O Golpista

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Flávio Tomé

O GOLPISTA Easy money Dinheiro Fácil


Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica Paulo de Tarso Soares Silva Editora Kiron

Criação e Editoração Eletrônica da Capa Paulo de Tarso Soares Silva Editora Kiron

Revisão Ana Lara T.C.T. Impressão e Acabamento Editora Kiron (61) 3563.5048 | www.editorakiron.com.br

Planejamento

05-2418 Tomé, Flávio O golpista: easy money / Flávio Tomé. – São Paulo : F. Tomé, 2012. ISBN 978-85-905127-3-8 1. Romance. 2. Aventura. 3.Ficção. 4.Literatura brasileira I. Título CDU 82-32


Agradecimentos

Não posso esquecer todos aqueles que colaboraram com conhecimento de histórias vividas e que desejam permanecer no anonimato, por motivos óbvios. E a minha equipe composta pela minha esposa Ana Lara que pacientemente opinou sobre os textos e que me incentivou a não publicar a história, com medo das ameaças veladas que recebi por revelar os bastidores do estelionato. À Suzana Pellicciotta, que leu e transmitiu suas sensações sobre os textos com isenção apesar da sua visão Polyana de vida. Ao meu filho Thiago que deu seus pitácos nas partes que narrei para ele e finalmente para os meus filhos mais velhos Renato e Marcelo e os netos Yuri e Enzo, considerando o texto como um legado que poderá evitar que se transformem em patos e perús, na linguagem dos golpistas.

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“Quase sempre a realidade é mais fantasiosa que a ficção”



Sumário

O golpista à luz da ciência .............................................................9 Prólogo.................................................................................................... 11 O golpe e o golpista dissecados ............................................... 21 Tese de um estelionatário ............................................................. 23 Capítulo 1 ................................................................................................ 25 Capítulo 2 ................................................................................................ 27 Capítulo 3 ................................................................................................ 33 Capítulo 4 ................................................................................................ 39 Capítulo 5 ................................................................................................ 45 Capítulo 6 ................................................................................................ 49 Capítulo 7 ................................................................................................ 57 Capítulo 8 ................................................................................................ 71 Capítulo 9 ................................................................................................ 83 Capítulo 10 ............................................................................................. 95 Capítulo 11 ........................................................................................... 109 Capítulo 12 ........................................................................................... 121 Capítulo 13 ........................................................................................... 131 Capítulo 14 ........................................................................................... 145 Capítulo 15 ........................................................................................... 153 Capítulo 16 ........................................................................................... 173 Capítulo 17 ........................................................................................... 183 Capítulo 18 ........................................................................................... 193 Capítulo 19 ........................................................................................... 215

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O golpista à luz da ciência

O golpista é na essência um psicopata. A psicopatia consiste em um conjunto de comportamentos e traços de personalidade específicos. As pessoas que possuem estas características são quase sempre encantadoras à primeira vista, geralmente causam boa impressão e são tidas como normais pelos que as conhecem. Costumam ser egocêntricas e não levam a honestidade em consideração. Com freqüência adotam comportamentos irresponsáveis sem razão aparente e se divertem com o sofrimento alheio. Os psicopatas não sentem culpa. Nos relacionamentos amorosos são insensíveis e detestam compromisso. Raramente conseguem frear seus impulsos. Alguns desculpam suas ações quando erram, colocando a culpa em outras pessoas ou situações. Outros não se importam com os erros cometidos e simplesmente corrigem o percurso e continuam a sua empreitada apagando da sua mente o fato negativo como se não tivesse existido. Não sentem remorso ou gratidão, possuem extrema facilidade para mentir e grande capacidade de manipular. O psicopata pode ser descritos como perverso, mas na maioria dos casos tem o objetivo apenas de tornar as ações mais fáceis para ele, sem se importar se isso vai causar prejuízos ou tristezas para alguém. Quando confrontados com situações de tensão não apresentam tremores, sudorese ou aceleração cardíaca. O psicopata pode até perceber que uma determinada conduta é condenável, entretanto, no seu íntimo ele não sente que está fazendo algo errado. Faz o que deseja sem que isso passe por um filtro emocional. Ele só pensa em alcançar o seu objetivo. A vantagem que leva sobre os outros é que sempre sabe quem é o seu predador. Usa a palavra amor, mas não a sente como a maioria das pessoas. Amor é traduzido por um sentimento de posse, as emoções estão para o psicopata tal como o vermelho está para o daltônico, ele não consegue vivenciá-las. Não consegue entender o que as vítimas sentem, pois não leva em

