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Diário da Cuesta

NA DEFESA DO MEIO AMBIENTE E DA CIDADANIA EM BOTUCATU

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MORTE E VIDA SEVERINA

O poema dramático “Morte e Vida Severina” é a obra-prima do poeta pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999). Escrito entre 1954 e 1955, trata-se de um auto de Natal de temática regionalista.

O poeta, que nasceu no Recife, transformou em poesia visceral a condição do retirante nordestino, sua morte social e miséria.

Resumo da Obra

Morte e Vida Severina retrata a trajetória de Severino, que deixa o sertão nordestino em direção ao litoral em busca de melhores condições de vida. Severino encontra no caminho outros nordestinos que, como ele, passam pelas privações impostas ao sertão.

A aridez da terra e as injustiças contra o povo são percebidas em medidas nada sutis do autor. Assim, ele retrata o enterro de um homem assassi-

nado a mando de latifundiários.

Assiste a muitas mortes e, de tanto vagar, termina por descobrir que é justamente ela, a morte, a maior empregadora do sertão. É a ela que devem os empregos, do médico ao coveiro, da rezadeira ao farmacêutico. Nota, ao vagar pela Zona da Mata, onde há muito verde, que a morte a ninguém poupa. Retrata, contudo, que a persistência da vida é a única a maneira de vencer a morte.

No poema, Severino pensa em suicídio jogando-se do Rio Capibaribe, mas é contido pelo carpinteiro José, que fala do nascimento do filho.

A renovação da vida é uma indicação clara ao nascimento de Jesus, também filho de um carpinteiro e alvo das expectativas para remissão dos pecados.

João Cabral de Melo Neto

(09/01/1920 * 09/10/1999)

Foi um poeta e diplomata brasileiro. Sua obra poética, que vai de uma tendência surrealista até a poesia popular, porém caracterizada pelo rigor estético, com poemas avessos a confessionalismos e marcados pelo uso de rimas toantes, inaugurou uma nova forma de fazer poesia no Brasil. É considerado o maior poeta de língua portuguesa por escritores como Mia Couto. Você encontra aqui as edições do Diário da Cuesta http://blogdodelmanto.blogspot.com

João Cabral de Melo Neto

(09/01 1920 * 09/10/1999)

Foi um poeta e diplomata brasileiro. Sua obra poética, que vai de uma tendência surrealista até a poesia popular, porém caracterizada pelo rigor estético, com poemas avessos a confessionalismos e marcados pelo uso de rimas toantes, inaugurou uma nova forma de fazer poesia no Brasil. É considerado o maior poeta de língua portuguesa por escritores como Mia Couto.

Foi agraciado com vários prêmios literários, entre eles o Prêmio Neustadt, tido como o Nobel Americano, sendo o único brasileiro galardoado com tal distinção, e o Prêmio Camões. Quando morreu, em 1999, especulava-se que era um forte candidato ao Prêmio Nobel de Literatura.

Irmão do historiador Evaldo Cabral de Mello e primo do poeta Manuel Bandeira e do sociólogo Gilberto Freyre, João Cabral foi amigo do pintor Joan Miró e do poeta Joan Brossa. Casou-se com Stela Maria Barbosa de Oliveira, em fevereiro de 1946, com quem teve os filhos Rodrigo, Inez, Luiz, Isabel e João. Depois, em 1986, casou-se pela segunda vez, com a poetisa Marly de Oliveira. O escritor foi membro da Academia Pernambucana de Letras (embora não tenha comparecido a nenhuma reunião como acadêmico, nem mesmo a sua posse) e da Academia Brasileira de Letras.

O Diário da Cuesta não se responsabiliza por ideias e conceitos emitidos em artigos ou matérias assinadas, que expressem apenas o pensamento dos autores, não representando necessariamente a opinião da direção do jornal. A publicação se reserva o direito, por motivos de espaço e clareza, de resumir cartas, artigos e ensaios.

