MARIA TEREZA ARRUDA CAMPOS
LUCAS SANCHES ODA ÁREA DO

MARIA TEREZA ARRUDA CAMPOS
LUCAS SANCHES ODA ÁREA DO
MANUAL DO PROFESSOR
Formada em Letras – Português pela Universidade de São Paulo (USP), possui Mestrado e Doutorado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com estágio na Sorbonne Université – Paris VIII. Atua como professora, curadora e consultora em Educação.
Formado em Letras pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e em Filosofia pelo Centro Universitário Ítalo Brasileiro, possui Mestrado em Linguística pela Unicamp e Doutorado em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Atua como professor de Língua Portuguesa e é autor de histórias em quadrinhos.
ÁREA DO CONHECIMENTO: LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS 1
Copyright © Maria Tereza Rangel Arruda Campos, Lucas Kiyoharu Sanches Oda, 2024
Direção-geral Ricardo Tavares de Oliveira
Direção de conteúdo e negócios Cayube Galas
Direção editorial adjunta Luiz Tonolli
Gerência editorial Roberto Henrique Lopes da Silva e Nubia de Cassia de M. Andrade e Silva
Edição Ana Luiza Martignoni Spínola (coord.)
Maria Fernanda Neves, Patricia Quero, Sarita Borelli
Preparação e revisão Maria Clara Paes (coord.)
Ana Carolina Rollemberg, Cintia R. M. Salles, Denise Morgado, Desirée Araújo, Eloise Melero, Kátia Cardoso, Márcia Pessoa, Maura Loria, Veridiana Maenaka, Yara Affonso
Produção de conteúdo digital João Paulo Bortoluci
Gerência de produção e arte Ricardo Borges
Design Andréa Dellamagna (coord.)
Sergio Cândido (criação), Ana Carolina Orsolin, Everson de Paula
Projeto de capa Sergio Cândido
Imagem de capa NaMong Productions92/Shutterstock.com
Arte e Produção Rodrigo Carraro Moutinho (coord.),
Manuel Miramontes
Diagramação Lima Estúdio Gráfico
Coordenação de imagens e textos Elaine Bueno Koga
Licenciamento de textos Erica Brambilla
Iconografia Erika Neves do Nascimento, Leticia dos Santos Domingos (trat. imagens)
Ilustrações André Ducci, Andrea Ebert, Arielle Martins, Carlos Caminha, Henrique Kipper, Lasca Estúdio
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Campos, Maria Tereza Rangel Arruda
360º Língua Portuguesa: 2o ano: Maria Tereza Rangel Arruda Campos; Lucas Kiyoharu Sanches Oda. 1. ed. São Paulo: FTD, 2024.
Componente curricular: Língua Portuguesa.
Área do conhecimento: Linguagens e suas Tecnologias.
ISBN 978-85-96-04664-0 (livro do estudante)
ISBN 978-85-96-04665-7 (manual do professor)
ISBN 978-85-96-04670-1 (livro do estudante HTML5)
ISBN 978-85-96-04671-8 (manual do professor HTML5)
1. Língua Portuguesa (Ensino médio) I. Oda, Lucas Kiyoharu Sanches. II. Título.
24-228174
Índices para catálogo sistemático:
CDD-469.07
1. Língua portuguesa : Ensino médio 469.07
Cibele Maria Dias - Bibliotecária - CRB-8/9427
Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Todos os direitos reservados à
EDITORA FTD
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Em respeito ao meio ambiente, as folhas deste livro foram produzidas com fibras obtidas de árvores de florestas plantadas, com origem certificada.
Impresso no Parque Gráfico da Editora FTD CNPJ 61.186.490/0016-33
Avenida Antonio Bardella, 300 Guarulhos-SP – CEP 07220-020 Tel. (11) 3545-8600 e Fax (11) 2412-5375
Cara estudante, caro estudante,
Somos a semente, ato, mente e voz, magia Não tenha medo, meu menino povo, memória
Tudo principia na própria pessoa, beleza
Vai como a criança que não teme o tempo, mistério
REDESCOBRIR. Intérprete: Elis Regina. Compositor: Gonzaguinha. In: SAUDADE do Brasil. Produção: Guti Carvalho e César Camargo. Rio de Janeiro: WEA, 1980. 2 LPs.
Na canção da vida, muitas vezes é preciso seguir em frente, superar desafios, superar-se. Também é preciso fazer planos e investir neles, projetar futuros, arriscar. Na etapa do Ensino Médio, além dos desafios do presente, você sabe que existem escolhas adiante, aguardando suas decisões. Oportunidades, sonhos, realidade, adversidades: no jogo da vida, às vezes também é preciso redescobrir a força da própria voz para continuar.
Esta coleção quer participar desse jogo de muitas maneiras, trazendo inúmeros textos –dos mais antigos aos mais atuais, literários, não literários, de diversos gêneros – que dialogam entre si, com o passado e o presente, e também dialogam com você, apresentando um repertório de autores e obras com suas diferentes experiências e seus pontos de vista.
A obra também traz discussões sobre temas urgentes para este tempo, desafiando você a compreender, refletir, opinar, trocar, compartilhar. Acreditamos que a coleção pode incentivar você a construir uma visão de mundo própria, mantendo-se aberto à avaliação de pontos de vista diferentes e, assim, ajudar você a ajustar o que é seu, o que é do outro e o que é de todos, a entender limites e a valorizar o coletivo.
O domínio da língua e de suas astúcias é fundamental nesse diálogo de que você também irá participar ativamente: escrevendo, gravando, postando, expondo opiniões e compartilhando várias propostas. Ainda, dominar a norma-padrão é fundamental nas trocas sociais formais e em exames que exigirão de você esse conhecimento. Mas usar uma língua é mais que isso: é também ajustar nossa performance oral ou escrita ao público a que nos dirigimos, aos objetivos de cada situação comunicativa.
Neste momento tão especial da sua vida, em que você se prepara para se lançar nas aventuras do mundo adulto, desejamos que essas propostas o ajudem a pensar o mundo e a si mesmo. E saber que sempre será possível agir, transformar, dizer sim à vida pessoal e coletiva, ser quem você quer ser. Todo sucesso é o que desejamos!
Os autores
Na frente de Literatura, além da leitura do(s) texto(s) principal(ais), você encontrará a seção No fio do tempo, que propõe diálogos entre os textos iniciais e a tradição literária. Além disso, nessa frente, a subseção Contexto retoma os aspectos sociais e históricos em que os textos apresentados foram produzidos. Por fim, há o boxe Ler literatura, que pretende ajudar você a se formar como leitor literário.
Já na frente Leitura, há textos de gêneros diversos, cujas atividades levarão você a compreender como circulam, qual é o público-alvo, em que contexto foram produzidos e, sobretudo, quais ideias cada um apresenta e defende.
lER O MUNDO O X DA QUESTÃO
Cada volume desta coleção é organizado em nove unidades. Cada unidade conta com uma Abertura, cujas imagens e atividades propostas apresentam o núcleo temático predominante em cada uma delas.
As unidades são divididas em frentes que dialogam entre si: Literatura, Leitura e Análise linguística. Nelas, você vai poder ler textos literários, diversos gêneros textuais e desenvolver seus conhecimentos linguísticos.
A frente de Análise linguística traz a reflexão e a sistematização dos conhecimentos linguísticos seguidas de atividades que apresentam os conceitos em situações reais de uso. Na subseção Astúcias da língua, você poderá refletir um pouco mais sobre esses usos em textos diversificados.
Os boxes Ler o mundo e O X da questão convidam você e seus colegas a interagir e conversar, a formular hipóteses sobre os textos que serão lidos, preparando-os, assim, para o que será discutido.
Sempre que você encontrar a seção Pensar e compartilhar, que aparecerá em todas as frentes da coleção, você será convidado a analisar e compreender os textos literários, os gêneros discursivos e os conhecimentos linguísticos, bem como a refletir sobre eles.
A seção Ler aparece duas vezes no volume e sempre trará um texto de uma área de conhecimento diferente para auxiliar você a desenvolver habilidades de leitura nas áreas de Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.
Por fim, a seção Roteiro traz diversas indicações de leitura, podcasts, filmes, entre outras, com informações detalhadas, além do título: especificações técnicas, sinopses e imagens.
A seção #nósnaprática é momento de colocar em prática seus conhecimentos adquiridos e produzir textos escritos, orais e multimodais.
A seção Integrando com relaciona o assunto estudado na unidade com temas de diversos componentes curriculares das outras áreas do conhecimento.
Na seção #fazerjunto, em parceria com seus colegas, você vai realizar um trabalho colaborativo que envolve produção de gêneros multimidiáticos e práticas de pesquisa.
Ao longo dos volumes, boxes vão ampliar seu conhecimento com informações importantes, como: #sobre, que apresenta autores, artistas, entre outras figuras públicas; #ficaadica, que apresenta indicações de filmes, livros, músicas, podcasts, sites etc.; saibamais, que acrescenta informações importantes relacionadas ao assunto em estudo; conceito e #paralembrar, que trazem conceitos novos e fazem relembrar conceitos já vistos nos Anos Finais do Ensino Fundamental; e Hiperlink, que busca auxiliar na ampliação dos conhecimentos por meio de práticas de pesquisa.
Os ícones a seguir identificam os diferentes tipos de objetos educacionais digitais presentes neste volume. Esses materiais digitais apresentam assuntos complementares ao conteúdo trabalhado na obra, ampliando a aprendizagem.
Os sites indicados nesta obra podem apresentar imagens e eventuais textos publicitários junto ao conteúdo de referência, os quais não condizem com o objetivo didático da coleção. Não há controle sobre esses conteúdos, pois eles estão estritamente relacionados ao histórico de pesquisa de cada usuário e à dinâmica dos meios digitais.
Realidade sem disfarce .............8
Literatura: Verdades vivas ......................................... 10
Texto: A natureza da mordida, Carla Madeira ................. 10
◗ No fio do tempo: Projeto realista: Um olhar para nosso abismo interior 13
Texto: Memórias póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis 13
Integrando com Filosofia: A personagem como objeto de estudo ................................................................. 25
Leitura: Verbete enciclopédico – Uma revolução na comunicação a distância ............... 27
Texto: “Telefone” (Wikipédia) 27
Análise linguística: Revisão: termos ligados ao nome.............................................................................. 32
Astúcias da língua: O papel do adjunto adnominal e do predicativo na descrição 37
Texto 1: “Nel mezzo del camin…”, Olavo Bilac ...................... 85
Texto 2: “A catedral”, Alphonsus de Guimaraens 85
◗ Integrando com Arte: Poesia sensorial 94
Leitura: Reportagem – A poesia nas redes ........ 95
Texto: “Instapoetas, o fenômeno que tirou a poeira da poesia”, Raquel Carneiro; Meire Kusumoto (Veja) 95
Análise linguística: Vozes do verbo e agente da passiva 101
◗ Astúcias da língua: Voz passiva e a impessoalização do discurso 106
#nósnaprática: Videorreportagem com entrevista 109
◗ Ler Ciências da Natureza e suas Tecnologias .........111
◗ Roteiro ............................................................................. 113
Literatura: A vida crua 46
Texto: Carvão animal, Ana Paula Maia 46 No fio do tempo: Projeto naturalista: A realidade brasileira na lupa .................................................................. 51
Texto: O cortiço, Aluísio Azevedo ....................................... 51 Integrando com Biologia: Naturalismo e suas bases biológicas 57
Leitura: Resumo – O conhecimento condensado 61
Texto: “As Conferências Populares da Glória e a difusão da ciência”, Karoline Carula (Almanack Braziliense) 61
Análise linguística: Revisão: termos ligados ao verbo 66
Astúcias da língua: Modalização do advérbio e argumentação...................................................................... 70
#nósnaprática: Resumo 73
◗ Roteiro ...............................................................................77
a forma e o sonho ........ 78 3
Literatura: Tempos de pedras e além 80
Texto 1: “No meio do caminho”, Carlos Drummond de Andrade 80
Texto 2: [pedra lume], Ana Cristina Cesar ............................. 81
Texto 3: “Análise de conjuntura”, Jefferson Vasques .................. 81
◗ No fio do tempo: Projeto parnasianista e simbolista: Razão e devaneio 84
Literatura: Ecos do passado que persistem no presente 116
Texto: “Sobre a revolução: ginástica individual e colectiva” (O torcicologologista, excelência), Gonçalves M. Tavares 116
◗ No fio do tempo: Realismo e Simbolismo em Portugal: Contra o Romantismo ......................................................... 120
Texto: O primo Basílio, Eça de Queirós 120
◗ Integrando com História: A Literatura como repositório de memórias 125 Camilo Pessanha e o Simbolismo ............................... 128
Leitura: Anúncio de propaganda –Como divulgar ideias 130
Texto: “Vereador de Lisboa: É preciso fazer marketing com os Direitos Humanos. Vender como se vende um produto”, Catarina Marques Rodrigues; Nuno Patrício (RTP Notícias) 130
Análise linguística: Aposto, vocativo e interjeição 134
Astúcias da língua: Pontuação no período simples .......... 138
#nósnaprática: Anúncio de propaganda e campanha de conscientização .............................. 142 Roteiro 144
Literatura: A poeira do passado em nós ........... 148
Texto: “Espiral” (O sol na cabeça), Geovani Martins ....... 148
◗ No fio do tempo: Projeto pré-modernista: República nova, injustiças velhas 152
Texto: Triste fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto...................................................................... 152
As vanguardas artísticas............................................ 158
◗ Integrando com Arte: Literatura e cinema ..................... 161
Leitura: Notícia – Fake news, ainda .................... 165
Texto 1: “Madonna doa R$ 10 milhões ao Rio Grande do Sul, diz colunista”, Aline Gouveia (Diário de Pernambuco) 165
Texto 2: “Madonna não doou R$ 10 milhões ao Rio Grande do Sul, corrige colunista”, Ronayre Nunes (Correio Braziliense) ....................................................................... 166
Análise linguística: Período simples e período composto ....................................................... 170
◗ Astúcias da língua: Ordenação, ênfase e argumentação 174
#nósnaprática: Manual de checagem de informação ..................................................................... 178
◗ #fazerjunto: Reportagem digital 180
◗ Roteiro 181
UNiDADE
A ruptura com o passado .... 182 6
Literatura: Ainda modernos? 184
Texto 1: Poema do desaparecimento, Laura Liuzzi 184
Texto 2: “Coisas”, Ricardo Aleixo ....................................... 185
No fio do tempo: Projeto modernista da primeira geração: Os ventos da modernidade 187
Texto 1: “A meditação sobre o Tietê”, Mário de Andrade 187
Texto 2: “Glorioso destino do café”, Oswald de Andrade ............................................................ 189
A Semana e mais ............................................................ 193
Integrando com Arte: Literatura e arte de performance 195
Leitura: Regulamento – Regras para todos .... 201
Texto: Regulamento, Bloco Pagu .................................... 201
Análise linguística: Período composto por coordenação ................................................................. 205
Astúcias da língua: Pontuação e ênfase 210 #nósnaprática: Regulamento................................ 214 Roteiro ............................................................................ 216
UNiDADE
Tupi or not tupi or italiano or... 218 7
Literatura: Brasileiros do mundo todo 220
Texto: A chave da casa, Tatiana Salem Levy .................. 220
No fio do tempo: Modernismo – Primeira geração
(prosa): Em busca dos brasileiros 223
Texto: Macunaíma: o herói sem nenhum caráter, Mário de Andrade 224
◗ Integrando com Geografia: Literatura: fonte de investigação geográfica .................................................... 229
Leitura: Projeto editorial – Quem vê capa... 234
Texto: Análise de capas de revistas ................................. 234
Análise linguística: Período composto por subordinação 239
◗ Astúcias da língua: Figuras de sintaxe e de pensamento ..244
#nósnaprática: Página de entrada de um site....................................................................... 248
◗ Ler Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.......... 250
◗ Roteiro ............................................................................ 251
Literatura: A fala que tem lugar
254
Texto: Makunaimã: o mito através do tempo, Taurepang et al................................................................. 254
◗ No fio do tempo: Teatro do início do século XX: França, café e chaminés 258
Texto: O rei da vela, Oswald de Andrade 258
◗ Integrando com Arte: Literatura e teatro 267
Leitura: Transcrição de documentário –Como sonhar narrativas 268
Texto: Nunca me sonharam, Cacau Rhoden 268
Análise linguística: Período composto por subordinação 274
◗ Astúcias da língua: Formas de expressar atributos 278 #nósnaprática: Roteiro e esquete filmado 282
◗ Roteiro 285
Literatura: Um fado que ainda toca
288
Texto 1: “Projecto Político 3: El Corte Inglés”, Filipa Leal 288
Texto 2: “Chat”, Margarida Vale de Gato 289
◗ No fio do tempo: Modernismo português: Em busca de Portugal e dos portugueses............................................... 292
Texto 1: “Lisbon Revisited (1923)”, Álvaro de Campos ...... 293
Texto 2: “Tabacaria”, Álvaro de Campos 293
◗ Integrando com Educação Física: Corpo e autoimagem 298
Leitura: Postagem de rede social –
Nas redes, num mar de perfis
303
Texto 1: [Perfil do escritor], Alê Garcia 303
Texto 2: [Quem é Alê Garcia], Alê Garcia ........................... 303
Texto 3: [Quando super-heróis são uma parábola para a negritude], Alê Garcia 304
Texto 4: [A sordidez das pequenas coisas], Alê Garcia 304
Análise linguística: Período composto por subordinação 307
◗ Astúcias da língua: O dito e o não dito: pressupostos, subentendidos e inferências 312
#nósnaprática: e-zine 315
◗ Roteiro 317
◗ Referências bibliográficas comentadas 318
OBJETOS EDUCACIONAIS DIGITAIS
Podcast: Você conhece a Wikipédia 27
Infográfico clicável: Divulgando ciência com podcast 40
Carrossel de imagens: Autores naturalistas europeus .......................... 52
Infográfico clicável: Os múltiplos canais da reportagem 95
Podcast: Conversa com jornalista: a experiência em videorreportagem 109
Infográfico clicável: O que são as Ações Afirmativas............................130
Podcast: Canudos 157
Carrossel de imagens: Festas populares do Brasil 201
Vídeo: Entonação: conquistando seus ouvintes ................................... 215
Vídeo: São Paulo: do café à mesa 230
Mapa clicável: Evasão escolar: motivos e ações de combate 270
Vídeo: A felicidade e os algoritmos .........................................................303
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
1. a) Uma menina que toca piano, postada no centro da imagem. As duas crianças à frente da pintura e o homem adulto apoiado sobre o piano dirigem o olhar do leitor para ela, para a qual se volta a atenção de todos os demais participantes do sarau.
1. b) Os participantes pertencem à camada dominante, conforme se comprova por seu vestuário e pela amplidão do ambiente, no qual cabe um piano e ainda sobra espaço vazio.
1. c) A personagem do último plano contrasta com as demais por ser a única negra. Ela carrega uma espécie de bandeja e parece estar encarregada de servir comida e bebida aos convidados.
1. d) Depois da mulher de vermelho, há um espaço totalmente vazio que direciona o olhar para a mulher negra que carrega uma bandeja, também no centro da pintura. Ela está totalmente vestida de branco e adquire grande destaque em relação às demais personagens, apesar de ser uma figura diminuta.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A pintura a seguir, Primeira audição, retrata um sarau, um evento social muito frequente nos romances pertencentes ao Romantismo brasileiro. Seu autor, o carioca Paulo Pedro Leal (1894-c. 1968), era negro e não pôde se dedicar exclusivamente à pintura devido à falta de recursos dos pais. Por isso, exerceu diferentes ocupações, entre as quais empregado doméstico, auxiliar de pedreiro e estivador.
1. Observe a pintura e responda às questões propostas.
a) O bservando a distribuição espacial das personagens do sarau, pode-se afirmar que há uma personagem principal. Quem é ela?
b) Qual é a classe social dos participantes do sarau? Justifique sua resposta.
c) No último plano da pintura, há uma personagem que contrasta com as demais. Explique a função dela no sarau.
d) Apesar de ser uma figura diminuta em relação às demais, a personagem apontada no item c recebe um grande destaque na composição da pintura. De que maneira a composição produz esse efeito?
2. Observe as pinturas a seguir, da pintora fluminense Abigail de Andrade (1864-c. 1890). Ambas as obras apresentam situações rotineiras do cotidiano do século XIX.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
ANDRADE, Abigail de. Estendendo a roupa. 1895. Óleo sobre tela, 63 cm x 87 cm. Coleção Sérgio e Hercília Fadel.
ANDRADE, Abigail de. A hora do pão. 1889. Óleo sobre lienzo, 73,5 cm x 50 cm. Coleção Sérgio Fadel.
a) Que situações são apresentadas nas pinturas?
b) Que aspectos delas as diferenciam da pintura Primeira audição?
2. a) A primeira pintura apresenta uma mulher estendendo roupa no quintal da casa e a segunda, um homem vendendo pão diante de uma casa enquanto crianças brincam. Ambas as imagens apresentam personagens brancas e pretas em um contexto que remete à pobreza.
O século XIX, considerado o século burguês, produziu mudanças radicais na estrutura social. Herdeira da Revolução Industrial e da Revolução Francesa, a burguesia europeia consolidou, na primeira metade daquele século, a visão de mundo romântica, sustentada em uma idealização do real, que foi adotada pelos escritores românticos do Brasil. Aqui, entretanto, essa visão não resistiu ao enfrentamento com uma realidade marcada ainda pela escravização, fenômeno em total contradição com o ideário liberal do trabalhador livre assalariado. Nesta unidade, você vai conhecer mais sobre o Realismo, estética literária que representou essa contradição.
2. b) Ambas as pinturas apresentam casas simples, com rebocos caindo e personagens com roupas também simples. Os elementos dos cenários e das personagens são o que as diferenciam de Primeira audição, na qual as personagens principais, os participantes do sarau, pertencem à elite da sociedade.
A idealização romântica produziu discursos que alteraram comportamentos e valores na sociedade do século XIX e que ainda sobrevivem como modelos para relacionamentos afetivos e outras trocas sociais. Essa herança romântica, no entanto, contrasta com a realidade, que se mostra muito mais complexa do que aquela expressa pelas dualidades do Romantismo, opondo bem × mal, belo × grotesco, amor × morte. A crueza da realidade pode se mostrar com diversas nuances, tanto no mundo do trabalho como nos relacionamentos ou até mesmo na constituição de subjetividades.
Para discutir
Professor, é interessante que os estudantes discutam sobre como um padrão de família e de sucesso herdado da lógica romântico-burguesa ainda é amplamente reproduzido e esperado na sociedade: espera-se que todos se casem, tenham filhos, trabalhem, sejam produtivos, consumam cada vez mais etc.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
1 Que modelo de vida é socialmente esperado para que alguém seja considerado feliz e realizado?
2 Todas as pessoas estariam igualmente aptas a atingir esse modelo?
3 E scolher outros modelos de vida, diferentes do esperado socialmente, traz consequências? Explique.
Você vai ler, a seguir, um trecho do romance A natureza da mordida, da escritora mineira Carla Madeira. Na história, Biá, uma psicanalista aposentada, conhece Olívia, uma jovem jornalista, e inicia-se uma amizade marcada pela cumplicidade e pelos relatos de suas histórias, que revelam aos poucos as suas dores mais profundas e o vazio que as acompanha. No trecho, Olívia narra um episódio de sua vida, logo após ter que se mudar com Laura, sua mãe, depois que esta sofreu um episódio grave de assédio por parte do vizinho logo após a morte do pai de Olívia em um acidente.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Texto
Talvez o mais difícil para mim em toda aquela mudança tenha sido justamente a proximidade de minha mãe. E não estou falando de distâncias simbólicas, Biá, falo de falta de espaço físico mesmo, de trombar com ela a todo momento. Nosso apartamento era um ovo, e passamos a sentir demais nossos humores. Os meus, os mais variados possíveis; os dela, imutáveis. A impávida Laura me torturava com seu semblante indecifrável. Envolta em neblinas, restos de depressão e passado, deslizava discreta sob suas rodinhas silenciosas e invisíveis e mesmo assim se tornou uma presença excessiva para mim. Os maus hábitos ficaram salientes, não os dela, os meus. Um novo jeito de conviver se impôs, e com ele implicâncias até então desconhecidas. A elegância de minha mãe começou a enervar minhas veias tonificadas pelo desejo crescente de rasgar as regras. A revolução estava dentro de mim, e até sua beleza passou a me incomodar. A sorte é que em pouco tempo minha vida do lado de fora deu uma guinada tão grande que ficar em casa se tornou uma exceção, e, quando acontecia, eu estava dormindo.
#SOBRE
Carla Madeira (1964-) é jornalista e publicitária. Em 2014, lançou de forma independente o romance Tudo é rio, que rapidamente foi reeditado por uma grande editora e a tornou uma das escritoras mais lidas no Brasil nos últimos anos. Depois do sucesso de seu primeiro livro, lançou A natureza da mordida (2018) e Véspera (2021), ambos sucessos de público e crítica. Em 2024, o romance Tudo é rio foi agraciado com o prêmio português Bertrand como melhor ficção do ano em Portugal.
Casei, separei tão rapidamente que imagino ter batido algum recorde. Tomei plena posse de toda encrenca e bem-aventurança de me virar sozinha. Retomei o convívio com minha mãe e o gosto de estar com ela, porque não há escapatória: dos pais viemos e aos pais retornaremos, e não sendo assim provavelmente será mais triste. Eu e dona Laura nos reaproximamos sem o peso da dependência, e passei a ir vê-la pelo menos uma vez por semana. Numa dessas ocasiões, um sábado à tarde, fui visitá-la. Encarei a escadaria e entrei ofegante, quase sem ar, em sua casa, chamando por ela, disposta a convencê-la a se mudar dali. Caminhei até seu quarto e me certifiquei de que ela estava no banho. Fui até a cozinha procurar alguma coisa para beber e aplacar aqueles malditos degraus. Quando atravessei a sala de jantar, reinava, sobre a mesa, com indescritível beleza, um jarro de cristal, todo lapidado em pequenos losangos, repleto de rosas de papel em tons de goiaba, amêndoa e chás. […] Minha mãe entrou na sala trazendo com ela um leve perfume. Os olhos brilhavam, os cabelos molhados davam a ela um frescor que eu não via há anos, duvidei que já tivesse visto. Percebeu que eu e as rosas travávamos um combate.
[…]
— Os jarros e as rosas estão sempre por perto, não é, mamãe? Sempre te rodeando de alguma maneira…
Lembro de minha boca seca quando joguei essas palavras sobre minha mãe. Meu tom de voz era mordente, meus olhos inquisidores. Não sei que acusação eu estava tentando fazer, mas me concentrei em levá-la adiante como se fosse culpa de minha mãe aquele maldito jarro me surpreender com a persistência de minha própria mágoa. Minha dor de plataforma vazia, Biá, veio à tona com a força das coisas mal resolvidas. Os resíduos tóxicos do passado começaram a boiar. Não havia indiferença em mim. Vi que minha rispidez afetara minha mãe, e ainda assim ela tentou contornar as coisas, como era de seu elegante feitio.
— Luciana perguntou por você com muito carinho. Disse que sempre acompanha seus artigos no jornal e fica muito orgulhosa…
MADEIRA, Carla. A natureza da mordida. Rio de Janeiro: Record, 2022. E-book. Localizável em: 12o encontro.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
1. Leia o trecho a seguir, do psicólogo e psicanalista Christian Dunker (1966-).
1. a) A ambiguidade fica evidente na fala de Olívia sobre o jarro: é claro o incômodo da personagem com essa peça, como se ali estivesse representado mais que um jarro, uma certa dor, mágoa, os “resíduos tóxicos do passado”.
Muitos dos que se queixam […] da dificuldade em sustentar ou propiciar espaços de intimidade mostram igualmente certa imperícia para lidar com narrativas e signos dotados de ambiguidade. A ironia, as entrelinhas, o duplo sentido de um pequeno gesto ou de uma troca de olhares são experimentados como situações perigosas. O valor de uma mensagem no espaço público e no espaço familiar não é o mesmo. […] A consequência se manifesta num tipo particular de solidão: aquela que se vive a dois ou aquela que se experimenta ao andar no meio de uma multidão. […]
DUNKER, Christian. Reinvenção da intimidade: políticas do sofrimento cotidiano. São Paulo: Ubu, 2017. p. 81.
a) Christian Dunker identifica uma característica comum entre as pessoas que têm dificuldade em conviver com ambiguidades: a solidão. É possível identificar ambiguidade no trecho do romance
A natureza da mordida? Explique.
b) É possível afirmar que Olívia é solitária. Como isso é apresentado nesse trecho?
É apresentado pela dificuldade de mãe e filha se relacionarem logo depois que se mudaram para a nova casa, na dificuldade de Olívia superar eventos que parecem tê-la separado da mãe.
6. a) A relação entre Olívia e sua mãe, embora aparente ser sustentada no amor, também é atravessada por sentimentos negativos, como inveja e raiva, o que faz com que ela não suporte conviver com a mãe todos os dias.
2. O trecho apresenta o relato de uma hostilidade latente da filha em relação à mãe.
a) Olívia narra no trecho o quanto sua mãe era perfeita tanto no comportamento quanto na beleza física. Por que essa perfeição da mãe a incomoda?
A perfeição da mãe a incomoda porque Olívia se considera imperfeita, repleta de maus hábitos. Conviver com a mãe tão perfeita evidencia ainda mais suas imperfeições.
b) A caracterização da perfeição da mãe se dá, em grande parte, por meio de descrições. Identifique adjetivos do primeiro parágrafo que atuam para criar essa imagem de perfeição da mãe.
Os adjetivos são: imutáveis, impávida, indecifrável
3. Olívia, como solução para escapar do convívio difícil com a mãe, toma outros caminhos em sua vida.
a) Por que se pode dizer que os caminhos de Olívia reforçam ainda mais as características de imperfeição que ela considerava ter ao lado da mãe?
Porque vivenciou o que ela chama de encrencas e um casamento que não deu certo em tempo recorde.
b) Copie, no caderno, a alternativa que indica a relação entre a influência da mãe e os caminhos de Olívia.
I. A aura de perfeição da mãe atua como um lugar que Olívia queria alcançar, por isso segue um caminho de sucesso longe do lugar em que vivia com a mãe.
II. A tentativa de rivalizar com a mãe faz Olívia seguir caminhos que não dão certo para reforçar sua diferença de comportamento.
3. b) Resposta: alternativa III
III. Na t entativa de se desvencilhar da imagem da mãe, Olívia segue rumos que reforçam essa imagem e mantêm a rivalidade.
4. Releia.
4. b) A fala de Olívia carrega entrelinhas e uma ironia, com Olívia acusando sua
mãe de que estaria sempre exibindo suas qualidades e beleza, rodeando a si própria com elementos que reforçam suas qualidades. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Não sei que acusação eu estava tentando fazer, mas me concentrei em levá-la adiante como se fosse culpa de minha mãe aquele maldito jarro me surpreender com a persistência de minha própria mágoa. Minha dor de plataforma vazia, Biá, veio à tona com a força das coisas mal resolvidas.
a) Que características do jarro podem ter incomodado Olívia?
A perfeição do jarro, sua sofisticada beleza de cristal, que se assemelhariam às características da própria mãe.
b) Christian Dunker faz referência à ambiguidade, à ironia, aos duplos sentidos e às entrelinhas dos discursos. Releia: “ Os jarros e as rosas estão sempre por perto, não é, mamãe?”. Que relação é possível fazer entre essa fala e a afirmação de Dunker?
c) A resposta da mãe demonstra cuidado e carinho para com a filha, mesmo depois do tom acusatório com que Olívia se dirige à mãe. De que forma essa fala carinhosa pode reforçar ainda mais a implicância de Olívia com sua mãe?
5. Releia: “Minha mãe entrou na sala trazendo com ela um leve perfume. […] Percebeu que eu e as rosas travávamos um combate”.
a) A s flores de papel em um jarro de cristal provocam esses sentimentos em Olívia. Formule uma hipótese: a que podem estar associadas essas flores?
A mãe, perante uma acusação, mantém a classe e o carinho pela filha, reforçando ainda mais sua perfeição insuportável. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes suponham algum evento envolvendo rosas, jarros ou a personagem Luciana, citada no texto.
b) A resposta da mãe a essa fala da filha introduz outra personagem, Luciana. Que relação é possível supor entre Luciana e o jarro com rosas?
É possível supor que Luciana tenha trazido as flores ou tenha participado de um evento doloroso para Olívia.
6. A idealização da estrutura familiar burguesa pressupõe que os pais se casaram porque se amavam e tiveram filhos que amam e por eles são amados, vivendo todos em razoável harmonia.
a) Explique de que maneira o trecho do romance de Carla Madeira se contrapõe a esse desenho familiar.
b) Discuta com os colegas: que tipo de ação seria possível para promover uma reconciliação entre Olívia e a mãe?
Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes discutam sobre a necessidade de diálogo e de reflexão acerca dos próprios sentimentos entre as duas personagens para que discursos atravessados e carregados de entrelinhas sejam substituídos por uma conversa franca e honesta.
O mundo contemporâneo é herdeiro das transformações radicais promovidas na sociedade pela burguesia no século XIX. As subjetividades produzidas pela idealização dos relacionamentos escondem a hipocrisia e a valorização das aparências das elites burguesas, seja na esfera pública, seja no universo doméstico protegido e confortável. A seguir, você vai conhecer mais sobre outros aspectos desse universo burguês do final do século XIX e seus reflexos na sociedade brasileira.
O X DA QUESTÃO
O desenvolvimento da ciência no século XIX e as desilusões com o mundo idealizado da burguesia romântica produziram reações nas artes visuais e literárias. A realidade passou a ser olhada de modo crítico e pessimista. Os escritores buscaram então representá-la considerando conflitos e interesses, desvendando comportamentos. Essa literatura que dá destaque às relações humanas, a seus arranjos e desarranjos, promoveu uma ruptura com a idealização promovida no Romantismo e abriu espaço para a abordagem de uma realidade mais complexa.
A seguir, você vai conhecer uma estética que dialoga com esse novo contexto: o Realismo.
Para lembrar
1 A a scensão da burguesia ao poder político, econômico e social se refletiu na literatura romântica.
a) Que visão de mundo e dos relacionamentos o Romantismo produziu?
b) Por que se pode dizer que o Romantismo, embora tematizasse questões sociais importantes, afastou as pessoas da realidade do século XIX?
Para discutir
1 Na metade do século XIX, a Revolução Francesa e a Revolução Industrial não haviam sido eficientes na distribuição social da riqueza, desiludindo a muitos. Discuta com os colegas como essa visão mais pessimista pode ter favorecido uma aproximação mais crítica da realidade, que contrasta com a idealização do Romantismo.
2 Em que contextos atuais ainda há conflito entre essa visão crítica da realidade e uma visão ingênua do real?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A seguir, você vai ler trechos de um capítulo do livro Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Nesse romance, um narrador chamado Brás Cubas escreve sua história depois de morto, apresentando episódios de sua vida a um leitor com o qual dialoga. Narra o que levou à sua morte e momentos que julga relevantes de sua existência, mesmo que ela não tenha sido nada relevante.
Texto
O menino é pai do homem
matreiro: esperto, sabido. arguto: sagaz, engenhoso.
Cresci; e nisso é que a família não interveio; cresci naturalmente, como crescem as magnólias e os gatos. Talvez os gatos são menos matreiros, e, com certeza, as magnólias são menos inquietas do que eu era na minha infância. Um poeta dizia que o menino é pai do homem. Se isto é verdade, vejamos alguns lineamentos do menino.
Desde os cinco anos merecera eu a alcunha de ‘menino diabo’; e verdadeiramente não era outra coisa; fui dos mais malignos do meu tempo, arguto, indiscreto, traquinas e voluntarioso.
Por exemplo, um dia quebrei a cabeça de uma escrava, porque me negara uma colher do doce de coco que estava fazendo, e, não contente com o malefício, deitei um punhado de cinza ao tacho, e, não satisfeito da travessura, fui dizer à minha mãe que a escrava é que estragara o doce ‘por pirraça’; e eu tinha apenas seis anos. Prudêncio, um moleque de casa, era o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de freio, eu trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na mão, fustigava-o, dava mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia […].
Não se conclua daqui que eu levasse todo o resto da minha vida a quebrar a cabeça dos outros nem a esconder-lhes os chapéus; mas opiniático, egoísta e algo contemptor dos homens, isso fui; se não passei o tempo a esconder-lhes os chapéus, alguma vez lhes puxei pelo rabicho das cabeleiras.
Outrossim , afeiçoei-me à contemplação da injustiça humana, inclinei-me a atenuá-la, a explicá-la, a classificá-la por partes, a entendê-la, não segundo um padrão rígido, mas ao sabor das circunstâncias e lugares. Minha mãe doutrinava-me a seu modo, fazia-me decorar alguns preceitos e orações; mas eu sentia que, mais do que as orações, me governavam os nervos e o sangue, e a boa regra perdia o espírito, que a faz viver, para se tornar uma vã fórmula. De manhã, antes do mingau, e de noite, antes da cama, pedia a Deus que me perdoasse, assim como eu perdoava aos meus devedores; mas entre a manhã e a noite fazia uma grande maldade, e meu pai, passado o alvoroço, dava-me pancadinhas na cara, e exclamava a rir: Ah! brejeiro! ah! brejeiro!
Sim, meu pai adorava-me. Minha mãe era uma senhora fraca, de pouco cérebro e muito coração, assaz crédula, sinceramente piedosa, – caseira, apesar de bonita, e modesta, apesar de abastada; temente às trovoadas e ao marido. O marido era na Terra o seu deus. Da colaboração dessas duas criaturas nasceu a minha educação, que, se tinha alguma coisa boa, era no geral viciosa, incompleta, e, em partes, negativa. […]
De envolta com a transmissão e a educação, houve ainda o exemplo estranho, o meio doméstico. Vimos os pais; vejamos os tios. Um deles, o João, era um homem de língua solta, vida galante, conversa picaresca. […]
#SOBRE
Machado de Assis (1839-1908) é considerado um dos maiores escritores da literatura brasileira e mundial. Negro e de origem social modesta, superou barreiras diversas para se tornar um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras (ABL), da qual foi o primeiro presidente. Sua obra abrange diversos gêneros, incluindo romance, conto, crônica, poesia e teatro, destacando-se pela profundidade psicológica, ironia e crítica social. Entre seus romances mais célebres estão Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891) e Dom Casmurro (1899), marcos do Realismo no Brasil. Machado de Assis é conhecido por sua habilidade em explorar a complexidade humana, o comportamento social e a hipocrisia da sociedade, desenvolvendo uma narrativa inovadora e um estilo que combina humor, melancolia e sagacidade. A qualidade literária de sua obra deriva de seu profundo entendimento da sociedade brasileira de seu tempo, refletido na maestria com que escolhe os narradores de suas histórias. Isso torna Machado uma figura central na literatura de língua portuguesa e um precursor do Modernismo. Além de sua produção literária, Machado de Assis também teve uma carreira significativa como jornalista e funcionário público.
Foto do autor em 1904.
Bem diferente era o tio cônego. Esse tinha muita austeridade e pureza; tais dotes, contudo, não realçavam um espírito superior, apenas compensavam um espírito medíocre. Não era homem que visse a parte substancial da igreja; via o lado externo, a hierarquia, as preeminências, as sobrepelizes, as circunflexões. Vinha antes da sacristia que do altar. […] Cônego foi a única ambição de sua vida; e dizia
de coração que era a maior dignidade a que podia aspirar. Piedoso, severo nos costumes, minucioso na observância das regras, frouxo, acanhado, subalterno, possuía algumas virtudes, em que era exemplar, mas carecia absolutamente da força de as incutir, de as impor aos outros.
[…] Outros parentes e alguns íntimos não merecem a pena de ser citados; não tivemos uma vida comum, mas intermitente, com grandes claros de separação. O que importa é a expressão geral do meio doméstico, e essa aí fica indicada, – vulgaridade de caracteres, amor das aparências rutilantes, do arruído, frouxidão da vontade, domínio do capricho, e o mais. Dessa terra e desse estrume é que nasceu esta flor.
MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria de. Capítulo XI: o menino é pai do homem. In: MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria de. Memórias póstumas de Brás Cubas. [S. l.]: ibiblio, [2006]. Reprodução do original publicado em 1881. Disponível em: www.ibiblio.org/ml/libri/a/AssisJMM_ MemoriasPostumas/node14.html. Acesso em: 29 ago. 2024.
fustigar: maltratar. outrossim: da mesma maneira; da mesma forma. assaz: muito, bastante. picaresco: divertido, brincalhão.
sobrepeliz: veste branca que os padres usam sobre a batina. intermitente: com interrupções; intervalado. rutilante: reluzente, cintilante.
1. Leia, a seguir, um trecho sobre a estrutura social do Brasil no final do século XIX, bem como de discursos científicos que a justificariam. Seu autor é o sociólogo piauiense Clóvis Moura (1925-2003).
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Esse tipo de estrutura de Estado […] foi montado prioritariamente para reprimir a luta, entre os escravos e a classe senhorial. Não foi por acaso, por isto mesmo, que o Brasil fosse o último país do mundo a abolir a escravidão.
Em vista disto, a imagem do negro tinha de ser descartada da sua dimensão humana. De um lado havia necessidade de mecanismos poderosos de repressão para que ele permanecesse naqueles espaços sociais permitidos e, de outro, a sua dinâmica de rebeldia que a isso se opunha. Daí a necessidade de ser ele colocado como irracional, as suas atitudes de rebeldia como patologia social e mesmo biológica.
MOURA, Clóvis. Sociologia do negro brasileiro. São Paulo: Ática, 1988. p. 45-46.
a) Considere esse trecho e explique por que se pode dizer que a ciência do Brasil daquele momento do século XIX atuava para justificar a estrutura escravocrata.
b) E xplique de que modo os trechos do capítulo XI de Memórias póstumas de Brás Cubas podem ser representativos da sociedade descrita por Clóvis Moura.
2. Leia o trecho a seguir, da historiadora carioca Mary Del Priore (1952-), sobre a educação das crianças brasileiras na segunda metade do século XIX.
[…] Num jantar ao qual estavam presentes quatro crianças, de dezoito meses a sete anos, duas babás concentravam-se em dar de comer à menor que gritava a cada colherada, enquanto as outras três lutavam com facas e socavam-se com violência. […]
[…] Nos anos 1860, foi a vez de James Wells, em viagem pelo Norte, se chocar: mimadas pela mãe branca e pela preta, segundo ele, as crianças ‘gritam à menor provocação, mordem, arranham e ainda insultam as pacientes negras que cuidam deles’. […].
PRIORE, Mary Del. Histórias da gente brasileira: volume 2: Império. São Paulo: Leya, 2016. E-book. Localizável em: parte 3.
1. a) De acordo com o trecho, a ciência justificava a supremacia do homem branco na hierarquia social ao atribuir ao negro escravizado um estatuto de ser irracional e biologicamente inferior.
1. b) São representativos dessa sociedade os trechos em que o narrador Brás Cubas, pertencente às classes abastadas, brinca de forma cruel com as mulheres escravizadas e o moleque negro Prudêncio, submetendo-os à violência e à humilhação, como se fossem não humanos passíveis de sofrer calados, sem se rebelarem.
2. a) Ambos os textos apresentam uma personagem criança com um comportamento muito inadequado, permeado por desrespeito e violência.
a) O t recho apresenta o comportamento das crianças brasileiras na segunda metade do século XIX na visão de estrangeiros. Que relação é possível estabelecer entre esse comportamento e o perfil de Brás Cubas quando menino?
b) Com base nesse trecho e no capítulo de Machado, por que se pode dizer que a educação das crianças da elite tinha como objetivo a manutenção da estrutura social brasileira? Copie, no caderno, a alternativa que melhor responde a essa pergunta.
I. A educação das crianças da elite no Brasil, no século XIX, permitia um livre desenvolvimento, pautado na autonomia e na vivência social.
Tem o sentido de que o que se mostrava na criança era uma prévia do que seria o adulto: o homem que ele se tornou já estava presente no menino, como no poema de Wordsworth. Porém, a criança Memórias era cruel e despótica, ou seja, tinha um temperamento totalmente oposto ao da criança piedosa
Para educá-lo, sua mãe se limitava a ensinar as rezas. Ele, por sua vez, rezava de manhã e à noite, como propunha a mãe, mas continuava com suas maldades entre as duas rezas com o incentivo do pai, o que inutilizava os esforços da mãe e todas as rezas que pudesse ter feito. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
4. a) Ao se comparar com magnólias e gatos, ele se projeta como inquieto e matreiro (esperto). Também fica subentendido que ele exalta sua própria vivacidade e esperteza, quando ressalva que as magnólias eram menos inquietas que ele, e os gatos, menos matreiros.
II. A educação permissiva das crianças da elite replicava as relações e violências da sociedade escravocrata e os privilégios da elite branca.
III. A s crianças da elite brasileira tinham uma educação que usava como recurso a violência e a repressão, como se comprova pelas cenas de agressão que os textos apresentam.
Resposta: alternativa II.
3. O capítulo de Memórias póstumas de Brás Cubas que você leu compõe o retrato de um menino que é “pai do homem”. O narrador afirma que cresceu “naturalmente, como crescem as magnólias e os gatos”.
a) A s magnólias voltam a ser referidas no final do texto com o nome genérico de flor. Ali o narrador confirma as características da magnólia? Como esse trecho final avalia o protagonista?
b) O capítulo que você leu tem como título um verso do poeta inglês romântico William Wordsworth (1770-1850). Leia um trecho do poema original, em inglês, em que esse verso aparece.
Or let me die!
The Child is father of the Man; I could wish my days to be
Bound each to each by natural piety.
3. a) Uma flor que nasce do estrume e da terra irrigada pelas características do menino e sua família, ou seja, uma flor dotada de características questionáveis, mas condizentes com a sua classe social.
3. b) Produz o sentido de que caberia ao adulto se inspirar e ser influenciado pelas crianças, em busca de uma pureza e piedade naturais.
WORDSWORTH, William. My heart leaps up when I behold. In: WORDSWORTH, William. Complete works. Hastings: Delphi Classics, 2013. E-book. Localizável em: v. II, poema 14.
• No poema de Wordsworth, que sentido produz a expressão o menino é o pai do homem (The Child is father of the Man )?
c) O t ítulo do capítulo subverte o sentido que o verso tem no poema e revela muito da educação das crianças no Brasil. Que sentido tem o título do capítulo de Brás Cubas?
d) A ironia é um dos recursos mais usados por Machado na construção de suas narrativas. Essa figura de linguagem atua de forma a apresentar uma crítica à sociedade de seu tempo por meio do humor. Explique como se constrói essa ironia na forma como os pais de Brás o educam.
4. Brás Cubas inicia o capítulo fazendo referência à sua infância.
a) O narrador é o protagonista da história e compara seu crescimento ao das magnólias e dos gatos. Por essa comparação, que imagem o narrador protagonista faz de si?
b) Pode-se afirmar que a conclusão do capítulo ressignifica a comparação inicial que Brás faz de si com as magnólias? Por quê?
4. b) Sim, ressignifica porque as magnólias passam a ter origem no estrume, naquilo que é expelido como dejeto. Portanto, a flor Brás Cubas se originou do esterco familiar.
c) O narrador protagonista se expõe ao relatar seu comportamento em relação à pessoa escravizada: “quebrei a cabeça de uma escrava”, “deitei um punhado de cinza ao tacho”; “fui dizer à minha mãe que a escrava é que estragara o doce ‘por pirraça’”. Qual é o efeito de sentido dessa autoexposição?
É a de incomodar o leitor evidenciando a crueldade desses atos e, assim, criticar a escravidão e a elite brasileira de então. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
5. a) Pai: adorava o filho e incentivava suas ações cruéis. Mãe: fraca, de pouco cérebro e muito coração, crédula e piedosa, submissa ao marido. Tio João: língua solta, vida galante, conversa picaresca. Tio cônego: austero e puro, mas de espírito medíocre; piedoso, frouxo, acanhado e subalterno.
5. c) A descrição da família feita por Brás Cubas destaca aspectos negativos de todos os seus familiares, que espelhariam características análogas no próprio narrador.
SAIBA MAIS
Capitu traiu ou não traiu?
Uma das maiores polêmicas da literatura brasileira se refere aos protagonistas do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis: Capitu traiu Bentinho? O narrador Bento Santiago narra sua vida amorosa com a vizinha Capitu, por quem era obsessivamente apaixonado. Ao longo da narrativa, no entanto, Bento nos apresenta uma somatória de características negativas de Capitu que culminam com a ideia de que ela o havia traído com seu melhor amigo, Escobar; e que o filho de Capitu seria fruto dessa traição. Embora se esforce, Bento não convence a todos os leitores, pois, ao longo de sua narração, mostra-se inseguro, mentiroso, ciumento e imaginativo e, por isso, pouco confiável.
Mas saber se houve ou não traição é irrelevante: a maior qualidade da obra centra-se justamente nessa indefinição, que faz com que o leitor desconfie do próprio narrador.
5. b) A principal crítica que o narrador faz ao tio cônego é seu apego às aparências.
C APITU [Série]. Direção: Luiz Fernando Carvalho. Brasil: Globo, 2008. Transmissão ao vivo (150 min). Na foto, a atriz Letícia Persiles interpretando a personagem Capitu na juventude.
5. No imaginário idealizante romântico-burguês, as famílias se formariam por um casal que se ama perdidamente e que teria frutos perfeitos desse amor.
a) Destaque no caderno as características das personagens da família de Brás Cubas que são descritas no trecho lido: o pai, a mãe, tio João e o tio cônego.
b) A descrição dos tios insinua uma crítica. Qual?
7. a) Não, pois esse tipo de tratamento, além de estar previsto na sociedade escravocrata, era legitimado pelo pai do menino, ao chamá-lo “brejeiro”.
c) E xplique de que forma a descrição da família de Brás Cubas rompe a idealização burguesa.
6. O protagonista compara os tipos de educação que recebe do pai e da mãe.
a) Ao lhe ensinar rezas, o que pretende a mãe?
b) O pai dava-lhe “pancadinhas na cara, e exclamava a rir: Ah! brejeiro! ah! brejeiro!”. Que consequências se pode atribuir a esse gesto do pai?
c) Releia: “Minha mãe era uma senhora fraca, de pouco cérebro e muito coração, assaz crédula, sinceramente piedosa, – caseira, apesar de bonita, e modesta, apesar de abastada; temente às trovoadas e ao marido”. Que estrutura familiar essa descrição permite supor?
7. Releia: “afeiçoei-me à contemplação da injustiça humana, inclinei-me a atenuá-la, a explicá-la, a classificá-la por partes, a entendê-la, não segundo um padrão rígido, mas ao sabor das circunstâncias e lugares”.
a) O narrador consideraria injustiça humana o modo como tratava Prudêncio ou a escravizada? Por quê?
b) Que expressões desse trecho permitem dizer que o conceito de injustiça do protagonista não é confiável?
Machado de Assis, além de ser um dos maiores romancistas do Brasil, é considerado um mestre precursor na escrita de contos e crônicas.
Como cronista, Machado de Assis comenta os acontecimentos do seu tempo e os costumes do Rio de Janeiro do século XIX. Em algumas delas, Machado cria um personagem, o cronista, que escreve em primeira pessoa para fazer observações e críticas perspicazes sobre o cotidiano, a política e as peculiaridades da vida urbana. Por exemplo, na crônica publicada em 11 de maio de 1888, o cronista finge ser uma pessoa satisfeita com a monarquia que conversa com um interlocutor declaradamente antimonarquista. Após uma rápida discussão entre ambos, o interlocutor dispara uma frase em alemão, que traduzida significa isto: “Pode-se facilmente demonstrar que o Brasil é menos uma Monarquia constitucional do que uma Oligarquia absoluta”.
Assim, Machado usa o personagem cronista para fazer uma crítica à monarquia. Mas essa crítica só seria entendida pelos leitores que soubessem alemão…
7. b) As expressões destacadas: “entendê-la, não segundo um padrão rígido, mas ao sabor das circunstâncias e lugares”.
6. a) Pretende que o filho adote os princípios de sua própria crença, o catolicismo.
6. b) O pai legitima as ações do filho, reforça a irresponsabilidade do menino, sua perversidade, seu modo de tratar as pessoas.
6. c) Permite supor o domínio do pai, o que reafirma o patriarcalismo próprio da sociedade de então.
8. No começo do romance, o narrador Brás Cubas revela que escreveu o livro depois de ter morrido para tentar acabar com o tédio de uma eternidade em que nada acontecia. Leia um trecho do capítulo a seguir, do mesmo livro.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Talvez espante ao leitor a franqueza com que lhe exponho e realço a minha mediocridade; advirta que a franqueza é a primeira virtude de um defunto. Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à consciência; e o melhor da obrigação é quando, à força de embaçar os outros, embaça-se um homem a si mesmo, porque em tal caso poupa-se o vexame, que é uma sensação penosa, e a hipocrisia, que é um vício hediondo. Mas, na morte, que diferença! que desabafo! que liberdade! […]
MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria de. Capítulo XXIV: curto, mas alegre. In: MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria de. Memórias póstumas de Brás Cubas. [S. l.]: ibiblio, [2006]. Reprodução do original publicado em 1881. Disponível em: https://www.ibiblio.org/ ml/libri/a/AssisJMM_MemoriasPostumas/node27.html. Acesso em: 29 ago. 2024.
• De que forma esse capítulo justifica o comportamento do narrador no capítulo XI, quando revela sem pudores aspectos negativos seus e de sua família?
9. Depois de viver toda sua existência sem encontrar nada que quisesse e sem produzir nada, Brás Cubas conclui o romance da forma a seguir.
De acordo com esse capítulo, Brás Cubas, já morto, não precisa mais se preocupar com quaisquer convenções e pudores sociais. Por isso, refere-se a sua família e a si próprio sem nenhum atenuante, explicitando seu comportamento real e não o que seria desejável no mundo das aparências.
Das negativas […]
Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. […] qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e, conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: – Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.
MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria de. Capítulo CLX: das negativas. In: MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria de. Memórias póstumas de Brás Cubas. [S. l.]: ibiblio, [2006]. Reprodução do original publicado em 1881. Disponível em: https://www.ibiblio.org/ml/libri/a/AssisJMM_MemoriasPostumas/node163.html. Acesso em: 29 ago. 2024.
a) Com base nessa conclusão, qual visão sobre a vida se pode perceber em Brás Cubas?
A visão de que não vale a pena viver, pois filhos só reproduziriam a miséria humana. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
b) Apesar dessa conclusão, Brás Cubas revela um ponto positivo de sua existência, que dialoga com a lógica burguesa do século XIX. Que ponto positivo seria esse?
A vantagem de nunca precisar trabalhar.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A literatura realista retratou as contradições e a hipocrisia da vida cotidiana da burguesia. As dinâmicas familiares burguesas são apresentadas em suas tensões e dissimulações, compondo um retrato que abandona e critica a idealização romântica. O desprezo pelo trabalho, por sua vez, enfatiza a posição social privilegiada do narrador.
10. Machado de Assis desenvolveu um estilo próprio, que não apenas deu a tônica do movimento realista como também influenciou muitos escritores posteriores. Alguns dos recursos narrativos de suas obras são tão inovadores que podem ser considerados divisores na literatura nacional e até mundial. Leia um trecho do capítulo a seguir, também de Memórias póstumas de Brás Cubas.
10. a) O pressuposto de que seu leitor gosta de outro tipo de livro, escrito em linguagem mais direta, fácil, que não tenha digressões, reflexões. O estilo direto e fluente pode aqui ser associado a narrativas centradas na ação, que não exijam muito do leitor. Assim, essas suposições projetam um leitor mais superficial, que recebe a crítica irônica do narrador. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
O senão do livro
Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; eu não tenho que fazer; […]. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direita e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem…
MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria de. Capítulo LXXI: o senão do livro. In: MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria de. Memórias póstumas de Brás Cubas. [S. l.]: ibiblio, [2006]. Reprodução do original publicado em 1881. Disponível em: https://www.ibiblio.org/ml/libri/a/AssisJMM_MemoriasPostumas/node74.html. Acesso em: 29 ago. 2024.
a) O narrador do romance é o próprio protagonista, Brás Cubas. Nesse capítulo, ele se dirige diretamente ao leitor para acusá-lo. Que pressupostos dão base para a acusação do narrador?
b) Um dos recursos narrativos utilizados por Machado de Assis é a inclusão do leitor na obra, como se atuasse como um personagem da narrativa. De que forma ele procede com esse recurso no trecho?
Ao atribuir o problema do livro a uma leitura inadequada do leitor, o narrador coloca o leitor como um personagem que atua no direcionamento da narrativa.
c) Copie, no caderno, a frase que explica como seria o estilo do livro com base na concepção que o narrador tem do leitor.
Resposta: alternativa I.
I. O estilo seria marcado por uma ordem não cronológica de ações, com momentos de reflexão e metalinguagem.
II. O estilo seria marcado pelo próprio leitor, que confere à obra as características de acordo com seu percurso de leitura.
III. O e stilo seria marcado pelo excesso de descrições e idealizações, que levaria o leitor a uma confusão de sentidos semelhante à vivenciada por um ébrio.
11. Você vai ler mais dois capítulos de Memórias póstumas de Brás Cubas. O primeiro se refere à conversa que Brás teria tido com sua amada Virgília em um primeiro encontro amoroso. O segundo refere-se a uma moça com quem queriam que Brás se casasse.
O velho diálogo de Adão e Eva
BRÁS CUBAS.............................................................?
VIRGÍLIA..................................................................
BRÁS CUBAS............................................................
VIRGÍLIA.................................................................!
BRÁS CUBAS...........................................................
MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria de. Capítulo LV: o velho diálogo de Adão e Eva. In: MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria de. Memórias póstumas de Brás Cubas. [S. l.]: ibiblio, [2006]. Reprodução do original publicado em 1881. Disponível em: https://www.ibiblio.org/ml/libri/a/ AssisJMM_MemoriasPostumas/node58.html. Acesso em: 29 ago. 2024.
“Ao vencedor, as batatas!”
O humanitismo é uma filosofia fictícia criada pelo excêntrico personagem Quincas Borba nos romances Memórias póstumas de Brás Cubas e Quincas Borba . Essa doutrina serve como uma sátira às correntes filosóficas e científicas do século XIX, especialmente ao darwinismo social, que é a adaptação das teorias de Charles Darwin (1809-1882) ao domínio social. O humanitismo propõe que a essência da existência humana está na luta incessante pela sobrevivência, condensada na máxima “Ao vencedor, as batatas!”. Segundo essa filosofia, a humanidade é a base de todas as coisas, e o conflito é um elemento natural e inevitável da vida, em que os fortes triunfam e os fracos são destinados à derrota e ao sofrimento. Essa visão propõe uma crítica à sociedade do fim do século, destacando a crueldade e o egoísmo que caracterizam as relações humanas praticadas na época. Através do humanitismo, são expostas a hipocrisia e a brutalidade que podem estar ocultas sob a fachada da civilização e do progresso.
Resposta: alternativa I.
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AOS DEZENOVE ANOS DE IDADE ORAI POR ELA!
11. a) Porque o título do capítulo faz referência ao diálogo amoroso, que seria imutável desde Adão e Eva. Portanto, não haveria necessidade de reproduzi-lo novamente.
11. b) Esse capítulo replica o gênero textual epitáfio (texto inscrito na lápide de um túmulo, que tem características descritivas).
11. c) O registro de uma lápide já pressupõe que a personagem morreu. Sendo assim, a informação da ação já foi narrada, só não foram apresentados os detalhes de como ocorreu a morte.
MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria de. Capítulo CXXV: epitáfio. In: MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria de. Memórias póstumas de Brás Cubas. [S. l.]: ibiblio, [2006]. Reprodução do original publicado em 1881. Disponível em: https://www.ibiblio.org/ml/libri/a/AssisJMM_MemoriasPostumas/node128.html. Acesso em: 29 ago. 2024.
a) Por que se pode dizer que no capítulo LV, embora todas as falas estejam em branco, é possível entender os sentidos produzidos pelo diálogo?
b) O capítulo CXXV não é narrativo. Qual gênero textual ele replica?
c) De que forma é possível entender o que ocorreu com Eulália mesmo sem que nada seja narrado?
Alguns recursos narrativos inovadores da obra de Machado de Assis são a conversa com o leitor, a explicitação da estratégia narrativa, as digressões (interrupções da narração para uma reflexão), a inclusão do leitor na obra e a inovação estilística com capítulos não narrativos, como os apresentados na questão 11.
Os contos de Machado de Assis
Como contista, Machado de Assis é reconhecido pela profundidade psicológica de suas personagens e pela sutileza na exploração de temas complexos, como a hipocrisia social, as ambiguidades morais e as ironias da vida cotidiana. Seus contos são marcados por uma linguagem precisa e elegante, além de uma narrativa frequentemente irônica e introspectiva. Ele utiliza o conto como um meio para dissecar a alma humana, revelando as contradições e os dilemas internos de suas personagens. Agora é sua vez de conhecer mais sobre os contos de Machado de Assis. Leia os contos indicados a seguir.
• Missa do galo (1899)
• O enfermeiro (1896)
• O espelho (1882)
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Depois da leitura, em uma aula combinada com o professor, reflita com os colegas sobre as possíveis relações entre os contos e os temas contemporâneos a seguir.
1. A aparência é mais importante do que a essência?
2. Como a pós-verdade produz mundos descolados da realidade?
PINHEIRO, João; JEOSAFÁ. O espelho de Machado de Assis em HQ. [Adaptado da obra de] Machado de Assis. São Paulo: Mercuryo Jovem, 2012. p. 6.
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As inovações tecnológicas do século XIX
Locomotiva e vagão da Estrada de Ferro de Baturité. Ceará. A ferrovia começou a funcionar em 1883. Foto de c. 1920.
O século XIX foi um período de extraordinárias inovações tecnológicas, que transformaram profundamente a sociedade. A máquina a vapor impulsionou a Revolução Industrial ao permitir a mecanização da produção; o transporte ferroviário e o telégrafo revolucionaram as comunicações ao permitir o transporte rápido de pessoas e mercadorias e a transmissão instantânea de informações a longas distâncias. Além disso, a eletricidade começou a ser utilizada de forma mais ampla, com inventos como a lâmpada incandescente de Thomas Edison (1847-1931) e o desenvolvimento do motor elétrico. A fotografia também surgiu nesse período, mudando a forma como as pessoas registravam a realidade. Essas inovações não apenas aumentaram a eficiência industrial e a conectividade mas também abriram caminho para novas descobertas e avanços no século seguinte, sendo refletidas nas artes de vanguarda no fim do século.
MUSEU DA REPÚBLICA, RIO DE JANEIRO, BRASIL
VIARES, Décio. Alegoria da morte do positivista
Benjamin Constant. 1892. Óleo sobre tela, 37,5 cm x 27,5 cm. Museu da República, Rio de Janeiro.
O positivismo, corrente filosófica desenvolvida pelo francês Auguste Comte (1798-1857), sustentava que o conhecimento verdadeiro só poderia ser obtido por meio da observação direta e da aplicação do método científico. Essa abordagem rejeitava explicações metafísicas ou teológicas, promovendo a ideia de que a ciência deveria se basear exclusivamente em fatos observáveis e mensuráveis. A influência do positivismo foi profunda no desenvolvimento das ciências do século XIX: incentivou a sistematização do conhecimento e a profissionalização das disciplinas científicas. Esse movimento intelectual levou à criação e consolidação de várias áreas de estudo, como a Sociologia, a Biologia e a Psicologia. O positivismo confronta a lógica subjetiva do Romantismo, a qual se torna cada vez mais deslocada da realidade.
O século XIX é frequentemente chamado de “era dos -ismos” devido à proliferação de correntes filosóficas, científicas e sociais que se desenvolveram nesse período, como o marxismo, o evolucionismo e o determinismo. O marxismo, com sua análise crítica das estruturas de poder derivadas da luta de classes, influenciou escritores a abordar temas como a injustiça social e a desigualdade econômica, promovendo uma literatura engajada e crítica. O evolucionismo, impulsionado pelas ideias de Charles Darwin, inspirou autores a
A VENERABLE orang-outang: a contribution to unnatural history. 1871. Litografia, 39,9 cm x 27,9 cm. University College London Digital Collections.
explorar as implicações das teorias da evolução e da seleção natural nas questões humanas e sociais, muitas vezes refletindo sobre o progresso e a sobrevivência, considerando o ser humano apenas um animal, não mais um ser especial criado por uma divindade.
O final do século XIX é marcado por intensas transformações na estrutura social e política do país, que rompe definitivamente os laços coloniais e imperiais. O fim da escravidão em 1888 e a Proclamação da República em 1889 originam uma sociedade que promete integrar todos os estados da nação em uma república justa e democrática para todos, baseada na lógica positivista da ordem e do progresso. Essa promessa, no entanto, mostrou-se ilusória com a Primeira República, voltada aos interesses de uma elite do sudeste do país, e com a publicação de leis que tentavam apagar o passado escravocrata, bem como encarcerar os ex-escravizados, como as leis de vadiagem, que prendiam todo aquele que não comprovasse residência e emprego fixo. Esse contexto tornou-se o terreno propício para o desenvolvimento de uma literatura que, pautada em discursos científicos, ainda que afetados por uma lógica racial e conservadora, questionava a estrutura social e o desenvolvimento da nação.
REVISTA ILLUSTRADA. Rio de Janeiro: Pereira Neto, 1876-1898. Reprodução da capa do n. 610, de 1890.
O lado mais drástico das promessas frustradas manifestou-se sob a forma de um projeto explícito de branqueamento da nação. A elite dominante, inspirada pelas ideias de uma teoria racista que se dizia científica, sonhava em apagar a presença negra da população do país através de uma miscigenação que confirmaria a superioridade dos brancos. Esse sonho está concretizado na pintura reproduzida a seguir.
A historiadora e antropóloga paulista Lilia Moritz Schwarcz (1957-) explica o significado da pintura no contexto do projeto de branqueamento da nação.
[…] A avó, de pé, leva as mãos aos céus anunciando a ‘graça recebida’; o pai, que tem jeito de imigrante português, dirige seu olhar ao filho com expressão orgulhosa; a mãe, com traços e cores mais ‘depuradas’, aponta para o futuro com a mão direita, enquanto o filho a segue com os olhos e o braço direito. Era um futuro branco o que o aguardava.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. Imagens da branquitude: a presença da ausência.
São Paulo: Companhia das Letras, 2024. E-book. Localizável em: subt. Um futuro branco, § 19.
Marcada pelo racismo científico da época, a obra de Brocos mostra uma avó negra, uma mãe negra de pele clara e um pai branco celebrando o filho de pele mais clara. A pintura reflete as ideologias da época e a política de branqueamento, promovida no Brasil do século XIX. BROCOS, Modesto. A redenção de Cam. 1895. Óleo sobre tela, 166 cm x 225 cm. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.
A literatura realista no Brasil começou a ser produzida no final do século XIX, em um contexto de profundas transformações sociais, políticas e econômicas, influenciado pelas teorias científicas e filosóficas vindas da Europa, como o positivismo, o evolucionismo e o determinismo. Os grandes temas dessa estética procuram dissecar as relações sociais – tanto as do mundo do trabalho, marcado pela exploração e imoralidade, como as do universo doméstico familiar burguês, construído com base em interesses e no patriarcado.
Essa pintura de Almeida Júnior retrata o domínio do patriarcado na família brasileira de fins do século XIX. Enquanto o marido lê folgadamente o jornal, a esposa cuida das crianças e costura para a família, conforme indicado pelo cesto de costura que se vê na imagem. Ao contrário dos romances realistas, que apontam as tensões da família patriarcal, a cena retratada por Almeida Júnior enfatiza a harmonia reinante nesse tipo de família.
ALMEIDA JÚNIOR, José Ferraz de. Cena de família de Adolfo Augusto Pinto. 1891. Óleo sobre tela, 137 cm x 106 cm. Pinacoteca do Estado de São Paulo.
A representação da Independência de Georgina de Albuquerque abandona a idealização romântica que insere D. Pedro I como figura central e coloca Leopoldina em destaque, pois foi ela que assinou a declaração de independência.
ALBUQUERQUE, Georgina de. Sessão do Conselho de Estado que decidiu a Independência 1922. Óleo sobre tela, 210 cm x 265 cm. Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro.
Além da dissecação das relações humanas e sociais, o Realismo brasileiro foi marcado pela análise crítica da sociedade e das instituições. Se nos romances românticos predominava um narrador onisciente, que explicitava sentimentos e motivações das personagens, no Realismo predomina um narrador observador que, por meio da descrição detalhada das cenas, leva o leitor a criar uma representação imagética da cena, das personagens e de suas ações e, assim, a formular hipóteses sobre o universo interior das personagens, sem a necessidade de explicá-lo ao leitor.
O escritor carioca Machado de Assis é o principal expoente do Realismo, embora sua obra exceda muito os limites dessa estética. Obras como Memórias póstumas de Brás Cubas e Dom Casmurro revelam seu estilo irônico aliado à sua habilidade para explorar as complexidades da psicologia humana. A crítica à hipocrisia social, ao egoísmo e às ilusões humanas permeia seus romances, que são considerados até hoje como marcos da literatura brasileira. Coelho Neto (1864-1934), em obras como A capital federal (1893), explorou os contrastes e as desigualdades da vida na cidade do Rio de Janeiro de sua época, abordando temas como a corrupção, a ambição e as tensões sociais.
A literatura realista no Brasil não só refletiu as mudanças e os desafios da sociedade de seu tempo mas também contribuiu para o desenvolvimento de uma consciência crítica entre os leitores. Os reflexos dessa literatura podem ser percebidos na literatura contemporânea, que apresenta uma crítica incisiva de vários aspectos da sociedade, bem como em uma literatura psicológica que passou a investigar e esmiuçar o universo de aparências dos sujeitos contemporâneos.
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As mulheres escritoras na época do Realismo
Várias escritoras do Realismo enfrentaram dificuldades para publicar suas obras e alcançar reconhecimento. Entre elas, destacam-se Carmen Dolores (1852-1911), pseudônimo de Emília Moncorvo Bandeira de Mello, uma das primeiras mulheres a conquistar espaço no jornalismo e na literatura do Brasil, abordando temas sociais e questões femininas, como no romance A luta (1911).
Maria Benedita Bormann (1853-1895), que escrevia sob o pseudônimo de Délia, abordou, em contos e romances, temas como a condição da mulher e a hipocrisia social, desafiando normas vigentes de sua época, como no livro Uma vítima (1884). Júlia Lopes de Almeida (1862-1934), figura central nesse grupo, teve papel ativo na cena cultural. Embora fosse a escritora brasileira mais vendida da Primeira República e cogitada para ser uma das fundadoras da ABL, foi excluída da instituição por ser mulher. O preconceito de gênero impôs a essas mulheres restrições sociais e culturais que limitavam suas oportunidades. Em A falência (1901), aborda questões sociais e econômicas, assim como a posição da mulher na sociedade, com uma descrição minuciosa da sociedade carioca.
No final do século XIX, a Psicologia começou a se consolidar como uma disciplina científica independente, embora ainda mantivesse diálogos com a Filosofia, ganhando metodologia e campos de estudo próprios. Os médicos Wilhelm Wundt (1832-1920) e Jean-Martin Charcot (1825-1893) iniciaram os estudos nesse campo. Wundt é frequentemente considerado o “pai da psicologia experimental”, enquanto Charcot é conhecido por suas contribuições ao estudo da histeria e da hipnose. As teorias e descobertas desses pioneiros tiveram uma influência significativa não apenas na psicologia mas também na literatura realista da época, cujos autores buscavam retratar a personalidade humana com precisão e profundidade.
Sigmund Freud (1856-1939), que começou seus estudos sobre neurose e histeria com Charcot, desenvolveria um novo campo de estudo: a psicanálise, que ganharia corpo no início do século XX. Freud criou uma metodologia própria de análise e elaborou conceitos como inconsciente, ego, id, recalque, além de investigar os sonhos, entre muitas outras contribuições fundamentais.
Madame Bovary (1856), do escritor francês Gustave Flaubert (1821-1880), apresenta uma análise detalhada e realista do universo interior de sua protagonista, Emma Bovary. Flaubert adota uma abordagem impessoal, similar ao distanciamento científico em relação ao seu objeto de estudo, para explorar as emoções, os desejos e as frustrações de Emma, revelando suas motivações internas e a complexidade de sua psique. A forma como ele retrata a insatisfação crônica de Emma e suas escapadas emocionais e românticas reflete a influência das teorias psicológicas da época, que buscavam compreender o comportamento humano de maneira científica, analítica.
Não escreva no livro.
1. Forme uma dupla e pesquise informações sobre a psicologia experimental que surge no século XIX, especificamente sobre os estudos produzidos com relação às formas como se percebe o mundo, como emoções e sensações são experimentadas, o que motiva as ações e como se dá a interação com outras pessoas.
Respostas e comentários nas Orientações para o professor.
2. A gora, discuta com os colegas como é possível analisar o personagem Brás Cubas usando as ideias da psicologia experimental, considerando o que você descobriu nas suas pesquisas.
1. Professor, oriente os estudantes a buscar referências confiáveis, como revistas acadêmicas, de divulgação científica ou canais de mídia de referência.
2. Professor, incentive os estudantes a refletir sobre como relacionar características comportamentais a grupos pode provocar uma generalização perigosa. É sempre importante considerar as particularidades de cada sujeito de forma complexa e responsável, mesmo que sejam personagens literários. Se achar ser do interesse dos estudantes, proponha a leitura completa de um romance realista para aprofundarem a análise de personagem à luz de algum conceito que tenham considerado favorável a esse tipo de investigação.
O narrador e o ponto de vista
É muito fácil identificar se um narrador está em primeira ou em terceira pessoa em uma narrativa, basta observar a flexão verbal. Mas, para além disso, todo narrador sustenta um ponto de vista, ou seja, tem uma visão dos fatos. Assim, observar um ponto de vista não é o mesmo que identificar em que pessoa está o narrador.
Em Memórias póstumas de Brás Cubas , o narrador em primeira pessoa expressa o ponto de vista de Brás Cubas, um personagem pertencente às classes abastadas de sua época. É por isso que relata com naturalidade o tratamento cruel que dispensava às pessoas escravizadas. Machado de Assis, autor negro, escolheu esse narrador e esse ponto de vista como uma estratégia para expor abertamente a violência da sociedade escravocrata.
Em Dom Casmurro , o narrador em primeira pessoa, o advogado Bento Santiago, também pertencente às classes abastadas, expressa o ponto de vista do chefe de família patriarcal ao atribuir uma suposta infidelidade à esposa, Capitu, e condená-la ao desterro na Europa. Nesse episódio crucial do romance, o narrador não dá voz a Capitu, por isso o leitor não conhece o que ela tem a dizer sobre essas suspeitas não comprovadas do narrador – e é justamente essa falta de comprovação que torna Bento Santiago um narrador suspeito . É possível interpretar que essa suspeição que paira sobre o narrador Bento Santiago foi uma estratégia usada pelo autor Machado de Assis para fazer uma crítica à família patriarcal.
A ironia, marca do narrador em Machado, navega na ambiguidade e revela certo cinismo, certa desilusão, um pessimismo que marca seu modo de considerar a sociedade escravocrata e patriarcal de sua época.
Entender o ponto de vista do narrador é passo fundamental para se chegar a camadas mais profundas de uma narrativa.
No livro A audácia dessa mulher (2011), de Ana Maria Machado (1941-), uma das personagens descobre, 100 anos depois, o diário de Capitu, personagem do romance Dom Casmurro, de Machado de Assis. A história que Capitu conta nesses diários é bem diferente daquela narrada por Bento Santiago, seu marido no romance de Machado de Assis.
Para pensar e discutir
MACHADO, Ana Maria. A audácia dessa mulher. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011. Reprodução da capa.
1. Em vários outros gêneros, é fundamental entender o ponto de vista. Com os colegas, identifique alguns desses gêneros.
2. Um poema também manifesta pontos de vista, ainda que não tenha narrador. Você concorda com essa afirmativa? Explique.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
O contexto do Realismo viu surgirem inovações científicas que mudaram o cotidiano das pessoas. Vinculados à Revolução Industrial, artefatos tecnológicos como a locomotiva, o telégrafo, a eletricidade e o telefone passam a fazer parte da vida e das trocas sociais. Uma das formas de divulgação desses produtos se dá por meio de verbetes enciclopédicos, que registram de forma condensada as informações básicas de um termo para um público leigo ou especializado.
Para discutir
1 O s verbetes, bastante consultados na internet, são uma fonte de referência para consulta rápida, para quem busca uma informação básica, pois podem ser facilmente encontrados em suas versões virtuais por meio de um computador ou smartphone . Você já consultou verbetes? Qual foi o último consultado?
2 Quais enciclopédias virtuais você utiliza como referência para consulta de verbetes?
3 Você já consultou alguma enciclopédia impressa? Que outros livros de consulta também são organizados em verbetes? Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Você vai ler a seguir um verbete publicado na enciclopédia eletrônica Wikipédia sobre o telefone, invenção que revolucionou as comunicações no final do século XIX e que teve o Brasil envolvido em seu surgimento.
Texto
180 línguas
Telefone é um sistema de telecomunicações capaz de transmitir som através de sinais elétricos nas redes de telefone.[1] É definido como um aparelho eletroacústico que permite a transformação, no ponto transmissor, de energia acústica em energia elétrica e, no ponto receptor, a energia elétrica é transformada novamente em acústica, permitindo desta forma a troca de informações (através da fala) entre dois ou mais usuários. Para haver êxito nessa comunicação, os aparelhos necessitam estar comutados (ligados) a uma central telefônica.[2]
[…]
Invenção
Em 2 de junho de 1875, Graham Bell e seu auxiliar Thomas Watson fizeram várias experiências para verificar o funcionamento do telégrafo harmônico. Cada um foi para uma sala na oficina de Bell. Watson, em uma delas, tratava de ligar diversos eletroímãs, enquanto Bell, na outra, observava o comportamento dos eletroímãs de seu aparelho que deveriam vibrar estimulados pelo aparelho de Watson. De início a experiência não funcionou e para piorar a lâmina de um dos transmissores não vibrava quando ligada à pilha. Como essa lâmina parecia estar presa, Watson começou a puxá-la e soltá-la para ver se assim ela começava a vibrar. Nisso, Bell ouve uma forte vibração no aparelho que estava em
sua sala, dá um grito e vai correndo perguntar a Watson o que ele havia feito. Dando uma olhada na lâmina que estava com problema, Bell viu que um parafuso estava muito apertado, impedindo que o contato elétrico gerado entre a lâmina e o eletroímã fosse rompido, interrompendo a transmissão de pulsos elétricos para a outra sala. Bell, tentando compreender o que havia acontecido, verificou que quando a lâmina de aço vibrou diante do eletroímã, ela induziu uma corrente elétrica oscilante na bobina do eletroímã e essa corrente elétrica produziu a vibração no aparelho que estava na outra sala. O princípio da física que explicava esse fenômeno já havia sido demonstrado por Michael Faraday. Então Bell percebeu que poderia usá-lo para fazer o que tanto queria: transmitir a voz através da eletricidade, e deu instruções a Watson para que construísse um novo aparelho, adaptado sob o antigo, com a finalidade de captar as vibrações sonoras do ar e produzir vibrações elétricas.[3]
Primeiro telefone
Alexander Graham Bell fazendo a primeira ligação telefônica, de Nova York para Chicago, em 1892.
No dia seguinte, 3 de junho de 1875, atendendo a solicitação de Bell, Watson construiu dois exemplares. Um deles era de uma estrutura de madeira que tinha uma espécie de tambor mantendo todas as partes do dispositivo nas posições corretas, e que devido ao seu formato ficou conhecido como ‘telefone de forca’.
A ideia de Bell era que ao falar próximo à membrana ela vibraria, fazendo a lâmina tremer perto do eletroímã e induzindo correntes elétricas variáveis até sua bobina. Ele esperava que essas vibrações sonoras fossem reproduzidas igualmente na forma elétrica que seria conduzida por fios metálicos até um outro aparelho idêntico, fazendo-o vibrar e emitir um som semelhante ao inicial. […]
As pesquisas posteriores tinham como objetivo o desenvolvimento de uma membrana para transformar o som em corrente elétrica e reproduzi-lo novamente no outro lado,[4] e assim a invenção foi patenteada em 7 de março de 1876. Mas a data que entrou para a história da telefonia foi o dia 10 de março de 1876, pois nesse dia foi feita a transmissão elétrica da primeira mensagem completa pelo aparelho recém-inventado. Graham Bell se encontrava no último andar de uma hospedaria em Boston, nos Estados Unidos. Já Watson trabalhava no térreo e atendeu o telefone, de onde ouviu, espantado — ‘Senhor Watson, venha cá. Preciso falar-lhe’.
Assim Thomas Watson foi a primeira pessoa a ouvir uma voz pelo dispositivo denominado telefone. Começava aí a história das telecomunicações, que iria revolucionar o mundo dali em diante.[5] Em maio de 1876 Graham Bell, com seu invento já patenteado, levou o telefone para a Exposição Internacional comemorativa ao Centenário da Independência Americana na cidade de Filadélfia, colocando-o sobre uma mesa à espera do interesse dos juízes, o que não correspondeu às expectativas. Dois meses após, D. Pedro II, Imperador do Brasil, chega em visita à exposição. Tendo, há tempos, assistido a uma aula de Bell para surdos, saudou o jovem professor. D. Pedro II abriu caminho para a aceitação do invento. Os juízes começaram a se interessar e assim o telefone foi examinado. Bell estendeu um fio de um canto a outro da sala, onde o silêncio era total, dirigiu-se ao transmissor e colocou o Imperador do Brasil na outra extremidade. Dom Pedro II tinha o receptor ao ouvido quando exclamou de repente — ‘Meu Deus, isto fala!’ .
Menos de um ano depois já estava organizada em Boston a primeira empresa telefônica do mundo, a Bell Telephone Company, com 800 telefones.[6] […]
Brasil […]
O telefone chegou ao Brasil em 1877, poucos meses depois da exposição de Filadélfia. O primeiro aparelho foi fabricado nas oficinas da Western and Brazilian Telegraph Company, especialmente
para Dom Pedro II. Foi instalado no Palácio Imperial de São Cristovão, localizado na Quinta da Boa Vista, hoje o Museu Nacional no Rio de Janeiro, e era ligado às casas ministeriais, esta sendo a primeira linha telefônica brasileira.[4] […]
Em agosto de 1878 são feitas as primeiras demonstrações do telefone na cidade de São Paulo […]. […]
Referências
2. d) Possibilidade de resposta: “As pesquisas posteriores tinham como objetivo o desenvolvimento de uma membrana para transformar o som em corrente elétrica e reproduzi-lo novamente no outro lado, [4] e assim a invenção foi patenteada em 7 de março de 1876”.
1. ↑ Dicionário Porto Editora. «Definição de telefone». Consultado em 23 de fevereiro de 2012
2. ↑ «Central Telefônica e RDSI». Teleco. Consultado em 12 de setembro de 2019
3. ↑ «Caderno do laboratório de Alexander Graham Bell, 1875 a 1876». World Digital Library. 1875–1876. Consultado em 23 de julho de 2013
4. ↑ ab «História do Telefone e sua Evolução». Toda Matéria
5. ↑ abcde «História do Telefone». Portal São Francisco. Consultado em 12 de setembro de 2019
6. ↑ abc «Pioneirismo telefônico». www.campoecidade.com.br. Consultado em 12 de setembro de 2019 […]
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1. O verbete traz informações a respeito do telefone.
a) Quais são as informações principais apresentadas pelo texto inicial?
TELEFONE. In: WIKIPEDIA: the free encyclopedia. [San Francisco, CA: Wikimedia Foundation], 22 abr. 2024. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Telefone. Acesso em: 30 maio 2024. É apresentada a função e definição do que é um telefone.
b) É provável que todo leitor desse verbete já saiba o que é um telefone. Quais informações presentes na parte inicial podem ser novas para ele?
c) Quem seriam os prováveis leitores desse verbete?
Provavelmente as informações mais técnicas sobre energia elétrica e acústica, bem como sobre a necessidade de uma central telefônica. Pessoas interessadas em conhecer o funcionamento ou a origem do telefone.
Verbetes são textos de caráter informativo que explicam um conceito ou descrevem algo do mundo. Geralmente produzidos por especialistas, fazem parte de enciclopédias e são considerados como textos de referência para pesquisas.
Transmissão elétrica da primeira mensagem completa pelo aparelho telefônico.
2. Observe a organização das informações.
Foi patenteado o invento.
a) Copie e complete, no caderno, o organizador a seguir com os eventos ocorridos em cada data selecionada.
1875
Bell consegue transmitir a voz através da eletricidade e é então produzido o primeiro aparelho telefônico.
7 de março de 1876
10 de março de 1876
Maio de 1876 1877
Já funciona a primeira empresa telefônica do mundo, a Bell Telephone Company. Pouco depois, o invento chega ao Rio de Janeiro, no Brasil.
b) Considerando essa sequência de datas, responda: como o verbete organiza as informações?
c) Por que o verbete adota essa organização?
Juízes reconhecem o invento durante a Exposição Internacional comemorativa ao Centenário da Independência Americana.
d) Além de uma dada organização das informações, o verbete busca objetividade na exposição dos fatos. Copie, no caderno, um trecho em que seja possível reconhecer a objetividade.
e) Embora todos os verbetes devam se manter objetivos no desenvolvimento do conteúdo, este abre espaço para emoção. Copie, no caderno, um trecho que sugira isso.
2. b) Em ordem cronológica.
2. c) Porque conta uma história seguindo a ordem em que os fatos aconteceram.
2. e) Possibilidade de resposta: “De início a experiência não funcionou e para piorar a lâmina de um dos transmissores não vibrava quando ligada à pilha. Como essa lâmina parecia estar presa, Watson começou a puxá-la e soltá-la para ver se assim ela começava a vibrar. Nisso, Bell ouve uma forte vibração no aparelho que estava em sua sala, dá um grito e vai correndo perguntar a Watson o que ele havia feito”.
4. A presença de links permite que o leitor faça outros caminhos de leitura, que não a linear. Durante a leitura, é possível clicar os links que encaminham para outras páginas, trazendo informações complementares que permitem expandir o conhecimento presente na primeira página acessada ou simplesmente mude o foco de interesse.
3. Em enciclopédias virtuais, é comum a presença de imagens e legendas.
a) Que função têm as imagens nesse verbete?
As imagens ilustram elementos do texto, mostrando, por exemplo, os diferentes modelos de telefone e uma fotografia de seu inventor, Graham Bell.
b) Considerando a dinamicidade de leitura de textos virtuais, explique a importância dessas imagens para a leitura do verbete.
As imagens garantem respiros na página e tornam a leitura mais atrativa para o leitor, além de possibilitarem, de forma econômica, que o leitor entenda a que o texto se refere.
4. O meio eletrônico em que o verbete foi publicado dá acesso a outras possibilidades de leitura. Como os links auxiliam nesse processo?
5. A Wikipédia é uma enciclopédia eletrônica de produção colaborativa, ou seja, os próprios autores são leitores e editores da informação postada. No entanto, qualquer colaborador deve seguir uma estrutura pré-determinada: cada verbete deve obrigatoriamente ter um título, um resumo inicial, desenvolvimento, referências e ligações externas. Também é registrada a última atualização do verbete.
a) De acordo com o trecho, quando foi feita a última atualização do verbete “Telefone”?
A última atualização foi feita em 22 de abril de 2024.
b) Considerando o tema do verbete, explique por que uma atualização relativamente antiga não geraria tantos prejuízos para o texto.
Espera-se que os estudantes percebam que a tecnologia de telefonia permanece igual ou muito semelhante ao longo de mais de um século, portanto alterações constantes são desnecessárias.
c) Qual é a relevância das referências ao final do artigo?
As referências aumentam a confiabilidade do texto, indicando em que outros textos o leitor pode procurar por mais informações.
6. A pesquisa em verbetes enciclopédicos permite esclarecer dúvidas rapidamente a respeito de diversos assuntos. As enciclopédias digitais tornaram essa consulta ainda mais rápida. Por esse motivo, o verbete deve ser construído para atender esse público e também outros que pretendam se aprofundar um pouco mais no tema.
a) Que tipo de linguagem foi utilizada na construção desse verbete que pode ser considerada própria do gênero? Por quê?
6. a) Foi usada uma linguagem formal, objetiva e impessoal para evitar ambiguidades e duplo sentido. É importante ressaltar que o verbete não deve trazer muitos termos técnicos, porque dificultaria a compreensão pelo leitor.
b) O verbete “Telefone” traz um parágrafo introdutório inicial e está dividido em tópicos. Por que essa forma de organização do verbete auxilia o leitor que busca uma informação?
7. Antes de serem organizadas em ambientes virtuais, as enciclopédias eram impressas e compunham grandes e caras coleções que apresentavam os verbetes em ordem alfabética. Estavam presentes em casas de famílias com poder econômico para adquiri-las ou em bibliotecas.
• Qual é a importância de as enciclopédias terem se tornado mais ágeis e mais acessíveis a um número maior de pessoas?
A democratização do conhecimento, o que permite que um número maior de pessoas aprenda e amplie seu repertório.
Desde seu surgimento, as enciclopédias têm como objetivo registrar informações básicas e fundamentais do conhecimento para serem fonte de consulta e referência para pesquisadores e qualquer pessoa que se interesse em conhecer mais sobre determinado assunto.
6. b) Porque, desse modo, o leitor pode ir diretamente ao ponto que lhe interessa. Além disso, o primeiro parágrafo traz as informações principais de forma resumida para, em seguida, apresentar tópicos com dados mais detalhados.
8. É comum que estudantes busquem informação em sites ou páginas da internet para desenvolver seus trabalhos. O resultado obtido em sites de busca segue algoritmos variados, mas, em grande parte das vezes, verbetes aparecem entre as primeiras opções, seguidos de notícias e sites pagos.
a) Qual é a importância de se consultar um verbete em qualquer pesquisa desenvolvida?
O verbete traz informações condensadas e sistematizadas para consulta rápida.
b) Que outras obras de referência têm a mesma confiabilidade de enciclopédias?
Dicionários, compêndios, livros didáticos, vocabulários, gramáticas e almanaques.
9. S er autor de uma obra significa ser a origem dela, ser o responsável por suas qualidades e defeitos, o que traz prestígio a essa pessoa. Entretanto, a internet tem incentivado o debate em torno da noção de autoria, pois gêneros como o meme colocaram em xeque essa noção de origem, possibilitando que o usuário faça modificações e associações de elementos a um meme que já estava circulando anteriormente.
9. a) Por ser uma enciclopédia produzida de forma colaborativa, não existe um único autor da obra, visto que ela é constantemente revisada e atualizada por diferentes sujeitos.
9. b) A autoria colaborativa permite atualização rápida do verbete, bem como a revisão de alguma inadequação; no entanto, alguns verbetes podem reproduzir equívocos, erros que passam despercebidos pelos avaliadores, o que acaba gerando informações falsas.
a) De que modo a Wikipédia permite o questionamento em torno da noção de autoria?
b) Quais seriam as vantagens e os riscos em se ter um verbete com autoria colaborativa na internet?
Enquanto as enciclopédias impressas eram escritas por especialistas, as bibliotecas virtuais colaborativas são escritas por voluntários. Embora exista uma fiscalização de conteúdo, muitas informações equivocadas ou incompletas são reproduzidas nos verbetes de enciclopédias colaborativas. Por isso, cabe ao leitor ter discernimento e sempre comparar textos de diversas fontes para conferir as informações.
10. Leia alguns trechos do verbete “Energia elétrica”, que estava acessível através do link “Energia elétrica” do verbete “Telefone”.
[…]
Energia elétrica é uma forma de energia que se origina da energia potencial elétrica, baseada na geração de diferenças de potencial elétrico, permitindo estabelecer corrente elétrica entre dois pontos e os fenômenos físicos envolvidos. Pode ser obtida também a partir da energia cinética. Mediante a transformação adequada é possível obter que tal energia mostre-se em outras formas finais de uso direto, em forma de luz, movimento ou calor, segundo os elementos da conservação da energia.
[…]
A energia elétrica é obtida principalmente através de termoelétricas, usinas hidrelétricas, usinas eólicas e usinas termonucleares.
Geração de eletricidade
[…]
A geração de energia elétrica se leva a cabo mediante diferentes tecnologias. As principais aproveitam um movimento rotatório para gerar corrente alternada em um alternador. O movimento rotatório pode provir de uma fonte de energia mecânica direta, como a corrente de uma queda d’água ou o vento, ou de um ciclo termodinâmico. […]
Transporte de energia elétrica
[…]
É o segmento responsável pelo transporte de energia elétrica desde as unidades de geração (centrais elétricas) até os grandes centros de consumo. A atividade também pode ser dividida em operação e expansão. Exemplos: cabos e outros condutores que formam as linhas de transmissão.
[…]
Subestação de energia.
Aerogeradores de energia.
Linhas de transmissão de energia elétrica.
ENERGIA elétrica. In: WIKIPEDIA: the free encyclopedia. [San Francisco, CA: Wikimedia Foundation], 19 dez. 2023. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Energia_el%C3%A9trica. Acesso em: 10 set. 2024.
Leve em consideração que o verbete traz informações a respeito da energia elétrica.
a) Resuma as informações presentes no verbete de modo a fazer uma definição curta e objetiva do conceito.
b) I dentifique os tópicos do trecho do verbete e explique o que pode justificar essa organização topicalizada.
10. a) Possibilidade de resposta: Energia elétrica é uma energia que se produz entre dois pontos e fenômenos físicos. Sua obtenção pode se dar através de termoelétricas, usinas hidrelétricas, usinas eólicas e usinas termonucleares. 10. b) Os tópicos são, depois da entrada do verbete (Energia elétrica), Geração de eletricidade, Transporte de energia. A topicalização favorece a consulta do leitor, que pode se deter nos aspectos que são de seu interesse.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
3. a) Rita; aquilo (sujeito elíptico) – refere-se ao episódio ou surto do riso / à advertência ou braveza do padre.
3. b) Frouxa e bamba se ligam a Rita; rebuliço se liga ao sujeito identificado no item 3. a). As expressões qualificam o termo a que se referem.
3. c) São predicativos do sujeito.
5. Os termos carrancudo e de padre Diógenes se ligam ao substantivo olhar e atuam como adjuntos adnominais que qualificam e especificam o termo a que se referem.
1 Considere o trecho e o que conhece do romance A natureza da mordida .
a) De que forma esse trecho reforça as características de dona Laura, a mãe de Olívia, que tanto a incomodavam?
b) Considere a oração em destaque
A que se refere o pronome ele?
c) O predicado da oração em destaque apresenta um núcleo verbal e um nominal. Identifique o núcleo nominal e o termo que ele qualifica.
2 Os termos em destaque revelam a reação de Olívia perante a reação do padre.
a) A qual palavra esses termos se ligam?
b) Reescreva o trecho em destaque mantendo o mesmo sentido, mas sem utilizar um verbo.
c) Qual é a função sintática do destaque tanto na escrita original quanto na reescrita?
2. a) Eles se ligam à palavra medo
2. b) Da expulsão.
Leia um outro trecho do romance A natureza da mordida, de Carla Madeira. Nesse trecho, Olívia narra um episódio de seu passado em que ela e sua melhor amiga Rita fizeram a primeira comunhão, mas com algumas adversidades no caminho.
[…] Um dia, sabe-se lá por que, a gente se olhou e, não teve jeito, o riso veio com uma força descomunal. A fuzilada com os olhos de padre Diógenes não surtiu efeito, pelo contrário, aumentou a intensidade do nosso surto, então ele interrompeu a oração furioso e chamou nossa atenção energicamente. Eu, assustada com a braveza dele, com meu eterno medo de ser expulsa, imediatamente parei, mas Rita não conseguiu parar, foi ficando frouxa, bamba de tanto rir […].
Foi um rebuliço, Biá. O padre Diógenes mandou chamar nossas mães e fez um sermão daqueles. Minha mãe, poço de elegância, ouviu tudo com muita dignidade, já avisando que aquilo não iria se repetir. Já a mãe de Rita […] achou a história tão engraçada que disparou a rir. Não parava. […] Habilmente, dona Laura, como sempre, contornou a situação e encerrou a conversa o mais rápido que pôde, empurrando Luciana, desfalecida de rir, para fora da sacristia, assegurando, em seu nome e em nome dela, o nosso bom comportamento. Nós fizemos a primeira comunhão sob o olhar carrancudo de padre Diógenes, mas foi preciso uma ficar bem longe da outra […].
MADEIRA, Carla. A natureza da mordida. Rio de Janeiro: Record, 2024. E-book. Localizável em: 12 º encontro.
4. a) Ela se liga a história, qualificando-a. 4. b) […] achou-a tão engraçada […].
2. c) Ambos atuam como complementos nominais.
Não escreva no livro.
3 Considere as orações em destaque.
a) Qual é o sujeito de cada oração destacada?
b) A quais termos as expressões sublinhadas se ligam? Que função desempenham em relação ao termo a que se referem?
c) Como se classificam sintaticamente essas expressões?
4 Considere a palavra em destaque a) A que termo essa palavra se liga? Que função cumpre em relação a ele?
b) Reescreva o período, substituindo o núcleo do objeto direto por um pronome.
5 Considere os termos em destaque e indique a que outro termo eles se ligam e que função desempenham no trecho.
1. a) Nesse trecho, dona Laura continua sendo perfeita, pois, além de resolver o problema da filha com elegância, ainda ajuda Rita e a mãe dela.
1. b) Ao padre Diógenes.
1. c) O núcleo nominal é furioso e qualifica padre Diógenes
Adjunto adnominal e complemento nominal
O Volume 1 desta coleção tratou das funções sintáticas dos termos ligados ao nome. Relembre essas funções.
O nome constitui os sujeitos e os complementos, termos essenciais da oração. Observe.
O padre Diógenes fez um sermão daqueles.
núcleo núcleo
sujeito
predicado verbal
A esses nomes podem estar associados dois tipos de termos: os adjuntos adnominais e os complementos nominais
Observe os exemplos a seguir.
Exemplo 1
Exemplo 2
Exemplo 3
Minha mãe ouviu tudo […].
sujeito
[…] sob o olhar carrancudo de padre Diógenes […].
adjunto adverbial
[…] meu eterno medo da expulsão […].
predicado verbal
No exemplo 1, o núcleo do sujeito é o nome mãe. A ele está associado o pronome minha, que o especifica. Esse termo é classificado, portanto, como adjunto adnominal.
No exemplo 2, o nome olhar é núcleo do adjunto adverbial e a ele estão associados o adjetivo carrancudo e a locução adjetiva de padre Diógenes, que também se classificam como adjuntos adnominais, pois qualificam e especificam o substantivo.
No exemplo 3, a expressão da expulsão, adaptada do trecho original, vai além de uma qualificação do nome medo. Nesse caso, o substantivo medo pede um complemento – medo de quê? – para que possa ter seu sentido completo. Por isso, a expressão precedida por preposição atua como um complemento nominal. Observe como ficaria se o substantivo medo fosse substituído pelo verbo temer: “Rita teme a expulsão”. Nesse caso, o verbo é transitivo complementado por um objeto direto. Assim como o verbo, o sentido do nome medo “transita” – ou seja, é completado – pelo complemento nominal.
Observe o exemplo a seguir.
O riso incontrolável foi um rebuliço. Nesse exemplo, o núcleo do predicado é o predicativo rebuliço, que se liga ao núcleo do sujeito (riso) atribuindo-lhe uma qualificação; a ligação entre predicativo e sujeito é feita por um verbo de ligação. Professor, se quiser aprofundar o assunto, retome a diferenciação entre adjunto adnominal e complemento nominal na Unidade 9 do Volume 1. Se considerar oportuno, explique que o complemento nominal está para o nome assim como o objeto direto está para o verbo.
Mas o predicativo também pode referir-se a um complemento objeto direto ou, muito raramente, indireto. Observe.
A mãe de Rita achou a história engraçada. objeto direto Predicativo do objeto
Nesse caso, o termo engraçada se liga ao termo história como um predicativo, qualificando-o; como o termo história faz parte do objeto direto, esse predicativo é nomeado predicativo do objeto.
Lembre-se: o predicativo é parte do predicado, mas se liga a um nome, qualificando-o.
Para diferenciar o predicativo do objeto de um adjunto adnominal, basta substituir o objeto por um pronome. Se o termo que se liga ao núcleo do objeto também for incluído na substituição pelo pronome, é um adjunto adnominal; se a substituição ainda exigir a presença do termo, é um predicativo do sujeito.
A mãe de Rita achou a história engraçada.
A mãe de Rita achou-a engraçada.
O predicativo do sujeito é um termo da oração que atribui uma característica, um estado ou uma qualidade ao sujeito. Ele ocorre em orações em que o verbo não indica uma ação, mas sim um estado, uma condição ou uma característica do sujeito.
O predicativo do objeto é um termo que, numa oração, atribui uma característica, um estado ou uma condição ao objeto direto e, em casos raros, a um objeto indireto.
Leia a notícia a seguir, sobre uma influenciadora literária estadunidense que fez com que Machado de Assis viralizasse em 2024.
1. a) Seu plano era ler um livro de cada país em ordem alfabética. No entanto, no começo de sua jornada, ainda na letra B, ela considera que já leu o melhor livro já escrito, o que tornará sua jornada pouco interessante. No trecho “O que eu devo fazer? Por que vocês não me avisaram que esse é o melhor livro já escrito”, há um predicativo em o melhor livro já escrito. Trata-se de um predicativo do sujeito esse, que substitui Memórias póstumas de Brás Cubas
O vídeo de uma influenciadora americana encantada com o livro ‘ Memórias
Póstumas de Brás Cubas’, de Machado de Assis, viralizou nas redes sociais neste fim de semana.
‘Eu preciso ter uma conversinha com o pessoal no Brasil’, disse Courtney Henning Novak, que leu o clássico da literatura brasileira como parte de um desafio para o TikTok no qual ela deve ler um livro de cada país em ordem alfabética.
‘Eu tenho três grandes problemas com esse livro. Primeiro, a minha edição só tem 300 páginas. Só faltam 100 páginas para mim, e se eu for muito cuidadosa elas vão durar até o fim de semana. E aí o quê? O que eu deveria fazer com o resto da minha vida?’, falou a influenciadora.
O segundo problema, segundo ela, é que a letra B (de Brasil) é apenas a segunda letra do alfabeto: ‘O que eu devo fazer? Por que vocês não me avisaram que esse é o melhor livro já escrito. Eu ainda tenho que ler de Brunei até o Zimbábue’.
‘E número três: agora eu tenho que aprender português’, falou ela. ‘Eu não consigo nem imaginar o quão bom isso é em português. Então agora, no meio do meu projeto de ler ao redor [do] mundo, eu tenho outra tarefa que é aprender português.’
PINOTTI, Fernanda. Influencer dos EUA viraliza após ler Machado de Assis: “Melhor livro já escrito”. CNN Brasil, São Paulo, 20 maio 2024. Disponível em: www.cnnbrasil.com.br/entretenimento/influencer-dos-eua-viraliza-apos-lermachado-de-assis-melhor-livro-ja-escrito/. Acesso em: 10 set. 2024.
1. O texto faz referência ao romance Memórias póstumas de Brás Cubas , de Machado de Assis.
1. b) Espera-se que os estudantes percebam que uma obra traduzida sempre possui algumas adaptações linguísticas para que se adéque a outro idioma e cultura. Ler no original sempre é uma experiência diferente se o leitor entender a língua em que o texto foi escrito originalmente.
a) A influenciadora Courtney Henning justifica com um predicativo a ideia de que ler o romance de Machado de Assis atrapalhou seu plano. Qual é o predicativo? Trata-se de um predicativo do sujeito ou do objeto?
b) P or que a influenciadora considera que agora seria necessário que ela aprendesse português? O que muda na leitura de um livro quando ele é lido em sua língua original?
2. No trecho a seguir, os adjetivos atuam para qualificar alguns substantivos. Considere a seguinte fala de Courtney Henning:
O que eu devo fazer? Por que vocês não me avisaram que esse é o melhor livro já escrito. Eu ainda tenho que ler de Brunei até o Zimbábue.
a) Copie, no caderno, os adjuntos adnominais do trecho e identifique o termo a que se referem.
O, melhor, o. Referem-se a livro (o, melhor) e a Zimbábue (o).
b) A e xpressão já escrito é uma oração subordinada reduzida. A que termo essa oração se refere? Nesse trecho, ela exerce qual função sintática?
Refere-se a livro. A oração subordinada também exerce a função sintática de adjunto adnominal.
c) De que forma esses adjuntos adnominais ligados ao substantivo livro são os responsáveis por tirar de Henning o gosto pelo projeto?
Esses termos atribuem ao livro valores que o colocam como
o ápice do projeto, o que faria com que o restante dos livros por ler, contemplando países de C a Z, se tornasse pouco atrativo.
d) Considere o termo esse , no trecho. A que ele se refere?
Ele se refere ao livro Memórias póstumas de Brás Cubas
e) Que expressão atribui a esse pronome características específicas que constituem a informação fundamental da fala da influenciadora?
f) Qual é a classificação sintática dessa expressão?
A expressão o melhor livro já escrito. Classifica-se como predicativo do sujeito.
3. a) As perguntas expressam a ideia de que não haverá mais livros tão bons como Memórias póstumas, o que produz nela uma sensação de vazio.
3. b) 100, o, de semana, o, da, minha. Professor, se achar oportuno, explique que na expressão (ou no sintagma) da minha vida é núcleo e a (de+a) são adjuntos adnominais
A viralização com Courtney Henning se dá pelos elogios que faz da qualidade da obra; essa segunda, pelo eventual sotaque que teria Brás Cubas.
5. b) Espera-se que os estudantes leiam a dedicatória com o sotaque deles para comparar com os sotaques das demais regiões do Brasil.
3. Considere o seguinte trecho:
4. a) Oppenheimer foi um físico norte-americano considerado o inventor da bomba atômica, por ter participado ativamente do Projeto Manhattan durante a Segunda Guerra Mundial, um projeto de pesquisa que resultou na criação das primeiras armas nucleares.
[…] Só faltam 100 páginas para mim, e se eu for muito cuidadosa elas vão durar até o fim de semana. E aí o quê? O que eu deveria fazer com o resto da minha vida?
a) Que sentido o leitor pode atribuir às perguntas da influenciadora?
b) Identifique os adjuntos adnominais do trecho.
c) Como se classifica sintaticamente a expressão da minha vida?
É um complemento nominal.
d) C aso essa expressão fosse retirada do texto, haveria grandes prejuízos de sentido? Explique.
Sim, pois o substantivo abstrato resto precisa de um complemento que o especifique.
4. Considere a seguinte manchete.
Longa arrecadou mais de US$ 950 milhões nas bilheterias ao redor do mundo
COLETTI, Caio. Christopher Nolan considera Oppenheimer “seu maior sucesso”. Omelete, São Paulo, 19 dez. 2023. Disponível em: www.omelete.com.br/filmes/oppenheimer-christopher-nolan-sucesso. Acesso em: 10 set. 2024.
a) O filme Oppenheimer ganhou o Oscar de melhor filme de 2023. Quem foi Oppenheimer (1904-1967)? Pesquise e troque informações com os colegas.
b) Identifique a função sintática da expressão seu maior sucesso e indique a qual termo essa expressão está ligada.
A expressão seu maior sucesso é predicativo do objeto de Oppenheimer.
c) Q ual dado do texto comprova o sucesso do filme? Que função sintática exerce o termo que expressa isso?
O quanto arrecadou nas bilheterias. O termo mais de US$ 959 milhões é objeto direto.
d) Identifique nesse texto os adjuntos adverbiais. Que ideia expressam?
Os adjuntos adverbiais são nas bilheterias e ao redor do mundo: expressam circunstância de lugar.
5. Leia a notícia a seguir.
Uma das dedicatórias mais famosas da literatura brasileira voltou a ganhar holofotes. ‘Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver, dedico, como saudosa lembrança, estas memórias póstumas’, do livro Memórias póstumas de Brás Cubas, escrito por Machado de Assis, agora narrado no sotaque carioca da influenciadora Baueny Barroco, virou meme na internet.
O áudio de Baueny já foi replicado por diversas contas, que brincam com a leitura de ‘Memóriax Póstumax de Braix Cubax’. […]
BRAZ, Gabriella. ‘Memóriax Póstumax’: narração de Machado de Assis em ‘carioquês’ viraliza. Correio Braziliense, Brasília, DF, 26 maio 2024. Disponível em: www.correiobraziliense.com.br/diversao-e-arte/2024/05/6865083memoriax-postumax-narracao-de-machado-de-assis-em-carioques-viraliza.html. Acesso em: 10 set. 2024.
Nesse caso, a viralização de Machado de Assis é diferente da viralização citada no texto da primeira questão.
a) Qual é o motivo da viralização em cada caso?
b) Em sua região, para fazer parte desse antigo trend topic , como ficaria a leitura da dedicatória?
6. No texto, alguns termos e expressões são responsáveis por destacar a obra machadiana. Explique, no caderno, a importância dos seguintes adjuntos adnominais para a construção dos sentidos do primeiro parágrafo.
Famosas
Póstumas
Carioca
destaca como a obra se diferencia de outros livros. especifica que o livro foi escrito depois da morte do autor. especifica qual sotaque foi utilizado no meme.
2. a) Eles se ligam, respectivamente, a Alfredo Galvão (magro, alto, baixo), bigode (ralo), face (inexpressiva, simpática), olhos (grandes, castanhos).
2. b) Ele se destaca em relação às outras características, que constroem uma imagem de fraqueza e impotência, porque atribui uma característica positiva ao personagem.
2. c) Magro, alto e baixo podem ser classificados como predicativos do sujeito. Professor, se achar oportuno, explore a classificação do predicado
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
verbonominal e observe com os estudantes que o leitor pode supor um verbo de ligação: “ele chegava e era magro […]”. Os demais são classificados como adjuntos adnominais.
Leia, a seguir, um trecho do romance A luta, da escritora realista Carmen Dolores. Nesse trecho, é apresentado o personagem Alfredo Galvão, futuro marido da protagonista, Celina.
1. Espera-se que os estudantes comentem que a descrição de Galvão não é idealizada. Antes, ela destaca aspectos negativos de sua aparência, como bigode ralo e calvície.
1 Nesse trecho, um dos protagonistas da história é apresentado. Por que se pode afirmar que sua apresentação o afasta dos protagonistas dos romances românticos?
2 Considere os termos em destaque.
a) A que termos eles se ligam?
b) Considere o sentido de todos esses adjetivos. Entre todos eles, destaca-se o adjetivo simpática . Por quê?
c) Observe a relação que estabelecem com o termo a que se referem. Como eles podem ser classificados sintaticamente?
Todas as tardes, ao fim do jantar dos hóspedes, Alfredo Galvão chegava, magro , nem alto , nem baixo , com o seu pequeno bigode ralo numa face um pouco inexpressiva , embora simpática, mas como esbatida por hábitos de timidez, e em que só olhos brilhavam, grandes , castanhos , de uma doçura quase feminina. Tinha vinte e seis anos e já mostrava uns princípios de calvície desguarnecendo-lhe a testa abaulada e lisa.
Entrava, cumprimentando de modo cortês todos os hóspedes, ia sentar-se atrás da cadeira da mãe, que comia lentamente o seu doce de ameixas pretas ou a sua fatia de goiabada, e logo a velha indagava, voltando-se meio, com a boca cheia: […]
Uma canequinha de café, doutor? Apesar de não ter direito ao título, o Galvão não desgostava do engano; e, corando um pouco, aceitava o café, que bebia devagar, com o olhar preso ao perfil de Celina, entrevisto mais longe, entre as cabeças dos outros hóspedes, e cujos cabelos muito negros e abundantes se destacavam num penteado harmonioso e complicado, em que se enrolavam fitas.
DOLORES, Carmen. A luta. Rio de Janeiro: Ímã, 2020. E-book. Localizável em: cap. II, §§ 1, 10.
3. a) Todos são adjuntos adnominais.
3 Considere os termos em destaque
a) Que função sintática desempenham no período?
b) Esses termos constroem uma imagem favorável à personagem Celina. Por que é possível afirmar isso?
4 Considere agora os termos em destaque
a) Identifique o termo a que se ligam e qual função sintática desempenham.
b) Compare as características faciais de Galvão com as atribuídas a Celina. O que essa comparação evidencia para o leitor?
3. b) Os termos negros e abundantes qualificam o cabelo de Celina como muito distinto dos demais do salão, já que nenhum se comparava à harmonia e complexidade do penteado dela.
Os adjuntos adnominais e predicativos desempenham um papel fundamental na descrição de personagens e cenários na literatura, possibilitando ao leitor que crie uma imagem mais detalhada e vívida dos elementos apresentados.
4. a) Esses termos se ligam a testa e são adjuntos adnominais.
4. b) Enquanto Galvão é calvo e possui uma testa saliente e lisa, sua futura esposa possui um vasto cabelo com um penteado único e exuberante, o que evidencia a diferença entre o que pode ser considerado feio e belo.
No trecho analisado, é possível observar como as características físicas e comportamentais de Alfredo Galvão são delineadas através de predicativos do sujeito e adjuntos adnominais, que enriquecem a narrativa e ajudam a construir uma imagem clara do personagem. Por exemplo, ao descrever Galvão e partes de seu rosto com os adjetivos: magro – alto – baixo – ralo – inexpressiva
o narrador detalha a aparência e personalidade de Galvão, permitindo ao leitor visualizar o personagem com um viés negativo em relação à aparência e inferir desdobramentos na narrativa.
Observe.
Alfredo Galvão era magro
Nesse caso, o predicativo do sujeito “magro” auxilia na construção de uma imagem frágil e pouco atrativa de Galvão, em contraste com o esplendor de Celina.
Detalhes como esses ajudam a destacar elementos específicos que são importantes para o desenvolvimento da trama ou das relações entre personagens. Observe os adjuntos adnominais em destaque.
“olhos […] de uma doçura quase feminina” de Alfredo Galvão
“cabelos muito negros e abundantes” de Celina
Esses detalhes não apenas enriquecem a caracterização dessas personagens mas também podem sugerir nuances de suas personalidades ou sentimentos, como a doçura atribuída aos olhos de Galvão e a complexidade e beleza do penteado de Celina, que atrai o olhar do personagem. Assim, embora existam diferentes recursos para caracterizar cenários e personagens, os adjuntos adnominais e predicativos são estruturas fundamentais para os escritores, permitindo uma construção rica e detalhada de personagens para a criação de mundos fictícios.
E COMPARTIlHAR
Leia, a seguir, um trecho do romance Uma vítima, da escritora Maria Benedita Bormann (1853-1895). No romance, Lúcia, a jovem protagonista, é filha única de Caetano e mantém com o pai uma relação extrema de admiração mútua, amor e carinho. Essa relação, no entanto, provoca em Melania, mãe da menina, um ciúme tamanho que ela passa a sentir repulsa por Lúcia.
Melania era uma dessas naturezas superficialmente frívolas, mas eivadas de revoltante egoísmo.
Casara muito jovem para ter a primazia sobre suas amigas de colégio e porque o noivo era interessante e rico.
[…]
Há naturezas idólatras que se aprazem em fervorosa devoção, sem reciprocidade ou prêmio: assim era Caetano.
Melania admitia aquela adoração, porque lisonjeava-lhe a vaidade e satisfazia o seu egoísmo. Caetano tornara-se o seu primeiro admirador, o seu escravo submisso e reverente.
E esse homem superior, de perigosa sagacidade, cuja fina ironia amedrontava aos seus adversários políticos, não sabia ler naquela alma de mulher grosseiramente tosca.
Caetano desejou dar grande baile para apresentar a filha à sociedade, fazendo-a estrear no mundo ao som de suaves melodias.
— Não! acudiu Melania, aparecerá quando voltarmos da Europa.
Opunha-se ela porque preferia mostrá-la ao regresso, isto é, dilatava a aparição da gentil criatura, em quem via uma rival.
A bordo começou o império de Lúcia sobre os inflamáveis corações dos flaneurs do tombadilho! fez sensação e era disputada nos jogos e na dança.
Ela sorria aos ridículos esforços de seus apaixonados, como rira, em criança, das cambalhotas grotescas dos macacos de realejo; advirta-se, porém, que esses últimos lhe haviam merecido um pouco de compaixão pela pressão que sofriam de seus tiranos.
1. a) Nesse romance, a relação entre mãe e filha é de rivalidade, e não de amor; do mesmo modo, o que sustenta o relacionamento entre Melania e Caetano é o interesse, e não o amor.
BORMANN, Maria Benedita. Uma vítima . São Paulo: Folha de S.Paulo, 2023. (Coleção Folha Clássicos da Literatura Luso-Brasileira, p. 13-14).
1. Nesse romance, a lógica romântica na abordagem de relacionamentos é completamente abandonada.
a) Considere a sinopse dada na introdução e o trecho do romance que você leu. De que forma essa narrativa rompe com a ideia de família romântica?
b) No início do trecho, são apresentadas duas características de Caetano que motivam seu casamento com Melania. Identifique e classifique os termos que indicam essas características.
Os termos são interessante e rico; ambos são predicativos do sujeito.
2. Caetano é apresentado como um homem complexo, com características antagônicas, a depender das pessoas com as quais se relaciona.
a) Copie, no caderno, o organizador a seguir e o complete com o que se pede.
Adjuntos adnominais que caracterizam Caetano e seu comportamento na esfera pública
Superior, perigosa, fina
Adjuntos adnominais que caracterizam Caetano e seu comportamento na esfera privada
Submisso, reverente
b) Que características poderiam ser atribuídas a Caetano para justificar seu comportamento privado com relação a sua esposa? Copie, no caderno, a alternativa que melhor responde a essa pergunta.
I. C aetano se comporta de forma racional, tendo em vista que sua submissão se deve ao fato de ser muito inferior a Melania.
II. C aetano se comporta de forma romântica, pois idealiza uma Melania que era, na verdade, bem diferente da mulher real.
III. C aetano foge dos padrões realistas da época, pois se rendia à lógica escravocrata do período ao se colocar como completamente submisso a sua esposa.
Resposta: alternativa II
3. Nos dois últimos parágrafos do texto, Lúcia ganha protagonismo, passa a ser cortejada e seu comportamento social a aproxima das características de sua mãe. O narrador adota o ponto de vista de Lúcia e avalia os homens que se interessam por ela.
a) Que adjuntos adnominais presentes nesses parágrafos contribuem para atribuir aos homens interessados em Lúcia características que expressam essa avaliação?
Os adjuntos são inflamáveis, ridículos e grotescas
b) E sses adjuntos adnominais projetam a criação de uma personagem feminina que rompe com a idealização da mulher romântica. Por que é possível afirmar isso?
O narrador, ao colocar Lúcia considerando ridículo o esforço de corações inflamáveis e vendo o comportamento dos homens como grotesco, mostra que ela não era uma mulher manipulável e facilmente enganada pelos homens, mas o contrário disso: sabia detectar as fraquezas deles e assim se colocava em condições de manipulá-los.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Como foi visto anteriormente, o século XIX assistiu ao surgimento de diversas invenções e à criação de propostas filosóficas e teóricas que mudaram a forma como o ser humano se relacionava com a sociedade, com a natureza e consigo mesmo. Essa diversidade aparece na literatura e foi registrada em textos de divulgação científica, como os verbetes enciclopédicos.
O que você irá produzir
Você vai produzir um verbete, para uma plataforma wiki, de alguma invenção científica produzida no século XIX. Seu verbete deve considerar, como público, estudantes com idade entre 8 e 11 anos. O objetivo é que os estudantes possam acessar uma plataforma de consulta para eventuais curiosidades ou trabalhos escolares.
Planejar
Professor, é interessante garantir que não se repitam verbetes para que, ao final, os estudantes componham um conjunto variado e possam disponibilizá-lo aos estudantes que poderão eventualmente fazer uso dele.
Escolha o tópico sobre o qual quer escrever seu texto. A produção do verbete deve partir de ampla pesquisa; as referências pesquisadas deverão ser registradas no final do texto. Lembre-se: o verbete deve ser pensado para crianças entre 8 e 11 anos; por isso, não será possível reproduzir os já disponibilizados na internet.
Antes de escrever, você deverá realizar as suas pesquisas. Seria muito produtivo pesquisar em fontes impressas, que são também fontes de muito do que está disponibilizado na internet. Artigos acadêmicos também podem contribuir com informações relevantes, originais, que irão enriquecer seu texto. Além disso, em grande parte das vezes essas referências virtuais apresentam hiperlinks que podem levar ao texto de referência, de onde poderá retirar as informações de que precisar.
Produzir
Para produzir seu verbete, lembre-se de seguir a estrutura que você estudou nesta unidade, apresentando uma definição geral, que explica o funcionamento da invenção, e as subseções que julgar pertinentes, como “Histórico” ou “Antecedentes”. Por último, entra a subseção de “Referências”.
lABORATORIO DE PRODUÇÃO
A hierarquização da informação
Um verbete enciclopédico é uma entrada ou um artigo em uma enciclopédia que fornece informações detalhadas sobre um tópico específico. A estrutura e a organização de um verbete são cruciais para garantir clareza e facilidade de consulta. Nessa organização, hierarquizar as informações pode facilitar a consulta e a compreensão das informações pelo leitor.
Para hierarquizar as informações em um verbete enciclopédico, siga estas etapas.
1. Separe o conteúdo em seções distintas, cada uma abordando um aspecto específico do tópico. As seções comuns podem incluir: História: informações históricas e evolução do tópico ao longo do tempo; características: descrição detalhada das características principais do assunto; importância: discussão sobre a relevância e o impacto do tema; aplicações/usos: exemplos de como o tópico é aplicado ou utilizado na prática; estudos e pesquisas: referências a estudos, pesquisas e fontes acadêmicas sobre o tema.
2. Dentro de cada seção principal, use subtítulos para quebrar o conteúdo em partes menores. Isso ajuda a guiar a leitura do texto.
3. Organize as informações de maneira lógica e sequencial. Por exemplo, ao escrever sobre um evento histórico, siga uma ordem cronológica. Ao descrever um conceito científico, comece com as definições básicas ou com uma visão geral e avance para informações mais detalhadas ou complexas.
4. Sempre que possível, use listas e tabelas para organizar informações de forma clara e concisa. Isso é útil para destacar pontos importantes e facilitar a leitura.
5. Inclua sempre referências e citações de fontes confiáveis para apoiar as informações apresentadas. Isso adiciona credibilidade ao verbete e permite que o leitor explore mais sobre o assunto. Agora, você vai hierarquizar informações de um verbete enciclopédico sobre “Energia solar”. A seguir estão algumas informações fornecidas sobre o tópico. Escreva um verbete hierarquizando essas informações.
• A energia solar é a energia proveniente da radiação solar que pode ser aproveitada de diferentes maneiras, como para gerar eletricidade ou calor.
• Em 1839, Alexandre Edmond Becquerel descobriu o efeito fotovoltaico, que é a base para a geração de eletricidade por meio da luz solar.
• Painéis solares são dispositivos que convertem a luz solar diretamente em eletricidade usando o efeito fotovoltaico.
• A energia solar é uma fonte de energia renovável e sustentável.
• E xistem dois principais tipos de tecnologias de energia solar: fotovoltaica e térmica.
• A energia solar fotovoltaica usa células solares para converter luz em eletricidade.
• A energia solar térmica utiliza coletores solares para aquecer um fluido que pode ser usado para gerar vapor e, subsequentemente, eletricidade.
• A energia solar ajuda a reduzir a emissão de gases de efeito estufa e a dependência de combustíveis fósseis.
• O custo dos painéis solares tem diminuído significativamente nos últimos anos, tornando a energia solar mais acessível.
• S istemas solares térmicos podem ser utilizados para aquecimento de água residencial e comercial.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Depois de produzir seu verbete, compartilhe-o em uma plataforma wiki com os demais produzidos pelos colegas. A turma, em conjunto com o professor, vai selecionar um grupo de alunos que ficará responsável por criar a plataforma. Depois, basta divulgar o link da plataforma para os estudantes do Ensino Fundamental – Anos Iniciais através das redes sociais ou pelo site do colégio. É possível também divulgar o QR code com o link nos murais do colégio ou das salas de aula.
DUARTE, Eduardo de Assis. Machado de Assis afrodescendente : antologia e crítica. 3. ed. rev. e amp. Rio de Janeiro: Malê, 2020.
O volume seleciona poemas, contos, crônicas, crítica teatral e trechos de romances de Machado, que colocam em evidência as perversidades produzidas em um país escravocrata. Acompanhado de notas, o livro também traz seis ensaios críticos reunidos na parte intitulada “A poética da dissimulação”. O ensaio intitulado “A capoeira literária de Machado de Assis” compara o uso do narrador em primeira pessoa à ginga da capoeira. O volume enfatiza a negritude de Machado e contribui, assim, não só para se ter um contato plural com Machado como também para ampliar a compreensão da atualidade em sua diversidade.
BERTA, Verônica. Ânsia eterna . São Paulo: Sesi-SP Editora, 2018. O livro traz a adaptação para a linguagem dos quadrinhos de três contos de Júlia Lopes de Almeida, uma das escritoras mais importantes da literatura brasileira do século XIX: “Ânsia eterna”, “Os porcos” e “A caolha”. Misturando suspense e tragédia, as histórias tratam de situações trágicas presentes no cotidiano da época, representando principalmente ansiedades do universo feminino.
Capa do livro Ânsia eterna.
CAU, Mário; GRECO, Felipe. Dom Casmurro . [Adaptado da obra de] Machado de Assis. São Paulo: Devir, 2012.
Com roteiro de Felipe Greco e arte de Mario Cau, o livro adapta para a linguagem dos quadrinhos um dos mais famosos romances de Machado de Assis. Os diálogos e a palavra do narrador são potencializados pela força do desenho e de um roteiro frutos de intensa pesquisa sobre figurinos, arquitetura, vocabulário e tudo o que fosse relevante na época em que se passa o romance. O livro não revela se Capitu, essa personagem icônica da literatura brasileira, traiu ou não Bentinho; até porque isso é o que menos importa no livro.
Página da HQ Dom Casmurro.
CALLADO, Antonio et al. Missa do Galo [de] Machado de Assis: variações sobre o mesmo tema. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008.
No volume, vários autores brasileiros revisitam um dos mais célebres contos de Machado de Assis, “A missa do galo”, que conta a história de um rapaz que, retornando a um momento do passado, tenta compreender o que se passou entre ele, então com 16 anos, e Conceição, já na casa dos 30. Escritores como Antonio Callado, Autran Dourado, Lygia Fagundes Telles, entre outros, reescrevem o conto de Machado jogando com tempo, espaço e pontos de vista. O volume foi idealizado por Osman Lins.
Capa do livro Missa do Galo [de] Machado de Assis: variações sobre o mesmo tema
ROTEIRO Machado de Assis para a cidade do Rio de Janeiro. In : DARKSIDE. Dark Blog . Cajamar, 19 jan. 2023. Disponível em: https://darkside.blog.br/roteiro-machado-de-assis-para-a-cidade-dorio-de-janeiro/. Acesso em: 10 set. 2024.
O blogue disponibiliza imagens que transportam o leitor-navegador para ambientes em que se passam os escritos de Machado de Assis, resgatando, assim, referências e paisagens do Rio de Janeiro (RJ) de outro tempo, num momento histórico em que Brasil estava deixando para trás a sua condição de monarquia para se tornar uma república.
PAPO DE PINGUIM: Júlia Lopes de Almeida. Entrevistados: Luiz Ruffato e Rafaela Deiab. Entrevistadora: Luara França. [S. l.]: Rádio Companhia, jul. 2019. Podcast . Disponível em: https://sound cloud.com/companhiadasletras/papo-de-pinguimjulia-lopes-de-almeida-com-luiz-ruffato-e-rafaeladeiab. Acesso em: 10 set. 2024.
O programa trata da obra de Júlia Lopes de Almeida e de como as leituras obrigatórias na escola mudam o consumo de literatura no país. Participam do programa o escritor Luiz Ruffato e a coordenadora do departamento de educação da Companhia das Letras, Rafaela Deiab.
Detalhe da página do podcast sobre Júlia Lopes de Almeida.
#164: o desafio de biografar Machado de Assis. [S. l .: s. n .], 2023. 1 vídeo (71 min). Publicado pelo canal Página Cinco. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=iqmyQu5p5Eg. Acesso em: 10 set. 2024.
O Página Cinco trata de livros. Nesse episódio, Rodrigo Casarin conversa com Cláudio Soares, que está há mais de uma década desenvolvendo uma nova biografia de Machado de Assis, prevista para ser publicada em três volumes. O episódio também trata da recepção da obra de Machado por leitores do século XXI.
#8: Machado de Assis, Paulo Lins: 451 MHz Podcast. [S. l.: s. n.], 2019. 1 vídeo (47 min). Publicado pelo canal Quatro Cinco Um. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=SrYUa9rY_9w. Acesso em: 10 set. 2024.
O editor da revista Quatro cinco um , Paulo Werneck, conversa com os especialistas em Machado de Assis Hélio de Seixas Guimarães e Flora Thomson-DeVeaux, que se dedicam há muito ao estudo do autor. A recepção crítica da obra de Machado e a tradução de suas obras são alguns dos assuntos tratados.
Detalhe da página do podcast sobre Machado de Assis.
A imagem a seguir, do fotógrafo baiano Jorge Araújo (1952-), mostra garimpeiros em busca de ouro no auge da exploração de minérios preciosos em Serra Pelada (PA), nos anos 1980.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
ARAÚJO, Jorge. Garimpeiros na Serra Pelada. 1983. In: VEJA fotos que marcam a trajetória da Vale. Folha de S.Paulo, São Paulo, 30 ago. 2022.
1. Com base na fotografia, é possível supor as condições em que os garimpeiros trabalhavam. Quais eram elas?
2. A fotografia mostra as escavações do garimpo de Serra Pelada, mas as aberturas no solo podem ser associadas a outro tipo de escavação.
a) A que podem ser relacionadas essas aberturas? Que imagem evocam?
b) Que relação se pode fazer entre a imagem sugerida e as condições de trabalho representadas na fotografia?
Professor, se achar conveniente, informe aos estudantes que 25 toneladas de minério foram retiradas de Serra Pelada (PA) oficialmente e que apenas poucos garimpeiros ficaram ricos com a exploração. 1. Espera-se que os estudantes percebam que as condições eram precárias, com muitas pessoas sem equipamento de segurança (EPI: equipamentos de proteção individual, ou EPC: equipamentos de proteção coletiva), cavando, aparentemente, amontoadas, o que sugere uma exploração desenfreada, desordenada.
2. a) Espera-se que os estudantes relacionem as aberturas no solo aos buracos das covas feitos por coveiros em cemitérios.
2. b) Pode-se associar a situação precária dos trabalhadores ao risco de morte que essa situação cria.
3. Espera-se que os estudantes percebam que o trabalho continua precarizado e que as condições se mantêm muito ruins ou piores, o que aumenta a desigualdade e a pobreza mundial.
3. Leia a seguir alguns dados relacionados à realidade do mundo do trabalho na década de 2020, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
[…] Em 2022, o número de trabalhadores e trabalhadoras que vivem em situação de pobreza extrema (que ganham menos de 2,15 dólares por pessoa por dia […]) aumentou em quase um milhão, a nível mundial. O número de trabalhadores e trabalhadoras que vivem em situação de pobreza moderada (que ganham menos de 3,65 dólares por dia por pessoa […]) aumentou em oito milhões e quatrocentos mil em 2023.
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Perspectivas sociais e de emprego no mundo. Genebra: OIT, 10 jan. 2024. Disponível em: www.ilo.org/pt-pt/resource/news/perspetivas-sociais-e-de-emprego-no-mundo. Acesso em: 14 set. 2024.
• O que esses dados revelam sobre as condições de trabalho no mundo, passadas quase quatro décadas da febre do ouro em Serra Pelada?
4. As pinturas a seguir expressam situações do mundo do trabalho no século XIX. Foram criadas por pintores europeus do século XIX, conhecido como o “século burguês”, no qual triunfou uma nova lógica de trabalho herdeira da Revolução Industrial.
BASTIEN-LEPAGE, Jules. Os fabricantes de feno 1877. Óleo sobre tela, 180 cm x 195 cm. Museu d’Orsay, Paris.
a) Que tipo de trabalho se vê em cada pintura?
SCOTT, William Bell. Indústria no Tyne: ferro e carvão. 1861. Óleo sobre tela, 185,4 cm x 185,4 cm. Wallington Hall, Inglaterra.
Na primeira pintura, percebe-se o trabalho rural, no campo, provavelmente na colheita de feno. A segunda apresenta o trabalho industrial, com operários usando marretas e lidando com ferro.
b) Como estão representados os trabalhadores em cada pintura?
c) Na segunda pintura, há duas crianças vestidas com roupas elegantes: uma menina sentada e um menino de costas, olhando para baixo. Como é possível interpretar a presença dessas duas crianças?
O século XIX produziu mudanças radicais na estrutura social. Herdeira da Revolução Industrial e da Revolução Francesa, a burguesia consolidou, na primeira metade desse século, a visão de mundo romântica, sustentada na idealização e na imaginação. Essa visão, no entanto, não resistiu à realidade desigual, que frustrou as expectativas da classe trabalhadora, bem como aos discursos científicos, que apresentaram uma análise crítica do mundo. Nesta unidade, você vai conhecer mais sobre o Naturalismo, estética literária que, ao lado do Realismo, responde a essas mudanças.
4. b) Na primeira pintura, os trabalhadores parecem estar cansados e em uma situação que remete à pobreza. Na segunda, eles parecem usar muito de sua força física para realizar o trabalho, além de estarem expostos ao perigo do calor da caldeira e dos equipamentos pesados. 4. c) É possível dizer que a presença delas na pintura marca as diferenças de classes sociais; são essas diferenças que definem as pessoas que produzem e as que usufruem a produção, ou seja, marca a distância entre capital e trabalho.
lER O MUNDO
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Não escreva no livro.
Ao incluir a espécie humana em sua teoria da evolução, os estudos do cientista britânico Charles Darwin (1809-1882) mudaram radicalmente a visão que nós, os humanos, tínhamos de nós mesmos, evidenciando nossa dimensão animal. Essa nova perspectiva permitiu o avanço de várias áreas da Biologia e da Medicina e possibilitou novas teorizações sobre sociedade e política. Alguns teóricos chegam a considerar que esse animal – o humano –mudou tanto a sua atuação no meio ambiente que hoje se vive uma nova era, chamada de Antropoceno
Para discutir
1 Você considera que os avanços científicos tornaram o trabalho menos braçal, ou os trabalhos mais frequentemente oferecidos ainda exigem força humana e energia física?
2 O s seres humanos, como todos os animais, precisam de condições mínimas para sobreviver. Discuta com os colegas: o que é minimamente necessário para a sobrevivência humana?
3 Além desse mínimo para a sobrevivência, que outras necessidades devem ser atendidas para que o ser humano tenha uma vida de fato plena?
É interessante que os estudantes discutam como a vida não se reduz a questões vitais e biológicas: cultura, lazer, descanso, conhecimento e afetos são experiências de vida que fazem o ser humano de fato diferente das outras espécies, e são tão essenciais quanto alimento, moradia e proteção.
Você vai ler a seguir o trecho inicial do romance Carvão animal, que encerra a Trilogia dos brutos, da autora fluminense Ana Paula Maia. Nessa trilogia, as personagens, indiferentes à crueldade e à violência, se dedicam a profissões brutas em geral consideradas inferiores pela sociedade, desempenhadas de forma imune a dores, sentimentos, moral e ética. A história de Carvão animal se passa dez anos antes dos demais romances que compõem a trilogia.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Texto
No fim tudo o que resta são os dentes. Eles permitem identificar quem você é. O melhor conselho é que o indivíduo preserve os dentes mais que a própria dignidade, pois a dignidade não dirá quem você é, ou melhor, era. Sua profissão, dinheiro, documentos, memória, amores não servirão para nada. Quando o corpo carboniza, os dentes preservam o indivíduo, sua verdadeira história. Aqueles que não possuem dentes se tornam menos que miseráveis. Tornam-se apenas cinzas e pedaços de carvão. Nada mais. Ernesto Wesley arrisca-se todo o tempo. Lança-se contra o fogo, atravessa a fumaça preta e densa, engole saliva com gosto de fuligem e conhece o tipo de material dos móveis de cada ambiente pelo crepitar das chamas.
Acostumou-se aos gritos de desespero, ao sangue e à morte. Quando começou a trabalhar, descobriu que nesta profissão há uma espécie de loucura e determinação em salvar o outro. Seus atos de bravura não o fazem julgar-se herói. No fim do dia, ainda sente os seus impactos. É na tentativa de preservar alguma esperança de vida em algum lugar que todos os dias ele se levanta e vai para o trabalho.
Seus fracassos são maiores do que os sucessos. Entendeu que o fogo é traiçoeiro. Surge silencioso, arrasta-se sobre toda a superfície, apaga os vestígios e deixa apenas cinzas. Tudo o que uma pessoa constrói e tudo o que ostenta, ele devora numa lambida. Todos estão ao alcance do fogo.
Ernesto Wesley não gosta de atender a ocorrências de acidentes automobilísticos ou aéreos. Não gosta do ferro retorcido e muito menos de ter de serrá-lo. A motosserra lhe causa mal-estar. Enquanto separa as ferragens, o tremor do corpo o faz perder por breves instantes a sensibilidade dos movimentos. Sente-se rígido e automático. Um erro é fatal. Se alguém erra numa profissão como esta, torna-se maldito, um condenado. É preciso arriscar-se o tempo todo. É para isso que é pago. É para isso que serve. Foi treinado para salvar, e, quando falha, os olhares de decepção dos outros fazem a sua honra arrastar-se em pó.
A única coisa que gosta de enfrentar é o fogo. Desviar das labaredas e correr das chamas violentas quando encontram abundante oxigênio. Arrastar-se no chão que range sob seu ventre, sentir o calor atravessar seu uniforme, a queda de um reboco, o desabamento de um andar sobre o outro, a fiação pendurada e as paredes partidas. O crepitar das chamas que cronometram seu tempo de resistência, o iminente instante da morte e, por fim, suportar um peso maior que o seu sobre as costas e resgatar alguém que nunca mais esquecerá seu rosto embaçado pela fuligem preta.
Ernesto Wesley é o melhor no que faz, mas pouca gente sabe disso.
Sorri para o espelho do banheiro e em seguida passa fio dental nos dentes. Limpa cuidadosamente todos os vãos e conclui a limpeza com um enxágue bucal sabor menta. Seus dentes são limpos. Poucas obturações. Um molar possui uma jaqueta de ouro. Derreteu a aliança de casamento da mãe morta e revestiu o dente. Isto é para identificação, caso morra trabalhando ou em outras circunstâncias. Ter um dente de ouro é peculiar, e isto fará com que o reconheçam com maior facilidade.
— Como está o Oliveira? — pergunta um homem usando o mictório.
— Disseram que bem — responde Ernesto Wesley. — Mas tiveram de amputar a mão.
— Diabo!
O homem termina de usar o mictório e aproxima-se da pia para lavar as mãos. Olha para elas e suspira. A água sai num fio de cor bege.
#SOBRE
Ana Paula Maia (1977-) é conhecida por obras que exploram os aspectos sombrios e brutais da vida cotidiana. Sua prosa direta e enxuta reflete influências do romance noir e do realismo sujo. Tendo começado a publicar contos na internet, estreou no romance com O habitante das falhas subterrâneas (2003). Entre suas obras mais aclamadas está a trilogia composta de O trabalho sujo dos outros, Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos (publicados em um único volume, em 2009) e Carvão animal (2011), que exploram temas como violência, degradação humana e sobrevivência, frequentemente situados em ambientes industriais e marginalizados. De gados e homens (2013), uma de suas obras mais notáveis, conquistou diversos prêmios literários. Ana Paula Maia também é roteirista e já teve suas obras adaptadas para o cinema e a televisão.
1. a) O trabalho de bombeiro, descrito no romance, pode ser relacionado à ideia de emprego em atividade perigosa.
1. b) Porque é da essência do trabalho de um bombeiro enfrentar situações de risco ou de extrema periculosidade para salvar vidas, o que torna sua profissão naturalmente perigosa.
1.
Não escreva no livro.
O trecho a seguir apresenta dados sobre a situação do trabalho no contexto em que o romance Carvão animal foi escrito. Ele faz parte do relatório anual do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), que teve como tema “trabalho como motor do desenvolvimento humano”. Ao redor do mundo, 1,5 bilhão de pessoas têm trabalhos considerados vulneráveis. São imigrantes ilegais, trabalhadores do sexo, empregados em atividades perigosas (como os carvoeiros), domésticos, trabalhadores em condições precárias, sem proteção social e representação sindical. No Brasil, 25,1% dos trabalhadores estão nessas condições. Há ainda outro grupo de vulneráveis: trabalhadores que vivem com menos de US$ 2 por dia. No mundo, são 830 milhões e no Brasil, 3,4% dos trabalhadores. O relatório anual do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) deste ano teve como tema ‘Trabalho como motor do Desenvolvimento Humano’.
VALENTE, Gabriela; RIBEIRO, Éfrem. No Brasil, 25% têm trabalho precário. No mundo, problema atinge 1,5 bilhão. O Globo, [s. l.], 14 dez. 2015. Disponível em: https://oglobo.globo.com/economia/no-brasil-25tem-trabalho-precario-no-mundo-problema-atinge-15-bilhao-18287562. Acesso em: 14 set. 2024.
a) No trecho do romance, está representada uma situação de trabalho. A qual informação apresentada no texto do relatório anual do Pnud ela pode ser relacionada?
b) Por que, embora o trabalho apresentado no romance seja arriscado, pode-se dizer que são problemas inevitáveis e intrínsecos à profissão?
2. O trecho do romance apresenta detalhes da profissão de Ernesto Wesley: bombeiro.
a) Embora a profissão de Ernesto Wesley ofereça muitos riscos, que relação o personagem mantém com seu trabalho?
Pode-se dizer que Ernesto Wesley mantém uma relação de dever para com seu trabalho, enfrentando riscos com determinação e certa insanidade, sem se considerar herói ou especial por salvar vidas.
b) É possível dizer que Ernesto tem uma visão antirromântica de sua profissão. Explique por quê.
Porque tem uma visão que valoriza perigos, fracassos, adversidades, e não cultua a imagem de herói.
3. Leia a seguir o conceito de uma figura de linguagem presente no trecho do romance de Ana Paula Maia.
A prosopopeia , também conhecida como personificação, é uma figura de linguagem na qual seres inanimados, animais ou conceitos abstratos são dotados de características humanas. Isso inclui atribuir emoções, intenções, falas ou ações humanas a entidades que normalmente não as apresentam.
3. a) Porque se atribuem características humanas ao fogo, como ser silencioso, traiçoeiro, se arrastar, devorar, apagar vestígios.
a) Por que é possível dizer que, no quarto parágrafo, ocorre prosopopeia?
b) Qual é a função da prosopopeia na construção de sentidos dessa narrativa?
4. A profissão de Ernesto Wesley o expõe a diversos perigos, mas esse perigo é justamente o que o faz gostar da profissão.
3. b) A prosopopeia humaniza o fogo, atribui-lhe uma subjetividade, transformando-o em um antagonista, como se agisse por vontade própria.
a) Entre as alternativas a seguir, há algumas que indicam o que atrai Wesley em seu ofício de bombeiro. Copie-as no caderno.
Resposta: alternativas I, II e III
I. O perigo e a iminência de morte.
II. A possibilidade de nunca mais ser esquecido por alguém que salvou.
III. O esforço além do seu próprio corpo para salvar alguém.
IV. A possibilidade de glórias perante um ato heroico.
V. A utilização de recursos técnicos para garantir a execução mais segura de seu ofício.
b) Que valor Ernesto Wesley confere à vida humana com base na relação que tem com sua profissão?
Embora valorize a vida daqueles que salva nos acidentes, ele parece menosprezar a própria vida ao demonstrar fascínio pela exposição ao perigo do fogo. Por outro lado, o personagem também demonstra respeito pela própria integridade física ao temer a motosserra, ferramenta que o faz perder a sensibilidade, colocando-o em risco.
5. b) O narrador afirma que o que resta de nós são os dentes; menciona que o personagem limpa cuidadosamente os dentes, e que derreteu a aliança de casamento da mãe morta para revestir um molar. Assim, pode-se dizer que, nesse texto, o dente representa o corpo físico, animal, mas pode também preservar a identidade, a memória. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
5. De acordo com o trecho, o que resta de toda vida humana são os dentes.
a) Copie o parágrafo a seguir no caderno, substituindo os * por uma das palavras do quadro para identificar a concepção de ser humano que é possível extrair do trecho que você leu.
Respectivamente: individual; relacionamentos; sentimentos; criações; corpo; vida; biológica; fim.
biológica corpo criações fim individual relacionamentos sentimentos vida
S e, por fim, tudo o que resta do ser humano são os dentes, desconsidera-se toda experiência *, todos os *, * e * para se valorizar apenas o *, mais especificamente o que resta dele. A partir disso, a * torna-se apenas uma experiência * que tende ao *.
b) Os dentes têm destaque nesse trecho do romance. Identifique as referências a eles no texto; depois, responda: o que os dentes podem preservar, segundo o narrador?
6. O ambiente representado no trecho soma-se à visão da vida, reforçando o pessimismo diante da existência. Copie o organizador a seguir no caderno e preencha-o com elementos dos cenários indicados que reforçam essa visão.
Cenários relacionados à profissão de Wesley Banheiro em que Wesley se encontra ao final da narrativa
Acidentes automobilísticos ou aéreos com ferros retorcidos. Incêndios com paredes desabando e fiação retorcida.
Conversa no mictório sobre um colega que teve a mão amputada. Água na cor bege que sai da torneira.
7. Considere as pinturas a seguir, do artista irlandês Francis Bacon (1909-1992).
BACON, Francis. Três estudos para uma crucificação. 1962. Óleo e areia sobre tela, 198 cm x 144 cm. Museu Solomon R. Guggenheim, Nova York.
• De que forma essas pinturas dialogam com o trecho do romance de Ana Paula Maia?
7. Tanto a pintura quanto o trecho lido compõem imagens cruas do ser humano, considerando o corpo no que ele tem de mais animalesco (carnes, ossos); essas também podem ser as imagens com que bombeiros convivem em seu ofício: imagens de corpos encontrados em acidentes, destroçados, deformados pelo fogo. Nas pinturas também é possível ver um diálogo com a ideia de que os humanos são apenas corpos que acabam, restando somente os dentes.
8. Leia a reflexão a seguir, da psicóloga especializada em violência e direitos humanos Nancy Cardia.
8. Apesar de a anestesia moral não ter relações diretas com catástrofes e acidentes, mas com a exposição repetida à violência, espera-se que os estudantes percebam que parece haver, no personagem, uma espécie de anestesia moral, refletida na ideia de que a vida não passa de uma experiência biológica do corpo, e não um complexo rico de experiências e subjetividades.
[…] dessensibilizar-se significa se desligar da dor das vítimas, um processo no qual a violência que as vítimas sofrem passa a ser considerada ‘normal’. A dessensibilização implica em subestimarem as consequências da violência […], processo também denominado de exclusão moral – uma espécie de anestesia moral ou de desligamento baseado na crença em um ‘mundo justo’ – coisas ruins acontecem às pessoas que fizeram algo ruim. Jovens expostos à violência crônica estariam mais passíveis de desenvolver este tipo de estratégia de sobrevivência, e mais propensos a ter seu próprio desenvolvimento moral afetado por esta exposição: normalizar a violência resulta também em reduzida capacidade de confiar no outro, ou de se vincular ao outro […] e menor interdição quanto à prática de violência […].
CARDIA, Nancy. Exposição à violência: seus efeitos sobre valores e crenças em relação a violência, polícia e direitos humanos. Lusotopie, [Provença], n. 10, p. 299-328, 2003. p. 301. Disponível em: https://nev.prp.usp.br/ wp-content/uploads/2014/08/down066.pdf. Acesso em: 14 set. 2024.
• Converse com os colegas e o professor: de que forma o conceito de exclusão moral proposto por Nancy Cardia pode dialogar com o trecho do romance Carvão animal?
#fiCAADiCA
Publicado em 1893, Contos amazônicos é o último livro do naturalista Inglês de Sousa. Em nove contos, o autor recupera lendas e mitos que explicam a formação e a cultura do povo ribeirinho do Pará amazônico. Com essas narrativas, ele também dá voz a uma população marginalizada, que vive distante dos centros urbanos que passavam, então, por grandes transformações. Escrito na linguagem em que se contam “causos”, os contos fazem emergir problemas humanos de indígenas, caboclos, cabanos, e o que os afasta do determinismo esquemático do Naturalismo.
• SOUSA, Inglês de. Contos amazônicos. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2021.
Capa do livro
Contos amazônicos.
A exploração de pessoas por meio do trabalho desumanizado é algo que há muito tempo vem sendo normalizado e naturalizado. Prova disso foi o uso de trabalho escravo de negros trazidos à força da África que, no Brasil, durou 388 anos. Grande parte dos discursos científicos do final do século XIX, em vez de tentarem romper com essa lógica de exploração, tinham como objetivo exatamente o contrário: encontrar formas de justificar a desigualdade e a injustiça. Uma estética que reflete esses discursos científicos é o Naturalismo, que você vai conhecer nas páginas a seguir.
O X DA QUESTÃO Não escreva no livro.
Embora Charles Darwin, o grande nome da teoria da evolução, defendesse ideias progressistas, igualitárias, abolicionistas, ele não tinha controle sobre como suas teorias seriam interpretadas por seus leitores. Parte dessas interpretações, em vez de considerarem a ideia de adaptação ao meio como base da teoria, concluíram que existiriam, de fato, espécies mais evoluídas e outras menos evoluídas, que respondiam às características do meio no qual se inseriam. Desse ponto de vista, caberia à espécie mais evoluída guiar ou explorar as menos evoluídas. A literatura naturalista vai desenvolver enredos segundo essa lógica cientificista conservadora.
Para lembrar
1. a) A sociedade era dividida entre brancos e negros escravizados; estes tinham de realizar todas as atividades que sustentavam a vida dos brancos, de quem eram propriedade.
1 Durante grande parte do século XIX, o Brasil foi um Império que tinha a escravização dos negros de origem africana como sustentação da sociedade.
a) Como se estruturava a sociedade brasileira com relação à divisão racial?
b) Que visão a literatura romântica apresentava dessa divisão da sociedade brasileira?
Para discutir
1. b) Uma visão idealizada de relações mais ou menos tranquilas entre os negros escravizados e os brancos, seus senhores.
1 Considere a sua realidade e o seu repertório: em sua opinião, ainda hoje sobrevive a ideia de que o ser humano assume as características do meio em que vive? Justifique.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Você vai ler agora um trecho do romance naturalista O cortiço , de Aluísio Azevedo, que apresenta a origem de um cortiço no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro (RJ), no final do século XIX. Nesse cortiço, os seres humanos se comportam como animais que respondem aos estímulos do meio e são apresentados como se fossem experimentos que comprovam algumas teorias científicas da época.
Texto
João Romão não saía nunca a passeio, nem ia à missa aos domingos; tudo que rendia a sua venda e mais a quitanda seguia direitinho para a caixa econômica e daí então para o banco. Tanto assim que, um ano depois da aquisição da crioula, indo em hasta pública algumas braças de terra situadas ao fundo da taverna, arrematou-as logo e tratou, sem perda de tempo, de construir três casinhas de porta e janela. Que milagres de esperteza e de economia não realizou ele nessa construção! Servia de pedreiro, amassava e carregava barro, quebrava pedra; pedra, que o velhaco, fora de horas, junto com a amiga, furtavam à pedreira do fundo, da mesma forma que subtraíam o material das casas em obra que havia por ali perto. Estes furtos eram feitos com todas as cautelas e sempre coroados do melhor sucesso, graças à circunstância de que nesse tempo a polícia não se mostrava muito por aquelas alturas. João Romão observava durante o
hasta pública: leilão, em praça pública, de bens penhorados.
dia quais as obras em que ficava material para o dia seguinte, e à noite lá estava ele rente, mais a Bertoleza, a removerem tábuas, tijolos, telhas, sacos de cal, para o meio da rua, com tamanha habilidade que se não ouvia vislumbre de rumor. Depois, um tomava uma carga e partia para casa, enquanto o outro ficava de alcateia ao lado do resto, pronto a dar sinal, em caso de perigo; e, quando o que tinha ido voltava, seguia então o companheiro, carregado por sua vez.
Nada lhes escapava, nem mesmo as escadas dos pedreiros, os cavalos de pau, o banco ou a ferramenta dos marceneiros.
E o fato é que aquelas três casinhas, tão engenhosamente construídas, foram o ponto de partida do grande cortiço de São Romão.
[…]
Noventa e cinco casinhas comportou a imensa estalagem. Prontas, João Romão mandou levantar na frente, nas vinte braças que separavam a venda do sobrado do Miranda, um grosso muro de dez palmos de altura, coroado de cacos de vidro e fundos de garrafa, e com um grande portão no centro, onde se dependurou uma lanterna de vidraças vermelhas, por cima de uma tabuleta amarela, em que se lia o seguinte, escrito a tinta encarnada e sem ortografia:
‘Estalagem de São Romão. Alugam-se casinhas e tinas para lavadeiras’.
[…]
E aquilo se foi constituindo numa grande lavanderia, agitada e barulhenta, com as suas cercas de varas, as suas hortaliças verdejantes e os seus jardinzinhos de três e quatro palmos, que apareciam como manchas alegres por entre
Aluísio Azevedo (1857-1913) destaca-se como escritor no Naturalismo brasileiro, embora tenha tentado seguir carreira como caricaturista e ilustrador. Sua trajetória literária ganhou destaque com a publicação de O mulato (1881), que denunciava o preconceito racial. O romance marcou o início do Naturalismo no Brasil. Suas obras retratam a vida urbana e os problemas sociais de sua época em um estilo direto e detalhista, que evidencia a influência do escritor naturalista francês Émile Zola (1840-1902). Entre suas principais obras estão Casa de pensão (1884), que aborda a degradação moral e social em uma pensão do Rio de Janeiro, e O cortiço (1890), sua obra-prima, que oferece uma análise profunda e crítica das condições de vida em um cortiço carioca, revelando o impacto da miséria, da exploração e das relações interpessoais degradantes. Azevedo também deixou peças de teatro e contos. Em 1895, ingressou na carreira diplomática, servindo em várias cidades do mundo, o que o afastou da literatura.
1. b) Resposta: alternativa II. Professor, é fundamental que os estudantes compreendam que o darwinismo social foi uma interpretação distorcida das ideias de Charles Darwin, utilizada para justificar hierarquias raciais e sociais. Assim, o darwinismo social interpretou equivocadamente brancos e negros como “raças” ou “espécies” diferentes, o que é biologicamente errado. De acordo com a teoria da evolução das espécies, existem espécies que se adaptaram mais rapidamente e sobreviveram, o que faz parte da teoria da seleção
a negrura das limosas tinas transbordantes e o revérbero das claras barracas de algodão cru, armadas sobre os lustrosos bancos de lavar. E os gotejantes jiraus, cobertos de roupa molhada, cintilavam ao sol, que nem lagos de metal branco.
tina: recipiente parecido com um grande balde no qual se lavava roupa. revérbero: reflexo de intensa luminosidade.
jirau: varal.
E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a esfervilhar, a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e multiplicar-se como larvas no esterco.
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. [Brasília, DF: Ministério da Cultura: Fundação Biblioteca Nacional: Departamento Nacional do Livro, 202-]. E-book Reprodução da 30. ed. (1997) da obra, digitalizada pela Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro (USP). Localizável em: p. 2, 6, 7 do PDF. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000015.pdf. Acesso em: 14 set. 2024.
natural de Darwin, mas essa ideia não se aplica à classificação de seres humanos em grupos racialmente superiores ou inferiores. A ideia de usar a seleção natural para classificar grupos humanos racialmente é um erro conceitual e ético.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
1. Leia a seguir um trecho sobre os discursos científicos e raciais do século XIX.
A racialização da humanidade marcou muitas conferências públicas de vulgarização científica ocorridas no Rio de Janeiro nas décadas de 1870 e 1880. Ao refletirem acerca do local social dos habitantes do país, os oradores hierarquizaram a sociedade em termos raciais. A discussão sobre os lugares nos quais os indivíduos deveriam ser inseridos integrava projetos modernizadores da nação, que tencionavam o progresso e a civilização. Em suas falas, fazendo uso de um discurso científico/cientificista, os preletores classificavam o ser humano segundo critérios variados, mas sempre colocando o homem branco no topo da hierarquia.
1. a) De acordo com o trecho, a ciência procurava justificar por que determinadas pessoas deveriam ocupar o topo da hierarquia social, e não buscar uma verdade científica.
