Revista Passear Nº58 Versão Gratuita

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passear sente a natureza

CICLOTURISMO COIMBRA

RIO TEJO DE SALVATERRA A ESCAROUPIM DESTINO

CAMINHADA

DA LOUSÃ AO TREVIM

DESTINO

BUDDHA EDEN

Nº. 58 . Ano VI . Fevereiro 2017 . PVP: 2 € (IVA incluído)

VILA MEDIEVAL DE OURÉM


Correspondência - P. O. Box 24 2656-909 Ericeira - Portugal Tel. +351 261 867 063 www.lobodomar.net

www.passear.com

Director Vasco Melo Gonçalves Editor Lobo do Mar Responsável editorial Vasco Melo Gonçalves Colaboradores António José Soares; Francisco Cordeiro; João Fernandes; Rui Ferreira, Luis Contente. Publicidade Lobo do Mar Contactos +351 261 867 063 + 351 965 510 041 e-mail geral@lobodomar.net

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Turismo Cultural e de Natureza, a solução?

Grafismo

Contacto +351 965 510 041 emal: anagoncalves@lobodomar.net www.wix.com/lobodomardesign/comunicar

Registada na Entidade Reguladora para a Comunicação Social sob o nº. 125 987 Direitos Reservados de reprodução fotográfica ou escrita para todos os países

Capa Fotografia

Budha Eden (pág.54)

Será a aposta no Turismo Cultural e de Natureza, uma solução para as autarquias atraírem visitantes ao seu território e nele permanecerem por mais de um dia? Sem dúvida que sim! Existem exemplos nacionais interessantes e que mostram o empenho no desenvolvimento de produtos estruturados e apelativos. Recentemente, estive em Sobral de Monte Agraço, no lançamento do livro “As Linhas de Torres Vedras: um destino turístico estratégico para Portugal” da autoria de Carlos Manuel Antunes Bernardes. Um estudo muito interessante, elaborado pelo autarca de Torres Vedras, que demonstra como um conjunto de episódios históricos podem ser transformados num produto turístico com potencial económico para toda a região saloia e do Oeste. Outro exemplo é o da autarquia de Viseu que declarou 2017 como ano de Visitar Viseu. Na BTL 2017 será a Cidade Nacional Convidada mas, entretanto elaborou um extenso programa de iniciativas com a finalidade de atrair pessoas a uma das principais cidades do interior de Portugal continental. Concertos, “Embaixadores de Viseu”, exposições históricas, “Guia Viseu”, upgrade de eventos enoturísticos e da Feira de São Mateus são algumas da “ferramentas” que a autarquia criou para se afirmar no panorama nacional e espanhol como um Destino. Bons passeios e Bom 2017. Diretor vascogoncalves@lobodomar.net


3 Edição Nº.58

14 22 Sumário 06 Atualidades

Versão completa paga

gratuita

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Destino: Rio Tejo

32 46 60

22 Caminhada:

De Lousã ao Trevim

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Cicloturismo: Coimbra

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Apresentação de artigos do Passear (versão paga)

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ASSINATURA Passear

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Passeio Vila Medieval

de Ourém

54

Destino: Bacalhôa Budha Eden

68

dormidas : comidas: bebidas

70 Equipamento

Tenha acesso à versão compl eta da rev ista pa ssear por m enos d e 2€


Nº 73 October | Outubtro 2016

REVISTA BILINGUE EN/PT

FEIRAS

+ TENDÊNCIAS

GARDEN DESIGN MAGAZINE

GALABAU IBERFLORA

+ DECORAÇÃO + FERRAMENTAS + TECNOLOGIA

14 INSPIRATIONS

from MAISON ET OBJET

DBX RANCH

A NEW LIVABLE LANDSCAPE NOVA PAISAGEM HABITÁVEL

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MUSEU DE LAMEGO E VALE DO VAROSA COM BILHETE CONJUNTO VEM AÍ MAIS UMA EDIÇÃO DOS BTL BLOGGER TRAVEL AWARDS As inscrições para a quarta edição dos BTL Blogger Travel Awards, o maior concurso dedicado aos blogues de viagens em Portugal, já se encontram abertas. Os candidatos podem inscrever-se através de www.btl.fil.pt até ao dia 21 de fevereiro. O concurso vai premiar os melhores blogues de viagens em Portugal e de língua portuguesa que se destacaram em 2016 nas seguintes categorias: Melhor Blogue de Viagens Pessoal, Melhor Blogue de Viagens Profissional, Melhor Blogue de Fotografia de Viagens e Melhor Blogue de Viagens Eleito pelo Público. O júri da BTL irá nomear os candidatos tendo em conta diversos critérios de avaliação, nomeadamente a importância dos temas abordados, qualidade de informação e escrita, criatividade, inovação e imagem gráfica. Apenas serão nomeados os blogues com actividade mínima comprovada de nove meses. Constituído por profissionais de excelência ligados ao sector do turismo, o júri irá nomear entre dois a cinco blogues para cada categoria e entre esses serão eleitos os vencedores. Os nomeados para o “Melhor Blogue de Viagens Eleito pelo Público” serão publicados no site da BTL para votação online. Os vencedores serão divulgados durante a BTL 2017, no dia 18 de Março, na FIL (Parque das Nações).

