LYRA LUDICA

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L Y R A LUDICA

Glauco Mattoso LYRA LUDICA

Casa de Ferreiro

São Paulo

Lyra ludica

© Glauco Mattoso, 2025

Editoração, Diagramação e Revisão

Lucio Medeiros

Capa

Concepção: Glauco Mattoso

Execução: Lucio Medeiros

Fotografia: Akira Nishimura

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Mattoso, Glauco

LYRA LUDICA / Glauco Mattoso. –– Brasil : Casa de Ferreiro, 2025. 308 Páginas

1.Poesia Brasileira I. Título.

25-1293 CDD B869.1

Índices para catálogo sistemático: 1. Poesia brasileira

SONNETTO DAS LYRAS LIBERAS [13.000]

Nas lyras onde exporro, me libero. Nas lyras onde enxergo, vou sonhando. Nas lyras onde brinco, mais me expando. Nas lyras mais sombrias, morrer quero.

Assim, em LYRA LUBRICA, sou fero. Porem, em LYRA LUCIDA, mais brando. Depois, em LYRA LUDICA, vou dando risada. Em LYRA LUGUBRE, exaggero.

Mais livros de sonnettos eu preparo ao longo da cegueira, appesar duma insomnia que tornou meu dia amaro.

Loucuras, muitas, deixem que eu assuma, pois nesse versejar é que eu não paro de, emquanto vivo, ousar ver luz na bruma.

SONNETTO DA LINGUAGEM NEUTRA [10.086]

Linguagem sem machismo, neutra: a tara se expalha. Quem milita vae à lucta. O cara que é linguista ja disputa terreno que, sem genero, hoje enfara.

{De esquerda, não: de “esquerde”!}, elle repara. A bicha virou “biche”. Puto ou puta viraram simplesmente “pute”. Chuta que “todes” “mixturades” são, o cara.

“Que merda! Mas que porra!”, alguem commenta. {Que merde! Mas que porre!}, esse indigente linguista corrigir ainda tenta.

Coitado do petista! Nem que tente, não pode mais chamar de “presidenta” a Dilma, agora só de presidente!

SONNETTO WEIRDCORE [10.130]

Glaucão, que tal testarmos o seguinte? Você faz um sonnetto que combine carniça com phaisão numa vitrine e fraque com cartola num pedinte!

Na guerra, crueldade sem requincte; cuchê com cappa dura num fanzine; nazista que, nas artes, illumine; actriz que, na novella, não se pincte!

Modello que não seja prostituta; rockeiro que não cheire e que não fume; zagueiro uma cannella que não chuta!

Chuteira com cheirinho de perfume e nectar no gostinho da cicuta! Vidente cego? Deixe que eu arrhume!

PLANETA NA VENETA [10.134]

Chupar a propria rolla poderá qualquer macaco ou mico: o chimpanzé, citando um bom exemplo. Mas não é que espera a macacada algo p’ra ja?

Planeta dos macacos? Sim, está nos planos delles todos e ralé seremos nós, humanos! Lamber pé de mico será pouco! O que virá?

Teremos nós, escravos, que chupar as piccas da fedida macacada que impera num planeta similar!

Pensou nisso, Glaucão? Alem de cada pé sujo lamber, muito mais azar será mammar na rolla amarellada!

PRECIOSISMO MINIMALISTA [10.150]

Mais merito não é versos compor com rhymas preciosas typo “foda”, que rhyma com palavras como o pó da botina que lambi dum oppressor.

O merito consiste no valor das rhymas mais communs, usadas só da maneira que, espontanea, vae, na roda dos themas, dar recursos ao auctor.

Fazer, com menos rhymas, mais poemas, em vez de vicio, pode ser virtude, mas desde que insistir tu jamais temas.

A rhyma rica às vezes nos illude si formos quem na forma, appenas, crê. Mas dum thema duvidar jamais eu pude.

FRANCO SALTIMBANCO [10.168]

É comico o palhaço, que tropeça nas proprias pernas, quando se exborracha. É comico o humorista: a gente racha o bicco si chulice emprega à bessa.

É comico o pettiz que prega peça nos outros, si levar uma bollacha. É comico o cacete que na racha não entra, quando a puta a rir começa.

Ridiculo, o politico se pega no tapa com collegas em plenario e, pego no flagrante, tudo nega.

Mas, muito mais ridiculo, ou hilario, na rua sou eu. Minha cara cega de todas as piadas é themario.

MACHADIANOS DESENGANNOS [10.188]

Poeta pornographico, o subjeito sonhava menos chulo ser. Queria nas causas sociaes ver poesia: {Quem seja assim tão habil é perfeito!}

Na lyra mais politica defeito vê, crasso, outro poeta que, por via das luctas, não gozou e se entedia: {Pudesse eu nos amores ser acceito!}

Mas lyrico quem era não estava contente. Desejava ser do humor um mestre: {Romantismos? Ora, à fava!}

Emfim, um humorista quiz depor: {Me enchi das de sallão! O que deprava é que é legal! Pornô si eu fora auctor…}

DESATTRAVESSANDO BILAC [10.209]

{Flor ultima do Lacio, inculta e bella, a um tempo és exsplendor e sepultura, nativo ouro que, em sua ganga impura, a mina entre os cascalhos, bruta, vella!}

{Assim, desconhescida, te amo, obscura, clangor de tuba, lyra a mais singella, que tens o trom e o silvo da procella e o arrollo da saudade e da ternura!}

Bilac errou no rhythmo, pois accyma deviam os quartettos ter ficado. Errou, mas de proposito, se estima.

Si eu fosse rigoroso, para aggrado de mestres mais cricris, até na rhyma mudava alguma coisa. Mas me enfado.

DIA DA LINGUA PORTUGUEZA [10.219]

Mais datas tem a lingua para alguem poder commemorar, mas quando penso nos erros do povão, sinto um immenso desgosto, Glauco! Sentes tu tambem?

Ja tantos mencionei, mas um, que vem bastante me irritando, o proprio senso commum aggride: é “sobre”, ja que extenso emprego como “sob” obtido tem!

Não quero que tu “sobre” meu poder estejas, nem que “sobre” tal adspecto tu sejas meu escravo, por prazer!

Te quero “sob” as solas, qual insecto que piso, comprehendes? Escrever uns versos “sobre” irás! Bem te interpreto?

DIA DO RISO [10.222]

Si estou num ambiente mais fechado, com menos gente extranha ao meu redor, provoco só sorrisos. Na peor hypothese, gargalha alguem mais sado.

Mas, quando pela rua ando, coitado do cego que vos falla! Do menor tampinha ao marmanjão, provoco mor risada, da gallera para aggrado!

Si cara de palhaço tenho, ou si appenas a cegueira dá motivo ao sarro, nada ainda concluí.

Mas, quando dos moleques não me exquivo e levo uma rasteira, até chichi me fazem! Tenho sorte de estar vivo!

DIA DA ALPHABETIZAÇÃO [10.266]

Escrevem ja, no gruppo dos bassês, que curtem um “luau”. Não, não é mau, está correcto. Porra, mas “corau”, ou mesmo “karaukê”, não? Tu não vês?

Questão, naquella turma, alguem ja fez de termos como “aumigo”, tudo em “au”, usar. Tambem “encãotro”, num tal grau de excesso, que paresce insensatez!

Não achas “cãominhada” assaz horrivel, poeta? Consideras “Au Que Mia” bom nome num petshop de alto nivel?

Então nada direi mais, pois a thia que ensigna portuguez faz o possivel, mas essa cachorrada a silencia!

DIA DA EDUCAÇÃO À DISTANCIA [10.366]

Prestar vestibular? Mas para que? Se inscreva ja na nossa faculdade! Pagar mensalidade? Mas quem ha de gastar tanto, si vive em miserê?

Na nossa faculdade, você lê na tela tudo! Cursa o que lhe aggrade, estuda si quizer! Ninguem lhe invade o quarto p’ra dar toques a você!

Só paga as appostillas e diploma terá, reconhescido pelo MEC! Verá que nosso curso não embroma!

Accesse ja, se inscreva ja, moleque! Quem quer presencial e enorme somma investe, não terá, de opções, tal leque!

DIA DA CHARADA [10.388]

Hem, Glauco? O que é que o homem tem na frente, a mulher tem no meio e o gay não tem? A lettra “H”! Gostou? Você tambem se liga num enigma que eu invente?

Onde é que a mulher tem, naturalmente, cabello mais crespinho? Ora, ninguem duvida que é nas Africas! Porem, pergunta ainda tenho que é mais quente!

O que é que, em poesia, tem cabeça, alem de ter pé? Dessa você vae gostar! E, caso goste, me aggradesça!

Resposta: as suas obras, ja que é pae você daquella lyra mais travessa, que implica algum tesão, no qual recae!

DIA DA MALDADE [10.444]

Maldade e malvadeza teem egual sentido, menestrel? Acho que não. Si eu faço sem maldade um chiste, tão somente gracejei sem querer mal.

Mas, quando sou malvado, sou o tal! Eu faço o meu rival lamber o chão que piso, faço alguem pedir perdão ainda que nem seja meu rival!

Um cego, por exemplo… Si me der na telha ser maldoso, só lhe digo que mije como mija uma mulher!

Emfim, não o tractei como inimigo. Mas, si eu malvado mesmo ser quizer, farei beber chichi, como castigo!

OUTRO DIA DO DIALOGO [10.449]

C’um cego o cadeirante idéa troca. -- Você, nessa cadeira, tem tesão? {Eu tenho. Mas você, que faz, me’rmão?}

-- Eu chupo quem enxerga. Sou masoca.

{É pena. Só mulher meu pau provoca.}

-- E caso uma mulher lhe diga não? {Ahi me satisfaço com a mão.}

-- Então nem serei util à piroca…

{Mas acho que você me servirá.}

-- Sim? Como, si nem sirvo p’ra chupar? {É simples. Massageie meus pés, ja!}

-- Agora reconhesço o meu logar. {Exacto. Um cego algum uso terá.} Assim, completam ambos bello par.

DIA DO BISCOITO [10.454]

Chamar a poesia de biscoito finissimo? Não chamo, não, de jeito nenhum, Glauco! Mas acho que eu acceito que chamem de bollacha, sendo affoito!

Ainda aos dezesepte, ou aos dezoito, eu via a poesia com respeito total, accreditava ja ter feito poemas geniaes! Hoje, me ammoito!

Ainda que não seja para a massa, não pode ser chamado de sequilho, siquer, algo que passa por trappaça!

Por vezes, seus sonnettos compartilho com gente que os degusta, mas não faça questão de terem gosto de polvilho!

DIA DA ARTE POSTAL [10.463]

Tambem eu “mailartista” fui, Glaucão, assim como você, que seu JORNAL DOBRABIL enviava, por postal remessa, a todo cantho da nação!

Comtudo, os meus objectos postaes não passavam de papel, do mais banal papel que, na privada, a gente mal segura, para não sujar a mão!

Eu dentro de enveloppes punha aquillo e, quando recebiam minha charta, ninguem bem conseguia definil-o!

Chamavam de “impressão de mesa farta”, de “espaço utilitario” ou de “intranquillo saber”, mas nunca “ao raio que te parta”!

DIA DO CARICATURISTA [10.470]

Fizeram de você caricatura fiel, poeta? Jura? Ainda não? É facil! Vou pedir a um amigão que faça! Ah, vae honrar sua figura!

Ninguem o retractou bem, você jura? Pois elle desenhar irá, com mão segura, a sua cara de cuzão, de cego chupador, feiura pura!

Você parescerá, questão eu faço de ver, com as feições que tem, de facto: aface mais perfeita dum palhaço!

De quebra, desenhar vae um sapato ao lado desse rosto sem um traço siquer de dignidade, é o que eu constato!

DIA DA NÃO AGGRESSÃO [10.473]

Disseram que de mim ninguem excappa? Mentira, Glauco! Ja fallei que não dei soco, nem porrada, nem tapão nas fuças de ninguem no nosso mappa!

Estão mentindo, Glauco! Numa nappa jamais dei algum murro ou saphanão! Appenas, nas pessoas em questão, dei foi um formidavel pescotapa!

Não sou que nem o Cyro, que por nada sae dando pescotapas em qualquer pessoa que esboçar uma risada!

Só prego um pescotapa si me der na telha, menestrel! Leva a pancada quem diga que eu não gosto de mulher!

Lembrar-se da alegria de creança a gente sempre lembra. Piolin, Torresmo ou Arrelia, para mim, são nomes que a memoria ainda alcança.

Fuzarca, Carequinha… Na ballança nós pomos os momentos, por assim dizer, que são felizes. Só ruim ficou essa dramatica lembrança…

Palhaço dos palhaços, quem é mais? Só pode ser o cego que, na rua, é thema das piadas mais banaes.

Si eu passo, cada hyena faz a sua chacota… Nem garanto que jamais eu seja quem aos cães se prostitua.

DIA DO PALHAÇO [10.517]

DIA DO ADVALIADOR [10.530]

Tu queres saber? Ora, a poesia que fazes não me vale grande cousa! Discordas? Então olha aqui na lousa! Teus versos são é grossa porcaria!

Sinão, vejamos: “beijo” rhymaria um bardo com “desejo”? Ora, quem ousa? Mas meu quinau só nisso não repousa: Rhymaste “doce” e “trouxe”! Que heresia!

Com “bocca” tu rhymaste “louca”! Viste? “Brazil” tu com “partiu” rhymaste! E pé quebrado tem teu verso, não resiste!

Então, como tu queres que eu dê fé naquillo que reputo horrivel? Chiste me queres fazer? Chamas-me Mané?

OUTRO DIA DO MACACO [10.546]

Inveja, menestrel, sentimos nós, humanos, do mais reles chimpanzé! Concorda? Pois então, Glaucão! Pois é! Chupar-se elle consegue, e bem veloz!

Seu penis abboccanha, logo appós lambel-o qual si fora piccolé! Glaucão, que inveja! Vou dizer até que sinto uma agonia aguda, atroz!

Engole depressinha a sua porra, exactamente como alguem faria com tudo que do proprio pau excorra!

Mas, como não podemos tal follia fazer, ja me contento que recorra à minha mão, ao dedo que se enfia…

DIA DO MECHANICO [10.591]

Seu carro tem defeito? Que não seja por isso! Um bom mechanico dará, na certa, a solução! Defeitos ha, mas todos consertaveis, mano! Veja!

Aquella rebimboca, de bandeja, para a parafuseta parará de falhas provocar, meu camará! Você paga ao mechanico uma breja!

Mas, mesmo que defeito nenhum haja, o gajo um achará! Sinão, Maria, qual é sua vantagem, cara gaja?

Não sei das profissões o que seria sem essa embromação que não ultraja ninguem, mas no Brazil todos vicia…

DIA DO TAPA NA CARA [10.611]

Plenario cheio, quando o tapa soa na cara dum collega deputado. Ja nem me escandalizo. Uma pessoa normal acha tal facto só gozado.

Mas, nisso, os dois se pegam, e quem zoa dos podres do Congresso mais aggrado terá quando souber que, não à toa, a coisa se repete no Senado.

Plenario cheio soa redundancia. Tambem redunda, caso não advance, a reforma que devia ser votada.

Mas outra redundancia fica cada vez mais obvia: as briguinhas da bancada causando, delles, nossa repugnancia.

OUTRO DIA DO PERDÃO [10.622]

Zombei eu, ja, de todos! Perdoar ninguem me quererá, neste momento atroz em que estou, cego, quando tento ainda reerguer-me! Puta azar!

Agora, de mim todos a zoar estão! Pedir perdão? Mas meu tormento os deixa divertidos! Meu lamento lhes causa riso! Como supplicar?

Pedir irei perdão por ter eu sido ironico, mordaz, irreverente? Irão dizer que estou mais divertido!

Hem? Como faz você? Como se sente, Glaucão? Mais masochista? Pois duvido que possa perdoar essa má gente!

DIA DA CORRIDA DE SÃO SYLVESTRE [10.670]

Ei, tive idéa boa, trovador!

Você na São Sylvestre! Hem? Genial! Sim, cegos tambem correm! Hem? Que tal? Eu fico do seu lado, quando for!

Está com medo? Pensa que se expor irá para as platéas nessa tal corrida de infelizes, que geral seria a gargalhada? Ah, por favor!

Seus versos ao ridiculo ja tanto se prestam! Elles querem ver você suando, não trancado no seu cantho!

Ficar sempre escondido para que? Ah, vamos! Que se foda! Nem me expanto si, numas, até rapa alguem lhe dê!

DIA DO DESFILE DE SALTIMBANCOS [10.675]

Que scena, amigos! Quero versejal-a! Em meio aos saltimbancos que na rua faziam, sem pudor, aquella sua devassa passeata, mandei balla!

Despi-me, me pinctei, como se falla, “montei-me” e, como quem se prostitua em pleno carnaval, qual bicha nua e louca, vi-me em tal traje de gala!

Sahimos a dansar e saltitar, emquanto a turbamulta, divertida, gritava: “Ah, la vae elle tropeçar!”

De facto, me rallei pela avenida, soltei-me totalmente, em meu azar. Foi sonho, mas resume minha vida.

NATIONAL PASS GAS DAY [10.713]

Peidar, eu peido mesmo, menestrel! Mas gosto de peidar quando tem gente por perto, muita gente! Quem aguente não ha, mas esse é mesmo o meu papel!

Difficil é conter o riso! Ao bel prazer, expalho peidos, de repente! Depois, finjo que estou indifferente ou mesmo offendidão! Dou de Miguel!

Em casa, penso nisso: então gargalho à bessa, abertamente, p’ra caralho, lembrando dessas caras ammarradas!

Por vezes, entre amigos, eu expalho fedidas bufas! Elles o meu galho não quebram: ja levei umas porradas!

DIA DA MAÇAN [10.736]

Poeta, aqui commigo, pensa só! Si a Biblia fosse indigena, a banana seria prohibida, na mundana noção do que fazer no quiproquó!

Em vez duma serpente, quem, com dó da pobre Eva, offeresce essa sacana fructinha é o chimpanzé! Mas quem se damna é Adão, que não desapta aquelle nó!

Alem de ser comida, a bananinha suggere aquella anal penetração que, pelo chimpanzé, será damninha!

E então? Inda preferes tu, Glaucão, a typica maçan que descaminha, na Biblia, de connubio uma noção?

DIA DE REMOER A INVEJA [10.747]

Estou ha vinte e quattro horas sem luz, Glaucão! De inveja agora morro, quando a noite cae e eu fico ruminando meu odio! Tudo em volta me faz jus!

Ao lado, o quarteirão todo conduz a vida normalmente! Vejo um bando de gente, à luz accesa, conversando e rindo de mim, como ja suppuz!

Na geladeira, as coisas se estragando e, no serviço, tudo que é remoto parado! Que destino mais nefando!

Olhando da janella, às vezes noto que estão a gargalhar, ja commentando a serie de improvisos que eu adopto…

DIA MUNDIAL DO RISO [10.785]

Não posso ver um cego, menestrel, que caio na risada! Ah, que risada gostosa! Ah, caro Glauco, não ha nada mais comico! Desculpe si é cruel!

Si vejo um pela rua, sem fiel parceiro que o conduza, ah, faço cada maldade que você dirá malvada demais! Mas esse é mesmo o meu papel!

Eu tenho visão boa, não preciso duns oculos de grau! Nenhum defeito na vida tive! Então, nos que teem, piso!

Gostou do meu humor? Eu approveito qualquer occasião para meu riso mostrar! Mas de mim rirem, não acceito!

DIA DA

CONSCIENCIA

INDIGENA [10.798]

Magina! Nem tupy, nem guarany eu tenho consciencia de ser, mano! Tamoyo ou aymoré, quando me uffano de ser, alguem me extranha por aqui!

Tentei ser um chavante, mas não vi ninguem que me entendesse! Si me irmano ao bugre botocudo, pelo cano eu entro, pois a turma de mim ri!

Por vezes, tento ser tupynambá! Em outras quero ser tupyniquim! Não posso ter um pé, nem ca, nem la!

Agora, yanomami para mim alguem ja suggeriu, Glaucão! Não dá! Está muito na moda! Achei ruim!

DIA

DA AGUIA [10.807]

Uma alfaiataria de interior, chamada de Aguia d’Ouro, visitada foi por um forasteiro que, do nada, pinctou nas redondezas, quiz se expor.

O gajo, que exigia algum rigor na lingua portugueza, vira cada errão assustador que não aggrada ninguem na capital, é de suppor.

“Impóio” por “emporio” viu. Tambem “ataio” por “attalho”. Foi, porem aquella uma excepção. Deu parabens.

-- Não, Aguia não! Agúia! -- deu-lhe, bem na latta, a correcção o dono. Vem ao caso nos lembrarmos desses… trens.

DIA DA GARGALHADA [10.820]

Não, Glauco, você sabe que eu não rio à toa. Não sou rico, por signal. Tambem não acho graça quando mal fazer vejo ao cachorro um velho thio.

Alguem, que seja curto de pavio e perca a paciencia, dá geral motivo de piada. Acho normal, mas, fora algum sorriso, mais não pio.

Só mesmo desembesto na risada si vejo um cego otario, na calçada, tentando desviar dalguma poça!

Ahi, Glaucão, conter a gargalhada não posso, caso o cara, à frente, invada a lama da sargeta! Ha alguem que possa?

DIA DA BOSSA NOVA [10.830]

Verso portuguez quero utilizar, como nos Lusiadas, neste dia meio official, que nos lembraria a bossa que, nova, perde logar.

Sim, fica difficil para alguem dar cara decasyllaba à melodia dum tal hemistichio que, em theoria, segue, de Camões, caso singular.

Sendo bossa nova, fica bonito, para se escandir, este blablablá, feito um besteirol, oco, que eu recito…

Ninguem musicar vae, mas claro está que este bom refrão fica bem inscripto: Sabadabadá! Sabadabadá!

DIA DA GYMNASTICA OLYMPICA [10.867]

Glaucão, você precisa practicar gymnastica, tornar-se parathleta! É simples! A principio, sua meta será pequena, andando devagar!

Aos poucos, a bengala abbandonar irá! Logo depois, na mais completa nudez, você verá que nada affecta seu exito, si passa a saltitar!

