas da língua e o modo como se articulam.

Também vale lembrar que as possibilidades de expressão permitem grande variedade no modo de construção das orações e dos períodos.

2. b) São elas: “que a literatura tem este papel”: oração subordinada substantiva objetiva direta; “de humanizar o outro”: oração subordinada substantiva completiva nominal; “mesmo que o outro seja o adversário”: oração subordinada adverbial concessiva.

PENSAR E COMPARTIlHAR

Leia o trecho a seguir, de uma reportagem sobre o escritor moçambicano Mia Couto (1955-).

3. a) Esse conectivo introduz uma oração que justifica por que Mia Couto acredita que a literatura pode contribuir para uma cultura de paz: viver perto da guerra fez dele uma testemunha dos horrores que ela produz e da urgência de humanizar as relações para impedi-los.

‘Para nós, os africanos de língua portuguesa, nós temos uma dívida enorme com as referências que nos chegaram deste lado do mundo. E é preciso falar, em primeiro lugar, do Jorge Amado. Foi uma referência para nós absolutamente essencial, em todos os cinco países africanos de língua portuguesa. Esse nome ajudou a descobrir-nos a nós próprios’.

Fotografia do autor em 2019.

Como alguém que viu a guerra de perto, já que viveu em Moçambique durante os 16 anos de confrontos civis que deixaram um milhão de mortos, ele avalia que a literatura também pode contribuir para uma cultura de paz:

‘Acho que a literatura tem este papel de humanizar o outro – mesmo que o outro seja o adversário, seja o inimigo. A guerra começa antes do primeiro disparo: a guerra começa neste processo de desumanização do outro. E a literatura é uma forte resistência contra este processo de desumanizar o outro.’

LUZ, Solimar. Mia Couto fala de novo livro, literatura brasileira e cultura de paz. Radioagência Nacional, Rio de Janeiro, 13 abr. 2023. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/cultura/audio/202304/mia-couto-fala-de-novo-livro-literatura-brasileira-e-cultura-de-paz/. Acesso em: 23 set. 2024.

1. No trecho, Mia Couto faz referência a dois pilares sobre os quais constrói a sua obra: a obra de Jorge Amado e a guerra. Copie o organizador a seguir no caderno destacando como cada um desses pilares influencia sua literatura.

Ajudou ao autor e demais escritores a descobrir a si próprios.

Testemunha o processo de desumanização contra o qual a literatura luta.

2. No trecho, Mia Couto deixa evidente sua opinião sobre o papel da literatura em: “Acho que a literatura tem este papel de humanizar o outro – mesmo que o outro seja o adversário […]”.

a) D e que forma ele evidencia que essa não é uma definição absoluta do papel da literatura, mas sua opinião?

Mia Couto utiliza o verbo achar (acho), que modaliza a definição do papel da literatura.

b) Identifique, na fala de Mia Couto, as orações subordinadas e explique suas funções no período.

3. Considere o seguinte período: “Como alguém que viu a guerra de perto, já que viveu em Moçambique durante os 16 anos de confrontos civis que deixaram um milhão de mortos […]”.

a) E xplique qual é a importância da oração introduzida pelo conectivo já que para a construção de uma imagem de Mia Couto.

DAVID LEVENSON/GETTY IMAGES

5. b) Os escritores homens colocavam em dúvida se era de fato uma mulher quem havia escrito O quinze, o que revela uma sociedade machista, que não considerava que uma mulher fosse capaz de produzir literatura de qualidade.

b) Como se classifica a oração introduzida pelo conectivo já que?

Oração coordenada sindética explicativa.

c) Nesse período, há também uma oração subordinada adjetiva. Identifique-a e explique sua função no texto.

A oração: “que deixaram um milhão de mortos”; especifica que tipo de confrontos civis foram os de Moçambique: confrontos que deixaram um milhão de mortos.

4. Considere que o leitor da reportagem não saiba quem foi Jorge Amado e não tenha nenhuma informação sobre sua obra. Escreva, no caderno, uma oração ligada ao termo Jorge Amado com o objetivo de apresentar o escritor para esse leitor.

Leia a reportagem a seguir sobre a importância da escritora Rachel de Queiroz para a literatura brasileira.

Uma das principais escritoras brasileiras, Rachel de Queiroz morreu há exatos 20 anos, às vésperas de completar 93, em 17 de novembro de 2003. Além de militante na juventude […], Rachel foi a primeira escritora brasileira empoderada – expressão que não existia na época – com apenas 19 anos, quando lançou ‘O quinze’, em 1930, sobre o drama da grande seca de 1915.

O livro foi alvo de machismo, porque muitos homens, inclusive escritores, não admitiam que uma obra de sucesso e qualidade pudesse ter sido escrita por uma mulher. ‘É pilhéria. Uma garota assim fazer romance! Deve ser pseudônimo de sujeito barbado’, escreveu ninguém menos do que o já consagrado escritor alagoano Graciliano Ramos. Curiosamente, oito anos depois, Graciliano lançou sua principal obra, ‘Vidas secas’, na mesma pegada da seca.

MORTA há 20 anos, Rachel de Queiroz foi a primeira escritora empoderada Estado de Minas, Belo Horizonte, 4 nov. 2023. Disponível em: www.em.com.br/pensar/2023/11/6531053-morta-ha-20-anos-rachel-de-queiroz-foi-aprimeira-escritora-empoderada.html. Acesso em: 23 set. 2024.

5. Rachel de Queiroz é uma das principais escritoras do Brasil.

a) D e acordo com a reportagem, qual é a importância da escritora para a literatura brasileira?

Sua importância reside no fato de ter escrito um livro pioneiro sobre o drama da seca: O quinze

b) Qual foi a recepção dos escritores homens à obra de Rachel de Queiroz? O que essa recepção revela sobre contexto literário da década de 1930 no Brasil?

6. Considere o seguinte período: “Rachel foi a primeira escritora brasileira empoderada –expressão que não existia na época – com apenas 19 anos, quando lançou ‘O quinze’, em 1930 […]”.

6. a) São as orações: “que não existia na época”: subordinada adjetiva restritiva; “quando lançou ‘O quinze’, em 1930”: subordinada adverbial temporal.

a) Identifique as orações subordinadas adjetiva e adverbial do período.

b) De que forma essas orações subordinadas ajudam a situar o leitor no tempo em que Rachel de Queiroz produziu a obra?

A subordinada adverbial temporal especifica o tempo (época do lançamento do livro) e a subordinada adjetiva qualifica expressão referindo-a também à época de lançamento do livro.

7. Considere este período: “O livro foi alvo de machismo, porque muitos homens, inclusive escritores, não admitiam que uma obra de sucesso e qualidade pudesse ter sido escrita por uma mulher”.

7. b) Oração coordenada sindética explicativa. O restante do período não entra nessa oração porque constitui outra oração.

a) O t recho apresenta uma oração que explica a afirmação da oração principal. Qual é a explicação?

Muitos homens não acreditavam que uma mulher pudesse ser escritora de sucesso.

b) A oração que expressa a explicação é “porque muitos homens, inclusive escritores, não admitiam”. Como ela se classifica? Por que o restante do período não entra nessa oração?

7. c) A oração “que uma obra de sucesso e qualidade pudesse ter sido escrita por uma mulher”, subordinada substantiva objetiva direta.

c) O verbo admitir é transitivo. Identifique e classifique a oração que exerce a função de complemento desse verbo.

4. Respostas possíveis: “que é um dos principais escritores brasileiros”; “que escreveu livros fundamentais como Capitães da Areia e Tocaia grande” etc. Professor, os estudantes podem escolher, por exemplo: “Jorge Amado, um dos mais populares”; “dos mais importantes escritores brasileiros.” Nesse caso, explique a eles que, embora possível, esse acréscimo não constitui uma oração, mas um termo da oração, o aposto. Atividade complementar nas Orientações para o professor.

4. b) Sugestões de respostas: Crise climática leva a agonia da seca à Amazônia; A seca leva agonia à Amazônia. Espera-se que os estudantes concluam que o título com frase nominal é mais atrativo.

ASTUCIAS DA lINGUA

Organização sintática de títulos e legendas

Leia o trecho a seguir, de uma reportagem sobre a seca na Amazônia.

1 Considere seus conhecimentos e explique de que forma a seca da Amazônia seria um tema de reportagem muito pouco provável em outros tempos.

Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes se lembrem de que a Região Amazônica abriga uma grande bacia hidrográfica e tem chuvas constantes. Uma seca na Amazônia seria algo impensável sem a existência da crise climática.

2 Um título eficaz deixa claro para o leitor qual será o conteúdo do texto a ser lido. Por que é possível considerar esse título eficaz?

2. Porque ele apresenta, de forma clara e concisa, o tema que será tratado: a seca na Amazônia.

3. a) Sugere urgência, morte; pode mobilizar sentimento de medo, temor por algo que morre na região.

3 Um título também tem a função de atrair o leitor para o texto.

a) O que o termo agonia sugere? Que efeito pode despertar no leitor?

b) Que tipo de apelo tem o título?

A agonia da seca na Amazônia

22/05/2024

Um calor descrito como infernal tomou conta da Aldeia Porto Praia, às margens do rio Amazonas. A cena lembrava a de um deserto de areia escaldante. A seca implacável de 2023 não apenas desidratou os cursos d’água da Amazônia, mas impôs uma adaptação quase impossível para os povos da floresta. Como sobreviver se as panelas recheadas de peixe foram substituídas por sardinha, salsicha e outros produtos industrializados? Como ir e voltar se muitas das embarcações não serviam para mais nada? No município de Tefé, quando o rio secou, foi como se a garganta e o coração secassem e morressem.

Comunidade Porto Praia, do povo indígena Kokama. Trecho do Rio Tefé que passa em frente à comunidade quase secou, deixando os moradores isolados.

LIMA, Wérica. A agonia da seca na Amazônia. Amazônia Real, Manaus, 22 maio 2024. Disponível em: https://amazoniareal.com.br/especiais/agoniada-seca/. Acesso em: 23 set. 2024.

5. a) É possível identificar uma faixa de areia com veios de água e uma mata ao fundo.

5. b) É apresentada a informação de que o areal é, na verdade, o leito seco do Rio Tefé.

4. a) A frase do título é nominal, pois não possui verbo.

4 Os títulos, em geral, devem ser concisos para se ajustar ao espaço que as publicações destinam a eles. Frases nominais e em períodos simples produzem títulos econômicos.

a) Analise a frase do título e classifique-a sintaticamente.

b) Reescreva o título desenvolvendo uma oração e compare: qual título é mais atrativo?

5. c) Ela também é construída por uma frase nominal, que nomeia o local, e um período composto, que explica que rio é esse que secou. Tem um apelo emocional. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

5 Considere a fotografia que compõe a reportagem.

a) O que é possível identificar nela?

b) Uma legenda acompanha a fotografia. Que informação nova é apresentada?

c) Como se constrói sintaticamente essa legenda? Explique.

LALO DE ALMEIDA/FOLHAPRESS
Não escreva no livro.

Os títulos e as legendas apresentam particularidades semânticas e sintáticas em razão do papel que desempenham e da necessidade de clareza e concisão.

Os títulos devem ser curtos e diretos. Eles servem para atrair a atenção do leitor e apresentar, de forma clara, objetiva e concisa, o conteúdo do texto.

Usualmente, títulos não terminam com ponto-final, embora possam incluir outros sinais de pontuação, como ponto de interrogação ou de exclamação, se necessários para o contexto. Em geral, são formados por frases nominais (sem verbos), mas podem incluir verbos no infinitivo ou outras formas verbais que garantam clareza e concisão de informações.

As legendas devem fornecer uma descrição breve e clara de uma imagem, tabela ou figura a que se referem. Muitas vezes, fornecem informações contextuais adicionais que não estão explícitas na imagem ou figura, ajudando a conectar o conteúdo visual ao texto principal.

As legendas, geralmente, seguem as regras de pontuação da norma-padrão, incluindo o uso de ponto-final.

Devem ser diretamente relacionadas ao conteúdo visual e contribuir para a compreensão do texto principal. Por exemplo: “Distribuição geográfica das espécies estudadas”.

PENSAR E COMPARTIlHAR

Leia a seguir duas manchetes que, embora tenham sido publicadas em momentos diferentes, fazem referência a um mesmo fenômeno climático que o Brasil tem enfrentado.

Clima extremo no Nordeste: secas, desmatamento

e urgência

Clima crítico no Nordeste: secas, desmatamento e extremos exigem ação imediata para preservar água e fortalecer comunidades vulneráveis

CLIMA extremo no Nordeste: secas, desmatamento e urgência. Terra, [s. l.], 30 nov. 2023. Disponível em: www.terra.com.br/planeta/noticias/clima-extremo-no-nordeste-secas-desmatamentoe-urgencia,9d452bc5b156a69b5e97bc3605cf595by2qye0ql.html. Acesso em: 23 set. 2024.

Crise climática: Sul enfrenta chuvas, enquanto Nordeste sofre com secas

Mais de 400 municípios encontram-se em estado de emergência devido ao tempo seco e baixa precipitação

CANIATO, Bruno. Crise climática: Sul enfrenta chuvas, enquanto Nordeste sofre com secas. Veja, São Paulo, 9 maio 2024. Disponível em: https://veja.abril.com.br/coluna/maquiavel/crise-climaticasul-enfrenta-chuvas-enquanto-nordeste-sofre-com-secas/. Acesso em: 23 set. 2024.

Não escreva no livro.

1. b) A primeira manchete o chama de clima extremo, e a segunda, de crise climática Clima extremo sugere tratar-se de um caso isolado, e crise climática sugere alguma duração para o fenômeno, o que exige atenção.

1. A s manchetes fazem referência a um mesmo evento climático.

a) Que evento é esse?

A crise climática, que intensifica fenômenos como chuvas e secas.

b) Como cada manchete e respectivos subtítulos nomeiam esse evento? Que sentido essa escolha de nomes produz para o evento climático?

2. Considere a primeira manchete. Que tipo de frase a constitui?

3. Considere agora a segunda manchete.

a) Classifique o período que compõe essa manchete.

Um público

mídia em geral, educadores, e um público geral que tenha curiosidade em relação aos temas “leitura” e

A manchete é constituída por uma frase nominal.

A manchete é constituída por um período composto.

b) A s formas verbais que compõem o período manifestam diferentes posturas frente aos fenômenos climáticos. Quais são elas?

Enquanto o Sul parece ter uma postura ativa no enfrentamento da crise, o Nordeste parece ter uma postura passiva, de apenas sofrer.

c) De que modo a opção pelas formas verbais que compõem o título pode reforçar uma visão negativa relacionada ao Nordeste brasileiro?

Ao indicar que o Nordeste sofre com a crise enquanto o Sul a enfrenta, reproduz-se a ideia de passividade frente aos problemas apresentados.

Leia a seguir o trecho de uma reportagem.

Como a tecnologia mudou nossos hábitos de leitura

Dispositivos e internet ampliaram acesso a conteúdos; mas especialistas chamam a atenção para a superficialidade

A popularização da internet trouxe profundas mudanças nos hábitos de leitura, abriu portas para uma infinidade de assuntos e democratizou o acesso à informação. No entanto, em meio a tanta novidade, leitores se deparam com inúmeros sequestradores de atenção.

CAMPOS, Andrea. Como a tecnologia mudou nossos hábitos de leitura. Terra, [s. l.], 24 jan. 2023. Disponível em: www.terra.com.br/byte/ como-a-tecnologia-mudou-nossos-habitos-de-leitura,6d23480122944894ae11252d8bd75ab6bjwpzqdm.html. Acesso em: 23 set. 2024.

4. O título dessa reportagem apresenta uma oração desenvolvida.

a) O que ela sugere sobre o conteúdo da reportagem?

Sugere que será desenvolvida uma explicação sobre a mudança de hábitos de leitura promovida pela tecnologia.

b) Qual é o perfil do público que poderia se interessar por um texto com esse título?

5. O subtítulo da reportagem apresenta um período composto.

a) Que relação sintática se estabelece entre as orações desse período?

As orações têm uma relação de coordenação, sendo a segunda adversativa em relação à primeira.

b) E xplique por que essa estrutura sintática é pertinente para o subtítulo.

6. Observe a imagem que acompanha a reportagem. Analise a legenda. Ela é pertinente, adequada e objetiva? Explique.

6. Espera-se que os estudantes percebam que não, pois a imagem mostra alguém lendo em um leitor digital, e a legenda, longa e genérica, faz menção à popularização da internet. Ficaria mais adequada se tivesse se referido apenas a mudanças nos hábitos de leitura.

Popularização da internet trouxe profundas mudanças nos hábitos de leitura, abriu portas para uma infinidade de assuntos e democratizou o acesso à informação.

5. b) O subtítulo detalha os tipos de mudança que afetaram a leitura das pessoas e o senão dessas mudanças. Por conter tantas informações, o período precisaria ser composto, ou seria necessário que o subtítulo apresentasse mais de um período.

#NOSNAPRATICA

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Infográfico

Nesta unidade, a leitura de um artigo de divulgação científica tornou acessíveis informações a um público não especializado. Um aliado desse objetivo de democratizar as pesquisas científicas e ampliar sua compreensão são os recursos gráficos, que tratam em linguagem visual ou verbovisual as informações apresentadas no texto verbal. É o caso do infográfico.

O que você irá produzir

Infográfico é uma forma de apresentar informações e dados que articula imagens (ilustrações, gráficos, ícones) e textos. Os infográficos sistematizam e organizam informações complexas em itens, ícones e formas que tornam a informação mais acessível ao leitor.

Você vai produzir um infográfico com o objetivo de facilitar o acesso às informações apresentadas no artigo “Ameaças aos macacos”, que sejam diferentes das informações presentes no infográfico que faz parte do artigo.

Planejar

Leia novamente o texto, selecione os dados apresentados e resuma-os em pequenos tópicos e textos, identificando quais farão parte de seu infográfico e como devem aparecer.

Crie um texto introdutório e um título para seu infográfico.

Rascunhe a diagramação da página: pense se vai utilizar gráficos de barras, linhas, pizza ou mais elaborados, com desenhos, como os do infográfico apresentado. Verifique em que momento seria possível a inserção de alguns ícones para resumir o conteúdo em listas ou itens. É preciso definir uma hierarquia das informações do infográfico deixando clara a ordem de importância delas. É preciso também deixar clara a ordem na qual o leitor deve ler as informações. O importante é esquematizar e resumir o máximo possível, transformando informações complexas em itens, ícones e formas que facilitem a compreensão.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Elaboração de legendas

Criar legendas claras e precisas em um infográfico é essencial para que elas cumpram sua função de modo eficaz. As legendas atuam como guias que ajudam o público a interpretar os dados e as imagens corretamente, eliminando ambiguidades e favorecendo a assimilação da mensagem. Uma legenda bem elaborada deve ser concisa, mas suficientemente detalhada para fornecer contexto e explicar os elementos visuais de forma que qualquer pessoa possa entender o infográfico.

Chegou a sua vez de exercitar a criação de legendas em infográficos. Para isso, leia o gráfico a seguir, publicado na revista Sextante, com dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, de 2020, realizada pelo Instituto Pró-Livro, sobre formas de diversão no tempo livre dos brasileiros.

Não escreva no livro.
lABORATORIO DE PRODUÇÃO

O que gosta de fazer em seu tempo livre?

Fonte: PACHECO, Vitória. Há futuro para a leitura no Brasil? Sextante, Porto Alegre, 57. ed., nov. 2021. Localizável em: O que gosta de fazer em seu tempo livre? Disponível em: www.ufrgs.br/sextante/ ha-futuro-para-a-leitura-nobrasil/. Acesso em: 23 set. 2024.

1. Em cada grupo de barras, identifique o dado mais destacado e pense em uma forma de representá-lo em um infográfico: com ícones, ilustrações, em uma imagem que agregue todos os dados etc.

2. Depois de selecionadas as formas gráficas de representação, pense que legendas são necessárias para essas formas.

3. Escreva as legendas de forma que sejam objetivas, de fácil leitura e identificação com a imagem com a qual se relacionam.

4. O objetivo é que esse infográfico apresente cinco informações essenciais que se destaquem no gráfico original. Professor, se necessário, sugira aos estudantes que elaborem uma linha do tempo verificando que atividade as pessoas mais realizavam em seu tempo livre em cada ano da pesquisa.

Produzir

Você poderá produzir o infográfico em um editor de texto ou de imagens, em sites específicos de produção de infográfico ou em uma cartolina.

Mesmo com muito planejamento, pode sobrar ou faltar espaço. Reorganize as informações de forma a deixar o leiaute do seu material mais dinâmico. Organize as informações em listas, itens; lance mão de imagens, ícones ou outros recursos visuais para facilitar a leitura. Utilize fontes diferentes, marcando as seções, modificando também as cores e os tamanhos. Procure fontes que permitam uma leitura fácil.

A paleta de cores que você vai escolher deve se relacionar com o tema. Ela orienta a ordem de leitura e facilita a compreensão.

Depois de pronto, faça uma revisão dos textos e verifique se o infográfico deixa evidente uma ordem de leitura e se reproduz todas as informações necessárias. Peça a ajuda de algum colega para ter um outro olhar na análise de seu infográfico.

Compartilhar

Agora, resta compartilhar. Verifiquem quais infográficos da turma contemplaram tudo que foi pedido e quais apresentaram um visual mais atraente e fácil de entender. Se possível, imprimam e criem painéis para expor na escola ou divulgar nos canais de comunicação da turma.

Professor, seria interessante que os estudantes fizessem uma avaliação conjunta dos infográficos. Não se trata de uma criação simples, já que a demanda pela criação desse gênero não costuma ser frequente. Incentive os estudantes a se ajudarem mutuamente criando uma sinergia positiva entre todos da classe.

ROTEIRO

PARA lER

QUEIROZ, Rachel de; SHIKO. O quinze. São Paulo: Ática, 2019. (Clássicos brasileiros em HQ).

A adaptação do romance O quinze para história em quadrinhos, realizada pelo quadrinista paraibano Shiko (1976-), oferece uma nova perspectiva visual ao clássico de Rachel de Queiroz. A HQ traduz a dura realidade da seca de 1915 no Ceará, capturando a luta pela sobrevivência e a resiliência das personagens com uma narrativa visual impactante. Shiko utiliza traços expressivos e uma paleta de cores que intensifica a aridez do sertão, ao mesmo tempo que preserva a essência e a profundidade emocional do texto original.

PARA NAVEGAR

TUDO sobre infográfico. Superinteressante, São Paulo, [200-]. Disponível em: https://super.abril.com.br/tudosobre/infografico. Acesso em: 23 set. 2024.

Os infográficos da revista Superinteressante são reconhecidos por sua capacidade de transformar informações complexas em visuais claros e atraentes. Combinando dados precisos com ilustrações criativas, esses infográficos facilitam a compreensão de temas científicos, históricos e culturais para o público geral.

PARA ASSISTIR

CAPITÃES da Areia. Direção: Cecília Amado e Guy Gonçalves. Brasil: Imagem Filmes, 2011. Streaming (96 min). Capitães da Areia é um filme brasileiro de 2011, com base no clássico romance de Jorge Amado. A história desenrola-se na cidade de Salvador (BA) nos anos 1930 e acompanha um grupo de meninos de rua conhecidos como os Capitães da Areia. Liderados por Pedro Bala, os garotos vivem de pequenos furtos, encontrando na amizade e na solidariedade um meio de enfrentar a dura realidade das ruas. O filme propõe uma profunda reflexão sobre o abandono na infância e a busca por um futuro melhor em meio à pobreza e à exclusão social.

Capa do livro O quinze

Infográfico Por dentro de uma baleia-azul.

do filme Capitães da Areia.

GISELLE HIRATA, ALEXANDRE JUBRAN, MAYRA FERNANDES E TIAGO JOKURA/ABRIL COMUNICAÇÕES S.A.
Pôster

TEMPO PARTIDO 2

PORTINARI, Candido. Guerra e Paz. 1956. Óleo sobre madeira, 1 400 cm × 1 000 cm cada painel. Sede da Organização das Nações Unidas, Nova York.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Os dois painéis a seguir, intitulados, respectivamente, Guerra e Paz, são do pintor Candido Portinari e fazem parte do acervo da Assembleia Geral das Nações Unidas, um dos seis órgãos da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. Observe-os.

2. a) Os painéis dialogam com o Cubismo, pois apresentam personagens e cenários compostos de formas geométricas.

1. Os painéis de Portinari expõem situações opostas que podem ser criadas pelo ser humano: a guerra e a paz. Identifique quais elementos dos painéis remetem a cada uma dessas situações.

• Guerra

• Pa z

Pessoas chorando com as mãos no rosto, pessoas com as mãos erguidas, pessoas ajoelhadas, quatro pessoas a cavalo (que lembram os cavaleiros do Apocalipse: Conquista, Guerra, Fome e Morte) e a presença de feras ameaçadoras.

2. Observe o modo como os painéis foram pintados. Em ambos, o artista utilizou recursos oriundos das chamadas vanguardas europeias para a composição das cenas.

a) Com que vanguarda do início do século XX esses painéis dialogam? Explique.

2. b) O painel foca o sofrimento causado pela guerra e não o conflito em si. Crianças brincando, fazendo parte de um coral, pessoas dançando e trabalhando.

b) O painel Guerra difere de grande parte das pinturas que tematizam conflitos por não apresentar cenas de lutas, armas ou sangue. Qual é o foco dessa pintura?

3. Os painéis de Portinari estão expostos na ONU, em Nova York, desde a década de 1950. Na primeira metade do século XX, o mundo já havia vivenciado duas guerras mundiais.

a) O painel Guerra faz referência a alguma guerra específica? Que sentido essa escolha produz?

b) Que perspectiva de sociedade é possível vislumbrar no painel Paz?

3. a) Não há referência a uma guerra específica. E, por focar o sofrimento das pessoas, pode estar relacionado a qualquer guerra já acontecida, ou que venha a acontecer, e ao sofrimento que provoca nas pessoas.

3. b) É possível vislumbrar uma sociedade em que as pessoas podem viver com tranquilidade, conseguindo trabalhar, divertir-se, brincar, conviver.

Não escreva no livro.

Observe as imagens a seguir: um grafite do incógnito Banksy (1974-) e uma pintura de Dora Longo Bahia (1961-) com base em uma fotografia de Jürgen Stroop.

BANKSY. The armored dove [A pomba de armadura]. 2007. Spray sobre parede. Belém, Cisjordânia.

BAHIA, Dora Longo. Jürgen Stroop: gueto de Varsóvia, Segunda Guerra Mundial, Polônia, 1943. 2012. Acrílico sobre pergaminho, 42 cm × 57 cm. Série Os desastres da guerra.

4. O grafite de Banksy também propõe uma reflexão sobre guerra e paz.

a) De que forma o grafite subverte o sentido tradicionalmente atribuído à pomba branca?

b) Que reflexão é sugerida pelo grafite com relação à guerra e à paz?

c) Banksy, cuja identidade segue um mistério, ficou famoso fazendo murais com estêncil e tinta spray nas ruas de Bristol, cidade inglesa, no início dos anos 1990. Em sua opinião, qual é a importância de artes como essa, de denúncia, estarem expostas nas ruas?

5. A pintura da artista Dora Longo Bahia reproduz uma famosa fotografia da Segunda Guerra, quando os nazistas invadem a Polônia e enviam judeus a guetos.

a) Q ual é a importância de se rememorarem cenas de violência e guerra como faz a obra de Dora Longo Bahia?

b) A s érie Os desastres da guerra , à qual pertence a pintura de Dora Longo Bahia, propõe uma reflexão sobre imagens de violência. Você também se depara frequentemente com imagens de violência? Onde? Em que veículo elas circulam?

O mundo contemporâneo testemunha violências, desigualdades e tensões globais que parecem não se encerrar e perpetuam conflitos em diversos lugares do mundo, alguns dos quais parecem se repetir sem cessar. Guerras, conflitos, violências, fome e preconceitos ainda são fatores determinantes na experiência humana.

A poesia da segunda geração modernista, que você vai estudar nesta unidade, respondeu a um contexto de guerras e conflitos no mundo e no Brasil. Os poemas dessa geração exploraram a fragmentação da realidade e a angústia existencial gerada pelos conflitos mundiais e as profundas transformações sociais. Manifestaram, também, por meio do poder das palavras, uma forma de resistir a esse contexto e afirmar a capacidade de cura da arte.

5. a) Espera-se que os estudantes destaquem que a retomada dessas imagens faz com que esse tipo de violência não seja esquecido, para que situações assim não se repitam.

4. a) A pomba branca é geralmente relacionada à paz, mas, por vestir um colete à prova de balas e ter uma mira a laser no peito, sugere uma paz instável, ameaçada pela violência, pela guerra.

4. b) Quando o símbolo da paz tem de se proteger de um tiro por estar ameaçado, indica que a paz está prestes a acabar, como se não fosse mais possível no mundo. 4. c) Espera-se que os estudantes percebam que obras expostas nas ruas têm mais visibilidade e alcançam um número muito mais significativo de espectadores do que as que ficam em galerias e museus.

5. b) Espera-se que os estudantes citem casos de violência divulgados em jornais e portais sensacionalistas, redes sociais e programas de TV.

DORA LONGO
BAHIA/COLEÇÃO PARTICULAR

Tempo de tomar partido

Embora a tecnologia e o avanço da ciência já consigam produzir contextos para uma vida melhor aos seres humanos, testemunham-se problemas sociais – como fome, pobreza, violência e situações de vulnerabilidade – que parecem não ter fim. Além do campo político de lutas sociais e ideológicas, a arte sempre voltou o olhar a esses problemas. A poesia, por exemplo, ergueu sua voz para denunciar a injustiça, a violência, a exclusão.

Para discutir

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

1 Há situações de conflito armado ocorrendo no Brasil ou no mundo? Se sim, quais?

2 Quais são as causas mais recorrentes desses problemas sociais e conflitos armados?

A seguir, você vai ler dois poemas de duas das mais relevantes poetas contemporâneas: o primeiro, de Luisa Romão, publicado no livro Também guardamos pedras aqui, de 2021, ganhador do Prêmio Jabuti; o segundo, de Tatiana Pequeno, publicado no livro Onde estão as bombas, de 2019.

Texto 1

andrômaca

não conheci troia ruínas a mais ruínas a menos também guardamos pedras aqui do outro lado do oceano tudo o que aprendi foi nesse alfabeto moderno eis o momento apoteótico minha obsessão nossos despojos é troia minhas amigas encurraladas na mesa do chefe é troia a jovem saco preto no rosto festa de luxo é troia

[…] é troia meu companheiro baleado no rosto é troia os corpos desovados no mangue as lideranças perseguidas é troia as vítimas de feminicídio é troia

[…] a filosofia o direito o ocidente nascem da devastação de troia agora você entende por que voltei? não conheci troia mas a entrevejo esplêndida

#SOBRE

Luiza Romão (1992), poeta, atriz e slammer, destaca-se por sua escrita potente e original. Aborda temas como feminismo, identidade e questões sociais e políticas, utilizando a poesia como ferramenta de resistência e transformação. Publicou Sangria (2017), Nadine (2022) e Também guardamos pedras aqui (2021), que venceu o Prêmio Jabuti e foi finalista no Prêmio Oceanos. Luiza também tem uma forte presença em slams e no teatro, tendo adaptado para a linguagem dramática seu premiado livro Também guardamos pedras aqui

Fotografia da poeta em 2023.

lER O MUNDO
Não escreva no livro.

nas carícias clandestinas durante os bombardeios e gás de pimenta nas barricadas nas clínicas de aborto nos abrigos inusitados na desobediência no canto sim no canto eu não vou me entregar você grita eu repito através dos séculos minha irmã não há poemas para ti nenhuma linha sobre cibele onde perdemos o tino quando virou espetáculo maldita literatura e seu panteão de vitórias me abrace forte a explosão está próxima ela há de vir

Texto 2

cibele: referência a Cibele, deusa da Frígia, considerada a mãe dos deuses; simboliza a fertilidade e o ciclo da vida. Cibele teria salvado Zeus, deus máximo do Olimpo, de ser devorado por Cronos, seu pai, como teria acontecido com seus outros irmãos.

ROMÃO, Luiza. Andrômaca. In: ROMÃO, Luiza. Também guardamos pedras aqui. São Paulo: Nós, 2021. p. 62-63.

eles venceram gaguejando pragas dançaram macabramente em cores de bandeira a coreografia dos incêndios estou tentando atravessar as ruas mas esbarro nos mortos e nas armas do abandono — restos das árvores que o temporal levanta garantindo o encontro definitivo com o passado — há corpos na esquina

museu nacional

cacos e papéis da quinta e de longe posso mapear onde estão as outras bombas porque o ataque já foi iniciado e nós nos mantemos vivos enquanto os soldados vão errando alguns dos seus alvos (nós) deixamos um débito gigantesco e nosso dinheiro não paga a natureza também foi queimado o canto dos povos talvez não haja música para a extinção

PEQUENO, Tatiana. Museu nacional. In: PEQUENO, Tatiana. Onde estão as bombas. Juiz de Fora: Macondo, 2019. p. 83.

Tatiana Pequeno (1979-) é professora do Programa de Pós-Graduação de Literatura Portuguesa na Universidade Federal Fluminense (UFF). Como professora e pesquisadora, desenvolve estudos sobre as relações entre raça, femininos, gênero, sexualidade e psicanálise. Publicou Réplica das urtigas (2009), Aceno (2014), Onde estão as bombas (2019), Tocar o terror (2022) e Teoria da ressecção (2023).

#SOBRE Fotografia da poeta em 2023.

O cavalo de Troia ontem e hoje

O cavalo de Troia teria sido uma estratégia utilizada pelos gregos para conquistar a cidade de Troia, que estava cercada havia dez anos. Segundo esse mito, os gregos construíram um cavalo de madeira oco, onde soldados gregos se esconderam, e o apresentaram aos troianos como um símbolo de rendição. Os troianos aceitaram o presente e o levaram para dentro da cidade, o que permitiu a entrada dos soldados gregos que estavam escondidos.

A expressão presente de grego faz referência a esse mito, presente dado pelos gregos aos troianos. Além disso, o vírus cibernético Cavalo de Troia recebeu esse nome por vencer as barreiras de defesa dos computadores, causando danos à máquina.

TIEPOLO, Giovanni Domenico.

1. b) Moderno corresponde ao aqui, às referências do eu lírico e àquilo que ele testemunha no tempo em que vive; o antigo é Troia.

PENSAR E COMPARTIlHAR

A procissão do cavalo de Troia. 1760. Óleo sobre tela, 38,8 cm x 66,7 cm. National Gallery, Londres. Não

1. O poema “Andrômaca” refere-se a um aqui, termo que estabelece um lá no universo do eu lírico.

a) A que se referem o aqui e o lá?

O aqui refere-se ao contexto do eu lírico, que se situa no presente; o lá é Troia, o passado.

b) Releia: “tudo o que aprendi foi nesse alfabeto moderno”. O adjetivo moderno cria também seu contrário, o antigo. Explique a afirmação identificando a que se refere cada termo.

2. A Grécia é considerada por vários estudiosos o berço da civilização ocidental. Releia: “a filosofia o direito o ocidente / nascem da devastação de troia”, ou seja, teriam sobrevivido como produtos da destruição de Troia.

a) Tendo em mente a cultura ocidental, herdada da Grécia, a associação da filosofia e do direito a essa guerra sugere algo em relação a ela?

Sugere que a cultura ocidental foi imposta por meio da violência.

b) Como podem ser entendidas as ruínas de Troia mencionadas pelo eu lírico?

3. A pedra é elemento central do poema.

As ruínas podem ser os escombros físicos do que teria sido a cidade de Troia, mas também as histórias derivadas da Guerra de Troia.

a) A s pedras de Troia podem ser entendidas em sentido literal e em sentido metafórico. Explique quais são.

As pedras em sentido literal podem ser entendidas como restos das ruínas de Troia; em sentido metafórico, como a violência de Troia.

b) No aqui do poema, que sentidos são atribuídos às pedras?

c) O verso “também guardamos pedras aqui” compõe um poema que denuncia a devastação de uma Troia que atravessa o tempo e atinge o aqui. Que associação se pode fazer, com base nessa constatação, entre a pedra e o poema?

A pedra pode ser entendida como arma de resistência, que está materializada no poema.

4. Leia o trecho a seguir, que faz referência à Andrômaca, personagem da Guerra de Troia, esposa de Heitor, o maior guerreiro troiano, morto pelo grego Aquiles antes do final da guerra. O trecho analisa a tragédia grega que leva o nome da personagem, escrita por Eurípides. Marcada pela […] lembrança da Guerra de Troia e pela constante lamentação dos seus afetos, a Andrómaca de Eurípides transporta uma poderosa mensagem: a guerra gera ódios que causam devastação muito para além dos campos de batalha. As memórias da guerra passada são partilhadas por todas as personagens, até pelas que a viveram à distância. Passada a guerra, cada uma delas vive agora dramas pessoais que são fruto dessa tragédia coletiva. […]

ANDRÓMACA. Coimbra: Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra, c2024. Disponível em: www.uc.pt/cech/investigacao/projeto-geral/associacao-cultural-thiasos/producoes/andromaca/. Acesso em: 28 set. 2024.

3. b) O sentido das várias formas de manifestação da violência: assassinato, assédio, tortura, corpos desovados no mangue, feminicídio, perseguição política.

SAIBA MAIS
escreva no livro.
GALERIA NACIONAL, LONDRES, INGLATERRA

4. a) O eu lírico aproxima os tempos, tratando Andrômaca como um interlocutor vivo, de quem busca a compreensão de que a violência da guerra se perpetuou.

4. b) O eu lírico e Andrômaca seriam irmãos nas dores, no sofrimento da violência e nas consequências das guerras que enfrentaram/enfrentam.

a) Releia este verso do poema de Luiza Romão: “agora você entende por que voltei?”. Que efeito de sentido produz o recurso de dirigir-se diretamente a Andrômaca?

b) Em um verso, o eu lírico chama Andrômaca de “minha irmã”. O que torna possível essa irmandade?

c) O t recho da análise da peça de Eurípides refere-se a uma “tragédia coletiva”. Depois de ler o poema, explique por que se pode considerar que o eu lírico ainda faz parte da tragédia coletiva de Andrômaca.

#SOBRE

Eurípides (484-406 a.C.) foi um dramaturgo grego que, em suas obras, ressaltou as inquietações da alma humana, em especial a feminina. Eurípides escreveu em torno de 93 peças, mas só foram resgatadas 19 tragédias e fragmentos de outras obras. Entre suas tragédias mais conhecidas estão, além de Andrômaca , Medeia , As troianas e As bacantes

Foto de escultura de Eurípides de ca. 330 a.C.

5. a) O esplendor da Troia entrevisto na atualidade não se refere à beleza e grandiosidade da cidade, mas à magnitude da guerra e de suas consequências. Por isso, pode-se considerar o sentido irônico: a referência não é à sua suntuosidade, mas ao pior do que pode oferecer.

5. O poema lista várias situações na sociedade atual em que ainda é possível vislumbrar Troia.

a) Nessas situações, o eu lírico relata: “a entrevejo esplêndida”. Que sentido o adjetivo produz quando relacionado a essa “Troia atual”?

b) Para deixar mais evidente a presença dessa guerra na atualidade, o eu lírico recorre a um recurso que permite entrever Troia ao longo dos versos. Que recurso é esse e que sentido ele produz?

Troia, Helena, Andrômaca

4. c) Porque a violência da guerra, cujos efeitos atingem sempre um coletivo, uma sociedade, multiplicou-se em novas formas de violência, como se a semente da guerra vivida por Andrômaca tivesse sido lançada no tempo e alcançado a atualidade na fúria da devastação, do desejo de dominação e subordinação do outro. Professor, a interpretação desse poema não é fácil. É provável que os estudantes precisem de sua ajuda; portanto, sugere-se ir construindo com eles as respostas para cada um dos questionamentos apresentados.

A Guerra de Troia, entre gregos e troianos, teve início por causa do rapto de Helena, esposa de Menelau, rei de Esparta. Mas não há fontes suficientes para afirmar sua veracidade, tampouco seus motivos. A versão da história dessa guerra é contada nos poemas Ilíada e Odisseia, que se estima terem circulado na Grécia entre os séculos IX ou VIII a.C. Alguns historiadores acreditam que a guerra tenha acontecido por disputas territoriais e migratórias.

Troia perdeu a guerra; a troiana Andrômaca foi levada como escravizada e se tornou concubina do grego Neoptólemo, filho de Aquiles, e teve um filho com ele. Hermione, esposa de Neoptólemo, passa então a planejar a morte da rival. Mas o pai de Aquiles, Peleu, aparece a tempo e salva Andrômaca e o bisneto.

Eurípides eternizou a história de Andrômaca na tragédia de mesmo nome.

6. Ao final do poema, depois de listar a permanência de Troia, há estes versos: “onde perdemos o tino quando virou espetáculo / maldita literatura e seu panteão de vitórias”.

a) O que virou espetáculo? Explique.

A violência e sua banalização nos eventos cotidianos.

b) O eu lírico condena um tipo de “literatura e seu panteão de vitórias”, que chama de maldita . A que literatura se refere o eu lírico? Por que condena essa literatura?

Refere-se à literatura que exalta heróis que são assassinos e promovem muitas violências de diversas ordens.

c) Releia: “me abrace forte a explosão está próxima”. A quem se dirige o eu lírico? A que explosão se refere?

O interlocutor do eu lírico tanto pode ser Andrômaca quanto o leitor do poema. A explosão seria provavelmente uma nova violência que, dessa vez, teria o eu lírico e seu interlocutor como vítimas.

7. Leia o trecho a seguir, sobre um dos episódios mais lamentáveis para a cultura e história brasileira nas últimas décadas: o incêndio em um dos principais museus do Brasil, o Museu Nacional, que ficava no palácio da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro (RJ).

5. b) Ao longo do poema, há muita repetição da expressão é Troia no início e no final dos versos, o que produz a ideia de que ela está presente em todos os lugares.

SAIBA MAIS

7. a) Espera-se que os estudantes considerem que se perde um pouco da história e da cultura de um povo. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor. 7. b) Nos versos “coreografia dos incêndios”, “papéis da quinta” (Quinta da Boa Vista, onde ficava o museu) e “queimando o canto dos povos”.

CELSO PUPO/SHUTTERSTOCK.COM

O incêndio de 2018 destruiu a maior parte do acervo do museu.

a) O que se perde quando se queima um museu?

b) O título do texto 2 é “Museu nacional”. Como o episódio do incêndio é referido no poema?

8. No poema de Tatiana Pequeno, embora o título faça referência a um museu, o cenário descrito sugere uma guerra. Que elementos sinalizam essa situação no poema?

Na noite do dia 02 de setembro de 2018 o Palácio de São Cristóvão que abrigava grande parte do acervo do Museu Nacional foi atingindo por um incêndio de grandes proporções. Este foi o maior desastre da história da instituição. Documentos, livros e coleções desapareceram; salas de aula, arquivos e laboratórios viraram cinzas. […] No que se refere às coleções do Setor de Etnologia e Etnografia (SEE), elas foram severamente atingidas. Aquilo que era constituído de materiais frágeis e de pouca resistência, como é o caso das peças de plumária, tecido e madeira, foi maiormente danificado. A grande maioria, inclusive, desapareceu.

O INCÊNDIO de 2018. Rio de Janeiro: Setor de Etnologia e Etnografia do Museu Nacional, c2024. Disponível em: www.museunacional.ufrj.br/see/o_incendio_de_2018.html. Acesso em: 28 set. 2024.

etnologia: ciência que estuda fatos e documentos sobre diferentes culturas e civilizações, analisando-as comparativamente.

etnografia: estudo descritivo de grupos sociais, suas características sociais, antropológicas etc.

A presença de armas, soldados, corpos e bombas.

9. Constrói-se no poema uma dualidade entre eles e nós .

“(nós)” destaca ao evidenciar contra quem os soldados lutam

9. a) O nós seriam aqueles que condenam o ataque, o incêndio, as bombas, a destruição e resistem àquilo que no poema sugere guerra. Eles seriam o oposto do nós, que, no poema, estão ao lado da violência, do incêndio, do extermínio.

a) Quem seria esse nós do qual faria parte o eu lírico do poema? Quem seriam eles?

b) Que recurso poético é utilizado para destacar essa dualidade?

10. Depois de tantos ataques e perseguições, o poema finaliza em tom melancólico.

a) Releia: “também foi queimado o canto dos povos / talvez não haja música para a extinção”. O verso refere-se à música que emudece. A que músicas se referem os versos?

b) E xplique como a queima de um museu pode intensificar o tom melancólico do poema.

11. O poema de Luiza Romão e o de Tatiana Pequeno dialogam em alguns níveis de interpretação.

a) Que tom os poemas assumem com relação aos problemas sociais aos quais se referem?

Os poemas assumem uma perspectiva pessimista, melancólica, de inevitabilidade.

b) Discuta com os colegas e registre as conclusões no caderno: o que seria possível fazer para escapar desse cenário apresentado pelos poemas?

ENTÃO...

Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes façam referência à luta, às reivindicações, à educação, ao engajamento e à união das pessoas para lutar por uma sociedade melhor, mais justa e igualitária, sem violências e perseguições de qualquer ordem.

Uma certa poesia contemporânea dialoga com várias demandas sociais: com os direitos de minorias, com as desigualdades econômicas, com as violências do dia a dia, com a desigualdade persistente na sociedade. Esses poetas respondem ao seu tempo e estão engajados na transformação da sociedade, pois um verso tem a possibilidade de promover uma conscientização que pode ser maior do que um longo debate.

Essa postura, engajada e preocupada com a sociedade e com o sofrimento dos seres humanos, também foi adotada por poetas da segunda geração modernista: parte de seus poemas foi produzida em um momento de grande tensão no mundo, o entreguerras e a Segunda Guerra Mundial. A seguir, você vai conhecer mais desses poetas e poemas.

10. a) Às músicas da cultura em geral, ao canto dos povos indígenas em particular, já que o museu guardava, por exemplo, peças de arte plumária, própria das culturas dos povos originários, e à música fúnebre, que acompanharia a morte dessa memória.

10. b) A queima de um museu acaba com toda a memória e lembrança de um povo que pode já ter desaparecido, como se fosse uma dupla extinção: a física e a da lembrança.

Tempo de seres humanos partidos

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Os anos 1930, além de marcados pela instabilidade política no mundo com a Primeira Guerra Mundial e a quebra da Bolsa, em 1929, também viram a consolidação das propostas artísticas e culturais que revolucionaram as artes na virada do século XIX para o XX. Os escritores voltaram, então, o olhar crítico para o contexto em que viviam e passaram a refletir sobre os conflitos sociais, políticos e ideológicos que precederam a Segunda Guerra. A crise existencial que assolou a humanidade nesse momento favoreceu o engajamento social e político e uma volta à religiosidade como alternativa à existência conturbada do entreguerras. A esse cenário soma-se a ditadura getulista (1937-1945). É nesse contexto que se dá a produção dos poetas da segunda geração modernista.

Para lembrar

1 Que características da poesia da primeira geração modernista são determinantes para conferir aos poetas da segunda geração maior liberdade na produção de seus poemas?

Para discutir

Liberdade de criação, liberdade formal, regionalismo, nacionalismo crítico, ironia e crítica aos símbolos de nacionalidade estão entre os itens que podem ser citados.

A década de 1930 ficou marcada pelas consequências da quebra da Bolsa, em 1929, nas economias e na sociedade e pelo nascimento do nazifascismo em estados totalitários.

1 Discuta com os colegas o que é fascismo e quais são as suas consequências para a sociedade.

2 De que forma o fazer poético pode atuar na luta contra um regime de opressão e violência?

Professor, se necessário, oriente os estudantes a fazer uma pesquisa básica para terem noção desse conceito que será importante na discussão da produção dos poemas da segunda geração.

A seguir, você lerá dois poemas do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, um dos maiores poetas brasileiros do século XX. O primeiro foi publicado no livro Sentimento do mundo (1940), e o segundo, em A rosa do povo (1945).

Texto 1

Sentimento do mundo

Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo, mas estou cheio de escravos, minhas lembranças escorrem e o corpo transige na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu estará morto e saqueado, eu mesmo estarei morto, morto meu desejo, morto o pântano sem acordes.

Fotografia do poeta em 1985.

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) nasceu em Itabira (MG), cidade marcada pelo patriarcalismo, pela vida nas fazendas e pela produção de ferro. Formou-se em Farmácia sem ter vocação alguma para a profissão. Estreou na literatura com a criticada publicação do poema “No meio do caminho”, na Revista de Antropofagia . Trabalhou como jornalista e como funcionário público. Em 1934, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se tornou chefe de gabinete do então Ministro da Educação, Gustavo Capanema. Publicou mais de 30 livros de poesia, todos grandes sucessos de público e de crítica.

O X DA QUESTÃO
Não escreva no livro.
#SOBRE

Os camaradas não disseram que havia uma guerra e era necessário trazer fogo e alimento. Sinto-me disperso, anterior a fronteiras, humildemente vos peço que me perdoeis.

Texto 2

I

Esse é tempo de partido, tempo de homens partidos.

Quando os corpos passarem, eu ficarei sozinho desfiando a recordação do sineiro, da viúva e do microscopista que habitavam a barraca e não foram encontrados ao amanhecer

esse amanhecer mais noite que a noite.

Nosso tempo

VIII

Em vão percorremos volumes, viajamos e nos colorimos. A hora pressentida esmigalha-se em pó [na rua.

Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos. As leis não bastam. Os lírios não nascem da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se na pedra.

Visito os fatos, não te encontro.

Onde te ocultas, precária síntese, penhor de meu sono, luz dormindo acesa na varanda? Miúdas certezas de empréstimos, nenhum [beijo sobe ao ombro para contar-me a cidade dos homens completos.

Calo-me, espero, decifro. As coisas talvez melhorem. São tão fortes as coisas! Mas eu não sou as coisas e me revolto. Tenho palavras em mim buscando canal, são roucas e duras, irritadas, enérgicas, comprimidas há tanto tempo, perderam o sentido, apenas querem explodir.

[…]

O poeta declina de toda responsabilidade na marcha do mundo capitalista e com suas palavras, intuições, símbolos e [outras armas promete ajudar a destruí-lo como uma pedreira, [uma floresta um verme.

DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. Nosso tempo. In: DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. A rosa do povo. 21. ed. Rio de Janeiro: Record, 2000. p. 29-37.

Capa do livro em que o poema ”Nosso tempo” foi publicado.

DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. Sentimento do mundo. In: DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. Sentimento do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 9.

1. a) Ao explicitar “que havia uma guerra”, o eu lírico afirma uma atitude sentimental, uma dispersão que testemunha uma espécie de desalento e de impotência diante da morte, da memória, da vida que escorre.

1. b) Fogo e alimento referem-se aos preparos para encampar uma luta, portanto engajar-se na guerra. No entanto, dado que ninguém o avisou, ele não se preparou; então assume uma postura de desolada aceitação.

PENSAR E COMPARTIlHAR

Não escreva no livro.

1. O poema “Sentimento do mundo” faz parte de um livro de mesmo nome e foi publicado no começo da Segunda Guerra Mundial e durante o regime ditatorial do Estado Novo (1937-1945).

a) E xplique como o poema responde a esse contexto de produção e publicação.

b) Os versos “Os camaradas não disseram / que havia uma guerra / e era necessário / trazer fogo e alimento” expressam possibilidades de reação ao contexto da guerra. Explique o que simbolizam fogo e alimento e que atitude assume o eu lírico diante dessa contingência.

2. Releia a última estrofe do poema “Sentimento do mundo”.

a) Que sentidos podem ser atribuídos à palavra noite? Que situação se projeta por meio dela?

b) A postura que o eu lírico mantém diante dessa situação pode ser relacionada com os dois primeiros versos do poema. Explique qual é a atitude e como pode se dar essa relação.

2. a) Sentidos de escuridão, desesperança, angústia, tristeza. Um amanhecer que não amanhece é pior do que a noite, pois não traz luz e renovação. Equivale ao silêncio de “um pântano sem acordes”.

3. Releia: “Sinto-me disperso”. Ao declarar isso, o eu lírico manifesta uma espécie de impotência diante do que o afeta.

a) O que afeta o eu lírico?

2. b) O eu lírico mostra impotência, desolada resignação de quem tem “apenas duas mãos / e o sentimento do mundo”. O advérbio apenas exprime a insuficiência das mãos, tomadas figurativamente como capacidade de ação. A morte, a dor, a impotência diante da guerra e do que ela traz, a impossibilidade de mudar o mundo.

b) O olhar do eu lírico se volta para o coletivo e para ele mesmo. Em que estrofe esse movimento fica claro? Que figura de linguagem dá forma a essa ideia?

c) Embora faça uma escolha e tome partido perante seu contexto, o eu lírico expressa a necessidade do perdão de seu interlocutor. O que esse pedido revela com relação à escolha do eu lírico?

4. Embora o poema esteja alinhado ao Modernismo literário, que defendia liberdade de composição, os versos de “Sentimento do mundo” apresentam certa regularidade rítmica. Considere os dois primeiros versos para responder às questões.

a) L eia o quadro #paralembrar e identifique quantas sílabas poéticas tem cada verso.

3. b) Na quarta estrofe: ele está sozinho, mas desfiando a recordação do sineiro, da viúva e do microscopista. Essas recordações são metonímias que podem se referir a muitas outras pessoas que não foram encontradas, ou seja, que provavelmente morreram: a dor, assim, é por si mesmo e pelo outro.

b) Releia o primeiro verso e explique que sentido o acento tônico nas palavras apenas e duas destaca.

#PARAlEMBRAR

Destaca o sentimento de insuficiência do eu lírico diante da catástrofe da guerra.

4. a) Te/nho a/pe/nas/du/as/mãos (sete sílabas); e o/sen/ti/men/to/do/mun/do (sete sílabas).

Diferentemente da divisão silábica gramatical, que é gráfica, a escanção de versos em sílabas poéticas privilegia o som. Assim, a escanção une em uma única sílaba poética duas sílabas quando a última de uma palavra termina em vogal e a próxima se inicia com vogal: “sé/cu/los/de e/mo/ção/ca/ra/me/la/da”.

Para a métrica, conta-se o número de sílabas poéticas até a última sílaba tônica de um verso: “sé/cu/los/ de e/mo/ção/ca/ra/me/la/da” – dez sílabas poéticas.

5. O título do poema tem sentido específico no contexto em que foi produzido.

3. c) Revela que a escolha pela passividade do eu lírico se deu por uma indisposição interior: “Sinto-me disperso / anterior às fronteiras”. Ele pede perdão por não se engajar ativamente. As expressões duas mãos e sentimento do mundo marcam a distância entre o tamanho da dor das pessoas e o da capacidade do eu lírico de agir. Por isso, ele se acovarda e apassiva. O eu lírico revela sua empatia com o sofrimento humano, sugerindo que sabe o quanto todos estão sofrendo e que sofre com eles.

a) A que se refere o “sentimento do mundo” do eu lírico?

b) Os dois primeiros versos revelam e explicam a postura do eu lírico perante o sentimento do mundo que ele mesmo sente?

6. No texto 2, o título do poema já deixa claro do que vai tratar.

a) A que se referem os versos “Esse é tempo de partido / tempo de homens partidos”?

b) Para referir-se à miséria de seu tempo, o poeta utiliza metáforas e metonímias. Identifique as metonímias e metáforas nos versos “Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos. / As leis não bastam. Os lírios não nascem / da lei […]”.

Metonímias: carne, fogo, sapatos. Metáfora: lírios

c) E xplique a que se referem essas imagens.

Nesses versos, carne refere-se metonimicamente a alimentação; fogo, a proteção, abrigo; sapatos, a vestimenta. Os lírios referem-se, metaforicamente, à paz, e essa não pode ser garantida pela lei em uma guerra.

6. a) Referem-se ao contexto da guerra, em que as pessoas deveriam posicionar-se frente aos horrores que aconteciam, política ou ideologicamente. São esses mesmos horrores que criaram indivíduos partidos, abalados em sua crença na humanidade e na sociedade.

7. a) As tradições mortas seriam os volumes de livros, as viagens, os empréstimos e todas as pequenas coisas pelas quais o eu lírico esperava e que já não fazem sentido no contexto da guerra.

7. b) Uma sociedade livre das opressões e da exploração do capitalismo, que seria destruído em favor de uma nova sociedade.

7. O crítico Antonio Candido (1918-2017), ao analisar a poesia social de Drummond, afirma:

A consciência social, e dela uma espécie de militância através da poesia, surgem para o poeta como possibilidade de resgatar a consciência do estado de emparedamento e a existência da situação de pavor. […]

[…]

[…] Era o tempo da luta contra o fascismo, da guerra de Espanha e, a seguir, da Guerra Mundial […].

[…]

[…] Como o poeta traz o outro no próprio ser carregado de tradições mortas, a redenção do outro seria como a redenção dele próprio […].

CANDIDO, Antonio. Inquietudes na poesia de Drummond. In: CANDIDO, Antonio. Vários escritos. 2. ed. São Paulo: Livraria Duas Cidades, 1977. p. 105-106.

Candido chama a atenção para o engajamento da poesia de Drummond no contexto de guerras, em que o ser humano deveria superar sua individualidade e suas contradições em prol de uma causa maior.

a) O que seriam, no poema “Nosso tempo”, as tradições mortas a que Candido se refere?

b) O poema assume um engajamento social anticapitalista na última estrofe e coloca o eu lírico como um combatente que vislumbra outro mundo. Que nova sociedade almeja o eu lírico?

A seguir, você lerá um poema que está em Alguma poesia , primeiro livro de Drummond.

Consideração do poema

Não rimarei a palavra sono com a incorrespondente palavra outono. Rimarei com a palavra carne ou qualquer outra, que todas me convêm. As palavras não nascem amarradas, elas saltam, se beijam, se dissolvem, no céu livre por vezes um desenho, são puras, largas, autênticas, indevassáveis.

Uma pedra no meio do caminho ou apenas um rastro, não importa. Estes poetas são meus. De todo o orgulho, de toda a precisão se incorporaram ao fatal meu lado esquerdo. […]

Estes poemas são meus. É minha terra e é ainda mais do que ela. É qualquer homem ao meio-dia em qualquer praça. É a lanterna

em qualquer estalagem, se ainda as há. — Há mortos? há mercados? há doenças?

É tudo meu. Ser explosivo, sem fronteiras, por que falsa mesquinhez me rasgaria?

Que se depositem os beijos na face branca, [nas principiantes rugas.

O beijo ainda é um sinal, perdido embora, da ausência de comércio, boiando em tempos sujos. […]

Já agora te sigo a toda parte, e te desejo e te perco, estou completo, me destino, me faço tão sublime, tão natural e cheio de segredos, tão firme, tão fiel… Tal uma lâmina, o povo, meu poema, te atravessa.

DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. Consideração do povo. In: DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. A rosa do povo. 21. ed. Rio de Janeiro: Record, 2000. p. 9.

8. No poema, o eu lírico luta para conciliar seu “sentimento do mundo”, carregado de angústia, com uma ação exterior para transformá-lo. Para isso, precisa fazer conviver sua individualidade com a de outros, com os quais seu poema dialoga.

a) Ao afirmar que “os poetas são meus” e “os poemas são meus”, o eu lírico estabelece um diálogo com outros indivíduos de seu tempo. Qual é a importância desse diálogo para a construção do poema?

Com essas declarações, o eu lírico assume as influências e diálogos que tece com outros poetas e com o mundo, diálogos esses que o constituíram como um ser poético, explosivo e crítico.

8. c) O poema é a terra do eu lírico, sua lâmina. Essas expressões condensam o que o eu lírico pretende com sua arte: usar a poesia como arma (lâmina) para falar de seu povo (terra). A poesia, portanto, é veículo por meio do qual manifesta seu engajamento.

b) O eu lírico considera seu compromisso com a transformação do mundo mais importante que a própria poesia. Transcreva um verso em que esse engajamento fique evidente.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

c) Que papel o eu lírico confere ao poema?

L eia agora um soneto que o poeta Vinicius de Moraes, um dos principais nomes de sua geração, escreveu em 1939. Além de ter se dedicado à poesia social, Vinicius também tematizou em suas obras o amor e a paixão, sentimentos essenciais para a transformação da sociedade.

Soneto de fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

Fotografia do poeta em 1974.

Poeta, compositor, jornalista, diplomata, Vinicius de Moraes (1913-1980) adquiriu dos pais o gosto pelas artes acadêmicas e pela arte popular. Apaixonado pela poesia simbolista francesa, escreveu seu primeiro poema ainda na faculdade de Direito. Formado, trabalhou na censura cinematográfica e ganhou, em 1938, uma bolsa para estudar Literatura em Oxford, na Inglaterra. Na década de 1940, tornou-se diplomata e passou a dedicar-se à literatura. Na década de 1950, participou da criação da bossa nova. Manteve até o final da vida uma carreira de sucesso como compositor ao lado de parceiros como Chico Buarque, Toquinho, Baden Powel, Edu Lobo, entre outros.

MORAES, Vinicius de. Soneto de fidelidade. In: MORAES, Vinicius de. Antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 93-94.

9. O soneto de Vinicius de Moraes narra a total devoção do eu lírico ao seu amor.

a) A devoção a esse amor é intensificada por meio de uma figura de linguagem. Qual?

Copie, no caderno, um verso em que essa figura apareça.

A gradação, presente no segundo verso: “antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto”.

b) Na segunda estrofe, é possível afirmar que os sentimentos do eu lírico estão à mercê do amor que sente. Por que é possível afirmar isso?

Porque o eu lírico revela que seu riso e seu pranto estão submetidos ao pesar e ao contentamento da pessoa amada.

10. Esse amor maior destacado pelo eu lírico nos quartetos continua nos tercetos, mas sob diferentes aspectos.

a) Na terceira estrofe, quais são as possibilidades de separação do casal enunciadas pelo eu lírico?

b) E xplique, na última estrofe, o aparente paradoxo entre não ser imortal, mas ser infinito.

a) A separação pode ocorrer motivada pela morte ou pelo fim da paixão. Se o eu lírico morrer, o relacionamento acabará; se a pessoa amada morrer, restará a solidão. Se a paixão acabar, a solidão será a única alternativa para os dois.

Na lógica poética de Vinicius de Moraes, as pessoas precisam de paixão tanto quanto de ar, mas devem ser conscientes do sofrimento que a acompanha, já que paixões, amores e beleza sempre acabam. Resta a melancolia, ou a procura por uma nova paixão.

10. b) O amor, que o eu lírico compara a uma chama, não é imortal, já que as chamas morrem, se apagam. No entanto, mesmo que essa chama se apague, enquanto os que se amam estiverem juntos e apaixonados, esse amor não terá limites, será infinito.

#SOBRE

11. Outra autora, expoente da segunda geração modernista, é Cecília Meireles. Em duas de suas obras, Viagem (1939) e Vaga música (1942), que depois foram lançados em volume único, em 1982, 13 dos 99 poemas são epigramas.

Epigrama é um poema curto, de tema único e determinado, feito para ser uma exaltação a uma pessoa, uma estátua, um monumento etc.

• Embora a temática da morte seja constante na poesia de Cecília Meireles, em seus epigramas ela exaltou o amor, a felicidade, a vida e a natureza, até mesmo uma gota de água. Levando em consideração as temáticas da obra da poeta, explique a relação que haveria entre uma gota de água e o eixo de transitoriedade da vida.

A gota simbolizaria o efêmero, aquilo que está à frente das pessoas lhes concedendo alegria, prazer, mas que logo vai desaparecer, como uma lei do destino.

#SOBRE

Fotografia da poeta em 1953.

Cecília Meireles (1901-1964) formou-se no Curso Normal do Instituto de Educação do Rio de Janeiro. A partir de 1917, passou a lecionar em escolas oficiais do então Distrito Federal. Aos dezoito anos, publicou seu primeiro livro de poemas, Espectro (1919). Organizou a primeira biblioteca infantil do Rio de Janeiro, em 1934. Realizou conferências em diversos países sobre literatura e educação. Em 1953, recebeu o título de doutora honoris causa da Universidade de Délhi, Índia. Em 1962, recebeu o Prêmio de Tradução/Teatro concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte. No ano seguinte, ganhou o Prêmio Jabuti de Tradução de Obra Literária, pelo livro Poesia de Israel (1962), concedido pela Câmara Brasileira do Livro (CBL). A obra de Cecília Meireles tem como eixo a discussão sobre a efemeridade da existência e a proximidade da morte. Seus poemas discutem de forma mística como a morte é a única certeza que o futuro reserva e como os indivíduos devem se apegar aos instantes da vida e extrair deles a fonte de seus sentimentos, sejam felicidade e amor, sejam seus contrários.

A religiosidade como antídoto para o sofrimento

Murilo Mendes (1901-1975) e Jorge de Lima (1893-1953) são dois expoentes da poesia brasileira que, embora tenham percorrido caminhos distintos na literatura, convergem na expressão de suas inquietações espirituais por meio da poesia religiosa.

A obra de Murilo Mendes produz sentidos enigmáticos. Eles decorrem de uma linguagem poética mais preocupada com a produção de imagens do que com a de uma mensagem. Ao romper com a lógica tradicional do real, sua obra recorre à representação de um universo poético onírico, de tal forma que a vida real e a surreal se confundem. Os poemas de Murilo Mendes se valem da religiosidade como forma de resgatar valores absolutos que foram abandonados na civilização moderna.

A obra literária de Jorge de Lima percorreu gêneros e temas que transitaram entre a tradição e a inovação; entre uma religiosidade cristã e uma africana. Seus primeiros e últimos poemas são sonetos, mas sua obra percorreu, com ousadia, os limites da arte poética e olhou para o Brasil e os brasileiros. Grande parte dos poemas do autor podem ser entendidos como uma espécie de guia de valores religiosos necessários à sobrevivência no caos existencial. Nesses poemas, destaca-se uma visão que descreve um mundo material injusto; a religião seria uma fuga para além da transitoriedade da vida, que acalmaria o sofrimento humano.

Agora é sua vez! Pesquise em livros, na internet, em sites de instituições públicas e selecione alguns poemas para leitura.

Depois de feita a leitura, em uma aula específica, combinada com o professor, reflita com os colegas sobre os temas e recursos poéticos utilizados pelos autores em seus poemas, tentando identificar as especificidades de suas obras, dando destaque à temática religiosa e à influência do movimento surrealista em seus poemas.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

HIPERlINK
Não escreva no livro.

InTEGranDO COm...

QUÍMICA

Química na poesia

À primeira vista, a intersecção entre Literatura e Química pode parecer inusitada. No entanto, observando mais de perto, percebe-se que ambas as disciplinas oferecem oportunidade de valiosas reflexões sobre a condição humana e sua relação com o mundo. A poesia, em particular, frequentemente reflete sobre aspectos éticos e filosóficos das inovações científicas e tecnológicas. A Química, como ciência, desempenhou um papel crucial no desenvolvimento da bomba atômica. A descoberta da fissão nuclear e a subsequente aplicação dessa descoberta em armas de destruição em massa levantam questões éticas profundas sobre a responsabilidade moral dos cientistas e o uso do conhecimento científico.

No poema a seguir, “Teologia do traste”, o mato-grossense Manoel de Barros convida o leitor a refletir sobre a responsabilidade dos seres humanos como criadores e usuários do conhecimento científico. As “ideias luminosas” mencionadas por Manoel de Barros são uma metáfora para o avanço intelectual e tecnológico, que, embora possa iluminar o espírito humano, também carrega a capacidade de causar imenso sofrimento. Barros questiona, de forma poética, o valor dessas ideias quando confrontadas com os resultados catastróficos de sua aplicação. Ele anseia por uma iluminação diferente, uma que venha dos “vermes” e dos “trastes”, sugerindo uma sabedoria e uma ética que brotam da simplicidade e da conexão com a terra.

[…]

Ideias são a luz do espírito – a gente sabe.

Há ideias luminosas – a gente sabe.

Mas elas inventaram a bomba atômica, a bomba atômica, a bomba atôm.................................. .............................................................Agora eu queria que os vermes iluminassem.

Que os trastes iluminassem.

BARROS, Manoel de. Teologia do traste. In: BARROS, Manoel de. Poesia completa . São Paulo: Leya, 2010. p. 438. Esse desejo de uma ética mais responsável e menos destrutiva ecoa os princípios da química verde, que busca desenvolver processos e produtos químicos que reduzam ou eliminem o uso e a geração de substâncias perigosas.

1. Forme dupla com um colega e, juntos, pesquisem poemas ou canções brasileiras que tematizem a bomba atômica e suas consequências. Lembrem-se de pesquisar em sites confiáveis, ligados à mídia oficial, universidades e instituições governamentais.

2. D e que forma esses poemas fazem referência à bomba atômica?

3. Q ue reflexões sobre a tecnologia e sobre o ser humano esses poemas evidenciam?

Respostas e comentários nas Orientações para o professor.

#fiCAADiCA

Que tal conhecer uma obra poética que conjuga temas da Química com ilustrações minimalistas a traço? O livro chama-se Quase poesia, quase química e foi escrito pelo professor e poeta português

Ilustração de Afonso Paiva para poema de João Paiva.

João Paiva (1966-). Com ilustrações de Afonso Paiva, o livro está disponível no site do autor, com autorização para baixar, copiar e citar. Vale a pena conhecer.

• PAIVA, João. Quase poesia, quase química. Lisboa: Sociedade Portuguesa de Química, 2012. E-book . Disponível em: www.joaopaiva.net/wp-content/uploads/2018/06/ quase-poesia-quase-quimica-jpaiva2012. pdf. Acesso em: 28 set. 2024.

Não escreva no livro.

O mundo queima

Nos anos 1940, principalmente durante e após a Segunda Guerra, predominam nas artes brasileira e mundial as vozes horrorizadas diante das mortes nos campos de concentração e provocadas pelas bombas atômicas. A experiência da guerra legou às artes a necessidade de refletir sobre os desígnios do ser humano, repensando, de forma mais madura e consequente, os motivos que o levam a se juntar em sociedades, colocando como questão o vazio resultante de milênios de evolução.

Parte da cidade de Hiroshima após o ataque nuclear. Fotografia de 1945.

A religião como refúgio

A ditadura de Getúlio Vargas teve a Igreja Católica como importante base de apoio. Em troca, Getúlio dava espaço à Igreja incluindo, por exemplo, o ensino religioso como disciplina obrigatória no currículo das escolas públicas.

Assim, o Estado deixava de ser laico e assumia o catolicismo como religião oficial. Um dos marcos dessa ligação, que permitia a proliferação ainda maior de ideais cristãos no Brasil, é a inauguração do Cristo Redentor no morro do Corcovado, Rio de Janeiro, em 1931.

A estátua do Cristo Redentor no dia de sua inauguração. Fotografia de 1931.

O mercado cresce

A crise econômica mundial após 1929 tornou caros os produtos importados. Por isso, diminuiu a entrada de livros estrangeiros no país, o que impulsionou a indústria editorial brasileira e a publicação de autores nacionais. Novas editoras, como José Olympio, Globo e Editora Nacional, investiram de forma ousada na publicação de livros de novos autores da década de 1930 e em novas traduções de clássicos da literatura mundial. A produção de livros técnicos também aumentou. As publicações das áreas do Direito e da Medicina, que antes dominavam o mercado, passaram a conviver com livros das áreas de Sociologia, História e estudos sobre o folclore. A atividade de críticos especializados, formados pelas faculdades recém-inauguradas, contribui também para orientar editores que têm de se pautar não só pelo gosto do público mas também pela aprovação do crítico.

O Brasil cultural

A cultura brasileira nas décadas de 1930 e 1940 foi marcada pela popularização de artes que até então circulavam apenas entre uma pequena elite. Idealizado por Mário de Andrade (1893-1945), foi criado o Instituto do Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1937, com o objetivo de preservar o acervo cultural nacional. Museus foram inaugurados, a produção cinematográfica e teatral recebeu incentivos; a capoeira e as escolas de samba, antes deixadas à margem, foram reconhecidas como manifestações importantes da cultura brasileira.

Fotografia do editor José Olympio em 1952.
A carreira da cantora Carmen Miranda abrangia o rádio, o teatro de revista, o cinema e a televisão. Fotografia de 1950.

A ampliação dos processos de urbanização e migração entre as regiões e a forte influên cia da cultura estadunidense favoreceu a fusão de culturas, o aparecimento de novos ritmos e novas estéticas. O samba, reconhecido como arte, começou a se popularizar com a divulgação nas rádios.

Com o mercado fonográfico se ampliando, surgiram cantores como Carmen Miranda (19091955), Francisco Alves (1898-1952) e Orlando Silva (1915-1978). Com o rádio, os artistas ganham popularidade frente a um público que pode ouvi-los a distância, sem a necessidade de ir a um show ao vivo, multiplicando as chances de sucesso do artista. O rádio também é responsável pelo surgimento de novos gêneros: a radionovela, que alcança o auge na década de 1950, e o radiojornalismo, que amplia o alcance das notícias e das propagandas do governo.

Respostas aos assombros do mundo

Nas décadas de 1930 e 1940, a arte, livre para experimentações depois das rupturas modernistas, voltou-se para uma reflexão mais madura sobre o ser humano e a sociedade e se engajou em um projeto que denunciava desigualdades, violências, injustiças e propunha transformações por meio de novos posicionamentos políticos e filosóficos. Na poesia, os escritores, herdeiros diretos da geração de 1922, elaboraram uma obra que refletia sobre o indivíduo e a sociedade sob novas perspectivas políticas ou retomava uma religiosidade abandonada pela primeira geração.

A obra de Eugênio Sigaud (18991979), pintor nascido no interior do Rio de Janeiro, apresenta o povo anônimo e trabalhador em meio a construções com vertiginosas estruturas de ferro, andaimes e cordas, que contrastam com o corpo caído e inerte de mais um trabalhador que padeceu depois de tanta exploração e exposição a perigos.

SIGAUD, Eugênio. Acidente de trabalho. 1944. Eucáustica sobre tela, 132 cm x 95 cm. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro (RJ).

A composição dos poemas tinha garantida liberdade formal, seguindo os princípios libertários da primeira geração ou retomando formas tradicionais, como os sonetos.

A obra de Carlos Drummond de Andrade, em verso ou em prosa, ultrapassa os limites de um estilo estético ou de um tempo. Voltada para os homens e seu cotidiano, seus poemas sugerem muitas e diferentes maneiras de pensar sobre a existência. A obra do autor também constrói a necessidade urgente de comunhão e solidariedade entre as pessoas, das quais se originaria um mundo novo, mais fraterno, justo e feliz. A poesia assume, portanto, um valor de necessidade: a palavra se pretende um agente transformador para além de desejos ou vontades individuais. A principal chave de leitura da poesia drummondiana consiste na percepção de como sua obra procura ultrapassar os obstáculos que se interpõem entre o sentimento do indivíduo e o mundo. Esse sentimento é sempre mediado por uma reflexão inquieta, que concilia suas contradições pelo chiste, pela ironia, pela indagação, pela busca da própria poesia.

Os primeiros poemas de Vinicius de Moraes, místicos e neossimbolistas, recorrem muitas vezes a versos livres e longos que tematizam a fé e o medo do pecado. Quando o poeta se volta para o cotidiano, sua obra usa recursos muito diversos, em que se combinam liberdade total e um evidente formalismo. Com uma linguagem simples e coloquial, que recorre por vezes à construção de neologismos, a obra de Vinicius consegue articular o formal e o prosaico. Quando se volta para o mundo material e para o cotidiano, o pecado se transforma em sensualidade, e a mulher, em musa, matéria de exaltação e desejos.

Na poesia de Cecília Meireles, os dramas e dilemas da vida são vistos como parte inevitável e necessária da existência. Poeta do instante, da efemeridade, Cecília produziu, ao longo de sua obra, um canto que aconselha os seres humanos a se conscientizarem do caráter passageiro de sua existência e exaltarem o presente como fonte de conforto e resignação.

Os poemas de Tatiana Pequeno e de Luiza Romão são herdeiros diretos dessas reflexões profundas e marcadamente sociais da segunda geração, que articulam as angústias pessoais dos indivíduos aos problemas da coletividade, marcados por uma sociedade que precisa, urgentemente, de transformação.

O trabalho de Blu – grafiteiro italiano que permanece no anonimato – dialoga com contextos que ainda persistem em todo o mundo: uma linha de produção de alistamento militar, na qual jovens soldados aparecem tendo seus cabelos cortados e seus cérebros retirados e substituídos por capacetes, como uma analogia com a lavagem cerebral sofrida pelos alistados, que oferecem sua vida em guerras das quais talvez nem saibam o motivo. BLU. [Sem título]. 2011. Spray sobre alvenaria. Campobasso, Itália.

BLU/ACERVO DO ARTISTA

O lituano Lasar Segall (1889-1957), um dos pioneiros das vanguardas artísticas no Brasil, muda a temática de suas obras a partir de 1930, lançando um olhar mais crítico sobre os dramas da humanidade. Na obra Guerra, utiliza elementos expressionistas para representar um campo de batalha em que os soldados perdem sua identidade, estão sem rosto, restando apenas a morte e o massacre.

SEGALL, Lasar. Guerra. 1942. Óleo sobre tela, 183 cm x 270 cm. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand.

lER lITERATURA

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

A literatura sobre a literatura

“Não rimarei a palavra sono / com a incorrespondente palavra outono” e “Estou farto do lirismo comedido / Do lirismo bem-comportado / Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente” são versos que iniciam os poemas “Consideração do poema”, de Carlos Drummond de Andrade, e “Poética”, de Manuel Bandeira, respectivamente. Eles afirmam uma atitude transgressora diante do fazer poético, a qual sugere ruptura com determinadas expectativas comuns quanto à escrita de poemas.

Bandeira coloca-se claramente contra a poética excessivamente regrada do Parnasianismo. Defende uma poesia livre, aberta às experimentações de linguagem e à livre expressão de sentimentos, reflexões, registros os mais variados da vida, o que inclui temas que a poesia parnasiana consideraria menor, como os fatos cotidianos.

Drummond adota uma atitude transgressora, que contraria expectativas quanto ao fazer poético. Sono de fato rima com outono, mas no poema rima com carne , palavra com a qual de fato não rima. Ao propor esse jogo, defende também uma liberdade para o fazer poético que deixe as palavras “puras, largas, autênticas, indevassáveis” se colocarem a favor da expressão autêntica de um eu cujo poema quer ser uma lâmina a atravessar o povo e a matéria bruta da vida. Por isso, sono deve rimar com carne .

O escritor francês Marcel Proust (1871-1922), ao final de seu romance Em busca do tempo perdido, redescobre o tempo e permite ao leitor, afinal, entender que, além do vasto painel da elite francesa do século XIX, início do XX, o romance também é uma reflexão sobre a literatura e seu papel social e humano: A verdadeira vida, a vida enfim descoberta e tornada clara, a única vida, por conseguinte, realmente vivida é a literatura. Essa vida que, em certo sentido, está sempre presente em todos os homens e não apenas nos artistas.

PROUST, Marcel. Em busca do tempo perdido: o tempo redescoberto. Tradução: Lúcia Miguel Pereira. São Paulo: Globo, 2013. E-book. Localizável em: p. 101 do PDF.

Ao declarar isso em tom de verdade, Proust considera o valor da memória na construção das narrativas das artes em geral, e dos seres humanos enquanto sujeitos.

A literatura que pensa a si mesma é também uma inquietação carregada de perguntas que, em geral, buscam caminhos novos, que renovem as estéticas e respondam a novos tempos. Ler literatura é também, entre tantas coisas, entender essas buscas e suas motivações.

Para discutir

1. Em sua opinião, qual é o papel da memória na vida das pessoas?

Não escreva no livro.

2. Suponha que você fosse escrever um texto falando de sua relação com a escrita. Que aspecto gostaria de destacar?

Professor, se possível, proponha a escrita desse texto e a leitura compartilhada com a classe.

MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO ASSIS CHATEAUBRIAND, SÃO PAULO, BRASIL

Poesia para além do verso

lER O MUNDO Não escreva no livro. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Nesta unidade, você conheceu um pouco mais sobre alguns dos maiores poetas do Brasil e leu alguns poemas canônicos de nossa literatura. Todos eles, no entanto, seguindo ou não modelos de construção mais formais, ainda se estruturavam em torno do verso. A seguir, você vai conhecer formas do fazer poético que usam outros recursos que não o verso na produção poética.

Para discutir

Ao longo de todo Ensino Fundamental – Anos Finais e do Ensino Médio, você já leu, interpretou e até produziu poemas. A poesia, no entanto, embora seja facilmente associada ao verso, pode ir muito além dele.

1 Como você define poesia?

2 E como define prosa?

Respostas pessoais. Professor, apesar de o que está sendo solicitado aqui ser uma resposta pessoal, o que se espera é que os estudantes acionem seus conhecimentos prévios sobre a questão – que devem ter sido acumulados ao longo de todas as unidades em que o assunto foi trabalhado – e que consigam formular algumas respostas que tenham esses conhecimentos como base, e não apenas “achismos” sem conteúdo.

3 De que maneiras a poesia pode se manifestar na sociedade para além de textos?

Você vai ler a seguir dois poemas que usam recursos diferentes daqueles que são em geral associados a esse gênero. O primeiro é um poema em prosa do poeta Manoel de Barros, do livro Ensaios fotográficos (2000). O segundo é um poema visual da artista paulistana Lenora de Barros (1953-), exposto em várias exibições do Brasil e do mundo.

Texto 1

Palavras

Veio me dizer que eu desestruturo a linguagem. Eu desestruturo a linguagem? Vejamos: eu estou bem sentado num lugar. Vem uma palavra e tira o lugar de debaixo de mim. Tira o lugar em que eu estava sentado. Eu não fazia nada para que a palavra me desalojasse daquele lugar. E eu nem atrapalhava a passagem de ninguém. Ao retirar de debaixo de mim o lugar, eu desaprumei. Ali só havia um grilo com a sua flauta de couro. O grilo feridava o silêncio. Os moradores do lugar se queixavam do grilo. Veio uma palavra e retirou o grilo da flauta. Agora eu pergunto: quem desestruturou a linguagem? Fui eu ou foram as palavras? E o lugar que retiraram de debaixo de mim? Não era para terem retirado a mim do lugar? Foram as palavras pois que desestruturaram a linguagem. E não eu.

BARROS, Manoel de. Palavras. In: BARROS, Manoel de. Poesia completa São Paulo: Leya, 2010. p. 392-393. lEITURA:

#SOBRE

Manoel de Barros (19162014) foi um dos grandes poetas contemporâneos.

Fotografia do poeta em 2000.

Em seus versos, que extraía da realidade imediata que o cercava, os elementos regionais se articulavam a  consideraçõesexistenciaiseaumaespécie de Surrealismo. Recebeu o Prêmio Jabuti de Literatura duas vezes: em 1989, com a obra Guardador de águas; em 2002, com O Fazedor de amanhecer Nascido em Cuiabá (MT), passou a infância na fazenda da família localizada no Pantanal. Na adolescência, estudou em colégio interno na cidade de Campo Grande, época em que escreveu seus primeiros poemas.

Texto 2

Dizendo quase nada

Lenora de Barros (1953-) é uma artista visual e poeta paulistana formada em Linguística pela Universidade de São Paulo (USP). Sua obra explora linguagens variadas, como vídeo, performance, fotografia, instalação sonora e objetos. Em 1983, lançou o livro Onde Se Vê , combinando palavras e sequências fotográficas performáticas. Sua primeira exposição individual, Poesia É Coisa de Nada, ocorreu em 1990, na Galeria Mercato del Sale, em Milão, Itália. Entre 1993 e 1996, publicou uma coluna experimental no periódic o paulistano Jornal da Tarde chamada “... umas”, na qual criou obras que depois evoluíram para vídeos e fotoperformances diversas.

BARROS, Lenora de. Dizendo quase nada 1979-2013. Impressão a jato de tinta sobre papel de algodão, 75 cm x 38,5 cm.

PENSAR E COMPARTIlHAR

Não escreva no livro.

1. No poema de Manoel de Barros, o eu lírico declara que foi acusado de desestruturar a linguagem.

a) Para que algo se desestruture, é necessário que tenha antes se estruturado. O que é essa estrutura da linguagem?

A estrutura da linguagem é a sua sintaxe, que determina a construção de palavras, frases e períodos.

b) O que seria a desestruturação da linguagem?

A desestruturação seria a ruptura com a sintaxe, com a lógica gramatical.

c) Para ser acusado, o eu lírico pode ter feito algo que teria justificado essa acusação. Quem seria esse eu lírico capaz de desestruturar a linguagem?

O eu lírico poderia ser um escritor, um poeta que utiliza a linguagem de forma inesperada e criativa.

2. O eu lírico do texto 1 revela que, na verdade, ele teria sido vítima da linguagem quando “não fazia nada para que a palavra me desalojasse daquele lugar”. Como a palavra seria capaz de desalojar o eu lírico do lugar em que estava?

A palavra é capaz de criar mundos, de criar conflitos, inquietações e soluções; assim, é ela que movimenta o eu lírico provocando-o para sair de sua condição tranquila.

3. Uma das formas de desestruturar a linguagem é por meio da criação e/ou recriação de palavras.

a) Que palavra do texto pode ser considerada uma dessas palavras desestruturadoras?

b) E xplique o sentido que essa palavra produz no texto.

A palavra feridava, que é um neologismo.

O verbo feridar mostra como o canto do grilo não apenas interrompia o silêncio, mas o fazia com estridência, como se o ferisse.

4. O texto 1 é considerado um poema em prosa. A prosa caracteriza-se pela organização de frases em parágrafos. Apresenta uma tendência voltada para a produção de textos mais extensos – narrativos, expositivos, argumentativos etc. –, nos quais os autores procuram desenvolver mais extensamente as ideias que querem reproduzir.

a) O texto que você leu, embora recorra a recursos da prosa, é uma prosa poética. Copie, no caderno, que recursos do texto o aproximam mais da lógica da poesia do que da prosa.

I. Presença de frases curtas, com lacunas de sentido.

II. Presença de frases longas, com períodos compostos.

III. Texto curto, com discussão condensada.

IV. Texto extenso, com discussão detalhada.

V. Uso constante de figuras de linguagem.

4. b) As lacunas, por exigirem a produção de inferências por parte do leitor, também permitem diferentes interpretações e ampliam a produção de sentidos do texto.

VI. Uso constante de uma linguagem formal e objetiva.

Resposta: alternativas I, III e V.

b) O texto apresenta várias lacunas de sentido que exigem do leitor uma postura ativa na produção de inferências para interpretá-lo. De que maneira essas lacunas ampliam os sentidos do texto?

A prosa poética defronta-se com o desafio da concisão. Pode refletir, descrever, narrar ocorrência diária, mas de maneira breve e elíptica. Para alcançar potência expressiva, o texto se alimenta dos mesmos recursos da poesia – com exceção da quebra em versos. De todo modo, qualquer que seja o assunto ou estilo, impera sobre esse tipo de escrita o signo da concisão.

5. Observe as imagens a seguir, de uma máquina de escrever, instrumento que era muito comum na produção de textos antes do advento dos computadores e impressoras.

Agora, volte ao texto 2, de Lenora de Barros.

a) O que compõe o poema? Descreva.

O que compõe o poema são fotos de letras (tipos) espelhadas de uma máquina de escrever grudadas na boca de alguém, simulando a articulação de som aberto e fechado, como se o estivesse produzindo.

b) Que elementos da máquina de escrever compõem a imagem do poema visual de Lenora de Barros?

c) Que sentido é produzido com essa articulação de imagens no poema?

Ao colocar as letras na boca de alguém, produz-se a ideia de palavras que estão sendo ditas pela personagem do poema visual.

Aparecem no poema visual o conjunto de letras espelhadas que carimbam o texto no papel.

ALEXANDER RATHS/SHUTTERSTOCK

6. a) O poema propõe uma reflexão sobre a língua: o que produz os discursos na fotografia não é o aparelho fonador, composto de língua e dentes, mas os tipos que contêm as letras espelhadas.

6. b) No poema, a língua escrita, representada pelo bloco de tipos, toma o lugar da língua oral, que seria representada pela língua e pelos dentes.

6. O poema visual tem como título “Dizendo quase nada”.

a) Embora o poema visual não seja composto de uma palavra sequer, o que ele expressa?

b) De que modo se articulam, nesse poema visual de Lenora de Barros, a língua oral e a língua escrita?

O poema visual utiliza recursos das artes plásticas e da escrita, recorrendo a aspectos visuais, espaciais, desenhos, fotografias, cores, colagens e a relação de figura com o fundo da página. Nele, a página deixa de ser um repositório de letras e se torna um suporte espacial ativo, como a tela de uma pintura.

Agora, você vai conhecer um videopoema criado pelo músico e poeta paulistano Arnaldo Antunes (1960-). Seu título é “Agora” (1993).

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

videopoema, palavras ditas tentam capturar o tempo que inevitavelmente trocadas em um ritmo vertiginoso tentam também contemplar essa ideia de tempo presente que a palavra não captura.

Arnaldo Antunes: DVD Nome, 1993. [S. l.: s. n.], 2010. 1 vídeo (1 min). Publicado pelo canal Arnaldo Antunes. Disponível em: https://youtu.be/9FROBNBoTgQ.

7. Observe os frames e assista ao vídeo para responder ao que se pede.

a) Que imagens o compõem?

O videopoema é composto de imagens variadas, que ficam milésimos de segundo na tela.

b) Que palavras podem ser identificadas no videopoema?

As palavras outro e agora, escritas; e as palavras já e passou, faladas.

c) Que sentido é produzido no poema com a articulação entre as palavras escritas e as faladas?

8. A articulação entre as imagens em movimento e os sons é fundamental para a compreensão do sentido do videopoema.

7. c) Enquanto na oralidade é indicado que algo já passou, aquilo que passou deixa de ser agora e passa a ser outro tempo. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

a) Como as palavras são pronunciadas nele? Que sentido se produz com essa pronúncia?

b) Como a relação entre imagem e som se articula para a produção de sentido do videopoema?

Os videopoemas podem recorrer a recursos abstratos ou até à apresentação clara e límpida de palavras, sons e imagens. O videopoema tem muito do movimento ágil do videoclipe musical; nele se articulam textos, imagens, sons, efeitos especiais, cores e tons para a produção de sentidos.

8. a) As palavras são ditas de forma interrompida, completas ou apenas algumas sílabas. O sentido que se produz é o da impossibilidade de apreensão do tempo: ao indicar o já, o momento ao qual esse já queria se referir já teria passado, como se nem desse tempo de terminar de dizer a palavra.

AGORA:
Acesso em: 28 set. 2024.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Concordância verbal

Releia a seguir o poema em prosa “Palavra”, de Manoel de Barros.

1. a) A forma verbal veio, que se refere a um sujeito que acusa o eu lírico, mas que não é verbalizado e explícito.

1. b) A forma verbal retiraram, pois está conjugada no plural e em terceira pessoa.

1 No poema em prosa de Manoel de Barros, o eu lírico se queixa de uma acusação feita contra ele. Considere os termos em destaque

a) Qual desses termos faz referência a quem acusou o eu lírico? A quem se refere?

b) Qual das formas verbais faz referência a palavras?

O que permite essa identificação?

2 Considere o termo destacado. Por que essa forma verbal está conjugada na primeira pessoa do plural?

Porque se refere ao eu lírico e aos leitores de seu texto, que comporiam um nós

Veio me dizer que eu desestruturo a linguagem. Eu desestruturo a linguagem? Vejamos: eu estou bem sentado num lugar. Vem uma palavra e tira o lugar de debaixo de mim. Tira o lugar em que eu estava sentado. Eu não fazia nada para que a palavra me desalojasse daquele lugar. E eu nem atrapalhava a passagem de ninguém. Ao retirar de debaixo de mim o lugar, eu desaprumei. Ali só havia um grilo com a sua flauta de couro. O grilo feridava o silêncio. Os moradores do lugar se queixavam do grilo. Veio uma palavra e retirou o grilo da flauta. Agora eu pergunto: quem desestruturou a linguagem? Fui eu ou foram as palavras? E o lugar que retiraram de debaixo de mim? Não era para terem retirado a mim do lugar? Foram as palavras pois que desestruturaram a linguagem. E não eu.

BARROS, Manoel de. Palavra. In: BARROS, Manoel de. Poesia completa . São Paulo: Leya, 2010. p. 392-393.

Não escreva no livro.

3. a) A forma verbal veio liga-se a uma palavra; a forma verbal foram liga-se a as palavras

3. b) A conjugação dos verbos (terceira pessoa do singular e terceira pessoa do plural) e o contexto.

3 Considere as formas verbais em destaque

a) A que termo se liga cada uma dessas formas verbais?

b) O que permite essa identificação do sujeito?

a) Ela se liga ao pronome quem.

4 Considere a forma verbal em destaque.

a) A que termo ela se liga?

b) C aso essa forma verbal se ligasse ao sujeito as palavras, como ficaria a oração?

A oração seria: “As palavras desestruturaram a linguagem?”.

As relações de concordância são fundamentais para a articulação lógica do texto. Elas constroem um sistema de conexões que permitem ao leitor acompanhar as relações lógicas que o enunciador propõe, situando-se frente ao que o texto se refere e, assim, construir o sentido. Essas relações aparecem marcadas no nível sintático (de estrutura da oração) e no nível morfológico (de estrutura da palavra); por isso, esses processos são chamados de morfossintáticos.

A seguir, você vai estudar as principais regras de concordância entre os verbos e os sujeitos aos quais se referem, isto é, a concordância verbal.

Concordância verbal

Observe os exemplos a seguir, retirados de textos lidos nesta unidade.

O grilo feridava o silêncio.

sujeito na terceira pessoa do singular | verbo na terceira pessoa do singular (núcleo do sujeito) (núcleo do predicado verbal)

Eu desestruturo a linguagem?

sujeito na primeira pessoa do singular | verbo na primeira pessoa do singular (núcleo do sujeito) (núcleo do predicado verbal)

Nos exemplos anteriores, o verbo destacado , núcleo do predicado verbal, apresenta mesmo número e pessoa do núcleo do sujeito a que se liga. Nomeia-se essa relação de concordância verbal .

Uma palavra vem e tira o lugar debaixo de mim, tira o lugar em que estava sentado.

sujeito oculto terceira pessoa do singular verbo na terceira pessoa do singular

sujeito oculto na terceira pessoa do singular verbo na terceira pessoa do singular

sujeito na terceira pessoa do singular | verbo na terceira pessoa do plural

É importante reconhecer, no exemplo, que o sujeito da forma verbal vem é o mesmo sujeito das formas verbais tira , núcleos verbais das orações coordenadas seguintes. Isso significa que devem manter com o sujeito concordância de pessoa e número – no caso, terceira pessoa do singular.

Observe o próximo exemplo.

A linguagem e as palavras tiraram o meu chão. sujeito composto verbo na terceira pessoa do plural

Nesse caso, a forma verbal tiraram liga-se a dois núcleos do sujeito e por isso está flexionada no plural, já que os dois núcleos compõem um sujeito composto, portanto, no plural.

O caso da voz passiva

A presença do pronome se pode gerar dúvidas sobre a concordância do verbo: deve ou não ser flexionado no plural? Nesse caso, é preciso saber se a oração está na voz passiva sintética ou apresenta sujeito indeterminado.

Observe.

Folheiam-se os livros, sintonizam-se os rádios, ligam-se as televisões, […] predicado pronome apassivador sujeito

rasgam-se os sonhos, desligam-se as amizades, rompem-se os gestos. predicado pronome apassivador sujeito

FREIRE, Ricardo. Ilusões. In: LETRAS E CULTURA. [S. l.], 14 nov. 2013. Disponível em: https://letrasecultura.wordpress.com/2013/11/14/ilusoes/. Acesso em: 28 set. 2024.

Nesses casos, as orações estão na voz passiva, sendo o pronome se partícula apassivadora; o verbo concorda com o sujeito. Nesse período, como os sujeitos estão no plural, o verbo fica também no plural.

Observe agora a capa de livro a seguir.

Nesse caso, o pronome se caracteriza sujeito indeterminado e o verbo fica sempre no singular.

Precisa-se de poetas. predicado índice de indeterminação do sujeito objeto indireto

O caso dos verbos impessoais: haver e fazer

Capa do livro Precisa-se de poetas.

O verbo fazer com sentido de passagem de tempo e haver com sentido de existir são impessoais; portanto, devem permanecer na terceira pessoa do singular. Observe.

Faz uma vida que luto com palavras. verbo impessoal objeto direto terceira pessoa do singular

Há dias em que as palavras me tiram o chão. verbo impessoal objeto direto terceira pessoa do singular

Observe mais um caso em que o verbo deve ser mantido na terceira pessoa do singular.

Tem palavras que me tiram o chão. verbo impessoal objeto direto terceira pessoa do singular

O verbo ter, assim como haver, quando expressa o sentido de existir, é impessoal e, portanto, deve ser conjugado na terceira pessoa do singular. O emprego do verbo ter com sentido de haver, existir, como do exemplo anterior, é característico do registro não formal da língua.

Casos de concordância verbal com sujeito simples

Coletivo partitivo

Porcentagem

Fração

Quando o sujeito é formado por expressões como a maioria, grande parte, um grupo de, o verbo fica no singular.

Quando o sujeito é formado por uma porcentagem, o verbo concorda com o número.

Quando o sujeito é formado por uma fração, o verbo concorda com o numerador núcleo do sintagma nominal.

A maioria das poesias pode desafiar um leitor desatento.

Uma pesquisa revelou que 72,7% dos escritores brasileiros são homens, 93,9% deles são brancos e a maioria mora no eixo Rio de Janeiro-São Paulo.

De acordo com os dados, menos de dois terços dos portugueses compraram livros no ano passado.

Pouco mais de um terço dos portugueses comprou livros no ano passado.

Que / quem

Nomes no plural que indicam lugares ou títulos de obras

Um dos que

Quando o verbo se liga ao pronome relativo que, ele concorda com o termo antecedente do pronome.

Quando se liga ao pronome quem, fica em terceira pessoa.

Se o nome é precedido por artigo, o verbo fica no plural. Se não houver artigo, o verbo fica no singular.

Quando o sujeito é formado pela expressão um dos que, o verbo fica no plural.

As palavras que tiram nosso chão são minhas prediletas.

Sou eu quem desestrutura a linguagem.

Os Estados Unidos publicaram mais poesia nesse ano.

Campinas recebeu uma Mostra Literária em 2024.

O gênero lírico é um dos que mais utilizam figuras de linguagem.

Casos de concordância verbal com sujeito composto

Sujeito composto posposto ao verbo

Núcleos unidos pela conjunção ou

O verbo pode ficar no plural ou concordar com o núcleo mais próximo.

Se apenas um dos núcleos do sujeito pratica a ação, o verbo fica no singular. Se os dois núcleos participaram da ação como escolhas possíveis, o verbo fica no plural.

Concordância ideológica

Quem quiser sacudir

Deixa a tristeza pra lá

Canta meu povo

Meu povo, vamos cantar

Bastavam palavra e poesia para tirar meu chão. Bastava palavra e poesia para tirar meu chão.

A palavra ou a poesia vai me cativar.

A palavra ou a poesia vão me cativar.

A SÃO Clemente vem aí. Intérprete: Dudu Nobre. Compositor: Wilson Magnata. In: SAMBAS de exaltação RJ. Intérprete: Dudu Nobre. [S. l.: s. n.], 2022. Spotify. Disponível em: https://open.spotify. com/intl-pt/track/2r33PcpaxLgPjnZyS6LphU. Acesso em: 28 set. 2024. No terceiro verso da estrofe anterior, o verbo cantar aparece flexionado na terceira pessoa do singular e, depois, a locução vamos cantar, na primeira pessoa do plural. Na primeira ocorrência, o sujeito do verbo cantar é meu povo, terceira pessoa do singular. Na segunda ocorrência, contudo, o uso da primeira pessoa do plural não estabelece concordância explícita com meu povo, presente no vocativo. A concordância ocorre com a ideia de que o autor faz parte do povo, o que aparece em vamos cantar – eu, você, todos nós, o povo. Esse tipo de concordância considera mais o sentido do que a forma. Por ter como referência a ideia associada ao sujeito da oração, no caso, o fato de que o povo é composto de todos nós, esse tipo de concordância é chamado de concordância ideológica ou silepse.

Concordância

é uma relação gramatical entre dois termos, estabelecendo harmonia entre as características morfológicas de flexão gramatical entre palavras. Ela pode ser verbal ou nominal.

Concordância verbal é aquela que ocorre em número e pessoa entre o núcleo do sintagma verbal e seu sujeito.

1. a) Trata-se de um marco a partir do qual foi ampliado, às pessoas cegas ou com baixa visão, o acesso aos mais diversos textos audiovisuais, como filmes e peças de teatro, pois institui exigências legais para que se garanta esse tipo de recurso aos que dele necessitam.

PENSAR E COMPARTIlHAR

1. L eia o texto de uma publicação do dia 23 de junho de 2011, em um blogue dedicado à divulgação do recurso de audiodescrição para pessoas com deficiência visual.

O dia 20 de junho de 2011 foi um marco histórico para a acessibilidade comunicacional no Brasil. Finalmente, foi anunciado o início da audiodescrição na televisão brasileira. A partir de 1o de julho será obrigatória a exibição de pelo menos duas horas de programação com audiodescrição pelas emissoras com sinal digital. […] O início da audiodescrição na televisão abrirá novas possibilidades e sem dúvida nenhuma irá expor o recurso, fazendo com que mais e mais pessoas conheçam e percebam sua relevância para a inclusão cultural, social e escolar da pessoa com deficiência visual. […]

Em minha palestra, falei sobre o conceito, a aplicabilidade da audiodescrição em eventos culturais, esportivos, turísticos, acadêmicos e sociais. Apresentei um panorama brasileiro e o quanto avançamos nos últimos anos em número e tipos de eventos com audiodescrição nas diversas regiões brasileiras. […]

MOTTA, Lívia. Audiodescrição na televisão brasileira: anúncio oficial. In: MOTTA, Lívia. Ver com palavras. São Paulo, 23 jun. 2011. Disponível em: http://vercompalavras.com.br/blog/audiodescricao-na-televisaobrasileira-%E2%80%93-anuncio-oficial/. Acesso em: 28 set. 2024.

Charge sobre a obrigatoriedade da audiodescrição na televisão brasileira.

a) Qual é a importância da data comentada na publicação?

b) E xplique, tendo em vista a concordância verbal, o que permite que as formas verbais apresentei (primeira pessoa do singular) e avançamos (primeira do plural) possam ambas se referir à enunciadora, que escreve seu post em primeira pessoa do singular.

2. L eia o cartaz a seguir, afixado em uma loja.

1. b) Na ocorrência apresentei, a concordância é explícita: sujeito e verbo estão na primeira pessoa do singular, conforme a regra geral da norma-padrão. Já a forma verbal avançamos estabelece concordância com a ideia de que a blogueira, na situação de palestrante, se inclui entre aqueles que têm se dedicado à ampliação do uso da audiodescrição em favor das pessoas com deficiência visual, por todo o país. O segmento “nas diversas regiões brasileiras” colabora para o estabelecimento dessa inclusão da primeira pessoa do singular em primeira pessoa do plural.

PRECISA-SE. 2011. 1 cartaz. Disponível em: https://fabulassonhadas.wordpress. com/wp-content/uploads/2011/08/precisa-se3.jpg. Acesso em: 28 set. 2024.

RICARDO FERRAZ

2. a) O cartaz não requisita funcionários para trabalharem na loja, como geralmente pedem cartazes como esse, mas requisita clientes. Por isso, deixa de ser um anúncio de emprego e passa a ser uma peça publicitária.

a) C artazes semelhantes a esse são comumente encontrados em vitrines de lojas. Mas esse apresenta uma diferença importante. Qual?

b) Que recursos da estrutura do texto permitem identificá-lo com os cartazes que anunciam empregos encontrados em lojas?

A forma verbal precisam-se, a expressão mesmo sem experiência e o indicativo de início da ação.

c) A informalidade e o humor do cartaz permitem que ele se desvie das convenções gramaticais. Se fosse necessário corrigir o cartaz para afixá-lo na vitrine, que correções deveriam ser feitas?

Precisa-se de clientes.

d) Reescreva a primeira frase do cartaz com um verbo conjugado na voz passiva sintética.

Procuram-se clientes.

3. L eia a tirinha a seguir, do cartunista estadunidense Charles Schulz (1922-2000).

SCHULZ, Charles. Snoopy e sua turma. Porto Alegre: L&PM, 2010. v. 1. p. 74.

a) Na t irinha, o humor se dá com relação àquilo que se espera que seja levado em uma caminhada. Em que se apoia o humor da tira?

No exagero: um relógio de sol é algo enorme, pesado, despropositado como bagagem numa caminhada.

b) E xplique por que, no segundo quadrinho, o verbo ser está conjugado no plural. Esse verbo admitiria outra conjugação?

O verbo está no plural porque concorda com o sujeito composto comida e água. Ele poderia estar no singular e concordar com o predicativo uma necessidade.

c) Reescreva a frase “Uma bússola é necessária” substituindo o sujeito pelos termos indicados a seguir. Conjugue o verbo de acordo com as regras de concordância.

• Um instrutor e um responsável

• C alçados confortáveis

• Disposição

Um instrutor e um responsável são necessários.

Calçados confortáveis são necessários.

Disposição é necessária.

4. a) O gráfico apresenta dados detalhados da mudança de formato nas postagens ao longo dos anos em uma determinada rede social.

4. Considere o texto e o gráfico a seguir, acerca da representatividade de conteúdos de redes sociais.

% de formatos por ano no Instagram

e 2023.

A prevalência de vídeos e imagens na internet aumentou, enquanto a de textos diminuiu. É o que mostra um levantamento realizado pela Buzzmonitor, obtido em primeira mão pelo Olhar Digital. Entre 2020 e 2023, os vídeos foram os conteúdos que mais cresceram nas redes sociais, seguidos das imagens. O fenômeno pode ter a ver com a popularização dos recursos audiovisuais nas plataformas. No período, os vídeos ficaram quatro vezes mais representativos. Já as publicações em imagem foram 1,8% mais representativas, crescimento alavancado especialmente pelo Instagram. […]

Mesmo em espaços consagrados às imagens, como o Instagram, o crescimento de conteúdos em vídeo é 3,5 vezes maior do que em 2020. […]

GOMEZ, Victoria Lopes. Mais vídeos e menos textos: pesquisa aponta mudança nas redes sociais. Olhar Digital, São Paulo, 15 dez. 2023 Disponível em: https://olhardigital.com.br/2023/12/15/internet-e-redes-sociais/mais-videos-e-menos-textospesquisa-aponta-mudanca-nas-redes-sociais/. Acesso em: 28 set. 2024.

a) De que forma o gráfico complementa o sentido do texto principal da notícia?

b) Escreva, no caderno, o verbo postar conjugado na pessoa e no número apropriados para substituir o # nas frases a seguir.

• Apenas 5,71% dos usuários # vídeos em 2020.

postaram

• Menos de 1% dos usuários # mais vídeos, comparando 2020 e 2022.

postou

• Quase 2/3 dos usuários # textos em 2023.

postaram

• Quase 1/2 dos usuários # imagens em 2023.

5. L eia a seguir um trecho de uma resenha crítica do filme Os vingadores, do site Omelete, destinado a jovens que se interessam por cinema, quadrinhos e música.

[…] Os vingadores é perfeitinho dentro de suas pretensões. É, afinal, um filmão da Marvel – e como tal, obedece a cinco décadas de tradição da chamada ‘Casa das Ideias’. Não deixa de ser, assim, uma versão modernizada da primeira aventura dos Vingadores, de 1963: nela, heróis solitários se reúnem – depois de algum desentendimento gerado pelo inevitável conflito de egos que acompanha grandes seres – para enfrentar uma ameaça comum, engendrada pelo manipulador, ganancioso e inescrupuloso vilão Loki. BORGO, Érico. Os Vingadores – The Avengers: crítica. Omelete, São Paulo, 29 jun. 2018. Disponível em: http://omelete.uol.com.br/vingadores/cinema/os-vingadores-avengers-critica/#.UqtXJ_RDuSo. Acesso em: 28 set. 2024.

a) Que frase do texto apresenta a opinião do autor da resenha sobre o filme?

postou “Os vingadores é perfeitinho dentro de suas pretensões.”

b) Por que, ainda que se refira a um termo no plural, o verbo ser foi flexionado no singular?

Porque concorda com filme, palavra pressuposta no enunciado: “O filme Os vingadores é perfeitinho…”. Trata-se de uma concordância ideológica. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Fonte: Buzzmonitor. Pesquisa realizada entre 2020

3. a) Achei: pretérito perfeito do indicativo; levara: pretérito mais-que-perfeito do indicativo; pediu: pretérito perfeito do indicativo; lesse: pretérito imperfeito do subjuntivo; li: pretérito perfeito do indicativo.

3. b) O pretérito perfeito indica uma ação pontual,

ASTUCIAS DA lINGUA

que começa e termina no passado; o pretérito mais-que-perfeito, uma ação anterior a uma ação passada; o pretérito imperfeito do subjuntivo, uma ação possível de ser feita.

Não escreva no livro.

Os verbos e o tempo do enunciador

3. c) O verbo levar, que se refere a uma ação anterior à descoberta dos poemas e sua leitura.

Leia a seguir o depoimento do poeta Ferreira Gullar sobre algumas desventuras com a verdade.

1 Nesse depoimento, Gullar conta que um colunista, ao narrar a seus leitores o que teria ocorrido em uma palestra do poeta, distorceu os fatos.

a) Isso não o incomodou. Por quê?

b) Considere Gullar como o enunciador desse depoimento. Em que tempo o enunciador começa seu depoimento?

No tempo presente.

1. Porque a fantasia pode ser mais excitante do que a verdade.

2 No caderno, faça uma linha do tempo indicando a sequência de ações ocorridas na palestra sobre poesia.

Levou o livro para a palestra ô achou os poemas dentro ô a plateia pediu a leitura ô o poeta leu os poemas ô o colunista transcreveu os poemas ô o poeta mandou para o colunista a versão correta dos poemas.

Verdade se diga que não possuo a melhor das memórias e que, muita vez, não sei se vivi aquilo ou sonhei ou li em algum livro. Mas, nesses casos, quem me conta a vida supostamente não vivida sou eu mesmo. Fora daí, tudo o mais ouço da boca dos outros. […] […]

A última dessas invenções apareceu numa coluna de jornal aqui do Rio. Segundo a nota, ao fazer uma palestra sobre poesia, achei dentro do livro que levara comigo os manuscritos de três poemas inéditos, que se tinham extraviado. A plateia então pediu que eu os lesse e eu os li. Como se não bastasse, o colunista transcreveu um dos poemas, numa versão que era, de fato, apenas parecida com o original. Li aquilo, perplexo. De fato, ao fim da dita palestra, alguém pedira que eu lesse um poema meu inédito. Disse então que, por acaso, ao abrir aquele volume, encontrara três poemas de meu futuro livro, que imprimira para ler num evento, ocorrido há vários meses. Não falei de manuscritos nem que os havia perdido. Mandei a versão correta do poema para o colunista, mas não desmenti a história fantasiosa. Desmentir para que, se a fantasia é mais excitante do que a verdade? Se o faço, agora, é porque sei que não adiantará de nada.

GULLAR, Ferreira. Porque a vida é pouca. Folha de S.Paulo, São Paulo, 27 abr. 2008. Disponível em: www1.folha.uol. com.br/fsp/ilustrad/fq2704200822.htm. Acesso em: 28 set. 2024.

3 Agora, considere as formas verbais destacadas

a) Classifique-as quanto à sua conjugação temporal.

b) O que indica cada um desses passados usados no texto?

c) Temporalmente, considerando esse texto, qual verbo está mais distante do momento presente da enunciação? Explique.

4 Observe a locução verbal em destaque. Temporalmente, considerando as formas verbais destacadas, em que momento essa ação se passa?

A ação da locução verbal tinham extraviado é anterior a todas as demais ações destacadas, pois indica quando os poemas se perderam para que pudessem ser, depois, achados.

As formas verbais exprimem um modo que indica uma atitude do falante ou enunciador: se ele quer afirmar ou negar algo de modo mais certeiro e objetivo (modo indicativo), se ele quer expressar uma dúvida, um desejo (modo subjuntivo), uma ordem (imperativo) etc.

Elas também indicam tempo. As variações temporais dos verbos indicam em qual momento ocorre a ação ou estado expresso por ele, se no passado, no presente ou no futuro.

#PARAlEMBRAR

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

A língua portuguesa apresenta três modos distintos; em dois deles, o verbo tem flexão de tempo: o indicativo e o subjuntivo. Esses modos contam com os tempos verbais a seguir.

Indicativo

Presente: expressa uma ação ou estado que ocorre no presente do enunciado.

Pretérito perfeito: expressa uma ação pontual ocorrida no passado do enunciado.

Pretérito imperfeito: expressa uma ação que, no enunciado, tem duração ou repetição no passado.

Pretérito mais-que-perfeito: expressa uma ação ocorrida em um passado anterior ao passado do enunciado.

Futuro do presente: expressa uma ação que vai ocorrer no futuro do enunciado.

Futuro do pretérito: expressa uma ação futura em relação ao passado do enunciado.

Subjuntivo

Professor, se achar importante, lembre aos estudantes que os tempos têm uma forma simples e uma composta. O mais-que-perfeito, por exemplo, é mais utilizado em sua forma composta (exemplo: tinha chegado) do que na forma simples (exemplo: chegara). Se achar oportuno, relembre com a turma os tempos passados do subjuntivo, em geral menos estudados (exemplos: imperfeito: chegasse; perfeito: tenha chegado; mais-que-perfeito: tivesse chegado).

Um futuro simples e um composto: ambos expressam uma ação que poderá ocorrer no futuro do enunciado.

Os tempos, no entanto, para serem estabelecidos no texto, dependem de uma referência que estabelece um tempo presente, o qual pode ser relacionado ao momento da enunciação. É esse momento que vai ancorar todas as referências temporais do enunciado.

Assim, os tempos verbais também sinalizam uma dada situação de comunicação: todo falante marca sua relação com o que escreve ou fala usando os diferentes tempos verbais – e outras expressões que também indicam circunstâncias de tempo. Observe a seguir.

Verdade se diga que não possuo a melhor das memórias e que, muita vez, não sei se vivi aquilo ou sonhei ou li em algum livro. […] […]

[…] ao fazer uma palestra sobre poesia, achei dentro do livro que levara comigo os manuscritos de três poemas inéditos, que se tinham extraviado. A plateia então pediu que eu os lesse e eu os li. Como se não bastasse, o colunista transcreveu um dos poemas […]. Desmentir para que, se a fantasia é mais excitante do que a verdade? Se o faço, agora, é porque sei que não adiantará de nada.

GULLAR, Ferreira. Porque a vida é pouca. Folha de S.Paulo, São Paulo, 27 abr. 2008. Disponível em: www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2704200822.htm. Acesso em: 28 set. 2024.

Quem produziu esse enunciado se coloca num tempo posterior aos fatos expostos no que escreve: este é o presente do enunciador. Ele se coloca em um tempo no qual esses fatos ocorreram em um passado; um passado histórico, datado. Mas os passados não são iguais, os fatos referidos não aconteceram “no mesmo passado”: há fatos que aconteceram antes de outros. No período: “Verdade se diga que não possuo a melhor das memórias e que, muita vez, não sei se vivi aquilo ou sonhei ou li em algum livro”, a flexão do verbo possuir (possuo) exprime um presente que coincide com o presente da enunciação. O estabelecimento desse momento original da enunciação, considerado o presente, é que cria os parâmetros de passado e de futuro.

A relação temporal entre os processos verbais de um texto depende da fixação de um momento de enunciação. Todo enunciado tem um presente que ancora o uso dos tempos verbais e a concordância entre eles.

Os demais verbos são organizados no texto de forma a estabelecer entre si um encadeamento das ações para produzir uma concordância temporal na qual uma ação sucede a outra em uma sequência lógica. O gráfico a seguir organiza essa sequência de uma forma mais visual.

Passado anterior ao passado passado momento da enunciação futuro

os manuscritos [...] que se tinham extraviado

levava comigo os manuscritos

achei dentro do livro

A plateia então pediu que eu os lesse

não possuo a melhor das memórias

Eu os li sei que não adiantará de nada.

o colunista transcreveu um dos poemas

Outros marcadores temporais também estão subordinados à lógica temporal do texto. Por exemplo, ontem, hoje e amanhã são referências do presente.

Dei uma palestra ontem e darei outra amanhã.

Já no dia anterior, naquele dia, no dia seguinte são referências do passado.

Naquele dia tinha dado uma palestra que repetiria no dia seguinte. No dia anterior, porém, tive um contratempo que me impediu de chegar na hora ao evento em que aconteceria a palestra.

PENSAR E COMPARTIlHAR

Leia a seguir um trecho de reportagem sobre uma das canções mais famosas do mundo, de Vinicius de Moraes e Tom Jobim.

Consta que é a segunda canção mais executada da história, atrás apenas de ‘Yesterday’, dos Beatles. De acordo com a editora do grupo Universal, que administra a comercialização da música, há mais de 1,5 mil produtos (LPs, CDs, DVDs) com ela. É impossível saber ao certo o número de interpretações gravadas, mas deve ultrapassar 500. Na internet, encontram-se versões em finlandês, estoniano e até esperanto. […]

A saga de tamanho sucesso começou em 2 de agosto de 1962 numa casa noturna de 6 x 40 m, com capacidade para 300 pessoas bem próximas umas das outras, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana. […]

Era a primeira vez que o Itamaraty autorizava o diplomata Vinicius a subir num palco, mas ele não podia receber cachê. Para compensar, tinha direito a levar amigos para vê-lo. Cinco grandes canções foram lançadas naquela temporada: ‘Samba do avião’, ‘Só danço samba’, ‘Samba da benção’, ‘O astronauta’ e ela, ‘Garota de Ipanema’, cuja letra Vinicius escrevera em Petrópolis para a melodia que Tom compusera em seu apartamento na Rua Barão da Torre.

— A música já fazia sucesso quando era cantada. A gente logo percebeu a força e a beleza dela — recorda Severino Filho, até hoje nos Cariocas, que gravaram a canção logo em 1963 […].

VIANNA, Luiz Fernando. ‘Garota de Ipanema’ é a segunda canção mais tocada da história. O Globo, Rio de Janeiro, 18 mar. 2012. Disponível em: https://oglobo.globo.com/cultura/garota-de-ipanema-a-segunda-cancao-mais-tocada-da-historia-4340449. Acesso em: 28 set. 2024. Não escreva no livro.

1. Respostas pessoais. Professor, essa é uma oportunidade lúdica de discutir sobre música e preferências musicais com a turma, bem como, se possível, apresentar algumas canções de Vinicius de Moraes e da bossa nova para ampliação de repertório.

1. “Garota de Ipanema” é uma das músicas mais importantes do cancioneiro nacional, com fama mundial. Em seu contexto atual, essa fama da canção se justifica? Você a conhece? Discuta com os colegas e registre o resultado no caderno.

2. O t recho apresenta um percurso de criação de “Garota de Ipanema” e suas primeiras apresentações e gravações e posterior sucesso. Considere o gráfico a seguir e, no caderno, organize as orações que indicam esse percurso da canção de acordo com o tempo em que o fato teria ocorrido, destacando o verbo que indica essa temporalidade.

PASSADO DO PASSADO

PASSADO

MOMENTO DA ENUNCIAÇÃO FUTURO

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Leia a seguir um trecho de relato de viagem publicado no portal de notícias da ONG Amigos da Terra – Amazônia brasileira.

Chegara a hora de deixar a região onde podem ser construídas as hidrelétricas de São Luiz do Tapajós e Jatobá e retornar a Santarém, onde faríamos as últimas entrevistas e pegaríamos o avião de volta ao Rio de Janeiro. Escolhemos como caminho para Santarém o mais seguro, reto e sem buracos ou poeira. Também escolhemos um transporte mais espaçoso e sociável, com lanchonete e tudo. Em vez de usar a Transamazônica e a BR163 para percorrer a distância entre Itaituba e Santarém, preferimos a mais antiga ‘estrada’ da região: o Tapajós.

O Rio Tapajós acolhe qualquer tamanho ou modelo de embarcação.

Não é a toa que as cidades e vilas que visitamos – Santarém, Itaituba, Jacareacanga e Pimental – estão a sua margem. Muito antes das ainda precárias estradas da região, o povo de lá usava mesmo era a água. Os rios locais eram o único meio de locomoção e a principal fonte de proteína na alimentação dos nativos. Fazem parte da paisagem pequenas lanchas com motores de rabeta ou os ‘quarentões’, apelido de um motor específico de 40 cavalos usado em travessias mais longas. Motor nessa região é abreviação para motor de barco, e distância é medida em ‘hora de motor’, já que rio não tem placa de quilometragem.

PEGURIER, Eduardo; SÁ, Marcio Isensee e. Uma estrada impecável que não precisa de asfalto. O Eco, Rio de Janeiro, 22 jul. 2013. Disponível em: https://oeco.org.br/reportagens/27405-uma-estrada-impecavel-que-nao-precisa-de-asfalto/. Acesso em: 28 set. 2024.

3. O relato anterior se refere a cidades que adotam um modelo sustentável de transporte. Por que o modelo é sustentável?

Porque utiliza os rios e formas não poluentes de locomoção.

4. No primeiro parágrafo, as formas verbais indicam a sequência de ações narradas no relato. Faça uma linha do tempo apresentando apenas aquelas que indicam ações praticadas pelo narrador em uma sequência temporal do passado ao presente.

5. Releia: “Chegara a hora de deixar a região onde podem ser construídas as hidrelétricas de São Luiz do Tapajós e Jatobá e retornar a Santarém, onde faríamos as últimas entrevistas e pegaríamos o avião de volta ao Rio de Janeiro”.

a) Os verbos deixar e retornar estão subordinados a uma mesma oração. Qual?

Chegara ô faríamos ô Escolhemos ô escolhemos ô usar ô percorrer ô preferimos Chegara a hora.

b) No primeiro período, a locução verbal podem ser construídas está no presente do enunciado, ainda que o autor se refira a fatos situados no passado do passado: chegara a hora . O que explica o emprego desse presente? O que quer designar?

A locução refere-se a uma possibilidade: ali foi projetada a construção das usinas.

8. a) No passado, pois se coloca depois de “Em vez de usar a Transamazônica e a BR163 para percorrer”, remetendo assim a uma escolha feita após uma avaliação de alternativas.

6. E xplique o emprego do futuro do pretérito em: “faríamos as últimas entrevistas”.

Trata-se de algo que ainda não tinha sido feito, mas que estava planejado para ocorrer no futuro.

7. Considerando a sequência temporal e a conjugação dos verbos, como pode ser caracterizado o momento da enunciação? Em que momento se situa em relação aos fatos?

É o momento de escrita, que pode ser posterior ou concomitante aos acontecimentos.

8. Observe, no fim do primeiro parágrafo, a flexão do verbo preferir.

8. b) A situação da enunciação: o leitor sabe que o enunciador se refere a fatos do passado, pois outros verbos participam da construção da temporalidade do enunciado como

a) A forma verbal do presente e do passado na primeira pessoa do plural é a mesma: preferimos . No texto, está conjugado em que tempo? Justifique sua resposta.

b) O que permite ao leitor compreender corretamente o tempo empregado?

9. Alguns verbos do último parágrafo estão conjugados no presente, mas não indicam, necessariamente, ações que são realizadas no momento da enunciação.

a) Identifique esses verbos.

Os verbos ser (é), ter (tem), estar (estão) e fazer (fazem), presentes no último período.

b) Esses verbos no presente indicam apenas uma marcação de tempo? Explique.

Não, indicam uma característica constitutiva das cidades, das lanchas, do motor e do rio.

10. O projeto da usina de Tapajós foi arquivado em 2016 por causa do impacto ambiental que causaria na região onde se localiza, mas há tentativas de reativá-lo. Os parágrafos a seguir registram essa informação. Conjugue os verbos nos parênteses no modo, tempo e na pessoa corretos e escreva-os no caderno.

Nem todos os projetos grandiosos saíram do papel. É o caso de São Luiz do Tapajós, de 8 040 megawatts (MW), que [ser] implantada no rio Tapajós. Devido ao seu altíssimo impacto social e ambiental, a usina [retirar] do Plano Decenal de Energia (PDE), que indica a expansão elétrica do país, em 2017. No entanto, a ex-estatal Eletrobras, na surdina, [tentar] ressuscitá-la.

A companhia [encaminhar] na semana passada um pedido formal à Aneel para que a agência reguladora [renovar] o registro e o ‘aceite técnico’ para a construção da hidrelétrica, conta André Borges n’((o)) eco. O reservatório de São Luiz do Tapajós, previsto para ser formado numa área extremamente preservada da floresta, [ter] nada menos que 1 368 km², quase o equivalente ao tamanho da cidade de São Paulo.

ELETROBRAS retoma projeto de megahidrelétrica no rio Tapajós. ClimaInfo, São Paulo, 6 maio 2024. Disponível em: https://climainfo.org.br/2024/05/06/eletrobras-retoma-projeto-de-megahidreletrica-no-rio-tapajos/. Acesso em: 28 set. 2024.

11. L eia a tirinha a seguir, da cartunista Laerte (1951-).

Seria; foi retirada; tenta; encaminhou; renove; teria.

LAERTE. [E isso?]. Escamandro, [s l ], 23 mar. 2013. Disponível em: https://escamandro.wordpress. com/2013/03/23/poesia-e-quadrinhos-1-de-2-poetas-e-poesia-como-temtica/. Acesso: em 28 set. 2024.

a) A tirinha apresenta uma reflexão sobre o fazer poético. Explique por que se pode considerar que essa tirinha seria, por sua vez, uma tirinha poética?

Na tirinha, a personagem acha uma palavra no chão. E, ao achá-la e pensar no que fazer com a palavra, faz uma reflexão poética.

b) Identifique as formas verbais da tirinha e indique em que tempo e modo elas aparecem.

c) Copie, no caderno, o organizador a seguir e complete-o com as formas verbais da tirinha.

Passado que expressa ação corriqueira

Passado recente com ação pontual

Presente ou ação frequente

11. b) Achei: pretérito perfeito do indicativo; pensei: pretérito perfeito do indicativo; sabia: pretérito imperfeito do indicativo; fazia: pretérito imperfeito do indicativo; faço: presente do indicativo.

Sabia / fazia

Pensei / achei

Faço

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Recriação de poema em vídeo

De acordo com a Base Nacional Comum Curricular, versão de 2018, página 503, é enfatizado que, no Ensino Médio, a área de Linguagens e suas Tecnologias desenvolva nos estudantes o aprofundamento das “análises das formas contemporâneas de publicidade em contexto digital, a dinâmica dos influenciadores digitais e as estratégias de engajamento utilizadas pelas empresas”. Dessa forma, todos os usos relacionados à publicidade, propaganda e formas de engajamento em redes sociais apresentadas nesta coleção são para fins didáticos e seus usos em contexto social.

Ao longo desta unidade, você leu vários poemas produzidos em diferentes momentos e que recorrem a diferentes recursos estéticos. A maioria desses poemas se organiza em versos e estrofes, mas alguns rompem com essa lógica e lançam mão de outros recursos, como os videopoemas.

O que você irá produzir

Nesta proposta, você vai recriar um dos poemas em versos desta unidade em forma de videopoema, transformando textos literários em experiências audiovisuais. Sob a orientação do professor, forme dupla com um colega e, juntos, escolham um poema da unidade e deem um tratamento visual e sonoro a ele, permitindo que o interlocutor compreenda a intensidade e os sentidos dos poemas de maneira nova.

Planejar

Primeiro, selecionem o poema que desejam recriar. Em seguida, criem um storyboard para planejar as cenas e a sequência de imagens, isto é, um rascunho da sequência de imagens e sons que pretendem gravar. Isso ajudará a visualizar como o poema será representado visualmente e a determinar quais imagens, vídeos ou animações serão necessários.

Identifiquem os pontos principais e dividam o poema em partes que representem cada um deles. Desenhem ou descrevam cada cena do videopoema, incluindo notas sobre o que estará acontecendo visualmente em cada segmento.

Planejem a ordem das cenas de forma que a transição entre elas seja fluida e faça sentido narrativo.

A escolha dos recursos visuais deve ser cuidadosa. Optem por símbolos fortes e evocativos, que complementem os sentidos dos poemas. Cenas de natureza, destruição, esperança ou elementos abstratos podem ser usados para criar a atmosfera desejada.

Embora gravar a narração seja uma possibilidade interessante, vocês também podem optar por uma abordagem que utilize apenas efeitos sonoros e trilhas musicais para transmitir a emoção dos poemas, incluindo as palavras escritas na tela. Sons ambientais, músicas temáticas e efeitos podem enriquecer a experiência audiovisual.

lABORATORIO DE PRODUÇÃO

Pausas e silêncios na declamação de poemas

Não escreva no livro.

A pausa e o silêncio na declamação de poemas contribuem para a construção de sentidos e podem intensificar a emoção contida no texto poético.

A pausa funciona como um ponto de reflexão, um momento em que a respiração e o ritmo da leitura se alinham para permitir que as palavras ressoem no ouvinte. Ela pode ser utilizada para enfatizar uma ideia, criar expectativa ou permitir que uma imagem poética se forme na mente do público.

O silêncio, por sua vez, é a moldura que destaca a palavra falada; é o espaço vazio que dá forma ao som e que permite que a poesia ganhe contornos de introspecção e meditação. O uso consciente da pausa e do silêncio permite ao declamador imprimir uma dinâmica própria ao poema, dar-lhe vida e enfatizar palavras, trechos e sentidos que parecerem importantes para ele.

Agora é sua vez de exercitar as pausas e silêncios na declamação de poemas. Na declamação de um poema como o “Soneto de fidelidade”, por exemplo, a pausa e o silêncio podem ser empregados para acentuar a tensão entre o desejo e o compromisso, entre a efemeridade dos momentos e a eternidade do sentimento expresso. As pausas podem ser inseridas de forma a destacar as promessas feitas pelo eu lírico, enquanto o silêncio pode ser usado para intensificar a gravidade desses compromissos.

Cada integrante das duplas que vocês formaram vai declamar o soneto de Vinicius de Moraes seguindo as orientações.

• Leia o poema silenciosamente, anotando as pausas naturais que sentir serem necessárias para a compreensão e apreciação do texto.

• Declame o poema para seu par e peça-lhe que destaque os sentidos que mais chamam sua atenção com essa declamação.

• Depois, experimente inserir pausas e silêncios em diferentes momentos do poema e declame novamente para seu par.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Repita a avaliação dos pontos de destaque com a declamação. O objetivo é perceber como diferentes pausas e silêncios podem alterar a interpretação do poema.

Produzir

Se optar por gravação do texto em vídeo, produza um cenário com boa iluminação para realçar os elementos da cena. Caso decida usar apenas recursos visuais já disponíveis, colete vídeos e imagens de fontes confiáveis, que se alinhem ao storyboard e que tenham boa resolução. Fique atento à fonte do vídeo para não ferir nenhum direito autoral.

Durante a edição, faça divisões nos vídeos para manter a fluidez do videopoema. Ajuste as cores para criar a atmosfera desejada, usando cores frias para tristeza ou cores quentes para esperança, por exemplo. Legendas podem ser adicionadas para facilitar a compreensão ou para ampliar as condições de acessibilidade do vídeo.

Na edição, importe todos os arquivos de vídeo, áudio e imagens para o software de edição escolhido. Sincronize a sequência visual com a música e os efeitos sonoros planejados. Ajuste o timing para que cada verso corresponda à imagem ou cena prevista, adicionando efeitos visuais e transições suaves. Sobreposições de texto podem ser usadas para destacar os versos importantes.

Professor, para a edição de imagens, há vários aplicativos e sites que permitem uma edição de qualidade e gratuita, como Canva, FinalCut e DaVinci.

Compartilhar

Compartilhar o resultado do trabalho é a etapa final. Faça o upload do videopoema em plataformas de compartilhamento de vídeos, escrevendo uma descrição que contextualize o projeto e os poemas escolhidos. Depois, basta compartilhar o link em redes sociais e no site da escola.

ROTEIRO

PARA lER

DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. 70 historinhas 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

Com o olhar afiado para o que escapa à observação comum, as crônicas de Drummond capturam o humor, a poesia, o detalhe humano das mais diversas situações do cotidiano, a memória e seus afetos. As crônicas exploram temas que vão desde a memória da infância, passando pela ironia do dia a dia, até questões mais complexas como o amor, as perdas e a passagem do tempo.

PARA OUVIR

OS AFRO-SAMBAS. Intérpretes: Baden Powell e Vinicius de Moraes. Rio de Janeiro: Forma, 1966. 1 LP.

Esse, que é considerado um álbum seminal na música brasileira, representa uma fusão autêntica e inovadora entre o samba tradicional e os ritmos africanos. Lançado em 1966, traz a colaboração histórica entre dois artistas visionários: o compositor e violonista Baden Powell e o poeta e letrista Vinicius de Moraes. A obra é um marco na carreira de ambos e na história da música popular brasileira, destacando-se pela profundidade das letras e pela complexidade rítmica e melódica das composições.

PARA ASSISTIR

CONSIDERAÇÃO do poema: filme na íntegra. [S. l. : s. n.], 2020. 1 vídeo (70 min). Publicado pelo canal Instituto Moreira Salles. Disponível em: www. youtube.com/watch?v=bUWRv1yu6aM. Acesso em: 28 set. 2024.

O documentário reúne declamações de poemas de Drummond realizadas por poetas, escritores, compositores, atores, intelectuais e outras figuras públicas. Produzido para ser exibido nos cinemas, em 2012, só anos mais tarde foi disponibilizada a exibição on-line na íntegra, para marcar a celebração das comemorações do Dia Drummond, em 2020 – evento do Instituto Moreira Sales que ocorre a cada aniversário do poeta mineiro. É essa a versão a que você pode assistir no YouTube.

VINICIUS. Direção: Miguel Faria Jr. Brasil: 1001 filmes: Globo Filmes, 2005. 1 DVD (124 min).

O documentário é uma homenagem ao multifacetado artista brasileiro Vinicius de Moraes. Construído com base em entrevistas com amigos, familiares e colaboradores, imagens de arquivo e performances musicais, o filme captura a essência do poeta, explorando suas paixões e suas conquistas artísticas.

Capa do livro 70 historinhas.

Capa do vídeo Consideração do poema. Cartaz do filme

Vinicius. Capa do álbum Os afro-sambas

O SERTÃO EM TODA PARTE 3

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

A obra a seguir é uma composição da artista gaúcha Mara D. Toledo (1953-).

1. a) Os balões, a fogueira, as barracas, a igreja, as bandeirinhas, os trajes típicos.

Não escreva no livro.

1. A obra de Mara D. Toledo retrata a festa de São João ou festa junina, uma das principais manifestações culturais brasileiras.

a) Que elementos da festa junina podem ser identificados na imagem?

b) Em qual região do Brasil as grandes festas juninas se concentram? Pesquise algumas cidades brasileiras em que as festas juninas se tornaram eventos enormes com apresentação de artistas famosos, competições de quadrilhas etc.

As grandes festas juninas se concentram no Nordeste. Entre as cidades destacam-se Campina Grande (PB); Caruaru (PE) e Mossoró (RN).

TOLEDO, Mara D. Festa de São João. 2015. Óleo sobre tela, 100 cm x 150 cm.
GALERIA JACQUES ARDIES, SÃO PAULO

2. A primeira pintura representa, na cor, no conteúdo representado, elementos relacionados à seca, comum em algumas regiões do Nordeste: a cor ocre de terra seca, o urubu pronto para devorar um animal morto, o gado muito magro. Na segunda pintura, vê-se a figura de um jagunço, que é um indivíduo contratado para servir como capanga, guarda-costas ou pistoleiro, geralmente em regiões rurais do Brasil.

Observe as pinturas a seguir, do artista cearense Aldemir Martins (1922-2006).

MARTINS, Aldemir. O jagunço. 1967. Acrílica sobre tela, 100 cm x 80 cm. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateubriand.

MARTINS, Aldemir. Cacimba seca. 1945. Óleo sobre madeira, 68 cm x 54 cm. Coleção particular.

2. Em ambas as pinturas, é possível reconhecer traços de determinadas regiões do Brasil. Considere as pinturas e seus títulos e explique que aspectos regionais são destacados em cada uma.

3. Explique de que forma essas pinturas, embora se refiram a aspectos de certas regiões do Brasil, utilizam recursos estéticos originados em outras partes do mundo.

A segunda geração modernista no Brasil produziu romances que, embora destacassem particularidades regionais, apresentavam questões sociais que transcendiam realidades locais. Autores como Graciliano Ramos e Jorge Amado conseguiram retratar o sertão, a vida rural e as dificuldades do povo nordestino, ao mesmo tempo que abordavam temas como a injustiça social, a luta pela sobrevivência e a resistência cultural. Essa capacidade de unir o singular a um contexto social mais amplo prepara terreno para os romances produzidos a partir de 1945, que continuam essa tradição mas com uma abordagem mais introspectiva e experimentações de linguagem mais radicais. Guimarães Rosa, figura central dessa geração, eleva a literatura brasileira a novos patamares com obras como Grande Sertão: veredas (1956), em que uma luta entre bandos de jagunços no sertão serve como pano de fundo para complexas reflexões existenciais do narrador protagonista.

#PARAlEMBRAR

Nas primeiras décadas do século X X, as vanguardas europeias promoveram uma grande renovação das artes visuais, introduzindo técnicas de representação e temáticas que não haviam sido empregadas anteriormente. Entre essas vanguardas, estavam o dadaísmo , o surrealismo , o futurismo e o expressionismo, que encontraram seguidores em muitos países do mundo ocidental, inclusive no Brasil.

3. As pinturas utilizam recursos das chamadas vanguardas europeias, como elementos expressionistas e cubistas para representar temas brasileiros. Ao usar cores intensas e distorcer e fragmentar formas, Aldemir Martins cria um universo próprio que conecta o local à linguagem visual moderna.

MUSEU DE ARTE ASSIS
CHATEAUBRIAND, SÃO PAULO, SP, BRASIL

O sertão dentro da gente

Nas unidades anteriores, você conheceu um pouco sobre uma literatura engajada, que mostrava profunda preocupação social ao refletir sobre os problemas urgentes que o mundo vivia. Mas muitas das questões enfrentadas por essa literatura não se limitam apenas à vida social, coletiva, mas estão também dentro do indivíduo, provocando afetos, sensações, traumas e vazios.

Para discutir

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

1 Que reflexos psicológicos os problemas sociais podem promover nos sujeitos?

2 Guimarães Rosa, o autor que você estudará nesta unidade, criou uma frase que se repete muito em seu romance Grande sertão: veredas: “Viver é muito perigoso”. Discuta com seus colegas: quais são os perigos inevitáveis que a vida nos impõe na convivência diária?

O trecho que você vai ler a seguir faz parte do romance Vermelho amargo, obra marcante do escritor mineiro Bartolomeu Campos de Queirós, publicada em 2011, em que um narrador adulto relembra as memórias afetivas da sua dolorosa infância. No trecho reproduzido, ele lida com a experiência da perda da mãe sob uma perspectiva poética e intimista.

Texto

Sem o colo da mãe eu me fartava em falta de amor. O medo de permanecer desamado fazia de mim o mais inquieto dos enredos. Para abrandar minha impaciência, sujeitava-me aos caprichos de muitos. Exercia a arte de me supor capaz de adivinhar os desejos de todos que me cercavam. Engolia o tomate imaginando ser ambrosia ou claras em neve, batidas com açúcar e nadando num mar de leite, como praticava minha mãe — ilha flutuante — com as mãos do amor. […]

A mãe partiu cedo — manhã seca e fria de maio — sem levar o amor que diziam eu ter por ela. Daí, veio me sobrar amor e sem ter a quem amar. Nas manhãs de maio o ar é frio e seco, assim como retruca o coração nos abandonos. Ela viajou indignada, por não ser consultada. Evadiu-se, sem suplicar um socorro. Nem murmurou um ‘com licença’ — eu confirmo — para adentrar em outra vida, como nos era recomendado. Já não cantava, sobrevivia isenta, respirando o medo pelo desconhecido.

A mão da morte soterrou até sua sombra. Foi um adeus inteiro, definitivo, rigoroso, sem escutar nosso pesar. Eu pronunciava, seguidamente, a palavra amor, amor, sem ter a presença amada.

A esposa do meu pai prezava o tomate sem degustar o seu sabor. Impossível conter em fatia frágil — além da cor, semente, pele — também o aroma. Quando invertida, a palavra aroma é amora. Aroma é uma amora se espiando no espelho. Vejo a palavra enquanto ela se nega a me ver. A mesma palavra que me desvela, me esconde. Toda palavra é espelho onde o refletido me interroga. O tomate — rubro espelho — espelhava uma sentença suspeita.

O pai, que suportava o peso das caixas de manteiga, agora andava leve, manso, tropeçando em penumbras e suspiros. O amor encarnou em todo o seu destemido corpo e afrouxou até seus pesares.

lER O MUNDO
Não escreva no livro.

Amava em dobro: o amor que sobra aos viúvos e mais o amor reinventado, e capaz de camuflar o luto. E, para ganhar mais amor, negociava com o tomate o destino dos filhos, clandestinamente.

[…]

Sobre os dias, a ausência da mãe ganhava corpo. O tempo — capaz de trocar a roupa do mundo — não consumia sua lembrança. Quando se ama, em cada dia o morto nasce mais. Em tudo, sua ausência estava presente. Sobre a fruteira da mesa da sala de jantar, na janela em que se debruçava nas tardes, na gota de água que pingava da torneira, no anil que clareava os lençóis, ela se anunciava. No silêncio obrigatório para bem escutar os pássaros, ela se emanava.

[…]

Passarinho não canta, passarinho lastima — minha irmã repetia. Diante da demasiada liberdade seu canto vira pranto — ela teimava. Liberdade, quando abusiva, mais amedronta — ela completava. Ter um céu inteiro por caminho espanta até as asas. Todo pássaro faz um desnorteio ao voar — ela anunciava. O medo interrompe a liberdade, mesmo no coração dos pássaros. […]

[…]

No fundo do quintal, e contíguo aos tomateiros, germinavam pequenos raminhos de beijos, bocas-de-leão, amores-perfeitos. Brotavam rosas protegidas por espinhos, que mereciam muita tenência para não ferir os dedos. Colher rosa, uma tarefa perigosa e não valia a pena, ou valia tantas penas. Na rosa, a vida é breve, e, nas feridas, a vida é longa. Melhor deixá-la murchar em seu ramo e apreciá-la à distância. Continuamente, eu sofria pelo medo de sofrer.

Bartolomeu Campos de Queirós (19442012) é especialmente conhecido por suas contribuições à literatura infantil e juvenil. Dedicou grande parte de sua vida à educação e à literatura, destacando-se por sua linguagem poética e sensível. Entre suas principais obras estão Até passarinho passa (2005), Indez (2007) e Vermelho amargo (2008). Seus livros frequentemente exploram temas como a infância, a memória e a identidade, abordando questões existenciais com uma linguagem sugestiva, imagética, que lhe rendeu diversos prêmios e reconhecimentos ao longo de sua carreira.

Fotografia do escritor em 2003.

QUEIRÓS, Bartolomeu Campos de. Vermelho amargo. São Paulo: Global, 2022. p. 10-26.

1. Leia o trecho a seguir, do livro Vida precária: os poderes do luto e da violência, da filósofa estadunidense Judith Butler (1956-).

Quando perdemos certas pessoas, ou quando somos despossuídos de um lugar, ou de uma comunidade, podemos simplesmente sentir que estamos passando por algo temporário, que o luto passará e que alguma restauração da ordem anterior será alcançada. Mas talvez, quando passamos pelo que passamos, algo sobre o que somos nos é revelado, algo que delineia os laços que mantemos com os outros, que nos mostra que esses laços constituem o que somos, laços e elos que nos compõem. […] Quem ‘sou’ eu, sem você? Quando perdemos alguns desses laços que nos constituem, não sabemos quem somos ou o que fazer. De certa maneira, acho que perdi ‘você’ apenas para descobrir que ‘eu’ desapareci também. De outra maneira, talvez o que eu tenha perdido ‘em’ você […] seja uma relacionalidade composta não exclusivamente nem de mim e nem de você, mas concebida como o laço pelo qual esses laços são diferenciados e relacionados […].

BUTLER, Judith. Vida precária: os poderes do luto e da violência. Tradução: Andreas Lieber. Belo Horizonte: Autêntica, 2019. p. 42.

a) O sentimento de luto geralmente é associado à perda de uma pessoa querida. De acordo com a filósofa, no entanto, essa perda em geral implica outra perda. Qual?

A perda de uma parte de si mesmo, de uma identidade.

b) Judith Butler reflete sobre como o luto é um sentimento que, ao passar pelos sujeitos, deixa neles marcas profundas. De que forma a reflexão de Butler ajuda a compreender a experiência de luto vivenciada pelo narrador de Vermelho amargo?

2. A morte da mãe promove um vazio no narrador do romance.

O protagonista, em sua experiência de luto, tem todos os seus sentimentos desorganizados e fica esvaziado de palavras para entender o que passa, com medo e sem pessoas para quem direcionar seus sentimentos.

a) O narrador passa a ter muito amor e nenhum amor. Explique por que se pode afirmar isso.

existindo, mas,

narrador tem

porque não tem mais a quem

b) Para lidar com essa ausência da mãe, o narrador passa a tentar adivinhar o desejo de todos que o cercavam. Que consequências tem essa atitude para sua identidade e seus desejos? Copie no caderno a alternativa que melhor responde a essa questão.

Resposta: alternativa III

I. A identidade do narrador se reforça na recusa de um outro que iria substituir o lugar da mãe, reforçando o desejo de liberdade e fuga da comunidade.

II. O narrador nega a sua identidade de filho, já que o pai substitui a mãe por uma madrasta. Seu desejo, portanto, é submetido à autoridade paterna.

III. A identidade do narrador fica fragmentada, submetida aos desejos dos outros, aos quais tenta agradar para ter um pouco de afeto.

3. O t omate assume diferentes sentidos metafóricos no texto e se relaciona aos sentimentos do narrador. Copie o organizador a seguir no caderno e indique os sentidos que o tomate assume ao longo do trecho.

1o parágrafo

3o parágrafo

4o parágrafo

5o parágrafo

Os doces e afetos da mãe

A relação sem afeto com a madrasta, sem sabor

A palavra que não produz sentido

O destino dos filhos orquestrado pelo pai

Não escreva no livro.
Fotografia da filósofa em 2012.

5. a) O narrador busca sentido nas palavras para entender o que se passa com ele, mas elas não são suficientes para encontrar uma resposta e produzir sentido.

5. b) Ao lidar com palavras que escondem seus significados, o narrador procura por novos sentidos, o que se relaciona à lógica poética de produção de novos sentidos para o real, para além do significado imediato das palavras.

4. Observe o jogo de contrários nas frases a seguir. Sem o colo da mãe eu me fartava em falta de amor.

Em tudo, sua ausência estava presente

a) Que figura de linguagem é utilizada nessas frases?

A figura de linguagem é o paradoxo: fartura é excesso, e falta é seu contrário; ausência indica falta, e não presença.

b) Como essas frases ajudam a construir de forma poética as sensações que tomam conta do narrador devido à ausência da mãe?

A primeira frase indica que o narrador tinha em excesso o sentimento de falta de amor; a segunda indica que a ausência da mãe ficava constantemente presente no narrador.

5. A linguagem do texto se apoia em muitos recursos da linguagem poética.

a) Considere o trecho: “Vejo a palavra enquanto ela se nega a me ver. A mesma palavra que me desvela, me esconde”. O que causa esse conflito com palavras no narrador?

b) D e que forma esse comportamento das palavras estimula a busca da linguagem poética pelo narrador?

c) No primeiro parágrafo, o tomate deixa de ser apenas um tomate e se converte em ambrosia ou claras em neve nadando no leite. Que associação poética o menino faz com esses alimentos?

Ambrosia ou claras em neve no leite se convertem em ilhas flutuantes erigidas pelas mãos amorosas da mãe.

A linguagem poética na prosa refere-se ao uso de recursos estilísticos típicos da poesia, como figuras de linguagem, construção de imagens, ritmo e sonoridade para criar um efeito estético e de sentidos mais profundo no texto. Esse tipo de linguagem transcende a mera transmissão de informações objetivas, transformando a prosa em uma experiência evocativa, capaz de produzir sentidos subjetivos e sugestivos.

6. A morte da mãe marca o fim da estrutura familiar em que o narrador vivia. Esse fato gera liberdade para surgirem novos relacionamentos e novos horizontes de vida.

a) Por que essa liberdade produz medo no narrador?

Porque todas as possibilidades não apresentavam um objetivo: o narrador não sabe para onde ir sem a presença da mãe, o que o desnorteia.

b) A a ção de cuidados da mãe inclui o papel de impor limites para o filho. De que forma essa atuação da mãe, embora limitadora, seria também uma ação que promoveria a sensação de liberdade no protagonista?

