Select 51

Page 18

CORRENTES Olga Tokarczuk, Editora Todavia, 400 págs., R$ 74,90 A autora polonesa, Prêmio Nobel de Literatura, tornou-se conhecida

ARJAN MARTINS

no Brasil após a publicação do

Paulo Miyada, Cobogó, 2021,

instigante romance Sobre os Ossos

184 págs., R$ 135

dos Mortos. Agora o leitor brasileiro

A monografia do pintor Arjan

entra em contato com Correntes,

Martins reúne obras dos

primeiro livro que deu visibilidade

últimos 15 anos, desde os

à autora fora da Polônia. O

desenhos em nanquim e pena

estranho romance de viagem é

de bambu (2007), passando

escrito em forma de pequenos

pelas iconografias e os mapas

contos, mostrando o trânsito

afro-atlânticos (2016-17), até a vasta série de retratos sem face

constante da narradora nômade

– que demarcam o trauma da violência colonial e perpassam sua

pelos quatro cantos do mundo.

“pintura de travessias”, como define o curador Paulo Miyada no

A própria edição é entremeada

ensaio para o livro. Em entrevista à historiadora Raquel Barreto,

por mapas, que poucas pistas

Martins fala do embate com outros portos da diáspora negra, em

fornecem sobre sua localização.

viagens à África e aos EUA, que norteiam seu trabalho recente.

Um romance que parece estar sempre em movimento, traçando um panorama da inquietude contemporânea.

PROXIMIDADE: ARTE E EDUCAÇÃO DEPOIS DA COVID-19 Marlies De Munck e Pascal Gielen, Cobogó, 2021, 64 págs., R$ 30 Este pequeno livro traduz, em poucas e boas palavras, o que muita gente pensa e com que se preocupa neste segundo ano de pandemia. Os autores belgas, que trabalham com filosofia e sociologia da cultura, propõem uma espécie de guia para a reeducação social do corpo presente. A partir da vivência do isolamento e da interação digital, eles apontam para a importância da cultura na reaprendizagem de compartilhar experiências e na reconstrução da vida social.

SOCIEDADE PALIATIVA: A DOR HOJE Byung-Chul Han, Editora Vozes, 2021, 120 págs., R$ 30 Na sociedade do otimismo tóxico, da psicologia positiva, das curtidas nas redes sociais, ainda sobra espaço para a dor? O pequeno ensaio do filósofo coreano Byung-Chul Han discute os meandros de nossa sociedade anestesiada que, ao suprimir a dor, suporta cada vez menos a vida e se nega a possibilidade de experienciar a catarse. A reflexão torna-se ainda mais acertada no contexto da pandemia, em que a recusa em sentir a dor do outro impacta o sentido de comunidade e humanidade.

POLÍTICAS DA IMAGEM - VIGILÂNCIA E RESISTÊNCIA NA DADOSFERA Giselle Beiguelman, Coleção Exit, Editora Ubu, 224 pgs, R$ 62,90 Antes de 2020, um observador atento já se percebia inserido em uma sociedade mediada por imagens e “vigiado” por corporações digitais. Após a pandemia, a condição agravou-se. As telas tornaram-se as principais interfaces da experiência cotidiana, ocupando todas as dimensões da vida. Além disso, os hábitos de consumo, transferidos durante o lockdown para a modalidade on-line, e a adesão até pelos céticos à ágora digital das redes sociais consolidaram o regime de vigilância que opera pela captação sistemática de dados pessoais na dadosfera. Em seu novo livro, Giselle Beiguelman, professora da FAU-USP, ensaísta e artista, defende que as imagens são, para além de lugar da transmissão de ideias e linguagens, o próprio campo das tensões e disputas políticas da atualidade. Segundo a autora, é a incontável produção de imagens nos feeds e stories de redes sociais, somada à captura avassaladora de dados, este que é o mais cobiçado dos valores agregados pelo capital, que configura uma nova estética da vigilância. Debate urgente. VOL. 10 / N. 51

JUL/AGO/SET 2021


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.
Select 51 by Editora 3 - Issuu