CARULA, Karoline. Darwinismo, raça e gênero: projetos modernizadores da nação em conferências e cursos públicos (Rio de Janeiro, 1870-1889). Campinas: Editora da Unicamp, 2016. p. 158-159.
a) Considere esse trecho e explique por que se pode considerar que a ciência, no Brasil daquele período, atuava para justificar a estrutura escravocrata.
b) Em 1875, ocorreu no Brasil, durante as Conferências Populares da Glória, a primeira divulgação das propostas de Darwin, que trouxe a teoria da evolução. Segundo essa teoria, as espécies se transformam ao longo do tempo por meio de mecanismos de adaptação selecionados pelo ambiente. Copie, no caderno, a alternativa que melhor explica os sentidos que essa teoria tomou no Brasil, com base no que escreveu Karoline Carula.
I. N o Brasil, a teoria de evolução das espécies seguiu estritamente as propostas de Darwin, mesmo que fossem contrárias à lógica racial escravocrata.
II. A ideia de adaptação ao meio foi substituída pela ideia de que algumas espécies são mais evoluídas que outras, o que colocou a “raça branca” em escala superior à “raça negra”.
III. No Brasil, a teoria da evolução deixou evidente como a “raça branca” é mais adaptada ao meio nacional e a “raça negra” não, pois têm sua origem no continente africano.
2. Nas primeiras páginas do romance O cortiço, é apresentado o imigrante português João Romão, que acabara de herdar uma pequena venda no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, e, com a ajuda da escravizada Bertoleza (a quem enganara, fingindo ter comprado sua alforria), faz o comércio prosperar.
a) Bertoleza pensava ser livre, e que vivia com João Romão como sua companheira. Identifique no trecho um período que deixa evidente que essa percepção de Bertoleza era um grande equívoco.
“[...] um ano depois da aquisição da crioula”
b) No trecho, é possível traçar um perfil moral do personagem João Romão com base em suas atitudes. Qual seria esse perfil?
c) Que ações de João Romão, no processo de construção do cortiço, mostram que seu enriquecimento é ilícito?
2. b) João Romão é descrito como alguém extremamente sovina, ganancioso, imoral e mentiroso, uma vez que rouba, invade e mente sem nenhum tipo de pudor, pensando apenas no próprio enriquecimento.
2. c) João Romão furta materiais de construção de obras na cidade e os utiliza para construir, com as próprias mãos, casinhas para serem alugadas. São elas que dão origem ao cortiço.
3. a) Resposta: alternativas I e III
Professor, aceite respostas diferentes da apresentada, já que o texto reproduzido na unidade não contempla o trecho em que são revelados os verdadeiros motivos da construção do muro.
3. Ao lado do cortiço de João Romão, foi construído um sobrado pelo comerciante Miranda, outro imigrante português que enriqueceu ao se casar com Estela, moça herdeira de lojas de tecidos que o traía frequentemente. O casal se odiava, mas Miranda não se separava da mulher infiel apenas por interesse, pois a casa comercial que possuía dependia do dote da mulher.
a) Entre as alternativas a seguir, copie, no caderno, aquelas que, em sua opinião, justificariam a necessidade da construção de um muro entre o sobrado e o cortiço.
I. O muro atuaria como uma separação material entre o mundo dos mais ricos e o mundo dos mais pobres.
II. O muro serviria apenas para delimitar o terreno de cada proprietário.
III. A construção do muro evitaria que um invadisse a propriedade do outro, dado o caráter de ambos os proprietários.
b) Um d os valores fundamentais da burguesia é a meritocracia, que recompensaria com benefícios e riquezas os que se esforçam mais. Explique, tomando por base o trecho lido e as atividades anteriores, por que o modo como o personagem João Romão é construído coloca esse valor em questão.
Porque João Romão enriquece de forma imoral e vergonhosa. As riquezas que ele possui não são consequência direta de méritos adequados à moral vigente.
4. Os dois últimos parágrafos do trecho de O cortiço apresentam a descrição do cortiço São Romão.
a) A seguir, analise os registros do fotógrafo alagoano Augusto Malta (1864-1957): neles é possível observar dois cortiços do Rio de Janeiro, no começo do século XX: o primeiro, localizado na Rua do Hospício; e o segundo, na Rua do Senado. Que semelhança se pode identificar entre o trecho lido e as fotografias?
Assim como no romance, as fotografias mostram construções formadas por pequenos quartos e que possuem, na área comum, varais repletos de roupas lavadas postas para secar.
estalagem
5. a) Há fitomorfismo em: “parecia brotar espontânea”; há zoomorfismo em: “começou a minhocar” e “como larvas no esterco”.
b) Copie o organizador a seguir no caderno e complete-o com as características do cortiço solicitadas.
Lugar agitado e barulhento.
Aspectos do cotidiano do cortiço
Contrastes do cenário do cortiço
Referência às atividades profissionais desempenhadas no cortiço
Descrição sensorial negativa do ambiente do cortiço
Terra encharcada e fumegante, umidade quente e lodosa.
5. Fitomorfismo é um recurso de linguagem utilizado para atribuir características de plantas a seres humanos, objetos ou entidades abstratas. Zoomorfismo é a figura por meio da qual se atribuem características animais a seres humanos ou a objetos.
O local foi se constituindo em uma grande lavanderia, com roupas que ficavam estendidas nos varais.
a) Identifique, no trecho do romance O cortiço, exemplos de fitomorfismo e de zoomorfismo.
Manchas [verdes] alegres × negrura das tinas cobertas de limo.
6. a) O ambiente encharcado, quente e lodoso do cortiço produziria seres humanos que são como minhocas, como plantas que se alastram na lama e que se multiplicam rapidamente como larvas no esterco.
6. b) Embora branco e rico, João Romão vive próximo ao cortiço, que é descrito como um ambiente degradado. Sendo assim, assumiu as características desse meio.
b) Que sentido é produzido ao atribuir aos habitantes do cortiço características derivadas de vegetais e animais?
A atribuição de características de vegetais e animais aos habitantes do cortiço retira deles sua humanidade; eles são descritos como seres da natureza e, portanto, vulneráveis às forças naturais.
6. O determinismo é uma teoria filosófica que defende a ideia de que o ser humano é produto do meio em que vive. Leia mais sobre essa teoria no boxe Saiba mais e responda às questões a seguir.
a) A ssocie aspectos do ambiente do cortiço a características específicas das personagens humanas, de acordo com a lógica determinista.
b) A ciência do final do século XIX elegia homens brancos, que viviam em uma sociedade patriarcal e escravocrata, como a raça mais “evoluída”. Explique, com base na lógica determinista, o que faz com que João Romão tenha um comportamento tão discutível mesmo pertencendo a esse grupo.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Determinismo
Datado de 30 000-10 000 a
Datado de 50 000
Datado de 1 000 000 a
Crânio humano em sua evolução a Homo sapiens.
Datado
O determinismo é uma teoria filosófica associada ao pensador francês Hippolyte Taine (1828-1893). Essa teoria sugere que todos os eventos, incluindo as ações humanas, são determinados por causas externas à vontade. Segundo essa visão, tudo o que acontece no universo é resultado de uma cadeia inevitável de causas e efeitos que relacionam características do ambiente ao sujeito que nele se insere.
Na literatura, o determinismo influenciou o movimento naturalista do final do século XIX e início do século XX. Escritores naturalistas, como o francês Émile Zola e o brasileiro Aluísio Azevedo, criaram personagens cujas vidas são moldadas por forças incontroláveis, como o meio ambiente, a hereditariedade e as condições sociais. Essas obras frequentemente exploram temas como a pobreza, a doença e a opressão, apresentando uma visão pessimista da capacidade humana de escapar de um destino predeterminado.
7. Leia o trecho a seguir, também de O cortiço, que mostra como Jerônimo, outro português imigrante, forte e honrado, entra em decadência ao começar a viver no cortiço.
Uma transformação, lenta e profunda, operava-se nele, dia a dia, hora a hora, reviscerando-lhe o corpo e alando-lhe os sentidos, num trabalho misterioso e surdo de crisálida. A sua energia afrouxava lentamente: fazia-se contemplativo e amoroso. A vida americana e a natureza do Brasil patenteavam-lhe agora aspectos imprevistos e sedutores que o comoviam; esquecia-se dos seus primitivos sonhos de ambição; para idealizar felicidades novas, picantes e violentas; tornava-se liberal, imprevidente e franco, mais amigo de gastar que de guardar; adquiria desejos, tomava gosto aos prazeres, e volvia-se preguiçoso resignando-se, vencido, às imposições do sol e do calor, muralha de fogo com que o espírito eternamente revoltado do último tamoio entrincheirou a pátria contra os conquistadores aventureiros. E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos os seus hábitos singelos de aldeão português: e Jerônimo abrasileirou-se.
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. [Brasília, DF: Ministério da Cultura: Fundação Biblioteca Nacional: Departamento Nacional do Livro, 202-]. E-book Reprodução da 30. ed. (1997) da obra, digitalizada pela Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro (USP). Localizável em: p. 44 do PDF. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000015.pdf. Acesso em: 14 set. 2024.
O trecho mostra como o meio que promove a decadência de Jerônimo é o próprio Brasil e sua natureza, principalmente relacionada ao clima (sol e calor).
• Tomando por base o trecho lido na página anterior, por que se pode dizer que não é apenas o cortiço que se configura como um meio que corrompe as personagens?
A literatura naturalista é intrinsecamente ligada ao conceito de determinismo. Os escritores naturalistas criam personagens como produtos de heranças genéticas e influências externas, muitas vezes em contextos sociais adversos. Dessa forma, o Naturalismo enfatiza a ausência de livre-arbítrio, mostrando indivíduos presos a uma série de circunstâncias inevitáveis que moldam suas vidas e destinos, reféns de uma visão cientificista e animalesca da vida humana.
O Ateneu
Raul Pompeia (1863-1895) foi um escritor e cronista brasileiro do século XIX conhecido por sua obra O Ateneu, publicada em 1888. O livro é um romance de formação que narra a história de Sérgio, um jovem que ingressa no internato Ateneu e passa por diversas experiências que marcam sua transição da infância para a adolescência. A obra é notável por seu estilo naturalista, retratando de forma detalhada e crítica a sociedade da época. Pompeia expõe as relações de poder, as intrigas e as hipocrisias presentes no ambiente escolar, que refletem a complexidade e a corrupção moral da sociedade brasileira do final do século XIX.
O Ateneu destaca-se pelas características naturalistas, como a ênfase na observação minuciosa da realidade e a representação dos instintos humanos de forma crua e direta. A narrativa de Raul Pompeia explora as influências do ambiente sobre o comportamento das personagens, mostrando como o meio social e as condições de vida moldam o caráter e as ações dos indivíduos. A obra também aborda temas como a sexualidade, a repressão e a luta por status, utilizando o colégio como um microcosmo da sociedade mais ampla. A análise psicológica das personagens e a crítica social conferem a O Ateneu um caráter naturalista um pouco diferente do das obras publicadas até então.
Agora é sua vez de conhecer mais sobre O Ateneu.
1. Orientado pelos questionamentos que seu professor vai fornecer, leia o romance.
2. D epois da leitura, a turma deve combinar com o professor uma data para discussão sobre o livro.
BASHKIRTSEFF, Marie. O encontro. 1884. Óleo sobre tela, 193 cm x 177 cm. Museu d’Orsay, Paris.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
No século XIX, a interseção entre literatura e biologia foi particularmente significativa, à medida que os avanços científicos passaram a influenciar profundamente a produção literária. O período foi marcado por descobertas fundamentais na biologia, como a teoria da evolução de Charles Darwin, que introduziu conceitos revolucionários sobre a origem das espécies e a seleção natural. Essas ideias não só transformaram a ciência, mas também encontraram eco na literatura, inspirando escritores a explorar temas relacionados à natureza humana, à hereditariedade e ao comportamento.
Casa de pensão, romance de Aluísio Azevedo publicado em 1884, exemplifica a profunda influência da biologia e do determinismo naturalista na literatura do século XIX. A relação entre o meio ambiente e o comportamento humano é uma das bases do Naturalismo, e Azevedo usa essa relação para mostrar como as personagens são moldadas e determinadas por suas circunstâncias biológicas e sociais. As descrições das personagens e do ambiente da pensão servem para ilustrar a teoria de que a vida humana é governada por leis naturais implacáveis, e que a moralidade e o destino são fortemente influenciados por fatores hereditários e ambientais. No romance, Amâncio, um jovem provinciano, muda-se para o Rio de Janeiro, onde vai estudar Medicina, mas logo assume um comportamento errático, arrogante e mentiroso.
No trecho a seguir, Amâncio, que havia sido amamentado por sua “mãe preta”, se recupera da varíola, popularmente chamada de bexiga. Essa recuperação, no entanto, é prejudicada pela amamentação inicial.
Dias depois, o médico declarou que Amâncio estava livre do maior perigo. – As bexigas foram boas e secariam prontamente, sem quase deixar sinal na pele.
Dentre em pouco abria-se a janela do nº 6, recolhia-se a última roupa que servira à moléstia, defumava-se o quarto pela última vez, e o mimalho entrava afinal na convalescença.
Logo, porém, que deixou a cama, apareceram-lhe dores reumáticas na caixa do peito e nas articulações de uma das pernas. Era o sangue de sua ama de leite que principiava a rabear. Bem dizia outrora o médico a seu pai, quando este a encarregou de amamentar o filho.
E, pois, vieram os remédios para a nova enfermidade, e Amâncio, a despeito de sua impaciência para ganhar a rua, continuou encurralado na casa de pensão e submetido a uma dieta rigorosa.
AZEVEDO, Aluísio. Casa de pensão. [Brasília, DF: Ministério da Cultura: Fundação Biblioteca Nacional: Departamento Nacional do Livro, 202-]. E-book. Reprodução da 5. ed. (1989) da obra, digitalizada pela Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro (USP). Localizável em: p. 73 do PDF. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000014.pdf. Acesso em: 14 set. 2024.
Não escreva no livro.
• Forme dupla com um colega e, juntos, pesquisem obras da literatura brasileira do século XIX em que conhecimentos da biologia atuam no desenvolvimento do enredo. Nessas obras, procurem entender como o discurso da ciência promove a ruptura ou a manutenção da sociedade racista e escravocrata.
Respostas e comentários nas Orientações para o professor.
Professor, oriente os estudantes a buscar autores como Aluísio Azevedo, Adolfo Caminha, Raul Pompeia, Júlio Ribeiro.
A teoria proposta por Charles Darwin no século XIX baseia-se na ideia de seleção natural como o principal mecanismo da evolução das espécies. Segundo essa teoria, os indivíduos de uma população apresentam variações em suas características, e aqueles com traços mais adaptativos ao ambiente tendem a sobreviver e se reproduzir, transmitindo essas características para as gerações seguintes. Essa seleção natural resulta, ao longo do tempo, na adaptação das espécies ao meio ambiente e na evolução da biodiversidade. A teoria de Darwin, porém, foi posteriormente reinterpretada e aplicada de
A guerreira mitológica Britânia conduz os soldados britânicos em solo africano. A bandeira que ela carrega (“Civilização”) se contrapõe à do inimigo (“Barbarismo”).
KEPPLER, Udo J. Do Cabo ao Cairo 1902. 1 cromolitografia. Biblioteca do Congresso, Washington, D.C.
forma distorcida, originando o chamado darwinismo social. Essa interpretação sugeria que os mesmos princípios de competição e sobrevivência dos mais aptos poderiam ser aplicados às sociedades humanas, justificando desigualdades sociais, raciais e econômicas como algo “natural” e inevitável.
Capa de Conferências
Populares da Glória Rio de Janeiro (RJ), 1876.
As Conferências Populares da Glória foram uma série de palestras públicas realizadas no Rio de Janeiro entre 1873 e 1876, com o objetivo de divulgar conhecimento científico e cultural ao grande público. Trataram de uma ampla gama de temas, incluindo ciências naturais, literatura, filosofia e questões sociais. Dentre essas conferências, destacaram-se as que discutiam a teoria da evolução, a qual, como já estudado, foi utilizada para justificar desigualdades sociais, raciais e econômicas. Assim, apesar de terem contribuído para a popularização do pensamento científico, essas conferências também fomentaram ideias que impactaram negativamente a sociedade brasileira, legitimando a sociedade escravocrata.
O trabalho e o corpo dos trabalhadores
Ao sustentar que a “sobrevivência dos mais aptos” se aplicava às sociedades humanas da mesma forma que à natureza, a teoria darwinista foi usada para justificar a exploração e a marginalização de grupos considerados “inferiores”. No mundo do trabalho, isso se traduziu na legitimação de condições laborais precárias e desumanas para os trabalhadores menos privilegiados, enquanto as elites eram vistas como naturalmente destinadas ao poder e ao sucesso. Além disso, os corpos
não brancos daqueles que pertenciam às classes trabalhadoras eram frequentemente tratados como meros instrumentos de produção, desprovidos de direitos e dignidade, o que reforçava práticas de exploração e opressão que perduraram ao longo do tempo.
DEBRET, Jean-Baptiste. Negros serradores de tábuas. 1835. Litografia, 23,7 cm x 32,8 cm. Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro.
Imagem grotesca produzida por cientistas estadunidenses que mostra uma pretensa escala das raças humanas.
MORTON, Samuel George et al Imagem 518 de Tipos da humanidade. Século XIX. 1 ilustração.
O determinismo social defende que o comportamento e as características dos indivíduos são determinados em grande medida por seu ambiente social, incluindo fatores como classe, educação, cultura e condições econômicas. Assim, as oportunidades e limitações impostas pelo contexto social moldariam inevitavelmente o destino das pessoas. No final do século XIX e início do XX, essa teoria foi usada por um movimento que defendia a melhoria da raça humana por meio da seleção genética. Os princípios do determinismo social foram usados, então, para justificar intervenções sociais e políticas que tinham por objetivo controlar a reprodução humana; acreditava-se que certas características, consideradas “indesejáveis”, poderiam ser eliminadas por práticas como a esterilização forçada e o controle de casamentos. Assim, o determinismo social contribuiu para legitimar a eugenia, reforçando a crença de que era possível e desejável “melhorar” a sociedade manipulando as condições sociais e biológicas dos indivíduos.
Você já aprendeu que, na metade do século XIX, surgiu um discurso cientificista que influenciou o desenvolvimento tecnológico e o nascimento de teorias que mudaram a forma como o ser humano interpretava o mundo e a si mesmo.
O determinismo, por exemplo, ao defender a absoluta influência do meio na formação do ser humano, previa que ele assumiria as características animalescas e selvagens do meio.
O Naturalismo, influenciado por essa lógica determinista, teve como principal característica a representação dos aspectos mais sombrios e instintivos da condição humana. Os romances naturalistas, também chamados romances de tese, procuravam aplicar teorias científicas na construção dos enredos para que atuassem como argumentos capazes de comprovar teses racistas e preconceituosas e, assim, justificar a exploração pelo trabalho precário, executado em condições desumanas.
A literatura naturalista no Brasil materializou-se por meio de discursos de uma ciência que ainda procurava se estabilizar, mas que reproduzia preconceitos e racismo que mantinham a estrutura desigual e injusta de sociedade. Na literatura contemporânea, em obras como a de Ana Paula Maia, é possível encontrar ecos do Naturalismo na apresentação das personagens, que se assemelham a animais quando submetidas a contextos em que são privadas de seus direitos mais básicos. Em uma sociedade que ainda reproduz injustiças e desigualdades herdadas do século XIX, essa literatura denuncia e propõe reflexões sobre o mundo do trabalho exploratório e sobre a violência, o racismo e os preconceitos.
lER lITERATURA Não escreva no livro.
A relação mais imediata entre ciência e literatura talvez se confirme nas obras de ficção científica: foi com base na ciência, por exemplo, que Isaac Asimov (1920-1992) pensou nas três leis da robótica, em uma profética projeção do mundo que tem, na inteligência artificial, uma tecnologia incontornável; ou que George Orwell (1903-1950), em sua obra 1984, publicada pela primeira vez em 1949, criou um mundo estritamente vigiado por câmeras controladas por um governo ditatorial. Ficção?
A ciência também aparece como referência em várias obras literárias: pode ser o tema central, como na peça Galileu Galilei, de Bertold Brecht (1898-1956), que trata do enfrentamento das ideias do cientista contra a Igreja Católica, ao defender que a Terra girava ao redor do Sol, e não o contrário. Também pode aparecer, por exemplo, em detalhes, como no romance Cem anos de solidão, de Gabriel García Marquez (1927-2014), que conta a história da cidade fictícia de Macondo e de gerações da família Buendía. O cigano Melquíades, que vende as últimas novidades da tecnologia, passa por Macondo e apregoa: “A ciência eliminou as distâncias. […] Em breve o homem poderá ver o que se passa em qualquer lugar da Terra, sem sair de sua casa”.
Mas a ciência pode, também, ter o papel relevante de se colocar como contexto fundamental na produção de obras como as que você leu nesta unidade: a teoria da evolução das espécies, que prova que o ser humano é um animal como os outros; o positivismo do filósofo Auguste Comte (1798-1857), que defende a ciência como única fonte de verdade; e o determinismo de Hyppolite Taine, que acredita que o ser humano é fruto do meio, do momento e da raça – fundo científico que embalou um movimento em que o escritor seria visto como um cientista que compõe um estudo.
Para refletir
1. Em sua opinião, a ciência pode explicar a vida? Por quê?
Para discutir
1. Você já assistiu a algum filme, série ou outra obra de ficção em que a ciência tem papel importante?
Qual foi e como a ciência aparece nessa obra?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
O Naturalismo é a escola literária que responde a um desenvolvimento da ciência da segunda metade do século XIX. Hoje, a ciência segue algumas práticas estabelecidas naquele momento, mas também desenvolveu, ao longo do tempo, estruturas e recursos que procuram garantir rigor e objetividade, bem como facilidade de acesso a pesquisas científicas e seus resultados e o entendimento deles. Um dos gêneros da esfera de pesquisa, que favorece acesso rápido ao conteúdo de uma investigação, é o resumo, que você vai estudar agora. Os resumos podem tanto acompanhar artigos científicos, apresentando o tema de que vão tratar, como condensar a leitura de um texto, selecionando as informações fundamentais do texto original. Assim, além de sua importância na esfera acadêmica, científica, o resumo também tem papel relevante na esfera escolar, como recurso de estudo ou etapa de elaboração de trabalhos nas várias áreas de conhecimento.
Para discutir
1 Você já produziu o resumo de algum texto? Qual foi o último resumo produzido?
2 Qual é a importância de consultar resumos de artigos para realizar uma pesquisa?
3 Em que veículos e suportes você encontra resumos para serem lidos? Quais você já consultou?
Você vai ler a seguir o resumo de um artigo da professora Karoline Carula, doutora em História, publicado na revista científica Almanack Braziliense, sobre as Conferências Populares da Glória, apresentadas na seção Contexto.
Texto
Na década de 1870 foram realizadas, no Rio de Janeiro, as Conferências Populares da Glória, que tinham como objetivo divulgar a ciência, as artes e a literatura. O público frequentador, composto pela camada letrada da sociedade carioca, acolheu de forma positiva as Conferências, que se firmaram como mais um espaço de sociabilidade na Corte. A repercussão na imprensa foi importante tanto por dar legitimidade ao espaço e por reverberar discussões sucedidas, colaborando na disseminação e cristalização das ideias apresentadas. Discuto e analiso neste trabalho a concepção, o funcionamento, a consolidação como espaço de sociabilidade e a força política destas Conferências, que se constituíram como um espaço público privilegiado para a formação de opinião pública.
CARULA, Karoline. As Conferências Populares da Glória e a difusão da ciência. Almanack Braziliense, São Paulo, n. 6, p. 86-100, nov. 2007. p. 86. Disponível em: www.revistas.usp.br/alb/article/view/11673/13443. Acesso em: 14 set. 2024.
1. L eia o trecho a seguir, sobre a produção acadêmica de artigos no Brasil.
Segundo relatório divulgado no fim de julho pela Elsevier e pela Agência Bori, autores do Brasil publicaram 74,5 mil documentos científicos em 2022 […].
As ciências sociais […] contabilizaram 12 947 publicações em 2021 e 12 839 em 2022.
MARQUES, Fabrício; QUEIROZ, Christina. Produção científica brasileira sofre retração. Pesquisa Fapesp, São Paulo, ed. 331, set. 2023. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/avanco-interrompido/. Acesso em: 14 set. 2024.
3. b) Espera-se que os estudantes respondam que sim, pois a existência de revistas especializadas permite que os pesquisadores de determinado tema possam reunir os resultados de seus trabalhos em uma só publicação, fazendo circular o que há de novo na área.
1. Espera-se que os estudantes concluam que o resumo permite ao leitor se inteirar rapidamente do que trata o artigo, sem que tenha de lê-lo por completo, para que possa encontrar, de forma mais eficiente, aquele que lhe interessa.
• O s dados revelam uma quantidade considerável de artigos científicos publicados no Brasil. Esses artigos, em geral, apresentam um resumo antes do texto principal. Qual é a importância desse resumo, considerando a quantidade de artigos produzidos?
2. Resumos são textos que sempre fazem referência a um outro texto. O resumo que você leu foi publicado em conjunto com o texto ao qual se refere. Antes de começar a discussão sobre resumos, copie o organizador a seguir no caderno e preencha-o com as informações básicas do texto.
Karoline Carula
Autor
Função social do autor
Momento de produção
Objetivo do autor do texto
Divulgar resultado de pesquisa acadêmica.
3. L eia o trecho a seguir, que traça um perfil da revista Almanack Braziliense.
A revista eletrônica Almanack Braziliense é um periódico semestral que publica trabalhos voltados à história do Brasil e da América Portuguesa nos séculos XVIII e XIX, privilegiando um problema específico: o processo de formação do Estado e da nação no Brasil na sua interface com o mundo hispânico e a conjuntura mundial no período citado. Trata-se, portanto, de uma revista temática, algo ainda incomum entre os periódicos de ciências humanas no Brasil.
Professora e doutora em História.
PORTAL DE REVISTAS USP. Sobre a revista: foco e escopo. São Paulo: Portal de Revistas USP, c2012-2024. Disponível em: www.revistas.usp.br/alb/about. Acesso em: 14 set. 2024.
a) C om base nesse perfil, responda: quem seriam os leitores interessados no resumo que você leu?
Leitores interessados em história, literatura e áreas correlatas, ou os que têm interesse específico no tema do artigo.
b) Você acha que é importante haver publicações tão específicas como essa revista? Responda com argumentos que sustentem sua opinião.
4. O s resumos acadêmicos seguem uma estrutura muito específica, mas que pode variar de acordo com as normas de publicação da instituição à qual a produção é ligada ou de acordo com o veículo de publicação. Leia, no trecho a seguir, as normas de publicação do resumo definidas pela revista Almanack Braziliense
Todos os textos devem ser […] acompanhados de resumos (de até 1 000 toques com espaço) e 3 a 6 palavras-chave também em português e inglês (além de uma terceira língua caso os textos sejam escritos em espanhol ou francês). As palavras-chave devem ser preferencialmente retiradas da lista de palavras-chave listadas no item ‘busca’ da revista; caso o autor considere recomendável colocar uma palavra-chave que não está contida na lista referida acima, deve expressamente pedir sua inclusão no sistema de busca (pedido que será avaliado pelos editores).
PORTAL DE REVISTAS USP. Submissão: diretrizes para autores. São Paulo: Portal de Revistas USP, c2012-2024. Disponível em: https://revistas.usp.br/alb/about/submissions. Acesso em: 14 set. 2024.
• E xplique qual é a necessidade de estabelecer normas para a publicação de um resumo.
As normas garantem que todos os resumos tenham a mesma estrutura, possam caber em uma página específica e que tenham a mesma formatação, para garantir padronização na produção acadêmica da universidade.
Um resumo acadêmico é a síntese concisa de um trabalho de pesquisa ou estudo, destacando seus objetivos, metodologia, resultados e conclusões principais. Geralmente, é utilizado para fornecer uma visão geral rápida do conteúdo e da importância do trabalho, permitindo que os leitores decidam se desejam ler o documento completo. O resumo deve ser claro e objetivo para transmitir o essencial do estudo sem necessidade de consulta ao texto integral.
5. a) O resumo recorre a referências, na imprensa, às Conferências Populares da Glória, para discutir e analisar a concepção, o funcionamento e a consolidação das palestras como espaço de sociabilidade, bem como a força política delas.
5. O resumo também apresenta a metodologia de pesquisa, ou seja, o modo como ela foi desenvolvida.
a) Que metodologia de pesquisa é registrada no resumo do artigo de Karoline Carula?
b) Os resumos também registram, de forma breve, a conclusão de cada pesquisa. Qual foi a conclusão a que chegou a pesquisadora Karoline Carula?
Chegou à conclusão de que as Conferências se constituíram como um espaço público privilegiado para a formação de opinião pública.
6. Os resumos acadêmicos apresentam palavras-chave, ou seja, termos que dizem respeito a uma temática geral e que permitem ao leitor, em um mecanismo de busca virtual, chegar à pesquisa dos autores. No resumo do artigo de Karoline Carula, as palavras-chave foram ocultadas propositalmente. Escreva três palavras-chave que contemplem o que foi apresentado.
As palavras-chave originais eram: elites, Corte imperial, imprensa, educação, ciências naturais. Professor, aceite outras respostas, desde que pertinentes.
7. Além dos que circulam em contextos acadêmicos e científicos, os resumos são gêneros também presentes em outros campos, como o jornalístico-midiático, e em outros contextos, como o escolar. Podem ter diferentes intencionalidades, para atender a diferentes interesses, como informar brevemente sobre o enredo de um livro, as notícias do dia, o capítulo de uma novela, entre outras possibilidades. O resumo pode ser um ótimo apoio para a organização dos estudos. Observe os resumos a seguir, que circulam em diferentes esferas.
Resumo 1
Jéssica tenta disfarçar sua reação diante de Electra. Wilson não aceita ajudar Brenda a impedir Paulina de contar a verdade para Tom. Tom tenta explicar sobre sua cirurgia para Laurinha. Chantal pensa em testar a fidelidade de Júpiter e comenta com Guto. Ubaiara/Youssef entrega para Leda e Marieta os objetos que usarão para expulsar Jules do apartamento. Sheila e Andrômeda viram notícia em um programa de televisão. Furtado marca um encontro com Catarina. Luca decide fazer uma sessão de fotos com Maya e acaba se encantando por ela. Hans se preocupa ao ver a carta recebida por Jéssica. Vênus estranha o jeito como Tom fala com ela.
NATELINHA. Resumo Família é Tudo: próximo capítulo da novela das sete da Globo, 29 de agosto. São Paulo: NaTelinha, 28 ago. 2024. Disponível em: https://natelinha.uol.com.br/resumos/2024/08/28/resumo-familia-e-tudo-proximocapitulo-da-novela-das-sete-da-globo-29-de-agosto-216087.php. Acesso em: 14 set. 2024.
Quarto de despejo traz em seus diários (divididos em dia, mês e ano) o retrato do cotidiano da favela de Canindé. Nele, Carolina narra como consegue sobreviver sendo catadora de lixo e metal em São Paulo e como a falta de dinheiro e de outro tipo de trabalho afetam a sua vida.
Carolina Maria de Jesus, uma mulher negra, mãe solteira e catadora de papel, detalha com profundidade a vida nas favelas de São Paulo na década de 1950. Sua narrativa se concentra nas lutas diárias pela sobrevivência em meio à extrema pobreza, à escassez de alimentos e à constante ameaça da violência.
O diário descreve a dura realidade das relações humanas na favela, incluindo intrigas, brigas e a solidariedade ocasional entre vizinhos.
ZAMBRINI, Alanis. Veja resumo de Quarto de despejo: diário de uma favelada. [S. l.]: Quero Bolsa, 3 set. 2024. Disponível em: https://querobolsa.com.br/enem/literatura/quarto-de-despejo. Acesso em: 14 set. 2024.
Leitores em geral e estudantes.
Em sites que apresentam livros para leitores ou que compartilham resumos para ambiente escolar ou vestibulares.
a) Copie o organizador a seguir no caderno e complete-o com as informações pedidas.
Espectadores de novelas.
Capítulo da telenovela Família é tudo do dia 29 de agosto de 2024.
Em sites cuja temática sejam novelas e personalidades.
Onde o texto circula
Leitor presumido
Texto resumido
Função do resumo
Apresentar o que vai acontecer no capítulo da novela.
Resumo 1
Resumo 2
b) A linguagem do primeiro resumo usa principalmente períodos simples. Qual das alternativas a seguir explica essa estrutura textual para resumos desse tipo? Copie-a no caderno.
I. Os períodos simples atendem à simplicidade do gênero telenovela, que não apresenta enredos complexos.
Resposta: alternativa III
Apresentar o enredo do livro, no caso, do diário da escritora Carolina Maria de Jesus. Livro Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus.
II. Os períodos curtos têm como função deixar o texto menos extenso, considerando que o resumo tem de ser uma publicação limitada para caber em uma postagem de rede social, por exemplo.
III. Os períodos curtos e simples apresentam de forma muito concisa e telegráfica as ações mais importantes que vão ocorrer no enredo do episódio.
c) Durante a formação escolar, os estudantes são apresentados a muitos livros de grande importância para a literatura brasileira. Esses livros podem ser cobrados como leitura obrigatória por parte dos professores ou apenas mencionados durante as aulas. Considerando isso, qual é a importância de um resumo como o de Quarto de despejo no contexto escolar?
8. Um resumo pode fazer parte de uma resenha. A diferença entre eles é que a resenha, em geral, circula no campo jornalístico-midiático e traz a opinião de quem a produz. Leia a seguir uma resenha do livro Aventuras e descobertas de Darwin a bordo do Beagle , publicado na revista Superinteressante .
Charles Darwin tinha 22 anos quando embarcou na aventura que mudaria sua vida e a maneira como a ciência encarava a evolução das espécies. De 1832 a 1836, ele circunavegou o globo a bordo do HMS Beagle, navio da Marinha britânica comandado pelo capitão Robert FitzRoy.
Na viagem de exploração hidrográfica e cartográfica, Charles Darwin foi admitido como naturalista, cuja função era pesquisar a geologia, os animais e as plantas. Seus estudos renderam matéria-prima para a elaboração de A origem das espécies (1859), em que o pesquisador defende a teoria da seleção natural, segundo a qual o meio seleciona e favorece os seres mais fortes.
NAVIO de inspeção HMS Beagle no porto de Sydney (Austrália). [ca.1835]. Aquarela. Museu Marítimo Nacional, Greenwich, Londres.
Escrito por Richard Darwin Keynes, bisneto do naturalista, Aventuras e descobertas de Darwin a bordo do Beagle reúne cartas, parte do diário de Darwin, desenhos e ilustrações. Fisiologista e professor titular da Universidade de Cambridge, Keynes levou mais de dez anos para organizar e escrever essa edição definitiva sobre a aventura de seu bisavô. Em seu texto, o autor lança um olhar informal sobre o cientista, revelando um homem apaixonado pela história natural e pelo prazer de encontrar e revelar um mundo desconhecido.
SILVA, Cíntia Cristina da. Charles Darwin: viagem fantástica. Superinteressante, [s. l.], 31 out. 2016. Disponível em: https://super.abril.com.br/ciencia/charles-darwin-viagem-fantastica. Acesso em: 14 set. 2024.
7. c) Sugestões de respostas: Resumos como o de Quarto de despejo podem ser uma forma de estudo, pois os estudantes que leram a obra podem não só produzir um resumo dela como também o reler nas vésperas de uma avaliação, por exemplo; podem, ainda, ser usados para conhecimento do enredo básico de uma obra a ser cobrada em uma avaliação, em vestibulares ou no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
8. a) As informações de que o livro reúne cartas e trechos do diário de Darwin, bem como desenhos e ilustrações que foram produzidos a bordo do navio Beagle, no qual ele viajou como pesquisador. Foi essa experiência que o levou à formulação da teoria que registrou no livro A origem das espécies
a) Que informações desse livro são apresentadas de forma resumida na resenha?
b) Qual é a função desse breve resumo da obra na resenha?
c) Que avaliação o autor da resenha faz do livro?
Trazer informações básicas sobre a obra resenhada.
8. c) Na opinião dele, o olhar informal do autor do livro permite ao leitor conhecer um homem apaixonado por história natural e pelo prazer de encontrar e revelar um mundo desconhecido.
Em toda resenha, o resumo desempenha o papel de apresentar os pontos centrais da obra de maneira concisa, estabelecendo uma base sobre a qual o resenhista vai construir suas críticas e avaliações. Essa síntese é crucial para contextualizar a obra, fornecendo ao leitor um entendimento essencial do conteúdo abordado antes de apresentar os argumentos e as análises que caracterizam a resenha como um gênero avaliativo.
9. O recurso de sumarização é fundamental para a produção de resumos, pois permite a condensação de informações extensas em uma forma mais compacta e manejável. Esse processo envolve a identificação e a extração das partes mais relevantes e significativas de um texto, dependendo de sua tipologia e gênero.
9. b) Para o público especializado, podem ser utilizados conceitos mais complexos, sem explicações nem contextualização. Para um público geral, a contextualização e a explicação de conceitos são necessárias.
a) Copie o organizador a seguir no caderno e complete-o com as informações que seriam mais importantes nos textos indicados.
Textos argumentativos
Argumentos Dados Conclusão
Personagens
Enredo
Conflito
Textos narrativos
b) No momento da produção de um resumo – e isso vale para qualquer texto –, deve-se considerar qual será o público leitor principal. Sabendo disso, qual é a diferença entre produzir um resumo para um público especializado e para um público geral? Explique.
c) Agora é sua vez! Você vai ler um trecho do conto Amor de Maria , de Inglês de Sousa (1853-1918), escritor naturalista brasileiro. Identifique as informações mínimas necessárias que permitiriam a um colega que não conhecesse a obra saber do que ela trata. Considerando que é um texto narrativo, resuma-o em até 80 palavras.
Em dezembro de 1866, veio o filho do capitão Amâncio de Miranda passar o Natal com o pai em Vila Bela. Lourenço, assim se chamava o rapaz, fora em pequeno estudar ao Maranhão, e de lá voltando empregara-se na alfândega do Pará. Pela primeira vez voltava a Parintins, depois que de lá saíra. Oxalá não tivesse voltado nunca!
O filho do capitão Amâncio era um rapaz alto e louro, bem-apessoado. Imaginem se devia ou não agradar às moças de um lugarejo, em que toda a gente é morena e baixa. Acrescia que Lourenço tinha uns modos que só se encontram nas cidades adiantadas, vestia à última moda com apuro, falava bem e era desembaraçado. Quando olhava para algum dos rapazes da vila, através de sua luneta de cristal e ouro, o pobre matuto ficava ardendo em febre. Demais, chegara do Pará, sabia as novidades. Criticava com muita graça os defeitos das moças. E montava a cavalo com uma elegância nunca vista, e que eu (apesar de já ter estado no Pará, no Maranhão e na Bahia) não podia deixar de admirar. SOUSA, Inglês de. Amor de Maria. In: SOUSA, Inglês de. Contos amazônicos. 2. ed. Jundiaí: Cadernos do Mundo Inteiro, 2018. p. 35-46. (Coleção acervo brasileiro, v. 1, p. 37-38). Disponível em: https://cadernosdomundointeiro.com.br/pdf/ Contos-amazonicos-2a-edicao-Cadernos-do-Mundo-Inteiro.pdf. Acesso em: 14 set. 2024.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A sumarização permite condensar o conteúdo extenso de um texto em uma versão mais curta e direta, preservando suas principais ideias e informações. Esse processo ajuda a destacar os pontos mais relevantes e a eliminar detalhes secundários ou redundantes. Além disso, evita o plágio, já que a informação é reformulada de maneira única, respeitando os direitos autorais do texto original.
Cenário Tempo
1. a) Porque Rita Baiana parece render-se ao instinto ao aproximar-se de Jerônimo, enquanto os homens vão se comportar como machos que, na natureza, entram em conflito para conseguir a fêmea.
Leia outro trecho do romance O cortiço, de Aluísio Azevedo.
1 No trecho, aparecem outros moradores do cortiço: Rita Baiana (lavadeira), seu namorado Firmo (capoeirista) e Jerônimo, o imigrante português.
a) Pode-se dizer que o modo como está representada a interação entre as personagens é próprio do Naturalismo. Por quê?
b) No romance, o cenário atua como personagem, como sugerem os verbos em destaque. Explique por que esses verbos não estão acompanhados de complementos.
Porque são intransitivos.
3 Nesse trecho, identifique o termo que expressa a circunstância do verbo e o que expressa a característica do sujeito. Classifique os termos.
Altivo caracteriza o sujeito –é predicativo do sujeito; “com um gesto igual” expressa o modo como ele respondeu –é adjunto adverbial de modo.
Entretanto, a chuva cessou completamente, o sol reapareceu , como para despedir-se: andorinhas esgaivotaram no ar; e o cortiço palpitou inteiro na trêfega alegria do domingo. […]
A noite chegou muito bonita, com um belo luar de lua cheia, que começou ainda com o crepúsculo; e o samba rompeu mais forte e mais cedo que de costume […].
[…]
Mas, lá pelo meio do pagode, a baiana caíra na imprudência de derrear-se toda sobre o português e soprar-lhe um segredo, requebrando os olhos. Firmo, de um salto, aprumou-se então defronte dele, medindo-o de alto a baixo com um olhar provocador e atrevido. Jerônimo, também posto de pé, respondeu altivo com um gesto igual. […]
Jerônimo era alto, espadaúdo, construção de touro, pescoço de Hércules, punho de quebrar um coco com um murro: era a força tranquila, o pulso de chumbo. O outro, franzino, um palmo mais baixo que o português, pernas e braços secos, agilidade de maracajá: era a força nervosa […]. […]
— Segue a dança, gritaram em volta.
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. [Brasília, DF: Ministério da Cultura: Fundação Biblioteca Nacional: Departamento Nacional do Livro, 202-]. E-book. Reprodução da 30. ed. (1997) da obra, digitalizada pela Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro (USP). Localizável em: p. 58 do PDF. Disponível em: www.dominiopublico.gov.br/download/ texto/bv000015.pdf. Acesso em: 14 set. 2024.
5 A oração em destaque caracteriza Jerônimo.
a) Que tipo de verbo é utilizado para essa apresentação?
b) Explique por que foi empregado esse tipo de verbo.
Não escreva no livro.
2 No trecho em destaque, Rita Baiana faz uma escolha equivocada.
a) Que verbo indica que sua ação foi equivocada? Como se classifica esse verbo?
b) Que função a expressão na imprudência exerce na oração?
c) Copie, no caderno, a expressão que indica circunstância de tempo. Como se classifica?
4 A continuação desse período especifica a imprudência de Rita.
a) Identifique os verbos que se referem a essa imprudência.
b) Qual desses verbos é classificado como bitransitivo nesse contexto?
Identifique os complementos que o acompanham e classifique-os.
c) Como se classifica o termo os olhos? A que outro termo ele se relaciona?
Respostas e comentários nas Orientações para o professor.
O Volume 1 desta coleção tratou das funções sintáticas dos termos ligados ao verbo. Relembre essas funções.
O verbo constitui o predicado, termo essencial da oração. Será núcleo do predicado verbal e verbo de ligação no predicado nominal, que tem como núcleo um predicativo. O predicativo é expresso por um adjetivo ou palavra com valor adjetivo. Observe os exemplos a seguir.
A chuva cessou completamente. núcleo do sujeito núcleo do predicado verbal
Jerônimo era alto. núcleo do sujeito verbo núcleo do predicado nominal de ligação predicativo do sujeito
O predicado será verbonominal se tiver um núcleo verbal e um nominal. No exemplo a seguir, a ideia é que a noite praticou a ação de chegar, e, quando chegou, estava muito bonita.
A noite chegou muito bonita. núcleo do sujeito núcleo do núcleo do predicado nominal; predicado verbal predicativo do sujeito
Também estão associados ao verbo os termos integrantes objeto direto e objeto indireto O objeto direto completa o sentido do verbo e liga-se a ele sem a presença de preposição. O objeto indireto também completa o sentido do verbo, mas liga-se a ele por meio de uma preposição. Os objetos são expressos por um nome.
A baiana caíra na imprudência de soprar-lhe um segredo. núcleo do predicado verbal objetos indiretos objeto direto
Além dos termos integrantes, está ligado ao verbo o adjunto adverbial, termo acessório que expressa circunstâncias de tempo, lugar, dúvida, condição, entre muitas outras possibilidades. É indicado por um advérbio ou expressão adverbial. No exemplo a seguir, os adjuntos expressam a intensidade e o tempo em que o samba praticou a ação de romper.
O samba rompeu mais forte e mais cedo. adjunto adverbial de intensidade adjunto adverbial de tempo
#PARAlEMBRAR
Preposição
As preposições são palavras invariáveis que ligam outras palavras, estabelecendo diferentes relações de sentido, como instrumento, companhia, direção etc. São preposições: a, com, de, após, até, em, entre, para , por, desde, entre outras. Podem vir contraídas com artigos (exemplos: da = de + a; no = em + o). A crase marca a contração da preposição a com o artigo a (exemplo: Fui à livraria).
1. b) Os participantes da aula, principalmente os colegas que não o escolhiam para jogar.
1. c) Os complementos são: me (objeto direto); “sobre a seleção dos mais aptos” (objeto indireto).
A Unidade 1 traz a revisão dos termos ligados ao nome. Entre esses termos, alguns, embora façam parte do predicado, ligam-se ao nome. É o caso do predicativo do sujeito e do predicativo do objeto: eles são núcleos do predicado nominal, mas qualificam um nome. Nesta unidade, você reviu os nomes ligados ao verbo.
Verbo intransitivo É o verbo que não exige complemento.
Verbo transitivo É o verbo que exige complemento: objeto direto ou objeto indireto.
Verbo bitransitivo É o verbo que exige tanto objeto direto como objeto indireto.
Objeto indireto
Objeto direto
Complementa o sentido do verbo transitivo indireto; liga-se a ele por meio de uma preposição.
Completa o sentido do verbo transitivo direto e liga-se a ele sem a presença de preposição.
Adjunto adverbial Termo que expressa uma circunstância da ação indicada pelo verbo.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Leia a tirinha a seguir, do cartunista Marco Merlin, para responder às atividades 1 e 2.
MERLIN,
em: 14 set. 2024.
1. De acordo com a tirinha, o personagem desenvolveu uma concepção própria da ideia de seleção dos mais aptos ao longo da vida.
a) Que concepção é essa?
1. a) Na juventude, ele acreditava que os mais aptos eram bons em tudo; na vida adulta, percebeu que toda pessoa tem aptidão para ser boa em alguma área específica.
b) No segundo quadrinho, o personagem revela que já aprendera sobre a seleção natural nas aulas de Educação Física. Quem ensinou isso ao personagem?
c) Identifique e classifique os complementos da forma verbal ensinado
2. Considere o primeiro quadrinho.
a) Na f ala desse quadrinho, há apenas um verbo. Identifique-o e classifique o predicado que compõe o período.
Verbo aprender. O predicado é verbal, pois aprender é verbo de ação.
b) Identifique e classifique os objetos que complementam o verbo do período.
c) Qual é a função do trecho “nas aulas de Biologia”?
Indicar o lugar em que o personagem aprendeu: adjunto adverbial de lugar.
Os complementos são sobre Charles Darwin (objeto indireto), a teoria da evolução (objeto direto).
6. c) Deixou: núcleo do predicado verbal; o público: objeto direto; surpreso: predicativo do objeto e núcleo nominal do predicado; em 26 de março de 2022: adjunto adverbial de tempo; em Londres e na Inglaterra: adjuntos adverbiais de lugar.
O humor da tira de Armandinho é construído pelo modo como ele entende a fala do pai.
BECK, Alexandre. [Sua tia partiu em uma viagem, filho...]. Folha de S.Paulo, São Paulo, 9 abr. 2016. Tirinha 16/112 da galeria. Disponível em: https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/nova/27431-tiras-de-armandinho#foto-374556. Acesso em: 14 set. 2024.
Ele acha que o pai vai dizer que a tia morreu e quer mostrar maturidade para entender a morte dela. Provavelmente, a frase “mas um dia a veremos de novo!”.
3. Qual é o equívoco de Armandinho? Que fala do pai dá essa impressão a ele?
4. Dois termos ajudam a desfazer esse equívoco: o que esclarece para onde a tia foi e o que conta quando ela volta.
a) Identifique esses termos e classifique-os quanto à função sintática.
4. c) Não: em uma viagem completa o sentido do verbo partir e liga-se a ele por meio da preposição em, sendo, portanto, um objeto indireto; a verdade completa o sentido do verbo falar e liga-se a ele sem a presença de preposição, ou seja, é um objeto direto. Em uma viagem: objeto indireto; semana que vem: adjunto adverbial de tempo.
b) O termo de novo expressa um sentido necessário ao verbo ou uma circunstância? Explique.
Uma circunstância de tempo: equivale a novamente, com o sentido de repetição, mais adiante.
c) A s expressões em uma viagem e a verdade exercem a mesma função sintática? Por quê?
O trecho a seguir transcreve parte de um podcast que apresenta um histórico da banda Genesis. Leia-o e responda às atividades de 5 a 7.
O anúncio do último show da banda Genesis deixou o público surpreso em 26 de março de 2022, em Londres, na Inglaterra. Aos 71 anos, o músico Phil Collins avisou à multidão que seria a despedida dele e do grupo. O artista teve que fazer uma pausa diante dos inúmeros aplausos e gritos dos presentes. Phil Collins ainda brincou dizendo que, depois daquela noite, os integrantes precisariam de empregos de verdade.
7. a) Um emprego que não fosse música, aludindo talvez à ideia que muitos têm de que fazer música não é um trabalho sério, não é profissão. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
EVARISTO, Beatriz. História Hoje: Genesis faz show de despedida. Radioagência Nacional, Brasília, DF, 26 mar. 2024. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/radioagencia-nacional/cultura/audio/2024-03/historiahoje-genesis-faz-show-de-despedida. Acesso em: 14 set. 2024.
5. Você já ouviu falar da banda Genesis? Conte o que sabe para os colegas.
Resposta pessoal. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
6. Releia: “O anúncio do último show da banda Genesis deixou o público surpreso em 26 de março de 2022, em Londres, na Inglaterra”.
a) Por que o público ficou surpreso?
Provavelmente porque não sabia que aquele seria o último show da banda, até eles anunciarem isso durante o evento.
b) Identifique nesse período o núcleo do sujeito e o núcleo do predicado verbal.
Núcleo do sujeito: anúncio; núcleo do predicado verbal: deixou
c) Classifique todos os termos desse predicado.
7. O líder da banda faz uma brincadeira ao dizer que “os integrantes precisariam de empregos de verdade”.
a) O que ele quis dizer com “empregos de verdade”?
b) O verbo precisar é transitivo nesse período. Qual é a transitividade? Identifique seu complemento e o classifique.
Transitivo indireto; de empregos é objeto indireto. Atividades complementares nas Orientações para o professor.
4. c) “Sua natureza mais profunda reside na tentativa de desarticular um grupo humano pela negação de sua identidade coletiva. Assim, ao rotular de ‘negros’, ‘ladinos’, ‘pretos’ ou ‘crioulos’ os africanos e seus descendentes, o dominador pretendia arrancar-lhes a referência básica à sua condição humana, reduzir sua identidade à cor da pele, feita sinônimo de condenação à inferioridade e à condição de escravo.”
4. b) O sentido de insuficiência: não é suficiente identificar racismo como um problema de cor de pele, há outros problemas relacionados a ele.
3. Porque, ao chamar a atenção do leitor para a gravidade dos fatos, também reforça a urgência do combate ao racismo e, dando peso à situação, convoca o leitor para essa luta.
Abdias do Nascimento (1914-2011) foi ator, escritor, dramaturgo, artista plástico, professor e político. Natural de Franca (SP), o ex-senador foi defensor dos direitos das populações negras brasileiras. Leia, a seguir, o trecho de uma reportagem em sua memória e observe a função dos modalizadores.
1 Que imagem de Abdias do Nascimento é ressaltada na reportagem?
2. a) Ele critica a falta de medidas que garantissem a inclusão social dos ex-escravizados.
2 O primeiro parágrafo critica a Lei Áurea.
a) Qual é a crítica feita por Abdias?
b) Identifique a que termo está ligada a expressão na cor em destaque e classifique-a.
c) Que ideia essa expressão ajuda a defender?
Que a Lei Áurea foi insuficiente.
xpressão destacada funciona como adjunto adverbial do verbo golpear, que já tem um significado forte: “dar um golpe”.
Nesse contexto, a expressão modaliza o enunciado ao intensificar o verbo e dar maior gravidade ao que, em si, já é grave. Por que se pode dizer que essa ênfase faz parte da construção da argumentação do texto?
1. A imagem de um ativista engajado, enérgico, vigoroso, profundamente comprometido com o combate ao racismo e às injustiças em geral.
A Lei Áurea deu aos ex-escravizados tão somente a liberdade, sem estabelecer medidas extras para incluí-los na sociedade, dar-lhes plena cidadania. Segundo o senador [Abdias do Nascimento], esse grave defeito da lei de 1888 continuava golpeando em cheio a população negra do Brasil mais de um século depois da libertação dos escravizados:
[…]
2. b) Liga-se ao verbo dar (deu); adjunto adverbial de intensidade.
— O racismo não é um problema apenas de cor da pele — ele afirmou no Senado. — Sua natureza mais profunda reside na tentativa de desarticular um grupo humano pela negação de sua identidade coletiva. Assim, ao rotular de ‘negros’, ‘ladinos’, ‘pretos’ ou ‘crioulos’ os africanos e seus descendentes, o dominador pretendia arrancar-lhes a referência básica à sua condição humana, reduzir sua identidade à cor da pele, feita sinônimo de condenação à inferioridade e à condição de escravo. […]
[...]
Ele foi criado no momento em que prevalecia o chamado racismo científico, que pregava, com base em estudos enviesados , que os negros eram inferiores aos brancos em termos físicos, intelectuais e até morais. […] Para a salvação nacional, segundo o racismo científico, o Brasil precisava estimular a vinda de imigrantes da Europa e embranquecer a sociedade.
WESTIN, Ricardo. Senador Abdias Nascimento: uma vida dedicada à luta contra o racismo. Agência Senado, Brasília, DF, 7 maio 2021. Disponível em: www12.senado.leg.br/noticias/ especiais/arquivo-s/senador-abdias-nascimento-uma-vidadedicada-a-luta-contra-o-racismo. Acesso em: 14 set. 2024.
5. a) Não, ela não exprime um tom dado pelo enunciador ao enunciado. Ela informa a base do racismo científico. O adjetivo que caracteriza estudos (enviesados) desqualifica-os.
4 O termo em destaque no segundo parágrafo tem efeito de sentido semelhante a outro modalizador usado anteriormente.
a) Que modalizador é esse?
O modalizador tão somente
b) Que sentido ele produz no texto?
c) Copie, no caderno, o trecho que elucida os problemas a que Abdias se refere.
5 Releia o último parágrafo do texto.
a) A expressão adverbial destacada tem função de modalizador?
Por quê?
b) Que relação se pode estabelecer entre as informações desse parágrafo e o contexto de produção de O cortiço?
5. b) O racismo científico está na base do Naturalismo – escola literária da qual a obra O cortiço faz parte –, que defende, entre outras ideias, a superioridade de um grupo e a noção de que as pessoas são produto do meio em que vivem.
Os advérbios cumprem importante papel em textos: informar as circunstâncias em que as situações ocorrem. Eles podem, assim como os adjetivos, modalizar o enunciado ajustando a intensidade, a certeza e a possibilidade de uma ação ou descrição, refletindo a atitude do falante diante do que é expresso. Esse mecanismo pode dar acesso à opinião do enunciador. Observe este exemplo:
A Lei Áurea deu aos ex-escravizados a liberdade.
A Lei Áurea deu aos ex-escravizados tão somente a liberdade.
A expressão adverbial tão somente muda o verbo dar e sugere que a Leia Áurea foi insuficiente para garantir cidadania aos ex-escravizados. Agora, observe este outro trecho:
[…] aquelas três casinhas, tão engenhosamente construídas, foram o ponto de partida do grande cortiço de São Romão.
O advérbio tão intensifica o talento e, por consequência, a qualidade das construções e, assim, valoriza o trabalho de João Romão. Claro que esse elogio deve ser visto no contexto da obra e tem sentido irônico, pois as casinhas também foram frutos de ações ilícitas do construtor. Nesses exemplos, os adjuntos adverbiais modalizam o enunciado, modulando a ênfase e a perspectiva de suas declarações, reforçando alguns sentidos, enfraquecendo outros. Esses mecanismos participam da construção da argumentação porque afirmam uma postura do enunciador diante do que enuncia. Observe, agora, os casos a seguir.
É bastante provável que a lógica evolucionista não seja adequada a enredos contemporâneos.
Nessa frase, o advérbio bastante está intensificando o adjetivo provável e estabelece uma escala de possibilidades para adotar a teoria evolucionista nos enredos contemporâneos, que se aproximaria de zero. Com essa modalização, o enunciador acentua a afirmação, ainda que, ao empregar o termo provável, evite a afirmação de uma certeza.
É quase impossível justificar que o meio atua no sujeito como propunha a lógica determinista.
Nesse caso, o advérbio quase atua como um modalizador que delimita a circunstância expressa. A justificativa não seria, então, totalmente impossível, mas um pouco menos do que totalmente. Ao atenuar sua afirmação, o enunciador não se compromete com uma afirmação radical.
O zoomorfismo foi excessivamente utilizado na descrição naturalista.
A ação do advérbio excessivamente modifica o sentido de toda a sentença , atuando também como um modalizador que expressa uma opinião do enunciador, que considera que a utilização do zoomorfismo foi exagerada.
Mais contido, Raul Pompeia não recorre a tantos termos cientificistas para se referir ao comportamento humano.
O advérbio mais está intensificando o adjetivo contido, que se refere a Raul Pompeia. Ele não seria apenas contido, mas teria sido mais contido que outros autores ao recorrer ao cientificismo. Os advérbios produzem efeitos de sentido importantes ao modalizar verbos e nomes a que se referem.
2. b) Ainda dá ideia de tempo, sugerindo demora no aumento do número de mulheres na produção científica; apenas enfatiza a insuficiência no número de mulheres no campo das pesquisas científicas.
Leia a introdução de um artigo que trata da participação das mulheres na produção científica. As mulheres ainda representam apenas 30% dos pesquisadores em todo o mundo. A proporção de laureadas com o Prêmio Nobel, um dos reconhecimentos científicos de maior prestígio, é de apenas 6%. A grande maioria da população sequer sabe citar o nome de algumas delas. Mas, como seriam nossas vidas se todas as cientistas laureadas desaparecessem do planeta ou se suas pesquisas simplesmente não tivessem acontecido? Certamente, muito piores. A Terra precisa de ciência e a ciência precisa das mulheres.
MARIATH, Fernanda; BARATTO, Leopoldo Clemente. Mulheres cientistas extraordinárias. Ciência Hoje, Rio de Janeiro, n. 372, dez. 2020. Disponível em: https://cienciahoje.org.br/artigo/mulheres-cientistas-extraordinarias/. Acesso em: 14 set. 2024.
1. Que posição está sendo defendida nesse trecho da matéria?
Defende-se o aumento do número de mulheres entre os pesquisadores na área de ciências.
2. O período “As mulheres ainda representam apenas 30% dos pesquisadores” apresenta dois advérbios: ainda e apenas.
nessa hipótese despropositado,
Não, pois apenas expressa a hipótese de das cientistas
a) A que termos cada um desses advérbios está associado?
Ainda e apenas estão ligados à forma verbal representam.
b) Ambos os advérbios intensificam o termo a que se referem, mas produzem sentidos diferentes. Que sentido cada um produz nesse enunciado?
3. Em “A grande maioria da população sequer sabe citar o nome de algumas delas”, um advérbio enfatiza o desconhecimento das pessoas sobre o nome de mulheres cientistas.
a) Qual é o advérbio?
É o advérbio sequer
b) Que posicionamento ele ajuda a construir?
O de que o fato de não conhecer o nome das cientistas mostra que a sociedade ainda não dá a devida importância ao trabalho delas.
4. Releia: “como seriam nossas vidas […] se suas pesquisas simplesmente não tivessem acontecido?”.
a) Que sentido sugere o emprego do advérbio simplesmente?
b) O termo não também é advérbio. Ele funciona como modalizador? Por quê?
5. L eia a tirinha a seguir, do Cientirinhas.
Espera-se que os estudantes indiquem que os diferentes animais se adaptam ao
vivem e, por isso, se ficar em pé logo após o nascimento for uma vantagem relacionada ao meio, os animais adaptados terão essa característica.
5. b) No último quadro, a mãe canguru cobra de seu filho um comportamento que não é característico de sua espécie.
MERLIN, Marco. [Cientirinhas #134]. Dragões de Garagem. [S. l.], 21 mar. 2019. Disponível em: https://dragoesdegaragem.com/cientirinhas/cientirinhas-134/. Acesso em: 14 set. 2024.
Considere o que você aprendeu nesta unidade sobre as teorias evolutivas e responda:
a) O que justificaria tantas semelhanças e diferenças no comportamento de animais recém-nascidos?
b) Considerando sua resposta à questão anterior, como o último quadro produz o humor da tirinha?
6. No texto da tirinha, alguns adjuntos adverbiais atuam de forma a estruturar os argumentos da mãe canguru, ao narrar para o filhote os comportamentos de outros animais. Explique como os adjuntos adverbiais a seguir auxiliam na construção argumentativa.
• L ogo depois do nascimento
Marca o tempo em que os filhotes ficam em pé e têm autonomia, no caso, assim que nascem.
• Até
Inclui um exemplo de animal que seria pouco provável que andasse após o nascimento – o elefante, que pesa 100 quilos. Atividades complementares nas Orientações para o professor.
Estratégias didáticas nas Orientações para o o professor.
Um texto pode ser lido em diferentes níveis de interpretação e análise – mais superficiais ou aprofundadas. Cada texto pode ampliar o repertório do leitor e reforçar ou questionar pontos de vista acerca do mundo.
Para que isso ocorra, no entanto, é fundamental que o leitor se lembre, não de forma completa, palavra por palavra, mas da ideia geral do texto, dos elementos mais importantes que o constituem. Cabe ao leitor resumir as informações desse texto para que passem a fazer parte do seu repertório de conhecimentos. O resumo é, portanto, uma das estratégias de estudo mais práticas e efetivas para guardar as informações de um texto.
O que você irá produzir
Você vai produzir um resumo. O seu objetivo é ler um artigo de divulgação científica e conseguir identificar quais são as informações fundamentais que o constituem, aquelas de que você ou qualquer leitor deve se lembrar depois da leitura, para que possam ser referenciadas em outros momentos. O texto que você vai resumir envolve informações das ciências humanas e da natureza e discute sobre as técnicas utilizadas e a importância de se escanearem monumentos históricos.
O primeiro passo para a produção de seu resumo, antes de ler o texto em si, é identificar seu contexto de produção. Escrito pela jornalista Frances Jones, foi publicado pela revista Pesquisa Fapesp, de divulgação científica, na edição 293, de julho de 2020. Essas informações devem constar no início de seu resumo.
Em seguida, é fundamental que identifique, na leitura do artigo de divulgação científica, os aspectos tipológicos, isto é, se for um texto narrativo, você deve ficar atento ao desenvolvimento do enredo e das personagens; se for um texto informativo, prestar atenção à sequência das informações, descrições e detalhamentos; se for um texto argumentativo, saber identificar a tese e os argumentos, a coerência entre eles e a conclusão, e assim por diante.
A seguir, algumas estratégias para tornar a leitura de um texto mais efetiva visando à construção de um resumo.
• Faça uma leitura geral para identificar o tema e as características tipológicas.
• Verifique se há palavras, expressões e trechos que você não entendeu e anote-os no caderno. Procure o significado das palavras e expressões e faça uma leitura cuidadosa do trecho que suscitou dúvidas. Se necessário, peça ajuda ao professor ou a um colega.
• En tendido o texto, faça uma nova leitura identificando os pontos que, em sua opinião, devem obrigatoriamente aparecer em seu resumo. Esses pontos dependem muito da tipologia do texto identificada: são os argumentos, as informações ou as personagens? Anote esses pontos no caderno. Você pode copiar os trechos, organizá-los em tópicos ou mesmo os reescrever com as próprias palavras.
• Muitos recorrem à estratégia de resumir parágrafo a parágrafo do texto e unir esses pequenos trechos para a construção do resumo final. No entanto, eventualmente mais de um parágrafo desenvolve a mesma ideia, que poderia ser resumida em um único trecho. Fique atento a essa possibilidade. Agora, leia o texto.
Apesar de cara, tecnologia de escaneamento a laser pode ser opção valiosa para a preservação do patrimônio histórico e cultural
Em abril do ano passado, menos de uma semana depois de a catedral Notre-Dame de Paris arder em chamas e perder parte de seu telhado e sua torre central pontiaguda, uma equipe de especialistas em conservação e restauração de monumentos históricos entrou no edifício quase milenar para avaliar a extensão dos estragos. Em apenas um dia, fez-se um mapeamento detalhado do que havia sido destruído e do que ainda restava de pé na igreja, um ícone da arquitetura gótica. Entre os equipamentos utilizados pelo grupo, escâneres tridimensionais (3D) a laser tornaram possível a coleta rápida e precisa de dados essenciais à reconstrução. […]
Passados alguns dias do desastre da Notre-Dame, o sertão baiano viveu algo semelhante, quase sem alarde, quando pegou fogo a Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus de Monte Santo, município de 50 mil habitantes a 360 quilômetros (km) de Salvador. A cidade é conhecida por ter abrigado as tropas federais durante a Guerra de Canudos (1896-1897), em campanha contra Antônio Conselheiro, líder religioso que se instalara na região anos antes. Por sorte, a igreja construída em 1927 em Monte Santo passou por uma varredura similar à realizada no templo francês, antes do incêndio. Não se trata de algo trivial, já que o escaneamento tridimensional a laser (3DLS) é uma tecnologia cara, complexa e ainda pouco utilizada no Brasil para estudos do patrimônio histórico e cultural.
‘Entrei em contato com o Iphan [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional] na Bahia, relatando que havíamos produzido na Unicamp [Universidade Estadual de Campinas] o escaneamento a laser da matriz, que poderia auxiliar no seu restauro. O órgão se interessou, mas com a pandemia o processo de recuperação da igreja foi interrompido’, conta o arquiteto Timóteo de Andrade Ferreira, que fez o trabalho como parte da pesquisa de seu mestrado no Programa de Pós-graduação em Arquitetura, Tecnologia e Cidade da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, sob a orientação da arquiteta Regina Andrade Tirello.
[…]
Em sua pesquisa de campo, Ferreira integrou o 3DLS com a fotogrametria digital –a medição das distâncias e das dimensões reais dos objetos por meio da fotografia –, uma tecnologia mais acessível, comumente usada por engenheiros e arquitetos. A vantagem da digitalização a laser terrestre, sobre um tripé, em relação a essa técnica e a outra chamada DSM (Dense Stereo Matching) é que ele produz automaticamente a chamada nuvem de pontos, a representação mais básica de um objeto tridimensional a partir de coordenadas cartesianas (x, y, z) explica o engenheiro civil Arivaldo Leão de Amorim, pesquisador do Laboratório de Estudos Avançados em Cidade, Arquitetura e Tecnologias Digitais (LCAD) da Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Há duas décadas, o LCAD documenta o patrimônio arquitetônico baiano empregando tecnologias digitais. […]
Amorim destaca que, após o processamento com o uso de softwares específicos, a nuvem de pontos capturada pelo equipamento 3DLS pode ser usada para a construção de modelos geométricos ou físicos de edificações, monumentos e objetos. Alternativas à documentação tradicional de prédios históricos, tais modelos são úteis para divulgar o patrimônio artístico ou arquitetônico e conscientizar a população e gestores sobre sua relevância. Também servem como fonte de informações turísticas e para preservar a memória de construções que eventualmente venham a ser demolidas, assim como para a reconstrução das que forem danificadas.
JONES, Frances. Digitalização de monumentos. Pesquisa Fapesp, São Paulo, ed. 293, jul. 2020. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/digitalizacao-de-monumentos/. Acesso em: 14 set. 2024.
Prática de resumo
Elaborar um bom resumo requer a habilidade fundamental de distinguir entre informações essenciais e detalhes supérfluos em um texto. Para começar, concentre-se em identificar a ideia central ou a tese do texto, deixando de lado detalhes como exemplos extensos, descrições minuciosas e casos específicos que ilustram os pontos principais. Repetições de informações ou reforços desnecessários podem ser condensados em uma única menção. Nomes de obras, datas específicas, estatísticas Não escreva no livro.
detalhadas e citações diretas também podem ser resumidos ou omitidos, a menos que sejam fundamentais para a compreensão do argumento.
Além disso, informações contextuais, que situam o tema em um cenário mais amplo, são úteis, mas devem ser limitadas ao essencial. Adjetivos e opiniões que não afetem o conteúdo objetivo do texto podem ser eliminados, assim como narrativas secundárias e anedotas não centrais ao argumento. Muitas vezes, introduções e conclusões apresentam generalidades e retomadas que podem ser resumidas.
Ler o texto atentamente e copiar as informações essenciais pode ajudar a decidir o que manter. Pergunte-se sempre: se eu remover essa informação, o entendimento do texto ficará prejudicado?
Se a resposta for não, essa parte pode, provavelmente, ser cortada. Desenvolver essa habilidade permitirá que você crie resumos claros, concisos e focados nos pontos principais.
A seguir, você vai ler três parágrafos sobre o termo favela . Escreva, para cada parágrafo, um único período com as informações essenciais.
A expressão “favela” é comumente repetida pelas pessoas no cotidiano e pelos meios de comunicação. Geralmente, ela é definida como casas em condições precárias que se localizam em morros. Mas será mesmo essa a correta definição de favela?
Na verdade, favela significa toda e qualquer ocupação irregular de terrenos públicos ou privados ou em áreas que não são recomendadas para a moradia (como os morros). As pessoas que moram em favelas, geralmente, não dispõem de condições mínimas de infraestrutura e não possuem a posse legal dos terrenos onde construíram suas casas.
[…]
As favelas são resultado das desigualdades sociais e do grande número de pessoas que vivem em condições precárias de vida nas cidades. Tal processo, em termos históricos, foi resultante do chamado “êxodo rural” que, por causa da substituição do homem pela máquina no campo, acarretou na migração em massa de pessoas do campo para as cidades. O processo de surgimento das favelas chama-se favelização.
PENA, Rodolfo Alves; RIBEIRO, Amanda Gonçalves. Favela. [S. l.]: Escola Kids, c2024. Disponível em: https://escolakids.uol.com.br/ geografia/favela.htm. Acesso em: 14 set. 2024. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Produzir
Tenha à mão o texto sobre digitalização de monumentos e suas anotações. Seu resumo não poderá passar de dez linhas. Um resumo que tenha o mesmo tamanho do texto original é uma reescrita, não um resumo. Antes de escrever, esquematize um projeto de texto no qual fiquem claras as informações que são obrigatórias em seu resumo e qual seria a melhor sequência para aparecerem no texto.
Inicie o resumo indicando título, autor e local de publicação. Em seguida, pode começar o resumo do texto em si. Consulte seu projeto de texto, anotações e o texto original, se necessário.
Não copie, em nenhum momento, uma frase do texto original. Somente são permitidas as cópias de expressões específicas. Não utilize discurso direto em seu resumo; caso seja necessário, transforme-o em discurso indireto.
Agora, é o momento de compartilhar. Você pode indicar o texto original da revista Pesquisa Fapesp inserindo o link e o resumo em um post de suas redes sociais, ou utilizar as habilidades adquiridas na produção de seu resumo para publicar, de forma frequente, resumos de textos e produções audiovisuais com as quais você entra em contato nas redes sociais.
POMPEIA, Raul. O Ateneu. São Paulo: Penguin & Companhia das Letras, 2013.
Publicado originalmente em capítulos no jornal carioca Gazeta de Notícias, em 1888, o romance mistura ficção e fatos da vida do escritor ao narrar as experiências de um adolescente tímido, Sérgio, em um internato que pode ser considerado um microcosmo social. Dirigido por um autoritário Aristarco, mostrado de modo quase caricato no romance, o Ateneu é palco de vivências que transformarão profundamente o protagonista ao colocá-lo em contato com a violência, a traição e as inquietudes da vida, esmagando suas ilusões. Um dos mais importantes romances da literatura naturalista brasileira.
DIVERSIDADE em Ciência #47: Haroldo Sereza fala sobre o naturalismo de Aluísio Azevedo. Entrevistado: Haroldo Ceravolo Sereza. Entrevistador: Ricardo Alexino Ferreira. São Paulo: Jornal da USP, 30 maio 2022. Podcast. Disponível em: https://jornal.usp.br/podcast/diversidade-em-ciencia47-haroldo-sereza-fala -sobre-o-naturalismo-de-aluisio-de-azevedo/. Acesso em: 14 set. 2024.
O Diversidade em Ciência é um podcast voltado para a divulgação de temas das ciências, da diversidade e dos direitos humanos. No episódio a que o link dá acesso, o jornalista e professor Ricardo Alexio Ferreira entrevista Haroldo Ceravolo Sereza, doutor em Literatura Brasileira pela USP, jornalista e editor. Autor de O Naturalismo e o Naturalismo no Brasil: questões de forma, classe, raça e gênero no romance brasileiro do século 19, ele trata, nesse episódio, do Naturalismo na literatura brasileira e de Aluísio Azevedo.
GERMINAL. Direção: Claude Berri. França: Lume Filmes, 1993. 1 DVD (160 min).
Adaptação para o cinema do romance Germinal, do naturalista francês Émile Zola, o filme ítalo-belga-francês se passa no século XIX e conta a história de um grupo de trabalhadores de uma grande empresa de mineração que decidem realizar uma greve e se rebelam contra seus chefes, causando o caos. Tanto o romance como o filme abordam criticamente as relações de trabalho, as lutas de classe existentes na sociedade capitalista, o processo de instalação do capitalismo nas cidades e o ritmo da produção e da exploração dos trabalhadores por meio do trabalho desumano nas minas de carvão francesas. O título do filme refere-se ao processo de desenvolvimento e amadurecimento dos movimentos grevistas das minas de carvão do século XIX, na França.
1. Espera-se que os estudantes percebam que a pintura quer reproduzir o real em seus detalhes: a luz refletida nas superfícies, as sombras, as proporções, a profundidade, os detalhes do queimado do pão na chapa e a variedade de cores.
HONDA, Rodrigo Yudi. Pão na chapa. 2020. Óleo sobre tela, 30 cm x 25 cm. Coleção particular. Observe a pintura a seguir, feita pelo artista paulista Rodrigo Yudi Honda (1985-).
2. a) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes resgatem memórias e sensações que se refiram a momentos marcantes, que podem ser bons ou ruins.
2. b) Espera-se que os estudantes identifiquem a visão (da pintura), o paladar (o gosto do pão e da bebida), o olfato (o cheiro do pão e da bebida), o tato (a temperatura e a textura dos diversos objetos representados) e até mesmo a audição (o barulho da colher batendo no copo).
1. Observe o modo como o tema está representado. A pintura sugere mais uma representação figurativa, que tenta se aproximar do real, ou de uma representação abstrata, que se afasta do real? Explique.
2. Embora as figuras representadas na pintura possam fazer parte do cotidiano de muitos brasileiros, é possível atribuir à pintura também uma camada subjetiva que evoca algumas sensações e memórias do observador.
a) A cena representada na pintura produz alguma sensação ou lembrança em você? É possível nomeá-las ou narrá-las?
b) Uma pintura como essa pode evocar sensações percebidas por meio dos cinco sentidos. Quais sentidos podem ser evocados por essa pintura?
3. Observe as pinturas a seguir, de artistas do final do século XIX: Eliseu Visconti (1866-1944), pintor nascido na Itália e depois radicado no Brasil; e Rodolfo Amoedo (1857-1941), pintor baiano, que representam cenas muito diferentes entre si.
VISCONTI, Eliseu. Ilusões perdidas. 1933. Óleo sobre tela, 156 cm x 98 cm. Coleção particular.
AMOEDO, Rodolfo. Interior com cadeira e livro. 1887. Aquarela sobre papel, 43,5 cm x 33 cm. Coleção Fadel.
a) Que situações são apresentadas em cada pintura?
3. a) A primeira pintura apresenta um pintor que aparentemente está pintando e de sua paleta sai uma fumaça. A segunda apresenta móveis e objetos desorganizados em uma sala.
b) Com relação à primeira pintura, o que mais se destaca: o tema ou o modo de representação? Explique.
c) A inda na primeira pintura, embora exista um diálogo com o real, que aspectos a afastam do real e a remetem a uma ideia de sonho?
d) Q ual das pinturas está mais próxima de uma representação objetiva do real? Por quê?
A segunda pintura, porque, pelo menos aparentemente, não se percebe nela a presença de elementos etéreos, envolvidos em bruma, como ocorre na primeira pintura. Respostas e comentários nas Orientações para o professor.
No contexto do início da República brasileira, marcado pelos ideais positivistas da ordem e do progresso e pela literatura em prosa realista e naturalista, é possível encontrar algumas produções poéticas que dialogam com a objetividade científica do período e outras produções que dialogam com temáticas transcendentais e subjetivas da existência, resultando em obras que expressam misticismo e religiosidade. Nesta unidade, você vai conhecer mais essas diferentes perspectivas poéticas, chamadas Parnasianismo e Simbolismo, e os diálogos que estabelecem com a produção contemporânea.
3. b) Espera-se que os estudantes identifiquem que o modo de representar se destaca: o que chama a atenção é o esfumaçado no qual a realidade está envolvida, provocando a impressão de algo instável, indefinido, um cenário no qual os limites se embaçam. O tema é banal: um cenário que apresenta um exercício do pintor.
3. c) Na primeira pintura, é possível perceber como a fumaça que sai da paleta de cores pode se assemelhar a uma ideia de bruma, de espírito ou da fumaça de um incenso que se dissipa no ar, como se fossem os sentidos efêmeros da arte.
A poesia contemporânea retoma respostas que a poesia do início do século XX deu à produção que a antecedeu, ou seja, à poesia do final do século XIX, marcada por um formalismo tão radical que a estrutura do poema poderia ser mais relevante do que os sentidos que produziria. Esse diálogo entre continuidade e ruptura é a forma como se constrói um diálogo entre obras e estéticas e como se consolida, na literatura, um cânone, isto é, uma seleção de obras consideradas fundamentais na história da literatura.
Para discutir
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
1 Você costuma ler poemas? Como você entra em contato com poemas em seu cotidiano?
2 No Volume 1, você entrou em contato com poemas em língua portuguesa produzidos até meados do século XIX. Algum desses poemas foi marcante para você? Que elementos dele marcaram você?
3 Atualmente, há vários influenciadores que produzem poemas e os compartilham nas redes sociais. Você já leu poemas desses influenciadores? O que acha deles?
Você vai ler três poemas a seguir: o primeiro é o poema fundador da obra do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, publicado em 1928; o segundo é da poeta carioca Ana Cristina Cesar, publicado postumamente em 1999; o terceiro é do poeta-palhaço Jefferson Vasques e foi publicado em 2011.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra.
DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. No meio do caminho. In: DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. Uma pedra no meio do caminho: biografia de um poema. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1967. p. 21.
#SOBRE
O poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) formou-se em farmácia, mas realizou sua inequívoca vocação literária estreando com a criticada publicação do poema “No meio do caminho”, na Revista de Antropofagia. Trabalhou como jornalista e como funcionário público. Em 1934, mudou-se para o Rio de Janeiro (RJ), onde se tornou chefe de gabinete do então ministro da Educação, Gustavo Capanema. Publicou mais de 30 livros de poesia, todos um grande sucesso de público e de crítica.
Foto do poeta em 1987.
Texto 2
pedra lume
pedra lume
pedra
esta pedra no meio do caminho
ele já não disse tudo, então?
CESAR, Ana Cristina. [pedra lume]. In: CESAR, Ana Cristina. Poética. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p. 302.
1. a) Respostas pessoais. Professor, explique aos estudantes que gostar ou não gostar de algo envolve critérios claros, que podem ser objetivos ou subjetivos. Peça-lhes que verbalizem esses critérios.
Texto 3
No meio das pedras tinha um caminho tinha um caminho no meio das pedras tinha um caminho no meio das pedras tinha um caminho.
VASQUES, Jefferson. Nada como um dia após o outro Campinas: [s. n.], 2011. p. 93.
1. b) Respostas pessoais. Professor, para responder a essa questão, os estudantes precisarão mobilizar o conceito de poesia, mesmo que não seja muito claro. Peça a alguns deles que apresentem a resposta oralmente para obter uma ideia dos conceitos de poesia vigentes na turma.
#SOBRE
Ana Cristina Cesar (1952-1983), nascida na cidade do Rio de Janeiro (RJ), foi uma das mais brilhantes poetas da geração mimeógrafo, que produzia a chamada poesia marginal. Também professora, ensaísta e tradutora, escreveu uma poesia intimista, que se equilibra entre o ficcional e o biográfico em uma linguagem que mescla as influências do melhor do cânone – de que foi leitora rigorosa – com o linguajar despojado do cotidiano. Deixou, entre outros livros de poemas, Cenas de abril (1979), Luvas de pelica (1980), A teus pés (1982).
#SOBRE
O paulista Jefferson Vasques (1977-) é poeta e tradutor de poesia latino-americana. Com a personagem do palhaço-vagabundo Magrólhos, percorreu a América Latina em sua kômbi-casa
Foto da poeta em 1983.
Foto do poeta em 2020.
“La poderosa III”, o que lhe permitiu conhecer o povo, a arte e cultura de resistência. Em 2020, percorreu o interior de São Paulo (SP) com Circo da miséria – o maior desespetáculo da Terra .
1. Avalie os poemas com base em sua experiência pessoal como leitor e em seu repertório de mundo.
a) De qual poema você mais gostou? De qual menos gostou?
b) Você considera algum desses textos mais poético ou menos poético que os demais? Explique.
2. O texto 1 foi publicado em 1928, na primeira página da Revista de Antropofagia , uma das principais revistas de arte de vanguarda, que propunha novos caminhos para a poesia do começo do século XX. Logo depois de sua publicação e nos anos seguintes, a crítica foi muitas vezes impiedosa com o poema de Drummond, como indica o trecho a seguir.
REVISTA DE ANTROPOFAGIA. São Paulo: [s. n ], 1928-1929. Capa da edição em que foi publicado o poema “No meio do caminho”. O poema está à direita.
3. a) Espera-se que os estudantes façam diversas relações, mas uma das mais comuns é a que relaciona caminho com a própria vida e pedra, com as dificuldades e adversidades. Professor, considere e discuta outras eventuais respostas.
4. a) A divisão em versos, o trabalho rítmico, a dimensão metafórica da pedra, as repetições que não apenas reforçam o ritmo mas também produzem um estranhamento que destaca e justifica o fato de o encontro com a pedra ter ficado para sempre na memória do eu
7. b) Resposta possível: A análise de que, ao usar recursos poéticos de um modo que rompia com o modelo que predominava naquele momento, o poema de Drummond
O Sr. Carlos Drummond é difícil. Por mais que esprema seu cérebro não sai nada. Vê uma pedra no caminho – coisa que todos os dias sucede a toda gente (mormente agora que as ruas da cidade inteira andam em conserto) e fica repetindo a coisa feito papagaio.
abriu um caminho de inovação que muitos outros poetas viriam a trilhar.
[…] Hoje não se rima. Um cabra vai pela rua, tropeça por exemplo numa casca de banana, papagueia a coisa umas quatro ou cinco vezes e pronto! Está feito o poema […].
FONSECA apud DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. Uma pedra no meio do caminho: biografia de um poema. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1967. p. 32, 35.
A crítica de Gondim da Fonseca (1899-1977) revela uma concepção do que seria um poema.
a) O que ele critica no poema?
Critica as repetições, o tema, que considera banal, e a falta de rimas.
b) Qual é a concepção de poema implícita na crítica?
2. b) Fica subentendida a ideia de que o poema tem que apresentar temas elevados e uma elaboração formal convencional, como rimas, por exemplo.
3. No poema de Drummond, pedra e caminho têm sentido metafórico.
a) Na sua opinião, o que simbolizam?
3. b) A ideia de que as adversidades sempre existiram e sempre surgirão na vida.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
b) Que sentidos produz a constante repetição paralelística dos versos no poema?
4. Como mostra a crítica que você leu, o poema de Drummond responde a uma certa expectativa sobre o fazer poético, recusando critérios antigos e adotando novos.
a) L evando isso em conta, que recursos tornam o texto de Drummond um poema?
b) Considerando o contexto de produção do poema, que outro sentido se pode atribuir à pedra?
4. b) A pedra pode ser a regra prevista para o fazer poético, que é rompido e transformado em evento memorável.
Resposta
5. O poema de Drummond inaugurou uma longa tradição poética com a qual dialoga, como mostram os textos 2 e 3. Copie o organizador a seguir no caderno e preencha-o identificando os elementos desses poemas que fazem referência ao poema de Drummond.
lume
calor, portanto
Análise de conjuntura
A referência à pedra e o verso “esta pedra no meio do / caminho”.A repetição de versos e a estrutura “tinha… no meio…”.
6. Considere o adjetivo atribuído à pedra no poema de Ana Cristina Cesar.
direção (como um farol) ou um conforto (como o calor). Assim, a pedra desse poema indica um caminho ou
a) Que sentido tem a pedra ao ser qualificada desse modo?
6. b) Resposta possível: Ao poema de Drummond, ao próprio poeta.
b) Releia: “ele já não disse tudo, / então?”. A quem pode se referir o pronome ele?
c) Considere a relação entre os poemas e responda: que sentido podem ter esses versos finais do texto 2?
6. c) Resposta possível: Se, em Drummond, a pedra poderia ser entendida como as adversidades que compõem os caminhos e que nos constituem, aqui a pedra constitui um caminho ou um alento. É possível entender
7. O eu lírico do poema de Jefferson Vasques propõe um novo modo de considerar a vida fazendo uma releitura do poema de Drummond.
também que esses versos explicitam a referência ao poema de Drummond, como se esse poema tivesse aberto um caminho novo para o fazer poético.
a) Qual é essa visão sobre a vida? Como é construída no poema?
b) O texto 3 faz uma análise de conjuntura, segundo o título, referindo-se ao contexto em que foi produzido. Considerando o poema de Drummond, que análise ele faz do próprio contexto de produção?
c) Considere o contexto de produção do texto 3 e o título do livro em que foi publicado. Que novo sentido ganha o título?
O sentido de que se vive em meio a pedras-adversidades, mas que há caminhos a serem encontrados.
Os textos literários filiam-se a uma cadeia de discursos que se estendem a vários outros textos com os quais dialogam e com os quais concordam ou discordam. Criam, assim, interdiscursividade.
Textos que foram escritos em uma mesma época e que seguem os mesmos princípios, estilo e recorte temático pertencem ao que é chamado de escola literária
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7. a) Resposta possível: O eu lírico do poema não reproduz mais a ideia de que a vida é feita de adversidades, mas que em todas as adversidades há caminhos possíveis a serem tomados. Constrói essa nova versão com a inversão dos termos do poema de Drummond: “tinha um caminho no meio das pedras” em vez de “tinha uma pedra no meio do caminho”.
8. L eia agora este poema de Beto Furquim.
enfim me enfiei no que é de direito ser gauche na vida ser guache na tela soprar a ferida transpor a janela meu tempo, meu jeito ser vento na vela.
sabor que inventei por dentro do sangue suando a vidraça feijão na panela dançando descalça no chão da favela direto do mangue canção amarela.
FURQUIM, Beto. Banhei minha mãe. Ilustrações: Alex Cerveny. São Paulo: Laranja Original, 2018. p. 36.
#SOBRE
Beto Furquim (1964-) é formado em Letras (Português/Chinês) e em Jornalismo. Sua poesia mostra forte influência de sua atuação musical. Tem publicados os livros Banhei minha mãe (2018), Folhas molhadas (2021) e Mascavo (2024).
O escritor em 2024.
O poema também dialoga com a obra de Carlos Drummond de Andrade, mas com outro poema, também fundador de sua obra. Leia o trecho a seguir.
Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! Ser gauche na vida. […]
8. a) A referência ao sujeito gauche, que se faz por meio da utilização do mesmo termo e de seu contrário, no caso, direito.
gauche: desajeitado, inábil.
DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. Poema de sete faces. In: DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. Alguma poesia . 5. ed. Rio de Janeiro: Record, 2003. p. 15.
a) Que elementos estruturais de “Canção amarela” fazem referência direta ao poema de Drummond?
b) No poema de Drummond, o eu lírico se apresenta como um sujeito predestinado a ser deslocado socialmente, inábil no trato social. No poema de Beto Furquim, o eu lírico também se declara gauche , mas o termo ganha outro sentido nesse caso. Qual? Copie, no caderno, a alternativa que melhor explica esse sentido.
Resposta: alternativa II
I. A inabilidade do eu lírico do poema o faz escapar e fugir da vida e, nesse isolamento, pode viver solitário, mas feliz.
II. A inabilidade do eu lírico transforma-se em um potencial de felicidade ao romper com os padrões esperados, em busca de uma vida mais feliz.
III. A inabilidade do eu lírico de viver em sociedade produz felicidade justamente na ruptura com os padrões, o que o coloca em uma postura engajada de crítica e contestação do real.
ENTÃO...
A poesia contemporânea explora possibilidades de composição muito diversas, nos planos da estrutura, da temática, da linguagem – incluindo aqui recursos multimodais, como os videopoemas e poemas animados. Todos esses recursos, no entanto, dialogam com modelos que consideram recursos próprios da linguagem do poema – a versificação, a rima, a métrica e as figuras de linguagem –, que podem ser reproduzidos, negados, revisitados. A seguir, você vai ler poemas do século XIX que seguiam padrões rígidos, questionados pela poesia do século XX, e outros que buscam explorar o mundo das sensações, a dimensão mais etérea da existência.
O X DA QUESTÃO
Na Europa, em meados do século XIX, alguns escritores passaram a defender a ideia de que a obra de arte deveria ser autônoma, desvinculada dos problemas sociais e dilemas existenciais humanos, o que os diferenciava tanto dos românticos quanto dos realistas e naturalistas. Para eles, a arte deveria se concentrar em expressar o equilíbrio da forma e a habilidade do poeta em capturar a beleza das coisas. Esse movimento incluiu a valorização de aspectos da arte clássica, vista como um símbolo de bom gosto.
A literatura cientificista, herdeira das propostas positivistas divulgadas a partir da metade do século XIX, afastou as artes de questões de que ela sempre tratou, como reflexões metafísicas sobre os sentimentos, a alma, a natureza e as divindades. Mas esse vácuo, promovido pelo racionalismo analítico do Realismo e Naturalismo e pela alienação estética do Parnasianismo, precisava ser preenchido.
Para lembrar
1 A a scensão da burguesia ao poder político, econômico e social se refletiu na literatura através da estética romântica.
a) Que lógica de mundo e de relacionamentos essa estética produziu na sociedade?
b) Por que é possível dizer que o Romantismo, embora tematizasse questões sociais importantes, afastou o indivíduo da realidade no século XIX?
Para discutir
1 Na metade do século XIX, uma lógica cientificista começou a se tornar a base para reflexões sobre o real, pautada na lógica, em experimentações e objetividades. Troque ideias com os colegas e formule uma hipótese: como uma visão mais objetiva e científica pode se refletir na estrutura de poemas?
2 Embora o cientificismo da segunda metade do século XIX tenha se proposto a responder a todas as grandes questões da humanidade, que grandes questões a ciência não consegue explicar satisfatoriamente até hoje?
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#SOBRE
Você vai ler, a seguir, dois poemas: o primeiro, de Olavo Bilac, faz uma construção formal representativa do Parnasianismo; o segundo, de Alphonsus de Guimarães, representa o propósito do Simbolismo de abrir os sentidos do leitor para novas realidades.
O jornalista carioca Olavo Bilac (1865-1918) foi talvez o mais famoso poeta do começo do século XX, chegando a ser considerado o “Príncipe dos poetas” por votação popular realizada pela revista Fon-Fon. Sua obra se caracteriza pelo estilo culto e apurado, cujo objetivo era a exaltação da forma do poema, como propunha a estética parnasiana. Era também considerado um dos jornalistas mais respeitados do Brasil e deu voz às transformações do Rio de Janeiro da Belle Époque
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Foto do poeta c. 1895.
Nel mezzo del camin…
Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha…
E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.
Hoje, segues de novo… Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.
E eu, solitário, volto a face, e tremo, Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo.
BILAC, Olavo. Nel mezzo del camin In: OLAVO Bilac. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, [c2024]. Reprodução do original de 1888. Disponível em: https://www.academia.org.br/academicos/olavo-bilac/ textos-escolhidos. Acesso em: 30 ago. 2024.
fatigado: cansado, exausto. de súbito: inesperadamente; de repente.
bruma: nevoeiro. hialino: transparente. arrebol: crepúsculo. ebúrneo: aquilo que tem aparência de marfim.
lúgubre: macabro, fúnebre. responso: coro ou cantos de igreja. refulgente: brilhante.
#SOBRE
O mineiro Alphonsus de Guimaraens (1870-1921) abandonou o curso de Engenharia para seguir o curso de Direito na Faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo (SP), onde conheceu o Simbolismo. A morte aos 18 anos de sua prima Constança, o grande amor de sua vida, marcou profundamente o poeta. Exerceu vários cargos públicos em Minas Gerais como promotor e juiz. Casou-se com Zenaide e teve quatorze filhos. Apesar disso, a lembrança de seu grande amor fez dele um melancólico. Ficou conhecido como o “solitário de Mariana”, cidade onde morreu.
Entre brumas, ao longe, surge a aurora, O hialino orvalho aos poucos se evapora, Agoniza o arrebol.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece, na paz do céu risonho, Toda branca de sol.
E o sino canta em lúgubres responsos: ‘Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!’
O astro glorioso segue a eterna estrada.
Uma áurea seta lhe cintila em cada
Refulgente raio de luz.
A catedral ebúrnea do meu sonho, Onde os meus olhos tão cansados ponho,
Recebe a bênção de Jesus.
E o sino clama em lúgubres responsos: ‘Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!’
GUIMARAENS, Alphonsus de. A catedral. In: GUIMARAENS, Alphonsus de. Poesia . Rio de Janeiro: Agir, 1958. p. 82-83. Foto do poeta em 1890.
Por entre lírios e lilases desce
A tarde esquiva: amargurada prece
Põe-se a luz a rezar.
A catedral ebúrnea do meu sonho
Aparece, na paz do céu tristonho, Toda branca de luar.
E o sino chora em lúgubres responsos: ‘Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!’
O céu é todo trevas: o vento uiva.
Do relâmpago a cabeleira ruiva
Vem açoitar o rosto meu.
E a catedral ebúrnea do meu sonho Afunda-se no caos do céu medonho
Como um astro que já morreu.
E o sino chora em lúgubres responsos: ‘Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!’
Respostas pessoais. Professor, peça aos estudantes que justifiquem a opinião deles. Espera-se que identifiquem na forma do poema, em sua estrutura, o que há de mais técnico em um
1. L eia o trecho a seguir, retirado de um artigo do matemático e engenheiro Álvaro Joaquim de Oliveira publicado na Revista Brazileira em 1897.
[…] a ciência não só alimenta e desenvolve a nossa inteligência melhorando as nossas concepções, […] mas aperfeiçoa igualmente os nossos atos e sentimentos: – os atos guiando-nos nas circunstâncias em que devemos agir, dentro dos limites de nossa intervenção, para modificar aquela ordem natural; os sentimentos, fazendo-nos conhecer a fatalidade das principais condições de nossa existência […].
OLIVEIRA, Álvaro Joaquim de. Introdução ao estudo das ciências. Revista Brazileira, Rio de Janeiro, t. 11, p. 257-286, jul./set. 1897. p. 265. https://memoria.bn.gov.br/DocReader/docreader.aspx?bib=139955&pasta=ano%20189&pesq=Edi%C3%A7%C3%A3o%20 00011&pagfis=10847. Acesso em: 25 out. 2024.
• De acordo com o trecho, a ciência atua no ser humano tanto na inteligência quanto nos sentimentos. Segundo esse pensamento, que recursos do fazer poético podem ser explorados a partir da racionalidade do poeta?
2. O estranhamento diante do poema de Drummond e a crítica que recebeu se devem em boa medida ao que era considerado um poema de bom gosto no começo do século XX, que pode ser exemplificado pelo texto 1. Releia-o.
2. a) Che/guei/. Che/gas/te/. Vi/nhas/ fa/ti/ga/da – decassílabo.
Esquema de rimas: ABAB ABAB CDC EDE.
a) O poema “Nel mezzo del camin… ” é um soneto. Esse gênero poético obedece a uma estrutura fixa: é composto de duas estrofes de quatro versos (quartetos) e duas estrofes de três versos (tercetos); os versos devem apresentar dez sílabas poéticas (decassílabos) e um esquema de rimas definido. Originalmente, o soneto apresentava o esquema ABBA ABBA CDE CDE. Posteriormente, passaram a ser praticados outros esquemas, como ABAB ABAB CCD CCD ou ABBA ABBA CDC DCD. Analise o soneto de Olavo Bilac identificando a escansão – ou seja, a divisão em sílabas poéticas – do primeiro verso e o esquema de rimas do poema.
Diferentemente da divisão silábica tradicional, a escansão de versos em sílabas poéticas privilegia o som, e não as sílabas. Embora sejam semelhantes em sua divisão, a escansão só une duas sílabas em uma sílaba poética se a última sílaba de uma palavra termina em vogal e a próxima inicia com vogal: “sé/cu/los/de e/ mo/ção/ca/ra/me/la/da”.
Para a métrica, conta-se o número de sílabas poéticas até a última sílaba tônica de um verso: “sé/cu/los/ de e/mo/ção/ca/ra/me/la/da” – dez sílabas poéticas.
O esquema de rimas de um poema é identificado através da nomeação de cada rima com uma das letras do alfabeto em ordem crescente. Identifica-se a rima de um verso a partir da vogal da sílaba tônica da última palavra do verso:
Torce, aprimora, alteia, li/ma – A
A frase; e, en/fim, – B
No verso de ouro engasta a ri/ma, – A
Como um ru/bim. – B
b) L eia um trecho de outro poema de Olavo Bilac, “Profissão de fé”, e explique com que é comparada a atividade de fazer um poema e como ele deve ser construído. […]
Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim, No verso de ouro engasta a rima, Como um rubim
O fazer poético é comparado com o fazer de um joalheiro e deve ser construído com técnica e perícia, alheio a distrações, para chegar a uma forma (estrutura) perfeita.
rubim: rubi.
3. a) É apresentado o momento de separação de um casal. Versos como “Na extrema curva do caminho extremo” e o fato de apenas um dos amantes poder chorar sugere que a separação se dá pela morte de um dos amantes.
E horas sem conta passo, mudo,
O olhar atento,
A trabalhar, longe de tudo
O pensamento.
perícia: cuidado.
3. c) Todos os poemas apresentam reflexões diante das adversidades da existência e as escolhas ou ações realizadas perante essas adversidades. É possível dizer que os poemas mantêm certa continuidade temática, mas apresentam ruptura com relação à forma.
2. c) “Nel mezzo del camin…” segue a estrutura rígida do soneto, com dois quartetos, dois tercetos, versos decassílabos e rimas determinadas.
2. d) O poema de Drummond é o oposto do que se esperava em uma poesia formal e rigorosa: tem versos brancos e livres com constantes repetições.
Porque o escrever – tanta perícia, Tanta requer, Que ofício tal… nem há notícia
De outro qualquer.
Assim procedo. Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena, Serena Forma!
BILAC, Olavo. Profissão de fé. In: MOISÉS, Massaud. A literatura brasileira através dos textos 2. ed. São Paulo: Cultrix, 1973. p. 204-207. p. 205.
c) Como o soneto “Nel mezzo del camin… ” materializa as propostas do poema “Profissão de fé”?
d) A poesia considerada de bom gosto, no começo do século XX, era a poesia formal e pautada em regras. Explique por que o poema “No meio do caminho”, de Drummond, representou uma ruptura com essa concepção de poesia.
3. Na história da literatura, é possível identificar estruturas, temas, padrões formais que se repetem ou que são negados, ressignificados, rompidos.
a) Que tipo de situação é descrita no soneto “Nel mezzo del camin… ”, de Bilac?
b) Que ideia de relacionamento é possível identificar no poema?
3. b) A ideia de um amor duradouro; a ideia de uma união que só a morte é capaz de desfazer.
c) O p oema de Bilac tem como título “Nel mezzo del camin… ”, expressão em italiano que pode ser traduzida como “No meio do caminho…”. Que relação de sentido é possível estabelecer entre os poemas de Bilac, Drummond e Vasques, considerando tanto o tema quanto a forma?
4. Tanto os poemas de Jefferson Vasques quanto os de Drummond e Bilac referem-se a um dos versos mais famosos da literatura mundial: “Nel mezzo del cammin di nostra vita ”, que é o primeiro verso de A divina comédia , de Dante Alighieri, uma das obras fundamentais da literatura ocidental.
a) Ao que você acha que se refere o eu lírico de A divina comédia com a expressão “no meio do caminho de nossa vida”?
b) Que sentido metafórico essa expressão pode produzir?
A divina comédia
A divina comédia foi o primeiro grande livro que deixou de ser escrito em latim; foi escrito no dialeto toscano, que deu origem ao italiano moderno.
Esse longo poema épico de Dante Alighieri (1265-1321) narra a jornada de Dante pelos círculos do Inferno, do Purgatório e do Paraíso. Guiado pelo poeta latino Virgílio, nos dois primeiros círculos, e por sua musa Beatriz e por São Bernardo no último círculo, o poema apresenta uma descrição do que seriam esses espaços fundamentais para a religião cristã. Além disso, segue uma estrutura fixa e racional, com a divisão em três livros, cada um com 33 cantos divididos em estrofes de três versos (tercetos) com dez sílabas poéticas (decassílabos).
4. a) Espera-se que os estudantes digam que o “meio do caminho” se refere à idade, no caso, metade do que uma vida poderia durar naquela época: cerca de 70 anos; a metade seria 35.
DELACROIX, Eugène. Dante e Virgílio atravessando o Rio Estige. 1822. Óleo sobre tela, 189 cm x 241 cm. Museu do Louvre, Paris.
4. b) O meio do caminho seria o momento de reflexão em que o caminhante para e pensa sobre sua trajetória e a avalia.
5. a) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes percebam que alguns textos, pelo tema de que tratam, por sua força ou pela qualidade estética, são parte integrante de nossa cultura e fundadores de uma tradição que agrega leitores e outros autores.
5. b) Espera-se que os estudantes percebam que conhecer esses textos fundamentais é conhecer um pouco dos discursos que formaram a humanidade, participaram da construção de uma visão de mundo e determinaram o desenvolvimento de diversas culturas, ideologias e valores que regem as relações dos seres humanos entre si e com sua realidade.
5. Os textos literários se inserem em uma tradição que apresenta estruturas, recursos e temas que podem ser resgatados, rompidos ou ressignificados em outros textos. A tradição iniciada com o primeiro verso de A divina comédia , escrita entre 1304 e 1314, produziu diálogos com os poemas de Jefferson Vasques e Ana Cristina Cesar seis séculos depois.
a) Formule uma hipótese que explique o que possibilita esse diálogo de textos ao longo de tantos séculos.
b) A divina comédia , de Dante Alighieri, por sua vez, presta homenagem ao poeta latino Virgílio, que viveu no século I a.C. e escreveu a epopeia Eneida – que, por sua vez, dialoga com as epopeias do poeta grego Homero, a Ilíada e a Odisseia , do século VIII a.C. Qual é a importância de ter acesso e conhecer essas obras consideradas fundamentais para a literatura ocidental?
Chama-se cânone literário o conjunto de textos considerados fundamentais para entender a cultura de um povo e de uma região. Esse cânone, construído ao longo da história com base em diferentes pontos de vista, é sustentado na qualidade dos textos, em sua importância social e cultural e nas discussões que suscita.
Alguns críticos apontam que, ao sustentarem visões de mundo polêmicas, divergentes, vários outros textos acabam excluídos do cânone de que poderiam fazer parte.
Através de uma estrutura paralelística e com a utilização de um refrão que se repete, assim como o verso “A catedral ebúrnea do meu sonho”.
6. A obra de Alphonsus de Guimaraens é marcada por uma grande musicalidade. Como essa musicalidade é construída no poema “A catedral”?
Professor, se achar oportuno, mostre aos estudantes como essa musicalidade, ecoada também nos sinos, reforça a religiosidade do poema.
7. No poema, o eu lírico projeta na catedral algo de si mesmo.
a) O que o eu lírico projeta na catedral? Comprove sua resposta com expressões do poema.
Todos os textos tentam registrar uma catedral conforme vista em diferentes momentos do dia, com as diferentes de luz. No entanto, enquanto as telas de Monet trazem profusão de cores e luzes, a catedral de Alphonsus
b) Que função exercem os sinos no poema?
8. Ao observar a catedral, o eu lírico recorre à descrição sinestésica e subjetiva do espaço para marcar a passagem do tempo de sua vida angustiada. Que recursos são utilizados para marcar essa passagem de tempo?
9. Observe as três pinturas a seguir, do pintor simbolista francês Claude Monet (1840-1926), que representam a fachada da catedral de Rouen, na França, em diferentes horários do dia, exposta a diferentes nuances de luz.
branca, pura e intocável, como se fosse um sonho que nunca será concretizado.
• Q ue relação se pode estabelecer entre as pinturas e o poema de Alphonsus de Guimaraens?
7. a) Projeta seu estado de espírito, triste, que resume nos versos “‘Pobre Alphonsus! Pobre Alphonsus!’”. Em cada estrofe, é possível identificar expressões que remetem a um estado de espírito que denota tristeza, abatimento, melancolia, como céu tristonho, meus olhos tão cansados, caos do céu medonho. Mesmo quando surge na paz do céu risonho, essa paz é entrevista na agonia do arrebol.
Da esquerda para a direita:
MONET, Claude. Catedral de Rouen, fachada (pôr do sol), harmonia em ouro e azul. 1892. Óleo sobre tela, 100 cm x 65 cm. Museu Marmottan Monet, Paris.
MONET, Claude. Catedral de Rouen, portal oeste e torre de Saint-Romain, pleno sol, harmonia em ouro e azul. [Entre 1892 e 1893]. Óleo sobre tela, 107 cm x 73 cm. Museu d’Orsay, Paris.
MONET, Claude. Catedral de Rouen, fachada 1. [Entre 1891 e 1894]. Óleo sobre tela, 100,4 cm x 65,4 cm. Pola Museu de Arte, Hakone-machi, Japão.
7. b) Os sinos reforçam a sua lamentação de sonho não concretizado: “Pobre Alphonsus!”. Também é possível dizer que os sinos são marcas da passagem do tempo.
8. A passagem do tempo é marcada pela descrição da catedral sublime em momentos distintos do dia, como a aurora, o pino do dia, a tarde e a noite. E também pela marcação dos sinos. No entanto, a despeito da hora do dia, essa catedral é sempre branca.
10. a) As aliterações em s presentes nas duas primeiras estrofes, a repetição de palavras, como Estrela, além do ritmo bem marcado nos versos decassílabos, com certa regularidade do acento tônico, que recai na primeira ou segunda sílaba poética, na quarta, na sexta ou oitava e na décima.
10. L eia a seguir um soneto do poeta simbolista Cruz e Sousa.
Tenda de Estrelas níveas, refulgentes,
Que abris a doce luz de alampadários, As harmonias dos Estradivarius
Erram da Lua nos clarões dormentes…
Pelos raios fluídicos, diluentes
Dos Astros, pelos trêmulos velários,
Cantam Sonhos de místicos templários,
De ermitões e de ascetas reverentes…
Cânticos vagos, infinitos, aéreos
Fluir parecem dos Azuis etéreos,
Dentre os nevoeiros do luar fluindo…
E vai, de Estrela a Estrela, a luz da Lua,
Na láctea claridade que flutua,
A surdina das lágrimas subindo…
11. a) Há palavras que promovem a exaltação da visão (níveas, refulgentes, clarões), paladar (doce) e audição (harmonia, Estradivarius).
11. b) Provocar os sentidos do leitor para que ele possa ter acesso a significados mais amplos. As sensações expandem a percepção do céu e da situação em que se encontra o eu lírico.
CRUZ E SOUSA, João da. Poesias completas: broquéis, faróis, últimos sonetos. Rio de Janeiro: Ediouro; São Paulo: Publifolha, 1997. p. 53-54.
O título do poema evoca dois elementos característicos da obra do poeta: a musicalidade e o misticismo.
a) Que recursos do texto garantem sua musicalidade?
b) Q ue recursos de linguagem dão força ao misticismo no texto?
11. Os poemas simbolistas recorrem a sinestesias para sugerir significados mais amplos que o significado imediato de uma palavra.
a) I dentifique as palavras que exaltam os sentidos na primeira estrofe.
b) Qual é a função dessas palavras na estrofe?
10. b) A utilização de termos iniciados com letras maiúsculas, que conferem à palavra um caráter sublime, e de adjetivos relacionados a elementos místicos, como vagos, infinitos, aéreos, fluídicos e místicos.
#SOBRE
Foto do poeta em 1898.
Filho de escravizados, Cruz e Sousa (18611898) foi alforriado e formou-se no secundário. Com a morte de seu preceptor, interrompeu os estudos e dedicou-se ao jornalismo. Empreendeu uma notável campanha abolicionista no sul do país. Sua postura e condição social, no entanto, o impediram de assumir o cargo de promotor público da cidade de Laguna (SC).
Em 1890, mudou-se para o Rio de Janeiro (RJ), onde se empregou precariamente. Casou-se com Gavita Gonçalves, também negra, com quem teve quatro filhos; todos morreram prematuramente de tuberculose, o que contribuiu para o agravamento de seu problema de saúde.
níveo: da cor da neve; branco. alampadário: castiçal alimentado a óleo querosene.
Estradivarius: violinos feitos à mão da famosa marca Stradivarius.
fluídico: que não se pode tocar; intangível. ermitão: aquele que se isola, às vezes por questões religiosas ou místicas.
asceta: aquele que se dedica a orações e/ou exercícios religiosos.
etéreo: elevado espiritualmente.
surdina: disfarce; pouco barulho.
12. O texto de Cruz e Sousa é carregado de uma melancolia conformista que busca conforto e aceitação em conceitos e valores místicos e transcendentais. Como essa melancolia do eu lírico é mostrada no poema? O eu lírico tenta enviar suas lágrimas, sua dor existencial, para o universo místico representado no poema pelos Astros, Azuis e Estrelas. Mas essas lágrimas flutuam na surdina, sua dor é muda e solitária.
#PARA lEMBRAR
Aliteração é repetição de sons consonantais idênticos ou parecidos em um mesmo período ou períodos muito próximos para produzir sonoridade e sentido.
Sinestesia é o recurso estilístico que, ao combinar palavras e expressões associadas às diferentes sensações percebidas pelo corpo humano (visão, audição, olfato, paladar e tato), produz diferentes efeitos de sentido.
O triunfo do capital, a derrocada da arte
BAYLAC, Lucien. Vista panorâmica da Exposição Universal de 1900. 1900. Litografia, 72 cm x 93 cm. Livraria do Congresso, Washington, D.C.
Paris, capital da França, viveu, a partir da segunda metade do século XIX, a Belle Époque , um período de desenvolvimento urbanístico, cultural e tecnológico, que tornou a cidade o maior centro artístico do Ocidente, com uma vida social vibrante; cafés, cabarés e salões literários refletiam a prosperidade econômica e a estabilidade política da Terceira República francesa. Esse período viu crescer um mercado de arte que visava satisfazer o gosto médio burguês. Em oposição a ele, alguns artistas tomaram um rumo que contestava a primazia do mercado: sua arte procurava fazer a defesa da arte pela arte . Essa postura materializava o sentimento de insatisfação do artista que não se adequava à lógica burguesa de uma arte oferecida para consumo, mas sem valor estético.
No final do século XIX, em meio às rápidas transformações sociais e culturais, surgiu um movimento filosófico, literário e artístico conhecido como Decadentismo. Com uma visão pessimista e cética da vida, esse movimento explorou temas como a decadência moral e social, exaltando o excesso e o luxo como reação ao artificialismo burguês e ao cientificismo dos discursos. Os decadentistas buscavam a beleza na arte, partindo da ideia de que somente ela poderia substituir, através de seus símbolos e formas, uma realidade decadente. Charles Baudelaire (1821-1867), um dos precursores do Decadentismo, exemplificou essa estética em sua obra As flores do mal (1857), livro de poemas que exploram temas como a melancolia, a corrupção e o grotesco. Fazendo uma crítica à sociedade burguesa e suas hipocrisias, esse livro expressava o desencanto com a modernidade e a alienação das cidades.
Fotografia de Baudelaire, por Étienne Carjat. 1861.
O positivismo da Primeira República brasileira (1889-1930), especialmente defendido pelo engenheiro Benjamin Constant, entendia a ordem e o progresso como princípios fundamentais para o desenvolvimento da nação. Esse movimento valorizava a ciência e a razão como bases para a organização social e política, buscando substituir o tradicionalismo monárquico por uma sociedade estruturada em princípios racionais e científicos. Durante a Primeira República, o positivismo foi particularmente significativo na implementação de reformas educacionais, na promoção do laicismo e na centralização do poder estatal, marcando a orientação das políticas públicas e a ideologia oficial do novo governo republicano.
Um esboço da Bandeira Nacional feito em papel quadriculado, em novembro de 1889, pelo engenheiro Raimundo Teixeira Mendes foi encontrado na Igreja Positivista do Brasil, no Rio de Janeiro, em 2010. MENDES, Raimundo Teixeira. Esboço da Bandeira Nacional. 1889. Caneta sobre papel quadriculado.
Em um turbulento contexto político e econômico, Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP) vivem a seu modo uma Belle Époque. O Rio de Janeiro passava por uma reformulação urbana e sanitária que afastava os negros e os pobres do centro, obrigando-os a se instalarem em regiões periféricas da cidade. Teatros, museus e associações artísticas colocavam, ainda que timidamente, o Brasil no circuito artístico europeu. São Paulo via nascer uma sólida industrialização. Crescia também economicamente com a chegada dos barões do café à capital. O Nordeste, em acelerado processo de decadência, era esquecido pelo governo federal. Nesse contexto, as elites desejavam novas formas de diversão e encontram na Belle Époque francesa o modelo do bom gosto na arte e na vida.
Mulheres observam a vitrine da antiga loja Parc Royal, no Largo de São Francisco, no Rio de Janeiro, entre 1906 e 1910.
Estratégias
O Parnasianismo e o Simbolismo são movimentos literários que emergiram no Brasil no final do século XIX, marcando uma reação tanto ao Romantismo quanto aos ideais estéticos e filosóficos de sua época. No contexto histórico brasileiro, esses movimentos surgiram em um período de intensas transformações sociais, políticas e culturais, incluindo a Proclamação da República, em 1889, e a crescente urbanização. Enquanto o Parnasianismo buscava uma arte voltada para a perfeição formal e a impessoalidade, adotando uma postura de “arte pela arte”, o Simbolismo reagia contra o materialismo e a rigidez formal, valorizando a subjetividade, a musicalidade das palavras e uma expressão mais mística e introspectiva da realidade, que buscava a transcendência.
Essa pintura recorre a um formalismo artístico para representar de forma clássica a República positivista brasileira, erigida sobre o discurso cientificista da ciência.
RODRIGUES, Manuel Lopes. A República. 1896. Óleo sobre tela, 230 cm x 120 cm. Museu de Arte da Bahia, Salvador.
O grafite de Rodrigo Rizo homenageia o poeta catarinense Cruz e Sousa. Pintado em junho de 2019, foi apagado em agosto de 2024 em virtude da manutenção nas paredes externas do prédio, que apresentavam fissuras e infiltrações.
RIZO, Rodrigo. Cisne Negro. Grafite sobre alvenaria, 990 m². Florianópolis (SC).
No Parnasianismo brasileiro, autores como Olavo Bilac, Alberto de Oliveira (1857-1937), Raimundo Correia (1859-1911), Auta de Souza e Francisca Júlia procuravam a precisão técnica, a beleza da forma e a objetividade. Eles adotavam uma métrica rigorosa, com uso frequente de sonetos, e uma linguagem rebuscada para evocar imagens clássicas e esculturas.
Em contrapartida, o Simbolismo , com figuras como Cruz e Sousa , Alphonsus de Guimaraens e Gilka Machado, mergulhava no espiritual, no subjetivo e no místico. Os simbolistas, explorando aliterações, assonâncias, entre outros recursos sonoros, buscavam sugerir emoções e estados de espírito.
O rigor formal e a busca pela perfeição estética do Parnasianismo, bem como a ênfase na musicalidade, na sugestão e no uso de imagens sensoriais do Simbolismo
ressoam ainda na poesia contemporânea. Os poemas que abrem esta unidade dialogam com essas estéticas, seja para reproduzir suas características, seja para negá-las.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Cada gênero literário se sustenta em uma estrutura que é parte constitutiva dele; por exemplo, o roteiro teatral se organiza em atos, cenas e diálogos que narram a história viva das personagens; além disso, conta com rubricas que orientam sua eventual encenação. O mesmo vale para o gênero poema: compõe-se de versos e estrofes e dispõe de um repertório de recursos que podem produzir certos efeitos sonoros, musicais e semânticos.
Na poesia épica grega, por exemplo, sempre escrita em versos, os poemas deveriam ter seis sílabas poéticas e ser datílicos, ou seja, compor o ritmo com uma sílaba longa e duas breves. O soneto, que os italianos Dante Alighieri e Francesco Petrarca (1304-1374) ajudaram a popularizar no século XIII, era composto necessariamente de dois quartetos (estrofes de quatro versos) e dois tercetos (estrofes de três versos) e um esquema fixo de rimas, que posteriormente foi flexibilizado. Também o Parnasianismo, estudado nesta unidade, impunha modelos para o fazer poético, ditando o que podia ou não podia ser considerado poema de qualidade –isso mesmo depois de o Romantismo ter “virado a chave” da criação e ampliado as possibilidades de invenção.
APOLLINAIRE, Guillaume. La Colombe poignardée et le Jet d’eau. In:
APOLLINAIRE, Guillaume. Calligrammes: poems of peace and war (1913-1916).
Tradução: Anne Hyde Greet. Los Angeles: University of California Press, 1980. p. 122.
Os movimentos de vanguarda no início do século XX, porém, negaram esses padrões e, ao contrário, radicalizaram as opções de criação, rompendo inclusive com a delimitação de espaço. Os caligramas , do francês Apollinaire (1880-1918), por exemplo, passaram a explorar também o espaço do papel, e assim as palavras compunham poemas desenhados. É verdade que isso não era exatamente novo: na Grécia do século IV a.C., Símia de Rodes já experimentava recursos visuais na forma do poema, mas esse tipo de composição não ganhou então muitos adeptos, fixando-se o poema como escrita em versos e estrofes.
Ao longo do século XX, a poesia experimentou inúmeras formas, sem negar nenhuma que a antecedeu. A escrita de poemas de métricas variadas, com ou sem rimas, que exploram recursos conforme a intencionalidade de cada um passou a ser uma espécie de regra não escrita: o que vale é a força poética da composição.
A tecnologia permitiu somar, ainda, outros recursos: poemas em vídeo, outros que articulam palavras, sons e performance, outros que aliam a palavra à fotografia, entre muitas diferentes possibilidades, servem para multiplicar as formas de expressão poética.
Não escreva no livro.
Para pensar e discutir
1. Em sua opinião, a existência de um padrão para o fazer poético favorece ou atrapalha a criação? Por quê?
2. Considere os poemas que leu nesta unidade. Há algum que tocou mais sua sensibilidade? Qual? Por quê?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A estética simbolista estabeleceu uma relação profunda entre poesia e música, buscando uma fusão sensorial e emotiva que transcendesse a mera descrição objetiva. Os poetas franceses precursores do Simbolismo, como Charles Baudelaire e Stéphane Mallarmé (1842-1898), aspiravam a criar uma linguagem poética que evocasse estados de espírito e atmosferas por meio de sonoridades, ritmos e musicalidade das palavras. Para eles, a poesia deveria se aproximar da música em sua capacidade de sugerir e criar emoções sutis, utilizando sinestesias e aliterações para construir uma experiência estética rica e envolvente. A musicalidade na poesia simbolista era uma forma de alcançar a essência das coisas, uma tentativa de capturar o inefável e o transcendente.
No Brasil, a poesia simbolista encontrou ressonâncias em poemas de autores que, embora não sejam considerados simbolistas, beberam dessa fonte, como Cecília Meireles (1901-1964), Jorge de Lima (1895-1953) e Vinicius de Moraes (1913-1980), entre outros. Explorando a sonoridade e o ritmo para tratar de temas místicos, alguns poemas desses autores resgatam elementos do projeto simbolista.
1. P esquise poemas de Cecília Meireles, Jorge de Lima e Vinicius de Moraes que estabeleçam diálogo com o Simbolismo.
2. E scolha um desses poemas e, em um dia previamente combinado com o professor, leia-o em classe para os colegas. Justifique sua escolha destacando marcas do Simbolismo que você identifica no poema escolhido.
#fiCAADiCA
Miúcha, Tom Jobim, Vinicius de Morais e Toquinho apresentando-se em show no Canecão, no Rio de Janeiro, em 16 de fevereiro de 1978.
O clipe protagonizado por Emicida (1985-) permite ouvir a gravação ao vivo da música “Ismália”, canção livremente inspirada em poema homônimo de Cruz e Sousa. A gravação conta com participação de Fernanda Montenegro (1929-), que lê o poema original. A canção faz parte do álbum Amarelo, gravado ao vivo no Theatro Municipal de São Paulo em 2019.
Capa do álbum Amarelo
• ISMÁLIA. [S. l.: s. n.], 2020. 1 vídeo (8 min). Publicado pelo canal Emicida. Disponível em: https://www.youtube.com/watch? v=EtN1jBk0ZQg. Acesso em: 3 set. 2024.
De acordo com a Base Nacional Comum Curricular, versão de 2018, página 503, é enfatizado que, no Ensino Médio, a área de Linguagens e suas Tecnologias desenvolva nos estudantes o aprofundamento das “análises das formas contemporâneas de publicidade em contexto digital, a dinâmica dos influenciadores digitais e as estratégias de engajamento utilizadas pelas empresas”. Dessa forma, todos os usos relacionados à publicidade, propaganda e formas de engajamento em redes sociais apresentadas nesta coleção são para fins didáticos e seus usos em contexto social
lER O MUNDO
Não escreva no livro. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
O Parnasianismo e o Simbolismo respondem às inovações científicas da segunda metade do século XIX. Surgidos na transição entre o regime monárquico e o republicano, foram eles que pautaram durante certo tempo no Brasil o que era o bom gosto literário em versos. As revistas da época exerceram papel fundamental no reconhecimento e no sucesso dos poetas, com a publicação de poemas e reportagens sobre eles.
Para discutir
As reportagens são um gênero jornalístico que circula em jornais, revistas e sites de internet e apresentam uma ampliação de informações se comparadas a uma notícia.
1 Qual foi a última reportagem que você leu? Qual era o assunto?
2 Em que veículo você leu essa reportagem? Em suporte impresso ou digital?
Você vai ler a seguir trechos de uma reportagem publicada na revista Veja em outubro de 2018, apresentando novos tipos de poetas que surgiram com o avanço tecnológico: os instapoetas, que usam as redes sociais como veículo de suas publicações.
Texto
Instapoetas, o fenômeno que tirou a poeira da poesia
Jovens autores impulsionam o gênero na internet – e na lista de best-sellers por Raquel Carneiro, Meire Kusumoto 12 out 2018 08h30
Existe amor (em forma de poesia) nas redes sociais. Transformada em um polarizado campo de batalha político, a internet também foi tomada por um movimento crescente de jovens poetas, que cravaram seu espaço no online com textos curtos, compartilháveis e fáceis de se relacionar, e acabaram refletidos com muito sucesso na literatura tradicional.
Pela força no Instagram, os escritores acabaram apelidados de instapoetas. Nomes como João Doederlein, Ryane Leão, Lucão e Zack Magiezi exploram de forma engenhosa temas como amor, decepção, saudade e autoestima, a maioria com caráter motivacional, bebendo de fontes filosóficas e do velho formato dos provérbios, enquanto ainda se arriscam na tendência metalinguística – que fala sobre a própria poesia e a arte de escrever.
Com centenas de milhares de seguidores, os poetas do Instagram migraram para o papel e, rapidamente, chegaram à lista de best-sellers. Na comparação entre os meses de janeiro a agosto de 2017 com o mesmo período de 2018, os livros de poesia nacionais cresceram em venda 107%*, fenômeno diretamente causado pelos autores virtuais. Destaca-se na lista a obra Textos Cruéis Demais para Serem Lidos Rapidamente, do perfil no Instagram de mesmo nome, atualmente o livro de ficção nacional mais vendido do país neste ano.
A grande culpada por alavancar o gênero é a indiana, naturalizada no Canadá, Rupi Kaur, autora de Outros Jeitos de Usar a Boca e O Que o Sol Faz com as Flores, publicados no Brasil […] em 2017 e 2018, respectivamente […].
Confira […] quem são os principais nomes brasileiros do filão e uma análise de acadêmicos e de editores que apostaram no estilo.
*Dado da empresa de pesquisa de mercado GfK
Comandado por um coletivo, o perfil saltou da internet para ser o livro de ficção nacional mais vendido do Brasil em 2018
‘Porque há o direito ao grito. Então eu grito’. A frase de Clarice Lispector é um dos motores de Igor Pires da Silva, 23 anos, idealizador do perfil Textos Cruéis Demais. ‘Eu escrevo melhor do que eu falo. Tenho dislexia. Então escrever poesia é o jeito que eu encontrei de gritar no mundo’, diz Igor. O rapaz natural de Guarulhos, São Paulo, que hoje estuda comunicação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), começou a escrever ainda na infância. Mas foi ao enfrentar uma depressão que a poesia ganhou a função de ferramenta de sobrevivência. Durante um trajeto de ônibus voltando da faculdade, em 2016, a frase ‘textos cruéis demais para serem lidos rapidamente’ surgiu em sua mente. [...]
A página nasceu primeiramente no Facebook antes de chegar adaptada, com textos menores em imagens quadradas, ao Instagram. A visibilidade aumentou quando celebridades começaram a compartilhar os poemas do grupo, caso de Marília Mendonça, que alavancou em 20.000 seguidores a página em menos de 24 horas.
Leitores
87% mulheres e 13% homens. Maioria entre 18 e 44 anos
Temas
Amor, perda, autoestima, Superação e saúde mental Livros
Textos Cruéis Demais para Serem Lidos Rapidamente (Globo Alt, 2017)
Inspirações
Ana Cristina Cesar, Caio Fernando Abreu Rupi Kaur e Beyoncé
A força na internet atiçou o desejo de Igor de migrar para o papel. Ele jogou o sonho de escrever um livro no Facebook, esperando o retorno de alguma casa editorial. ‘Na época não deu em nada. Mandei e-mails para editoras e recebi muitos nãos’, conta. Ele já tinha desistido da ideia quando chegou o decisivo e-mail da Globo Livros, perguntando se ainda tinha interesse em publicar. A aposta da editora deu certo. Em 10 meses nas lojas, o livro conta com mais de 200.000 exemplares vendidos, e se mantém há 36 semanas na lista de mais vendidos de VEJA. O sucesso foi tanto que Igor, que escreveu sozinho o primeiro, agora prepara um segundo, com a colaboração das colegas de grupo, as autoras Maria Luiza Moreira, 21, e Letícia Loureiro, 21, e a designer Gabriela Barreira, 23 anos.
O diferencial do próximo livro, previsto para o ano que vem, é a parceria com as amigas. ‘Serão três partes, uma de cura, outra de amor e outra de perdão. Com três pessoas olhando para os temas’, conta. Igor afirma que o coletivo, que já teve outra formação, opta por não assinar os poemas por um motivo simples. ‘A palavra tem mais peso que a assinatura. Não quero ser maior que a poesia’, diz. ‘Não fazemos poesia em troca de likes. O propósito é falar de assuntos que tocam o leitor.’ […]
Autora do perfil ‘Onde Jazz Meu Coração’ navega com destreza pela atual onda do empoderamento feminino nas redes – e na lista de best-sellers
Aos 19 anos, Ryane Leão deixou Cuiabá, sua cidade natal, e se mudou para São Paulo para fazer faculdade na Universidade de São Paulo (USP), onde começou estudando moda, antes de mudar para letras. A metrópole se tornou cenário para a poesia da aspirante a escritora, que passou a colar pelos muros seus versos em cartazes, tipo lambe-lambes. Hoje, aos 29 anos, Ryane é a feliz autora de um best-seller
de poesia, o Tudo Nela Brilha e Queima (Planeta), foi destaque na Bienal do Livro e da Festa Literária de Paraty (Flip) este ano, e comanda a escola de inglês Odara, voltada para mulheres negras.
As conquistas foram alcançadas ao longo de dez anos com muitos percalços. ‘A mudança para São Paulo foi bem difícil. Trabalhei de tudo para pagar o aluguel, fui recepcionista, garçonete, dei aulas de inglês’, conta. ‘Eu escrevia por hobby . Demorou muito para a poesia ser algo rentável para mim.’
Entre o lambe-lambe e os textos em blog, Ryane chegou às redes sociais com o perfil Onde Jazz Meu Coração, em que publica textos sobre autoafirmação, relacionamentos e empoderamento feminino. As temáticas lembram as da indiana Rupi Kaur, fenômeno do gênero. Foi com o sucesso da autora que Ryane conseguiu publicar seu primeiro livro. ‘A editora estava procurando alguém parecida. Entraram em contato comigo pelo Instagram depois que uma amiga me indicou’, conta. Com quase 20.000 exemplares vendidos em menos de um ano, a autora já prepara um segundo título para 2019.
Leitores
90% mulheres e 10% homens. Maioria entre 18 e 44 anos
Temas Amor, autoestima, Feminismo, superação Livros
Tudo Nela Brilha e Queima (Planeta, 2017)
Inspirações
Slam das Minas (sarau de poesia feminino em São Paulo), Conceição Evaristo, Elisa Lucinda e Carmen Faustino
‘A Rupi Kaur abriu o caminho para mim. Acho um presente a comparação. Ela é incrível’, diz. ‘A literatura ainda é muito branca e elitista. Aí surge uma poeta imigrante, mulher, de cor, e vira best-seller. A Rupi abriu as portas para mim e para outras mulheres.’
A principal semelhança de Rupi e Ryane reside principalmente na missão de falar sobre assuntos que a literatura tende a ocultar ou romantizar. ‘Não é fácil ter amor-próprio e autoestima. Não somos inabaláveis. Falamos de relações abusivas, de racismo, machismo, mas não ficamos na dor pela dor. A ideia é mostrar que passamos por tudo isso, mas podemos sobreviver.’
A identificação de outras mulheres e da força dos movimentos feministas nas redes ajudou Ryane a crescer no meio virtual, com o amplo compartilhamento de seus textos. Ela percebe a onda e navega nela com tranquilidade. ‘Quero aproveitar esse momento de mais mulheres falando e publicando. Chegou ao fim o medo de contar nossas histórias.’
CARNEIRO, Raquel; KUSUMOTO, Meire. Instapoetas, o fenômeno que tirou a poeira da poesia. Veja, [São Paulo], 12 out. 2018. Disponível em: https://veja.abril. com.br/especiais/instapoetas-o-fenomeno-que-tirou-a-poeira-da-poesia. Acesso em: 16 set. 2024.
1. a) Professor, seria apropriado procurar previamente pelos dados e, se necessário, apresentá-los para os estudantes para que possam responder à questão. Discuta com eles o que provocou a semelhança ou disparidade com relação aos números projetados no gráfico.
1. L eia o gráfico a seguir.
1. b) Com o número tão alto de usuários, a publicação de poesia nas redes pode atingir um público muito mais amplo do que a publicação de livros, já que livros físicos demandam locais de venda e poder aquisitivo.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Centro de Expertise Setorial em Telecom, Plataformas e Serviços Diretoria de Inteligência de Mercado.
Fonte: eMarketer, Abril’2022 e Novembro’2021
Fonte: GLOBO. O brasileiro ama redes sociais. [S. l ]: Globo Gente, 26 jul. 2022. Disponível em: https://gente.globo.com/ infografico-o-brasileiro-ama-redes-sociais. Acesso em: 16 set. 2024.
a) O gráfico mostra o número de usuários de redes sociais em 2022 e faz uma projeção de um aumento crescente nos anos seguintes. Procure por dados atuais e compare-os com a projeção. Ela se aproximou da realidade? Formule hipóteses para justificar o resultado.
b) Considerando a quantidade de usuários de redes sociais, como essas plataformas podem ser um veículo de divulgação interessante para a poesia contemporânea?
2. A reportagem, além de ter sido publicada na versão impressa da revista, também circula em meio digital. A circulação em meio digital pode ampliar o público da reportagem? Por quê?
Sim, pois pode atingir também quem não adquiriu a revista impressa.
3. A reportagem parte de um fato, matéria-prima da notícia, mas não se limita a ele.
a) De qual fato parte a reportagem?
O surgimento de poetas de redes sociais e seu sucesso, que atrai centenas de milhares de seguidores.
b) O texto também traz um panorama sobre a poesia além das redes sociais. Identifique a informação que justifica a reportagem.
O fato de os livros físicos publicados pelos instapoetas terem chegado à lista de best-sellers e aumentado em 107% a venda de livros no Brasil.
4. Jornalistas não conseguem ser especialistas em todos os assuntos sobre os quais escrevem. Por isso, recorrem às falas de Igor Pires da Silva, idealizador do perfil Textos cruéis demais , e Ryane Leão (1989-), autora de Tudo nela brilha e queima .
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
a) Por que se pode dizer que as falas dos poetas estruturam a reportagem?
b) Há várias outras informações que complementam o texto entre as falas reproduzidas. Como as jornalistas tiveram acesso a essas informações?
4. a) Porque é por meio delas que grande parte das informações sobre poesia e rede social são apresentadas.
4. b) As jornalistas podem ter tido acesso às informações por meio de pesquisas ou de outras respostas que obtiveram, mas que não reproduziram na reportagem.
4. c) Qual será o diferencial para a produção do próximo livro? / Por que os poemas não possuem assinatura, se são produzidos por um coletivo de quatro pessoas?
9. b) Espera-se que os estudantes destaquem o neologismo instapoetas como um chamativo, bem como a metonímia “tirar a poeira”, que indica que os livros de poesia não seriam muito consumidos e lidos.
c) Considere as falas a seguir e formule as possíveis perguntas que a jornalista fez para chegar a elas. Serão três partes, uma de cura, outra de amor e outra de perdão. Com três pessoas olhando para os temas.
A palavra tem mais peso que a assinatura. Não quero ser maior que a poesia […].
5. Além dos dados e depoimentos da reportagem, os elementos multimodais também produzem sentidos.
5. a) A fotografia permite ao leitor, ao conhecer a fisionomia dos autores, aproximar-se deles, e o poema permite um vislumbre de sua produção poética.
a) E xplique a relevância da inserção da fotografia da autora com um poema na reportagem.
b) A reportagem, além de ter sido publicada na versão impressa da revista, também circula em meio digital. Considerando esse modo de circulação, que outros recursos visuais poderiam ser inseridos na reportagem digital para dialogar com a produção dos poemas? Copie as possibilidades no caderno.
Resposta: alternativas I, III e VI.
I. Postagem do Instagram com poema.
II. Postagem do Instagram com o cotidiano.
III. V ídeo ou áudio com a leitura dos poemas.
IV. Fotografia de páginas do livro.
V. Fotografia de leitores.
6. a) A reportagem cita o caso da cantora Marília Mendonça (1995-2021), que, ao compartilhar algumas postagens, fez crescer o número de seguidores da página Textos Cruéis Demais em 20 mil em apenas 24 horas.
6. b) Seriam sugeridas a usuários que interagiram com outras postagens de poesia e literatura ou relacionada a poetas e escritores.
VI. V ídeo com trechos das entrevistas ou depoimentos dos instapoetas.
c) A reportagem apresenta também dois infográficos com informações sobre os poetas e suas obras. O que esses dados revelam, ainda que parcialmente, sobre o perfil do leitor brasileiro de poesia?
Os dados mostram que as mulheres predominam como leitoras de poesia, sendo 87% e 90% nos dois casos apresentados.
6. Redes sociais contam com recursos que podem favorecer o acesso e alavancar o alcance dos poemas a novos leitores em potencial.
a) De acordo com a reportagem, o que pode fazer viralizar um perfil de poesia?
b) O s algoritmos das redes sociais direcionam postagens a pessoas que demonstram interesses específicos. As postagens dos instapoetas seriam sugeridas a qual tipo de usuário?
7. Algumas partes da reportagem, além de apresentar os poetas, apresentam também certa tradição literária à qual eles se filiam.
a) Em que momentos essa apresentação ocorre?
Ocorre na introdução, com a referência a Rupi Kaur; nas falas de Ryane Leão e nos infográficos.
b) D e que forma a referência que Ryane Leão faz à poeta Rupi Kaur (1992-) e a outras mulheres escritoras pode ajudar a localizá-la em certa tradição literária?
8. Assim como outros gêneros da esfera jornalística e midiática, a reportagem pode contar com sequên c ias de diferentes tipologias textuais: narrativa, expositiva, descritiva e argumentativa. Alguns teóricos consideram a reportagem uma mistura de gêneros, pois pode conter em seu texto elementos de notícia, entrevista, artigo etc. Por isso, muitos autores consideram a reportagem um gênero híbrido.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
a) Copie, no caderno, um trecho narrativo da reportagem que você leu.
b) Copie, no caderno, um trecho expositivo da reportagem que você leu.
9. A reportagem também apresenta uma estrutura próxima à da notícia.
7. b) A referência a Rupi Kaur e aos temas de autocuidado, relações abusivas, racismo, machismo e feminismo a inserem em uma tradição de poesia feminina de luta e engajamento.
a) Com um colega, identifique os elementos do lide na reportagem que você leu.
b) O t ítulo é sempre importante porque pode ou não chamar o leitor para o texto. De que forma esse título pode chamar a atenção dos leitores?
9. a) Professor, seria interessante fazer a atividade oralmente. Trata-se de mera identificação e constatação da estrutura do texto. Os elementos são bastante evidentes. Se tiverem dúvida quanto ao lide, garanta que os estudantes compreendam o quem (instapoetas), o quê (fazem sucesso), o onde (nas redes e nas livrarias) e o quando (entre 2017 e 2018).
10. a) O leitor poderia ficar confuso; afinal, o primeiro intertítulo faz referência a um nome curioso de perfil, “Textos cruéis demais”, e o outro é o nome de uma
O leitor poderia, por exemplo, ler a introdução e partir para a leitura de uma seção que fizesse referência a um autor que já conhece ou cuja poesia ou fisionomia mais lhe chame atenção e, somente depois, se ainda tiver interesse, ler o restante da reportagem.
Espera-se que os estudantes reconheçam que não, pois as jornalistas assumem um posicionamento desde o primeiro período, com a referência ao amor nas redes sociais, o uso engenhosa para se referir à forma de escrita dos poemas culpada para se referir à poeta Rupi Kaur. Ao mesmo tempo, apoiam suas afirmações e depoimentos.
Uma reportagem costuma contar com os seguintes elementos estruturais
• Título: anuncia o fato a ser abordado de forma objetiva e clara, com verbos geralmente no presente.
• Subtítulo: busca ampliar a explicação do assunto a ser abordado. Não é obrigatório.
• Lide: normalmente, ocupa o primeiro parágrafo e apresenta as informações básicas do assunto abordado (Quem? Quando? Onde? O quê?).
• Corpo: desenvolve o assunto através de esclarecimentos, acréscimos e discussões em nível mais amplo, utilizando diversos recursos.
• Síntese, conclusão: retoma o que foi apresentado e propõe uma perspectiva de observação do fato ou uma conclusão. Geralmente ocupa o último parágrafo.
10. A reportagem conta com alguns intertítulos.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
a) Se um leitor lesse somente os intertítulos da reportagem, que ideia ele teria do que trata o texto? Explique.
b) Os intertítulos permitem ao leitor fazer algumas escolhas no momento da leitura de acordo com seus interesses. Que escolhas seriam essas?
11. O jornalista, autor regular de reportagens, tem um compromisso com a investigação dos fatos e acontecimentos. Por isso, além de produzir um texto informativo, apresenta interpretações e análises sobre aquilo que investiga, por meio de dados estatísticos, depoimentos, entrevistas, imagens, gráficos, infográficos. Embora exista uma lógica argumentativa que permeia toda reportagem, espera-se que tanto sua linguagem quanto sua estrutura sejam pautadas pela neutralidade e objetividade. Leia novamente a parte introdutória da reportagem e explique se a reportagem cumpre esses requisitos de neutralidade e objetividade do texto jornalístico.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
#PARAlEMBRAR
Em geral, notícias e reportagens utilizam linguagem comum, impessoal, objetiva e direta para atingir um maior número de leitores. É comum o jornalista intercalar discurso indireto e discurso direto para registrar as diferentes posições dos sujeitos envolvidos na matéria.
A notícia e a reportagem apresentam algumas diferenças.
• Enquanto a notícia é publicada em um momento próximo àquele em que o fato ocorreu – em geral no mesmo dia ou no dia seguinte –, a reportagem pode demorar um pouco mais para ser publicada. Algumas duram muito – por exemplo, reportagens sobre praias do Nordeste brasileiro; outras fazem sentido em determinado período – por exemplo, reportagens sobre Olimpíadas em geral são publicadas em momento próximo a essa festa do esporte.
• A notícia pode ser resumida pelo lide; a reportagem desenvolve, amplia e tece novos olhares sobre os fatos apresentados no lide.
• A n otícia está centrada no fato; a reportagem amplia o fato, pode investigar causa, consequência, buscar diferentes interpretações, bem como investigar fatos e o impacto que produzem.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
3. b) Porque também é difícil identificar uma pessoa ou pequeno grupo que tenha praticado essa ação, que se deu de forma coletiva e viralizada.
1. c) Porque é difícil nomear um grupo específico que foi responsável pela polarização. No máximo seria possível dizer “usuários”.
Releia um trecho da apresentação da reportagem sobre a instapoesia.
1. b) O sujeito recebe a ação da forma verbal.
1 Releia o trecho destacado.
a) O período inicia com uma oração que se refere a um nome, que funciona como sujeito. Qual é ele?
1. a) O sujeito é a internet
b) O sujeito recebe ou pratica a ação da forma verbal transformada?
c) O período não esclarece quem praticou a ação verbal. Por quê?
2. a) Um movimento crescente de jovens poetas tomou a internet.
2 No trecho em destaque é possível identificar quem pratica a ação da locução verbal foi tomada .
a) No caderno, reescreva o período colocando quem praticou a ação como sujeito da oração.
b) Ao estruturar a oração colocando quem pratica a ação depois da forma verbal, que sentido se pretende produzir?
Existe amor (em forma de poesia) nas redes sociais. Transformada em um polarizado campo de batalha político, a internet também foi tomada por um movimento crescente de jovens poetas, que cravaram seu espaço no online com textos curtos, compartilháveis e fáceis de se relacionar, e acabaram refletidos com muito sucesso na literatura tradicional. Pela força no Instagram, os escritores acabaram apelidados de instapoetas . Nomes como João Doederlein, Ryane Leão, Lucão e Zack Magiezi exploram de forma engenhosa temas como amor, decepção, saudade e autoestima, a maioria com caráter motivacional, bebendo de fontes filosóficas e do velho formato dos provérbios, enquanto ainda se arriscam na tendência metalinguística – que fala sobre a própria poesia e a arte de escrever. […]
CARNEIRO, Raquel; KUSUMOTO, Meire. Instapoetas, o fenômeno que tirou a poeira da poesia. Veja, [São Paulo], 12 out. 2018. Disponível em: https://veja.abril.com.br/ especiais/instapoetas-o-fenomeno-que-tirou-a-poeira-dapoesia. Acesso em: 16 set. 2024.
Não escreva no livro.
3. a) Jovens poetas.
3 Considere a oração em destaque
a) Identifique o sujeito da oração.
b) Por que quem praticou a ação desses verbos não foi expresso no texto?
4. a) O sujeito é os escritores
4 Considere a oração em destaque.
a) Quem é o sujeito da oração?
b) Nessa oração, como seria a reescrita se quem tivesse apelidado os escritores fossem eles mesmos?
Os verbos, além de se flexionarem em número, pessoa, tempo e modo, podem apresentar a ação do sujeito de três maneiras diferentes, dependendo da voz que adotar. As vozes do verbo indicam se o sujeito da oração é o agente ou o paciente da ação expressa pelo verbo ou pela locução verbal, ou seja, se pratica ou se sofre a ação.
Na língua portuguesa, existem três vozes verbais.
Voz ativa: quando o sujeito pratica a ação verbal e é o agente da ação verbal.
Ryane Leão explora de forma engenhosa temas como amor […].
O sujeito Ryane Leão pratica a ação de explorar.
Voz passiva: quando o sujeito sofre a ação verbal e pode vir com o agente da passiva expresso na frase.
2. b) Pretende-se dar destaque a quem recebeu a ação do verbo, no caso, a internet
4. b) Os escritores se apelidaram de instapoetas.
A internet foi tomada por um movimento crescente de jovens poetas.
Aqui, o sujeito a internet sofre a ação da locução verbal.
Quem pratica a ação é o agente da passiva “um movimento crescente de jovens poetas”.
A voz passiva pode ser classificada em voz passiva analítica e voz passiva sintética.
A voz passiva analítica é formada pelos verbos ser, estar e ficar seguidos de particípio. Observe.
A internet foi tomada por um movimento […].
sujeito + verbo auxiliar + particípio
A voz passiva sintética é formada por um verbo transitivo direto acompanhado pelo pronome apassivador se. Observe.
Tomou-se a internet […].
verbo transitivo + pronome se + sujeito
A voz reflexiva: é usada quando o sujeito pratica e recebe a ação verbal. Significa que o sujeito é ao mesmo tempo o agente e o paciente da ação.
O verbo é acompanhado sempre por um pronome oblíquo: me, te, se, nos, vos, se.
Os escritores se apelidaram de instapoetas.
Aqui, o sujeito os escritores ao mesmo tempo pratica e recebe a ação de apelidar; por isso o verbo está na voz reflexiva.
Cuidado com a utilização da voz passiva sintética. Na voz passiva analítica, o sujeito recebe a ação da forma verbal e esta mantém concordância com o sujeito.
A casa é vendida.
As casas são vendidas.
Na transição para a voz passiva analítica, usa-se o pronome se como apassivador, o substantivo casa continua sendo sujeito e a forma verbal continua concordando com ele.
Vende -se casa.
Vendem-se casas
Observe, agora, o exemplo a seguir.
Precisa -se de vendedores.
Ao transformar essa frase na voz passiva analítica, tem-se a seguinte estrutura:
* Vendedores são precisos.
Essa frase não possui o mesmo sentido da voz passiva analítica porque a frase “Precisa-se de vendedores” não está na voz passiva, mas possui um verbo com pronome se que indetermina o sujeito:
(sujeito indeterminado) Precisa-se de vendedores.
1. Leia a seguir um trecho do conto “O nariz”, do escritor russo Nikolai Gógol (1809-1852). Nessa história fantástica, o major Kovaliov, um dia, acorda sem o nariz.
— Meu Deus! Meu Deus! Por que um infortúnio como esse? Se eu estivesse sem um braço ou sem uma perna, tudo seria melhor; se estivesse sem as orelhas, seria desagradável, e, no entanto, muito mais suportável; mas um homem sem nariz, sabe lá o diabo o que é: um pássaro ele não é, um cidadão ele não é; tem simplesmente que pegar e jogar pela janela! E se pelo menos ele tivesse sido decepado na guerra ou num duelo, ou se eu mesmo fosse o culpado; mas ele sumiu sem mais nem menos, sumiu à toa, a troco de nada!... Mas não, não pode ser — acrescentou ele, depois de pensar um pouco. — Não dá para acreditar que o nariz tenha sumido, não dá para acreditar de jeito nenhum! Decerto eu estou ou sonhando, ou tendo visões […] Ele se aproximou do espelho, de mansinho, e, no início, entrecerrou os olhos, com o pensamento de que, quem sabe, o nariz aparecesse em seu lugar; mas, naquele mesmo instante, deu um salto para trás, dizendo:
— Mas que aspecto burlesco!
1. a) “mas um homem sem nariz, sabe lá o diabo o que é: um pássaro ele não é, um cidadão ele não é […]”
GÓGOL, Nikolai. O nariz . Rio de Janeiro: Antofágica. 2021. E-book
Nessa história, o major Kovaliov demonstra dar muita importância a seu nariz.
a) Copie, no caderno, o período do texto que comprova a importância demasiada que o major confere a seu nariz.
b) Qual foi o motivo de o major ter ficado sem nariz?
Não há um motivo, um dia ele acorda sem o nariz.
2. O major Kovaliov, em desespero, demonstra que aceitaria ficar sem nariz sob uma condição.
a) Copie, no caderno, a frase que indica essa condição.
2. a) “E se pelo menos ele tivesse sido decepado na guerra ou num duelo […]”
b) Na frase copiada no item anterior, que expressão está oculta, subentendida?
2. b) A expressão “o nariz”, em “Ainda se [o nariz] tivesse sido cortado numa guerra ou num duelo”.
c) E ssa expressão desempenha qual função sintática na frase? Ela recebe ou pratica a ação da locução verbal?
Ela é o sujeito da oração e recebe a ação do verbo.
d) Esse período está em que voz verbal?
Na voz passiva.
3. Na tentativa de entender o mistério de seu nariz, o major pratica uma ação expressa por forma verbal na voz reflexiva.
a) Identifique essa forma verbal.
“Ele se aproximou […]”
b) Por que essa forma verbal está na voz reflexiva?
Porque indica ação que o major praticou em si mesmo para verificar o problema do nariz.
4. Leia a seguir a resenha do filme Procura-se um amigo para o fim do mundo. O filme de apocalipse – e seu subgênero do terror de mortos-vivos – nunca esteve tão vivo na cultura pop. A ideia de uma sociedade em frangalhos, em que tudo o que as pessoas têm é o outro, sem o apoio de tecnologia, governo ou mídia, demonstra uma certa nostalgia de um passado recente, em que o convívio existia de maneira física, sem a interferência tecnológica que vivemos diariamente hoje. […]
Procura-se um amigo para o fim do mundo (Seeking a Friend for the End of the World, 2012) leva essa melancólica constatação a um novo patamar. Nele, dois estranhos – Steve Carrell e Keira Knightley – encontram-se por acaso às vésperas da chegada de um asteroide à Terra que vai acabar com toda a vida do planeta.
Parte do apelo do filme é a ambientação criada pela roteirista e diretora Lorene Scafaria (de Nick & Norah – Uma noite de amor e música). Na situação criada por ela, o mundo se divide entre as pessoas que buscam
viver intensamente depois de anos de marasmo, os deprimidos incapazes de aceitar seu destino e as turbas revoltadas, que decidem se aproveitar da situação. Mas há também aqueles que continuam vivendo como se nada estivesse acontecendo – que seguem na mesma toada de desilusões, de rompimentos amorosos e parecem alheios ao fim de tudo, focados apenas em lamentar seus próprios problemas. […]
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
BORGO, Érico. Procura-se um amigo para o fim do mundo. Omelete, São Paulo, 30 ago. 2012. Disponível em: https://omelete.com.br/filmes/criticas/procura-se-um-amigo-para-o-fim-do-mundo/?key=69828. Acesso em: 16 set. 2024.
• Segundo a resenha, qual seria a relevância de um filme sobre o fim do mundo?
Um filme como esse nos faz revisitar um passado menos dependente de tecnologia, com uma forma de convívio mais física.
5. Releia o título do filme.
a) Ele se assemelha a qual gênero textual-discursivo?
b) A forma verbal do título está em que voz?
c) Por que foi escolhida essa voz para o título do filme?
A anúncios classificados de vagas de emprego.
Está na voz passiva sintética. Porque faz uma alusão lúdica a um anúncio de classificado.
Leia a seguir a tirinha da cartunista Laerte (1951-).
LAERTE. [Roga-se pragas]. Folha de S.Paulo, São Paulo, 4 mar. 2024. Disponível em: https://cartum.folha. uol.com.br/quadrinhos/2024/03/04/ piratas-do-tiete-laerte.shtml. Acesso em: 16 set. 2024.
6. No diálogo da tirinha, algo impossibilita o entendimento entre as duas personagens.
a) A pergunta que o homem faz no segundo quadro expressa uma dúvida dele? Explique.
b) A e xplicação dada pelo homem está correta?
6. a) Não, pois ele já sabe a resposta, como se percebe nos dois quadros seguintes.
c) Como se pode interpretar o comportamento do homem? Ele está interessado no serviço oferecido pela mulher?
Tudo indica que não; parece que seu único propósito é mostrar à mulher que ela deve corrigir a frase que está na placa.
6. b) Sim, está correta. A placa deveria estar com o verbo flexionado no plural (Rogam-se pragas) porque nela ocorre um caso de voz passiva sintética, em que o sujeito é pragas
7. L eia a seguir o resumo de um dos livros mais vendidos da história: As crônicas de Nárnia: o leão, a feiticeira e o guarda-roupa (1950).
Primogênito da série ‘As Crônicas de Nárnia’, o livro foi escrito pelo britânico C. S. Lewis em meados da década de 40, porém, sua publicação só aconteceu em 1950. Trata-se da história de quatro irmãos que, ao fugirem dos bombardeios em Londres na 2a Guerra Mundial, chegam à casa de um professor que mora no campo e descobrem uma passagem secreta para um mundo fantástico. A obra foi traduzida em 41 idiomas.
ANDRADE, Juliana. Os 13 livros mais vendidos da história [S. l.]: Guia da Semana, 5 jan. 2015. Disponível em: www.guiadasemana.com.br/literatura/noticia/ os-13-livros-mais-vendidosda-historia. Acesso em: 2 set. 2024. Nessa breve descrição, são utilizados dois substantivos para se referir a O leão, a feiticeira e o guarda-roupa .
a) Quais substantivos são?
Livro e obra.
b) Q uais locuções verbais se ligam a esses substantivos?
Foi escrito e foi traduzida
c) A s locuções estão em qual voz verbal?
Na voz passiva analítica.
d) Identifique o agente da passiva, se houver.
O agente da passiva é “pelo britânico C. S. Lewis”.
8. A expressão trata-se está na voz passiva ou reflexiva?
9. Leia a tirinha a seguir.
Capa do livro As crônicas de Nárnia: o leão, a feiticeira e o guarda-roupa.
8. Em nenhuma das duas. Está na voz ativa com verbo transitivo indireto pronominal.
Disponível em: https://djotices.wordpress.com/2016/06/22/alugam-se-sdg408/. Acesso em: 2 set. 2024.
a) Essa tirinha traz uma aula sobre voz passiva sintética. Ela está correta? Explique.
b) E xplique como a personagem Chica poderia questionar a aula dada por sua interlocutora.
c) Na última fala de Chica, há uma forma verbal na voz reflexiva. Identifique-a.
[Ele] se vende [sozinho].
9. a) Não, pois Vendem-se apartamentos não tem sujeito indeterminado, tem sujeito que recebe a ação do verbo: apartamentos.
9. b) Chica deveria dizer que a frase que escreveu está correta, pois trata-se de uma frase na voz passiva sintética, cujo sujeito é apartamentos.
1. a) Espera-se que os estudantes identifiquem que o rigor técnico da escultura e a pose impassível da personagem dialogam com os princípios formais da arte parnasiana.
1. b) Não é possível identificar pelo trecho. A frase está na voz passiva e o agente da passiva não está identificado.
2. a) O sujeito é “O túmulo de Francisca Júlia no Cemitério do Araçá”.
2. b) O texto não informa o agente dessa ação.
Leia a seguir um trecho de notícia sobre a escultura Musa impassível , produzida pelo escultor ítalo-brasileiro Victor Brecheret (1894-1955), para o túmulo da poeta parnasiana Francisca Júlia, que em seu livro Mármores, de 1895, escreveu um poema com o mesmo nome da escultura.
1 Depois de ler o trecho, responda.
a) De que forma essa escultura e o nome que ela tem dialogam com a estética parnasiana?
b) Considere a oração em destaque. Quem praticou a ação de tratar da escultura?
Justifique sua resposta identificando a estrutura sintática do período.
2 Considere a locução verbal em destaque
a) Qual é o sujeito dessa locução?
b) A quem é atribuída a ação expressa pela locução verbal?
3. c) Consegue, porque a autoria está sendo apontada desde o início do texto.
4. a) Perde-se a informação sobre quem fez a escultura.
O túmulo de Francisca Júlia no Cemitério do Araçá foi engrandecido com a Musa Impassível em 1923. […] A escultura estava se desgastando com a ação do tempo, principalmente com a chuva ácida. Sendo assim, foi necessária a sua remoção para desacelerar este processo de desgaste. […]
Pela primeira vez na história da Cidade de São Paulo, uma obra tumular saiu do espaço cemiterial e ganhou um novo lar: a Pinacoteca do Estado, no Parque da Luz. A escultura foi tratada com todo o cuidado que uma grande Musa necessita, no caso de uma escultura, com direito a uma ampla higienização e um meticuloso processo de restauração.