A REVOLUÇÃO NO TEATRO NACIONAL

O teatro brasileiro vem desde os primórdios da colonização portuguesa. Mas só nos anos 50, começa a tomar forma a retratar a sociedade paulista com Jorge de Andrade enquanto Ariano Suassuna inova no teatro regional Em 1948, Alfredo Mesquita funda a Escola de Arte Dramática - EAD, em São Paulo e Maria Clara Machado, em 1950, abre o Tablado, no Rio de Janeiro.

No final da década de 50 e início dos anos 60, a prioridade do então poderoso TBC - Teatro Brasileiro de Comédia para as peças e autores estrangeiros, leva os autores e atores nacionais a procurarem outro caminho vendo, no teatro, um meio válido para buscar a transformação da sociedade brasileira.

A Revolução Cultural do Teatro Brasileiro, na década de 60, a nosso ver, está marcada pela atuação teatral e política de dois grupos teatrais: o TEATRO DE ARENA, de São Paulo, sob a direção de Augusto Boal, Gianfrancesco Guarnieri e Oduvaldo Vianna Filho; e o GRUPO OPINIÃO, do Rio de Janeiro, sob a direção de Paulo Pontes , Oduvaldo Vianna Filho, Armando Costa. Na verdade, atuavam em perfeita simbiose.

SHOW OPINIÃO – LIBERDADE/LIBERDADE/ MORTE E VIDA SEVERINA

Em 1965, assistimos no Rio de Janeiro a apresentação revolucionária do “Show Opinião”, com Zé Kéti, João do Vale e Maria Bethânia (substituindo Nara Leão). Era a estréia da novata Maria Bethânia no teatro. A sua interpretação dramática e a força que ela impôs à personagem repercutiram por todo o país: nascia uma estrela ímpar! Os autores do espetáculo, Armando Costa, Oduvaldo Vianna Filho e Paulo Pontes deixaram claro que “...é preciso restabelecer o teatro de autoria brasileira - não somente o teatro do dramaturgo brasileiro - o espetáculo do homem do teatro brasileiro. É preciso que finalmente e definitivamente nos curvemos à nossa força e à nossa originalidade».

Com direção geral de Augusto Boal e direção musical de Dorival Caymmi Filho, o espetáculo trazia a música

de Zé Kéti e João do Vale em cima de ampla pesquisa na autêntica música popular brasileira.

No mesmo ano de 1965, ainda no Rio, numa promoção do Teatro de Arena/Grupo Opinião, assistimos a apresentação de “Liberdade, Liberdade”, peça de Millôr Fernandes e Flávio Rangel, era o chamado teatro de protesto, criticando o movimento militar de 1964. A peça estreou no dia 21 de abril, Dia de Tiradentes. Era emblemática. Com Paulo Autran, Tereza Rachel, Nara Leão e Oduvaldo Vianna Filho.

“Liberdade.Liberdade”, reunia textos de vários autores sobre o tema-título: Sócrates, Marco Antônio, Platão, Aristóteles, Abraham Lincoln, Martin Luther King, Castro Alves, Vinicius de Moraes, Anne Frank, Danton, Winston Churchill, Cecília Meireles, Geraldo Vandré, Jesus Cristo, William Shakespeare e Carlos Drumond de Andrade.

Na sequência, ainda em 1965, mas agora em São Paulo, assistimos a peça “Morte e Vida Severina”, baseada no livro do mesmo nome do poeta João Cabral de Melo Neto, retratando a vida de um retirante que desce do sertão nordestino ao litoral em busca de uma vida melhor. A peça foi montada a pedido do escritor Roberto Freire, Diretor de teatro da PUC/SP. Era o TUCA (Teatro da Universidade Católica) a marcar a sua presença pela história do teatro brasileiro Os poemas foram musicados por Chico Buarque de Hollanda. A peça representou o Brasil no Festival de Nancy/França, onde arrebatou o maior prêmio.

Na segunda metade dos anos 60 , a realidade política brasileira já estava mudada. O regime militar que se instalara no Brasil em 1964 recebera, no início, apoio expresso da sociedade brasileira ( marcha dos cem mil ) preocupada com os desmandos e falta de rumo seguro do Governo de João Goulart . Após a fuga do presidente, toda a classe política apoiou a eleição do Marechal Castelo Branco, para Presidente do Brasil, inclusive o PSD (oposição), de Juscelino Kubischeck , que por iniciativa do ex-presidente, indicou seu primo e correligionário José Maria Alckmin para o cargo de Vice-Presidente da República do Brasil. (AMD)

Diário da Cuesta 3

GERAÇÕES DA CIDADANIA BOTUCATUENSE

HOMENS QUE FIZERAM BOTUCATU!