Em complemento aos já previstos bilhetes individuais, o bilhete conjunto é uma oportunidade para operadores turísticos e visitantes nacionais e estrangeiros de, a um preço atrativo, aceder a um património único, que abrange os concelhos de Lamego e Tarouca. Desde do dia 2 de janeiro o Museu de Lamego, os Mosteiros de São João de Tarouca e Santa Maria de Salzedas, o Convento de Santo António de Ferreirim, a Capela de São Pedro de Balsemão e a Ponte Fortificada de Ucanha ficam ainda mais próximos. Em 2017 entra em vigor o bilhete de conjunto, mais uma iniciativa que marca a entrada no ano do CENTENÁRIO do Museu de Lamego [1917-2017] e que se junta à já anunciada abertura do museu agora também às segundas-feiras. Em complemento aos já previstos bilhetes individuais, o bilhete conjunto é uma oportunidade para operadores turísticos e visitantes nacionais e estrangeiros de, a um preço atrativo, aceder a um património único, que abrange os concelhos de Lamego e Tarouca. No valor de 9 euros, valor ao qual se aplicam os descontos em vigor, o bilhete tem a validade de um ano após a compra e poderá ser utilizado uma vez em cada monumento, em dias distintos, possibilitando ao visitante uma melhor gestão da sua visita a toda a Rede. O bilhete conjunto poderá ser adquirido junto da receção do Museu de Lamego, nos Mosteiros de São João de Tarouca e Santa Maria de Salzedas e no Convento de Santo António de Ferreirim.


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CELEBRAR O CARNAVAL NOS PARQUES E MONUMENTOS DE SINTRA “Quer no começo, quer no fundo, em fevereiro vem o Entrudo”. Em 2017, o Carnaval chega mesmo a tempo de fechar o mês mais curto do ano, e nos parques e monumentos de Sintra não faltam propostas para quem gosta de festejar à grande e “à antiga”. No domingo, 26 de fevereiro, a partir das 14h30, a Quintinha de Monserrate recebe uma edição especial de Carnaval da atividade “É Uma Quintinha Saloia Com Certeza!”. Os participantes são convidados a mascararem-se a rigor e a festejarem o Carnaval em família nesta pequena quinta, enquanto descobrem como se vivia antigamente no espaço rural da região saloia. Na companhia de monitores vestidos à época, os foliões vão aprender a fazer pão de modo tradicional, bem como a executar tarefas do dia-a-dia numa quinta. Caso São Pedro não colabore, o divertimento passará para dentro de portas com a realização de um ateliê de máscaras/pinturas faciais. A tarde

termina com a degustação de pão quentinho. Já na terça-feira gorda, 28 de fevereiro, às 15h00, celebra-se o “Carnaval no Palácio Nacional de Queluz”. Num ambiente festivo e de grande criatividade, os participantes, acompanhados por personagens de época, são convidados a viajar até ao século XVIII. A iniciativa conta com um ateliê de máscaras e momentos de música e dança setecentista num dos antigos salões de festas do Palácio Nacional de Queluz. Uma oportunidade única para brincar ao Carnaval “à antiga”. E porque nem só de Entrudo vive fevereiro, o Palácio Nacional de Sintra recebe no dia 19 de fevereiro, às 15h00, a atividade “O Tesouro do Rei”. Neste jogo de pistas, recomendado para famílias com crianças a partir dos oito anos, os participantes são convidados a desvendar enigmas e a completar tarefas para descobrirem o que é e onde está guardado o tesouro do rei.


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QUILÓMETRO ZERO DA GRANDE ROTA DA CORTIÇADA FOI INAUGURADO O Município de Proença-a-Nova inaugurou o quilómetro zero da Grande Rota da Cortiçada (GR39), no passado dia 15 de janeiro, coincidindo com a realização do passeio pedestre organizado mensalmente pela autarquia. Aprovada pela Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal (FCMP), esta GR39 tem um total de 130 quilómetros, devendo estar totalmente marcada no final do primeiro trimestre. “A Grande Rota é um dos resultados dos 137 passeios pedestres já realizados e um dos projetos âncora do Município que servirá para a captação de mais visitantes a Proença-a-Nova, dinamizando todas as ofertas do nosso turismo, tendo como objetivos principais a promoção da nossa região através da utilização dos alojamentos locais existentes, das praias fluviais,

da gastronomia das paisagens e das suas gentes”, refere João Manso, vice-presidente da Câmara Municipal de Proença-a-Nova. Para promover a GR39, os passeios pedestres mensais irão percorrer, até junho de 2018, estes 130 quilómetros de percurso em que se privilegia a passagem por valores patrimoniais e culturais de relevo de modo a dar a conhecer ao visitante o que de melhor o concelho pode oferecer, dos monumentos megalíticos aos redutos militares, dos moinhos, fontes, fornos, aldeias do e de Xisto às ribeiras, vistas panorâmicas e pontos cénicos de grande beleza. O traçado selecionado engloba um vasto número de caminhos florestais existentes, privilegiando os cursos de água e as praias fluviais que são de uma grande riqueza paisagística e faunística.


CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE TURISMO SUSTENTÁVEL

Existem ainda sete percursos pedestres de pequena rota no território proencense, homologados e marcados de acordo com as normas da Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal (FCMP), que regulamenta esta atividade. Estes percursos de pequena rota, que totalizam os 84,17 quilómetros, podem ser feitos a qualquer momento tendo em conta a sinalética existente no terreno. Paralelamente, a Federação implementou o projeto das Grandes Rotas, percursos pedestres com mais de 30 quilómetros que têm uma marcação diferenciada no terreno (enquanto que nos PR - Pequena Rota a sinalética é vermelha e amarela, nos GR - Grande Rota é vermelha e branca). Os 130 quilómetros terão por isso sinalização de orientação específica, com recurso a materiais perfeitamente integrados na paisagem, com zonas de descanso e de lazer e miradouros devidamente assinalados e identificados no terreno. Serão identificados os alojamentos locais existentes no concelho, mesmo os que estejam mais afastados da rota, e haverá informação de apoio que ajuda à interpretação da paisagem. Será igualmente apresentada uma aplicação informática para complementar a experiência de caminhar a paisagem.

