Filosofia autentica

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Reproduç ão/Biblioteca Estadual da bavier a , munique, alemanha

Arte não religiosa na Idade Média

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mbora a Idade Média tenha ficado conhecida como era religiosa, os temas artísticos do período nem sempre eram ligados à religião. Um exemplo bastante conhecido são os poemas do século XIII, conhecidos como Carmina burana (Poemas de Beuern), escritos por monges e estudantes para tratar de temas como a passagem rápida do tempo, a fragilidade da vida humana, a instabilidade das coisas (a Roda da Fortuna) e os costumes hipócritas de personagens religiosos (bispos e abades beberrões, entre outros). No século XX, o alemão Carl Orff (1895-1982) Acesse: criou uma versão musical para esses poemas, com ampla difusão. Você pode ouvi-la na versão gravada pela Orquestra e Coro da Universidade da Califórnia (EUA), no YouTube: <https://www.youtube.com/ watch?v=QEllLECo4OM> (acesso em: 9 out. 2015). Uma tradução dos poemas pode ser encontrada em: Acesse: <https://www.youtube.com/watch?v=dLOk8nHimlA> (acesso em: 9 out. 2015). A roda que faz alguém subir é a mesma que faz um rei descer e perder a coroa.

2.3 A beleza no Renascimento e na filosofia moderna Uma mudança de enorme significação se iniciará nos tempos do Renascimento, consolidando-se na Idade Moderna: passa-se justamente a associar beleza e arte e a conceber a beleza como qualidade das obras artísticas, não mais como qualidade que dá harmonia aos seres. Essa mudança foi bastante rápida, sem ser repentina. Suas raízes iniciam pelo menos no século XIV e dão seus primeiros frutos nos séculos XV e XVI, principalmente com os novos padrões mecanicistas de conhecimento ( p. 235). Cria-se a ideia de Natureza como conjunto de acontecimentos mecânicos e submissos a leis que podem ser conhecidas e reproduzidas, dando-se ênfase justamente às técnicas de reprodução das leis naturais como forma de conhecimento. Essa prática exercerá influência decisiva sobre a concepção de beleza, levando-a a ser entendida também como algo que pode ser produzido. A arte, por sua vez, será entendida como a ação específica de produzir beleza; e a beleza, entendida agora sob o aspecto da sua produção, será associada às técnicas de composição das partes de uma obra, com o fim de obter a harmonia que agrada a quem 292

Filosofia e filosofias – existência e sentidos

Roda da Fortuna (séc. XIII), iluminura anônima no manuscrito dos Poemas de Beuern (Carmina burana).

a contempla. Os antigos métodos gregos são redescobertos e desenvolvidos nesse período (daí o nome de “Renascimento” nas artes) e a temática religiosa, embora continuasse presente, deixa de ser central. O trabalho de Leonardo da Vinci (1452-1519), nesse sentido, é um dos melhores exemplos. A concepção renascentista de beleza mantinha grandes semelhanças com a concepção platônica: a beleza é a fonte das coisas belas. No entanto, os renascentistas, de modo geral, introduzem uma mudança importante no modo de falar da beleza, pois, ao darem ênfase sobre a produção da beleza pela arte, levam a distinguir entre a beleza natural e a beleza artística. Mesmo que a Natureza continuasse a ser considerada bela, a beleza artística começava a tornar-se outra coisa: ela será reservada ao mundo das artes. Aos representantes da filosofia moderna caberá terminar o que havia sido iniciado no Renascimento. Tratava-se, agora, de associar com exclusividade a beleza à arte. Cria-se, assim, no século XVII a expressão belas artes, com o objetivo de distingui-las das artes liberais (nome que, na Idade Média, designava as técnicas relacionadas ao conhecimento verdadeiro). As belas artes eram, de início, a arquitetura, a pintura, a escultura e a gravura. Posteriormente, elas


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