A mãe, ao impor limites, mostraria também caminhos e direcionamentos que o protagonista poderia percorrer sem sentir medo.

7. O narrador protagonista considera perigoso o ato de colher uma rosa por causa dos espinhos que podem ferir. “Na rosa, a vida é breve, e, nas feridas, a vida é longa.” Que relação se pode estabelecer entre a vida da rosa e a vida do menino?

ENTÃO...

Ele teve a experiência da vida breve com a morte precoce da mãe, que deixou nele uma ferida que não cura: a falta da mãe e do amor que ela tinha por ele.

A primeira geração do Modernismo tinha como bandeiras a ruptura com a arte acadêmica e parnasiana e a valorização da cultura nacional. A segunda geração, que surge com um Modernismo já consolidado, volta-se para os problemas sociais das décadas de 1930 e 1940. Os escritores da terceira geração, também conhecida como Geração de 45, não tinham como projeto substituir as gerações que os antecederam nem dar continuidade a obras que já tinham atingido limites de qualidade. Lançando mão de várias possibilidades técnicas e de liberdade temática, desenvolveram estilos individuais com tal profundidade e complexidade, que acabaram por criar uma arte nova, completamente original.

O sertão dos avessos

A Geração de 45, favorecida por um contexto de relativa estabilidade mundial, pôde se dedicar a discussões formais mais profundas. O foco se desloca dos radicalismos e da investigação nacional, cultural e social para um trabalho mais detalhado com os recursos que a linguagem pode oferecer para a produção de sentidos. É através desse trabalho com a linguagem que se aprofunda a reflexão sobre o ser humano em sua complexidade existencial, em todo o seu misterioso universo interior, que, mesmo sendo individual, conecta-se a uma conjuntura social.

Para discutir

1 Você já teve algum encontro muito marcante? Qual? Como foi? Relate-o por escrito e depois, no dia combinado com o professor e a classe, conte-o aos colegas.

2 Você acha que as coisas que acontecem têm um propósito ou tudo é mesmo obra do acaso? Discuta suas ideias com os colegas.

3 Faça uma pesquisa sobre o Rio São Francisco: por onde passa, sua importância para a economia local, os barcos que nele trafegam. Procure informações sobre a importância do rio nos anos 1920, aproximadamente a época em que se passam os fatos lembrados por Riobaldo, narrador e protagonista do romance Grande sertão: veredas.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

No livro Grande sertão: veredas , o ex-jagunço Riobaldo narra fatos importantes de sua vida a um interlocutor. Esses fatos aconteceram em um sertão atravessado pelas disputas entre bandos de jagunços, que atuam sob o comando de grandes proprietários rurais. Nas paisagens dessa região situada entre o norte de Minas, o nordeste de Goiás e o sudoeste da Bahia, o que acompanhamos são as indagações de um homem que, depois de muitas aventuras vividas, se pergunta sobre o bem, o mal, o amor, a morte. Quer entender o que de fato valeu em sua trajetória como jagunço, depois chefe de jagunços e finalmente fazendeiro. Você vai ler um trecho do livro que narra o primeiro encontro entre o narrador, Riobaldo, e Diadorim – essa personagem intrigante, uma espécie de neblina que o narrador precisa atravessar para entender sua própria vida.

Texto

Foi um fato que se deu, um dia, se abriu. O primeiro. Depois o senhor verá por quê, me devolvendo minha razão.

Se deu há tanto, faz tanto, imagine: eu devia de estar com uns quatorze anos, se. Tínhamos vindo para aqui — circunstância de cinco léguas — minha mãe e eu. No Porto do Rio-de-Janeiro nosso, o senhor viu. Hoje, lá é o porto de seo Joãozinho, o negociante. […] O de-Janeiro, dali abaixo meia légua, entra no São Francisco, bem reto ele vai, formam uma esquadria. Quem que carece, passa o de-Janeiro em canoa — ele é estreito, não estende de largura as trinta braças. Quem quer bandear a cômodo o São Francisco, também principia ali a viagem. […]

O X DA QUESTÃO
Não escreva no livro.

Pois tinha sido que eu acabava de sarar duma doença, e minha mãe feito promessa para eu cumprir quando ficasse bom: eu carecia de tirar esmola, até perfazer um tanto — metade para se pagar uma missa, em alguma igreja, metade para se por dentro duma cabaça bem tapada e breada, que se jogava no São Francisco, a fim de ir, Bahia abaixo, até esbarrar no Santuário do Santo Senhor Bom-Jesus da Lapa, que na beira do rio tudo pode. Ora, lugar de tirar esmola era no porto. Mãe me deu uma sacola. Eu ia, todos os dias. […]

Terceiro ou quarto dia, que lá fui, apareceu mais gente. Dois ou três homens de fora, comprando alqueires de arroz. Cada saco amarrado com broto de buriti, a folha nova — verde e amarela pelo comprido, meio a meio. Arcavam com aqueles sacos, e passavam, nas canoas, para o outro lado do de-Janeiro. […]

perfazer: tornar completo, inteirar. sujigola: correia para animais.

Aí pois, de repente, vi um menino, encostado numa árvore […] Menino mocinho, pouco menos do que eu, ou devia de regular minha idade. Ali estava, com um chapéu-de-couro, de sujigola baixada, e se ria para mim. Não se mexeu. Antes fui eu que vim para perto dele. Então ele foi me dizendo, com voz muito natural, que aquele comprador era o tio dele, e que moravam num lugar chamado Os-Porcos, meio-mundo diverso, onde não tinha nascido. Aquilo ia dizendo, e era um menino bonito, claro, com a testa alta e os olhos aos-grandes, verdes. […]

ANDRÉ
DUCCI

Mas eu olhava esse menino, com um prazer de companhia, como nunca por ninguém eu não tinha sentido. Achava que ele era muito diferente, gostei daquelas finas feições, a voz mesma, muito leve, muito aprazível. Porque ele falava sem mudança, nem intenção, sem sobejo de esforço, fazia de conversar uma conversinha adulta e antiga. […]

A ser que tinha dinheiro de seu, comprou um quarto de queijo, e um pedaço de rapadura. Disse que ia passear em canoa. Não pediu licença ao tio dele. Me perguntou se eu vinha. Tudo fazia com um realce de simplicidade, tanto desmentindo pressa, que a gente só podia responder que sim. Ele me deu a mão, para me ajudar a descer o barranco.

[…]

Foi o menino quem me mostrou. E chamou minha atenção para o mato da beira, em pé, paredão, feito à régua regulado. — ‘As flores…’ — ele prezou. No alto, eram muitas flores, subitamente vermelhas, de olho de boi e de outras trepadeiras, e as roxas, do mucunã, que é um feijão bravo; porque se estava no mês de maio, digo — tempo de comprar arroz, quem não pôde plantar. Um pássaro cantou. Nhambu? E periquitos, bandos, passavam voando por cima de nós. Não me esqueci de nada, o senhor vê. […]

Mas, com pouco, chegávamos no do-Chico. O senhor surja: é de repentemente, aquela terrível água de largura: imensidade. Medo maior que se tem, é de vir canoando num ribeirãozinho, e dar, sem espera, no corpo dum rio grande. […]

Tive medo. Sabe? Tudo foi isso: tive medo! […] Mas eu tinha até ali agarrado uma esperança. Tinha ouvido dizer que, quando canoa vira, fica boiando […]. E o canoeiro me contradisse: — ‘Esta é das que afundam inteiras. É canoa de peroba. Canoa de peroba e de pau-d’óleo não sobrenadam…’. Me deu uma tontura. O ódio que eu quis: ah, tantas canoas no porto, boas canoas boiantes, de faveira ou tamboril, de imburana, vinhático ou cedro, e a gente tinha escolhido aquela… Até fosse crime, fabricar dessas, de madeira burra! A mentira fosse — mas eu devo de ter arregalado dôidos olhos. Quieto, composto, confronte, o menino me via. — ‘Carece de ter coragem…’ […]

Aí, o desejado, arribamos na outra beira, a de lá. […]

[…]

Agora, que o senhor ouviu, perguntas faço. Por que foi que eu precisei de encontrar aquele Menino? […]

[…]

Aquele encontro nosso se deu sem o razoável comum, sobrefalseado, como do que só em jornal e livro é que se lê. […] Diz-que-direi ao senhor o que nem tanto é sabido: sempre que se começa a ter amor a alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na ideia, querendo e ajudando; mas, quando é destino dado, maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de querer, e é um só facear com as surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota é depois.

ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p. 87-114. sobejo: fartura, excesso. arribar: subir. ramerrão: repetição entediante.

#SOBRE

Natural de Cordisburgo (MG), médico de formação, diplomata, João Guimarães Rosa (19081967) é um dos maiores escritores da literatura universal. Suas andanças pelo interior do sertão, aliadas à sua enorme erudição – o autor lia em 11 línguas, além de ter estudado a gramática de outras 11 –, alimentaram sua imaginação e inspiraram grandemente a renovação linguística que promoveu na literatura, em especial na corrente regionalista. Além de Grande sertão: veredas, publicou vários livros de contos, como Sagarana (1946), Corpo de baile (1956) e Primeiras estórias (1962), entre outros.

Fotografia do escritor.

1. Regionalista: a descrição do cenário do sertão, bem como o registro de costumes e as variedades linguísticas. Além do regionalismo: uma temática filosófica que tematiza emoções básicas de todo ser humano, como amor e medo.

2. b) A linguagem toma a feição de uma contação de caso, com marcas de uma oralidade própria do falar do personagem, um ex-jagunço, um habitante do sertão mineiro.

PENSAR E COMPARTIlHAR

3. b) O Rio de-Janeiro é figurado como afluente do São Francisco. Sua localização provável seria o noroeste de Minas. O porto é mostrado como lugar movimentado sobretudo pelo comércio, como atesta a

Não escreva no livro.

venda de arroz mencionada no trecho.

1. Quando o livro Grande sertão: veredas foi publicado, os críticos consideravam que ele, juntamente com os demais livros de Guimarães Rosa, dava continuidade à literatura regionalista do Modernismo, que começou a ser produzida a partir da década de 1930. Liste alguns exemplos do texto que poderiam tanto justificar sua classificação como regionalista quanto questioná-la.

2. a) “Depois o senhor verá por quê, me devolvendo minha razão.” “Agora, que o senhor ouviu, perguntas faço.”

2. O texto estabelece uma dupla interlocução: com o leitor da obra e com o ouvinte do narrador Riobaldo.

2. c) Resposta pessoal. Os estudantes podem supor diferentes interesses por parte do leitor: o interesse pela região, pelo autor, pelo estudo da literatura, por histórias passadas em meio rural etc. Professor, lembre aos estudantes que, circulando na esfera literária,

a) Copie um trecho do texto que mostre a interlocução com um ouvinte.

b) O diálogo entre o narrador e seu ouvinte se dá oralmente. Que efeito isso pode ter para a linguagem da narrativa?

o romance pode atingir uma ampla esfera de interesses, mas

c) Quem pode ser o leitor do romance? Formule uma hipótese.

d) O leitor do romance se projeta em qual dos interlocutores do diálogo? Que efeito isso tem na leitura?

#fiCAADiCA

Uma boa maneira de entrar no universo de linguagem do autor é ouvir o ator Odilon Esteves “falando” o conto “A terceira margem do rio”, presente em Primeiras estórias . A fala do ator evidencia o tom do contador de histórias assumido pelo narrador nas obras de Guimarães Rosa.

3. O rio tem papel importante na narrativa: trata-se de um cenário em que se dá uma travessia.

leitura. Também se pode chamar a atenção para os questionamentos do narrador, que costumam interessar a muitos leitores contemporâneos. é notável o destaque do autor no panorama das letras, o que pode, por si só, ser um atrativo para a

a) Qual é a travessia?

b) Busque no texto elementos que caracterizem o rio e a vida do porto: como é o rio e o movimento do porto, quais são os negócios que se realizam lá.

c) Observe como é comercializado o arroz: a medida, a embalagem. O que esses detalhes podem indicar ao leitor?

4. O narrador vai ao porto para pagar uma promessa feita pela mãe, em razão da cura de uma doença que ele tinha sofrido.

As respostas e comentários para as atividades 4, 5 e 6 encontram-se nas Orientações para o professor.

a) O que isso mostra sobre o personagem?

• A TERCEIRA margem do rio: João Guimarães Rosa. [S. l.: s. n.], 2021. 1 vídeo (19 min). Publicado pelo canal Odilon Esteves. Disponível em: www. youtube.com/watch? v=VnB_d17DoDo. Acesso em: 16 set. 2024.

b) O n arrador conta que sua mãe pretendia que parte do dinheiro arrecadado chegasse ao sant uário do Santo Senhor Bom-Jesus da Lapa, “que na beira do rio tudo pode”. Faça uma pesquisa sobre o santuário e explique o que pode esse Bom-Jesus, na visão da personagem.

5. “Aí pois, de repente, vi um menino, encostado numa árvore.” Assim o narrador começa a contar esse encontro.

3. a) A travessia é a do Rio de-Janeiro, que desemboca no São Francisco. Professor, essa questão será retomada para explorar a travessia em sua dimensão simbólica. Se achar mais produtivo, antecipe essa discussão.

a) Copie no caderno um trecho que mostre os sentimentos do narrador com relação ao menino.

b) Como o narrador entende esse encontro?

6. O narrador tem medo durante a travessia.

a) O que o assusta?

3. c) O arroz é vendido por alqueires, ou seja, a quantidade produzida por alqueire. É embalado em sacos amarrados com a folha nova de buriti, provavelmente mais resistente. O narrador faz uma descrição minuciosa da folha dessa palmeira: “verde e amarela pelo comprido, meio a meio”. Essa forma de comercializar o arroz mostra que o produto sai direto do produtor para a venda e que os processos de embalagem utilizam os recursos naturais disponíveis na região. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

b) O medo dele contrasta com a coragem do menino. Que atitudes do menino mostram essa coragem?

c) Como se pode entender esse contraste na narrativa?

7. O menino chama a atenção do narrador para flores e pássaros do sertão.

a) Ao ouvir o menino falar desses elementos da paisagem, o narrador se distrai do medo. Que efeito isso tem na narrativa?

Cria um momento lírico na narrativa, distende a tensão provocada pelo medo do narrador, pelo perigo da travessia.

b) O que isso revela sobre o menino?

Que ele alia coragem à delicadeza, sensibilidade para as belezas ao redor.

2. d) Espera-se que os estudantes identifiquem essa projeção no ouvinte do narrador. Como efeito, supõe-se que o leitor se coloque como ouvinte tanto quanto o ouvinte representado no romance. Professor, aqui seria interessante ressaltar que essa escuta deve abrir-se para um modo de falar muito próprio. A leitura pode ser desafiadora de início, mas chame a atenção dos estudantes para a musicalidade da linguagem própria do falar de Riobaldo. Entregar-se a essa música é quase condição para entender o que ele diz.

8. O narrador se pergunta: “Por que foi que eu precisei de encontrar aquele Menino?” E acrescenta que o “encontro nosso se deu sem o razoável comum, sobrefalseado, como do que só em jornal e livro é que se lê”

8. a) Um encontro raro, incomum, que parece invenção, um encontro que acontece em romance.

a) Como é um encontro sem o razoável comum? Ou que “só em jornal e livro se lê”?

b) O próprio narrador tem uma resposta implícita no texto para sua pergunta. Por que, segundo ele mesmo, teria encontrado o menino?

Porque estava no destino deles, estavam destinados a se encontrarem.

9. Releia: “sempre que se começa a ter amor a alguém […] o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer que isso seja, e vai, na ideia, querendo e ajudando; mas, quando é destino dado […] a gente ama inteiriço fatal, carecendo de querer, e é um só facear com as surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota é depois”.

9. a) Um amor que a gente cultiva e faz crescer e outro que já é grande, como se vivesse na pessoa antes de existir, de brotar.

a) O narrador se refere a dois tipos de amor. Quais?

9. b) Do segundo: um amor atravessado no destino das personagens.

b) O encontro do narrador com o menino é de que tipo?

9. c) A travessia em direção ao seu destino. Pode ter diversas interpretações: em direção ao amadurecimento,

c) Considerando essa ideia, responda novamente: como é possível entender a travessia que faz o narrador? E o medo que ele sente?

às vivências que esse encontro iria desencadear. Ele tem medo de empreender essa travessia.

10. A linguagem do texto reinventa a fala do sertanejo, representado por Riobaldo, o narrador. Essa reinvenção conta com procedimentos sintáticos e semânticos.

a) O termo ribeirãozinho pode parecer paradoxal: o sufixo -ão em geral indica aumentativo, e -inho é sufixo usado para marcar o diminutivo. Como se pode entender o termo no texto?

b) Releia: “Medo maior que se tem, é de vir canoando num ribeirãozinho, e dar, sem espera, no corpo dum rio grande”. O verbo canoar não existe. Que característica dos verbos permite criar a forma do gerúndio canoando?

O fato de os verbos contarem com paradigmas de conjugação. Ao inventar o gerúndio canoando, o narrador considera canoar um verbo regular de primeira conjugação.

11. Releia: “Mas, com pouco, chegávamos no do-Chico. O senhor surja: é de repentemente, aquela terrível água de largura: imensidade”.

11. a) Em pouco tempo. Professor, comente com os estudantes que pouco pode indicar quantidade, que a palavra tempo aqui pode ser subentendida pelo contexto.

a) O que indica a expressão com pouco?

resume tanto a característica da paisagem quanto o efeito que ela tem sobre o narrador.

b) Surja tem no texto o sentido de imagine e é flexão do verbo surgir, que significa “aparecer, emergir”, mas, segundo o Dicionário Houaiss, também pode significar “lançar âncora ou amarra no porto, aportar”. Que relação se pode estabelecer entre o significado do verbo e o sentido que tem a palavra nesse trecho?

Surgir com o sentido de emergir remete à paisagem cuja grandeza emerge de repente diante da vista do narrador, que aporta nela.

c) O termo de repente é uma locução adverbial de modo. E de repentemente? Que efeito de sentido tem a mudança da forma?

Também é locução adverbial de modo. O acréscimo do sufixo -mente acentua a noção de processo.

d) Que efeito de sentido tem a expressão imensidade colocada depois dos dois pontos?

12. Também é possível encontrar variações sintáticas que podem provocar estranhamento no leitor. Releia: “Aquele encontro nosso se deu sem o razoável comum, sobrefalseado, como do que só em jornal e livro é que se lê”.

12. a) Além de colocar em destaque o encontro, marca um modo de falar próprio do personagem.

a) Qual é o efeito da inversão sintática?

b) Se o período estivesse na ordem direta, teria o mesmo efeito de sentido? Por quê?

12. b) Não teria o mesmo efeito de sentido na ordem direta; perderia o destaque e mesmo o estranhamento, que exige do leitor atenção mais concentrada ao que diz o personagem.

13. O crítico Davi Arrigucci Jr. (1943-), ao discorrer sobre esse episódio do encontro entre o narrador e o menino, que ele considera um dos momentos mais belos do livro, afirma:

Mas se deixa ler também […] como uma miniatura da jornada perigosa em que o herói mocinho põe à prova o seu valor, preparando-se para a aventura propriamente dita que viverá mais tarde.

ARRIGUCCI JR., Davi. O mundo misturado: romance e experiência em Guimarães Rosa. Revista Novos Estudos Cebrap, [s. l.], v. 3, n. 40, p. 7-29, nov. 1994. p. 26.

10. a) O sentido de ribeirão, segundo o Dicionário Houaiss, é curso de água maior que um regato, mas menor que um rio. Portanto, originalmente, “ribeirão” não é aumentativo de “rio”, mas de “regato”; ao acrescentar o sufixo -inho, marca o tamanho diminuto do de-Janeiro em contraste com o do São Francisco.

• Com base nesse trecho, que acontecimentos o leitor que desconhece a obra pode supor que o personagem viverá?

Pelo trecho lido, é possível prever que ambos voltarão a se encontrar e viverão eventos que envolverão medo e coragem.

#fiCAADiCA

A vida de Riobaldo é marcada por dois acontecimentos decisivos: o primeiro foi o encontro com Diadorim, quando era ainda adolescente. O segundo também está relacionado a Diadorim. Tempos depois de encontrar Diadorim pela primeira vez, a mãe de Riobaldo morre, e um vizinho caridoso o leva para a fazenda de seu “padrinho” Selorico Mendes (que, na verdade, é seu pai). Selorico ensina Riobaldo a usar armas e patrocina sua instrução, enviando-o para tomar aulas com Mestre Lucas, em outra localidade. Riobaldo não só aprende a ler como até adquire uma certa habilidade para a elaboração de textos e canções. Mestre Lucas chega a lhe dizer que Riobaldo poderia ser professor. Mas a carreira das letras deixa de ser uma opção para Riobaldo quando a fazenda de seu pai recebe a visita de um bando de jagunços. Ele fica fascinado pela perspectiva de uma vida de aventuras e posteriormente junta-se ao bando. O chefe do bando é Joca Ramiro, um grande proprietário rural, que vem a ser… o pai de Diadorim.

O jornal O Estado de S. Paulo percorreu o sertão que inspirou um dos maiores clássicos da literatura brasileira para fazer uma reportagem sobre o lugar: como estaria 50 anos depois da morte do autor? Quem são as pessoas que o habitam? O que resiste da alma sertaneja nas cidades violentas do Centro-Oeste e Sudeste? São os moradores da região que apresentam os lugares das andanças das personagens da obra.

• O GRANDE Sertão nos 50 anos da morte de Guimarães Rosa. [S. l.: s. n.], 2017. 1 vídeo (4 min). Publicado pelo canal Estadão. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=gGRI9 qSed1E. Acesso em: 28 set. 2024.

Ruth Guimarães e as tradições

de abertura do vídeo.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

do interior paulista

Fotografia da escritora em 2011.

Nascida em Cachoeira Paulista (SP), Ruth Guimarães (1920-2014) foi escritora, jornalista e tradutora, notável por suas contribuições à literatura regionalista e folclórica do Brasil. Ruth foi uma das primeiras mulheres negras a se destacar na literatura brasileira. Sua obra possui alguns pontos de convergência com a de João Guimarães Rosa, especialmente por ambos recorrerem à oralidade e às tradições populares para construírem suas narrativas. Em Água funda (1946), assim como em Grande sertão: veredas, o leitor é convidado a adentrar um mundo rico em detalhes culturais, linguísticos e míticos. Ambos os escritores apresentam a preocupação de registrar e celebrar a identidade cultural brasileira, utilizando um estilo literário que mescla realidade e fantasia, criando uma prosa poética carregada de simbolismo.

1. Pesquise contos de Ruth Guimarães disponíveis na internet e nas coletâneas Contos negros (2000) e Contos índios (2000). Selecione um conto e o leia. Em uma data marcada pelo professor, compartilhe a leitura com a turma destacando:

• resumo do enredo;

• relações entre personagens e o ambiente e cultura à qual pertencem;

• características da linguagem e estilo de escrita.

HIPERlINK
Não escreva no livro.
Imagem

A paz começa a esfriar

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, uma nova ordem global dividiu os países em dois grandes blocos: o bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o bloco comunista, liderado pela então União Soviética. A Doutrina Truman, adotada pelo governo norte-americano, promoveu uma caça aos comunistas que se disseminou pelos demais países capitalistas.

No Brasil, o final da Guerra coincide com o final da ditadura de Getúlio Vargas e a eleição do militar Eurico Gaspar Dutra para a presidência. Seu mandato (1946-1951) foi marcado por uma nova Constituição, que trouxe alguns avanços sociais, como o voto obrigatório, agora também para mulheres. Dutra aproximou-se dos Estados Unidos por razões econômicas. Essa aproximação levou à perseguição do comunismo também aqui no Brasil. O Partido Comunista foi considerado ilegal, mas permaneceu ativo na clandestinidade

50 anos em 5

Ilustração representa a divisão do mundo entre os Estados Unidos e a União Soviética.

Juscelino Kubitschek (1902-1976) assumiu a presidência do Brasil em 1956. Seu mandato, associado a um grande desenvolvimento da nação, foi sustentado por um Plano de Metas que prometia 50 anos de progresso em apenas cinco anos de mandato. A capital federal foi transferida do Rio de Janeiro (RJ) para Brasília (DF), cidade planejada por Lúcio Costa (19021998) e Oscar Niemeyer (1907-2012). A indústria, em especial a automotiva, ganhou impulso. Novas estradas para a circulação dos carros foram construídas. O American way of life chegava ao Brasil, e uma onda de otimismo, marcada por discreto aumento do poder aquisitivo e pelo surgimento da Bossa Nova, mascarava a queda das exportações brasileiras e o aumento da dívida externa.

Propaganda de época exalta o American way of live. Louisville (Estados Unidos), 1937.

Os autores brasileiros vendem mais livros

Capa do livro Gabriela cravo e canela, de Jorge Amado.

Durante a Segunda Guerra Mundial, ficou mais difícil importar, o que favoreceu o desenvolvimento e a consolidação do mercado editorial interno no Brasil, bem como o incentivo à publicação de autores nacionais. As editoras podiam então se arriscar mais, pois contavam com autores de sucesso quase certo. Jorge Amado (1912-2001) tornou-se, ao longo das décadas de 1940 e 1950, o maior best-seller nacional. Em 1926, por exemplo, as editoras nacionais publicaram 27 títulos, com tiragem total de 175 mil exemplares. Somente o romance Gabriela, cravo e canela, de 1958, teve uma tiragem de 100 mil exemplares em sua primeira edição, logo esgotada. Com esse mercado promissor, foram relançados autores nacionais e internacionais e traduções de clássicos da literatura mundial. A prosa da segunda geração, por sua vez, perde espaço em meio à euforia e otimismo da década de 1950. Apesar desse quadro otimista, a realidade da leitura nacional era outra. O consumo de livros atingia apenas uma parcela pequena da população; metade dela ainda era analfabeta.

Os muitos sertões

Ler Guimarães Rosa é entrar em contato com algumas das questões mais essenciais da vida humana, como o amor e a morte, o bem e o mal, apresentadas através de uma língua reinventada. Alheio às convenções mais rígidas da gramática, as variedades linguísticas regionais conseguem exprimir toda a complexidade existencial de seus falantes. São essas variedades linguísticas que se tornam a referência básica de sua obra, mas ele também é recriado e ampliado pela sua capacidade literária. Também chamam a atenção os neologismos criados a partir de diversos processos e de diversas línguas, o que lhes confere uma história própria. A palavra nonada, por exemplo, é resultado da fusão do latim nom, que significa não, com a palavra nada, carregando o significado de coisa sem importância.

A vasta obra de Guimarães Rosa, apesar da variação temática e diversidade dos enredos, circula em torno de um conceito-chave: o sertão. Palavra de muitos sentidos, o sertão pode se referir à região geográfica ou social, à cultura, aos dramas existenciais do indivíduo, aos dramas coletivos de seu entorno social, a questões místicas, metafísicas e existenciais ou a outras tantas possibilidades. O sertão é um alicerce do enredo das obras do autor. Esse espaço, real e mítico ao mesmo tempo, pode estar no mundo ou caber dentro de um homem ou de todos, já que se refere à complexidade da existência. É pelo sertão existencial que o narrador protagonista de Vermelho amargo deverá fazer sua travessia em busca de amor, ninho, sentido.

O lambe-lambe do coletivo Paulestinos apresenta um jagunço moderno em meio a reflexões verbais sobre arte e cangaço em postura que dialoga com filmes de kung-fu. PAULESTINOS. Cangaceira Jedi. 2012. Arte digital, 42 cm x 29 cm.

lER lITERATURA

A linguagem: a força da invenção

Todo texto literário vive da possibilidade de dizer por meio e com a linguagem. Em alguns casos, a força da invenção é tão intensa que a linguagem se torna o coração mesmo do texto, imprimindo-se nele com potência igual ou maior que o conteúdo a que ela dá forma: linguagem, sujeito e mundo se entrelaçam de modo radical.

O crítico Davi Arrigucci Jr., leitor arguto de Grande sertão: veredas, afirma que, nesse romance, “desde o início da fala do Narrador (‘— Nonada. Tiros que o senhor ouviu […]’) até a última palavra com que ela se encerra (‘Travessia.’), a linguagem é misturadíssima. […] Ninguém encontrará decerto nessa região a fala de Riobaldo; […] o sertão rosiano é um artifício”.

Um artifício produzido pela erudição do autor mineiro que, além da convivência com os sertanejos de Minas Gerais, tinha domínio em nível variado de diversas línguas. Se a linguagem é misturada, é na mistura que reside o sentido mais profundo do livro: é no mundo misturado que se ergue a indagação de Riobaldo: “Sei de mim? Cumpro.” “O senhor ache e não ache. Tudo é e não é.” (Grande sertão: veredas)

Em Vidas secas, de Graciliano Ramos, a secura está na linguagem, nos períodos curtos ou no encadeamento de orações coordenadas, que pontuam uma linguagem sem recursos mais que ater-se a uma sequência de constatações: “A fazenda renasceria – e ele, Fabiano, seria o vaqueiro, para bem dizer seria dono daquele mundo. […] Uma ressurreição. As cores da saúde voltariam à cara triste de Sinha Vitória. Os meninos se espojariam na terra fofa do chiqueiro das cabras. Chocalhos tilintariam pelos arredores. A catinga ficaria verde.”

Na obra de Clarice Lispector, a linguagem é frequentemente um turbilhão que arrasta o leitor pelo fluxo de pensamentos da personagem, aproximando do leitor suas inquietações mais íntimas. Alguns recursos chamam a atenção pelo ineditismo. Por exemplo, começar um romance com uma vírgula.

“, estando tão ocupada, viera das compras de casa que a empregada fizera às pressas porque cada vez mais matava serviço, embora só viesse para deixar almoço e jantar prontos, dera vários telefonemas tomando providências, inclusive um dificílimo para chamar o bombeiro de encanamentos de água, fora à cozinha para arrumar as compras e dispor na fruteira as maçãs que eram a sua melhor comida, embora não soubesse enfeitar uma fruteira, mas Ulisses acenara-lhe com a possibilidade futura de por exemplo embelezar uma fruteira […]” (Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres).

O recurso sugere que essa fala da personagem é continuação de algo que veio antes e que, no seu frêmito, sugere uma ânsia que o romance irá desenvolver como angústia existencial.

Não escreva no livro.

Para discutir

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

1. Leia este trecho de Grande sertão: veredas e explique o que a linguagem tem de único, singular.

‘O senhor escute meu coração, pegue no meu pulso. O senhor avista meus cabelos brancos… Viver — não é? — é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender-a-viver é que é o viver, mesmo.’

ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p. 431.

InTEGranDO COm...

SOCIOLOGIA

Os jagunços: mito e realidade

Os indícios fornecidos por Riobaldo, narrador protagonista de Grande sertão: veredas, permitem situar as aventuras narradas no livro nos anos finais da Primeira República, provavelmente na década de 1920. Riobaldo inicialmente é membro de um bando de jagunços, posteriormente se torna líder de um desses bandos e por último vira fazendeiro, dono de duas fazendas que vem a receber por herança.

A origem dos jagunços (chamados de cangaceiros em algumas regiões do Brasil) remonta à população de agregados que vive nas grandes propriedades pecuaristas. Como a pecuária precisa de pouca mão de obra, sobram braços ociosos, que dependem dos favores dos latifundiários para ter onde morar e um pouco de terra para cultivar. Em troca dos favores, esses agregados ficavam à disposição dos latifundiários para suas guerras particulares: de defesa de suas propriedades, de ataque às propriedades de terceiros ou de agentes do caos nas eleições. Certa cultura letrada no Brasil promoveu uma espécie de mitificação do jagunço, retratando-o de maneira idealizada, como um guerreiro movido pelo senso de honra e guiado por uma conduta cavaleiresca, semelhante ao guerreiro que protagoniza as novelas de cavalaria da Idade Média. Em uma das passagens do romance, Riobaldo se vangloria da fidalguia com que seu bando se comportou quando invadiu uma fazenda:

A dona fazendeira era mulher já em idade fora de galas; mas tinham três ou quatro filhas, e outras parentas, casadas ou moças […]. Aquietei o susto delas, e nenhuma falta de consideração eu não proporcionei nem consenti, mesmo porque meu prazer era estar vendo senhoras e donzelas navegarem assim no meio nosso, garantidas em suas honras e prendas, e com toda cortesia social.

ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p. 336. Contrastando com a fidalguia mostrada nesse trecho, a violência associada à vida dos jagunços é narrada sem idealizações em muitas passagens do romance, mostrando-os em tiroteios ferozes que causavam muitas mortes de lado a lado. E, quando eles não estão combatendo, os chefes de bando os mandam fazer arruaças para manter o “moral” da tropa. É por isso que Riobaldo se questiona moralmente: ele não quer ser um assassino e estuprador, embora essas ações façam parte do “ofício” de jagunço. Esse é um dos muitos dilemas que seu meio social lhe apresenta.

Não escreva no livro.

Respostas e comentários nas Orientações para o professor.

1. Faça uma pesquisa sobre filmes de cangaceiros e procure assistir aos filmes principais dessa categoria. Como são retratados os cangaceiros? Há algum tipo de romantização de seu comportamento?

2. Em anos recentes, a mídia tem noticiado assaltos espetaculares em várias regiões do Brasil, chamando esse fenômeno de “cangaço novo”. Em sua opinião, essa denominação é válida? Quais são as semelhanças entre o cangaço novo e o cangaço velho? E as diferenças?

O jornal também fala

lER O MUNDO

Não escreva no livro.

A literatura brasileira a partir de 1945 apresenta visões muito pessoais e subjetivas da realidade, seja sobre um lugar ou sobre o próprio ser humano. Os textos jornalísticos, no entanto, sempre sustentaram a promessa de objetividade e imparcialidade perante os problemas da realidade. Embora essa imparcialidade seja um objetivo do jornalismo, há espaços em que os meios midiáticos se posicionam e apresentam para o leitor a opinião institucional de um jornal ou revista: são os editoriais.

Para discutir

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Ao longo de sua vida escolar e fora dela, você provavelmente leu alguns editoriais.

1 Em que seção de jornais e revistas são publicados os editoriais?

2 Que outros textos são publicados nessas seções?

3 Considere as notícias que ganharam mais destaque ao longo da semana em que você faz esta atividade. Qual dessas notícias mereceria um posicionamento por parte de um jornal ou revista?

Você vai ler a seguir dois editoriais. O primeiro é do jornal Folha de S.Paulo, de circulação nacional, publicado em 9 de maio de 2024; o segundo é do jornal O Popular, de Goiânia (GO), de circulação regional, publicado em 28 de maio do mesmo ano. Ambos abordam a ameaça de degradação do cerrado brasileiro.

Texto 1

Cerrado em risco

Desmate no bioma afeta o país, pois destrói mananciais e turbina crise do clima

A atenção do país se volta para a tragédia no Rio Grande do Sul, com toda justiça. Mas não se deve perder de vista que desastres climáticos resultam de cadeias de fatores que superam fronteiras regionais e nacionais, pois o aquecimento da atmosfera é fenômeno mundial.

Além da queima de combustíveis fósseis, a crise do clima tem origem no desmatamento a grassar pelo território brasileiro.

No Centro-Oeste, a consequência é oposta à verificada no Sul: perda de recursos hídricos. Isso decorre do aquecimento global, que diminui chuvas, e da derrubada da vegetação natural para dar espaço a campos de soja, milho e algodão.

Diz-se que o cerrado é uma floresta invertida. Suas raízes penetram no solo a profundidades que podem alcançar o dobro da altura das árvores acima dele. Nessa busca pelos lençóis freáticos, as raízes favorecem sua reposição — a água da chuva penetra mais facilmente no solo já descompactado por elas.

Assim, o bioma é conhecido como a caixa d’água do Brasil. A captação pluvial nesse local, que cobre um quarto do país, garante boa parte da vazão de bacias tão importantes quanto as dos rios Doce, Jequitinhonha, Parnaíba, Tapajós, Xingu e Madeira, além do Pantanal.

O abastecimento de mananciais pela savana brasileira é tema da segunda reportagem da série Cerrado Loteado, publicada pela Folha. E as notícias não são boas, em especial no Matopiba, zona com expansão acelerada do agronegócio.

Monoculturas mecanizadas enriquecem o país com exportação, mas, sem controle, o empobrecem ao diminuírem a percolação (movimento descendente da água no interior do solo) até os aquíferos, afetando a vazão de nascentes e rios.

O fluxo também diminui com a irrigação, que desvia volumes diários várias vezes acima do consumo numa metrópole como São Paulo.

Seria disparate pressupor ligação direta entre a destruição do cerrado, hoje muito mais acelerada do que a da floresta amazônica, e o flagelo dos gaúchos. Por outro lado, esses processos estão conectados e se radicalizam sob a omissão de governos diante do imperativo de conter a crise ambiental que põe em risco a vida na Terra.

Texto 2

CERRADO em risco. Folha de S.Paulo, São Paulo, 9 maio 2024. Disponível: em www1.folha.uol.com.br/opiniao/ 2024/05/cerrado-em-risco.shtml. Acesso em: 18 set. 2024.

A queda do Cerrado

O Relatório Anual de Desmatamento, publicado nesta terça-feira (28) pelo MapBiomas, consolida um cenário já esperado: o Cerrado é, hoje, o bioma mais vulnerável à devastação do País.

No ano passado, 1,1 milhão de hectares foram abaixo, 66% mais que em 2022. Para comparação, a Amazônia teve uma redução de mais de 60% no desmate no mesmo período.

A maior parte do Cerrado derrubado está concentrada no Matopiba, que reúne Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Atual fronteira agrícola brasileira, essa região foi responsável por 47% de toda a vegetação nativa extraída em 2023.

Ainda que em proporções menores, até porque resta muito pouco de pé, Goiás apresentou indicadores alarmantes. Em um ano, a perda de vegetação nativa subiu 125% no estado. Foram derrubados 651 mil quilômetros quadrados, quase uma Goiânia.

Coincidentemente, no fim do ano passado o governador Ronaldo Caiado (UB) sancionou leis que, de acordo com ambientalistas, diminuem a proteção do bioma. Por sua vez, o governo federal deve o plano de redução da perda do Cerrado, prometido desde o início do mandato do presidente Lula. A natureza mostra, todos os dias, o preço dessa negligência.

A QUEDA do Cerrado. O Popular, Goiânia, 28 maio 2024. Disponível em: https://opopular.com.br/opiniao/editorial/ a-queda-do-cerrado-1.3141084. Acesso em: 22 maio 2024.

SAIBA MAIS

Proteger ou recuperar?

Geralmente, quando é abordada a questão ambiental, o foco está em exigir que se protejam as áreas naturais ainda não devastadas. Mas e quanto às áreas que já foram degradadas, o que fazer? Por entender que não basta proteger as áreas ainda preservadas, mas sim recuperar áreas degradadas, o Parlamento Europeu aprovou, em 2024, a Lei da Restauração da Natureza, que tem o objetivo de reparar ecossistemas degradados na região. A lei determina que os países da União Europeia implementem medidas para restaurar pelo menos 20% das suas terras e 20% das suas águas degradadas até 2030.

LALO DE ALMEIDA/FOLHAPRESS

Área de cerrado desmatada para plantio de soja, em Mateiros (TO), 2024.

1. b) O que dá destaque a esse assunto é a crise por que passava um dos principais biomas do Brasil e as consequências para rios, fauna, flora e para pessoas.

4. a) O trecho menciona uma reportagem de série sobre o cerrado publicada pela Folha de S.Paulo que traz mais dados e informações, que podem fortalecer a argumentação e ampliar a discussão do editorial.

1. Ambos os textos foram publicados em maio de 2024, em dias diferentes, mas fazem referência a um mesmo assunto.

a) Que assunto é esse?

O desmatamento do cerrado brasileiro e o risco de degradação pelo qual esse bioma passava.

b) Que aspecto desse assunto faz com que ele mereça tanto destaque para ser tema de um editorial?

2. Os editoriais são textos argumentativos que apresentam a opinião de jornais e revistas sobre um determinado assunto. Copie o organizador a seguir no caderno e preencha-o com o que defende cada editorial.

4. b) Ao fazer a referência a uma série de reportagens que ela mesma produziu, o editorial reforça a imagem de confiabilidade e eficiência da Folha, bem como pode aumentar o número de leitores e seguidores do jornal.

O Popular

Defende que os governos não podem ser omissos e que é imperativo conter a crise ambiental.

Defende que o governo federal deve criar um plano de proteção do cerrado.

3. O texto 1 aponta causas e consequências da ação humana sobre a natureza que têm efeitos no cerrado.

a) P ara identificar os elementos que compõem essa relação de causa e consequência, no bioma cerrado, copie os organizadores a seguir no caderno e complete-os. Não escreva no livro.

O solo arejado permite a chegada da água de chuvas até grandes profundidades.

As raízes descompactam a terra e atingem grandes profundidades.

A monocultura diminui o movimento descendente da água no interior do solo.

O que as raízes fazem com o solo

O que a monocultura provoca

Como o solo se comporta

Como o solo se comporta

O solo compactado não permite a chegada da água de chuvas até grandes profundidades.

Consequência

Consequência

b) Que função tem no editorial a apresentação de causas e consequências?

4. Considere o seguinte trecho:

A água chega aos lençóis freáticos e forma importantes bacias de água doce.

A formação e manutenção das bacias hidrográficas fica afetada e comprometida.

Tem a função de argumentação, de sustentação da opinião.

O abastecimento de mananciais pela savana brasileira é tema da segunda reportagem da série Cerrado Loteado, publicada pela Folha.

a) Esse trecho apresenta um recurso que permite ampliar a discussão sobre o cerrado para além dos argumentos do editorial. Qual é esse recurso?

b) E xplique como a utilização desse recurso pode beneficiar o jornal Folha de S.Paulo.

Editorial é um gênero do campo jornalístico-midiático que expressa a opinião oficial da empresa ou instituição perante os fatos de maior relevância no momento de sua publicação e defende essa opinião com argumentos.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

5. O texto 2, embora trate do mesmo assunto do texto 1, parte de um evento para iniciar a argumentação.

5. b) Possibilidades: confiabilidade, seriedade, responsabilidade.

a) Que evento é esse?

A publicação do Relatório Anual de Desmatamento, produzido pelo MapBiomas.

b) O MapBiomas é uma Organização Não Governamental (ONG) que articula, para produzir seus relatórios e estudos, uma rede colaborativa formada por outras ONGs, universidades e empresas de tecnologia. Que atributos os dados produzidos por essa ONG associam ao editorial?

c) Qual é a importância de se iniciar o editorial com a referência a esse evento?

Ao começar o editorial com a referência ao relatório, garante-se a confiabilidade do texto e a existência de dados objetivos para a argumentação.

Folha de S.Paulo

6. a) O aumento do desmatamento do cerrado em 66% em apenas um ano; o aumento do desmatamento em Goiás, em 125% em um ano; e a devastação de 47% na região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia).

6. b) A unidade de medida de um hectare é muito grande e de difícil visualização, não permitindo ao leitor comum uma noção clara do tamanho da área desmatada. O formato de porcentagem permite ao leitor ter uma ideia mais precisa e estimar o significado desses números.

6. Considere os dados apresentados pelo texto 2.

a) Quais desses dados são mais relevantes?

6. d) “Atual fronteira agrícola brasileira, essa região foi responsável por quase metade de toda a vegetação nativa extraída em 2023.”

b) Qual é a importância da apresentação dos dados em formato de porcentagem e não em hectares apenas?

c) O que esses dados conferem à argumentação do editorial?

Conferem confiabilidade, já que os números sugerem precisão.

d) O jornal poderia dar ainda outra noção das perdas acrescentando um esclarecimento do significado dos números. Por exemplo: o desmatamento atingiu 66% do cerrado, ou seja, mais da metade. Como poderia ser apresentado o dado em: “Atual fronteira agrícola brasileira, essa região foi responsável por 47% de toda a vegetação nativa extraída em 2023”.

7. O governador Ronaldo Caiado, citado no texto 2, colocou-se da seguinte forma ao discursar na abertura da 89a ExpoZebu, em Uberaba, em abril de 2024.

De 2012 até 2022, o Brasil não cresceria um ponto percentual no PIB se não fosse a agropecuária. O Brasil cresceu 2,9%; a agropecuária cresceu 15,2% em 2023. […] Quem tem sido carro-chefe nesse crescimento da economia brasileira é o agronegócio que tem batido recorde de produção de carne, de leite, de grãos, de etanol.

GOIÁS. Caiado exalta crescimento do Agronegócio e faz defesa do setor durante abertura da 89a ExpoZebu, em Uberaba Goiânia: Governo de Goiás, 29 abr. 2024. Disponível em: https://goias.gov.br/casacivil/caiado-exalta-crescimento-do-agronegocioe-faz-defesa-do-setor-durante-abertura-da-89a-expozebu-em-uberaba/. Acesso em: 18 set. 2024.

7. a) O crescimento da economia brasileira.

a) Nessa fala, Caiado defende o agronegócio. Que argumento principal sustenta sua defesa?

b) Como o editorial poderia se contrapor à fala de Caiado?

c) Que informação do texto 2 mostra que o governador teria posição diferente da que os editoriais poderiam sustentar quanto à atividade do agronegócio?

7. b) Possibilidade: Embora promova crescimento, compromete a sobrevivência dos biomas e, por fim, a do próprio agronegócio, que sofrerá com as mudanças climáticas. Pode ainda contra-argumentar defendendo um agro sustentável, que não destrua os biomas.

8. Um jornal de grande circulação, como a Folha de S.Paulo, tem um público geral que pode assumir várias características e posicionamentos.

7. c) O fato de o governador ter sancionado leis que, de acordo com ambientalistas, diminuem a proteção do bioma.

a) Qual é a importância de um jornal assumir um posicionamento sobre os assuntos do momento perante seu público leitor?

Marcar para esse público a postura política e os valores nos quais o jornal se embasa e nos quais acredita.

b) P or que pode ser importante que o leitor tome conhecimento do posicionamento do jornal?

9. Com relação aos recursos de estilo do editorial, identifique suas características quanto a(o):

a) grau de formalidade;

Predominantemente formal.

b) predominância de tempos verbais;

c) presença de adjetivações;

d) uso de pronome para referir-se ao leitor;

Não há.

e) e xpressões de subjetividade / valoração.

#fiCAADiCA

Pretérito perfeito e presente do indicativo. Muito poucas. 9. e) Uma vez que defende opinião, a subjetividade é parte do editorial, assim como a avaliação de aspectos do tema tratado.

O público leitor de um editorial define os limites de sua discussão e argumentação, pois o posicionamento de um veículo pode ampliar ou diminuir o número de leitores. Portanto, a publicação de um editorial obedece também a objetivos políticos e de mercado.

O agronegócio é um setor econômico muito bem-sucedido no Brasil não só por causa de sua competência empresarial e tecnológica, mas também porque é muito bem organizado politicamente e tem uma estratégia muito eficiente para se comunicar com a sociedade. Esses são os temas desenvolvidos no episódio 2 de Tempo quente, série de podcasts que aborda as oportunidades perdidas pelo Brasil para se prevenir contra a crise climática.

• TEMPO Quente 2: O agro é punk. Apresentação: Giovana Girardi. [S. l.]: Rádio Novelo, 14 jun. 2022. Podcast. Disponível em: https://radionovelo.com.br/originais/tempoquente/o-agro-e-punk/. Acesso em: 20 set. 2024.

Capa do podcast Tempo Quente.

8. b) A depender do posicionamento político do editorial, o leitor pode reforçar sua preferência pela empresa ou deixar de ser um leitor, a despeito dos argumentos utilizados; ou o leitor politicamente contrário ao que o editorial defende pode ser convencido a mudar de ponto de vista. Nunca é demais lembrar: além de leitor, ele também é eleitor; o grau de adesão do leitor ao posicionamento do jornal pode interferir no apoio a essa ou àquela causa, a esse ou àquele governante.

1. c) É possível identificar pelo contexto e pela flexão: feminino e singular.

Concordância nominal

3. a) O pronome se liga ao termo implícito canoa e os demais se ligam ao termo implícito canoas

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Releia a seguir um trecho de Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa.

Não escreva no livro.

1 C onsidere o trecho em destaque.

a) Que termo pode ser considerado o núcleo desse trecho?

A palavra voz

b) Que termos se ligam a esse núcleo?

Os termos mesma, leve e aprazível

c) Como é possível identificar essa relação entre os termos?

2. a) Os termos uma, adulta e antiga.

2 Considere o trecho destacado.

a) Caso o termo conversinha estivesse no plural, que outros termos também deveriam ficar no plural?

b) Por que esses termos deveriam estar no plural?

Mas eu olhava esse menino, com um prazer de companhia, como nunca por ninguém eu não tinha sentido. Achava que ele era muito diferente, gostei daquelas finas feições, a voz mesma, muito leve, muito aprazível. Porque ele falava sem mudança, nem intenção, sem sobejo de esforço, fazia de conversar uma conversinha adulta e antiga. […]

Tive medo. Sabe? Tudo foi isso: tive medo! […] Mas eu tinha até ali agarrado uma esperança. Tinha ouvido dizer que, quando canoa vira, fica boiando […] E o canoeiro me contradisse: — ‘ Esta é das que afundam inteiras. É canoa de peroba. Canoa de peroba e de pau-d’óleo não sobrenadam’. Me deu uma tontura. O ódio que eu quis: ah, tantas canoas no porto, boas canoas boiantes, de faveira ou tamboril, de imburana, vinhático ou cedro, e a gente tinha escolhido aquela… Até fosse crime, fabricar dessas, de madeira burra! A mentira fosse — eu devo de ter arregalado doidos olhos. Quieto, composto, confronte, o menino me via. — ‘Carece de ter coragem…’ […].

ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p. 91.

2. b) Porque teriam que concordar com conversinhas, que estaria no plural.

3 Considere a oração em destaque.

a) A que termo o pronome e o adjetivo se ligam?

b) O que permite essa identificação do termo?

Todos estão no plural e no feminino.

4 Considere a expressão em destaque

a) Que termo atua como núcleo?

O termo olhos.

b) Qual seria a forma mais comum de escrever essa expressão? Por quê?

4. b) A forma mais comum seria olhos doidos porque, em português, normalmente o adjetivo vem depois do substantivo.

Na Unidade 2, você estudou a concordância verbal. Nesta unidade, você vai estudar outra forma de concordância fundamental para textos: a concordância nominal, que é centrada na concordância entre o substantivo e os termos que a ele se ligam. A seguir, você vai estudar as principais regras de concordância nominal. Observe os exemplos a seguir, retirados de textos lidos nesta unidade.

[…] ah, tantas canoas no porto, boas canoas boiantes, […] Adjetivo Substantivo Adjetivo Adjetivo (feminino, plural) (feminino, plural) (feminino, plural) (feminino, plural)

Nesse exemplo, observamos que o gênero e o número de um substantivo geram flexões correspondentes de seus modificadores. Como regra geral, o adjetivo e as palavras adjetivas devem concordar em gênero e número com o nome a que se referem. A essa relação damos o nome de concordância nominal. Observe.

[…] gostei daquelas finas feições.

Pronome Adjetivo Substantivo (feminino, plural) (feminino, plural) (feminino, plural)

Nesse outro exemplo, o adjetivo concorda com o substantivo e aparece anteposto a ele e, da mesma forma, deve manter a concordância de gênero e número com o substantivo.

Expressões “é proibido” / “é necessário” / “é obrigatório”

Observe os exemplos a seguir. Preste atenção à presença ou não do artigo.

O uso de boias é obrigatório e é proibida a entrada de crianças.

Artigo definido

Artigo definido (masculino, singular) (feminino, singular)

Se o núcleo nominal do sujeito é antecedido por um artigo ou outro determinante, o adjetivo deve ser flexionado para concordar em gênero e número com o substantivo modificado. Mas observe o que acontece quando não há artigo.

Em canoa de peroba é proibido entrada de crianças.

Ausência de artigo definido É necessário força para esse trabalho.

Ausência de artigo definido

Nesses casos, sem um artigo definido, o adjetivo não deve ser flexionado para concordar em gênero e número com o substantivo modificado.

Existem outros casos especiais de concordância nominal, ou seja, casos particulares aos quais se deve estar sempre atentos.

Concordância nominal é aquela que ocorre em gênero e número entre o núcleo do sintagma nominal e seus determinantes: o adjetivo, o artigo, o pronome adjetivo, o numeral e o particípio.

Casos especiais de concordância nominal

Adjetivo antes de substantivos de gêneros diferentes

Bastante, muito e mesmo quando adjetivos

Concorda com o gênero e número do substantivo mais próximo.

Concordam com o substantivo ao qual se ligam.

Menos Por ser um advérbio, nunca varia.

Anexo e incluso

Quite

Obrigado

Concorda com o substantivo ao qual se refere.

A madrasta não gostava do tomate, o que indicava péssimo gosto e preferência

Quando cresceu, teve que enfrentar bastantes ondas. Então principiei dizendo muitos desaforos pra madrasta.

Depois da morte da mãe menos pessoas lhe dedicavam afeto.

Continuava morando com o pai e a madrasta em um casebre anexo à casa principal. Entre as opções inclusas no contrato de venda do pai estavam a devolução e troca de tomates.

Concorda com o número do substantivo. A dedicação do pai o colocava quite com o filho.

Concorda com o gênero daquele que pronuncia o agradecimento.

A madrasta chorou ao receber um abraço do enteado e disse “obrigada, muito obrigada”.

1. a) O risco envolvido na aquisição e uso de óculos falsificados, impróprios para os olhos, capazes de causar males, como a cegueira. 1. b) A imagem do abacaxi remete ao uso metafórico popular da palavra “abacaxi” como sinônimo de um problema difícil de resolver, sentido que precisa ser recuperado pelo leitor para que faça sentido a imagem da pessoa segurando um abacaxi com óculos na altura dos olhos/cabeça. Em outras palavras, a ideia é a de que, usando óculos falsificados, de baixa qualidade, sua visão corre o risco de ser acometida por um grave problema.

PENSAR E COMPARTIlHAR

Observe o texto de uma peça de campanha de conscientização.

Não escreva no livro.

óculos, para uma concordância

previsto pela norma teríamos mesmo número e gênero para o adjetivo e para o nome a que falsificados, nem

FALSIFICADO, nem de graça. 2019. 1 cartaz. Disponível em: www.abioptica.com.br/4483-2/. Acesso em: 16 set. 2024.

1. A peça de campanha alerta o leitor acerca de uma questão relativa ao consumo.

a) Que questão é essa?

b) Qual é a relação entre a fruta representada na imagem e o problema combatido pela campanha? Explique, explicitando o conhecimento de mundo que o leitor aciona para interpretar a mensagem.

2. Embora se refira a um objeto que se identifica como sendo unitário, a palavra óculos só admite a forma plural, por constituir um par de lentes, um par de óculos.

a) Com relação à norma-padrão, não respeita completamente essa regra do uso da palavra óculos em “Falsificado, nem de graça!”. Identifique o desvio e explique-o.

b) Esse desvio pode ser considerado um deslize do autor do anúncio? Justifique com base em evidências do texto.

c) Esse desvio causa problema na recepção da mensagem por parte do leitor? Por quê?

2. c) O uso não causa problema na recepção, uma vez que os leitores usam essa forma desviante da norma no cotidiano. Assim, ao contrário, a propaganda se aproxima do leitor por trazer a voz dele para o texto da

L eia a seguir o trecho de um artigo sobre os benefícios de correr e caminhar para queimar calorias e gordura.

2. b) Não se trata de um deslize, mas de um uso intencional. Os falantes do português brasileiro empregam cotidianamente a forma desviante de óculos como singular, fazendo sua concordância como se fosse singular.

Correr ou caminhar: qual é o ideal para queimar calorias e/ou gordura?

Muitas pessoas acreditam que apenas os exercícios de alta intensidade fazem efeito. Mas as atividades de baixa intensidade, como as caminhadas, também têm seu valor. Na concepção do famoso atleta e autor de bestsellers Mark Sisson, por exemplo, caminhar a um ritmo moderado sem se esforçar demais, mas por períodos mais longos, acelera o metabolismo para queima de gordura e evita o esgotamento físico causado pelo excesso de exercícios.

Já um artigo publicado pela Rede D’Or, em 2017, diz que, embora a caminhada tenha menor intensidade e queime menos calorias, ela elimina mais gorduras do que a corrida. ‘Isso acontece porque, ao caminhar, o organismo utiliza o oxigênio no metabolismo, aumentando o nível de gordura perdida. Em uma hora, são 480 calorias a menos, sendo que 70% são gordura. Já na corrida, é possível perder o dobro de calorias, porém, apenas 30% são gordura’, afirma a publicação.

Afinal, como diferenciar essas modalidades nos quesitos queima de gordura e queima de calorias? Qual é o mais indicado para cada objetivo?

Em conversa com a coluna, o personal trainer José Alves explica que costuma recomendar as duas modalidades aos seus alunos, mas tudo depende do objetivo e do nível de treinamento de cada um. […]

‘Para uma pessoa idosa, por exemplo, a caminhada tem efeito surreal não só na queima de gordura, mas em relação ao bem-estar e à longevidade. Já em um praticante mais novo sem patologias, entre outros fatores, a corrida terá o melhor benefício, por se tratar de intensidade alta, trazendo, assim, uma maior queima de gordura. Por isso é importante ter um profissional acompanhando para fazer a melhor escolha e adaptações caso haja necessidade’, pontua José Alves.

AMARAL, Rafaela; MEIRELES, Claudia. Correr ou caminhar: qual é o ideal para queimar calorias e/ou gordura? Metrópoles, Brasília, DF, 5 ago. 2024. Disponível em: www.metropoles.com/colunas/claudia-meireles/correr-ou-caminhar-quale-o-ideal-para-queimar-calorias-e-ou-gordura. Acesso em: 16 set. 2024.

A expressão nem de graça reforça esse contexto informal, pois é uma forma também comum da fala cotidiana. Além disso, no texto explicativo, mais objetivo, a concordância está adequada à forma normativa plural de óculos: “Óculos piratas podem causar cegueira”. campanha, gerando identificação.

PREFEITURA MUNICIPAL DE PORTO ALEGRE

3. b) O personal trainer não responde com clareza nem com precisão. Além de usar o adjetivo surreal, que não tem um significado objetivo nesse contexto, ele contradiz a afirmação da Rede D’Or. Essa rede de hospitais sustenta que a caminhada é mais efetiva para a perda de gordura, e o personal trainer afirma que é a corrida que gera maior queima de gordura.

3. O texto compara dois tipos de atividades físicas: a corrida e a caminhada.

a) O que o texto apresenta nos dois primeiros parágrafos?

Os depoimentos de um atleta e de uma rede de hospitais sobre os benefícios da caminhada para a perda de gordura.

b) No terceiro parágrafo, o texto propõe a pergunta: “Afinal, como diferenciar essas modalidades nos quesitos queima de gordura e queima de calorias? Qual é o mais indicado para cada objetivo?”

Explique se o personal trainer responde a essas perguntas com clareza.

4. Considere o último parágrafo do texto.

6. O termo inspirado permite identificar que o substantivo está no masculino e singular e é, no caso, nome, que aparece explicitado na fala de Boni (“Seu nome é bem legal”) e está implícito na fala de Leopoldina (Foi inspirado…).

a) A nalise a expressão uma pessoa idosa identificando o seu núcleo e os termos que com ele concordam.

Pessoa é núcleo e uma e idosa concordam com pessoa (todos no feminino singular).

b) Considere o trecho “para fazer a melhor escolha e adaptações”. Explique por que o adjetivo está no singular.

Melhor está no singular porque concorda com escolha.

L eia a tirinha a seguir, do cartunista Marcos Noel.

5. Leopoldina parece gostar muito de seu nome e da personalidade que o inspirou. Que elementos da tirinha mostram o quanto ela é fã da imperatriz Leopoldina?

6. No segundo quadrinho, Leopoldina pergunta E o seu […]?, mas não há substantivo explícito junto ao pronome seu Explique de que forma a concordância nominal pode auxiliar a encontrar esse substantivo.

7. A primeira fala de Leopoldina apresenta uma concordância nominal que não segue a norma.

a) Identifique-a.

Leopoldina usa a expressão obrigado e não obrigada, que deveria usar por ser fêmea.

b) Formule uma hipótese que justifique esse equívoco.

5. Leopoldina qualifica a imperatriz Leopoldina como estrategista, destaca seu papel na independência e se refere a ela como Lê.

7. b) A forma masculina é predominante na língua e é comum que se lance mão do obrigado como expressão genérica.

NOEL, Marcos. [Bonifácio & Leopoldina]. Gi & Kim: os bem-casados. [S. l., 2017]. Disponível em: https://www.giekim.com/2017/11/tirinha-0577bonifacio-leopoldina.html. Acesso em: 28 set. 2024.

L eia a tirinha a seguir, de Fernando Gonsales.

GONSALES, Fernando. [Níquel Náusea]. Folha de S.Paulo, São Paulo, 18 ago. 2023. Disponível em: https://cartum.folha.uol. com.br/quadrinhos/2023/08/18/ niquel-nausea-fernandogonsales.shtml. Acesso em: 28 set. 2024.

8. O garçom usa a palavra estimação para qualificar o tipo de animal que é o cachorro, mas o homem a entende como se referindo ao sentimento de estima que ele teria pelo cachorro.

8. O humor da tirinha ocorre por causa da interpretação equivocada de uma palavra. Explique.

9. Para alertar o cliente, o garçom utiliza o termo proibido. a) E xplique por que esse termo está no singular, se animais está no plural.

9. a) Proibido está no singular porque o substantivo ao qual ele se refere não é precedido por artigo.

b) Reescreva a fala do garçom substituindo animais de estimação por “a presença de animais de estimação”.

Aqui é proibida a presença de animais de estimação. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

MARCOS

ASTUCIAS DA lINGUA

Dêiticos

3. a) Esse termo refere-se ao autor da crônica, Cacá Diegues.

Leia a seguir o trecho de uma crônica do premiado cineasta brasileiro Cacá Diegues (1940-).

1. a) Cacá deseja ter metas claras e que existisse um projeto de futuro para o cinema nacional.

1 No trecho, Cacá

Diegues reflete sobre o ano que se iniciava quando escreveu a crônica.

a) O que o cineasta deseja para o ano que se iniciava?

b) A crônica de Cacá

Diegues foi publicada em 7 de janeiro de 2024. Releia o título da crônica e explique a que se referem as expressões temporais que o compõem.

1. b) Hoje se refere a 2024 e ontem aos anos 1970.

2. a) Eles fazem referência aos amigos com quem o cronista irá se encontrar.

2 C onsidere os termos destacados

a) A quem eles se referem?

b) Considerando que criar metas para um novo ano é uma tradição brasileira, a quem mais esse termo pode se referir?

2. b) Pode se referir a todos os brasileiros, todas as pessoas.

Hoje como ontem

Nos anos 1970, conquistamos o gosto do público. Não é porque os filmes não passam mais nas salas lotadas, como no passado recente, que devemos abrir mão daquele projeto de futuro

Estou marcado para ir papear com alguns amigos, fazer planos para esse misterioso 2024, saber como vão as coisas, estabelecer metas que serão alcançadas pelo estudo e o esforço de cada um de nós. Levo uma porção de perguntas para esse encontro.

Nesse momento, por exemplo, estou ansioso para estabelecer minhas metas até o fim do ano , o que fará um bem danado a todos nós. Eu escrevi ‘um bem danado a todos nós’, quando isso não é verdade. O ‘bem danado’, nesse caso, é servido a mim e a mais uns poucos. Nunca ‘a todos nós’. Falta-nos um critério, alguma coisa que nos diga que não é bem isso que as pessoas precisam ouvir. […]

Os filmes brasileiros estão hoje fazendo fila nas portas das salas. Nada nos garante que eles serão exibidos para seu público, o mesmo público que antes deste tempo fez deles um sucesso capaz de se impor no mercado por seu gosto sincero, traduzido em rendas recordes. E não é porque os filmes não passam mais nas salas lotadas, como nesse passado recente, que devemos abrir mão daquele projeto de futuro. […]

DIEGUES, Cacá. Hoje como ontem. O Globo, Rio de Janeiro, 7 jan. 2024. Disponível em: https://oglobo.globo.com/ cultura/caca-diegues/coluna/2024/01/hoje-como-ontem. ghtml. Acesso em: 28 set. 2024.

Não escreva no livro.

3 C onsidere o termo em destaque

a) A quem se refere esse termo?

b) Em contos e romances, esse termo se refere a um narrador ficcional. Por que, nesse texto, não é possível fazer essa confusão?

4 Os termos destacados estão ancorados no presente do enunciado.

a) A que temporalidades eles fazem referência?

b) A expressão até o fim do ano também está ancorada no presente do enunciador, no caso, o autor da crônica. A que ano ele se refere?

3. b) Porque o texto é uma crônica pessoal na qual Cacá Diegues apresenta suas reflexões pessoais para 2024. 2024.

4. a) O termo hoje se refere ao presente do enunciado, um presente estendido porque se refere a um contexto, um momento histórico específico e pode ser entendido como hoje em dia. Nesse passado recente refere-se aos anos 1970, citados na linha fina da crônica. O autor qualifica esse passado como recente, provavelmente porque viveu os anos 1970 como diretor de cinema, embora, a rigor, os anos 1970 não sejam próximos do presente do enunciado, ou seja, do presente em que se escreve a crônica.

Nos textos, alguns termos situam o leitor no contexto em que são usados; esses termos são chamados de dêiticos. Os dêiticos são elementos linguísticos que têm a função de situar referentes no tempo, no espaço ou no discurso, dependendo do contexto em que são usados. Eles são essenciais para garantir coesão e coerência em um texto, permitindo ao interlocutor entender as relações temporais, espaciais e pessoais estabelecidas pelo enunciador.

Existem três tipos principais de dêiticos: temporais, espaciais e pessoais.

Dêiticos temporais

Referem-se ao tempo e são usados para situar eventos ou ações em um ponto específico em uma cronologia. Alguns exemplos são os advérbios hoje, ontem, amanhã, agora.

Também são dêiticos temporais no dia anterior, no dia seguinte, usados quando os verbos estão no passado. Por exemplo: “Quando acordei, estava frio e a grama branca denunciava o gelo que a cobria. No dia anterior o tempo já havia nublado. Mas no dia seguinte, todos sabíamos, o sol voltaria a brilhar”.

Na crônica, hoje como ontem e nesse momento situam o leitor no tempo presente e no passado próximo.

Dêiticos espaciais

Referem-se ao espaço e ajudam a localizar algo ou alguém em relação ao lugar onde o falante ou escritor está. Exemplos incluem os advérbios aqui, ali, lá, e os pronomes demonstrativos este, esse, aquele

Por exemplo, “Os filmes brasileiros fazem filas aqui em minha cidade”. Nesse caso, o termo aqui refere-se à cidade em que o enunciador do período se situa quando enuncia o período.

Dêiticos pessoais

Referem-se aos sujeitos envolvidos na enunciação, através dos pronomes pessoais e possessivos eu, tu, ele, nós, vocês, eles, meu, seu.

Na crônica, “Eu escrevi ‘um bem danado a todos nós’” eu é usado para identificar o enunciador e nós para incluir o enunciador e seus interlocutores.

Nós inclusivo e exclusivo

A diferença entre nós inclusivo e exclusivo é importante para a clareza da comunicação. O nós inclusivo inclui tanto o enunciador quanto seus interlocutores, enquanto o nós exclusivo inclui o enunciador e outras pessoas, mas exclui o interlocutor.

Observe os exemplos.

Nós estabeleceremos metas quando nos encontrarmos; leve um caderno.

(nós inclusivo)

Nós estabeleceremos metas quando nos encontrarmos, mas o grupo de vocês deve decidir como irão estabelecer essas metas.

(nós exclusivo)

No caso de uma reescrita que afasta o texto de seu contexto original de enunciação, é importante adaptar esses dêiticos ao novo contexto para manter a clareza e a coesão do texto. Por exemplo, se em um texto original alguém diz “Eu estarei lá amanhã”, e a frase precisar ser ajustada

para outro contexto, a reescrita poderia ser “Ela disse que estaria lá no dia seguinte” ou “Ela disse que estaria aqui amanhã”. O uso do dêitico deve considerar o contexto do enunciador, do momento do enunciado e seus referenciais. Da mesma forma, expressões como este livro podem ser alteradas para aquele livro se o objeto em questão não estiver mais próximo ao falante.

Os dêiticos são elementos linguísticos que têm a função de situar referentes no tempo, no espaço ou no discurso, dependendo do contexto em que são usados. São fundamentais para garantir a coesão e a coerência em um texto.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

PENSAR E COMPARTIlHAR

Leia a seguir a tirinha de Mafalda, do cartunista argentino Quino (1932-2020).

QUINO. [Mafalda]. In: JHAYSE, Sarah. De nutricionista e louco todo mundo tem um pouco. [S. l.]: Medium, 18 mar. 2018. Disponível em: https://sarahjhayse.medium.com/de-nutricionista-e-louco-todo-mundo-temum-pouco-288c97c1d3bd. Acesso em: 28 set. 2024.

1. A t irinha apresenta uma crítica a um comportamento social. Que comportamento é esse?

2. Na tirinha, há uma divisão entre dois universos de pessoas.

a) Quem seriam eles a quem Mafalda se refere?

O comportamento é o consumismo.

Eles seriam todos aqueles que incentivam e promovem o consumismo.

b) Mafalda utiliza o pronome nós. A quem ela se refere?

Mafalda faz referência a si própria e aos demais consumidores.

c) Considere que, no último quadrinho, Mafalda falasse olhando diretamente para o leitor. O pronome que ela utilizou seria inclusivo ou exclusivo? Explique.

Seria um pronome inclusivo, pois, ao olhar para o leitor, consideraria que ele também seria uma pessoa que pode se render ao consumismo.

3. A tirinha faz referência a um ditado popular para destacar a importância do evento de quadrinhos em Campinas.

a) Qual é esse ditado?

FREITAS, Digo. [Andorinha]. Diário de ideias gráficas (quase) originais. [S. l.], 9 fev. 2011. Disponível em: https:// digofreitas.com/hq/ evento-de-quadrinhosem-campinas/. Acesso em: 28 set. 2024.

b) A tirinha apresenta muitos dêiticos. Copie o organizador a seguir no caderno e complete-o com o que se pede.

Não escreva no livro.
Dêitico A que se refere Aquilo Aqui Minha
Uma andorinha só não faz verão.
À andorinha
À andorinha Campinas

#NOSNAPRATICA

Editorial

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Na leitura desta unidade, você conheceu mais sobre editoriais e sua relevância ao marcar o posicionamento de um jornal ou revista perante algum assunto importante para a sociedade. Conhecer o posicionamento permite ao leitor decidir se o jornal ou revista que lê é, de fato, aquele que mais se alinha a seu perfil como leitor.

O que você irá produzir

Você irá produzir um editorial sobre as transformações da natureza pelas quais sua região passou. Essa transformação pode ser a diminuição de uma mata, a canalização de um rio, a exploração de minérios em um monte ou morro, entre outras possibilidades.

Lembre-se de que o editorial, diferentemente dos demais textos opinativos presentes em um jornal, revista ou site, não apresenta um ponto de vista pessoal de um articulista, especialista ou personalidade sobre determinado assunto. Ele apresenta o ponto de vista da empresa responsável pela publicação diante dos acontecimentos e das discussões gerais do momento em que ele é produzido.

Sob a orientação do professor, a classe será organizada em duplas; cada dupla deverá considerar que faz parte de um jornal da comunidade da escola que tem como público leitor os estudantes, professores, funcionários e familiares.

lABORATORIO DE PRODUÇÃO

Coerência por adição e oposição

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

A coerência de um texto argumentativo é, em grande parte, construída por mecanismos de adição e oposição, que ajudam a estruturar e conectar as ideias de maneira lógica e persuasiva.

A adição introduz informações complementares, que reforçam um ponto de vista ou ampliam uma argumentação. Por exemplo, palavras e expressões como além disso, outro ponto importante, também e adicionalmente indicam que o autor está apresentando mais argumentos ou evidências que apoiam a tese. Um exemplo de uso de adição seria: “As mudanças climáticas estão afetando drasticamente os ecossistemas globais. Além disso, a frequência e a intensidade dos eventos climáticos extremos estão aumentando, causando danos significativos às comunidades”.

A oposição é utilizada para introduzir contra-argumentos ou destacar pontos de vista diferentes, contribuindo para a complexidade e a profundidade da discussão. Expressões como por outro lado, no entanto, em contraste e apesar disso são comuns nesse contexto. Essas palavras ajudam a sinalizar ao leitor que uma ideia oposta ou uma exceção está sendo apresentada, o que é fundamental para um debate equilibrado e robusto. Por exemplo: “A adoção de energias renováveis é uma solução eficaz para mitigar as mudanças climáticas. No entanto, é importante considerar que a transição energética pode ser custosa e desafiadora para economias dependentes de combustíveis fósseis”.

Não escreva no livro.

2. “Outro ponto importante é que práticas sustentáveis podem impulsionar a economia verde, criando novos empregos e oportunidades de negócios.”

Agora é sua vez! Considere o enunciado: “A adoção de políticas ambientais rigorosas é essencial para controlar os problemas climáticos”.

1. Adicione uma frase que reforce a importância das políticas ambientais para a redução de desastres naturais.

“Além disso, políticas ambientais rigorosas podem reduzir a ocorrência de desastres naturais, como enchentes e secas, protegendo vidas e propriedades.”

2. Acrescente um argumento que destaque os benefícios econômicos das práticas sustentáveis.

3. Introduza um contra-argumento que mencione as dificuldades enfrentadas por países em desenvolvimento na implementação dessas políticas.

“Por outro lado, países em desenvolvimento frequentemente enfrentam desafios financeiros e tecnológicos para implementar políticas ambientais rigorosas.”

Planejar

Considere o fenômeno de transformação do espaço natural de que sua dupla irá tratar no editorial. Que questões isso levanta? Que aspectos da vida econômica, social ou cultural a transformação pode afetar? A mudança traz benefícios? Prejuízos? A quem? De que tipo?

Essas e outras perguntas que vocês podem se fazer devem orientar a definição do posicionamento que defenderão e a elaboração do editorial. Definido isso, levantem os argumentos que podem sustentar essa posição. Esses argumentos podem selecionar citações de uma autoridade, dados estatísticos, fatos históricos, exemplos.

A dupla precisa pensar também na estratégia que irá usar, ou seja, em como irá organizar o texto. Planejem como seria mais eficaz a apresentação dos dados relativos ao que foi observado, da opinião e dos argumentos que a sustentam. As possibilidades são várias. É possível, por exemplo, começar descrevendo o fenômeno observado ou dando uma panorâmica das consequências da transformação para depois afirmar posicionamento; ou ainda partir dessa panorâmica, em seguida explicar o fenômeno para, então, na sequência, elencar os argumentos. Vocês também podem começar tentando captar o leitor pela emoção contando algo relevante relacionado ao tema que será tratado, ou pela razão, apresentando dados, por exemplo. Coloquem o planejamento da dupla no papel antes de passar à escrita do texto.

Produzir

Depois do planejamento, é hora de escrever. Para isso, elaborem uma introdução conforme o que foi previsto no planejamento. Não se esqueçam de deixar claro o posicionamento e apresentar os argumentos que sustentam a ideia defendida.

Atenção: a linguagem deve ser formal e o texto deve estar escrito em terceira pessoa. É fundamental, após a escrita do editorial, fazer uma revisão gramatical cuidadosa. Considerem a adequação da linguagem ao público-alvo.

A dupla pode redigir o editorial manuscrito e entregá-lo ao professor, mas, depois da correção inicial, é interessante transcrevê-lo em um editor de texto, para facilitar a armazenagem e o compartilhamento.

Compartilhar

Depois da correção do professor e da eventual correção de algumas partes, compartilhem o editorial no site do colégio ou em redes sociais, de forma a atingir um público amplo da comunidade.

ROTEIRO

PARA lER

GUIMARÃES, Ruth. Água funda . São Paulo: Editora 34, 2018. Publicado em 1946, o romance é ambientado no Vale do Paraíba, entre São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, e retrata a vida cotidiana dessa região por meio de duas histórias, que acontecem com 50 anos de distância. O romance apresenta um retrato das mudanças sociais e da mecanização do campo por meio de uma linguagem permeada de oralidade e poesia.

PARA ASSISTIR

NOVAS Veredas: Guimarães explica ‘Grande sertão’. [S. l .: s. n.] , 2017. 1 vídeo (4 min). Publicado pelo canal Estadão. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=VmqzHLii1CM. Acesso em: 28 set. 2024.

Na única filmagem disponível de Guimarães Rosa, feita por uma TV alemã, em 1962, Guimarães Rosa apresenta uma explicação do romance Grande sertão: veredas. As imagens foram retiradas do documentário Outro sertão (2013), de Adriana Jacobsen e Soraia Vilela.

MUTUM. Direção: Sandra Kogut. Brasil: Tambellini Filmes, 2007. Streaming (90 min).

Inspirado no livro Campo geral, de João Guimarães Rosa, o filme conta a história de Thiago, um menino de 10 anos que vive em uma fazenda isolada com sua família. Através dos olhos sensíveis de Thiago, o filme explora a dureza da vida no sertão, a complexidade das relações familiares e a passagem da infância para a maturidade.

PARA OUVIR

RÁDIO Companhia 73: Grande sertão: veredas: João Guimarães Rosa. Entrevistados: Silviano Santiago, Érico Melo e Bia Lessa. Entrevistador: Fabio Uehara. [S. l.]: Companhia das Letras, fev. 2019. Podcast . Disponível em: https://open.spotify.com/episode/5kDQBgifkzgwanVsVsOveN. Acesso em: 28 set. 2024.

Nesse episódio de podcast , o escritor Silviano Santiago, o professor especialista na obra de Guimarães Rosa Érico Melo e a diretora de teatro e cinema Bia Lessa se reúnem para discutir o romance Grande sertão: veredas, uma das obras-primas da literatura brasileira. No podcast , você vai ouvir detalhes e análises dessa obra fundamental.

Pôster do filme

Mutum, dirigido por Sandra Kogut.

Capa do livro Água funda.
Imagem de abertura do episódio 73 do podcast Rádio Companhia.
Imagem do vídeo Novas veredas.

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O EU DO AVESSO

A obra a seguir foi produzida pelo artista Alex Flemming (1954-). São painéis com fotografias de pessoas anônimas em que se leem poemas clássicos da literatura brasileira que ficam expostos na estação Sumaré do Metrô, em São Paulo (SP).

É possível identificar duas pessoas: um homem negro, vestindo terno, e uma mulher asiática. Ambos mantêm uma postura séria e olham diretamente para a câmera, como em fotografias três por

É possível identificar quaisquer palavras dos seguintes poemas, respectivamente: “Já, Marfiza cruel, me não maltrata / Saber que usas comigo de cautelas, / Qu’inda te espero ver, por causa d’elas, / Arrependida de ter sido ingrata. / Com o tempo, que tudo desbarata, / Teus olhos deixarão de ser estrelas; / Verás murchar no rosto as faces belas, / E as tranças d’oiro converter-se em prata.” e “Faz a imaginação de um bem-amado, / Que nele se transforme o peito amante; / Daqui vem, que a minha alma delirante / Se não distingue já do meu cuidado. Professor, se possível, leia os poemas para os estudantes, disponíveis em: www.academia.org.br/academicos/ basilio-da-gama/textos-escolhidos; www. antoniomiranda.com.br/iberoamerica/ brasil/claudio_manuel_c.html (acessos em: 13 out. 2024).

1. c) A disposição truncada e quebrada das palavras através da fotografia não permite uma leitura rápida e fácil, o que obriga o espectador/leitor a deter-se diante das obras para entender o que elas podem produzir de sentido.

FLEMMING, Alex. [Sem título]. 1998. Fotografia sobre vidro, 175 cm x 125 cm cada painel. Painéis da série Sumaré. Estação Sumaré de Metrô, São Paulo (SP).

1. Por estarem expostos em ambiente público, os painéis podem ser vistos por muitas pessoas, tenham elas ou não costume ou interesse em observar obras de arte.

a) Considere um passageiro de metrô que passa pela estação Sumaré. O que é possível dizer sobre as pessoas que aparecem nas imagens?

b) Sobre as fotografias, foram reproduzidos dois poemas árcades. Quais palavras podem ser identificadas?

c) De que forma essa disposição das palavras pode prender a atenção do espectador/leitor da obra?

2. As duas obras apresentam poemas de dois famosos poetas árcades do Brasil: Basílio da Gama (1740-1795) (“Já, Marfiza cruel, me não maltrata”) e Cláudio Manuel da Costa (1729-1789) (“Faz a imaginação de um bem-amado”).

Foto:
Não escreva no livro.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

a) Relembre as características temáticas das obras do projeto árcade no Brasil. Que visão essa estética apresentava da natureza e da civilização?

b) Considere as informações sobre os poemas e o local em que as obras foram afixadas. Que relação é possível estabelecer entre as pessoas das fotografias e o discurso que se sobrepõe a elas?

Observe as pinturas a seguir, produzidas por artistas brasileiros em meados do século XX.

Arcangelo. Pic-nic . 1950. Óleo sobre tela, 38 cm x 46 cm. Coleção particular.

2. a) Espera-se que os estudantes relembrem que o Arcadismo pregava fugere urbem (fugir da cidade) para um locus amoenus (lugar ameno), isto é, pregava o afastamento da cidade em busca de uma vida em meio à natureza, considerada aqui em sua perfeição, em uma visão bucólica.

Francisco. Paisagem do Morumbi. 1944. Óleo sobre tela, 38 cm x 48 cm. Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo de São Paulo.

3. Ambas as pinturas registram situações do cotidiano de mulheres brasileiras por volta da metade do século XX.

a) Que situações são apresentadas nessas imagens?

b) Na s obras, o rosto das personagens são quase que apenas manchas de cor. No entanto, é possível apreender nelas um sentimento das personagens. Se fosse possível inserir discursos como nos painéis de Alex Flemming, que expressassem o que as personagens estariam sentindo em cada obra, que tipo de texto caberia em cada uma?

Embora alguns romances da segunda geração modernista já esboçassem uma preocupação com a dimensão psicológica das personagens, a partir de 1945 essa vertente literária se consolida. As personagens ganham profundidade psicológica, e temas como angústia, perspectivas de futuro e inconformismo se tornam centrais. A narrativa passa a se voltar cada vez mais para o íntimo, buscando não apenas representar o mundo exterior, mas desvendar os conflitos internos e os labirintos constitutivos dos sujeitos. Essa tendência se consolida na obra de Clarice Lispector, cuja escrita é emblemática dessa fase, ao trazer à tona as intricadas nuances emocionais que inovaram a literatura brasileira.

2. b) Essa relação pode ser entendida como afirmação de uma identidade brasileira: por serem poemas clássicos de nossa literatura, cobrem rostos representativos de nossa diversidade. Assim, a obra pode querer reafirmar que nós – os passageiros do metrô inclusos – somos todos brasileiros em toda nossa diversidade. Professor, avalie também a possibilidade de essa relação ser interpretada como contraste: as pessoas estão em um local bastante movimentado da cidade: uma estação de metrô; e são sobrepostas por poemas que propõem uma vida no campo, longe da cidade. É possível notar na postura séria, um pouco rígida das pessoas certa insatisfação com a vida urbana e uma projeção de uma vida mais próxima à natureza.

3. a) Na primeira pintura, é apresentada uma cena de piquenique, na qual três mulheres parecem estar tranquilas em interação no campo. Na segunda pintura, uma mulher solitária caminha por entre árvores em uma paisagem que aparenta uma mata.

3. b) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes sugiram que, na primeira pintura, seria um discurso bucólico que valorizasse a interação e o ambiente natural e, na segunda pintura, um discurso romântico que versasse sobre solidão e sentimentos.

IANELLI,
REBOLO,

Perder-se dentro de si

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

A literatura psicológica, já esboçada no Brasil desde Machado de Assis (1839-1908), passando pela primeira e segunda gerações modernistas e explorada por Clarice Lispector, influenciou a produção de muitas obras contemporâneas na literatura, no teatro, no cinema ou na televisão. Esse tipo de literatura oferece ao leitor uma outra experiência de leitura que não depende apenas das ações concretas e reais das personagens, mas de sua dimensão interior.

Para discutir

1 O que você entende pelo termo psicológico? A que ele se refere?

2 Quais seriam as questões psicológicas mais corriqueiras e pertinentes a jovens?

3 De que forma elas se originam e o que elas podem provocar?

O trecho que você vai ler a seguir abre o romance Pequena coreografia do adeus, de Aline Bei, e nos apresenta Júlia Terra, a protagonista, uma jovem que enfrenta as dores e os desafios de crescer em meio a uma família estilhaçada pela separação dos pais. Com sua escrita poética e fragmentada, Aline Bei nos convida a acompanhar Júlia em sua jornada, revelando os sentimentos e as experiências que marcam sua vida.

Texto

Professor, o sentido das palavras grafadas em “letrinhas miúdas” será explorado na atividade 8 da seção Pensar e compartilhar

o vento que batia na praça era típico de fim [de outono e eu era uma menina me despedindo lentamente da própria infância brincando, mas sentindo o peso da culpa por ainda brincar, o ideal seria estar tomando um banho com bucha depois passar perfume no corpo pintar as unhas para então me vestir como se fosse uma [ocasião especial. por isso eu brincava envergonhada, na testa [uma lâmpada iluminando este aviso: não era para você estar aqui [...] nesse dia, na praça eu estava com uma amiga do bairro. a mãe dela que nos trouxe

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

de carro agora lia um jornal enquanto nos esperava. [ela era mais bonita do que a minha mãe cheirava melhor também. tinha um cheiro de erva‑doce despreocupado. já minha mãe tinha cheiro de banana sem casca estragando, estava sempre ocupada com os [afazeres domésticos e com as demandas emocionais da própria [existência. [...] quando minha mãe não precisava mais de público, então eu podia sair pra brincar. foi o caso do dia na praça e quando chegamos [...] eu levantei timidamente a minha boneca Nádia M

lER O MUNDO
Não escreva no livro.

imaginei que era o dia do batismo dela. eu não queria ser uma mãe como a minha, [gostaria de ser mais parecida com a mãe da Tetê. por isso fiquei [olhando [...] e deixei que o vento agraciasse a minha vida estava fazendo nascer uma boa mãe em mim.

depois eu apresentei a minha filha Nádia M aos anjos, quando para a minha completa Surpresa por entre os cabelos loiros de náilon eu Vi do outro lado da praça

o meu Pai.

forcei os olhos, não é possível

ele caminhava a dois palmos do chão.

parecia mais jovem também, quase um [estudante

universitário, cheio de sonhos e mãos entrelaçadas com uma Mulher vestida de ouro e cabelo curto.

não me movi, na verdade eu mal conseguia respirar.

era como se eu tivesse levado um Tiro, algo em mim desistia [...]

#SOBRE

foi quando Eles atravessaram a rua como se Dançassem sumiram ensolarados eu invisível

mas pra mim eles ficaram duas estátuas no meio da praça: uma mulher [de beleza

cinematográfica e um homem feliz que era meu pai sempre [triste quando estava ao meu lado eu quis correr atrás deles

matá‑los com meu hálito de fogo mastigar

aquela felicidade

manter do meu pai apenas o rosto e depois [obrigá‑lo a dizer eu te amo anda, diga eu/te/amo.

antes disso, ele responderia: antes você precisa [tirar esse olho igual ao da tua mãe.

pois eu Tiraria

tudo o que é minha mãe em mim, e agora? Pai. [agora eu sirvo pra você? [...]

Aline Bei (1987-) iniciou sua carreira literária na internet, publicando textos em blogues e redes sociais, onde começou a ganhar visibilidade por seu estilo. Seu romance de estreia, O peso do pássaro morto (2017) rapidamente recebeu aclamação tanto da crítica quanto do público. A obra lhe rendeu prêmios importantes, como o Prêmio São Paulo de Literatura. Em 2021, ela lançou seu segundo romance, Pequena coreografia do adeus, consolidando sua posição como uma das vozes mais promissoras da literatura brasileira contemporânea.

Foto da escritora em 2023.

BEI, Aline. Pequena coreografia do adeus. São Paulo: Cia das Letras, 2021. p. 9-15.

1. Como as dançarinas, a narradora também se debate entre os conflitos com o pai, a mãe, com a própria identidade (não quer ser menina, não quer ser como a mãe com quem se parece) e está à procura do braço masculino do pai.

PENSAR E COMPARTIlHAR

Não escreva no livro.

1. Segundo Aline Bei, uma das inspirações para a escrita do romance foi o espetáculo Café Müller, da coreógrafa alemã Pina Bausch (1940-2009). A coreógrafa acredita que nossos sentimentos são muito precisos, mas é um processo muito, muito difícil torná-los visíveis.

Na obra de Bausch, mulheres em camisolas brancas esbarram contra as paredes de um café fechado. Tropeçam nas cadeiras. Se acomodam em bra ços masculinos e caem, para então esbarrar contra as paredes. Tropeçar nas cadeiras. Se acomodar em braços masculinos e cair. Numa dança que é novidade e repetição, novidade e repe‑ tição (como são todas).

PIRES, Carolina Maingué. O ritmo da língua. Quatro cinco um, São Paulo, 25 abr. 2023. Disponível em: https://quatrocincoum.com.br/ artigos/literatura/literatura-brasileira/o-ritmoda-lingua/. Acesso em: 16 set. 2024.

Cena coreográfica da obra Café Müller, de Pina Bausch, 1995.

• Na coreografia de Pina Bausch, as dançarinas se debatem, encontram braços masculinos e caem, esbarram em paredes, tropeçam. Que relação se pode estabelecer entre o que acontece com elas e as vivências da narradora no trecho de Aline Bei que você leu?

2. A narradora inicia o romance situando o fato narrado em uma época de sua vida.

a) A que momento da vida a narradora se refere?

A narradora faz referência à transição entre a infância e a adolescência.

b) Eu brincava envergonhada . Por que a narradora se sente assim?

Beleza cinematográfica Cabelo curto Vestida de ouro Porque se sente inadequada, infantil, brinca de boneca em vez de cuidar da aparência.

3. No trecho, são apresentadas três mulheres que passam pela vida da narradora: a mãe, a mãe da amiga e a companheira do pai.

a) Copie o organizador a seguir em seu caderno e complete-o com as características de cada uma das três mulheres.

Bonita

Cheiro de erva-doce

Cheiro de Sempre ocupada com afazeres domésticos

b) E xplique de que forma a descrição dessas mulheres reforça a imagem que a narradora constrói da mãe.

3. b) As descrições muito positivas da mãe da amiga e da companheira do pai contrastam com a da mãe, colocando em destaque as características negativas e mesmo pejorativas que a narradora atribui a ela.

4. O trecho apresenta uma relação muito conflituosa entre mãe e filha.

a) Que comportamento da mãe provoca rejeição por parte da filha?

b) A narradora revela que a mãe precisava de público. O que teria levado a narradora a assumir esse papel na relação com ela?

Depois da separação, com a ausência do pai, a filha provavelmente assumiu o lugar que o pai ocupava como alvo das demandas emocionais da mãe.

4. a) A mãe demandava muito da filha sentimentalmente e exigia a sua presença como interlocutora para falar dos próprios conflitos.

Mãe
Mãe da amiga Companheira do pai

6. b) O pai aparece pleno, feliz e até mais jovem, o oposto da figura da mãe, patética e negativa. A separação da mãe e o novo relacionamento teriam promovido no pai esse rejuvenescimento.

6. c) A semelhança da narradora com a mãe poderia ter provocado o abandono definitivo do pai. O abandono acirra ou intensifica os conflitos com a mãe, que passa a ser a única responsável pela filha.

5. No trecho, são construídos alguns modelos de maternidade. Que possibilidades de maternidade são apresentadas?

6. O pai faz parte dos conflitos vividos pela narradora.

a) Como é a participação do pai nesses conflitos?

O pai separou-se da mãe e acabou se distanciando da filha também.

b) De que forma a figura do pai contrasta com a da mãe?

5. A maternidade da mãe da narradora, que é conflituosa, limitada a tarefas domésticas, e que a narradora entende como negativa; a maternidade da mãe da Tetê, que lia jornal – o que não a limita a tarefas domésticas – e que passa imagem positiva; e há o modelo da própria narradora, que projeta uma maternidade do afeto e do cuidado.

c) No final do trecho, a narradora apresenta eventuais justificativas para o abandono paternal. Quais seriam? Que consequências traz esse abandono?

7. Ao final do trecho, a narradora se rende ao desejo de vingança.

a) De que ela quer se vingar?

Ela quer se vingar do abandono do pai e da felicidade que ele sente longe dela.

b) D epois das juras de vingança, a narradora chega a propor formas de ser aceita pelo pai. Explique como essas possibilidades são radicais para a subjetividade da narradora.

A narradora propõe arrancar de si tudo que se assemelha à mãe ou vem dela para conquistar a atenção do pai, o que seria uma agressão muito radical à sua construção identitária.

8. Leia o trecho a seguir, que apresenta uma análise do estilo de escrita de Aline Bei.

Teatro, poesia ou romance, o fato é que Aline Bei escreve. Ponto. [Este recurso gra‑ matical raramente usado por ela, exceto quando deseja costurar algo com força.]

Suas maiúsculas, nada comprometidas com os começos de frase, surgem quando ela julga que o texto pede uma atenção que sobe, aguda. E as letrinhas miúdas no segundo livro, quase subterrâneas, representam os momentos em que a protagonista Julia Terra se sente minguar, como se gestada pela terra.

É assim, nessa gramática feita de intuição, que Aline Bei encontra sua língua dentro da língua.

PIRES, Carolina Maingué. O ritmo da língua. Quatro cinco um, São Paulo, 25 abr. 2023. Disponível em: https://quatrocincoum.com.br/artigos/literatura/literatura-brasileira/o-ritmo-da-lingua/. Acesso em: 16 set. 2024.

a) E xplique o sentido produzido pelas letras maiúsculas utilizadas no texto lido.

b) Os termos escritos em letras miúdas, de acordo com a análise, representam momentos em que a narradora míngua. Explique em cada caso o que faria a narradora minguar.

c) O romance de Aline Bei é classificado por muitos críticos como prosa poética. Considerando seu conhecimento sobre prosa poética, defenda ou critique essa classificação do estilo da autora.

8. a) Vi – destaca o momento em que vê o pai pela primeira vez com a companheira; Pai –evidencia a importância da figura paterna; Mulher – destaca a companheira do pai e as características femininas que vê nela; Tiro – reforça a dor que sente ao ver o pai; Eles –reforça a ideia de que o pai estava com outra mulher, afastado dela; Dançassem – destaca como era leve e bonita a relação do pai com a companheira; Tiraria –evidencia o quanto estaria disposta a sacrificar de si para ser aceita pelo pai. 8. b) Infância e brincar – a vergonha de ainda estar apegada à infância; eu invisível – reforça como ela não era nada na vida do pai; eu – reforça a irrelevância da narradora na vida do pai.

A criação e utilização de um recurso estético pode amplificar o sentido de uma obra ao reforçar seus temas, criando uma harmonia entre forma e sentido. Por exemplo, o uso de fragmentação na estrutura narrativa pode espelhar o caos interno de uma personagem, enquanto a escolha de uma linguagem mais lírica pode intensificar o tom poético e introspectivo da obra.

ENTÃO...

Textos como o que você leu exploram a complexidade humana, investigando a subjetividade, a fragmentação do sujeito e dos relacionamentos. Marcadas pela introspecção, essas narrativas questionam os sujeitos investigando temas como identidade, alienação e variedades da percepção em um mundo em constante mudança. As características dessa abordagem remetem diretamente à Geração de 45, que inaugurou uma nova fase na literatura brasileira, bem representada na obra de Clarice Lispector, a qual permanece como um referencial essencial para a prosa contemporânea.

8. c) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes possam exercitar aqui a análise literária defendendo ser prosa poética por apresentar recursos de poesia, como a divisão em versos e figuras de linguagem, ou que critiquem, destacando como talvez esse romance se aproxime mais da poesia, por não apresentar sequer um parágrafo ou frase que se estenda até o final da linha.

A dificuldade de ser gente

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Os escritores da terceira geração modernista, também conhecida como Geração de 45, se dedicaram à exploração dos estados interiores das personagens, refletindo as angústias e os dilemas existenciais da época. Tendo vivido os horrores da Segunda Guerra Mundial, em especial o da bomba atômica, alguns autores, influenciados por correntes filosóficas e pela psicanálise, dedicaram-se a investigar o universo interior das personagens. Seus conflitos refletiam um mundo ao qual não conseguiam se adequar. Essa abordagem marcou uma ruptura com a narrativa linear tradicional, introduzindo uma escrita mais introspectiva e fragmentada, que se tornou emblemática do período, principalmente com a obra de Clarice Lispector, que você lerá a seguir.

Para discutir

1 Há situações em que o desejo pessoal de alguém difere do que é esperado pela sociedade. O que isso pode produzir no sujeito?

O trecho a seguir traz características fundamentais da obra de Clarice Lispector. O conto “Os obedientes”, publicado na coletânea de contos Felicidade clandestina, narra a história de um casal que preenchia todos os pré-requisitos para ser considerado um casal perfeito, exemplar. Mas essa perfeição era exatamente o que minava a convivência entre esse homem e essa mulher. Leia o trecho.

Texto

Cronologicamente a situação era a seguinte: um homem e uma mulher estavam casados. Já em constatar este fato, meu pé afundou dentro.

Fui obrigada a pensar em alguma coisa. Mesmo que eu nada mais dissesse, e encerrasse a história com esta constatação, já me teria comprometido com os meus mais desconhecíveis pensamentos. Já seria como se eu tivesse visto, risco negro sobre fundo branco, um homem e uma mulher. E nesse fundo branco meus olhos se fixariam já tendo bastante o que ver, pois toda palavra tem a sua sombra. Esse homem e essa mulher começaram – sem nenhum objetivo de ir longe demais, e não se sabe levados por que necessidade que pessoas têm – começaram a tentar viver mais intensamente. A procura do destino que nos precede? e ao qual o instinto quer nos levar? instinto?!

A tentativa de viver mais intensamente levou os, por sua vez, numa espécie de constante verifi‑ cação de receita e despesa, a tentar pesar o que era e o que não era importante. Isso eles o faziam a modo deles: com falta de jeito e de experiência, com modéstia. Eles tateavam. Num vício por ambos descoberto tarde demais na vida, cada qual pelo seu lado tentava continuamente distinguir o que era do que não era essencial, isto é, eles nunca usariam a palavra essencial, que não pertencia a seu ambiente. Mas de nada adiantava o vago esforço quase constrangido que faziam: a trama lhes escapava diariamente. Só, por exemplo, olhando para o dia passado é que tinham a impressão de ter – de algum modo e por assim dizer à revelia deles, e por isso sem mérito – a impressão de ter vivido. Mas então era de noite, eles calçavam os chinelos e era de noite.

Isso tudo não chegava a formar uma situação para o casal. Quer dizer, algo que cada um pudesse contar mesmo a si próprio na hora em que cada um se virava na cama para um lado e, por um segundo

O X DA QUESTÃO
Não escreva no livro.

antes de dormir, ficava de olhos abertos. E pessoas precisam tanto poder contar a história delas mesmas. Eles não tinham o que contar. Com um suspiro de conforto, fechavam os olhos e dormiam agitados. E quando faziam o balanço de suas vidas, nem ao menos podiam nele incluir essa tentativa de viver mais intensamente, e descontá la, como em imposto de renda. Balanço que pouco a pouco começavam a fazer com maior frequência, mesmo sem o equipamento técnico de uma terminologia adequada a pen samentos. Se se tratava de uma situação, não chegava a ser uma situação de que viver ostensivamente. Mas não era apenas assim que sucedia. Na verdade também estavam calmos porque ‘não con duzir’, ‘não inventar’, ‘não errar’ lhes era, muito mais que um hábito, um ponto de honra assumido tacitamente. Eles nunca se lembrariam de desobedecer. [...] […]

Nada mais havia a dizer. Faltava lhes o peso de um erro grave, que tantas vezes é o que abre por acaso uma porta. Alguma vez eles tinham levado muito a sério alguma coisa. Eles eram obedientes. [...]

Como foi que cada um deles chegou à conclusão de que, sozinho, sem o outro, viveria mais – seria caminho longo para se reconstruir, e de inútil trabalho, pois de vários cantos muitos já chegaram ao mesmo ponto.

LISPECTOR, Clarice. Os obedientes. In: LISPECTOR, Clarice. Felicidade clandestina: contos. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. E-book. Localizável em: § 3-9 do conto.

Clarice Lispector (1920-1977) nasceu em Chechelnyk, na atual Ucrânia, enquanto seus pais fugiam da Guerra Civil da Rússia. No Brasil, sua família se instalou no Recife (PE). Começou a escrever literatura assim que foi alfabetizada. Quando a autora tinha 9 anos, sua mãe morreu, o que gerou na menina um forte sentimento de culpa. Com 15 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro (RJ), onde cursou Direito. Depois da morte do pai (1940), começou a trabalhar como repórter na Agência Nacional. Em 1943, casou-se com um diplomata e foi morar na Itália onde, durante a Segunda Guerra Mundial, atuou como enfermeira voluntária da Força Expedicionária Brasileira (FEB). Em 1959, voltou ao Brasil e passou a trabalhar como jornalista e escritora.

Foto da escritora em 1974.

#SOBRE

1. b)

2. b) Um erro grave, uma falha, uma falta de planejamento seriam os estopins para uma vida diferente, desobediente, ou o rompimento do relacionamento que se faria com a separação ou a morte.

3. b) Sim, se surgisse uma situação entre o casal, surgiria uma discussão e cada um deveria expor seu ponto de vista, seus desejos. Essa situação obrigaria o casal a procurar o erro, o inesperado, e os levaria à desobediência, à vida intensa e à descoberta deles mesmos.

Começaram a verificar se essa nova vida que almejavam seria viável: checar despesas e possibilidades de maneira metódica.

PENSAR E COMPARTIlHAR

1. O conto “Os obedientes” descreve um casal de personagens que seriam obedientes à vida e estavam à procura de maior intensidade para sua existência.

a) O que o casal fazia para ser considerado obediente?

A obediência do casal era caracterizada pela obrigatoriedade de não conduzir, não inventar, não errar em nada na vida.

b) O que faziam para dar maior intensidade à vida que levavam?

c) Que sentido tem o termo obediente no conto?

A palavra obediente tem o sentido de monotonia, de falta de vida, de falta de graça.

2. Embora o casal do conto almeje escapar da obediência à qual se submetiam, pode-se dizer que continuam plenamente obedientes.

a) E xplique por quê.

Para viver mais intensamente, o casal começou a criar uma rotina de verificação das possibilidades de mudar de vida. Essa verificação, no entanto, gerou uma nova rotina do casal que ainda tentava não errar.

b) O que faria com que pudessem, de fato, começar a viver intensamente?

3. Os encontros para a verificação das despesas e dos planejamentos não chegavam “a formar uma situação para o casal”.

a) O que é essa situação?

É o momento em que eles podem refletir sobre sua conduta, suas escolhas. O momento em que podem refletir sobre a vida e verbalizá-la.

A história de um casal por si só afeta o narrador, pois este começa refletir sobre o relacionamento e de forma nítida, no branco, os futuros conflitos que surgiriam.

b) É possível dizer que o surgimento de uma situação seria necessário para o casal se tornar desobediente? Explique.

3. c) Cada um dos integrantes do casal percebe que apenas a separação e a recriação de uma vida individual os fariam ter uma vida diferente.

c) Que solução o casal encontra para ter intensidade na vida?

4. O narrador da história não se comporta como um narrador isento; pelo contrário, parece ser afetado pela história que vai contar. O que afeta esse narrador?

5. Em várias crônicas que produziu para jornais, Clarice analisava a si mesma como escritora, bem como a sua obra. Em uma dessas crônicas, “Persona”, comenta sobre a necessidade do homem de utilizar máscaras, tema tão recorrente em sua obra.

Mesmo sem ser atriz nem ter pertencido ao teatro grego – uso uma máscara. Aquela mesma que nos partos de adolescência se escolhe para não se ficar desnudo para o resto da luta. [...] Escolher a própria máscara é o primeiro gesto voluntário humano. E solitário. Mas quando enfim se afivela a máscara daquilo que se escolheu para representar se e representar o mundo, o corpo ganha uma nova firmeza, a cabeça ergue se altiva como a de quem superou um obstáculo. [...]

É que depois de anos de verdadeiro sucesso com a máscara, de repente – ah, menos que de repente, por causa de um olhar passageiro ou uma palavra ouvida – de repente a máscara de guerra de vida cres ta se toda no rosto como lama seca, e os pedaços irregulares caem como um ruído oco no chão. Eis o rosto agora nu, maduro, sensível quando já não era mais para ser. E ele chora em silêncio para não morrer.

LISPECTOR, Clarice. Persona. In: LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. E-book. Localizável em: § 5-6.

• A s máscaras que os seres humanos obrigatoriamente usam para atuar no mundo e encontrar seu lugar na sociedade têm papel fundamental na obra de Clarice. Releia o conto e explique por que colocar e tirar as máscaras é a origem do conflito dos protagonistas.

A seguir, você vai ler trechos do romance A hora da estrela, de Clarice Lispector. Nele, conta-se a história de Rodrigo, narrador em crise criativa que vê uma nordestina em uma rua do Rio de Janeiro que o inspira a construir uma personagem que ainda não definiu ao certo como será. O trecho reproduz as inseguranças e dúvidas de Rodrigo com relação à criação dessa personagem que se chamará Macabéa.

Vejo a nordestina se olhando ao espelho e – um rufar de tambor – no espelho aparece o meu rosto cansado e barbudo. Tanto nós nos intertrocamos. Não há dúvida que ela é uma pessoa física. E adianto um fato: trata se de moça que nunca se viu nua porque tinha vergonha. Vergonha por pudor ou por ser feia? Pergunto me também como é que eu vou cair de quatro em fatos e fatos. É que de repente o figu‑ rativo me fascinou: crio a ação humana e estremeço. Também quero o figurativo assim como um pintor que só pintasse cores abstratas quisesse mostrar que o fazia por gosto, e não por não saber desenhar. Não escreva no livro.

5. O casal inicia o conto já com uma máscara que assumiram para si: a máscara da obediência, com a qual se inseriam na sociedade sem chamar a atenção. No entanto, essa mesma máscara começava a se crestar como lama seca e os protagonistas queriam despregá-la da face, mas não conseguiam. A única forma de tirá-la seria o casal se separar – e colocar novas máscaras.

7. a) O trecho apresenta períodos em que a pontuação não obedece plenamente às convenções gramaticais, mas a um fluxo de pensamento e reflexão que orienta a leitura do romance, como no trecho “Para desenhar a moça tenho que me domar e para poder captar sua alma tenha que me alimentar frugalmente de frutas e beber vinho branco gelado pois faz calor neste cubículo onde me tranquei e de onde tenho a veleidade de querer ver o mundo”.

Para desenhar a moça tenho que me domar e para poder captar sua alma tenha que me alimentar fru galmente de frutas e beber vinho branco gelado pois faz calor neste cubículo onde me tranquei e de onde tenho a veleidade de querer ver o mundo. [...] Voltarei algum dia à minha vida anterior? Duvido muito. Vejo agora que esqueci de dizer que por enquanto nada leio para não contaminar com luxos a simplicidade de minha linguagem. Pois como eu disse a palavra tem que se parecer com a palavra, instrumento meu. Ou não sou um escritor? Na verdade sou mais ator porque, com apenas um modo de pontuar, faço malabarismos de entonação, obrigo o respirar alheio a me acompanhar o texto. [...] […]

Tudo isso eu disse tão longamente por medo de ter prometido demais e dar apenas o simples e o pouco. Pois esta história é quase nada. O jeito é começar de repente assim como eu me lanço de repente na água gélida do mar, modo de enfrentar com uma coragem suicida o intenso frio. Vou agora começar pelo meio dizendo que –

– que ela era incompetente. Incompetente para a vida. Faltava lhe o jeito de se ajeitar. Só vagamente tomava conhecimento da espécie de ausência que tinha de si em si mesma. Se fosse criatura que se exprimisse diria: o mundo é fora de mim, eu sou fora de mim. (Vai ser difícil escrever esta história. Apesar de eu não ter nada a ver com a moça, terei que me escrever todo através dela por entre espantos meus. Os fatos são sonoros mas entre os fatos há um sussurro. É o sussurro o que me impressiona.)

LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela . Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 22-24.

6. No texto, uma das maiores dificuldades encaradas pelo narrador Rodrigo está na criação da personagem.

a) Releia o trecho entre parênteses e explique que relação é possível estabelecer entre Rodrigo e a personagem que ele cria.

Rodrigo revela que, no processo de criação da personagem, na verdade, vê-se nela, como se fosse uma imagem no espelho, como se ela tivesse seus espantos.

b) Para conseguir narrar a história de forma original e única, Rodrigo revela que não lê. De que modo a leitura poderia atrapalhar a narração da vida de uma personagem como Macabéa, esse ser tão incompetente para a vida , tão simples?

O receio de Rodrigo é que a leitura possa revestir sua linguagem de recursos que o afastassem da simplicidade linguística que seria necessária para narrar a história de uma personagem com uma vida tão simples.

7. Além da reflexão sobre o ato de criar a personagem, o narrador se refere a outros recursos de produção de sentido. Explique que sentidos pode-se atribuir aos seguintes trechos.

a) “com apenas um modo de pontuar, faço malabarismos de entonação”

b) “entre os fatos há um sussurro. É o sussurro o que me impressiona”

7. b) Entre os fatos narrados, há todo um universo interior que sussurra entre as frases e que quer se fazer ouvir. É esse universo interior que importa ao narrador, é essa a matéria de seu romance.

8. O crítico Wilson Martins, ao analisar as obras do terceiro momento modernista, considera que: […] ao lado da tendência estetizante cada vez mais perceptível de nossas letras, era possível regis‑ trar as preocupações psicológicas que a determinavam.

MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira: vol. III (1933-1960). São Paulo: Cultrix, 1979. p. 251.

• E xplique como esse trecho de A hora da estrela exemplifica a preocupação com a linguagem e a exploração psicológica da terceira geração modernista.

Leia agora um trecho da história da personagem criada pelo narrador Rodrigo, a Macabéa, em uma interação inusitada com seu quase namorado Olímpico de Jesus, na qual eles não conseguem se entender.

[...] tenho que anotar que Macabéa nunca recebera uma carta em sua vida e o telefone do escritório só chamava o chefe e Glória. Ela uma vez pediu a Olímpico que lhe telefonasse.

Ele disse:

— Telefonar para ouvir as tuas bobagens?

Quando Olímpico lhe dissera que termina‑ ria deputado pelo Estado da Paraíba, ela ficou boquiaberta e pensou: quando nos casarmos então serei uma deputada? Não queria, pois deputada parecia nome feio. [...]

As poucas conversas entre os namorados ver savam sobre farinha, carne de sol, carne seca, rapadura, melado. Pois esse era o passado de ambos e eles esqueciam o amargor da infância porque esta, já que passou, é sempre acre doce e dá até nostalgia. Pareciam por demais irmãos, coisa que – só agora estou percebendo – não dá para casar. Mas eu não sei se eles sabiam disso. Casariam ou não? Ainda não sei, só sei que eram de algum modo inocentes e pouca sombra faziam no chão.

8. O trecho, além de recorrer a um trabalho reflexivo sobre as possibilidades da linguagem que testa os limites da criação, da narrativa e da língua, ainda mergulha nos conflitos do narrador em crise e de sua indecisão com relação à criação da personagem Macabéa, que também vive mergulhada em um universo interior precário e fragmentado.

9. b) Olímpico não parece ter um interesse claro em Macabéa, pois, quando ela lhe pede que ligue para ela, ele se nega dizendo que ela só diz bobagens. Já Macabéa tem sonhos de casar-se com ele, demonstrando grande interesse.

Enfim o que fosse acontecer, aconteceria. E por enquanto nada acontecia, os dois não sabiam inventar acontecimentos. Sentavam se no que é de graça: banco de praça pública. E ali acomodados, nada os distinguia do resto do nada. Para a grande glória de Deus. [...]

Ele: — Melhor mudar de conversa porque você não me entende.

Ela: — Entender o quê?

Ele: — Santa Virgem, Macabéa, vamos mudar de assunto e já!

9. a) Macabéa nunca recebeu ligação de ninguém, não sabia o significado das palavras e, nas interações com o namorado, só conseguia falar de comida.

Ela: — Falar então de quê?

Ele: — Por exemplo, de você.

Ela: — Eu?!

Ele: — Por que esse espanto? Você não é gente? Gente fala de gente.

Ela: — Desculpe mas não acho que sou muito gente.

Ele: — Mas todo mundo é gente, meu Deus!

Ela: — É que não me habituei.

Ele: — Não se habituou com quê?

Ela: — Ah, não sei explicar.

LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 47-48.

9. O t recho de A hora da estrela revela a banalidade do relacionamento de Macabéa e Olímpico de Jesus, mas, ao mesmo tempo, mostra grande complexidade.

a) De que forma o trecho reforça a ideia de que Macabéa tem uma incompetência para a vida e não consegue ter experiências consideradas normais?

b) Na interação entre Olímpico e Macabéa, parecem existir níveis diferentes de interesse no relacionamento. Como cada um vê o relacionamento? Explique.

c) Como Macabéa se vê em relação ao conceito de ser gente?

Macabéa não se entende como gente, não está acostumada com essa ideia, não sabe existir. Não sabe, portanto, se comunicar.

d) O que a dificuldade de diálogo entre Macabéa e Olímpico revela sobre ela?

A dificuldade de diálogo com Olímpico representa sua incapacidade linguística, reflexo de um desconforto existencial que não sabia resolver.

10. O t recho apresenta inovações estilísticas que reforçam o caráter precursor de Clarice Lispector.

a) De que forma a mistura de recursos de diferentes gêneros se evidencia no texto?

No trecho, as falas de personagens dialogam com o gênero roteiro, com a marcação de falas.

b) Que sentido a utilização desse recurso no episódio narrado produz para o leitor?

HIPERlINK

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Obras de Lygia Fagundes Telles

Lygia Fagundes Telles (1923-2022) foi uma das mais importantes escritoras brasileiras do século XX. Sua escrita, marcada por uma prosa lírica e introspectiva, frequentemente explora temas como a solidão, a passagem do tempo, a morte e a condição feminina.

A autora recebeu inúmeros prêmios literários ao longo de sua carreira, incluindo o Prêmio Camões, em 2005, um dos mais prestigiosos da língua portuguesa.

Entre suas obras mais destacadas estão Ciranda de Pedra (1954), romance psicológico que examina a dissolução de uma família de classe alta em São Paulo, revelando as complexas relações entre pais e filhos; As meninas (1973), que narra a vida de três jovens mulheres durante a ditadura civil-militar no Brasil, refletindo as inquietações políticas e existenciais daquela época; e Antes do baile verde (1970), uma coletânea de contos que exploram temas de opressão e liberdade, sempre com uma linguagem poética e uma profunda sensibilidade para os dilemas humanos. O estilo de Lygia é frequentemente elogiado por sua sutileza e profundidade, que combina uma prosa elegante com uma aguda percepção psicológica. Pesquise contos de Lygia Fagundes Telles disponíveis em livros na biblioteca ou na internet em sites confiáveis, como de jornais, revistas ou instituições governamentais. Selecione um conto e leia-o. Em uma data marcada pelo professor, compartilhe a leitura com a turma apresentando:

• resumo do enredo;

• como se desenvolve o universo psicológico das personagens no enredo;

• características da linguagem e estilo de escrita.

10. b) A utilização de marcações de falas das personagens convida o leitor a observar o diálogo como se fosse uma cena teatral, reforçando a dimensão de que os dois são apenas personagens de uma história que está sendo construída.

Fotografia da escritora em 2012.
Não escreva no livro.

InTEGranDO COm...

FILOSOFIA

2. Espera-se que os estudantes respondam que as pautas reivindicadas pelas mulheres fazem parte de uma luta de toda a humanidade, já que os desafios enfrentados no Brasil e no mundo vão desde as desigualdades no mercado de trabalho até a violência doméstica.

Existencialismo e os direitos das mulheres na literatura

Literatura e filosofia estabelecem entre si um íntimo diálogo ao compartilharem preocupações semelhantes, como a natureza da verdade, o sentido da vida e os desafios da liberdade individual. Esse diálogo torna-se ainda mais intenso no século XX, quando o existencialismo emerge como uma corrente filosófica que questiona o papel do indivíduo no mundo.

A literatura, por sua capacidade de encarnar ideias abstratas em personagens e narrativas, favorece a criação de obras que exploram as angústias existenciais, a solidão e as escolhas morais que definem a vida humana. Em sua obra fundamental, O segundo sexo (1949), a filósofa francesa Simone de Beauvoir (1908-1986), uma das grandes pensadoras do existencialismo, propõe que a mulher não nasce mulher, mas torna-se mulher, enfatizando como a sociedade impõe normas e expectativas que moldam as identidades femininas. Essa análise não apenas enriquece a filosofia, mas também influencia profundamente a literatura, que explora temas como identidade, liberdade e opressão.

Na literatura brasileira, essa influência se manifesta em obras que exploram a condição feminina e a busca por identidade em um contexto social de limitações. Clarice Lispector, uma das maiores escritoras brasileiras, cria personagens que vivenciam crises existenciais profundas, como em A paixão segundo G.H. (1964), em que a protagonista enfrenta uma intensa crise de identidade e humanidade ao se deparar com uma barata em seu apartamento, revelando o absurdo da existência e as fronteiras tênues entre o ser e o não ser. Ponciá Vicêncio (2003), de Conceição Evaristo (1946-), aborda a trajetória de uma mulher negra em busca de sua identidade e liberdade, enfrentando as opressões de gênero e raça.

Não escreva no livro.

1. Forme uma dupla e pesquise as ideias de Simone de Beauvoir que influenciaram os movimentos de luta pelos direitos das mulheres.

2. A s pautas reivindicadas pelas mulheres não são uma luta apenas das mulheres. Por quê?

Fotografia da filósofa Simone de Beauvoir em 1950.

Fotografia da escritora Conceição Evaristo em 2023.

3. Como a literatura e as demais artes podem atuar na luta pelos direitos das mulheres?

3. Espera-se que os estudantes reflitam a respeito da força das artes, especificamente no caso da literatura, como uma importante ferramenta de empoderamento feminino, o que fortalece as pautas reivindicadas pelos movimentos feministas que buscam conquistar direitos e superar desafios.

O mundo em tensão

Em 1951, Getúlio Vargas (1882-1954) volta ao poder, agora eleito pelo povo, mas encontra um contexto bem diferente do que viu em seu primeiro mandato. As tensões da Guerra Fria se intensificam com a eclosão da Guerra da Coreia (1950), onde EUA e URSS disputavam hegemonia. Desperta o medo de uma Terceira Guerra Mundial e inicia-se uma nova crise econômica que teve reflexos na economia brasileira. A inflação nacional se eleva a níveis exorbitantes. Em 1953, uma Greve Geral em São Paulo mobiliza 300 mil trabalhadores, seguida pela greve dos marítimos pelo litoral do Brasil. Em meio ao caos econômico, a Petrobras começa a exploração do petróleo nacional. O segundo governo de Getúlio Vargas, entre 1951 e 1954, caracterizado por equívocos políticos e fracassos econômicos, leva-o ao suicídio em 1954.

Os direitos das mulheres

Nas décadas de 1940 e 1950, o Brasil experimentou avanços significativos nos direitos das mulheres. Em 1934, a nova Constituição já havia garantido o direito ao voto feminino, marcando um importante passo na participação das mulheres na política. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), de 1943, trouxe direitos como a licença-maternidade. Nas décadas seguintes, essas garantias foram sendo ampliadas, apesar das persistentes desigualdades no mercado de trabalho. Houve também expansão do acesso das mulheres à educação, o que impulsionou uma geração mais instruída e consciente de suas demandas por igualdade. Esses anos também foram marcados pelo surgimento de discussões feministas em círculos intelectuais e políticos, preparando o terreno para os movimentos mais expressivos que viriam nas décadas seguintes.

As vozes femininas falam mais alto

Propaganda do presidente

Getúlio Vargas comemora fundação da Petrobras, em 1953.

Eleitora vota durante eleições presidenciais no Rio de Janeiro (RJ), em 3 de outubro de 1955.

Nas décadas de 1940 e 1950, a literatura feminina no Ocidente ganhou maior visibilidade à medida que mais mulheres escritoras desafiaram as normas literárias e sociais, explorando em suas obras temas como identidade feminina, vida doméstica e questões sociais e políticas.

A diversidade de vozes do período refletia as complexidades da experiência das mulheres em uma era de mudanças no pós-guerra. Escritoras como Katherine Mansfield (1888-1923), Doris Lessing (1919-2013), Virginia Woolf (1882-1941) e Carson McCullers (1917-1960) trouxeram à tona realidades psicológicas e emocionais que inovaram as possibilidades da ficção para capturar a subjetividade feminina. Embora ainda enfrentassem barreiras no campo literário, essas escritoras pavimentaram o caminho para o reconhecimento e a valorização da literatura feminina, contribuindo para a formação de um cânone mais inclusivo e diversificado no Ocidente.

O sujeito revirado do avesso

Foi o médico baiano Juliano Moreira (1872-1933) o primeiro a divulgar as teses de Sigmund Freud (1856-1939) no Brasil. Mas a psicanálise enfrentou dificuldades para ser praticada no Brasil, apesar dos esforços de Durval Marcondes (18991981), considerado o primeiro psicanalista do país, que teve importante atuação na divulgação das ideias de Freud a partir do início do século XX. A partir de 1945, o movimento psicanalítico brasileiro se integra à Sociedade Internacional de Psicanálise e adota métodos de formação e prática reconhecidos por ela. Tanto a psicanálise quanto a psicologia introduzem novas maneiras de interpretar a subjetividade e os processos internos do indivíduo. Os discursos produzidos não apenas redefiniram as práticas clínicas e psiquiátricas, mas também abriram espaço para novas leituras sobre a complexidade da experiência humana, oferecendo novas lentes para entender os desejos, medos e conflitos internos.

No fundo de nós

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a literatura da Geração de 1945 buscou compreender a complexidade da experiência humana em um mundo marcado pela devastação e pela incerteza. Alguns escritores se voltaram para o interior das personagens, explorando suas motivações, dilemas existenciais e conflitos internos. Influenciados por correntes filosóficas e literárias europeias, como o existencialismo e a psicanálise, autores dessa geração, incluindo Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles e Lúcio Cardoso (1912-1968), afastam-se das preocupações sociais e políticas dominantes no Modernismo de 1930 para se concentrar em temas mais universais e atemporais, como a identidade, a solidão e o sentido da vida. Esse enfoque psicológico marcou uma nova fase na literatura brasileira, que buscava expressar, com intensidade e profundidade, as angústias e complexidades da alma humana.

Fotografia de Juliano Moreira.
Fotografia da escritora Virginia Woolf.

A obra de Clarice Lispector provoca o leitor a refletir sobre uma vida sem sentido, em que homens e mulheres cumprem papéis e estão presos a um destino esperado deles de acordo com suas funções e lugares sociais. Muitas das reflexões das obras da autora examinam a vida que não pode se realizar plenamente, que não atende às necessidades mais profundas das pessoas. Os romances e contos revelam uma realidade interior fragmentada e múltipla do ser humano, que os conduziria à ruptura com a obediência social para viver uma nova vida, rendida à paixão e aos seus desejos mais ocultos e proibidos.

Em geral, as personagens das obras de Clarice são provocadas por algum fato ou elemento do cotidiano – uma ação, um objeto, um animal – que dispara um processo de indagação sobre suas vidas, sobre si mesmas. Vivem uma epifania, ou seja, um momento quase sagrado em que seus desejos e frustrações são revelados. Esse processo chega ao leitor pela narração do fluxo de consciência das personagens. Ao final desse processo, cada uma delas tem que enfrentar o mundo: o que fará com essa reestruturação de si mesma?

PAULINO, Rosana. [Sem título]. 1997. Fotocópias transferidas sobre tecido, bastidores de madeira e linhas de costura. 30 cm. Série Bastidores. Pinacoteca do Estado de São Paulo.

Na obra de Clarice Lispector, o plano psicológico é mais importante que a sequência dos fatos. As ações das personagens e seu cotidiano aparecem como contexto com base no qual se desencadeia o fluxo de consciência, matéria principal do enredo. Em parte dos textos, no entanto, somos lançados de forma brusca e repentina já no meio desse fluxo, como se a história já tivesse começado antes do nosso contato com as primeiras palavras.

O trecho de Aline Bei, que abre esta unidade, estabelece diálogos íntimos com a obra de Lispector, seja no desenvolvimento de temas profundos, relacionados à construção de uma subjetividade feminina, seja nas inovações estéticas promovidas pela ruptura com a prosa tradicional, o que mostra como a obra de Clarice ainda dialoga com a literatura contemporânea.

A série Bastidores de Rosana Paulino (1967-) propõe uma poderosa reflexão sobre as histórias não contadas e os traumas que moldam a experiência das mulheres no Brasil, em particular as mulheres negras. Paulino utiliza, nessa série, uma combinação de técnicas como bordado, desenho e fotografia para criar imagens que revelam as cicatrizes invisíveis da opressão histórica imposta às mulheres.

A obra de Francisco Rebolo (1902-1980) apresenta uma mulher em um momento de quietude e introspecção. Embora haja uma aura de paz e contemplação na obra, é possível atribuir uma intensidade à figura feminina que parece refletir e repensar sobre sua vida.

REBOLO, Francisco. Mulher descansando 1945. Óleo sobre tela, 44 cm x 53 cm. Coleção particular.

lER lITERATURA

Literatura e psicanálise

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

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O doutor Sigmund Freud criou a psicanálise entre o final do século XIX e começo do XX com base em sua experiência clínica e da investigação sem reservas da mente e do comportamento humano. Freud entendeu que o psiquismo humano era formado por três sistemas: o inconsciente, o pré-consciente e o consciente. Desses, é possível dominar apenas o consciente; mas é no inconsciente que se encontram os mais profundos desejos, pulsões, as mais profundas emoções, sendo o sonho uma das poucas vias de acesso a ele. Desses conceitos capitais derivam vários outros que ajudaram a construir o movimento psicanalítico.

No conjunto, os conceitos freudianos podem ser potentes lentes de leitura de textos literários. E o diálogo entre esses dois campos do conhecimento tem início na linguagem.

A linguagem literária, que é o ser mesmo da literatura, cria uma espécie de lugar onde o ser humano se interroga sobre si mesmo, sobre seu destino cósmico, sua história, sobre o modo como atua mental e socialmente. Diferentemente da linguagem que se usa no dia a dia, a linguagem literária desloca o leitor e o coloca em posição de olhar para um outro – personagens, eus líricos – e, assim, pensar sobre si mesmo, indagar-se.

Esses questionamentos, essa disposição investigativa acerca do ser humano são também um movimento da psicanálise. É verdade que certas obras são movidas por diversas inquietações que favorecem uma abordagem psicanalítica. É o caso das obras de Clarice Lispector.

A personagem Macabéa, por exemplo, de A hora da estrela : solitária, deslocada como nordestina que chega sozinha ao Rio de Janeiro, tentando encontrar um lugar – um lugar social, psíquico, afetivo – não se assume como sujeito de si mesma.

Ele: — Por que esse espanto? Você não é gente? Gente fala de gente.

Ela: — Desculpe, mas não acho que sou muito gente.

Ele: — Mas todo mundo é gente, Meu Deus!

Ela: — É que não me habituei.

Ele: — Não se habitou com quê?

Ela: — Ah, não sei explicar.

LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela . Rio de Janeiro: Rocco, 1998. p. 48.

Macabéa se depara tardiamente com sua sexualidade e, por isso, com a sua feminilidade. Em seu viver ralo, tem dificuldade em assumir seu próprio desejo e construir um discurso sobre si. A psicanálise ensina que se encontrar como sujeito é fundamental para encontrar um lugar no mundo.

Se uma leitura psicanalítica permite reflexões muito esclarecedoras de um texto, exige também o domínio de conceitos a que apenas o estudo da psicanálise dá acesso.

Para discutir

Você leu trechos de A hora da estrela nesta unidade.

1. Que perguntas o leitor pode fazer-se ao conhecer Macabéa?

2 . De algum modo pode identificar-se com ela?

3. Considere sua resposta e escolha dois recursos que usaria para fazer um poema retrato do seu momento: o que destacaria? Alguma pergunta? Algum sonho? Alguma alegria ou tristeza? Escolha dois elementos (por exemplo, uma imagem e uma palavra) para falar disso.

Compartilhando saberes

lER O MUNDO Não escreva no livro. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Se, no plano individual, a construção do conhecimento se dá com base no repertório construído pelas experiências pessoais e pelas relações conceituais que estabelece, no plano coletivo essa construção é mais regrada. As pesquisas científicas têm papel fundamental nesse processo que não é, nunca, linear: muitas vezes uma descoberta confronta ou anula outra, e se abre também para outros confrontos ou confirmações.

O conhecimento construído pelas pesquisas circula entre pesquisadores por meio de artigos acadêmicos, escritos por especialistas para especialistas. E circula também entre o público leigo nos artigos de divulgação, publicados em revistas e jornais de grande circulação ou outros meios, mais especializados em certas áreas. Esses artigos contam com vários recursos para tornar esse conhecimento mais acessível ao não especialista. O acesso a esse conhecimento amplia muito as possibilidades de pensar o mundo. Você vai estudar isso aqui.

Para discutir

Os artigos de divulgação podem ser grandes aliados na trajetória escolar, na busca de conhecimento, na construção de repertório nas mais diversas áreas.

1 Você conhece alguma revista impressa ou digital que trate de assuntos científicos? Se sim, qual ou quais?

2 Em que situação de estudo é possível supor que a leitura de artigos de divulgação seria útil?

3 Você tem interesse em algum assunto científico, como astronomia, ecologia, robótica etc.? Costuma ler sobre eles? Conhece alguma publicação que aborde esse(s) assunto(s)?

Você vai ler, a seguir, um artigo de divulgação científica produzido pela jornalista Luisa Costa para a revista Superinteressante , uma das mais importantes revistas de divulgação científica do Brasil. O artigo trata de um tema muito pertinente ao contexto contemporâneo: os direitos das mulheres.

Texto

Estudo comprova: mulheres são menos creditadas na ciência do que homens

Há uma diferença de 59% entre a nomeação de mulheres e homens em patentes relacionadas a projetos em que ambos trabalharam.

Por Luisa Costa

Atualizado em 27 jun 2022, 16h31 Publicado em 23 jun 2022, 17h22

Ser cientista é uma tarefa mais difícil para as mulheres – e não só por causa da jornada dupla de trabalho (a ciência somada aos afazeres domésticos), do assédio e do preconceito que elas enfrentam.

Professor, no artigo publicado no site, essa fotografia não apresenta legenda, somente crédito. Mantivemos conforme o original. Os estudantes terão a oportunidade de refletir sobre a ausência da legenda, além de criar suas próprias legendas para a fotografia, na atividade 9 da página 131.

As cientistas têm de se esforçar sig nificativamente mais para que suas contribuições sejam reconhecidas, e muitas vezes são deixadas de lado nos estudos em que participam.

A desigualdade de gênero na ciência não é novidade, claro. Mas faltava colocar a diferença na ponta do lápis e entender sua razão de ser. ʻSabemos há muito tempo que as mulheres publicam [artigos científicos] e patenteiam [invenções] a uma taxa menor do que os homensʼ, afirma Julia Lane, da Universidade de Nova York, coautora de um estudo sobre quem recebe crédito por projetos cientí ficos e quem não recebe.

Lane e seus colegas usaram um banco de dados chamado UMETRICS, organizado pelo Censo americano e pelo Instituto de Pesquisa em Inovação e Ciência da Universidade de Michigan (EUA). Essa plataforma reúne informações sobre o investimento em pesquisa nas universidades ameri‑ canas. São dados de 128 mil pessoas que trabalham (ou trabalharam) em 9,7 mil equipes de pesquisa – docentes, alunos e pesquisadores em geral.

A partir dela, a equipe de Lane pôde descobrir quem exatamente estava envolvido e sendo pago em projetos de 52 faculdades e universidades, entre 2013 a 2016. Esses dados foram vin culados a informações de autoria de patentes e artigos publicados em revistas científicas.

Assim, eles puderam descobrir quem trabalhava nos projetos e acabou sem receber crédito por suas contribuições. Os resultados, que foram publicados na revista Nature, mostraram que as mulheres são menos propensas do que homens a serem creditadas – lacuna que afeta negativa‑ mente suas perspectivas de carreira na ciência.

Segundo os autores do estudo, há uma diferença de 59% entre a nomeação de mulheres e homens em patentes relacionadas a projetos em que ambos trabalharam. Elas têm menos chance de receber crédito por seu trabalho mesmo nas áreas em que formam a maioria dos pesquisadores – como a área da saúde.

A diferença é vista principalmente nos estágios iniciais de carreira. A análise de dados mostrou que 15 em cada 100 estudantes de pós graduação do sexo feminino foram nomeadas como autoras de artigos científicos. Enquanto isso, 21 em cada 100 homens na mesma posição receberam crédito. Também se percebeu, entre os projetos analisados, que as mulheres são menos propensas a serem indicadas como autoras de estudos quando estes eram publicados em periódicos científicos de alto impacto – que são referência no meio acadêmico.

As consequências desse cenário são fáceis de se imaginar. À medida que cientistas mulheres rece bem menos crédito do que homens, mesmo contribuindo da mesma forma em projetos de pesquisa, elas têm mais dificuldade de crescer profissionalmente e conseguir bolsas ou cargos.

Em uma pesquisa com mais de 2,4 mil cientistas realizada pela equipe de Lane, como forma com plementar de informações, 43% das mulheres disseram ter sido excluídas de um artigo científico para o qual contribuíram. Entre os homens, 38% dos entrevistados já se sentiram assim.

Mais mulheres relataram situações de discriminação e preconceito, em que suas contribuições eram subestimadas. Outras minorias sociais e estrangeiros também afirmaram que precisam se esforçar mais do que seus colegas para terem seu trabalho reconhecido.

Com os resultados obtidos, os autores do estudo esperam oferecer pistas sobre como a produção de conhecimento científico se organiza – e ajudar na formulação de políticas públicas que possam aumentar a diversidade na ciência.

ʻPelo menos algumas das diferenças de gênero observadas na produção científica podem existir devido a diferenças na atribuição, não na contribuição científicaʼ, escrevem os pesqui sadores. [...]

COSTA, Luisa. Estudo comprova: mulheres são menos creditadas na ciência do que homens. Superinteressante, São Paulo, 27 jun. 2022. Disponível em: https://super.abril.com.br/sociedade/estudo-comprova-mulheres-sao-menos-creditadas-naciencia-do-que-homens. Acesso em: 17 set. 2024.

PENSAR E COMPARTIlHAR

1. O artigo divulga o resultado de pesquisa realizada sobre a disparidade de créditos recebidos por mulheres e homens em relação à sua produção acadêmica.

a) A quem se dirige o artigo?

A qualquer pessoa que se interesse pelo tema, principalmente as mulheres que são alvo dessa lógica machista.

b) Qual pode ser o campo de interesse do leitor desse artigo?

Educação, pesquisa, direitos sociais.

2. O artigo que você leu se refere à desigualdade de gênero no contexto das publicações acadêmicas.

a) Copie e complete o organizador a seguir em seu caderno para identificar as informações básicas sobre a pesquisa que originou o artigo.

Professora Julia Lane e colegas

Há uma diferença de 59% entre a nomeação de mulheres e homens em patentes relacionadas a projetos em que ambos trabalharam.

Tipo de estudoO que quer saber ResponsáveisResultado

Quem recebe e quem não recebe créditos pela coautoria de projetos científicos.

Intervalo de tempo da pesquisa

De 2013 a 2016

b) Releia o que se diz sobre a pesquisadora Julia Lane. Por que se pode afirmar que essa informação qualifica o texto?

Porque a vinculação da pesquisadora à Universidade de Nova York confere credibilidade à pesquisa.

Os artigos de divulgação científica tornam acessíveis as descobertas da ciência a um público não especialista. Circulando em jornais e revistas impressos ou digitais, em publicações de grande circulação ou dedicadas a áreas mais específicas da ciência, os artigos cumprem importante papel social ao permitir acesso a um conhecimento produzido em meio acadêmico.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

3. O artigo também apresenta a metodologia utilizada pela pesquisa, ou seja, uma descrição do modo como foi feita a pesquisa. Copie o organizador a seguir em seu caderno e o complete recuperando o processo de realização da pesquisa descrito no artigo.

Foi estabelecida uma pergunta de pesquisa.

Utilizou-se a plataforma UMETRICS.

Identificou-se quem estava envolvido e quem estava sendo pago em projetos de pesquisa.

As informações foram comparadas com a autoria de patentes e artigos.

Resultado: há diferença de 59% entre nomeação de homens e mulheres nos artigos.

Não escreva no livro.
Coleta de dados

6. b) Na nova pesquisa, é possível ter acesso à percepção dos pesquisadores. Nesse caso, mulheres relatam que já sofreram discriminação e preconceito e 43% consideram que foram excluídas de artigos, contra 38% dos homens.

A metodologia descreve o modo como é feita uma pesquisa. Um artigo de divulgação deve sempre descrever a metodologia para que o leitor possa avaliar o quanto uma pesquisa é confiável.

4. P esquisas produzidas em ambientes acadêmicos podem ser muito diferentes entre si. Algumas podem ser feitas coletivamente, outras de forma individual; algumas são financiadas, outras não; algumas elaboram um produto que pode ser patenteado, outras são apenas teóricas.

4. a) Não, pois o título é genérico, e o estudo apresenta as conclusões de um universo específico de produções acadêmicas e de artigos, não comprovando que isso é, necessariamente, um fato geral.

a) Considerando essa diversidade de tipos e condições de pesquisa, é possível considerar o título do artigo adequado? Explique.

4. b) Possibilidade: Estudo comprova: mulheres são menos creditadas que homens em projetos que resultam em patentes.

b) Proponha uma reescrita para o título que contemple melhor o resultado da pesquisa.

c) De que forma o subtítulo ajuda a modalizar o título do artigo?

O subtítulo já destaca que a pesquisa foi limitada a casos em que há patentes e artigos.

5. O s dados da pesquisa foram organizados pelo Censo americano e Instituto de Pesquisa em Inovação e Ciência da Universidade de Michigan (Estados Unidos). Considerando isso, seria possível afirmar que o estudo comprova definitivamente que mulheres são menos creditadas do que homens no Brasil?

Espera-se que os estudantes percebam que os dados são dos Estados Unidos. Para que esse resultado seja comprovado no Brasil, deveria ser feita uma pesquisa equivalente com dados nacionais.

6. O a rtigo também apresenta as consequências dos resultados obtidos pela pesquisa para as mulheres pesquisadoras.

6. a) Ao não serem creditadas, as mulheres teriam maior dificuldade em crescer profissionalmente, bem como em receber bolsas e cargos.

a) Que consequências seriam essas?

6. c) A pesquisa mostra como a discriminação e preconceito ocorrem também com minorias sociais e estrangeiros.

b) O artigo cita ainda uma pesquisa derivada da original, que complementa os resultados obtidos previamente. Que resultados dessa pesquisa são relevantes?

c) Indique que outros dados foram obtidos com essa segunda pesquisa, e que, embora não se relacionem ao tema original, apresentam informações relevantes.

7. A linguagem de um artigo de divulgação deve transmitir objetividade.

a) Para transmitir objetividade, os artigos de divulgação adotam uma linguagem técnica e formal. Nesse artigo, porém, é possível identificar marcas de informalidade. Copie alguns exemplos e indique sua função no artigo.

7. a) claro e “colocar a diferença na ponta do lápis e entender sua razão de ser”. A função desse tipo de linguagem é aproximar o texto do leitor não especializado, para tornar a leitura mais agradável.

7. b) “Esses dados foram vinculados”, “Os resultados, que foram publicados na revista Nature, mostraram [...]”.

b) A pesar de ser possível encontrar marcas de pessoalidade, a maioria dos sujeitos das orações do texto têm como núcleo um termo que expressa algo objetivo, que não marca pessoalidade, mas objetividade. Copie exemplos do quinto e sexto parágrafos.

c) O artigo traz várias citações de falas dos pesquisadores. Como elas vêm grafadas? Que papel cumprem no texto?

Entre aspas. Intensificam a credibilidade do artigo.

8. O artigo de divulgação está acompanhado de uma fotografia.

a) Do ponto de vista gráfico-visual, que papel cumpre essa fotografia?

Areja a página e a torna mais atraente para o leitor e antecipa o assunto que será tratado.

b) Observe o modo como as cientistas foram representadas na fotografia. Que imagem de cientista a fotografia constrói?

9. Ainda sobre a fotografia, responda às questões a seguir.

a) Se você fosse o editor responsável pelo texto, que legenda comporia para a imagem?

8. b) Uma imagem asséptica, que sugere colaboração; o fato de todas as cientistas se colocarem em posição favorável a que todas apareçam na fotografia, somado à presença daquilo que o senso comum espera de um laboratório – tudo muito asséptico, cientistas sérias e concentradas –, faz a fotografia parecer falsa, caricata, posada.

b) A inda no papel de editor, quais outras imagens poderiam ser inseridas e com quais legendas?

9. a) Respostas pessoais. Espera-se que os estudantes componham legendas descritivas para a imagem, associando-as ao tema do artigo.

9. b) Resposta pessoal. Professor, enfatize para os estudantes a necessidade de que as imagens sejam significativas e ilustrem ou ampliem o sentido do texto. Por isso, imagens da autora, da universidade, infográficos ou gráficos, por exemplo, seriam relevantes, todos com explicações detalhadas nas legendas.

ANAlISE lINGUISTICA

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Regência nominal

1. a) Os termos típico e fim.

1. b) Típico é adjetivo e fim, substantivo.

1. c) Não, pois elas garantem a ligação entre os nomes e os termos aos quais se ligam.

2. a) À classe dos substantivos.

2. b) Sentia culpa pela brincadeira imprópria para a idade.

3. a) Sim, mas a informação do que fazia com que a mãe ficasse ocupada se perderia.

3. b) A preposição com

Releia a seguir um trecho de Pequena coreografia do adeus, de Aline Bei.

1 Considere os termos em destaque.

a) Que termos desse trecho pedem preposição?

b) A que classe de palavras esses termos pertencem?

c) Se as preposições fossem retiradas desse trecho, ele ainda manteria o sentido? Explique.

2 Observe a expressão em destaque.

a) A que classe gramatical pertence o termo culpa?

b) Suponha que a frase fosse: “sentia culpa * brincadeira imprópria para a idade”. Reescreva a frase, no seu caderno, substituindo o asterisco pela preposição na forma adequada.

4. a) emocionais: adjetivo que qualifica o tipo de demandas, especificando que são relacionadas às emoções. da própria existência: expressão que indica de onde provêm essas demandas, ou seja, elas estão ligadas à existência do indivíduo.

Portanto, emocionais e da própria existência são os termos diretamente relacionados a demandas.

4. b) A preposição de (de+a).

o vento que batia na praça era típico de [fim de outono e eu era uma menina me despedindo lentamente da própria infância brincando, mas sentindo o peso da culpa por ainda brincar [...] nesse dia, na praça eu estava com uma amiga do bairro. a mãe dela que nos trouxe de carro agora lia um jornal enquanto nos [esperava. ela era mais bonita do que a minha mãe cheirava melhor também. tinha um cheiro de erva‑doce despreocupado. já minha mãe tinha cheiro de banana sem casca estragando, estava sempre ocupada [com os afazeres domésticos e com as demandas emocionais da [própria existência. [...]

BEI, Aline. Pequena coreografia do adeus. São Paulo: Cia das Letras, 2021. p. 9-10.

3 O termo ocupada é um adjetivo.

a) Se ele não tivesse nenhum termo ligado a ele, a oração em que se insere faria sentido? Explique.

b) Que preposição é responsável por ligar ocupada a outros termos?

4 Considere o substantivo destacado

a) Identifique os termos relacionados a ele.

b) Um dos termos se liga ao substantivo por meio de uma preposição. Qual preposição?

A regência nominal é um dos aspectos fundamentais da gramática da língua portuguesa, responsável por estabelecer a relação de dependência entre um substantivo, adjetivo ou advérbio e os termos que o acompanham. Observe a frase a seguir.

Tinha um cheiro de erva doce despreocupado. Nesse exemplo, o núcleo do objeto direto cheiro é relacionado a outro termo sintático que o caracteriza: o adjunto adnominal introduzido por preposição.

Não escreva no livro.

São identificados o nome como termo regente e seu adjunto adnominal como termo regido. Essa relação tem o nome de regência nominal

Observe, a seguir, alguns casos específicos de regência nominal.

Nome Preposição Exemplo

Medo de

Habituadoa

Acostumado a com

Obediênciaa

Cuidadoso com

Preocupação com

Relacionado com a

Diferentede

Fácil/difícilde

Incapazde

A menina tinha medo da mãe.

A mãe estava habituada a lamentar.

Nunca tinha se acostumado a ficar longe do pai.

A menina estava acostumada com as demandas da mãe.

Os jovens devem obediência aos mais velhos.

Devemos ser cuidadosos com as palavras.

Sua preocupação com a filha emocionava.

Tudo está relacionado com (ao) abandono que sofreu.

Brincava diferente de todos.

O difícil de conseguir são as coisas fáceis de se desejar.

Ela era incapaz de ser feliz.

A regência nominal estuda a relação entre o nome (substantivo, adjetivo e advérbio) e o termo que ele rege, o seu complemento. Nesse caso, o nome é chamado de termo regente e o seu complemento, de termo regido

PENSAR E COMPARTIlHAR

Leia a tirinha de Calvin a seguir e responda às questões que seguem.

Não escreva no livro.

WATTERSON, Bill. [Infância na banheira]. In: WATTERSON, Bill. A vingança da babá. Tradução: Marcelo de Castro Bastos. São Paulo: Best News, 1997. p. 76.

1. Que desculpa Calvin utiliza para não tomar mais banho?

Calvin diz que um homem grande como ele julga ser não deveria ser lembrado pelos banhos que tomou a contragosto.

2. Ao considerar a si mesmo uma inspiração, Calvin utiliza uma regência específica. Indique qual é e a quem beneficiaria.

Inspiração para. Ele inspiraria toda a humanidade das eras futuras.

6. a) Aproximação – termo regido: do agressor (de); garantia – termo regido: de sua segurança (de); risco – termos regidos: à sua saúde e à sua integridade física (a).

3. C alvin refere-se a apenas uma parte de sua vida quando especifica o momento que os livros de história registrariam.

a) A qual parte ele se refere?

Aos momentos em que tomava banho.

b) Qual é a regência do termo parte?

De. 4. A ironia está em Calvin querer dizer o contrário, que não deveria tomar banho porque isso seria indigno de um grande homem como ele supõe que seria. A regência utilizada para o adjetivo digna é de

4. Quando afirma que o banho seria uma situação digna de uma personalidade como ele supõe que seria, ele está sendo irônico. Qual é a ironia? Identifique na fala do personagem a regência do adjetivo digna . Leia, a seguir, o trecho de artigo sobre alguns direitos fundamentais que passaram a ser assegurados para as mulheres.

A Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara dos Deputados aprovou proposta que autoriza o juiz, em caso de violência doméstica e familiar, a submeter o agressor à monitoração eletrô nica, por meio de dispositivo dotado de recurso que permita alertar de maneira automática a vítima, seus familiares e os órgãos de segurança pública quando da aproximação e violação de perímetro de segurança. [...]

Norma Ayub ressalta que a utilização do ‘botão do pânico’ já é adotada em diversos estados brasilei ros. ‘O fornecimento de dispositivo de segurança que possibilite à ofendida emitir um alerta imediato às autoridades policiais, quando houver tentativa de aproximação do agressor, revela se fundamental para a garantia de sua segurança em caso de risco iminente à sua saúde ou à sua integridade física’, disse.

HAJE, Lara. Comissão aprova medidas que permitem monitoramento eletrônico de agressor de mulher. Agência Câmara de Notícias, Brasília, DF, 3 set. 2021. Disponível em: www.camara.leg.br/noticias/803247-comissao-aprova-medidas-quepermitem-monitoramento-eletronico-de-agressor-de-mulher/. Acesso em: 17 set. 2024.

5. Qual é a relevância, para as mulheres, da proposta aprovada pela Câmara?

6. Considere os termos destacados no texto.

a) Identifique em cada destaque o termo regido e a preposição utilizada.

A proposta protege a mulher vítima de violência física contra seu agressor, o que é fundamental para evitar novas agressões.

b) Indique que preposição poderia substituir a preposição regida pelo termo risco, sem alterações significativas para o sentido.

A preposição para

Leia, no trecho de reportagem a seguir, as declarações que o jogador de futebol peruano Guerrero (1984-), ex-Corinthians, fez sobre a seleção de seu país.

Guerrero reclama de ‘falta de respeito’ com a seleção peruana

O atacante Guerrero aproveitou a classificação do Peru para a final da Copa América para reclamar da postura de jornalistas esportivos que vinham apontando o Chile como favorito a ficar com a vaga na decisão do torneio. [...]