Dias 24 e 25 de Fevereiro em Penamacor. Esta conferência será dedicada ao Turismo Sustentável em Portugal e no Mundo, enquadrando-se nas celebrações do Ano Internacional de Turismo Sustentável para o Desenvolvimento, em 2017; incluindo-se a Rede Europeia de Geoparques UNESCO como Patrocinadora Oficial. Pretende-se apresentar uma panorâmica contemporânea e de oportunidade do Turismo Sustentável na Europa e em Portugal, assim como realçar o potencial que o Turismo tem para o desenvolvimento regional, em particular no meio rural. O município de Penamacor, integrando o território do Geopark Naturtejo reconhecido pela UNESCO e a Carta Europeia de Turismo Sustentável Terras do Lince, é o lugar escolhido no Centro de Portugal para trazer ao debate a necessidade de investimento em produtos turísticos criativos e inovadores para a construção da diferenciação do destino. A sustentabilidade ambiental, social e económica dos projetos turísticos revê-se na matriz identitária do território, em que a memória e o conhecimento científico-tecnológico se combinam para um reforço das dinâmicas de marketing e oferta turística a longo prazo. Mais informações: http://www.cm-penamacor.pt/cits/index.php/

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TRÊS MESES DE DEGUSTAÇÃO DA LAMPREIA DO RIO MINHO De 15 de janeiro a 15 abril, os restaurantes do Vale do Minho elegem a lampreia Rainha e fazem dela os mais saborosos pratos. Todos os fins de semana haverá degustações especiais: as câmaras municipais de Melgaço, Caminha, Vila Nova de Cerveira, Paredes de Coura, Valença e Monção, em parceria com a Adriminho e com o apoio do Turismo do Porto e Norte de Portugal, promovem uma vez mais a iniciativa ‘Lampreia do Rio Minho – um prato de excelência’. Diversos estabelecimentos no concelho têm vindo a apostar na diversificação dos pratos de lampreia, desde ensopada no molho do seu próprio sangue, a maneira mais habitual de a preparar, com arroz ou estufada; marinada em vinho verde tinto; ensopada e servida com pão frito; de cabidela; ou à bordalesa… Este ano, em Melgaço, a iniciativa conta com a participação de 14 restaurantes. Para além de saborearem a iguaria, acompanhada pelo ex-libris da região, o vinho ou espumante Alvarinho, os

participantes têm ainda ao seu dispor um programa de animação com diversas atividades que lhes permitirá descobrir a riqueza patrimonial e paisagística do Município Mais a Norte de Portugal, tais como: a Rota da Lampreia do Rio do Minho, através de várias ações; atividades de montanha; passeio pedestre interpretado sobre o lobo ibérico; Rafting; visitas e provas gratuitas de vinhos nas adegas aderentes à Rota do vinho Alvarinho e no Solar do Alvarinho; degustação de produtos tradicionais no concelho, com visita aos locais; e visitas aos espaços museológicos integrados na Rede Melgaço Museus – Torre de Menagem, Museu de Cinema, Núcleo de Castro Laboreiro e Espaço Memória e Fronteira, locais com valiosíssimas coleções, que proporcionam uma visão integrada da Cultura e Património que é imprescindível no panorama de Melgaço.


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VOLUNTÁRIOS COM OS OLHOS NO CÉU PROCURAM-SE

UM CAMINHO PARA TODOS

A Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) promove nesta altura do ano vários censos de aves, nos quais qualquer cidadão com interesse pode participar, uma vez que em alguns casos, são apenas necessários conhecimentos básicos de observação de aves. Estes censos, que dependem do apoio de voluntários de todo o país, são fundamentais para que seja possível fazer uma avaliação das populações de muitas espécies de aves selvagens e também dos seus habitats. Em 2016 participaram mais de 1 100 voluntários ao longo de todo o ano. Estas ações de voluntariado que contribuem com dados para estudos científicos, denominadas de citizen science, envolvem anualmente centenas de voluntários que querem usar o seu tempo para contribuir para a ciência e ambiente. Estes dados servem de base para muitos projetos, designações de áreas com estatuto legal de proteção (como as Zonas de Proteção Especial, áreas da Rede Natura 2000) e também para lutar por algumas espécies de aves que enfrentam declínios assustadores, como é o caso da rola-brava, cuja população europeia decresceu 73% nos últimos 20 anos. Para mais informações: http://www.spea.pt/pt/

“Diário e reflexões ao longo do Caminho de Santiago: de Sevilha a Santiago de Compostela Via de la Plata e Caminho Sanabrês. 42 dias, 1000 Km “(…) As vivências ao longo da Via de la Plata e do Caminho Sanabrês, não se esgotam nestas linhas partilhadas: há coisas que são indizíveis, outras que ficam com quem as viveu e outras ainda que só se compreendem quando as vivenciamos. Deixo o testemunho da minha visão dos acontecimentos com a certeza de que se o relato for realizado por algum dos meus companheiros de viagem, coexistirão histórias com versões diversas. Afinal, são tantos os Caminhos quanto o número de peregrinos que os percorrem! Partilho o bom e o menos bom, as alegrias, os receios, as dificuldades e os presentes inesperados, sem romancear os factos. Se decido partilhar as minhas vivências, tem como único objectivo testemunhar de que este pode ser, verdadeiramente, UM CAMINHO PARA TODOS! (…)” Para encomendas e mais informações contactar Luisa Sousa através do email: sousaluisa1@gmail.com