O túmulo de Francisca Júlia no Cemitério do Araçá não foi desprezado. No lugar onde antes estava a escultura de mármore original, foi colocada uma réplica de bronze […].
Assim, a Musa Impassível continua a deslumbrar os olhares, seja na Pinacoteca, ou em sua antiga morada. Não há como desvincular a Musa Impassível do túmulo de Francisca Júlia, as duas estão ligadas intimamente desde o instante em que o poema foi escrito.
As palavras da poetisa foram transformadas no mármore por Victor Brecheret em traços delicados. Ele conseguiu perpetuar a história dessas duas mulheres magníficas, Francisca Júlia e sua Musa Impassível.
GARCIA, Glaucia. A história da Musa Impassível São Paulo: São Paulo Antiga, 2 nov. 2012. Disponível em: https://saopauloantiga.com.br/a-historia-da-musaimpassivel/. Acesso em: 16 set. 2024.
4. b) Ganharia mais destaque o sujeito da oração: As palavras da poetisa
3. a) Na voz passiva analítica.
3 O texto exalta tanto Francisca Júlia quanto a escultura inspirada em um de seus poemas. Considere a locução verbal em destaque.
a) Em que voz está a locução verbal?
b) A oração não indica autoria. Que termo da oração seria responsável pela indicação da autoria?
3. b) O agente da passiva.
c) O leitor consegue saber quem escreveu o poema? Por quê?
4 Considere agora o trecho em destaque
a) Que mudança de sentido ocorreria se o agente da passiva fosse retirado do trecho?
b) Que termo da oração ganharia maior destaque com a exclusão do agente da passiva?
A voz passiva altera a estrutura e o foco das frases, influenciando diretamente os sentidos produzidos no texto. A voz passiva destaca menos o agente da ação e mais o processo ou o resultado da ação, o que impessoaliza o texto. Por exemplo, na seguinte frase:
O túmulo de Francisca Júlia no Cemitério do Araçá foi engrandecido com a Musa Impassível em 1923.
o foco não está em quem realizou a ação, pois o agente da passiva nem está expresso, mas no túmulo de Francisca Júlia, que recebeu a ação de ser engrandecido. Esse recurso é útil para textos científicos ou jornalísticos, cujo interesse reside nos fatos ou objetos estudados, não em quem age sobre eles.
Ao impessoalizar o texto com o uso da voz passiva, a atenção do leitor se desloca para aspectos específicos da mensagem, o que afeta a interpretação. Em um relatório, por exemplo, a seguinte frase:
Foi observada uma melhoria significativa nos resultados. impessoaliza a ação, oferecendo uma constatação geral sem atribuir a melhoria a um indivíduo específico, o que pode reforçar a credibilidade do relatório ao focar os resultados em vez de pessoas.
A voz passiva sintética remove completamente o agente da ação, generalizando ou universalizando a informação. Frases como as seguintes:
Vende-se casa.
Procuram-se funcionários.
não especificam quem está vendendo ou procurando, criando um sentido de generalidade que pode atrair um público mais amplo. Essa estratégia é eficaz em anúncios e avisos, gêneros em que detalhes sobre o agente não são necessários ou desejáveis.
Ambas as construções contribuem para a objetividade e formalidade do texto, podendo também impactar a maneira como o receptor percebe a informação. Esses recursos são, portanto, fundamentais para a construção de sentidos e para a adequação do texto aos seus objetivos comunicativos e ao público-alvo.
1. L eia a seguir algumas manchetes de jornal.
Estatuto da Igualdade Racial é aprovado na cidade do Rio
Ação marca luta contra o racismo no município
PORTAL Eu, Rio! Estatuto da Igualdade Racial é aprovado na cidade do Rio. Eu, Rio! , Rio de Janeiro, 25 jun. 2024. Disponível em: https://eurio.com.br/noticia/66553/ estatuto-da-igualdade-racial-e-aprovado-na-cidade-dorio.html/. Acesso em: 16 set. 2024.
Plano de Mobilidade Urbana de Cascavel é aprovado com três emendas
CASCAVEL. Câmara Municipal. Plano de Mobilidade Urbana de Cascavel é aprovado com três emendas. Cascavel: Câmara Municipal, 11 jun. 2024. Disponível em: https://www. camaracascavel.pr.gov.br/comunicacao/noticias/plano-demobilidade-urbana-de-cascavel-e-aprovado-com-tresemendas/. Acesso em: 28 jun. 2024.
Estádio Abilhão é aprovado, e receberá, após oito anos, jogos oficiais do Quixadá Futebol Clube
A estreia do Quixadá Futebol Clube no Estádio Abilhão já tem data e hora marcada; será no sábado, 15 de junho, às 16h, contra a equipe de Itarema
QUIXADÁ. Prefeitura Municipal de Quixadá. Estádio Abilhão é aprovado, e receberá, após oito anos, jogos oficiais do Quixadá Futebol Clube. Quixadá: Prefeitura Municipal de Quixadá, 11 jun. 2024. Disponível em: https://quixada.ce.gov.br/informa/690/ est-dio-abilh-o-aprovado-e-receber-ap-s-oito-anos-. Acesso em: 28 jun. 2024.
Em todos os casos, quem aprovou foram vereadores, isto é,
a) Copie o organizador a seguir no caderno e complete-o com as informações que são pedidas.
Sujeito
Locução verbal na voz passiva
Manchete 1
Manchete 2
Manchete 3
Plano de Mobilidade Urbana de Cascavel
2. Ambas as manchetes a seguir se referem ao projeto de construção de uma linha de trem para ligar as cidades de São Paulo (SP) e Campinas (SP). é aprovado é aprovado é aprovado
Estádio Abilhão
b) Indique em cada manchete quem pratica a ação expressa pela locução verbal.
c) Que sentido se pretende ao ocultar o agente da passiva nessas manchetes?
2. c) Nesse caso, a notícia é favorável e pode despertar a simpatia do leitor, uma simpatia que se transfere àquele que assinou a concessão, que ganha, assim, dividendos políticos.
Leilão de trem intercidades entre Campinas e São Paulo é adiado para 2024
Empresas interessadas na licitação pediram um prazo maior para que pudessem fazer análises mais profundamente; governo também trata financiamento do projeto junto ao BNDES
JOVEM PAN. Leilão de trem intercidades entre Campinas e São Paulo é adiado para 2024. JP News, São Paulo, 2 set. 2023. Disponível em: https://jovempan.com.br/programas/jornal-da-manha/leilao-de-trem-intercidades-entre-campinas-e-sao-paulo-eadiado-para-2024.html. Acesso em: 3 set. 2024.
Governo de SP assina concessão do Trem Intercidades que vai ligar Campinas à capital
Com investimentos de R$ 14,2 bilhões, projeto contempla ainda o Trem Intermetropolitano entre Campinas e Jundiaí e a Linha 7-Rubi da CPTM
SÃO PAULO (Estado). G overno de SP assina concessão do Trem Intercidades que vai ligar Campinas à capital. São Paulo: SP Notícias, 29 maio 2024. Disponível em: www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/ultimas-noticias/governo-de-sp-assina-concessaodo-trem-intercidades-que-vai-ligar-campinas-a-capital-2/. Acesso em: 3 set. 2024.
a) Compare o conteúdo das manchetes. Que reação cada uma pode provocar no leitor?
b) A primeira manchete foi formulada na voz passiva, mas o agente da passiva não está explícito. Que efeito de sentido produz essa formulação da manchete?
c) A segunda manchete está na voz ativa. Explique o que pode justificar o uso nesse caso.
1. c) Espera-se que os estudantes percebam que o ocultamento pode ter motivos políticos, afinal, ocultar os vereadores responsáveis pelas aprovações pode favorecer eventualmente aqueles que foram contrários à aprovação.
2. a) A primeira pode provocar uma reação negativa (de indignação, desânimo, conformismo, desilusão, prostração etc.) e a segunda, positiva (de simpatia, contentamento, confiança, entusiasmo etc.).
2. b) Nesse caso, a voz passiva impessoaliza a manchete; ao omitir o agente, protege-o dos efeitos negativos previstos no conteúdo da manchete.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Depois de ler uma reportagem e entender como ela se estrutura, bem como conhecer mais poetas e poemas, agora é sua vez de destacar a produção literária dando voz a um escritor de sua região. Você irá produzir uma videorreportagem sobre ele, registrando um pouco de sua vida e obra.
O que você irá produzir
Você vai produzir uma videorreportagem sobre algum escritor de sua região. Nela, você vai apresentar esse escritor para um público leitor em potencial e registrar em áudio e vídeo sua produção. Para isso, organizem-se em grupos de até quatro integrantes.
Em primeiro lugar, é necessário pesquisar quem será a personagem de sua videorreportagem. Se houver algum escritor consagrado, pode ser ele, mas também pode ser algum parente, cordelistas de feira, um contador de histórias, um cronista que publica em um jornal local etc.
Sua videorreportagem deverá se basear em entrevistas, depoimentos; pode também apresentar análise de alguma de suas criações; a análise pode ser do próprio escritor ou de alguém que conheça o que ele escreve. Além disso, é também possível utilizar imagens e sons de arquivo. Siga estas etapas para a construção de um pré-roteiro da videorreportagem.
Pesquisa: você e seu grupo vão elaborar uma pesquisa sobre o escritor selecionado, identificando aspectos mais importantes de sua biografia e temas e estilo de escrita. Essa etapa é fundamental, pois nela você pode eventualmente perceber que o escritor selecionado não possibilita a produção por escassez de dados e recursos. É importante pensar também: quem seriam as pessoas entrevistadas? Onde seriam as filmagens? Como o material de pesquisa pode complementar as filmagens? Nessa etapa, também verifique:
• o grupo possui equipamento adequado à filmagem? Você poderá filmar com um celular (na horizontal) e gravar o áudio com outro (posicionado mais perto do entrevistado), para captar melhor o som;
• as pessoas que o grupo selecionou para serem entrevistadas se predispõem a ajudar? Estabeleçam um cronograma de filmagens e dividam-se para fazer convites formais aos entrevistados pedindo sugestões de datas e locais para serem realizadas as filmagens.
• Roteiro: a gravação das entrevistas deve seguir um roteiro básico de perguntas, mas estar aberta a outras questões, dependendo das respostas obtidas.
Nesta etapa, o grupo deverá dividir as funções na produção da videorreportagem para gravar as entrevistas: quem providencia os equipamentos; quem filma; quem cuida do som, do cenário, da luz; e quem entrevista.
Antes de iniciar a entrevista, com a câmera já filmando, peça ao entrevistado que diga o nome completo e que autorize a filmagem e utilização dela no vídeo.
Não se esqueça de filmar em um local bem iluminado, a favor da luz. Podem-se alternar tomadas em plano fechado (mais próximo da pessoa filmada) e plano aberto (mais distante da pessoa filmada) e, se possível, realizar a filmagem em duas câmeras de dois pontos de vista diferentes. Com relação ao som, procure espaços com pouco barulho e sem ruídos, pessoas falando ou transeuntes.
A pós-produção de uma videorreportagem é o momento em que ela, de fato, ganha uma sequência lógica, que deve ter coesão e coerência. O grupo vai assistir às filmagens de todos os entrevistados e selecionar os trechos que sejam relevantes para o que o grupo tem como objetivo. Evitem longos trechos de fala de uma mesma entrevista. Nessa etapa, vocês podem optar pela inserção de um narrador ou deixar a linha narrativa ser criada apenas pelas falas dos entrevistados.
Depois, basta organizar as falas em sequência e montar o vídeo, inserindo imagens de transição, trilha, abertura e créditos finais. Ao final da leitura, incluir pelo menos um trecho de texto, bem como legendas indicando todas as pessoas que forem entrevistadas e suas ocupações.
Discurso direto e discurso indireto
O narrador da videorreportagem precisará, eventualmente, adaptar a fala de um entrevistado para o discurso indireto para dar uma sequência lógica e dinamicidade ao vídeo. Vale lembrar a diferença entre esses discursos.
O discurso direto apresenta as palavras exatas de uma pessoa, enquanto o discurso indireto reconta essas falas integrando-as ao texto do narrador, adaptando-as gramaticalmente. A transposição entre esses discursos exige atenção aos dêiticos, ou seja, palavras cujo significado depende do contexto, como pronomes, advérbios de tempo e lugar. Por exemplo, “Estou aqui agora”, no discurso direto, se transforma em “Ela disse que estava lá naquele momento” no discurso indireto.
Agora, transponha as seguintes frases do discurso direto para o discurso indireto.
• O poeta disse: “Estou escrevendo um novo poema hoje”.
• A poeta comentou: “Publicarei meu livro de poemas aqui na cidade”.
• O jovem poeta perguntou: “Você já leu meus poemas?”.
O poeta disse que estava escrevendo um novo poema naquele dia. A poeta comentou que publicaria seu livro de poemas naquela cidade. O jovem poeta perguntou se eu já tinha lido os poemas dele.
Depois da correção do professor, é o momento de compartilhar sua videorreportagem. A turma pode organizar um momento especial de exibição ou criar uma playlist em sites de compartilhamento de vídeos da internet com todas as videorreportagens da sala, com uma descrição que contenha dados sobre quem é o escritor apresentado em cada vídeo.
Professor, caso a classe queira fazer uma única videorreportagem sobre um só escritor, divida o trabalho entre os grupos. Por exemplo, um grupo fica responsável pela entrevista do autor; outro, pelos depoimentos de terceiros; outro, por gravar uma análise dos textos; outro, pela gravação das leituras; outro será a equipe técnica de filmagem e outro, de edição da videorreportagem.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Você estudou neste volume a importância que teve a ciência na vida social em geral e na literatura em particular. A ciência pautou movimentos excludentes, que pretendiam justificar o racismo, atendendo a uma lógica conservadora e cruel, mas por outro lado permitiu avanços consideráveis por meio das proposições do biólogo inglês Charles Darwin (1809-1882). Você também leu poemas que navegam no mundo dos símbolos e dos sonhos, ativando o universo das emoções.
São justamente a ciência e a emoção que se articulam neste fragmento de um texto do livro A expressão das emoções no homem e nos animais, escrito por Darwin, o criador da teoria da evolução das espécies. Você vai ler como se tivesse de desenvolver uma pesquisa sobre o tema, a ser apresentada, simultaneamente, a professores das áreas de Ciências da Natureza e suas Tecnologias e de Linguagens e suas Tecnologias. Nas questões que se seguem, você vai ser provocado a pensar em como articular essa necessidade com o que o trecho recortado a seguir oferece.
Obliquidade das sobrancelhas. – Apenas dois pontos da descrição acima, e são pontos bastante curiosos, requerem uma melhor explicação, a saber, a elevação das extremidades internas das sobrancelhas e o rebaixamento dos cantos da boca. No que se refere às sobrancelhas, elas podem eventualmente ser vistas numa posição oblíqua em pessoas sofrendo profundamente de abatimento ou ansiedade. Por exemplo, vi esse movimento numa mãe ao falar de seu filho doente; e ele pode ser provocado por razões bem insignificantes ou circunstanciais, relativas a um sofrimento real ou fingido. As sobrancelhas adquirem essa aparência graças à contração de certos músculos (os orbiculares, corrugadores e piramidais do nariz, que juntos fazem as sobrancelhas se rebaixarem e contraírem) ser parcialmente impedida pela ação mais poderosa das fáscias centrais do músculo frontal. Pela sua contração, essas fáscias elevam apenas as extremidades internas das sobrancelhas; como os corrugadores, ao mesmo tempo, aproximam as sobrancelhas, essas extremidades internas formam uma prega ou protuberância. Essa prega é um traço bastante característico da aparência das sobrancelhas quando oblíquas, como pode ser visto nas figs. 2 e 5 da prancha II. Elas também ficam mais encrespadas, pela projeção frontal dos seus cabelos. O dr. J. Crichton Browne também notou nos pacientes melancólicos que mantêm suas sobrancelhas insistentemente oblíquas ‘um arqueamento agudo peculiar das pálpebras superiores’. Uma amostra disso pode ser vista comparando-se a pálpebra direita e esquerda do jovem na fotografia (fig. 2, prancha II), pois ele não foi capaz de
Prancha com expressões faciais do livro
A expressão das emoções no homem e nos animais.
3. a) “[…] graças à contração de certos músculos (os orbiculares, corrugadores e piramidais do nariz, que juntos fazem as sobrancelhas se rebaixarem e contraírem) ser parcialmente impedida pela ação mais poderosa das fáscias centrais do músculo frontal. Pela sua contração, essas fáscias elevam apenas as extremidades internas das sobrancelhas; como os corrugadores, ao mesmo tempo, aproximam as sobrancelhas, essas extremidades internas formam uma prega ou protuberância […].”
4. d) Ao se referir à mecânica muscular que produz uma expressão, a qual o cientista interpreta associando-a a uma emoção, o rosto
acionar igualmente as duas sobrancelhas. Isso também aparece pela diferença dos vincos nos dois lados da testa. Acredito que o arqueamento agudo das pálpebras dependa apenas do erguimento da extremidade interna das sobrancelhas. Pois quando a sobrancelha toda se eleva e arqueia, a pálpebra superior segue, num grau atenuado, o mesmo movimento.
Mas o resultado mais conspícuo da contração simultânea dos músculos oponentes acima citados aparece nos peculiares vincos que se formam na testa. Esses músculos, quando assim acionados, em conjunto, ainda que em oposição, podem ser chamados, para efeito de síntese, de músculos da tristeza. Quando uma pessoa eleva as sobrancelhas por meio da contração de todo o músculo frontal, vincos transversais se estendem por toda a largura de sua testa. Mas no presente caso apenas as fáscias centrais são contraídas, consequentemente, os vincos transversais são formados apenas na porção interna da testa. A pele acima das partes exteriores de ambas as sobrancelhas é ao mesmo tempo puxada para baixo e se suaviza, pela contenção das fibras externas dos músculos orbiculares. As sobrancelhas são aproximadas, pela contração simultânea dos corrugadores, formando vincos verticais que separam a parte externa e rebaixada da testa de sua porção central e elevada.
das
À descrição de outras manifestações físicas da emoção; como o trecho reproduzido se refere à “melhor explicação”, é possível supor que detalha algo que foi apresentado anteriormente de forma mais genérica.
1. c) A posição oblíqua das sobrancelhas e o rebaixamento dos cantos da boca. O trecho trata da obliquidade das sobrancelhas.
1. Suponha que você tenha de desenvolver uma pesquisa sobre a manifestação das emoções humanas e se depara com esse texto de Darwin. Será que ele pode ajudar você a desenvolver sua pesquisa? Como?
Espera-se que os estudantes
a) O primeiro passo é entender o texto. Identifique o tema geral dele.
expressões faciais, produzidas pelo movimento de certos músculos, podem ajudar
1. a) A manifestação física de certas emoções, como tristeza, melancolia etc.
b) O início do texto refere-se à “descrição acima”, deixando claro que o trecho aqui recortado dá continuidade a uma ideia que foi desenvolvida anteriormente. A que descrição provavelmente se refere o texto? Formule uma hipótese.
c) O texto também se refere a dois pontos que merecem detalhamento. Quais? De qual deles o recorte trata?
2. Agora, releia o texto.
rosto humano. A obliquidade das sobrancelhas seria apenas um podem citar a a Psicanálise, a a Linguística, a Arte (aí incluídos a pintura, a literatura, o teatro, a escultura, o cinema e todas as artes a essas relacionadas), entre outras.
2. b) Possibilidade de resposta: O cientista descreve movimentos faciais e relaciona-os a certas emoções. Associa, por exemplo, a posição oblíqua da sobrancelha a abatimento, ansiedade, melancolia, tristeza. O texto passa então a descrever detalhadamente os movimentos musculares que produzem essa posição desse elemento facial. Entre os movimentos musculares, há os que também provocam enrugamento da testa, o que também é interpretado como sinal de tristeza.
a) Identifique e anote, no caderno, aquelas que você considera as palavras-chave do texto.
b) Elabore um resumo do trecho.
2. a) Possibilidades de resposta: obliquidade das sobrancelhas, melancolia, tristeza, abatimento, ansiedade, vincos na testa.
3. O texto descreve tecnicamente as reações musculares que produzem uma determinada expressão facial.
a) Copie, no caderno, o trecho em que é feita essa descrição.
b) Qual é a importância dessa descrição em um texto científico?
c) Que papel cumprem as imagens que acompanham o texto?
3. b) Esse tipo de descrição é próprio do texto científico: ao descrever detalhadamente como se produzem certas expressões, o cientista não só demonstra que lançou o tema ao escrutínio científico seguindo métodos próprios da ciência como também registra provas do que afirma.
4. Considere, agora, uma pesquisa sobre emoções humanas que você supostamente teria de desenvolver.
a) Que dados você acha que podem fazer parte da pesquisa?
3. c) Elas cumprem as funções de ilustrar o que diz o texto e comprovar as conclusões do cientista.
b) Que outras áreas do conhecimento você acha que poderiam contribuir para sua pesquisa?
c) Que relação você estabeleceria entre os dados do texto e a Biologia?
d) Que relações você estabeleceria entre os dados do texto e a área de Linguagens e suas Tecnologias?
4. c) Tanto os movimentos musculares citados pelo texto como as emoções que se podem ler na expressão que eles produzem podem ser estudados pela Biologia.
5. Suponha que você tivesse de delimitar sua pesquisa e relacioná-la com teatro. Como esse texto poderia ajudar a pensar a linguagem teatral?
5. Ao entrar em contato com esse dado, o ator pode experimentar construir essa expressão para sugerir a emoção que o cientista associa a ela (tristeza, melancolia etc.)
6. Que restrições podem ser feitas a um estudo como o apresentado por Darwin?
6. Resposta esperada: A generalização. O texto assume que todas as pessoas que manifestam obliquidade nas sobrancelhas exprimem os mesmos sentimentos colocados na cesta dessa expressão facial. Talvez com isso ignore uma maior complexidade das emoções humanas; por exemplo, a de que nem toda tristeza é expressa desse modo ou que essa expressão pode exprimir muitas outras emoções.
KAUR, Rupi. O que o sol faz com as flores. São Paulo: Planeta, 2018.
Referência para diversos instapoetas, essa coletânea reúne poemas que tratam de ancestralidade e reconhecimento das raízes, expatriação e amadurecimento, amor em todas as suas formas. A obra é dividida em cinco capítulos, cada um representando uma fase da vida de uma flor: murchar, cair, enraizar, crescer e florescer. Além de organizar o livro, essa estrutura também simboliza o processo de cura e crescimento pessoal que a autora explora ao longo do livro.
Capa do livro O que o sol faz com as flores.
TOMA aí um poema. Curitiba, jul. 2022. Site. Disponível em: http://podcast.tomaaiumpoema.com.br/. Acesso em: 16 set. 2024.
Nós acreditamos que a poesia é uma das formas mais puras e profundas de expressão humana. […] Acreditamos que a poesia é para todos, e nossa missão é torná-la mais acessível para aqueles que procuram uma conexão mais profunda com as palavras e as emoções que elas carregam.
CONHEÇA o Toma aí um poema. Curitiba: Toma aí um poema, c2024. Disponível em: https://tomaaiumpoema.com.br/sobre/. Acesso em: 16 set. 2024.
Com tal propósito foi criado esse podcast que reúne declamação de poesias, sendo aberto a poetas e amantes da poesia.
Imagem de abertura do podcast Toma aí um poema.
POESIA. Direção: Lee Chang-Dong. Coreia do Sul: Next Entertainment World, 2011. Streaming (139 min).
Esse filme delicado e emocionante conta a história de Yang Mi-ja, uma senhora que vive com seu neto e quer aprender a fazer poesia. Ela se inscreve em um curso especializado ao mesmo tempo que é diagnosticada com Alzheimer. O curso apura sua observação do cotidiano, que inspira seus poemas. O filme recebeu o prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes de 2010, além de outros 24 prêmios internacionais.
Capa do filme Poesia.
Observe a pintura a seguir, feita pelo artista português Júlio Pomar (1926-2018).
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
POMAR, Júlio. O almoço do trolha. 1946-1950. Óleo sobre tela, 120 cm x 150 cm. Coleção Manuel de Brito, Lisboa.
1. Em Portugal, o termo trolha significa “servente”, um ajudante de pedreiro que trabalha, por vezes, em condições precárias e tem má remuneração.
a) De que forma essa condição social adversa se materializa na obra?
Espera-se que os estudantes destaquem as roupas das personagens, as sandálias e a posição (sentados no chão) em que se apresentam, além da expressão de dor das personagens adultas e a escassez de comida que pode ser deduzida pelo prato meio vazio.
b) O modo como as figuras do homem e da mulher foram pintadas reforça a situação precária da família e a brutalidade da situação. Que característica da imagem reforça esses aspectos?
c) É possível observar na pintura certa desproporção entre o rosto e os pés e mãos do homem, um trabalhador braçal. Considerando esse dado, formule uma hipótese: por que são essas as partes do corpo que estão destacadas?
Essas partes do corpo são fundamentais na execução do trabalho que ele desempenha, por isso parecem mais desenvolvidas.
d) Na pintura, apenas o homem segura um prato de comida, o que sugere que a quantidade de alimento é limitada. Por que é ele quem recebe a comida?
Porque ele é o responsável pelo trabalho. Por isso, é quem recebe a comida.
2. A referência à Sagrada Família coloca as personagens em uma situação elevada; embora perseguidas e precarizadas, elas estão associadas a uma suposta verdade e ao bem.
3. Espera-se que os estudantes identifiquem, na figura da criança, serena e na posição central, a possibilidade de esperança, de renovação da vida, de mudança ou transformação da condição social. A expressão dela contrasta com a rudeza do rosto dos pais.
2. O trio de personagens, na condição em que se apresenta, dialoga com outro trio de figuras muito famoso na cultura ocidental cristã: a Sagrada Família. Que sentidos essa referência produz na cena?
3. A família da pintura, mesmo em condições adversas, dialoga com a esperança. De que forma esse sentimento se constrói na pintura?
Agora observe estas outras pinturas, também de artistas portugueses, mas do final do século XIX e começo do século XX.
MALHOA, José. A sesta. 1898. Óleo sobre madeira, 26 cm x 46 cm. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro (RJ).
BORDALO PINHEIRO, Columbano. A chávena de chá. 1898. Óleo sobre tela, 26 cm x 34 cm. Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado, Lisboa.
4. b) Na primeira, é possível identificar o mundo burguês, enquanto na segunda, o mundo do trabalhador rural.
4. Na consolidação do mundo burguês, dois mundos se tornam muito distintos: o da burguesia, que vive no conforto de suas casas, e o do proletariado, que passa a vida exercendo atividades com baixa remuneração e privado de direitos.
a) Identifique em cada pintura os ambientes representados e caracterize as personagens.
b) Compare o modo como as personagens principais estão retratadas: que universos sociais é possível identificar em cada pintura?
c) Em A chávena de chá , a mulher olha para a xícara mantendo uma atitude sóbria; em A sesta , o trabalhador está sentado, com ombros um pouco encolhidos. Que sentido essa postura das personagens produz nas pinturas?
Na segunda metade do século XIX, Portugal sofria as consequências da guerra civil que assolou o país entre 1832 e 1834. Com a vitória dos burgueses e liberais, o país aparentemente se libertava da lógica conservadora e absolutista, mas caía em um contexto de atraso, dependência externa e corrupção que instaurava uma desigualdade gigantesca entre o mundo dos burgueses e o dos trabalhadores. A literatura portuguesa reagiu a esse contexto com as estéticas realista-naturalista e simbolista, como você vai aprender nesta unidade.
4. a) A chávena de chá mostra o interior de uma casa e uma mulher sobriamente vestida que toma chá em uma xícara de porcelana, diante de um recipiente de metal, possivelmente prata. A sesta representa um trabalhador do campo vestido humildemente em um momento de descanso.
4. c) Em A chávena de chá, a atitude e a sobriedade sugerem recolhimento, intimidade, um universo fechado, que se volta para o interior. Já A sesta ressalta a indigência, a pobreza, a carência, o desamparo do trabalhador.
O século XIX produziu avanços fundamentais para a sociedade com relação à tecnologia, o que permitiu maior mobilidade, comunicação a distância e avanços na qualidade de vida das pessoas. Esse mesmo século, no entanto, produziu uma estrutura social desigual dividida entre uma pequena parcela da sociedade com acesso a muitos privilégios, e outra – a maior parte –que vivia em condições adversas, tentando sobreviver. Ecos desse século podem ser identificados até hoje, na profunda desigualdade que ainda divide o mundo entre os que têm acesso às conquistas humanas e os que não têm.
Para discutir
1 Quais problemas sociais são ainda produzidos pela desigualdade social nos dias atuais?
2 Uma postura altruísta, de empatia com outro, poderia levar a soluções para que esses problemas fossem reduzidos? Por quê?
3 A lguns problemas que são coletivos podem não atingir a esfera privada de alguns indivíduos. Nesses casos, de que forma uma postura individualista pode ajudar a intensificar tais problemas sociais?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Você vai ler a seguir uma parte da obra O torcicologologista, excelência (2015), do escritor português contemporâneo Gonçalo M. Tavares. Nesse livro, duas personagens aparentemente importantes em seus contextos travam diálogos, por vezes absurdos, sobre a sociedade e suas incongruências. No trecho que você vai ler, elas conversam sobre como mudar a sociedade por meio de um curioso método.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Texto
— Aonde vais com tanta pressa?
— Vou para o centro.
— Para o centro?
— Sim, para a praça central.
— Que vais lá fazer?
— Uma revolução.
— Uma revolução? Como se faz isso?
— Assim. Levantas os braços e depois, com os braços muito lá em cima, agitas as mãos de um lado para o outro.
— Os braços para cima?
— Sim, isso mesmo. Agora agitas os braços lá em cima.
— Assim? Como um exercício de ginástica.
— Exactamente. Levantas bem os braços, abres as mãos e mexes depois os braços de um lado para o outro. Por vezes fechas a mão. E ficas com um punho no ar. Assim. Vês?
— Um exercício de ginástica, sem dúvida.
— Sim, uma ginástica social. Uma ginástica política.
— E depois? O que é necessário para fazer uma revolução? Como se faz isso?
— Depois, com os braços lá em cima, agitados, como se estivesses a ser empurrado pelo vento, começas também a gritar.
— A gritar? O quê?
— O quê, como?
— O que é que eu grito?
— Gritas o que quiseres. Ou então, se não souberes o que deves gritar, ouves os gritos que estão ao teu lado e repetes.
— Repito?
— Exactamente. Repetes, mas de uma forma individual.
— Como se faz isso? Repetir de uma forma individual?
— Repetes o conteúdo, mas a voz é tua. Ou então imitas o tom de voz de quem está ao teu lado, mas dizes algo diferente.
— Repetir mas de forma individual... que bela formulação.
— Exactamente.
— Portanto, por um lado uma ginástica política — uma ginástica de pernas, pés, braços e mãos —, mas que, em vez de ajudar na saúde individual, ajuda na saúde política.
— Exactamente.
— Em parte, é uma ginástica política porque são muitos a fazer esse gesto. É isso?
— Sim.
— Mas também há ginástica de grandes grupos. Na praia, por exemplo, juntam-se multidões para fazer exercícios. Qual é a diferença?
— A diferença é que os gestos que fazemos no centro da praça não são musculares, são gestos sociais.
— Gestos sociais? Como se fazem gestos sociais? Qual é a diferença entre um gesto social e um gesto que fazemos em casa, na nossa mesa da cozinha? Há músculos diferentes envolvidos?
— Não. São os mesmos músculos. Mas uma coisa é um músculo mexer-se só porque não quer ficar parado. Outra coisa é mexer-se porque quer que as coisas não estejam paradas.
— Ou seja: uma coisa é movimentares o teu corpo; outra, bem diferente, é movimentares o mundo.
— É isso. Ginástica altruísta ou ginástica egoísta.
— Muito bem.
— Avançamos para o centro?
— Sim, para o centro.
#SOBRE
Gonçalo M. Tavares (1970-) é um renomado escritor português, nascido em Luanda, Angola. É amplamente reconhecido por sua obra literária diversa e inovadora, que abrange romances, contos, poemas e ensaios. Sua escrita é marcada por uma profunda reflexão filosófica e um estilo único, que frequentemente desafia as convenções narrativas tradicionais. Tavares conquistou diversos prêmios literários, tanto em Portugal, onde vive, quanto internacionalmente, incluindo o Prêmio Literário José Saramago, pelo seu romance Jerusalém (2004), e o Prêmio Oceanos, pelo livro O osso do meio (2020). Sua obra não apenas explora temas existenciais e sociais, mas também revela uma crítica acurada das complexidades da condição humana e da sociedade contemporânea.
TAVARES, Gonçalo Manuel. Sobre a revolução: ginástica individual e colectiva. In: TAVARES, Gonçalo Manuel. O torcicologologista, excelência. Porto Alegre: Dublinense, 2022. E-book. p. 14-16. em 2017.
1. b) Espera-se que os estudantes percebam que o texto é construído com base na ironia, ou seja, é profundamente irônico.
1. Leia o trecho a seguir, retirado de uma entrevista de Gonçalo M. Tavares sobre a criação de seu livro.
Eu penso muito que a criação crítica sobre o contemporâneo é uma criação crítica sobre a linguagem, porque nas democracias grande parte das batalhas essenciais são linguísticas. E nós percebemos que a linguagem é uma máquina que pode funcionar de diferentes maneiras: uma máquina por vezes irônica, por vezes de manipulação, por vezes uma máquina de cercar, muitas vezes uma máquina de tentar explicar a realidade. Portanto a linguagem está sempre no centro da democracia.
TAVARES, Gonçalo Manuel. Batalhas essenciais da democracia são linguísticas, afirma Gonçalo Tavares. Entrevista cedida a Paulo Henrique Pompermaier. Cult, São Paulo, 26 jun. 2017. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/ batalhas-essenciais-da-democracia-sao-linguisticas-goncalo-tavares/. Acesso em: 16 set. 2024.
a) Gonçalo M. Tavares diz que, nas democracias, as batalhas são linguísticas, ou seja, é preciso que haja uma crítica da linguagem. No excerto que você leu, é possível identificar o uso da linguagem de forma não crítica?
Sim, um dos personagens diz ao outro para
repetir palavras sem saber por que as está dizendo e fazer gestos por pura imitação.
b) Ele afirma também que a linguagem pode funcionar de diversas maneiras: como máquina irônica, como manipulação, como explicação da realidade. No excerto lido, em qual dessas categorias você classificaria o modo como a linguagem foi utilizada?
2. O título do excerto e as personagens estabelecem uma relação entre fazer revolução e fazer ginástica.
a) Que semelhanças haveria entre ambas?
Tanto revolução quanto ginástica poderiam ser feitas com braços levantados que se agitam no ar, e com mãos que abrem e fecham.
b) A comparação entre ginástica e revolução sugere uma crítica mordaz a algumas manifestações sociais contemporâneas. Copie no caderno a alternativa que explica qual é a crítica.
I. Critica-se um tipo de manifestação que se faz com gestos muito coreografados, que desviam o foco das palavras de ordem indicadas pelos líderes dos movimentos sociais.
II. Criticam-se manifestações que são esvaziadas de sentido, com integrantes que se aglomeram mais para participar de um evento do que para defender causas ou ideias.
III. C riticam-se manifestações cujo objetivo seja o esvaziamento do significado dos gestos, pois os movimentos coreografados seriam o foco daquilo que se reivindica.
Resposta: alternativa II
3. É possível identificar como uma das personagens entende o que seria revolução.
a) No caderno, copie do texto um trecho que evidencie esse modo de entender o termo revolução.
“— Ou seja: uma coisa é movimentares o teu corpo; outra, bem diferente, é movimentares o mundo.”
b) Segundo esse entendimento, que efeito se espera de uma revolução?
A concepção de que a mudança social seria fazer o mundo se movimentar, mudar ou se transformar.
c) L evando em conta o que disse Gonçalo M. Tavares na entrevista, por que é possível dizer que essa conversa pode ser situada na categoria de linguagem usada como máquina irônica?
Porque o texto não está construído na perspectiva de conceituar o que é uma revolução, mas de discutir a função da linguagem nas democracias. Professor, ajude os estudantes a entender que esse texto não pode ser interpretado literalmente. Ele não trabalha com a noção de valores morais nem expressa nenhuma preocupação com verdades.
4. Além dos movimentos corporais como base de uma revolução ginástica, o diálogo apresenta também a necessidade do grito de palavras de ordem. Que palavras se espera que sejam gritadas em um movimento revolucionário?
Palavras que representem aquilo que está sendo criticado ou o que se sugere como solução.
5. O trecho ainda aponta para uma distinção entre o que pertenceria à esfera individual e à esfera coletiva.
a) No texto, essa distinção também é vazia de sentido. Por quê?
Porque, quando se propõe um grito individual, ele repete o grito de todos; quando se propõe algo coletivo, ele se limita também à repetição de gestos.
b) Releia: “— […] Ou então imitas o tom de voz de quem está ao teu lado, mas dizes algo diferente”. De que forma essa proposta invalida uma ideia de coletividade?
Se todos em uma revolução repetirem um tom de voz, mas reivindicarem pautas diferentes, não há movimento coletivo: apenas reivindicações individuais.
6. O texto começa e termina com as personagens dizendo que estão indo para o centro.
a) O centro, no diálogo, tem uma localização geográfica. Qual é ela?
A praça central de um lugar qualquer, não identificável no texto.
b) A palavra centro tem outro sentido quando se refere ao contexto político das revoluções. Que sentido tem nesse contexto?
O centro, na política, indica posições que recusam extremismos ideológicos.
c) Troque ideias com os colegas: é possível ser revolucionário no centro? Justifique sua resposta.
Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes reconheçam que, em geral, as pautas centristas, que não cultivam extremismos, não fazem revoluções.
7. No texto, o discurso é construído para ironizar certas posições que se dizem revolucionárias.
• Retome características do texto que mostrem essa visão irônica.
Todas as instruções que são dadas sobre como fazer uma revolução são irônicas.
8. O capítulo que você leu apresenta apenas um diálogo entre as personagens e não há narrador.
a) Que efeito essa forma de construção cria?
O diálogo cria dinamismo no texto e coloca o leitor no presente da cena.
b) C aso houvesse um narrador nessa cena, que tipo de informações ele poderia apresentar?
Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes indiquem maior contextualização bem como descrição de cenário e caracterização de personagens.
Trechos narrativos compostos exclusivamente de diálogos criam um senso de imediatismo e realismo, colocando o leitor diretamente no centro da interação entre as personagens. Esse recurso pode aumentar a tensão e a intensidade da cena, ao mesmo tempo que convida o leitor a interpretar subtextos e ler nas entrelinhas, tornando a experiência de leitura mais engajante e participativa.
ENTÃO...
Não é de hoje que a prosa se utiliza de recursos inventivos para refletir sobre as demandas mais urgentes da sociedade. Assim, também a prosa contemporânea vem fazendo uma crítica que se dá não apenas pelos sentidos de um texto, mas também por meio das escolhas formais, como o diálogo irônico e sarcástico do trecho. A seguir, você vai conhecer mais sobre a prosa realista-naturalista de Portugal e como ela propõe uma mudança estética radical na segunda metade do século XIX para a criação de um contexto favorável a mudanças sociais e políticas.
A intensa dependência que Portugal acabou desenvolvendo em relação à Inglaterra, aliada, entre outros fatores, à guerra civil portuguesa que colocou em disputa ideais conservadores e monárquicos contra a lógica liberal e burguesa, impediu que o país acompanhasse o acelerado ritmo de desenvolvimento que estava sendo experimentado por outros países da Europa. Com a vitória dos burgueses, Portugal mergulhou em um contexto de atraso e corrupção, que produziu fome e problemas sociais que se mostravam cada vez mais agudos. Foi nesse ambiente que se deu a ruptura com os valores românticos, que atingiu não apenas a literatura e as artes. O movimento realista e naturalista em Portugal propunha soluções e saídas para o país se livrar dos excessos e das idealizações que o Romantismo defendeu.
Para lembrar
1 O Romantismo foi um movimento estético que representou os ideais individualistas do século XIX. Que relação se pode estabelecer entre a estética romântica e os ideais burgueses?
Para discutir
1 Que consequências uma postura individualista traz para a sociedade?
2 D e que forma os avanços científicos e tecnológicos da metade do século XIX permitiriam uma ruptura com a lógica do Romantismo? Se necessário, volte à Unidade 1 para lembrar esses avanços.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A seguir você vai ler alguns trechos do primeiro capítulo do livro realista português O primo Basílio, de Eça de Queirós. Nesse romance, Luísa, uma jovem burguesa, é casada com Jorge, mas, quando seu primo Basílio retorna a Lisboa após anos de ausência, ela inicia com ele uma relação adúltera. Quando Jorge viaja a trabalho, Luísa e Basílio intensificam sua relação, desencadeando uma série de eventos que culminam em uma chantagem. A criada Juliana descobre a correspondência entre os amantes e usa essa informação para extorquir Luísa, levando-a ao desespero e à doença.
Texto
Estavam casados havia três anos. Que bom que tinha sido! Ele próprio melhorara; achava-se mais inteligente, mais alegre... E recordando aquela existência fácil e doce, soprava o fumo do charuto, a perna traçada, a alma dilatada, sentindo-se tão bem na vida como no seu jaquetão de flanela!
— Ah! — fez Luísa de repente, toda admirada para o jornal, sorrindo.
— Que é?
— É o primo Basílio que chega! — E leu alto, logo:
— ‘Deve chegar por estes dias a Lisboa, vindo de Bordéus, o Sr. Basílio de Brito, bem conhecido da nossa sociedade. Sua Excelência que, como é sabido, tinha partido para o Brasil, onde se diz reconstituíra a sua fortuna com um honrado trabalho, anda viajando pela Europa desde o começo
do ano passado. A sua volta à capital é um verdadeiro júbilo para os amigos de Sua Excelência que são numerosos.’
[…]
Olhou os anúncios, bebeu um gole de chá, levantou-se, foi abrir uma das portadas da janela.
— Oh! Jorge, que calor que lá vai fora, Santo Deus! — Batia as pálpebras sob a radiação da luz crua e branca.
A sala, nas traseiras da casa, dava para um terreno vago, cercado de um tabuado baixo, cheio de ervas altas e de uma vegetação de acaso; aqui, ali, naquela verdura crestada do verão, largas pedras faiscavam, batidas do sol perpendicular; e uma velha figueira brava, isolada no meio do terreno, estendia a sua grossa folhagem imóvel, que, na brancura da luz, tinha os tons escuros do bronze. […]
[…]
— Bem, vou à vida — disse Jorge. Chegou-se ao pé dela, tomou-lhe a cabeça entre as mãos.
— Viborazinha! — murmurou, fitando-a muito meigamente.
Ela riu. Ergueu para ele os seus magníficos olhos castanhos, luminosos e meigos. Jorge enterneceu-se, pôs-lhe sobre as pálpebras dois beijos chilreados. […] […]
Luísa espreguiçou-se. Que seca ter de se ir vestir! Desejaria estar numa banheira de mármore cor-de-rosa, em água tépida, perfumada, e adormecer! Ou numa rede de seda, com as janelas cerradas, embalar-se, ouvindo música! Sacudiu a chinelinha; esteve a olhar muito amorosamente o seu pé pequeno, branco como leite, com veias azuis, pensando numa infinidade de coisinhas: em meias de seda que queria comprar, no farnel que faria a Jorge para a jornada, em três guardanapos que a lavadeira perdera...
Tornou a espreguiçar-se. E saltando na ponta do pé descalço, foi buscar ao aparador por detrás de uma compota um livro um pouco enxovalhado, veio estender-se na voltaire, quase deitada, e, com o gesto acariciador e amoroso dos dedos sobre a orelha, começou a ler, toda interessada.
Era a Dama das camélias. Lia muitos romances; tinha uma assinatura, na Baixa, ao mês. […] Mas agora era o moderno que a cativava: Paris, as suas mobílias, as suas sentimentalidades. […] [...]
Lembrou-lhe de repente a notícia do jornal, a chegada do primo Basílio...
Um sorriso vagaroso dilatou-lhe os beicinhos vermelhos e cheios. — Fora o seu primeiro namoro, o primo Basílio! Tinha ela então dezoito anos! Ninguém o sabia, nem Jorge, nem Sebastião...
[…]
Tinham muita liberdade, ela e o primo Basílio. A mamã, coitadinha, toda cismática, com reumatismo, egoísta, deixava-os, sorria, dormitava; Basílio era rico, então; chamava-lhe tia Jojó, trazia-lhe cartuchos de doce...
Veio o inverno, e aquele amor foi-se abrigar na velha sala forrada de papel sangue-de-boi da Rua da Madalena. […] Um dia veio o final. João de Brito, que fazia parte da firma Bastos & Brito, faliu. A casa de Almada, a quinta de Colares foram vendidas. Basílio estava pobre: partiu para o Brasil. Que saudades! […] […]
júbilo: contentamento. chilrear: emitir som semelhante a estalos.
farnel: saco ou bolsa onde se colocam alimentos. voltaire: poltrona.
Tinham passado três anos quando conheceu Jorge. Ao princípio não lhe agradou. Não gostava dos homens barbados; depois percebeu que era a primeira barba, fina, rente, muito macia decerto; começou a admirar os seus olhos, a sua frescura. E sem o amar sentia ao pé dele como uma fraqueza, uma dependência e uma quebreira, uma vontade de adormecer encostada ao seu ombro, e de ficar assim muitos anos, confortável, sem receio de nada. Que sensação quando ele lhe disse: ‘Vamos casar, heim!’ […] Estava noiva, enfim! Que alegria, que descanso para a mamã!
[…] Olhava muito para os maridos das outras, comparava, tinha orgulho nele. Jorge envolvia-a em delicadezas de amante, ajoelhava-se aos seus pés, era muito dengueiro. E sempre de bom humor, com muita graça, mas nas coisas da sua profissão ou do seu brio tinha severidades exageradas, e punha então nas palavras, nos modos uma solenidade carrancuda. Uma amiga dela, romanesca, que via em tudo dramas, tinha-lhe dito: ‘É homem para te dar uma punhalada’. Ela que não conhecia ainda então o temperamento plácido de Jorge, acreditou, e isso mesmo criou uma exaltação no seu amor por ele. Era o seu tudo — a sua força, o seu fim, o seu destino, a sua religião, o seu homem! Pôs-se a pensar, o que teria sucedido se tivesse casado com o primo Basílio. Que desgraça, heim! Onde estaria? Perdia-se em suposições de outros destinos, que se desenrolavam, como panos de teatro: via-se no Brasil, entre coqueiros, embalada numa rede […], vendo voar papagaios.
QUEIRÓS, Eça de. O primo Basílio. Belém: Unama: Nead, [200-]. E-book. p. 3-9. Disponível em: www.portugues.seed.pr.gov.br/arquivos/File/eca17.pdf. Acesso em: 16 set. 2024.
#SOBRE
Fotografia do autor em 1895.
Eça de Queirós (1845-1900) formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra e exerceu diversas funções diplomáticas. Amplamente reconhecido pelo seu estilo realista e crítico, que retrata a sociedade portuguesa da época com grande criticidade e humor ácido, escreveu, entre outras obras, O crime do Padre Amaro (1875), que denuncia a hipocrisia e a corrupção no clero; O primo Basílio (1878), uma crítica mordaz à burguesia lisboeta; e Os Maias (1888), considerada sua obra-prima, que descreve a decadência de uma família aristocrática ao longo de várias gerações. Sua escrita influenciou profundamente a literatura portuguesa e propôs uma nova visão dos costumes e das injustiças sociais de seu tempo.
1. Leia, no artigo a seguir, um trecho que trata do comportamento de algumas mulheres burguesas no século XIX.
O ócio entre as mulheres da elite burguesa e os novos hábitos de se ler romances e poemas gerou um público leitor eminentemente feminino, absorvido pelas novelas românticas e sentimentais, consumidas entre um bordado e outro, receitas de doce e confidências entre amigas. […]. As histórias de heroínas românticas, langorosas e sofredoras acabaram por incentivar a idealização das relações amorosas e das perspectivas de casamento. Como suportar, depois de tantas leituras sobre heroínas edulcoradas, depois de tantos suspiros à janela, a rotina da casa, dos filhos, da insensibilidade e do tédio.
ANDRADE, Maria Celeste de Moura. O século XIX: o mundo burguês, o casamento, a nova mulher: o contexto histórico dos romances Madame Bovary, Ana Karenina, O primo Basílio e Dom Casmurro. Evidência, Araxá, v. 8, n. 9, p. 63-80, 2013. p. 73. Disponível em: https://ojs.uniaraxa.edu.br/index.php/evidencia/article/view/412/391. Acesso em: 16 set. 2024.
• E xplique por que é possível afirmar que Luísa é uma representação da elite burguesa do século XIX descrita nesse trecho.
Segundo o trecho transcrito do romance, o cotidiano de Luísa se resumia a frivolidades e à leitura de romances que alimentavam o sonho com um tipo de relacionamento, improvável na vida real.
2. Como um modelo romântico de mulher, Luísa se casa e leva uma vida doméstica típica de sua classe social.
2. b) Porque sua rotina só era possível por não precisar trabalhar e ter muito luxo disponível; isso é apresentado de forma frívola e exagerada.
a) Como era a rotina de Luísa em seu cotidiano doméstico e burguês?
b) A descrição dessa rotina apresenta já uma crítica à classe a que ela pertencia. Por quê?
2. a) Luísa lia jornais e livros, descansava e sonhava. Professor, é importante destacar que Luísa fazia parte de uma pequena burguesia provinciana, como era toda a burguesia de Portugal. Esse é o motor do deslumbramento que Basílio causa nela na sequência, uma vez que ele é profundamente cosmopolita e está chegando da França.
5. a) Porque Jorge, além de ser considerado fisicamente bonito, tinha uma postura devota a Luísa, com dengos e atitudes de homem apaixonado, mas que também sabe cobrar da esposa uma posição servil.
5. b) A amiga também é descrita como romântica e projeta em Jorge atitudes intempestivas que ele não apresentava de fato, tendo em vista que era severo apenas em seu ofício, e não no cotidiano doméstico.
3. Luísa é a típica mulher romântica, e suas características físicas e comportamentais permitiriam que fizesse parte de enredos românticos.
a) Q ue descrições físicas o trecho apresenta de Luísa? Que imagem essas descrições criam da personagem?
b) O que podem sugerir as veias azuis dos pés de Luísa?
4. Luísa idealiza uma condição de vida no Brasil.
O desejo de estar se banhando em uma banheira de mármore cor-de-rosa ou de descansar em uma rede de seda.
c) L uísa gasta seu tempo com certas futilidades que reforçam ainda mais sua superficialidade romântica. Identifique exemplos dessas futilidades.
a) Copie, no caderno, o trecho que revela isso e explique o que pode ser considerado clichê nessa idealização de Luísa.
“[…] via-se no Brasil, entre coqueiros, embalada numa rede […], vendo voar papagaios.” Os clichês dizem respeito ao exotismo da paisagem, marcada por coqueiros e papagaios, levando uma vida de privilégios.
b) Que característica da personagem essa idealização reforça?
5. Jorge também é uma personagem que ainda apresenta características românticas.
a) Por que é possível considerar Jorge um modelo dos heróis de romances românticos?
4. b) Reforça sua alienação, sua frivolidade, seu romantismo como mulher da elite sem preocupações.
b) Uma amiga de Luísa confessa-lhe que considerava Jorge “homem para te dar uma punhalada”. O que teria levado a amiga a essa consideração sobre o marido de Luísa?
c) Jorge chama Luísa de viborazinha . Que sentido se pode dar a esse modo de ele se dirigir à esposa?
d) De que forma essas características de Jorge podem influenciar a sequência de eventos do enredo com a chegada do primo Basílio a Portugal? Formule uma hipótese.
6. Basílio é um personagem tipicamente realista.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
5. c) Trata-se de um elogio, já que, ao dizer isso, olha para ela meigamente; o substantivo está no diminutivo como forma de amenizar o sentido original de víbora.
a) Que comportamentos de Basílio o afastam das características de uma personagem romântica e o aproximam de uma personagem realista?
5. d) Resposta pessoal. Uma hipótese: Jorge, por ser plácido e passivo, não vai ter a sagacidade de perceber a traição que irá se consolidar entre a esposa e o primo dela.
b) C ertas atitudes da mãe de Luísa também a aproximam das características das personagens realistas. Copie, no caderno, a alternativa que indica a construção realista dessa personagem.
I. A mamã procurava proteger sua filha criando contextos nos quais ela poderia preservar sua dignidade e honra à espera de um casamento.
II. Em troca de presentes e da possibilidade de um casamento lucrativo, a mamã permitia que a filha ficasse a sós com Basílio, que, naquele momento, era rico.
III. Jojó, a mãe de Luísa, planejava com Basílio alternativas para que ele conseguisse o amor da prima, tendo em vista que ele havia ficado pobre e precisava desse casamento.
Resposta: alternativa II.
Na literatura realista, a descrição desempenha um papel fundamental; ela ajuda a construir um universo verossímil em que as motivações e ações das personagens são moldadas por suas circunstâncias sociais e seus interesses. Além disso, a descrição realista não apenas retrata a realidade; ela cria situações ficcionais verossímeis e também revela as nuances psicológicas das personagens, contribuindo para um retrato do universo interior moldado pela lógica egocêntrica da burguesia.
7. a) A aparência de Jorge não lhe agradou, mas depois ela desenvolve uma dependência, percebe que teria conforto, segurança e passa a ter orgulho de Jorge, mas não sentia amor.
6. a) Basílio abusava de sua riqueza e levava presentes à mãe de Luísa para conseguir ficar a sós com ela, diferentemente de um herói romântico, que não recorreria a subornos para ficar com a amada.
7. Na lógica romântica, os sentimentos são a força motriz do enredo. No Realismo, esses sentimentos são expostos como forma de revelar os verdadeiros interesses individualistas por trás deles.
a) O t recho faz um retrato do início da relação de Jorge e Luísa. Que sentimentos ela nutria por ele?
b) Se, na lógica burguesa romântica, o amor é o que une as personagens e leva-as ao casamento, o que une Luísa e Jorge? “[…] magníficos olhos castanhos, luminosos e meigos”, “seu pé pequeno, branco como leite, com veias azuis”, “beicinhos vermelhos e cheios”. Criam uma imagem de delicadeza, nobreza, beleza, vivacidade. As veias azuis sugerem que ela tem “sangue azul”, expressão usada para se referir a alguém da realeza.
Luísa aparenta se casar com Jorge em busca da segurança que ele representava.
9. b) Luísa e Juliana são personagens que representam a burguesia portuguesa na lógica dos exploradores e dos explorados e, nos dois casos, apresentam comportamentos inadequados, característicos da sociedade burguesa, que se mostrava corrompida.
8. Enquanto Luísa vive em um mundo de privilégios, futilidades, sendo cuidada e servida, Juliana vive sendo explorada e, por mais que trabalhe e economize, fica sugerido que nunca conseguirá sair de sua condição e de sua classe social.
8. Ao longo do romance, uma personagem começa a ganhar cada vez mais importância: Juliana, uma das empregadas de Luísa. Leia a seguir um trecho que conta um pouco de seu passado.
Servia, havia vinte anos. Como ela dizia, mudava de amos, mas não mudava de sorte. Vinte anos a dormir em cacifos, a levantar-se de madrugada, a comer os restos, a vestir trapos velhos, sofrer os repelões das crianças e as más palavras das senhoras, a fazer despejos, a ir para o hospital quando vinha a doença, a esfalfar-se quando voltava a saúde!... Era demais! […] Nunca se acostumara a servir. Desde rapariga a sua ambição fora ter um negociozito, uma tabacaria, uma loja de capelista ou de quinquilharias, dispor, governar, ser patroa; mas, apesar de economias mesquinhas e de cálculos sôfregos, o mais que conseguira juntar foram sete moedas ao fim de anos; tinha então adoecido; com o horror do hospital fora tratar-se para casa de uma parenta; e o dinheiro, ai! derretera-se!
QUEIRÓS, Eça de. O primo Basílio. Belém: Unama: Nead, [200-]. E-book. p. 45. Disponível em: www.portugues.seed.pr.gov.br/arquivos/File/eca17.pdf. Acesso em: 16 set. 2024.
• Juliana é uma personagem que apresenta uma visão realista ao representar o outro lado da lógica burguesa: a exploração. De que forma esse trecho contrasta com a visão de mundo romântica de Luísa?
9. Luísa inicia um relacionamento com Basílio e estabelece com ele uma troca intensa de cartas. Em determinado momento, Juliana encontra algumas dessas cartas. Leia o trecho a seguir.
— A senhora bem sabe que se eu guardei as cartas, para alguma coisa era! Queria pedir ao primo da senhora que me ajudasse! Estou cansada de trabalhar, e quero o meu descanso. Não ia fazer escândalo; o que desejava é que ele me ajudasse... […] Raios me partam, se não houver uma desgraça nesta casa, que há de ser falada em Portugal!
— Quanto quer você pelas cartas, sua ladra? — disse Luísa, erguendo-se, direita, diante dela.
Juliana ficou um momento interdita.
— A senhora ou me dá seiscentos mil réis, ou eu não largo os papéis! — respondeu, empertigando-se.
— Seiscentos mil réis! Onde quer você que eu vá buscar seiscentos mil réis?
— Ao inferno! — gritou Juliana. — Ou me dá seiscentos mil réis, ou tão certo como eu estar aqui, o seu marido há de ler as cartas!
QUEIRÓS, Eça de. O primo Basílio. Belém: Unama: Nead, [200-]. E-book. p. 177-178. Disponível em: www.portugues.seed.pr.gov.br/arquivos/File/eca17.pdf. Acesso em: 16 set. 2024.
a) Considere os trechos que você leu e as discussões realizadas até agora e, no caderno, explique o que motiva as ações das personagens: Luísa, Juliana, Basílio e Jorge.
b) A s personagens estão envolvidas em traições e chantagens. Por meio dessas personagens, o romance faz uma crítica à sociedade liberal de Portugal. Explique de que maneira essa crítica aparece.
O crime do padre O crime do Padre Amaro, publicado em 1875, é uma das obras mais controversas e impactantes de Eça de Queirós, e provocou muita polêmica na sociedade portuguesa da época. O romance conta a história de Amaro, um jovem padre que se envolve em um relacionamento ilícito com Amélia, que resulta em tragédia. A obra faz uma crítica ao clero, expondo-o como poder político e social profundamente corrupto. Esse retrato cru e realista da vida clerical gerou indignação e reações adversas entre os conservadores, ao mesmo tempo que foi aplaudido por progressistas, que viam na crítica de Eça um chamado à reforma e à modernização da sociedade portuguesa.
QUEIRÓS, Eça de. O crime do padre Amaro. 1. ed. São Paulo: Principis, 2020. Reprodução da capa.
9. a) Luísa: o desejo de se casar e a atração por Basílio. Juliana: o interesse em conseguir dinheiro para escapar de sua vida de exploração. Basílio: o interesse em dinheiro e desejo sexual. Jorge: aparentemente, amor por Luísa.
2. Professor, oriente os estudantes a refletir sobre o modo como a literatura, embora seja uma ficção e não precise ter rigor no registro da realidade, pode ajudar a entender mais sobre determinados períodos ao lançar novos olhares e reflexões sobre a história.
1. Professor, algumas sugestões são: A filha do capitão, de José Rodrigues dos Santos, centrado em Portugal na época da primeira guerra; Memorial do convento, de José Saramago, que aborda a construção do Convento de Mafra no século XVIII; A lenda de Martim Regos, de Pedro Canais, que revisita a história medieval; Meu Portugal brasileiro, de José Jorge Letria, que trata das invasões francesas e da fuga da família real; D. Sebastião e o vidente, de Deana Barroqueiro, focado no mito do desaparecimento de D. Sebastião.
A literatura desempenha um papel fundamental na história dos povos e culturas, servindo como um registro das experiências, dos valores e das crenças de diferentes sociedades ao longo do tempo. Em Portugal, por exemplo, uma obra como Os Lusíadas (1572), de Luís Vaz de Camões, não apenas celebra as glórias das explorações marítimas portuguesas mas também preserva a memória cultural e histórica do país. Esse épico retrata os feitos heroicos dos navegadores portugueses, transmitindo uma visão de coragem e aventura que molda a identidade coletiva da nação. Por meio de contos, poemas, romances e outras formas literárias, é possível transmitir tradições, mitos e histórias que conectam gerações e mantêm vivas as raízes históricas e culturais.
Além de ser um repositório de conhecimento e memória cultural, a literatura também atua como um agente de mudança social e reflexão crítica. Pela literatura, vozes marginalizadas podem ser ouvidas, promovendo-se empatia e compreensão entre diferentes grupos sociais. Assim, a literatura portuguesa não apenas reflete a sociedade mas também tem o poder de transformá-la, inspirando movimentos sociais e influenciando o curso da história.
Não escreva no livro.
1. Pesquise, em dupla com um colega, sobre outros romances portugueses que façam referência à história de Portugal. Leia um deles ou, pelo menos, leia um resumo de seu enredo.
2. Compartilhe, com a dupla, os resumos dos romances em sala de aula e discuta como esses romances podem ajudar na construção de um panorama histórico maior da história de Portugal ou de qualquer nação.
Romântico ou realista?
Antero de Quental (1842-1891) teve uma vida marcada por intensas atividades literárias e políticas, sendo um crítico fervoroso da sociedade e das instituições de seu tempo. Ele foi uma peça-chave na Questão Coimbrã, uma polêmica literária que opôs jovens escritores realistas aos literatos românticos mais conservadores, defendendo uma literatura mais alinhada com as questões contemporâneas e de caráter social. Sua obra reflete uma profunda inquietação espiritual e uma busca incessante por sentido e justiça.
A poesia de Antero de Quental oscila entre o Romantismo e o Realismo, revelando tanto a introspecção melancólica quanto a análise crítica da realidade social. Essa dualidade em sua poesia ilustra a complexidade de seu pensamento, combinando a introspecção do Romantismo com a análise objetiva e crítica do Realismo, fazendo de Antero de Quental uma figura singular e multifacetada na literatura portuguesa.
do autor em 1864.
1. Agora é sua vez de conhecer mais sobre a obra desse poeta. Para tanto, procure por seus poemas na internet, disponibilizados em sites de instituições públicas, e selecione alguns poemas para leitura.
2. Depois da leitura, em uma aula específica combinada com o professor, leia o poema para a turma e, juntos, analisem todos os poemas lidos de forma a elaborar uma coletânea do autor que apresente uma divisão temática e estética entre os poemas, relacionando-os ao Romantismo e ao Realismo.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A burguesia portuguesa, que se fortaleceu no início do século XIX, desempenhou um papel importante na configuração do cenário político e econômico do país, dando início a uma era marcada por atraso, corrupção, miséria e fome. Impulsionada pelos ideais liberais e pela Revolução Industrial, a burguesia buscou consolidar seu poder político e econômico em Portugal, muitas vezes adotando práticas corruptas e alianças questionáveis. O período foi caracterizado pela má gestão dos recursos públicos, pelo favorecimento de interesses particulares e pela negligência em relação às necessidades das camadas mais pobres da população.
HISTORIC IMAGES/ALAMY/FOTOARENA/COLEÇÃO PARTICULAR
A Questão Coimbrã foi um conflito literário e ideológico ocorrido em Portugal na década de 1860, que refletiu uma transformação significativa tanto na literatura quanto na política portuguesa. Confrontando defensores da tradição romântica e jovens escritores reformistas, liderados por Antero de Quental, o debate opôs o conservadorismo às novas ideias progressistas. Antero, ao criticar a falta de originalidade e o conservadorismo dos românticos, defendia uma literatura mais comprometida com a realidade social e com os problemas contemporâneos, alinhando-se aos ideais republicanos e democráticos, que ganhavam força na política portuguesa. Esse episódio marcou o início de uma era de renovação cultural e ideológica, preparando terreno para mudanças políticas significativas e a emergência de uma sociedade mais crítica e engajada com as questões sociais.
Participantes das Conferências Democráticas. Da esquerda para a direita: Eça de Queirós, Oliveira Martins, Antero de Quental, Ramalho Ortigão e Guerra Junqueiro, em 1871.
As Conferências Democráticas no Cassino Lisbonense , realizadas em 1871 e organizadas por um grupo de intelectuais progressistas, como Antero de Quental, Eça de Queirós e Oliveira Martins, tinham como objetivo discutir e promover ideias de renovação política e social em Portugal. Essas conferências surgiram em um contexto de insatisfação com a monarquia e com o sistema político vigente, caracterizado por corrupção e ineficiência. Inspiradas pelo Positivismo e por correntes de pensamento europeias, as conferências abordaram temas como a educação, a liberdade de imprensa, a reforma agrária e a modernização do país.
O Realismo em Portugal surge na segunda metade do século XIX, como reação ao Romantismo e à condição da sociedade portuguesa, que era avaliada como deteriorada. Influenciado pelo contexto socioeconômico e político da época, marcado pelas mudanças sociais decorrentes da urbanização e pela crescente insatisfação com a monarquia constitucional, o Realismo tem como projeto revelar as injustiças, as desigualdades e a hipocrisia da sociedade portuguesa, desenvolvendo uma literatura mais engajada e reflexiva.
As características da estética realista incluem uma descrição minuciosa e detalhada dos ambientes, personagens e situações, a valorização da vida cotidiana e a exploração dos aspectos sociais e psicológicos das personagens. Os autores realistas focam a observação e a verossimilhança, procurando retratar a vida sem idealizações ou exageros. As obras realistas frequentemente abordam temas como a corrupção, a desigualdade social, a opressão das classes trabalhadoras e os conflitos morais e éticos enfrentados pelas pessoas comuns. A linguagem é clara e precisa, com um estilo narrativo objetivo que evita o sentimentalismo. Eça de Queirós é a figura mais proeminente do Realismo português, conhecido por obras que criticam a sociedade e os costumes de sua época. Seus romances combinam análise social aguçada com um estilo narrativo envolvente e crítico.
Além de Eça, outros autores realistas se destacaram em Portugal, como Ramalho Ortigão (1836-1915), que escreveu uma série de textos satíricos que criticavam a sociedade portuguesa chamada de As farpas (entre 1871 e 1872). Júlio Dinis (1836-1871), embora muitas vezes associado ao Romantismo, apresentou elementos realistas em suas descrições da vida rural em obras como As pupilas do Senhor Reitor (1867). Entre as escritoras, Ana de Castro Osório (1872-1935) destacou-se por suas obras que abordavam questões sociais e feministas, trazendo uma perspectiva crítica e realista sobre o papel das mulheres na sociedade portuguesa.
Essas vozes contribuíram para a riqueza e a diversidade do Realismo literário em Portugal e influenciaram a adoção de uma postura crítica que persistiu na literatura portuguesa. Esses ecos são encontrados na literatura contemporânea do país, a qual propõe não apenas uma revisão de episódios da história mas também reflete, com olhar crítico, sobre novas possibilidades sociais, além de inovar os gêneros adotando procedimentos formais imprevistos. É o que faz, por exemplo, Gonçalo M. Tavares em sua obra O torcicologologista, excelência.
#SOBRE
O Realismo tinha como uma de suas principais características a valorização do cientificismo e da objetividade narrativa. O Simbolismo português, surgido no final do século XIX, foi caracterizado por uma reação contra essa tendência. Influenciado pelo Simbolismo francês, esse movimento priorizava a subjetividade, a musicalidade e o uso de símbolos para expressar estados de alma e emoções profundas. Os poetas simbolistas portugueses buscaram explorar o inconsciente, os sonhos e o mistério, utilizando uma linguagem rica em imagens sugestivas e sinestésicas. O Simbolismo teve uma importância crucial na renovação da poesia portuguesa, preparando o terreno para o Modernismo e influenciando gerações subsequentes de escritores.
Camilo Pessanha é um dos mais importantes poetas simbolistas portugueses. Seus poemas criam uma atmosfera onírica e introspectiva, que convida o leitor a explorar as profundezas da alma humana. Sua contribuição foi essencial para a consolidação do Simbolismo em Portugal, e sua influência é sentida até hoje na literatura portuguesa.
Leia o poema a seguir para conhecer um pouco da poesia de Camilo Pessanha. Imagens que passais pela retina
Dos meus olhos, por que não vos fixais?
Que passais como a água cristalina
Por uma fonte para nunca mais!...
Ou para o lago escuro onde termina
Vosso curso, silente de juncais,
E o vago medo angustioso domina,
— Por que ides sem mim, não me levais?
silente: silencioso.
juncal: aglomerado de juncos.
Sem vós o que são os meus olhos abertos?
— O espelho inútil, meus olhos pagãos! Aridez de sucessivos desertos...
Fica sequer, sombra das minhas mãos, Flexão casual de meus dedos incertos, — Estranha sombra em movimentos vãos.
PESSANHA, Camilo. [Imagens que passais pela retina]. In: PESSANHA, Camilo. Clepsidra e outros poemas. Lisboa: Ática, 1969. p. 207-208.
Camilo Pessanha (1867-1926) foi um poeta português cujas obras são consideradas fundamentais no Simbolismo português. Formado em Direito, viveu grande parte de sua vida em Macau, China, onde trabalhou como professor e advogado. Sua produção poética, embora não extensa, explora temas como a transitoriedade da vida, a dor e o desencanto e é marcada por uma profunda melancolia e musicalidade. Seu livro mais conhecido, Clepsidra, publicado em 1920, reúne a maioria de seus poemas, refletindo sua visão de mundo fragmentada e introspectiva.
1. O soneto é um diálogo entre o eu lírico e as imagens da retina. a) O que intriga o eu lírico a ponto de ele questionar essas imagens?
b) Com o que ele compara essa efemeridade das imagens?
Fotografia do poeta em 1922.
A constatação do quanto essas imagens são efêmeras.
Ele a compara com as águas cristalinas de uma fonte que sempre seguem o seu curso.
2. É possível dizer que alguns recursos de linguagem usados no poema permitem fazer uma analogia com o que ocorre na vida? Explique.
Espera-se que os estudantes concluam que é possível. A vida pode ser entendida como água cristalina que passa por uma fonte e não retorna (nunca mais). A morte pode estar simbolizada por palavras que remetem à imobilidade, à aridez: lago escuro (onde termina), desertos.
Você saberia responder à pergunta: o que é a realidade? Comumente, ela é entendida como aquilo que existe fora da mente de cada indivíduo, além de sua realidade subjetiva.
Na Filosofia, o conceito foi pensado de formas diferentes por diferentes pensadores. Platão (c. 427 a.C.347 a.C.), por exemplo, criou a alegoria da caverna: nela, vive um grupo de prisioneiros acorrentados, voltados para a parede onde podem ver projetadas sombras de pessoas que, fora da caverna, se movimentam diante de uma fogueira. Para Platão, a realidade está no mundo das ideias, o que se vê são apenas sombras, uma vez que, limitados pelos sentidos, temos uma experiência corrompida e contingente da verdade. Já o filósofo alemão Hegel (1770-1831) definiu a realidade como a unidade entre essência e existência, entre o interno e o externo.
O conceito aplicado à obra literária não poderia ser menos polêmico. O movimento realista que você estudou nesta unidade se propunha a representar a realidade “tal como ela é”. Mas como ela é, afinal?
O filólogo alemão Erich Auerbach (1892-1957), autor de Mimesis , um dos mais importantes livros de crítica literária, não constrói uma definição única de realismo. Na visão dele, há diferentes realismos, respeitando aquilo que cada momento histórico permite enxergar, valorizar e plasmar pela linguagem literária. Nessa perspectiva, pode-se entender que a realidade presente em qualquer obra literária – de qualquer período – será sempre um recorte, que passa pelo filtro do estilo e das intencionalidades do autor e de seu contexto de produção. Assim, a realidade será sempre retratada conforme as inclinações pessoais do autor e das questões com as quais se defronta no tempo e lugar em que vive.
Além dessa concepção, a representação da realidade pode também se apresentar sob aspectos completamente fora do mundo próximo dos indivíduos. Na história de Cinderela, por exemplo, sabe-se que a mágica da fada madrinha é pura fantasia, mas a narrativa alimenta a ideia de um amor que salva a heroína da maldade da madrasta, da solidão, do abandono, além de reforçar a crença de que os maus serão punidos e os bons, premiados.
Embora representem um mundo que o leitor sabe ser fantasioso, os fatos narrados são realidade durante a leitura, revelando um pacto entre o autor e o leitor de que, enquanto ficção, o narrado é realidade. Esse pacto depende da verossimilhança: ela é construída no interior da narrativa por um sem-número de efeitos estéticos, à medida que os acontecimentos vão se desenrolando. Analise o exemplo da Cinderela, e sua relação de causa e efeito.
Cinderela vai ao baile com sapato de cristal.
O príncipe se encanta com a beleza dela.
Cinderela sai correndo do baile antes que o encanto se acabe e deixa nas escadas do palácio seu sapato de cristal.
O príncipe procura e acha a dona do sapato.
Ainda que o leitor saiba que se trata de uma fantasia, a sequência lógica dos eventos garante a verossimilhança e confirma o pacto entre o autor e o leitor de que tudo é verdade enquanto ficção.
Além disso, essas histórias têm como fundamento sentimentos humanos como amor, medo, sofrimento, e valores como coragem e justiça. Essas obras também carregam traços da realidade em que foram produzidas – o enfretamento dos abusos sofridos pelos servos na Idade Média dos castelos, reis e rainhas.
Para pensar
1. Se fosse escrever um romance, que realidade você gostaria de inventar?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
De acordo com a Base Nacional Comum Curricular, versão de 2018, página 503, é enfatizado que, no Ensino Médio, a área de Linguagens e suas Tecnologias desenvolva nos estudantes o aprofundamento das “análises das formas contemporâneas de publicidade em contexto digital, a dinâmica dos influenciadores digitais e as estratégias de engajamento utilizadas pelas empresas”. Dessa forma, todos os usos relacionados à publicidade, propaganda e formas de engajamento em redes sociais apresentadas nesta coleção são para fins didáticos e seus usos em contexto social.
lER O MUNDO
Não escreva no livro.
No final do século XIX, debates literários em Portugal, eram, na verdade, debates sobre a política portuguesa. A Questão Coimbrã, por exemplo, divulgada em libretos publicados no país, apresentava novas propostas literárias e políticas para que Portugal se libertasse da idealização romântica. Essas ideias precisavam ser divulgadas para alcançar o maior número possível de cidadãos. Nesta seção, você vai ler mais sobre como divulgar ideias em propagandas e campanhas.
Para discutir
As propagandas divulgam ideias e práticas relacionadas a instituições oficiais e governamentais. Podem, por exemplo, divulgar posturas necessárias para qualquer cidadão, como respeito e empatia. Considerando isso, reflita com os colegas.
1 Você já teve algum direito pessoal desrespeitado? Qual foi?
2 Ao longo das últimas semanas, na mídia, houve a divulgação de algum caso que ganhou destaque de desrespeito a um direito do cidadão?
3 Por que as leis não bastam para assegurar os direitos e o respeito pelo outro?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A seguir, você vai ler peças de uma campanha de 2017 da Câmara Municipal de Lisboa, que tinha como objetivo fazer propaganda dos direitos humanos. Essas peças foram divulgadas na internet, além de espalhadas pela cidade. Mas antes, leia uma notícia sobre a campanha de conscientização.
Texto
Vereador de Lisboa:
“É preciso fazer marketing com os Direitos Humanos. Vender como se vende um produto”
Bullying, igualdade de gênero, conciliação da vida profissional e familiar ou respeito pelos idosos. A câmara de Lisboa lança uma campanha para mostrar que respeitar os Direitos Humanos traz benefícios à cidade.
As mãos são as protagonistas da campanha.
Tal como a necessidade de não deitar lixo nas ruas, de manter os jardins da cidade limpos ou de pagar os transportes públicos, é preciso também alertar os munícipes para a necessidade de proteger os Direitos Humanos – a reivindicação é de João Afonso, vereador dos Direitos Sociais da Câmara Municipal de Lisboa.
O pelouro lança este mês a campanha “Os Direitos Humanos estão nas nossas mãos” com um objetivo: “O que nós queremos é sensibilizar todos os cidadãos de Lisboa – e quando digo isto refiro-me a todos os que vivem, trabalham e vêm a Lisboa – sobre a importância dos direitos humanos e dos direitos sociais. Cada um deles tem responsabilidades na sua implementação”, defende o responsável, em entrevista à RTP.
[…]
Esta campanha serve, pois, também como uma estratégia de marketing. O responsável assume-o: “Nós fizemos um caminho ao longo destes três anos, definimos um conjunto de planos e de estratégias. E temos a consciência de que é preciso fazer promoção pura e dura. Fazer marketing. Vender um produto que se chama direitos humanos e direitos sociais”, considera.
[…]
Mas quais são os benefícios práticos de uma campanha com este propósito? O que é que a cidade ganha com isto? “Podemos pensar que uma pessoa sem abrigo tem um custo para o Estado, só por existir. Podemos fazer as contas ao valor econômico que o Estado perde de cada vez que uma mulher ou um homem, em idade de trabalhar, morrem em contexto de violência doméstica. Mas é assim que se mede? Não é”, atira João Afonso. […]
A campanha vai estar nas ruas, nos terminais de multibanco, nos autocarros e também nas redes sociais. Em julho haverá uma exposição sobre Direitos Humanos.
RODRIGUES, Catarina Marques; PATRÍCIO, Nuno. Vereador de Lisboa: “É preciso fazer marketing com os Direitos Humanos. Vender como se vende um produto”. RTP Notícias, Lisboa, 27 jan. 2017. Disponível em: www.rtp.pt/noticias/pais/vereador-de-lisboa-e-preciso-fazer-marketing-com-os-direitos-humanos-vendercomo-se-vende-um-produto_n978548. Acesso em: 16 set. 2024. Grafia adaptada.
https://ephemerajpp.com/2018/03/17/camaramunicipal-de-lisboa-somos-os-direitos-que-temos/. Acesso em: 16 set. 2024.
1. a) O respeito aos direitos humanos, a promoção de valores como respeito, igualdade, inclusão, o combate a vários tipos de preconceito, a ética e o respeito pelo outro.
1. b) A Câmara mostra, com essa atitude, uma nítida preocupação com os direitos humanos. A sociedade lisboeta, por precisar de uma campanha como essa, demonstra que ainda é preconceituosa e desrespeitosa com as minorias.
1. A campanha da Câmara Municipal de Lisboa foi produzida para atender a demandas específicas do ano de 2017.
a) Que demandas motivaram a necessidade da produção de uma campanha como essa?
b) Problemas sociais, como os apontados pela campanha, sempre fizeram parte das relações humanas. A produção de uma campanha como essa revela características tanto da Câmara quanto da sociedade lisboeta. Que características podem ser atribuídas à Câmara? E à sociedade lisboeta?
c) A campanha circulou em 2017. Em sua opinião, ela se tornou desnecessária ou continua importante atualmente? Justifique.
Resposta pessoal.
2. Toda cidade conta com Secretarias que compõem o Poder Executivo municipal, como a Secretaria de Saúde, Transporte, Educação etc.
a) A campanha tem relação com alguma dessas esferas de poder? Se sim, qual ou quais?
b) Qual é a relevância de um governo se preocupar com questões relacionadas ao comportamento dos cidadãos?
Tem relevância porque diz respeito à convivência entre os munícipes, o que afeta a qualidade de vida de todos. Por meio de campanhas de conscientização como essa, minimizam-se situações de conflito e os direitos
3. Campanhas publicitárias são, geralmente, associadas à divulgação de produtos e serviços para o consumo, o que gera renda e coloca a economia de determinada região em movimento. A campanha Somos os direitos que temos, no entanto, não tem esse objetivo comercial; não se trata de publicidade, mas sim de propaganda.
a) O que é divulgado na campanha?
3. b) A imagem de mãos diferentes, de cores diferentes, colocadas em situação equivalente. Ideias: respeito aos direitos humanos e empatia. humanos são assegurados, o que favorece a busca de igualdade e pode minimizar gastos públicos com segurança.
b) Observe a primeira e a terceira peça da campanha. Que recurso sugere a ideia de igualdade?
O conceito de minorias, tão utilizado nos dias de hoje, não se refere a número de pessoas, mas a uma situação de desvantagem social. Embora algumas minorias possam ser numericamente a maioria de uma população, elas não têm pleno acesso aos direitos mais básicos do cidadão previstos pela Constituição Federal no artigo 6o, relacionados a educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia, transporte, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância, assistência.
Para saber mais sobre o tema, assista ao vídeo Quais são os direitos das minorias, de Gilberto Rodrigues, professor no curso de Relações Internacionais e na pós-graduação em Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal do ABC (disponível em: www.youtube.com/watch?v=Y5hoPS-mQsc; acesso em: 16 set. 2024).
Ícones representativos das chamadas “minorias”.
2. a) Professor, esta é uma oportunidade para explorar o modo como se organiza o Poder Executivo da cidade onde vivem os estudantes. Com que Secretarias conta? Que função teria cada Secretaria? Encaminhe uma pesquisa com a classe. Esclareça que, em geral, o Poder Executivo conta com uma Secretaria de Comunicação que se ocupa de campanhas como essa. Assim, embora a campanha toque em temas caros à Educação, ou a uma eventual Secretaria do Bem-estar Social, ela fica sob responsabilidade da Secretaria de Comunicação.
Professor, há quem tome publicidade e propaganda como sinônimos. Este material considera produtiva a distinção porque emprega o termo peças com intencionalidade distinta. Peças de publicidade usam ideias e valores como estratégia de persuasão; por exemplo, o carro X pode conferir poder e status; a roupa Y vai fazer você se sentir bonito, mas o objetivo é vender – o carro, a roupa etc. –, e não divulgar ou defender essas ideias. Já a propaganda tem a divulgação da ideia como fim: faça exercícios, leia livros, por exemplo, e não está diretamente associada a produtos.
A publicidade vende produtos e serviços de valor comercial. A propaganda divulga ideias, valores. Tem como objetivo fazer circular uma mensagem para influenciar opiniões e práticas ou obter adesão para uma ideia ou doutrina.
Tanto a publicidade quanto a propaganda também contam com peças. O conjunto de peças formado por cartazes, folhetos, fôlderes, vídeos e outros anúncios em diferentes mídias compõe uma campanha
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
4. Releia o título e o slogan da campanha Somos os direitos que temos.
a) E xplique o sentido produzido pelo slogan da campanha.
4. a) Como a campanha se refere aos direitos humanos mais básicos, todo cidadão seria o resultado desses direitos garantidos: a somatória de características identitárias advindas de uma boa saúde, educação, alimentação, moradia etc.
b) O que justifica a elaboração de um slogan que destaca direitos já previstos em lei?
c) A quais direitos básicos dos seres humanos essa campanha se refere?
5. Imagens de mãos ocupam o centro dos anúncios da propaganda.
• A s mãos são aqui tomadas como metonímia. De quê?
5. As mãos, como parte do corpo, representam o ser humano e, por extensão, o trabalho que pode ser feito para cuidar das pessoas e protegê-las, garantindo seus direitos. Com as mãos se trabalha e se luta: daí a relação metonímica.
Um anúncio publicitário e de propaganda pode ser composto das seguintes partes:
• texto não verbal: imagem que compõe o anúncio;
• título: uma frase de efeito;
4. b) Espera-se que os estudantes percebam que as leis não garantem comportamentos: garantem as punições. O
• texto publicitário: texto verbal no qual são apresentadas mais informações sobre o que é anunciado;
• logotipo: desenho e letras que simbolizam uma marca ou campanha;
objetivo da campanha é convencer as pessoas da necessidade de respeitar esses direitos não porque estão previstos em lei, mas porque são fundamentais para todos os seres humanos, e então mudem o comportamento.
• slogan: frase que resume a identidade de um produto ou campanha.
6. O objetivo da campanha analisada é provocar uma mudança no comportamento dos cidadãos lisboetas.
a) E xplique que recurso argumentativo é utilizado pelos anúncios que compõem a campanha de conscientização: tem apelo racional ou passional?
Espera-se que os estudantes percebam que a união de imagens e texto não indica um argumento apenas racional,
sustentado em dados e referências, mas apela para o impacto dos afetos.
b) Que afetos podem ser produzidos no leitor com essas campanhas?
Respostas possíveis: compaixão, culpa, vergonha, empatia, entre outros. Professor, considere as propostas dos estudantes discutindo que relação estabelecem entre o que selecionaram e as peças da campanha.
Todo anúncio publicitário e de propaganda tem como objetivo persuadir o leitor de determinada ideia, necessidade etc. Para isso, frequentemente utiliza recursos da linguagem poética como forma de destacar o texto dentre os demais que circulam nos diversos veículos. O poético pode estar tanto na linguagem verbal quanto na não verbal.
4. c) Refere-se à igualdade de gênero, direito à moradia, igualdade racial, e é contra a violência doméstica.
7. Considere a seguinte manchete.
Lisboa é a segunda
Professor, para exemplificar um recurso poético no plano das imagens, retome a observação da metonímia; e no plano verbal, da metáfora “amar não é magoar”.
Lisboa ocupa o 2o lugar do Top 10 das cidades europeias com maior crescimento no turismo de lazer. A capital portuguesa registou um aumento de 10,6% entre 2009 e 2017.
MURGEIRA, Raquel. Lisboa é a segunda cidade europeia com maior crescimento no turismo. Negócios. Jornal de Negócios, Lisboa, 27 jun. 2018. Disponível em: www.jornaldenegocios.pt/empresas/turismo---lazer/detalhe/lisboa-e-a-segundacidade-europeia-com-maior-crescimento-no-turismo. Acesso em: 16 set. 2024.
• Todos os anúncios da campanha analisada apresentam o texto em português, mas também em inglês. O que motivaria a produção de cartazes bilíngues como esses?
Espera-se que os estudantes percebam que, em uma cidade turística, muitas pessoas não são falantes da língua local. Incluir frases em inglês amplia o público e inclui os turistas passantes também como público-alvo da campanha.
2. a) Expressar um sentimento do enunciador com relação ao que diz.
2. b) Oh! indica indignação ou censura ao calor que faz fora da casa. Santo Deus! reforça a indignação e o inconformismo com o calor
Releia um trecho do romance O primo Basílio
1 Considere o trecho em destaque.
a) A que termo da oração o destaque se relaciona?
b) Que função essa expressão exerce no período?
Essa expressão explica uma condição da pessoa a que se refere.
2 Os termos em destaque cumprem funções específicas no período.
a) Qual é a função desses termos?
b) Que sentido cada uma dessas expressões produz?
c) As expressões em destaque estão acompanhadas de um ponto de exclamação (!). Que efeito de sentido ele produz nesses casos?
d) Que outra expressão do trecho cumpre função semelhante às destacadas?
2. c) A exclamação intensifica o sentido da expressão, ou seja, a indignação.
2. d) A expressão Ah!, que inicia o trecho. Expressa surpresa.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
— Ah! — fez Luísa de repente, toda admirada para o jornal, sorrindo.
— Que é?
— É o primo Basílio que chega! — E leu alto, logo:
— ‘Deve chegar por estes dias a Lisboa, vindo de Bordéus, o Sr. Basílio de Brito, bem conhecido da nossa sociedade . Sua Excelência que, como é sabido, tinha partido para o Brasil, onde se diz reconstituíra a sua fortuna com um honrado trabalho, anda viajando pela Europa desde o começo do ano passado […].’
[…]
— Oh! Jorge, que calor que lá vai fora, Santo Deus! — Batia as pálpebras sob a radiação da luz crua e branca.
A sala, nas traseiras da casa, dava para um terreno vago, cercado de um tabuado baixo, cheio de ervas altas e de uma vegetação de acaso; aqui, ali, naquela verdura crestada do verão, largas pedras faiscavam, batidas do sol perpendicular; e uma velha figueira brava, isolada no meio do terreno, estendia a sua grossa folhagem imóvel, que, na brancura da luz, tinha os tons escuros do bronze. […]
[…]
[...] Lia muitos romances; tinha uma assinatura, na Baixa, ao mês. […] Mas agora era o moderno que a cativava: Paris, as suas mobílias, as suas sentimentalidades. [...].
QUEIRÓS, Eça de. O primo Basílio. Belém: Unama: Nead, [200-]. E-book. p. 3-6. Disponível em: www.portugues.seed. pr.gov.br/arquivos/File/eca17.pdf. Acesso em: 16 set. 2024.
3 Releia o termo destacado.
a) Que função esse termo exerce no período em que ele ocorre?
b) Considerando a relação que existe entre as personagens, que outro termo poderia substituir Jorge no período?
3. a) O termo evidencia a quem Luísa se dirige, chamando seu interlocutor, no caso, Jorge.
3. b) Respostas possíveis: amor, marido etc.
4. a) As expressões se referem a moderno.
4. b) As expressões explicam o que se considera moderno: Paris, as mobílias e as sentimentalidades.
4 O t recho em destaque enumera expressões que compõem uma lista.
a) A que termo essas expressões fazem referência?
b) Qual é a função dessas expressões na oração?
Alguns termos podem atuar na produção de sentidos dos textos; outros podem estabelecer ou manter uma relação comunicativa entre os interlocutores, ou indicar uma relação subjetiva que se mantêm com o que está sendo dito. Essas expressões, embora acessórias nos textos, auxiliam na construção dos sentidos.
O aposto é um termo acessório da oração que serve para explicar, esclarecer, resumir ou especificar melhor outro termo. Geralmente, o aposto vem separado por vírgulas, dois-pontos ou travessões. Observe os exemplos a seguir.
Deve chegar por esses dias […] o Sr. Basílio de Brito, bem conhecido da nossa sociedade […].
Mas agora era o moderno que a cativava: Paris, as suas mobílias, as suas sentimentalidades.
Nesses casos, os termos em destaque atuam como apostos porque explicam e especificam os termos aos quais se referem, no caso, Sr. Basílio e moderno, respectivamente.
O vocativo é a palavra ou expressão usada para chamar, invocar ou interpelar alguém ou algo, estabelecendo uma relação com o interlocutor com quem o enunciador dialoga. Ele é independente sintaticamente, isto é, não se relaciona com nenhum outro termo do período e, geralmente, vem separado por vírgulas. Observe os exemplos.
Jorge, que calor que lá vai fora […].
Querido, que calor que lá vai fora.
Rapazinho, que calor que lá vai fora.
No primeiro exemplo, Luísa, que conversava com Jorge, utiliza um vocativo para se referir a seu interlocutor, interpelando-o para uma maior atenção ao que vai dizer. Dependendo do vocativo utilizado, é possível também evidenciar a relação que existe entre os interlocutores. No segundo exemplo, é possível identificar uma relação de afeto entre os interlocutores e, no terceiro, uma relação de superioridade do enunciador.
A interjeição é uma palavra ou expressão que manifesta emoções, sentimentos ou reações súbitas do falante, como surpresa, alegria, dor, susto, cansaço, impaciência, entre outros. Interjeições são frequentemente usadas de forma isolada ou no início de frases e podem ser seguidas de pontos de exclamação. Observe os exemplos a seguir.
— Oh! Jorge, que calor que lá vai fora, Santo Deus!
Nesses casos, as interjeições expressam as sensações de Luísa com relação ao calor que fazia fora de sua casa.
— Seiscentos mil réis! Onde quer você que eu vá buscar seiscentos mil réis?
Nesse caso, a expressão Seiscentos mil réis atua de forma a expressar a indignação de Luísa, e não para informar um valor numérico. Essas interjeições, no entanto, podem cumprir um papel argumentativo importante na construção dos sentidos de um texto. Observe.
— Viva! Jorge, que calor que lá vai fora!
— Credo! Jorge, que calor que lá vai fora!
— Ufa! Jorge, que calor que lá vai fora!
Nesses casos, o sentido da fala se altera de acordo com a interjeição com a qual ela se inicia. No primeiro caso, comemora-se o calor; no segundo, o calor é condenado e, no terceiro caso, o calor se mostra como um alívio. É importante salientar que alguns gramáticos consideram a interjeição apenas marca de entoação, não se configurando como classe gramatical, já que não exerce nenhuma função morfossintática. Eventualmente, um período todo pode cumprir a função de uma interjeição. Professor, segundo o linguista Marcos Bagno, “A interjeição constitui um fenômeno de entoação, prosódico, e não uma categoria lexical plena como as demais – afinal, toda e qualquer palavra, de qualquer classe – ‘Fogo!’ […] – ou mesmo uma sentença inteira pode constituir uma interjeição: ‘Valei-me, minha Nossa Senhora da Abadia!’.” A interjeição é, pois, “uma espécie de grito com que traduzimos de modo vivo nossas emoções”, conforme bem definem os gramáticos Celso Cunha e Lindley Cintra.
Leia, a seguir, o anúncio da festa de São João de Santa Rita, na Paraíba.
Não escreva no livro.
De acordo com a Base Nacional Comum Curricular, versão de 2018, página 503, é enfatizado que, no Ensino Médio, a área de Linguagens e suas Tecnologias desenvolva nos estudantes o aprofundamento das “análises das formas contemporâneas de publicidade em contexto digital, a dinâmica dos influenciadores digitais e as estratégias de engajamento utilizadas pelas empresas”. Dessa forma, todos os usos relacionados à publicidade, propaganda e formas de engajamento em redes sociais apresentadas nesta coleção são para fins didáticos e seus usos em contexto social.
SANTA RITA (PB). Prefeitura Municipal. [São João de Santa Rita]. In: LIRA, Suedna. Santa Rita lançará programação do São João 2023 com atrações nacionais. Polêmica Paraíba, João Pessoa, 6 abr. 2023. Disponível em: www.polemicaparaiba.com.br/ entretenimento/santa-rita-lancara-programacaodo-sao-joao-2023-com-atracoes-nacionais/. Acesso em: 16 set. 2024.
1. O festejo de São João da cidade de Santa Rita, de acordo com o anúncio, promete se destacar em relação aos festejos de outras cidades.
a) Por que a festa de São João de Santa Rita se destacaria?
O festejo se destacaria por ser o mais arretado do Brasil e o maior da cidade.
b) Uma expressão do anúncio atua de forma a explicar por que a festa de Santa Rita seria diferenciada. Identifique-a.
“O maior festejo junino da história da cidade”.
c) Como essa expressão pode ser classificada sintaticamente?
Como aposto. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
d) Proponha outras formas de reescrita dessa expressão no período em que se insere mudando os sinais de pontuação.
São João mais arretado do Brasil: o maior festejo junino da história da cidade, que será realizado nesta segunda-feira […].
2. No anúncio há uma interjeição que contribui para a produção de sentidos do texto.
a) Identifique-a.
A interjeição eita.
b) Que sentido essa interjeição produz?
Produz o sentido de surpresa e felicidade. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
c) E xistem várias outras interjeições que poderiam ser utilizadas nesse contexto com um sentido semelhante. Formule uma hipótese que justifique a escolha da interjeição que aparece no anúncio.
3. L eia a seguir o trecho final do manifesto do movimento republicano português contra a monarquia.
Espera-se que os estudantes percebam que essa interjeição dialoga com São João e com a variedade regional utilizada na Paraíba, portanto fica coerente com o texto.
CIDADÃOS, abaixo o despotismo; abaixo o regimen do roubo; abaixo a dictadura; abaixo a monarchia!
CIDADÃOS, proclamemos a Republica, o governo do povo pelo povo!
CIDADÃOS, às armas pela Liberdade!
Às armas pela Patria gloriosa!
Às armas pela Republica!
AO POVO portuguez. [ca. 1900]. 1 panfleto. Disponível em: http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=04526.059. Acesso em: 16 set. 2024.
Facsimile do panfleto citado.
AO POVO portuguez. [ca. 1900]. 1 panfleto.
3. a) O texto também faz referência ao caos político de Portugal: despotismo, roubo e ditadura.
4. a) As tentações que os dispositivos eletrônicos apresentam, que a desviariam da leitura.
4. b) Não! Nesse caso, o Não! funciona como interjeição para expressar a força de resistência da personagem diante de atrativos que podem desviá-la do caminho do livro.
a) O texto defende o fim da monarquia e a proclamação da república em Portugal. De que maneira esse manifesto dialoga com as críticas do movimento realista que você conheceu nesta unidade?
b) Que vocativos são utilizados para se referir aos leitores desse manifesto?
Ao povo português e Cidadãos.
c) E xplique como a escolha desses vocativos atua como argumento para cobrar dos leitores um engajamento com a luta que propõem.
4. L eia a tirinha a seguir, de Sofia e Otto.
PEDRO LEITE
Ao conclamar os leitores como um só povo e considerá-los como cidadãos, que possuem tanto direitos como deveres, cria-se, no leitor, a responsabilidade de se engajar na luta. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
a) Na tirinha, Sofia parece estar incomodada com o livro que carrega. Ela precisa vencer vários obstáculos para conseguir ler seu livro. Quais são eles?
b) Com que expressão Sofia manifesta sua resistência aos atrativos que se colocam entre ela e o livro? Que função tem essa expressão no texto?
c) S ofia se mostra vitoriosa no último quadrinho e conversa com o livro para celebrar sua vitória. Que vocativo ela utiliza para se referir ao livro?
Meu amigo
d) Que sentido a utilização desse vocativo produz?
O vocativo meu amigo coloca o livro como um companheiro de Sofia, como um objeto que atua como um ser amigo.
SOFIA E OTTO. [Não! Não! Não!]. [S. l.], 18 jun. 2018. Facebook: sofiaeotto. Disponível em: www.facebook.com/sofiaeotto/ photos/a.117578315521853/220265971919753/?. Acesso em: 16 set. 2024.
5. O t ítulo do mapa a seguir faz referência a diferentes gírias regionais do Brasil.
BRASIL EM MAPAS © FERREIRA, WILLIAM (2024)
a) Emb ora o título faça referência a gírias, que outro conceito gramatical poderia ser utilizado?
b) Considere o estado em que você mora e explique o que quer dizer a interjeição de seu estado indicada no mapa.
Poderia ser utilizado o conceito de interjeição. Professor, auxilie os estudantes, se necessário, no desenvolvimento da resposta: se a interjeição indica espanto, dúvida, indignação, alegria etc.
Fonte: BRASIL EM MAPAS. República federativa das gírias do Brasil. [S l.], 11 set. 2022. Instagram: brasilemmapas. Disponível em: www.instagram. com/brasilemmapas/p/CiYWEAlpePV/?img_index=1. Acesso em: 16 set. 2024.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
1. a) O conselho é que se entregue ao que gosta, que leia ainda mais, que não se incomode se o considerarem estranho, pois isso é melhor que ser comum.
1. b) Sim. Adjunto adverbial de tempo, aposto, verbo, objeto indireto, adjunto adverbial de finalidade.
Leia a seguir um trecho de crônica do historiador Leandro Karnal (1963-), no qual o narrador se propõe a dar conselhos a si, mas com 15 anos de idade.
Não escreva no livro.
1 O texto apresenta um conselho que Karnal daria a si.
a) Que conselho é esse?
b) Considere o período em destaque Esse período está em ordem direta?
Qual é a sequência de estruturas sintáticas que o compõem?
c) Que termos aparecem no período destacados pelas vírgulas?
Tenho 60 anos. Se eu dividisse minha idade por 4, perceberia que houve uma etapa até os 15 anos. Aos 30, eu era outro. Mudei ainda mais até 45 anos. Hoje, com 60, penso em uma mensagem para os primeiros 25% da minha existência. Nomeio isso como Mensagem dos 60 (4/4) para os 15 (1/4). Adoraria tê-la ouvido antes. Talvez alguém com 15 anos ou mais possa aproveitar. […]
3 Considere o período em destaque.
a) Nesse trecho, há a presença de parênteses. Que informação está dentro desses sinais?
As porcentagens de tempo de vida.
2 Considere o período em destaque. O que justifica a presença de dois-pontos? E das aspas?
Os dois-pontos introduzem a citação que vem logo depois deles. As aspas destacam a fala de Karnal.
— Leandro com 15 anos: ‘Você se entrega a livros e estudos . Por vezes, sente-se solitário, passando tardes de sábado na biblioteca municipal. Bobagem! Leia ainda mais! Quase tudo da sua vida será derivado de bons livros, boas músicas, boas peças e lindas obras de arte . Permita-se uma plena comunhão com os textos. Sabe aquela coleção das obras completas de Eça de Queirós pela qual você tem paixão? Vá fundo! Machado é legal, mas você só saberá disso depois. Quando disserem que você é estranho, agradeça do fundo do coração. Ser comum é o pior destino para um ser humano’.
KARNAL, Leandro. Conselhos para um jovem de 15 anos (ou mais). O Estado de S. Paulo, São Paulo, 23 ago. 2023. Disponível em: www.estadao.com.br/cultura/leandrokarnal/conselhos-para-um-jovem-de-15-anos-ou-mais/. Acesso em: 16 set. 2024.
b) Que função sintática essa informação exerce?
Exerce a função de aposto.
4. a) Para separar itens de uma enumeração.
4 Considere agora o período em destaque.
a) Nesse período há duas vírgulas. Por quê?
b) De acordo com Karnal, qual é a função da arte na vida?
4. b) É da arte (literatura, música, teatro e artes visuais) que derivam as coisas boas da vida.
A pontuação no período simples segue regras que permitem estruturar frases de modo a dar clareza ao texto e organização às informações. Além de evitar ambiguidades, a pontuação adequada facilita a leitura e a interpretação do texto, permitindo que o leitor capte a intenção e o ritmo pretendidos pelo autor.
Relembre, agora, a função dos sinais de pontuação no período simples.
Vírgula
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Usada para separar elementos de uma lista.
Quase tudo da sua vida será derivado de bons livros, boas músicas, boas peças e lindas obras de arte.
Usada para isolar elementos explicativos ou acessórios como apostos ou termos intercalados.
Eu, com 60, penso em uma mensagem para os primeiros 25% da minha existência.
Usada para separar adjuntos adverbiais deslocados.
Hoje, penso em uma mensagem para os primeiros 25% da minha existência.
Usada para separar vocativos e interjeições.
Leandro, você precisa se entregar a livros e estudos!
Oras, você precisa se entregar a livros e estudos!
Ponto-final
Usado para finalizar uma frase declarativa.
Tenho 60 anos.
Dois-pontos
Usados para introduzir uma explicação, uma enumeração ou uma citação.
Leandro com 15 anos: “Você se entrega a livros e estudos”.
Parênteses
Usados para adicionar informações ou comentários.
Nomeio isso como mensagem dos 60 (4/4) para os 15 (1/4)
Travessão
Usado para indicar a fala de personagens em diálogos.
Você se entrega a livros e estudos.
Usado para destacar informações explicativas ou intercalar explicações no meio do período.
Leia a coleção — aquela das obras completas de Eça de Queirós — pela qual você tem paixão.
Ponto e vírgula
Usado para separar elementos de um período quando esses elementos já contêm vírgulas.
Quase tudo da sua vida será derivado de bons livros, boas músicas, boas peças e lindas obras de arte; boa alimentação, exercícios e descanso.
Usadas para indicar falas de personagens ou citações diretas.
Leandro com 15 anos: “Você se entrega a livros e estudos” .
Usadas para destacar artigos, capítulos e outras partes de um todo.
“Eça de Queirós: um gênio da literatura mundial” traz uma ótima análise da obra do autor.
Usadas para palavras estrangeiras ou expressões que precisam de destaque.
Ser “standart” é o pior destino para um ser humano.
Usadas para indicar ironia ou uso não convencional de uma palavra.
Ser “ comum ” é o pior destino para um ser humano.
Não escreva no livro.
Leia a seguir um trecho da reportagem “Eça, o diplomata. Ou como o escritor também foi O nosso cônsul em Havana”.
Eça de Queirós (1845-1900) teve toda uma carreira diplomática que o levou não só a Cuba mas também ao Egipto, EUA ou Reino Unido. Aos 27 anos, entre o final de 1872 e o início de 1873, estreava-se na carreira diplomática como cônsul português em Havana. Para trás ficava o seu trabalho como jornalista e de administrador do conselho de Leiria — e também a escrita de O crime do Padre Amaro, em Leiria […]. O seu mandato em Havana que acabaria por ficar marcado pela oposição de Eça ao uso de escravos chineses, saídos da China pelo território português de Macau, na cultura da cana do açúcar pelos fazendeiros e colonos espanhóis. […]
‘Ele é responsável por uma das mais extraordinárias páginas da diplomacia portuguesa nessa perspectiva, da defesa dos direitos humanos […]. O trabalho dele foi tentar dignificar a vida desses escravos, que eram guardados em depósitos […]’.
CARDOSO, Joana Amaral. Eça, o diplomata. Ou como o escritor também foi O nosso cônsul em Havana. O Público, Lisboa, 7 jun. 2019. Disponível em: www.publico.pt/2019/06/07/culturaipsilon/noticia/eca-diplomata-nova-seriemostra-escritor-tambem-consul-havana-1875206. Acesso em: 16 set. 2024.
1. O texto revela um aspecto pouco conhecido da vida e produção de Eça de Queirós: sua experiência como diplomata. De acordo com o texto, qual foi sua contribuição fundamental no campo dos direitos humanos internacionais?
A luta de Eça foi para acabar com a escravização de chineses que trabalhavam na cultura da cana em Havana, Cuba.
2. Considere o seguinte período: “Aos 27 anos, entre o final de 1872 e o início de 1873, estreava-se na carreira diplomática como cônsul português em Havana”.
a) O que justifica o uso de vírgulas no início da frase?
b) Reescreva o período na ordem direta.
As vírgulas separam os adjuntos adverbiais de tempo colocados fora da ordem direta.
Estreava-se na carreira diplomática como cônsul português em Havana aos 27 anos, entre o final de 1872 e o início de 1873.
c) Qual é o objetivo de começar a frase com as informações separadas por vírgulas?
Dar destaque à idade e ao tempo em que ocorreu a carreira de Eça em Havana.
3. Copie o organizador a seguir no caderno e complete-o com a regra de uso de cada tipo de pontuação.
Parênteses
Aspas
Travessão
Separa um aposto que exemplifica a data.
Indica uma citação.
Separa um aposto que inclui novo exemplo.
4. L eia a seguir um trecho sobre surfistas brasileiros estabelecendo recordes nas ondas gigantes de Nazaré, em Portugal.
O surfista brasileiro Vinicius dos Santos, de Florianópolis, pode estar perto de mais um feito gigante na carreira. Sua onda no berço das ondas gigantes, em Nazaré, Portugal, pode ser a maior da história já surfada.
[…]
O recorde atual é de outro brasileiro. Rodrigo Koxa surfou uma onda de 24,38 metros. Com a marca conquistada em 2017, o paulista segue no topo das ondas gigantes. Entre as mulheres, Maya Gabeira surfou 22,4 metros em 2020 e detém a marca.
Além dos momentos históricos para a vida de Vini dos Santos, neste período em Nazaré o surfista também viveu o oposto. Sofreu alguns acidentes enquanto tentava domar os ‘monstros’ gigantes no mar português. Rasgou a orelha, quebrou a prancha na cabeça e chegou a ficar por vários minutos debaixo d’água. Tudo em dias diferentes.
FONTANA, Ronaldo. Brasileiro surfa onda gigante em Nazaré e pode ter recorde histórico: “Maior da minha vida”. GE , Florianópolis, 10 mar. 2022. Disponível em: https://ge.globo.com/sc/surfe/noticia/2022/03/10/brasileiro-surfa-ondagigante-em-nazare-e-pode-ter-recorde-historico-maior-da-minha-vida.ghtml. Acesso em: 16 set. 2024.
4. a) O termo é monstros e está destacado por aspas. As aspas foram empregadas para sinalizar que o termo monstro está empregado em sentido metafórico, querendo significar que as ondas são perigosas e difíceis de surfar.
a) A s ondas de Nazaré são consideradas as maiores do planeta. Que termo o texto utiliza para se referir a essas ondas? Que sinal de pontuação o destaca? O que justifica o uso desse sinal de pontuação nesse caso?
b) C onsidere os dois primeiros períodos do texto. O que justifica a presença de vírgulas no meio das frases?
c) A s informações separadas por vírgulas não estão no começo da frase para ter destaque. Que sentido se produz com sua inserção no meio das frases?
5. a) Pode inferir que a falta da internet o afasta dos conteúdos potencialmente tóxicos que nela circulam; pode inferir, mais especificamente, que ele está distante das redes sociais, já que sua alegria se dá em um encontro presencial.
5. L eia a tirinha a seguir, do cartunista e artista plástico paulista Thales Gaspari.
4. c) Elas indicam o lugar de origem das informações logo depois de elas aparecerem, em vez de virem no final do período.
TIRAS NÃO! [Felicidade]. [S. l.], 2 fev. 2019. Instagram: tirasnao. Disponível em: www.instagram.com/p/BtYXDuij97v/. Acesso em: 16 set. 2024.
a) O personagem afirma que o motivo de sua felicidade é estar desconectado da internet. O que o leitor pode inferir sobre a internet com base nessa afirmação?
b) O que justifica o uso da vírgula no segundo e no quarto balões?
Em ambos, a vírgula separa uma interjeição.
c) No terceiro balão, as vírgulas separam termos diferentes. Justifique o uso em cada caso.
O vocativo rapaz vem entre vírgulas; as demais separam itens de uma enumeração.
6. L eia a tirinha a seguir, da cartunista Laerte (1951-).
LAERTE. [Bom, fiz um seguro de todo o meu equipamento]. Folha de S.Paulo, São Paulo, [entre 1996 e 2005]. Disponível em: https://legal.adv.br/img/hq/hugo2/tira03.gif. Acesso em: 16 set. 2024. STU.DIO/ALAMY/FOTOARENA
4. b) As vírgulas separam os adjuntos adverbiais de lugar que estão fora da ordem direta, no final.
6. a) Provavelmente, porque não se trata de um item tecnológico com as mesmas características dos equipamentos a que se refere no primeiro quadrinho.
a) Ao contrário do personagem da tirinha anterior, Hugo vai mergulhar na conexão virtual, mas se esquece de verificar a cadeira. Por que provavelmente ele teria ignorado esse item?
b) Na primeira fala de Hugo ocorre o sinal de dois-pontos. Por quê?
Porque esse sinal introduz uma lista de itens segurados.
c) A primeira e a última fala de Hugo se iniciam com uma palavra destacada por vírgulas. Esse termo pode ser colocado em outra posição no período? Explique.
Espera-se que os estudantes destaquem que não, afinal são interjeições que expressam uma sensação do personagem logo que vai falar.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A divulgação de ideias e comportamentos em anúncios de propaganda e campanhas é crucial para moldar a opinião pública e promover mudanças sociais. Por meio de mensagens cuidadosamente elaboradas, essas ferramentas influenciam atitudes, incentivam ações positivas e disseminam valores importantes. Campanhas de saúde pública, por exemplo, podem tornar as pessoas mais conscientes em relação à necessidade de prevenção contra doenças, enquanto propagandas educativas podem promover comportamentos sustentáveis e inclusivos. Além disso, as campanhas têm o poder de desafiar estereótipos e combater preconceitos, contribuindo para a construção de uma sociedade mais informada e justa.
O que você irá produzir
Você vai produzir, em grupo, uma campanha de conscientização que terá como público-alvo os estudantes do seu colégio ou mesmo a comunidade local. O objetivo é identificar alguma demanda social relevante e produzir uma campanha, constituída por anúncios de propaganda físicos e virtuais, que tenham como objetivo mudar algum tipo de comportamento de maneira a minimizar ou acabar com o problema identificado.
Professor, se achar mais produtivo, pode-se optar por toda a classe trabalhar em um mesmo tema. Nesse caso, a classe deve discutir um único padrão para as peças que irão compor a campanha e cada grupo pode ficar responsável pela produção de uma delas.
O primeiro passo é a identificação do problema que será o tema da campanha. Cada grupo deve discutir de qual tema se ocupará. Para identificá-lo, existem algumas possibilidades, como as apresentadas a seguir.
I. Caso haja um problema evidente no seu contexto – o lixo ao redor da escola, o fornecimento de luz ou energia, o modo como os banheiros, ou a quadra, ou o pátio têm sido usados pelos estudantes, entre tantas outras possibilidades –, ele pode ser o tema da campanha a ser produzida.
II. O grupo pode identificar um problema por meio dos canais de mídia e de dados obtidos em pesquisas que tenham sido recentemente divulgadas por canais oficiais de comunicação.
III. O grupo pode produzir uma enquete aberta, física ou virtual, e depois tabelar os resultados para identificar o problema.
Identificado o problema, é o momento de definir o público-alvo. Por exemplo, caso o problema relacione-se a práticas de bullying, a campanha deve ter como público-alvo os estudantes; se for evasão escolar, pode ser direcionada a estudantes e familiares etc.
Após a identificação do público-alvo, é o momento de criar a estratégia de divulgação. Avalie com o grupo o que seria mais efetivo: anúncios de propaganda físicos a serem afixados em diversos locais, anúncios de propaganda digitais a serem compartilhados em redes sociais, spots para serem reproduzidos no sistema de som do colégio etc.
Identificado o problema, o público-alvo e os anúncios de propaganda e os meios de divulgação, é hora de o grupo criar a campanha.
Produzir
Em um primeiro momento, o grupo pode identificar causas e consequências do problema a ser abordado. Depois disso, decida com o grupo que tipo de ação pode ser realizada: uma ação que combata diretamente as causas do problema ou uma ação que desperte a comoção do público por meio das consequências do problema.
O objetivo é que sua campanha se sustente abrindo um modo novo, original, de enxergar o problema, e que consiga, de fato, atingir o público-alvo. Para tanto, é fundamental recorrer a recursos que tornem as linguagens verbal e visual expressivas.
I. Crie um logotipo e um slogan para a campanha, com um símbolo que seja facilmente relacionado ao problema, e um título – uma frase de efeito, que seja marcante e que utilize alguma figura de linguagem.
II. Crie uma identidade visual para a campanha com cores e formas relacionadas ao tema.
III. Faça uma seleção de imagens que despertem o interesse do público.
IV. Faça uma seleção criteriosa das fontes, observando tamanho e forma, de tal maneira que a mensagem escrita seja facilmente legível.
V. Caso a opção seja produzir propagandas audiovisuais, utilize recursos sonoros que ampliem os sentidos, com sonoplastia e trilha sonora adequadas.
VI. Cada anúncio de propaganda de sua campanha deve dialogar com os demais, quer sejam físicos ou virtuais. A campanha deve ter pelo menos três peças diferentes. É importante ser criativo na construção das peças: caso a escolha seja fazer um cartaz, pode-se optar por um formato diferente do tradicional. Além disso, é possível utilizar gifs animados e memes e criar jingles fáceis de memorizar etc.
Topicalização
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Não escreva no livro.
O recurso da topicalização permite que a mensagem central seja destacada e enfatizada, facilitando a compreensão por parte do público-alvo e o impacto sobre ele, o que pode tornar a campanha mais eficaz. Topicalizar significa trazer o tema de que se pretende tratar para o início de um enunciado de modo a dar destaque a ele.
Em uma campanha que quer arrecadar agasalhos para doação, por exemplo, é possível colocar em destaque o tema do coletivo: “Juntos protegemos todos”; ou “Juntos fazemos a diferença”. Mas também se pode colocar em evidência a diferença que faz a ação de doar, por exemplo: “Faz toda diferença a sua doação: agasalhe seu igual”. Ou ainda se pode colocar em tópico o gesto: “Sua doação faz toda diferença: proteja seu igual”.
Agora é sua vez! Considere o tema da campanha que você e seu grupo irão desenvolver e crie dois slogans topicalizando temas diferentes. Avalie o resultado junto a outro grupo da classe.
Depois da avaliação do professor, o grupo deve colocar a campanha em prática de acordo com o plano inicial e publicar os textos da forma esperada: afixar os cartazes, publicar os textos virtuais, reproduzir os spots de rádio etc.
VERDE, Cesário. O livro do Cesário Verde: poemas. São Paulo: L&PM, 2003.
Considerado romântico por alguns estudiosos, parnasiano por outros, Cesário Verde (1855-1886) se colocou em um entroncamento que estava na origem da poesia modernista que se desenvolveu ao longo do século XX em Portugal. A emotividade autêntica de seus versos antecipa o Modernismo. Fernando Pessoa – mais especificamente seu heterônimo Alberto Caeiro –, entre outros poetas, reconheceu a densidade, o vigor e a sensibilidade de sua poética, além da extrema lucidez de seu olhar para o mundo. O livro do Cesário Verde foi organizado por Silva Pinto, amigo do poeta, que reuniu uma obra até então bastante esparsa.
do
A relíquia.
QUEIRÓS, Eça de. A relíquia . São Paulo: Panda Books, 2019. Escrito em 1887 e publicado no Brasil em capítulos no jornal Gazeta de Notícias, o livro conta a história de Raposo, um jovem bacharel que, órfão, vive sob as ordens de Maria do Patrocínio, sua tia terrível e avara, casta e beatíssima, cuja morte permitiria ao sobrinho herdar a fortuna que ela controla. Atendendo a um desejo da tia, vai como seu representante em uma missão religiosa na Terra Santa. Deve trazer para a tia uma relíquia, mas, no momento de entregar à tia a preciosa relíquia que trouxera – uma coroa de espinhos de Cristo que falsificara com o arqueólogo que acompanhava a excursão –, Raposo lhe entrega um embrulho com uma camisola. Ao final do livro, Raposo conclui que perdera a herança da tia por não ter tido a coragem de afirmar: “Eis aí a relíquia! É a camisa de Maria Madalena”.
QUEIRÓS, Eça de. Contos. São Paulo: Martin Claret, 2022.
Eça de Queirós foi também um mestre da narrativa curta. Neste volume, foram antologiados vários trabalhos do autor: “Civilização”, “José Matias”, “Singularidades de uma rapariga loura”, “O defunto”, “Um dia de chuva”, “O suave milagre” (seu conto mais popular) e “No moinho”.
FUNDAÇÃO EÇA DE QUEIROZ. Santa Cruz do Douro, c2016. Site . Disponível em: https://feq.pt/. Acesso em: 16 set. 2024.
A fundação tem como objetivo garantir a divulgação e o estudo da obra de Eça de Queirós, bem como o desenvolvimento de várias iniciativas culturais. A casa que sedia a fundação conta com espaço museológico, biblioteca, arquivo e um miniauditório.
O site da fundação informa sobre as possibilidades de visitas guiadas, sobre cursos, prêmios e residências literárias oferecidos pela fundação.
Uma das imagens do painel dinâmico de abertura do site da Biblioteca Nacional Digital.
Sede da Fundação Eça de Queiroz.
BIBLIOTECA NACIONAL DIGITAL (Portugal). [S. l ., 200-]. Site . Disponível em: https://bndigital. bnportugal.gov.pt/. Acesso em: 16 set. 2024.
O site da Biblioteca Nacional Digital (BND) de Portugal dá acesso a conteúdos digitalizados de manuscritos e impressos – sejam livros, publicações periódicas, iconografia, cartografia ou música – das coleções da Biblioteca Nacional (BNP), da Biblioteca Pública de Évora e, também, pontualmente, da Biblioteca da Ajuda. O site dá acesso ao acervo de diversos autores, entre eles, Eça de Queirós e Camilo Pessanha. Obras, cartas, galeria de imagens oferecem ao internauta possibilidade de aproximação com esses e outros autores portugueses.
EÇA de Queirós e Os Maias. [S. l.: s. n.], 2020. 1 vídeo (8 min). Publicado pelo canal Instituto Realitas. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=z56oXvomW5I. Acesso em: 16 set. 2024. O professor, ensaísta, historiador e filósofo Edgard Leite Ferreira Neto analisa o livro Os Maias, de Eça de Queirós, discutindo o roteiro e os objetivos do romance.
Frame do vídeo sobre Os Maias, de Eça de Queirós.
No senso comum, frequentemente atravessado por preconceitos, as favelas são tidas como lugares perigosos, precários, pobres e morada de criminosos. Professor, ressalte aos estudantes que esse discurso preconceituoso muitas vezes é carregado de racismo. Trata-se de uma oportunidade para debater, já na abertura da unidade, um tema bastante polêmico, mas de extrema importância no cotidiano dos estudantes.
Os olhares sugerem que a favela também observa e atribui sentidos ao que enxerga. A favela, nesse caso, observa de posição privilegiada, já que costuma estar nos morros do Rio de Janeiro. Espera-se que, sendo localizada no Rio de Janeiro, os estudantes suponham a observação de praias, prédios, casas e outros espaços por onde circulam as pessoas. Professor, considere outras hipóteses, desde que pertinentes ao contexto da pergunta proposta.
2. Espera-se que os estudantes percebam que a intervenção em uma favela dá destaque à região e evidencia sua arquitetura e suas precariedades. Também humaniza a favela ao sugerir que elas são observadas e observam, estão atentas ao que acontece em outros lugares. Uma intervenção em uma região nobre teria um impacto bem diferente e seria direcionada para outro público.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Observe a intervenção artística a seguir, realizada pelo artista francês JR (1983-) na Favela da Providência, no Rio de Janeiro (RJ).
Esse projeto artístico sublinha o papel central das mulheres na sociedade e destaca a dignidade delas, por meio de fotografias da vida cotidiana. JR. 28 milímetros: mulheres são heroínas. 2008. Fotografias impressas sobre alvenaria. Ação na Favela da Providência, Rio de Janeiro.
Não escreva no livro.
1. A arte praticada por JR é uma arte de intervenção que não cabe em galerias, mas que se constrói nas cidades. Em uma de suas obras, ele fez colagens de olhares femininos nas paredes das construções da Favela da Providência, no Rio de Janeiro.
a) De que modo as favelas são vistas pelo senso comum?
b) O que os olhares destacados na intervenção sugerem?
c) O que esses olhares podem enxergar ao observar a cidade? Formule hipóteses.
2. A Favela da Providência, localizada no Morro da Providência, é a mais antiga do Brasil. Favela era o nome da vegetação que cobria o morro e acabou por dar nome à localidade. Que significado há na escolha desse local como espaço para uma intervenção artística?
3. Espera-se que os estudantes identifiquem que a favela ainda apresenta precariedades sanitárias, de moradia, de acesso à educação e cultura, o que repete a falta de atenção do poder público com parte da população.
3. Depois da Guerra de Canudos (1896-1897), na Bahia, os combatentes, em grande parte ex-escravizados, voltaram para o Rio de Janeiro com a promessa de uma casa como recompensa. Enganados pelo governo, acabaram por se estabelecer em um morro chamado Providência, que ficava na região central do Rio de Janeiro. De que modo a promessa de vida melhor para a população, feita pelo governo, durante a Guerra de Canudos, ainda hoje ecoa no Morro da Providência?
4. Observe as pinturas a seguir, produzidas pelo pintor italiano Gustavo Dall’Ara (1865-1923), considerado um dos grandes cronistas na pintura do começo do século XX. Ambas representam espaços do Rio de Janeiro muito diferentes entre si.
DALL’ARA, Gustavo. A ronda da favela. 1913. Óleo sobre tela, 74 cm x 88 cm. Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro.
4. a) A primeira pintura faz referência a uma favela e suas condições precárias; a segunda representa a parte mais rica da cidade, com carros e prédios exuberantes.
4. b) Em A ronda da favela, o espaço é uma rua de terra, que parece enlameada depois da chuva, esburacada; alguns edifícios da cidade são vistos de longe. Em Rua 1o de Março, observa-se um espaço urbanizado, com ruas calçadas, trilhos sugerindo a presença de transporte público.
DALL’ARA, Gustavo. Rua 1o de Março. 1915. Óleo sobre tela, 59 cm x 41,7 cm. Coleção Maria do Rosário Moreira de Souza, Rio de Janeiro.
a) Que espaço está representado em cada uma?
b) A s pinturas registram as condições físicas de cada espaço. Descreva-as.
c) A s condições representadas em cada espaço mudaram? Explique.
Respostas e comentários nas Orientações para o professor.
d) Na segunda pintura é apresentada uma cena que poderia se passar em muitas grandes metrópoles do mundo no começo do século XX. Como é construída essa cena?
No começo do século XX, a República brasileira começava a se consolidar, mas as desigualdades sociais e raciais do país produziam constantes conflitos e inseguranças, com revoltas e guerras por todo o território. Paralelamente a isso, vários discursos circulavam pela sociedade, apresentando as novidades vindas da Europa e as transformações do discurso cientificista, como a eugenia, ao mesmo tempo que ganhavam destaque aqueles que nunca tiveram voz na literatura: negros, pobres, sertanejos etc. Nesse contexto emergiu uma literatura diversa, com vozes conflitantes, que prenuncia uma transformação radical na literatura brasileira: o Pré-Modernismo.
4. c) Espera-se que os estudantes reconheçam que muitos espaços periféricos continuam precários, com ruas esburacadas e até esgoto correndo a céu aberto pela rua.
4. d) Na segunda pintura é possível perceber carros que transitam, pessoas bem-vestidas carregando guarda-chuvas, prédios grandiosos, ruas arborizadas.
A sociedade brasileira contemporânea apresenta problemas sociais que parecem difíceis de serem superados, como a profunda desigualdade social e a dificuldade de acesso a plenos direitos pelas minorias. Esses problemas, no entanto, não são recentes: a herança de um passado colonial e patriarcal está nas bases da formação da nação. A literatura contemporânea permite aos leitores conhecer mais dessas vozes periféricas e de suas lutas cotidianas.
Para discutir
1 Quais são as minorias que compõem a sociedade?
2 Que direitos ainda hoje não são garantidos a essas minorias?
3 O racismo até hoje não foi superado pela sociedade brasileira e se manifesta em várias situações cotidianas. Identifique uma delas. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Você vai ler a seguir um trecho do conto “Espiral”, do livro O sol na cabeça, do escritor Geovani Martins. Nesse livro, são apresentados contos que narram a infância e adolescência de jovens moradores de comunidades periféricas que têm que enfrentar, até nas mais banais situações cotidianas, a violência e o racismo.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Texto
Começou muito cedo. Eu não entendia. Quando passei a voltar sozinho da escola, percebi esses movimentos. Primeiro com os moleques do colégio particular que ficava na esquina da rua da minha escola. Era estranho, até engraçado, porque meus amigos e eu, na nossa própria escola, não metíamos medo em ninguém. Muito pelo contrário, vivíamos fugindo dos moleques maiores, mais fortes, mais corajosos e violentos. Andando pelas ruas da Gávea, com meu uniforme escolar, me sentia um desses moleques que me intimidavam na sala de aula. Principalmente quando passava na frente do colégio particular, ou quando uma velha segurava a bolsa e atravessava a rua para não topar comigo. Tinha vezes, naquela época, que eu gostava dessa sensação. Mas, como já disse, eu não entendia nada do que estava acontecendo.
As pessoas costumam dizer que morar numa favela de Zona Sul é privilégio, se compararmos a outras favelas na Zona Norte, Oeste, baixada. De certa forma, entendo esse pensamento, acredito que tenha sentido. O que pouco se fala é que, diferente das outras favelas, o abismo que marca a fronteira entre o morro e o asfalto é muito mais profundo.
Geovani Martins (1991-) nasceu e cresceu na periferia do Rio de Janeiro, principalmente na comunidade do Vidigal, o que influenciou profundamente sua obra literária. Trabalhou como atendente de lanchonete, homem-placa, até que se envolveu com a literatura, participando de oficinas e grupos de escrita. Sua obra mais conhecida, O sol na cabeça (2018), foi aclamada pela crítica e recebeu diversos prêmios, consolidando Geovani Martins como uma das vozes mais importantes da nova literatura brasileira. Seu livro Via Ápia (2022), ganhou o prêmio de melhor romance de 2022, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).
Foto do escritor em 2022.
Nunca esquecerei da minha primeira perseguição. Tudo começou do jeito que eu mais detestava: quando eu, de tão distraído, me assustava com o susto da pessoa e, quando via, era eu o motivo, a ameaça. Prendi a respiração, o choro, me segurei, mais de uma vez, pra não xingar a velha que visivelmente se incomodava de dividir comigo, e só comigo, o ponto de ônibus. No entanto, dessa vez, ao invés de sair de perto, como sempre fazia, me aproximei. Ela tentava olhar pra trás sem mostrar que estava olhando, eu ia chegando mais perto. Ela começou a olhar em volta, buscando ajuda, suplicando com os olhos, daí então colei junto dela, mirando diretamente a bolsa, fingindo que estava interessado no que pudesse ter ali dentro, tentando parecer capaz de fazer qualquer coisa pra conseguir o que queria. Ela saiu andando pra longe do ponto, o passo era lento. Eu a observava se afastar de mim. Não entendia bem o que sentia. Foi quando, sem pensar em mais nada, comecei a andar atrás da velha. Ela logo percebeu. Estava atenta, dura, no limite de sua tensão. Tentou apertar o passo pra chegar o mais rápido possível a qualquer lugar. Mas na rua era como se existíssemos apenas nós dois. Por vezes eu aumentava minha velocidade, ia sentindo o gosto daquele medo, cheio de poeira de outras épocas. Depois diminuía um pouco, permitindo que ela respirasse. Não sei quanto tempo durou tudo aquilo, provavelmente não mais que alguns minutos, mas, para nós, era como se fosse toda uma vida. Até que ela entrou numa cafeteria e segui meu caminho.
Passado o turbilhão, fiquei com nojo de ter ido tão longe, lembrando da minha avó, imaginando que aquela senhora também devia ter netos. Porém, esse estado de culpa durou pouco, logo lembrei que aquela mesma velha, que tremia de pavor antes mesmo que eu desse qualquer motivo, com certeza não imaginava que eu também tivera avó, mãe, família, amigos, essas coisas todas que fazem nossa liberdade valer muito mais do que qualquer bolsa, nacional ou importada. Por mais que às vezes me parecesse loucura, sentia que não poderia parar, já que eles não parariam. As vítimas eram diversas: homens, mulheres, adolescentes e idosos. Apesar da variedade, algo sempre os unia, como se fossem todos da mesma família, tentando proteger um patrimônio comum. […]
Com o passar do tempo essa obsessão foi ganhando forma de pesquisa, estudo sobre relações humanas. Passei então a ser tanto cobaia quanto realizador de uma experiência. Começava a entender com clareza meus movimentos, decifrar os códigos dos meus instintos. No entanto, a dificuldade de entender as reações de minhas vítimas foi se mostrando cada vez maior. São pessoas que vivem num mundo que não conheço. Sem contar que o tempo que tenho pra analisá-las frente a frente é curto e confuso, já que preciso atuar simultaneamente. Percebendo isso, cheguei à conclusão de que precisaria me concentrar num único indivíduo.
MARTINS, Geovani. Espiral. In: MARTINS, Geovani. O sol na cabeça. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. p. 17-22. p. 17-20.
1. Releia.
Começou muito cedo. Eu não entendia. Quando passei a voltar sozinho da escola, percebi esses movimentos.
a) Os movimentos a que ele se refere são feitos pela senhora no ponto de ônibus. Quais são?
b) Considere a reação da senhora diante do protagonista. O que justifica sua reação? O que provavelmente ela pensou?
Provavelmente ela pensou que ele representava uma ameaça, que ele poderia querer assaltá-la, feri-la.
c) Os referidos movimentos provocam no narrador diferentes sentimentos. O que ele sente? Raiva, mágoa, tristeza. Ela se assusta, olha para trás disfarçando, olha em volta.
2. a) O bairro da Gávea apresenta construções ordenadas, que parecem bem-feitas, entre muito verde e com o mar próximo. Nas favelas, veem-se construções desordenadas, sem acabamento, que parecem amontoar-se em uma área sem vegetação, árida. 2. b) Provavelmente em uma favela da Zona Sul do Rio de Janeiro. Professor, se achar oportuno, explique que uma das favelas localizadas na Zona Sul do Rio de Janeiro é a Favela da Rocinha, mas há muitas outras, como Vidigal, Babilônia, Cantagalo, Humaitá, Santa Marta.
2. O narrador protagonista da história se refere a fronteiras da cidade.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Favela da Rocinha, Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, (RJ), 2023.
Bairro da Gávea, Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro, (RJ), 2021.
Favela da Maré, Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, (RJ), 2021.
a) Compare as fotos. Com base nelas, explique as diferenças entre o bairro da Gávea e as favelas.
b) Releia o segundo parágrafo do texto e responda: onde provavelmente ele mora?
c) Ele anda pelo bairro da Gávea de uniforme. O que se infere dessa informação?
Que a escola fica nesse bairro ou próxima dele.
d) Releia.
São pessoas que vivem num mundo que não conheço.
• A que mundo o narrador protagonista se refere?
2. d) O mundo da elite, da Zona Sul, que vive do outro lado da fronteira; pessoas que têm acesso a bens e serviços de qualidade e diante das quais ninguém irá se assustar, porque não representam ameaça a ninguém.
3. O t recho a seguir descreve brevemente as diferentes regiões da cidade chamadas zonas.
Concentram-se na Zona Sul dezesseis dos vinte bairros mais afluentes da cidade; na Zona Oeste, onde se dá a expansão urbana, encontra-se ‘grande contraste entre os bairros’; na Zona Norte predominam os bairros com Índices de Desenvolvimento Social baixo e médio. Estudo mais recente do IPP indica que a renda média domiciliar per capita da Zona Sul é 7,6 vezes maior que a da Região de Santa Cruz, na Zona Oeste (PCRJ/IPP, 2013, p. 9).
NOVAIS, Pedro. Urbanismo na cidade desigual: o Rio de Janeiro e os megaeventos. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, [s. l.], v. 16, n. 1, p. 11-33, 2014. p. 12. Disponível em: https://rbeur.anpur.org.br/rbeur/article/view/4831/4618. Acesso em: 6 set. 2024.
a) Considere esse trecho sobre os bairros do Rio de Janeiro e responda: que tipo de fronteiras existem na cidade?
Fronteiras sociais, econômicas.
b) Em qual fronteira provavelmente se localizava o ponto de ônibus?
Na Zona Sul, provavelmente na Gávea.
4. O narrador protagonista se assusta com a reação da senhora no ponto de ônibus e passa a persegui-la.
a) Como ele quer que a senhora se sinta? Por que ele quer que ela se sinta desse modo?
Ele quer que ela se sinta com medo, ameaçada. Porque ele fica com raiva e quer revidar.
b) A construção da cena cria uma tensão crescente no texto. Como é construída essa tensão?
Identifique as etapas colocando em sequência os números correspondentes a cada degrau que constrói essa tensão.
1. Ela tentou apertar o passo para chegar a qualquer lugar.
2. Ele colou junto dela, mirando diretamente a bolsa.
3. Ele ia chegando mais perto.
4. Ele começou a andar atrás da velha.
5. Até que ela entrou numa cafeteria e segui meu caminho.
6. Ela começou a olhar em volta.
7. Ele por vezes aumentava a velocidade, depois diminuía um pouco.
8. Ela tentava olhar para trás sem mostrar que estava olhando.
Resposta: 8, 3, 6, 2, 4, 1, 7, 5.
5. Possibilidades de resposta: quer entender por que ele é uma ameaça, por que essas pessoas se sentem ameaçadas por ele, como é o mundo dessas pessoas, até que ponto ele consegue parecer ameaçador a elas, entre outras questões. Professor, considere as respostas dos estudantes. Incentive-os a formular hipóteses e trocar suas suposições como forma de enriquecer a reflexão sobre essa questão tão sensível não apenas no Rio de Janeiro, mas em todo Brasil. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
5. Perseguir pessoas se transforma em uma obsessão que toma a forma de uma pesquisa para o narrador protagonista. O que ele queria pesquisar? Qual seria sua pergunta de pesquisa?
6. O texto faz refletir sobre as fronteiras que os seres humanos criaram para se dividir. No caso do conto, o que se evidencia são as fronteiras sociais. Você acredita que essa fronteira existe na sua realidade? Explique como isso acontece.
7. Os dados a seguir, divulgados em abril de 2023 no G1, são o resultado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE.
8. b) Perseguem expressões culturais e da identidade próprias da cultura negra e as ganhadeiras, profissionais com atividades diversas como lavar roupa, vender quitutes, entre outras, exercidas por negras que, no contexto do romance, eram ex-escravizadas.
De acordo com o estudo, que considera a realidade de três grupos de renda – 40% mais pobres, 50% intermediários e 10% mais ricos –, os mais ricos encerraram 2022 ganhando 31 vezes o salário dos mais pobres nas regiões metropolitanas do país. As médias são:
• 40% mais pobres: R$ 253,95 per capita;
• 50% intermediários: R$ 1.530,96 per capita;
• 10% mais ricos: R$ 7.933,66 per capita.
7. a) Porque a disparidade de renda também implica desigualdade no acesso a bens, serviços, o que afasta pobres do repertório e das oportunidades dos ricos. A continuação desse ciclo acentua ainda mais a desigualdade.
7. b) O trecho mostra situações de preconceito social vividas pelo narrador que se originam das desigualdades sociais mais amplas da sociedade.
CATTO, André. Aumento da desigualdade: 10% mais ricos ganham 31 vezes o salário dos mais pobres nas regiões metropolitanas, diz estudo. G1, [s. l.], 13 abr. 2023. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2023/04/13/aumento-dadesigualdade-10percent-mais-ricos-ganham-31-vezes-o-salario-dos-mais-pobres-nas-regioes-metropolitanas-diz-estudo.ghtml. Acesso em: 6 set. 2024.
a) A desigualdade estampada nos números referentes à população metropolitana reforça o preconceito social. Por quê?
8. c) Revela que a construção da desigualdade não só está profundamente enraizada na história do país como mostra que essa desigualdade também envolve questões raciais e de gênero, entre outras.
b) De que maneira o trecho do conto que você leu dialoga com os dados apresentados nesta questão?
8. O romance Água de barrela (2018), de Eliana Alves Cruz, trata de outra fronteira: a fronteira racial, origem de parte da desigualdade que marca a vida brasileira. O romance narra a história de muitas gerações de mulheres negras de uma mesma família que lutam e resistem ao longo de quase 300 anos na história do Brasil. A personagem que une todas essas mulheres é Damiana. Vivendo quase um século de lutas, acompanha de perto momentos importantes da história brasileira. Você vai ler um trecho do romance em que Martha, mãe de Damiana, vive as tensões raciais e sociais da Primeira República.
Paralelamente ao mundo dos grã-finos ex-senhores de escravos, Martha seguia no planeta chamado sobrevivência. Se nos últimos dias do século passado e nos primeiros anos do século XX a polícia acirrou sua repressão aos batuques, ganhadeiras e tudo o mais que não consideravam civilizado, agora que entravam na segunda década a coisa beirava o insuportável. Não era à toa que o senhor Matheus, marido de Capitulina, não a queria mais nas ruas […].
ganhadeira: atividade que as mulheres libertas e escravizadas exerciam profissionalmente, como lavar roupas, trabalhar como amas de leite, vender quitutes etc.
CRUZ, Eliana Alves. Água de barrela . Rio de Janeiro: Malê, 2018. p. 200-201. O trecho se passa em 1911, pouco mais de duas décadas depois da Abolição da escravatura no Brasil.
a) C onsidere esse contexto e explique por que Martha afirma viver em um planeta chamado sobrevivência
9. No trecho de Água de barrela, que se passa em 1911, é apresentada uma situação de racismo e discriminação que também se coloca na origem de uma forma de desigualdade.
b) O que as autoridades policiais perseguem no trecho destacado do romance?
c) O que essa perseguição revela com relação à estrutura social do país na época?
9. De que forma o trecho de Eliana Alves Cruz justifica essa ideia de “poeira de outras épocas” sugerida pelo narrador do conto de Geovani Martins?
8. a) Espera-se que os estudantes percebam que a situação dos negros pós-abolição era marcada por perseguições e repressão violenta por parte da polícia e do Estado.
A literatura contemporânea é caracterizada por uma multiplicidade de vozes, e grande parte delas ecoa as lutas e as reivindicações de segmentos sociais minorizados que, ao longo dos séculos, foram silenciados ou apagados do cânone literário. Esse tipo de literatura dialoga com algumas obras produzidas no início do século XX, que começaram a analisar e denunciar as injustiças e problemas sociais na literatura. A seguir, você vai conhecer algumas dessas obras.
6. Resposta pessoal. Professor, é interessante permitir que os estudantes respondam oralmente à questão e troquem ideias sobre o modo como enxergam a realidade onde vivem. Se for do interesse deles, ampliar para o contexto internacional, marcado por trânsitos de pessoas que fogem de guerras, miséria e diversas perseguições. Oriente a discussão no sentido de refletir sobre a importância do acolhimento às diferenças e da importância da ação de todos para mudança desse panorama. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
X DA QUESTÃO
A literatura do final do século XIX, influenciada pelo cientificismo, produziu obras marcadas por um formalismo técnico e por ideias de uma ciência que procurava mais justificar a estrutura social do que encontrar respostas para a realidade. A virada do século, no entanto, viu mudanças radicais acontecerem no Brasil, com as consequências da Abolição da Escravatura e da Proclamação da República. O Brasil se modernizava e respirava ares vindos da Europa ao mesmo tempo que a sociedade brasileira sobrevivia em meio a intensas desigualdades e conflitos.
Nesse contexto, alguns autores, mesmo que ainda apegados a alguns aspectos formais da literatura, promoveram uma mudança de perspectiva nos temas de suas narrativas e de seus poemas ao darem voz àqueles que nunca a haviam tido na literatura brasileira: negros, pobres, sertanejos, desajustados etc. Esses autores prenunciam mudanças radicais que ocorreriam na literatura brasileira pouco tempo depois. Por isso são considerados pré-modernistas.
Para discutir
1 A Primeira República brasileira foi resultado de um golpe militar e favoreceu uma parcela pequena da sociedade. Formule uma hipótese: que grupos sociais do Brasil podem ter sido ignorados pelo governo?
2 De que maneira dar voz àqueles que são silenciados pode contribuir para pensar em formas de transformar a sociedade?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A seguir, você lerá um trecho do romance Triste fim de Policarpo Quaresma, no qual o protagonista dedica sua vida ao estudo e ao progresso do Brasil em uma atitude nacionalista radical: ele propõe que a população volte a falar tupi e não mais a língua do colonizador, valorizando a arte popular, estudando geografia e história brasileiras e dedicando-se a um projeto para provar a pujança da terra e melhorar a agricultura. Todos esses estudos e todas essas propostas, no entanto, são considerados delírios e loucuras. Por fim, ele escreve uma carta ao presidente Floriano Peixoto esclarecendo seu projeto político para o país. No trecho que você vai ler, já no final do livro, o major Policarpo Quaresma repassa as escolhas que fizera em sua vida e reflete sobre aquele que seria o antagonista da história: o governo brasileiro. Ele se encontra preso depois de escrever uma carta reclamando do presidente Floriano Peixoto sobre o trato com os prisioneiros feitos com a Revolta da Armada.
Como lhe parecia ilógico com ele mesmo estar ali metido naquele estreito calabouço? Pois ele, o Quaresma plácido, o Quaresma de tão profundos pensamentos patrióticos, merecia aquele triste fim? […] Não estava ali há muitas horas. Fora preso pela manhã, logo ao erguer-se da cama; e, pelo cálculo aproximado do tempo, pois estava sem relógio e mesmo se o tivesse não poderia consultá-lo à fraca luz da masmorra, imaginava podiam ser onze horas.
Por que estava preso? Ao certo não sabia; o oficial que o conduzira, nada lhe quisera dizer; e, desde que saíra da ilha das Enxadas para a das Cobras, não trocara palavra com ninguém, não vira nenhum conhecido no caminho, nem o próprio Ricardo que lhe podia, com um olhar, com um gesto, trazer sossego às suas dúvidas. Entretanto, ele atribuía a prisão à carta que escrevera ao presidente, protestando contra a cena que presenciara na véspera.
Não se pudera conter. Aquela leva de desgraçados a sair assim, a desoras, escolhidos a esmo, para uma carniçaria distante, falara fundo a todos os seus sentimentos; pusera diante dos seus olhos todos os seus princípios morais; desafiara a sua coragem moral e a sua solidariedade humana; e ele escrevera a carta com veemência, com paixão, indignado. Nada omitiu do seu pensamento; falou claro, franca e nitidamente.
Devia ser por isso que ele estava ali naquela masmorra, engaiolado, trancafiado, isolado dos seus semelhantes como uma fera, como um criminoso, sepultado na treva, sofrendo umidade, misturado com os seus detritos, quase sem comer… Como acabarei? Como acabarei? E a pergunta lhe vinha, no meio da revoada de pensamentos que aquela angústia provocava pensar. Não havia base para qualquer hipótese. Era de conduta tão irregular e incerta o Governo que tudo ele podia esperar: a liberdade ou a morte, mais esta que aquela.
O tempo estava de morte, de carnificina; todos tinham sede de matar, para afirmar mais a vitória e senti-la bem na consciência coisa sua, própria, e altamente honrosa.
Iria morrer, quem sabe se naquela noite mesmo? […]
Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem… Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada… O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das suas coisas de tupi, do folclore, das suas tentativas agrícolas… Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma!
#SOBRE
Lima Barreto (1881-1922) teve uma infância pobre e só conseguiu estudar com a ajuda de seu padrinho, o Visconde de Ouro Preto. Em 1897, foi admitido na Escola Politécnica, mas teve de abandonar o curso e começar a trabalhar na Secretaria da Guerra para ajudar a sustentar a família porque seu pai adoeceu. Crítico social contundente, sempre se posicionou claramente diante das questões de seu tempo. Fez da luta contra o racismo e a pobreza sua bandeira. Além de colaborar em várias revistas, escreveu diversos romances, entre eles Recordações do escrivão Isaías Caminha (1909) sobre o mundo jornalístico, Triste fim de Policarpo Quaresma (1915), Clara dos Anjos (concluído em 1922, publicado em 1948), em que combate de frente o preconceito contra negros. Dedicou-se também ao conto, à crônica e à sátira. Os Bruzundangas (1923) é sua mais famosa criação satírica: Bruzundanga é o país inventado no qual o narrador projeta muito do que via no Brasil da Primeira República. Apesar de muito criticado em seu tempo, firmou-se como um dos mais importantes escritores brasileiros.
Foto do autor em 1914.
O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à loucura. Uma decepção. E a agricultura? Nada. As terras não eram ferazes e ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando o seu patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele não a viu combater como feras? Pois não a via matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma decepção, uma série, melhor, um encadeamento de decepções.
A pátria que quisera ter era um mito; era um fantasma criado por ele no silêncio do seu gabinete. Nem a física, nem a moral, nem a intelectual, nem a política que julgava existir, havia. A que existia de fato, era a do Tenente Antonino, a do doutor Campos, a do homem do Itamaraty.
E, bem pensado, mesmo na sua pureza, o que vinha a ser a Pátria? Não teria levado toda a sua vida norteado por uma ilusão, por uma ideia a menos, sem base, sem apoio, por um Deus ou uma Deusa cujo império se esvaía? […] […]
E ele chorou um pouco.
Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma . São Paulo: Ática, 1988. p. 151-152.
1. Leia o trecho a seguir sobre a República brasileira do cientista político e historiador brasileiro José Murilo de Carvalho.
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encontra preso e reflete sobre sua vida anterior, sobre como seu patriotismo e sua preocupação
foram em vão; bem como sobre como o governo tomava atitudes injustificadas de violência e
A busca de uma identidade coletiva para o país, de uma base para a construção da nação, seria tarefa que iria perseguir a geração intelectual da Primeira República (1889-1930). Tratava-se, na realidade, de uma busca das bases para a redefinição da República, para o estabelecimento de um governo republicano que não fosse uma caricatura de si mesmo. Porque foi geral o desencanto com a obra de 1889. Os propagandistas e os principais participantes do movimento republicano rapidamente perceberam que não se tratava da república de seus sonhos. Em 1901, quando seu irmão exercia a presidência da República, Alberto Sales publicou um ataque virulento contra o novo regime, que considerava corrupto e mais despótico do que o governo monárquico. A formulação mais forte do desencanto talvez tenha vindo de Alberto Torres, já na segunda década do século: ‘Este Estado não é uma nacionalidade; este país não é uma sociedade; esta gente não é um povo. Nossos homens não são cidadãos’.
CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas: o imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. p. 35.
• De acordo com o texto, a República brasileira fracassou nos objetivos que ela se propôs a concretizar. De que maneira as reflexões de Policarpo Quaresma exemplificam a crítica apresentada no trecho sobre a República?
2. a) Policarpo os interpreta como decepções e tolices, como se tudo o que estudou e propôs fossem inutilidades.
2. Nesse final de romance, Policarpo repassa seus estudos e propostas, considerados delírios e loucuras.
a) Já preso, como Policarpo Quaresma interpreta os projetos que desenvolveu ao longo da vida?
b) Releia: “A pátria que quisera ter era um mito”. Qual é o país real do qual Policarpo começa a tomar conhecimento?
É o país dos governantes e seus desmandos que levaram Policarpo àquela condição.
3. O romance Triste fim de Policarpo Quaresma representa com clareza a distância entre as promessas do positivismo e da Belle Époque e o contexto de miséria que se instalava na cidade do Rio de Janeiro.
• Copie o organizador em seu caderno e complete-o com os dados que representam a diferença entre teoria e realidade.
Terras férteis e fáceis de plantar
Agricultura
Povo brasileiro
Doçura
Terras ferazes (férteis) em que nada dá
4. a) Deveria abrir um processo, investigar, apurar os fatos, punir excessos.
4. b) Espera-se que os estudantes reconheçam que confirma, já que ele ignorou os desmandos ocorridos em seu próprio governo.
5. b) A linguagem coloquial pode aproximar os romances e demais obras do autor de um número maior de leitores, tornando os diálogos mais verossímeis e permitindo uma leitura sem obstáculos.
4. Antes de ser preso, Policarpo era carcereiro da prisão na Ilha das Enxadas, para onde foram enviados os prisioneiros da Revolta da Armada, mesma revolta em que combateu. Lá presencia a chegada de um homem do Itamaraty que seleciona aleatoriamente alguns prisioneiros e os leva para um local onde seriam executados. Por isso, escreve uma carta para o presidente denunciando o ocorrido e, como consequência, é preso.
a) C onsiderando que a carta de Quaresma denunciava um crime – o assassinato de prisioneiros pelo governo brasileiro –, que medidas você acredita que o presidente deveria tomar?
b) O trecho que você leu formula críticas ao governo de Floriano Peixoto, que, em outras passagens do livro, é tido como corrupto e incompetente. A ação de prender Quaresma confirma ou contradiz o julgamento do protagonista?
5. Releia.
#fiCAADiCA
Capa do podcast Lima Barreto: o negro é a cor mais cortante.
Lançada no centenário da morte do escritor, a série em podcast apresenta a vida e a obra de Lima Barreto na voz de dois especialistas: Beatriz Resende e Gabriel Chagas. Ao longo dos episódios, são apresentados trechos da obra do autor, e o ouvinte pode ter um panorama bem completo da vida e da obra de Lima Barreto.
• LIMA Barreto: o negro é a cor mais cortante 3: O Brasil é uma vasta comilança. Apresentação: Beatriz Resende e Gabriel Chagas. [S. l.]: Rádio Batuta, 1 nov. 2022. Podcast. Disponível em: https://radiobatuta.ims.com.br/podcasts/ lima-barreto-o-negro-e-a-cor-mais-cortante/ episodio-3-o-brasil-e-uma-vasta-comilanca. Acesso em: 6 set. 2024.
Devia ser por isso que ele estava ali naquela masmorra, engaiolado, trancafiado, isolado dos seus semelhantes como uma fera, como um criminoso, sepultado na treva, sofrendo umidade, misturado com os seus detritos, quase sem comer…
a) Nesse trecho, o narrador recorre à gradação – uma figura de linguagem que consiste na enumeração de determinadas ideias de forma crescente ou decrescente. O que essa gradação registra?
b) Lima Barreto foi criticado por usar uma linguagem coloquial. Que efeito junto ao leitor pode produzir o uso de uma linguagem assim?
5. a) A gradação registra a completa decadência e humilhação à qual Quaresma é submetido por criticar e denunciar tanto o governo brasileiro.
6. No final do romance, condenado ao fuzilamento, Quaresma reflete sobre seus sonhos e atividades, terminando com uma conclusão melancólica. Explique a diferença entre o nacionalismo de Quaresma e o nacionalismo do governo.
O nacionalismo de Quaresma era utópico, ingênuo. O nacionalismo do governo está a serviço do “Tenente Antonino, a do doutor Campos, a do homem do Itamaraty”, ou seja, servia a interesses que
Triste fim de Policarpo Quaresma critica as instituições brasileiras expondo suas falhas e ineficiências, especialmente a corrupção e a burocracia opressiva. O protagonista se indigna contra a hipocrisia do nacionalismo, a superficialidade do patriotismo oficial e o abandono das minorias pelo governo, pela polícia, pelo sistema educacional.
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nada tinham a ver com um favorecimento verdadeiro da população, mantida à margem do processo de desenvolvimento do país.
7. A seguir, você lerá um trecho do conto “Negrinha” (1920), do livro homônimo de Monteiro Lobato. O trecho mostra um pouco da vida de Negrinha, menina que vivia sob violências constantes na casa de dona Inácia, ex-senhora de escravos do interior de São Paulo.
Assim cresceu Negrinha – magra, atrofiada, com os olhos eternamente assustados. Órfã aos quatro anos, por ali ficou feito gato sem dono, levada a pontapés. Não compreendia a ideia dos grandes. Batiam-lhe sempre, por ação ou omissão. A mesma coisa, o mesmo ato, a mesma palavra provocava ora risadas, ora castigos. Aprendeu a andar, mas quase não andava. Com pretextos de que às soltas reinaria no quintal, estragando as plantas, a boa senhora punha-a na sala, ao pé de si, num desvão da porta. […] reinar: fazer travessuras. desvão: espaço escondido.
7. Ao descrever Negrinha como uma órfã assustada, como se fosse um bicho acuado, o conto destaca as privações e limitações que os maus-tratos de Dona Inácia legavam à menina.
O corpo de Negrinha era tatuado de sinais, cicatrizes, vergões. Batiam nele os da casa todos os dias, houvesse ou não houvesse motivo. Sua pobre carne exercia para os cascudos, cocres e beliscões a mesma atração que o ímã exerce para o aço. Mãos em cujos nós de dedos comichasse um cocre, era mão que se descarregaria dos fluidos em sua cabeça. De passagem. Coisa de rir e ver a careta…
azorrague: açoite formado por várias tiras trançadas. frenesi: delírio, inquietação.
A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora senhora de escravos – e daquelas ferozes [...].
O 13 de Maio tirou-lhe das mãos o azorrague, mas não lhe tirou da alma a gana. Conservava Negrinha em casa como remédio para os frenesis. Inocente derivativo:
— Ai! Como alivia a gente uma boa roda de cocres bem fincados!…
LOBATO, Monteiro. Negrinha. São Paulo: Globo, 2012. E-book. Localizável em: § 10-20.
• Embora parte da obra de Monteiro Lobato sustente uma perspectiva eugenista, o conto “Negrinha” adota uma visão crítica à postura escravocrata que persistia na cultura brasileira. Como a descrição de Negrinha comprova essa afirmação?
8. No trecho, a crítica à escravidão e a uma postura senhoril cruel e arcaica fica explícita na descrição das violências sofridas por Negrinha, mas também está presente na ironia e no sarcasmo que atravessa a descrição das ações e dos costumes das personagens.
• Identifique no texto trechos que apresentam uma crítica por meio de ironia ou sarcasmo.
9. A seguir, você lerá um trecho da segunda parte de Os sertões, de Euclides da Cunha, obra que narra episódios da Guerra de Canudos. A composição do texto busca seguir o método científico. Nesse trecho, é apresentado mais sobre o sertanejo e suas características físicas e comportamentais, como um sujeito biológico inserido em um meio natural.
“a boa senhora sala, ao pé de si, num desvão
excelente Dona Inácia era mestra na arte de judiar
De repente, uma variante trágica.
Aproxima-se a seca.
O sertanejo adivinha-a e graças ao ritmo singular com que se desencadeia o flagelo.
Entretanto não foge logo, abandonando a terra a pouco e pouco invadida pelo limbo candente que irradia do Ceará.
Buckle, em página notável, assinala a anomalia de se não afeiçoar nunca, o homem, às calamidades naturais que o rodeiam. Nenhum povo tem mais pavor aos terremotos que o peruano; e no Peru as crianças ao nascerem tem o berço embalado pelas vibrações da terra.
Mas o nosso sertanejo faz exceção à regra. A seca não o apavora. É um complemento à sua vida tormentosa, emoldurando-a em cenários tremendos. Enfrenta-a, estoico Apesar das dolorosas tradições que conhece através de um sem-número de terríveis episódios, alimenta a todo o transe esperanças de uma resistência impossível.
Com os escassos recursos das próprias observações e das dos seus maiores, em que ensinamentos práticos se misturam a extravagantes crendices, tem procurado estudar o mal, para o conhecer, suportar e suplantar. Aparelha-se com singular serenidade para a luta. Dois ou três meses antes do solstício de verão, especa e fortalece os muros dos açudes, ou limpa as cacimbas. Faz os roçados e arregoa as estreitas faixas de solo arável à orla dos ribeirões. Está preparado para as plantações ligeiras à vinda das primeiras chuvas.