ʻNão sei, acho que está faltando respeito de algumas pessoas. Ontem em Brasil e Argentina falaram que o Chile era favorito. Eu respeito muito o Brasil e precisam respeitar meu país. [...], reclamou o atacante. [...]

Guerrero ainda destacou que não vê o Brasil como favorito ao título por jogar em casa. De acordo com o atacante, ʻdentro de campo não existe favoritoʼ.

‘Temos muito respeito pelo Brasil, mas a gente vai fazer de tudo pra sair com o título. [...] É jogo a jogo, temos que fazer nosso trabalho com humildade, como sempre, temos que entrar, sermos agres‑ sivos e só assim podemos sair com o campeonatoʼ, analisou Guerrero.

GUERRERO reclama de “falta de respeito” com a seleção peruana. Uol, São Paulo, 3 jul. 2019. Disponível em: www.uol.com.br/esporte/ futebol/ultimas-noticias/2019/07/03/guerrero-reclama-de-falta-de-respeito-com-a-selecao-peruana.htm. Acesso em: 17 set. 2024.

7. A palavra respeito assume diferentes regências no trecho.

a) Identifique essas diferentes regências.

Respeito pelo, respeito com, respeito de e respeito sem preposição.

b) Identifique um caso de cada regência e explique o sentido que cada uma produz.

Respeito pelo e respeito com se referem ao ser que será beneficiado com o respeito. Respeito de se refere ao ser que deve ter respeito. Respeito sem preposição indica o que é respeitado.

1. a) Essa [plataforma] (2o parágrafo), (d)ela (3o parágrafo).

1. b) O núcleo é banco. Sabe-se que se refere a ele porque concorda em gênero e número com banco: ambos estão no masculino singular.

ASTUCIAS DA lINGUA

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

2. Ao retomarem um termo do primeiro parágrafo, eles garantem a ligação entre as partes do texto, situam o leitor quanto àquilo de que se fala e garantem progressão e continuidade.

3. a) O pronome eles (4o parágrafo).

Acordos e referências: mecanismos de construção da coesão

Leia novamente um trecho do artigo de divulgação científica desta unidade.

Não escreva no livro.

1 No trecho, há duas informações apresentadas logo no primeiro parágrafo que serão retomadas ao longo do texto. Considere inicialmente os termos em destaque

a) Identifique no texto os termos que fazem referência a esses termos e identifique o parágrafo em que eles aparecem.

b) A palavra organizado se refere ao núcleo da expressão em destaque. Qual é o núcleo? Como é possível saber que se refere a ele?

2 E xplique de que forma os termos que retomam o que está destacado são fundamentais para manter a coesão do texto.

Lane e seus colegas usaram um banco de dados chamado UMETRICS, organi zado pelo Censo americano e pelo Instituto de Pesquisa em Inovação e Ciência da Universidade de Michigan (EUA). Essa plataforma reúne informações sobre o investimento em pesquisa nas uni versidades americanas. São dados de 128 mil pessoas que trabalham (ou trabalharam) em 9,7 mil equipes de pesquisa – docentes, alunos e pesquisadores em geral.

A partir dela, a equipe de Lane pôde descobrir quem exatamente estava envolvido e sendo pago em projetos de 52 faculdades e universidades, entre 2013 e 2016. Esses dados foram vinculados a informações de autoria de patentes e arti gos publicados em revistas científicas. Assim, eles puderam descobrir quem trabalhava nos projetos e acabou sem receber crédito por suas contribuições. Os resultados, que foram publicados na revista Nature, mostraram que as mulheres são menos propensas do que homens a serem creditadas – lacuna que afeta negativamente suas perspectivas de carreira na ciência. Segundo os autores do estudo, há uma diferença de 59% entre a nomea ção de mulheres e homens em patentes relacionadas a projetos em que ambos trabalharam. [...].

COSTA, Luisa. Estudo comprova: mulheres são menos creditadas na ciência do que homens. Superinteressante, São Paulo, 27 jun. 2022. Disponível em: https://super.abril. com.br/sociedade/estudo-comprova-mulheres-sao-menoscreditadas-na-ciencia-do-que-homens. Acesso em: 17 set. 2024.

3 Considere os termos em destaque

a) Que pronome retoma esses termos ao longo do texto?

b) Que outras expressões fazem referência aos termos em destaque?

4 A que se refere no texto o trecho destacado?

5 O termo destacado é um verbo.

a) Com qual termo ele concorda?

b) O que permite essa identificação?

3. b) As expressões a equipe de Lane e os autores do estudo 4. Eles se referem aos dados de 128 mil pessoas [...]

5. a) Concorda com o sujeito oculto informações. 5. b) A conjugação verbal (3a pessoa do plural) e o contexto.

A coesão é o mecanismo textual que garante a ligação entre as ideias, frases e parágrafos. É fundamental para manter a clareza das ideias, permitir que o leitor se situe em relação àquilo que se apresenta e sustentar a progressão coerente do texto. Dois dos principais mecanismos para a construção da coesão textual são os acordos e as referências.

A coesão por acordos é estabelecida pela concordância gramatical entre os elementos do texto.

Concordância verbal e nominal: o sujeito concorda com o verbo em número e pessoa, e os adjetivos, artigos e pronomes concordam com os substantivos em gênero e número.

Os resultados [...] mostraram que as mulheres são menos propensas do que homens a serem creditadas

Essa concordância garante que as palavras estejam ligadas, evitando ambiguidades e promovendo clareza.

A coesão por referência envolve o uso de elementos linguísticos que apontam para outras partes do texto (ou para o contexto situacional), mantendo a continuidade e a conexão entre as ideias. As principais referências podem ser classificadas como se segue.

Referência anafórica: retoma algo já mencionado anteriormente no texto, evitando a repetição. Por exemplo:

Lane e seus colegas usaram um banco de dados [...]

Assim, eles puderam descobrir quem trabalhava nos projetos [...]

Aqui, eles refere-se a Lane e seus colegas.

Referência catafórica: antecipa algo que será mencionado posteriormente. Por exemplo:

A equipe tinha uma certeza : a desigualdade de gênero era fato no meio acadêmico.

Aqui, uma certeza refere-se à ideia que será exposta em seguida, a desigualdade de gênero era fato no meio acadêmico.

Referência exofórica: refere-se a elementos fora do texto, dependendo do contexto situacional ou do conhecimento prévio do leitor. No exemplo:

Ela é testemunha de quanto há machismo nas publicações acadêmicas.

Não sendo especificada no texto, a identidade de ela depende do contexto em que a frase é usada. Os pronomes dêiticos que você já estudou atuam como referências exofóricas.

Esses mecanismos de referência contribuem para a construção da coesão ao evitar a repetição de palavras ou ideias, ao mesmo tempo que garantem que as informações estejam interligadas, claras, coerentes, e que o leitor consiga acompanhar a progressão do texto.

Leia o trecho a seguir de um artigo de opinião sobre a produção de conhecimento feminina em uma época em que, popularmente, se considera que não houve produção vasta de conhecimento.

Muitas vezes sendo chamada de ‘Idade das Trevas’ por historiadores, a Idade Média ainda guarda muitos segredos do resto da humanidade. Mas um deles acaba de ser reve‑ lado por cientistas que descobriram que mulheres já trabalhavam produzindo livros durante esse período.

Os pesquisadores encontraram um pigmento azul utilizado para escrever incrustado no tártaro dentário de uma mulher enterrada. Conhecido como ‘azul ultramarino’, este pigmento foi o mais caro usado durante o período medieval europeu, chegando a custar o mesmo valor do ouro.

A substância, que é feita a partir da moagem e purificação de cristais de lazurita encontrados em uma região específica do Afeganistão, era usado apenas por escribas e pintores de imensa habilidade. A presença deste pigmento em uma comunidade de mulheres no norte da Alemanha também mostra a expansão dos circuitos de comércio de longa distância durante a revolução comercial europeia do século XI.

Embora exemplos sobreviventes desses primeiros trabalhos sejam raros e relati‑ vamente modestos, surgem cada vez mais evidências de que os mosteiros das mulheres estavam produzindo ativamente livros da mais alta qualidade até o século XII.

DESCOBERTA indica que mulheres produziam livros na Idade Média. Revista Galileu, [s. l.], 9 jan. 2019.

Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Arqueologia/noticia/2019/01/descoberta-indica-quemulheres-produziam-livros-na-idade-media.html. Acesso em: 17 set. 2024.

1. O texto faz referência a uma pesquisa que altera de forma significativa o conhecimento que se tinha sobre a Idade Média. A que mudança o texto se refere?

2. Um dos recursos para manter a coesão entre os parágrafos do texto é a retomada de elementos anteriormente mencionados.

a) Identifique no texto que termos são utilizados para se referir a pigmento azul.

b) Por que esse termo é retomado tantas vezes ao longo do texto?

c) Considere o termo destacado. A que termo ele se liga? Avalie a concordância desse termo.

d) O que explicaria esse desvio gramatical?

3. Releia: “Embora exemplos sobreviventes desses primeiros trabalhos sejam raros e relativamente modestos [...]”.

a) O t recho destacado estabelece uma relação catafórica fundamental para a coesão do parágrafo. A que termo ele se liga?

b) A que se refere a expressão desses primeiros trabalhos?

Leia agora um artigo do jovem Bruno Miguelino da Silva, de 18 anos, calouro do curso de Relações Internacionais, publicado na revista Superinteressante. Além das nem sempre eficazes medidas e estímulos educacionais de nosso governo, pode se perceber nos adolescentes (e por consequência nos adultos) uma ‘macunaímica’ preguiça de ler. Isso deve se não somente aos videogames, mas, também, ao grande abismo que há entre a literatura infantil e a adulta. Há uma deficiência de livros que façam a transição entre O patinho feio e Memórias póstumas de Brás Cubas. Ou até mesmo

1. O texto se refere a pesquisas que mostram não só que foi produzido conhecimento nesse período como também que mulheres participavam dessa produção.

2. a) Azul ultramarino, pigmento, a substância, deste pigmento.

2. b) Porque é a descoberta desse pigmento nos dentes de uma mulher enterrada que muda a percepção sobre a Idade Média.

2. c) Na frase, ele se liga ao sujeito A substância e deveria concordar com ele, mas está no masculino e não no feminino.

2. d) O desvio pode ser explicado pela concordância com o termo original, pigmento azul, e não A substância

3. a) Ele se liga ao termo que ainda aparecerá: os mosteiros das mulheres [...].

3. b) Ao trabalho realizado por escribas e pintoras de uma “comunidade de mulheres no norte da Alemanha”.

Não escreva no livro.

4. a) A de que não existiriam livros de transição entre uma literatura infantil e os grandes clássicos da literatura nacional.

A proposta é que se valorize e que se fomente a produção nacional de livros sobre o nada, que não seriam tão complexos e preparariam para uma leitura mais densa.

Ao dizer que livros como de Sidney Sheldon, Tolkien, Paulo Coelho e J. K. Rowling são sobre nada, ele acaba por desmerecer e caracterizar pejorativamente esses autores, o que pode, inclusive, afastar o leitor de sua linha argumentativa.

O termo é escritores e se liga a “Drummond, Clarice Lispector, João Cabral de Melo Neto e Euclides da

A forma verbal façam garante que o leitor saiba que ela se refere ao sujeito , pois está conjugada na mesma pessoa e número

São utilizados ele parágrafo), garoto (2o parágrafo) e nosso futuro o parágrafo).

Do modo como está apresentada, a declaração é uma opinião, pois não há dados para confirmar essa relação que ele estabelece entre videogame e desinteresse pela leitura como fato. Poderia ser fato se o autor trouxesse dados de fonte confiável, como pesquisas acadêmicas.

de clássicos infanto juvenis, como O mistério do Cinco Estrelas e O escaravelho do diabo, para obras de escritores ‘maiores’ como Drummond, Clarice Lispector, João Cabral de Melo Neto e Euclides da Cunha.

É exatamente aí que se encaixam os autores que escrevem sobre nada. Apesar de haver no mercado um sem número de obras escritas sobre esse assunto, quase todas são de autores estrangeiros. Não há uma identidade nacional nesses livros e o adolescente de hoje, quando começa a tomar gosto pela leitura, seja lendo Sidney Sheldon ou Tolkien, ao descobrir os escritores nacionais desiste por haver metafísica demais para ele. Parece heresia? Pois imagine um garoto que leu apenas um ou dois livros em sua vida abrindo Sagarana, curioso. Seria um trauma! Precisamos de livros que preparem o nosso futuro literário (as crianças e adolescentes) para maravilhas como essa de Guimarães Rosa. Caso contrário, o choque é avassalador.

Precisamos nos orgulhar dos nossos bons escritores e livros sobre o nada. Paulo Coelho é um herege, um Judas para a crítica tupiniquim. Por outro lado, J.K. Rowling, a autora de Harry Potter, é uma deusa na Inglaterra. [...]

SILVA, Bruno Miguelino da. Autores que escrevam sobre nada. Superinteressante, São Paulo, 31 jan. 2005. Disponível em: https://super.abril.com.br/cultura/autores-que-escrevam-sobre-nada. Acesso em: 17 set. 2024.

4. O texto de Bruno da Silva apresenta uma crítica e uma proposta para pensar a leitura no Brasil.

a) Que crítica ele faz ao cenário literário nacional?

b) Que proposta ele faz para corrigir o problema destacado?

c) Ao definir o que o autor chama de livro sobre nada , é possível identificar uma visão equivocada sobre um tipo específico de literatura. Qual é essa visão?

5. O t recho apresenta muitos recursos coesivos.

a) Identifique a que se refere cada um dos termos a seguir, em destaque no texto. Isso

Preguiça de ler

A transição entre a literatura infantil e de escritores “maiores”

Sobre o nada

Livros sobre o nada

Sagarana

b) Q ue termo do primeiro parágrafo estabelece uma relação catafórica com o que o sucede? Identifique o termo e com que ele se liga.

c) E xplique de que forma a conjugação do verbo fazer no primeiro parágrafo é fundamental para garantir a coesão.

6. O texto começa fazendo referência aos adolescentes, que seriam o alvo de sua preocupação relacionada à leitura.

a) Que termos são utilizados ao longo do texto para se referir aos adolescentes?

b) O autor atribui parte do desinteresse dos jovens pela leitura aos videogames . Essa declaração pode ser entendida como fato ou como opinião? Que tipo de informação deveria ser apresentada para sustentar essa afirmação?

#NOSNAPRATICA

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Artigo

de divulgação científica

Na leitura desta unidade, você conheceu mais sobre formas de divulgar estudos científicos de modo a atingir um público maior do que o acadêmico original. Essa divulgação tem como objetivo, além de popularizar a ciência, também incentivar novas pessoas a se interessarem pela carreira acadêmica de pesquisa.

O que você irá produzir

Sob orientação do professor, você se reunirá com dois a três colegas para escrever um artigo de divulgação científica com base em uma entrevista com o neurocientista português António Damásio (1944-), reproduzida a seguir. Esse artigo deverá seguir a estrutura já estudada na frente Leitura e contar com recursos visuais que sintetizem a informação para o leitor e captem sua atenção. O seu texto deverá ser publicado no site da escola ou em um blogue criado pela classe e terá como público leitor toda a comunidade escolar: estudantes, professores, funcionários e famílias.

Planejar

Com seu grupo, leia atentamente a entrevista a seguir com o neurocientista António Damásio, concedida à revista Veja e repostada no Fronteiras do pensamento, projeto que reúne pensadores influentes em ciclos de conferências para debater grandes temas da atualidade.

Como o artigo que você vai produzir parte da entrevista, você deverá identificar o tema, os conceitos apresentados, os exemplos e o direcionamento dado às explicações em defesa de um posicionamento sobre o assunto. Faça anotações, mapas mentais ou use quaisquer recursos que o ajudem a organizar as informações.

O que é a mente?

António Damásio: Ela é uma sucessão de representações criadas através de sistemas visuais, auditivos, táteis e, muito frequentemente, das informações fornecidas pelo próprio corpo sobre o que está acontecendo com ele — quais músculos estão se contraindo, em que ritmo o coração está batendo e assim por diante. Em resumo: a mente é um filme sobre o que se passa no corpo e no mundo a sua volta.

Qual a diferença entre emoção e sentimento?

António Damásio: A emoção é um conjunto de todas as respostas motoras que o cérebro faz aparecer no corpo em resposta a algum evento. É um programa de movimentos como a aceleração ou desaceleração do batimento do coração, tensão ou relaxamento dos músculos e assim por diante. Existe um programa para o medo, um para a raiva, outro para a compaixão etc. Já o sentimento é a forma como a mente vai interpretar todo esse conjunto de movimentos. Ele é a experiência mental daquilo tudo. Alguns sentimentos não têm a ver com a emoção, mas sempre têm a ver os movimentos do corpo. Por exemplo, quando você sente fome, isso é uma interpretação da mente de que o nível de glicose no sangue está baixando e você precisa se alimentar.

O senhor diz que as emoções desempenham um papel muito importante no desenvolvimento do raciocínio e na tomada de decisões. Que papel é esse?

António Damásio: Há certas decisões que são evidentemente feitas pela própria emoção. Quando há uma situação de medo, ele aconselha um entre dois tipos de decisão: correr para longe do perigo ou permanecer quieto para não ser notado. Há também decisões muito mais complexas, como, por exemplo, aceitar ou não um convite para jantar. Nesse caso, a emoção tem um papel de primeiro conselheiro, um primeiro indicador do que se deve fazer. Você pode querer ir, mas ao mesmo tempo há qualquer coisa no comportamento da pessoa que o faz desconfiar de que ela pode não ser sincera. E o que é isto? É uma reação emotiva, a emoção participando da sua decisão. [...]

Se toda a nossa percepção do mundo é afetada pela emoção, como podemos confiar nos nossos julgamentos?

António Damásio: As emoções foram extremamente bem sucedidas, ao longo da evolução, em nos manter vivos. O medo fez com que nos expuséssemos menos ao perigo e tivéssemos mais chance de sobreviver. A alegria nos deu incentivo para fazer o que precisamos para prosperar: exercitar a mente, inventar soluções para problemas, comer, nos reproduzir. Emoções como a compaixão, a culpa e a vergonha são importantes porque orientam nosso comportamento moral. Se você fizer qualquer coisa que não está correta em relação a outra pessoa, vai se sentir envergonhado e terá um sentimento de culpa. Isso é muito importante porque vai ajudar a manter a sua conduta de acordo com a convivência em sociedade. Uma coisa que falta aos psicopatas é exatamente esse sentimento de culpa, de vergonha. Os sentimentos são, portanto, fundamentais para organizar a sociedade e foram fundamentais para a formação dos sistemas moral e judicial. Mas as emoções por si só têm limites. Para vivermos em sociedade no século XXI, precisamos muitas vezes ser capazes de criti‑ car as nossas próprias emoções e dizer não a elas. E a única maneira de ultrapassar as emoções é o conhecimento: saber analisar as situações com grande pormenor, ser capaz de raciocinar sobre elas e decidir quando uma emoção não é vantajosa. Há um nível básico em que as emoções ajudam, e se você não tem esse nível você é um psicopata. Mas há um nível mais elevado em que as emoções têm de ser não as conselheiras, mas as aconselhadas.

DAMÁSIO, António. O homem está evoluindo para conciliar a emoção e a razão. [Entrevista cedida à Veja]. Veja, São Paulo, jul. 2013. Disponível em: www.fronteiras.com/leia/exibir/antonio-damasio-o-homem-esta-evoluindopara-conciliar-a-emocao-e-a-razao. Acesso em: 17 set. 2024. Organize as informações da entrevista. Essa organização pode compor um roteiro para a escrita do seu artigo.

• Identifique o tema central da entrevista e o contexto em que foi dada.

• Explique a seu público a importância do tema.

• Identifique os subtemas.

O papel da emoção e dos sentimentos na evolução humana e na vida das pessoas em geral. Professor, oriente os estudantes a levantar argumentos que justifiquem a importância do tema para jovens como eles. Nunca será demais lembrar que o momento que vivem é frequentemente atravessado por muitas emoções. Tratar do tema pode ajudá-los a pensar sobre si mesmos. Mente; diferença entre sentimento e emoção; o papel da emoção e dos sentimentos na evolução humana; os limites da emoção.

• Selecione exemplos relevantes.

• Considere se haveria algum trecho que, por parecer relevante ao grupo, deveria ser citado entre aspas.

• Em seguida, você e seu grupo poderão fazer pesquisas adicionais, em outras fontes, se acharem necessário um aprofundamento no tema. Sugere-se que, durante essa etapa, compartilhem os textos que lerem e façam as devidas anotações de leitura. Feita a leitura da entrevista e dos textos adicionais, é hora de produzir o artigo.

Produzir

Professor, algumas opções são Google Docs, Zoho Writer e Word on-line. Suas interfaces são bem intuitivas e permitem verificar quem editou o que e quando o fez.

Para uma produção desse artigo, sugere-se que seja utilizado um aplicativo de edição de textos colaborativo que permite que várias pessoas editem o mesmo documento ao mesmo tempo, registrando todas as etapas de edição: quem fez o que e quando. Isso irá facilitar bastante a produção do texto final. Se não for possível, alguém pode ficar responsável pela escrita final do artigo.

Selecione uma informação do artigo que poderia ser destacada em imagem para ser ilustrada ou ampliada em uma fotografia, ilustração, infográfico ou gráfico. O objetivo é que o leitor seja atraído para a leitura e tenha acesso rápido às informações do corpo do texto.

Você poderá verificar que, mesmo com o seu planejamento, podem sobrar ou faltar espaços. Reorganize as informações de forma a deixar o layout do seu material atraente e fácil de ler.

Feitas as imagens, é o momento de escrever o texto. Para isso, vale retomar as reflexões feitas durante a leitura e ficar atento aos seguintes elementos obrigatórios: título (que seja objetivo e chame a atenção do leitor, em fonte maior); subtítulo (desenvolve mais as informações do título e oferece um resumo do texto para o leitor); legendas (de todas as ilustrações adicionais); introdução (explica de forma resumida o que ocorreu e os responsáveis envolvidos); explicação (explica de forma detalhada o assunto); conclusão (apresenta de forma objetiva os benefícios da descoberta ou estudo e sua relevância para a sociedade).

lABORATORIO DE PRODUÇÃO

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Mecanismos de coesão: os conectivos

As mulheres frequentemente enfrentam barreiras invisíveis em suas carreiras acadêmicas, e, muitas vezes, a contribuição feminina é subestimada em comparação à de seus colegas masculinos. No entanto, a promoção de políticas inclusivas pode ajudar a reduzir essas desigualdades, criando um ambiente mais justo e equitativo para todos.

Os mecanismos de coesão são fundamentais para a construção de um texto. A organização sequencial dos parágrafos, com introduções claras e conclusões que retomam as ideias principais, por exemplo, contribui para a coesão do texto. Essa estrutura permite que o leitor compreenda facilmente o desenvolvimento dos argumentos e a relação entre as diferentes partes de um texto.

Um dos principais recursos é o uso de conectivos, como além disso, portanto, no entanto e por outro lado, que estabelecem relações lógicas entre as ideias e garantem a fluidez da leitura. Esses conectivos ajudam a organizar o texto de maneira que o leitor possa seguir o raciocínio do autor sem dificuldade, conectando as ideias segundo um fluxo contínuo e lógico.

Além dos conectivos, a repetição controlada de termos-chave e o uso de pronomes ou sinônimos contribuem para a continuidade temática do texto. Por exemplo, ao discutir um conceito científico específico, o autor pode alternar entre o uso do termo técnico e expressões mais simples ou pronomes que o substituam, evitando repetições desnecessárias, mas mantendo a clareza.

Agora é sua vez. Considere os três períodos a seguir e organize-os em um só parágrafo de modo a garantir a coesão entre eles.

• A s mulheres frequentemente enfrentam barreiras invisíveis em suas carreiras acadêmicas.

• A promoção de políticas inclusivas pode ajudar a reduzir as desigualdades entre homens e mulheres.

• Muitas vezes, a contribuição das mulheres é subestimada em comparação à de homens.

Compartilhar

Professor, se possível, antes de publicarem, seria interessante organizar uma leitura compartilhada dos textos produzidos. Os estudantes podem apontar eventuais problemas, como falta de clareza ou de continuidade, por exemplo, dando oportunidade ao grupo de reescrever o trecho.

Com a ajuda do professor, os grupos vão se organizar para agrupar os artigos de divulgação científica. Os textos podem ser enviados para a secretaria da escola para serem inseridos em alguma área do site da instituição, ou ainda a sala pode eleger uma comissão para criar um blogue em que os artigos serão publicados e os devidos links compartilhados.

Não escreva no livro.

ler Matemática e suas Tecnologias

Do que se trata

Você leu e comparou, na Unidade 3, editoriais que usavam dados numéricos como parte da argumentação que desenvolviam para sustentar seus pontos de vista. O jornalista Charles Seife (1972-) apresenta a matemática como uma espécie de arte; pois a matemática também é, entre tantas coisas, a arte de manipular números. Acompanhe o raciocínio dele e observe como os números podem fazer parte de uma estratégia de convencimento.

Há [uma] variedade de empacotamento de frutas, o polimento de maçãs, usado para dar um toque final aos dados, manipulando os de modo que pareçam mais favoráveis do que são na realidade. Assim como os verdureiros empregam artifícios sutis para dar uma aparência mais fresca e apetitosa às mercadorias – esfregar e polir as maçãs para que pareçam mais frescas, aplicar gás para amadurecer os tomates, empilhar os melões escondendo os defeitos –, os empacotadores de frutas matemáticos maquiam os números, polindo os algarismos com sutileza para torná los tão atraentes quanto possível.

Existem inúmeras maneiras de polir maçãs matemáticas; seria impossível descrevê las todas, sobretudo porque a criatividade dos empacotadores de frutas está sempre inventando métodos novos. Mas há alguns truques mais comuns, que devem ser mencionados. [...]

A maioria das pessoas pensa que ‘médio’ significa ‘típico’. Isto é, se, por exemplo, o salário médio numa empresa é de US$ 100 mil, cada funcionário ganha mais ou menos US$ 100 mil. Na verdade, as coisas muitas vezes não são assim.

A média de um conjunto de números tem um significado matemático preciso: primeiro somamos tudo, depois dividimos pelo número de elementos somados. Por exemplo, se temos uma empresa de dez empregados, cada um ganhando mais ou menos US$ 100 mil, somamos os dez salários (US$ 100.000 + US$ 101.000 + US$ 98.500 + US$ 99.700,00 + US$ 103.200 + US$ 100.300 + US$ 99.000 + US$ 96.800 + US$ 100.000 + US$ 101.500 = US$ 1.000.000). Nesse caso, a média de US$ 100 mil de fato representa um salário típico. Pense, porém, numa empresa em que o presidente ganha US$ 999.991 por ano, e há nove estagiários ganhando, cada um, US$ 1. A média será, mais uma vez, a soma de todos os salários (US$ 999.991 + US$ 1 + US$ 1 + US$ 1 + US$ 1 + US$ 1 + US$ 1 + US$ 1 + US$ 1 + US$ 1 = US$ 1.000.000), dividida pelo número de salários (US$ 1.000.000 : 10 = US$ 100.000). Assim, também nesse caso, o salário ‘médio’ é de US$ 100 mil. Porém, não faria o menor sentido dizer que este é um valor ‘típico’. Se tomássemos um funcionário qualquer, ao acaso, provavelmente seria alguém que ganha um magro dólar. Portanto, nesse caso, é enganoso afirmar que ‘médio’ é o mesmo que ‘típico’. Se o presidente quisesse atrair novos empregados, enfatizando os US$ 100 mil de salário médio na empresa, estaria polindo maçãs. Os novos contratados teriam um choque quando recebessem o primeiro contracheque.

SEIFE, Charles. Os números (não) mentem: como a matemática pode ser usada para enganar você. Tradução: Ivan Weisz Kuck. Rio de Janeiro: Zahar, 2012. E-book. Localizável em: cap. 1.

PENSAR E COMPARTIlHAR

Não escreva no livro.

1. A e xposição do autor pode ser lida como uma curiosidade sobre matemática. Mas pode também ser lida como texto de estudo. Nesse caso, haveria alguma estratégia para ajudar a compreender o texto? Considere as seguintes etapas.

a) L eia uma primeira vez e releia verificando se há palavras-chave desconhecidas e outras cujo sentido não consegue saber mesmo pelo contexto em que se insere.

b) Consulte as palavras que não conhece no dicionário.

c) Identifique o conceito central trabalhado no texto. Espera-se que os estudantes identifiquem que o tema central do texto é a manipulação de dados e estatísticas para criar uma percepção distorcida da realidade.

2. Observe a organização geral do texto.

a) O texto parte da apresentação de uma prática usada por vendedores de frutas: polir maçãs. A que essa prática é comparada?

Ao polimento dos números, ou seja, a um tratamento que pode ser enganoso, dar uma ideia equivocada a respeito do que de fato representam.

b) I dentifique o conceito central do texto e explique-o para você mesmo. Em seguida, escreva o que compreendeu.

Média aritmética é a soma de valores individuais divididos pelo número de elementos somados.

3. O autor dá um exemplo do conceito com o qual trabalha. Organize os dados do exemplo.

a) Separe as variáveis em jogo do resultado.

b) Todas as variáveis são importantes para o resultado?

Número de empregados e salários. Nesse caso, sim.

Verifique seu aprendizado resolvendo os seguintes problemas.

4. (Mack-SP) A média aritmética de n números positivos é 7. Retirando-se do conjunto desses números o número 5, a média aritmética dos números que restam passa a ser 8. O valor de n é:

a) 2 b) 3 c) 5 d) 6 e) 9

Verifique se tem dúvidas quanto ao vocabulário conceitual utilizado.

I. Organize os dados considerando S a soma dos números.

II. Verifique se aprendeu chegando à solução.

S (soma dos números): n = 7; S = 7n s 5 : n 1 = 8; s 5 = 8(n 1); s = 8(n 1) + 5; 7n (S) = 8n 8 + 5; 7n 8n = _ 8 + 5 1n = 3; n = 3

5. No segundo bimestre, a classe alcançou as seguintes médias:

Matemática: 8,5Espanhol: 8,4Geografia: 7,5Educação Física: 9,5Biologia: 8,0

Português: 7,3Física: 9,0Química: 7,2Inglês: 9,2História: 7,0

Siga os mesmos passos para responder às questões a seguir.

a) Qual é a média da classe?

8,16

b) Suponha que todos os alunos da classe tenham tirado essa nota individualmente menos Inácio, que tirou 5 em Inglês e 6 em Química. A média da classe aumentaria ou diminuiria?

Diminuiria.

6. L eia a seguir uma explicação sobre média ponderada.

A média aritmética simples é uma ferramenta matemática inserida em diversas situações do cotidiano e realizada através do cálculo da soma de todos os elementos divididos pelo número de elementos somados.

Ao contrário da média aritmética simples, a média aritmética ponderada leva em consideração pesos atribuídos a cada um dos elementos somados no numerador. Na ponderada, realiza-se a multiplicação entre os valores e seus respectivos pesos e depois dividimos a somatória pela soma dos pesos.

Os pesos são, na verdade, uma forma de atribuir maior valor a determinados elementos do somatório.

A média aritmética ponderada é muito utilizada para calcular a média final das notas dos alunos na escola quando os bimestres possuem pesos diferentes, em vestibulares no cálculo das notas para atribuir maior valor às áreas de conhecimento afins a determinados cursos.

Observe como funciona a média ponderada:

a) Repita as etapas já recomendadas para a leitura do texto anterior.

b) Ao atribuir pesos, o que se atribui a uma variável?

Valor, importância, maior ou menor relevância.

c) Formule um problema em que seja usada a média ponderada.

Possibilidade: No vestibular da Universidade X, a prova de Linguagens e suas Tecnologias e de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas para os candidatos das turmas de Humanas têm peso 2. Se um aluno tirou 6 em Linguagens e suas Tecnologias, 6,3 em Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, 7 em Matemática e suas Tecnologias, 8 em Ciências da Natureza e suas Tecnologias e 7 em Inglês: qual é a sua média ponderada?

ROTEIRO

PARA lER

LISPECTOR, Clarice. A descoberta do mundo. São Paulo: Rocco, 2020.

Publicado pela primeira vez em 1984, o livro reúne crônicas publicadas pelo Jornal do Brasil entre 1967 e 1973. As crônicas revelam a habilidade da autora de transformar o cotidiano em matéria literária, explorando com profundidade temas como a solidão, a passagem do tempo, a natureza das relações humanas e o mistério da existência. A prosa poética e introspectiva de Clarice convida o leitor a uma jornada íntima de autoconhecimento e reflexão, que transforma pequenos momentos do dia a dia em revelações profundas sobre o mundo e sobre si mesmo.

PARA ASSISTIR

Capa do livro A descoberta do mundo.

PANORAMA com Clarice Lispector. [S. l .: s. n.], 2012. 1 vídeo (28 min). Publicado pelo canal TV Cultura. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=ohHP1l2EVnU. Acesso em: 17 set. 2024.

Nesse programa televisivo, verdadeiro patrimônio da televisão, Clarice Lispector concede ao jornalista Júlio Lerner uma rara entrevista. Depois de gravada, Clarice pediu que a entrevista só fosse divulgada após sua morte. Seu desejo foi respeitado e ela foi ao ar dez meses depois da morte da escritora. Clarice morreu em dezembro de 1977, aos 57 anos.

A HORA da estrela. Direção: Suzana Amaral. Brasil: Raiz Produções Cinematográficas, 1985. Streaming (96 min). Inspirado no romance homônimo de Clarice Lispector, a história segue Macabéa, uma jovem nordestina ingênua e solitária que vive uma vida simples e sem grandes perspectivas na cidade de São Paulo. A interpretação de Marcélia Cartaxo (1963-) como Macabéa é profundamente comovente, capturando a essência da protagonista descrita por Lispector. Como trabalho de preparação para encarnar a personagem, a atriz teria recebido o livro A hora da estrela da diretora, Suzana Amaral, com o seguinte pedido: que observasse atentamente como eram e como se comportavam as “Macabéas” de sua cidade natal, Cajajeiras (PB).

Pôster do filme A hora da estrela

PARA OUVIR

LIVRO da Vez # 7: mulheres na literatura e prosa poética com Aline Bei. Entrevistada: Aline Bei. Entrevistadoras: Beatriz Backes, Gabrielli Mendes, Mábily Souza. [S. l.]: G1, 26 abr. 2024. Podcast . Disponível em: https://g1.globo.com/podcast/livro-da-vez/noticia/2024/04/26/ livro-da-vez-7-mulheres-na-literatura-e-prosa-poetica-com-aline-bei.ghtml. Acesso em: 17 set. 2024.

Nesse episódio de podcast, a autora Aline Bei discute sobre a importância de movimentos e campanhas para incentivo e valorização das escritoras nacionais, assim como sua diversidade social, cultural, étnica e de orientação sexual.

REPRISE: a voz e o silêncio de Clarice Lispector: 451 MHz Podcast . [S . l.: s. n.], 2023. 1 vídeo (2 h). Publicado pelo canal Quatro cinco um. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=r_nIzmTf0Rc. Acesso em: 17 set. 2024.

O episódio do podcast reúne as duas partes da entrevista realizada em 1976 pelos escritores Marina Colasanti, Affonso Romano de Sant’Anna e João Salgueiro para o MIS, o Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro sobre Clarice Lispector. Em uma conversa descontraída, é apresentada ao ouvinte uma Clarice com humor e inteligência afiados.

Capa do podcast Livro da vez, do G1.
Capa do podcast 451 MHz

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O FORMAL, A FORMA, AS FORMAS

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Observe a pintura a seguir, do artista paraibano Sérgio Lucena (1963-).

Professor, no catálogo 37o Panorama da Arte Brasileira: sob as cinzas, brasa, do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), a curadora Cristina Tejo explica a referência a "concretismo caboclo" (disponível em: https:// admin.mam.org.br/wp-content/ uploads/2022/11/mam-panoramacatalogo-miolo-1.pdf; acesso em: 28 out. 2024).

LUCENA, Sérgio. [Pintura no 3]. 2020. Óleo sobre tela, 150 cm x 150 cm. Série Teatro do meu fascínio. Coleção particular.

Não escreva no livro.

1. A arte de Lucena não é figurativa, isto é, não mostra imagens reconhecíveis como pessoas, objetos, paisagens. Ela se insere no campo da arte abstrata, que se afasta da representação literal e busca expressar ideias, emoções ou conceitos por meio de formas, cores e linhas. Que elementos da obra permitem classificá-la como arte abstrata?

As cores e as formas geométricas, que não se referem de forma direta a nenhum objeto.

2. Embora recorra à abstração, é possível tecer diálogos entre as formas da pintura e o mundo.

a) A que podem remeter as formas geométricas da obra?

A forma branca no centro da obra poderia remeter a uma lança ou flecha.

b) Que sentido é produzido ao se posicionar essa forma no centro da obra com uma cor que a destaca das demais?

A forma central, em destaque, recebe atenção especial, como se fosse o tema principal que origina o sentido básico da obra.

3. A curadora de arte pernambucana Cristiana Tejo referiu-se à série à qual pertence essa pintura como um “concretismo caboclo”. Originalmente, caboclo designa pessoa que é filha de indígena e de branco, ou seja, genericamente, mestiça. De que modo a figura geométrica apresentada na obra remete à ideia de caboclo?

Espera-se que os estudantes relacionem a forma, que se assemelha a uma lança ou flecha, a símbolos típicos da cultura indígena e também das culturas africana e afrodiaspórica; por isso cabocla, já que se refere a essa miscigenação cultural. Respostas e comentários nas Orientações para o professor.

Observe as obras a seguir, uma pintura do artista Cícero Dias (1907-2003) intitulada Canavial e outra do pintor Samson Flexor (1907-1971), cujo título é As bailarinas

4. Observe a obra de Cícero Dias.

DIAS, Cícero. Canavial. 1948. Pintura sobre alvenaria de tijolo cerâmico, 586 cm x 286 cm. Secretaria da Fazenda de Recife, Pernambuco.

5. a) Triângulos, retângulos, elipses e formas curvas em cores pastéis, com as laterais em tons mais sóbrios, como azul-marinho, marrom e cinza, e com cores mais vivas no centro.

FLEXOR, Samson. As bailarinas. 1950. Óleo sobre tela, 152 cm x 245 cm. Acervo Banco Itaú S.A., São Paulo.

Respostas e comentários nas Orientações para o professor.

a) Que figuras geométricas é possível reconhecer na pintura?

É possível reconhecer triângulos, formas circulares e elípticas.

b) Que cores predominam na pintura? A que essas cores podem ser associadas, levando em conta o título que o artista deu à obra?

Predominam o verde e o marrom, que podem ser referências a plantações de cana e à terra.

c) Como é possível relacionar essa obra a um canavial?

A obra tem cores que lembram um canavial e as formas lembram os pés de cana e suas folhas.

5. Na obra de Samson, as formas geométricas compõem a dança das bailarinas. Ela não é um registro do real, lembrando mais um exercício de composição no qual o que importa é a organização das figuras e a disposição delas na pintura.

Respostas e comentários nas Orientações para o professor.

a) Identifique as figuras geométricas e cores que aparecem na composição da obra.

b) Que efeito essas figuras produzem na pintura?

Produzem efeito de movimento: as bailarinas são desenhadas de tal forma que parecem se tocar; dispostas em uma espécie de roda, sugerem movimentação circular, embora predominem triângulos.

Passados os momentos de ruptura formal e engajamento social das duas primeiras gerações do Modernismo, a poesia depois de 1945 podia recorrer a experimentalismos, marcados por racionalismo e inovações técnicas. Não se trata de um formalismo que retoma o Parnasianismo. Este pregava o elogio das formas clássicas e tradicionais; já a Geração de 45 extrai da forma possibilidades radicais de uso das palavras e da construção do verso. Por outro lado, surgem também novas possibilidades poéticas nas quais o verso é abandonado em favor de um trabalho com a materialidade das palavras e de seus significantes, como se a palavra no papel fosse um objeto manipulável para produzir novos sentidos.

O verso e o não verso

Não há dúvidas de que o avanço da ciência e da tecnologia trouxe muitos benefícios para os seres humanos. No entanto, problemas sociais como desigualdade, pobreza, violência e situações de vulnerabilidade persistem. Como tem sido comentado ao longo deste volume, a arte sempre esteve conectada com essas questões. O poema, naturalmente subversivo por se insurgir contra os sentidos estáveis da palavra, tem sido um ponto de encontro entre o ser humano e o fluxo da existência, com todas as realidades internas e externas em várias dimensões.

Para discutir

1 Em sua opinião, que avanços tecnológicos recentes foram fundamentais para produzir mudanças na sociedade?

2 Que problemas sociais são mais urgentes e evidentes em sua região?

3 Esses problemas poderiam ter sido minimizados pelos avanços que você mencionou?

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Você vai ler, a seguir, três poemas contemporâneos: o primeiro, de Micheliny Verunschk, publicado no livro Geografia íntima do deserto e outras paisagens reunidas , de 2024; o segundo, de Luz Ribeiro, publicado na coletânea As 29 poetas hoje, de 2021; e o terceiro, de Rodrigo Ciríaco, publicado no livro Vendo pó...esia!, de 2016.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Texto 1 g

Era um gato de ébano estático e mudo: um gato geométrico talhando em silêncio o seu salto mais duro. Era um gato macio se visto de perto, um bicho de carne ao olho certeiro, arrepio de sombra subindo nas pernas, um lance no escuro, um tiro no espelho. O gato era um ato, uma estátua viva, uma lâmpada acesa no umbigo de Alice.

lER O MUNDO Não escreva no livro.
DANIEL BUENO

Era um gato concreto no meio da sala: era uma palavra afiando palavras. Era a fome do gato e sua pata à espreita, veludo-armadilha: uma única letra.

VERUNSCHK, Micheliny. G. In: VERUNSCHK, Micheliny. Geografia íntima do deserto e outras paisagens reunidas. São Paulo: Círculo de Poemas, 2024. p. 35.

Texto 2

assumo: tenho

p_o_ _ema de comunicação

. RIBEIRO, Luz. Assumo:. In: HOLLANDA, Heloísa Buarque de. As 29 poetas hoje São Paulo: Companhia das Letras, 2021. p. 101.

Texto 3

#SOBRE

A escritora, poeta e contista Micheliny Verunschk (1972-), nascida em Recife (PE), é mestre em Literatura e Crítica Literária e doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Sua obra literária é reconhecida pela inovação estilística. Sua contribuição à literatura brasileira contemporânea a coloca como uma das vozes mais originais de sua geração, com um trabalho que desafia fronteiras entre gêneros.

Luz Ribeiro (1988-), poeta e slammer nascida na periferia de São Paulo, se tornou conhecida por sua forte presença na cena literária contemporânea. Seus poemas, muitas vezes performáticos, exploram vivências e resistências da mulher negra.

Fotografia da autora em 2024.

Fotografia da poeta em 2019.

#SOBRE

Escritor, educador e ativista cultural brasileiro, por sua forte presença na literatura marginal e periférica. Publicou contos que abordam temas como violência, desigualdade e educação no cotidiano escolar de jovens da periferia de São Paulo. Na poesia, publicou explora as dores e resistências da vida periférica. Em a explorar os desafios da existência nas margens urbanas. É curador e responsável pelo SarauZim – Sarau pra molecada, do projeto de formação Pedagogia dos Saraus.

Fotografia do autor em 2020.

#SOBRE

1. a) Espera-se que os estudantes evoquem o que faça sentido para a realidade de cada um; isso significa que podem fazer vir à tona questões sociais, existenciais, pessoais ou qualquer aspecto da realidade que demande discursos e produção de sentidos.

1. b) Espera-se que os estudantes percebam que os poemas usam palavras, mas o texto 1 mantém os versos, enquanto os textos 2 e 3 introduzem outros recursos – como espaços vazios indicados por “_”, uso de palavras que ocupam o espaço da página compondo um desenho –que rompem com a forma mais tradicional do verso, da versificação e do ritmo.

PENSAR E COMPARTIlHAR

1. Leia o trecho a seguir, do poeta e crítico literário Alberto Pucheu (1966-), sobre a poesia contemporânea.

Em cada caso específico, falamos exatamente desse ponto real, impossível, que cada poema extorque à língua. Não digo isso como alguma novidade, muito pelo contrário. Não tem novidade alguma nisso. [...] Ao chamado do real, a poesia responde, a cada vez, retornantemente, com um poema; à convocação do real, a poesia responde, a cada vez, retornantemente, com sua voz.

PUCHEU, Alberto. Falemos de poesia. In: PUCHEU, Alberto; MAGALHÃES, Danielle (org.). Falemos de poesia Rio de Janeiro: 7Letras, 2023. Localizável em: p. 20-21 do PDF. Disponível em: https://books.google.com.br/ books?hl=pt-BR&lr=langpt&id=3MDxEAAAQBAJ&oi=fnd&pg=PT3&dq=. Acesso em: 17 set. 2024.

a) Segundo Pucheu, os poemas extorquem, isto é, arrancam da língua uma forma que traz o real para o leitor. Que aspectos do real na contemporaneidade podem provocar essa extorsão?

b) Com base nessa reflexão do crítico, a poesia – e o poema – podem extorquir da língua esse real e responder, “a cada vez [...] com sua voz”, usando recursos adequados à resposta que quer construir. Os textos 1, 2 e 3 atendem a essa demanda de formas diferentes. Que recursos de estrutura cada um usa para responder ao real?

2. No texto 1, o gato é apresentado por meio de diferentes imagens.

a) Copie o organizador a seguir no caderno e complete-o com os atributos de cada imagem de gato apresentada.

Estático e mudo

Silencioso com salto duro

De carne e certeiro

Estátua viva, lâmpada acesa

Palavra afiando palavras

Gato de ébano

Gato geométrico

Gato macio

Gato era um ato

Gato concreto

b) Depois de identificar as características atribuídas ao gato, como é possível defini-lo?

O gato seria misterioso, com movimentos calculados e exatos.

3. Um dos atributos do gato é o de ser geométrico.

a) Que aspectos do gato permitiriam essa relação?

Os movimentos e poses do gato poderiam ser relacionados a formas geométricas porque são muito exatas e marcadas.

b) Observe a forma da letra g . De que modo o aspecto geométrico do gato justifica o título do poema?

Além de g ser a inicial da palavra gato, ela lembra a forma de um gato com seu rabo caído, feito com base em formas geométricas.

4. Para marcar o aspecto geométrico do gato, o poema recorre também a algumas figuras de linguagem.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

a) C onsidere os cinco primeiros versos do poema e identifique as aliterações que apresentam.

Os versos apresentam repetição do T: gato, estático, gato, geométrico, talhando, salto; e aliteração do S: silêncio, seu, salto.

6. Um nível de interpretação relaciona-se aos problemas de comunicação do eu lírico. Em um segundo nível, esse problema se intensifica com a ausência de letras em uma palavra. Mas é justamente essa ausência que mostra como o que era problema é, na verdade, poema: outra forma de comunicação.

b) Copie no caderno a alternativa que melhor explica os efeitos de sentido produzidos por essas aliterações.

Resposta: alternativa II

I. A aliteração em T se refere às alturas que o gato consegue atingir, como o teto de uma casa; o S se relaciona com o som produzido pelo gato.

II. A aliteração em T marca o ritmo, como se fossem momentos angulares, geométricos, enquanto o S traz uma ideia de sinuosidade, como o contorno do gato.

III. A aliteração em T indica o ritmo do poema e em S indica o sentido.

c) O poema também apresenta repetições de termos. Identifique-os e explique a função dessa repetição.

Os termos que se repetem são era um gato. Eles retomam o gato para apresentar novo sentido, como em uma circularidade, compondo uma forma geométrica.

d) No poema há a metáfora palavra afiando palavra . Considere o trabalho que se faz com a língua e explique o sentido dessa metáfora.

5. Considere agora o texto 2.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Uma palavra afiar outra palavra é fazer com que ela assuma uma nova configuração, um sentido novo. É possível também considerar afiar na acepção de melhorar o corte, atingir, com mais precisão, o sentido do real.

a) O sentido do poema é construído com base na forma inovadora de sua escrita. Explique por quê.

O sentido do poema depende da palavra p_o_ _ema, que tem letras substituídas por subtraços.

b) E xplique como é possível completar os elementos faltantes no poema e como chegou a essa conclusão.

Pelo contexto, é possível identificar que a palavra original seria problema, já que seria algo a ser assumido pelo eu lírico relacionado à sua comunicação.

6. Explique de que forma o texto 2 apresenta dois níveis de interpretação e como um deles intensifica e amplia o sentido do outro.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

7. O poema de Rodrigo Ciríaco rompe com a lógica tradicional do verso. Que forma a apresentação espacial do poema na página sugere?

Os versos são dispostos na horizontal e em diversos ângulos, formando o desenho de páginas de um livro sendo folheadas.

8. A disposição dos versos na folha do papel em que o poema foi publicado produz sentidos.

a) C aso fosse escrito de forma convencional, o que se perderia de sentido do poema?

b) O poema apresenta elementos antitéticos entre si. Quais são eles?

c) Que sentido têm esses elementos antitéticos no poema?

9. Considere a forma como o poema foi publicado no livro impresso:

8. a) Perder-se-ia a ideia de que cada verso é uma página de um livro. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor. 8. b) Os elementos são aberto e fechada.

8. c) Aberto é um atributo do livro, que possibilita ao leitor expandir seu conhecimento. Fechada é como fica a mente de quem não lê e tem menos acesso a conhecimentos e ampliação de pontos de vista.

Fotografia do livro aberto nas páginas do poema.

• De que maneira a escolha de diagramação das páginas na impressão final reforça o sentido dos versos?

na outra. Isso reforça a ideia de abertura, de ampliação.

RODRIGO
CIRÍACO
No livro, o poema foi impresso em duas páginas espelhadas, ficando três versos em uma página e três versos

10. Leia agora o poema Reciclagem, também de Rodrigo Ciríaco.

10. a) O poema é formado por ícones e palavras frequentemente encontrados em placas, selos e rótulos de reciclagem.

10. b) A informação nova vem com o ícone de coração com 3 x 4 e a palavra amor, que sugere que também o amor pode ser reciclado, ressignificado.

10. c) Os elementos não verbais são compostos de ícones que se referem a material reciclado; as palavras representam o próprio material reciclado.

CIRÍACO, Rodrigo. Reciclagem. In: CIRÍACO, Rodrigo. Vendo pó...esia! São Paulo: Nós, 2016. p. 91.

a) Considere o título do poema. De que forma os elementos que o compõem se relacionam com o tema abordado?

b) Que elemento do poema introduz uma informação nova? Que sentido ela produz?

c) Como se articulam nesse poema os elementos verbais e não verbais?

ENTÃO...

A poesia contemporânea está aberta às mais diversas possibilidades de composição e experimentação para responder às demandas do mundo. Depois da Segunda Guerra Mundial, o verso ganhou, na produção de alguns autores, uma densidade que exige do leitor um trabalho ativo em sua interpretação. Na de outros, o verso foi abolido e surgiram novas formas de exploração do espaço – da página impressa, ou mesmo do tridimensional, tornando-se objeto ou quase objeto. Os poemas que você leu respondem a essas possibilidades. A seguir, você conhecerá mais sobre a poesia produzida depois de 1945.

Não escreva no livro.
RODRIGO
CIRÍACO

A poesia depois de 1945

O poema é pedra, o poema é objeto

O X DA QUESTÃO Não escreva no livro.

1

Depois de 1945, os poemas brasileiros se caracterizaram por inovações que marcaram o fazer poético no Brasil. Alguns poetas voltaram à forma mais rigorosa e contida, na qual a precisão da linguagem e o uso controlado da métrica destacaram-se como resposta a uma necessidade de ordem, após períodos de intensa experimentação. Nesse contexto, a palavra tornou-se o centro de uma criação poética que explora ao máximo suas possibilidades sonoras, visuais e semânticas. A inovação não estava apenas no conteúdo mas também na forma, que torna a disposição espacial dos versos e a fragmentação do discurso um convite a uma leitura ativa e reflexiva. A linguagem poética transformou-se em um jogo de múltiplos sentidos, ampliando a interação entre forma e conteúdo, desafiando as convenções literárias estabelecidas e propondo novas formas de expressão artística.

Para lembrar

O que marcou os poemas da primeira e da segunda geração modernista?

Para discutir

A primeira geração foi marcada pela preocupação com o conteúdo: os poemas revisitam a questão da identidade brasileira e passam a representá-la segundo a lógica da antropofagia: somos muitos, somos plurais e deglutimos todas as contribuições de todos os povos. A segunda geração, produzindo no contexto da guerra, priorizou temas sociais e uma reflexão sobre a vida e as relações humanas.

Os poemas da metade do século XX inovam com relação às formas de uso das palavras na folha de papel, recorrendo a recursos hoje amplamente utilizados na mídia e na publicidade.

1 Ao imprimir ou escrever uma palavra no papel, que possibilidades existem para registrá-la?

Formule uma hipótese com base nos poemas que leu nesta unidade.

2 Pode-se afirmar que logotipos, anúncios e propagandas exploram as múltiplas possibilidades de sentido que a palavra pode oferecer para além de seu significado. Cite um exemplo que justifique essa afirmação.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Professor, pode-se considerar algum logotipo estatal da sua região, por exemplo, verificando se ele explora algo além do sentido, como a disposição das letras, o tamanho delas, as cores, entre outras características visuais que geram sentido ao logotipo.

A seguir, você lerá dois poemas. O primeiro, publicado no livro A educação pela pedra (1966), é de João Cabral de Melo Neto (1920-1999) e condensa seu estilo e tema de forma exemplar. O segundo foi publicado no livro Dentro da noite veloz (1975), de Ferreira Gullar (1930-2016), poeta cuja obra é marcada pelo engajamento social e por experimentações estéticas.

Texto 1

1

Tecendo a manhã

Um galo sozinho não tece uma manhã: ele precisará sempre de outros galos. De um que apanhe esse grito que ele e o lance a outro; de um outro galo que apanhe o grito de um galo antes e o lance a outro; e de outros galos que com muitos outros galos se cruzem

os fios de sol de seus gritos de galo, para que a manhã, desde uma teia tênue, se vá tecendo, entre todos os galos.

2

E se encorpando em tela, entre todos, se erguendo tenda, onde entrem todos, se entretendendo para todos, no toldo (a manhã) que plana livre de armação. A manhã, toldo de um tecido tão aéreo que, tecido, se eleva por si: luz balão.

MELO NETO, João Cabral de. Tecendo a manhã. In: MELO NETO, João Cabral de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 345.

Texto 2

O preço do feijão não cabe no poema. O preço do arroz não cabe no poema. Não cabem no poema o gás a luz o telefone a sonegação do leite da carne do açúcar do pão

O funcionário público não cabe no poema com seu salário de fome sua vida fechada em seus arquivos. Como não cabe no poema

Não há vagas

MARTINS, Aldemir. Galo. [Entre 1975 e 1995]. Serigrafia, 70 cm x 50 cm.

o operário que esmerila seu dia de aço e carvão nas oficinas escuras.

– porque o poema, senhores, está fechado: ‘não há vagas’

Só cabe no poema o homem sem estômago a mulher de nuvens a fruta sem preço

O poema, senhores, não fede nem cheira.

PENSAR E COMPARTIlHAR

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Não escreva no livro.

1. O texto 1 correlaciona o aparecimento da manhã e a chegada do sol com o canto dos galos que respondem uns aos outros.

1. a) O canto dos galos se entrecruza compondo um tecido que, ao final, se eleva estendendo a luz do dia sobre a terra – luz-balão. Os cantos dos galos são os fios desse tecido.

a) Qual é a relação entre o canto dos galos, o tecer e a chegada da manhã?

b) Seria possível tecer a manhã com apenas um galo ou apenas alguns deles? Por quê?

2. O poema constrói uma metáfora com base no canto dos galos que tecem a manhã: eles representam a sociedade e os seres humanos que a compõem. Explique essa metáfora.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

1. b) Não, pois os fios a que corresponde o canto de cada galo não formariam um tecido. Um galo sempre precisa de outro galo para formar essa manhã.

2. Uma pessoa sozinha não faz uma sociedade: ela precisa sempre de outras pessoas com as quais interage incessantemente. Essa mistura tecida de relações e cantos/vozes das pessoas é que compõe o tecido social.

GULLAR, Ferreira. Não há vagas. In: GULLAR, Ferreira. Toda poesia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1980. p. 224.
ALDEMIR MARTINS

3. b) Como as frases, o canto dos galos é interrompido quando outro galo o toma para dar-lhe continuidade (“De um que apanhe esse grito que ele / e o lance a outro”). Nesse processo de um continuar o outro é que se tece o tecido da manhã.

4. a) A organização sintática que interrompe a frase, o verso, aliada à construção das imagens, às repetições e à aliteração da segunda estrofe são recursos que propõem uma leitura que pede a atenção e a reflexão do leitor.

3. O poema de João Cabral apresenta frases cortadas, versos que parecem misturar os sujeitos dos verbos em uma aparente confusão (“De um que apanhe esse grito que ele / e o lance a outro; de um outro galo / que apanhe o grito de um galo antes”).

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

a) Que efeito tem o uso desses recursos na leitura do poema?

Esses recursos exigem a atenção do leitor.

b) Que relação é possível estabelecer entre o recurso da frase interrompida e o canto dos galos?

4. Na obra de João Cabral, a sintaxe, a seleção de palavras, as imagens são escolhidas ou criadas não para produzir uma leitura rápida e superficial, mas para provocar reflexão atenta, que pede ao leitor que se detenha em cada verso, cada palavra, nos detalhes da composição.

a) E xplique como o texto 1 apresenta essas características da obra do poeta.

b) Releia: “(a manhã) que plana livre de armação. / A manhã, toldo de um tecido tão aéreo”. Por que em um dos versos a manhã aparece entre parênteses e, no outro, sem eles?

c) Identifique a aliteração da segunda estrofe e explique como ela, aliada às formas verbais, sugere o processo do amanhecer.

A aliteração em sons nasais (encorpando, entre, erguendo, tenda, onde, entrem, entretendendo) remete ao som do gerúndio, forma nominal que expressa um durante, um processo.

d) A leitura oral de “a manhã” pode soar também como “amanhã”. Que outro sentido produz o poema, ao se considerar essa possibilidade de leitura?

A estética de João Cabral de Melo Neto é marcada por uma linguagem precisa e econômica, com forte ênfase na objetividade e na construção rigorosa do poema. Ele evita o lirismo e a subjetividade, preferindo uma abordagem quase artesanal da poesia, na qual cada palavra é cuidadosamente escolhida e justificada.

5. O texto 2 apresenta uma perspectiva de crítica social muito evidente.

a) Qual visão de poesia está sugerida no poema “Não há vagas”?

O poema ganha clara conotação social: o amanhã sugere referência a um futuro coletivo (“onde entrem todos”) por cuja construção cada um é responsável. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor. 5. a) No poema está sugerida uma visão idealizada de poesia na qual a vida e suas dificuldades não têm lugar. Só tem lugar “o homem sem estômago / a mulher de nuvens / a fruta sem preço”.

b) Ao negar lugar para problemas sociais, o poema se refere a eles. Que sentido produz esse jogo poético?

c) Que tipo de poesia o poema “Não há vagas” parece propor, em contraste com a poesia idealizada mencionada no texto?

A poesia que se concebe no texto é bem diferente de uma poesia idealizada: ela deve se “sujar” de vida, dos cheiros da vida, e tratar de todos os temas, sobretudo os sociais, comprometer-se

6. Observe a estrutura do poema “Não há vagas”.

a) Como a repetição de certas expressões e a fragmentação dos versos contribuem para o efeito de exclusão representado no poema?

6. a) A repetição de expressões como “não cabe no poema” e a fragmentação dos versos reforçam a sensação de exclusão e marginalização. Cada verso

b) De que maneira a estrutura do poema, especialmente o uso de versos curtos e diretos, reflete o conteúdo temático relacionado às dificuldades sociais e econômicas? Copie, no caderno, a alternativa correta.

Resposta: alternativa II.

I. Os versos curtos e diretos suavizam o impacto das dificuldades sociais e econômicas, criando um tom mais leve e reflexivo.

curto e fragmentado cria uma sensação de algo que foi cortado ou impedido de entrar, sublinhando o tema da impossibilidade de incluir as realidades duras da vida cotidiana no poema idealizado. com a realidade.

II. A estrutura de versos curtos e diretos intensifica a crueza e a rigidez das dificuldades sociais e econômicas, espelhando a insensibilidade do sistema que exclui essas questões do poema.

III. O uso de versos curtos e diretos torna o poema mais difícil de entender, afastando o leitor dos temas sociais e econômicos.

A poesia de Ferreira Gullar é marcada por um profundo engajamento social e político, explorando temas como injustiça, opressão e a condição humana. Seu estilo é direto e visceral, combinando lirismo com uma crítica contundente à realidade, especialmente durante o período da ditadura civil-militar no Brasil. Gullar também se destaca pelo uso de uma linguagem coloquial e acessível, que aproxima o leitor das experiências e emoções retratadas em seus versos.

4. b) É possível que, com isso, o eu lírico queira representar o amanhecer: entre parênteses a manhã ainda está contida, não totalmente clara, pronta; no segundo verso, ela plana livre, aberta.

5. b) Ao negar lugar para esses problemas na poesia, o eu lírico reproduz uma voz social que entende a poesia de modo idealizado; ao se insurgir contra essa voz, evidencia esses problemas sociais, chama a atenção do leitor tanto para os problemas quanto para um fazer poético comprometido com a realidade.

Você lerá a seguir mais dois poemas: o primeiro, do carioca Ronaldo Azeredo (1937-2006), que colaborou na revista Noigandres e foi um importante representante da estética concretista; o segundo é um poema-móvel do livro Poemobiles, de Augusto de Campos (1931-) e Julio Plaza (1938-2003): poema dobradura que muda de acordo com a abertura da página.

O texto organiza as letras do poema de tal V se repete e forma uma diagonal que acompanha o surgimento velocidade, como se as próprias palavras estivessem se movimentando. Não há versos, há uma organização visual em forma de um quadrado que produz sentidos por meio da organização visual e sonora

POEMOBILES (1974), COLETÂNEA DE POEMAS-OBJETO DE AUGUSTO DE CAMPOS E JULIO PLAZA. SÃO PAULO, SELO DEMÔNIO NEGRO, 2010

AZEREDO, Ronaldo. Velocidade . In: AGUILAR, Gonzalo. Poesia concreta brasileira: as vanguardas na encruzilhada modernista. São Paulo: Edusp, 2005. p. 201.

CAMPOS, Augusto; PLAZA, Julio. Entre Ver. In: CAMPOS, Augusto; PLAZA, Julio. Poemobiles. São Paulo: Annablume, 2010.

7. O poema “Velocidade” é característico de um tipo de poesia que trabalha com o significante das palavras de forma inovadora.

a) Descreva a estrutura do poema observando a composição dos versos e o uso do significante, ou seja, da forma da palavra.

b) Embora o enfoque dos poemas concretos esteja na composição visual e sonora, eles não deixam de produzir sentidos sobre o mundo. Que visão sobre a vida moderna pode ser apreendida com base no texto 3?

A imagem de uma vida dominada pela pressa, pela velocidade das coisas que é representada pela letra V, cuja repetição seguida reforça o sentido de velocidade, expressa pelo som de /v/.

8. b) Se o leitor mantiver a folha completamente aberta, visualizará apenas a palavra entre: é a ação de abrir e fechar a folha que permite ao leitor produzir sentidos, por meio da ludicidade com os significantes do texto.

8. Releia o poema “Entre Ver”.

a) E xplique como se dá a manipulação do significante no poema e os sentidos que dela se originam.

b) Por que se pode dizer que a manipulação da folha interfere no sentido apreendido pelo poema?

O grupo Noigandres, formado por Haroldo de Campos (1929-2003), Augusto de Campos e Décio Pignatari (1927-2012), defendeu e produziu uma nova poesia: a poesia concreta. Essa produção se caracteriza pela valorização do espaço gráfico, da fragmentação e disposição visual das palavras e do uso da linguagem de forma condensada e experimental.

Os poemas rompem com a linearidade tradicional do verso para enfatizar a materialidade da palavra e explorar suas dimensões visuais e sonoras, criando uma obra que é simultaneamente poética e visual. Para tanto, considera também o significante das palavras, ou seja, a face material – o som e a representação gráfica, bem como todas as possibilidades de registro que estejam disponíveis.

No final da década de 1950, o Concretismo era uma vanguarda muito nova e radical, mas encontrou adversários de peso, como o poeta Ferreira Gullar que, embora tenha se filiado inicialmente ao movimento, logo rompeu com ele e fundou uma nova estética, o Neoconcretismo, que se caracterizou por colocar as inovações técnicas da escrita das palavras a serviço de seu tempo e da sociedade. É o que está proposto no Manifesto neoconcreto:

[...] ao contrário do concretismo racionalista, que toma a palavra como objeto e a transforma em mero sinal ótico, a poesia neoconcreta devolve-a à sua condição de ‘verbo’, isto é, de modo humano de apresentação do real.

GULLAR, Ferreira et al. Manifesto neoconcreto. In: TELES, Gilberto de Mendonça. Vanguarda europeia e modernismo brasileiro: apresentação e crítica dos principais manifestos vanguardistas. Petrópolis: Vozes, 1983. p. 410.

9. Leia o poema a seguir, de Décio Pignatari, e explique por que ele pode ser entendido como argumento contrário à crítica de alienação que a poesia concreta recebe.

Atividade complementar nas Orientações para o professor.

8. a) A palavra entrever é dividida e o prefixo (entre) aparece em um primeiro plano, que recobre o radical (ver). Com isso, o próprio sentido da palavra, olhar através de, se consolida quando o leitor entende que, para formar a palavra entrever, terá de ver entre, abrindo e fechando o papel para juntar o prefixo entre e o radical ver

9. No poema, o jogo rítmico produzido pelas aliterações e a disposição geométrica das palavras fazem coca cola se transformar na palavra cloaca. A palavra original como que se decompõe – na forma e no sentido. Cloaca, que significa fossa, vaso sanitário, se equipara, pelo trabalho formal, ao refrigerante, sugerindo que a bebida símbolo do imperialismo estadunidense representa também o esgoto/esgotamento de uma civilização que só se realiza no consumo; uma civilização de tal forma alienada que chega a babar até virar um caco.

PIGNATARI, Décio. Beba Coca Cola. In: PIGNATARI, Décio. Poesia Pois É Poesia 1950-2000. Cotia: Ateliê Editorial; Campinas: Editora da Unicamp, 2004. p. 128.

DÉCIO
PIGNATARI

Um auto de Natal com temática regionalista

Morte e vida severina (1956), de João Cabral de Melo Neto, é um auto de Natal que narra a jornada de Severino, um retirante nordestino que deixa sua terra natal em busca de melhores condições de vida no litoral. Ao longo do caminho, Severino enfrenta a dura realidade do sertão, onde a miséria e a morte são presenças constantes. Obra-prima da literatura brasileira, o poema é uma alegoria da luta pela sobrevivência em uma terra marcada pela seca e pela pobreza, e a trajetória do protagonista reflete o drama de milhões de nordestinos que vivem em condições semelhantes.

da primeira edição de Morte e vida severina

A relevância de Morte e vida severina está em sua capacidade de capturar e transmitir a dura realidade do sertão nordestino, ao mesmo tempo que aborda temas universais como a luta pela sobrevivência, a esperança e a resistência diante da adversidade. Logo na primeira fala de Severino, há a seguinte reflexão: “Somos muitos Severinos / iguais em tudo na vida: / na mesma cabeça grande / que a custo é que se equilibra, / no mesmo ventre crescido / sobre as mesmas pernas finas / e iguais também porque o sangue, / que usamos tem pouca tinta.”

O trecho reproduzido revela a condição anônima e comum de Severino, representando a vida de milhões de nordestinos que enfrentam diariamente a miséria, a fome e a morte. A obra é uma poderosa crítica social que expõe as injustiças e desigualdades que afligem os mais pobres, ao mesmo tempo que celebra a força e a resiliência do ser humano. A linguagem lírica e acessível, inspirada no teatro popular nordestino, faz de Morte e vida severina uma referência importante na literatura brasileira e na reflexão sobre as questões sociais do Brasil.

Agora é sua vez de saber mais sobre essa obra.

Professor, a citação faz parte da obra MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina: auto de Natal pernambucano. Edição especial. Rio de Janeiro: Alfaguara, 2016. p. 20.

1. Procure o livro na biblioteca da escola, na biblioteca municipal ou nas livrarias e leia o texto sozinho. Depois de feita a leitura individual, em uma aula específica, combinada com o professor, escolha um trecho para fazer uma leitura dramática em sala. Ao final da leitura, discuta com os colegas os trechos que mais se destacaram com relação ao tema e com relação aos recursos estéticos que foram utilizados em sua construção.

#fiCAADiCA

O cartunista Miguel Falcão fez um filme de animação em 3D de Morte e vida severina. Vale a pena assistir. • MORTE e vida severina em desenho animado. [S. l.: s. n.], 2021. 1 vídeo (55 min). Publicado pelo canal Fundação Joaquim Nabuco. Disponível em: https://www.youtube.com/watch? v=VmB7-Spj5rY. Acesso em: 28 out. 2024.

Capa
Morte e vida severina em desenho animado.
Não escreva no livro.

InTEGranDO COm...

ARTE

Desafiando fronteiras entre disciplinas

Tanto a poesia quanto a escultura trabalham com as possibilidades de expressão das formas. Um exemplo significativo é a poesia concreta, que revolucionou a composição dos versos ao organizar as palavras de maneira gráfica na página, criando uma espécie de escultura de letras e significados. Assim como a poesia concreta, que transforma a disposição das palavras em uma experiência visual e sensorial, a escultura utiliza formas e materiais para dar corpo a conceitos e emoções, criando uma narrativa visual que dialoga diretamente com a sensibilidade do espectador. No Brasil, as obras das artistas Lygia Clark (1920-1988) e Lygia Pape (1927-2004) exemplificam essa interseção entre poesia e escultura.

Lygia Clark, com sua série de obras conhecidas como Bichos, criou esculturas que não são apenas objetos, mas experiências interativas, que exigem a participação do público. Essas peças, compostas de placas metálicas articuladas, convidam o espectador a manipular suas formas, criando diferentes configurações e, assim, propondo um diálogo constante entre a obra e o participante. Essa interação traz à tona uma espécie de poesia tátil, na qual o gesto humano dá vida ao objeto, criando uma narrativa efêmera e pessoal.

Lygia Pape, por sua vez, explorou a relação entre forma e conteúdo de maneira profundamente poética em suas esculturas e instalações. Em sua obra Livro da criação (1959), por exemplo, Pape usa formas geométricas simples e cores vibrantes para criar uma narrativa visual que convida o espectador a interpretar as formas como palavras em um poema. Suas esculturas e instalações frequentemente desafiam as fronteiras entre as disciplinas artísticas, transformando o espaço e a percepção do espectador de maneiras inesperadas.

CLARK, Lygia. Bicho: caranguejo duplo. 1960. Recorte em metal, 53 cm x 59 cm x 53 cm. 21st Century Museum of Contemporary Art, Kanazawa, Japão.

1. Na internet, pesquise sobre a arte de Lygia Clark e Lygia Pape. Selecione uma obra de cada autora para discuti-las com os colegas.

2. Considere as obras que você selecionou. O que motivou sua escolha? Que sentidos é possível atribuir a elas? Que relação se pode estabelecer entre essas obras e a poesia?

Professor, oriente os estudantes a buscar informações sobre as autoras e, depois, selecionar a obra. Lembre-os de que tanto a poesia quanto as obras dessas artistas são frutos de uma construção cujos sentidos e intencionalidades se manifestam para além da materialidade das obras. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

ASSOCIAÇÃO CULTURAL “O MUNDO DE LYGIA
CLARK”
Não escreva no livro.

O mundo se reorganiza

Uma nova ordem mundial estabeleceu-se após a Segunda Guerra. O mundo dividia-se entre o bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos, e o comunista, liderado pela Rússia, que naquela época ainda constituía o bloco União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). A Doutrina Truman, conjunto de medidas políticas e econômicas adotadas pelo governo dos Estados Unidos, incitou uma caça aos comunistas que se disseminou por todos os demais

No cenário cultural internacional, o cineasta Roberto Rossellini (1906-1977) lança, em 1945, o filme Roma, cidade aberta, dando início ao cinema neorrealista italiano. Em 1958, na França, o filme Nas garras do vício, de Claude Chabrol (1930-2010), marca o início da nouvelle vague. Em 1957, quatro garotos de Liverpool, Inglaterra, reúnem-se para formar a banda The Beatles.

O Brasil se moderniza

O governo de Juscelino Kubitschek (1902-1976), que ocorreu entre 1956 e 1961, é frequentemente lembrado por seu ambicioso plano de desenvolvimento, conhecido como plano de metas, cujo lema era “50 anos em 5”. Juscelino priorizou a industrialização e modernização do Brasil, promovendo a construção de grandes obras de infraestrutura, como estradas, usinas hidrelétricas e a construção de Brasília, a nova capital federal, que simbolizou o avanço e a integração do país. Sua política econômica focada no crescimento industrial atraiu investimentos estrangeiros e impulsionou a criação de empregos, transformando o Brasil em uma das maiores economias da América Latina. Essas conquistas marcaram profundamente o desenvolvimento do país e deixaram um legado duradouro na história brasileira.

Inaugura-se uma nova linguagem visual e poética

Juscelino Kubitschek saúda o povo na inauguração de Brasília, DF, em 1960.

A Exposição Nacional de Arte Concreta , realizada em 1956 em São Paulo e em 1957 no Rio de Janeiro, foi um marco na história da arte brasileira, consolidando o movimento concretista no país. Essa exposição reuniu artistas visuais e poetas que buscavam explorar as relações entre forma, cor, espaço e conteúdo, rompendo com as tradições figurativas e literárias para criar obras que priorizavam a estrutura e a construção rigorosa. Figuras como Lygia Clark, Lygia Pape, Waldemar Cordeiro (1925-1973), além dos poetas concretos países capitalistas. É criada, em 1949, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança militar para defesa mútua do bloco capitalista. Em 1949, a Alemanha é dividida em Ocidental, capitalista, e Oriental, comunista.

Bandeira da Otan.

Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Décio Pignatari, apresentaram trabalhos que desafiavam as convenções artísticas da época, promovendo uma nova linguagem visual e poética que influenciaria profundamente o desenvolvimento da arte moderna no Brasil. Em 1958, o álbum Chega de saudade , de João Gilberto (1931-2019), inaugura a bossa nova e molda o destino da música popular brasileira.

As arte plásticas ganham espaço

Na contramão da cultura popular, as artes plásticas ganham espaço na cultura nacional, com a fundação, em 1947, do Museu de Arte de São Paulo (Masp) e, no ano seguinte, do Museu de Arte Moderna (MAM). Em 1951, é inaugurada a 1 a Bienal Internacional de Arte de São Paulo, espaço para a divulgação das vanguardas e da arte contemporânea. Em São Paulo, o pintor moldávio Samson Flexor cria o Atelier Abstração, e o Abstracionismo começa a dominar as artes plásticas nacionais, culminando com a Exposição nacional de arte abstrata, de 1953.

A inquietação da forma

O Museu de Arte de São Paulo, em 2020.

A realização de congressos de escritores, na década de 1950, e o desenvolvimento da crítica literária nacional favoreceram uma releitura das obras e dos autores brasileiros. Pode-se, então, propor critérios para a elaboração de uma historiografia e a seleção das obras mais significativas da literatura nacional. Nessa releitura, o trabalho poético foi ressaltado, em especial a utilização original de diversas técnicas, clássicas ou de vanguarda, na elaboração do verso. Os poetas da geração de 1945 foram atraídos por essa discussão formal. Não desejavam romper com a poesia anterior mas também queriam experimentar caminhos próprios, que deixassem a emoção em segundo plano para explorar plenamente a palavra.

A poesia de João Cabral de Melo Neto procura despir-se de qualquer lirismo. Cada palavra assume uma concretude de pedra: deve ser encaixada no lugar exato do verso, sem acasos – é a razão que guia o poeta. A expressão dos poemas do autor é marcada pela busca da expressão mínima, condensada, substantiva, que dê densidade ao dizer poético. Também é marcada pela repetição de vocábulos, por paralelismos, aliterações e assonâncias que conferem um ritmo responsável por guiar a atenção do leitor para determinados sentidos.

Cartaz da exposição no MAM-RJ, em 1956.
WALDEMAR CORDEIRO/THE MUSEUM OF FINE ARTS, HOUSTON, EUA.

Os poemas de Ferreira Gullar lançam o leitor no terreno de uma invenção inquieta, que se permite tanto ousadias radicais no plano da linguagem como um engajamento franco, que se coloca criticamente diante de diferentes realidades sociais. Ao mesmo tempo, sua poesia trata da alegria de viver, da beleza do mundo. O primeiro livro do autor, A luta corporal (1954), constitui um momento de ruptura. Experiências ousadas no corte dos versos, na diagramação da palavra, composições em que os versos ou saltam da linha para compor um desenho ou se encadeiam sugerindo a prosa são alguns dos recursos que se colocam a favor de uma reflexão sobre o ser humano e sua vida, com todas as suas limitações. Dentro da noite veloz (1975), escrito durante o exílio, apresenta uma crítica contundente à ditadura civil-militar de 1964.

A poesia concreta quer transformar o poema em um objeto material de linguagem, de modo que possa ser manipulado espacialmente no suporte em que é publicado; a página em branco, por exemplo. Para isso, considera também o significante das palavras, ou seja, sua materialidade, bem como todas as possibilidades de registro que estão disponíveis. Assim, a representação do verso passa a ter tanto destaque quanto o conteúdo do poema, que só pode ser apreendido se articulado com a forma. A compreensão da poesia concreta deve considerar a palavra em todas as suas possibilidades e dimensões: partição dos morfemas, repetições de letras e sons, novos arranjos da palavra no espaço da página, novas tipografias, colagens, neologismos, siglas, trocadilhos e outros recursos, que permitem novas interpretações do poema. A exploração desses recursos permanece viva, como atestam os poemas que você leu no início desta unidade.

MUSEU NACIONAL DE BELAS ARTES, RIO DE JANEIRO, BRASIL

Influenciado pelo abstracionismo, Bandeira (1922-1967) produziu, a partir de 1954, obras que articulam linhas, gotejamentos, cores e planos aparentemente caóticos. Obras como A grande cidade iluminada aparentam despojamento, mas eram compostas segundo rigorosos critérios técnicos.

BANDEIRA, Antonio. A grande cidade iluminada. 1953. Óleo sobre tela, 72,4 cm x 91,4 cm. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro (RJ).

lER lITERATURA

Ler além das palavras

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Esta unidade trouxe à discussão alguns poemas que têm na construção formal um motivo poético significativo. Diferentemente dos parnasianos que, ao cultivar a arte pela arte, alienavam-se de qualquer propósito crítico, os poetas da Geração de 45 querem explorar recursos de construção para afirmar um posicionamento na sociedade. Para isso, lançam mão de recursos tradicionais, como rimas e regularidade métrica, e formas consagradas, como o soneto.

No entanto, esses recursos sempre conviveram com outros que exploram a forma da palavra construindo desenhos que integram o sentido do poema. É o caso, por exemplo, do francês Apollinaire (1880-1918) que, em seus caligramas, extrai da forma o sentido fundamental para o poema. No caligrama aqui reproduzido, criado no contexto da Primeira Guerra Mundial, o desenho da Torre Eiffel é formado pela afirmação: “Bom dia, mundo, de quem sou a língua eloquente que sua boca, ó Paris, tira e sempre irá tirar dos alemães”. A torre representa a língua francesa, metonímia do povo francês e de sua resistência aos alemães.

Os concretistas também exploraram a economia da imagem, que com poucos elementos pode produzir muitos sentidos, como você estudou nesta unidade. Essa exploração das possibilidades da forma foi se radicalizando e a poesia saltou do plano para também construir sentido na terceira dimensão, seja compondo formas que se projetam do papel, como as composições do espanhol Julio Plaza , seja os que se constituem como poema-objeto, como o “Clichetes , goma de mascarar sabor mental”, do paulistano Philadelpho Menezes (1960-2000), poema que produz muitos sentidos para afirmar posição contra o consumo do que está pronto, sem reflexão crítica diante do mundo.

Ainda mais radicais como experimentação, as performances exploram as possibilidades de expressão do corpo aliadas à palavra poética para construir sentido. Há quem considere a própria leitura ou declamação pública uma performance

Poema com a forma da Torre Eiffel, símbolo de Paris.

Poema-objeto “Clichetes, goma de mascarar sabor mental”.

A tecnologia também abriu novos caminhos para o fazer poético. Além do próprio meio de circulação que amplia as possibilidades de acesso, as imagens ganharam movimento e o poema incorpora novas linguagens. Assim, a poesia digital conta com novos recursos de criação, incluindo a combinação de palavras, imagens, sons e formas gráficas. Além disso, ela amplia elementos de interação e interferência e as possibilidades de hipertextualidade, hipermidialidade e interconectividade.

Os poemas, portanto, têm se tornado mais e mais acessíveis aos leitores por ter na internet um meio importante de circulação e divulgação. Além disso, ler poemas pode exigir do leitor atenção a um leque cada vez maior de recursos e uma articulação de elementos de várias linguagens para construir sentido.

Não escreva no livro.

Para discutir

Professor, o poema de Apollinaire está escrito em francês: Salut, monde, dont je suis la langue éloquente que ta bouche, o Paris, tire et tirera toujours aux allemands.

1. Para quais recursos você, como leitor, supõe ter de prestar atenção ao ler um poema digital?

2. Considere sua resposta e escolha dois recursos que usaria para produzir um poema retrato do seu momento: o que destacaria? Alguma pergunta? Algum sonho? Alguma alegria ou tristeza? Escolha dois elementos (por exemplo, uma imagem e uma palavra) para falar disso.

De acordo com a Base Nacional Comum Curricular, versão de 2018, página 503, é enfatizado que, no Ensino Médio, a área de Linguagens e suas Tecnologias

lEITURA: ANÚNCIO PUBlICITÁRIO

das formas contemporâneas de publicidade em contexto digital, a dinâmica dos influenciadores digitais e as estratégias de engajamento utilizadas pelas empresas”. Dessa forma, todos os usos relacionados à publicidade, propaganda e formas de engajamento em redes sociais apresentadas nesta coleção são para fins didáticos e seus usos em contexto social. desenvolva nos estudantes o aprofundamento das “análises

Para vender, convencer

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

A poesia concreta e a publicidade utilizam a disposição espacial das palavras para captar a atenção e transmitir mensagens de forma rápida e impactante. Tanto nos anúncios publicitários quanto nos poemas concretos, a economia verbal e a interação entre texto e imagem são fundamentais para criar um efeito comunicativo poderoso, no qual a forma é tão importante quanto o conteúdo.

Para discutir

1 Que anúncios publicitários você leu recentemente?

2 Que recurso foi utilizado para convencê-lo a adquirir o produto?

3 Que recursos visuais foram utilizados para atingir os objetivos do anúncio publicitário?

Você vai ler, a seguir, um anúncio publicitário de um produto muito comum na vida escolar: lápis de cor.

Texto

FABER CASTELL. [Ecolápis de cor: caras e bocas]. 2018. 1 cartaz. Disponível em: www.portinfo.com.br/ccstore/ v1/images/?source=/file/v4367199525407062007/ products/26244.3.jpg. Acesso em: 18 set. 2024.

lER O MUNDO Não escreva no livro.
REPRODUÇÃO/FABER-CASTELL

1. b) Quando há uma única cor chamada cor de pele e essa cor remete à cor branca, considera-se que as demais cores para os demais tons de pele estariam fora do padrão, reforçando a lógica racista que considera o branco a referência racial.

PENSAR E COMPARTIlHAR

1. Considere o gráfico a seguir, retirado do Censo de 2022.

Proporção da população residente no Brasil, por cor ou raça*(%)

Não escreva no livro.

IBGE EDUCA. Conheça o Brasil: população: cor ou raça. [Rio de Janeiro]: IBGE, c2024. Disponível em: https:// educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/18319-cor-ou-raca.html. Acesso em: 26 set. 2024.

a) Qual é a relevância de um anúncio publicitário como o da caixa de lápis de cor para a sociedade?

b) Durante muito tempo, esse produto trazia um lápis de cor bege ou rosa claro que era popularmente chamada de “cor de pele”. Explique como essa nomeação reproduz o racismo estrutural presente na sociedade.

1. a) O anúncio publicitário divulga uma caixa de lápis de cor com vários tons de pele, muito mais adequada à variação racial do Brasil, cuja maior parte da população, como indica o Censo de 2022, é preta ou parda.

2. E xistem várias formas de divulgar um produto. Para que um anúncio publicitário seja produzido, ele segue o seguinte processo:

ANUNCIANTE

AGÊNCIA

VEÍCULO

CONSUMIDOR

2. b) A escolha pelo foco em divulgação virtual predetermina um público que tenha familiaridade com a internet e que compraria on-line.

a) Identifique o anunciante do texto.

O anunciante é a empresa Faber Castell.

b) Considere o texto a seguir, sobre a agência criadora do texto.

A campanha, criada pela agência David, traz um casting de seis crianças de diferentes raças, cores e idades para perguntar sobre as cores dos lápis que mais as representam. Com o mote ‘Sua cor como você quiser’ a ação terá divulgação multiplataforma com foco maior no digital, com um vídeo como peça central.

MARCAS PELO MUNDO. Faber-Castell explora diversidade de tons de pele para promover representatividade racial. [São Paulo]: Marcas pelo mundo, 2023. Disponível em: https:// marcaspelomundo.com.br/anunciantes/faber-castell-explora-diversidade-de-tons-de-pelepara-promover-representatividade-racial/. Acesso em: 26 set. 2024.

• Tendo em vista o foco da campanha, esse trecho predetermina um tipo de consumidor que se pretende atingir. Como isso é feito?

c) E xplique qual é o papel da agência de publicidade na concepção do produto.

2. c) A agência foi responsável por divulgar a ideia de que diferentes cores de pele poderiam ser representadas por diferentes cores dos lápis; para mostrar isso, selecionou crianças de diferentes raças e cores para figurarem no anúncio.

d) O veículo é o lugar no qual anúncios publicitários e de propaganda circulam. Os mais tradicionais são: televisão, rádio, jornais e revistas, cinemas, panfletos, outdoors , internet e redes sociais. O anúncio publicitário que você leu circulou em sites e lojas virtuais. Com base em sua experiência como consumidor, a escolha desse veículo foi adequada ou não? Argumente para justificar sua opinião.

e) Identifique o público-alvo do anúncio publicitário.

O público-alvo do anúncio publicitário são crianças, jovens e responsáveis por eles que tenham uma preocupação social.

#PARAlEMBRAR

No Brasil, os termos publicidade e propaganda são frequentemente usados como sinônimos de forma equivocada. A publicidade é voltada para a divulgação de produtos, marcas ou serviços com fins comerciais por meio de anúncios publicitários. Já a propaganda é voltada para a transmissão de uma mensagem por meio de anúncios de propaganda, que têm como objetivo influenciar opiniões, práticas ou obter adesão a uma ideia ou doutrina. O conjunto dos anúncios ou peças compõe uma campanha.

2. d) Resposta pessoal. É importante que os estudantes percebam como o comércio virtual é uma realidade e como propagandas em sites têm amplo alcance e podem ser muito efetivas.

3. a) As imagens apresentam crianças com diferentes cores de pele e lápis e mãos pintadas com diferentes tons de cores, reforçando a ideia da importância da diversidade de cores para pintar tons de peles.

3. b) O termo caras é preenchido com as cores novas para indicar os tons de pele; e a palavra cores é preenchida com as cores habituais de uma caixa de lápis de cor.

3. A s imagens e o tipo de letra utilizada são significativos na produção de sentidos no texto.

a) Explique por que as imagens do anúncio publicitário são parte determinante da produção de sentidos.

b) E xplique o sentido das cores que preenchem as letras da expressão caras & cores

4. O nome da caixa de lápis de cor é Caras & Cores

a) Que sentido é produzido com esse nome para a caixa de lápis de cor?

O nome Caras & Cores reforça a ideia de que as novas cores possibilitam pintar diferentes cores de pele.

b) Considere as frases a seguir e explique como elas atuam como argumentos para agregar valor ao produto:

I. “estimulam a criatividade e autoexpressão”

4. b) I. Essa frase atua de forma a exaltar as possibilidades criativas e de expressão de si dos usuários do lápis. O termo autoexpressão destaca o sentido da identidade do usuário, que poderá se reconhecer nas cores oferecidas pelo produto.

II. “Produzidos com madeira 100% reflorestada e certificada pelo FSC: respeito ao meio ambiente.”

Destaca a preocupação e o respeito ao meio ambiente, fundamental em época de crise climática.

Todo texto dos anúncios publicitários e de propaganda tem como objetivo captar a atenção do leitor/ observador para um determinado objetivo. Para tanto, sempre vai utilizar recursos de linguagem e imagens que destaquem o texto dentre os demais que circulam nos diversos veículos, recorrendo a um tipo de emoção: humor, piedade, culpa, entre outros.

Leia os anúncios publicitários a seguir, que fazem parte de uma campanha de produtos de higiene e beleza.

beleza. Crazykiwi, [s. l.], c2024. Disponível em: https://crazykiwi.com.br/dove-apresenta-novo-posicionamento-e-convidamulheres-a-celebrarem-a-pluralidade-da-beleza/. Acesso em: 26 set. 2024.

5. Essa campanha sustenta-se em uma ideia básica.

a) Qual ideia está implícita em todos os anúncios da campanha?

A ideia de que a beleza tem diversas formas, cores, tipos e não segue um padrão.

b) De que forma a aceitação dessa ideia é relevante para a sociedade contemporânea?

6. O conjunto dos anúncios segue uma espécie de gramática: a composição deles segue algumas regras.

a) Que cores predominam em todos eles?

As cores branca, azul e dourada.

b) Os anúncios contam com outros elementos comuns, que, somados às cores, à fonte da letra, dão unidade ao conjunto. Quais são?

A caixa dourada que emoldura o texto, as mulheres.

c) Anúncios publicitários frequentemente possuem slogans (frases que condensam a campanha ou qualidade do produto) e logotipo (a tipografia com o nome da marca ou produto). Identifique o slogan da campanha e explique como ele condensa a ideia que a campanha sustenta.

O slogan “existe beleza fora da caixa” condensa a ideia de que há beleza fora do que é considerado padrão estético.

5. b) À sociedade contemporânea, pautada na aparência e nas imagens de um eu idealizado das redes sociais, opõe-se a ideia de pluralidade de beleza, fundamental como um contradiscurso que relativiza esse ideal.

FREDIANI, Marcus. Dove apresenta novo posicionamento e convida mulheres a celebrarem a pluralidade da

Os anúncios publicitários podem apelar à criação poética ao explorar recursos expressivos da linguagem verbal ou não verbal para afetar o leitor. Nessa campanha, o uso das cores, o slogan, a fonte das letras, a pose, a caracterização e o olhar das modelos, a luminosidade das fotos – todos os elementos são mobilizados como recursos expressivos para provocar a emoção e, por meio dela, convencer o leitor a aderir à ideia que a sustenta para, assim, comprar o produto anunciado. Por isso, tais recursos podem ser considerados poéticos.

Uma mulher branca e loira (“loira, rosto angelical, branquinha”).

7. Um recurso importante da campanha, utilizado para buscar a adesão do consumidor, é a quebra de expectativa.

Uma mulher branca e loira (“mulher loira, nariz delicado”).

a) Copie o organizador a seguir, no caderno, e o preencha com as informações solicitadas.

Imagem que preencheria a expectativaO que rompe com a expectativa

Anúncio 1

Anúncio 2

Anúncio 3

Uma mulher com cabelos longos (“cabelos incríveis”)

b) O que justifica serem essas as expectativas do público?

O padrão estético e o preconceito cultivados socialmente produzem expectativas que são rompidas com os anúncios publicitários.

8. A campanha recorre a diferentes estratégias de marketing para a divulgação.

Uma mulher negra.

Uma mulher albina.

Uma mulher com cabelo bem curto.

As peças da campanha outdoor entram a partir do dia 25 de abril em mais de 400 pontos de mobiliários urbanos e locais de grande exposição e visibilidade de cinco grandes cidades: São Paulo, Rio de Janeiro, Florianópolis, Porto Alegre e Curitiba – ‘Vamos levar a comunicação para a rua, onde as mulheres estão’ [...].

8. a) A opção pela divulgação física em locais de grande visibilidade tem como objetivo atingir um público maior, de várias classes sociais.

FREDIANI, Marcus. Dove apresenta novo posicionamento e convida mulheres a celebrarem a pluralidade da beleza. Crazykiwi, [s. l.], c2024. Disponível em: https://crazykiwi.com.br/dove-apresenta-novo-posicionamento-e-convida-mulheres-acelebrarem-a-pluralidade-da-beleza/. Acesso em: 26 set. 2024.

a) E xplique qual é a importância da escolha do tipo de divulgação da campanha.

b) O que justificaria a campanha se limitar às cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Florianópolis, Porto Alegre e Curitiba?

A alta densidade demográfica dessas cidades e o poder aquisitivo da população.

9. Na contemporaneidade não é possível pensar em marketing sem considerar os canais virtuais de comunicação. O frame , a seguir, é de um vídeo que compõe a campanha “Beleza fora da caixa”.

9. a) Muitas pessoas podem não ser leitoras costumeiras de jornais e revistas impressos, não viver nas cidades em que os anúncios publicitários circularam ou não passar pelos locais de divulgação. Mas podem ser usuárias de redes sociais e de internet, o que amplia ainda mais o número de potenciais leitores do anúncio.

Frame do vídeo que compõe a campanha em análise. FLORA Matos: #belezaforadacaixa: Dove. [S. l.: s. n.], 2016. 1 vídeo (1 min). Publicado pelo canal Paulo Henrique Martins. Disponível em: https://www.youtube. com/watch?v=bPmR08ZaBw0. Acesso em: 26 set. 2024.

a) Qual é a importância da divulgação de uma campanha também em ambiente virtual?

b) Formule uma hipótese sobre os motivos que levaram à escolha da rapper Flora Matos como garota-propaganda desse vídeo.

Flora é negra e tem um cabelo cacheado, fora do padrão costumeiramente encontrado em anúncios como esse, o que reforça a ideia de belezas fora do padrão, “fora da caixa”.

c) Como esse vídeo dialoga com a estética dos três anúncios lidos na página anterior?

A paleta de cores, que tem como cor predominante o branco, e a presença de mulheres que não se enquadram em um padrão único são possíveis diálogos entre o frame do vídeo e as peças estudadas anteriormente.

Não

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

1. a) Uma poesia que tratasse de temas incomuns, considerados elevados. Leria os parnasianos. 1. b) Espera-se que os estudantes entendam que sim, um autor não tira sua obra do nada, mas do diálogo com o que ele leu e que o tocou.

Regência verbal

4. a) Estão associadas a transferi(-me) e a boiar

6. a) Um dia, na livraria Agir, fui apresentado a Drummond por José Condé.

Além de uma poesia voltada para as tensões sociais, Ferreira Gullar escreveu crônicas que exploram todas as possibilidades do gênero: do caso mais banal ao mais espetacular, do humor à densidade crítica. Leia um trecho de uma delas.

1 Nessa crônica, Gullar revela uma reação de leitor comum.

a) A primeira reação do cronista ao ler Drummond revela uma expectativa do que seria poesia. O que seria? Que poetas ele provavelmente lia?

b) É possível dizer que todo autor é também um leitor? Por quê?

2 A s preposições destacadas referem-se a um verbo.

a) Identifique o verbo e responda: que sentido se produz em cada caso?

b) Suponha que o cronista tivesse escrito: “Nunca falei com Drummond”. Nesse caso, que sentido a preposição teria?

O sentido de companhia.

c) Releia a frase em que a preposição com está destacada. A que termo essa preposição se refere? Que sentido adquire nesse caso?

2.

Drummond, uma parte de mim

Imagine o leitor que eu, nascido e criado em São Luís do Maranhão, mal ouvira falar em poesia moderna. [...] Poesia para mim, portanto, falava de anjos, estrelas, regatos e flores. Abro então o livro de Drummond e leio: ‘Lua diurética’. Levei um susto. Mas isto é poesia? – perguntei-me. ‘Ponho-me a escrever teu nome com letras de macarrão’. Fechei o livro desapontado, mas, em seguida, reconsiderei e decidi informar-me sobre a nova poesia.

Fui para a Biblioteca Pública e lá descobri O empalhador de passarinhos, de Mário de Andrade e Cinzas do purgatório, de Otto Maria Carpeaux. Lendo-os, compreendi o que era a tal poesia moderna e voltei a Drummond já menos preconceituoso. [...] Transferi-me depois para o Rio mas não o procurei, nem a ele nem a nenhum poeta famoso. Um dia, na livraria Agir, lhe fui apresentado por José Condé . Conversava com outros escritores e mal tomou conhecimento de mim. Achei natural, pois já sabia que era tímido e pouco expansivo. Eu não era muito diferente. Impressionaram-me os seus olhos: duas pequenas lentes azuis que pareciam boiar soltas entre as pálpebras. [...]

GULLAR, Ferreira. Drummond, uma parte de mim. In: GULLAR, Ferreira. Melhores crônicas. São Paulo: Global, 2004. E-book. Localizável em: § 3-4 e 7.

As relações de regência, assim como as de concordância, são fundamentais para a articulação lógica do texto. Essas relações constroem um sistema de referências internas que permitem ao leitor acompanhar as relações lógicas que o enunciador propõe entre as unidades e ideias do texto e, assim, construir sentidos.

2. c) Refere-se a escrever; tem sentido de instrumento.

3 No trecho destacado, o termo a aparece duas vezes. Copie, no caderno, o trecho em que o a é preposição.

O trecho é “[...] voltei a Drummond”.

4 A s preposições em destaque expressam sentido semelhante.

a) A que termo cada uma está associada?

b) Que valor semântico cada uma expressa?

Valor de lugar.

5 Copie um trecho que apresente preposição que tenha valor semântico de assunto.

O trecho é “[...] decidi informar-me sobre a nova poesia”.

6 Releia o trecho em destaque.

a) Reescreva o trecho identificando a quem se refere o pronome lhe .

b) Você usou preposição? Por quê?

6. b) Espera-se que os estudantes respondam que sim, por exigência do verbo.

a) Verbo falar. Nesse caso, “Falar em” e “falar de” têm o mesmo significado: falar do assunto.

A seguir, você estudará as principais regras de regência verbal.

Observe os exemplos formulados com base na crônica de Gullar.

Em São Luís, o cronista ia à Biblioteca.

No Rio, o cronista foi à livraria Agir.

Os exemplos trazem duas ocorrências do verbo ir e em cada uma delas observa-se o emprego da preposição a. Isso ocorre porque o verbo ir é transitivo indireto – o que significa que a relação entre o verbo e seu complemento é estabelecida por uma preposição: quem vai, vai a algum lugar.

Observe agora estes exemplos.

Ele precisará sempre de outros galos

Digo adeus à ilusão.

Os exemplos trazem a ocorrência do verbo precisar e do verbo dizer. Ambos pedem emprego de uma preposição: de no primeiro caso, a (junto ao artigo a) no segundo. Isso ocorre porque os verbos, no contexto em que foram usados, são ou transitivos indiretos – quem precisa, precisa de alguma coisa; ou bitransitivos – quem diz, diz algo a alguém. A relação entre o verbo e o objeto indireto é estabelecida por uma preposição.

Observa-se, então, que o verbo constitui um termo regente e seu complemento verbal – seja ele objeto direto ou indireto – é um termo regido. Essa relação recebe o nome de regência verbal.

Um mesmo verbo pode assumir diferentes regências. Observe os exemplos a seguir.

Brasil volta de Paris dourado por causa, exclusivamente, de suas mulheres

objeto indireto

MATTOS, Rodrigo; DORO, Bruno. Brasil volta de Paris dourado por causa, exclusivamente, de suas mulheres. UOL , São Paulo, 9 ago. 2024. Disponível em: www.uol.com.br/esporte/olimpiadas/ultimas-noticias/2024/08/09/brasil-volta-de-paris-douradopor-causa-exclusivamente-de-suas-mulheres.htm. Acesso em: 18 set. 2024.

Todos os olhos se voltam para Simone Biles quando a americana aparece [...].

objeto direto objeto indireto

KESTELMAN, Amanda; GUERRA, Marcos. Sorrisos, traumas e curtição: conheça a próxima acumuladora de ouros. GE , Rio de Janeiro, 1 ago. 2016. Disponível em: https://ge.globo.com/olimpiadas/ginastica-artistica/noticia/2016/08/sorrisos-traumas-ecurticao-conheca-proxima-acumuladora-de-ouros.html. Acesso em: 18 set. 2024.

No primeiro caso, o verbo voltar é transitivo indireto e rege o objeto indireto de Paris, que demanda a preposição de. No segundo, o verbo voltar é bitransitivo (ou seja, transitivo direto e indireto), cujos termos regidos são o objeto direto se e o indireto para Simone Biles, introduzido pela preposição para.

A arte transforma vidas

objeto direto

A ARTE transforma vidas. Revista Encontro, Belo Horizonte, 15 jun. 2012. Disponível em: www.revistaencontro.com.br/canal/revista/2012/06/a-arte-transforma-vidas.html. Acesso em: 18 set. 2024.

A vida às vezes transforma os desafios em solidariedade.

objeto direto objeto indireto

Nesse exemplo, observam-se duas diferentes regências do verbo transformar . No primeiro caso, é transitivo direto e rege o objeto direto vidas . No segundo, é transitivo direto e indireto e rege o objeto direto os desafios e o objeto indireto em solidariedade , que exige a preposição em.

O quadro a seguir traz alguns casos frequentes. Consulte-o quando precisar.

Verbo SentidoPreposiçãoTransitividade

Agradar

Assistir

Chegar / ir

Importar

Importar-se

Lembrar

Lembrar-se

Esquecer

Esquecer-se

Obedecer

Visar

• Fazer carinho

• Ser agradávela VTD VTI

• Ver, observar

• Dar assistência aVTI VTD

• Dirigir a um lugar, alcançar um objetivo a VTI

• Trazer de outro país

• Dar importância acom VTD VTI

• Recordar

• Recordar-sede VTD VTI

• Não lembrar

• Não se lembrarde VTD VTI

• Obedecer a VTI

• Assinar, rubricar

• Mirar

• Ter comoa VTD VTD VTI

• Ter necessidade de algo

Precisar

• Indicar com exatidão

• Ser pobre deVTD e VTI VTD VI

#PARAlEMBRAR

O menino agradou o gato.

O gato agradou a todos.

Fomos assistir ao jogo.

Os médicos assistiram o jogador contundido.

A aula chegou ao fim.

Sempre pedia para ir ao banheiro.

O Brasil importou muitos alimentos.

O governo deve se importar com a inflação.

Você lembrou o aniversário?

Você se lembrou do (de + o) aniversário?

Eu esqueci o aniversário.

Eu me esqueci do aniversário.

É necessário obedecer ao (a + o) estatuto.

Já visou todo o contrato.

O atirador visou o alvo.

O jogador visava ao (a + o) prêmio de artilharia.

Ele precisava de um caderno novo.

O professor precisou a matéria da prova.

O governo ajuda aquele que precisa.

Regência verbal é a maneira como um verbo se relaciona com seus complementos (objetos diretos e indiretos), que podem exigir ou não uma preposição.

De acordo com a Base Nacional Comum Curricular, versão de 2018, página 503, é enfatizado que, no Ensino Médio, a área de Linguagens e suas Tecnologias desenvolva nos estudantes o aprofundamento das "análises das formas contemporâneas de publicidade em contexto digital, a dinâmica dos influenciadores digitais e as estratégias de engajamento utilizadas pelas empresas". Dessa forma, todos os usos relacionados à publicidade, propaganda e formas de engajamento em redes sociais apresentadas nesta coleção são para fins didáticos e seus usos em contexto social.

Não escreva no livro.

1. O anúncio a seguir destaca um esporte que por muito tempo foi exclusivo do universo masculino: o futebol. Leia-o.

1. c) O termo escondidas refere-se ao fato de o futebol ter sido por muito tempo um esporte proibido para mulheres que, se quisessem praticá-lo, deviam fazer isso às escondidas; tem também o sentido de ficarem “escondidas” na mídia, que não dá espaço ou visibilidade ao futebol feminino.

CENTAURO lança plataforma #EscondidasNuncaMais para o futebol feminino. Grandes nomes da propaganda, [s. l.], 12 ago. 2022. Disponível em: https:// grandesnomesdapropaganda. com.br/anunciantes/ centauro-lanca-plataformaescondidasnuncamais-para-ofutebol-feminino/. Acesso em: 28 set. 2024.

a) O a nunciante é uma marca de loja de artigos esportivos. O que sua associação com o nome Paulistão feminino agrega à marca?

Agrega prestígio por se aliar a um campeonato já consolidado no futebol masculino, e ousadia, modernidade, coragem no enfrentamento dos preconceitos.

b) Qual é o objetivo do anúncio? Como a fotografia, que destaca um momento de comemoração entre as jogadoras, colabora para esse objetivo?

c) O t ítulo tem destaque no anúncio. Que sentidos o termo escondidas assume no título?

2. Releia: “Vamos transformar o país do futebol no país do futebol feminino”.

O objetivo é divulgar o futebol feminino e estimular a mídia a transmitir os jogos. A fotografia mostra um momento de emoção, que é o que pode ajudar a “vender” a ideia de que os jogos podem conseguir público por promover momentos como o retratado.

a) Identifique a preposição e o termo que a rege.

Preposição em (no = em + o) regida pelo verbo transformar

b) Por que a expressão “o país do futebol” não se liga ao verbo por meio de preposição?

Porque, nesse período, “o país do futebol” funciona como objeto direto.

3. Prestes a completar 80 anos, o poeta Ferreira Gullar deu uma entrevista ao portal G1. O trecho a seguir é parte dessa entrevista.

Indagado * sua atividade como crítico de arte, Gullar disse que, antes de pensar * ser poeta, queria ser pintor. ‘Depois a poesia tomou conta, essas coisas a gente não governa. Mas continuo pintando e pensando * artes plásticas até hoje. * poesia eu não penso, eu simplesmente faço: a minha poesia nasce * espanto. Qualquer coisa pode espantar um poeta, até um galo cantando no quintal. Arte é uma coisa imprevisível, é descoberta, é uma invenção da vida. E quem diz que fazer poesia é um sofrimento está mentindo: é bom, mesmo quando se escreve * uma coisa sofrida. A poesia transfigura as coisas, mesmo quando você está no abismo. A arte existe porque a vida não basta'.

GULLAR, Ferreira. “A arte existe porque a vida não basta”, diz Ferreira Gullar. [Entrevista cedida a] Luciano Trigo. Portal G1, Paraty, 7 ago. 2010. Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/flip/noticia/2010/08/arte-existe-porque-vidanao-basta-diz-ferreira-gullar.html. Acesso em: 28 set. 2024.

a) Escreva no caderno as preposições que completam os espaços em que elas foram substituídas por *.

Sobre, em, sobre, sobre, do, sobre.

b) O que pode ser uma poesia que nasce do espanto?

c) O p oema de Gullar que você leu nesta unidade comprova o que ele diz sobre o fazer poético? Justifique.

Uma poesia que fala de algo que assombra o eu lírico, que o afeta, seja por provocar susto, seja por estranheza, perplexidade etc. Espera-se que os estudantes reconheçam que sim, já que o poema ironiza os poetas que não se engajam com as questões sociais e reflete sobre a função da poesia.

d) Para você, a vida também não basta? Explique.

Resposta pessoal. Estimule os estudantes a usar argumentos para justificar sua opinião. Simplesmente sim ou não são insuficientes como resposta.

4. d) O modalizador expresso pelo advérbio até. Significa que não é apenas a lua que está cheia mas ela também, o que sugere que Gatinha acha entediante a fala de Níquel Náusea.

4. Você considera romântica a tirinha seguir? Leia e reflita.

Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes percebam as características do romantismo nas falas de Níquel Náusea, mas também a ironia contida nas falas da rata Gatinha.

a) Com que intencionalidade Níquel Náusea fala de estrelas e amor?

b) Ele consegue o que pretende?

Não, ela fica entediada.

GONSALES, Fernando. [Níquel Náusea]. Folha de S.Paulo, São Paulo, 4 jul. 2005. Disponível em: www1.folha.uol. com.br/fsp/quadrin/ f30407200506.htm. Acesso em: 28 set. 2024.

Com o objetivo de conquistar a rata Gatinha.

c) Releia: “É! Até a lua está cheia”. O que o leitor pode inferir da fala da rata Gatinha?

d) Qual é o modalizador que permite essa leitura?

Que ela está “cheia”, ou seja, entediada, aborrecida.

5. Observe na fala de Níquel Náusea as expressões que deixam clara sua intencionalidade.

a) Copie, no caderno, quais são elas.

“Convidam ao prazer”, “o amor acende nossa chama”, “envolver pela sedução”.

b) Identifique os verbos que fazem parte dessas expressões. Quais exigem preposição? A que complementos estão relacionados?

Verbo convidar, complemento: “ao prazer”; envolver, complemento: “pela sedução”.

6. O jogador de futebol belga Romelu Lukaku (1993-) revelou em uma carta aberta as dificuldades por que passou antes de se destacar no cenário internacional. Leia um trecho dessa carta.

Eu me lembro do momento exato em que soube que estávamos quebrados. Ainda consigo visualizar minha mãe na geladeira e o olhar no rosto dela.

Eu tinha seis anos de idade e cheguei de casa para almoçar durante o intervalo da escola. Minha mãe me dava a mesma coisa todos os dias: pão e leite. Quando você é uma criança, nem pensa sobre isso. Mas acho que era tudo que podíamos comprar.

Naquele dia, eu cheguei em casa e entrei na cozinha e vi minha mãe na geladeira com uma caixa de leite, como sempre. Mas, naquela vez, ela estava misturando algo. Ela estava balançando, sabe? Eu não entendi o que estava acontecendo. Ela me trouxe o almoço e estava sorrindo, como se tudo estivesse bem. Mas eu percebi na hora o que estava acontecendo.

Ela estava misturando água no leite. Não tínhamos dinheiro suficiente para o resto da semana. Estávamos quebrados. Não apenas pobres, mas quebrados.

sequer comer; a pobreza impõe restrição; estar quebrado impõe

6. e)

Possibilidade:

Lukaku lembra as condições em que viveu na juventude (transitivo direto). Lukaku lembra ao leitor as condições em que viveu na juventude (bitransitivo).

ZOGBY, Paula. Lukaku, candidato a melhor jogador da Copa do Mundo, revela dramas da infância. Infomoney, [s l.], 25 jun. 2018. Disponível em: www.infomoney.com.br/carreira/lukaku-candidato-a-melhor-jogador-da-copa-do-mundo-revela-dramas-dainfancia-leia/. Acesso em: 28 set. 2024.

a) O jogador faz uma distinção entre estar pobre e estar quebrado. Qual é ela?

b) A mãe “me trouxe o almoço e estava sorrindo, como se tudo estivesse bem”. O que pretende a mãe ao manter essa atitude?

Não abalar ou preocupar o filho.

c) No período transcrito em b), qual é a função sintática do pronome me? Qual expressão poderia substituir o pronome?

Objeto indireto. Poderia ser substituído por a mim.

d) O verbo lembrar pode ser classificado como transitivo direto, transitivo indireto ou bitransitivo. No texto, é classificado como transitivo indireto. Por quê?

Porque rege o termo do momento, introduzido por preposição, que exerce a função de objeto indireto.

e) Escreva um período em que o verbo lembrar seja transitivo direto e outro em que seja bitransitivo.

f) Não é incomum deparar-se com períodos como: “Ele entrou e saiu de casa sem comer”. Do modo como o período está construído, os verbos entrar e sair estão com a mesma regência: entrar de casa e sair de casa – o que não corresponde ao sentido que se quer dar a ele. Como poderia ser reescrito para adequar as regências e garantir sentido?

Entrou em casa e saiu dela sem comer. Professor, alguns gramáticos aceitam essa construção por entenderem que não causa prejuízo à compreensão e por seguir o princípio de economia da língua. De todo modo, esse esclarecimento pode ser importante na construção de períodos mais complexos.

ASTUCIAS DA lINGUA

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Mecanismos de progressão: o papel das conjunções

Leia, a seguir, um artigo sobre as relações entre publicidade, arte e poesia concreta.

1 O texto defende a importância de todo publicitário ter repertório artístico e literário para produzir campanhas. Quais seriam os benefícios desse repertório?

O publicitário pode recorrer a recursos das artes em geral e da poesia concreta em particular para criar peças que chamem a atenção do público e criem marcas que sejam facilmente memorizadas e desejadas.

A interação entre uma obra de arte e a publicidade, além de modificar a forma com que o público observa a peça, traz uma referência curiosa à obra original. Tanto o anúncio pode despertar o interesse do público em procurar a obra original –incentiva o conhecimento sobre a arte –, quanto reforça a divulgação de uma obra que já é conhecida [...]. [...]

3 Agora, considere o termo destacado

a) O termo introduz um exemplo. De que seria esse exemplo?

2. a) Introduz uma pequena conclusão advinda de informação anterior.

2 Considere os termos em destaque

a) Que tipo de ideia essa expressão introduz?

b) Qual seria a relação de causa e consequência estabelecida por essa expressão?

2. b) A causa seria a utilização de obras de arte em campanhas publicitárias. A consequência seria a necessidade de o estudante de publicidade conhecer as técnicas artísticas para tirar partido delas.

4. c) Explicitar ao leitor que ali o texto conclui a ideia geral, ou seja, depois de explicar os recursos da poesia visual, conclui-se que são esses recursos que justificam sua ampla utilização na publicidade.

Fica claro, deste modo, a importância da intertextualidade para os estudantes de publicidade: o conhecimento de aplicação das técnicas [...] trará crescimento ao profissional da área, bem como cada vez mais tornará frequente a publicidade consciente e construtiva, valorizando o mercado de trabalho e a profissão do publicitário. [...] O uso da publicidade aliada à função poética é marcante; por exemplo, a utilização das rimas como ferramenta de memorização por parte dos consumidores, que, mesmo não apresentando um produto ou serviço em questão, assimilam a ideia ao ouvir ou ler apenas o começo da propaganda que possua essas características.

No que diz respeito à poesia concreta, é possível explorar a dinâmica com palavras soltas e movimentos aleatórios, as palavras e os espaços em branco, para criar um caminho até uma palavra ou frase que traga à tona a mensagem, seja ela positiva ou negativa. Por isso, é muito comum encontrarmos análises de marcas mundialmente conhecidas ou lançamentos de produtos que utilizam a poesia concreta.

SILVA, Iallan Sebastião da; FARIAS, Alyere Silva; MELO, Cristianne. Publicidade e poesia concreta: relações intertextuais. In: CONGRESSO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO NA REGIÃO NORDESTE , 18., 2016, Caruaru. Anais […] Caruaru: Intercom, 2016. p. 8-9. Disponível em: https://portalintercom.org.br/anais/nordeste2016/ resumos/R52-0731-1.pdf. Acesso em: 28 set. 2024.

b) De que forma esse tipo de conjunção produz uma progressão argumentativa para o texto?

3. a) O exemplo de como a função poética pode ser útil em textos publicitários.

3. b) Essa conjunção introduz um exemplo que funciona como argumento para justificar que aliar publicidade à função poética pode produzir peças marcantes.

4 Considere o último parágrafo do trecho.

a) Que função cumpre a expressão em destaque?

A de introduzir mais uma ideia.

b) Que expressão introduz uma conclusão para o andamento argumentativo do texto?

A expressão por isso

c) Qual é a importância da utilização dessa expressão entre os períodos?

Não escreva no livro.

Todo texto tem uma camada argumentativa. Na construção de argumentos, no entanto, as ideias apresentadas estabelecem ligações entre si de causa, consequência, adição, negação, alternância, exemplificação, entre outras. Para garantir articulação lógica entre as ideias e um direcionamento argumentativo que situe o interlocutor nas relações do texto, é fundamental construir e sustentar a progressão textual. Um dos principais mecanismos que facilitam essa progressão é o uso de conjunções, que funcionam como conectores entre frases e parágrafos, sinalizando as relações entre as ideias e orientando a leitura.

As conjunções aditivas, por exemplo, como e e além disso, sinalizam que serão adicionadas informações que podem expandir o sentido do texto. Por exemplo:

A campanha foi bem-sucedida em atrair novos clientes e também reforçou a imagem da marca no mercado.

Já as conjunções adversativas, como mas e porém, são usadas para introduzir contrastes, como em:

A nova publicidade gerou grande engajamento, mas não resultou em um aumento significativo nas vendas.

Essas conjunções expressam uma mudança de direção no raciocínio, mantendo o leitor engajado.

Conjunções causais, como porque e visto que, estabelecem relações de causa e efeito, o que é essencial para explicar razões ou justificar argumentos. Por exemplo:

A empresa decidiu investir mais em publicidade digital porque percebeu que seu público-alvo estava migrando para as redes sociais.

Conjunções temporais, como quando e enquanto, organizam os eventos de forma cronológica, como em:

Enquanto a campanha estava no ar, o tráfego no site da empresa aumentou significativamente.

Esse tipo de conjunção ajuda a manter a sequência lógica e a clareza das ideias.

Além disso, para evitar a circularidade, isto é, que o texto se torne repetitivo, voltando às mesmas ideias, é importante não apenas as conectar mas também introduzir novos pontos de forma lógica. Em vez de apenas repetir que “a publicidade é crucial para o sucesso da marca”, o texto pode avançar ao explorar diferentes aspectos, como “a eficácia de campanhas personalizadas” ou “o impacto das mídias sociais no comportamento do consumidor”.

Ao introduzir novos elementos relacionados de diferentes maneiras ao tema central, a argumentação se desenvolve de modo mais consistente e convincente, evitando a repetição e mantendo o texto dinâmico e envolvente.

Circularidade ocorre quando uma explicação ou argumento remete de volta ao ponto inicial sem esclarecer ou avançar na progressão argumentativa. Isso pode confundir, frustrar e descredibilizar o conteúdo, comprometendo a eficácia da argumentação e impedindo que o interlocutor atinja uma compreensão completa e lógica do tema abordado.

PENSAR E COMPARTIlHAR

Não escreva no livro.

Leia, a seguir, uma reportagem sobre as mulheres do movimento hip-hop em Angola.

“Eu não vejo impossibilidade da mulher fazer rap ou qualquer coisa que seja”, aponta Khris MC.

Elas são mulheres comuns: trabalham, estudam, cuidam da casa, da família... No entanto, além da vida pessoal, elas também dedicam parte do seu tempo à luta por uma Angola melhor por meio da música. São as rappers angolanas, que se destacam por não se calarem diante dos problemas, do preconceito, da falta de liberdade de expressão. Quem acha que o movimento hip-hop do país não conta com a participação das mulheres, engana-se. Mesmo que muitas não apareçam nos meios de comunicação social ou não tenham CDs gravados, isso não significa que elas estejam caladas diante da realidade do seu país. E a maioria das MCs sabe bem o que quer: uma Angola diferente, mais justa, com mais oportunidades para seus habitantes.

Por isso, elas cantam a miséria, a repressão, a política, os abusos contra a mulher... Elas querem mudanças e, para isso, desabafam e fazem reivindicações por meio da música de intervenção. E para isso não há idade. A estudante de direito Cristina Francisco Gouveia – ou como é conhecida no meio hip-hop, Khris MC – tem apenas 21 anos e já sabe bem o futuro que quer para seus conterrâneos. [...]

Outra rapper que faz parte da cena hip-hop há 16 anos é MC Afrodyth. Hoje, com 28 anos, a educadora infantil de nome de batismo Luciana Tchiela Manuel dos Santos, lembra o motivo que a levou entrar para o mundo do rap.

‘Eu acho que dentro do movimento hip-hop não há discriminação, nós nos tratamos como uma única família. Quem tem pode ajudar o outro, é uma irmandade. É um mundo claro, onde a gente tem e faz, não é onde a gente fala, fala e não faz nada.’, conta.

MANTOVANI, Melina. Mulheres também fazem músicas de intervenção. DW, [s. l.], 15 ago. 2012. Disponível em: www.dw.com/ pt-002/em-angola-mulheres-tamb%C3%A9m-fazem-m%C3%BAsicas-de-interven%C3%A7%C3%A3o-e-pedem-melhorias-para-opa%C3%ADs/a-16159698. Acesso em: 18 set. 2024.

1. A reportagem apresenta um pouco do movimento hip-hop angolano.

a) Quem são as rappers angolanas?

São mulheres comuns que trabalham, estudam, cuidam da casa, da família.

b) O que reivindicam por meio das músicas?

2. O texto inicia-se com a descrição das mulheres de Angola que serão citadas na reportagem como se fossem absolutamente comuns.

a) Que conjunção rompe com a ideia de que são apenas mulheres comuns?

Elas reivindicam um país diferente, que seja mais justo e dê mais oportunidades aos habitantes. A expressão no entanto.

b) Que aspectos introduzidos no período pela oração adversativa fazem delas mulheres diferentes das comuns?

A luta por uma Angola melhor por meio da música.

REPRODUÇÃO/SOUNDCLOUD

3. b) A conjunção mesmo que expressa concessão: apesar dessa invisibilidade na mídia, essas mulheres cumprem seu objetivo.

3. Ainda no primeiro parágrafo, o texto revela que essas mulheres não estão caladas perante a realidade do país em que vivem. Para expressar essa ideia, destaca que continuam levantando suas vozes, ainda que não tenham visibilidade.

a) Copie no caderno a oração que destaca a situação que poderia ter impedido o conhecimento das canções dessas mulheres.

“Mesmo que muitas não apareçam nos meios de comunicação social ou não tenham CDs gravados.”

b) Que ideia é expressa pela conjunção nessa oração?

c) D entre as condições que impediriam a divulgação, são listados dois motivos. Que conjunção é responsável por unir esses dois prováveis motivos?

A conjunção ou

d) Essas mulheres angolanas querem um país diferente e mais justo. Que conjunção é responsável por indicar qual é a conclusão dessa luta materializada nos temas das canções delas?

A conjunção por isso.

4. No último período do texto, há uma conjunção utilizada em sentido diferente do tradicional.

a) Que conjunção é essa?

É a conjunção e.

b) Como a frase poderia ser reescrita com uma conjunção mais convencional nesse contexto?

Poderia ser: “fala, fala, mas não faz nada”.

Leia, a seguir, a tirinha de dona Anésia, criada pelo cartunista Will Leite (1986-).

Acesso em: 29 set. 2024.

5. Considere as falas de dona Anésia.

a) Por que ela repete a fala do primeiro quadro no último?

Porque acabou de presenciar uma situação semelhante à que se referia no primeiro.

b) A que situação dona Anésia se refere no último quadro?

Ao fato de a amiga ter tentado diminuir a outra chamando-a de fofoqueira.

6. Considere ainda a fala de dona Anésia do último quadro.

a) Que conjunção expressa o momento em que ocorre uma ação?

b) Que oração indica essa ação?

A conjunção quando “Quando você diminui alguém.“

c) No contexto da tirinha, quando aconteceu a ação indicada pela oração?

No momento da fala da amiga.

7. Com relação à ação de diminuir alguém, referida por dona Anésia, copie o organizador a seguir no caderno e complete-o com orações retiradas da tirinha.

Oração que expressa causa Conjunção que expressa causa Oração que expressa consequência Conjunção que expressa consequência

Porque você se sente inferior a elePorquePor isso eu só enalteço as pessoas Por isso

WILL TIRANDO. [Anésia #398]. WillTirando. [S l.], 21 maio 2018. Disponível em: www.willtirando.com.br/anesia-398/.

#NOSNAPRATICA

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Anúncio publicitário e campanha

A utilização de recursos de linguagem de modo inesperado pode produzir novas formas de interação e de sentidos sobre o mundo. Como observado na seção Leitura, o anúncio publicitário recorre a diversos recursos da língua e do design para produzir novas formas de interação com o objetivo de persuadir o interlocutor a adquirir um produto ou serviço.

Nesta atividade, depois de entender como funcionam esses mecanismos de persuasão, você vai utilizá-los para criar uma campanha para uma marca fictícia de água engarrafada.

O que você irá produzir

Reunidos em equipes de quatro a cinco integrantes, vocês vão produzir anúncios publicitários para uma campanha de uma marca fictícia de água. O objetivo será vender o produto, a água, usando como estratégia de convencimento melhorar a hidratação e a saúde do público-alvo. Essa campanha deverá ser divulgada em dois veículos diferentes: um da mídia impressa (revistas e jornais) e outro de divulgação pública (cartazes, outdoors e busdoors ), rádio, televisão, sites de internet ou redes sociais.

Planejar

A primeira tarefa será decidir sobre a marca a ser criada. Pense com os colegas em como seria essa empresa que engarrafa e revende água, quais seriam suas demandas e preocupações. Criem um nome para a marca.

Depois é o momento de identificar o público-alvo: a campanha vai focar alguma faixa etária específica? Praticantes de algum esporte? A saúde física?

Com base na identificação desse público-alvo, é o momento de criar a estratégia de divulgação. Avalie com o grupo o que seria mais efetivo: anúncios físicos a serem afixados em diversos locais; anúncios virtuais a serem compartilhados em redes sociais; spots para serem reproduzidos no sistema de som do colégio, entre outros.

Criada a marca, identificado o público-alvo e os meios de divulgação, é hora de o grupo criar as peças de campanha.

lABORATORIO DE PRODUÇÃO

Uso criativo de recursos linguísticos

A dimensão lúdica da linguagem na publicidade envolve o uso criativo de recursos linguísticos, como cacofonia, aliteração e jogos de palavras, para capturar a atenção do público e tornar a mensagem mais memorizável.

Cacofonias, por exemplo, podem ser utilizadas para criar uma sonoridade peculiar que destaca uma marca ou produto, tornando-o mais facilmente reconhecível. Um exemplo pode ser o slogan Não escreva no livro.

“Tinha o café pronto com uma mão”, que brinca com a semelhança de som produzida pela junção dos termos “uma mão” com a palavra “mamão”, criando um efeito sonoro divertido.

A aliteração, caracterizada pela repetição de sons consonantais em palavras próximas, ajuda a criar frases de efeito e marcar o ritmo da leitura ou fala. Essas estratégias não apenas tornam o anúncio mais atraente mas também ajudam a criar uma conexão com o consumidor, utilizando o humor e a criatividade para reforçar a mensagem de forma eficaz.

Agora é sua vez de exercitar esses recursos linguísticos na produção de slogans para produtos.

Com o grupo, produza slogans para os seguintes produtos que contenham os recursos de linguagem indicados:

• Molho de tomate em lata (cacofonia);

Possibilidade: Ela tinha...

• Biscoito crocante (aliteração);

Possibilidade: aliteração em C para indicar a crocância.

• Molho de pimenta (jogo de palavras).

Possibilidade: trabalhar os sentidos que a palavra pimenta pode produzir.

Produzir

A primeira etapa deve consistir no foco da campanha: qual principal característica da água será destacada para o público-alvo? Quais benefícios da água para a saúde e o bem-estar serão enfatizados? Como a marca se posiciona no mercado? O que a torna única em comparação com as outras? O objetivo é que a campanha se sustente, destacando uma característica da água que a diferencie das demais marcas do mercado. Para tanto, é fundamental que se recorra a recursos que tornem expressiva as linguagens verbal e visual.

1. Criem um logotipo e um slogan para a campanha com um símbolo que seja facilmente relacionado ao produto – uma frase de efeito, que seja marcante e que utilize alguma figura de linguagem.

2. Criem uma identidade visual para a campanha, com cores e formas relacionadas ao tema.

3. Façam uma seleção de imagens que desperte o interesse do público.

4. Selecionem criteriosamente as fontes das letras, observando tamanho e forma, de tal maneira que a mensagem escrita seja facilmente legível.

5. Caso optem por anúncios audiovisuais, utilizem recursos sonoros que ampliem os sentidos, com sonoplastia e trilha sonora adequada.

6. Cada peça da campanha do grupo deve dialogar com as demais, sejam elas físicas ou virtuais. A campanha deve ter pelo menos duas peças diferentes. Depois de produzidos os anúncios, verifiquem se todas seguem o mesmo padrão, a mesma estética, adotam o mesmo logotipo e slogan e se conseguem atingir os objetivos pretendidos. Façam também uma revisão gramatical dos textos. Caso tenham optado por uma produção audiovisual, revisem o roteiro antes de gravá-la. Verifiquem, nas produções visuais, se todo o texto está bem legível.

Compartilhar

Agora, resta compartilhar. Depois da avaliação do professor, o grupo deve colocar a campanha em prática de acordo com o plano inicial e publicar os textos da forma esperada: afixar os cartazes na sala ou em um lugar da escola apropriado para isso, publicar os textos virtuais, reproduzir os spots de rádio etc.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

jUNTO Revista interativa

A literatura da década de 1930, assunto da Unidade 1 deste volume, destaca a vida seca de muitos nordestinos que, além da natureza estéril, também eram desafiados pelos desmandos políticos e pelo abandono social. A guerra ocupou parte das reflexões propostas na Unidade 2 , com a leitura de poemas de Carlos Drummond de Andrade. Tanto a seca quanto a guerra e seu poder de destruição afetam a natureza e o ser humano. Em um mundo que enfrenta uma crise climática que pede cada vez mais consciência sobre a necessidade de cuidados com o planeta, é importante voltar o olhar para as transformações pelas quais a natureza tem passado. É sobre isso que você e os colegas vão refletir na atividade que segue.

O que vai ser feito

A turma vai produzir uma revista interativa para fazer um registro dinâmico da natureza da sua região, destacando as transformações na paisagem, a preservação e as perspectivas de futuro. Sob a orientação do professor, organizem-se em grupos de quatro a seis integrantes. Cada integrante deve se ocupar de uma transformação (positiva ou negativa) do espaço natural para tratá-la em diferentes gêneros do campo jornalístico.

Coleta de informações

Para iniciar a coleta de dados, converse com pessoas mais velhas, que possam resgatar memórias de espaços que se transformaram em sua região. Essa transformação pode referir-se à canalização ou ao assoreamento de um rio, à derrubada de uma mata, ao loteamento de uma fazenda, à substituição de uma vegetação

natural por uma monocultura, ao sumiço de aves migratórias ou de outros animais, entre outras possibilidades. Além disso, você pode pesquisar na internet ou em livros sobre a natureza da sua região.

Procure saber como eram esses espaços antes de serem transformados, o que motivou a transformação e como eles estão hoje. Não se esqueça de registrar e armazenar todas as informações que conseguir: textos, imagens, vídeos e áudios; eles serão utilizados depois.

Concluída a coleta de informações, defina com o grupo como tratar e apresentar os dados de sua pesquisa: pode ser em forma de entrevista, crônica, notícia, reportagem etc. Cada membro do grupo deve optar por um gênero diferente.

Depois de prontos os textos, troquem as produções entre os integrantes do grupo para serem revisadas, considerando tanto aspectos gramaticais quanto a coesão e a coerência.

Produção da fotorreportagem

O próximo passo será a produção de uma fotorreportagem mostrando como a ação humana interferiu na natureza. A fotorreportagem é um gênero jornalístico em que a reportagem é constituída por imagens acompanhadas de legendas. As fotos e legendas devem documentar essa intervenção e o que resultou dela.

Considere o espaço transformado que você identificou: ele será o tema da fotorreportagem. Verifique a disponibilidade de registros em imagens de como era esse lugar antes de ser modificado, para permitir uma comparação.

Se possível, vá até o local para fazer registros fotográficos que mostrem como ele

Não escreva no livro.

está agora. Se for impossível, uma alternativa é usar imagens do Google Maps, que permite observar o lugar de várias perspectivas diferentes. Lembre-se de não tirar fotos contra fontes de luz e cuidar do foco. Tente usar enquadramentos que possibilitem ao leitor identificar a mudança. Caso não haja nenhum registro imagético, sendo portanto impossível utilizar fotos, uma opção é recorrer a desenhos.

Reúnam todos os materiais coletados pelos integrantes do grupo. Façam a seleção das seis melhores fotos do lugar selecionado. Essas imagens devem apresentar uma narrativa que explique a mudança: como era, como e por que mudou e como ficou.

Selecionadas as fotos, cada um escreve um texto introdutório apresentando o lugar que selecionou. Criem uma legenda para cada foto, não se esquecendo de indicar o nome do fotógrafo. Escolham um título para a fotorreportagem.

Juntos, revisem o texto.

Redação de um editorial

É hora de redigir um editorial que marque o posicionamento da revista frente aos fenômenos observados. Para isso, os textos de todos os integrantes devem ser retomados e discutidos. Que posicionamento cada um defende? Há discordâncias? O grupo pode optar por expressar duas correntes de opinião, se for o caso, ou entrar em consenso. Lembrem-se: o editorial deve expressar a postura do grupo e da revista sobre as transformações da natureza observadas.

Antes de escrever, o grupo pode elaborar um rascunho do percurso do texto e designar um integrante para redigi-lo. Todos devem participar desse processo, sugerindo formas de expressar as ideias e modos de conectá-las em um todo coeso e coerente. Depois de pronto, revisem o texto, levando em conta tanto aspectos gramaticais quanto a consistência.

Criação da revista

Chegou a hora de criar a revista virtual. Para isso, o grupo deve considerar alguns elementos:

• nome da revista;

• logotipo;

• paleta de cores;

• f ontes das letras utilizadas no título e nos textos.

O primeiro passo é criar o site em uma plataforma própria para isso. Pode ser Wix, Wordpress, Canva ou Google Sites. Comecem criando a barra de navegação e o cabeçalho. Essas plataformas contam com tutoriais que explicam como fazer isso.

Insiram o logotipo e o nome da revista. Criem as abas de navegação. Pensem em nomes que sejam adequados aos textos produzidos. As abas podem ser, por exemplo: editorial, fotorreportagem, notícias, entre outras.

Para colocar logo abaixo da barra de navegação e do cabeçalho, o grupo pode selecionar uma imagem e elaborar uma manchete pensada para despertar o interesse do leitor pela revista. Essa imagem deve conter o link que direciona ao texto correspondente. Abaixo dessa imagem e da manchete podem ser inseridas as chamadas para os demais textos, sempre com uma imagem representativa e título.

Não se esqueçam de criar uma aba específica para o grupo, onde serão indicados os nomes dos integrantes seguidos de uma pequena biografia.

Revisão e compartilhamento

O grupo deve se organizar para fazer uma última revisão dos textos e verificar se os links estão funcionando adequadamente. Depois de concluir essa etapa, basta publicar a revista e compartilhar o link de acesso com o professor, os colegas e a comunidade.

ROTEIRO

PARA lER

MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina . Adaptação e ilustração: Odyr. São Paulo: Quadrinhos na Cia, 2024.

A adaptação da obra de João Cabral de Melo Neto para quadrinhos é bastante original. Com imagens expressivas, produzidas em aquarela, a história desvela dramas existenciais atemporais que se passam no sertão, mas que poderiam dialogar com várias regiões do mundo: a universalidade da vida severina.

PARA NAVEGAR

CINCO Poemas Concretos. [S. l.: s. n.], 2007. 1 vídeo (6 min). Publicado pelo canal Christian Caselli. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=yC3e7rmSYM4. Acesso em: 29 set. 2024.

No vídeo, você poderá assistir à transposição de cinco poemas concretos para videopoemas. Esses videopoemas colocam em ação os poemas “Cinco”, de José Lino Grunewald (1931-2000); “Velocidade”, de Ronaldo Azeredo; “Cidade”, de Augusto de Campos; “Pêndulo”, de Ernesto Manuel de Melo e Castro (1932-2020); e “O Organismo”, de Décio Pignatari.

PARA OUVIR

Capa da HQ Morte e vida severina.

Frame do curta Cinco poemas concretos – Pêndulo.

RÁDIO USP destaca a presença da poesia concreta na música. Rádio USP, São Paulo, USP Especiais, 20 maio 2019. Disponível em: https://jornal.usp. br/cultura/radio-usp-destaca-a-presenca-da-poesia-concreta-na-musica/. Acesso em: 18 set. 2024.

No programa de rádio produzido pelo Grupo de Estudos Radiofônicos do Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP), é discutida a relação entre a poesia concreta e a Música Popular Brasileira, principalmente a influência do Grupo Noigandres sobre a música do movimento tropicalista e a obra de Caetano Veloso (1942-) e Tom Zé (1936-).

PARA ASSISTIR

MORTE e vida severina. Direção: Walter Avancini. Rio de Janeiro: TV Globo, 1981. 1 DVD (60 min).

A série Morte e vida severina é uma adaptação para TV do poema de João Cabral de Melo Neto, originalmente transmitida pela TV Globo, em 1981. A série é marcada pela fidelidade ao tom lírico e crítico da obra original, utilizando uma linguagem visual que reforça a aridez e o sofrimento do sertão, ao mesmo tempo que sublinha a resistência e a esperança de suas personagens.

Imagem de abertura do programa USP especiais.

Pôster do filme Morte e vida severina.

1. a) Marginal pode ser aquele que pratica algum delito e vive às margens da lei, ou aquele que vive à margem da sociedade, ou seja, que não é cidadão nem tem acesso aos seus direitos, que vive alheio ao mundo da ordem. O herói enaltece aquele que sobrevive às condições precárias a que está submetido.

1. b) A marginalidade pode ser entendida como uma forma de transgressão, de resistência ao mundo representado pela ordem militar que dominava o país, uma forma de subversão, atitude própria de um herói.

NOVOS GRITOS NO AR

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Observe a obra a seguir, do artista Hélio Oiticica (1937-1980). Seja marginal seja herói (1968) apresenta a figura de um sujeito conhecido como Cara de Cavalo, primeira vítima do esquadrão da morte que atuou durante a ditadura civil-militar assassinando aqueles que considerava marginais.

OITICICA, Hélio. Seja marginal seja herói. 1968. Impressão sobre tecido, 84 cm x 119 cm. Acervo Fundação Itaú.

Não escreva no livro.

1. O sujeito representado na bandeira em que se lê “Seja marginal seja herói” vivia em condições precárias no morro da Mangueira, no Rio de Janeiro (RJ). Foi exterminado por ter, supostamente, matado um policial.

a) Que sentidos as palavras herói e marginal podem produzir?

b) C onsidere os sentidos que os termos marginal e herói podem ter na obra e explique como ela pode dialogar com o contexto em que foi produzida.

2. a) Os parangolés são feitos de materiais rústicos, como tecidos, plásticos e capas, que geralmente não são associados a obras de arte tradicionais. Além disso, são obras interativas projetadas para serem incorporadas por quem as veste.

Observe, agora, os parangolés de Oiticica, obras interativas compostas de capas, faixas e bandeiras construídas com tecidos e plásticos, às vezes com frases políticas ou poéticas.

Nildo da Mangueira vestindo o parangolé

P15, capa 11 –Incorporo a revolta. OITICICA, Hélio. Parangolé

P15, capa 11 –Incorporo a revolta. 1967. Técnica mista.

Projeto Hélio

Oiticica, Rio de Janeiro (RJ).

Nininha da Mangueira vestindo o parangolé P 25, capa 21 – Xoxoba durante as filmagens de “H.O.”, de Ivan Cardoso, 1979. OITICICA, Hélio. Parangolé P25, capa 21 –Xoxoba. 1968. 1 capa, tecido. Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro (RJ).

2. Considere os dois parangolés de Oiticica reproduzidos nas fotografias.

a) Os parangolés já foram chamados de “antiobras de arte”. Observe os materiais dos parangolés e explique de que forma eles se afastam do que tradicionalmente se considera arte?

b) O p arangolé é uma obra que estabelece uma relação diferente com o espectador, que deixa de ser apenas observador e passa a ser parte da obra. Observe as fotografias novamente: ao vestir um parangolé, o espectador pode produzir movimentos, dançar. Que sentido essas possibilidades produzem com relação tanto ao observador quanto aos parangolés?

Nos anos 1960, certos artistas acreditavam que a arte deveria se libertar de uma série de amarras que limitavam o fazer artístico. A tela não era mais necessariamente o suporte para a pintura, que poderia ser produzida em outras superfícies; a escultura passava a aceitar materiais alternativos ao ferro e ao mármore, como o plástico, antes considerado pouco nobre. Além disso, os artistas começaram a questionar a divisão ainda existente entre a arte de elite e a arte comercial, também conhecida como arte de massa. A arte e a literatura deveriam ultrapassar os limites impostos por séculos de tradição e se misturar à vida cotidiana dos indivíduos.

Isso não significava, porém, que as obras devessem recorrer a formas de expressão de fácil identificação, pois é papel da literatura e da arte questionar a realidade, às vezes entretendo, às vezes provocando um estranhamento ou chocando o público como forma de desautomatizar a percepção da realidade. Nesta unidade, você vai conhecer mais dessa arte questionadora dos anos 1960 e 1970: a arte marginal.

2. b) Ao serem experimentados e manipulados, os parangolés ganham vida, rompendo com a tradicional relação entre espectador e obra de arte. O espectador deixa de ser um observador passivo para se tornar um participante ativo, que dá nova forma à obra a partir de seu próprio movimento. Assim se ressignificam tanto o objeto artístico quanto o corpo do espectador.

COLEÇÃO PARTICULAR
ANDREAS VALENTIN

À procura de nós

O processo de integração comercial e cultural, nomeado globalização, atinge escala planetária no final do século XX. Iniciada efetivamente com as Grandes Navegações do século XV, a globalização no mundo contemporâneo ganhou um impulso extraordinário com o desenvolvimento de tecnologias que imprimiram uma nova velocidade à vida cotidiana, porém nem sempre compatível com a condição humana. Ao mesmo tempo que permitiu uma superconexão mundial, também produziu uma sociedade líquida , na expressão do filósofo Zygmunt Bauman (19252017), marcada pela instabilidade, pelo consumo, por um acelerado processo de individualização. Esse contexto pode produzir, segundo o filósofo, sensação de inadequação, de deslocamento, de inconformidade com o espaço e o tempo do indivíduo, gerando uma crise de identidade do ser que se perdeu em si mesmo e luta para buscar-se em si e no outro.

Para discutir

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

1 C omo você percebe a conexão entre as pessoas na sua convivência diária? Acredita que a conexão que a tecnologia permite é positiva? Por quê?

Você vai ler a seguir dois poemas contemporâneos: o primeiro, de Lubi Prates, foi publicado no livro Um corpo negro, finalista do Prêmio Jabuti em 2018; o segundo, de Gregório Duvivier, foi publicado no livro Sonetos de amor e sacanagem, de 2021.

Texto 1

se me arrancaram pela raiz forço uma cartografia desejando a terra

porque os mares já me falaram absurdos sendo apenas o caminho: jamais alguma pista de destino.

se me arrancaram pela raiz forço uma cartografia desejando a terra

deito meu corpo no chão naquele exercício pré-escola de circundar minha mão meus braços pé pernas cabeça para criar limites e dizer: eu para criar um território e dizer: eu para criar um mapa e dizer: eu

se me arrancaram pela raiz forço uma cartografia desejando a terra pois sobraram as sementes.

PRATES, Lubi. [se me arrancaram pela raiz]. In: PRATES, Lubi. Um corpo negro. 2. ed. São Paulo: Nosotros, 2019. p. 25.

#SOBRE

Lubi Prates (1986-) é uma poeta, escritora, tradutora, editora e curadora de literatura. Doutora em Psicologia do Desenvolvimento Humano, sua carreira e obra estão voltadas ao combate ao preconceito contra mulheres e pessoas negras. Foi finalista do Prêmio Jabuti com os livros Um corpo negro (2018) e Até aqui (2021).

Foto da autora em 2022.

lER O MUNDO
Não escreva no livro.
MAYARA BARBOSA

Texto 2

Soneto da Faria Lima

Caro colega, peço que se informe: ninguém mais liga, agora faz um call.

Ao invés de conversa, faz brainstorm.

Até shopping, agora, chamam mall.

Pra lá vão as pessoas quando saem.

Comida pra viagem é To Go, o prazo agora chama deadline e o chefe da bodega é o CEO.

Assim como tiraram alguns hífens, os resumos agora chamam briefings.

Nada vale a sacada, só o insight

Certas coisas não mudam: pagam mal.

Você não tem direitos nem tem rights.

Se pudessem pagavam com know-how.

DUVIVIER, Gregorio. Soneto da Faria Lima. In: DUVIVIER, Gregorio. Sonetos de amor e sacanagem. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. p. 89.

PENSAR E COMPARTIlHAR

Gregorio Duvivier (1986-) é um ator, escritor e humorista brasileiro, conhecido por seu trabalho multifacetado na literatura e na comédia. Entre suas obras literárias destacam-se A partir de amanhã eu juro que a vida vai ser agora (2008), uma coletânea de poemas que recebeu muitos elogios da crítica, e Ligue os pontos – poemas de amor e Big Bang (2013), que o colocou como um dos mais relevantes poetas contemporâneos. Seu estilo é marcado pela irreverência e pela capacidade de captar as nuances cotidianas das relações humanas em poemas com grande preocupação com a forma.

Foto do ator em 2021.

1. a) O texto 1 responde a essa ideia expressando, poeticamente, resistência, e afirmando a necessidade e a determinação de reencontrar seu lugar, seus limites, ou seja, de encontrar a si mesmo.

1. b) Na última estrofe, o trabalhador é mal remunerado, não tem direitos e eventualmente até aceitaria trabalhar em troca de aprendizado e experiência, abdicando de sua remuneração e direitos.

1. Leia o trecho a seguir, do psicólogo e filósofo Rafael Trindade, retirado de Razão inadequada , site em que vários pensadores refletem sobre o modo como a existência se apresenta na contemporaneidade e as respostas que se pode dar a ela.

O corpo tornou-se alvo do poder, descobriu-se que ele podia ser moldado, rearranjado, treinado […]. […]

Tudo começa desde cedo. Quanto mais dócil, mais dificilmente emperrará a máquina de produção. Tão reprimido quanto treinado, aceitará facilmente as coisas como são. Tão submetido quanto lucrativo, se esforçará para entrar no mercado de trabalho e vender sua força. […] […]

O poder separa o homem de si mesmo, afasta seu corpo de si mesmo e cria uma outra natureza que lhe sobrepõe, ou melhor, o substitui. Já não sabemos quem somos, sentimos que somos trabalhadores. Será?

TRINDADE, Rafael. Foucault: corpos dóceis. [S. l.]: Razão Inadequada, c2024. Disponível em: https://razaoinadequada.com/2014/01/13/foucault-corpos-doceis/. Acesso em: 1 out. 2024.

a) De que forma o texto 1 responde à ideia de que o corpo é alvo de poderes que o fazem se tornar dócil, ou seja, obediente e submetido?

b) O texto 2 refere-se a um ambiente que também apresenta uma ideia de indivíduos com corpos domesticados para o trabalho e para a produção. Como essa ideia se mostra no poema? Não escreva no livro.

3. a) Terra e raiz correspondem à base na qual o eu lírico se fixa e com base na qual traça seu território – ou seja, suas possibilidades, seus limites, ou o mapa de si, que define o eu do poema e, portanto, sua identidade.

3. b) Espera-se que os estudantes destaquem situações de violência, como guerras ou violências cotidianas; a exploração pelo mercado de trabalho; a perda de um trabalho e de recursos – entre outras possibilidades.

Ao fazer um mapa de si e delimitar um território para seu corpo, o eu lírico estabelece limites que lhe permitem manter uma identidade mesmo se estiver em trânsito, se for deslocado.

2. A Cartografia é a área do conhecimento que se dedica ao estudo, à análise e à produção de mapas, cartogramas e plantas. O texto 1 apoia-se na ideia de cartografar para discutir identidade.

2. a) O mapa de si feito circundando o corpo com giz no chão.

a) Que exercício praticado pelo eu lírico é um tipo de prática cartográfica?

b) Nessa atividade, qual é a “terra” cartografada?

É o próprio corpo do eu lírico.

3. O poema de Lubi Prates discute identidade associando-a à terra.

a) Terra e raiz são dois termos importantes no poema. Como eles podem ser associados à identidade no poema?

b) Na sociedade contemporânea, o que pode arrancar alguém de sua terra e de sua raiz?

c) D e que forma a “cartografia de si” resiste ao processo que desterra o eu lírico de sua identidade?

4. Além de dialogar com elementos contemporâneos, o poema de Lubi Prates dialoga com questões raciais, temática frequente da autora. Uma delas, referenciada no poema, é a da diáspora africana.

a) A diáspora africana se deu durante o processo de escravização e deslocamento forçado de africanos para o continente americano. Que elemento do poema simboliza essa diáspora e seu percurso?

O mar, que consiste no caminho à outra terra.

b) Como o poema propõe o renascimento dessas raízes?