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VISEU É A 1ª “CIDADE NACIONAL CONVIDADA” DA BTL, EM 2017 Nova categoria surge no âmbito do “Ano Oficial para Visitar Viseu” e propõe renovação da feira de turismo

Município de Viseu, Turismo do Centro, Fundação AIP e Comissão Organizadora da BTL – Bolsa de Turismo de Lisboa anunciaram que Viseu será a primeira “Cidade Nacional Convidada” da BTL, já na edição de 2017, que se realiza entre 15 e 19 de Março. A nova categoria surge no contexto da declaração de 2017 como “Ano Oficial para Visitar Viseu”, promovida pela autarquia, e da política de inovação daquela que é a mais importante feira internacional de turismo do país: a BTL. A revelação teve lugar em Lisboa, num encontro organizado para jornalistas e parceiros. As instituições promotoras elegem “o aumento da notoriedade e da reputação de Viseu no mercado interno” e a “valorização do papel das cidades no turismo” como os principais objetivos da iniciativa. Segundo Presidente da Câmara Municipal de Viseu, Almeida Henriques, “este novo estatuto é um empurrão na promoção de Viseu enquanto destino, no ano que deverá registar os melhores indicadores turísticos da década, consolidando a recuperação dos anos da crise do turismo nacional”. Almeida Henriques defendeu ainda que “o ‘boom’ turístico em Portugal reclama iniciativas como esta e a afirmação de destinos complementares”. “Cidades médias, como Viseu, podem constituir alternativas de excelência às grandes cidades e às regiões turísticas tradicionais”, concluiu.

Já o Presidente da Entidade Regional do Turismo do Centro, Pedro Machado, defendeu que “a atribuição a Viseu do estatuto de ‘Cidade Nacional Convidada da BTL 2017’, na sua primeira edição, premeia o excelente trabalho desenvolvido pelo Município, honra a Região Centro de Portugal, estimula empresas e operadores e constitui um enorme incentivo para a captação de novos investimentos para a atividade turística.” “No ano em que Viseu declara 2017 como um tempo ‘obrigatório’ para ‘visitar e viver a cidade’, esta oportunidade demonstra o seu caráter nacional e a sua vocação para participar e receber grandes eventos, reforça a sua capitalidade e contribui para o aumento da notoriedade e atratividade da Região Centro de Portugal”, assinala o responsável máximo da Turismo do Centro. Para a Fundação AIP e a Comissão Organizadora da BTL, este novo estatuto da BTL é uma consequência da dinâmica “do maior evento de turismo em Portugal”. “Nesta 29ª edição e tendo em conta o interesse cada vez maior do grande público, a BTL lança esta nova categoria nos destinos convidados, localizando uma cidade e o papel das entidades regionais e das autarquias. As cidades têm características únicas e são, grande parte das vezes, um ponto de chegada para os turistas, nacionais e estrangeiros. As nossas cidades, são cada vez mais, bilhetespostais do nosso País, cada uma com a sua cultura própria”, destacam. A organização da feira entende ainda que “este ano será Viseu a primeira Cidade Nacional Convidada da BTL, congratulando-nos com o trabalho desenvolvido entre o Município de Viseu e a Entidade Regional de Turismo do Centro, que tem vindo a revalorizar esta cidade enquanto destino, desenvolvendo os aspectos económicos, culturais e turísticos, através da iniciativa ‘2017, Ano Oficial para Visitar Viseu’.”



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RIO TEJO

DE ESCAROUPIM A SALVATERRA DE MAGOS O RIO TEJO E AS SUAS POVOAÇÕES RIBEIRINHAS POSSUEM UM ELEVADO POTENCIAL TURÍSTICO DEVIDO À SUA BELEZA NATURAL, À INÚMERA FAUNA EXISTENTE E AO PATRIMÓNIO (CULTURAL E EDIFICADO). FOMOS VISITAR AS POVOAÇÕES DE SALVATERRA DE MAGOS E ESCAROUPIM LIGADAS PELO MAGNÍFICO RIO TEJO. NÃO SENDO UM PASSEIO MUITO LONGO, ELE É MUITO RICO DO PONTO DE VISTA CULTURAL, PAISAGÍSTICO E DE CONTACTO COM A NATUREZA. Texto e fotografia: Vasco de Melo Gonçalves


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O nosso passeio teve o enfoque no rio Tejo como um elemento de ligação entre povoações, que só por si, possui argumentos mais do que suficientes a justificar uma visita. Nesta incursão pelo rio contámos com a colaboração da empresa Rio a Dentro e com o conhecimento de Rui Domingues, seu proprietário. Este troço do rio Tejo possui uma grande beleza natural independentemente da época do ano. A grande atração é, sem dúvida, as inúmeras espécies de aves que ocorrem nesta região. Segundo o site Aves de Portugal, “O principal ponto de observação situa-se na margem do rio Tejo, junto ao embarcadouro. A partir daqui é possível, na Primavera, observar a colónia de garças - esta colónia situa-se no mouchão, a cerca de 200 metros da margem do rio. A espécie mais abundante na colónia é a garça-boieira, havendo aqui várias centenas de casais desta espécie. Outras espécies que habitualmente estão presentes são: a garçabranca-pequena, a garça-real, a garça-noturna (espécie rara como nidificante em Portugal), o papa-ratos e o colhereiro. Este local tornou-se particularmente conhecido em 2005, quando aqui foi registada a nidificação de íbis-preta. - esse foi o primeiro registo de


