O menino e o maestro - Degustação - PNLD 2023 Objeto 3

Page 1


O menino e o maestro

Ilustrações Vinicius Sabbato

O menino e o maestro

Ilustrações

Vinicius

Sabbato
Ana Maria Machado

O menino e o maestro

Copyright © Ana Maria Machado, 2021

Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Todos os direitos reservados à QUINTETO EDITORIAL LTDA.

Rua Rui Barbosa, 156, 1o andar São Paulo – SP – CEP 01326-010 Tel. (0-xx-11) 3598-6000

editor assistente Bruno Salerno Rodrigues revisoras Lívia Perran e Marina Nogueira

Obra selecionada para integrar o Catálogo White Ravens da Biblioteca Internacional da Juventude, em Munique, na Alemanha, e considerada Leitura Altamente Recomendável pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Machado, Ana Maria O menino e o maestro / Ana Maria Machado; ilustrações Vinicius Sabbato. — 1. ed. — São Paulo : Quinteto Editorial, 2021.

ISBN 978-85-8392-199-8 (aluno)

ISBN 978-85-8392-200-1 (professor)

1. Literatura infantojuvenil I. Sabbato, Vinicius. II. Título.

21-85116

Índices para catálogo sistemático:

1. Literatura infantil 028.5

2. Literatura infantojuvenil 028.5

Eliete Marques da Silva — Bibliotecária — CRB-8/9380

CDD-028.5

Este texto foi publicado originalmente pela editora Mercuryo Jovem (2006).

Ana Maria Machado é autora de dez romances, 12 livros de ensaios e mais de 100 títulos de literatura infantojuvenil. Traduzida em diversos idiomas e publicada em 28 países, já recebeu muitos prêmios, entre os quais o Machado de Assis pelo conjunto da obra, o Hans Christian Andersen, o Príncipe Claus, o Casa de las Américas e três Jabutis. Casada com um músico, tem três filhos e dois netos. Mora no Rio de Janeiro.

Vinicius Sabbato trabalha como diretor de arte em agências de publicidade desde 2013. Desenhista autodidata, passou a ilustrar profissionalmente em 2017 e tem atuado sobretudo no mercado publicitário, colaborando em diversas campanhas.

Para o maestro Paulo Moura, in memoriam. E em memória de José Maurício Nunes Garcia, Carlos Gomes, Chiquinha Gonzaga, Ernesto Nazareth, Patápio Silva, Pixinguinha e tantos outros construtores de pontes musicais.

Prefácio

Como músico, me sinto em casa nos livros de Ana Maria Machado. Neles sempre há pianos, canções, cantigas de ninar e caixinhas de música. Ela sabe que a música chega aonde a palavra não alcança, às coisas que sentimos e chamamos de indizíveis.

Nesta história, o maestro leva Teleco para encontrar Mozart e suas músicas. Elas ajudarão o menino a compreender melhor a si mesmo, a entender o que pensa e sente todos os dias.

Um Mozart que marcou José Maurício Nunes Garcia, o compositor, regente, cravista, violinista e homem de letras poliglota que encantou D. João. Esse prestígio trouxe consigo o preconceito: José Maurício era negro. Corajoso, fundou uma escola livre e teve como aluno Francisco Manuel da Silva, autor do Hino Nacional e professor de Carlos Gomes, que tinha origem pobre e negra como José Maurício. Já nessa época, os músicos brasileiros ensinavam uns aos outros o tamborim e Mozart.

Antes, no ciclo do ouro, todos os compositores mais importantes eram negros — num país de escravos. A brutalidade da escravidão no passado e a ignorância atual reduzem a nossa matriz musical negra à música dita popular.

Nossos músicos negros foram gênios nas tradições da Europa e da África, engendrando músicas que ganharam o mundo, enfrentando dificuldades e o esforço para apagar a cor de seus ancestrais exemplares.

Este livro mostra os caminhos entre meninos e mestres, morros e teatros, ontem e amanhã; mostra repertórios e mostra Mozart. Gentes e buscas que é tão bom conhecer. E nunca esquecer.

Ricardo Prado, maestro e escritor

Omenino morava no morro. O maestro ia lá de vez em quando tocar clarinete numa roda de choro. Mas um nunca tinha reparado no outro.

Porém — ai, porém… como cantava um samba —, houve uma tarde em que o maestro chegou cedo, muito antes dos outros músicos. Por isso, pegou o fim do ensaio da bateria mirim. E prestou atenção naquele menino tão pequeno que tocava tamborim feito gente grande. Ou como criança, como quem brinca. Como se nem se preocupasse com aquilo. Mas também como se todos os ritmos já morassem dentro dele, desde sempre.

— Quantos anos você tem? — perguntou o maestro, quando o ensaio acabou.

— Oito.

— O Teleco já é fera, não acha? — elogiou o mestre da bateria, ao lado. — Puxou ao pai. Ele é filho do grande Bié, sabe?

Dava para perceber. O menino tinha um dom. Como se um anjo ou uma fada o tivesse premiado quando nasceu. Se fosse antigamente, na Grécia, alguém podia dizer que era um presente de Apolo ou de Orfeu, protetores dos músicos. Ali no morro, com certeza um pai de santo sabia qual orixá escolhera Teleco para usar os sons daquele jeito, vindo de dentro do coração da gente.

Pensando nisso, o maestro teve uma ideia. Conversou com a mãe do menino e convidou:

— Leve o Teleco ao Teatro Municipal esta semana. Qualquer dia. Estamos ensaiando todas as tardes. Acho que ele vai gostar de ver.

— O que é que o senhor tá pensando? Acha que eu tenho tempo pra passear, ir ao teatro, essas coisas? Tenho uma família pra sustentar.

— Mas domingo a senhora pode, não é? E aí assiste a um concerto de verdade. Vou deixar dois ingressos em seu nome na portaria.

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.