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Flávio Tomé conta o que os outros sentem, mas sim o prazer que o ato proporciona a ele. Não consegue ver nada errado no que faz. O psicopata não decide emocionalmente, só intelectualmente. Não experimenta emoções morais como as pessoas comuns. As estatísticas estimam que um por cento da população do planeta tenha essas características e que a população carcerária seja composta por vinte por cento de psicopatas. Podemos dividi-los em dois grupos principais os assassinos e os que cometem crimes conhecidos por crimes do colarinho branco. É desses últimos que este livro trata. Um fato interessante com relação aos golpistas que fazem parte desse último grupo é que não se drogam, procuram sempre estar em plena posse dos seus sentidos para vivenciar as suas ações. Todo golpista é um sociopata, psicopata, em maior ou menor grau. Esteja de olhos bem abertos e boa leitura!

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Prólogo

Este livro contou com a paciente colaboração de empresários, advogados, policiais e golpistas, que contaram histórias que viveram ou conheciam. Os fatos são reais porem os personagens fictícios. Para obter estas histórias garanti confidencialidade às fontes de informação, pois sejam advogados, policiais ou golpistas todos poderiam ter problemas legais se revelados seus nomes. O golpista além de buscar obter vantagens, busca também, aventura e diversão. A visão de realidade e justiça do golpista difere da forma como as pessoas comuns se relacionam entre si. Nem mesmo o golpista está livre de cair em um golpe aplicado por seus parceiros. Isso você vê nos filmes que relatam golpes, onde no final, sempre um deles rouba os outros. O golpista pode perder o amor, a amizade e o respeito dos que o cercam, mas quando a oportunidade se apresenta, não perde o golpe! Esta história serve como alerta para aqueles que ainda não sucumbiram frente às tentações oferecidas pelo ganho do dinheiro fácil, evitará também que mais tarde façam parte das conversas gozadoras com que os golpistas se referem aos crédulos. Alguns entrevistados citaram exemplos de empresas que atuam como os golpistas, pois vendem sonhos impossíveis amparadas nas leis. Vendem fumaça como dizem na gíria deles. Foram tantos os exemplos que por si só merecem um novo livro. Aquele que vai tomar o seu dinheiro, acobertado por leis ou de forma descaradamente ilegal, pode ser alguém que você acabou de conhecer, o banco central que controla a economia do país, as entidades financeiras que o atende ou o próprio governo que você elege. Não podemos esquecer de incluir nesta lista as empresas e os pequenos malandros amadores. Os mais recentes que foram

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Flávio Tomé incluídos no grupo são os presidiários que aprenderam a jogar com a psique da população fingindo que um ente querido foi raptado e vai ser torturado se não houver o pagamento exigido e os hackers, que utilizando habilidades desenvolvidas no mundo digital usam de artifícios para se apropriar de documentos, contas bancárias e senhas. Não podemos esquecer também dos intelectuais que se apropriam de obras de terceiros e as divulgam como se fossem suas. A lista não tem fim quando você pensa nos nigerianos enviando cartas para os empresários irem buscar dinheiro fácil na Nigéria - dinheiro que foi depositado por engano em nome da empresa deles - e ao chegarem ao país são presos e tem que pagar para serem libertados. Os que vendem o famoso “dólar preto” que é dinheiro pintado com uma tinta especial, roubado de um governo qualquer e que se você pagar eles comprarão o produto químico para limpar o dinheiro e deixar você rico. Incluase também aquele onde as mulheres são levadas para o exterior na esperança de um trabalho comum e ali chegando são aliciadas para a prostituição, ou mesmo aquelas que acreditam que encontraram um príncipe encantado que as levarão ao altar na Europa e são transformadas em empregadas domésticas que prestam serviços sexuais para o patrão. Esqueça o que você aprendeu sobre estelionato. Tal como a tecnologia evoluiu em diversos setores, o estelionato também evoluiu e os golpistas sofisticaram em muito as histórias que contam. A cada passo de nossas vidas, desde o nascimento, somos enganados para subtraírem nossas riquezas, nosso voto, nossa vontade. Este projeto foi muito criticado. Alguns acharam que o texto mostrava violência demais, outros que estaria disseminando informações para bandidos atuarem e outros ainda que ele estivesse mistificando pessoas de mau caráter, transformando-as em aventureiros do bem. A não ser que o leitor tenha medo de saber como é a realidade em que vive e queira continuar tapando os olhos como as avestruzes, vale a pena ficar alerta e conhecer este outro mundo. A intenção do texto é salvar as suas economias mostrando como funciona o submundo dos golpistas, livrando-o da tentação de aplicar o seu dinheiro para obter lucro fácil e perdê-lo. Os golpistas agem em todo o planeta, das regiões mais pobres às mais ricas e em todas as classes sociais. A maioria dos seres humanos obedece às ordens sem contestá-las. O golpista contesta para descobrir novos caminhos e não obedece cegamente a nada nem a ninguém. Tal como os povos antigos que habitam os desertos, eles se norteiam por leis não escritas, são como ilhas independentes e formam uma corporação à parte.