5. Considere os seguintes versos do poema de Lubi Prates: circundar minha mão meus braços pés pernas cabeça

para criar limites e dizer: eu para criar um território e dizer: eu para criar um mapa e dizer: eu

Por meio das sementes de que o eu lírico dispõe, isto é, por meio das heranças que carrega das tradições, da identidade.

A última estrofe contrapõe o fato de o eu lírico ter sido arrancado da terra – e portanto não ter permanecido nela – à ideia de algo que ele carrega em si dessa terra da qual foi arrancado. A forma verbal sobraram introduz a ideia de permanência das sementes, na qual está implícita a possibilidade de germinar uma nova vida e de si, que resiste a esse ato de desaterramento.

7. b) O interlocutor seria um frequentador ou trabalhador da Faria Lima, a quem “pagam mal” e que “não tem direitos nem tem rights”.

a) E xplique qual é o sentido produzido pelo recuo dos versos da primeira estrofe desse trecho.

O recuo destaca os complementos do verbo circundar, enfatizando aquilo que é circulado no eu lírico para a produção do mapa de si.

b) A segunda estrofe desse trecho apresenta uma estrutura que se repete. Que sentido ela produz?

A repetição reforça e destaca o resultado e o objetivo da produção do mapa de si: permitir ao eu lírico reafirmar sua identidade em um contexto no qual ela foi perdida ou subtraída dele.

6. A última estrofe do texto 1 opõe a ideia de não permanecer à de permanecer. Explique o que permanece e o que não permanece.

7. Em “Soneto da Faria Lima”, o eu lírico faz referência a um interlocutor.

a) Como esse interlocutor é marcado linguisticamente no poema?

Por meio dos termos caro colega e você.

b) Quem é esse interlocutor?

8. O eu lírico de “Soneto da Faria Lima” evidencia sua visão sobre as relações entre empresas e trabalhadores da Faria Lima. A avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo (SP), é conhecida como o coração financeiro da cidade, abrigando bancos, startups e grandes empresas do Brasil e do mundo.

a) Como o eu lírico caracteriza essas relações?

8. a) A Faria Lima paga mal, não respeita os direitos e até pagaria só com experiência se fosse possível.

b) E xistem diversas formas de fazer uma crítica. Que tom o poema assume para fazer a crítica à Faria Lima? Explique.

O poema usa um tom irônico-satírico, tratando a linguagem usada por certa categoria de trabalhadores da Faria Lima de forma caricata.

9. b) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes percebam que o uso desse linguajar pretende atribuir ao falante imagem de moderno, cosmopolita e bem-informado, especialmente se atua em áreas como tecnologia, negócios ou cultura pop; mas, ao tratar de forma satírica esse linguajar, o poema mostra esse falante como pedante, arrogante ou mesmo risível pela utilização exagerada e até desnecessária desses termos.

9. No século XXI, o mundo globalizado atingiu novas dimensões com a popularização e o desenvolvimento de uma tecnologia que permitiu um intercâmbio de linguagens e equipamentos de forma rápida e mais acessível. Essa facilidade também permitiu maior intercâmbio linguístico, pois a chegada de uma nova tecnologia também vinha com termos da língua original que foram incorporados ou adaptados para o português.

a) Considere o segundo poema e copie, no caderno, o organizador a seguir, completando-o com os estrangeirismos que ele apresenta e o equivalente em português.

Estrangeirismo

Call

Brainstorm

Shopping Mall

To go

Deadline

CEO

Briefings

Insight Rights

Know-how

Termo em português que o substitui

Chamada

Debate de ideias

Galeria de lojas, mercado

Mercado

Para viagem

Prazo final

Diretor-geral

Resumos, instruções, ideias para projeto

Sacada

Direitos

Competência, habilidade

b) O p oema ironiza a utilização exagerada de termos em inglês. Considere seu conhecimento de linguística e explique que efeito o falante pretende provocar em seu interlocutor com a utilização desses termos e que sentido o poema atribui a esses falantes.

c) O poema refere-se a sujeitos que são popularmente chamados de faria limers , apelido derivado de Faria Lima, nome da língua portuguesa. Explique a formação desse neologismo e como valoriza a língua inglesa.

Embora Faria Lima seja um nome da língua portuguesa, o neologismo é formado com a inclusão da desinência -ers A escolha dessa desinência valoriza a língua inglesa porque vem dela e indica origem ou ocupação.

Estrangeirismo e neologismo são fenômenos linguísticos que refletem a evolução e adaptação das línguas. O estrangeirismo ocorre quando uma língua adota palavras ou expressões de outro idioma, como software ou marketing; geralmente, essa adoção se dá para preencher lacunas lexicais ou por influência cultural. Já o neologismo é a criação de novas palavras, muitas vezes para descrever inovações tecnológicas, sociais ou culturais, como selfie ou stalkear

A poesia contemporânea responde a demandas que surgem na sociedade todos os dias. Ela responde a essas questões ao colocar a sensibilidade a favor de uma reflexão sobre temas que afetam a subjetividade do leitor e a vida coletiva. A partir dos anos 1960, movimentos sociais no mundo todo reivindicaram liberdade, direitos, novos pactos sociais que legaram à sociedade contemporânea novas formas de se relacionar individual e coletivamente. A seguir, você vai conhecer a produção de uma geração que buscava realizar o sonho da sociedade livre projetado pela geração da década de 1960, mas que, para isso, teve de encontrar lugar à margem de uma literatura canônica. ENTÃO...

Literatura à margem

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

A poesia marginal foi um movimento literário que emergiu no Brasil durante a década de 1970. Produzida em um contexto de repressão durante a ditadura civil-militar, a poesia marginal utilizava uma linguagem coloquial e direta para expressar as angústias, as frustrações e os anseios de uma juventude que se sentia à margem da sociedade e que não encontrava nas editoras espaço para publicação. Os poetas marginais frequentemente publicavam suas obras de forma independente, em fanzines ou edições artesanais, desafiando o mercado editorial tradicional e levando a poesia para ruas, bares e espaços alternativos.

Para discutir

1 A s gerações modernistas abriram novas perspectivas para a literatura brasileira. Que tipo de liberdade de criação do Modernismo teria possibilitado o surgimento de uma poesia como a marginal?

2 A poesia marginal responde às demandas de sua época e às lutas que mobilizavam a juventude dos anos 1960. Que temas mobilizam a juventude hoje?

3 Que produções artísticas promovem reflexões sobre essas demandas?

A seguir, você lerá dois poemas. O primeiro é do poeta carioca Chacal, e o segundo, do poeta piauiense Torquato Neto, dois dos maiores representantes da poesia marginal brasileira.

Texto 1

o poeta que há em mim não é como o escrivão que há em ti funcionário autárquico o profeta que há em mim não é como a cartomante que há em ti cigana fulana o panfleta que há em mim não é como o jornalista que há em ti matéria paga o pateta que há em mim não é como o esteta que há em ti cana à la Kant o poeta que há em mim é como o voo no homem pressentido

CHACAL. [O poeta que há em mim]. In: HOLLANDA, Heloisa Buarque de (org.). 26 poetas hoje: antologia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. p. 222.

#SOBRE

Chacal (1951-), pseudônimo de Ricardo de Carvalho Duarte, é um dos principais nomes da poesia marginal brasileira. Seu trabalho é marcado por linguagem coloquial, irreverente e carregada de crítica social. Ao longo de sua carreira, também se destacou em performances poéticas e atuações na música e no teatro.

Foto do poeta em 2007.

autárquico: economicamente independente. panfleta: aquele que alardeia suas ideias. esteta: pessoa que cultua o belo acima de todos os valores.

O X DA QUESTÃO
Não escreva no livro.

Texto 2

Cogito

eu sou como eu sou pronome pessoal intransferível do homem que iniciei na medida do impossível

eu sou como eu sou agora sem grandes segredos dantes sem novos secretos dentes nesta hora

eu sou como eu sou presente desferrolhado indecente feito um pedaço de mim

eu sou como eu sou vidente e vivo tranquilamente todas as horas do fim.

NETO, Torquato. Cogito. In: MORICONI, Italo (org.). Torquato essencial. Belo Horizonte: Autêntica, 2017. p. 39.

PENSAR E COMPARTIlHAR

#SOBRE

Torquato Neto (19441972) foi um poeta, jornalista e letrista brasileiro, conhecido por sua contribuição significativa ao movimento da Tropicália e à poesia marginal. Nascido em Teresina, Piauí, foi uma figura central no movimento contracultural do Brasil, colaborando com nomes importantes como Caetano Veloso e Gilberto Gil. Sua principal obra é o livro Os últimos dias de paupéria (1973), lançado postumamente.

Foto do poeta em 1968.

desferrolhado: solto, livre.

1. A escritora e crítica Heloisa Buarque de Hollanda, responsável pela inserção dos poetas marginais no mercado editorial com a antologia 26 poetas hoje (1975), identificou que, na poesia marginal:

A presença de uma linguagem informal, à primeira vista fácil, leve e engraçada e que fala da experiência vivida contribui ainda para encurtar a distância que separa o poeta e o leitor. Este, por sua vez, não se sente mais oprimido pela obrigação de ser um entendido para se aproximar da poesia.

HOLLANDA, Heloisa Buarque de. Introdução. In: HOLLANDA, Heloisa Buarque de (org.). 26 poetas hoje: antologia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. p. 26.

• A poesia marginal tira a aura sacralizada da literatura e a insere no cotidiano, nos muros, nas ruas, na música que tocava nas rádios e na televisão. Pode-se, então, dizer que os dois poemas anteriores podem atingir um maior número de leitores não habituados à leitura de poesia. Por quê?

2. No texto 1, o eu lírico se define como poeta com base em características que atribui a seu interlocutor.

a) E xplique que visão o eu lírico tem de um escrivão, uma cartomante, um jornalista e um esteta.

b) Considere as respostas à pergunta anterior e caracterize o poeta que o eu lírico pretende ser.

3. Para referir-se a si mesmo, o eu lírico do texto 1 utiliza quatro termos: poeta , profeta , panfleta e pateta

2. a) O escrivão seria um funcionário cego, rendido à burocracia; a cartomante, uma cigana qualquer que pretende adivinhar o futuro; o jornalista seria um profissional corrompido por notícias pagas; o esteta, preocupado com conhecimentos abstratos e vãos.

a) O que esses termos sugerem sobre o eu lírico?

b) Que recurso sonoro se destaca na escolha dessas palavras?

1. Porque não apresentam um léxico rebuscado nem figuras de linguagem de difícil compreensão. A linguagem coloquial e informal dita o tom dos poemas, que propõem uma reflexão por meio de uma linguagem de fácil acesso.

2. b) Um poeta que não se prende a estéticas, que não se rende ao mercado e nem às possibilidades de um futuro também abstrato. É um poeta livre para alçar o voo que pretender.

J. FERREIRA DA SILVA/ABRIL COMUNICAÇÕES S.A.
Não escreva no livro.
3. a) Sugerem que ele se reconhece como um poeta que fala sobre o mundo de modo engajado (panfleta), mas com humor (pateta).
3. b) A aliteração com p e as rimas com -eta

7. “E vivo tranquilamente / todas as horas do fim”. Além de resistir, de viver ainda que desferrolhado seu próprio tempo, o eu lírico é capaz de decretar um fim, o que o torna sujeito de si mesmo, no pleno domínio do ego, do ser.

4. A última estrofe do poema compara o poeta com “o voo no homem pressentido”. Que sentido se pode atribuir a essa imagem? Copie, no caderno, a afirmativa verdadeira.

a) Os versos se referem à possibilidade de uma criação livre, que manifeste a plenitude que o poeta acredita poder atingir.

b) Os versos falam de uma previsão de poesia que será construída quando houver liberdade.

c) O s versos se referem ao homem que, não sendo vidente, pode apenas projetar uma criação impossível.

Resposta: alternativa a

5. Releia a primeira estrofe do texto 2: “eu sou como eu sou / pronome / pessoal intransferível / do homem que iniciei / na medida do impossível”.

a) E sses versos apresentam uma aparente contradição. Identifique-a e explique o sentido que ela tem.

A aparente contradição está na ideia de que é impossível, mas o eu se inicia, se faz. Se é impossível, ele não poderia “se iniciar”. O fato de fazer isso afirma um sujeito que vive na contradição e que afirma uma resistência a ela.

A de um eu lírico capaz

b) Que característica do eu lírico essa imagem projeta?

c) O t ítulo do poema revela um diálogo com o filósofo francês René Descartes (1596-1650) e sua famosa frase: Cogito, ergo sum (“Penso, logo existo”). Recrie a frase de Descartes de acordo com a interpretação que fez da estrofe inicial do poema.

Sugestões de respostas: penso, longo resisto; penso, logo insisto etc.

6. Nesse autorretrato, o eu lírico se associa a vários atributos.

a) Identifique os atributos com que ele se define.

b) Que retrato resulta desse conjunto de atributos?

6. a) Pronome pessoal, agora, presente, pedaço de mim, vidente.

De um eu lírico ancorado no presente, mas capaz de projetar um futuro.

7. Depois de criar a si mesmo, o eu lírico determina seu próprio fim. No caderno, copie os versos que apresentam essa ideia e explique que característica isso acrescenta ao sujeito.

8. A construção do poema conta com a repetição do verso “eu sou como eu sou”.

a) Que efeito de sentido tem essa repetição?

A repetição reforça a presença do sujeito e seu domínio sobre o que pensa ser.

b) A repetição é seguida de versos compostos de uma única palavra. Explique como essa construção impacta a leitura do poema.

A palavra isolada exige uma pausa na leitura e, consequentemente, uma atenção a ela, que passa, então, a ter o sentido acentuado.

A literatura marginal hoje

Nos anos 1990, as expressões literatura marginal e poesia marginal começaram a ser usadas para além das obras produzidas nos anos 1960 e 1970. Escritores da periferia da cidade de São Paulo (SP), ligados ao movimento hip-hop, começaram a produzir romances, poesias e canções que respondiam aos problemas sociais daqueles que viviam à margem da sociedade, nas periferias dos grandes centros urbanos. O romance Capão pecado (2000), de Ferréz (1975-), é um dos marcos iniciais dessa literatura. Sérgio Vaz (1964-) é um dos principais nomes da poesia marginal, ativista da poesia como meio de transformação social. Por isso, atua em saraus de periferia, ações educativas e tem seus poemas colados e pichados em muros da cidade de São Paulo.

Lambe-lambe de Sérgio Vaz. São Paulo, 2014.

SAIBA MAIS

9. A poesia marginal responde às demandas da contracultura dos anos 1960 e 1970. Uma delas é o questionamento das cobranças sociais e da necessidade de seguir um modelo e um padrão de vida.

a) Que tipo de vida é recusada pelo eu lírico no poema?

O eu lírico recusa uma vida presa a padrões, segredos e pressões sociais.

b) Que perspectiva de vida é possível apreender com base no poema?

Leia o poema a seguir, da poeta carioca Ana Cristina Cesar.

Tenho uma folha branca e limpa à minha espera: mudo convite

tenho uma cama branca e limpa à minha espera: mudo convite

tenho uma vida branca e limpa à minha espera:

5.2.69

9. b) É possível identificar uma perspectiva de que a vida deve ser de liberdade, de abertura ao outro, de tranquilidade.

CESAR, Ana Cristina. [Tenho uma folha branca]. In: CESAR, Ana Cristina. Poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 161.

10. Os adjetivos que classificam a folha e o convite ( branca e mudo) revelam as possibilidades de interação que surgem com o mundo pelo eu lírico.

a) E xplique o sentido que o adjetivo branco produz nos versos.

Ana Cristina Cesar (1952-1983) foi uma poeta e tradutora brasileira, reconhecida como uma das principais vozes da poesia marginal. Sua obra é marcada por uma linguagem direta, fragmentada e intimista, explorando temas como a subjetividade, a feminilidade e o cotidiano. Entre seus trabalhos mais notáveis, estão os livros A teus pés (1982) e Cenas de abril (1979), que foi publicado de forma independente e destaca a escrita densa e confessional característica da autora.

Foto da poeta em 1983.

O branco da folha e o da cama referem-se às possibilidades de criação na escrita e de relacionamentos.

b) A que se refere a expressão mudo convite no poema?

À folha em branco e à cama

c) A e xpressão está presente na primeira e na segunda estrofes. Por que não na terceira?

11. Observe os dois-pontos que fecham o poema.

a) A voz de quem poderia ser introduzida por eles?

10. c) Porque nela o eu lírico se refere a um futuro que ainda será construído.

A voz de um outro com que vai dialogar para construir a vida; esse outro pode ser o próprio leitor.

b) Por que o leitor pode entender esse final como abertura a um diálogo?

Porque, ao contrário das outras estrofes, nessa última o convite não é mudo.

A poesia marginal reflete os discursos da contracultura dos anos 1960 e 1970 ao desafiar normas estabelecidas e abordar temas como liberdade individual, crítica ao autoritarismo e questionamento dos valores tradicionais. Publicada de forma independente, essa poesia expressava resistência cultural e dava voz a questões como a luta contra a repressão política e a busca por novas formas de expressão e identidade.

A poesia de Paulo Leminski

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Paulo Leminski (1944-1989) foi um dos poetas mais inovadores e multifacetados do Brasil. Sua obra poética é caracterizada por concisão, humor e uma relação lúdica com a linguagem. Agora é sua vez de conhecer mais sobre o poeta. Pesquise sobre a vida e a obra de Paulo Leminski na internet em sites confiáveis e selecione alguns poemas de que mais gostar. Depois de feita a leitura individual, faça uma leitura dramática do poema com os colegas e, ao final da leitura, discuta os trechos que mais se destacaram com relação ao tema e aos recursos de linguagem utilizados em sua construção. Como grande parte dos poemas de Leminski apresenta uma estrutura muito musical, se considerar que seja possível, você também pode tentar musicar um poema e apresentá-lo para a turma.

Foto do poeta na década de 1980.

HIPERlINK
Não escreva no livro.

InTEGranDO COm...

ARTE

Música e poesia marginal

Capa do álbum Tropicália ou Panis et circencis, fruto do trabalho coletivo de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé, Torquato Neto, Capinan, Nara Leão, Rogério Duprat e da banda Os Mutantes, 1968.

A poesia marginal, que floresceu no Brasil durante a década de 1970, desenvolveu uma relação profunda e simbiótica com a música, especialmente com a música popular brasileira. Esse movimento literário, caracterizado pela produção independente e pela linguagem coloquial, encontrou na música uma forma de amplificação de suas mensagens. Poetas marginais como Chacal, Cacaso e Torquato Neto foram figuras centrais nessa intersecção entre poesia e música. Cacaso (1944-1987), por exemplo, colaborou com grandes nomes da música popular brasileira (MPB), escrevendo letras que foram musicadas por artistas como Edu Lobo (1943-) e João Bosco (1946-). Da mesma forma, Torquato Neto foi parceiro de Gilberto Gil (1942-) e Caetano Veloso (1942-) na composição de canções como “Geleia geral” e “Louvação”, que marcaram a MPB.

A música, por sua vez, foi profundamente influenciada pela energia e irreverência da poesia marginal. Artistas como Chico Buarque (1944-), Caetano Veloso e Gilberto Gil dialogaram diretamente com poetas marginais, incorporando suas linguagens e temáticas em canções que desafiavam a censura e a opressão.

O rock rural do trio Sá, Rodrix e Guarabyra tinha na viagem um mote que foi fundamental para a geração mimeógrafo: a liberdade e a possibilidade do encontro davam sentido à estrada. Esse diálogo entre poesia e música foi fundamental para a renovação artística do período, dissolvendo as fronteiras entre gêneros e criando uma expressão cultural que, mesmo à margem, teve um impacto profundo na arte brasileira, influenciando gerações futuras.

Não escreva no livro.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

1. Forme dupla com um colega e, juntos, pesquisem canções dos músicos citados. Selecionem alguma canção que seja de autoria deles e analisem tanto a letra quanto a melodia.

2. De que forma as letras dialogam com os temas da poesia marginal?

3. A melodia da canção aproxima-se de qual gênero musical? Há uma busca por ritmos mais tradicionais do Brasil ou um diálogo com ritmos internacionais?

A Guerra Fria esquenta

Entre as décadas de 1960 e 1970, no auge da Guerra Fria que confrontava os Estados Unidos e a União Soviética, conflitos indiretos como a Guerra do Vietnã e a crise dos mísseis em Cuba assombravam o mundo. Paralelamente, o processo de descolonização acelerava-se, especialmente na África e na Ásia, criando Estados soberanos que buscavam seu lugar no cenário internacional. Economicamente, o mundo vivia os reflexos do pós-guerra com a consolidação do “milagre econômico” em países como Japão e Alemanha Ocidental, enquanto, no Ocidente, à prosperidade dos anos 1960 se seguiu uma crise nos anos 1970, em razão da instabilidade provocada pelo choque do petróleo de 1973.

A contracultura

Na década de 1960, contestações e mobilizações sociais protagonizadas sobretudo por jovens colocaram em xeque muitos comportamentos conservadores que até então dominavam a sociedade. O movimento, que ficou conhecido como contracultura, defendia um espírito libertário e questionava ideais da geração que havia vivido a Segunda Guerra, tais como o nacionalismo, o patriotismo e o trabalho. Essa geração encontrava no rock psicodélico, na filosofia oriental, no movimento hippie e nos protestos contra todo tipo de opressão formas de expressar uma transformação na consciência, nos valores e no comportamento. A contracultura, que tinha como potente aliado os meios de comunicação de massa, também desempenhou um papel crucial na ampliação do debate sobre questões como igualdade de gênero, liberdade sexual e direitos civis, cujos impactos reverberam até hoje na sociedade contemporânea.

Manifestação contra a ditadura civil-militar no Brasil. Fotografia de 1968.

O golpe nada glorioso

O golpe militar de 1964 instaurou no Brasil uma ditadura e colocou o país em um período conturbado, que durou até 1985 e que foi marcado por repressão política, censura à imprensa, perseguição a opositores e implementação de políticas econômicas centralizadoras. O Ato Institucional n o 5 (AI-5), promulgado em 1968, institucionalizou a

Guerra do Vietnã. Fotografia de 1967.
Jovens em protesto contra a Guerra do Vietnã, em Washington, D.C. Fotografia de 1969.

repressão, suspendendo direitos civis e concentrando poderes extraordinários nas mãos do governo militar. Economicamente, o país vivia seu “milagre econômico”, uma fase de crescimento acelerado sustentado por grandes investimentos estatais e estrangeiros, a qual, no entanto, mascarava profundas desigualdades sociais e dependências externas. Socialmente, a repressão e a falta de liberdade fomentaram o surgimento de movimentos de resistência, enquanto as disparidades econômicas e a concentração de renda criaram tensões que perdurariam nas décadas seguintes, culminando em uma herança que articula desigualdade e desafios à democracia brasileira.

A efervescência cultural

Entre as décadas de 1960 e 1970, a cultura brasileira passou por um período de efervescência criativa, marcado por movimentos transformadores na música, no cinema e no teatro. A Tropicália coloca novas questões para a música e a cultura brasileira. O teatro vive uma fase de experimentação e contestação política, com grupos como os do Teatro Oficina e do Teatro de Arena, exibindo peças de crítica social e política. O Cinema Novo buscava retratar a realidade brasileira de forma crítica adotando uma estética inovadora. O filme Deus e o diabo na terra do sol, do diretor Glauber Rocha (1939-1981), tornou-se um dos ícones do período. Esses movimentos culturais não só definiram a produção artística da época mas também se tornaram símbolos de resistência e reflexão em um momento de repressão e censura política e referência para toda produção cultural brasileira posterior.

A poesia na contramão

Capa do filme Deus e o diabo na terra do sol, 1964.

A censura imposta pela ditadura civil-militar inibiu a publicação de várias obras consideradas contrárias aos princípios morais e/ou à orientação política vigente. Nesse contexto, as editoras preferiam publicar autores consagrados pela crítica e que não eram considerados subversivos. Enfrentando esses limites e engajados em uma produção que inovava temas e procedimentos de composição, alguns poetas decidiram abrir seu próprio espaço. Criou-se, então, um circuito paralelo de publicação que incluía o artista em todas as etapas de produção e distribuição do livro. Reproduzidos em mimeógrafo – máquina que fazia cópias com base em uma matriz de papel com tinta e transferida por meio de álcool –, os poemas se juntavam em envelopes, com linha ou grampo, e eram distribuídos de maneira artesanal. Em geral, era o próprio autor que vendia sua obra. Essa literatura marginal, que circula fora dos canais oficiais, dessacraliza a arte literária, quebra padrões e hierarquias e apresenta textos livres de compromisso estético e abertos à procura da poesia.

Os temas da poesia marginal centram-se nos registros do cotidiano e retomam o humor, a irreverência e a liberdade formal da primeira geração modernista. As experiências e sensações dos poetas tornam-se matéria da poesia e respondem a um mundo em mudança: uma era de renovações culturais (movimento hippie e feminista) e, no caso brasileiro, de falta de liberdade (censura e ditadura).

O registro do cotidiano e do sentimento do eu lírico frente a sua realidade aproxima a arte da vida, do mundo. A linguagem coloquial, mais que um estilo de composição, é usada para representar esse mundo, criando verossimilhança para toda a matéria do poema. Por isso, palavras e expressões cotidianas – incluindo os palavrões – tornam-se por vezes parte integrante da obra. Outro elemento fundamental é a ampliação das possibilidades composicionais herdadas dos modernistas e concretas que permitem uma maior diversificação de composição.

A poesia marginal mostrou que a arte pode circular de modo alternativo, à margem dos circuitos fixados pelo sistema. Ela prenuncia, de certa forma, as possibilidades de divulgação que se abririam com a internet e os blogues literários. Além disso, ao incorporar elementos da contracultura, a poesia marginal abriu caminho para formas poéticas e temas que dialogam com discursos ainda vivos, que pensam uma sociedade e um sujeito livres de padrões; uma poesia que seja veículo para críticas ao poder dominante, como você observou nos poemas que abriram esta unidade.

CLARK, Lygia. Diálogo de óculos. 1966. Borracha, alumínio e espelho.

A obra Diálogo de óculos, de Lygia Clark (1920-1998), é uma experiência interativa em que dois participantes usam óculos conectados por tubos flexíveis, forçando-os a se confrontarem e se conectarem diretamente, desafiando as barreiras tradicionais de comunicação. Essa obra explora a relação entre o indivíduo e o outro, enfatizando a interdependência e a necessidade de diálogo na construção de percepções compartilhadas. Procuro-me, de Lenora de Barros (1953-), usa de modo irônico a composição comum a vários cartazes de “procura-se”, que no período da ditadura estampavam a fotografia de perseguidos do regime. Ao utilizar essa estética, a artista tematiza a busca pelo próprio eu em um mundo de constantes mudanças e fragmentações. Zero real dá continuidade a uma série de obras chamada Árvore do dinheiro (1969), iniciada com Zero dólar. Na série, o artista questiona o real valor das coisas. Nas notas recriadas, Cildo Meireles (1948-) reproduz figuras marginalizadas, como o indígena da nota Zero real.

BARROS, Lenora de. Procuro-me. 2002. Impressão offset sobre papel, 28,5 cm x 24,5 cm cada cartaz. Museu de Arte Moderna de São Paulo.

MEIRELES, Cildo. Zero real. 2013. Litografia dupla, 6,5 cm x 14,5 cm.

ASSOCIAÇÃO CULTURAL “O MUNDO DE LYGIA CLARK”

Tropicália

2. A antropofagia propõe a deglutição da cultura internacional e o aproveitamento daquilo que é pertinente para a cultura nacional. O poema, ao misturar referências da cultura brasileira com cinema e música dos Estados Unidos, coloca em prática as propostas da antropofagia.

As propostas de deglutição da cultura estrangeira de Oswald de Andrade, criadas no Manifesto Antropófago (1928), só foram se concretizar no Brasil depois de quase 40 anos. Entre 1967 e 1968, um movimento artístico-cultural organizado por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes, Nara Leão, Tom Zé, Rogério Duprat, Gal Costa, Torquato Neto, Capinan e outros, fundiu elementos da cultura pop internacional (rock, psicodelia e movimento hippie) com a cultura popular do Brasil (baião, forró, samba etc.); da tradição com as vanguardas, resgatando poetas canônicos e inovações concretas, cria-se algo muito original: o Tropicalismo

Os tropicalistas Jorge Ben, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Rita Lee, Gal Costa, Sérgio Dias e Arnaldo Baptista, 1968, na TV Tupi.

A canção “Tropicália” mistura elementos da cultura brasileira e internacional; ouvem-se, no arranjo original, guitarra, violinos e berimbau; adota uma atitude anárquica com relação aos valores burgueses e exibe uma irreverência que desconstrói e constrói algo novo e profundamente brasileiro. Leia alguns versos dessa canção.

Texto

Sobre a cabeça, os aviões

Sob os meus pés, os caminhões

Aponta contra os chapadões

Meu nariz

Eu organizo o movimento

Eu oriento o Carnaval

Eu inauguro o monumento

No Planalto Central do país

Viva a Bossa, sa, sa

Viva a Palhoça, ça, ça, ça, ça […]

1. a) A canção faz referência a Carnaval, Brasília, bossa nova, palhoças, tamborim, Iracema e Ipanema. A canção também faz referência ao bang-bang e aos acordes dissonantes do rock

No pulso esquerdo o bang-bang

Em suas veias corre

Muito pouco sangue

Mas seu coração

Balança um samba de tamborim

Emite acordes dissonantes

Pelos cinco mil alto-falantes

Senhoras e senhores

Ele põe os olhos grandes

Sobre mim

Viva Iracema, ma, ma

Viva Ipanema, ma, ma, ma, ma […]

VELOSO, Caetano. Tropicália . Belo Horizonte: Letras, c2023-2024. Disponível em: www.letras.mus.br/caetano-veloso/44785/. Acesso em: 1 out. 2024.

1. A canção promove um diálogo entre as culturas nacional e internacional dos anos 1960.

a) Que elementos das culturas nacional e internacional são referidos na canção?

b) De que forma essas referências dialogam na canção?

2. A canção exalta uma nova concepção cultural para o Brasil, baseada na antropofagia oswaldiana. Explique como a antropofagia se materializa nessa canção.

A antropofagia tropicalista abriu caminho para a experimentação sonora, influenciando músicos contemporâneos como Chico Science & Nação Zumbi, BaianaSystem, Céu, O Terno, Marcelo D2 e Liniker a explorar e misturar diferentes gêneros. A atitude crítica e irreverente dos tropicalistas também ecoa no trabalho desses artistas, que utilizam a música como forma de resistência e expressão de identidade.

1. b) As referências às culturas nacional e internacional dialogam de forma harmônica, como se se complementassem.

Não escreva no livro.

Literatura também é mercado

Você leu, nesta unidade, poemas da chamada “geração mimeógrafo”: nos anos 1970, as editoras já tinham dificuldade em vender livros de poesia, e mais ainda de poetas jovens, desconhecidos, sem nenhuma tradição junto à crítica.

Produção gráfica com técnica de mimeografia. Fotografia de 2021.

Sem espaço nas casas publicadoras, os jovens poetas dessa geração inventaram uma estratégia: imprimiam seus textos no mimeógrafo, um “avô” da impressora, e vendiam eles mesmos os poemas reunidos num livro de produção simples. Era nas filas de cinema, nos teatros, nas praias e nos eventos culturais que tentavam encontrar seu público. Por atuarem à margem do mercado oficial, eram chamados poetas marginais . Publicações nas editoras vieram somente após o reconhecimento acadêmico da qualidade de parte dessa produção.

Essa trajetória ilustra a dificuldade em publicar e vender. A internet ampliou enormemente as possibilidades de divulgação dos autores estreantes, assim como os saraus, que têm conquistado um público crescente. É o caso dos instapoetas Igor Pires da Silva e Ryane Leão, que conquistaram um público significativo por meio de publicações em redes sociais. Ainda assim, o sucesso continua sendo desejável para muitos. E o que faz sucesso? Uma busca na internet dá acesso a inúmeras dicas sobre isso, mas a verdade é que não há como prevê-lo.

O que é possível dizer é que grandes sucessos se fazem muito frequentemente no boca a boca entre leitores: algo faz sentido para um grande número de pessoas, corre entre leitores e promove o livro. O esforço de divulgação, seja por parte da editora ou por parte do próprio autor, também pode conquistar público. A crítica especializada, ao elogiar, criticar, premiar ou não uma obra pode dar maior ou menor visibilidade a ela. A imprensa também tem seu papel ao refletir tudo isso: listas de mais vendidos e artigos de especialistas podem ampliar o público e reforçar ou reduzir o sucesso de um livro. A escola propõe possibilidades diante das quais as reações de cada leitor podem ser muito diferentes. Foi o que transformou o autor Paulo Coelho (1947-) em um dos maiores fenômenos editoriais do Brasil. Sem contar com a acolhida da crítica, obrigou a mídia a lhe prestar reverência pelo sucesso de O diário de um mago (1987), obra em que, ao contar sua peregrinação até a cidade de Santiago de Compostela, na Espanha, trata da necessidade de cada um encontrar o próprio caminho.

O fato é que escolhas literárias dificilmente escapam de filtros que vêm antes de o livro chegar ao leitor. Frequentar livrarias, saraus, conhecer sites de literatura continuam sendo atitudes que permitem ao leitor formar opinião de modo mais independente. Isso não invalida o papel da crítica e da imprensa, mas a busca autônoma torna cada leitor mais apto a determinar o que faz ou não sentido para ele mesmo.

Para discutir

1. Como você costuma escolher livros para ler? O que observa primeiro? O que costuma chamar a sua atenção? Lê algum texto – da contracapa, das orelhas? Informa-se antes sobre ele? Converse sobre seus hábitos com os colegas.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

lER lITERATURA

Propostas para o futuro

A poesia marginal responde a um mundo em transformação. Os poetas marginais, com irreverência, densidade emotiva, humor ou articulando tudo isso, lançavam um olhar crítico para a realidade que podia traduzir indignação, revolta, mas também sugerir mudanças.

Em uma sociedade democrática, as eleições permitem a circulação de discursos que também podem apresentar propostas voltadas ao bem coletivo.

Nesta atividade, você vai conhecer algumas propostas para a cultura formuladas por candidatos à prefeitura de uma cidade do Nordeste.

Para discutir

A democracia brasileira possui como sua base mais importante o direito ao voto e à escolha de políticos que representem os ideais e as perspectivas sociais dos eleitores.

1 Embora o voto só seja obrigatório a partir dos 18 anos, você já tirou título de eleitor? Por quê?

2 Nas últimas eleições que ocorreram, o quanto você se interessou pelas propostas dos candidatos?

3 Qual é a importância de conhecer essas propostas?

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Você vai ler a seguir quatro propostas políticas de diferentes candidatos à Prefeitura de Serra Talhada, cidade do sertão de Pernambuco, referentes ao processo eleitoral de 2024. Os nomes dos candidatos foram substituídos por letras.

Texto

Cultura

1. Retomar o projeto Caravana Cultura Viva executando programas culturais em comunidades carentes, levando atividades artísticas e educativas para todos os cantos da cidade;

2. Destinar o mínimo de 20% do orçamento das festividades municipais aos artistas locais;

3. Concluir o teatro Arnoud Rodrigues;

4. Promover a cultura nas escolas com atividades extracurriculares como teatro, música, dança e artes visuais;

5. Promover anualmente o encontro dos artistas da terra;

6. Incentivar murais de arte urbana que reflitam a história e identidade do município;

7. Fortalecer o artesanato local e criar políticas de estímulo para o desenvolvimento;

8. Retomada do projeto Estação das Artes, que dialoga com o artesanato local, cultura e economia solidária;

9. Implantar a sede própria da escola de artes com acessibilidade para idosos e deficientes.

BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Divulgação de candidaturas e contas eleitorais Brasília, DF: TSE, [2024].

lER O MUNDO
Não escreva no livro.
Candidato A

Candidato B

Cultura

■ Criar um espaço físico para os artistas locais, bem como destinar 30% (trinta por cento) dos recursos utilizados na promoção de eventos para esses artistas;

■ Buscar parcerias com os órgãos estaduais e federais para promover viagens de estudo e intercâmbios culturais e esportivos;

■ Retomar a feira anual de exposição de animais.

BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Divulgação de candidaturas e contas eleitorais Brasília, DF: TSE, [2024].

Candidato C

Cultura – Diretrizes

1. Executar, em parceria com o Governo Federal, a Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB);

2. Fortalecer o CPF da Cultura (Conselho, Plano e Fundo);

3. Implantar a Política Municipal de Preservação do Patrimônio (Material e imaterial);

4. Instituir ações de incentivo e valorização ao audiovisual no município; implantar e/ou revitalizar espaços culturais que dialoguem com diversidade cultural do município;

5. Incrementar o programa Cultura Viva Municipal;

6. Ampliar o Programa Arte na Feira Livre;

7. Regulamentar o Sistema Municipal de Informações e Indicadores Culturais – SMIIC;

8. Concluir a segunda e terceira etapas da reforma do prédio do antigo CIST (Centro Multicultural e Memorial aos Fundadores);

9. Elaborar, regulamentar e implantar o Programa Municipal de Formação na Área da Cultura – PROMFAC;

10. Valorizar a economia criativa no município;

11. Criar programa de apoio e incentivo às mais diversas formas de expressão cultural existentes no município;

12. Construir o Pátio de Eventos Municipais com área destinada à valorização da cultura municipal;

13. Ampliar o apoio aos blocos de carnaval;

14. Ampliar o apoio às quadrilhas juninas;

15. Realizar as festas tradicionais e regionais, contando com apresentações artísticas locais, regionais e nacionais;

16. Ampliar o apoio à Banda Filarmônica;

17. Apoiar os grandes eventos teatrais.

BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Divulgação de candidaturas e contas eleitorais Brasília, DF: TSE, [2024].

Candidato D

2. Cultura e desporto (esporte e lazer)

– Promoção do poder popular, incentivando e garantindo a participação da sociedade na elaboração e na execução de políticas públicas setoriais de cultura e desporto para a sede do município e seus respectivos Bairros e toda zona rural;

– Cadastro, qualificação e apoio do artista e do desportista, fomento a cultura e o desporto, as diversas manifestações, os grupos, os movimentos, valorizando os produtores locais e artistas locais e regionais, tanto musicais como teatrais e esportistas;

1. a) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes indiquem que propostas para a cultura são fundamentais para qualquer cidade. No caso de Serra Talhada, que se destaca na região, a valorização da cultura pode fomentar ainda mais a economia e a educação.

1. b) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes destaquem a cultura relacionada ao sertão e ao cangaço e também a cultura do estado em que a cidade está localizada, sobretudo as manifestações da cultura pernambucana que também fazem parte da cultura local.

– Criação, construção e entrega mobiliada e equipada da Casa de Cultura e do Desporto para a sociedade, espaço destinado à produção e fomento da cena cultural, do esporte e do lazer da cidade, com auditório, anfiteatro, salas para oficinas e espaço para exposições, quadra poliesportiva e outros; […]

– Criação da Secretaria Municipal de Cultura e do Conselho Municipal de Cultura; […]

– Criação de áreas para Praça de alimentação com shows acústicos, com uso voltado para todo o público; […]

3. Promoção das festas populares

– Valorização e apoio às festas de bairros e distritos e dos padroeiros;

– Resgate das festas tradicionais de cada bairro e distrito.

BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Divulgação de candidaturas e contas eleitorais. Brasília, DF: TSE, [2024].

8- Concluir a segunda e terceira etapas da reforma do prédio do antigo CIST (Centro Multicultural e Memorial aos Fundadores).

12- Construir o Pátio de Eventos Municipais com área destinada à valorização da cultura municipal.

PENSAR E COMPARTIlHAR

Não escreva no livro.

1. Leia a seguir algumas informações sobre o município de Serra Talhada, publicadas no portal Tome Conta, do Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE-PE).

Serra Talhada é um município localizado em Pernambuco e é considerado o principal da Mesorregião do Sertão Pernambucano por ser polo em saúde, educação e comércio. Também é a terra do cangaceiro Virgulino Ferreira da Silva, conhecido como Lampião.

A cidade fica a 415 quilômetros do Recife e é o segundo município mais importante de todo o sertão do Estado. Sua população foi estimada em 87 467 habitantes, de acordo com dados do IBGE de 2021.

RECIFE. Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco. Conheça mais sobre Serra Talhada . Recife: TCE, c1968-2024. Disponível em: https://tomeconta.tce.pe.gov.br/serra-talhada/. Acesso em: 1 out. 2024.

a) Com base nesses dados, explique qual seria a importância da construção de propostas culturais para a cidade de Serra Talhada.

b) Considerando as informações sobre Serra Talhada, quais aspectos uma proposta política para a cultura da cidade deveria destacar? Justifique.

Criar um espaço físico para os artistas locais, bem como destinar 30% (trinta por cento) dos recursos utilizados na promoção de eventos para esses artistas.

2. Para votar de maneira consciente, é necessário sempre analisar com cuidado as propostas dos candidatos e compará-las para verificar qual deles demonstra maior conhecimento e preparo para assumir o cargo que pleiteia. Nos itens a seguir, copie o organizador, no caderno, e complete-o com as propostas dos respectivos candidatos.

a) Propostas relacionadas aos espaços de cultura da cidade.

Retomar o projeto Caravana Cultura Viva, executando programas culturais em comunidades carentes, levando atividades artísticas e educativas para todos os cantos da cidade. Concluir o teatro Arnoud Rodrigues. Implantar a sede própria da escola de artes com acessibilidade para idosos e deficientes.

Candidato A

B

C

D

Criação, construção e entrega mobiliada e equipada da Casa de Cultura e do Desporto para a sociedade, espaço destinado à produção e fomento da cena cultural, do esporte e do lazer da cidade, com auditório, anfiteatro, salas para oficinas e espaço para exposições, quadra poliesportiva e outros.

Candidato
Candidato
Candidato

Destinar o mínimo de 20% do orçamento das festividades municipais aos artistas locais.

Fortalecer o artesanato local e criar políticas de estímulo para o desenvolvimento.

Retomada do projeto Estação das Artes, que dialoga com o artesanato local, cultura e economia solidária.

b) Propostas relacionadas aos artistas/artesãos.

Candidato A

Candidato B

Candidato C

Candidato D

Valorizar a economia criativa no município.

Criar um espaço físico para os artistas locais, bem como destinar 30% (trinta por cento) dos recursos utilizados na promoção de eventos para esses artistas.

c) Propostas relacionadas às festividades.

Cadastro, qualificação e apoio ao artista e ao despor tista, fomento à cultura e ao desporto, às diversas manifestações, aos grupos, aos movimentos, valorizando os produtores locais e artistas locais e regionais, tanto musicais como teatrais e esportistas.

Candidato A

Candidato B

Candidato C

Candidato D

3. Alguns candidatos apresentam propostas que revelam as concepções que têm de cultura.

a) Que concepção de cultura é possível apreender do candidato B ao registrar uma proposta como “Retomar a feira anual de exposição de animais”?

b) Qual pode ser a concepção de cultura do candidato D ao unificar em apenas uma seção “Cultura e desporto (esporte e lazer)”?

4. a) A ideia de que é fundamental valorizar a cultura e os artistas locais, já que fazem parte do conjunto de cidadãos para os quais o prefeito vai governar.

4. É possível inferir, nas diferentes propostas, um argumento que as justifica, ou seja, uma ideia que explique por que a proposição é feita. Explique que ideia poderia justificar as seguintes propostas:

a) “Criar um espaço físico para os artistas locais, bem como destinar 30% (trinta por cento) dos recursos utilizados na promoção de eventos para esses artistas;” (candidato B).

b) “ Retomar o projeto Caravana Cultura Viva executando programas culturais em comunidades carentes, levando atividades artísticas e educativas para todos os cantos da cidade;” (candidato A).

4. b) A ideia de que as regiões mais carentes da cidade devem ser lembradas em um programa de governo, já que o acesso a programas culturais é mais difícil para os cidadãos que vivem nessas localidades, o que garante sua inclusão no acesso à cultura.

As propostas de um candidato geralmente estabelecem alguma interação com as propostas de outros candidatos ou com o governo vigente. Como essas propostas fazem parte de uma eleição, é necessário que o candidato, além de apresentar seu plano de governo, argumente para convencer o eleitor de que sua proposta é preferível à de seus adversários.

3. a) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes reflitam sobre o modo como uma feira de exposição tanto pode fazer parte de um evento cultural da região como pode ser apenas um evento típico da pecuária relacionado à venda e compra de animais.

5. Compare as propostas a seguir.

3. b) Para esse candidato, agregar cultura e esporte diminui a importância de ambas, principalmente quando são resumidas à cultura como sinônimo de lazer e desporto, de esporte. Isso desconsidera vários outros aspectos da cultura e do desporto.

Candidato A

Retomar o projeto Caravana Cultura Viva executando programas culturais em comunidades carentes, levando atividades artísticas e educativas para todos os cantos da cidade;

Candidato C

Valorizar a economia criativa no município;

Ampliar o apoio aos blocos de carnaval. Ampliar o apoio às quadrilhas juninas.

Realizar as festas tradicionais e regionais, contando com apresentações.

Criação de áreas para praça de alimentação com shows acústicos, com uso voltado para todo o público; Valorização e apoio às festas de bairros e distritos e dos padroeiros; Resgate das festas tradicionais de cada bairro e distrito.

Sem propostas.

5. a) A primeira proposta apresenta a ação e como ela será realizada indicando sua função. A segunda proposta só indica que será feita a valorização sem indicar como e nem por quê.

5. b) A proposta é vaga e superficial, já que não detalha como será feita essa valorização.

a) Que diferenças é possível perceber no modo como cada proposta é apresentada?

6. A ideia essencial do parágrafo poderia ser resumida à afirmação: “Garantir a execução do Plano Municipal de Cultura”. A aspiração de ser “acordo de longo prazo entre Estado e Sociedade” sugere que a proposta se pretende acima de partidos ou governos. O restante não corresponde ao conteúdo principal da proposta. Professor, considere e discuta as hipóteses dos estudantes. O discurso mais prolixo é com frequência associado a sabedoria,

b) O candidato C afirma querer “valorizar a economia criativa”. Embora seja uma proposta desejável para o município, que problema ela apresenta?

Na atividade anterior, a segunda proposta é mais concisa que a primeira, ou seja, tem uma construção mais breve, mais enxuta. De modo geral, os candidatos preferem a prolixidade, que é o inverso de conciso. Observe, a seguir, a proposta de um candidato à Prefeitura de Salvador, capital da Bahia, na eleição de 2020.

Garantir a execução do Plano Municipal de Cultura, como expressão de um acordo de longo prazo entre Estado e Sociedade, e que, para além de um papel a ser esquecido nos escaninhos da burocracia, deve ser cumprido com zelo e respeito ao esforço, reflexão, compromissos e vontades coletivas;

BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Divulgação de candidaturas e contas eleitorais Brasília, DF: TSE, [2024].

6. A proposta pode ser considerada prolixa, ou seja, se estende mais que o necessário. Dê um exemplo disso e formule uma hipótese sobre a seguinte questão: que imagem do candidato esse tipo de escrita projeta?

erudição, conhecimento, ilustração, inteligência, dignidade etc.; o candidato, ao adotar a prolixidade, pensa poder associar sua imagem a essas características.

As propostas de governo consideram aspectos da realidade presente que cada candidato entende ser importante para o eleitor e projetam ações futuras a serem desenvolvidas para contemplar o que esse eleitor espera. As propostas, no entanto, nem sempre informam como serão desenvolvidas nem detalham as ações necessárias para que sejam realizadas.

7. a) Os três primeiros candidatos utilizam verbos no infinitivo, e o candidato D utiliza substantivos que indicam ações.

7. Compare a linguagem das propostas dos candidatos A, B e C e do candidato D.

a) Que diferença há entre os três primeiros candidatos e o último com relação ao recurso linguístico utilizado para indicar as ações propostas para a cultura?

b) Que formas verbais ficam implícitas nas propostas do candidato D?

Respostas possíveis: Faremos, será realizada ou correlatos.

8. É possível identificar, nas propostas dos quatro candidatos, programas que supervalorizam o local.

a) Qual é a consequência desse enfoque para a comunidade?

b) Q ue tipos de ação poderiam ser realizados para ampliar um intercâmbio cultural com outras regiões?

Poderiam ser criados eventos, festivais, mostras, feiras e shows que possibilitassem a ida de artistas e outros agentes culturais de diversas regiões para a promoção de um maior intercâmbio cultural.

9. Depois de ler as propostas dos quatro candidatos, é possível estabelecer uma rápida comparação entre elas. Identifique a seguir qual proposta melhor responde às qualificações listadas.

• Proposta mais detalhada

• Proposta menos clara

• Mais ações novas

Candidato C

Candidato B

Candidato D

• Mais conhecimento sobre a cidade

Candidato C

8. a) Embora a cultura regional seja fortalecida e incentivada, a comunidade tende a se isolar de elementos culturais que poderiam ampliar o cenário cultural e tecer novos diálogos e perspectivas.

10. A s propostas de governo constituem uma das ferramentas mais importantes do processo democrático: é por meio delas que o candidato registra junto à justiça o que pretende fazer pela cidade e pelas pessoas se for eleito.

a) Considere que você fosse eleitor de Serra Talhada em 2024. Em qual candidato você votaria com base apenas nas propostas para a cultura que leu? Justifique.

Respostas pessoais.

b) Qual candidato teria maior rejeição de sua parte nessa eleição? Explique suas razões.

Respostas pessoais.

Professor, essa é uma oportunidade de incentivar um debate entre os estudantes para que percebam a diferença e até disparidade entre candidatos, e como o voto deve ser consciente e pautado nas propostas, e não apenas no carisma do candidato.

3. Porque o verbo exige a preposição a, que, no caso do substantivo feminino singular pintura, contrai-se com o artigo a; o substantivo afresco é masculino singular e exige o artigo o, que se junta à preposição exigida pelo verbo.

1. b) O relativo isolamento do Serro depois da Proclamação da República, quando a cidade perde importância econômica e social.

4. a) Verbo remontar. Complemento objeto indireto: à metade do século XVIII

Crase

4. b) Que ele é transitivo indireto e exige preposição.

4. c) “a arte religiosa do município do Serro se sobrepõe às demais executadas na Capitania de Minas Gerais.”

O estudo que se inicia tem relação com o conteúdo de regência apresentado na Unidade 5 Leia o artigo a seguir, sobre um patrimônio cultural brasileiro, e observe os destaques.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

1. a) Em um conjunto arquitetônico colonial.

1 O texto refere-se ao patrimônio de uma cidade mineira.

a) Em que consiste esse patrimônio?

b) O texto apresenta uma razão pela qual esse patrimônio chegou quase intacto até os dias de hoje. Qual é ela?

2. a) Devido ao cuidado com o patrimônio histórico de Serro.

Devido à conservação do patrimônio histórico de Serro, em Minas Gerais, todo o acervo urbano-paisagístico do município passou a ser protegido pelo Iphan, com o tombamento, em 1938. O acervo de arquitetura colonial do município caracteriza-se pela homogeneidade do conjunto, assegurada pela fidelidade a determinados partidos próprios da região, e a ênfase ornamental conferida à ornamentação interna dos templos, sobretudo à pintura em perspectiva dos forros.  […]

[…] A cidade conserva um traçado básico que remonta, presumivelmente, à metade do século XVIII […].

3 Se no trecho em destaque a palavra pintura fosse substituída por afresco, a oração ficaria “particularmente no que se refere ao afresco em perspectiva de forros de igrejas”. Por quê?

4 O trecho em destaque está regido por um verbo.

2 Observe este caso de crase.

a) Suponha que, em vez de conservação, fosse usado o termo cuidado. Reescreva o período fazendo as adaptações necessárias.

b) Qual mudança você observou na reescrita? O que se pode concluir com base nessa observação?

2. b) Espera-se que os estudantes se refiram principalmente à troca de à por ao, e que a reescrita mostra necessidade de permanência da crase, contraída com o artigo o.

A construção de vários templos ricamente ornamentados e de imponentes sobrados residenciais, no decorrer do século XVIII, assinalam sua fase de preponderância econômica e social. Entretanto, ao iniciar-se a Era Republicana, vários fatores, dentre eles o isolamento da cidade em relação aos novos centros de maior progresso do Estado, acentuariam a estagnação social e econômica do Serro, cuja imagem urbana e arquitetônica chegaria até nossos dias quase intacta em relação à fisionomia característica dos séculos XVIII e XIX […].

[…] É no campo da pintura, particularmente no que se refere à pintura em perspectiva de forros de igrejas , que a arte religiosa do município do Serro se sobrepõe às demais executadas na Capitania de Minas Gerais, no mesmo período.

INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Serro (MG). Brasília, DF: Iphan, c2014. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/ detalhes/376/. Acesso em: 1 out. 2024.

5. a) Chegaria a nossos dias ou chegaria aos nossos dias. 5. b) Resposta pessoal. Sim, poderia usar.

a) Identifique o verbo e classifique seu complemento.

b) O que se pode concluir sobre a regência do verbo?

c) Identifique no texto um trecho com outro verbo que exija preposição.

5 Observe o trecho em destaque.

a ) Reescreva o trecho substituindo a preposição até por a

b) Você usou ou não o artigo? Poderia usar?

Não escreva no livro.

Como estudado nas Unidades 4 e 5, alguns verbos e nomes seguem uma regência específica que exige a preposição a para se ligarem aos termos que regem.

Observe o período a seguir.

A candidata quer ampliar o apoio às quadrilhas juninas. substantivo preposição + artigo

A candidata quer construir um Pátio de Eventos em frente à área do prédio da Secretaria da Cultura.

locução adverbial preposição + artigo

A candidata quer destinar aos artistas locais o mínimo de 20% do orçamento das festividades municipais.

verbo preposição + artigo

Nesses casos, o substantivo apoio, a locução adverbial em frente e o verbo destinar pedem a preposição a.

[…] em frente a + a área

[…] apoio a + o festejo junino

[…] destinar a + os artistas

No entanto, como são seguidos por palavras femininas, ocorre a junção da preposição a com o artigo a. Essa junção é marcada pelo acento grave à

[…] apoio a + as quadrilhas às

[…] em frente a + a área à

[…] destinar a + os artistas aos

A crase é um fenômeno da língua que se dá com a junção da preposição a , exigida por um termo regente, com os artigos a ou as . Esse encontro é marcado pelo acento grave em à e às

Quando a preposição a se liga ao artigo a ou as, temos o acento grave que origina a crase à ou às.

Importante! A crase não ocorre:

• antes de verbos no infinitivo: Começou a cantar;

• antes de palavras masculinas: Andava a pé. Viajou a cavalo.

Casos especiais

A crase ocorre:

• em locuções com palavras femininas: à direita, à frente, à noite, às vezes;

• em expressões que indicam horas: às 13 horas.

Àquele e àquela

Pode ainda ocorrer crase com a junção da preposição a mais o pronome aquele e suas flexões: O candidato foi àquela convenção que o confirmou como postulante ao cargo de prefeito.

Nomes de lugares

• Se o nome do lugar é precedido de artigo, ocorre crase: A Itália é um país europeu.

Vou à Itália.

• Se o nome do lugar não é precedido de artigo, não ocorre crase: Campinas é uma cidade do estado de São Paulo.

Vou a Campinas.

PENSAR E COMPARTIlHAR

Leia o depoimento a seguir, do gramático Pasquale Cipro Neto (1955-) sobre uma história curiosa com o poeta Ferreira Gullar (1930-2016).

NO ANO PASSADO, tive a honra de ser um dos entrevistadores do poeta Ferreira Gullar em sua participação na sabatina da Folha. […]

Quando cheguei ao camarim do teatro em que se deu o evento, Gullar já estava lá. Antes mesmo de me cumprimentar, foi logo dizendo: ‘A frase é minha, sim’. ‘Então você lê as bobagens que escrevo’, respondi, feliz com a honraria.

O autor do célebre e já trintenário ‘Poema sujo’ referia-se a um texto em que afirmei que, ‘salvo engano’, a frase ‘A crase não foi feita para humilhar ninguém’ era dele. E não é que um dos nobres integrantes do nosso nobilíssimo Parlamento teve a ideia de apresentar um projeto de lei que propõe a extinção do acento indicador de crase? Assessores do parlamentar procuraram Gullar para pedir a ele autorização para o uso da tal frase no arrazoado do projeto. O tom da coisa é demagógico, populista, típico dos sombrios dias que vivemos em relação à ignorância – alguns luminares da nossa intelectualidade adotam o paternalismo tosco, obscurantista, que resulta na falsa defesa dos fracos e oprimidos, ou seja, na manutenção destes nas trevas profundas da ignorância. Gullar mandou todos às favas, é claro (‘Não entenderam coisa alguma’).

NETO, Pasquale Cipro. “A crase não foi feita para…”. Folha de S.Paulo, São Paulo, 21 set. 2006. Disponível em: www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2109200602.htm. Acesso em: 1 out. 2024.

1. O texto de Pasquale apresenta uma situação curiosa com relação, ao mesmo tempo, à poesia, à política e à crase.

a) E xplique o sentido da frase de Ferreira Gullar.

b) Como os políticos interpretaram a frase de Gullar?

1. a) A frase de Gullar sugere que as regras da crase são simples e não se deve criar uma ideia de que seriam tão difíceis a ponto de humilhar as pessoas. Os parlamentares interpretaram o oposto: que a crase é tão difícil que humilha as pessoas, e deveria, portanto, ser extinta.

2. Considere os dois casos em que ocorre a crase no trecho. Explique qual é a regra que justifica seu uso.

• à ignorância

• às favas

Preposição a mais artigo a regido pelo nome relação Expressão feminina.

3. No caderno, reescreva os períodos a seguir fazendo as substituições indicadas.

a) O autor do célebre e já trintenário “Poema Sujo” referia-se a um texto […]. (um texto por obra)

b) Q uando cheguei ao camarim do teatro em que se deu o evento […]. (camarim por saleta dos convidados)

Quando cheguei à saleta dos convidados do teatro em que se deu o evento […].

3. a) O autor do célebre e já trintenário “Poema Sujo” referia-se à obra […].

Não escreva no livro.

ASTUCIAS DA lINGUA

1. a) O verbo é transitivo direto.

1. b) O complemento é “o apoio a cultura e o esporte”.

1. c) Não, pois sabe-se apenas o que será melhorado, e não como será.

3. Espera-se que os estudantes entendam que não, pois, embora sejam propostas ações positivas, como expandir e melhorar a educação e as escolas, o trecho não explica como isso de fato ocorrerá.

Verbos: construir e esvaziar sentidos

Leia a seguir a proposta para as áreas de cultura e esporte de um candidato à Prefeitura da cidade de Bom Jesus da Lapa, na Bahia, na eleição de 2024.

1 Observe a transitividade da forma verbal destacada .

a) Qual é ela?

b) Qual é o complemento dessa forma verbal?

c) O complemento da forma verbal explica como serão feitas as melhorias projetadas pelo verbo? Explique.

2 Considere os verbos em destaque.

a) O que será apoiado e valorizado na proposta do candidato?

b) O texto permite identificar como essas ações ocorrerão de fato? Explique.

2. a) Serão valorizadas e apoiadas as manifestações culturais e esportivas.

2. b) Sim, pois indica que serão promovidos eventos para reforçar a identidade e a tradição da comunidade.

Cultura e esporte

Melhoraremos o apoio à cultura e ao esporte como ferramentas de inclusão e desenvolvimento social.

1. Promoção de eventos culturais: continuar a apoiar eventos culturais e esportivos na cidade.

2. Inclusão pelo esporte: implementar programas esportivos para jovens, promovendo a integração social.

3. Incentivo às manifestações locais: apoiar e valorizar as manifestações culturais e esportivas locais, promovendo eventos que reforcem a identidade e tradições da comunidade.

Educação

A educação é uma prioridade e terá investimentos para melhorar a infraestrutura e a qualidade do ensino.

1. Educação integral: expandir a educação em tempo integral e melhorar as condições das escolas.

2. Valorização dos professores: continuar a valorizar os professores, com investimentos em formação e infraestrutura.

3. Tecnologia na educação: investir na integração de tecnologias educacionais, como plataformas de ensino a distância, para ampliar as oportunidades de aprendizado.

BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Divulgação de candidaturas e contas eleitorais. Brasília, DF: TSE, [2024].

3 Nos trechos destacados, o eleitor encontra informação suficiente para saber como se dará a expansão e a melhoria citadas no trecho? Por quê?

4 Considere o sentido do verbo no trecho destacado.

a) A proposta está suficientemente clara para o eleitor? Por quê?

b) Que ações poderiam ser incluídas nesse período para detalhar a proposta?

4. a) Espera-se que os estudantes reconheçam que não, pois ampliar tem sentido vago, que pode contemplar várias outras ações não expressas no texto. 4. b) Algumas ações possíveis são a inclusão de aulas de aprofundamento, plantões de dúvidas e aulas extras, ampliação da jornada escolar etc.

Nas eleições municipais, estaduais e federais, todo candidato deve apresentar um plano de governo, ou seja, um documento em que apresente suas ideias e as ações que pretende desenvolver para atender a demandas que ele identifica em dada comunidade. Os textos que apresentam essas propostas devem ser suficientemente claros para que o eleitor possa de

Não escreva no livro.

fato avaliar as ideias do candidato. No entanto, há casos em que elas se apresentam de modo vago, genérico. É o que se dá com propostas que apresentam verbos como melhorar e valorizar, expandir, apoiar, por exemplo, que aparecem frequentemente em planos de governo, sem estarem acompanhados de um detalhamento específico de como as ações que eles expressam serão implementadas. Assim, as construções com esses verbos correm o risco de se tornar meros slogans, sem apresentar de fato propostas reais e factíveis.

Para evitar esse esvaziamento de sentido, é essencial que esses discursos utilizem verbos de forma mais precisa e significativa. Quando um candidato promete “melhorar a educação pública”, por exemplo, ele pode detalhar como pretende fazer isso: propor “aumentar em 30% o número de vagas nas escolas” ou “construir novas quadras poliesportivas”.

Assim, além de utilizar verbos precisos, é importante que as propostas políticas sejam acompanhadas de metas e prazos definidos. Isso torna as promessas mais palpáveis, claras, permite que o eleitor avalie de fato as propostas de cada candidato e decida seu voto e também oferece um critério para a avaliação de desempenho durante o mandato. Por exemplo, ao prometer “valorizar os profissionais da educação”, um político pode se comprometer a “aumentar os salários dos professores em 15% ao longo de quatro anos” ou “oferecer cursos de capacitação contínua a cada semestre”. Dessa forma, o eleitor tem uma base clara para julgar se o compromisso está sendo cumprido.

Em resumo, a escolha de verbos em propostas políticas deve ir além de palavras de efeito e ser acompanhada de ações concretas, metas específicas e prazos realistas. Ao adotar essa abordagem, os políticos podem construir uma comunicação mais transparente e confiável, na qual as palavras refletem verdadeiramente os planos de ação que serão implementados. Isso não apenas fortalece a confiança do eleitorado como também eleva o nível do debate político, focando resultados tangíveis e mensuráveis.

Leia a seguir propostas políticas para a área da cultura de um candidato a prefeito de Poconé, Mato Grosso (MT), também nas eleições de 2024.

Propostas para área da cultura

■ Incentivar a contratação de turismólogos para atuar nas áreas públicas e privadas.

■ Fortalecer a atuação ativa do conselho municipal de turismo (Comtur) para criar ações voltadas ao turismo.

■ Criar uma agenda de acesso público de eventos da cidade.

■ Desenvolver um site de informações turísticas e culturais.

■ Levantar o interesse e a necessidade de cursos de formação e qualificação para profissionais de turismo.

■ Promover cursos e capacitações para profissionais do turismo (condutores, turismólogos, guias de turismo etc.).

■ Incentivar que empreendimentos estejam cadastrados no Cadastur.

■ Reestruturar fisicamente e operacionalmente o centro de informações turísticas para atender ao fluxo de visitantes e dar suporte aos guias e empresas de turismo local.

■ Desenvolver souvenirs com produtos de artesãos locais.

■ Melhorar a sinalização turística.

■ Atualizar o inventário turístico e cultural.

PENSAR E COMPARTIlHAR
Não escreva no livro.

2. a)

• Criar uma agenda de acesso público de eventos da cidade.

• Desenvolver um site de informações turísticas e culturais.

• Levantar o interesse e a necessidade de cursos de formação e qualificação para profissionais de turismo.

• Promover cursos e capacitações para profissionais do turismo (condutores, turismólogos, guias de turismo etc.).

• Incentivar que empreendimentos estejam cadastrados no Cadastur.

■ Elaborar relatórios de visitantes no posto fiscal da transpantaneira e incentivar a contratação de guias de turismo locais.

■ Ampliar e diversificar a oferta turística durante o período de baixa temporada.

■ Participar ativamente de eventos de turismo e cultura.

■ Contratar consultores de turismo para criação de rotas em comunidades tradicionais e quilombolas.

■ Implementar coleta seletiva em diversos pontos da cidade.

■ Valorizar festas religiosas.

■ Valorizar a cultura local.

• Reestruturar fisicamente e operacionalmente o centro de informações turísticas para atender ao fluxo de visitantes e dar suporte aos guias e empresas de turismo local.

• Desenvolver souvenirs com produtos de artesãos locais.

■ Promover projetos e ações de incentivo à cultura. […]

• Atualizar o inventário turístico e cultural.

• Elaborar relatórios de visitantes no posto fiscal da transpantaneira e incentivar a contratação de guias de turismo locais.

BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Divulgação de candidaturas e contas eleitorais. Brasília, DF: TSE, [2024].

1. O texto que você leu foi publicado na área destinada à cultura. Que outras áreas, no entanto, estão presentes nessas propostas para a mesma área?

• Contratar consultores de turismo para criação de rotas em comunidades tradicionais e quilombolas.

2. Algumas propostas do trecho são muito claras e permitem ao leitor/eleitor ter noção do que o candidato se compromete a fazer, se for eleito.

• Implementar coleta seletiva em diversos pontos da cidade.

a) Que propostas são essas?

b) O que confere a essas propostas um sentido mais completo e claro?

4. No primeiro turno, o candidato se coloca como aquele que vai resolver todos os problemas; no segundo turno, relativiza seu poder; depois de eleito, exime-se de resolver esses problemas.

As propostas apresentam a ação, o modo como elas serão realizadas ou com qual finalidade.

3. Considere as propostas que não têm um sentido claro relacionado à ação indicada pelo verbo.

No trecho, há várias propostas

ao turismo, que poderiam ocupar um item específico do plano; também há um item que faz referência à coleta seletiva, que se relaciona com infraestrutura

a) Que verbos são esses que passam por esvaziamento de sentido?

b) A u tilização desses verbos esvaziados pode contribuir para a construção de promessas vazias. Copie, no caderno, a alternativa que explica por que fazem parte do programa do candidato.

I. Promessas vazias ajudam os políticos a evitar compromissos concretos, permitindo-lhes atrair votos sem a necessidade de cumprir efetivamente as promessas feitas durante a campanha.

II. Promessas vazias permitem que os políticos sejam transparentes e mostrem aos eleitores que os planos estão em elaboração.

3. a) Os verbos incentivar, fortalecer, melhorar, ampliar, participar, valorizar e promover.

III. Ao fazer promessas vazias, os políticos encontram maior facilidade para assegurar que todas as suas propostas serão realizadas.

Leia a charge a seguir, do caricaturista Amarildo.

4. A charge apresenta três diferentes momentos do processo eleitoral brasileiro. O que muda no posicionamento do candidato perante os problemas do país?

5. Considere o verbo resolver no primeiro quadro.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

a) Por que se pode afirmar que esse verbo expressa uma promessa vazia?

b) E xplique de que forma, nos demais quadros, o sentido do verbo é alterado.

Resposta: alternativa I.

AMARILDO. [Candidatos e pesquisas]. Blog do Amarildo. [S. l.], 28 jul. 2010. Disponível em: https://amarildocharge.wordpress.com/2010/07/28/candidatospesquisas-e-promessas/. Acesso em: 1 out. 2024.

5. a) Resolver os problemas é uma promessa vã, pois não são citados nem quais problemas seriam nem como seriam resolvidos. 5. b) No segundo quadro, a inclusão do verbo tentar relativiza a resolução; no terceiro quadro, é declarado que os problemas não serão resolvidos.

#NOSNAPRATICA

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Carta de reivindicação

A literatura marginal responde às demandas dos anos 1960 e 1970, principalmente relacionadas ao universo da juventude. Os problemas da sociedade podem ser destacados tanto pela literatura quanto pelos discursos da política com o objetivo de transformar a sociedade.

O que você irá produzir

Nesta atividade, você vai produzir uma carta de reivindicação que tenha como tema uma questão relacionada à juventude e a perspectivas de futuro. Esse texto, como qualquer carta de reivindicação, deve se dirigir a uma autoridade pública ou a um candidato a cargo público para que inclua a demanda em seus planos. Para tanto, forme grupo com mais dois colegas para desenvolver o trabalho de escrita e pesquisa.

Planejar

Para começar a produção de sua carta de reivindicação, você e os colegas deverão levantar os problemas relacionados às perspectivas de futuro da juventude de seu contexto. Faça uma pesquisa com colegas, amigos, vizinhos e quaisquer outros jovens que você conheça e pergunte sobre questões relacionadas a perspectivas de futuro dos jovens pedindo que deem exemplos. Esse levantamento deve considerar os problemas e as possibilidades de mudança. A lista a seguir levanta possibilidades a serem investigadas e que podem ser a base de sua pesquisa com as pessoas com as quais entrar em contato.

• Acesso à cultura

• Desemprego

• Violência

• Poluição e saneamento básico

• Habitação

• Transporte

• Desigualdade social

Depois de definido o foco da carta de reivindicação, pergunte aos entrevistados como avaliam o problema: como os afeta? O que propõem como solução?

Agora é o momento de identificar quem poderia, além da autoridade pública ou do candidato, estar envolvido na demanda que a carta de reivindicação vai apresentar. Para tanto, depois de identificado o problema, respondam aos itens a seguir.

• Quem seria o responsável pela origem do problema?

• Quem seria o responsável pela possível solução do problema?

• Há alguma instituição, ou setor do poder público, que poderia ser responsabilizada pelo problema?

• É possível nomear esse responsável na figura de uma pessoa ou pequeno grupo de pessoas, ou a carta será destinada a um grupo mais amplo ou a uma instituição?

lABORATORIO DE PRODUÇÃO

Relação de causa e consequência

A coerência de um texto é fundamental para garantir que suas ideias sejam transmitidas de forma clara. Uma das maneiras de assegurar essa coerência é estabelecer relações de causa e consequência entre os períodos do texto. Quando uma ideia é apresentada como a causa de outra, o texto ganha uma estrutura lógica que facilita a compreensão por parte do leitor. Por exemplo, ao escrever “Devido à falta de investimento, os jovens não têm acesso a mais cursos de capacitação para o mercado de trabalho”, a relação de causa (falta de investimento) e consequência (acesso a cursos) fica clara, o que contribui para a fluidez do texto.

Além de conectar ideias, as relações de causa e consequência ajudam a construir um fio lógico que conduz o leitor por diferentes partes do texto. Utilizar conectivos como portanto, assim, consequentemente e por causa de reforça essa conexão e orienta o leitor sobre como as ideias se interligam. Isso não apenas melhora a compreensão do texto mas também fortalece a argumentação, uma vez que o leitor consegue acompanhar o raciocínio do autor.

Agora é sua vez de exercitar esses recursos linguísticos para a produção da carta de reivindicação. A seguir, são apresentados pares de orações que você deverá unir, no caderno, em um período composto, estabelecendo entre elas uma relação de causa e consequência.

1. Muitos jovens estão investindo em cursos técnicos.

2. A demanda por profissionais qualificados em áreas específicas está crescendo.

Muitos jovens estão investindo em cursos técnicos porque a demanda por profissionais qualificados em áreas específicas está crescendo.

1. O mercado de trabalho está cada vez mais competitivo.

2. Jovens buscam constantemente aprimorar suas habilidades.

1. A educação a distância se tornou mais acessível.

Como o mercado de trabalho está cada vez mais competitivo, jovens buscam constantemente aprimorar suas habilidades.

2. Muitos jovens agora podem estudar em universidades que antes estavam fora de alcance.

1. O empreendedorismo digital tem atraído a atenção de muitos jovens.

Pelo fato de a educação a distância ter se tornado mais acessível, muitos jovens agora podem estudar em universidades que antes estavam fora de alcance.

2. O aumento da digitalização global oferece novas oportunidades de negócio.

O empreendedorismo digital tem atraído a atenção de muitos jovens, pois o aumento da digitalização global oferece novas oportunidades de negócio.

Produzir

Seu grupo deverá iniciar a escrita da carta de reivindicação pensando na estrutura a seguir.

• Cabeçalho: com local e data.

• Saudação: adequada ao nível de formalidade estabelecida com o destinatário.

• Corpo do texto: argumentos e exemplos do problema destacado. É obrigatório que ao final do corpo do texto seja apresentada uma possibilidade de solução do problema.

• Despedida: também adequada ao nível de formalidade estabelecida com o destinatário.

• Assinatura: vocês podem se autonomear como grupo ou ter assinaturas individuais.

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Terminada a produção e revisão da carta de reivindicação, ela poderá ser enviada ao destinatário ou publicada no site do colégio e nas redes sociais.

Não escreva no livro.

ROTEIRO

PARA lER

HOLLANDA, Heloisa Buarque de (org.). As 29 poetas hoje. São Paulo: Companhia das Letras, 2021.

O livro As 29 poetas hoje foi lançado em 2021, em um momento de reflexão sobre o legado dessa geração, reunindo apenas escritoras e representantes de minorias, ampliando o espectro das vozes poéticas que surgiram desde então, o que consolida a influência da estética marginal na poesia contemporânea brasileira.

PARA ASSISTIR

O documentário retrata a vida e obra da poeta Ana Cristina Cesar, uma das vozes mais marcantes da poesia marginal brasileira, e explora a trajetória da poeta por meio de entrevistas, imagens de arquivo e leituras de seus textos, revelando a intensidade e a profundidade de sua escrita. O documentário oferece uma visão íntima da autora, celebrando sua contribuição única à literatura brasileira. REPRODUÇÃO/COMPANHIA

Capa do livro As 29 poetas hoje.

SALOMÃO, Waly. Poesia total. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.

O livro reúne a obra poética completa de Waly Salomão (1943-2003), um dos mais influentes e criativos poetas brasileiros do século XX. A linguagem vibrante, experimental e carregada de referências culturais que vão da música popular à filosofia testemunha a vitalidade do autor como agente da cultura brasileira. Waly Salomão, que também foi letrista, ensaísta e um dos protagonistas do movimento tropicalista, explora em sua poesia temas como identidade, liberdade e a fusão entre a cultura canônica e popular.

BRUTA aventura em versos. Direção: Letícia Simões. Brasil: Matizar Filmes, 2011. Streaming (74 min).

Pôster do documentário Bruta aventura em versos.

Capa do livro Poesia total

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

MUITAS VOZES 7

Observe a instalação a seguir, do artista Cildo Meireles (1948-).

1. A instalação Babel fica em uma sala do museu londrino Tate Modern. É composta de rádios de diferentes modelos, tamanhos e potências, sintonizados em estações de países diferentes; assim, a instalação ecoa vários sons sobrepostos.

a) A que pode ser associada a forma da instalação?

A uma torre.

b) C onsiderando o material que compõe a instalação, que tipos de sons podem ser ouvidos pelo observador?

Músicas, ruídos, vozes de diferentes pessoas, que falam diferentes idiomas.

MEIRELES, Cildo. Babel. 2001. Rádios, luz e som. Museu Tate Modern, Londres, Inglaterra.

2. Leia o trecho a seguir sobre a história da Torre de Babel, que faz parte da Bíblia, livro sagrado dos cristãos.

E era toda a terra de uma mesma língua e de uma mesma fala.

E aconteceu que, partindo eles do oriente, acharam um vale na terra de Sinar; e habitaram ali. […]

E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus, e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra. […]

E o Senhor disse: Eis que o povo é um, e todos têm uma mesma língua; e isto é o que começam a fazer; e agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer.

Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro. […]

Por isso se chamou o seu nome Babel, porquanto ali confundiu o Senhor a língua de toda a terra, e dali os espalhou o Senhor sobre a face de toda a terra.

GÊNESIS. In: BÍBLIA Online. ACF. São Paulo: Bíblia Online, c2024. Versão Almeida Corrigida Fiel (ACF). Localizável em: cap. 11, vers. 1-9. Disponível em: https://www.bibliaonline.com.br/acf/gn/11. Acesso em: 26 set. 2024.

Não escreva no livro.

2. a) Porque os homens, mostrando o que, unidos, seriam capazes de fazer ao construir uma torre para chegar ao céu, ameaçam o poder de Deus. As línguas diferentes separam os homens e, assim, diminuem seu poder.

2. b) A obra dialoga com a história bíblica pela forma: a instalação forma uma torre de 5 metros de altura. Também representa a mesma confusão ou incompreensão que a história bíblica ilustra: as diferentes vozes e os diferentes sons não são compreensíveis, mostrando assim o distanciamento entre as pessoas. Professor, se considerar oportuno, explique aos estudantes que o artista se refere à obra como uma “torre da incompreensão”.

a) Segundo a Bíblia, por que foram criados tantos idiomas diferentes?

b) De que forma a instalação dialoga com a história de Babel?

Observe as performances a seguir: na primeira, realizada em uma galeria de arte de São Paulo (SP), a artista Celina Portella (1977-) projeta imagens de si em escala real com as quais interage. A segunda é uma performance de Paulo Bruscky (1949-), realizada no centro de Recife, chamada O que é a arte? Para que serve?.

PORTELLA, Celina. Nós. 2011-2015. Realização na Galeria Vermelho, São Paulo (SP).

BRUSCKY, Paulo. O que é arte? Para que serve? 1978. Realização em Recife (PE).

3. Considere a obra de Celina Portella.

A performance é realizada apenas pela artista, no entanto, intitula-se Nós. Que sentido o título e a performance produzem?

4. A performance de Paulo Bruscky foi realizada nas ruas e vitrines do centro de Recife em 1978.

a) Como a escolha do espaço contribui para a produção de sentidos da performance?

b) A s perguntas que fazem parte da performance atuam de forma metalinguística. Por quê?

Porque a performance, que é uma forma da arte, questiona o próprio sentido da arte, o que permite refletir sobre a própria performance, sua classificação como arte e sua função.

A obra Babel, de Cildo Meireles, simboliza o panorama da arte e da literatura do final do século XX até a virada do milênio – um período marcado pela diversidade e pela complexidade cultural promovida pela globalização e pelo advento da internet. Assim como a instalação de Meireles, em que há uma cacofonia de vozes e sons, esse período foi caracterizado pela multiplicidade de visões de mundo, pontos de vista, e pela experimentação em várias mídias. Na literatura, autores exploravam temas como identidade, perspectivas de futuro e adequação social e abriam espaço para novas vozes e discursos de algumas minorias. A seguir, você vai conhecer mais sobre essa literatura.

3. Embora apenas a artista esteja presente, ela interage com imagens de si. Essas imagens, embora sejam dela, podem ser consideradas de outros, como se cada imagem fosse de uma pessoa diferente, como se o eu da obra fosse constituído por vários eus.

4. a) Realizar a performance nas ruas e vitrines em uma região por onde circulam muitas pessoas amplia as possibilidades de acesso ao público e pode aprofundar a sensação de estranhamento e as reflexões por parte dos transeuntes, que podem, de forma inesperada, ser confrontados pela questão proposta no cartaz.

CELINA PORTELLA
© PAULO BRUSCKY

Daqui em diante, o futuro?

Os anos 2020 são marcados por uma confluência de crises políticas e ambientais, pelo impacto das redes sociais e pela pandemia da covid-19, que moldaram agudamente o cenário global e o brasileiro. No Brasil, a polarização política se intensifica, refletindo e amplificando as tensões globais, colocando em risco a estabilidade democrática e alguns direitos civis. No âmbito mundial, as disputas geopolíticas entre grandes potências e o ressurgimento do nacionalismo como programa político intensificam as divisões internacionais. A tecnologia continua a revolucionar a comunicação e a economia, com as redes sociais desempenhando um papel central tanto na disseminação de informações quanto na propagação de desinformação, influenciando o discurso público e as dinâmicas políticas. Essa dinâmica se reflete nos discursos e contradiscursos relacionados à crise ambiental, que promove alterações radicais no planeta.

Para discutir

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

1 Qual é a importância de uma política que valorize a democracia?

2 De que forma as redes sociais podem, ao mesmo tempo, democratizar o acesso a informações e disseminar informações falsas?

3 Quais consequências o negacionismo da crise ambiental pode produzir no cotidiano das pessoas?

A seguir, você vai ler um trecho do romance A extinção das abelhas, da escritora gaúcha

Natalia Borges Polesso (1981-), publicado em 2021, quando o Brasil vivenciava a pandemia da covid-19. O romance se passa em um Brasil que tenta se reerguer depois de uma pandemia. O presidente do Brasil é um apresentador de televisão cuja esposa foi um ícone televisivo infantil. As ruas das cidades e a segurança são privatizadas. O agronegócio limita a produção de alimentos diversificados, e o uso de agrotóxicos ameaça severamente as abelhas de extinção. O Fórum Econômico Mundial de Davos cria o colapsômetro, um aplicativo para proteção e segurança planetária que se baseia no número de abelhas no mundo. No trecho, a protagonista Regina visita, depois de muito tempo, as vizinhas Eugênia e Denise, que cuidaram dela depois de ser abandonada pela mãe, e Aline, sua amiga-irmã.

Texto

— Faz tempo que não jantamos todas juntas, né? Eu adoro a nossa casa cheia. Por que não mudamos de assunto?

Ela dizia ‘nossa casa’ como se eu realmente fizesse parte dali. Eu até fazia. Ou tinha feito por algum tempo. Era uma daquelas coisas que se davam ao longo do tempo. Família de melhores amigos. […]

— Vocês tão vendo o colapsômetro na internet?

Era costume ali jantar com o celular na mão, hábito do qual eu tinha me livrado fazia algum tempo. Eu era uma desconectada.

lER O MUNDO
Não escreva no livro.

— O presidente fez até um pronunciamento no tuíter.

— Sério? — perguntei com a boca cheia.

— Sério — Aline disse, revirando os olhos —, cheio de metáforas, convocando a população a fazer a sua parte. E lançaram um app tipo um joguinho do colapso.

— Foi bonito o que ele disse! — Eugênia falou e Denise balançou a cabeça em confirmação. — Tem que baixar o aplicativo, e vai ter até recompensa de desconto nos impostos pra quem tiver boa pontuação.

— É. É bom colaborar, porque já tão implementando os lockdowns pra controlar algumas áreas. É o certo, né? Quem não ajuda não deve atrapalhar. Assim, quem quer trabalhar pode trabalhar em paz.

Eu não conseguia olhar pra ele sem pensar que estávamos num grande programa de auditório, competindo por melhorias pequenas e pessoais. […] O fato é que era melhor ter aquele apresentador de televisão como presidente do que o presidente anterior. Eu nunca pensei que fosse ficar feliz com uma coisa dessas. Eu nem pensava muito nisso, porque me dava um nó.

— Esse negócio das abelhas, eu acho que é mentira, porque a Agrotech já se manifestou, dizendo que não vai faltar nada, que é tudo mentira, que não tem como acabar as abelhas.

— Já tá faltando. Não é mentira. Faz anos que elas tão morrendo. Lembra de 2018? Tão morrendo principalmente por causa dos agrotóxicos e das políticas da Agrotech. E podem se preparar que vai faltar mais coisa — eu disse antes de dar uma garfada na lasanha.

— Não tá faltando nada. Olha essa mesa na frente de vocês! Vocês não exageram? Deus castiga tanta ingratidão.

Frango, lasanha, arroz, salada de batata, berinjela grelhada, toda aquela comida tinha que ter um propósito.

— Pessoas estão morrendo. Não é pra gente que tá faltando, mas um dia vai faltar. Eu nunca sei se vou ter medicação no mês seguinte. Não tem mais nada no mercadinho do seu Francisco, tu viu? Na casa da Norma não tem luz nem água, nem nada, não tão recolhendo o lixo há quase um mês aqui na rua mesmo.

— De novo essa história, Regina? Não vai arranjar sarna pra se coçar, hein? […]

[…]

— O que aconteceu com o discurso de ajudar o outro?

— Mas não é assim que funciona, Regina, a pessoa tem que se ajudar primeiro. Por exemplo, eu liguei hoje pro fornecedor de mel e comprei! Ainda consegui pagar um preço bem bom à vista. Assim a gente se ajuda. E mel de qualidade não vai faltar nos produtos! Isso é ajudar o outro.

— Tu comprou mel pra pôr nos cremes?

— Claro! É o nosso carro-chefe! Somos a Apis Melífera Cosméticos. E vem mais novidades, porque vamos começar a trabalhar com o veneno também.

— Dizem que é o botox natural! O cosmético das princesas.

— Não tem mais abelha e tu acha que as pessoas vão querer passar mel e veneno na cara?

— Regina, tu não entende nada de business, minha filha. Se o produto tem mel, então tem abelha. Se o produto tem mel, se precisamos usar as abelhas, então quer dizer que nós cuidamos delas. E nós cuidamos. Compramos de quem cria, e quem cria colabora pra não faltar abelha no mundo. E se tem escassez de produto, é aí que as pessoas querem passar veneno e mel até no olho! E vão pagar muito bem. Seu Francisco tem que aprender sobre novos modelos de negócios, ter informações sobre as novas práticas, ficar de olho nas oportunidades. Usar os recursos! Tem que sair da zona de conforto. Empreender. Arriscar!

— Tudo é dinheiro e oportunismo — Aline resumiu, empurrando o prato. […]

POLESSO, Natalia Borges. A extinção das abelhas. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. p. 40-43.

1. a) O sujeito neoliberal deve ser um empreendedor de si que tem imaginação, motivação, autonomia, responsabilidade.

1. b) Pode enfrentar frustração, sentimento de vazio, angústia e depressão.

1. c) O trecho mostra como as vizinhas, apesar da extinção das abelhas, preferem aproveitar a situação para conseguir mais mel e produtos de abelhas antes que elas sejam extintas, isto é, preferem ser criativas e oportunistas para lucrar nessa situação a praticar ações para evitar a extinção.

PENSAR E COMPARTIlHAR

1. Leia o trecho a seguir, que comenta aspectos da dinâmica social contemporânea.

3. a) Trata-se de uma medida que mostra o quão perto está a sociedade de colapsar, ou seja, de ruir, falir, implodir, o que se explicita na fala de Regina: “Eu nunca sei se vou ter medicação no mês seguinte.

mais nada no mercadinho do seu Francisco, tu viu? Na casa da Norma não tem luz nem água, nem nada, não tão recolhendo o lixo há quase

na rua mesmo”; e na referência lockdowns, implementados “pra controlar algumas áreas”.

Não escreva no livro.

Em uma sociedade competitiva, os indivíduos comparam e hierarquizam constantemente coisas e pessoas, sendo eles mesmos passíveis de (des)classificação a todo momento. ‘Especialista dele mesmo, empregado dele mesmo, inventor dele mesmo, empresário dele mesmo: a racionalidade neoliberal pressiona o eu a agir sobre ele mesmo no sentido de seu próprio reforço para seguir na competição. […]’

[…] Quando o indivíduo é colocado como centro da dinâmica, na verdade pesa sobre ele com máximo vigor uma lei externa, a lei da valorização do capital. Ao internalizá-la, é o próprio indivíduo que passa a exigir de si mesmo ser um empreendedor bem-sucedido, buscando ‘otimizar’ o potencial de todos os seus atributos capazes de ser ‘valorizados’, tais como imaginação, motivação, autonomia, responsabilidade. Essa subjetividade ilusoriamente inflada provoca inevitavelmente, no momento de seu absoluto esvaziamento, frustração, angústia associada ao fracasso e autoculpabilização; a patologia típica nesse contexto é a depressão.

FRANCO, Fábio et al. O sujeito e a ordem do mercado: gênese teórica do neoliberalismo. In: SAFATLE, Vladimir; SILVA JR., Nelson da; DUNKER, Christian (org.). Neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico. Belo Horizonte: Autêntica, 2020. p. 48.

a) De acordo com o trecho, quais qualidades um sujeito precisaria ter em uma sociedade neoliberal?

b) Que consequências o indivíduo pode enfrentar se não tiver essas qualidades?

c) De que forma o trecho dialoga com o trecho de A extinção das abelhas?

2. O trecho do romance apresenta um panorama de como estaria a sociedade brasileira em determinado momento. Copie o organizador a seguir em seu caderno e preencha-o com o que se pede.

O presidente é um ex-apresentador de televisão e governa lançando joguinhos virtuais que estimulam o individualismo.

Quem é o político citado? Como governa?

Tecnologia

Natureza

Ameaçada por políticas que beneficiam empresas e ignoram o meio ambiente.

Presente no dia a dia como forma de relacionamento e controle das ações de todos.

3. As personagens se referem ao colapsômetro, mas isso não está claramente definido no texto.

a) Considerando o texto e o sentido da palavra, o que seria o colapsômetro? O que ele mede?

b) Aline afirma que “lançaram um app tipo um joguinho do colapso”. O que essa ação mostra sobre o modo como o poder público trata o colapso iminente? E o que mostra sobre a sociedade a que ele serve?

#fiCAADiCA

Nesse episódio, Rodrigo Casarin, apresentador do podcast Página Cinco, troca ideias com a paulista Ana Rüsche (1979-), pesquisadora e autora de livros de ficção científica. Entre outros assuntos, a escritora faz comentários sobre a forma democrática de votação para atribuição do Prêmio Hugo, o mais importante da área de ficção científica, recomenda a leitura de alguns clássicos desse gênero, como os livros da escritora estadunidense Ursula K. Le Guin (1929-2018), discorre sobre a forma como a ficção científica interpreta a mudança climática do planeta e responde à pergunta: a ficção científica é sobre o futuro ou sobre o presente?

• PÁGINA Cinco #173: a ficção científica e as formas de elaborar o futuro: papo com Ana Rüsche. Entrevistada: Ana Rüsche. Entrevistador: Rodrigo Casarin. [S. l.]: Página Cinco, nov. 2023. Podcast. Disponível em: https://open.spotify.com/episode/5s6XuHbyQ1ISeEGGr1tSSU. Acesso em: 26 set. 2024.

Arte de capa para o episódio 173 do podcast Página Cinco.

3. b) Mostra um poder público irresponsável, que trata de divertir o povo para não enfrentar eventuais críticas. E mostra também uma sociedade alienada, que aderiu sem críticas à dinâmica proposta. Professor, se considerar oportuno, lembre aos estudantes o impostômetro, que divulga o quanto foi pago de imposto pelos brasileiros em cada momento do ano.

4. a) O joguinho do colapso divulga informações que seriam catastróficas, mas o faz através de um jogo que coloca o usuário em uma postura de competição que o faz investir em seu sucesso e no desconto de impostos para que possa beneficiar-se da situação.

4. A lógica neoliberal atravessa todo o romance e é apresentada de forma crítica.

a) E xplique de que forma o joguinho do colapso reproduz a lógica neoliberal.

b) Quais seriam as consequências de uma sociedade pautada por essa lógica de ampla concorrência como a apresentada no romance?

A concorrência exagerada valoriza apenas os indivíduos e mascara questões que são pertinentes à coletividade e afetam todos.

5. De acordo com o texto da questão 1, vivemos em uma sociedade competitiva, na qual os indivíduos comparam e hierarquizam constantemente coisas e pessoas. Copie uma passagem do romance que mostre essa característica.

Possibilidade: “Tem que baixar o aplicativo, e vai ter até recompensa de desconto nos impostos pra quem tiver boa pontuação”.

6. A narradora personagem Regina compara as práticas políticas que as vizinhas descrevem a um programa de auditório. Programa de auditório é um gênero popular de entretenimento da televisão, que costuma contar com a presença de uma plateia interagindo com aplausos, vaias e outras manifestações, orientadas ou não por uma assistente, e que pode participar de provas com ou sem premiação, brincadeiras e entrevistas.

6. a) A competição, o caráter lúdico, o modo como o poder público trata assuntos sérios, como o colapso iminente, na brincadeira.

a) Que semelhança Regina vê entre as ações do poder público e um programa de auditório?

b) Ao adotar essas práticas, o poder público revela como vê a população. Como a considera? Em sua opinião, trata-se de uma relação respeitosa? Por quê?

Considera-a como uma plateia que quer ser entretida. Espera-se que os estudantes reconheçam que o poder público trata a população desrespeitosamente ao não abordar com a devida seriedade a situação que se anuncia.

7. O título do livro faz referência à extinção das abelhas. Leia o excerto a seguir, sobre os impactos que a extinção das abelhas produziria na sociedade.

Em toda a região tropical as áreas naturais são dominadas por plantas com flores e cerca de 90% destas plantas dependem das abelhas para se reproduzirem (formar frutos e sementes). Além do mel e das flores, as abelhas são responsáveis também pela polinização de cerca de 65% dos alimentos consumidos pela população mundial. No entanto, este serviço prestado pelas abelhas encontra-se ameaçado, pois estes animais são extremamente vulneráveis ao uso excessivo de agrotóxicos, destruição de hábitats naturais e mudanças climáticas. Os impactos econômicos na produção de alimentos já estão sendo observados em diversos países e a extinção em massa das abelhas coloca em risco a maioria dos ecossistemas terrestres e também nossa segurança alimentar.

CARVALHO, Fernanda Antunes. “Extinção das abelhas coloca em risco nossa segurança alimentar”, diz pesquisadora. [S. l.]: Serrapilheira, 3 out. 2019. Disponível em: https://serrapilheira.org/extincao-das-abelhas-coloca-em-risco-nossa-segurancaalimentar-diz-pesquisadora/. Acesso em: 26 set. 2024.

a) Considere esse trecho e explique a relação entre a extinção das abelhas e um possível colapso da sociedade.

A extinção das abelhas, responsáveis pela polinização de cerca de 65% dos alimentos consumidos no mundo, colocaria o mundo em uma crise alimentar, pois perderia mais da metade de suas fontes de alimentação.

b) Uma das personagens nega a extinção das abelhas. Que argumento sustenta essa negação? Avalie esse argumento.

c) Copie em seu caderno a alternativa que explica a postura negacionista reproduzida no texto.

I. O negacionismo da crise ambiental, no trecho, baseia-se na crença de que a extinção das abelhas é natural e não tem impacto significativo no ecossistema global.

II. Algumas personagens consideram que a extinção das abelhas é um mito criado por cientistas para obter mais financiamento para suas pesquisas, reforçando o negacionismo da crise ambiental.

III. No trecho, o negacionismo da crise ambiental manifesta-se na rejeição das evidências científicas sobre a extinção das abelhas com base apenas na realidade mais imediata e cotidiana.

Resposta: alternativa III

d) Embora as vizinhas neguem que há uma catástrofe ambiental se construindo com a extinção das abelhas, sua postura mostra que, de fato, sabem que a extinção está ocorrendo. Que postura contraditória é essa?

Embora as vizinhas neguem a extinção, usam essa informação para comprar mel e derivados de abelha por um preço bem bom antes que elas comecem a ficar cada vez mais raras.

7. b) A personagem nega a extinção das abelhas porque considera não haver falta de alimento, já que nada falta em sua mesa posta. Espera-se que os estudantes reconheçam que a personagem considera apenas sua condição particular, o que não representa em nada o cenário de alimentação do Brasil e do mundo.

Abelha poliniza flor.

8. a) Possibilidade: “Sério — Aline disse, revirando os olhos —, cheio de metáforas, convocando a população a fazer a sua parte. E lançaram um app tipo um joguinho do colapso. / — Foi bonito o que ele disse! — Eugênia falou e Denise balançou a cabeça em confirmação. — Tem que baixar o aplicativo, e vai ter até recompensa de desconto nos impostos pra quem tiver boa pontuação”. O exagero é importante porque quer alertar para a possibilidade de um destino trágico para a humanidade.

8. Pelo trecho transcrito, é possível inferir que o romance A extinção das abelhas descreve de forma exagerada as condições de um colapso para projetar com alarde um mundo distópico.

a) Copie do texto um trecho que mostre exagero e explique por que esse exagero quase caricato é importante no romance.

b) Procure no dicionário o sentido de distópico e explique por que o romance pode ser caracterizado desse modo.

Espera-se que os estudantes entendam que o romance mostra como a crise climática, os agrotóxicos e a dependência digital já existem e estão muito próximos de chegar a situações-limite, que podem comprometer a sobrevivência do planeta e da vida tal como a conhecemos; a realidade apresentada no romance se aproximaria da distopia.

A distopia na literatura é um subgênero que retrata sociedades imaginárias nas quais as condições de vida são opressivas, injustas e desumanas, frequentemente como resultado de regimes autoritários, catástrofes ambientais ou avanços tecnológicos descontrolados. Essas narrativas servem como críticas sociais, alertando sobre os perigos de certas tendências contemporâneas ao exagerar suas consequências em cenários futuros.

Imagem do filme 1984, dirigido por Michael Radford e lançado no ano de 1984. O filme é baseado no livro homônimo, escrito por George Orwell. 1984. Direção: Michael Radford. Reino Unido: Umbrella Films, Virgin, 1984. Streaming (153 min). Frame do filme.

Um Big Brother que não é reality show O livro 1984, publicado em 1948 pelo escritor britânico George Orwell (1903-1950), é provavelmente uma das distopias mais conhecidas do mundo ocidental. No livro, um regime totalitário comandado pelo Grande Irmão (Big Brother) mantém todos os cidadãos sob vigilância constante, através de aparelhos de televisão que vigiam os moradores dentro das suas casas e de uma política de incentivo à delação de qualquer comportamento que possa parecer desviante. Assim, vizinhos são delatados por vizinhos e pais são delatados pelos próprios filhos. Há constantes sessões de treinamento para promover a fidelidade ao regime do Grande Irmão. Um desses treinamentos são os Dois minutos de ódio, em que as personagens assistem a projeções de imagens de um traidor do regime e gritam enlouquecidamente seu ódio por ele. Outro instrumento de controle usado pelo regime é a manipulação da linguagem, realizada por meio de frases em que um conceito é definido pelo seu contrário, como ocorre em LIBERDADE É ESCRAVIDÃO e GUERRA É PAZ.

No trecho que você leu, há um conflito de vozes que apresentam diferentes pontos de vista sobre as pessoas, a sociedade e o mundo. Elas correspondem à multiplicidade da sociedade contemporânea, que vivencia, por um lado, um incremento de tecnologia que permite coisas nunca antes imaginadas e, por outro, retrocessos que chegam mesmo a negar avanços da tecnologia e ciência. Essa multiplicidade de vozes já era percebida na literatura do final do século XX, que trazia a voz de uma geração que passava de um período ditatorial para outro mais democrático. Essa geração, embora enfrentasse imensos desafios sociais e pessoais, ainda sonhava com um futuro melhor. A seguir você vai conhecer mais sobre essa literatura e suas vozes.

SAIBA MAIS

Juventudes: vozes em distensão

Do final dos anos 1980 até a virada do século, ocorreu uma significativa transição na arte e na literatura, caracterizada pela diversidade e pela experimentação. Nesse período, a globalização passou a influenciar maciçamente a produção cultural, que se abriu a grande variedade de estilos e temas que refletiam a complexidade de um mundo cada vez mais interconectado. Na literatura, vozes que exploravam questões de identidade, desejos, sonhos e desilusões produziram obras que davam expressão às demandas e percepções de diferentes juventudes. Narrativas urbanas e periféricas começavam a ganhar espaço, e as pessoas procuravam um sentido para suas vidas em meio à reabertura política depois de décadas de ditadura civil-militar.

Para lembrar

1 A ditadura civil-militar termina em 1985, ano também marcado pelo movimento Diretas Já, que aglutinou multidões nas ruas de todo o país. Durante os anos 1960 e 1970, embora produzida sob forte repressão, uma arte engajada e experimental acionou novas linguagens e formas de entender o fazer artístico. Quais eram as reivindicações que a contracultura colocou em pauta nesse contexto de repressão?

Para discutir

1 Nos anos 1980, as demandas da juventude ainda respondiam às possibilidades de vida esboçadas nos anos 1960 e 1970. Considerando o contexto daquele período, quais poderiam ser essas demandas? E hoje, quais são?

2 Considerar que existe somente uma juventude é ignorar a multiplicidade de diferentes juventudes que compõem a sociedade. Que diferentes juventudes você identifica? Que sonhos os jovens podem ter considerando suas diferenças sociais, raciais, de gênero etc.?

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Você vai ler a seguir alguns trechos de dois romances brasileiros contemporâneos: o primeiro, do romance Feliz ano velho (1982), do paulista Marcelo Rubens Paiva, então um jovem universitário cheio de sonhos e possibilidades que fica tetraplégico depois de sofrer um acidente. Nesse trecho, enquanto recebe a solidariedade dos amigos durante um carnaval no hospital, lembra de sua participação em um festival de música. O segundo, do livro Capão pecado (2000), do paulistano Ferréz, narra a vida de Rael, um jovem morador do Capão Redondo, bairro periférico de São Paulo, marcado pela violência, pobreza e exclusão social.

Texto 1

Carnaval em hospital significa outra coisa: ausência de médicos e fisioterapeutas, enfermeiros irritados por terem que fazer plantão, silêncio no corredor.

A pressão não subiu, a temperatura ficou nos 36,5, urina clara, evacuação normal, pernas sem dar sinal de vida e, pela porta do meu quarto, entrou uma visita especial.

Um encanto de menina. Maíta, que estudou comigo no Santa Cruz e agora fazia Psicologia na USP. Uma graça. Foi a primeira amiga mulher que tive na minha volta a São Paulo, em 74.

O X DA QUESTÃO
Não escreva no livro.

Lembrei-me que tanto eu quanto ela não conhecíamos muita gente na escola, e ficávamos juntos no recreio, até que descobri que o caminho que ela fazia de volta pra casa era o mesmo que o meu, com uma diferença: eu ia de ônibus, e a mãe dela a buscava. Comecei a pegar carona no velho e simpático Aero Willys da família Maíta.

Lembro-me bem da solidão no colégio, e nós brincávamos que íamos roubar aquele Aero Willys e fugir juntos.

Agora, tinha vindo passar o carnaval comigo (não é uma graça?) e me trouxera até um livro de contos com o nome dela e a seguinte dedicatória:

‘Marcelo, de nós todos pra você, com um beijo especial de cada um.’

Logo depois veio a filha do meu dentista, também passando o carnaval em São Paulo. Trouxe dezenas de revistinhas da Mafalda e do Snoopy pra mim. Veio também o Carca, outro amigo do Santa Cruz (aquele do carnaval neurótico).

Estava formado o bloco carnavalesco dos que não gostavam de carnaval. Foram quatro dias de muito papo. Cada um chegava mais ou menos às duas da tarde e saia lá pelas 11 da noite. Um tremendo coleguismo ao meu redor, de gente que me curtia e tava a fim de ficar ali abobrinhando.

[…]

Quando fui para Campinas, conheci o Cassy através do Carca (estudava também no Santa Cruz, mas não éramos tão amigos). E comecei também a dar uns toques de violão pra ele. Ficávamos horas e horas tocando. Geralmente eu fazia a base, e ele, uns solinhos tipo guitarra (tinha preguiça de decorar as posições).

[…]

Eu e Cassy começamos a elaborar melhor as músicas. Foi aí que pintou uma oportunidade de fugir de Campinas e aparecer um pouco mais. A TV Cultura bolou um festival que apareceria na televisão e teria até disco gravado pros vencedores. Naquela época, não existia essa onda de disco independente e de tocar em barzinhos. Os espaços pra quem fazia música se restringiam a shows universitários. Então, fomos com duas fitas cassetes nos inscrever. Eu com o Bamba novo e o Cassy com Cemitério blues. […]

Dois meses depois, veio uma carta timbrada. O Bamba fora classificado. […]

[…]

Entramos eu, o TC, o Lumumba e o Chico. Pelo menos era organizado, já estava tudo pronto. Um microfone pra mim, e meu Ovation no amplificador. TC, bem ao meu lado direito, com o baixo já ligado. Do lado esquerdo os dois percussionistas. O Cassy escondido lá atrás com um microfone na mão.

— Tudo pronto? — cochichei pro conjunto.

Afirmativo com a cabeça.

Dei um sinal pro Cassy tocando o lá (sinal de entrada e o tom da música).

Ele entra assobiando a melodia da música, e nós, parados como estátuas.

#SOBRE

Fotografia do escritor em 2014. O escritor, dramaturgo e jornalista paulistano Marcelo Rubens Paiva (1959-) enfrentou muito diretamente as consequências da ditadura: seu pai, o deputado Rubens Paiva, foi assassinado pelo poder militar. Marcelo teve uma juventude marcada por esse trauma e por um acidente em 1979, que o deixou tetraplégico. Sua obra mais conhecida é o livro autobiográfico Feliz ano velho, que narra com espontaneidade e humor a história do acidente que o deixou tetraplégico e sua adaptação à nova realidade. O livro se tornou um grande sucesso de vendas e um marco da literatura brasileira contemporânea, reconhecido pelo prêmio Jabuti de 1983. Outras obras importantes de sua carreira incluem Blecaute (1986), uma narrativa sobre o caos urbano e a violência; Malu de bicicleta (2004), que foi adaptado para o cinema; Ainda estou aqui (2015), que narra a vida de sua mãe, que sofreu de Alzheimer, e também foi adaptado para o cinema. Marcelo Rubens Paiva também se destacou no teatro e no jornalismo, sempre utilizando sua experiência pessoal como fonte para suas criações literárias.

FLAVIO MORAES/FOTOARENA

Fica na frente do palco, para de assobiar, olha bem pra plateia e, de repente, dá um salto. No momento exato em que ele pisa no chão, entra o conjunto.

[…]

O nosso final apoteótico era todos se aproximando devagarinho do Cassy e, no ‘a Terra vai se acabar’, ele deitado no chão, a gente em volta dele metralhava com os instrumentos até que ele morresse. Aí, a gente saía do palco.

Aplausos, muitos aplausos, assobios. Minha turminha, cumprindo a função, levou toda a plateia também ao delírio. Antes mesmo da música terminar, no meio do final apoteótico, já via gente pulando na cadeira.

PAIVA, Marcelo Rubens. Feliz ano velho Rio de Janeiro: Objetiva, 2010. E-book. Localizável em: cap. Biiiiiin.

Texto 2

Rael dormiu tranquilamente e no dia seguinte trabalhou como sempre, atendendo os clientes com muito carinho e atenção. Já eram quatorze horas, South chegou apressado, estava com o skate na mão e avisou o amigo de que não iria mais fazer ficha na metalúrgica, pois estava indo para o Parque do Ibirapuera encontrar uns amigos. Rael disse que iria sozinho mesmo, iria pelo menos tentar fazer uma ficha. South concordou, lhe passou o endereço e desejou boa sorte.

Rael se despediu de Marcão e Celso, que eram irmãos e donos da padaria, subiu a rua Ivanir Fernandes e depois passou pela Falkemberg. De lá ele avistou a escola Maud Sá e ainda pensou em passar na quadra pra ver se tinha uns colegas jogando bola, mas deu prioridade em achar a metalúrgica. Prosseguiu e chegou na rua da feira, avistou a padaria São Bento, subiu mais um pouco, passou por ela, desceu a rua da Tenge onde antigamente era um grande matagal. Ele lembrou que quando aquela área foi desmatada para se construir um conjunto habitacional, foram encontradas inúmeras ossadas: ali era um cemitério clandestino. A imprensa noticiou o fato, que causou grande impacto na população. A polícia foi lá, desenterrou alguns corpos, levaram para perícia e até hoje não se chegou a nada. Rael finalmente chegou à metalúrgica, tocou a campainha e logo foi atendido por uma bela garota de olhos castanhos-claros, cabelo extremamente negro, rosto angelical e um corpo escultural. Ele ficou admirando, quando ela de repente falou:

— Oi, Rael, o que está fazendo aqui?

Foi quando ele se tocou: a linda garota na sua frente era nada mais, nada menos do que a namorada do seu melhor amigo.

— Olá, Paula, eu… eu… vim tentar fazer uma ficha, tinha me esquecido que você trabalhava aqui. Ela, com um tom totalmente irônico, respondeu minimizando a situação.

— Ah! sei, pode entrar que eu vou falar com o Seu Oscar, ele é o dono; espere só um pouquinho. Rael entrou e sentou no grande sofá, que combinava com a decoração do escritório. Era uma sala pequena, duas mesas, um armário, um arquivo e um micro faziam parte daquele recinto. Ele ainda estava meio abalado, nunca percebera o quanto Paula era linda, no seu íntimo ele sentiu uma estranha atração, mas não queria aceitar.

ANDREA EBERT

Paula voltou com uma folha na mão e disse que Seu Oscar havia pedido para que ele preenchesse aquela ficha, pois estava precisando de alguém na área de produção.

Rael pegou a ficha e disse que qualquer coisa estava bom, o que ele queria era sair da padaria, pois não aguentava mais trabalhar de segunda a domingo. Pegou a ficha e começou a preenchê-la […].

O dono da metalúrgica, o Seu Oscar, veio entrevistá-lo. Leu a ficha rapidamente e foi logo falando que só havia uma vaga na área de produção, ele precisava de um ajudante de produção, era um trabalho muito simples: fornear as peças e pendurá-las com arames. Rael disse que estava a fim de trabalhar e que qualquer coisa seria de grande ajuda. O Seu Oscar pensou um pouco e disse que o novo funcionário poderia começar no dia seguinte. Rael ficou muito contente, deixou escapar um grande sorriso e disse que na manhã seguinte estaria ali.

Se despediram e Rael correu para casa para dar a novidade a sua mãe, pois agora poderia ajudar mais em casa, já que o salário era maior do que o da padaria. Na pressa nem se despediu de Paula, mas durante o restante daquele dia não pensou em mais ninguém, não conseguia apagar de sua mente aquele rosto iluminado pelo sol, aquela boca úmida que parecia pedir um grande beijo.

#SOBRE

Fotografia do escritor em 2016.

Nascido e criado no Capão Redondo, periferia de São Paulo, Ferr é z ( 1975-) percorreu um longo caminho até se tornar um escritor. Foi vendedor ambulante de vassouras, balconista e chapeiro de redes de fast-food. Seu nome artístico é a junção de seu sobrenome (Reginaldo Ferreira da Silva) com o do cangaceiro Lampião (Virgulino Ferreira) e o Z de Zumbi dos Palmares. Fundou em 1999 o grupo 1DaSul para promover eventos culturais em sua região, principalmente ligados ao movimento hip-hop. Depois do sucesso de Capão pecado, publicou Manual prático do ódio (2003), a antologia Literatura Marginal: talentos da escrita perif é ric a (2005), a HQ Os inimigos não mandam flores (2006), com Alexandre de Mayo, e o romance Deus foi almoçar (2012). Mora até hoje no Capão Redondo e coordena a ONG Interferência, que promove educação e cultura de crianças de 7 a 14 anos no Capão Redondo.

Mas teve que parar de sonhar um pouco, pois tinha que concluir uma árdua tarefa. Já era tarde da noite e foi para a padaria, mandou chamar o Marcão e explicou que havia conseguido um emprego melhor, com o qual poderia dar mais dignidade para a sua família. Marcão disse que sentia muito, pois já fazia quatro anos que estavam trabalhando juntos, mas queria o melhor para ele. Se despedindo, o patrão o orientou a pegar os papéis e o dinheiro do tempo de casa no dia seguinte. Rael disse que no outro dia à tarde passaria por lá, se despediu de seus amigos, pegou seus últimos seis pães e saiu de cabeça baixa. […]

FERRÉZ. Capão pecado. São Paulo: Labortexto, 2000. p. 58-61.

1. a) É possível perceber o tom bem-humorado e a irreverência do protagonista e seus amigos mesmo diante de dificuldades e de situações que soam melancólicas. Professor, o engajamento político do protagonista não aparece no trecho de forma clara, mas é possível lembrar que o pai foi desaparecido político até a comprovação de seu assassinato em dependências do Estado. 1. b) Feliz ano velho olha para o passado e o valoriza, enquanto feliz ano novo olha com esperança para o futuro. Diante do livro de contos de Rubem Fonseca, o livro de Marcelo Paiva se coloca de forma irreverente, como que negando criticamente o que anunciava o contista.

PENSAR E COMPARTIlHAR

1. A narrativa de Feliz ano velho fala de um momento em que o país vive um distensionamento e uma abertura política. O trecho a seguir fala da cultura jovem brasileira daquele momento.

A cultura jovem brasileira dos anos 80 estava fortemente vinculada a uma atitude irreverente, expressa na sua associação com o universo do desbunde, de uma atitude debochada e distanciada da obrigatoriedade de se assumir enquanto politicamente engajada […]

SILVA, João Batista Peixoto. Geração Coca-Cola: escrita de si, memória e cultura jovem em Feliz Ano Velho, de Marcelo Rubens Paiva. 2012. Dissertação (Mestrado em História) – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2012. p. 19.

a) Que relação é possível fazer entre esse breve retrato e o trecho do romance que você leu?

b) O t ítulo do livro dialoga com o livro de contos de Rubem Fonseca intitulado Feliz ano novo, publicado em 1975, mas proibido no ano seguinte pela censura. Os contos denunciavam a realidade violenta e excludente do país. Que diferença de sentido há entre feliz ano velho e feliz ano novo? De que forma o livro de Marcelo Paiva se coloca diante do de Rubem Fonseca?

2. O início do trecho situa o leitor no hospital. Além dessa referência direta, que outros elementos do trecho compõem a atmosfera hospitalar?

O trecho permite entender que seria necessário controlar a pressão, a temperatura, a urina, a evacuação, observar a sensibilidade das pernas e que ali ele podia receber visitas.

3. Os amigos que o visitam são quase todos do colégio Santa Cruz, onde Marcelo estudou, que é um colégio de elite na cidade de São Paulo.

a) O que o fato de ter frequentado esse colégio revela sobre o protagonista?

3. a) Revela que ele pertence a uma elite ou convive com ela e, portanto, possui repertório, expectativas de vida, ambições, relacionamentos que provavelmente têm conexão com essa condição social.

b) Releia: “Lembrei-me que tanto eu quanto ela não conhecíamos muita gente na escola, e ficávamos juntos no recreio”; “Lembro-me bem da solidão no colégio”. O que esse isolamento revela?

4. A organização temporal do trecho marca com clareza dois tempos.

3. b) Que eles se sentiam deslocados, o que sugere que não aderiam completamente ao estilo de vida, ao repertório dos colegas, que não se sentiam ou não se viam como eles.

a) Quais são eles?

O presente do hospital e o passado, que chega pelas memórias do protagonista de quando produzia e tocava música.

b) Que fatos correspondem a cada um?

4. b) O presente é o carnaval no hospital e a visita de amigos que ficam com ele; no passado estão as lembranças da convivência com Maíta, com o Carca, com Cassy, de quando começou a tocar com ele e do festival de que participaram.

5. O protagonista relembra sua relação com a música e o festival de que participou com Cassy.

a) O relato permite afirmar que a música tinha lugar importante na vida do protagonista. Por quê?

Porque ficava horas e horas tocando com o amigo, passam a elaborar melhor as músicas, inscrevem-se em um festival de música.

b) Como a música parece se colocar no presente do protagonista?

6. A participação no festival sugere algo do estilo de música que produzia.

a) Considere o título da música que foi apresentada , “Bamba novo”. Formule uma hipótese: de que pode tratar uma música com esse título?

b) Releia:

Resposta pessoal. Possibilidades: de viagem, de esporte, de rebeldia ou irreverência Sem o movimento dos membros superiores, ele não pode tocar. Professor, observe com os estudantes que essa memória na condição em que está o protagonista sugere uma certa melancolia.

Fica na frente do palco, para de assobiar, olha bem pra plateia e, de repente, dá um salto. No momento exato em que ele pisa no chão, entra o conjunto. […]

O nosso final apoteótico era todos se aproximando devagarinho do Cassy e, no ‘a Terra vai se acabar’, ele deitado no chão, a gente em volta dele metralhava com os instrumentos até que ele morresse.

• Que atitude sugere essa performance da banda?

Sugere algo entre irreverência, humor e deboche.

7. A linguagem do texto apresenta marcas de informalidade e de oralidade.

a) Copie um trecho em que seja possível observar informalidade.

7. a) Possibilidade: “Geralmente eu fazia a base e ele, uns solinhos tipo guitarra”; “Foi aí que pintou uma oportunidade de fugir de Campinas”.

b) O t recho: “Um tremendo coleguismo ao meu redor, de gente que me curtia e tava a fim de ficar ali abobrinhando” apresenta marcas de oralidade e de informalidade. Identifique-as.

c) A linguagem permite supor que o livro prevê um perfil de leitor. Quem é ele?

7. b) Tava é marca de oralidade; me curtia, tava a fim, abobrinhando são marcas de informalidade.

7. c) Um leitor jovem, de classe média, que se identificaria com as experiências e reflexões do protagonista.

7. d) Resposta pessoal. Possibilidade: o fato de o narrador protagonista ter tido várias experiências dolorosas e ter enfrentado todas elas com coragem e algum humor. Isso o torna, por um lado, uma referência, e, por outro, representante de uma geração anos 1980, com a qual muitos se identificaram.

8. b) A literatura, ao trabalhar com a linguagem verbal, permite um modo de representação da vida que pode introduzir outras discussões, em certos casos mais densas, e conta com outras possibilidades de desenvolvimento e pontos de vista.

d) O livro fez enorme sucesso e conquistou leitores de diferentes perfis. Na sua opinião, o que poderia explicar o fato de ter atingido outros leitores que não correspondiam ao perfil previsto?

8. a) Dadas as adversidades e dificuldades para publicação e distribuição, o romance

Capão pecado representa as limitações

8. Três anos antes da publicação de seu primeiro romance, Capão pecado, o escritor Ferréz tinha publicado o livro de poemas Fortaleza da desilusão, em 1997. Leia a seguir uma postagem de seu blogue. Em 1997 eu comecei a caminhar nas quebradas lançando o meu primeiro livro, Fortaleza da desilusão, nesse dia eu estava num show de samba no Valo Velho, não vendi nenhum livro, mas não desisti, alguns dias depois estava eu lá de novo, lutando pelo meu sonho.

periférico das grandes cidades, mas também a resistência de quem continua lutando pelo

FERRÉZ. Lançando o Fortaleza da Desilusão em 1997. In: FERRÉZ. Ferréz: Datilógrafo do Gueto. [S. l.], 28 maio 2013. Disponível em: http://blog.ferrezescritor.com.br/2013/05/ lancando-o-fortaleza-da-desilusao-em.html. Acesso em: 24 set. 2024.

Escritor Ferréz autografa seu livro Fortaleza da desilusão em 1997.

a) E xplique como seu romance Capão pecado responde a esse post . Considere também o boxe com a biografia de Ferréz.

b) O movimento hip-hop , embora seja mais conhecido pela música (o rap ), pela dança, (o break ) e pelos grafites, também produz uma literatura própria. Ferréz é um dos seus pioneiros. Qual é a importância de esse movimento produzir, além das demais artes, literatura?

9. O romance Capão pecado tem como protagonista o jovem Rael, morador da periferia de São Paulo, no Capão Redondo. Rael vive em uma casa pequena e precária com seus pais enquanto trabalha como ajudante de uma padaria, estuda, faz cursos e sonha em ser escritor.

Rael recusa o convite para ir se divertir no

vai preencher uma ficha de

a) Como é evidenciada no trecho essa precária situação de vida de Rael?

b) No contexto em que vive, o trabalho, os cursos e interesses de Rael o mantêm afastado do mundo da criminalidade e das drogas. Que indícios a cena oferece desse comprometimento da personagem com um futuro melhor para si e para sua família?

c) Rael trabalhava de ajudante em uma padaria e muda radicalmente de área de trabalho ao aceitar a vaga na metalúrgica. O que motiva essa mudança de emprego e de área? Explique.

d) C omo é possível perceber que, embora viva em uma situação de dificuldades, Rael estabelece uma relação de gratidão com todas as oportunidades que a ele são oferecidas?

10. O protagonista do texto 2 está em busca de uma vida diferente da que tinha, com objetivos que respondem a seu contexto social.

A ficção de si

Formação continuada nas Orientações para o professor.

Muitos críticos consideram que uma das vertentes mais características da literatura contemporânea é o que é chamado de autoficção. Na autoficção, a identidade do autor confunde-se com a do protagonista da narrativa. A diferença entre a estratégia da autoficção e da autobiografia é essa fusão entre o real e o ficcional, entre o que seria o eu ficcional e o eu do autor.

A distinção entre real e ficcional, no entanto, não é clara nem objetiva. No Brasil, a autoficção ganhou projeção com as publicações dos livros de Ricardo Lísias (1975-) O cé u dos suicidas (2012) e Divórcio (2013); O filho eterno (2007), de Cristóvão Tezza (1952-); A resistência (2016), de Julián Fuks (1981-); e Diana caçadora (1986), de Márcia Denser (1949-2024).

Fotografia do escritor Ricardo Lísias em 2011.

9. a) Por meio da descrição do cotidiano de Rael, caracterizado por muito trabalho e pouca remuneração, e do histórico do Capão Redondo – que foi cemitério clandestino, a se julgar pelas ossadas encontradas no lugar quando da construção de moradias. 9. c) A remuneração. Embora Rael fosse grato ao dono da padaria, a diferença salarial seria importante para ele e sua família. 9. d) Quando vai pedir a demissão da padaria, Rael demonstra o quanto saía com pesar, para dar melhores condições para sua família.

SAIBA MAIS

11. a) O desejo pela namorada do amigo, que poderia, eventualmente, tanto desviar seu foco em se estabelecer no novo trabalho como, ao contrário, dinamizar energias para isso.

11. b) É importante que os estudantes percebam que o sonho de Rael de melhorar de vida dependerá, além de muito esforço, de muita sorte.

a) Copie o organizador a seguir em seu caderno e preencha-o com o que se pede.

Motivo da mudança de vida

Contexto social

Melhor salário

Periferia – pobreza

b) Q ue estratégias Rael pode utilizar para vencer as adversidades de seu contexto e atingir seus objetivos?

Espera-se que os estudantes percebam que Rael pode continuar trabalhando, economizando e investindo em sua formação, além de estar sempre à procura de novas oportunidades.

11. Embora esteja à procura de um emprego, sonhos e desejos também atuam em Rael para reforçar ou alterar seus planos de futuro.

a) Que tipo de desejo se impôs a Rael no momento em que procurava o novo emprego?

b) Como seria possível que Rael pudesse conciliar os seus sonhos com o trabalho?

12. A linguagem utilizada nos romances soa cotidiana, informal, próxima da oralidade em certos trechos. Considere os seguintes trechos de Capão Pecado

Ele ainda estava meio abalado, nunca percebera o quanto Paula era linda […]

Se despedindo, o patrão o orientou a pegar os papéis e o dinheiro do tempo de casa no dia seguinte.

a) Nesses trechos, a linguagem apresenta um nível entre a formalidade e a informalidade. Por que podemos afirmar isso?

b) E xplique por que essa diferença de utilização de níveis de linguagem pode ser considerada adequada ao contexto do romance.

O primeiro trecho recorre ao pretérito mais-que-perfeito (percebera), que é mais formal, haja vista que, na linguagem cotidiana, se utiliza a locução tinha percebido. O segundo se inicia com um pronome oblíquo, o que é gramaticalmente incorreto, mas possível na fala cotidiana.

13. No texto de Ferréz, as descrições do espaço no qual se passa a ação são fundamentais para a construção da verossimilhança do universo ficcional.

a) Que elementos constroem a imagem dos ambientes nas descrições do texto 2?

13. a) É importante que os estudantes percebam a riqueza de detalhes: Ferréz apresenta minúcias do percurso de Rael, como nomes de ruas com digressões históricas.

b) Por que essa descrição assegura maior verossimilhança à narrativa?

Por meio dessas descrições, é possível tanto visualizar a cena durante a leitura como é representado um contexto social que justifica algumas das ações e posturas das personagens.

c) O que justificaria a ausência de descrições tão detalhadas do espaço no texto de Marcelo Rubens Paiva?

A cena do texto 1 se passa em um quarto de hospital aparentemente sem atrativos. Além disso, a narrativa centra-se mais nas reflexões e memórias do personagem, e não no plano concreto das ações.

O universo ficcional de uma narrativa determina tudo aquilo que pode e deve acontecer com suas personagens. Pode ser totalmente baseado nas leis físicas e de causa e consequência de nossa realidade ou pode incluir elementos da fantasia. É o universo ficcional que determina o que é verossímil à história, isto é, algo que parece verdadeiro, e o que é incoerente e impossível, o inverossímil.

14. Você vai ler a seguir um trecho de entrevista de Ferréz para o jornal da Biblioteca Pública do Paraná.

Há alguns anos a literatura brasileira viveu uma onda de autoficção, livros que retratavam, em maior ou menor grau, experiências do próprio autor. Capão pecado, logicamente, fala sobre a sua realidade. Você considera seu primeiro romance um livro de autoficção?

Nem a pau, o livro é ficção, e claro que tem um pedaço de mim ali, mas tem muitas vidas de outros, e muita história também criada. Autoficção deixa pra quem sabe fazer bem, como o Ricardo Lísias. Quando fiz Capão pecado, tava numa crise […], desempregado, passando dificuldade, então é um livro que só existe pela teimosia. Nunca pensei nele por esse lado. Peguei amigos como referência para os personagens, mas mutilei suas vidas e ficcionalizei quase tudo. É um livro de um menino que queria ser escritor, um menino que não conseguia dormir à noite por causa da troca de tiros. Pior que vendo assim, talvez você tenha razão.

FERRÉZ. A quebrada sou eu. [Entrevista cedida a] Soraya Sugayama. Cândido, Curitiba, n. 54, jan. 2016. Disponível em: www.bpp.pr.gov.br/Candido/Pagina/Entrevista-Ferrez. Acesso em: 24 set. 2024.

12. b) Porque representa, em certa medida, o contexto de Rael, que vive em condições adversas, mas planeja estudar e ter um futuro melhor. Esse desnível entre o formal e o informal pode representar essa dualidade do personagem, que busca por uma educação formal e, ao mesmo tempo, tem de encarar situações mais urgentes, como encontrar um emprego melhor.

14. a) O texto de Marcelo Rubens Paiva pode se adequar a essa definição, já que narra a experiência íntima e pessoal do autor depois do acidente. O texto de Ferréz não narra a vida do autor; conta uma vida num contexto que o autor conhece, mas que não é a dele, e sim de muitas pessoas; trata-se, portanto, de uma representação socialmente marcada. 14. b) Porque vive os dilemas e os desafios próprios de jovens que moram na periferia de uma grande cidade, sem acesso a bens e serviços qualificados, e que têm de se esforçar muito, em tese mais que jovens de camadas mais privilegiadas, para realizar seus sonhos.

a) Com base em seu conhecimento sobre os romances, a situação de produção, os trechos reproduzidos, e nas discussões sobre os textos, explique se é possível classificar ambos os romances (Feliz ano velho e Capão pecado) como autoficção

b) O protagonista de Capão pecado pode ser considerado um representante, mais que de um conjunto de pessoas, de um contexto social. Explique por quê.

c) Considere os dois trechos que você leu. Por que, com base neles, é possível pensar em juventudes?

Porque os protagonistas vivem realidades sociais, culturais, econômicas completamente diferentes, o que os leva a apresentar também propostas literárias, culturais e políticas completamente diferentes.

Muitos leitores confundem os conceitos de autor e narrador. O autor é aquele que cria e escreve a história. Narrador é o personagem ou entidade que conta a história e que pode fazer parte dela ou não. Um autor pode utilizar experiências próprias para compor elementos de seus enredos, mas isso não significa que faça parte da história ou se confunda com seu narrador. Um texto literário tem de valer por si. O conhecimento da biografia do autor e de seu contexto amplia os sentidos ao incluir elementos discursivos que estabelecem ligações do texto com outros textos e contextos.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Contistas em foco

A partir dos anos 1960, a publicação de contistas teve crescimento expressivo, refletindo as mudanças sociais, políticas e culturais do período. O contexto da ditadura civil-militar e a urbanização acelerada do país influenciou fortemente a literatura, que explorou significativamente temas próprios da vida nas grandes cidades, como a violência, a marginalidade e as complexidades das relações humanas. Nas décadas seguintes, vários autores intensificaram suas produções, com publicações de coletâneas de contos que se tornaram muito populares e sucesso de público.

João Antônio (1937-1996) destacou-se com obras como Malagueta, Perus e Bacanaço (1963) e Leão-de-chácara (1975), retratando personagens à margem da sociedade, como malandros, trabalhadores de subempregos, revelando a dureza da vida nas periferias urbanas e a luta diária pela sobrevivência. Rubem Fonseca (1925-2020) é outro nome emblemático dessa fase: conhecido por sua linguagem direta e crua, que se tornou uma marca de sua narrativa, publicou Lúcia McCartney (1967) e Feliz ano novo (1975), cujos contos exploram o submundo das grandes cidades, focando temas como a criminalidade, a corrupção e a decadência moral. Dalton Trevisan (1925-) também contribuiu significativamente com obras como O vampiro de Curitiba (1965) e Meu querido assassino (1983), que abordam a vida cotidiana com uma visão crítica e detalhista, frequentemente explorando a solidão e o isolamento. Esses autores ajudaram a consolidar um estilo urbano, realista e muitas vezes brutal, que se tornou característico do conto brasileiro das décadas de 1970 e 1980.

1. Agora é sua vez de conhecer mais sobre esses contistas brasileiros. Procure contos de João Antonio, Rubem Fonseca e Dalton Trevisan – na internet, em sites confiáveis, ou na biblioteca da escola, ou de sua cidade – e selecione um para ler em classe. Após a leitura individual, em uma aula combinada com o professor, apresente um resumo do conto para seus colegas e, ao final da leitura de cada conto, discuta com seus colegas os trechos que mais se destacaram com relação ao tema e aos recursos estéticos utilizados na construção do texto.

HIPERlINK
Fotografia do escritor João Antônio em 1982.
Não escreva no livro.

A ditadura em derrocada

Os anos finais da ditadura civil-militar no Brasil foram marcados por um processo gradual de abertura política, conhecido como distensão e “abertura lenta, gradual e segura”. Esse período, que se intensificou a partir do final da década de 1970, foi impulsionado por uma crescente pressão popular, manifestações por eleições diretas, pela insatisfação da sociedade civil e por uma grave crise econômica. O governo militar, sob a liderança de Ernesto Geisel (1908-1996) e, posteriormente, João Figueiredo (1918-1999), começou a implementar reformas que visavam à transição para a democracia, incluindo a anistia política, a legalização de partidos antes proibidos e o restabelecimento de eleições diretas para governadores e prefeitos. O processo culminou com a eleição indireta de Tancredo Neves (1910-1985) para presidente em 1985, marcando o fim do regime militar e a restauração da democracia no Brasil.

Reabertura e inflação

Manifestação pela eleição direta para presidente da república. Brasília (DF), 1984.

Na época da inflação galopante, os preços subiam diariamente. Na foto, um funcionário remarca preços em um supermercado. São Paulo (SP), 1988.

O processo de reabertura política ocorreu em um contexto de severa crise econômica, caracterizada por uma inflação galopante que atingiu níveis extremamente elevados. A inflação foi alimentada por uma série de fatores, incluindo a instabilidade política, o aumento do endividamento externo e a falta de confiança nos planos econômicos adotados pelos governos que sucederam à ditadura. Esse cenário dificultou a consolidação da nova democracia, uma vez que a população, ao mesmo tempo que celebrava as liberdades conquistadas, enfrentava um cotidiano de incertezas econômicas, com a desvalorização da moeda e a perda do poder de compra corroendo as conquistas sociais almejadas.

O neoliberalismo

O neoliberalismo chega ao Brasil de maneira mais acentuada a partir da década de 1980, período de transição política e econômica. Com o esgotamento do modelo desenvolvimentista baseado na industrialização e no crescimento impulsionado pelo Estado e diante da crise da dívida externa, o país passou a adotar políticas que pregavam a redução do papel do Estado na economia, a privatização de empresas estatais, a liberalização do comércio e

a desregulamentação dos mercados. O discurso neoliberal se aprofunda nos anos 1990, quando reformas estruturais foram implementadas com o objetivo de inserir o Brasil em uma economia global mais competitiva e atrair investimentos estrangeiros. Muda então a orientação econômica do país, que passa a priorizar o mercado como principal agente de desenvolvimento, em detrimento do modelo estatal que prevaleceu nas décadas anteriores.

Os filhos da redemocratização

Manifestação contra a privatização da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Rio de Janeiro (RJ), 1993.

A cultura brasileira dos anos 1980 e 1990 refletia o anseio por liberdade após anos de repressão. A explosão criativa do momento foi marcada por um florescimento impulsionado pela reabertura política e pelo início da redemocratização. Na música, o rock brasileiro – com bandas como Legião Urbana e o álbum Dois (1986), Titãs e o álbum Cabeça dinossauro (1986), Barão Vermelho e o álbum Maior abandonado (1984) – tornou-se a trilha sonora de uma juventude que buscava novas formas de expressão e contestação. No cinema, a produção nacional começou a se revitalizar com filmes que abordavam temas sociais e políticos, como Bye bye Brasil (1979).

A televisão desempenhou um papel central na formação da identidade cultural do país, com novelas icônicas como Roque Santeiro (1985) e Vale tudo (1988), que abordavam questões sociais e políticas e ajudavam a construir senso de comunidade no país que redescobria a democracia.

Revitalização e diversidade

Capa do álbum de estreia da banda. BARÃO Vermelho. Compositor: Cazuza. Rio de Janeiro: Som Livre, 1982. 1 LP.

A prosa brasileira, desde a geração dos anos 1980 até a virada do século, foi marcada por uma rica diversidade de temas, estilos e vozes, que refletiam as transformações sociais, políticas e culturais do país. O período acompanhou o final da ditadura civil-militar até a emergência de novas demandas, como a luta por reconhecimento das vozes periféricas e marginalizadas. Os temas que emergiram na prosa no final do século XX abordam questões subjetivas e existenciais, bem como desigualdades sociais e violência urbana. O estilo literário também se diversificou, com autores experimentando diferentes formas narrativas, que vão desde o realismo cru até a introspecção psicológica, passando por narrativas fragmentadas que espelham a complexidade do mundo moderno. A literatura brasileira desse período é, portanto, um campo fértil de exploração, em que diferentes histórias e perspectivas se encontram para oferecer uma visão multifacetada da realidade.

Marcelo Rubens Paiva é uma figura emblemática da geração dos anos 1980. Sua obra Feliz ano velho inaugurou uma nova fase na literatura brasileira ao explorar uma linguagem que mistura humor e tragédia para retratar as incertezas de um jovem que precisa redescobrir seu lugar no mundo após um acidente que o deixa tetraplégico. Outros autores que discutem as incertezas e angústias da juventude e o futuro incluem Caio Fernando Abreu (1948-1996), com contos como os de Morangos mofados (1982), que abordam a busca por sentido em uma época marcada pela repressão e pela aids.

Nos anos 1990, a literatura brasileira amplia o olhar para as periferias urbanas e a vida nas favelas, refletindo as tensões e os desafios enfrentados nesses espaços. Paulo Lins (1958-), em Cidade de Deus (1997), oferece uma narrativa visceral sobre a violência e a exclusão social nas favelas cariocas. Patrícia Melo (1962-), em O matador (1995), explora o universo da violência urbana e da criminalidade com uma narrativa que mistura tensão, realismo e crítica social.

A partir dos anos 2000, a prosa periférica ganha força com autores como Ferréz, que, em Capão pecado, explora temas como a criminalidade, a resistência cultural e a luta pela sobrevivência nas periferias de São Paulo, muitas vezes marcada pela violência e pela falta de oportunidades. Sacolinha (1983-), com 85 letras e um disparo (2007), também explora a vivência na periferia com autenticidade, resistência e uma profunda crítica social, reforçando o papel da literatura como espaço de denúncia e voz para os marginalizados. E outros autores, como Natalia Borges Polesso, exploram as projeções de futuro distópicas e se indagam sobre os sentidos da existência.

As performances-invenções de Guto Lacaz são arte ou ciência?

Obra crítica ou brincadeira? Suas máquinas impulsionam possibilidades e sonhos que dialogam com o cômico e o possível, reinventando as possibilidades do real.

L ACAZ, Guto. Máquinas V e II. 1999.

Em 1984, a exposição “Como vai você, geração oitenta?” apresentou novos artistas brasileiros no Rio de Janeiro. Uma das obras de maior destaque, de Chico Cunha, é a pintura de grandes dimensões que faz referência a um chocolate muito popular entre os jovens e mostra casais dançando à luz da lua integrados ao espaço arquitetônico da colunata interna da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. CUNHA, Chico. Sonho de valsa. 1984. Pintura acrílica sobre tela, 5,2 m x 3 m.

A fotografia mostra as origens do Beco do Batman, beco de São Paulo hoje tomado por grafites. No final do século XX, o grafite ainda era marginalizado. Na imagem, é possível identificar, de calças brancas, o grafiteiro Kobra, hoje um artista mundialmente conhecido, e ao seu lado, de camisa branca, outro grafiteiro famoso: o ex-pichador Juneca.

lER lITERATURA

Ler para adaptar

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Não escreva no livro.

Certas leituras têm objetivo pragmático. É o caso de um roteirista que vai adaptar um livro para outra linguagem – teatro, série, cinema etc.

O primeiro passo de uma adaptação é escolher e analisar profundamente a obra a ser adaptada e definir o que nela é essencial, o que precisa necessariamente ser preservado e o que pode ser omitido; como está estruturada, as personagens, os temas. Essa compreensão é fundamental porque sempre é necessário selecionar o que compõe a obra derivada; entre tantos motivos, porque deve caber no tempo médio do gênero a que está sendo adaptada. Por exemplo, um filme costuma ter entre 90 e 120 minutos. Também precisa contar com os recursos próprios de cada linguagem; os do cinema são diferentes dos do teatro, por exemplo.

O livro Feliz ano velho, de Marcelo Rubens Paiva, foi adaptado para o cinema em 1987 por Roberto Gervitz. Compare o início da autobiografia com o início do roteiro.

No livro

Subi numa pedra e gritei:

— Aí, Gregor, vou descobrir o tesouro que você escondeu aqui embaixo, seu milionário disfarçado.

Pulei com a pose do Tio Patinhas, bati a cabeça no chão e foi aí que ouvi a melodia: biiiiiiin. Estava debaixo d’água, não mexia os braços nem as pernas, somente via a água barrenta e ouvia: biiiiiiin.

PAIVA, Marcelo Rubens. Feliz ano velho. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2010. E-book. Localizável em: cap. Biiiiiin. No roteiro

CENA 01. QUARTO DE HOSPITAL INTERIOR/ NOITE

Os reflexos azulados da televisão ligada formam manchas no alto da parede do quarto em penumbra, enquanto o locutor narra empolgado os últimos momentos da corrida de São Silvestre de 1980. […] A câmera então se desloca em movimento vertical descendente, enquadrando a parte superior do corpo de Mário, deitado em sua cama e imóvel, como mais um objeto naquele quarto de hospital. Mário, que tem uma série de sondas ligadas a seu corpo, move lentamente os olhos semiabertos e brilhantes em direção à TV, que mostra o replay do final da corrida em câmera lenta, ressaltando o vigor dos atletas em movimento. […]

MÁRIO (VOICE OVER)

Um dia tudo perdeu o sentido e desejei minha própria morte. Mas nem de me matar eu era capaz. Tinha de sofrer e estar só, tão só que até meu corpo me abandonara.

GERVITZ, Roberto. Feliz ano velho. São Paulo: Imprensa Oficial, 2010. Roteiro cinematográfico baseado na obra de Marcelo Rubens Paiva. p. 95-97. O roteiro se assume como ficção e muda o nome do narrador protagonista para Mário. O livro começa no dia em que Marcelo sofreu um acidente que o deixou tetraplégico; o roteiro começa com ele já imobilizado em uma cama de hospital, contrastando o movimento vigoroso dos corredores da S. Silvestre com a paralisia do protagonista, o que imprime dramaticidade à cena.

Ler uma obra pensando nessa transposição é também um modo de se aproximar dela; exige do leitor uma entrega ao mesmo tempo passiva – a de quem deve compreender profundamente a obra –e ativa – a de quem irá transformar em imagens e diálogos aquilo que considera fundamental manter para garantir a essência da obra original.

Para discutir

1. Considere seu repertório de leituras. Qual obra você acha que poderia ser adaptada para o cinema ou para a TV?

InTEGranDO COm...

ARTE

Literatura e arte urbana

A relação entre literatura e arte urbana é marcada por um diálogo contínuo que reflete as complexidades e dinâmicas da vida nas cidades, especialmente com base nas vozes periféricas que emergem com força no cenário contemporâneo. Ambas as formas de expressão compartilham a preocupação com a representação do espaço urbano, suas tensões sociais e as vozes marginalizadas que, frequentemente, são silenciadas nas narrativas tradicionais. Enquanto a literatura utiliza a palavra para capturar a experiência da cidade com base em uma perspectiva não hegemônica, o grafite, os murais, os lambe-lambes, entre outras formas de arte, imprimem nas paisagens urbanas manifestações visuais de crítica, resistência e identidade.

Escritores como Allan da Rosa (1976-), autor de Da Cabula (2013), e Sérgio Vaz (1964-), com uma poesia que alcança as ruas por meio de movimentos como a Cooperifa (Cooperação Cultural da Periferia), são exemplos de autores que trazem à tona a realidade das periferias das cidades, explorando temas como violência, exclusão social e a luta diária dos moradores dessas regiões. Na mesma linha, vale citar também o Slam da Guilhermina, que acontece há mais de 10 anos, na última sexta-feira do mês, na Vila Guilhermina, bairro da zona leste de São Paulo.

CRIOLA. [Orí: a raiz negra que sustenta é a mesma que floresce]. 2014. 1 grafite. Belo Horizonte (MG).

Fotografia da grafiteira Criola. São Paulo (SP), 2024.

Essas narrativas ecoam na arte de Os Gêmeos e Criola, entre muitos outros grafiteiros que utilizam o espaço público para dar visibilidade às histórias e personagens periféricas, abordando temas como a identidade negra, a resistência cultural, as desigualdades sociais. Assim, tanto na palavra quanto na imagem, a cidade se torna palco de tensão entre diferentes histórias, refletindo e desafiando as normas sociais, transformando-se em lugar de resistência, memória e criação coletiva.

Não escreva no livro.

1. Forme uma dupla com um colega e pesquisem os grafites da cidade em que moram. Onde ficam? Como surgiram? Quem os produziu? O que está representado neles?

2. Que sentidos os grafites selecionados produzem para os passantes?

3. De que forma o grafite dialoga com o contexto em que foi produzido?

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

lEITURA: PÔSTER ACADÊMICO

Divulgar o conhecimento

lER O MUNDO

Com a redemocratização, aumentou significativamente a produção científica brasileira e a aplicação desse conhecimento em setores como saúde, agronegócio e tecnologia. O desenvolvimento científico trouxe também o desenvolvimento do ambiente acadêmico, em conjunto com formas de divulgação do conhecimento produzido por meio de pesquisas científicas. Um dos meios de circulação e divulgação desse conhecimento são os congressos. Nos congressos, os pôsteres têm papel muito importante: de forma resumida, organizados de modo a permitir uma leitura rápida, eles divulgam procedimentos e resultados de pesquisas para um público geral ou especializado que, se tiver interesse sobre o apresentado no pôster, pode buscar mais informações sobre a pesquisa e aprofundar o conhecimento sobre ela.

Para discutir

1 Os congressos científicos permitem a pesquisadores de diferentes instituições compartilhar os resultados de suas pesquisas. Como a participação em congressos científicos contribui para o avanço das pesquisas e o intercâmbio de ideias entre especialistas?

2 Qual é a importância de incentivar as pesquisas para a sociedade e para a economia brasileira?

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Observe a miniatura do pôster a seguir, apresentado na XVIII Semana de Ciência, Tecnologia e Cultura (Cientec) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), pelos então estudantes Glênio Régis e Janielly Silva. Preste atenção à disposição gráfica dos elementos e leia o texto completo na próxima página.

O TEATRO NO CONTEXTO ESCOLAR DO ENSINO MÉDIO: A ARTE DE EXPRESSAR A NARRATIVA

Glênio Morais Régis (UFRN/CERES/DCSH) E-mail: glenioyann2009@hotmail.com Janniely Azevedo Silva (UFRN/CERES/DCSH) E-mail: janieleletras@hotmail.com Orientadora: Dra. Ana Maria de Oliveira Paz (UFRN/CERES/DCSH/PPgEL) E-mail: hamopaz@yahoo.com.br

INTRODUÇÃO

A presente pesquisa tem por objetivo estudar as implicações do teatro em aulas de Língua Portuguesa do Ensino Médio. Sua efetivação ocorre em escola pública da cidade de Currais Novos/RN e faz parte de subprojeto vinculado ao Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). Em outras palavras, busca-se investigar a relevância de práticas teatrais para o aprendizado de gêneros de sequências narrativas. A investigação baseia-se na utilização do teatro como ferramenta metodológica que favorece o desenvolvimento da expressividade, possibilitando ao aluno vivenciar o enredo das narrativas e dar vida às personagens.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo assume uma abordagem de natureza qualitativa, uma vez que não nos interessa tão somente apresentar dados, mas, sobretudo, descrever experiências observadas durante aulas em que o teatro é adotado como procedimento metodológico para a focalização dos gêneros de sequência narrativa. Para tanto, lançamos mão de observações do desempenho dos alunos, registros de campo, fotografias, dentre outros mecanismos de geração de dados. Teoricamente, fundamentamo-nos em pressupostos que discutem o teatro como uma ferramenta base para o aprendizado no contexto escolar (BROOK, 1999; ICLE, 2002; KOUDELA, 1984; REVERBEL, 1989; SPOLIN, 2003).

RESULTADOS

As análises parciais sinalizam resultados significativos no que diz respeito ao aprendizado dos alunos acerca dos gêneros estudados, à participação efetiva nas atividades propostas, mais precisamente na adaptação e produção de textos para encenação, e implementação de performances teatrais.

Miniatura do pôster acadêmico.

DISCUSSÃO

O desenvolvimento de práticas teatrais em sala de aula contribui para o aprimoramento da expressividade do aluno em suas formas orais e escritas. Além disso, favorece a formação desses discentes como agentes sociais capazes de se manifestar das mais diversas maneiras para interagir em situações de comunicação pertinentes aos mais variados domínios da atividade humana.

CONCLUSÕES

A pesquisa em andamento revela a importância de um fazer pedagógico que traz para o âmbito da sala de aula de língua materna práticas de teatro que auxiliam não apenas na abordagem de conteúdos, mas principalmente na dinamicidade do evento aula e na aprendizagem dos alunos construída na expressividade de saberes compartilhados.

REFERÊNCIAS

BROOK, Peter. A porta aberta: reflexões sobre a interpretação e o teatro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. ICLE, Gilberto. Teatro e construção do conhecimento. Porto Alegre: Mercado Aberto-Fundarte, 2002. KOUDELA, Ingrid Dormien. Jogos teatrais. São Paulo: Perspectiva, 1984. REVERBEL, Olga. Um caminho do teatro na escola. Rio de Janeiro: Scipione, 1989. SPOLIN, Viola. Jogos teatrais, o fichário. São Paulo: Editora Perspectiva, 2003.

Não escreva no livro.

O TEATRO NO CONTEXTO ESCOLAR DO ENSINO MÉDIO: A ARTE DE EXPRESSAR A NARRATIVA

Glênio Morais Régis (UFRN/CERES/DCSH) E-mail: glenioyann2009@hotmail.com Janniely Azevedo Silva (UFRN/CERES/DCSH) E-mail: janieleletras@hotmail.com

Orientadora: Dra. Ana Maria de Oliveira Paz (UFRN/CERES/DCSH/PPgEL) E-mail: hamopaz@yahoo.com.br

INTRODUÇÃO

A presente pesquisa tem por objetivo estudar as implicações do teatro em aulas de Língua Portuguesa do Ensino Médio. Sua efetivação ocorre em escola pública da cidade de Currais Novos/RN e faz parte de subprojeto vinculado ao Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID). Em outras palavras, busca-se investigar a relevância de práticas teatrais para o aprendizado de gêneros de sequências narrativas. A investigação baseia-se na utilização do teatro como ferramenta metodológica que favorece o desenvolvimento da expressividade, possibilitando ao aluno vivenciar o enredo das narrativas e dar vida às personagens.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo assume uma abordagem de natureza qualitativa, uma vez que não nos interessa tão somente apresentar dados, mas, sobretudo, descrever experiências observadas durante aulas em que o teatro é adotado como procedimento metodológico para a focalização dos gêneros de sequência narrativa. Para tanto, lançamos mão de observações do desempenho dos alunos, registros de campo, fotografias, dentre outros mecanismos de geração de dados. Teoricamente, fundamentamo-nos em pressupostos que discutem o teatro como uma ferramenta base para o aprendizado no contexto escolar (BROOK, 1999; ICLE, 2002; KOUDELA, 1984; REVERBEL, 1989; SPOLIN, 2003).