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Rui Domingues

Foto: Rio a Dentro


Águia pesqueira | Foto: Rio a Dentro

reprodução no nosso país. Nos anos seguintes a presença desta espécie no local tem sido irregular, mas em 2012 a nidificação foi novamente registada. Este local é também frequentado por aves de rapina. Entre as mais frequentes, contam-se o milhafre-preto e a águia-calçada”. Durante o nosso passeio observámos também uma águia-pesqueira. O nosso guia Rui Domingues, para além de ser um bom conversador, tem também um profundo conhecimento da região, sabe dos locais onde ocorrem as espécies e ajuda na sua identificação. O rio Tejo também é memória dos Avieiros. Uma comunidade de pescadores com características únicas que transformou o rio Tejo com as suas povoações ribeirinhas, com os seus barcos e com uma forma diferente de viver. A partir da segunda metade do Séc. XIX inúmeras famílias oriundas de Vieira de Leiria viram-se obrigadas a deslocarem-se para as margens do Rio Tejo em busca de um sustento à Borda d´água. Este

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Vala Real em Salvaterra de Magos

movimento sendo no início apenas sazonal levou gradualmente pelo Séc. XX adentro à fixação de famílias ao longo das margens do Tejo. Nos dias de hoje, esta cultura está “ameaçada” pela falta de preservação das aldeias. É através das embarcações existentes, de museus e da construção de réplicas das casas típicas que conseguimos ter uma noção do que foi este movimento migratório. No sentido de preservar as memórias antigas das gentes ligadas ao Tejo realiza-se, todos os anos, um Cruzeiro Religioso do Tejo. O livro Avieiros de Alves Redol e o filme documentário, com o mesmo nome, de Ricardo Costa ajudam a compreender esta realidade. SALVATERRA DE MAGOS Nestas nossas demandas à descoberta dos portos fluviais do rio Tejo como destinos náuticos fomos visitar a fluvina de Salvaterra de Magos

localizada no Cais da Vala (N 39° 01.928’ W 8° 47.624’). Em plena Vala Real temos um local aprazível onde as embarcações tradicionais (bateiras) e profissionais da pesca se misturam com as de recreio. O acesso e a navegação na zona estão condicionados pelas marés. “Durante séculos a Vala Real, foi a principal via de comunicação de Salvaterra de Magos. No seu pequeno cais, aportavam os reais bergantins, que partiam do Terreiro do Paço, com a família real. A corte aclamou Salvaterra de Magos como um local único para as suas estadias, pois nesta vila podiam assistir a grandes espetáculos de ópera e teatro, como participar em pomposas caçadas com falcões. A Vala Real foi um dos mais importantes entrepostos comerciais do sul do país, daqui embarcavam e chegavam todos os tipos de mercado-


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Cais em Escaroupim

rias para Lisboa. Com a construção da ponte em Vila Franca de Xira na década de 50, começou a perder o seu fulgor inicial”. A seco, Salvaterra possui diversos pontos de interesse nomeadamente a Falcoaria Real, a Capela Real, a Igreja Matriz, a Capela da Misericórdia, o Celeiro da Vala Real e o Museu do Rio (merece uma visita mais prolongada). Na nossa visita ficámos com a sensação de uma certa falta de cuidado na conservação dos edifícios e numa falta de coerência no centro histórico. ESCAROUPIM Escaroupim é uma típica aldeia piscatória, formada em meados dos anos 30 por pescadores oriunda da Praia da Vieira (Marinha Grande), que sazonalmente vinham ao Tejo fazer as campanhas de pesca de Inverno, sobretudo o sável,

procurando no Tejo rico em pescado, o sustento das suas numerosas famílias, regressando à Praia da Vieira no Verão. Muitos destes pescadores foram ficando pelas margens do Tejo, deixando de ir à sua Praia da Vieira, e assim formaram pequenas povoações piscatórias aos longo do rio. Nestas povoações as habitações são feitas em madeira, pintadas de cores vivas e assentes em estacaria, de modo a estarem protegidas das frequentes cheias do rio. Hoje, em dia, Escaroupim é muito procurada pelos turistas devido à sua excelente localização. O rio Tejo, a povoação de Valada mesmo em frente, o cais palafítico, as aves e o magnífico restaurante tornam este local irresistível! A Câmara Municipal de Salvaterra de Magos criou um museu - Casa Típica Avieira - cuja origem resulta das recolhas efetuadas pela autarquia junto da população local, com o intuito de


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preservar a memória coletiva destes pescadores que um dia deixaram Vieira de Leira e se fixaram nas margens do Rio Tejo. A Casa Típica Aviera é de pequenas dimensões, pintada com cores vivas, assente em pilares devido às cheias do Tejo, o acesso é feito por umas escadas, no interior destacam-se três espaços: a cozinha onde o elemento que mais se destaca é a lareira ladeada por tijolos e cheia com terra batida, a mesa das refeições e várias prateleiras completam esta divisão, a sala é a outra divisão onde estão dois baús para guardar roupa, neste espaço dois manequins envergam os trajes típicos dos avieiros, a última divisão são os dois quartos de pequenas dimensões com camas em ferro, por cima dos quartos uma última divisão que serve de sótão para guardarem os materiais relacionados com a pesca.