Você, que nem movia do logar as pernas, vae notar que sempre dá, bem facil, para largos saltos dar!

Talvez a marca olympica tão ja não possa alcançar, Glauco, mas um ar hilario ganhará! Quem não rirá?

DIA DA VIUVA [10.884]

Poeta, reparaste? Gargalhada gostosa a viuvez sempre provoca na propria viuvinha! Não te choca aquella alegre e ludica risada?

Ouviste fallar? Dizem que, emfim, nada obriga a mulher, que era da piroca ja molle do marido (uma fofoca geral), a chupadora! Que coitada!

Emfim, a viuvinha agora pode chupar qualquer amante, sem siquer saber que nome tenha quem a fode!

Por isso é que gargalha a tal mulher que, nova, enviuvou! Hem? Não te accode achar que engula a porra si quizer?

DIA DA NUDEZ [10.906]

Jamais conseguirei ficar pellado na praia, menestrel! Em minha casa, porem, a gente sempre se extravasa, andando pelladão por todo lado!

Occorre que vizinhos estão ja, do seu poncto de visão, eis que isso vaza, em photos registrando o que dephasa nas minhas partes intimas, mau fado!

Nas redes elles postam minha picca ja flaccida, a barriga advantajada, a bunda até quadrada, emfim, a zica!

Não fosse a decadencia, Glauco, nada eu tinha contra as photos! Tudo indica que querem fazer memes, dar risada!

DIA DO GRAPHICO [10.910]

Um lerdo funccionario, que imprimia, por partes, o DIARIO OFFICIAL, mexeu (foi sem querer querendo) mal nalguns controles basicos, um dia.

Em vez de se imprimir “democracia” (Explica quem um erro tão fatal?) sahiu foi “dictadura”. Falha tal depois não se corrige. Quem queria?

Tentaram emendar aquella gralha, mas dizem que peor ficou a falha, ja que “democradura” a lei previa.

No nosso dia, a coisa ‘inda attrapalha mas, sem achar melhor coisa que a valha, deixaram assim essa porcaria.

DIA DO RICO RISONHO [10.914]

Commenta-se que rico ri à toa e nunca discordei, pois dou risada das coisas mais banaes, Glaucão, de cada desgraça por que passa uma pessoa!

Risada dou da chaga, caso doa na pelle de quem por soccorro brada! Risada dou da gravida accamada que foi violentada numa boa!

Risada dou dos pobres, que não teem aquillo que me sobra, fora aquillo que jogo na lixeira! Ainda bem!

Gostosa gargalhada, sem vacillo, dou quando vejo um cego, que ninguem adjuda, si a turminha quer feril-o!

LAUGH

AND GET RICH DAY [10.915]

Commenta-se que, caso você queira ser rico que nem eu, deve risada dar, mesmo sem motivo, gargalhada soltar ao ver quem come da lixeira!

Verdade pura, Glauco! Da maneira mais cynica, divirto-me com cada mendigo que mendiga, si elle nada consegue de comer, da morte à beira!

Mas, caso tal mendigo cego seja, não solto só risada! Dou porrada, dou chute, até na porta duma egreja!

Hem, Glauco? Você, quando a molecada lhe curra a bocca, nota que festeja algum burguez! Não nota, camarada?

DIA DO FREVO [10.917]

Os cegos dansam frevo! Não sabia, poeta? Sim, um delles vi na rua, abrindo um guardachuva, para a sua cabeça proteger da chuva fria!

Ao vento, o guardachuva ja queria fugir, mas um ceguinho não actua sinão como palhaço, numa nua comedia desastrada! A turma ria!

O cego se torcia, se inclinava, ja quasi que de cocoras ficava, tentando segurar o guardachuva!

Um frevo, sem querer, dansou, sem trava nenhuma de vergonha, que se aggrava ao riso geral! Cae como uma luva!

SABBADO DE CARNAVAL [10.920]

O Bloco dos Ceguinhos, hoje, está sahindo na maior animação. Os outros me convidam, mas eu não queria me exhibir. Raiva me dá.

Na rua, ficam rindo de quem ja perdeu sua visão ou sem visão nasceu. Todos mal dansam, pois estão mui faltos de equilibrio. Oh, sorte má!

Receio tropeçar, mas meu collega do lado, ousado, um passo grande ensaia e eu fico motivado. Quem sossega?

Batata! Ja não tarda p’ra que eu caia e escute, da platéa: “Aquella cega bichona se fodeu!” E tome vaia!

DIA DO GUARDACHUVA [10.921]

Em pleno carnaval, si a gente sae levando um guardachuva, todos vão achar que, logo, um frevo nos farão dansar. Ja me preoccupo, pois. Ai, ai…

Não é que venta forte? Quasi cae da minha mão aquella protecção, que eu tento segurar bem firme, em vão. A turma que me vê ja rindo vae.

Me encolho, me accocoro, me contorço, mas esse guardachuva aqui não quero perder… A turma ri do meu exforço.

É sempre assim. Risadas não tolero, mas, neste carnaval chuvoso, torço que venha vendaval menos severo…

DOMINGO DE CARNAVAL [10.922]

O Bloco dos Ceguinhos me convoca e tenho de estar, nelle, prompto para mais uma vesperal hilaria e rara, bem typica da scena carioca.

Aos olhos da platéa, que masoca achou-me e, como sadica, tem tara, terei que desfilar e minha cara expor à tragicomica fofoca.

Os cegos a meu lado mal conseguem dansar e, tropeçando, se exborracham, ao riso permittindo que se entreguem.

Àquelles que ridiculos nos acham me exponho, qual Sansão. “Que elles me ceguem!”, supponho, nestes sonhos que se excracham.

DIA DA CAMISETA BRANCA [10.923]

Vestindo camiseta branca, tenho que estar, no meu bloquinho, prompto para passar o mor vexame, pois a tara do publico é ver nosso desempenho.

No bloco, todos cegos são. Que engenho bollou sessão tão sadica? Tomara que eu passe, sem cahir, e minha cara preserve do sadismo mais ferrenho!

Qual nada? Me emporcalho na poeira da rua. Fica sujo o panno branco, tornando mais gozada a brincadeira.

Assim a tarde passo, sob o tranco dos outros, tropeçando, de canseira chorando, pois um bobo sei que banco.

OUTRO DIA DO ENFERMO [10.924]

No Bloco dos Doentes eu tambem consigo desfilar, pois o glaucoma cegou-me, permittindo que me coma o cu quem bem enxerga, com desdem.

Na rua, a tropeçar com elles, sem descanso, o dia passo. Quem se toma de magica coragem não embroma e dansa como pode. Dó quem tem?

Ninguem. Pelo contrario. Querem ver doentes se rallando, de muleta, pullando qual sacy. Sentem prazer.

Alguns sei que até gozam na punheta, emquanto nos contemplam. Meu dever é dar-lhes diversão. Que eu me submetta!

DIA DE NÃO CHORAR [10.925]

Quem é, no carnaval, que não sorri? Não posso, pois, chorar. Tenho que estar promptinho para, à tarde, desfilar, no Bloco dos Ceguinhos, por ahi.

Preparo-me. Me hydrato. Ja chichi fiz, antes de sahir. O singular bloquinho tem passagem no logar mais sujo da cidade. Quem não ri?

Diverte-se essa rude molecada com nossa vesperal. Dão mais risada si estamos tropeçando, si cahimos.

Melhor, para gozarem, não ha nada. Só falta se exporrarem, na sacada, os nossos vis vizinhos, até primos.

DIA DO ZELADOR [10.926]

No predio onde resido, o zelador é muito gozador. Elle se exbalda sabendo que eu, vestido só de fralda, terei que desfilar, de bom humor.

No Bloco dos Ceguinhos que me expor eu tenho. O masochismo só respalda aquillo que fallou Vovó Mafalda: “Creança sabe como causar dor!”

Se explica, pois, que toda a creançada daquelle condominio nos ver queira la fora, a tropeçar na caminhada.

O proprio zelador minha caveira quiz ver, mas sem maldade. Não ha nada melhor que essa sadia brincadeira.

DIA MUNDIAL DO CASAMENTO [10.927]

Até dum monogamico par fica exposta a popular reputação durante o carnaval. Todos estão dispostos a peccar, se verifica.

Olhando sempre para a alheia picca, disfarsa o bem casado cidadão. Na rua, alguns casaes sentem tesão appenas assistindo à nossa zica.

Nós, cegos, ao prazer nos ammarramos daquelles que, enxergando bem, risada gostosa dão, emquanto nos rallamos.

No Bloco dos Ceguinhos, sou de cada casal, como si fossem nossos amos, palhaço visual. Meu drama aggrada.

DIA DO CENTAVO PERDIDO [10.928]

No Bloco dos Ceguinhos, cada qual exquesce por um tempo que mendiga algum tostão dalguma mão amiga. Curtir querem um pouco o carnaval.

Amigos tenho nesse bloco. Mal sahimos a dansar, alguem me instiga a um pappo bom, depois. Tambem se liga aquelle colleguinha num oral.

Me conta que chupou quem ja lhe dera esmolla alli na praça. Assim, valeu fazer mais um contacto. Ora, pudera!

Commum, no carnaval, de philisteu fazer-se quem enxerga. Tal paquera tambem a mim paus sadicos rendeu.

DIA DO GARAGISTA [10.929]

Do predio, o garagista tambem gosta de ver nosso bloquinho desfilar. Por vezes, me provoca. Meu logar, diz elle, é viver mesmo nesta bosta.

Cegueira alheia, a phrase está ja posta, não arde nos olhinhos de quem dar risada adora ao ver-me tropeçar na rua, a cada amigo que se encosta.

Depois de me ver sendo la zoado, aquelle garagista, a rir, pergunta si estou sentindo falta dum aggrado.

Assim que sim eu digo, o cara assumpta de piccas e boquettes. Nem me enfado e tracto de mammar. Tudo se juncta.

DIA DO IMMIGRANTE KOREANO [10.930]

Vizinho, um immigrante koreano diverte-se me vendo dansar, todo sem jeito, no meu bloco. Sem engodo, lhe digo que me sinto mais mundano.

Das artes marciaes se diz uffano o gajo. Quando digo que me fodo levando um pé na cara, ja que appodo eu tenho de podolatra, acho um mano.

Sorrindo, o Koreano diz que quer testar em mim seu golpe mais levinho, tocando com o pé no que puder.

Assim, viro um parceiro do vizinho num jogo de poder. Sua mulher nem liga. Acha que versos escrevinho.

DIA DO ORGULHO ATHEU [10.931]

Em pleno carnaval, um peccador mais pode se orgulhar de ser atheu. Si for elle poeta, que nem eu, irá se exbaldar, sem qualquer pudor.

Me vendo um dia, quando fui me expor no Bloco dos Ceguinhos, esse meu collega atheu fallou que ja fodeu a bocca dum dos nossos, gozador.

Pergunto si elle, sendo atheu, se sente mais livre e solto para foder uma garganta de qualquer pobre invidente.

Responde elle que basta que se assuma fodido qualquer cego e, incontinenti, enfia a rolla, ja sem pena alguma.

TERÇA-FEIRA GORDA [10.933]

Na terça-feira gorda, alguns damninhos desejos se permittem afflorar, taes como os dos que curtem a vulgar performance do Bloco dos Ceguinhos.

Os cegos, desastrados, aos pouquinhos se movem, dansar tentam. Mas achar tamanha graça nesse singular desfile calha a jovens excarninhos.

Um desses debeis cegos me relata ter sido, logo appós a passeata, currado por um gruppo juvenil.

Fizeram-no chupar, uma mammata commum na torpe chronica da data mais typica aqui deste ebrio Brazil.

DIA DA COMPREHENSÃO [10.989]

Entendo, menestrel, que você nada vê, nada appreciar pode na vida, que está desilludido, que duvida de tudo, na cegueira desgraçada!

Entendo que você se desaggrada daquelle que, de boas, o convida ao cine para ver a divertida comedia, que provoca gargalhada!

Entendo que você fique mais puto na rua, quando toda a turma goza do cego! Na verdade, é jogo bruto!

Appenas não entendo quando posa você de escriptor! Pode? Que fajuto! Um cego, que nem lê, contando prosa?!

DIA DO COMEDIANTE [11.000]

Preferes tu, poeta, dos clichês battidos do sonnetto, dos bordões mais typicos, tornar-te só freguez, appenas imitando os de Camões?

Alguem seguir desejas, que ja fez milhares, mas que exbanja as allusões piegas, as breguices que talvez nem fiquem? Ou mais raro te suppões?

No caso de suppores ser mais raro, terás que performar uma persona burlesca, assaz ridicula, meu caro!

Mas, como tu ja fazes, nessa zona satyrica, papel de quem tem faro de cego, tua lyrica funcciona.

DIA MUNDIAL DA POESIA [11.041]

Hem? Outra data para a poesia? Não acha muita coisa, menestrel? Exsiste tanta gente que papel de bobo faça, ainda, ou que fazia?

É comico, meu! Quanto mais um dia excolhem para a coisa, mais miguel o meio litterario faz! Cruel destino, o dos que fingem alegria!

Palhaços são vocês! Da corte bobos! Só ficam divertindo os poderosos, servindo de cobayas para os lobos!

Da gloria dos applausos calorosos vaidosos ficam mesmo os homens probos! Poetas, nunca: passam por manhosos!

DIA DE PROCRASTINAR [11.044]

Não deixe p’ra ammanhan tudo que possa fazer hoje, fallou o rifoneiro. Pensei eu: Que será que vem primeiro? Talvez coçar. Coceira sempre coça.

Ha tanta coisa urgente nesta joça de vida! Não me sinto prisioneiro de nada que não seja prazenteiro. Primeiro, o que me occorre é fazer troça.

Que posso decidir? Decidirei que irei procrastinar agora mesmo! Deixar para ammanhan será, pois, lei!

Muito ocio practiquei, na vida, a esmo. Agora que nas lettras ja caguei, talvez possa addiar novo tenesmo…

DIA MUNDIAL DA SAHUDE [11.063]

O que é que a gente falla quando brinda, poeta? Será grana? Não! Será tesão? Não! Será amor, meu camará? Tambem não! É palavra ‘inda mais linda!

Sahude! Ser saudavel é bemvinda maneira de viver, pois quem está saudavel não será, jamais, gagá! Um brinde, então, farei ao que não finda!

Viveu meu bisavô mais de cem annos tomando um vinho tincto, que italianos adoram! À sahude, pois, brindemos!

Dinheiro ou sexo muitos desengannos nos causam, mas nem faço tantos planos si estou bebendo, porra! Com os demos!

DIA NACIONAL DA ALEGRIA [11.070]

Apposentadoria não tem dia de prazo p’ra sahir? Salario pode, por vezes, attrazar? Alguem se fode na fila do hospital? Ora, sorria!

A compta de energia deveria baixar num appagão? Não se incommode! Os pobres, affinal, ninguem accode! Perdeu seu bom humor? Ora, sorria!

Sabia? A allegoria da alegria está naquelle trem que, no Congresso, promove esses bossaes! Então, sorria!

Você não conseguiu fazer successo siquer como poeta? Ahi, sorria! Tambem eu me fodi! Palmas nem peço!

DIA DO RISO MOMENTANEO [11.072]

Por ultimo quem ri, melhor rirá, dizia aquelle adagio popular. Eu isso, Glaucão, posso confirmar, pois muito caçoei dos outros, ja!

Um dia, fiquei cego, como está você neste momento, mas logar não tive entre poetas e meu ar da graça até parei de dar por la!

Naquelle bar poetico, somente quem tenha astral satyrico consegue ser tido, no gruppelho, como gente!

Coitado do humorista, alli, que cegue! Cahir vae do cavallo! Elle que aguente o riso dos confrades e se entregue!

DIA DAS CAUSAS URGENTES [11.078]

Piccou-me escorpião mui venenoso?

Transei com uma aidetica arrombada?

Da grana para as comptas não ha nada?

Ja flaccido o pipiu, perdi meu gozo?

Ficou meu concorrente mais famoso?

Nenhum disco que excolho mais aggrada?

Não ganho mais nenhuma namorada?

Não paro de sonhar com o Tinhoso?

Urgencia mais urgente não terei!

Pensar em suicidio nem evito,

Glaucão! Quem me soccorra ja nem sei!

É mesmo! Chamarei Sancto Expedito!

Rezei a todos, ja! Só não rezei a elle! Ja só nelle eu accredito!

DIA DO GERENTE DE BANCO [11.119]

Seu Glauco, venha, queira se sentar aqui. Está comfortavel? Muito bem! Então vou lhe explicar. O senhor tem na compta appenas isto. Deu azar…

Aquelle enorme credito, com ar de sorte em lotteria, mais de cem milhões, cahiu na sua compta sem razão. Foi um enganno cavallar.

Tivemos que extornar, isso o senhor terá que entender como uma roptina em casos semelhantes, por favor…

Lamento, seu Mattoso. Se previna, na proxima. Não saia a gastar, por favor. A gente tem que ser sovina…

DIA MUNDIAL DA DRAG QUEEN [11.198]

Mas sabe o que me excita nessa amiga, poeta? A natural descontracção, o humor advaccalhado, o lado não conforme com o sexo, o que me instiga!

Na cama, alguem procuro que se liga em sadomasochismo, submissão, mas acho, na politica, a questão mais ampla, mais complexa a nossa briga!

Por isso ellas exercem o papel mais critico, polemico, maluco de todos os que luctam, menestrel!

Jamais com queen nenhuma é que eu encuco! Encuco com machões que, no quartel, só fazem amizade com eunucho…

DIA DA PLATÉA [11.211]

Exsiste comediante sem platéa? É como um escriptor cego. O subjeito se expõe à gargalhada. Seu defeito nos olhos não tem jeito de epopéa.

Tem jeito de comedia, sim, pois é a imagem do palhaço o seu conceito de escravo masochista que tem peito só para a lyra suja, a mais plebéa.

Emquanto me colloco no papel do bobo que, ridiculo, desnuda a sua condição de menestrel…

A sadica assistencia, ja que muda não fica, ri da minha mais fiel figura, a do truão de voz boccuda.

DIA MUNDIAL DO ORGASMO [11.214]

Um dia perguntei-me: Quantos, nesta exacta data, neste mesmo horario, sentados na privada, vão cagar e o cocô fazer, tal como se faz festa?

Tambem a perguntar, aqui, me resta: E quantos seu orgasmo, neste hilario momento, vão gozando? O kalendario gozadas conjecturas nos empresta…

Assim como supponho quantidade immensa de cocô se accumulando na Terra, assim terei curiosidade:

E porra? Quanta porra que esse bando de gente exporra agora? E então? Quem ha de tomar no cu, cumprir tudo o que eu mando?

NATIONAL FAILURE’S DAY [11.235]

Não acho, não, que seja fracassado, poeta! Nada disso! Sou appenas um gajo que, sem sorte, vive scenas ridiculas! De facto, um azarado!

Estão ja me gozando, pelo lado hilario desta vida, as taes hyenas de sempre, que cabeças teem pequenas e idéas de gerico! Só me enfado!

Tá certo que, ja bebado, tropeço e caio pela rua, a certa altura do dia, até da noite, de regresso!

Mas isso não implica que insuccesso eu tenha a cada passo! Me segura meu anjo, pois a adjuda delle peço!

DIA DO LOCUTOR [11.276]

Você pode… ééé… fazer contacto… ééé… por diversos canaes: pelo nosso… ééé… email, ou pelo applicativo… ééé… que está cheio de gente… ééé… que tem coisas a propor.

Alem desses canaes… ééé… por favor, o ouvinte… ééé… poderá accertar em cheio naquelle… ééé… gostosissimo sorteio e, emfim… ééé… se tornar um locutor.

Agora a gente… ééé… sae prum intervallo. Na volta, explicaremos… ééé… melhor quem é que participa… ééé… Logo eu fallo.

Enviem as mensagens… ééé… De cor ja sabem: nove nove nove… ééé… Rallo a lingua aqui… Tem numero menor?

ASK A STUPID QUESTION DAY [11.296]

Poeta, perguntar, acaso, offende?

Então por que não deixam que eu questione si entrou na rachadinha algum aspone?

Por quanto um esquerdista a causa vende?

Juiz diz coisa alguma que se entende?

Bancaria compta alguem abre por phone?

Um rei da lyra ha clone que desthrone?

Se salva algum sonnetto que se emende?

Será que é de virada mais gostoso?

Ou soffre-se demais antes do gozo?

Um correligionario outro não trae?

Por que é que esnobam versos seus, Mattoso?

Não pode nenhum cego ser famoso?

Ou só si elle for gringo um premio sae?

DIA DO FEIRANTE CAREIRO [11.312]

A preço de banana não consigo comprar siquer o minimo mammão! Por duas melancias elles vão cobrar o olho da cara, meu amigo!

Em compta achar chuchu? Não tem perigo! Laranja com descompto? Nem limão! Barata couve? Em compta alface? Não! Bom joio? Offerta boa achar no trigo?

Da feira não consigo trazer cheia saccola, nem amigo do feirante siquer sendo, poeta! Ah, mano, creia!

Eu acho que fechar meu restaurante irei! “Menos é mais”, mas ninguem meia porção come pagando ouro bastante!

WORLD

SIGHT DAY [11.315]

No dia da visão, darão risada dos cegos os que enxergam bem, é claro! Sim, para pensar, Glauco, quando paro, entendo o que motiva a palhaçada!

Fizeram de proposito! Foi cada gaiato suggerindo! O mais ignaro dos caras para a coisa teve faro bem sadico, bem ludico, mais nada!

Pensaram: “Si gozarmos do ceguinho, faremos com que sinta ainda mais a agrura da cegueira! Ah, que excarninho!”

Por isso, cara, achar que são normaes taes datas é besteira! Ja adivinho que estejam gargalhando dos teus ais!

COLOR DAY [11.331]

Eu vejo, Glauco, todo colorido o mundo, mas você ver ja não pode as cores e, do céu, ninguem accode seu choro supplicante! É divertido!

Sim, Glauco, me divirto, pois duvido que queira alguem ser esse que se fode assim! Acha, Glaucão, que se incommode quem queira só zombar do seu gemido?