RESULTADOS

As análises parciais sinalizam resultados significativos no que diz respeito ao aprendizado dos alunos acerca dos gêneros estudados, à participação efetiva nas atividades propostas, mais precisamente na adaptação e produção de textos para encenação, e implementação de performances teatrais.

DISCUSSÃO

O desenvolvimento de práticas teatrais em sala de aula contribui para o aprimoramento da expressividade do aluno em suas formas orais e escritas. Além disso, favorece a formação desses discentes como agentes sociais capazes de se manifestar das mais diversas maneiras para interagir em situações de comunicação pertinentes aos mais variados domínios da atividade humana.

CONCLUSÕES

A pesquisa em andamento revela a importância de um fazer pedagógico que traz para o âmbito da sala de aula de língua materna práticas de teatro que auxiliam não apenas na abordagem de conteúdos, mas principalmente na dinamicidade do evento aula e na aprendizagem dos alunos construída na expressividade de saberes compartilhados.

REFERÊNCIAS

BROOK, Peter. A porta aberta: reflexões sobre a interpretação e o teatro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. ICLE, Gilberto. Teatro e construção do conhecimento. Porto Alegre: Mercado Aberto-Fundarte, 2002.

KOUDELA, Ingrid Dormien. Jogos teatrais. São Paulo: Perspectiva, 1984.

REVERBEL, Olga. Um caminho do teatro na escola. Rio de Janeiro: Scipione, 1989.

SPOLIN, Viola. Jogos teatrais, o fichário. São Paulo: Editora Perspectiva, 2003.

SILVA, Janielly Azevedo; RÉGIS, Glênio Morais. O teatro no contexto escolar do ensino mé dio: a arte de expressar a narrativa. 2012. 1 pôster acadêmico. Disponível em: https://postercientifico.com.br/site/wp-admin/images/poster-pedagogia9.jpg. Acesso em: 25 set. 2024.

1. A Cientec desempenha um papel importante ao favorecer a transferência e democratização do conhecimento científico e cultural da universidade para a sociedade, promovendo uma interação enriquecedora entre as esferas acadêmica, tecnológica e artística e fortalecendo as conexões entre a universidade, seus parceiros e o público em geral.

1. Leia a seguir informações sobre a XVIII Semana de Ciência, Tecnologia e Cultura (Cientec) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

A CIENTEC acontece todos os anos, expondo os principais fundamentos das atividades científicas, tecnológicas e culturais da Universidade, buscando, dessa forma, uma interface com a sociedade.

Ademais, a Programação Cultural do evento promoverá a apresentação de uma grande quantidade de espetáculos de dança, música, corais e cinema, compondo a moldura artístico-cultural desse evento de grande relevância para uma interação entre a Universidade, seus parceiros e a sociedade em geral.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Natal (RN), 2024.

Com essa organização, propõe-se a articulação das diferentes unidades de produção de ciência, tecnologia e cultura, evidenciando o que a UFRN tem desenvolvido de forma articulada no Ensino, Pesquisa, Extensão e produção cultural.

UFRN divulga programação completa da CIENTEC 2012. G1, [S. I.], 22 out. 2012. Disponível em: https://g1.globo.com/rn/rio-grandedo-norte/noticia/2012/10/ufrn-divulga-programacao-completa-da-cientec-2012.html. Acesso em: 25 set. 2024.

• Qual é a importância e relevância de um evento como a Cientec para a sociedade?

2. Depois de ler o pôster, é fundamental identificar seus dados básicos.

A pesquisa é sobre a presença do teatro nas aulas de Língua Portuguesa no Ensino Médio; ela conclui que é uma atividade importante para compartilhar saberes e dinamizar a prática em sala de aula e o modo de aprendizagem.

a) Qual pesquisa é divulgada e quais são seus resultados?

b) Qual é a importância da lista de nomes na parte superior do pôster e dos dados que são apresentados em conjunto?

Os nomes identificam os estudantes que produziram a pesquisa; os dados se referem às instituições das quais eles fazem parte e aos endereços de e-mails para um eventual contato.

3. Todo congresso científico estabelece regras específicas para a produção dos pôsteres das pesquisas que são inscritas. Embora existam especificidades para cada evento, algumas partes que compõem os pôsteres são fixas na maioria dos congressos. Quais partes compõem o pôster?

Título, logotipos, autores, introdução, materiais e métodos, resultados, discussão, conclusões e referências.

4. A introdução do pôster apresenta os objetivos e a justificativa da pesquisa.

a) Qual objetivo da pesquisa é referido no pôster?

b) Qual é a justificativa apresentada para a pesquisa?

4. a) O objetivo da pesquisa é estudar as implicações do teatro em sala de aula de Língua Portuguesa do Ensino Médio em uma escola de Currais Novos (RN).

Um pôster acadêmico é uma ferramenta visual e concisa utilizada para apresentar pesquisas e projetos em conferências, seminários e outros eventos científicos. Ele deve sintetizar as informações mais relevantes de um estudo, incluindo introdução, metodologia, resultados e conclusões, de maneira clara e atraente, para que o público possa compreendê-las rapidamente.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

4. b) Justifica-se a pesquisa destacando-se a importância do teatro para favorecer o desenvolvimento da expressividade na leitura de roteiros teatrais e para o aprendizado de gêneros de sequências narrativas.

Não escreva no livro.

6. b) A incorporação de práticas teatrais em sala de aula enriquece o aprendizado dos estudantes em relação aos gêneros textuais narrativos. As experiências teatrais são fundamentais para o aprimoramento da expressividade deles na comunicação oral e escrita, além de prepará-los para atuar como agentes sociais versáteis. Portanto, a adoção de práticas teatrais em sala de aula fortalece as habilidades dos estudantes para se comunicar e interagir eficazmente em uma ampla gama de contextos e situações da vida cotidiana.

5. A pesquisa quantitativa utiliza dados numéricos e estatísticos para identificar padrões, testar hipóteses e generalizar resultados, sendo ideal para estudos que requerem objetividade e mensuração precisa. Já a pesquisa qualitativa foca a compreensão de fenômenos, explorando experiências, significados e contextos por meio de métodos como entrevistas, observações e análise de conteúdo, permitindo uma interpretação direcionada a detalhes e interpretações das realidades estudadas.

a) Formule uma hipótese que explique a escolha do método qualitativo para a realização da pesquisa exposta no pôster.

b) Identifique no texto um exemplo de aplicação do método qualitativo pela pesquisa.

Observação do desempenho de estudantes, registros de campo e fotografias.

6. A s partes que compõem o pôster estabelecem relação entre si.

Espera-se que os estudantes percebam como uma pesquisa sobre a importância do teatro em sala de aula não é calculável e quantificável, o que torna o método quantitativo pouco pertinente. Sendo assim, o método qualitativo permite uma melhor análise e interpretação dos dados.

a) Copie em seu caderno a alternativa que identifica a relação entre “Resultados” e “Discussão”.

I. “Resultados” minimiza os impactos das atividades teatrais em termos de aprendizado e participação, enquanto “Discussão” nega que essas práticas contribuam para a formação dos alunos como agentes sociais competentes

II. ”Resultados” destaca os resultados significativos das atividades teatrais em termos de aprendizado e participação, e “Discussão” enfatiza a contribuição dessas práticas para a formação dos alunos como agentes sociais competentes.

III. ” Resultados” sugere que as atividades teatrais têm pouca importância no aprendizado, e “Discussão” argumenta que essas práticas não têm relação com a formação dos alunos como agentes sociais competentes.

Resposta: alternativa II.

b) Formule um argumento para a utilização de práticas teatrais em sala de aula com base nos dados apresentados nas partes “Resultados” e “Discussão”.

7. A conclusão do pôster registra a importância da pesquisa. Quais seriam os benefícios da utilização de práticas teatrais em sala de aula?

Além de o teatro em sala de aula desenvolver o conhecimento dos gêneros narrativos, traz também dinamicidade baseada na expressividade dos saberes compartilhados.

8. O pôster também é composto de elementos visuais, além do texto verbal.

8. b) As legendas, para descrever o que as fotos representam.

a) Que elementos são responsáveis por captar a atenção do público para conhecer mais sobre a pesquisa?

b) Observe as fotos. Que elemento poderia ser acrescentado para completar a leitura das imagens?

9. O pôster é um gênero de apoio a um discurso oral. Em geral, durante a exposição dos pôsteres nos congressos, os pesquisadores ficam ao lado deles à disposição dos frequentadores para eventuais explicações ou esclarecimento de dúvidas.

8. a) O título, as cores e imagens.

a) Que informações o discurso oral dos pesquisadores poderia agregar às apresentadas no pôster?

b) Que tipo de linguagem os pesquisadores devem utilizar durante a apresentação do pôster?

Ciência × pseudociência

A divulgação científica geralmente é feita por jornalistas com formação complementar em ciência, mas há também cientistas que assumem essa tarefa. Alguns se dedicam especificamente a combater a desinformação sobre questões de saúde propagada por influenciadores.

Ocasionalmente, os influenciadores alegam ter formação científica, mas não disponibilizam seu currículo nem dão maiores informações sobre suas credenciais acadêmicas. Em caso de dúvida, é recomendável acessar o site Currículo Lattes (disponível em: https://lattes.cnpq.br/; acesso em: 25 set. 2024), administrado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. O Currículo Lattes é adotado pela maioria das instituições acadêmicas do país, constituindo um enorme banco de currículos dos cientistas e pesquisadores brasileiros.

9. a) Os pesquisadores poderiam destacar detalhes e exemplos de dados obtidos com a metodologia, como registros de campo, exemplos de situações observadas, bem como quais roteiros de teatro foram lidos e interpretados.

9. b) Por ser um contexto formal e oficial, a linguagem deve ser também formal e acadêmica, dotada de clareza e objetividade.

SAIBA MAIS

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Colocação pronominal

1. O protagonista constrói a imagem de si como alguém lúcido e racional, que entende estar projetando um futuro realista, que considera as consequências do acidente que o deixou tetraplégico.

Leia o trecho a seguir, de Feliz ano velho, de Marcelo Rubens Paiva.

2. a) Me se refere ao narrador e complementa o verbo perturbar 2. b) O pronome está entre duas formas verbais de uma locução verbal.

1 Ao discorrer sobre a sessão de terapia, o narrador constrói uma imagem de si. Que imagem?

Observe o termo destacado.

a) A que termo ele se refere e que termo ele complementa?

b) Identifique em que posição da frase se encontra o pronome oblíquo.

Classifique o pronome em destaque

É um pronome pessoal oblíquo.

a) A que termo ele se refere?

Ele se refere à psicóloga.

b) Em que outra posição da frase ele poderia aparecer?

O pronome poderia aparecer antes do verbo: “por que não a chatear um pouco?”.

Só isso?

Essa pergunta estava me perturbando. Lembrei- me de que fazia terapia com uma psicóloga, então por que não chateá- la um pouco? Realmente, assim que aquela figura magra de olhos claros sentou-se na poltrona colorida, falou o simpático:

– E aí moço, quais são as últimas?

E ouviu atenta meu desabafo. Incrível, não sei se Freud explica, mas esses sessenta minutos são os momentos mais lúcidos que tenho. Fico verdadeiro, disposto a me descobrir e a sacar o que realmente está acontecendo. Imaginava-me de muletas, andando com aqueles aparelhos ortopédicos, de certa maneira conformando-me com aquele estado. Tentava encarar com objetividade, pensar no futuro, descobrir o que fazer. […]

PAIVA, Marcelo Rubens. Feliz ano velho. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 2010. E-book

5 Considere o verbo em destaque.

4 O termo em destaque complementa o verbo lembrar e está posto depois dele.

a) Em que posição o termo em destaque aparece na fala cotidiana?

b) Reescreva a frase de tal forma que ela comece com um pronome pessoal do caso reto e o pronome oblíquo ocorra antes do verbo.

a) Qual é o complemento desse verbo?

b) Considere que o complemento do verbo fosse o segredo. Como seria possível reescrever a frase substituindo esse complemento por um pronome oblíquo?

Fico verdadeiro, disposto a descobri-lo… O complemento é o pronome me 4. a) Frequentemente ele aparece no início da frase. Eu me lembrei de que fazia terapia…

A norma-padrão prevê a posição que os pronomes pessoais átonos devem ocupar em relação à forma verbal à qual se ligam: se antes dela, depois ou no meio. A seguir, você vai conhecer as regras que determinam a posição em que esses pronomes devem aparecer na frase, segundo essa norma. Observe os exemplos a seguir.

[…] por que não chateá-la um pouco?

Objeto direto

Imaginava-me de muletas […] Objeto indireto

Não escreva no livro.

Nos períodos dos exemplos, foram destacados pronomes átonos oblíquos, com função de complementos verbais. A posição dos pronomes é posterior às formas verbais; a essa colocação pronominal chamamos ênclise. Na modalidade formal da língua portuguesa, essa seria a colocação preferencial.

Agora analise mais alguns exemplos.

Não me lembrei de que fazia terapia.

Sempre se chateava com a psicóloga.

Já se viu desabafo tão espontâneo!

Eu me dei conta de que andarei sempre de muletas.

Palavras com sentido negativo, advérbios ou locuções adverbiais que não são seguidas de vírgula, além de pronomes, atraem o pronome pessoal do caso oblíquo, condicionando a colocação do pronome antes da forma verbal, o que chamamos de próclise. Também a conjunção integrante atrai o pronome. Observe.

Se continuar falando assim, fique certa que se chateará!

Havendo conjunções integrantes, como na oração anterior, o pronome deve ser colocado antes da forma verbal, ou seja, na posição de próclise.

O mesmo vale para pronomes relativos e pronomes interrogativos, que também atraem o pronome para a posição de próclise. Observe, no exemplo a seguir, mais um modo de colocação pronominal.

Na seção de amanhã, descobri-lo-ei, esse segredo.

Nesse caso, o pronome átono ocorre no meio da forma verbal. Chamada de mesóclise, essa colocação pronominal é menos comum na língua portuguesa falada no Brasil atualmente.

Colocação pronominal é o modo de organização que determina as posições adequadas e preferenciais que os pronomes oblíquos átonos ocupam na oração.

Próclise ocorre quando o pronome é colocado antes do verbo.

Ênclise ocorre quando o pronome é colocado depois do verbo.

Mesóclise ocorre quando o pronome é colocado no meio do verbo.

Um casamento por erro de pronome

No conto “O colocador de pronomes”, do escritor paulista Monteiro Lobato (1882-1948), o escrevente de um cartório apaixona-se pela filha caçula de um poderoso coronel da cidade e declara-se à amada por meio de um bilhete com estes dizeres: “Anjo adorado! Amo-lhe!”. Acontece que quem pegou o bilhete foi o pai da moça, que convocou o escrevente à sua casa para uma conversa. O escrevente atendeu à convocação muito preocupado, e lá chegando ouviu do coronel a seguinte explicação/intimação:

— Nada de frases, moço, vamos ao que serve: declaro-o solenemente noivo de minha filha!

E voltando-se para dentro, gritou:

— Do Carmo! Venha abraçar o teu noivo!

O escrevente piscou seis vezes e, enchendo-se de coragem, corrigiu o erro.

— Laurinha, quer o coronel dizer…

O velho fechou de novo a carranca.

— Sei onde trago o nariz, moço. Vassuncê mandou este bilhete à Laurinha dizendo que ama-‘lhe’. Se amasse a ela deveria dizer amo-‘te’. Dizendo ‘amo-lhe’ declara que ama a uma terceira pessoa, a qual não pode ser senão a Maria do Carmo. Salvo se declara amor à minha mulher…

— Oh, coronel…

MONTEIRO LOBATO, José Bento Renato. O colocador de pronomes. [S. l.]: Conto Brasileiro, 23 mar. 2013. Disponível em: https://contobrasileiro.com.br/o-colocador-de-pronomes-conto-de-monteiro-lobato/. Acesso em: 23 set. 2024. E assim o escrevente se casou com Maria do Carmo. O casal teve um filho chamado Aldrovando Cantagalo, que por ironia do destino veio a ser um grande estudioso da colocação de pronomes.

PENSAR E COMPARTIlHAR

1. L eia o poema a seguir, publicado em um blogue de poesia visual.

1. a) A brincadeira consiste na mentira de que o eu lírico vai encontrar alguém, a qual fica evidente com a separação da palavra, ou seja, não há encontro com algo que está separado como a palavra encontrarei, que tem um pronome no meio.

1. b) A forma verbal está no futuro do presente do indicativo e, por isso, o pronome deve ser intercalado. 1. c) Essa expressão é muito formal, visto que não é utilizada na fala e nem mesmo em textos escritos cotidianos.

Não escreva no livro.

NEMER, Rafael. [Mesóclise]. Infame Lúdico. Bebedouro, 30 jun. 2013. Disponível em: http://infameludico.blogspot. com/2013/06/mesoclise.html. Acesso em: 1 out. 2024.

a) O poema faz uma brincadeira com a mentira e com as próprias palavras. Qual é essa brincadeira?

b) E xplique a regra que justifica a colocação do pronome em encontrar-te-ei

c) Classifique essa expressão quanto à formalidade e justifique sua classificação.

d) Reescreva a expressão para que fique menos formal e mais próxima da fala cotidiana.

Vou te encontrar.

SAIBA MAIS

2. a) A utilização equivocada do pronome pelo homem em nunca deixe-me!, que a mulher questiona.

2. b) A utilização de ênclise em abrace-me e beije-me, pois cotidianamente se usa me abrace e me beije. Mostra que a situação é importante para ele, que é uma situação solene.

2. c) Ele generaliza a utilização da ênclise e utiliza o pronome em posição inadequada em nunca deixe-me

2. L eia a tirinha de Jean Galvão (1972-).

GALVÃO, Jean. [Pronome]. Tirinhas pedagógicas de Jean Galvão. [S. l.], 15 set. 2023. Disponível em: https://tiroletas.wordpress.com/2023/09/15/pronome-2/. Acesso em: 17 out. 2024.

a) Nessa tirinha, o humor também é derivado de uma inadequação gramatical. Qual é ela?

b) O homem da tirinha, ao fazer sua declaração, tenta ser formal. Que recurso comprova essa tentativa? O que essa formalidade mostra sobre seu pedido?

c) O que mostra que o homem não tem familiaridade com essa formalidade?

d) Como deveria ser a última fala do apaixonado para que fosse evitada a crítica de sua amada? Que regra justifica essa correção?

A declaração de amor representa uma situação de intimidade entre duas pessoas, ocasião em que o registro coloquial (informal) é o mais adequado. Nunca me deixe: ocorre próclise porque há uma palavra com sentido negativo.

e) Em sua opinião, em uma situação como a da tirinha, a opção do homem pelo uso da linguagem formal é a mais adequada? Responda com argumentos.

Espera-se que os estudantes respondam que não.

3. L eia a seguir um trecho de uma crônica do escritor Fabrício Carpinejar (1972-).

Falar-lhe-ei a teu respeito

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Sofria a chegada do inverno. […] Já estava desanimado prevendo as consequências de arrasto e das poucas horas de sono. […] Depois da nebulização, já tranquila com a medicação, Juliana pegou com vontade a minha mão esquerda e beijou meus olhos. […]

Não parava de acalmá-los com seu perfume. Sua boca caminhava de um lado para o outro, como uma compressa de febre. […]

Ninguém beija os olhos à toa, por distração.

Beijar os olhos é uma demonstração de apego, de urgência, o equivalente a uma serenata na janela. […]

Beijar os olhos de um homem é a mesóclise da vida a dois. A mesóclise é linda, mas rara, deve ser usada em ocasiões muito especiais.

CARPINEJAR, Fabrício. Falar-lhe-ei a teu respeito. Gaúcha Zero Hora, Porto Alegre, 6 jul. 2013. Disponível em: https://gauchazh.clicrbs.com.br/comportamento/noticia/2013/07/falar-lhe-ei-a-teu-respeito-4189898.html. Acesso em: 23 set. 2024.

a) Qual é a relação entre o beijo no olho e a mesóclise?

A aproximação se dá em razão da raridade com que elas acontecem – só em ocasiões especiais.

b) O t ítulo da crônica apresenta uma mesóclise. Justifique-a.

A mesóclise se dá porque a forma verbal está no futuro do presente do indicativo.

c) Na e xpressão acalmá-los, qual é o referente do pronome e como se justifica a ênclise?

d) S e o autor quisesse evitar a repetição da expressão Beijar os olhos , poderia usar um pronome. Qual? Reescreva a expressão usando o pronome e explicando que regra de colocação pronominal deveria respeitar.

A expressão reescrita seria Beijá-los e seguiria a ênclise, porque não se pode começar um período com pronome oblíquo.

3. c) O referente são os olhos, e a ênclise se justifica porque não há nenhuma palavra que exija os dois outros casos.

JEAN
GALVÃO

ASTUCIAS DA lINGUA

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Colocação pronominal em uso

Não escreva no livro.

Leia a seguir um trecho do romance A resistência, de Julián Fuks, que narra a trajetória de uma família de intelectuais argentinos que se mudaram para o Brasil após o golpe militar de 1976 na Argentina. Ao chegarem, adotaram uma criança e, mais tarde, tiveram outros filhos biológicos. Sebástian, o caçula da família, explora a complexidade dessas relações ao tentar compreender a história de seus pais e os sentimentos de seu irmão adotivo, com o objetivo de reescrever a narrativa familiar.

2. a) No primeiro caso, a presença da conjunção integrante que; no segundo caso, a conjunção se.

1 Nesse trecho, o narrador protagonista coloca questões sobre o que é ser mãe.

• Ao que ele associa a maternidade?

A uma entrega absoluta, ao esforço em conhecer o filho.

2 Considere os pronomes em destaque

a) O que justifica a posição do pronome antes da forma verbal nesses casos?

b) No uso informal, é comum a utilização desse pronome em outras posições? Explique.

Não, pois dessa forma já se garante uma sonoridade na frase e se evitam trechos cacofônicos.

Há uma foto do meu irmão em seus primeiros dias, ou meses, em seus primeiros tempos. Sua mãe, a mulher que seria minha mãe, o sustenta com firmeza bem rente ao peito, inteiramente entregue, é o que interpreto, à assimilação concreta e palpável de sua existência, à apreciação daquela presença no centro do mundo que é a foto, no centro do losango desenhado por seus ombros e cotovelos. Acho que se esforça em conhecê-lo, como toda mãe se esforça em conhecer o filho a cada vez que o tem diante de si, a cada vez que o observa, não importando quantos dias, ou meses, ou anos, tenha. Me pergunto, embora não deva, se lhe fará falta não tê-lo acolhido em seu ventre, os nove meses que ela perdeu, não ter sentido nas entranhas suas palpitações, a saciedade e a fome, a vigília e o sono, a tensão e a distensão dos membros. Esse menino já viveu uma infinidade de experiências que ela ignora, sensoriais ao menos, mas não será assim para toda mãe, sempre alheia, no limite, aos processos internos daquele outro ser, daquele corpo que não é o seu?

FUKS, Julián. A resistência . São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 64.

3. a) O pronome se refere ao filho/irmão.

3 Observe o pronome destacado.

a) A que termo ele se refere?

b) Nenhuma regra obriga nem a próclise nem a ênclise nesse caso. Formule uma hipótese que explique por que se preferiu a ênclise.

Espera-se que os estudantes percebam que a ênclise foi escolhida para garantir uma sonoridade à frase, para evitar o trecho “em o conhecer”.

4 E xplique se o pronome destacado está de acordo com a norma-padrão e responda: há prejuízo de sentido ao se usar o pronome nessa posição?

A norma-padrão determina que não se começa frase com pronome oblíquo. Não há prejuízo de sentido; trata-se de uma colocação no uso da língua em situações menos formais.

5 A colocação do pronome destacado não segue a norma-padrão.

a) Por quê?

Porque a norma-padrão determina que palavras com sentido negativo pedem próclise.

b) Formule uma hipótese que explique por que a ênclise foi preferida nesse caso.

Espera-se que o estudante perceba que a ênclise nesse caso evita o trecho cacofônico “não o ter”.

Na linguagem cotidiana do português falado e escrito no Brasil, é comum observarmos casos em que a colocação pronominal se desvia da norma-padrão. Esses desvios são um reflexo da linguagem em uso e mostram como a língua portuguesa, especialmente no Brasil, se adapta às necessidades comunicativas dos falantes. A simplificação das estruturas e a influência das variedades regionais são características marcantes da fala cotidiana, mesmo que essas construções se desviem da norma. É importante estar ciente dessas variações e usá-las de maneira adequada ao contexto, mas evitá-las em situações formais, que exigem maior conformidade com as regras da norma-padrão.

Observe os seguintes exemplos.

Me empresta um livro? em vez de Empresta-me um livro?

Esse exemplo mostra uma tendência à próclise, mesmo quando não há um fator que a justifique gramaticalmente, como uma palavra negativa ou um advérbio antes do verbo.

Outro desvio comum é o uso de pronomes oblíquos tônicos no lugar dos pronomes pessoais do caso reto (como “eu”, “tu”, “ele”, “ela”, “nós”, “vós”, “eles”, “elas”).

Esse fenômeno pode ser observado em construções como:

Já organizei os dados da pesquisa para mim redigir o trabalho. em vez de

Já organizei os dados da pesquisa para eu redigir o trabalho.

No exemplo, “mim” é usado no lugar de “eu”, mesmo sendo um pronome oblíquo tônico, que deveria ser utilizado apenas após preposições e nunca desempenhar o papel de sujeito.

Ainda, o uso contemporâneo do tempo futuro no português brasileiro tem passado por mudanças que refletem tanto a evolução natural da língua quanto a influência das formas de comunicação mais rápidas, como a fala coloquial e as interações em ambientes digitais.

Tradicionalmente, o futuro do presente em português é dado na conjugação do verbo. Contudo, na fala cotidiana, essa forma tem sido substituída com frequência cada vez maior por construções perifrásticas, em que o verbo ir conjugado no presente é seguido pelo verbo principal no infinitivo. Esse fenômeno é conhecido como futuro perifrástico

Eu comprarei o presente amanhã. Comprá-lo-ei amanhã.

Eu vou comprar o presente amanhã. Eu vou comprá-lo amanhã.

L eia a tirinha a seguir, de Caetano Cury (1985-).
PENSAR E COMPARTIlHAR
Não escreva no livro.

1. Para a personagem, o amor provoca sofrimento, dor, mas a diminuição do amor produziria ainda mais dor, dada a mudança de tamanho da letra na interjeição que expressa dor.

1. A personagem da tirinha revela ter problemas com o sentimento amoroso. Que problemas são esses?

2. A t irinha apresenta uma construção que foge à norma-padrão com relação à colocação pronominal.

a) Por que podemos dizer que essa fuga, na linguagem cotidiana, não se configura como um equívoco?

Porque popularmente a expressão te amo é amplamente utilizada, mesmo em contextos mais formais.

b) Proponha uma reescrita para a fala da personagem que a ajuste à norma-padrão, mas ainda mantenha um tom informal.

Eu te amo tanto que dói.

L eia o trecho a seguir, sobre relacionamentos.

Quando eu encontro a minha irmã depois de algum tempo sem ver ela, ou quando eu encontro a minha mãe depois de algum tempo sem ver ela, ou quando eu encontro algum bom amigo ou alguma boa amiga depois de algum tempo sem ver ele ou ela, me vem na cabeça a ideia de terra firme. É que andar por aí, entre pessoas estranhas, ou entre pessoas com quem a gente não tem tanta intimidade assim, isso implica em fingir o tempo todo, representar. Tu nunca quer mostrar como tu realmente é pra qualquer um. Tu só mostra quem tu realmente é pras pessoas com quem tu te sente à vontade; quando tu não tá com pessoas assim, tu fica constantemente ocultando o teu jeito de ser e pá. E isso cansa, pai. Isso cansa, como remar pra se locomover no meio do oceano — ou, mais apropriadamente, cansa como bater braços e pernas pra se locomover no meio do oceano. Daí a ideia de terra firme: uma vez na companhia de alguém com quem tu te sente à vontade, aí já era, tu não precisa mais ficar te esforçando, te ocultando, tu não precisa mais fazer nada.

FALERO, José. Um otário com sorte. In: FALERO, José. Vila Sapo. São Paulo: Todavia, 2022. E-book.

3. O t recho apresenta os sentimentos do narrador em alguns relacionamentos. Como ele se sente nas diferentes relações?

4. Considere o termo em destaque no texto.

O narrador revela que, em alguns relacionamentos muito próximos, ele sente segurança e conforto, mesmo depois de muito tempo e distância. Com pessoas estranhas, ele se sente desconfortável para mostrar quem ele de fato é e se sente cansado por ter de representar.

a) Qual é a inadequação gramatical que ele apresenta?

Ele apresenta pronome pessoal do caso reto na função de objeto, quando deveria ser pronome pessoal oblíquo.

b) Proponha uma reescrita para o período que siga a norma-padrão.

Quando eu encontro a minha irmã depois de algum tempo sem vê-la […].

5. O conto “Um otário com sorte” faz parte do livro Vila Sapo (2022). Nele, de forma lírica e inventiva, o autor faz um retrato cru e dolorido da vida dos esquecidos, explorados e estigmatizados. Traz a voz forte das periferias. Tendo isso em mente, responda.

a) Seria adequado, em uma obras dessa natureza, um texto que seguisse os padrões do registro formal, em obediência à norma-padrão? Por quê?

b) L eia esse trecho aplicando a norma-padrão em todos os casos em que você observar que houve desvios. O mesmo texto com a norma-padrão tem mais força que o original? Explique.

Espera-se que os estudantes respondam que não, pois perde a força da informalidade e espontaneidade que caracterizam o texto original.

#fiCAADiCA

Vale a pena conhecer os livros de José Falero (1987-), escritor gaúcho que já se tornou destaque na literatura nacional, com obras que problematizam questões sociais. Ele já percorreu o gênero narrativo de diferentes formas: Vila Sapo é um livro de contos; Os supridores , um romance; Mas em que mundo tu vive?, uma reunião de crônicas. Esse último faz parte das leituras obrigatórias para o vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Capa do livro Vila Sapo.

5. a) Não seria. O texto precisa refletir o contexto em que se insere. A voz da periferia não é a que utiliza a norma-padrão. Nesse caso, os desvios são mais adequados que o padrão.

#NOSNAPRATICA

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Apresentação oral de conteúdo científico

O avanço da ciência brasileira depois do fim da ditadura civil-militar foi fruto do fortalecimento universitário e da ampliação do financiamento de pesquisas. Esse avanço favoreceu a organização de congressos e seminários em que as pesquisas produzidas pudessem ser apresentadas. Nesta produção, você vai simular uma dessas apresentações.

O que você irá produzir

Você vai produzir uma apresentação oral com ferramentas de apoio sobre alguma consequência que a crise climática esteja provocando no Brasil. O objetivo é que, ao final da atividade, os estudantes conheçam com maior profundidade as condições ambientais em que o mundo se encontra para que possam se engajar e ter argumentos contra eventuais discursos negacionistas. O pôster é uma das ferramentas que podem ser utilizadas para complementar uma apresentação oral. Nessa atividade, você vai produzir um pôster nos moldes do que você analisou na seção Leitura da unidade.

Planejar

A primeira etapa é a realização de uma pesquisa para identificar as consequências da crise climática, que podem estar relacionadas à agricultura, à saúde pública, à economia, ao turismo etc. Reunidos em grupos de 4 ou 5 integrantes, pesquisem em sites confiáveis, de instituições acadêmicas, para que a apresentação não corra o risco de reproduzir informações sem comprovação. Ao longo de sua pesquisa, separe trechos de textos, fotos, ilustrações, gráficos e vídeos que possam ser representativos do tema e salve-os na nuvem ou em dispositivo de armazenamento.

Produzir

Depois de realizada a pesquisa, é hora de organizar as informações. Toda apresentação deve ter uma sequência lógica para que o público possa acompanhá-la sem dificuldade.

Divida as informações pesquisadas nos tópicos a seguir.

• Introdução (apresenta de forma geral a crise climática).

• Causas (o que provoca o fenômeno selecionado).

• Consequências (o fenômeno selecionado).

• Medidas a serem tomadas (para evitar ou minimizar essas consequências).

lABORATORIO DE PRODUÇÃO

Clareza e concisão

Perífrase é uma figura de linguagem que consiste em usar mais palavras do que o necessário para expressar uma ideia que poderia ser dita de forma mais simples e direta. Isso geralmente ocorre quando se utiliza uma descrição ou uma expressão elaborada no lugar de uma palavra ou termo mais direto.

Não escreva no livro.

1. • O aquecimento global está afetando os padrões climáticos em todo o mundo.

• Os cada vez mais frequentes eventos climáticos extremos são provocados pela ação humana.

• A queima de combustíveis fósseis está intensificando o aquecimento global.

A perífrase pode ser usada para evitar repetições ou para suavizar a linguagem, mas, quando utilizada em excesso, pode tornar o texto prolixo e menos objetivo.

Sempre que possível, use termos precisos que descrevam claramente o que você quer dizer. Substitua descrições longas por palavras específicas. Por exemplo, em vez de dizer “A liberação de gases que prendem o calor na atmosfera”, diga simplesmente “emissão de gases do efeito estufa”. Não faça rodeios ao explicar um conceito que pode ser abordado de forma direta. Fale ou escreva de maneira clara. O trecho “o processo pelo qual o gelo nos polos está derretendo”, pode ser substituído por “o derretimento das calotas polares”.

1. Agora é sua vez de exercitar a objetividade para fugir de perífrases. Para tanto, reescreva os períodos a seguir de uma forma objetiva e direta.

• A elevação gradual das temperaturas globais, causada pelo aumento dos gases que prendem o calor na atmosfera, está afetando os padrões climáticos de todo o mundo.

• Os fenômenos atmosféricos extremos que estão ocorrendo com uma frequência crescente são um reflexo das alterações nas condições meteorológicas causadas pela influência humana.

• A queima de combustíveis fósseis para a geração de energia está liberando grandes quantidades de gases prejudiciais no ar, intensificando o problema do aquecimento da Terra.

Considerando o número de grupos de uma sala, sugere-se que cada grupo tenha 10 minutos para sua apresentação. Por isso, verifique se o texto produzido contempla esse tempo. Criar um pôster acadêmico eficaz envolve comunicar as informações de maneira clara e visualmente atraente.

• Crie um título chamativo que descreva o tema do seu trabalho de forma clara.

• Organize seu pôster em seções lógicas como Introdução, Metodologia, Resultados, Discussão e Conclusão. Use títulos e subtítulos para facilitar a leitura.

• Não sobrecarregue o pôster. Use espaços em branco para evitar uma aparência confusa e para guiar o olhar do leitor.

• Mantenha o texto curto e direto. Use frases curtas e evite parágrafos longos. Destaque os pontos principais com bullet points.

• Inclua gráficos, tabelas e figuras que complementem o texto e ajudem a ilustrar seus dados. Certifique-se de que sejam legíveis e tenham legendas claras.

• Mantenha um estilo visual consistente, como o mesmo tipo de bordas, tamanhos de imagens e estilos de gráficos.

Verifique com o professor se é possível imprimir o pôster ou se ele será projetado no local da apresentação. Sugere-se que os arquivos sejam salvos em formato PDF.

Compartilhar

A apresentação da pesquisa é o próprio compartilhamento. Durante sua apresentação, lembre-se de:

• olhar para todos os ouvintes da apresentação;

• calcular o tom de voz para que todos escutem o que você fala;

• articular as palavras para que todos entendam o que você diz.

Durante a apresentação, o grupo deve dividir-se na frente da sala de forma harmônica, sem se acumular em um canto, e eleger alguém responsável por mudar os slides. A fala deve ser formal, correta e acadêmica. É importante ser respeitoso com a turma e responder às perguntas que forem feitas.

ROTEIRO

PARA lER

FERRÉZ. Ninguém é inocente em São Paulo. Curitiba: Kotter, 2020.

Nesse livro de contos, as narrativas apresentam o cotidiano trágico e por vezes cômico da periferia. Usando a linguagem falada nos ambientes representados na obra, os contos constroem narrativas carregadas da realidade crua, que explicitam as urgências a que estão submetidas as pessoas de regiões periféricas.

PARA NAVEGAR

FERRÉZ. Avesso TV. Brasil, c2021-2024. YouTube: [Canal] @avesso. Disponível em: www.youtube.com/@avesso. Acesso em: 26 set. 2024.

O canal Avesso TV, de Ferréz, traz vídeos variados que revelam uma visão engajada e otimista da realidade e da sociedade. Os vídeos revelam bastidores do esporte, da cultura e da política, trazendo depoimentos e mensagens de luta. Assista para conhecer mais sobre as periferias e sobre seus sonhos e lutas.

PARA OUVIR

PAIVA, Marcelo Rubens. [Quando eu sofri o acidente…]. [Entrevista cedida a] Marcelo Bratke. Cultura FM, São Paulo, maio 2023. Disponível em: https:// cultura.uol.com.br/radio/programas/alma-brasileira/2023/05/28/146_almabrasileira-traz-o-escritor-marcelo-rubens-paiva-falando-de-musica-livrose-historia.html. Acesso em: 26 set. 2024.

O programa de rádio entrevista Marcelo Rubens Paiva e, além de apresentar um panorama de sua obra, também ouve as opiniões do autor sobre música, livros e história.

PARA ASSISTIR

AINDA Estou Aqui. Direção: Walter Salles. França: Arte France Cinéma; Brasil: Conspiração Filmes, Globoplay, 2024. Streaming (140 min).

O filme Ainda estou aqui adapta para o cinema o romance homônimo de Marcelo Rubens Paiva. Ambientada no Brasil de 1971, em um período marcado pela crise e pelo controle crescente da ditadura civil-militar, a narrativa recupera a história real de Eunice Paiva, mãe de cinco filhos, entre eles o narrador. Ela, diante do sequestro e desaparecimento de seu marido sob a custódia dos militares, precisa se reinventar como ativista para lutar pela verdade e pela justiça e para sustentar a família.

Capa do livro Ninguém é inocente em São Paulo.
Imagem de abertura do canal Avesso TV.
Fotografia de Marcelo Rubens Paiva.
Imagem do filme Ainda estou aqui.

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UM MUNDO NO PALCO 8

Teatro Oficina. São Paulo (SP), 2009.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Observe a fotografia a seguir, do Teatro Oficina, em São Paulo (SP). Ele foi projetado pela arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi (1914-1992), um dos maiores nomes da arquitetura brasileira.

1. Espera-se que os estudantes percebam como nesse teatro não há um palco e uma plateia claramente definidos e identificáveis. Há um corredor, um trecho de teto aberto e andaimes que margeiam o corredor.

1. Observe a fotografia e explique por que se pode dizer que esse teatro subverte a lógica arquitetônica tradicional do teatro.

2. a) Espera-se que os estudantes percebam que, na ausência de um palco tradicional, a encenação pode ocorrer tanto no corredor central como nos andaimes onde ficaria a plateia, no tablado de madeira.

2. Em 2015, de acordo com o jornal londrino The Observer, o Teatro Oficina foi eleito o melhor teatro do mundo na categoria projeto arquitetônico.

a) Em que espaços a encenação pode ocorrer?

b) Qual é a vantagem de encenar um espetáculo no corredor do teatro?

Favorece a proximidade ou mesmo a interação com o público.

3. As encenações do Teatro Oficina, além de responderem à arquitetura do espaço, também recorrem a projeções de videoarte, captura de imagens e banda ao vivo. De que forma esse tipo de encenação pode potencializar os sentidos dos roteiros encenados?

Espera-se que os estudantes compreendam que os vídeos e a música podem ampliar as possibilidades da encenação, integrando imagens para além do palco e uma trilha e sonoplastia mais diversificada.

Não escreva no livro.

Observe as fotografias a seguir, ambas de peças da companhia Teatro da Vertigem. A primeira, da peça Bom Retiro, 958 metros, realizada em 2012, e a segunda, da peça O paraíso perdido , realizada em 1992, ambas em São Paulo.

Fotografia da peça Bom Retiro, 958 metros. São Paulo (SP), 2012.

Fotografia da peça O paraíso perdido, do Teatro da Vertigem. São Paulo (SP), 2004.

4. A fotografia da peça Bom Retiro, 958 metros apresenta uma cena da peça encenada nas ruas do bairro paulistano Bom Retiro ao longo da madrugada.

a) Que efeito pode produzir a encenação de uma peça de teatro na rua da cidade?

b) Uma peça encenada na rua pode ficar submetida a situações que talvez escapem do controle, o que dificilmente aconteceria no palco de um teatro. Que situações seriam essas?

5. A fotografia da peça O paraíso perdido traz uma cena da peça encenada na igreja de Santa Ifigênia, em São Paulo, e adapta a epopeia do poeta inglês John Milton (1608-1674), Paraíso perdido (1667), que narra a queda de Lúcifer do paraíso e a expulsão de Adão e Eva do Éden.

a) De que forma a encenação em uma igreja cristã potencializa o sentido da peça?

b) Que efeito cria a iluminação do cenário da igreja?

O teatro contemporâneo tem incorporado tecnologias digitais, como projeções visuais, realidade aumentada e sons tridimensionais, que enriquecem a experiência sensorial, criando ambientes imersivos que desafiam as convenções tradicionais do palco. Além disso, o uso de espaços não convencionais, como praças, museus, fábricas abandonadas e até plataformas virtuais, promove uma reconfiguração do espaço cênico, aproximando o teatro da vida cotidiana e convocando novas formas de recepção e participação do espectador. Esse teatro, ao explorar novos recursos e espaços de encenação, estabelece um diálogo direto com as inovações teatrais do teatro brasileiro do século XX, principalmente depois da Segunda Guerra Mundial, que buscava explorar novos modos de expressão e temas que se aproximavam da realidade cotidiana e das transformações sociais e tecnológicas. A seguir, você vai conhecer mais sobre esse diálogo.

4. a) Espera-se que os estudantes percebam que a encenação na rua quebra a separação entre o palco onde ocorre a ficção e a plateia do real. A encenação na rua gera uma fusão entre ficção e real que ressignifica o teatro e abre a encenação para outros sentidos.

4. b) Na rua, transeuntes, moradores, animais e situações aleatórias podem interromper ou atrapalhar a encenação ou interagir com os atores sem saber que se trata de uma encenação.

5. a) A igreja é o espaço do culto cristão; encenar nesse espaço uma história que está na base do cristianismo potencializa os sentidos religiosos da peça.

5. b) A iluminação é marcada por alto contraste: ou muito iluminado ou muito escuro; ela acentua o efeito dramático e a própria dualidade entre bem e mal, forças em tensão na peça.

GUTO MUNIZ
JB NETO/ESTADÃO CONTEÚDO

Uma comédia demasiado humana

Na história do Brasil, o trabalho não foi sempre apenas uma forma de conseguir uma renda para sobreviver, consumir produtos e serviços. Durante o período da escravização, era visto como uma ação vergonhosa e menor. Hoje, para a maioria da população, trabalho e vida praticamente coincidem, já que o tempo dedicado ao trabalho chega a invadir as horas de lazer e descanso.

Para discutir

1 Você acha que o trabalho dignifica o ser humano? Por quê?

2 Considere o tempo que seus familiares, amigos ou você mesmo dedicam ao trabalho. Em sua opinião, as pessoas trabalham demais hoje em dia? Por quê?

3 Quais seriam as condições ideais de trabalho para uma vida saudável e feliz?

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Você vai ler a seguir alguns trechos do roteiro da peça A comédia do trabalho (2000), do grupo Companhia do Latão, de São Paulo. A peça se passa num lugar fictício chamado Tropélia, onde os banqueiros gêmeos Leonid e Creonid tentam salvar da falência a instituição financeira herdada do pai, enquanto um de seus funcionários tenta o suicídio e uma crise financeira assola o país, levando multidões de miseráveis às ruas. Nesse contexto, Tropélia recebe a visita de Liu-Liu, presidente de honra da Missão Filantrópica Internacional.

Texto

2. Nas ruas de Tropélia, Liu-Liu, presidente de honra da Missão Filantrópica Internacional entra em contato com a verdade tropical

Numa praça pública, desempregados se aglomeram em torno de um homem que traz no corpo tabuletas onde se leem ofertas de emprego. Indiferente ao tumulto, este homem-sanduíche desloca-se sem pressa de um lado para o outro. O grupo de desempregados o acompanha.

PRIMEIRO [Lê.] Ei, ‘serviço geral’, é para você.

SEGUNDO [Lê.] Ei, ‘ajudante geral’, é para você.

TERCEIRO ‘Ascensorista.’ Isso parece bom.

PRIMEIRO Ótimo, o dia todo num elevador.

TERCEIRO É muito confinado, prefiro almoxarifado.

QUARTO Nada. Ascensorista é mais movimentado. […]

Num canto, surgem Liu-Liu, uma estrangeira com adereços tropicais e a Embaixatriz, sua acompanhante nesta visita ao centro da capital de Tropélia.

ascensorista: operador de elevadores.

lER O MUNDO
Não escreva no livro.
Cena da peça Comédia do trabalho, da Companhia do Latão. Fotografia de 2000.
ACERVO LENISE PINHEIRO

LIU-LIU Venha, ele estava por aqui. Tinha duas placas cobrindo seu corpo, e atrás dele um grupo de homens de aparência triste.

EMBAIXATRIZ Quanta sujeira e desordem. É para você ver como a vida do corpo diplomático não é fácil. Eles parecem esquecidos da civilização.

LIU-LIU Sempre pensei que nas províncias ensolaradas do sul as pessoas fossem mais felizes.

EMBAIXATRIZ Só alguém como você para lhes trazer de volta a dignidade.

LIU-LIU [Ao público.] Senhores espectadores, meu nome é Liu-Liu. Sou presidente da Missão Filantrópica Internacional. Vim a Tropélia em busca de um homem que tenha atingido o fundo mais fundo do abismo social.

EMBAIXATRIZ Se eu pudesse, distribuiria dignidade a todos, todos.

LIU-LIU Que encanto.

EMBAIXATRIZ Vamos voltar para o seu hotel, sim? Esta noite temos uma festa na casa do Governador e precisamos estar com as peles frescas.

LIU-LIU Lá vai ele.

EMBAIXATRIZ Não me abandone.

LIU-LIU Vou me aproximar.

Aproximam-se do homem-sanduíche.

LIU-LIU [Investigativa.] Parecem anúncios, avisos. [Ao homem.] O senhor está vendendo?

HOMEM-SANDUÍCHE Vendendo, senhora, vendendo?

LIU-LIU [Fala pausadamente, tentando se fazer entender.] O que o senhor está fazendo?

HOMEM-SANDUÍCHE Veja bem, sou um homem-sanduíche.

LIU-LIU Eu não compreendo. Por que este nome?

HOMEM-SANDUÍCHE Veja bem, porque os esfomeados estão sempre atrás de mim.

LIU-LIU O senhor gosta de fazer o que faz?

HOMEM-SANDUÍCHE Veja bem, é um trabalho, senhora, um trabalho.

LIU-LIU [À Embaixatriz.] Percebo que este homem chegou ao fundo mais fundo do abismo social. Vou ajudá-lo. [Ao homem-sanduíche.] Como o senhor chegou a uma situação tão dramática?

HOMEM-SANDUÍCHE Data venia , eu ganho pouco, mas o serviço é leve. A problemática é que é temporário, depois de três meses os pusilânimes nos despedem para não registrar em carteira.

LIU-LIU O senhor gostaria de fazer parte de um grupo de reconstituição do universo simbólico?

Ele se afasta, entre perplexo e enjoado.

LIU-LIU Vamos continuar procurando. Minha intuição me diz que nosso homem está aqui nesta praça.

Entram dois desempregados, Ladino e Plácido.

LADINO [Tentando se esquivar.] Amigo, você para mim é problema seu.

PLÁCIDO Eu estou desempregado, mas hei de conseguir. Não tirei o meu diploma de Ciências Contábeis em uma banca de jornal, não. E depois da faculdade fiz vários cursos: recepcionista, detetive particular, acompanhante de cego. […]

Entra um grupo de mendigos com seus trapos, e outro de pedintes apoiados em muletas.

[…]

PLÁCIDO [Observa o grupo e se aproxima aos poucos.] Acho que vou tentar outro trabalho.

MENDIGA [ Aos pedintes. ] Ouçam todos. A situação está insustentável. Esses desempregados estão começando a atrapalhar a nossa vida de mendigo. Eles chegam à procura de trabalho, não encontram, ficam deprimidos, começam a beber, aí vêm com seu cobertorzinho… querem dormir do nosso lado.

CARVALHO, Sérgio de; MARCIANO, Márcio. A comédia do trabalho. In: CARVALHO, Sérgio de; MARCIANO, Márcio. Companhia do Latão 7 peças. São Paulo: Cosac Naify, 2008. p. 89-146. p. 94-97.

filantrópico: relativo à caridade, generosidade. data venia: expressão latina utilizada no campo jurídico que inicia uma argumentação contrariando a opinião de outra pessoa. pusilânimes: covardes, medrosos.

#SOBRE

A Companhia do Latão é um grupo teatral criado em São Paulo em 1997, que desenvolve pesquisas sobre teatro para a produção de uma dramaturgia própria, que tem como objetivo refletir sobre os problemas da sociedade brasileira. Por ser também um grupo de pesquisa, a Companhia do Latão, além de encenar roteiros de vários autores, produz suas peças de forma coletiva. As peças visam produzir uma consciência social crítica no espectador, por meio de uma lógica teatral com grande dinamicidade de cenários, atores e músicas.

2. d) Além de indicar que a temática é contemporânea, apresenta diversos elementos relacionados ao mundo do trabalho, como o nome de um sistema econômico (capitalismo financeirizado), agentes que nele atuam (banqueiros, financiadores, investidores, ex-empregado), possibilidades de operação (venda, investimento estrangeiro, ajuda governamental) e consequências para a sociedade (desemprego, movimento de uma massa de miseráveis pela cidade).

1. a) Espera-se que os estudantes percebam que pode ser tanto uma piora nas economias brasileira e mundial, como um leve aumento

1. O trecho que você acabou de ler pertence à peça A comédia do trabalho, que estreou em 2000 e foi resultado de um processo coletivo de criação.

da população brasileira, que gera um consequente aumento proporcional no número de desempregados (1980: 119 002 706;

a) O número absoluto de desempregados em 1980 era de 964,2 mil. Vinte anos depois, esse número saltou para 11,5 milhões. O que poderia justificar esse aumento tão expressivo?

2000: 169 799 170; 2022: 203 080 756; 2024: 212 583 750, segundo os Censos Demográficos do IBGE).

b) A Companhia do Latão produz as peças com base em uma pesquisa coletiva sobre os problemas sociais do mundo contemporâneo. Explique a escolha temática dessa peça considerando o contexto apresentado no item a.

Dado o alto número de desempregados, esse seria um tema recorrente na mídia e na vida da população brasileira, configurando-se como um tema importante para discussão em uma peça teatral.

2. A Companhia do Latão é um grupo teatral que, em vez de encenar textos de dramaturgos consagrados, cria as próprias peças. O trecho que você leu pertence ao espetáculo de maior sucesso popular da companhia, tendo sido encenado em mais de 300 apresentações. O processo de criação se deu de forma coletiva e tinha como objetivo produzir uma peça de intervenção, para ser montada em qualquer espaço, mesmo ao ar livre.

2. a) Atinge-se um público mais amplo, pois é possível encenar fora do teatro, com ingressos a preços mais acessíveis. Pode-se supor também que a peça quer interlocução com trabalhadores.

a) Considere apenas a ideia de mobilidade de montagem e responda: que público se pretende atingir?

b) Considerando o contexto e o processo de criação da peça, por que se pode dizer que A comédia do trabalho instaura outro tipo de proximidade com o público?

c) Embora A comédia do trabalho tenha sido criada para ser encenada, foi posteriormente publicada em 2008, em uma coletânea com o texto de todas as peças autorais do grupo. O leitor desses roteiros coincide com o público-alvo inicial? Explique.

d) No roteiro da peça, antes da primeira cena, é apresentada a seguinte sinopse.

A comédia do trabalho desenvolve as seguintes imagens e questões contemporâneas: no auge do capitalismo financeirizado, um banqueiro depende de ajuda governamental para vender seu negócio a um investidor estrangeiro. […] Um desempregado, em meio às massas de demitidos, tenta suicidar-se no alto da empresa em que trabalhou. Uma representante da Missão Filantrópica Internacional viaja ao trópico para oferecer sua ajuda. A massa de miseráveis da grande cidade se move caoticamente entre a insatisfação, o desespero e a rebeldia. […].

CARVALHO, Sérgio de; MARCIANO, Márcio. Companhia do Latão 7 peças. São Paulo: Cosac Naify, 2008. p. 90.

• Como essa sinopse é um indicativo de que a peça da Companhia do Latão é efetivamente o resultado de um processo de pesquisa?

3. a) As falas são marcadas pelo nome da personagem destacado em negrito, seguido pelo texto da fala. As ações são indicadas pelas rubricas, marcadas por chaves ou itálico.

3. Um roteiro teatral segue uma estrutura específica, comum a vários roteiros, como o cinematográfico, o televisivo e o de quadrinhos.

Professor, nos roteiros teatrais, as formas de marcar as falas do ator variam bastante. Neste caso, não há nenhum sinal gráfico após o nome da personagem, ao passo que em

a) Como é marcada para o ator a diferenciação entre a fala e a ação de uma personagem?

outros roteiros há um travessão antes da fala, como será visto no roteiro de Eles não usam black-tie, próxima leitura desta unidade.

2. b) Porque a peça é pensada considerando demandas contemporâneas e criada com base em estudos coletivos e diversas ideias, situações que visam instaurar uma discussão com o público. necessariamente. A peça tinha como objetivo atingir um público amplo. A leitura do roteiro demanda poder aquisitivo, acesso ao livro e interesse em leitura de texto dramático, o que pode limitar o público, por um lado, mas, por outro, permite que pessoas que não viram a peça leiam o livro e conheçam a história e as discussões do

b) Um roteiro teatral é tradicionalmente dividido em cenas, marcadas pela entrada e saída de personagens, e atos, que representam um conjunto de cenas que se relacionam entre si. Haveria necessidade de divisão de cenas no trecho apresentado? Explique.

Sim, pois há a entrada e saída de várias personagens ao longo da cena.

c) Nessa peça, um mesmo ator é responsável por interpretar diferentes personagens, e essa mudança ocorre no palco, com a inclusão ou exclusão de algum acessório. Considerando essa solução cênica, explique se a opção por essa estrutura de roteiro, diferente da tradicional, gera algum tipo de prejuízo para o enredo.

Em um roteiro teatral, são chamadas de rubricas as indicações de ação das personagens, destacadas por chaves ou itálico, as indicações para cenário, iluminação, movimentação em cena das personagens, entre outras orientações para montagem.

3. c) Espera-se que os estudantes percebam que não há prejuízos, pois os atores todos já estão no palco, não há necessidade de indicação de entrada e saída para atores que estão na coxia. Além disso, sendo uma criação coletiva, não há necessidade de tantas indicações, já que foram os atores que produziram a peça.

4. b) A peça não começa com atores interpretando personagens, começa com uma explicação do processo de criação, como que dando continuidade a esse processo na interação com o público, o que se caracteriza como metalinguagem. É coerente com o processo de criação porque revela esse processo, que incluiu ensaios e pesquisas que levaram a caminhos diferentes do inicialmente imaginado.

4. O título A comédia do trabalho cria uma expectativa no público/leitor, mas uma das primeiras falas da peça trata de relativizar essa expectativa.

ATRIZ-POLITIZADA [Ao público.] Enquanto eles arrumam o cenário, eu preparo o espírito das senhoras e dos senhores para a verdadeira natureza da peça. Depois de meses de ensaio, tentando achar graça do capitalismo financeirizado, tentando rir dos problemas como o desemprego, não tivemos escolha senão fazer uma tragédia: a tragédia do trabalho. Chamamos de comédia apenas para atrair mais público.

4. a) Não é uma comédia, pois trata de um tema sério; é uma comédia pelo título, pelas situações criadas, que têm um certo exagero, ficando entre o hiperbólico e o caricato, e pelo tom de brincadeira final com a suposta mentira do título.

CARVALHO, Sérgio de; MARCIANO, Márcio. Companhia do Latão 7 peças. São Paulo: Cosac Naify, 2008. p. 91.

a) Com base nessa fala, por que se pode dizer que essa peça é e não é uma comédia?

b) Tradicionalmente uma peça de teatro começa já com a interpretação dos atores encenando falas e ações das personagens. Essa peça se diferencia das demais e assim mantém a coerência com seu processo de criação. Explique por quê.

c) É p ossível considerar que a peça dialoga com o teatro épico pensado pelo dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956). Segundo ele, esse tipo de teatro se apoia em certos recursos, entre os quais se destacam:

a comunicação direta entre ator e público, a música como comentário da ação, a ruptura de tempo-espaço entre as cenas, a exposição do urdimento [onde se fixa o cenário suspenso], das coxias e do aparato cenotécnico, o posicionamento do ator como um crítico das ações da personagem que interpreta, e como um agente da história. […]

TEATRO épico. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2024. Disponível em: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo617/teatro-epico. Acesso em: 5 out. 2024.

• Por que se pode dizer que a filiação ao teatro épico é coerente com os objetivos de pesquisa e conscientização da Companhia do Latão?

Porque o teatro épico, além de possibilitar uma interação com o público, revela elementos que evidenciam que se trata de uma peça de teatro, de uma representação da realidade, e abre momentos de reflexão no desenvolvimento da peça, pois não pretende simular uma realidade, já que todos os elementos cênicos estão à vista do espectador.

Quebrando a “quarta parede”

O teatro épico de Brecht promoveu a derrubada da “quarta parede”, a parede imaginária que separa os atores da plateia no teatro convencional. Essa parede imaginária permite ao público ver e ser visto através dela, mas os atores agem como se o público não estivesse lá. Desse modo, segundo Brecht, a informação fluiria somente do palco para a plateia, que apenas receberia passivamente a informação. A “quarta parede” limitava a capacidade do público de raciocinar criticamente, mas não impedia que ele fosse influenciado pelo espetáculo. Assim, já que o teatro épico tinha como proposta desmascarar a ideologia que sustenta o capitalismo, não poderia usar o mesmo tipo de encenação adotado pelo “teatro burguês”.

Segundo o dramaturgo alemão Bertolt Brecht, o “teatro burguês” impediria a reflexão crítica do público, devido à existência da “quarta parede”. Fotografia do espetáculo Uma noite de Natal Poá (SP), 2022.

SAIBA MAIS

4. d) A troca de personagens por parte dos atores, a conversa com o público explicando o processo de construção da peça, o posicionamento crítico.

4. e) É marcada pela rubrica Ao público e não indica pensamento; a personagem fala com o público para se apresentar.

d) Que elementos presentes no roteiro da peça são recursos do teatro épico de Brecht?

e) Em peças de teatro, o recurso do conversar com o público em um à parte, em geral, representa um pensamento da personagem. Identifique nessa cena como essa conversa com o público é marcada e qual é o objetivo dela.

5. O principal tema da cena aqui transcrita é o desemprego.

a) Que elementos presentes na cena reforçam uma busca generalizada por emprego?

A presença do homem-sanduíche e de várias pessoas que o procuram em busca dos anúncios que ele carrega.

b) Q ue tipo de humor se extrai da discussão inicial relacionada aos empregos registrados no homem-sanduíche?

c) No diálogo entre Liu-Liu e o homem-sanduíche, são representadas diferentes visões sobre o trabalho. Explique como cada um deles vê a atividade de homem-sanduíche e o que justifica esse ponto de vista. Copie, no caderno, o organizador a seguir e complete-o.

A falta de outras oportunidades

Pertence a uma elite e pratica filantropia

É o fundo do abismo social

d) Que recurso de linguagem usa o homem-sanduíche para diminuir a distância hierárquica e social entre ele e Liu-Liu?

Ele recorre a termos latinos (data venia) e uma escolha lexical mais rebuscada, como em problemática, pusilânimes.

6. No diálogo com Liu-Liu, o homem-sanduíche se refere a um contrato de trabalho que tem limite de tempo. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) regulamenta esse tipo de contrato de trabalho do Brasil.

A carteira profissional é um documento previsto na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Art. 443. O contrato individual de trabalho poderá ser acordado tácita ou expressamente, verbalmente ou por escrito e por prazo determinado ou indeterminado.

§ 1o - Considera-se como de prazo determinado o contrato de trabalho cuja vigência dependa de termo prefixado ou da execução de serviços especificados ou ainda da realização de certo acontecimento suscetível de previsão aproximada.

§ 2o - O contrato por prazo determinado só será válido em se tratando: a) de serviço cuja natureza ou transitoriedade justifique a predeterminação do prazo; b) de atividades empresariais de caráter transitório; c) de contrato de experiência. […]

Art. 445 - O contrato de trabalho por prazo determinado não poderá ser estipulado por mais de 2 (dois) anos, observada a regra do art. 451. Parágrafo único. O contrato de experiência não poderá exceder de 90 (noventa) dias.

BRASIL. Decreto-lei no 5.452, de 1o de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Brasília, DF: Câmara dos deputados, [2017]. Disponível em: www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/ 1940-1949/decreto-lei-5452-1-maio-1943-415500-normaatualizada-pe.pdf. Acesso em: 5 out. 2024.

6. b) Porque o prazo do contrato de experiência não pode ultrapassar 90 dias, a partir dos quais o empregador teria de registrar o empregado no regime integral da CLT. No contrato de experiência, a empresa tem menos encargos trabalhistas.

a) Em que modalidade(s) de trabalho o homem-sanduíche pode ser enquadrado?

Em um contrato de experiência, já que, segundo o homem-sanduíche, os empregadores querem evitar registro em carteira.

b) Por que ele considera que será demitido depois de três meses?

c) O que a fala do homem-sanduíche revela sobre a situação daqueles que têm emprego?

Revela que as pessoas que têm emprego vivem em uma situação instável, sob a ameaça de demissão.

7. Uma das estratégias mencionadas para minimizar a situação de desemprego é a instrução.

5. b) O humor é criado com base em uma comparação entre dois empregos (ascensorista e almoxarifado) que preveem o funcionário preso em lugares fechados: a ideia de que o ascensorista, embora preso em um elevador o dia inteiro, vai para cima e para baixo, ainda que sentado (ou mesmo em pé), quebra a expectativa do que seja movimento no trabalho. É essa quebra de expectativa que produz humor no texto.

Visão sobre o trabalhoO que justifica essa visão
Não é tão bom, mas é um trabalho

9. a) Liu-Liu convida o homem-sanduíche para ser um exemplo de alguém que vai reconstruir os sentidos relacionados à miséria do abismo social. A expectativa da personagem revela um completo desconhecimento da situação dos desempregados. Fazer um convite como esse, nesses termos, mostra que ela não só desconhece a linguagem e as necessidades dos desempregados, como também que sua preocupação não é, de fato, ajudar ninguém.

a) Considerando os cursos feitos pelo desempregado Plácido, explique se é possível identificar claramente uma carreira que ele deseja seguir.

b) Por que Plácido se dedica a uma variedade tão grande de cursos?

7. b) Porque, ampliando e diversificando sua formação em áreas variadas, supõe aumentar a probabilidade de conseguir um emprego qualquer 7. c) Com base nos comentários da personagem mendiga, que o considera um concorrente.

c) Nesse trecho, como se evidencia que, mesmo com toda a formação, Plácido dificilmente conseguiria um emprego?

8. a) A fala é dita por essa personagem para evidenciar o absurdo e, assim, criticar o estereótipo por meio do humor. 8. b) A depressão por não conseguir emprego e o consequente alcoolismo.

8. A peça reproduz, em certas falas, alguns estereótipos sociais carregados de preconceito. Releia o trecho a seguir.

MENDIGA [Aos pedintes.] Ouçam todos. A situação está insustentável. Esses desempregados estão começando a atrapalhar a nossa vida de mendigo. Eles chegam à procura de trabalho, não encontram, ficam deprimidos, começam a beber, aí vêm com seu cobertorzinho… querem dormir do nosso lado.

a) Na peça, é uma mulher em situação de rua que reproduz essa fala carregada de estereótipos. Com qual intencionalidade o roteiro associa esse discurso a essa personagem?

b) Segundo a personagem, o que leva alguém a morar na rua?

9. Perante a situação adversa do desemprego registrada na peça, na qual os moradores de rua temem a concorrência dos desempregados, surgem o assistencialismo e a filantropia como alternativas para uma eventual solução.

a) Em sua penúltima fala, Liu-Liu convida o homem-sanduíche a fazer parte de um “grupo de reconstituição do universo simbólico”. O que isso quer dizer? O que mostra sobre o conhecimento de mundo da personagem?

10. b) A lógica do teatro épico, tal como pensada por Brecht, provoca maior engajamento do público com o que é encenado, incluindo momentos de reflexão e interação. Um teatro realista, 7. a) Não, pois realiza cursos muito diversos entre si.

b) Qual é o objetivo da ajuda assistencial e filantrópica de Liu-Liu e da Embaixatriz?

9. b) Ela busca um símbolo. Sua ação visa mais à promoção de si mesma e dos que representa do que promover medidas para acabar com o desemprego ou de fato dar dignidade aos que se encontram em situação de penúria. 9. c) Confirma. Suas preocupações são tão frívolas quanto as de Liu-Liu. Enquanto esta busca alguém para fazer parte de um “grupo de reconstituição do universo simbólico”, ignorando as mais primárias necessidades dos que vê na rua, a Embaixatriz, incomodada com a sujeira ao redor, preocupa-se com a festa na casa do governador. cômico ou trágico, pode gerar distanciamento, e não reconhecimento.

c) A atitude da Embaixatriz contrasta com as intenções de Liu-Liu ou as confirma? Explique por quê.

d) Considerando que Liu-Liu é presidente de honra da Missão Filantrópica Internacional, pode-se afirmar que a peça retrata essa missão de maneira caricatural? Por quê?

10. a) Por meio da conscientização das situações que levam ao desemprego, bem como registrando possibilidades para que esse problema se minimize.

Os roteiros teatrais, assim como os demais textos literários, dialogam tanto com seu contexto quanto com outros textos e discursos que circulam socialmente. Esse diálogo e a reflexão que ele propõe podem ampliar a visão que o leitor tem de sua realidade, reforçando ou deslegitimando discursos anteriormente considerados verdadeiros.

A literatura cumpre, assim, sua função social, abrindo possibilidade de revisão e eventual transformação das pessoas e do mundo em que elas vivem.

10. Depois de discutir, ainda que brevemente, sobre o desemprego, é importante que se reflita sobre possibilidades para resolver esse problema.

10. c) Resposta pessoal. Professor, esta é uma boa oportunidade de convidar um professor da área de Ciências Sociais e Humanas Aplicadas para conversar com os estudantes sobre a questão do desemprego tal como visto por diferentes teorias sociológicas e econômicas, considerando o papel da economia brasileira no contexto das relações econômicas mundiais. Dada a diversidade de soluções propostas por essas teorias, seria leviano propor aqui uma lista de medidas que combateriam o desemprego no Brasil, mas não deixa de ser válido provocar a reflexão dos estudantes. Se não for possível trazer um professor da área de Ciências Sociais e Humanas Aplicadas, sugira aos estudantes que levem a ele essa questão.

a) Como uma peça de teatro como essa, ou qualquer outra produção artística, pode contribuir para amenizar a questão do desemprego?

b) Que diferença de interação com o público existe em uma proposta como a da Companhia do Latão quando comparada com a de uma peça que se pretende realista e distante do público?

c) Reflita oralmente com os colegas: o que pode ser feito para gerar empregos em um país? Selecione algum representante para listar as ideias no quadro e, depois, copie-as no caderno.

ENTÃO...

9. d) Sim, porque, em vez de realmente contribuir, com medidas práticas, para a diminuição da pobreza e da miséria no país, a presidente de honra dessa missão está preocupada apenas em promover a “reconstituição do universo simbólico” de alguém

A peça A Comédia do trabalho, da Companhia do Latão, pretende provocar no espectador uma reflexão consciente sobre as questões representadas no palco para desmascarar as contradições da exploração capitalista, em vez de promover uma identificação emocional com as personagens ou com a trama. Nessa perspectiva, a obra atualiza o legado do teatro político dos anos 1960 e 1970, que utilizou o palco como um espaço de denúncia social e reflexão política, como instrumento de transformação social. A seguir, você vai ler um trecho do roteiro de uma peça muito representativa desse período.

situado na escala mais baixa da hierarquia social. E o fato de ela escolher o homem-sanduíche como alguém que esteja nessa situação mostra ainda mais sua desconexão com a realidade, pois o homem-sanduíche é o personagem de melhor situação social em meio à multidão de desempregados e pessoas em situação de rua. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

O teatro no final do século XX

Um drama demasiado humano

O X DA QUESTÃO

O contexto político-social dos anos 1950 no Brasil foi marcado por grandes transformações, como a industrialização acelerada, o crescimento das cidades, o fortalecimento dos movimentos sindicais e das reivindicações trabalhistas. Nesse cenário, o teatro nacional desempenhou um papel importante ao refletir as tensões sociais, explorando temas como a desigualdade, a opressão e os conflitos entre diferentes classes. Diversas peças começaram a focar a vida das classes populares e os dilemas enfrentados pelos trabalhadores, criando um teatro engajado e preocupado em dialogar com as questões sociais do momento. Um exemplo marcante dessa tendência é Eles não usam black-tie , de Gianfrancesco Guarnieri, que trouxe à tona os conflitos em torno de uma greve operária, tornando-se um símbolo do teatro comprometido com a realidade social.

Para lembrar

1 Enquanto o teatro da metade do século XX parecia se engajar cada vez mais nas lutas sociais, a literatura apresentava outras perspectivas na prosa e na poesia. Quais eram elas?

Para discutir

1 O que você conhece sobre os sindicatos? Que função exercem?

2 Para que a luta por direitos seja efetiva, é necessário que haja união entre as pessoas nas reivindicações. Por outro lado, cada indivíduo tem interesses pessoais e histórias de vida que podem deixar essa luta muito perigosa e distante. Como é possível lidar com essa diferença entre os interesses coletivos e individuais?

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Você vai ler a seguir um trecho do roteiro da peça Eles não usam black-tie (1958), do dramaturgo Gianfrancesco Guarnieri. Na peça, Otávio é um operário militante que já esteve preso várias vezes por suas atividades políticas. Romana, sua esposa, acumula as funções de lavadeira e dona de casa, além de apoiar incondicionalmente o marido, mesmo sem conhecimento de política. Tião é o filho mais velho do casal e, por causa da prisão do pai, cresceu junto a seus padrinhos. Maria, mulher trabalhadora, é a noiva de Tião e informa para o companheiro que eles esperam um filho. A cena a seguir traz a consequência do conflito entre pai e filho: Otávio acaba de sair da prisão, para onde fora levado por causa de conflitos relacionados à greve que organizou, e encontra seu filho Tião, que, além de não aderir à greve, foi trabalhar e ficou do lado do patrão.

Texto

Todos esfriam. Mudos. Estáticos.

TEREZINHA (Depois de alguns instantes quebra o silêncio) — Tá vendo Tião, soltaram seu Otávio! (Chiquinho dá-lhe um beliscão. Pausa.)

ROMANA — Vai ficá que nem estaca na porta, entra!

TIÃO (a Otávio) — Eu queria conversá com o senhor!

Não escreva no livro.

OTÁVIO — Comigo?

TIÃO (firme) — É.

OTÁVIO — Minha gente, vocês querem dá um pulo lá fora; esse rapaz quer conversá comigo.

ROMANA — Eu preciso mesmo recolhê a roupa!

JOÃO — Já vou indo, então. Até logo, seu Otávio, e parabéns!

OTÁVIO — Obrigado! (Saem. Tião e Otávio ficam a sós.) Bem, pode falá.

TIÃO — Papai…

OTÁVIO — Me desculpe, mas seu pai ainda não chegou. Ele deixou um recado comigo, mandou dizê pra você que ficou muito admirado, que se enganou. E pediu pra você tomá outro rumo, porque essa não é casa de fura-greve!

TIÃO — Eu vinha me despedir e dizer só uma coisa: não foi por covardia!

OTÁVIO — Seu pai me falou sobre isso. Ele também procura acreditá que num foi por covardia. Ele acha que você até que teve peito. […] Que você é um traidô dos seus companheiro e da sua classe, mas um traidô que pensa que tá certo! Não um traidô por covardia, um traidô por convicção!

TIÃO — Eu queria que o senhor desse um recado a meu pai…

OTÁVIO — Vá dizendo.

TIÃO — […] Que o filho dele gosta de sua gente, mas que o filho dele tinha um problema e quis resolvê esse problema de maneira mais segura. Que o filho é um homem que quer bem!

OTÁVIO — Seu pai vai ficá irritado com esse recado, mas eu digo. Seu pai tem outro recado pra você. Seu pai acha que a culpa de pensá desse jeito não é sua só. Seu pai acha que tem culpa…

TIÃO — Diga a meu pai que ele não tem culpa nenhuma.

OTÁVIO (perdendo o controle) — Se eu te tivesse educado mais firme, se te tivesse mostrado melhor o que é a vida, tu não pensaria em não ter confiança na tua gente…

TIÃO — Meu pai não tem culpa. Ele fez o que devia. O problema é que não podia arriscá nada. Preferi tê o desprezo de meu pessoal pra poder querer bem, como eu quero querer, a tá arriscando a vê minha mulhé sofrê como minha mãe sofre, como todo mundo nesse morro sofre!

[…]

OTÁVIO (dirigindo-se ao quarto dos fundos) — Tua mãe, talvez, vai querê falá contigo… Até um dia! (Tião pega uma sacola que deve estar debaixo de um móvel e coloca seus objetos. Camisas que estão entre as trouxas de roupa, escova de dentes, etc.)

ROMANA (entrando) — Te mandou embora mesmo, não é?

TIÃO — Mandou!

ROMANA — Eu digo que vocês tudo estão com a cabeça virada!

TIÃO — Não foi por covardia e não me arrependo!

ROMANA — Eu sei. Tu é teimoso… e é um bom rapaz. Tu vai pra onde?

TIÃO — Vou pra casa de um amigo da fábrica. Ele mora na Lapa.

ROMANA — E ele vai deixá tu ficá lá? Também furou a greve?

TIÃO — Furou não, mas é meu amigo. Vai discuti pra burro, como todo mundo discute, mas vai deixá eu ficá lá uns tempos. É ele e a mãe, só!

ROMANA — E depois?

TIÃO — Depois o quê?

ROMANA — O que tu vai fazê?

TIÃO — Vou continuá na fábrica, tá claro! Lá dentro eu me arrumo com o pessoal. Arranjo uma casa de cômodos e venho buscar Maria!

MARIA (entrando) — Tu vai embora?

TIÃO — Tu já não desconfiava?

MARIA — E agora? (Romana vai para o fundo e fica impassível.)

Encenação de Eles não usam black-tie em montagem dirigida por Dan Rosseto. Fotografia de 2018.

TIÃO — Tá tudo certo. Não perdi o emprego, nem vou perdê. A greve tá com jeito de dá certo, vou ser aumentado. Tu vai receber aumento na oficina. Nós vamos pra um quarto na cidade, nós dois. Depois, vem o Otavinho e vamos levando a vida, não é assim?

MARIA — Quer dizê que tu perdeu os amigo?

TIÃO — Sobram alguns! Teu irmão, alguns da fábrica…

MARIA (abanando a cabeça, profundamente triste) — Não… não…

TIÃO — Nós vamos casá, vamos embora, fazê uma vida pra gente. Isso que aconteceu… […]

MARIA (sempre chorando) — Não tá certo!… Deixá isso, não tá certo, deixá isso… (Perde as forças e cai chorando copiosamente.)

TIÃO — Mariinha , escuta! Eu fiz por você, minha dengosa! Eu quero bem! Eu tinha… Eu tinha que dá um jeito… O jeito foi esse.

MARIA — Deixá o morro, não! Nós vamo sê infeliz! A nossa gente é essa! Você se sujou!… Compreende!

TIÃO — É que eu quero bem!… Mas não foi por covardia!

MARIA (idem) — Foi… foi… foi… foi por covardia… foi!

TIÃO (aflito) — Maria escuta!… (A Romana) Mãe, ajuda aqui! (Romana não se mexe) Eu tive… Eu tive…

MARIA — Medo, medo, medo da vida… você teve!… preferiu brigá com todo mundo, preferiu o desprezo… porque teve medo!… Você num acredita em nada, só em você. Você é um… um convencido!

GUARNIERI, Gianfrancesco. Eles não usam black-tie In: MAGALDI, Sábato (org.). O melhor teatro. São Paulo: Global, 1986. p. 82-85.

#SOBRE

Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006) foi um importante ator, dramaturgo e diretor brasileiro, cuja obra deixou um legado relevante no teatro e na televisão do país. Nascido na Itália e radicado no Brasil, ele se destacou a partir dos anos 1950 com uma dramaturgia voltada para questões sociais e políticas. Suas peças frequentemente abordavam temas como a desigualdade, a luta de classes e a opressão política, manifestando sempre uma visão crítica da realidade brasileira. Eles não usam black-tie é sua obra mais célebre, mas também se destacam A semente (1960), que discute o impacto da industrialização sobre os trabalhadores rurais, e Um grito parado no ar (1973), peça que reflete sobre as dificuldades de se fazer arte em contextos de opressão política, configurando-se como uma metáfora para os desafios enfrentados pelos artistas durante a ditadura civil-militar. Além do trabalho como dramaturgo, ele teve uma carreira fértil como ator, atuando tanto no teatro quanto na televisão, tendo participado de diversas novelas e filmes.

O dramaturgo em 2005.

2. a) Embora o pai tenha sido preso, ele estava em seu direito de fazer a greve. O filho, por sua vez, era livre para escolher não exercer o direito à greve, conforme propõe o § 1o: a greve pode ser seguida pela maioria, não incluindo todos. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

PENSAR E COMPARTIlHAR

Não escreva no livro.

1. Leia o trecho a seguir, que apresenta um pouco do contexto do sindicalismo brasileiro da metade do século XX.

Nos anos 50 e início dos 60, o sindicalismo no Brasil alcançou certa liberdade, apesar de as leis getulistas continuarem vigendo. Mas com o golpe militar de 1964, o movimento dos trabalhadores tornou-se novamente alvo de perseguições e intervenções. […] a ditadura militar endureceu o controle dos sindicatos, indicando para seu comando lideranças de pouca representatividade no movimento. Foi apenas no fim dos anos 70 que um grupo de trabalhadores organizados começou a se opor com mais força ao sindicalismo oficial. Em fábricas, principalmente de São Paulo, os chamados peões iniciavam pequenas lutas, como abaixo-assinados, operações tartaruga, paralisações relâmpago.

MACEDO, Ana Raquel. Especial Sindicalismo 1: A história dos sindicatos no Brasil (10’09’’). Rádio Câmara, Brasília, DF, 13 out. 2008. Disponível em: www.camara.leg.br/radio/programas/307874-especial-sindicalismo-1-ahistoria-dos-sindicatos-no-brasil-1009. Acesso em: 5 out. 2024.

• O s protagonistas da peça entram em conflito por conta das demandas do sindicato ao qual pertencem e às lutas dos trabalhadores. Considere as informações sobre mudanças pelas quais passaram os sindicatos e identifique em qual fase histórica se encontrava o sindicato representado na peça.

Espera-se que os estudantes identifiquem um sindicato engajado, antes do golpe militar, que ainda conseguia lutar pelos seus direitos por meio da greve.

2. A Constituição de 1946, vigente na época em que a peça foi escrita, garantia direito à greve no Capítulo V, Da ordem econômica e social, Art. 158: “É reconhecido o direito de greve, cujo exercício a lei regulará”. A regulação foi feita pelo decreto-lei 9.070/46.

Art. 2o A cessação coletiva do trabalho por parte de empregados somente será permitida, observadas as normas prescritas nesta lei.

§ 1o Cessação coletiva do trabalho é a deliberada pela totalidade ou pela maioria dos trabalhadores de uma ou de várias empresas, acarretando a paralização de todas ou de algumas das respectivas atividades.

2. b) O trecho indica que a greve teria sucesso, como sugere uma fala de Tião: “A greve tá com jeito de dá certo, vou ser aumentado”.

§ 2o As manifestações ou atos de solidariedade ou protesto, que importem em cessação coletiva do trabalho ou diminuição sensível e injustificada de seu ritmo, ficam sujeitos ao disposto nesta lei.

BRASIL. Decreto-lei no 9.070, de 15 de março de 1946. Dispõe sobre a suspensão ou abandono coletivo do trabalho e dá outras providências. Brasília, DF: Câmara dos Deputados, 1946. Disponível em: www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-1949/ decreto-lei-9070-15-marco-1946-416878-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 5 out. 2024.

a) A greve é um direito do trabalhador de lutar por melhores condições de trabalho. Considere o trecho da lei e explique por que pai e filho se beneficiaram dessa lei.

b) De acordo com o trecho da peça, qual indicativo há acerca da efetividade da greve?

3. No trecho lido, quando o pai revê o filho depois de ele ter furado a greve, a relação entre eles muda.

a) Que detalhe revela claramente essa mudança? Dê exemplos.

b) O que justificaria esse tipo de interação entre os dois?

3. a) O modo como se referem um ao outro: o pai interage com o filho como se não fosse seu pai e não o conhecesse, chamando-o de esse rapaz e fazendo referência a si mesmo em terceira pessoa.

4. Em determinado momento, Otávio passa a se referir a si próprio em primeira pessoa.

a) O que motiva essa mudança?

Otávio se rende aos seus sentimentos ao refletir que falhara na educação do filho.

b) Otávio revela que sente culpa pelas escolhas que o filho fez. O que teria motivado esse sentimento?

5. T ião considera suas demandas pessoais e seu contexto de vida para fazer suas escolhas ao longo da peça. Explique como a mãe e a esposa orientam essas escolhas.

a) A noiva Maria.

b) A mãe Romana.

Tião não quer que a esposa e o filho tenham uma vida de sofrimentos como a mãe teve.

3. b) Otávio trata Tião como se este não fosse seu filho, pois não considera que um filho seria responsável por furar a greve que o pai organizara.

4. b) A culpa é motivada pela ausência do pai, que fez com que não conseguisse passar para o filho um senso de coletividade e consciência social. Tião vai ter um filho com Maria e não queria correr o risco de perder o emprego com a greve, agora que teria responsabilidades como pai.

7. a) Porque Tião, ao saber de tudo que poderia acontecer, das represálias à perda de relacionamentos, enfrentou tudo isso procurando não ser prejudicado pela greve.

6. A peça Eles não usam black-tie coloca em pauta o conflito entre o indivíduo e a coletividade.

a) E xplique por que as motivações de Tião podem beneficiá-lo, mas prejudicar todos os seus companheiros de fábrica.

Ao furar a greve, Tião mantém o emprego e pode ser beneficiado pelo patrão, mas furar a greve faz com que o movimento perca sua força e coloca os grevistas em risco de demissão.

b) A escolha de Tião traz consequências para sua convivência social. Quais?

Tião não será bem recebido em sua comunidade e também corre o risco de perder todos os seus amigos por tê-los traído.

7. A s atitudes de Tião o colocam como alguém covarde e medroso.

a) De que forma é possível considerar que suas atitudes são o oposto da covardia e do medo?

b) De que forma é possível considerar que suas atitudes são de fato motivadas por covardia e medo?

c) O f inal do trecho revela como as escolhas de Tião podem ter sido equivocadas. Como a postura de Maria evidencia essas consequências?

Tião teve medo de perder o emprego e traiu seus companheiros. Foi, portanto, covarde e fugiu da luta. Maria, ao descobrir que Tião furou a greve, fica desesperada e reforça a ideia de que Tião era covarde e medroso, o que indica que não se sentia mais à vontade com o companheiro.

d) Tião toma todas as atitudes sozinho, sem consultar ninguém. Explique por que essa postura reforça o sentido da fala de Maria: “Você num acredita em nada, só em você”.

Porque Tião poderia ter consultado Maria sobre sua decisão ou mesmo verificar se ela queria mudar de vida, em vez de fazer tudo sozinho – o que indica que não confiava nem em Maria, como companheira.

Ariano Suassuna e o Movimento Armorial

O dramaturgo paraibano Ariano Suassuna (1927-2014) foi um dos grandes expoentes da literatura e do teatro brasileiro, conhecido por sua forte conexão com a cultura popular nordestina. Sua obra teatral é marcada pelo resgate das tradições regionais, combinando elementos populares, como a música, o folclore e o cordel, com temas universais. Peças como Auto da Compadecida (1955) tornaram-se referências por sua linguagem cômica e por fazerem crítica social, além de unirem o trágico e o cômico de forma única. Suassuna também foi o idealizador do Movimento Armorial, iniciado na década de 1970, que buscava criar uma arte erudita com base nas raízes populares do Nordeste. O movimento integrou diversas formas de expressão, como a literatura, o teatro, a música e as artes visuais, visando valorizar a cultura brasileira em sua essência e promover uma estética própria, distante das influências estrangeiras.

Em 1973, o Museu do Estado de Pernambuco (Mepe) promoveu uma exposição intitulada Movimento Armorial 50 para comemorar os 50 anos desse movimento criado por Ariano Suassuna. PINHO, Agnaldo et al. Onça Caetana. 2021. 1 escultura, cerâmica. Personagem da cultura popular que está presente na obra de Suassuna.

SAIBA MAIS
Ariano Suassuna em 2011.

8. b) Esse tipo de registro tenta reproduzir a fala de personagens que, em contexto familiar, informal, falam sua variedade linguística, sem preocupação com a norma ou formalidade.

8. c) Corre-se o risco de relacionar os trabalhadores de fábrica, em condições sociais mais precárias, a um tipo de linguagem que se desvia da norma, como se tais desvios fossem erros relacionados à sua condição social.

8. O dramaturgo optou por utilizar o registro informal de linguagem, afastando-se da norma-padrão.

a) Dê exemplos.

b) Que sentido se produz com esse registro de linguagem com relação às personagens?

c) A escolha do autor pode provocar preconceitos linguísticos. Que preconceitos são esses?

A linguagem das personagens em peças de teatro pode variar de acordo com o contexto social, histórico e cultural da obra, refletindo a realidade das personagens e o ambiente em que estão inseridas. Muitas vezes, o dramaturgo busca reproduzir o modo de falar de diferentes classes sociais, utilizando expressões coloquiais e gírias para conferir autenticidade e profundidade à peça.

9. A encenação original de Eles não usam black-tie aconteceu no Teatro de Arena, em 1957.

[…] a ideia de apresentar um espetáculo no formato de Arena foi uma inovação no Brasil à época, pois o público posicionava-se ao redor dos atores, favorecendo assim uma nova relação entre ator/plateia, porque a tradição teatral ensinava que o ideal para prestigiar uma peça era o palco italiano, onde o sujeito que fosse assistir a um espetáculo ficaria de frente para o ator e agora o ângulo em que as pessoas olhavam para os atores era totalmente diferente. Desta maneira os atores e as atrizes também mudaram o modo de interpretar. […]

CAVALCANTE, Ana Rachel da Silva. Eles não usam black-tie : uma leitura das micro-relações de poder em cena. 2017. Dissertação (Mestrado em Artes Cênicas) – Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2017. p. 15. Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/bitstream/123456789/23440/1/ElesN%c3%a3oUsam_Cavalcante_2017. pdf. Acesso em: 28 set. 2024.

8. a) O roteiro da peça apresenta um registro informal da linguagem, como se evidencia nos verbos no infinitivo que não possuem o -R final ou mesmo alguns casos de concordância de plural, como em vamo e seus companheiro

9. a) Espera-se que os estudantes percebam que, em um palco com público por todos os lados, sempre um ator dará as costas a uma parte da plateia. Assim, deve-se considerar o posicionamento para que as cenas fiquem naturais e espontâneas.

Encenação de Eles não usam black-tie realizada no Teatro de Arena de São Paulo, em 1960.

a) Q ue mudanças na encenação da peça seriam necessárias em um formato de palco como o do Teatro de Arena?

b) E xplique como esse formato de palco imprime maior realismo e naturalidade à cena.

O espaço cênico influencia diretamente a forma como a história é contada e como o público a vivencia. Palcos tradicionais italianos, com a plateia de frente, favorecem narrativas mais convencionais, que mantêm a ilusão da “quarta parede”. Já palcos de arena ou circulares exigem roteiros mais dinâmicos, que aproveitem a proximidade e a interação com o público, criando uma experiência mais imersiva.

9. b) Essa estrutura de palco assemelha-se à disposição de um cômodo de uma casa, como se o público observasse a cena real acontecendo de algum ângulo, como se fosse uma cena cotidiana flagrada.

DOUGLAS ALEXANDRE/O CRUZEIRO/EM/D.A PRESS

O teatro de Nelson Rodrigues

O dramaturgo pernambucano Nelson Rodrigues (1912-1980) é amplamente reconhecido por sua contribuição ao teatro brasileiro pelas inovações que revolucionaram a dramaturgia nacional. Sua obra se destaca por uma abordagem que rompeu com padrões sociais da época ao tratar de temas como hipocrisia social, conflitos familiares e tensões sexuais. Combinando realismo psicológico, tragédia e melodrama, suas peças revelam o lado sombrio da sociedade, dos indivíduos e das emoções humanas.

Uma das peças mais inovadoras do autor, Vestido de noiva (1943), conta uma história em três planos: o da realidade, o da alucinação e o da memória. Essa peça marcou o início do teatro moderno no Brasil, destacando-se por seu estilo fragmentado e pelo profundo mergulho na psique de suas personagens. Na produção do autor, também se destaca O beijo no asfalto (1960), peça que critica o sensacionalismo da imprensa e expõe os preconceitos sociais ao narrar o escândalo gerado quando um homem beija um moribundo a pedido deste. Em Boca de ouro (1959), o dramaturgo retrata a vida de um temido bicheiro do subúrbio carioca, criando uma trama em que realidade e lenda se misturam, com foco na corrupção moral e nos diferentes pontos de vista sobre a verdade. Essas peças refletem a capacidade de Nelson Rodrigues de transformar o cotidiano em uma narrativa dramática poderosa, repleta de nuances psicológicas e sociais, que ainda ecoam fortemente no teatro brasileiro.

Não escreva no livro.

Cena da primeira montagem da peça Vestido de noiva, em 1943.

1. Agora é sua vez de conhecer mais sobre as peças de Nelson Rodrigues. Procure por resumos de enredos das peças do autor na internet em sites confiáveis e, em dia combinado com o professor, compartilhe esses resumos com a turma. Depois de conhecerem os enredos, selecionem o roteiro de uma peça para fazer uma leitura dramática em sala, ou, se possível, encená-la.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Nelson Rodrigues em 1966.

O eixo cultural se desloca

A partir da década de 1940, com o fim da Segunda Guerra Mundial, a hegemonia cultural europeia, que até então havia sido o principal referencial para a produção artística e intelectual no Brasil, passa a ceder espaço à cultura norte-americana. Os Estados Unidos emergem como nova potência cultural, difundindo seu estilo de vida, seus valores e produtos culturais por meio do cinema, da música e da publicidade. No Brasil, essa influência foi sentida especialmente na música, com o crescente sucesso de gêneros como o jazz e o nascente rock and roll, e no cinema, com a popularização dos filmes de Hollywood.

A repressão e a luta

C ANTANDO na chuva. Direção: Stanley Donen e Gene Kelly. Estados Unidos: MGM, 1952. Streaming (145 min). Frame do filme.

No contexto cultural da década de 1960, o teatro assumiu um papel de resistência frente à repressão da ditadura civil-militar. Nesse cenário, o Teatro de Arena destacou-se por seu compromisso com temas populares e politizados, retratando as lutas de classes e as desigualdades sociais. Sob a direção de Augusto Boal (1931-2009) e Gianfrancesco Guarnieri, o Arena produziu obras que refletiam a realidade da classe trabalhadora e consolidavam o teatro como um espaço de crítica social. Com base nessa experiência, Augusto Boal desenvolveu a metodologia do Teatro do Oprimido, inspirada na pedagogia de Paulo Freire (1921-1997), que permitia que o público interviesse diretamente nas cenas. Essa forma de teatro se estrutura com base em uma cena curta em que uma personagem enfrenta um problema social; no momento seguinte, um voluntário da plateia substitui o ator que representa o papel da personagem oprimida pelo problema destacado na cena. Esse novo ator deverá, improvisando, praticar ações que sugiram saídas válidas para resolver ou minimizar a fonte dessa opressão. Caso outro voluntário queira propor

uma nova saída, novamente toma o lugar do ator e improvisa a cena mais uma vez até que todos reflitam sobre todas as possibilidades levantadas nas cenas. Assim, o teatro vai além do palco e passa a atuar na vida concreta das pessoas, propondo reflexões e ações para os problemas cotidianos. Essa forma de teatro tornou-se uma importante ferramenta de resistência cultural, ao mesmo tempo que criava um espaço para reflexão e transformação social, desafiando a censura e o autoritarismo da época.

O dramaturgo Augusto Boal em 1978.

Anos mais leves e utópicos

Nos anos 1980, no contexto de abertura política após a ditadura civil-militar, novas formas de expressão cultural surgem no cenário brasileiro. Um teatro jovem e irreverente ocupa os palcos, com destaque para os grupos que se apresentavam no Circo Voador, espaço alternativo no Rio de Janeiro que reuniu músicos, atores e artistas de diferentes vertentes, oferecendo uma plataforma para manifestações artísticas de caráter experimental e popular.

O espaço cultural Circo Voador. Rio de Janeiro (RJ), 1983. Essas produções ganharam notoriedade com comédias leves e despretensiosas, que ironizavam a vida cotidiana e a cultura de massa pautada nos discursos e sonhos da juventude.

Hoje e além

Cena da peça Namíbia, não!, de Aldri Anunciação, que aborda o racismo na sociedade brasileira por meio do subgênero distopia. Salvador (BA), 2022.

No século XXI, a globalização e a popularização da internet transformaram o acesso às artes, possibilitando uma maior circulação de produções teatrais e o surgimento de novas formas de interação entre o palco e o público, como o teatro digital e híbrido, especialmente impulsionado pela pandemia de covid-19. As novas tecnologias, como o uso de projeções, realidade aumentada e interatividade virtual, abriram novas possibilidades de criação, desafiando os limites tradicionais do teatro presencial. Socialmente, o teatro do século XXI passou a incorporar questões urgentes como igualdade de gênero, diversidade racial, identidades LGBTQIA+, e justiça social, refletindo as lutas contemporâneas por direitos civis. Muitas produções enfatizam a pluralidade de vozes e a necessidade de narrativas que rompam com as hegemonias culturais, destacando temas antes marginalizados.

Experiências e talentos: o teatro em movimento

A fase de renovação e modernização no teatro brasileiro refletiu as mudanças sociais e políticas globais. A partir dos anos 1940, movimentos teatrais e dramaturgos inovadores trouxeram para o palco conflitos humanos e questões sociais, redefinindo o papel do teatro na cultura brasileira.

Nelson Rodrigues revolucionou o teatro nacional com Vestido de noiva ao usar uma estrutura fragmentada que misturava realidade, memória e alucinação. Paralelamente, o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), fundado em 1948, profissionalizou o teatro brasileiro, importando diretores e cenógrafos europeus e encenando repertório variado, incluindo peças nacionais.

Ao mesmo tempo, o Teatro Experimental do Negro (TEN), fundado por Abdias do Nascimento (1914-2011) em 1944, promoveu a inclusão de atores negros e discutiu questões raciais no palco, desafiando a estrutura cultural racista da época.

Durante a ditadura civil-militar (1964-1985), o teatro se tornou um importante espaço de resistência cultural e política. Grupos como o Teatro de Arena e o Teatro Oficina, este sob a liderança de Zé Celso Martinez Corrêa (1937-2023), sustentaram um teatro de resistência que desafiava o regime militar, criticando a repressão por meio de metáforas e alegorias, driblando a censura e tornando-se uma plataforma de contestação e engajamento político. O Teatro do Ornitorrinco, fundado em 1977 por Cacá Rosset (1954-) e Luiz Roberto Galizia (1951-1985), destacou-se no cenário brasileiro por suas montagens irreverentes e experimentais, como Ubu rei (1985), explorando o grotesco e o absurdo. Antunes Filho (1929-2019), conhecido por seu rigor estético e por montar clássicos como Macunaíma (1978), criou o Centro de Pesquisa Teatral (CPT), renovou a linguagem cênica brasileira e afirmou-se como um dos mais importantes diretores do teatro brasileiro.

Nos anos 1980, com a abertura política, o teatro brasileiro passou por uma mudança de tom. Surgiu o Besteirol, que encenava comédias leves e despretensiosas, que ironizavam o cotidiano e a cultura de massa. Grupos como Asdrúbal trouxe o trombone popularizaram esse estilo de humor ágil e irreverente, contrastando com o engajamento político do teatro anterior. O Besteirol, focado em entreter e provocar riso, oferecia uma visão crítica, mas leve, da vida urbana e da sociedade em transformação.

No século XXI, o teatro brasileiro continua a se reinventar, incorporando novas tecnologias e refletindo as questões contemporâneas, como na peça A comédia do trabalho , bem como temáticas relacionadas a diversidade, gênero e inclusão. O teatro digital e híbrido transformou a experiência teatral, enquanto novas narrativas emergem para dar voz a grupos historicamente marginalizados.

Cara palavra é um espetáculo poético e performático que estreou em 2020, em formato remoto. A peça foi idealizada e protagonizada por Andréia Horta, Bianca Comparato, Débora Falabella e Mariana Ximenes, com direção de Pedro Brício. O espetáculo tem como foco a poesia feminina contemporânea e aborda questões atuais e cotidianas do mundo pandêmico. As artistas trabalharam remotamente de casa.

Grupo Asdrúbal trouxe o trombone na peça Trata-me Leão, em 1978.

Teatro Experimental do Negro ensaia Sortilégio, com Abdias Nascimento e Léa Garcia, 1957.

lER lITERATURA

A crítica e o cânone

A crítica literária, assim como a crítica de arte em geral, tem como função avaliar uma determinada obra identificando influências, a que tradição se filia, os recursos de estilo que apresenta, como se posiciona no universo das ideias e do contexto em que foi produzida, o quanto é ou não inovadora, que sentidos agrega à reflexão que se propõe a desenvolver. Com critérios como esse, atribui, então, um lugar no cenário literário em geral. O conjunto de obras literárias eleitas pela crítica, que orientariam o reconhecimento do que deveria ser ou não válido como estético, compõe um cânone.

Desenvolvida sobretudo por acadêmicos, mas também por jornalistas especializados, a crítica circula em artigos acadêmicos, em livros, em publicações jornalísticas das mais diversas e nas mídias analógica e digital em geral. Como atividade avaliativa, apresenta parâmetros que vão guiar os currículos escolares, as matérias jornalísticas, a decisão das editoras pela publicação ou não de uma obra, o consumo de certos livros ou autores em detrimento de outros, além de interferir no gosto e até mesmo na produção de outras obras.

A crítica, porém, também tem sua história e avalia as obras em função dos critérios que adota; são esses critérios que a fazem atribuir maior ou menor valor a uma obra. E uma obra pode ter seu valor revisto em função de outros olhares, de outros estudos ou de outras obras.

Por isso, o cânone construído ao longo dos séculos XIX e XX tem sido questionado à luz das ideias dos estudos culturais, que entendem que a própria formação do cânone é ideológica e silenciou vozes de minorias cujas obras têm sido reavaliadas. É o caso, por exemplo, das muitas mulheres que apenas no século XX passaram a ter espaço no universo das publicações. Além disso, nomes como o de Maria Firmina dos Reis (1822-1917), autora singular do século XIX e quase desconhecida até recentemente, têm sido redescobertos e valorizados.

Refletir sobre as questões que movem a crítica e a construção do cânone pode proporcionar ao leitor uma compreensão de que aquilo que ele lê ou mesmo seu gosto e as escolhas literárias que faz não estão fora de uma corrente em que dialogam muitas vozes. Mas valerá sempre lembrar, em primeiro lugar, que o cânone tem papel importante na orientação sobre a qualidade de certas obras: autores como William Shakespeare (1564-1616), Fiódor Dostoiévski (1821-1881), Guimarães Rosa (1908-1967), Marcel Proust (1871-1922), Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) ou Machado de Assis (1839-1908), entre tantos e tantos outros, figurarão sempre entre autores de obras cuja leitura e releitura não apenas renovam sentidos, mas conectam o leitor com experiências humanas singulares. Em segundo lugar, a crítica não se confunde com o gosto. Mas o gosto também se forma com base nas experiências estéticas de cada um; ou seja, no caso da literatura, quanto mais experiente for o leitor, quanto maior seu repertório de leituras, maior será a sensibilidade para apreciação desta ou daquela obra.

Não escreva no livro.

Para discutir

1. Que obras consideradas clássicas você conhece? Tem vontade de ler alguma delas?

Por quê? Que tipo de obra literária você gosta de ler?

2. A internet ampliou as possibilidades de acesso a obras a que o mercado editorial oficial não dá espaço. Que consequências podem ter essas possibilidades na formação do gosto do leitor?

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Um teatro multimídia

As relações entre literatura e videoarte nas encenações de roteiros teatrais, como as do Teatro Oficina, são marcadas pela integração de linguagens artísticas distintas que se complementam e expandem os limites da narrativa. O Teatro Oficina, sob a direção de Zé Celso Martinez Corrêa, é conhecido por suas montagens experimentais que incorporam elementos multimídia, especialmente a videoarte, para intensificar a experiência sensorial e dramatúrgica. A literatura, enquanto base textual das encenações, ganha novas camadas de significado quando dialoga com as imagens projetadas, criando uma fusão entre palavra, corpo e visualidade. A videoarte permite a recriação de cenários, a multiplicação de perspectivas e o uso de metáforas visuais que complementam e reinterpretam os textos literários e teatrais. Esse uso da videoarte no teatro, como visto em montagens de obras clássicas e contemporâneas do Teatro Oficina, amplia as possibilidades de interpretação e leitura da obra literária. Por exemplo, em adaptações de peças de Nelson Rodrigues ou de Oswald de Andrade (18901954), o uso de vídeos e projeções pode realçar a crítica social e política presente nos textos, além de criar uma atmosfera surreal ou onírica que reforça o simbolismo e a carga emocional da narrativa. A interação entre a literatura e a videoarte proporciona ao público uma experiência imersiva e multidimensional, em que a palavra escrita é amplificada pela potência visual, sonora e corporal, transformando o palco em um espaço de múltiplos significados e sensações.

1. Forme uma dupla e pesquise, na internet, cenas de peças de teatro que contenham alguma projeção de videoarte. Identifique a peça e o grupo que a encena.

2. Que elementos compõem a videoarte da peça?

3. Que sentidos a videoarte agrega ao texto teatral?

Professor, se possível, apresente exemplos de peças teatrais que utilizam videoarte para que os estudantes possam analisar em sala de aula. Promova uma discussão para que reconheçam os elementos e sentidos propostos pela videoarte nas peças analisadas.

O vídeo do herói

Nas montagens de Zé Celso Martinez Corrêa, o elemento multimídia é incorporado a roteiros teatrais que originalmente não previam o uso desse tipo de recurso, mas há casos em que o próprio texto teatral indica a entrada de um vídeo como parte da ação dramática. É o caso de O berço do herói (1965), do dramaturgo e autor de novelas baiano Dias Gomes (1922-1999). A peça é protagonizada por Cabo Jorge, um suposto herói brasileiro da Segunda Guerra Mundial que, na verdade, havia desertado do exército. Numa das cenas iniciais da peça, o roteiro prevê a projeção de um vídeo que havia sido usado para construir o mito de herói para Cabo Jorge. Posteriormente, O berço do herói foi adaptado para a televisão e se tornou a novela Roque Santeiro, que obteve grande sucesso na década de 1980.

SAIBA MAIS
Logotipo da novela Roque Santeiro (1985).
Não escreva no livro.

lEITURA: NOTÍCIA DE TElEJORNAl

Bom dia, boa tarde, boa noite

Não foi apenas o teatro que se transformou no pós-guerra e abriu novas possibilidades de invenção. A partir de 1950, uma nova tecnologia de comunicação foi inaugurada no Brasil: a televisão. Ainda hoje, mesmo com a internet e a popularização de smartphones , a televisão se mantém como uma das principais fontes de diversão e informação dos brasileiros. Em setembro de 1950, foi exibido o primeiro telejornal brasileiro: Imagens do dia , na TV Tupi. Até hoje, os telejornais são referência de jornalismo e de divulgação de notícias para a população.

Para discutir

Os telejornais fazem parte da grade de programação de quase todas as emissoras abertas do Brasil. Eles cumprem uma função fundamental na divulgação de informações.

1 A que telejornais você ou sua família assistem? Explique que motivos levam à audiência desse telejornal, e não de outro.

2 Discuta por que os telejornais podem ser uma fonte de informação mais confiável do que as redes sociais.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

A atividade a seguir é a transcrição de uma notícia divulgada pelo Jornal Nacional , da Rede Globo de televisão, em 4 de novembro de 2021, data em que a atriz carioca Fernanda Montenegro (1929-) foi eleita para assumir uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Leia a seguir a transcrição da notícia veiculada pelo telejornal e depois responda às questões.

Professor, se possível, exiba para os estudantes essa notícia do Jornal Nacional. Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/10012115/. Acesso em: 1 out. 2024. 3 min 31 s.

Texto

Hélter Duarte – A atriz Fernanda Montenegro foi eleita para ocupar a cadeira 17 da Academia Brasileira de Letras.

Flávia Jannuzzi – A nova imortal da Academia Brasileira de Letras é bem conhecida do público: Fernanda Montenegro, a primeira atriz a receber o título. A condecoração reverencia uma vida dedicada às artes.

Fernanda Montenegro – Eu acho que a vida tem milagres, não tem? Não esperava, mas aconteceu. Aceito, e aceito feliz.

Flávia Jannuzzi – Ela é a nona mulher eleita para uma cadeira da ABL, desde a fundação da Academia há 124 anos. Passa a ocupar a de número 17, espaço deixado pelo escritor e diplomata Afonso Arinos de Melo Franco, falecido em março do ano passado. Fazer parte da Academia é mais um passo na carreira de Fernanda, sempre com o propósito de defender a cultura nacional.

Fernanda Montenegro – Eu acho que a Academia é um centro de resistência cultural brilhante, histórica, e eu sei que… essa crise econômica… assim, no campo cultural, das artes, vai passar! Vai passar! Não há como sobreviver no bruto, sabe, na ignorância.

Flávia Jannuzzi – A eleição hoje à tarde foi secreta. Fernanda Montenegro era candidata única, o que foi interpretado por acadêmicos como sinal de prestígio à atriz. Trinta e quatro acadêmicos participaram, alguns de casa. Seguindo a tradição, os votos foram queimados ao fim da contagem.

lER O MUNDO Não escreva no livro.

Flávia Jannuzzi – A dama do teatro brasileiro foi eleita imortal da ABL por trinta e dois votos. Fernanda Montenegro dedicou oitenta dos noventa e dois anos de vida à dramaturgia. Publicou dois livros, e seu nome já era um desejo antigo dos acadêmicos, que insistiram na candidatura.

Marco Lucchesi – Fernanda Montenegro, ela é ligada ao imaginário brasileiro. Ela é parte integral… mas ela também é uma intelectual profunda, escritora, com qualidades que são muito importantes. Então ela é um marco muito importante, sobretudo agora, depois do momento terribilíssimo da pandemia, a Academia encontra forças de se renovar e de se renovar com uma jovem de mais de noventa anos. É um privilégio para todos nós brasileiros.

Flávia Jannuzzi – A posse está marcada para março do ano que vem. A figura de Fernanda Montenegro ultrapassa o universo literário. É conhecida e admirada tanto no teatro, como nas telenovelas. Foi a primeira atriz contratada pela TV Tupi em 1951. Na Globo, atuou em mais de 30 obras. Ganhou o Emmy internacional de melhor atriz pelo seriado Doce de mãe, em 2012. E é a única brasileira indicada a um Oscar de Melhor atriz. Foi pelo papel de Dora, no filme Central do Brasil. Com Fernanda Montenegro, a ABL ficou mais próxima do grande público.

Fernanda Montenegro – Estão abrindo, através de uma atriz, no caso, por acaso, eu, uma coletividade que pode vir junto. Eu não estou aqui sozinha. Como eu acho que todos os meus colegas, nesses meus, vamos dizer, quase oitenta anos de vida pública, esses colegas estão comigo e não tão fazendo isso como uma demagogia, estão fazendo isso porque isso pertence, gloriosamente, à minha arte: o teatro.

Transcrito de: FERNANDA Montenegro é eleita para Academia Brasileira de Letras. Rio de Janeiro: Globo, 2021. 1 vídeo (3 min). Publicado pelo canal Globoplay. Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/10012115/. Acesso em: 5 out. 2024.

PENSAR E COMPARTIlHAR

Não escreva no livro.

1. Em sua página na internet, a Academia Brasileira de Letras (ABL) se apresenta como “uma instituição cultural inaugurada em 20 de julho de 1897 e sediada no Rio de Janeiro, cujo objetivo é o cultivo da língua e da literatura nacional”.

O f ilósofo e ativista Ailton Krenak (1953-) é um dos membros da instituição. Leia um trecho de uma notícia sobre sua posse.

Durante posse na Academia Brasileira de Letras (ABL), na noite desta sexta-feira (5/4), o escritor, filósofo e ativista Ailton Krenak invocou os 305 povos indígenas a receber com ele os símbolos de acadêmico. O também imortal Gilberto Gil parabenizou o agora colega e disse ser um momento emocionante. ‘Uma voz fundamental para nossa cultura. Certamente será um grande acadêmico!’, escreveu nas redes sociais.

Pelas redes sociais a atriz e escritora Fernanda Montenegro também comemorou. ‘Que alegria assistir à posse de Ailton Krenak na Academia Brasileira de Letras. 500 anos. Finalmente’.

GILBERTO Gil parabeniza Ailton Krenak por posse na ABL. Estado de Minas, Belo Horizonte, 6 abr. 2024. Disponível em: https://em-br.informepiaui.com/ nacional/2024/04/6832736-gilberto-gil-parabeniza-ailton-krenakpor-posse-na-abl.html. Acesso em: 5 out. 2024.

• O que as presenças da atriz Fernanda Montenegro, do músico e compositor Gilberto Gil e do pensador Ailton Krenak, entre outros membros efetivos da ABL, evidenciam sobre os objetivos da instituição? A apresentação que faz de si na internet é precisa? Por quê?

O escritor, filósofo e ativista Ailton Krenak exibe seu diploma de membro efetivo da ABL no dia em que tomou posse. Rio de Janeiro (RJ), 2024.

Espera-se que os estudantes percebam que a presença de personalidades como as citadas evidencia o intuito da ABL de ampliar seu papel ao incluir representantes da cultura de áreas diversas, de origens culturais diversas, tornando a representação do pensamento e da arte do país mais plural e diversificada. Assim, espera-se que os estudantes reconheçam que seria importante rever o texto de apresentação no site da ABL de modo a expandir seus interesses no cultivo da língua e da literatura também para o pensamento, a cultura e a arte nacionais e do desejo de se renovar, como revela a fala de Marco Lucchesi.

MAURO PIMENTEL/AFP

5. b) Espera-se que os estudantes identifiquem as plataformas de compartilhamento de vídeos e streamings que permitem o acesso remoto e posterior a essas notícias. Há também a possibilidade de se pagar por uma assinatura, o que em geral dá acesso a conteúdos de arquivo da plataforma.

2. Tradicionalmente, notícias começam com um lide que apresenta as informações básicas e essenciais para o entendimento do fato noticiado.

a) Que fala cumpriria o papel de lide nessa notícia?

A fala do âncora Hélter Duarte.

b) Copie o organizador a seguir no caderno e preencha-o com as informações pedidas.

O quê?

Quem?

Quando?

Onde?

Como?

Eleição de Fernanda Montenegro para a ABL

Fernanda Montenegro

No dia em que a notícia foi divulgada (4 de novembro de 2021), mas sem referência no texto

Na ABL

Por meio de eleição

c) A repórter Flávia Jannuzzi não inicia a notícia com a apresentação de um lide. Que estratégia é utilizada para introduzir o assunto?

A repórter inicia retomando a fala de Hélter Duarte e apresentando características que justificariam essa escolha.

Notícias de telejornais também apresentam as informações de um lide. Essas informações, no entanto, podem ser reproduzidas por um âncora e pelo repórter.

3. O bserve o frame a seguir, com a fala do âncora Hélter Duarte. Considere o que o âncora diz nesse momento do frame e explique que sentido se produz junto à expressão facial dos apresentadores.

[…] atriz Fernanda Montenegro foi eleita para ocupar a cadeira 17 da Academia Brasileira de Letras.

3. Espera-se que os estudantes, ao analisarem o frame com a fala do âncora, observem que os jornalistas se olham sorrindo, de modo que é perceptível ao interlocutor a notícia positiva que estão apresentando. Comente com os estudantes que, caso fosse algo trágico, o semblante dos jornalistas seria mais sério, sisudo.

Frame da reportagem sobre

Fernanda Montenegro na ABL.

4. A notícia faz referência à eleição da atriz Fernanda Montenegro para uma cadeira da ABL.

a) Por que sua eleição é considerada inesperada?

Porque, em tese, seria esperado um escritor para ocupar uma cadeira, e não uma atriz.

b) Que argumentos justificam sua eleição?

Além de já ter publicado dois livros, Fernanda Montenegro é uma das maiores atrizes do Brasil e tem amplo conhecimento do teatro nacional, sendo uma representante muito relevante da arte e da cultura brasileiras.

5. Uma notícia televisiva, diferentemente de uma notícia impressa, não pode ser revista com frequência, já que é veiculada ao vivo em determinado horário na programação. Por isso, as notícias televisivas tendem a ser mais didáticas e objetivas na explicação de determinados temas.

a) Como se dá esse didatismo na notícia?

A notícia apresenta, aos poucos, a eleição, a carreira de Fernanda e os argumentos que justificam sua eleição. Tudo isso com falas de Fernanda Montenegro alternadas.

b) Embora as notícias televisivas sejam veiculadas ao vivo nos canais de transmissão, que outros recursos permitem que elas sejam revistas?

6. Embora as notícias tenham como pretensão a apresentação impessoal e objetiva de fatos e eventos do cotidiano, a notícia sobre a eleição de Fernanda Montenegro recorre a elementos emotivos para a estruturação do texto.

a) Observe o frame da atividade 3 e descreva o figurino dos apresentadores e o cenário do telejornal. O que eles comunicam ao telespectador?

As vestes são formais, em cores sóbrias, não carregam adereços, e a maquiagem ressalta a naturalidade da expressão. O azul do cenário é uma cor fria; os diferentes tons de azul destacam o logotipo do jornal e o mapa-múndi. A cor também está no friso da mesa de formato moderno para o momento em que o telejornal foi exibido. No conjunto, figurino e cenário comunicam seriedade, serenidade, limpeza, impessoalidade, objetividade, estabilidade, confiança; sugerem também que o telejornal está conectado ao mundo todo e a tudo que acontece.

b) Identifique os momentos em que há a construção de subjetividade e emotividade na notícia e liste-os no caderno.

A fala de Marco Lucchesi que cita a pandemia e a importância da renovação da Academia; as falas testemunhais de Fernanda Montenegro, com referência tanto à pandemia quanto à coletividade da arte.

c) Qual é a função desses momentos de subjetividade na construção da notícia?

Criar uma aproximação com o telespectador e provocar comoção.

7. Relacione a seguir as colunas indicando os sentidos produzidos pelos gestos ou expressões faciais da atriz. Escreva no caderno.

I: C; II: A; III: B.

Professor, se possível, exiba novamente a notícia para os estudantes, a partir de 3’04’’.

I. E stão abrindo, através de uma atriz, no caso, por acaso, eu

3’04’’ Faz gesto apontando para si com a mão.

II. uma coletividade que pode vir junto

3’07’’ Faz gesto apertando ambas as mãos.

III. n esses meus, vamos dizer, quase oitenta anos de vida pública

3’15’’ Faz gesto ampliando as mãos no ar.

8. Além dos elementos não verbais que compõem o discurso da repórter, é importante analisar a entonação da fala e as pausas, que também produzem sentidos. Releia um trecho da notícia sobre Fernanda Montenegro.

Professor, se possível, exiba a notícia para os estudantes novamente, no trecho entre 2’32’’ e 2’53’’:

Foi a primeira atriz contratada pela TV Tupi em 1951. Na Globo, atuou em mais de 30 obras. Ganhou o Emmy internacional de melhor atriz pelo seriado Doce de mãe, em 2012. E é a única brasileira indicada a um Oscar de Melhor atriz. Foi pelo papel de Dora, no filme Central do Brasil

As notícias divulgadas em telejornais produzem sentido não apenas com o texto verbal, mas também com todos os elementos não verbais que constituem a cena: local da filmagem, figurino, tom e velocidade da fala, pausas, gestos, posturas e expressões faciais.

8. c) No final do período em que se refere ao trabalho na TV Tupi, para separar o nome da emissora do trabalho que a atriz executou nela, para finalizar o período em que relata esse trabalho, para separar o ano em que ganha o Emmy, separar o nome de sua personagem no filme Central do Brasil e faz ligeira pausa após citar o Oscar. Essas pausas têm a função de tornar claro o texto fazendo correspondência entre a locução e o que seria a pontuação no texto escrito. Algumas pausas também contribuem para destacar algumas informações, como em Oscar e Dora, conferindo importância a elas.

a) Que palavras desse trecho são pronunciadas com maior ênfase?

Primeira, Tupi, Globo, Emmy, atriz, Doce, única, Oscar, Melhor atriz, Dora, Central.

b) Considere apenas as palavras pronunciadas com maior entonação. Com base nessas palavras, o que a repórter destaca indiretamente em sua fala?

Destaca a carreira de Fernanda Montenegro, exaltando sua longevidade, premiações e indicações.

c) Em que momento faz uma pausa? Que função ela tem na locução da repórter?

9. O podcast semanal Expresso Ilustrada discute sobre música, cinema, teatro, literatura, televisão e moda no Brasil. Leia um trecho do episódio de 18 de novembro de 2021, que discute a nomeação de Fernanda Montenegro e Gilberto Gil para a ABL. O trecho transcrito faz referência aos minutos 1’38 a 3’02’’.

9. a) Ambos destacam a carreira premiada e reconhecida de Fernanda, bem como a importância de sua eleição para trazer novos ares para a ABL. 9. b) O podcast adota um foco mais amplo que o telejornal: quer discutir as escolhas recentes e inesperadas de acadêmicos que fogem à lógica tradicional de escritores homens e brancos e colocar em questão o perfil da ABL.

9. c) Fernanda Montenegro sugere que grande parte dos acadêmicos não são escritores de literatura, mas são da área médica, de direito e sociologia. Nessa lógica, uma atriz e um músico também estariam aptos a fazer parte da ABL.

Lucas Brêda – […] O Gil chega à casa de Machado de Assis, como é conhecida a ABL, quase junto com a atriz Fernanda Montenegro. A Fernandona, que foi eleita no começo desse mês pra a cadeira 17, ela é um dos principais nomes do teatro e da teledramaturgia do Brasil. Ela, que concorreu ao Oscar pelo filme Central do Brasil e levou um Emmy pela atuação em Doce de mãe, é mais uma personalidade que dispensa apresentações.

Fernanda Montenegro – Na área médica, na área… de direito, na área… de sociologia, se tem representantes nessas áreas lá dentro, homens, por que que não mulheres? E também de qualquer raça, sabe? Há necessidade de mais presença das personalidades negras lá dentro.

Carolina Moraes – A eleição da Fernanda Montenegro, que foi a primeira dessa nova leva, já tinha levantado uma dúvida sobre o perfil da Academia. Afinal, é uma instituição acusada com frequência de se encastelar numa torre de marfim e que agora acolhe nomes com vasta popularidade em áreas que não a literatura. Será que a ABL quer estender os braços a um público maior?

Lucas Brêda – No episódio de hoje, a gente vai explicar qual é, afinal, a importância da Academia Brasileira de Letras, como funcionam essas votações e também debater se a ABL tá ou não apontando pruma trajetória mais pop. Também, né, o que que isso significa pra nossa cultura.

Transcrito de: EXPRESSO Ilustrada 131: com Gil e Fernanda Montenegro, a ABL quer ser pop? Entrevistado: Walter Porto. Entrevistadores: Lucas Brêda e Carolina Moraes. São Paulo: OMNY, 18 nov. 2021. Podcast. Disponível em: https://omny.fm/shows/expresso-ilustrada/com-gil-e-fernanda-montenegro-a-abl-quer-ser-pop. Acesso em: 5 out. 2024.

a) Quais são as semelhanças entre o podcast e o telejornal nas referências que fazem à eleição de Fernanda Montenegro para a ABL?

b) Que foco o podcast adota para noticiar a eleição de Fernanda Montenegro?

c) O podcast traz na fala da atriz um argumento para provar a ideia de que a eleição de Fernanda Montenegro não seria, de fato, algo inesperado. Qual é esse argumento?

10. O podcast , gênero oral que pode ser acessado em dispositivos de mídia, recorre a recursos típicos da oralidade.

10. a) Espera-se que os estudantes percebam que o ritmo de fala tenta simular naturalidade e há vários termos mais informais (pra, tá, pruma, pop), o que tende a aproximar o leitor do texto.

a) C aracterize o ritmo de fala dos apresentadores e a linguagem utilizada. Que sentido essas escolhas produzem para o ouvinte?

b) O podcast apresenta uma trilha sonora de fundo que se torna mais alta na transição entre os apresentadores e a fala do convidado. Que sentido esse tipo de trilha produz?

A trilha cria uma ambientação e evita momento em silêncio com as pausas.

c) Que características de um podcast facilitam a audição desse gênero?

Como o podcast não demanda leitura nem atenção a imagens, é possível ouvir um podcast enquanto se pratica outra atividade, mesmo que ela demande a utilização dos olhos. Pode-se ouvir podcasts praticando exercícios e esportes, dirigindo, lavando louça etc.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Estrutura de palavras

1. a) Os dois termos têm uma mesma base ou radical: academ1. b) A parte final de cada palavra: -icos e -ia.

Releia o trecho a seguir, do telejornal Jornal Nacional

1 Observe os termos destacados

a) Que semelhança há entre eles?

b) O que difere os dois termos?

c) Qual é a diferença de significado entre os dois termos?

1. c) Academia se refere a um lugar e acadêmico, ao que o frequenta, faz parte desse espaço. 2. a) Origina-se de candidato ou candidatar.

2 Considere o termo candidatura .

a) De qual outro termo se origina essa palavra?

b) Que parte da palavra é responsável por transformá-la em um substantivo abstrato?

O sufixo -ura, ao final.

SAIBA MAIS

Talento em família

Flávia Jannuzzi – A eleição hoje à tarde foi secreta. Fernanda Montenegro era candidata única, o que foi interpretado por acadêmicos como sinal de prestígio à atriz. Trinta e quatro acadêmicos participaram, alguns de casa. Seguindo a tradição, os votos foram queimados ao fim da contagem.

Flávia Jannuzzi – A dama do teatro brasileiro foi eleita imortal da ABL por trinta e dois votos. Fernanda Montenegro dedicou oitenta dos noventa e dois anos de vida à dramaturgia. Publicou dois livros, e seu nome já era um desejo antigo dos acadêmicos, que insistiram na candidatura. Marco Lucchesi – Fernanda Montenegro ela é ligada ao imaginário brasileiro. Ela é parte integral… mas ela também é uma intelectual profunda, escritora, com qualidades que são muito importantes, então ela é um marco muito importante, sobretudo agora, depois do momento terribilíssimo da pandemia, a Academia encontra forças de se renovar e de se renovar com uma jovem de mais de noventa anos é um privilégio para todos nós brasileiros.

Transcrito de: FERNANDA Montenegro é eleita para Academia Brasileira de Letras. Rio de Janeiro: Globo, 2021. 1 vídeo (3 min). Publicado pelo canal Globoplay. Disponível em: https:// globoplay.globo.com/v/10012115/. Acesso em: 5 out. 2024.

Fernanda Montenegro é reconhecida como uma das maiores atrizes brasileiras, com atuações de destaque no teatro, na televisão e no cinema. Foi indicada ao Oscar de melhor atriz, prêmio máximo do cinema estadunidense, por sua atuação no filme Central do Brasil (1998), dirigido por Walter Salles (1956-). Fernanda Montenegro é mãe da atriz e escritora Fernanda Torres (1965-). Esta também foi protagonista de um filme de Walter Salles, intitulado Ainda estou aqui (2024). Estreou na literatura com o livro Fim (2013), ao qual se seguiu A glória e seu cortejo de horrores (2017). Ambos foram sucesso de crítica e de público. Mãe e filha contracenaram juntas em um episódio da série Amor e sorte (2020).

3 O termo pandemia tem como raiz dem, que é o mesmo de democracia. O prefixo pan- significa “todo”. Que sentido se pode atribuir ao termo destacado conhecendo o significado das partes que o compõem?

Algo que atinge a todos. 4. b) O final da palavra (sufixo) agrega a ideia de superlativo.

4 Observe o adjetivo em destaque.

a) De que outro adjetivo esse termo se origina?

Origina-se do termo terrível

b) Que sentido o final da palavra agrega ao adjetivo original?

c) Que substantivo traz a mesma raiz?

O substantivo terror

Fernanda Montenegro e Fernanda Torres em apresentação no auditório do Ibirapuera. São Paulo (SP), 2024.

Não escreva no livro.

Na língua portuguesa, certas palavras podem originar outras ou ter origem em outras, ou seja, podem ser palavras primitivas ou palavras derivadas. Para observar esse fenômeno, é preciso considerar os morfemas que fazem parte dela. O morfema corresponde a cada unidade mínima dotada de significado que integra a palavra. Os morfemas podem ser classificados em: radical, desinências, afixos, vogal temática, vogal ou consoante de ligação.

Afixos

No trecho, algumas palavras apresentam uma estrutura em comum, que determina a maior parte de seu significado. Considere o termo privilégio e observe diferentes formações que apresentam a mesma raiz. Observe:

privilégio desprivilégio privilegiado radical prefixo sufixo

Observe mais este exemplo: dramaturgia

Essa palavra é formada por uma base de significado a que damos o nome de radical: drama; o t faz a ligação entre o radical e -urgia, a que chamamos sufixo e que significa “obra”.

Agora, veja as palavras a seguir:

dramaturgo

dramático

dramatização

dramaticidade

dramaturgicamente

Todas essas palavras têm o mesmo radical: drama. A essa parte se unem outras que originam novas palavras, como -urgo, -ico, -zação, -cidade, -urgicamente.

Cada morfema agregado a um radical que lhe adiciona novos sentidos recebe o nome de afixo. Se ocorre antes do radical, é denominado prefixo; se ocorre depois, denomina-se sufixo.

Desinências

Nos termos: candidatar candidatamos candidata candidatos os morfemas que se localizam no final das palavras e indicam as flexões verbais, o gênero e número de um nome são chamados de desinências e podem ser verbais ou nominais. As desinências verbais marcam as flexões de tempo, modo, pessoa e número dos verbos. As desinências nominais marcam as flexões de gênero, grau e número dos substantivos, adjetivos e alguns pronomes.

As palavras são formadas pela junção de morfemas: as menores unidades linguísticas que possuem um significado.

Essa dinâmica de operações com unidades de som (fonemas) e unidades de sentido (morfemas) compõe a estrutura das palavras da língua.

PENSAR E COMPARTIlHAR

Leia a tirinha a seguir, de Armandinho.

1. Armandinho conversa com uma senhora revelando como se relaciona com animais.

a) Qual crítica a tirinha constrói?

A de tratar os animais como se fossem utilitários, ou funcionais, algo de que se deve tirar vantagem.

b) I dentifique as duas palavras que expressam a principal diferença entre o que Armandinho e a senhora esperam de um cachorro.

As palavras são companheiro e amigo.

2. Algumas palavras da tirinha são formadas por radicais e alguns afixos.

a) Identifique, no segundo quadrinho, a palavra formada por um radical mais um sufixo.

Companheiro.

b) Que palavras são formadas por radical mais desinência nominal? E por radical mais desinência verbal?

Radical mais desinência nominal: sapo, senhora; radical mais desinência verbal: faz, tenho.

3. Considere a palavra companheiro

a) Faça a análise dos morfemas que a compõem.

Radical: companh-, vogal temática: a; sufixo: -eir(o); desinência nominal: o

a des(a)

b) Quais outras palavras podem ser formadas pelo radical de companheiro? Copie o organizador a seguir no caderno e adapte o radical, se necessário. companh companh companh companh

a

ad(o/a)

ad(o/a) ar

4. Observe a formação das palavras moral, amoral e imoral

a) Qual é o radical comum às três palavras destacadas?

Moral

b) Que morfemas foram adicionados ao radical para formar novas palavras? Que sentido expressam?

Os prefixos i- e a-. Expressam o sentido de negação, contrariedade.

c) Que outra palavra possui o mesmo radical de moral? Explique o sentido dessa palavra com base nas estruturas que a compõem.

Imoralidade. O prefixo i- indica contrariedade e o sufixo -dade indica estado ou condição. Logo: estado contrário à moral.

5. Copie no caderno o organizador a seguir e o preencha com ao menos três palavras de acordo com o que se pede.

Professor, os exemplos a seguir são apenas sugestões, verifique a pertinência das escolhas dos estudantes.

Palavra com prefixo e sufixo

Palavra apenas com sufixo

BECK, Alexandre. [O melhor amigo...]. In: BECK, Alexandre. Armandinho: dois. Florianópolis: [s. n.], 2014. p. 43.
ARMANDINHO, DE ALEXANDRE BECK

1. a) Enumeram-se elementos aparentemente desconexos, mas entre os quais é possível identificar sentimentos e ingredientes que, misturados, resultarão no unguento, na baba, grossa e escura a que se refere a personagem no final do trecho.

ASTUCIAS DA lINGUA

1. b) Espera-se que os estudantes percebam que a enumeração começa em um ritmo normal, há uma pausa breve seguida das palavras ódio e dor, ditas mais devagar e com uma pausa breve que as destaca; em seguida, a fala se acelera como que misturando os ingredientes no próprio modo de dizer. Depois de frieza, segue-se uma pausa mais longa.

Os gestos, as expressões e a entonação

Assista ao monólogo da atriz Bibi Ferreira (1922-2019) interpretando Joana (disponível em: www.youtube.com/watch?v=0nwJgXg0Hn0; acesso em: 18 out. 2024), personagem da peça Gota d’água (1975), de Chico Buarque (1944-) e Paulo Pontes (1940-1976).

1 Observe a enumeração no trecho destacado.

a) A que se refere essa enumeração?

b) De que forma essa enumeração é dita pela atriz? Que sentido produz esse modo de falar?

2. a) A atriz faz um gesto vertical seguido de um gesto horizontal com a mão.

2 Observe a fala no trecho destacado.

a) Que gestos a atriz produz quando pronuncia esse trecho?

b) Que sentido esses gestos reforçam?

Tudo está na natureza encadeado e em movimento –cuspe, veneno, tristeza, carne, moinho, lamento, ódio, dor, cebola e coentro, gordura, sangue, frieza, isso tudo está no centro de uma mesma e estranha mesa Misture cada elemento –uma pitada de dor, uma colher de fomento, uma gota de terror

O suco dos sentimentos, raiva, medo ou desamor, produz novos condimentos, lágrima, pus e suor

Mas, inverta o segmento, intensifique a mistura, temperódio, lagrimento, sangalho com tristezura, carnento, venemoinho, remexa tudo por dentro, passe tudo no moinho, moa a carne, sangue e coentro, chore e envenene a gordura

Você terá um unguento, uma baba, grossa e escura, essência do meu tormento e molho de uma fritura de paladar violento que, engolindo, a criatura repara o meu sofrimento co’a morte, lenta e segura.

BUARQUE, Chico; PONTES, Paulo. Gota d’água São Paulo: Círculo do livro, 1975. p. 205-206.

2. b) O gesto vertical reforça a ideia de centro e o gesto horizontal refere-se à mesa.

3 Considere o trecho destacado.

a) Que expressões faciais da atriz acompanham a fala nesse trecho?

b) Como essa expressão intensifica o texto?

3. a) A atriz começa a pronunciar as palavras com os dentes à mostra, com a boca mais fechada, enquanto franze a testa e fecha os olhos aos poucos.

3. b) O trecho reforça o aspecto grotesco que mistura carne, gordura e temperos, criando uma baba grossa e escura.

4 Considere as pausas do trecho em destaque.

a) Que sentido se produz com a pausa maior desse trecho?

b) Explique que sentido se produz com a declamação mais pausada e baixa nesse trecho.

4. a) A pausa indica a consequência do ato de engolir, que será reparar o sofrimento.

4. b) A declamação vai destacando a violência do ato e, ao diminuir o ritmo de declamação e o volume da voz, sugere sentido de morte, prenunciando um fim.

Não escreva no livro.
A atriz Bibi Ferreira em 1984.

A peça Gota d’água atualiza o mito grego de Medea para o contexto carioca da segunda metade do século XX. No monólogo que você leu, a personagem Joana reflete sobre seu final trágico depois de ser abandonada pelo marido, Jasão.

Os gestos, as expressões faciais e a entonação são elementos de comunicação não verbal que complementam a fala, acrescentando significado e emoção ao discurso. Gestos referem-se aos movimentos corporais, como o uso das mãos, dos braços ou até a postura, que ajudam a ilustrar ou enfatizar uma mensagem.

Expressões faciais envolvem as alterações no rosto, como o sorriso, o franzir das sobrancelhas ou o olhar, que transmitem emoções e intenções sem a necessidade de palavras.

A entonação está relacionada à variação no tom, no ritmo e no volume da voz, sendo responsável por expressar o estado emocional do falante e modificar o sentido de uma frase. Esses três elementos são fundamentais para a produção de sentidos dos discursos, enriquecendo a comunicação e facilitando a compreensão do público em diversos contextos, como o teatro e o telejornal.

No teatro, os gestos e as expressões faciais são ferramentas fundamentais para os atores transmitirem emoções e construírem as personagens. Assim, ainda que baseada em um mesmo texto, a maneira como ele é interpretado por meio da linguagem corporal e vocal dos atores interfere na produção dos sentidos de uma peça.

Se os gestos e as expressões faciais podem revelar o estado emocional das personagens, a entonação, por sua vez, modula a intensidade da fala e pode transformar completamente o sentido de uma frase. Uma linha dita com entusiasmo expressa um sentido diferente de quando é falada de maneira séria ou triste. O público, ao captar essas variações, conecta-se mais profundamente com a história e as personagens, vivenciando uma experiência mais imersiva.

No telejornal, embora o foco esteja na informação de fatos, os apresentadores e repórteres também fazem uso consciente de gestos, expressões e entonação para dar credibilidade e clareza à notícia, para marcar as informações mais importantes e, assim, ajudar o telespectador a compreendê-las.

• As expressões faciais dos jornalistas ajudam a indicar a gravidade ou leveza de uma notícia, criando uma conexão com o telespectador. Um sorriso sutil durante uma notícia positiva ou uma expressão de seriedade ao transmitir uma notícia triste são formas de guiar a recepção da informação.

• A entonação no telejornal é essencial para sublinhar a importância de determinadas informações, chamar a atenção do público ou garantir que os detalhes mais relevantes sejam destacados.

• A modulação da voz ajuda o espectador a distinguir o que é mais urgente ou relevante.

• Os gestos, ainda que mais contidos, reforçam essa entrega, seja por meio de movimentos das mãos que acompanham o ritmo da fala ou de uma postura corporal que transmite profissionalismo e confiança.

PENSAR E COMPARTIlHAR

A ssista ao início da leitura dramática da peça O pagador de promessas (1962), de Dias Gomes, feita pelo canal Estante Cultural (disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=SIHLWsoYQb8; acesso em: 30 set. 2024). Depois, responda às questões que seguem.

ZÉ – Graças a Santa Bárbara, a morte não levou o meu melhor amigo.

PADRE – (Padre parece meditar profundamente sobre a questão.) Mesmo assim, não lhe parece um tanto exagerada a promessa? E um tanto pretensiosa também?

ZÉ – Nada disso, seu Padre. Promessa é promessa. É como um negócio. Se a gente oferece um preço, recebe a mercadoria, tem que pagar. Eu sei que tem muito caloteiro por aí. Mas comigo, não. É toma lá, dá cá. Quando Nicolau adoeceu, o senhor não calcula como eu fiquei.

PADRE – Foi por causa desse… Nicolau, que você fez a promessa?

ZÉ – Foi. Nicolau foi ferido, seu Padre, por uma árvore que caiu, num dia de tempestade.

SACRISTÃO – Santa Bárbara! A árvore caiu em cima dele?!

ZÉ – Só um galho, que bateu de raspão na cabeça. Ele chegou em casa, escorrendo sangue de meter medo! Eu e minha mulher tratamos dele, mas o sangue não havia meio de estancar.

2. a) Ao pronunciar a palavra promessa com maior intensidade, reforça-se a tautologia, isto é, como uma promessa deve ser sempre cumprida.

a) O que produz estranhamento no padre?

GOMES, Dias. O pagador de promessas. In: GOMES, Dias. Os heróis vencidos Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989. v. 1, p. 77-264. p. 136-137, grifo nosso.

1. No trecho, o personagem Zé do Burro vai pagar uma promessa feita à orixá Iansã na Igreja de Santa Bárbara, santa relacionada a ela no catolicismo. Para isso, carrega uma grande cruz de madeira nos ombros durante quilômetros para agradecer a graça alcançada de salvar seu amigo.

O padre considera que a promessa foi exagerada; afinal, foi apenas um galho que caiu de raspão no amigo.

b) De que forma a entonação da primeira fala do padre deixa evidente seu ponto de vista?

2. Considere a segunda fala de Zé do Burro.

fala destaca a relação de causa e consequência entre as ações.

Quando o ator pronuncia

direção, como lugares onde se encontrariam os

2. d) Quando há a menção ao galho que caiu de raspão e o ator faz um gesto simulando o galho caindo.

a) De que forma a entonação da expressão promessa é promessa reforça o sentido da afirmação?

A fala dá destaque aos termos exagerada e pretensiosa, que são pronunciados com maior intensidade, o que evidencia a avaliação crítica do padre.

b) Considere o trecho “Se a gente oferece um preço, recebe a mercadoria, tem que pagar”. Como o ritmo da fala nesse trecho destaca a relação entre as orações que o compõem?

c) Os gestos feitos pelos atores durante a leitura dramática complementam os sentidos do trecho “sei que tem muito caloteiro por aí”. Por quê?

d) Em que outro momento dessa leitura o gesto contribui para ampliar o sentido do texto?

A seguir, há um trecho de notícia veiculada no Jornal Hoje de 23 de novembro de 2022, com apresentação do jornalista Cesar Tralli. Leia o texto e assista ao vídeo.

CESAR TRALLI – Agora veja isso: a Nasa vai lançar nesta madrugada a primeira missão planejada para desviar a rota de um asteroide. Esse asteroide não representa nenhum risco pro nosso planeta – felizmente –, mas a agência espacial americana quer testar a tecnologia pro dia que for necessário impedir o impacto de um asteroide contra a Terra. Sobre isso, vamos falar ao vivo com a nossa correspondente nos Estados Unidos: Carolina Cimenti.

Carol, explica aí pra gente como é que vai ser essa missão. Bem-vinda e boa tarde.

CAROL CIMENTI – Boa tarde, Tralli, boa tarde a todos. Olha só, uma coisa que eu aprendi hoje: a Terra é impactada com fragmentos ou pequenos asteroides todos os anos, mas são asteroides pequenos, tipo um banco de praça ou essa árvore aqui do meu lado, e isso não tem, assim, um… não causa grandes problemas. Mas, a cada mil ou mais anos, um asteroide maior, tipo do tamanho aqui do Flatiron em Nova Iorque, ou duas vezes o tamanho do Flatiron, esse edifício de mais de 20 andares, aparece e… bate na Terra, impacta a Terra, e isso sim pode causar danos, às vezes danos bem significativos. Então, a missão Dart da Nasa que vai ser lançada na madrugada, nessa madrugada, pretende atingir um asteroide desse tamanho mais ou menos; tentar mudar a rota dele pra descobrir se consegue fazer isso. Vai ser a primeira vez na história que a Nasa tenta uma coisa assim.

Transcrito de: MISSÃO para desviar asteroide. São Paulo: Globo, 23 nov. 2021. 1 vídeo (5 min). Publicado pelo canal G1. Disponível em: https://g1.globo.com/ciencia/noticia/2021/11/23/nasa-lanca-missao-que-vai-atingir-asteroide-em-testecontra-futuras-ameacas-espaciais.ghtml. Acesso em: 5 out. 2024. Não escreva no livro.

4. A – As mãos unidas indicam um gesto de agradecimento ou oração, que intensifica a expressão felizmente. B – O gesto de soco na mão reforça a ideia do impacto que o asteroide pode provocar. C – A mão apontando para o alto e o olhar direcionado ao céu apontam para a localidade onde estaria o asteroide ao qual a notícia se refere.

3. Considere os frames a seguir, retirados do telejornal, e relacione os gestos do âncora com as falas às quais eles se referem. A: II; B: III; C: I.

I. […] a primeira missão planejada para desviar a rota de um asteroide.

II. […] Esse asteroide não representa nenhum risco pro nosso planeta – felizmente

III. […] pro dia que for necessário impedir o impacto de um asteroide contra a Terra.

Frames da notícia sobre a Nasa e o desvio de asteroides.

4. E xplique como cada gesto com as mãos e as expressões faciais do âncora complementam o sentido das frases. Em sua resposta, considere os mesmos frames do item anterior e suas respectivas letras.

5. A repórter, quando ganha a palavra do âncora, apresenta com maiores detalhes os dados relacionados ao lançamento do foguete. Em sua fala, ela também recorre aos gestos e às expressões faciais para complementar seu discurso verbal.

5. a) Um banco de praça, uma árvore e o prédio Flatiron em Nova York.

a) Em determinado momento, a repórter se refere a elementos do seu entorno. Que elementos são esses?

b) Que gesto e expressão facial ela utiliza para se referir a esses elementos?

Ela aponta e olha para esses elementos do seu entorno.

c) Há um recurso de filmagem que permite ao espectador ter ideia do que a repórter vê quando direciona o seu olhar. Que recurso é esse?

Assim que a repórter olha em uma direção, a câmera acompanha seu olhar e focaliza uma árvore e o prédio Flatiron.

6. Além dos elementos não verbais que compõem o discurso da repórter, é importante analisar ainda a entonação e as pausas da fala, que também produzem sentidos. Leia o trecho transcrito a seguir para responder às questões.

Olha só, uma coisa que eu aprendi hoje: a Terra é impactada com fragmentos ou pequenos asteroides todos os anos, mas são asteroides pequenos, tipo um banco de praça ou essa árvore aqui do meu lado, e isso não tem, assim, um… não causa grandes problemas.

a) Que palavras desse trecho são pronunciadas com maior ênfase?

Só, Terra, impactada, fragmentos, pequenos, todos, pequenos, lado, causa.

b) Em determinado momento desse trecho, a repórter faz uma breve pausa, marcada na transcrição pelas reticências. O que essa pausa sugere?

Sugere que a repórter estava ainda formulando seu discurso e fez a pausa para pensar a direção que tomaria. Por exemplo, trocou a forma verbal tem, que ia usar, pela forma verbal causa.

#NOSNAPRATICA

Telejornal

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Telejornais transmitem informações locais, nacionais e internacionais de maneira rápida e acessível, que podem atingir um grande número de pessoas. Eles mesclam jornalismo e entretenimento, mantendo o público atualizado com notícias sobre política, economia, ciência, cultura e muito mais. No ambiente escolar, a produção de um telejornal oferece a oportunidade de desenvolver habilidades como comunicação, pesquisa, trabalho em equipe e uso da tecnologia.

O que você irá produzir

O objetivo desta atividade é criar um telejornal para o público do Ensino Médio, abordando temas relevantes ao contexto escolar e juvenil. A equipe de produção, feita em grupos de até quatro integrantes, deverá desenvolver um programa de oito a dez minutos, contendo reportagens que podem tratar de acontecimentos da escola, temas atuais da sociedade, esportes, cultura e entretenimento. Serão criados roteiros, entrevistas, reportagens e comentários, seguindo a estrutura básica de um telejornal.

Planejar

Sob orientação do professor, você e os colegas se dividirão em grupos e vão atribuir a cada um deles uma responsabilidade específica. Considere estas sugestões.

Grupo 1: Roteiristas e editores – desenvolverão o roteiro do telejornal, a ordem das notícias, os diálogos e as transições.

Grupo 2: Repórteres e apresentadores – conduzirão entrevistas e apresentarão as notícias.

Grupo 3: Câmeras e técnicos de som – cuidarão da captação de áudio e vídeo.

Grupo 4: Editores de vídeo – serão responsáveis pela edição final do material, usando softwares ou aplicativos simples.

Em seguida, todos deverão:

• decidir a pauta, ou seja, os assuntos que serão cobertos pelo telejornal (escola, esportes, entretenimento etc.);

• planejar entrevistas com estudantes, professores ou especialistas em determinados temas, caso isso esteja previsto na pauta;

• decidir sobre o formato visual do telejornal (os cenários de filmagem, figurino dos apresentadores etc.);

• criar um cronograma de gravações e edição para cumprir os prazos.

O primeiro passo da produção é aprofundar os conhecimentos sobre os temas escolhidos para o telejornal. A equipe de roteiristas e repórteres deve buscar informações confiáveis e atualizadas.

Produzir

Nesta etapa, os grupos colocarão em prática o que foi planejado, dividindo o processo de produção em quatro partes: pesquisa, roteiro e ensaio, gravação e edição. Cada passo deve ser seguido de maneira organizada para garantir a qualidade do telejornal final.

Após a pesquisa, a equipe de roteiristas começa a estruturar o roteiro do telejornal, que servirá como guia para os apresentadores, repórteres e para a equipe técnica.

Para escrever o roteiro, o grupo deverá considerar a seguinte estrutura.

• O roteiro deve começar com a abertura do telejornal, incluindo uma saudação dos apresentadores, o nome do programa e uma breve menção aos principais temas que serão abordados.

• Divida o telejornal em blocos. Exemplo:

• Notícias gerais (atualidades, eventos da escola).

• Reportagens especiais (entrevistas com estudantes, professores ou especialistas).

• Bloco de cultura e entretenimento (lançamentos de filmes, séries, livros etc. que possam interessar aos estudantes, eventos culturais, entre outros).

• Bloco de esportes (resultados dos jogos escolares, campeonatos).

• Escreva o texto que os apresentadores e repórteres dirão. Lembre-se de que as falas devem ser claras, concisas e diretas.

Após finalizado o roteiro, os apresentadores e repórteres devem ensaiar suas falas. O ensaio ajuda a garantir que o tom seja natural e que as informações sejam comunicadas com clareza.

lABORATORIO DE PRODUÇÃO

Prosódia

Prosódia é o estudo das características rítmicas, de entonação e de intensidade na fala. Ela abrange elementos como o ritmo, a melodia e o volume da voz, que são usados para transmitir emoções, ênfases e intencionalidades diversas em nossa comunicação. Alguém que fala com uma voz mais alta e rápida pode estar demonstrando entusiasmo ou urgência, enquanto uma voz mais baixa e lenta pode sugerir tristeza ou seriedade. A prosódia é crucial porque adiciona nuances à linguagem falada, ajudando-nos a entender melhor o contexto emocional e as intencionalidades do discurso.

No contexto teatral, a prosódia é fundamental para a atuação, pois pode agregar emoção, intencionalidades e nuances ao texto, permitindo que os atores comuniquem efetivamente os sentimentos de seus personagens.

O exercício a seguir tem como objetivo explorar diferentes maneiras de usar a prosódia para enriquecer performances teatrais e poderá contribuir para a construção da fala no telejornal a ser produzido. Cada instrução deve ser realizada usando o mesmo texto, para que possam perceber como mudanças sutis na prosódia podem alterar significativamente a interpretação de uma fala. Leia, a seguir, a fala da personagem Duran, de Ópera do malandro, de Chico Buarque de Holanda, que será a base para as variadas prosódias.

DURAN – É isso mesmo, tem que dar um basta nessa malandragem! No dia em que todo brasileiro trabalhar o que eu trabalho, acaba a miséria.

BUARQUE, Chico. Ópera do malandro. São Paulo: Círculo do Livro, 1978. p. 27.

Não escreva no livro.

1. Diga a fala alterando a entonação em cada palavra, enfatizando palavras diferentes a cada vez, explorando diferentes emoções. Por exemplo, enfatizar mesmo pode transmitir certeza, enquanto enfatizar isso pode enfatizar a mensagem que será transmitida.

2. Repita a fala em três velocidades diferentes: lentamente para transmitir reflexão, em um ritmo médio para uma conversa casual e rapidamente, como se estivesse em um debate acalorado. Observe como o ritmo afeta a percepção da urgência ou importância do que está sendo dito.

3. Diga a fala com diferentes níveis de volume, começando muito baixo e aumentando gradualmente até um forte declamativo. Isso pode simular uma crescente intensidade emocional ou uma mudança na dinâmica da cena.

