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RIO DE JANEIRO
RESPIRAÇÃO | 15 ANOS OPAVIVARÁ! de 14/9 a 17/11, Casa-Museu Eva Klabin, Av. Epitácio pessoa 2480, www.evaklabin.org.br
O RESPIRAÇÃO, da Casa-Museu Eva Klabin, é um capítulo da his-
Foi uma experiência fabulosa porque solicitou de mim uma
tória da arte contemporânea. Aos 15 anos, atinge uma marca de
prática radical de curadoria (de um quase-artista), já que
longevidade que o diferencia da maioria das iniciativas culturais
os artistas não estavam vivos para fazer a intervenção.
no Brasil. O curador Marcio Doctors (no alto, com trabalho de
Note, o RESPIRAÇÃO não é só uma proposta de site-specific,
Regina Silveira) comemora com intervenção do OPAVIVARÁ! e
como a maioria das pessoas pensam, é uma proposta de in-
fala sobre a vontade de instaurar uma residência para escritores.
tervenção. Acho que o que ainda falta são intervenções de cineastas, fotógrafos e escritores. De alguém que trabalhe com
seLecT: Nesses 15 anos de oxigenação da coleção, quais
arquivo também. Cheguei a desenvolver um projeto de resi-
as surpresas? Algo escapou ao previsto e ao controle?
dência de um mês para escritores e fotógrafos. Eu acho que
Marcio Doctors: Costumo brincar dizendo que o homem plane-
seria incrível. Textos escritos a partir de uma experiência na
ja e Deus ri. Acredito mesmo nisso. Sou sempre muito aberto
casa, em dobradinha com fotógrafos. Os artistas trabalha-
às propostas dos artistas. Evidentemente que existem restri-
riam à noite, enquanto a casa estivesse fechada para o pú-
ções. Afinal, estamos lidando com uma coleção e um museu que
blico, e sairiam na manhã seguinte, quando o expediente
não são um cubo branco. E a desconstrução desse espaço muse-
começasse. O produto final seria um livro. Seria uma desco-
ológico é o desafio curatorial mais fascinante. Certas ideias são
berta. Vale lembrar que Eva Klabin trocava o dia pela noite.
inviáveis. É um jogo de negociação. E o que me impressiona são as soluções que os artistas encontram para ultrapassar as limi-
Como será a intervenção do coletivo OPAVIVARÁ!?
tações. É a potência inventiva da arte. Alguns trabalham no fio da
Vai ser algo muito especial. Queria comemorar o RESPIRAÇÃO
navalha, ou porque a obra ou o sentido da obra exigem. Mas uma
15 ANOS, com muita festa e alegria, pela razão óbvia de ser um
coisa que me surpreendeu foi uma interpelação que tive numa
aniversário, mas também porque queria um artista que injetasse
conferência que fiz sobre o RESPIRAÇÃO no Museu Nacional de
oxigênio novo não só na casa-museu, mas no RESPIRAÇÃO e que
Belas Artes, quando me questionaram sobre a minha irresponsa-
levantasse o astral da cidade. Tudo confluiu para o OPAVIVARÁ!
bilidade de permitir que na intervenção Estabilidade Provisória, do
Ele é irreverente, transgressor e tem excelente bom humor. São
Chelpa Ferro, fosse colocado um vaso chinês se equilibrando no
sérios, sem serem sisudos. É uma síntese do espírito carioca e
limite da quina da borda de uma papeleira inglesa, estilo Queen
do espírito oswaldiano: invenção e alegria. A alegria é a prova
Anne, do século 18. A verdade desarmou a preocupação do es-
dos nove. Como para o OPA não existe festa sem comida, que-
pecialista em conservação e restauro, respondi que era um vaso
riam porque queriam trazer comida para o interior da casa. Isso
falso comprado na Rua da Alfandega. Foi uma gargalhada só...
é impossível. É uma regra de ouro. A solução veio quando propuseram a criação de uma bolha, onde o ato de se alimentar seria
Que territórios o RESPIRAÇÃO ainda tem por percorrer?
musealizado. Da mesma maneira que a casa-museu é a musea-
Esse é o grande desafio: como evitar que a proposta do RES-
lização dos pertences de uma vida, eles propuseram musealizar
PIRAÇÃO não perca fôlego. Só injetando mais oxigênio. Nos
o ato mesmo de viver: comer. Lembrando que o que infla uma
últimos dois anos, decidi radicalizar, passando a trabalhar
bolha é o ar. Ela RESPIRA. PA
com obras fechadas, como a de Krajcberg e Bispo do Rosário.
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