

MICHAELLÖWY ECOSSOCIALISMO
No verbete que lhe dedica o dicionário biográfico
Le Maitron, lê-se que Michael Löwy começou sua militância em 1955, participando ainda adolescente da fundação da Liga Socialista Independente. Uma trajetória de setenta anos de reflexão e de militância pela causa do socialismo é algo, por si só, extraordinário. Mas há dois aspectos dessa longa trajetória ainda mais notáveis. O primeiro é a amplitude de temas abarcados por sua obra. Poucos são os intelectuais capazes de abordar com igual maestria e originalidade um leque de temas que recobrem, por exemplo, a obra juvenil de Marx, o romantismo, o surrealismo, o anarquismo, o universo de Kafka, bem como pensadores tão diversos e complexos como Max Weber, Rosa Luxemburgo, Walter Benjamin e György Lukács.
O segundo aspecto da trajetória intelectual e política de Löwy, de que este livro é exemplar, é sua capacidade de formular uma síntese entre duas tradições filosóficas, políticas, ideológicas e mesmo espirituais, nascidas ambas no século xix: o socialismo e a ecologia. O autor mostra como, embora distintas, essas duas tradições tangenciam-se na obra de Marx e na dos “marxistas românticos”, até que, das intuições comuns, bem como dos desdobramentos e vicissitudes históricas de ambas as tradições, nascem nos anos 1980 o conceito e o programa político do ecossocialismo. Um dos pontos cruciais desta magnífica introdução ao ecossocialismo é que o prefixo “eco” não é, no pensamento e nas propostas de Michael Löwy, apenas um prefixo ou um apêndice “modernizante” do socialismo. Trata-se de uma verdadeira síntese, no sentido de que nenhum dos dois componentes pode ser, doravante, pensado sem o outro. Nas próprias palavras do autor: “o ecossocialismo é uma convergência, uma unidade dialética, se
se quiser, entre as ideias fundamentais do socialismo [...] e os princípios basilares da ecologia. É um socialismo que leva a ecologia a sério e para o qual a defesa da nossa Casa Comum, a defesa da Mãe Terra, não é um capítulo entre os 32 do programa, mas sim o coração do projeto socialista”. O ecossocialismo é, em suma, um socialismo para o século xxi, na medida em que, ainda nas palavras do autor, “põe no centro da reflexão e da prática do projeto socialista a relação com a natureza e com o meio ambiente”. Isso posto, o ecossocialismo é também, por sua vez, uma ecologia para o século xxi. Ele mostra a irreconciliável contradição entre, de um lado, a devastadora pulsão expansiva do capitalismo e, de outro, a manutenção das coordenadas biofísicas do sistema Terra que favorecem a continuidade da vida humana e não humana. É preciso abandonar de vez a velha e tenaz ilusão de que o capitalismo seria capaz de uma autossuperação por meio de lentas transições incrementais. Diante da aceleração vertiginosa do desastre socioambiental planetário, já não há mais saída para a humanidade sem uma verdadeira ruptura civilizacional. Obviamente, essa ruptura comporta riscos imensos, mas é preciso voltar a acreditar em nossa capacidade de imaginar e criar coletivamente uma civilização radicalmente não capitalista e pós-capitalista. Uma civilização que recupere a radicalidade democrática do socialismo no âmbito de uma relação não destrutiva com a biosfera de que somos parte integrante e existencialmente dependente. Sem sombra de dúvida, este pequeno grande livro de Michael Löwy ocupa um lugar de destaque na biblioteca e na agenda política de nossos dias.
luiz marques
Universidade Estadual de Campinas – Unicamp
ECOSSOCIALISMO
serviço social do comércio
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MICHAELLÖWY ECOSSOCIALISMO
© Michael Löwy, 2025
© Edições Sesc São Paulo, 2025
Todos os direitos reservados
Preparação Bibiana Leme
Revisão Guilherme Conte, Simone Oliveira, Leandro Rodrigues
Capa e projeto gráfico Cristina Gu
Diagramação Cristina Gu
Ilustração da capa Aislan Pankararu
Organização da Coleção Reexistências Maria Elaine Andreoti
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) Löwy, Michael
Ecossocialismo: um projeto de civilização / Michael Löwy. – São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2025. –104 p.
iSBN 978-85-9493-349-2
1. Ecossocialismo. 2. Crise ecológica planetária. 3. Aquecimento global. 4. Política. 5. Política econômica. 6. Sociedade. 7. Capitalismo verde. 8. Preservação ambiental. 1. Título.
L9799e cDD – 304.2
Elaborada por Maria Delcina Feitosa crB/8-6187
Edições Sesc São Paulo
Rua Serra da Bocaina, 570 – 11º andar 03174-000 – São Paulo SP Brasil Tel.: 55 11 2607-9400 edicoes@sescsp.org.br sescsp.org.br/edicoes / edicoessescsp
Luiz Deoclecio Massaro Galina
APRESENTAÇÃO: PENSAR OUTROS MUNDOS POSSÍVEIS
Luiz Deoclecio Massaro Galina
Diretor do Sesc São Paulo
Repensar os modos de produção e consumo sob o sistema capitalista deixou de ser um chamado mais ou menos abstrato, encampado sobretudo por especialistas na crise ambiental, para se transformar na principal agenda política do presente – cabendo a todas as pessoas se ocuparem com esse que é um impasse comum. No pulso dessa conjuntura, a Coleção Reexistências reúne breves ensaios dedicados a não somente elucidar as consequências da degradação do planeta provocada pela ação humana, mas também a oferecer possíveis alternativas a ela, a partir de visões insubmissas à regra do lucro. Escritos por quem milita nessa frente primordial, os textos apresentam ideias, práticas e soluções viáveis para o cultivo de outras formas de existir, a fim de
SOBRE O AUTOR
MICHAEL LÖWY é sociólogo e filósofo marxista franco-brasileiro. Estudou ciências sociais na USp. Doutorou-se na Sorbonne sob a direção de Lucien Goldmann. Vive na França desde 1969. Lecionou na Université Paris 8 e na École des hautes études en sciences sociales (EHESS). Atualmente é diretor emérito de pesquisa do Centre national de la recherche scientifique (cNrS), Paris. Medalha de prata do cNrS em 1994. Seus escritos foram traduzidos em 30 línguas. É autor, entre outros, de Método dialético e teoria política (Paz e Terra); Romantismo e messianismo: ensaios sobre Lukács e Benjamin (Perspectiva/Edusp); A guerra dos deuses: religião e política na América Latina (Vozes) – vencedor do Prêmio Sérgio Buarque de Hollanda do Ministério da Cultura, em 2000; A teoria da revolução no jovem Marx (Boitempo); O que é o ecossocialismo? (Cortez); A revolução é o freio de urgência. Ensaios sobre Walter Benjamin (Autonomia Literaria) – vencedor do Prêmio Europeu Walter Benjamin (2020).
Fonte Citizen Drummond
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Impressão MaisType
Data agosto de 2025
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propostaradical transformarquevisanãoapenasa asrelaçõestambémdeprodução,mas paradigmaacriaroutro civilizatório.