Olho vivo olho mágico by Editora FTD

ilustrações

Rodrigo Visca Edimilson de Almeida Pereira

A MÃO QUE ESCREVE o livro não usa luvas.

Se as usasse, seriam de letras com certeza. “Mas é preciso algo mais”, diz a mão que escreve o livro.

E a mão, assim pensando, começa.

O LIVRO, POR SUA VEZ, diz à mão: “Escreva como se tivesse nas pontas dos dedos a sua cabeça”.

O PAPEL ONDE a mão escreve o livro se firma como os trilhos do bonde.

Por ele correm palavras e ideias.

Corre a mão que faz o livro.

Enfim, escrito sobre o papel de seda, eis o livro.

Ao vê-lo, por um momento a mão duvida:

“Eu o escrevi ou ele já habitava no papel em branco?”.

Em silêncio, página a página, o vento lê o que foi escrito e espalha:

“Há um segredo que a mão gravou no livro. Ainda que o papel se perca, o segredo não se apaga”.

A SENHORA, O GATO, O CHAPÉU E O PÁSSARO

QUEM

A SENHORA de luto levará ao mercado?

Se estiver triste, chamará o gato que dorme no cesto, salta o muro e alisa o tapete.

QUEM A SENHORA contente levará

ao hotel?

Se for a Londres, usará o chapéu que adora a rua, os dias de sol e andar de bonde.

QUEM A SENHORA misteriosa

levará ao trabalho?

Se for num castelo, levará o pássaro que canta para a princesa do distante reino de Quero-Quero.

Porém, se a senhora não for a lugar nenhum?

Talvez o pássaro empreste suas plumas ao chapéu.

E o chapéu enfeite o gato.

E o gato (como o Príncipe de Cartum)

leve ao baile a senhora que leva ao mercado ao hotel ao trabalho

o seu amigo gato que usa o chapéu de pássaro.

Em Olho vivo, olho mágico, como em um carrossel, o leitor faz um passeio pelos poemas e observa o movimento circular da vida, que faz surgir instantes singelos e transforma coisas tristes em belas.

O primeiro poema apresenta uma mão e um livro que conversam sobre o processo de escrita e o modo como a mão percorre o papel em branco, como um bonde em seus trilhos.

No outro poema, uma senhora escolhe quem vai acompanhá-la ou o que usará nos dias tristes e felizes que virão: um gato, um chapéu, um pássaro?

Como nas voltas do carrossel, a vida se repete e se renova, com toques de realidade e fantasia.

Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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editor Estevão Azevedo

editora-assistente Camila Saraiva

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revisoras Lívia Perran e Marina Nogueira

editores de arte Daniel Justi e Camila Catto

projeto gráfico Daniel Justi

diretor de operações e produção gráfica Reginaldo Soares Damasceno

edimilson de almeida pereira nasceu em Juiz de Fora (MG), em 1963. É poeta, ensaísta, ficcionista e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora. É doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 2021, venceu o Prêmio São Paulo de Literatura com o livro Front e recebeu o segundo lugar do prêmio Oceanos com a obra O ausente. Pela FTD, publicou o livro infantil de poesia Cada bicho um seu canto (2022).

rodrigo visca é ilustrador, artista visual e autor. Foi colaborador do jornal Folha de S.Paulo entre 2005 e 2021. Suas ilustrações já foram publicadas em diversas revistas e livros. Em 2022, foi finalista da Mostra de Ilustradores da Feira do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha (Bologna Children’s Book Fair) pelas ilustrações do livro A nave vai (Edições Barbatana).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Pereira, Edimilson de Almeida Olho vivo, olho mágico / Edimilson de Almeida Pereira; ilustrações de Rodrigo Visca. — 1. ed. — São Paulo: FTD, 2023.

ISBN 978-85-96-03892-8

1. Poesia — Literatura infantojuvenil I. Visca, Rodrigo. II. Título.

22-131870 CDD-028.5

ISBN 978-85-96-03892-8

9 788596 038928

Índices para catálogo sistemático:

1. Poesia: Literatura infantil 028.5

2. Poesia: Literatura infantojuvenil 028.5

Cibele Maria Dias — Bibliotecária — CRB-8/9427

9010302000372