4. Use diferentes timbres de voz para dizer a frase, como uma voz nasalada, uma voz rouca, uma voz alegre e uma voz triste. Cada timbre pode trazer uma nova camada de sentido e emoção para a fala.

5. Combine dois ou mais elementos de prosódia – como ritmo e volume, ou entonação e timbre –para criar uma interpretação complexa da frase. Tente expressar uma emoção complexa, como frustração misturada com esperança, usando essas ferramentas.

A gravação é a fase em que todo o planejamento começa a se concretizar. A equipe técnica e os repórteres trabalharão juntos para garantir a captura de áudio e vídeo com qualidade.

• Defina o local das gravações. Pode ser em uma sala de aula, no auditório da escola ou em ambientes externos para reportagens de campo.

• A qualidade da imagem e do som é essencial. Utilize fontes de luz adicionais se o ambiente for escuro e procure captar o som sem ruídos.

• Filmar as falas dos apresentadores é a primeira tarefa. As gravações devem ser feitas em blocos curtos e revisadas logo após a gravação.

Além das falas e entrevistas, grave imagens de apoio que ilustrem o que está sendo falado (como imagens de eventos escolares, atividades em aula ou o ambiente da escola).

A edição é o passo final da produção e é onde tudo ganha forma. Os editores de vídeo trabalharão com o material gravado para montar o telejornal.

• Importe todas as filmagens para o software de edição.

• Corte as partes que não serão usadas e monte os blocos de notícias na ordem estabelecida pelo roteiro. Mantenha o ritmo da edição ágil e direto, para prender a atenção do público.

• Adicione a vinheta de abertura, os títulos das notícias, gráficos (como números e tabelas) e qualquer legenda necessária.

Depois de concluir a edição, reveja o telejornal com toda a equipe para garantir que tudo esteja adequado.

Com esses passos detalhados, a equipe estará pronta para finalizar a produção do telejornal e seguir para a etapa de compartilhamento.

Compartilhar

Após a conclusão da produção, o telejornal será exibido para a comunidade escolar.

Pode ser feita uma apresentação na escola. Nesse caso, a classe deve organizar uma sessão especial no auditório para transmitir o telejornal.

Pode também ser feita uma publicação on-line: postar o telejornal no canal de vídeos da escola ou nas redes sociais, alcançando um público maior.

PARA lER

KRENAK, Ailton et al Caixa de dramaturgias indígenas . São Paulo: n-1, 2023.

Essa caixa contém 11 dramaturgias criadas nos últimos anos por artistas indígenas ou em coautoria entre indígenas e parceiros não indígenas. Reunindo autores de várias regiões do Brasil, além de Chile e Argentina, a publicação mostra a pluralidade do teatro contemporâneo e dá voz àqueles que foram por muito tempo silenciados.

PARA OUVIR

ESCOLA DE ARTES CÉLIA HELENA. O teatro que vem . Brasil, c2024. Spotify: [Canal] Célia Helena. Disponível em: https://open.spotify.com/ show/6SyB7IeIowCM1mvYVwjmu1. Acesso em: 7 out. 2024.

Célia Helena é uma escola de artes referência no Brasil. Os episódios do podcast O teatro que vem abordam assuntos ligados às artes dramáticas. Contando com a colaboração de um time de professores, artistas e pesquisadores de ponta, os episódios reúnem entrevistas com grupos e personalidades relevantes para a compreensão do teatro brasileiro.

PARA ASSISTIR

TEATRO da Cia do Latão está no Paratodos: Paratodos. [S. l. : TV Brasil], 2014. 1 vídeo (26 min). Publicado pelo canal TV Brasil. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=Wgw7QEc3fm0. Acesso em: 30 set. 2024.

A revista digital Paratodos, da TV Brasil, apresenta um programa especial contando o percurso do grupo Companhia do Latão. O programa foi exibido em comemoração aos 17 anos de existência do grupo.

ELES não usam black-tie . Direção: Leon Hirszman. Brasil: Embrafilme, 1981. Streaming (123 min).

O filme faz uma adaptação da peça teatral de mesmo nome. Reconhecido por sua abordagem realista e engajada das questões sociais e políticas da classe trabalhadora, foi aclamado internacionalmente, tendo recebido, entre outros, o Prêmio Especial do Júri no Festival de Veneza em 1981, um dos mais prestigiados eventos do cinema mundial. Com Gianfrancesco Guarnieri e Fernanda Montenegro nos papéis de Otavio e Romana, o filme tornou-se icônico na cinematografia brasileira.

Pôster do filme Eles não usam black-tie.

Imagem da Caixa de dramaturgias indígenas

Capa do podcast O teatro que vem.

Banner da revista Paratodos.

A LUTA CONTÍNUA 9

1. a) No centro da imagem, uma mulher, caída e abatida, é amparada por duas personagens: à esquerda, outra mulher a segura no colo; à direita, uma criança coloca as mãos sobre ela, parecendo querer consolá-la. As mãos unidas na cabeça da mulher caída indicam essa relação de carinho e amparo, enfatizando a conexão emocional expressa na obra.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

A República Democrática do Congo (RDC) é rica no minério coltan, matéria-prima usada em chips de computador e telefones celulares.

A exploração desse minério, porém, está associada a uma guerra civil que já matou mais de 6 milhões de pessoas, 4 milhões delas, segundo a ONU, ligadas diretamente a disputas pelo controle de áreas de mineração. A pintura a seguir, do congolês Eddy Kamuanga Ilunga (1991-), refere-se a esse contexto. Observe.

ILUNGA, Eddy Kamuanga. Esqueça o passado e você perderá os dois olhos 2016. Acrílica e óleo sobre tela, 200 cm x 200 cm. October Gallery, Londres.

1. Observe as personagens e demais elementos que compõem a tela.

a) A s personagens mantêm um tipo de interação, de diálogo. Como ele está representado no quadro?

1. b) Espera-se que os estudantes identifiquem a referência a esses elementos culturais nos padrões e nas cores dos desenhos dos tecidos e nos arranjos de cabeça das personagens.

b) A pintura remete a alguns elementos constitutivos da arte e da cultura de alguns países da África. Que elementos da cultura africana podem ser identificados?

2. Os abundantes recursos da RDC são explorados por empresas de outros países e por grupos locais em conflito. Por isso, embora seja um país muito rico, a RDC tem uma das populações mais pobres: segundo o Banco Mundial, cerca de 74,6% da população da RDC vive com menos de 2,15 dólares por dia.

Não escreva no livro.

2. a) A relação entre corpo e minério, extraído da terra, sugere uma ligação profunda das pessoas com suas raízes, com seu território, mas também uma exploração de que a população local acaba dependente: sem essa exploração, não tem como sobreviver; sugere ainda que o coltan faz parte indissociável da vida dessas pessoas, seja por necessidade, seja pela violência que se associa à exploração do recurso e que contamina as vidas da população do lugar.

a) Na pintura, os corpos das personagens são formados por circuitos eletrônicos nos quais seriam utilizados o coltan . Que sentido seria possível atribuir a esse modo de representar o corpo?

b) O que sugere o título da obra?

Sugere que esquecer a história e a ancestralidade pode levar à perda da percepção crítica e da identidade cultural de um povo.

c) A obra Esqueça o passado e você perderá os dois olhos articula colonialismo, tradição e globalização. Como esses elementos estão presentes na tela?

Observe as pinturas a seguir, de Bertina Lopes (1924-2012), considerada a “mãe” dos artistas moçambicanos.

3. Espera-se que os estudantes identifiquem as formas geométricas que remetem a máscaras e o traje com ornamentos de palha, bem como o sol e as cores intensas.

LOPES, Bertina. Dimensão. 1972. Óleo sobre tela, 100 cm x 120 cm. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa.

LOPES, Bertina. Rais Antica 2: uma história verdadeira. 1972. Técnica mista sobre tela, 150 cm x 130 cm. Coleção particular.

3. Ambas as pinturas apresentam um pouco da obra de Bertina Lopes e sua relação íntima com a cultura moçambicana. Que elementos de cada pintura fazem referência à cultura moçambicana?

4. Bertina Lopes se destaca nas artes moçambicanas e africanas porque sua obra, ao mesmo tempo que dialoga com a arte moderna europeia, preserva a originalidade.

4. a) Os elementos geométricos que se afastam da mera figuração e a utilização de cores intensas.

a) Que elementos das pinturas remetem às vanguardas artísticas europeias?

b) Moçambique vivenciou décadas de conflitos que incluíram a luta pela independência em relação a Portugal e uma guerra civil. De que forma as pinturas dialogam com esse contexto?

4. b) A primeira pintura apresenta uma personagem que está com as mãos abertas, como se estivesse chamando a atenção ou se rendendo, o que remete a contextos de conflito. A segunda apresenta uma personagem que remete a um rei, já que a obra se chama Rais Antica, o que se refere a uma ideia de poder e luta.

As pinturas analisadas propõem um diálogo entre a modernidade e a tradição na África contemporânea. Assim como essas pinturas exploram a tensão entre as raízes culturais e os impactos da colonização, autores africanos de língua portuguesa frequentemente discutem a dualidade entre a preservação de tradições ancestrais e os desafios impostos pelo colonialismo e pela modernidade. Ambos os campos artísticos – pintura e literatura – compartilham a preocupação com a identidade e a memória cultural africanas, questionando como o passado e o presente se entrelaçam na construção de novas formas de ser e de narrar no mundo contemporâneo. A seguir, você vai conhecer mais sobre a literatura dos países lusófonos da África, que são: Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.

2. c) Na pintura, todos esses elementos estão representados: a tradição, na padronagem e nas cores de roupas e objetos, nos adornos de cabeça; o colonialismo, pela exploração tão violenta que altera os corpos, a identidade mesma das personagens; e a globalização, pelos circuitos que permitem a conexão global. A relação entre eles produz miséria e fragilidade de pessoas que parecem acuadas, tristes, submissas.

COLEÇÃO PARTICULAR
FUNDAÇÃO CALOUSTE GULBENKIAN, PORTUGAL

A luta continua

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Na história recente de Moçambique, o país vivenciou e ainda vivencia conflitos devastadores, que vão da Guerra de Independência e Guerra Civil até disputas com o autoproclamado Estado Islâmico. Nesses diferentes contextos, quem age e quem sofre as consequências de tantos confrontos é a população, que continua, no dia a dia, lutando por uma nova sociedade, por um futuro melhor. A literatura é veículo para o registro dos afetos e das histórias dessas pessoas.

Para discutir

1 Resgate de sua memória: você cultiva uma relação sentimental com algum lugar em que tenha mantido contato com a natureza de algum modo? Que lugar é esse? Qual é esse sentimento? Por que esse lugar produz esse sentimento em você?

2 Você sabe se esse lugar permanece do modo como você se lembra dele?

3 Quais seriam as consequências para a sociedade e para você caso esse lugar se transformasse por completo ou mesmo deixasse de existir?

Você vai ler a seguir um trecho do romance O último voo do flamingo, do escritor moçambicano Mia Couto. Sua obra dialoga com a de vários escritores brasileiros que têm a natureza como lugar de encantamentos, como Guimarães Rosa (1908-1967), e recorre a uma linguagem poética para narrar a relação do ser humano com seu espaço e com seus iguais. Leia agora um trecho do capítulo “A árvore do tamarindo” e observe como o autor relaciona a natureza às suas memórias.

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Texto

A árvore do tamarindo

Quem voa depois da morte? É a folha da árvore. Dito de Tizangara

Não resisti. Regressei à minha velha casa, e ali, sob a sombra do tamarindo, me deixei afogar em lembranças. Olhei a imensa copa e pensei: nunca fomos donos do tamarindo. Era o inverso, a árvore é que tinha a casa. Se estendia, soberana, pelo pátio, levantando o chão de cimento. Eu olhava aquele pavimento, assim enrugado pelas raízes, se erguendo em placas, e me parecia um réptil mudando de pele.

O tamarindo mais sua sombra: aquilo era feito para abraçar saudades; minha infância fazia ninho nessa árvore. Em minhas tardes de menino, eu subia ao último ramo como se em ombro de gigante e ficava cego para assuntos terrenos. Contemplava era o que no céu se cultiva: plantação de nuvem, rabisco de pássaro. E via os flamingos, setas rapidando-se furtivas pelos céus. Meu pai sentava em baixo, na curva das raízes, e apontava os pássaros:

#SOBRE Fotografia do escritor em 2011.

Um expoente da literatura africana, o moçambicano Mia Couto (1955-), biólogo de formação, é atualmente o escritor moçambicano mais traduzido no exterior. Suas obras foram publicadas em 24 países. Premiado internacionalmente, inclusive com o Prêmio Camões (2013) e com o Neustadt Prize (2014), Mia Couto já lançou mais de 30 livros entre prosa, poesia e literatura infantil. Seu romance Terra sonâmbula (1992) é considerado um dos dez melhores livros africanos do século XX.

lER O MUNDO
Não escreva no livro.

— Olha, lá vai mais outro!

O flamingo parecia retardar sua passagem. Depois, minha mãe nos chamava; a mim para baixo e a meu pai para dentro.

— Esse homem, esse homem — lamentava ela.

— Deixe o pai, mãe.

— É que eu carrego tão sozinha as nossas vidas!

Nem sempre meu velho se desocupara, assim, em vastas preguiças. Houve um tempo que ele labutava duro, trabalhara com bichos lá nos matos longínquos. Contudo, o trabalho não lhe fora leal. Antes e depois da Independência ele colhera vastas amarguras. Depois, se arrumara naquele torpor, parado na curva do rio. Para tristeza de minha mãe, que suspirava:

— Seu pai não tem comportamento.

O velho Sulplício desvalorizava: sua mãe é como o grilo — tem alergia a silêncios. E se enganava ao pensar que ele nada fazia. Porque ele, consoante anunciava, andava azafamado.

— Ando aprender a língua dos pássaros.

Ele gostava era do maduro da manga verde. O Sol, dizia, amadurece de noite. Que fazer? Há coisas que fazem o homem, outras fazem o humano. E suspirava: o tempo é o eterno construtor de antigamentes. Por exemplo, ele. De seu nome Sulplício. Erro de seu destino — tinha sido polícia em tempo dos colonos. Quando aconteceu a Independência ele foi prateleirado, entendido como um que traíra os seus da sua raça.

Foi quando chegou a Tizangara esse Estêvão Jonas. Trazia uma farda lá da guerrilha e as pessoas o olhavam como um pequeno deus. Saíra de sua terra para pegar em armas e combater os colonos. Minha mãe muito se simpatizou com ele. Na altura, dizem, ele não era como hoje. Era um homem que se entregava aos outros, capaz de outroísmos. Partira para além da fronteira sabendo que poderia nunca mais voltar. Ele levara uma mágoa, trouxera um sonho. E era um sonho de embelezar futuros, nenhuma pobreza teria mais esteira.

— Esse país vai ser grande.

Minha mãe se recordava de ele declamar essa esperança. Quando nasci, já meu pai deixara a polícia de caça. E já Estêvão Jonas deixara de sonhar em grandes futuros. Morrera o quê dentro dele? Com Estêvão se passou o seguinte: a sua vida esqueceu-se da sua palavra. O hoje comeu o ontem. Com meu pai passou-se o oposto — ele queria viver em nenhum tempo. O resto eu não podia entender. Meu pai saiu de casa ainda eu era menos que um menino. Mas ele não se retirou da vila. Ficou na margem, junto à curva do rio. No mesmo caniçal onde padre Muhando descobrira o seu lugar sagrado. Sempre que o encontrava, meu velho parecia distante. Ele se irreconhecia. Não suportava que lhe perguntassem sobre a sua disposição. Logo ele, amargo, culpando o mundo: — E a terra, a nossa terra, alguém já perguntou se ela se está sentindo bem?

Sulplício amava Tizangara com dedicação de filho. Com o alastrar da guerra muitos fugiram para a capital. Mesmo as autoridades escaparam para lugar seguro. Estêvão Jonas, por exemplo, se apressara em se refugiar na cidade grande. Ao contrário, meu pai sempre anunciou: só sairia do seu refúgio depois de os morcegos lhe abandonarem o telhado. Ele se colara às paredes como um musgo. Agora, sob a grande sombra do tamarindo, eu fechei os olhos e convoquei saudades. Me apareceu o quê? Um pátio, mas que não era aquele. Porque nesse terreiro havia uma criança. Nas mãos desse menino minha lembrança tocava umas tristezas, coisitas tiradas num lixo. Artes da meninice era fazer dessas coisas um brinquedo. Apetrechos de mago, ele convertia o cosmos num jogo de desmontar. E era qual esse brinquedo? Isso, em meu sonho, eu não conseguia distinguir. Apenas me surgia a enevoada memória da criança escondendo o brinquedo entre as raízes do tamarindo. […]

COUTO, Mia. O último voo do flamingo. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. E-book. Localizável em: cap. 15, § 1-18.

torpor: entorpecimento, insensibilidade.

azafamado: atarefado.

prateleirado: colocado em evidência ou esquecido.

caniçal: mata com caniços, plantas finas e alongadas próximas a regiões com água.

1. a) Como duraram muito tempo e foram decisivos para o destino político do país, espera-se que os estudantes reconheçam que são uma referência fundamental, já que podem ter interferido na vida de muitos moçambicanos, resultando em perdas, dificuldades, embates de toda ordem. Professor, seria oportuno remeter os estudantes à leitura do boxe sobre a Guerra de Independência e a Guerra Civil moçambicana e, se for do interesse da classe, orientá-los a pesquisar mais informações sobre esses conflitos na internet.

PENSAR E COMPARTIlHAR

1. b) Há indícios de que a guerra foi decisiva ao selar o destino do pai. Sulplício foi considerado traidor e, por isso, perdeu o cargo que tinha e vive melancólico, entender o que

Não escreva no livro.

1. O trecho que você leu tem como pano de fundo a Guerra de Independência e a Guerra Civil, ambas em Moçambique. Nas palavras do próprio autor,

O último voo do flamingo fala de uma perversa fabricação de ausência — a falta de uma terra toda inteira, um imenso rapto de esperança praticado pela ganância dos poderosos. O avanço desses comedores de nações obriga-nos a nós, escritores, a um crescente empenho moral. […]

Esse compromisso para com a minha terra e o meu tempo guiou não apenas este livro como os romances anteriores. Em todos eles me confrontei com os mesmos demônios e entendi inventar o mesmo território de afeto, onde seja possível refazer crenças e reparar o rasgão do luto em nossas vidas.

COUTO, Mia. O último voo do flamingo São Paulo: Companhia das Letras, 2016. E-book Localizável em: Palavras proferidas […], § 6-7.

a) Considerando o contexto das guerras (Guerra de Independência e Guerra Civil) e o depoimento de Mia Couto, que importância podem ter esses conflitos nas obras dos escritores moçambicanos? Formule uma hipótese.

1. d) A natureza passa a ser um lugar perigoso, hostil e mortal por causa da ação humana.

b) Como os reflexos das guerras atingem as personagens do trecho lido?

c) Releia: “— E a terra, a nossa terra, alguém já perguntou se ela se está sentindo bem?”. Que relação pode haver entre o contexto da guerra e essa pergunta de Sulplício?

d) Que consequências a existência de minas ocultas impõe à relação entre o ser humano e a natureza?

2. O trecho que você leu pertence ao décimo quinto capítulo do romance O último voo do flamingo. Cada capítulo se inicia com uma epígrafe que prepara o leitor para o conteúdo que será lido.

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a) As epígrafes do livro referem-se a ditos de Tizangara, a pequena cidade fictícia ao sul de Moçambique onde o enredo se desenvolve. Explique como essa escolha reforça a relação das personagens com sua terra.

b) A epígrafe do capítulo destaca um aspecto da natureza. Qual?

1. c) O personagem provavelmente se refere à devastação da terra, da natureza, de uma paisagem arrasada pelas muitas minas escondidas no território moçambicano. Terra também pode ser entendida como o lugar de um povo, o que estenderia a pergunta às pessoas que habitam essa terra.

A guerra de libertação de Moçambique

A Guerra de Independência de Moçambique (1964-1974) foi um conflito prolongado entre a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) e o governo colonial português. A Frelimo, criada em 1962, reuniu diversos grupos nacionalistas moçambicanos com o objetivo de pôr fim à dominação colonial e estabelecer um governo independente. O conflito começou em 1964, com ataques guerrilheiros organizados nas zonas rurais do norte do país, onde a frente encontrava apoio entre as populações locais.

Moçambicanos reúnem-se pela independência. Maputo (Moçambique), 1975.

Moçambique, com seus vastos recursos naturais e posição estratégica no sudeste da África, era visto como vital para os interesses coloniais, o que tornou a luta pela independência ainda mais prolongada. A Frelimo, liderada por Eduardo Mondlane e, após sua morte, por Samora Machel, adotou táticas de guerrilha e recebeu apoio de países africanos como a Tanzânia e a Zâmbia, além de ajuda militar de países do bloco socialista. A luta culminou com a assinatura dos Acordos de Lusaka, que resultaram na independência de Moçambique em 25 de junho de 1975 e na ascensão da Frelimo como o partido governante do novo Estado independente.

2. a) Os ditos populares traduzem a cultura profunda de uma região; dizem respeito não só a seus fazeres, seus costumes, sua paisagem mas também aos valores que sustenta.

2. b) Sua capacidade de regeneração: mesmo após a devastação, a natureza, aqui representada pelas folhas que voam, continua em movimento, seja no voo, seja no surgimento de uma nova vegetação.

SAIBA MAIS
JEAN-PAUL PAIREAULT/BRIDGEMAN IMAGES/FOTOARENA

4. b) Viver as lembranças provocava dores de tempos que não voltam mais e, em seu presente, amargava as consequências do que ocorreu durante a guerra, o que lhe retirava qualquer perspectiva de futuro.

9. a) “parecia um réptil mudando de pele.” Esse recurso faz com que o chão de cimento, construção humana, seja incorporado pela natureza, transformando-se em parte dela, em um animal.

6. b) De subir no pé de tamarindo; de seu pai e de brincar com ele, que ficava ao pé do tamarindo; de sua mãe e da rotina doméstica que ela estabelecia.

3. O trecho se organiza em três temporalidades distintas. Copie no caderno o organizador a seguir e destaque um acontecimento importante para cada temporalidade.

O presente do narrador A infância do narrador O pai na infância do narrador O passado do pai anterior às lembranças do narrador

Ele revisita a casa onde morou na infância.

Não entendia o pai à beira do rio e a mãe solitária.

Ficava na margem do rio, amargurado.

4. A f igura do pai é central nas lembranças da personagem.

a) Que consequências teve a guerra na vida do pai?

Polícia de caça antes da independência do país; depois, foi dispensado e considerado traidor.

Ele foi considerado traidor e ficou sem lugar social, sem identidade.

b) Releia: “ele [o pai] queria viver em nenhum tempo”. O que poderia justificar essa vontade do pai?

5. a) Do pai: trabalhar para sustentar a família; da mãe: cuidar de todo o resto – casa, filhos, marido.

5. O texto permite depreender como se apresentavam as configurações familiares em Moçambique no pós-guerras.

6. a) A visão de que ninguém possui a natureza ou é dono dela; ao contrário, ela é que é dona da gente, da vida. Dada a sua grandiosidade, tudo que fazemos é da natureza, nela se insere.

a) Quais eram as funções do pai na família? E da mãe?

b) O t recho deixa evidente que o pai abandonou suas funções, o que instala um conflito na vida familiar. Qual é ele? Esse é também o conflito do enredo?

5. b) A ausência do pai, incompreensível para o então menino, traz problemas para a vida familiar que são parte do enredo, ao lado da guerra, a qual provocou os transtornos que levaram o pai a se afastar da vida familiar.

c) Copie um trecho do texto que mostre que Sulplício não correspondia ao que se esperava dele como pai e marido.

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6. A presença da natureza no texto se dá primeiramente pela relação do narrador com o tamarindo.

6. c) A natureza que une pai e filho na maneira de olhar para a vida. Ambos partilham momentos lúdicos junto à natureza, contemplam pássaros e imaginam flamingos que se formam nas nuvens que se

a) O narrador afirma: “nunca fomos donos do tamarindo. Era o inverso, a árvore é que tinha a casa”. Que visão de natureza é possível se depreender com base nesse trecho?

b) O narrador escreve: “O tamarindo mais sua sombra: aquilo era feito para abraçar saudades; minha infância fazia ninho nessa árvore”. O que na infância lhe provoca saudades?

c) A n atureza tem papel importante no modo como o narrador estabelece a relação com o pai. Explique por quê.

5. c) Possibilidades: “— Esse homem, esse homem — lamentava ela.

— Deixe o pai, mãe. — É que eu carrego tão sozinha as nossas vidas!”

7. A presença da natureza no texto se dá também pela relação do pai com a paisagem e os seres da terra e do ar.

7. a) Tamarindo, flamingo, rio, pássaros, manga, sol, nuvem.

a) Quais?

b) O que essa relação revela sobre o pai?

c) A importância que a personagem do pai atribui à natureza pode estar sintetizada nesta frase: “— E a terra, a nossa terra, alguém já perguntou se ela se está sentindo bem?” No contexto de vida das personagens, por que a terra poderia não estar se sentindo bem?

7. b) Revela seu apego à terra, ao lugar onde vive. 8. b) Professor, considere as respostas e justificativas dos estudantes. O pai deixa de ocupar um lugar social – deixa de ser reconhecido como funcionário do governo, vê sua atuação ser considerada como traição, abandona o lar e deixa de ocupar um lugar de pai, o lugar que tem na família. O rio é essa falta de lugar, seu lugar nenhum, onde nada se fixa, tudo passa, é efêmero. 7. c) Porque foi devastada pela guerra, pelo ódio, pelas disputas, pela ingratidão.

8. O pai quer apaziguar seu conflito vivendo junto à natureza, na curva de um rio. O rio é uma metáfora recorrente na literatura e nas artes em geral, associado ao tempo que passa, ao efêmero.

a) No texto, a que tempo pode estar associado o rio?

b) O lugar que o pai ocupa pode ser considerado uma espécie de não lugar. Por quê?

“Meu pai saiu de casa ainda eu era menos que um menino. Mas ele não se retirou da vila. Ficou na margem, junto à curva do rio. […]. Sempre que o encontrava, meu velho parecia distante. Ele se irreconhecia.” movimentam no céu.

9. A linguagem literária é conotativa, polissêmica, ou seja, recorre a recursos expressivos que multiplicam sentidos, sugerem sensações, emoções.

a) Um desses recursos é o zoomorfismo, que consiste em atribuir características de animais a não animais. Copie um trecho em que esse recurso ocorre e explique que sentidos produz.

b) O t exto também cria uma comparação que usa o fitomorfismo para significar o apego do pai à terra e a tudo que ela representava. Copie o trecho em que aparece esse recurso e explique como registra o apego a Tizangara.

9. b) “Ele se colara às paredes como um musgo.” Compara a capacidade da planta de se fixar às paredes à teimosia férrea do pai em não sair de Tizangara. Convém lembrar que o musgo não possui raízes, mas rizoides – estruturas semelhantes às raízes.

8. a) Pode estar associado a tempo nenhum; também pode estar associado ao tempo que passa, transforma a vida e as pessoas. Professor, se for do interesse dos estudantes, proponha a leitura do conto “A terceira margem do rio”, de Guimarães Rosa, com o qual o texto pode dialogar: a história de um pai que se ausenta para morar em uma canoa no meio do rio. O endereço www.youtube.com/ watch?v=VnB_d17DoDo (acesso em: 3 out. 2024) dá acesso à interpretação integral do conto feita pelo ator Odilon Esteves (1978-).

10. a) Sulplício refere-se a suplício, uma punição, como aquela com que o pai convive constantemente ao amargar as consequências das guerras. 10. b) Rapidando-se (ficando rápidos); antigamentes (passados); prateleirado (colocado em evidência ou esquecido); irreconhecia (não reconhecia).

10. Mia Couto filia-se a uma tradição literária que trabalha a poeticidade do texto e de cada palavra que o compõe, de tal forma que, às vezes, uma palavra nova por ele criada soma sentidos à história.

11. b) O discurso de bom funcionário refere-se ao português colonizador e o de traidor, ao dos rebeldes que conseguiram a independência de Moçambique.

a) O nome do pai é um neologismo que amplia os sentidos da história. Considerando as reflexões já feitas sobre a personagem, como esse nome reforça os conflitos dela?

b) Identifique, no texto, outros neologismos e explique quais sentidos eles produzem.

11. Todo texto guarda marcas discursivas que reproduzem ou questionam valores estabelecidos.

a) A h istória do pai afetou sua própria vida e a de sua família. Que valores o texto afirma ao se referir a essa história?

b) Considerando o contexto de Moçambique já estudado, o conflito do pai reproduz o de quais grupos que lutavam nessas guerras?

c) Que valores o texto afirma por meio da ação do narrador?

Os valores da terra, da família, das vivências da infância.

Um texto, literário ou não, afirma ou nega valores. Dependendo do que nega ou afirma, filia-se discursivamente a outros discursos que circulam na sociedade. O registro de costumes, hierarquias, valores e tradições em um texto compõe uma argumentação que marca a defesa de um posicionamento de mundo.

HIPERlINK

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A partilha da África

SAARA OCIDENTAL

CABO VERDE

SENEGAL GÂMBIA

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EUROPA

ARGÉLIA MARROCOS

No final do século XIX, os países europeus viram na África importante fonte de recursos para abastecer a produção pós-Revolução Industrial e possibilidade de ampliação do mercado consumidor para seus produtos. Somavam-se a isso rivalidades políticas, interesse no fortalecimento de certas rotas marítimas para os países europeus e uma mentalidade racista que supostamente justificava a ocupação europeia.

MAURITÂNIA MALI BURKINA FASO

GUINÉ GUINÉ-BISSAU

BENIN TOGO GANA COSTA DO MARFIM LIBÉRIA SERRA LEOA

Equador

OCEANO ATLÂNTICO

Trópico de Capricórnio

Entre 1884 e 1885, representantes de países europeus se reuniram em Berlim para definir a partilha do continente africano, que foi dividido entre Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Inglaterra, Itália e Portugal. Estabelecendo fronteiras artificiais, sem respeitar as divisões étnicas e culturais que já existiam, impondo com violência sua cultura, sua língua, suas crenças, países europeus implantaram um projeto de exploração econômica que beneficiou as metrópoles, impôs mudanças culturais e sociais aos africanos e deixou

África: político

TUNÍSIA

Mar Mediterrâneo

EGITO LÍBIA

MARROCOS

SAARA OCIDENTAL

NÍGER

CABO VERDE

ARGÉLIA

SUDÃO

CHADE

MAURITÂNIA MALI

TUNÍSIA

Trópico de Câncer

ÁSIA

EGITO LÍBIA

DJIBUTI

NIGÉRIA

SENEGAL GÂMBIA

ETIÓPIA

GUINÉ GUINÉ-BISSAU

REP. CENTRO-AFRICANA

BURKINA FASO

SUDÃO DO SUL

CAMARÕES

GUINÉ EQUATORIAL

SERRA LEOA

GABÃO

SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

CONGO

NIGÉRIA BENIN TOGO GANA COSTA DO MARFIM LIBÉRIA

REPÚBLICA

DEMOCRÁTICA DO CONGO

ANGOLA

OCEANO ATLÂNTICO

NAMÍBIA

Trópico de Capricórnio

SOMÁLIA ERITREIA

UGANDA RUANDA BURUNDI QUÊNIA

ÁSIA

SUDÃO

CHADE CAMARÕES

GUINÉ EQUATORIAL

TANZÂNIA

SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

ZÂMBIA BOTSUANA

ZIMBÁBUE

NÍGER CONGO GABÃO

MALAUÍ

REP. CENTRO-AFRICANA

OCEANO ÍNDICO

SEICHELES

COMORES

SUDÃO DO SUL

UGANDA

REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO

MOÇAMBIQUE MADAGASCAR

ESSUATÍNI

LESOTO ÁFRICA DO SUL

ANGOLA

MAURÍCIO

NAMÍBIA

ZÂMBIA BOTSUANA

DJIBUTI

ETIÓPIA

SOMÁLIA ERITREIA

RUANDA BURUNDI QUÊNIA

TANZÂNIA

MALAUÍ

OCEANO ÍNDICO

SEICHELES

COMORES

MOÇAMBIQUE MADAGASCAR ZIMBÁBUE

ESSUATÍNI

LESOTO ÁFRICA DO SUL

MAURÍCIO

Elaborado com base em: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Atlas geográfico escolar : continentes e regiões do mundo: África. Rio de Janeiro: IBGE, [c2024]. Disponível em: https://atlasescolar.ibge.gov.br/continentes-e-regioes-domundo/2966-africa.html. Acesso em: 15 out. 2024.

algumas das sementes de conflito que frutificariam após os movimentos de independência no século XX. 1. O mapa que você observa neste boxe mostra as fronteiras dos países que ainda refletem arbitrariedades desse projeto de partilha europeu. Escreva no caderno o nome dos países marcados no mapa com as letras A, B, C, D e E, a capital e o ano de independência deles. Busque também conhecer as fronteiras estabelecidas pela Conferência de Berlim.

A – Cabo Verde, Praia (1975); B – Angola, Luanda (1975); C – Moçambique, Maputo (1975); D – Guiné-Bissau, Bissau (1973); E – São Tomé e Príncipe, São Tomé (1975).

11. a) Afirma o valor da paz, colocando-se contra a disseminação de conflitos, da guerra, do ódio. Sulplício era um funcionário dedicado enquanto policial. Essa dedicação, no entanto, lhe rende amarguras depois das guerras, pois percebe o quanto assume para si o discurso dos outros de traidor.

Meridiano de Greenwich
Trópico de Câncer

A luta, sempre a luta

X DA QUESTÃO

A literatura africana em língua portuguesa é fundamental para o entendimento das complexas relações históricas, culturais e sociais do continente africano, em países como Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. Essas obras não apenas retratam as experiências de colonialismo e as lutas pela independência mas também exploram os desafios pós-coloniais, como a reconstrução das nações, os conflitos internos e a busca por identidades próprias.

Além disso, a literatura africana lusófona desempenha um papel muito importante na preservação e reinvenção de tradições orais, mitos e cosmogonias locais, trazendo à tona narrativas que resgatam a memória cultural e questionam as imposições coloniais.

Para lembrar

1 Portugal, ao longo dos séculos, dominou, explorou por meio da violência, da opressão, diversos países que considerava suas colônias e dos quais extraía riquezas para seu sustento. Relembre o contexto de Portugal no século XX. Que episódios foram fundamentais para desestabilizar o país?

Para discutir

1 O que você conhece sobre Angola, sua história e sua cultura? Compartilhe com os colegas.

2 A Guerra de Independência de Angola foi uma luta que resultou em muitas mortes e em um país dividido. De que forma a literatura pode dialogar com um contexto de conflito como esse? Formule uma hipótese.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

O romance Mayombe (1980), do escritor angolano Pepetela, retrata o contexto da luta pela independência de Angola contra o colonialismo português. Ambientada nas florestas densas do Mayombe, a história acompanha um grupo de guerrilheiros do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) em sua resistência contra o poder colonial, explorando tanto os conflitos externos com o inimigo quanto as tensões internas entre os próprios combatentes, que enfrentam questões de etnia, identidade e ideologia. No trecho aqui reproduzido, os guerrilheiros tinham acabado de destruir um acampamento de extração de madeira que explorava a floresta para os portugueses; os trabalhadores haviam sido feitos prisioneiros.

Texto

Eu, o narrador, sou milagre.

Nasci em Quibaxe, região kimbundo, como o Comissário e o Chefe de Operações, que são dali próximo.

O
Não escreva no livro.

A minha terra é rica em café, mas o meu pai sempre foi um pobre camponês. E eu só fiz a Primeira Classe, o resto aprendi aqui, na Revolução. […]

E agora o Lutamos fala aos trabalhadores. Talvez explique que os quis avisar antes, mas que foi descoberto. E deixam-no falar! […]

E eu fugi de Angola com a mãe. Era um miúdo. Fui para Kinshasa. Depois vim para o MPLA, chamado pelo meu tio, que era dirigente. Na altura! Hoje não é, foi expulso. O MPLA expulsa os melhores, só porque eles se não deixam dominar pelos kikongos que o invadiram. Pobre MPLA! Só na Primeira Região ele ainda é o mesmo, o movimento de vanguarda. E nós, os da Primeira Região, forçados a fazer a guerra aqui, numa região alheia, onde não falam a nossa língua, onde o povo é contrarrevolucionário, e nós que fazemos aqui? Pobre MPLA, longe da nossa Região, não pode dar nada!

Caminharam toda a tarde, subindo o Lombe. Pararam às cinco horas, para procurarem lenha seca e prepararem o acampamento: às seis horas, no Mayombe, era noite escura e não se poderia avançar.

A refeição foi comum: arroz com feijão e depois peixe, que Lutamos e um trabalhador apanharam no Lombe. Os trabalhadores não tentavam fugir, se bem que mil ocasiões se tivessem apresentado durante a marcha. Sobretudo quando Milagre caiu com a bazuka e os guerrilheiros vieram ver o que se passara; alguns trabalhadores tinham ficado isolados e sentaram-se, à espera dos combatentes, sem escaparem. A confiança provocava conversas animadas.

Aproveitando algumas informações colhidas, o Comissário falou para os trabalhadores, enquanto os garfos levavam o arroz com feijão ao seu destino.

— Vocês ganham vinte escudos por dia, para abaterem as árvores a machado, marcharem, marcharem, carregarem pesos. O motorista ganha cinquenta escudos por dia, por trabalhar com a serra. Mas quantas árvores abate por dia a vossa equipa? Umas trinta. E quanto ganha o patrão por cada árvore? Um dinheirão. O que é que o patrão faz para ganhar esse dinheiro? Nada, nada. Mas é ele que ganha. E o machado com que vocês trabalham nem sequer é dele. É vosso, que o compram na cantina por setenta escudos. E a catana é dele? Não, vocês compram-na por cinquenta escudos. Quer dizer, nem os instrumentos com que vocês trabalham pertencem ao patrão. Vocês são obrigados a comprá-los, são descontados do vosso salário no fim do mês. As árvores são do patrão? Não. São vossas, são nossas, porque estão na terra angolana. Os machados e as catanas são do patrão? Não, são vossos. O suor do trabalho é do patrão? Não, é vosso, pois são vocês que trabalham. Então, como é que ele ganha muitos contos por dia e a vocês dá vinte escudos? Com que direito? Isso é exploração colonialista. O que trabalha está a arranjar riqueza para o estrangeiro, que não trabalha. O patrão tem a força do lado dele, tem o exército, a polícia, a administração. É com essa força que ele vos obriga a trabalhar, para ele enriquecer. Fizemos bem ou não em destruir o buldózer?

— Fizeram bem – responderam os trabalhadores.

— E esta serra mecânica, a quem é que ela pertence verdadeiramente? O patrão comprou-a aos alemães, mas onde arranjou dinheiro para comprá-la? Quem explorou ele para comprar esta serra? Respondam.

— Aos trabalhadores – respondeu o jovem António.

— Esta serra pertence-vos, pertence ao povo. Por isso não pode voltar para o colonialista. A gente dava-a a vocês, porque é vossa, mas que vão fazer com ela? Podem vendê-la? Podem utilizá-la?

— Não. É melhor levarem a serra — respondeu o trabalhador mais velho, o que tinha as pernas tortas. — Nós não podemos utilizar isso.

— O que é vosso, os machados, as catanas, os canivetes, os relógios, o dinheiro, tudo o que é vosso, vocês vão levar convosco. E vão levar os machados e catanas dos que fugiram, para lhes entregar. Mas o que é do colonialista fica connosco. […] Não somos bandidos. Somos soldados que estamos a lutar para que as árvores que vocês abatem sirvam o povo e não o estrangeiro. Estamos a lutar para que o petróleo de Cabinda sirva para enriquecer o povo e não os americanos. Mas como nós lutamos contra os colonialistas, e como os colonialistas sabem que, com a nossa vitória, eles perderão as riquezas que roubam ao povo, então eles dizem que somos bandidos, para que o povo tenha medo de nós e nos denuncie ao exército.

A conversa prolongava-se, ora em português com o Comissário e Teoria, ora em fiote com Lutamos. Os trabalhadores contaram o que sabiam dos quartéis da Região, das condições de vida, do que pensavam as populações. Sem Medo escutava, mas estava também atento aos comentários do resto dos guerrilheiros. Estes dividiam-se grosso modo em dois grupos: os kimbundos, à volta do Chefe de Operações, e o grupo dos outros, os que não eram kimbundos, os kikongos, umbundos e destribalizados como o Muatiânvua, filho de pai umbundo e mãe kimbundo, nascido na Lunda. Mundo Novo era de Luanda, de origem kimbundo, mas os estudos ou talvez a permanência na Europa tinham-no libertado do tribalismo.

PEPETELA. Mayombe. São Paulo: Leya, 2013. p. 34-36.

miúdo: menino.

Kinshasa: capital da República Democrática do Congo.

kikongo: etnia do norte de Angola. Lombe: rio de Angola.

catana: tipo de espada pequena.

buldózer: tipo de trator.

fiote: termo pejorativo para se referir à língua ibinda, falada no norte de Angola.

kimbundo: etnia do noroeste de Angola.

umbundo: etnia da zona central de Angola.

Luanda: capital de Angola.

#SOBRE

Fotografia do autor em 2010.

Pepetela (1941-), pseudônimo de Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, é um dos mais renomados escritores angolanos. Participou ativamente da luta de libertação de Angola contra o domínio colonial português, como membro do MPLA. Essa experiência marcante permeia muitas de suas obras, que refletem as transformações vividas por Angola ao longo do tempo. Formado em Sociologia pela Universidade de Argel (Argélia), Pepetela também foi professor na Universidade Agostinho Neto, em Luanda (Angola). Recebeu diversos prêmios por sua obra, sendo o mais notável o Prêmio Camões em 1997, o maior reconhecimento da literatura de língua portuguesa. Entre as principais obras de Pepetela, destacam-se, além de Mayombe, Yaka (1984), que narra a história de Angola desde o século XIX até a independência, acompanhando uma família de colonos portugueses e suas interações com os povos angolanos. Por fim, A geração da utopia (1992) aborda as decepções do período pós-independência, contando a história de um grupo de amigos que, após a luta pela liberdade, enfrentam os desafios de uma Angola marcada pela guerra civil e pela corrupção.

PENSAR E COMPARTIlHAR

1. Leia o trecho a seguir, sobre o contexto de escrita de Mayombe

1. Espera-se que os estudantes identifiquem que, embora ocorra uma ação dos guerrilheiros, ainda há tempo para conversa, discussões sobre os caminhos da

Pepetela começou a rascunhar as primeiras linhas do romance em 1969, encerrando-o em 1971. ‘Nós estamos num contexto histórico bastante conturbado’, explica o professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP Mário César Lugarinho. ‘Desde 1961’, conta o professor, ‘se iniciou a guerra de independência, tendo o exército português tentado manter a condição colonial angolana e os vários movimentos, especialmente o MPLA e a União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita), lutado pela independência.’

Durante o período de escrita da obra, a guerra vivia um momento de paralisia, como se os dois lados estivessem ganhando, afirma Lugarinho. ‘Parece que não há ações bélicas acontecendo, apesar de haver alguns ataques por parte dos guerrilheiros ou do exército português. É como se fosse uma guerra congelada, há muito tempo para conversa durante a narrativa […].’

PRADO, Luiz. Em “Mayombe”, selva faz surgir o “homem novo” angolano. Jornal da USP, São Paulo, 11 out. 2018. Localizável em: § 2-3. Disponível em: https://jornal.usp.br/cultura/em-mayombe-selva-e-lugar-para-o-surgimento-do-homem-novo-e-daangola-independente/. Acesso em: 3 out. 2024.

• A f ala de Mário César Lugarinho apresenta alguns elementos do contexto da guerra durante o qual o romance foi escrito. Explique como o trecho lido de Mayombe representa esse momento de paralisia.

A Guerra de Independência de Angola

A Guerra de Independência de Angola (1961-1975) foi um marco decisivo na luta do povo angolano contra décadas de exploração colonial. Movimentos como o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e a União Nacional para a Independência Total de Angola (Unita) lideraram a resistência, cada um representando diferentes regiões e ideologias do país. O conflito começou em 1961, com revoltas populares e ações de guerrilha, que expressavam o descontentamento generalizado com as condições de vida, a exploração dos recursos naturais e a repressão brutal enfrentada pelos angolanos. Ao longo de 14 anos, os angolanos enfrentaram não apenas o poderio militar português mas também desafios internos, como a falta de coesão entre os diferentes grupos de resistência. A independência foi finalmente conquistada em 11 de novembro de 1975, um evento que marcou o fim da era colonial e o início de uma nova fase para Angola.

Manifestação comemorativa da independência de Angola. Fotografia de 1975.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

2. O colonialismo é uma prática e postura de domínio territorial, cultural e econômico de uma nação sobre outra. Leia o trecho a seguir, que apresenta mais sobre o colonialismo, de acordo com um de seus maiores teóricos, o poeta e político Aimé Césaire (1913-2008), da Martinica, colônia francesa. […] a colonização, repito, desumaniza até o homem mais civilizado; que a ação colonial, a empresa colonial, a conquista colonial fundada no desprezo pelo homem indígena e justificada por esse desprezo, tende, inevitavelmente, a modificar a quem a empreende; que o colonizador, para se dar boa consciência se habitua a ver no outro o animal, se exercita a tratá-lo como animal, tende objetivamente a transformar-se, ele próprio, em animal. […].

CÉSAIRE, Aimé. Discurso sobre o colonialismo. Tradução: Noémia de Sousa. Lisboa: Sá da Costa, 1978. p. 23-24.

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SAIBA MAIS

2. a) Espera-se que os estudantes relacionem essa postura colonialista principalmente ao contexto da escravidão de negros no Brasil e à postura de extermínio étnico e cultural de indígenas.

2. b) Configura-se como uma postura colonial a descrição da exploração do trabalho em regime análogo à escravidão, pois as pessoas têm que trabalhar para o colonizador para pagar a ele por seus instrumentos de trabalho.

a) O Brasil também foi colônia de Portugal. Considere seu conhecimento sobre a história do país: quais posturas podem ser consideradas uma expressão evidente dessa animalização do colonizador?

b) Com base no trecho de Mayombe , explique como se evidencia essa postura colonialista em Angola.

c) No trecho, as ações das personagens mostram uma forma de resistência e luta contra o colonialismo. Como os combatentes pretendem enfrentar a exploração colonialista?

3. Toda a ação do romance de Pepetela se passa na floresta do Mayombe, que se estende por Angola, República do Congo, República Democrática do Congo e Gabão.

a) E xplique como a floresta atua de forma a intensificar o conflito da narrativa.

2. c) No trecho, os combatentes agem para tomar a terra e os meios de produção a fim de se libertarem do colonialismo.

b) Mayombe é uma floresta que atravessa vários países, mas que, no romance, é considerada território de Portugal. Com base no trecho, explique de quem seriam, de acordo com os combatentes, as riquezas do Mayombe e as demais riquezas da terra.

3. b) O trecho defende que tanto Mayombe quanto o petróleo seriam do povo e deveriam ser explorados pelo povo, e não pelo colonizador.

4. Para além da questão da colonização, há também um conflito de classes que se configura no romance e que dialoga com o contexto da Guerra Fria.

4. a) Como uma catana custa 50 escudos e o trabalhador ganha 20 escudos por dia, deveria trabalhar dois dias e meio para conseguir comprar a catana e poder continuar

a) De acordo com o trecho, quanto um trabalhador teria de trabalhar para conseguir adquirir uma catana para poder continuar trabalhando?

b) No sistema capitalista, a burguesia é a classe social que detém os meios de produção, isto é, que tem os equipamentos usados na produção. O proletariado seria composto daqueles que trabalham para o burguês vendendo sua mão de obra. Essa lógica capitalista, no romance, é muito mais complexa e perversa. Explique por quê.

3. a) A floresta é o espaço em que os guerrilheiros se escondem, mas também é o espaço em que é possível identificar, no acampamento de trabalhadores em regime

c) É possível entender, no trecho, um conflito que opõe a lógica capitalista, que defende a exploração da mão de obra dos que não detêm os meios de produção, à lógica comunista, que defende coletivizar os meios de produção e distribuir de maneira mais igualitária os lucros. Que relação esse conflito teria com a Guerra Fria (1950-1990)? Que países apoiariam os combatentes representados no trecho de Mayombe?

análogo à escravidão, uma manifestação da exploração colonialista. trabalhando.

5. Os trabalhadores da extração de madeira do Mayombe são feitos de prisioneiros pelos guerrilheiros que lutam pela independência.

5. a) Os trabalhadores são feitos de prisioneiros para não denunciarem aos portugueses a localização nem os danos promovidos pelos guerrilheiros ao acampamento extrativista e também para serem conscientizados.

a) O que justifica esse aprisionamento de civis?

b) N o trecho, o Comissário faz um longo e didático discurso para os trabalhadores aprisionados. Qual é a função desse discurso?

5. b) O discurso do Comissário tem como objetivo conscientizar os trabalhadores de como são explorados para que sejam simpáticos e engajados com a causa da luta pela independência.

A Guerra Civil de Angola

A Guerra Civil de Angola (1975-2002) foi um dos conflitos mais prolongados e devastadores da África, que eclodiu logo após a independência. O conflito envolveu três principais movimentos de libertação: o MPLA, apoiado pela União Soviética e por Cuba; a Unita, apoiada pelos Estados Unidos e pela África do Sul; e a FNLA. A guerra foi intensificada pelo contexto da Guerra Fria, com potências estrangeiras financiando facções rivais. O MPLA assumiu o controle da capital, Luanda, estabelecendo um governo, mas enfrentou forte resistência da Unita, que dominava áreas rurais ao sul e centro do país. Estima-se que o conflito tenha resultado na morte de aproximadamente 500 mil pessoas e no deslocamento de cerca de 4 milhões de angolanos, agravando a destruição do país. A disputa pelo controle das riquezas naturais, como petróleo e diamantes, também contribuiu para a prolongada violência. O fim da guerra veio em 2002, após a assinatura de um acordo de cessar-fogo entre o governo e a Unita.

4. b) No romance, o colonizador não é um mero burguês que detém os meios de produção: ele faz com que o proletariado gaste com a compra dos meios de produção e assim fica tanto com o lucro da venda do equipamento, quanto com a exploração do trabalho e o lucro obtido do produto final.

Limpeza de minas terrestres. Xangongo (Angola), 1992.

4. c) A Guerra Fria opôs dois blocos, um deles liderado pelos Estados Unidos, que defendia (e ainda defende) uma lógica capitalista, e outro pela então União Soviética (URSS), que defendia o comunismo. Os países do bloco comunista, como China, Cuba, entre outros, defenderiam os combatentes.

SAIBA MAIS

6. a) Os portugueses disseminavam a ideia de que os revolucionários seriam bandidos que estariam em busca de destruição e de se apossar dos bens alheios.

6. b) Evita-se a atribuição aos portugueses das características de exploração e apropriação do bem alheio, já que os portugueses estariam explorando uma terra que não seria deles, sem a devida e justa remuneração para os angolanos.

6. Uma prática recorrente de Portugal contra os movimentos de independência nas colônias africanas foi a disseminação de um contradiscurso revolucionário.

a) Em que consistia esse contradiscurso?

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

b) Todo contradiscurso subverte um discurso anterior, apresentando seu oposto. Que imagem dos portugueses é evitada com a produção desse contradiscurso?

7. Com o aprisionamento dos trabalhadores, os guerrilheiros procuram por algumas informações. Copie o organizador a seguir no caderno e complete-o com as informações pedidas.

Informações sobre os quartéis e onde estariam os portugueses.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

8. a) No trecho, há um evidente conflito e preconceitos entre kikongos, kimbundos, umbundos na disputa por poder e nas práticas revolucionárias.

Informações sobre os portugueses

Informações sobre a população

Informações sobre o que o povo pensa sobre os guerrilheiros, o quanto seriam favoráveis à causa.

8. Os países europeus, ao tomar posse de colônias na África, agruparam em um mesmo território etnias que seriam originariamente rivais. Leia o trecho a seguir sobre a lógica do tribalismo presente em Angola, mesmo depois da independência.

‘O que é ser esse homem novo?’, questiona Lugarinho. ‘É ser um indivíduo capaz de descobrir uma nova dimensão na relação entre seres humanos, não mais estabelecidas por uma hierarquia baseada numa tradição. E que tradição é essa? No caso de Angola, é o tribalismo, as tradições que mantiveram os vários grupos étnicos que formavam a população angolana separados e lutando, completamente desarticulados, contra os portugueses. Ser esse homem novo é descobrir a sua condição de angolano, superando e ultrapassando quaisquer traços daquilo que se denomina tribalismo.’

PRADO, Luiz. Em “Mayombe”, selva faz surgir o “homem novo” angolano. Jornal da USP, São Paulo, 11 out. 2018. Localizável em: § 15. Disponível em: https://jornal.usp.br/cultura/em-mayombe-selva-e-lugar-para-o-surgimentodo-homem-novo-e-da-angola-independente/. Acesso em: 3 out. 2024.

a) E xplique como a lógica do tribalismo se mostra presente nas relações entre as personagens.

b) Que consequências é possível prever com base na permanência do tribalismo que o trecho de Mayombe mostra existir entre os angolanos?

Espera-se que os estudantes relacionem o tribalismo com os conflitos políticos de Angola que vão provocar a Guerra Civil, com a disputa pelo poder político do país.

Literatura lusófona no Timor-Leste

As experiências literárias em língua portuguesa no Timor-Leste, ex-colônia asiática de Portugal, refletem a complexa história de colonização, resistência e reconstrução do país. Durante a colonização portuguesa, a produção literária foi limitada, mas após a independência, em 2002, escritores timorenses passaram a usar o português como uma forma de reafirmação identitária e cultural, preservando um laço com o passado colonial. Autores como Luís Cardoso (1958-) exploram temas relacionados à luta pela liberdade, à identidade nacional e à memória coletiva. Ao combinarem a herança lusófona com influências locais, criam uma literatura rica em simbolismos, marcada pela busca de autonomia e afirmação cultural. Destacam-se Crônica de uma travessia: a época do ai-dik funam (1997), A última morte do coronel Santiago (2003), Para onde vão os gatos quando morrem? (2017) e O plantador de abóboras (2020).

SAIBA MAIS

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A poesia lusófona da África

A poesia lusófona da África emergiu como uma poderosa expressão das experiências coloniais, das lutas pela independência e da reconstrução cultural dos países de língua portuguesa.

Entre os principais autores que marcaram esse cenário, destaca-se o angolano Agostinho Neto (1922-1979), que, além de líder revolucionário, utilizou sua poesia para denunciar a opressão colonial e sonhar com uma nação livre. Sua obra, como em Sagrada esperança (1974), reflete a dor e a esperança da luta angolana.

Em Moçambique, José Craveirinha (1922-2003) é conhecido como “o poeta nacional”. Sua poesia mescla influências africanas e portuguesas, celebrando a resistência e a identidade moçambicana. Seu livro Karingana ua karingana (1974) tornou-se um ícone da poesia de luta anticolonial.

Outros dois importantes nomes da poesia lusófona africana são as poetas

Fotografia de Agostinho Neto em 1973.

Alda Lara e Noémia de Sousa. Alda Lara (1930-1962), angolana, ficou conhecida por sua sensibilidade ao tratar da pobreza e das injustiças sociais em suas obras, como em Poemas (1966), enquanto Noémia de Sousa (1926-2002), moçambicana, é uma das vozes femininas mais poderosas da literatura africana de língua portuguesa. Seus poemas, reunidos na obra Sangue negro (1951), expressam a dor e a raiva contra o colonialismo, destacando também a importância da mulher africana na resistência. A produção poética desses autores tem em comum a ligação com a história de seus países e a busca pela valorização de suas culturas e identidades.

Em Cabo Verde, Jorge Barbosa (1902-1971) é um dos fundadores do movimento Claridade, que trouxe à tona questões de identidade e cultura cabo-verdiana em obras como Arquipélago (1935), em que explora as dificuldades de viver em um arquipélago isolado, marcado pela seca e pela emigração.

Na Guiné-Bissau, o poeta e político Amílcar Cabral (1924-1923), embora mais conhecido por sua liderança na luta pela independência, também escreveu poemas que exaltavam a luta e a esperança do povo guineense. Já em São Tomé e Príncipe, Francisco José Tenreiro (1921-1963), em obras como Ilha de Nome Santo (1942), usou sua poesia para explorar a realidade do arquipélago, abordando temas como a mestiçagem e a condição de insularidade.

1. Agora é sua vez de conhecer mais sobre as poéticas africanas em língua portuguesa. Procure por poemas dos autores destacados em sites confiáveis. Depois, discuta com colegas em sala sobre os seguintes aspectos do poema escolhido:

• recursos estéticos;

• estrutura dos poemas;

• temas recorrentes;

• relação com o contexto em que foi produzido.

HIPERlINK
Não escreva no livro.
DANIEL BUENO

O colonialismo

Entre o início do século XV até meados do século XX, Portugal manteve seu domínio sobre Angola , Moçambique , Guiné-Bissau , Cabo Verde e São Tomé e Príncipe . Interessado no comércio de especiarias e metais preciosos e, principalmente, no tráfico de escravos, o projeto colonial português se consolidou com a exploração de recursos naturais e a subordinação das populações africanas aos interesses econômicos e políticos de Portugal. Esse colonialismo foi marcado por uma brutal opressão e pelo atraso no reconhecimento dos direitos e das aspirações das populações africanas. Em comparação com outras potências coloniais, Portugal tardou em conceder qualquer tipo de autonomia ou desenvolvimento às suas colônias, mantendo uma rígida estrutura de controle e segregação. Os povos colonizados sofreram com a imposição da língua e da cultura portuguesa, a expropriação de suas terras e a exploração do trabalho.

Soldados portugueses durante a Revolução dos Cravos. Lisboa (Portugal), 1974.

As guerras de independência

Sob a ditadura de António Salazar entre 1933 e 1974, Portugal se recusava a abandonar seu império, tratando as colônias como “províncias ultramarinas” e reprimindo qualquer tentativa de movimento anticolonial. Após a Segunda Guerra, o enfraquecimento das potências coloniais europeias e o crescente apoio às lutas de libertação, especialmente pela União Soviética e pelos Estados Unidos, no contexto da Guerra Fria, criaram um ambiente favorável para as lutas anticoloniais. Além disso, a conquista da independência por outras nações africanas, como Gana, em 1957, inspirou líderes africanos nas colônias portuguesas a organizar seus próprios movimentos de libertação.

A Revolução dos Cravos, em 1974, foi decisiva para a vitória das lutas de independência, já que o governo instaurado após o fim da ditadura de Salazar reconheceu a inviabilidade de manter o império colonial e negociou a independência das colônias africanas em 1975.

O presente e o futuro das ex-colônias portuguesas

O contexto contemporâneo das ex-colônias africanas de Portugal é marcado por desafios estruturais herdados do colonialismo e das guerras civis, que convivem com avanços e promessas de futuro. A corrupção, o clientelismo político e a fragilidade institucional são obstáculos persistentes. As perspectivas de futuro nesses países estão ligadas à capacidade de diversificar suas economias, promover reformas políticas que fortaleçam as instituições democráticas e implementar políticas públicas que atendam às necessidades da população. Dependem também da resolução de conflitos latentes e da capacidade de transformar riquezas naturais em crescimento sustentável e distribuição equitativa dos benefícios.

CLAUDE FRANCOLON/GAMMA-RAPHO/GETTY IMAGES

Opressão, independência, reconstrução

A literatura lusófona da África que emergiu no contexto de colonização portuguesa deu expressão literária à resistência contra o colonialismo e à busca por uma voz própria, que refletisse as culturas e vivências locais. Se um dia foi permeável à influência das formas europeias, a literatura africana em português passou a incorporar, sobretudo a partir de meados do século XX, elementos da tradição oral, das culturas indígenas e da realidade social das colônias.

Em Angola, a literatura de prosa e poesia ganhou força a partir da década de 1950, com autores que, além de escritores, também se envolveram na luta pela independência, como Agostinho Neto, primeiro presidente de Angola, e José Luandino Vieira (1935-), cujas narrativas exploram a vida nas favelas de Luanda e o impacto da colonização.

Em Moçambique, com uma literatura profundamente vinculada ao contexto de luta pela independência, a poesia de José Craveirinha (1922-2003) se destaca pelo uso da linguagem simbólica para falar das injustiças do colonialismo e da resistência moçambicana. Mia Couto, um dos mais conhecidos autores do país, destaca tradições locais em narrativas marcadas pelo realismo mágico.

Em São Tomé e Príncipe, o poeta e ensaísta Francisco José Tenreiro (1921-1963) explorou temas como a mestiçagem, as injustiças sociais vividas sob o colonialismo.

Em Cabo Verde, a literatura tem raízes no movimento Claridade, iniciado nos anos 1930, que buscava uma identidade literária própria, distinta da herança colonial. A poesia de Jorge Barbosa (1902-1971) destaca as dificuldades da vida no arquipélago, a seca e a emigração. A literatura cabo-verdiana, em geral, aborda as questões do isolamento geográfico e da diáspora, além da luta contra a pobreza e a busca por identidade.

Na literatura da Guiné-Bissau, a poesia de Amílcar Cabral (1924-1973) exalta a luta pela independência e o orgulho africano. Na prosa, Abdulai Sila se destacou com romances como Eterna paixão (1994), considerado o primeiro romance guineense, e Mistida (1997) – ambos abordam as tensões sociais e políticas do país pós-independência.

A pintura densamente povoada confronta seres humanos com figuras místicas. Algumas delas têm sangue escorrendo de suas presas, provavelmente evocando o inferno sobre a Terra.

NGWENYA, Malangatana. Juízo final. 1961. Óleo sobre tela, 120,5 cm x 148,5 cm. Galeria Museu Hloyasi, Maputo.

lER lITERATURA

Literatura e História

Literatura e História, esses dois imensos campos do conhecimento humano, são, é claro, domínios muito distintos: a História busca, adotando métodos rigorosos de pesquisa, recuperar o passado e as vidas que o habitaram, seus pontos de vista, os recursos materiais e imateriais com que contavam; a Literatura é o espaço da imaginação, da criação potencializada pelos recursos expressivos da linguagem e, assim, um lugar garantido para a invenção de mundos que existem ou que não existem.

Mas, ainda que aberta à invenção, a literatura não vive nem se movimenta no vazio: ela é produzida em dado tempo e lugar e será sempre valorada porque é atravessada pela tensão que coloca em confronto, em qualquer tempo histórico, visões, posições distintas. Como lembra o filósofo russo Mikhail Bakhtin (1895-1975), todo discurso – o literário inclusive – é uma construção social que só pode ser analisada considerando seu contexto histórico-social, suas condições de produção, já que reflete e refrata uma visão de mundo. É notável, por exemplo, que a ficção africana dos anos 1980 esteja tão profundamente marcada pelos ecos das guerras de libertação, que aconteceram entre as décadas de 1960 e 1970. Decisiva para o destino do povo angolano, a guerra anticolonialista está representada em Mayombe , romance que mostra também os conflitos que dividiam as diferentes tribos angolanas. Assim o conhecimento do tempo histórico, aliado à análise dos recursos expressivos de um texto, pode iluminar de sentido uma dada produção.

Ma s o leitor também tem sua história, estando situado em um tempo-espaço sujeito às tensões sociais e ideológicas próprias de qualquer tempo. Essa condição coloca a História como parte integrante da obra, do leitor e da leitura que ele faz. Com o cuidado de não querer enxergar em obras do passado as condições do presente, toda leitura pode atualizar uma obra e abrir

Capa do livro de Helen Caldwell que propôs uma nova abordagem para a interpretação do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis. CALDWELL, Helen. O Otelo brasileiro de Machado de Assis. Tradução: Fábio Fonseca de Melo. 3. ed. Cotia: Ateliê Editorial, 2022. Reprodução da capa.

nela novos sentidos que ressignificam tanto o passado quanto o presente. O escritor Machado de Assis (1839-1908), por exemplo, tem sido fonte inesgotável de novas leituras que, a cada vez, escavam em seus textos novos veios de sentido. Durante muitos anos, seu romance Dom Casmurro (1899) foi objeto de polêmica entre os críticos a respeito da questão do adultério cometido (ou não) por Capitu, heroína do livro. Mas, na década de 1960, a crítica estadunidense Helen Caldwell (1904-1987) publicou um estudo em que coloca outra questão sobre esse livro: por que o romance foi escrito de tal forma que deixou a questão da culpa ou inocência da heroína para ser julgada pelo leitor? Ao buscar a resposta para essa questão, Caldwell evidenciou a estreita relação entre Dom Casmurro e a peça Otelo, de Shakespeare (1564-1616), que anteriormente não havia sido colocada pela crítica. Nesse diálogo multifacetado, instável, atravessado por diferentes tempos e lugares, o leitor sempre encontrará caminho para pensar seu próprio lugar como sujeito da História.

Não escreva no livro.

Para discutir

1. Você deve conhecer histórias infantis, como os contos de fada, por exemplo. Gostava de alguma delas em especial? Releia-a e observe se encontra nela algum sentido que não via quando a escutava. Troque ideias com os colegas. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

InTEGranDO COm...

SOCIOLOGIA

Literatura e Antropologia

A relação entre Literatura e Antropologia oferece uma perspectiva rica da vida em sociedade, revelando como a ficção pode ser uma ferramenta para explorar e criticar práticas culturais, sistemas de crenças e estruturas de poder. Enquanto a Antropologia busca entender as culturas humanas por meio da observação e análise das relações sociais, parentesco, rituais e normas, a Literatura frequentemente serve como uma janela para essas realidades, apresentando narrativas que refletem e problematizam tais estruturas.

Um exemplo concreto da relação entre esses campos do conhecimento pode ser encontrado na literatura moçambicana, especificamente na obra Niketche: uma história de poligamia (2002), da escritora moçambicana Paulina Chiziane (1955-). Neste romance, Chiziane explora a prática da poligamia, oferecendo um olhar crítico sobre as estruturas de parentesco e papéis de gênero, que são conceitos fundamentais na Antropologia. A poligamia, como apresentada na obra, é uma prática cultural enraizada, regulada por normas que estruturam as relações familiares e reforçam a dominação masculina. Ao dar voz às várias esposas da narrativa, Chiziane problematiza a poligamia, revelando como ela perpetua o poder patriarcal, mas também cria espaços de resistência e solidariedade entre as mulheres. Assim, a obra dialoga diretamente com conceitos antropológicos, questionando tradições culturais e elaborando crítica social por meio da literatura.

Não escreva no livro.

1. Escolha uma cultura que você tenha curiosidade para conhecer ou conhecer melhor. Pesquise um romance ambientado nesse país e leia o livro ou busque informações sobre o país. Em seguida, elabore um texto apresentando o assunto do livro, um resumo da trama e o que o romance revela sobre a cultura ou as tradições do país.

Fotografia da escritora em 2021.

CHIZIANE, Paulina. Niketche: uma história de poligamia. São Paulo: Companhia das Letras, 2021. Reprodução da capa.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Quarup: elogio dos povos indígenas

O jornalista e escritor fluminense Antonio Callado (1917-1997) tinha um profundo interesse pelos povos indígenas do Brasil, que foram objeto de suas reportagens, peças teatrais e romances. Callado nunca observou esses povos pela ótica do exotismo ou do distanciamento acadêmico, mas sim com admiração. Sobre Quarup (1967), seu romance mais famoso, a crítica Lígia Chiappini Moraes Leite (1945-) afirmou que o livro é uma “espécie de elogio implícito da forma de vida indígena capaz de fornecer lições básicas à civilização branca e cristã”.

SAIBA MAIS
HORACIO VILLALOBOS/CORBIS/GETTY IMAGES
DE BOLSO

Existir,

resistir, reexistir: literatura em Portugal

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

A literatura portuguesa do pós-guerra até o momento contemporâneo reflete as profundas transformações sociais, políticas e culturais vividas pelo país. No período do pós-guerra até a década de 1970, a literatura portuguesa foi marcada pela resistência ao regime ditatorial de Salazar. Muitos autores, como Sophia de Mello Breyner Andresen (1919-2004) e Mário Cesariny (1923-2006), usaram a poesia para expressar sua oposição política e refletir sobre a condição humana sob a repressão. Na prosa, o romance realista foi uma ferramenta importante para criticar a sociedade portuguesa, como nas obras de Ferreira de Castro (1898-1974) e Alves Redol (1911-1969). Nesse período, muitos escritores foram silenciados pela censura, mas, por meio de metáforas e símbolos, continuaram a criar narrativas para criticar o regime sem enfrentar a censura diretamente.

Com a Revolução dos Cravos em 1974, a literatura portuguesa entrou em uma nova fase de liberdade criativa e política. José Saramago (1922-2010), que se tornaria em 1998 o único autor de língua portuguesa a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, destacou-se como uma das vozes mais importantes desse período. Em romances como Levantado do chão (1980) e Memorial do convento (1982), Saramago explora a história e as desigualdades sociais de Portugal, sempre com uma crítica à opressão e à injustiça. António Lobo Antunes (1942-), em romances como Os cus de Judas (1979) e Fado alexandrino (1983), aborda a guerra colonial portuguesa e seus impactos psicológicos e sociais. Lobo Antunes adotou um estilo fragmentado e introspectivo, com foco na psicologia de seus personagens, oferecendo uma visão amarga e crítica da história recente de Portugal.

Na transição para a contemporaneidade, Agustina Bessa-Luís (1922-2019) consolidou-se como uma das grandes figuras da literatura portuguesa com seu estilo único de romance histórico e psicológico. Suas obras, como A sibila (1954) e Fanny Owen (1979), exploram a complexidade da sociedade portuguesa e das relações humanas, com uma atenção especial à figura feminina. Sua prosa densa e sofisticada frequentemente recorre à análise psicológica e ao simbolismo, oferecendo retratos profundos das elites portuguesas e das transformações culturais do país. Sua contribuição foi crucial para a renovação do romance português, influenciando gerações subsequentes de escritores.

Novas vozes e formas narrativas têm introduzido novos temas na literatura do país, como as ansiedades e os desafios da sociedade portuguesa moderna, a globalização, a identidade nacional e as crises sociais e econômicas. José Luís Peixoto (1974-), por exemplo, destacou-se com romances como Nenhum olhar (2000) e Cemitério de pianos (2006), nos quais explora temas como a morte, a família e a solidão, sempre com uma prosa poética e introspectiva. Ele representa

Professor, o título a máquina de fazer espanhóis, da obra de Valter Hugo Mãe, foi composto em letras minúsculas, seguindo o texto original do autor.

uma nova geração de escritores que, sem perder de vista a herança literária do país, busca inovar na forma e no conteúdo. Já Valter Hugo Mãe (1971-) é conhecido por sua escrita experimental e pelo uso de uma linguagem quase poética em prosa. Em livros como o remorso de baltazar serapião (2006) e a máquina de fazer espanhóis (2010), ele aborda temas como a velhice, a morte e o amor combinando o lirismo com a crueza da realidade, como no excerto que você vai ler agora.

Texto

Um homem chegou aos quarenta anos e assumiu a tristeza de não ter um filho. Chamava-se Crisóstomo.

Estava sozinho, os seus amores haviam falhado e sentia que tudo lhe faltava pela metade, como se tivesse apenas metade dos olhos, metade do peito e metade das pernas, metade da casa e dos talheres, metade dos dias, metade das palavras para se explicar às pessoas.

Via-se metade ao espelho e achava tudo demasiado breve, precipitado, como se as coisas lhe fugissem, a esconderem-se para evitar a sua companhia. Via-se metade ao espelho porque se via sem mais ninguém, carregado de ausências e de silêncios como os precipícios ou poços fundos. Para dentro do homem era um sem fim, e pouco ou nada do que continha lhe servia de felicidade. Para dentro do homem o homem caía.

Um dia, depois de ter comprado um grande boneco de pano que encontrou à venda numa feira, o Crisóstomo sentou-se no sofá abraçando-o.

Abraçava o boneco e procurava pensar que seria como um filho de verdade, abanando a cabeça igual a estar a dizer-lhe alguma coisa. Afagava-lhe os cabelos enquanto fantasiava uma longa conversa sobre as coisas mais importantes de aprender. Começava sempre as frases por dizer: sabes, meu filho. Era o que mais queria dizer. Queria dizer meu filho, como se a partir da pronúncia de tais palavras pudesse criar alguém.

A certa altura, abraçou mais forte o boneco, encolhendo-o até por o espremer de encontro ao peito, e acabou chorando muito, mas não chorou sequer metade das lágrimas que tinha para chorar. Achando que tudo era ausência, achava também que vivia imerso, como no fundo do mar. Pensava em si como um pescador absurdamente vencido e até a idade lhe parecia maior.

O Crisóstomo começou a pensar que os filhos se perdiam, por vezes, na confusão do caminho. Imaginava crianças sozinhas como filhos à espera. Crianças que viviam como a demorarem-se na volta para casa por terem sido enganadas pela vida. Acreditou que o afeto verdadeiro era o único desengano, a grande forma de encontro e de pertença. A grande forma de família.

MÃE, Valter Hugo. O filho de mil homens. São Paulo: Biblioteca Azul, 2006. p. 19-24. Não escreva no livro.

1. a) O fracasso dos amores, que o impossibilitou de ter um filho.

1. Crisóstomo é um personagem de 40 anos que resolve assumir-se triste por sua incompletude.

a) Que aspectos do passado da personagem levam à sua tristeza e incompletude presente?

b) A que recurso Crisóstomo recorre para aplacar sua solidão?

A um boneco de pano que trata como um filho.

c) Mesmo recorrendo a esse recurso, Crisóstomo ainda sente em si uma ausência constante. Por que esse recurso não foi suficiente?

Porque o boneco nada respondia perante os conselhos e ensinamentos do “pai”. Retornava apenas silêncio.

2. Crisóstomo sentia tristeza por uma necessidade específica: ter um filho.

a) O que um filho poderia proporcionar a Crisóstomo que faria com que não se sentisse mais vazio?

Um filho poderia ser aquele com quem Crisóstomo iria compartilhar sua experiência de mundo, seus ensinamentos, e trocar afetos.

b) Que perspectiva sobre relacionamentos humanos esse enredo reproduz?

A necessidade de relacionar-se com outras pessoas com as quais seja possível se identificar, afetar e ser afetado e compartilhar experiências.

Eu, personagem

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

As lutas políticas em países africanos marcaram profundamente a história do século XX, revelando não apenas conflitos militares mas também as transformações sociais e culturais que (re)definiram a identidade de diversas nações. Nesse contexto, a voz do sujeito que viveu e testemunhou esses eventos ganha especial relevância. Biografias e autobiografias permitem lançar um olhar mais íntimo sobre as tensões e escolhas enfrentadas por indivíduos inseridos nesses conflitos, expondo como suas trajetórias pessoais se entrelaçam com o desenrolar de grandes mudanças históricas. Por meio dessas narrativas, compreende-se melhor tanto os fatos quanto as emoções, as motivações e os dilemas de quem esteve na linha de frente, apresentando uma visão humana e pessoal dos momentos de transformação coletiva.

Para discutir

1 Você já leu alguma autobiografia ou biografia? De quem? O que mais lhe chamou a atenção?

2 Quem você acha que mereceria uma biografia? Justifique sua escolha.

Leia a seguir um trecho da autobiografia do político sul-africano Nelson Mandela (19182013), vencedor do Prêmio Nobel da Paz de 1993 e considerado o “pai” da moderna África do Sul.

Texto

Não consigo definir com precisão o momento quando me tornei politizado, quando eu soube que passaria minha vida na luta pela libertação. Ser um negro na África do Sul significa que se é politizado desde o momento do nascimento, quer a pessoa reconheça isso ou não. Uma criança negra nasce em um hospital Apenas para Negros, levada para casa em um ônibus Apenas para Negros, mora em uma área Apenas para Negros e frequenta escolas Apenas para Negros, se é que vai para a escola. […]

Não tive uma epifania, nenhuma revelação, nenhum momento da verdade, mas um acúmulo constante de milhares de ofensas, milhares de indignidades, milhares de momentos não memoráveis, que produziram em mim uma cólera, uma rebeldia, um desejo de lutar contra o sistema que aprisionava o meu povo. Não houve um dia em particular no qual eu falei, ‘Deste momento em diante vou me devotar à libertação do meu povo;’ em vez disso, simplesmente me vi fazendo isso, e não conseguiria agir diferentemente.

lER O MUNDO
Não escreva no livro.
Nelson Mandela na época em que era um jovem estudante universitário. Mthatha (África do Sul), 1937.

No início de 1946, eu e Evelyn nos mudamos para uma casa municipal de dois cômodos, só nossa, em Orlando East e depois disso para uma casa um pouco maior no número 8115 de Orlando West. Orlando West era uma área espartana e poeirenta de casas municipais em forma de caixotes que se tornaria mais tarde parte da Grande Soweto, Soweto era um acrônimo, em inglês, de Assentamentos do Sudoeste. Nossa casa estava situada em uma área apelidada de Westcliff pelos seus residentes, em homenagem ao subúrbio elegante dos brancos ao norte.

[…]

O estado havia alocado a casa para mim e Evelyn porque não éramos mais apenas duas pessoas, mas três. Naquele ano, nasceu o nosso primeiro filho, Madiba Thembekile. Ele recebeu meu nome de clã, Madiba, mas era conhecido pelo seu apelido, Thembi. Ele era um menino robusto e feliz, que as pessoas diziam que lembrava mais sua mãe do que seu pai. Eu havia agora produzido um herdeiro, ainda que eu tivesse poucas posses para deixar de herança para ele. Mas eu havia perpetuado o nome Mandela e o clã Madiba, o que é uma das responsabilidades básicas de um Xhosa.

Eu finalmente tinha uma base estável e passei do estado de hóspede na casa de outras pessoas para o de ter meus próprios hóspedes.

[…]

No início de 1947, completei o período obrigatório de três anos de estágio e o meu tempo de serviço na Witkin, Sidelsky e Eidelman chegou ao fim. Decidi me tornar um estudante em tempo integral, para receber meu bacharelado em direito e assim poder abrir o meu próprio escritório de advocacia. A perda das oito libras, dez xelins e um penny que eu recebia por mês na firma foi devastadora. Solicitei um empréstimo de 250 libras esterlinas junto ao Fundo de Previdência Bantu no Instituto Sul-Africano de Relações Raciais em Johannesburgo para ajudar a financiar meus estudos de direito, que incluíam taxas da universidade, livros e uma mesada mensal. Recebi um empréstimo de 150 libras esterlinas.

Três meses depois, escrevi para eles novamente, observando que a minha esposa estava para entrar em licença-maternidade, e nós perderíamos o seu salário de dezessete libras por mês, que era absolutamente necessário para a nossa sobrevivência. Recebi o dinheiro adicional, pelo qual fiquei grato, mas as circunstâncias que o justificaram foram tristes. O nascimento de nossa filha Makaziwe não teve complicações, mas ela era frágil e doentia. Desde o início nós esperamos pelo pior. Em muitas noites eu e Evelyn nos revezávamos cuidando dela. Não sabíamos o nome da doença que estava consumindo essa menina minúscula e os médicos não conseguiam explicar a natureza do seu problema. Evelyn monitorou o bebê com a combinação da persistência de uma mãe e a eficiência profissional de uma enfermeira. Quando tinha nove meses de idade, Makaziwe faleceu. Evelyn ficou arrasada, e a única coisa que ajudou a aliviar a minha própria dor foi a tentativa de aliviar a dor dela. […]

A luta, eu estava aprendendo, era desgastante. Um homem envolvido em uma luta era um homem sem uma vida privada. Foi no meio dos preparativos do Dia do Protesto que o meu segundo filho, Makgatho Lewanika, nasceu. Eu estava com Evelyn no hospital quando ele veio ao mundo, mas foi apenas uma pequena pausa em minhas atividades. Seu nome é homenagem a Sefako Mapogo Makgatho, o segundo presidente do CNA, entre 1917 e 1924, e Lewanika, um chefe tribal da Zâmbia. Makgatho, filho de um chefe tribal Pedi, havia liderado voluntários que desafiavam a barreira de cor e não permitiam que negros caminhassem nas calçadas de Pretória, e seu nome para mim era o emblema de indomabilidade e coragem.

MANDELA, Nelson. Nelson Mandela: longa caminhada até a liberdade. Tradução: Paulo Roberto Maciel Santos. Rio de Janeiro: Alta Life, 2020. E-book. Localizável em: cap. 11-13.

xhosa: grupo étnico sul-africano. xelim, penny: unidades monetárias de pouco valor da libra esterlina inglesa.

CNA: Congresso Nacional Africano. pedi: grupo étnico sul-africano. Pretória: capital da África do Sul.

2. Mandela foi acusado de sabotagem e traição pelo regime colonial, mas foram justamente suas ações de luta que ajudaram a acabar com o colonialismo. Por isso, em vez de crimes, podem até ser considerados atos de heroísmo.

3. “[…] um acúmulo constante de milhares de ofensas, milhares de indignidades, milhares de momentos não memoráveis, que produziram em mim uma cólera, uma rebeldia, um desejo de lutar contra o sistema que aprisionava o meu povo.”

PENSAR E COMPARTIlHAR

1. Leia o trecho a seguir, sobre a política do apartheid na África do Sul. Considere como africânder os colonizadores europeus que moravam na África do Sul.

Totalitário, este sistema controlava a vida pública, a vida privada e a vida íntima das pessoas, em especial dos negros, mas também dos mestiços e indianos.

Definiu juridicamente a representação política; os espaços de trabalho – determinando em quê e onde as pessoas deveriam trabalhar – e os espaços de moradia e de lazer; criava os passaportes internos impedindo o livre direito de ir e vir; e proibia os casamentos inter-raciais.

5. c) A imagem de uma pessoa sensível, empática, que sofreu muito, mas que tomou a luta antirracista como natural, como inerente à sua própria condição.

Desenvolveu uma estrutura discursiva dominante e um imaginário com a língua, os valores, os símbolos e a religião africânder os quais, em diferentes conjunturas, reafirmavam a superioridade dos africânderes.

TANNUS, Lara. Fim do apartheid na África do Sul. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas: Universidade de São Paulo, 17 mar. 2018. Disponível em: https://www.fflch.usp.br/433. Acesso em: 4 out. 2024.

• Com base nessas informações, explique como o contexto da África do Sul favorecia a politização e a revolta.

Espera-se que os estudantes percebam que, em uma sociedade discriminatória, pautada pelo racismo, a politização e o engajamento seriam posturas necessárias para a transformação da sociedade em uma organização mais justa e igualitária.

2. Em 1962, Nelson Mandela liderava a guerrilha armada que enfrentava o regime da minoria branca. Foi capturado nesse ano e condenado à prisão perpétua dois anos depois. A prisão de Mandela tornou-se um episódio muito famoso da história mundial, bem como a sua libertação. Por que é possível dizer que os crimes que o levaram à prisão poderiam não ser, posteriormente, considerados crimes?

3. O trecho da autobiografia de Mandela revela sentimentos que antecipam que um dia ele poderia ser um líder para o povo sul-africano. Copie no caderno um trecho que mostra essas condições.

4. a) Pessoas interessadas na vida do político, na história da África do Sul, na história da África ou mesmo na luta por direitos humanos ou na política mundial.

4. Nelson Mandela é uma personalidade mundial do século XX e tornou-se um modelo de luta pelos direitos humanos e contra o racismo.

a) Quem seria o leitor provável da autobiografia de Mandela?

4. b) Uma autobiografia pode apresentar detalhes muito pessoais, sentimentos e pensamentos do autor, seus pontos de vista perante episódios importantes e episódios aparentemente banais.

b) Além dos fatos que o autor considera serem fundamentais em sua vida, que outros aspectos uma autobiografia pode apresentar ao leitor?

5. a) No trecho, o autor utiliza pronomes pessoais, como “eu” e “nós”, para narrar suas experiências, o que marca seu posicionamento pessoal ao construir o discurso.

Leitores de autobiografias são, em geral, pessoas interessadas em explorar a vida de figuras públicas, artistas, líderes ou personalidades de relevância histórica ou cultural. Eles buscam não apenas conhecer os eventos que moldaram a trajetória do autor mas também entender suas reflexões e sentimentos sobre esses momentos.

5. A autobiografia é um gênero textual no qual o autor narra a história de sua própria vida.

a) Explique como o uso de pronomes pelo narrador marca seu posicionamento na construção do discurso.

b) Que eventos Mandela seleciona para apresentar ao leitor nesse trecho?

c) Que imagem essa seleção de eventos projeta do autobiografado?

d) Em uma autobiografia, o autor pode escolher o que apresentar de si mesmo. O que ele pode considerar na seleção dos fatos e das reflexões a serem apresentados?

5. b) A narrativa do sofrimento do povo e principalmente do sofrimento pessoal com o nascimento do filho, a vida precária e a morte da segunda filha marcam essa subjetividade.

5. d) Além daquilo que marcou sua trajetória, que o destacou a ponto de merecer uma autobiografia, o impacto que quer provocar no leitor, a imagem que quer projetar de si.

Não escreva no livro.
Nelson Mandela em 11 de fevereiro de 1990, dia em que foi libertado, depois de 27 anos de cárcere.
ALLAN TANNENBAUM/GETTY IMAGES

6. As condições precárias de vida em Orlando West, a dificuldade para conseguir se sustentar e conseguir empréstimo, para ter acesso à saúde pública de qualidade, a segregação racial do apartheid que impedia que negros andassem na calçada em Pretória.

7. a) Pertencem ao coletivo a segregação e as condições precárias de vida, sem acesso a moradia e saúde adequadas. Pertence ao individual o drama relacionado à fonte de renda e aos problemas com a morte da filha.

6. No início do trecho, Mandela afirma que não sabe identificar o momento em que se tornou politizado. Embora o trecho não apresente nenhum episódio específico, é possível identificar fatos que podem ter contribuído para seu processo de politização. Que fatos são esses?

7. No trecho narrado por Mandela, há um contraste entre os dramas coletivos e individuais.

a) O que seriam, no trecho, dramas coletivos? E os individuais?

b) De que forma os dramas coletivos se expressam nos dramas individuais no trecho?

8. Mandela destaca em vários momentos a necessidade e o desejo de lutar.

a) Pelo que Mandela luta, de acordo com o trecho?

7. b) Os problemas sociais relacionados a moradia, saúde e remuneração se refletem nas condições precárias que podem ter levado a filha de Mandela à morte, por exemplo.

Mandela luta pela libertação de seu povo, por condições mais justas e igualitárias de vida.

b) O nome do terceiro filho de Mandela faz referência a um líder tribal. Copie no caderno a alternativa que justifica essa escolha.

Resposta: alternativa II

I. O nome dado ao filho faz referência a um líder que lutou para a supremacia de sua etnia, o que segue a lógica do tribalismo em voga na África do Sul.

II . O n ome dado ao filho é, ao mesmo tempo, uma homenagem a um líder contra o colonialismo e uma valorização da ancestralidade.

III. O nome do líder Pedi faz referência a um dos heróis da África do Sul que foi responsável pelo fim das limitações que proibiam os negros de andar nas calçadas de Pretória.

9. O que justifica Mandela escrever uma autobiografia?

9. O fato de ter vivido muitas experiências importantes, que o tornaram líder de um país e símbolo da luta contra o apartheid, o que beneficiou milhões de pessoas.

As autobiografias são construídas com base nas impressões subjetivas do autor sobre sua própria vida, refletindo suas memórias, percepções e sentimentos, projetando uma dada imagem do autobiografado. Elas não apenas narram eventos, mas interpretam esses acontecimentos de acordo com a visão pessoal do narrador, o que pode envolver seleção, ênfase e até omissão de certos detalhes.

Agora, leia a biografia da escritora nigeriana Chimamanda Adichie, publicada no site Biografias de Mulheres Africanas, desenvolvido por estudantes de graduação e de pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Escritora criativa nigeriana e ensaísta, com envolvimento e liderança no pensamento feminista. Nasceu em Enugu, de uma família de origem Igbo da cidade de Abba, no Estado de Anambra, mas cresceu em Nsukka. O pai era professor de Estatística na Universidade da Nigéria e mais tarde tornou-se vice-chanceler adjunto da instituição, enquanto a mãe era graduada em Sociologia e tabeliã.

A escritora Chimamanda Adichie em fotografia de 2021.

Adichie completou sua formação na Universidade Escola da Nigéria, vencendo diversos prêmios por excelência acadêmica. Ela estudou Farmácia e Medicina na universidade por um ano e meio, mas rapidamente percebeu que não queria seguir esta carreira. Desde a juventude escreveu algumas peças e obras em prosa, sendo influenciada pela escritora inglesa Enid Blynton, mas sobretudo pelos romancistas africanos Chinua Achebe, seu conterrâneo, e Câmara Laye, que oferecera a ela perspectivas de pensar a africanidade.

Em 1997, publicou uma coleção de poemas intitulada Decisions (Decisões), e deixou a Nigéria para estudar Comunicação na Universidade Drexel, na Filadélfia. Depois de dois anos, pediu transferência para a Universidade Estadual de Eastern Connecticut, onde completou o bacharelado em Comunicação e especialização em Ciência Política (2001). Foi quando começou a escrever o romance Purple hibiscus (Hibisco Roxo), publicado em 2003, quando passou a ganhar reconhecimento no cenário da literatura internacional.

11. a) A autobiografia se limita à visão que o autobiografado tem sobre si; nesse lugar enunciativo, sua visão é limitada pela imagem que tem de si, pela que quer projetar. Na biografia, o enunciador fala sobre um terceiro; desse lugar enunciativo, ele vê o biografado de fora e pode então enxergar grandezas e não grandezas, qualidades e defeitos, o que é difícil para cada pessoa enxergar em si mesma.

11. b) Enquanto a autobiografia pode se render à subjetividade e pessoalidade, a biografia tende a ser mais objetiva e impessoal para registrar com maior fidelidade a vida da pessoa biografada.

11. c) Na autobiografia, em geral o autor recorre às suas próprias memórias, biografia o autor pode recorrer a depoimentos,

Em 2004 ela obteve um diploma de Mestrado em Escrita Criativa na Universidade John Hopkins e em 2005-2006 obteve uma bolsa de estudos Hodder da Universidade de Princeton, onde lecionou Introdução à ficção. No outono de 2006, matriculou-se no Programa de Mestrado em História Africana da Universidade de Yale. Paralelamente, ela continuava sua carreira de escritora, publicando numerosas histórias em periódicos internacionais como Granta e o New Yorker e diversos ensaios em jornais de prestígio, incluindo o Guardian e o Washington Post.

Em 2006 foi publicado o seu segundo romance, Half of a yellow sun (Meio sol amarelo), que venceu o Prêmio Internacional de Conto David T. Wong, o Orange Broadband Prize de Ficção em 2007 e foi pré-selecionado para o Commonwealth Writers’ Prize de Melhor Livro (Região Africana) no mesmo ano. A obra teve também grande êxito comercial, especialmente no Reino Unido, e selou o status da escritora como um dos principais nomes da literatura africana no início do século XXI.

Chimamanda regularmente retorna à Nigéria, apoiando ativamente talentos literários locais emergentes através da organização de workshops para aspirantes a escritores em Lagos. Em maio de 2008 ela completou os estudos em Yale e se mudou para Columbia, Maryland. Em setembro do mesmo ano recebeu uma bolsa de estudos da Fundação MacArthur, um prêmio de 500.000 dólares. A primeira coleção de contos de Adichie, The thing around your neck (No seu pescoço), foi publicada em abril de 2009.

escritos em vídeo diversificando os olhares para o biografado e, assim, produzir um texto em tese

Internacional de T. Wong e Orange Prize de Ficção selecionado para o Commonwealth de Melhor Livro (Região Africana) em 2007; bolsa

Como escritora de ficção, suas obras tratam de dramas sociais nigerianos, mas também das situações dos imigrantes nos Estados Unidos, tema abordado em sua conhecida conferência no TED, intitulada ‘Os perigos de uma história única’ (2009). Sua atuação e denúncia das desigualdades de gênero levou a que proferisse a conferência We shoud all be feminists (Sejamos todos feministas) (2012), em que compartilha sua experiência como mulher africana feminista, e sua visão sobre a construção de relações de gênero e sexualidade, que logo foi transformada em livro de grande impacto editorial em 2014.

11. d) Sim, um biógrafo pode acentuar diferentes traços do biografado projetando dele uma imagem específica, que exprime um posicionamento do autor perante o biografado.

CHIMAMANDA Adichie (1977). Porto Alegre: Biografias de Mulheres Africanas, 2021. Disponível em: https://www.ufrgs.br/africanas/chimamanda-adichie-1977/. Acesso em: 22 maio 2024.

10. A biografia de Chimamanda Adichie apresenta informações básicas sobre sua vida que podem contribuir para que seu público leitor conheça mais sobre ela. Copie o organizador a seguir no caderno e complete-o com o que se pede.

Enugu (Nigéria); Drexel, Connecticut, Columbia (Estados Unidos).

MacArthur em

Lugares em que viveu

Formação acadêmica

Publicações

Premiações

Outras produções de destaque

11. Biografias apresentam um lugar enunciativo diferente de autobiografias.

Farmácia e Medicina na Universidade Escola da Nigéria (incompleto); Comunicação (Universidade Drexel e Universidade Estadual de Eastern Connecticut); Mestrado em Escrita Criativa (Universidade John Hopkins)

Hibisco roxo (2003); Meio sol amarelo (2006); No seu pescoço (2009); Sejamos todos feministas (2014)

a) Por que se pode dizer que escrever sobre si é diferente de escrever sobre o outro?

b) Qual é a diferença de postura em relação aos eventos narrados na autobiografia e na biografia?

c) Que fontes podem ser utilizadas para a escrita de cada gênero?

d) Em uma autobiografia, o autor projeta uma imagem de si mesmo. Isso também pode acontecer na biografia, mesmo o autor dispondo de fontes diversas? Explique.

12. a) Seriam leitores interessados nas informações básicas sobre a vida da pessoa biografada.

12. As biografias apresentam outras diferenças de autobiografias além do lugar enunciativo.

a) Quem seria o público leitor de biografias?

12. b) Uma biografia tem como responsabilidade apresentar eventos que de fato ocorreram na vida da pessoa biografada de forma objetiva e isenta. Para isso, é fundamental a verificação de informações.

b) Qual é a importância da construção de uma biografia a partir de pesquisas e informações confiáveis?

c) Que cuidados um leitor deve ter ao selecionar uma biografia para ler?

Apoia talentos literários emergentes em seu país natal; apresentou as conferências “Os perigos de uma história única”, na TED de 2009, e “We should all be feminists” (Sejamos todos feministas), em 2012.

12. c) É importante que o leitor saiba que tem que procurar biografias publicadas em sites confiáveis, de canais de comunicação que mantêm rigor na checagem de fatos como jornais, revistas, instituições de ensino etc. Somente assim poderá ter acesso a um saber de confiança.

2. a) Foi adicionado o sufixo -mente, que expressa modo.

3. a) Espartana tem origem em Esparta; e poeirenta tem origem em poeira que, por sua vez, tem origem em pó.

2. b) O prefixo in- pode trazer a ideia de negação.

Processos de formação de palavras: derivação

e composição

3. b) Em Esparta foi adicionado o sufixo -ana; a palavra poeira deriva de pó, à qual foi acrescentado o sufixo -eira; para formar poeirenta, foi adicionado o sufixo -enta.

Não escreva no livro.

3. c) -ana agrega a ideia de origem; -enta agrega o sentido de “ser dotado de”, “ser propenso a”.

Releia o trecho a seguir, da autobiografia de Nelson Mandela.

1. a) O radical é dign-, o prefixo é in-, o sufixo é -idade, a desinência é -s.

1 Observe o termo em destaque.

a) Identifique nesse termo os elementos que compõem a estrutura da palavra.

b) A retirada de um dos elementos dessa estrutura inverte o significado da palavra. Qual é esse elemento?

O prefixo in-.

2 Considere os termos em destaque

a) Que tipo de afixo foi adicionado aos radicais? Que sentido ele produz?

b) Considere o termo diferentemente. Que afixo é possível adicionar à palavra para trazer uma ideia de negação?

Não tive uma epifania, nenhuma revelação, nenhum momento da verdade, mas um acúmulo constante de milhares de ofensas, milhares de indignidades , milhares de momentos não memoráveis, que produziram em mim uma cólera, uma rebeldia, um desejo de lutar contra o sistema que aprisionava o meu povo. Não houve um dia em particular no qual eu falei, ‘Deste momento em diante vou me devotar à libertação do meu povo;’ em vez disso, simplesmente me vi fazendo isso, e não conseguiria agir diferentemente. […]

No início de 1946, eu e Evelyn nos mudamos para uma casa municipal de dois cômodos, só nossa, em Orlando East e depois disso para uma casa um pouco maior no número 8115 de Orlando West. Orlando West era uma área espartana e poeirenta de casas municipais em forma de caixotes que se tornaria mais tarde parte da Grande Soweto, Soweto era um acrônimo, em inglês, de Assentamentos do Sudoeste . Nossa casa estava situada em uma área apelidada de Westcliff pelos seus residentes, em homenagem ao subúrbio elegante dos brancos ao norte.

MANDELA, Nelson. Nelson Mandela: longa caminhada até a liberdade. Tradução: Paulo Roberto Maciel Santos. Rio de Janeiro: Alta Life, 2020. E-book. Localizável em: cap. 11.

4. b) Foi adicionada a letra D para proporcionar sonoridade à palavra.

3 Observe os termos destacados

a) De que outras palavras esses termos se originam?

b) Que estrutura foi adicionada à palavra original para formar esses termos?

c) Que sentido essas estruturas agregam às palavras originais?

4. a) A palavra sul perdeu a letra L.

4 O substantivo em destaque origina-se das palavras sul e oeste.

a) Ao se juntarem, as palavras perderam alguma letra?

b) Foi necessária a adição de alguma letra para que a palavra ganhasse sonoridade? Qual?

O processo de transformação e enriquecimento contínuo do léxico ocorre por meio de diversos mecanismos que permitem a criação de novas palavras e a modificação de termos já existentes. Nesta seção, você vai conhecer mais sobre a derivação e a composição, dois dos processos de formação de palavras mais produtivos da língua portuguesa.

Pelo processo de derivação formam-se palavras novas através do acréscimo de afixos (prefixos e sufixos). No trecho lido, observa-se a ocorrência da derivação prefixal (em indignidades) e da derivação sufixal (em simplesmente, diferentemente, espartana e poeirenta). Além desses dois, existem mais três tipos de derivação, explicados a seguir.

Tipo de derivação

Derivação parassintética

Derivação regressiva

Derivação imprópria

Definição

Palavra formada pelo acréscimo simultâneo de um prefixo e um sufixo.

Quando a palavra nova tem menos letras que a palavra original. Por meio desse processo, formam-se principalmente substantivos derivados de verbos.

Consiste na mudança de classe gramatical de uma palavra.

Exemplo

Envelhecido

Foi adicionado ao radical velh- o prefixo en- e o sufixo -cido. A retirada de um desses afixos, no entanto, produz palavras inexistentes: *envelho ou *velhecido.

Chorar  choro

O substantivo choro, derivado do verbo chorar, tem menos letras que o verbo.

“O hoje comeu o ontem.” (Mia Couto)

Nessa frase, os advérbios hoje e ontem transformam-se em substantivos pela anteposição do artigo o.

A composição, por sua vez, ocorre por justaposição ou por aglutinação.

Tipo de composição

Composição por justaposição

Composição por aglutinação

Definição

Quando a palavra composta é formada pela junção de dois radicais que não sofrem alteração de sua forma original.

Quando há mudança em um dos radicais envolvidos.

Exemplo

Casa-grande

Sudoeste

O radical sul perdeu a letra L para originar a palavra composta sudoeste.

As palavras podem ser formadas com base em dois processos: derivação e composição.

A derivação pode ser prefixal, sufixal, parassintética, regressiva ou imprópria.

A composição pode se dar por justaposição ou aglutinação.

L eia, a seguir, um trecho retirado de uma reportagem acerca de hábitos de comunicação interpessoal no tempo atual.

No Brasil, com uma população de 209 milhões de habitantes, há mais de 228 milhões de celulares ativos, segundo a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). Se quase todo brasileiro tem um celular, por que raios os jovens não atendem quando ele toca? […]

Hoje, adolescentes e jovens adultos já não se telefonam para saber como estão nem para contar um sonho. Eles mandam um zap. E, se apertar a vontade de ouvir uma voz, enviam mensagem de áudio ou fazem videochamada. ‘O que não é melhor nem pior do que antigamente, apenas diferente’, brinca o antropólogo Michel Alcoforado, sócio-diretor da Consumoteca, que pesquisa hábitos da geração Z na América Latina. NAÍSA, Letícia. Por que os millennials e a geração Z nunca atendem o telefone. TAB Uol, São Paulo, 15 out. 2019. Disponível em: https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2019/10/15/por-que-raios-os-millennials-nao-atendem-telefone.htm#. Acesso em: 6 out. 2024.

1. As palavras destacadas em azul na reportagem não são simples nem primitivas. Classifique os processos de formação que deram origem a tais palavras.

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Não escreva no livro.
PENSAR E COMPARTIlHAR

1. A palavra telecomunicações foi formada por derivação parassintética (prefixo tele-; sufixo -ções); antigamente, por derivação sufixal (sufixo -mente); sócio-diretor, composição por justaposição.

L eia a tirinha a seguir.

3. b) Primavera é formada pela composição de prima – que quer dizer “primeiro”, “antes” – e vera, que vem de veranum Primavera seria então “a estação que vem primeiro, antes do verão”.

em: https://dragoesdegaragem.com/ cientirinhas/cientirinhas-72/. Acesso em: 15 out. 2024.

2. O humor da tirinha se origina de um desentendimento entre o que os personagens quiseram dizer e o que a outra personagem entendeu.

a) E xplique o humor da tira.

Eles se referiam ao início astronômico da primavera e ela entendeu que falavam sobre horóscopo.

b) Com base em seu conhecimento de formação de palavras, explique a diferença entre astronomia e astrologia .

Ambas são formadas por composição por justaposição. Uma estuda as regras que regem os astros e a outra busca um conhecimento sobre astros, não necessariamente quanto ao seu funcionamento.

3. O termo Capricórnio é formado por duas palavras.

a) Identifique-as e explique seu processo de formação.

3. a) Capri-, que vem da palavra em latim para “cabra” (capra), e -córnio, que vem da palavra em latim para “chifre” (cornus). Composição por aglutinação.

b) A palavra veranum em latim tem como significado “verão”. Considere o processo de formação da palavra primavera e formule uma hipótese sobre o que quer dizer.

4. Leia o trecho a seguir do romance Também os brancos sabem dançar: um romance musical, do escritor angolano Kalaf Epalanga (1978-).

Atravessei o terminal das chegadas num passo apressado e avistei o meu pai junto às portas automáticas de vidro, onde se lia o sinal de ‘Saída’. Os meus passos eram largos mas sentia-me como se corresse, não para os braços do meu pai, pois estes representavam apenas o desconhecido, mas para fora dali. Tinha acabado de chegar à Europa e já só queria fugir dela.

4. a) Parece não existir uma relação: há um distanciamento e estranhamento entre os dois. 4. b) Quer dizer que o narrador se sente fora de sua pátria e fora da relação com o pai.

Senti-me duplamente forâneo, não só por ter acabado de aterrar em terra estrangeira mas também por sentir que entre mim e o meu progenitor existia um estreito igual ao de Gibraltar, em que só nos dias sem nuvens podíamos avistar a outra margem. Logo à saída do aeroporto, não me lembro já a que propósito, o meu pai disse, com as duas mãos firmes no volante e os olhos postos na estrada, com a expressão banal de quem descreve o estado do tempo para quebrar o silêncio num grupo de pessoas, ‘os meus dias em Lisboa são casa-trabalho-casa, não tenho amigos’. Pensei como poderia um homem viver sem amigos? Que tipo de relação poderíamos construir? […].

EPALANGA, Kalaf. Também os brancos sabem dançar : um romance musical. São Paulo: Todavia, 2018. E-book Localizável em: parte 1, § 13-15.

a) Que tipo de relação parece existir entre pai e filho nesse trecho?

b) O narrador revela se sentir duplamente forâneo. O que isso quer dizer?

c) E xplique o processo de formação da palavra forâneo.

d) O narrador reproduz o termo casa-trabalho-casa para se referir ao comportamento do pai em seu cotidiano. Que sentido essa palavra produz? Explique o processo de formação dessa expressão.

4. c) É formada por derivação sufixal, pois se agrega o sufixo -âneo ao radical fora-.

4. d) Produz o sentido de que o percurso do pai se limitava a ir da casa ao trabalho e vice-versa, em uma rotina sem fim.

composição

justaposição.

MERLIN, Marco. [Cientirinhas #72]. Dragões de Garagem. [S. l.], 21 set. 2017. Disponível

3. O emprego de termos da Medicina associa o planeta a um organismo – ou seja, a um corpo em que tudo está conectado – que está doente e correndo risco de morte, mas que pode ser recuperado se tratado. Esse recurso evidencia o perigo que a floresta e o mundo correm com o desmatamento.

ASTUCIAS DA lINGUA

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

1. O pesquisador alerta que o desmatamento da Amazônia atua como uma doença que a está matando, o que é uma ameaça para a vida de todo o planeta, mas que ainda é possível recuperá-la.

Campo semântico e produção de sentidos

Leia a seguir um trecho de entrevista com o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) Antonio Nobre, sobre o que ele chama de cinco segredos da Amazônia.

1 Depois de ler o trecho, identifique: que alerta o pesquisador faz sobre a Amazônia?

2 Para fazer referência à importância da Amazônia, Antonio Nobre recorre a termos de outra área do conhecimento.

2. a) Medicina.

a) Que área é essa?

b) Identifique os termos que pertencem a essa área no texto.

2. b) Órgão, pulmão, fígado, coração, organismo, doente, contaminante, curar e regeneração.

— Agora esses cinco segredos estão em risco… O problema se chama desmatamento. […] É isso o que está acontecendo com a Amazônia. Estamos retirando um órgão do sistema terrestre.

— Então a Amazônia não é o pulmão, mas sim o fígado do planeta? É o pulmão, o fígado, o coração… É tudo! Essa bomba natural da qual falei é um coração que pulsa constantemente. […]

— E, apesar disso, continuamos destruindo a floresta. Se você chega com uma motosserra, com um trator ou com fogo, a Amazônia não pode se defender. As intervenções do homem podem ser benéficas, como na medicina, mas também terríveis, como a motosserra. Por isso eu proponho um esforço de guerra.

[…]

O sistema terrestre é um organismo e está muito doente. A parte contaminante é a parte mais degenerada do ser humano.

— Podemos curar a Amazônia dessa doença? Eu acredito que se tivermos uma capacidade semelhante à que tivemos para salvar os bancos, sim. Porque a floresta tem um poder de regeneração impressionante.

NOBRE, Antonio. O pó de fadas da Amazônia. [Entrevista cedida a] Ramiro Escobar la Cruz. El País, Lima, 23 ago. 2014. Disponível em: https://brasil.elpais.com/ brasil/2014/08/14/sociedad/1408010925_555437.html. Acesso em: 6 out. 2024.

3 Explique que efeito de sentido o texto produz ao recorrer a termos dessa outra área do conhecimento para se referir à floresta.

4 Reescreva o primeiro período da segunda resposta de Antonio Nobre empregando termos da botânica, mantendo um sentido semelhante ao original.

É o oxigênio, a fotossíntese, a luz do sol…

As palavras de uma língua nem sempre têm um significado isolado; muitas vezes, elas se relacionam entre si, formando redes de sentidos que se complementam ou contrastam. Ao se referir a um conceito ou tema, automaticamente se evoca um conjunto de termos que dialogam entre si e ajudam a expressar nuances e detalhes de uma ideia. Assim, a linguagem permite que diferentes expressões se conectem, criando associações que relacionam as palavras em um mesmo campo.

Não escreva no livro.

O campo semântico é o conjunto de palavras que compartilham uma relação de significado entre si, pertencendo a uma mesma área temática ou categoria de sentido. Essas palavras estão interconectadas por tratarem de conceitos relacionados, como termos que descrevem elementos da natureza, por exemplo, floresta, árvore, folha e trilha, ou elementos de uma profissão, por exemplo, advogado, tribunal, juiz e audiência.

O campo semântico permite organizar e estruturar o vocabulário, facilitando a comunicação e a compreensão ao agrupar termos semelhantes. No entanto, esse conjunto de palavras não é apenas uma organização estática do léxico, pois, dentro desse campo, as palavras podem ter uma hierarquia de significados, o que leva aos conceitos de hipônimo e hiperônimo.

O hipônimo é uma palavra que possui um significado mais específico dentro de um campo semântico, enquanto o hiperônimo é a palavra de sentido mais geral, que abrange um conjunto de hipônimos. Por exemplo, no campo semântico dos animais, cachorro, gato e leão são hipônimos, porque se referem a tipos específicos de animais. Já animal seria o hiperônimo, pois é o termo geral que engloba esses e outros tipos de criaturas. Outro exemplo pode ser visto no campo das cores: vermelho, azul e amarelo são hipônimos, e o hiperônimo seria cor, que abarca todos os tipos de cores. Essa hierarquia de significados permite uma estruturação mais precisa e flexível da linguagem, já que o hiperônimo oferece uma visão abrangente, enquanto o hipônimo aponta particularidades específicas.

PENSAR E COMPARTIlHAR

L eia a seguir um trecho sobre estratégias de investimento e marketing no mundo dos negócios, do gestor Francisco Jardim.

Investir em uma empresa que almeja introduzir um novo produto/serviço na vida de potenciais consumidores é uma incerteza formidável. Não se trata apenas do risco de o produto ser aceito ou não pelo mercado, mas também da velocidade e intensidade com a qual isso poderá vir a acontecer. Essas variáveis definem a sobrevivência ou morte de uma startup, assim como a quantia de dinheiro necessária para o crescimento do negócio e o potencial retorno que este deve trazer para seus sócios.

É isso que o livro de Geoffrey Moore, Atravessando o abismo (Crossing the chasm), aborda. Aliás, leitura obrigatória (considerado uma bíblia no Vale do Silício) para qualquer profissional (empreendedor ou executivo) que almeja montar estratégias de marketing para produtos inovadores.

Escrito em 1999, porém mais atual hoje do que nunca, o livro segmenta o mercado em diferentes grupos de consumidores baseado nas suas características de adoção de novos produtos. Cada segmento deve ser atacado sequencialmente e ocupado como trincheiras. Após cada território conquistado, este deve ser usado como plataforma de ataque do próximo, com ajustes na estratégia e apoio dos formadores de opinião.

JARDIM, Francisco. Cruzando o abismo. Pequenas Empresas, Grandes Negócios, [São Paulo], 14 jan. 2014. Disponível em: https://revistapegn.globo.com/Colunistas/Francisco-Jardim/noticia/2014/01/cruzando-o-abismo.html. Acesso em: 5 out. 2024.

amarelo
Não escreva no livro.

1. A melhor forma seria lançar por nichos e, depois de ter sucesso, procurar por um novo nicho, com apoio e estratégias diversificadas e formadores de opinião.

2. a) Investir, produto, serviço, consumidores, mercado, negócio, retorno, startup, marketing, empreendedor, executivo.

2. b) Os termos do campo semântico permitem ao público uma rápida identificação e o acesso a conceitos e sentidos específicos, voltados ao assunto e tema discutidos.

1. De acordo com o trecho, qual seria melhor forma de lançar um produto ou serviço novo no mercado?

2. O trecho da resenha crítica que você leu foi publicado no site da revista Pequenas Empresas, Grandes Negócios, voltada a um público de investidores.

a) Identifique os termos que fazem parte do campo semântico dos negócios.

b) Qual é a importância da utilização dos termos desse campo semântico em um texto com um público específico como esse?

3. a) O campo semântico é o da guerra e os termos são: sobrevivência, morte, estratégias, ocupado, trincheiras, conquistado, ataque.

3. No texto, também há termos que fazem parte de um campo semântico bem distinto do universo empreendedor.

3. b) Termos relacionados à guerra produzem a ideia de que no mundo dos negócios a concorrência deve ser tratada como um inimigo passível de ataque e dominação, em uma lógica de vida e morte no mercado.

a) Identifique os termos e o campo semântico ao qual pertencem.

b) A utilização desse campo semântico pressupõe qual visão do mundo dos negócios?

L eia a tirinha a seguir, de Jean Galvão (1972-).

https://tiroletas.wordpress.com/2014/05/13/polissemia/. Acesso em: 15 out. 2024.

4. O humor da tirinha é produzido com base em uma falta de entendimento entre pai e filho.

a) Que falta de entendimento é essa?

O pai pede ao filho que pegue uma porca, o objeto de metal para ser afixado com parafusos, mas o filho entende que se refere ao animal.

b) Que fenômeno de produção de sentidos justifica essa confusão?

Os significados que podem ser atribuídos ao termo.

5. A confusão entre pai e filho poderia ser evitada se o garoto entendesse a que campo semântico se referia o termo que produziu a confusão.

a) Que campo semântico é esse?

O campo semântico de ferragens.

b) Que elemento da tirinha permite essa identificação?

O pai está consertando o caminhão e há uma ferramenta perto dele.

c) A que campo semântico o menino considerou que pertencia o termo que gerou a confusão?

Ao campo semântico de animais.

6. Copie o organizador a seguir no caderno e o complete com os hipônimos e hiperônimos do campo semântico ao qual se referia o pai e do campo semântico a que o filho considerou que o pai se referia. Complemente o campo hipônimo com outros exemplos.

Ferragens

Hipônimo

Parafuso, porca, arruela, prego

Animais

Porca, galinha, cavalo, cabra

GALVÃO, Jean. [#Polissemia]. Tirinhas pedagógicas de Jean Galvão. [S . l ], 13 maio 2014. Disponível em:
Pai Filho
Hiperônimo
JEAN GALVÃO

#NOSNAPRATICA

Videocurrículo

Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.

Em um mundo cada vez mais digital, a produção de um videocurrículo se tornou uma poderosa ferramenta de autopromoção para o mercado de trabalho. Assim como uma biografia, que narra a trajetória de uma pessoa e destaca seus momentos mais importantes, o videocurrículo profissional deve contar a “sua história”, mas de forma compacta e visualmente atrativa. Nele, você se apresenta, fala sobre suas qualidades, conquistas e habilidades, compondo um relato pessoal que reflita quem você é e o que tem a oferecer. Diferentemente de uma biografia escrita, o videocurrículo exige que essa apresentação seja clara, direta e impactante em poucos segundos – formato adequado à era da informação rápida e da tecnologia acessível.

O que você irá produzir

O desafio é criar um videocurrículo de até 60 segundos para uma vaga de emprego na carreira que você deseja seguir. A ideia é transmitir as suas qualidades, principais competências e experiências, demonstrando de maneira visual e cativante por que você é a pessoa certa para o trabalho. Esse vídeo deve funcionar como uma introdução ao que você tem a oferecer, destacando tanto suas habilidades técnicas quanto as comportamentais, como criatividade, comunicação, trabalho em equipe e organização.

Planejar

Antes de começar, é essencial planejar o que você vai dizer e como vai se apresentar. Assim como uma biografia segue uma narrativa clara, o seu reel de videocurrículo também deve ter um fio condutor. Para isso, comece respondendo a perguntas-chave como as listadas a seguir.

• Para que área eu vou projetar o vídeo? Seria possível supor uma vaga específica?

• Quem sou eu e quais são minhas principais habilidades?

• Quais experiências relevantes (trabalhos, estudos, projetos) eu quero destacar?

• Por que sou o candidato ideal para determinada vaga ou setor?

Com base nessas respostas, escreva um breve roteiro para guiar sua fala. Organize a introdução (quem você é), o desenvolvimento (suas habilidades e experiências) e a conclusão (por que você é uma boa escolha). Pense no tom que você quer usar: formal, descontraído ou algo intermediário, dependendo da vaga e da área de atuação. Lembre-se de que o local de gravação, a roupa que você usará e sua postura também fazem parte da mensagem que você quer transmitir.

Produzir

Agora, com o planejamento feito, é hora de produzir. Siga estas dicas para garantir que o vídeo seja visualmente agradável e que a mensagem seja bem transmitida.

Procure um lugar bem iluminado, silencioso e com um fundo neutro para não distrair quem vai assistir ao vídeo. Pode ser um canto de sua casa, ao ar livre ou até um espaço de coworking, mas sempre se certifique de que o ambiente reforce seu profissionalismo.

Vista-se de acordo com o tipo de emprego para o qual está se candidatando. Se for uma vaga mais formal, opte por roupas sociais ou de negócios. Se for uma vaga criativa, você pode adotar uma vestimenta um pouco mais casual, mas sempre mantendo atitude profissional.

Primeiramente, ela preparou o café enquanto observava o nascer do sol pela janela. Depois do café, verificou se tinha todos os documentos necessários para a entrevista. Em seguida, vestiu sua roupa formal e arrumou-se cuidadosamente. Logo que chegou ao seu destino, foi recebida pela recepcionista e aguardou alguns minutos até ser chamada. Ao final da entrevista, agradeceu ao entrevistador e saiu com a sensação de que havia se saído bem.

Mantenha uma postura ereta, olhando diretamente para a câmera, o que transmite confiança e conexão com o espectador. Evite gestos excessivos, mas sinta-se à vontade para usar as mãos de maneira natural. No início do vídeo, apresente-se de forma clara e breve, como: “Olá, meu nome é [seu nome], sou [sua profissão] e tenho experiência em [área de atuação].” Em seguida, fale de suas habilidades e experiências, destacando os aspectos que mais têm a ver com o tipo de vaga. Por exemplo, se você busca uma vaga de atendimento ao cliente, fale sobre sua capacidade de comunicação e resolução de problemas.

lABORATORIO

DE PRODUÇÃO

Ordenação de eventos

A ordenação cronológica em textos é uma ferramenta essencial para garantir a clareza e a coesão das ideias, principalmente em narrativas, relatos históricos e explicações de eventos. Ao seguir uma sequência temporal lógica, o enunciador facilita a compreensão do enunciatário – o leitor ou ouvinte –, que pode acompanhar o desenvolvimento da história ou dos acontecimentos de maneira fluida e organizada.

A estrutura cronológica se dá pelo uso de marcadores temporais, como datas, períodos ou indicações de antes e depois, que orientam o leitor sobre o momento exato em que os eventos ocorrem. O texto geralmente começa com um ponto de partida, um evento ou situação inicial, e vai progredindo até chegar ao desfecho.

Agora é sua vez de treinar a ordenação de eventos. Leia as frases a seguir e reorganize-as em um único texto de forma que sigam uma ordem cronológica coerente. Utilize conectivos temporais, como primeiro, depois, em seguida, logo, por fim, ou outros, para garantir a clareza da sequência. Além disso, adapte a pontuação e, se necessário, ajuste as frases para que formem um texto fluido e coeso.

• Ela preparou o café enquanto observava o nascer do sol pela janela.

• Verificou se tinha todos os documentos necessários para a entrevista.

• Vestiu sua roupa formal e arrumou-se cuidadosamente para a entrevista.

• Foi recebida pela recepcionista e aguardou alguns minutos até ser chamada.

• Agradeceu ao entrevistador e foi embora com a sensação de que havia se saído bem.

Apresentar suas próprias qualidades pode ser desafiador, mas é uma tarefa essencial para o videocurrículo. Seja objetivo, sem parecer arrogante. Uma boa maneira de fazer isso é contar sobre conquistas específicas, conectando-as com suas habilidades. Por exemplo, em vez de dizer apenas “sou organizado”, você pode mencionar uma situação em que sua organização trouxe bons resultados, como: “durante meu estágio na empresa X, eu ajudei a organizar um novo sistema de arquivamento, o que aumentou a eficiência da equipe em 20%”.

Além disso, ao falar sobre qualidades pessoais, tente balancear com exemplos práticos. Em vez de afirmar “sou criativo”, você pode dizer algo como: “tenho facilidade para encontrar soluções inovadoras, como quando criei uma campanha digital que atraiu 300 novos seguidores para a empresa X”.

Após gravar, edite o vídeo para garantir que ele tenha ritmo e que as informações sejam apresentadas de forma visualmente agradável. Se necessário, adicione legendas para tornar o conteúdo mais acessível e reforçar a mensagem.

Compartilhar

Quando o vídeo estiver pronto, compartilhe-o com os colegas para que todos possam assistir ao videocurrículo uns dos outros. Se julgar interessante, publique-o em suas redes sociais com a indicação de que é uma proposta de produção de texto, desenvolvida em contexto escolar.

Não escreva no livro.

ler CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS

O espaço e o mundo do trabalho

Você leu, na Unidade 8, um trecho de um texto teatral que abordava o mundo do trabalho. Agora que está chegando ao final do Ensino Médio, esse universo provavelmente estará mais presente em suas reflexões ao ter de escolher os caminhos que irá seguir. Você vai ler um texto que trata desse assunto.

O geógrafo baiano Milton Santos (1926-2001) pensa o espaço em dimensões que vão bem além dos limites físicos. Para ele, o espaço se compõe de um misto da condição social com a condição física, mesclando relações sociais e materialidades. Portanto, só existe espaço se houver ação humana; sem ela, o que existe é paisagem.

Você irá se reunir com mais três colegas e identificar em sua cidade ou comunidade um recurso que considerem importante. Recurso aqui deve ser entendido conforme o texto a seguir o define. Portanto, o primeiro passo é entender o texto para, em seguida, aplicar o conceito que ele desenvolve. Leia-o e, em seguida, siga as orientações para a atividade.

A divisão do trabalho pode, também, ser vista como um processo pelo qual os recursos disponíveis se distribuem social e geograficamente.

Os recursos do mundo constituem, juntos, uma totalidade. Entendemos, aqui, por recurso, a toda possibilidade, material ou não, de ação oferecida aos homens (indivíduos, empresas, instituições). Recursos são coisas, naturais ou artificiais, relações compulsórias ou espontâneas, ideias, sentimentos, valores. É a partir da distribuição desses dados que os homens vão mudando a si mesmos e ao seu entorno. Graças a essa ação transformadora, sempre presente, a cada momento os recursos são outros, isto é, se renovam, criando outra constelação de dados, outra totalidade.

Também os recursos de um país formam uma totalidade. As diversas disciplinas buscam enumerá-los, segundo suas próprias classificações mais ou menos específicas, mais ou menos detalhadas e, até certo ponto, mais ou menos enganosas. Mas, de fato, nenhum recurso tem, por si mesmo, um valor absoluto, seja ele um estoque de produtos, de população, de emprego ou de inovações, ou uma soma de dinheiro. O valor real de cada um não depende de sua existência separada, mas de sua qualificação geográfica, isto é, da significação conjunta que todos e cada qual obtêm pelo fato de participar de um lugar. Fora dos lugares, produtos, inovações, populações, dinheiro, por mais concretos que pareçam, são abstrações. A definição conjunta e individual de cada qual depende de uma dada localização. Por isso a formação socioespacial e não o modo de produção constitui o instrumento adequado para entender a história e o presente de um país. Cada atividade é uma manifestação do fenômeno social total. E o seu efetivo valor somente é dado pelo lugar em que se manifesta, juntamente com outras atividades.

Tal distribuição de atividades, isto é, tal distribuição da totalidade de recursos, resulta da divisão do trabalho. Este é o valor que permite à totalidade dos recursos (mundial ou nacional) funcionalizar-se e objetivar-se. Isso se dá em lugares. O espaço como um todo reúne todas essas formas locais de funcionalização e objetivação da totalidade.

SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Edusp, 2006. p. 86.

O lugar pode atrair ou ser centro formador de um certo tipo de profissional ou pesquisador. Por exemplo, a cidade pode contar com uma importante escola de engenharia que forme muitos pesquisadores e profissionais na área de tecnologia. O grupo pode identificar nesses profissionais e pesquisadores um recurso humano importante, que favorece a implantação de empresas de tecnologia na região onde mora.

PENSAR E COMPARTIlHAR

1. Como o texto define recurso?

São coisas, naturais ou artificiais, relações compulsórias ou espontâneas, ideias, sentimentos, valores.

2. O autor afirma que o recurso não tem valor absoluto. Por quê?

2. Porque, segundo ele, o valor relativo de um recurso depende da qualificação geográfica, isto é, da significação conjunta que todos e cada qual obtêm pelo fato

3. Reúna-se com seu grupo e discuta com ele que tipo de recurso identificam na região onde vivem. O organizador a seguir pode ajudar a pensar nesses recursos.

Recursos naturaisRecursos humanos

O local pode contar, por exemplo, com importante atividade de ONGs, de universidades etc. de participar de um lugar, ou seja, dependem de como são usados e de que participação social têm em um dado espaço.

Recursos sociais e/ou institucionais Valores

4. Reúna-se agora com seu grupo e identifiquem na sua cidade ou comunidade um recurso que considerem importante. Em seguida, você e seu grupo devem se preparar para pesquisar sobre o uso desse recurso. Planejem-se para a pesquisa.

Algum valor se destaca na vida da comunidade que pode ser entendido como

a) Onde podem pesquisar? Que fontes podem ser consultadas? Onde esse tipo de informação pode estar documentado? Poderiam entrevistar alguém?

b) O uso desse recurso tem algum impacto na região onde vivem? Positivo ou negativo? Pesquisem quais órgãos de fiscalização estão disponíveis na sua cidade e/ou região (Secretarias de Meio Ambiente, órgão ligado ao bem-estar social ou à Educação) e considere com o grupo se ali podem encontrar essa informação.

Para este item, vale a mesma observação feita para o item a.

5. Apresente as conclusões do grupo para a classe. Em seguida, a classe pode discutir: quem se beneficia dos recursos levantados pelos diferentes grupos? Os benefícios estão bem distribuídos? Alguma mudança deveria ser feita na distribuição desses benefícios? Qual?

5. Professor, esta não é uma discussão simples; ao contrário, é bastante complexa. Portanto, os estudantes podem ter dificuldade em pensar no âmbito maior. O mais importante não é o grau de elaboração, mas o desafio de pensar, manter uma atitude respeitosa e, sobretudo, que cada resposta seja apoiada em argumentos. Assim, sempre que cabível, pergunte: por quê?

Uma nova forma de encarar a Geografia

Se achar oportuno e/ou os estudantes tiverem interesse, a classe pode efetivamente fazer a pesquisa. A atividade pode ser uma boa maneira de os estudantes se aproximarem das possibilidades de trabalho disponíveis na região. A classe pode então apresentar os trabalhos

Milton Santos (1926-2001) – geógrafo, intelectual, professor e um dos maiores pensadores brasileiros – revolucionou a geografia urbana no país com estudos que trouxeram uma nova abordagem para assuntos como a importância e a influência do território para os seres humanos, temática que, antes dele, não era tratada pela Geografia. Em vez de considerá-la de forma isolada, ele relacionou a área a campos mais amplos, como Sociologia, Economia e Política. Ele encarava a Geografia como uma ciência para entender a influência do espaço físico na vida das pessoas. Para ele, “espaço” não era apenas um ponto no mapa mas o resultado de um conjunto de fatores históricos, culturais, tecnológicos, éticos e econômicos, indispensável para entender as sociedades. Entre outros temas, posicionou-se sobre política, movimentos sociais, educação, racismo, demografia, migrações, capitalismo, geografia urbana como um todo e a importância da cidadania no Brasil.

Os estudos de Milton Santos não passaram despercebidos. Ele conquistou reconhecimento nacional e internacional, principalmente com seu trabalho desenvolvido fora do Brasil durante seu exílio na época da ditadura civil-militar. Até hoje ele é considerado o maior geógrafo do país, sendo também conhecido e respeitado em diversos países do mundo.

de forma oral, se necessário, com apoio de ferramentas como PowerPoint, banners, Prezzi etc. recurso? Por exemplo, um forte sentimento de pertencimento é recurso para certas comunidades.

1. Vale a pena conhecer mais sobre esse importante pensador brasileiro. Para isso, forme um grupo com mais três colegas e façam uma pesquisa na internet sobre Milton Santos e sua obra. Vocês vão encontrar entrevistas, resenhas de livros, comentários de especialistas sobre temas específicos tratados por ele, vídeos e até um documentário. No dia combinado com o professor, compartilhem o que descobriram com os demais colegas.

4. a) Professor, essa é uma etapa apenas de planejamento. O importante é que os estudantes percebam a possibilidade de estabelecer relação entre teoria (texto) e prática (a realidade onde vive). Apoie esse planejamento com o seu próprio conhecimento da região, se os estudantes demandarem.

HIPERlINK
Não escreva no livro.
Vindos do mundo natural

ROTEIRO

PARA lER

SOARES, Francisco (org.). Antologia lírica angolana : roteiro mínimo. Campinas: Editora Unicamp, 2019.

Este livro é indispensável para quem busca um contato direto com a literatura africana em língua portuguesa, especialmente através da poesia. Além das obras poéticas apresentadas, o livro também apresenta um panorama da literatura de Angola, oferecendo contextualizações e explicações essenciais para uma compreensão mais profunda da poesia incluída no volume.

PARA NAVEGAR

LITERAFRO. Belo Horizonte, 2024. Site . Disponível em: www. letras.ufmg.br/literafro/. Acesso em: 5 out. 2024.

O portal Literafro dá acesso a uma vasta seleção de textos de autores negros brasileiros. Conta também com uma seção dedicada às literaturas africanas de língua portuguesa e às literaturas diaspóricas. Nesse portal, além de textos literários, há textos acadêmicos que apresentam análises dessas literaturas.

PARA OUVIR

Capa do livro Antologia lírica angolana.

Logotipo do portal.

CONVITE para ler Áfricas: 10 episódios. Locução de: Fernanda Gallo. [Salvador]: Convite para ler Áfricas, c2021. Podcast . Disponível em: https:// conviteparalerafricas.com/episodios/. Acesso em: 5 out. 2024.

Composto de uma série de dez episódios que exploram a trajetória intelectual de escritores africanos, o podcast oferece um panorama breve da produção literária africana de João Paulo Borges Coelho (Moçambique), Chimamanda Adichie (Nigéria), Pepetela (Angola), Tsitsi Dangarembga (Zimbábue), Ungulani Ba Ka Khosa (Moçambique), Tayeb Salih (Sudão), Scholastique Mukasonga (Ruanda), J. M. Coetzee (África do Sul), Fatou Diome (Senegal) e Kamel Daoud (Argélia).

PARA ASSISTIR

INDEPENDÊNCIA. Direção: Mário Bastos. Angola: Associação Tchiweka de Documentação, 2016. Streaming (110 min).

O documentário começa com memórias da situação colonial em Angola para revelar os primeiros passos da luta e os principais cenários onde ela ocorreu. De 1961 a 1974, a guerra em Angola se espalhou das áreas do Norte e Cabinda em direção às planícies de inundação no Leste, envolvendo os guerrilheiros e aqueles que os apoiavam.

Logotipo do podcast

Pôster do documentário Independência.

REFERÊNCIAS BIBlIOGRAFICAS COMENTADAS

ARÊAS, Vilma. Clarice Lispector: com a ponta dos dedos. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

O livro explora o estilo enigmático de Clarice Lispector, as temáticas recorrentes e o impacto de sua produção na literatura brasileira. Articulando uma leitura sensível das obras de Clarice com um olhar crítico, permite uma compreensão mais profunda da escritora e de suas criações.

ARRIGUCCI JR., Davi. Coração partido: uma análise da poesia reflexiva de Drummond. São Paulo: Cosac & Naif, 2002.

Nessa obra, o crítico e professor Davi Arrigucci se debruça sobre a poesia de Carlos Drummond de Andrade, avaliado pelo autor como o poeta “que falou mais de perto de nós mesmos”, para analisar como reflexão e sentimento se tecem nessa obra poética.

ARRIGUCCI JR., Davi. O mundo misturado: romance e experiência em Guimarães Rosa. Novos Estudos Cebrap, n. 40, p. 7-29, nov. 1994. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/7769323/mod_resource/content/1/Davi%20Arrigucci%20-%20O%20mundo%20misturado.pdf. Acesso em: 24 set. 2024.

Nesse magnífico ensaio, o crítico mergulha no mundo múltiplo e labiríntico de Grande sertão: veredas para encontrar nele uma dimensão mítica que deságua na épica, refundando o gênero romance. Misturando poesia, mito, épica, o romance tematiza esse mundo em que tudo é e não é. Na reconstrução da mistura como um todo orgânico, em que o romance parece renascer do interior da poesia do mais fundo do sertão brasileiro, busca-se tornar inteligível um verdadeiro processo de esclarecimento.

BAGNO, Marcos. Gramática pedagógica do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2011.

Nessa obra, o linguista apresenta uma gramática que tem como cerne os usos da língua e propõe, com base nisso, discussões relevantes, que apoiam a reflexão e a prática docentes.

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Tradução: Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

Nessa obra, entre os conceitos que compõem a teoria dialógica, é apresentado o conceito de gênero do discurso.

BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução: Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. 11. ed. São Paulo: Hucitec, 2004.

A obra desenvolve o conceito de signo ideológico, capital na formulação da teoria dialógica.

BAKHTIN, Mikhail. Para uma filosofia do ato responsável. Tradução: Valdemir Miotello e Carlos Alberto Faraco. São Carlos: João e Pedro Editores, 2010.

A obra apresenta as bases filosóficas da teoria dialógica, com destaque para a arquitetônica bakhtiniana.

BARBOSA, Márcio; RIBEIRO, Esmeralda (org.). Cadernos Negros. São Paulo: Quilombhoje, 1978-.

A série Cadernos Negros publica anualmente, desde 1978, contos e poemas de autores brasileiros negros em forma de antologia: de poemas, nos números ímpares, e de contos, nos números pares. Assim, busca abrir espaço para novos escritores, além de conquistar novos leitores.

BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Tradução: Carlos Alberto de Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.

O autor trata da questão da identidade no contexto do multiculturalismo, com base no pressuposto de sua teoria do mundo e da modernidade líquidos.

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 39. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019.

Gramática que traz um panorama da história da língua e trata de fonética e fonologia, estrutura de palavras, morfologia, sintaxe, noções de versificação e de estilística e que pode apoiar os estudos da norma-padrão pelos estudantes.

BENVENISTE, Émile. Problemas de linguística geral I. Tradução: Maria da Glória Novak e Maria Luisa Neri. Campinas: Pontes, 2005.

BENVENISTE, Émile. Problemas de linguística geral II Tradução: Eduardo Guimarães et al. Campinas: Pontes, 2006.

Nessas obras, o teórico estruturalista Benveniste constrói a teoria geral da enunciação e abre caminho para a plena compreensão de possibilidades da análise discursiva.

BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira São Paulo: Cultrix, 2015.

O emérito professor Alfredo Bosi traça um painel ao mesmo tempo denso e sintético da literatura brasileira desde o período colonial até a contemporaneidade. Referência fundamental para estudantes e professores.

BOTTON, Alain de. Notícias: manual do usuário. Tradução: Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2015.

Nessa obra, o filósofo Alain de Botton apresenta uma reflexão sobre o impacto social do campo jornalístico e midiático discutindo os efeitos do sensacionalismo, das celebridades e das punições e o quanto é possível minimizar a influência negativa e pouco ética dessas estratégias.

BRAIT, Beth (org.). Bakhtin: conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2005.

BRAIT, Beth (org.). Bakhtin: outros conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2010.

Organizados pela professora Beth Brait, ambos os livros apresentam conceitos estruturantes da teoria de Bakhtin e o Círculo em uma linguagem acessível, que pode amparar a leitura das obras originais do teórico russo.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília, DF: MEC, 2018. Disponível em: https://www.gov.br/mec/pt-br/escola -em-tempo-integral/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal. pdf. Acesso em: 2 out. 2024.

Documento que apresenta as bases do desenvolvimento do projeto pedagógico escolar em todos os segmentos da Educação Básica.

BRASIL. Senado Federal. LDB: lei de diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF: Senado Federal: Coordenação de Edições Técnicas, 2017. Disponível em: http:// www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/529732. Acesso em: 2 out. 2024.

Documento com o texto da LDB, de 1996, atualizado em 2017.

BUTLER, Judith. Relatar a si mesmo: crítica da violência ética. Tradução: Rogério Bettoni. Belo Horizonte: Autêntica, 2017.

Como seria possível a existência de uma vida ética? Para responder a essa questão, a filósofa demonstra a dificuldade de narrar a si mesmo, já que a visão das pessoas seria sempre parcial, e propõe uma ética da vulnerabilidade, da humildade e da responsabilidade que considera o outro como fundamental para a construção de um projeto ético coletivo.

CAMPOS, Augusto de; PIGNATARI, Décio; CAMPOS, Haroldo de. Teoria da poesia concreta: textos críticos e manifestos 1950-1960. 2. ed. São Paulo: Duas Cidades, 1975.

A obra reúne textos que discutem os fundamentos estéticos, formais e filosóficos da poesia concreta, enfatizando a importância da experimentação visual e sonora na linguagem poética. O livro explora as relações entre poesia, comunicação e tecnologia, propondo uma nova forma de expressão que transcende a palavra escrita tradicional.

CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 9. ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 2000. Nessa obra fundamental e de referência para estudiosos, o autor analisa a produção literária brasileira, do Arcadismo até o Romantismo.

CRARY, Jonathan. Terra arrasada: além da era digital, rumo a um mundo pós-capitalista. Tradução: Joaquim Toledo Jr. São Paulo: Ubu, 2023.

O autor faz uma crítica contundente à sociedade contemporânea, abordando os impactos negativos do capitalismo digital e a deterioração das relações humanas e do meio ambiente.

CUNHA, Celso; CINTRA, Luís Filipe Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 7. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2016.

Gramática descritivo-normativa que pode apoiar os estudantes nos estudos da norma-padrão. Ela traz um panorama da história da língua e trata de fonética e fonologia, estrutura de palavras, morfologia, sintaxe, noções de versificação e de figuras de linguagem.

DAYRELL, Juarez. A escola “faz” as juventudes?: reflexões em torno da socialização juvenil. Educação e Sociedade, Campinas, v. 28, n. 100, p. 1105-1128, out. 2007. Disponível em: www.scielo.br/pdf/es/v28n100/a2228100.pdf. Acesso em: 2 out. 2024.

O texto discute as relações entre juventude e escola, indagando sobre o lugar que esta ocupa na socialização da juventude contemporânea, em especial dos jovens das camadas populares.

DAYRELL, Juarez; JESUS, Rodrigo Ednilson de. Juventude, Ensino Médio e os processos de exclusão escolar. Educação e Sociedade, Campinas, v. 37, n. 135, p. 407-423, abr./ jun. 2016. Disponível em: www.scielo.br/j/es/a/vDyjXnz DWz5VsFKFzVytpMp/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 24 set. 2024.

O artigo reflete sobre os processos de exclusão escolares vivenciados por jovens adolescentes no Brasil.

DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Tradução: Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.

A expressão “sociedade do espetáculo” refere-se ao poder das imagens na sociedade contemporânea. O autor associa as relações sociais de produção e consumo: o acúmulo de imagens relaciona-se ao acúmulo de capital e tem no marketing ferramenta fundamental para a mercantilização de produtos, de ideias, de cultura.

DUNKER, Christian. Reinvenção da intimidade: políticas do sofrimento cotidiano. São Paulo: Ubu, 2017.

Apoiado em atitudes contemporâneas cotidianas, como disposição a ficar permanentemente conectado e dificuldade para construir situações de real solidão ou intimidade, o autor analisa o sofrimento que, embora vivido no sujeito, está submetido às escolhas de cada um na partilha de afetos.

FARACO, Carlos Alberto. Linguagem & diálogo: as ideias linguísticas do círculo de Bakhtin. São Paulo: Parábola, 2009.

Nessa obra, didaticamente organizada, estudioso de Bakhtin e o Círculo comenta e explica os principais conceitos que estruturam a teoria dialógica.

FIORIN, José Luiz. As astúcias da enunciação: as categorias de pessoa, espaço e tempo. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2016.

Essa obra aborda alguns dos aspectos essenciais da enunciação, como as categorias de tempo, espaço e pessoa.

HALL, Stuart. A identidade na cultura da pós-modernidade. Tradução: Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. 12. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2019.

Em um mundo considerado líquido, em que “tudo que é sólido” pode se desmanchar no ar, a identidade não tem mais nada de imutável. Esse livro discute três conceitos de identidade: o da sociedade iluminista, o da sociedade moderna e o da sociedade pós-moderna.

HAN, Byung-Chul. No enxame: perspectivas do digital. Tradução: Lucas Machado. Petrópolis: Vozes, 2018.

O filósofo nos apresenta como o digital é responsável por transformar e determinar comportamentos, percepções, sensações e pensamentos. A espetacularização e a massificação de opiniões criam um comportamento de enxame nas redes sociais, que é responsável pela construção de identidades e superficialidades de conhecimento e opiniões.

HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Tradução: Enio Paulo Giachini. Petrópolis: Vozes, 2015.

Han define a sociedade do cansaço como a do sujeito do desempenho e da produção: explorado e explorador ao mesmo tempo, agressor e vítima de si mesmo, lança-se a um trabalho que o individualiza e isola.

KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1990.

Essa obra se detém em explicar a construção dos processos de coesão textual, com base em um referencial da Linguística Estruturalista.

KOCH, Ingedore Villaça. Argumentação e linguagem. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

A obra explora as possibilidades de construção de estratégias e de procedimentos argumentativos.

KOCH, Ingedore Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 1990.

Essa obra explica a construção dos processos de coerência textual, com base em um referencial da Linguística Estruturalista.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução: Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. 11. ed. São Paulo: Cortez: Unesco, 2006.

Nessa obra, o filósofo e sociólogo francês opina sobre o que se deveria aprender para enfrentar os desafios da educação do século XXI. Ao falar sobre a necessidade de aprender a enfrentar as incertezas, a ética do gênero humano, a identidade terrena, entre outros tópicos, Morin alerta para as grandes questões que podem ajudar a refletir sobre o mundo e a construir novos posicionamentos.

NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. São Paulo: Ed. Unesp, 2000.

Essa gramática observa as regularidades da língua em uso. Para isso, adota uma organização que propicia um tratamento cujo principal objetivo é observar a língua em funcionamento, as normas de uso e suas possibilidades e restrições.

RANCIÈRE, Jacques. João Guimarães Rosa: a ficção à beira do nada. Tradução: Inês Oseki-Dépré. São Paulo: Relicário, 2021.

O livro discute como Guimarães Rosa utilizou a linguagem para descrever o indizível e abordar temas como o vazio, o limite e o infinito, oferecendo uma reflexão sobre a potência da ficção em transcender a realidade.

SAFATLE, Vladimir. Circuito dos afetos: corpos políticos, desamparo, fim do indivíduo. 2. ed. rev. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.

O filósofo e psicanalista associa a transformação social e política à mudança do que ele chama circuito de afetos, os quais produzem corpos políticos, individuais e coletivos.

SALLA, Thiago Mio; LEBENSZTAYN, Ieda (org.). O antimodernista: Graciliano Ramos e 1922. São Paulo: Record, 2024.

O livro investiga a tensão entre Ramos e a vanguarda modernista, destacando como sua obra se distanciou dos excessos e da inovação radical que caracterizaram o Modernismo, mantendo uma postura crítica em relação ao movimento.

SILVA, Mário Augusto Medeiros. A descoberta do insólito: literatura negra e literatura periférica no Brasil (19602020). 2. ed. rev. ampl. São Paulo: Ed. Sesc-SP, 2023.

O livro analisa obras que abordam o cotidiano da periferia, o racismo estrutural e a luta por espaço na cultura brasileira, destacando como essas narrativas emergem como potentes vozes de resistência e inovação estética.

TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino da gramática no 1o e 2o graus. São Paulo: Cortez, 1997.

Essa obra apresenta uma proposta de ensino de gramática que parte do questionamento da necessidade desse conhecimento na escola e se preocupa em articular esse conhecimento da língua com a produção de texto.

Apresentação

ORIENTAÇÕES PARA O PROFESSOR

Prezada professora, prezado professor,

O Ensino Médio tem apresentado muitos desafios a todos os envolvidos com educação. Professores, pesquisadores, governantes e gestores buscam soluções não só para garantir maior presença dos estudantes nessa etapa da Educação Básica como também para pensar um ensino que faça sentido para os jovens no mundo contemporâneo.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), cuja etapa do Ensino Médio foi aprovada em dezembro de 2018, tem como propósito vertebral uma educação integral, que forneça subsídios aos estudantes para a formulação de um projeto de vida. Fazer isso na contemporaneidade exige também postura alerta às relações – de cada um consigo mesmo, com o outro, com o mundo ao redor, com o próprio conhecimento.

Esta obra considera esses desafios. Traz um conjunto de leituras e propostas de atividades e práticas que perseguem o objetivo central de apoiar os estudantes na construção de um conhecimento que seja ao mesmo tempo de si mesmo, do outro e do mundo. Nesse tripé, pode apoiar-se a construção da identidade – processo visto como fundamental para o desenvolvimento do protagonismo dos estudantes, sem o qual o projeto de vida fica comprometido. Desse modo, a coleção convoca os estudantes a afirmar sua voz e a se abrirem à alteridade, além de possibilitar a construção de modos de articular, entender e avaliar diferentes contextos.

Acreditamos que o trabalho proposto criará muitas oportunidades de diálogo com os estudantes: uma troca genuína, atual e plena de sentido. Estamos juntos nesta caminhada e nos colocamos sempre à disposição para ouvir cada um de vocês. Bom trabalho a todas e todos!

Os autores

SUMÁRIO

Conhecendo a coleção

Introdução

[…] a educação deve afirmar valores e estimular ações que contribuam para a transformação da sociedade, tornando-a mais humana, socialmente justa e, também, voltada para a preservação da natureza […].

Brasil1

Um lugar onde todos

Se veem nos demais

Porque é olhando os demais

Que enxergamos a gente

Brito2

A complexidade do mundo contemporâneo apresenta desafios que têm exigido permanente reposicionamento de autoridades, empresários, pesquisadores, pensadores e, em particular, de educadores. O panorama que se abre ao educador hoje exige, além de boa dose de coragem, respostas inovadoras, que possam significar um caminho de formação para estudantes de todos os níveis de ensino e que considerem os impactos das tecnologias nas relações sociais e no mundo do trabalho.

Nas diferentes áreas do conhecimento, perpassando a Psicanálise, a Filosofia, a Sociologia, a Pedagogia, entre tantas outras, há uma busca incessante de grandes pensadores contemporâneos por compreender a realidade e as questões mais urgentes da atualidade. O filósofo Zygmunt Bauman (1925-2017)3, por exemplo, ao formular o conceito de “mundo líquido”, destaca a impermanência e a instabilidade das

Resistir ao isolamento e a outros estados psíquicos que têm visivelmente afetado a vida dos jovens estudantes e o modo como se dão os afetos no mundo virtual e no mundo real tem sido uma preocupação cada vez mais acentuada. O psicanalista brasileiro Christian Dunker (1966-)7, por exemplo, analisa a questão do isolamento na vida contemporânea não apenas em função das mediações da tecnologia mas também

1 BRASIL, 2013 apud BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília, DF: MEC, 2018. p. 8. Disponível em: https:// www.gov.br/mec/pt-br/escola-em-tempo-integral/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal.pdf. Acesso em: 21 out. 2024.

2 COMO iguais. Intérprete: Sérgio Britto (part. Luiz Melodia). Compositor: Sérgio Britto. In: PURABOSSANOVA. Intérprete: Sérgio Britto. Rio de Janeiro: Som Livre, 2013. 1 CD, faixa 6.

3 BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Tradução: Carlos Alberto de Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.

4 MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução: Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. 11. ed. São Paulo: Cortez: Unesco, 2006.

5 LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Tradução: Carlos Irineu da Costa. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2010. (Coleção Trans).

6 HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Tradução: Enio Paulo Giachini. Petrópolis: Vozes, 2015. p. 71.

7 DUNKER, Christian. Reinvenção da intimidade: políticas do sofrimento cotidiano. São Paulo: Ubu, 2017. relações e dos contextos de interação. O pensador Edgar Morin (1921-)4 entende que, em um mundo complexo, a articulação de conhecimentos e a humanização do ensino se mostram condições importantes para o enfrentamento de questões cada vez mais intrincadas. Como aponta Pierre Lévy (1956-)5, há um mundo atravessado pela tecnologia, no qual se alteram não só os meios de comunicação, mas principalmente a subjetividade e o modo de pensar dos sujeitos – já que, ao manipular objetos técnicos, tais ferramentas alteram, segundo o teórico, a própria maneira de pensar. Pode-se apontar também o “mundo do cansaço” do filósofo Byung-Chul Han (1959-) que, ao entender a sociedade contemporânea como sendo construída por “sujeitos de desempenho e produção, ‘empresários de si mesmo’, produz ‘um cansaço solitário, que atua individualizando e isolando’”6. Dessa forma, confrontar o isolamento e a intolerância promove o diálogo entre a diversidade de experiências e os diferentes pontos de vista, de modo a valorizar o universo de cada um, buscando o entendimento, o respeito e a valorização do outro como fundamentais na construção da identidade.

pelos modelos inalcançáveis de sucesso e felicidade. Outro psicanalista brasileiro e filósofo, Vladimir Safatle (1973-)8, tem se dedicado a observar a relação entre poder, política, solidão e a sensação de desamparo, explicitando a dimensão coletiva e social que se coloca além dos indivíduos e que acaba, por fim, interferindo na vida pessoal. Vários filósofos e psicanalistas têm se dedicado, mais recentemente, a observar como as redes sociais e a vida virtual têm afetado os jovens, aumentando o isolamento, a angústia ou até mesmo os estados depressivos de estudantes.

