Piranha – transobjeto – mal secreto

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PIRANHA – TRANSOBJETO – MAL SECRETO NUNCA JUNTOS MAS AO MESMO TEMPO Wagner em músculos dos séculos XX, XXI e vintage XIV por Sheila Ribeiro Wagner Schwartz é um estrangeiro-imigrante que viaja no seu quarto desde sempre. Um alguém “absolutamente só” – como percebeu a escritora portuguesa Maria Gabriela Llansol. Se você ler esse texto, os seus textos-performances em português do Brasil e entender, eles terão a ver com você: eu juro. Em sua trilogia Piranha, Transobjeto e Mal Secreto, Wagner – que é do verbo – jogou uma pedra n’água, num lago, meio de lado. De tão pesada, a pedra foi ao fundo. O peixinho respondeu outras coisas que: “viva Dom Pedro II”. No quarto e no lago de Wagner, um músico europeu e um negro europeu se encontraram em lugares que não eram pra existir. Como pode Wagner Schwartz ser esse nome? Wagner? Schwartz? Wagner, artista alemão, e Schwartz, negro, também, em alemão? Agora, os outros músculos de Wagner Schwartz vão ter que se explicar n’outros tempos, ou não. Irão rebolar, estremecer contorcidos. Há pouco tempo atrás, Christine Greiner fala sobre Transobjeto. Em sua sensibilidade, fala sobre o conceito de “obrar”. Quantos “obrares” existe em um “obrar”.. – pensei – lembrando que no interior e nos interiores do Brasil, obrar é também uma outra coisa. É nessa e entre algumas outras projeções, traduções – estrangeiras, imigrantes, sem denominação, pouco importa – que o artista Wagner Schwartz poderá ser ouvido, visto, percebido, mal entendido. Tem lá. Os encontros com o trabalho de Wagner talvez não serão diálogos. Essa trilogia não é coisa de dois, não. Nem é coisa de choque. Tudo ali morde ou pode morder. Às vezes morde bem devagarinho, às vezes “morde muito muito rápido” (Helena Katz), às vezes morde meio por cima. Pode doer, pode ser gostoso, pode babar ou fazer babar. Desse mesmo jeito, morde, também, as tradições brasileiras: exilio, exclusão, ironia cáustica, fantasias do antropofagismo, modernismo, e mais um monte de outras coisas que, se você passou da segunda linha desse texto, não vou precisar repeti-las. Se, no entanto, você estiver ao lado de alguém que conhece pouco o Brasil-entre-aspas, talvez sinta desejo de ficar explicando-entre-aspas, coisas como: Caetano Veloso, Gal Costa, Oswald de Andrade, Lygia Clark, Tom Zé, Wanderléa, Pombajira, Fellini, Danuza Leão, Sérgio Malandro, pipoca, canjica, Cinemark, CVC, passaporte, calcinha rosa do Tom Zé, quibe da 25 de março, Lia Rodrigues, jornalistas, seu pai, sua mãe... essas coisas. Quando Frantz Fanon escreveu Pele Negra Máscaras Brancas, ele não teve a possibilidade de escrever que entortamento é o cavalo em que se baixa o Santo. Como o Santo nesta trilogia é digital, ele parou de baixar para fazer download. Ele se entorta todinho por causa disso, sempre. Segundo Fanon, em 2014, Wagner est souple. Ele se engruvinha. Ele tá lascado. Ele é lindo, alto, poderia desfilar. Ele é amigo de gente que se chama por Porcas Borboletas. Assim, esse artista de “excitação incomunicável” (Gabriela Llansol na escrita de João Barrento), no dente que deixou muito branco, sorri às vezes. Juntos é impossível, ele garante, mas sozinho é mais que isso.


Sheila Ribeiro ĂŠ grande amiga de Wagner Schwartz e artista.


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