Degustação - A morada de cada um

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A morada de cada um

ILUSTRAÇÕES Méuri Elle

A morada de cada um

Copyright © Ricardo Mariz, 2025

Copyright © Méuri Elle, 2025

Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Todos os direitos reservados à EDITORA FTD.

Rua Rui Barbosa, 156 – Bela Vista – São Paulo – SP

CEP 01326-010 – Tel. 0800 772 2300 www.ftd.com.br central.relacionamento@ftd.com.br

diretor-geral Ricardo Tavares de Oliveira diretora de conteúdo e performance educacional Cintia Cristina Bagatin Lapa gerente editorial Isabel Lopes Coelho

editor Estevão Azevedo

editora-assistente Carla Bettelli

assistente editorial Cauê Zuchi analista de relações internacionais Tassia R. S. de Oliveira coordenador de produção editorial Leandro Hiroshi Kanno preparadora Lívia Perran

revisoras Marina Nogueira e Kandy Saraiva editoras de arte Alline Bullara e Camila Catto projeto gráfico e diagramação Desenho Editorial diretor de operações e produção gráfica Reginaldo Soares Damasceno

RICARDO MARIZ nasceu no Planalto Central, em Brasília (DF). É doutor em Sociologia, mestre em Educação e pedagogo, com mais de sessenta publicações, entre livros, artigos científicos e ensaios sobre educação.

MÉURI ELLE nasceu em 1993, em Campo Grande, e atualmente vive em São Paulo. É formada em Design pelo Istituto Europeo di Design (IED), na capital paulista, e atua como designer e ilustradora.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Mariz, Ricardo A morada de cada um / Ricardo Mariz; ilustrações Méuri Elle. — 1. ed. — São Paulo: FTD, 2025.

ISBN 978-85-96-05347-1

1. Literatura infantojuvenil I. Elle, Méuri. II. Título.

25-273892

Índices para catálogo sistemático:

1. Literatura infantojuvenil 028.5

2. Literatura juvenil 028.5

Cibele Maria Dias – Bibliotecária – CRB-8/9427

CDD-028.5

A morada de cada um

ILUSTRAÇÕES

Méuri Elle

Apresentação

Querida leitora, querido leitor, Livros são caminhos a serem percorridos. Amigos que nos acompanham, que conversam com a gente e nos aconselham. Mensageiros que nos abrem os olhos. Acima de tudo, são alimento para a alma.

Algumas histórias apresentam ainda algo a mais, o que as torna particularmente especiais. É o caso dos livros da Campanha da Fraternidade, como este que você tem em mãos. Isso porque eles trazem um diferencial: além de ensinar, divertir, fazer sonhar, esses livros nos ajudam a refletir sobre temas muito pertinentes à realidade brasileira e à vida no planeta. Escolhidos a dedo pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), tais temas têm o objetivo de buscar uma sociedade mais justa, mais fraterna e solidária, mais humana, menos egoísta e individualista, visando a um mundo melhor para todos.

Assim, os livros da Campanha da Fraternidade são janelas pelas quais podemos ver o que acontece no mundo à nossa volta, convidando-nos a nos engajar de corpo e alma no tema destacado para o ano — sempre tão urgente e fundamental.

Grande abraço, FERNANDO CARRARO

O primeiro dia depois da excursão

Segunda-feira, sinal do intervalo. Finalmente! Saímos apressados da sala de aula para encontrar William, nosso professor de Geografia, que nos esperava na biblioteca da escola.

Você deve estar se perguntando o porquê de tanta afobação. Para responder, vou resumir o que aconteceu no fim de semana.

Fizemos uma excursão escolar de dois dias. Na viagem de ida, o pneu do ônibus furou assim que pegamos a estrada. Como estava muito calor, saímos do veículo e ficamos todos esperando próximo de umas árvores. Todos é modo de dizer, pois Lucas resolveu fazer uma “exploração” (palavra dele). Nem preciso comentar que o professor William, que nos acompanhou na viagem, ficou desesperado quando notou a ausência dele, né?

Perto dali, Lucas encontrou uma casa muito simples, de chão de terra batida, sem energia elétrica nem água encanada. O professor o viu conversando com a mulher que vivia ali com um garotinho, que naquele momento brincava na porta da casa: eram Sílvia e Betinho, mãe e filho.

Assim que voltou para o ônibus, Lucas levou uma bronca de William. Ele aceitou a reprimenda, sabia que o professor tinha razão.

— A imagem não sai da minha cabeça, Helena — confessou Lucas para mim. — Não consigo parar de pensar naquela família vivendo sem luz, sem água, sem chão!

É claro que durante todo o percurso o assunto voltava, e fomos conversando sobre a morada de cada pessoa, de cada ser vivo, de cada coisa

que existe no Universo: o ninho de um pássaro; o céu da Lua, do Sol, das estrelas; a toca de um tatu…

Toda essa reflexão nos levou de volta àquela mulher com a criança: por que não tinham uma casa adequada? A falta de resposta a essa pergunta nos causou desconforto, mas aquele fim de semana gravou em nós a importância de pensarmos na questão da moradia, que, já sabíamos, era um problema — só não compreendíamos o tamanho dele.

Um novo olhar

Chegamos à biblioteca e encontramos o professor William nos esperando sentado a uma grande mesa.

— Que bom que vieram! Gostaria de contar uma história para vocês.

Nós nos acomodamos, curiosos e atentos. William prosseguiu:

— Na faculdade, tive um professor chamado Milton Santos. Ele nos ensinou muitas coisas sobre a sociedade, sobre as formas de organização na cidade e no campo. E que todos nós temos uma espécie de lente com a qual enxergamos a realidade, o que condiciona a forma como percebemos tudo ao nosso redor.

— Como assim, professor? — perguntei.

— Se a lente que a gente usar for ingênua — explicou o professor —, tudo vai parecer um conto de fadas. Se a lente for pessimista, vai parecer uma tragédia. É por isso que o mesmo acontecimento pode ser percebido de formas diferentes entre as pessoas.

— Nunca tinha pensado dessa maneira — comentou Rafaela.

— É o que minha mãe chamaria de “perspectiva” — emendou Davi.

— Ou “ponto de vista” — completou Bruna.

O professor estava satisfeito com a conversa.

— Eu chamei vocês aqui para propor um projeto especial, uma campanha de conscientização na escola — disse ele, colocando sobre a mesa um par de óculos sem lentes. — Estes óculos têm um superpoder.

— Aaaah, tá! — ironizou Lucas. Ele passou o braço sobre os ombros de Davi e disse: — E o meu melhor amigo aqui é um super-herói.

Não aguentamos e caímos na risada. Até o professor entrou na onda.

— Não é esse tipo de superpoder — reforçou William, em tom divertido. — Os óculos vão servir como um apoio no projeto, direcionando o olhar de vocês.

Então ele nos explicou que, desde o dia em que Lucas encontrou aquela casa na estrada durante a excursão, passamos a direcionar o olhar para o tema da moradia, das casas, das diversas moradas que existem. William continuou:

— Por isso quero propor um desafio a vocês: cada um deve ficar com estes óculos durante um dia inteiro, para se lembrar de manter o olhar atento a diferentes moradias. Depois, nós nos reencontraremos para falar das descobertas. O que acham?

Missão aceita, é claro.

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