Não era, menestrel, isso que quiz você escutar? Então! Estou aqui não é para dizer coisas gentis!

Alem do que lhe digo, sei que ri tambem dessa cegueira quem matiz enxerga, verde, em todo mimimi!

NATIONAL BOLOGNA DAY [11.333]

Não é só pobre que ama a mortadella, nem todo rico gosta tanto della. Mas, sendo um italiano quem appella ao thema, seus bons habitos revela.

A boa mortadella, diz aquella zelosa thia minha, não dá trella aos pessimos modismos da parcella mais chique da cozinha agora em tela.

Alguns famosos chefes criam bella imagem dum sanduba, mas quem zela por prattos populares não se pella.

Prefiro nem entrar nessa querella, mas, sendo ou não um rango de barrella origem, me deleito, sem sequela.

MULE DAY [11.334]

É mula differente de jumento?

Hem, mestre? É burro ou jegue? E si burrico disser, eu me equivoco ou certo fico? Saber qual é mais proprio ja nem tento!

Jumenta, a “presidenta”, num momento passado, me irritou, mas verifico que exsiste gente ainda achando um rico sentido na palavra solta ao vento!

Si cremos que é correcto “presidenta”, teremos que dizer, tambem, mandanta, ouvinta, até estudanta, até gerenta!

Não creio que ella seja a maior anta, mas acho que jumenta bem assenta à mula, attravessada na garganta!

CARTOONISTS AGAINST CRIME DAY [11.338]

Eu nunca contra crimes fui, embora tambem um cartunista seja, vate! Nem acho que faremos bom combatte si formos tão caretas, por agora!

Os crimes de que fallam são, la fora, aquelles terroristas actos? Tracte quem queira desses themas, mas não macte meu motte, que é de explicita plethora!

Eu tracto dum sangrento, violento e sujo panorama, sabe bem você! Ser um Tagame eu sempre tento!

Ficar não vou, tal como um monge zen, appenas desenhando um monumento a toda caretice que nos vem!

DIA DO EVOLUCIONISTA EVANGELICO [11.379]

Ulysses escreveu (o chimpanzé que, sendo litterato, tem talento) accerca duma fabula que eu tento saber si la na Biblia tem um pé.

Diz elle que, em Javeh botando fé, Adão, um macaquinho ciumento, com Eva se casou e, cem por cento machista, quiz saber della: “Qual é?”

Eis que Eva, a macaquinha, ja não era mais virgem! Adão, puto ja ficando, cobrou satisfacções do Pae. Pudera!

Porem Javeh, que em tudo tem commando, fallou: {Bah, virgindade é só chimera, rapaz! Va se entender com o seu bando!}

OUTRO DIA DO CARICATURISTA [11.393]

Fizeram de você caricatura, Mattoso? Ora, vejamos… Porra, mas paresce, mesmo, o proprio Satanaz! Caralho, menestrel! Hem? Que figura!

Os olhos azulados são a pura imagem do Cappeta! A cara faz que come mas não gosta dumas más dentadas na carniça podre e dura!

A testa até simula a dum vampiro!

O queixo sahiu torto, direitinho! Semelha que o nariz levou um tiro!

Quem fez esse desenho? Ja adivinho! Um baita amigo seu, ao qual adhiro, pois acho que espelhou bem seu focinho!

CLOWNS DAY [11.397]

Glaucão, ja lhe fallaram que você tem cara de palhaço? Na verdade, eu acho que qualquer cego terá de palhaço uma careta, bem se vê!

É o circo o seu logar, Glaucão! Cadê que irão reconhescer isso? Quem ha de fazer você dansar e, sob um Sade qualquer, nos divertir pela TV?

Suggiro que você, Glaucão, declame alguns sonnettos, numa perna só, tornando mais ridiculo o vexame!

O publico, que nunca sente dó, cahir na gargalhada vae! Me chame, Glaucão, para assistir! Ouviu, bocó?

DIA NACIONAL DO SORRISO COMPARTILHADO [11.405]

Amigos e eu, zombando dum ceguinho, trocamos nosso cumplice sorriso ao vel-o tropeçando nesse piso terrivel que elle encontra no caminho.

Um cego tão teimoso eu expezinho com gosto, mesmo! O cara algum adviso ja tinha recebido, mas juizo não teve e se fodeu bem bonitinho!

Tentar, só de bengala, caminhar, illeso, nesse typo de calçada, é grande insensatez, em vez de azar!

Fodeu-se! Exborrachou-se! Dei risada, é claro! Meus amigos tambem! Ar fizemos de ironia: nos aggrada!

DIA NACIONAL DO METEOROLOGISTA [11.411]

Glaucão, não accredito mais naquella mulher que faz do tempo a previsão, pois ella prevê frio no verão e, quando for hinverno, uma panella!

Prefiro, quando abrir for a janella, ter uma surpresinha, ja que estão marcando meus poncteiros estação mais quente e meu pezão quasi congela!

Si for para do tempo duvidar, irei ouvir você, que é mau propheta e nem do seu futuro tem radar!

Assim, quando você calor projecta, ja sei que fará frio! Si fallar que exfria, pelladão fico! Quem veta?

Na decada mais dura, a dos septenta, nós eramos aquelles marginaes que, em termos litterarios, ja não mais se encontram. Imitar-nos alguem tenta.

Meu raro poezine teve lenta mas franca acceitação. Outros jornaes surgiram, com propostas informaes, mas nada mais anarcho outrem inventa.

Repito os lemmas, para que não fuja da mente que luctamos uma brava battalha, sem ter della havido fuga:

JORNAL DOBRABIL: Quando caga, suja.

JORNAL DOBRABIL: Quando mija, lava.

JORNAL DOBRABIL: Quando peida, enxuga.

DIA NACIONAL DO POETA ARTEZANAL [11.414]

DIA NACIONAL DE COMBATTE AO SEDENTARISMO

Quem disse que não mexo o meu trazeiro, daqui desta poltrona, num domingo chuvoso? Quem disser eu logo xingo! A fim de exercitar sou o primeiro!

Si vejo o futebol, eu surto, beiro a raiva mais hysterica! Me vingo jogando uma garrafa! Nem um pingo excappa da parede: fui certeiro!

Alem desse exercicio, eu me levanto daqui para mijar, para almossar, até para sentar-me noutro cantho!

Portanto, não direi que do logar não saio! Sedentario? Ora, nem tanto! Me mexo, sim, até para peidar!

[11.442]

DIA NACIONAL DA PIADA SURRADA [11.455]

Ao gynecologista o cego indaga: “Doutor, qual o tamanho dum clitoris?” Responde este: {Variam, dos menores àquelles mais compridos que uma adaga…}

O medico brincou, mas regras caga: {De dois a trez centimetros…} Peores momentos passa o cego: “Não me gores a vida! Me fodi, porra! Que praga!”

{Por que? Qual o problema?}, quer saber o medico. “Chupei um pau, então!”, o cego confessou seu desprazer.

Embora a piadinha seja tão simploria, assaz reflecte esse poder que impõe quem bem enxerga ao sem visão.

DIA PESSOAL DA CELLA ESPACIAL [11.506]

Eu moro, vejam, numa verdadeira caixinha! Sim, de phosphoro! Os apês de classe media, aqui, de quem os fez reflectem a cabeça de toupeira!

É tão pequeno o apê que, caso eu queira vestir um paletó, dou, toda vez, com minha mão no tecto ou, vão vocês rir mesmo, na parede! É brincadeira?

Me expremo, entre as poltronas e o sofá, si quero pela salla deslocar-me, suppondo numa cella agora achar-me!

Nem caio mais da cama, pois não ha um vão tão largo assim! Não sei quem charme viu nisto, mas logrou, sim, engannar-me!

DIA NACIONAL DA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA [11.563]

Faz como o Sylvio Sanctos. Si lhe sobra “cascalho”, o gajo, rindo, quer jogar a grana numa praça, por milhar, as scedulas novinhas e sem dobra.

Pessoas chegam. Sabem: jamais obra será de charidade. Gargalhar quer elle, divertir-se, ver um mar de gente, mera massa de manobra.

As notas vão ao vento, em ziguezague. O povo se engalfinha, faz que estrague a roupa, a grana a pique de rasgar.

Mas, quando comptas pedem que elle pague, responde com desdem, fazendo blague: “Dinheiro se inventou p’ra não gastar!”

DIA NACIONAL DA MILICIA DA MALICIA [11.578]

Nenhum mandão poder tem de policia que enquadre a veia audaz dum humorista, cantor, poeta, actor, qualquer artista. nós somos a Milicia da Malicia!

Não falta algo de comico que attice a satyrica funcção de quem persista na critica à patrulha moralista e espete quem se gaba da sevicia.

Não, contra a gargalhada não ha nada que faça quem, pretextos allegando, moraes, queira barrar a molecada!

Mais vale, em livro, ousar poeta cada que sacco puxar desse que commando exerça. Restará nossa risada.

DIA PESSOAL DO CHORO HUMORISTICO [11.589]

“Não chora! Si chorar é que peora! Acceita, que dóe menos teu castigo!”, disseram ao me verem cego. Agora os chupo e “Sim, Senhor!” ainda digo.

Quem disse taes verdades commemora o facto de enxergar bem e commigo poder zoar. Humilde é quem só chora calado e chupa. Aos poucos, eu consigo.

Depois de certo tempo, me convenço: Alguns mais se divertem quando tento chorar, lacrymejar, usar o lenço.

Me dizem esses, rindo, que eu immenso prazer lhes proporciono si lamento meu drama. Desse humor terão mais senso.

DIA

GERAL DO ROCKEIRO PICCADEIRO [11.593]

Em vez de se mactar, quem para fora põe suas amarguras quer brincar: “Addeus, mundo cruel! Eu vou entrar pro circo! Vou virar palhaço, agora!”

Palhaço? Ora, palhaço tambem chora! Mas muito mais num circo tem logar trapezio, chorda bamba, malabar, leão que cabecinhas não devora…

Que mais? Illusionismo, claro. Quem performa não se macta, alli, no duro, appenas se degolla, sangue sem.

Si for um bardo cego, para alem da morte, engole rolla: com appuro, faz comico papel, como convem.

SONNETTO DO GAY MOMO [11.604]

De novo o Carnaval chegando vem!

De novo me trancar em casa vou, mas, sendo masochista como sou, irei phantasiar-me pejo sem.

Não visto phantasia de nenen, dum indio ou dum pirata. Ja ficou, emfim, fora de moda no meu show usar escuros oculos, tambem.

Aqui no meu sallão, nem venda ponho.

Só sirvo um gordão amo que conservo no rol das amizades, ou no sonho.

Momesco follião, do meu tristonho semblante elle excarnesce. Sou seu servo e penso no seu sceptro si me bronho.

SONNETTO DA SABONETEIRA [11.623]

Não ouço commentarem, mas vocês notaram, certamente, que não presta a tal saboneteira que, se attesta, não prende o sabonete e feio fez.

Maldosos ja disseram: portuguez algum a projectou. Quem não detesta aquella porcaria que ja, nesta cidade, não ganhou nenhum freguez?

Do typo que, embutida no banheiro, affunda em azulejos, ella não impede que excorregue esse sabão…

Porem, é com certeza brazileiro do traste esse inventor, que quer no chão pegar o sabonete… Veadão!

SONNETTO DO LEITOR FEITOR [11.677]

Está faltando, Glauco, mais palhaço na praça! Ando bastante entediado! Bem, vamos la, me faça rir! Me enfado si não me divertir! Seja devasso!

Humilhe-se! Performe, emquanto faço chacota de você, meu dedicado escravo! Lamba a sola do calçado que eu surro, mais immunda a cada passo!

Em casa, ando descalço! Minha sola ficou encardidissima! Lhe exfolla a lingua, si lamber, é o que eu realço!

Chutal-o me diverte! Sim, é bolla você para mim! Sabe por que rolla? É cego de verdade, não é falso!

SONNETTO

DO SORRISO NA PANDEMIA [11.804]

Deviam inventar, Glauco, um modello de mascara que fosse transparente! Assim todos veriam este dente canino que implantei! Dá gosto vel-o!

Veriam meu sorriso, que foi pelo meu gruppo tido como simplesmente terrivel, vampiresco! Muita gente iria delirar, ha que dizel-o!

Gastei uma fortuna neste implante, Glaucão! Não vou deixar que pandemia nenhuma me prohiba que sorria!

Leitura labial tambem garante a mascara de plastico! Quem ia temer é quem só finge essa alegria!

SONNETTO DO ADHESIVO [11.825]

Um cego, bengalando, para à beira do largo calçadão. Quando o signal abrir, attravessar quer. Alguem, mal pensando, ja bollou a brincadeira.

Dispondo-se a adjudar no que elle queira, o gajo colla às costas do “mural” ceguinho um adhesivo que é fatal: o symbolo da faca na caveira.

Instados pela audaz provocação, os outros transeuntes olham para o cego com desdem, chutam-lhe a vara…

Jogado ja no chão, leva pisão o otario pelo corpo, pela cara… Escuta a rir a gente e vira arara…

SONNETTO DO FARTUM NO CARTUM

[11.846]

Vae, abre teu sorriso, Glauco! Humor libera as endorphinas! Quem risada dá, para longe expulsa a malfadada noticia, a vibração ruim, a dor!

Humor só não funcciona si a favor é feito para alguem que não quer nada com criticas ou presta-se ao que aggrada ao lider de plantão, ao dictador.

Não sendo propaganda pamphletaria, na chronica, na satyra, na mera e simples charge, o riso vocifera!

Sim, quando, Glaucão, uma tão hilaria figura mais delira que lidera, só resta criticar! Ora, pudera!

SONNETTO DO PASSEIO PUBLICO

[11.886]

Usar mascara, Glauco? Não! Sem essa! É coisa de veado! Use você, Glaucão, que é pederasta! Talvez dê até p’ra melhorar-lhe a cara à bessa!

Você, que alem de bambi é cego, peça que façam qualquer uma que se vê nas ruas, multicor, onde se lê “Sou mesmo!” Na calçada ande sem pressa!

A mascara as bichonas bem retracta! Dei uma a alguem que mascara não tinha, escripta assim: “Masoca sou! Me batta!”

Talvez nem gay o cego fosse! Chata ficou-lhe a situação! Levou tapinha das mãos, até dos pés! Gaiata data!

SONNETTO DA CARAPUÇA [11.928]

Si pela rua alguem gritar, bem alto, “Oi, corno!”, todo macho vae olhar. Tambem quando “Oi, veado!” outrem gritar, voltar-se vão os homens, eu resalto.

Si eu grito “Oi, puta!”, treme sobre o salto a mulherada toda do logar.

Paresce brincadeira! Quer tentar? Funcciona mais que um firme “Isto é um assalto!”

Mas, quando você grita “Ai, coitadinho!”, ah, todos os bassês da vizinhança se voltam para quem tal phrase lança!

Eu proprio comprovei! Mesmo baixinho, si fallo “Coitadinho!” um ja ballança as longas orelhonas ou a pança…

SONNETTO

DA POSTURA HONROSA [11.952]

Jurei, Glauco, jurei que ficaria pellado na avenida, na Paulista, si visse de verdade, com a vista que tenho, uma alma afflicta na agonia!

E boa visão tenho, não de dia, appenas, mas tambem quando despista, à noite, uma figura que se vista de dama sendo puta alli na via!

Mas juro que vi, Glauco! Vi de facto aquella pavorosa assombração, parada, alli do parque, no portão!

Não, puta não será! Sinão, me macto! Só pode ser phantasma! Ahi, Glaucão, paguei a apposta! Andei, sim, pelladão!

SONNETTO DO HUMOR NEGRO [11.999]

Tem gente extranha, Glauco, ora si tem! Um desses, meu avô! Dum negro humor gostava! Me fallava, assustador: “Alguem attraz da porta! Tem alguem!”

Elle ia ver, com medo, mas ninguem estava alli! Magina! Que pavor! Phantasma achei que fosse! Só si for! Prefiro não pensar, Glaucão! Eu, hem?

Mas tenho que lembrar! Sim, Glauco, um dia morreu o velho! Um homem brincalhão! Contava mil versões de assombração!

Attraz da porta achei que, emfim, havia alguem! Fui ver, porem de cu na mão! O velho estava alli, juro, Glaucão!

SONNETTO

DO MENTOR AMADOR [12.031]

Quem disse que philosopho precisa ter feito faculdade, mano? O cara que estuda a São Thomaz ja se compara! Só temos que fazer boa pesquisa!

Ja pago sou, de Socrates à guisa, no meu monetizado perfil, para bancar um Aristoteles que exara sentenças duma logica precisa!

Sou au-to-pro-cla-ma-do, tá ligado? Disseram que a Platão não devo nada! Só falta me chamarem na Esplanada!

Mas, Glauco, não serei jamais chamado de “mestre” e de “guru”! Me desaggrada um titulo do typo! Palhaçada!

SONNETTO DAS IMMUNDAS E JOCUNDAS [12.048]

Estou pasmo, Glaucão! A mulherada agora desandou a fallar tudo de sujo, de vulgar, de cabelludo que podem! Tenho ouvido, Glauco, cada!

Alem de fallar, soltam gargalhada de puta! Sim, daquellas que, em desnudo estado, desfilar vão num entrudo! E comtam -- Meu Jesus! -- cada piada!

Aquella do sacana papagayo, aquella do ceguinho porcalhão, aquella dum judeu, dum allemão…

Aquella do portuga ao ver um raio… Outrora a mulherada no balayo dos gattos não entrava, Glauco, não!

SONNETTO DA PUMDEMIA [12.053]

Hem, Glauco, ja pensou si, de repente, descobrem a “cuvid”, outra doença, que pode transmittida ser na densa camada de fedor que a gente sente?

Sim, Glauco, não seria pela frente que gazes pestilentos nos dispensa alguem, mas pelo peido! Mais que offensa, peidar expalha a praga dum doente!

Nem mascara resolve! Qual cueca segura aquelle cheiro? Quem tivesse o virus se entregava! Com a breca!

Banheiro onde doente tal defeca devia ser fechado! Minha prece é para que só peide quem não pecca!

SONNETTO DAS CERTIDÕES DE BAPTISMO [12.081]

Terá nome ideal um veadão?

Cacophato não houve mais feliz: Jacintho Pincto Aquino Rego, diz quem queira baptizar pelo calão!

Em sendo um alpinista, à mente vem o nome que estaria apprimorando a sua profissão: Caio Rollando da Rocha, campeão como ninguem!

No martello, colloco o motorista condizente: Prudente Passos Dias Aguiar, que confirma as theorias!

Si for decorador, pelo Natal, que cuide dos presepios, se deduz: Armando Nascimento de Jesus!

SONNETTO DUMA SEDENTARIA CHORADEIRA [12.137]

Glaucão, a quarentena ja demora demais para accabar e alguem está bastante entediado? Ficará ainda por mais tempo! Senta e chora!

Nas urnas, por azar, ficou de fora aquelle candidato que está ja por muitos perseguido, mas será eterno favorito? Senta e chora!

Teu time, que ja quasi commemora o titulo, perdeu no tapetão e perde na tabella? Senta e chora!

A tua visão, Glauco, só peora e cego ficas? Oras, hoje, em vão? Não resta alternativa! Senta e chora!

SONNETTO DO HOMEM QUE RI [12.181]

Hem, Glauco? Si de bicha alguem te xinga, depois outro te xinga de maricas, depois te enfia a turma algumas piccas, que fazes? És do typo que se vinga?

Appellas para a fé? Para a mandinga? Num delles te transformas? Cruel ficas? Performas as taes scenas que, tão ricas de excarneo, são eguaes às do Coringa?

Exemplo dei daquillo que comtigo fizeram… Mas responde: que castigo bollaste? Quaes torturas, Glauco, crias?

Concordas? No teu verso dás abrigo àquelles curradores? Ja me ligo! Te vingas, sim! Entendo que tu rias!

SONNETTO

DUM CASO DE HUMOR NEGRO [12.202]

Eu vi pousar a mosca bem na testa daquelle insano, Glauco! Todo mundo viu, cameras flagraram! Um segundo? Não! Foram dois minutos! Uma festa!

A mosca divertiu a todos nesta solenne transmissão! Não me confundo! Sim, mosca varejeira! Aquelle immundo politico uma fama tem, funesta!

Disseram que é necrophilo, poeta! Será maledicencia? Alguem fumaça notou, haverá fogo! Uma desgraça!

Zumbis nomeará para a selecta equipe de governo! Que elle faça de tudo um cemeterio não lhe passa?

SONNETTO DUMA IMAGEM DA TIETAGEM [12.206]

Irias tu gostar desse guru podolatra, Glaucão! Sim, elle, em vez de ser nos pés beijado, questão fez de ser o beijador! Que pensas tu?

Virou mania! Agora, do pé nu dalgum pupillo, o mestre, mui cortez, oscula a sola! Ahi, Glaucão! Que dês tambem teu beijo não será tabu!

Não queres ter discipulos, Glaucão? Sim, muitos pés terias que beijar! Só dava scena quente! Iria ao ar!

Na photo que eu tirasse, meu dedão estavas tu beijando! O cellular iria até mostrar meu calcanhar!

SONNETTO

DUM CEGO EM PISOTEIO [12.273]

Morri de rir, Glaucão, daquelle inglez que foi pisoteado pelo gado! Que estupido, ora! Foi o resultado da falsa liberdade de vocês!

Vocês, sim, caro Glauco! O que elle fez, tambem cegueta sendo, foi gozado por todos que passavam! O coitado ferrou-se! E vae chegar a sua vez!

Quiz elle passear com seu cão-guia em area rural, onde cada vacca exige seu espaço! Que babaca!

Penou nos pés da vacca! Quem diria? Illeso o cão sahiu, mas foi de maca levado o cego! Todos riram paca!

SONNETTO DUM CEGO EM TIROTEIO [12.276]

Aqui nesta favella a gente mora com tudo que é cagão na vizinhança! Um cego eu excolhi! Commigo dansa na marra! Ah, dou risada a qualquer hora!

O cego percebi que se appavora com tiros, sente medo da mactança diaria das facções! Como creança brincamos com tal scena! A turma adora!

