

Amor ambiental Rodrigo Lacerda
Rodrigo Lacerda
Amor ambiental
Copyright© Rodrigo Lacerda, 2016
Reprodução proibida: Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Todos os direitos reservados à EDITORA FTD
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diretor-geral Ricardo Tavares de Oliveira diretor de conteúdo e negócios Cayube Galas
gerente editorial Isabel Lopes Coelho
editor Estevão Azevedo
editora-assistente Carla Bettelli
analista de relações internacionais Tassia R. S. de Oliveira coordenador de produção editorial Leandro Hiroshi Kanno
revisoras Patricia Cordeiro e Marina Nogueira
editora de arte Camila Catto projeto gráfico Sheila Moraes Ribeiro
diagramação Gabrielly Alice da Silva diretor de operações e produção gráfica Reginaldo Soares Damasceno
Este livro foi publicado originalmente em 2016 com o título Tododiaédiadeapocalipse
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Lacerda, Rodrigo Amor ambiental / Rodrigo Lacerda; ilustrações Mariana Valente. — 1. ed. — São Paulo: FTD, 2025.
ISBN 978-85-96-04900-9
1. Ficção – Literatura infantojuvenil I. Valente, Mariana. II. Título.
24-243413
Índices para catálogo sistemático:
1. Ficção: Literatura infantojuvenil 028.5
2. Ficção: Literatura juvenil 028.5
Cibele Maria Dias – Bibliotecária – CRB-8/9427
CDD-028.5
Rodrigo Lacerda nasceu em 1969, no Rio de Janeiro. É escritor, tradutor e editor. Publicou os seguintes livros para jovens leitores: OFazedordeVelhos (romance, 2008, prêmios da Biblioteca Nacional, Jabuti e da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil), HamletouAmleto?:Shakespeareparajovens curiososeadultospreguiçosos(2015, prêmio Jabuti) e OFazedordeVelhos5.0(romance, 2020).
Mariana Valente nasceu em 1987, no Rio de Janeiro. É ilustradora e designer. Assina as ilustrações – todas em colagens — das obras Aspalavras—Clarice Lispector(2013), Otempo—ClariceLispector(2014), Juntas–Opoderdaliderançacompartilhadanos negócios(2018), Casideverdad–Cuentosparaniños (2021), Amulherquematouospeixes(2022), Sentirum pensamento (2023).
Aquecimento geral 5
Climatologia jornalística 8
Minha carteira é o fim do mundo 16
Meu pai on tour 20
Oficializando o pessimismo 26
De róseos dedos 39
Pelo amor dos meus fitoplânctons 46
“Zé la vie” 56
Asfontesdoaquecimentoglobal , por Ulisses Capozzoli 75
Sobre o autor 78
Sobre a ilustradora 79

Aquecimento geral
Tudo havia começado por uma alteração gradual, mas disseminada, dos regimes climáticos. Era um maremoto aqui, um furacão ali, uns milhares de desabrigados acolá. A humanidade viveu décadas nessa base. Nos últimos anos, porém, ficara impossível negar a gravidade e a urgência da crise. Ao redor do planeta, 5 milhões de pessoas morreram em consequência de catástrofes naturais. O regime das chuvas enlouquecera de vez, incêndios surgiram do nada consumindo florestas imensas, a poluição atmosférica sufocara o mapa-múndi. Só o
que se via era escassez de água potável, desertificação geral e um vasto pelotão de tragédias. Os glaciares dos dois polos encolheram dezenas de quilômetros em tempo recorde e as ondas invadiram cidades costeiras por todo lado. Algas tóxicas passaram a ser encontradas nos cinco oceanos, arrasando a vida marinha. Em pelo menos dez pontos conhecidos, por efeito do gás metano que brotava das rochas mais profundas, os mares estavam borbulhando — e borbulhando a ponto de o som das bolhas de gás ser gravado com um microfone comum!
A atividade econômica sofria graves prejuízos em todos os países, inclusive nos ricos, sendo o setor agrícola, de longe, o mais atingido. O esvaziamento dos estoques internacionais de comida piorava a cada balanço. A cotação dos cereais nas bolsas de commodities, e dos alimentos em geral, bateu um nível maluco de preço. Não havia dinheiro no mundo que bastasse para comprá-los e levá-los aos necessitados pelo mundo afora. O colapso se aproximava de maneira irreversível.
A tragédia era anunciada diariamente nos jornais, pelo braço da Organização das Nações Unidas (ONU) encarregado do assunto, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), e por todas
as Organizações Não Governamentais (ONGs) atuantes na área. Mas não havia solução mágica.
Claro que o pânico não era estimulado pelos chefes de Estado, nem pelos informes da ONU, tampouco pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, o IPCC. No entanto, mesmo quem, como eu, ainda não tinha morrido de fome, não tivera a casa destruída e se mantinha a salvo dos cataclismos por uma sorte geoclimática qualquer, sabia que era preciso fazer alguma coisa, e com urgência. A ONU também se mancou, convocando seus mais de 190 países-membros para uma Assembleia Climática.
Nem a Rio-92, nem a Rio+20, nem as reuniões em Quioto ou Bali, nem as dezenas de Conferências sobre Mudanças Climáticas ou as COPs chamaram tanta atenção. O objetivo do novo encontro seria definir um plano de ação global, usando as tecnologias mais avançadas e recursos de todas as grandes potências. Esse plano afetaria o destino de todos, desde os povos mais conectados do mundo até grupos que vivem isolados na Ásia, na África e no longínquo Jardim Europa paulistano. Pelo menos era isso que diziam os sites especializados e as revistas Science e Nature, duas autoridades indiscutíveis.
Climatologia jornalística
No ano da grande Assembleia sobre o clima, eu já era editor da Aplauso , a revista cultural do grupo Vetor.
Havia deixado para trás os tempos de foca — um novato sem experiência nenhuma —, mas ainda estava longe de ser transformado num veterano decorativo, ou num simples desempregado, pela diretoria ou pelo cansaço.
O Vetor era um desses grupos editoriais que comercializam em bancas e lançam revistas as mais variadas, desde a clássica semanal, com resumos tendenciosos das notícias e editoriais furibundos contra o