#SOBRE
Euclides da Cunha (1866-1909) formou-se bacharel em Matemática, Ciências Físicas e Naturais pela Escola Superior de Guerra. Colaborou no jornal O Estado de S. Paulo e trabalhou como engenheiro militar. Em 1896, deixou o exército por estar desencantado com a República. No ano seguinte, foi enviado pelo jornal para Canudos como correspondente. Apoiando-se em suas anotações de jornalista, escreveu Os sertões (1902) denunciando os horrores da guerra.
limbo: para a religião cristã, lugar entre o céu e inferno.
estoico: rígido, firme.
solstício: período em que o sol atinge a maior distância da linha do equador, no seu movimento aparente.
especar: dar firmeza.
arregoar: abrir fendas no solo.
9. b) “Transcende a sua situação rudimentar. Resignado e tenaz, com a placabilidade superior dos fortes, encara de fito a fatalidade incoercível; e reage. O heroísmo tem nos sertões, para todo o sempre perdidas, tragédias espantosas. Não há revivê-las ou episodiá-las. Surgem de uma luta que ninguém descreve – a insurreição da terra contra o homem.”
Procura em seguida desvendar o futuro. Volve o olhar para as alturas; atenta longamente nos quadrantes; e perquire os traços mais fugitivos das paisagens… […] Aguarda, paciente, o equinócio da primavera, para definitiva consulta dos elementos. Atravessa três longos meses de expectativa ansiosa e no dia de S. José, 19 de março, procura novo augúrio, o último. Aquele dia é para ele o índice dos meses subsequentes. Retrata-lhe, abreviadas em doze horas, todas as alternativas climáticas vindouras. Se durante ele chove, será chuvoso o inverno: se, ao contrário, o Sol atravessa abrasadoramente o firmamento claro, estão por terra todas as suas esperanças.
CUNHA, Euclides da. Os sertões: Campanha de Canudos. São Paulo: Abril Cultural, 1979. p. 103-105. Ao descrever os costumes do sertanejo, Euclides exalta a luta e as artimanhas utilizadas para enfrentar as intempéries do clima.
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a) A o descrever tais procedimentos, o que o texto destaca?
b) Se aderisse à teoria determinista, seria possível concluir que o sertanejo era uma “sub-raça”, inferior aos homens do litoral, que vivem em meio à civilização. No entanto, a descrição do sertanejo não o coloca como inferior, mas destaca sua grandeza. Transcreva um trecho do texto que sirva de exemplo para essa afirmação.
quadrantes: os pontos cardeais. equinócio: momento em que o sol, em seu movimento, está próximo à linha do equador.
SAIBA MAIS
A eugenia é uma teoria que buscava selecionar os genes com características consideradas desejáveis e excluir os de características indesejáveis. Essa ideia ganhou força no início do século XX e propunha intervenções para “aprimorar” a raça humana, como a esterilização de pessoas consideradas “inferiores” ou a promoção de casamentos entre indivíduos com atributos “superiores”. Essas práticas são amplamente condenadas hoje por suas implicações racistas, elitistas e antiéticas. Monteiro Lobato foi um dos grandes divulgadores da eugenia no Brasil e reproduziu essas ideias em seus escritos, tanto em romances quanto na literatura infantil.
10. Os sertões foi lançado em 1902 com sucesso de público e de crítica. Era início da República, e as teorias positivistas, deterministas e eugenistas serviam como base de reflexão sobre a sociedade. Considerando o livro e o contexto, explique como Os sertões contribuiu para compor uma nova concepção sobre o Brasil junto aos leitores de sua época.
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9. a) Destaca o conhecimento e a força, imprescindíveis para a sobrevivência do sertanejo num ambiente inóspito como o sertão, conhecimento originado de sua adaptação ao meio e não com base em teorias de homens alheios ao seu lugar geográfico.
O beato Antônio Conselheiro (1830-1897) reuniu em torno de si uma grande massa de sertanejos muito pobres, esquecidos pelas políticas públicas federais. Em 1893, esse grupo fundou o arraial de Belo Monte, conhecido como Canudos, que chegou a ter 5 mil casas e quase 25 mil habitantes. Contestando medidas tomadas pela Nova República e incomodando coronéis que perdiam sua mão de obra, o arraial de Canudos foi considerado inimigo da nação, e seus habitantes foram acusados de serem monarquistas. Iniciou-se então uma guerra contra Canudos. As três primeiras expedições militares enviadas para o sertão foram massacradas. A quarta massacrou a população de Canudos, matando mais de 30 mil pessoas e cometendo crueldades nunca vistas até então na história brasileira.
A “matadeira”, famoso canhão Whitworth 32, empregado pelas forças militares para reprimir os sertanejos de Canudos. Monte Santo (BA), 1897.
10. O livro de Euclides da Cunha, ao exaltar e mostrar a força do sertanejo, a despeito das condições precárias em que ele vivia, acaba por questionar a hierarquização de raças, ideia ainda em voga no Brasil, e os consequentes desmandos do governo para com uma população carente de amparo e incentivo.
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“Deste dia em diante, a pintura está morta!”, declarou Paul Delaroche (17971856), um pintor francês, ao tomar conhecimento da invenção da fotografia. Em 1826, Nicéphore Niépce (1765-1833), um inventor francês, desenvolveu uma técnica que utilizava a luz para registrar a realidade, depois aprimorada pelo cenógrafo francês Louis Daguerre (1787-1851), e que colocava novas questões para a pintura, tradicionalmente responsável por registrar a realidade, principalmente nas produções de retratos e paisagens. A arte precisaria ser reinventada e assumir novas funções.
No Brasil, a literatura atravessava uma fase de transição, que a mantinha ligada a tendências e teorias do século XIX, mas, ao mesmo tempo, em contato com um processo de modernização que resultaria em rumos e escolhas muito diferentes dos que vigoravam até então. Enquanto isso, na Europa, as rupturas com a arte desenvolvida até então já estavam sendo implementadas. As vanguardas europeias propunham formas de pensar a arte que teriam impacto na literatura brasileira a partir do início do século XX.
Entre as décadas de 1860 e 1870, um grupo de pintores influenciados pelas possibilidades que a fotografia oferecia desenvolveu novas técnicas e modos de entender a representação na pintura. Alguns pintores passaram a fazer experimentações cromáticas em um esforço para captar a luz em suas obras. Estavam lançadas as bases do Impressionismo e de um novo olhar sobre a arte. O Pós-Impressionismo radicalizaria ainda mais as experimentações técnicas.
O movimento expressionista deu voz à angústia e ao pessimismo que rondava a Europa. Deu voz também a uma dor existencial num mundo devastado pela angústia do ser humano, que se via diante de um progresso que não conseguia melhorar
a vida da população. As obras expressionistas eram pensadas para causar grande impacto emocional no espectador.
O movimento expressionista teve origem na Alemanha do pré-guerra e tinha como referência a obra do pintor norueguês Edvard Munch (1863-1944). Sua obra O grito é uma das melhores expressões da agonia do ser humano frente à perda de sua racionalidade: uma figura contorcida, fantasmagórica,
O grito, de Edvard Munch, rompeu com os padrões clássicos da pintura acadêmica e propôs novas perspectivas sobre o ser humano e as formas de registro do real, para além da representação.
MUNCH, Edvard. O grito. 1893. Óleo sobre tela, têmpera e pastel sobre cartão, 91 cm x 73,5 cm. Museu Nacional de Arte da Noruega.
de uma pessoa com as mãos na cabeça que caminha sob um céu com nuvens avermelhadas e um fiorde azul enegrecido; toda a paisagem parece compartilhar os sentimentos do personagem central.
A proposta da estética cubista era libertar a imagem dos limites da tela. As duas dimensões de um quadro não permitem que as várias dimensões do mundo sejam representadas ao mesmo tempo. Ao pintar um rosto de perfil, por exemplo, o outro perfil, a frente e a parte de trás da cabeça ficam ocultos ou apenas insinuados. Por isso, os cubistas pretendiam representar as várias dimensões do mundo ao mesmo tempo no plano da tela. Para isso, decompunham as figuras em formas geométricas. Assim, podiam investigar mais a fundo as dimensões do real e suas representações.
O maior representante dessa estética foi o pintor espanhol Pablo Picasso (1881-1973). Inspirado nos primeiros estudos de geometrização das formas, Picasso criou uma obra grandiosa que registrou, na maior parte do tempo, sua biografia, seus amores e suas mulheres.
Motivados pelas transformações que vieram com a tecnologia e as invenções, contaminados pelo espírito decadente dos franceses, os futuristas pretendiam erradicar um passado que não correspondia mais ao começo do século XX. Filippo Marinetti (1876-1944), idealizador do movimento, escreveu o Manifesto Futurista , em que propunha que todas as bibliotecas fossem queimadas, os museus, destruí dos, e as estátuas, decapitadas, pois só assim os registros do passado seriam apagados e a arte da máquina poderia emergir. Os futuristas exaltavam a locomotiva, o avião, a velocidade, as metrópoles, o cheiro de óleo diesel, a eletrici dade, as novidades.
A escultura de Umberto Boccioni sugere movimento, dinamismo. Na obra, a presença do bronze, metálico, remete às máquinas: velocidade e tecnologia, dois conceitos tão caros aos futuristas.
A imagem da garota refletida no espelho, na obra de Picasso, revela distorções, antagonismos, duplicidades, outras formas e cores, possíveis de serem observadas por meio da representação das duas dimensões de um mesmo perfil, prática que o Cubismo propunha. PICASSO, Pablo. Garota diante de um espelho 1932. Óleo sobre tela, 162,3 cm x 130,2 cm. Museu de Arte Moderna de Nova York.
BOCCIONI, Umberto. Formas únicas de continuidade no espaço. 1913. Escultura em bronze, 111,2 cm × 88,5 cm x 40 cm. Museu de Arte Moderna
Enquanto o Futurismo exaltava a guerra como possibilidade do surgimento de um novo mundo, os dadás sustentavam sua estética como uma reação ao horror sem sentido revelado na Primeira Guerra. Diante dos horrores dos campos de batalha e do acúmulo de mortes, os dadaístas abdicaram da racionalidade e tornaram-se avessos a qualquer ordem social. Preferiram voltar-se ao absurdo do mundo, à falta de lógica e de sentido que viam nas relações entre o ser humano e sua realidade. Para isso, abriram mão de qualquer técnica e utilizaram como lema a produção de uma arte nonsense para escandalizar e despertar o homem para novas realidades. O próprio nome do movimento, Dadaísmo, não quer dizer nada: é uma palavra criada para não ter sentido. Para os dadaístas, a arte deveria surgir do acaso, da realocação dos objetos do mundo. O nome mais influente do movimento foi Marcel Duchamp (1887-1968).
Surrealismo
O Surrealismo foi fortemente influenciado pela psicanálise. Procurando traduzir em suas obras o conceito de
Em Fonte, Duchamp cumpre um dos objetivos dos dadaístas, que era reduzir a cacos os conceitos tradicionais de arte, questionando a própria ideia de uma obra de arte e os espaços por onde ela circula.
DUCHAMP, Marcel. Fonte. 1917. Cerâmica vitrificada. 61 cm x 36 cm x 48 cm. Réplica oficial de 1964. La Galleria Nazionale, Roma.
inconsciente desenvolvido por Sigmund Freud, os artistas surrealistas elaboraram novas técnicas de pinturas que buscavam desprender os homens das limitações da consciência e da lógica. Salvador Dalí (1904-1989), o pintor surrealista mais conhecido, buscou registrar alucinações e imagens oníricas em suas telas. Suas pinturas são realistas dentro de um certo delírio onírico: constantemente há a presença de gavetas simbolizando o inconsciente e de relógios escorrendo ao representar a passagem do tempo.
Talvez uma das mais populares obras do espanhol Salvador Dalí, A persistência da memória. A arte do inconsciente, como ficou conhecido o Surrealismo, explorou os sonhos e o imaginário desconexo por meio da temática da temporalidade. DALÍ, Salvador. A persistência da memória. 1931. Óleo sobre tela, 24 cm x 33 cm. Museu de Arte Moderna de Nova York.
O personagem Jeca Tatu, de Monteiro Lobato, materializava a visão eugenista que o escritor tinha da sociedade na figura de um habitante do interior doente, preguiçoso e miscigenado, incapaz de se adequar ao progresso da nação.
Imagem de divulgação de Jeca Tatu
Esse personagem ganhou uma versão cinematográfica original. Amácio Mazzaropi (1912-1981) foi um cineasta e comediante brasileiro que desempenhou um papel crucial na adaptação do personagem Jeca Tatu dos livros para as telas e o subverteu para criar um novo modelo de personagem interiorano que conquistou o público brasileiro.
Enquanto o Jeca Tatu de Lobato era uma figura que simbolizava a ignorância e o atraso das zonas rurais, Mazzaropi transformou esse personagem em uma figura simpática e heroica, mantendo suas características de ingenuidade e honestidade, e adicionando uma astúcia e um senso de justiça que lhe permitiam superar os desafios e injustiças sociais. Essa adaptação não só humanizou o Jeca, mas também o tornou um símbolo de resistência e sabedoria popular. O estilo de Mazzaropi influenciou vários cineastas e atores contemporâneos. O ator Selton Mello (1972-), por exemplo, explora temas da cultura popular brasileira com um tom cômico e nostálgico no filme O palhaço (2011); o diretor André Klotzel (1954-), com A marvada carne (1985), captura a vida no campo com humor e sensibilidade; Tapete vermelho (2006), do diretor Luiz Alberto Pereira (1951-), narra a jornada de pai e filho pelo interior de São Paulo, refletindo a influência do trabalho de Mazzaropi na cultura popular e no imaginário coletivo brasileiro; o diretor Halder Gomes (1967-), com Cine Holliúdy (2012), adota uma comédia e ambientação que remetem ao trabalho de Mazzaropi. Esses artistas mostram como o legado de Mazzaropi continua vivo e influente no cinema brasileiro, refletindo seu impacto duradouro na cultura popular.
1. O professor irá dividir a turma em quatro grupos. A ideia é que cada grupo assista a um dos filmes mencionados anteriormente, que dialogam com a estética de Mazzaropi e seu Jeca Tatu.
2. Compartilhe suas impressões sobre os filmes com seu grupo.
3. Depois de todos apresentarem seus comentários, discutam que visão de personagem do interior é construída nos filmes e de que maneira essas visões dialogam com a literatura pré-modernista.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Em 1891, o Brasil enfrentava uma grave crise econômica, quando foi promulgada a Constituição, que concedia aos governos estaduais a responsabilidade de eleger os presidentes dos estados (os governadores de hoje). Com os votos controlados por coronéis que dependiam do governo estadual para nomear parentes para cargos públicos, a política passou a ser exercida com base na corrupção, em alianças e favores. Esse período, conhecido como República dos Coronéis, favorecia as oligarquias e a elite agrária enquanto grande parte da população era composta de miseráveis. Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP), regiões privilegiadas, viviam sua Belle Époque: inauguravam espaços de convívio para uma elite agrária e agora também intelectual, o que possibilitaria a divulgação de novas ideias.
Na charge de Alfredo Storni, publicada na revista Careta, de 19 de fevereiro de 1927, observa-se uma representação crítica ao voto de cabresto, prática comum durante a República Velha. STORNI, Alfredo. [As próximas eleições… “de cabresto”]. Careta, Rio de Janeiro, ano XX, n. 974, 19 fev. 1927. p. 14.
Com a abolição da escravatura, a mão de obra escrava foi substituída pela dos imigrantes, que chegaram com a promessa de terra e dinheiro fácil. A chegada de imigrantes europeus também atendia aos eugenistas, para quem os europeus poderiam branquear a raça brasileira. As preocupações com questões de raça eram tidas como assuntos de saúde pública e promoveram até uma mudança na paisagem urbana das cidades, como o Rio de Janeiro. Os ex-escravizados foram forçados a se mudar para os morros e para as periferias e, assim, manter o centro adequado aos padrões estéticos da Belle Époque.
Enquanto Rio de Janeiro e São Paulo se desenvolviam econômica e culturalmente, o restante do Brasil amargava na miséria. Uma série de rebeliões contestavam os supostos avanços prometidos pela República. A Revolução Federalista , no Rio Grande do Sul, questionava a representatividade da República no governo estadual; a Guerra de Canudos e a do Contestado atestavam o descaso brasileiro em relação à sua população miserável. Greves começavam a eclodir em São Paulo. A República estava estabelecida, mas ainda estava longe de representar o povo brasileiro.
Dois dos principais líderes da Revolução Federalista, ao centro da imagem: Gumercindo e Aparício Saraiva, em 1893.
Na Europa, o Impressionismo inaugurava a arte moderna ao propor uma pintura que, em vez da reprodução fiel da realidade, queria registrar a luminosidade, a cor, um olhar subjetivo, uma impressão. O estilo impressionista começava a ser divulgado no Brasil com Almeida Júnior (1850-1899), que introduziu paisagens do interior em seus quadros, e Eliseu Visconti (1866-1944), que, com uma temática mais próxima do cotidiano, registrou a pobreza e a simplicidade da periferia.
A partir de 1913, Lasar Segall (1889-1957) e Anita Malfatti (1889-1964), pintores com forte influência dos estilos de vanguarda da Europa, realizaram exposições em São Paulo que receberam pesadas críticas. A literatura continuava sendo a arte de maior prestígio. A poesia parnasiana, os romances naturalistas e os românticos mantinham a preferência dos leitores.
MALFATTI, Anita. O homem amarelo. 1915. Óleo sobre tela, 61 cm x 51 cm. Coleção Mário de Andrade do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (IEB/USP).
No final do século XIX, a arte técnica e formal ditava o bom gosto e gozava de muito prestígio junto ao público brasileiro. No entanto, essa herança técnica, clássica, e o caráter alienado de algumas obras deixavam uma lacuna na arte brasileira, que ignorava a realidade social bastante problemática que se impunha. Alguns autores iniciaram uma renovação temática ao dirigirem-se para essa realidade social, analisando esses problemas e propondo explicações e soluções, mas ainda implementando poucas transformações na linguagem e na estrutura das obras.
ALMEIDA JÚNIOR, José Ferraz de. O violeiro. 1899. Óleo sobre tela, 141 cm x 172 cm. Pinacoteca do Estado de São Paulo.
A crença do movimento eugenista, segundo a qual o branqueamento da raça poderia aprimorar a sociedade e desenvolver a nação, ecoou na obra de Monteiro Lobato, árduo defensor de uma modernização e de um desenvolvimento do Brasil que legava ao negro e ao caipira miscigenado a responsabilidade pelo atraso da nação.
Já Lima Barreto adotou outro ponto de vista. Escritor negro, morador dos subúrbios do Rio de Janeiro, amargou as consequências do preconceito racial durante toda sua vida e desenvolveu uma obra de resistência, que denunciava a miséria, o favoritismo, o academicismo e o rancor que marcaram sua vida e a de milhares de pessoas negras e pobres como ele.
Fora dos centros urbanos, onde a miséria se instaurava de uma forma mais cruel e onde conflitos se aprofundavam, algumas vozes eram caladas pela violência. Euclides da Cunha, engenheiro e correspondente do jornal O Estado de S. Paulo na Guerra de Canudos, possibilitou que o massacre dos sertanejos da Bahia ecoasse por todo o mundo.
A idealização romântica e a postura impassível do Naturalismo começavam a ceder espaço à reflexão engajada da sociedade. Quando essas novas vozes começaram a ser ouvidas na literatura, por um público leitor que se considerava muito distante desses problemas, iniciava-se a construção de uma nova visão de sociedade que precisava, urgentemente, de renovação.
Os reflexos dessa postura literária ainda ecoam em obras como as de Geovani Martins e Eliana Alves Cruz e nas de vários autores contemporâneos que dão voz às minorias em luta na sociedade contemporânea.
Literatura como conflito de vozes
Aqui, o termo voz é tomado no sentido de uma fala que tem lugar social e ideológico marcado. O confronto de vozes seria então um confronto de posições, de lugares de fala, de visão de mundo.
Conflitos entre posicionamentos, interesses e pontos de vista alimentam a literatura desde sempre. Policarpo Quaresma, protagonista do romance de que você leu um trecho nesta unidade, colocava-se contra uma ordem que ele considerava excludente, preconceituosa e por isso nociva ao país que ele amava. A ordem representada pela elite branca, militar, resistia e acabou por prendê-lo e assassiná-lo.
Esse conflito de vozes pode ser mais evidente em algumas narrativas que em outras, mas sempre está presente. No romance O Guarani (1857), por exemplo, o amor do indígena Peri por Ceci, filha de um fidalgo português, é a pele sob a qual se confrontam culturas e interesses: ao construir um mito sobre a fundação do Brasil, o romance faz predominar a voz do colonizador branco, que impõe sua religião e sua língua ao indígena que salva Ceci. Ao representar o indígena como herói, o romance silencia sua identidade.
Diante desses conflitos, o leitor pode se distanciar e refletir sobre eles e também sobre sua própria realidade. A literatura é humanizadora, entre tantos motivos, porque permite ao leitor, no encontro com vozes dissonantes, indagar a si mesmo e projetar suas indagações no mundo ao redor.
1. Considere seu repertório e sua realidade. Você identifica o conflito de vozes em sua realidade próxima? E na realidade ampliada – sua cidade, seu país etc. –, que conflitos você reconhece?
2. Lembre-se de textos lidos em unidades anteriores e escolha um deles para revisitar: que conflito de vozes você acredita estar ali representado?
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Respostas pessoais. É importante que os estudantes percebam que as leis garantem direitos que são relacionados a contextos mais amplos. Nas falas e ações do dia a dia, são reproduzidos muitos preconceitos que podem magoar, humilhar e produzir afetos negativos nas pessoas, sem que isso seja, necessariamente, passível de punição. Dê exemplos do cotidiano deles, como apelidos, brincadeiras que exploram certas características que incomodam – muitas dessas coisas podem produzir afetos negativos no outro, como mágoa, ressentimento, diversas chateações. É importante o discernimento, o bom senso, a ética e o respeito ao espaço do outro.
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A reflexão engajada e a postura crítica que renovaram a literatura na virada do século XIX para o XX e que ainda ecoam em vozes contemporâneas podem ser grandes aliadas contra um problema da sociedade atual: a propagação irrefletida das fakes news . Agravado pelo advento da Inteligência Artificial (IA) e pela manipulação de vídeos, áudios e imagens, o problema das fake news transforma leitores e espectadores de notícias em verdadeiros guardiões da informação.
Sendo assim, é fundamental redobrar a atenção ao consumir notícias, buscando ferramentas de checagem de informação para reconhecer indícios de que uma notícia é falsa. Nesta seção, você vai ler uma notícia divulgada em 2024 com o intuito enganar e propagar informações mentirosas. Dessa forma, você poderá refletir e analisar notícias de maneira crítica, para não se deixar levar por informações enganosas. Considerando isso, reflita com os colegas.
Para discutir
1 Você costuma ler e ver notícias divulgadas em redes sociais? Costuma checar se o meio de comunicação que publicou a notícia lida é confiável?
2 Você já se deparou com alguma fake news? Se sim, o que você fez em relação a essa informação?
3 Em sua opinião, o que pode ser feito para que as fake news parem de ser amplamente divulgadas nas redes sociais?
A cantora estadunidense Madonna (1958-) fez um show no Rio de Janeiro em 4 de maio de 2024 que lotou a praia de Copacabana. Naquele momento, o Rio Grande do Sul enfrentava uma de suas piores tragédias – uma inundação que muitos especialistas creditam à mudança climática e que afetou a vida de inúmeros habitantes daquela região. Muitos deles se viram diante de perdas irreparáveis. Ambos os fatos (o show e a tragédia) mobilizaram a opinião pública e a imprensa, gerando muitas notícias, mas também igualmente muita desinformação.
Várias fake news viralizaram e produziram muito ruído e prejuízo moral.
Leia as notícias a seguir.
Texto 1
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Madonna doa R$ 10 milhões ao Rio Grande do Sul, diz colunista
Madonna esteve no Brasil para o encerramento da ‘The celebration tour’, que celebrou os 40 anos de carreira da artista
Por: Aline Gouveia – Correio Braziliense
Publicado em: 06/05/2024 15:19
A cantora Madonna fez uma doação milionária para o Rio Grande do Sul. O estado é afetado por enchentes que causaram 83 mortes. Segundo o colunista Erlan Bastos, do site Em Off, a rainha do pop doou o valor de R$ 10 milhões e fez questão de manter a ação em segredo. Madonna esteve no Brasil para o encerramento da The Celebration Tour, que celebrou os 40 anos de carreira
da artista. No sábado (04), ela atraiu 1,6 milhão de pessoas à Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro.
Polêmica
O show de Madonna foi alvo de críticas e desinformação nas redes sociais, que ligaram o show da rainha do pop à tragédia no Rio Grande do Sul — com falsa informação de que o dinheiro do governo federal estaria sendo utilizado no show e não no combate aos efeitos das enchentes.
O ministro da comunicação Social do governo federal, Paulo Pimenta, afirmou, no sábado (05), que a vinda da rainha do pop para o Brasil foi financiada pelo banco Itaú, Heineken e com o apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro e do governo do Rio.
Financiamento do show de Madonna foi alvo de desinformação nas redes sociais.
Moradias foram cobertas pelas águas da enchente no bairro Navegantes. Porto Alegre (RS), 2024.
‘O show da Madonna foi pago pelo Itaú e pela Heineken, com apoio da prefeitura do Rio e do governo do estado, gerando um enorme movimento positivo, mas as pessoas disseminam uma mentira de que foi financiado com a Lei Rouanet, com o dinheiro do governo federal, o dinheiro que poderia estar sendo investido no Rio Grande do Sul. Isso é mentira’, disse Paulo.
GOUVEIA, Aline. Madonna doa R$ 10 milhões ao Rio Grande do Sul, diz colunista. Diário de Pernambuco, Recife, 6 maio 2024. Disponível em: www.diariodepernambuco.com.br/noticia/viver/2024/05/madonna-doa-r-10-milhoes-ao-rio-grande-do-sul-diz-colunista.html. Acesso em: 6 set. 2024.
Texto 2
Madonna não doou R$ 10 milhões ao Rio Grande do Sul, corrige colunista
‘Peço mil desculpas por isso. Esse erro vai fazer eu melhorar a apuração’, disse o colunista em uma publicação no Instagram. ‘Não tenho vergonha de pedir desculpas’.
Ronayre Nunes
postado em 14/05/2024 17:05 / atualizado em 14/05/2024 17:06
Após ter feito uma publicação falando que a cantora Madonna teria doado R$ 10 milhões ao Rio Grande do Sul, o colunista do portal Em off, Erlan Bastos voltou atrás e corrigiu a informação. Segundo o jornalista, não foi Madonna que doou o dinheiro, mas sim o banco que patrocinou o show de Madonna.
Fake news sobre o pagamento do show
O show de Madonna foi alvo de críticas e desinformação nas redes sociais, que ligaram o show da rainha do pop à tragédia no Rio Grande do Sul – com falsa informação de que o dinheiro do governo federal estaria sendo utilizado no show e não no combate aos efeitos das enchentes.
O ministro da comunicação Social do governo federal, Paulo Pimenta, afirmou, no sábado (5/5), que a vinda da rainha do pop para o Brasil foi financiada pelo banco Itaú, Heineken e com o apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro e do governo do Rio.
3. a) Em 2024, Madonna realizou um show gratuito e histórico na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, atraindo uma multidão de fãs e proporcionando uma performance memorável dos seus maiores sucessos. No mesmo ano, o Rio Grande do Sul enfrentou severas enchentes que resultaram em inundações devastadoras, deixando milhares de desabrigados e até mesmo vítimas fatais, causando danos significativos à infraestrutura da região que afetaram a economia local. As enchentes mobilizaram esforços de ajuda humanitária e medidas emergenciais para apoiar as comunidades mais prejudicadas e iniciar a recuperação das áreas atingidas.
NUNES, Ronayre. Madonna não doou R$ 10 milhões ao Rio Grande do Sul, corrige colunista. Correio Braziliense, Brasília, DF, 14 maio 2024. Disponível em: www.correiobraziliense.com.br/diversao-e-arte/2024/05/6857196-madonna-nao-doou-rs-10-milhoes-ao-rio-grande-do-sul-corrige-colunista. html. Acesso em: 6 set. 2020.
1. Essas notícias foram publicadas em diferentes portais de jornais do Brasil: Diário de Pernambuco e Correio Braziliense , que atingem um público amplo, considerando a facilidade de acesso às informações tanto por navegadores de internet quanto por aplicativo próprio para celular.
a) Embora a notícia faça referência a fatos que ocorreram no estado do Rio de Janeiro, o interesse pela publicação pode não se restringir a leitores dessa localidade. Que leitor teria interesse em acessar essa notícia?
Leitores do estado de Pernambuco ou de Brasília (DF) que tenham interesse na artista Madonna, na tragédia que assolou o Rio Grande do Sul ou no governo federal.
b) Ambos os portais e jornais fazem parte de um conglomerado nacional de mídias chamado Diários Associados, que é responsável também pelos jornais Estado de Minas e O Imparcial (Maranhão). Todos esses jornais são publicados em versão impressa e virtual, em sites , portais e aplicativos para dispositivos eletrônicos. Ser responsável por tantos veículos empodera o grupo, que pode influenciar decisões pessoais e coletivas, favorecer ou prejudicar obras, propostas, pessoas etc. Copie no caderno os itens a seguir que indicam como isso pode ocorrer.
Resposta: alternativas II e III
I. A s informações, por serem marcadamente ideológicas, atingem somente os leitores que compartilham dos valores do grupo midiático e, por isso, provocam pouco impacto nas decisões e na opinião dos leitores.
II. A s eleção e a abordagem dos conteúdos podem influenciar a opinião dos leitores que, por sua vez, podem aderir a uma ideia, um comportamento etc. influenciados pelo jornal.
III. Uma crítica desfavorável a um filme, uma série, um show ou um livro, por exemplo, pode afastar o público desses produtos culturais; a crítica a posturas ou medidas políticas pode influenciar a opinião dos leitores e promover adesão a causas; entre outros exemplos.
IV. Os veículos dos grupos, por apresentarem diferentes perspectivas sobre um determinado assunto, permitem ao leitor conhecer todos os pontos de vista possíveis ao ler todos os jornais, já que cada um se posiciona de uma forma.
2. A tecnologia permite que um fato seja noticiado instantes depois de ocorrer, o que seria impossível com a mídia impressa.
a) Qual parte da notícia indica essa instantaneidade de publicação dos fatos?
A referência à data e hora da publicação.
b) É possível verificar que a segunda notícia foi publicada às 17h05 e atualizada às 17h06. Por que essa notícia teve de ser atualizada? Formule uma hipótese.
Porque, provavelmente, o repórter deve ter notado algum erro e o corrigiu.
3. Ambos os textos fazem referência a dois eventos que ocorreram concomitantemente no Brasil em 2024 e que ganharam muito destaque na mídia.
a) Faça uma pesquisa sobre o show da Madonna no Rio de Janeiro e sobre as enchentes no Rio Grande do Sul e registre as informações básicas em seu caderno.
b) A s notícias fazem referência a polêmicas em que os dois eventos estiveram envolvidos. O que justificaria a existência dessas discussões?
Os eventos tiveram grande projeção na mídia, o que tanto pode atrair mais leitores quanto ser utilizado para destacar outros assuntos, como críticas ao governo, a comportamentos. ‘O show da Madonna foi pago pelo Itaú e pela Heineken, com apoio da prefeitura do Rio e do governo do estado, gerando um enorme movimento positivo, mas as pessoas disseminam uma mentira de que foi financiado com a Lei Rouanet, com o dinheiro do governo federal, o dinheiro que poderia estar sendo investido no Rio Grande do Sul. Isso é mentira’, disse Paulo.
4. c) Em ambas as manchetes, a modalização ocorre ao fazerem referência à fonte da informação: “diz colunista” e “corrige colunista”.
4. A s manchetes fazem referência à suposta doação da cantora Madonna para ajuda humanitária no Rio Grande do Sul.
a) A fonte de O diário de Pernambuco foi o jornalista Erlon Bastos. Qual é a fonte do jornalista?
b) Todo veículo de comunicação tem responsabilidades com relação às informações que publica, cabendo a ele checar essas informações antes de toda publicação. Que outras fontes poderiam ser checadas antes da publicação da primeira notícia?
O governo do Rio Grande do Sul poderia ter sido consultado, bem como a produção da cantora.
c) De que forma os jornais modalizam a informação para evitar serem responsabilizados?
d) E ssa modalização basta para evitar a responsabilidade dos jornais pela divulgação da primeira notícia, comprovadamente falsa? Discuta com os colegas e registre esse debate no caderno.
Não, pois caberia ao jornal checar essa informação com outras fontes antes de publicar.
Considerada a palavra do ano de 2017 pelo dicionário Collins, fake news (“notícias falsas”, em inglês, que também podem ser entendidas como “notícias fraudulentas”) referem-se à disseminação deliberada, intencional, de informações falsas ou boatos via mídia impressa, audiovisual ou virtual e, mais especialmente, textos continuamente reproduzidos em redes sociais, blogues e vídeos compartilhados. As fake news consistem em informações falsas, carregadas de exagero e sensacionalismo, que atacam pessoas ou organizações, e defendem certos pontos de vista para conseguir novos adeptos e divulgadores. A divulgação de fake news sempre se coloca a serviço dos interesses de alguém, de um grupo, de uma organização, e contra a ética e a cidadania.
5. L eia a notícia a seguir, publicada no portal Metrópoles, sediado no Distrito Federal.
RS nega que Madonna tenha doado R$ 10 milhões
O governo do RS afirmou que não recebeu nenhum Pix em nome de Madonna ou no valor de R$ 10 milhões
Beatriz Queiroz
Espera-se que os estudantes
veio a público anunciar que procurado pela
08/05/2024 17:35, atualizado 08/05/2024 18:18
Após circular a notícia de que Madonna teria doado R$ 10 milhões para ajudar as vítimas das enchentes que atingem o Rio Grande do Sul (RS), o governo do estado negou a existência dessa doação. De acordo com o órgão, não existem registros de Pix em nome da cantora ou transferências nesse valor.
‘Não tivemos registro dessa doação no Pix do SOS Rio Grande do Sul’, garantiu a Secretaria de Comunicação (Secom) do Estado do RS ao Notícias da TV.
QUEIROZ, Beatriz. RS nega que Madonna tenha doado R$ 10 milhões para estado. Metrópoles, Brasília, DF, 8 maio 2024. Disponível em: www.metropoles.com/celebridades/rs-nega-que-madonna-tenha-doado-r-10-milhoespara-estado. Acesso em: 6 set. 2024.
• De que maneira essa notícia reforça a ideia de que não houve, de fato, checagem dos fatos por parte dos jornais, incluindo o portal Metrópoles?
Uma das formas responsáveis de acessar e reproduzir conhecimento é saber fazer a verificação das informações às quais se tem acesso. Há vários sites e jornais que verificam as fake news que circulam na internet. Mas é interessante que todo leitor saiba fazer isso por conta própria.
Para essa tarefa, é possível contar com algumas ferramentas, como a busca reversa de imagens, para verificar o contexto original de publicação; a veracidade dos perfis de redes sociais; a veracidade e o contexto de postagens de redes sociais; os indícios de vídeos e imagens sobre o contexto de produção e divulgação; a pesquisa de trechos de um texto e palavras-chave, para analisar se há paráfrases, recortes de má-fé e descontextualização, entre outras.
Compartilhar textos sem a devida verificação, além de irresponsabilidade, pode contribuir para a perpetuação de preconceitos, discriminações e violências na sociedade.
De acordo com a Base Nacional Comum Curricular, versão de 2018, página 503, é enfatizado que, no Ensino Médio, a área de Linguagens e suas Tecnologias desenvolva nos estudantes o aprofundamento das “análises das formas contemporâneas de publicidade em contexto digital, a dinâmica dos influenciadores digitais e as estratégias de engajamento utilizadas pelas empresas”. Dessa forma, todos os usos relacionados à publicidade, propaganda e formas de engajamento em redes sociais apresentadas nesta coleção são para fins didáticos e seus usos em contexto social.
6. O uso de fontes confiáveis de informação é um dos pilares do jornalismo, pois é somente por meio delas que é possível conferir informações antes de qualquer publicação.
a) Erlan Bastos é um jornalista especializado no mundo do entretenimento e na vida de celebridades. O que justificaria a divulgação de uma notícia falsa como a de Madonna por parte do jornalista?
Uma possibilidade é que ele tenha tido fontes não confiáveis; outra é que uma notícia como essa rende muitas visualizações.
b) A segunda notícia, em seu formato virtual, traz um link direto para a postagem do pedido de desculpas do jornalista. Considerando a dimensão da tragédia que assolou o Rio Grande do Sul, discuta com os colegas se uma postagem com pedido de desculpas é suficiente para a responsabilização pela divulgação de fake news
6. b) Espera-se que os estudantes discutam como deveriam ser aplicadas as medidas legais. Vale salientar que, até o momento da produção deste material didático, o PL 2.630/2020 das fake news ainda estava em tramitação e sem horizonte de aprovação para oferecer medidas punitivas mais
7. a) A lei é citada no contexto de denúncia contra outra notícia falsa: havia circulado a informação de que o show de Madonna teria sido financiado pela Lei Rouanet, dinheiro que, segundo os divulgadores dessa falsa informação, poderia ter sido destinado à ajuda humanitária para a tragédia do Rio Grande do Sul. Na verdade, o financiamento do show teve como fonte apenas empresas privadas. específicas.
7. A s notícias que você leu trazem alguns esclarecimentos sobre o financiamento do show de Madonna no Rio de Janeiro, que foi objeto de outra fake news .
a) A L ei Rouanet é uma lei que permite que empresas contribuintes de Imposto de Renda possam destinar até 4% do imposto devido para fomentar a produção, preservação e difusão cultural. De que forma essa lei foi inserida nas notícias?
7. b) Os estudantes podem considerar que é uma forma de divulgar a defesa do governo com relação a um tema que dialoga com a notícia original e estabelecer a verdade.
b) Q ual é o objetivo de essas notícias também divulgarem a declaração sobre mais essa falsa informação?
8. L eia as manchetes que divulgaram fake news sobre a doação de Madonna em portais da internet.
MENDES, Maria Clara. Caridosa! Madonna doa R$ 10 milhões ao RS; Saiba de outras ações da rainha do pop Terra, [s. l.], 7 maio 2024. Disponível em: https://www.terra.com.br/diversao/gente/caridosa-madonna-doa-r-10milhoes-ao-rs-saiba-de-outras-acoes-da-rainha-do-pop,4f647c57618c017960 e6f953c6ba8deflzb1t9zf.html. Acesso em: 20 set. 2024.
MADONNA teria doado R$ 10 milhões para auxiliar vítimas de tragédia no Rio Grande do Sul. Jovem Pan, [s. l.], 6 maio 2024. Disponível em: https://jovempan.com.br/videos/programas/os-pingos-nos-is/ madonna-teria-doado-r-10-milhoes-para-auxiliar-vitimas-de-tragediano-rio-grande-do-sul.html. Acesso em: 20 set. 2024.
SEGREDO revelado: Madonna doa R$ 10 milhões ao Rio Grande do Sul. O Estado do Acre, Rio Branco, 6 maio 2024. Disponível em: https://oestadoacre.com/2024/05/06/ segredo-revelado-madonna-doa-r-10milhoes-ao-rio-grande-do-sul/. Acesso em: 20 set. 2024. REPRODUÇÃO/TERRA
8. a) A primeira e a terceira, pois qualificam a cantora como caridosa ou sinalizam a revelação de algo exclusivo, tratando a notícia como um “segredo a ser revelado”.
a) Quais manchetes divulgam a fake news de forma mais sensacionalista, isto é, com um viés em que a notícia é redigida de forma mais exagerada para aumentar o número de leitores? Explique.
8. b) A segunda, pois utiliza o tempo verbal do futuro do pretérito composto para expressar uma possibilidade: Madonna “teria doado”.
b) Qual notícia, embora ainda divulgue uma fake news , tenta se manter imparcial? Explique.
c) Observe os veículos e as datas de publicação das várias manchetes com a informação da doação da cantora. O que o conjunto dessas manchetes permite concluir?
9. A s notícias recorrem a imagens e recursos multimodais para compor o texto.
a) Qual é a importância da imagem na primeira notícia?
8. c) Que a informação viralizou, propagou-se rapidamente por vários veículos que tampouco se preocuparam em conferir a informação. Consideradas as datas de publicação, mostra também que essa propagação foi muito rápida.
b) A segunda notícia, publicada pelo Correio Braziliense, em seu formato virtual, apresenta a postagem do Instagram com o pedido de desculpas do jornalista de forma embedada , ou seja, trata-se de uma postagem clicável e reproduzível na notícia. De que forma esse recurso permite ao jornal manter uma certa imparcialidade?
9. a) A imagem apresenta a cantora Madonna ao lado de uma cena da enchente com o objetivo de relacionar a suposta doação ao evento catastrófico e, como a cantora tem apelo midiático, para atrair leitores.
9. b) Com esse recurso, o jornal não precisa nem ao menos transformar a fala total do jornalista em discurso indireto, pois dá ao leitor acesso direto à fala do jornalista tal como foi produzida no post dele na rede social na qual ele se pronunciou, evitando, dessa forma, maiores equívocos.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Releia um trecho do conto de Geovani Martins.
1 Releia o trecho destacado.
a) Em ambos os períodos, o leitor sabe que algo aconteceu, algo que o narrador não entendia. Esse algo pode ser inferido pelo contexto. Que algo pode ser?
b) O trecho destacado é composto de dois períodos simples. Reescreva os dois períodos em um só, incluindo uma conjunção que estabeleça uma relação de sentido entre eles.
1. a) O preconceito, a discriminação começou muito cedo. Ele não entendia o preconceito e a discriminação.
Começou muito cedo. Eu não entendia. Quando passei a voltar sozinho da escola, percebi esses movimentos. […] Era estranho, até engraçado, porque meus amigos e eu, na nossa própria escola, não metíamos medo em ninguém. Muito pelo contrário, vivíamos fugindo dos moleques maiores, mais fortes, mais corajosos e violentos. Andando pelas ruas da Gávea, com meu uniforme escolar, me sentia um desses moleques que me intimidavam na sala de aula. […] Tinha vezes, naquela época, que eu gostava dessa sensação. Mas, como já disse, eu não entendia nada do que estava acontecendo.
Nunca esquecerei da minha primeira perseguição. Tudo começou do jeito que eu mais detestava: quando eu, de tão distraído, me assustava com o susto da pessoa e, quando via, era eu o motivo, a ameaça. Prendi a respiração, o choro, me segurei, mais de uma vez, pra não xingar a velha que visivelmente se incomodava de dividir comigo, e só comigo, o ponto de ônibus. No entanto, dessa vez, ao invés de sair de perto, como sempre fazia, me aproximei.
MARTINS, Geovani. Espiral. In: MARTINS, Geovani. O sol na cabeça. São Paulo: Companhia das Letras, 2018. p. 17-22. p. 17-18.
1. b) Começou muito cedo e eu não entendia.
2 No trecho em destaque, é apresentado o momento em que o narrador começou a perceber que era visto como ameaça.
a) Quantas orações compõem esse período?
3 Considere o período em destaque
a) Quantas orações compõem esse período?
b) O verbo andar está no gerúndio. Se flexionado, adotaria a forma do pretérito perfeito: “Quando eu andava…”. Que circunstância expressa essa oração?
c) O pronome relativo que introduz uma oração que se refere a um termo da oração anterior. Qual seria esse termo? Três orações.
Moleques.
b) Que sentido cada oração produz?
c) Qual dessas orações tem dependência de outra para produzir sentido? Por quê? Duas orações.
2. b) A primeira oração indica o tempo e a segunda indica o que ele começou a perceber.
2. c) A primeira oração, pois precisa se ligar ao verbo perceber para indicar o momento em que se dá a ação que ele expressa.
4 Considere o período em destaque.
a) Quantas orações compõem esse período?
Três orações.
b) Qual oração pode ser considerada a principal, isto é, qual concentra o sentido do período?
A oração “eu não entendia nada”.
c) Por que se pode dizer que as demais orações dependem dessa oração principal para produzir sentido?
Porque precisam se ligar a termos da oração principal: ao verbo e ao termo nada De tempo.
Em todo texto, a organização das orações em períodos se dá em dois níveis: sintático e semântico. Nem todo período corresponde a uma única oração: há períodos formados por muitas orações que se completam em nível sintático (dos componentes da oração, como sujeito e predicado) e em nível semântico (do sentido do enunciado que transmitem em conjunto).
Observe os exemplos a seguir, extraídos do trecho do texto que você acabou de ler.
Eu não entendia nada
1 núcleo verbal: 1 oração
Na Gávea, me sentia um desses moleques que me intimidavam na aula. 1a oração 2a oração
No primeiro exemplo, há apenas uma declaração, com um único predicado verbal, cujo núcleo é a forma verbal entendia . Por ser formado por uma única oração, é chamado de período simples.
Já no segundo exemplo, há duas orações, cada uma com um verbo principal. Esse período, por ser formado de mais de uma oração, é chamado de período composto
Observe, a seguir, mais um período composto.
Os meninos brigavam entre si por territórios e todos guerreavam contra a polícia.
Nesse período composto, as duas orações estão sintaticamente completas, com sujeito, verbo e objeto. Ambas são orações independentes, e as duas declarações estão relacionadas pelo uso da conjunção e.
Assim, as formas verbais brigavam e guerreavam estão ligadas pelo sentido que produzem em conjunto. Nesse caso, há orações coordenadas, e a conjunção e é classificada como conjunção coordenativa.
Observe agora um outro exemplo de período composto.
Quando voltei da escola, percebi esses movimentos.
Nesse outro período composto, existe uma exigência sintática de ligação entre as orações. A primeira oração – “Quando voltei da escola” – é sintaticamente incompleta, pois não apresenta o termo ao qual se liga para indicar a ideia de tempo. O termo com o qual se liga a primeira oração é o verbo da segunda oração: “ percebi esses movimentos”.
#PARAlEMBRAR
Conjunção é a palavra que atua para conectar duas orações ou dois termos de mesma função sintática. Se a relação estabelecida pela conjunção é de coordenação, ela é chamada de conjunção coordenativa; se estabelece relação de dependência, conjunção subordinativa.
Por isso, identificam-se nesse período orações dependentes sintaticamente. Há, então, orações subordinadas, e a conjunção quando que as une é chamada de conjunção subordinativa.
Observe agora este período.
Prendi a respiração, o choro, me segurei, mais de uma vez, pra não xingar a velha.
O período apresenta três orações. Duas delas são separadas por vírgula e cada uma pode ser considerada independente. Por isso são coordenadas entre si. Já a oração introduzida por pra expressa uma finalidade do verbo da segunda oração: me segurei para não xingar. Essa oração é subordinada à segunda oração. Assim, há um período composto por coordenação e por subordinação.
1. b) As referências imagéticas a itens típicos das festas juninas, como as bandeirinhas e o padrão xadrez da fonte do texto verbal central, que lembra os tecidos das roupas típicas dos festejos juninos.
1. c) É necessário o conhecimento de que, no Brasil, junho é o mês das festas juninas e de que faz parte das tradições juninas soltar fogos, acender fogueiras, soltar balões.
Período é uma frase constituída de uma ou mais orações, formando uma unidade de sentido.
Período simples é aquele formado por apenas uma oração, nomeada oração absoluta.
Período composto é aquele formado por duas ou mais orações.
O período composto formado por orações coordenadas é chamado de período composto por coordenação.
Já o período composto formado por orações subordinadas é chamado de período composto por subordinação.
O período pode apresentar orações coordenadas e subordinadas. É então um período composto por coordenação e subordinação
1. Leia a seguir o texto de uma campanha de conscientização promovida pela Assembleia Legislativa do estado da Paraíba.
Campanhas como essa objetivam minimizar práticas culturalmente comuns que geram riscos para a população.
1. a) Às festas juninas.
a) A que programação cultural a campanha se relaciona?
b) Q ue elementos não verbais permitem ao leitor depreender o contexto cultural das orientações passadas pela campanha?
c) A s expressões junho e acenda fogueira não apresentam, em si, oposição semântica. Contudo, no contexto da campanha, a conjunção adversativa mas opõe o sentido de junho ao de acenda fogueira . Que tipo de conhecimento é necessário por parte do leitor para compreender essa oposição contextual?
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DA PARAÍBA. [É junho, mas…]. 2020. 1 cartaz.
2. Os dois enunciados centrais da campanha apelam a uma mudança do costume do leitor.
a) Há períodos simples entre os enunciados? Explique.
simples, apenas compostos, pois as duas frases compostas de 1a: “É junho”, oração coordenada. 2a: “mas não acenda fogueira”, oração coordenada.
b) Identifique e classifique entre principal, coordenadas ou subordinadas as orações: “É junho, mas não acenda fogueira”.
c) No segundo enunciado da campanha, “respirarem melhor” completa o sentido de outro termo do período. Qual? Qual é o sujeito desse verbo?
Completa o sentido do termo deixe e tem como sujeito “o meio ambiente e os pulmões”.
3. Leia outro cartaz de campanha de conscientização referente ao mês de junho.
FÓRUM NACIONAL DE PREVENÇÃO E ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL. Criança não deve trabalhar, infância é para sonhar. 27 maio 2019. 1 cartaz.
3. b) No meio digital, hashtags são palavras-chave precedidas do símbolo #, que se transformam em hiperlinks, ligando um texto a outros documentos do mesmo tópico. Muito populares nas redes sociais, as hashtags são frequentemente empregadas para alimentar a circulação em massa de um assunto, pois os usuários da rede podem adicioná-las a suas publicações, dando visibilidade àquilo de que trata a postagem. Na campanha em foco, a presença da hashtag indica uma sugestão de que o assunto seja propagado pelas redes sociais, de modo a dar evidência ao problema social combatido, a exploração do trabalho infantil.
Embora a segunda campanha também se refira a uma realidade brasileira, a data em foco, 12 de junho, é um marco internacional.
a) A que problema social de alcance mundial se refere a campanha?
À exploração do trabalho infantil.
b) De que maneira a hashtag #InfanciaSemTrabalho colabora para o objetivo da campanha?
c) Que recursos da linguagem poética podem ser observados na campanha?
4. O título da campanha é elaborado com base em três períodos.
4. a) “Vamos mudar essa realidade”: período simples, com apenas uma oração cujo núcleo é a locução verbal vamos mudar; “Denuncie!”: período simples, apenas uma oração; “Disque 100 ou use o App Proteja Brasil”: período composto por coordenação, duas orações cujos núcleos são disque e use; ambas as orações são coordenadas.
a) Classifique os períodos, justificando sua análise.
b) No slogan “Criança não deve trabalhar, infância é para sonhar”, o autor poderia ter empregado uma conjunção. Qual poderia ter sido essa conjunção e qual relação presente no slogan ela ressaltaria?
c) De que maneira o uso da pontuação emotiva em Denuncie! colabora para o objetivo da campanha?
4. b) A conjunção pois, que ressaltaria a relação de explicação que a segunda oração mantém com a primeira.
5. Leia a seguir um trecho de uma história em quadrinhos sobre a história da Primeira República, comentada por Lima Barreto.
Lilia
SPACCA. Triste República: a Primeira República comentada por Lima Barreto. São Paulo: Quadrinhos na Cia, 2022. p. 113.
3. c) A presença da pontuação expressiva, que marca a oralidade em Denuncie!; o uso da rima no slogan “Criança não deve trabalhar, infância é para sonhar”; a representação subjetiva, não denotativa, dos instrumentos que fazem a criança voar: brinquedos, livros, paleta de pintura. Esses objetos, que na realidade não permitem voar, são empregados metaforicamente, indicando o importante papel da arte e da literatura para o sonho da criança, ou seja, para o estímulo à imaginação, elemento sociocognitivo essencial ao pleno desenvolvimento de um ser humano.
Os quadrinhos apresentam o contexto no qual se inserem os autores do Pré-Modernismo e trazem algumas ideias que circulavam na época.
a) De que forma a eugenia é apresentada no quadro?
b) Que tipo de período é possível identificar na fala do primeiro quadrinho? Justifique.
A fala é composta de um período simples, pois tem somente o verbo visar
c) De que forma a fala de Galton e as imagens do primeiro quadro reproduzem uma lógica racista de sociedade?
Na fala de Galton, os melhores membros da sociedade seriam uma família branca e os menos dotados, sujeitos que fogem ao padrão.
6. Considere o recordatório (o texto que contextualiza as falas) do primeiro quadro.
a) O recordatório é formado por um período composto. Que orações o compõem?
“A crença […] logo sugeriu”, “de que o crime e as doenças mentais tinham causa hereditária” e “que a ‘cura’ estava no ‘saneamento do matrimônio’”.
b) Que tipo de relação essas orações mantêm entre si?
c) Formule uma hipótese que justifique a predominância de períodos simples nos quadros.
4. c) O uso da exclamação reforça a entonação de urgência atribuída ao verbo no imperativo, que constitui a ação geral principal visada pela campanha: a denúncia de ocorrências de trabalho infantil por parte do leitor.
Os períodos simples são de fácil leitura. Possuem a relação de subordinação.
5. a) A eugenia é apresentada por meio da fala de seu criador, o antropólogo e matemático inglês Francis Galton.
1. a) Que, após ter feito uma publicação dando uma informação, o colunista voltou atrás. 1. b) O colunista do portal Em off Erlan Bastos voltou atrás e corrigiu a informação após ter feito uma publicação falando que a cantora Madonna teria doado R$ 10 milhões ao Rio Grande do Sul. O colunista do portal Em off Erlan Bastos, após ter feito uma publicação falando que a cantora
3. b) Positiva, porque coloca o show como sujeito; estando nesse lugar sintático, também ocupa um lugar discursivo em que o leitor reconhece de imediato no show um alvo injustamente atacado.
3. c) Críticas e desinformação nas redes sociais atingiram o show de Madonna. O destaque passa a ser o das críticas e desinformação.
4. É favorável a Madonna não só porque restabelece a verdade e a isenta de atos condenáveis (a doação, usar dinheiro público para fins privados) mas também porque é a cantora e o show que estão destacados nos períodos. O colunista sai prejudicado apenas do
Madonna teria doado R$ 10 milhões ao Rio Grande do Sul, voltou atrás e corrigiu a informação.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Um texto pode organizar os períodos de muitas maneiras. Essa escolha não é aleatória: dependendo de como está estruturado, um período destaca informações e coloca outras em segundo plano, o que produz certos efeitos de sentido. Observe isso no trecho de uma notícia que você leu nesta unidade.
1. d) Possibilidades de resposta: porque supostamente pode atrair mais leitores; porque chama a atenção para o que vai ser corrigido.
1 Releia o parágrafo em destaque.
a) Qual informação abre o parágrafo?
b) O trecho sublinhado poderia ocupar diferentes lugares no período. Reescreva no caderno esse período começando com ele; e em seguida reescreva-o mais uma vez começando com o trecho sublinhado, mas colocando o trecho não sublinhado depois do nome do jornalista.
c) A organização do período no texto original destaca o erro do colunista. O que destacam os outros modos de organizar o período?
d) Por que o veículo que publicou a notícia preferiu começar o texto destacando a informação equivocada do colunista?
Após ter feito uma publicação falando que a cantora Madonna teria doado R$ 10 milhões ao Rio Grande do Sul, o colunista do portal Em off, Erlan Bastos voltou atrás e corrigiu a informação. Segundo o jornalista, não foi Madonna que doou o dinheiro, mas sim o banco que patrocinou o show de Madonna.
‘Peço mil desculpas por isso. Esse erro vai fazer eu melhorar a apuração’, disse o colunista em uma publicação no Instagram. ‘Não tenho vergonha de pedir desculpas’.
1. c) Destacam o colunista.
Fakenewssobre o pagamento do show
O show de Madonna foi alvo de críticas e desinformação nas redes sociais , que ligaram o show da rainha do pop à tragédia no Rio Grande do Sul –com falsa informação de que o dinheiro do governo federal estaria sendo utilizado no show e não no combate aos efeitos das enchentes.
O ministro da comunicação Social do governo federal, Paulo Pimenta, afirmou, no sábado (5/5), que a vinda da rainha do pop para o Brasil foi financiada pelo banco Itaú, Heineken e com o apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro e do governo do Rio.
[...]
NUNES, Ronayre. Madonna não doou R$ 10 milhões ao Rio Grande do Sul, corrige colunista. Correio Braziliense , Brasília, DF, 14 maio 2024. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/diversao -e-arte/2024/05/6857196-madonna-nao-doou-rs-10 -milhoes-ao-rio-grande-do-sul-corrige-colunista.html. Acesso em: 6 set. 2020.
correto destaque ao pedido de desculpas; mas é o erro que abre a notícia.
2 O trecho com pedido de desculpas do colunista está em parágrafo separado e na ordem direta. É possível dizer que foi dado o destaque devido a esse pedido de desculpas? Por quê?
3 Observe o período em destaque.
a) A que informação o período dá ênfase?
b) Essa ênfase é positiva ou negativa para a imagem do show? Por quê?
c) Reescreva o período na voz ativa. Que efeito de sentido produz essa mudança na voz verbal?
4 A notícia é favorável ou desfavorável à cantora? Por quê? E ao colunista? Por quê?
2. Espera-se que os estudantes reconheçam que sim, não apenas para destacar o erro e, assim, dar oportunidade ao leitor de reconhecer o arrependimento do colunista e o comprometimento de aprimorar o seu trabalho mas também para projetar uma imagem positiva do veículo que abre canal para a restauração da reputação do jornalista.
Segundo gramáticos, a estrutura de muitas línguas conta com uma ordem dos termos na oração. Em português, a natural é a ordem direta.
Observe a ordem direta na frase a seguir.
[Eu] peço mil desculpas por isso.
sujeito verbo OD CN
A frase a seguir também está na ordem direta, adaptada de uma das notícias que você leu nesta unidade.
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Ordem direta e ordem indireta
Na língua portuguesa, a ordem direta apresenta os termos da oração na seguinte sequência:
SUJEITO – VERBO – COMPLEMENTO DO VERBO (OBJETO) – ADJUNTOS
Qualquer disposição de termos da oração diferente dessa faz com que seja considerada ordem indireta.
O governo do RS negou a doação milionária após circulação da falsa informação.
sujeito verbo OD adj. adv.
Em contextos conversacionais cotidianos, a ordem direta é mais frequente, pois, por ser natural, é também mais econômica e evita ambiguidades.
Isso não significa dizer que a ordem indireta sempre produza problemas de sentido. A utilização da ordem indireta pode contribuir para destacar sentidos ou organizar melhor os tópicos de fala. Por exemplo:
Após circulação da falsa informação, o governo do RS negou a doação milionária.
A doação milionária, o governo do RS negou após circulação da falsa informação.
O governo do RS negou, após circulação da falsa informação, a doação milionária.
O mesmo período anterior, organizado de diferentes modos na forma indireta, pode produzir diferentes sentidos. Considera-se que, ao romper com a ordem direta, o termo que inicia o período acaba tendo mais destaque. No primeiro caso, tem mais ênfase a ideia de que a informação que circulou era falsa; no segundo, a doação milionária; e, no terceiro, estabelece-se uma hierarquia de destaque ao inverter o complemento com o adjunto, fazendo com que o tempo em que circulou a informação fosse mais relevante que a doação. Nesse terceiro caso, ainda, o leitor é obrigado a pausar a leitura pela força das vírgulas, o que implica um grau maior de atenção ao lugar onde foi feito o elogio.
Há também a utilização da ordem inversa em um contexto de conversa. Por exemplo:
— Quando o governo se pronunciou?
— Após circulação da falsa informação, o governo do RS negou a doação milionária.
— Qual informação era falsa?
— A doação milionária, o governo do RS negou após circulação da falsa informação.
Nesses casos, a inversão da ordem direta se dá para responder diretamente à questão recebida no diálogo. No primeiro caso, por exemplo, se a ordem direta fosse mantida, o interlocutor teria de ouvir o sujeito, verbo e complemento antes de saber a informação que perguntou: quando? A utilização da ordem indireta, nesse caso, agiliza a interlocução.
Além da possibilidade de ordem indireta dos termos sintáticos de uma oração, é possível também inverter a ordem de algumas classes gramaticais dentro do sintagma. Considere os exemplos a seguir.
Após circulação da falsa informação, o governo do RS negou a doação milionária.
Após circulação da falsa informação, o governo do RS negou a milionária doação.
De acordo com a norma-padrão, o adjetivo geralmente ocorre depois do substantivo. De acordo com a norma, portanto, as expressões em destaque no período deveriam ficar depois dos termos aos quais se referem. Essa alteração na ordem do adjetivo altera o sentido que o autor dá à expressão: dá mais destaque ao montante da doação.
Antepor o adjetivo ao substantivo para dar destaque, no entanto, não funciona na totalidade das vezes.
Além de produzir um novo sentido, essa anteposição pode também representar alguns lugares-comuns, isto é, estruturas já muito usadas, com sentido já pactuado entre os falantes. Por exemplo, em vã filosofia, nobre deputado, suave melodia e outras expressões que, de tão utilizadas, já não destacam mais o sentido do termo anteposto ao substantivo.
SAIBA MAIS
Figuras de linguagem
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A mudança da ordem do adjetivo em uma frase pode, em vez de dar destaque ao adjetivo, alterar o seu sentido, como se pode observar nos exemplos: velha amiga (amiga antiga)
amiga velha (amiga idosa)
falso profeta (profeta de mentira) profeta falso (profeta mentiroso) pobre cidadã (cidadã infeliz, digna de pena)
cidadã pobre (cidadã sem recursos financeiros)
Para dar ênfase a um termo ou expressão ou construí-los estilisticamente, articulando ritmos e rimas em um poema, por exemplo, é possível recorrer a algumas figuras de linguagem que fazem uso da ordem indireta para a produção de sentidos. Considere o seguinte período em ordem direta, adaptado do Hino Nacional:
As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heroico.
Agora, observe algumas modificações na ordem direta:
Ouviram, as margens plácidas do Ipiranga, o brado retumbante de um povo heroico.
Anástrofe: ocorre quando a mudança de ordem de termos da oração produz alteração de sentido sem prejuízo de entendimento da oração como um todo.
Ouviram o brado retumbante de um povo heroico, do Ipiranga, as margens plácidas.
Hipérbato: ocorre quando há mudança na ordem direta da oração, causando quebra na clareza imediata do período, mas sem comprometer seu sentido geral.
Ouviram, do Ipiranga, as margens plácidas, de um povo heroico, o brado retumbante.
Sínquise: consiste na inversão dos termos da oração de modo que, em uma primeira leitura, o texto pode parecer confuso e de difícil entendimento.
PENSAR E COMPARTIlHAR
Não escreva no livro.
Leia a seguir dois trechos de notícias que fazem referência à divulgação da pesquisa do Datafolha sobre a percepção dos brasileiros com relação às mudanças climáticas.
A primeira notícia é do jornal Folha de S.Paulo e a segunda, do Mídia Ninja.
Em meio a fenômenos de proporções históricas, como os alagamentos que devastaram o Rio Grande do Sul e a seca que vem causando incêndios florestais recordes no pantanal, 97% dos brasileiros afirmam que percebem no dia a dia que o planeta está passando por mudanças climáticas.
2. a) Na primeira notícia, ganham destaque as consequências das mudanças climáticas (alagamentos e queimadas) e, na segunda notícia, quem realizou a pesquisa.
2. b) Na primeira notícia, é destacado o contexto em que foi publicada a notícia, ou seja, os alagamentos do Rio Grande do Sul e incêndios no Pantanal; na segunda notícia, destaca-se mais uma publicação do Datafolha.
O dado pertence a uma nova pesquisa Datafolha, divulgada nesta segunda-feira (1o), que aponta que apenas 2% dos entrevistados negam a existência das alterações no clima, enquanto 1% não soube responder.
MAES, Jéssica. 97% dos brasileiros percebem mudanças climáticas no dia a dia, aponta Datafolha. Folha de S.Paulo, São Paulo, 1o jul. 2024. Disponível em: www1.folha.uol.com.br/ambiente/2024/07/97-dos-brasileiros-percebem-mudancas-climaticas-no-dia-a-diaaponta-datafolha.shtml. Acesso em: 6 set. 2024.
Uma nova pesquisa Datafolha revelou que 97% dos brasileiros percebem mudanças climáticas em seu cotidiano, destacando eventos extremos como alagamentos no Rio Grande do Sul e incêndios recordes no Pantanal. O levantamento, realizado com 2.457 pessoas em 130 municípios, evidencia um consenso quase total sobre a realidade da emergência climática.
MÍDIA Ninja. Pesquisa revela consenso: 97% da população brasileira reconhece o efeito das mudanças climáticas no dia a dia. Mídia Ninja, [s. l.], 3 jul. 2024. Disponível em: https://midianinja.org/pesquisa-revela-consenso-97-da-populacao-brasileira-reconhece-o-efeitodas-mudancas-climaticas-no-dia-a-dia/. Acesso em: 6 set. 2024.
1. De acordo com a pesquisa, quase a totalidade dos brasileiros percebe as mudanças climáticas em seu cotidiano.
1. a) Espera-se que os estudantes percebam o papel das fake news na negação das questões climáticas e o quanto elas podem influenciar algumas pessoas a negar algo que é evidente para a maioria.
a) O que levaria 2% dos brasileiros a negar a existência das alterações no clima?
b) Qual é a importância de uma pesquisa como essa para a sociedade brasileira?
Uma pesquisa como essa pode reforçar a necessidade de implantação de medidas que tenham como objetivo evitar essas mudanças climáticas.
2. Considere os primeiros períodos de cada notícia.
a) Na ordenação dos termos que compõem cada período, o que ganhou destaque em cada notícia?
b) Que diferentes sentidos são produzidos com essas diferentes estratégias?
3. O instituto Datafolha faz parte do mesmo grupo que publica o jornal Folha de S.Paulo, da primeira notícia.
3. a) A segunda notícia, por ser de uma mídia independente, começa fazendo referência à fonte da pesquisa para não se comprometer com as informações divulgadas.
a) Considerando essa informação, formule uma hipótese que explica a ordenação das informações do primeiro período da segunda notícia.
b) Reescreva no caderno o primeiro período da segunda notícia dando destaque à porcentagem divulgada. Que efeito de sentido é produzido?
3. b) 97% dos brasileiros percebem mudanças climáticas em seu cotidiano, destacando eventos extremos como alagamentos no Rio Grande do Sul e incêndios recordes no Pantanal, de acordo com uma nova pesquisa Datafolha. O efeito de sentido se refere à discrepância entre os que percebem e os que não percebem mudanças climáticas no cotidiano.
4. O colunista Marcelo Leite, da Folha de S.Paulo, na mesma edição em que foi publicado o resultado da pesquisa, analisa esse resultado no trecho a seguir.
O dado da pesquisa que causa mais alarme aponta um excesso de fatalismo: 58% dos brasileiros opinam que a humanidade será incapaz de reverter a crise do clima. Meros 31% consideram possível manter o clima sob relativo controle, e 7% dizem que não faz diferença para a humanidade ou a natureza.
Esses bolsões remanescentes de ceticismo climático refletem o sucesso parcial da propaganda negacionista em sua tática de semear dúvidas múltiplas e variadas. Quando se torna impossível contradizer a existência do aquecimento global, dado o acúmulo de evidências e medições, lança-se suspeita sobre a contribuição humana para o fenômeno.
LEITE, Marcelo. Fatalismo domina percepção sobre mudança climática. Folha de S.Paulo, São Paulo, 1 jul. 2024. Disponível em: www1.folha.uol.com.br/ambiente/2024/07/fatalismo-domina-percepcao-sobre-mudanca-climatica.shtml. Acesso em 6 set. 2024.
a) D e acordo com o articulista, que saída os negacionistas teriam para tentar negar esses dados obtidos com a pesquisa?
A saída seria desvincular as mudanças climáticas da ação humana.
b) D e que forma a ordenação do período “Quando se torna impossível contradizer a existência do aquecimento global, dado o acúmulo de evidências e medições, lança-se a suspeita sobre a contribuição humana para o fenômeno.” atua para dar ênfase à impossibilidade de negar as mudanças climáticas?
O período começa com uma oração subordinada que destaca a impossibilidade de contradizer a existência das mudanças climáticas e somente depois revela a explicação alternativa.
Nesta unidade, você leu notícias que divulgavam fake news: informações falsas ou completamente inventadas, disseminadas com a intenção de manipular a opinião pública ou gerar confusão. Reconhecer e evitar fake news é crucial para manter a integridade das informações que consumimos e compartilhamos, garantindo um debate público saudável e bem fundamentado. A educação midiática e o desenvolvimento do pensamento crítico são ferramentas essenciais para combater esse problema.
De acordo com a Base Nacional Comum Curricular, versão de 2018, página 503, é enfatizado que, no Ensino Médio, a área de Linguagens e suas Tecnologias desenvolva nos estudantes o aprofundamento das “análises das formas contemporâneas de publicidade em contexto digital, a dinâmica dos influenciadores digitais e as estratégias de engajamento utilizadas pelas empresas”. Dessa forma, todos os usos relacionados à publicidade, propaganda e formas de engajamento em redes sociais apresentadas nesta coleção são para fins didáticos e seus usos em contexto social.
Você vai produzir, em grupo, um manual virtual de checagem de fake news para ser divulgado em sua escola. Nesse manual, você vai apresentar as etapas fundamentais para que qualquer leitor consiga desconfiar se algum texto reproduz uma notícia falsa e para que possa checar as informações que sejam duvidosas.
O primeiro passo é saber como identificar uma fake news . Leia o infográfico a seguir, produzido pelo Câmpus Birigui do Instituto Federal de São Paulo.
Depois de ler e discutir o infográfico com seus colegas, pesquise outros textos que possam trazer mais informações, dados e técnicas sobre como evitar fake news. O objetivo do manual é ser um texto de rápida e fácil consulta, e não um tratado técnico sobre fake news Portanto, você deverá condensar todas as informações em um texto visualmente organizado, atraente e com informações claras e precisas.
INSTITUTO FEDERAL DE SÃO PAULO; CÂMPUS BIRIGUI. Dicas para não cair em fake news. 2020. 1 infográfico. Disponível em: https://bri.ifsp.edu.br/index.php/ informativos/1790-infografico-fake-news. Acesso em: 20 set. 2024.
1. Os direitos das minorias precisam ser protegidos por políticas públicas.
2. A diversidade cultural, quando reconhecida, enriquece a convivência social.
3. A participação ativa em processos políticos é fundamental para as minorias.
4. A valorização das culturas minoritárias deve ser o foco dos programas educacionais.
Produzir
A primeira etapa consiste no estabelecimento das informações necessárias para compor seu manual. Por isso, sugere-se que ele tenha as seguintes partes bem definidas:
• O que são fake news;
• Dicas para identificar as fake news;
• Sites para consulta, caso existam dúvidas.
Professor, se achar necessário, conduza mais de perto a elaboração do manual sugerindo que incluam os seguintes itens:
• revisão completa do texto;
• fontes seguras;
• autoria confiável;
• linguagem adequada;
• precisão das informações;
• data de publicação;
• presença de publicidade.
A ordenação dos termos em um período é fundamental para a construção dos sentidos e a ênfase das informações. A posição dos elementos na frase pode destacar ou minimizar determinados aspectos, influenciando a percepção e interpretação do leitor. A ordem das palavras pode conferir maior visibilidade e importância às questões discutidas. Alterar a estrutura de um período para priorizar certas informações pode tornar o texto mais impactante e eficaz na transmissão da mensagem. Reordene as seguintes frases alterando as ênfases. Se necessário, pode alterar alguma palavra ou as vozes do verbo.
1. Políticas públicas precisam ser implementadas para proteger os direitos das minorias.
2. O reconhecimento da diversidade cultural enriquece a convivência social.
3. A participação ativa das minorias em processos políticos é fundamental.
4. Programas educacionais devem buscar a valorização de todas as culturas.
Para diagramar o seu texto de maneira visualmente agradável e de fácil consulta, observe estas dicas.
Uso de títulos e subtítulos: defina claramente uma hierarquia com diferentes tamanhos e estilos de fontes para títulos, subtítulos e seções, facilitando a navegação.
Listas e bullet points: empregue listas numeradas ou com marcadores para destacar etapas e informações importantes, tornando o conteúdo mais escaneável.
Espaçamento adequado: mantenha margens, espaçamento entre linhas e parágrafos generosos para evitar um layout congestionado, facilitando assim a leitura.
Tipografia clara: escolha fontes legíveis, com um bom contraste entre o texto e o fundo. Evite usar muitas fontes diferentes.
Imagens e ícones: incorpore imagens, gráficos e ícones para ilustrar pontos-chave e quebrar blocos de texto, tornando o manual mais visual e interessante.
Cores: use uma paleta de cores coesa e agradável, reservando cores vibrantes para chamar a atenção para seções muito importantes ou chamadas à ação.
• Blocos de destaque: utilize caixas de destaque ou fundo colorido para chamar a atenção para dicas, alertas ou informações cruciais.
Compartilhar
Agora, resta compartilhar. Depois da avaliação do professor, o grupo deve compartilhar o manual da forma escolhida: site ou redes sociais. Se for em site, basta criar uma página HTML em algum criador de sites e seguir os tutoriais disponíveis ou produzir o texto em algum editor e convertê-lo em imagem para ser compartilhada nas redes sociais. Lembre-se: quanto mais diversos e variados forem os leitores desse manual, melhor para a vida coletiva e a democracia. Por isso, você pode e deve adaptar esse manual para outros gêneros e formatos, como cartazes, podcasts, folders etc.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Nas últimas unidades, você acompanhou a discussão sobre como as questões sociais e culturais impactam a identidade e as estruturas de poder em nossa sociedade. O racismo estrutural é uma dessas questões: profundamente enraizado na sociedade brasileira, afeta diversos aspectos da vida cotidiana. Para destacar e explorar esse tema, você e sua turma vão produzir, em grupos, reportagens digitais que terão como objetivo investigar, expor e discutir as manifestações do racismo estrutural em diferentes contextos, como educação, trabalho, saúde, segurança e mídia.
Para começar, a turma deve, sob a orientação do professor, organizar-se em grupos que farão as reportagens. Em primeiro lugar, identifique com os colegas os diferentes contextos em que o racismo estrutural se manifesta. Cada grupo deve focar um desses contextos, pesquisando exemplos e dados que demonstrem como o racismo estrutural se apresenta e afeta a vida das pessoas. Essas pesquisas podem incluir entrevistas com especialistas, análises de dados estatísticos, relatos pessoais e estudos de caso.
Outra possibilidade de pesquisa é analisar como o racismo estrutural é retratado nas produções culturais, como filmes, séries, livros, músicas e artes plásticas. Faça um levantamento sobre as visões e narrativas que são reproduzidas por essas produções e como elas contribuem para perpetuar ou combater o racismo estrutural.
Depois de coletadas as informações e selecionados os contextos de pesquisa, você e seu grupo devem fazer a seleção do que vai compor a reportagem e produzir uma justificativa dessa seleção.
• P ara a seleção de contextos, considere a seguinte reflexão: que aspectos do racismo estrutural são mais relevantes para o cotidiano escolar e para a vida dos estudantes?
Depois de feita essa reflexão, você e seu grupo deverão planejar como serão apresentadas essas informações ao público. Vocês podem:
• convidar um especialista para ser entrevistado e incluir as respostas na reportagem;
• a presentar relatos de experiências pessoais coletados durante a pesquisa;
• analisar dados estatísticos e gráficos que ilustrem o impacto do racismo estrutural;
• incorporar imagens e infográficos que ajudem a visualizar as informações apresentadas.
Depois de selecionar as possibilidades de apresentação da reportagem digital, é o momento de verificar se suas ideias são factíveis. Por isso, você e seu grupo devem verificar:
• disponibilidade e possibilidade de acesso à infraestrutura e a equipamentos necessários (computadores, programas de edição etc.);
• quais são as exigências para que a reportagem seja autorizada (autorizações, convites etc.);
• prazos de entrega para que seja estabelecido um cronograma de produção para o grupo.
Com base nas instruções obtidas você deverá produzir os textos necessários para que sua reportagem digital seja realizada. Nessa etapa, considere a produção e edição de fotografias, montagens, gráficos e infográficos. Esses elementos multimodais enriquecem a reportagem digital e deixam a leitura mais dinâmica.
Caso vá convidar alguma pessoa ou grupo para participar da reportagem, entre em contato e utilize o modelo fornecido pela escola ou professor para fazer um convite formal com educação e polidez. Esteja preparado para lidar com imprevistos relacionados à infraestrutura ou calendário e tenha alternativas aos planos originais.
Nesses casos, não se esqueça de que é fundamental pedir autorização para uso de imagem.
Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes consigam relacionar suas pesquisas com as experiências e as atividades do cotidiano escolar ou de seus contextos pessoais. Se necessário, eles podem fazer uma pesquisa entre os demais estudantes de outras séries.
Para criar uma reportagem digital impactante, é essencial combinar elementos textuais e não verbais de maneira coesa e atrativa. Siga os seguintes passos.
• D ivida o texto da reportagem nas seguintes partes:
• Introdução: apresente o tema da reportagem, contextualizando e conceituando o racismo estrutural e sua relevância.
• Desenvolvimento: divida o texto em seções que abordem os diferentes contextos pesquisados (educação, trabalho, saúde, segurança e mídia).
• Conclusão: Resuma as principais descobertas e reflita sobre possíveis soluções e formas de combate ao racismo estrutural.
• Organize o texto e os elementos visuais de maneira que facilite a leitura e a compreensão.
• Incorpore ao texto as imagens produzidas, não se esquecendo de incluir legendas em todas elas.
• C onsidere incorporar elementos interativos, como links para artigos adicionais, vídeos ou gráficos.
• Revise todo o conteúdo para corrigir possíveis erros gramaticais, ortográficos e de formatação.
Para compartilhar a reportagem digital, hospede o vídeo obtido durante o processo em uma plataforma de compartilhamento de vídeos, com as devidas legendas e informações sobre as manifestações do racismo estrutural. Incorpore o vídeo na reportagem escrita, que será publicada em um blogue ou site dedicado ao projeto. Compartilhe o link para a reportagem nas redes sociais da escola, em redes sociais particulares ou no site da instituição.
SCHWARCZ, Lilia Moritz; SPACCA. Triste República: a Primeira República comentada por Lima Barreto. São Paulo: Quadrinhos na Cia, 2022.
Por meio da trajetória de vida de Lima Barreto, testemunha-se o surgimento da República brasileira, marcada por tendências autoritárias e racistas. Nesta obra, os autores revisitam a história do Brasil em formato de quadrinhos, explorando a Primeira República e homenageando um dos maiores escritores da língua portuguesa.
POLICARPO Quaresma: herói do Brasil. Direção: Paulo Thiago. Brasil: Hévadis Films, 1998. Streaming (123 min).
O filme é uma adaptação do romance Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto. A trama segue Policarpo Quaresma, um patriota fervoroso e idealista que sonha em transformar o Brasil em uma nação próspera e justa. O filme explora as desilusões e os desafios enfrentados por Quaresma, revelando uma crítica profunda à política e aos problemas sociais do Brasil no final do século XIX e início do século XX.
Imagem de divulgação do filme Policarpo Quaresma: herói do Brasil.
do livro
República.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Observe a obra a seguir, uma escultura produzida pelo artista mineiro Thiago Honório (1979-).
1. a) O pau-brasil foi o primeiro item explorado comercialmente pelos portugueses em território brasileiro. Foi com ele que teve início o ciclo de exploração da natureza local pelos colonizadores. Foi por causa dessa árvore que nosso país recebeu o nome de Brasil.
COLEÇÃO MUSEU DE ARTE ASSIS CHATEAUBRIAND –MASP, SÃO PAULO, SP/EDOUARD FRAIPONT
HONÓRIO, Thiago. Pau-Brasil. 2014. Fac-símile do livro Pau-Brasil (1925), de Oswald de Andrade, e madeira pau-brasil, 16 cm x 13 cm x 26 cm. Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand.
1. Essa escultura é constituída por um pedaço de madeira – o pau-brasil – atravessando um livro de poemas chamado Pau-Brasil, do autor modernista Oswald de Andrade.
a) Qual é a importância da árvore pau-brasil na história do nosso país?
b) Considerando a bandeira brasileira estampada na capa do livro de poemas, que parte a madeira está substituindo? Que sentido isso produz?
1. b) Espera-se que os estudantes percebam que a madeira está no lugar do lema “Ordem e Progresso”, como se esse lema fosse substituído por esse elemento da natureza que foi explorado e depredado, como uma retomada do que foi tirado com a colonização.
4. a) A obra de Thiago Honório substitui a expressão Pau-Brasil por um pedaço da madeira de pau-brasil como uso literal. No campo metafórico, a madeira pode remeter à ideia de exploração, de ordem e progresso a serviço de um modo de ocupação do território brasileiro. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
As imagens a seguir mostram a capa do livro de Oswald de Andrade e um esboço da parte central da
Esquerda: ANDRADE, Oswald. Pau-Brasil. Paris: Sans Pareil, 1925. Reprodução da capa. Direita: MENDES, Raimundo Teixeira. Esboço da Bandeira Nacional. 1889. Caneta sobre papel vegetal.
uma faixa com inscrição.
a) Que elementos há em comum entre a capa do livro e a bandeira nacional?
b) O lema “Ordem e Progresso”, visível na imagem 2, traduz uma ideia positivista, corrente filosófica que circulou no Brasil no final do século XIX. Que ideia de nação esse lema sugere?
3. Agora, observe a capa de uma edição recente da Constituição Federal de 1988, a lei maior do Brasil, que tem preponderância sobre todas as outras leis.
• D iscuta com seus colegas que relação se pode estabelecer entre essa capa, a do livro de poemas e a obra de Thiago Honório.
2. b) Espera-se que os estudantes relacionem esse lema a uma postura racionalista, apoiada na ciência, baseada na ideia de que só há progresso quando há ordem.
3. Espera-se que os estudantes reconheçam, na obra e nas capas, a referência à bandeira nacional. Assim, a obra de Honório pode ser entendida como uma crítica ao desrespeito a esse documento, quando se trata de violar direitos individuais ou coletivos.
BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Organizado por Cláudio Brandão de Oliveira. [S l.]: D.O.U Online, 2020. Reprodução da capa.
4. Na capa original do livro de poemas, o lema da bandeira – Ordem e Progresso – é substituído pela expressão Pau-Brasil, que dá título ao livro. Considerando o que representou essa árvore na origem do nome do país e como produto explorado como riqueza pelos primeiros portugueses que chegaram ao território brasileiro, responda.
a) Como se articulam os sentidos do uso literal e do uso metafórico da madeira?
b) Na obra de Thiago, a madeira atravessa a capa, rompendo-a exatamente no lugar em que se lê Pau-Brasil – no caso do livro de poemas; e Ordem e Progresso – no caso da bandeira. Que sentido se pode atribuir a esse rompimento?
Nas duas primeiras décadas do século XX, o Brasil se modernizava. O café era o principal produto da nação, e algumas regiões se afirmavam como polos industriais. Apesar dessa modernização, a cultura se mantinha apegada ao passado. Na arte, valorizava-se a forma acadêmica. Na poesia, o soneto parnasiano era tido como modelo perfeito de literatura. Uma transformação cultural se fazia urgente. Influenciadas pelas vanguardas artísticas do começo do século XX, algumas obras de arte introduziram uma nova perspectiva estética, que mudaria profundamente o modo de pensar, fazer e apreciar arte no Brasil: a arte moderna, que você vai conhecer nesta unidade.
4. b) Romper a bandeira, com a madeira rasgando o centro em que se registra o lema nacional ou o título do livro, sugere uma violência. Essa violência pode referir-se tanto à exploração predatória, perversa das riquezas nacionais, quanto ao descumprimento da Constituição, frequentemente violada.
A multiplicidade de discursos e subjetividades contemporâneos responde a uma complexa e diversa sociedade brasileira. Nesse contexto, a arte propõe diferentes respostas, que já não tomam o real como valor simbólico de referência. Essa produção artística ecoa uma liberdade construída ao longo do século XX, marcado em suas primeiras décadas pelo rompimento com o rígido formalismo que predominou no final do século XIX e que repercute até hoje.
Para discutir
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
1 De que temas você acredita que a arte deveria tratar hoje?
2 Você já viu esses temas serem discutidos? Onde? Em filmes, jornais, livros, televisão? Explique.
3 Esses temas envolvem outros temas? Quais?
Você vai ler a seguir um trecho do Poema do desaparecimento , de Laura Liuzzi, e um poema do multiartista Ricardo Aleixo, de sua antologia poética Pesado demais para a ventania .
olha aqui, presta muita atenção você não pode se acostumar com a vida ela é estranha sempre uma deformação dela mesma um desvio uma unha que deixou de nascer um leão que perdeu a voz uma repetição que decidiu ser outra coisa.
olha lá, presta atenção é um rinoceronte de patins olha lá cadê desapareceu.
LIUZZI, Laura. Poema do desaparecimento. 1. ed. São Paulo: Círculo de Poemas, 2024. p. 79.
Laura Liuzzi carreira no cinema, como assistente de direção do documentarista Eduardo Coutinho. Na literatura, já participou de feiras literárias e publicou (2010), Desalinho Poema do desaparecimento #SOBRE
Foto da poeta em Paraty, 2016.
1. a) Espera-se que os estudantes relacionem essas subjetividades com diferentes questões identitárias que promovem diversas formas de se colocar no mundo, relacionadas a segmentos sociais minorizados, a questões de gênero, questões étnico-raciais, questões políticas etc.
#SOBRE
Ricardo Aleixo (1960-) é um poeta, músico, produtor cultural e artista plástico brasileiro. Em Belo Horizonte, atua como coordenador e curador de projetos culturais como o Festival de Arte Negra (FAN). Publicou os livros Festim (1992), Modelos vivos (2010), Mundo palavreado (2013), Pesado demais para a ventania (2018) e Extraquadro (2021).
Foto do poeta em 2024.
ALEIXO, Ricardo. Coisas. In: ALEIXO, Ricardo. Pesado demais para a ventania: antologia poética.
São Paulo: Todavia, 2018. p. 17-19.
1. L eia o depoimento a seguir, da editora e poeta carioca Marília Garcia (1979-).
— Talvez a poesia seja o meio adequado para falar de um tempo como o nosso, tão difícil, com tantas subjetividades para serem nomeadas. A liberdade formal da poesia, que se reinventa em diálogo com outras linguagens, possibilita que ela capte questões urgentes e crie discursos […].
GABRIEL, Ruan de Sousa; TORRES, Bolívar. Flip 2023 reflete bom momento da poesia, com mais espaço no evento e vendas que movimentam o mercado. O Globo, Rio de Janeiro, 21 nov. 2023. Disponível em: https://oglobo.globo.com/cultura/flip/ noticia/2023/11/24/flip-2023-reflete-bom-momento-da-poesia-com-mais-espaco-no-evento-e-vendas-que-movimentamo-mercado.ghtml. Acesso em: 4 set. 2024.
a) O que você entende por “tantas subjetividades” mencionadas pela poeta?
b) S egundo a poeta, a poesia se mostra o meio mais adequado para fazer reflexões sobre nosso tempo. Por quê?
2. O poema de Laura Liuzzi apresenta um conselho para o interlocutor.
a) De que forma o poema constrói essa interlocução?
b) Em que consiste o conselho do eu lírico?
Pelo uso do verbo no imperativo, que cobra do interlocutor atenção ao que será dito.
O eu lírico destaca a estranheza da vida, com a qual não é possível se acostumar.
3. Na Filosofia, há uma discussão tradicional relacionada ao princípio de identidade e de diferença. O princípio de identidade na Filosofia, formulado pelo filósofo grego pré-socrático Parmênides, afirma que uma coisa é idêntica a si mesma, ou seja, A é A. Nessa lógica, por exemplo, um leão é igual a um leão e espera-se que todo leão tenha o mesmo comportamento para ser idêntico a um leão.
Considerando esse princípio, identifique no poema o que se espera como identidade dos elementos que compõem o organizador a seguir. Copie-o no caderno e complete-o.
Leões possuem voz, rugido. Unhas sempre nascem e crescem.
Unha
Leão
1. b) Porque os sentidos da poesia, de um poema, vão além de uma visão objetiva de mundo; eles se produzem no campo dos afetos, daquilo que não consegue ser apreendido e capturado pela razão. Esse apelo ao sensível pode ser mais efetivo para pensar e compreender o mundo contemporâneo, no qual se emaranham questões complexas ao pensamento racional. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
4. b) Os seis últimos versos rompem com o afunilamento e o 13o verso é o primeiro que é maior do que o anterior. Embora a lógica do afunilamento recomece, novamente é rompida com o último verso.
4. c) O poema propõe que a vida é sempre uma repetição que decidiu ser outra. Ao longo dos versos, repete-se a ideia de que o verso seguinte será menor que o anterior, mas essa lógica é rompida no 13o verso e no último.
6. b) A paixão ganha destaque por não entrar na composição do primeiro verso e do amálgama de palavras. Esse destaque produzido pelo verso constituído por uma única palavra dá relevo à paixão como algo que merece atenção no processo de tudo que é feito, desfeito e refeito.
7. a) Espera-se que os estudantes percebam que as fontes são de diferentes tamanhos, ora destacadas em negrito, ora não.
4. A estrutura do poema de Laura Liuzzi dialoga intimamente com a discussão que ele propõe.
a) Como a estrutura do poema conduz o leitor a uma conclusão sobre a vida, na disposição dos versos?
Espera-se que os estudantes percebam que os versos vão ficando mais curtos e se afunilando, como se, a cada verso, fosse encaminhando para uma conclusão.
b) De que forma essa lógica própria da estrutura do poema é rompida?
c) E xplique como a estrutura e o tema dialogam no poema.
5. O poema de Laura Liuzzi dialoga com o poema de Ricardo Aleixo: ambos se referem a coisas .
a) A que coisas se refere cada um dos poemas?
A “coisa”, no primeiro poema, refere-se a algo que foi transformado, movimento permanente na vida, segundo o texto. No segundo poema, as coisas são planos, povos, poemas, pessoas, passos e paixões.
b) De que forma o segundo poema traduz a ideia de transformação proposta no primeiro poema?
A ideia de que tudo pode ser feito, desfeito e refeito; é isso o que produz coisas novas, porque suas imperfeições possibilitam essas transformações.
6. No poema de Ricardo Aleixo, o aposto para designar as coisas é apresentado de forma que rompe com a lógica morfológica e sintática da língua portuguesa.
a) Que sentido se produz com essa construção? Copie, no caderno, a alternativa que melhor responde a essa questão.
Resposta: alternativa I.
I. Todas as palavras aglutinadas criam um novo termo na língua que produz um efeito poético de uma palavra com um sentido muito amplo, que se refere a pessoas e seus desejos e percursos.
II. Os termos unidos indicam a impossibilidade de diferenciação entre as coisas dada a dinamicidade do mundo, que faz com que seja difícil discernir os discursos que compõem a realidade.
III. O s termos apresentados sem espaçamento traduzem a ideia de que as coisas devem se unir e não estabelecer mais distância entre si, pois somente a união promove transformações.
b) Na lista do que seriam as coisas submetidas às transformações, o termo paixões ganha destaque. Como isso se constrói no poema? Que sentido produz?
7. Para a construção do poema, além da seleção lexical e dos versos, a tipologia das fontes, ou seja, os formatos e os tamanhos das letras, também atua na produção de sentidos.
a) Como se dá, no poema, o uso de diferentes fontes?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
b) De que forma o uso de diferentes fontes dialoga com o sentido do poema?
8. Os poemas fazem referência a deformação e imperfeição para referir-se às coisas da vida.
a) Que sentidos são comumente associados a esses termos?
b) E xplique como os poemas ressignificam esses termos com base nas discussões que propõem.
7. b) O poema coloca em discussão uma incessante transformação para o surgimento de coisas novas. Essas transformações se materializam em cada verso que apresenta uma fonte nova, que rompe com a lógica do verso anterior. São associados sentidos negativos, de coisas que não deram certo, que não se adaptam ou não possuem as características esperadas.
Nos poemas, é justamente a deformação ou a imperfeição das coisas que permite que elas possam se transformar e que não sejam sempre iguais. Portanto, deformidade e imperfeição seriam condições necessárias e pertinentes para transformações.
A poesia contemporânea caracteriza-se pela multiplicidade de temas e formas, refletindo a diversidade e a complexidade do mundo atual. Essa variedade encontra raízes na primeira geração modernista, que, no início do século XX, rompeu com propostas literárias rígidas e defendeu uma liberdade criativa sem precedentes. Os modernistas experimentaram novas estruturas, ritmos e linguagens, desafiando as convenções poéticas e abrindo caminho para a exploração de uma variedade de temas, que vão desde questões sociais e políticas até introspecção pessoal e existencial. ENTÃO...
O X DA QUESTÃO
2. Porque nem sua temática nem a extrema preocupação com a forma refletiam o que estava sendo vivenciado pela sociedade.
Não escreva no livro.
No começo do século XX, com a República consolidada e a economia pautada na produção cafeeira, o Brasil vivia um momento de progresso, entendido como maior acesso ao consumo e àquilo que a chamada Belle Époque trazia para os grandes centros urbanos do país. Concomitantemente a grupos que ainda exaltavam a arte formalista do século XIX como parâmetro de bom gosto, São Paulo (SP) e outras regiões já produziam uma arte influenciada pelas vanguardas artísticas europeias, que dialogava mais proximamente com esse novo contexto urbano, com novas subjetividades. A seguir, você vai conhecer mais da poesia produzida nesse período que abriu tantas novas possibilidades na expressão poética brasileira.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Para lembrar
1. b) As vanguardas artísticas romperam com tudo isso, buscando uma certa “brasilidade”, incorporando à arte elementos da cultura nacional.
1 O P arnasianismo era considerado o modelo de poesia no Brasil, a ponto de Olavo Bilac, o nome mais famoso desse movimento, ter sido eleito pela revista Fon-Fon o “Príncipe dos poetas” do Brasil.
1. a) A oposição ao romantismo, a impessoalidade, a busca de objetividade e de perfeição, o uso de temas históricos e a valorização da metrificação estão entre as principais características do Parnasianismo.
a) Quais eram as características da poesia parnasiana?
b) Que ruptura as vanguardas artísticas promoveram com a arte acadêmica de tradição clássica?
2 O começo do século XX testemunhou uma primeira Guerra Mundial, o avanço da lógica de consumo do capitalismo e das novas pautas de reivindicação, como a do feminismo e a do antirracismo, e as novas abordagens políticas. Por que se pode dizer que a arte técnica e alienada do Parnasianismo pouco dialogava com esses avanços sociais?
3 De que forma a poesia é capaz de refletir os valores e os discursos de uma época?
As obras literárias existem dentro de um contexto. É natural que a poesia seja contaminada por aquilo que está em pauta na sociedade em que se insere, no momento em que ela é produzida.
A seguir, você lerá dois poemas de alguns dos principais nomes da poesia modernista do Brasil. O primeiro, “A meditação sobre o Tietê”, de Mário de Andrade, é um excerto de um longo poema e apresenta uma visão muito subjetiva de São Paulo. O segundo, “Glorioso destino do café”, de Oswald de Andrade, faz referência ao contexto político, econômico e social do Brasil da República do café com leite.
É noite. E tudo é noite. Debaixo do arco admirável
Da Ponte das Bandeiras o rio
Murmura num banzeiro de água pesada e oliosa.
É noite e tudo é noite. Uma ronda de sombras, Soturnas sombras, enchem de noite tão vasta
O peito do rio, que é como si a noite fosse água, Água noturna, noite líquida, afogando de apreensões
As altas torres do meu coração exausto. De repente
O ólio das águas recolhe em cheio luzes trêmulas, É um susto. E num momento o rio
Esplende em luzes inumeráveis, lares, palácios e ruas, Ruas, ruas, por onde os dinossauros caxingam
Agora, arranha-céus valentes donde saltam
Os bichos blau e os punidores gatos verdes, Em cânticos, em prazeres, em trabalhos e fábricas, Luzes e glória. É a cidade… É a emaranhada forma
Humana corrupta da vida que muge e se aplaude.
E se aclama e se falsifica e se esconde. E deslumbra.
Mas é um momento só. Logo o rio escurece de novo, Está negro. As águas oliosas e pesadas se aplacam
Num gemido. Flor. Tristeza que timbra um caminho de morte. É noite. E tudo é noite. E o meu coração devastado
É um rumor de germes insalubres pela noite insone e humana.
[…]
ANDRADE, Mário de. A meditação sobre o Tietê. In: ANDRADE, Mário de. De pauliceia desvairada a café: poesias completas. São Paulo: Círculo do Livro, 1985. p. 309.
#SOBRE
Mário de Andrade (1893-1945) formou-se em piano no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Em 1917, publicou seu primeiro livro: Há uma gota de sangue em cada poema. A partir de então, envolveu-se com os futuros moder nistas e participou da Semana de 22, mesmo ano em que publicou Pauliceia desvairada . Depois de várias viagens pelo Brasil, voltou-se aos estudos da cultura brasileira. Passou à vida pública e criou o Departamento de Cultura de São Paulo. Em 1938, trabalhou no Ministério da Educação e deu aulas de estética na Universidade do Distrito Federal (RJ). De volta a São Paulo em 1940, trabalhou no Serviço do Patrimônio Histórico.
Foto de Mário de Andrade em 1928.
Pequena árvore
Cheia de xícaras
Te dei
Adubo
Trato
Colono
Céu azul
E tu deste
A safra
Dos meus anos fazendeiros
Depois deste
O desastre
E de borco no chão
Me recusei
A achar desgraçados os meus dias
Senti que como tu
Pequena árvore
Milhões de homens de minha terra
Haviam sido queimados
Decepados dos seus troncos
Para que se salvasse
Sobre a miséria de muitos
O interesse dos imperialismos
E se apaziguasse a gula
De seus sequazes tempestuosos
E deste
Em xícaras
O travo da tua cor madura
Senti no teu calor
Aquecido nos fogareiros pobres
O rubi da revolução
E como muitos me armei
Cavaleiro de ferro
Nos lençóis rasgados
Dos cortiços
E nas praças tumultuosas
E como tu pequena árvore debordada
Debordado do latifúndio
Saí ao encalço da felicidade da terra
ANDRADE, Oswald de. Glorioso destino do café. In: ANDRADE, Oswald de. Cadernos de poesia do aluno Oswald de Andrade: poesias reunidas. São Paulo: Círculo do Livro, 1985. p. 175-176.
O paulistano Oswald de Andrade (1890-1954) pertencia a uma família rica. Com a conclusão do curso de humanidades, começou a trabalhar como jornalista e fundou, em 1912, a revista O pirralho. Nesse mesmo ano, viajou pela Europa, onde entrou em contato com o Futurismo de Marinetti (1876-1944). De volta ao Brasil, participou de ambientes artístico-literários e, em 1917, aproximou-se de Mário de Andrade e daqueles com quem organizaria a Semana de 22. Depois da Semana, publicou os manifestos Pau-Brasil e Antropófago, bem como livros de poesia, romances e teatro. Sua obra pode ser considerada uma das mais inovadoras da primeira geração modernista, dada a sua ousadia experimental.
Foto do poeta em 1954.
3. a) Correspondem à glória e ao deslumbramento provocados pelo progresso de São Paulo que estão nas “[…] luzes inumeráveis, lares, palácios e ruas, / Ruas, ruas, por onde os dinossauros caxingam / Agora, arranha-céus valentes donde saltam / Os bichos blau e os punidores gatos verdes, / Em cânticos, em prazeres, em trabalhos e fábricas, […]”.
1. Leia o trecho a seguir sobre o modernismo de 1922.
deslumbrante, glorioso e, ao mesmo tempo,
diante da “[…] forma / Humana vida que muge e aplaude. / E se aclama e se esconde […]”.
[…] Na década de 1910, a tradicional sociedade das fazendas ganhava uma interface urbana mais definida e convincente. Famílias do interior transferiam-se para a capital, onde a ‘picareta civilizadora’ […] abria novos espaços e substituía os pesados casarões por prédios elegantes e construções à moda de tudo, de chalés suíços a moradias bretãs ou ‘italianadas’.
[…]
1. a) O texto se refere às famílias ricas do interior que chegavam à capital paulista e propuseram uma
nova abordagem artística com base em uma estética europeia, diferentemente do Rio de Janeiro, onde a produção artística já tinha estabelecido modos institucionalizados de produção e circulação.
Diferentemente do Rio, antiga corte e capital da República, onde a produção artística já havia se organizado em instituições e encontrava meios mais avançados para circular no mercado, em São Paulo o ambiente ainda invertebrado pedia que a iniciativa privada entrasse em cena para estruturá-lo.
1. b) O primeiro e o segundo poema fazem referência à transformação pela qual passava São Paulo e à riqueza possibilitada pelo café no interior paulista.
GONÇALVES, Marcos Augusto. 1922: a semana que não terminou. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 68.
a) De acordo com o texto, que especificidades de São Paulo criaram um contexto favorável ao surgimento de uma nova abordagem artística, diferente da do Rio de Janeiro?
b) De que forma os poemas que você leu dialogam com esse contexto indicado no trecho?
2. L eia o trecho a seguir, sobre a paisagem hídrica de São Paulo.
O município possui nada menos que 186 bacias hidrográficas catalogadas pela prefeitura, o que representa mais de 200 cursos de água. […]
A grande maioria dos rios, ribeirões e riachos corre para o Tietê – a cidade se situa, por sinal, na bacia do Alto Tietê. Não se sabe, porém, o número exato deles nem a extensão da rede hídrica porque boa parte flui por baixo da metrópole e ninguém vê.
RAMALHOSO, Wellington. Cidade de São Paulo tem mais de 200 rios; quantos você vê? UOL , São Paulo, 25 fev. 2016. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2016/02/25/cidade-de-sao-paulotem-mais-de-200-rios-quantos-voce-ve.html. Acesso em: 4 set. 2024.
a) Considerando essa informação contemporânea sobre os rios de São Paulo, que papel o Rio Tietê representa no texto 1?
O Tietê configura-se como uma referência na paisagem de São Paulo, tendo em vista que é um dos rios mais importantes que cruzam a cidade.
b) O poema faz referência às águas oleosas do Rio Tietê. De onde se originaria esse óleo?
Pode ser que seja referência à poluição da água provocada pelo avanço da industrialização.
3. O Rio Tietê, no poema, cruza solene a cidade, e as impressões do eu lírico se projetam sobre o rio provocando uma reflexão, uma meditação sobre a cidade marcada pela dualidade.
Provoca principalmente
exaustão, ainda sinta fascinado, deslumbrado pela potência moderna da cidade.
a) Por um lado, o rio se ilumina. A que correspondem essas luzes? Copie, no caderno, um trecho do poema que comprove sua resposta.
b) Como o eu lírico avalia esse momento em que o rio se ilumina?
c) Quando as luzes se retiram, o rio escurece de novo. Copie, no caderno, palavras do texto que remetem a essa escuridão.
Noite, sombra, soturna sombra, noturno, escurece, negro; e outras que remetem à ideia de escuridão: pesado, olioso, morte, apreensões.
d) Que sentimento essa escuridão provoca no eu lírico?
4. O modo de vida que a cidade propõe a seus habitantes tem, na percepção do eu lírico, consequências melancólicas.
4. b) O rio tem águas pesadas e oleosas, e as sombras da noite se confundem com suas águas, que são negras, parecidas com a morte.
a) No poema, as luzes iluminam o Rio Tietê em determinado momento, mas esse brilho revela-se falso e ilusório. Explique por que são caracterizadas assim, justificando com trechos do poema.
b) A melancolia do eu lírico frente à cidade de São Paulo é projetada no Rio Tietê. Quais elementos descritivos do rio reforçam essa melancolia?
4. a) Embora as luzes esplandecentes tornem o rio bonito, elas representam os “trabalhos e fábricas” que não possuem “Luzes e glória”, mas representam “a forma / Humana corrupta da vida”. Essas luzes refletem um progresso de São Paulo que chegava aliado também à exploração.
5. O poema traz a assinatura de Mário de Andrade com relação ao estilo.
a) Má rio de Andrade desenvolveu um novo estilo, apegado ao registro informal do português. Tanto o poema quanto a prosa incluem palavras e expressões pinçadas de diversas regiões, inseridas no texto de forma natural. Nesse registro, as palavras podem ser grafadas de diferentes formas. Que expressões do poema permitem essa identificação?
A utilização de uma variação não padrão do português nos termos si e oliosa
b) A divisão de versos do poema rompe com a forma da poesia parnasiana. Copie, no caderno, os itens que explicam o sentido produzido pela divisão dos versos no trecho a seguir.
Resposta: alternativas II e III
É noite. E tudo é noite. Debaixo do arco admirável
Da Ponte das Bandeiras o rio
Murmura num banzeiro de água pesada e oliosa.
I. Os versos seguem um ritmo cadenciado que mantém o mesmo número de sílabas poéticas para marcar as principais sílabas tônicas.
II. A divisão dos versos é pensada para enfatizar certas expressões que iniciam os versos.
III. A quebra inesperada das orações e sua continuidade no verso seguinte levam o leitor a fazer uma leitura mais fluida, sem as pausas marcadas típicas de poemas com rimas.
6. O poema “A meditação sobre o Tietê” recorre a várias figuras de linguagem, como metáforas e metonímias, para a construção poética do rio e da cidade de São Paulo. Explique o sentido produzido pelas seguintes expressões do texto:
a) o peito do rio;
b) noite líquida;
O leito do rio.
A escuridão projetada no Rio Tietê, com suas águas escurecidas pela noite e pelo óleo.
c) forma humana corrupta da vida que muge e aplaude;
d) r umor de germes insalubres.
Germe aponta para o estágio inicial de desenvolvimento de um organismo. Mas é o crescimento insalubre de um organismo vivo.
“Mugir” constrói significado com base no comportamento bovino, de manada, convencionalmente compreendido como pacífico e massificado.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
No poema, Mário de Andrade promove uma reflexão lírica e emocionada sobre sua cidade, São Paulo. Ao registrar essa reflexão com recursos poéticos inovadores, provoca o leitor a pensar criticamente sobre o processo de industrialização e os destinos da cidade e, por extensão, da vida brasileira.
7. O texto 2 foi escrito em 1944, 15 anos depois da queda histórica da Bolsa de Valores de Nova York (Estados Unidos), que levou muitos barões do café à falência.
a) E xplique a importância do café para o eu lírico do poema.
O eu lírico, inicialmente um fazendeiro, era sustentado pelo café, que lhe proporcionava riqueza.
b) A queda do preço do café depois da crise de 1929 transformou o modo como o eu lírico olhava o mundo. Explique como se dá essa transformação no poema.
8. Na primeira estrofe do texto 2, o poema se refere a várias etapas da produção do café em versos curtos.
8. a) Os versos curtos apresentam o que o eu lírico deu para a glória do café e o que recebeu em troca. Ao colocar cada item em um verso, dá destaque a eles, como se fosse uma lista.
a) Q ue sentido é produzido pela sequência de versos compostos de uma ou poucas palavras?
7. b) Com a queda da Bolsa e o declínio do café, o eu lírico se dá conta da miséria dos trabalhadores das lavouras, em especial da lavoura cafeeira, e passa a defender uma justiça social a ser conquistada como o rubi da revolução – rubi aqui se refere tanto ao calor do fogo em que se prepara o café (“Senti no teu calor / Aquecido nos fogareiros pobres”), quanto à chama ou origem das revoluções –bradando nas praças tumultuosas em busca da felicidade da terra
9. a) O título faz referência a um destino glorioso quando, na verdade, a queda do preço do café levou os cafeicultores à falência e produziu uma grave crise econômica no Brasil.
9. b) O destino glorioso seria o surgimento das lutas sociais e das reivindicações por uma nova configuração de sociedade que daí surgiria. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
9. c) Porque uma revolução não pressupõe algo tão subjetivo e vago como felicidade, mas uma causa mais objetiva, palpável. Ao colocar essa subjetividade como alvo de uma revolução, o eu lírico lhe retira o sentido de luta coletiva.
8. b) O eu lírico ofereceu à árvore cheia de xícaras (cafeeiro): adubo (investimento), trato (cuidados), colonos (imigrantes para substituir os escravos), céu azul (clima e solo perfeitos da natureza brasileira), enquanto o café retribuiu com uma bela safra.
b) A e strofe é composta de metáforas e metonímias que se referem aos cuidados com a “Pequena árvore / Cheia de xícaras”. Para interpretar essa estrofe, o leitor deve fazer várias inferências. Considerando isso, explique a que se referem árvore cheia de xícaras , adubo, trato, colonos e céu azul .
9. Uma das características de Oswald de Andrade é o tom irônico e sarcástico de seus textos que, às vezes, beira o deboche.
a) Considerando isso, explique que ironia há no título do poema, “Glorioso destino do café”.
b) Considerando a discussão social promovida pelo poema, qual é uma consequência gloriosa do café para as transformações da sociedade?
c) O eu lírico associa seu engajamento em uma revolução como busca da felicidade na terra. Por que esse desfecho é irônico?
A poesia de Oswald de Andrade caracteriza-se por uma concisão alcançada pelo uso de muitas metáforas e metonímias. As frases e os versos formam blocos descontínuos de sentido que compõem um caleidoscópio de informações ou cenas concomitantes que mostram a multiplicidade da realidade e de olhares sobre ela. É também marcada pelo humor e pela ironia.
10. No poema “Poética”, Manuel Bandeira afirma uma nova concepção estética para o fazer poético. Leia um trecho desse poema.
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e [manifestações de apreço ao sr. diretor
BANDEIRA, Manuel. Poética. In: BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira Rio de Janeiro: Nova Fronteira, [entre 1990 e 1998]. p. 129.
A que lirismo se refere o poema?
Refere-se às estéticas parnasiana e romântica.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Os poemas da primeira geração abrem um campo de experimentação estética que valoriza o cotidiano e a beleza humana, bem como liberta a forma poética dos condicionantes do Parnasianismo.
#SOBRE
Manuel Bandeira (1886-1968) nasceu em uma família intelectualizada. Em 1903, quando se mudou do Recife para São Paulo para estudar Arquitetura, foi diagnosticado com tuberculose avançada e desenganado.
A partir daí, viajou por várias cidades em busca de novos ares, indo se tratar até na Suíça, sempre acompanhado pela expectativa da morte. Em 1917, publicou seu primeiro livro: A cinza das horas, em que expressa o lirismo de uma vida simples e triste.
Fotografia do poeta em 1954.
Seu livro seguinte, Carnaval (1919), chama a atenção dos modernistas, e Bandeira participa da Semana de 22, a distância, com o poema “Os sapos”. Seu livro Libertinagem (1930) consolida as inovações modernistas em um tom mais ameno e intimista.
Enquanto o grupo dos modernistas dava os primeiros passos para se articular, os jornais começavam a perguntar o que seria essa arte modernista que começava a circular nos discursos da capital paulista.
São Paulo contava com um significativo proletariado, em grande parte formado por estrangeiros ou filhos de imigrantes. A diversão dessa classe social consistia nas apresentações dos teatros de revista onde ouviam a música de Chiquinha Gonzaga (1847-1935) e o samba, renegado pelos salões da elite, que tinha o compositor polonês Frédéric Chopin (1810-1849) como ídolo. A cultura se difundia em São Paulo, com perspectivas de mudança radical.
Inspirado na “Semana de Deauville e outras semanas de elegância europeia”, foi articulado um evento que pudesse apresentar ao público paulistano uma amostra do que seria essa arte moderna. A Semana de Arte Moderna, financiada por Paulo Prado e outros barões do café, aconteceu no Teatro Municipal de São Paulo, alugado nos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, para um ciclo de apresentações.
DI CAVALCANTI. Semana de Arte Moderna. 1922. 1 cartaz. Museu Catavento, São Paulo (SP).
A Semana, no entanto, foi apenas um evento que agitou a cultura local. Alguns escritores, como Graciliano Ramos (1892-1953), de Alagoas, consideravam a Semana uma “tapeação desonesta” e os modernistas paulistas, uns pretensiosos que pensavam ter mais qualidades do que de fato tinham. O autor nordestino faz referência à ideia de que esses modernistas, ao priorizarem tanto as rupturas com a arte passadista, faziam-no de forma artificial e superficial, pois teriam inventado uma língua do povo (que não conheciam por serem da elite) e preferiam romper com a estética literária a romper com a ordem política injusta do Brasil.
No Pará, por exemplo, grupos literários produziam uma literatura modernista paraense amplamente divulgada em revistas entre o final do século XIX e o começo do XX. Em Pernambuco, os irmãos Fedora (1889-1975), Joaquim (1903-1934) e Vicente do Rego Monteiro (1889-1970) já produziam pinturas com influência das vanguardas e temáticas que resgatavam elementos da cultura nacional. No Rio Grande do Sul, Simões Lopes Neto (1865-1916) propunha uma subversão linguística em seus escritos com o registro coloquial. Na música, Pixinguinha (1897-1973) e Chiquinha Gonzaga criavam novos gêneros musicais, como chorinho e maxixe, misturando referências de origem africana e da música popular do interior. O modernismo paulista foi, portanto, um dos movimentos que eclodiu nas primeiras décadas no Brasil e que propôs uma nova estética para as artes.
1. A frase do Manifesto faz uma releitura da frase de Hamlet e substitui o verbo to be, pela palavra tupy, semelhante a ele foneticamente. Ao fazer isso, utiliza um texto consagrado, que não poderia ser ignorado, de outra cultura, e o coloca a serviço de nossa nacionalidade.
A primeira publicação modernista importante do grupo modernista paulista foi a Revista Klaxon, mensário de arte moderna. Sua relevância se deve mais ao posicionamento renovador do que à modernidade de seus textos. Destacam-se a diagramação da revista e a publicidade, que utilizaram recursos futuristas nos tipos das letras que só se difundiriam no Brasil cerca de 30 anos depois.
Em 1924, Oswald de Andrade publica o Manifesto Pau-Brasil , propondo que toda estética modernista do país se apoie no cotidiano, libertando-se do passado, criando uma poesia de exportação que ressaltaria nossas origens culturais primitivas, carregada de humor e complementada por elementos visuais Quatro anos depois, o próprio Oswald publicou o Manifesto Antropófago na Revista de Antropofagia propondo uma revisão de todo o Modernismo. Propunha também uma deglutição da cultura europeia que aproveitasse apenas os elementos que tivessem importância para os projetos estéticos nacionais. A nossa originalidade nos livraria da cultura europeia e nos permitiria criar uma arte brasileira legítima, desprendida das amarras da lógica europeia. Essa proposta seria retomada pelo Tropicalismo, 40 anos depois.
Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.
Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz. Tupy, or not tupy that is the question.
Contra todas as catequeses. […]
Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago. […]
O trabalho feito com a tipografia da capa que traz a letra A em tamanho e cor diferentes, fazendo parte de várias palavras ao mesmo tempo, será depois amplamente empregado pela publicidade.
KLAXON: mensário de arte moderna. São Paulo: [s. n.], 1922-23. 9 fasc. Mensal. Capa da primeira edição.
O que atrapalhava a verdade era a roupa, o impermeável entre o mundo interior e o mundo exterior. A reação contra o homem vestido. […]
Filhos do sol, mãe dos viventes. Encontrados e amados ferozmente, com toda a hipocrisia da saudade, pelos imigrados, pelos traficados e pelos touristes. No país da cobra grande.
Foi porque nunca tivemos gramáticas, nem coleções de velhos vegetais. E nunca soubemos o que era urbano, suburbano, fronteiriço e continental. Preguiçosos no mapa-múndi do Brasil.
ANDRADE, Oswald. Manifesto antropófago. In: TELES, Gilberto de Mendonça. Vanguarda europeia e modernismo brasileiro: apresentação dos principais poemas, manifestos, prefácios e conferências vanguardistas […]. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 1983. p. 353-354. O trecho apresenta os primeiros parágrafos do Manifesto antropófago , de Oswald de Andrade, e traz algumas ideias representativas da proposta antropofágica: deglutir as culturas estrangeiras e digerir delas somente aquilo que interessa à produção de uma arte nacional.
1. A frase “tupy or not tupy, that is the question ” é uma adaptação da famosa frase do personagem Hamlet, de Shakespeare (1564-1616): “To be or not to be, that is the question” (“ser ou não ser, eis a questão”). Essa frase representa bem o princípio da antropofagia, de que “só me interessa o que não é meu”. Explique por que essa é uma estratégia antropofágica de composição.
2. Além de propor um novo tipo de aproveitamento da cultura exterior, o Manifesto propõe a extirpação de todas as influências exteriores absorvidas por nossa cultura de forma equivocada ou prejudicial, principalmente a cultura religiosa e conservadora da Europa. Que elementos no texto expressam essa crítica?
2. As referências à catequese, às roupas, à saudade dos imigrantes e à gramática, que afastaram o homem brasileiro da cultura nacional, das tradições e lendas, como a da cobra grande, e da natureza.
A relação entre literatura e arte de performance é intrinsecamente ligada ao desejo de romper com as formas tradicionais de expressão e explorar novas possibilidades. No contexto do Modernismo, essa interação é ainda mais evidente, pois o movimento buscava inovar e desafiar as convenções estabelecidas.
A literatura modernista, com sua ênfase em subjetividade, fragmentação e experimentação, encontrou na performance uma aliada para ampliar horizontes e expressar ideias de forma mais visceral e impactante. As palavras escritas não eram mais confinadas às páginas dos livros; elas ganhavam vida por meio do corpo, do espaço e do tempo, criando experiências estéticas que envolviam o público de maneira mais direta e emocional e que, posteriormente, se transformavam em registros escritos e fotográficos.
C ARVALHO, Flávio de. Experiência n. 2: realizada sobre uma procissão de Corpus Christi: uma possível teoria e uma experiência. 2. ed. São Paulo: Irmãos Ferraz, 1931. Capa do livro.
O artista Flávio de Carvalho exemplifica essa relação por meio de seus experimentos estéticos que integravam elementos literários e performáticos. Sua obra Experiência n. 2, de 1931, desafiou normas sociais ao caminhar com boné na cabeça, no sentido contrário ao de uma procissão de Corpus Christi, de forma contestadora, sendo então bastante hostilizado.
Carvalho utilizava seu corpo como um texto vivo, comunicando ideias sobre identidade, gênero e sociedade de maneira provocativa e inovadora, experimento que depois foi convertido em um relato-experiência que registrou a performance. Esse tipo de experimentação não apenas questionava as convenções artísticas e sociais, mas também ampliava o alcance da arte, transformando-a em uma experiência sensorial e participativa.
1. Forme uma dupla com um colega e pesquise informações sobre a performance Experiência n. 3, de Flávio de Carvalho, procurando por relatos, textos e imagens.
Respostas e comentários nas Orientações para o professor.
2. Compartilhe o material com os colegas em uma aula combinada com o professor e, com eles, reflita sobre o caráter contestador e sobre as reflexões propostas por essa performance
#SOBRE
Flávio de Carvalho (1899-1973) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu a maior parte de sua vida em São Paulo. Formado em Engenharia na Inglaterra, também estudou Belas Artes e Filosofia, áreas de conhecimento presentes em sua obra. Esteve na Europa entre 1911 e 1922, ano em que retornou a São Paulo. Essa ampla formação se refletiu em seus trabalhos, situados entre a técnica construtiva, as artes, a Filosofia e a Psicanálise.
As ações artísticas de Flávio de Carvalho, sempre provocativas, são representativas dos primeiros movimentos da arte da performance no cenário artístico nacional.
O Brasil se moderniza
Frigorífico Matarazzo, parte das Indústrias Reunidas Francesco Matarazzo. Jaguariaíva (PR), 1920.
A crise econômica provocada pela Primeira Guerra Mundial elevou os preços de produtos importados, o que incentivou o desenvolvimento da indústria nacional. Delmiro Gouveia (1863-1917), por exemplo, fundou, em 1914, em Alagoas, a Companhia Agro Fabril Mercantil para fabricar linhas, concorrendo até mesmo com fábricas inglesas. Um ano antes, para ter energia para suas máquinas, construiu a primeira hidrelétrica do Brasil. Em São Paulo, o italiano Francesco Matarazzo (1854-1937) fundou, em 1911, as Indústrias Reunidas Francesco Matarazzo, a maior companhia industrial da América Latina. Nas cidades, as políticas trabalhistas para o proletariado se tornavam insustentáveis: diferenças salariais para mulheres e crianças, jornada de trabalho de 13 horas, entre outros abusos, fizeram eclodir, em 1917, uma greve geral. Iniciada em São Paulo, logo despontava em outros estados, como Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
Durante a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, revoltosos “marcham para a morte”. Rio de Janeiro (RJ), 1922.
Um caldeirão de conflitos
Na década de 1920, militares de baixa patente iniciaram uma série de revoltas – que passaram para a história como tenentismo –, com o objetivo de derrubar a República Velha, ligada às oligarquias rurais, e defender ideais democráticos. Em 1922, eclodiu a Revolta do Forte de Copacabana, a primeira de uma série de outras que culminaram com a organização do movimento que ficou conhecido como Coluna Prestes. A Coluna era formada por soldados-cidadãos que viajaram 24 mil quilômetros por todo o país tentando conscientizar a população da importância do voto secreto e do ensino público gratuito e obrigatório. Nesse mesmo ano foi fundado o Partido Comunista Brasileiro (PCB), logo declarado ilegal.
MAPPIN STORES. O novo prédio. 1919. 1 anúncio.
O Rio de Janeiro abrigava grande parte da elite intelectual do Brasil. A Academia Brasileira de Letras (ABL) e os escritores consagrados do Parnasianismo reinavam no conservador ambiente cultural e artístico na capital da República. A elite paulista, que detinha o poder econômico, cultivava hábitos próprios da cultura europeia. Frequentava bailes e tomava o chá das cinco na Mappin Stores, em frente ao Teatro Municipal. Peças teatrais francesas e óperas italianas tornavam-se sinônimo de requinte e bom gosto. O futebol no hipódromo da Mooca começava a se tornar um grande evento. Na década de 1920, São Paulo contava com 14 cinemas que reproduziam filmes de cineastas como Cecil B. de Mille (1881-1959) e Fritz Lang (1890-1976), que tinham como acompanhamento grupos de jazz-band.
No início do século XX, vários eventos contribuíram para a renovação modernista em São Paulo: Lasar Segall (18891957) faz uma exposição (1913) com telas influenciadas pelas vanguardas; Menotti Del Picchia (1892-1988) publica Juca Mulato (1917), com um protagonista tipicamente brasileiro; e Manuel Bandeira, A cinza das horas (1917), com poemas em versos livres; Anita Malfatti (1889-1964) faz sua segunda exposição (1917), criticada vigorosamente por Monteiro Lobato (1882-1948) no artigo “Paranoia ou mistificação”, publicado no jornal O Estado de S. Paulo. Em resposta, Oswald de Andrade e outros artistas saíram em defesa de Anita e passaram a articular um evento de ruptura com a arte do século XIX.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
MALFATTI, Anita. A boba. 1915. Óleo sobre tela, 61 cm x 50,6 cm. Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (SP).
Patrícia Rehder Galvão (1910-1962), conhecida pelo pseudônimo Pagu, foi uma figura central no movimento modernista brasileiro. Sua vida e obra deixaram um impacto duradouro na literatura e na cultura do país. Pagu foi a primeira mulher presa no Brasil por motivações políticas. Sua militância resultou em várias prisões e torturas, mas ela nunca desistiu de sua luta por justiça social e liberdade. A experiência da prisão influenciou profundamente sua obra literária, marcada por um tom crítico e uma sensibilidade aguçada para as questões sociais.
Entre suas obras mais conhecidas estão os romances Parque industrial (1933), escrito sob o pseudônimo de Mara Lobo, que é considerado o primeiro romance proletário brasileiro. O livro retrata a vida difícil dos operários em São Paulo, abordando temas como exploração, desigualdade e luta de classes. Outro destaque é A Famosa Revista (1945), escrita em conjunto com Geraldo Ferraz, que mistura ficção e realidade para contar a história do movimento modernista e suas contradições. Sua obra poética, embora menos extensa, revela uma voz lírica potente, comprometida com as transformações sociais.
A importância de Pagu para a literatura modernista brasileira reside não apenas em suas contribuições como escritora, mas também em sua postura combativa e inovadora. Ela desafiou as normas de gênero e as convenções literárias, abrindo caminho para uma nova geração de artistas e escritores que buscavam uma arte engajada e transformadora. Pagu foi, inclusive, a primeira mulher a produzir histórias em quadrinhos no Brasil, com tirinhas publicadas em seu jornal, O homem do povo (1931), intitulada Malakabeça, Fanika e Kabelluda.
Agora é com você! Para saber mais sobre a autora, pesquise em mecanismos de busca os poemas de Pagu. Selecione algumas para ler e, depois, discuta com os colegas em sala sobre os seguintes aspectos de sua obra poética:
• recursos estéticos: a estrutura dos poemas;
• temas recorrentes;
• diálogos com a estética modernista.
Fotografia da escritora na década de 1930.
Com a eclosão da Revolução Russa, as greves gerais, o tenentismo e as novas ideias políticas que passam a circular no Brasil e no mundo, novos modelos de sociedade passam a ser projetados. As artes também se transformaram para responder às muitas e profundas mudanças no mundo. No caso brasileiro, o Modernismo que ganhou destaque nos meios acadêmicos foi financiado pela elite cafeeira. Pretendendo seguir as transformações artísticas que ocorriam na Europa, essa elite financiou bolsas de estudos a artistas, custeou exposições, ornamentou praças com esculturas modernas, recebeu artistas de vanguarda europeus. No entanto, na contramão desse vanguardismo, ainda eram herdeiros de uma cultura oligárquica conservadora, que sustentava uma economia ainda muito dependente da monocultura cafeeira.
Os escritores modernistas desta fase buscaram registrar uma identidade nacional autêntica, rejeitando o academicismo e o formalismo em favor de uma expressão mais livre e experimental. Passam a valorizar uma linguagem informal, o coloquialismo, a fragmentação e temas representativos da realidade brasileira, incluindo suas paisagens, culturas populares e questões sociais. Essa geração promoveu uma fusão entre o erudito e o popular, refletindo a diversidade cultural do Brasil, e estabeleceu as bases para a produção literária e artística subsequente no país.
As obras de Anita Malfatti, primeira imagem, e de Tarsila do Amaral (1886-1973), segunda imagem, pintoras influenciadas pelas vanguardas artísticas europeias, trazem novos olhares para a paisagem brasileira. A de Anita dialoga com o expressionismo, enquanto Tarsila recorre ao cubismo e ao futurismo para representar um Brasil que fica entre a tradição e a modernidade.
MALFATTI, Anita. A ventania. 1915. Óleo sobre tela, 51 cm x 61 cm. Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo.
AMARAL, Tarsila do. Estrada de Ferro Central do Brasil 1924. Óleo sobre tela, 142 cm x 126,8 cm. Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (SP).
Pautada pelos movimentos de vanguarda, a poesia de Oswald de Andrade utiliza a liberdade composicional plena para propor uma nova reflexão sobre a nacionalidade, inclusive recorrendo a relatos do descobrimento. Lança mão com frequência do humor ou da ironia, criticando um tipo de Brasil que insistia em copiar os costumes europeus. Esse humor também é colocado a serviço de uma crítica severa à sua própria classe social, a burguesia, com seu conservadorismo e suas limitações.
Mário de Andrade constrói a representação do cruzamento de culturas que circulavam em São Paulo e no Brasil. Tratou do conflito entre os italianos, da modernidade, das fábricas que chegavam e das elites cafeeiras, ainda apegadas a um provincianismo bandeirante. Registra também aspectos da cultura brasileira, de seu folclore, que, antes ignorados, são resgatados por meio de suas pesquisas e viagens.
Os poemas de Manuel Bandeira, recorrendo frequentemente ao humor e ao lirismo, mantêm uma leveza que exalta fatos cotidianos e o sofrimento humano. Cultiva também um olhar terno e melancólico frente à morte e às misérias do mundo, carregado de compreensão e resignação em alguns casos e, em outros, um olhar otimista perante os males da vida, uma visão idealizada da existência. A liberdade poética pretendida por Bandeira não se limita à forma. Ao longo de sua produção, ele escreveu uma profusão de gêneros literários que vão dos mais formais, como os sonetos, até poemas completamente livres.
O Fauno de Brecheret faz parte da lógica dos modernistas paulistas de espalhar arte pela cidade, já que esta escultura ornamenta o parque Trianon, na Avenida Paulista, em São Paulo (SP).
BRECHERET, Victor. Fauno. 1944. Granito, 3,4 m x 1,4 m x 1,45 m, com pedestal em granito 1,72 m x 1,82 m x 2 m.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A Unidade 5 deste volume tratou das vanguardas artísticas europeias. Essas vanguardas buscam não mais uma representação figurativa, que reproduz o real, mas uma arte que investiga a luz, a forma, os volumes, experimenta novos procedimentos, questiona valores, quer representar as conquistas, as angústias e perguntas do ser humano do início do século XX. Essas buscas e esses experimentos significaram também libertação: rompendo com padrões convencionais, a arte estava aberta a um vasto campo de experimentação e a uma produção que respondia mais diretamente a novos tempos.
Os ventos dessas vanguardas chegam ao Brasil com o Modernismo. Usando a imaginação sem freios, colocando as palavras em liberdade, livrando-se dos parâmetros estabelecidos até então, os primeiros modernistas se permitem uma pesquisa tanto no plano temático quanto no plano formal, para indagar sobre o destino do ser humano, sobretudo dos brasileiros; e uma revisão do pitoresco nacional, mas desta vez com viés crítico. O nativo europeizado, a mestiçagem hierarquizada, que colocava o branco como entidade superior, por exemplo, sofrem uma ruptura: o indígena é visto como parte de uma identidade mais profunda, e a mestiçagem, como virtude e vantagem da cultura brasileira; aquilo que poderia ser considerado deficiência – suposta ou real – é reinterpretado como superioridade.
Os vários manifestos modernistas expressam convicções e intencionalidades que conjugam visão crítica e um nacionalismo ufanista; eles abrem, no plano estético, um caminho que se prolongará por todo o século XX na literatura brasileira e que continua frutificando.
Também as vanguardas europeias continuam sendo revisitadas até mesmo por uma arte mais popular, como os quadrinhos. Nesta tirinha do Calvin, por exemplo, Bill Watterson (1958-) toma o Cubismo como referência para representar Calvin dividido entre dois pontos de vista. Esse é um exemplo do vigor das propostas modernistas, que continuam sendo renovadas.
Para discutir
1. Considere as leituras que você fez, os filmes, as séries e os vídeos a que assistiu e o que conhece sobre arte e dança: você diria que alguma dessas obras pode ser considerada de vanguarda? Por quê?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Esta unidade apresentou a literatura modernista e a busca que empreendeu por uma identidade cultural genuinamente brasileira. Entre as expressões autênticas da cultura nacional, os modernistas incluíam o Carnaval, com sua exuberância, diversidade e criatividade espontânea. “Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval. O índio vestido de senador do Império. […]
Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses”, diz o Manifesto Antropófago. A irreverência e a liberdade do Carnaval correspondiam aos princípios modernistas de romper com as convenções e explorar novas formas de expressão, fazendo dessa festa popular um símbolo da renovação cultural que o movimento almejava.
A revalorização do Carnaval de rua, sobretudo a partir dos anos 2010, que voltou a lotar as cidades e fomentou um aumento no turismo de algumas cidades, refletiu-se até mesmo na economia delas. Esse crescimento exigiu um ordenamento dos blocos de Carnaval que proliferaram pelo país e a elaboração de regras e regulamentos para a participação nesses blocos.
Para discutir
Respostas pessoais. É importante que os estudantes reflitam sobre como o Carnaval é um evento importante para o Brasil e como o Carnaval de rua é um evento público. Eventuais regras e cobranças podem descaracterizar esse evento e criar divisões que beneficiam, por fim, quem tem maior poder aquisitivo, mesmo em espaços que seriam coletivos.
Os blocos carnavalescos que desfilam durante o Carnaval em várias cidades do Brasil se organizam em diferentes temas e estilos.
1 Em sua cidade, existe algum bloco carnavalesco? Que estilo musical ele(s) toca(m)?
2 Discuta com os colegas: qual seria o público de um bloco de Carnaval?
3 O Carnaval de rua é considerado uma manifestação popular. Alguns blocos, no entanto, dada a sua estrutura e número de foliões, chegam a criar regras e até mesmo a cobrar pela participação. Qual é sua opinião sobre esse regramento? Explique.
A seguir, você vai ler o regulamento para a participação na Oficina de percussão do Bloco Pagu e no desfile do Bloco, que sai durante o Carnaval de rua de São Paulo e homenageia a escritora modernista. Esse bloco é um dos mais conhecidos da capital paulista. Sua bateria é formada exclusivamente por mulheres e cantoras famosas; além disso, chegou a ter, nos anos de 2023 e 2024, cerca de 50 mil pessoas em seu cortejo.
Texto
01. DO OBJETO
1.1 Constitui objeto do presente regulamento a oficina de percussão para mulheres que tenham interesse em tocar e pertencer ao grupo de ritmistas do BLOCO PAGU em São Paulo, entre os meses de Setembro de 2024 e Março de 2025, que pode culminar em seu cortejo no Carnaval no dia 04 de março de 2025.
1.2 Com o intuito de reunir as interessadas, a proposta da oficina é a didática dos instrumentos: Agogô (4 bocas), Rocar, Repique, Xequerê, Caixa, Tamborim, Surdo (1a, 2a, 3a) e Timbal.
2.1 Estão aptas a participar da oficina de ritmistas do BLOCO PAGU: mulheres, maiores e/ou menores devidamente autorizadas por seus responsáveis legais, brasileiras ou estrangeiras.
3.1 As inscrições para as oficinas do BLOCO PAGU deverão ser realizadas exclusivamente pelo link disponibilizado pela organização.
3.2 Caso a inscrição seja feita por ex-aluna do Bloco Pagu da Oficina de Percussão anterior (09/2023 a 02/2024), a mesma receberá um código de desconto que poderá ser aplicado ao valor total.
3.3 A confirmação do recebimento da inscrição será enviada por e-mail a cada uma das participantes através do e-mail cadastrado na ficha de inscrição.
3.4 Serão desconsideradas as inscrições realizadas fora do prazo.
[…]
3.8 A data-limite para inscrição é no dia 22 de outubro de 2024 e o BLOCO não aceitará novas participantes a partir de 05 de novembro de 2024. Ambas as datas poderão ser postergadas a critério da organização.
4.1 As aulas serão realizadas com a presença de regente e uma mestra para cada naipe.
4.2 Qualquer profissional da oficina ou banda poderá ser substituído em caso de necessidade, sem aviso prévio.
4.3 Se uma participante estiver inadimplente ou desistir da oficina, a organização do BLOCO PAGU poderá substituí-la.
4.4 Os horários e locais das aulas podem passar por alterações em caso de necessidade.
[…]
5.1 As participantes se comprometem a quitar o pagamento no prazo estabelecido pela organização.
5.2 As participantes devem se responsabilizar por providenciar seus próprios instrumentos.
5.3 As participantes comprometem-se a evitar ao máximo se ausentar nas aulas por toda a duração da oficina BLOCO PAGU com a obrigatoriedade de presença mínima de 75% nas aulas para garantir o direito de desfilar. Para ex-alunas no Bloco Pagu da Oficina de 2023/2024 que permanecerão no mesmo naipe, a presença conta a partir de 15 de outubro de 2024. Para o restante, a partir de 17 de setembro de 2024.
5.4 Todo e qualquer dano à propriedade dos organizadores, terceiros, outros participantes selecionados e/ou próprio participante selecionado, será responsabilidade única e exclusiva desta participante causadora, devendo arcar com os prejuízos decorrentes do(s) ato(s) e isentando a organização do Bloco Pagu de qualquer responsabilidade civil e/ou criminal.
5.5 Ao preencher e enviar a ficha de inscrição, as participantes concordam com todos os termos do presente regulamento, inclusive no que se refere a datas, pagamentos e obrigações.
[…]
07. DISPOSIÇÕES GERAIS
7.1 Camisetas e outros materiais promocionais referentes ao BLOCO PAGU não estão inclusos no valor da oficina.
7.2 A seleção final do repertório musical é de escolha única e exclusiva da organização do BLOCO PAGU.
7.3 A participante fica ciente de que as apresentações do Bloco Pagu em shows, eventos particulares, públicos e/ou festas poderão ser realizadas em formação reduzida, contando apenas com banda e mestras de cada naipe.
[…]
7.5 Ao participar da oficina de percussão do BLOCO PAGU, cada participante está incondicionalmente aceitando e concordando em ter sua imagem divulgada em qualquer meio de comunicação para usos informativos, promocionais ou publicitários relativos ao BLOCO PAGU sem acarretar nenhum ônus aos organizadores.
7.6 O presente regulamento ficará à disposição das interessadas no site www.blocopagu.com.br.
7.7 Qualquer tipo de informações e/ou esclarecimentos podem ser obtidos pelo e-mail […].
BLOCO PAGU. Regulamento. São Paulo: Bloco Pagu, 2024. Disponível em: www.blocopagu.com.br/regulamento. Acesso em: 5 set. 2024.
2. b) O bloco consegue, com esses artigos, garantir que não será lesado nem prejudicado economicamente e nem no andamento dos ensaios, para garantir a qualidade da bateria e as condições financeiras para que possa desfilar no Carnaval.
Não escreva no livro.
1. Leia o gráfico a seguir sobre o quanto o Carnaval movimenta a economia de algumas cidades do Brasil.
Fonte: BENEVIDES, Gabriel. Principais folias do Brasil devem movimentar R$ 25 bi no Carnaval. Poder 360, [s. l.], 10 fev. 2024. Disponível em: www.poder360.com.br/economia/principais-folias-do -brasil-esperam-movimentar-r-25-bi-no-carnaval/. Acesso em: 5 set. 2024.
1. Espera-se que os estudantes percebam que, como o Carnaval movimenta muito dinheiro e o bloco tem um público muito grande, a procura por fazer parte do bloco pode ser muito alta e é necessário um conjunto de regras para organizar essa participação.
• De acordo com o gráfico, o Carnaval é uma festividade muito rentável para os estados brasileiros. Em São Paulo, por exemplo, cidade onde desfila o Bloco Pagu, são movimentados 5,7 bilhões de reais. Considerando essa informação e o número de foliões que seguem o bloco, explique qual é a importância de se estabelecerem regras para fazer parte da bateria.
2. O regulamento que você leu estabelece as regras necessárias para a entrada na bateria do Bloco Pagu.
a) De acordo com o regulamento, ao se inscreverem, as participantes da oficina aceitam os direitos e deveres previstos no regulamento. Copie o organizador a seguir no caderno e preencha-o com esses direitos e deveres.
Deveres
b) Ao comparar o número de direitos e deveres, ficam evidentes várias obrigações da participante das oficinas. Qual é a importância da seção “Das obrigações” para o bloco?
Ter aulas com uma regente e uma mestre para cada naipe.
Quitar o pagamento no prazo estabelecido. Providenciar os próprios instrumentos. Evitar faltas. Arcar com eventuais danos a propriedades de quaisquer pessoas.
5. a) “As participantes se comprometem a quitar o pagamento […]”; “As participantes devem se responsabilizar por providenciar seus próprios instrumentos”; “Todo e qualquer dano à propriedade […] será responsabilidade única e exclusiva desta participante”; “As participantes comprometem-se a evitar ao máximo se ausentar nas aulas”.
3. O regulamento está claramente dividido em seções.
1. Do objeto
2. Das condições
3. Das inscrições
4. Das aulas
5. Das obrigações
6. Disposições gerais
A. Apresenta informações variadas sobre o bloco.
B. Detalha as obrigações de cada participante.
C. Detalha como são as aulas da oficina de percussão.
D. Esclarece quem está apto a participar das oficinas.
E. Especifica o que é o regulamento.
F. Especifica valores, datas e formas de inscrição.
1: E; 2: D; 3: F; 4: C; 5: B; 6: A.
a) No caderno, relacione cada seção do regulamento ao papel que ela tem para o regramento do bloco. b) A divisão em seções permite ao leitor encontrar mais facilmente as informações que procura. Explique qual é a importância da hierarquização das cláusulas para a especificação de cada seção.
4. A seção “Disposições gerais” apresenta informações variadas. Qual é a relevância da criação de uma seção tão geral como essa?
Como as informações são muito variadas, ficaria inviável criar uma seção para cada tema tratado nessa parte.
Regulamentos apresentam uma estrutura bem definida, que pode estar organizada em seções, artigos, parágrafos e incisos. As partes da estrutura têm uma sequência hierárquica, ou seja, as seções podem ser divididas em artigos; estes, em parágrafos; e os parágrafos, em incisos. Nem todos os regulamentos apresentam todos esses itens. A divisão clara da estrutura facilita a localização e a consulta de informações específicas.
3. b) A divisão em artigos permite uma identificação mais objetiva das informações, pois cada uma trata de um tema, do mais ao menos importante.
5. Textos jurídicos apresentam estruturas linguísticas que se referem a uma modalidade chamada deôntica: a que impõe uma obrigação, permissão ou proibição para o interlocutor.
Considerando
obrigações da
essa modalidade
obrigatoriedade
a) Copie, no caderno, da seção “Das obrigações”, trechos que provocam no interlocutor a ideia de dever e obrigatoriedade.
b) Identifique os verbos e o tempo em que estão flexionados.
Comprometer, dever – ambos no presente em todas as ocorrências; ser – no futuro do presente.
c) E xplique qual é a importância desse tipo de modalização em uma seção com esse título.
6. Com relação à linguagem de textos jurídicos, copie, no caderno, os itens que podem garantir uma leitura clara e sem margem a múltiplas interpretações.
Resposta: alternativas II, IV, V, VI e VII.
I. Deve apresentar orações com vários jogos de palavras e adjetivações.
7. a) Os estudantes podem apontar que, no âmbito corporativo, regulamentos internos definem procedimentos,
tome as atitudes
II. Deve recorrer a frases curtas e concisas.
III. Deve usar siglas para dar ao texto maior concisão e coesão.
responsabilidades e condutas esperadas dos funcionários. Em ambientes educacionais, regulamentos escolares visam garantir um ambiente seguro e propício ao aprendizado, estipulando regras de comportamento e avaliação. Governos e órgãos públicos criam regulamentos para implementar e detalhar leis, assegurando que políticas
IV. Deve utilizar termos que tenham o mesmo significado na maior parte do território nacional, evitando o uso de expressões locais ou regionais.
V. D eve utilizar uma regularidade de tempo verbal, dando preferência ao tempo presente ou ao futuro do indicativo.
públicas sejam seguidas de maneira uniforme e justa. Além disso, associações profissionais e entidades esportivas elaboram regulamentos para padronizar práticas e promover a equidade entre seus membros e participantes. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
VI. Devem ser utilizadas palavras e expressões em seu sentido mais comum.
VII. Os artigos devem ser escritos com clareza, precisão e ordem lógica.
7. Regulamentos estabelecem normas e diretrizes que garantem a organização e o funcionamento de diferentes instituições, eventos, estabelecimentos etc.
a) Em que outras instâncias sociais são produzidos regulamentos? Cite algumas delas.
b) Regulamentos são textos que devem ser facilmente acessados para consultas em momentos em que se fazem necessários. Como é possível garantir esse fácil acesso, dadas as possibilidades contemporâneas de compartilhamento de textos?
É possível que o regulamento esteja impresso e disponível nas instituições que o estabelecem, que cada pessoa submetida a ele tenha uma cópia, que seja enviado virtualmente para todos ou que esteja facilmente acessível em algum site ou rede social.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
1. a) A oração principal é: “a mesma receberá um código de desconto”. 1. b) Sentido de condição: se for ex-aluna, terá desconto em nova inscrição.
Releia um trecho do regulamento do Bloco Pagu.
1 Releia o trecho destacado.
a) Qual é a oração principal do período?
b) A expressão que introduz o período cria uma relação de sentido entre as orações. Qual?
c) Que termo é responsável pela construção desse sentido?
O termo caso, que tem aqui função de conjunção.
3 Considere a seguinte reescrita de trecho do texto: “Qualquer profissional da oficina tocará, mas será substituído em caso de necessidade”.
a) Qual é a relação de sentido entre as orações do período?
Relação de oposição.
b) Que termo é responsável pela construção desse sentido?
2. a) Elas trazem a ideia de alternância, isto é, alternativas possíveis que levariam à substituição.
3.1 As inscrições para as oficinas do BLOCO PAGU deverão ser realizadas exclusivamente pelo link disponibilizado pela organização.
3.2 Caso a inscrição seja feita por ex-aluna do Bloco Pagu da Oficina de Percussão anterior (09/2023 a 02/2024), a mesma receberá um código de desconto que poderá ser aplicado ao valor total […]
4.3 Se uma participante estiver inadimplente ou desistir da oficina , a organização do BLOCO PAGU poderá substituí-la.
4.4 Os horários e locais das aulas podem passar por alterações em caso de necessidade.
[…]
5.1 As participantes se comprometem a quitar o pagamento no prazo estabelecido pela organização.
5.2 As participantes devem se responsabilizar por providenciar seus próprios instrumentos.
BLOCO PAGU. Regulamento. São Paulo: Bloco Pagu, 2024. Disponível em: www.blocopagu.com.br/regulamento. Acesso em: 5 set. 2024.
2 Considere o trecho em destaque
a) As duas orações definem a condição para a substituição de qualquer participante no bloco. Qual é a relação entre essas orações em destaque?
b) Qual é o termo que constrói esse sentido entre as orações?
A conjunção ou
4 Considere o seguinte período, formulado com base nos artigos do regulamento: “A presença das participantes é fundamental, pois sua ausência prejudica o desempenho do grupo.”
a) Quantas orações compõem esse período?
b) Qual é a relação de sentido entre essas orações?
c) Que outras conjunções produziriam sentido semelhante?
A conjunção mas. As conjunções todavia, no entanto.
Os períodos explorados nas atividades iniciais deste estudo são períodos compostos por coordenação. Observe o exemplo a seguir, adaptado do artigo de Marcos Augusto Gonçalves.
Famílias do interior transferiam-se para a capital, abriam novos espaços e substituíam os pesados casarões por prédios elegantes e construções à moda de tudo.
Uma relação de explicação.
c) Que termo é responsável pela construção desse sentido?
A conjunção pois.
d) Que outra conjunção produziria um efeito de sentido semelhante?
A conjunção porque. Duas orações.
O trecho é sintaticamente construído por um período composto de três orações coordenadas, independentes uma da outra. A segunda oração é separada da primeira por vírgula; e a terceira separa-se da oração principal por meio da conjunção e, que expressa sentido de adição. Assim, no período, a relação de coordenação se estabelece por meio da pontuação, sem o uso de conjunções, e por meio da conjunção e. As orações que se coordenam sem a presença de uma conjunção chamam-se orações coordenadas assindéticas. Já as orações que se coordenam por meio de uma conjunção chamam-se orações coordenadas sindéticas.
Entre as orações coordenadas sindéticas, o sentido estabelecido é determinado pela seleção que o enunciador faz da conjunção empregada. Observe, no período a seguir, formulado com base no poema de Ricardo Aleixo, a conjunção aditiva e que se conecta como acréscimo à oração que a precede.
O acaso já fez coisas e desfez e refez
A oração que soma informação e é introduzida pela conjunção coordenativa e é analisada como uma oração coordenada sindética aditiva. Observe agora este exemplo.
Qualquer profissional da oficina tocará, mas será substituído em caso de necessidade.
Neste exemplo, a conjunção mas introduz a oração “será substituído em caso de necessidade”, a qual traz um sentido adversativo, de oposição à oração que a precede e, por isso, é chamada de adversativa. Temos, então, uma oração coordenada sindética adversativa . Observe a conjunção neste outro exemplo.
O tempo de inscrição já encerrou, por isso não aceitamos mais participantes.
A conjunção por isso expressa ideia de conclusão. Por esse motivo é chamada de conjunção conclusiva e introduz a oração “não aceitamos mais participantes”, que expressa uma consequência da primeira oração. Trata-se, assim, de uma oração coordenada sindética conclusiva.
No exemplo a seguir, a conjunção explicativa porque introduz a oração “cumpriu com todas suas obrigações contratuais”.
A participante com pagamento em dia tocará no Bloco porque cumpriu com todas suas obrigações contratuais.
A conjunção, neste caso, apresenta uma explicação para a oração anterior: “A participante com pagamento em dia tocará no Bloco”. Nesse caso, temos uma oração coordenada sindética explicativa . Observe este exemplo:
[…] uma participante estiver inadimplente ou desistir da oficina […].
No exemplo, a conjunção alternativa ou caracteriza a relação entre as orações, marcando uma alternância de condições para sua substituição. Essas orações são classificadas como orações coordenadas sindéticas alternativas.
Orações coordenadas são orações independentes sintaticamente, que podem ser entendidas separadamente, sem perda do sentido para nenhuma delas. A conexão entre orações coordenadas ocorre por meio de conjunções, de vírgulas ou de pontos e vírgulas. O que dá unidade ao período composto por coordenação é o sentido que as orações coordenadas produzem em conjunto.
Oração coordenada assindética é aquela que não é introduzida por meio de conjunção.
Oração coordenada sindética é aquela que é introduzida por meio de síndeto, ou seja, de conjunção.
1. b) O uso dos pontos de exclamação compõe a representação da fala do diretor, buscando imprimir, no texto escrito, a entonação de irritação, de impaciência. A frase com mais exclamações é a que estabelece o conflito: a cena é dramática, e a atuação do cão-ator não corresponde a isso. Essa ênfase também prepara a transição para a frase que estabelece o humor, no segundo balão.
Observe a tirinha a seguir, do cartunista Fernando Gonsales (1961-).
GONSALES, Fernando. [Cãezinhos ignorantes no cinema]. Níquel Náusea . [S. l.], [c2024]. Disponível em: www.niquel.com.br/cinema.shtml. Acesso em: 18 set. 2024.
1. Um dos fatores importantes para o efeito de humor aqui é o fato de o cachorro ser tratado como um ser racional, que compreenderia a crítica do diretor.
a) Que elemento gráfico indica que o cão estaria tendo dificuldades para compreender a demanda do diretor?
O cão é representado com o rabo em movimento, típico de cães que estão animados, enquanto seu olhar é tenso, mais próximo da atmosfera dramática da cena.
b) A s falas do primeiro balão são pontuadas com pontos de exclamação. Que efeito de sentido tem o uso desses sinais na tirinha? Que efeito têm as duas exclamações na fala do diretor?
c) Que outros recursos linguísticos são empregados para representar fielmente a fala do diretor?
2. A s orações coordenadas no segundo balão colaboram para o efeito cômico.
a) Classifique essas orações coordenadas.
São orações coordenadas sindéticas alternativas.
b) E xplique por que o tipo de relação estabelecida entre as orações reforça a comicidade no caso desse balão de fala.
Leia, agora, um trecho de uma reportagem acerca de um tipo particular de trabalho infantil.
A presença digital de crianças na internet tem se tornado cada vez mais comum […]. Gravar vídeos pode ser uma brincadeira, uma forma de passar o tempo, […] mas também pode se configurar como trabalho infantil. […]
[…]
1. c) Além da pontuação expressiva empregada por meio dos pontos de exclamação, o autor usa o vocativo no chamamento ao cão e a transcrição da expressão de apelo “Pelo amor de Deus” para os sons da fala, tal como se pronuncia em situações de tensão (Pelamordedeus, Rex).
Entre os casos que chegaram à justiça, destaque para uma ação civil pública movida pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) em dezembro de 2018 contra o Google, obrigando a empresa a retirar uma centena de vídeos da plataforma YouTube por conterem publicidade indireta e abusiva gerada por youtubers mirins. A ação coletiva pedia providências para que a empresa passasse a respeitar a legislação existente no Brasil referente aos canais de crianças e adolescentes, além de requerer condenação de pagamento de indenização por dano moral coletivo. […]
2. b) O uso de uma oração coordenada alternativa fortalece o efeito cômico, pois são colocadas como únicas opções as declarações presentes nas duas orações, que são absurdas (que o cão em foco ou um possível substituto dele compreenda as indicações do diretor e, com isso, controle seu rabo conscientemente).
Para Sandra Cavalcante [doutora pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP)], apesar das medidas tratarem sobre questões importantes da segurança na Internet, não enfrenta os problemas do trabalho infantil artístico ou da monetização dos canais. ‘A empresa atribui toda a responsabilidade aos pais, pois nem mesmo os anunciantes ou demais agentes envolvidos no modelo de negócio são citados. Com isso, ignora que a estrutura e a dinâmica do mercado são também responsáveis por criar a demanda pelo trabalho infantil. É o caso do setor agrícola, por exemplo, que contrata a família e não o trabalhador, pagando por produção. O mesmo ocorre quando há monetização de um canal que contém a atuação infantil’, considera.
DIAS, Guilherme Soares. Youtubers e influenciadores mirins: quando a diversão vira trabalho infantil. Criança Livre de Trabalho Infantil, [s. l.], 19 jun. 2020. Disponível em: www.chegadetrabalhoinfantil.org.br/noticias/materias/youtubers-e-influenciadores-mirinsquando-a-diversao-vira-trabalho-infantil/. Acesso em: 6 set. 2024.
3. A reportagem apresenta ao leitor uma questão própria da contemporaneidade no que diz respeito ao trabalho infantil.
a) Qual é a questão em foco?
São os limites entre uma exposição lúdica e uma exposição profissional das crianças na internet; a última configuraria exploração do trabalho infantil.
b) C omo a conjunção mas , em destaque, colabora para a apresentação do problema exposto? Responda com base na classificação da conjunção e das orações que ela relaciona.
4. Como é comum em reportagens, o texto traz o posicionamento de uma especialista no assunto sobre a questão, a doutora Sandra Cavalcante.
a) Classifique a conjunção pois, destacada, e a oração que ela introduz.
4. a) Pois é uma conjunção explicativa, introduz uma oração coordenada explicativa (“pois nem mesmo os anunciantes ou demais agentes envolvidos no modelo de negócio são citados”).
b) Que importância assume a oração introduzida por pois no trecho referente ao posicionamento de Sandra Cavalcante?
c) O verbo contratar (contrata) está subentendido no período “contrata a família e não [contrata] o trabalhador”. Classifique a relação entre essas orações, explicando qual é, no contexto desse enunciado, o sentido inesperado expresso pela conjunção e Leia a tirinha a seguir, do Recruta Zero.
4. c) No enunciado em questão, a conjunção e não é aditiva, como frequentemente classificada, pois introduz uma oposição: “contrata a família e não [contrata] o trabalhador”. Assim, no caso, e tem sentido adversativo.
4. b) A oração coordenada explicativa é importante por introduzir uma justificativa do posicionamento da especialista, comprovando o que afirma na oração anterior: que a empresa transfere as responsabilidades da exploração do trabalho infantil aos pais. Esse argumento fortalece a opinião dela, de que o conjunto de medidas do Ministério Público de São Paulo “não enfrenta os problemas do trabalho infantil artístico ou da monetização dos canais”.
3. b) Mas é uma conjunção adversativa e estabelece ideia de oposição entre “Gravar vídeos pode ser uma brincadeira” e “[gravar vídeos] pode se configurar como trabalho infantil”. Por meio da introdução da oração coordenada adversativa, o enunciado introduz um conflito, uma oposição entre duas funções dos vídeos, tomadas, na reportagem, como foco de problematização por parte de especialistas.
WALKER, Mort; WALKER, Greg. [Dentinho, eu tentei]. Zero. [S. l.], 24 abr. 2006. Disponível em: http://tiras-recruta-zero. blogspot.com/2008/04/ tira-de-29042006.html. Acesso em: 8 out. 2024.
5. b) Porque Dentinho não entende que o sargento está fazendo uma crítica a ele.
5. O humor da tira é produzido pela resposta do recruta.
a) O que o sargento Tainha não aguenta mais?
A ignorância do soldado Dentinho.
b) Por que a resposta de Dentinho reforça a angústia do sargento Tainha?
c) Classifique sintaticamente as orações da fala do sargento Tainha.
Oração coordenada aditiva e adversativa.
d) Considere as seguintes orações: “Eu tentei e tentei com você”. Qual é o efeito de sentido produzido por essa repetição?
Intensificar o esforço do sargento, comprovado pelo grande número de tentativas.
e) Como esse período poderia ser escrito com apenas uma oração, mantendo o sentido?
Eu tentei demasiadamente/muito/exaustivamente com você.
6. Com relação às falas de Dentinho, reescreva-as, no caderno, em um só período, de dois modos diferentes. Primeiro, estabelecendo entre elas uma relação de explicação; depois, uma relação de conclusão.
Bem, não desista, sargento, porque talvez você tenha um talento tardio. (explicativa)
Bem, talvez você tenha um talento tardio, sargento, por isso, não desista. (conclusiva)
Leia o poema a seguir, escrito por Pagu, e responda às questões que o seguem.
Os meus pés não dão mais um passo.
O meu sangue chorando
As crianças gritando,
Os homens morrendo
O tempo andando
As luzes fulgindo,
As casas subindo,
O dinheiro circulando,
O dinheiro caindo.
Os namorados passando, passeando,
Os ventres estourando
O lixo aumentando,
Que monótono o mar!
[…]
SOHL, Solange. Natureza morta. In: PAGU. Meu corpo quer extensão: uma antologia (1929-1948).
São Paulo: Companhia das Letras, 2023. E-book.
7. O poema se chama Natureza morta , mas é muito diferente das telas de natureza morta, que representam uma cena montada com alimentos e objetos para um exercício técnico de pintura.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
a) O que seria a natureza morta no poema de Pagu?
