Edição nº 1527

Page 23

A Câmara Municipal de Odemira deu início à realização de passeios regulares de barco no rio Mira, que irão fazer a ligação entre Vila Nova de Milfontes e Odemira. Esta iniciativa tem como objetivo “contribuir para o desenvolvimento turístico da região, potenciando a beleza paisagística e os recursos naturais únicos que o concelho de Odemira tem para oferecer”. O rio Mira, que nasce na serra do

Música, exposição e venda de artesanato em Milfontes Durante todo o mês de agosto, a Associação de Reformados e Idosos de Vila Nova de Milfontes vai ter patente nas suas instalações uma exposição de artesanato e doces tradicionais, com o objetivo de angariar fundos para a instituição. Paralelamente, a partir de amanhã, sábado, a sede da associação vai ser palco para

Caldeirão, no Algarve, atravessa todo o concelho e “tem a sua majestosa foz junto a Vila Nova de Milfontes, oferecendo inúmeras possibilidades de ocupar o tempo, como a pesca ou a prática de atividades desportivas e de lazer”, destaca a autarquia. A ligação de barco irá decorrer regularmente de sexta-feira a domingo, até 2 de outubro, sendo o local de embarque o cais da Fateixa, em Vila Nova de Milfontes.

diversos espetáculos musicais com a participação de grupos corais e de cantares da região, entre os quais os grupos Cantares da Serra de São Martinho das Amoreiras, Canta São Teotónio, Ceifeiras do Malavado, Violas Campaniças de Corte Malhão, Orfeão Lira Cercalense e os corais de Vila Nova de Milfontes, São Luís e da Associação de Reformados e Idosos de Vila Nova de Milfontes. A Associação de

23 Diário do Alentejo 29 julho 2011

Passeios de barco no rio Mira

Reformados e Idosos de Milfontes conta atualmente com cerca de 1200 associados. Presta apoio domiciliário a cerca de 50 idosos, das freguesias de Milfontes e Longueira/ /Almograve. Fornece anualmente perto de 15 mil refeições e as suas viaturas percorrem 100 mil quilómetros por ano. A iniciativa conta com o apoio da Câmara de Odemira e juntas de freguesia do concelho.

I

naugurado em outubro de 2007, o Museu da Escrita de Almodôvar já recebeu largas centenas de visitantes. Vêm aqui com um motivo: conhecer a escrita mais antiga da Península Ibérica. Os vestígios desta escrita, com mais de 2 500 anos, estendem-se por toda a região do sudoeste peninsular, com destaque para o sul do Baixo Alentejo, Algarve, Andaluzia e Extremadura espanhola. Era aqui o “coração” da civilização tartéssica, que adaptou a escrita fenícia para uso próprio, criando uma outra e nova escrita. Até hoje esta escrita continua indecifrável. Como a maioria dos exemplares conhecidos têm sido encontrados em contextos funerários, nomeadamente em necrópoles, os especialistas consideram que, pelo menos, uma grande parte dos achados serão estelas funerárias, em xisto, dedicadas a personalidades importantes da época, no momento da morte. Rui Cortes é arqueólogo e responsável pelo museu, que pertence à Câmara Municipal de Almodôvar. Guia-nos nesta visita pelos dois andares do pequeno espaço museológico, agradável e com uma leitura fácil dos objetos expostos. “Não quisemos encher muito este espaço. Temos aqui alguns originais e algumas reproduções de estelas, mas não em grande número. A nossa ideia foi sempre permitir uma leitura simples dos objetos expostos e, por isso, tentámos não sobrecarregar o museu com muitas peças”, diz Rui Cortes, explicando o que se sabe da “escrita do sudoeste peninsular”. “Sabemos que tem claramente uma influência fenícia. Muitos dos carateres equivalem PUB

a carateres fenícios e o povo que aqui vivia – os Tartessos – acabou por adaptar essa escrita à língua que falava e criou, assim, uma escrita própria. No “Signário da Espanca”, que é uma pedra que contém todo este semialfabeto, os primeiros 19 carateres são de influência fenícia. “Os Tartessos acrescentaram-lhe mais oito carateres, para colmatar essas falhas fonéticas, e criaram uma nova escrita”, refere o arqueólogo. “Sabemos que o signário tem, por isso, no total, 27 carateres, existem pequenas variantes regionais e sabemos alguns valores fonéticos, alguns sons destes carateres. A escrita tem todas as vogais. Nas consoantes não tem o f, nem o g, mas tem o s, o r, algumas silábicas como o ka, ke, ko, o ta, te e outras de um som só. E escreve-se da direita para a esquerda”, diz Rui Cortes. Entre os achados mais significativos consta o chamado “Signário da Espanca”, uma pedra de xisto em que, no topo, o mestre terá desenhado os símbolos do alfabeto e em baixo um discipulo terá feito uma cópia, mais imperfeita. O “Signário da Espanca” integra a exposição permanente e é um dos seus ex-libris. “Como é que se chegou à conclusão de que era uma cópia? É simples. Se olharmos para a pedra veremos que na linha de cima os carateres são muito mais retilíneos, muito mais profundos e bem desenhados, enquanto que na linha de baixo os carateres repetidos estão mais imperfeitos, o que demonstra que quem os desenhou dominava mal a escrita. A linha de baixo é uma cópia da de cima feita por um discípulo que treinava para imitar o mestre”, afirma o responsável pelo museu. No primeiro andar do museu funciona

JOSÉ FERROLHO

Vamos lá saindo Museu da Escrita em Almodôvar A escrita mais antiga da Península está no Baixo Alentejo

Entre os achados mais significativos consta o chamado “Signário da Espanca”, uma pedra de xisto em que, no topo, o mestre terá desenhado os símbolos do alfabeto e em baixo um discipulo terá feito uma cópia, mais imperfeita.

um espaço para exposições temporárias. Agora está ali uma exposição sobre os Tartessos, o povo que criou esta escrita. Um povo com relações com toda a bacia do Mediterrâneo. “Apesar disso era um povo que tinha essencialmente estruturas rurais e que vivia numa espécie de monte alentejano, de estruturas retangulares, quase unifamiliares, geralmente localizados junto a ribeiros ou rios, porque aí é que estavam os recursos e os vales também eram mais ricos, enquanto que as linhas de água serviam-lhes de vias de comunicação. As necrópoles, em que muitas destas lápides foram encontradas, eram também perto desses lugares de habitação. O concelho de Almodôvar tem um grande número de ribeiros e rios e, por isso, é natural que esteja no centro deste fenómeno”, diz Rui Cortes, sublinhando que a existência deste museu poderá também contribuir para que um dia seja possível decifrar esta escrita, silenciosa no seu significado até aos dias de hoje. “É uma forma também de divulgar e chamar a atenção para esta escrita com 2 500 anos, aumentando o interesse por ela e pelo povo que a deixou gravada um pouco por toda a região”, conclui o arqueólogo, para quem “ainda há muito a fazer” no estudo e na preservação do rico espólio arqueológico existente no concelho. Carlos Júlio

Mesa – O Museu da Escrita do Sudoeste fica na rua do Relógio (junto à Torre do Relógio), em Almodôvar. Está aberto de segunda a domingo, das 10 às 13 horas e das 14 às 18 horas. Fecha aos feriados. O telefone é o 286 665 357.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.