Ao ar nós disparamos toda vez que vemos o ceguinho caminhar sozinho! Todo mundo ri, no bar!

Depois procuro o cego, que ja fez um curso de massagem, e folgar meus pés nas suas mãos vou, sem pagar!

SONNETTO

DUM PALAVRORIO NO SANATORIO [12.297]

Tarados entre si manteem contacto: tem sadico, masoca, até assassino, zoophilo, necrophilo… Termino com um pyromaniaco cordato.

“Que tal fazermos sexo com um gatto?”, diz um. “Mas tortural-o tambem!”, fino, diz outro. “Sim! Mactal-o bom destino tambem seria!”, adduz um mais sensato.

A vez é do necrophilo, que diz: “No morto, que tal sexo novamente? Hem, turma?” Ao suggerir, sorri, feliz.

Foi o pyromaniaco quem quiz pôr fogo no cadaver. Um contente masoca diz “Miau!”, sem mais ardis.

SONNETTO DA CARA FECHADA [12.351]

Sou muito sorridente, Glauco! Para amigos e inimigos dou risada ou mostro um sorrizinho si piada sem graça alguem me conta, todo “odara”!

Sim, Glauco, sou risonho, mas arara eu viro quando topo um camarada da minha cara rindo sem que nada eu faça! Ah, rilho o dente! Eu fecho a cara!

Si eu conto, todos rindo ver eu quero! Mas quando um babacão a rir demora, eu acho que me goza! Perco o lero!

Ah, boa gargalhada só libero si vejo um cego triste! Então vigora meu senso de sadismo mais sincero!

SONNETTO DUM AMOR MAIOR [12.355]

Meu caro Glauco, certo do que digo estou quando comparo uma mulher à linda cadellinha! Quem puder que fique com o cão, que é mais amigo!

O cão é mais leal! Não ha perigo de errar! Mais amoroso que qualquer esposa, namorada, noiva, affair! Meresce mais carinho, mais abrigo!

É facil de testar! Você que prenda as duas no seu carro, ou antes, ponha no portamalas, sem qualquer vergonha!

Depois, libera as duas! Reprimenda nem faz a cachorrinha, que só sonha em ver você, lamber, sem carantonha…

SONNETTO DO CEGO NO CIRCO [12.525]

Na falta do palhaço, se contracta um cego para andar no piccadeiro, às tontas, tropeçar o tempo inteiro, cabeça nem sabendo onde mais batta.

Pensaram que fingia, mas a grata platéa notou logo o verdadeiro ceguinho que levou coice certeiro na cara, ja de quattro, duma patta.

A patta era dum homem disfarsado de burro. Mesmo assim, o calcanhar pegou em cheio, bem no maxillar…

Morreram de rir delle, que, coitado, levou foi um calote, pois pagar ninguem quer um bundão tão singular…

SONNETTO

DOS DISCURSOS DESHUMANOS [12.560]

Um desses jovens guias me dizia: {Apposto que o senhor vae se ferrar! Não faltam é barreiras no logar por onde nós passamos todo dia!}

{Eu digo porque vejo! O senhor ia batter sua cabeça, devagar, no galho, mas bastou eu lhe advisar e, rapido, batteu! Quem não riria?}

{Não posso fazer nada quando o cego decide se foder, mesmo, por si! Reclama quando a gente disso ri?}

{Risada dou, gostosa, sim, não nego! Mas coisa bem peor ja fiz! Chichi na bocca, por exemplo! Sim, curti…}

SONNETTO DO GATTO PRETO [12.584]

Sou cego, como tu, mas minha zica é bem maior que a tua, pois não vejo o gatto preto quando o malfazejo bichano bem na minha frente fica!

É gatto do vizinho, mas titica fazer vem aqui em casa! Meu desejo é que elle de mim fuja, mas almejo em vão, pois a assustar-me se dedica!

Ah, Glauco, que diria a dona Chica si visse quando attiro o pau no gatto e nunca accerto o bicho? Ô gatto ingrato!

Sim, sei que é preto o gatto porque dica me deram! Si soubesses como é chato ter esse cocozinho no sapato!

SONNETTO DA ESCADA NA CALÇADA [12.585]

Você de mim rirá, Glauco, mas juro que tenho o meu azar, pois sou tambem ceguinho! Va, me diga si não tem razão de ser, de facto, o meu appuro!

Não é superstição, mas asseguro que escadas me dão medo! Sempre, sem falhar, passo debaixo duma, bem na hora de cahir algo mais duro!

Não só lattas de tincta, mas até tijolos, ferramentas, o caralho! Trajectos ja alterei! Pego um attalho…

Si fico machucado? Pô, não é de ferro uma cabeça! Acho que calho é para ser, na vida, assim paspalho!

SONNETTO DO ESPELHO PARTIDO [12.586]

Mentira, menestrel, tudo mentira! Não dizem por ahi, Glauco, de quem quebrou algum espelho, que só tem septe annos seu azar? Nunca! Confira!

Aquelle espelho enorme, em que se mira, de corpo todo, um gajo… Bah, pois bem! Quebrei-o, trovador! Virei refem da zica, sim, pois todo mundo vira!

Faz decadas e decadas! Qual septe, qual nada! Melhorar, quem me promette? Meu sancto? Jesus Christo? Satanaz?

Até posso suppor que me compete, a mim, virar o jogo, mas me mette alguem na bunda a rolla… Ah, perco o gaz!

SONNETTO DA DOR ALHEIA [12.641]

Chupar? Appenas isso bem appraz ao normovisual que um cego faça? Não, claro! Quer achar alguma graça, alem do sexo oral, qualquer rapaz!

Fazer rir é tarefa cega, assaz bemvinda, a nós, normaes! Uma chalaça contada pelo cego bem nos passa a ludica noção que satisfaz!

Divirto-me ao ouvir uma piada de cego quando o proprio vae contal-a, mas outra diversão boa se eguala:

É vel-o comer merda, Glauco! Nada melhor, ja que ninguem aqui se abballa com essa dor alheia, ao degustal-a…

SONNETTO DO ESCATOLOGICO ESPECTACULO [12.711]

Ridiculo, Glaucão! Um humorista daquelles bem malucos affirmara que tudo que fizesse -- Está na cara! -tornava-se piada a mais na lista!

Foi astro no theatro de revista, depois ficou lelé! Ja se compara seu caso aos absurdistas, que teem tara por peças de teor surrealista!

Agora faz cocô no palco, o monte encara appós cagar e dá risada! Sorri, depois gargalha! Lhes aggrada…

O publico tambem gargalha, a fonte confirma, menestrel! Que palhaçada mais chula! Ainda come tal cagada…

SONNETTO DOS IRREGULARES CELLULARES [12.732]

Aquelle bombadinho deputado com cara de marrento fanfarrão metteu dois cellulares, na prisão, no proprio cu, de resto, ja arrombado!

Você talvez não saiba, mas eu ja do palhaço sou sciente do que estão fallando pelas redes! Elle não excappa de ser, Glauco, tão gozado!

O gajo demonstrou como se pode levar no rabo, sem que lhe incommode, um phone para a cella: bem no fundo!

Sujou seu apparelho? Ora, se fode quem merda tem grudada no bigode emquanto o liga… Achei isso jocundo!

SONNETTO DA MARRA DE QUEM NARRA [12.733]

Vocês vão ver! Um dia, fecho tudo! Sou masculo! Sou foda! Sou machão! Não levo cellular no rabo, não! Não fico na cadeia! Sou marrudo!

Ainda ver eu quero, sem escudo das instituições, esta nação! Marrudos no poder, nós, sim, Glaucão, regime implantaremos, sem velludo!

Irei pessoalmente torturar vocês, oppositores! Sou marrento! Os chistes que me fazem não aguento!

Fofocam que consigo transportar uns phones no meu recto; que, no vento dos peidos, os expulso quando sento…

SONNETTO DIFFAMATORIO

[12.855]

Leminski me chamava de bichona. Dizia Trevisan que meu minuto de gloria ja passou. Ainda escuto fallar Sylvio Luiz que não me abbona.

Foi Hebe quem fallou que não menciona com gosto meu tesão por pés dum bruto machão. Ja dona Rosa diz que eu chuto si digo que é baunilha a tal Madonna.

Mandou na “barnabunda” tomar quem o Piva achou que estava do meu nome fallando, na canção, até que bem.

Deseja anarchopunk algum que eu tome no rabo, por ter dicto que sou “zen sadista”. Ah, todo mundo me consome!

SONNETTO DA MANHAN PRIMAVERIL [12.887]

Gorgeia a passarada, de manhan, por causa desta bella primavera! E então? Não é só isso que se espera que cantem os poetas? Não? Hem? Ham?

Das flores, tantas cores um affan mais lyrico se exige de quem quer a belleza desta vida ver, à vera! Precisa a nossa mente estar mais san!

Não achas, menestrel? Tu não versejas accerca só de idyllicos amores em torno das familias, das egrejas?

Hem? Cruzes! Que linguagem! Si essas cores perdeste na visão, por que despejas rancor? Xinga Satan, quando la fores!

SONNETTO DA RISADA CONSUMMADA [12.949]

Glaucão, me diverti com essa scena de rua, alli no largo d’Anna Rosa! Mijei-me de rir! Ora, quem não goza dum cego que excorrega? Quem tem pena?

Na praça havia typo uma dezena de noias! Ao notarem a famosa bengala branca, riram! Ninguem dosa o sarro nessas horas! Quem condemna?

O cego, que pisara na titica, de cara ao chão cahiu! A molecada ainda deu-lhe chutes! Hem? Que zica!

Hem? Serio? Foi você quem na calçada damnou-se? É tarde, Glauco! Bem não fica, sei disso, ora! A risada ja foi dada!

SONNETTO BEM ESCRIPTO POR MAU SIGNAL [12.951]

“King Midas in reverse”, eis o que diz dos Hollies a canção sobre quem é marcado pela zica. A mera fé num sancto não protege esse infeliz.

Pensei nisso por causa do que fiz, em sonho: um cemeterio ousei, a pé, inteiro percorrer. Cheguei até a abrir um mausoléu. Entrar la quiz.

Percebo, horrorizado, um eskeleto movendo-se, exgueirando-se entre portas, na minha direcção! Onde me metto?

Fugir quero, mas chegam outras mortas figuras! De repente, nesse preto scenario, de mim fogem! Linhas tortas?

SONNETTO DUMA INSIGNIFICANTE EXSTINCÇÃO [12.952]

Racista sou, sim! Quero ver exstincta a raça deshumana! Assim, proponho um pacto suicida! Sei que é sonho, mas ouso versejar em clara tincta!

Num dado dia, almejo que se sinta ja prompta toda a Terra! Não, medonho não pode ser tal drama! Até supponho qual data marcarão: num dia trinta!

Sim, todos se mactando num só dia é simples solução! A Terra fica, de tantos predadores, mais vazia!

Ninguem se expante: fauna até mais rica virá nosso logar tomar! Seria melhor do que esta atypica titica!

SONNETTO DA CARA CONSULTA [12.958]

Ao medico oculista fui eu, por motivos obvios, tantas vezes, mas, alem de me passar noticias más, questão de me zoar fez o doutor.

Sim, disse: “Estás no lucro! Nem vou pôr aguinha no teu choppe, hem, meu rapaz? Tu sabes, o glaucoma tão mal faz, que eu via a ti, ja, como um perdedor!”

“Enxergas um pouquinho? Um resto tens, ainda, de visão? Lucraste, então! Mas devo te explicar alguns porens…”

E dava gargalhadas. Ora, não devia rir assim! Pago uns vintens a mais para aguentar tal gozação?

SONNETTO

DO SOLDADO BRAZILEIRO [12.959]

Tem tudo, como sadico, o cruel soldado brazileiro. Tem olhar sedento, vingativo. Tem esgar na bocca, que paresce engolir fel.

Firmeza tem, emquanto, no quartel, suppõe que sobre faces vae marchar, appós uma victoria alimentar na mente, eis que escutou o coronel.

Fuzil tem, capacete tem. Tambem cothurnos, com aquella nada fina nem lisa sola. Alguem a lambe? Quem?

Emfim, tem tudo. Só quem examina seu pé nota que falta algo: não tem tamanho, feito um pé de bailarina.

SONNETTO DA PRAGA DE URUBU [12.968]

Tá vendo só? Ficaram desejando a morte dum, o cancer doutro… Vae que morre, em accidente, este, e que cae aquelle no banheiro… Horror nefando!

De tanto desejarem, no commando da patria, que se foda alguem, um ai se escuta do outro lado: o proprio Pae dos Golpes internou-se! Hem? Morre quando?

Você pode morrer a qualquer hora, Glaucão, como qualquer mortal! E então? Hem? Gosta, até, de hypotheses taes? Ora!

Não diga que morrer quer, mestre! Eu não! Distancia quero della! Ah, si demora, melhor! Ella que puna algum chefão!

SONNETTO DO GAROTINHO BONITINHO [12.969]

Pestinha, ah, como corre, pulla, grita aquella creancinha, “linda” aos paes, appenas! Mas até seus paes uns ais ja soltam… Affinal, quem não se irrita?

Que filho! Uma creança tão bonita, segundo os paes! Mactou os animaes do parque! Hem? Actos antinaturaes commette… Hem? Affinal, quem não se irrita?

Ah, desse jeito, um dia, aquelle tão bonito garotinho faz no apê a linda fogueirinha… Ah, que emoção!

Eu acho que concordo com você, Glaucão… Muito melhor é ter um cão! Sim, era preferivel ter bassê!

SONNETTO DAS DROGAS EMMAGRESCEDORAS [12.979]

Remedio para magro ficar? Ora! É facil e barato! Nem precisa de drogas approvadas pela ANVISA! Glaucão, dessas cannetas estou fora!

É magico o segredo! Sei que chora quem gosta de comer bem! Sem ter pizza, sem gnocchi, sem lasagna! Nem, à guisa de exforço, uma salada de “chicora”!

Sim, basta provocar enjoo! O cara com nojo fica, Glauco, da comida! Accaba que emmagresce! Está na cara!

Num pratto ponha a lesma, a retorcida minhoca, a barattona! Assim, azara as gulas! Ha quem fome ter decida?

SONNETTO DO “FUNK DO XANDÃO” [12.981]

Ouviu você, Glaucão, esse funkão que chamam “do Xandão”? Ainda não? Pois ouça! Adorará! Que gozação fizeram! Virou meme do povão!

Canção? Não! Na verdade, confusão estão fazendo, Glauco, pois serão ja varias gravações! As lettras vão nos ponctos differentes da questão!

Uns acham que seria algo ja tão satyrico, que pode estar na mão dum gruppo criminoso… Ora, Glaucão!

Mas outros acharão que, na nação, ha coisas mais reaes, às quaes não dão a mesma attenção todos, meu irmão!

SONNETTO DOS ESCRUPULOS LUXENTOS [12.986]

Glaucão, que differença faz? Ja fricto, si for escorpião, for camarão, dá tudo na mesmissima porção de carne tostadinha, lhe repito!

Minhoca? Mortadella? Ah, não evito fallar que é tudo carne, ja que são bastante semelhantes na feição, bem como no sabor… Ha muito mytho!

Eu acho que é, Glaucão, muita frescura ficar sentindo nojo da lesminha emquanto um escargot a turma attura!

Commigo não tem disso! Para a minha dieta, não descharto rapadura contendo, da baratta, até perninha!

SONNETTO DAS TARIFAS INTERNACIONAES [12.987]

É muito simples, Glauco! Si você vier me cobrar preço que extorsivo me cheire, do producto não me privo: Dum outro o compro, ué! Sem fuzuê!

No mundo será assim! Caso não dê mais para que eu mantenha bom motivo de pappo com um gringo, ja me exquivo de delle encommendar qualquer patê!

Podemos aqui mesmo, de gallinha, fazer um patezinho semelhante ao delle, mas na linha baratinha!

Ah, Glauco! Nem pergunte quem garante que tenha qualidade! Você tinha certeza do que come em restaurante?

SONNETTO

DA COMIDA PROHIBIDA [13.016]

Tem gente, por “sabida” a se passar, que escreve e falla accerca de comida appenas p’ra affirmar que, em nossa vida, alguma coisa temos que evitar.

Ha livros sobre tudo o que convida à gula, ao appetite e ao paladar: Nem ovo, leite, carne! Nem manjar com calda! Nem frictura! Ah, sem sahida!

Assim simples: bastava lermos tudo que escrevem contra tudo que se come e nada mais comiamos! Me illudo?

Mais simples é! Chatice tem um nome melhor: pentelhação! Algum estudo comprova que, no Olympo, passam fome?

SONNETTO DO PUBLICO CIRQUINHO [13.042]

Jogaram, na calçada, algum sabão appenas para verem o ceguinho achar mais um entrave em seu caminho. Calculem si rollou excorregão!

São sadicos, os jovens, hem? Não são? Ao vel-o se rallar, um excarninho khorinho ouviu o cego, coitadinho! Ao menos, apprendeu sua licção.

Commigo ja não rolla coisa assim. Passei, ja, por tamanha zoação que, experto, hoje na moita a ficar vim…

Alguem em minha bocca algum tesão ja teve, em plena rua. Para mim pesou mais, da platéa, a reacção.

SONNETTO DA CONDUCTA ABUSIVA [13.129]

Ouvi, do meu amigo mais gaiato, que é facil divertir-se com quem ja perdeu sua visão. Ninguem está ligando si se fode, é o que eu constato.

Mas elle não appenas ri. De facto, provoca a gargalhada geral, má conducta revelando. Que será que fica a planejar esse insensato?

Primeiro, uma bengala longe chuta. Depois, passa a rasteira no coitado. No chão este rasteja… Ah, que conducta!

Si encontra a bengalinha, para aggrado daquelle que bem vê, ja nova lucta o cego trava: até será pisado.

SONNETTO DUMA DESORDEM ORDINARIA [13.146]

Sahiram, sim, no tapa, trovador! Legal paca! No meio do plenario! Foi massa! Adoro ver esse scenario fuleiro, de barraco, de fedor!

Fedor, sim! Deputado, senador, são sempre, Glauco, nesse imaginario da gente, maus actores, mas hilario não deixa de ser esse mau odor!

O cheiro da politica só pode ser esse! Quem mandou mexer com isso? Só rolla baixaria no pagode!

Alli, quando se presta algum serviço, sae caca, sae cocô, Glauco! Se fode quem tenta appartar brigas! Fico ommisso!

SONNETTO DO LADO MAU DA RUA [13.148]

Eu, quando vou à rua, mais me traz tristeza, mais me dóe no coração a bosta que, em logar de vir ao chão, me pega na cabeça! Ah, pombas más!

Si estou accompanhado, o outro rapaz jamais será attingido. Por que não? Por causa dum azar. “Aos cegos são taes zicas naturaes!”, falla, mordaz.

Diz isso o rapazinho que me guia, pois acha até gozado quando um cego foi alvo das titicas pela via…

Nem mesmo si eu pisasse nalgum prego o guia de mim pena sentiria… Sim, esse é mais um fardo que carrego.

SONNETTO DA MANIA DOENTIA [13.154]

Ouvi fallar, Glaucão, duma boneca que imita direitinho uma creança de berço! Tão perfeita, que ja alcança o nivel dum humano! Com a breca!

Bebê do typo chora, ri, defeca, chichi faz, solta peidos, pulla, dansa! Mamãe põe no bercinho, não se cansa de fraldas trocar! Sae barato? Neca!

Mania por mania, a minha tenho! Prefiro um bassezinho que, bebê ainda, nunca cresce! Hem? Grande engenho!

Eu finjo que elle falla, até, que vê si estou doente e, como no desenho do Spielberg, tem poderes! E você?

SONNETTO DUM AUGMENTO DE ASSENTOS [13.158]

Glaucão, você sabia que ja augmenta, na Camara, a ja grande quantidade daquelles deputados? Mas quem ha de taes farras impedir? Não, ninguem tenta!

Terão que gabinetes abrir! Senta mais gente nas privadas… Ja me invade a velha sensação de que metade irá cagar mais molle e fedorenta…

Os outros, como sempre, si de esquerda se dizem, cagarão um cocô duro, difficil de sahir… Mas não ha perda!

Na practica, direi que um ar mais puro ninguem alli respira! Aquella merda é minha, tambem! Nossa, até, lhe juro!

SONNETTO DO RANCOR DUM ELEITOR

[13.159]

No caso de installarem commissão de inquerito, na certa que fedor iremos sentir, Glauco! Pelamor! É tanta corrupção, tanto ladrão!

Amigo meu me disse que elles são um bando de cagões! Me faz suppor que estejam sentadinhos si, com dor bem forte de barriga, gritos dão!

Eu quero, sim, que gritem, menestrel! Eu quero que hemorrhoidas tenham, essas que enfrenta aquelle gajo do quartel!

Consolo será quando for, às pressas, alguem cagar e sangue sahir! Fel é pouco, para quem só faz promessas!

SONNETTO DO NOVO PAPA [13.165]

Um Papa americano? O que esperar dum homem oriundo do paiz mais rico, mais potente, mais juiz e syndico do mundo? Um rei? Um czar?

Será que elle terá, no seu radar, visão das injustiças mais hostis à pacificação e dos civis direitos em qualquer outro logar?

Talvez tenha a noção do que seria injusto ou deshumano. Só duvido que faça alguma coisa, todavia.

Os outros papas, todos, tendo ouvido quem chora, quem implora, quem confia em Deus, só meditaram: “Tá fodido!”

SONNETTO DA RENOVAÇÃO DOS QUADROS [13.166]

O joven drogaddicto, sendo filho dum celebre empresario, tem o carro mais caro, fora aquelle mais bizarro desejo de exhibir todo o seu brilho.

Esnoba, aluga “parsas”, no gattilho não erra, como quando seu catarrho exguicha bem na cara dos que sarro atturam dum menino peralvilho.

Mas elle tem um fragil calcanhar… Adora no dos outros rastejar si está, de tanta droga, sob effeito…

Um dia accabará, pode esperar, Glaucão, do presidente no logar! Fará, tal como os outros, bom proveito!