Diante de toda a complexidade que o mundo contemporâneo apresenta, é necessário legitimar a voz dos estudantes como sujeitos capazes de autonomia intelectual e pensamento crítico, essenciais na afirmação da identidade, capazes de atuar na vida cidadã, de participar da formulação de políticas – termo aqui entendido em seu sentido amplo, ou seja, como meio para formular os pactos que regem a vida comum – e de promover situações de participação ativa diante do outro, valorizando a si mesmo e as divergências próprias de um universo tão diverso.

As

bases teórico-metodológicas da coleção

Considerando o contexto atual apresentado, esta coleção foi planejada com base na necessidade de colocar o diálogo como eixo fundamental do trabalho curricular, tanto na organização dos conteúdos como no encaminhamento das diversas atividades: propondo desafios de pesquisa, leituras voltadas ao aprendizado de estratégias de estudo e elaboração de projetos. São apresentados temas diversos da vida contemporânea, com propostas de estudo sistemático da língua em suas diferentes dimensões (estrutural, textual e discursiva) de modo a oferecer aos estudantes conhecimentos necessários para promover práticas fundamentais à vida cidadã e abrir oportunidades

de troca em que a argumentação tem lugar central na forma civilizada de diálogo entre opiniões e valores.

O conceito de diálogo apoia-se aqui no conceito de dialogismo, tal como formulado pelo filólogo, historiador, sociólogo, filósofo, professor de língua e literatura, Mikhail Bakhtin (1895-1975). O teórico quis olhar para o ser humano em sua singularidade, para as correntes discursivas a que se filia, os discursos atravessados nas vozes de cada sujeito situado no tempo e no espaço, as relações em que estão mergulhados. Trata-se, portanto, de uma singularidade plural de saída porque leva em conta as relações dialógicas como condição da vida humana.

[…] O falante não é um Adão, e por isso o objeto de seu discurso se torna inevitavelmente um palco de encontro com opiniões de interlocutores imediatos (na conversa ou na discussão sobre algum acontecimento do dia a dia) ou com pontos de vista, visões de mundo, correntes, teorias etc. (no campo da comunicação cultural). Uma visão de mundo, uma corrente, um ponto de vista, uma opinião sempre têm uma expressão verbalizada. Tudo isso é discurso do outro (em forma pessoal ou impessoal), e este não pode deixar de refletir-se no enunciado. O enunciado está voltado não só para o seu objeto mas também para os discursos do outro sobre ele9.

[…] em qualquer enunciado, quando estudado com mais profundidade em situações concretas de comunicação discursiva, descobrimos toda uma série de palavras do outro semilatentes e latentes, de diferentes graus de alteridade. Por isso o enunciado é representado por ecos como que distantes e mal percebidos das alternâncias dos sujeitos do discurso e pelas tonalidades dialógicas, enfraquecidas ao extremo pelos limites dos enunciados, totalmente permeáveis à expressão do autor10.

Ao ocupar um lugar nesse diálogo, cada sujeito afirma uma posição que será sempre marcada por valores, posicionamentos, aberta a outras respostas, inserindo-se na corrente discursiva que garante, a cada um, sua voz, sua identidade. Assim, ao ser colocado em interação, o indivíduo produz enunciados que se

8 SAFATLE, Vladimir. Circuito dos afetos: corpos políticos, desamparo, fim do indivíduo. 2. ed. rev. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.

9 BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Tradução: Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. (Coleção biblioteca universal, p. 300).

10 BAKHTIN, ref. 9, p. 299.

realizam em um tempo e um lugar concretos e a partir de um centro de valor individual:

[…] o mundo se dispõe em torno de um centro valorativo concreto […]. O que constitui esse centro é o ser humano: tudo nesse mundo adquire significância, sentido e valor apenas em correlação com o homem – como aquilo que é humano. Todo Ser possível e todo significado possível se dispõe em torno do ser humano como o único centro e o único valor; tudo […] deve ser correlacionado com o ser humano, deve se tornar humano11

Tais centros de valor ganham expressão em enunciados concretos. É por meio de enunciados concretos que cada sujeito ocupa esse lugar e sustenta sua posição, ou seja, é por meio da realização singular e única da língua em um dado ato ético, social, histórica e espacialmente situado, que o sujeito afirma sua voz. O enunciado concreto corresponde, portanto, a “um lugar no Ser único e irrepetível, um lugar que não pode ser tomado por ninguém mais”12. Isso revela uma singularidade (eu-para-mim) e um gesto ético, porque inclui o outro produzindo contato de centros de valor, uma arena em que esses valores se atritam (outro-para-mim, eu-para-o-outro). Por ser social, o discurso constrói diálogos no tempo entre temas, valores, posicionamentos que se tecem e podem integrar a mesma corrente discursiva.

O conceito de diálogo, portanto, dá-se entre posicionamentos que podem estar dispostos em textos de diferentes temporalidades ou na troca viva de opiniões, propostas, crenças, conjecturas, convicções, modos de ser e de estar. Tudo aquilo que afeta tem a ver com a capacidade que uma pessoa, artefato, situação, ideia, obra ou espaço tem de nos colocar em outro

lugar discursivo, comunicar algum tipo de emoção; somos afetados por aquilo a “que nossos olhos não podem ser indiferentes [...], seja através das formas da atração, seja através da repulsa”13. Afetar o outro só é possível por meio de algum tipo de interação, pelos diálogos que, ainda que atravessados pela tensão própria das relações dialógicas, podem ter a força de aglutinação entre sujeitos.

É por meio dessa troca viva que acreditamos derivar-se em grande parte a construção da identidade. A afirmação da identidade se dá no reconhecimento das diferenças que esse diálogo vivo, atravessado de temas, propósitos, formatos muito diferentes, expõe.

O conceito de identidade ocupa vasto lugar em diversos campos do conhecimento. A título de exemplo, no campo da Sociologia, Juarez Dayrell14, 15, 16 problematiza o lugar que a escola ocupa na socialização da juventude contemporânea, em especial dos jovens das camadas entendidas como populares. Já nos campos da Psicologia e da Psicanálise, David Léo Levisky17 olha para a construção da identidade associada a questões como violência, cidadania, liberdade, democracia. Christian Dunker analisa as dinâmicas dos sujeitos, seu isolamento ou seu engajamento social em um mundo onde os limites entre vida privada e vida pública, intimidade e exposição estão embaçados. O autor reconhece que […] As redes sociais podem aprofundar o isolamento de alguém quando olhamos para a tirania do sucesso que elas impõem como fenômeno discursivo. [...] A complexidade e o risco social representado pela conversa ‘virtual’ atacarão quem não tem nada a perder e os que temem por sua imagem18.

Além do teórico Christian Dunker, vários outros estudiosos têm se dedicado a pensar fragilidades que

11 BAKHTIN, Mikhail. Para uma filosofia do ato. Tradução: Carlos Alberto Faraco e Cristóvão Tezza. [S. l.: s. n., 200-]. p. 79. Tradução para fins acadêmicos, não publicada. Versão inglesa de Vadim Liapunov do original russo.

12 BAKHTIN, ref. 11, p. 58.

13 SAFATLE, ref. 8, p. 14.

14 DAYRELL, Juarez. O jovem como sujeito social. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 24, p. 40-52, set./dez. 2003. Disponível em: https://www. scielo.br/pdf/rbedu/n24/n24a04.pdf. Acesso em: 21 out. 2024.

15 DAYRELL, Juarez. A escola “faz” as juventudes?: reflexões em torno da socialização juvenil. Educação e Sociedade, Campinas, v. 28, n. 100, p. 1105-1128, out. 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/es/v28n100/a2228100.pdf. Acesso em: 21 out. 2024.

16 DAYRELL, Juarez; JESUS, Rodrigo Ednilson de. Juventude, Ensino Médio e os processos de exclusão escolar. Educação e Sociedade, Campinas, v. 37, n. 135, p. 407-423, abr./jun. 2016. Disponível em: www.scielo.br/j/es/a/vDyjXnzDWz5VsFKFzVytpMp/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 21 out. 2024.

17 LEVISKY, David Léo. Construção da identidade, o processo educacional e a violência: uma visão psicanalítica. Pro-Posições, Campinas, v. 13, n. 3, set./dez. 2002. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8643939/11395. Acesso em: 21 out. 2024.

18 DUNKER, ref. 7, p. 28.

afetam os jovens, muitas vezes isolando-os e produzindo diversas patologias.

Se a fricção entre as trocas contribui para a construção da identidade, se é no contato com a alteridade que nos construímos como sujeitos responsivos, o diálogo pode ser considerado forma de resistência ao isolamento que, em diversas condições, mostra-se pouco produtivo não apenas no processo de aprendizagem mas na formação dos estudantes como sujeitos críticos, aptos ao exercício da vida cidadã e à plena realização de suas aspirações e vontades.

A presente coleção considera todas essas fontes e toma como eixo fundamental o conceito de diálogo amparado pela teoria de Mikhail Bakhtin, tal como apresentada aqui.

A esse eixo geral e ao panorama teórico de fundo apresentado, somam-se outras referências para o trabalho com a língua e a linguagem, consideradas também em sua dimensão gramatical e textual – com a leitura de gêneros não literários embalada pelas teorias dialógicas já mencionadas, o que requer uma participação ativa na construção dos sentidos, e com o trabalho com produção de texto –, apresentadas a seguir, no detalhamento da proposta.

Essenciais para a expressão do pensamento, da emoção, de tudo o que nos faz humanos, o domínio das competências da área de Linguagens e suas Tecnologias e das de Língua Portuguesa, em particular, garante acesso à vida cidadã, à afirmação de si, à construção de um lugar social – que é também discursivo –, permitindo ao jovem ser protagonista de si, construir seu projeto de vida e usufruir do mundo prático e sensível a que tem direito.

O trabalho com a linguagem é, portanto, fundamental na formação do cidadão crítico, preparado para o mundo do trabalho e a continuidade dos estudos; na formação do sujeito capaz de reconhecer e manifestar

19 BRASIL, ref. 1, p. 481.

20 BRASIL, ref. 1, p. 481.

21 BRASIL, ref. 1, p. 481.

“sentimentos, interesses, capacidades intelectuais e expressivas”19; de ampliar e aprofundar “vínculos sociais e afetivos”20; e de refletir “sobre a vida e o trabalho que [gostaria] de ter”21. É por meio da linguagem que o jovem se interroga sobre si mesmo, sobre os outros próximos e distantes, sobre o mundo ao redor. A linguagem humaniza.

Nesta coleção, considera-se que o jovem só será protagonista de si mesmo na medida em que puder afirmar sua voz como sujeito capaz de pensar o mundo, sustentar suas ideias, expressar o que pensa e sente em diferentes linguagens. Assim, há a preocupação de:

a) Consolidar e aprofundar a construção dos conhecimentos desenvolvidos no Ensino Fundamental relacionados à Área de Linguagens e suas Tecnologias;

b) Possibilitar a efetiva construção dos conhecimentos, das competências gerais e competências específicas relacionadas à Área de Linguagens e suas Tecnologias, condizentes com os componentes que compõem a respectiva coleção, de forma integrada com as outras áreas do conhecimento22;

Para isso, os volumes desta coleção articulam diferentes textos para desenvolver a capacidade de “expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo”23 em diferentes esferas de produção e circulação e em diferentes gêneros; bem como a capacidade de:

7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta24

22 BRASIL. Ministério da Educação. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Secretaria de Educação Básica. Programa Nacional do Livro e do Material Didático. Edital de Convocação no 02/2024: CGPLI: PNLD Ensino Médio 2026-2029: anexo 01: referencial pedagógico. Brasília, DF: MEC, 2024. p. 18.

23 BRASIL, ref. 1, p. 9.

24 BRASIL, ref. 1, p. 9.

[…] [e formular] análise crítica, criativa e propositiva da produção, circulação e recepção de textos de divulgação científica e de mídias sociais, considerando os elementos que constituem esses textos (em termos de gêneros) e procedimentos de leitura multimodal e inferencial25.

O desenvolvimento dessas competências, aqui entendidas como “a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho”26, conforme dispõe a BNCC, pede uma abordagem que estimule a crítica; que estimule uma postura ativa dos estudantes; que considere a facilidade do acesso às informações disponibilizadas pela tecnologia, que coloca peso e importância no modo como essas informações se articulam para construir pensamento analítico, crítico, lógico, analógico, sistêmico, criativo, prático, deliberativo, propositivo em certos casos, sintético etc.; que estimule atitudes éticas, respeitosas, empáticas, solidárias; que defenda valores que dignifiquem e valorizem a vida humana em sua diversidade, aí incluído o contexto social e natural em que vivemos.

A ideia de diálogo regulou toda a organização dos conteúdos da coleção. Na frente de Literatura, buscou mostrar que a produção de cada momento histórico está impregnada das vozes sociais da época em que é produzida e das que ecoam de outras épocas, já que toda produção está integrada a uma corrente discursiva que cada obra resgata e renova. Assim, cada momento histórico da produção literária ecoa os discursos que fazem parte da arquitetura de um tempo entre tempos.

Para dar forma a essa ideia, cada unidade da coleção introduz o estudo com a leitura de um texto literário contemporâneo ou moderno, cuja exploração será seguida de textos apresentados na seção No fio do tempo que se afirmaram como exemplares de diferentes projetos estéticos e, consequentemente, ideológicos. Nessa seção, são apresentados diferentes projetos literários (“projeto” entendido aqui como um

conjunto de obras em que se podem identificar vetores ideológicos comuns). A construção desse diálogo entre tempos foi pautada por similaridades, sobretudo temáticas e eventualmente estilísticas. A opção de partir de textos mais “atuais” pode favorecer a entrada dos estudantes em um campo de discussões que pretendem problematizar ideias e valores que se manifestam em textos de épocas distintas.

A Unidade 1 do Volume 3, que irá tratar da prosa da geração de 1930, por exemplo, é introduzida por um trecho de Torto arado, de Itamar Vieira Junior, uma obra que mergulha na vida de uma comunidade rural no sertão baiano para discutir questões ligadas à posse da terra, à luta por direitos e à identidade. Em seguida, o leitor será confrontado com o sertão de Vidas secas, de Graciliano Ramos, podendo concluir, depois de apresentado o contexto da produção de 1930, que Torto arado estabelece um elo significativo com a literatura em prosa da segunda geração modernista ao retomar e revitalizar temas centrais dessa tradição, como a exploração das realidades regionais e a crítica social: as complexidades da vida agrária, a luta pela terra e a resistência das comunidades tradicionais.

As questões que orientam o estudo dos textos literários exploram o diálogo com o contexto, as informações básicas do texto e os recursos estilísticos ou semânticos relevantes para chegar às questões mais de fundo de que todo texto é portador – ou seja, os posicionamentos que sustenta. Vale dizer que as respostas sugeridas para as questões não refletem exatamente uma expectativa das formulações dos estudantes; muitas têm o objetivo de também apoiar e orientar o professor quanto às possibilidades de discussão que podem suscitar.

Os contextos – ou seja, as condições históricas, sociais, econômicas, culturais e políticas de cada momento – são tratados de formas diversas nas questões de exploração dos textos, em geral associados à leitura de textos de diferentes áreas do conhecimento que pretendem amparar a reflexão dos estudantes.

25 BRASIL, ref. 22, p. 43.

26 BRASIL, ref. 1, p. 8.

Os contextos são aprofundados quando o estudo das estéticas tratadas na seção No fio do tempo expande as condições históricas de produção dos diferentes projetos literários. Por exemplo, na Unidade 2 do Volume 2, que trata do projeto naturalista, relaciona-se a estética que produziu narrativas aliadas a discursos de uma ciência que ainda procurava se estabilizar, mas que reproduzia preconceitos e racismo que mantinham a estrutura desigual e injusta de sociedade, à obra de Ana Paula Maia, que introduz o estudo da literatura na unidade, sendo possível encontrar ecos do Naturalismo na apresentação das personagens, que se assemelham a animais quando submetidas a contextos em que são privadas de seus direitos mais básicos.

A seleção dos textos literários propostos para a frente de Literatura pautou-se em conciliar a tradição literária a outros que permaneceram (quase) ignorados por ela, mas que iluminam novas veredas da produção de cada tempo. Entre eles, tem destaque a literatura feita por mulheres que, em uma sociedade profundamente marcada pelo machismo como a brasileira, foi pouco publicada e pouco lida. Procurou-se também, com a seleção literária desta coleção, confrontar passado e contemporaneidade, propondo, por meio do diálogo, a percepção de arcos temáticos, os quais comunicam também traços das realidades que se transformam e ao mesmo tempo permanecem iguais, o que projeta esboços da identidade brasileira, sobretudo, mesmo quando se trata da literatura portuguesa –essa matriz – ou da literatura africana – essa irmã.

Entre os textos mais contemporâneos, a seleção procurou trazer vozes jovens no cenário das publicações com a certeza de que elas abrem um leque de discussões fundamentais para o presente dos estudantes, que poderão, em seguida, encontrar na seção No fio do tempo raízes outras para esses mesmos assuntos, pensamentos, posições. A amplitude e a diversidade temáticas permitem discutir, entre tantos, os Temas Contemporâneos Transversais, como, por exemplo, os relacionados ao multiculturalismo, como na Unidade 4 do Volume 1, na Unidade 9 do Volume 3, e ao mundo do trabalho, tratado na Unidade 8 do Volume 3.

Nos boxes Ler o mundo e O X da questão, introdutórios à leitura dos textos literários, são apresentadas brevemente as questões fundamentais de cada momento; essa apresentação é seguida por questões que podem propor a retomada de conteúdos vistos em unidades ou mesmo volumes anteriores e uma reflexão de cunho mais pessoal, que pretende explorar o repertório de cada estudante, provocar dúvidas, colocar em diálogo diferentes hipóteses, modos de ver, ideias. Por isso, nem todas as questões têm uma “resposta certa” ou nem mesmo uma expectativa de resposta; trata-se de um momento de reflexão pessoal e coletiva em que a dúvida ou a incerteza podem acionar o alerta da curiosidade, da necessidade de investigação, estágios importantes no processo de construção do conhecimento.

Ao terem oportunidade de trocar com os colegas informações, posições, opiniões sobre tantos temas, os estudantes podem também olhar para si mesmos, confrontar realidades e, com o outro, construir a própria identidade. Esse contato fundamental se alia ao poder humanizador da literatura, que permite o contato com alteridades radicalmente diversas, potencializando o diálogo com o outro e o processo de autoconhecimento.

Complementares ao trabalho com a leitura dos textos literários, a coleção apresenta o boxe Hiperlink, com o objetivo de propor aos estudantes pesquisas de obras e autores importantes na composição de diferentes panoramas literários, e o boxe Ler literatura, em que a leitura de textos do campo artístico-literário pode ser potencializada por saberes de áreas do conhecimento, que iluminam aspectos importantes e que contribuem com a formação do leitor literário. Além dos boxes, a seção Integrando com… propõe relações interdisciplinares, confirmando o texto literário como um poderoso sintetizador de tendências, ideias, ideologias.

Assim, o diálogo em Literatura se estabelece tanto no que prevê o livro didático, ou seja, um diálogo entre texto e estudante por meio da proposição de questões e atividades diversas, quanto entre textos de tempos diferentes e o olhar de que são portadores. Se as atividades se voltam, por um lado, para uma abordagem que pede a compreensão e análise dos estudantes,

também pensa a relação entre eles, requisitando da turma um papel ativo seja em atividades complementares de pesquisa, seja acionando o repertório de cada um ou ainda apelando para uma reflexão que exige posicionamento e argumentação.

O trabalho na frente de Leitura foca o estudo dos gêneros que fortalecem e abrem novas oportunidades de troca entre os estudantes. Os textos selecionados abrangem todos os campos de atuação, desde textos verbais aos verbovisuais, dos escritos aos orais. Essa frente também se abre a um leque amplo de temas, como os presentes na Unidade 1 do Volume 3, em que o texto discute ameaça aos macacos; ou na Unidade 7 do Volume 2, que estuda projetos editoriais por meio da análise de capas de revista que abordam a questão climática; ou na Unidade 5 do Volume 1, que aborda questões sobre cidadania e civismo, entre outras.

Entende-se por leitura todo processo que exige alguma forma de compreensão, análise, construção de sentido de um enunciado, conforme Koch e Elias27. Nesse processo, consideram-se as posições de Colomer28, que entende a importância de ativar os conhecimentos visuais e do repertório do leitor, a formulação de hipóteses e deduções. O trabalho proposto em Leitura também está significativamente amparado pela teoria dialógica já citada, que entende o conceito de gênero como uma interação verbal entre sujeitos historicamente situados. Esses sujeitos produzem enunciados concretos e relativamente estáveis, já que são tomados de uma dada tradição dentro dos mais diversos campos de atividade humana. Esses enunciados são atualizados pelos sujeitos a cada enunciado, na manifestação da vontade discursiva de cada falante. Ao serem produzidos e circularem em um campo de atividade humana, os enunciados apresentam um dado conteúdo temático, que modula as possibilidades de atribuição de sentidos e seus recortes possíveis, uma forma composicional, que diz respeito a elementos de organização interna dos gêneros, e um estilo.

As atividades de leitura terão como foco a busca da posição que sustenta cada texto (verbal,

Associadas à leitura de diferentes gêneros e às reflexões sobre a língua, as propostas de produção de texto da seção #nósnaprática partem de diferentes situações de comunicação em diferentes campos de atuação para públicos específicos, o que exige que a estrutura e a linguagem do texto sejam adequadas à enunciação. A produção pode referir-se a textos escritos ou orais, em linguagem verbal ou verbovisual. Assim, os estudantes podem ser chamados a escrever um roteiro ou a gravar uma entrevista, por exemplo. Em alguns casos, o gênero que será desenvolvido não é trabalhado na seção de leitura, mas na própria seção de produção. Desse modo, além de uma estrutura que oferece aos estudantes a orientação de um processo de trabalho, garante-se a eles também uma referência do gênero que deverão produzir. Entre as habilidades desenvolvidas, algumas delas estão voltadas ao universo digital, favorecendo, em certos casos, a discussão sobre a confiabilidade das fontes, assunto tão relevante no mundo contemporâneo das falsas informações.

Nessa seção, o boxe Laboratório de produção permite aos estudantes um olhar mais atento a algum recurso, sobretudo linguístico-textual, que poderão aplicar à produção. Nesse boxe, teoria e prática se articulam para que os estudantes possam se exercitar em um aspecto relevante para a produção de texto proposta.

27 KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2011.

28 COLOMER, Teresa; CAMPS, Anna. Ensinar a ler, ensinar a compreender São Paulo: Artmed, 2002. verbovisual; contínuo ou descontínuo). Além da face material e estrutural, o trabalho com a leitura de gêneros considera que todo enunciado (verbal, visual ou verbovisual) traça uma rede de relações discursivas com seu contexto de produção, com o público a que visa, com a tradição em que se insere, e está atravessado de valores cuja compreensão é fundamental no processo de formação dos sujeitos/estudantes como protagonistas. Assim, as questões que orientam o estudo dos gêneros consideram o contexto de produção e circulação, as informações explícitas e/ou implícitas, aspectos estilísticos ou semânticos, até chegar à camada argumentativa do texto.

Na frente de Análise linguística, o trabalho gramatical, sempre amparado em textos, considera a norma e a descrição estabelecidas em gramáticos como Cunha e Cintra29, e ainda outras, orientadas também pelo uso, como a de Bagno30, a de Neves31 e a de Vieira e Faraco32. A matéria textual incorpora os estudos sobre a teoria da enunciação de Benveniste33, 34, teórico também afeito aos aspectos discursivos, e as contribuições dos estudos de Koch35, 36, Koch e Travaglia37, Travaglia38 e Fiorin39, 40. As questões discursivas consideram sobretudo as contribuições de Bakhtin e o Círculo41, 42, 43, 44 e de seus comentadores, como Beth Brait45, 46 e Faraco47.

Nessa frente, são priorizadas as questões descritivo-normativas. Elas se concentram, nesta coleção, na sintaxe, uma vez que os estudos de morfologia estão previstos desde o Ensino Fundamental – Anos Iniciais e Finais. Considerando o impacto do estudo da relação entre as palavras e seus acordos, da subordinação e da coordenação de orações, da construção da coesão e da coerência na construção do pensamento, a coleção optou por privilegiar os estudos sintáticos retomando brevemente a morfologia quando esta se mostrar importante para o entendimento e estudo dos conceitos em foco na unidade.

A seção Astúcias da língua amplia, observa a aplicação ou trata da dimensão discursiva dos conceitos estudados ou ainda explora dimensões linguísticas do gênero apresentado em Leitura. Desse modo, amplia

as possibilidades de reflexão sobre a língua e cria, em alguns casos, diálogos internos que levam à observação dos conceitos em contexto textual, como na Unidade 3 do Volume 1, em que, depois das noções de acordo entre sujeito e predicado, se estuda o papel da concordância na construção da coesão; ou em contexto discursivo, como na Unidade 4 do Volume 1, em que, depois de estudados os tipos de sujeito, se estudam os efeitos de sentido da impessoalização do discurso com os sujeitos indeterminados.

Três projetos presentes na coleção, intitulados #fazerjunto, são propostos aos estudantes. Seus temas se relacionam a algum aspecto tratado em unidades anteriores a eles. A proposta procura pedir uma postura ativa dos estudantes: sendo sempre em grupo e resultando em um produto, pede negociação de sentidos e de encaminhamento de propostas, organização e, como na seção #nósnaprática, desenvolve, em vários casos, habilidades digitais e discussões relacionadas ao universo virtual.

Na seção Ler…, as leituras de textos de outras áreas do conhecimento têm o objetivo específico de fazer os estudantes lerem o texto para estudá-lo. A fim de dar caminhos ao estudo de textos nessas áreas, o trabalho proposto na seção sugere diferentes estratégias de leitura aos estudantes para instrumentalizá-los a desenvolver:

[…] atividades que envolvam a análise de textos das três outras áreas de conhecimento (Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza

29 CUNHA, Celso; CINTRA, Luís Filipe Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 7. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2016.

30 BAGNO, Marcos. Gramática pedagógica do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2011.

31 NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. São Paulo: Unesp, 2000.

32 VIEIRA, Francisco Eduardo; FARACO, Carlos Alberto. Gramática do português brasileiro escrito. São Paulo: Parábola, 2023.

33 BENVENISTE, Émile Problemas de linguística geral I. Tradução: Maria da Glória Novak e Maria Luisa Neri. Campinas: Pontes, 2005.

34 BENVENISTE, Émile Problemas de linguística geral II. Tradução: Eduardo Guimarães et al. Campinas: Pontes, 2006.

35 KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1990.

36 KOCH, Ingedore Villaça. Argumentação e linguagem. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

37 KOCH, Ingedore Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 1990.

38 TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino da gramática no 1o e 2o graus. São Paulo: Cortez, 1997.

39 FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à linguística I: objetos teóricos. 6. ed. São Paulo: Contexto, 2010.

40 FIORIN, José Luiz. As astúcias da enunciação: as categorias de pessoa, espaço e tempo. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2016.

41 BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução: Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. 11. ed. São Paulo: Hucitec, 2004.

42 BAKHTIN, ref. 9.

43 BAKHTIN, Mikhail. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. Tradução: Aurora Fornoni Bernardini et al. 6. ed. São Paulo: Hucitec, 2010.

44 BAKHTIN, Mikhail. Para uma filosofia do ato responsável. Tradução: Valdemir Miotello e Carlos Alberto Faraco. São Carlos: João e Pedro Editores, 2010.

45 BRAIT, Beth (org.). Bakhtin: conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2005.

46 BRAIT, Beth (org.). Bakhtin: outros conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2010.

47 FARACO, Carlos Alberto. Linguagem & diálogo: as ideias linguísticas do círculo de Bakhtin. São Paulo: Parábola, 2009.

e suas Tecnologias, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas) com intuito explícito de subsidiar a aprendizagem do estudante nas outras áreas48.

Vale ressaltar, por fim, o importante papel que a argumentação tem na proposta da coleção. Aliada ao eixo do diálogo e da construção da identidade, a argumentação é trabalhada nas mais diversas seções e atividades do material, desenvolvidas sobretudo na seção Pensar e compartilhar. Além de capital para o exercício da vida cidadã, para a vida social dos estudantes, exigida em diversos gêneros e modalidades textuais que atravessam os caminhos de provas e concursos, o trabalho com a argumentação é também a prática do respeito e a resistência às formas da agressão e da violência. Ao serem colocados diante de posições e valores que se confrontam e diante dos quais precisam se posicionar, os estudantes entendem que a argumentação é o caminho para o diálogo com o outro e abre possibilidades de reflexão sobre si e sobre o mundo.

Habilidades, atitudes e valores no Ensino Médio

A BNCC indica um trabalho pedagógico com o desenvolvimento integrado das competências gerais previstas para a Educação Básica, das competências específicas e das habilidades para o Ensino Médio. Tal integração implica uma abordagem em que se mobilizem conhecimentos, atitudes e valores em prol da participação crítica e ativa dos estudantes, nos diversos campos de atividade dos componentes da área de Linguagens e suas Tecnologias; sendo assim, os eixos que sustentam essa integração: […] são as práticas de linguagem consideradas no Ensino Fundamental – leitura, produção de textos, oralidade (escuta e produção oral) e análise linguística/semiótica. As dimensões, habilidades gerais e conhecimentos considerados, relacionados a essas práticas, também são os mesmos [...], cabendo ao Ensino Médio [...] sua consolidação e complexificação, e a ênfase

nas habilidades relativas à análise, síntese, compreensão dos efeitos de sentido e apreciação e réplica (posicionar-se de maneira responsável em relação a temas e efeitos de sentido dos textos; fazer apreciações éticas, estéticas e políticas de textos e produções artísticas e culturais etc.)49.

Os textos e as atividades propostos nesta coleção, ao longo das frentes e seções, contemplam esses princípios, oferecendo ao professor suporte para mapear o repertório que os estudantes trazem para a sala de aula e contribuindo para que se enfrente o desafio de se trabalhar com grupos numerosos e diversos, visando selecionar procedimentos metodológicos que respeitem os diferentes ritmos e necessidades dos “diferentes grupos de alunos, suas famílias e cultura de origem, suas comunidades, seus grupos de socialização”50

Em termos práticos, a BNCC foca o trabalho com as competências, isto é, os saberes, em conjunto com as habilidades, as quais consistem na capacidade de aplicação desses saberes em situações reais, estimulando atitudes – ou seja, mecanismos internos que impulsionam a mobilização desses saberes e habilidades – e valores, que são os princípios subjacentes às práticas dos conhecimentos e das habilidades, tais como compromisso com os direitos humanos e a justiça social, ética e consciência ambiental.

Dado o maior grau de autonomia dos jovens do Ensino Médio, as habilidades a serem trabalhadas não são compartimentalizadas por anos; podendo uma habilidade “estar a serviço de mais de uma competência específica da área de Linguagens e suas Tecnologias”51

Na coleção, a seção #nósnaprática, por exemplo, ao articular teoria e prática, conhecimentos científicos e cotidianos, oferece condições para que os estudantes exerçam sua autonomia e vivenciem experiências significativas e contextualizadas que favoreçam o enriquecimento cultural e as práticas cidadãs, atendendo às demandas próprias da vida cotidiana e do mundo do trabalho.

48 BRASIL, ref. 22, p. 20.

49 BRASIL, ref. 1, p. 500-501.

50 BRASIL, ref. 1, p. 17.

51 BRASIL, ref. 1, p. 504.

Ao trabalhar as habilidades vinculadas às competências gerais e específicas, o professor abre caminho para o desenvolvimento do pensamento crítico, comprometido com princípios éticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. O trabalho com conhecimentos, habilidades, atitudes e valores requer uma abordagem interdisciplinar, de modo a permitir a exploração conjunta de temas multifacetados, tais como discriminação e exploração racial e de gênero ou privacidade nas redes sociais e plataformas digitais, favorecendo a ampliação do repertório cultural dos estudantes e instrumentalizando-os para se posicionarem com autonomia e protagonismo acerca de temas que lhes sejam significativos, nos diversos campos de atuação social já abordados neste material.

Avaliação

A avaliação em Língua Portuguesa deve observar os pressupostos dialógicos, que consideram a língua e a linguagem no contexto de interação entre as pessoas em determinados contextos sociais, históricos, culturais e ideológicos. Assim, a avaliação deve considerar as habilidades e competências dos estudantes de compreender as forças discursivas em jogo, identificar as vozes e os discursos aos quais respondem, considerar, no caso da literatura, os textos com os quais podem compor uma tradição, seja rompendo com determinados postulados, seja ressignificando-os. Dessa perspectiva, a avaliação deve valorizar a reflexão e a argumentação dos estudantes, procurando os sentidos plasmados nos diferentes textos tomados como enunciados e as ideias de fundo que defendem. Não só as características de um projeto literário ou a nomenclatura gramatical, ou as características exclusivamente formais de um texto são o objetivo do aprendizado e de sua verificação. Passa a ocupar o primeiro plano uma integração entre habilidades e competências linguísticas dos estudantes em uma situação semelhante àquela que poderiam vivenciar na realidade, no dia a dia da interação social e em sua futura atuação no campo profissional e no prosseguimento dos estudos.

Recomenda-se que a avaliação nas frentes de Literatura e Leitura busque resgatar as condições de produção dos textos e a compreensão de sentido deles, identificando sobretudo as posições que cada um sustenta. A avaliação da frente de Análise linguística deve considerar sobretudo as funções e os efeitos de sentido em um texto, lembrando que o objetivo final de toda a reflexão é a compreensão do sentido e das ideias em jogo.

Na seção de produção de texto #nósnaprática, as propostas partem de diferentes situações de comunicação em diferentes campos de atuação para públicos específicos, o que exige que a estrutura e a linguagem do texto sejam adequadas à enunciação. Para a avaliação dessas produções, são apresentadas sugestões específicas de critérios, de acordo com o que foi solicitado. Nesse e em outros casos, pode-se avaliar o processo e o produto, identificando eventuais dificuldades e facilidades. Também se pode variar a dinâmica, outorgando ao grupo corresponsabilidade no progresso dos colegas.

A avaliação, como instrumento de verificação da aprendizagem dos estudantes, representa não apenas momentos fundamentais do processo de ensino-aprendizagem como legitima e verifica a validade das escolhas teóricas feitas pelo professor e oferecidas pelo material. É verdade que no cotidiano escolar as adversidades limitam o tempo e conduzem o percurso pedagógico a práticas avaliativas mais pontuais. No entanto, é importante que as avaliações adotem uma mesma perspectiva teórica e um mesmo objetivo: permitir aos estudantes o uso competente da língua portuguesa em diversos contextos de interação.

Os estudantes devem entender a avaliação como uma ferramenta que lhes permite reconhecer o

Diversas formas de avaliação podem ser usadas de modo complementar. A avaliação diagnóstica, por exemplo, é um instrumento de verificação do conhecimento, das habilidades já desenvolvidas e também das dificuldades dos estudantes para orientar o trabalho pedagógico. A avaliação comparativa, como o próprio nome indica, tem o objetivo de possibilitar aos estudantes comparar seu desempenho com o de outros estudantes, o que pode ser realizado por meio de testes, elaboração de resumos, avaliações entre pares etc.

aprendizado e as dificuldades e necessidades de aprimoramento linguístico tanto na compreensão como na produção textual, oral ou escrita, verbal ou verbovisual. Essa avaliação deve ocorrer como um processo ao longo do ano letivo (avaliação formativa), não se recomendando que se reduza apenas a uma prova classificatória que condensará em poucas questões todo o conteúdo programático (avaliação somativa). Ao longo do período letivo, todos os trabalhos propostos pelo próprio material didático, entre outros tipos de atividade, podem integrar a avaliação dos estudantes. Na avaliação formativa podem ser propostas dinâmicas variadas, como as feitas pelos próprios estudantes, seja em grupo ou individualmente, num processo de autoavaliação, de modo que aqui se trabalhe também a atitude necessariamente respeitosa, construtiva e consequente para com o outro.

Uma possibilidade de avaliação ipsativa também pode ser construída com os estudantes, propondo, por exemplo, um portfólio das produções textuais com parâmetros que permitam a eles avaliar a evolução de suas produções ao longo de um intervalo de tempo (bimestre ou semestre, por exemplo).

Pensamento computacional

Embora explicitamente descrito na área de Matemática e suas Tecnologias, o pensamento computacional perpassa tanto pela área de Linguagens e suas Tecnologias como por outras áreas do conhecimento. Em Língua Portuguesa, pode auxiliar no desenvolvimento de processos cognitivos como inferência, abstração, resolução de problemas, algoritmização e argumentação.

Retomando a argumentação como um dos focos desta coleção, reitera-se a importância da perspectiva dialógica adotada, considerando que, no contexto de nossa sociedade atual, imersa na cultura digital (ainda que não acessível a todos), é fundamental construir propostas pedagógicas que articulem os conhecimentos escolares aos próprios das práticas digitais, de modo a propiciar condições para que os estudantes

não somente se apropriem de forma técnica e crítica de recursos digitais mas também participem, de forma autônoma e protagonista, das múltiplas práticas de linguagem, da coexistência e convergência de mídias e textos multissemióticos, dos textos e/ou das atividades, em diferentes campos de atuação social, demandas cuja resolução requer a argumentação, permitindo que se:

[...] ampliem as situações nas quais os jovens aprendam a tomar e sustentar decisões, fazer escolhas e assumir posições conscientes e reflexivas, balizados pelos valores da sociedade democrática e do estado de direito. Exigem [as demandas] ainda possibilitar aos estudantes condições tanto para o adensamento de seus conhecimentos, alcançando maior nível de teorização e análise crítica, quanto para o exercício contínuo de práticas discursivas em diversas linguagens [...]52

Ao longo dos volumes de Língua Portuguesa, competências e habilidades relacionadas ao pensamento computacional podem ser desenvolvidas por meio de atividades que requeiram a resolução de problemas envolvendo tanto situações cotidianas quanto a elaboração de rotinas próprias do pensamento algorítmico.

Outros textos e atividades da coleção favorecem, em situações que englobam a natureza, a sociedade, a ciência e a tecnologia, o desenvolvimento do pensamento computacional, à medida que exploram, por exemplo: o raciocínio analítico, a coleta de dados e o reconhecimento de padrões para uma pesquisa; a abstração necessária à elaboração de um roteiro; e a decomposição de uma atividade de produção textual em etapas e em sequência investigativa, selecionando-se a representação de linguagem mais adequada para alcançar um posicionamento a respeito de determinado tema.

Favorecer o pensamento computacional também em Língua Portuguesa pressupõe a formação de estudantes capazes de não apenas identificar as informações mas, principalmente, participar ativamente de situações

52 BRASIL, ref. 1, p. 486.

discursivas, utilizando as múltiplas linguagens (incluindo-se as das tecnologias digitais da informação e comunicação – TDIC) para enfrentar desafios e refletir sobre si e o outro, o particular e o geral, o individual e o coletivo.

Nesse cenário, os jovens precisam ter uma visão crítica, criativa, ética e estética, e não somente técnica das TDIC e de seus usos, para selecionar, filtrar, compreender e produzir sentidos, de maneira crítica e criativa, em quaisquer campos da vida social.

Para tanto, é necessário não somente possibilitar aos estudantes explorar interfaces técnicas [...], mas também interfaces críticas e éticas que lhes permitam tanto triar e curar informações como produzir o novo com base no existente53.

Temas Contemporâneos Transversais

A relevância de inserir na Educação Básica propostas que permitem aos estudantes uma formação voltada à construção da cidadania já era considerada nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), na década de 1990. Os Temas Contemporâneos Transversais (TCTs) foram estruturados, à época, como assuntos significativos para a sociedade e possíveis de serem abrangidos em todas as áreas do conhecimento, alinhando cidadania e saber científico. Em caráter de recomendação para que fossem trabalhados em todos os componentes curriculares, os Temas Contemporâneos Transversais, nos PCN, se dividiam em seis eixos: Saúde, Ética, Orientação sexual, Pluralidade cultural, Meio ambiente e Trabalho e consumo. Evidencia-se que, além da indicação de temáticas que se faziam presentes na sociedade, recomendou-se que fossem abordadas, com base em propostas didáticas e epistemológicas, a transversalidade e a interdisciplinaridade.

Temas Transversais nos PCN54

Trabalho e consumo

Saúde Meio ambiente Ética

Temas Transversais nos PCN

Pluralidade cultural

Orientação sexual

A partir da homologação da BNCC, em 2017, para a etapa do Ensino Infantil e Ensino Fundamental e, em 2018, para o Ensino Médio, os Temas Contemporâneos Transversais tiveram seu alcance ampliado, com a inserção de questões sociais que devem acompanhar a formação dos estudantes, agora em caráter de obrigatoriedade, para a composição do currículo. A inclusão da contemporaneidade não apenas na nomenclatura mas enquanto pressuposto no desenvolvimento dos temas se sustenta na compreensão da integralidade como elemento primordial para a formação de sujeitos atuantes no mundo, exercendo responsabilidade local, regional e global. Para tanto, foram estabelecidas temáticas envolvendo questões que permeiam a sociedade e que consideram a vivência dos estudantes no processo de aprendizagem, habilitando-os a refletir a respeito das diversas realidades e papéis a serem exercidos na construção da cidadania.

A importância da contemporaneidade dos TCTs é reforçada na BNCC:

O mundo deve lhes ser apresentado como campo aberto para investigação e intervenção quanto a seus aspectos políticos, sociais, produtivos, ambientais e culturais, de modo que

53 BRASIL, ref. 1, p. 497.

54 Elaborado com base em: BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Temas Contemporâneos Transversais na BNCC: contexto histórico e pressupostos pedagógicos. Brasília, DF: MEC, 2019. p. 8. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/implementacao/contextualizacao_ temas_contemporaneos.pdf. Acesso em: 26 ago. 2020.

se sintam estimulados a equacionar e resolver questões legadas pelas gerações anteriores – e que se refletem nos contextos atuais –, abrindo-se criativamente para o novo55.

A abordagem dos TCTs no processo de aprendizagem tem como resultado a possibilidade de construir conhecimentos utilizados para a resolução de problemas e para a prática cotidiana, pelo exercício da cidadania. Dessa forma, ao tratar de questões sociais que estão inseridas nas realidades dos estudantes, os conteúdos apresentados passam a extrapolar a produção científica, sem que haja um fim em si mesmo, compreendendo a educação como um processo que se realiza em diversos espaços sociais.

Temas

Contemporâneos

Transversais

na BNCC56

Temas

Contemporâneos

Transversais na BNCC

Multiculturalismo

Diversidade Cultural

Educação para valorização do multiculturalismo

nas matrizes históricas e culturais brasileiras

Ciência e Tecnologia

Ciência e Tecnologia

Cidadania e Civismo

Vida Familiar e Social

Educação para o Trânsito

Educação em Direitos Humanos

Direitos da Criança e do Adolescente

Processo de envelhecimento, respeito e valorização do idoso

Meio Ambiente

Educação Ambiental

Educação para o Consumo

Economia

Trabalho

Educação Financeira

Educação Fiscal

Saúde

Saúde

Educação Alimentar e Nutricional

Educar e aprender são fenômenos que envolvem todas as dimensões do ser humano e, quando isso deixa de acontecer, são produzidas alienação e perda do sentido social e individual no viver. É preciso superar as formas de fragmentação do processo pedagógico em que os conteúdos não se relacionam, não se integram e não interagem.

Nesse sentido, os Temas Contemporâneos Transversais têm a condição de explicitar a ligação entre os diferentes componentes curriculares de forma integrada, bem como de fazer sua conexão com situações vivenciadas pelos estudantes em suas realidades, contribuindo para trazer contexto e contemporaneidade aos objetos do conhecimento descritos na BNCC57.

Em Língua Portuguesa, a amplitude e diversidade de gêneros, de muitas e diversas temporalidades, permite a discussão de amplo espectro temático no qual os Temas Contemporâneos Transversais garantem lugar. O Multiculturalismo, presente na Unidade 4 do Volume 1 e na Unidade 9 do Volume 3; o Trabalho, tratado na Unidade 8 do Volume 3; o Meio Ambiente, a Educação Ambiental e a Educação para o Consumo, abordados na Unidade 1 do Volume 3 e na Unidade 7 do Volume 2; Cidadania e civismo, tratados na Unidade 5 do Volume 1; Ciência e Tecnologia, discutidas na Unidade 6 do Volume 1, são exemplos de possibilidades de reflexão sobre temas tão pertinentes quanto urgentes no mundo contemporâneo.

Estrutura do Livro do estudante

A coleção está organizada em três volumes, cada volume tem nove unidades. Cada unidade traz leituras de textos literários e diversos gêneros, bem como reflexões sobre a língua e seus recursos e uma proposta de produção de texto. A coleção é composta pelos elementos a seguir.

Abertura de unidade: as aberturas de unidade são sempre compostas de imagens. Apresentam uma introdução que propõe uma primeira reflexão sobre o núcleo temático predominante a ser abordada na unidade por meio da leitura dessas imagens e da ativação de conhecimentos prévios dos estudantes.

Literatura: esta frente apresenta textos literários mais atuais em comparação com os textos pertencentes aos projetos literários centrais da unidade e tem como objetivo permitir aos estudantes articular

55 BRASIL, ref. 1, p. 463.

56 Elaborado com base em: BRASIL, ref. 54, p. 13.

57 BRASIL, ref. 54, p. 5.

diálogos entre os temas, reflexões e formas desses textos, em diálogo com os TCTs. Esta frente apresenta as seções e os boxes a seguir.

• Ler o mundo: o boxe propõe atividades com o objetivo de aproximar o conteúdo dos textos literários à experiência dos estudantes, além de propor o levantamento de hipóteses sobre o projeto literário, o gênero e o conteúdo dos textos que serão lidos.

• No fio do tempo : a seção apresenta textos que representam um projeto literário e que permitem aos estudantes conhecer mais sobre o contexto e os diálogos que esses textos literários teceram com os que os antecederam na leitura inicial e com os textos que os sucederão.

• O X da questão: o boxe faz um encaminhamento necessário para a apresentação do projeto literário a ser discutido na seção No fio do tempo. Para tanto, propõe atividades que retomam discussões anteriores e que aproximam o que será discutido pelo texto e pelas atividades à experiência dos estudantes, além de propor o levantamento de hipóteses sobre a estética dos textos literários.

• Contexto : a subseção de No fio do tempo apresenta aos estudantes, de uma forma condensada e ampla, os discursos, acontecimentos e relações de poder que se apresentavam no momento em que se produziu o projeto literário estudado. Assim, os estudantes poderão ter um arcabouço maior que vai lhes permitir tecer diálogos entre o texto e sua situação enunciativa, bem como tecer relações entre o presente e o passado.

• P ágina especial : a seção atua como uma lupa sobre temas, autores e eventos relevantes e que merecem maior destaque. Aqui os estudantes poderão fazer leituras mais direcionadas e realizar atividades que lhes permitam maior entendimento do assunto selecionado.

• Hiperlink : o boxe amplia os estudos de literatura. Nas atividades propostas neste boxe, os estudantes poderão conhecer mais sobre outros autores do mesmo projeto literário estudado, bem como pesquisar de forma mais aprofundada outros temas.

• Integrando c om… : a seção relaciona o assunto estudado na unidade com temas de diversos componentes curriculares da área de Linguagens e suas Tecnologias e também das outras áreas do conhecimento.

• Ler literatura: o boxe tem como objetivo formar leitores capazes de ler e apreciar literatura de maior complexidade, com aprofundamento e fruição. Nele, são apresentadas reflexões sobre temas, diálogos e a estrutura de textos literários, explorando as várias possibilidades de produção de sentidos que deles possam se originar.

Leitura: a frente apresenta texto(s) de diferentes gêneros e campos de atuação social que dialoga(m) com o tema da unidade. A seleção textual procurou atender às diversas demandas dos estudantes em sua vida escolar, pessoal, profissional e social, inserindo-os em um contexto de protagonismo na reflexão sobre os temas propostos e no debate a seu respeito. O boxe Ler o mundo abre também o trabalho com essa frente, com o objetivo de aproximar o tema dos textos à experiência dos estudantes, além de propor o levantamento de hipóteses sobre o gênero e o conteúdo dos textos que serão lidos.

Análise linguística: nesta frente são propostas análises linguísticas e estudos gramaticais considerando a estrutura, alguns usos da língua e seus diferentes efeitos de sentido nos textos, além de retomar e aprofundar conteúdos importantes do Ensino Fundamental – Anos Finais. Dá-se continuidade à reflexão linguística nas atividades, propostas sempre com base em textos, as quais exploram conceitos importantes para a sua compreensão, além dos aspectos discursivos necessários à construção dos sentidos. Essa frente é composta da seção a seguir.

• Astúcias da língua : tem como objetivo abordar fenômenos linguísticos que dialogam com o conteúdo trabalhado na frente de Análise linguística ou em algum texto de Literatura ou de Leitura. O objetivo é mobilizar os conhecimentos linguísticos em seu uso, em textos diversificados, de forma a promover reflexões sobre seu funcionamento na estruturação da coesão e coerência de textos, bem como na produção e ampliação de sentidos.

Pensar e compartilhar: em todas as frentes há a presença desta seção, que convida os estudantes a analisar e compreender os textos literários, os gêneros e os conhecimentos linguísticos, bem como refletir sobre eles.

#nósnaprática: a seção é organizada em etapas que conduzem o processo de produção de textos e envolve gêneros orais, escritos e verbovisuais (multimodais/multissemióticos) dos diversos campos de atuação social. Marca o momento de os estudantes colocarem em prática conhecimentos adquiridos para a produção de textos. O boxe Laboratório de produção, que articula teoria e prática ao propor atividades que exercitam um aspecto relevante para a produção de texto proposta, compõe a seção.

Seções finais de unidade

Ler: aparece duas vezes no volume e sempre trará um texto de uma área de conhecimento diferente para auxiliar os estudantes a desenvolver habilidades de leitura nas áreas de Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.

#fazerjunto: a seção tem como objetivo promover o trabalho colaborativo, a produção de gêneros multimidiáticos e as práticas de pesquisa que dialogam com os conteúdos estudados nas unidades anteriores.

Roteiro: traz diversas indicações de leitura, podcasts, filmes, entre outras, com informações detalhadas, além do título: especificações técnicas, sinopses e imagens.

Os boxes da coleção

Os diferentes boxes da coleção têm como função apoiar o estudo, apresentando: informações adicionais sobre autores e outras figuras públicas (#sobre); indicações de sites, filmes, músicas, livros e outros materiais de consulta (#ficaadica); e informações adicionais sobre o assunto abordado (Saiba mais). Além disso, os boxes conceito e #paralembrar dão destaque aos tópicos mais importantes apresentados na coleção ou em algum momento anterior, quer seja em um volume anterior ou no Ensino Fundamental – Anos Finais.

Estrutura das Orientações para o professor

Além de toda a fundamentação já apresentada neste material, a parte específica das Orientações para o professor forma um componente importante que procura auxiliar e otimizar o trabalho docente em sala de aula. Nelas, são encontrados os itens organizadores a seguir.

Competências gerais e específicas e habilidades de Linguagens e Língua Portuguesa da BNCC: apresenta um quadro com as competências e os códigos das habilidades contempladas por cada unidade (as habilidades de Língua Portuguesa estão destacadas em cores que identificam a que campo de atuação social da BNCC pertencem).

Unidades 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9: introduz as sugestões de trabalho com cada unidade e alguns conteúdos de cada uma delas.

Estratégias didáticas: propõe orientações específicas que visam auxiliar o professor em sala, modos de apresentação e ordenação dos conteúdos, procedimentos de trabalho com as culturas juvenis etc.

Respostas e comentários: apresenta soluções e comentários específicos para atividades propostas no Livro do estudante, com o intuito de tirar o melhor proveito dessas tarefas, ampliando-as com base em reflexões ou desdobramentos suscitados pelos temas e conteúdos abordados.

Formação continuada: oferece trechos de textos relevantes para temas ou conteúdos abordados no decorrer de cada unidade, com o objetivo de contribuir permanentemente para a formação do professor.

Atividades complementares: propõe ao professor atividades que possam complementar as que já são oferecidas no Livro do estudante, com o objetivo de ampliar algum tema ou conteúdo que ele julgar pertinente, de acordo com seu planejamento ou perfil da turma.

Midiateca do professor: apresenta sugestões comentadas de livros, filmes, artigos etc., específicos para o professor.

Midiateca do estudante: apresenta sugestões comentadas de livros, filmes, artigos etc., específicos para os estudantes (podem ser utilizadas pelo professor em abordagens complementares ou indicadas aos estudantes).

Cronograma do 3o ano

A seguir, está apresentada uma proposta de cronograma para o desenvolvimento deste volume da coleção para um planejamento semestral, trimestral e bimestral. É importante considerar que esta proposta é apenas uma sugestão e que o cronograma deve ser adequado às

1a

2a

escolhas feitas pela comunidade escolar, de acordo com a quantidade de aulas estabelecidas no ano letivo para o componente curricular de Língua Portuguesa. Por exemplo, é possível trabalhar os conteúdos de leitura entre a frente Literatura e a seção No fio do tempo, com o objetivo de criar uma alternância de frentes, se julgar mais produtivo para o aprendizado da turma.

Literatura: Seca de direitos 1

Leitura: Artigo de divulgação científica – Ameaça às populações de macacos #nósnaprática: Infográfico 1

3a No fio do tempo: Modernismo – Segunda geração (prosa): Chão seco e espinhos 1

4a Análise linguística: Coordenadas e subordinadas na dinâmica do texto Astúcias da língua: Organização sintática de títulos e legendas 1

5a Literatura: Tempo de tomar partido 2 6a

Leitura: Poema em prosa, poema visual e videopoema – Poesia para além do verso #nósnaprática: Recriação de poema em vídeo 2 7a No fio do tempo: Modernismo – Segunda geração (poesia): Tempo de seres humanos partidos 2

8a

Análise linguística: Concordância verbal Astúcias da língua: Os verbos e o tempo do enunciador 2

Leitura: Editorial – O jornal também fala #nósnaprática: Editorial 3

No fio do tempo: Modernismo – Geração de 45: O sertão dos avessos

Análise linguística: Concordância nominal Astúcias da língua: Dêiticos 3

Literatura: Perder-se dentro de si 4

Leitura: Artigo de divulgação científica – Compartilhando saberes #nósnaprática: Artigo de divulgação científica

Matemática e suas Tecnologias

No fio do tempo: Modernismo – Geração de 45: A dificuldade de ser gente

17a

Análise linguística: Regência nominal Astúcias da língua: Acordos e referências: mecanismos de construção da coesão 4 18a Literatura: O verso e o não verso 5

2 o Semestre

2 o Bimestre

2 o Trimestre

19a

20a

Leitura: Anúncio publicitário – Para vender, convencer #nósnaprática: Anúncio publicitário e campanha 5

#fazer junto: Revista interativa* Avaliação

21a No fio do tempo: A poesia depois de 1945: O poema é pedra, o poema é objeto 5

22a

23a

24a

3 o Bimestre

Análise linguística: Regência verbal Astúcias da língua: Mecanismos de progressão: o papel das conjunções 5

Literatura: À procura de nós 6

Leitura: Proposta política – Propostas para o futuro #nósnaprática: Carta de reivindicação 6

25a No fio do tempo: A poesia marginal: Literatura à margem 6

26a

27a

28a

Análise linguística: Crase

Astúcias da língua: Verbos: construir e esvaziar sentidos 6

Literatura: Daqui em diante, o futuro? 7

Leitura: Pôster acadêmico – Divulgar o conhecimento #nósnaprática: Apresentação oral de conteúdo científico 7

29a No fio do tempo: A literatura do final do século XX: Juventudes: vozes em distensão 7

31a

32a

33a

3 o Trimestre

30a Avaliação 4 o Bimestre

Análise linguística: Colocação pronominal Astúcias da língua: Colocação pronominal em uso 7

: Uma comédia demasiado humana 8

Leitura: Notícia de telejornal – Bom dia, boa tarde, boa noite #nósnaprática: Telejornal 8

34a No fio do tempo: O teatro no final do século XX: Um drama demasiado humano 8

35a

Análise linguística: Estrutura de palavras Astúcias da língua: Os gestos, as expressões e a entonação 8

36a Literatura: A luta continua 9

37a Leitura: Autobiografia e biografia – Eu, personagem #nósnaprática: Videocurrículo 9

38a No fio do tempo: A literatura africana lusófona: A luta, sempre a luta 9

39a

40a

Análise linguística: Processos de formação de palavras: derivação e composição

Astúcias da língua: Campo semântico e produção de sentidos 9

Ler Ciências Humanas e Sociais Aplicadas Avaliação

* Avalie a possibilidade de implementar a proposta da seção #fazerjunto a partir da Unidade 5 e reserve um dia da semana de avaliação para a apresentação do projeto. Os estudantes poderão desenvolver os trabalhos de forma mais autônoma, com base nas orientações dadas em sala de aula. Se necessário, combine um dia ou mais dias para realizar reuniões coletivas conforme a demanda dos estudantes.

Unidade 1 Terra árida, sociedade hostil

Objetivos e justificativas

Nesta unidade, os estudantes conhecerão produções em prosa da segunda geração da literatura modernista no Brasil e terão contato com textos que exploram as profundas desigualdades sociais e a luta pela sobrevivência com dignidade. Na seção de leitura, analisarão o gênero textual artigo de divulgação científica, que apresenta temática relacionada às consequências da ação humana no ambiente, permitindo uma ponte com a questão da seca tratada nos romances da geração de 1930. Em análise linguística, aprenderão que a coordenação e a subordinação são recursos estruturais da língua que podem ser mobilizados para a produção de sentido no cotidiano da comunicação escrita e falada. Também vão analisar a organização sintática de títulos e legendas para perceber que ela é fundamental para garantir a clareza e a objetividade da informação. Por fim, vão planejar, produzir e compartilhar um infográfico no qual vão explorar informações ainda não contempladas em um infográfico já publicado e apresentá-las de forma visual, imediata e concisa.

Competências e habilidades da BNCC

• Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 9 e 10

• Competências específicas de Linguagens e suas Tecnologias: 1, 2, 3, 4, 6 e 7

• Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias

EM13LGG101 EM13LGG102 EM13LGG103 EM13LGG104

EM13LGG201 EM13LGG202 EM13LGG204 EM13LGG301

EM13LGG302 EM13LGG304 EM13LGG401 EM13LGG601

EM13LGG602 EM13LGG603 EM13LGG604 EM13LGG701

• Habilidades de Língua Portuguesa

EM13LP01 EM13LP02 EM13LP03 EM13LP06 EM13LP08 EM13LP18 EM13LP25 EM13LP26

EM13LP27 EM13LP31 EM13LP34 EM13LP45 EM13LP48 EM13LP49 EM13LP50

Todos os campos de atuação social

Campo de atuação na vida pública

Campo das práticas de estudo e pesquisa

Campo jornalístico-midiático

Campo artístico-literário

Abertura (p. 8)

Estratégias didáticas

• Ao propor a análise da instalação Um campo da fome (2022), de Matheus Rocha Pitta (1980-), junto às outras imagens, sugere-se guiar os estudantes a refletir sobre a relação entre arte e crítica social. A instalação de Pitta, feita com barro e concreto, remete às questões da fome e da miséria, temas abordados pela geração modernista de 1930. Os estudantes podem ser incentivados a pensar sobre como o uso do barro – elemento que remete à terra e à vida, em conjunto com o concreto, que pode simbolizar a dureza e a rigidez da realidade – cria um contraste que reflete a tensão entre a vida e a morte, a esperança e o desespero. Ao conectar a obra com a fotografia do Cemitério Vila Formosa, em São Paulo (SP), os estudantes podem observar como a instalação dialoga com a dor e a tragédia representadas pelo grande número de covas abertas para as vítimas da covid-19, ampliando o conceito de fome para além do alimento e abarcando a ausência de amparo social e as crises sanitárias. Com base na obra Retirantes (1944), de Candido Portinari (1903-1962), pode-se discutir como a fome e a miséria são recorrentes na história do Brasil e retratadas na arte desde o Modernismo. Provoque reflexões sobre o papel do artista em questionar e denunciar problemas sociais, destacando a importância de artistas como Pitta e Portinari na criação de imagens que transcendem o campo estético e provocam debates sobre a realidade brasileira.

Midiateca do professor

• COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1978.

Afrânio Coutinho, renomado crítico e historiador da literatura brasileira, oferece uma análise detalhada das transformações literárias que se seguiram à Semana de Arte Moderna de 1922, destacando a contribuição da geração de 1930.

lITERATURA

Seca de direitos (p. 10)

Estratégias didática

• Para conduzir as atividades propostas no boxe Ler o mundo (p. 10), sugere-se começar explicando

brevemente o panorama dos conflitos no campo no Brasil, que envolvem disputas pela posse da terra, desigualdade fundiária e questões ambientais, como o desmatamento e o uso de áreas para agricultura em larga escala. Esses conflitos geralmente ocorrem entre grandes produtores rurais, que buscam expandir suas áreas de produção, e pequenos agricultores ou populações indígenas, que lutam por seus direitos à terra e à preservação de seu modo de vida. Ao trabalhar a atividade 1, é interessante incentivar os estudantes a refletir sobre as causas subjacentes a esses conflitos, como a concentração de terras nas mãos de poucos, o agronegócio e os impactos econômico e ambiental das disputas. Um exemplo de resposta pode abordar como os interesses econômicos muitas vezes prevalecem sobre os direitos das comunidades locais, resultando em tensões que se arrastam por anos. Na atividade 2, quando se fala na exploração trabalhista, é possível elaborar os indícios da herança da escravidão no Brasil. Os estudantes podem associar essa exploração à persistente desigualdade social e à falta de fiscalização adequada em regiões remotas, especialmente nas áreas rurais. Proponha que reflitam sobre como a economia baseada na monocultura desde o período colonial contribuiu para criar uma estrutura social e econômica que ainda permite a exploração de trabalhadores rurais em condições precárias. A sugestão é incentivar respostas que analisem a continuidade de práticas de exploração mesmo após a abolição da escravidão, e como isso reflete o histórico de desigualdade no Brasil. A proposta deste boxe permite conectar os conflitos agrários contemporâneos com um contexto histórico mais amplo, levando os estudantes a refletir sobre como as questões de terra e trabalho rural são heranças de processos históricos profundos, que ainda precisam ser resolvidos.

Pensar e compartilhar (p. 12)

Estratégias didáticas

• Na atividade 7, ajude os estudantes a perceber a dualidade presente na relação entre o trabalhador e o patrão. A fala de Santa revela uma indignação contida, uma percepção clara da injustiça vivida, em que os trabalhadores são forçados a extrair o máximo possível da terra, mas, ainda assim, mantêm uma postura de resignação. Um exemplo de reflexão seria

questionar: por que, mesmo reconhecendo a exploração, o trabalhador se submete a essa situação? Com base nisso, os estudantes podem explorar a ideia de que a servidão não é apenas física mas também psicológica, sustentada pela lógica de que “a terra é deles”, ou seja, do patrão. Essa ideia internalizada faz com que, apesar da revolta, os trabalhadores sintam que sua única opção é obedecer à exploração e aceitá-la, pois desafiar a ordem vigente poderia resultar na perda de seu sustento. Um ponto complementar para ser explorado é a relação histórica do Brasil com o sistema escravocrata, que deixou resquícios de desigualdade e opressão nas relações trabalhistas, principalmente no campo. Sugira aos estudantes que pensem sobre como essa lógica de submissão foi construída e perpetuada ao longo dos séculos. Com base nessa reflexão, se julgar pertinente, podem ser discutidas questões relacionadas à reforma agrária e aos movimentos de trabalhadores sem-terra, que buscam romper com essa lógica de dominação. Outro caminho seria perguntar-lhes: quais são os mecanismos sociais e econômicos que mantêm o trabalhador preso a essa condição de submissão? Dessa forma, a análise pode ir além da obra literária, conectando o texto a contextos históricos e sociais reais.

No fio do tempo – Modernismo –Segunda geração (prosa) (p. 14)

Estratégias didáticas

• Para trabalhar as atividades propostas no boxe O X da questão (p. 14), destaque para os estudantes que a década de 1930, com seus eventos históricos, como guerras e crises econômicas, foi um período fértil para o desenvolvimento de uma literatura mais crítica e socialmente engajada. O foco da segunda geração modernista estava na denúncia das desigualdades sociais, retratando de forma visceral a miséria, a exploração do trabalho e a falta de perspectivas, principalmente na região Nordeste. Ao trabalhar a atividade 1, incentive os estudantes a pensar sobre os problemas enfrentados no sertão brasileiro, como a seca, a pobreza e a falta de recursos básicos. Relacionar esse cenário com as obras de autores como Graciliano Ramos (1892-1953) e José Lins do Rego (1901-1957) pode ajudá-los a compreender como a literatura serviu para denunciar essas questões e como as dificuldades

da região afetam a vida das pessoas. Já ao discutir a desigualdade no bairro ou na cidade deles (atividade 2), sugira que reflitam sobre os contrastes que podem perceber em termos de acesso à educação, saúde, moradia e segurança. Exemplos como a diferença entre bairros mais ricos e periferias podem enriquecer a discussão, ajudando a conectar as questões de desigualdade social de um contexto mais amplo, como o sertão, a uma realidade mais próxima deles. Por fim, ao tratar do impacto das condições de vida precárias na subjetividade das pessoas (atividade 3), peça-lhes que reflitam sobre como a constante luta por sobrevivência, a falta de oportunidades e a opressão social podem moldar a visão de mundo de alguém. Dê exemplos de personagens literárias que, diante de adversidades extremas, expressam sentimento de revolta, resignação ou resistência, como Fabiano, em Vidas secas, obra que será analisada na seção. Esse exercício pode levá-los a pensar sobre a maneira como a literatura reflete as tensões entre o indivíduo e a sociedade.

Pensar e compartilhar (p. 16)

Estratégias didáticas

• Na atividade 12, para enriquecer a discussão, sugira aos estudantes que observem a maneira como a fala das personagens carrega um tom de denúncia social, mas também de resignação, especialmente quando o velho relata as injustiças vividas por ele e Joaquim. A fala da personagem revela a aceitação amarga da perda da terra e da morte do companheiro, com expressões como “não tinha mesmo medo do pesado” e “Joaquim era um homem de paz”. Esse tipo de construção linguística reforça a relação de poder e submissão presente no contexto rural retratado. Incentive-os a refletir sobre como o uso dessa linguagem regionalizada contribui para a criação de uma identidade cultural própria na obra de Jorge Amado, ao mesmo tempo que aproxima os leitores das realidades de desigualdade e exploração que o autor busca retratar.

• Ao trabalhar o boxe Hiperlink (p. 23), comece explicando aos estudantes a relevância da segunda geração modernista, especialmente ao abordar temas regionais e sociais mediante narrativas realistas e, ao mesmo tempo, sensíveis. Incentive-os a explorar como os autores, entre os quais José Lins do Rego (1901-1957) e Rachel de Queiroz (1910-2003), revelam as condições de vida das personagens em

contextos de desigualdade, seca e exploração. Por exemplo, ao escolher O quinze, de Rachel de Queiroz, os estudantes podem discutir como a seca molda as ações e emoções de Chico Bento e sua família, e como a obra critica a falta de políticas públicas eficazes. Os estudantes podem ser incentivados a perceber que os romances dessa geração vão além da mera descrição das paisagens regionais, promovendo uma reflexão sobre as condições sociais e as possibilidades de mudança. Ao discutir a obra de José Lins do Rego, por exemplo, podem observar como a decadência dos engenhos de açúcar reflete-se nas transformações econômicas do Nordeste. Sugira que os estudantes pensem nas relações entre as personagens e os ambientes e como esses elementos são usados para ilustrar críticas sociais ou para esboçar perspectivas de mudanças, ainda que limitadas.

Contexto (p. 24)

Estratégias didáticas

• A proposta do boxe Ler literatura (p. 26) convida os estudantes a refletir sobre a literatura engajada, contextualizando-a nos cenários histórico e social brasileiros, além de estabelecer uma ponte com o conceito apresentado por Jean-Paul Sartre. Para facilitar a condução dessa discussão, é fundamental apresentar-lhes o conceito de “literatura como ação” e mostrar como as obras literárias e outras formas de arte podem atuar como instrumentos de denúncia e transformação social. Sugere-se iniciar a atividade com uma pesquisa sobre o conceito de literatura engajada e sua presença em diversos momentos históricos, destacando tanto o contexto brasileiro quanto o internacional. Além dos exemplos citados, como Vidas secas, de Graciliano Ramos, e O quinze, de Rachel de Queiroz, seria interessante propor a pesquisa sobre outras formas de manifestação cultural engajada, como o cinema, a música e o teatro, para ampliar a compreensão de como a arte pode ser um reflexo das inquietações sociais. Ao apresentar a pergunta “Que ideia ou que causa precisa do engajamento de todos?”, encoraje-os a pensar criticamente sobre os desafios contemporâneos que os cercam, como mudanças climáticas, racismo, desigualdade de gênero, entre outros temas relevantes. Esse exercício os ajudará a identificar o papel da arte na conscientização e mobilização social. Sugere-se, ainda, que o

debate seja conduzido de forma dialógica, permitindo a troca de ideias e a apresentação de argumentos que considerem tanto a realidade local quanto global. Para finalizar, proponha uma reflexão coletiva sobre como a literatura pode transcender o tempo e o espaço, tocando causas universais e atemporais, como a luta pela justiça, liberdade e igualdade. Essa reflexão permitirá aos estudantes perceber que, assim como as gerações passadas encontraram na literatura um meio de expressar resistências, a arte contemporânea também pode ser um meio de engajamento e mudança social.

lEITURA: ARTIGO DE DIVUlGAÇÃO CIENTÍFICA

Ameaça às populações de macacos (p. 28)

Estratégias didáticas

• Ao trabalhar o boxe Ler o mundo (p. 28), comece relacionando os romances que os estudantes leram na unidade (como Vidas secas, de Graciliano Ramos) com a realidade ambiental contemporânea. Mostre como a seca, um tema central nessa obra, não é apenas uma questão do passado ou restrita ao sertão, mas um fenômeno que afeta várias regiões do mundo atualmente, influenciado por fatores globais, como o aquecimento climático. Ao discutir as ações humanas que interferem diretamente na natureza (atividade 1), proponha que reflitam sobre seu cotidiano e sobre os discursos com os quais já tiveram contato, como campanhas ecológicas ou lições sobre sustentabilidade. Peça-lhes que contribuam com exemplos, os quais você pode anotar no quadro, facilitando uma visualização coletiva das questões levantadas. Explique que a poluição gerada por automóveis, indústrias e a geração de resíduos ilegais estão entre as principais formas de impacto ambiental. Esse momento da aula deve permitir a construção de uma lista diversificada e instigante, promovendo o engajamento deles na temática. Em seguida, na atividade 2 , abra a discussão sobre desastres ambientais, incentivando os estudantes a compartilhar notícias recentes ou eventos próximos à realidade deles. Ao destacar as catástrofes, chame

a atenção para a repetição de tragédias ambientais, mesmo após alertas sobre as consequências devastadoras das atividades predatórias. Na atividade 3, conduza-os à reflexão sobre o papel do lucro e da exploração econômica na continuidade dessas práticas predatórias. Um exemplo de resposta seria: “As empresas priorizam seus lucros a curto prazo, muitas vezes ignorando as consequências de longo prazo para o meio ambiente e para as futuras gerações”. Este é o momento de promover um debate crítico, fazendo com que formulem suas hipóteses e questionem as razões sistêmicas e culturais que sustentam essa lógica. Finalmente, leve a turma a refletir sobre como a literatura, como exemplificado pelos romances da geração de 1930, pode ser uma ferramenta poderosa para expor esses problemas e provocar mudanças de mentalidade, além de mostrar que o passado e o presente estão interligados por questões recorrentes, como o impacto humano no meio ambiente. Ao final da discussão, faça-os perceber que, assim como os escritores da segunda geração modernista denunciaram as desigualdades e as tragédias do sertão, a arte e a literatura contemporâneas também têm a capacidade de lançar luz sobre os desafios ambientais de hoje, convocando todos à responsabilidade e à ação.

ANAlISE lINGUISTICA

Coordenadas e subordinadas na dinâmica do texto (p. 34)

Estratégias didáticas

• Antes de abordar formalmente as orações coordenadas e subordinadas, é interessante iniciar com uma dinâmica que permita aos estudantes reconhecer a importância das relações entre as ideias em um texto, sem ainda mencionar diretamente as nomenclaturas. Comece pedindo-lhes que contem histórias simples do cotidiano, como relatar um dia típico na escola ou em um fim de semana. Enquanto eles falam, anote frases-chave no quadro. Depois, releia essas frases e pergunte o que acontece quando combinamos uma com a outra. Por exemplo, “Fui ao parque. Joguei futebol.” pode se transformar em “Fui ao parque e joguei futebol.”. Mostre como

essas ideias, quando conectadas, criam um sentido mais completo e fluido no texto. Sugira que façam o mesmo com outras combinações: “Eu estudo todos os dias. Quero passar nas provas.” – “Eu estudo todos os dias porque quero passar nas provas.”; “Chegamos atrasados. Perdemos a primeira aula.” – “Chegamos atrasados, então perdemos a primeira aula.”. Após essas reflexões, apresente o conceito de que as frases em um texto não existem isoladamente. Elas podem ser combinadas de diferentes maneiras, dependendo do que o autor deseja transmitir. Explique, de forma simples, que, quando as frases são independentes e ligadas apenas por uma conjunção (e, mas, ou), tem-se coordenação; quando uma frase precisa da outra para fazer sentido, tem-se subordinação. Para tornar o aprendizado mais dinâmico, peça aos estudantes que encontrem exemplos em textos que eles já conhecem, como trechos de músicas, livros ou notícias. A ideia é que percebam a utilidade dessas estruturas no dia a dia da comunicação escrita e falada.

Pensar e compartilhar (p. 36)

Atividade complementar

Depois de encerrar a seção Pensar e compartilhar, sugere-se fazer uma recapitulação geral do período composto. Você pode colocar os tipos de orações no quadro, sem a coluna Exemplos, e “cantar” cada um para que os estudantes deem os exemplos oralmente. Caso algum tipo de oração fique sem exemplo por parte dos estudantes, exemplifique-a com a frase dada em um dos quadros a seguir.

Orações coordenadas sindéticas

Exemplos

Aditiva Meu pai convidou seu cunhado e agilizou seu contrato na fazenda.

Adversativa Podia construir sua casa, mas ela tinha de ser de barro

Alternativa

Podia plantar uma roça, ou se dedicar exclusivamente ao trabalho com o patrão.

Conclusiva Não recebia salário, portanto tinha direito de se revoltar

Explicativa Poderia ficar no terreno porque acatava as ordens do patrão

Orações subordinadas substantivas Exemplos

Objetivas diretas

Objetivas indiretas

Completivas nominais

Apositivas

Meu pai disse que no tempo de seus avós o trabalho era mais árduo

Ele tem certeza de que será explorado na fazenda

Tenho o desejo de que tudo dê certo na fazenda

Temos foco no nosso maior objetivo: que possamos ter nossa casa de alvenaria

Subjetivas É importante que saiba de seus direitos.

Predicativas A maior conquista é que você sempre lute.

Orações subordinadas adjetivas Exemplos

Restritiva A fazenda que explorava os trabalhadores foi denunciada.

Explicativa A fazenda, que explorava os trabalhadores, foi denunciada.

Orações subordinadas adverbiais Exemplos

Causal Porque já conhecia a fazenda, desconfiou do patrão.

Consecutiva Trabalhou tanto que até ficou doente de cansaço.

Condicional

Poderia morar na fazenda se trabalhasse para o patrão

Concessiva Podia ter uma roça, embora seus alimentos fossem para o patrão

Comparativa O contrato dessa fazenda é tal qual o contrato da anterior

Conformativa

Proporcional

Conforme havia combinado, plantou seu roçado.

À medida que trabalhava, ficava mais cansado.

Final Trabalhava muito a fim de que juntasse uma grana

Temporal Só pôde descansar quando chegou em casa no final do dia

Astúcias da língua (p. 38)

Estratégias didáticas

• É importan te explicar aos estudantes que, na maioria das publicações, o espaço destinado aos títulos é limitado, o que exige que eles sejam objetivos e diretos. Enfatize a importância de títulos claros e econômicos, que resumam a ideia principal do texto de forma sucinta. Para isso, é útil mostrar como frases nominais e períodos simples funcionam bem, porque eliminam palavras desnecessárias e transmitem a mensagem de forma mais rápida e eficaz. Um exemplo prático seria comparar títulos longos e complexos com versões mais curtas e objetivas, ajudando-os a perceber como a simplificação da estrutura frasal pode melhorar a legibilidade e o impacto do título. Além disso, incentive a prática desse conceito, pedindo aos estudantes que criem ou reescrevam títulos para diferentes tipos de textos, focando a clareza e a economia de palavras. Assim, eles entenderão que a concisão nos títulos não apenas se adapta às exigências das publicações mas também torna o texto mais atraente e fácil de ser captado pelos leitores.

#NOSNAPRATICA

Infográfico (p. 41)

Estratégias didáticas

• Reitere aos estudantes que o objetivo do infográfico é tornar as informações mais visuais e acessíveis, condensando dados complexos de forma gráfica e clara. Incentive-os a reler atentamente o artigo “Ameaças aos macacos” (p. 28) e identificar quais informações importantes ainda não foram contempladas no infográfico existente, focando novos aspectos que podem ser destacados. Sugira que comecem o processo de planejamento selecionando dados-chave e transformando-os em pequenos textos ou frases curtas, pensando na hierarquia das informações. Um exemplo de organização pode ser um gráfico de barras para representar as principais ameaças, como desmatamento, tráfico e doenças,

enquanto um ícone de macaco pode ser usado para ilustrar o número de populações afetadas. Reforce que o visual é essencial: além dos gráficos, podem ser usadas cores que se relacionem com o tema ambiental, como tons de verde e de marrom. A ordem de leitura deve ser clara, partindo de dados mais gerais para informações mais específicas. Para a produção, lembre-os de que podem usar ferramentas digitais ou desenhar à mão, em cartolinas. Depois de criar, os estudantes devem revisar os textos, certificando-se de que as informações estão bem-organizadas e fáceis de ler. Um colega pode dar feedback para ajudar na revisão final. Por fim, proponha que o trabalho seja compartilhado em uma exposição na escola ou em redes sociais.

• No boxe Laboratório de produção (p. 41), ressalte que a legenda tem o papel de facilitar a interpretação dos dados e imagens, servindo como guia visual. Um ponto de partida seria discutir como a legenda deve ser clara e precisa, garantindo que qualquer pessoa possa compreender o infográfico, mesmo que não tenha familiaridade com o tema. Explique que a linguagem das legendas deve ser simples, sem termos técnicos, para facilitar a compreensão, e que as legendas devem ser posicionadas próximas aos elementos visuais, reduzindo o esforço de leitura e associação de dados. Um exemplo seria o uso de gráficos de barras ou ícones representando os resultados da pesquisa sobre formas de lazer dos brasileiros. Por exemplo, se o gráfico mostra que a maioria prefere assistir à TV no tempo livre, a legenda pode ser direta: “70% dos brasileiros preferem assistir à TV no tempo livre”. Proponha aos estudantes que utilizem ícones consistentes, como uma tela de TV, para representar visualmente esse dado. Incentive-os a explorar outras formas visuais, como o uso de uma imagem que integre todos os dados e os destaque com cores e símbolos, deixando as legendas concisas e próximas aos elementos descritos. Peça-lhes que revisem as legendas para assegurar que elas realmente esclarecem os dados e mantêm o foco na simplicidade para que a informação seja absorvida rapidamente pelo leitor.

Unidade 2 Tempo partido

Objetivos e justificativas

Nesta unidade, os estudantes terão contato com a poesia da segunda geração modernista e vão conhecer obras que refletem um cenário de guerras e conflitos no Brasil e no mundo, capturando a fragmentação da realidade e o sentimento de angústia diante das grandes mudanças sociais. Na seção de leitura, analisarão produções poéticas contemporâneas: o poema em prosa, o poema visual e o videopoema. Em análise linguística, vão refletir sobre a concordância verbal para compreender que as relações de concordância são essenciais para a clareza e a coesão do texto. Também vão analisar os verbos e o tempo do enunciador, para entender que formas verbais exprimem um modo que indica uma atitude do falante ou enunciador e que os tempos verbais sinalizam dada situação de comunicação. Na seção de produção textual, vão transformar um texto literário em uma experiência audiovisual, ao recriar um poema em versos na forma de videopoema.

Competências e habilidades da BNCC

• Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 4, 5, 8, 9 e 10

• Competências específicas de Linguagens e suas Tecnologias: 1, 2, 3, 4, 6 e 7

• Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias

EM13LGG101 EM13LGG102 EM13LGG103 EM13LGG105

EM13LGG201 EM13LGG202 EM13LGG302 EM13LGG401

EM13LGG601 EM13LGG602 EM13LGG604 EM13LGG701

EM13LGG703

• Habilidades de Língua Portuguesa

EM13LP01 EM13LP02 EM13LP03 EM13LP06

EM13LP07 EM13LP08 EM13LP15 EM13LP18

EM13LP46 EM13LP47 EM13LP48 EM13LP49

EM13LP50 EM13LP52 EM13LP54

Todos os campos de atuação social

Campo artístico-literário

Abertura (p. 44)

Estratégias didáticas

• O tema das violências e tensões globais pode ser abordado de forma significativa ao conectar diferentes manifestações artísticas que refletem e criticam essas realidades. Inicie com a análise das obras visuais apresentadas, que dialogam diretamente com guerras e conflitos: Guerra e Paz , de Candido Portinari (1903-1962), The armored dove , de Banksy (1974-), e Jürgen Stroop: gueto de Varsóvia , de Dora Longo Bahia (1961-). Incentive os estudantes a descrever o que observam: cores, elementos e emoções, além da mensagem que acreditam que o artista está transmitindo. Isso permite uma introdução ao tema sem definições rígidas, proporcionando uma interpretação livre. Em seguida, relacione as obras ao contexto histórico em que foram criadas: Guerra e Paz foi encomendada após a Segunda Guerra Mundial; The armored dove surge no contexto do conflito israelense-palestino; e a série

Os desastres da guerra , de Dora Longo Bahia, relembra tragédias do século XX. Para aprofundar, proponha aos estudantes que pesquisem um conflito atual e identifiquem similaridades com os temas das obras. Conecte essa análise à poesia da segunda geração modernista, que também reflete a fragmentação do mundo e as tensões sociais. Se julgar conveniente, distribua um poema dessa geração para análise e peça-lhes que identifiquem como ele dialoga com os temas de guerra e conflito. Dessa forma, os estudantes poderão compreender que arte e poesia atuam como formas de resistência e cura diante de contextos de violência.

Midiateca do professor

• BRITTO, Paulo Henrique. Formas do nada . São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

A obra traz uma abordagem poética densa, explorando a realidade fragmentada do mundo contemporâneo, marcado por crises existenciais e sociais. É uma continuação do legado modernista, que usava a poesia para refletir sobre os conflitos e desafios da época.

Tempo de tomar partido (p. 46)

Estratégias didáticas

• Para trabalhar o boxe Ler o mundo (p. 46), a abordagem sugerida é criar um espaço de reflexão crítica, em que os estudantes possam explorar como a arte, e em especial a poesia, tem historicamente denunciado as injustiças e dado voz a situações de exclusão e vulnerabilidade. Para iniciar, é importante contextualizar o tema, destacando que, embora a ciência tenha contribuído significativamente para o bem-estar humano, os problemas sociais persistem em níveis alarmantes. Guie os estudantes a compreender que, além do engajamento em lutas políticas e sociais, a arte também desempenha um papel fundamental como instrumento de resistência e crítica social. Obras poéticas, em especial, têm denunciado ao longo do tempo a opressão e chamado a atenção para questões de desigualdade e exclusão. Na atividade 1, é importante incentivar os estudantes a pensar de maneira crítica sobre o que têm observado na mídia e como essas questões são retratadas. Podem ser mencionados conflitos internacionais, como as guerras na Ucrânia e em Gaza, ou situações locais, como o tráfico de drogas e a violência em favelas no Brasil. O objetivo é levá-los a identificar que os conflitos não se limitam a disputas entre países, mas também ocorrem dentro de nações e comunidades, muitas vezes em decorrência de desigualdades sociais. A atividade 2 oferece a oportunidade de os estudantes explorarem as raízes desses problemas. Promova uma discussão sobre como a pobreza, a desigualdade econômica, o racismo, a disputa por poder político e a exclusão social contribuem para o surgimento e a perpetuação de conflitos. Uma boa estratégia é organizar os estudantes em grupos para que cada grupo investigue um aspecto específico, como a relação entre a pobreza e a violência, ou a influência de conflitos por territórios e poder político.

Pensar e compartilhar (p. 48)

Estratégias didáticas

• No item a da atividade 7 , se julgar pertinente, comente com os estudantes que o incêndio de um museu como o Museu Nacional no Rio de Janeiro (RJ)

representa uma perda irreparável, não apenas do ponto de vista material mas também cultural, histórico e simbólico. Quando um museu é destruído, perde-se muito mais do que objetos físicos – desaparecem histórias, memórias coletivas, identidades e saberes acumulados durante séculos. Cada peça de um acervo carrega um pedaço da herança cultural de povos, tradições e conhecimentos ancestrais que, muitas vezes, não podem ser substituídos. A destruição de coleções tão delicadas, como as de plumária e tecidos, significa a perda de vozes e histórias que essas culturas deixaram como legado. O incêndio do Museu Nacional serve como alerta para a fragilidade da preservação cultural e a necessidade de valorização e proteção dos patrimônios.

Midiateca do professor

• UNESCO. Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Recomendação referente à Proteção e Promoção dos Museus e Coleções, sua Diversidade e seu Papel na Sociedade. Paris: Unesco, 2015. Disponível em: https://unesdoc. unesco.org/ark:/48223/pf0000247152. Acesso em: 19 out. 2024.

Essa recomendação enfatiza a necessidade de proteger e promover tanto os museus quanto suas coleções, buscando incentivar ações que garantam a acessibilidade e a inclusão de diferentes vozes e narrativas e reafirmando a relevância dos museus na construção de identidades coletivas e na educação da cidadania.

No fio do tempo – Modernismo –

Segunda geração (poesia) (p.

51)

Estratégias didáticas

• Ao conduzir as propostas do boxe O X da questão (p. 51), ofereça uma visão geral sobre o período histórico dos anos 1930, marcados por instabilidades política, econômica e social. A Primeira Guerra Mundial e a Grande Depressão de 1929 não apenas desestruturaram as economias mundiais mas também criaram um ambiente propício ao surgimento de regimes totalitários, como o nazifascismo. A arte e a literatura, nesse cenário, tornaram-se poderosos instrumentos de crítica e reflexão, com

os escritores voltando seu olhar crítico para os contextos social e político que viviam. Esse ambiente caótico também gerou uma crise existencial, que levou muitos autores a buscar no engajamento político e na religiosidade uma forma de lidar com as incertezas da época. Reflita com os estudantes sobre as características da poesia da segunda geração modernista, guiando-os a identificar como a liberdade formal e o experimentalismo da primeira geração modernista abriram caminho para os poetas da segunda geração explorarem com maior profundidade temas sociais, políticos e ideológicos. Nesse sentido, a irreverência e a quebra de formas tradicionais da primeira geração deram aos poetas seguintes mais liberdade criativa, permitindo-lhes abordar de forma mais direta e engajada os conflitos de sua época. Ao discutir o fascismo, incentive-os a pesquisar e compartilhar o que compreendem sobre o conceito, utilizando exemplos históricos, como os regimes de Benito Mussolini e Adolf Hitler. O objetivo é que compreendam como o fascismo se caracteriza por sua opressão ao pensamento livre, o culto ao autoritarismo e a intolerância às diferenças, traços que têm sérias consequências para as liberdades civis e o respeito aos direitos humanos. Com base nessa compreensão, sugira que reflitam sobre como esses regimes totalitários impactaram não só a sociedade de então mas também a produção artística, que muitas vezes se viu censurada ou teve de adotar formas de resistência. O importante é que os estudantes compreendam que a arte e a literatura refletem os conflitos de seu tempo e reagem a eles, servindo tanto como denúncia quanto como forma de resistência às opressões.

Pensar e compartilhar (p. 53)

Estratégias didáticas

• Para o item b da atividade 8, há vários versos que podem ser escolhidos pelos estudantes. Sugestões: “Estes poemas são meus. É minha terra / e é ainda mais do que ela. É qualquer homem / ao meio-dia em qualquer praça. É a lanterna / em qualquer estalagem, se ainda as há”. “– Há mortos? há mercados? há doenças? / É tudo meu”; “o povo, meu poema, te atravessa”. Nesses versos, o eu lírico afirma um compromisso de, por meio de sua arte, falar daquilo que está fora dele – mercados, doenças, mortos, povo (palavra que remete

à sociedade, tema que, por sua vez, encontra-se nas bases de sua produção poética).

• Sugere-se iniciar o trabalho com o boxe Hiperlink (p. 56) promovendo uma reflexão sobre o papel da espiritualidade na vida humana. A sugestão é que os estudantes pesquisem poemas específicos de Jorge de Lima (1893-1953) e Murilo Mendes (1901-1975) que evidenciem essa busca de sentido por meio da religiosidade, como antídoto para o sofrimento existencial. Por exemplo, ao explorar poemas de Murilo Mendes, eles notarão como o autor utiliza imagens oníricas e simbólicas para questionar e transcender a realidade cotidiana. Já em Jorge de Lima, com obras como Invenção de Orfeu (1952), os estudantes podem investigar a justaposição entre uma visão cristã e as referências culturais afro-brasileiras, que propõem a religião como forma de sobrevivência ao caos da existência. Sugira que relacionem essas reflexões com situações da vida moderna, em que a religiosidade ainda atua como fonte de consolo em momentos de sofrimento e incerteza. A pesquisa pode se aprofundar em sites como o Domínio Público ou obras disponíveis em bibliotecas virtuais, oferecendo aos estudantes um panorama das influências surrealistas nas representações poéticas desses autores. Ao comparar as obras, um ponto interessante é analisar como ambos os poetas lidam com a fragmentação da realidade, utilizando a religiosidade de formas distintas: enquanto Jorge de Lima se apega a um cristianismo que guia o ser humano em meio à transitoriedade, Murilo Mendes abraça o surrealismo como forma de expressar uma religiosidade mais fluida e complexa.

Integrando com Química (p. 57)

Respostas e comentários

1. Sugestões de respostas: “A bomba atômica” e “Rosa de Hiroshima”, de Vinicius de Moraes; “A Bomba”, de Drummond; “Explosões”, de Murilo Mendes; “Elegia”, “Os deformados” e “O Quadrimotor”, de Cassiano Ricardo.

2. Os poemas sugeridos como resposta à atividade 1 se referem à bomba atômica de maneira francamente negativa, destacando as mortes, deformações e mutilações produzidas por ela.

3. Os poemas destacam a capacidade destrutiva da tecnologia e autodestrutiva do ser humano.

Contexto (p. 58)

Estratégias didáticas

• P ara iniciar o trabalho com o boxe Ler literatura (p. 62), sugere-se destacar a relação entre literatura e autorreflexão, mostrando como os poemas de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) e Manuel Bandeira (1886-1968) exemplificam uma crítica ao formalismo e à rigidez das tradições poéticas anteriores. Bandeira se opõe ao parnasianismo, defendendo uma poesia mais livre, próxima da realidade cotidiana, enquanto Drummond, ao subverter a expectativa de rimas, questiona os padrões e valoriza a liberdade expressiva. Com base nesses exemplos, proponha uma reflexão sobre como a literatura se renova ao questionar suas próprias convenções e como essa transgressão literária reflete a busca por uma expressão mais autêntica e conectada com a vida. Para incentivar a discussão, pode-se perguntar aos estudantes como essas rupturas com as formas tradicionais de poesia contribuem para a criação de uma literatura mais próxima da realidade e das experiências humanas. Na atividade 1 , a reflexão pode se expandir para o papel que a memória desempenha na construção das narrativas pessoais e coletivas. Sugira que pensem na memória como uma ferramenta de autoconhecimento, como Marcel Proust propõe na sua obra-prima Em busca do tempo perdido , e discutam como a literatura resgata e recria essas lembranças para construir significados. Um exemplo prático seria pedir-lhes que reflitam sobre o valor das lembranças pessoais e como elas moldam a forma como eles entendem suas próprias vidas e o mundo ao redor. Em relação à atividade 2 , incentive os estudantes a pensar sobre suas experiências com a escrita, destacando aspectos como a liberdade de expressão, a criatividade ou a busca por autenticidade. Um exemplo seria propor que escrevam breves relatos sobre como a escrita os ajuda a processar suas emoções ou a refletir sobre suas vivências, conectando essa experiência pessoal com os temas discutidos na aula. O objetivo é que eles percebam que a literatura não apenas retrata o mundo mas também questiona suas próprias convenções, abrindo caminhos para as expressões artística e pessoal.

lEITURA: POEMA EM PROSA, POEMA VISUAl E VIDEOPOEMA

Poesia para além do verso (p. 63)

Estratégias didáticas

• Ao trabalhar o boxe Ler o mundo (p. 63), inicie a discussão sobre a relação entre verso e poesia incentivando os estudantes a revisitar o que aprenderam sobre poesia ao longo dos anos escolares. Ajude-os a perceber que, embora a poesia seja muitas vezes identificada com o verso, ela transcende essa estrutura formal. Ao dar início à discussão sobre como a poesia pode se manifestar na prosa ou mesmo em formas artísticas não textuais, como música, artes visuais ou até performances , proponha que reflitam sobre obras que já conhecem e que rompem com a estrutura poética tradicional. Um exemplo possível são os poemas em prosa de Baudelaire ou obras contemporâneas que integram elementos visuais e sonoros, como o poema visual. Sugira aos estudantes que respondam aos questionamentos propostos com base em suas experiências pessoais, oriente-os a pensar em como a poesia está presente no cotidiano de maneiras que não se limitam ao verso. Para isso, explore letras de canções, anúncios publicitários ou mesmo posts em redes sociais que utilizam elementos poéticos, questionando: de que forma você enxerga a poesia fora do livro didático? Ao apresentar essas ideias, a discussão pode se expandir para como a poesia serve como veículo de expressão em diferentes contextos sociais, como manifestações culturais, ativismo e arte de rua. As respostas podem refletir como eles compreendem a fluidez de fronteiras entre prosa e poesia, com sugestões como: “A prosa é mais voltada para o discurso narrativo, enquanto a poesia foca as sensações e as imagens, mesmo que possa aparecer fora do verso”. A discussão pode incluir a análise de diferentes mídias que utilizam a poesia como recurso, permitindo que os estudantes expressem suas visões e aprofundem o entendimento dessa forma de arte.

Pensar e compartilhar (p.

64)

Estratégias didáticas

• No item c da atividade 7, ao trabalhar com o videopoema “Agora”, de Arnaldo Antunes, é importante conduzir os estudantes a refletir sobre a fusão entre poesia e audiovisual. Esse videopoema utiliza recursos visuais, sonoros e verbais para criar uma experiência artística que vai além do poema escrito. Proponha discussões sobre como o ritmo das palavras, a repetição e as pausas influenciam a interpretação do poema. A dinâmica visual e a música de fundo são elementos que transformam o poema em uma experiência multissensorial, ampliando a compreensão da mensagem poética. Uma boa reflexão inicial é perguntar como o uso das imagens e dos sons no videopoema afeta a percepção das palavras e a construção de significado. A obra de Antunes explora o tempo presente (agora) como algo que está em constante movimento e transformação, o que pode gerar discussões sobre a transitoriedade e o imediatismo na vida contemporânea. Você também pode incentivar os estudantes a pensar como o uso da tecnologia (vídeo e áudio) potencializa o impacto da mensagem poética, ao mesmo tempo que transforma o modo tradicional de se consumir poesia. Ao longo da atividade, traga exemplos de outros videopoemas ou performances poéticas, permitindo aos estudantes que comparem as diferentes formas de expressão artística e como elas expandem a ideia de poesia.

Midiateca do professor

• DUBOIS, Philippe. O ato fotográfico e outros ensaios. Campinas: Papirus, 1993. Nessa obra, Dubois discute como a imagem pode criar novas formas de narrativa, o que se aplica diretamente à forma como os videopoemas misturam texto visual e sonoro para criar experiências poéticas singulares.

ANAlISE lINGUISTICA

Concordância verbal (p. 67)

Estratégias didáticas

• Ao iniciar o estudo de concordância verbal, é importante destacar a relação direta entre o sujeito e o verbo, explicando que a concordância verbal diz

respeito à adequação entre o número (singular ou plural) e a pessoa (primeira, segunda ou terceira) do sujeito e do verbo. Uma maneira eficaz de iniciar é trazer exemplos do cotidiano dos estudantes. Frases como “A turma vai ao cinema” e “Os estudantes vão ao cinema” ajudam a mostrar como o verbo muda de acordo com o número do sujeito. Sugere-se começar por situações simples, como frases com sujeito simples e composto, e depois avançar para exemplos mais complexos, como aqueles em que o sujeito é formado por expressões partitivas ou indeterminadas. Um bom exercício é criar frases para que os estudantes completem com a forma verbal correta, permitindo que visualizem como a flexão acontece. Os estudantes podem observar como, em situações informais, muitas vezes as regras são relaxadas, enquanto na norma-padrão o rigor é maior. Uma atividade prática seria pedir aos estudantes que corrijam pequenos textos em que há inadequações de concordância verbal, incentivando o pensamento crítico sobre o uso da língua. Por fim, exemplos como “A maioria dos estudantes entendeu o conteúdo” e “A maioria dos estudantes entenderam a explicação” podem servir para discutir as variações da concordância verbal que ocorrem em determinados contextos, abordando, assim, questões mais avançadas.

Midiateca do professor

• CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo . 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2021.

O livro aborda de forma detalhada as regras de concordância verbal, explicando-as com exemplos variados e discutindo as nuances e exceções. Também oferece pormenores da flexibilidade da língua em diferentes contextos e registros, além de esclarecer questões relacionadas a regras gramaticais formais.

Pensar e compartilhar (p. 71)

Estratégias didáticas

• No item b da atividade 5 , explique aos estudantes que, nesse caso, o verbo concorda com a ideia subentendida, ou seja, com o termo filme e não com o nome Os vingadores, que está no plural. A concordância ideológica, também chamada de concordância lógica, ocorre quando o verbo se ajusta

ao sentido implícito da frase, e não apenas à forma gramatical dos termos utilizados.

Astúcias da língua (p. 74)

Estratégias didáticas

• Ao trabalhar o boxe #paralembrar (p. 75), é útil trazer exemplos práticos e contextualizados para cada tempo verbal. Para o presente do indicativo, por exemplo, pode-se usar a frase “Eu estudo todos os dias”, mostrando uma ação habitual que ocorre no presente do enunciado. No pretérito perfeito, um exemplo seria “Ontem eu estudei”, enfatizando a conclusão da ação no passado. Para o pretérito imperfeito, utilize uma frase como “Quando era criança, eu estudava todas as tardes”, destacando a ideia de repetição ou continuidade no passado. No caso do pretérito mais-que-perfeito, um exemplo útil é “Quando ele chegou, eu já tinha estudado”, mostrando uma ação anterior a outra também no passado. O futuro do presente pode ser exemplificado com “Amanhã eu estudarei para a prova”, e o futuro do pretérito com “Se eu tivesse tempo, estudaria mais”, para ilustrar a relação entre ações no passado e suas consequências no futuro. Ao trabalhar o subjuntivo, dê exemplos como “Se eu estudar, irei bem na prova” para o futuro do subjuntivo, destacando a ideia de uma ação hipotética. Incentive os estudantes a refletir sobre a diferença de certeza e possibilidade entre o indicativo e o subjuntivo e a criar suas próprias frases para exercitar esses conceitos.

Pensar e compartilhar (p. 76)

Estratégias didáticas

• Na atividade 2, se necessário, lembre aos estudantes que todas as informações devem ter como ponto de referência o momento da enunciação, ou seja, o presente. Assim, as respostas corretas são: passado do passado: “a melodia que Tom compusera em seu apartamento na Rua Barão da Torre”; “cuja letra Vinicius escrevera em Petrópolis”. Passado: “A saga de tamanho sucesso começou em 2 de agosto de 1962 numa casa noturna”; “Cinco grandes canções foram lançadas naquela temporada: ‘Samba do avião’, ‘Só danço samba’, ‘Samba da benção’, ‘O astronauta’ e ela, ‘Garota de Ipanema’; “que gravaram a

canção logo em 1963”. Presente: “Consta que é a segunda canção mais executada da História”.

#NOSNAPRATICA

Recriação de poema em vídeo (p. 79)

Estratégias didáticas

• Para conduzir a elaboração do videopoema, incentive os estudantes a ver a poesia além do texto escrito, percebendo as nuances sonoras e visuais do poema. Uma sugestão seria pedir que escolham um poema de Manuel Bandeira, conhecido por suas imagens líricas e profundamente emocionais, e transformem essas imagens poéticas em representações visuais. Ao começar, explique que a recriação do poema em forma de vídeo é uma oportunidade de explorarem diferentes sentidos e interpretações. O poema deixa de ser apenas um texto no papel e se torna uma experiência sensorial. Para ajudar, forneça um exemplo de como cenas de natureza podem simbolizar temas como passagem do tempo ou morte, tão presentes na poesia de Bandeira. Oriente-os a utilizar ferramentas simples de edição de vídeo, como as sugeridas para o professor no Livro do estudante, e lembre-os da importância de escolher sons e músicas que se alinhem com o tom emocional do poema. Por exemplo, se o poema tiver um tom melancólico, músicas suaves ou sons da natureza, como o som da chuva, podem reforçar essa atmosfera. Durante o processo de criação, peça-lhes que reflitam sobre como a estrutura visual do videopoema pode intensificar os sentidos do poema original. Por fim, compartilhe os videopoemas com a turma, promovendo uma discussão sobre como os recursos visuais e sonoros modificaram ou ampliaram a compreensão do texto literário. Isso permitirá que os estudantes vejam a poesia como um campo amplo de exploração artística.

• Na proposta do Laboratório de produção (p. 79), pode-se pedir a cada estudante que grave duas vezes a declamação do poema com pausas e silêncios em momentos diferentes e ouça a si próprio, avaliando o que cada declamação destacou. O estudante pode, ainda, escolher uma delas e trocar com um colega para avaliação do resultado.

Unidade 3 O sertão em toda parte

Objetivos e justificativas

Nesta unidade, os estudantes vão conhecer romances que se seguiram àqueles produzidos pela segunda geração modernista. Essa geração teve a capacidade de unir o singular a um contexto social mais amplo, e os romances produzidos a partir de 1945 continuam essa tradição, mas com uma abordagem mais introspectiva e experimentações de linguagem mais radicais. Guimarães Rosa (1908-1967) é a figura central dessa geração. Na seção de leitura, analisarão o gênero editorial, que faz parte do campo jornalístico-midiático, e aprenderão que esse gênero defende com argumentos a opinião oficial de uma empresa ou instituição. Em análise linguística, conhecerão os conceitos de concordância nominal para fazer a correta concordância entre o substantivo e os termos que a ele se ligam. Também vão aprender sobre dêiticos e sua função de situar referentes no tempo, espaço ou discurso, a depender do contexto em que são usados. Por fim, vão planejar, produzir e compartilhar um editorial que represente o seu ponto de vista perante as transformações da natureza pelas quais sua região passou.

Competências e habilidades da BNCC

• Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 5, 6, 7, 9 e 10

• Competências específicas de Linguagens e suas Tecnologias: 1, 2, 3, 4, 6 e 7

• Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias

EM13LGG101 EM13LGG102 EM13LGG103 EM13LGG201

EM13LGG202 EM13LGG203 EM13LGG301 EM13LGG302

EM13LGG303 EM13LGG304 EM13LGG305 EM13LGG401

EM13LGG402 EM13LGG601 EM13LGG602 EM13LGG604 EM13LGG701

• Habilidades de Língua Portuguesa

EM13LP01 EM13LP02 EM13LP03 EM13LP05 EM13LP06 EM13LP07 EM13LP08 EM13LP15

EM13LP36 EM13LP38 EM13LP43 EM13LP45 EM13LP48 EM13LP49 EM13LP50 EM13LP52

Todos os campos de atuação social

Campo jornalístico-midiático

Campo artístico-literário

Abertura (p. 82)

Estratégias didáticas

• Para conduzir a análise da obra de Mara D. Toledo (1953-), que representa uma cena de festa junina, incentive os estudantes a observar os elementos tradicionais da cultura brasileira presentes na composição. Esses elementos visuais, como balões, fogueira, barracas, bandeirinhas, dança de quadrilha e trajes típicos, ajudam a situar a cena no contexto de uma celebração popular, comumente associada ao mês de junho no Brasil. Sugira aos estudantes que reflitam sobre o simbolismo de cada um desses elementos. Por exemplo, os balões e a fogueira remetem às tradições juninas ligadas à celebração de São João, um evento com raízes católicas, enquanto as bandeirinhas coloridas, barracas e trajes caipiras evocam o caráter festivo e regional dessas celebrações. Esses elementos são comuns tanto em comunidades rurais quanto em urbanas, promovendo a ideia de continuidade cultural no Brasil. Incentive-os a pensar sobre como a cena de uma festa junina vai além de uma simples representação visual. Esse evento cultural reflete as tradições, crenças e práticas sociais de várias regiões do país, especialmente no interior. A inclusão de uma igreja na composição pode gerar discussões sobre o papel dessas instituições nas comunidades rurais, sugerindo tanto o caráter religioso da festa quanto o contexto social em que esses eventos ocorrem. Ao apresentar as pinturas de Aldemir Martins (1922-2006) aos estudantes, é importante começar com uma análise visual guiada, que incentive a observação cuidadosa dos elementos presentes em cada pintura. As obras capturam momentos e paisagens do sertão, trazendo à tona a aridez e as dificuldades que caracterizam a vida rural do Nordeste brasileiro. Sugira aos estudantes que observem como as cores e as formas são usadas para criar uma atmosfera de dureza e resistência. Em Cacimba seca (1945), por exemplo, Martins utiliza tons terrosos e texturas que evocam a seca e a pobreza do sertão, enquanto em O jagunço (1967) a postura do personagem sugere força e violência.

O sertão dentro da gente (p. 84)

Estratégias didáticas

• No boxe Ler o mundo (p. 84), para conduzir a discussão sobre os reflexos psicológicos que os problemas sociais podem provocar nos indivíduos, proponha aos estudantes que pensem sobre como as crises externas, como desigualdades, conflitos e injustiças, muitas vezes geram angústias internas. Sugira que reflitam sobre como esses problemas podem se manifestar em sentimentos de medo, solidão, desesperança ou alienação, tanto na sociedade quanto na própria experiência pessoal. Um exemplo poderia ser a atual crise ambiental, que afeta não apenas o meio ambiente mas também gera incertezas e ansiedade em muitas pessoas, especialmente jovens que se preocupam com o futuro. Guimarães Rosa, ao afirmar que “viver é muito perigoso”, provoca uma reflexão sobre os riscos inevitáveis que a vida impõe às pessoas. Incentive-os a discutir o que Rosa poderia estar querendo dizer com isso, trazendo exemplos do cotidiano. Esses “perigos” podem não se limitar a questões de violência física ou econômica, mas incluir desafios emocionais e existenciais que fazem parte da convivência humana, como o medo de perdas, o sofrimento em relações interpessoais ou a busca por sentido em um mundo caótico.

Midiateca do professor

• CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2006. O autor discute como os problemas sociais – como a pobreza, a injustiça e a desigualdade – reverberam na psique das personagens, moldando suas identidades e afetos.

No fio do tempo – Modernismo – Geração de 45 (p. 88)

Estratégias didáticas

• No trabalho com o boxe O X da questão (p. 88), após contextualizar a Geração de 45, proponha a atividade 1, que pede uma reflexão dos estudantes

sobre suas experiências pessoais de encontros marcantes, trazendo à tona situações que os impactaram de alguma maneira. Ao compartilharem essas histórias, os estudantes não apenas desenvolvem habilidades de narrativa mas também se conectam com os colegas em um nível mais profundo. Por exemplo, um estudante pode relatar um encontro que mudou sua forma de ver o mundo, como conhecer alguém que enfrentou adversidades, ou mesmo um evento significativo na família. A ideia é que eles reconheçam o impacto emocional que esses encontros trazem. Ao discutir a questão do propósito e do acaso, na atividade 2, é interessante sugerir aos estudantes que se baseiem em suas crenças e experiências para debater o tema. Alguns podem achar que há um propósito divino ou destino, enquanto outros podem enxergar a vida como uma série de acontecimentos aleatórios. Um exemplo de resposta possível seria um estudante acreditar que certos eventos acontecem por um motivo, como uma decisão importante que os levou a descobrir uma nova paixão ou habilidade, enquanto outros acreditarem que a vida é imprevisível e não controlada por forças maiores. Em relação à pesquisa do Rio São Francisco, proposta na atividade 3, oriente os estudantes a usar fontes confiáveis, como enciclopédias on-line e sites de Geografia e História, para coletar informações sobre o rio. Eles podem descobrir, por exemplo, que o Rio São Francisco era crucial para o transporte e a economia da região nos anos 1920, além de alimentar as histórias e culturas locais. No contexto do romance Grande sertão: veredas, o rio não é apenas um cenário mas também um símbolo de vida, passagem e transformação. Isso pode render discussões sobre a importância simbólica e prática do Rio São Francisco na obra de Guimarães Rosa e na vida dos sertanejos. A proposta deste boxe auxiliará os estudantes a compreender como os elementos sociais e culturais estão entrelaçados com as questões individuais, um tema central na Geração de 45 e nas obras de autores como Guimarães Rosa.

Pensar

e compartilhar (p. 91)

Estratégias didáticas

• Na atividade 1 , comente com os estudantes que Grande sertão: veredas, publicado em 1956, é um marco na literatura brasileira, pois, ao mesmo tempo

que mantém elementos do regionalismo, também transcende esse rótulo. Os aspectos que justificam a classificação da obra como regionalista são evidentes. A descrição vívida do sertão, com sua paisagem árida e personagens que refletem a vida no interior do Brasil, é um dos traços mais marcantes. Rosa utiliza um rico vocabulário regional, que não só confere autenticidade aos diálogos mas também ajuda a criar um ambiente imersivo que transporta o leitor para o contexto sertanejo. As referências a costumes, práticas rurais e a relação das personagens com a terra são fundamentais para essa leitura. No entanto, o que questiona a classificação puramente regionalista é a profundidade filosófica que permeia a obra. Os dilemas existenciais enfrentados por Riobaldo, o protagonista, tratam de temas como amor, medo, a luta entre o bem e o mal e a busca por identidade.

• Para o item c da atividade 3, informe aos estudantes que existe um Parque Nacional chamado Grande Sertão Veredas, mas o espaço do romance como um todo atinge também trechos da Bahia e de Goiás. Os estudantes podem explorar esse parque buscando informações e imagens na internet.

• Respostas da atividade 4: a) Que é religioso, devoto. b) Bom Jesus da Lapa é um município situado a sudoeste do estado da Bahia. À época em que se passa a história, não havia estradas fáceis para a capital Salvador. Os habitantes de Bom Jesus da Lapa que queriam ou precisavam acessar centros maiores, pegavam um vapor que ia pelo São Francisco até Pirapora, onde o trem poderia levá-los então a Belo Horizonte, capital de Minas Gerais. Bom Jesus da Lapa conta com um santuário importante, que recebeu 2,5 milhões de romeiros em 2019. Funciona numa gruta de pedra descoberta há mais de 325 anos pelo português Francisco de Mendonça Mar e recebe romeiros de todo o país que lá vão para agradecer graças, pedir curas, alívio de dores, culpas e outros tormentos. A mãe do menino queria agradecer pela cura do filho, mas provavelmente não tinha condições de viajar até o santuário. Por isso decide pela estratégia da cabaça que poderia viajar pelo rio até lá.

• Respostas da atividade 5: a) “Mas eu olhava esse menino, com um prazer de companhia, como nunca por ninguém eu não tinha sentido. Achava que ele era muito diferente, gostei daquelas finas feições, a

voz mesma, muito leve, muito aprazível. Porque ele falava sem mudança, nem intenção, sem sobejo de esforço, fazia de conversar uma conversinha adulta e antiga”. b) Como um destino dado, algo que tinha de acontecer, marcado na vida de ambos.

• Respostas da atividade 6: a) O tamanho do rio, a possibilidade de a canoa virar. b) O menino mostra autonomia ao não pedir licença ao tio para entrar na canoa. O fato de fazer tudo com naturalidade, de ser capaz de apreciar a paisagem, desligado de eventuais perigos, de ficar quieto, composto e dizer “carece de ter coragem”, tudo isso mostra essa característica do menino. c) O contraste sugere um complemento entre o narrador e o menino. Se achar oportuno, lembre aos estudantes que o tema coragem e medo acompanhará a trajetória de Riobaldo.

• Ao trabalhar com o boxe Hiperlink (p. 93), contextualize a importância de Ruth Guimarães (1920-2014) como uma das primeiras mulheres negras a se destacar na literatura brasileira, o que já oferece aos estudantes uma perspectiva histórica e cultural significativa. Em seguida, a pesquisa sobre os contos de Ruth Guimarães pode ser orientada de modo a incentivar a descoberta de suas obras, disponíveis on-line e nas coletâneas mencionadas, como Contos negros e Contos índios. Isso os ajudará a se familiarizar com a rica diversidade da cultura brasileira, especialmente nas tradições populares e nas narrativas orais. Após a leitura do conto escolhido, é essencial guiar os estudantes na elaboração do resumo. Eles devem identificar o enredo central, focando os elementos mais relevantes da história, mas sem se alongar em detalhes. Um exemplo de resumo poderia ser: “Neste conto, a autora narra a história de um personagem que enfrenta desafios na vida rural, abordando temas como a resistência cultural e o papel das tradições”. O resumo deve ser conciso, destacando os principais acontecimentos e o desfecho do conto. Nas relações entre personagens e o ambiente, os estudantes podem explorar como o espaço e a cultura moldam as ações e os comportamentos das personagens. Por exemplo, em muitos dos contos de Ruth Guimarães, a natureza e a vida rural desempenham papéis fundamentais, oferecendo reflexões sobre a vida comunitária e a interação das personagens com seu meio. Quanto à linguagem e ao estilo de escrita, é interessante observar que Ruth Guimarães utiliza

uma prosa rica em elementos orais e folclóricos. Os estudantes podem identificar a musicalidade e o simbolismo da linguagem, como no uso de ditados populares ou expressões regionais, que enriquecem a narrativa. Sugira aos estudantes que compartilhem a leitura do conto com a turma, destacando os elementos que acharam mais interessantes e comparando suas observações com as dos colegas. Isso pode gerar discussões sobre o papel da literatura regionalista na preservação da cultura e da memória do Brasil. Além disso, a pesquisa sobre Ruth Guimarães também pode envolver uma análise de sua trajetória como mulher negra na literatura, ressaltando a relevância de sua obra para questões de identidade cultural e resistência.

Contexto (p. 94)

Estratégias didáticas

• Ao trabalhar o boxe Ler literatura (p. 96), incentive os estudantes a perceber a singularidade da linguagem utilizada em Grande sertão: veredas, destacando como a complexidade e a invenção verbal criam uma experiência única de leitura. Um ponto interessante para destacar é como a fala de Riobaldo é marcada pela mistura de registros orais e eruditos, combinando expressões regionais com uma linguagem poética e filosófica. Você pode sugerir aos estudantes que reflitam sobre como essa “mistura” linguística reflete a complexidade do sertão e da própria existência humana, conforme discutida por Riobaldo. Na comparação com a linguagem seca e direta de Vidas secas, de Graciliano Ramos, peça-lhes que observem como a linguagem reflete o ambiente inóspito do sertão nordestino, com frases curtas e poucas descrições, ressaltando o sofrimento e a resistência das personagens. Uma sugestão de pesquisa pode ser explorar como esses autores utilizam a linguagem para construir diferentes visões do sertão e da existência humana. Você pode sugerir que investiguem mais sobre o estilo narrativo de Guimarães Rosa e Graciliano Ramos e comparem a maneira como cada um utiliza a linguagem para criar seu universo ficcional. Essa discussão pode levá-los a refletir sobre como a linguagem literária pode ser tanto uma ferramenta para expressar realidades concretas quanto um meio de explorar questões filosóficas e existenciais mais profundas. Na atividade proposta no Para discutir, um exemplo de resposta seria focar a ambiguidade presente na frase

“Viver é muito perigoso”, que condensa a tensão entre o medo e a coragem de enfrentar a vida. O uso do verbo aprender-a-viver também pode ser discutido com os estudantes, mostrando como a linguagem do romance explora o processo contínuo de descoberta da vida, em vez de oferecer respostas definitivas.

Integrando com Sociologia (p. 97)

Respostas e comentários

1. Espera-se que, em sua pesquisa, os estudantes cheguem pelo menos ao filme O cangaceiro (1953), dirigido por Lima Barreto, um dos mais célebres do ciclo dos cangaceiros. O restante é resposta pessoal.

2. Resposta pessoal. Sugira aos estudantes que conversem sobre essa questão com o professor de História e depois peça a alguns deles que compartilhem suas conclusões com a turma.

lEITURA:

EDITORIAl

O jornal também fala (p. 98)

Estratégias didáticas

• Ao conduzir as atividades do boxe Ler o mundo (p. 98), comece explicando que a literatura brasileira a partir de 1945 caracteriza-se por uma visão subjetiva, explorando a experiência individual e a complexidade interna das personagens, o que contrasta com a proposta de objetividade que permeia o jornalismo. No jornalismo, principalmente nos editoriais, há um espaço de opinião institucional, em que se manifesta o ponto de vista de um veículo de comunicação sobre temas relevantes, mesmo que o jornalismo em si busque a imparcialidade nas notícias. Para a atividade 1, os estudantes devem reconhecer que o editorial é uma seção específica destinada à opinião do jornal, geralmente encontrada no início ou final dos cadernos principais. Para a atividade 2 , os estudantes podem apontar que outros textos encontrados nessa seção são colunas de opinião, cartas de leitores e artigos assinados por especialistas, que também oferecem análises pessoais ou institucionais sobre temas de interesse público. A atividade 3 pede aos estudantes que escolham uma notícia que tenha se destacado

e pensem sobre como um jornal poderia se posicionar em relação a ela em um editorial. Sugira que reflitam sobre questões que impactam a sociedade de maneira mais ampla, como acontecimentos políticos, questões sociais ou econômicas.

Pensar e compartilhar (p. 100)

Estratégias didáticas

• Ao trabalhar o boxe conceito (p. 100), incentive a reflexão sobre o papel do editorial no cenário atual e sua importância na formação da opinião pública. O editorial não é apenas uma manifestação de uma opinião institucional mas também um instrumento de influência que pode moldar a percepção dos leitores sobre questões relevantes. Sugira que analisem editoriais de jornais ou sites confiáveis e identifiquem os recursos argumentativos usados. Essa análise pode incluir o tom, o uso de evidências e a escolha de palavras para construir uma argumentação sólida. Além disso, pode-se promover uma discussão sobre como a imparcialidade e a subjetividade coexistem no editorial, incentivando-os a reconhecer a linha tênue entre a opinião argumentativa e a manipulação da informação. Também é importante explorar a relação entre o editorial e os demais gêneros jornalísticos, como reportagens e artigos de opinião, destacando que o editorial tem uma função clara de representar a postura de um veículo de comunicação, e não a visão de um jornalista específico.

ANAlISE lINGUISTICA

Concordância nominal (p. 102)

Estratégias didáticas

• Antes de iniciar o estudo formal sobre concordância nominal, realize uma atividade que ajude a verificar os conhecimentos prévios dos estudantes sobre o assunto. Comece com exemplos de frases que utilizam a concordância nominal corretamente e outras com pequenas inadequações, pedindo aos estudantes que identifiquem o que soa “estranho” ou inadequado nas frases. Essa prática inicial ajuda a envolver os estudantes e traz à tona suas percepções intuitivas da língua, sem que eles precisem ter conhecimento técnico detalhado. Com base nessa análise, direcione a discussão para o conceito de concordância

entre substantivo e adjetivo, explorando as noções de gênero e número. Averigue o que eles já sabem e peça-lhes que façam uma breve descrição de objetos que estão na sala ou de cenas de imagens projetadas, focando os adjetivos e substantivos que utilizam. Em seguida, solicite que justifiquem as escolhas de concordância, questionando: por que você usou “vermelhas” e não “vermelho” para descrever as cadeiras? Se mudássemos o substantivo para o singular, como ficaria a frase? Esse tipo de interação inicial promove a reflexão sobre o tema de forma prática e contextualizada. Ela também oferece uma visão clara sobre os conhecimentos prévios dos estudantes, permitindo ajustar o nível de aprofundamento e as estratégias a serem utilizadas no estudo da concordância nominal.

Midiateca do professor

• BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 38. ed. ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2015.

O autor apresenta regras e exceções da concordância nominal, trazendo exemplos que ajudam a entender como os adjetivos, substantivos e determinantes devem se ajustar em gênero e número.

Pensar e compartilhar (p. 104)

Estratégias didáticas

• No item b da atividade 9, um exemplo adicional que pode ser útil é observar a diferença em frases como “É proibido entrar” (singular) e “São proibidos os animais de estimação” (plural). Ao reescrever a fala substituindo “animais de estimação” por “a presença de animais de estimação”, a frase muda porque presença é um substantivo feminino no singular. Dessa forma, a concordância passa a ser no feminino, com o verbo ser e o adjetivo proibida também concordando com o nome. Reitere aos estudantes que a mudança de estrutura frasal altera a concordância, reforçando a importância de observar gênero e número na construção de frases.

Astúcias da língua (p. 106)

Estratégias didáticas

• Ao trabalhar o boxe conceito (p. 108), destaque para os estudantes que esses elementos – como

pronomes, advérbios de lugar e de tempo, e alguns determinantes – só fazem sentido quando relacionados ao contexto de quem fala ou escreve e de quem ouve ou lê. Eles permitem que um texto se relacione com o “aqui e agora” da comunicação. Por exemplo, em uma frase como “Eu vou te encontrar amanhã”, os dêiticos eu, te e amanhã só podem ser interpretados corretamente no contexto em que a frase é dita. Eu se refere ao locutor, te remete à pessoa com quem se fala, e amanhã depende do dia em que a frase foi proferida. Mostre como os dêiticos são essenciais para a coesão textual. Em um texto narrativo, por exemplo, dêiticos temporais como hoje, ontem, depois, ou espaciais, como aqui, lá, ajudam o leitor a seguir o desenrolar dos eventos e a compreender a localização das personagens. No caso dos dêiticos no discurso, como os pronomes demonstrativos este , esse , aquele , eles orientam o leitor sobre a posição das ideias em relação ao discurso – este para algo que vai ser dito, aquele para algo já mencionado, por exemplo. Use exemplos práticos de textos curtos para que os estudantes possam identificar como esses elementos são empregados na construção da mensagem e na manutenção da coesão.

#NOSNAPRATICA

Editorial (p. 109)

Estratégias didáticas

• Para conduzir a produção do editorial, explore os conceitos fundamentais desse gênero, destacando o caráter impessoal do texto e sua função como a voz institucional de uma empresa ou organização. Proponha uma discussão inicial sobre as transformações na natureza na própria região dos estudantes, incentivando-os a pensar nas mudanças ambientais observadas e refletir sobre como isso afeta aspectos econômicos, sociais e culturais. Sugere-se iniciar com uma conversa sobre o impacto que o desmatamento ou a exploração de recursos naturais pode ter, utilizando exemplos próximos dos estudantes. Isso pode ajudar a despertar uma conscientização maior sobre o tema. No planejamento, proponha às duplas de estudantes que pesquisem dados estatísticos e históricos relacionados ao fenômeno escolhido, que podem ser usados como suporte para o editorial. Por exemplo, se o tema for a canalização de um rio, eles poderiam pesquisar sobre a história do rio, os

impactos na fauna e na flora locais e como isso pode afetar a economia da região. Incentive-os a experimentar diferentes formas de organizar o editorial, ajudando-os a escolher a que melhor comunica suas ideias. Para facilitar esse processo, traga exemplos de editoriais reais, explicando como eles se estruturam e como utilizam dados e citações de especialistas para reforçar o ponto de vista apresentado. Na produção do texto, oriente as duplas a testar o uso de recursos expressivos, como metáforas e outras figuras de linguagem, sempre ressaltando que devem ser usadas com cautela e intencionalidade clara. É possível, por exemplo, dizer que “a transformação da mata em condomínio encheu a paisagem de palitos” – em que o autor do texto sugere que o lugar foi tomado por edifícios e que ele não é favorável a essa mudança. Essa ideia de transformar a paisagem em uma “floresta de palitos” pode ser um exemplo de como os estudantes podem brincar com a linguagem para dar mais impacto ao texto sem perder o foco na formalidade. Após a primeira escrita, sugira uma rodada de revisões gramaticais e de estilo, garantindo que a linguagem esteja adequada ao público-alvo e que o texto esteja claro e objetivo. Esse processo também pode ser feito em grupo, em que cada dupla lê o editorial da outra e oferece sugestões de melhoria, o que também pode enriquecer o aprendizado. Ao compartilharem os editoriais, oriente-os a fazê-lo em plataformas digitais, como o site da escola ou redes sociais, reforçando a ideia de que a escrita tem impacto real e que as vozes dos estudantes podem contribuir para discussões relevantes na comunidade escolar ou extraescolar.

• Ao trabalhar o boxe Laboratório de produção (p. 109), revise os conceitos de coerência e coesão textual com a turma, destacando como os mecanismos de adição e oposição fortalecem a argumentação em textos argumentativos. Ao revisar as respostas dos estudantes, como no caso da adição (“Além disso, políticas ambientais rigorosas podem reduzir a ocorrência de desastres naturais...”) e da oposição (“Por outro lado, países em desenvolvimento frequentemente enfrentam desafios...”), sugira a ampliação das ideias, incentivando a reflexão sobre as implicações práticas de cada argumento. Incentive-os a buscar exemplos reais para embasar suas afirmações, como o impacto de políticas ambientais em determinados países ou dados sobre desastres naturais. Ao longo da atividade, convide-os a explorar fontes confiáveis para enriquecer sua argumentação e a discutir os benefícios e desafios das práticas sustentáveis no contexto atual, promovendo troca de ideias fundamentada.

Unidade 4 O eu do avesso

Objetivos e justificativas

Nesta unidade, os estudantes vão explorar narrativas introspectivas que investigam temas como identidade, alienação e as variadas formas de percepção em um mundo em transformação. Com base nessa abordagem, eles conhecerão as características da Geração de 45, especialmente a obra de Clarice Lispector, cujo trabalho permanece como uma referência central para a prosa contemporânea. Na seção de leitura, analisarão o gênero textual artigo de divulgação científica, suas características e estrutura. Em análise linguística vão refletir sobre regência nominal e acordos e referências, que são dois dos principais mecanismos para a construção da coesão textual. Para finalizar, vão planejar, produzir e compartilhar a escrita de um artigo de divulgação científica com base em uma entrevista com um neurocientista.

Competências e habilidades da BNCC

• Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 8, 9 e 10

• Competências específicas de Linguagens e suas Tecnologias: 1, 2, 3, 4 e 6

• Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias

EM13LGG101 EM13LGG102 EM13LGG103 EM13LGG104

EM13LGG105 EM13LGG202 EM13LGG302 EM13LGG401

EM13LGG402 EM13LGG601 EM13LGG602 EM13LGG604

• Habilidades de Língua Portuguesa

EM13LP01 EM13LP02 EM13LP03 EM13LP04

EM13LP06 EM13LP08 EM13LP31 EM13LP33

EM13LP34 EM13LP48 EM13LP49 EM13LP50

EM13LP52

Todos os campos de atuação social

Campo das práticas de estudo e pesquisa

Campo artístico-literário

Abertura (p. 112)

Estratégias didáticas

• Para iniciar o estudo desta seção, ofereça aos estudantes uma perspectiva que articule as artes visuais

com a literatura e a reflexão psicológica moderna. A obra de Alex Flemming (1954-), com seus painéis de fotografias de pessoas anônimas sobrepostas por poemas clássicos na estação Sumaré do Metrô de São Paulo (SP), propõe um diálogo instigante entre a imagem e a palavra escrita, revelando a humanidade que se esconde por trás do cotidiano urbano. Esse diálogo pode ser trabalhado com os estudantes para que reflitam sobre as camadas de significados que atravessam o espaço público e as relações interpessoais nas grandes cidades. Arcangelo Ianelli (1922-2009), em sua obra Pic-nic, convida o espectador a explorar o uso da cor e das formas na criação de cenas intimistas, simples, mas carregadas de significados afetivos. O caráter bucólico e quase introspectivo da pintura ecoa a tendência da literatura da Geração de 45 de explorar o psicológico, criando um paralelo interessante entre o mundo interior das personagens literárias e a serenidade visual da pintura. Incentive os estudantes a refletir sobre como cenas aparentemente tranquilas também podem encerrar um mundo de emoções e pensamentos ocultos. A obra Paisagem do Morumbi, de Francisco Rebolo (19021980), oferece uma visão mais ampla do ambiente urbano em transformação, revelando as nuances de uma São Paulo que cresce e se expande mas que também carrega traços do campo. Essa perspectiva pode ser vinculada à análise da literatura modernista, em especial da segunda geração, que começa a incorporar mais intensamente o conflito entre o progresso urbano e as tradições rurais. Os estudantes podem discutir como essas tensões são representadas tanto na arte quanto na literatura, abordando a transição entre o campo e a cidade, o passado e o futuro.

lITERATURA

Perder-se dentro de si (p. 114)

Estratégias didáticas

• Ao trabalhar o boxe Ler o mundo (p. 114), sugere-se partir de uma reflexão sobre o que os estudantes compreendem pelo termo psicológico (atividade 1). Incentive uma discussão aberta, questionando o que eles associam a esse conceito. Talvez relacionem

o termo a emoções, mente, comportamento ou até transtornos. O interessante é não limitar a discussão a definições técnicas, mas explorar o que o “psicológico” evoca na percepção deles. Em relação à atividade 2 , sobre as questões psicológicas mais comuns entre jovens, é importante criar um ambiente acolhedor, no qual os estudantes se sintam à vontade para compartilhar suas ideias. Alguns exemplos de questões psicológicas comuns entre jovens são ansiedade, pressão por resultados (especialmente no contexto escolar), busca por identidade, insegurança sobre o futuro e dificuldades em lidar com relações interpessoais. Um ponto interessante para discutir é como a sociedade contemporânea, com suas redes sociais e expectativas de desempenho, amplifica muitas dessas questões. Na atividade 3, quanto à origem dessas questões psicológicas, explore com a turma a interconexão entre fatores externos (expectativas sociais, pressão acadêmica, mudanças nas relações familiares) e internos (autoimagem, autoestima, conflitos internos). Um exemplo de debate interessante seria sobre como a comparação constante nas redes sociais pode alimentar sentimentos de inadequação ou ansiedade. Como exemplo de resposta, pode-se sugerir que um estudante traga uma reflexão sobre como o isolamento social vivido durante a pandemia afetou o psicológico de muitos jovens, gerando sentimentos de solidão e ansiedade, e como essas experiências podem ecoar na literatura, no teatro e até nos produtos culturais que são consumidos, como filmes e séries. Por fim, ao trabalhar essas questões, conduza a turma a observar como tais temáticas estão presentes na literatura contemporânea e nas artes, incentivando a criação de pequenos textos ou discussões em grupo que explorem essas questões psicológicas, com um olhar mais crítico e sensível ao mundo interior das personagens e de si mesmos.

• A o trabalhar o trecho inicial de Pequena coreografia do adeus , de Aline Bei (p. 114), conduza os estudantes para uma leitura atenta e sensível, convidando-os a refletir sobre as emoções que permeiam o texto e a forma como a protagonista narra suas experiências. A escrita de Bei, marcada por fragmentos e uma poética introspectiva, sinaliza a profundidade psicológica e o turbilhão emocional

que a protagonista enfrenta, vivendo em uma família disfuncional. Assim, o foco não deve ser apenas na compreensão do enredo, mas nos impactos emocional e psicológico que esse fragmento carrega. Ao iniciar a leitura em sala de aula, comece propondo uma reflexão sobre a linguagem usada por Aline Bei, discutindo o que a escrita fragmentada pode sugerir sobre os sentimentos da personagem. Por exemplo, a estrutura fragmentada pode refletir a ruptura interna da protagonista, as dificuldades de sua infância e as dores associadas ao crescimento em meio a uma relação familiar conturbada. Esse ponto pode ser um ótimo gancho para explorar com os estudantes como a forma de um texto é capaz de intensificar seu conteúdo emocional. Além disso, incentive-os a discutir as metáforas presentes no trecho. A figura do pai caminhando “a dois palmos do chão”, por exemplo, pode representar a idealização ou a inacessibilidade emocional da figura paterna para a protagonista. Isso abre espaço para debater como os jovens leitores se identificam com a visão de mundo da protagonista, e como questões familiares complexas podem ser traduzidas em metáforas literárias. Outra sugestão de trabalho seria pedir aos estudantes que reflitam sobre a relação da protagonista com a mãe e o pai, personagens centrais na construção de sua identidade. O trecho revela o desejo da personagem de ser diferente da mãe e sua frustração com o pai, que parece mais feliz e distante em outro contexto. Aproveite essa tensão para discutir como Aline Bei constrói a figura da família na obra e como isso reflete dilemas comuns na vida dos jovens, como o desejo de independência e as frustrações com as expectativas familiares.

No fio do tempo – Modernismo –Geração de 45 (p. 118)

Estratégias didáticas

• P ara trabalhar o boxe O X da questão (p. 118), sugere-se, primeiro, contextualizar os estudantes sobre o ambiente histórico e cultural da Geração de 45 (terceira geração modernista), com foco nos dilemas existenciais enfrentados pelos autores dessa época. A ênfase na psicanálise e no existencialismo reflete as profundas transformações

sociais e políticas que ocorreram no pós-guerra. Assim, apresente aos estudantes como a tensão entre o indivíduo e as expectativas sociais é um tema recorrente na obra de escritores dessa geração. Ao tratar do questionamento proposto, incentive-os a pensar em exemplos da vida cotidiana, em que o desejo pessoal entra em conflito com as normas sociais. Para ajudar os estudantes a conectar o tema com suas próprias experiências, faça perguntas como: você já quis fazer algo, mas sentiu que isso não era aceito socialmente? Como você lidou com essa situação? Para abordar a questão central – o que o conflito entre o desejo pessoal e as expectativas da sociedade pode produzir no sujeito –, sugira respostas que envolvam tanto efeitos positivos quanto negativos. Por exemplo, a frustração ou o sentimento de inadequação podem surgir quando alguém se sente pressionado a seguir um caminho que não deseja. É possível dar o exemplo de uma personagem de Clarice Lispector, Macabéa, de A hora da estrela , que vive uma existência de constante submissão e invisibilidade, contrastando seus desejos não realizados com as imposições da sociedade. Reflita com os estudantes sobre como esse tipo de conflito pode gerar, por um lado, autoconhecimento e, por outro, alimentar angústias profundas. Em obras da Geração de 45, o isolamento e a introspecção muitas vezes refletem a dificuldade de integração das personagens em um mundo em constante transformação. Um exemplo de resposta para a discussão pode ser a ideia de que, quando o desejo pessoal não se alinha ao que a sociedade espera, o indivíduo pode sentir uma grande frustração, mas também pode encontrar novos caminhos e maneiras de se expressar, mesmo que fora das normas estabelecidas.

Midiateca do estudante

• AD ASTRA: rumo às estrelas. Direção: James Gray. Estados Unidos: 20th Century Fox, 2019. Streaming (124 min).

O filme utiliza a exploração espacial como pano de fundo para examinar o interior das personagens, suas angústias e dilemas existenciais, em uma linha que remete à tradição modernista de examinar o sujeito frente a um mundo que parece cada vez mais fragmentado e incerto.

Pensar e compartilhar (p. 120)

Estratégias didáticas

• Ao trabalhar o boxe Hiperlink (p. 122), incentive os estudantes a focar o caráter psicológico das personagens e a riqueza da linguagem da autora. Uma sugestão é orientá-los a escolher contos que sejam representativos da obra de Lygia, como “Venha ver o pôr do sol” ou “A caçada”, disponíveis em coletâneas como Antes do baile verde (1970). Ao compartilhar a leitura com a turma, os estudantes podem destacar que a narrativa de Lygia aprofunda questões como o medo da morte, a solidão e o papel da mulher na sociedade, sempre com uma escrita sensível e introspectiva. Por exemplo, ao discutir o conto “Venha ver o pôr do sol”, eles poderiam observar como a tensão psicológica se constrói em um ambiente simples e aparentemente inofensivo, mas que logo se revela sombrio, criando uma atmosfera de suspense e angústia. Para incentivar a análise crítica, sugira aos estudantes que identifiquem no conto escolhido os elementos que mostram o estado emocional das personagens e a forma como o cenário e os diálogos contribuem para esse desenvolvimento psicológico. Isso também envolve discutir como a linguagem poética e concisa de Lygia reforça os sentimentos de isolamento e desejo de liberdade. Como sugestão, proponha perguntas que incentivem a reflexão, como: quais são os principais conflitos internos das personagens? Como a linguagem contribui para revelar esses conflitos? De que forma esses temas ainda dialogam com questões contemporâneas? Dessa forma, os estudantes desenvolverão uma análise mais aprofundada da obra, conectando os temas psicológicos com o contexto social.

Contexto (p. 124)

Estratégias didáticas

• Para conduzir as atividades do boxe Ler literatura (p. 127), enfoque a relação entre literatura e psicanálise, abordando os conflitos internos das personagens como um espelho dos dilemas humanos. Ao apresentar Macabéa, de A hora da estrela, por exemplo, pode-se sugerir aos estudantes que reflitam sobre quanto a personagem está desconectada de si mesma e do seu desejo, algo que a psicanálise identifica como a dificuldade de assumir a própria

subjetividade. Em relação ao questionamento da atividade 1 , os estudantes podem perceber que Macabéa simboliza uma condição de alienação que muitos também podem sentir em algum momento da vida, seja por questões de identidade ou por pressões sociais. Sendo assim, na atividade 2 , a pergunta sobre identificação pessoal com a personagem pode gerar uma discussão rica sobre como as expectativas da sociedade afetam a autoimagem e o desenvolvimento emocional. Para a atividade 3, encoraje a expressão criativa, pedindo aos estudantes que escolham dois elementos – como uma imagem de algo significativo e uma palavra – que representem o estado emocional deles no momento, semelhante ao que ocorre com Macabéa ao tentar entender quem ela é. Um exemplo de resposta poderia ser um estudante escolhendo a palavra deslocamento e a imagem de uma estrada deserta, destacando o sentimento de estar perdido em relação ao futuro. Essa reflexão sobre os elementos do poema pode proporcionar uma conexão profunda entre a análise literária e o autoconhecimento, incentivando os estudantes a refletir sobre as próprias narrativas interiores.

lEITURA: ARTIGO DE DIVUlGAÇÃO CIENTÍFICA

Compartilhando saberes (p. 128)

Estratégias didáticas

• Ao conduzir o boxe Ler o mundo (p. 128), comece discutindo a importância da divulgação científica como um meio de conectar a pesquisa acadêmica ao público em geral. Ao fazer isso, incentive os estudantes a refletir sobre como as informações científicas que leem em revistas ou jornais contribuem para o entendimento do mundo deles. Aborde exemplos de como descobertas científicas recentes podem impactar suas vidas, especialmente nas áreas de saúde e tecnologia. Ao discutir a atividade 1, sugira aos estudantes que compartilhem nomes de revistas ou sites como Superinteressante, Galileu, Pesquisa Fapesp ou até mesmo Scientific American, incentivando-os a pensar sobre onde costumam encontrar informações científicas. Um exemplo de resposta poderia ser: “Eu

conheço a revista Superinteressante, que fala sobre temas variados como astronomia e curiosidades científicas”. Na atividade 2, sugira que reflitam sobre momentos em que artigos de divulgação científica poderiam ajudar, como na preparação para debates escolares, redações, ou mesmo para a escolha de uma profissão. Um exemplo de resposta poderia ser: “Quando estamos estudando temas de ciências ou fazendo pesquisas para um trabalho de escola, esses artigos ajudam a entender melhor o assunto sem precisar de um conhecimento técnico profundo”. Para a atividade 3, incentive a curiosidade dos estudantes sobre temas científicos mais específicos, levando-os a discutir como a leitura de artigos sobre esses assuntos amplia seu repertório de conhecimento. Um exemplo de resposta seria: “Eu tenho interesse por robótica e costumo ler artigos na internet sobre novas invenções e avanços tecnológicos”. Essa discussão pode ser uma excelente oportunidade para conectar a leitura de artigos de divulgação científica com a construção de um repertório mais amplo, mostrando aos estudantes como o conhecimento científico está presente no cotidiano deles e pode ser acessível de forma mais leve e interessante.

Midiateca do professor

• VOLPATO, Gilson. Ciência: da filosofia à publicação.

6. ed. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2013.

A obra é uma referência para a escrita acadêmica e a divulgação científica, inclusive para o público não especializado, já que discute as diferenças entre os textos voltados para especialistas e os voltados para a divulgação mais ampla, abordando temas como clareza, estrutura e a importância de adaptar a linguagem ao público leigo.

Pensar e compartilhar (p. 130)

Estratégias didáticas

• Ao trabalhar o boxe conceito (p. 130), é importante enfatizar aos estudantes que os artigos de divulgação científica desempenham um papel crucial ao democratizar o conhecimento gerado pela ciência, tornando-o acessível para além dos muros acadêmicos. Ao adaptar a linguagem técnica para um público leigo, esses artigos permitem que descobertas e avanços científicos sejam compreendidos por pessoas sem formação especializada. Isso amplia o impacto social da ciência, possibilitando maior

compreensão sobre temas relevantes, como saúde, meio ambiente e tecnologia. A divulgação científica também promove o pensamento crítico, ao aproximar os leitores de questões contemporâneas que afetam suas vidas cotidianas, como mudanças climáticas ou avanços na Medicina. Além disso, ao dar visibilidade à ciência, o interesse por áreas de estudo é incentivado, a curiosidade é despertada, o que contribui para a formação de uma sociedade mais informada.

ANAlISE lINGUISTICA

Regência nominal (p. 132)

Estratégias didáticas

• Antes de apresentar formalmente o conceito de regência nominal, é interessante estabelecer uma base de reflexão e familiarização com a ideia de que algumas palavras exigem outras para complementar seu sentido. A regência nominal refere-se a como certos substantivos, adjetivos ou advérbios precisam ser acompanhados por preposições específicas para que sua relação com outros termos faça sentido. Para engajar os estudantes, pode-se começar explorando exemplos do cotidiano, como expressões comuns que eles usam, mostrando como a relação entre as palavras funciona naturalmente, mas nem sempre é intuitiva. Por exemplo: “amor a algo”, “medo de alguma coisa” ou “acesso a”. Pergunte-lhes por que acham que dizem “amor a” e não “amor para”, e incentive-os a perceber que essa escolha não é arbitrária, mas uma questão de uso linguístico estabelecido pela norma-padrão. Uma maneira eficaz de apresentar a ideia é usando frases ou trechos de canções ou filmes conhecidos, que contenham exemplos de regência nominal, como “respeito por alguém” ou “vontade de fazer algo”. Isso pode gerar discussões sobre por que se usam determinadas preposições com certos substantivos ou adjetivos. Ao explorar essas questões em um contexto menos formal, o estudante começa a internalizar as regras antes de iniciar o estudo gramatical mais técnico.

Astúcias da língua (p. 135)

Estratégias didáticas

• Para iniciar os estudos desta seção, é importante contextualizar os estudantes sobre o que significa

“coesão” no texto e sua função principal: garantir que as ideias se conectem de maneira clara e fluida. Coesão envolve o uso de estratégias linguísticas que tornam o texto mais compreensível. Os acordos (como concordâncias nominal e verbal) e as referências (como pronomes e conectivos) são ferramentas centrais nesse processo. Uma boa abordagem inicial é trazer exemplos simples e práticos do cotidiano. Você pode começar com frases como: “Maria foi ao cinema. Ela adorou o filme”. Nesse exemplo, o pronome ela faz referência a Maria do início da frase, criando coesão. Esse tipo de exemplo ajuda os estudantes a perceber como se usam mecanismos de coesão inconscientemente nas interações diárias para que as mensagens sejam claras. Um exemplo útil para apresentar os mecanismos de concordância seria usar frases comparativas, como “Os estudantes estudam para a prova” e “O estudante estuda para a prova”. Esses exemplos mostram como as concordâncias nominal e verbal são fundamentais para o sentido e a coesão do texto. Também se pode sugerir aos estudantes que analisem trechos de livros, notícias ou textos curtos de seu interesse, identificando onde a coesão ocorre e como as referências são estabelecidas. Outro caminho é pedir-lhes que reformulem frases que estejam soltas ou com falta de clareza, trabalhando assim a percepção da importância de uma boa construção textual. O ideal é que comecem a entender que coesão não é algo que surge apenas com o uso correto de regras gramaticais, mas que faz parte de um processo mais amplo de organização de ideias, facilitando a comunicação e a compreensão. Ao desenvolver essa sensibilidade, os estudantes estarão mais bem preparados para aprofundar seus estudos formais relacionados a acordos e referências no texto.

Midiateca do professor

• KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. 24. ed. São Paulo: Contexto, 2021.

Nessa obra, a autora, uma das maiores especialistas brasileiras em Linguística Textual, explora as ferramentas linguísticas que garantem a continuidade e a clareza nas produções textuais, abordando tanto aspectos teóricos quanto práticos, com exemplos que facilitam a compreensão de conceitos como referência, elipse e coesão lexical.

Formação continuada

A seção Astúcias da língua (p. 135) analisa alguns recursos básicos de coesão textual. Além deles, há um recurso coesivo muito produtivo na língua portuguesa: é a nominalização, assim explicada pelo gramático José Carlos de Azeredo:

Um dispositivo anafórico de alto rendimento nos textos escritos é o procedimento da nominalização (substantivação) de verbos e adjetivos, recurso que viabiliza a condensação de proposições/predicados por meio de substantivos para explicitar a cadeia semântica do texto [...].

[…] Os segmentos sublinhados contêm as informações que vêm condensadas adiante pelas formas nominais em itálico:

• ‘Existe uma regra constitucional impedindo que sejam feitas alterações no processo eleitoral no período de um ano anterior à eleição. O artigo 16 da Constituição diz que leis não podem alterar as regras eleitorais, mas há uma dúvida se essa limitação aplica-se a emendas constitucionais.’ [Jornal do Brasil, 5/10/1997]

[…]

• ‘A manipulação da opinião pública só é possível por causa da falta de informação. Como se fosse posto em debate se um menino diabético pode ou não comer brigadeiros numa festinha de criança. Antes de levarmos em conta os traumas psicológicos dessa privação, existe um fato científico fundamental para essa discussão: a ingestão descontrolada de açúcar poderá levar à sua morte.’ [Folha de S.Paulo, ‘caderno Mais!’, 8/2/1998].

AZEREDO, José Carlos de. Gramática Houaiss da língua portuguesa. 3. ed. São Paulo: Publifolha, 2014. p. 243.

#NOSNAPRATICA

Artigo de divulgação científica (p. 139)

Estratégias didáticas

• Para conduzir os estudantes na produção do artigo de divulgação científica, incentive a curiosidade e a reflexão sobre a importância de traduzir conceitos científicos complexos para um público mais amplo, como a comunidade escolar. É interessante

começar destacando a relevância do neurocientista e sua pesquisa, explicando que Damásio oferece insights valiosos sobre como as emoções e sentimentos afetam decisões e comportamentos diários. Isso já abre espaço para os estudantes se identificarem com o tema e reconhecerem o impacto da ciência na vida deles. Durante o processo, oriente-os a fazer perguntas sobre o papel das emoções em suas próprias decisões, para que percebam como a ciência está presente em seus cotidianos. Um exemplo de artigo poderia focar como as descobertas sobre emoções e sentimentos podem influenciar a convivência social, ou como o entendimento sobre o cérebro auxilia em áreas como saúde mental e educação. Sugira que, ao criarem seus artigos, utilizem gráficos, imagens ou infográficos para simplificar as informações e atrair a atenção do público. Isso pode ser feito, por exemplo, ao ilustrar a diferença entre emoção e sentimento com um gráfico que mostre como o corpo reage a diferentes emoções e como essas reações são interpretadas pelo cérebro. Uma sugestão seria também encorajar os grupos a buscar mais fontes além da entrevista, para enriquecer o artigo com diferentes perspectivas, e depois publicar no site da escola ou em um blogue, criando um ambiente interativo em que estudantes, pais e professores possam ler e comentar. Esse tipo de engajamento permite uma noção prática de como a divulgação científica pode contribuir para a sociedade.