A natureza morta seria a vida sem sentido a que as pessoas são submetidas, com muito sofrimento, pouco dinheiro e muita poluição.
b) A lista de elementos que compõem o poema detalha o contexto do eu lírico. Que tipo de oração predomina no poema?
Predominam orações coordenadas assindéticas.
c) Q ue efeito de sentido se produz com a escolha desse tipo de relação entre os períodos?
Produz-se um sentido de adição, mas em uma linguagem mais ágil, sem a necessidade de conjunções e muitas repetições.
1. a) Sugere uma sensação de continuidade e evolução (“progresso é uma fatalidade”), ressaltando a complexidade da identidade nacional. Respostas e comentários nas Orientações para o professor.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Leia o poema a seguir, de Mário de Andrade.
1 No poema, o eu lírico reflete sobre o passado, o presente e o futuro do Brasil.
a) O que sugere essa combinação de temporalidades sobre o Brasil?
b) O poema se refere a elementos da cultura brasileira, como “Mastigado na gostosura quente do amendoim… / Falado numa língua curumim”, entre outros. O que isso sugere sobre o modo como o eu lírico entende a identidade do país?
2 Considere os sinais de pontuação em destaque
a) Que sentido as reticências produzem no final desses versos?
b) Escolha um dos versos com reticências e dê continuidade, imaginando como o eu lírico o completaria.
1. b) Sugere que o eu lírico considera que a cultura nacional se expressa através de sua originalidade, em elementos como o amendoim quentinho, a viola, a madeira canjerana etc.
2. a) Sugerem uma reflexão, uma continuidade do pensamento.
2. b) Resposta pessoal. É importante que o complemento dialogue com os demais versos do poema.
O poeta come amendoim
Noites pesadas de cheiros e calores [amontoados…
Foi o Sol que por todo o sítio imenso [do Brasil
Andou marcando de moreno os [brasileiros.
Estou pensando nos tempos de antes [de eu nascer…
[…]
Silêncio! O Imperador medita os seus [versinhos.
[…]
A gente inda não sabia se governar…
Progredir, progredimos um tiquinho
Que o progresso também é uma [fatalidade…
Será o que Nosso Senhor quiser!…
Estou com desejos de desastres…
Com desejos do Amazonas e dos ventos [muriçocas
Se encostando na canjerana dos [batentes…
Tenho desejos de violas e solidões sem [sentido
[…]
Brasil…
Mastigado na gostosura quente do [amendoim…
Falado numa língua curumim
De palavras incertas num remeleixo [melado melancólico… […]
ANDRADE, Mário de. O poeta come amendoim. In: ANDRADE, Mário de. De pauliceia desvairada a café: poesias completas. São Paulo: Círculo do Livro, 1985. p. 119-120.
3 Considere o período com pontuação em destaque
a) Que sentido o ponto de exclamação produz nesse período?
b) Que sentidos sugerem as reticências no verso “Brasil…”?
3. a) A exclamação enfatiza a ordem indicada pelo termo silêncio.
3. b) Sugere um sentimento amoroso, de admiração, orgulho.
canjerana: árvore de madeira vermelha; no texto, batente canjerana significa que o batente era feito com essa madeira.
curumim: palavra de origem tupi que significa “garoto”, “menino”.
4. Ao mesmo tempo que transmite uma emoção na conclamação de Deus, indica uma continuidade do pensamento do eu lírico do que quereria que Deus fizesse por ele.
4 Considere, agora, o período com a pontuação em destaque. Que sentido essa dupla de sinais de pontuação produz?
A pontuação desempenha um papel fundamental na escrita, não apenas para estruturar frases e clarificar o significado, mas também para criar ênfase e destacar elementos específicos do texto. A escolha e o uso adequado de sinais de pontuação podem influenciar significativamente a interpretação e o impacto das palavras. No Volume 1 desta coleção, foram relembradas as funções de cada um dos sinais de pontuação. Aqui serão destacados os sentidos que cada um pode produzir nos textos para dar ênfase a eles.
Ponto de exclamação
O ponto de exclamação intensifica a emoção, transmitindo entusiasmo ou surpresa.
Reticências
As reticências sugerem uma pausa, hesitação ou continuidade do pensamento, adicionando um tom de incerteza ou suspense.
Travessão
O travessão pode destacar uma oposição ou a parte da frase que se segue, sublinhando a importância dessa mudança.
Parênteses
Os parênteses isolam a informação adicional, enfatizando que se trata de um comentário à parte.
Vírgula
A ausência ou presença de uma vírgula pode alterar drasticamente o significado e a ênfase de uma frase. A ausência de vírgulas pressupõe uma leitura mais contínua; a presença de vírgulas estabelece algumas pausas e pode dar destaque ao que a vírgula separa.
Dois-pontos
Os dois-pontos introduzem uma lista ou explicação, enfatizando a informação que segue.
Aspas
As aspas podem ser usadas para destacar uma palavra ou expressão, sugerindo que há um significado especial ou uma ironia.
Cada sinal de pontuação, portanto, pode ser utilizado estrategicamente para controlar o ritmo da leitura, introduzir pausas, enfatizar certas partes do texto e sugerir outros sentidos, contribuindo para uma comunicação mais expressiva.
#fiCAADiCA
Se quiser ver de uma forma bem criativa o quanto uma vírgula é capaz de mudar o sentido de um texto, assista A vírgula – vídeo comemorativo dos 100 anos da ABI.
• A V ÍRGULA: vídeo comemorativo dos 100 anos da ABI. [S. l.: s. n.], 2018. 1 vídeo (1 min).
Disponível em: www.abi.org.br/abi-virgula/. Acesso em: 24 set. 2024.
2. c) As reticências ocorrem depois de uma lista de adjetivos relacionados ao fardo imputado aos indígenas com a colonização. Sua presença indica que ainda seria possível a enumeração de muitos adjetivos negativos ou uma reflexão mais profunda sobre esse fardo.
Não escreva no livro.
Leia, a seguir, o poema Em memória ao índio Chico Sólon, da escritora indígena Eliane Potiguara (1950-), para responder às questões 1 e 2.
Nosso ancestral dizia: Temos vida longa!
Mas caio da vida e da morte
E range o armamento contra nós.
[…]
Seremos nós, doces, puros, amantes, gente e [normal!
E te direi identidade: Eu te amo!
E nos recusaremos a morrer
A sofrer a cada gesto, a cada dor física, moral [e espiritual.
Nós somos o primeiro mundo!
Aí queremos viver pra lutar
E encontro força em ti, amada identidade!
Encontro sangue novo pra suportar esse fardo
Nojento, arrogante, cruel… […]
POTIGUARA, Eliane. Em memória ao índio Chico Sólon. In: Cult Antologia Poética #1. São Paulo: Cult, 2020. E-book
1. O poema de Eliane Potiguara apresenta reflexões sobre identidade bem diferentes das dos modernistas.
a) Que voz se enuncia no poema ao refletir sobre identidade no Brasil?
No poema, a voz que se enuncia é a de um indígena que revela o orgulho e os horrores de sua identidade.
b) No esforço pela valorização da identidade indígena, o eu lírico explicita um movimento que impediu e impede essa valorização. Qual é ele?
Os colonizadores e exploradores de riquezas que atentam contra a vida e a cultura indígena desde os primórdios da colonização até hoje.
c) Que sinal de pontuação é responsável por enfatizar o orgulho do eu lírico perante sua identidade?
O ponto de exclamação.
2. O poema de Potiguara apresenta diversos sinais de pontuação.
O poema impacto de uma fala direta do eu lírico que exalta sua identidade.
a) Qual é a função dos dois pontos no poema?
Os dois-pontos introduzem um discurso direto.
b) Que diferença de sentido haveria se o poema apresentasse somente discursos indiretos?
c) Como as reticências do poema enfatizam os horrores da colonização no Brasil?
Leia a tirinha a seguir, em que a cartunista Aline Lemos (1989-) imagina uma conversa entre as artistas brasileiras Georgina de Albuquerque, Fedora do Rego Monteiro e Pagu.
3. b) Na tirinha, a relevância da pintora Georgina de Albuquerque fica relegada ao obscurantismo, por não dialogar com a lógica modernista, ocorrendo um apagamento de sua obra.
3. A t irinha apresenta três artistas importantes do Brasil.
a) Nessa tira, Georgina faz referência a uma exposição que fez em 1922, na qual expôs uma pintura que provocou polêmica: “Sessão do Conselho do Estado que decidiu a Independência”. Pagu, no entanto, parece pouco ouvir Georgina. Por quê?
Porque Pagu parece considerar que o único evento relevante de 1922 teria sido a Semana de Arte Moderna.
b) Muitos criticam a radicalidade de ruptura com a arte do século XIX por parte dos modernistas da primeira geração. De que forma a tirinha confirma essa crítica?
c) Em duas falas, Georgina termina frases com exclamação. Que sentido esse sinal de pontuação confere a essas falas?
Confere um sentido de inconformismo, tendo em vista que destaca realizações importantes na visão dela, mas é ignorada por Pagu.
d) A última fala de Georgina parece ser dita para si mesma. Que sinais de pontuação poderiam ser utilizados para enfatizar essa fala para si?
Poderiam ser utilizados os parênteses.
4. Foram empregadas na tirinha muitas reticências.
4. a) As reticências criam uma suspensão que indica uma escolha de palavras.
a) Considere a fala de Fedora e a penúltima fala de Pagu. Que sentido as reticências produzem?
b) O que é destacado com a utilização dessas reticências?
São destacadas as palavras que as sucedem, no caso: polêmico e revolução
Leia o poema a seguir, da poetisa Catita, engajada em movimentos literários negros.
(Inspirado em depoimento de Amelinha Teles sobre tortura)
Que rosto você estampa na sua camiseta?
Que nome você pronuncia?
Que Brasil você ajuda a (de)formar?
Que história você estudou?
Que memória você preserva?
Que livro eu puxo na sua ficha?
5. c) A repetição do ponto de interrogação reforça a ideia de que são muitas dúvidas e questionamentos, o que dá ênfase a cada pergunta em sua singularidade.
Que contas você faz? você presta? você carrega?
Qual a sua responsabilidade nisso tudo?
Não me conte suas respostas.
Eu sinto suas ações.
Eu (ainda) estou viva.
CATITA. Declarações. In: CATITA. Morada. São Paulo: Feminas, 2019. p. 61.
5. O poema de Catita cobra do interlocutor um posicionamento perante o mundo.
a) Que postura é essa?
O eu lírico cobra uma postura de responsabilidade social e histórica do interlocutor perante as escolhas que faz na vida e que indicam se está ou não lutando por um futuro melhor.
b) De acordo com o poema, o que seria necessário para o interlocutor ter uma atitude responsável perante a vida?
Cabe ao interlocutor estudar, ler, conhecer a história para melhor se posicionar.
c) Vários versos poderiam ser separados por vírgulas, tendo em vista que compõem uma enumeração de perguntas. Que sentido se produz com o ponto de interrogação no final da maioria dos versos?
6. Os parênteses do poema têm o objetivo de produzir sentidos específicos. Explique que sentido se produz com cada utilização.
a) (de)formar
Possibilita uma dupla leitura: o interlocutor poderia ajudar a formar ou a deformar o Brasil.
b) Eu (ainda) estou viva.
Indica que, embora esteja viva, dados os perigos da vida e as violências de uma sociedade injusta, essa vida está em constante ameaça.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Nesta unidade, você leu um regulamento que determinava as formas de participação na bateria do Bloco Pagu. Agora, usando o que você aprendeu, é sua vez de produzir um regulamento que seja pertinente ao seu contexto escolar.
O que você irá produzir
Você vai produzir um regulamento que determinará os direitos e deveres de todos os estudantes com relação à utilização dos espaços comuns da escola, como o uso das quadras durante o intervalo ou de equipamentos de lazer. Outra possibilidade é a criação de um regulamento para algum evento escolar, como um campeonato interclasses de algum esporte ou mesmo algum evento cultural. Como o regulamento diz respeito a uma coletividade, essa produção escrita deve ser fruto de um debate, para garantir uma participação democrática. Por isso, a classe será organizada em grupos, e cada grupo ficará responsável pela redação de uma seção do regulamento. O número de integrantes por grupo vai depender do número de seções do regulamento.
O primeiro passo é a realização de um debate para a discussão do que deve constar no regulamento: utilização de algum espaço público ou participação em algum evento. As seções obrigatórias para o regulamento são: Do objeto; Das condições de participação; Do espaço/ evento; Dos direitos; Dos deveres; Das punições; e Disposições gerais.
Caso a turma considere a necessidade de novas seções, deve incluí-las e especificar um grupo para defendê-las.
No dia marcado pelo professor, a turma vai dispor as cadeiras em semicírculo na frente da sala, com metade de um lado e metade do outro. O professor vai sentar-se entre as duas metades, para controlar o tempo e ser o mediador.
O grupo responsável pela primeira seção dispõe de até cinco minutos para apresentar sua fala inicial com a introdução do assunto e a proposta de alguns artigos. Depois dessa apresentação, é o momento de os demais colegas verbalizarem seus questionamentos. Cada estudante que quiser questionar o que foi proposto pelo grupo terá até dois minutos para apresentar seus argumentos e fazer uma proposta. Depois, é o momento da resposta do grupo propositor, que terá mais três minutos para responder aos argumentos. Para finalizar, a turma votará quais artigos deverão ficar em cada seção, como devem ser redigidos, o que deve ser alterado, incluído ou excluído.
Durante o debate, respeite o turno de fala do colega e fique atento à opinião dele para questioná-la ou para evitar redundâncias em sua fala. Um dos estudantes pode ficar responsável por registrar as reflexões no quadro, de modo a facilitar uma deliberação final do debate.
Durante a fala do grupo, é fundamental que sejam produzidas notas das falas, para que possam ser questionadas depois, de forma mais objetiva.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A entonação desempenha um papel importante em um debate, pois ela não apenas transmite a mensagem verbal, mas também expressa emoções, intenções e atitudes, influenciando diretamente a percepção e a resposta do público. Uma entonação adequada pode enfatizar pontos importantes, transmitir confiança e credibilidade e envolver a audiência. Por outro lado, uma entonação monótona ou inadequada pode levar à perda de interesse, a mal-entendidos e a uma percepção negativa do orador. Assim, dominar a entonação é essencial para qualquer debatedor que deseja comunicar suas ideias de forma clara, persuasiva e impactante.
Agora é sua vez de exercitar a entonação. Para isso, a turma deve se organizar em duplas, e cada dupla deve selecionar um texto argumentativo – como um artigo de opinião – e seguir as orientações.
1. Escolham um parágrafo. Cada participante da dupla deve ler o texto em voz alta, variando a entonação para enfatizar diferentes partes. Gravem as leituras, ouçam e avaliem o resultado para identificar onde é possível melhorar.
2. Cada integrante da dupla deve fazer perguntas com diferentes entonações (curiosidade, ceticismo, surpresa) e responder com variações que indiquem certeza, dúvida ou entusiasmo. Avaliem o desempenho um do outro, identificando se as intencionalidades estavam claras e naturais.
Produzir
Ao redigir cada seção, o grupo deve considerar as seguintes dicas.
Use uma numeração clara e sequencial para cada artigo. Isso facilita a referência e a navegação pelo documento.
Cada artigo deve abordar um único tópico ou questão. Evite misturar vários assuntos em um mesmo artigo.
Use frases curtas e diretas para tornar o artigo fácil de entender.
Se um artigo envolve termos técnicos ou específicos, defina-os claramente no próprio artigo ou em uma seção de definições no início do regulamento.
Detalhe claramente as regras ou os procedimentos. Inclua passos específicos, se necessário, para garantir que os leitores saibam exatamente o que é esperado.
O regulamento deve deixar claro quem é responsável por cumprir ou executar o que está descrito no artigo.
• Se houver exceções ou condições especiais, mencione-as diretamente no artigo. Isso evita ambiguidades e mal-entendidos.
• Use linguagem precisa para evitar diferentes interpretações. Palavras como “deve” ou “deverá” indicam obrigatoriedade, enquanto “pode” indica permissão ou possibilidade.
Depois de redigida a seção, o grupo deve compartilhar o texto com os demais, para aprovação, e ler o que foi feito pelos outros grupos. Ao final, basta juntar todas as seções na sequência prevista e publicar o regulamento, afixando-o em algum mural da escola ou compartilhando-o em algum site ou rede social.
CAMARGOS, Marcia. Semana de 22: entre vaias e aplausos. São Paulo: Boitempo, 2022.
Marcia Camargos (1955-) oferece neste livro um panorama detalhado e acessível do que representou a Semana de Arte Moderna de 1922, procurando responder à seguinte pergunta: “Por que um evento que acarretou um prejuízo considerável a seus organizadores, foi difamado por boa parte da imprensa da época, recebeu mais vaias que aplausos continua despertando tanto interesse?”. Em uma linguagem clara e direta, o livro ainda traz diversas fotos e ilustrações que permitem compreender melhor como teria sido o evento.
PINACOTECA: acervo. [S. l.]: iTeleport, [c2024]. Tour virtual pelo acervo da Pinacoteca de São Paulo. Disponível em: https://portal.iteleport.com.br/tour/tour-exposicao-do-acervo-da-pinacoteca/fullscreen. Acesso em: 6 set. 2024.
Capa do livro Semana de 22: entre vaias e aplausos. Home page do tour virtual da Pinacoteca.
A Pinacoteca de São Paulo, um dos mais importantes museus de arte do Brasil, abriga uma vasta coleção de obras que documentam a trajetória artística do país. Entre suas preciosidades estão as criações modernistas de 1922, marcadas pela Semana de Arte Moderna, evento que revolucionou a arte brasileira. No site do museu, é possível fazer um passeio virtual por seu acervo e ver, ainda que a distância, as obras do Modernismo de 1922 em seus locais originários de exposição.
451 MHz 58: a Semana de 22 posta em questão. Entrevistados: Rafael Cardoso e Eduardo Sterzi. Entrevistador: Paulo Werneck. [S. l.]: Associação 451: Rádio Novelo, 11 fev. 2022. Podcast . Disponível em: https://quatrocincoum.com.br/podcasts/repertorio-451-mhz/a-semana-de-22-posta-em-questao/. Acesso em: 6 set. 2024.
Nesse podcast , o escritor e historiador da arte Rafael Cardoso (1964-) e o crítico literário Eduardo Sterzi (1973-) conversam com o apresentador Paulo Werneck sobre a Semana de 22, tentando entender o que de fato aconteceu e o que foi mito. Destacam ainda que a lógica modernista já existia na cultura brasileira, mas seus agentes eram afrodescendentes ou de classes populares, o que fez com que fossem apagados pela história.
Pixinguinha e os Oito Batutas em 1919.
INSTITUTO MOREIRA SALLES. Oito Batutas . São Paulo: IMS, [c2024]. Disponível em: https:// pixinguinha.com.br/perfil/oito-batutas/. Acesso em: 6 set. 2024.
Pixinguinha e os Oito Batutas desempenharam um papel fundamental na evolução da música moderna brasileira, revolucionando o cenário musical no início do século XX. Ao incorporar elementos do choro, do samba e de ritmos afro-brasileiros, Pixinguinha trouxe uma sofisticação harmônica e melódica inédita à música popular. Em 1922, o grupo viajou para Paris, na França, onde se apresentou em diversos locais e encantou o público europeu com a riqueza e a originalidade da música brasileira. Essa turnê internacional não apenas popularizou esses novos sons no exterior, mas também abriu caminho para a aceitação e a valorização da música brasileira no mundo.
O POETA do castelo. Direção: Joaquim Pedro de Andrade. Brasil: Saga Filmes, 1959. Streaming (10 min).
O Poeta do Castelo é um documentário curto e íntimo de 1959 dirigido por Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988), que oferece um retrato delicado do poeta modernista Manuel Bandeira. Com uma abordagem sensível, o filme captura a rotina simples e introspectiva de Bandeira em seu apartamento no Rio de Janeiro, destacando sua dedicação à poesia e à vida literária. Em cenas que mostram o poeta escrevendo, lendo e refletindo, o documentário proporciona uma visão única da relação de Bandeira com sua arte e seu cotidiano, celebrando sua contribuição singular à literatura brasileira.
Frame do documentário com Manuel Bandeira.
2. a) Os sons dos disparos denunciam a violência contra os indígenas; os sons de rios simbolizam o respeito à natureza; e os sons dos cantos tradicionais destacam a força da comunidade e de suas tradições.
2. b) Sugere sangue, violência. A instalação cria uma narrativa contra processos de genocídio e de etnocídio dos povos indígenas desde os tempos do colonialismo.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Observe a obra a seguir, produzida pelo artista alagoano Ziel Karapotó (1994-).
KARAPOTÓ, Ziel. Cardume. 2023. Tarrafa de pesca artesanal, maracás, projéteis de resina e paisagem sonora. Coleção Museu Paranaense, Belém (PA).
Não escreva no livro.
1. A obra de Ziel Karapotó é uma instalação produzida com diversos materiais.
a) Que objetos ganham destaque na obra?
Tarrafa (rede de pesca), maracás (chocalhos) e projéteis (balas).
b) Que relação se pode estabelecer entre esses objetos e as culturas indígenas do Brasil?
A rede é utilizada na pesca, e o chocalho, na produção musical e em rituais. As balas foram e ainda são frequentemente usadas contra os indígenas.
2. A instalação apresenta os objetos inseridos em uma paisagem sonora com sons de rios e torés (cantos do povo karapotó) que se misturam a sons de disparos de armas de fogo.
a) Que sentido esses sons produzem?
b) O que sugere a cor vermelha que envolve a instalação?
3. A instalação reflete sobre a luta dos povos originários pelos territórios frente aos processos de genocídio e de etnocídio que enfrentam desde 1500. De que maneira a obra evidencia essa resistência?
A obra simboliza a resistência dos povos originários às violências nela sugeridas pelas balas, como se fossem peixes pequenos (brancos), diante dos chocalhos, peixes maiores (povos originários), destacando a força dos indígenas e sua conexão com a terra e com os seus ancestrais.
Observe as obras a seguir, produzidas pela artista modernista Tarsila do Amaral (1886-1973).
5. a) A simplificação das formas, a desproporção das figuras, o modo como estão compostas no espaço do quadro, que parece fora da realidade, o caráter onírico.
5. b) As cores vibrantes que se somam à folha de bananeira, aos mandacarus e à laranja, representando o Sol.
AMARAL, Tarsila do. O batizado de Macunaíma. 1956. Óleo sobre tela, 132,5 cm x 250 cm. Coleção particular.
4. É possível identificar a natureza, cocares, colares e demais ornamentos que dialogam com a cultura indígena, mas o ritual do batismo faz referência ao cristianismo europeu.
AMARAL, Tarsila do. Antropofagia. 1929. Óleo sobre tela, 126 cm x 142 cm. Acervo Fundação José e Paulina Nemirovsky, São Paulo (SP).
4. A primeira pintura apresenta uma cena composta por elementos que fazem parte da cultura dos povos originários e outros que não fazem parte dela. Explique.
5. A pintura Antropofagia reflete as ideias do Movimento Antropofágico e tem influência do Surrealismo e do Cubismo.
a) Que aspectos da pintura podem ser associados a essa influência?
b) Observe os elementos e as cores da paisagem. O que nela é possível associar à cultura brasileira?
c) A s ideias do Manifesto aparecem nessa pintura para ressignificar tanto as vanguardas europeias quanto a cultura nacional. Como essas influências e a cultura nacional estão articuladas na pintura?
As rupturas estéticas propostas pelos primeiros modernistas não se limitaram apenas à poesia e às artes visuais. A prosa também sofreu essas influências nos contos e romances. Surgia uma nova literatura nacional que buscava, além de novas técnicas narrativas, refletir sobre o Brasil e um novo jeito de ser nacional: sua história, sua origem e a identidade, formada pelo português europeu, pelo indígena, pelo negro africano e por todos os outros imigrantes que chegaram na virada do século. A seguir, você vai conhecer mais sobre a prosa modernista da primeira geração.
5. c) Na pintura, o Cubismo e o Surrealismo dialogam com a cultura brasileira, com a natureza e com os corpos nus, que remetem ao costume indígena, de modo a produzir uma arte legitimamente nacional.
O território hoje conhecido como Brasil era a terra de milhares de povos indígenas. Ao longo do tempo, ele foi invadido por europeus, recebeu africanos em uma grande diáspora e passou a ser uma terra prometida para diversos outros povos. Essa multiplicidade étnica é parte constitutiva dos brasileiros e produz uma riqueza cultural que foi referida de diferentes formas pela literatura ao longo do tempo. Dar voz a esses povos é dar voz às raízes culturais do Brasil e mergulhar na reflexão sobre a identidade brasileira.
Para discutir
1 Considere seu repertório: que povos migraram para o Brasil?
2 Em sua região, houve a migração em grande número de algum povo? Qual? Por quê?
3 Você tem algum antepassado migrante? De onde ele veio? Como você se identifica com essa origem?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Você vai ler a seguir um trecho do romance A chave de casa, da escritora Tatiana Salem Levy. Nesse romance de autoficção, a narradora, brasileira nascida em Portugal, recebe de seu avô a chave de uma residência em Esmirna, na Turquia; ele pede à neta que procure pela casa e por parentes na terra de seus antepassados. Essa chave é o elemento central da história e das várias vozes que a compõem. A narradora atravessa diferentes épocas e personagens ao longo do livro para tentar entender o presente, no qual está com problemas de mobilidade e envelhecendo. Suas perguntas e buscas continuam a aventura iniciada pelo avô e são uma forma de ela reviver o passado de judeu sefardita dele, que teve de abandonar sua terra, decidindo emigrar para o Brasil.
Texto
Cheguei hoje a Istambul. Carregava nas mãos o passaporte português, acreditando que me daria menos chateações. Uma longa fila até alcançar a polícia federal: de um lado, os turcos, do outro, os estrangeiros. Na minha vez: you need a visa. Como assim? É a lei, portugueses precisam de visto. Mas não sou portuguesa, sou brasileira. Não, não sou brasileira, sou turca. Meus avós vieram daqui, são todos turcos. Eu também. Veja, não pareço turca? Olhe o meu nariz comprido, a minha boca pequena, os meus olhos de azeitona. Sou turca. O policial torceu o nariz: you need a visa . Não discuti, meus argumentos
#SOBRE Foto da autora em 2013.
Tatiana Salem Levy (1979-) é uma escritora que tem ascendência de judeus da Turquia e nasceu em Lisboa, Portugal, enquanto seus pais estavam no exílio durante a ditadura civil-militar. Seu romance de estreia, A chave de casa (2007), foi aclamado pela crítica e ganhou diversos prêmios, incluindo o Prêmio São Paulo de Literatura. A escrita de Levy é frequentemente caracterizada por sua prosa lírica e pela exploração da memória pessoal e coletiva. Além de seus romances, ela também escreveu ensaios e contos. Suas principais obras são os romances Dois rios (2011), Paraíso (2014), Vista chinesa (2021) e Melhor não contar (2024).
nunca o convenceriam. Dei meia-volta e fui à imigração. Enfezada, indignada, decepcionada. Preciso de um visto para entrar no país dos meus avós? Que eles tenham nascido aqui, crescido aqui, nada disso conta? Dez euros e um carimbo no passaporte […]. Posso fazer turismo durante três meses, mas não posso trabalhar. Definitivamente, não sou turca.
[…]
Conto (crio) essa história dos meus antepassados, essa história das imigrações e suas perdas, essa história da chave de casa, da esperança de retornar ao lugar de onde eles saíram, mas nós duas (só nós duas) sabemos ser outro o motivo da minha paralisia. Conto (crio) essa história para dar algum sentido à imobilidade, para dar uma resposta ao mundo e, de alguma forma, a mim mesma, mas nós duas (só nós duas) conhecemos a verdade. Eu não nasci assim. Não nasci numa cadeira de rodas, não nasci velha. Nenhum passado veio me assoprar nos ombros. Eu fiquei assim. Fui perdendo a mobilidade depois que você se foi. Depois que conheci a morte e ela me encarou com seus olhos de pedra. Foi a morte (a sua) que me tirou, um a um, os movimentos do corpo. Que me deixou paralisada nessa cama fétida de onde hoje não consigo sair.
[…]
[Por que levar tudo para o lado da dor? Por que sempre assim, desde pequena? A história do seu avô não é feita só de perdas. Essa história que você conta também tem outras histórias. Por que não narra, por exemplo, a alegria de desembarcar em terra tão acolhedora como a nossa? Por que não conta que foi a partida que deu a ele tudo o que construiu? Que, ao desembarcar no Brasil, seu avô encontrou uma tranquilidade que não tinha antes? Por que insistir em palavras tão doídas?] Não, eu não posso escrever de outra maneira. Também sei ser alegre, mas não aqui. A alegria também está comigo: nos bares, na praia, com os amigos, em outras viagens. [Mas por que não levá-la para a escrita?] Não, não posso. Se não sangra, a minha escrita não existe. Se não rasga o corpo, tampouco existe. Insisto na dor, pois é ela que me faz escrever. [Mas por que não tenta? Se não pode escrever sem dor, ao menos escreva sem peso, sem culpa. Tire o cimento dos ombros. Seja leve, escreva palavras leves.] Não sei. Vacilo, não tenho certeza se é esse o caminho, mas prometo: tentarei.
Janeiro: Record, 2009. E-book. Localizável em: § 42, 71, 77.
1. b) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes percebam que é uma busca fadada ao fracasso, tendo em vista a dificuldade de encontrar uma casa aleatória em uma cidade e esperar que ainda esteja desocupada e com a mesma fechadura.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
1. O livro de Tatiana Salem Levy propõe uma reflexão sobre identidade.
a) Que conflitos com relação à identidade a protagonista mostra ter?
A protagonista mostra ter conflitos para entender se é portuguesa, brasileira ou turca.
b) O avô da protagonista entrega-lhe a chave de alguma casa na Turquia esperando que a neta a encontre. Dada a ausência, no livro, de informações mais precisas sobre a casa, o que o leitor pode supor sobre essa busca da protagonista?
c) A busca pela porta da casa em Esmirna pode ser entendida como uma metáfora. Copie, no caderno, a alternativa que evidencia o sentido dessa metáfora.
I. O avô queria que a neta encontrasse a casa para conseguir manter a tradição familiar, tendo em vista que os objetos do lugar mantinham uma relação direta com a identidade da família.
II. A busca pela casa é a busca por alguma identidade, tendo em vista que a protagonista desconhecia seu passado, já que a única informação era vaga e fazia referência a um outro país.
III. A intenção do avô era que a neta encontrasse uma porta, uma identidade, como o avô encontrou na mudança para o Brasil.
Resposta: alternativa III
d) Qual seria a origem da confusão identitária da protagonista?
A protagonista nasceu em Portugal, mas não se sente portuguesa; vive no Brasil, mas é de origem turca; sente-se turca, mas sua origem é portuguesa e brasileira.
2. a) A imigração seria narrada sempre pelo viés da dor, do sofrimento e das perdas do que ficou no país de origem.
2. b) Seria possível narrar a imigração de modo alegre: considerar a alegria de chegar a um lugar novo que pode ser acolhedor e apresentar muitas possibilidades de futuro.
2. As histórias de imigração envolvem sentidos múltiplos, já que se originam de diversas motivações e contextos.
3. b) Ao narrar apenas o que pode provocar dor e sofrimento nela, a escrita assumirá essa característica e terá como conflitos esses sofrimentos.
a) De acordo com o texto, o processo de imigração seria frequentemente narrado de um determinado ponto de vista. Qual?
b) De acordo com a voz discursiva do texto, que outros modos de olhar poderiam ser considerados para narrar a imigração?
3. Em determinado momento do texto, a narradora revela: “Se não sangra, a minha escrita não existe”.
a) Que sentido se pode atribuir a essa afirmação?
b) De que forma essa condição de escrita predetermina o que será narrado?
Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes percebam que o que motiva a escrita da narradora é a dor e o sofrimento, e não sentimentos alegres.
4. De acordo com Tatiana Salem Levy, A chave de casa é uma autoficção. A autoficção é um gênero literário que mistura elementos autobiográficos com ficção. Nele, o autor narra experiências pessoais, mas adiciona ou altera detalhes, criando uma narrativa híbrida entre realidade e invenção, oferecendo ao leitor uma reflexão sobre a própria natureza da verdade e da narrativa.
Assim como
Tatiana também
Turquia, nasceu em Portugal e cresceu no Brasil.
embora já morta, é o elo entre a filha (a narradora) e o avô, e por isso foi eleita pela protagonista
companheira na busca do passado
a) Releia o boxe #sobre de Tatiana Levy e explique que relações ela possui com o enredo do romance.
b) A autoficção produz para o leitor diferentes experiências de leitura. Copie, no caderno, a alternativa que indica essas experiências.
Resposta: alternativa I
I. A impossibilidade de identificação do que é real e ficcional produz nuances de interpretação que permitem diferentes leituras dos acontecimentos.
II. A autoficção permite uma reflexão mais real da vida, tendo em vista que se baseia em uma experiência que de fato existiu por parte do autor e narrador.
III. A autoficção faz com que a vida real se confunda com a ficcional, tendo em vista que o processo de narração inventa situações que podem até mesmo afetar a realidade de quem a escreve.
5. Ao longo do romance, a narradora tem a mãe como interlocutora constante, o que já está marcado no trecho que você leu.
a) De que forma essa interlocução fica marcada no texto?
No trecho em que usa primeira pessoa do plural, “só nós duas”, ou terceira do singular, “sua”.
b) De que forma a inserção da mãe como interlocutora reforça a busca por identidade da protagonista?
6. No teatro, o solilóquio é um recurso dramático em que uma personagem, sozinha em cena, fala consigo mesmo ou com o público, revelando seus pensamentos e sentimentos mais íntimos, aproximando o espectador de suas motivações e seus conflitos internos. No trecho do romance que você leu, é possível identificar o uso de recurso semelhante.
a) Que sinal gráfico marca essas reflexões da narradora?
b) Todo o texto é narrado em primeira pessoa e apresenta reflexões íntimas da narradora. Que efeito esse recurso, que se assemelha a um solilóquio, produz no texto?
Aproxima o leitor da personagem, uma vez que ele pode acompanhar não apenas as reflexões da narradora, mas também suas dúvidas, hesitações, dilemas. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor. As chaves que isolam alguns períodos.
A autoficção, ao explorar a subjetividade e a fragmentação do eu, propõe uma reflexão sobre identidade, e ao abrir novas possibilidades formais ao romance, estabelece um diálogo com a prosa da primeira geração modernista. Enquanto a prosa modernista buscava romper com as formas tradicionais e investigar as origens culturais e identitárias da nação e do sujeito moderno, a autoficção contemporânea continua essa exploração, mas adiciona uma camada de densidade e de interseção entre o real e o fictício. As duas abordagens compartilham uma preocupação com a construção da identidade, utilizando a narrativa para questionar e redefinir a experiência humana em suas complexidades e contradições. A seguir, você vai conhecer mais sobre a prosa da primeira geração modernista, suas rupturas e reflexões.
O X DA QUESTÃO
A prosa da primeira geração do Modernismo no Brasil representa um marco na literatura nacional, caracterizada por uma ruptura com as tradições e uma busca por inovação e autenticidade. O período é marcado pela experimentação formal e temática, o que reflete as profundas transformações sociais, políticas e culturais do final do século XIX e, sobretudo, do início do século XX. Ao romper com os moldes clássicos e realistas, a prosa modernista inaugura uma estética literária que privilegia a subjetividade, a fragmentação e a multiplicidade de vozes, considerando de modo mais crítico e multifacetado a realidade brasileira.
Para lembrar
1 Neste volume, você estudou a prosa do final do século XIX, as vanguardas artísticas do começo do século XX e as influências que moldaram a literatura e a arte dessa época.
a) C aracterize a prosa do final do século XIX, mencionando suas principais características.
b) E xplique como as vanguardas artísticas do início do século XX influenciaram as artes, destacando duas vanguardas.
Para discutir
1 Considerando a diversidade étnica do Brasil no início do século XX, como a multiplicidade cultural poderia ter influenciado a produção literária da época? Formule uma hipótese pensando em como diferentes culturas e tradições poderiam ser representadas na literatura.
2 O Brasil recebeu, entre 1889 e 1930, cerca de 3,5 milhões de estrangeiros. Como o contato com as culturas das pessoas que aqui chegaram pôde influenciar a vida e a cultura brasileira? Discuta possibilidades com os colegas.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A seguir, você vai ler um trecho do livro
Macunaíma: o herói sem nenhum caráter (1928), de Mário de Andrade. Esse livro, que mistura várias histórias e mitos do Brasil, narra a história de Macunaíma, um indígena negro do povo tapanhuma que nasce na Floresta Amazônica e vive com seus irmãos, Maanape e Jiguê. Macunaíma carrega no pescoço uma muiraquitã, amuleto em formato de sapo que simboliza o filho que teve com Ci, a mãe do mato, a líder do povo das icamiabas, que morreu precocemente. No trecho a seguir, Macunaíma, depois de enfrentar o monstro Boiúna, perde sua muiraquitã, que é roubada pelo italiano migrante de São Paulo (SP)
#SOBRE
Foto do autor nos anos 1930.
Mário de Andrade (1893-1945) formou-se no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Em 1917, publicou seu primeiro livro: Há uma gota de sangue em cada poema. A partir de então, se envolveu com os futuros modernistas e participou da Semana de 1922, mesmo ano em que publicou Pauliceia desvairada . Depois de várias viagens pelo Brasil, voltou-se aos estudos e à documentação de tradições culturais brasileiras. Passou à vida pública criando o Departamento de Cultura de São Paulo. Em 1938, trabalhou no Ministério da Educação e deu aulas de estética na Universidade do Distrito Federal (RJ). De volta a São Paulo em 1940, trabalhou no Serviço do Patrimônio Histórico.
Venceslau Pietro Pietra, o gigante comedor de gente Piaimã. O herói está a caminho de São Paulo quando se banha em uma lagoa com seus irmãos e ficam cada um com uma cor diferente.
Texto
No outro dia Macunaíma pulou cedo na ubá e deu uma chegada até a foz do rio Negro pra deixar a consciência na ilha de Marapatá. Deixou-a bem na ponta dum mandacaru de dez metros, pra não ser comida pelas saúvas. Voltou pro lugar onde os manos esperavam e no pino do dia os três rumaram pra margem esquerda do Sol.
E estava lindíssimo na Sol da lapa os três manos um loiro um vermelho outro negro, de pé bem erguidos e nus. Todos os seres do mato espiavam assombrados. […] Macunaíma teve ódio. Botou as mãos nas ancas e gritou pra natureza:
— Nunca viu não!
Então os seres naturais debandaram vivendo e os três manos seguiram caminho outra vez.
[…]
Quando chegaram em São Paulo, ensacou um pouco do tesouro pra comerem e barganhando o resto na Bolsa apurou perto de oitenta contos de réis. Maanape era feiticeiro. Oitenta contos não valia muito mas o herói refletiu bem e falou pros manos: — Paciência. A gente se arruma com isso mesmo, quem quer cavalo sem tacha anda de a-pé… Com esses cobres é que Macunaíma viveu.
[…]
[…]
[…] Até que uma noite, suspenso no terraço dum arranha-céu com os manos, Macunaíma concluiu:
— Os filhos da mandioca não ganham da máquina nem ela ganha deles nesta luta. Há empate.
lapa: grande pedra ou laje que se projeta de um rochedo e dá abrigo.
tacha: defeito.
maloca: habitação indígena.
tapiri: abrigo construído na beira do rio por seringueiros.
mauari: ave amazônica.
jurupari: ser da mitologia indígena associado à iniciação da masculinidade.
grotão: lugar longínquo.
cunhã: mulher jovem.
cuquiada: grito de alarme.
esturro: rosnado.
A inteligência do herói estava muito perturbada. Acordou com os berros da bicharia lá embaixo nas ruas, disparando entre as malocas temíveis. E aquele diacho de sagui-açu que o carregara pro alto do tapiri tamanho em que dormira… Que mundo de bichos! que despropósito de papões roncando, mauaris juruparis sacis e boitatás nos atalhos nas socavas nas cordas dos morros furados por grotões donde gentama saía muito branquinha branquíssima, de certo a filharada da mandioca!… A inteligência do herói estava muito perturbada. As cunhãs rindo tinham ensinado pra ele que o sagui-açu não era saguim não, chamava elevador e era uma máquina. De-manhãzinha ensinaram que todos aqueles piados berros cuquiadas sopros roncos esturros não eram nada disso não, eram mas clácsons campainhas apitos buzinas e tudo era máquina. As onças pardas não eram onças pardas, se chamavam fordes hupmobiles chevrolés dodges mármons e eram máquinas. Os tamanduás os boitatás as inajás de curuatás de fumo, em vez eram caminhões bondes autobondes anúncios-luminosos relógios faróis rádios motocicletas telefones gorjetas postes chaminés… Eram máquinas e tudo na cidade era só máquina! […]
clácsom: buzina.
hupmobiles: marca de carro.
mármons: marca de carro.
inajá: palmeira.
curuatá: invólucro de palmeiras.
1. a) Mário de Andrade critica a valorização desproporcional que existiu de tudo que era de origem europeia e a necessidade de pensar e sentir como tudo de lá, quando na verdade o Brasil deveria pensar e seguir as culturas africanas, asiáticas e tudo que não fosse da Europa.
Não concluiu mais nada porque inda não estava acostumado com discursos porém palpitava pra ele muito embrulhadamente muito! que a máquina devia de ser um deus de que os homens não eram verdadeiramente donos só porque não tinham feito dela uma Iara explicável mas apenas uma realidade do mundo. […]
No outro dia estava tão fatigado da farra que a saudade bateu nele. Se lembrou da muiraquitã. Resolveu agir logo porque primeira pancada é que mata cobra.
Venceslau Pietro Pietra morava num tejupar maravilhoso rodeado de mato no fim da rua Maranhão olhando pra noruega do Pacaembu. Macunaíma falou pra Maanape que ia dar uma chegadinha até lá por amor de conhecer Venceslau Pietro Pietra. Maanape fez um discurso mostrando as inconveniências de ir lá porque a regatão andava com o calcanhar pra frente e si Deus o assinalou alguma lhe achou. De certo um manuari malevo… Quem sabe si o gigante Piaimã comedor de gente!… Macunaíma não quis saber.
ANDRADE, Mário de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2013. E-book. Localizável em: cap. 5, Piaimã, § 1-27.
tejupar: cabana.
regatão: mercador amazônico que vende em embarcações nos rios. manuari malevo: ser mitológico malvado.
1. b) No trecho, o que diz respeito à cidade de São Paulo é relativizado, criticado ou antagoniza com Macunaíma (a organização social, as máquinas, o vilão) e o que é de origem indígena, vindo do fundo da mata virgem, é exaltado e fornece o padrão para interpretar a realidade.
Não escreva no livro.
1. Leia o trecho a seguir, retirado de páginas do diário de Mário de Andrade e publicado no livro O turista aprendiz (1976), que trata de sua viagem à Amazônia.
[…] E esta pré-noção invencível, mas invencível, de que o Brasil, em vez de se utilizar da África e da Índia que teve em si, desperdiçou-as, enfeitando com elas apenas a sua fisionomia, suas epidermes, sambas, maracatus, trajes, cores, vocabulários, quitutes… E deixou-se ficar, por dentro, justamente naquilo que, pelo clima, pela raça, alimentação, tudo, não poderá nunca ser, mas apenas macaquear, a Europa. Nos orgulhamos de ser o único grande (grande?) país civilizado tropical… Isso é o nosso defeito, a nossa impotência. Devíamos pensar, sentir como indianos, chins, gente do Benin, de Java… Talvez então pudéssemos criar cultura e civilização próprias. Pelo menos seríamos mais nós, tenho certeza.
ANDRADE, Mário de; LOPEZ, Telê Ancona; FIGUEIREDO, Tatiana Longo (ed.). O turista aprendiz . Brasília, DF: Iphan, 2015. p. 67-68.
a) Ao conhecer mais sobre o Brasil, Mário de Andrade reflete sobre o passado e as heranças culturais brasileiras. Nesse trecho, o escritor faz uma crítica com relação ao passado brasileiro. O que ele critica?
b) Considere o que o personagem Macunaíma elogia ou critica e explique como esse trecho do romance dialoga com essa proposta do escritor.
2. O personagem Macunaíma foi criado tomando-se por base narrativas de povos indígenas da Região Amazônica. O trecho a seguir refere-se a uma das narrativas originais do mito de Makunaima recolhida pelo alemão Theodor Koch-Grünberg (1872-1924), no século XX: “Macunaíma fez novas pessoas de cera. Mas estas foram completamente derretidas no sol. Então ele fez pessoas de barro. Mas estas iam ficando cada vez mais duras. Então ele as transformou em seres humanos”. (MESQUITA, Clélio. Tradução dos capítulos da obra Vom Roroima zum Orinoco, de Theodor Koch-Grünberg (1924), sobre lendas do mito indígena Makunaima. Rónai, v. 6, n. 2, p. 122, 2018.)
Macunaíma é uma entidade das mitologias taulipang e arekuna. Segundo esse trecho, qual poder ele tem?
O de criar seres humanos, o poder de um deus.
3. No enredo, Macunaíma e seus irmãos são indígenas negros, mas, depois de mergulharem em uma lagoa encantada, eles saem de três cores diferentes, como indica o início do trecho.
• E xplique o motivo dessa mudança de cores dos irmãos, “um loiro um vermelho outro negro”. A mudança de cores dos irmãos quer contemplar as três primeiras etnias que comporiam o Brasil: o branco europeu, o indígena americano e o preto africano.
Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes percebam que eles tinham, na verdade, um valor muito alto em mãos e poderiam viver muito bem. Professor, se considerar necessário, explique aos estudantes que um conto de réis correspondia a um milhão de réis.
4. Os viajantes europeus, ao chegarem ao Brasil, como Pero Vaz de Caminha e Jean de Léry, descreviam a paisagem tropical segundo o olhar europeu, maravilhado e fantasioso. Copie, no caderno, a alternativa a seguir que explica o olhar de Macunaíma ao chegar à paisagem urbana de São Paulo, que copiava as grandes cidades europeias.
I. A paisagem da cidade é descrita pelo olhar de Macunaíma, já moldado pelo viés cosmopolita provocado por São Paulo.
II. O olhar de fantasia agora se inverte: os olhos do mato-virgem é que observam e descrevem a cidade com base nos elementos da natureza.
III. A vingança de Macunaíma é ridicularizar a cidade, pois, embora soubesse os nomes das coisas, preferia satirizar tudo apelidando objetos e coisas com nomes indígenas.
Resposta: alternativa II.
5. Macunaíma chega a São Paulo com tesouros que seriam valiosos para ele na mata. Ao chegar, no entanto, troca seus tesouros num pregão na bolsa de valores.
• D e acordo com notícia do jornal O Estado de S. Paulo , no dia 3 de julho de 1927, o valor da saca de café (60 kg) foi fechado a 24 mil réis, e o maior prêmio da Loteria Federal era de 200 contos de réis (200 milhões de réis). Os manos achavam que 80 contos de réis não era muito. Considerando os valores apresentados no enunciado, explique que tipo de vida os manos poderiam ter na cidade.
6. Nas primeiras décadas do século XX, São Paulo testemunhou um crescimento vertiginoso da industrialização e da chegada de tecnologias vindas da Europa e dos Estados Unidos.
a) Copie o organizador a seguir no caderno e complete-o com o nome dessas máquinas e tecnologias apresentadas no trecho. A que Macunaíma associava essas máquinas?
Máquina
elevador
buzinas
automóveis
Interpretação de Macunaíma
caminhões, bondes, autobondes, anúncios-luminosos, relógios, faróis, rádios, motocicletas, telefones, gorjetas, postes, chaminés
b) Macunaíma declara: “Os filhos da mandioca não ganham da máquina nem ela ganha deles nesta luta. Há empate”. Que crítica acerca da mecanização da vida pode ser vislumbrada nessa conclusão de Macunaíma?
A declaração de Macunaíma permite ao mesmo tempo reconhecer a utilidade das máquinas (o humano ganha da máquina) quanto a dependência que ela provoca (a máquina ganha do humano). saguis piados de aves onças tamanduás, boitatás, palmeiras
7. Venceslau Piet ro Pietra é um italiano morador de São Paulo que rouba a muiraquitã de Macunaíma.
a) Embora o gigante represente um elemento estrangeiro e europeu, ele é referenciado pelos manos com elementos indígenas. Quais são eles?
O gigante é descrito como um ser de mitologias indígenas: curupira (calcanhar para frente), manuari malevo e um gigante comedor de gente.
b) No começo do século XX, a cidade de São Paulo recebeu milhares de imigrantes italianos que, para sobreviverem em um país novo, ou foram trabalhar no campo, sobretudo nas culturas de café, ou investiram no comércio e na industrialização. Que elemento do texto faz referência a essa característica empreendedora de Pietro Pietra?
A referência a regatão, que é um comerciante amazônico, mas Pietro Pietra seria um comerciante em São Paulo.
8. A pontuação, acentuação e a grafia das palavras nem sempre obedecem à norma-padrão. Isso que pode ser considerado desvio da norma é, no romance, uma escolha que compõe o estilo da linguagem, ao lado de outros recursos, como registro da oralidade, de variedades regionais, desvios sintáticos.
8. b) O registro informal, a variedade regional e os desvios da norma aproximam a linguagem do texto de uma cultura mais popular e de raiz do Brasil, distanciando-o de academicismos e formalismos.
a) Copie o organizador a seguir no caderno e complete-o com exemplos desses recursos que caracterizam o estilo de Mário de Andrade.
quê, de-manhãzinha
Marcas de oralidade
Variedade regional
Enumerações sem vírgulas
Enumeração de adjetivos
b) Essas escolhas estéticas e linguísticas não são aleatórias: elas produzem um sentido que dialoga com o enredo. Que sentido se produz com essas escolhas?
A linguagem de Macunaíma é caracterizada por oralidade e coloquialismo. O texto mistura variedades regionais, neologismos e expressões indígenas, criando uma narrativa rica e diversificada. Essa abordagem linguística rompe com o formalismo literário do fim do século XIX, aproximando o leitor da cultura e do cotidiano brasileiro, e enfatizando a identidade multifacetada do país.
caminhões bondes autobondes anúncios-luminosos relógios faróis rádios motocicletas telefones gorjetas postes chaminés branquinha branquíssima
9. A linguagem usada por Macunaíma se mostra muito informal e pontuada pela construção de uma nova ortografia como projeto estético. Mas essa informalidade e essa nova ortografia mascaram sua erudição: muito do que Macunaíma fala dialoga com outros textos da cultura brasileira. Perceber essa intertextualidade é fundamental para o entendimento da obra. A leitura dos trechos a seguir embasa e contribui para a interpretação de uma das máximas do personagem Macunaíma para interpretar o Brasil: “Pouca saúde e muita saúva, os males do Brasil são!”. Leia os trechos a seguir e relacione-os à máxima de Macunaíma.
I. “Ou o Brasil acaba com as saúvas, ou as saúvas acabam com o Brasil.” (SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem à Província de São Paulo e Resumo das Viagens ao Brasil . Belo Horizonte: Ed. Itatiaia, 1975. p. 154.)
II. “ […] só uma autoridade central, um governo qualquer, ou um acordo entre os cultivadores, podia levar a efeito a extinção daquele flagelo [saúva] pior que a saraiva, que a geada, que a seca, sempre presente, inverno ou verão, outono ou primavera.” (BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma . 17. ed. São Paulo: Editora Ática. p. 93.)
A seguir, você lerá o primeiro capítulo do romance Memórias sentimentais de João Miramar (1924), de Oswald de Andrade (1890-1954), que narra a história de João Miramar, um jovem burguês paulistano, desde a sua infância até a decadência da vida adulta, passando por sua juventude boêmia, casamento, vida familiar e carreira.
Jardim desencanto
O dever e procissões com pálios
E cônegos
Lá fora
E um circo vago e sem mistério
Urbanos apitando nas noites cheias
gentama, curuatá Esses males, em Macunaíma, retomam os males provocados pela saúva destacados por Saint-Hillaire e a constatação desolada de Policarpo Quaresma sobre as “pragas” da nação, que vão desde formigas até geada e seca. Essas intertextualidades ampliam o sentido da máxima e a crítica ao Brasil.
Mamãe chamava-me e conduzia-me para dentro do oratório de mãos grudadas.
10. b) Essas mãos grudadas, metonimicamente, referem-se à atividade de oração que deveria ser desenvolvida no oratório. No entanto, esse personagem, como atestam as primeiras frases, considerava essa oração desencantada, com poucos atrativos, perto das possibilidades de diversão do mundo “lá fora”.
— O Anjo do Senhor anunciou à Maria que estava para ser a mãe de Deus. Vacilava o morrão do azeite bojudo em cima do copo. Um manequim esquecido vermelhava. — Senhor convosco, bendita sois entre as mulheres, as mulheres não têm pernas, são como o manequim de mamãe até embaixo. Para que pernas nas mulheres, amém.
ANDRADE, Oswald de. O pensieroso. In: ANDRADE, Oswald de. Memórias sentimentais de João Miramar. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. p. 21.
10. Em Memórias sentimentais de João Miramar, Oswald recorre a experimentalismos inéditos na prosa brasileira.
a) O t exto, embora em prosa, aproxima-se muito da poesia. Que características comprovam essa aproximação?
O texto apresenta uma divisão que não é típica de prosas, como é possível perceber nas seis primeiras linhas.
b) O c apítulo também apresenta o estilo conciso que caracteriza a obra de Oswald. Em vez de gastar muitas páginas para representar o papel da religião na vida do narrador, apresenta uma única cena que resume sua relação com a religiosidade. Explique essa relação através da imagem das “mãos grudadas”.
11. Ao refletir sobre as pernas das mulheres, o personagem revela uma preocupação de criança quanto às características femininas e sua descoberta de mundo. No entanto, suas reflexões não podem prosseguir porque a mãe o obrigava a ficar rezando no oratório enquanto passava a procissão. Por meio da reflexão e do comportamento do personagem, o trecho permite perceber uma marca da sociedade brasileira. Qual?
A da religiosidade e do moralismo exacerbados, muito presentes no Brasil do início do século XX e até nos dias atuais.
A prosa de Oswald de Andrade caracteriza-se pela linguagem inovadora e experimental, marcada por uma estrutura fragmentada e o uso de técnicas de colagem. Ele incorpora elementos do cotidiano, humor irreverente e crítica social, rompendo com a tradição literária convencional.
Antônio de Alcântara Machado (1901-1935) foi um influente escritor modernista brasileiro, nascido em São Paulo. Filho de uma tradicional família paulista, Alcântara Machado se destacou por suas contribuições ao Modernismo brasileiro, especialmente por meio de suas crônicas e contos. O autor também foi jornalista e editor de revistas literárias, o que lhe proporcionou uma visão abrangente sobre as mudanças que estavam moldando a sociedade brasileira de sua época.
Fotografia do autor nos anos 1930.
Um dos temas centrais da obra de Alcântara Machado é a imigração, particularmente a dos italianos para São Paulo. Suas narrativas frequentemente exploram o cotidiano desses imigrantes, suas lutas, adaptações e contribuições à cultura local. Seu livro de contos Brás, Bexiga e Barra Funda (1927) retrata com sensibilidade e humor a vida dos bairros paulistanos habitados por imigrantes italianos, refletindo o impacto da migração no desenvolvimento urbano e na identidade cultural de São Paulo. O contexto histórico de rápida urbanização e industrialização da cidade, junto com a chegada massiva de imigrantes, serve como pano de fundo para suas histórias, tornando suas obras não apenas literárias, mas também importantes documentos socioculturais.
Agora é com você! Para conhecer mais sobre o autor e sobre a realidade multifacetada que São Paulo assumia com a chegada dos imigrantes italianos, pesquise os contos de Alcântara Machado, selecione um deles e o leia. Depois, em momento combinado com o professor, compartilhe o enredo do conto com os colegas, destacando:
• recursos estéticos: a linguagem e ordenamento das cenas do conto;
• temas recorrentes;
• diálogos com a estética modernista.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
As relações entre literatura e geografia são constantes e multifacetadas, refletindo como o espaço e o ambiente influenciam e moldam as narrativas literárias. A geografia literária examina como os lugares e as paisagens são representados nos textos e como esses elementos geográficos afetam a trama, as personagens e os temas. A literatura, por sua vez, pode revelar detalhes valiosos sobre as características de determinados locais, além de explorar as interações entre as pessoas e seu ambiente. Essa interseção entre literatura e geografia é especialmente evidente em movimentos literários que enfatizam a regionalidade e o contexto local, como o Modernismo brasileiro.
Um exemplo significativo dessa relação pode ser encontrado em Macunaíma, que apresenta diversas regiões do Brasil, desde a Floresta Amazônica até a cidade de São Paulo. Na obra, a geografia brasileira não é apenas cenário, mas elemento crucial para o desenvolvimento da narrativa e dos temas. Outro exemplo é Brás, Bexiga e Barra Funda, de Alcântara Machado, que retrata literariamente os bairros paulistanos habitados por imigrantes italianos, explorando o impacto da migração na urbanização e na identidade cultural de São Paulo.
As atividade propostas nesta seção incentivam os estudantes a explorar o entrelaçamento entre Geografia e Literatura. Ao examinarem obras literárias que retratam diferentes regiões e contextos do país, os estudantes terão a oportunidade de conectar as narrativas literárias com as características geográficas e culturais específicas de cada região. É possível sugerir obras para além do contexto do Modernismo, como: Água funda, de Ruth Guimarães; Dois irmãos, de Milton Hatoum; Nove noites, de Bernardo Carvalho; Quarenta dias, de Maria Valéria Rezende; Eles eram muito cavalos, de Luiz Ruffato; Torto arado, de Itamar Viera Junior; Capitães da Areia, de Jorge Amado.
Imigrantes europeus no pátio central da Hospedaria dos Imigrantes, no bairro do Brás, em São Paulo (SP), cerca de 1890.
1. Forme dupla com um colega e, juntos, pesquisem sobre romances brasileiros que apresentem alguma região, cidade ou imigrantes como tema central. Leia o romance na íntegra ou um resumo
2. Em uma aula marcada pelo professor, compartilhe com os colegas o enredo do romance que pesquisou em dupla e reflita sobre como o espaço ou o fenômeno migratório se apresenta no romance e como ele pode oferecer novos olhares para a interpretação desses espaços geográficos.
Com a Primeira Guerra Mundial, a cultura de uma Europa sombria, pessimista, não tinha lugar em terras brasileiras. Soma-se a isso a euforia que tomou conta do país com a proximidade do centenário da Independência do Brasil. Os discursos nacionalistas do Romantismo voltam a ecoar nas vozes que defendem as inovações propostas pelas vanguardas artísticas. O projeto colonial português é revisto criticamente; os elementos de nossa cultura de raiz, suas lendas, tradições, ritmos e práticas, se antes eram considerados inferiores perante a cultura europeia, passam a ser investigados e valorizados.
Comemoração do centenário da Independência do Brasil. A VOZ do mar. [Commemoração do centenário]. In: COSTA, Elias. 7 de setembro de 1922: o centenário da Independência do Brasil. Diário GM, Massapê do Piauí, 7 set. 2019.
Entre o final do século XIX e início do XX, o Brasil experimentou intenso fluxo de imigração, principalmente de europeus, como italianos, alemães, espanhóis e portugueses, além de sírios, libaneses e japoneses. Esse movimento foi impulsionado por crises econômicas, conflitos sociais e guerras em seus países de origem. Entre 1870 e 1930, o governo brasileiro implementou políticas para atrair esses imigrantes, principalmente depois da abolição da escravatura, oferecendo incentivos como terras e oportunidades de trabalho, principalmente nas fazendas de café e nas indústrias emergentes. Além das razões econômicas, essas políticas, influenciadas pelo eugenismo, também visavam aumentar a população branca no país, acreditando que isso contribuiria para o progresso e a modernização do Brasil.
Cidade x campo
Capa da revista O immigrante, editada pelo governo de São Paulo, em 1908. O IMMIGRANTE. 1908. Reprodução da capa. In: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Brasil: 500 anos de povoamento. Rio de Janeiro: IBGE, 2000.
Nas décadas de 1910 e 1920, as cidades brasileiras se transformaram impulsionadas pela urbanização e industrialização aceleradas. Grandes centros, como São Paulo e Rio de Janeiro, experimentaram um rápido crescimento populacional, alimentado tanto pela imigração quanto pelo êxodo rural. A infraestrutura urbana se modernizou com a construção de avenidas, sistemas de transporte público e a introdução de tecnologias como eletricidade e saneamento básico.
Já o campo e as regiões interioranas do Brasil permaneceram agrárias, com infraestrutura precária e acesso limitado a serviços modernos. Enquanto as cidades avançavam em direção à modernidade e ao cosmopolitismo, o interior do país mantinha-se tradicional nos costumes e nos modos de produção, evidenciando as disparidades regionais no processo de desenvolvimento brasileiro.
Em busca da cultura nacional
Fotografia de Theodor Preising de uma colheita de café, na década de 1930. Museu do Café, Santos (SP).
No começo do século XX, os estudos de cultura brasileira começaram a ganhar forma, impulsionados por um crescente interesse em compreender e definir a identidade nacional. Intelectuais como Manuel Bonfim (1868-1932), autor de A América Latina: males de origem (1905), e o polêmico Sílvio Romero (1851-1914), com Cantos populares do Brasil (1883) e História da literatura brasileira (1888), emergiram como figuras centrais nesse movimento. Esses trabalhos exploraram as influências indígenas, africanas e europeias na formação cultural do país, oferecendo uma reflexão crítica sobre a história e a sociedade brasileiras, ainda que profundamente marcadas pelo eurocentrismo. Esse período estabeleceu as bases para os estudos de cultura nacional e o desenvolvimento de uma consciência cultural que valorizava a diversidade e a complexidade das tradições do Brasil.
Capa original do livro Cantos populares do Brasil. ROMERO, Sílvio. Cantos populares do Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: Livraria Clássica de Alves & Cia, 1897.
A prosa modernista da primeira geração, produzida no Brasil na década de 1920, foi marcada pela ruptura com as tradições literárias então existentes e pela busca de uma identidade nacional. Os escritores modernistas procuraram retratar a realidade brasileira com uma linguagem mais coloquial e acessível, abordando temas urbanos e regionais, e frequentemente lançando mão de técnicas narrativas inovadoras.
Oswald de Andrade, um dos principais pilares do Modernismo, destacou-se com sua obra Memórias sentimentais de João Miramar (1924), que apresenta uma narrativa fragmentada e experimental, rompendo com as convenções tradicionais do romance. Ele também escreveu Serafim Ponte Grande (1933), seguindo uma linha igualmente inovadora. Oswald foi um provocador constante, sempre em busca de chocar e desafiar o status quo.
Patrícia Galvão, conhecida como Pagu (1910-1962), trouxe uma contribuição significativa com sua obra Parque industrial (1933), que aborda a vida das operárias nas fábricas de São Paulo. Com sua linguagem direta e realista, a obra de Pagu é notável por sua crítica social contundente.
Destacou-se também por dar voz aos trabalhadores e às mulheres, destacando as injustiças e dificuldades enfrentadas pelas classes mais baixas.
Mário de Andrade, uma das figuras centrais do movimento modernista, destacou-se com sua obra Macunaíma: o herói sem nenhum caráter (1928) e Amar, verbo intransitivo (1927), que inova ao tratar do amor como uma experiência transformadora, desmistificando a idealização romântica e explorando as relações humanas sob um prisma mais realista e psicológico.
Já Alcântara Machado, em Brás, Bexiga e Barra Funda (1927), retratou com humor e crítica a vida dos imigrantes italianos em São Paulo, revelando as transformações sociais e urbanas da cidade.
A obra de Tarsila do Amaral mostra uma São Paulo influenciada pela lógica futurista, com prédios, estruturas de ferro e eletricidade.
AMARAL, Tarsila do. São Paulo. 1924. Óleo sobre tela, 57 cm x 90 cm. Pinacoteca do Estado de São Paulo (SP).
Macunaíma é uma entidade de algumas cosmologias indígenas. O pintor macuxi Jaider Esbell, em um movimento de apresentar essas narrativas de Macunaíma nas vozes indígenas, pinta uma série de obras com histórias do herói.
ESBELL, Jaider. Makunaimî devolve a muirakitã ao centro da Terra. 2019. Marcador acrílico e posca sobre tela, 90 cm x 90 cm. Galeria Jaider Esbell de Arte Indígena Contemporânea.
Essas obras e autores contribuíram significativamente para o desenvolvimento da literatura brasileira, introduzindo novas formas de expressão e refletindo as diversas facetas da identidade nacional. A possibilidade de renovação das formas, dos temas, do modo de refletir e refratar a realidade continua atuante na prosa brasileira, que chega a colocar em questão o próprio gênero romance, como mostra a obra A chave de casa. O campo de possibilidades tem sido explorado por diversos autores que recolocam questões não apenas sobre a identidade individual, mas também sobre a vida coletiva brasileira.
lER lITERATURA
A literatura: os falares e as culturas
Nesta coleção, você já estudou as relações entre literatura e cultura: toda obra literária traz marcas próprias de determinado lugar, determinada cultura. Mas há ainda obras que se propõem a tratar disso diretamente, problematizando modos de ser, falar, estar.
Como defende o Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924), trazendo à tona o modo como a cultura brasileira “deglute” influências várias, se entrelaça e produz algo original:
O Carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação étnica rica. Riqueza vegetal. O minério. A cozinha. O vatapá, o ouro e a dança. […] Obuses de elevadores, cubos de arranha-céus e a sábia preguiça solar. A reza. O Carnaval. A energia íntima. O sabiá. […] A saudade dos pajés e os campos de aviação militar. Pau-Brasil.
ANDRADE, Oswald. A utopia antropofágica . 4. ed. São Paulo: Globo, 2011. p. 59, 65.
O primeiro Modernismo, que valorizava a cultura brasileira, incorporou nas obras literárias a língua falada pelo povo, que é tão diverso em sua formação étnica e cultural. A proposta modernista de incorporar diferentes influências para produzir algo novo e original teve evidente eco na música: o movimento tropicalista, que nos anos 1960, reuniu Caetano Veloso (1942-), Gilberto Gil (1942-), Rogério Duprat (1932-2006), Torquato Neto (1944-1972), entre outros músicos, juntou guitarra com baião, “Hino ao Senhor do Bonfim” com “Lindoneia” para dar forma à “Geleia geral” brasileira.
As propostas modernistas valorizavam culturas e falares brasileiros buscando definir uma identidade nacional. Mas a literatura também pode tratar de culturas e falares que definem identidades de grupos mais restritos. As literaturas identitárias dão voz a sujeitos cujas questões têm contornos próprios. É o caso da literatura que problematiza o racismo, o feminismo ou a exclusão/inclusão do indígena na vida cidadã, por exemplo: além de novos temas, formas, essa literatura tem uma dimensão política importante, e vem trazendo novas transformações tanto na produção quanto na recepção dessas produções. Para ler
1. Em sua opinião, registrar variedades linguísticas enriquece ou empobrece a literatura? Por quê? Discuta com os colegas e justifique suas ideias.
Para discutir
1. Discuta com os colegas: que transformações é possível projetar por meio da publicação de obras literárias que problematizem temas identitários?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A prosa modernista questionou o contexto em que foi produzida, marcado pelo intenso processo de imigração do começo do século XX e pelas transformações das cidades. Durante o primeiro Modernismo, as revistas eram importantes meios de divulgação das novidades culturais e sociais em uma época em que só circulavam veículos da mídia impressa. Nesta unidade, você vai conhecer mais sobre as formas de divulgação de notícias em diferentes meios editoriais, seja na mídia física ou virtual.
Para discutir
Considere as formas mais tradicionais de divulgação de notícias.
1 Você lê jornais ou revistas impressos? E digitais?
2 Sobre que assuntos você gostaria de ler mais? Faça uma lista e pesquise se há publicações que tratem dele.
3 Você tem critérios pessoais para avaliar que publicações jornalísticas valem ou não valem a sua leitura?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A seguir, você vai ler as capas de quatro revistas que foram publicadas durante o mês de maio de 2024 no Brasil. As revistas IstoÉ, Caras e Vida Simples têm circulação nacional, e a revista Cenarium circula na Região Norte do Brasil.
Texto
NEGACIONISMO que mata. IstoÉ , São Paulo, 24 maio 2024. Reprodução da capa.
CARAS Amazônia: incrível viagem à floresta. Caras, São Paulo, 30 maio 2024. Reprodução da capa.
COSMOVISÃO ancestral: eles previram. Cenarium, Brasília, DF, ano 5, n. 47, maio 2024. Reprodução da capa.
RESGATE seu tempo. Vida Simples, São Paulo, ed. 267, maio 2024. Reprodução da capa.
1. IstoÉ e Vida Simples trazem o título da revista centralizado na parte superior da capa; Caras e Cenarium localizam o título na parte superior alinhado à esquerda. IstoÉ traz uma montagem de imagens de nuvens, cidades e uma pessoa vendada; Caras traz a imagem de um grupo posando para fotografia em frente a uma mata. A capa de Cenarium traz uma montagem de céu com tempestade, furacão e relâmpagos e o rosto de um senhor indígena; Vida Simples traz um fundo verde com ilustração de teclado pequena. Todas trazem uma manchete em destaque, posicionada em lugares diferentes do espaço da capa, com um subtítulo logo abaixo.
2. a) IstoÉ: as consequências do negacionismo climático; Caras: a viagem de famosos para a Floresta Amazônica; Cenarium: as previsões ancestrais dos efeitos das mudanças climáticas; Vida Simples: como viver em harmonia frente aos problemas do mundo.
1. Observe as capas de cada publicação. Descreva os elementos que compõem cada uma.
2. Embora todas as revistas tenham sido publicadas na mesma época, elas trazem temas que não coincidem, mas dialogam de alguma maneira.
2. b) IstoÉ: a montagem traz imagens de fenômenos climáticos e uma pessoa vendada, o que se refere ao negacionismo; Caras: a fotografia apresenta os famosos que viajaram para a Floresta Amazônica; Cenarium: a montagem mostra um indígena que se refere à ideia de ancestralidade em meio a elementos que indicam fenômenos climáticos; Vida Simples: mostra o teclado de um piano, que é um instrumento musical harmônico.
a) Identifique o tema em cada capa.
b) Como os elementos não verbais dialogam com o tema destacado na manchete de cada revista?
4. a) IstoÉ e Cenarium: leitor interessado em notícias gerais e atuais; Caras: celebridades; Vida Simples: autodesenvolvimento e bem-estar.
3. Releia os títulos. Como cada um ajuda a definir o perfil da revista e do seu leitor?
4. O t ratamento do tema em cada caso busca dialogar com um leitor específico.
a) Qual é o interesse do leitor em cada caso?
4. b) Não; um leitor pode querer se informar sobre o geral e se aprofundar em leituras sobre celebridades, autodesenvolvimento ou em ambos; qualquer combinação é possível.
b) O leitor de uma revista exclui o leitor de outra? Por quê?
3. Os títulos remetem a áreas específicas de interesse: IstoÉ sugere uma explicação, ou seja, uma revista que explica o mundo, o momento; Caras sugere que serão apresentados rostos de pessoas em destaque na sociedade; Cenarium sugere que a revista vai falar sobre o cenário contemporâneo, o que acontece na sociedade; e Vida Simples sugere que serão apresentadas dicas e estratégias para se viver melhor, sem complexidades. como a
5. b) Ambas as capas provocam uma sensação de preocupação com fenômenos climáticos, destacando as catástrofes que podem acontecer, bem eventual culpa perante aqueles que negam esses eventos e quem ignora a sabedoria de povos originários.
5. A definição de um público faz parte do projeto editorial, mas outros elementos integram esse projeto. Considere os temas e os elementos visuais de cada capa.
a) Algumas capas estabelecem um diálogo mais direto entre si, se considerados os seus elementos visuais. Quais são elas? Justifique sua resposta.
5. a) As capas de IstoÉ e Cenarium, que se referem às mudanças climáticas. Todavia, enquanto IstoÉ se refere ao negacionismo, Cenarium destaca o saber de povos originários sobre essas mudanças.
b) Compare essas capas que dialogam entre si. Que efeito cada uma parece querer provocar no leitor?
5. c) Caras registra a viagem de celebridades à Floresta Amazônica, região em que os problemas ambientais vêm se acentuando e impactando
c) A questão ambiental era um tema urgente em maio de 2024, quando aconteceram enchentes catastróficas no Rio Grande do Sul (RS) e queimadas no Pantanal (MT). De que forma as revistas Caras e Vida Simples dialogam com os problemas ambientais urgentes para o momento?
outras regiões; Vida Simples sugere como viver bem em meio aos problemas, que não estão especificados, mas podem incluir os ambientais.
d) A capa de Vida Simples possui elementos metonímicos e metafóricos. Por quê?
5. d) Porque usa o teclado, uma variação do piano, para se referir ao todo. E utiliza um instrumento harmônico para fazer referência à busca por harmonia.
6. A s revistas aqui representadas pelas capas contam com uma versão digital para computador, tablet e celular e têm presença em redes sociais.
a) Que diferenças você supõe entre a versão impressa e a digital?
Professor, se achar oportuno, escolha com os estudantes um site ou blogue jornalístico e um jornal impresso que circule em sua cidade e observem, respectivamente, a tela inicial e a primeira página levantando os títulos que se destacam, a que área se referem (política, esporte, cultura etc.), a presença ou não de imagens, papel que desempenham na tela/página, diferença de recursos entre o impresso e o digital, o público previsto por cada publicação, e como isso configura um projeto editorial do veículo.
b) O que buscam as revistas ao participar das redes sociais?
c) Na versão digital, as revistas mantêm algumas matérias como exclusivas para assinantes e outras abertas ao público. O que pretendem com essa estratégia? Na tela, essa estratégia amplia o público dessas publicações?
6. a) A versão digital, além de poder ser atualizada a qualquer momento, abre possibilidade de acesso a vídeos, a outras matérias que podem ter relação com a que o leitor tem em tela, a uma navegação pelo tema, o que na forma impressa não é possível, além de permitir, em certos casos, a interação com os veículos e/ou com outros leitores.
A capa de uma publicação é a primeira interface de comunicação com o público. As características da capa comunicam não apenas a área de abrangência temática da revista como podem capturar a atenção e o interesse do leitor pelos elementos que a compõem.
No caso do jornal, a primeira página exerce papel semelhante.
No caso das publicações digitais, a “capa” seria equivalente à primeira tela, ou tela/página de entrada de um site ou portal.
6. b) Buscam maior proximidade com o leitor, ampliar as possibilidades de interação com ele, manter-se atualizada com relação aos assuntos mais comentados, ter acesso aos comentários do leitor de forma mais dinâmica.
7. A s revistas IstoÉ e Veja disputam um público com perfil semelhante. Observe a diferença de abordagem no texto referente à reportagem de capa da edição de Veja do dia 31 de maio de 2024 (imagem 1) e a da edição de 24 de maio de 2024 de IstoÉ (imagem 2).
6. c) Pretendem valorizar quem paga pela leitura das publicações e estimular as assinaturas, que são uma fonte importante de financiamento dos veículos. Espera-se que os estudantes reconheçam que isso pode ampliar o número de assinantes, mas talvez não o de leitores. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
REPRODUÇÃO/ABRIL
FELIX, Paula; MORAES, Ligia. Novas pesquisas alertam para avanço de doenças ligadas a extremos do clima. Veja, São Paulo, 3 jun. 2024. Disponível em: https://veja.abril.com.br/saude/novas-pesquisas-alertam-para-avanco-de-doencasligadas-a-extremos-do-clima/. Acesso em: 20 set. 2024.
2
NEGACIONISTAS: entenda suas artimanhas e por que eles ameaçam a sociedade. IstoÉ , São Paulo, 24 maio 2024. Disponível em: https://istoe.com.br/negacionistasentenda-suas-artimanhas-e-por-queeles-ameacam-a-sociedade/. Acesso em: 20 set. 2024.
REPRODUÇÃO/ISTOÉ
a) Ao tratar das mudanças climáticas e ambientais, cada reportagem considera aspectos diferentes. Que aspecto cada uma considera?
b) Ao tratar de aspectos diferentes, cada revista supõe interesses específicos dos leitores. Qual é esse interesse em cada caso?
Veja pressupõe que o interesse é voltado a questões de saúde pessoal e pública; IstoÉ supõe que o leitor se preocupe com negacionistas, conspiracionistas e fake news relacionadas às mudanças climáticas. Veja destaca as pesquisas que relacionam doenças às mudanças climáticas; IstoÉ foca o negacionismo e as mudanças climáticas e suas consequências.
8. L eia agora um trecho dos editoriais de cada revista: Veja e IstoÉ
A postura inepta das autoridades políticas diante das tragédias ambientais parece ser atávica, sinônimo de irresponsabilidade. As ações lentas – quando não o desdém a alertas preliminares e o descaso com os investimentos em contenção – resultam em cenas dramáticas como as do Rio Grande do Sul, coberto de água e lama desde o início de maio. […] A letargia amplia os desastres naturais. Não se trata de afirmar que reações rápidas e adequadas, associadas à prevenção, sejam capazes de sempre frear a força inigualável da natureza. Não. Mas há um aspecto ainda mais terrível na imprudência oficial – a falta de controle e de regras tem acelerado, no mundo industrializado movido a combustíveis fósseis, as mudanças climáticas que empurram a humanidade para o precipício.
Já passou da hora, portanto, de atitude urgente. […]
CARTA ao leitor: um grito de alerta. Veja, São Paulo, 3 jun. 2024. Disponível em: https://veja.abril.com.br/brasil/carta-ao-leitor-um-grito-de-alerta. Acesso em: 20 set. 2024.
É impossível que o Brasil como um todo saia absolutamente ileso da tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul. No plano econômico, matematicamente elementar, o peso será grande, em um montante, naturalmente, ainda não precificado em seu total. Analistas falam que o impacto no Produto Interno Bruto (PIB) deve girar na casa dos 0,4% a 0,5%. É muita coisa. A praça financeira já reavaliou as estimativas de crescimento, para baixo. Um PIB que não prometia ser grande ao longo do ano pode, e deve, retornar a patamares medíocres de outrora. São meros números, decerto, mas tendem a afetar a vida de muita gente, com reflexos graves, tais como carestia, desemprego e desinvestimento. […]
MARQUES, Carlos José. O desastre e o PIB. IstoÉ , São Paulo, n. 2833, p. 8, 29 maio 2024.
O editorial critica a letargia do estado na prevenção de tragédias como as que afetaram o Rio Grande do Sul e cobra controle e regras que permitam frear as mudanças climáticas e suas catastróficas consequências.
O leitor de IstoÉ parece interessado no impacto econômico das tragédias ambientais na vida das pessoas e nas consequências para a vida pessoal e coletiva.
O de Veja parece ser um leitor mais atento às ações coletivas (do estado, das empresas que usam combustíveis fósseis) e às possíveis consequências das mudanças climáticas.
a) Copie o organizador a seguir no caderno e complete-o comparando os textos.
Abordagem do tema
Perfil do leitor
Veja
IstoÉ
O texto foca o impacto econômico das tragédias ambientais e suas consequências na vida das pessoas.
b) Qual você supõe que seria o tema de um editorial da revista Vida Simples? E da revista Caras?
As reportagens e demais matérias de uma publicação podem ou não atender às expectativas do leitor quanto àquilo que se anuncia na capa. Dependendo do quanto realizam as expectativas do leitor, podem ajudar o veículo a fidelizá-lo ou, ao contrário, podem afastá-lo da publicação. O editorial é uma espécie de linha direta com o leitor Trata-se de um gênero voltado à expressão da opinião de um veículo de comunicação sobre algum fato ou alguma situação. Supostamente, o leitor (ou espectador) conhece a linha editorial da publicação e pode concordar com uma opinião específica ou discordar dela, mas, em geral, se lê determinada publicação (ou assiste a determinado canal) é porque se identifica com a linha geral do veículo de comunicação.
9. Além das muitas formas de se prever um leitor, um projeto editorial da esfera jornalística também deve definir vários outros aspectos que têm muito a ver com valores. Leia este trecho do projeto editorial do jornal Folha de S.Paulo.
Sob o pressuposto de que a difusão de informações confiáveis e opiniões qualificadas estimula o exercício da cidadania e contribui para o desenvolvimento das ideias e da sociedade, a Folha declara compromisso com os seguintes princípios.
1. Confirmar a veracidade de toda notícia antes de publicá-la.
2. Praticar um jornalismo que ofereça resumo criterioso e atualizado do que acontece de mais relevante em São Paulo, no Brasil e no mundo, com ênfase na obtenção de informações exclusivas.
3. Priorizar temas que, por afetarem a vida da coletividade ou de parcelas expressivas da população, sejam considerados de interesse público.
4. Promover os valores do conhecimento, da solução pacífica dos conflitos, da livre-iniciativa, da equalização de oportunidades, da democracia representativa, dos direitos humanos e da evolução dos costumes.
5. Abordar os assuntos com disposição crítica e sem tabus, no intuito de iluminar problemas, apontar falhas e contradições, questionar as autoridades públicas e os poderes privados, sem prejuízo de buscar conteúdos proveitosos ou inspiradores.
6. Cultivar a pluralidade, seja ao divulgar um amplo espectro de opiniões, seja ao focalizar mais de um ângulo da notícia, sobretudo quando houver antagonismo entre as partes nela envolvidas; registrar com visibilidade compatível pontos de vista diversos implicados em toda questão controvertida ou inconclusa.
7. Obrigar-se a ponderar os argumentos da parte acusada e, publicando uma acusação, garantir espaço ao contraditório.
8. Manter atitude apartidária, desatrelada de governos, oposições, doutrinas, conglomerados econômicos e grupos de pressão.
9. Preservar o vigor financeiro da empresa como esteio da independência editorial e garantir que a produção jornalística tenha autonomia em relação a interesses de anunciantes; assegurar, na publicação, características que permitam discernir entre conteúdo jornalístico e publicitário.
8. b) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes reconheçam que o editorial de Vida Simples trataria de algum tema relacionado a autodesenvolvimento, ou como colaborar no plano pessoal para minimizar eventuais impactos ambientais adotando uma “vida simples”; e Caras, como a viagem à Amazônia impactou as celebridades.
9. a) Sugestões de respostas: resumo criterioso e atualizado, interesse público, valores, disposição crítica e sem tabus, pluralidade, espaço ao contraditório, atitude apartidária, vigor financeiro, distinção entre material noticioso e opinativo, liberdade de expressão, identificar e corrigir com destaque erros de informação.
10. Estabelecer distinção visível entre material noticioso, mesmo que permeado de interpretação analítica, e opinativo.
11. Rechaçar censura e outras agressões à liberdade de expressão, reconhecendo, no caso de abuso comprovado dessa liberdade, a responsabilização posterior dos autores, nos termos da lei.
12. Identificar e corrigir com destaque erros de informação cometidos; publicar manifestações de crítica ao próprio jornal; manter mecanismos transparentes de autocontrole e correção.
JORNALISMO profissional é antídoto para notícia falsa e intolerância. Folha de S.Paulo, São Paulo, 12 mar. 2019. Disponível em: https://temas.folha.uol.com.br/folha-projeto-editorial/projeto-editorial-folha-de-s-paulo/introducao.shtml. Acesso em: 20 set. 2024.
9. c) Um pacto pautado pelo respeito, pelo comprometimento com a verdade dos fatos, transparência e pluralidade.
a) Destaque, em cada item, uma expressão que concentre o assunto a que se refere. Por exemplo, em 1 é possível destacar “veracidade”.
b) Que tipo de leitor está previsto nesse projeto?
9. b) Um leitor qualificado, exigente, aberto à pluralidade de ideias, que espera encontrar um jornalismo informativo, crítico e analítico, comprometido com a verdade.
c) Qual pacto o jornal prevê firmar com seus leitores?
10. L eia a seguir a página de entrada de um portal de mídia.
10. a) O editorial, ao selecionar o assunto que será destacado na página de entrada, estabelece para o leitor que assunto de sua atualidade seria mais importante destacar diante de tudo o que ocorre na sociedade. Ao selecionar esses assuntos, descarta outros que deixam de ter a mesma importância.
REPRODUÇÃO/G1
Além de um público com o qual quer dialogar, um projeto editorial precisa definir, além do público-alvo, princípios, valores, condutas, uma política de relacionamento interno e externo, com suas fontes, anunciantes, leitores e funcionários.
G1. [S. l.], c2000-2024. Site. Disponível em: https://g1.globo.com/. Acesso em: 20 set. 2024.
Ao avaliar a página de entrada de um portal de notícias, é essencial considerar aspectos como diagramação, hierarquia de informações, escolhas editoriais e público-alvo para compreender como esses elementos afetam a usabilidade e a eficácia do portal.
manchetes com maior destaque, com imagens e fontes maiores, supostamente ganham mais atenção e geram mais cliques do que as manchetes sem imagens e com fonte menor.
a) Quais são as possíveis implicações das escolhas editoriais na página de entrada de um portal de notícias em relação à seleção do conteúdo que é apresentado?
b) De que maneira a hierarquia de informações na página inicial pode ajudar ou prejudicar o leitor na identificação das notícias mais importantes?
c) Copie o organizador a seguir no caderno e complete-o.
Candidatos com mandado de prisão em aberto.
Assunto mais importante
Assuntos menos importantes
Público-alvo
Público-geral
Exigências dos astros do rock; estratégias para atenuar o calor e a seca extrema.
d) O s portais de internet podem ser editados em tempo real. De que forma essa possibilidade de edição pode mudar toda a página de entrada de um portal de notícias a qualquer momento?
A possibilidade de edição em tempo real permite noticiar fatos inesperados, urgentes ou ajustar a página se alguma manchete gerar reações negativas.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Leia mais um trecho do romance A chave de casa, de Tatiana Salem Levy.
4. a) A oração “que o navio […] era descomunal”. Objeto direto.
1 O t recho revela mais sobre a relação da narradora da história com a chave herdada do avô. De acordo com ela, qual seria a probabilidade de realizar o desejo dele?
A probabilidade seria baixa, porque, depois de tanto tempo, seria pouco provável que a casa estivesse intacta no mesmo lugar, com a mesma fechadura.
Considere os termos em destaque.
a) Esses termos constituem uma oração principal do período no qual se insere. Identifique na oração os termos que a compõem.
b) Um dos termos da oração principal do período é acompanhado de um complemento. Identifique esse termo, seu complemento e a função sintática desse complemento.
4. b) Ele se lembrou de que o navio […] era descomunal, seu primeiro e único navio.
4. c) Cumpre a função de objeto indireto.
Não faço outra coisa senão olhar, tocar, observar a chave. Conheço seus detalhes de cor, o tamanho preciso de suas curvas e de sua argola, seu peso, sua cor gasta. Uma chave desse tamanho não deve abrir porta alguma. A essa altura já deveriam por certo ter mudado, se não a porta, certamente a fechadura. Seria um disparate acreditar que tanto tempo depois a chave da casa permaneceria a mesma. Tenho certeza de que até meu avô é consciente disso, mas também imagino que deva ter uma curiosidade enorme de saber se ainda está lá o que deixou para trás. Que coisa estranha, que coisa esquisita deve ser: largar o país, a língua, abandonar a família em direção a algo completamente novo e, sobretudo, incerto.
Ele me contou que o navio […] era descomunal, seu primeiro e único navio. A embarcação estava abarrotada de pessoas, todas com a mesma esperança que ele: conseguir vida melhor em país diferente.
LEVY, Tatiana Salem. A chave de casa . 4. ed. Rio de Janeiro: Record, 2009. E-book. Localizável em: § 12-13.
3. a) O sujeito oculto é eu, o verbo transitivo direto é tenho e o objeto direto é certeza.
3. b) O termo que precisa de complemento é certeza e o complemento é “de que até meu avô é consciente disso”, complemento nominal.
2 Considere a oração destacada
a) Essa oração se liga a um termo da oração anterior. Qual?
Ela se liga ao verbo acreditar
b) Que função sintática exerce com relação ao termo ao qual ela se liga?
Ela é objeto direto do verbo acreditar
4 Considere o termo em destaque.
a) Que trecho atua como complemento desse verbo?
Classifique sintaticamente esse complemento.
b) Reescreva o período, começando com “Ele se lembrou…”, fazendo as alterações necessárias.
c) A oração que você alterou no período cumpre qual função sintática?
O conteúdo dos mais diversos textos que se produz ou lê propõe relações entre fatos, diálogo entre vozes em um mesmo enunciado, muitas vezes. Em um texto, essas relações precisam ser criadas no plano textual, sintaticamente: são construídas por períodos compostos por mais de uma oração. No nível sintático, esse processo de construção de sentido leva à construção de períodos formados por orações que estabelecem relação de subordinação ou coordenação. As orações subordinadas criam relação de dependência: dependem umas das outras para formar um período coerente.
Leia o trecho a seguir, com atenção especial à oração destacada. Ele me contou que o navio era descomunal […].
Ao analisar sintaticamente o exemplo, é possível perceber que o verbo contar é transitivo direto e indireto: quem conta, conta algo a alguém. No período, no entanto, o objeto direto, termo integrante do predicado que completa o sentido da forma verbal contou, não é um termo simples, tendo como núcleo um nome, mas uma oração. No período analisado, que o navio era descomunal é uma oração que desempenha a função de objeto direto e está subordinada à oração “Ele me contou”. Por exercer essa função sintática, a oração é classificada como subordinada substantiva (porque a função de objeto direto é exercida por um nome) objetiva direta.
Identifica-se como oração principal aquela que contém a informação principal do período e que se apresenta sintaticamente incompleta. Oração subordinada é o nome dado àquela que desempenha a função sintática que falta à oração principal. Existe, portanto, uma relação de dependência, de subordinação entre esses dois tipos de oração, no período composto por subordinação.
As palavras que ligam duas orações sintaticamente dependentes, como o que no exemplo analisado, são chamadas conjunções subordinativas. No caso, a conjunção subordinativa que é, ainda, classificada como conjunção integrante, por introduzir um termo integrante da oração principal – um objeto direto.
Observe a seguir outro caso de conjunção subordinativa integrante.
Ele não sabia se o navio chegaria a seu destino.
Nesse exemplo, o núcleo da oração principal é o verbo saber, transitivo direto. A conjunção subordinativa integrante se introduz a oração subordinada com função de objeto direto se o navio chegaria a seu destino. Por também introduzir uma oração com função de um termo integrante, se é considerada uma conjunção subordinativa integrante.
Período composto é aquele formado por duas ou mais orações.
Período composto por subordinação é aquele formado por orações subordinadas, ou seja, que são dependentes sintaticamente.
Oração principal é aquela que traz a informação principal do período, sintaticamente incompleta.
Oração subordinada é aquela que exerce a função sintática em relação a algum termo de outra oração, completando-a.
Conjunção subordinativa é a palavra que liga duas orações sintaticamente dependentes. As conjunções subordinativas podem ser causais, concessivas, condicionais, comparativas, finais, proporcionais, temporais, comparativas, consecutivas e integrantes.
Orações subordinadas substantivas
Observe o exemplo a seguir.
Ele contou que o navio era descomunal. oração principal oração subordinada substantiva objetiva direta
Nesse caso, a oração principal é “Ele contou”. O complemento do verbo é uma oração que atua como objeto direto da forma verbal contou.
Uma vez que a oração subordinada substantiva exerce função sintática de objeto direto, deve ser classificada como oração subordinada substantiva objetiva direta
Analise, a seguir, outros exemplos.
Ele se lembrou de que o navio era descomunal.
oração principal oração subordinada substantiva objetiva indireta
Nesse exemplo, a oração principal “ele se lembrou” demanda um objeto indireto para completar a forma verbal lembrou: de que o navio era descomunal
Como a oração subordinada substantiva exerce função sintática de objeto indireto, deve ser classificada como oração subordinada substantiva objetiva indireta.
Tenho certeza de que até meu avô é consciente disso […].
oração principal oração subordinada substantiva completiva nominal
Nesse caso, a oração principal é “Tenho certeza”. Se fosse um período simples, um sintagma nominal completaria o sentido de certeza. No exemplo, a oração subordinada substantiva exerce função sintática de complemento nominal, devendo ser classificada como oração subordinada substantiva completiva nominal.
Observe agora a função da oração destacada: ela funciona como sujeito da oração principal. Observe.
É possível que a casa da Turquia nem exista mais.
oração principal oração subordinada substantiva subjetiva
A oração destacada a seguir qualifica o que é improvável: que a casa permaneça intacta. Por isso a oração é classificada como predicativa
O menos provável é que a casa ainda esteja intacta na Turquia.
oração principal o ração subordinada substantiva predicativa
Observe agora a função da oração destacada.
Ele se lembrou disto: que o navio era descomunal.
oração subordinada substantiva apositiva
A oração explica o que quer dizer o pronome isto e, portanto, é classificada como apositiva. As orações subordinadas substantivas podem ocorrer na forma reduzida, isto é, a oração subordinada não é introduzida por conjunção e apresenta o verbo em uma das formas nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio.
Por exemplo, na frase “Espero terminar o trabalho cedo”, a expressão “terminar o trabalho cedo” é uma oração subordinada substantiva reduzida de infinitivo, funcionando como objeto direto da forma verbal espero. A redução torna a estrutura mais concisa e direta.
As orações subordinadas substantivas exercem no período uma função sintática própria de um nome. Conforme a função sintática que exerçam em relação à principal, são classificadas em: subjetivas, quando exercem a função de sujeito; predicativas, quando exercem a função de predicativo; objetiva direta ou objetiva indireta, conforme exerçam a função de objeto direto ou de objeto indireto; completivas nominais, quando exercem a função de complemento nominal; e apositiva, quando exercem a função de aposto.
Leia a seguir alguns trechos de uma notícia sobre a biodiversidade da região do Pantanal.
Onça-pintada, tamanduá, sucuri, cervo e anta. Os cinco animais mais buscados no Brasil, quando o assunto é turismo e natureza, se concentram em um único local: o Pantanal. A maior planície inundável do planeta é também o bioma com menor área do Brasil. Mas está no pódio quando o assunto é biodiversidade: é o primeiro em termos de conservação. O que explica essa diferença?
De acordo com o engenheiro agrônomo diretor do Instituto S.O.S. Pantanal, Felipe Augusto Dias, por ser um ambiente moldado pelas cheias e secas, é possível avistar diferentes animais em diferentes épocas e conviver com surpresas constantes. ‘Acredito que a diversidade de espécies avistadas seja maior que em outras regiões’, comenta. […]
Onça-pintada, Pantanal, 2019.
1. a) Porque cinco dos animais mais pesquisados do Brasil concentram-se no Pantanal, o que pode despertar a curiosidade das pessoas e aumentar o potencial turístico desse bioma.
‘As estradas parque também contribuem para o acesso de pessoas ao Pantanal, mas creio que a observação dos animais foi aumentada a partir de projetos de conservação que aproximam ciência, natureza e sociedade de maneira geral’, explica.
TERRA DA GENTE. Pantanal brasileiro revela a biodiversidade e carrega o título de bioma mais conservado. G1, Campinas, 12 nov. 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/terra-da-gente/noticia/2019/11/12/pantanalbrasileiro-revela-a-biodiversidade-e-carrega-o-titulo-de-bioma-mais-conservado.ghtml. Acesso em: 20 set. 2024.
1. De acordo com o texto, a biodiversidade do Pantanal é uma de suas maiores riquezas.
a) Como essa biodiversidade específica do Pantanal pode contribuir para o turismo?
b) Nem sempre é possível observar esses animais. O que promove essa variação?
As cheias e secas que possibilitam a observação de diferentes animais.
c) O diretor do S.O.S. Pantanal poderia ter dito que “o turista vai avistar diferentes animais em diferentes épocas”. Por que ele decidiu modalizar essa informação?
d) Que oração possibilitou essa modalização?
“É possível.”
Porque o turista não verá obrigatoriamente animais, isso é apenas uma possibilidade.
e) Nesse processo, a informação modalizada foi transformada em que tipo de oração?
Em uma oração subordinada substantiva subjetiva.
2. No processo de evitar afirmações categóricas sobre o Pantanal, o diretor recorre ao mesmo processo de modalização.
a) Que formas verbais relativizam as informações que reproduz?
Acredito e creio
b) Que tipo de verbos são esses e que tipo de orações eles pedem?
c) Qual é a função dessas orações na construção de sentidos do texto?
Elas trazem as informações modalizadas: aquilo em que o enunciador acredita e crê. São verbos dicendi e pedem orações subordinadas substantivas objetivas diretas.
4. c) “Tenho a impressão” – oração principal; “de que os adultos andam com vontade” – oração subordinada substantiva completiva nominal; “de deixar o fardo de herança para as gerações mais jovens.” – oração subordinada substantiva completiva nominal.
3. Além da reprodução das falas do diretor em discurso indireto, o texto também recorre ao discurso direto.
a) Por que essas orações também não foram transformadas em discurso indireto?
Porque são muito extensas.
b) Que formas verbais introduzem as falas do discurso direto? Que diferença semântica é possível identificar entre elas?
As formas verbais explica e comenta; explicar supõe que o diretor vai esclarecer algo; comentar tem um sentido mais genérico.
c) Os discursos diretos reproduzidos são orações independentes. No entanto, dada sua ligação com os verbos dicendi, aos quais se referem, pode-se dizer que atuam como se desempenhassem uma dada função sintática. Qual? Como seriam classificadas?
Atuam como se fossem objetos diretos; seriam classificadas como orações subordinadas substantivas objetivas diretas.
Leia a tirinha a seguir de Mafalda, do cartunista argentino Quino.
QUINO. [Mafalda: fardo de herança]. Central das tiras, [s. l., 200-]. Disponível em: https://centraldastiras.blogspot. com/2010/09/mafalda-fardo-de-heranca.html. Acesso em: 20 set. 2024.
4. Mafalda reclama com Filipe sobre a responsabilidade dos adultos perante os problemas da sociedade.
a) Qual é o foco da crítica aos adultos por parte de Mafalda?
b) Que período das falas de Mafalda é responsável por sua crítica?
Mafalda critica a postura do adulto de não estar fazendo nada para resolver os problemas do mundo, apenas assoviando. “Tenho a impressão de que os adultos andam com vontade de deixar o fardo de herança para as gerações mais jovens.”
c) Esse período é composto por orações subordinadas. Identifique, no caderno, qual é a oração principal e as subordinadas, classificando-as.
d) C aso a fala de Mafalda fosse composta apenas pela oração principal desse período, como seria a pergunta de Filipe?
“Impressão? Impressão de quê?”
Leia a tirinha a seguir de Armandinho, do cartunista Alexandre Beck.
BECK, Alexandre. [A verdade é que o mundo não respeita os bons!]. [S. l.], 9 out. 2015. Facebook: tirasarmandinho. Disponível em: www.facebook.com/tirasarmandinho/photos/np.1444387705048 812.100005065987619/1060121130699859/. Acesso em: 20 set. 2024.
5. De acordo com a tirinha, existem seres humanos considerados “bons”. Explique o que seria alguém bom e por que ele não se preocuparia com essa classificação.
Alguém bom seria alguém que pratica ações éticas e responsáveis e que não faz isso para ser reconhecido, mas porque essa é sua forma de agir no mundo.
• Copie o organizador a seguir no caderno e complete-o com o que se pede.
A verdade é que o mundo não respeita os bons.Substantiva predicativa
Acho que os bons de verdade nem ligam pra isso.
Substantiva objetiva direta
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
1. Mário de Andrade considera que, embora tenham certa relevância, não contribuíram para o melhoramento político-social do ser humano, para valorizar e exaltar a liberdade.
Leia o trecho a seguir, da conferência “O movimento modernista”, proferida por Mário de Andrade na Biblioteca do Itamaraty, no Rio de Janeiro, em 1942.
1 No trecho da conferência, Mário de Andrade faz uma crítica ao seu papel e dos demais modernistas na sociedade brasileira. Que crítica é essa?
2 Considere o destaque
a) No trecho parece haver um desvio gramatical na concordância verbal. Explique.
b) O que explicaria essa conjugação do verbo?
O verbo dever não concorda com os modernistas, pois está na primeira pessoa do plural, e não na terceira
O verbo dever é conjugado na primeira pessoa do plural porque o enunciador se inclui entre os modernistas; portanto, o sujeito suposto seria nós.
Eu creio que os modernistas da Semana de Arte Moderna não devemos servir de exemplo a ninguém. Mas podemos servir de lição. O homem atravessa uma fase integralmente política da humanidade. Nunca jamais ele foi tão ‘momentâneo’ como agora. […] E apesar da nossa atualidade, da nossa nacionalidade, da nossa universalidade, uma coisa não ajudamos verdadeiramente, duma coisa não participamos: o amilhoramento político-social do homem. […]
[…] Façam ou se recusem a fazer arte, ciências, ofícios. Mas não fiquem apenas nisto, espiões da vida, camuflados em técnicos de vida, espiando a multidão passar. Marchem com as multidões.
[…] Será que a liberdade é uma bobagem?… Será que o direito é uma bobagem!…
A vida humana é que é alguma coisa a mais que ciências, artes e profissões. E é nessa vida que a liberdade tem um sentido, e o direito dos homens. A liberdade não é um prêmio, é uma sanção. […]
ANDRADE, Mário de. Aspectos da literatura brasileira . 5. ed. São Paulo: Martins, 1974. p. 255.
As figuras de pensamento e de sintaxe são recursos estilísticos fundamentais na construção do discurso literário e retórico, reforçando a expressividade e o poder persuasivo de um texto ou uma fala. As figuras de pensamento envolvem manipulações semânticas que afetam a produção de sentidos dos textos. Já as figuras de sintaxe, ou de construção, dizem respeito à estrutura gramatical e à organização das palavras e frases. Juntas, essas figuras podem reforçar os sentidos de um texto. Você vai conhecer algumas dessas figuras.
3 Considere o período em destaque.
a) Para expressar a ideia de que o ser humano é mais momentâneo do que nunca, seriam necessários esses dois termos? Explique.
b) Que sentido se produz com esses dois termos associados?
4 Ao longo do trecho, é possível identificar a repetição de algumas estruturas.
a) Que estruturas são repetidas?
b) Que sentido se produz com essa repetição?
c) No último período do primeiro parágrafo há uma enumeração. O que separa esses termos enumerados?
3. a) Não, pois os dois termos têm sentidos equivalentes.
3. b) Os dois termos intensificam o sentido e produzem certo exagero.
4. a) Repetem-se as estruturas da nossa e será que.
4. b) A repetição reforça e destaca os termos que serão listados.
4. c) Somente vírgulas.
Polissíndeto e assíndeto
Quando orações ou termos são ligados por meio da repetição de um mesmo conectivo, tem-se o polissíndeto. Observe o exemplo.
E o olhar estaria ansioso esperando
E a cabeça ao sabor da mágoa balançando
E o coração fugindo e o coração voltando
E os minutos passando e os minutos passando…
MORAES, Vinicius de. O olhar para trás. In: MORAES, Vinicius de. Antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 11.
Há casos em que, em vez de repetir o conectivo, omitem-se todos, inclusive o conectivo final de uma enumeração de termos. Nesse caso, tem-se um assíndeto, como na tirinha a seguir.
Na segunda fala de Jon, a enumeração de assuntos do jornal não apresenta nenhum conectivo. A divisão dos termos dá-se por meio da marcação da vírgula.
Polissíndeto é uma figura de sintaxe que consiste na repetição de um mesmo conectivo para unir termos ou orações.
Assíndeto é uma figura de sintaxe que consiste na omissão de qualquer conectivo em uma enumeração.
Quando, em uma frase, a concordância entre os termos não ocorre de acordo com as convenções gramaticais, mas com o sentido subentendido da palavra, tem-se uma silepse. Observe a canção a seguir.
A gente não sabemos escolher presidente
A gente não sabemos tomar conta da gente
A gente não sabemos nem escovar os dente Tem gringo pensando que nóis é indigente
INÚTIL. Intérprete: Ultraje a Rigor. Compositor: Roger Moreira. In: NÓS VAMOS INVADIR SUA PRAIA. Intérprete: Ultraje a Rigor. Rio de Janeiro: WEA, 1985. Letras. Disponível em: www.letras.mus.br/ultraje-a-rigor/49189/. Acesso em: 20 set. 2024.
Gramaticalmente, a concordância do verbo conjugado na primeira pessoa do plural com um sujeito que seria uma terceira pessoa do singular está equivocada. No entanto, concorda-se aqui com a ideia. A expressão a gente pressupõe mais de uma pessoa envolvida na interlocução, inclusive o enunciador. Portanto, o sentido de a gente é o mesmo de nós .
Silepse é uma figura de sintaxe que consiste na concordância de termos da oração de acordo com o significado das palavras, e não conforme as convenções gramaticais.
Anáfora é a repetição de uma expressão no início de uma frase ou verso. Observe o poema a seguir.
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
MORAES, Vinicius de. Rosa de Hiroshima. In: MORAES, Vinicius de. Antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 196-197.
Anáfora é uma figura de sintaxe que consiste na repetição da mesma expressão no início de frases ou versos seguidos.
Quando há um exagero na utilização do sentido comum das palavras, tem-se uma hipérbole.
Se a querida ouvinte e o caríssimo ouvinte perguntarem para qualquer pessoa que goste de futebol, com exceção do pai, da mãe ou da irmã de Neymar, sobre quem é melhor, 11 em cada dez que respondam dirão que o craque revelado pelo Flamengo [Vinícius Júnior] ganha do ex-santista.
KFOURI, Juca. Vinícius Júnior já é maior que Neymar hoje no futebol europeu? In: KFOURI, Juca. Blog do Juca Kfouri. [S. l.], 15 fev. 2023. Disponível em: www.uol.com.br/esporte/colunas/juca-kfouri/2023/02/15/vinicius-junior-ja-e-maior-que-neymar-hojeno-futebol-europeu.htm. Acesso em: 20 set. 2024.
No trecho anterior, para referir-se à comparação entre os jogadores Neymar e Vinícius Júnior, recorre-se à hipérbole, pois “qualquer pessoa que goste de futebol” e “11 em cada dez” configuram-se como exageros que intensificam a forma com que o enunciador do texto exalta Vinícius Júnior.
Hipérbole é uma figura de pensamento que consiste no exagero ao expressar uma ideia com a finalidade de enfatizar seu sentido.
1. c) Filipe não flexiona o verbo na terceira pessoa do singular para concordar com o sujeito “mais da metade da população mundial”. Deveria dizer “metade da população mundial é criança”.
1. d) Filipe usa o verbo na primeira pessoa do plural porque se inclui entre as crianças, o que transformaria o sujeito em nós. Essa é uma silepse.
Leia a tirinha a seguir de Mafalda, do cartunista argentino Quino.
Não escreva no livro.
1. Filipe parece estar muito esperançoso na tirinha.
a) Qual seria a esperança de Filipe para o mundo?
A esperança seria que as crianças poderiam governar o mundo e haveria um novo tipo de sociedade.
b) E xplique como Mafalda acaba com a esperança de Filipe.
Mafalda lembra Filipe de que em 30 anos eles não serão, obviamente, crianças.
c) De que forma a primeira fala de Filipe pode ser considerada um desvio da gramática normativa?
d) E xplique por que Filipe comete esse desvio da norma e que figura de linguagem representa.
Leia a campanha a seguir, de uma agência de publicidade.
PLUREX. Nossas campanhas. Rio de Janeiro: Plurex, [200-]. Disponível em: https://linhas.plurex.com.br/empresa. Acesso em: 20 set. 2024
2. Todo anúncio publicitário divulga um produto ou serviço.
a) O que é divulgado no anúncio publicitário?
De acordo com a Base Nacional Comum Curricular, versão de 2018, página 503, é enfatizado que, no Ensino Médio, a área de Linguagens e suas Tecnologias desenvolva nos estudantes o aprofundamento das “análises das formas contemporâneas de publicidade em contexto digital, a dinâmica dos influenciadores digitais e as estratégias de engajamento utilizadas pelas empresas”. Dessa forma, todos os usos relacionados à publicidade, propaganda e formas de engajamento em redes sociais apresentadas nesta coleção são para fins didáticos e seus usos em contexto social.
É divulgada a possibilidade de fazer publicidade em ônibus.
b) Qual seria a vantagem do produto oferecido?
A vantagem seria o alcance de público que a publicidade teria.
c) Quem seria o público-alvo desse anúncio publicitário?
Pessoas interessadas em divulgar um produto ou serviço.
3. Anúncios publicitários recorrem a algumas figuras de estilo para chamar a atenção do público.
a) Que figura de pensamento está presente no texto?
A hipérbole em “todo mundo vê, todo mundo compra”.
b) De que forma essa figura está incorporada nos discursos cotidianos no Brasil?
c) Que figura de sintaxe está presente na chamada da publicidade?
A anáfora, com a repetição da expressão todo mundo
3. b) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes percebam como a expressão todo mundo é frequentemente utilizada para criar uma generalização, e não para se referir, de fato, a todas as pessoas do mundo.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Nesta unidade, você leu capas e entradas de sites que mostraram diferentes linhas editoriais e formas de selecionar e noticiar os assuntos da atualidade. Nas atividades a seguir, poderá verificar como todo recorte e seleção acabam por omitir e silenciar outros assuntos que poderiam ganhar destaque e que interessariam a algumas pessoas.
O que você irá produzir
Você vai criar a página de entrada de um site voltado para o público adolescente. A página deve ser atraente, moderna e selecionar, dentre as notícias que circularam na sua região no último mês, as que você considera que seriam do interesse do seu público-alvo. O objetivo é capturar o interesse do leitor adolescente utilizando elementos visuais e textuais que despertem a curiosidade e a vontade de explorar o site
Forme um grupo de até quatro integrantes, levando em consideração o volume de pesquisas e de atividades técnicas a serem desenvolvidas. Os integrantes do grupo podem realizar todas as atividades em conjunto ou dividir tarefas.
• Selecione com seu grupo as principais notícias que circularam na sua região no último mês e que sejam de interesse para adolescentes. Pense em temas como cultura, esportes, tecnologia, eventos locais, música, entre outros. Defina em conjunto que seções farão parte do projeto considerando que elas devem atender ao seu público.
• Crie com seu grupo um título principal para a página que seja impactante e resuma a notícia mais importante ou que julgue do interesse do seu público. Use palavras chamativas e frases curtas que prendam a atenção do leitor.
• Inclua com os colegas de grupo de três a cinco subtítulos ou chamadas para outras notícias ou seções que estarão no site. Cada chamada deve ter um pequeno resumo ou frase de impacto que provoque a curiosidade do leitor.
• Selecione com o grupo as imagens, fotos ou gráficos que vão compor a página. Escolham as que complementem os temas das notícias. As cores devem ser vibrantes e atraentes, mas mantenham um conjunto de cores harmonioso.
• Organize com o grupo os elementos (títulos, subtítulos, imagens) de forma equilibrada na página. A diagramação deve guiar o olhar do leitor de forma natural, destacando os pontos mais importantes sem sobrecarregar a página. Usem fontes legíveis e em tamanhos variados para dar destaque a diferentes partes do texto.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Construir a hierarquização textual e gráfica de um texto para a internet envolve organizar o conteúdo de modo que a informação seja facilmente acessível e compreensível para o leitor. Esse processo começa com a definição de um título chamativo e informativo, que atraia a atenção do usuário e resuma o conteúdo principal.
Em seguida, utilizam-se subtítulos claros para dividir o texto em seções, permitindo que o leitor navegue rapidamente pelas partes mais relevantes. O uso de parágrafos curtos e concisos é essencial para manter o interesse e a legibilidade.
Além disso, elementos gráficos, como imagens, infográficos, vídeos e listas, devem ser incorporados para complementar o texto e ilustrar os pontos principais de maneira visualmente atraente.
O uso de bold , itálico e listas numeradas ou com marcadores ajuda a destacar informações importantes e dinamiza a leitura. A hierarquização adequada garante que o conteúdo seja claro, acessível e envolvente, atendendo às necessidades e expectativas dos leitores on-line .
Agora é sua vez de treinar a hierarquização de uma página de internet. Utilize as chamadas que você já selecionou para a produção da página de entrada. Em um editor de texto ou no editor de site virtual, insira as manchetes, títulos, subtítulos e textos e faça a formatação a seguir.
• T ítulo principal: fonte grande (entre 36 e 48 pt), em bold , com uma cor que contraste fortemente com o fundo, como vermelho ou azul-escuro.
• Subtítulos e Chamadas: fonte média (entre 18 e 24 pt), em itálico ou bold , com cores complementares ao título principal, como verde ou laranja.
• Texto auxiliar : fonte menor (entre 12 e 16 pt), para descrições ou pequenos resumos, em uma cor neutra como preto ou cinza.
• Posição dos elementos: o título principal deve estar no topo ou no centro da página, com subtítulos e chamadas ao redor, de forma a não sobrecarregar a imagem principal. As imagens devem ser centralizadas ou ligeiramente deslocadas para um lado, para equilibrar o texto. Avalie o resultado com o grupo e teste variações.
Agora é hora de colocar os textos selecionados nos editores. Você e seu grupo poderão desenvolver essa página de entrada em um editor virtual de sites ou em um editor de texto. Editores de site contam com tutoriais que deixam a criação prática e instintiva. Elaborem as chamadas para as outras notícias ou seções. Cada chamada deve ser breve, com um resumo ou frase de impacto, que faça o leitor querer clicar e explorar o conteúdo completo. Insiram as imagens que serão usadas na página. Editem-nas, se necessário, para garantir que estejam nítidas e atraentes. As imagens devem estar em harmonia com os textos e ajudar a contar a história da página.
Disponham todos os elementos na página de forma harmônica e equilibrada. Lembrem-se de manter uma lógica visual, com espaçamentos adequados entre os elementos, e de usar uma hierarquia visual clara (títulos maiores e mais destacados, subtítulos menores).
Depois de finalizar a página de entrada, apresente-a para a turma ou outro grupo, explicando as escolhas feitas para os títulos, chamadas e imagens. Peça avaliação dos colegas e do professor: quais elementos da página chamaram mais a atenção? O que poderia ser melhorado? Com base nessa avaliação, faça ajustes finais na página. Se possível, compartilhe a página digitalmente em plataformas sociais ou no site da escola, para que todos possam ter acesso ao resultado do trabalho.
1. Resposta pessoal. Professor, oriente os estudantes a refletir sobre o modo como estudam ou se preparam para exames, por exemplo: resumindo? Sublinhando os textos? Apenas lendo? Discuta com eles essas estratégias antes de prosseguir. As questões a seguir sugerem uma estratégia de leitura voltada ao estudo do texto.
Não escreva no livro.
A Filosofia, componente de Ciências Humanas, pode oferecer um caminho de exploração importante: propor perguntas, muitas vezes inquietantes, sobre o ser humano e o mundo, que permitem aprofundar a reflexão e, muitas vezes, melhorar a qualidade da experiência humana com a realidade.
Você vai ler a seguir um texto do filósofo e sociólogo polonês Zygmunt Bauman (19252017). Depois de ser impedido de lecionar em seu país de origem, Bauman passou pelo Canadá, pelos Estados Unidos, pela Austrália, até fixar-se na Grã-Bretanha, país que o acolheu e deu a ele uma cidadania – naturalizou-se britânico. Essa história e as muitas consequências que é possível supor com base nela explicam em parte sua preocupação com o tema da identidade, assunto bastante discutido ao longo das leituras dos textos do primeiro Modernismo brasileiro. Você vai ler o trecho de uma entrevista que ele concedeu a um jornalista italiano sobre isso. Não o leia como um leitor de revista, mas sim como alguém que precisa estudar o texto.
[…] Tornamo-nos conscientes de que o ‘pertencimento’ e a ‘identidade’ não têm a solidez de uma rocha, não são garantidos para toda a vida, são bastante negociáveis e revogáveis, e de que as decisões que o próprio indivíduo toma, os caminhos que percorre, a maneira como age – e a determinação de se manter firme a tudo isso – são fatores cruciais tanto para o ‘pertencimento’ quanto para a ‘identidade’. Em outras palavras, a ideia de ‘ter uma identidade’ não vai ocorrer às pessoas enquanto o ‘pertencimento’ continuar sendo o seu destino, uma condição sem alternativa. Só começarão a ter essa ideia na forma de uma tarefa a ser realizada, e realizada vezes e vezes sem conta, e não de uma só tacada. […]
Estar total ou parcialmente ‘deslocado’ em toda parte, não estar totalmente em lugar algum […], pode ser uma experiência desconfortável, por vezes perturbadora. Sempre há alguma coisa a explicar, desculpar, esconder ou, pelo contrário, corajosamente ostentar, negociar, oferecer e barganhar. Há diferenças a serem atenuadas ou desculpadas ou, pelo contrário, ressaltadas e tornadas mais claras. As ‘identidades’ flutuam no ar, algumas de nossa própria escolha, mas outras infladas e lançadas pelas pessoas em nossa volta, e é preciso estar em alerta constante para defender as primeiras em relação às últimas. Há uma ampla probabilidade de desentendimento, e o resultado da negociação permanece eternamente pendente. Quanto mais praticamos e dominamos as difíceis habilidades necessárias para enfrentar essa condição reconhecidamente ambivalente, menos agudas e dolorosas as arestas ásperas parecem, menos grandiosos os desafios e menos irritantes os efeitos. Pode-se até começar a sentir-se chez soi, ‘em casa’, em qualquer lugar – mas o preço a ser pago é a aceitação de que em lugar algum se vai estar total e plenamente em casa.
Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. p. 17-20.
1. Que estratégia você usaria para estudar esse texto? Pense em maneiras de ler e organizar as ideias mais importantes. Não é preciso fazer isso, apenas pensar em uma estratégia.
2. Antes de se deter nos detalhes do texto, registre uma ideia geral: do que ele trata? Qual é o recorte que ele faz?
Trata de identidade. O recorte é a flutuação das identidades e de como é preciso desenvolver habilidades para enfrentar a condição ambivalente, que faz com que muitas vezes o ser humano se sinta deslocado, no terreno movediço entre a identidade e o pertencimento.
3. Os conceitos são identidade, pertencimento e deslocamento. Identidade pode ser entendida como um conjunto de características que singularizam uma pessoa; está no âmbito do ser; pertencimento é fazer parte. Esses são os sentidos aplicáveis ao texto. Deslocamento pode ser entendido como fora de lugar; no âmbito do texto, pode ser entendido como não estar em lugar nenhum por ter diferenças em relação a um lugar de pertencimento.
3. Faça um levantamento dos conceitos principais do texto e pesquise uma definição para cada um. Em seguida, verifique se a definição faz sentido no contexto da entrevista.
4. O segundo parágrafo traz muitas ideias. O organizador a seguir pode ajudar a discriminar essas ideias, o que ajuda você a entender um texto – lembre-se dessa estratégia quando for ler outros textos da área de Ciências Humanas.
As “identidades” flutuam no ar Negociação de identidade
Significa que algumas definições são escolhas dos indivíduos, enquanto outras podem vir de fora, do grupo com o qual se interage.
Explicação
Significa explicar, desculpar, esconder algo ou, pelo contrário, ostentar, oferecer e barganhar como forma de pertencer.
5. Algumas conjunções foram destacadas no texto. As conjunções podem explicitar que tipo de relação certas ideias mantêm entre si. Fique sempre de olho nelas!
a) Mas e pelo contrário indicam oposição ou adversidade. Que ideias cada ocorrência dessas conjunções opõe?
1. O tipo de ação sobre as diferenças (atenuar, desculpar ou ostentar); 2. Identidades próprias opostas a outras lançadas pelas pessoas em nossa volta; 3. Sentir-se em casa e não se sentir plenamente em casa.
b) Quanto mais… quanto menos indica uma relação inversamente proporcional. Qual?
A que se estabelece entre a prática e o domínio de habilidades para enfrentar ambivalências e a dificuldade para exercê-las, além dos efeitos dessas ambivalências.
ANDRADE, Mário de. Contos novos . Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011. A obra reúne contos que marcam um ponto alto na literatura brasileira no que se refere às narrativas breves. Publicados postumamente em 1947, os contos abordam temas variados como a angústia existencial, as contradições sociais e os dilemas psicológicos. Com um estilo inovador e um olhar crítico, o autor utiliza uma linguagem rica e personagens profundamente humanos para traçar um retrato multifacetado da sociedade brasileira, consolidando sua posição como um dos principais nomes do Modernismo no Brasil.
ANDRADE, Mário de. Macunaíma em quadrinhos. Ilustrações: Angelo Abu e Dan X. São Paulo: Peirópolis, 2016. (Coleção Clássicos em HQ).
A adaptação de Macunaíma para os quadrinhos mantém a essência antropofágica do livro original, mesclando várias referências visuais, especialmente da pintura modernista, como Di Cavalcanti, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Diego Rivera e Pablo Picasso. A obra apresenta variações de estilo gráfico ao longo das páginas, criando uma interpretação visual nova.
Capa do livro Contos novos. Capa de Macunaíma
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Desenho do cenário criado para a peça O rei da vela na montagem de 1967. EICHBAUER, Hélio. [O rei da vela]. In: FILGUEIRAS, Mariana; PELLI, Ronaldo. Hélio Eichbauer: o escultor dos vazios. Continente, Recife, 1 mar. 2018. Disponível em: https:// revistacontinente. com.br/edicoes/207/ helio-eichbauer. Acesso em: 24 set. 2024.
O desenho a seguir, do cenógrafo carioca Hélio Eichbauer (19412018), corresponde ao croqui do cenário da peça O rei da vela (1937), para a encenação realizada pela companhia Teatro Oficina em 1967, na cidade de São Paulo (SP).
O cenário dessa montagem era tão marcante que, quando a peça foi censurada pela ditadura civil-militar, em 1968, o primeiro ato simbólico do diretor, ator, dramaturgo e encenador José Celso Martinez Corrêa (1937-2023), o “Zé Celso”, foi queimá-lo em um cemitério – gesto do qual ele afirmou ter se arrependido profundamente.
1. O desenho apresenta um cenário que remete a elementos da paisagem brasileira.
a) Que elementos são esses?
A Baía de Guanabara, o Cristo Redentor, as bananeiras e os coqueiros.
b) Além dos elementos da paisagem, outro elemento do croqui é importante para sugerir o tom da peça. O que parece acontecer nesse cenário?
Espera-se que os estudantes percebam que a presença de sangue sugere uma cena de violência.
2. b) Assim como nas obras de Tarsila do Amaral, o cenário ressalta referências mais solares, com cores quentes e alegres, em um painel que mostra uma Baía de Guanabara bastante estilizada e elementos da natureza brasileira.
2. O desenho do cenário da peça dialoga com algumas obras da pintura modernista, que você estudou em unidades anteriores.
2. a) Dialogam com as cores da bandeira do Brasil: amarela, azul e verde.
a) A s cores do cenário dialogam com quais elementos da cultura brasileira?
b) A lém das cores, outros aspectos do cenário remetem a obras da pintora paulista Tarsila do Amaral (1886-1973). Quais são eles?
3. Considerando o cenário, a personagem e o que parece ocorrer na cena, de que gênero teatral parece ser essa peça?
Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes percebam que o cenário com cores vibrantes remete a uma peça alegre, mas o sangue, por sua vez, parece remeter a um drama ou a uma tragédia.
As fotografias a seguir são de diferentes encenações da peça O rei da vela, de Oswald de Andrade (1890-1954).
Montagem do Grupo Teatro Oficina. Teatro Sérgio Cardoso, São Paulo (SP), 2017.
Montagem do grupo Parlapatões. Sesc Santana, São Paulo (SP), 2018.
4. A primeira fotografia, de 2018, é de uma encenação de O rei da vela , em montagem do grupo teatral Parlapatões. A segunda é de uma encenação de 2017 realizada pela companhia Grupo Teatro Oficina, que remontou a peça, de 1967.
• Compare as duas fotos. É possível notar que cada montagem apresenta sua própria leitura da peça. Discuta com os colegas: o que essas leituras sugerem sobre os sentidos que diferentes montagens de uma mesma peça de teatro podem produzir?
A existência do teatro no Brasil remonta ao início da colonização. Ao longo do século XIX, a comédia de costumes e o teatro realista e naturalista dialogavam com os discursos da aristocracia rural e dos grandes comerciantes. No começo do século XX, o teatro nacional, influenciado pela estética das vanguardas, vivenciou grandes mudanças, que respondiam ao auge e à decadência da aristocracia rural.
4. Espera-se que os estudantes discutam que, embora o texto seja o mesmo, a interpretação que o diretor e os demais profissionais que atuam na peça dão aos seus elementos produz diferentes sentidos.
A diversidade e a pluralidade são constitutivas da sociedade, e os direitos de todos foram garantidos depois de muita luta. Ouvir e respeitar diferentes narrativas e opiniões, principalmente as vindas de grupos que foram historicamente silenciados, é fundamental para assegurar uma sociedade mais democrática.
Para discutir
1 Que grupos foram historicamente silenciados e nunca puderam, de fato, ser considerados nos debates públicos?
2 Como é possível garantir direito de voz a esses grupos?
3 Qual é a importância de rever alguns episódios históricos sob a perspectiva desses grupos?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Você vai ler a seguir o trecho de um roteiro teatral produzido de forma colaborativa com base no livro Macunaíma: o herói sem nenhum caráter, do escritor paulista Mário de Andrade (1893-1945). Nesse trecho, com elementos do fantástico, os participantes do evento recebem como convidado o próprio autor do livro.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Texto
Mário surge no canto da sala iluminado pela penumbra, sintoma de seu estado morto-vivo, e ao notarem sua presença todos ficam aterrorizados, exceto Akuli-pa, que não o reconhece. As luzes se acendem.
Mário
Opa. Não tenham medo. Sintam-se em casa, por favor.
Curadora
Sem saber o que dizer.
Mário, que surpresa! Tudo bem?
Mário
Tudo ótimo! Me sinto melhor do que nos últimos sessenta anos, certamente.
Curadora
Que bom!
Paira um silêncio de perplexidade.
Curadora
Você veio nos contar alguma coisa? Estamos aqui num evento… sobre você! Sobre o Macunaíma, Makunaimã.
Mário
Eu percebi. Quero ouvir mais de vocês, ué. Estava dormindo na mais plena paz há tanto tempo e, de repente, ouço vocês aqui discutindo a minha
obra, me acusando de um monte de coisas…
Curadora
Imagine, todos nós o consideramos um grande gênio.
Mário
Sim, sim, mas eu ouvi gente aí dizendo que eu tinha que ter ido até os índios, ouvir por mim
curador: profissional responsável pela seleção e aquisição de obras, organização de exposições, eventos, debates, palestras, programação educativa, gestão e conservação em diferentes organizações culturais.
mesmo os mitos taurepang. E que, se tivesse feito isso, eu teria escrito outra história.
Laerte
Impetuoso.
Isso eu disse mesmo.
Mário
Então, me diga: que outra história?
Curadora
Tentando mediar.
Olha, deixa eu te apresentar todo mundo aqui. Daí cada um pode falar o que pensa da sua rapsódia. Que tal?
Laerte
Eu começo. Sou Laerte Wapichana, escritor indígena.
Os outros se acomodam nas cadeiras, normalizando a situação.
Mário
Ah, isso sim é algo novo. Jamais havia ouvido falar de um escritor indígena. Que interessante. Conte-me mais.
[…]
Jaider
De cabelos longos, pintado de urucum.
Olha, pessoal, eu não quero interromper, mas acho importante a gente respeitar os mais velhos. Além do defunto aí, temos aqui o Sr. Akuli-pa, que veio de longe e precisa se apresentar. Afinal, a culpa é toda do avô dele – do Akuli!
Mário
Ah, que figura mais interessante! Pele pintada de urucum com manchas pretas de jenipapo, é isso? Quem é você?
Jaider
Muito prazer, Mário. Eu sou Jaider Macuxi, sou artista.
Mário
Ah, tenho muitos amigos artistas plásticos.
Jaider
É, eu sei. Mas eu sou apenas artista, dispenso o plástico, que está destruindo o nosso meio ambiente. Não sou muito chegado nessa palavra.
Mário
Destruindo o meio ambiente? Quando foi que o ambiente foi partido ao meio?
Curadora
Gente, precisamos ir com calma. O Mário passou para “o outro lado” em 1943. No meio da Segunda Guerra. A floresta estava toda de pé e ninguém nem imaginava…
Jaider
O que quero dizer é que sou da arte – que não é escola, não é religião, não é igreja, não é partido político, é um negócio único que temos no nosso mundo e eu estou no olho desse furacão maravilhoso, o que quer que ele seja.
Mário
Bravo, Jaider! Vemos que somos muito parecidos!
Jaider
Hashtag Tamojunto!
Mário
O que é hashtag?
Curadora
Gente, por favor, lembrem-se: 1943.
[…]
Jaider
Pois é, minha gente, vou apresentar aqui o Sr. Akuli-pa Taurepang, neto do Akuli Taurepang, que foi quem narrou os mitos que o senhor leu no livro do alemão. Acho que é importante esse encontro entre vocês. Aliás, não é à toa que isso está acontecendo. Não é mera coincidência, mesmo.
Mário
Que grande prazer, Sr. Akuli-pa. Seu avô era um grande contador de histórias, maravilhoso de verdade. Os mitos atiçaram a minha imaginação de tal forma… Foi como um mergulho em outro mundo. No seu mundo. Muito prazer.
Todos olham para Akuli-pa, que demora para responder. Nessa hora, Jaider começa a filmar o evento com o seu celular.
[…]
Mário
[…] Mas me diga, meu caro Laerte, estou reconhecendo a sua voz. Lá do Além eu ouvia você dizendo: “se Mário tivesse ido lá, ele teria escrito outra história”. Você acha mesmo?
Laerte
Tenho certeza.
[…]
[…] Vim pra cá resgatar as histórias que roubaram do meu povo. E também para apagar as que contaram de forma torta sobre o meu povo. Esse tempo acabou. Agora estamos aqui, nós, os artistas indígenas, para contarmos nossas próprias histórias.
TAUREPANG et al. Makunaimã: o mito através do tempo. São Paulo: Elefante, 2019. p. 20-37.
1. a) Espera-se que os estudantes destaquem que a diversidade de olhares contempla desde aqueles que podem considerar Macunaíma um deus, como os indígenas, até especialistas em literatura ou antropologia e artistas que forneceriam, cada um, um ponto de vista diferente sobre a obra.
1. b) Espera-se que os estudantes percebam que um texto colaborativo, resultante de um evento com debates e pessoas diversas, permite que diferentes vozes, posicionamentos, olhares e pensamentos se manifestem, ainda que isso custe a harmonia do texto; nesse caso, os conflitos aparecem claramente e são parte constitutiva do processo e do resultado do roteiro teatral.
3. a) A acusação de que Mário, para escrever a obra Macunaíma, não ouviu a narrativa diretamente dos indígenas, mas a leu no livro do alemão. Ao ignorar a fonte original, considera-se que ele adulterou ou deturpou o mito.
1. Leia, a seguir, a descrição do contexto de produção do roteiro da peça Makunaimã . Makunaimã
Não escreva no livro.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Uma dramaturgia inspirada no evento homônimo que ocorreu nas quatro casas culturais da Poiesis (Casa das Rosas, Casa Mário de Andrade, Casa Guilherme de Almeida e Oficina Oswald de Andrade) em 2019, para debater a influência indígena na obra de Mário de Andrade, particularmente o romance Macunaíma O evento reuniu indígenas, antropólogos, intelectuais, acadêmicos, artistas e curiosos sobre o tema. […]
A obra foi contemplada pelo Prêmio de Incentivo à Publicação Literária, 100 Anos da Semana de Arte Moderna de 1922-2018, do Ministério da Cultura.
GOLDEMBERG, Deborah. Makunaimã: o mito através do tempo. [S. l.]: Deborah Goldemberg, [c2024]. Disponível em: https://deborahgoldemberg.com/makunaima-o-mito-atraves-do-tempo/. Acesso em: 13 set. 2024.
“alemão” referido nessa fala é o etnólogo Theodor Koch-Grünberg (1872-1924), que
a) O roteiro que você leu foi produzido com base no evento sobre o livro Macunaíma. Qual é a relevância da diversidade de pessoas que participaram desse evento para falar de algumas mitologias indígenas?
b) E xplique o impacto que a diversidade de vozes presente na autoria desse texto tem no resultado do roteiro.
2. O trecho que você leu, do roteiro da peça Makunaimã , apresenta um evento no qual diversas personagens participam de um debate.
início do século XX estudando a mitologia, as antropologia dos povos da região.
Neto do indígena que narrou as histórias presentes
Macunaíma
a) Copie o organizador a seguir no caderno e complete-o identificando as personagens e suas funções.
Escritor indígena Artista indígena
Curadora
Laerte
Jaider
Akuli-pa
Organizadora do debate
Apresentar a perspectiva indígena sobre a obra Macunaíma.
b) Considerando as personagens e o debate do qual participam, que semelhanças é possível identificar entre o roteiro e o evento em que foi produzido?
A diversidade de participantes e o debate em torno do livro Macunaíma são as semelhanças.
c) E xplique a relevância de introduzir o escritor Mário de Andrade como personagem da peça.
3. Considere a seguinte fala de Mário: “Estava dormindo na mais plena paz há tanto tempo e, de repente, ouço vocês aqui discutindo a minha obra, me acusando de um monte de coisas…”.
a) Que acusação está explicitada nesse trecho do roteiro que você leu?
b) Releia a seguir a última fala de Laerte. De que forma essa fala condensa a crítica feita ao livro de Mário de Andrade?
Laerte
2. c) A inclusão de Mário de Andrade permite que o próprio autor possa apresentar suas explicações sobre o processo de criação do livro. Além disso, faz com que ele conheça novos discursos e pontos de vista sobre sua obra e sobre o mito de Macunaíma. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
[…] Vim pra cá resgatar as histórias que roubaram do meu povo. E também para apagar as que contaram de forma torta sobre o meu povo. Esse tempo acabou. Agora estamos aqui, nós, os artistas indígenas, para contarmos nossas próprias histórias.
c) Leia o trecho a seguir, sobre um conceito fundamental para a sociedade contemporânea, o lugar de fala. Numa sociedade como a brasileira, de herança escravocrata, pessoas negras vão experenciar racismo do lugar de quem é objeto dessa opressão, do lugar que restringe oportunidades por conta desse sistema de opressão. Pessoas brancas vão experenciar do lugar de quem se beneficia dessa mesma opressão. Logo, ambos os grupos podem e devem discutir essas questões, mas falarão de lugares distintos.
RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento: Justificando, 2017. (Coleção Femininos plurais, p. 48).
• E xplique como o conceito de lugar de fala pode ser considerado central na cena do roteiro que você leu.
3. b) A última fala de Laerte reivindica para si e para os demais indígenas o direito de contar a história de seu povo, corrigindo as narrativas anteriores, enviesadas.
3. c) Na cena, Laerte e Jaider reivindicam para si e para Akuli-pa o lugar de fala indígena, para que possam falar de Macunaíma, que faz parte da mitologia do povo macuxi.
5. a) Porque todos estavam apresentando críticas à obra de Mário, morto há muitas décadas, e ele havia chegado para conversar com as personagens, o que é um fato fantástico. Professor, lembre aos estudantes que Mário de Andrade morreu em 1945, e não em 1943, como consta no roteiro. Além disso, quando a peça foi escrita, em 2019, Jaider Esbell encontrava-se vivo e produtivo, mas morreu pouco tempo depois, em 2021. Se achar relevante, informe isso aos estudantes.
4. Ao chegar ao evento, Mário revela já saber das críticas ao seu livro feitas durante o debate. De que forma o escritor se posiciona perante essas críticas?
Mário se mostra solícito e aberto a ouvir as críticas feitas a ele e parece querer aprender com elas.
5. Diante dos questionamentos que algumas personagens fazem a Mário, a curadora assume uma postura de mediação.
a) Por que ela se mostra surpresa na primeira fala?
SAIBA MAIS
Escritores que se tornam personagens
b) Que recurso típico de roteiros de teatro reforça o tom de surpresa dessa fala? Explique.
A rubrica, que indica que a atriz
deverá atuar como quem não sabe o que dizer (“Sem saber o que dizer”).
c) Q uais são as preocupações da curadora em relação ao escritor Mário de Andrade?
5. c) A curadora mostra-se preocupada
6. No caderno, complete o organizador a seguir anotando as rubricas que cumprem a função indicada.
todos o contexto em que em garantir respeito ao escritor durante as discussões, bem como lembra a
Mário produziu suas obras, quando não eram discutidas várias questões que hoje estão em pauta.
Indica elemento de cenário ou figurino
Indica interpretação para o ator
Indica o que se passa na cena
7. Um roteiro teatral é estruturado em diálogos entre personagens em determinada situação. Por isso, a linguagem é marcada pela oralidade. Isso inclui certos referentes usados em algumas frases que só podem ser compreendidos no contexto da encenação. Considerando isso, copie o quadro a seguir no caderno e complete-o conforme indicado. Frase
Ao fato de que Mário estava melhor no evento do que morto durante tanto tempo.
Ah, isso sim é algo novo. É, eu sei.
Ao fato de Mário ter muitos amigos artistas plásticos.
8. Releia esta fala de Mário: “Sim, sim, mas eu ouvi gente aí dizendo que eu tinha que ter ido até os índios, ouvir por mim mesmo os mitos taurepang. E que, se tivesse feito isso, eu teria escrito outra história”. Considerando o posicionamento de Mário durante o debate e as reflexões propostas, qual teria sido essa outra história de Macunaíma?
À existência de um escritor indígena. Ao fato de que o evento era sobre a obra Macunaíma, de Mário de Andrade.
Não foi somente Mário de Andrade que se tornou personagem de uma obra literária após sua morte. Isso ocorre também com José de Alencar (1829-1877) e Machado de Assis (1839-1908), que no livro A vida futura, do jornalista e escritor mineiro Sérgio Rodrigues (1962-), deixam o lugar do céu reservado aos escritores e retornam ao Rio de Janeiro do século XXI. Esse retorno ao mundo dos vivos ocorre quando eles ficam sabendo que seus livros seriam reescritos para atingir um maior número de leitores. Chegando à cidade, eles se envolvem em confusões que implicam os discursos contemporâneos dos grupos minorizados, assim como ocorre com Mário de Andrade no roteiro teatral Makunaimã: o mito através do tempo.
RODRIGUES, Sérgio. A vida futura . São Paulo: Companhia das Letras, 2022.
De cabelos longos, pintado de urucum.
Sem saber o que dizer. Impetuoso. Tentando mediar.
Capa do livro A vida futura.
Paira um silêncio de perplexidade. Os outros se acomodam nas cadeiras, normalizando a situação. Todos olham para Akuli-pa, que demora para responder. Nessa hora, Jaider começa a filmar o evento com o seu celular.
Os discursos contemporâneos que enfatizam a importância de respeitar e valorizar as experiências individuais e coletivas de grupos historicamente marginalizados ecoam discursos modernistas do início do século XX. Os modernistas buscavam romper com as convenções burguesas e revelar as crises e aspirações da sociedade brasileira, destacando a diversidade que a constituía, embora ainda não legitimassem as narrativas daqueles que foram tradicionalmente excluídos das esferas dominantes de expressão cultural e política. A dramaturgia produzida no começo do século XX reflete essa diversidade, contrastando uma elite da burguesia rural e industrial com indígenas, negros e imigrantes que compunham a sociedade brasileira.
8. Espera-se que os estudantes percebam como Mário se mostra atento e aberto às sugestões e, por isso, ou sua história seria totalmente pautada nas narrativas dos indígenas, ou ele nem a escreveria, para que fosse narrada por um indígena.
Teatro do início do século XX
O teatro do início do século XX é produzido sobretudo para agradar a uma elite afrancesada, que ignorava os problemas do país e de sua população. Embora a sociedade brasileira se tornasse cada vez mais diversa, a elite permanecia alheia ao contexto em que vivia. No entanto, alguns escritores do Modernismo mostraram-se sensíveis às mudanças que se produziam no país com a chegada dos imigrantes para a substituição da mão de obra escravizada, a industrialização que começava e o embate entre uma oligarquia rural e as novas classes sociais, como operários e a burguesia industrial, os quais buscavam afirmar um lugar nessa sociedade em transformação. A dramaturgia produzida por esses autores mantém um olhar crítico para as novas relações que se estabeleciam, confronta a burguesia industrial que se consolidava no país, em especial em São Paulo, e considera o abismo social que se aprofundava. As peças desses autores, porém, esbarram no desinteresse das elites rurais e urbanas por um teatro mais crítico; deparam-se com uma resistência tão grande que sequer são encenadas.
Para lembrar
1 Durante o século XIX, a comédia de costumes se destacou entre as produções teatrais. Quais eram as características da comédia de costumes?
Para discutir
1 Considerando que as peças escritas pelos modernistas afrontavam as elites daquele início de século, de que temas poderiam tratar? Formule uma hipótese.
2 Se você fosse, hoje, escrever um roteiro de teatro, de que tema gostaria de tratar? Quem seriam as personagens principais dessa peça?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A seguir, você vai ler um trecho da peça O rei da vela, do escritor e dramaturgo paulista Oswald de Andrade (1890-1954). No primeiro ato, é apresentado o protagonista Abelardo I, um empresário inescrupuloso e dono de uma fábrica de velas. Ele pratica agiotagem ao emprestar dinheiro a juros exorbitantes depois da crise mundial de 1929, que arruinou muitos produtores de café. Abelardo I interage com diversas personagens, como clientes desesperados e empregados submissos, revelando a corrupção e a decadência moral da sociedade brasileira da época. Na cena aqui reproduzida, ele acaba de ficar noivo de Heloísa, pertencente à aristocracia decadente e parasitária que perdeu tudo com a crise de 1929.
Texto
Em São Paulo. Escritório de usura de Abelardo & Abelardo. Um retrato da Gioconda. Caixas amontoadas. Um divã futurista. Uma secretária Luís XV. Um castiçal de latão. Um telefone. Sinal de alarma. Um mostruário de velas de todos os tamanhos e de todas as cores. Porta enorme de ferro à direita correndo sobre rodas horizontalmente e deixando ver no interior as grades de uma jaula. O Prontuário, peça de gavetas, com os seguintes rótulos: MALANDROS – IMPONTUAIS – PRONTOS – PROTESTADOS. Na outra divisão: PENHORAS – LIQUIDAÇÕES – SUICÍDIOS – TANGAS.
Pela ampla janela entra o barulho da manhã na cidade e sai o das máquinas de escrever da antessala.
[...]
HELOÍSA — Enfim... aqui estou... negociada. Como uma mercadoria valiosa... Não nego, o meu ser mal-educado nos pensionatos milionários da Suíça, nos salões atapetados de São Paulo... vivendo entre ressacas e preguiças, aventuras... não pôde suportar por mais de dois anos a ronda da miséria... (Silêncio.) E a admiração que você provocou em mim, com o seu ar calculado e frio e a sua espantosa vitória no meio da derrocada geral... O conhecimento que tive do seu cinismo e da sua indiferença diante dos sofrimentos humanos...
ABELARDO I — Conheço uma só coisa, a realidade. E por isso subjugo você que é sonho puro...
HELOÍSA (Mostrando a Gioconda.) — Por que que você tem esse quadro aí...
ABELARDO I — A Gioconda... Um naco de beleza. O primeiro sorriso burguês...
HELOÍSA — Você é realista. E por isso enriqueceu magicamente. Enquanto os meus, lavradores de cem anos, empobreceram em dois...
ABELARDO I — Trabalharam e fizeram trabalhar para mim milhares de seres durante noventa e oito... (Silêncio absorto.)
HELOÍSA — Dizem tanta coisa de você, Abelardo...
ABELARDO I — Já sei... Os degraus do crime... que desci corajosamente. Sob o silêncio comprado dos jornais e a cegueira da justiça de minha classe! Os espectros do passado... Os homens que traí e assassinei. As mulheres que deixei. Os suicidados... […]
HELOÍSA — O pânico...
ABELARDO I — Por que não? O pânico do café. Com dinheiro inglês comprei café na porta das fazendas desesperadas. De posse de segredos governamentais, joguei duro e certo no café-papel! Amontoei ruínas de um lado e ouro do outro! Mas há o trabalho construtivo, a indústria... Calculei ante a regressão parcial que a crise provocou... Descobri e incentivei a regressão, a volta à vela... sob o signo do capital americano.
HELOÍSA — Ficaste o Rei da Vela!
ABELARDO I — Com muita honra! O Rei da Vela miserável dos agonizantes. […] As empresas elétricas fecharam com a crise... Ninguém mais pôde pagar o preço da luz... A vela voltou ao mercado pela minha mão previdente. Veja como eu produzo de todos os tamanhos e cores. (Indica o mostruário.) […] Num país medieval como o nosso, quem se atreve a passar os umbrais da eternidade sem uma vela na mão? Herdo um tostão de cada morto nacional!
HELOÍSA (Sonhando.) — Meu pai era o Coronel Belarmino que tinha sete fazendas, aquela casa suntuosa de Higienópolis... ações, automóveis... […]
ABELARDO I — Os velhos senhores da terra que tinham que dar lugar aos novos senhores da terra!
HELOÍSA — No entanto, todos dizem que acabou a época dos senhores e dos latifúndios...
ABELARDO I — Você sabe que o meu caso prova o contrário. Ainda não tenho o número de fazendas que seu pai tinha, mas já possuo uma área cultivada maior que a que ele teve no apogeu. […]
HELOÍSA — Formidável trabalho o seu!
ABELARDO I — Não faça ironia com a sua própria felicidade! Nós dois sabemos que milhares de trabalhadores lutam de sol a sol para nos dar farra e conforto. Com a enxada nas mãos calosas e sujas. Mas eu tenho tanta culpa disso como o papa-níqueis bem colocado que se enche diariamente de moedas. É assim a sociedade em que vivemos. O regímen capitalista que Deus guarde...
ANDRADE, Oswald de. O rei da vela . 8. ed. São Paulo: Globo, 1999. E-book. Localizável em: 1º ato; Menos o intelectual Pinote e Abelardo II. (Obras completas de Oswald de Andrade).
Higienópolis: bairro de elite da cidade de São Paulo. papa-níqueis: trocadilho com “caça-níqueis”, máquina de jogos de azar.
1. b) Abelardo tem no escritório uma reprodução da obra Gioconda (Mona Lisa), o quadro mais famoso de Leonardo da Vinci, o que o caracteriza como apreciador de uma arte europeia requintada; o algarismo romano I que acompanha seu nome mostra que ele se projeta como pertencente à nobreza e também aponta para a sucessão dele na sua posição de privilégio; isso tudo o aproxima da Europa, onde a monarquia fazia – e ainda faz, em certos países – parte dos sistemas de governo; ao mesmo tempo, ele adota em suas práticas como
2. b) Ele aponta a mentalidade atrasada do país, a regressão com o fechamento das companhias elétricas (“ninguém mais pôde pagar o preço da luz”) e o excesso de religiosidade (já que ninguém se atreveria a morrer sem uma vela na mão), motivo que fez dele o rei da vela. comente com os estudantes que, no início do século XX, as pessoas punham velas nas mãos dos moribundos.
empresário os mesmos modos arcaicos de exploração, transpostos também para a indústria, mas sem perder de vista o latifúndio.
1. Leia, a seguir, um trecho que apresenta o contexto social do Brasil nas primeiras décadas do século XX. Não sendo apenas agrária, mas também bancária, industrial e, acima de tudo, comercial, a nova burguesia cafeeira comandou a política do país até o final dos anos 1920. Foi ela que renovou a velha indefinição burguesa ao se opor apenas culturalmente ao arcaísmo: circulava pelo mundo da alta cultura europeia enquanto impedia no país a divisão social do trabalho. […]
[…] O preço, como se sabe, foi pago na crise de 1929. […] O pensamento social e estético dos escritores paulistas veio a se formar no meio desses dois modos burgueses, em face da crença de que seria possível conduzir o latifúndio à modernidade, conjugar expectativas de vanguarda cultural com a permanência de estruturas sociais ligadas ao café.
CARVALHO, Sérgio de. O drama impossível: o teatro modernista de Antônio de Alcântara Machado, Oswald de Andrade e Mário de Andrade. São Paulo: Edições Sesc, 2023. p. 31-32.
a) De acordo com o trecho, a burguesia brasileira dos anos 1920 apresentava dois modos de se posicionar perante a sociedade. Que modos seriam esses?
Por um lado, opunha-se ao arcaísmo cultural da sociedade; por outro, mantinha os arcaísmos sociais na divisão do trabalho.
b) Por que Abelardo I pode ser considerado um representante dessa burguesia?
2. A crise da Bolsa de Nova York, em 1929, resultou em uma grave recessão econômica mundial, levando à redução drástica da demanda global por produtos como o café brasileiro. Em consequência, surgiram no Brasil grandes estoques excedentes de café, acarretando a queda nos preços e profundas dificuldades econômicas para os produtores, o que levou ao declínio da elite cafeeira e à ascensão de uma elite industrial no país.
a) Como a cena caracteriza a elite cafeeira e a elite industrial do Brasil? Copie o organizador a seguir no caderno e complete-o.
Vivia entre ressacas, preguiças, aventuras, cinismo e indiferença aos sofrimentos humanos.
Elite cafeeira
Elite industrial
Era inescrupulosa e gananciosa.
b) Abelardo I, em uma de suas falas, menciona que o Brasil seria um país medieval. Que crítica ele faz ao Brasil nessa fala?
3. a) Essa burguesia se aproveita do declínio do café, compra o produto por valores irrisórios e o renegocia para lucrar. Além disso, aproveita-se da crise geral, como o fechamento das
3. A nova elite industrial que assumia o controle econômico do Brasil coloca no poder a burguesia, em definitivo.
empresas elétricas, para alcançar maiores vendas de produtos industrializados, como as velas.
a) De acordo com a cena, o que faz com que essa burguesia assuma o poder no lugar da elite agrária?
b) Para ascender economicamente, essa burguesia rompe com princípios morais e éticos e obtém lucro a qualquer custo. No caderno, copie do texto um trecho em que seja possível identificar essa postura.
O texto teatral, como qualquer obra literária, dialoga com o contexto histórico e social em que é produzido, refletindo sobre valores, conflitos e transformações da sociedade. As diferentes montagens podem atualizar um texto teatral capturando as mudanças culturais e históricas e oferecendo ao público uma forma de compreender e criticar o mundo em que vive.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
3. b) Sugestão de resposta: “Rei da Vela miserável dos agonizantes. […] As empresas elétricas fecharam com a crise... Ninguém mais pôde pagar o preço da luz... A vela voltou ao mercado pela minha mão previdente. Veja como eu produzo de todos os tamanhos e cores. (Indica o mostruário.) […] Num país medieval como o nosso, quem se atreve a passar os umbrais da eternidade sem uma vela na mão? Herdo um tostão de cada morto nacional”. Professor, avalie outras possibilidades de resposta. Peça aos estudantes que justifiquem suas escolhas.
4. Para ascender ao poder, Abelardo I, integrante da burguesia industrial, conta com a cumplicidade de vários setores da sociedade para enriquecer.
a) Quem é cúmplice desse comportamento questionável de Abelardo I?
A mídia e os demais burgueses, que são cegos a quaisquer desvios morais éticos ou legais.
b) Emb ora Heloísa seja representante da elite agrária decadente, ela demonstra admiração por Abelardo I. O que essa admiração revela sobre Heloísa e sua classe?
A admiração pelo comportamento desprezível, explorador e cínico de Abelardo I revela que, para a elite agrária, o que importava era continuar fazendo parte dela, ainda que os métodos para isso não fossem éticos; ao contrário, a aceitação desses métodos, sem acanhamento, por parte de Heloísa, sugere que, para essa elite agrária, o comportamento antiético também era corriqueiro e até louvável.
5. A peça de Oswald de Andrade, assim como grande parte de sua obra, recorre ao humor e à sátira para apresentar visões críticas da sociedade.
a) Que elementos da cena contêm uma visão satírica?
A visão satírica se dá justamente pelo elogio e pela exaltação feitos a Abelardo I, quando, na verdade, seu comportamento seria motivo de crítica e condenação.
b) De que maneira o título da peça revela uma grande ironia para a sociedade brasileira? Indique, no caderno, a afirmativa verdadeira.
Resposta: afirmativa I
I. O t ítulo O rei da vela é irônico, pois Abelardo I não é, de fato, um rei, é apenas um empresário inescrupuloso, que ganhou dinheiro se aproveitando de fazendeiros falidos, vendendo velas que servem, sobretudo, para ser colocadas na mão dos moribundos.
II. A ironia se dá ao associar um título de nobreza antigo ao universo agrário, pois seria mais apropriado adot á-lo depois de sua ascensão como empresário em ambiente urbano.
III. A ironia se refere à adoção de um título justamente em um momento em que a realeza está em decadência tanto na Europa quanto no Brasil, já que aqui ela se ligava ao universo de exploração do café, em declínio desde a crise da Bolsa de Nova York, em 1929.
6. Leia, a seguir, a descrição do cenário que consta no primeiro ato da peça.
Em São Paulo. Escritório de usura de Abelardo & Abelardo. Um retrato da Gioconda. Caixas amontoadas. Um divã futurista. Uma secretária Luís XV. Um castiçal de latão. Um telefone. Sinal de alarma. Um mostruário de velas de todos os tamanhos e de todas as cores. Porta enorme de ferro à direita correndo sobre rodas horizontalmente e deixando ver no interior as grades de uma jaula. O Prontuário, peça de gavetas, com os seguintes rótulos: MALANDROS – IMPONTUAIS – PRONTOS – PROTESTADOS. Na outra divisão: PENHORAS – LIQUIDAÇÕES – SUICÍDIOS – TANGAS.
Pela ampla janela entra o barulho da manhã na cidade e sai o das máquinas de escrever da antessala.
a) Essa descrição indica que a encenação da peça deve dar um tom mais realista ou mais satírico às cenas? Explique.
A presença de móveis de elite (divã, secretária Luís XV, castiçal) contrasta com a presença de uma jaula,
o que confere um tom satírico à peça. A descrição dos prontuários também revela uma classificação satírica dos devedores.
b) De que forma as falas de Abelardo I e Heloísa dialogam com esse cenário?
As falas são confissões exageradas e caricatas do comportamento das personagens; elas dialogam com o cenário, que faz referência aos explorados por Abelardo I, sob a forma do prontuário dos devedores e, provavelmente, da jaula.
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A primeira encenação de O rei da vela ocorreu no Teatro Oficina em 1967, sob a direção do paulista José Celso Martinez Corrêa, e marcou profundamente o teatro brasileiro. A montagem inovadora e irreverente do grupo rompeu com as convenções tradicionais, incorporando elementos do tropicalismo e utilizando uma linguagem cênica radical, que mesclava teatro, música e uma estética carnavalesca. Essa encenação não só revitalizou a obra de Oswald de Andrade como também consolidou o Teatro Oficina como um dos grupos mais vanguardistas e influentes da cena teatral brasileira, desafiando normas e provocando reflexões importantes sobre a sociedade.
Primeira encenação de O rei da vela, Teatro Oficina, São Paulo (SP), 1967.
A seguir, você vai ler algumas falas da peça Eva: a propósito de uma menina original (1915), do escritor e jornalista carioca João do Rio (1881-1921), ambientada em uma fazenda de café no interior do estado de São Paulo. Hospedadas na fazenda, as personagens orbitam em torno da jovem Eva, cujo comportamento julgam subversivo e independente demais. O conflito que constrange as personagens é o desaparecimento de uma joia da anfitriã, Madame Adalgisa Prates. Destaca-se o personagem Godofredo de Alencar, jornalista que se aproveita desse ambiente de frivolidades, mas o ridiculariza com sua fina ironia.
Não é verdade? Estamos numa fazenda. Qual a ideia geral de uma fazenda? Florestas, culturas; vida primitiva, simples, retirada da cidade. Esta está a quarenta minutos de Ribeirão Preto, cidade que tem cafés cantantes com chanteuses, todas do Capucines, das Folies Bergères, do Moulin Rouge, apesar de nunca se terem perdido por lá. É ou não um choque nas nossas ideias? Há mais, porém. Só o nome de fazenda faz-nos pensar em negros no eito, em amplas feijoadas, leitões assados, a absoluta falta de conforto na fartura imensa. Cá os trabalhadores, em vez de pretos, são italianos visitados pelo cônsul e defendidos (per Dio Santo!) pelo patronato geral dos agricultores. E quanto ao resto, os cardápios são à francesa, há eletricidade, telefone, aparelho de duchas… Pensava ver o fazendeiro falando mole, mas feito de aço. Encontro os Souza Prates, condes do Vaticano como quase todos os jornalistas do Rio, e recebendo os amigos com a elegância de castelões franceses recentemente fidalgos. É inverossímil. (pasmo)
Sra. Azambuja
Opiniões de artista à procura da cor local… Olhe, eu, se fosse uma velha fazenda à antiga, não teria vindo…
Godofredo (enérgico)
Nem eu, é claro.
Sra. Azambuja
Que blagueur!
Godofredo (descalçando as luvas)
O que não me impede de protestar em nome da tradição. Madame Azambuja, somos tristemente desarraigados, des deracinés, ma très chère amie… As viagens perderam-nos, obrigando-nos a representar Paris na roça…
Sra. Azambuja
E felizmente também a roça em Paris, grande pedante!