Comendador Pedro Stefanini

Continua a repercutir a Edição Especial da Revista Peabiru, dedicada à colônia italiana e à sua importância na construção e desenvolvimento da cidade de Botucatu.

O prestigioso e oficioso jornal ítalo-brasileiro: “IL GIORNALE ITALO-BRASILEIRO”, de Agosto/98, transcreveu o histórico oficial da SOCIEDADE ITALIANA DE BENEFICÊNCIA que havia reproduzido as fotos da antiga Casa de Saúde Sul Paulista. Da mesma forma, abordaremos nos próximos números, o movimento que está tomando corpo a favor de restabelecer a homenagem a Del Prete, recolocando seu busto (atualmente está guardado na sede do Brasil-Itália) na Praça do Bosque.

Da mesma forma, busca-se a reparação da omissão do Poder Público, propondo-se que se recoloque placa denominando de Anita Garibaldi, na Praça que leva seu nome. Nesse mesmo sentido, o Centro Brasil-Itália reivindica da Prefeitura Municipal de Botucatu que junto a recolocação do busto de Del Prete, seja colocada uma placa junto a Fonte Luminosa registrando que a mesma foi uma doação da Colônia Italiana à cidade de Botucatu.

Mas quando se trata da Colônia Italiana de Botucatu é de inteira justiça a lembrança do nome de um de seus expoentes: Comendador Pedro Stefanini. Por mais de 43 anos foi Agente Consular da Itália em nossa cidade. Sempre benquisto e sereno, soube o Sr. Pedro Stefanini levar a bom termo as suas funções oficiais em uma época em que era grande e expressiva a colônia italiana em nossa cidade. Aparar as divergências, ajudar e orientar os imigrantes, representa-los junto ao Consulado Geral, em São Paulo, enfim, administrar, como representante do Governo Italiano, os imigrantes que vieram construir a grandeza de Botucatu.

O italiano Pedro Stefanini, natural de Monceline, Província de Padova, era casado com Dona Carlota Zerbetto Stefanini, natural de Concelite, da Província de Ravena. Casaram-se em nossa cidade, em 24 de fevereiro de 1900, e tiveram 9 filhos: Natália, Antônio (Nenê), Dante, Irene, Inês, Aldo, Noêmia, Orlando e Odila. Atuante no setor industrial de Botucatu, Pedro Stefanini firmou prestígio em sua indústria de móveis que durante várias dezenas de anos atuou de forma sólida em nossa cidade. Família grande, expandiu-se mais ainda, ampliando a semente boa desses dois imigrantes italianos. No ano de 1959, o Governo da Itália houve por bem prestar justa homenagem a dois representantes da colônia italiana: Pedro Stefanini e Emílio Peduti.

O primeiro, pela sua atuação como representante oficial do Governo Italiano em nossa cidade e industrial pioneiro e, o segundo, por sua atuação positiva como empresário e benemérito junto a Misericórdia Botucatuense. A homenagem prestada a ambos, deu a esses dois ilustres botucatuenses o título de Comendador, homenagem prestada pelo Governo Italiano e culminando com a

entrega da medalha “Stella Della Solidarietà Italiana”.

