Revista Status 06

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PORNOPOPEIA

POR REINALDO MORAES

O pênis, esse glorioso factotum

Virilidade, prazer e procriação são algumas das bandeiras hasteadas no mastro

U M B E LO D I A , L Á P E LO F I N A L D A M E N I N I C E , você acorda de pau duro. Lá está o mandrová ereto a te dar as boasvindas ao admirável mundo da sexualidade. A primeira ereção, para o homem, é o ato fundante de sua identidade ontológica. O velho mote racionalista do dr. Decartes, Cogito ergo sum (“Penso, logo existo”), na era pós-freudiana virou “Pênis, logo existo.” E, acredite, digo isso sem a menor jactância machista. É só uma constatação quase banal. O assunto é antigo. Japoneses e hindus, por exemplo, idolatram há milênios esse ícone da fertilidade e do prazer que é o pirilau. Se você for a Kawasaki, província de Kanagawa, no Japão, no primeiro domingo de abril, vai topar com desfiles de alegres japas carregando andores em que repousam enormes estátuas de pênis eretos apontados pro céu. Trata-se do Kanamara Matsuri ou Festival do Falo de Aço, denominação que remonta a uma lenda segunda a qual um demônio sacana se escondia na vagina das jovens beldades do lugar para castrar às dentadas os incautos que se intrometiam por ali. Até que um ferreiro teve a brilhante ideia de forjar um falo de aço para trincar os dentes do demônio. Pelo sim, pelo não, se você for conferir in loco o Kanamara Matsuri e se engraçar por uma guria local a ponto de ser ver na cama com ela, convém fazer-se preceder por um dildo ou qualquer fruta bananiforme, antes de introduzir nela o seu ペニス,que é como se escreve pênis em japonês. (Como se pronuncia? Não sei. Que tal piroka?) Na pior das hipóteses, uma boa dedada já quebra um galho. Antes perder um dedo que o ペニス, né! Entre os hindus, é ainda hoje muito popular o culto ao lingam, ou falo, símbolo da potência criadora, da fertilidade e, cá entre nós, da velha e boa sacanagem. Existe até uma seita por lá, dos lingavantha, cujos membros trazem um ícone em forma de lingam pendurado no pescoço. Já ouvi em algum lugar a tese de que a gravata ocidental seria uma adaptação tardia desse lingam de pescoço. Não poria minha mão no fogo


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