RIO, João do. Eva: a propósito de uma menina original. Rio de Janeiro: Villas Boas & C., [1915]. p. 15-16. Disponível em: https://digital.bbm.usp.br/view/?45000008022&bbm/2534#page/20/mode/2up. Acesso em: 19 set. 2024.
chanteuses: (do francês) cantoras.
Capucines: avenida de Paris com lojas refinadas, teatros e restaurantes.
Folies Bergères: famoso cabaré de Paris.
Moulin Rouge: famoso cabaré de Paris.
per Dio Santo: (do italiano) por santo Deus.
blagueur: (do francês) brincalhão, irônico.
des deracinés, ma très chère amie: (do francês) gente desenraizada, meu querido amigo. pedante: exibido, ostentador.
7. a) A imagem de uma fazenda imaginária, primitiva, simples e ainda com trabalho escravo de negros; e outra de uma fazenda que reproduz tecnologias e luxo vindos de Paris e que tem como trabalhadores imigrantes da Itália.
7. b) Critica-se a descaracterização do ambiente rural, que tenta copiar Paris sem conseguir, seja porque muitos nunca foram para lá, seja por não terem sucesso nessa atividade de imitação da capital francesa.
7. A f azenda de café no interior de São Paulo, cenário da peça, destaca-se nas falas das personagens.
a) Que imagens o personagem Godofredo apresenta do ambiente rural da elite do café?
b) Essas imagens apresentam um tom de crítica a esse ambiente rural. Qual é a crítica?
c) De que forma o pedantismo da elite cafeeira se revela em sua linguagem?
No trecho, as personagens não hesitam em utilizar vários termos e frases em francês, e até uma expressão em italiano, apesar de estarem entre falantes de português no interior de São Paulo. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
O roteiro teatral ainda recorre a elementos tradicionais, como nos trechos que você leu. No entanto, também permite releituras e inovações em novas montagens, inspirando novas abordagens.
O teatro também dialoga com outras linguagens, como música, dança, mímica e recursos que a tecnologia disponibiliza, como projeções e lives, frequentemente presentes em produções contemporâneas e que podem estar previstas nos roteiros teatrais.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
O teatro de revista – como o próprio nome “revista” indica – é um gênero circunstancial, efêmero, de revisão de acontecimentos recentes, uma retrospectiva. Trata-se de um tipo de espetáculo leve e musical que aborda esses acontecimentos por meio do humor. De origem francesa, o teatro de revista tem uma forte conotação crítica e política, buscando alcançar um público maior e o mais diverso possível. Ele ri de si mesmo, dos eventos de seu entorno e da sociedade, o que o torna rico e relevante, pois fornece um panorama do que acontece na sociedade em quadros diversos, nem sempre coesos, mas que recorrem ao humor e ao entretenimento para estabelecer uma interação com o público.
A atividade do teatro de revista floresceu no Brasil na transição entre os séculos XIX e XX, especialmente no Rio de Janeiro. Na década de 1920, a Companhia Nacional de Revistas e Burletas trouxe novas influências, como o jazz e as danças modernas. Grandes grupos, como a Companhia teatral Ba-Ta-Clan e a Companhia de Revistas Margarida Max, marcaram essa fase com uma combinação de quadros cômicos, crítica política e números musicais, equilibrando elementos de crítica com diversão.
Agora é com você! A lógica do teatro de revista, estruturado em quadros, com humor, música, dança e um diálogo com acontecimentos da atualidade, ainda influencia algumas produções contemporâneas. Pesquise programas de TV, canais de vídeos, podcasts ou perfis de redes sociais que produzam conteúdos que sigam essa lógica. Depois, discuta com os colegas as questões a seguir.
1. De que forma a narrativa em quadros curtos possibilita maior variedade de discussões?
2. Q ue influência o humor pode ter sobre o espectador dessas produções para a discussão de temas contemporâneos?
3. D e que forma a música e a dança podem atuar para ampliar o público dessas produções?
Companhia de teatro de revista Walter Pinto. Teatro Recreio, Rio de Janeiro (RJ), 1933.
Professor, o objetivo dessas propostas é incentivar nos estudantes um olhar crítico sobre os conteúdos que consomem, deixando de lado uma postura passiva, de mero espectador, e dando-se conta dos diversos aspectos envolvidos além do entretenimento.
Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Fotografia de 2017.
O teatro da Belle Époque , produzido entre o final do século XIX e o início do XX, foi culturalmente influenciado pela Europa, em especial pela França. Nessa época, as grandes cidades brasileiras viram a construção de teatros luxuosos, como o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, inaugurado em 1909, que se tornaram centros de cultura e lazer para a elite urbana. O repertório incluía produções nacionais e adaptações de obras europeias, destacando-se as comédias de costumes e operetas. Surgiram figuras importantes, como o escritor e dramaturgo maranhense Artur Azevedo (1855-1908), que, com suas comédias, ajudou a consolidar o teatro brasileiro. Esse período viu também o início da profissionalização do teatro no país.
Anna Denzler, bailarina do grupo de Isadora Duncan, dança em uma praia. Fotografia de 1921.
No início do século XX, a música e a dança viveram uma intensa experimentação e influência da cultura popular. A turnê da bailarina estadunidense Isadora Duncan (1877-1927) pelo Brasil, em 1916, trouxe a dança moderna ao público brasileiro e inspirou artistas locais com seus movimentos fluidos e expressivos. Paralelamente, novos ritmos populares, como o samba, o maxixe e o choro, ganharam destaque, integrando-se às produções teatrais, como a opereta burlesca Zizinha Maxixe (1895) com composições da carioca Chiquinha Gonzaga (1847-1935). O teatro de revista recorria à música e à dança, para, por meio da comédia, passar em revista os principais acontecimentos do ano com humor. Grupos como Pixinguinha e os Oito Batutas foram pioneiros em levar o samba e o choro aos teatros, encantando com suas apresentações vibrantes e inovadoras, embora fossem mais reconhecidos na Europa do que no Brasil.
O teatro se moderniza
Entre o final do século XIX e começo do século XX, as peças Ubu Rei (1896), do dramaturgo francês Alfred Jarry (1873-1907), e Seis personagens em busca de um autor (1921), do italiano Luigi Pirandello (1867-1936), romperam com as convenções teatrais de suas épocas, desafiando as normas do Realismo e do Naturalismo. Ubu Rei é um dos marcos do teatro moderno, antecipando elementos do teatro do absurdo. A peça Seis personagens em busca de um autor introduziu o metateatro, questionando a relação entre realidade, ficção e a natureza da identidade. Essas peças expandiram as possibilidades do teatro, permitiram uma reflexão sobre a condição humana e a arte da performance.
No bairro do Brás, em São Paulo, onde se instalaram diversos imigrantes italianos, peças eram produzidas e encenadas com finalidade política. Uma das mais notáveis foi O primeiro de maio, do italiano Pietro Gori (1865-1911), traduzida para o português e apresentada pela primeira vez em 1906. O sucesso dessa peça inspirou a criação de outras e o surgimento de companhias de teatro e centros culturais para operários imigrantes, como o Grupo de Teatro Social e o Theatro Oberdan. O escritor paulista Afonso Schmidt (1890-1964) escreveu, em 1921, o drama lírico Ao relento (1922), fantasia social em um ato, em versos, publicado no jornal A Vanguarda, de São Paulo. Outro exemplo é O pecado de Simonia (1920), do poeta, escritor, jornalista e advogado português Neno Vasco (1878-1920), que estava radicado no Brasil.
No início do século XX, a dramaturgia brasileira testemunhou muitas experiências. A comédia de costumes persistia, mas novos recursos cênicos, orientados pelas vanguardas artísticas, começavam a influenciar produções brasileiras. Nas duas primeiras décadas, alguns autores começaram a explorar novas formas que refletissem as crises e aspirações da sociedade brasileira, buscando romper com as tradições estabelecidas e escrevendo textos teatrais que criticavam as estruturas sociais burguesas.
As obras de João do Rio, nas primeiras décadas do século XX, como A bela madame Vargas (1912) e Eva: a propósito de uma menina original, ainda refletiam muitos aspectos da comédia de costumes do século anterior, mas já apresentavam uma visão crítica influenciada pelos discursos vindos da Europa. As experiências de escritores como Mário de Andrade, Oswald de Andrade e o dramaturgo paulista Oduvaldo Vianna (1892-1972) refletiam essas contradições.
O teatro modernista foi concebido como uma reflexão sobre o próprio teatro, enfrentando o desafio de superar os padrões burgueses e valorizar aspectos culturais tipicamente brasileiros em um cenário que se consolidava cada vez mais urbano. Peças como O homem e o cavalo (1934), A morta (1937) e O rei da vela, de Oswald de Andrade, Café (1942), de Mário de Andrade, e Terra natal (1920) e A vida é sonho (1921), de Oduvaldo Vianna, representam bem esses desafios do contexto de transição da elite agrária para a industrial, em que diferentes vozes começavam a ganhar espaço nos palcos, em uma sociedade cada vez mais diversa.
O teatro contemporâneo ecoa essas vozes de transição e reivindica para si espaço para que discursos que foram calados possam, enfim, aparecer. Na peça Makunaimã, que abre a unidade, personagens representantes de grupos minorizados chegam a interagir com Mário de Andrade para que suas vozes possam finalmente ser ouvidas.
A leitura do roteiro e a montagem do espetáculo
É no palco que um roteiro de teatro realiza seu propósito, mas a leitura prévia do texto teatral é de fundamental importância para todos os envolvidos na produção de um espetáculo.
A discussão do roteiro pode dar a todos uma visão do conjunto das exigências da peça, pois permite uma troca de ideias entre a equipe envolvida na montagem, o que favorece a colaboração entre profissionais. Quem ganha com isso é o espetáculo – que se torna mais coeso, mais harmônico – e, claro, o público.
A leitura permite ao diretor pensar nas cenas e propor eventuais mudanças, ênfases e ajustes. O olhar do diretor pode orientar o do iluminador, que vai pensar nas luzes do palco conforme a densidade dramática e para o que se quer chamar a atenção do espectador. O cenógrafo, durante a leitura, pode dizer se uma cena é possível ou não conforme o previsto nas rubricas, os ajustes ou as adaptações que pensa em fazer. A lista de importantes cenógrafos da história do teatro brasileiro inclui, entre outros, os nomes de Gianni Ratto (1916-2005), Darcy Penteado (1926-1987) e Tomás Santa Rosa.
#SOBRE
Autodidata, Tomás Santa Rosa (19091956) foi cenógrafo, artista gráfico, ilustrador, pintor, gravador, professor, decorador, figurinista e crítico de arte. Ele nasceu em João Pessoa (PB), onde viveu até a adolescência, tendo também trabalhado como contador. Mudou-se para Salvador (BA) e logo após para Maceió (AL), onde participou do movimento intelectual local. Tornou-se famoso em meados do século XX, época em que assinava com as iniciais SR as ilustrações das capas de alguns dos escritores mais importantes da sua geração.
Para os atores, a leitura é fundamental, tanto a prévia e individual, para a preparação das personagens, quanto a coletiva, que permite a troca de ideias entre os atores para a composição das personagens, de suas motivações, conflitos mais profundos e nuances. Isso vai possibilitar que os atores ajustem um modo de atuação, modulem gestos, expressões faciais, corporais, modos de dizer, elementos dos quais pode depender o poder de convencimento ou a verossimilhança de uma peça quando realizada no palco.
Essa discussão também é importante para o figurinista, que vai organizar um guarda-roupa considerando não só as características das personagens, mas a intencionalidade do espetáculo como um todo, o que torna fundamental a participação do diretor e do produtor na etapa da leitura. Do mesmo modo, a leitura é fundamental para o responsável pela sonoplastia, que poderá ter maior clareza das necessidades da peça ao longo da representação. Assim, ler um roteiro, além de permitir um conhecimento mais consistente do enredo, orienta toda a equipe na realização do espetáculo.
Para discutir
Não escreva no livro. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
1. Reúna-se com cinco colegas e escolha com eles uma cena que vocês leram nesta unidade. Em uma aula combinada com o professor, organizem-se para fazer a leitura como se fossem montar o espetáculo. Vocês podem ou não definir funções, e cada integrante do grupo pode pensar em um aspecto específico: direção, atuação, iluminação, cenografia, sonoplastia, figurinos; ou todos podem pensar esses aspectos em conjunto. Anotem as ideias e, sob a orientação do professor, compartilhem com a turma o que projetaram para a encenação.
A cenografia é fundamental para o teatro, pois estabelece o ambiente visual em que a ação se desenrola. Ela cria o ambiente físico que ajuda a transportar o público para o mundo da peça, oferecendo pistas visuais sobre o tempo, o lugar e o tom da história. Além de contribuir para a atmosfera geral, a cenografia também ajuda os atores a se orientarem no espaço e interagirem com o ambiente de maneira convincente. Uma cenografia bem planejada pode intensificar o impacto emocional de uma cena, ajudando a evocar sentimentos específicos e a sublinhar temas importantes da peça.
Nos roteiros teatrais, as indicações cenográficas podem ser descritas em detalhes pelo dramaturgo, orientando a interpretação e a visualização do cenário por parte do espectador da montagem. Quando isso ocorre, as indicações frequentemente incluem descrições de móveis, adereços, iluminação e até cores predominantes, oferecendo uma visão clara do ambiente desejado. Termos como luxuoso, desgastado ou sombrio ajudam a definir a estética e o tom do cenário. Além disso, as indicações cenográficas orientam as transições de cena e as mudanças de ambiente, o que é crucial para manter o ritmo da peça. A interação entre os atores e o cenário, guiada por essas descrições, enriquece a interpretação, permitindo que os elementos visuais e a performance dos atores se combinem para criar uma experiência teatral coesa e imersiva.
1. Forme uma dupla e pesquise cenários que foram laureados em premiações como Prêmio Shell e APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte).
2. Esses cenários agregam elementos inovadores? Quais?
3. Como esses cenários podem ter contribuído para ampliar as possibilidades de construção de sentidos das peças?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
O teatro como lugar da ação
Em algumas obras literárias, a ação se desenvolve em um teatro. Por exemplo, o conto “Tema do traidor e do herói”, do escritor argentino Jorge Luis Borges (1899-1986), inicia-se com o assassinato do líder de um grupo de rebeldes irlandeses que luta pela independência de seu país em relação à Inglaterra. O assassinato ocorre dentro de um teatro, assim como acontecera com o presidente estadunidense Abraham Lincoln (1809-1865). Décadas depois desse episódio, outra personagem, considerando suspeito que os dois assassinatos tivessem ocorrido em um
Fotografia do autor em 1983. teatro, resolve investigar o caso e descobre uma história bem diferente. Na verdade, os rebeldes haviam descoberto que seu líder se tornara um traidor, mas, para não desacreditar o movimento, simulam que ele havia sido assassinado em circunstâncias trágicas e grandiosas, como Abraham Lincoln, para transformá-lo em herói do movimento rebelde. Portanto, convém ficar atento diante de episódios em que a ação literária transcorre em um teatro. Isso pode ser um indício plantado pelo narrador para provocar a desconfiança do leitor.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Nesta unidade, você conheceu um pouco mais sobre o teatro nacional e leu roteiros de algumas peças importantes da dramaturgia brasileira. Além do teatro, outras produções artísticas recorrem a roteiros para estruturar uma narrativa que será depois transformada em um produto audiovisual: filme, série, novela, documentário etc. A seguir, você lerá o roteiro de um documentário nacional e conhecerá mais sobre as especificidades desse gênero audiovisual.
Para discutir
Respostas pessoais. Professor, em relação à atividade 1, é interessante fazer um levantamento das profissões mencionadas e anotar os resultados no quadro. Na atividade 3, discuta com a turma a importância da dedicação e da gestão dos planos de futuro pautada na realidade e nas possibilidades concretas.
Você já deve ter pensado em seu futuro e nas possibilidades que pode ter com relação à profissão e às formas de obter renda. Antes de iniciar uma reflexão mais ampla, responda às questões.
1 Você deseja trabalhar em qual profissão?
2 Como você avalia as possibilidades de realizar esse desejo?
3 Que ações dependem de você para que esse sonho se realize?
4 A realização desse sonho depende da ação de outras pessoas ou instituições? Qual ou quais?
Você vai ler a seguir a transcrição de algumas cenas do documentário Nunca me sonharam, do cineasta paranaense Cacau Rhoden, lançado em 2017 em plataformas on-line. Leia a transcrição das cenas para responder às atividades.
6’50
Milena Lisboa, 17 anos (Serra-ES) Eu não sei mais o que eu quero fazer da vida. Eu gosto de muita coisa e eu quero fazer muita coisa e eu não sei por onde começar.
Frame do documentário
Nunca me sonharam.
Daniel de Moraes, 16 anos (Porto Alegre-RS) Qualquer decisão que eu vou tomar na minha vida demoro horas para decidir, e às vezes decido, porque eu não consigo é muita inseg... é muita indecisão para uma pessoa só.
Jamile Melo, 17 anos (Santarém-PA) Eu acho que hoje tá faltando [um] pouquinho no jovem de hoje ser mais objetivo, porque o jovem, ah, diz, ah, que eu quero fazer aquilo... não, não quero mais fazer aquilo.
[…]
Eu sempre quis fazer decoração, só que como... já quero fazer direito. Pensei em fazer educação física, depois biologia, depois economia, jornalismo.
Regina Novaes (antropóloga) Tá muito em jogo a experimentação, a possibilidade de experimentar. Correr risco faz parte da juventude, né? Faz parte desse tempo da vida, desse ciclo da vida.
Ricardo Henriques (economista) É um espaço […] de uma intensidade muito grande, que tá sempre à beira de uma ruptura, né? E é óbvio que você vive a intensidade da ruptura muito mais do que efetivamente a ruptura se dá, em geral.
Gersem Baniwa (professor indígena) não existe rito de passagem entre os indígenas e particularmente os baniwas sem, por exemplo, sofrimento, sem dor, porque entende que esta é necessária para encarar a vida. O Ensino Médio como tal, no mundo do branco, é... na minha avaliação, é basicamente um rito de passagem.
[…] 10’20
Marcus Faustini (diretor teatral, escritor, cineasta) Eles não querem mais ser o outro, até mesmo quando a gente pergunta pro jovem: ‘qual é o seu futuro?’ você tá tratando ele como se ele não tivesse presente no que a gente tá construindo ali. Então eu vejo uma imensa vontade de reivindicação, de participar do agora.
[…]
Esse jovem, eu acredito que ele pode reinventar algo além, que ele tá livre pra poder reinventar sua narrativa, pra andar pela cidade, pra inventar um lugar. Deixem os jovens inventarem o mundo.
Regina Novaes (antropóloga) Podemos dizer que os jovens brasileiros têm a mesma oportunidade? Claro que não! Então a gente vai falar sempre em juventudes. Então existem juventudes brasileiras.
André Luís Barroso (C.E. Prof. José de Souza Marques, Brás de Pina / Rio de Janeiro-RJ) O jovem pode sonhar, mas qual jovem que pode sonhar? Qual jovem que tem capacidade, tem
tempo: tempo pra sonhar. Acordar e falar assim: ‘hoje eu vou fazer isso’. Não, não, hoje a vida tá dada pra ele, é acordar, atravessar o Rio e vir pra escola.
15’15
Alison Ribeiro, 18 anos (Santarém-PA) É meio difícil né, 18 anos, segundo ano, tentando terminar, correndo atrás de emprego, e sendo que eles pedem currículo adoidado e a gente não sabe o que oferecer. Aí a gente tem que correr atrás de cursinho e dinheiro que falta. Então é meio difícil dizer o que a gente vai ser. É tipo... jogado à sorte.
19’00
Lucas Mendes, 18 anos (Belém-PA) Porque não só eu, como todo mundo aqui, pretende ser alguém na vida.
Mateus de Brito, 16 anos (Cocal dos Alves-PI) Não querem emprego como seus pais tiveram, porque é uma vida muito sofrida a vida das pessoas daqui, pessoas humildes.
Daniel de Moraes, 16 anos (Porto Alegre-RS) Ai, vô ser muito rico, vou ter uma casa maravilhosa, criar meus filhos, vou ter uma piscina, vou ir pra Las Vegas. Vou ter uma piscina com meu nome escrito embaixo. Ai, muitos sonhos... Isso é bom, é prazer. Mas pensar em como é que eu vou chegar lá já não é tão legal. Que eu sei que vai ser difícil.
Ana Luisa Nunes, 15 anos (Juazeiro do Norte-CE) Tem que se esforçar muito, né? E estudar pra ver se consegue alguma coisa.
Jaqueline Rosa, 17 anos (Belém-PA) Tenho medo de não realizar meus desejos. Tenho medo de não realizar meus sonhos.
30’55
Felipe de Lima, 17 anos (Nova Olinda-CE) Como meus pais não foram bem-sucedidos na vida, eles também não me influenciavam, não me davam forças pra estudar. Achavam que quem entrava na universidade era filho de rico. Acho que eles não acreditavam que um pobre também pudesse ter conhecimento, que pudesse ser inteligente, sabe? Pra eles o máximo era terminar o Ensino Médio e arrumar um emprego, trabalhar de roça, vendedor, alguma coisa do tipo. Acho que nunca me sonharam sendo um psicólogo, nunca me sonharam sendo um professor, nunca me sonharam sendo um médico. Eles não sonhavam, não me ensinaram a sonhar, eu aprendi a sonhar sozinho. Tô aprendendo a viver também praticamente só.
Transcrito de: NUNCA me sonharam. Direção: Cacau Rhoden. Brasil: Maria Farinha Filmes, 2017. Streaming (80 min). Disponível em: https://mff.com.br/filmes/nunca-me-sonharam. Acesso em: 16 out. 2024.
1.
O documentário Nunca me sonharam foi lançado em 2017, quando se discutia a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ensino Médio, que modificou a organização curricular desse nível de ensino. Em 2017 e nos anos anteriores, os dados sobre a educação do Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) mostravam uma necessidade de mudança na educação nacional. Observe os mapas sobre a evasão escolar no Ensino Médio de 2007 até 2014, pouco antes da realização do documentário.
a) Q ual informação sobre a evasão escolar no Ensino Médio pode ser extraída desses mapas?
b) Que razões podem justificar esse tipo de evasão?
– Ensino
VENEZUELA
GUIANA FRANCESA (FRA)
COLÔMBIA PERU
GUIANA
1. a) A informação de que, mesmo tendo havido melhora, a evasão do Ensino Médio ainda é muito alta, variando em grande parte do Brasil entre 5% e 20%.
CHILE
De 0,0 a 2,5%
De 2,6 a 5,0%
De 5,1 a 10,0%
De 10,1 a 20,0%
De 20,1 a 100,0%
Sem informação
Limite estadual Fronteira
VENEZUELA
COLÔMBIA
Equador
PARAGUAI
ARGENTINA
URUGUAI
SURINAME GUIANA
Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Indicadores de fluxo escolar da educação básica. Brasília, DF: Inep, jun. 2017. Localizável em: p. 13 do pdf. Disponível em: http://download.inep.gov.br/educacao_basica/ censo_escolar/apresentacao/2017/apresentacao_ indicadores_de_fluxo_escolar_da_educacao_ basica.pdf. Acesso em: 19 set. 2024.
PERU
CHILE
De 0,0 a 2,5%
De 2,6 a 5,0%
De 5,1 a 10,0%
De 10,1 a 20,0%
De 20,1 a 100,0% Sem
Limite estadual
Fronteira
PARAGUAI
ARGENTINA
URUGUAI GUIANA FRANCESA (FRA)
Trópico de Capricórnio 50° O
1. b) Espera-se que os estudantes citem questões financeiras, necessidade de trabalhar, desinteresse pelo que é ensinado. Há também a ideia de que o Ensino Médio pouco pode contribuir para determinadas profissões e a melhora de condições sociais por parte da população.
O gráfico a seguir reproduz dados de 2018 do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) e da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Ele é considerado um dos mais importantes rankings mundiais de educação. Este gráfico apresenta dados sobre o nível de leitura dos estudantes de vários países.
Percentual de estudantes por nível de proficiência nos países selecionados – Leitura – Pisa 2018
REPRODUÇÃO/INEP/MEC, 2020
Fonte: BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Brasil no Pisa 2018 Brasília, DF: Inep, 2020. Localizável em: gráfico 4, p. 78. Disponível em: https:// download.inep.gov.br/ publicacoes/institucionais/ avaliacoes_e_exames_da_ educacao_basica/relatorio_ brasil_no_pisa_2018.pdf. Acesso em: 19 set. 2024.
1. c) Os dados mostram que 50% dos jovens brasileiros não tinham o nível de leitura mínimo para garantir plenamente sua cidadania.
c) De acordo com o Pisa, somente atingindo nível mínimo 2 em leitura, um jovem pode exercer plenamente sua cidadania. O que os dados revelam sobre a educação nacional na época em que o documentário estava sendo lançado?
1. d) Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes reconheçam que, diante de um cenário com grande defasagem de aprendizagem e alta evasão, faz-se
d) Esses dados justificariam a necessidade de uma mudança na educação brasileira? Por quê?
necessária uma mudança na educação para sua melhora e padronização.
2. Todo filme, para ser realizado, precisa de financiamento. Diferentemente de um livro, que pode ser escrito e lançado em plataformas digitais, um documentário de longa-metragem possui dezenas ou centenas de profissionais envolvidos em sua produção, o que inclui diretor, atores e roteiristas, cenografistas, câmeras, continuístas, editores, motoristas etc. Nunca me sonharam é um documentário que foi financiado pelo Instituto Unibanco, responsável pelo programa Jovem de Futuro. Leia, a seguir, informações sobre o programa.
O Jovem de Futuro, por meio de parceria com as secretarias estaduais de Educação, oferece diferentes instrumentos que dão suporte ao trabalho de gestão das escolas e das redes de ensino, como assessoria técnica, formações, análises de dados e o apoio de sistemas tecnológicos especialmente desenvolvidos para ele. BELO HORIZONTE. Superintendência Regional de Ensino Metropolitana. Jovem de Futuro. Belo Horizonte: SRE Metropolitana, 12 fev. 2020. Disponível em: https://sremetropa.educacao.mg.gov.br/home/noticias/290-jovem-de-futuro/. Acesso em: 19 set. 2024.
• Além da questão financeira, de que modo uma parceria como essa pode ter favorecido a abrangência do documentário, que entrevistou jovens de oito estados?
Dada a existência do projeto Jovem de Futuro, o documentário pode ter utilizado essa infraestrutura para acessar várias escolas em diferentes lugares do Brasil.
3. A e xibição do documentário Nunca me sonharam ocorreu principalmente em festivais e mostras de cinema. Sua estratégia de divulgação e reprodução dependeu de uma eficiente campanha de divulgação que disponibilizou o filme no site da produtora de forma gratuita, desde que fosse reproduzido em sessões comunitárias e públicas. Em menos de três meses de lançamento, foi reproduzido em mais de 2 6 00 escolas e universidades por todo o Brasil.
4. c) Espera-se que os estudantes percebam a necessidade de uma boa pesquisa prévia, por causa da complexidade do tema, e a construção de um recorte claro do que se quer documentar, bem como dos caminhos possíveis a serem tomados.
3. a) Com essa estratégia, mais pessoas podem assistir ao filme, visto que é gratuito e grande parte das pessoas não tem poder aquisitivo para ir ao cinema.
a) Quais são as vantagens da disponibilização gratuita do filme como estratégia de divulgação?
b) Pode-se afirmar que essa estratégia de divulgação é coerente com o conteúdo do documentário?
Por quê?
O documentário apresenta os problemas relacionados à educação no Brasil, dentre eles, a falta de oportunidades e condições de acesso a uma educação de qualidade. A permissão de reprodução gratuita considera essa deficiência de condições.
4. Para que sejam realizados, os filmes precisam de um roteiro que determine com detalhes não apenas o enredo, com suas falas e rubricas, mas também questões relativas à fotografia, à arte, à sonoplastia etc.
a) S abendo disso, por que é possível inferir que o roteiro de um documentário não tem as mesmas características do roteiro de um filme ficcional?
Porque não tem necessariamente falas e rubricas direcionadas a um ator.
brasileira e, nela, o Ensino Médio; ouvir o jovem do Ensino Médio,
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
b) Para a criação de um roteiro de documentário, a primeira etapa é a construção de um argumento, isto é, um recorte temático do que se pretende documentar, com direcionamentos a serem seguidos. Qual poderia ser o argumento de Nunca me sonharam?
c) Que atividades devem ser desenvolvidas para a criação de um bom argumento para um documentário? Formule uma hipótese com base em seus conhecimentos.
d) O argumento inicial de um documentário com entrevistas é apenas o início da construção de seu roteiro, que não pode ter uma estrutura muito fechada, já que o diálogo com o entrevistado pode levar a caminhos imprevistos. Considerando isso, qual seria a importância da presença do roteirista durante as entrevistas e filmagens que vão compor o documentário?
Além de preparar as perguntas e direcionar a entrevista, o roteirista pode, tendo como base as situações, sugerir novos caminhos, abordagens e tomadas de câmera a serem realizadas.
5. Depois de realizadas todas as entrevistas e filmagens, uma das principais etapas é a montagem do filme, isto é, transformar as centenas de horas de filmagens em um filme coerente e coeso de uma hora e meia.
5. a) Fidelidade ao tema e uma sequência adequada ao cumprimento das intencionalidades do filme. Nele, uma fala deve complementar a outra, seja somando pontos de vista sobre um mesmo aspecto, seja opondo ou Não, pois
uma fala desse continuidade à outra, embora ditas por pessoas
a) O que garante unidade ao documentário?
b) A s primeiras falas transcritas são muito curtas e cortadas. Essa sequência de trechos curtos e dinâmicos gera prejuízos para a narrativa do documentário? Explique.
c) O documentário é dividido em sete partes: “Tempestade e trovão” (sobre adolescência e juventudes); “A chave” (sobre o direito à educação); “Nunca me sonharam” (sobre as consequências dos problemas educacionais na vida dos jovens); “Grades” (sobre o espaço físico das escolas); “Utopia”; “Orquestra”; “Tâmaras” (as três últimas partes trazem casos de sucesso na educação). Os cortes e a montagem dinâmica das falas de pessoas de regiões tão diversas do Brasil ganham maior coerência com essa divisão. Por quê?
Porque têm uma amarra temática. Todas as falas pertencem a um mesmo bloco temático, complementando-se e formando um único discurso que tematiza a educação no Brasil como um todo.
6. A s primeiras falas do trecho são de estudantes do Ensino Médio discutindo suas perspectivas de futuro.
a) O que essas falas têm em comum?
Os três estudantes destacam as indecisões e inseguranças quanto ao futuro. Professor, chame a atenção dos estudantes para o fato de que essas falas formam um todo, dada a proximidade dos pontos de vista enunciados.
b) A s falas de especialistas que analisam o contexto apresentado são fundamentais na construção da linha argumentativa do documentário. Segundo esses analistas, como é possível explicar os conflitos enunciados pelos jovens?
Segundo eles, são problemas característicos da adolescência, uma fase que demanda muitas experimentações e rupturas que ocorrem com muita intensidade. acrescentando outros. É nesse sequenciamento que se desenvolve a argumentação do documentário.
c) O professor Gersem Baniwa traz um novo ponto de vista para a discussão da adolescência ao se referir à cultura dos baniwa. Do ponto de vista dele, por que o Ensino Médio pode ser considerado um rito de passagem?
6. c) Os estudantes devem perceber que, de acordo com os baniwa, a adolescência, sendo a passagem da infância para a vida adulta, se faz com sofrimento e dor. Durante o Ensino Médio,
d) Marcus Faustini propõe que, em vez de estimular o jovem a pensar no futuro, ele fosse incentivado a transformar e vivenciar seu presente. Como ele justifica essa proposta? Você concorda com ele? Acha possível que, pensando no presente, também se pense no futuro? Por quê?
o jovem vive conflitos das mais diversas ordens, o que pode trazer sofrimento, caracterizando-se, assim, como um rito de passagem para o jovem do mundo ocidental.
Em um documentário, pode existir um narrador, que confere um direcionamento narrativo ao filme, conectando as falas e os dados apresentados. Esse direcionamento também pode ser produzido por meio da montagem, com a junção de recortes das falas dos diversos entrevistados, criando um discurso coerente, que dê direção às múltiplas vozes que fazem parte do filme.
6. d) Ao levar os jovens a pensar no futuro, eles deixam de ser tratados como sujeitos do presente, e lhes é negada, inclusive, essa condição de sujeitos. As demais respostas são pessoais. Espera-se que os estudantes reconheçam que uma atuação no presente pode ajudar a pensar no futuro, uma vez que, ao pensar no presente, o jovem pode identificar interesses e aptidões, o que é fundamental para pavimentar o caminho de formação e atuação mais adiante. Professor, estimule um debate entre os estudantes sobre como lidar com o presente já é um pensar no futuro.
8. a) Alison Ribeiro, 18 anos (Santarém-PA): “É meio difícil né, 18 anos, segundo ano, tentando terminar, correndo atrás de emprego, e sendo que eles pedem currículo adoidado e a gente não sabe o que oferecer. Aí a gente tem que correr atrás de cursinho e dinheiro que falta. Então é meio difícil dizer o que a gente vai ser. É tipo... jogado à sorte.”
7. A segunda fala da antropóloga Regina Novaes introduz uma nova temática no documentário: as desigualdades de oportunidade entre os jovens.
a) P ode-se dizer que as falas dos vários estudantes produzem um único discurso. Qual é ele?
O discurso que coloca em conflito as dificuldades financeiras e de oportunidades na vida e o desejo de ter sucesso profissional e financeiro.
b) Q ual aspecto da vida se impõe, de acordo com esse trecho, e impede os jovens de sonhar?
A vida cotidiana e suas adversidades, decorrentes de condições sociais desfavoráveis, como a de André Luís Barroso, cujo sonho é interrompido pela necessidade de, como morador de Brás de Pina, bairro da zona norte do Rio de Janeiro, cruzar a cidade para ir à escola.
8. Uma demanda muito evidente nas últimas falas transcritas é relacionada ao emprego, embora o tema do documentário seja a educação.
8. b) Para os jovens, a educação ainda é o recurso que pode romper com o ciclo de adversidades de suas famílias, pois pode dar acesso a um emprego mais digno.
a) Certas falas colocam a necessidade de emprego como condição para continuar os estudos. Copie, no caderno, uma fala que mostre isso.
b) Que relação os entrevistados estabelecem entre educação e mundo do trabalho?
c) Por que se pode dizer que essa demanda urgente dos jovens por conseguir um emprego se reflete diretamente nos dados sobre educação no Brasil?
Porque essa urgência pode originar os altos números de evasão escolar expressos no mapa da atividade 1.
9. A f ala de Felipe de Lima traz uma expressão que dá nome ao documentário.
a) O verbo sonhar não é um verbo pronominal, isto é, ele não demanda a presença do pronome oblíquo me. Na expressão nunca me sonharam, no entanto, o pronome, utilizado de forma inesperada, produz sentidos potentes para o documentário. Quem seria o sujeito dessa fala quando é dita por Felipe? E qual seria o sujeito dessa frase no título do documentário?
Felipe refere-se a seus pais, que pouco acreditavam na educação. No título, esse sujeito oculto pode se referir a toda a sociedade, prioritariamente o Estado.
b) Por que há necessidade de alguém sonhar pelos jovens além deles mesmos?
10. Nun ca me sonharam foi tema de várias resenhas publicadas em diversas revistas e sites . Leia, a seguir, argumentos de duas delas: a primeira é do jornalista e crítico de artes Alysson Oliveira, e a segunda, do professor de educação e políticas educacionais da Universidade de São Paulo Fernando Cássio.
‘Nunca me sonharam’ é um documentário sobre um assunto sério e relevante. Entretanto, sua estética, sua trilha sonora onipresente, entre outras coisas, o fazem parecer uma espécie de reclame para ser exibido, em partes, no intervalo de algum telejornal do horário nobre.
OLIVEIRA, Alysson. Nunca me sonharam: críticas da imprensa. São Paulo: AdoroCinema, [2017]. Disponível em: www.adorocinema.com/filmes/filme-256496/criticas/imprensa/. Acesso em: 19 set. 2024.
A beleza do filme é um convite para a fruição sensível daquilo que ele enuncia – e, talvez por isso, ao esquecimento das condições dessa enunciação. O historiador Jean-Pierre Albert aponta que ‘o significado de uma mensagem não pode ser estabelecido na ausência de determinados dados de situação, vinculados às modalidades e circunstâncias de sua enunciação’. Com isso em mente, e uma vez que o longa é centrado na mensagem e não nas histórias, o contexto de produção da narrativa assume um novo relevo.
CÁSSIO, Fernando. Nunca me sonharam e o sequestro das histórias. Rio de Janeiro: Anped, 11 set. 2017. Disponível em: https://anped.org.br/1567-news/. Acesso em: 15 out. 2024.
a) O que cada crítica destaca na avaliação do documentário? Considere a especialização dos autores para fazer essa diferenciação.
b) Como a crítica de Alysson Oliveira evidencia, de certa forma, a crítica ao próprio processo de financiamento do filme?
9. b) Porque as mudanças na educação e na dinâmica social e econômica a que os empregos de algum modo estão relacionados dependem de políticas públicas e investimentos que vão além dos sonhos dos jovens.
10. c) Segundo Cássio, o mais importante é a mensagem do filme como um todo, e não as histórias particulares.
Alysson critica o fato de que o filme se assemelha a uma propaganda institucional, e isso provavelmente se dá porque o filme foi financiado por uma instituição privada, o Instituto Unibanco.
c) Como a crítica de Fernando Cássio justifica a escolha de uma montagem com cortes nas falas muito rápidos e dinâmicos?
10. a) O autor do primeiro texto, especializado em crítica de arte, evidencia problemas de técnicas de cinema, apontando uma certa pacificação promovida por elementos como a trilha sonora, em vez de destacar a tensão, o conflito que os enunciados instauram no documentário; o outro autor destaca as qualidades do filme relativas à narrativa enunciada em primeira pessoa, mas critica a falta de esclarecimento do contexto em que elas são produzidas.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
3. a) Essa oração identifica quem são aqueles, restringindo o termo a que se refere. Isto é, seria oportuno ouvir somente os que vivem o cotidiano da educação.
Leia a seguir o trecho de uma resenha do documentário Nunca me sonharam, publicada à época de seu lançamento.
1 A resenha parte do título do filme para defender uma ideia.
a) Segundo a autora da resenha, qual ideia é defendida pelo documentário? Você concorda com essa ideia?
b) A meritocracia é criticada na resenha. Qual argumento sustenta essa crítica?
A ideia defendida é a necessidade de mais diálogo para superar as dificuldades de cada um. Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes reconheçam que somente o diálogo não é suficiente para superar tantas adversidades; são necessárias políticas públicas que incentivem o jovem a permanecer na escola e que tragam oportunidades de realização profissional e pessoal. Que a ideia de mérito não se sustenta em um país tão desigual, pois os estudantes partem de patamares muito diferentes, de modo que aplicar esse critério a todos ignora essa desigualdade de partida.
2 Considere a oração destacada .
a) A que termo se liga essa oração?
b) Que função sintática ela exerce no período, considerando o termo ao qual ela se liga?
Desperta a atenção o depoimento do jovem estudante de escola pública da cidade de Nova Olinda, interior do Ceará, sobretudo pela estonteante frase, um verdadeiro desabafo poético: ‘nunca me sonharam’. A expressão marcante, dita em um depoimento para o documentário de Cacau Rhoden, que recebeu a frase como título , permite algumas reflexões. Qual o sentimento de um estudante, quando os pais não têm o sonho de formar o filho numa universidade? Diversamente de pais que sonham e investem em educação, entre tantas profissões viáveis para os filhos, garantindo ilimitadas possibilidades de escolha.
[…]
O documentário, além dos estudantes, conta com depoimentos de gestores, professores e especialistas, sobre a educação ofertada aos jovens do ensino médio nas escolas públicas do Brasil. Reforça a necessidade do diálogo para superar as dificuldades que permeiam essa realidade. Torna-se oportuno ouvir, com mais interesse, aqueles que vivem o cotidiano da educação. O documentário apresenta experiências bem-sucedidas, muitas delas devido à capacidade de sonhar dos professores. Estamos acostumados com inúmeros discursos sobre a educação, essa eterna ‘prioridade’ […]. Entretanto, ao contrário dos que apregoam a meritocracia, num país onde a competição é acentuadamente desigual , a frase ‘nunca me sonharam’ representa uma síntese da dificuldade de superação dessa realidade […]. KLUPPEL, Gilda Elena. Nunca me sonharam. Partes, São Paulo, 31 jul. 2017. Disponível em: www.partes.com. br/2017/07/31/nunca-me-sonharam/. Acesso em: 19 set. 2024.
2. a) Ela se liga ao substantivo documentário
2. b) Ela atua como um adjunto adnominal, que confere uma característica a documentário.
3 Considere a oração em destaque
a) Essa oração se liga ao termo aqueles. Qual sentido ela agrega a esse termo?
b) Considere a oração destacada reescrita do seguinte modo: Seria oportuno ouvir os professores, que vivem o cotidiano da educação. Que diferença de sentido é possível identificar com relação à frase original?
3. b) Nesse caso, não se quer ouvir apenas os professores que vivem o cotidiano da escola, mas os professores em geral. A oração introduzida pelo pronome relativo que tem sentido de uma explicação.
4 Considere a oração em destaque.
a) A que termo ela se liga?
Ela se liga ao termo país.
b) Que sentido essa oração produz em relação ao termo ao qual se liga?
c) Que outros conectivos poderiam ser utilizados no lugar de onde?
Em que, no qual.
4. b) Ela especifica, restringe de qual país se fala.
No trecho de resenha que você acabou de ler, encontram-se orações subordinadas que cumprem a função de um adjetivo, atribuindo características a um nome, como no exemplo a seguir.
A fala do jovem que deu título ao documentário soa como um desabafo poético.
O jovem, cuja fala deu título ao documentário, parece fazer um desabafo poético.
No primeiro exemplo, a oração principal é “a fala do jovem soa como um desabafo poético”, e essa oração tem independência sintática e semântica da oração subordinada. A oração subordinada, no entanto, tem o papel de indicar exatamente a que fala o enunciado se refere, ligando-se a ele por meio do pronome relativo que.
No segundo exemplo, a oração principal é “O jovem parece fazer um desabafo poético”, e essa oração também tem independência sintática e semântica da oração subordinada. A oração subordinada, entre vírgulas, explica que a fala dele deu título ao documentário; liga-se ao nome fala, a que se refere, por meio do pronome relativo cujo
As orações subordinadas que caracterizam os nomes de outras orações são classificadas como orações subordinadas adjetivas. As subordinadas adjetivas se ligam ao nome ao qual se referem por meio de um pronome relativo.
Classificação das orações subordinadas adjetivas
Considere, agora, as seguintes orações.
Os jovens, que enfrentam muitos desafios, precisam ser ouvidos.
Os jovens que enfrentam muitos desafios precisam ser ouvidos.
Esses dois períodos têm apenas uma diferença entre si: em um deles, uma oração está separada por vírgulas. Essas vírgulas, no entanto, produzem importantes diferenças de sentido. No primeiro exemplo, a subordinada adjetiva considera que todos os jovens enfrentam desafios e isso explica por que todos eles precisam ser ouvidos. Já na segunda oração, a subordinada especifica os jovens que precisam ser ouvidos: somente aqueles que enfrentam desafios. Nesse caso, a subordinada tem a função de restringir a informação, excluindo parte dos jovens da necessidade de serem ouvidos.
Essa diferença de sentido, marcada pela vírgula, leva às classificações das orações subordinadas adjetivas: explicativa e restritiva.
A oração subordinada adjetiva pode ser classificada como explicativa ou restritiva.
É explicativa quando fornece uma informação adicional para o entendimento da oração principal e aparece, em geral, destacada por vírgulas ou travessões.
É restritiva quando restringe, delimita ou especifica o nome ao qual se liga dentro de um campo de possibilidades.
Leia a tirinha a seguir, do cartunista Wes Samp.
http://depositodowes.com/os-levados-da-breca-no-864-qual-o-problema.
1. A t ira produz um efeito de humor.
a) A reação de Paulo gera espanto no pai. Por quê?
1. a) Por não ser comum um jovem preferir um livro e não querer parar a leitura para continuá-la depois.
b) Que informações sobre o filme o pai dá ao filho para convencê-lo a ir ao cinema?
c) Classifique sintaticamente todos os termos que atuam como adjetivos do nome filme
Novo: adjunto adnominal; que estreou e que você quer ver: orações subordinadas adjetivas restritivas.
2. Paulo, em sua última fala, justifica por que não quer acompanhar o pai. Um motivo possível para essa recusa é que, lendo o livro que serviu de base para o filme, ele já saberá toda a história e até o final.
a) Com base em seu conhecimento sobre o gênero roteiro, explique por que isso não seria obrigatoriamente um problema.
Porque o filme pode ter sido apenas inspirado no livro e ser bastante diferente. Professor, destaque para os estudantes que o filho diz filme adaptado, e não filme baseado no livro.
b) Classifique sintaticamente todos os termos que atuam como adjetivos do termo livro
Orações subordinadas adjetivas restritivas.
3. L eia a propaganda a seguir sobre práticas de higiene com relação à cidade.
a) S egundo o texto, como os resíduos acabariam voltando para dentro de casa?
b) D e acordo com a propaganda, todo resíduo sólido descartado acaba voltando para dentro de casa?
c) I dentifique e classifique a oração que traz essa informação.
d) Por que os resíduos da rua ofereceriam mais possibilidade de contaminação?
Porque ficam expostos.
e) Elabore outras orações subordinadas adjetivas que especifiquem melhor o porquê de os resíduos descartados na rua trazerem contaminações.
Respostas possíveis: O lixo que fica exposto na rua; que fica acessível a animais; que fica contaminando as ruas; que fica exposto a insetos.
SÃO PAULO (Município). Prefeitura Municipal. O lixo que você joga na rua acaba sempre voltando para dentro de sua casa. In: GALLO, Luciana Guerra. Canil do CCZ de Embu das Artes. Embu das Artes, 8 abr. 2012. Disponível em: http:// amicaodoembu.blogspot.com/2012/04/porque-nao -podemos-jogar-lixo-nas-ruas.html. Acesso em: 6 set. 2024.
3. a) Por meio das moscas que pousariam neles e entrariam em casa trazendo contaminações.
3. b) Não, apenas os descartados na rua.
3. c) que você joga na rua: oração subordinada adjetiva restritiva.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Leia o trecho de reportagem a seguir sobre uma combinação muito interessante: internet e literatura.
[…] Entre a infinidade de fotos e vídeos que rolam pelo feed, os apaixonados por literatura têm uma categoria de perfis dedicada somente a eles: os influenciadores de livros – ou ‘Bookstagramers’. Por meio das redes sociais, escritores, jornalistas, empresários e entusiastas da leitura compartilham dicas e resenhas sobre títulos de diferentes gêneros. […]
Ver a leitura ocupar um espaço tão visual como é a internet motiva Fabiane Guimarães a publicar dicas sobre livros e dividir etapas do processo criativo na hora de escrever uma obra.
‘Falar de leitura em espaços como as redes sociais, que são massivos por natureza, contribui bastante para a formação de novos leitores e leitoras. Tenho visto muita gente jovem, principalmente, engajada em clubes de leitura on-line e na produção de resenhas. Isso dá uma esperança de que o hábito da leitura seja ampliado, e ainda abre espaço para novos escritores e escritoras como eu, que moram longe dos grandes centros tradicionais do mercado editorial’, acredita a escritora e jornalista.
BRITO, Marcela. Bookstagramers: influencers de livros espalham literatura no Instagram. Metrópoles, Brasília, DF, 25 jul. 2021. Disponível em: www.metropoles.com/entretenimento/literatura/bookstagramers-influencers-de-livros -espalham-literatura-no-instagram. Acesso em: 19 set. 2024.
4. O período “Entre a infinidade de fotos e vídeos que rolam pelo feed , os apaixonados por literatura têm uma categoria de perfis dedicada somente a eles” expressa uma restrição quanto a fotos e vídeos.
a) Qual é a oração que expressa essa restrição?
b) Que sentido essa restrição produz?
A oração “que rolam pelo feed”.
Produz o sentido de que o texto se refere apenas a fotos e vídeos que circulam pelo feed, e não às fotos e aos vídeos que circulam na internet em geral.
5. Em “Isso dá uma esperança de que o hábito da leitura seja ampliado”, o termo que pode ser classificado como pronome relativo? Por quê? Explique.
Não, pois não retoma nenhum termo anterior, mas introduz uma oração substantiva completiva nominal.
6. Releia: “Falar de leitura em espaços como as redes sociais, que são massivos por natureza, contribui bastante para a formação de novos leitores e leitoras”.
a) Nesse trecho, é possível identificar uma oração subordinada adjetiva explicativa. Identifique-a e justifique essa classificação.
A oração: “que são massivos por natureza”. É explicativa porque lembra uma característica própria das redes sociais, a qual explicaria o poder de contribuição delas para a formação de novos leitores.
b) Identifique, no mesmo parágrafo, outra oração que tenha a mesma função sintática da que você identificou no item a.
A oração “que moram longe dos grandes centros tradicionais do mercado editorial”. Ela explica a condição a que se refere a bookstagramer.
Leia a seguir o trecho de um artigo sobre uma vertente do movimento rap no Brasil.
[…]
O mais antigo grupo de rap indígena do país, Brô MCs, surgiu há 10 anos na aldeia Jaguapirú, em Dourados, Mato Grosso do Sul. Os integrantes conheceram o rap por meio do rádio, ouvindo um programa que apresenta cantores e grupos brasileiros desse gênero musical. Bruno Veron, um dos integrantes do Brô, explica que identificava ‘nas ideias que os caras do rap mandavam das quebradas deles uma realidade semelhante ao dia a dia da minha aldeia’. A partir desse momento, então, tomou uma decisão. ‘Eu disse pra mim mesmo: vou fazer isso! Vou cantar rap e representar meu povo’, conta.
VIEIRA, Lígia. Grupos dão voz às lutas indígenas por meio do hip-hop. Correio Braziliense, Brasília, DF, 6 dez. 2017. Disponível em: www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2017/12/06/interna_diversao_arte,645711/ rap-indigena.shtml Acesso em: 19 set. 2024.
7. O rap tem letras historicamente marcadas por narrativas do cotidiano feitas por grupos que moram nas periferias – espaço urbano referido no texto como quebradas .
a) Que espaço sociogeográfico é representado pelo rap do grupo Brô MCs?
As aldeias indígenas.
b) A comparação “identificava nas ideias que os caras do rap mandavam das quebradas deles uma realidade semelhante ao dia a dia da minha aldeia” é sintática ou semântica? Explique.
c) Identifique e classifique as orações do período.
7. b) Semântica, realizada por meio da palavra semelhante Período composto por subordinação. Oração principal: “identificava nas ideias uma realidade semelhante ao dia a dia da minha aldeia”; oração subordinada adjetiva restritiva: “que os caras do rap mandavam das quebradas deles”.
3. a) Eles caracterizam uma fazenda. 3. b) Amplas (feijoadas), assados (leitões), de conforto (falta), imensa (fartura).
Releia o trecho a seguir, da peça Eva: a propósito de uma menina original , de João do Rio.
1 Releia o trecho destacado.
a) Que classe de palavras predomina nesse trecho?
Predominam os substantivos.
b) Embora esses termos não se liguem sintaticamente a nenhum outro, a que eles se referem?
Eles se referem à fazenda.
c) Qual é a função desses termos no texto?
Caracterizar o que haveria em uma fazenda.
2. a) A função é especificar as características que essa cidade tem.
2 Considere os termos em destaque
a) Todo esse trecho faz parte de uma oração subordinada adjetiva que se liga ao termo cidade. Qual é a função desse trecho?
b) Que imagem se pretende atribuir a essa cidade no começo do século XX?
Pretende-se atribuir a imagem de uma cidade desenvolvida como Paris.
Não é verdade? Estamos numa fazenda. Qual a ideia geral de uma fazenda? Florestas, culturas; vida primitiva , simples, retirada da cidade. Esta está a quarenta minutos de Ribeirão Preto, cidade que tem cafés cantantes com chanteuses , todas do Capucines , das Folies Bergères, do Moulin Rouge, apesar de nunca se terem perdido por lá. É ou não um choque nas nossas ideias? Há mais, porém. Só o nome de fazenda faz-nos pensar em negros no eito, em amplas feijoadas, leitões assados, a absoluta falta de conforto na fartura imensa Cá os trabalhadores, em vez de pretos, são italianos visitados pelo cônsul e defendidos (per Dio Santo!) pelo patronato geral dos agricultores. E quanto ao resto, os cardápios são à francesa, há eletricidade, telefone, aparelho de duchas… Pensava ver o fazendeiro falando mole, mas feito de aço. Encontro os Souza Prates, condes do Vaticano como quase todos os jornalistas do Rio, e recebendo os amigos com a elegância de castelões franceses recentemente fidalgos. É inverossímil. (pasmo)
3 Considere o trecho em destaque.
a) Esses termos atuam como objetos indiretos do verbo pensar Embora se liguem a um verbo, o que eles caracterizam semanticamente?
b) Identifique os adjetivos e locuções adjetivas do período e os termos aos quais eles se ligam.
c) Caso fossem omitidos os adjetivos, esse trecho continuaria caracterizando a fazenda? Por quê?
Sim, pois a enumeração de substantivos refere-se àquilo que se espera observar em uma fazenda.
RIO, João do. Eva: a propósito de uma menina original. Rio de Janeiro: Villas Boas & C., [1915]. p. 15. Disponível em: https:// digital.bbm.usp.br/view/?45000008022&bbm/2534#page/20/ mode/2up. Acesso em: 19 set. 2024. 4 O trecho em destaque não se liga a nenhum termo, mas apresenta uma caracterização no contexto em que se insere. O que o trecho caracteriza? Que sentido essas características agregam ao texto?
A atribuição de características por meio de outras classes gramaticais além do adjetivo – a classe que é definida por caracterizar um nome –amplia as possibilidades de atribuição de sentido e de sugestão de traços e atributos dos termos caracterizados.
Relacionam-se à fazenda e reforçam a ideia de que ela era elegante e tinha acesso a facilidades como se fosse uma residência da cidade.
Em vez de caracterizar diretamente um termo por meio de adjetivos, é possível empregar substantivos, verbos, advérbios e expressões que permitam ao leitor inferir as qualidades de uma pessoa, objeto ou situação.
Por exemplo, em vez de dizer “a casa da fazenda era antiga”, pode-se descrever “as paredes apresentavam rachaduras e o piso rangia a cada passo”, evocando a imagem de uma casa antiga por meio de suas características físicas. Esse recurso exige do leitor uma interpretação mais atenta, tornando a leitura mais rica em sentidos.
Observe a seguir alguns recursos de atribuição de características além da lógica dos adjetivos.
• Substantivos podem transmitir características e qualidades de maneira indireta.
A fazenda tinha florestas, culturas e vida primitiva.
Nesse caso, a caracterização da fazenda se dá por meio dos substantivos florestas, culturas e vida (o adjetivo primitiva refere-se à vida, e não à fazenda).
• Verbos e advérbios podem descrever ações que associam atributos a um sujeito.
Godofredo sorria largamente a cada fala que saía de sua boca.
No exemplo, a ação de “sorrir”, modalizada pelo advérbio largamente, atribui ao sujeito um ar de orgulho ou deboche relacionado a suas falas.
• Figuras de linguagem como a metáfora podem atribuir qualidades de forma poética e indireta. A fazenda era um café de Paris.
Nesse exemplo, a metáfora que relaciona a fazenda a um café de Paris confere um ar de elegância por meio de uma comparação implícita.
• Descrever comportamentos ou ações específicas que refletem atributos.
Godofredo debocha de todos ao seu redor. O verbo debochar, conjugado no presente do indicativo, atribui ao sujeito Godofredo uma regularidade de comportamento que se relaciona a uma característica de caráter.
SAIBA MAIS Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A partir do final do século XIX, a literatura brasileira foi fortemente influenciada pelo francês, refletindo uma tendência geral do uso de francesismos no português. Escritores e intelectuais brasileiros absorveram elementos da cultura francesa, integrando termos e expressões do idioma em suas obras. Esse fenômeno se manifestou principalmente por meio de empréstimos lexicais, incorporando palavras e expressões do francês ao português, intensificando-se especialmente durante o período napoleônico e a Belle Époque, período de grande prestígio da cultura francesa na Europa e em outros continentes. Termos relacionados à moda, culinária, arte, política e sociedade foram adotados diretamente do francês, como blusa, chefe, balé e regime. Além do vocabulário, algumas palavras emprestadas mantiveram a pronúncia próxima ao original francês, enquanto outras foram adaptadas à fonética e à ortografia portuguesas. Expressões francesas também foram incorporadas ao português, muitas vezes utilizadas no contexto original ou com pequenas adaptações, como savoir-faire e c’est la vie. Essa adoção ocorreu por diversos motivos, incluindo o prestígio cultural de Paris como centro intelectual do século XIX, a disseminação do ensino do francês nas escolas portuguesas e as relações políticas e diplomáticas entre Portugal e França.
Leia a seguir o trecho de uma reportagem sobre capacitismo e expressões discriminatórias. Capacitismo: expressões são discriminatórias com quem tem deficiência
Quem vê a fotógrafa Milene Nunes, de 38 anos de idade, registrando partos de bebês não imagina como foi a jornada para descobrir sua perda auditiva e aprender a lidar com a deficiência. Hoje, ela não se sente intimidada com algum comentário malicioso que possa surgir, mas na infância e na adolescência foi diferente.
Ela tem perda auditiva genética, mas só teve o diagnóstico aos 23 anos. ‘Quando eu era criança e jovem as pessoas falavam: ‘Ah você é surda!?’ Mas para mim era brincadeira de jovem mesmo. E como ninguém da minha família ainda tinha comentado sobre a perda auditiva, eu achava que o mundo era daquele jeito, que eu não conseguia entender mesmo o que as pessoas falavam, eu achava que era normal aquilo e as piadinhas que as pessoas contavam eu raramente entendia.’ […] […]
Andrea Chaves, que tem deficiência visual, conta a própria experiência de trabalho. ‘Eu só enxergo de um olho e em Brasília fui a primeira mulher com deficiência a tripular uma viatura do Samu [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência]. Com limitações, mas nunca com restrições. E é assim que deveria caminhar a humanidade. Todo ser humano tem habilidades e competências e isso nos torna parceiros uns dos outros e não concorrentes’, considera.
SOUZA, Ludmila. Capacitismo: expressões são discriminatórias com quem tem deficiência. Agência Brasil, São Paulo, 21 set. 2021. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2021-09/capacitismo-expressoes-sao-discriminatorias-com-quemtem-deficiencia. Acesso em: 18 set. 2024.
1. O texto discute algumas consequências do capacitismo.
Nunes acreditava que as agressões contra ela eram
Andrea Chaves
a) Com base no texto, o que é capacitismo?
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Capacitismo é o ato de discriminar pessoas com deficiência considerando uma suposta superioridade de quem não teria nenhuma deficiência.
b) E xplique como o capacitismo atuou de forma negativa na vida de Milene Nunes e Andrea Chaves.
2. Releia esta fala de Milene: “E como ninguém da minha família ainda tinha comentado sobre a perda auditiva, eu achava que o mundo era daquele jeito”.
sua capacidade de ser uma boa
a) A e xpressão daquele jeito se refere a um modo como ela caracterizava a realidade. O que quer dizer essa expressão?
Daquele jeito quer dizer que todos teriam dificuldade para escutar.
b) O fato de ninguém da família ter comentado sobre a perda auditiva leva Milene a considerar normal certos comportamentos. Quais? Como ela caracterizava esses comportamentos?
Comportamentos agressivos como perguntar se era surda, fazer piadinhas. Caracterizava esses comportamentos como brincadeira de jovem.
3. Releia: “Eu […] fui a primeira mulher com deficiência a tripular uma viatura do Samu […]”.
a) Que expressão é responsável por atribuir características que rompem com o capacitismo direcionado a Andrea?
A expressão “a primeira mulher com deficiência a tripular uma viatura do Samu”.
b) Qual adjetivo poderia ser empregado para caracterizar essa condição de Andrea?
Sugestão de resposta: O adjetivo pioneira.
Leia a seguir a tirinha Bichinhos de Jardim.
[Coisas
de Jardim. [S. l.], 3 set. 2008. Disponível em: https://bichinhosdejardim.com/ coisas-importantes/comment-page-1/. Acesso em: 19
De acordo com a Base Nacional Comum Curricular, versão de 2018, página 503, é enfatizado que, no Ensino Médio, a área de Linguagens e suas Tecnologias desenvolva nos estudantes o aprofundamento das “análises das formas contemporâneas de publicidade em contexto digital, a dinâmica dos influenciadores digitais e as estratégias de engajamento utilizadas pelas empresas”. Dessa forma, todos os usos relacionados à publicidade, propaganda e formas de engajamento em redes sociais apresentadas nesta coleção são para fins didáticos e seus usos em contexto social.
4. O “minhoco” Mauro reflete sobre a vida conversando com o lagarto Meleca.
a) Que crítica ele faz sobre a vida dos humanos?
Ele critica o fato de que os humanos consideram importantes os compromissos e por isso vivem correndo, o que os deixa sem tempo para aproveitar a vida.
b) Que expressões são utilizadas para caracterizar as pessoas criticadas por Mauro?
c) Nos dois últimos quadros da tirinha, Mauro atribui algumas características à parte “inútil da vida”. Como seria uma “vida inútil”?
Tomar sol, passear, beijar flores.
d) Que concepção de vida esses atributos revelam?
5. a) Porque divulga uma fruta de amplo consumo e popularidade e porque não divulga nenhuma empresa.
Os atributos revelam uma ideia de que se deve ter uma vida mais calma e valorizar a natureza.
Leia a seguir um anúncio publicitário fictício de uma fruta muito importante para a saúde.
5. Todo anúncio publicitário divulga um produto ou serviço.
a) P or que é possível considerar esse anúncio pouco provável de existir?
b) Qual seria a importância para a sociedade de existirem anúncios como este?
Anúncios como este
poderiam incentivar uma alimentação mais consciente e saudável.
6. D e acordo com o anúncio, a banana seria uma fruta muito boa.
6. a) Substância da felicidade; fruta número 1 dos atletas; já vem sem caroço; prêmio de design
a) Quais as principais qualidades atribuídas à banana?
b) Q ue termos são utilizados para expressar esses atributos? REPRODUÇÃO/MÃE
São utilizados, principalmente, substantivos e alguns adjetivos e locuções adjetivas ligados a esses substantivos.
LIMA, Ana Marusia Pinheiro. Os segredos dos publicitários. In: LIMA, Ana Marusia Pinheiro. Mãe Perfeita . [S. l.], 16 abr. 2013. Disponível em: https:// maeperfeita.wordpress.com/2013/04/16/os-segredos-dos-publicitarios/. Acesso em: 19 set. 2024.
4. b) As expressões sempre correndo e têm muita pressa.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Paixão pelos anglicismos
A influência do francês sobre a cultura brasileira, muito forte no fim do século XIX, desapareceu aos poucos, à medida que os Estados Unidos foram conquistando uma supremacia político-econômica que disseminou seus produtos culturais por grande parte do mundo ocidental. Junto com os filmes e as canções estadunidenses, foram adotadas no Brasil muitas palavras da língua inglesa, amplamente usadas nas áreas relacionadas à tecnologia e aos negócios, mas presentes também em outros contextos. Por exemplo, na propaganda da banana, reproduzida nesta página, aparece a palavra design. Alguns puristas (defensores da pureza da língua portuguesa) criticam o uso de palavras do inglês, argumentando que elas são desnecessárias porque há palavras equivalentes em português. O momento mais radical dessa oposição ocorreu em 1999, quando foi apresentado na Câmara dos Deputados um projeto de lei que pretendia limitar o uso de palavras do inglês no Brasil. Segundo esse projeto, sempre que aparecesse um termo em inglês na mídia, em lojas e em peças publicitárias, esses termos teriam de aparecer junto com a sua tradução em português.
Já o cantor e compositor maranhense Zeca Baleiro (1966-) pronunciou-se com humor a respeito da abundância de termos em inglês na cultura brasileira, como se pode perceber pelos versos iniciais da canção “Samba do approach ”. Venha provar meu brunch
Saiba que eu tenho approach
Na hora do lunch
Eu ando de ferryboat
SAMBA do approach. Intérpretes: Zeca Baleiro e Zeca Pagodinho. Compositor: Zeca Baleiro. In: VÔ imbolá. Rio de Janeiro: MZA, 1999. 1 CD, faixa 1.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Ao longo desta unidade, discutiu-se como o teatro pode representar a realidade e apresentar leituras críticas da sociedade. Além disso, abordou-se a relevância do roteiro tanto para a montagem de uma peça teatral quanto para a produção de uma novela, uma série, um filme de qualquer gênero. Agora, nesta produção, você vai criar um roteiro para um esquete filmado.
O que você irá produzir
Esquetes são cenas de curta duração, geralmente humorísticas, que tematizam acontecimentos contemporâneos relacionados ao cotidiano, à política, à cultura etc. Essa cena curta tem um número reduzido de personagens, em geral caricatos, que desenvolvem uma intriga de tensão crescente, com rápida conclusão. Todo esquete tem como base um roteiro, que, além do texto dramatúrgico, fornece orientações à equipe técnica e aos atores.
Para a construção do seu esquete, forme grupos de até quatro integrantes para começar a pensar no roteiro.
Seu roteiro deve basear-se em alguma situação do cotidiano que seja passível de crítica por meio de humor. A situação pode ser relacionada à vida cotidiana escolar, como, entre outros exemplos, uma tarefa que deixou de ser realizada ou um conteúdo do quadro que não foi copiado a tempo; também em situações do cotidiano fora da escola, relacionados a transporte público, a consumo de produtos, desencontros amorosos etc.
Para a construção de seu roteiro, siga como referência a estrutura representada no gráfico a seguir.
ZACARIAS, Lucas. Como funcionam os esquetes de humor do Porta dos Fundos. [S. l.]: Medium, 16 set. 2015. Disponível em: https://medium.com/ tert%C3%BAlia-narrativa/como-funcionam -os-esquetes-de-humor-do-porta-dos-fundos -72214ab31bd7. Acesso em: 19 set. 2024.
Para o primeiro ato, defina uma situação inicial que será apresentada de forma bem geral e caricata; o espectador deve poder reconhecer o contexto imediatamente. Em seguida, introduza nesse contexto conhecido um elemento levemente incomum, que vai criar um problema, provocar o conflito na situação apresentada. Esse conflito deve começar a se desenvolver e ganhar tensão. O roteiro pode recorrer a situações e ações exageradas e até mesmo absurdas. No último ato, apresente a conclusão do conflito e introduza, na fala de uma personagem, uma punchline, isto é, uma frase de efeito que atuará como a parte engraçada de conclusão de uma piada.
Rubricas
Integrantes do grupo Porta dos Fundos, que produz esquetes humorísticos. Fotografia de 2022.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
As rubricas são instruções que aparecem em roteiros teatrais, cinematográficos ou televisivos para orientar os atores e a equipe técnica sobre como determinadas cenas devem ser interpretadas ou realizadas. Elas podem descrever ações, expressões faciais, entonações de voz, movimentos de câmera, entre outros detalhes que ajudam a transmitir a visão do autor aos envolvidos na encenação. Rubricas eficazes são claras e concisas, fornecendo informações suficientes para guiar a execução sem sobrecarregar o leitor com detalhes excessivos.
Para criar rubricas eficazes, é importante seguir algumas dicas.
• S eja específico, mas mantenha a simplicidade. Descreva exatamente o que deve acontecer, mas evite descrições longas e complicadas que possam confundir os atores ou a equipe técnica.
• U se uma linguagem visual, ou seja, descreva ações e expressões que podem ser vistas e percebidas pelo público.
• S eja consistente no uso de rubricas ao longo do roteiro, mantendo um padrão que facilite a leitura e a compreensão. Finalmente, lembre-se de que as rubricas são auxiliares e não devem substituir o diálogo ou a narrativa principal.
Agora é sua vez de exercitar a criação de rubricas. Observe o cenário e siga as instruções.
Cenário para elaboração de rubricas.
1. Elabore uma descrição de cena que teria originado a construção de um cenário como o da fotografia. Lembre-se de indicar os móveis, a disposição deles, a iluminação e os objetos.
2. Elabore uma sequência curta de diálogos que vai se passar nesse cenário. Para começar esse diálogo curto, escreva uma rubrica na qual a personagem entra na cozinha e descobre algo surpreendente. Detalhe a reação facial e corporal da personagem.
3. Nas demais falas, elabore mais três rubricas indicando:
• o tom de voz, os gestos e a proximidade física entre as personagens presentes;
• a e xpressão facial, a postura e as possíveis ações da personagem;
• a reação das personagens presentes e qualquer mudança abrupta no ambiente ou na iluminação.
Produzir
É chegado o momento de finalizar a produção do roteiro de seu esquete. Para isso, siga a estrutura já estudada de roteiro.
1. Comece com uma descrição inicial do cenário, das personagens e da situação na qual se encontram. Essa descrição deve dar orientações suficientes aos atores e diretores para que possam montar a cena e interpretá-la. Essa descrição inicial deve vir em itálico ou destacada entre parênteses.
2. Desenvolva o roteiro com a introdução de falas e rubricas. Lembre-se de destacar as falas com o nome em negrito das personagens e inserir as rubricas que julgar necessárias para indicar ações, reações, gestos, entonação dos atores, bem como a quem se dirigem determinadas falas. Caso existam falas em off, ou seja, falas de uma personagem que não está em cena, ou textos que não fazem parte de nenhuma fala (por exemplo, um aviso em um aeroporto), lembre-se de indicá-las.
3. Por ser um esquete que recorre ao humor, lembre-se de dar o tom humorístico necessário ao texto.
4. Depois de produzido e revisado o roteiro, é o momento da filmagem. Sugere-se que os roteiros sejam trocados entre os grupos para serem filmados por um grupo que não o produziu. Assim, cada equipe poderá verificar a eficácia de seu roteiro.
Os grupos deverão cuidar ainda de: edição, trilha sonora, vinheta de abertura e final, sonoplastia, iluminação, cenário, figurino e gravar quantas vezes julgar necessárias para chegar à interpretação esperada dos atores.
Pronto o filme, chegou a hora de exibi-lo. Junto com o professor, vocês podem reservar uma aula para apresentar todos os esquetes para a turma, já que se trata de gravações curtas. Se possível, convidem estudantes de outras turmas de 2 º ano para assistir também.
VENEZIANO, Neyde. De pernas para o ar : teatro de revista em São Paulo. São Paulo: Imprensa Oficial, 2006. E-book . (Coleção Aplauso). Disponível em: https://aplauso.imprensaoficial.com.br/edicoes/12.0.813.223/12.0.813.223. pdf. Acesso em: 19 set. 2024. Neste livro, Neyde Veneziano reconstitui a evolução do teatro de revista em São Paulo, desde o final do século XIX até os anos 1960. Ela destaca os autores, atores, atrizes e cantores que se evidenciaram no gênero. Além disso, documenta os antecedentes e as condições que permitiram o surgimento de um estilo local – a revista sertaneja/ítalo/caipira – e inclui o que denomina “paradas técnicas”: pequenas seções ao longo do texto em que esclarece convenções, definições e estilos do teatro musical.
ÓPERA Café, de Felipe Senna. São Paulo: [s. n.], 2023. 1 vídeo (116 min). Publicado pelo canal Theatro Municipal de São Paulo. Disponível em: www.youtube.com/watch?v=mzrxkG9Ht0Y. Acesso em: 19 set. 2024. A encenação da ópera Café fez parte das comemorações do centenário da Semana de Arte Moderna em 2022. Conta a história de uma revolta popular desencadeada pela crise da economia cafeeira. Baseado em libreto de Mário de Andrade, o roteiro foi adaptado pelo dramaturgo Sérgio de Carvalho, que também dirige o espetáculo. A direção musical e a regência são do maestro Luís Gustavo Petri. Para essa encenação, as personagens foram atualizadas para a lógica contemporânea.
para o ar.
TRABALHO de mesa 46: O rei da vela. Locução de: Gustavo Reinecken, Hugo Leonardo e Josuel Júnior. [S. l.]: Dragões de Garagem, 29 ago. 2019. Podcast . Disponível em: https://dragoesdegaragem. com/trabalhodemesa/tdm-46-o-rei-da-vela/. Acesso em: 19 set. 2024.
No episódio, os apresentadores Gustavo Reinecken, Hugo Leonardo e Josuel Júnior encerram a trilogia de textos teatrais pesquisados pela equipe do podcast com uma análise detalhada e entusiasmada da obra de Oswald de Andrade e seus reflexos na arte nacional.
Imagem de abertura do podcast.
MARTINS, João Ferro. A partir de “Porto de Mar”, 1740 d.C.1775 d.C. de Claude Joseph Vernet . 2012. Impressão sobre papel Verona 250 HD, 130 cm × 80 cm, com adição de microfones. Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa, Portugal.
Portugal está localizado à beira do Atlântico. Essa posição sempre colocou o mar como parte da vida portuguesa. Tem especial relevância a participação histórica de Portugal na exploração marítima entre os séculos XV e XVI, quando também se lançou em projetos coloniais ao lado de outros países europeus.
2. a) O título de João Ferro Martins indica apenas o espaço em que ocorre a ação da tela.
2. b) A modificação do título para “Porto de Mar” no conjunto da instalação, coloca o porto em evidência, sugerindo que a obra escuta o que aí circula ou circulou historicamente. É importante notar que o título da instalação chama a atenção para o fato de ser uma releitura: A partir do “Porto de Mar”.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Observe a instalação a seguir, do artista português João Ferro Martins (1979-).
1. As obras de João Ferro Martins articulam pintura, instalação, performance e música. O artista português apropria-se de objetos do cotidiano ou obras de arte e confere-lhes novos sentidos. Considerando seu conhecimento sobre a história de Portugal, qual é a relação desse país com o mar?
2. A pintura que faz parte dessa instalação, do francês Claude-Joseph Vernet, chama-se, originalmente, Amanhecer sobre Capri. Névoa . Vernet é um dos mais renomados pintores de paisagens marítimas do século XVIII. João Ferro Martins modifica o título da pintura de Vernet.
a) Que diferença é possível destacar entre os dois títulos?
b) A modificação do título deve ser vista no conjunto da instalação. Que sentido o novo título produz quando o quadro é colocado diante de microfones?
3. A instalação apresenta dois microfones em frente à reprodução da pintura de Vernet.
a) E xplique o que esses microfones podem captar.
b) In contáveis textos e discursos foram produzidos sobre o mar em Portugal por artistas, acadêmicos, políticos e por toda população. Que discurso essa instalação sugere captar?
Observe as imagens a seguir, produzidas por dois artistas portugueses. Uma pintura, de Amadeo de Souza-Cardoso, e uma charge de João Abel Manta.
SOUZA-CARDOSO, Amadeo de. Procissão de Corpus Christi. 1913. Óleo sobre madeira, 29 cm x 50,8 cm. Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, Lisboa, Portugal.
3. a) Os microfones parecem estar ali para captar o que a pintura de um porto poderia dizer para o espectador.
3. b) Os microfones sugerem captar os discursos que vêm do mar, como se dessem voz a ele, e não aos enunciadores que sempre tiveram voz e puderam se pronunciar sobre ele.
João Abel. As estátuas. 1978. Caricatura. Museu de Lisboa, Portugal.
4. A tela de Amadeo de Souza-Cardoso se refere a uma celebração católica importante para a cultura portuguesa. Por que se pode dizer que a obra apresenta uma releitura desse evento cultural?
5. A charge do cartunista português João Abel Manta apresenta uma crítica a Portugal e à sua história.
a) Q ue personagens da sociedade portuguesa podem ser identificadas na charge?
b) Como a charge constrói uma crítica à sociedade portuguesa?
O Modernismo em Portugal, movimento cultural e artístico que emergiu no início do século XX, foi marcado por uma ruptura com as tradições passadas e uma busca por novas formas de expressão em um contexto político e social tumultuado, com a transição da Monarquia para a República. Influenciado pelos movimentos vanguardistas europeus, como o Futurismo e o Cubismo, o Modernismo português destacou-se pela experimentação e pela tentativa de refletir a complexidade da vida moderna, desafiando convenções e explorando novas dimensões da poesia e da prosa.
4. Embora o tema faça referência a um evento tradicional, a linguagem se filia ao Cubismo, que será a vanguarda que mais influenciará a pintura do Modernismo português.
5. a) Quem carrega as estátuas são homens do povo e as estátuas são da nobreza e do clero de Portugal.
5. b) A charge coloca o povo português trabalhando e se sacrificando para manter em pé as estátuas que representam o passado glorioso de Portugal, sendo que um dos trabalhadores está até mesmo esmagado pelas estátuas.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Depois de passar por enormes problemas e turbulências durante quase todo o século XX, Portugal recuperou-se e passou a experimentar um certo renascimento cultural, impulsionado pelo turismo e pela valorização de seu patrimônio histórico. Lisboa e Porto tornaram-se centros vibrantes de arte, música e gastronomia, atraindo talentos e visitantes de todo o mundo. Na política, Portugal viveu uma fase progressista com relação aos costumes e direitos humanos, mas ao mesmo tempo enfrenta desafios como xenofobia, a desigualdade social e o envelhecimento da população, que demandam soluções inovadoras e sustentáveis.
Para discutir
1 O que você sabe sobre Portugal na atualidade?
2 Nos últimos anos, muitos brasileiros migraram para Portugal, chegando a representar 30% dos estrangeiros no país, segundo dados de 2023. Discuta com seus colegas sobre que características da sociedade portuguesa atrairiam tantos brasileiros.
Você vai ler a seguir dois poemas portugueses de duas poetas contemporâneas: o primeiro, de Filipa Leal e o segundo de Margarida Vale de Gato.
Texto 1
Projecto Político 3: El Corte
O avô Mário e a avó Isabel traziam-nos muito a Vigo quando éramos crianças.
Não me lembro de nada.
Só da lavanda puig
Só dos caramelos.
Só de não haver nada em Portugal e Vigo ter El Corte Inglés
Ontem lembrei-me que, daqui, os avós me levaram a minha primeira, e única, Barbie. Era (se bem me lembro) a Barbie-Viagem.
Tinha uma saia de tule e, do avesso, de veludo travada e na mão (se bem me lembro), a mala. A mala estava (se bem me lembro) vazia, como sempre está quando somos crianças.
O avô Mário morreu na véspera de Natal.
Lembro-me bem.
Eu tinha 16 anos e a mala começou a pesar.
Sei que fui feliz em Vigo dessa forma melhor: a que nem precisamos de lembrar.
#SOBRE
Filipa Leal (1979-). Formada em Jornalismo e com pós-graduação em Estudos Literários, Leal equilibra sua paixão pela escrita poética com uma sólida carreira no jornalismo, tendo colaborado com diversos meios de comunicação. A sua obra literária inclui vários livros de poemas, entre os quais se destacam Talvez os lírios compreendam (2004), A inexistência de Eva (2009), Vale formoso (2012), Fósforos e metal sobre imitação de ser humano (2019) e A estrada para Firopótamos (2022).
Foto da poeta em 2016.
Vigo: cidade na Espanha, próxima de Portugal. lavanda puig: marca de loção.
El Corte Inglés: loja de departamentos.
LEAL, Filipa. Projecto Político 3: El Corte Inglés. In: LEAL, Filipa. Fósforos e metal sobre imitação de ser humano. Porto: Assírio e Alvim, 2019. p. 59.
Em Mercúrio, Sexta-feira, a sonda detectou duas crateras de auréolas sombrias. Apresentam ambas bordos quase intactos e muros de socalcos
segundo especifica o endereço http://messenger.jhuapl.edu/ (anoto e espero que o poema seja eterno e o link não). Cliquei para ampliar a imagem, e dentro vi pequeninas covas circulares como as que na areia faz a chuva ou nas fontes as moedas dos desejos.
Também por via Messenger te encontro e troco novidades, mais veloz do que a luz, mais ágil o gracejo do que o próprio pensamento, faísca
o espaço — onde chegamos, sem risco já de nos tocarmos; os dois estamos cheios de buracos — e nem é grave se soubermos flutuar. Em tudo isto
ainda há algo como um halo fundo e um radar que é como água gotejando por degraus, que inquieta mas seduz e nos deixa sombrios intactos sós.
GATO, Margarida Vale de. Chat. In: GATO, Margarida Vale de. Mulher ao Mar Brasil. Belo Horizonte: Moinhos, 2021. E-book. socalcos: trechos elevados e planos de terrenos sustentados por encosta ou muro.
#SOBRE
A portuguesa Margarida Vale de Gato (1973-) é escritora, tradutora e professora universitária. Com doutorado em Estudos Norte-Americanos pela Universidade de Lisboa, onde também leciona, Vale de Gato se destaca pela versatilidade literária, atuando em poesia, ficção, crítica literária e tradução. Na literatura, publicou Lançamento (2016), Atirar para o torto (2021) e a série Mulher ao mar publicado no Brasil como Mulher ao mar Brasil (2021).
A escritora em foto de 2022.
1. Leia o trecho a seguir sobre a poesia portuguesa contemporânea da professora Goiandira Ortiz de Camargo, da Universidade Federal de Goiás.
[…] a poesia portuguesa, independentemente de tempo histórico, tem a busca e a inquietude, que marcam o espírito moderno, encarnadas na sua linguagem. […]
[…] Porém, além de ter em sua gênese esse caráter, tal diversidade indica um momento […] em que o que há no cenário literário não se refere a programas ou linhas comuns que agreguem os poetas em um movimento preponderante ou em um tipo de produção. Pelo contrário, o que se vê e se apresenta para o analista são os percursos individuais, que retomam ou avançam as conquistas da tradição literária da modernidade dos séculos XIX e XX.
CAMARGO, Goiandira Ortiz de. Considerações sobre a poesia portuguesa contemporânea: leitura de quatro poetas. Texto poético, [s. l.], v. 16, n. 31, p. 126-148, jun./set. 2020. p. 127-128. Disponível em: https://textopoetico.emnuvens.com.br/rtp/article/view/707/511. Acesso em: 11 set. 2024.
a) De acordo com o trecho, não é possível identificar um movimento literário estável e definido na produção contemporânea, mas percursos individuais que dialogam com a tradição literária da modernidade dos séculos XIX e XX. Considere a obra de João Ferro Martins que abre esta unidade e explique o que pode significar esse diálogo.
Pode significar a releitura de obras, retomada de temas, recursos ou formas de composição aos quais se dão novos sentidos.
b) De que forma os temas dos poemas que você leu se relacionam a essa análise de Camargo?
Resposta pessoal. Espera-se que os estudantes percebam que os poemas desenvolvem temas pessoais, individuais, cada um a seu modo: ou rememoração do passado ou reflexão sobre acontecimentos contemporâneos e tecnológicos.
2. b) Vigo é descrita como um espaço de boas lembranças e de felicidade. Portugal é descrito como um lugar de falta, no qual não se encontram os produtos e a felicidade encontrada em Vigo. Portugal é associado à escassez, insuficiência.
3. b) Quando criança, não temos muita bagagem e experiência, por isso a mala fica vazia. Ainda não há memória. Conforme crescemos, experiências e bagagens se acumulam e deixam a mala pesada.
2. O poema de Filipa Leal apresenta reflexões muito cotidianas.
a) Que contraste de lugares é estabelecido no poema?
É estabelecido um contraste entre Vigo, na Espanha, e Portugal.
b) E xplique que imagens são construídas dos diferentes espaços no poema.
3. A mala a que se refere o poema pode ser entendida com diferentes sentidos.
3. c) A mala atua no poema como uma metáfora do amadurecimento e crescimento, deixando para trás a inexperiência e acumulando vivências e memórias.
“Era (se bem me lembro) a Barbie-Viagem.”; “e na mão (se bem me lembro), a mala. A mala estava / (se bem me lembro) vazia […]” e “O avô Mário morreu na véspera de Natal. / Lembro-me bem.”
A condicionante dentro dos parênteses indica uma oscilação da certeza a respeito de bem lembrar ou não. A lembrança existe, não se sabe se ela é bem lembrada ou não.
a) Copie o organizador a seguir no caderno e complete-o com possíveis atributos da mala.
Características da mala na infânciaCaracterísticas da mala na vida adulta
vazia pesada
b) O que justificaria essa diferença de características da mala ao longo do poema?
c) E xplique como a mala atua como uma metáfora no poema.
4. O poema de Filipa Leal centra-se em lembranças da infância.
a) A que se referem as lembranças?
As lembranças se referem a objetos, alimentos, brinquedos de sua infância, bem como aos avós que moravam em Vigo.
b) P ode-se dizer que o poema propõe uma oscilação entre lembrar e não lembrar, mostrando as lacunas da memória e as falhas nas tentativas de esquecer. Identifique os versos que deixam isso claro.
5. O poema apresenta alguns recursos estéticos que ampliam a construção de sentidos.
a) E xplique que sentidos são produzidos pelos parênteses e pela presença da condicionante se dentro deles, ao longo dos versos.
b) O poema apresenta uma divisão de versos que não segue nenhuma métrica, mas que produz sentidos. Copie, no caderno, a alternativa que apresenta uma análise correta dessa divisão.
I. Os versos 4 a 6 iniciam-se com a mesma estrutura para dar ênfase e destaque àquilo de que o eu lírico se lembra de Vigo, mesmo que tenha afirmado que não se lembrava de nada.
II. Os três últimos versos iniciam-se com termos que fazem referência à primeira pessoa, o que indica o caráter intimista e subjetivo do eu lírico ao narrar sua experiência passada em Vigo.
III. O verso 12 tem um período interrompido na metade que se complementa no verso seguinte para destacar a interrupção do fluxo de pensamento do eu lírico marcado pela falta de lembrança.
Resposta: alternativa I
O recurso é a citação do qual o eu lírico teria conseguido as imagens que motivaram sua reflexão. Cumpre a função de contrapor a efemeridade de um link, que pode não estar mais ativo quando o leitor procurar, à desejada perenidade do poema.
6. O texto 2, poema de Margarida Vale de Gato, cita uma experiência extraterrena: a sonda MErcury Surface , S pace ENvironment , GEochemistry, and R anging , MESSENGER (Superfície, Ambiente Espacial, Geoquímica e [Amplitude de] Órbita de Mercúrio), que orbitou o planeta Mercúrio entre 2011 e 2015.
6. a) É com base na descoberta de crateras pela sonda que o eu lírico começa a refletir sobre a relação entre si e o interlocutor a quem se dirige no poema.
a) Qual é a importância da sonda na construção do poema?
b) Para fazer alusão à sonda, o poema recorre a um recurso pouco comum nesse tipo de texto. Identifique esse recurso e explique que função desempenha no poema.
7. No poema, o eu lírico declara: “espero que o poema / seja eterno e o link não”. Registre, no caderno, o que fica subentendido sobre a ideia que o eu lírico projeta sobre recursos advindos da tecnologia e arte nesses versos.
• Recursos da tecnologia
• Arte
São e devem ser efêmeros, pois a ciência avança e os recursos vão sendo substituídos ou suplantados. A arte deve ser eterna, perdurar pelo tempo.
8. Observe a imagem a seguir, divulgada na época em que o poema foi produzido.
Imagem ampliada da abertura do site mencionado no poema. NASA. Orange is the new blue. 2015. 1 fotografia de sonda. Disponível em: https://messenger. jhuapl.edu/Explore/Science-Images-Database/gallery-image-1531.html. Acesso em: 23 set. 2024.
a) Que aspecto da imagem chama a atenção do eu lírico no poema?
A presença de crateras na superfície e, dentro delas, pequenas covas circulares.
b) O eu lírico compara detalhes do que vê na imagem com o que vê em seu cotidiano. A que o eu lírico compara a imagem?
O eu lírico a compara a pequenas covas feitas na areia pela chuva, a movimentos circulares na água produzidos por moedas atiradas em fontes dos desejos e a buracos.
c) O eu lírico projeta o que observa na imagem na relação que tem com seu interlocutor. O que elas têm em comum?
Tanto a imagem quanto a relação entre o eu lírico e seu interlocutor apresentariam buracos.
d) E xplique que sentido metafórico é gerado na associação entre o aspecto observado na fotografia e a relação entre o eu lírico e o interlocutor a quem se dirige.
Significa que a relação está acidentada, ou seja, nem tudo se passa como seria desejável.
9. Messenger é o nome da sonda enviada a Mercúrio, mas também é o nome de um aplicativo de mensagens instantâneas por texto, áudio ou vídeo.
a) E xplique os sentidos produzidos por esse duplo sentido do termo em “Também por via Messenger te encontro”.
Nos versos, o eu lírico faz referência aos dois Messenger: à sonda que lhe mostrou os buracos que há em Mercúrio, e ao aplicativo que o ajuda a se comunicar com um interlocutor a distância, sem se tocarem.
b) O título do poema conduz a uma interpretação do termo Messenger. Por quê? Qual é a interpretação?
10. Os dois poemas que você leu apresentam um eu lírico que reflete sobre a existência, as relações. Que conclusão se pode depreender de cada poema?
ENTÃO...
O poema 1 apresenta uma ideia de vida que inevitavelmente vai se tornando mais pesada, sobretudo se comparada à de um tempo mais leve. O poema 2 apresenta uma ideia de que as relações da contemporaneidade, frequentemente intermediadas pela tecnologia, deixam buracos, que, mesmo que não seja “[…] grave / se soubermos flutuar”, mantêm os parceiros sozinhos.
A poesia contemporânea portuguesa explora temas como identidade, feminismo e a experiência urbana. A linguagem coloquial e fragmentada, frequentemente usada nessa produção, ecoa experimentações estilísticas dos modernistas do começo do século XX. A multiplicidade de vozes e perspectivas presentes na poesia contemporânea dialoga com o legado modernista que você vai estudar a seguir, mas também o expande e o reinventa para refletir as preocupações e sensibilidades do presente.
9. b) O título Chat (conversa) faz referência a um recurso de comunicação possibilitado pelos aplicativos de conversa, o que indica que o eu lírico se relaciona com o interlocutor por essa via.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
A literatura modernista que se produziu em Portugal no início do século XX ficou marcada principalmente pela ruptura com as tradições literárias que a precederam e pela introdução de novas formas de expressão artística. Esse movimento emergiu em um contexto marcado pela instabilidade política da Primeira República (1910-1926) e pela crescente urbanização e industrialização. A experimentação formal e a inovação linguística são recursos que refletem a complexidade e a fragmentação da vida moderna que alterava a face da sociedade portuguesa. Influenciado pelas vanguardas europeias e pela renovação da identidade nacional, o Modernismo português redefiniu a literatura nacional, abrindo caminho para novas possibilidades estéticas e discursivas.
Para lembrar
1 A literatura e a política em Portugal consolidaram-se como duas esferas em constante diálogo desde o Romantismo.
a) Qual é a relação entre Romantismo e política em Portugal?
b) Como a estética realista atuou em uma renovação política em Portugal?
Para discutir
1 Que temas podem ganhar destaque na literatura em um contexto de crise e transformações como o vivenciado por Portugal nesse começo de século?
A seguir, você lerá trechos de dois poemas de Álvaro de Campos, um dos heterônimos do poeta português Fernando Pessoa. Ao longo da unidade, a heteronímia do poeta será discutida. Por enquanto, basta saber que Álvaro de Campos é um poeta cosmopolita, que reflete em seus poemas a dinamicidade e tensões decorrentes do crescimento dos centros urbanos e de uma nova sociedade na Primeira República Portuguesa.
Retrato do poeta.
#SOBRE
Fernando Pessoa (1888-1935) – poeta, dramaturgo, ensaísta, tradutor, publicitário, crítico literário e comentarista político, entre outras coisas – é um dos maiores patrimônios culturais de Portugal. Publicou seu primeiro poema aos 14 anos. Depois de viver alguns anos na África do Sul, voltou a Lisboa em 1905, onde continuou o curso de letras, iniciado em Durban e abandonado antes da conclusão. Colaborou com a revista A águia . Em 1912, trava amizade com Mário de Sá-Carneiro, seu grande interlocutor artístico e intelectual. Em 1915, seu heterônimo Álvaro de Campos publica na revista Orpheu . Em 1918, financiou a publicação de seus primeiros livros, em inglês, Antinous e 35 Sonnets. Colaborou com várias revistas. Publicou em 1934 seu único livro em português: Mensagem Ao morrer, deixou um baú com mais de 30 mil papéis com a produção de seus heterônimos, que até hoje não foram totalmente catalogados e publicados.
LISBON REVISITED (1923)
Não: não quero nada
Já disse que não quero nada.
[…]
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e [tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de [qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, [a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havermos de ir juntos?
Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero [ser sozinho.
Tabacaria
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos [do mundo.
[…]
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo [fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em [que hei de pensar?
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja de [companhia!
Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de [hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que [eu me sinta.
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca [tardo…
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero [estar sozinho!
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que [sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa! E há tantos que pensam ser a mesma coisa [que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho [gênios como eu, E a história não marcará, quem sabe?, nem um, Nem haverá senão estrume de tantas conquistas [futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos [com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais [certo ou menos certo?
1. b) Uma interpretação seria a de que o termo preciso é um verbo, o que leva à ideia de que navegar seria necessário, mas viver não seria necessário; a outra interpretação seria a de que preciso é um adjetivo, que permitiria a interpretação de que navegar demanda precisão e técnica, mas viver não.
1. L eia a seguir um trecho de uma nota escrita por Fernando Pessoa. Pertenço a uma geração que herdou a descrença na fé cristã […] e que criou em si uma descrença em todas as outras fés. […] Ficamos, pois, cada um entregue a si próprio, na desolação de se sentir viver. Um barco parece ser um objeto cujo fim é navegar; mas o seu fim não é navegar, senão chegar a um porto. Nós encontramo-nos navegando, sem a ideia do porto a que nos deveríamos acolher. Reproduzimos assim, na espécie dolorosa, a fórmula aventureira dos argonautas: navegar é preciso, viver não é preciso.
PESSOA, Fernando. Obra poética: volume único. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1977. p. 54.
a) De acordo com o trecho, que características Fernando Pessoa atribui à geração de portugueses à qual pertence?
O trecho parece apontar para a existência humana como uma finalidade em si, sem objetivo na eternidade, já que não há crença em nenhuma fé.
b) O t recho “navegar é preciso, viver não é preciso” é também um verso de um famoso poema de Fernando Pessoa. É possível verificar nesse trecho uma ambiguidade que vem do termo preciso, que permite interpretá-lo de duas maneiras. Quais?
c) Á lvaro de Campos, o autor dos dois poemas que você leu, é um dos heterônimos de Fernando Pessoa. Explique como os poemas de Álvaro de Campos dialogam com esse diagnóstico geracional de Fernando Pessoa.
Segundo o poeta, as pessoas perderam a fé em qualquer crença. Substituíram a fé em Deus pela fé em si próprios. O eu lírico dos dois poemas apresenta também um desejo de apenas existir, cada um à sua moda, sem que ninguém interfira.
2. Nesse primeiro poema, há uma grande distância entre a expectativa social sobre o eu lírico e o que ele deseja para si.
Relacionam-se à chamada vida burguesa mediana, que bom emprego, pagamento de impostos e poucas ou nenhuma outra
a) A s expectativas sociais projetam um certo tipo de indivíduo. Como pode ser caracterizado esse indivíduo que a sociedade espera que ele seja?
Uma pessoa comum, enquadrada, previsível, adequada a certos padrões que são gerais, que consideram uma convivência sem conflitos, e não o indivíduo.
b) Como essa expectativa afeta o eu lírico? Explique.
Despertando incômodo, raiva. O eu lírico quer ter direito às suas próprias escolhas, à sua individualidade, à sua solidão.
3. Os dois primeiros versos de “Lisbon revisited” consolidam tanto a postura do eu lírico quanto a de seus interlocutores com relação às suas perspectivas de futuro.
a) Esses versos pressupõem um enunciado anterior. Qual? Formule uma hipótese.
Pressupõem uma pergunta de interlocutor oferecendo ajuda para algo.
b) I dentifique a aliteração nesses versos e explique como esse recurso intensifica a irritação do eu lírico.
A repetição do fonema /n/, presente em não e nada, reforça a ideia de recusa de ajuda do eu lírico quando pronunciados de forma mais intensa.
c) A recusa do eu lírico se refere a um tipo de vida representado no verso: “Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?”. A que tipo de vida esses aspectos estão relacionados?
4. Quando revisita sua terra natal, o eu lírico, além das pressões de seus interlocutores, reencontra a cidade que estava em sua memória.
4. a) O céu é visto como eterna verdade; o Tejo, como pequena verdade; ao olhar para Lisboa, ela lhe é indiferente, pois nada lhe dá nem tira.
a) O céu azul, o Rio Tejo e a própria Lisboa são elementos que se relacionam ao passado do eu lírico em Lisboa. Que significados têm esses elementos para o eu lírico?
b) No último verso, Abismo e Silêncio estão grafados com letra maiúscula. O que isso indica sobre esses substantivos?
Que foram personificados.
c) Que sentido metafórico se pode atribuir a Abismo e Silêncio?
São metáforas para a morte, que é o fim de toda existência.
5. Nesse poema, o eu lírico faz algumas perguntas retóricas e utiliza algumas exclamações.
a) Copie uma pergunta retórica e explique que sentido tem no poema.
b) Que sentido produzem as exclamações no poema?
As exclamações enfatizam a indignação do eu lírico diante das exigências que vê lhe serem feitas.
c) Apesar de o poema ser escrito em português, o título está em inglês. Formule uma hipótese que explique essa escolha do poeta. Não escreva no livro.
5. a) “Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável? / Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?”. As perguntas retóricas não esperam resposta; elas se dirigem diretamente a um provável interlocutor e ressaltam a indignação, a revolta, a fúria do eu lírico diante das exigências sociais que entende lhe serem feitas. 5. c) Uma hipótese plausível é a de que o eu lírico se sente um estrangeiro em sua própria terra.
6. a) A repetição da palavra nada enfatiza a sensação de nulidade e insignificância do eu lírico. Essa repetição cria uma ênfase que intensifica a percepção de desesperança e vazio existencial. Ao reiterar que não é nada, nunca será nada e não pode querer ser nada, o eu lírico estabelece uma identidade baseada na negação e na ausência de realização ou ambição. Essa estrutura repetitiva prepara o leitor para o contraste no último verso da estrofe.
6. No segundo poema (texto 2), o eu lírico olha para a rua da janela de seu apartamento e vê a tabacaria em frente. Começa então a refletir sobre si e o mundo.
8. A conclusão a que o eu lírico chega é a de que todas as pessoas são iguais em sua mediocridade. Embora
a) Como a repetição da palavra nada nos três primeiros versos contribui para a construção de uma reflexão sobre identidade e existência do eu lírico?
imaginem futuros brilhantes e sejam crentes em suas certezas, o que se destaca nas sociedades é sempre a decadência e a loucura.
b) De que maneira o último verso da estrofe subverte as expectativas criadas pelos versos anteriores e que efeitos isso produz na interpretação do poema? Copie a alternativa correta no caderno.
I. Enquanto os três primeiros versos expressam negação e esperança, o último verso contrapõe essa ideia ao afirmar que o eu lírico quer ter todos os sonhos do mundo.
II. Essa subversão cria um contraste poderoso que sugere uma dualidade na condição humana: a coexistência de sentimentos de insignificância com uma capacidade infinita de sonhar.
III. A estrutura do poema passa de uma negação absoluta para uma negação esperançosa, o que enriquece a complexidade do sentido produzido.
Resposta: alternativa II
c) Na estrofe seguinte do trecho transcrito, outro verso apresenta um contraste que pode ser considerado um paradoxo. Copie o verso, no caderno, e explique que sentimento do eu lírico expressa o verso em que ele se coloca.
“Falhei em tudo. / Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada”. Esse contraste ou paradoxo expressa uma certa melancolia do eu lírico, uma sensação de vazio, inutilidade.
7. O poema, de caráter existencial, totalmente introvertido, desenvolve uma longa reflexão sobre a vida. Nessa reflexão estão condensadas as características principais da obra de Álvaro de Campos.
a) O eu lírico se mostra pessimista diante da vida. Copie, no caderno, um verso em que seja possível identificar esse sentimento e explique sua escolha.
b) O eu lírico do poema deixa explícito o seu descrédito também com o restante da humanidade. Explique utilizando exemplos do texto.
Na cidade em que vive ou no campo para onde vai, o eu lírico encontra sempre o mesmo tipo de gente, todos que pensam ser muito mais do que são, gênios por exemplo, mas que se assemelham ao eu lírico em sua pequenez, embora não o saibam.
8. A obra de Álvaro de Campos reflete sobre o ser humano e sua relação com o mundo, com o conhecimento e consigo mesmo. A conclusão dessa reflexão leva à consciência da própria pequenez. Isso aparece claramente na terceira estrofe do poema “Tabacaria”. Qual é a conclusão do eu lírico frente a essa reflexão?
9. O crítico Massaud Moisés, em Fernando Pessoa: o espelho e a esfinge , comenta o poema “Tabacaria”. Leia o trecho a seguir.
Pessoa, já o sabemos, empenha-se na fusão entre o pensar e o sentir. Tal processo corresponde, porém, a um jogo permanente entre ser e não ser, situado nos alicerces da sua poesia e sua visão do mundo: graças ao poder dissolvente da inteligência, nada se lhe resiste à sondagem. Toda afirmação logo mostra o seu contrário, e toda negação imediatamente gera o seu inverso, não raro no espaço de um raciocínio que se pretende silogístico. […]
Nega-se, em consequência, toda verdade unitária, ou seja, que não implique contradição. […]
MOISÉS, Massaud. Fernando Pessoa: o espelho e a esfinge. São Paulo: Cultrix, 1998. p. 73.
Florbela Espanca (18941930) é um nome incontornável na literatura em língua portuguesa, contrastando com Fernando Pessoa, que, como homem, tinha acesso garantido ao espaço público literário e podia subverter subjetividades e estéticas estabelecidas. A poesia de Florbela Espanca redefine a poesia portuguesa ao confrontar o domínio masculino e expressar um sujeito feminino. A modernidade de sua obra está na capacidade de mobilizar a subjetividade mais íntima como forma de revolução, o que destoava das experiências dos demais modernistas. No poema “Versos de orgulho”, um verso condensa essa postura: “Porque Eu sou Eu e porque Eu sou Alguém!”. Sua poesia, ao revelar uma subjetividade feminina, vai além de um mero elogio ao amor: o sentimento amoroso configura-se como um ato de se perder de si e se perder (d)o outro.
Fotografia da escritora em 1930.
7. a) Possibilidade de resposta: “Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?”. O eu lírico como que desiste de projetar algo, já que sequer tem consciência de quem é. Ou “Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu, / E a história não marcará, quem sabe? nem um, / Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras. / Não, não creio em mim”. Nesses versos, o eu lírico não confia mais em nenhuma realização futura e nem acredita que seja alguma coisa, chegando mesmo a menosprezar qualquer conquista, já que dela só sobrará estrume. 295
9. Nesses versos, loucura e certeza ganham sentidos que se confrontam e se complementam: o eu lírico não tem certeza, mas muitos doidos sim; se é assim, o eu lírico se pergunta se será doido ou não. Desse modo, a verdade das certezas fica sob a suspeita, podendo ou não existir na oposição entre a loucura e a lucidez.
• Segundo Massaud Moisés, não existe em Fernando Pessoa verdade unitária, sem contradição. Explique como essa ideia se manifesta nos últimos versos transcritos do poema: “Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas! / Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?”
Os poemas de Álvaro de Campos são marcados pela emoção intensa e por temas existenciais. Sua obra reflete uma busca constante por identidade e sentido em um mundo caótico e em transformação. Campos utiliza um estilo livre, frequentemente expressando sentimentos de angústia, tédio, desassossego e a efervescência da vida urbana.
10. L eia a seguir um poema de Mário de Sá-Carneiro, poeta português contemporâneo e amigo de Fernando Pessoa.
Dispersão
Perdi-me dentro de mim
Porque eu era labirinto, E hoje, quando me sinto, É com saudades de mim.
Passei pela minha vida
Um astro doido a sonhar.
Na ânsia de ultrapassar,
Nem dei pela minha vida…
Para mim é sempre ontem,
Não tenho amanhã nem hoje:
O tempo que aos outros foge
Cai sobre mim feito ontem.
[…]
Como se chora um amante,
Assim me choro a mim mesmo:
Eu fui amante inconstante
Que se traiu a si mesmo.
Não sinto o espaço que encerro
Nem as linhas que projeto:
Se me olho a um espelho, erro — Não me acho no que projeto.
Regresso dentro de mim
Mas nada me fala, nada!
Tenho a alma amortalhada, Sequinha, dentro de mim.
#SOBRE Fotografia do poeta em 1914.
Mário de Sá-Carneiro (18901916) teve infância e juventude marcadas por uma angústia existencial intensa. Ingressou na Faculdade de Direito de Lisboa e começou a publicar algumas novelas. Mudou-se para Paris para terminar os estudos. Em 1914 publicou A confissão de Lúcio e, no ano seguinte, participou da revista Orpheu. Enfrentou fracassos editoriais, amorosos e financeiros que cessaram, quando pôs fim à própria vida aos 26 anos de idade.
Não perdi a minha alma,
Fiquei com ela, perdida.
Assim eu choro, da vida,
A morte da minha alma.
Saudosamente recordo
Uma gentil companheira
Que na minha vida inteira
Eu nunca vi… Mas recordo
A sua boca doirada
E o seu corpo esmaecido,
Em um hálito perdido
Que vem na tarde doirada.
[...].
SÁ-CARNEIRO, Mário de. Dispersão. In: SÁ-CARNEIRO, Mário de. Dispersão E-book. Disponível em: www.gutenberg.org/cache/epub/21799/pg21799-images.html. Acesso em: 11 set. 2024.
• No poema, o eu lírico perde-se em si mesmo, no labirinto de sua própria personalidade. Segundo o texto, o que fez com que o eu lírico se perdesse em sua existência?
Por ter levado toda sua vida como “um astro doido a sonhar” ou preso a um tempo que era “sempre ontem”, o eu lírico acabou vivendo apenas possibilidades que não se realizaram, fragmentando-se em experiências inventadas e nunca vividas.
11. O sujeito busca tanto ultrapassar (a vida) que nem dá pela vida. Agora que a vida passou e ele não ultrapassou, ele vive de um passado que também não se concretizou, um presente e um futuro que se esvaem.
A confissão de Lúcio
Criada por Mário de Sá-Carneiro e publicada em 1914, A confissão de Lúcio é uma obra icônica do Modernismo português que combina romance, conto e novela. A história é narrada por Lúcio, que confessa uma série de eventos perturbadores que ocorreram em Paris. O enredo se desenvolve em torno do triângulo amoroso entre Lúcio, seu amigo Ricardo de Loureiro e a misteriosa Marta. À medida que a trama avança, Lúcio é envolvido em uma teia de paixão e ciúmes que culmina no assassinato de Marta. Esse crime, envolto em mistério e ambiguidade, leva Lúcio a questionar sua sanidade e a realidade dos eventos que testemunhou. Por meio de uma narrativa introspectiva e poética, Sá-Carneiro explora temas como identidade, ilusão e angústia existencial, criando uma atmosfera de tensão que prende o leitor até a última página.
11. O eu lírico do poema sente-se perdido dentro de si porque não vive mais presente nem futuro, apenas passado. Explique como se configura esse labirinto do eu lírico a partir da segunda e da terceira estrofe.
12. O e u lírico apresenta no poema dificuldades para reconhecer a si próprio. Por que esse eu lírico não se reconhece?
Porque tem a alma seca, amortalhada, ou seja, morta, o que o impede de encontrar a si mesmo na imagem projetada da alma.
A poesia de Mário de Sá-Carneiro é marcada por uma intensa exploração do eu interior e de conflitos existenciais. Seus versos frequentemente revelam uma busca desesperada por identidade, equilíbrio e sentido, manifestando uma profunda angústia e um sentimento de inadequação em relação ao mundo.
HIPERlINK
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Heteronímia de Fernando Pessoa
A heteronímia de Fernando Pessoa é um fenômeno singular na literatura. Distinguindo-se da simples utilização de pseudônimos, a heteronímia envolve a criação de personalidades completas e distintas, cada uma com uma biografia própria, estilo literário, visão de mundo e voz poética. Entre os heterônimos mais conhecidos de Fernando Pessoa estão Alberto Caeiro, o mestre bucólico e sensacionista; Ricardo Reis, o médico neoclássico e epicurista; e Álvaro de Campos, o engenheiro naval modernista e angustiado. Essa multiplicidade de vozes permitiu a Pessoa explorar diferentes facetas da existência humana e experimentar diversas formas e temas literários, enriquecendo significativamente a literatura portuguesa e oferecendo um complexo mosaico de percepções e reflexões sobre a realidade.
Seu primeiro heterônimo foi Chevalier de Pas, que trocava cartas com o poeta quando este tinha seis anos de idade. Dentre os heterônimos, destacam-se ainda Bernardo Soares, Barão de Teive, Alexander Search, Charles Robert Anon, entre outros. Agora é com você!
Para conhecer mais sobre o autor e seus heterônimos, acesse o site http://arquivopes soa.net/ (acesso em: 11 set. 2024). Selecione um poema de cada um dos heterônimos mais conhecidos do poeta. Escolha um deles para, em dia combinado com o professor, ler e analisar em classe. Fique atento aos seguintes aspectos para fazer a análise.
• Recursos estéticos: o estilo de composição de cada heterônimo;
• Temas do poema;
Professor, a atividade pode ser feita em duplas.
• Diálogos temáticos ou formais com os demais heterônimos.
©NEGREIROS, ALMADA/ AUTVIS, BRASIL, 2024
NEGREIROS, Almada. Retrato de Fernando Pessoa. 1954. Óleo sobre tela, 201 cm x 201 cm. Coleção particular.
Em sua obra poética, Mário de Sá-Carneiro explorou de forma frequente a questão da autoimagem e do corpo. Em seus poemas, ele aborda a dualidade entre o ser interior e sua expressão exterior, revelando uma profunda insatisfação com sua própria identidade física e psicológica. Essas reflexões promovidas pela literatura podem dialogar com a Educação Física, que desempenha um papel crucial na reflexão sobre o corpo e a autoimagem, ao promover uma consciência corporal saudável e positiva. Por meio de atividades físicas, práticas esportivas e exercícios, a Educação Física pode ajudar os indivíduos a desenvolverem uma relação mais equilibrada e consciente com seus corpos.
Ao incentivar a valorização do corpo em todas as suas formas e capacidades, a Educação Física pode colocar em questão percepções negativas e estereótipos, favorecendo positivamente a autocompreensão e a autoestima. Integrando exercícios físicos com discussões sobre autoimagem, a Educação Física pode ser uma poderosa ferramenta para promover o bem-estar físico e mental, alinhando-se com as reflexões literárias sobre identidade e existência.
GALHARDO, Caco. [Professor Rocha]. Folha de S.Paulo, São Paulo, 6 out. 2023. Disponível em: https://cartum.folha.uol.com.br/ quadrinhos/2023/10/06/bicudinho-caco-galhardo.shtml. Acesso em: 21 set. 2024.
Não escreva no livro.
Respostas e comentários nas Orientações para o professor.
1. Forme uma dupla com um colega e pesquise como as atividades físicas podem ajudar a melhorar a autoimagem e a autoestima.
2. Como se constrói uma imagem sobre o corpo?
3. Que agentes sociais participam dessa construção?
4. Como atividades da Educação Física podem contribuir para discutir os vários preconceitos que cercam a imagem corporal?
As respostas são pessoais. Espera-se que os estudantes reflitam como os modelos de beleza padronizados, a busca pelo “corpo ideal”, na maioria das vezes inalcançável, podem ser deletérios na formação da autoestima e da autoimagem. Tentar livrar-se desses estereótipos, percebendo-se como “normal” independentemente de estar mais ou menos próximo desse padrão, é algo a ser cultivado e valorizado.
Depois da perda da colônia brasileira, agravaram-se as crises econômicas e sociais em Portugal. Com uma agricultura deficitária e uma industrialização irrelevante, as apostas econômicas do reino repousavam nas colônias da África. Mas, em 1890, a Inglaterra exigiu que Portugal retirasse suas tropas de uma faixa de terra africana, pretendida pelos lusitanos porque ligava Moçambique a Angola, duas colônias portuguesas. Após uma fácil rendição às exigências britânicas, instalou-se no país uma grave crise interna que, aliada à economia em crise, à instabilidade social, entre outros fatores, culminaria na Proclamação da República, em 1910. No entanto, essa Primeira República não conseguiu superar os problemas que herdara; 45 governos passaram pelo poder em apenas 15 anos. Em 1926, um golpe militar deu início a uma ditadura militar que foi sucedida pelo Estado Novo, comandado por Antônio Salazar (1889-1970). Apenas em 1974, ano da Revolução dos Cravos, foi restaurada a democracia em Portugal.
Em 5 de outubro de 1910, a Monarquia dava lugar à República em Portugal. A PROCLAMAÇÃO da República portuguesa em 5 de outubro de 1910. [Entre 1910 e 1919]. Litografia.
Nesse contexto tumultuado, a produção artística portuguesa buscava resgatar o passado glorioso das navegações e da literatura renascentista. Em 1910, a publicação da revista A águia pretendia divulgar as ideias do movimento Renascença Portuguesa, que buscava reproduzir a estética do período áureo de Portugal. A literatura portuguesa ia, assim, na contramão das vanguardas artísticas que se disseminavam pela Europa.
Com o retorno de jovens que tinham ido estudar em outros países europeus, as vanguardas começaram a chegar ao país. As pinturas de Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918) e de Santa-Rita Pintor (1889-1918) reproduziam a estética cubofuturista e propunham uma atualização da cultura nacional. A ópera se renovava e o fado ganhava prestígio. A partir da década de 1920, a indústria cinematográfica ganhou força com adaptações de obras literárias.
O quadro O fado fixou-se como ícone de “portugalidade”. MALHOA, José. O fado. 1910. Óleo sobre tela, 150 cm × 183 cm. Museu de Lisboa, Portugal.
A publicação da revista Orpheu, em 1915, inicia em Portugal o movimento modernista. O Modernismo é marcado pelo futurismo e passa a exaltar a vida moderna, com suas máquinas e tecnologia, e pelo paulismo – conceito derivado do poema Impressões do crepúsculo (1913), de Fernando Pessoa, que propunha ao artista refugiar-se em seus sonhos criando imagens sobrepostas, desconexas, à maneira cubista. Também defende o sensacionismo, que sustentava a ideia de que a única realidade é a sensação e a consciência que se tem dela; caberia ao escritor não apenas registrar as suas sensações, mas experimentar novas, dividir-se e multiplicar-se em novas identidades para construir um novo olhar que sobrepusesse todas as sensações, como a sobreposição dos lados de um cubo em um só plano. O sensacionismo influenciará toda a geração modernista.
Em busca da cultura nacional
O futurismo, o paulismo e o sensacionismo representam na literatura as vozes de um povo que via se esgotarem as esperanças de desenvolvimento do país. Logo Portugal se renderia a uma ditadura com características fascistas. Nesse contexto, duas vozes se opõem. Por um lado, a dos escritores e intelectuais, engajados na vida política do país desde a geração de 1870, que se atualizavam com a chegada das vanguardas. De outro, a de grande parte da população voltada ao passado glorioso da nação, representada pela revista A águia, que via na exaltação do passado uma forma de escapar da realidade. É esse indivíduo cindido que está representado na literatura modernista.
Capa da revista Orpheu PACHECO, José. Capa. Orpheu, Lisboa, n. 1, jan./fev./mar. 1915.
Capa da revista A águia. PINTO, Álvaro. Capa. A águia, Porto, ano 3, n. 4, 1 abr. 1912.
O Manifesto Futurista de Marinetti, publicado em 1909, chegou a Portugal no mesmo ano, no contexto da criação da República, e permitiu à arte portuguesa olhar e compreender a realidade de novas maneiras. A arte crítica da geração de 1870 dos realistas portugueses tinha cedido espaço a uma arte acadêmica e formal. A chegada das vanguardas estéticas traz uma renovação na arte que tem como marco a publicação da revista Orpheu, em 1915, que, em apenas dois números, trouxe textos de escritores e artistas que se tornariam centrais na literatura e na arte do país. O Modernismo em Portugal, ao romper com as tradições, busca novas formas de expressão artística que refletissem a complexidade da vida moderna. Esse movimento foi marcado pela experimentação formal, pela valorização da subjetividade e pelo questionamento das convenções estabelecidas. Fernando Pessoa é o nome mais emblemático do Modernismo português. Poeta multifacetado, criou vários heterônimos, cada um com sua própria biografia, estilo literário e visão de mundo. Entre os mais famosos estão Alberto Caeiro, com a obra O Guardador de Rebanhos (1925);
Ricardo Reis, autor de Odes (1946); Álvaro de Campos, com poemas dispersos; e a obra do próprio Fernando Pessoa, dito ortônimo, que publicou Mensagem (1934), livro de poemas que exalta a história e os mitos de Portugal, trazendo uma perspectiva de futuro para o país. Mário de Sá-Carneiro, grande amigo de Pessoa e cofundador da revista Orpheu, também se destacou com uma obra marcada pelo simbolismo, pela exploração dos limites da experiência humana e por uma profunda angústia existencial. Entre suas obras mais importantes estão o romance A Confissão de Lúcio e o livro de poemas Dispersão (1914). José Régio (1901-1969) trouxe uma nova dimensão ao Modernismo com a exploração psicológica dos personagens e abordagem introspectiva. Suas obras incluem o romance Jogo da Cabra Cega (1934) e a coletânea Poemas de Deus e do Diabo (1925).
A obra de poetas contemporâneos, como Filipa Leal e Margarida Vale de Gato, dá continuidade e transforma temas e procedimentos modernistas, explorando a identidade, a experiência subjetiva e a condição humana com uma sensibilidade e uma linguagem que dialogam com a tradição inaugurada por seus predecessores. Assim, o Modernismo continua a ser uma referência na poesia portuguesa contemporânea, inspirando novas gerações de escritores a desafiarem as convenções e a refletirem sobre a complexidade da experiência humana.
Amadeo de Souza-Cardoso recorre a recursos de vanguardas artísticas como o Cubismo e o Futurismo para registrar elementos da cultura portuguesa. Em A chalupa, as ondas transformam-se em montanhas azuis que tudo consomem.
SOUZA-CARDOSO, Amadeo de. A chalupa. 1914-1915. Óleo sobre tela, 60,5 cm x 80 cm. Museu Calouste Gulbenkian, Lisboa, Portugal.
Literatura e o “sentimento do mundo”
A literatura mantém relações complexas e diversas com a realidade objetiva. Observar essas relações permite pensar sobre os conflitos entre o sujeito e a sociedade, o meio em que vive, os dilemas que atravessam uma época e as possibilidades de elaboração da linguagem para expressá-las.
Como vimos anteriormente, um autor, se vive mergulhado na vida social, também a considera de um lugar singular, que não é impermeável à vida afetiva. “Tabacaria”, de Álvaro de Campos, por exemplo, só seria possível no contexto do Modernismo pela liberdade de composição que lhe deu expressão; mas é também a manifestação de uma sensação de vazio, de solidão e de incompreensão de um sujeito que interroga a si mesmo e ao mundo.
O leitor também encontra na literatura um continente no qual pode projetar suas próprias emoções e nelas se abrigar, encontrando na expressão literária uma forma de dizer o que ele mesmo sente, percebe, idealiza. Quem, ao ler um poema, um romance, ao prestar atenção em uma letra de música ou fala de personagem, nunca pensou: eu poderia ter escrito isso!?
A dimensão subjetiva que o engenho da palavra explora, em que tem lugar o sentimento do mundo – para lembrar uma expressão do poeta Carlos Drummond de Andrade –, também pode revelar algo de nós, de nosso modo de sentir, gostar, ver o mundo – enfim, algo de nossa identidade. E isso é tão importante quanto entender as relações entre literatura e realidade objetiva.
Essa vastidão de possibilidades é uma das fontes do poder da Literatura.
Para discutir
Não escreva no livro.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor. Professor, este pode ser um bom momento para os estudantes se expressarem e trocarem suas inquietações, seus anseios e conflitos. Garanta um ambiente de acolhimento para que se sintam seguros a se expor.
1. Entre os textos que você leu nesta unidade, algum deles o emocionou de modo especial?
2. Você já leu um poema, um romance, uma peça de teatro, já ouviu alguma letra de música que você acha que poderia ter escrito? Se sim, qual? Compartilhe com os colegas.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Português daqui e de lá
As diferenças entre o português de Portugal e o português do Brasil começaram a se consolidar com a colonização. No Brasil, o contato do português com diversas línguas indígenas e africanas, além das influências de imigrantes latinos, europeus e asiáticos, contribuíram para o desenvolvimento de uma língua com características próprias. Ao mesmo tempo, o português europeu também passou por transformações significativas. Em Portugal, a língua evoluiu sob a influência de outras línguas europeias, moldadas pelas interações culturais e sociais no continente europeu, resultando em variações diferentes das do português falado no Brasil.
No aspecto lexical, por exemplo, enquanto em Portugal usa-se autocarro para referir-se ao veículo de transporte coletivo, no Brasil o termo é ônibus. A mesma diferença pode ser observada em palavras como pequeno-almoço (PT) e café da manhã (BR); gelado (PT) e sorvete (BR).
Diferenças sintáticas e gramaticais também são evidentes. No português brasileiro, é comum o uso informal de me dá em vez de dá-me, que é mais frequente em Portugal. Em Portugal, o uso do infinitivo é mais comum em construções em que os brasileiros usariam o gerúndio. Em vez de dizerem estou fazendo, em Portugal o mais corrente é dizer estou a fazer.
O Acordo Ortográfico, que entrou em vigor em 2009, tentou aproximar as variantes do português e reduzir as diferenças ortográficas entre os países lusófonos. Apesar disso, as diferenças no uso cotidiano da língua permanecem, refletindo as distintas trajetórias históricas e culturais de cada país.
De acordo com a Base Nacional Comum Curricular, versão de 2018, página 503, é enfatizado que, no Ensino Médio, a área de Linguagens e suas Tecnologias desenvolva nos estudantes o aprofundamento das “análises das formas contemporâneas de publicidade em contexto digital, a dinâmica dos influenciadores digitais e as estratégias de engajamento utilizadas pelas empresas”. Dessa forma, todos os usos relacionados à publicidade, propaganda e formas de engajamento em redes sociais apresentadas nesta coleção são para fins didáticos e seus usos em contexto social. Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Nesta unidade, você leu poemas em que o eu lírico desenvolvia um questionamento existencial e reflexões sobre a imagem de si e do outro. Similarmente, nas redes sociais, esse olhar para si e o falar de si é compartilhado, com a exposição de pensamentos e emoções, que podem buscar por promoção ou validação de si. Essa exposição muitas vezes revela uma busca por compreender o próprio lugar no mundo, destacando tanto a conexão quanto a alienação que podem surgir desse processo.
Para discutir
1 Por que as pessoas gostam de compartilhar momentos da sua vida nas redes sociais?
2 Como as curtidas e comentários nas redes sociais afetam o que alguém decide postar? E como afetam o modo como cada internauta se vê?
3 Qual tipo de conteúdo você mais gosta de ver nas redes sociais? Por quê?
Respostas pessoais. Professor, procure criar um ambiente saudável no qual os estudantes tenham segurança para dizer o que pensam, sem que haja gracejos e gozações que os fariam simplesmente replicar o que já acontece nas redes, ou seja, dizer apenas o que acham que os outros querem ouvir, para se sentirem validados e respeitados pelos outros.
A seguir, você vai ler algumas postagens realizadas em uma rede social pelo perfil de Alê Garcia, em 2024.
Texto 1
Texto 2
2.233 publicações 32,6 mil seguidores 4.319 seguindo
Alê Garcia alegarcia
Escritor(a) SP
cinema • séries • cultura negra
• Founder @casablack.cc
• Embaixador @reserva
• Mentor @googlebrasil alegarcia@mynd8.com.br zez.am/alegarcia + 1
ALÊ GARCIA. [S. l.], c2024. Instagram: alegarcia. Disponível em: www.instagram.com/alegarcia/. Acesso em: 10 set. 2024.
Olá. Que bom que você está aqui. Pode ser que tenha chegado agora, mas pode ser que esteja aqui há tempos. E, em ambos os casos, pode ser que não saiba exatamente quem eu sou: eu sou Alê Garcia e eu falo de filmes, séries, livros, música, raça e sociedade. Sempre sob uma abordagem afrocentrada. Eu sou escritor, criador de conteúdo e publicitário e criei este perfil para inspirar e empoderar as pessoas através da cultura e da história negra.
Mas eu também criei um canal no YouTube. E criei os podcasts @negrodasemana, Drive Your Funky Soul e Um Papo Preto. Me tornei apresentador na maior plataforma de cultura pop do Brasil,
o @omelete. Fui mentor da primeira edição do @googlebrasil Black Creators Program. Co-criei o Prêmio Potências! junto com a @music2mynd, pela qual sou agenciado. E junto com a @gilvana_viana, fundamos a @casablack.cc
Lancei alguns livros: ʻAgora que estamos de voltaʼ, ʻCachorro correndo sem cabeçaʼ e o mais recente, ʻNegros Gigantesʼ, autobiografia unida às histórias de doze pessoas negras fundamentais na sua formação. Fui finalista do Prêmio Jabuti e ganhador do Prêmio Fundação Biblioteca Nacional com meu primeiro livro, ʻA sordidez das pequenas coisasʼ que, aliás, vai ganhar nova edição este ano pela @dublinense
Por causa de um pouco disso tudo, fui considerado um dos 20 creators negros mais inovadores do país segundo a Forbes. Mas o que eu quero te dizer, mesmo, é que sigo gravando pro meu canal no YouTube, o que eu adoro, com vídeo novo toda terça e quinta-feira. Vai lá conhecer? O link tá na bio, mas você também pode digitar ‘alê garcia’ no YouTube que, certamente, vai dar bom :) #youtube #blackcreators
GARCIA, Alê. [Quem é Alê Garcia]. [S. l.], 9 ago. 2023. Instagram: alegarcia. Disponível em: www.instagram.com/p/CvtbwEkNT2j/?img_index=1. Acesso em: 10 set. 2024.
Supacell é a série que você precisa assistir! Com uma abordagem única, ela usa os superpoderes dos personagens para refletir sobre a experiência negra. A trama aborda temas como racismo médico e testes involuntários, lembrando as injustiças históricas.
A trilha sonora, com nomes como Ghetts e Digga D, eleva ainda mais a narrativa, conectando o real ao sobrenatural. Assista agora e descubra por que todos estão falando sobre Supacell!
[…]
#Supacell #Rapman #SuperHeroThriller #Representatividade #CulturaNegra #RacismoMédico #DoençaFalciforme
#HipHopBritânico #Ghetts #DiggaD #SériesNetflix #TVBritânica
GARCIA, Alê. [Quando super-heróis são uma parábola para a negritude]. [S. l.], 9
Disponível em: www.instagram.com/p/C9NP5UWuOXK/.
Em 2010 quando estava terminando de escrever este livro, eu estava longe de entender para onde poderia ir. E distante de compreender tudo o que poderia de fato dizer com a literatura
E ainda assim, talvez de forma inconsciente, eu estava dizendo: conseguindo traduzir em literatura o que eu vivia, me preocupava, o que eu então considerava como limitação, mas que na verdade era a base que forjava quem eu sou
Eu estava, também, criando tramas sobre questões raciais e sociais. Em um momento em que ninguém ainda estava preocupado com estas questões. Em um momento em que a literatura branca, entediada, do homem intelectual, envolvido com suas questões existenciais, era o que dominava as maiores editoras brasileiras, eu estava tentando escrever sobre raça e claro que eu iria ser ignorado por editores e por
2. b) Texto 2: Pessoas que buscam por conteúdos do Youtube e interessadas em influencers negros.
Texto 3: Pessoas interessadas na série, em super-heróis, em doenças, em negritude, em séries e nos músicos que compuseram a trilha sonora.
Texto 4: Pessoas interessadas em livros, autores negros e no livro específico A sordidez das pequenas coisas
críticos das mídias mainstream e tudo o que iria me sobrar, com sorte, era a possibilidade de publicação do meu livro por algum selo obscuro e a resignação de promovê-lo por conta Felizmente não foi isso que aconteceu. Veio Prêmio Jabuti, veio Prêmio da Fundação Biblioteca Nacional e agora esta reedição comemorativa do meu PRIMEIRO LIVRO, 13 anos depois! É um livro que me fez e me faz muito feliz. Espero que faça feliz a vocês também! LEIAM
LINK NA BIO #asordidezdaspequenascoisas #literatura #escritoresnegros #livros #books
Finalista do Prêmio Jabuti/Ganhador do Prêmio Fundação Biblioteca Nacional/Um dos 20 creators negros mais inovadores do país segundo a Forbes
Escritor/Apresentador de podcast (Negro da semana, Drive Your Funky Soul e Um Papo Preto)/ Apresentador do portal Omelete/Mentor do Black Creators Program/ Influenciador digital
GARCIA, Alê. [A sordidez das pequenas coisas]. [S. l.], 21 set. 2023. Instagram: alegarcia. Disponível em: www.instagram.com/p/Cxd136TPiiw/. Acesso em: 10 set. 2024.
Não escreva no livro.
Publicidade (Professor, caso queira complementar: PUC-RS)
Porto Alegre (RS)
1. Com base nas postagens de Alê Garcia, esboce um currículo dele. Copie o organizador a seguir no caderno e complete-o com as informações encontradas nas postagens de Alê Garcia.
Alê Garcia (Professor, caso queira complementar: Alessandro Garcia)
Nome
Natural de Formação acadêmica
Experiência profissional
Habilidades
Publicações
Prêmios
A sordidez das pequenas coisas/Agora que estamos de volta/Cachorro correndo sem cabeça/Negros Gigantes
2. Em redes sociais, além de se apresentar, é fundamental estabelecer o perfil de interlocutores com os quais as postagens buscam interagir.
a) Qual seria o interlocutor das postagens de Alê Garcia?
Interessados em cinema, literatura, arte em geral, em especial as pessoas manifestamente engajadas na luta contra discriminação em geral, em especial na luta social antirracista.
b) Todas as postagens de Alê Garcia são acompanhadas de hashtags – palavras ou frases precedidas pelo símbolo #, que sinalizam a categoria dos conteúdos e facilitam a busca por temas e a participação dos interlocutores em conversas sobre assuntos de interesse comum. Considere as hashtags das postagens dos textos 2, 3 e 4 e identifique o perfil de leitor que elas pretendem alcançar.
Ativista social, escritor, comunicador, influenciador
c) Alê Garcia busca criar uma conexão mais direta com seu interlocutor. Que recurso linguístico evidencia essa interlocução?
Ele se dirige diretamente ao seu interlocutor usando o pronome você
d) Redes sociais são muito dinâmicas. Um perfil é capaz de ganhar milhares de seguidores em poucos minutos e também é capaz de perder o mesmo número de seguidores se for submetido a uma campanha de cancelamento nas redes sociais. Que recurso Alê Garcia utiliza para garantir novos seguidores?
Alê fez uma postagem específica para novos seguidores reproduzindo um resumo de seu percurso e qualidades para se apresentar.
3. A s postagens de redes sociais podem ter diferentes objetivos. Copie, no caderno, os objetivos mais evidentes das postagens de Alê Garcia.
Resposta: alternativas V, VI e VII.
I. Atrair a atenção do público para ampliar a visibilidade e o alcance da publicação.
II. Criar conteúdos divertidos para entreter o público.
III. Divulgar notícias para informar o público sobre fatos cotidianos.
IV. Estabelecer e manter conexões profissionais.
V. Fornecer conteúdo educativo ou informativo que agrega valor ao público.
VI. Promover causas sociais e mobilizar apoio para iniciativas de responsabilidade social.
VII. Promover produtos, serviços ou eventos.
5. b) A imagem 1 apresenta Alê em destaque, em um fundo monocromático, olhando com expressão de satisfação ou olhando para um lugar além, com roupa e posicionamento casual, sugerindo alguém triunfante. A imagem 2 também apresenta Alê em destaque, com o nome YouTube e o link do canal em destaque sobrepostos à imagem dele, com fonte grande e amarela, com clara intencionalidade de divulgação do canal de alguém que, pela postura sentada com torção do corpo, olhando para cima como que em busca de algo, parece curioso, indagador. A imagem 4 apresenta Alê tapando o rosto com seu livro, dando destaque à capa, com um fundo repleto de outros livros e um pôster com nomes de bairros de Nova York, sugerindo ser alguém que lê muito e viaja. A imagem tem claro propósito de divulgar o produto e enaltecer a si mesmo não só pelo lançamento, mas também por ser quem é.
4. A s redes sociais organizam as postagens em um feed que segue uma ordem cronológica. Explique qual é a importância de uma postagem como a do texto 2.
Como as postagens aparecem em ordem cronológica, postagens de apresentação podem ficar muito abaixo no feed e precisam ser sempre refeitas ou repostadas.
Uma postagem de rede social é um conteúdo compartilhado em plataformas digitais – como texto, imagem, vídeo ou link – projetado para comunicação e interação com outros usuários. Suas características incluem brevidade, relevância, utilização de hashtags, interatividade (curtidas, comentários, compartilhamentos) e a capacidade de alcançar um amplo público instantaneamente.
5. Em redes sociais, a construção de uma imagem de si é fundamental para garantir a confiabilidade de tudo que é postado, bem como atrair e manter seguidores.
a) A s postagens de Alê Garcia que você leu constroem que imagem dele?
b) Em postagens de algumas redes sociais, as imagens são muito importantes. Analise agora as fotografias e montagens dos textos 1, 2 e 4 indicando os recursos e sentidos que as compõem.
c) A montagem que compõe o texto 3 faz referência à série Supacell, indicada por Alê. Que elementos da imagem são responsáveis por captar a atenção do usuário da rede?
6. Uma das postagens sugere uma vida para além das redes sociais.
a) Que dica e conselho Alê dá aos seus seguidores para se dedicarem além das redes?
Alê sugere que leia seu livro e que assistam à série Supacell.
b) Qual seria o interesse de Alê com postagens que apresentam sugestões e dicas como essas?
c) Que argumentos Alê dá para que seus seguidores sigam suas dicas?
7. No momento em que esta atividade foi produzida, Alê Garcia contava com 32,6 mil seguidores e 2.233 publicações.
a) E xplique qual é a importância de Alê manter uma regularidade e qualidade de postagens.
b) Quais seriam os ganhos de Alê Garcia com esse número de seguidores e um eventual crescimento?
c) No perfil e em postagens, Alê Garcia pode inserir links para suas demais redes sociais e site pessoal. Qual é a importância desses links?
7. a) Com a manutenção de regularidade e qualidade de postagens, Alê pode manter e conseguir mais seguidores. Quanto mais seguidores Alê tiver em mais redes sociais, mais benefícios consegue.
O fundo rosa choque com fontes brancas e destaque azul chamam atenção, bem como a figura de uma mulher negra com a mão aberta e figuras menores na parte de baixo. diz respeito à série, destaca a relação entre com o racismo históricas, além atenção à trilha a importância que tematiza de atingir um maior público
seu discurso e defende, pode também capitalizar com as interações em redes sociais, fazer publicidade e vender seus livros.
Engajamento nas redes sociais refere-se à interação ativa dos usuários com o conteúdo publicado, incluindo curtidas, comentários, compartilhamentos e visualizações. Várias estratégias podem ser experimentadas para se ampliar esse engajamento, como criar conteúdo relevante e de alta qualidade, utilizar hashtags eficazes, responder aos comentários dos seguidores, realizar enquetes e postar regularmente em horários de pico. Os benefícios do aumento do engajamento incluem maior visibilidade, fortalecimento da comunidade, fidelização do público e potencial aumento nas conversões e vendas.
8. L eia a tirinha a seguir, do cartunista André Dahmer.
6. b) Alê pode vender mais livros, conseguir um maior engajamento de seus seguidores e cumprir com o objetivo ético de seu perfil de exaltar a cultura negra.
8. Não, as postagens de Alê Garcia sinalizam um uso das redes sociais mais engajado e responsável, o que contradiz a ideia de uso alienado e inconsequente das redes, como faz a personagem da tirinha.
DAHMER, André. [O poço dos desejos]. Malvados. [S. l.], [2012]. Disponível em: https:// malvados.com.br/index1650. html. Acesso em: 10 set. 2024.
• Você leu algumas postagens de Alê Garcia. O propósito dessas postagens pode ser considerado o mesmo que o da personagem da tirinha? Por quê?
5. a) É construída uma imagem de uma pessoa engajada, de muito sucesso e atitude, que produz e que está envolvida em vários projetos concomitantes. Também constroem a imagem de alguém que se destaca por suas qualidades, formação e atividades, o que lhe garante uma posição de autoridade, um lugar de fala diante do interlocutor.
1. a) A segurança de um wi-fi público é muito vulnerável. Por isso é melhor sempre evitar transações pessoais.
1. b) Expressa a finalidade de seguir as dicas de segurança.
2. b) O sentido de tempo, sugerindo o momento em que se devem seguir as dicas de segurança.
Usar redes sociais ou navegar na internet pode oferecer vários perigos, se essas ações não forem feitas com responsabilidade e cuidado. Leia a seguir uma dica de segurança importante para uma navegação segura.
3. a) Essa oração indica a condição para se evitarem transações.
3. b) Porque ela indica que não é necessário sempre evitarem transações, somente se estiver em wi-fi público.
1 O trecho revela uma dica importante para o uso seguro de internet.
a) Qual seria o perigo de usar o wi-fi público e como seria possível garantir segurança?
b) A oração destacada faz parte de um período composto. O que ela expressa?
2. a) Liga-se ao verbo seguir.
2 Considere o trecho destacado
a) A que termo se liga essa oração?
b) Que sentido ela agrega a esse verbo?
c) Que outra oração do texto exerce a mesma função?
2. c) “Quando você está fora de casa”.
[…] Os cenários digitais como os conhecemos estão em constante evolução à medida que os criminosos cibernéticos criam novas formas de atingir os usuários da Internet. […]
Para evitar todos esses perigos, recomendamos seguir nossas dicas essenciais de segurança na Internet quando você ou sua família estiverem online: 1. Verifique se você está usando uma conexão segura com a Internet Embora o uso de Wi-Fi público não seja recomendado, às vezes é inevitável quando você está fora de casa. No entanto, quando você entra online em um local público e usa uma conexão Wi-Fi pública, você não tem controle direto sobre sua segurança, o que pode deixá-lo vulnerável a ataques cibernéticos. Se estiver usando Wi-Fi pública, evite realizar transações pessoais que usem dados confidenciais, como acessar bancos online ou fazer compras online.
15 PRINCIPAIS regras de segurança na Internet e o que não fazer online. Kaspersky, [s. l.], c2024. Disponível em: www.kaspersky.com.br/resource-center/preemptive-safety/ top-10-preemptive-safety-rules-and-what-not-to-do-online. Acesso em: 11 set. 2024.
3 Considere a oração em destaque.
a) Que sentido essa oração agrega à oração principal à qual se liga?
b) Por que, embora essa seja uma oração optativa para o entendimento da oração principal, ela é fundamental para o texto?
4 Considere a oração em destaque. Essa oração afirma que o uso de wi-fi público não é recomendado. Que sentido o conectivo embora introduz na oração?
4. Introduz a ideia de que a ação expressa pela oração principal pode ocorrer mesmo nas condições expressas pela oração em destaque.
Algumas orações atuam sobre outra oração para expressar circunstâncias – de tempo, modo, lugar etc. – ou expressar sentidos próprios de um advérbio, desempenhando a função de um adjunto adverbial, mas desenvolvido em oração. Essas são chamadas orações subordinadas adverbiais. As orações subordinadas adverbiais atuam sobre uma oração principal de forma a expandir os sentidos, modalizá-los ou especificá-los. Para entender melhor, observe as orações subordinadas destacadas a seguir.
Professor, se considerar oportuno, apresente a lista de perigos citada na matéria: roubo de identidade; violações de dados; malware e vírus; e-mails de phishing e golpes; sites falsos; golpes on-line; golpes de romance; conteúdo inadequado; cyberbullying; configurações de privacidade defeituosas.
Não realize transações pessoais quando estiver conectado em wi-fi público
Oração principalOração subordinada adverbial temporal
Esse é um exemplo de oração subordinada adverbial temporal, que define para a oração principal uma circunstância de tempo.
Observe este período.
Não realize transações pessoais em wi-fi público para não ficar exposto a ataques.
Oração principal
Oração subordinada adverbial final
Nesse caso, há uma oração subordinada adverbial final, que define para a oração principal uma circunstância de finalidade, de objetivo.
No período:
Seja responsável nas redes como seria na vida real.
Oração principal Oração subordinada adverbial comparativa
há uma oração subordinada adverbial comparativa, que estabelece uma relação de comparação entre o que expressam a oração principal e a subordinada.
Observe este outro período:
Quanto mais conhecer sobre segurança na internet, menor a chance de ser prejudicado.
Oração subordinada adverbial proporcional Oração principal
Nesse outro exemplo, a oração subordinada adverbial proporcional estabelece uma relação de proporcionalidade entre o que está expresso na oração principal e na subordinada.
Observe o sentido deste período:
Se for responsável nas redes sociais, poderá se divertir sem preocupações.
Oração subordinada adverbial condicional Oração principal
Nele há um exemplo de oração subordinada adverbial condicional, que define a condição para que ocorra a ação da oração principal.
Observe o período:
Não acessou o aplicativo do banco, pois estava conectado em wi-fi público.
Oração subordinada adverbial causal Oração principal
Nesse caso, há uma oração subordinada adverbial causal, que expressa a causa que leva à consequência exposta pela oração principal.
No período:
Era tão preocupado com conectividade, de forma que não acessava wi-fi fora de casa.
Oração principal
Oração subordinada adverbial consecutiva
identifica-se uma oração subordinada adverbial consecutiva, que expressa a consequência da oração principal.
Observe este período:
O uso de wi-fi público não é recomendado embora nem sempre seja possível evitar.
Oração principal
Oração subordinada adverbial concessiva
Nesse caso, há uma oração subordinada adverbial concessiva, que estabelece entre as orações uma relação de concessão.
No período:
Seguia as dicas de uso responsável conforme eram divulgadas publicamente.
Oração principal
Oração subordinada adverbial conformativa
identifica-se uma oração subordinada adverbial conformativa, que estabelece uma ideia de conformidade entre a oração principal e a subordinada.
As orações subordinadas adverbiais têm papel importante na construção de uma lógica discursiva no texto que estabelece relações de causa e consequência, condição e finalidade, comparação e proporção, concessão e conformidade, além de modalizarem informações e marcarem tempo ou espaço.
Oração subordinada adverbial é aquela que desempenha a função sintática de adjunto adverbial expressando circunstâncias da ação.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Subordinadas adverbiais reduzidas
Em algumas orações subordinadas, o verbo se apresenta em uma das formas nominais –infinitivo, gerúndio ou particípio – e as orações se ligam a outras sem conectivos. Por isso são chamadas reduzidas. Observe os exemplos a seguir.
I. Olhando dessa forma, é possível um uso mais cuidadoso das redes sociais.
Oração subordinada adverbial condicional reduzida de gerúndio Oração principal
II. Acessadas com frequência e em excesso, as redes sociais são nocivas.
Oração subordinada adverbial condicional reduzida de particípio Oração principal
III. O usuário de redes posta regularmente para dar engajamento ao perfil.
Oração subordinada adverbial final reduzida de infinitivo Oração principal
As orações subordinadas em destaque têm em comum o fato de que não há conectivo entre elas e as orações a que se relacionam. Além disso, o verbo da oração subordinada está em uma forma nominal: o gerúndio (olhando), o particípio (acessadas) ou o infinitivo (dar).
Tais orações são classificadas como orações subordinadas reduzidas, em oposição às suas formas desenvolvidas:
3. b) No primeiro quadro, em que há a oração adverbial que caracteriza o momento como bloqueador da visão, obscuro, o ambiente não tem luz; no quadro em que a oração adverbial caracteriza o momento como pedregoso, difícil, a personagem está colocada diante de pedras espalhadas pelo chão.
I. Se olharmos dessa forma, é possível ter mais cuidado com o uso das redes sociais. Oração subordinada adverbial condicional
Oração principal
II. Se acessadas com frequência e em excesso, as redes sociais são nocivas.
Oração subordinada adverbial condicional
3. c) Quanto ao sentido da mensagem, as orações subordinadas adverbiais colaboram ao estabelecerem textualmente o contraste que se expressa graficamente: onde e quando houver uma situação adversa, seja o primeiro a desempenhar uma ação positiva, que combata a adversidade. Assim, estabelecem textualmente o contexto em que se deve agir de forma propositiva, afirmativa.
Oração principal
III. O usuário de redes posta regularmente para que dê engajamento ao perfil
Oração subordinada adverbial final Oração principal
As orações subordinadas que apresentam verbos em alguma das formas nominais – quer sejam substantivas, adjetivas ou adverbiais – são classificadas como orações reduzidas. O modo de classificá-las relaciona-se à forma nominal do verbo.
• Reduzidas de gerúndio;
• Reduzidas de particípio;
• Reduzidas de infinitivo
1. b) A elaboração de uma linguagem que usa metáforas como recurso para uma reflexão sobre a vida: a falta de perspectiva, expressa em nada puder ser visto; ou a pedra, que pode ser entendida no sentido de dificuldades. Também a palavra primeira evoca outra coisa que não seu sentido literal: pode ser entendida como princípio de ação. Além disso, o texto cria antíteses não previstas no par de palavras que as formam: pedra e flor só criam oposição no contexto da tirinha e, portanto, são usadas em sentido conotativo. Professor, a parte verbal da tirinha é composta de versos de Rose Mary Sadalla.
Leia a tirinha do cartunista Alexandre Beck.
BECK, Alexandre. [Quando nada puder ser visto…]. [S. l.], 9 jun. 2015. Facebook: Armandinho. Disponível em: www.facebook.com/ tirasarmandinho/photos/np.1433888061780743.100005065987619/989283774450262. Acesso em: 10 set. 2024.
1. T irinhas, em geral, recorrem ao humor para promover uma reflexão ou crítica a algum aspecto do real.
a) Qual é o sentido produzido pela tirinha?
b) O que dá à tirinha o tom mais poético?
A tirinha propõe uma reflexão sobre como enfrentar dificuldades da vida de forma lírica.
2. Nos quatro quadros da tirinha, há dois períodos compostos por subordinação.
a) Quais são as orações principais?
b) Quais são as orações subordinadas? Classifique-as.
Acenda a primeira luz; Atire a primeira flor. “Quando nada puder ser visto”, oração subordinada adverbial temporal; “Quando tudo for pedra”, oração subordinada adverbial temporal.
3. A s subordinadas exprimem certas circunstâncias que têm algo em comum nos dois períodos.
a) Quais são elas?
Dificuldades, contratempos, tempos difíceis de serem enfrentados.
b) Que elementos gráficos compõem o sentido dos quadros em que ocorrem as orações subordinadas?
c) De que forma as orações subordinadas colaboram para determinar o sentido da mensagem?
4. b) A atriz Octavia Spencer, ganhadora do Oscar de atriz coadjuvante, estende a ação da personagem que interpretou atuando junto à infância, momento estratégico na formação da identidade, buscando garantir que as crianças tenham uma autoimagem positiva e potente.
Leia a seguir uma notícia sobre o filme Pantera Negra , dos estúdios Marvel.
Não é preciso análise profunda para perceber quão pouco diversa costuma ser a produção audiovisual de Hollywood: quem frequenta cinemas deve notar o perfil étnico predominante nos filmes. Estudo publicado no ano passado pela Universidade de Southern, na Califórnia, apontou que brancos representavam 70,8% dos papéis com falas nos cem títulos de maior bilheteria de 2016. Já os atores negros eram apenas 13,6%, de um total de 4.583 personagens. […]
Ainda que seja alardeado como primeiro filme solo de super-herói negro, Pantera Negra não é pioneiro nesse campo, mas é a maior produção. […]
A primeira aparição foi na HQ do Quarteto Fantástico, em julho de 1962 e, após participações especiais ao lado de outros personagens, ganhou um título próprio somente em 1973, na revista Jungle action. Ao longo das décadas, o herói chegou a ter algumas séries, a mais longeva delas com pouco mais de 60 edições. […]
Vencedora do Oscar de atriz coadjuvante por Histórias cruzadas (2012), Octavia Spencer estará no estado do Mississipi para o lançamento do filme e anunciou que irá bancar sessões destinadas a comunidades carentes. ʻQuero garantir que crianças negras possam se enxergar como super-heróisʼ, disse a atriz, que fez ação similar no ano passado para exibição do filme Estrelas além do tempo.
PESSOA, Breno. Pantera Negra é marco para a representatividade negra nos filmes de super-heróis. Diário de Pernambuco, Recife, 14 fev. 2018. Disponível em: www.diariodepernambuco.com.br/noticia/ viver/2018/02/pantera-negra-e-marco-para-a-representatividade-negra-nos-filmes-de-su.html. Acesso em: 10 set. 2024.
4. Ao longo desta unidade, alguns poemas discutiram as tensões envolvidas na construção da identidade.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
a) De acordo com o trecho, qual é a importância de um filme como Pantera Negra para a construção identitária de crianças?
As crianças podem se enxergar no herói negro e se identificar com ele, o que auxilia o espectador negro a construir uma autoimagem positiva.
b) Histórias Cruzadas conta a história de uma garota branca que, nos anos 1960, volta a sua cidade no Mississipi e resolve entrevistar mulheres negras da cidade, que deixaram suas vidas para trabalhar na criação dos filhos da elite branca. Spencer interpreta Minny Jackson, também empregada negra, que, ainda que relutante no início, passa a contar o que viveu ao longo de suas experiências profissionais. Qual é a importância de a atriz Octavia Spencer se mobilizar para “garantir que crianças negras possam se enxergar como super-heróis”?
5. Considere o seguinte período da notícia: “Não é preciso análise profunda para perceber quão pouco diversa costuma ser a produção audiovisual de Hollywood”.
a) Como esse primeiro período atua ao mesmo tempo como introdução ao tema a ser discutido e indica um direcionamento dessa discussão?
Apresenta o tema da diversidade étnica em filmes e indica que ela é insuficiente.
b) Uma das orações que compõem o período é responsável por indicar o direcionamento. Identifique-a e explique que sentido ela produz.
6. O herói Pantera Negra é o primeiro super-herói negro dos quadrinhos. Além disso, representa uma visão não estereotipada dos negros, pois é regente da nação mais avançada tecnologicamente do seu universo ficcional. Mas o Pantera Negra não é o primeiro super-herói de filmes.
A oração é para perceber… e indica a finalidade da análise, que será discutida no texto. 6. a) O critério de que era a maior produção de filmes com um super-herói negro.
a) Que critério o texto utiliza para dar tanto destaque ao filme do Pantera Negra?
b) Que oração estabelece uma ideia de concessão? Por quê?
6. b) A oração é “Ainda que seja alardeado como primeiro filme solo de super-herói negro”. A oração introduz uma negação da crença de que seria pioneiro nesse campo, uma informação equivocada com relação à sua importância.
Atividades complementares nas Orientações para o professor.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
1. a) Essa postagem apresenta um pouco de Geni para os leitores que eventualmente estejam acessando seu perfil pela primeira vez. 1. c) Pressupõe que há seguidores antigos (que já chegaram).
2. a) Esse trecho apresenta a formação e produção acadêmica de Geni, o que lhe confere autoridade para ocupar o lugar enunciativo que ela reivindica.
2. b) Sugere que essa formação é apenas uma parte do que ela faz.
2. c) Atuar na linha de frente contra a colonização junto ao povo guarani.
3. a) Entende que sua participação é uma entre tantas outras necessárias, pois sozinha não vai resolver os problemas de seu povo, assim como uma gota não altera significativamente o volume de água de um rio.
3. b) O termo indica que outras gotas já foram colocadas no rio, isto é, outras pessoas e lutas já foram travadas.
Leia a seguir uma postagem da escritora e psicóloga guarani Geni Núñez, em seu perfil em uma rede social.
4. Ao ter de afirmar que o saci é guarani, depreende-se que tradicionalmente ele não é considerado guarani, mas uma entidade do folclore.
1 Essa postagem de Geni está fixada para ser a primeira de seu feed
a) Qual é o objetivo de fixar essa postagem?
b) Considere o trecho em destaque. A quem ele se dirige?
c) O que pressupõe esse trecho?
1. b) O trecho se dirige aos novos seguidores.
2 Considere o trecho em destaque
a) Qual é a importância desse trecho para a construção da imagem de Geni diante de seus seguidores?
b) O que sugere o termo além, no começo do trecho?
c) Qual é o objetivo declarado de Geni ao fazer essas postagens no Instagram?
Para quem está chegando agora aqui, quero apresentar um pouquinho do meu trabalho.
Além da dissertação de mestrado, tese de doutorado, artigos e capítulos de livro, minha atuação se faz junto a meu povo, contribuindo com os parentes que estão nos territórios, na linha de frente contra a colonização. Com meu povo guarani tenho a imensa honra de caminhar em conjunto, sendo mais uma gotinha no grande rio de nossas lutas, aprendendo todo dia.
Nesse compilado há registros de algumas mobilizações que tive a honra de fazer parte nos últimos anos, há muitos mais, mas esses particularmente especiais. […]
No início da pandemia lancei um e-book chamado Jaxy Jatere, o saci é guarani, cuja venda contribuiu para adquirir alimentos para as aldeias guarani (esse ano teremos sua publicação física!). […]
Participei da Tenda da Saúde no ATL neste ano de 2023 e também em 2022.
Nesse último Acampamento Terra Livre tive a honra de ser empossada como membro da Comissão de Direitos Humanos (CDH), do Conselho Federal de Psicologia (CFP), compondo uma equipe com colegas incríveis.
Também faço parte da Articulação Brasileira de Indígenas Psicólogos, junto a muitos parentes que admiro e da Comissão Guarani CGY. O trabalho aqui no Instagram é uma forma que encontrei de apoiar nossas muitas lutas, obrigada a todes que me ajudam a tornar isso possível. Ha’evete, atima porã, gratidão
NÚÑEZ, Geni. [Quem é Geni Núñez]. [S. l.], 23 abr. 2023. Instagram: genipapos. Disponível em: www.instagram.com/p/ CrlyziuvExn/?img_index=1. Acesso em: 10 set. 2024.
5. As demais mobilizações não seriam tão especiais.
3 No trecho em destaque, a influencer demonstra entender qual é seu papel na luta que empreende.
a) Que papel ela entende ter nessa luta?
b) Que sentido o termo mais agrega à expressão destacada no texto?
4 Considere a oração em destaque Ao explicitar que a origem do saci é a cultura guarani, o que essa informação sugere?
5 Considere a expressão em destaque Que sentido essa expressão atribui às demais mobilizações não listadas na postagem?
6 O terceiro, quarto e quinto parágrafos reforçam a autoridade de Geni.
Por quê?
6. Porque, ao se apresentar como uma militante ativa, mostra também conhecimento das questões que atingem seu povo, em especial as relacionadas à saúde mental.
Os sentidos de um texto não se encontram apenas em sua superfície, nas palavras escritas e explícitas pelos períodos que o constituem. O sentido de um texto também é dado por aquilo que não está dito, mas enunciado nas entrelinhas e lacunas.
O conteúdo explícito corresponde àquilo que é apresentado nas palavras e períodos de um texto, isto é, o que está efetivamente escrito.
O conteúdo implícito de um texto corresponde a tudo que não é explicitamente escrito, mas que deve ser interpretado como parte do sentido. Esses conteúdos implícitos são recuperáveis por meio de indicações linguísticas do texto ou das relações que o leitor faz com base em seu repertório.
A identificação de conteúdos implícitos de um texto demanda do leitor um conhecimento sintático, lexical e semântico e também sobre algumas convenções e expectativas perante a realidade.
Observe o exemplo a seguir:
Com meu povo guarani tenho a imensa honra de caminhar em conjunto, sendo mais uma gotinha no grande rio de nossas lutas, aprendendo todo dia.
Nesse exemplo, é possível entender que Geni se considera uma gotinha no grande rio das lutas de seu povo. É possível identificar nessa afirmação um sentido mais profundo, que se estende ao discurso como um todo: assim como uma gota em um rio não tem muita relevância para o rio como todo, Geni sabe que sua luta não vai resolver em definitivo os problemas de todo o povo guarani. Esse sentido está subentendido, e só pode ser identificado por um processo de dedução do leitor. Cabe ao leitor relacionar as informações entre si – que não estão postas no texto – para chegar ao sentido subentendido.
Nesse mesmo período, é possível identificar algumas informações implícitas. Enquanto explicitamente o período indica que Geni se considerava uma gota no rio, o termo mais indica que outras gotas – outras pessoas – já lutaram pelos guaranis. A informação de que Geni é “uma gotinha no grande rio” é chamada de posto, já que está escrita no período. Já a informação de que houve outras “gotinhas no grande rio” chama-se pressuposto, pois são apenas indicadas pelo termo mais.
Veja mais este exemplo:
Para quem está chegando agora aqui, quero apresentar um pouquinho do meu trabalho.