SONNETTO DA VINGANÇA PELA PANÇA [13.169]

Aquelle desgraçado vae ver só! De mim se separou! Fui dedicada, fiel, boa de cama! Não fiz nada de errado, mas o cara não tem dó!

Não, Glauco! Si não posso ser chodó mais delle, vou vingar-me! Envenenada farei a predilecta bananada do cara! Chego nelle e digo: “Tó!”

Meu doce irresistivel é, Glaucão! Assim que devorar uma porção, o filho duma puta as botas batte!

De quebra, brigadeiros dou-lhe e não me exquesço do chumbinho! Que emoção! Sei que elle não dispensa chocolate!

SONNETTO DUM CLIENTE INTRIGADO [13.177]

Scismei, Glaucão, com isso. Toda vez que estive em popular supermercado, notei que sempre está malconservado o frango, o camarão, o pão francez…

O frango tem uns pessimos buquês de sobra accarniçada. Si me evado dalli, mais fedentina desaggrado me causa… Camarões? Não sou freguez!

O pão, que deveria tostadinho ser, mostra-se bastante embolorado… Pergunto-me quem compra… Ah, ja adivinho!

Alguem que envenenar quer seu cunhado, seu sogro, seu patrão ou seu vizinho… Só pode ser, Glaucão! Fiquei scismado!

SONNETTO DUM UFFANO VARZEANO [13.179]

Glaucão, de futebol fui jogador! Eu era aquelle estupido zagueiro que fica assediando o tempo inteiro um craque, mesmo craque si não for!

Quarenta e septe eu calço, mas ja beiro um oito ou nove! Chanca, só na cor todinha preta! As travas metto, por tesão, em quem for muito cavalheiro!

Fair play, Glaucão? Que nada! Questão faço que minha sola attinja, bem na cara, quem quer que me paresça folgadaço!

Os arbitros me expulsam? Ora, para taes typos, faço um gesto com o braço, ou fallo um palavrão que se equipara…

SONNETTO DA LENDARIA OBRA PAPAL [13.186]

Glaucão, da MERDA IN BUCCA ando à procura! Não acho tal encyclica na lista que tenho! Quem se diz vaticanista garante que inexsiste essa escriptura!

Encyclicas ha sobre coisa pura ou suja, nós sabemos, mas quem vista aquella carapuça mais sarrista ainda não surgiu, elle assegura!

Qual Papa assignaria algum tractado versando sobre fezes via oral? Talvez fosse em sentido figurado…

Não, Glauco, nunca tive these egual à tal de MERDA IN BUCCA! Nenhum dado achei sobre esse classico fecal!

SONNETTO DUMA IDENTIDADE SUPERFLUA [13.188]

Glaucão, meu viralatta caramello ganhou green card! É serio! Tem até a photo delle, embora na ralé seus paes origem tenham! Sim, é bello!

Tem cara de malandro, lhe revelo, mas, ‘inda assim, otario ninguem é a poncto de chamal-o de Mané! A raça tem verbete, ja, no Lello!

E então? Não vae pedir que seu bassê tambem um documento desses tenha? Não mesmo? O que se passa com você?

Siquer seu passaporte nem se empenha você que se renove? Não que dê mais para viajar alem da Penha…

SONNETTO DA BANAL VAZÃO NASAL [13.190]

Glaucão, que tempo secco! Uma rhinite terrivel ja retorna, nessa phase! Me excorre esse catarrho, fico quasi sem mesmo respirar! Nem me visite!

Você pode pegar isso! Quem cite doenças perigosas ha! Se embase, Glaucão, nesses advisos! Fique em paz e não tente me enrollar com seu palpite!

Meu ranho tanto fica amarellado que gemma até paresce, bem caypyra si fosse, Glauco, um ovo nesse estado…

Você, do seu nariz, tambem não tira a placa de catarrho? Desaggrado não causa? Ah, não me diga tal mentira!

SONNETTO DO MENINO ESTRAGADO [13.193]

Então não mais eu brinco! Quero minha bollinha, ja, de volta! Para casa irei e, si commigo ninguem casa, não deixo nem que brinquem de casinha!

Ja tenho uma mobilia de cozinha, alem duma de quarto! Quem attraza meu lado ficará de fora! A braza eu puxo para assar minha sardinha!

Quem não acceita as minhas condições, altissimas tarifas soffrerá! Separem seus vintens e seus tostões!

Na America, maior que eu, ninguem ha! Não querem brincar? Ora, seus bobões! Estou de mal! Alguem tambem está?

SONNETTO DUM PEDIDO DE URGENCIA [13.194]

Desculpe, excellentissimo collega! Desculpem os demais, tambem! Agora eu tenho que sentar, e sem demora, alli no meu throninho! O bicho pega!

Depois que eu me limpar e minha prega parar de verter sangue, para fora eu volto! Ouvirei, ja, quem assessora a Casa, nesse caso um tanto brega!

Na pauta tal proposta vae entrar?

Então, papel hygienico, si for aos homens, será azul? Estou a par…

Mulheres terão rosa? Ah, bella cor! Na practica, marrons irão ficar, mas vale legislar, hem, relator?

SONNETTO DUM ATTEMPTADO MAL PENSADO [13.195]

Os ovos estão caros! Não dá para jogal-os, sem errar, no presidente! Hem? Torta de cocô? Jamais! Nem tente! Difficil accertal-o bem na cara!

Comtudo, si disposto se declara você, suggiro, para coherente ser, uma ponctaria competente com essa arma, que tiros mil dispara!

Assim que elle estiver a discursar, dos ovos ou tomates em logar, melhor é chumbo grosso, mesmo, uai!

Cocô seria caso de exemplar, geral repercussão, mas só vae dar motivo para, appenas, algum ai…

SONNETTO DUMA DAMA COLHERUDA [13.218]

Glaucão, minha mulher é palpiteira demais! Nós num almosso, convidados, estavamos… Eis que ella, aos altos brados, começa a criticar a cozinheira!

Fallou que exsiste coisa, alli na feira, melhor e mais barata! Ai, meus peccados! Agora todo mundo pensará, dos meus gostos, tudo quanto, mal, se queira!

Na frente do gentil amphitryão a minha esposa, estupida, dizia que tinha achado um ratto no pheijão!

Magina, Glauco! Um ratto! Só seria, talvez, um cocozinho, um simples grão de bosta! Ah, dar palpites nem cabia!

SONNETTO DO SENHORZINHO RANZINZA [13.232]

Depois de velho, Glauco, me tornei azedo, resmungão, malhumorado! Não venha a rir ninguem para meu lado, que eu viro uma ararona! Ah, virou lei!

Não gosto de piadas! Ja nem sei contar aquellas todas de veado, judeu ou portuguez! Não! Que dirá do sacana papagayo, que era gay!

Si escuto, no boteco, uma fofoca gostosa, appigmentada, sobre nosso valente ex-presidente, isso me toca!

Si tento defendel-o, sempre engrosso, accabo na porrada! Na malloca me chamam de caduco! Não endosso!

SONNETTO DA GAGUEIRA E DA CEGUEIRA [13.236]

{Gagá, Glaucão! Me chamam de gagá! Gagueira, até, me dá, de tão cabreiro que fico! Fo-fodeu, com-companheiro! Ga-gago fa-fallando vo-vou, ja!}

-- Sossegue! Quem assim não fallará si fica tão carente? Eu mesmo beiro o panico si chego num puteiro, levado pelos manos, meu xará!

{Me-mestre, é differente! Vo-você chu-chupa na ma-marra pi-pi-picca à be-bessa, pa-pagando um mi-michê!}

-- Mas velho sou, tambem! A gente fica, assim, mais vulneravel a quem dê porrada, alem de rir da nossa zica!

SONNETTO DOS PLAUSIVEIS PALAVRÕES [13.239]

Que velho desboccado, trovador! Precisas desse estupido fallar nalgum de teus sonnettos, exemplar que seja desse incrivel despudor!

À merda, a depender delle, si for a gente, certamente, para azar, ainda tomaremos no cu, par fazendo com algum estuprador!

Si fosse por vontade do subjeito, iriamos à puta que da gente mamãe teria sido, ja suspeito…

Talvez pela velhice, esse indigente nos xinga, a todos, desses nomes, feito um louco, ou mesmo certo presidente…

SONNETTO DA QUITUTEIRA NA TERCEIRA [13.240]

Glaucão, a minha avó, mesmo velhinha, ainda faz coxinha! Ah, cara, cada empada, cada torta… Não se enfada de estar, eternamente, na cozinha!

Alem da mais incrivel empadinha de frango ou de palmito, nos aggrada com optimos bollinhos… É, sim, fada de todos os quitutes dessa linha!

Faz kibbe, faz croquette, faz esfiha… Nos doces, ah, tambem ella capricha! Ainda que cansada, não faz birra!

Emquanto os seus gambitos não espicha, a velha nós amamos! Porem, irra, gagá ja, poz “custarda” na salsicha!

SONNETTO DA INTERESSEIRA NA CEGUEIRA [13.246]

Ai, Glauco! O que você precisa não será nenhum chazinho para aquillo que cause depressão ou intranquillo o deixe! Nem precisa de poção!

Precisa de carinho! Uma affeição eu tenho por você, damnada! Asylo? Hospicio? Manicomio? Sem vacillo lhe digo: nada disso, meu irmão!

Da cuca, alem de cego, sei que está soffrendo, mas sou boa companheira, querido! Não farei appenas cha!

E então? Nem quer saber de quem só queira fazer-lhe companhia? Ah, porra, va tomar no cu, veado! Que toupeira!

SONNETTO DO ALCOHOLATRA DESNUDADO [13.252]

Eu, bebado? Um bebum? Glaucão, que está commigo se passando, por Jesus? Accabo me excedendo! Se deduz que, em breve, dormirei no chão! Será?

Serei, como o Leminski, visto la, cahido na calçada? Ah, tantos cus de bebados, sem dono, passam nus a noite toda! Christo Jesus, ah!

Não quero ser lambido, na boquinha que minha mãe beijou, por um cachorro de rua, menestrel! Não me convinha…

Me dizem que, de bebado, não morro, mas acho que mamãe, sim, razão tinha, temendo ver-me ao léu e sem soccorro…

SONNETTO

DOS ENSIGNAMENTOS PAROCHIAES [13.256]

Eu, antes, só da pessima cerveja bebia, aquella tal que, no boteco, se vende, mas agora appenas secco um coppo do bom vinho, o tal de egreja!

O padre me ensignou, Glaucão! Sim, veja si tenho ou não razão! Mais um caneco accabo de tomar, comendo um teco de queijo, sem que mal jamais esteja!

Tá certo que esse padre vive em porre total, só que elle varios litros toma! Nem sei como do figado não morre!

Mas elle que se ferre, que entre em coma! Eu, com moderação, estou bem! Corre que quem sabe beber cem annos somma!

SONNETTO DA VOCAÇÃO SACERDOTAL [13.257]

Glaucão, tornei-me padre, mas estou frustrado totalmente com a vida que levo! O bispo, veja, até duvida que eu possa proseguir dando meu show!

Sim, minhas missas mostram como sou bastante popular! Porem, quem lida com vinhos à vontade se convida a toda temptação, Glaucão! Sacou?

Accabo sendo como Frei Thomaz: Só façam o que diz, não o que faz! A todos ensignei moderação…

É vinho vagabundo, mas, rapaz, me deixa doido! Veja, até por traz me comem, sem fallar na fellação!

SONNETTO DA COR DO LICOR [13.258]

Aquelle teu licor, Mattoso -- Uau! -é mesmo uma delicia! Aonde, porra, tu foste encontrar esse, hem? Em Gomorrha? Sodoma? Achei potente em alto grau!

Azul é, mas jamais foi curaçau, nem mesmo la na China! Que concorra, até, para augmentar a nossa zorra na cama, nem duvido! Macta a pau!

Si verde fosse, eu, claro, ja appostava tractar-se dum absintho da mais brava especie, menestrel! Vae, Glauco, conta!

Contar não queres? Bah! Mandei à fava qualquer indagação! Ja não bastava deixar nossa cabeça assim tão tonta?

SONNETTO DO INSECTO ABJECTO [13.260]

Baratta apparesceu e, quando voa, não vejo o que fazer, Glaucão! A gente não fica appavorada? De repente, na cara a sinto! Não é coisa à toa!

Se choca contra tudo! Uma pessoa, illesa, não excappa! Nem que eu tente mactal-a! Aquelle insecto repellente não pára! Quem tem nojo que se doa!

Aquella que cahiu dentro da taça de vinho -- Tu te lembras? -- estragou a festa! Que é que esperas que se faça?

Sim, gosto de beber, mas ja não dou nenhuma chance! Emquanto o bicho passa, eu bebo no gargalo! Vivo sou!

SONNETTO DO PROCEDIMENTO ESTHETICO [13.280]

É facto que, veridico, ninguem contesta, menestrel! A minha thia, que é bruxa, quiz obter physiognomia de bella moça! Aquillo não foi bem…

Deu tudo mais que errado: ficou sem orelhas, sobrancelhas… A agonia da velha augmenta, agora, dia a dia, pois ja virou caveira! Azar não tem?

Usou tantas poções, como direi, kosmeticas, que sua antiga cara virou o que? Cratera? Ah, ja nem sei!

Coitada da tithia! Se mascara, agora, de mulher fatal! A lei de Murphy não adjuda: mais a azara…

SONNETTO DO BATTEPAPPO [13.298]

Talvez Duvivier não corrobore o que digo totalmente, mas no seu programma até que emprega algo do que eu escrevo. Ora, achei muito meritorio…

Vejamos o que falla, alli, Gregorio: Allega ter chulé, feito um plebeu, que feda gorgonzola. Bem que deu vontade de testar seu palavrorio…

Teria Greg um grego pé? Só posso dizer si tactear me for possivel, à vera… Ah, si elle fora amigo nosso!

Daquelle bom debatte estou no nivel? Me chamem, que eu prometto: não engrosso e só meus dedos uso, si for crivel…

SONNETTO DO LOCUTOR [13.310]

Agora toda radio resolveu que deve contractar locutor fanho! Então, ca me pergunto: O que é que eu ganho com isso? Lhes dar chance? Eu não! Não eu!

Os fanhos que trabalhem num plebeu commercio, num negocio de tamanho pequeno ou popular! Achei extranho um delles anchorando! Quem cedeu?

Não basta aquelle chocho nhenhenhem em todas as chamadas? Ja me vem alguem que só se exprime em nhanhanham!

Não, Glauco! Só dicção boa quem tem devia, ao microphone, seu vintem com meritos ganhar pela manhan!

SONNETTO DA BURRICE ARTIFICIAL

[13.311]

É meu computador intelligente à bessa, menestrel! Quando um commando eu dou, ja vae pensando… Vae pensando… até que se decide e, emfim, consente!

Não, esta minha machina não tente ninguem desprogrammar! Ella faz, quando está de lua, aquillo que implorando eu fico, menestrel, humildemente!

Si peço que ella clique em certo link, julgando que com ella a gente brinque, a machina, teimosa, me resiste!

Mas, quando desligal-a quiz eu, só de birra, ligadissima, deu nó na cuca virtual e ficou triste…

SONNETTO DA CONVIDADA [13.313]

Respeito? Quer respeito uma senhora da sua laia? Ah, tenha paciencia! Nem como mulher acho que pertence a senhora a algum sallão de elites, ora!

Ministra? Que ministra? Condecora alguem uma mulher de intelligencia tão rasa? Ah, só bordel em decadencia a acceita! Dos bons clubes está fora!

Nem venha me exigir algum respeito! Mulher nenhuma aqui pode ter peito, sinão para mostrar, desnuda, a teta!

De gente empoderada não acceito que, em altas tamanquinhas, tenha feito de escravo quem com viboras se metta!

SONNETTO

DA LYRA ORGANIZADA [13.320]

Senhores, nós prendemos o funkeiro! Sim, elle é quem fazia a apologia do crime! Elle compõe a poesia bandida, vagabunda! Age certeiro!

Propaga aquelle traffico que, inteiro, domina nosso urbano centro! Um dia teria que ser pego! De euphoria, agora, na policia, sinto o cheiro!

Seu cynico causidico opinou que é tudo uma ficção, uma “persona poetica”! Que “eu lyrico”! Brincou!

O gajo obstenta a droga, direcciona estupros e exterminios em seu show! Só falta achar que egreja seja a zona!

SONNETTO PERSECUTORIO [13.321]

Me entrego, mas estive foragido porque não concordava, mas de jeito nenhum, em ficar preso. Não duvido que irá meu advogado ter proveito.

Sim, isso mesmo. Tive muito peito. Jamais acceitarei ficar detido por causa dum peão. Não me subjeito a leis tão populistas, sem sentido.

Mactei meu operario porque deu vontade, porra! Achei que elle offendeu a minha mãe, alem da minha avó!

Não venham, só por causa dum plebeu, querer que eu entre em canna! Não sou eu irmão dum diplomata? Ah, tenham dó!

SONNETTO MERITORIO [13.325]

Não quero parescer que sou censor. Por isso não discuto si é culpado alguem, nem collocar-me irei dum lado. Fazer não vou juizo de valor.

No merito não entro. Vão suppor que estou analysando sem cuidado. Prefiro me eximir dum appressado palpite. Não serei accusador.

Não, Glauco! Conclusões tu não me peças! Preciso me informar melhor! Mais tarde, talvez, eu nisso opine… Nunca às pressas!

Estás, ora, a julgar que sou covarde? Jamais! Não me intrometto, porem, nessas conversas! Meu ouvido, depois, arde…

SONNETTO PREDATORIO [13.327]

Fallando da Amazonia, por que não pararmos com discursos e frescuras? Emquanto “sustentavel” tu me juras ser, elles vão mettendo sua mão!

Tu ficas levantando uma questão de flora aqui, de fauna alli… São puras as tuas intenções, mas serão duras as minhas objecções! Molles não são!

Petroleo tirarão, de “equatorial” ou la que porra for a “margem” disso! Inutil, esse thema ambiental!

Si queres, a valer, prestar serviço, melhor será chamares a fatal questão de “discutivel compromisso”!

SONNETTO GYRATORIO [13.328]

Nem isso, nem aquillo! Nem a Terra tem jeito duma grande bolla, nem é plana, totalmente recta, sem limites de infinito! Ninguem erra!

É tudo uma minhoca que se encerra nas nossas cabecinhas! Ninguem tem certeza do que esteja a ver! Ninguem consegue deduzir! A mente emperra!

Não viste, menestrel? Cada pessoa enxerga, sob um angulo qualquer, as coisas ao redor! A mente voa!

A nossa mente roda! Si estiver chapada, mais ainda! Não à toa mettemos no universo uma colher!

SONNETTO NOTORIO

[13.329]

Aqui vim, meritissimo, só para dar justo testemunho sobre quem estejam a accusar! Elle não tem, jamais teve, intenção assaz ignara!

Por elle corto o braço, dou a cara a tapa, meritissimo! Ninguem dirá que elle incitou as tropas, nem que esteve conspirando! Quem ousara?

Jamais, excellentissimo! Quem ia conter todo um paiz? Democracia não pode ser tão fragil coisa, não!

Está na cara! Todo mundo via que nunca aquelle encosto, qualquer dia, retorna à presidencia da nação!

SONNETTO INDECISORIO

[13.331]

Mas sabe, menestrel? Depois que li seu optimo sonnetto, ja nem sei si delle desgostei ou si gostei… O proprio thema falla, ja, por si.

Pensei que choraria, mas eu ri. Curtir deve quem seja macho ou gay?

Em termos pessoaes, que é que direi?

Dizer coisas demais, é o que temi…

{Então vou responder como o Diniz.

Dizendo mais ou menos o que diz, direi que ja nem sei si isso compuz…}

{Assim, dirá você si fui feliz ou, caso nós sejamos imbecis, diremos que tiramos nossos cus…}

SONNETTO PROBATORIO [13.340]

Sim, posso provar tudo o que está alli, nas horas e mais horas de conversa jogada fora. Della não dispersa ninguem que esteja preso. Tudo ouvi.

Agora falla cada qual por si. Estão os advogados quem malversa tentando defender, mas a perversa politica só gera mimimi.

Não fosse esse amplo escandalo bastante, ainda apparesceu o sujo pappo que eu cito. Quer questão que mais expante?

Admitto que eu tambem ja não excappo de estar nisso mettido. Quem garante, em bocca alheia, algum esparadrappo?

SONNETTO PRIORITARIO [13.344]

Mulher tem preferencia? Acho que não. Na frente estão os velhos? As creanças? Os pobres? Os pedintes? Tu me cansas com tuas objecções, ora, Glaucão!

Ja disse eu, pô, que faço, sim, questão de estar sempre em primeiro nas festanças politicas de elite e que mudanças não quero nos programmas da nação!

Insistes tu que eu deva me tocar por todo o miserê dessa gentalha? Ah, Glauco! Vae tomar no tal logar!

Odeio uma fofoca que se expalha, dizendo que estou louco p’ra chupar caralho de peão! Gente canalha!

SONNETTO ATRABILIARIO [13.345]

Não gosto de ninguem! Meu mau humor tu, Glauco, nem calculas! Quando perco as minhas estribeiras, jogo esterco em tudo quanto for ventilador!

Sou curto de pavio! Queres pôr à prova meus colhões? Queres um cerco fazer ao meu sossego? Queres ter c’o demonio um bello pappo de calão?

Do figado, sim, acho que ja peno, pois vivo, Glauco, sempre no veneno, a pique do mais rispido rompante…

Somente não te exquesças dum pequeno detalhe: quando à morte alguem condemno, da atroz exsecução sou o mandante!

SONNETTO DEMISSIONARIO

[13.348]

Ao Trump estou pedindo demissão. Fiz tudo o que queria aquelle encosto, mas acho que perdi, ja, todo o gosto de, em transe, infernizar esta nação…

Sim, drogas, as que tomo muitas são. Ja deixam até marcas no meu rosto, das crises de hysteria. No meu posto que ponham outro noia. Ahi, verão…

Pensavam que eu estava bem doidão emquanto planejava a falcatrua mais grossa? Maior loque encontrarão!

Assim que elle estiver, mesmo, de lua, na certa appertará, rindo, o botão que explode este planeta… Alguem recua?