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Aldeia da Palhota

INFORMAÇÕES ÚTEIS Cultura Avieira http://www.e-atlasavieiro.org/ Aves de Portugal http://avesdeportugal.info/ Rio a Dentro http://www.rio-a-dentro.pt/ Edifício do Cais da Vala / Museu do Rio Av. Dr. José Luís Brito Seabra, Salvaterra de Magos Horário: Segunda a Sexta : 09h00/12h30m e das 13h30/18h00


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DA LOUSÃ AO TREVIM E REGRESSO PELAS ALDEIAS DE XISTO PARA ESTE DOMINGO (28.02.2016), INTEGRADO NUM GRUPO DE 14 AMIGOS E AMIGAS, O “PROGRAMA” ERA A VISITA À GRUTA DO SOPRADOR DO CARVALHO, PRÓXIMO DE PENELA; IA REVIVER OS MEUS VELHOS TEMPOS DA ESPELEOLOGIA... Texto e Fotografia:José Carlos Callixto


Mas o destino por vezes troca os “programas”. O inverno tem sido bastante chuvoso ... e a gruta está inusitadamente alagada, impedindo qualquer intenção de mergulhar no reino das estalactites e estalagmites. Ora, estando já parte do grupo na Lousã ... o meu “mano” Araújo passou ao plano B: uma caminhada pela Serra da Lousã, aproveitando um domingo de melhoria de tempo, mas aproveitando também para ir ver a neve que, sábado, caiu praticamente em todo o país, do Minho ao Algarve! E assim foi! “Mano, traz-me uns percursos em que a gente possa ir ver a neve ao cume da serra”, dizia-me na véspera. E, às nove da manhã, lá nos estáva-

mos a juntar todos, à porta da Pousada de Juventude da Lousã. A ideia era subir a pé da vila ao Trevim ... qualquer coisa como mil metros de desnível em 8 km... A subida iniciou-se pela Quinta de Alfocheira e pelos lugares de Relva Fundeira e Relva Cimeira, subindo a bom subir e cruzando a Barroca da Ortiga já aos 790 metros de altitude, quando os primeiros vestígios de neve começaram a aparecer. A panorâmica abriu-se-nos também para norte e nordeste, com manchas de neve ao longe, nas serras do Açor e da Estrela. Estava um magnífico dia de Sol, embora os cumes da “nossa” serra estivessem cobertos de nuvens

Lousã, 28.02.2016, 09:00 horas ... à partida para uma caminhada serrana, no dia seguinte a um dia de chuva e neve...

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E aí vamos nós serra acima ... com as primeiras neves a aparecerem por volta dos 700 metros de altitude.

Panorâmica para norte, próximo do geodésico de Ortiga.


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Os cumes da serra cobertos ... guardando-nos a neve...

acinzentadas ... guardando bem a neve. Pouco depois do meio dia estávamos a chegar ao Trevim, o cume da Serra da Lousã, com os seus 1205 metros de altitude. Na subida ... entrámos nas nuvens ... e entrámos num mundo que parecia fantasmagórico: as árvores carregavam-se de neve, que o vento fazia cair como se estivesse a nevar; dos muitos cabos de alta tensão desprendiam-se blocos que se estatelavam ruidosamente no chão ... ou sobre nós; uma companheira foi mesmo “alvejada” na face. Feitas as fotos, rapidamente deixámos aquele mundo. Ao longo da estrada alcatroada de acesso ao Trevim ... de alcatrão víamos muito pouco. Continuámos a caminhar sobre neve, ou nos sulcos dos rodados dos muitos veículos que escolheram a serra da Lousã para este domingo pós nevão. Rumávamos agora a sudoeste, bordejando a leste o vale do Coentral e, a oeste, o vale de Candal. O objectivo eram agora as aldeias de xisto de Catarredor, Vaqueirinho e Ta-

lasnal. Ainda acima dos mil metros de altitude, deixámos a estrada próximo do geodésico de Candal, descendo então vertiginosamente pela chamada Lomba dos Vizinhos, entre Candal e Catarredor. A neve, contudo, acompanhou-nos até altitudes inferiores às da manhã, na subida. Às três da tarde estávamos na aldeia de Catarredor. “Perdida” em plena serra, num magnífico cenário natural, perto de Vaquerinho e da mais conhecida Talasnal, a aldeia de Catarredor ainda hoje é identificada por muitos como “a aldeia dos hippies”, numa referência aos jovens estrangeiros e portugueses que, nas décadas de 1970 e 1980, trocaram a cidade pela paisagem serrana, ocupando estas aldeias então abandonadas. Trouxeram a vida de volta àqueles lugares remotos, uma vida feita à sua maneira, plena de referências e vivências alternativas e comunais. E foi no Catarredor que parámos, no seu Bar “Fantasia”, onde aquecemos os corpos e as almas com um pequeno e variado lanche comunitário...


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26 Panorâmica agora para as lombas a sul da Selada de Franco, no acesso ao cume.

Subida ao Trevim, com alguma altura de neve caĂ­da no dia anterior.


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E assim chegamos ao Trevim (1205m alt.)


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Ao longo da estrada gelada, no regresso do Trevim.

Descida da Lomba dos Vizinhos, entre Candal e Catarredor … com um pequeno troço de corta mato radical...

Na aldeia de Catarredor e na sua velha Eira.

Quatro e meia, e estávamos no Talasnal, talvez a mais emblemática das aldeias de xisto da Serra da Lousã ... “assediada” em demasia por turistas de todo o tipo. Feita a foto de grupo ... seguimos “viagem” serra abaixo, rumo ao Santuário de Nossa Senhora da Piedade, na confluência das várias ribeiras que concorrem para o Rio Arouce. O Santuário situa-se no morro em frente ao Castelo da Lousã, ou Castelo de Arouce. No verão, as comportas transformam a ribeira numa bela praia fluvial. De acordo com a lenda, à época da ocupação muçulmana da península, o castelo foi erguido por Arunce, um emir derrotado e expulso de Conímbriga, para a protecção de sua filha Peralta e seus tesouros, enquanto ele se deslocasse ao Norte de África em busca de reforços contra as forças cristãs que, cada vez mais, apertavam o cerco às terras muçulmanas. Pelas cinco e meia da tarde estávamos de regresso à vila da Lousã, com 27 km nos pés. A gruta alagada ... transformou-se numa bela caminhada serrana, durinha qb, mas uma jornada de muita alegria, muitos afectos, muita partilha. A vida é feita destes pequenos nadas...