Nesse caso, o leitor pode identificar que há leitores novos para o perfil e para a postagem de Geni. Ao mesmo tempo, mesmo que a informação não seja dita, ele também pode entender que há leitores que já haviam acessado esse perfil e suas postagens; afinal, para ter gente chegando “agora”, pressupõe-se que outras pessoas chegaram “antes”. Esse processo de inclusão de sentidos implícitos em um texto por parte do interlocutor chama-se inferência .
Em textos não verbais, o acesso ao sentido se dá somente por meio de uma atitude ativa do leitor, que deve inferir o que diz o texto.
Observe esta charge.
O leitor deve inferir o contexto e a posição hierárquica dos representados na charge : trata-se de um redator e seu chefe. O redator está preso à cadeira e bate à máquina, o que denota uma situação de trabalho pré-digital. O chefe tem a cabeça representada por um martelo – alusão à capacidade que sua posição lhe garante de “martelar” o funcionário ao posto “pregando-o” nesse lugar e ditar-lhe ordens. A charge representa uma relação profissional vertical, que deixa claro quem manda e quem deve obedecer. Articular esses sentidos exige relacionar elementos da linguagem do desenho, os temas representados e conhecimento de mundo.
L AERTE. [Redator e seu chefe]. Expressa, [s. l.], n. 1, set. 2019. p. 35.
O trabalho com conteúdos implícitos é essencial para a construção de sentido de um texto e depende muito da capacidade do interlocutor de relacionar texto e contexto, forma e sentido com base nas indicações e sugestões deixadas como indícios no texto.
Professor, se achar importante, deixe claras as duas possibilidades de inferir os implícitos de um texto: os pressupostos são identificáveis
O sentido de um texto também se constrói com base na atitude ativa do leitor, que deve ler o que está além da superfície material que o compõe e inferir o não dito, atitude fundamental para a compreensão de um texto: para acessar essa camada textual e discursiva, é preciso compreender o que está pressuposto, ou seja, um dado que não está explícito mas é fundamental para compreender o que se lê; e o que está subentendido, ou seja, aquilo que é possível deduzir com base no que está escrito.
pelo leitor por meio de elementos linguísticos. Os subentendidos são sentidos que dependem da leitura que o leitor faz do enunciado. Eles são identificados por meio de um trabalho de dedução do leitor e são apenas indicados pelo autor do texto que pode, inclusive, negar que a relação subentendida pelo leitor foi propositalmente utilizada no texto.
Não escreva no livro.
A tirinha a seguir produz o humor com base na confusão na interpretação de subentendidos.
FREITAS, Digo. [Sempre esperanças]. Diário de ideias gráficas (quase) originais. [S. l.], 9 fev. 2011. Disponível em: https://digofreitas.com/hq/geekhings-27-sempre-esperancas/. Acesso em: 10 set. 2024.
a) A personagem do último quadro infere alguns sentidos com base na interpretação que faz dos subentendidos do que ouve de seu chefe. Explique o que ela infere.
Infere que vai ser promovida e que fará uma viagem para participar de congresso.
b) Qual era, de fato, o conteúdo propositalmente deixado implícito pelo patrão?
A ideia de que, para a empresa crescer e os funcionários ficarem bem treinados, alguém deveria realizar trabalhos urgentes para dar andamento aos processos.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Nas redes sociais, falar de si mesmo tornou-se uma prática comum e, por vezes, superficial. No entanto, há formas mais consistentes e relevantes de se apresentar à sociedade. A criação de um e-zine pessoal oferece uma oportunidade para explorar e compartilhar sua vida, gostos, habilidades, sonhos e planos para o futuro de maneira criativa e autêntica.
Um e-zine, ou revista eletrônica, é uma publicação digital que pode incluir textos, imagens, vídeos e outros elementos multimídia. Neste projeto, você vai criar um e-zine pessoal em que contará sua história, destacará seus interesses e habilidades, e compartilhará seus sonhos e planos futuros. Esse e-zine será uma representação digital de quem você é, permitindo que você se apresente para seus leitores da forma que considerar significativa.
Planejar é a etapa crucial para garantir que seu e-zine tenha um conteúdo organizado e uma apresentação visual atraente. Aqui, você definirá o objetivo, estruturará o conteúdo e reunirá os materiais necessários.
Decida o que você quer comunicar com seu e-zine. Selecione aspectos da sua vida que deseja compartilhar e qual será o tema central.
Organize as seções do seu e-zine. Poderiam ser, por exemplo: “Sobre mim”, “Meus hobbies”, “Minhas habilidades”, “Meus sonhos” e “Planos para o futuro”.
Selecione as ferramentas que você usará para criar seu e-zine. Existem várias plataformas on-line gratuitas facilmente encontradas em mecanismos de busca, com tutoriais para criação. Colete fotos, vídeos e outros materiais visuais que você gostaria de incluir. Pense também em escrever rascunhos dos textos que serão inseridos em cada seção.
Estabeleça datas para finalizar cada etapa do processo de criação. Isso ajudará a manter o projeto organizado e dentro do prazo. Professor, é possível sugerir sites como Canva, Wix, ou mesmo ferramentas de edição de texto como Microsoft Word e Google Docs.
Estratégias didáticas nas Orientações para o professor.
Estabelecer um padrão estético ao se apresentar na internet é essencial para criar uma identidade visual consistente e reconhecível. As cores, a tipografia, o estilo de imagens e leiaute devem criar um conjunto coeso, que ajude a comunicar sua personalidade e seus valores, criando uma conexão mais forte com o público.
Além disso, um padrão estético bem estabelecido sugere profissionalismo e cuidado com a sua presença on-line . Isso é particularmente importante em um mundo onde as primeiras impressões vêm de perfis de redes sociais e websites . Um design visualmente agradável e coerente não só atrai
Agora é sua vez de treinar a criação de uma identidade virtual. Selecione alguma personagem literária que você estudou ao longo do ano e imagine como seria um site ou as postagens de rede social dessa personagem. Considere sua biografia, posicionamento ideológico e imagine com qual objetivo teria um site ou perfil, quem seria o público presumível do conteúdo postado. Depois, siga as instruções.
• E scolha uma paleta de cores que represente a personalidade e o estilo da personagem. Use essas cores em todas as suas postagens e páginas.
• S elecione um ou dois tipos de fonte que você usará regularmente em seus textos e títulos. Certifique-se de que sejam legíveis e reflitam o tom do que você deseja produzir com as publicações.
• Desenhe um logotipo que represente a personagem. Use esse logo no site e em perfis de redes sociais para marcar a identidade visual do perfil.
• Decida se as imagens serão mais minimalistas, coloridas, sépia, preto e branco etc. Mantenha esse estilo em todas as fotos e vídeos que postar.
• Crie um leiaute, ou seja, um padrão visual para suas postagens e páginas. Isso pode incluir a maneira como os textos são organizados, o uso de espaçamento, bordas e outros elementos de design que ajudam a manter uma aparência coesa em todas as suas plataformas on-line
Produzir
Esta etapa envolve a criação efetiva do seu e-zine, incluindo o design, a escrita dos textos e a inserção dos elementos visuais. É importante ser detalhista e revisitar o trabalho constantemente para garantir um resultado de alta qualidade.
Comece desenhando o leiaute do seu e-zine. Siga um padrão estético para organizar os elementos visuais na página.
Redija os textos para cada seção. Certifique-se de que seu estilo de escrita reflete sua personalidade e pode atrair o leitor.
Insira fotos, vídeos, ilustrações e outros elementos visuais que complementem o texto e tornem o e-zine mais atraente.
Revise todo o conteúdo para garantir que não haja erros gramaticais ou de digitação.
Troque o resultado com um colega para que ele faça uma revisão e dê um retorno sobre o resultado sugerindo eventuais ajustes. Faça o mesmo com o trabalho dele.
Faça os ajustes finais no texto, no design e no leiaute para garantir que tudo esteja de acordo com seu planejamento.
Professor, para esta etapa, organize a classe em duplas.
Compartilhar seu e-zine é a etapa final para alcançar seu público. Existem várias maneiras de distribuir sua publicação, cada uma com seu próprio alcance e impacto. Escolha as que melhor se adaptam ao seu público-alvo e ao objetivo do seu e-zine. Divulgue seu e-zine nas redes sociais para alcançar amigos, familiares e seguidores. Use hashtags relevantes para aumentar a visibilidade. Considere imprimir algumas cópias físicas do seu e-zine para distribuir para pessoas que não têm acesso à internet. a atenção, mas também mantém o interesse dos visitantes, incentivando-os a explorar mais sobre quem você é e o que você faz.
PESSOA, Fernando. 136 pessoas de Pessoa . Edição: Jerónimo Pizarro e Patricio Ferrari. São Paulo: Tinta da China Brasil, 2017.
O livro explora a multiplicidade de heterônimos criados por Pessoa, cada um com sua própria personalidade, estilo literário e visão de mundo. A análise detalhada e crítica dos autores elucida a genialidade do poeta, que fragmentou sua identidade literária em inúmeras “pessoas”, revelando a profundidade e a riqueza de sua produção poética e filosófica. Este trabalho contribui para a compreensão da extensão do universo de Fernando Pessoa e sua contribuição singular para a literatura mundial.
HIP HOP PESSOA. [S. l. : s. n.], 2019. 1 vídeo (8 min) Publicado pelo canal Sara Esteves. Disponível em: http://vimeo.com/7423769. Acesso em: 11 set. 2024.
Em 2008, foi realizado um grande evento de hip-hop em Lisboa em homenagem à obra de Fernando Pessoa. Vários poemas do autor foram declamados, cantados e atualizados pela estética da cultura hip-hop. Para saber um pouco mais sobre esse evento, acesse o link e veja um trecho do documentário.
O OUTRO. Intérprete: Adriana Calcanhotto. Compositor: Mário De Sá Carneiro. [S. l.]: BMG Brasil Ltda, 2001. Disponível em: www.youtube.com/ watch?v=cJij87qfdfg. Acesso em: 11 set. 2024.
Em 1996, a cantora Adriana Calcanhotto, a convite da livraria Argumento, no Rio de Janeiro, cantou uma versão musicalizada do poema “7” de Sá-Carneiro. Essa versão, que se popularizou, foi registrada posteriormente no álbum Público.
FLORBELA. Direção: Vicente Alves do Ó. Portugal: Ukbar Filmes, 2012. 1 DVD (119 min).
Esta cinebiografia retrata a vida e obra da poeta portuguesa Florbela Espanca, contemporânea de Fernando Pessoa. O filme destaca os momentos mais marcantes da vida da poeta, revelando suas lutas contra as convenções sociais de sua época e sua profunda conexão com a poesia, apresentando um retrato sensível e poético de uma figura emblemática da literatura portuguesa.
AIDAR, Flávia; ALVES, Januária Cristina. Como não ser enganado pelas fake news. Ilustrações: Diogo Diogo César e Weberson Santiago. São Paulo: Moderna, 2019. Essa obra traz dicas de como se preparar como leitor em um mundo no qual mentiras e pós-verdades são reproduzidas facilmente e em escala nunca vista, além de orientações sobre como proteger os outros das consequências de seu consumo e disseminação.
ARRIGUCCI JR., Davi. Humildade, paixão e morte: a poesia de Manuel Bandeira. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. Nesse volume, o crítico analisa em profundidade a obra de Manuel Bandeira, reconhecendo nela inovação nos procedimentos de composição e nas temáticas, bem como uma capacidade rara de extrair lirismo das situações mais cotidianas.
BAGNO, Marcos. Gramática pedagógica do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2011.
Nessa obra, o linguista apresenta uma gramática que tem como cerne os usos da língua e propõe, com base nisso, discussões relevantes, que apoiam a reflexão e a prática docentes.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Tradução: Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
Nessa obra, entre os conceitos que compõem a teoria dialógica, é apresentado o conceito de gênero do discurso.
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução: Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. 11. ed. São Paulo: Hucitec, 2004.
A obra desenvolve o conceito de signo ideológico, capital na formulação da teoria dialógica.
BAKHTIN, Mikhail. Para uma filosofia do ato responsável. Tradução: Valdemir Miotello e Carlos Alberto Faraco. São Carlos: João e Pedro Editores, 2010.
A obra apresenta as bases filosóficas da teoria dialógica, com destaque para a arquitetônica bakhtiniana.
BARBOSA, Márcio; RIBEIRO, Esmeralda (org.). Cadernos Negros. São Paulo: Quilombhoje, 1978-.
A série Cadernos Negros publica anualmente, desde 1978, contos e poemas de autores brasileiros negros em forma de antologia: de poemas, nos números ímpares, e
de contos, nos números pares. Assim, busca abrir espaço para novos escritores, além de conquistar novos leitores.
BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Tradução: Carlos Alberto de Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
O autor trata da questão da identidade no contexto do multiculturalismo, com base no pressuposto de sua teoria do mundo e da modernidade líquidos.
BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 39. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019.
Gramática que traz um panorama da história da língua e trata de fonética e fonologia, estrutura de palavras, morfologia, sintaxe, noções de versificação e de estilística e que pode apoiar os estudos da norma-padrão pelos estudantes.
BENVENISTE, Émile. Problemas de linguística geral I. Tradução: Maria da Glória Novak e Maria Luisa Neri. Campinas: Pontes, 2005.
BENVENISTE, Émile. Problemas de linguística geral II. Tradução: Eduardo Guimarães et al. Campinas: Pontes, 2006. Nessas obras, o teórico estruturalista Benveniste constrói a teoria geral da enunciação e abre caminho para a plena compreensão de possibilidades da análise discursiva.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira São Paulo: Cultrix, 2015.
O emérito professor Alfredo Bosi traça um painel ao mesmo tempo denso e sintético da literatura brasileira desde o período colonial até a contemporaneidade. Referência fundamental para estudantes e professores.
BOTTON, Alain de. Notícias: manual do usuário. Tradução: Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2015.
Nessa obra, o filósofo Alain de Botton apresenta uma reflexão sobre o impacto social do campo jornalístico e midiático discutindo os efeitos do sensacionalismo, das celebridades e das punições e o quanto podemos criar estratégias para minimizar a influência negativa e pouco ética dessas estratégias.
BRAIT, Beth (org.). Bakhtin: conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2005.
BRAIT, Beth (org.). Bakhtin: outros conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2010.
Organizados pela professora Beth Brait, ambos os livros apresentam conceitos estruturantes da teoria de Bakhtin e do Círculo em uma linguagem acessível, que pode amparar a leitura das obras originais do teórico russo.
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília, DF: MEC, 2018. Disponível em: https://www.gov.br/mec/pt-br/escola-em -tempo-integral/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal.pdf. Acesso em: 2 out. 2024.
Documento que apresenta as bases do desenvolvimento do projeto pedagógico escolar em todos os segmentos da Educação Básica.
BRASIL. Senado Federal. LDB: lei de diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF: Senado Federal: Coordenação de Edições Técnicas, 2017. Disponível em: http:// www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/529732. Acesso em: 2 out. 2024.
Documento com o texto da LDB, de 1996, atualizado em 2017.
CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 9. ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 2000.
Nessa obra fundamental e de referência para estudiosos, o autor analisa a produção literária brasileira, do Arcadismo até o Romantismo.
CRARY, Jonathan. Terra arrasada: além da era digital, rumo a um mundo pós-capitalista. Tradução: Joaquim Toledo Jr. São Paulo: Ubu, 2023.
O autor faz uma crítica contundente à sociedade contemporânea, abordando os impactos negativos do capitalismo digital e a deterioração das relações humanas e do meio ambiente.
CUNHA, Celso; CINTRA, Luís Filipe Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 7. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2016.
Gramática descritivo-normativa que pode apoiar os estudantes nos estudos da norma-padrão. Ela traz um panorama da história da língua e trata de fonética e fonologia, estrutura de palavras, morfologia, sintaxe, noções de versificação e de figuras de linguagem.
DAYRELL, Juarez. A escola “faz” as juventudes?: reflexões em torno da socialização juvenil. Educação e Sociedade, Campinas, v. 28, n. 100, p. 1105-1128, out. 2007. Disponível em: www.scielo.br/pdf/es/v28n100/a2228100. pdf. Acesso em: 2 out. 2024.
O texto discute as relações entre juventude e escola, indagando sobre o lugar que esta ocupa na socialização da juventude contemporânea, em especial dos jovens das camadas populares.
DAYRELL, Juarez; JESUS, Rodrigo Ednilson de. Juventude, Ensino Médio e os processos de exclusão escolar. Educação e Sociedade, Campinas, v. 37, n. 135, p. 407-423, abr./ jun. 2016. Disponível em: www.scielo.br/j/es/a/vDyjXnz DWz5VsFKFzVytpMp/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 24 set. 2024.
O artigo reflete sobre os processos de exclusão escolares vivenciados por jovens adolescentes no Brasil.
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Tradução: Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
A expressão “sociedade do espetáculo” refere-se ao poder das imagens na sociedade contemporânea. O autor associa as relações sociais de produção e consumo: o acúmulo de imagens relaciona-se ao acúmulo de capital e tem no marketing ferramenta fundamental para a mercantilização de produtos, de ideias, de cultura.
DUARTE, Eduardo de Assis (coord.). Literatura afro-brasileira: 100 autores do século XVIII ao XXI. Rio de Janeiro: Pallas, 2020. E-book.
A obra valoriza a contribuição da literatura afro-brasileira para a cultura nacional, promovendo uma reflexão sobre a identidade, o racismo e a resistência nas narrativas que marcaram esses séculos de produção literária.
DUNKER, Christian et al Ética e pós-verdade. Porto Alegre: Dublinense, 2017.
Os artigos reunidos nessa obra discutem os conceitos de verdade e pós-verdade, bem como a importância da existência de lugares de fala e de escuta para uma coexistência pacífica e respeitosa entre os sujeitos.
DUNKER, Christian. Reinvenção da intimidade: políticas do sofrimento cotidiano. São Paulo: Ubu, 2017.
Apoiado em atitudes contemporâneas cotidianas, como disposição a ficar permanentemente conectado e dificuldade para construir situações de real solidão ou intimidade, o autor analisa o sofrimento que, embora vivido no sujeito, está submetido às escolhas de cada um na partilha de afetos.
FARACO, Carlos Alberto. Linguagem & diálogo: as ideias linguísticas do círculo de Bakhtin. São Paulo: Parábola, 2009.
Nessa obra, didaticamente organizada, estudioso de Bakhtin e o Círculo comenta e explica os principais conceitos que estruturam a teoria dialógica.
FIORIN, José Luiz. As astúcias da enunciação: as categorias de pessoa, espaço e tempo. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2016. Essa obra aborda alguns dos aspectos essenciais da enunciação, como as categorias de tempo, espaço e pessoa.
GONÇALVES, Marcos Augusto. 1922: a semana que não terminou. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
O autor apresenta um panorama detalhado dos bastidores da Semana de Arte Moderna, examinando o contexto político, social e cultural da época, e como o movimento modernista influenciou as artes e a sociedade do país. Gonçalves também discute como o evento, inicialmente controverso, continua a ressoar na cultura brasileira até hoje.
HALL, Stuart. A identidade na cultura da pós-modernidade. Tradução: Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. 12. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2019.
Em um mundo considerado líquido, em que “tudo que é sólido” pode se desmanchar no ar, a identidade não tem mais nada de imutável. Esse livro discute três conceitos de identidade: o da sociedade iluminista, o da sociedade moderna e o da sociedade pós-moderna.
HAN, Byung-Chul. No enxame: perspectivas do digital. Tradução: Lucas Machado. Petrópolis: Vozes, 2018.
O filósofo nos apresenta como o digital é responsável por transformar e determinar comportamentos, percepções, sensações e pensamentos. A espetacularização e a massificação de opiniões criam um comportamento de enxame nas redes sociais, que é responsável pela construção de identidades e superficialidades de conhecimento e opiniões.
HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Tradução: Enio Paulo Giachini. Petrópolis: Vozes, 2015.
Han define a sociedade do cansaço como a do sujeito do desempenho e da produção: explorado e explorador ao mesmo tempo, agressor e vítima de si mesmo, lança-se a um trabalho que o individualiza e isola.
KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1990.
Essa obra se detém em explicar a construção dos processos de coesão textual, com base em um referencial da Linguística Estruturalista.
KOCH, Ingedore Villaça. Argumentação e linguagem. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
A obra explora as possibilidades de construção de estratégias e de procedimentos argumentativos.
KOCH, Ingedore Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 1990.
Essa obra explica a construção dos processos de coerência textual, com base em um referencial da Linguística Estruturalista.
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução: Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. 11. ed. São Paulo: Cortez: Unesco, 2006.
Nessa obra, o filósofo e sociólogo francês opina sobre o que se deveria aprender para enfrentar os desafios da educação do século XXI. Ao falar sobre a necessidade de aprender a enfrentar as incertezas, a ética do gênero humano, a identidade terrena, entre outros tópicos, Morin alerta para as grandes questões que podem ajudar a refletir sobre o mundo e a construir novos posicionamentos.
NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. São Paulo: Ed. Unesp, 2000.
Essa gramática observa as regularidades da língua em uso. Para isso, adota uma organização que propicia um tratamento cujo principal objetivo é observar a língua em funcionamento, as normas de uso e suas possibilidades e restrições.
SAFATLE, Vladimir. Circuito dos afetos: corpos políticos, desamparo, fim do indivíduo. 2. ed. rev. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.
O filósofo e psicanalista associa a transformação social e política à mudança do que ele chama circuito de afetos, os quais produzem corpos políticos, individuais e coletivos.
SALIBA, Elias Thomé (org.). Modernismo: o lado oposto e outros lados. São Paulo: Ed. Sesc-SP, 2022.
O livro mostra o Modernismo não como um fenômeno homogêneo, mas sim um campo de tensão entre diversas influências culturais, políticas e estéticas. A obra oferece um olhar aprofundado sobre a multiplicidade do Modernismo, destacando figuras e movimentos que ficaram à margem do cânone literário oficial.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino da gramática no 1o e 2o graus. São Paulo: Cortez, 1997.
Essa obra apresenta uma proposta de ensino de gramática que parte do questionamento da necessidade desse conhecimento na escola e se preocupa em articular esse conhecimento da língua com a produção de texto.
Prezada professora, prezado professor,
O Ensino Médio tem apresentado muitos desafios a todos os envolvidos com educação. Professores, pesquisadores, governantes e gestores buscam soluções não só para garantir maior presença dos estudantes nessa etapa da Educação Básica como também para pensar um ensino que faça sentido para os jovens no mundo contemporâneo.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), cuja etapa do Ensino Médio foi aprovada em dezembro de 2018, tem como propósito vertebral uma educação integral, que forneça subsídios aos estudantes para a formulação de um projeto de vida. Fazer isso na contemporaneidade exige também postura alerta às relações – de cada um consigo mesmo, com o outro, com o mundo ao redor, com o próprio conhecimento.
Esta obra considera esses desafios. Traz um conjunto de leituras e propostas de atividades e práticas que perseguem o objetivo central de apoiar os estudantes na construção de um conhecimento que seja ao mesmo tempo de si mesmo, do outro e do mundo. Nesse tripé, pode apoiar-se a construção da identidade – processo visto como fundamental para o desenvolvimento do protagonismo dos estudantes, sem o qual o projeto de vida fica comprometido. Desse modo, a coleção convoca os estudantes a afirmar sua voz e a se abrirem à alteridade, além de possibilitar a construção de modos de articular, entender e avaliar diferentes contextos.
Acreditamos que o trabalho proposto criará muitas oportunidades de diálogo com os estudantes: uma troca genuína, atual e plena de sentido. Estamos juntos nesta caminhada e nos colocamos sempre à disposição para ouvir cada um de vocês. Bom trabalho a todas e todos!
Os autores
[…] a educação deve afirmar valores e estimular ações que contribuam para a transformação da sociedade, tornando-a mais humana, socialmente justa e, também, voltada para a preservação da natureza […].
Brasil1
Um lugar onde todos
Se veem nos demais
Porque é olhando os demais
Que enxergamos a gente
Sérgio Brito2
A complexidade do mundo contemporâneo apresenta desafios que têm exigido permanente reposicionamento de autoridades, empresários, pesquisadores, pensadores e, em particular, de educadores. O panorama que se abre ao educador hoje exige, além de boa dose de coragem, respostas inovadoras, que possam significar um caminho de formação para estudantes de todos os níveis de ensino e que considerem os impactos das tecnologias nas relações sociais e no mundo do trabalho.
Nas diferentes áreas do conhecimento, perpassando a Psicanálise, a Filosofia, a Sociologia, a Pedagogia, entre tantas outras, há uma busca incessante de grandes pensadores contemporâneos por compreender a realidade e as questões mais urgentes da atualidade. O filósofo Zygmunt Bauman (1925-2017)3, por exemplo, ao formular o conceito de “mundo líquido”, destaca a impermanência e a instabilidade das
Resistir ao isolamento e a outros estados psíquicos que têm visivelmente afetado a vida dos jovens estudantes e o modo como se dão os afetos no mundo virtual e no mundo real tem sido uma preocupação cada vez mais acentuada. O psicanalista brasileiro Christian Dunker (1966-)7, por exemplo, analisa a questão do isolamento na vida contemporânea não apenas em função das mediações da tecnologia mas também
1 BRASIL, 2013 apud BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília, DF: MEC, 2018. p. 8. Disponível em: https:// www.gov.br/mec/pt-br/escola-em-tempo-integral/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal.pdf. Acesso em: 21 out. 2024.
2 COMO iguais. Intérprete: Sérgio Britto (part. Luiz Melodia). Compositor: Sérgio Britto. In: PURABOSSANOVA. Intérprete: Sérgio Britto. Rio de Janeiro: Som Livre, 2013. 1 CD, faixa 6.
3 BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Tradução: Carlos Alberto de Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2005.
4 MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução: Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. 11. ed. São Paulo: Cortez: Unesco, 2006.
5 LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Tradução: Carlos Irineu da Costa. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2010. (Coleção Trans).
6 HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Tradução: Enio Paulo Giachini. Petrópolis: Vozes, 2015. p. 71.
7 DUNKER, Christian. Reinvenção da intimidade: políticas do sofrimento cotidiano. São Paulo: Ubu, 2017. relações e dos contextos de interação. O pensador Edgar Morin (1921-)4 entende que, em um mundo complexo, a articulação de conhecimentos e a humanização do ensino se mostram condições importantes para o enfrentamento de questões cada vez mais intrincadas. Como aponta Pierre Lévy (1956-)5, há um mundo atravessado pela tecnologia, no qual se alteram não só os meios de comunicação, mas principalmente a subjetividade e o modo de pensar dos sujeitos – já que, ao manipular objetos técnicos, tais ferramentas alteram, segundo o teórico, a própria maneira de pensar. Pode-se apontar também o “mundo do cansaço” do filósofo Byung-Chul Han (1959-) que, ao entender a sociedade contemporânea como sendo construída por “sujeitos de desempenho e produção, ‘empresários de si mesmo’, produz ‘um cansaço solitário, que atua individualizando e isolando’”6. Dessa forma, confrontar o isolamento e a intolerância promove o diálogo entre a diversidade de experiências e os diferentes pontos de vista, de modo a valorizar o universo de cada um, buscando o entendimento, o respeito e a valorização do outro como fundamentais na construção da identidade.
pelos modelos inalcançáveis de sucesso e felicidade. Outro psicanalista brasileiro e filósofo, Vladimir Safatle (1973-)8, tem se dedicado a observar a relação entre poder, política, solidão e a sensação de desamparo, explicitando a dimensão coletiva e social que se coloca além dos indivíduos e que acaba, por fim, interferindo na vida pessoal. Vários filósofos e psicanalistas têm se dedicado, mais recentemente, a observar como as redes sociais e a vida virtual têm afetado os jovens, aumentando o isolamento, a angústia ou até mesmo os estados depressivos de estudantes.
Diante de toda a complexidade que o mundo contemporâneo apresenta, é necessário legitimar a voz dos estudantes como sujeitos capazes de autonomia intelectual e pensamento crítico, essenciais na afirmação da identidade, capazes de atuar na vida cidadã, de participar da formulação de políticas – termo aqui entendido em seu sentido amplo, ou seja, como meio para formular os pactos que regem a vida comum – e de promover situações de participação ativa diante do outro, valorizando a si mesmo e as divergências próprias de um universo tão diverso.
Considerando o contexto atual apresentado, esta coleção foi planejada com base na necessidade de colocar o diálogo como eixo fundamental do trabalho curricular, tanto na organização dos conteúdos como no encaminhamento das diversas atividades: propondo desafios de pesquisa, leituras voltadas ao aprendizado de estratégias de estudo e elaboração de projetos. São apresentados temas diversos da vida contemporânea, com propostas de estudo sistemático da língua em suas diferentes dimensões (estrutural, textual e discursiva) de modo a oferecer aos estudantes conhecimentos necessários para promover práticas fundamentais à vida cidadã e abrir oportunidades
de troca em que a argumentação tem lugar central na forma civilizada de diálogo entre opiniões e valores.
O conceito de diálogo apoia-se aqui no conceito de dialogismo, tal como formulado pelo filólogo, historiador, sociólogo, filósofo, professor de língua e literatura, Mikhail Bakhtin (1895-1975). O teórico quis olhar para o ser humano em sua singularidade, para as correntes discursivas a que se filia, os discursos atravessados nas vozes de cada sujeito situado no tempo e no espaço, as relações em que estão mergulhados. Trata-se, portanto, de uma singularidade plural de saída porque leva em conta as relações dialógicas como condição da vida humana.
[…] O falante não é um Adão, e por isso o objeto de seu discurso se torna inevitavelmente um palco de encontro com opiniões de interlocutores imediatos (na conversa ou na discussão sobre algum acontecimento do dia a dia) ou com pontos de vista, visões de mundo, correntes, teorias etc. (no campo da comunicação cultural). Uma visão de mundo, uma corrente, um ponto de vista, uma opinião sempre têm uma expressão verbalizada. Tudo isso é discurso do outro (em forma pessoal ou impessoal), e este não pode deixar de refletir-se no enunciado. O enunciado está voltado não só para o seu objeto mas também para os discursos do outro sobre ele9.
[…] em qualquer enunciado, quando estudado com mais profundidade em situações concretas de comunicação discursiva, descobrimos toda uma série de palavras do outro semilatentes e latentes, de diferentes graus de alteridade. Por isso o enunciado é representado por ecos como que distantes e mal percebidos das alternâncias dos sujeitos do discurso e pelas tonalidades dialógicas, enfraquecidas ao extremo pelos limites dos enunciados, totalmente permeáveis à expressão do autor10
Ao ocupar um lugar nesse diálogo, cada sujeito afirma uma posição que será sempre marcada por valores, posicionamentos, aberta a outras respostas, inserindo-se na corrente discursiva que garante, a cada um, sua voz, sua identidade. Assim, ao ser colocado em interação, o indivíduo produz enunciados que se
8 SAFATLE, Vladimir. Circuito dos afetos: corpos políticos, desamparo, fim do indivíduo. 2. ed. rev. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.
9 BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Tradução: Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. (Coleção biblioteca universal, p. 300).
10 BAKHTIN, ref. 9, p. 299.
realizam em um tempo e um lugar concretos e a partir de um centro de valor individual:
[…] o mundo se dispõe em torno de um centro valorativo concreto […]. O que constitui esse centro é o ser humano: tudo nesse mundo adquire significância, sentido e valor apenas em correlação com o homem – como aquilo que é humano. Todo Ser possível e todo significado possível se dispõe em torno do ser humano como o único centro e o único valor; tudo […] deve ser correlacionado com o ser humano, deve se tornar humano11.
Tais centros de valor ganham expressão em enunciados concretos. É por meio de enunciados concretos que cada sujeito ocupa esse lugar e sustenta sua posição, ou seja, é por meio da realização singular e única da língua em um dado ato ético, social, histórica e espacialmente situado, que o sujeito afirma sua voz. O enunciado concreto corresponde, portanto, a “um lugar no Ser único e irrepetível, um lugar que não pode ser tomado por ninguém mais”12. Isso revela uma singularidade (eu-para-mim) e um gesto ético, porque inclui o outro produzindo contato de centros de valor, uma arena em que esses valores se atritam (outro-para-mim, eu-para-o-outro). Por ser social, o discurso constrói diálogos no tempo entre temas, valores, posicionamentos que se tecem e podem integrar a mesma corrente discursiva.
O conceito de diálogo, portanto, dá-se entre posicionamentos que podem estar dispostos em textos de diferentes temporalidades ou na troca viva de opiniões, propostas, crenças, conjecturas, convicções, modos de ser e de estar. Tudo aquilo que afeta tem a ver com a capacidade que uma pessoa, artefato, situação, ideia, obra ou espaço tem de nos colocar em outro
lugar discursivo, comunicar algum tipo de emoção; somos afetados por aquilo a “que nossos olhos não podem ser indiferentes [...], seja através das formas da atração, seja através da repulsa”13. Afetar o outro só é possível por meio de algum tipo de interação, pelos diálogos que, ainda que atravessados pela tensão própria das relações dialógicas, podem ter a força de aglutinação entre sujeitos.
É por meio dessa troca viva que acreditamos derivar-se em grande parte a construção da identidade. A afirmação da identidade se dá no reconhecimento das diferenças que esse diálogo vivo, atravessado de temas, propósitos, formatos muito diferentes, expõe.
O conceito de identidade ocupa vasto lugar em diversos campos do conhecimento. A título de exemplo, no campo da Sociologia, Juarez Dayrell14, 15, 16 problematiza o lugar que a escola ocupa na socialização da juventude contemporânea, em especial dos jovens das camadas entendidas como populares. Já nos campos da Psicologia e da Psicanálise, David Léo Levisky17 olha para a construção da identidade associada a questões como violência, cidadania, liberdade, democracia. Christian Dunker analisa as dinâmicas dos sujeitos, seu isolamento ou seu engajamento social em um mundo onde os limites entre vida privada e vida pública, intimidade e exposição estão embaçados. O autor reconhece que […] As redes sociais podem aprofundar o isolamento de alguém quando olhamos para a tirania do sucesso que elas impõem como fenômeno discursivo. [...] A complexidade e o risco social representado pela conversa ‘virtual’ atacarão quem não tem nada a perder e os que temem por sua imagem18
Além do teórico Christian Dunker, vários outros estudiosos têm se dedicado a pensar fragilidades que
11 BAKHTIN, Mikhail. Para uma filosofia do ato. Tradução: Carlos Alberto Faraco e Cristóvão Tezza. [S. l.: s. n., 200-]. p. 79. Tradução para fins acadêmicos, não publicada. Versão inglesa de Vadim Liapunov do original russo.
12 BAKHTIN, ref. 11, p. 58.
13 SAFATLE, ref. 8, p. 14.
14 DAYRELL, Juarez. O jovem como sujeito social. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 24, p. 40-52, set./dez. 2003. Disponível em: https://www. scielo.br/pdf/rbedu/n24/n24a04.pdf. Acesso em: 21 out. 2024.
15 DAYRELL, Juarez. A escola “faz” as juventudes?: reflexões em torno da socialização juvenil. Educação e Sociedade, Campinas, v. 28, n. 100, p. 1105-1128, out. 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/es/v28n100/a2228100.pdf. Acesso em: 21 out. 2024.
16 DAYRELL, Juarez; JESUS, Rodrigo Ednilson de. Juventude, Ensino Médio e os processos de exclusão escolar. Educação e Sociedade, Campinas, v. 37, n. 135, p. 407-423, abr./jun. 2016. Disponível em: www.scielo.br/j/es/a/vDyjXnzDWz5VsFKFzVytpMp/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 21 out. 2024.
17 LEVISKY, David Léo. Construção da identidade, o processo educacional e a violência: uma visão psicanalítica. Pro-Posições, Campinas, v. 13, n. 3, set./dez. 2002. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/proposic/article/view/8643939/11395. Acesso em: 21 out. 2024.
18 DUNKER, ref. 7, p. 28.
afetam os jovens, muitas vezes isolando-os e produzindo diversas patologias.
Se a fricção entre as trocas contribui para a construção da identidade, se é no contato com a alteridade que nos construímos como sujeitos responsivos, o diálogo pode ser considerado forma de resistência ao isolamento que, em diversas condições, mostra-se pouco produtivo não apenas no processo de aprendizagem mas na formação dos estudantes como sujeitos críticos, aptos ao exercício da vida cidadã e à plena realização de suas aspirações e vontades.
A presente coleção considera todas essas fontes e toma como eixo fundamental o conceito de diálogo amparado pela teoria de Mikhail Bakhtin, tal como apresentada aqui.
A esse eixo geral e ao panorama teórico de fundo apresentado, somam-se outras referências para o trabalho com a língua e a linguagem, consideradas também em sua dimensão gramatical e textual – com a leitura de gêneros não literários embalada pelas teorias dialógicas já mencionadas, o que requer uma participação ativa na construção dos sentidos, e com o trabalho com produção de texto –, apresentadas a seguir, no detalhamento da proposta.
Essenciais para a expressão do pensamento, da emoção, de tudo o que nos faz humanos, o domínio das competências da área de Linguagens e suas Tecnologias e das de Língua Portuguesa, em particular, garante acesso à vida cidadã, à afirmação de si, à construção de um lugar social – que é também discursivo –, permitindo ao jovem ser protagonista de si, construir seu projeto de vida e usufruir do mundo prático e sensível a que tem direito.
O trabalho com a linguagem é, portanto, fundamental na formação do cidadão crítico, preparado para o mundo do trabalho e a continuidade dos estudos; na formação do sujeito capaz de reconhecer e manifestar
19 BRASIL, ref. 1, p. 481.
20 BRASIL, ref. 1, p. 481.
21 BRASIL, ref. 1, p. 481.
“sentimentos, interesses, capacidades intelectuais e expressivas”19; de ampliar e aprofundar “vínculos sociais e afetivos”20; e de refletir “sobre a vida e o trabalho que [gostaria] de ter”21. É por meio da linguagem que o jovem se interroga sobre si mesmo, sobre os outros próximos e distantes, sobre o mundo ao redor. A linguagem humaniza.
Nesta coleção, considera-se que o jovem só será protagonista de si mesmo na medida em que puder afirmar sua voz como sujeito capaz de pensar o mundo, sustentar suas ideias, expressar o que pensa e sente em diferentes linguagens. Assim, há a preocupação de:
a) Consolidar e aprofundar a construção dos conhecimentos desenvolvidos no Ensino Fundamental relacionados à Área de Linguagens e suas Tecnologias;
b) Possibilitar a efetiva construção dos conhecimentos, das competências gerais e competências específicas relacionadas à Área de Linguagens e suas Tecnologias, condizentes com os componentes que compõem a respectiva coleção, de forma integrada com as outras áreas do conhecimento22;
Para isso, os volumes desta coleção articulam diferentes textos para desenvolver a capacidade de “expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo”23 em diferentes esferas de produção e circulação e em diferentes gêneros; bem como a capacidade de:
7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta24.
22 BRASIL. Ministério da Educação. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Secretaria de Educação Básica. Programa Nacional do Livro e do Material Didático. Edital de Convocação no 02/2024: CGPLI: PNLD Ensino Médio 2026-2029: anexo 01: referencial pedagógico. Brasília, DF: MEC, 2024. p. 18.
23 BRASIL, ref. 1, p. 9.
24 BRASIL, ref. 1, p. 9.
[…] [e formular] análise crítica, criativa e propositiva da produção, circulação e recepção de textos de divulgação científica e de mídias sociais, considerando os elementos que constituem esses textos (em termos de gêneros) e procedimentos de leitura multimodal e inferencial25
O desenvolvimento dessas competências, aqui entendidas como “a mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho”26, conforme dispõe a BNCC, pede uma abordagem que estimule a crítica; que estimule uma postura ativa dos estudantes; que considere a facilidade do acesso às informações disponibilizadas pela tecnologia, que coloca peso e importância no modo como essas informações se articulam para construir pensamento analítico, crítico, lógico, analógico, sistêmico, criativo, prático, deliberativo, propositivo em certos casos, sintético etc.; que estimule atitudes éticas, respeitosas, empáticas, solidárias; que defenda valores que dignifiquem e valorizem a vida humana em sua diversidade, aí incluído o contexto social e natural em que vivemos.
A ideia de diálogo regulou toda a organização dos conteúdos da coleção. Na frente de Literatura, buscou mostrar que a produção de cada momento histórico está impregnada das vozes sociais da época em que é produzida e das que ecoam de outras épocas, já que toda produção está integrada a uma corrente discursiva que cada obra resgata e renova. Assim, cada momento histórico da produção literária ecoa os discursos que fazem parte da arquitetura de um tempo entre tempos.
Para dar forma a essa ideia, cada unidade da coleção introduz o estudo com a leitura de um texto literário contemporâneo ou moderno, cuja exploração será seguida de textos apresentados na seção No fio do tempo que se afirmaram como exemplares de diferentes projetos estéticos e, consequentemente, ideológicos. Nessa seção, são apresentados diferentes projetos literários (“projeto” entendido aqui como um
conjunto de obras em que se podem identificar vetores ideológicos comuns). A construção desse diálogo entre tempos foi pautada por similaridades, sobretudo temáticas e eventualmente estilísticas. A opção de partir de textos mais “atuais” pode favorecer a entrada dos estudantes em um campo de discussões que pretendem problematizar ideias e valores que se manifestam em textos de épocas distintas.
A Unidade 1 do Volume 3, que irá tratar da prosa da geração de 1930, por exemplo, é introduzida por um trecho de Torto arado, de Itamar Vieira Junior, uma obra que mergulha na vida de uma comunidade rural no sertão baiano para discutir questões ligadas à posse da terra, à luta por direitos e à identidade. Em seguida, o leitor será confrontado com o sertão de Vidas secas, de Graciliano Ramos, podendo concluir, depois de apresentado o contexto da produção de 1930, que Torto arado estabelece um elo significativo com a literatura em prosa da segunda geração modernista ao retomar e revitalizar temas centrais dessa tradição, como a exploração das realidades regionais e a crítica social: as complexidades da vida agrária, a luta pela terra e a resistência das comunidades tradicionais.
As questões que orientam o estudo dos textos literários exploram o diálogo com o contexto, as informações básicas do texto e os recursos estilísticos ou semânticos relevantes para chegar às questões mais de fundo de que todo texto é portador – ou seja, os posicionamentos que sustenta. Vale dizer que as respostas sugeridas para as questões não refletem exatamente uma expectativa das formulações dos estudantes; muitas têm o objetivo de também apoiar e orientar o professor quanto às possibilidades de discussão que podem suscitar.
Os contextos – ou seja, as condições históricas, sociais, econômicas, culturais e políticas de cada momento – são tratados de formas diversas nas questões de exploração dos textos, em geral associados à leitura de textos de diferentes áreas do conhecimento que pretendem amparar a reflexão dos estudantes.
25 BRASIL, ref. 22, p. 43.
26 BRASIL, ref. 1, p. 8.
Os contextos são aprofundados quando o estudo das estéticas tratadas na seção No fio do tempo expande as condições históricas de produção dos diferentes projetos literários. Por exemplo, na Unidade 2 do Volume 2, que trata do projeto naturalista, relaciona-se a estética que produziu narrativas aliadas a discursos de uma ciência que ainda procurava se estabilizar, mas que reproduzia preconceitos e racismo que mantinham a estrutura desigual e injusta de sociedade, à obra de Ana Paula Maia, que introduz o estudo da literatura na unidade, sendo possível encontrar ecos do Naturalismo na apresentação das personagens, que se assemelham a animais quando submetidas a contextos em que são privadas de seus direitos mais básicos.
A seleção dos textos literários propostos para a frente de Literatura pautou-se em conciliar a tradição literária a outros que permaneceram (quase) ignorados por ela, mas que iluminam novas veredas da produção de cada tempo. Entre eles, tem destaque a literatura feita por mulheres que, em uma sociedade profundamente marcada pelo machismo como a brasileira, foi pouco publicada e pouco lida. Procurou-se também, com a seleção literária desta coleção, confrontar passado e contemporaneidade, propondo, por meio do diálogo, a percepção de arcos temáticos, os quais comunicam também traços das realidades que se transformam e ao mesmo tempo permanecem iguais, o que projeta esboços da identidade brasileira, sobretudo, mesmo quando se trata da literatura portuguesa –essa matriz – ou da literatura africana – essa irmã.
Entre os textos mais contemporâneos, a seleção procurou trazer vozes jovens no cenário das publicações com a certeza de que elas abrem um leque de discussões fundamentais para o presente dos estudantes, que poderão, em seguida, encontrar na seção No fio do tempo raízes outras para esses mesmos assuntos, pensamentos, posições. A amplitude e a diversidade temáticas permitem discutir, entre tantos, os Temas Contemporâneos Transversais, como, por exemplo, os relacionados ao multiculturalismo, como na Unidade 4 do Volume 1, na Unidade 9 do Volume 3, e ao mundo do trabalho, tratado na Unidade 8 do Volume 3.
Nos boxes Ler o mundo e O X da questão, introdutórios à leitura dos textos literários, são apresentadas brevemente as questões fundamentais de cada momento; essa apresentação é seguida por questões que podem propor a retomada de conteúdos vistos em unidades ou mesmo volumes anteriores e uma reflexão de cunho mais pessoal, que pretende explorar o repertório de cada estudante, provocar dúvidas, colocar em diálogo diferentes hipóteses, modos de ver, ideias. Por isso, nem todas as questões têm uma “resposta certa” ou nem mesmo uma expectativa de resposta; trata-se de um momento de reflexão pessoal e coletiva em que a dúvida ou a incerteza podem acionar o alerta da curiosidade, da necessidade de investigação, estágios importantes no processo de construção do conhecimento.
Ao terem oportunidade de trocar com os colegas informações, posições, opiniões sobre tantos temas, os estudantes podem também olhar para si mesmos, confrontar realidades e, com o outro, construir a própria identidade. Esse contato fundamental se alia ao poder humanizador da literatura, que permite o contato com alteridades radicalmente diversas, potencializando o diálogo com o outro e o processo de autoconhecimento.
Complementares ao trabalho com a leitura dos textos literários, a coleção apresenta o boxe Hiperlink, com o objetivo de propor aos estudantes pesquisas de obras e autores importantes na composição de diferentes panoramas literários, e o boxe Ler literatura, em que a leitura de textos do campo artístico-literário pode ser potencializada por saberes de áreas do conhecimento, que iluminam aspectos importantes e que contribuem com a formação do leitor literário. Além dos boxes, a seção Integrando com… propõe relações interdisciplinares, confirmando o texto literário como um poderoso sintetizador de tendências, ideias, ideologias.
Assim, o diálogo em Literatura se estabelece tanto no que prevê o livro didático, ou seja, um diálogo entre texto e estudante por meio da proposição de questões e atividades diversas, quanto entre textos de tempos diferentes e o olhar de que são portadores. Se as atividades se voltam, por um lado, para uma abordagem que pede a compreensão e análise dos estudantes,
também pensa a relação entre eles, requisitando da turma um papel ativo seja em atividades complementares de pesquisa, seja acionando o repertório de cada um ou ainda apelando para uma reflexão que exige posicionamento e argumentação.
O trabalho na frente de Leitura foca o estudo dos gêneros que fortalecem e abrem novas oportunidades de troca entre os estudantes. Os textos selecionados abrangem todos os campos de atuação, desde textos verbais aos verbovisuais, dos escritos aos orais. Essa frente também se abre a um leque amplo de temas, como os presentes na Unidade 1 do Volume 3, em que o texto discute ameaça aos macacos; ou na Unidade 7 do Volume 2, que estuda projetos editoriais por meio da análise de capas de revista que abordam a questão climática; ou na Unidade 5 do Volume 1, que aborda questões sobre cidadania e civismo, entre outras.
Entende-se por leitura todo processo que exige alguma forma de compreensão, análise, construção de sentido de um enunciado, conforme Koch e Elias27 Nesse processo, consideram-se as posições de Colomer28, que entende a importância de ativar os conhecimentos visuais e do repertório do leitor, a formulação de hipóteses e deduções. O trabalho proposto em Leitura também está significativamente amparado pela teoria dialógica já citada, que entende o conceito de gênero como uma interação verbal entre sujeitos historicamente situados. Esses sujeitos produzem enunciados concretos e relativamente estáveis, já que são tomados de uma dada tradição dentro dos mais diversos campos de atividade humana. Esses enunciados são atualizados pelos sujeitos a cada enunciado, na manifestação da vontade discursiva de cada falante. Ao serem produzidos e circularem em um campo de atividade humana, os enunciados apresentam um dado conteúdo temático, que modula as possibilidades de atribuição de sentidos e seus recortes possíveis, uma forma composicional, que diz respeito a elementos de organização interna dos gêneros, e um estilo.
As atividades de leitura terão como foco a busca da posição que sustenta cada texto (verbal,
Associadas à leitura de diferentes gêneros e às reflexões sobre a língua, as propostas de produção de texto da seção #nósnaprática partem de diferentes situações de comunicação em diferentes campos de atuação para públicos específicos, o que exige que a estrutura e a linguagem do texto sejam adequadas à enunciação. A produção pode referir-se a textos escritos ou orais, em linguagem verbal ou verbovisual. Assim, os estudantes podem ser chamados a escrever um roteiro ou a gravar uma entrevista, por exemplo. Em alguns casos, o gênero que será desenvolvido não é trabalhado na seção de leitura, mas na própria seção de produção. Desse modo, além de uma estrutura que oferece aos estudantes a orientação de um processo de trabalho, garante-se a eles também uma referência do gênero que deverão produzir. Entre as habilidades desenvolvidas, algumas delas estão voltadas ao universo digital, favorecendo, em certos casos, a discussão sobre a confiabilidade das fontes, assunto tão relevante no mundo contemporâneo das falsas informações.
Nessa seção, o boxe Laboratório de produção permite aos estudantes um olhar mais atento a algum recurso, sobretudo linguístico-textual, que poderão aplicar à produção. Nesse boxe, teoria e prática se articulam para que os estudantes possam se exercitar em um aspecto relevante para a produção de texto proposta.
27 KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2011.
28 COLOMER, Teresa; CAMPS, Anna. Ensinar a ler, ensinar a compreender São Paulo: Artmed, 2002. verbovisual; contínuo ou descontínuo). Além da face material e estrutural, o trabalho com a leitura de gêneros considera que todo enunciado (verbal, visual ou verbovisual) traça uma rede de relações discursivas com seu contexto de produção, com o público a que visa, com a tradição em que se insere, e está atravessado de valores cuja compreensão é fundamental no processo de formação dos sujeitos/estudantes como protagonistas. Assim, as questões que orientam o estudo dos gêneros consideram o contexto de produção e circulação, as informações explícitas e/ou implícitas, aspectos estilísticos ou semânticos, até chegar à camada argumentativa do texto.
Na frente de Análise linguística, o trabalho gramatical, sempre amparado em textos, considera a norma e a descrição estabelecidas em gramáticos como Cunha e Cintra29, e ainda outras, orientadas também pelo uso, como a de Bagno30, a de Neves31 e a de Vieira e Faraco32. A matéria textual incorpora os estudos sobre a teoria da enunciação de Benveniste33, 34, teórico também afeito aos aspectos discursivos, e as contribuições dos estudos de Koch35, 36, Koch e Travaglia37, Travaglia38 e Fiorin39, 40. As questões discursivas consideram sobretudo as contribuições de Bakhtin e o Círculo41, 42, 43, 44 e de seus comentadores, como Beth Brait45, 46 e Faraco47
Nessa frente, são priorizadas as questões descritivo-normativas. Elas se concentram, nesta coleção, na sintaxe, uma vez que os estudos de morfologia estão previstos desde o Ensino Fundamental – Anos Iniciais e Finais. Considerando o impacto do estudo da relação entre as palavras e seus acordos, da subordinação e da coordenação de orações, da construção da coesão e da coerência na construção do pensamento, a coleção optou por privilegiar os estudos sintáticos retomando brevemente a morfologia quando esta se mostrar importante para o entendimento e estudo dos conceitos em foco na unidade.
A seção Astúcias da língua amplia, observa a aplicação ou trata da dimensão discursiva dos conceitos estudados ou ainda explora dimensões linguísticas do gênero apresentado em Leitura. Desse modo, amplia
as possibilidades de reflexão sobre a língua e cria, em alguns casos, diálogos internos que levam à observação dos conceitos em contexto textual, como na Unidade 3 do Volume 1, em que, depois das noções de acordo entre sujeito e predicado, se estuda o papel da concordância na construção da coesão; ou em contexto discursivo, como na Unidade 4 do Volume 1, em que, depois de estudados os tipos de sujeito, se estudam os efeitos de sentido da impessoalização do discurso com os sujeitos indeterminados.
Três projetos presentes na coleção, intitulados #fazerjunto, são propostos aos estudantes. Seus temas se relacionam a algum aspecto tratado em unidades anteriores a eles. A proposta procura pedir uma postura ativa dos estudantes: sendo sempre em grupo e resultando em um produto, pede negociação de sentidos e de encaminhamento de propostas, organização e, como na seção #nósnaprática, desenvolve, em vários casos, habilidades digitais e discussões relacionadas ao universo virtual.
Na seção Ler…, as leituras de textos de outras áreas do conhecimento têm o objetivo específico de fazer os estudantes lerem o texto para estudá-lo. A fim de dar caminhos ao estudo de textos nessas áreas, o trabalho proposto na seção sugere diferentes estratégias de leitura aos estudantes para instrumentalizá-los a desenvolver:
[…] atividades que envolvam a análise de textos das três outras áreas de conhecimento (Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza
29 CUNHA, Celso; CINTRA, Luís Filipe Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 7. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2016.
30 BAGNO, Marcos. Gramática pedagógica do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2011.
31 NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. São Paulo: Unesp, 2000.
32 VIEIRA, Francisco Eduardo; FARACO, Carlos Alberto. Gramática do português brasileiro escrito. São Paulo: Parábola, 2023.
33 BENVENISTE, Émile Problemas de linguística geral I. Tradução: Maria da Glória Novak e Maria Luisa Neri. Campinas: Pontes, 2005.
34 BENVENISTE, Émile Problemas de linguística geral II. Tradução: Eduardo Guimarães et al. Campinas: Pontes, 2006.
35 KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1990.
36 KOCH, Ingedore Villaça. Argumentação e linguagem. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
37 KOCH, Ingedore Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 1990.
38 TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino da gramática no 1o e 2o graus. São Paulo: Cortez, 1997.
39 FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à linguística I: objetos teóricos. 6. ed. São Paulo: Contexto, 2010.
40 FIORIN, José Luiz. As astúcias da enunciação: as categorias de pessoa, espaço e tempo. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2016.
41 BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução: Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. 11. ed. São Paulo: Hucitec, 2004.
42 BAKHTIN, ref. 9.
43 BAKHTIN, Mikhail. Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. Tradução: Aurora Fornoni Bernardini et al. 6. ed. São Paulo: Hucitec, 2010.
44 BAKHTIN, Mikhail. Para uma filosofia do ato responsável. Tradução: Valdemir Miotello e Carlos Alberto Faraco. São Carlos: João e Pedro Editores, 2010.
45 BRAIT, Beth (org.). Bakhtin: conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2005.
46 BRAIT, Beth (org.). Bakhtin: outros conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2010.
47 FARACO, Carlos Alberto. Linguagem & diálogo: as ideias linguísticas do círculo de Bakhtin. São Paulo: Parábola, 2009.
e suas Tecnologias, Ciências Humanas e Sociais Aplicadas) com intuito explícito de subsidiar a aprendizagem do estudante nas outras áreas48.
Vale ressaltar, por fim, o importante papel que a argumentação tem na proposta da coleção. Aliada ao eixo do diálogo e da construção da identidade, a argumentação é trabalhada nas mais diversas seções e atividades do material, desenvolvidas sobretudo na seção Pensar e compartilhar. Além de capital para o exercício da vida cidadã, para a vida social dos estudantes, exigida em diversos gêneros e modalidades textuais que atravessam os caminhos de provas e concursos, o trabalho com a argumentação é também a prática do respeito e a resistência às formas da agressão e da violência. Ao serem colocados diante de posições e valores que se confrontam e diante dos quais precisam se posicionar, os estudantes entendem que a argumentação é o caminho para o diálogo com o outro e abre possibilidades de reflexão sobre si e sobre o mundo.
A BNCC indica um trabalho pedagógico com o desenvolvimento integrado das competências gerais previstas para a Educação Básica, das competências específicas e das habilidades para o Ensino Médio. Tal integração implica uma abordagem em que se mobilizem conhecimentos, atitudes e valores em prol da participação crítica e ativa dos estudantes, nos diversos campos de atividade dos componentes da área de Linguagens e suas Tecnologias; sendo assim, os eixos que sustentam essa integração: […] são as práticas de linguagem consideradas no Ensino Fundamental – leitura, produção de textos, oralidade (escuta e produção oral) e análise linguística/semiótica. As dimensões, habilidades gerais e conhecimentos considerados, relacionados a essas práticas, também são os mesmos [...], cabendo ao Ensino Médio [...] sua consolidação e complexificação, e a ênfase
nas habilidades relativas à análise, síntese, compreensão dos efeitos de sentido e apreciação e réplica (posicionar-se de maneira responsável em relação a temas e efeitos de sentido dos textos; fazer apreciações éticas, estéticas e políticas de textos e produções artísticas e culturais etc.)49.
Os textos e as atividades propostos nesta coleção, ao longo das frentes e seções, contemplam esses princípios, oferecendo ao professor suporte para mapear o repertório que os estudantes trazem para a sala de aula e contribuindo para que se enfrente o desafio de se trabalhar com grupos numerosos e diversos, visando selecionar procedimentos metodológicos que respeitem os diferentes ritmos e necessidades dos “diferentes grupos de alunos, suas famílias e cultura de origem, suas comunidades, seus grupos de socialização”50
Em termos práticos, a BNCC foca o trabalho com as competências, isto é, os saberes, em conjunto com as habilidades, as quais consistem na capacidade de aplicação desses saberes em situações reais, estimulando atitudes – ou seja, mecanismos internos que impulsionam a mobilização desses saberes e habilidades – e valores, que são os princípios subjacentes às práticas dos conhecimentos e das habilidades, tais como compromisso com os direitos humanos e a justiça social, ética e consciência ambiental.
Dado o maior grau de autonomia dos jovens do Ensino Médio, as habilidades a serem trabalhadas não são compartimentalizadas por anos; podendo uma habilidade “estar a serviço de mais de uma competência específica da área de Linguagens e suas Tecnologias”51.
Na coleção, a seção #nósnaprática, por exemplo, ao articular teoria e prática, conhecimentos científicos e cotidianos, oferece condições para que os estudantes exerçam sua autonomia e vivenciem experiências significativas e contextualizadas que favoreçam o enriquecimento cultural e as práticas cidadãs, atendendo às demandas próprias da vida cotidiana e do mundo do trabalho.
48 BRASIL, ref. 22, p. 20.
49 BRASIL, ref. 1, p. 500-501.
50 BRASIL, ref. 1, p. 17.
51 BRASIL, ref. 1, p. 504.
Ao trabalhar as habilidades vinculadas às competências gerais e específicas, o professor abre caminho para o desenvolvimento do pensamento crítico, comprometido com princípios éticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. O trabalho com conhecimentos, habilidades, atitudes e valores requer uma abordagem interdisciplinar, de modo a permitir a exploração conjunta de temas multifacetados, tais como discriminação e exploração racial e de gênero ou privacidade nas redes sociais e plataformas digitais, favorecendo a ampliação do repertório cultural dos estudantes e instrumentalizando-os para se posicionarem com autonomia e protagonismo acerca de temas que lhes sejam significativos, nos diversos campos de atuação social já abordados neste material.
A avaliação em Língua Portuguesa deve observar os pressupostos dialógicos, que consideram a língua e a linguagem no contexto de interação entre as pessoas em determinados contextos sociais, históricos, culturais e ideológicos. Assim, a avaliação deve considerar as habilidades e competências dos estudantes de compreender as forças discursivas em jogo, identificar as vozes e os discursos aos quais respondem, considerar, no caso da literatura, os textos com os quais podem compor uma tradição, seja rompendo com determinados postulados, seja ressignificando-os. Dessa perspectiva, a avaliação deve valorizar a reflexão e a argumentação dos estudantes, procurando os sentidos plasmados nos diferentes textos tomados como enunciados e as ideias de fundo que defendem. Não só as características de um projeto literário ou a nomenclatura gramatical, ou as características exclusivamente formais de um texto são o objetivo do aprendizado e de sua verificação. Passa a ocupar o primeiro plano uma integração entre habilidades e competências linguísticas dos estudantes em uma situação semelhante àquela que poderiam vivenciar na realidade, no dia a dia da interação social e em sua futura atuação no campo profissional e no prosseguimento dos estudos.
Recomenda-se que a avaliação nas frentes de Literatura e Leitura busque resgatar as condições de produção dos textos e a compreensão de sentido deles, identificando sobretudo as posições que cada um sustenta. A avaliação da frente de Análise linguística deve considerar sobretudo as funções e os efeitos de sentido em um texto, lembrando que o objetivo final de toda a reflexão é a compreensão do sentido e das ideias em jogo.
Na seção de produção de texto #nósnaprática, as propostas partem de diferentes situações de comunicação em diferentes campos de atuação para públicos específicos, o que exige que a estrutura e a linguagem do texto sejam adequadas à enunciação. Para a avaliação dessas produções, são apresentadas sugestões específicas de critérios, de acordo com o que foi solicitado. Nesse e em outros casos, pode-se avaliar o processo e o produto, identificando eventuais dificuldades e facilidades. Também se pode variar a dinâmica, outorgando ao grupo corresponsabilidade no progresso dos colegas.
A avaliação, como instrumento de verificação da aprendizagem dos estudantes, representa não apenas momentos fundamentais do processo de ensino-aprendizagem como legitima e verifica a validade das escolhas teóricas feitas pelo professor e oferecidas pelo material. É verdade que no cotidiano escolar as adversidades limitam o tempo e conduzem o percurso pedagógico a práticas avaliativas mais pontuais. No entanto, é importante que as avaliações adotem uma mesma perspectiva teórica e um mesmo objetivo: permitir aos estudantes o uso competente da língua portuguesa em diversos contextos de interação.
Os estudantes devem entender a avaliação como uma ferramenta que lhes permite reconhecer o
Diversas formas de avaliação podem ser usadas de modo complementar. A avaliação diagnóstica, por exemplo, é um instrumento de verificação do conhecimento, das habilidades já desenvolvidas e também das dificuldades dos estudantes para orientar o trabalho pedagógico. A avaliação comparativa, como o próprio nome indica, tem o objetivo de possibilitar aos estudantes comparar seu desempenho com o de outros estudantes, o que pode ser realizado por meio de testes, elaboração de resumos, avaliações entre pares etc.
aprendizado e as dificuldades e necessidades de aprimoramento linguístico tanto na compreensão como na produção textual, oral ou escrita, verbal ou verbovisual. Essa avaliação deve ocorrer como um processo ao longo do ano letivo (avaliação formativa), não se recomendando que se reduza apenas a uma prova classificatória que condensará em poucas questões todo o conteúdo programático (avaliação somativa). Ao longo do período letivo, todos os trabalhos propostos pelo próprio material didático, entre outros tipos de atividade, podem integrar a avaliação dos estudantes. Na avaliação formativa podem ser propostas dinâmicas variadas, como as feitas pelos próprios estudantes, seja em grupo ou individualmente, num processo de autoavaliação, de modo que aqui se trabalhe também a atitude necessariamente respeitosa, construtiva e consequente para com o outro.
Uma possibilidade de avaliação ipsativa também pode ser construída com os estudantes, propondo, por exemplo, um portfólio das produções textuais com parâmetros que permitam a eles avaliar a evolução de suas produções ao longo de um intervalo de tempo (bimestre ou semestre, por exemplo).
Embora explicitamente descrito na área de Matemática e suas Tecnologias, o pensamento computacional perpassa tanto pela área de Linguagens e suas Tecnologias como por outras áreas do conhecimento. Em Língua Portuguesa, pode auxiliar no desenvolvimento de processos cognitivos como inferência, abstração, resolução de problemas, algoritmização e argumentação.
Retomando a argumentação como um dos focos desta coleção, reitera-se a importância da perspectiva dialógica adotada, considerando que, no contexto de nossa sociedade atual, imersa na cultura digital (ainda que não acessível a todos), é fundamental construir propostas pedagógicas que articulem os conhecimentos escolares aos próprios das práticas digitais, de modo a propiciar condições para que os estudantes
não somente se apropriem de forma técnica e crítica de recursos digitais mas também participem, de forma autônoma e protagonista, das múltiplas práticas de linguagem, da coexistência e convergência de mídias e textos multissemióticos, dos textos e/ou das atividades, em diferentes campos de atuação social, demandas cuja resolução requer a argumentação, permitindo que se:
[...] ampliem as situações nas quais os jovens aprendam a tomar e sustentar decisões, fazer escolhas e assumir posições conscientes e reflexivas, balizados pelos valores da sociedade democrática e do estado de direito. Exigem [as demandas] ainda possibilitar aos estudantes condições tanto para o adensamento de seus conhecimentos, alcançando maior nível de teorização e análise crítica, quanto para o exercício contínuo de práticas discursivas em diversas linguagens [...]52.
Ao longo dos volumes de Língua Portuguesa, competências e habilidades relacionadas ao pensamento computacional podem ser desenvolvidas por meio de atividades que requeiram a resolução de problemas envolvendo tanto situações cotidianas quanto a elaboração de rotinas próprias do pensamento algorítmico.
Outros textos e atividades da coleção favorecem, em situações que englobam a natureza, a sociedade, a ciência e a tecnologia, o desenvolvimento do pensamento computacional, à medida que exploram, por exemplo: o raciocínio analítico, a coleta de dados e o reconhecimento de padrões para uma pesquisa; a abstração necessária à elaboração de um roteiro; e a decomposição de uma atividade de produção textual em etapas e em sequência investigativa, selecionando-se a representação de linguagem mais adequada para alcançar um posicionamento a respeito de determinado tema.
Favorecer o pensamento computacional também em Língua Portuguesa pressupõe a formação de estudantes capazes de não apenas identificar as informações mas, principalmente, participar ativamente de situações
52 BRASIL, ref. 1, p. 486.
discursivas, utilizando as múltiplas linguagens (incluindo-se as das tecnologias digitais da informação e comunicação – TDIC) para enfrentar desafios e refletir sobre si e o outro, o particular e o geral, o individual e o coletivo.
Nesse cenário, os jovens precisam ter uma visão crítica, criativa, ética e estética, e não somente técnica das TDIC e de seus usos, para selecionar, filtrar, compreender e produzir sentidos, de maneira crítica e criativa, em quaisquer campos da vida social.
Para tanto, é necessário não somente possibilitar aos estudantes explorar interfaces técnicas [...], mas também interfaces críticas e éticas que lhes permitam tanto triar e curar informações como produzir o novo com base no existente53.
A relevância de inserir na Educação Básica propostas que permitem aos estudantes uma formação voltada à construção da cidadania já era considerada nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), na década de 1990. Os Temas Contemporâneos Transversais (TCTs) foram estruturados, à época, como assuntos significativos para a sociedade e possíveis de serem abrangidos em todas as áreas do conhecimento, alinhando cidadania e saber científico. Em caráter de recomendação para que fossem trabalhados em todos os componentes curriculares, os Temas Contemporâneos Transversais, nos PCN, se dividiam em seis eixos: Saúde, Ética, Orientação sexual, Pluralidade cultural, Meio ambiente e Trabalho e consumo. Evidencia-se que, além da indicação de temáticas que se faziam presentes na sociedade, recomendou-se que fossem abordadas, com base em propostas didáticas e epistemológicas, a transversalidade e a interdisciplinaridade.
Temas Transversais nos PCN54
Trabalho e consumo
Temas Transversais nos PCN
Saúde Meio ambiente Ética
Pluralidade cultural
Orientação sexual
A partir da homologação da BNCC, em 2017, para a etapa do Ensino Infantil e Ensino Fundamental e, em 2018, para o Ensino Médio, os Temas Contemporâneos Transversais tiveram seu alcance ampliado, com a inserção de questões sociais que devem acompanhar a formação dos estudantes, agora em caráter de obrigatoriedade, para a composição do currículo. A inclusão da contemporaneidade não apenas na nomenclatura mas enquanto pressuposto no desenvolvimento dos temas se sustenta na compreensão da integralidade como elemento primordial para a formação de sujeitos atuantes no mundo, exercendo responsabilidade local, regional e global. Para tanto, foram estabelecidas temáticas envolvendo questões que permeiam a sociedade e que consideram a vivência dos estudantes no processo de aprendizagem, habilitando-os a refletir a respeito das diversas realidades e papéis a serem exercidos na construção da cidadania.
A importância da contemporaneidade dos TCTs é reforçada na BNCC:
O mundo deve lhes ser apresentado como campo aberto para investigação e intervenção quanto a seus aspectos políticos, sociais, produtivos, ambientais e culturais, de modo que
53 BRASIL, ref. 1, p. 497.
54 Elaborado com base em: BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Temas Contemporâneos Transversais na BNCC: contexto histórico e pressupostos pedagógicos. Brasília, DF: MEC, 2019. p. 8. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/implementacao/contextualizacao_ temas_contemporaneos.pdf. Acesso em: 26 ago. 2020.
se sintam estimulados a equacionar e resolver questões legadas pelas gerações anteriores – e que se refletem nos contextos atuais –, abrindo-se criativamente para o novo55.
A abordagem dos TCTs no processo de aprendizagem tem como resultado a possibilidade de construir conhecimentos utilizados para a resolução de problemas e para a prática cotidiana, pelo exercício da cidadania. Dessa forma, ao tratar de questões sociais que estão inseridas nas realidades dos estudantes, os conteúdos apresentados passam a extrapolar a produção científica, sem que haja um fim em si mesmo, compreendendo a educação como um processo que se realiza em diversos espaços sociais.
Contemporâneos
na BNCC56
Temas
Contemporâneos
Transversais na BNCC
Multiculturalismo
Diversidade Cultural
Educação para valorização do multiculturalismo
nas matrizes históricas e culturais brasileiras
Ciência e Tecnologia
Ciência e Tecnologia
Cidadania e Civismo
Vida Familiar e Social
Educação para o Trânsito
Educação em Direitos Humanos
Direitos da Criança e do Adolescente
Processo de envelhecimento, respeito e valorização do idoso
Meio Ambiente
Educação Ambiental
Educação para o Consumo
Economia
Trabalho
Educação Financeira
Educação Fiscal
Saúde
Saúde
Educação Alimentar e Nutricional
Educar e aprender são fenômenos que envolvem todas as dimensões do ser humano e, quando isso deixa de acontecer, são produzidas alienação e perda do sentido social e individual no viver. É preciso superar as formas de fragmentação do processo pedagógico em que os conteúdos não se relacionam, não se integram e não interagem.
Nesse sentido, os Temas Contemporâneos Transversais têm a condição de explicitar a ligação entre os diferentes componentes curriculares de forma integrada, bem como de fazer sua conexão com situações vivenciadas pelos estudantes em suas realidades, contribuindo para trazer contexto e contemporaneidade aos objetos do conhecimento descritos na BNCC57.
Em Língua Portuguesa, a amplitude e diversidade de gêneros, de muitas e diversas temporalidades, permite a discussão de amplo espectro temático no qual os Temas Contemporâneos Transversais garantem lugar. O Multiculturalismo, presente na Unidade 4 do Volume 1 e na Unidade 9 do Volume 3; o Trabalho, tratado na Unidade 8 do Volume 3; o Meio Ambiente, a Educação Ambiental e a Educação para o Consumo, abordados na Unidade 1 do Volume 3 e na Unidade 7 do Volume 2; Cidadania e civismo, tratados na Unidade 5 do Volume 1; Ciência e Tecnologia, discutidas na Unidade 6 do Volume 1, são exemplos de possibilidades de reflexão sobre temas tão pertinentes quanto urgentes no mundo contemporâneo.
A coleção está organizada em três volumes, cada volume tem nove unidades. Cada unidade traz leituras de textos literários e diversos gêneros, bem como reflexões sobre a língua e seus recursos e uma proposta de produção de texto. A coleção é composta pelos elementos a seguir.
Abertura de unidade: as aberturas de unidade são sempre compostas de imagens. Apresentam uma introdução que propõe uma primeira reflexão sobre o núcleo temático predominante a ser abordada na unidade por meio da leitura dessas imagens e da ativação de conhecimentos prévios dos estudantes.
Literatura: esta frente apresenta textos literários mais atuais em comparação com os textos pertencentes aos projetos literários centrais da unidade e tem como objetivo permitir aos estudantes articular
55 BRASIL, ref. 1, p. 463.
56 Elaborado com base em: BRASIL, ref. 54, p. 13.
57 BRASIL, ref. 54, p. 5.
diálogos entre os temas, reflexões e formas desses textos, em diálogo com os TCTs. Esta frente apresenta as seções e os boxes a seguir.
• Ler o mundo: o boxe propõe atividades com o objetivo de aproximar o conteúdo dos textos literários à experiência dos estudantes, além de propor o levantamento de hipóteses sobre o projeto literário, o gênero e o conteúdo dos textos que serão lidos.
• No fio do tempo : a seção apresenta textos que representam um projeto literário e que permitem aos estudantes conhecer mais sobre o contexto e os diálogos que esses textos literários teceram com os que os antecederam na leitura inicial e com os textos que os sucederão.
O X da questão: o boxe faz um encaminhamento necessário para a apresentação do projeto literário a ser discutido na seção No fio do tempo. Para tanto, propõe atividades que retomam discussões anteriores e que aproximam o que será discutido pelo texto e pelas atividades à experiência dos estudantes, além de propor o levantamento de hipóteses sobre a estética dos textos literários.
Contexto : a subseção de No fio do tempo apresenta aos estudantes, de uma forma condensada e ampla, os discursos, acontecimentos e relações de poder que se apresentavam no momento em que se produziu o projeto literário estudado. Assim, os estudantes poderão ter um arcabouço maior que vai lhes permitir tecer diálogos entre o texto e sua situação enunciativa, bem como tecer relações entre o presente e o passado.
P ágina especial : a seção atua como uma lupa sobre temas, autores e eventos relevantes e que merecem maior destaque. Aqui os estudantes poderão fazer leituras mais direcionadas e realizar atividades que lhes permitam maior entendimento do assunto selecionado.
• Hiperlink : o boxe amplia os estudos de literatura. Nas atividades propostas neste boxe, os estudantes poderão conhecer mais sobre outros autores do mesmo projeto literário estudado, bem como pesquisar de forma mais aprofundada outros temas.
• Integrando c om… : a seção relaciona o assunto estudado na unidade com temas de diversos componentes curriculares da área de Linguagens e suas Tecnologias e também das outras áreas do conhecimento.
• Ler literatura: o boxe tem como objetivo formar leitores capazes de ler e apreciar literatura de maior complexidade, com aprofundamento e fruição. Nele, são apresentadas reflexões sobre temas, diálogos e a estrutura de textos literários, explorando as várias possibilidades de produção de sentidos que deles possam se originar.
Leitura: a frente apresenta texto(s) de diferentes gêneros e campos de atuação social que dialoga(m) com o tema da unidade. A seleção textual procurou atender às diversas demandas dos estudantes em sua vida escolar, pessoal, profissional e social, inserindo-os em um contexto de protagonismo na reflexão sobre os temas propostos e no debate a seu respeito. O boxe Ler o mundo abre também o trabalho com essa frente, com o objetivo de aproximar o tema dos textos à experiência dos estudantes, além de propor o levantamento de hipóteses sobre o gênero e o conteúdo dos textos que serão lidos.
Análise linguística: nesta frente são propostas análises linguísticas e estudos gramaticais considerando a estrutura, alguns usos da língua e seus diferentes efeitos de sentido nos textos, além de retomar e aprofundar conteúdos importantes do Ensino Fundamental – Anos Finais. Dá-se continuidade à reflexão linguística nas atividades, propostas sempre com base em textos, as quais exploram conceitos importantes para a sua compreensão, além dos aspectos discursivos necessários à construção dos sentidos. Essa frente é composta da seção a seguir.
• Astúcias da língua : tem como objetivo abordar fenômenos linguísticos que dialogam com o conteúdo trabalhado na frente de Análise linguística ou em algum texto de Literatura ou de Leitura. O objetivo é mobilizar os conhecimentos linguísticos em seu uso, em textos diversificados, de forma a promover reflexões sobre seu funcionamento na estruturação da coesão e coerência de textos, bem como na produção e ampliação de sentidos.
Pensar e compartilhar: em todas as frentes há a presença desta seção, que convida os estudantes a analisar e compreender os textos literários, os gêneros e os conhecimentos linguísticos, bem como refletir sobre eles.
#nósnaprática: a seção é organizada em etapas que conduzem o processo de produção de textos e envolve gêneros orais, escritos e verbovisuais (multimodais/multissemióticos) dos diversos campos de atuação social. Marca o momento de os estudantes colocarem em prática conhecimentos adquiridos para a produção de textos. O boxe Laboratório de produção, que articula teoria e prática ao propor atividades que exercitam um aspecto relevante para a produção de texto proposta, compõe a seção.
Ler: aparece duas vezes no volume e sempre trará um texto de uma área de conhecimento diferente para auxiliar os estudantes a desenvolver habilidades de leitura nas áreas de Matemática e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais Aplicadas.
#fazerjunto: a seção tem como objetivo promover o trabalho colaborativo, a produção de gêneros multimidiáticos e as práticas de pesquisa que dialogam com os conteúdos estudados nas unidades anteriores.
Roteiro: traz diversas indicações de leitura, podcasts, filmes, entre outras, com informações detalhadas, além do título: especificações técnicas, sinopses e imagens.
Os boxes da coleção
Os diferentes boxes da coleção têm como função apoiar o estudo, apresentando: informações adicionais sobre autores e outras figuras públicas (#sobre); indicações de sites, filmes, músicas, livros e outros materiais de consulta (#ficaadica); e informações adicionais sobre o assunto abordado (Saiba mais). Além disso, os boxes conceito e #paralembrar dão destaque aos tópicos mais importantes apresentados na coleção ou em algum momento anterior, quer seja em um volume anterior ou no Ensino Fundamental – Anos Finais.
Além de toda a fundamentação já apresentada neste material, a parte específica das Orientações para o professor forma um componente importante que procura auxiliar e otimizar o trabalho docente em sala de aula. Nelas, são encontrados os itens organizadores a seguir.
Competências gerais e específicas e habilidades de Linguagens e Língua Portuguesa da BNCC: apresenta um quadro com as competências e os códigos das habilidades contempladas por cada unidade (as habilidades de Língua Portuguesa estão destacadas em cores que identificam a que campo de atuação social da BNCC pertencem).
Unidades 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9: introduz as sugestões de trabalho com cada unidade e alguns conteúdos de cada uma delas.
Estratégias didáticas: propõe orientações específicas que visam auxiliar o professor em sala, modos de apresentação e ordenação dos conteúdos, procedimentos de trabalho com as culturas juvenis etc.
Respostas e comentários: apresenta soluções e comentários específicos para atividades propostas no Livro do estudante, com o intuito de tirar o melhor proveito dessas tarefas, ampliando-as com base em reflexões ou desdobramentos suscitados pelos temas e conteúdos abordados.
Formação continuada: oferece trechos de textos relevantes para temas ou conteúdos abordados no decorrer de cada unidade, com o objetivo de contribuir permanentemente para a formação do professor.
Atividades complementares: propõe ao professor atividades que possam complementar as que já são oferecidas no Livro do estudante, com o objetivo de ampliar algum tema ou conteúdo que ele julgar pertinente, de acordo com seu planejamento ou perfil da turma.
Midiateca do professor: apresenta sugestões comentadas de livros, filmes, artigos etc., específicos para o professor.
Midiateca do estudante: apresenta sugestões comentadas de livros, filmes, artigos etc., específicos para os estudantes (podem ser utilizadas pelo professor em abordagens complementares ou indicadas aos estudantes).
A seguir, está apresentada uma proposta de cronograma para o desenvolvimento deste volume da coleção para um planejamento semestral, trimestral e bimestral. É importante considerar que esta proposta é apenas uma sugestão e que o cronograma deve ser adequado às
escolhas feitas pela comunidade escolar, de acordo com a quantidade de aulas estabelecidas no ano letivo para o componente curricular de Língua Portuguesa. Por exemplo, é possível trabalhar os conteúdos de leitura entre a frente Literatura e a seção No fio do tempo, com o objetivo de criar uma alternância de frentes, se julgar mais produtivo para o aprendizado da turma.
: Verdades vivas 1 2a
Leitura: Verbete enciclopédico – Uma revolução na comunicação a distância #nósnaprática: Verbete enciclopédico 1
3a No fio do tempo: Projeto realista: Um olhar para nosso abismo interior 1
4a
Análise linguística: Revisão: termos ligados ao nome Astúcias da língua: O papel do adjunto adnominal e do predicativo na descrição 1
Literatura: A vida crua 2 6a
: Resumo – O conhecimento condensado
No fio do tempo: Projeto naturalista: A realidade brasileira na lupa
Análise linguística: Revisão: termos ligados ao verbo Astúcias da língua: Modalização do advérbio e argumentação
15a
: Reportagem – A poesia nas redes
fio do tempo: Projeto parnasianista e simbolista: Razão e devaneio Ler Ciências da Natureza e suas Tecnologias 3
Análise linguística: Vozes do verbo e agente da passiva Astúcias da língua: Voz passiva e a impessoalização do discurso 3
Literatura: Ecos do passado que persistem no presente 4
Leitura: Anúncio de propaganda – Como divulgar ideias #nósnaprática: Anúncio de propaganda e campanha de conscientização 4
16a No fio do tempo: Realismo e Simbolismo em Portugal: Contra o Romantismo 4 17a
Análise linguística: Aposto, vocativo e interjeição Astúcias da língua: Pontuação no período simples 4 18a Literatura: A poeira do passado em nós 5
19a
Leitura: Notícia – Fake news, ainda #nósnaprática: Manual de checagem de informação 5
20a #fazerjunto: Reportagem digital* Avaliação
21a No fio do tempo: Projeto pré-modernista: República nova, injustiças velhas 5
22a
2 o Semestre
3 o Bimestre
Análise linguística: Período simples e período composto Astúcias da língua: Ordenação, ênfase e argumentação 5
23a Literatura: Ainda modernos? 6
24a
Leitura: Regulamento – Regras para todos #nósnaprática: Regulamento 6
25a No fio do tempo: Projeto modernista da primeira geração: Os ventos da modernidade 6
26a
Análise linguística: Período composto por coordenação Astúcias da língua: Pontuação e ênfase 6
3 o Trimestre 27a Literatura: Brasileiros do mundo todo
Leitura: Projeto editorial – Quem vê capa… #nósnaprática: Página de entrada de um site
29a No fio do tempo: Modernismo – Primeira geração (prosa): Em busca dos brasileiros Ler Ciências Humanas e Sociais Aplicadas 7 30a Avaliação
31a
33a
Análise linguística: Período composto por subordinação
Astúcias da língua: Figuras de sintaxe e de pensamento 7
: A fala que tem lugar 8
Leitura: Transcrição de documentário – Como sonhar narrativas #nósnaprática: Roteiro e esquete filmado 8
34a No fio do tempo: Teatro do início do século XX: França, café e chaminés 8
35a
Análise linguística: Período composto por subordinação Astúcias da língua: Formas de expressar atributos 8
36a Literatura: Um fado que ainda toca 9
37a
Leitura: Postagem de rede social – Nas redes, num mar de perfis #nósnaprática: e-zine 9
38a No fio do tempo: Modernismo português: Em busca de Portugal e dos portugueses 9
39a
Análise linguística: Período composto por subordinação Astúcias da língua: O dito e o não dito: pressupostos, subentendidos e inferências 9
40a Avaliação
* Avalie a possibilidade de implementar a proposta da seção #fazerjunto a partir do início da Unidade 5 e reserve um dia da semana de avaliação para a apresentação do projeto. Os estudantes poderão desenvolver os trabalhos de forma mais autônoma, com base nas orientações dadas em sala de aula. Se necessário, combine um dia ou mais dias para realizar reuniões coletivas conforme a demanda dos estudantes.
Nesta unidade, a estética realista na literatura brasileira, inaugurada no século XIX, é o tópico central da análise literária proposta. Trechos da obra machadiana são o fio condutor das reflexões sobre as principais características do Realismo em comparação ao Romantismo, estudado anteriormente. Na seção de análise linguística, o estudo de termos ligados ao nome (predicativo do sujeito, predicativo do objeto e adjunto adnominal) contribui para a compreensão de como se constroem caracterizações de personagens e ambientes em narrativas realistas. No que diz respeito à produção textual, os estudantes são convidados a produzir um verbete enciclopédico, por meio do qual podem exercitar suas habilidades de pesquisa e organização de informações.
Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 4, 5 e 7
Competências específicas de Linguagens e suas
Tecnologias: 1, 2, 3, 4, 6 e 7
Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias
EM13LGG101 EM13LGG102 EM13LGG103 EM13LGG104
EM13LGG201 EM13LGG202 EM13LGG203 EM13LGG204
EM13LGG301 EM13LGG302 EM13LGG303 EM13LGG401
EM13LGG402 EM13LGG601 EM13LGG602 EM13LGG704
Habilidades de Língua Portuguesa
EM13LP01 EM13LP02 EM13LP04 EM13LP06
EM13LP08 EM13LP10 EM13LP11 EM13LP12
EM13LP15 EM13LP22 EM13LP24 EM13LP28
EM13LP29 EM13LP30 EM13LP32 EM13LP43
EM13LP45 EM13LP46 EM13LP48 EM13LP49
EM13LP50 EM13LP52
Todos os campos de atuação social
Campo da vida pessoal
Campo de atuação na vida pública
Campo das práticas de estudo e pesquisa
Campo jornalístico-midiático
Campo artístico-literário
Estratégias didáticas
• Para conduzir as atividades propostas, incentive os estudantes a observar atentamente a pintura Primeira audição , de Paulo Pedro Leal (1894c.1968), e destaque para eles que não se trata de uma pintura romântica, embora possa parecer pelo fato de o evento retratado ser um sarau, ocasião social muito presente e festejada nos romances românticos. Trata-se de uma pintura do século XX realizada por um artista negro, o que faz toda a diferença. Se houver condições técnicas, projete as obras em tela ou na parede para que os detalhes fiquem bem visíveis.
• Chegando ao parágrafo final desta seção, talvez seja importante esclarecer o termo burguesia e a expressão ideário liberal. Para isso, pode-se solicitar aos estudantes que busquem informações sobre esses conceitos e as apresentem para a turma. Nessa altura dos estudos, eles provavelmente já terão um apreciável repertório sobre esses temas.
Respostas e comentários
1. d) A presença da mulher negra na obra analisada permite a reflexão sobre a representação da escravidão e da negritude na arte brasileira do século XIX. Ao analisar essa figura, é possível desvelar camadas complexas de significado e desconstruir estereótipos. A mulher negra (ou, de modo geral, pessoas negras), frequentemente, é posicionada em segundo plano, em tarefas subalternas, como servir ou limpar. Essa localização reforça a hierarquia social da época, na qual os negros ocupavam os escalões mais baixos da sociedade. Nessa pintura do século XX, apesar de estar em segundo plano, a figura negra se destaca visualmente. Seja pela cor da pele, pelo contraste com o vestuário das demais personagens ou por elementos da composição que direcionam o olhar do espectador para ela, que, nesse caso, aparece na parte central e superior no quadro. Essa contradição (subalternidade × destaque) subverte a invisibilização dos escravizados que era praticada nas pinturas românticas: ao mesmo tempo que a mulher negra é marginalizada, ela é também um elemento central na composição, evidenciando sua importância na dinâmica social retratada por um pintor negro do século XX, que a retrata de um modo carregado de afeto.
2. Depois de realizar a observação acurada da primeira obra, deixe que os estudantes observem e comentem, em duplas, as obras de Abigail de Andrade (1864-c.1890) para que estabeleçam comparações entre as três obras. Espera-se que compreendam que as obras da artista complementam a análise, já que oferecem um panorama mais amplo do cotidiano do século XIX. Ao compararem as pinturas de Abigail de Andrade com a de Paulo Pedro Leal, os estudantes podem perceber a diversidade social existente na época e as variadas realidades experimentadas por diferentes grupos sociais.
Estratégias didáticas
As atividades propostas no boxe Ler o mundo (p. 10) têm a intenção de provocar a reflexão sobre a influência duradoura do Romantismo na sociedade contemporânea, especialmente no que diz respeito à construção de relações sociais e familiares. Proponha uma discussão prévia em pequenos grupos, ou trios, a fim de que os estudantes possam trocar ideias sobre as atividades. Depois, a conclusão dos grupos pode ser compartilhada e debatida, a fim de observar se as opiniões se assemelham ou divergem. Espera-se que, com base nas discussões, se conclua que o modelo de vida socialmente idealizado atualmente ainda permanece muito próximo do ideário romântico e envolve a construção de uma família tradicional, o sucesso profissional e a realização pessoal.
O tr echo do romance A natureza da mordida (p. 10) oferece uma janela para um universo de relações complexas e dolorosas, no qual a intimidade se revela em suas facetas mais ambíguas e desafiadoras. A relação entre Olívia e a mãe dela, marcada por uma tensão latente e por uma dificuldade de comunicação autêntica, permite refletir sobre a intimidade e seus desafios. É sempre importante incentivar a leitura completa da obra, uma vez que o contato apenas com trechos pode dar uma visão parcial das intrincadas relações ali tecidas.
• É importan te destacar que essa obra de Carla Madeira, como qualquer narrativa que aborda relações familiares e/ou afetivas, carrega o potencial de “gatilho”, ou seja, de tocar em feridas abertas e
reavivar experiências dolorosas em alguns leitores, especialmente quando estes são adolescentes.
Estratégias didáticas
• As atividades desta seção podem ser respondidas em pequenos grupos, ou de modo coletivo, na classe, com espaço para o esclarecimento de dúvidas ou comentários.
• Aproveite o item b da atividade 4 para verificar quanto os estudantes dominam os conceitos de ironia e ambiguidade. Pergunte também o que eles entendem por “entrelinha”. Por serem conceitos muito próximos e com diferenças sutis, é interessante trocar ideias a respeito com os estudantes, a fim de esclarecer as dúvidas deles, caso houver. A ironia é um recurso retórico que consiste em fazer um jogo com a afirmação ou a negação de algo (nega-se para afirmar; afirma-se para negar), alterando, assim, o universo semântico do que é enunciado. Já a noção de que algo do discurso está nas “entrelinhas” sugere que nem tudo foi enunciado de forma clara e objetiva e que outros sentidos podem ser apreendidos com base no que efetivamente foi enunciado. O jarro, mencionado no trecho reproduzido na atividade, tem uma outra ocorrência importante na narrativa, que é quando Laura, mãe de Olívia, sofre assédio do vizinho Dantas e joga nele o jarro, que até então servia como vaso de flores. O episódio tem consequências profundas na vida das personagens, especialmente para Olívia e obviamente para Laura. A menção ao objeto, nesse trecho, portanto, carrega uma simbologia maior do que aquela que está representada no trecho.
• MEU INCONSCIENTE Coletivo: No divã: Machado de Assis e a loucura. Entrevistado: Christian Dunker. Entrevistadora: Tati Bernardi. São Paulo: Folha de S.Paulo, 8 abr. 2022. Podcast . Disponível em: https://omny.fm/shows/meu-inconsciente -coletivo/no-div-machado-de-assis-e-a-loucura. Acesso em: 9 out. 2024.
Neste episódio do podcast Meu Inconsciente Coletivo, Tati Bernardi conversa com o psicanalista Christian Dunker, professor do Instituto de Psicologia da USP, sobre o modo como a loucura aparece no livro O alienista, de Machado de Assis.
• No item a da atividade 6, explique que a idealização da estrutura familiar, na narrativa A natureza da mordida, é rompida na medida em que o homem da família (o pai de Olívia) vai embora, deixando a mãe e a menina a sofrer as consequências práticas e emocionais desse abandono, resultando, em última instância, na relação conflituosa entre Olívia e sua mãe Laura, que permeia o livro todo.
Estratégias didáticas
No boxe O X da questão (p. 13), em Para lembrar, espera-se que os estudantes resgatem a ideia de que o Romantismo idealizava a natureza, o amor, o indivíduo e a sociedade. As relações humanas eram vistas sob uma ótica maniqueísta, com ênfase em sentimentos intensos, paixões avassaladoras, heroísmo e incessante busca da felicidade. A mentalidade romântica, embora voltada ao individualismo e à subjetividade, tratou de questões sociais importantes como as desigualdades sociais, a exploração dos trabalhadores, a opressão dos mais fracos, mas o fez de forma idealizada, buscando mais a emoção do que a análise racional e crítica da realidade. Em Para discutir, espera-se que cheguem à conclusão de que as revoluções do século XIX prometeram igualdade e justiça social, mas os resultados não foram os esperados. A concentração de riqueza nas mãos de poucos e a exploração da classe trabalhadora geraram um profundo sentimento de frustração e desilusão. Essa realidade contrastava com os ideais românticos de fraternidade e progresso, levando muitos a questionar a visão de mundo otimista e a buscar uma representação mais realista e crítica da sociedade. O Realismo surge nesse contexto como uma resposta a essa necessidade de retratar a realidade de forma mais objetiva e concreta.
Pensar e compartilhar (p. 15)
Estratégias didáticas
• A atividade 1 proporciona a intersecção entre Literatura e Ciências Humanas e permite compreender como a ciência, em vez de buscar a verdade, foi instrumentalizada para justificar a dominação de uma classe sobre outra, naturalizando a desigualdade racial e social.
• No item d da atividade 3, explique aos estudantes que a ironia, marca contundente do estilo machadiano, pode ser percebida no trecho pelo modo como o narrador Brás Cubas relata sua infância. Serve, portanto, como uma ferramenta crítica da qual Machado se vale para tecer uma crítica à sociedade de seu tempo, revelando as contradições e hipocrisias presentes no processo educativo das crianças de então. A ironia presente nesse capítulo serve a vários propósitos: criticar a educação familiar (apresentada como ineficaz e hipócrita); satirizar a sociedade (por meio da descrição das personagens e de suas relações); e ainda revelar a complexidade das personagens (nesse caso, do próprio Brás Cubas, representado como ambíguo que ora se mostra cínico e egoísta, ora revela momentos de reflexão e autocrítica).
• No item c da atividade 4, é importante observar que Machado de Assis aborda a questão da escravidão de forma contundente. Por meio das lentes do protagonista, Brás Cubas, a instituição escravocrata é retratada com uma naturalidade que, por si só, já constitui uma denúncia.
• O capítulo XXIV, trabalhado na atividade 8, funciona como uma chave de leitura para o capítulo XI. Ao compreender a motivação de Brás Cubas em revelar seus aspectos negativos, o leitor pode apreciar a complexidade da personagem e a profundidade da análise psicológica realizada por Machado de Assis no decorrer de toda a narrativa.
• No item a da atividade 9, ressalte que a conclusão de Brás Cubas, repleta de negativas, reflete uma visão niilista e pessimista sobre a vida. Ele não encontra sentido em sua vida, percebendo a existência como uma série de frustrações e insucessos. A ausência de grandes feitos, como a fama ou o poder político, o leva a uma profunda insatisfação. A vida, para Brás Cubas, é uma grande negativa, um nada. No item b , destaque que, apesar do pessimismo geral do último capítulo, Brás Cubas encontra um ponto positivo em sua vida: “coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto”. Ou seja, nunca precisou trabalhar – graças à população escravizada que trabalhava para ele e para sua classe social.
• No item a da atividade 10, é importante que se tenha em mente a complexidade da relação entre autor,
narrador e leitor na obra machadiana. Esse narrador, suspeito, pouco confiável, irônico e defunto, critica o gosto do leitor por uma narrativa direta e nutrida, contrapondo-o ao seu estilo “ébrio”, que se desvia dos padrões convencionais da época. Essa crítica revela a intenção de Machado de subverter as expectativas do público e desafiar os limites da narrativa tradicional.
• No boxe Saiba mais (p. 19), acrescente, se julgar oportuno, que, segundo o crítico Roberto Schwarz (1938-), as reflexões de teor filosófico de Brás Cubas dão um tom apalhaçado ao livro, e isso desmascara a contradição entre os ideais liberais da elite brasileira e sua prática escravocrata. Ou seja, a retórica liberal dos senhores escravocratas tinha um quê de ridículo, visível nas teorias esdrúxulas do narrador, um autêntico representante da classe senhorial. Ver SCHWARZ, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo: Machado de Assis. 2. ed. São Paulo: Duas Cidades: Editora 34, 2012.
Para a realização das atividades propostas no boxe Hiperlink (p. 20), sugira aos estudantes acessar os contos no site Domínio Público, buscando pelas palavras-chave “Machado de Assis” e “contos”. Sugira que a leitura dos três contos seja feita de forma individual, mas com atenção para os tópicos apontados na atividade, que direcionarão a discussão das obras em momento oportuno. A leitura dos três contos é importante para que os estudantes possam ir criando seu repertório pessoal e acrescentando elementos em sua formação como leitor literário.
Midiateca do estudante
POR QUE Machado de Assis é genial? [S. l.: s. n.], 2019. 1 vídeo (14 min). Publicado pelo canal Antofágica. Disponível em: https://www.youtube.com/ watch?v=9_cQ3Nc-U2A. Acesso em: 9 out. 2024. A Antofágica disponibiliza, em seu canal, vídeos com comentários sobre obras publicadas pela editora. Nesse vídeo, são apresentadas características estilísticas, dados biográficos e sugestões de outras obras que tratam de Machado de Assis e suas obras.
Estratégias didáticas
• O objetivo desta seção é fazer com que os estudantes compreendam as transformações sociais, culturais e
políticas do século XIX, relacionando-as com o avanço tecnológico, o pensamento positivista e as diversas correntes ideológicas da época. Entre estas, encontrava-se o racismo pseudocientífico, que embasou a política de branqueamento que se tentou implantar no Brasil. Explique aos estudantes que a política de branqueamento da nação foi uma ideologia racial dominante no Brasil, principalmente entre o final do século XIX e as décadas iniciais do século XX. Baseada em teorias racistas e eugênicas, essa ideologia defendia que a população brasileira deveria se tornar predominantemente branca por meio da miscigenação com imigrantes europeus e da redução da influência de povos indígenas e afrodescendentes. Destaque a pintura A redenção de Cam (p. 22), atentando para a legenda e a explicação que a acompanham.
• Para ampliar as considerações expostas no boxe Saiba mais (p. 24), ressalte que, mesmo em um período marcado por fortes preconceitos de gênero, algumas mulheres conseguiram se destacar e produzir obras relevantes. Vale colocar em discussão com os estudantes alguns aspectos que envolvem a autoria feminina da época, como desafios específicos enfrentados pelas mulheres escritoras, especialmente dificuldades gerais de publicação e reconhecimento, e ainda a ideia de que suas obras se limitassem a temas considerados “femininos” e a necessidade de utilizar pseudônimos para serem levadas a sério.
Respostas e comentários
• Na atividade 1, comente com os estudantes que o século XIX marca um ponto de virada na história da Psicologia, com a consolidação da psicologia experimental como uma disciplina científica independente. Essa nova abordagem buscava compreender os processos mentais de forma objetiva e sistemática, utilizando o método científico para investigar fenômenos como a percepção, a emoção, a sensação e a interação social. Sugira aos estudantes que busquem informações a respeito do tema em revistas acadêmicas de Psicologia, blogues e sites de Psicologia dedicados à história da Psicologia (que podem oferecer informações e recursos adicionais) ou consultem bibliotecas digitais e plataformas educacionais que funcionam como repositório digital
de periódicos acadêmicos, com um vasto acervo de artigos sobre a história da Psicologia.
• Na atividade 2, alerte os estudantes de que é preciso ter cautela ao aproximar Psicologia e literatura, a fim de não incorrer em avaliações simplistas, generalistas ou mesmo preconceituosas. Ambas se dedicam à exploração da mente humana, da experiência subjetiva e das relações sociais. Essa convergência de interesses gera uma rica intersecção, em que a Psicologia pode oferecer ferramentas para analisar obras literárias e a literatura, por sua vez, serve como um laboratório para a compreensão da psique humana.
Estratégias didáticas
Nas atividades propostas no boxe Ler literatura (p. 26), destaque para o estudantes a biografia, a autobiografia e as memórias, já que, nesses gêneros, o ponto de vista molda a forma como os fatos são apresentados, revelando percepções, valores e emoções. Vale lembrar também que o ponto de vista é elemento fundamental no cinema, uma vez que a câmera funciona como um narrador visual, que pode adotar diferentes pontos de vista (subjetivo, objetivo, onisciente) para contar uma história e influenciar a interpretação do espectador.
lEITURA: VERBETE ENCIClOPÉDICO
Uma revolução na comunicação a distância (p. 27)
Estratégias didáticas
O objetivo desta sequência, que se inicia com a discussão proposta no boxe Ler o mundo (p. 27), é estabelecer uma conexão entre o avanço tecnológico desde o século XIX e a forma como se busca e consome informação na atualidade. A popularização de “artefatos” como a locomotiva e o telégrafo, por exemplo, exigiu novas formas de disseminar conhecimento, e os verbetes enciclopédicos surgiram como uma ferramenta eficaz para isso. É notável como essa dinâmica se mantém relevante nos dias de hoje. A internet, com suas inúmeras enciclopédias virtuais, democratizou o acesso à informação
e tornou os verbetes ainda mais presentes no cotidiano. A facilidade de encontrar um verbete em poucos segundos, seja em um computador seja em um smartphone, reflete a rapidez e a instantaneidade que caracterizam a sociedade contemporânea. Como a maioria dos estudantes faz parte da chamada Geração Alpha (que engloba as pessoas nascidas a partir de meados dos anos 2010), muito provavelmente não conhece as enciclopédias impressas. Uma estratégia que pode se mostrar interessante e desafiadora seria propor o processo inverso: consultar uma enciclopédia impressa, da família, da biblioteca da escola ou de biblioteca pública, a fim de observar o modo como se dá a busca de verbetes nesse meio, a quantidade e qualidade de informação, bem como as semelhanças e diferenças com as enciclopédias virtuais e o modo como os verbetes nelas são estruturados.
• A c ompreensão do termo sintático predicativo pode ser desafiadora para os estudantes por alguns motivos. Entre eles se destaca o fato de a nomenclatura gramatical ser duplicada (predicativo do sujeito e predicativo do objeto) e a distinção entre ambos os termos resultar da compreensão da relação que estabelecem entre si na frase. Para dirimir dúvidas, é importante levar os estudantes a observar essas relações e a função de cada termo na oração ou no período. É bastante comum a confusão do predicativo com o adjunto adnominal, pois ambos os termos podem acompanhar substantivos e atribuir características. Portanto, para diferenciar predicativo do sujeito e predicativo do objeto, é necessário que os termos da oração fiquem bem identificados, a fim de tornar visível a ligação entre eles. Sugere-se reproduzir o esquema a seguir no quadro.
sujeito verbo de ligação predicativo do sujeito
sujeito verbo transitivo objeto predicativo do objeto
Estratégias didáticas
• O objetivo principal desta seção é desenvolver a habilidade dos estudantes de analisar o papel do adjunto adnominal e do predicativo na caracterização de personagens. A proposta é que os estudantes compreendam como esses recursos linguísticos contribuem para a construção do texto literário e para a criação de efeitos de sentido.
Estratégias didáticas
An tes de orientar a produção escrita de verbete enciclopédico, proponha aos estudantes que busquem outros textos desse gênero, a fim de se familiarizarem com a linguagem, a estrutura e a carga informacional dos textos.
Na etapa de planejamento, chame a atenção dos estudantes para o fato de que o verbete deve ser produzido para uma plataforma virtual destinada a estudantes dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, o que já direciona e seleciona a linguagem e a quantidade de informação a ser disponibilizada. Para que os estudantes possam escolher a invenção científica a ser apresentada em verbete, ofereça a eles uma lista de possibilidades, as quais podem ser escolhidas por meio de sorteio ou de escolha democrática. Oriente-os a buscar o máximo de informação possível sobre a invenção, mas, para a elaboração do verbete propriamente dito, peça-lhes que selecionem as que julgarem mais relevantes, de acordo com o público a que o texto se destina.
• Na e tapa de produção, explique aos estudantes que as informações precisam ser filtradas e categorizadas em principais e secundárias. Também é importante advertir que não copiem simplesmente as informações, mas que, com base nas anotações, produzam um texto original para constituir o verbete.
• No boxe Laboratório de produção (p. 40), os estudantes podem organizar as informações da forma mostrada a seguir.
Energia solar
Introdução
A energia solar é a energia proveniente da radiação solar que pode ser aproveitada de diferentes maneiras, como para gerar eletricidade ou calor. É uma fonte de energia renovável e sustentável, que contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa e diminui a dependência de combustíveis fósseis.
História
Descoberta do efeito fotovoltaico: em 1839, Alexandre Edmond Becquerel descobriu o efeito fotovoltaico, que é a base para a geração de eletricidade provinda da luz solar.
Tipos de tecnologias de energia solar
Energia solar fotovoltaica: a energia solar fotovoltaica usa células solares para converter luz em eletricidade.
Painéis solares: painéis solares são dispositivos que convertem a luz solar diretamente em eletricidade usando o efeito fotovoltaico.
Energia solar térmica: a energia solar térmica utiliza coletores solares para aquecer um fluido que pode ser usado para gerar vapor e, subsequentemente, eletricidade.
Usos
Sistemas solares térmicos podem ser utilizados para aquecimento de água residencial e comercial.
Importância e benefícios
Sustentabilidade: a energia solar é uma fonte de energia renovável e sustentável.
Redução de emissões: ajuda a reduzir a emissão de gases de efeito estufa.
Acessibilidade: o custo dos painéis solares tem diminuído significativamente nos últimos anos, tornando a energia solar mais acessível.
Conclusão
A energia solar representa uma alternativa viável e ecologicamente correta às fontes de energia convencionais, com vantagens econômicas e ambientais significativas.
Nesta unidade, os estudantes terão contato com textos relacionados ao Naturalismo, escola literária que defendia a tese de que o ser humano é produto do meio em que vive. Em análise linguística, farão uma revisão sobre os termos ligados ao verbo e perceberão que eles são essenciais para a clareza e a precisão da comunicação. Também vão rever as funções dos advérbios, os quais produzem efeitos de sentido importantes ao modalizarem verbos e nomes a que se referem. Na seção de leitura, vão analisar o gênero textual resumo, que pode ser uma estratégia de estudo prática e efetiva para guardar as informações indispensáveis à construção do conhecimento. Por fim, terão a oportunidade de planejar, produzir e compartilhar um resumo com base em um artigo de divulgação científica.
Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 5, 7, 9 e 10
Competências específicas de Linguagens e suas Tecnologias: 1, 2, 4, 6 e 7
Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias
EM13LGG101 EM13LGG102 EM13LGG202 EM13LGG301
EM13LGG302 EM13LGG401 EM13LGG601 EM13LGG602
EM13LGG604 EM13LGG701
Habilidades de Língua Portuguesa
EM13LP01 EM13LP02 EM13LP03 EM13LP06 EM13LP07
EM13LP08 EM13LP15 EM13LP29 EM13LP31 EM13LP48
EM13LP49 EM13LP50 EM13LP52
Todos os campos de atuação social
Campo das práticas de estudo e pesquisa
Campo artístico-literário
Estratégias didáticas
• P ara trabalhar com a fotografia de Jorge Araújo e as pinturas europeias do século XIX, comece
contextualizando as transformações sociais que cada imagem reflete. Embora de tempos distintos, elas mostram o impacto das condições de trabalho e das mudanças econômicas na vida de trabalhadores. A fotografia de Jorge Araújo, de 1983, registra o árduo cotidiano dos garimpeiros brasileiros. O ambiente retratado revela uma exploração bruta dos recursos e dos próprios trabalhadores, semelhante àquilo que o Realismo e o Naturalismo literário denunciavam, ao expor a realidade sem idealizações. Para as pinturas europeias, apresente o contexto da Revolução Industrial e como ela também marcou o início da exploração em massa da força de trabalho. Nessas obras, a representação dos trabalhadores é distinta das idealizações românticas do início do século XIX; a ênfase passa a ser na dureza do trabalho, nos corpos desgastados e nas condições adversas enfrentadas pelos operários. Comente que, após as decepções trazidas pela industrialização, o Romantismo deu lugar a uma estética mais crua, que buscava retratar a realidade em vez de idealizá-la. Proponha aos estudantes que reflitam sobre como a obra de Jorge Araújo continua essa tradição realista, adaptando-a ao contexto brasileiro dos anos 1980.
Estratégias didáticas
• Inicie o estudo do boxe Ler o mundo (p. 46) com uma breve explicação sobre a teoria da evolução de Darwin, destacando como ela alterou a percepção que os seres humanos têm de si mesmos ao reconhecer sua dimensão animal e os impactos disso em várias áreas, como Biologia, Medicina, sociedade e política. Apresente a noção de Antropoceno, explicando como as ações humanas afetam o meio ambiente e a sociedade, com destaque para mudanças climáticas e desigualdades sociais. Se julgar adequado, organize os estudantes em grupos pequenos para promover discussões. Isso facilitará a participação ativa e a troca de diferentes pontos de vista. Cada grupo deve ser responsável por debater sobre uma das três questões sugeridas no Para discutir. Para a atividade 1, peça-lhes que reflitam sobre o mundo do trabalho no contexto local, fazendo uma comparação entre o trabalho braçal e o uso de tecnologias. Solicite exemplos práticos do
cotidiano. Na atividade 2, os estudantes devem discutir as necessidades mínimas para a sobrevivência humana, como alimentação, água, abrigo e saúde. Incentive-os a relacionar essas necessidades com os direitos fundamentais. Na atividade 3, promova uma reflexão sobre o que significa ter uma vida plena, incluindo necessidades emocionais, sociais, culturais e de realização pessoal. Ajude-os a pensar em qualidade de vida além da sobrevivência básica. Após a discussão em grupos, cada grupo pode compartilhar suas conclusões com a turma. Aproveite esse momento para mediar o debate, ligando as respostas às ideias centrais da teoria da evolução e suas implicações na vida social e no trabalho humano. Finalize com uma síntese das discussões, destacando a importância de compreender como a evolução biológica e as ações humanas moldam tanto o ambiente quanto as condições de trabalho, além de enfatizar as necessidades humanas para além da sobrevivência.
Antes de começar a leitura do trecho do romance
Carvão animal (p. 46), é importante discutir o significado que o termo romance assume na literatura. Muitos estudantes costumam associar essa palavra unicamente a histórias de amor, uma noção que vem, em grande parte, da popularidade do termo tanto na literatura quanto no cinema. Esclareça que o romance é um gênero literário caracterizado por uma narrativa em prosa, geralmente extensa, que envolve eventos fictícios ligados a personagens que enfrentam diversos tipos de conflitos, em uma sequência temporal relativamente ampla.
Estratégias didáticas
No item b da atividade 5 , chame a atenção dos estudantes para a força dessa imagem: no dente se deposita o que pode restar de nós não apenas como corpo físico, mas como memória; por exemplo, a mãe e o pai sobrevivem como memória no dente do personagem.
Estratégias didáticas
• A o conduzir a proposta do boxe O X da questão (p. 51), apresente o contexto do pensamento
científico da segunda metade do século XIX, que defendia que os seres humanos eram moldados pelo meio ambiente. Sugere-se organizar a turma em pequenos grupos para se posicionarem sobre a questão proposta no Para discutir. Para uma discussão orientada, incentive os estudantes a pensar sobre aspectos culturais, tecnológicos, sociais e ambientais, conduzindo-os a uma reflexão sobre a persistência de estereótipos e preconceitos em torno da ideia de que as pessoas assumem características diretamente ligadas ao ambiente em que vivem. É fundamental discutir com os estudantes como grande parte dos preconceitos contemporâneos se refere à ideia de lugar: o preconceito contra moradores de comunidades é um bom exemplo disso. Encoraje-os a trazer exemplos atuais, do cotidiano ou da mídia, que ilustrem essa questão. Após as discussões em grupo, convide-os a compartilhar suas conclusões. Utilize esse momento para confrontar opiniões e enriquecer o debate, conectando-o com questões atuais de preconceito e determinismo ambiental. Encerre destacando como, embora as ciências tenham evoluído, algumas ideias preconceituosas sobre a relação entre o meio e o ser humano ainda persistem. Reforce a importância de entender o ser humano de maneira mais complexa e multifacetada. Essa abordagem facilita a reflexão crítica e promove o diálogo sobre ciência, sociedade e preconceito.
didáticas
• Para melhor aproveitamento, após a leitura do texto, organize os estudantes em duplas para discutir e responder às atividades. Acompanhe as discussões de cada dupla para verificar como eles participam na resolução das atividades propostas, mesmo que apresentem variações no ritmo de aprendizagem do conteúdo em questão.
• Na atividade 1, ressalte que, no século XIX, os discursos científicos estavam fortemente influenciados por teorias raciais que hierarquizavam os povos, legitimando a ideia de superioridade branca e inferioridade de outros grupos, como negros e indígenas. Essas teorias pseudocientíficas, como o racismo científico e o darwinismo social, serviram para justificar e naturalizar a escravidão, apresentando-a
como uma condição “natural” para determinados povos. No Brasil, a ciência foi utilizada para sustentar a estrutura escravocrata, com intelectuais da época defendendo que a inferioridade racial dos negros os tornava aptos para o trabalho forçado, perpetuando o sistema escravista até sua abolição em 1888.
• Na atividade 6, explique aos estudantes que João Romão e Miranda são personagens centrais da obra O cortiço, ambos brancos e ricos, que, teoricamente, seriam vistos como “evoluídos” segundo a lógica da época. No entanto, suas atitudes discutíveis e moralmente questionáveis, como a ambição desmedida, a exploração dos mais pobres e a corrupção moral, desafiam essa visão determinista. Ressalte que O cortiço é uma obra que desafia visões preconceituosas e deterministas ao mostrar que o comportamento humano é muito mais complexo e influenciado por fatores externos, como o meio social e as pressões do ambiente.
N o trabalho com o boxe Hiperlink (p. 56), se necessário, explique para a turma que “romance de formação” é o nome que se dá a obras que se concentram no processo de transformação e amadurecimento do protagonista. Para orientar a leitura dos estudantes, você pode fornecer-lhes um roteiro com os seguintes questionamentos: 1. Qual é a importância da descrição dos ambientes e das situações para caracterizar as personagens? 2. Quais são as principais críticas sociais presentes na obra? Como elas se relacionam com o contexto histórico do Brasil no final do século XIX? 3. De que maneira o protagonista Sérgio evolui ao longo do romance? Quais são os principais desafios que ele enfrenta? 4. Como o naturalismo em O Ateneu contribui para a compreensão das relações de poder e da dinâmica social no internato? 5. Em que medida as experiências de Sérgio no Ateneu podem ser vistas como uma representação da transição da infância para a vida adulta na sociedade brasileira da época?
Respostas e comentários
Seguem dois exemplos de obras da literatura brasileira do século XIX em que o conhecimento da Biologia e o discurso científico desempenham um papel no desenvolvimento do enredo, promovendo tanto rupturas quanto a manutenção da sociedade racista e escravocrata:
• O mu lato , de Aluísio Azevedo (1881) – A obra aborda o racismo em um contexto de uma sociedade marcada pela ciência racial. O autor discute a questão do mulato, personagem que, pela visão racista da época, era visto como inferior por conta de sua mestiçagem, algo justificado por teorias biológicas pseudocientíficas. O mulato questiona, em certa medida, o racismo estrutural da sociedade escravocrata, mas ainda opera dentro de uma lógica de racialização dos corpos e das características humanas. A narrativa expõe a hipocrisia e o preconceito racial, mas não chega a romper completamente com as ideias racistas, pois suas personagens enfrentam o preconceito de maneira trágica, sem grande possibilidade de superação.
• Senhora, de José de Alencar (1875) – Embora Alencar não seja um autor naturalista, sua obra explora a biologia por meio da ideia de pureza racial e do papel das mulheres na perpetuação de “linhagens” familiares. A protagonista, Aurélia, é uma figura que desafia o controle social, mas há uma preocupação com hereditariedade e posição social no decorrer da trama. Senhora critica as relações patriarcais e o papel das mulheres como objeto de transação, mas o discurso da pureza racial e social permanece presente.
Estratégias didáticas
• Para a reflexão proposta no Para discutir do boxe Ler literatura (p. 60), não há resposta certa ou errada; o que se pretende é que os estudantes se manifestem, formulem suas opiniões usando argumentos e ouçam a opinião dos colegas de modo empático e respeitoso.
Estratégias didáticas
• No boxe Ler o mundo (p. 61), antes de propor as atividades, explique aos estudantes que resumo é um gênero textual que sintetiza as ideias centrais de um texto, apresentando suas principais informações de maneira objetiva e concisa. Ele é uma ferramenta essencial para a compreensão rápida de conteúdos e para a organização
de informações em pesquisas. O resumo facilita o acesso a informações essenciais, ajuda na organização de ideias e é uma prática de leitura e escrita fundamental para estudantes. Ele também é uma excelente forma de exercitar a capacidade de síntese. Os resumos estão presentes em artigos científicos, livros, dissertações, teses, bases de dados acadêmicas, resenhas e plataformas de pesquisa. Além disso, muitos veículos de comunicação, como revistas e sites especializados, têm resumos de estudos e relatórios.
Estratégias didáticas
No item c da atividade 7, ressalte para os estudantes que um resumo pode servir como ferramenta didática para sintetizar os principais aspectos da obra e facilitar o entendimento do conteúdo. No entanto, o resumo não substitui a leitura completa do livro – no caso, Quarto de despejo. A leitura integral de livros como esse não pode ser vista só como exigência escolar, mas como iniciativa que contribui para a formação ética e social dos indivíduos. O resumo é útil para fixar ideias centrais e preparar discussões em sala, mas a leitura integral proporciona imersão mais profunda nas experiências da autora.
No item c da atividade 9, para avaliar os resumos feitos pelos estudantes, você pode usar esta sugestão de resumo, se julgar pertinente: Em 1866, Lourenço, filho do capitão Amâncio de Miranda, retornou a Vila Bela para passar o Natal com seu pai, após anos estudando e trabalhando fora. Esta era sua primeira visita a Parintins desde a infância. Lourenço, um jovem alto, louro e bem-apessoado, destacou-se na comunidade local por suas características físicas e seu comportamento refinado. Além disso, o modo como criticava as moças locais e seu conhecimento das novidades do Pará fizeram dele uma figura admirada.
ANAlISE
Estratégias didáticas
• A o trabalhar o boxe conceito (p. 68), relembre também os tipos de predicado: verbal, que têm o
verbo de ação como núcleo; nominal, constituído por verbo de ligação e predicativo do sujeito; verbonominal, constituído por verbo de ação e um núcleo nominal, que pode ser um predicativo do sujeito ou predicativo do objeto.
Respostas e comentários
2. a) O verbo cair, que é transitivo indireto.
b) Na imprudência tem a função de complemento verbal: objeto indireto.
c) “ Lá pelo meio do pagode”. Classifica-se como adjunto adverbial de tempo.
4. a) Derrear-se , soprar, requebrar
b) É o verbo soprar ; sopra algo: segredo, objeto direto; a alguém: lhe (a ele), objeto indireto.
c) Classifica-se como objeto direto; relaciona-se ao verbo requebrar.
5. a) É utilizado um verbo de ligação: ser
b) Porque o verbo de ligação tem a função de unir o sujeito a um atributo.
Estratégias didáticas
• Na atividade 5, incentive os estudantes a fazer uma pesquisa sobre essa banda britânica formada em 1967 e de grande sucesso até os anos 1990. Uma das principais representantes do rock progressivo, a banda teve, entre seus muitos sucessos, canções como “That’s all”, “Invisible touch”, “I can’t dance”, “Follow you, follow me”.
• No item a da atividade 7, se achar oportuno, relembre a fábula “A cigarra e a formiga”, que sustenta essa ideia, e a versão de Monteiro Lobato, em que a formiga agradece à cigarra por ter-lhe tornado o trabalho menos penoso, reconhecendo, assim, a importância da arte (poesia incluída) na vida de todos.
Atividades complementares
Após finalizar a seção Pensar e compartilhar, sugere-se propor as atividades seguintes como forma de ampliar o estudo dos termos ligados ao verbo.
Leia este trecho de uma reportagem sobre o sarau da Cooperifa para responder às atividades de 1 a 4.
Engana-se quem pensa que a poesia é a arte dos intelectuais. Iniciativas populares, tocadas por poetas da periferia de São Paulo, têm
levado entretenimento aos jovens e mostrado que o mundo dos versos não se restringe a escritores com linguajar pouco acessível. ‘É necessário se apropriar do conhecimento e subverter a ideia de que o povo não gosta de ler’, explica o poeta Sergio Vaz.
O escritor é fundador do Sarau da Cooperifa, um espaço literário na zona sul da cidade, que atrai jovens de comunidades interessados em arte há 16 anos. ‘Essas pessoas estão acostumadas a ler sobre elas, periféricas, em textos que não foram feitos por quem mora na favela. Então, quando vão aos slams [competições de poesia] e saraus, elas falam do que a alta literatura não quer falar ou que talvez só não venda’, afirma o autor.
NASCIMENTO, Caio. Poeta Sergio Vaz reúne artistas da periferia de SP com eventos de poesia. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 24 abr. 2020. Disponível em: www.estadao.com.br/ emais/comportamento/poeta-sergio-vaz-mobiliza-jovens -artistas-da-periferia-de-sp-com-eventos-de-poesia/. Acesso em: 10 out. 2024.
1. “Engana-se quem pensa que a poesia é a arte dos intelectuais.” A afirmação tem um pressuposto de que essa é uma ideia corrente.
a) Que preconceito justifica essa ideia? Resposta: O preconceito se refere à poesia: o de que seria um gênero literário difícil, acessível apenas aos que têm escolaridade, conhecimento especializado, erudição.
b) Que fato do texto argumenta contra esse preconceito? Resposta: O fato de jovens das comunidades serem atraídos por saraus de poesia.
2. Releia: “Iniciativas populares […] têm levado entretenimento aos jovens”.
a) Poesia pode ser entretenimento? Por quê? Resposta: Espera-se que os estudantes reconheçam que sim, pois entretém, ou seja, pode provocar engajamento, divertir, atender a um interesse genuíno dos jovens.
b) Identifique os termos relacionados ao verbo ter e a função sintática que cada um exerce. Resposta: “Iniciativas populares”: sujeito; “entretenimento”: objeto direto; “aos jovens”: objeto indireto.
c) Reescreva o período substituindo jovens por comunidades. Que mudança você teve de fazer para adequar o período à alteração proposta? Resposta: “Iniciativas populares […] têm levado entretenimento às comunidades”. O à passa a ser craseado por contrair o artigo a com a preposição a .
3. Em “É necessário se apropriar do conhecimento e subverter a ideia de que o povo não gosta de ler”, o poeta Sergio Vaz defende uma ideia.
a) Qual ideia ele defende? Resposta: A de que o povo gosta de ler quando lhe é oferecida oportunidade de conhecimento.
b) O termo a ideia se refere a que outro termo do período? Qual é sua função sintática? Resposta: Refere-se a subverter e tem função de objeto direto.
c) O termo de ler é um objeto indireto. Por quê?
Resposta: Porque completa o sentido do verbo gostar e liga-se a ele por meio de uma preposição.
4. Releia: “Essas pessoas estão acostumadas a ler sobre elas, periféricas, em textos que não foram feitos por quem mora na favela”.
a) A quem Sergio Vaz se refere ao usar a expressão essas pessoas? Resposta: Aos jovens das comunidades, a quem mora em favelas.
b) Copie e complete a informação: O termo na favela se liga ao verbo * e exerce a função sintática de *. Resposta: morar / adjunto adverbial de lugar.
Atividades complementares
Após finalizar a seção Pensar e compartilhar, sugere-se propor as atividades seguintes como forma de ampliar o estudo da modalização do advérbio e argumentação.
Leia a seguir um trecho da tese de doutorado de Haroldo Ceravolo Sereza sobre literatura naturalista para a obtenção do título de doutor em Letras. Em seguida, responda às atividades de 1 a 4.
A literatura naturalista brasileira superou mais de um século de resistência da crítica e de reprovação moral, de modo que algumas de suas obras preservaram-se entre as mais conhecidas dos leitores do país, como o caso dos romances já citados O cortiço e A carne, obras nem sempre indicadas nas aulas do ensino médio, mas muitas vezes lida ‘às escondidas’ e apaixonadamente pelos estudantes. Por outro lado, a fortuna crítica do naturalismo, ainda que irregular e, por vezes, excessivamente esquemática, permite dizer sem medo que o movimento tem um peso considerável no debate literário do século XIX e uma presença que pode ser verificada na literatura brasileira do século XX – inclusive na conformação de alguns lugares comuns que até hoje participam da produção ficcional destinada ao
grande público, com forte apelo, ao lado de modelos românticos. […]
SEREZA, Haroldo Ceravolo. O Brasil na Internacional Naturalista: adequação da estética, do método e da temática naturalistas no romance brasileiro do século XIX. Tese (Doutorado em Literatura Brasileira). Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. p. 50. Disponível em: https://www.teses.usp.br/ teses/disponiveis/8/8149/tde-13032013-125613/publico/2012_ HaroldoCeravoloSereza.pdf. Acesso em: 10 out. 2024.
1. De acordo com o trecho, há duas posturas contrárias relacionadas à literatura naturalista no Ensino Médio.
a) Quais seriam os argumentos que justificariam a não adoção de romances naturalistas no Ensino Médio? Resposta: Os romances seriam moralmente inadequados, pois provocariam resistência moral.
b) Quais seriam os argumentos que justificariam a adoção de romances naturalistas no Ensino Médio? Resposta: Os romances teriam uma recepção apaixonada dos estudantes e até hoje teceriam diálogos com a literatura contemporânea.
2. O trecho revela que as obras naturalistas teriam destaque na literatura nacional.
a) Considere o seguinte trecho: “Algumas de suas obras preservaram-se entre as mais conhecidas dos leitores do país”. Que termo é responsável por colocar as obras nacionalistas em destaque perante outras obras? Resposta: O termo mais .
b) Indique a que palavra o termo se liga e de que forma essa relação produz um sentido argumentativo. Resposta: O termo mais se liga à palavra conhecidas e produz o sentido de que as obras naturalistas estariam em um seleto grupo de obras que têm destaque em nossa literatura, defendendo a ideia de que devem ser lidas.
3. Considere o seguinte trecho: “[…] obras nem sempre indicadas nas aulas do Ensino Médio, mas muitas vezes lidas ‘às escondidas’ e apaixonadamente pelos estudantes.”
a) Considere a expressão nem sempre . A que termo ela se liga e de que forma ela atua para a construção do argumento? Resposta: A expressão nem sempre se liga a indicadas e atua de forma a mostrar como as obras naturalistas são subaproveitadas.
b) No trecho, há dois adjuntos adverbiais de modo que atuam para mostrar como a leitura das obras naturalistas já ocorre, mesmo que não sejam adotadas. Quais são esses adjuntos adverbiais e que sentido produzem? Resposta: Os adjuntos adverbiais são às escondidas e apaixonadamente e indicam como são realizadas as leituras: de forma escondida e apaixonada.
Estratégias didáticas
• Possibilidade de resumo para o texto “Digitalização de monumentos”, da jornalista Frances Jones (p. 74): Publicado pela revista Pesquisa Fapesp em julho de 2020, o texto apresenta a tecnologia de escaneamento de objetos e edificações 3DLS e sua importância para os patrimônios históricos e culturais. Utilizada no escaneamento da Catedral de Notre-Dame, em Paris, e na Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus de Monte Santo, em Monte Santo (BA), essa tecnologia possibilitou uma rápida identificação de prejuízos depois das duas igrejas queimarem, o que agilizaria sua reconstrução. A tecnologia 3DLS consiste na emissão de vários pontos de laser sobre a superfície do monumento que se refletem e voltam ao equipamento, o que permite, dada a distância e tempo de volta, criar uma nuvem de pontos que fazem um mapeamento de toda a superfície. Essas informações são processadas por um computador que gera um modelo tridimensional que é útil para a preservação do patrimônio e para o turismo.
• Sugestão de resumo para o texto proposto no boxe Laboratório de produção (p. 75):
1. Em geral, favela é definida como o conjunto de casas precárias localizadas no morro.
2. Favela é qualquer ocupação irregular cujos moradores não têm acesso a nenhuma infraestrutura para sobrevivência nem posse legal do terreno ocupado.
3. As favelas têm origem nas desigualdades sociais provocadas, em parte, pelo grande número de pessoas que saem do campo em busca de trabalho na cidade, onde passam a viver em condições precárias.
Nesta unidade, os estudantes terão contato com produções que tratam de temáticas transcendentais e subjetivas da existência, relacionadas ao Parnasianismo e ao Simbolismo, e com os diálogos que essas estéticas literárias estabelecem com a produção contemporânea. Em relação aos conhecimentos linguísticos, aprofundarão os conceitos de vozes do verbo e agente da passiva, com foco em transformar frases da voz ativa para a passiva e em identificar quem faz ou recebe a ação em diferentes contextos. Também estudarão o gênero textual reportagem, conhecendo suas principais características, como a investigação dos fatos, a objetividade e a linguagem clara. Além disso, vão produzir uma videorreportagem sobre uma produção literária, destacando um escritor regional. Por meio dessa atividade, darão voz a autores locais, apresentando suas obras e histórias mediante entrevistas e registros em vídeo.
Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 9 e 10
Competências específicas de Linguagens e suas
Tecnologias: 1, 2, 3, 4, 6 e 7
Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias
EM13LGG101 EM13LGG102 EM13LGG103 EM13LGG104
EM13LGG105 EM13LGG201 EM13LGG202 EM13LGG203
EM13LGG301 EM13LGG302 EM13LGG305 EM13LGG401
EM13LGG402 EM13LGG601 EM13LGG602 EM13LGG604
EM13LGG701 EM13LGG703 EM13LGG704
• Habilidades de Língua Portuguesa
EM13LP01 EM13LP02 EM13LP03 EM13LP06
EM13LP07 EM13LP08 EM13LP11 EM13LP12
EM13LP15 EM13LP16 EM13LP17 EM13LP18
EM13LP38 EM13LP45 EM13LP48 EM13LP49
EM13LP50 EM13LP52
Todos os campos de atuação social
Campo jornalístico-midiático
Campo artístico-literário
Respostas e comentários
3. d) Destaque para os estudantes que, embora o gênero natureza-morta possa passar a impressão de representação objetiva de elementos do real, sempre é possível detectar componentes que revelam um arranjo muito pessoal dos elementos. Além disso, também se pode demonstrar como diferentes movimentos estéticos produzem diferentes realizações do gênero natureza-morta. Por exemplo, uma natureza-morta produzida pela escola flamenga dos séculos XVI-XVII se distinguirá das naturezas-mortas produzidas pelos pintores academicistas brasileiros, como Rodolfo Amoedo (1857-1941).
Midiateca do professor
• COUTINHO, Afrânio. A literatura no Brasil: Era Realista e Era de Transição. São Paulo: Global, 2023. v. 4. Esse volume faz parte de uma coletânea sobre a literatura brasileira. Ele trata das transformações na literatura entre o final do século XIX e o início do século XX, discutindo o impacto dos ideais positivistas e cientificistas que influenciaram a prosa realista e naturalista.
• Para o desenvolvimento da atividade 1 do boxe Ler o mundo (p. 80), comece propondo uma roda de conversa na qual os estudantes possam refletir e compartilhar suas experiências com a leitura de poemas. Para a atividade 2, se necessário, retome com eles as características principais dos poemas em língua portuguesa produzidos até meados do século XIX e verifique se os elementos marcantes apontados pelos estudantes coincidem com essas características. É importante que eles apontem também elementos relacionados à fruição desses poemas, independentemente da escola literária da qual fizerem parte. Para a atividade 3 , peça que
procurem se lembrar se nesses poemas há características da poesia do início do século XX, que promoveu uma ruptura com as estruturas rígidas do Parnasianismo.
• Antes de realizar a leitura dos textos, é aconselhável iniciar uma conversa com os estudantes para explorar seus conhecimentos prévios. Pergunte-lhes se já tiveram contato com algum dos poemas ou se conhecem os autores. É possível haver estudantes familiarizados com alguns dos poemas, especialmente com o de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). Aproveite esse conhecimento prévio pedindo-lhes que compartilhem as interpretações e impressões que tiveram em leituras anteriores.
Midiateca do professor
CANDIDO, Antonio. Na sala de aula : caderno de análise literária. 9. ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2017.
Nesse livro, o autor enfatiza a importância de promover a leitura de poemas na escola como uma forma de desenvolver o gosto pela linguagem literária e a compreensão de sua estrutura. A obra é rica em sugestões de atividades que estimulam a interpretação dos diferentes recursos estilísticos presentes nos poemas, como métrica, rima, ritmo e figuras de linguagem.
Estratégias didáticas
Na atividade 3 , se considerar necessário, lembre os estudantes de algumas figuras de linguagem que podem ajudar na compreensão dos efeitos de sentido do poema. A metáfora é uma delas, mas, no decorrer da leitura dos poemas nesta unidade, pode ser útil revisitar outras figuras de linguagem.
• Ao trabalhar o boxe conceito (p. 82), leve os estudantes a perceber que os textos literários estão inseridos em uma rede de diálogos com outros textos, expressando concordância ou divergência em relação a eles. Desse modo, ocorre a interdiscursividade, que conecta diferentes obras e autores. Enfatize também que textos de uma mesma época, com estilos e temáticas semelhantes, fazem parte de uma escola literária, refletindo os valores e princípios daquele período.
No fio do tempo –
Estratégias didáticas
• No boxe O X da questão (p. 84), no Para lembrar, sugere-se organizar a turma em pequenos grupos e pedir-lhes que discutam o item a da atividade 1 Oriente-os a observar que o Romantismo, embora abordasse temas sociais, promovia uma idealização que afastava o ser humano da realidade. Facilite um debate para que possam perceber essa contradição. Em seguida, no Para discutir, proponha uma reflexão mais profunda sobre a influência do cientificismo na literatura, especialmente no Realismo e no Naturalismo. Para a atividade 1, que deve ser feita em duplas ou trios, espera-se que os estudantes reflitam sobre como a objetividade e o cientificismo podem ter impactado a estrutura dos poemas (por exemplo, rigor formal, descrição objetiva). Para a atividade 2, promova um debate sobre as limitações do cientificismo e da ciência em relação a questões metafísicas e existenciais que, até hoje, não foram explicadas satisfatoriamente. Incentive os estudantes a refletir sobre o papel da arte nessas lacunas deixadas pela ciência. Para finalizar, solicite aos grupos que compartilhem suas hipóteses e discussões, relacionando as ideias com as correntes literárias estudadas. Conduza a discussão para um fechamento que mostre como esses movimentos literários refletem diferentes formas de entender a realidade e o papel da arte na sociedade. Essa abordagem colaborativa permitirá que os estudantes reflitam sobre a relação entre arte, ciência e sociedade no século XIX e nos dias atuais, incentivando um pensamento crítico.
• Escolha alguns estudantes para realizar a leitura em voz alta dos poemas de Olavo Bilac e Alphonsus de Guimaraens. Eles podem se voluntariar ou pode haver um sorteio para selecionar os leitores. Lembre-os de que, ao ler um poema, deve-se prestar atenção à modulação da voz, à entonação, às pausas, ao ritmo e à linguagem corporal, como expressões faciais e gestos. Esses elementos ajudam a destacar a mensagem que o poeta quer transmitir.
Estratégias didáticas
• No estudo do tópico Razões da forma, sensações do espírito (p. 92), destaque para os estudantes que as
literaturas parnasiana e simbolista no Brasil encontraram em Auta de Souza, Francisca Júlia e Gilka Machado vozes que tiveram participação importante na manifestação dessas estéticas no país. Auta de Souza (1876-1901), com sua sensibilidade lírica e temas introspectivos, explorou a dor, a religiosidade e a melancolia em sua obra Horto , publicada em 1900. A musicalidade de seus poemas e a riqueza de imagens evocam estados de alma e experiências espirituais profundas, refletindo a influência do misticismo e da busca pela transcendência. Francisca Júlia (1871-1920), por sua vez, destacou-se pela precisão formal e pelo rigor métrico em seus poemas, características que a tornaram uma figura singular no Parnasianismo brasileiro. Obras como Mármores (1895) e Esfinges (1903) são marcadas por um tom impessoal e uma busca pela perfeição estética, evidenciando uma sensibilidade voltada para a beleza idealizada e a contemplação da natureza. Os poemas que ela produziu no fim da sua vida foram marcados pelo abandono do rigor formal e pela adesão a uma certa espiritualidade de caráter simbolista. Gilka Machado (1893-1980), reconhecida por sua ousadia temática, abordou com pioneirismo questões relacionadas ao erotismo, trazendo à literatura simbolista uma perspectiva inovadora e transgressora. Em suas obras, como Cristais partidos (1915), Gilka combina o simbolismo com uma sensualidade latente, desafiando as convenções sociais de sua época e abrindo caminho para uma nova expressão da identidade feminina na poesia brasileira. Se julgar interessante, proponha aos estudantes que procurem os livros dessas autoras na internet, disponibilizados em sites de instituições públicas, e selecionem alguns poemas para leitura. Depois da leitura, em uma aula combinada com os estudantes, solicite que reflitam com os colegas sobre os temas e recursos poéticos utilizados pelas autoras em seus poemas, tentando identificar as especificidades das obras.
Midiateca do estudante
• MARQUES, Pedro (org.). Antologia da poesia parnasiana brasileira. São Paulo: Lazuli, 2008.
No Brasil, os poetas parnasianos mantiveram-se ativos de 1870 até as vésperas da Semana de 1922. Esse volume reúne parte dessa produção, representada por
poetas como Alberto de Oliveira, Raimundo Correia, Olavo Bilac, Vicente de Carvalho e Francisca Júlia, entre outros.
• No trabalho com o boxe Ler literatura (p. 93), destaque aos estudantes a importância da estrutura em cada gênero literário, como no teatro (atos, cenas, diálogos) e na poesia (versos, estrofes). Explique a eles que, no século XX, a poesia passou por diversas transformações, mas sem abandonar as formas anteriores. Comente sobre a liberdade poética moderna e a influência da tecnologia em novas formas de expressão. Sugere-se organizar os estudantes em pequenos grupos para discutir a atividade 1 do Para pensar e discutir. Incentive-os a argumentar com base nos poemas lidos, explorando a ideia de liberdade versus regras na criação artística. Para a atividade 2, peça aos estudantes que compartilhem individualmente com o grupo qual poema da unidade os tocou mais e por quê, incentivando a reflexão sobre a sensibilidade e a identificação pessoal com as obras. Conduza um momento de compartilhamento das discussões em grupo com toda a turma, ressaltando as diferentes percepções sobre a liberdade poética e os elementos que tornam um poema impactante. Finalize incentivando-os a explorar suas próprias formas de expressão, inspirando-se nas novas possibilidades tecnológicas e na variedade de recursos poéticos estudados. Esse formato promove reflexão crítica sobre a estrutura do poema e a liberdade criativa, ao mesmo tempo que estimula a sensibilidade em relação à poesia.
Estratégias didáticas
• Sugere-se começar explicando aos estudantes a estética simbolista, destacando a relação entre poesia e música, e como os poetas simbolistas Baudelaire (1821-1867) e Mallarmé (1842-1898) buscavam criar uma atmosfera emocional por meio de sonoridades e ritmos. Destaque que o movimento simbolista procurava transcender a realidade visível e palpável, expressando uma realidade interior muitas vezes pautada pelo sofrimento, pela obscuridade e pelo misticismo, estabelecendo uma ponte entre o visível e o invisível, o dito e o indizível. Enfatize que, no Brasil, autores como Cecília Meireles (1901-1964), Jorge de Lima (1895-1953) e Vinicius de Moraes (1913-1980) também incorporaram elementos dessa estética em suas obras, mesmo não sendo puramente simbolistas.
Oriente os estudantes a formar duplas e a pesquisar poemas de um desses autores que tenham afinidades com o Simbolismo. Eles podem utilizar livros, bibliotecas digitais ou sites confiáveis para encontrar as obras. Incentive a análise de elementos como musicalidade, sinestesia e temas místicos nos poemas pesquisados. Em um dia combinado, cada dupla deverá ler em voz alta o poema escolhido para a turma, destacando as características simbolistas identificadas na obra. Após a leitura, oriente-os a justificar a escolha, mencionando aspectos como o uso de ritmo, sonoridade ou temas que remetem ao transcendente, seguindo os princípios do Simbolismo. Promova uma discussão após as leituras, incentivando os estudantes a comparar os diferentes poemas e a perceber como as marcas do Simbolismo aparecem de formas variadas na poesia brasileira. Isso ajudará a turma a compreender a influência do movimento em diferentes contextos e estilos. Essa atividade incentiva a pesquisa literária e a análise crítica, além de promover uma apreciação mais profunda da musicalidade e das sensações na poesia.
Estratégias didáticas
Ao trabalhar o boxe Ler o mundo (p. 95), explique brevemente a transição histórica entre o Brasil monárquico e o republicano, destacando o surgimento dos movimentos parnasiano e simbolista como resposta às mudanças sociais e culturais. Ressalte que a popularização das revistas da época, como a Fon-Fon, ajudou a definir o que era considerado “bom gosto literário”. Faça a conexão com o gênero reportagem, explicando que, assim como as reportagens ampliam e contextualizam informações hoje, as revistas da época desempenhavam esse papel ao divulgar e comentar a obra dos poetas. Indague qual foi a última reportagem que eles leram, qual era o assunto e onde foi lida (em suporte impresso ou digital). Exemplo: “Eu li uma reportagem sobre a preservação ambiental em uma revista de notícias”. Depois, questione se eles já usaram uma reportagem para pesquisar algum tema específico.
Exemplo: “Já pesquisei sobre a história da literatura brasileira para um trabalho escolar”. Com essas
perguntas, os estudantes refletirão sobre o impacto da mídia tanto no passado como no presente, ao mesmo tempo que fazem conexões entre os movimentos literários e o contexto jornalístico atual.
• MARCUSCHI, L uiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão . São Paulo: Parábola, 2008.
Nesse livro, o autor aborda os diferentes gêneros textuais, incluindo a reportagem, a qual ele considera uma ferramenta pedagógica importante para o ensino de leitura e produção de textos.
Estratégias didáticas
• Ao realizar a atividade 1 , é importante comentar com os estudantes que os gráficos são ferramentas essenciais em reportagens porque ajudam a apresentar informações complexas de maneira visual e acessível. Eles facilitam a compreensão de dados, tendências e comparações de forma rápida e clara, tornando a leitura mais dinâmica. Além disso, gráficos são importantes para tornar a reportagem mais objetiva, permitindo que o público visualize e interprete as informações sem precisar de longas explicações. Incentive os estudantes a observar como os gráficos complementam o texto e reforçam as ideias centrais da reportagem.
• Na atividade 4, comente com os estudantes que, em uma reportagem, o texto pode ser divulgado em variados meios de comunicação e costuma utilizar muitos recursos de linguagem, como comparação, intertextualidade e citação direta, entre outros, que ajudam a dar credibilidade aos fatos relatados. O depoimento dos participantes pode ser realizado mediante entrevistas gravadas em vídeo ou áudio, que depois serão editadas para o produto final.
• Na atividade 8, ressalte aos estudantes que a reportagem é um gênero híbrido porque combina várias tipologias textuais e elementos de outros gêneros jornalísticos. Por exemplo, ela pode começar com uma sequência narrativa para contar uma história, incluir trechos expositivos para explicar dados ou contextos, descrever cenários ou personagens com sequências descritivas e usar a argumentação para defender uma
tese ou ponto de vista. Além disso, pode incorporar elementos da notícia (fatos objetivos), da entrevista (falas de especialistas) e dos artigos (reflexão ou opinião). Isso dá à reportagem uma flexibilidade que a torna uma mistura de gêneros.
• Na atividade 10, se necessário, relembre aos estudantes que os intertítulos no texto jornalístico têm a função de dar um respiro ao leitor e orientar a leitura anunciando o que será tratado no desenvolvimento da notícia, da reportagem etc. Essa sinalização é importante na medida em que jornais são veículos de leitura rápida.
Na atividade 11, reitere aos estudantes que o trabalho do jornalista vai além de apenas relatar fatos. O jornalista investiga profundamente o que está acontecendo e, com base nessa investigação, oferece interpretações e análises. Ele não apenas descreve os eventos mas também traz evidências, como dados estatísticos, entrevistas, gráficos e imagens, para sustentar suas conclusões. Por exemplo, em uma reportagem sobre mudanças climáticas, o jornalista pode incluir gráficos que mostram o aumento da temperatura global no decorrer dos anos, depoimentos de cientistas e entrevistas com especialistas. Esses elementos ajudam o leitor a entender o impacto dos fatos de forma mais abrangente e visual. No entanto, embora o jornalista apresente análises, ele deve manter compromisso com a neutralidade e a objetividade. Isso significa que o texto não deve refletir opiniões pessoais, mas basear-se em fatos verificados. A estrutura da reportagem deve seguir uma lógica argumentativa, em que as informações são apresentadas de forma clara, com começo, meio e fim, mas sempre sem distorções ou parcialidades. Por exemplo, se o tema é controverso, o jornalista deve apresentar diferentes pontos de vista, permitindo que o leitor tire suas próprias conclusões.
Vozes do verbo e agente da passiva (p. 101)
Estratégias didáticas
• Antes de iniciar o estudo formal das vozes do verbo e do agente da passiva, conduza uma introdução
interativa para despertar o interesse dos estudantes e sondar o conhecimento prévio que têm sobre o tema. É interessante começar com exemplos cotidianos, para que percebam a relevância do conteúdo de forma prática. Faça perguntas diretas para engajar a turma: vocês já pararam para pensar na forma como as ações são descritas nas frases que usamos todos os dias? Por exemplo, ao dizermos “O aluno fez a lição”, quem está realizando a ação? E, ao dizermos “A lição foi feita pelo aluno”, como a estrutura da frase mudou? Essas perguntas podem gerar uma discussão informal, em que os estudantes identifiquem espontaneamente a diferença entre quem realiza a ação e quem recebe ou sofre a ação. Explique de forma simples que esses exemplos ilustram o que chamamos de vozes do verbo: a voz ativa, em que o sujeito realiza a ação, e a voz passiva, em que o sujeito sofre a ação. No segundo exemplo, o sujeito a lição sofre a ação de “ser feita”, enquanto o agente da passiva, o aluno, realiza a ação.
• BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 39. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019. Esse livro é uma das obras mais completas e respeitadas sobre a gramática da língua portuguesa. Evanildo Bechara explora de forma detalhada as vozes do verbo (ativa, passiva e reflexiva), explicando como o sujeito e o agente se relacionam com a ação verbal.
Estratégias didáticas
• N a atividade 4 , relembre aos estudantes o conceito de resenha. Diga-lhes que é um gênero textual que apresenta análise crítica de um produto cultural, como livro, filme ou peça teatral. Sua utilidade está em fornecer ao leitor uma visão geral do conteúdo, destacando os pontos principais e oferecendo uma avaliação sobre suas qualidades e limitações. Entre suas características, a resenha inclui resumo da obra, posicionamento crítico do autor da resenha e, em alguns casos, recomendação ao público. Ela combina objetividade, ao descrever o material, com subjetividade, ao apresentar opiniões e julgamentos.
Estratégias didáticas
• Explique aos estudantes que o objetivo da atividade é criar uma videorreportagem sobre um escritor local, valorizando tanto autores consagrados quanto aqueles que não publicaram, mas têm qualidade em sua produção. Enfatize a importância de registrar a produção literária da região e apresentá-la a um público mais amplo. Oriente os estudantes a começar com uma pesquisa aprofundada sobre o escritor escolhido, explorando sua biografia, estilo literário e principais temas de suas obras. Eles também devem verificar se há dados e recursos suficientes para realizar a videorreportagem.
Peça-lhes que definam quem serão os entrevistados (o próprio escritor, familiares, especialistas) e onde ocorrerão as filmagens. Lembre-os de planejar o uso de equipamentos adequados, como celulares para filmar e gravar o áudio, garantindo boa qualidade. Reforce que as entrevistas precisam ser cuidadosamente planejadas, com convites formais aos entrevistados e cronograma de filmagens. Os estudantes devem pensar nas perguntas que farão, mas também se preparar para adaptar o roteiro com base nas respostas.
Durante as gravações, sugira que sigam o roteiro proposto, mas que fiquem atentos para explorar novas perguntas que possam surgir. Na edição, incentive-os a incluir trechos de entrevistas, análises de obras, imagens e sons de arquivo, tornando o vídeo dinâmico e interessante.
• Os vídeos podem ser exibidos em evento especial na sala de aula ou compartilhados em uma plataforma de vídeos. Incentive-os a descrever brevemente cada escritor apresentado para proporcionar uma contextualização ao público.
• Esta atividade envolve pesquisa, planejamento e produção criativa, permitindo que desenvolvam habilidades de investigação e apresentação, além de valorizar escritores locais.
• VOCÊ sabe como se faz uma reportagem em vídeo?
[S. l.: s. n.], 2013. 1 vídeo (15 min). Publicado pelo canal Multicultura. Disponível em: www.youtube.com/ watch?v=PPXupwjhmWM. Acesso em: 18 out. 2024. O vídeo aborda o processo completo de criação de uma videorreportagem, desde a escolha da pauta até a edição final. Ele explica de maneira didática como organizar o conteúdo, realizar entrevistas e montar a narrativa visual.
• Ao trabalhar as atividades desta seção, comente com os estudantes que elas propõem uma reflexão interdisciplinar sobre ciência e emoção, articulando essas duas áreas do conhecimento com base no livro A expressão das emoções no homem e nos animais, de Charles Darwin. Enfatize que a ciência, apesar de ter sido usada em alguns momentos históricos para justificar práticas excludentes, também trouxe avanços significativos, como a teoria da evolução. Na unidade, os estudantes leram poemas que exploram o universo simbólico e emocional, o que os ajudará a equilibrar essas duas dimensões do conhecimento humano. Incentive-os a ler o texto como se fossem desenvolver a pesquisa, com um olhar crítico, pensando em como a ciência pode ser aplicada para compreender as emoções humanas e animais, sem desconsiderar o impacto das emoções na percepção da realidade. Oriente a leitura do fragmento da obra, pedindo-lhes que identifiquem pontos de intersecção entre as áreas de Ciências da Natureza e suas Tecnologias e de Linguagens e suas Tecnologias, refletindo sobre como a linguagem poética também pode expressar e revelar aspectos das emoções humanas que a ciência investiga. Essa abordagem interligará os conteúdos de modo a despertar o pensamento crítico dos estudantes, promovendo uma visão mais ampla e integrada do conhecimento.
O primeiro foco desta unidade é levar os estudantes a perceber que as correntes realista-naturalista e simbolista em Portugal surgiram como respostas artísticas à realidade da segunda metade do século XIX, em que o país sofria as consequências da guerra civil. Mais notadamente, vão compreender como os escritores dessa fase ajudaram a moldar a visão crítica de Portugal e de suas contradições sociais. Em um segundo momento, o estudo volta-se ao gênero textual propaganda, com o objetivo de que os estudantes percebam que a divulgação de ideias e comportamentos em propagandas e campanhas é crucial para moldar a opinião pública e promover mudanças sociais. Em análise linguística, o enfoque são os conceitos de aposto, vocativo e interjeição, para que compreendam como esses termos podem atuar na produção de sentidos dos textos, e a pontuação no período simples, que permite estruturar frases de modo a dar clareza ao texto e organização às informações. Para finalizar, a proposta de produção textual envolve planejar, produzir e compartilhar uma campanha de conscientização que tem como público-alvo os estudantes da própria escola ou a comunidade local.
Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 9 e 10
Competências específicas de Linguagens e suas
Tecnologias: 1, 2, 3, 4, 6 e 7
Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias
EM13LGG101 EM13LGG102 EM13LGG103 EM13LGG104
EM13LGG105 EM13LGG201 EM13LGG202 EM13LGG203
EM13LGG204 EM13LGG301 EM13LGG302 EM13LGG305
EM13LGG401 EM13LGG402 EM13LGG601 EM13LGG602
EM13LGG604 EM13LGG701 EM13LGG703
• Habilidades de Língua Portuguesa
EM13LP01 EM13LP02 EM13LP03 EM13LP05
EM13LP06
Todos os campos de atuação social Campo jornalístico-midiático
Campo artístico-literário
Estratégias didáticas
• Este estudo abrange o contexto histórico de Portugal na segunda metade do século XIX, período marcado pela desigualdade social entre a burguesia e os trabalhadores, que emergiu após a guerra civil (1832-1834).
O país, embora liberto das estruturas conservadoras e absolutistas, enfrentava uma realidade de corrupção e fuga dos problemas reais. A literatura portuguesa da época, por meio das estéticas realista-naturalista e simbolista, reagiu a esse cenário ao denunciar as injustiças e buscar uma sociedade mais justa e igualitária. Para trabalhar com os estudantes a pintura O almoço do trolha (1946-1950), de Júlio Pomar (1926-2018), é importante estabelecer uma conexão entre o contexto do século XIX e o panorama artístico e social da primeira metade do século XX. O “trolha”, ou trabalhador da construção civil, representa a classe trabalhadora explorada, uma imagem que reflete os desafios enfrentados pela população no pós-guerra civil em Portugal. A pintura, de estética neorrealista, traduz o esforço, a simplicidade e a precariedade da vida dos trabalhadores, elementos que também ecoam na literatura realista-naturalista que será abordada na unidade. Incentive os estudantes a discutir temas como a desigualdade social e o papel do trabalhador na sociedade, compreendendo que a arte (tanto visual quanto literária) pode ser uma forma de resistência e denúncia das injustiças sociais.
Peça-lhes que observem os detalhes da pintura (cores, expressões, cenários) e reflitam sobre como esses elementos reforçam a crítica social.
• MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa. 37. ed. São Paulo: Cultrix, 2013.
A obra enfoca, em linguagem clara e acessível, os principais períodos da literatura portuguesa, propiciando uma boa fundamentação das características dos movimentos literários e de seus autores. Apresenta também uma bibliografia para aprofundamento das questões analisadas.
Estratégias didáticas
• Para iniciar o estudo do boxe Ler o mundo (p. 116), sugere-se fazer uma breve contextualização sobre os avanços tecnológicos e sociais do século XIX, destacando que, por um lado, eles trouxeram mudanças profundas, mas, por outro, reforçaram desigualdades. Estabeleça uma conexão com o presente, mostrando como as consequências dessas divisões ainda são visíveis hoje, em aspectos como a concentração de renda e o acesso desigual à educação e à saúde. Organize os estudantes em pequenos grupos para discutir cada uma das perguntas propostas. Incentive-os a trazer exemplos da realidade atual, como a desigualdade no acesso à tecnologia, à saúde ou à educação. Após as discussões em grupo, promova um debate em sala. Peça-lhes que um representante de cada grupo compartilhe as respostas das perguntas com a turma, abrindo espaço para que outros estudantes complementem ou questionem. Solicite aos estudantes que reflitam individualmente sobre como a postura altruísta e a empatia podem contribuir para a solução desses problemas. Incentive-os a relacionar isso com atitudes que podem adotar em seu cotidiano. Essa atividade permitirá que façam conexões entre o passado e o presente, analisando as consequências da desigualdade social e refletindo sobre o papel da empatia e do altruísmo na construção de uma sociedade mais justa.
• H OBSBAWM, Eric. A era das revoluções : 17891848. Tradução: Maria Tereza Lopes Teixeira, Marcos Penchel. 16. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2010. O livro enfoca os avanços tecnológicos e sociais impulsionados pelas revoluções industriais e políticas ocorridas entre os séculos XVIII e XIX, as quais resultaram em grandes mudanças sociais, como o surgimento do capitalismo moderno, o crescimento urbano e a transformação nas relações de trabalho.
• Como sugestão de leitura do trecho de O torcicologologista, excelência (2015), de Gonçalo M. Tavares (1970-), sugere-se dividir os papéis das duas personagens entre os estudantes para que leiam o diálogo em voz alta. Incentive a leitura dramatizada, com entonações que reforcem o absurdo e a ironia presentes nas falas, para tornar o momento mais dinâmico e divertido. Intervenha ocasionalmente para garantir que os estudantes captem o tom crítico da obra. Durante a leitura, faça pequenas pausas em momentos-chave para perguntar-lhes o que estão achando das falas e se conseguem perceber as incongruências presentes no diálogo. Essas pausas ajudam a garantir a compreensão do texto e a encorajar o pensamento crítico.
• A o trabalhar o boxe conceito (p. 119), explique aos estudantes que trechos narrativos compostos apenas de diálogos oferecem uma experiência de leitura mais dinâmica. Esse recurso é eficaz para criar um senso de imediatismo e realismo, como se o leitor estivesse presenciando a conversa. Em diálogos em que não há narração descritiva, o tom, a intenção e as emoções das personagens devem ser deduzidos apenas pelas falas. Isso convida os leitores a interpretar o subtexto e a “ler nas entrelinhas”. Por exemplo, em um diálogo tenso, como em um conflito entre duas personagens, o fato de não haver descrição explícita das emoções pode aumentar a tensão e exigir que o leitor participe ativamente, interpretando as palavras e o contexto. Essa estratégia engaja os leitores, tornando-os mais atentos aos detalhes e à comunicação indireta entre as personagens.