SONNETTO AUCTORITARIO [13.352]

Quem manda aqui sou eu! Escutou bem? Ninguem que esteja accyma de mim pode pensar em exsistir! Ninguem accode quem queira achar que força alguma tem!

Delego, sim, poderes, mas ninguem faz nada que bagunce meu pagode! Quem tenta apparescer logo se fode! Affasto quem mandão quer ser tambem!

Glaucão, a minha tactica consiste em contra collocar dois entre si, que estejam pretensões alimentando…

Nenhum dos dois, poeta, a mim resiste! Repito, pois: sou eu quem manda aqui! Satan, só, não attende ao meu commando…

SONNETTO PRECARIO [13.354]

No posto de sahude está a parede tomada por bolor! O piso cheira a mijo! Quem de vós tanta sujeira tolera? Que miseria, amigos! Vede!

Siquer nem agua para quem tem sede alli se encontra! Leitos? De maneira nenhuma! Algum doutor ou enfermeira? São poucos para toda aquella rede!

Na maca, a senhorinha verde ja ficou, appós soffrer mais um infarcto! Na certa, sem cuidados, morrerá…

A gravida sozinha fez o parto! Vaccina, p’ra tomar alli, não dá! Si disso depender, olhae, eu parto!

SONNETTO USURARIO

[13.355]

Me chamam de sovina, mas eu não admitto! Um avarento, falla alguem? Magina, menestrel! A gente tem pouquinho! Não! De vacca não sou mão!

Suei para junctar cada tostão! Difficil foi ganhar cada vintem! Si juros cobro desses que me veem pedir, acho justissimo, Glaucão!

Agora, só por causa da ammeaça àquelle caloteiro, que fiz, eu sou tido como um sordido reaça?

Não! Nada a ver, Glaucão! Não sou judeu, nem tenho nada contra aquella raça que, experta, algum milhão jamais perdeu!

SONNETTO FERROVIARIO [13.365]

Em vez dum viaducto, uma porteira. Um trecho da avenida, assim parado, fazia a divisão, de cada lado, dos engarrafamentos. Que canseira!

O trem era de carga. Alli na beira ficavam esperando, com enfado, os muitos motoristas. Mas coitado, tambem, dalgum pedestre! Ninguem queira!

Um bebado, opinando que tem pressa, os trilhos perigosos attravessa e, claro, foi colhido pelo trem…

Na photo, o sangue expalha gotta à bessa. As visceras expirram. Quem com essa visão ainda almossa hamburger? Hem?

SONNETTO ORDINARIO

[13.367]

Não vejo, menestrel, nada de mais na vida dum soldado. O gajo tem que, em tudo, obedescer de prompto quem commanda aquellas forças nacionaes.

Não pode levantar tarde. Dos paes em casa, accordaria por si, sem ninguem dando o signal. Comia bem, jamais aquelle rancho. Não, jamais!

Só marcha, carregando o seu fuzil pesado. Seu cothurno os dedos moe. Faz tudo pela gloria do Brazil.

Levava aquella vida de playboy… Agora não tem whisky no cantil nem pode calçar tennis esse heroe…

SONNETTO EXTRAORDINARIO [13.368]

A vida dum soldado será mais gostosa appós o golpe, menestrel! Jamais essa roptina do quartel será tão enfadonha. Não, jamais!

Manobras que eram tão habituaes serão mais divertidas, pois, ao bel prazer, torturará quem foi rebel nos meios esquerdistas nacionaes!

Não marcha, nem carrega seu fuzil pesado… Seu cothurno os dedos moe? Alguem os lamberá, nesse canil…

Levava aquella vida de playboy… Agora, mais ainda, acha seu vil brinquedo, ou, como dizem, o seu toy…

SONNETTO TEMERARIO

[13.369]

Herdei, Glaucão, dos paes um dinheirão! No banco, fiquei pasmo! O meu gerente me disse que eu podia, de repente, comprar uma mansão, um avião…

Quem é que não tem planos? Hem? Quem não? Em fundos investi, pois dica quente me deu esse gerente intelligente! Mas eram cryptofundos, meu irmão!

De inicio, fui ganhando mais dinheiro naquellas quotações, todas sem base! Aos poucos, não restava nem o cheiro…

Entrei, sim, no vermelho! Fiquei quasi sem calças! A miseria, até, ja beiro! Glaucão, vou michetar! Estou na phase…

SONNETTO PERDULARIO

[13.371]

Glaucão, divida antiga a gente exquesce! As dividas mais novas, ora, a gente as deixa que envelhesçam! Meu gerente no banco ja deixou de fazer prece!

Eu gasto, vou gastando… Me paresce que nunca no vermelho, de repente, a gente vae ficando! Que se invente alguma alternativa! Não deu, desse!

Credores meus que percam o seu somno! Eu durmo -- Ouviu, Mattoso? -- muito bem! Ainda do nariz me sinto o dono!

Poupar acham que irei algum vintem? Cahiu algum na compta? Ah, si eu detono! Mais gasta -- Ahi, Glaucão! -- quem menos tem!

SONNETTO INFLACIONARIO [13.372]

Você ja reparou, cara? A torrada menor está ficando no pacote! Alguem acha normal, hem, que se bote no sacco menos ballas? Que roubada!

Assucar, ovos, leite, café, cada producto, hoje, está caro, mano! O trote consiste em botar menos, cara! Annote o preço, o peso! Veja si lhe aggrada!

Assim não é possivel! Chocolate em barra vae ficando cada vez mais fino, mais levinho! Um disparate!

Mas, ‘inda assim, consigo ser freguez frequente! Esta charteira ninguem batte! Papae paga! Fortuna à bessa fez!

SONNETTO IDENTITARIO [13.374]

Coitada de mim, mestre! Estou confusa! Mestiça sou! Terei logar de falla? Fallaram que quem teme é quem se cala! Serei, Glauco, uma lesbica cafuza?

Acaso discrimina alguem quando usa uns termos meio vagos e, na salla, me chama de sapata porque mala pequena diz que tenho? Sou intrusa?

Ai, Glauco! Só você me dá razão! Não fosse seu conselho, não sei, não… Mas acho que mulher jamais serei!

Disseram que eu seria sapatão, mas outros ja me chamam de machão… Só falta me chamar alguem de gay!

SONNETTO CULINARIO [13.375]

Um mestre escutei, Glauco, que dizia receitas conhescer p’ra que se faça um optimo sanduba (Que chalaça!) daquella mortadella da Sadia!

Receita? Que receita? Alguem confia no pappo dum subjeito que não passa dum bello charlatão? Ora, acho graça na cara de pau dessa gente fria!

O cara, na maior desfaçatez, affirma que sanduba tambem fez de queijo, de salame e de presuncto…

Diz elle que só cobra do freguez a taxa de serviço, pois, cortez, affirma que promove seu assumpto…

SONNETTO SALAFRARIO [13.376]

Me chamam, menestrel, de piccareta! Eu acho desleal! De cafageste tambem chamam! Ninguem ha que conteste quem essa covardia atroz commetta!

Affirmo, menestrel: é tudo peta! É justo que ninguem se manifeste si dizem que jagunço sou da peste? Nem dollares eu tenho na gaveta!

Honesto sou! Appenas porque ja mactei quem offendeu a minha linda imagem, me condemnam, camará?

Si eu fosse do governo, cara, ainda havia quem xingar de marajah ousasse! Essa aggressão é, mestre, infinda!

SONNETTO PARTIDARIO

[13.378]

Aquillo ja chamou de “pedalada fiscal” quem empichou a presidente! Te lembras, menestrel? Ha quem sustente de novo o mesmo thema! Que roubada!

Crear mais um imposto lhes aggrada, mas sabes tu que imposto deixa a gente putissima da vida! Quem invente taes truques nunca falta na bancada!

Na Camara, accordamos que não passa nenhuma lei que imponha novas taxas, por mais que esse governo força faça!

E tu, Glaucão? O que é que da lei achas? Si contra mim tu fores, de reaça te chamo! Mais commigo não despachas!

SONNETTO JUDICIARIO [13.379]

Glaucão, não é possivel! Estou cheio de tanto responder, ja, na justiça! Qualquer coisa que eu diga, cara, attiça os animos! Processam-me sem freio!

Si digo que veados eu odeio, processam-me! Si digo que é preguiça a manha nordestina, tambem! Piça me mettem si fallei que bugre é feio!

Caralho! Todo mundo me processa! Gastei com advogados uma grana! Faltava me inventarem só mais essa!

Até ceguinhos querem que eu em canna me veja, porque eu disse, porra, à bessa, que para chupar rolla, só, teem gana!

SONNETTO BITRIBUTARIO [13.380]

Pô, Glauco, ja pagamos um imposto por tudo que fazemos, como disse o George, mas ainda a cretinice politica mais um cria? Ah, que gosto!

Que gosto de taxar! Paresce encosto! Agora me inventaram a chatice da taxa de eleição! Quem desperdice seu voto pagará mais, foi proposto!

Você votou naquelle fidaputa?

Pois bem! Si elle ganhar, cê vae pagar mais quando for comer, da cobra, a fructa…

Mais pelo pão, mais pelo caviar ou pela mortadella! Mais fajuta será cada maconha que fumar…

SONNETTO PETICIONARIO [13.393]

Por meio deste, venho promptamente pedir, doutor, que Vossa Senhoria favor me faça -- Ah, bem que poderia! -de estar longe e voltar aqui nem tente.

Si digo “longe” estou, logicamente, dizendo que ir à merda até podia, mas quero reforçar a putaria, propondo que se foda. Attenda a gente!

Tentei ser, meu senhor, protocollar, mas nunca que consigo. Logo um ar assumo do pornographo que sou…

Vulgar, pois, empregando o linguajar, eu, neste ensejo, peço que tomar no rabo o senhor va, doutor. Sacou?

SONNETTO SEDENTARIO [13.395]

A bunda da cadeira manda a gente tirar, aquelle filho duma puta? Não sae da sua salla! A gente lucta na rua, todo dia, bravamente!

Eu ando, por kilometros! Nem tente alguem acconselhar quem ja labuta num trampo tão difficil! Nem discuta commigo quem tem facil seu battente!

O filho duma puta só viaja de carro ou avião, si da cadeira levanta aquella bunda! Banhas haja!

Magrella sou, Glaucão! Ah, ninguem queira fallar em malhação, si não se engaja! Que malhe, então! Está de brincadeira!

SONNETTO CURTIVEL

[13.404]

Um facto que, veridico, occorria: Tornei-me fellador dum japonez, ou antes, descendente, certa vez. Curtia -- Ah, si curtia! -- a putaria…

Seu pau se introduzia, mas por via oral, e ia bombando qual freguez fiel das artimanhas do Marquez, a poncto de engasgar-me emquanto urdia.

De porra a minha bocca abbastescia. Depois, elle mijava a prestação, em jactos bem curtinhos, e eu bebia…

Nem todo japa assume tal tesão, mas esse me brindava, como orgia bem sadica, com lubrica micção.

SONNETTO REMEDIAVEL [13.405]

Um dia, annunciou seu casamento o japa que eu chupava, por vontade, é claro, da familia. “Mas quem ha de chupal-o como chupo?” Um mau momento…

De mim ficou distante. Em pensamento, porem, lhe vinha a scena, jus a Sade fazendo, da mijada que me invade a sordida garganta, a qual enfrento.

Nas raras circumstancias em que estava mais longe da mulher, jogando tennis ou golfe, elle irrumava a bocca escrava.

Na rapida visita, ah, como o penis mettia com tesão! Ah, si mijava gostoso, com golfadas sempre infrenes!

SONNETTO PLAUSIVEL

[13.406]

Do japa algum cunhado suspeitou que estava com veados se mettendo. Até que taes suspeitas eu entendo, mas esse irmão da moça me encontrou.

Notando que machão, si tal não sou, ao menos eu paresço, foi fazendo perguntas… “Quer saber si estou comendo seu masculo cunhado? Não estou!”

Assim fallei, mas elle saber quiz mais coisas, si era mesmo seu cunhado activo na sessão. Ficou feliz.

De facto, lhe expliquei que, para aggrado dum macho, minha bocca tem servis funcções e rende incrivel resultado.

SONNETTO RAZOAVEL [13.407]

Assim fallei: {Sossegue. Seu cunhado jamais humilharia a sua mana. Mulher nenhuma quer dalgum sacana tractada ser tal como um vil veado.}

{Commigo o seu cunhado, sem cuidado nem pena, faz aquillo que me irmana aos bichos, aos cachorros. Na mundana funcção de fellador eu me degrado.}

{Na minha bocca aquelle macho, o seu cunhado, só practica as putarias às quaes a mulher delle não cedeu.}

{Por isso lhe confesso que, por vias oraes, sou como o servo mais plebeu, que só para abjecções tem serventias.}

SONNETTO COMPROVAVEL [13.408]

Então o japonez quiz me propor um pacto. Disso nada fallaria com outrem, desde que eu egual orgia com elle practicasse sem pudor.

É claro que topei. Para lhe expor, de cara, como magicas fazia com minha lingua louca, sem phobia, seu tennis descalcei. Que bello odor!

O japa allegou algo do chulé que tinha, a desculpar-se, mas notando que eu, avido, o lambia, botou fé.

Gostou, quiz que eu chupasse seu nefando vão cheio de frieiras. Foi até mais rispido, depois, ja no commando.

SONNETTO MEMORAVEL [13.409]

Emfim este relato breve encerro narrando que foi tudo como narro. O japa accostumou-se com o sarro e logo retornou, mettendo o ferro.

Em pouco, chupo os dois e escuto o berro de gozo cada vez que, rente, exbarro a lingua numa glande que bizarro tesão vem desfructar. Jamais eu erro.

Um delles nunca sabe que eu chupei seu timido parente, pois la fora são elles discretissimos, bem sei.

Bom, gente, me despeço, pois agora ja chega de lembranças. É que gay não posso ser, tão louco, como outrora.

SONNETTO INTOCAVEL [13.410]

Não, Glauco! Precisei fugir, sinão seria presa! Ah, como poderia tal vida supportar nalguma fria prisão para mulheres? Eu, hem? Não!

Ah, não! Mil vezes não! Do coração ja soffro, fora alguma nevralgia rheumatica, alem duma aguda azia, por causa desse estresse que me dão!

Eu era valentona! Ah, que ninguem ousasse me xingar, pois, bem armada, eu fogo passaria, mestre! Eu, hem?

Agora condemnada, ja mais nada espero conseguir! Ninguem me vem salvar! Resta fugir, meu camarada!

SONNETTO VULNERAVEL [13.411]

Estão as consequencias do que fazes medidas por ti, mestre? Estás ficando de todos affastado! Teu nefando azar augmentará! Vae, faz as pazes!

As pazes não fizeste com rapazes malvados, todos esses que, no bando do bairro, te curravam, Glauco? Quando puderes, recommendo que te cases!

Sozinho si tu ficas, é capaz um delles de invadir a tua casa, currar-te novamente! Errar não vás!

Reflecte, mestre! Fica quem se casa mais livre de invasões! Algum rapaz terás, que por ti queira arrastar asa!

SONNETTO INCONSOLAVEL [13.412]

Discipulos teus, mestre, me contaram que estupros commettiam contra ti depois de estares cego… Mas aqui p’ra nós, mestre… Será que exaggeraram?

Verdade? Esses rapazes te estupraram? Fizeram ja comtigo o que reli nos teus sonnettos? Delles o chichi bebeste? Essas lembranças não te enfaram?

Ainda, Glauco, sonhas com aquillo que delles tu comeste na privada? Jamais conseguirás dormir tranquillo?

Que eu possa fazer, mestre, não ha nada? Não mesmo? Si quizeres, sem vacillo, consolo-te e me pagas a chupada!

SONNETTO ACCONSELHAVEL [13.413]

Suggiro-te jamais idéa tal em practica botares, menestrel! Nenhum gigolô sabe ser fiel! Iriam te tornar um animal!

Um cego que conhesço no hospital parar foi porque esteve, cara, ao bel prazer dum gigolô, bebendo o fel amargo do sadismo! Farás mal!

Conselho te darei, da mais sincera estima, menestrel! Sei dum michê que nunca dos clientes se appodera!

Appenas elle espera que lhe dê gorgeta boa aquelle que se exmera chupando um pau de erotico buquê!

SONNETTO PECHINCHAVEL [13.414]

Não, Glauco! Sou rapaz honesto! Não estupro os meus clientes! Não, jamais! Só faço uns delles desses animaes domesticos, eguaes ao fiel cão!

Aquelles que me pagam bem me dão inteira liberdade de seus ais, aos poucos, controlar! São sexuaes escravos, mas controlo o meu tesão!

Sossegue, menestrel, pois lhe prometto appenas lhe metter o pé na cara, sem outras malvadezas que commetto!

Achou minha cobrança muito cara?

Lhe faço um bom descompto! Num sonnetto, depois, você elogia a minha tara!

SONNETTO ACCESSIVEL [13.415]

Alô! Mattoso? Puxa, até que emfim! Estava aqui esperando que ligasses! E então? Me conta ahi! Deste, hem, as faces a tapa? Aquillo tudo foi ruim?

Sim, temo os taes michês, pois eu ja vim a ser, desses que estão nas baixas classes, a victima perfeita! Caso os caces, cuidado toma! Guarda teu dindim!

Que foi que te fez esse rapagão? Lambeste esse pé chato? Que tesão! Cobrou-te muito caro, menestrel?

Caramba! Foi barato o chulezão? Então só teu vintem, só teu tostão gastaste? Nem foi dollar em papel?

SONNETTO IMPREVISIVEL

[13.418]

Reparem, meus senhores, nesse carro electrico que está no meu jardim! Orgulho nos dará! Creiam em mim! Mais tarde, lembrarão do que lhes narro!

Do carro o fabricante tira sarro dos carros de motor antigo! Sim, É nossa solução, por mais dimdim que custe! Lhes paresce tão bizarro?

(Trez mezes depois…) Vejam só que latta comprei eu, de sardinha! Tal sucata é cara demais! Nada soluciona!

Motor a gazolina não empatta a foda! Foda-se esse tal magnata! Nem pego no seu carro uma carona!

SONNETTO INELEGIVEL [13.419]

Attenta, caso queiras planejar a apposentadoria: nenhum plano privado livre fica desse insano imposto do governo! Um puta azar!

Puzeste fé naquelle linguajar fajuto do mercado? Nada, mano! Diziam que Fulano, que Beltrano lucrara, no mais alto patamar!

Tirei eu, da poupança, meu dinheiro suado, que junctei devagarinho, só para pôr no plano! Um surto beiro!

Aquelle fidaputa, de mesquinho intento, me fodeu! Mas ja me inteiro: Jamais se reelege, esse damninho!

SONNETTO INADDORMESCIVEL [13.421]

Que insomnia, cara! A noite nunca passa! Comtigo tambem isso occorre? Puxa! Tentei comptar carneiros, quente ducha tomar, mas não ha nada que se faça!

Diziam que cerveja, que cachaça, ou vinho, davam somno, mas gorducha ficou minha barriga… Alguma bruxa jogou-me praga, dessas de má raça!

Que fazes, menestrel, para que possas dormir? Punheta battes? Mas que grande idéa! Pensarei nalgumas bossas…

Sabão exfregarei na minha glande, lambidas simulando… Tu te coças assim? Assim teu ecstase se expande?

SONNETTO APPROVEITAVEL [13.426]

Dormir? Ora, a melhor coisa que exsiste na vida para a gente dormir é massagem relaxante em nosso pé! Funcciona que só vendo! Tu ja viste?

É só pedir a um cego que te liste as physicas vantagens dessa fé holistica! A massagem vae até curar quem sempre esteve muito triste!

Tu foste massagista? Ah, sendo cego, é logico que entendes desse troço! Hem? Fazes com a lingua? Ahi me pego!

Dormir irei, depois, mas, antes, posso até gozar lambido assim, não nego! Ainda massageias? Mestre és nosso!

SONNETTO INENNOJAVEL [13.427]

Não, Glauco! O melhor jeito para a gente dormir é ter orgasmo! Depois dum, a gente está mais grogue que bebum e immerge num torpor rapidamente!

Não vale ser com puta! Nada sente a gente si foder uma commum, daquellas que se ennojam com um pum e evitam engolir nossa semente!

Si puta for, terá que ser polaca!

Aquella, sim, nem liga para a “nhaca” das partes que terá de lamber, ora!

Um somno, com certeza, a gente emplaca, mas, antes, é gostoso ver a vacca de lingua dando um banho, rolla affora!

SONNETTO REVIRAVEL [13.428]

Ah, Glauco! Um “Boa noite, Cinderella!” soffri recentemente! Nem te conto! Dormir eu quiz com puta, alli no poncto aonde sempre eu ia, na favella!

Mas era puta nova… Achei que della vantagem tiraria… Fiquei tonto, depois de ter tomado, com descompto, um drinque… Hem? Que é que tinha? Alguem revela?

O coppo tinha alguma verde mentha… Hem? Era absintho? Nunca saberei! Ficar de pé, depois, ninguem aguenta…

Depois que desse effeito cappotei, alem de ter na compta só zerenta, fizeram de mim tudo! Virei gay!

SONNETTO FESTEJAVEL [13.429]

Agora virou moda! Numa festa, até de casamento, um “penta” appella e exfrega algo nos noivos: uma bella porção de bollo! Pô, ninguem protesta?

Eu mesmo ja assisti! Si desembesta a coisa, ninguem freia! Vi, na tela, a cara do subjeito com aquella camada de glacê! Gostou, hem, desta?

Em outra dessas festas, a mulher levou toda a fatia pela sua carinha de babaca! Ahi, quem quer?

Commigo não, Mattoso! Quem actua assim se foderia! Até, si der, lhe deixo, no sallão, de bunda nua!

SONNETTO

REVIDAVEL [13.430]

No meu anniversario quiz, tambem, um desses me exfregar uma fatia de bollo pela cara! Alguem iria achar que eu acceitava aquillo bem?

No dia a dia, até que sou bem zen, mas, quando me mellei todo, não ia deixar barato, Glauco! Que mania! Subi nas tamanquinhas! Não quiz nem…

Saber! Sahi no braço! O tal pentelho joguei da porta affora! Ja na rua, fiz que elle me ficasse de joelho!

