ESPELEOSOFIAS CHARLES FEITOSA
Como pensar as cavernas, nas cavernas? Este ensaio reúne alguns dos resultados parciais da iniciativa de rememorar, comemorar e, se possível, aprimorar a narrativa platônica da alegoria da caverna por meio da ressignificação de algumas de suas diferentes interpretações na filosofia e na cultura pop através da história, sempre tendo os desafios do ensino de filosofia para jovens de todas as idades como pano de fundo.
COLECAO POPFILOSOFIA
Coordenada por Marcia Tiburi, a coleção Pop Filosofia se destina a apresentar novos conceitos no campo da filosofia (e das ciências humanas em geral), que o filósofo francês Gilles Deleuze chamou de “Pop filosofia”. Segundo Deleuze, “conceitos são como sons, cores ou imagens, são intensidades que convém ou não, que passam ou não passam. Pop Filosofia”. A filosofia pop se refere a “intensidades”, às coisas que nos afetam: o cotidiano, acontecimentos e conteúdos que historicamente são negligenciados pela filosofia acadêmica, afeita à certa ideia de filosofia enquanto repetição da história das ideias. No entanto, não se trata de uma ideia de filosofia “manualesca”, uma simplificação. Ao contrário, a Pop Filosofia diz respeito à capacidade de criar conceitos no mesmo sentido em que Andy Warhol “transfigurou” o lugar-comum com sua pop art. A filosofia pop, portanto, trata de outra forma de ver e de mostrar.
A filosofia acadêmica tem uma importância fundamental, isso está claro, mas pode tornar-se rígida e impedir o avanço da própria filosofia e, sobretudo, de seu alcance, tendo em vista uma sociedade de jogos de linguagem dinâmicos. Por isso, a Pop Filosofia também é um desafio. Trata-se de um projeto que envolve a perspectiva da “filosofia criativa”, na qual os autores convidados são desafiados em sua liberdade, propondo novas leituras e até mesmo novos conceitos.
Neste volume, Charles Feitosa lança mão do neologismo “espeleosofias”, que significa, literalmente, “sabedorias das cavernas”, para pensar novas formas de olhar para o mito da caverna de Platão, um clichê teórico que, como todo clichê, teve suas potencialidades implodidas com o passar do
tempo. Neste projeto de revisão do mito, das suas referências clássicas até as suas retomadas pela cultura pop, como no filme Matrix, o autor propõe pensarmos espaços de “cavernas-encruzilhadas”, onde saberes díspares podem se atravessar.
Charles Feitosa é doutor em filosofia pela Albert-Ludwigs Universität Freiburg (Alemanha), professor e pesquisador da UNirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) e coordenador do PoP-laB (Laboratório de Estudos em Filosofia Pop). É autor, entre outros, de Explicando a filosofia com arte e Transversões: Ensaios de filosofia e pedagogia pop.
ESPELEOSOFIAS CHARLES FEITOSA
NOVAS E ANTIGAS MANEIRAS DE PENSAR (N)AS CAVERNAS
Espeleosofias – neologismo, substantivo plural [es-pe-le-o-so-fi-as] Etimologia: Do grego “spelaion” (σπήλαιον), que significa “caverna”, e “sophia” (σοφία), que significa “sabedoria”; literalmente: “as sabedorias das cavernas”.
1. “Espeleosofias” são olhares alternativos para as cavernas, interpretadas não mais apenas como lugar de prisão e ignorância, mas também como dispositivos férteis para repensar a condição humana, a busca pela liberdade e para aprender a lidar melhor com a pluralidade de sentidos da realidade.
2. O subtítulo “Novas e antigas maneiras de pensar (n)as cavernas” indica que o fio condutor será a discussão da atualidade da famosa “alegoria da caverna” de Platão, em suas diferentes representações na filosofia, na literatura e no cinema através da história.
“Toda filosofia esconde uma outra filosofia; toda opinião é um esconderijo, toda palavra uma nova máscara.”
FRIEDRICH
NIETZSCHE, Para além do bem e do mal
“The best way out is always through.” [A melhor saída é sempre através.]
ROBERT FROST,
A Servant
to Servants
“Em vez de luz tem tiroteio no fim do túnel.”
LEGIÃO URBANA, Mais do mesmo
15 Da alegoria da caverna às cavernas das alegorias
23 Versões da caverna na cultura pop
31 A versão de Platão
47 Inversões da metafísica da luz
59 Formas de transverter as cavernas
73 Por mais e melhores espeleosofias
79 Das cavernas às encruzilhadas
85 Agradecimentos
87 Referências bibliográficas
DA ALEGORIA DA CAVERNA ÀS CAVERNAS DAS ALEGORIAS
A cAvernA-clichê
O mito da caverna é uma imagem-clichê, pois quase todo mundo sabe do que se trata, mesmo sem nunca ter lido A república, de Platão. A cena é simples, mas insólita: algumas pessoas estão acorrentadas em uma caverna desde que nascem e só conseguem ver sombras projetadas na parede. Essas sombras são consideradas reais pelos prisioneiros, mas não são a verdadeira realidade. Alguém consegue escapar da caverna e descobre a verdade atrás das aparências. Volta para compartilhar com os outros prisioneiros a descoberta, mas estes não dão crédito ao seu testemunho e ainda tramam a sua morte.
No início das conversas de planejamento com a equipe do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) de Filosofia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), em maio de 2023, chegou às minhas
SHOW de Truman, O. Direção: Peter Weir. Roteiro: Andrew Niccol. Elenco: Jim Carrey, Laura Linney, Natascha McElhone. Estados Unidos: Paramount Pictures, 1998. 1 DVD.
SUMNER, Claude. Ethiopian Philosophy. Addis Ababa: Addis Adaba University, 1982.
TIBURI, Marcia. “Filosofia Pop: Manifesto em 16 teses.” Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/filosofia-pop-manifesto-em-16-teses/. Acesso em: 30 out. 2024.
TUANA, Nancy (Org.). Feminist Interpretations of Plato. Pennsylvania: Penn State University Press, 1994.
VALÉRY, Paul. “Discours du centenaire de la photographie”. Études photographiques, Paris, v. 10, primavera de 2001. Disponível em: http://journals.openedition.org/etudesphotographiques/265. Acesso em: 24 abr. 2024.
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© Editora Nós, 2025
© Edições Sesc São Paulo, 2025
© Charles Feitosa, 2025
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F311e
Feitosa, Charles
Espeleosofias: novas e antigas maneiras de pensar (n)as cavernas / Charles Feitosa
Editora Nós; Edições Sesc São Paulo, 2025. 96 pp.
Coleção Pop Filosofia: organizada por Marcia Tiburi.
ISBN 978-65-85832-62-5 [Editora Nós]
ISBN 978-85-9493-322-5 [Edições Sesc São Paulo]
1. Filosofia. 2. Pop filosofia. 3. Mito da caverna de Platão I. Tiburi, Marcia II. Título. III. Série. 2024-4324
CDD 100 CDU 1
Elaborado por Odilio Hilario Moreira Junior, CRB-8/9949
Índice para catálogo sistemático:
1. Filosofia 100 2. Filosofia 1
FONTES Tiempos, LargePoint
PAPEL Pólen Bold 90 g/m²
GRáFICA Margraf