30 Na aldeia do Talasnal.

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Bar “Fantasia” ... uma autêntica fantasia.

Descida do Talasnal para o Santuário de Nossa Senhora da Piedade.

Cruzando o Rio Arouce.


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Rumo ao Castelo da Lousã ou Castelo de Arouce.

Lousã à vista...

INFORMAÇÃO SOBRE O PERCURSO: https://pt.wikiloc.com/wikiloc/view.do?id=12418531


32 Mondego a montante da foz do ceira, ao fundo as torres do Mondego.

COIMBRA, PERCURSOS POR ESPAÇOS E JARDINS COM HISTÓRIA

PERCURSO I TORRES DO MONDEGO A FREGUESIA VERDE Texto e fotografia: António José Soares


O Mondego nas torres, panorâmica do “penedo do corvo”.

INÍCIO: PONTE DA PORTELA DO MONDEGO; RIO MONDEGO, MARGEM ESQUERDA; CARVALHOSAS; PALHEIROS, PRAIA FLUVIAL; ZORRO, MINAS DE BARBADALHOS; PRAIA FLUVIAL - TRAVESSIA DA PONTE PEDONAL; PORTO MEIO; CASAL DA MISARELA; MATA DE VALE DE CANAS. – 12 KM REGRESSO: MATA DE VALE DE CANAS, JARDIM; TORRES DO MONDEGO, PERDIGAIS; TORRES DO MONDEGO, EIRA DO COELHO; TORRES DO MONDEGO, PORTO DAS CARVALHOSAS; PORTELA DO MONDEGO; COIMBRA, BOAVISTA; PARQUE LINEAR DO VALE DAS FLORES. – 11 KM EXTENSÃO DO PERCURSO 1: 23 KM – DURAÇÃO DO PERCURSO: A PÉ 06:00 DE BTT 2:15

cicloturismo

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34 Portela – em primeiro plano a antiga ponte rodoviária da estrada da beira, hoje ponte pedonal da futura ciclovia de Coimbra. em segundo plano a antiga ponte ferroviária da linha da Lousã, ainda sem futuro traçado.

Na encosta das carvalhosas


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Muro de protecção ao rio, próximo do antigo ancoradouro das “bateiras”

Na diversidade do espaço público que diariamente se percorre na cidade de Coimbra e em alguns dos seus lugares confinantes, muitas vezes não atentamos, porque absortos na azáfama do quotidiano, na beleza que patenteiam alguns desses lugares, quer através do coberto vegetal, da traça arquitectónica ou da expressão artística evidenciada em muitas esculturas estrategicamente localizadas, ou mesmo por expressões poéticas visíveis em recortadas lápides de jardim, como é exemplo o mítico e romântico Penedo da Saudade. Foi com o propósito de partir à redescoberta da diversidade de jardins e monumentos de Coimbra e bosques da sua área circundante que agora inicio uma pequena série de artigos alusivos ao tema “percursos por espaços e jardins com história”. O primeiro percurso afasta-se um pouco do interior da cidade de Coimbra e centra-se na Freguesia de Torres do Mondego, nas duas margens do rio Mondego, a montante da Ponte da

Portela do Mondego, e na Mata Nacional de Vale de Canas, inserida maioritariamente no território desta mesma freguesia. Há poucas referências às origens do lugar das Torres, pelos registos mais antigos sabe-se que foi de D. Paterno, primeiro bispo a seguir à conquista definitiva. Em 1103 a Sé concedeu uma parte a Durão Escudeiro, por sua vida, para a cultivar e usufruir. As Torres pertenceu à freguesia de São Pedro de Coimbra, tendo em 1774 a colegiada desta igreja permitido à irmandade de São Sebastião que colocasse sacrário na capela e que o cura administrasse alguns dos sacramentos, começando a ter registo próprio. Aquando da criação da freguesia de Santo António dos Olivais passou para os domínios desta, mas mantendo as mesmas regalias. Foi já perto de meados do século passado que se constituiu como freguesia. Na Portela, onde o Mondego recebe o Ceira e se liberta das amarras montanhosas das encos-


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O vale do Mondego, na encosta dos palheiros

tas escarpadas, abrindo-se à sua maior cidade e espalhando-se pelas várzeas e campos verdejantes, na sua derradeira viagem até à Figueira, dei as primeiras pedaladas, testemunhadas pelo majestoso palácio setecentista dos Marqueses de Pomares, erigido na última colina que vê o Mondego estender-se pela várzea. Pedalando sobre a velha ponte rodoviária da estrada nacional n.º 17, hoje destinada apenas a passagem ciclável e pedonal. Perante a dificuldade de acesso à margem esquerda do rio, segui pela estrada municipal para os lugares de Carvalhosas, Palheiros e Zorro, que se penduram na encosta da margem esquerda do rio. Na margem esquerda, Torres Mondego, Vale de Canas e Casal da Misarela, com o casario em presépio, completam o conjunto de aglomerados populacionais que o rio parece separar e unir ao mesmo tempo, numa extensão aproximada de três quilómetros a montante da foz do Ceira. Duas centenas de metros após a passagem pela

escola secundária enveredei em direcção ao rio por um estradão de terra, seguindo a meia encosta entre terrenos de cultivo, muitos deles deixados ao abandono. O silêncio apenas era quebrado, de quando em vez, por algum carro a passar na EN 110, classificada como de interesse turístico, no troço entre Coimbra e Penacova. Fui encontrando vestígios de algumas cerejeiras cujo tronco se apresentava seco, sinal evidente do abandono das terras. Em contraponto a panorâmica que se desfruta para a margem oposta é sublime. Próximo do antigo ancoradouro fluvial a jusante do mítico “Penedo do Corvo”, recanto natural do rio, caracterizado por formação rochosa na margem esquerda, que avança um pouco sobre o leito, é possível o acesso ao rio, dificultado no entanto pela ausência do cultivo das terras, que propicia o avanço de indesejáveis espécies arbóreas invasoras, acompanhadas de silvedos. A partir deste local para se prosseguir para a praia fluvial dos Palheiros o caminho torna-se