Depois que dei porrada, metti sua cabeça na sargeta! Ja acconselho: Fizeram com você? Pois retribua!

SONNETTO

CONDEMNAVEL (1) [13.443]

Dizia Leo Lins o que interpreto. Bem, digo que “dizia” porque ja disseram ao subjeito que não dá mais para ser assim tão incorrecto.

A um gordo Leo disse e foi directo: “Cê quer emmagrescer? Mas nem será preciso perder tempo, camará, com tanta malhação…” Não ficou quieto:

“Sim, basta pegar AIDS! Então é só sahir com gays trepando por ahi…” Das varias minorias não tem dó…

P’ra cyma do humorista mimimi não falta, nem processo. Não, chodó por elle não terei. Porem eu ri.

SONNETTO MUSICAVEL [13.444]

Não é possivel! Frente ao altar, tu juraste teu amor me dar! Sim, para o resto dos teus dias! E eu jurara amar-te em egualdade, meu chuchu!

O padre representa Deus! Tabu total é, quando um caso ja se azara, pedir separação! Eu tenho cara de trouxa, meu chuchu? Falla bem cru!

Tu podes ir aonde tu quizeres, fazer tudo o que fazem as mulheres da vida, até sahir com Ricardões…

Mas não te dou divorcio, que é peccado! Embora durmas sempre do meu lado, um dildo no meu rabo nunca pões…

SONNETTO INFESTAVEL [13.445]

Glaucão, o meu irmão ja na privada nem senta mais, tranquillo! Occorreu isto: Subiu-lhe pela perna (nisso insisto) a aranha gigantesca, ja estressada!

Até que entendo, cara! Quem não brada, na hora, por soccorro? Jesus Christo! Insisto no tamanho, não desisto: Commum não é tamanha aranha, nada!

Estamos na cidade, não no matto! Calcule si, por dentro do sapato, eu sinto uma bichana dessas, meu!

Si me encho de coragem, eu a macto, mas outras surgirão, e eu ja constato que, pelo jeito, o mundo se fodeu…

SONNETTO INTREPAVEL

[13.446]

Na hora de trepar com minha amada, que foi que na parede vi, Glaucão? A aranha cabelluda! Meu irmão, egual àquelle bicho não ha nada!

Os pellos até brilham! E tem cada chelicera! A bundona do bichão maior é do que um kibbe! Eu mesmo não consigo crer que exsista tal malvada!

Só pode ser damninha a Natureza, creando um animal que, com certeza, agir irá com sanha malfazeja…

Quem é que ‘inda tesão, na luz accesa, consegue segurar? Tambem illesa, a chota della acção ja não deseja…

SONNETTO IGNOBIL [13.455]

Alem do Ora Pro Nobis, da Cannabis Sativa, dos chazinhos e dos pós, alguem hoje entendeu algo que nós, os bruxos, ja sabiamos! Tu sabes?

És bruxo, tambem, Glauco? Não te gabes daquillo que tu sabes, mas a voz dos velhos alchymistas, dos avós de todos nós, razão te dá! Não babes!

De ti cheio não fiques, mas agora se sabe que chulé faz bem à nossa libido! Qualquer mago corrobora!

Pesquisa scientifica ha que possa provar, tambem: quem cheira algum, adora, lelé si for e lingua tiver grossa…

SONNETTO INTHEMATIZAVEL [13.460]

Os classicos não deram aval para as tuas artimanhas, Glauco! Não podemos um sonnetto compor tão podrão, malcomportado! Nunca, cara!

Não pode esse bom genero de tara fallar, nem de estuprados, com tesão, por sadicos pivetes! Do calão abusas! Nem Bocage tanto ousara!

Mal fallas tu dos passaros, das rosas, dos bardos que, em epistolas chorosas, lamentam a perfidia duma amada…

Só pensas em tormentos quando gozas! De vate escatologico tu posas! Não cabe, num sonnetto, disso nada!

SONNETTO CRIVEL [13.461]

Verdade, Glauco! Podes crer! Havia na rua muita gente! Ninguem sente vontade de intervir! O delinquente queimou o morador em plena via!

Sim, Glauco! Os molecotes, nesse dia, filmaram tudo! Gente, de contente, gozava, até, nas calças! Simplesmente horrivel o que vi! Quem quereria?

O pobre morador de rua não abriu a tempo os olhos! Pelas chammas envolto, debatteu-se, então, em vão!

Hem, Glauco? Como um caso desses chamas? Que typo de cidade quererão aquelles que comedias vêem nos dramas?

SONNETTO DEVASSAVEL

[13.465]

Mulher sou, perdidissima, poeta. Só vivo debruçada na janella e evito perder tempo na panella. Vaidosa sendo, nunca paro quieta.

Devota de Satan sou. Nada veta desejos de exhibir-me. Mais revela as minhas bellezuras uma tela, alem do meu espelho, o mais estheta.

Por sexo jamais falta quem me venha pagar, pois virgindade não mantive e sempre precisei prostituir-me…

Roubaram ja, da minha compta, a senha, mas grana sobra a alguem que livre vive! Emquanto houver freguez, eu fico firme!

SONNETTO INDEVASSAVEL [13.466]

Mulher sou, discretissima, poeta. Não fico debruçada na janella nem passo o tempo todo na panella. Emfim, sou, sim, vaidosa, mas bem quieta.

Devota sou dos sanctos, o que veta desejos de exhibir-me. Só revela as minhas bellezuras uma tela, alem do meu espelho, o mais estheta.

De sexo nem por sombra alguem me venha fallar, poeta! Virgem me mantive e nunca precisei prostituir-me…

Jamais darei, da minha compta, a senha! Virtudes collecciona quem, só, vive! Somente minha fé me mantem firme…

SONNETTO CARICATURAVEL

[13.467]

Tu ja te imaginaste, em tua dura vidinha de cegueta, convidado àquelle show do gajo que tem dado exemplo de satyrica figura?

Pensaste? Elle fará caricatura da tua cara, Glauco! O resultado será que, por ser cego, de veado alguem deva ser feito! Não tens cura!

No palco, o comediante irá mandar que lambas os sapatos de quem queira subir e, frente às cameras, brilhar…

Piadas causará tua cegueira, mas pensa que teu nome popular será, mais do que, posthuma, a caveira!

SONNETTO RISIVEL

[13.468]

Na frente do juiz, o militar que esteve preso só por ter um plano bollado de intentona, ja tão lhano não pode parescer. Irá piscar.

Tentou se desculpar, mas, com um ar ridiculo, mostrou que seu insano projecto causaria mais é damno que fructo, sem nem chance de vingar.

Mas, quando o magistrado lhe indagou si não se envergonhava desse show horrendo, o militar cahiu no choro…

Ahi toda a platéa se exbaldou na aberta gargalhada. Assim, só dou palpite sobre quebra de decoro…

SONNETTO CONDEMNAVEL (2) [13.471]

Um cego, que engenheiro se diz, vae ao show dum comediante, que na testa lhe batte e, frente ao publico, faz festa às custas do subjeito, que diz: “Ai!”

O publico ri. Ficha jamais cae ao sordido humorista, que detesta qualquer deficiente. Nada resta sinão notar que o povo se distrae.

“É foda, não? Um cego que engenheiro se diz! De que? De software? Mas então não pode funccionar, né, companheiro?”

Só falta applicar nelle um saphanão, um murro, uma rasteira… Até me inteiro de que elle foi pisado, ja no chão…

SONNETTO VOLUVEL [13.472]

Agora ha pouco, mestre, eu só queria o rabo dar àquelle rapagão sarado, por quem tinha atroz tesão, mas logo resolvi que ja não ia!

E sabes por que? Lembro-me do dia em que elle me pediu para mandão virar e lhe comer o cu, razão me dando na noção de sodomia!

Te explico p’ra que entendas: dar o cu depende de veneta! De repente, mudamos nós de idéa, vendo um nu…

Si noto um pau mais flaccido, pendente, prefiro ser activo, pois tabu não vejo nesse lance incoherente…

SONNETTO AFFAVEL

[13.473]

Senhor, por gentileza, poderia virar a sua cara p’ra que eu batta na face da direita? A gente tracta com jeito, p’ra poupal-o da sangria…

Agora melhorou. Para alegria da gente, por favor, tenha sensata noção e de joelhos fique. Chata será tal posição, mas nos sacia…

Perfeito, meu senhor! Agora, abrindo a sua linda bocca, favor faça de nella metter este pau, que é lindo…

Não acha lindo? Chupe, então! Pirraça não faça! A porra trague! Depois brindo, pacifico, com vinho ou com cachaça…

SONNETTO INEFFAVEL [13.474]

Glaucão, como direi? Eu não consigo pensar numa palavra para dar idéa do que, neste linguajar poetico, opinasse, meu amigo!

Sim, tento me expressar e no que digo preciso ter cuidado… Meu radar indica que me estão a patrulhar, por isso teus conselhos sempre sigo!

Eu, outro dia, disse pelo meu perfil que nem palavras tinha para fallar do que na mente se perdeu…

Cahiram-me de pau, poeta! A tara dos caras é lacrar sempre, mas eu me exquivo de illações! Hem? Quem ousara?

SONNETTO INFLAMMAVEL [13.475]

Estás é louco, Glauco! Que perigo! Dizer coisas quetaes pode implicar em serias consequencias! Nem logar de falla te concedem, meu amigo!

Commigo si for, Glauco, ora, nem ligo! Mas, sendo no teu caso, vão pensar que estás a provocar, e de inflammar os animos perigas, ja te digo!

Nem tentes cotucar esses causões! Por causa dum pretexto qualquer, podem subir nas tamanquinhas! Que suppões?

Não penses que elles pouco se incommodem! Depois que tu levares uns pisões, não venhas te queixar dos que te fodem!

SONNETTO INDUBITAVEL [13.476]

Podolatra, ficou Vera Verão famosa numa “Praça da Alegria”. O texto que lhe deram só dizia que, muitos, grandes fans de fructa são.

No proprio pé quem curte refeição festiva, num pomar, desejaria provar cada fructinha. Todavia, a Vera teve disso outra noção.

“Sim, gosto de chupar no pé!”, disse ella. A phrase, eis que synthetica, revela, sem duvida, algo proximo de mim.

Não sei si alguem diria que ella fella tambem algo mais proprio, mas querella não faço, ja que fica bem assim.

SONNETTO DISCUTIVEL

[13.477]

Glaucão, ha controversias! Ja fallei que pautas desse typo vão causar polemica! Teu franco linguajar accirra, Glauco, os animos, bem sei!

Um thema, si for lesbico, si gay, costuma piccuinhas suscitar!

Tu queres à celeuma dar um ar de esthetico debatte? Hem? Que direi?

Puzeste, dia desses, num poema palavras de sentido duvidoso, capazes de levar a algum dilemma…

De impasses taes não gosto, não, Mattoso, pois causam discussões dubias, de extrema discordia, sem espaço para gozo…

SONNETTO INDISCUTIVEL

[13.478]

Glaucão, nem se discute! Ja fallei que pautas desse typo vão causar polemica! Teu franco linguajar accirra, Glauco, os animos, bem sei!

Um thema, si for lesbico, si gay, costuma piccuinhas suscitar!

Tu queres à cizania dar um ar de esthetico debatte? Hem? Que direi?

Não ponhas, não, poeta, num sonnetto taes themas controversos, pois teu verso suscita batteboccas nesse ghetto!

Um caso, quando sadico ou perverso, não passa no meu crivo! Não prometto teus livros commentar! Ja desconverso!

SONNETTO EXSEQUIVEL [13.480]

Mas claro que dá, Glauco? Não me escutas si digo que é possivel, porra! A gente bem pode imaginar um differente planeta, sem taes guerras, sem taes luctas!

Um mundo de prazer, sem ser com putas, michês ou gigolôs! Sem que se tente, não dá para saber si é consistente meu plano! Vi propostas tão fajutas!

Em practica poremos os conceitos mais basicos! Utopicos? Jamais! Iremos corrigindo seus defeitos!

Não achas tão viavel? Animaes melhor ja sobrevivem? Nossos feitos inuteis são? À merda tu não vaes?

SONNETTO DURAVEL [13.481]

O panno do meu tennis, Glaucão, é daquelles bem duraveis! Tem que ver! Mas elle está folgado… Que prazer eu sinto, quando o calço, no meu pé!

Saber quer? Sim, o tennis dá chulé! É pena que você não vae poder cheirar isso… Si quer me convencer, seu tempo perde, meu! Me cansa, até!

Mas deixe eu lhe dizer: quando o calçado furado se encontrar, todo podrão, aberto o bicco, para seu aggrado…

Eu posso lhe vender! Que tal, Glaucão? No caso de que eu ganhe bom trocado, quem sabe você chupe meu dedão…

SONNETTO HYPERDURAVEL [13.482]

Caralho! O teu fetiche ‘inda perdura, depois de tantos annos? Não te cansas de tanto cafungar, nessas andanças podolatras? Não perdes a postura?

Ainda tens comprado, porventura, uns tennis deschartados, de creanças grandinhas, de rappeiros que, nas dansas do genero, de cheiros teem fartura?

Então acho que tenho o que tu queres! Guardei os meus, de quando basketeiro fui, antes de trampar noutros mesteres…

Te posso dal-os, Glauco… Mas, primeiro, feliz eu ficarei si tu me deres algum, ja que estou falto de dinheiro…

SONNETTO COMPATIVEL

[13.483]

Depois de tanto usar um tennis branco, de couro, meu chodó desde rapaz novinho, verifico que elle traz, ja, furos e rasgões… Mas serei franco.

Não quero deschartal-o… Si no banco tivesse mais dinheiro, ora, ahi has de estar concorde, bons caraminguás num novo gastaria… Ah, não me manco!

Um cheiro compativel elle guarda, si queres saber, Glauco. Não desejas compral-o? Ora, ao lixão irá, não tarda…

Embora a cor do couro ja não vejas, garanto que, encardido, de mostarda tem cheiro, ou mesmo um gosto de carquejas…

SONNETTO INCOMPATIVEL [13.484]

Meu tennis, menestrel, foi pouco usado! Ainda assim, tresanda a bacon, si não for a gorgonzola! Você ri? Hem? Tanto federei? Me desaggrado!

Perfume borrifei, sem resultado! Puz talco, puz palmilha, mas não vi melhora num odor tão mau! Aqui p’ra nós, você que entende esse meu lado!

Irei me desfazer desse pisante incommodo! No lixo vou jogal-o, a menos que eu o venda a quem se encante…

E então? É desejavel tal regalo? Cobrar lhe irei appenas um montante não tão incompativel com meu phallo…

SONNETTO CONVERSIVEL [13.486]

Mas, Glauco, sempre em tempo estará para você se converter à fé christan! Não seja mais devoto de Satan! Se livre desse vicio, dessa tara!

Em tempo, sim, está! Dê sua cara a tapa! Aguente firme, em sua san e livre consciencia! Seja fan dos sanctos, não de Sade! Esse -- Hem? -- azara!

Assim que, de Jesus, você estiver podendo ver a luz, ja significa que é livre da cegueira, si quizer…

Não vale, todavia, chupar picca de irmão, de sacristão, nem, da “mulher do padre”, inseminar a sancta crica!

SONNETTO INSENSIVEL [13.489]

Não sinto, menestrel, qualquer dorzinha alheia! Accreditar tu não irias? Desdenho das alheias agonias, até mesmo da dor mais comezinha!

Nem ligo para a practica damninha de todos os politicos, dos guias e lideres de seitas, as vazias promessas, essa antiga ladainha!

Desdenho das agruras do povão, das victimas da guerra, alem de tanta doença que se expalha… À merda vão!

Tambem tu não desdenhas? Ah, te expanta a falta de empathia dos que estão por cyma, te pisando na garganta?

SONNETTO ACCEITAVEL [13.490]

Não vejo, menestrel, nenhum problema em grana acceitar para algum projecto deixar passar! Até que tenho um tecto normal para as gorgetas! Sem dilemma!

Você não quer entrar, Glaucão? Não tema! Garanto que seu pratto predilecto lhe fica assegurado! O que interpreto é simples: Sente dores? Então gema!

A mim jamais doeu levar algum trocado, um pechuleco meio ommisso! Eu acho uma attitude bem commum!

Hem, Glauco? Vamos la! Sem compromisso! É como dirigir, mesmo bebum: Em caso de accidente, eu fujo disso!

SONNETTO INACCEITAVEL [13.491]

Não posso conceber, Glauco, que meu mais perfido rival tenha pensado em ver-me de cocô todo borrado por elle, que meus troços ja comeu!

O cara andou fallando que lhe deu vontade de cagar e que, veado eu sendo, minha bocca, para aggrado seu, facil eu abria? Ah, não! Não eu!

Dum typo desse naipe eu não acceito siquer o commentario que elle fez accerca do que trago no meu peito!

Magina, Glauco! O cara foi, talvez, aquelle que mais odio, sem proveito, guardou! Cocô não como dum burguez!

SONNETTO INEXSEQUIVEL

[13.492]

Magina, menestrel! Está maluco quem pensa que me caga aqui, directo na bocca! Não, jamais dum desaffecto acceito tal offensa! Nem encuco!

Não creia no que falla aquelle eunucho! Eu nunca deglutti nenhum dejecto, siquer dalgum mandão de quem eu, quieto, cumpria as ordens! Nunca assim me educo!

Quem pensa que exsecuto tudo quanto alguem deseja, quebra a sua cara, pois, antes que me almosse, eu logo o janto!

Você, Glaucão, alguma vez jantara alguem? Foi almossado? Não me expanto com nada, sendo tanta a sua tara!

SONNETTO INADDIAVEL [13.493]

Ja querem essas pautas addiar?

Não é nem p’ra ammanhan, Glaucão, e sim p’ra hontem! Não, p’ra cyma não de mim! Não topo discussão parlamentar!

A fome não espera! Para azar do povo, se elegeu sangue ruim! Não pode este paiz seguir assim! Ainda quanto querem demorar?

O treco ja parado na gaveta está desde que eu era adolescente, sem mesmo ter battido uma punheta!

Ninguem pode esperar que quem se sente em cyma duma pauta ainda metta no rabo seu mester de presidente!

SONNETTO INCOMMUNICAVEL [13.494]

Estou na solitaria, trovador! Ja choro todo dia, sem amparo! Sim, minha liberdade é bem mais caro! Ninguem mais pode, em satyra, se expor?

Appenas cotuquei o portador de physicos defeitos, esse raro especime de monstro: fiz reparo ao surdo, ao cego, ao gordo que é de cor!

Por causa disso, mestre, estou detido ca nesta cella! Aqui não vem ninguem commigo conversar! Não sou bandido!

Piadas sempre faço! O que é que tem? Até dos alleijados! Não duvido que quem me dedurou não tem, tambem!

SONNETTO INCONCEBIVEL

[13.496]

Não posso conceber, Glauco, que teu mais perfido rival tenha pensado em ver-te de cocô todo borrado por elle, que meus troços ja comeu!

O cara andou fallando que lhe deu vontade de cagar e que, veado tu sendo, tua bocca, para aggrado seu, facil abririas? Quem cedeu?

Dum typo dessa laia acceitas tu o sujo commentario que elle fez accerca do que engoles do seu cu?

Magina, Glauco! O cara foi, talvez, aquelle que mais merda, sem tabu, pappou! Cocô não comas dum burguez!

SONNETTO INEMMAGRESCIVEL [13.497]

Não use, menestrel, essa canneta que, para ficar magro, hoje se vende! Não emmagrescerá ninguem, entende? É tudo propaganda, tudo peta!

Não creia caso o medico prometta milagres! Muito lucro o troço rende! O gordo continua, a quem offende, um pratto cheio sendo, por veneta!

A droga nem siquer p’ra diabetes funcciona! Quem a adopta só vomita, em nauseas envolvido, nas retretes!

Ninguem na medicina jamais cita, mas creio que inventaram uns chiclettes capazes de engordar! Quem accredita?

SONNETTO INEXGOTTAVEL [13.498]

Pegando um tetraplegico, o subjeito que, sadico, se impunha, c’uma agulha seu olho quiz furar: “E então, seu pulha? Fará tudo o que eu mando, ou rollo e deito!”

Immovel, o coitado, que “Bem feito!” ouvira, com a lingua ja vasculha o rabo do mandão, que ordena: “Gulha! Exfrega a prega! Guenta! Ah, me deleito!”

Na bocca do mandado um cagalhão excorre mollemente, lingua abbaixo. É duro obedescer ao tal mandão…

Pensando nisso, sonho que eu encaixo os beiços nesse rego, donde vão sahindo mais cocôs, e gemo baixo.

SONNETTO INSOPHISMAVEL

[13.499]

Commenta Leo Lins: “Ah, toda vez que vejo um cego pela rua andando, vontade me dá, quasi que um commando por dentro, incontrolavel e soez…”

“Vontade de tomar delle (Vocês não acham graça?), sempre chutes dando, aquella bengalinha! Affinal, quando cahisse, lhe enfiava…” Que mais fez?

Nem disse desse jeito, nem metteu a vara no cu delle, todavia. Importa que isso pense, direi eu.

À parte esse sadismo, do meu guia eu mesmo ouvi tal chiste. Qual plebeu piadas taes não ouve todo dia?

SONNETTO DO MODISMO [13.545]

Me lembro, menestrel! Quando menino as calças nem tão justas eram, não! Ja tive, cara, até meu macacão com barra bem legal, bocca de sino!

Agora a gente nota que esse ensigno primario deseduca, até, o povão! Permittem que se falle palavrão, que seja alguem, ja, trans, que falle fino!

Meu tempo differente foi! Moleque que fosse gay levava até cacete do pae! Ja não prohibem que se peque!

Ninguem punha mostarda no sorvete! Ninguem que fosse macho usava leque! Ninguem achava lindo um alcaguete!

SONNETTO DO CABOTINISMO [13.547]

Não sabe nem fingir! É mau actor, Glaucão! Elle é, de facto, um canastrão! Galan nem chega a ser, mas attenção total ja quer chamar! Que irei suppor?