• SPOLIN, Viola. Jogos teatrais na sala de aula: um manual para o professor. Tradução: Ingrid Dormien Koudela. São Paulo: Perspectiva, 2021.
A obra oferece exercícios práticos para desenvolver em sala de aula a leitura dramatizada, ajudando os estudantes a explorar a entonação, o ritmo e a expressão corporal. Os jogos sugeridos podem ser aplicados para destacar o tom irônico e o absurdo nas falas, tornando o momento de leitura mais envolvente e divertido.
Estratégias didáticas
• As atividades propostas no boxe O X da questão (p. 120) visam conectar os estudantes aos contextos histórico e literário de Portugal no século XIX, enfatizando a transição do Romantismo para o Realismo e o Naturalismo. O objetivo é levá-los a refletir sobre os impactos do Romantismo na sociedade e como os avanços científicos e tecnológicos ajudaram a questionar os ideais românticos. Sugere-se organizar a turma em pequenos grupos para discutir as atividades propostas. Incentive-os a pensar criticamente sobre as consequências do individualismo na sociedade, assim como o egoísmo e a indiferença em relação aos problemas coletivos, a fome e a desigualdade social. Depois, peça aos grupos que explorem como os avanços científicos e tecnológicos (por exemplo, a Revolução Industrial e a Medicina) ajudaram a desenvolver uma visão mais objetiva e prática da realidade, favorecendo a ruptura com o Romantismo e o surgimento do Realismo e do Naturalismo, que se detêm na observação crítica da sociedade. Essa abordagem incentiva a reflexão crítica sobre as mudanças estéticas e políticas e como elas se refletem nos dias atuais.
Estratégias didáticas
Para o desenvolvimento da atividade 6 e a ampliação do que é apresentado no boxe conceito (p. 123) que a sucede, comente com os estudantes que, na literatura realista, a descrição vai além de apenas detalhar o ambiente ou as aparências; ela é essencial para criar um universo verossímil, em que as ações e motivações das personagens são diretamente influenciadas por suas condições sociais e interesses. Explique-lhes que, por meio da descrição, o autor revela não só a realidade externa (como cenários e costumes) mas também os aspectos psicológicos das personagens, refletindo suas preocupações, ambições e conflitos internos. Por exemplo, em uma obra realista, um burguês pode ser descrito com base em seu ambiente luxuoso ou sua postura ambiciosa, mas essas descrições também revelam uma lógica egocêntrica, em que
os interesses pessoais e o status social guiam suas escolhas. A descrição, portanto, oferece ao leitor uma compreensão mais profunda da personagem, mostrando como suas ações são moldadas pela sociedade e por suas próprias vontades.
• LUKÁCS, György. O romance histórico . Tradução: Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2011. Nessa obra, o autor examina o papel do romance na representação da realidade histórica e social, destacando a capacidade do realismo de capturar a complexidade das relações entre indivíduo e sociedade. Ele argumenta que a literatura realista não apenas reflete a realidade mas também a interpreta criticamente, revelando as estruturas sociais que moldam as personagens e suas ações.
• Ao trabalhar o boxe Hiperlink (p. 125), oriente os estudantes a pesquisar poemas de Antero de Quental (1842-1891) em sites de instituições públicas, como a Biblioteca Nacional de Portugal e a Fundação Calouste Gulbenkian, ou ainda no Portal Domínio Público. Eles devem selecionar poemas desse autor que reflitam a dualidade entre Romantismo (introspecção, melancolia) e Realismo (crítica social, análise objetiva). São exemplos, respectivamente, as obras Primaveras românticas, de 1872 (disponível em: https://biblio tecadigital.aemrt.pt/view/852/Primaveras%20 Romanticas%20-%20Antero%20de%20Quental.pdf; acesso em: 12 out. 2024), e Odes modernas, de 1865 (disponível em: https://bndigital.bnportugal.gov. pt/records/item/79130-odes-modernas?offset=1; acesso em: 12 out. 2024). Após a leitura individual, reserve uma aula específica para a leitura em voz alta dos poemas escolhidos. A leitura em voz alta ajuda os estudantes a captar nuances emocionais e rítmicas. Promova uma discussão aberta para identificar os temas presentes, como a melancolia romântica, o pessimismo ou a crítica social. Oriente-os a organizar a coletânea em duas seções principais: “Romantismo: poemas que expressam introspecção, espiritualidade e melancolia” e “Realismo: poemas que criticam a sociedade e buscam uma análise mais objetiva”. A coletânea deve refletir a transição estética e temática na obra do autor. Peça-lhes que apresentem a
coletânea final e promova uma reflexão sobre a relevância da obra de Antero de Quental nos dias de hoje. Organize a apresentação de modo que eles expliquem as escolhas feitas para cada seção da coletânea. Para incentivar o pensamento crítico, pergunte-lhes como a dualidade entre Romantismo e Realismo pode ser vista no mundo atual.
Estratégias didáticas
P ara o desenvolvimento do boxe Ler literatura (p. 129), a fim de ajudar os estudantes a refletir sobre o conceito de realidade e responder à pergunta final, pode-se começar discutindo a multiplicidade de realidades que podem ser construídas na literatura. Explique que, na ficção, a realidade pode ser algo tanto objetivo e concreto quanto subjetivo e fantasioso, dependendo do estilo e das intenções do autor. Peça aos estudantes que reflitam sobre obras que conhecem e sobre romances realistas e que identifiquem como essas histórias apresentam diferentes realidades: uma fantástica e outra mais próxima da vida cotidiana. Mostre que, em ambas, há um “pacto” entre autor e leitor, por meio do qual o que é narrado se torna real no contexto da história. Após a discussão, incentive os estudantes a imaginar que estão escrevendo um romance. Oriente-os a refletir sobre a pergunta: se vocês pudessem criar qualquer realidade, como ela seria? Eles podem explorar desde realidades fantásticas até retratos críticos da sociedade brasileira, pensando nas intencionalidades que desejariam transmitir por meio de sua narrativa. Essa abordagem permitirá que compreendam o conceito de realidade literária e se sintam livres para explorar sua própria criatividade.
ANÚNCIO
Estratégias didáticas
• Para a atividade 3 do boxe Ler o mundo (p. 130), é importante que os estudantes percebam que as leis garantem direitos que são relacionados a contextos mais amplos. Nas falas e ações do dia a dia,
são reproduzidos muitos preconceitos que podem magoar e humilhar as pessoas, sem que isso seja, necessariamente, passível de punição. Também apelidos e brincadeiras que exploram certas características que incomodam são ações que podem produzir afetos negativos no outro, como mágoa, ressentimento. É fundamental haver discernimento, bom senso, ética e respeito ao outro.
• PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional . 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2023.
O livro oferece fundamentos teóricos e práticos, sendo adequado para discussão em sala de aula sobre como os direitos humanos são garantidos e como estão interligados ao respeito e à ética no cotidiano.
Estratégias didáticas
• No desenvolvimento da atividade 4, saliente aos estudantes que o título e o slogan são elementos fundamentais em campanhas publicitárias. O título serve para atrair a atenção do público de forma rápida e direta, destacando a mensagem principal do anúncio.
Já o slogan é uma frase curta e de fácil memorização que reforça a identidade da marca ou do produto, criando uma conexão emocional com o público e sintetizando os valores ou benefícios da marca. Peça-lhes que se lembrem de slogans famosos e explique como eles se tornaram parte da identidade dessas marcas. Além de informativos, slogans e títulos despertam a curiosidade, facilitam a lembrança e ajudam a diferenciar um produto no mercado. Muitas vezes, o slogan é tão poderoso que permanece na mente das pessoas por décadas, ajudando a construir a imagem de confiança e reconhecimento de uma marca ao longo do tempo. Se julgar interessante, aproveite o tema da campanha analisada nessa atividade e comente com os estudantes que, com o objetivo de vender um produto, eventualmente as empresas de publicidade podem cometer excessos que vão além dos princípios éticos. Para evitar isso, existe o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar), órgão que fiscaliza as campanhas que recorrem a recursos questionáveis para atingir
seus objetivos. Explique-lhes que, caso observem uma publicidade questionável, basta acionar o site do Conar para saber como proceder (disponível em: www.conar.org.br; acesso em: 12 out. 2024).
• Na atividade 6, comente com os estudantes que os anúncios publicitários muitas vezes utilizam a linguagem poética para tornar a mensagem mais envolvente e impactante. Essa estratégia não se limita à beleza estética, mas serve para persuadir o leitor de forma criativa, apelando às suas emoções, desejos e imaginação. Se julgar conveniente, mostre anúncios que usam figuras de linguagem (como metáfora, aliteração ou comparação) ou imagens visualmente impactantes para transmitir a mensagem. Um anúncio de perfume, por exemplo, pode usar uma metáfora que compara a fragrância a um “rastro de frescor”, criando uma imagem poética que vai além da simples descrição do produto. Destaque que o uso do poético, tanto no texto quanto nas imagens, ajuda a diferenciar a campanha e a captar a atenção do público, tornando a mensagem mais lembrável e eficaz. Isso é essencial para que a marca se destaque em meio a tantos anúncios concorrentes.
Estratégias didáticas
Antes de iniciar o estudo formal sobre aposto, vocativo e interjeição, sugere-se conduzir uma introdução interativa para despertar o interesse dos estudantes e sondar o conhecimento prévio que têm sobre o tema. Pergunte-lhes se já pararam para pensar em como usamos a língua de maneiras criativas e estratégicas no nosso dia a dia. Diga-lhes que algumas construções que usamos quase sem perceber são essenciais para dar mais clareza, emoção ou até dar um toque pessoal ao que falamos ou escrevemos. Com esses três elementos, aposto, vocativo e interjeição, é possível enriquecer a fala e a escrita, seja para explicar algo com mais detalhes (aposto), seja para chamar a atenção de alguém (vocativo), seja para expressar emoções de forma instantânea (interjeição). É importante destacar aos estudantes que a linguagem é
cheia de surpresas, e essas pequenas construções tornam a comunicação mais viva.
Estratégias didáticas
• No item c da atividade 1, ressalte aos estudantes que o aposto consiste na explicação que se adiciona para detalhar melhor um nome, uma situação ou até mesmo um lugar.
• No item b da atividade 2, comente com os estudantes que as interjeições são como pequenos explosivos emocionais – uma palavra ou a reprodução de um som que expressa surpresa, alegria, dor, irritação etc. Palavras como uau, ai, ops, geralmente acompanhadas de ponto de exclamação na escrita, são alguns exemplos. Lembre-os de que interjeições são muito empregadas, por exemplo, em histórias em quadrinhos e em mensagens de texto trocadas entre amigos.
• No item c da atividade 3, explique aos estudantes que a escolha de vocativos pode atuar como um argumento ao influenciar a forma como o interlocutor recebe a mensagem. O vocativo é a palavra ou expressão usada para chamar ou dirigir-se a alguém diretamente, e sua escolha pode sugerir respeito, intimidade, autoridade ou até ironia, moldando a interpretação da fala. Por exemplo, se alguém usa Senhor ou Doutor, está apelando para a formalidade ou para a posição de autoridade da pessoa, o que pode fortalecer o argumento ao criar uma atmosfera de respeito. Já o uso de amigo ou cara gera proximidade e informalidade, o que pode funcionar para persuadir o interlocutor de forma mais amigável e direta. Assim, o vocativo não é apenas uma forma de chamar alguém, mas também um recurso argumentativo que ajuda a construir a relação entre quem fala e quem ouve, influenciando a eficácia da mensagem.
Estratégias didáticas
• P ara iniciar o estudo desta seção, é importante relembrar com os estudantes o que sabem sobre pontuação no período simples. Comente que a pontuação é essencial para organizar as ideias em uma oração ou em um período, garantindo a precisão e a clareza da mensagem.
• No estudo do tópico Vírgula (p. 139), acrescente para os estudantes que não se usa vírgula entre sujeito e predicado, a menos que entre esses termos haja uma oração intercalada. Exemplos:
• Luísa ergueu seus magníficos olhos castanhos para Jorge – não se coloca vírgula entre o sujeito Luísa e o predicado ergueu seus magníficos olhos para Jorge
• Luísa, que acordara havia pouco, ergueu seus magníficos olhos castanhos para Jorge – nesse caso, entre o sujeito Luísa e o predicado ergueu seus magníficos olhos castanhos para Jorge há uma oração intercalada: que acordara havia pouco.
CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo . 7. ed. Rio de Janeiro: Lexikon, 2017.
Essa gramática dedica seções detalhadas à pontuação, explicando suas funções e impacto no sentido do texto. No capítulo sobre o período simples, aborda-se como os sinais de pontuação, especialmente a vírgula, o ponto-final e os pontos de exclamação e interrogação, estruturam o período.
Estratégias didáticas
P ara conduzir os estudantes na criação da campanha de conscientização, o primeiro passo é auxiliá-los a planejar a campanha. Essa etapa é crucial para que o trabalho seja organizado e eficaz. Em seguida, ajude-os na identificação do problema. Para isso, você pode pedir-lhes que, em grupos, discutam e escolham um problema social relevante, considerando as demandas da escola ou da comunidade local. Alguns exemplos de temas: consumo consciente de água e energia; saúde mental dos jovens; combate ao bullying ; sustentabilidade e reciclagem; uso seguro da internet; entre outros. O público-alvo é essencial para guiar
o tom da campanha. No caso, serão os estudantes da escola ou a comunidade local.
• Ainda na etapa de planejamento, oriente os estudantes a formular um objetivo claro, como conscientizar sobre os efeitos do bullying ou promover o uso sustentável de recursos. Esse objetivo ajudará a nortear a criação dos materiais para a campanha.
• Após o planejamento, os estudantes começarão a produzir os materiais para a campanha. Materiais físicos como cartazes, panfletos e faixas serão expostos na escola ou na comunidade. Incentive o uso de imagens impactantes e mensagens curtas e diretas.
• P ara a criação de slogans , ajude os estudantes a desenvolver frases criativas e impactantes. Lembre-os de que um bom slogan deve ser curto, fácil de lembrar e transmitir a essência da campanha. Exemplos de slogans:
1. Para uma campanha de combate ao bullying: “Respeito constrói amizades; bullying destrói vidas”.
2. Para uma campanha de sustentabilidade: “Pequenos gestos, grandes mudanças: recicle hoje, salve o amanhã”.
• Para o desenvolvimento de uma identidade visual, diga aos estudantes que cada grupo deve pensar nas cores, tipografia e imagens que vão compor sua campanha. Explique-lhes que uma identidade visual coerente cria um impacto maior e torna a campanha mais profissional.
• Para conduzir as formas de compartilhamento, defina com os estudantes como a campanha será disseminada, garantindo que o impacto seja maximizado. Se for na escola, podem-se expor os materiais em murais, corredores, salas de aula e áreas comuns. Organize a apresentação de cada campanha, em que os estudantes expliquem suas ideias para o restante da turma ou mesmo para toda a escola. Caso optem pelas redes sociais, incentive a criação de conteúdo digital (como vídeos e posts) que possa ser compartilhado nas redes sociais dos estudantes ou da escola. Sugira a criação de hashtags exclusivas para engajar o público. Os estudantes também podem distribuir panfletos em áreas locais, como praças ou centros comunitários, além de expor cartazes em locais de grande circulação.
• Após as campanhas serem apresentadas, conduza uma reflexão com a turma sobre o impacto que acreditam ter causado. Incentive-os a pensar sobre o poder de campanhas publicitárias na mudança de comportamento e na sensibilização social.
Nesta unidade, o foco recai sobre as transformações da literatura brasileira no período pré-modernista, com destaque para a análise de trechos de obras que abordam a complexidade dos espaços urbanos, as fronteiras sociais e as vozes das minorias. Assim, os estudantes são instigados a refletir sobre o papel da literatura como ferramenta de crítica social e denúncia das desigualdades. Também são analisadas as influências das vanguardas artísticas e a emergência de novas temáticas na arte produzida no início do século XX, bem como no cenário contemporâneo. No âmbito do discurso, a disseminação de fake news no contexto atual é analisada enquanto estratégia de manipulação da informação. Na dimensão linguística, o estudo da estruturação sintática básica (período simples e período composto) objetiva instrumentalizar os estudantes nas estratégias linguísticas e na produção de efeitos de sentido dos textos.
Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7
Competências específicas de Linguagens e suas
Tecnologias: 1, 2, 3, 4, 6 e 7
Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias
EM13LGG101 EM13LGG102 EM13LGG103 EM13LGG104
EM13LGG105 EM13LGG201 EM13LGG202 EM13LGG203
EM13LGG204 EM13LGG301 EM13LGG302 EM13LGG303
EM13LGG304 EM13LGG305 EM13LGG401 EM13LGG402
EM13LGG601 EM13LGG602 EM13LGG603 EM13LGG604
EM13LGG701 EM13LGG702 EM13LGG703 EM13LGG704
• Habilidades de Língua Portuguesa
EM13LP01 EM13LP02 EM13LP04 EM13LP06 EM13LP08
Todos os campos de atuação social
Campo da vida pessoal
Campo de atuação na vida pública
Campo das práticas de estudo e pesquisa
Campo jornalístico-midiático
Campo artístico-literário
Estratégias didáticas
• O objetivo desta sequência de abertura é sensibilizar os estudantes para questões sociais, ao abordar temas como preconceito, desigualdade social e a história das favelas, e ainda estabelecer relação entre a obra de arte e o contexto social, histórico e geográfico em que ela foi produzida, mostrando como a arte pode ser um instrumento de denúncia e de transformação social. Espera-se que, com a discussão promovida, os estudantes sejam incentivados a desenvolver suas habilidades de interpretação e argumentação, uma vez que, por meio das atividades propostas, espera-se que interpretem a obra, formulem hipóteses e sustentem seus argumentos.
• Incentive os estudantes a observar atentamente a imagem da intervenção artística, questionando se, na cidade em que vivem, há esse tipo de intervenção e em que espaços elas se situam. É interessante que o trabalho seja feito no grande grupo, a fim de que os estudantes compartilhem coletivamente suas opiniões e impressões. Questione ainda como são as artes espalhadas pela cidade – grafite, mural, estêncil, lambe-lambe (cartaz), mosaico, instalação etc. –e qual seria a intenção primordial dos artistas que fazem esse tipo de arte urbana. Essa é uma maneira de fazer com que os estudantes observem os espaços pelos quais circulam e desenvolvam um olhar atento para as manifestações culturais e artísticas enquanto formas de linguagem e comunicação de sentidos.
• Esteja atento para o fato de que a discussão proposta passa por questões de exclusão social, preconceito, racismo estrutural, e que essa pode ser a realidade de muitos estudantes. Assim, há a oportunidade para a reflexão coletiva sobre lugar de fala, representatividade e resistência. Também
é igualmente importante considerar que a escola pode estar inserida em uma comunidade e fazer parte, de forma muito aproximada, dessa realidade. De qualquer forma, cuide para que a discussão não seja um olhar “de fora” (nós aqui, a favela lá), como se a comunidade/favela fosse um elemento alheio à estrutura urbana e à realidade social. Vale lembrar ainda que, em cidades pequenas, as “favelas” costumam estar localizadas na periferia, ao contrário daquelas situadas nos morros (como a representada na imagem). Então, vale a discussão sobre o modo como, em cidades pequenas, a favela vê a cidade.
Respostas e comentários
4. O objetivo principal da atividade é sensibilizar os estudantes para as desigualdades sociais e as transformações urbanas, com a arte como ferramenta de análise e reflexão. Ao comparar duas pinturas de Gustavo Dall’Ara que retratam diferentes realidades do Rio de Janeiro no início do século XX, a atividade busca incentivar os estudantes a questionar as condições de vida nas cidades, as diferenças entre os espaços urbanos e as permanências e mudanças ao longo do tempo, bem como incentivar a análise detalhada das obras de arte, por meio da identificação de elementos visuais que representam as características de cada espaço. Para que essa análise seja devidamente realizada, recomenda-se, se houver possibilidade, a projeção das imagens (por meio de data show ou retroprojetor), a fim de que os detalhes fiquem evidentes e sejam discutidos pelos estudantes. Vale lembrar que essas questões oferecem uma interessante oportunidade de trabalho interdisciplinar, na medida em que articulam o conhecimento histórico e geográfico com a linguagem visual, de modo a favorecer uma compreensão mais ampla das dinâmicas urbanas.
A poeira do passado em nós
(p. 148)
Estratégias didáticas
• As atividades propostas no boxe Ler o mundo (p. 148) têm a intenção de provocar a reflexão e a conscientização sobre as desigualdades sociais e as diversas formas de discriminação presentes na sociedade
brasileira, com foco nas minorias. Ao abordar temas como racismo, machismo, desigualdade de gênero e outras formas de opressão, busca-se promover uma análise mais aprofundada das raízes históricas e sociais desses problemas, a fim de desmistificar ideias preconcebidas. A discussão proposta pode ser feita no grande grupo, para que se possa criar um espaço para o diálogo e a troca de ideias, com o objetivo de construir um entendimento mais profundo sobre as questões, uma vez que tal discussão não implica debate acirrado de ideias, mas constatação da visão que os estudantes têm da realidade que os cerca e da qual fazem parte.
Midiateca do estudante
• RÁDIO Novelo Apresenta 94: Programa de índio. Apresentação: Idjahure Terena. [S. l.]: Rádio Novelo, 12 set. 2024. Podcast . Disponível em: https:// radionovelo.com.br/originais/apresenta/programade-indio/. Acesso em: 14 out. 2024.
Programa de índio era um programa de rádio dos anos 1980, apresentado por Ailton Krenak (1953-), que divulgava as culturas indígenas em um momento histórico no qual a ditadura civil-militar acreditava que os indígenas estavam fadados a desaparecer. Quem conta essa história é o indígena Idjahure Terena (1990-), que pesquisou sobre esse programa de rádio para um trabalho acadêmico.
• O trecho do conto “Espiral” (p. 148) explora diversos aspectos de uma dura realidade social que pode ser aquela vivenciada pelos estudantes, razão pela qual é importante que os temas sejam tratados de forma sensível e acolhedora. Por essa razão, recomenda-se proceder à leitura coletiva do texto e, antes de responder às questões, promover um debate sobre os temas que dele emergem, como racismo, desigualdade social, violência e identidade.
• Na atividade 2, aproveite a comparação de imagens e o tema “fronteiras da cidade” para discutir com os estudantes sobre o modo como essas fronteiras são configuradas na cidade onde moram. Questione onde as desigualdades ficam mais evidentes: se na comparação entre centro e periferia ou na comparação entre bairros ou zonas.
• Na atividade 5, é importante destacar que a obsessão do narrador protagonista tem uma motivação quase filosófica: ele quer entender a razão por que representa uma ameaça para as pessoas de outra classe social, embora, no fundo, ele já saiba essa resposta: pessoas podem parecer ameaçadoras tão somente por serem pobres ou pretas.
• Na atividade 6, ao discutir sobre as “fronteiras” presentes na sociedade, permita aos estudantes refletir sobre a realidade em que vivem e responder oralmente. A discussão pode ser ampliada, ainda, para o contexto mais amplo, que envolve outras fronteiras, como religiosas, linguísticas, ideológicas, e que podem abarcar tanto pessoas que vivem em um mesmo território quanto aquelas que migram de um espaço para outro. Oriente a discussão no sentido de ressaltar a importância do acolhimento às diferenças e da importância da ação de todos para alcançar esse objetivo.
Na atividade 8, explique aos estudantes que, no romance Água de barrela, o título é uma metáfora que simboliza o trabalho árduo e invisibilizado de mulheres que carregavam água em barris para sustentar suas famílias. A obra apresenta uma genealogia de mulheres negras, desde a época da escravidão até o período contemporâneo, mostrando como os traumas e as marcas do passado continuam a afetar as gerações futuras. Por meio das histórias de cada personagem, são trazidos à tona temas como racismo, machismo, desigualdade social e busca por identidade. Se julgar interessante, dê mais informações aos estudantes sobre Eliana Alves Cruz (1966-) e sua obra. A autora tem se destacado como uma das vozes mais influentes na literatura afro-brasileira contemporânea. Sua carreira literária é marcada por uma densa investigação sobre a herança africana e a cultura afro-brasileira. Entre suas obras mais conhecidas estão Água de barrela (2016), analisada na atividade, e O crime do Cais do Valongo (2018), uma narrativa de mistério e investigação, tendo como pano de fundo o histórico Cais do Valongo, um ponto de desembarque de escravizados no Rio de Janeiro.
pré-modernista (p. 152)
Estratégias didáticas
• Ao iniciar o estudo do boxe O X da questão (p. 152), destaque para os estudantes que o Pré-Modernismo
não se configura como uma escola ou movimento com características estéticas definidas, mas sim como um momento de transição, um período de experimentação e ruptura com algumas estéticas anteriores. Isso se deve a alguns elementos fundamentais: 1) diversidade de vozes e estilos: a literatura pré-modernista é marcada por uma grande diversidade de vozes e estilos, que refletem a complexidade da sociedade brasileira da época. Autores como Euclides da Cunha (1866-1909), Monteiro Lobato (1882-1948), Lima Barreto (1881-1922) e Graça Aranha (1868-1931), por exemplo, apresentam visões de mundo e estilos narrativos bastante distintos; 2) caráter transicional: o Pré-Modernismo é um período de transição entre o século XIX e o século XX, um momento em que os escritores brasileiros buscavam novas formas de expressão para dar conta da complexidade da realidade nacional; 3) ausência de um “manifesto”: diferentemente de outros movimentos literários, como o Parnasianismo ou o Modernismo, o Pré-Modernismo não contou com um manifesto ou um conjunto de regras estéticas que unificasse os autores em torno de ideais artísticos comuns ou delineasse formas específicas de composição. Para a atividade 1, espera-se que os estudantes apontem que os grupos sociais ignorados pelo governo foram, principalmente, minorias, como os negros, os trabalhadores rurais, os pobres e as mulheres. Mesmo depois da abolição, os afro-brasileiros enfrentaram discriminação e exclusão social. Para a atividade 2, oriente-os a pensar sobre a importância de “dar voz aos silenciados” e o impacto disso na sociedade.
• A atividade 1 proporciona a intersecção entre Literatura e História. O trecho do romance de Lima Barreto apresenta de forma contundente a frustração de Policarpo Quaresma com o Brasil e com o governo republicano. Tanto Quaresma quanto os intelectuais da época, como Alberto Sales (18571904) e Alberto Torres (1865-1917), mencionados no texto de José Murilo de Carvalho (1939-2023), perceberam que a República não correspondia ao ideal de nação que haviam imaginado.
• Para o desenvolvimento da atividade 6 e a ampliação do que é comentado no boxe conceito (p. 155) que a sucede, destaque para os estudantes que o
nacionalismo do governo é um nacionalismo ufanista, que exalta a pátria sem se preocupar com as desigualdades sociais e as injustiças. O nacionalismo de Quaresma, por sua vez, é um nacionalismo utópico, mas crítico, que busca transformar a realidade e construir um país mais justo e igualitário.
• Para a atividade 7, comente com os estudantes que o conto “Negrinha”, de Monteiro Lobato, é uma denúncia das violências herdadas da escravidão que ainda permeavam a sociedade brasileira, especialmente no interior de São Paulo, mesmo após a abolição. A análise desse trecho revela diversas camadas de crítica, por meio da linguagem, da caracterização das personagens e do uso de ironia e sarcasmo.
Na atividade 9 , é importante destacar que, no início da República, prevaleciam teorias positivistas e eugenistas, que consideravam as condições ambientais e raciais como determinantes da superioridade ou inferioridade das populações. Euclides da Cunha oferece uma visão distinta: em vez de relegar o sertanejo a uma condição de inferioridade, representa-o como um herói, que, embora vivencie um ambiente brutal e opressivo, demonstra força, resiliência e uma dignidade trágica.
Para a atividade 10, comente com os estudantes que Os sertões questiona as bases raciais e sociais que sustentavam a desigualdade no Brasil da época, destacando o potencial humano e a resistência frente à opressão social e natural. Assim, a obra contribuiu para desafiar as ideias de inferioridade racial e cultural das populações do sertão, promovendo uma visão mais inclusiva e admirada dessas figuras e de suas lutas.
FRONTEIRAS no Tempo 72: Monteiro Lobato e o racismo. Locução: Marcelo de Souza e Silva, Rodolfo Grande Neto, Cesar Agenor F. da Silva e Willian Spengler. [ S. l. ]: Portal Deviante, 22 fev. 2023. Podcast. Disponível em: https://www.deviante.com. br/podcasts/fronteiras-no-tempo-72-monteiro -lobato-e-o-racismo/. Acesso em: 14 out. 2024. Nesse podcast, os entrevistadores discutem sobre a vida e a obra de Lobato no contexto em que ele se inseria e à luz das relações que ele mantinha com outros intelectuais que, como ele, conviviam com discursos eugenistas em voga.
Estratégias didáticas
• Para o estudo desta seção, se julgar interessante, peça aos estudantes que leiam, como atividade extraclasse, as informações que constam no Livro do estudante sobre as vanguardas artísticas, a fim de se prepararem para uma conversa em classe. Eles também podem buscar informações adicionais sobre as vanguardas. A ideia é que tenham subsídios para debater sobre a seguinte questão: que contribuições podem ser observadas das vanguardas artísticas do início do século XX às artes contemporâneas? Espera-se que cheguem à conclusão de que as vanguardas romperam com as convenções estéticas da época e abriram caminho para formas de expressão artística que reverberam até os dias de hoje. Entre as ações dos vanguardistas, podem ser destacadas: 1) a exploração de novas linguagens: exploraram novas técnicas, materiais e suportes, como a colagem, a fotografia, o ready-made e a performance. Essa busca por novas linguagens influenciou profundamente a arte contemporânea, que se caracteriza pela diversidade de meios e pela constante inovação; 2) a quebra de paradigmas: as vanguardas desafiaram as noções tradicionais de beleza, representação e função da arte, questionaram a imitação da realidade e a hierarquia dos gêneros artísticos, abrindo espaço para a experimentação e a liberdade de criação; 3) valorização da individualidade e da subjetividade: as vanguardas valorizavam a expressão individual e a subjetividade do artista. Essa valorização da individualidade continua a ser uma característica importante da arte contemporânea, que permite que cada artista desenvolva uma linguagem única e pessoal; 4) engajamento social e político: as vanguardas frequentemente abordavam questões sociais, políticas e existenciais, como a alienação da vida moderna (Expressionismo), o questionamento da guerra e da sociedade de consumo (Dadaísmo) e o inconsciente reprimido (Surrealismo), e também artistas contemporâneos usam sua obra para abordar temas como desigualdade social, racismo, feminismo, ecologia, migração e questões identitárias. Obras de arte muitas vezes são espaços de reflexão crítica sobre problemas globais.
• Outra sugestão seria realizar o trabalho em conjunto com o componente de Arte. Organize a turma em grupos e atribua um movimento vanguardista (Cubismo, Futurismo, Dadaísmo, Surrealismo, Expressionismo etc.) a cada grupo. Com base nas informações que constam no Livro do estudante, solicite aos estudantes que as ampliem, buscando manifestos, artistas e obras representativas. Peça que comparem artistas contemporâneos, como Banksy (1974) (arte urbana) ou movimentos como o afrofuturismo, com as ideias das vanguardas. Se houver tempo e oportunidade, os estudantes podem criar uma linha do tempo e expor, em espaço coletivo da escola, os principais artistas, obras e acontecimentos históricos e artísticos relacionados às vanguardas.
Estratégias didáticas
O objetivo da proposta desta seção é promover uma análise crítica e comparativa entre a obra de Monteiro Lobato e as adaptações cinematográficas de Mazzaropi (1912-1981) e outros diretores, com foco na construção do personagem interiorano e em suas implicações sociais e culturais. Organize a turma em quatro grupos, de modo que cada grupo fique responsável por um dos filmes sugeridos (O palhaço, A marvada carne, Tapete vermelho ou Cine Holliúdy). Oriente-os a assistir aos filmes com atenção, observando os elementos visuais, sonoros e narrativos que remetem ao universo de Mazzaropi, e tomar nota de aspectos relacionados à personagem principal (características, valores, desafios), ao cenário, ao figurino, à trilha sonora. Oriente-os a observar o tipo de humor utilizado no filme e como ele contribui para a construção da narrativa e das personagens. Também é fundamental que percebam quais semelhanças e diferenças podem ser notadas entre o personagem do filme e o Jeca Tatu de Lobato. Peça-lhes que observem e anotem, ainda, como o filme retrata a vida no campo e as relações sociais e quais críticas sociais estão presentes na obra. Depois, em momento oportuno, marcado previamente, essas observações devem ser compartilhadas pelos grupos, com o objetivo de debater como os filmes analisados constroem a imagem da personagem interiorana, quais são os estereótipos presentes e de que forma os filmes dialogam (ou não) com a obra de Monteiro Lobato e com a literatura pré-modernista.
• O objetivo desta seção é traçar um panorama crítico da Primeira República brasileira, evidenciando suas contradições, desigualdades sociais e a emergência de novas vozes artísticas e literárias que buscavam representar a realidade complexa do país. Ao mostrar a transição do academicismo alienado para uma literatura voltada às realidades brasileiras, o texto destaca a importância de dar voz aos marginalizados e promover uma visão mais inclusiva e crítica da sociedade.
• No boxe Ler literatura (p. 164), explique que o conceito de “voz”, além de compreendido sob uma perspectiva literária e linguística, pode ser visto também sob uma abordagem social ou ideológica, quando relacionado à ideia de identidade, perspectiva e posicionamento social. Na literatura, além do jogo de vozes intrínseco à narrativa (que corresponde às falas de personagens, ponto de vista do narrador e ordens de discurso), há ainda a inserção de vozes sociais, ideológicas, que podem estar muito bem delineadas ou subliminares. A proposta, portanto, é que os estudantes reflitam sobre o conflito de vozes em sua realidade e espera-se que identifiquem o conflito de vozes intergeracionais (na família), na escola, na comunidade, nos meios de comunicação etc.
Estratégias didáticas
• As atividades propostas no boxe Ler o mundo (p. 165) têm o intuito de fazer os estudantes levantarem hipóteses sobre como é possível subverter a disseminação de fake news com base em uma análise crítica das informações consumidas no dia a dia. É importante que eles reflitam sobre a relação com as notícias falsas, reconhecendo se já tiveram contato com elas e considerando o que é possível ser feito diante disso.
• Os textos da seção abordam o fenômeno das fake news , ainda muito presentes no cotidiano contemporâneo. Ao analisar os textos, aproveite para discutir com os estudantes os meandros e o alcance de notícias fraudulentas, bem como as graves possíveis consequências, a depender do tema e dos
atores envolvidos, que as fake news podem gerar, inclusive com apoio da inteligência artificial embutida nessas falsificações. É importante, sobretudo, levar os estudantes a refletir que vidas podem ser significativamente comprometidas em razão da disseminação de fake news
Estratégias didáticas
A parte teórica desta seção foca os elos sintáticos e semânticos que caracterizam os períodos compostos, enquanto as atividades destacam que, em textos concretos, apenas esses elos podem não ser suficientes para resgatar o sentido de um texto, sendo necessário também acionar o conhecimento de mundo para compreendê-los integralmente.
Estratégias didáticas
O objetivo principal desta seção é explicar a importância da ordem dos termos em uma oração e como essa ordem pode influenciar o sentido de um texto. Ao explorar os conceitos de ordem direta e indireta, evidencia-se como a manipulação da estrutura sintática pode ser utilizada como uma ferramenta para: a) destacar informações específicas: ao colocar um termo no início da oração, o autor confere a ele maior destaque, direcionando a atenção do leitor para esse elemento em particular; b) organizar ideias: a ordem dos termos pode ser utilizada para estabelecer uma hierarquia entre as informações, facilitando a compreensão do leitor; c) criar efeitos de sentido: a inversão da ordem natural dos termos pode gerar um efeito de estranhamento ou, ao contrário, tornar o texto mais poético ou expressivo; d) adaptar a linguagem a diferentes contextos: a escolha da ordem direta ou indireta pode variar de acordo com o contexto comunicativo, seja ele formal ou informal, oral ou escrito. Se julgar pertinente, essa síntese pode ser compartilhada com os estudantes antes da realização das atividades.
Estratégias didáticas
• A proposta de trabalho apresentada concentra-se na elaboração de um manual virtual de checagem de informações para combater as fake news. Alguns objetivos gerais norteiam o trabalho: 1) desenvolver habilidades de educação midiática entre os estudantes, capacitando-os a identificar e evitar a disseminação de fake news; 2) fomentar o pensamento crítico, permitindo que os estudantes analisem informações de forma mais consciente e informada; 3) criar um recurso acessível que possa ser utilizado por estudantes e a comunidade escolar para entender e combater fake news; 4) incentivar a divulgação do conhecimento sobre checagem de informações por meio de plataformas digitais, alcançando um público mais amplo; 5) contribuir para um debate público mais saudável, fundamentado em informações reais e verificadas, e reduzir a polarização e a desconfiança nas instituições.
• A sequência de atividades sobre racismo estrutural tem por objetivo desenvolver a capacidade de pesquisa crítica dos estudantes, fomentar o trabalho colaborativo, aprimorar habilidades de comunicação, estimular a reflexão crítica sobre questões sociais e incentivar a utilização de recursos multimodais na produção de reportagens digitais. A escolha do tema para a reportagem digital se deve à sua relevância, já que impacta a vida de milhões de brasileiros e é fundamental para a formação de uma consciência social nos estudantes. Ao abordar questões de racismo e desigualdade, a atividade promove a educação para a cidadania, integrando diversas áreas do conhecimento e desenvolvendo habilidades essenciais do século XXI, como pensamento crítico e colaboração. Além disso, ao permitir que os estudantes investiguem e apresentem as próprias perspectivas, a atividade empodera a juventude, valorizando suas experiências e opiniões e encorajando um engajamento ativo na sociedade.
No início do século XX, o Brasil se modernizava, mas a mentalidade social e cultural permanecia presa ao passado. Influenciada pelas vanguardas, a arte moderna surgiu, rompendo com tradições e mudando a forma de fazer e apreciar arte no país. Nesta unidade, o primeiro foco é a análise dessa transformação, proporcionando aos estudantes também a oportunidade de encontrar traços dessas vanguardas em textos contemporâneos. Em seguida, o estudo se volta ao gênero textual regulamento, partindo de sua importância no ordenamento dos blocos de carnaval de rua, que sofreram uma revitalização no início dos anos 2010. Em análise linguística, o enfoque principal é o período composto por coordenação e sua função de unir orações que não dependem sintaticamente umas das outras. Outro tópico de estudo linguístico é a pontuação, com o intuito de levar os estudantes a perceber como o uso de sinais de pontuação é essencial na escrita para organizar frases, esclarecer o sentido e criar ênfase, destacando elementos específicos do texto. Por fim, a proposta de produção textual engloba planejar, produzir e compartilhar um regulamento que determinará os direitos e deveres de todos os estudantes com relação à utilização dos espaços comuns da escola.
Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 5, 7, 9 e 10
• Competências específicas de Linguagens e suas Tecnologias: 1, 2, 3, 4 e 6
• Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias
EM13LGG101 EM13LGG102 EM13LGG202 EM13LGG204
EM13LGG301 EM13LGG302 EM13LGG303 EM13LGG304
EM13LGG401 EM13LGG601 EM13LGG602 EM13LGG604
• Habilidades de Língua Portuguesa
EM13LP01
EM13LP02 EM13LP03 EM13LP06
EM13LP07 EM13LP08 EM13LP15 EM13LP24
EM13LP25 EM13LP26 EM13LP27 EM13LP48 EM13LP49 EM13LP50 EM13LP52
Todos os campos de atuação social Campo de atuação na vida pública Campo artístico-literário
Estratégias didáticas
• Inicie a aula c om a análise da escultura Pau-Brasil (2014), de Thiago Honório (1979-), que traz como referência o livro Pau-Brasil (1925), de Oswald de Andrade (1890-1954), um dos ícones do movimento modernista. Relacione essa obra à introdução do Modernismo no Brasil, o qual se contrapunha às formas acadêmicas e parnasianas dominantes na época. A madeira de pau-brasil utilizada por Honório remete ao simbolismo cultural do Brasil e às críticas ao passado colonial. Saliente que, nas primeiras décadas do século XX, o Brasil passava por transformações econômicas e industriais, mas ainda estava preso a valores culturais conservadores. O Modernismo foi uma resposta a essa necessidade de renovação estética e cultural, inspirada pelas vanguardas europeias, e que desafiou os padrões tradicionais da arte e da poesia, promovendo uma nova forma de expressão artística. Peça aos estudantes que observem, na escultura, a cor natural da madeira, ressaltando como ela contrasta com a complexidade conceitual da obra, que remete ao livro Pau-Brasil, de Oswald de Andrade, um manifesto da renovação cultural do Modernismo. Discuta como a forma geométrica da escultura, quase minimalista, valoriza o material bruto, sem ornamentos, refletindo o ideal modernista de buscar novas formas de expressão, rompendo com o academicismo e o excesso de detalhamento da arte tradicional.
Respostas e comentários
4. a) É possível que os estudantes tenham certa dificuldade para articular essa resposta. Sugere-se ajudá-los dividindo a reflexão em partes: encaixar um pedaço de pau em uma capa de livro é real, literal; encaixá-lo exatamente onde estava um lema é metafórico, já que foi uma escolha com o intuito de “dizer” alguma coisa para quem observa a obra.
• CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 12. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2017.
Nessa obra, o autor analisa as transformações da literatura brasileira desde o período colonial até o século XIX, abordando a tensão entre tradição e inovação. O livro proporciona uma base teórica sólida para compreender as mudanças culturais e estéticas que prepararam o cenário para a Semana de Arte Moderna e o surgimento de uma nova perspectiva artística no Brasil.
Estratégias didáticas
Para o desenvolvimento da proposta do boxe Ler o mundo (p. 184), sugere-se iniciar com uma breve contextualização sobre como a arte contemporânea reflete a diversidade e a complexidade da sociedade atual, fazendo referência à liberdade artística conquistada ao longo do século XX. Dê exemplos de como a arte moderna rompeu com o formalismo rígido e abriu caminho para que temas como identidade, política, meio ambiente e questões sociais sejam abordados nas produções artísticas de hoje. Na atividade 1 , pergunte aos estudantes se eles acham que, atualmente, a arte deveria explorar com mais ênfase temas como igualdade racial, mudanças climáticas ou identidade de gênero. Incentive a diversidade de opiniões, para que percebam que a arte pode abordar muitos assuntos. Na atividade 2 , lembre-os de filmes brasileiros que tratam, por exemplo, de questões sociais (veja indicações na Midiateca do estudante , a seguir) e discuta como esses temas são explorados. Na atividade 3 , ajude-os a identificar como os temas artísticos se relacionam com outros temas. Por exemplo, questões de igualdade de gênero podem envolver discussões sobre direitos humanos ou políticas públicas. Incentive-os a fazer conexões entre temas aparentemente diferentes, mostrando como a arte contemporânea explora essas intersecções.
Midiateca do estudante
• QUE horas ela volta? Direção: Anna Muylaert. Brasil: África Filmes, Globo Filmes, 2015. Streaming (114 min).
O filme conta a história da personagem Val, empregada doméstica, que mora na casa de seus empregadores de classe média alta. A narrativa retrata as desigualdades, em sua maioria sutis porém contundentes, na relação entre a personagem e os patrões.
• ERA o Hotel Cambridge. Direção: Eliane Caffé. Brasil: Aurora Filmes, 2017. Streaming (109 min).
O filme conta a história da ocupação do prédio que abrigou, no centro de São Paulo, o antigo Hotel Cambridge, abandonado e fechado em 2011. A trama evidencia a condição de vida de refugiados no Brasil e convida à reflexão sobre o direito à moradia.
e compartilhar (p. 185)
Estratégias didáticas
• Para o trabalho com os dois poemas propostos, comece apresentando aos estudantes o contexto em que os autores estão inseridos, destacando a poesia contemporânea e suas características, como a multiplicidade de vozes e a diversidade de formas e temas. Oriente os estudantes a observar as diferenças e semelhanças formais entre os poemas. Peça-lhes que notem a estrutura (versos curtos ou longos, rimas ou ausência delas), o uso da pontuação (ou sua ausência) e a disposição dos versos. Poemas contemporâneos, muitas vezes, rompem com as formas tradicionais para criar novas maneiras de expressão, o que reflete a liberdade conquistada pela poesia moderna. Quanto ao conteúdo, incentive-os a identificar os temas tratados em cada poema. Em Poema do desaparecimento, discuta a temática do desaparecimento e como ele pode ser lido metaforicamente. Já no poema “Coisas”, explore questões de identidade, raça e subjetividade, temas recorrentes na obra do autor. Ajude os estudantes a perceber como os temas dos dois poemas podem dialogar com a realidade contemporânea brasileira e refletir a multiplicidade de discursos. Por fim, peça-lhes que reflitam sobre como as formas escolhidas pelos poetas influenciam a compreensão dos temas. Um poema mais direto pode criar um impacto imediato, ao passo que outro mais fragmentado pode convidar a uma reflexão mais profunda.
• Para o item b da atividade 1, é evidente que não se espera dos estudantes o mesmo nível de complexidade da resposta sugerida, mas você pode, por meio de indagações, encaminhar a reflexão e ajudá-los a chegar a uma resposta que corresponda aos sentidos indicados.
• Na atividade 7 , explique aos estudantes que a escolha das palavras (seleção lexical) e a organização dos versos são decisões do poeta que influenciam o ritmo, o tom e a atmosfera do poema. Elas criam o conteúdo e a estrutura que envolvem o leitor. A escolha da fonte ou o uso de diferentes variações tipográficas (como itálico, negrito, maior ou menor largura entre as letras) afetam a percepção e a interpretação. A tipografia pode enfatizar certas palavras, criar ritmo visual, ou mesmo espelhar os sentimentos expressos no poema. Por exemplo, uma fonte grande pode sugerir intensidade ou grito; uma fonte pequena, por sua vez, pode sugerir silêncio ou fragilidade. É importante os estudantes perceberem que a escolha da tipologia é uma extensão do processo criativo do poema, influenciando como ele é lido e interpretado.
SCHWARZ, Roberto. Um mestre na periferia do capitalismo : Machado de Assis. 5. ed. São Paulo: Editora 34, 2012.
A obra é relevante para o estudo da poesia contemporânea, pois o autor discute as raízes do experimentalismo na literatura brasileira e como escritores, desde o século XIX, começaram a transitar entre formas tradicionais e novas linguagens.
modernista da primeira geração (p. 187)
Estratégias didáticas
• Para desenvolver a proposta do boxe O X da questão (p. 187), comece contextualizando o momento histórico do início do século XX no Brasil, ressaltando a tensão entre o formalismo do Parnasianismo e a chegada das influências das vanguardas artísticas, especialmente em São Paulo. Incentive os estudantes a refletir sobre as transformações políticas, sociais e culturais da época e como elas afetaram a produção
artística. Para o item a da atividade 1, peça aos estudantes que identifiquem as características da poesia parnasiana, como o rigor formal, a valorização da estética clássica, o distanciamento emocional e a “arte pela arte”. Explique-lhes como esses elementos eram exaltados no fim do século XIX, usando como exemplo produções de poetas como Olavo Bilac (1865-1918). No item b, peça-lhes que reflitam sobre como os movimentos modernistas romperam com a tradição acadêmica. Dê exemplos de como esses movimentos propuseram uma arte mais livre, subjetiva e conectada com a realidade urbana e as mudanças sociais. Para a atividade 2, ajude os estudantes a perceber que o Parnasianismo, com sua preocupação técnica e estética, pouco se conectava com os avanços sociais, como o feminismo e o antirracismo. Explique como a arte acadêmica se manteve alheia às transformações políticas e culturais do período, diferentemente das vanguardas. Na atividade 3, comente que a poesia é capaz de refletir os valores e os discursos da época, e a arte deve ser vista como um reflexo do contexto social e das mudanças históricas. Exemplifique com poetas modernistas que abordaram temas como a urbanização, a industrialização e as novas subjetividades.
• Na atividade 6, lembre os estudantes do contexto em que o poema foi produzido, do que estava acontecendo na sociedade naquele momento, como a exploração desmedida que os trabalhadores enfrentaram nos primeiros tempos da industrialização, a falta de visão crítica da elite, que, deslumbrada com as novidades a que tinha acesso, não se importava com o que acontecia fora de sua classe social.
• No item b da atividade 9, pode-se considerar que a “consequência gloriosa” do café para as transformações da sociedade, na visão crítica de Oswald, está justamente nas mudanças que a crise do café provocou. A falência dos cafeicultores e o declínio do ciclo do café marcaram o fim de uma era de poder da elite agrária e abriram caminho para a industrialização e a urbanização do Brasil. Essa transição, mesmo dolorosa para a economia agrícola, trouxe novas oportunidades e transformações sociais, como o crescimento das cidades, o aumento do proletariado urbano e a diversificação econômica. Assim, o “glorioso” destino do
café, irônica e sarcasticamente, estaria no fato de ele ser um fator que impulsionou profundas mudanças na estrutura social e econômica do país.
• Ao trabalhar o boxe conceito (p. 192) sobre os poemas da primeira geração modernista, comente com os estudantes que o impacto inovador desses poemas no Brasil, os quais romperam com as convenções rígidas do Parnasianismo, criou um espaço para a experimentação estética. O Parnasianismo, movimento literário dominante até então, prezava pela forma rígida, pela perfeição técnica, pelo distanciamento emocional e por temas eruditos. A primeira geração modernista, ao contrário, abriu caminho para uma poesia que valorizava temas do cotidiano e da vida comum, celebrando a beleza humana em suas manifestações simples e rotineiras. Essa geração passou a abordar as transformações urbanas, as novas subjetividades e os problemas sociais, em vez de se concentrar em uma arte puramente formal e estética. Além disso, a forma poética foi libertada dos padrões rígidos do Parnasianismo, como a métrica fixa e a rima obrigatória. Os modernistas passaram a experimentar com versos livres, construções inovadoras e uma linguagem mais próxima da oralidade. Esse processo de ruptura trouxe uma nova liberdade criativa, permitindo que a poesia explorasse novos formatos, temas e ritmos, inaugurando uma era de grande diversidade na literatura brasileira.
Respostas e comentários
1. Experiência n. 3 , de Flávio de Carvalho (18991973), foi uma performance realizada pelo artista, em 1956, que consistiu em desfilar pelas ruas do centro de São Paulo vestindo seu New Look , composto de blusa bufante, minissaia de pregas, meia arrastão e sandálias. Sua intenção era exibir um protótipo de roupa masculina para o clima tropical. Oriente os estudantes a pesquisar informações sobre essa performance em endereços confiáveis. Seguem algumas sugestões: https:// gamarevista.uol.com.br/colunistas/fernandohenrique/experiencia-no-3/; https://famamuseu. org.br/flavio-de-carvalho-e-a-criacao-de-novosvalores/; https://www.sescsp.org.br/editorial/ linguagens-da-rebeldia-perfil-do-multiartistaflavio-de-carvalho/ (acessos em: 22 out. 2024).
• Ao iniciar o trabalho com o boxe Hiperlink (p. 197), é interessante ampliar a biografia de Pagu, destacando a importância dela no Modernismo brasileiro e o papel que teve como pioneira na luta política e na produção cultural. Em seguida, você pode organizar a turma em grupos, pedindo a cada grupo que faça pesquisas on-line sobre as poesias de Pagu, utilizando diferentes fontes confiáveis. A sugestão é que os grupos escolham poemas variados e leiam juntos, focando os três aspectos indicados: recursos estéticos, temas recorrentes e diálogos com a estética modernista. Como exemplo de discussão, oriente-os a observar como Pagu quebra convenções formais e usa uma linguagem direta e crítica, características do Modernismo. Peça-lhes que procurem identificar os temas de injustiça social e a sensibilidade para questões femininas e de classe que permeiam a obra da escritora, assim como a maneira pela qual ela utiliza a forma poética para provocar reflexões e romper padrões. Ao final, promova uma roda de conversa para que cada grupo apresente suas análises, fazendo uma comparação entre os poemas selecionados e os de outros autores modernistas, como Oswald de Andrade.
• Para conduzir a proposta do boxe Ler literatura (p. 200), sugere-se recapitular com os estudantes os principais aspectos das vanguardas artísticas europeias, como o rompimento com as formas tradicionais de arte, a experimentação estética e a liberdade criativa, estabelecendo a conexão entre essas vanguardas e o Modernismo no Brasil. Inicie com uma breve revisão das vanguardas europeias, como o Cubismo, o Futurismo e o Surrealismo, destacando o rompimento com a representação figurativa. Mencione como esses movimentos influenciaram o Modernismo brasileiro, que também questionava os padrões vigentes e valorizava a diversidade cultural e a mestiçagem. Ao fazer o questionamento sobre as obras contemporâneas que podem ser consideradas de vanguarda, incentive os estudantes a pensar nos gêneros discursivos com os quais estão familiarizados, como filmes, séries, canções e histórias em quadrinhos. Exemplifique como obras contemporâneas, mesmo fora do contexto tradicional da arte, podem carregar traços de vanguarda. O filme Brilho eterno de uma mente sem lembranças [Direção: Michel Gondry.
Estados Unidos: Focus Features, Universal Studios, 2004. Streaming (108 min)], com sua narrativa não linear, pode ser associado com a estética cubista, que fragmenta o tempo e a perspectiva. Os vídeos experimentais da cantora e compositora Björk (1965-), os quais muitas vezes brincam com a estética e a narrativa, podem ser relacionados ao Surrealismo. Além da tirinha de Calvin, de Bill Watterson (1958-), reproduzida no Livro do estudante, as histórias em quadrinhos do cartunista Jean Giraud (1938-2012), mais conhecido como Moebius, as quais criam universos visuais únicos e exploram novas formas de contar histórias, também dialogam com as vanguardas artísticas. Peça aos estudantes que pensem em exemplos de filmes ou outras formas de arte que quebram convenções estéticas, como a desconstrução de narrativas, experimentação visual ou temáticas desafiadoras. Mostre como essas características se alinham com o espírito de ruptura e liberdade das vanguardas. Após a reflexão individual, conduza uma discussão em grupo. Incentive os estudantes a compartilhar suas ideias e obras escolhidas, relacionando-as aos movimentos de vanguarda. Pergunte se essas obras desafiam normas estabelecidas e de que forma representam novas perspectivas sobre o ser humano e a sociedade. A atividade deve ajudá-los a perceber que a vanguarda não se restringe ao início do século XX, mas é uma força que continua a influenciar a arte e a cultura contemporâneas.
Estratégias didáticas
A o conduzir a atividade do boxe Ler o mundo (p. 201), explique aos estudantes que o Carnaval, com sua irreverência e liberdade, simbolizava o rompimento com as convenções, algo que os modernistas defendiam para promover uma nova identidade cultural. Para discutir o público dos blocos, na atividade 2 , peça-lhes que reflitam sobre quem costuma frequentar blocos e como o estilo e a temática do bloco podem atrair públicos diferentes. Por exemplo, blocos mais tradicionais tendem a atrair famílias, ao passo que blocos alternativos podem atrair um público jovem ou engajado
em causas sociais. Na atividade 3 , incentive um debate sobre o regramento dos blocos de Carnaval. Pergunte-lhes se acham que regras e até cobrança de ingressos tiram o caráter popular do evento ou se são necessárias para organização. Lembre-se de mencionar que o crescimento dos blocos trouxe questões logísticas, como segurança e espaço, e que isso afeta o acesso popular ao Carnaval. Essa atividade ajudará os estudantes a pensar criticamente sobre o Carnaval como uma manifestação cultural em constante transformação.
Estratégias didáticas
• Para o item a da atividade 7, é evidente que não se espera uma resposta tão complexa quanto a sugerida. Ela serve apenas como referência para você lembrar os estudantes da variedade de instâncias que poderiam estar nessas condições.
Período
Estratégias didáticas
• Antes de iniciar o estudo formal do período composto por coordenação, pergunte aos estudantes se já ouviram falar em “frases compostas” ou “orações coordenadas”. Utilize exemplos simples do cotidiano, como: Estudei pouco, mas fui bem na prova. Fui ao cinema, e depois jantamos fora. Aponte a presença das conjunções (mas, e) nesses exemplos e pergunte-lhes se sabem o que esses conectivos fazem no texto. Peça-lhes que criem períodos usando conectivos, como e, mas, ou. Incentive a troca de exemplos entre os colegas. Com base nas frases deles, explique que o período composto por coordenação é formado por orações que, apesar de conectadas por conjunções, são independentes, ou seja, não dependem uma da outra para fazer sentido. Apresente tipos de coordenação (aditiva, adversativa, entre outras) de forma simplificada. Essa abordagem prática e interativa ajudará a sondar o conhecimento dos estudantes e iniciar o assunto de forma acessível.
Estratégias didáticas
• No desenvolvimento da atividade 7, comente com os estudantes que o uso de orações coordenadas assindéticas no poema cria um efeito de agilidade e rapidez. Esse tipo de construção provoca uma sensação de urgência, de movimento contínuo, como se as ações ou ideias estivessem sendo disparadas uma após a outra, sem tempo para pausas reflexivas. Esse efeito de fluidez e agilidade é comum em poemas que pretendem imitar o fluxo do pensamento ou a velocidade dos acontecimentos. A ausência de conjunções (assíndeto) evita repetições e torna a linguagem mais concisa e direta. Além disso, essa estrutura pode refletir o estado emocional do eu lírico – como a ansiedade, a pressa ou a intensidade do momento que está sendo descrito.
Estratégias didáticas
Para iniciar o estudo proposto nesta seção, explique aos estudantes que, além de organizar a escrita e tornar o texto compreensível, a pontuação pode ser usada para destacar certas partes da mensagem e dar ênfase a elas. Pergunte-lhes se já perceberam que a mesma frase pode transmitir diferentes emoções ou significados dependendo da pontuação. Escreva as seguintes frases no quadro:
Não, eu vou amanhã.
Não! Eu vou amanhã.
Discuta como a vírgula e o ponto de exclamação mudam o tom e a ênfase. Pergunte-lhes: essas frases parecem diferentes para vocês? Por quê? Uma parece mais urgente ou determinada? Explique que a pontuação pode ser uma ferramenta poderosa não só para dar clareza mas também para controlar o ritmo da leitura e destacar emoções ou ideias importantes no texto. Esse uso consciente será aprofundado nesta unidade.
Respostas e comentários
1. a) Chame a atenção dos estudantes para a presença do passado em, por exemplo, referências ao Imperador: “nos tempos de antes de eu nascer…”; do presente quando afirma, por exemplo, “Estou
com desejos de desastres…”; e do futuro ao afirmar “Será o que Nosso Senhor quiser!...”.
Midiateca do professor
• BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 39. ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019. Nessa obra, o autor explora de maneira didática e acessível os principais aspectos da gramática da língua portuguesa, entre eles a utilização correta da pontuação e suas funções na construção do significado.
Estratégias didáticas
• Para conduzir os estudantes na produção do regulamento, inicie explicando a importância de criar regulamentos claros e democráticos em qualquer ambiente coletivo, seja para o uso de espaços comuns, seja para eventos escolares. O objetivo é que os estudantes compreendam o processo de construção de regras justas que atendam às necessidades de todos os envolvidos.
• Comece organizando a turma em grupos e apresentando as seções obrigatórias do regulamento, lembrando-os de que cada grupo será responsável por discutir e redigir uma parte específica. O debate proposto é fundamental para que o regulamento a ser produzido seja resultado de uma reflexão coletiva, e não uma imposição de um pequeno grupo. Atue como mediador, incentivando os estudantes a justificar suas propostas com clareza e a usar a entonação adequada para defender seus pontos de vista de forma persuasiva. Ao acompanhar os trabalhos dos grupos, se perceber que é o caso, oriente-os a incluir exemplos para ilustrar como as regras e os procedimentos devem ser aplicados. Comente com eles que isso ajuda a tornar o texto mais compreensível.
• No Laboratório de produção (p. 215), incentive os estudantes a experimentar a entonação em diferentes contextos, tanto ao argumentar como ao responder a perguntas, destacando a importância da clareza e precisão na comunicação.
• A produção final deve ser coletiva, com a leitura e a discussão de cada seção, para garantir a coesão e a clareza do regulamento como um todo.
Nesta unidade, os estudantes são convidados a analisar a prosa modernista da primeira geração. Por meio dessa análise, vão perceber que os contos e romances passaram a adotar novas técnicas narrativas e a se dedicar a temas sobre o Brasil, sua história e sua identidade, formada pela mistura de diversas culturas. Em seguida, o estudo se volta ao gênero textual projeto editorial, com foco nas intenções das escolhas gráficas feitas pelas mídias em suas publicações. Em análise linguística, vão aprofundar seus conhecimentos sobre o período composto por subordinação, particularmente as orações substantivas, e figuras de sintaxe e de pensamento, compreendendo como essas figuras podem reforçar os sentidos de um texto. A unidade se encerra com a proposta de produção de uma página de entrada de um site voltado ao público adolescente.
Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 4, 5, 9 e 10
Competências específicas de Linguagens e suas
Tecnologias: 1, 2, 3, 4, 6 e 7
Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias
EM13LGG101 EM13LGG102 EM13LGG103 EM13LGG104
EM13LGG202 EM13LGG301 EM13LGG302 EM13LGG401
EM13LGG601 EM13LGG602 EM13LGG604 EM13LGG701
EM13LGG703
• Habilidades de Língua Portuguesa
EM13LP01 EM13LP02 EM13LP03 EM13LP06
EM13LP08 EM13LP14 EM13LP15 EM13LP18
EM13LP37 EM13LP38 EM13LP45 EM13LP48
EM13LP49 EM13LP50 EM13LP52
Todos os campos de atuação social
Campo jornalístico-midiático
Campo artístico-literário
Estratégias didáticas
• Sugere-se iniciar o estudo apresentando o contexto modernista aos estudantes. Explique-lhes que o Modernismo brasileiro, especialmente a partir da Semana de Arte Moderna de 1922, proporcionou uma profunda ruptura nas artes e na literatura, buscando formas de refletir a cultura e a identidade nacional. Obras como as de Tarsila do Amaral (18861973) refletem a busca de um Brasil próprio, que integra elementos indígenas, africanos e europeus. Esse movimento, além das artes visuais, impactou também a prosa e a poesia.
• A obra Cardume (2023), do artista indígena Ziel Karapotó (1994-), utiliza materiais e sons que evocam a cultura indígena (maracás, tarrafa) e a relação com a natureza (resina, paisagem sonora). A tarrafa, rede de pesca artesanal, pode ser interpretada como uma referência direta à subsistência e à conexão ancestral com a terra e o mar, aspectos essenciais de algumas culturas indígenas brasileiras. Explore com os estudantes como a obra resgata e atualiza essa relação com as tradições e como dialoga com uma identidade brasileira em construção.
• Em O batizado de Macunaíma (1956), Tarsila reflete sobre o mito fundacional de Macunaíma, uma figura que reúne elementos de várias etnias brasileiras, especialmente indígenas, mostrando como a identidade nacional é híbrida e marcada por diversas influências. Leve os estudantes a perceber o paralelo entre o uso de referências indígenas tanto nessa obra quanto na de Ziel Karapotó.
• Já Antropofagia (1929), também de Tarsila, representa a ideia de “deglutir” culturas estrangeiras e transformá-las em algo genuinamente brasileiro. Discuta como essa metáfora antropofágica pode ser aplicada também à obra de Ziel, que se apropria de elementos tradicionais para construir uma obra contemporânea. Assim como Tarsila “devora” o modernismo europeu para criar algo novo e brasileiro, Ziel “devora” a tradição indígena para uma recriação artística moderna.
• Incentive os estudantes a refletir sobre como as três obras lidam com a concepção de identidade brasileira, ressaltando que essa identidade não é fixa, mas um
constante processo de transformação e absorção de diferentes culturas e influências, tanto no Modernismo quanto na arte contemporânea. Discuta a importância de resgatar as raízes indígenas e afro-brasileiras para entender essa construção. Na obra de Ziel, os materiais utilizados têm significados simbólicos (a tarrafa como objeto de pesca e sobrevivência, os maracás como instrumentos ritualísticos). Compare essa característica com a escolha de cores e formas em Antropofagia e O batizado de Macunaíma e como cada artista utiliza seus recursos para transmitir uma narrativa cultural e identitária. Explique a eles que, assim como na prosa modernista, que buscava refletir um novo jeito de ser brasileiro, a obra de Ziel também pode ser vista como uma reflexão sobre a continuidade dessa busca de identidade nacional, agora integrada a questões contemporâneas, como a preservação da cultura indígena e a crítica à sua marginalização.
Estratégias didáticas
Comece o estudo do boxe Ler o mundo (p. 220) com uma breve contextualização histórica sobre a formação étnica e cultural do Brasil, destacando a multiplicidade de povos indígenas que habitava o território antes da colonização europeia, a chegada dos negros africanos, como parte do tráfico transatlântico de escravizados, e a migração de diversos outros povos no decorrer dos séculos. Explique aos estudantes que entender essas raízes ajuda a compreender a diversidade cultural brasileira. Para responderem às atividades propostas, organize-os em pequenos grupos. Para a atividade 1, eles podem listar os principais grupos migrantes ao longo da história brasileira (portugueses, italianos, japoneses, sírios, libaneses, entre outros, lembrando que os negros africanos não migraram para o Brasil, mas foram trazidos na condição de escravizados). Peça aos grupos que reflitam sobre as contribuições culturais, sociais e econômicas de cada um desses povos. Para a atividade 2, incentive-os a pesquisar sobre a história da migração na sua região. Eles podem entrevistar familiares ou usar fontes históricas locais. Discuta com eles sobre
se houve um grupo específico que migrou em maior número para a região e os motivos disso (econômicos, políticos, ambientais). Para a atividade 3, sugere-se pedir aos estudantes que investiguem as origens de seus antepassados como atividade extraclasse e, depois, compartilhem suas descobertas em sala, refletindo sobre sua identidade cultural. Promova uma discussão sobre como essa multiplicidade étnica revela a formação cultural do Brasil, destacando a importância da diversidade cultural na identidade brasileira e como essas influências ainda moldam nosso cotidiano e visão de mundo.
Midiateca do estudante
• O POVO brasileiro [série]. Direção: Isa Grinspum Ferraz. São Paulo: TV Cultura, 2000. Streaming (300 min). Baseada na obra de Darcy Ribeiro. O documentário, composto de 10 episódios de 30 minutos, baseia-se na obra homônima de Darcy Ribeiro, antropólogo brasileiro que explora a formação étnica e cultural do Brasil. A direção de Isa Grinspum Ferraz apresenta as ideias de Ribeiro de maneira didática e visual, refletindo sobre os elementos indígenas, africanos e europeus que compõem a identidade brasileira.
221)
Estratégias didáticas
• Para trabalhar o trecho do romance A chave de casa, de Tatiana Salem Levy (1979-), é importante criar uma ponte entre a experiência de leitura e as discussões sobre identidade, memória e imigração. A obra trata de questões profundas sobre a busca pelas raízes, as conexões familiares e o processo de descoberta pessoal por meio da história dos antepassados. Explique aos estudantes que o romance é uma obra de autoficção, um gênero no qual as fronteiras entre a realidade e a ficção se confundem, pois misturam-se as memórias da autora com elementos ficcionais (veja mais informações sobre autoficção em Formação continuada, a seguir). Contextualize brevemente o pano de fundo histórico da narrativa, mencionando como muitos judeus, após serem expulsos da Península Ibérica no século XV, espalharam-se por diversas regiões, incluindo a Turquia, e como a memória dessa migração ainda reverbera nas gerações seguintes. Comente que a obra não é apenas sobre a busca de um lugar
físico mas também sobre a busca de si mesmo e de como as histórias familiares podem moldar quem se é. Incentive os estudantes a pensar em como a literatura pode ser uma forma de preservação e transformação das memórias familiar e cultural.
• Para o item b da atividade 6, reitere aos estudantes que a narração em primeira pessoa permite uma proximidade maior com os pensamentos e sentimentos da personagem. A comparação com o solilóquio, recurso típico do teatro em que a personagem fala consigo mesma em voz alta, revela um caráter introspectivo e íntimo na narrativa. Isso faz com que os leitores acessem diretamente as reflexões mais profundas da narradora, sem filtros ou interferências externas. Pergunte aos estudantes como esse estilo narrativo os faz sentir em relação à personagem. Eles se sentem mais próximos dela? Entendem melhor suas emoções e dilemas? Discuta sobre como esse monólogo interior intensifica as questões de identidade, pertencimento e memória que a narradora enfrenta. Incentive-os a identificar momentos em que as reflexões revelam aspectos da personalidade ou das dúvidas internas da personagem. Esse recurso ajuda a criar uma conexão emocional com o leitor, permitindo que ele compreenda as angústias e o processo de autodescoberta da narradora de forma mais intensa e pessoal.
Formação continuada
O conceito de autoficção apresenta-se ainda marcado por indefinições, não havendo consenso no campo da teoria literária. Segundo Anna Faedrich, em seu artigo “O conceito de autoficção: demarcações a partir da literatura brasileira contemporânea” (disponível em: https://periodicos.fclar.unesp.br/itinerarios/ article/view/8165; acesso em: 16 out. 2024), é importante diferenciar a autoficção da autobiografia e do romance autobiográfico. Na autoficção, há um rompimento de pacto com o leitor do princípio da veracidade (autobiografia) e do princípio da invenção (romance autobiográfico), proporcionando uma construção textual marcada pela ambiguidade, na qual se mesclam veracidade e ficção. A mistura entre realidade e ficção também está presente em romances históricos e autobiográficos, porém o que os diferencia dos textos autoficcionais é a intenção deliberada do autor em não definir os limites entre o real e o ficcional, provocando o leitor a uma recepção contraditória da obra.
Estratégias didáticas
• Para trabalhar as atividades propostas no boxe O X da questão (p. 223), promova um ambiente de diálogo e reflexão, utilizando a dinâmica de perguntas e discussões para fomentar o pensamento crítico e a análise literária por parte dos estudantes. Relembre brevemente os aspectos centrais da prosa do final do século XIX e do início do século XX, destacando a ruptura modernista com os padrões literários anteriores. Explique que o Modernismo trouxe uma nova forma de pensar e representar o Brasil, marcada pela experimentação estética e pela diversidade cultural do país. Para o trabalho com as atividades do Para lembrar, ao discutir as características da prosa do final do século XIX, peça aos estudantes que se lembrem de autores como Machado de Assis (1839-1908) e Aluísio Azevedo (1857-1913). Explique-lhes que essa prosa era marcada pelo Realismo e o Naturalismo, com foco na análise social, descrição objetiva da realidade e temas como a desigualdade e a hipocrisia social. Para abordar as vanguardas artísticas do início do século XX, comente que movimentos como o Futurismo (que exaltava a modernidade e a velocidade) e o Surrealismo (que explorava o inconsciente e o irracional) influenciaram profundamente a literatura e as artes visuais, levando à experimentação e à liberdade criativa. Para o trabalho com a atividade 1 do Para discutir, incentive os estudantes a pensar na influência da diversidade cultural do Brasil na produção literária do Modernismo. Oriente-os a refletir sobre como diferentes tradições – indígenas, africanas, europeias – foram incorporadas nas obras literárias para criar uma nova narrativa que representasse a identidade plural do país. Ajude-os a formular hipóteses citando exemplos de autores modernistas como Mário de Andrade (1893-1945), que, em Macunaíma, uniu mitos indígenas e afro-brasileiros com influências europeias. Esse tipo de mescla cultural pode ter refletido a complexidade do Brasil da época. Para a atividade 2, promova uma discussão sobre como os milhões de imigrantes que chegaram ao Brasil entre 1889 e 1930 impactaram a cultura brasileira. Peça aos estudantes que pensem
em como essas culturas estrangeiras (de italianos, alemães, japoneses, entre outros) trouxeram novas tradições, manifestações culturais e modos de vida e como isso pode ter influenciado a literatura, a música, a arquitetura e o cotidiano brasileiro. Explique-lhes que a cultura brasileira passou a incorporar elementos dessas culturas, como a culinária, as festas típicas, as formas de trabalho e as crenças religiosas, o que enriqueceu a produção cultural e artística do país. Dê exemplos de bairros de imigrantes em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, que se tornaram centros culturais vibrantes.
Midiateca do estudante
MACUNAÍMA. Direção: Joaquim Pedro de Andrade. Brasil: Difilm, Filmes do Serro, 1969. Streaming (108 min).
Adaptação do livro homônimo de Mário de Andrade. Contando com memoráveis interpretações de Grande Otelo e Paulo José, o filme ganhou o prêmio máximo do Festival Internacional de Cinema de Mar del Plata e marcou o cinema nacional, pois permitiu várias interpretações políticas em um contexto de ditadura civil-militar.
Estratégias didáticas
Para o desenvolvimento do boxe Hiperlink (p. 228), explique brevemente aos estudantes o papel de Antônio de Alcântara Machado (1901-1935) no Modernismo brasileiro, destacando a importância de sua obra Brás, Bexiga e Barra Funda (1927) como um retrato da vida dos imigrantes italianos em São Paulo no início do século XX. Apresente o contexto histórico da imigração e da urbanização de São Paulo e sugira que selecionem um dos contos dessa obra para ler e destacar recursos estéticos, como o uso de uma linguagem mais simples e coloquial, as descrições diretas e os diálogos vivos, que refletem a fala dos imigrantes italianos. Explique-lhes a importância de identificar características da estética modernista, como o foco no cotidiano, o humor irônico e a ruptura com os padrões literários tradicionais. Organize uma sessão em que cada estudante ou grupo compartilhe o enredo do conto escolhido com a turma, ressaltando os aspectos estéticos, os temas e as conexões com o Modernismo. Após cada apresentação, promova uma discussão
em sala, incentivando a turma a fazer perguntas e a comparar as diferentes histórias e personagens apresentadas. Finalize a atividade ressaltando como a obra de Alcântara Machado não só reflete a realidade de São Paulo no início do século XX mas também revela as principais características do Modernismo brasileiro, como a representação das novas dinâmicas sociais e a inovação estética. Essa atividade promove uma leitura crítica e colaborativa, em que os estudantes podem exercitar suas habilidades de análise e apresentação, além de ampliar seu entendimento sobre o Modernismo e a imigração no Brasil.
• Para conduzir as atividades do boxe Ler literatura (p. 233), comece apresentando os conceitos centrais, como a valorização da cultura brasileira nas obras modernistas, especialmente na poesia pau-brasil, de Oswald de Andrade (1890-1954). É interessante abordar como a diversidade cultural do Brasil, mencionada no manifesto, foi incorporada de forma inovadora na literatura e em outros movimentos artísticos, como o Tropicalismo. Durante a discussão, incentive os estudantes a refletir sobre a ideia de “deglutição” cultural – a maneira como o Brasil absorve influências externas e as transforma em algo único. Para isso, proponha um paralelo com exemplos contemporâneos da música ou da arte, incentivando uma comparação entre as propostas modernistas e as obras atuais que dialogam com as identidades nacionais e culturais. Para o questionamento do Para ler, incentive os estudantes a refletir sobre a inclusão de diferentes falares na literatura, desmistificando a ideia de que o uso da língua “sem erudição” empobrece a obra. Proponha uma análise de textos que utilizam esse recurso para que identifiquem os valores estéticos e linguísticos presentes. Para o questionamento do Para discutir, oriente uma discussão sobre a importância das literaturas identitárias, destacando o poder de transformação social que elas apresentam. É interessante que os estudantes tragam exemplos de obras que já conhecem e discutam como a inclusão de temas como racismo e feminismo abre novas perspectivas tanto na produção literária quanto no impacto que essas obras têm na sociedade. Esse diálogo pode ser enriquecido ao explorar como a literatura é uma ferramenta de visibilidade e voz para grupos marginalizados, promovendo mudanças no modo como as questões sociais são vistas e tratadas culturalmente.
lEITURA: PROJETO
EDITORIAl
Estratégias didáticas
• A o conduzir a proposta do boxe Ler o mundo (p. 234), destaque o papel das revistas e dos jornais como fontes principais de informação durante o primeiro Modernismo. Ressalte como, naquela época, a mídia impressa era o único meio de difusão de ideias culturais e sociais e como isso influenciou a produção literária. A comparação com os dias atuais, em que se tem uma vasta gama de mídias, tanto físicas quanto digitais, pode engajar os estudantes. Na atividade 1, incentive-os a refletir sobre seus hábitos de leitura. Pergunte-lhes se consomem notícias em jornais ou revistas impressos, ou se preferem mídias digitais. Dê exemplos de como a leitura digital pode ser conveniente, mas a mídia impressa ainda tem valor por sua longevidade e estilo. Se achar oportuno, lembre aos estudantes que gêneros como HQ circulam em bancas de revista, mas vêm ganhando status literário ou artístico, dependendo do tema, da qualidade das ilustrações e da edição, passando também a ser vendidos em livrarias. A discussão permite constatar que os limites de um gênero não são nem absolutos nem definitivos. Ao discutir a atividade 2, peça-lhes que listem temas que gostariam de ver mais discutidos na mídia, como esportes, tecnologia, questões sociais ou cultura pop. Sugira-lhes que pesquisem se esses temas são abordados em publicações tanto impressas quanto digitais. Uma sugestão seria comparar revistas como a Carta Capital com plataformas digitais de notícias como o The Intercept. Na atividade 3, ajude-os a refletir sobre os critérios que utilizam para escolher uma publicação. Podem ser fatores como confiabilidade, estilo de escrita ou o tipo de análise que a publicação oferece. Exemplifique com revistas ou jornais conhecidos pela sua credibilidade e outros que podem não ter o mesmo rigor. Promova uma discussão sobre a importância de buscar fontes confiáveis e de qualidade na leitura de notícias. Nessa abordagem inicial do tema, vale a pena estimular o senso crítico dos estudantes ao comentar quais fontes de informação são confiáveis ou não, de maneira a identificar entre eles se há consumo de fontes não confiáveis, como os sites caça-cliques, hiperpartidarizados, entre outros.
• Para o item c da atividade 6, explique aos estudantes que as revistas oferecem algumas matérias gratuitas como forma de atrair leitores. Isso permite que um público mais amplo tenha acesso ao conteúdo e desperte seu interesse pela publicação. O objetivo é mostrar a qualidade e a relevância das matérias, incentivando os leitores a se engajarem mais e, eventualmente, tornarem-se assinantes para acessar o conteúdo completo e exclusivo. Além disso, ao manter parte do conteúdo aberto, as revistas podem atrair mais tráfego para seus sites, o que também pode gerar receita por meio de anúncios. Essa estratégia se apoia no conceito de “modelo freemium”, comum em várias indústrias digitais, em que uma parte do produto ou serviço é oferecida gratuitamente para gerar visibilidade e engajamento. Em alguns grandes portais de notícias, é possível ver como essa prática funciona em diferentes áreas. Alguns exemplos são os jornais Folha de S.Paulo, O Globo e The New York Times, que limitam o número de artigos gratuitos mensais. Isso pode criar uma relação de fidelidade, em que o leitor começa a depender daquela fonte de informação e acaba optando pela assinatura para acessar mais conteúdo.
Estratégias didáticas
• Para iniciar o estudo do período composto por subordinação, particularmente as orações substantivas, e sondar os conhecimentos prévios dos estudantes, apresente exemplos simples do cotidiano que tenham esse tipo de estrutura, sem explicar inicialmente o conceito técnico, como estes períodos: “Eu espero que você venha à aula amanhã” ou “É importante que todos participem da atividade”. Peça-lhes que observem como esses períodos são construídos e questione: vocês percebem que há duas ideias conectadas? Qual é a função dessas partes do período?
A ideia é fazer com que os estudantes, de maneira intuitiva, percebam que há uma relação de dependência entre as orações. Pergunte-lhes se já ouviram falar em “orações principais” e “orações subordinadas” e o que eles entendem por essas expressões. Incentive-os a compartilhar seus pensamentos,
mesmo que de forma incompleta ou pouco elaborada, para que você possa avaliar que nível de compreensão eles têm sobre o tema. Com base nas respostas, apresente de forma simples o conceito de orações subordinadas substantivas, explicando que elas dependem de outra oração para terem sentido completo e têm a mesma função de substantivos no período. Dessa forma, ativa-se o conhecimento prévio de modo natural, preparando-os para o estudo mais formal e estruturado dessas orações.
Estratégias didáticas
Para iniciar os estudos desta seção, é importante que os estudantes entendam que as figuras de sintaxe e de pensamento são recursos estilísticos usados para dar mais expressividade à linguagem. As figuras de sintaxe (ou de construção) estão relacionadas à forma como as palavras e frases são organizadas, ao passo que as figuras de pensamento dizem respeito às ideias que são expressas, criando efeitos de sentido. Comece explicando que as figuras de sintaxe subvertem propositalmente a estrutura gramatical prescrita pela norma-padrão sem, no entanto, comprometer a compreensão da mensagem. Um primeiro exemplo de figura de sintaxe é a elipse, que se caracteriza pela omissão de uma palavra ou expressão enunciada ou sugerida anteriormente e que é subentendida no contexto, como em “Fomos ao parque e depois ao cinema” (a forma verbal fomos foi omitida na segunda parte, mas é possível compreender o sentido global da frase). Outro exemplo de figura de sintaxe é o hipérbato, que altera a ordem habitual das palavras na frase para dar destaque a um elemento: “Doce, a manhã estava” em vez de “A manhã estava doce”. Já as figuras de pensamento lidam com o conteúdo da mensagem e criam efeitos de sentido mais subjetivos. Comente que a ironia, por exemplo, ocorre quando se afirma algo, mas o verdadeiro sentido é o contrário do que foi dito, como em: “Que ótimo, mais uma prova surpresa!”. Nessa frase, claramente, a pessoa não está feliz com a situação. Outro exemplo de figura de pensamento é a antítese, que consiste em aproximar ideias opostas com a intenção de reforçar o contraste entre elas, como em: “O amor e o ódio caminham juntos”. Utilizando exemplos do cotidiano e de textos literários, é possível mostrar como esses recursos enriquecem a linguagem, tornando-a mais envolvente e criativa. Essas figuras são comuns tanto na fala quanto na escrita e ajudam a construir significados mais complexos, proporcionando maior conexão emocional e reflexiva para quem lê ou ouve.
Estratégias didáticas
• O riente os estudantes a começar planejando o leiaute da página de entrada do site, pensando em como torná-la visualmente atraente e acessível ao público adolescente. Eles devem selecionar notícias relevantes e recentes da região, considerando o que interessa a jovens, como eventos culturais, esportes, tecnologia e entretenimento. Incentive-os a usar linguagem clara, direta e envolvente, além de elementos visuais como imagens, ícones e cores vibrantes que dialoguem com o estilo moderno. Por fim, peça-lhes que compartilhem suas páginas, explicando as escolhas feitas e como elas podem atrair o público jovem.
• Para o boxe Laboratório de produção (p. 249), proponha uma conversa inicial sobre a importância da organização textual e gráfica em ambientes digitais. Explique-lhes que, na internet, a hierarquização dos elementos não é apenas uma questão de estética, mas uma forma de facilitar o entendimento e a navegação dos leitores. Convide os estudantes a pensar em exemplos reais, como sites que visitam frequentemente, e a refletir sobre como a disposição de títulos, subtítulos, imagens e textos afeta a experiência de leitura. Sugira que comecem pela escolha de um tema que queiram destacar na página e trabalhem o título principal de forma a ser chamativo, com dicas como a utilização de cores contrastantes e tamanho maior, conforme proposto. Em seguida, os subtítulos devem ser claros e ajudar a dividir o conteúdo, facilitando a navegação. O uso de exemplos práticos durante a produção, como uma análise conjunta de sites reais, pode ser uma boa forma de demonstrar a importância de cada escolha gráfica e textual.
• Depois de produzir suas páginas, os estudantes podem compartilhar os resultados com os colegas, discutindo o impacto das variações no design, como mudanças nas cores ou na disposição dos elementos. Incentive essa troca de ideias ao destacar que a experimentação é parte do processo criativo e que diferentes públicos podem reagir de forma distinta às mudanças visuais e de organização.
Nesta unidade, os estudantes analisarão o teatro do início do século XX e perceberão como alguns escritores do Modernismo mantinham um olhar crítico para as novas relações sociais que se estabeleciam, confrontando a burguesia industrial que se consolidava no país. Terão contato com a transcrição de cenas de um documentário e com base nelas poderão inferir como se estrutura o roteiro desse gênero audiovisual. No que se refere aos conhecimentos linguísticos, aprofundarão o período composto por subordinação, com foco nas orações adjetivas, assim como as formas de expressar atributos, de modo a perceber que esse recurso torna a leitura mais rica em sentidos. Também estudarão o gênero esquete, suas características e estrutura. Além disso, vão roteirizar, produzir e compartilhar um esquete filmado, com todos os componentes do gênero: trilha sonora, vinheta de abertura e final, sonoplastia, iluminação, cenário, figurinos. Para tanto, terão de lidar com a gravação e a edição de imagens.
Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 5, 6, 7, 9 e 10
Competências específicas de Linguagens e suas
Tecnologias: 1, 2, 3, 4, 6 e 7
Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias
EM13LGG101 EM13LGG102 EM13LGG104 EM13LGG201
EM13LGG202 EM13LGG204 EM13LGG301 EM13LGG302
EM13LGG303 EM13LGG304 EM13LGG305 EM13LGG401
EM13LGG601 EM13LGG602 EM13LGG603 EM13LGG604
EM13LGG701 EM13LGG703
• Habilidades de Língua Portuguesa
EM13LP01 EM13LP02 EM13LP03
Todos os campos de atuação social Campo de atuação na vida pública
Campo artístico-literário
Estratégias didáticas
• Para conduzir o olhar dos estudantes na apreciação do desenho de Hélio Eichbauer (1941-2018) feito para o cenário de O rei da vela – montagem de 1967, comentada e ilustrada no boxe Saiba mais (p. 261) –, explique que essa obra reflete as transformações estéticas no teatro brasileiro do século XX, especialmente influenciado pelas vanguardas. O cenário, assim como a peça dirigida por José Celso Martinez Corrêa (1937-2023), dialoga com o contexto político e social da época, fazendo críticas à decadência da aristocracia rural e ao poder econômico emergente. Além da montagem realizada em 1967, representada pelo desenho do cenário, as fotografias da seção mostram ainda duas outras montagens, uma de 2017 e uma de 2018. Destaque, portanto, a longevidade da peça e a forma como seu impacto permanece relevante, mesmo em diferentes contextos históricos. O teatro, que começou no Brasil durante a colonização, evoluiu do teatro realista e naturalista, que servia a uma elite rural, para um teatro de vanguarda, como O rei da vela, que rompe com as tradições e questiona a sociedade. Incentive os estudantes a perceber como o cenário de Eichbauer, com sua estética inovadora e provocativa, contribuiu para contar essa história de ruptura e crítica social, que continua a ser reinterpretada em montagens contemporâneas, como a dos Parlapatões, em 2018.
• MOSTAÇO, Edélcio. Teatro e política: Arena, Oficina e Opinião. São Paulo: Proposta, 1982.
EM13LP50 EM13LP52
A obra permite entender o papel transformador do teatro brasileiro no século XX, especialmente nos contextos político e social. O autor analisa a atuação dos grupos teatrais Arena, Oficina e Opinião, destacando suas rupturas com o teatro tradicional e sua conexão com as vanguardas. Mostaço explora como esses grupos incorporaram críticas sociais e estéticas inovadoras em suas montagens, tornando o teatro um espaço de reflexão política e cultural.
Estratégias didáticas
• Sugere-se conduzir as atividades do boxe Ler o mundo (p. 254) como uma roda de conversa participativa, em que cada estudante tenha espaço para expor sua visão sobre os temas propostos, respeitando a pluralidade de opiniões. Comece contextualizando a importância do reconhecimento da diversidade e da pluralidade como elementos centrais de uma sociedade democrática, destacando que o direito de voz é fruto de longas lutas sociais, como as travadas pelos movimentos negro, feminista, LGBTQIAPN+ e indígena. Ao iniciar o debate sobre as minorias historicamente silenciadas, incentive os estudantes a refletir sobre grupos cujas narrativas foram tradicionalmente excluídas, como os povos originários e as pessoas com deficiência, fornecendo exemplos contemporâneos de como esse cenário está sendo revertido. Incentive-os a propor maneiras de garantir essa voz ativa, como por meio de políticas afirmativas e educação inclusiva, e, ao rever episódios históricos, convide-os a explorar como a perspectiva dessas minorias pode ressignificar eventos que conhecemos, promovendo uma nova compreensão do passado e do presente.
Ao apresentar o roteiro teatral Makunaimã: o mito através do tempo , comente com os estudantes que sua autoria é coletiva, resultado das discussões feitas em agosto de 2019, no evento Makunaimã: o mito através do tempo, realizado nas quatro casas da organização social Poiesis – Instituto de Apoio à Cultura, à Língua e à Literatura, de São Paulo. Todos os participantes puderam colaborar com a produção e revisão do texto final.
Estratégias didáticas
• Para a atividade 1, comente com os estudantes que a diversidade dos participantes do evento trouxe uma riqueza de perspectivas ao debate sobre o livro Macunaíma. Explique que os indígenas podem oferecer uma visão cultural e espiritual única, conectando-se diretamente às tradições mitológicas, enquanto antropólogos e acadêmicos analisam o impacto
sociocultural e histórico dessas narrativas. Já os artistas e intelectuais podem explorar as interpretações criativas e estéticas da obra. Essas diferentes visões complementam a compreensão da obra, enriquecendo o diálogo sobre a mitologia indígena e sua relevância na construção da identidade cultural brasileira.
• Para o item c da atividade 2, ressalte para os estudantes que, no roteiro da peça Makunaimã, o escritor modernista Mário de Andrade (1893-1945) figura como personagem. Destaque que esse roteiro não é um caso único; há outros textos de ficção em que escritores se tornam personagens. Exemplifique com o livro A vida futura, comentado no boxe Saiba mais (p. 257). Nesse livro, as personagens principais são dois escritores consagrados da literatura brasileira: Machado de Assis e José de Alencar.
Estratégias didáticas
• Para trabalhar as atividades propostas no boxe O X da questão (p. 258), comece revisitando as características da comédia de costumes do século XIX, explicando que essas peças satirizavam os hábitos e valores da elite, porém sem confrontá-los de maneira profunda. Então, sugira aos estudantes que, em duplas, reflitam sobre como os modernistas romperam com essa tradição ao escrever peças que criticavam as elites e abordavam temas como a industrialização, as desigualdades sociais e a imigração, que moldavam o Brasil da época. Incentive-os a formular hipóteses sobre os temas dessas peças, como a exploração dos trabalhadores, o conflito entre o campo e a cidade ou as mudanças trazidas pela modernização. Para aprofundar o debate, proponha uma atividade criativa, pedindo aos estudantes que imaginem como seria uma peça escrita nos dias de hoje, quais problemas sociais ou políticos eles gostariam de abordar e quem seriam as personagens principais. Dê exemplos de questões contemporâneas, como desigualdade, tecnologia digital, inteligência artificial ou questões ambientais, para inspirar a discussão e a criação dos roteiros. Isso permitirá que os estudantes façam paralelos entre o teatro modernista e a realidade atual, reconhecendo como o teatro pode ser uma ferramenta crítica e transformadora.
Estratégias didáticas
• Depois de trabalhar o boxe conceito (p. 260), sugere-se que, como encerramento das análises dos trechos apresentados, os estudantes discutam se concordam com o que diz a atriz Denise Fraga no trecho a seguir. Peça-lhes que justifiquem seus pontos de vista.
O teatro tem o poder de nos tirar de nossa solidão e nos fazer enxergar-nos como parte de um todo. Ele nos traz a noção de pertencimento. Todos sofremos. Digo que quem sofre com arte sofre melhor, na companhia e cumplicidade dos poetas.
CODEÇO, Fábio. Denise Fraga comemora 40 anos de carreira e estrela peça com Tony Ramos. Veja São Paulo, São Paulo, 26 abr. 2024. Disponível em: https://vejasp.abril.com.br/ cultura-lazer/denise-fraga-40-anos-carreira-peca-tonyramos#google_vignette. Acesso em: 21 out. 2024.
No item c da atividade 7 , remeta os estudantes ao glossário (p. 262), para que eles percebam a abundância de termos em francês usados pelas personagens da peça Eva: a propósito de uma menina original (1915), do escritor e jornalista carioca João do Rio (1881-1921). O amor aos francesismos era típico das elites até o início do século XX. Posteriormente, a cultura francesa seria substituída pela cultura estadunidense, acompanhando a ascensão dos Estados Unidos ao status de superpotência a partir do fim da Segunda Guerra Mundial. No trabalho com o boxe Hiperlink (p. 263), sugere-se começar explicando que o teatro de revista, com sua estrutura de quadros curtos e dinâmicos, é semelhante a algumas produções de entretenimento contemporâneas, como programas de humor na TV ou conteúdos em redes sociais. Incentive os estudantes a refletir sobre como o formato de quadros curtos facilita a abordagem de uma variedade de temas, permitindo que assuntos sérios ou polêmicos sejam tratados de forma leve e acessível. O humor, por sua vez, pode servir como uma ferramenta poderosa para suavizar críticas sociais e políticas, tornando as discussões mais palatáveis e ampliando o engajamento do público. Sugira aos estudantes que observem como a música e a dança, assim como ocorre no teatro de revista, têm um papel central em atrair um público maior. Esquetes do grupo Porta dos Fundos podem ser usados para
ilustrar como esse formato com humor continua sendo uma maneira relevante de crítica social. Ao longo da discussão, incentive os estudantes a fazer conexões entre essas formas de entretenimento e as produções contemporâneas que consomem, ampliando o entendimento deles sobre como essas influências ainda estão presentes no cenário atual.
Estratégias didáticas
• No trabalho com o boxe Ler literatura (p. 266), o objetivo é que os estudantes desenvolvam a habilidade de ler um roteiro com intencionalidade prática, visando à montagem de um espetáculo. Não se espera que decidam tudo em detalhes, mas que considerem ideias gerais para perceberem que existe um grande caminho entre a escrita de um roteiro de teatro e a peça levada ao palco. Se os estudantes mostrarem interesse, proponha a leitura dramática do trecho que escolheram, definindo quem interpreta qual personagem e o narrador (se houver); podem incluir sonoplastia na leitura e escolher algum adereço para caracterização das personagens.
Estratégias didáticas
• A pesquisa sugerida ao final da seção pode se concentrar em cenários premiados, como os do Prêmio Shell e APCA, que muitas vezes vão além da simples estética e tornam-se parte fundamental da interpretação da peça. A pesquisa pode envolver entrevistas ou críticas teatrais sobre cenários que inovam no uso do espaço cênico, na iluminação ou na disposição dos elementos no palco, e como essas inovações ajudam a construir sentidos e emoções no espectador. Ao responder às atividades, os estudantes podem citar cenários que utilizam metáforas visuais – como um palco inclinado para representar a instabilidade emocional das personagens – ou elementos interativos que aproximam o público da narrativa, ampliando as possibilidades interpretativas.
• Ao comentar o boxe Saiba mais (p. 267), explique aos estudantes que o teatro, enquanto espaço físico, pode influenciar e até mesmo ser um componente central na construção de uma narrativa
literária, como ocorre no antológico conto de Borges (1899-1986) “Tema do traidor e do herói”, em que o teatro não é apenas o cenário do assassinato, mas um local que simboliza a manipulação da própria história como espetáculo.
Estratégias didáticas
Ao conduzir as atividades do boxe Ler o mundo (p. 268), inicie a discussão criando um espaço acolhedor para que os estudantes compartilhem suas aspirações profissionais. Na atividade 1 , ao perguntar sobre as profissões desejadas, é importante ressaltar que os interesses podem mudar ao longo do tempo, explicando que isso faz parte do processo de amadurecimento. Dê exemplos de profissões variadas e discuta como as mudanças no mercado de trabalho, entre as quais o avanço da tecnologia, podem influenciar as escolhas profissionais. A atividade 2, que envolve a avaliação das possibilidades, pode ser discutida de forma prática. Sugira aos estudantes que reflitam sobre as habilidades e os conhecimentos que já possuem e quais precisam desenvolver. Para exemplificar, pode-se citar a necessidade de estudar determinadas áreas, como ciência ou comunicação, para determinadas profissões. Na atividade 3, ao falar sobre as ações que dependem deles, incentive-os a pensar em pequenas metas diárias, como se dedicar aos estudos, participar de atividades extracurriculares ou procurar estágio. Nesse momento, é interessante mostrar aos estudantes exemplos de figuras públicas ou pessoas que superaram desafios para alcançar seus sonhos profissionais. Por fim, na atividade 4, é fundamental refletir sobre como a realização de um sonho profissional também depende de apoio externo. Explique que, muitas vezes, para que o desejo se concretize, é necessário o suporte de instituições de ensino, mentores, programas de bolsas de estudo ou até mesmo redes de contatos. Uma sugestão é promover uma discussão sobre como os
estudantes podem procurar essas oportunidades e como as parcerias com pessoas e instituições são importantes no desenvolvimento da carreira deles.
• No item a da atividade 4, explique aos estudantes que um documentário exige dois tipos de roteiro, um antes das filmagens e outro depois da conclusão das filmagens. Por exemplo, um hipotético documentário sobre a situação da economia brasileira em determinado momento histórico pode incluir uma entrevista com o ministro da Fazenda, acompanhada de uma lista de questões para essa entrevista. No entanto, pode acontecer de o ministro se negar a conceder a entrevista, por isso ela não estará disponível no material filmado. O roteiro pós-filmagens lida com os vídeos efetivamente existentes e determina a exata minutagem de cada vídeo que deverá ser aproveitada pelo montador do documentário. Ao sistematizar a atividade 4, explique aos estudantes que os roteiros de teatro ou de filmes de ficção registram, por meio da descrição de cenas, das rubricas e das falas, o enredo a ser encenado ou filmado. Em um documentário, o roteiro não busca reproduzir um enredo, mas compor um recorte do real com determinada intencionalidade. Por isso, o roteiro de um documentário apresenta um argumento inicial do filme e um percurso de pesquisa e filmagens. Cabe ao roteirista elaborar as perguntas para os entrevistados, quando previstos, guiar a direção das entrevistas, além de sugerir direcionamentos não esperados pelo roteiro ao longo das filmagens, bem como imagens secundárias que vão compor o filme na montagem final.
Período composto por subordinação (p. 274)
Estratégias didáticas
• Para iniciar os estudos sobre o período composto por subordinação, com foco nas orações adjetivas, comece fazendo uma sondagem dos conhecimentos
prévios dos estudantes, perguntando se já conhecem frases em que uma oração funciona como uma “descrição” ou “característica” de algo. Um exemplo seria usar frases cotidianas, como “O livro que eu comprei é interessante” ou “As pessoas que estudam bastante têm melhores resultados”. Com base nessas frases, pergunte-lhes se conseguem identificar qual parte da frase está “qualificando” ou “explicando melhor” um substantivo. A ideia é que eles percebam que essas orações subordinadas adjetivas funcionam de maneira semelhante a um adjetivo, trazendo uma informação adicional sobre algo. Um bom caminho é fazer com que eles deem seus próprios exemplos, usando frases que conhecem ou criando algumas. Com base nisso, é possível apresentar formalmente o conceito de oração adjetiva, explicando que esse tipo de oração está sempre relacionado a um substantivo ou pronome que aparece na oração principal. Dê exemplos de como essas orações adjetivas podem ser restritivas, especificando algo, ou explicativas, trazendo uma informação extra. Assim, a sondagem dos conhecimentos prévios pode ser enriquecida com a construção coletiva de exemplos, mostrando aos estudantes que eles já usam essas estruturas no cotidiano, mesmo que ainda não tenham formalizado seu entendimento. Isso ajuda a preparar o terreno para o estudo mais aprofundado.
Para as atividades 2, 3 e 4, retome com os estudantes a diferença entre pronome relativo e conjunção integrante. As conjunções integrantes, como que e se, introduzem orações subordinadas substantivas, funcionando como conectivo que integra uma oração subordinada à principal, sem exercer função sintática dentro da subordinada. Por exemplo: em “Espero que você venha”, a conjunção que introduz a oração subordinada “você venha”. Já os pronomes relativos, como que, cujo, onde, entre outros, substituem um termo anterior (antecedente) e introduzem uma oração subordinada adjetiva. Por exemplo: em “O livro que eu li é interessante”, o pronome relativo que se refere a livro (antecedente) e introduz uma oração subordinada adjetiva.
• BE CHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 39. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019.
Nessa obra, Bechara aborda de maneira aprofundada o período composto por subordinação, destacando as orações adjetivas, que atuam como modificadoras de um termo antecedente, geralmente um substantivo. O autor diferencia as orações adjetivas restritivas e explicativas, detalhando como cada uma delas impacta o significado do período.
Estratégias didáticas
• Ao ler com os estudantes o trecho da reportagem “Bookstagramers: influencers de livros espalham literatura no Instagram” (p. 277), pergunte aos estudantes se eles concordam com esta opinião da autora: “Falar de leitura em espaços como as redes sociais, que são massivos por natureza, contribui bastante para a formação de novos leitores e leitoras”. Espera-se que eles reconheçam que a divulgação da literatura em mídias mais acessadas por jovens contribui para conquistar novos leitores, mas não é a única possibilidade de formação de público. Relembre aos estudantes que a resenha tem como principal característica a análise crítica de uma obra, que pode ser um livro, um filme, uma peça de teatro, um álbum musical, entre outros. Ela apresenta uma descrição sucinta da obra, seguida de uma avaliação pessoal que justifica a opinião do autor da resenha. Além disso, a resenha deve destacar pontos relevantes, como o enredo, as personagens, o estilo e o contexto da obra, utilizando uma linguagem clara e objetiva. Seu objetivo principal é informar o leitor sobre o conteúdo da obra, ao mesmo tempo que oferece uma análise que ajude o público a formar a própria opinião sobre o material resenhado.
Estratégias didáticas
• Ao trabalhar o boxe Saiba mais (p. 279), resgate o que já foi conversado sobre o assunto na seção de literatura e pergunte aos estudantes se eles notam a permanência dessa influência da cultura francesa no Brasil de hoje ou se ela foi substituída por alguma outra influência.
Estratégias didáticas
• Inicie a atividade 1 perguntando aos estudantes se já ouviram falar do termo capacitismo e como
entendem esse conceito. Então, explique que capacitismo se refere à discriminação e ao preconceito contra pessoas com deficiência, muitas vezes manifestados de forma sutil, inclusive em expressões cotidianas que perpetuam estigmas. Convide os estudantes a refletir sobre como o uso dessas expressões pode reforçar desigualdades e ressalte a importância de uma linguagem mais inclusiva, que respeite as diferenças e valorize a dignidade de todos.
• Converse com os estudantes sobre o boxe Saiba mais (p. 281). Relembre-os de que, até as primeiras décadas do século XX, a influência cultural predominante no Brasil era a da França, ao passo que no atual momento histórico essa influência foi substituí da pela cultura estadunidense. Pergunte-lhes se eles acham inevitável essa substituição de uma influência por outra e se esse fato pode ser considerado um sintoma do papel do Brasil na ordem mundial.
Midiateca do estudante
COMBATER o capacitismo é dever de todos. [S. l.: s. n.], 2024. 1 vídeo (4 min). Publicado pelo canal IFSC. Disponível em: www.youtube.com/watch?v= 01o3Y9HuEtY. Acesso em: 15 out. 2024.
Nesse vídeo, servidores do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) falam a respeito do capacitismo e de como é possível combatê-lo, propondo alternativas para promover um ambiente que seja mais inclusivo, empático e consciente.
#NOSNAPRATICA
282)
Estratégias didáticas
• P ara o desenvolvimento da atividade, incentive os estudantes a explorar situações cotidianas que possam ser tratadas com humor e crítica. Sugira-lhes que comecem discutindo em grupo experiências que considerem engraçadas ou frustrantes, tanto no ambiente escolar quanto fora dele, como desencontros em transportes públicos ou situações engraçadas em casa. Exemplo: uma situação em que um estudante esquece de fazer a tarefa de casa porque estava
distraído com uma série de eventos absurdos, como uma invasão de gatos na sala de aula. Explique que o primeiro ato deve apresentar uma situação comum de maneira exagerada, para que o público se identifique rapidamente, e que um elemento inusitado deve ser introduzido para gerar conflito, como um professor que decide aplicar uma prova surpresa no dia em que todos os estudantes estavam distraídos com um evento na escola. No desenvolvimento do roteiro, oriente-os a usar descrições claras das cenas e das ações, destacando as falas das personagens em negrito. O tom deve ser humorístico; portanto, eles podem usar diálogos engraçados e situações absurdas para manter o interesse do público. Ao final, uma punchline deve ser inserida para proporcionar um fechamento engraçado, como uma personagem dizendo uma frase irônica sobre como não deveria ter saído da cama naquele dia. Depois de elaborar o roteiro, os estudantes devem se preparar para a filmagem. Encoraje-os a revisar e aprimorar suas gravações, focando a edição e os detalhes de produção, como iluminação e figurino. Ao final, promova uma exibição dos esquetes, incentivando a turma a compartilhar feedbacks sobre as performances, assim como o que aprenderam durante o processo criativo. Isso não só promove a criatividade mas também a colaboração e a apreciação do trabalho dos colegas.
• Para ajudar os estudantes a realizar a atividade proposta no boxe Laboratório de produção (p. 283), oriente-os a focar os detalhes visuais e sensoriais da cena que imaginam ao descrever o cenário. Ao elaborarem a descrição, incentive-os a considerar a funcionalidade e a disposição dos móveis, além de elementos como iluminação e pequenos objetos que sugerem uma atmosfera ou contexto específico. No desenvolvimento da sequência de diálogos, eles devem incluir uma rubrica clara que descreva como a personagem entra na cozinha, o que a surpreende e como essa surpresa se reflete em suas expressões faciais e corporais. As rubricas também devem guiar o tom das falas e a interação física entre as personagens, considerando sua proximidade ou distanciamento e os gestos que acompanham os diálogos. Sugira que, ao final, os estudantes pensem em reações naturais e possíveis mudanças no ambiente, como uma alteração repentina na iluminação, que pode intensificar a tensão ou surpresa da cena.
Nesta unidade, os estudantes terão contato com a poesia contemporânea portuguesa e descobrirão seus predecessores modernistas, que se destacaram pela experimentação e pela tentativa de refletir a complexidade da vida moderna, desafiando convenções e explorando novas dimensões da poesia e da prosa. Além disso, vão analisar o gênero postagem em rede social, compreendendo que ele é voltado para o compartilhamento de informações, opiniões, pensamentos ou momentos pessoais e que pode ter diferentes finalidades, como entretenimento, informação, divulgação ou engajamento social. Em análise linguística, vão estudar as orações subordinadas adverbiais e perceber que são usadas para enriquecer o discurso, trazendo mais informações sobre a ação verbal. Também vão conhecer pressupostos, subentendidos e inferências para compreender a importância de interpretar as nuances da comunicação. Por fim, terão a oportunidade de planejar, produzir e compartilhar um e-zine pessoal que contará sua história, com destaque para seus interesses e habilidades, além de compartilhar seus sonhos e planos futuros.
Competências gerais da Educação Básica: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 9 e 10
Competências específicas de Linguagens e suas
Tecnologias: 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7
Habilidades de Linguagens e suas Tecnologias
EM13LGG101 EM13LGG102 EM13LGG201 EM13LGG202
EM13LGG301 EM13LGG302 EM13LGG401 EM13LGG502
EM13LGG601 EM13LGG602 EM13LGG603 EM13LGG604
EM13LGG701 EM13LGG702 EM13LGG703
• Habilidades de Língua Portuguesa
EM13LP01 EM13LP02 EM13LP03 EM13LP06
EM13LP07 EM13LP08 EM13LP14 EM13LP15
EM13LP18 EM13LP19 EM13LP20 EM13LP21
EM13LP29 EM13LP31 EM13LP48 EM13LP49
EM13LP50 EM13LP52
Todos os campos de atuação social
Campo da vida pessoal
Campo das práticas de estudo e pesquisa
Campo artístico-literário
Estratégias didáticas
• Ao explorar a obra de João Ferro Martins (1979-), sugere-se que os estudantes reflitam sobre como a instalação dialoga com o passado e o presente, reinterpretando as paisagens históricas de Vernet. Martins utiliza elementos modernos para criticar narrativas históricas e questionar a noção de progresso, semelhante à ruptura proposta pelos movimentos modernistas, como o Futurismo e o Cubismo. A obra de arte contemporânea desafia a estética tradicional, refletindo tensões entre o passado e o presente, e convida a uma análise crítica das mudanças nas paisagens portuárias atuais. Ao analisar a instalação de Martins, os estudantes podem considerar como a arte contemporânea continua a se engajar com as questões levantadas pelo Modernismo: a busca por novas formas de ver e representar o mundo, o questionamento da tradição e a necessidade de capturar as complexidades da vida moderna.
• Para conduzir a proposta do boxe Ler o mundo (p. 288), crie primeiramente um ambiente aberto e acolhedor para que os estudantes compartilhem suas ideias sobre Portugal na atualidade (atividade 1). Ao perguntar o que sabem sobre o país, incentive-os a mencionar aspectos que possam já ter ouvido, como o aumento do turismo, o grande número de migrantes brasileiros no país, o crescimento da cultura em cidades como Lisboa e Porto ou eventos históricos mais recentes. Por exemplo, alguns estudantes podem lembrar-se da Revolução dos Cravos ou da importância do patrimônio cultural português. Na atividade 2, destaque que muitos brasileiros migram para Portugal
em busca de melhores condições de vida, proximidade cultural e facilidade com o idioma. Guie a discussão com exemplos práticos, como a busca por segurança, a qualidade de vida e o sistema educacional português, que são atrativos para brasileiros. Também é possível que os estudantes mencionem o fato de que o custo de vida em Portugal pode ser menor se comparado ao de outras nações europeias. Ao mesmo tempo, explique que há desafios que os migrantes enfrentam, como a adaptação cultural e o mercado de trabalho, o que pode enriquecer o debate sobre a experiência migratória. Esses tópicos abrem espaço para uma discussão crítica sobre as semelhanças e diferenças entre as sociedades brasileira e portuguesa, e sobre como desigualdade social e xenofobia são desafios comuns em ambos os países.
No fio
Estratégias didáticas
Para iniciar a proposta do boxe O X da questão (p. 292), relembre a importância do diálogo entre literatura e política em Portugal, mencionando como o Romantismo foi uma resposta ao contexto político de sua época, marcado pela luta por identidade e independência nacional. Ao abordar a atividade 1 do Para lembrar, leve os estudantes a entender o Romantismo como um movimento que usou a exaltação nacional e o individualismo para expressar as aspirações políticas da época, como a Revolução Liberal e a busca por liberdade. Um exemplo seria a poesia de Almeida Garrett (1799-1854), que expressa essas questões em sua obra. No caso da estética realista, ajude os estudantes a perceber como o movimento teve uma função crítica em relação à sociedade e à política, refletindo a urbanização e a industrialização de Portugal. Obras de Eça de Queirós (1845-1900), por exemplo, podem ser vistas como tentativas de promover uma renovação política ao criticar as instituições da sociedade burguesa da época. Na discussão sobre os temas que podem ganhar destaque em um contexto de crise e transformações (atividade 1 do Para discutir), oriente-os a pensar em como a literatura responde a incertezas e rupturas. Em momentos como o início do século XX, a literatura modernista refletiu temas como o conflito
entre o campo e a cidade, a crise de identidade e a busca por novos sentidos de nacionalismo e modernidade. Sugira aos estudantes que identifiquem essas transformações nas obras de autores como Fernando Pessoa (1888-1935), que expressou a fragmentação e a complexidade da vida moderna em seus diferentes heterônimos. As discussões podem caminhar para como crises políticas, a exemplo da instabilidade da Primeira República, criaram um terreno fértil para a literatura, que refletia a inquietação e a busca por inovação estética.
Estratégias didáticas
• Para iniciar o estudo do boxe Hiperlink (p. 297), apresente aos estudantes o conceito de heterônimos, ressaltando a profundidade desse fenômeno literário em que cada heterônimo possui uma biografia e estilo próprios. Um exemplo interessante seria comparar a simplicidade bucólica de Alberto Caeiro com o formalismo clássico de Ricardo Reis e o tom modernista e angustiado de Álvaro de Campos. Ao discutir esses heterônimos, sugira aos estudantes que identifiquem no poema de cada um deles a maneira como Pessoa utiliza diferentes estilos e perspectivas para explorar temas como a existência, o tempo e a modernidade. Ao selecionar os poemas no site indicado, incentive os estudantes a observar o contraste nos recursos estéticos. Por exemplo, ao analisarem um poema de Alberto Caeiro, eles podem identificar o tom simples e direto, refletindo a natureza sensorial e imediata que ele valoriza, enquanto Ricardo Reis pode ser analisado por sua forma contida e o uso de temas clássicos, como a fugacidade da vida e a busca por equilíbrio. Já Álvaro de Campos pode ser explorado em termos de suas reflexões intensas sobre a industrialização e o progresso, utilizando um tom mais frenético e moderno. Sugira aos estudantes que, ao prepararem suas análises, façam uma pesquisa complementar sobre os contextos histórico e literário de cada heterônimo, consultando fontes como críticas literárias e artigos acadêmicos. Por exemplo, ao discutir Álvaro de Campos, eles podem investigar como o Modernismo influenciou seu estilo, trazendo elementos de inovação e angústia perante as transformações sociais da época.
Respostas e comentários
1. Para orientar a pesquisa proposta, incentive a busca por fontes confiáveis. Os estudantes podem ser instigados a investigar artigos científicos, reportagens e estudos psicológicos, além de refletir sobre suas próprias experiências com a prática de exercícios. Sugira que comecem com um panorama sobre a importância da atividade física para o bem-estar mental e físico. Eles podem explorar como o exercício regular pode melhorar a percepção que a pessoa tem de si mesma, impactando diretamente a autoimagem e a autoestima. Um exemplo poderia ser o impacto da prática de esportes ou de atividades físicas em grupo, como o futebol ou a dança, em que a melhora da capacidade física pode trazer uma sensação de realização, aumentando a autoestima. Além disso, podem discutir como a redução do estresse e o estímulo à socialização promovem uma percepção corporal mais positiva.
2. Ao discutir a construção da imagem corporal, é relevante sugerir-lhes que reflitam sobre as influências que moldam a percepção do corpo. Levante a importância da mídia, das redes sociais e da cultura em geral, convidando-os a refletir sobre como padrões de beleza são impostos e como as pessoas internalizam esses padrões. Um exemplo seria a influência de celebridades e influenciadores digitais, que, muitas vezes, promovem uma imagem corporal irrealista.
3. Sobre os agentes sociais que participam dessa construção, guie os estudantes para perceberem que essa construção é multifatorial. Família, amigos, escolas, a mídia, a indústria da moda e até as academias são agentes que contribuem para a formação da imagem corporal. Sugira que discutam como as mensagens recebidas de cada um desses agentes podem ser positivas ou negativas. Por exemplo, a escola pode ser um ambiente onde se aprende a importância da aceitação do corpo, enquanto as redes sociais podem gerar uma pressão por um ideal estético.
4. No que diz respeito à contribuição das atividades de Educação Física para discutir preconceitos em torno da imagem corporal, oriente-os a considerar como essas atividades podem promover a inclusão e o respeito às diferenças. Sugira que pensem em como a Educação Física oferece oportunidades
para todos os estudantes, independentemente de suas habilidades físicas, ajudando a combater estereótipos como o de que corpos atléticos são superiores. Um exemplo seria o incentivo à prática de esportes adaptados ou a inclusão de discussões sobre diversidade corporal nas aulas, promovendo o respeito a diferentes tipos de corpos e habilidades.
Estratégias didáticas
• Para conduzir as atividades propostas no boxe Ler literatura (p. 302), comece criando um ambiente que permita a introspecção e a conexão emocional com os textos literários. Ao discutir a atividade 1, peça aos estudantes que reflitam sobre as leituras feitas na unidade e sobre qual texto os emocionou mais. Sugira que pensem não apenas no enredo ou no estilo do autor mas também naquilo que, de forma subjetiva, ressoou em suas experiências pessoais ou na forma como enxergam o mundo. Um exemplo interessante seria trazer à tona um conto ou poema que fale de um tema universal, como a perda ou o amor, e que possa ter tocado a sensibilidade de diferentes maneiras para cada estudante. Ao abordar a atividade 2, proponha que reflitam sobre como as palavras de um autor ou uma letra de música se alinham com seus próprios sentimentos, valores e percepções. Pode ser interessante usar exemplos, como letras de canções populares ou trechos de poemas, pois essas formas de arte muitas vezes expressam emoções universais que fazem com que o leitor ou ouvinte se sinta conectado. A ideia é criar uma troca na qual eles percebam que a subjetividade literária é tanto uma forma de se identificar com o outro quanto uma maneira de entender melhor a si mesmo. Essa discussão pode ajudar a despertar nos estudantes a percepção de que a literatura não é apenas um reflexo da realidade objetiva mas também um espelho das emoções e conflitos internos que todos vivemos. Ao ouvir as escolhas e experiências dos colegas, eles poderão perceber que a literatura funciona como um ponto de encontro entre diferentes formas de sentir e compreender o mundo.
• Ao trabalhar o boxe Saiba mais (p. 302), comente com os estudantes que o Acordo Ortográfico de
2009, embora tenha gerado controvérsia, buscou padronizar a escrita, mantendo as especificidades de cada variedade. Algumas mudanças incluem a eliminação de consoantes mudas em palavras como acto (agora ato) e a unificação de regras de acentuação e ortografia.
POSTAGEM
Ao conduzir as atividades do boxe Ler o mundo (p. 303), promova uma reflexão sobre como os poemas trabalhados abordam o eu lírico em constante questionamento sobre sua identidade e existência, conectando essa discussão com a maneira como as pessoas usam as redes sociais para se expressarem. Por exemplo, ao perguntar por que as pessoas compartilham momentos de sua vida nas redes (atividade 1), sugira que pensem na necessidade humana de conexão e validação social. Muitas vezes, os compartilhamentos refletem a busca por aceitação ou até mesmo por pertencimento, assim como o eu lírico nos poemas busca entender seu lugar no mundo. Em relação às curtidas e comentários (atividade 2), peça-lhes que considerem como esses feedbacks moldam o conteúdo postado, incentivando padrões de comportamento e expressão que são validados ou reforçados pelos outros. Como exemplo, alguém pode começar a postar conteúdos com mais foco em humor ou estética após perceber que esse tipo de postagem gera mais interação. Essa dinâmica também pode alterar a percepção de si, já que a aprovação externa pode influenciar a forma como a pessoa se vê, assim como o eu lírico nos poemas lida com as influências externas e internas ao refletir sobre sua identidade. Ao discutir os tipos de conteúdo de que mais gostam nas redes sociais (atividade 3), eles podem pensar sobre como suas preferências revelam seus interesses e valores. Por exemplo, quem gosta de conteúdos relacionados à arte pode estar buscando inspiração e reflexão, enquanto quem prefere acompanhar relatos do
cotidiano alheio pode estar buscando conexão ou entretenimento. Esse exercício de introspecção se conecta diretamente com o processo de autoconhecimento explorado nos poemas, estabelecendo um paralelo entre os questionamentos existenciais do eu lírico e as buscas contemporâneas nas redes sociais.
• PESSOA, Fernando. O eu profundo e os outros eus 20. ed. Lisboa: Nova Fronteira, [201-]. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/ texto/vo000009.pdf. Acesso em: 24 out. 2024.
Nessa obra, Pessoa aborda de forma poética e filosófica as múltiplas camadas da identidade, um questionamento que pode ser conectado à atual prática de autoexpressão nas redes sociais, em que indivíduos criam perfis, compartilham pensamentos e, muitas vezes, encenam versões de si mesmos em busca de validação ou compreensão.
• LEAL, Filipa. A cidade líquida. São Paulo: Moinhos, 2022. Publicada em vários países e reconhecida por diversas premiações, a poesia de Filipa Leal é uma voz poética potente entre as da nova geração, que valorizam a libertação individual. Nesse livro, os poemas propõem uma reflexão sobre a liquidez e a instabilidade do mundo contemporâneo, projetando experiências que podem ser relevantes para muitos leitores.
• Ao trabalhar o boxe conceito (p. 309), comente com os estudantes que a oração subordinada adverbial age como um adjunto adverbial, ou seja, complementa o sentido do verbo da oração principal, oferecendo informações sobre as circunstâncias da ação, como tempo, causa, condição, finalidade, entre outras. A oração subordinada adverbial é usada para enriquecer o discurso, acrescentando informações sobre a ação verbal.
• CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima gramática da língua portuguesa : edição com gabarito. 49. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2020. Esse livro é amplamente reconhecido e utilizado em escolas e universidades por oferecer uma abordagem detalhada da sintaxe, incluindo orações subordinadas, com exemplos práticos e acessíveis. A obra é útil para quem busca uma explicação clara das funções sintáticas e do papel das orações adverbiais no português.
Estratégias didáticas
Na atividade 4, se julgar adequado, comente com os estudantes que, nos cinemas, embora Pantera Negra tenha sido um marco por trazer um super-herói negro com protagonismo em um filme de grande orçamento, ele não foi o primeiro super-herói negro nas telonas. Antes dele, houve filmes como Blade (1998), estrelado por Wesley Snipes, que retratava um caçador de vampiros e que também foi significativo para a representação negra no cinema de super-heróis. A importância do Pantera Negra reside, portanto, não apenas na cor da sua pele mas também na forma como ele é retratado como uma figura de liderança, inteligência e nobreza, desconstruindo estereótipos associados a personagens negros, principalmente em um contexto de super-heróis. O filme também foi culturalmente significativo por sua abordagem do afrofuturismo, explorando como poderia ser uma sociedade africana avançada e não colonizada.
ARAÚJO, Joel Zito. A negação do Brasil: o negro na telenovela brasileira. 2. ed. São Paulo: Senac, 2013. O autor é uma figura respeitada no estudo da representação negra na mídia brasileira. Embora seu livro trate especialmente da telenovela, ele aborda a construção dos estereótipos raciais e a resistência que personagens negras enfrentam para ser protagonistas em produções populares.
Atividades complementares
Para aprofundar o estudo das orações subordinadas adverbiais, sugere-se propor as atividades seguintes. O texto a seguir trata da regulação das redes, que muitos especialistas veem como fundamental para a democracia. Leia-o e faça as atividades propostas.
Regulamentar em defesa da democracia
No Brasil, a regulação da comunicação ainda enfrenta desafios significativos para a execução e fiscalização dos serviços de radiodifusão. […]
‘Fundamentalmente, não há um jeito simples das plataformas lidarem com esse problema, porque o problema é o modelo de negócio delas’, afirmou Tristan Harris, cofundador do Center for Humane Technology, em testemunho no Congresso americano em junho de 2019. E é esse conflito central que dificulta a solução do debate. Para o professor Pablo Ortellado, ‘existe um conflito entre a natureza comercial do serviço e o interesse público; por isso não tem jeito de fazer isso sem regulação estatal’.
Em diferentes discussões internacionais, especialistas argumentam que a democracia vai além das eleições e exige um debate público aberto e inclusivo, onde os cidadãos possam se sentir capacitados e tenham recursos para desafiar o poder. Para eles, a liberdade política depende de um debate informado e igualitário. Embora as mídias tradicionais e as plataformas de mídia social tenham ampliado a participação e a amplificação de vozes historicamente excluídas, elas também enfrentam desafios, como o bullying on-line, a disseminação de desinformação e a polarização.
PACHECO, Denis. Navegar é preciso! Regular (as redes) também. Jornal da USP, São Paulo, 28 jul. 2023. Disponível em: https://jornal.usp.br/atualidades/especial-desconstruindo-adesinformacao-navegar-e-preciso-regular-as-redes-tambem/. Acesso em: 16 out. 2024.
1. O texto defende que “democracia vai além das eleições e exige um debate público aberto e inclusivo, onde os cidadãos possam se sentir capacitados e tenham recursos para desafiar o poder”.
a) Considere o assunto de que trata o texto. Que poder seria desafiado? Resposta: O poder da mídia.
b) Por que seria importante abrir um debate público sobre a regulação das mídias, de que todos pudessem participar? Resposta: Porque um tema tão amplo e tão sensível, abrangente, deveria se abrir a diferentes pontos de vista e interesses para que qualquer deliberação tivesse legitimidade.
c) O texto explicita a causa do impasse da discussão junto às plataformas. Copie em seu caderno a oração subordinada adverbial causal que expressa isso. Resposta: “Fundamentalmente, não há um jeito simples das plataformas lidarem com esse problema, porque o problema é o modelo de negócio delas”.
2. Releia: “ Embora as mídias tradicionais e as plataformas de mídia social tenham ampliado a participação e a amplificação de vozes historicamente excluídas, elas também enfrentam desafios […]”.
a) Que ideia é introduzida pela conjunção embora? Resposta: É introduzida a ideia de que o fato de as mídias tradicionais e as plataformas de mídia social terem ampliado a participação e a amplificação de vozes historicamente excluídas não foi suficiente para vencer os desafios que elas enfrentam.
b) Como pode ser classificada a oração? Resposta: Subordinada adverbial concessiva.
Estratégias didáticas
Como sugestão para apresentar o tema, comece explicando aos estudantes a diferença entre o que é explicitamente dito em uma mensagem e o que é inferido ou subentendido. Um bom ponto de partida é abordar situações do cotidiano em que as pessoas não dizem tudo diretamente, mas esperam que os interlocutores compreendam a mensagem com base em contextos ou suposições compartilhadas. Por exemplo, ao ouvir “Está calor aqui”, a pessoa pode não estar apenas dando uma informação sobre a temperatura, mas sugerindo que a janela seja aberta. Mostre que os pressupostos são ideias que se tomam como verdadeiras sem que sejam mencionadas diretamente. Se alguém diz: “Ainda não terminei de ler o livro”, pressupõe-se que essa pessoa começou a leitura, embora isso não tenha sido dito de forma explícita. Em seguida, subentendidos podem ser apresentados como informações não ditas diretamente, mas que podem ser deduzidas com base no contexto. Um exemplo seria alguém dizer: “Não quero mais discutir”, sugerindo que já houve uma discussão anterior, embora isso não tenha sido dito de maneira explícita. Ao trabalhar inferências, incentive os estudantes a fazer suposições baseadas em evidências indiretas ou contextuais. Um exemplo simples seria: “Se o Drauzio está carregando um guarda-chuva, provavelmente vai chover”. Aqui, a inferência é feita com base no fato de que o guarda-chuva normalmente é usado para proteção contra a chuva. Para envolver a turma, proponha atividades extras de análise de textos, vídeos ou conversas, pedindo-lhes que identifiquem o que está dito explicitamente, o que é pressuposto e o que pode ser inferido. Uma sugestão prática seria trabalhar com propagandas, em que muitas vezes existem mensagens implícitas ou subentendidas. Isso ajuda a desenvolver a habilidade
dos estudantes de ler além do que está dito de forma clara e a interpretar as nuances da comunicação.
Estratégias didáticas
• Para a orientação desta atividade de produção, sugere-se incentivar os estudantes a explorar suas histórias de forma criativa e pessoal, destacando os elementos visuais e narrativos que possam conectar o leitor com suas experiências. Ofereça exemplos de e-zines com temáticas variadas, como viagens, hobbies ou causas sociais, para inspirar diferentes abordagens. No decorrer da produção, ressalte a importância da clareza na comunicação e da harmonia entre texto e imagem. Sugira que utilizem ferramentas como Canva ou Wix para explorar templates prontos, adaptando-os ao estilo próprio. No desenvolvimento, promova revisões em dupla para aprimorar o conteúdo e o design, incentivando o trabalho colaborativo.
• Ao trabalhar com o boxe Laboratório de produção (p. 315), incentive os estudantes a mergulhar nas características das personagens literárias que estudaram, explorando suas personalidades e visões de mundo para criar uma identidade visual autêntica. Use exemplos concretos, como pensar em qual seria a identidade visual de Sherlock Holmes, que poderia ter um perfil sóbrio, com tons escuros, tipografia clássica e imagens que remetam ao mistério, enquanto uma personagem como Alice, de Alice no País das Maravilhas, teria uma identidade visual mais lúdica, com cores vibrantes e elementos surrealistas. Oriente os estudantes a equilibrar criatividade com consistência, garantindo que a estética escolhida comunique os valores e o posicionamento da personagem em todos os aspectos visuais.
• LÉVY, Pierre. Cibercultura. Tradução: Carlos Irineu da Costa. 3. ed. São Paulo: Editora 34, 2010.
O autor examina como as tecnologias da informação e a internet estão transformando a sociedade e os processos comunicativos. Apresenta o conceito de “cibercultura”, que descreve a cultura emergente em torno das novas tecnologias digitais e como elas mudam a interação humana, o compartilhamento de conhecimento e a organização social.
[Música de transição]
Quem realiza pesquisas sobre um assunto na internet provavelmente já se deparou com a Wikipédia, uma enciclopédia on-line e gratuita. Você sabe como esse recurso funciona?
[Música de transição]
Antes de você responder a essa pergunta, vamos descobrir quando surgiu o termo wiki, seu significado e a origem do software que tornou possível o desenvolvimento da Wikipédia.
O termo apareceu nos meios digitais pela primeira vez em 1994 e veio de uma expressão de origem havaiana, wiki-wiki, que significa “rapidinho”. Ele foi usado pelo programador estadunidense Ward Cunningham, nascido em 1949, para nomear sua criação: o primeiro software que podia ser editado pelos usuários.
[Música de transição]
Com base na criação de Cunningham, o termo wiki começou a ser usado em sites colaborativos. Diversas pessoas produzem e modificam o conteúdo dessas páginas, que contêm links com informações para outras páginas. É uma maneira de compartilhar e publicar ideias de forma rápida. Isso pode ser feito tanto em uma escala menor, com poucas pessoas alimentando um site, quanto em páginas com um grande volume de informações.
[Música de transição]
Foi nesse contexto que, em 2001, surgiu a Wikipédia: uma enciclopédia de conteúdo livre que pode ser editada por todos os usuários, desde que respeitados critérios como relevância dos temas e confiabilidade das fontes. É possível dizer que a ideia deu certo até aqui. O site tem hoje cerca de 61 milhões de artigos em 321 idiomas. São verbetes escritos por colaboradores de diversos países.
[Música de transição]
Mantida pela Wikimedia Foundation, uma fundação sem fins lucrativos, a Wikipédia incentiva os usuários a contribuir com novos verbetes. Há, inclusive, campanhas para isso.
Em 2019, por exemplo, o Centro Cultural do Ministério da Saúde, em parceria com a Wiki Educação Brasil, organizou uma maratona de edição de verbetes sobre o tema “mulheres na saúde”. O evento foi realizado em comemoração ao Dia Internacional da Mulher. No ano de 2023, em evento promovido pela Embaixada da França no Brasil e pela Aliança Francesa,
foi realizada a Editatona, uma maratona de edição em parceria com a Wiki Movimento Brasil. A iniciativa também focou o papel das mulheres, dessa vez com a criação de novas páginas sobre cientistas brasileiras.
[Música de transição]
Tudo isso é muito bacana, mas talvez você esteja se perguntando: como é possível uma enciclopédia na qual todo mundo pode escrever? Como saber se o conteúdo é confiável?
A Wikipédia, além de fornecer informações sobre a publicação e a divulgação de conteúdos, e de ter critérios para isso, conta com a colaboração de editores voluntários que, na medida do possível, estão sempre verificando se há informações falsas, erradas ou incompletas sendo publicadas.
[Música de transição]
Para saber se um verbete é confiável ou não, é importante verificar de onde vieram as informações usadas em sua composição. Na Wikipédia, os artigos precisam ter links diretos para suas fontes. Então, se você desconfia de uma informação ou está na dúvida sobre um verbete, vale clicar no link e checar a fonte.
[Música de transição]
A criação da Wikipédia contribuiu para a democratização e o acesso à informação e para a sua produção, mas é importante buscar mais de uma fonte confiável quando se está pesquisando um tema. Em outras palavras, a Wikipédia é uma ferramenta que não substitui a busca em outros sites ou em livros, já que nem todo conteúdo está digitalizado e disponível no meio digital.
[Música de transição]
Para terminar, vale registrar que a evolução acelerada das ferramentas de inteligência artificial, conhecida por IA, modificou o cenário das buscas por informação. É possível que, em breve, as pessoas recorram mais à inteligência artificial na busca por respostas rápidas. Por mais diferente que esses mecanismos se comportem, isso representa menos fluxo de pessoas ao site da Wikipédia. Se isso vai significar o fim da enciclopédia livre, ainda não sabemos, mas vale a pena acompanhar esse processo.
[Música de transição]
Créditos
Todos os áudios usados neste podcast são da Freesound.
Referências bibliográficas
BRASIL. Ministério da Saúde. Maratona de edição de verbetes na Wikipédia sobre Mulheres na Saúde é realizada no Rio. Brasília, DF: Centro Cultural do Ministério da Saúde, 10 abr. 2019. Disponível em: www. ccms.saude.gov.br/noticias/maratona-de-edicao-deverbetes-na-wikipedia-sobre-mulheres-na-saude-erealizada-no-rio. Acesso em: 27 ago. 2024.
FERREIRA, Francisco Eduardo. Cientistas brasileiras têm maratona de edição de verbetes na Wikipédia. Agência Brasil, Brasília, DF, 8 mar. 2023. Disponível em: https:// agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2023-03/ cientistas-brasileiras-tem-maratona-de-verbetespara-wikipedia. Acesso em: 27 ago. 2024.
GERTNER, Jon. Fim da Wikipédia? Enciclopédia digital tenta sobreviver à era da inteligência artificial. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 2 set. 2023. Disponível em: www.estadao.com.br/link/empresas/fim-da-wikipediaenciclopedia-digital-tenta-sobreviver-a-era-dainteligencia-artificial/. Acesso em: 27 ago. 2024.
O QUE quer dizer wiki? Folha de Londrina, Londrina, 20 jan. 2011. Disponível em: www.folhadelondrina. com.br/economia/o-que-quer-dizer-wiki-736195. html?d=1. Acesso em: 27 ago. 2024.
[Música de transição]
[Locutora] Videorreportagem é um formato jornalístico que combina elementos da reportagem tradicional com recursos audiovisuais.
Ela vem ganhando cada vez mais espaço nos veículos de comunicação, especialmente com a popularização de plataformas digitais e de redes sociais, em que esse tipo de conteúdo costuma ter boa repercussão.
Antes da internet, fazer reportagem em vídeo exigia uma equipe de profissionais. Hoje, celulares dotados de câmeras potentes e softwares de edição permitem que todo o processo seja feito por apenas um profissional.
O jornalista Leandro Diziolli, que tem 30 anos de experiência profissional, vai explicar o que é necessário para fazer uma boa videorreportagem.
[Música de transição]
[Locutora] Olá, Leandro! Bem-vindo a esta entrevista!
[Leandro Diziolli] Olá! Muito obrigado pelo convite.
[Locutora] Leandro, o que um jornalista deve considerar antes de produzir uma videorreportagem?
[Leandro Diziolli] Primeiramente, a pauta! Ela é a alma de qualquer reportagem, seja em texto, em áudio ou em vídeo. Uma boa pauta vai definir com precisão qual assunto será abordado naquela reportagem, quem serão as pessoas entrevistadas, quais imagens serão necessárias…
Depois disso, o videorrepórter deve conferir os equipamentos e ir para a rua atrás da reportagem. As imagens e entrevistas feitas devem ajudar a contar a história. Ele também pode incluir o que nós chamamos de “passagem”, momento em que grava sua própria
imagem no local dos fatos, dando ao público alguma informação que mereça destaque.
Outra etapa importante é a gravação do off, que é a narração do texto que acompanha as imagens captadas. Por fim, depois que tudo é gravado, vem o momento da edição. Hoje em dia, já existem aplicativos bem intuitivos que permitem a edição no próprio celular.
[Música de transição]
[Locutora] Você mencionou que os jornalistas precisam checar os equipamentos antes de começar a trabalhar. Quais são esses equipamentos? O que não pode faltar?
[Leandro Diziolli] Eu sou de um tempo em que era preciso uma câmera, um tripé, microfones, refletores… enfim, um conjunto de equipamentos que tornavam quase impossível fazer uma reportagem em vídeo sozinho. Hoje, ficou mais fácil. Dependendo da situação, um bom celular consegue fazer todo o trabalho.
Se eu puder dar um conselho sobre equipamentos, e isso vale para qualquer cenário, diria: dê atenção ao som. Em geral, as pessoas se preocupam em captar uma boa imagem, mas o som é tão importante quanto ela, ou até mais. De nada adianta você fazer uma boa entrevista se não der para ouvir o que o entrevistado diz. Então, eu diria que um bom microfone e um celular são equipamentos essenciais.
[Locutora] Legal! E, pensando na sua experiência, o que você diria para uma pessoa que está começando agora? O que é preciso saber para fazer uma videorreportagem?
[Leandro Diziolli] Bom, acho que, para além da questão técnica, dos equipamentos, da edição etc., é importante entender a linguagem da videorreportagem; tentar tirar o máximo proveito desse meio, da imagem, do som, do dinamismo que ele permite, para contar a história. Por exemplo, se você está fazendo uma videorreportagem para a internet, para ser consumida por um público jovem, nativo das redes sociais, não sei se é uma boa ideia imitar a linguagem de uma reportagem de TV, que é mais convencional.
É possível contar uma história em vídeo de maneira mais dinâmica, usando as técnicas e as ferramentas de que a internet dispõe, sem deixar de lado os princípios básicos do bom jornalismo.
[Música de transição]
[Locutora] Leandro, com a câmera ligada, como saber o momento certo de entrevistar uma pessoa? E como conduzir essa entrevista?
[Leandro Diziolli] Bom, a gente precisaria de um podcast inteiro só para falar de técnicas de entrevista [risos]. Mas, de maneira geral, o repórter precisa se preparar bem para uma entrevista. É importante saber quem é o entrevistado, conhecer o trabalho dele e o
motivo da entrevista. Esse estudo prévio é o que dá segurança ao entrevistador na hora de fazer as perguntas. Agora, no caso de uma videorreportagem sobre um assunto mais quente, um protesto ou um acidente, por exemplo, você geralmente não sabe de antemão quem vai entrevistar. Nesse caso, é importante ter o domínio da pauta, não se desviar do motivo da reportagem e fazer perguntas cujas respostas ajudem a contar aquela história.
[Locutora] São boas dicas. Agora, pra finalizar, você pode falar a respeito dos direitos de imagem? É necessário ter autorização de todas as pessoas que aparecem em uma videorreportagem?
[Leandro Diziolli] Essa é uma pergunta bem importante. De modo geral, eu diria que sim, é preciso ter a autorização das pessoas gravadas em uma reportagem. Por isso, recomendo levar um termo de cessão de imagens, um documento que o entrevistado assina, autorizando que a imagem dele seja veiculada na reportagem. Isso é especialmente importante no caso de menores de idade, que só podem aparecer caso os pais ou responsáveis legais autorizem.
Mas no dia a dia, no mundo real, a gente sabe que às vezes é impossível conseguir autorização por escrito de todas as pessoas que aparecem em um vídeo. Pense, outra vez, no caso de uma grande manifestação, um jogo de futebol, um empurra-empurra… é difícil para você, sozinho, parar tudo e entregar um papel para as pessoas assinarem. Nesses casos, vale o bom senso. Antes de começar uma entrevista, é importante se apresentar, informar para qual veículo é o trabalho, o que está sendo feito ali e, então, pedir permissão para fazer uma entrevista. Se você puder gravar uma autorização verbal, é mais seguro. Se a pessoa se recusar, tudo bem, você tenta com outra.
[Música de transição]
[Locutora] Leandro, mais uma vez, muito obrigada pelo seu tempo e por vir aqui hoje compartilhar um pouco da sua experiência em videorreportagens.
[Leandro Diziolli] Muito obrigado pelo convite. Espero ter ajudado.
[Locutora] Agora, que tal você aproveitar todas as dicas compartilhadas pelo jornalista e se aventurar na produção de uma videorreportagem?
[Música de transição]
Créditos
A música “Some College” foi retirada da Biblioteca de Áudio do YouTube.
[Música de transição]
“Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até ao esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados.”
O trecho que você acabou de ouvir relata o desfecho da Revolta de Canudos, descrito por Euclides da Cunha e publicado em seu livro Os sertões, em 1902.
Para saber o que foi Canudos e o que representou, precisamos contextualizar a cena política e social do final do século XIX.
[Música de transição]
Em 1889, após um golpe conduzido por militares, foi instaurada a República no Brasil. O novo governo realizou importantes reformas e mudanças, como a separação entre Estado e Igreja. Porém, esse novo governo encontrou resistência em diferentes setores, tanto no campo quanto nas cidades.
Nessa época, o interior do Nordeste brasileiro era assolado com uma grande seca, que durava décadas. O longo período de estiagem, somado às características geográficas do Sertão, comprometeu a agricultura de subsistência, a criação de animais e o acesso à água.
Para piorar, as terras da região estavam concentradas nas mãos de poucos donos. Eram os chamados “coronéis”, que exploravam a mão de obra local sem oferecer condições mínimas de vida e trabalho para essa população.
É nesse contexto que desponta Antônio Conselheiro, um homem religioso, contrário ao novo governo e que começou a atrair fiéis com uma mensagem de salvação e de condições melhores de vida.
[Música de transição]
Antônio Vicente Mendes Maciel nasceu no Ceará, em 1830, numa das famílias mais tradicionais do Nordeste. Recebeu alguma educação formal numa época em que poucas crianças tinham essa oportunidade e chegou a estudar em um seminário, mas não foi ordenado. Tempos depois de perder o pai, trabalhou como professor e, mais tarde, como advogado; sofreu reveses graves na vida pessoal e, então, iniciou suas atividades religiosas, peregrinando pelos sertões.
A trajetória de Conselheiro até Canudos é marcada pela prestação de serviços comunitários, pelo aconselhamento de pessoas – por isso, o apelido – e pela ajuda aos necessitados. Sua pregação continha mensagens que combinavam fé, salvação, política e justiça social. Esses fatores colaboraram para que ele conquistasse a confiança do povo, que passou a enxergá-lo como “salvador”, o líder que promoveria a mudança
e criaria as condições de que precisavam para viver com dignidade.
Em 1893, Antônio Conselheiro fundou uma comunidade alternativa e autossuficiente em Canudos. Batizada de Belo Monte, a comunidade construiu igrejas, escolas, reservatórios de água, armazéns, e não havia figuras de autoridade, como padres, delegados ou donos de terra: tudo era compartilhado. O lugar tornou-se um refúgio que os mantinha longe da miséria e do que era “mundano”.
[Música de transição]
Estima-se que, em 1896, a população de Canudos era de mais 20 mil habitantes e mantinha uma economia baseada em agricultura de subsistência, comércio dinâmico e criação de cabras, além de uma organização social que incluía uma guarda armada.
O rápido desenvolvimento de Belo Monte atraía sertanejos, indígenas e ex-escravizados que ansiavam por uma vida mais digna e, a essa altura, já chamava a atenção de autoridades, da Igreja e de ricos latifundiários, que não gostaram nada do que estava acontecendo.
Após uma sucessão de eventos e de boatos espalhados contra Canudos, o governo da Bahia enviou três expedições militares para acabar com o arraial, dando início a um conflito violento. O que ninguém esperava é que a resistência dos sertanejos derrotasse as tropas, saindo vitoriosa.
[Música de transição]
Grupos de jornalistas, escritores, intelectuais e políticos da capital federal, movidos pelos ideais republicano e abolicionista, engrossaram os discursos de criminalização da comunidade, que acreditavam ser monarquista. A acusação, gravíssima para a época, era reforçada pela posição política de Antônio Conselheiro, que não reconhecia a autoridade de um governo “ateu” e, pessoalmente, era contra a separação entre Igreja e Estado.
Em junho de 1897, uma quarta expedição teve início. Foi necessário enviar reforços de vários batalhões do país, cercar e bombardear o arraial por três meses, para finalmente derrotar Antônio Conselheiro e seus fiéis. Não sobrou praticamente nada de Canudos, e quase todos os seus moradores, incluindo mulheres e crianças, acabaram dizimados.
[Música de transição]
A história de Canudos inspirou um clássico da literatura brasileira. O livro Os sertões foi escrito por Euclides da Cunha e publicado pela primeira vez em 1902. O autor foi enviado pelo jornal O Estado de S. Paulo para cobrir a guerra. A obra é dividida em três partes: “a terra”, “o homem” e “a luta”. Com essa divisão, o jornalista tentou analisar todos os elementos sociais e humanos envolvidos no conflito: o modo de vida do sertanejo, as condições geográficas do Sertão e os relatos da guerra em si.
O livro é um marco do jornalismo brasileiro, e o autor foi, durante muito tempo, visto como alguém que denunciou as atrocidades cometidas em Canudos. A obra, porém, não está imune a críticas. Hoje, estudos consideram que a abordagem do autor sobre o homem sertanejo, a geografia e o conflito tem vários problemas.
[Música de transição]
Por fim, a Guerra de Canudos foi uma revolta camponesa esmagada pelo Estado brasileiro. Um Estado que buscava se consolidar e se afirmar em meio a muitas mudanças econômicas e sociais. E ela não foi a única: a grande desigualdade social da época levou a várias outras revoltas, em diversas regiões do país, naquele período.
[Música de transição]
Créditos
O trecho do livro Os sertões, escrito por Euclides da Cunha, foi publicado pela Fundação Darcy Ribeiro, em 2013. Todos os áudios inseridos neste podcast são da Freesound.
CANCIAN, Renato. Guerra de Canudos: a República se impõe ao sertão a ferro e fogo. [S. l.]: Uol Educação, c1996-2024. Disponível em: https://educacao.uol.com. br/disciplinas/historia-brasil/guerra-de-canudos-arepublica-se-impoe-ao-sertao-a-ferro-e-fogo.htm. Acesso em: 29 ago. 2024.
CANCIAN, Renato. República Velha (1889-1930) (1): Deodoro da Fonseca e governos civis. [S. l.]: Uol Educação, 28 ago. 2013. Disponível em: https:// educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/ republica-velha-1889-1930-1-deodoro-da-fonsecae-governos-civis.htm. Acesso em: 29 ago. 2024.
COSTA, Carla. Cronologia resumida da Guerra de Canudos. Rio de Janeiro: Museu da República, 2017. Disponível em: https://museudarepublica.museus. gov.br/cronologia-resumida-da-guerra-de-canudos/. Acesso em: 28 ago. 2024.
CUNHA, Euclides da. Os sertões. Rio de Janeiro: Fundação Darcy Ribeiro, 2013. (Coleção biblioteca básica brasileira; 24).
FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL. Euclides da Cunha: Os sertões: testemunho e apocalipse: Canudos. Rio de Janeiro: BNDigital, c2024. Exposição virtual. Disponível em: https://bndigital.bn.gov.br/exposicoes/ euclides-da-cunha-os-sertoes-testemunho-eapocalipse/canudos/. Acesso em: 29 ago. 2024.
JUNQUEIRA, Eduardo. Guerra de Canudos. In: JOFFILY, Bernardo et al. Atlas histórico do Brasil. [Rio de Janeiro]: FGV CPDOC, c2023. Disponível em: https:// atlas.fgv.br/verbetes/guerra-de-canudos. Acesso em: 29 ago. 2024.
• BAGNO, Marcos. Gramática pedagógica do português brasileiro. São Paulo: Parábola, 2011. Nessa obra, o linguista apresenta uma gramática que tem como cerne os usos da língua e propõe, com base nisso, discussões relevantes, que apoiam a reflexão e a prática docentes.
• BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Tradução: Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
Nessa obra, entre os conceitos que compõem a teoria dialógica, é apresentado o conceito de gênero do discurso.
• BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do método sociológico na ciência da linguagem. Tradução: Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. 11. ed. São Paulo: Hucitec, 2004.
A obra desenvolve o conceito de signo ideológico, capital na formulação da teoria dialógica.
• BAKHTIN, Mikhail. Para uma filosofia do ato responsável. Tradução: Valdemir Miotello e Carlos Alberto Faraco. São Carlos: João e Pedro Editores, 2010.
A obra apresenta as bases filosóficas da teoria dialógica, com destaque para a arquitetônica bakhtiniana.
• BARBOSA, Márcio; RIBEIRO, Esmeralda (org.). Cadernos Negros. São Paulo: Quilombhoje, 1978-.
A série Cadernos Negros publica anualmente, desde 1978, contos e poemas de autores brasileiros negros em forma de antologia: de poemas, nos números ímpares, e de contos, nos números pares. Assim, busca abrir espaço para novos escritores, além de conquistar novos leitores.
• BAUMAN, Zygmunt. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Tradução: Carlos Alberto de Medeiros. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. O autor trata da questão da identidade no contexto do multiculturalismo, com base no pressuposto de sua teoria do mundo e da modernidade líquidos.
• BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 39. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019. Gramática que traz um panorama da história da língua e trata de fonética e fonologia, estrutura de palavras, morfologia, sintaxe, noções de versificação e de estilística e que pode apoiar os estudos da norma-padrão pelos estudantes.
• BENVENISTE, Émile. Problemas de linguística geral I. Tradução: Maria da Glória Novak e Maria Luisa Neri. Campinas: Pontes, 2005.
• BENVENISTE, Émile. Problemas de linguística geral II. Tradução: Eduardo Guimarães et al. Campinas: Pontes, 2006.
Nessas obras, o teórico estruturalista Benveniste constrói a teoria geral da enunciação e abre caminho para a plena compreensão de possibilidades da análise discursiva.
• BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 2015.
O emérito professor Alfredo Bosi traça um painel ao mesmo tempo denso e sintético da literatura brasileira desde o período colonial até a contemporaneidade. Referência fundamental para estudantes e professores.
• BOTTON, Alain de. Notícias: manual do usuário. Tradução: Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2015.
Nessa obra, o filósofo Alain de Botton apresenta uma reflexão sobre o impacto social do campo jornalístico e midiático discutindo os efeitos do sensacionalismo, das celebridades e das punições e o quanto podemos criar estratégias para minimizar a influência negativa e pouco ética dessas estratégias.
• BRAIT, Beth (org.). Bakhtin: conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2005.
• BRAIT, Beth (org.). Bakhtin: outros conceitos-chave. São Paulo: Contexto, 2010.
Organizados pela professora Beth Brait, ambos os livros apresentam conceitos estruturantes da
teoria de Bakhtin e o Círculo em uma linguagem acessível, que pode amparar a leitura das obras originais do teórico russo.
• BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular: educação é a base. Brasília, DF: MEC, 2018. Disponível em: https://www.gov.br/ mec/pt-br/escola-em-tempo-integral/BNCC_EI_ EF_110518_versaofinal.pdf. Acesso em: 2 out. 2024.
Documento que apresenta as bases do desenvolvimento do projeto pedagógico escolar em todos os segmentos da Educação Básica.
• BRASIL. Senado Federal. LDB: lei de diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF: Senado Federal: Coordenação de Edições Técnicas, 2017. Disponível em: http://www2.senado.leg.br/bdsf/ handle/id/529732. Acesso em: 2 out. 2024. Documento com o texto da LDB, de 1996, atualizado em 2017.
• CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 9. ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 2000.
Nessa obra fundamental e de referência para estudiosos, o autor analisa a produção literária brasileira, do Arcadismo até o Romantismo.
• CRARY, Jonathan. Terra arrasada: além da era digital, rumo a um mundo pós-capitalista. Tradução: Joaquim Toledo Jr. São Paulo: Ubu, 2023. O autor faz uma crítica contundente à sociedade contemporânea, abordando os impactos negativos do capitalismo digital e a deterioração das relações humanas e do meio ambiente.
• CUNHA, Celso; CINTRA, Luís Filipe Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de Janeiro: Lexikon, 2016. Gramática descritivo-normativa que pode apoiar os estudantes nos estudos da norma-padrão. Ela traz um panorama da história da língua e trata de fonética e fonologia, estrutura de palavras, morfologia, sintaxe, noções de versificação e de figuras de linguagem.
• DAYRELL, Juarez. A escola “faz” as juventudes?: reflexões em torno da socialização juvenil. Educação e Sociedade, Campinas, v. 28, n. 100, p.1105-1128, out. 2007. Disponível em: www. scielo.br/pdf/es/v28n100/a2228100.pdf. Acesso em: 2 out. 2024.
O texto discute as relações entre juventude e escola, indagando sobre o lugar que esta ocupa na socialização da juventude contemporânea, em especial dos jovens das camadas populares.
• DAYRELL, Juarez; JESUS, Rodrigo Ednilson de. Juventude, Ensino Médio e os processos de exclusão escolar. Educação e Sociedade, Campinas, v.37, n. 135, p. 407-423, abr./jun. 2016. Disponível em: www.scielo.br/j/es/a/vDyjXnzDW z5VsFKFzVytpMp/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 24 set. 2024.
O artigo reflete sobre os processos de exclusão escolar vivenciados por jovens adolescentes no Brasil.
• DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Tradução: Estela dos Santos Abreu. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
A expressão “sociedade do espetáculo” refere-se ao poder das imagens na sociedade contemporânea. O autor associa as relações sociais de produção e consumo: o acúmulo de imagens relaciona-se ao acúmulo de capital e tem no marketing ferramenta fundamental para a mercantilização de produtos, de ideias, de cultura.
• DUNKER, Christian Reinvenção da intimidade: políticas do sofrimento cotidiano. São Paulo: Ubu, 2017.
Apoiado em atitudes contemporâneas cotidianas, como disposição a ficar permanentemente conectado e dificuldade para construir situações de real solidão ou intimidade, o autor analisa o sofrimento que, embora vivido no sujeito, está submetido às escolhas de cada um na partilha de afetos.
• FARACO, Carlos Alberto. Linguagem & diálogo: as ideias linguísticas do círculo de Bakhtin. São Paulo: Parábola, 2009.
Nessas obras, didaticamente organizadas, estudiosos de Bakhtin e o Círculo comentam e explicam os principais conceitos que estruturam a teoria dialógica.
• FIORIN, José Luiz. As astúcias da enunciação: as categorias de pessoa, espaço e tempo. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2016.
Essa obra aborda alguns dos aspectos essenciais da enunciação, como as categorias de tempo, espaço e pessoa.
• HALL, Stuart. A identidade na cultura da pós-modernidade. Tradução: Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. 12. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2019.
Em um mundo considerado líquido, em que “tudo que é sólido” pode se desmanchar no ar, a identidade não tem mais nada de imutável. Esse livro discute três conceitos de identidade: o da sociedade iluminista, o da sociedade moderna e o da sociedade pós-moderna.
• HAN, Byung-Chul. No enxame: perspectivas do digital. Tradução: Lucas Machado. Petrópolis: Vozes, 2018.
O filósofo nos apresenta como o digital é responsável por transformar e determinar comportamentos, percepções, sensações e pensamentos. A espetacularização e a massificação de opiniões criam um comportamento de enxame nas redes sociais, que é responsável pela construção de identidades e superficialidades de conhecimento e opiniões.
• HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Tradução: Enio Paulo Giachini. Petrópolis: Vozes, 2015. Han define a sociedade do cansaço como a do sujeito do desempenho e da produção: explorado e explorador ao mesmo tempo, agressor e vítima de si mesmo, lança-se a um trabalho que o individualiza e isola.
• KOCH, Ingedore Villaça. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1990. Essa obra se detém em explicar a construção dos processos de coesão textual, com base em um referencial da Linguística Estruturalista.
• KOCH, Ingedore Villaça. Argumentação e linguagem. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
A obra explora as possibilidades de construção de estratégias e de procedimentos argumentativos.
• KOCH, Ingedore Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 1990. Essa obra explica a construção dos processos de coerência textual, com base em um referencial da Linguística Estruturalista.
• MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. Tradução: Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. 11. ed. São Paulo: Cortez: Unesco, 2006. Nessa obra, o filósofo e sociólogo francês opina sobre o que se deveria aprender para enfrentar os desafios da educação do século XXI. Ao falar sobre a necessidade de aprender a enfrentar as incertezas, a ética do gênero humano, a identidade terrena, entre outros tópicos, Morin alerta para as grandes questões que podem ajudar a refletir sobre o mundo e a construir novos posicionamentos.
• NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de usos do português. São Paulo: Ed. Unesp, 2000. Essa gramática observa as regularidades da língua em uso. Para isso, adota uma organização que propicia um tratamento cujo principal objetivo é observar a língua em funcionamento, as normas de uso e suas possibilidades e restrições.
• SAFATLE, Vladimir. Circuito dos afetos: corpos políticos, desamparo, fim do indivíduo. 2. ed. rev. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.
O filósofo e psicanalista associa a transformação social e política à mudança do que ele chama circuito de afetos, os quais produzem corpos políticos, individuais e coletivos.
• TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e interação: uma proposta para o ensino da gramática no 1o e 2o graus. São Paulo: Cortez, 1997.
Essa obra apresenta uma proposta de ensino de gramática que parte do questionamento da necessidade desse conhecimento na escola e se preocupa em articular esse conhecimento da língua com a produção de texto.