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Minas de Barbadalhos - ruinas

um pouco duro, uma vez que o declive se acentua. A quebra de continuidade do estradão de terra junto ao “Penedo do Corvo” obriga a uma dura subida na direcção do lugar de Carvalhosas, para descer novamente ao rio. Durante duas centenas de metros prosseguimos a meia encosta, com uma refrescante moldura verde, sempre com vista para a água. As dificuldades de acesso por antigos caminhos rurais obrigam a nova subida para a estrada municipal, por onde se prossegue até alcançar finalmente, percorridos cerca de dois quilómetros, a Praia Fluvial. Aproveitando um extenso areal na margem esquerda do rio, emparedado entre o lugar dos Palheiros e o Porto Meio na margem oposta, a Junta de Freguesia das Torres do Mondego promoveu a edificação de uma represa e assim nasceu a Praia Fluvial da Freguesia de Torres do Mondego. Embora situada na margem esquerda, com o lugar dos Palheiros sobranceiro, o espelho de água começa a formar-se mais

Minas de chumbo de barbadalhos desactivadas no inicio do século XX, chaminé.


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Panorâmica do Vale - trilho ribeirinho

a montante, imediatamente após uma sublime curva do rio. Nas imediações da praia fluvial, a fim de ligar as duas margens, todos os anos é erigida uma ponte pedonal em madeira, que em períodos mais invernosos, tem sido arrastada pelas águas. A beleza e atracção do local justificam há muito uma ponte definitiva, indo ao encontro do desejo das populações residentes e veraneantes. Após alguns momentos a desfrutar na margem, sentindo o fresco das águas, resolvi revisitar as ruinas das antigas minas de chumbo de Barbadalhos, nas cercanias da povoação do Zorro. A dura subida ao povoado foi premiada com uma das mais bonitas imagens do vale do Mondego, que se obtém a partir de um troço localizado na estrada municipal, antes de encetar a descida por um estradão de terra irregular, mas com um magnífico coberto vegetal. O regresso à praia fluvial foi percorrido por um estreito e belo percurso pedonal de pequena

rota, “O Trilho Ribeirinho”, interessante sob o ponto de vista paisagístico e de observação da fauna autóctone. Em iniciativas nocturnas há sempre o perigo de nos cruzarmos com javalis, que proliferam no vale. Depois de transpor a estreita ponte pedonal para a margem direita, continuei o percurso no sentido da Mata Nacional de Vale de Canas. Deste modo acerquei-me da EN110,num local designado por Porto Meio, observando a panorâmica proporcionada pelo magnífico espelho de água em contraste com o extenso areal da margem esquerda, que progressivamente foi acolhendo bonitas árvores de pequeno porte, um quadro interessante onde o verde é a cor predominante. Continuei na direcção do Casal da Misarela e daqui prossegui para o coração da Mata de Vale de Canas. A subida, em estradão de terra, não apresenta um grau de dificuldade elevado, acabando por ser suavizada pela fresquidão proporcionada pelo coberto vegetal.


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Travessia do Mondego na venda nova - Torres do Mondego

Mata Nacional de Vale de Canas


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Mata de Vale de Canas - percurso de manutenção

Situada entre a Serra das Torres a sul, o Picoto dos Barbabos a norte, e a Misarela a nascente, desde o século XVI que se é possível encontrar referencias documentais à Mata Nacional de Vale de Canas, embora na centúria de quinhentos tivesse a denominação de Mata do Rei, os vestígios de um pavilhão de caça, entretanto encontrados, levariam a crer tratar-se de uma Coutada Real, povoada com vegetação espontânea. A Mata de Vale de Canas é um empreendimento que remonta a 1867, com a finalidade de extracção de madeira de pinho para as obras de encanamento do rio Mondego. Após o abate dos pinheiros a Mata foi replantada mediante colaboração do Jardim Botânico, com o botânico Doutor Júlio Henriques a introduzir uma colecção de várias espécies de eucaliptos, entre outras espécies. Actualmente a mata ocupa uma extensão de dezasseis hectares, com uma parte de jardim, circuitos de manutenção e zonas de piquenique.

Um devastador incêndio em 2005 e uma posterior tempestade em 2013 provocaram prejuízos incalculáveis. Aos poucos, através de programas de reflorestação e outras acções a mata vai recuperando a importância do passado. Para complementar o roteiro segui em velocidade incrível por um estradão de terra na direcção da povoação de Vale de Canas, derivando para as Torres do Mondego, onde, ao findar da noite, do alto da Eira do Coelho, contemplei o casario em final de tarde, descendo ao Santo para citar António Nobre:

“Meu Santo Mondego, que voas e corres, Não tenhas vagares! Mondego dos choupos, Mondego das Torres, Mondego dos Mares!” António Nobre


Para quem sente a Natureza!


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