Apposto que chamado será por aquella que é global e tem na mão a natta das novellas, pois la são forçados os papeis e falso o humor!

Comtudo, bem peor será a figura dos cynicos politicos, com ar pomposo, porem comico, sem cura…

Aquelles não irão, nunca, posar nas photos com a cara de quem jura ser corno, ser ladrão, ser vil sem par…

SONNETTO DA

COMICHÃO [13.577]

Coceiras começar podem do nada, sem termos sido, pela pulga, bem piccados, nem por outro bicho, nem por causa da allergia agudizada.

Diziam ser “do sangue” essa ponctada aguda de prurido, que ninguem espera, mas, de subito, que vem por dentro da cueca, a desgraçada…

Na vista das visitas, você enfia a mão cinctura abbaixo, sem jamais chegar àquelle poncto… Uma agonia!

Olhares sobre si serão geraes, mas, ‘inda assim, você não se sacia e coça, sem parar, os genitaes…

SONNETTO DAS DORES

[13.578]

As dores são de muitos typos. Ha aquella de cabeça, que começa de leve e, progressiva, jamais cessa, até que insupportavel ficará.

Tambem a dor de dente inflamma à bessa as carnes da gengiva, até que dá vontade de gritar. Outra haverá que irrita: até passar, nunca tem pressa…

Seria a dor de corno, que dóe mais no pau que na cabeça, alem do cu, que sente esses ponctaços de punhaes?

O corno se imagina, todo nu, pisado por alguem que de seus ais debocha. Algum supplicio foi mais cru?

SONNETTO DO PUXASAQUISMO [13.584]

Magina, presidente! Impopular? Jamais! O seu charisma continua intacto! Ouvir bastou o que na rua commentam! O senhor ficou a par?

Só fallam maravilhas! Seu logar, ainda, nas pesquisas, se situa no topo! O dos demais sempre recua! Tranquillo fique! Irá, claro, ganhar!

Ninguem dessa bossal opposição capaz é de chegar até seus pés! Bastante incompetentes todos são!

Que importa si esquerdista seu viés de novo se tornou? Esse povão dará, como lhe dou, só nota dez!

SONNETTO DO VANDALISMO [13.585]

Picasso? Salvador Dali? Da Vinci? Magina! Não estou eu nem ahi! Nalgumas obras fiz até chichi! Eu causo mesmo! Faço o meu accincte!

Rasguei, ja, muitas telas, mais de vinte! Perdi, Glaucão, a compta do que vi que estava dando sopa por alli e, rapido, ultrajei! Pelo seguinte:

Preciso registrar o meu protesto! Artistas novos nunca que teem vez! Eu, para alguma coisa, agora presto!

Entende? É que estou farto do burguez que investe em arte e ignora todo o resto! Farei o que, nas artes, ninguem fez!

SONNETTO

DO CLUBISMO [13.596]

Prefiro ver o Vasco ganhar, ja que não sou sampaulino, do Timão! Não torço pelo Sanctos! Elle, então, que perca do Cruzeiro, camará!

Jamais quero o Flamengo onde elle está! Que perca, ja, do Gallo, meu irmão! O Gremio que não ganhe do Verdão! Nem mesmo o Botafogo ganhará!

Si for para perder do Fluminense, que seja para vel-o perder para o Vasco, na final, sem mais suspense!

Havendo um macta-macta, quebra a cara quem torça para time que não vence siquer o Colorado… Mas tomara!

SONNETTO DO OCCULTISMO [13.599]

Não pode ser assumpto de geral e publico motivo de interesse, Glaucão! Que todos queiram saber desse negocio nunca achei eu tão normal!

Que perca seu sigillo, com aval de todos os confrades, não me desce! Prefiro que se faça aquella prece secreta aqui na nossa cathedral!

Si for em plena praça, vae causar escandalo! Dirão que estamos sendo satanicos! Rirão, até, no bar!

Devemos nos fechar, é o que eu entendo! Sinão, a multidão irá pensar que esteja a nossa bocca, ja, fedendo!

SONNETTO DA COLLOCAÇÃO [13.606]

Me diga: Acha tal regra superada?

Nos forçam a postpor pronomes, ora!

Lhe causa algum incommodo, senhora?

Me consta não haver, que vete, nada!

Lhe disse eu, certa vez… Está lembrada?

Me lixo para as normas! Estou fora!

Nos vivem a accossar, ainda agora!

Lhe peço que não fique magoada!

Está sempre a senhora a vigiar-me!

Estou de sacco cheio de explicar-lhe!

Pronome, então, é coisa para allarme?

Permitta-me que eu tente, ‘inda, fallar-lhe:

Não fique, na grammatica, a accusar-me!

Melhor é se exquescer desse detalhe!

SONNETTO DO MINIMALISMO [13.642]

Ao minimo, Glaucão, eu me limito! Meus versos são tão curtos, que em sonnetto moderno o meu bedelho jamais metto! No maximo, um haikai achei bonito!

Só syllabas componho! Hoje, meu rito consiste em concretismo! Não prometto mais nada alem do branco, pois o preto occupa mais espaço na marmita!

O branco, no papel, ja representa o nada! Não é massa? Arroz-pheijão não passa disso! Nunca a lyra augmenta!

Si formos collocar na refeição um ovo, um torresminho, uma polenta, o rango só me engorda! Ah, mestre, eu não!

SONNETTO

DO EVOLUCIONISMO [13.655]

Não creio que macacos nós sejamos, Glaucão! Hem? Ja pensou? O chimpanzé seria superior a nós? Quem é capaz de imaginar, nossos, taes amos?

Pensou? Si dominarem tudo, vamos ser delles os escravos e, num pé que muito mais paresce mão, chulé iremos lamber! Como nós ficamos?

Então nossa cultura, que perdura ha tantos, tantos seculos, será inutil e exquescida? Ah, quem attura?

Um sujo chimpanzé, de picca dura, mandar irá que eu chupe? Si eu de má vontade estou, meu olho o simio fura?

SONNETTO

DO EXPRESSIONISMO [13.657]

Agora a liberdade de expressão virou thema poetico, Glaucão! Ja todos perceberam que é questão artistica! Poetas todos são!

Nas redes sociaes, o palavrão está, ja, liberado! Por que não? Ja posso, ora, xingar de enrustidão aquelle veadinho de plantão!

No verso, não serei como Camões, que para alguem xingar jamais colhões mostrou ter, ora, raios e trovões!

Hem, Glauco? Por que, então, tu não te expões, chamando, num sonnetto, de cuzões aquelles que não usam palavrões?

SONNETTO DO IMPRESSIONISMO [13.658]

Glaucão, me impressionei bastante e estou deveras allarmado com aquillo que estão esses poetas, sem vacillo, fallando por ahi! Cabreiro sou!

Fiquei appavorado, pois, num show de verve, em praça publica, sigillo ninguem manteve! Hem? Achas esse estylo poetico o melhor? Te impressionou?

Vão logo censurar quem faz piada de gente com defeito! Ou impressão não tens de ser tal verve exaggerada?

Eu acho perigoso, Glauco! Não percebes como offende essa cambada? Ainda vão parar é na prisão!

SONNETTO DO DODECAPHONISMO [13.659]

Não, Glauco! Quando ouvi, sem melodia nenhuma, aquella coisa, alli, tocar a nova philharmonica, com ar solenne e triumphal, me deu azia!

Magina! Symphonia quem queria ouvir ficou frustrado! Para azar maior, esse regente quiz gozar da nossa cara! Ah, mestre, elle ‘inda ria!

Accordes dissonantes toda aquella sessão tomaram, Glauco, nosso sacco enchendo! Ora, tal musica achas bella?

Si eu chamo o tal maestro de velhaco, alguem dirá que, vindo da favella, não posso opinar? Faço o meu barraco!

SONNETTO DO ACADEMICISMO [13.663]

Não achas, menestrel, que estás assaz recluso? Tu precisas te entrosar com outros goliardos, num logar que seja accolhedor! Chances não dás?

Não queres ter contacto com teu par nas lettras e na lyra? Por que estás assim tão isolado de quem faz a coisa accontescer e se expalhar?

Hem? Achas-te rebelde demais para as normas academicas seguir? Sui generis te julgas? Ave rara?

Embora tu não sejas um fakir nem mago demoniaco, tens cara, de facto, de hermitão… Não deves ir!

SONNETTO DO OBSCURANTISMO [13.671]

Eu acho obscurantista a decisão de tudo prohibir numa piada, poeta! Assim não sobra, não, mais nada que possa alegrar esse meu povão!

Eu optimo humorista sou, Glaucão! Mas quero de expressão essa allegada e inteira liberdade, camarada! Sinão, os meus leitores não rirão!

Tampouco no theatro, quando for momento de, dum cego, cotucar aquillo de que fora portador!

Gozei que, de glaucoma, vejo um ar demente em quem nos olhos tem a cor azul, sem que, na tela, a possa achar…

SONNETTO DO METEORISMO [13.693]

Glaucão, meus peidos rhoncham! Eu me encolho e explodo! Passo sempre essa vergonha! Seus gazes controlar, hem, quem não sonha? Ainda falla alguem que tem orgulho?

Exsiste esse sarrista! Não empulho ninguem, mas me contaram que quem ponha no pratto ovo cozido, de enfadonha historia, peidará! Tambem repolho!

Pheijão, batata doce… Eu ponho tudo no pratto, menestrel! Vou me privar? Meus habitos à mesa, ah, nunca mudo!

Si gostam, si não gostam do meu ar, problema delles, ora! Não estudo taes themas, sinão… Toca a gargalhar!

SONNETTO DO AUTOMOBILISMO [13.695]

Glaucão, eu taco pau no meu carrinho! Carrinho de corrida, sim senhor! Eu tenho pelos carros um amor maior do que qualquer outro carinho!

Aos sabbados, à pista me encaminho e escuto os meninões que veem se expor torcendo por um rhoncho de motor! Sim, ouço os seus gritinhos direitinho!

Berrou “Taca-lhe pau! Taca-lhe pau!” um delles e, empolgado, pisei fundo! Sahi fora da pista! Rodei, Glau!

Mas veja as ironias deste mundo! Cheguei no garotão com verve e… Crau! Por elle eis que fracção foi de segundo!

SONNETTO

DO SARRISMO [13.718]

Mas, Glauco, precisamos tirar sarro de tudo nesta vida, quando dá! Por cyma si estivermos, camará, na cara não nos cae nosso catarrho!

Eu, quando pela rua vou, si exbarro num cego, por exemplo, tracto ja de boa cusparada lhe dar! Ah, é nessas brincadeiras que me ammarro!

O cego, que na cara a cusparada recebe, nem esboça reacção! É foda, pois não pode fazer nada…

Correr eu nem preciso! O que é que, então, eu faço? Fico olhando o camarada, choroso, se limpando com a mão…

SONNETTO DO MALTHUSIANISMO [13.738]

Iremos passar fome, Glauco? Um dia fallaram que, na falta de comida, cocô nós comeriamos! Duvida? Eu acho verdadeira a theoria!

Na falta d’agua, a gente, então, iria beber mijo? Mas isso me convida a achar um raciocinio que invalida a these de quem vive em utopia!

Hem, Glauco? Mas cocô de quem? De quem urina beberemos? Quem terá poder de decidir? Teria alguem?

Eu acho que macacos, camará, irão nos governar e, com desdem, rirão da nossa cara! Ah, riem, ja!

SONNETTO DO DILETTANTISMO [13.746]

Eu acho um passatempo divertido compor uns sonnettinhos, Glauco! Não sou, como tu te julgas, um fodão na versificação, bem entendido!

Si faço um pé quebrado ou si decido rhymar pela toante, nem questão estou fazendo! Ponho um palavrão no meio do versinho mais polido!

Tambem fazes assim? Mas tu não és tão technico, tão rigido, tão duro nos typos e tamanhos de teus pés?

É mesmo? Quem verseja nesse escuro jamais se preoccupou si nota dez iria tirar? Fico pasmo, juro!

SONNETTO

DO EUPHUISMO [13.762]

Estylo rebuscado não é só aquelle gongorismo de hespanhol adspecto, ou o barroco que, no rol dos jogos de palavras, deu seu nó.

Até naquella lingua que vovó fallava havia iscas num anzol poetico, que só bardos de excol sabiam destrinchar. Hoje, são pó.

Tambem nos teus sonnettos tu recorres, Glaucão, ao requinctado labyrintho dos truques verbaes, pelos quaes te exporres…

Amores pelo genero não sinto, mas, tendo ja tomado muitos porres, me inspiro, sob effeito dum absintho…

SONNETTO DO HUMORISMO [13.783]

Nem todos acham graça, mas exsiste alguma razão, sempre, para riso! Rir alça meu astral! Rir é preciso! Impede que eu esteja, às vezes, triste!

Emquanto ‘inda enxergavas, tu não viste um gajo, na prisão, lambendo o piso?

Não viste esse que até perde o juizo soffrendo uma tortura? Ja não riste?

Não riste de quem, cego, cae na rua?

Não riste da nympheta que, currada, acharam quasi morta, ainda nua?

Então não achas graça mais em nada? Que falta de motivos, essa tua! Preferes chorar? Quero dar risada!

SONNETTO DO SCIENTIFICISMO

[13.828]

Tem base scientifica, Glaucão, a minha theoria! Ja lhe explico… A gente, evoluindo, um dia ao mico irá se comparar! Emquanto não…

Iremos, dos macacos, oppressão tremenda supportar! Aqui ja fico suppondo um chimpanzé fazendo bicco emquanto me impõe sordida missão…

Terei que lhe chupar aquella picca sebenta, repellente, que elle enfia na minha bocca aberta! Ah, Glau, que zica!

E então? Se convenceu? A theoria se embasa na sciencia! Assim se explica tudinho que, em gibis, a gente lia!

SONNETTO DO PHRASISMO [13.871]

Mais vale ser sapinho no brejão?

Mais vale ser sapinho no brejinho?

Mais vale evitar brejos no caminho?

Mais vale nem sapinho ser, então…

Mais vale nem siquer ser um sapinho.

Mais vale nem tampouco ser sapão.

Mais vale não ser isso que elles são.

Mais vale, no brejão, ficar sozinho.

Sapão sou no brejinho? Vale mais.

Sapinho no brejão? Ah, não compensa.

Sapinho no brejinho? Não, jamais!

Tamanho faz, no brejo, differença. Tamanhos são, nos sapos, mais vitaes. Phrasistas, não. Qualquer sapo os dispensa.

SONNETTO

DO GRAPHISMO [13.884]

Si escrevo uma palavra por demais prolixa, toda a pagina terá espaço reduzido! Ora, acho má idéa! Não mais uso termos taes!

E então, Glaucão? Talvez si iniciaes appenas eu usar, acho que dá, emfim, para allargar o meu dadá poetico, nas linhas mais geraes!

Não quero que paresça meu poema um mero concretismo occasional! Pensei numa proposta mais extrema!

Que tal pôr reticencias? Um signal darão de experimento, cujo thema seria a scena artistica actual…

SONNETTO DO CUBISMO [13.897]

Com Hitler não concordo, Glau, em nada, siquer si elle se achou vegetariano, mas num assumpto tal eu não me enganno: Cubismo só meresce cusparada!

Aquillo não foi arte! Esteve errada a critica, à qual nunca que me irmano! Magina! Alguma cara soffre damno tão grande, que paresça ser quadrada?

Alguem cara quadrada tem, Glaucão? Alguem tem um triangulo no queixo, um circulo na bocca? Ah, não vem, não!

A mim tudo não passa de desleixo! Tal bocca só suggere chupação! Ser feito de idiota não me deixo!

SONNETTO DO NADISMO [13.898]

Eu acho mais honesto quem, em vez de expor algum cubismo ou dadaismo, propõe o mais exacto symbolismo das artes actuaes! Serei freguez!

Se tracta do nadismo! O que vocês esperam do futuro? Nada! Abysmo sem fundo! Ca commigo, sempre scismo que grana não terei no fim do mez!

Zerada a compta, tenho chance zero de entrar com bom astral no mez seguinte! E então? Ja desta vida que é que espero?

Serei, no quarteirão, mais um pedinte? Alguem tem solução? Só mero lero escuto, ou seja, nada bom que pincte!

SONNETTO DO EXOTISMO [13.929]

Exotico o que pode ser, Glaucão?

A carne crua aggrada mais alli?

Cozida aggrada ainda mais aqui?

Alguns só vegetaes preferirão?

Alguns comem arroz com maccarrão?

No frango põe alguem catupiry?

Alguem preferirá beber refri?

Alguns só pão de forma comerão?

Eu acho que exotismo, Glaucão, é tal como um popular supermercado: de tudo se verá para a ralé!

Ao gosto mais selecto ou refinado, mamminha não daria bom filé nem lingua a melhor parte é, Glau, do gado…

SONNETTO

DO FECALISMO [13.936]

Que merda, mestre! Estou todo cagado! Borrei minha cueca, as calças, tudo! Você, sim, menestrel, é que é sortudo! De casa não sae, fica ahi sentado!

Tentei me prevenir, mas resultado nenhum consegui, mestre! Não me illudo com esses adstringentes! Não desgrudo do vaso, da privada não me evado!

Eu tive este intestino sempre preso!

Agora que remedios tomo, molle ficou a minha bosta! Estou surpreso!

Até ja tenho um servo que me engole um pouco do que cago e que, indefeso, mantenho num coprophilo controle…

SONNETTO DO ANALPHABETISMO [13.938]

Serei comprehensivo sempre, meu carissimo confrade! Sei que exsiste bastante intolerancia, muito chiste em torno de quem livros jamais leu!

Coitados, menestrel! Ja fui plebeu, senti, mesmo, na pelle em que consiste a fama de illettrados, muito triste, que cerca analphabetos que nem eu!

Um dia, até escrevi, com lettra torta, que nossa “presidenta” analphabeta seria! Mais ninguem, hoje, se importa…

Vexame dei, tirei o meu da recta, mas, quando uma censura burra corta meus versos, sinto que ‘inda sou proleta…

SONNETTO DO GOZACIONISMO [13.946]

Da vida a gente leva a gozação, poeta! Só me importa tirar sarro daquelles com quem, toda vez, exbarro na rua, tão fodidos que elles são!

Um cego, por exemplo… Fico tão feliz por enxergar bem e, no barro, empurro esse infeliz, esse bizarro especime, que inspira até pisão!

Ao vel-o ja atolado, na risada eu caio, mas, si tenta rastejar p’ra fora alli da lama, deixo nada!

Lhe metto o pé na cara! Do logar o cego não se evade e, vez mais cada, me inspira a gargalhada seu azar…

SONNETTO DO CURANDEIRISMO [13.981]

Um methodo seguro para a cura daquella veadagem enrustida dos falsos evangelicos da vida accabo de bollar! É cura pura!

Sim, meu suppositorio quem attura no recto produz logo uma assumida e louca sensação, que ja convida o cara a pôr em practica a frescura!

Da “cura gay” desiste rapidinho aquelle phariseu abbicharado e passa a appregoar o seu cuzinho!

Garanto que os pastores resultado bem modico terão, e ja adivinho que irão querer os padres, por seu lado!

SONNETTO DO DANDYSMO [13.985]

Estou eleganterrimo, Glaucão! É pena que você ver não me possa! Meu terno tem aquella nova bossa que exhibe muita gente no verão!

De mangas curtas tenho um cappotão! Gravata borboleta ja nem troça desperta! De bermudas fico -- Nossa! -um metrosexual, todos dirão!

Hem, Glauco? Não lhe consta que elegante estou? Você paresce que está rindo! Duvida que eu a tantos fans encante?

Não acha que eu fiquei, assim, mais lindo? Bah, desde quando um cego se garante pittacos dando, modas suggerindo?

SONNETTO DO DESCARTESIANISMO [13.986]

Joguei, Glaucão, no lixo o pensamento de cunho philosophico! De nada me serve essa tremenda pedalada mental, que eu entender nunca mais tento!

Eu tenho o raciocinio muito lento, tal como o Walter Franco, camarada! Responde minha mente, si indagada, assim às controversias do momento:

Jumento pensa? Pensa? Assim, exsiste! E sendo uma jumenta? A presidenta não digo, mas não creio que despiste…

E minion? Minion pensa? Quando tenta dar golpes, dá risada quem assiste às scenas de comedia fraudulenta!

SONNETTO

DO DESVEGETARIANISMO [13.989]

Glaucão, eu só comia agrião sem tempero, grão de bicco sem tempero… Até que me batteu o desespero! Deixei de ser, dos vegas, um refem!

Queriam que eu comesse, Glau, tambem, chuchu, mas sem tempero! Que exaggero! Até que eu era adepto disso, pero no mucho! Sem tempero? Ora, nem vem!

Passei a comer carne, com bastante tempero! Meu irmão, que differença! Mais quero um vinagrette que me encante!

Molhinhos, pigmentinhas… Não compensa comer, sem temperar, um elephante, tampouco um vegetal! Ah, dá licença!

SONNETTO DO ESTHETICISMO [13.991]

Pensei que você fosse, Glauco, mais bonito! Que farei na sua cara? Ao ogro sua face se compara! Não vejo solução p’ra feios taes!

Nenhum maquillador irá, jamais, dar jeito numa cara assim tão rara, com traços monstruosos! Quem sonhara com algo tão horrendo entre os mortaes?

Um olho ficou grande, inchado, com um jeito de Quasimodo, porem com esse tom azul, opaco tom…

O outro olho, murcho, obstenta, azul tambem, a cega pupillona! Foi marron, mas hoje impressão dá dum ser do Alem…

SONNETTO DO FUNCCIONALISMO [13.994]

Glaucão, quero um concurso prestar para a vida garantir num empreguinho estavel, no serviço comezinho que nunca ao do proleta se equipara!

Questão jamais farei de ver a cara do chefe que, distante, meu caminho não cruza, nem daquelle coitadinho que espera, alli na fila, a chance rara!

Na activa, appenas deixo na cadeira meu velho paletó, para advisar que logo voltarei à trabalheira…

Mas, para apposentar-me, irá faltar bem pouco tempo! Posso, caso queira, até pôr um parente em meu logar…

Casa de Ferreiro

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