• No boxe Laboratório de produção (p. 141), é interessante destacar a importância da coesão para garantir que o texto flua de forma clara e lógica, ajudando o leitor a seguir o raciocínio sem se perder entre as ideias. Dê exemplos de como o uso adequado de conectivos, pronomes e sinônimos mantém o texto integrado e agradável de ler.

A atividade de reescrever os três períodos em um só parágrafo pode ser usada como um exercício de reflexão sobre como as ideias se relacionam entre si, incentivando os estudantes a perceber a lógica implícita que conecta cada frase. Ao trabalhar a coesão, sugira que pensem em qual frase deve abrir o parágrafo, qual delas complementa melhor essa ideia inicial e como a conclusão pode reforçar o que foi discutido. Essa atividade permite que os estudantes entendam na prática como o bom uso da coesão textual facilita a leitura e mantém a atenção do leitor.

Unidade 5 O formal, a forma, as formas

Objetivos e justificativas

Esta unidade investiga a poesia brasileira produzida no contexto do pós-guerra, estabelecendo conexões com poetas contemporâneos. São analisados textos de poetas consagrados da literatura brasileira, visando à formação do repertório cultural e ao desenvolvimento do letramento literário. Ao trazer para análise poemas exemplares do Concretismo e do Neoconcretismo, objetiva-se considerar a estruturação multissemiótica desses textos e as várias possibilidades de produção poética que atualmente são garantidas pelas novas tecnologias. Ainda em relação à estruturação multissemiótica, o texto publicitário é estudado em sua constituição e é também objeto da proposta de produção textual. Na seção de análise linguística, o estudo se concentra na sintaxe de regência, especificamente na regência verbal, a fim de instrumentalizar os estudantes na leitura e na produção de textos mais adequados a seus propósitos comunicativos.

Competências e habilidades da BNCC

• Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7

• Competências específicas de Linguagens e suas Tecnologias: 1, 2, 3, 4, 6 e 7

• Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias

EM13LGG101 EM13LGG102 EM13LGG103 EM13LGG104

EM13LGG105 EM13LGG201 EM13LGG202 EM13LGG203

EM13LGG204 EM13LGG301 EM13LGG302 EM13LGG303

EM13LGG304 EM13LGG305 EM13LGG401 EM13LGG402

EM13LGG601 EM13LGG602 EM13LGG603 EM13LGG604

EM13LGG701 EM13LGG702 EM13LGG703 EM13LGG704

• Habilidades de Língua Portuguesa

EM13LP01 EM13LP02 EM13LP04

Todos os campos de atuação social

Campo da vida pessoal

Campo de atuação na vida pública

Campo das práticas de estudo e pesquisa

Campo jornalístico-midiático

Campo artístico-literário

Abertura (p. 146)

Estratégias didáticas

• Esta sequência didática tem como objetivo principal apresentar aos estudantes a linguagem visual da arte abstrata, partindo da análise de obras de artistas brasileiros como Sérgio Lucena (1963-), Cícero Dias (1907-2003) e Samson Flexor (1907-1971). O estudo das obras ajuda a desenvolver a sensibilidade visual dos estudantes, preparando-os para a análise de textos poéticos que utilizam recursos visuais e imagéticos. Assim, essa discussão inicial colabora para o desenvolvimento da habilidade de interpretação da arte abstrata e de textos literários que se valem de recursos simbólicos e metafóricos.

Respostas e comentários

3. Para esta atividade, os estudantes precisam mobilizar conhecimentos de diferentes áreas, como História da Arte, História da Cultura, Antropologia e até mesmo Geometria. A abordagem interdisciplinar enriquece a compreensão da obra de arte. Ao relacionar a forma geométrica ao conceito de “caboclo”, a questão destaca a importância da miscigenação cultural na formação da identidade brasileira. A arte, nesse caso, torna-se um veículo para celebrar essa diversidade. Espera-se que os estudantes reflitam sobre a maneira como a arte pode ser utilizada para expressar identidades e culturas complexas. A forma geométrica, aparentemente simples, revela-se um ponto de encontro entre diferentes tradições e histórias.

4. Comente com os estudantes que Cícero Dias foi um artista plástico pernambucano. Nessa obra, utiliza formas geométricas simples, como triângulos e retângulos, para representar o canavial. As linhas diagonais e as formas fragmentadas conferem à obra um dinamismo e uma sugestão de movimento, evocando a ideia de um campo de

cana-de-açúcar balançando ao vento. A paleta de cores é predominantemente verde, em diversas tonalidades, refletindo a exuberância da natureza e a cor característica das folhas da cana. O amarelo e o laranja, presentes na parte inferior da composição, podem ser associados à terra e à luz do sol, criando um contraste vibrante com o verde. A composição é horizontal, com a linha do horizonte dividindo a tela em duas partes. A parte superior, com tons mais claros, representa o céu, enquanto a parte inferior, mais densa, representa o canavial. A forma alongada e curva na parte inferior pode ser interpretada como um rio ou um corpo d’água, elemento comum na paisagem pernambucana. Apesar da forma abstrata, a obra mantém uma forte ligação com o universo regional pernambucano. O título Canavial e a representação estilizada da paisagem fazem referência direta à cultura e à natureza do Nordeste brasileiro. Também é importante destacar o contexto histórico em que a obra foi produzida, já que, em 1948, o Brasil passava por um período que começava a substituir a economia agrária manual pela industrialização, e Cícero Dias, que era um artista politicamente engajado, transpõe essa dualidade para sua obra, mesclando a tradição rural com a modernidade, ao buscar novas formas de expressão artística para mostrar as contradições da realidade brasileira, como as desigualdades sociais e a relação entre o ser humano e a natureza.

5. Ajude os estudantes a observar em detalhes a obra As bailarinas , centrando a atenção nos elementos compositivos, pois, ao realizar uma análise técnica da obra, é possível aprofundar a compreensão sobre as escolhas do artista e os efeitos visuais que ele buscava. No entanto, é importante lembrar que a arte é uma forma de comunicação complexa e que a interpretação da obra é um processo individual e subjetivo. Flexor emprega formas geométricas, principalmente triângulos e losangos, para estruturar a composição. Essas formas interconectadas criam um ritmo visual dinâmico e fragmentado. As figuras das bailarinas são reduzidas a formas geométricas simples, mas ainda mantêm uma qualidade humana, que se revela em posturas e gestos. A paleta de cores é vibrante e contrastante, com a combinação de tons quentes, como vermelho, laranja e amarelo, e frios, como marrom e bege. Essas cores comunicam energia, movimento e alegria, contrastando com as formas mais rígidas.

O uso da perspectiva é não convencional, ou melhor, quase inexistente. Flexor se distancia de uma perspectiva tradicional, sobrepondo formas e figuras em um estilo que se aproxima do Cubismo. Isso intensifica a sensação de movimento e dimensão, criando uma ambiguidade espacial que desafia a percepção do espectador.

lITERATURA

O verso e o não verso (p. 148)

Estratégias didáticas

• As reflexões propostas no boxe Ler o mundo (p. 148) visam levar os estudantes a pensar sobre a conexão entre arte, sociedade e tecnologia, especialmente as relações entre o progresso tecnológico, as desigualdades sociais e o papel da arte – nesse caso, da expressão poética – como meio de resistência e transformação social. A ideia é que os estudantes possam compreender que a literatura, apesar de não ter uma função utilitária, pode sim ser engajada e estar articulada às questões sociais, tornando-se um veículo para questionar e influenciar realidades sociais. Na atividade 1, espera-se que os estudantes apontem que a internet e a conectividade transformaram o modo como as pessoas se comunicam, democratizaram o acesso à informação e modificaram a forma de organização social em torno de causas comuns. O avanço em tecnologias de energia solar e eólica está contribuindo para a sustentabilidade e a redução da dependência de combustíveis fósseis. A inteligência artificial é outro mecanismo que tem revolucionado setores como indústria, saúde, educação e transporte, melhorando diagnósticos, personalizando e otimizando sistemas. Na atividade 2, espera-se que os estudantes identifiquem que os maiores problemas que acometem a sociedade como um todo estão relacionados a desigualdade econômica, disparidades regionais, corrupção, violação de direitos humanos, violência e criminalidade, entre outros. Embora a tecnologia seja uma ferramenta poderosa para enfrentar esses desafios, é importante lembrar que seu sucesso depende de políticas públicas adequadas, inclusão social e capacitação da população para que todos se beneficiem de suas vantagens.

Pensar e compartilhar (p. 150)

Estratégias didáticas

• Na atividade 4, leia o poema (texto 1, p. 148) em voz alta ou peça a um dos estudantes que o faça, dando destaque à sonoridade nele embutida, a fim de que observem as aliterações e o ritmo do texto. Lembre aos estudantes que poemas são os textos literários em que mais frequentemente são empregadas figuras de linguagem. Se necessário for, faça uma retomada das principais figuras de palavras (metáfora, metonímia, comparação, sinestesia etc.); de som (assonância, aliteração, onomatopeia), de construção (inversão, anacoluto, polissíndeto etc.), de pensamento (hipérbole, antítese, eufemismo, personificação etc.).

• Na atividade 5, antes de os estudantes responderem às questões, volte ao texto 2 (p. 149) e desafie-os a completar a palavra com as letras que faltam, lembrando-os de escrever no caderno, e não no livro. Comente que o poema se constitui com base em uma expressão bastante comum – “tenho um problema de comunicação” –, que é transformada em “tenho um p_o__ema de comunicação”, ganhando, assim, uma dimensão estética singular: a palavra “poema” surge de um apagamento de letras na palavra “problema”, o que, em última instância, causa estranhamento ao leitor.

• Na atividade 6 , se julgar pertinente, compartilhe com os estudantes outra possibilidade de resposta, derivada da dimensão interpretativa da questão: em um nível mais literal, pode-se compreender uma afirmação direta e objetiva, a de que: o eu lírico “tem” um “poema de comunicação”. A palavra “poema” é entendida em seu sentido mais comum, como uma obra literária, e a expressão “de comunicação” indica sua função primordial de comunicar ideias, sentimentos. Nesse nível, o foco está na relação entre a poeta e o leitor, na tentativa de estabelecer um diálogo e compartilhar experiências por meio da linguagem poética. O poema, nesse sentido, torna-se um instrumento de conexão entre o autor e seu público. Em um segundo nível, a ausência das letras “r” e “bl” cria uma ambiguidade que transcende o aspecto visual e adquire um significado mais profundo. A palavra “poema” passa a oscilar entre duas possibilidades: “poema” e “problema”. Essa dualidade revela a complexidade da linguagem e a dificuldade de expressar com precisão pensamentos e sentimentos. Ao sugerir a ideia de “problema”, o

poema indica que a comunicação não é um processo linear e livre de obstáculos. A linguagem, por si só, é um campo minado de ambiguidades, mal-entendidos e interpretações divergentes. Assim, a poeta, ao usar essa estratégia, convida a refletir sobre os limites e as possibilidades da comunicação humana.

• Na atividade 7, espera-se que os estudantes observem que a ruptura com a forma tradicional do verso se dá tanto na forma quanto no conteúdo. A disposição espacial das palavras na página não segue uma linha horizontal, mas sim uma organização diagonal e fragmentada. Essa disposição visual sugere a desconstrução da linearidade, pois, ao romper com a linha tradicional do verso, o poema questiona a própria ideia de sequência e progressão linear na leitura. Assim, as palavras isoladas e dispersas na página convidam o leitor a construir o sentido do poema de forma mais ativa e individual, estabelecendo conexões entre os elementos de modo não linear. Nesse sentido, a imagem (a disposição espacial das palavras) se torna um elemento fundamental para a compreensão do texto e para a instauração da participação ativa do leitor.

• No item a da atividade 8, a disposição não convencional dos versos na folha do papel é fundamental para a produção de sentidos no poema de Rodrigo Ciríaco e exige a leitura dos elementos numa dimensão multissemiótica. Caso o poema fosse escrito de forma convencional, em versos alinhados horizontalmente, estariam perdidas: a) a dimensão visual: a imagem do poema, que é parte integrante de seu conteúdo; b) a sensação de desequilíbrio e instabilidade, sugerida pela disposição diagonal e fragmentada das palavras e que contribui para a construção do sentido do poema. A organização não linear das palavras sugere a ideia de que o sentido do poema está fragmentado e precisa ser reconstruído pelo leitor.

• É importante que os textos poéticos apresentados nesta unidade sejam lidos em voz alta, porque a leitura da literatura deve ser experimentada em sua totalidade. O texto poético tradicionalmente carrega um ritmo intrínseco e uma musicalidade que se destacam quando lido em voz alta. Isso permite que tanto o leitor quanto o ouvinte sintam a cadência e a sonoridade das palavras, apreciando melhor a estética do poema. Essa prática também permite transcender a simples decodificação de palavras escritas. Ao dar vida aos versos, explora-se uma dimensão mais profunda do texto poético, a melodia dos versos, a

cadência e o ritmo, elementos fundamentais para a compreensão e a apreciação da obra. Ao ler em voz alta, a expressividade que se imprime nesse ato contribui para a compreensão do texto e colabora para o compartilhamento de experiências e interpretações entre os estudantes.

No fio do tempo – A poesia depois de 1945 (p. 153)

Estratégias didáticas

• No tópico Para discutir, do boxe O X da questão (p. 153), espera-se que os estudantes apontem, para a atividade 1, que, além das possibilidades básicas de registro da palavra no papel ou no computador, como a escolha da tipografia, o tamanho da fonte, a disposição no espaço da página, a cor e até mesmo a inclusão de elementos gráficos que interajam com o texto, atualmente há uma série de dispositivos e ferramentas que podem ser aplicados à elaboração de poemas, como: a) animações: uso de recurso tecnológico que dá vida às palavras, permitindo que elas se movam, mudem de forma ou se transformem, o que pode intensificar o conteúdo e a emoção do poema; b) realidade aumentada (AR): é possível sobrepor elementos digitais ao mundo real, permitindo que poemas sejam experimentados de maneira inovadora, na qual o leitor pode ver camadas adicionais de significado ao apontar seu dispositivo para um texto impresso; c) multimídia: incorporação de áudio e vídeo pode enriquecer a experiência poética. Poemas podem ser apresentados em formatos que incluem narrações, trilhas sonoras, imagens em movimento, criando uma experiência sensorial diversificada; d) interatividade: há plataformas digitais que permitem que os leitores interajam com o poema, escolhendo diferentes caminhos de leitura ou alterando elementos do texto em tempo real. Isso pode gerar uma experiência personalizada e única para cada leitor; e) aplicativos e plataformas digitais: ferramentas como blogues, redes sociais e aplicativos de escrita colaborativa, que podem ser utilizados para compartilhar poemas, permitindo feedback imediato e interação com outros leitores e escritores; f) tipografia dinâmica: em ambientes digitais, a tipografia pode ser animada, mudando de forma ou cor conforme o leitor interage com o texto, criando um efeito visual capaz de refletir o tom emocional do poema.

Pensar e compartilhar (p. 154)

Estratégias didáticas

• Na atividade 1, considerando que o poema de João Cabral (1920-1999), por sua urdidura poética, pode ser de difícil compreensão por parte dos estudantes, explique-o por meio das principais figuras que aparecem no poema: galos, teias e manhã. O canto dos galos é apresentado como um elemento essencial para a construção da manhã. Cada grito de galo é comparado a um fio que, ao ser passado de um galo para outro, contribui para “tecer” a manhã. Assim, a chegada da manhã é uma consequência dessa interação sonora, em que os galos colaboram entre si, criando uma teia que simboliza o novo dia. O ato de “tecer” sugere um processo coletivo e contínuo, enfatizando que a manhã não surge isoladamente, mas sim da colaboração de todos. Com essas figuras, o poema tematiza a interdependência e a necessidade da coletividade. A metáfora sugere que a construção da manhã é um esforço conjunto, em que cada galo tem um papel fundamental. A singularidade de um galo não é suficiente para criar a complexidade e a riqueza que a manhã representa; é a soma dos cantos de muitos galos que permite que a manhã se forme plenamente.

• Na atividade 2, ajude os estudantes a compreender que o poeta constrói de modo simbólico a sua visão de sociedade: o canto dos galos é uma metáfora que representa a sociedade e a interação entre os indivíduos que a compõem. Assim como os galos se comunicam e colaboram para “tecer” a manhã, os indivíduos em uma sociedade também se comunicam e interagem para construir uma realidade comum. A metáfora sugere que, assim como a manhã é um produto da colaboração dos galos, a vida em sociedade é o resultado das relações e das trocas entre seus membros. Essa visão ressalta a importância da coletividade e da interdependência social.

• Na atividade 3, explique aos estudantes que a técnica empregada por João Cabral pode ser compreendida como uma estratégia que incorpora sobreposição, fragmentação e intercalação de vozes, conforme mencionado no conteúdo do texto. Isso destaca a ideia de que os textos poéticos são pensados considerando simultaneamente forma e conteúdo.

• No item d da atividade 4, destaque para os estudantes que a possibilidade de ler “a manhã” como “amanhã” acrescenta uma nova camada de significado ao poema. Ao considerar essa dupla leitura, o

poema passa a falar não apenas sobre a construção da manhã como um momento específico do dia mas também sobre a construção de um futuro, de um novo tempo. A manhã, nesse sentido, torna-se um símbolo de esperança e renovação.

Atividade complementar

Selecione poemas concretos de autores como Augusto de Campos (1931-), Haroldo de Campos (19292003), Ronaldo Azeredo (1937-2006), Décio Pignatari (1927-2012) e sugira aos estudantes que utilizem plataformas de áudio e vídeo para imprimir neles elementos como movimento, tridimensionalidade, som. As produções podem ser compiladas em uma biblioteca digital compartilhada com toda a turma.

Integrando com Arte (p. 159)

Estratégias didáticas

• Retome com os estudantes os recursos da linguagem poética, como as figuras de linguagem, e explore os sentidos das obras dessas artistas com base nessa projeção de significação que vai além da forma ou do material de que ela é feita. As obras da série Bichos, de Lygia Clark, por exemplo, colocam em questão a relação do observador com a arte ao propor formas articuladas que podem ser manipuladas à vontade, o que faz com que o observador passe a ter papel ativo na produção da obra, ao poder alterar suas formas. Lygia Pape, em seu Livro da criação, explora a tridimensionalidade ao narrar simbolicamente a criação do mundo com passagens sobre o recuo das águas e a invenção do tempo e da luz. Originalmente, Pape convidava o espectador a criar outros sentidos e narrativas ao manipular o livro, o que também é uma reinvenção do papel da arte.

Contexto (p. 160)

Estratégias didáticas

• Ao trabalhar o boxe Ler literatura (p. 163), proponha uma discussão sobre hipertextualidade, hipermidialidade e interconectividade. Questione aos estudantes o que eles entendem desses conceitos, acolha as opiniões e conduza as observações para a compreensão mais adequada. Depois, proponha-lhes que, em pequenos grupos, realizem a discussão proposta no Para discutir e, em seguida, compartilhem as conclusões com a turma, não esquecendo

de anotar suas observações durante as discussões para não perderem pontos importantes. Espera-se que apontem que, ao ler um poema digital, o leitor deve estar atento a recursos que vão além das palavras escritas. Portanto, é preciso considerar a interação entre elementos visuais e verbais, já que a relação entre as imagens e as palavras é fundamental. Também é importante observar se as imagens complementam, contradizem ou ampliam o significado do texto. Vale também notar a presença de elementos como a trilha sonora, os ruídos e a voz do recitante, que contribuem para criar a atmosfera e a emoção da obra. A maneira como as imagens e os sons são editados e sequenciados também influencia a percepção do espectador.

lEITURA: ANÚNCIO PUBlICITÁRIO

Para vender, convencer (p. 164)

Estratégias

didáticas

• Explique aos estudantes que o anúncio publicitário, para cumprir o papel de levar o consumidor a adquirir o produto, bem ou serviço anunciado, recorre a estratégias discursivas que são comuns a algumas outras práticas de linguagem, como o discurso político e o religioso, entre outros. Essa prática é a da argumentação, que, de acordo com alguns teóricos, como Chaïm Perelman (1912-1984) e Lucie Olbrechts-Tyteca (1899-1987), Olivier Reboul (1925-2002), Dominique Maingueneau (1950-) e, no Brasil, Ingedore Koch, Eduardo Guimarães (1948-), José Luís Fiorin (1942-), consiste nos mecanismos de convencimento e persuasão. Embora sejam tomados frequentemente como sinônimos, porque ambos buscam influenciar o outro a adotar um determinado ponto de vista ou ação, esses mecanismos têm nuances importantes que os diferenciam. O convencimento é um mecanismo retórico da ordem do “fazer crer”, ou seja, baseia-se na razão e na lógica, utiliza argumentos racionais, dados, evidências e fatos para construir uma argumentação sólida e convincente. O objetivo é apresentar provas e informações objetivas para que o outro possa avaliar a situação de forma crítica

e chegar a uma conclusão por si mesmo, mas crendo que o que é comunicado é verdade. Já a persuasão é da ordem do “fazer fazer”, ou seja, mais do que simplesmente convencer, a persuasão impele à ação, apela para a emoção e sentimentos do interlocutor e, para isso, vale-se de recursos como histórias, exemplos pessoais, linguagem figurada e apelo a valores e crenças para criar uma conexão emocional e gerar identificação com o conteúdo comunicado. O objetivo é fazer com que o outro se sinta motivado e inclinado a agir de acordo com o que está sendo proposto.

ANAlISE lINGUISTICA

Regência verbal (p. 168)

Estratégias didáticas

• Um aspecto importante ao se trabalhar com regência verbal diz respeito ao caráter semântico das preposições, palavras relacionais que têm a função de conectar termos de uma oração. Elas são fundamentais para indicar relações de tempo, lugar, causa, finalidade, entre outras. O uso de uma preposição pode alterar significativamente o sentido de uma frase, e essa variabilidade semântica é essencial para a compreensão precisa do que se quer comunicar. Em relação à regência verbal, um mesmo verbo pode apresentar diferentes significados dependendo da preposição que o acompanha, por exemplo, o verbo assistir pode significar “ver” (assistir a um filme) ou “ajudar” (assistir os necessitados).

Astúcias da língua (p. 173)

Estratégias didáticas

• Nesta seção, focaliza-se a importância das conjunções, que atuam como mecanismos de progressão nos textos. Esse é um tópico que vem sendo apresentado aos estudantes com certa regularidade, razão pela qual se espera que já compreendam a função geral das conjunções como articuladoras textuais. De qualquer forma, nunca é demais lembrar que esses elementos linguísticos atuam como engrenagens que impulsionam um texto adiante, garantindo que as ideias fluam de forma coesa e lógica. As conjunções são peças-chave nesses mecanismos, atuando como verdadeiras pontes linguísticas que conectam orações e ideias, estabelecendo relações de sentido

entre elas. Lembre aos estudantes que, ao analisar a função das conjunções, pode-se compreender como os textos se estruturam, como as informações se encaixam e como as ideias se desenvolvem. Essa compreensão é fundamental para que se possa interpretar e produzir textos claros e eficazes, na escrita formal ou informal. Ao dominar o uso das conjunções, principalmente no processo de escrita, o produtor do texto é capaz de expressar suas ideias com precisão, evitando ambiguidades e garantindo que o leitor compreenda o que está sendo comunicado.

#NOSNAPRATICA

Anúncio publicitário e campanha (p. 177)

Estratégias didáticas

• O objetivo dessa proposta é desenvolver a competência comunicativa dos estudantes, incentivando a criação de textos publicitários eficazes e criativos, com foco na promoção do consumo de água. Ao longo das atividades, os estudantes são convidados a explorar os recursos de linguagem, a compreender os mecanismos de persuasão e a aplicar esses conhecimentos na construção de uma campanha publicitária completa. A produção da campanha publicitária é uma atividade colaborativa que exige a participação de todos os membros do grupo. Ao trabalhar em equipe, os estudantes aprendem a dividir tarefas, a negociar ideias e a chegar a um consenso.

• A criação de uma campanha e xige tempo e se desenvolve em várias etapas, já que são vários os elementos que devem ser discutidos e executados, de preferência em grupos. Sugira que, antes de elaborarem as peças da campanha propriamente dita, façam uma pesquisa sobre campanhas do mesmo produto e atentem para os recursos que foram utilizados nos textos. Isso ajuda a avaliar o que pode funcionar de acordo com o público e o meio em que o grupo pretende divulgar o seu produto.

• Sugira que busquem também, na etapa do planejamento, informações sobre os tipos de peças que podem fazer parte de uma campanha publicitária. Na internet, eles encontram farto material sobre isso, em agências de publicidade, em sites de cursos de publicidade, em anuários de publicidade ou de clubes de criação publicitária. O importante é que tenham informações técnicas e corretas o suficiente para produzir as peças que escolheram.

Unidade 6 Novos gritos

no ar

Objetivos e justificativas

Nesta unidade, os estudantes conhecerão as transformações que marcaram a arte e a literatura a partir dos anos 1960, época em que os artistas intensificaram o rompimento com tradições e convenções, em busca de novos suportes, materiais e formas de expressão. Explorando temas da arte marginal e o questionamento das fronteiras entre artes de elite e popular, será possível entender como esses movimentos refletiam e desafiavam as realidades social e cultural da época. A proposta desta unidade é aprofundar a compreensão sobre como a arte pode, ao mesmo tempo, provocar estranhamento e trazer à tona questões da vida cotidiana. Na seção de análise linguística, os estudantes vão se aprofundar no estudo da crase, aprendendo a reconhecer quais são as ocasiões em que a fusão entre a preposição e o artigo se faz necessária. Também estudarão o gênero textual proposta política, suas características e estrutura. Vão perceber que se trata de um gênero que apresenta soluções e ações concretas para problemas das cidades, com o objetivo de alcançar o poder político. Por fim, vão planejar, produzir e compartilhar uma carta de reivindicação com tema relacionado a uma questão ligada à juventude e a suas perspectivas de futuro.

Competências e habilidades da BNCC

• Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 9 e 10

• Competências específicas de Linguagens e suas Tecnologias: 1, 2, 3, 4 e 6

• Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias

EM13LGG101 EM13LGG102 EM13LGG103 EM13LGG104

EM13LGG202 EM13LGG302 EM13LGG304 EM13LGG305

EM13LGG401 EM13LGG601 EM13LGG602 EM13LGG604

• Habilidades de Língua Portuguesa

EM13LP01 EM13LP02 EM13LP03 EM13LP05 EM13LP06 EM13LP07 EM13LP08 EM13LP15

EM13LP23 EM13LP27 EM13LP48 EM13LP49

EM13LP50 EM13LP52

Todos os campos de atuação social Campo de atuação na vida pública Campo artístico-literário

Abertura (p. 182)

Estratégias didáticas

• P ara trabalhar com as obras de Hélio Oiticica (1937-1980), como Seja marginal seja herói e os parangolés, é importante criar uma abordagem que contextualize essas produções nos ambientes artístico e social dos anos 1960 e 1970, além de incentivar os estudantes a fazer conexões entre arte, política e vida cotidiana.

• Primeiro, apresente a obra Seja marginal seja herói (1968). Nela, Oiticica utiliza a imagem de Cara de Cavalo, primeira vítima de um esquadrão da morte, para questionar os conceitos de marginalidade e heroísmo. A obra provoca reflexões sobre a violência institucional durante a ditadura civil-militar no Brasil e como essa violência era dirigida àqueles que viviam à margem da sociedade. Discuta com os estudantes a escolha do título, que inverte expectativas: o marginal é visto como herói. Faça perguntas provocativas à turma sobre o papel da arte na denúncia de injustiças e na crítica a estruturas de poder, como: a arte pode ser um instrumento de resistência? De que maneira Oiticica usa o contexto político para transformar o marginal em um símbolo de luta e revolta?

• Ao analisar os parangolés, apresente a ideia de arte interativa. Oiticica, ao criar capas, faixas e bandeiras que são vestidas e movimentadas pelo corpo, propõe a fusão entre o sujeito e a obra de arte. O parangolé P15, capa 11 – Incorporo a revolta (1967), vestido por Nildo da Mangueira, exemplifica essa fusão entre arte e ação. Oiticica transfere para o corpo em movimento uma dimensão política: o corpo que veste o parangolé carrega uma mensagem de resistência, de incorporação do ato de revolta. Pergunte aos estudantes: como o corpo se torna parte da obra? De que maneira a arte pode se expandir para além do espaço do museu, do quadro, e se integrar à vida cotidiana?

• Comente com os estudantes que, nos anos 1960, os artistas buscavam romper com tradições e convenções da arte. Discuta com eles a ideia de

desautomatizar a percepção, ou seja, provocar o público a ver o mundo de forma diferente, desconstruindo o que parece comum. No caso de Oiticica, a arte marginal não é feita para ser consumida facilmente, mas para provocar estranhamento, questionamento e, muitas vezes, desconforto.

• Se julgar pertinente, conclua propondo atividades que aproximem a prática dos estudantes das ideias discutidas. Uma sugestão seria criarem os próprios parangolés, utilizando materiais cotidianos e explorando mensagens que representem as próprias realidades ou lutas. Essa atividade proporciona uma discussão mais ampla sobre o papel da arte como uma forma de expressão de identidade, resistência e crítica social.

Midiateca do professor

• HÉLIO Oiticica. Direção: César Oiticica Filho. Brasil: Guerrilha Filmes, 2012. DVD (95 min).

Esse documentário é uma obra essencial para contextualizar e aprofundar a análise das criações do artista Hélio Oiticica. A produção oferece uma visão íntima do pensamento revolucionário do artista, mostrando como suas obras desafiavam as convenções artísticas e sociais de sua época.

lITERATURA

À procura de nós (p. 184)

Estratégias didáticas

• Ao trabalhar o boxe Ler o mundo (p. 184), para ajudar os estudantes a desenvolver uma reflexão profunda sobre o impacto da globalização e suas implicações culturais e sociais, sugere-se guiar a discussão de forma dialógica, levando-os a compreender como essas mudanças se refletem tanto no macrocontexto histórico quanto no cotidiano. O ponto de partida pode ser a introdução da ideia de globalização, contextualizando-a como um fenômeno que começou com as Grandes Navegações no século XV e atingiu seu ápice no final do século XX com o avanço tecnológico. Ao apresentar essa narrativa histórica, incentive os estudantes a refletir sobre como a globalização impactou a vida pessoal deles e a sociedade em que vivem. Para isso,

pergunte: vocês conseguem identificar algo em seu dia a dia que seja resultado da globalização? Como vocês acham que essas transformações afetam a maneira como nos conectamos com o mundo ao nosso redor? Com base nisso, apresente o conceito de “sociedade líquida” de Zygmunt Bauman (1925-2017), destacando que, apesar da aparente conectividade global, vivemos em uma era marcada pela instabilidade e individualização. Bauman sugere que a fluidez dos laços sociais e a velocidade das interações podem gerar uma sensação de deslocamento, como se nunca estivéssemos totalmente enraizados em nossas experiências. Peça-lhes que reflitam sobre as próprias conexões e redes sociais: você sente que a tecnologia realmente aproxima as pessoas ou as deixa mais isoladas? Existe uma diferença entre estar conectado virtualmente e estar conectado emocionalmente? Essas perguntas podem levar a uma discussão mais ampla sobre os impactos da tecnologia na vida cotidiana. Com base no exemplo da própria experiência deles, incentive-os a considerar os aspectos positivos e negativos dessa conectividade tecnológica. Eles podem debater, por exemplo, sobre os benefícios, como a capacidade de se comunicar instantaneamente com qualquer pessoa ao redor do mundo, e os desafios, como a superficialidade das interações ou a pressão por uma presença constante nas redes. É possível fomentar debates interessantes por meio de perguntas como: a conexão tecnológica faz você se sentir mais próximo ou mais distante das pessoas? Como você lida com o excesso de informação e estímulos? Ao explorar esses dilemas, incentive uma reflexão crítica sobre como a globalização e a tecnologia impactam não apenas a interação social mas também a própria construção de identidade dos estudantes, como a ideia de que, embora estejamos em constante contato com outras culturas e influências globais, isso pode nos fazer sentir, paradoxalmente, mais distantes de quem somos ou de nossas raízes locais. Pergunte: você já sentiu que, com tantas influências externas, é difícil encontrar ou definir quem você é?

Dessa forma, a atividade não apenas promove uma discussão sobre a conexão humana e a tecnologia mas também os convida a refletir sobre questões mais amplas de identidade, pertencimento e o papel

da globalização na vida deles. A condução desse diálogo deve ser aberta e permitir que compartilhem experiências pessoais, sentimentos e ideias, sempre com o seu apoio, que pode trazer novos exemplos e reflexões para enriquecer o debate.

No fio do tempo – A poesia marginal (p. 188)

Estratégias didáticas

• O boxe O X da questão (p. 188) trata da poesia marginal, que oferece uma rica oportunidade de explorar os contextos histórico, político e social do Brasil durante a ditadura civil-militar, além de conectar os estudantes com formas alternativas de produção literária. É essencial incentivar uma abordagem dialógica, na qual eles possam refletir sobre a relação entre a literatura e as circunstâncias que levaram ao surgimento desse movimento. Seria interessante situar a poesia marginal dentro do período histórico da ditadura civil-militar no Brasil, destacando o clima de repressão, censura e controle da liberdade de expressão. Isso os ajudará a entender por que muitos poetas dessa época optaram por uma linguagem direta e acessível, além de buscarem formas alternativas de publicação, fora do circuito editorial tradicional. Nesse ponto, pergunte-lhes: por que vocês acham que esses poetas não publicavam em grandes editoras? O que o fato de publicarem de forma independente revela sobre suas mensagens e sua relação com o contexto da época? Explore as características principais da poesia marginal, como o uso de uma linguagem coloquial, temas cotidianos, a valorização do improviso e do instantâneo, além do espírito de contracultura. Leia em voz alta alguns poemas de poetas como Cacaso (1944-1987), Chacal (1951-) ou Ana Cristina César (1952-1983), e discuta com eles a relação entre forma e conteúdo. É possível aprofundar a análise com perguntas como: que sensações esse poema desperta em vocês? Vocês percebem algo diferente no estilo e no vocabulário usados aqui, em comparação a outros poemas mais tradicionais? Promova uma atividade prática, incentivando os estudantes a criar os próprios poemas inspirados no estilo da poesia marginal. A ideia é que eles experimentem usar uma linguagem direta, coloquial, e explorem temas que lhes pareçam relevantes no contexto atual, como questões sociais, econômicas

ou culturais. Isso pode gerar um debate sobre o papel da poesia como forma de resistência e expressão de marginalidade. Uma boa pergunta de reflexão seria: se vocês fossem poetas hoje, que tipos de questões ou sentimentos gostariam de expressar? Ao final, proponha a reflexão sobre a relevância da poesia marginal hoje: vocês acham que existe espaço para uma poesia marginal no Brasil contemporâneo? Como as redes sociais e a internet influenciam essa dinâmica de publicação independente que antes era feita com fanzines e edições artesanais? Essas perguntas podem conectar o passado com o presente, incentivando os estudantes a pensar criticamente sobre os meios de expressão e resistência na literatura.

Pensar e compartilhar (p. 189)

Estratégias didáticas

• Ao trabalhar o boxe Hiperlink (p. 191), crie um ambiente que permita a exploração criativa e o envolvimento com a obra multifacetada de Paulo Leminski (1944-1989). Comece apresentando uma breve biografia do poeta, destacando sua diversidade cultural e intelectual, além de seu papel inovador na literatura brasileira. Enfatize como ele uniu diferentes referências culturais, desde a tradição do haicai japonês até elementos da cultura pop, o que pode despertar o interesse dos estudantes. Oriente-os a fazer uma pesquisa em fontes confiáveis, como a página oficial do Instituto Paulo Leminski, além de sites literários e acadêmicos. Isso lhes dará um panorama das várias fases da obra do poeta e lhes permitirá escolher poemas que mais os impactem. Incentive-os a explorar tanto as obras mais conhecidas, como Caprichos e relaxos (1983), quanto as menos populares, para que possam identificar a variedade de estilos e temas que Leminski aborda. A leitura dramática dos poemas pode ser uma experiência muito rica para a turma. Após uma introdução geral, peça-lhes que escolham um poema e preparem uma leitura em voz alta. Essa prática não só ajuda a trabalhar aspectos de interpretação de texto como também a explorar o ritmo, o humor e a concisão que caracterizam a poesia de Leminski. Ao fim de cada leitura, reserve um tempo para discussão, incentivando a turma a identificar o uso de metáforas, trocadilhos, sonoridade e a construção sintética dos versos. Pergunte-lhes o que mais lhes chamou a atenção e como Leminski consegue

expressar tanto em poucos versos. A ideia de musicar um poema pode ser conduzida de forma colaborativa, pedindo-lhes que discutam em grupo quais poemas teriam uma estrutura que facilite essa adaptação musical. Destaque que Leminski tinha uma forte ligação com a música e que alguns de seus poemas, pela cadência natural, podem ser interpretados quase como letras de canções. Se possível, forneça-lhes instrumentos ou permita que criem trilhas rítmicas de forma improvisada, com palmas ou outros sons corporais, como forma de trabalhar a musicalidade. Essa atividade, além de explorar o conteúdo poético, também desenvolve habilidades de interpretação, trabalho em grupo e expressão artística, criando uma aula dinâmica e envolvente.

Integrando com Arte (p. 192)

Estratégias didáticas

• Apresente brevemente o contexto cultural dos anos 1970 no Brasil, ressaltando a relevância da ditadura civil-militar como pano de fundo para a produção artística. Explique como a repressão inspirou movimentos de resistência que atravessaram tanto a literatura quanto a música, destacando o papel dos poetas marginais e sua colaboração com artistas da MPB. Sugira aos estudantes que pesquisem não apenas as letras das canções mas também a história por trás das colaborações de poetas como Cacaso e Torquato Neto (1944-1972) com músicos como Edu Lobo (1943-) e Caetano Veloso (1942-). Isso lhes permitirá entender como a música e a poesia se complementaram nesse período, criando uma linguagem artística de contestação. Por exemplo, “Geleia geral”, de Gilberto Gil (1942-) e Torquato Neto, traz na letra a mistura de elementos culturais e políticos, que dialogam diretamente com o espírito irreverente e contestatório da poesia marginal. Além disso, incentive a comparação entre o conteúdo lírico das canções e os temas comuns na poesia marginal, como a marginalização, a crítica social e a busca por liberdade. Pergunte como esses temas aparecem tanto nas letras quanto nas melodias, ajudando os estudantes a perceber que o diálogo entre os dois gêneros artísticos vai além da palavra, estendendo-se ao som e à forma como a música é composta. Essa análise pode ser enriquecida se

eles considerarem o uso de ritmos tradicionais brasileiros ou a incorporação de influências internacionais, refletindo sobre como essas escolhas musicais também são uma forma de resistência ou contestação. Finalizando, sugira-lhes que busquem na internet vídeos ou gravações dessas canções, para que observem como o ritmo, a melodia e a performance ampliam a força da poesia marginal.

Midiateca do professor

• TROPICÁLIA. [S. l.], [200-]. Site. Disponível em: http:// tropicalia.com.br/. Acesso em: 23 out. 2024.

O site se dedica a explorar e celebrar o movimento cultural tropicalista, oferecendo uma vasta gama de artigos, ensaios, entrevistas, material audiovisual, que aprofundam o entendimento sobre o impacto e a relevância do Tropicalismo nas culturas brasileira e mundial.

Contexto (p. 193)

Estratégias didáticas

• Para conduzir o boxe Ler literatura (p. 197), discuta com os estudantes como a “geração mimeógrafo” encontrou meios alternativos de divulgar sua poesia, ligando esse esforço à situação atual de poetas e escritores que usam as redes sociais e eventos como saraus para se conectar com o público. Ao abordar o sucesso de poetas contemporâneos, como Igor Pires da Silva e Ryane Leão, incentive a reflexão sobre as semelhanças e as diferenças nas formas de publicação e divulgação de obras literárias de ontem e hoje. Peça a eles que compartilhem as próprias experiências com a escolha de livros, explorando como cada um é influenciado pela mídia, pela crítica ou pelas recomendações de amigos. Incentive também a troca de experiências sobre como eles descobrem novos autores, seja pelas redes sociais, por saraus ou listas de mais vendidos, propondo uma reflexão sobre os mecanismos que tornam um livro ou autor bem-sucedido. Paulo Coelho pode ser mencionado como exemplo para destacar como o boca a boca é capaz de criar um fenômeno literário, ainda que inicialmente sem a acolhida da crítica. A discussão pode ser enriquecida perguntando aos estudantes quais características de um livro ou de um autor atraem sua atenção e se eles usam redes sociais para descobrir novas leituras. Outro aspecto que pode ser explorado, no tema literatura e mercado, é o fato de que, no Brasil,

poucos escritores auferem rendimentos suficientes da atividade literária, por isso é que, no passado e no presente, há tantos escritores que viveram confortavelmente graças à renda obtida em cargos públicos situados no topo da pirâmide da administração pública brasileira, como Carlos Drummond de Andrade (19021987), chefe de gabinete do ministro da Educação, João Cabral de Melo Neto (1920-1999) e Guimarães Rosa (1908-1967), ambos diplomatas. Nos dias de hoje, o noticiário oferece vários casos de escritores que ganham prêmios literários importantes e, no entanto, não são escritores profissionais – isto é, que vivem do rendimento proporcionado pela venda de seus livros –, pois ganham sua subsistência em outras carreiras, seja na iniciativa privada, seja na administração pública.

lEITURA: PROPOSTA POlÍTICA

Propostas para o futuro (p. 198)

Estratégias didáticas

• Ao conduzir as atividades propostas no boxe Ler o mundo (p. 198), contextualize a poesia marginal como uma resposta crítica a um momento de transformação social, mostrando aos estudantes como esses poetas abordavam questões políticas e sociais com irreverência e senso de urgência. Relacione essa postura crítica com a importância do voto em uma democracia, explicando que as eleições são momentos cruciais para que diferentes discursos e propostas circulem. Ao fazer perguntas como: você já tirou título de eleitor? Por quê?, incentive-os a refletir sobre o papel do voto. Ao discutir o interesse pelas propostas dos candidatos, incite-os a perceber a relevância de se informar e de participar ativamente da escolha de líderes que possam representar mudanças culturais e sociais. Incentive respostas que reflitam uma visão crítica, como: “Conhecer as propostas é essencial para não votar apenas por obrigação mas com consciência de quem tem compromisso com a cultura e o desenvolvimento da sociedade”. Desse modo, a atividade não apenas explora a poesia marginal mas também engaja os estudantes em um debate atual e relevante sobre a democracia e a cidadania.

ANAlISE lINGUISTICA

Crase (p. 203)

Estratégias didáticas

• A crase é um fenômeno da língua portuguesa que gera muitas dúvidas nos estudantes, e é importante abordá-la de maneira clara e contextualizada. Comece explicando que a crase indica relações de regência entre palavras, particularmente com verbos que exigem a preposição a. Um exemplo clássico é a frase “Vou à escola”, em que o verbo ir exige a preposição a, e o substantivo escola admite o artigo a. A junção desses dois elementos gera o uso da crase: à. A diferença entre “Vou à praia” e “Vou a pé” pode ser um ponto de discussão sobre quando o uso da crase se aplica e quando não. Além disso, a crase não ocorre antes de pronomes pessoais, como em “Entreguei o presente a ela” (sem crase). Outro caso que merece atenção é quando o a precede nomes de cidades ou países: “Fui à França”, mas “Fui a Portugal”, já que Portugal não pede o artigo definido feminino. Esses exemplos permitem que os estudantes desenvolvam um olhar crítico sobre a necessidade da crase, relacionando-a com a sintaxe. No entanto, alguns escritores e intelectuais se insurgiram contra as regras da crase justamente pela dificuldade que oferecem. O escritor, dramaturgo e humorista carioca Millôr Fernandes (1923-2012), por exemplo, afirmava: “Se todo mundo erra na crase, é a regra da crase que está errada”. E antes dele o cearense José de Alencar (1829-1877) já criticava a crase categoricamente: “A regra arbitrária estabelecida pelos gramáticos, além de uma aberração, não tem motivo sério que a justifique”. E a linguística contemporânea também não poupa críticas à crase, como se constata em Formação continuada, a seguir.

Formação continuada

Apesar de a crase ser um componente estabelecido da norma-padrão, pode ser útil conhecer a posição do linguista mineiro Marcos Bagno (1961-) a propósito desse tópico gramatical. No texto a seguir, ele explica a provável razão pela qual a crase é de difícil compreensão para os estudantes brasileiros.

[...] uma explicação para nossa dificuldade no uso do acento indicador de crase está no campo da fonética, isto é, do estudo dos sons da língua.

No português europeu, existem dois sons vogais bem diferentes representados na escrita pela mesma letra A. Um deles, que vamos representar aqui pelo símbolo [ ], é exclusivo do português falado por lá e não faz parte dos sons do português brasileiro. É um “a” fechado, central e átono, ou seja, nunca ocupa a sílaba tônica. Na fala dos portugueses, esse som está presente na preposição a e no artigo feminino singular a, que são palavras átonas. No português brasileiro, o [a] tônico e o [ ] átono têm pronúncia praticamente idêntica. [...]

[...] Por isso, os portugueses têm menos dificuldade que nós em representar, na escrita, o fenômeno da crase. O “a craseado” tem, para eles, um som diferente do “a não craseado”. Eles ouvem dois sons distintos, por isso sabem onde vão colocar o acento. Ora, isso não acontece entre nós, no Brasil, porque a nossa língua não tem esse outro “a” fechado tão diferente do “a” aberto: […]

BAGNO, Marcos. Gramática pedagógica do português brasileiro São Paulo: Parábola, 2012. p. 871-872.

Astúcias da língua (p. 206)

Pensar e compartilhar (p. 207)

Estratégias didáticas

• Para complementar a atividade 5, destaque o papel da linguagem política e a função persuasiva dela em discursos eleitorais. O verbo resolver frequentemente aparece em campanhas para transmitir uma ideia de capacidade e ação, mas, como mostrado na charge, essa promessa pode se esvaziar pela falta de especificidade e de um plano concreto. Seria interessante discutir com os estudantes como a inclusão de termos como tentar altera o compromisso, introduzindo incerteza e suavizando a responsabilidade do candidato. Além disso, a progressão nos quadros revela uma frustração crescente, mostrando que, na prática, promessas podem ser diluídas ou negadas ao longo do tempo. Sugira aos estudantes que reflitam sobre como esse tipo de discurso se manifesta em debates políticos atuais e na mídia, e peça-lhes que encontrem exemplos de outras promessas vagas ou promessas mais concretas. Outra sugestão é expandir a discussão para a importância de avaliar criticamente as promessas eleitorais e buscar propostas viáveis e detalhadas ao votar. Isso reforça o papel do eleitor como agente crítico em uma democracia.

#NOSNAPRATICA

Carta de reivindicação (p. 209)

Estratégias didáticas

• Peça aos estudantes que realizem a pesquisa sobre as perspectivas de futuro da juventude, incentivando-os a se conectar com diferentes jovens em suas comunidades. Sugira que façam perguntas abertas, como: quais são os principais desafios que você enfrenta como jovem? Que mudanças você gostaria de ver para melhorar sua situação? Isso os ajudará a obter uma variedade de opiniões sobre os problemas identificados. Ao coletar as respostas, ajude-os a organizar as informações, pedindo-lhes que categorizem os problemas em grupos, como desafios sociais e oportunidades. Incentive os estudantes a analisar como cada problema os afeta pessoalmente e a pensar em soluções práticas que poderiam ser apresentadas na carta de reivindicação. Por exemplo, se o tema for “desemprego”, eles podem discutir propostas como a criação de programas de capacitação profissional ou parcerias com empresas locais para estágios. Uma vez definido o problema, oriente-os a identificar os responsáveis pela origem e pela solução do problema. Mostre-lhes que há perguntas cruciais, como: quem tem poder para mudar essa situação? Quais instituições podem ajudar? Por exemplo, se o problema for “violência”, eles podem considerar a atuação das forças de segurança ou de organizações comunitárias. Para a redação da carta de reivindicação, explique a estrutura sugerida e ofereça exemplos de como abordar cada parte. Por exemplo, no corpo do texto, eles podem iniciar com uma declaração forte sobre o problema, seguida de testemunhos coletados durante a pesquisa. Uma possível frase seria: “Conforme mencionado por vários jovens, a falta de oportunidades de emprego está criando um sentimento de desespero e frustração na nossa comunidade”. Após a escrita, reforce a importância da revisão, sugerindo que verifiquem se a linguagem utilizada é adequada ao destinatário e se os argumentos estão claros e bem fundamentados. Finalize incentivando-os a enviar a carta de reivindicação para o destinatário escolhido ou compartilhá-la nas redes sociais do colégio, reforçando a ideia de que suas vozes são importantes e podem contribuir para a mudança em sua comunidade.

Unidade 7 Muitas vozes

Objetivos e justificativas

Nesta unidade, os estudantes terão contato com a literatura do final do século XX, a qual trazia a voz de uma geração que passava de um período ditatorial para outro mais democrático. Essa geração, embora enfrentasse imensos desafios sociais e pessoais, ainda sonhava com um futuro melhor. Em análise linguística, vão analisar a colocação pronominal, refletir sobre a diferença entre a linguagem falada e a linguagem escrita e relembrar as situações de uso da norma-padrão. Na seção de leitura, conhecerão as condições de produção e a estrutura do pôster acadêmico. Por fim, vão planejar, produzir e compartilhar uma apresentação oral tratando de alguma consequência que a crise climática esteja provocando no Brasil.

Competências e habilidades da BNCC

• Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9 e 10

• Competências específicas de Linguagens e suas Tecnologias: 1, 2, 3, 4, 6 e 7

• Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias

EM13LGG101 EM13LGG102 EM13LGG103 EM13LGG104

EM13LGG201 EM13LGG202 EM13LGG302 EM13LGG401

EM13LGG601 EM13LGG602 EM13LGG604 EM13LGG701

EM13LGG703

• Habilidades de Língua Portuguesa

EM13LP01 EM13LP02 EM13LP03 EM13LP06

EM13LP08 EM13LP09 EM13LP10 EM13LP15

EM13LP16 EM13LP18 EM13LP31 EM13LP34

EM13LP35 EM13LP48 EM13LP49 EM13LP50

EM13LP52

Todos os campos de atuação social

Campo das práticas de estudo e pesquisa

Campo artístico-literário

Abertura (p. 212)

Estratégias didáticas

• Sugere-se promover uma análise que explore a relação entre a arte contemporânea e os desafios da globalização e da multiplicidade de discursos. A obra

Babel (2001), de Cildo Meireles (1948-), é uma metáfora da confusão de vozes em um mundo hiperconectado, a qual pode ser comparada ao excesso de informação da era digital. Sugira aos estudantes que reflitam sobre como a obra representa visualmente essa cacofonia e como ela dialoga com a diversidade de perspectivas globais. Na obra Nós (2011-2015), de Celina Portella (1977-), a questão da identidade e das amarras sociais pode ser explorada por meio da análise dos “nós” tanto como metáforas de conexão quanto de limitação. Incentive uma discussão sobre a relação entre a performance e os espaços público e privado, explorando como a arte contemporânea pode questionar papéis sociais. Para a obra O que é arte? Para que serve? (1978), de Paulo Bruscky (1949-), é interessante incentivar uma reflexão sobre a função social da arte, especialmente no contexto brasileiro. Instigue os estudantes a pensar sobre o papel do artista no questionamento das normas estabelecidas e a importância da provocação como um ato artístico. Incentive-os a analisar como a arte contemporânea e a literatura desse período respondem à complexidade de um mundo globalizado. Proponha aos estudantes que pensem não apenas em como essas obras refletem as transformações sociais e tecnológicas das últimas décadas mas também como dialogam com questões como identidade, comunicação e o papel da arte em tempos de mudança.

Midiateca do professor

• BABEL. Direção: Alejandro González Iñárritu. Estados Unidos: Paramount Vantage, 2006. Streaming (143 min). O filme é uma narrativa entrelaçada que revela as dificuldades e as tensões que surgem em um mundo hiperconectado, em que ações e acontecimentos locais podem ter repercussões globais. Trata-se de uma metáfora potente sobre as barreiras de comunicação e a cacofonia gerada pela multiplicidade de vozes e perspectivas em uma era digital.

lITERATURA

Daqui em diante, o futuro? (p. 214)

Estratégias didáticas

• Para conduzir o boxe Ler o mundo (p. 214), leve os estudantes a refletir sobre a intersecção entre

política, tecnologia e meio ambiente nos anos 2020, conectando esses temas aos contextos brasileiro e global. Ao abordar a importância de uma política que valorize a democracia, é fundamental discutir como a estabilidade democrática é essencial para garantir direitos e liberdades individuais, especialmente em momentos de crise política e polarização. Exemplos práticos podem incluir a análise de casos recentes no Brasil e no mundo, em que a fragilidade democrática trouxe impactos significativos para a população. Quando discutir o papel das redes sociais, uma sugestão é questionar como elas promovem a pluralidade de vozes, mas também podem ser usadas para manipular informações. Aponte casos concretos, como a propagação de fake news durante a pandemia da covid-19, e incentive os estudantes a pensar nas responsabilidades dos usuários e plataformas em lidar com a desinformação. Por fim, para explorar as consequências do negacionismo ambiental, incentive-os a refletir sobre como a negação da crise climática afeta decisões políticas, econômicas e sociais, com consequências diretas no cotidiano, como a intensificação de desastres naturais, a escassez de recursos e o aumento das desigualdades. O foco pode ser na conscientização de como políticas ambientais adequadas são capazes de mitigar esses problemas e melhorar a qualidade de vida a longo prazo.

Midiateca do professor

• KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. O livro aborda temas fundamentais para a compreensão das crises ambientais e políticas que afligem o mundo contemporâneo, com foco nas visões de mundo indígenas, propondo uma reflexão sobre o uso desenfreado de recursos naturais e a relação entre tecnologia, política e meio ambiente.

No

fio

do

tempo – A literatura do final do século XX (p. 219)

Estratégias didáticas

• Ao conduzir as propostas do boxe O X da questão (p. 219), incentive os estudantes a refletir sobre como as transformações sociais e políticas do final dos anos 1980 influenciaram a arte e a literatura

da época, destacando o impacto da globalização e da diversidade cultural. Uma sugestão de abordagem é começar relembrando o contexto da ditadura civil-militar no Brasil e como, apesar da repressão, movimentos de contracultura reivindicaram liberdade de expressão, direitos civis e novas formas de engajamento artístico. Essas demandas envolviam questões como igualdade, liberdade individual e resistência à censura, temas que se mantiveram relevantes nas décadas seguintes. Na discussão sobre as demandas da juventude nos anos 1980, é interessante pedir aos estudantes que conectem essas questões com a reabertura política e o desejo de maior participação democrática. Incentive-os a pensar sobre as demandas atuais da juventude, como o acesso à educação, direitos sociais e a luta por igualdades racial e de gênero, comparando com os anseios da juventude da época. Quando o debate focar as diferentes juventudes, instigue uma reflexão sobre como fatores sociais, raciais e de gênero moldam as experiências e os sonhos de jovens hoje. Exemplos práticos incluem o contraste entre jovens de áreas urbanas e periféricas, ou as diferentes oportunidades e desafios enfrentados por jovens negros, indígenas, LGBTQIAPN+ e de diferentes classes sociais. Ao propor essa discussão, o objetivo é fomentar uma visão pluralista e inclusiva das juventudes, mostrando que a arte e a literatura do período estudado também abriram espaço para a multiplicidade de vozes e experiências.

Pensar e compartilhar (p. 223)

Estratégias didáticas

Formação continuada

O boxe Saiba mais (p. 224) retoma o conceito de autoficção, já explorado na Unidade 7 do Volume 2. O texto a seguir tece mais algumas considerações.

O sucesso da palavra “autoficção” é nítido nas mais diversas culturas, não apenas na literatura, mas em outros domínios estéticos, como as artes visuais. Na prática autoficcional, quando a ficção se adiciona à autobiografia, o efeito é, sem dúvida, uma soma inexata, que paradoxalmente subtrai de cada elemento exatamente aquilo que o caracterizava. De início, a ficção pode parecer menos criativa porque a princípio origina-se de uma história real, e a autobiografia menos real por contar com a liberdade da imaginação.

Entretanto, em vez de subtrair, para autores contemporâneos, essa conta parece inflacionar. Trata-se de auto + ficção, etimologia aparentemente simples. Escritores pensam, portanto, ganhar dos dois lados, sem nada a perder, com toda uma liberdade que, no domínio teórico, suscita cada vez mais problemáticas.

Pouco concernidos pelos bastidores da teoria, autores seguem seu percurso. Na literatura brasileira, […] é possível detectar traços de autoficções em vários autores. Para citar alguns: Ferréz, Michel Laub e Rodrigo de Souza Leão. Em geral, trata-se de uma autoficção anominal ou nominalmente indeterminada, mas com brechas que sugerem um caminho em direção à identidade onomástica […]

[…]

Se uma linhagem autoficcional pode ser um dia estabelecida com precisão na história da literatura brasileira contemporânea, levando-se em conta a ideia central de Serge Doubrovsky –a identidade onomástica entre autor, narrador e protagonista –, há que se destacar ainda a publicação de O gosto do apfelstrudel (Rio de Janeiro: Escrita Fina, 2010), de Gustavo Bernardo. No romance, o escritor serve-se conscientemente do termo autoficção para ficcionalizar os últimos dias do pai em coma. O protagonista não leva o nome do autor e sim suas iniciais. É uma quase-identidade onomástica, quase uma autoficção comme il faut, mas ainda abreviada pelo pudor.

Entre os romances recém-lançados que sugerem algum tipo de desdobramento do eu do autor, um dos mais sólidos exemplos de autoficção é, sem dúvida, Ribamar (Rio de Janeiro: Record, 2010), de José Castello. Embora o autor alegue não tê-lo escrito sob o signo da autoficção, ele “paga o preço” sugerido por Serge Doubrovsky e nomeia seu personagem principal, ele próprio, José, do início ao fim, sem hesitação.

HIDALGO, Luciana. Autoficção brasileira: influências francesas, indefinições teóricas. ALEA, Rio de Janeiro, v. 15, n. 1, p. 218-231, jan./jun. 2013. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1517106X2013000100014. Acesso em: 24 out. 2024.

• Ao trabalhar o boxe Hiperlink (p. 226), incentive os estudantes a explorar o universo dos contistas brasileiros João Antônio (1937-1996), Rubem Fonseca (1925-2020) e Dalton Trevisan (1925-), conectando suas obras ao contexto histórico do Brasil durante e após a ditadura civil-militar. Para um aprofundamento sobre os autores e suas obras, sites como o

da revista Cult (https://revistacult.uol.com.br/) ou do Estadão (www.estadao.com.br) oferecem análises e críticas literárias relevantes. Durante a leitura e análise dos contos, sugira aos estudantes que identifiquem os temas sociais recorrentes, como a marginalidade, a violência urbana ou a solidão, e observem como os autores utilizam uma linguagem direta, às vezes crua, para tratar desses temas. Após a leitura e a apresentação dos resumos, uma proposta de discussão interessante é refletir sobre como os contos dialogam com o contexto de urbanização e repressão política da época, e como a dureza da vida nas grandes cidades é retratada esteticamente por meio de personagens marginalizadas e situações extremas. Incentivar os estudantes a comparar a realidade descrita nesses contos com a atualidade pode gerar reflexões sobre as continuidades e rupturas nas condições sociais brasileiras, além de aprofundar sua compreensão sobre o papel da literatura em capturar e criticar esses aspectos.

Contexto (p. 227)

Estratégias didáticas

• No trabalho com o boxe Ler literatura (p. 230), incentive os estudantes a refletir sobre o processo de adaptação de uma obra literária para o audiovisual, destacando as escolhas que o roteirista faz para preservar a essência do texto original, ao mesmo tempo que precisa lidar com os limites de tempo e os recursos específicos da nova linguagem. No exemplo de Feliz ano velho (1982), de Marcelo Rubens Paiva (1959-), é interessante observar como a mudança na estrutura e na narrativa de abertura do filme altera o impacto inicial, criando uma atmosfera mais dramática ao apresentar o protagonista já imobilizado, em contraste com a ação da corrida de São Silvestre. Sugira aos estudantes que discutam como essas alterações logo no início, no caso da obra de Paiva, influenciam a percepção do espectador sobre o protagonista. Qual impacto emocional é gerado ao apresentar Mário já paralisado? O que é mantido da essência da obra e o que é transformado para caber na linguagem cinematográfica? Ao propor a discussão sobre a adaptação de outras obras, incentive-os a escolher livros que conheçam bem e a pensar em como elementos centrais da narrativa – personagens, temas, ambientes – seriam transpostos para o

cinema ou a TV. Eles devem considerar, por exemplo, se cenas descritivas ou introspectivas precisariam ser condensadas ou transformadas em diálogos entre personagens e como o tempo e o ritmo da história precisariam ser ajustados para adaptá-los à duração de um filme ou episódio de série. A atividade visa também a desenvolver a capacidade de análise crítica dos estudantes, ampliando sua compreensão sobre como diferentes mídias exigem abordagens narrativas distintas.

Midiateca do professor

• CIDADE de Deus. Direção: Fernando Meirelles. Brasil: VideoFilmes, O2 Filmes, 2002. Streaming (130 min). Adaptado do romance homônimo de Paulo Lins, está entre os filmes brasileiros mais aclamados internacionalmente. Retrata de forma visceral a vida nas favelas do Rio de Janeiro durante as décadas de 1960 e 1970. O filme recebeu inúmeras premiações e indicações. Foi indicado a quatro prêmios no Oscar 2004, incluindo Melhor Direção, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição e Melhor Fotografia, um feito notável para uma produção brasileira.

Integrando com Arte (p. 231)

Estratégias didáticas

• A o conduzir as atividades propostas, incentive os estudantes a explorar os grafites locais como forma de arte urbana e expressão social. O trabalho em dupla permite que eles troquem perspectivas e informações, aprofundando a pesquisa sobre a localização e o surgimento dos grafites. Ao buscar respostas sobre quem os produziu, sugira que investiguem coletivos de grafiteiros ou artistas independentes e tentem identificar as motivações e temas que inspiraram as obras. Quando os estudantes discutirem os sentidos que os grafites produzem para os passantes, devem refletir sobre como essa arte afeta o ambiente urbano e a vida cotidiana das pessoas que a veem. Sugira a eles que pensem na reação que o grafite provoca: gera reflexão, questionamento, identificação cultural ou apenas adorna o espaço? Um exemplo pode ser um grafite que retrata personagens locais ou questões sociais, que pode tanto servir como um marco de resistência quanto uma intervenção estética. Na reflexão sobre como

o grafite dialoga com o contexto em que foi produzido, é essencial considerar a relação entre a arte de rua e os espaços públicos, questionando se ela responde a questões políticas, sociais ou culturais da comunidade. Um grafite em uma área periférica pode falar sobre desigualdade, enquanto um em um centro comercial pode refletir sobre consumismo ou cultura pop. Sugira aos estudantes que se perguntem como o grafite escolhido interage com o ambiente, quem é seu público-alvo e se ele provoca discussões sobre o próprio espaço em que está inserido. A atividade visa a promover uma análise crítica dos espaços urbanos, estimulando a percepção dos estudantes sobre o papel da arte na vida pública.

Midiateca do professor

• EXPRESSÃO urbana: a educação integral na arte das ruas. [S. l.: s. n.], 2017. 1 vídeo (10 min). Publicado pelo canal Educação&Participação. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=ifRVBvId4Js. Acesso em: 24 out. 2024.

O vídeo traz uma discussão rica sobre o grafite como arte urbana, abordando suas origens e o impacto social que causa nas cidades. Ele apresenta diferentes grafiteiros e explora a relação entre o grafite e o espaço público, abordando como essa arte reflete questões sociais e culturais. Trata também da poesia lambe-lambe, outra forma de arte urbana.

lEITURA: PÔSTER ACADÊMICO

Divulgar o conhecimento (p. 232)

Estratégias didáticas

• Ao trabalhar o boxe Ler o mundo (p. 232), é importante guiar os estudantes na reflexão sobre o papel dos congressos científicos e como eles possibilitam a troca de conhecimentos entre pesquisadores acadêmicos. Ao discutir como a participação nesses eventos contribui para o avanço das pesquisas, sugira aos estudantes que pensem em exemplos práticos, como descobertas na área da saúde, que muitas vezes são apresentadas em congressos antes de se tornarem públicas ou aplicadas. Além disso, pode-se

explorar a relevância do intercâmbio de ideias, exemplificando como um pesquisador pode se beneficiar ao conhecer diferentes perspectivas e abordagens de estudo, ampliando o impacto da pesquisa científica. Na reflexão sobre a importância de incentivar pesquisas para a sociedade e a economia brasileira, sugira aos estudantes que pensem em como o agronegócio, a tecnologia ou a medicina se desenvolveram com base em inovações científicas. Um exemplo concreto é o desenvolvimento de vacinas ou de tecnologias agrícolas que aumentaram a produção de alimentos. Incentivar os estudantes a pensar no impacto direto das pesquisas na vida deles e no progresso econômico do país pode ajudá-los a entender melhor como o investimento em ciência traz benefícios sociais e econômicos de longo prazo.

Pensar e compartilhar (p. 234)

Estratégias didáticas

• A o trabalhar o boxe conceito (p. 234), explique aos estudantes que, além da linguagem formal e objetiva, o design do pôster também desempenha um papel crucial na eficácia dele. Elementos como cores, gráficos, diagramas e a organização visual do conteúdo são fundamentais para garantir que a informação seja facilmente compreendida à primeira vista. Um bom pôster científico deve equilibrar conteúdo textual e visual, facilitando a leitura rápida e captando a atenção do público, ao mesmo tempo que convida a interações mais aprofundadas com os pesquisadores presentes. O uso de títulos claros e de seções bem definidas, como objetivos, metodologia e resultados, ajuda a guiar o leitor e a destacar os pontos principais da pesquisa.

ANAlISE lINGUISTICA

Colocação pronominal (p. 236)

Estratégias didáticas

• Ao iniciar o estudo de colocação pronominal, é importante criar um ambiente de diálogo, perguntando aos estudantes o que já sabem sobre o uso dos pronomes em frases. Uma boa estratégia é pedir exemplos do uso de pronomes em conversas cotidianas e em textos formais, como redações escolares, para que eles

reflitam sobre como o lugar do pronome pode mudar dependendo do contexto. Com base nisso, pode-se destacar que a colocação pronominal (ênclise, próclise e mesóclise) obedece a regras gramaticais que variam de acordo com a formalidade e o tipo de oração. Por exemplo, pode-se mencionar como na fala informal se usa muitas vezes a próclise (“me avise”) e como, em contextos mais formais ou literários, a ênclise é mais comum (“avise-me”). Refletir sobre a diferença entre a linguagem falada e a escrita ajuda a relembrar a importância de conhecer a norma-padrão. Assim sendo, o objetivo dessa abordagem inicial é criar uma base de conhecimento prático e acessível para, em seguida, avançar para a explicação detalhada das regras de colocação pronominal.

Midiateca do professor

• CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo . 7. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2021.

Nessa obra, os autores abordam a colocação pronominal de maneira clara, discutindo as regras gramaticais que regem o uso dos pronomes átonos em diferentes contextos, como ênclise, próclise e mesóclise. A gramática também inclui exemplos práticos que facilitam a compreensão dos estudantes sobre a variação linguística e as diferentes formas de posicionar os pronomes, seja na fala informal ou em textos mais formais.

Pensar e compartilhar (p. 238)

Estratégias didáticas

• Na atividade 3, destaque para os estudantes a frase final do texto: “A mesóclise é linda, mas rara, deve ser usada em ocasiões muito especiais”. Na prática, a mesóclise até pode, segundo alguns autores, ser considerada uma colocação pronominal arcaica, reservada para contextos muito solenes.

Astúcias da língua (p. 240)

Estratégias didáticas

• Ao tratar do tema colocação pronominal em uso, é importante destacar aos estudantes que a língua está em constante evolução e adaptação. Na linguagem cotidiana, os desvios da norma-padrão em relação à colocação pronominal, como o uso de “me

avisa” em vez de “avise-me”, são bastante comuns e refletem uma tendência natural de simplificação e de fluidez na comunicação, facilitando o uso do pronome na fala espontânea. No entanto, é crucial que os estudantes compreendam que existem contextos formais – como redações escolares, apresentações acadêmicas ou documentos oficiais – em que a norma-padrão precisa ser seguida. Um exemplo prático é o uso da próclise em situações cotidianas, como “me empresta o livro”, que, na escrita formal, é “empreste-me o livro”. Isso demonstra como, no português falado, muitas vezes os pronomes átonos são antecipados por uma questão de fluência e facilidade de articulação, enquanto na escrita formal a ênfase recai em seguir as regras estabelecidas pela norma-padrão. Incentive os estudantes a observar a diferença entre a linguagem que utilizam nas redes sociais e em suas conversas informais, em comparação com a linguagem empregada em uma redação escolar. Pergunte-lhes, por exemplo: por que, em um ambiente de comunicação rápida, como as redes sociais, usamos tantas vezes a próclise, enquanto em uma redação formal aplicamos a ênclise com mais frequência? Isso os ajudará a compreender a importância do contexto no uso da língua e como a colocação pronominal se adapta a ele. Por fim, é fundamental incentivar os estudantes a refletir sobre a importância de dominar as variações da língua: estar ciente das diferenças entre o uso coloquial e o formal os prepara para uma comunicação mais eficaz em diferentes contextos sociais e profissionais.

#NOSNAPRATICA

Apresentação oral de conteúdo científico (p. 243)

Estratégias didáticas

• Para a condução desta seção, apresente o tema da crise climática e contextualize o papel da abordagem científica para compreendê-la e combatê-la. Isso ajudará os estudantes a enxergar a relevância do que vão produzir. É interessante fomentar uma discussão inicial para explorar o que já sabem sobre as consequências da crise climática no Brasil e no mundo, conectando o conteúdo à realidade

local, como os impactos na agricultura ou na saúde pública. Na etapa de produção, incentive os estudantes a organizar suas pesquisas de forma prática e objetiva. Explique a importância de selecionar fontes confiáveis, como publicações científicas ou sites institucionais, e como o trabalho com dados verificados fortalece o impacto da apresentação. Um exemplo para motivar o trabalho em grupo é sugerir aos estudantes que escolham um tema que estabeleça conexão direta com sua realidade, como as secas no Nordeste ou as enchentes no Sudeste, o que torna o trabalho mais significativo e próximo da vida deles. Na etapa de construção do pôster, reforce que ele deve funcionar como um complemento visual à apresentação oral, organizado de modo que o público compreenda as principais informações sem uma leitura extensa. Um exemplo que pode ajudar é comparar o pôster a uma “vitrine” de uma loja: ele deve atrair e informar ao mesmo tempo, mas não pode sobrecarregar o espectador com detalhes desnecessários. Para a apresentação, os estudantes devem ser encorajados a praticar o conteúdo previamente. Sugira que ensaiem entre si, focando a clareza da fala, o uso de linguagem formal e o tempo de apresentação, que deve ser respeitado. Um ponto de reflexão importante é o fato de o uso de recursos visuais, como gráficos e imagens, não apenas tornar a apresentação mais interessante mas também contribuir para a compreensão do público. Isso pode ser exemplificado com gráficos que mostrem o aumento da temperatura global ou fotos de áreas afetadas pela desertificação. Lembre-os de que, ao organizarem a apresentação oral, eles devem prever um momento inicial de apresentação do grupo e um momento final de despedida e abertura para questões do público. O objetivo final da atividade não é apenas o desenvolvimento do conteúdo mas também o aprimoramento de habilidades de comunicação, como organização do discurso, capacidade de síntese e uso de recursos multimodais para fortalecer a argumentação. Incentive os estudantes a refletir sobre como essas habilidades são importantes não apenas para o ambiente escolar mas também para sua vida acadêmica e profissional futura, criando um espaço de aprendizado colaborativo e significativo.

Unidade 8 Um mundo no palco

Objetivos e justificativas

Nesta unidade, os estudantes vão explorar como o teatro contemporâneo incorpora tecnologias digitais e utiliza espaços não convencionais para transformar a experiência teatral. Esse movimento dialoga com inovações do teatro brasileiro do século XX, criando novas formas de interação entre o palco e a vida cotidiana. Em relação aos conhecimentos linguísticos, vão estudar a estrutura das palavras e perceber que, na língua portuguesa, certas palavras podem originar outras ou ter origem em outras. Também vão aprender que os gestos, as expressões faciais e a entonação são elementos de comunicação não verbal que complementam a fala, acrescentando significado e emoção ao discurso. Além disso, estudarão o gênero telejornal, suas características e estrutura. Por fim, vão desenvolver um telejornal voltado a estudantes do Ensino Médio, abordando temas relevantes aos contextos escolar e juvenil.

Competências e habilidades da BNCC

• Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 9 e 10

• Competências específicas de Linguagens e suas Tecnologias: 1, 2, 3, 4, 6 e 7

• Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias

EM13LGG101 EM13LGG102 EM13LGG103 EM13LGG104

EM13LGG201 EM13LGG202 EM13LGG301 EM13LGG302

EM13LGG401 EM13LGG601 EM13LGG602 EM13LGG604

EM13LGG701 EM13LGG703

• Habilidades de Língua Portuguesa

EM13LP01 EM13LP02 EM13LP03 EM13LP04

EM13LP06 EM13LP08 EM13LP13 EM13LP14

EM13LP15 EM13LP16 EM13LP17 EM13LP18

EM13LP36 EM13LP43 EM13LP45 EM13LP48

EM13LP49 EM13LP50 EM13LP52

Todos os campos de atuação social

Campo jornalístico-midiático

Campo artístico-literário

Abertura (p. 246)

Estratégias didáticas

• Para iniciar o trabalho proposto nesta seção, sugere-se convidar os estudantes a observar o espaço do Teatro Oficina (São Paulo, SP), reproduzido na primeira fotografia, e refletir sobre como a arquitetura e o cenário influenciam a experiência do espectador e a dramaturgia. Na configuração desse teatro, destaca-se a proposta inovadora da arquiteta Lina Bo Bardi (1914-1992), que quebra com a ideia tradicional de palco italiano (frontal) e busca uma integração maior entre os atores e o público. A estrutura aberta e flexível do espaço, com longas passarelas e plateia disposta ao redor da cena, pode ser vista como uma metáfora para a democratização do teatro e uma provocação para a imersão do espectador. Peça aos estudantes que se questionem a respeito destas indagações: como seria a sensação de assistir a uma peça nesse espaço? Que tipos de encenações ou temas seriam mais bem explorados ali? Essa arquitetura parece dialogar diretamente com as pessoas? O que Lina Bo Bardi pode ter pretendido comunicar com a estrutura não convencional desse teatro? Em seguida, oriente-os a observar as fotografias das peças do Teatro da Vertigem e refletir sobre o uso do espaço urbano como palco. Na peça Bom Retiro, 958 metros (2012), as ruas do bairro do Bom Retiro, em São Paulo, são o cenário, o que já altera profundamente a maneira como o teatro é percebido e experimentado. Questione os estudantes sobre a relação entre a narrativa da peça e o espaço escolhido: o que muda quando o espaço cênico é um local real, como uma rua, em vez de um espaço convencional, como o teatro? Como o espaço urbano se torna parte da história contada? Como a presença do público nesse espaço reconfigura sua participação? A peça O paraíso perdido (1992), por sua vez, encenada em uma igreja, explora temas metafísicos universais, associando-os a sentimentos contemporâneos relacionados à busca de um religamento com o plano divino. Peça aos estudantes que considerem as escolhas visuais, como o uso de luzes e sombras, e reflitam sobre como esses recursos impactam a percepção da peça por parte do público. A relação entre o espaço físico e os temas abordados pode ser discutida: de que forma

um ambiente urbano pode dialogar com narrativas míticas, bíblicas ou filosóficas, como em O paraíso perdido ? Uma reflexão interessante é aproximar essas observações da discussão sobre o uso de tecnologias digitais e de novas formas de encenação no teatro contemporâneo.

• Esta unidade tem como um dos seus focos a análise de aspectos próprios da oralidade, por isso há a transcrição de gêneros orais como notícia de telejornal, reprodução de textos teatrais e reprodução de frames de vídeos atrelados a esses textos. No entanto, para que os estudantes desenvolvam de forma mais efetiva a análise dos elementos da oralidade, como gestos, entonação, pausas, entre outros, algumas atividades necessitam da visualização de determinados vídeos. Caso não seja possível assistir aos vídeos com os estudantes durante as aulas, procure adaptar essas atividades, pedindo, por exemplo, que façam análises com recursos disponíveis extraclasse, observando aspectos específicos da oralidade sugeridos no Livro do estudante

lITERATURA

Uma comédia demasiado humana (p. 248)

Estratégias didáticas

• Sugere-se começar o estudo do boxe Ler o mundo (p. 248) contextualizando a discussão com uma breve reflexão sobre como a noção de trabalho tem se transformado no decorrer da história do Brasil. Explique aos estudantes que, no período da escravidão, o trabalho era associado a desonra e servidão, o que deixou uma marca profunda na sociedade. Hoje, o trabalho está diretamente ligado à dignidade pessoal, mas também se tornou uma das principais demandas da vida moderna, muitas vezes consumindo grande parte do tempo e da energia das pessoas. Ao abordar a atividade 1 , incentive os estudantes a refletir sobre o conceito de dignidade no trabalho. A ideia de que o trabalho “dignifica” o ser humano está profundamente enraizada na cultura brasileira, mas vale a pena explorar com eles o que isso significa em diferentes contextos. Pergunte-lhes: todo tipo de trabalho pode ser digno?

O que faz um trabalho ser digno ou indigno? Use exemplos de trabalhos em condições insalubres ou mal remunerados para desafiar a visão tradicional de que qualquer trabalho, por si só, traz dignidade e sugerir que as condições em que o trabalho é realizado são essenciais para essa dignidade. Para a atividade 2, sobre o tempo dedicado ao trabalho, uma boa maneira de iniciar a conversa é convidar os estudantes a observar a realidade ao seu redor: vocês acham que seus pais ou responsáveis têm tempo para outras atividades além do trabalho? Eles sacrificam outras atividades por causa do trabalho? Quais? Explore a ideia de que o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal é um desafio contemporâneo. Incentive-os a questionar se o excesso de trabalho pode afetar a qualidade de vida e a saúde mental, trazendo exemplos de como o estresse e o cansaço podem prejudicar relacionamentos e o bem-estar. Na atividade 3, que questiona quais seriam as condições ideais de trabalho para uma vida saudável e feliz, incentive-os a imaginar cenários possíveis e justos. Pergunte-lhes: como seria o mundo se todos tivessem empregos que respeitassem seus limites de tempo, oferecessem bons salários e condições seguras? Incentive a reflexão sobre a importância de férias, tempo de lazer, remuneração justa e um ambiente de trabalho acolhedor e saudável. Dê exemplos de países ou empresas que adotam modelos de trabalho mais equilibrados, como carga horária semanal reduzida ou políticas de trabalho remoto que favorecem o equilíbrio entre vida profissional e pessoal. Pode-se fechar a discussão com uma reflexão coletiva sobre o papel do trabalho na vida das pessoas: será que estamos vivendo para trabalhar ou trabalhando para viver? Essa pergunta final pode ajudar a amarrar todas as reflexões anteriores, levando os estudantes a pensar criticamente sobre o valor e o peso do trabalho na vida contemporânea.

Pensar e compartilhar (p. 250)

Estratégias didáticas

• P ara o item d da atividade 9 , comente com os estudantes que a Missão Filantrópica Internacional pode ser interpretada, em certa medida, como uma caricatura do Fundo Monetário Internacional, já que as duas siglas têm as mesmas letras, embora em

ordem trocada (MFI e FMI). O FMI é um órgão que presta assistência financeira a países em dificuldades, mas já foi criticado muitas vezes por impor políticas de austeridade que estrangulavam a economia dos países que recebiam ajuda.

No fio do tempo – O teatro no final do século XX (p. 254)

Estratégias didáticas

• P ara iniciar o estudo do boxe O X da questão (p. 254), situe os estudantes no contexto político-social dos anos 1950 no Brasil, destacando como a industrialização e o crescimento urbano proporcionaram mudanças significativas nos cenários social e cultural do país. Nesse ambiente, o teatro passou a ser uma importante forma de expressão das tensões sociais. Ao explorar a atividade 1 do Para lembrar, sobre as diferentes perspectivas da literatura em relação ao teatro, incentive os estudantes a refletir sobre as tendências literárias do mesmo período. Pergunte-lhes: na prosa e na poesia, como vocês acham que os escritores estavam lidando com essas mesmas questões sociais? Sugira que pensem sobre autores como Clarice Lispector (1920-1977) ou João Cabral de Melo Neto (19201999), que, em vez de focarem diretamente as lutas de classe, exploravam o interior das personagens, os dilemas existenciais ou realidades mais subjetivas e universais. Essa reflexão abre espaço para discutir sobre como a literatura oferece uma multiplicidade de vozes e perspectivas, algumas mais introspectivas, outras mais voltadas para as questões sociais diretas. Em seguida, ao abordar a atividade 1 do Para discutir , sobre os sindicatos, explore o papel histórico dessas organizações na defesa dos direitos dos trabalhadores, explicando de maneira simples sua função de representar os interesses da classe trabalhadora, especialmente em momentos de conflito com os empregadores. Pode ser útil apresentar exemplos contemporâneos ou recentes de greves e negociações sindicais, perguntando-lhes: vocês já ouviram falar de algum movimento sindical recente? Como ele foi conduzido? O que mudou para os trabalhadores? Ao conectar o passado ao presente, eles podem perceber a relevância contínua dessas organizações.

Para a atividade 2, que trata do conflito entre interesses coletivos e individuais, promova um debate mais amplo sobre como esse dilema afeta não só os movimentos trabalhistas mas também a vida cotidiana. Pergunte-lhes: como vocês acham que uma pessoa equilibra os interesses pessoais e a necessidade de lutar por um bem comum? Proponha uma reflexão sobre os desafios que surgem quando indivíduos, ainda que dentro de um mesmo grupo, têm prioridades e temores diferentes. O exemplo do personagem Tião, de Eles não usam black-tie (1958), que se recusa a participar da greve porque teme perder o emprego, pode ser um ponto de partida para a discussão. Essa situação permite refletir sobre como o medo, a necessidade de sustento e os desejos pessoais podem enfraquecer ou até mesmo dificultar a luta coletiva por direitos. Aproveite essa reflexão para levar os estudantes a pensar em soluções para lidar com esses conflitos: será que é possível conciliar o coletivo e o individual? Que estratégias podem ser adotadas para fortalecer a união sem ignorar as necessidades de cada pessoa? Ressalte a importância do diálogo, da negociação e da empatia como formas de equilibrar esses interesses, ao mesmo tempo que reforçam a ideia de que a luta por direitos só é efetiva quando há união e solidariedade entre os membros de uma comunidade. Ao finalizar a discussão, incentive-os a pensar criticamente sobre a relevância dessas questões nos dias de hoje, questionando: será que a luta por direitos continua enfrentando os mesmos desafios que existiam nos anos 1950? Como as mudanças no mundo do trabalho e nas relações sociais impactam essa luta atualmente? Dessa forma, os estudantes são convidados a conectar o passado ao presente, sendo capazes de uma reflexão mais ampla sobre o papel do teatro, da literatura e da política na sociedade contemporânea.

Pensar e compartilhar (p. 257)

Estratégias didáticas

• No item a da atividade 2, explore a regulação com os estudantes, discutindo se ela é clara ao estabelecer critérios para o que seria diminuição sensível e injustificada do trabalho e como o trecho abre brechas para punições como a enfrentada pelo personagem Otávio. Se for do interesse dos estudantes, leia mais

este trecho da regulação e discuta se o texto dá segurança quanto aos critérios do que seria ou não atividade essencial:

Art. 3o São consideradas fundamentais, para os fins desta lei, as atividades profissionais desempenhadas nos serviços de água, energia, fontes de energia, iluminação, gás, esgotos, comunicações, transportes, carga e descarga; nos estabelecimentos de venda de utilidade ou gêneros essenciais à vida das populações; nos matadouros; na lavoura e na pecuária; nos colégios, escolas, bancos, farmácias, drogarias, hospitais e serviços funerários; nas indústrias básicas ou essenciais à defesa nacional.

§ 1o O Ministro do Trabalho, Indústria e Comércio, mediante portaria, poderá incluir outras atividades entre as fundamentais.

BRASIL. Decreto-lei no 9.070, de 15 de março de 1946. Dispõe sobre a suspensão ou abandono coletivo do trabalho e dá outras providências. Brasília, DF: Câmara dos Deputados, 1946. Disponível em: www2.camara.leg.br/legin/fed/ declei/1940-1949/decreto-lei-9070-15-marco-1946-416878publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 23 out. 2024.

• No desenvolvimento do boxe Hiperlink (p. 260), é essencial criar um ambiente de discussão que permita aos estudantes compreender não apenas o enredo das peças mas também o impacto cultural e social da obra do autor. Para iniciar, apresente brevemente o contexto histórico em que Nelson Rodrigues escreveu suas peças. A década de 1940, por exemplo, foi marcada por grandes transformações no Brasil, e Vestido de noiva (1943) é uma peça fundamental que reflete a modernização do teatro brasileiro, apresentando uma nova maneira de abordar as emoções humanas e as relações sociais. Após essa introdução, é útil sugerir aos estudantes que procurem resumos das peças de Nelson Rodrigues em fontes confiáveis para aprofundar o entendimento sobre os temas que o autor aborda. Quando os estudantes começarem a compartilhar os resumos dos enredos das peças, uma abordagem interessante é incentivar uma discussão sobre os temas recorrentes na obra do dramaturgo, como a hipocrisia social, a moralidade e a sexualidade, e sobre como esses temas ainda são relevantes hoje. O beijo no asfalto (1960), por exemplo, pode gerar reflexões sobre o papel da mídia e o sensacionalismo nos dias atuais, em que há um domínio das redes sociais na propagação rápida de notícias. Na escolha

de uma peça para leitura dramática ou encenação, eles podem debater quais temas ou personagens ressoam mais com eles, tornando a atividade mais pessoal e significativa. Em Boca de ouro (1959), por exemplo, o tema da corrupção moral e a busca pela verdade sob diferentes perspectivas podem ser explorados por meio da leitura dramática, destacando como diferentes interpretações podem enriquecer a compreensão de um texto teatral. Ao realizar a leitura ou a encenação, é importante que os estudantes não apenas reproduzam as falas mas também entendam a complexidade emocional das personagens e o subtexto psicológico na obra de Rodrigues. Para isso, sugerir a eles que assistam a trechos de encenações disponíveis na internet pode ser uma maneira eficaz de visualizar como atores profissionais interpretam essas emoções e temas. O site Espetáculos Online (disponível em: https://espetaculosonline.com/; acesso em: 23 out. 2024) ou o site SP Escola de Teatro (disponível em: www.spescoladeteatro.org.br/; acesso em: 23 out. 2024), por exemplo, disponibilizam cenas de peças e debates sobre teatro brasileiro. No fim da atividade, pode ser feita uma reflexão coletiva sobre como os estudantes perceberam a obra de Nelson Rodrigues. Incentive-os a pensar sobre como a arte pode ser ferramenta de crítica social, ao mesmo tempo que explora as emoções humanas de maneira tão crua e direta.

Contexto (p. 261)

Estratégias

didáticas

• Para conduzir a proposta do boxe Ler literatura (p. 264), sugere-se explicar inicialmente que a crítica literária avalia obras com base em determinados critérios, como o contexto de produção, as características formais, a originalidade e a qualidade, e que, por meio dessa valoração, estabelece-se o cânone, que é o conjunto das obras consideradas clássicas ou de alto valor. No entanto, é importante ressaltar aos estudantes que a formação do cânone é ideológica e foi construída, durante muito tempo, com base em perspectivas que silenciaram vozes de minorias. Incentive-os a refletir sobre como essa seleção de obras impacta o que as pessoas leem. Na atividade 1, ao discutir obras clássicas, explore os motivos pelos quais essas obras, como Dom Casmurro (1899), de

Machado de Assis (1839-1908), ou Grande sertão: veredas (1956), de Guimarães Rosa (1908-1967), continuam sendo lidas. Se algum estudante mencionar não ter interesse em clássicos, comente que muitas dessas obras tratam de questões humanas universais, como amor, traição e conflito, as quais ainda dialogam com o presente. Incentive a discussão sobre os gostos pessoais dos estudantes e como esses interesses podem se formar com base em diferentes experiências de leitura. Na atividade 2, discuta a questão de que, com a internet, escritores que não têm espaço no mercado editorial tradicional podem alcançar novos leitores. Pergunte-lhes: como vocês acham que esse acesso a novas vozes e obras pode impactar nosso gosto literário? Apresente exemplos de autores independentes ou de gêneros que ganharam visibilidade por meio de plataformas digitais. Essa reflexão pode abrir espaço para discutir como os gostos literários se formam e como as novas gerações de leitores podem estar mais abertas a obras que fogem do cânone tradicional, ampliando assim seus repertórios literários. Por fim, ressalte a importância de ter um repertório variado e continuar explorando novas leituras, incentivando-os a refletir criticamente sobre o que leem, sejam clássicos sejam autores contemporâneos.

lEITURA: NOTÍCIA DE TElEJORNAl

Bom dia, boa tarde, boa noite (p. 266)

Estratégias didáticas

• Para conduzir a atividade do boxe Ler o mundo (p. 266), inicie contextualizando para os estudantes a importância da televisão no Brasil, desde sua inauguração, em 1950, e como ela se consolidou como uma das principais fontes de informação e entretenimento, especialmente por meio dos telejornais. Mesmo com a ascensão da internet e das redes sociais, a televisão permanece um meio de comunicação de grande impacto, mantendo a relevância dos telejornais. Na atividade 1, incentive os estudantes a refletir sobre os hábitos de consumo de informação em suas residências. Com base nisso, pode-se iniciar

uma discussão sobre o estilo do jornalismo, a credibilidade das emissoras e a confiabilidade que certos telejornais constroem ao longo dos anos. Discuta como a apresentação das notícias varia entre os canais, desde o enfoque em política e economia até a cobertura de assuntos locais. Na atividade 2, ao discutir a confiabilidade dos telejornais em comparação com as redes sociais, explore a questão da checagem de fatos. Os telejornais são considerados mais confiáveis porque passam por processos editoriais rigorosos, com profissionais especializados, enquanto as redes sociais permitem a disseminação de notícias por quaisquer pessoas, facilitando sua falsidade ou distorção. Exemplos recentes de desinformação nas redes podem ser usados para ilustrar os perigos da falta de checagem de fatos. Incentive a reflexão sobre a necessidade de sempre verificar as fontes de informação e discuta como o consumo consciente de notícias, seja pela televisão seja pela internet, é essencial para formar opiniões bem embasadas.

ANAlISE lINGUISTICA

Estrutura de palavras (p. 271)

Estratégias didáticas

• Para iniciar o estudo da estrutura de palavras, é importante promover um diálogo com os estudantes para ativar seus conhecimentos prévios. Uma boa estratégia é pedir a eles que pensem em palavras que utilizam com frequência e tentem identificar quais partes dessas palavras poderiam ter significados próprios. Por exemplo, sugira que pensem na palavra felicidade e questione se conseguem identificar qual é a “raiz” dessa palavra e se ela pode gerar outras palavras relacionadas, como feliz ou felicitar. Essa atividade inicial vai permitir que os estudantes comecem a refletir sobre como determinadas palavras podem ser modificadas para formar outras, cada uma com significados distintos. Ao avançar, apresente exemplos de palavras primitivas, como flor, e derivadas, como florista, floresta ou aflorar, explorando como os elementos acrescentados (prefixos e sufixos) alteram ou ampliam o sentido original. Incentivar os estudantes a criar as próprias palavras derivadas, utilizando um radical que

conhecem, pode ser uma forma divertida e criativa de consolidar esse conhecimento. Uma sugestão interessante é trazer à discussão como essas mudanças nas palavras refletem processos culturais e sociais. Por exemplo, o aumento do uso de certos prefixos ou sufixos em áreas tecnológicas ou digitais (desconectar, reconfigurar etc.) pode mostrar como a língua responde às mudanças no mundo. Esse tipo de reflexão amplia a visão dos estudantes sobre a dinâmica da língua e sua adaptação ao contexto contemporâneo. Finalizando, ao explorar os diferentes morfemas, como radical, afixos e desinências, é importante que os estudantes percebam a função dessas pequenas unidades no significado global da palavra. Pode-se discutir como o acréscimo de um prefixo negativo, por exemplo, altera completamente o sentido de uma palavra, como legal e ilegal Essa abordagem os ajudará a entender a estrutura morfológica das palavras de forma mais prática e conectada ao cotidiano deles.

Midiateca do professor

• CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo . 7. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2017.

A obra é referência em estudos de língua portuguesa, especialmente no ensino de gramática em contexto. Os autores abordam detalhadamente a morfologia da língua, com foco nas classes de palavras, na estrutura morfológica e na função dos morfemas.

#NOSNAPRATICA

Telejornal (p. 278)

Estratégias didáticas

• P ara conduzir esta proposta de criação de um telejornal escolar, é essencial que os estudantes compreendam o processo completo de produção jornalística e como isso se aplica ao contexto escolar. Ao iniciar o projeto, promova uma discussão sobre o que faz um telejornal ser interessante e relevante para o público. Pergunte aos estudantes quais são seus programas favoritos e por quê, destacando aspectos como clareza de informação, qualidade de imagem e som, e a forma como as

notícias são apresentadas. Apresente o conceito de telejornal, mostrando exemplos curtos de programas reais, e peça que observem o formato. Explore a estrutura de um telejornal, como a divisão em blocos (notícias, reportagens especiais, cultura, esportes), e ressalte a importância de um roteiro bem elaborado para organizar as ideias e manter a fluidez do programa. Em seguida, promova uma atividade inicial para sondar os conhecimentos prévios dos estudantes sobre temas jornalísticos e os interesses deles em relação ao conteúdo. Uma forma de fazer isso é pedir-lhes que criem uma lista de possíveis pautas para o telejornal relacionadas ao cotidiano escolar e à juventude. Eles podem sugerir assuntos que vão desde eventos na escola até questões culturais ou sociais que impactam a vida dos jovens, como o uso das redes sociais ou as mudanças na educação. Oriente-os sobre a importância da pesquisa na produção jornalística, oferecendo exemplos de fontes confiáveis, como sites de notícias prestigiados e artigos de especialistas. A pesquisa é essencial para garantir que as informações transmitidas no telejornal sejam precisas e relevantes. Incentive o uso de fontes variadas, como entrevistas com professores, colegas ou profissionais externos, para enriquecer o conteúdo. A fase de gravação é a parte prática, na qual eles poderão aplicar o planejamento. Sugira-lhes que comecem com gravações simples, como a leitura de notícias ou reportagens curtas, pois isso os ajudará a criar confiança nas habilidades técnicas e de apresentação. Dê exemplos de como uma iluminação e um som de qualidade podem fazer toda a diferença no vídeo final, e mostre como usar ferramentas básicas de edição para ajustar detalhes. Reflexões finais podem incluir discussões sobre a responsabilidade do jornalista em informar o público de forma clara e imparcial, além de debates sobre a influência dos meios de comunicação na opinião pública. Pergunte aos estudantes como eles acham que o telejornal pode impactar a comunidade escolar e que tipo de feedback esperam. Finalize incentivando a exibição do telejornal para toda a escola, ou publicando-o em plataformas digitais, e reflitam juntos sobre o processo criativo e de produção, destacando aprendizados e desafios superados durante a realização do projeto.

Unidade 9 A luta contínua

Objetivos e justificativas

Nesta unidade, a literatura africana de língua portuguesa é analisada de modo abrangente, explorando como a história, a política e a sociedade moldaram a escrita desses autores, com foco na intersecção entre história, política, sociedade e criação literária. Ao investigar trechos de obras produzidas nos períodos colonial e pós-independência, busca-se compreender como o contexto histórico e social moldou as narrativas e as identidades africanas. Além disso, são exploradas as relações entre a Literatura e outras áreas do conhecimento, como História, Arte, Sociologia e Antropologia, a fim de desvelar as nuances culturais e as questões sociais presentes na discussão dos aspectos culturais africanos. Na seção de leitura, a análise de biografias e autobiografias de personalidades africanas proporciona uma imersão mais profunda nos universos pessoais e criativos dos estudantes. Em relação à análise linguística, os estudos sobre a formação de palavras e o campo semântico contribuirão para uma compreensão mais aprofundada das especificidades e possibilidades linguísticas. Por fim, a proposta de produção textual é a elaboração de um videocurrículo, retomando o que foi aprendido sobre biografia e autobiografia.

Competências e habilidades da BNCC

• Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7

• Competências específicas de Linguagens e suas Tecnologias: 1, 2, 3, 4, 6 e 7

• Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias

EM13LGG101 EM13LGG102 EM13LGG103 EM13LGG104

EM13LGG105 EM13LGG201 EM13LGG202 EM13LGG203

EM13LGG204 EM13LGG301 EM13LGG302 EM13LGG303

EM13LGG304 EM13LGG305 EM13LGG401 EM13LGG402

EM13LGG601 EM13LGG602 EM13LGG603 EM13LGG604

EM13LGG701 EM13LGG702 EM13LGG703 EM13LGG704

• Habilidades de Língua Portuguesa

EM13LP01 EM13LP02 EM13LP04 EM13LP06 EM13LP08 EM13LP10 EM13LP11 EM13LP12

EM13LP14 EM13LP15 EM13LP18 EM13LP19 EM13LP20 EM13LP21 EM13LP22 EM13LP24

EM13LP28 EM13LP30 EM13LP32 EM13LP35

EM13LP36 EM13LP39 EM13LP40 EM13LP41

EM13LP45 EM13LP46 EM13LP48 EM13LP49 EM13LP50 EM13LP51 EM13LP52 EM13LP53

Todos os campos de atuação social

Campo da vida pessoal

Campo de atuação na vida pública

Campo das práticas de estudo e pesquisa

Campo jornalístico-midiático

Campo artístico-literário

Abertura (p. 282)

Estratégias didáticas

• Antes de os estudantes responderem às atividades, realize uma leitura conjunta das obras, para incentivá-los a observar acuradamente os elementos compositivos e os sentidos que se podem depreender delas. Ajude-os a perceber, na pintura de Eddy Kamuanga Ilunga (1991-), que a interação entre as personagens é marcada pelo amparo. Ao representar os corpos como circuitos eletrônicos, o artista mostra como a exploração de recursos minerais pode ter um impacto profundo na vida das pessoas, moldando suas identidades e seus destinos. Oriente-os a observar a dinâmica das cores vibrantes das vestimentas das personagens em contraste com os circuitos inscritos na pele negra, os quais representam circuitos eletrônicos em que o minério (coltan) é empregado. Como um todo, a imagem evoca a crise humanitária que afeta um grande número de pessoas africanas, vítimas da exploração dos recursos minerais da região.

• As obras de Bertina Lopes (1924-2012), apesar de serem muito diferentes esteticamente, carregam elementos temáticos comuns. Desafie os estudantes a observar essas semelhanças e diferenças. Esteticamente, na obra Dimensão, a artista apresenta uma fusão entre tradição e modernidade, por meio da composição dinâmica e do uso de cores vibrantes e formas curvilíneas e angulares que criam uma sensação de movimento e energia vital. A composição central, que forma uma figura humana altamente estilizada, com braços erguidos e um rosto no centro,

revela influências modernistas. Já na obra Rais Antica 2: uma história verdadeira, os tons terrosos e ocre contrastam com o branco da figura central e o fundo escuro. A textura da pintura, com a utilização de elementos como penas e fibras naturais, confere à obra uma dimensão tátil e sensorial, aproximando o espectador da experiência artística. Na obra Dimensão, a figura central parece ser feminina, visto que as linhas sinuosas e as formas orgânicas evocam a natureza, a fecundidade, a espiritualidade, e as mãos levantadas sugerem um gesto de invocação ou conexão com forças superiores. Em Rais Antica, a figura parece ser masculina, com o corpo adornado por penas e elementos geométricos (presentes em toda a composição). Esses adornos, carregados de simbolismo na cultura africana, representam a comunicação com o mundo espiritual, a proteção e a sabedoria ancestral. A ausência de um rosto definido confere à figura um caráter universal e atemporal, representando a coletividade e a memória ancestral. Em ambas as obras, a artista demonstra grande sensibilidade para as linguagens artísticas contemporâneas, incorporando elementos abstratos e experimentais. Por meio dessas abordagens, ela lança um convite à reflexão sobre a importância da cultura, da identidade, da memória e da arte como resistência.

lITERATURA

A luta continua (p. 284)

Estratégias didáticas

• A o propor questões que conectam experiências pessoais com temas globais, o boxe Ler o mundo (p. 284) objetiva incentivar nos estudantes uma reflexão crítica e aprofundada sobre a sua relação com o mundo. Assim, ao refletir sobre sua relação de afeto com determinados espaços e as possíveis transformações que neles podem ocorrer, os estudantes são incentivados a resgatar memórias e a compreender a importância que os espaços têm na vida deles e na constituição de suas histórias pessoais. Ao final dessa sequência, depois de interpretarem os textos propostos, espera-se que possam se conectar com as experiências e sofrimentos alheios, em um gesto de empatia que a arte tem o poder de ensejar.

• Para que os estudantes compreendam bem o pano de fundo histórico, político e social das obras literárias analisadas nesta unidade, sugere-se combinar, antecipadamente, com o professor de História uma aula conjunta sobre as lutas dos países africanos lusófonos pela independência e suas condições pós-colonização, a fim de que os estudantes possam compor um panorama mais completo e crítico sobre as temáticas abordadas nos textos literários. Com base nesse conhecimento prévio, os estudantes poderão produzir análises mais aprofundadas e reflexivas sobre as obras, estabelecendo relações entre os fatos históricos e as representações literárias da realidade.

• No trecho apresentado de O último voo do flamingo (2000), Mia Couto (1955-) constrói uma profunda relação entre o espaço físico (especificamente a árvore de tamarindo) e a memória, a identidade e a história de uma família e de uma comunidade no contexto do pós-guerra. Pela natureza da dimensão estética do texto, seria interessante que fosse realizada uma leitura em voz alta do trecho, porque isso dá ênfase à poeticidade característica do estilo de Mia Couto em suas narrativas e pode ajudar os estudantes a compreender melhor o texto.

Pensar e compartilhar (p. 286)

Estratégias didáticas

• Ao desenvolver a atividade 2, comente com os estudantes que Mia Couto tem a habilidade única de entrelaçar a sabedoria popular moçambicana com a literatura. Sua obra apresenta uma verdadeira tapeçaria em que se encontram mitos, lendas, provérbios e crenças ancestrais. Para ele, a sabedoria popular não é apenas um elemento ornamental em suas histórias, mas a própria alma de sua escrita. Ele mergulha fundo nas tradições orais de seu povo, nos contos passados de geração em geração, nas crenças que moldam a visão de mundo moçambicana. Ao incorporar esses elementos em suas obras, o autor oferece uma nova perspectiva sobre o passado moçambicano, desvelando as nuances e as contradições de um país marcado por conflitos e transformações.

• Ao trabalhar a atividade 6, é importante destacar que, na obra de Mia Couto, a natureza não representa apenas um cenário, mas um reflexo da alma moçambicana. A rica biodiversidade do país se

reflete na diversidade cultural e linguística de seus habitantes. A fauna e a flora se tornam metáforas para as experiências e as emoções das personagens.

• Ao abordar a atividade 9, é importante destacar que o zoomorfismo e o fitomorfismo são recursos estéticos bastante frequentes no realismo mágico, de que Mia Couto muito se vale em sua obra como um todo. O realismo mágico, de modo bastante sucinto, é um gênero que combina elementos da realidade cotidiana com elementos fantásticos, sobrenaturais ou míticos. A magia e o maravilhoso coexistem com o mundo real de maneira natural e aceita pelas personagens. Em O último voo do flamingo, Mia Couto utiliza os recursos do realismo mágico de modo que a natureza transcende a sua função de cenário e adquire vida própria, interagindo com as personagens de modo quase humano. O autor mistura elementos históricos e sociais com mitos e lendas, criando uma narrativa que se situa entre o real e o imaginário. A guerra civil em Moçambique, por exemplo, é retratada com um tom mítico, em que as personagens enfrentam não apenas inimigos humanos mas também forças sobrenaturais. Talvez apenas o trecho reproduzido no Livro do estudante não dê a devida dimensão da presença do realismo mágico na obra, mas é possível citar, por exemplo, que, na narrativa, o incomum acontece quando soldados da Organização das Nações Unidas (ONU) começam a explodir sem nenhum motivo aparente. Nesse contexto, um investigador europeu chega a Moçambique para analisar o caso e logo se depara com uma realidade que desafia sua lógica: Moçambique pertence ao mundo real, mas parece obedecer a leis diferentes, na medida em que o sobrenatural é plenamente aceito como parte daquela realidade.

• O romance O último voo do flamingo recorre ao realismo mágico para abordar questões como a herança colonial, a guerra civil e a busca por um sentido de pertencimento em uma nação marcada pela fragmentação cultural. A literatura africana em língua portuguesa tem desempenhado o papel de estabelecer um diálogo com as guerras que assolaram as ex-colônias de Portugal, não apenas retratando os conflitos mas também examinando suas consequências sobre as sociedades, as tradições e os indivíduos. Essa literatura é fundamental para a construção da identidade desses países, pois oferece um espaço para a reelaboração de traumas históricos e para o questionamento

de narrativas impostas pelo colonialismo, ao mesmo tempo que valoriza as vozes e experiências locais. Esse movimento também marcou a produção literária dos anos 1980, comprovando a importância que eventos históricos como os que atingiram Moçambique têm no repertório, na memória, na identidade e no imaginário de diversos países africanos. É o que será abordado na seção No fio do tempo (p. 289), no contexto angolano.

Midiateca do professor

• CARNEIRO, Leandro Vidal. Neologismos, expressividade e identidade cultural: o processo de criação de palavras em A varanda do Frangipani, de Mia Couto. Desenredos, Teresina, ano VII, n. 24, p. 1-27, 2015. Disponível em: http://desenredos.com.br/wp-content/uploads/2022/11/24-Artigo-Vidal-MiaCouto. pdf. Acesso em: 25 out. 2024.

Nesse artigo, há um estudo dos mecanismos de formação de palavras empregados por Mia Couto em uma de suas obras. O autor identifica mais de 260 criações lexicais que imprimem novos sentidos ao que é enunciado e contribuem para a configuração da dimensão estética do texto e do estilo do autor.

No fio do tempo – A literatura

africana

lusófona (p. 289)

Estratégias didáticas

• No boxe O X da questão (p. 289), espera-se que os estudantes se lembrem de alguns aspectos do contexto de Portugal no século XX que contribuíram para a desestabilização do país. Episódios cruciais que desestabilizaram o país incluem: a) a participação de Portugal na Primeira Guerra Mundial, conflito que gerou um grande desgaste humano e material, contribuindo para a crise econômica e social que se seguiu; b) o regime autoritário instaurado por António de Oliveira Salazar (1889-1970) em 1933, que reprimiu as liberdades civis, censurou a imprensa e sufocou a oposição política. A ditadura isolou Portugal internacionalmente e gerou um crescente descontentamento popular; c) as lutas pela independência em suas colônias africanas (Angola, Moçambique, Guiné-Bissau), o que desencadeou conflitos prolongados e perdas militares e humanas que minaram o regime de Salazar e aceleraram sua queda; d) a Revolução dos Cravos, que, em 1974, derrubou a ditadura de Salazar e instaurou um

regime democrático. Liderada por um grupo de militares, essa revolução levou à independência das colônias africanas e à redemocratização de Portugal. Em Para discutir, resgate o que os estudantes lembram a respeito da Guerra de Independência de Angola e priorize a reflexão sobre o papel da literatura frente a cenários de conflito dessa dimensão. Espera-se que os estudantes compreendam que a literatura desempenha um papel crucial na compreensão das complexidades históricas, culturais e sociais do continente. Ao explorar temas como colonialismo, independência, conflitos e identidade, a literatura contribui para a construção da memória coletiva, atua em prol da promoção da justiça social e ainda oferece narrativas alternativas que questionam os discursos oficiais e as representações dominantes sobre o conflito.

Pensar e compartilhar (p. 292)

Estratégias didáticas

• Ao desenvolver a atividade 1 , destaque para os estudantes que esse “momento de paralisia” da guerra aparece no trecho de Lugarinho na expressão “guerra congelada” e “como se os dois lados estivessem ganhando”. Essa pausa imaginária pode ser vista no texto de Pepetela pela conversa prolongada entre as personagens, o que indica um momento de arrefecimento das ações bélicas e permite uma reflexão mais profunda sobre os objetivos da luta.

• Na atividade 2, ao trabalhar o item b, ajude os estudantes a compreender que o trecho de Mayombe permite pensar vários aspectos da postura colonialista, entre os quais se pode destacar, além da exploração dos trabalhadores, a usurpação dos recursos naturais de Angola, como a madeira, em benefício exclusivo dos colonizadores, já que os lucros obtidos com a exploração da floresta são direcionados para enriquecer os colonizadores, enquanto a população local vive em condições de pobreza. No item c da atividade 2, explique que os combatentes procuram conscientizar os trabalhadores explorados sobre a natureza da exploração colonial e sobre a necessidade de se unirem à luta pela libertação. Ao destruir acampamentos e equipamentos utilizados na exploração da floresta, os guerrilheiros atacam diretamente o sistema colonial e demonstram a determinação deles em romper com a ordem estabelecida.

• Ao conduzir a atividade 6, é bastante importante colocar em discussão a questão do contradiscurso, tanto no modo como ele aparece na obra como na presença dele no cotidiano atual. Ajude os estudantes a perceber que o contradiscurso revolucionário disseminado por Portugal nas colônias africanas era uma estratégia de propaganda que visava deslegitimar os movimentos de independência e manipular a opinião pública, com o objetivo de evitar que a população das colônias percebesse a verdadeira natureza do colonialismo português. É possível ampliar essa discussão tomando a análise do trecho de Mayombe como mote, a fim de trazer para a reflexão o modo como os contradiscursos, ou narrativas alternativas, circulam atualmente na sociedade brasileira. Ajude os estudantes a perceber que contradiscursos sempre estiveram presentes na sociedade, mas, com a intensificação da comunicação digital e a proliferação de notícias falsas, eles se tornaram ainda mais poderosos e perigosos. No contexto brasileiro atual, observa-se a atuação de diversos contradiscursos que buscam deslegitimar instituições, polarizar a sociedade e manipular a opinião pública, o que acarreta graves consequências, como desinformação, polarização, radicalização de posturas ideológicas, entre outras questões que afetam a sociedade como um todo.

• Ao desenvolver a atividade 8, explique aos estudantes que a “lógica do tribalismo” é um conceito complexo que envolve a identidade étnica, as relações de poder e as disputas por recursos. Essencialmente, ela se refere à tendência de grupos étnicos de se organizar em torno de lealdades tribais, muitas vezes em detrimento de uma identidade nacional unificada. Angola, assim como outros países africanos colonizados, mesmo depois da independência, enfrentou um longo período de guerra civil, em que diferentes facções políticas e militares foram muitas vezes alinhadas com grupos étnicos específicos, exacerbando divisões tribais.

• A pesquisa proposta no boxe Hiperlink (p. 295) tem o objetivo de apresentar os estudantes à poesia lusófona africana, destacando a importância dessa produção literária e os impactos, na literatura, das lutas pela independência, da reconstrução cultural, da ancestralidade e da busca por identidade nos países de língua portuguesa da África. Para isso, organize grupos e sugira a cada um a produção poética de

um escritor ou escritora africano. Os estudantes podem buscar textos em sites como: E-disciplinas da USP (disponível em: https://edisciplinas.usp.br/ pluginfile.php/5807886/mod_resource/content/1/ agostinho%20neto%20poemas.pdf; acesso em: 25 out. 2024); Lusofonia poética (disponível em: https://www. lusofoniapoetica.com/angola/alda-lara/poemas-queeu-escrevi-na-areia-parte1; acesso em: 25 out. 2024); revista Ermira (disponível em: https://ermiracultura. com.br/2017/11/25/cinco-poemas-de-noemiade-sousa/; acesso em: 25 out. 2024); Observatório da Língua Portuguesa (disponível em: https:// observalinguaportuguesa.org/o-poema-primordiala-amilcar-cabral/; acesso em: 25 out. 2024).

Contexto (p. 296)

Estratégias didáticas

• Ao trabalhar a questão proposta no boxe Ler literatura (p. 298), peça a alguns estudantes que citem os contos de fadas de que gostavam e expliquem por quê. Em seguida, pergunte-lhes se eles reconhecem o contexto histórico subjacente ao conto de fadas –nessa fase da escolaridade, não é improvável que eles tenham algum conhecimento desse contexto. Um tema interessante é o da madrasta, presente em muitos contos. Isso acontecia porque na realidade medieval, em que se originou a maioria desses contos, era muito alta a mortalidade de mulheres nos partos em razão da má alimentação. Uma sugestão é explorar o fato de que na sociedade contemporânea a presença das madrastas não se deve mais apenas à morte da mãe mas também à separação de casais e constituição de novas famílias, com filhos provenientes de casamentos diversos. Pergunte-lhes também se já leram paródias de contos de fadas que transpõem as histórias para o mundo contemporâneo. O que essas paródias revelam sobre as diferenças entre o contexto original e o contexto contemporâneo?

Integrando com Sociologia (p. 299)

Estratégias didáticas

• A sequência didática proposta nesta seção tem o objetivo de promover a interdisciplinaridade entre Ciências Humanas, Literatura e Antropologia. Ao relacionar a Literatura com a Antropologia, busca-se

oportunizar aos estudantes o desenvolvimento da capacidade de analisar criticamente textos literários, identificando os elementos culturais e sociais presentes nas narrativas, bem como incentivar a reflexão sobre temas como gênero, poder, identidade e tradição, com base em uma perspectiva intercultural, tendo a literatura como ponto de partida.

Existir, resistir, reexistir: literatura em Portugal (p. 300)

Estratégias didáticas

• O objetivo desta seção é oferecer uma visão panorâmica, ainda que breve, da literatura portuguesa desde o pós-guerra até a contemporaneidade, destacando a importância da literatura como um reflexo das transformações sociais e políticas do país, com a menção a principais autores e obras que marcaram diferentes períodos e que, atualmente, se constituem nas mais importantes vozes da prosa portuguesa, que abarca uma diversidade de estilos e temas. O livro O filho de mil homens (2006), de Valter Hugo Mãe (1971-), é uma narrativa poética e comovente sobre a busca por amor, pertencimento e identidade. A história gira em torno de Crisóstomo, um pescador solitário que deseja um filho, e Camilo, um jovem órfão que se torna o centro de sua vida. Por meio de uma prosa rica em metáforas e simbolismos, o autor explora temas universais como a solidão, a família, o preconceito e a esperança. A obra se destaca pela construção de personagens complexas e pela habilidade de Mãe em criar uma atmosfera emocional intensa. Assim como outras obras do autor, essa é uma leitura que convida à reflexão sobre as relações humanas e o significado da vida. A busca por um filho se transforma em uma metáfora para a busca de cada um por um lugar no mundo.

lEITURA: AUTOBIOGRAFIA E BIOGRAFIA

Eu, personagem (p. 302)

Estratégias didáticas

• O objetivo desta seção é promover a reflexão crítica sobre a luta por direitos humanos, a importância da

memória histórica e o papel do indivíduo na transformação social. Ao analisar a vida e a luta de Nelson Mandela (1918-2013), os estudantes podem compreender melhor o contexto histórico da África do Sul, as raízes do racismo e da desigualdade social, e como esses problemas persistem até os dias atuais em diversas partes do mundo. Essa compreensão é essencial para construir um futuro mais justo e equitativo. A história de Mandela é uma fonte de inspiração para pessoas de todas as origens. Ao se conectar com a luta de Mandela, os estudantes podem fortalecer a própria identidade e se sentir parte de uma comunidade global que busca a justiça e a igualdade.

Pensar e compartilhar (p. 304)

Estratégias didáticas

• Apr oveite a atividade 6 para discutir com os estudantes o que é ser politizado e como isso se relaciona com o posicionamento político partidário. Espera-se que os estudantes compreendam que ser politizado vai além de se identificar com um partido político. Ser politizado significa estar engajado com a vida pública, compreendendo as dinâmicas de poder e as questões que moldam a sociedade. Isso envolve não apenas votar ou defender uma dada ideologia política mas também buscar informação, formar opiniões próprias e participar ativamente de debates e ações que promovam o bem comum. Portanto, ser politizado é um ato de cidadania que permite influenciar decisões que impactam diretamente a vida em sociedade e o futuro do país, construindo assim uma sociedade mais justa e democrática.

• Ao trabalhar a atividade 11, é importante destacar que, na autobiografia, pelo fato de o autor recorrer principalmente às suas memórias para registrar os fatos narrados, a veracidade desses fatos pode ser questionada, pois as memórias são frequentemente moldadas pela passagem do tempo e pelas emoções, podendo apresentar lacunas, distorções ou até mesmo invenções. Vale a pena observar, ainda, que a autoficção é um gênero literário que tem ganhado cada vez mais destaque nos últimos anos. Ela combina elementos da autobiografia e da ficção para criar um texto que se baseia em fatos da vida do autor, mas que também utiliza recursos literários para construir uma narrativa mais complexa e subjetiva.

ANAlISE lINGUISTICA

Processos de formação de palavras: derivação e composição (p. 307)

Pensar e compartilhar (p. 308)

Estratégias didáticas

• Ao trabalhar a atividade 1, comente com a turma que a incorporação de estrangeirismos é um fenômeno comum em todas as línguas e reflete a influência cultural e tecnológica de outras sociedades. Aproveite a oportunidade para discutir o que eles pensam sobre as implicações do uso excessivo de estrangeirismos e se usá-los compromete ou não a preservação da língua materna.

Astúcias da língua (p. 310)

Estratégias didáticas

• Nesta seção, os estudantes terão a oportunidade de analisar como a escolha de campos semânticos influencia a maneira de compreender e interpretar um tema. Os textos que compõem a seção foram escolhidos para mostrar a exploração de diferentes campos semânticos, como o da medicina, da guerra e dos negócios, na construção de metáforas e analogias que visam a tornar mais claras e impactantes as ideias apresentadas.

#NOSNAPRATICA

Videocurrículo (p. 313)

Estratégias didáticas

• A produção proposta tem o objetivo central de desenvolver nos estudantes habilidades essenciais para o mercado de trabalho, como comunicação eficaz, criatividade e adaptabilidade às novas tecnologias. Por meio da criação de um videocurrículo no formato reel, os estudantes aprendem a construir uma marca pessoal impactante, a dominar ferramentas digitais e a se expressar de forma clara e concisa. Além disso, a atividade estimula a reflexão sobre a própria identidade profissional e prepara os estudantes para os desafios de um mercado cada vez mais competitivo e digital.

Transcrições dos podcasts do 3o ano

O trabalho do jornalista

[Som de teclas sendo digitadas]

Para se informar, você pode ler ou ouvir notícias, reportagens, textos opinativos, assistir a telejornais ou acessar um canal jornalístico na internet, mas você já refletiu sobre como é o ofício dos jornalistas?

Como é o cotidiano desses profissionais nos meios de comunicação? Quais são os critérios usados por eles para apresentar informações ao público?

Que tal conferir o trecho de uma entrevista com Otto Vale, editor-chefe de um portal de notícias sobre esse assunto?

[Áudio extraído de entrevista em vídeo]

“A gente segue princípios básicos do jornalismo, que são o da checagem exaustiva dos fatos e das fontes também, né. A gente sempre – independentemente do assunto, seja ele um assunto de cotidiano, que vem, por exemplo, um acontecimento da cidade, um acidente automobilístico, ou algum evento, um crime ou até mesmo uma sessão no Senado, uma denúncia que seja de política –, a gente tem a questão de checar o fato com todos os personagens envolvidos, o máximo possível, pelo menos.”

Essa entrevista foi concedida ao Jornal da Justiça no ano de 2022 para uma reportagem especial no dia 7 de abril, data em que se comemora o Dia do Jornalista. Nessa reportagem, também foi entrevistado outro profissional da área, o repórter Renato Souza. Vamos acompanhar o que ele tem a dizer sobre o chamado “furo” jornalístico e sobre as fake news

[Áudio extraído de entrevista em vídeo]

“O furo jornalístico, ele repercute na sociedade. O jornalista vai em busca dele porque o trabalho dele vai repercutir, vai ter maior impacto na sociedade. Mas a notícia falsa, a fake news, a informação errada, ela tem um impacto prejudicial muito grande. Então, é importante que a gente tenha responsabilidade, claro, no nosso trabalho, somos profissionais, e que a gente evite ao máximo o risco de publicar uma informação errada.”

Portanto, a circulação de notícias falsas, como apresentou o repórter, é prejudicial para a sociedade, e esse fenômeno não é algo recente. Segundo o historiador francês Paul Veyne, desde a Antiguidade as sociedades convivem com a disseminação desse tipo de notícia.

Sabendo disso, você consegue pensar nas motivações que levam as pessoas a compartilhar notícias falsas, quem as produz etc.?

O meio em que ocorre o maior fluxo e a maior disseminação de desinformações ou fake news é o digital.

Uma pessoa contrária à vacinação, por exemplo, pode produzir um texto que imita uma notícia, mas sem embasamento científico, descredibilizando a importância das vacinas. Se essa mesma pessoa, em suas redes e mídias sociais, viraliza esse texto, ele poderá chegar até você, seus amigos e familiares.

Segundo uma pesquisa realizada nos Estados Unidos pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), as fake news se espalham com maior velocidade, cerca de 70% mais rapidamente que as notícias verdadeiras.

Mas por que as fake news encontram tantos adeptos em meio a um acesso tão grande à informação?

A resposta, segundo essa mesma pesquisa, é que as notícias falsas são construídas por ideias “fantásticas”, mas que se conectam com a realidade ao agregar fatos comprováveis. Elas são criadas com o intuito de confirmar crenças e visões de mundo que não têm base na razão ou em evidências.

Então, qual é o papel do jornalista nesse contexto?

[Áudio extraído de vídeo]

“Fato ou fake. Se aconteceu é fato. Se é mentira, é fake. Só que hoje em dia é muito difícil separar o fato do fake. Saber se é inventado ou se aconteceu mesmo. É para isso que serve o jornalismo: para conferir pra você.”

O jornalista, em seu ofício, investiga, apura, esclarece e contextualiza as informações e os assuntos de suas matérias e reportagens.

Acompanhe o que alguns desses profissionais têm a dizer sobre isso.

[Áudio extraído de vídeo]

“A imprensa profissional não trabalha com ‘ouvi falar’, ‘ouvi dizer’. Nós temos mecanismos para evitar a falsa informação. A gente tem uma equipe especializada em checar, em apurar... Não existe notícia mais importante ou menos importante do ponto de vista da checagem.”

“(Essa fonte é oficial?) Jornalismo de credibilidade, jornalismo sério, esse é o jornalismo que significa também um combate permanente às fake news. (Não é esse cara, não.) (Checa pra mim.) A notícia, antes de chegar para você, ela é checada. Ela passa pelo crivo de inúmeros profissionais que, independente do que eles pensam, eles têm que chancelar se aquilo é verdade ou não.”

As falas desses profissionais ilustram parte do trabalho realizado pelos jornalistas. Podemos perceber que os desafios enfrentados por eles são muitos, sobretudo em um mundo cada vez mais conectado e em que as informações circulam em uma velocidade sem precedentes.

Garantir e comprovar a veracidade dos fatos é fundamental ao combate à desinformação.

Então, podemos dizer que o trabalho do jornalista é de grande importância para a sociedade, pois contribui para nos atualizar e fornecer informações cruciais

que nos permitem refletir, de modo consciente e crítico, sobre a realidade em que vivemos.

[Som de teclas sendo digitadas]

Créditos

A matéria “Hoje é comemorado o Dia do Jornalista”, veiculada em 7 de abril de 2022, está disponível no canal Rádio e TV Justiça. A campanha “Fato ou fake” e o vídeo “Mecanismos para evitar a falsa informação!” estão disponíveis no canal TV Globo. A “Campanha da Band contra fake news”, veiculada em 16 de maio de 2023, está disponível no canal Band Jornalismo. Todos os canais citados são do YouTube, e todos os áudios usados neste podcast são da Freesound.

Referências bibliográficas

ALTARES, Guillermo. A longa história das notícias falsas. El País, Madri, 18 jun. 2018. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/06/08/cultura/ 1528467298_389944.html. Acesso em: 28 ago. 2024. CAMPANHA da Band contra fake news. [S. l.: s. n.], 2023. 1 vídeo (2 min). Publicado pelo canal Band Jornalismo. Disponível em: https://youtu.be/qRg-lhbfe Wc?si=c79SapYRU5bfZPkV. Acesso em: 28 ago. 2024. FATO ou fake. [S. l.: s. n.], 2018. 1 vídeo (1 min). Publicado pelo canal TV Globo. Disponível em: https://youtu.be/ dkpj6bJjAjU?si=2mU4pn6SJffl_VLk. Acesso em: 28 ago. 2024.

JEDUCA. O papel do jornalismo no enfrentamento da desinformação. [São Paulo]: Jeduca, 16 ago. 2022. Disponível em: https://jeduca.org.br/noticia/o-papeldo-jornalismo-no-enfrentamento-da-desinformacao. Acesso em: 28 ago. 2024.

JJ1 – HOJE é comemorado o Dia do Jornalista. Brasília, DF: [s. n.], 2022. 1 vídeo (4 min). Publicado pelo canal Rádio e TV Justiça. Disponível em: https://www. youtube.com/watch?v=PPQyYrNhTDU. Acesso em: 28 ago. 2024.

LEITE, Ana Cláudia. Fake news em tempos de pós-verdade: uma introdução. Caderno da Escola Superior de Gestão Pública, Política, Jurídica e Segurança, Curitiba, v. 3, n. 1, p. 70-91, jan./jun. 2020. Disponível em: https://bibliotecadigital.tse.jus.br/xmlui/bitstream/ handle/bdtse/7619/2020_leite_fake_news_tempos. pdf. Acesso em: 28 ago. 2024. MECANISMOS para evitar a falsa informação! [S. l.: s. n.], 2022. 1 vídeo (1 min). Publicado pelo canal TV Globo. Disponível em: https://youtu.be/WMc2SXhb_ DQ?si=Kk7Xr6J6dv_XkItD. Acesso em: 28 ago. 2024.

Nuvem Cigana

[Música de transição]

Em meados dos anos 1970, enquanto o Brasil vivia a fase mais repressiva da ditadura militar, um grupo de jovens do Rio de Janeiro decidiu fazer um novo tipo de poesia.

Por meio de uma estética marcada por humor, irreverência, experimentalismo e uma abordagem lírica e criativa, eles buscavam romper com as formas tradicionais de fazer e apresentar poesia, levando-a para as ruas e para o cotidiano das pessoas. Até hoje, eles são lembrados como um símbolo artístico-literário da contracultura dos anos 1970.

Vamos descobrir como esse grupo foi criado e como essa forma de manifestação artística se articula com o contexto social do Brasil daquela época.

[Trecho de música cantada: música popular brasileira (MPB)]

“Se você quiser, eu danço com você, meu nome é nuvem, ventania…”

Eram tempos difíceis, e o Brasil tinha sofrido um golpe civil-militar em 1964. Estudantes, artistas e intelectuais se mobilizavam politicamente, e movimentos armados lutavam contra a ditadura no campo e nas cidades. Diante dessa tensão, o regime emitiu, por meio de decreto, o ato institucional no 5, que resultou no fechamento do Congresso Nacional e na censura prévia da imprensa e de produções artísticas. Até pequenas reuniões de cidadãos comuns eram vistas com desconfiança pela polícia e pelo Exército.

Os jovens artistas do coletivo Nuvem Cigana não pretendiam pegar em armas para combater a ditadura. Eles queriam resistir à repressão do período por meio da arte independente.

Tudo começou com a música “Nuvem cigana”, composta por Lô Borges e Ronaldo Bastos, para o disco Clube da esquina, de Milton Nascimento, lançado em 1972.

Ronaldo Bastos convida Cafi, o fotógrafo que fez a capa do disco Clube da esquina, para trabalharem juntos. Os dois passam a assinar a autoria de produções artísticas com o nome da canção. Um dia, refletindo sobre a expansão característica das nuvens, decidem montar uma empresa que pudesse produzir e promover outros artistas. Juntam-se a eles Dionísio Oliveira, Pedro Cascardo, Lúcia Lobo e Ronaldo Santos.

Então, a Nuvem Cigana passa a existir como grupo mais organizado, criativo e colaborativo, com atividades que envolviam desde artes gráficas, fotografia e edição de livros até festas no casarão em que eles viviam, além de partidas de “peladas” no Caxinguelê, bairro do Rio de Janeiro.

Não demorou para que chegassem os “poetas de Copacabana”, Charles Peixoto e Ricardo Chacal, e integrassem o coletivo. A reunião desses jovens artistas plurais, com criatividade pulsante e inconformados com o governo autoritário vigente, deu origem a um movimento que mudou o cenário artístico-literário da época.

[Música de transição]

O grupo ficou conhecido por suas Artimanhas –como passaram a ser chamadas as performances que

apresentavam em espaços públicos. As Artimanhas eram uma espécie de sarau que combinava declamação de poesia, música, teatro e muito improviso.

Elas ganharam importância tanto pela originalidade da combinação de gêneros artísticos nas apresentações quanto pelo que representavam naquele contexto de censura e violência policial.

A poesia dos jovens poetas do coletivo Nuvem Cigana ganhou destaque no meio literário, em razão da informalidade e da linguagem coloquial e espontânea empregadas na construção de poemas curtos que celebravam a beleza, a alegria de viver e a liberdade.

Essa nova forma de fazer poesia atraiu o interesse de muitos jovens, que passaram a acompanhar as manifestações artísticas. Os poemas começaram a ser escritos com o objetivo de serem falados, encenados ou cantados.

Vale dizer que esse modo popular de fazer e apresentar poesia começou nos Estados Unidos, na década de 1950, com um movimento literário-cultural que se tornou um fenômeno por lá: o beat.

O escritor Allen Ginsberg, um dos principais expoentes do movimento, fazia participações públicas em eventos de rock, declamando sua poesia. Ele levou o movimento para Londres, e Chacal teve seu primeiro contato com a novidade quando ainda morava lá, trazendo a ideia para o Rio de Janeiro.

[Música de transição]

O grupo atuou em outra frente importante para a época: a de publicação independente de livros, símbolo de resistência e insubmissão às grandes editoras.

As poesias eram reproduzidas com a utilização de mimeógrafos, impressas em formato de cartazes e panfletos, e os autores as vendiam e distribuíam pessoalmente aos leitores. O coletivo também foi responsável pela publicação da revista Almanaque Biotônico Vitalidade, que ajudou a divulgar o trabalho de diversos poetas da época.

Por causa do surgimento dos jovens poetas e da popularização da poesia declamada nas ruas, da escrita alternativa, das publicações independentes e das vendas diretas, eles ficaram conhecidos como a “geração do mimeógrafo” e chamados de “poetas marginais”, o que foi entendido por alguns como uma tentativa de criminalização do movimento.

Mesmo não aderindo às armas ou às mobilizações populares organizadas contra a ditadura, o coletivo Nuvem Cigana encontrou a própria forma de protestar, de resistir e de se opor ao Estado.

Apesar de ter durado não mais do que dez anos, a relevância histórica do Nuvem Cigana se estende até hoje, principalmente pelo modo como contribuiu para o surgimento de novas expressões culturais no Brasil, como o movimento do teatro besteirol e o grupo

Asdrúbal Trouxe o Trombone.

[Música de transição]

Créditos

A música “Nuvem cigana”, de Lô Borges e Ronaldo Bastos, foi lançada em 1972, no disco Clube da esquina, do cantor e compositor Milton Nascimento. “Arm Wrestler” está na Biblioteca de Áudio do YouTube.

Referências bibliográficas

AS INCRÍVEIS artimanhas da Nuvem Cigana. Direção: Julia Moraes e Raphaela Vieira. Brasil: Uh Tererê Diversão e Arte, 2016. Streaming (80 min). Disponível em: https://canalcurta.tv.br/filme/?name=asincriveis_ artimanhas_da_nuvem_cigana. Acesso em: 28 ago. 2024. CRAVEIRO, Pedro. Vivendo de hora em hora: sobre a geração mimeógrafo brasileira & a Nuvem Cigana. eLyra: Revista da Rede Internacional Lyracompoetics, Porto, Portugal, n. 11, p. 129-144, jun. 2018. Disponível em: www.elyra.org/index.php/elyra/article/view/236. Acesso em: 28 ago. 2024.

LÔ BORGES: Nuvem cigana. [S. l.: s. n.], 2013. 1 vídeo (3 min). Publicado pelo canal Milton Nascimento. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=PxIi6FNDpvo. Acesso em: 28 ago. 2024.

NUVEM Cigana vira história. O Tempo, Contagem, 4 set. 2007. Disponível em: www.otempo.com.br/ entretenimento/magazine/nuvem-cigana-virahistoria-1.616536. Acesso em: 28 ago. 2024.

A IA e o mercado de trabalho

[Música de transição]

Pedir uma refeição, chamar um motorista, saber como chegar a algum lugar, resolver problemas sem precisar ir ao banco, assistir a um filme em casa ou a vídeos curtos e sair levando apenas o aparelho celular são exemplos de como a tecnologia transformou a maneira como vivemos.

É claro que ainda há quem não utilize aplicativos, mas é impossível negar o quanto a tecnologia tem facilitado nossa vida.

Nos últimos anos, a inovação tecnológica foi aperfeiçoada com o uso da inteligência artificial, que aprimorou e personalizou a entrega de serviços a cada usuário.

A inteligência artificial é tão eficiente que “aprende” as nossas preferências e sugere recomendações, otimiza rotas, molda o conteúdo que acessamos, entre outras coisas.

Mas não foi apenas no uso pessoal que a IA modificou a vida humana.

[Música de transição]

Do ponto de vista empresarial, a tecnologia se tornou uma ferramenta importante, principalmente aquela associada à IA. Ela ajuda na otimização dos processos, aprimora o desempenho, auxilia na prevenção de perdas, gerencia estoques e muitas outras atividades que levavam tempo e dinheiro para serem feitas.

Já deu para perceber que a IA está em quase todos os lugares em que há tecnologia envolvida, né?

Uma boa definição de inteligência artificial é a capacidade que possibilita às máquinas reproduzir competências semelhantes às humanas, como aprender, analisar, criar, ler e escrever.

[Música de transição]

Em paralelo com todos os benefícios que a IA oferece, ela também tem causado incertezas com relação ao mercado de trabalho. A mais comum é: será que vou perder o meu emprego?

Com a automação de algumas áreas, postos de trabalho que eram ocupados por humanos podem deixar de existir à medida que a IA se desenvolve. Ao mesmo tempo, oportunidades que requerem capacidades humanas, como a empatia e o senso crítico e criativo, podem ser valorizadas.

Outra incerteza que surgiu com a atuação da IA no mercado de trabalho é a necessidade de proteção dos direitos trabalhistas.

Hoje, muitos profissionais prestam serviços por meio de plataformas digitais, ou seja, dependem delas para executar atividades de trabalho. Um exemplo são os entregadores e os motoristas de aplicativo. O nome disso é plataformização do trabalho.

[Música de transição]

A relação entre as empresas de plataformas digitais e os trabalhadores que delas dependem apresenta prós e contras.

A flexibilidade de horário, por exemplo, pode ser uma vantagem para quem estuda ou deseja uma atividade para complementação de renda. Isso porque esse tipo de trabalho não exige o cumprimento de uma jornada fixa, como a regulada pelas leis trabalhistas.

Em contrapartida, quem trabalha por meio de plataformas digitais não tem as garantias trabalhistas daqueles que têm carteira de trabalho assinada, como férias remuneradas, décimo terceiro salário, vale-refeição e seguro-desemprego.

A situação piora ainda mais caso o trabalhador sofra um acidente durante a jornada de trabalho. É ele quem terá de arcar com as despesas, incluindo aquelas para tentar recuperar a saúde. Além disso, enquanto estiver impossibilitado de trabalhar, não receberá remuneração da plataforma.

[Música de transição]

A plataformização do trabalho revela um quadro preocupante no Brasil: o alto índice de informalidade. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, o país tinha, em 2023, cerca de dois milhões de trabalhadores disponíveis em plataformas digitais. Desses, 77,1% alegavam trabalhar por conta própria, ou seja, sem a carteira de trabalho assinada, enquanto aqueles com carteira assinada eram apenas 5,9%.

A pesquisa revela que a maioria dos trabalhadores por aplicativo tem essa função como única fonte de renda e trabalha de maneira informal.

[Música de transição]

As inovações vieram para ficar. O desafio é melhorar as condições de emprego do trabalhador, seja por meio da adaptação da legislação trabalhista para abarcar as mudanças que a IA tem proporcionado, seja por meio da requalificação profissional visando tirar o trabalhador da informalidade.

O importante é que as pessoas consigam exercer suas atividades em uma jornada de trabalho justa, com salário compatível à realidade local e condições adequadas e seguras.

[Música de transição]

Créditos

Todos os áudios inseridos neste conteúdo são da Freesound.

Referências bibliográficas

ABÍLIO, Ludmila Costhek; AMORIM, Henrique; GROHMANN, Rafael. Uberização e plataformização do trabalho no Brasil: conceitos, processos e formas. Sociologias, Porto Alegre, ano 23, n. 57, p. 26-56, maio/ago. 2021. Disponível em: www.scielo.br/j/ soc/a/XDh9FZw9Bcy5GkYGzngPxwB/. Acesso em: 28 ago. 2024.

BRASIL, Cristina Índio do. IBGE: país tem 2,1 milhões de trabalhadores de plataformas digitais. Agência Brasil, Rio de Janeiro, 25 out. 2023. Disponível em: https:// agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2023-10/ ibge-pais-tem-21-milhoes-de-trabalhadores-deplataformas-digitais. Acesso em: 28 ago. 2024. JUSBRASIL. Os impactos da inteligência artificial no mercado de trabalho: desafios e perspectivas. Salvador: Jusbrasil, 2023. Disponível em: www. jusbrasil.com.br/artigos/os-impactos-da-inteligenciaartificial-no-mercado-de-trabalho-desafios-eperspectivas/1884338546. Acesso em: 28 ago. 2024.

PARLAMENTO EUROPEU. O que é a inteligência artificial e como funciona? Estrasburgo: Parlamento Europeu. Disponível em: www.europarl.europa.eu/ topics/pt/article/20200827STO85804/o-que-e-ainteligencia-artificial-e-como-funciona. Acesso em: 28 ago. 2024.

SANTOS, Rebeka Francis. Uberização e a plataformização do trabalho. Reverso, Cachoeira, 31 out. 2023. Disponível em: https://www2.ufrb.edu.br/ reverso/uberiz. Acesso em: 28 ago. 2024.

Referências bibliográficas comentadas

• BAGNO, Marcos. Gramática pedagógica do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2011. Nessa obra, o linguista apresenta uma gramática que tem como cerne os usos da língua e propõe, com base nisso, discussões relevantes, que apoiam a reflexão e a prática docentes.

• BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Tradução: Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

Nessa obra, entre os conceitos que compõem a teoria dialógica, é apresentado o conceito de gênero do discurso.

• BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução: Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. 11. ed. São Paulo: Hucitec, 2004.

A obra desenvolve o conceito de signo ideológico, capital na formulação da teoria dialógica.

• BAKHTIN, Mikhail. Para uma filosofia do ato responsável. Tradução: Valdemir Miotello e Carlos Alberto Faraco. São Carlos: João e Pedro Editores, 2010.

A obra apresenta as bases filosóficas da teoria dialógica, com destaque para a arquitetônica bakhtiniana.

• BARBOSA, Márcio; RIBEIRO, Esmeralda (org.). Cadernos Negros. São Paulo: Quilombhoje, 1978-.

A série Cadernos Negros publica anualmente, desde 1978, contos e poemas de autores brasileiros negros em forma de antologia: de poemas, nos números ímpares, e de contos, nos números pares. Assim, busca abrir espaço para novos escritores, além de conquistar novos leitores.

• BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Tradução: Carlos Alberto de Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. O autor trata da questão da identidade no contexto do multiculturalismo, com base no pressuposto de sua teoria do mundo e da modernidade líquidos.

• BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 39. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019. Gramática que traz um panorama da história da língua e trata de fonética e fonologia, estrutura de palavras, morfologia, sintaxe, noções de versificação e de estilística e que pode apoiar os estudos da norma-padrão pelos estudantes.

• BENVENISTE, Émile. Problemas de linguística geral I. Tradução: Maria da Glória Novak e Maria Luisa Neri. Campinas: Pontes, 2005.

• BENVENISTE, Émile. Problemas de linguística geral II. Tradução: Eduardo Guimarães et al. Campinas: Pontes, 2006.

Nessas obras, o teórico estruturalista Benveniste constrói a teoria geral da enunciação e abre caminho para a plena compreensão de possibilidades da análise discursiva.

• BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 2015.

O emérito professor Alfredo Bosi traça um painel ao mesmo tempo denso e sintético da literatura brasileira desde o período colonial até a contemporaneidade. Referência fundamental para estudantes e professores.

• BOTTON, Alain de. Notícias: manual do usuário. Tradução: Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2015.

Nessa obra, o filósofo Alain de Botton apresenta uma reflexão sobre o impacto social do campo jornalístico e midiático discutindo os efeitos do sensacionalismo, das celebridades e das punições e o quanto podemos criar estratégias para minimizar a influência negativa e pouco ética dessas estratégias.

• BRAIT, Beth (org.). Bakhtin: conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2005.

• BRAIT, Beth (org.). Bakhtin: outros conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2010.

Organizados pela professora Beth Brait, ambos os livros apresentam conceitos estruturantes da

teoria de Bakhtin e o Círculo em uma linguagem acessível, que pode amparar a leitura das obras originais do teórico russo.

• BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília, DF: MEC, 2018. Disponível em: https://www.gov.br/ mec/pt-br/escola-em-tempo-integral/BNCC_EI_ EF_110518_versaofinal.pdf. Acesso em: 2 out. 2024.

Documento que apresenta as bases do desenvolvimento do projeto pedagógico escolar em todos os segmentos da Educação Básica.

• BRASIL. Senado Federal. LDB: lei de diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF: Senado Federal: Coordenação de Edições Técnicas, 2017. Disponível em: http://www2.senado.leg.br/bdsf/ handle/id/529732. Acesso em: 2 out. 2024. Documento com o texto da LDB, de 1996, atualizado em 2017.

• CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 9. ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 2000.

Nessa obra fundamental e de referência para estudiosos, o autor analisa a produção literária brasileira, do Arcadismo até o Romantismo.

• CRARY, Jonathan. Terra arrasada: além da era digital, rumo a um mundo pós-capitalista. Tradução: Joaquim Toledo Jr. São Paulo: Ubu, 2023. O autor faz uma crítica contundente à sociedade contemporânea, abordando os impactos negativos do capitalismo digital e a deterioração das relações humanas e do meio ambiente.

• CUNHA, Celso; CINTRA, Luís Filipe Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de Janeiro: Lexikon, 2016. Gramática descritivo-normativa que pode apoiar os estudantes nos estudos da norma-padrão. Ela traz um panorama da história da língua e trata de fonética e fonologia, estrutura de palavras, morfologia, sintaxe, noções de versificação e de figuras de linguagem.

• DAYRELL, Juarez. A escola “faz” as juventudes?: reflexões em torno da socialização juvenil. Educação e Sociedade, Campinas, v. 28, n. 100, p.1105-1128, out. 2007. Disponível em: www. scielo.br/pdf/es/v28n100/a2228100.pdf. Acesso em: 2 out. 2024.

O texto discute as relações entre juventude e escola, indagando sobre o lugar que esta ocupa na socialização da juventude contemporânea, em especial dos jovens das camadas populares.

• DAYRELL, Juarez; JESUS, Rodrigo Ednilson de. Juventude, Ensino Médio e os processos de exclusão escolar. Educação e Sociedade, Campinas, v.37, n. 135, p. 407-423, abr./jun. 2016. Disponível em: www.scielo.br/j/es/a/vDyjXnzDW z5VsFKFzVytpMp/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 24 set. 2024.

O artigo reflete sobre os processos de exclusão escolar vivenciados por jovens adolescentes no Brasil.

• DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Tradução: Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.

A expressão “sociedade do espetáculo” refere-se ao poder das imagens na sociedade contemporânea. O autor associa as relações sociais de produção e consumo: o acúmulo de imagens relaciona-se ao acúmulo de capital e tem no marketing ferramenta fundamental para a mercantilização de produtos, de ideias, de cultura.

• DUNKER, Christian Reinvenção da intimidade: políticas do sofrimento cotidiano. São Paulo: Ubu, 2017.

Apoiado em atitudes contemporâneas cotidianas, como disposição a ficar permanentemente conectado e dificuldade para construir situações de real solidão ou intimidade, o autor analisa o sofrimento que, embora vivido no sujeito, está submetido às escolhas de cada um na partilha de afetos.

• FARACO, Carlos Alberto. Linguagem & diálogo: as ideias linguísticas do círculo de Bakhtin. São Paulo: Parábola, 2009.

Nessas obras, didaticamente organizadas, estudiosos de Bakhtin e o Círculo comentam e explicam os principais conceitos que estruturam a teoria dialógica.

• FIORIN, José Luiz. As astúcias da enunciação: as categorias de pessoa, espaço e tempo. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2016.

Essa obra aborda alguns dos aspectos essenciais da enunciação, como as categorias de tempo, espaço e pessoa.

• HALL, Stuart. A identidade na cultura da pós-modernidade. Tradução: Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. 12. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2019.

Em um mundo considerado líquido, em que “tudo que é sólido” pode se desmanchar no ar, a identidade não tem mais nada de imutável. Esse livro discute três conceitos de identidade: o da sociedade iluminista, o da sociedade moderna e o da sociedade pós-moderna.

• HAN, Byung-Chul. No enxame: perspectivas do digital. Tradução: Lucas Machado. Petrópolis: Vozes, 2018.

O filósofo nos apresenta como o digital é responsável por transformar e determinar comportamentos, percepções, sensações e pensamentos. A espetacularização e a massificação de opiniões criam um comportamento de enxame nas redes sociais, que é responsável pela construção de identidades e superficialidades de conhecimento e opiniões.

• HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Tradução: Enio Paulo Giachini. Petrópolis: Vozes, 2015. Han define a sociedade do cansaço como a do sujeito do desempenho e da produção: explorado e explorador ao mesmo tempo, agressor e vítima de si mesmo, lança-se a um trabalho que o individualiza e isola.

• KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1990. Essa obra se detém em explicar a construção dos processos de coesão textual, com base em um referencial da Linguística Estruturalista.

• KOCH, Ingedore Villaça. Argumentação e linguagem. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

A obra explora as possibilidades de construção de estratégias e de procedimentos argumentativos.

• KOCH, Ingedore Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 1990. Essa obra explica a construção dos processos de coerência textual, com base em um referencial da Linguística Estruturalista.

• MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução: Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. 11. ed. São Paulo: Cortez: Unesco, 2006.

Nessa obra, o filósofo e sociólogo francês opina sobre o que se deveria aprender para enfrentar os desafios da educação do século XXI. Ao falar sobre a necessidade de aprender a enfrentar as incertezas, a ética do gênero humano, a identidade terrena, entre outros tópicos, Morin alerta para as grandes questões que podem ajudar a refletir sobre o mundo e a construir novos posicionamentos.

• NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. São Paulo: Ed. Unesp, 2000. Essa gramática observa as regularidades da língua em uso. Para isso, adota uma organização que propicia um tratamento cujo principal objetivo é observar a língua em funcionamento, as normas de uso e suas possibilidades e restrições.

• SAFATLE, Vladimir. Circuito dos afetos: corpos políticos, desamparo, fim do indivíduo. 2. ed. rev. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.

O filósofo e psicanalista associa a transformação social e política à mudança do que ele chama circuito de afetos, os quais produzem corpos políticos, individuais e coletivos.

• TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino da gramática no 1o e 2o graus. São Paulo: Cortez, 1997.

Essa obra apresenta uma proposta de ensino de gramática que parte do questionamento da necessidade desse conhecimento na escola e se preocupa em articular esse conhecimento da língua com a produção de texto.

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