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O Golpista Existirão tantos golpes diferentes quantas forem as histórias que a humanidade conseguir criar, portanto, ninguém está livre de ser enganado. Espero que o texto, mantenha o leitor de olhos bem abertos. Finalmente, é importante lembrar uma frase antiga que poderá auxiliá-lo a viver melhor:

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“Quase sempre a desconfiança salva mais do que a fé”



“Conseguir um investidor que forneça um prato de comida para esfomeados é mais difícil de obter que um que invista em um novo negócio ou em uma aventura que satisfará seus desejos” “Um golpista”



“O ser humano é conduzido pela suas crenças e desejos. Descobrindo em que ele acredita e o que deseja, será mais fácil levá-lo a fazer o que você quiser” “Um golpista”



O golpe e o golpista dissecados

Não estamos falando de pequenos malandros que aplicam golpes nas pessoas menos esclarecidas para sobreviver ao dia à dia, nem dos golpes que os canais de TV apresentam ou que lemos nos jornais. Estamos tratando daqueles que se especializaram em aplicar seu talento em pessoas como você e que você não vai encontrar fácil descritos na internet ou na mídia. São necessárias duas partes no mínimo para que um golpe tenha sucesso: Golpista e Vítima (alvo) O golpista pesquisa e trabalha as informações obtidas como qualquer técnico que você conhece e quase sempre entende do assunto que estiver tratando. Treina expressões e o gestual, possui cultura e inteligência acima da média se expressa com segurança alem de quase sempre possuir aparência esmerada. Alguns falam diversos idiomas, conhecem muitos países e tem parceiros diferentes, como ele, nesses lugares. Muitos dos seus parceiros são pessoas e empresas idôneas que prestam serviços convencionais para ele e podem inocentemente serem usados como fachada para o golpe. Utiliza também estruturas reais que denomina de cenários, alugadas ou cedidas em troca da participação nos lucros do golpe. O golpista não vende sonhos, ele alimenta o sonho do alvo. Estimula o alvo a trabalhar para alcançar o que deseja, oferece ajuda por acreditar no plano proposto recebendo uma pequena parte no êxito ou até mesmo participando em sociedade da ação. Mostra caminhos fáceis para o alvo alcançar o seu objetivo. Fundamenta seu plano em procedimentos reais que podem ser comprovados. Pesquisa para descobrir em que o alvo acredita, para conduzi-lo mais facilmente por meio do seu credo até o objetivo final do golpe. 23


Flávio Tomé Usa como ferramenta os medos que o alvo tenha, mostrando a princípio como esses medos seriam impossíveis de se tornarem reais e no final, para atemorizar o alvo, usa a mesma ferramenta de forma que ele prefira perder o que investiu a deixar que o mal lhe atinja. Faz a vítima sentir-se segura nas decisões que toma por não impor nenhuma sugestão. Deixa que o alvo escolha os caminhos que desejar. Qualquer deles levará ao objetivo do golpe. Procura levar a vítima a decidir sobre áreas em que ela não tenha familiaridade. Dificulta os caminhos que não lhe interessa colocando sutis obstáculos e depois resolvendo os problemas passo à passo de forma a obter a confiança do alvo. Geralmente são bons oradores. Lembre-se que um escritor influencia menos pessoas do que um bom orador. O escritor pode formar opiniões em longo prazo e para uma minoria que lê, enquanto que um orador convincente forma opiniões imediatamente e influencia qualquer um que possa ouvir. Consideram-se artistas e nas suas brincadeiras situam-se como violinistas spalas de orquestra, que encantam o alvo quando tocam seus instrumentos. Os mais experientes se dizem maestros, pois produzem os melhores sons de uma orquestra inteira para seduzir quem os escuta. Tratam do golpe como de uma cirurgia onde, como um médico cirurgião, ele tem que extrair o dinheiro do alvo. Referem-se às vítimas ou pseudo vítimas associadas, como perus ou patos. E alguns descrevem as fases do golpe como se estivessem cozinhando. Primeiro vem a ceva ou engorda do pato ou peru, depois o tempero em seguida vai para o forno até que esteja pronto para ser comido. O profissional, como um bom ator, se adapta a qualquer papel, não aplica sempre o mesmo golpe, varia de acordo com o que a oportunidade apresenta. Existem basicamente dois finais para os golpes bem sucedidos: • •

O que termina definitivamente quando o golpista vai embora deixando o alvo com medo de revelar o que aconteceu e assumindo o prejuízo. O que o golpista não cede e vence o alvo usando de paciência e perseverança até que o alvo desista por: 1. Tentar fazer o plano acontecer sem êxito por um longo tempo, minando seu amor próprio e reputação no mercado e junto à família e aos amigos. 2. Ser cobrado incessantemente, a cada instante, para fazer novos investimentos a fim de salvar o plano. 3. Acabar suas condições financeiras.

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Tese de um estelionatário

Sobre a tipificação do crime de estelionato descrito no artigo 171 do CPC: “Existem dois tipos bem caracterizados no crime de estelionato que não é visível para os não iniciados”

1º. Tipo Quando o estelionatário engana alguém em benefício próprio sendo a vítima totalmente inocente. Exemplo: Aquele que comprou bens ou serviços com cartão clonado, cheque roubado, documento falso ou moeda falsa ou ainda vendeu algo impossível, tal como a montanha do Pão de Açúcar no Rio de janeiro.

2º. Tipo Quando a pseudovítima associa-se ao estelionatário com a intenção criminosa de realizar um golpe contra terceiros. Exemplo: Para praticar um crime contra uma seguradora, um banco, uma empresa entre outras pessoas físicas ou jurídicas, com a intenção de se locupletar da ação ilícita. Nesse caso, o golpista convence a pseudovítima que se aplicarem um determinado valor na compra de, por exemplo, papeis falsos, conseguirão obter lucro de um terceiro. Na seqüência o golpista foge com o dinheiro da pseudovítima. Nesse caso, os dois deveriam sofrer as penalidades da lei e a pseudovitima deveria ser processada junto com o estelionatário.

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Capítulo 1

Ouvi o estalar de costela quebrada quando o chute encontrou meu tórax. Quase ao mesmo tempo, chegou um soco no meu rosto que por muito pouco não me acertou em cheio. Caí sentado e levantei rápido posicionando-me para o combate que mal havia começado. Kenzo atacou antes que o cumprimento formal entre os lutadores acontecesse. Curvei a cabeça para cumprimentá-lo e ao levantála a minha costela já tinha ido. Os alunos da academia, posicionados em torno de nós no “dojo”, aplaudiam o mestre que tentava me massacrar. Não deixei que ninguém percebesse a minha dor, imitei um sorriso, lembrei do que eu estava fazendo ali e rapidamente chutei o joelho do meu adversário, no momento em que a sola do meu pé retornava ao chão o outro pé saia e acertava a cabeça dele. Ele tonteou e aproveitei para bater nele até cansar, não atendi aos seus pedidos de parar. A academia viveu um silêncio sepulcral. Os alunos nunca haviam visto o seu mestre ser derrotado. Quando iniciamos a luta ele, confiante, avisou os alunos que aquele era um “kumitê” sem regras, até que um dos dois fosse a nocaute, desmaiasse ou pedisse para parar. Não deixei que ele desmaiasse enquanto eu continuava batendo. O quimono branco dele estava manchado de vermelho sangue, o que fazia a cena ficar impressionante. Os alunos não interferiam, pois não estavam acostumados ver o mestre por baixo naquela situação e imaginavam que ele estava se preparando para algum contra ataque inesperado. Afinal aquela era uma doce vingança. Eu socava as suas costelas e o seu rosto com satisfação. Ouvir o som dos ossos quebrando, moídos, produzia orgasmos múltiplos em mim. Nem se batesse nele o dia inteiro pagaria o que ele havia feito comigo quando eu era criança.

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