No dia 17/01/1959, veio de carro da capital, o Sr. Consul Geral, Franco Fontana, acompanhado da esposa e filha, ficando hospedado no Peabiru Hotel. Era a seguinte a programação oficial: Dia 17, sábado: 12:00 h. – almoço no Peabiru 14:00 h.- visita à Prefeitura 14:30 h.- visita ao Arcebispo 15:00 h.- visita às Ind. Blasi 15:30 h.- visita às Ind. Milanesi 16:00 h.- visita às Ind. Lunardi 17:00 h.- Sessão Solene na Câmara Municipal com a entrega das Condecorações 19:00 h.- jantar no Peabiru 21:30 h.- Recepção na residência do Sr, Miguel Losso, presidente da Sociedade Italiana de Beneficência. Dia 18, domingo: 09:00 h.- Missa na Catedral 10:00 h.- Visita e coquetel no Colégio Santa Marcelina 11:00 h.- Visita ao prédio onde será instalada a Faculdade de Medicina em Rubião Júnior 12:30 h.- Banquete no Ginásio do BTC em homenagem ao Consul, aos dois homenageados, sendo orador oficial o Dr. Aleixo Delmanto 16:00 h.- Partida do ilustre visitante e familiares para São Paulo. Na ocasião, era Prefeito Municipal de Botucatu, o Dr. João Queiroz Reis e Presidente da Câmara Municipal, o Sr. Abílio Dorini.

A recepção marcou época nos anais históricos de Botucatu. O jornal “Folha de Botucatu”, de 21/01/59, registrou o acontecido: “Carinhosa Recepção ao Sr. Franco Fontana Assumiu proporções de grande acontecimento social a visita do ilustre diplomata italiano. Será reposto o busto de Carlo Del Prete. Relato das diversas cerimonias oficiais. Otimamente impressionado o visitante. “... Na ocasião, o Prefeito mostrando um “croquis” da antiga Praça Olavo Bilac, que se encontra em radicais reformas, anunciou que naquela praça seria recolocado, em homenagem à colônia italiana, o busto do heroico aviador Carlo Del Prete, que faleceu tragicamente no Rio de Janeiro, depois de ter cum -

prido um maiores e mais arrojados feitos da aviação daquela época, vindo da Itália como mensageiro da amizade entre as duas pátrias irmãs. “Na Câmara Municipal, foi orador oficial, o Vereador Laurindo Izidoro Jaqueta que pronunciou discurso esplêndido. Na oportunidade, em nome da Sociedade Italiana de Beneficência, falou o Dr. Miguel Losso, mostrando a grande nostalgia que cada italiano sente da pátria distante. Em seguida, o Sr. Pedro Stefanini, com seus 83 anos, emocionado, agradeceu a homenagem. Em seguida, o Sr. Emílio Peduti também expressou os seus agradecimentos. O Consul, em sequência, proferiu belíssimo discurso de agradecimento e exaltação da bela cidade e sua colônia italiana. O banquete, servido no ginásio esportivo do BTC, especialmente adaptado para o evento, esteve perfeito. Ao ingressar os homenageados, entre salvas de palmas, foram executados os Hino Nacional e o Hino de Mameli, agora oficializado como hino nacional da República Italiana. O orador oficial foi o Dr. Aleixo Delmanto que proferiu magnífica oração, parte em nosso idioma e parte no idioma de Dante. O fluente orador teve o feliz ensejo de expandir o lirismo da sua grande alma de poeta, sendo no fim merecidamente ovacionado. O Sr. Franco Fontana tomou então a palavra para agradecer todas as homenagens de que tinha sido alvo. Afirmando que levava de Botucatu uma das mais belas e imorredouras recordações da sua longa carreira diplomática”. Esse registro era indispensável para que restabelecesse a importância que teve para a nossa comunidade a figura realizador e benquista do Comendador Pedro Stefanini: industrial pioneiro, pai de família exemplar, amigo e protetor dos seus irmãos imigrantes, mas, sobretudo, cidadão prestante e modelar exemplo de caráter! (AMD)

NOTA - O casal Stafanini deixou os seguintes 9 filhos: Antonio, casado em primeiras núpcias com Inês Bertocchi, da qual houve os filhos Hilda, Hélio e Heraldo; em segundas núpcias com Santa Geraldini, da qual houve os filhos Carlos e Maria Amélia. Natalina, casada com Caetano Danziato, do qual houve os filhos Waldyr, Professora Wilma e Wilson, químico industrial. Irene, casada com o Professor Mario Cacace, do qual houve os seguintes filhos: Paulo Sérgio – Contador; Ivo Roberto, Contador; Céres, professora; Mirtes, Professora, e João, estudante. Dante, casado com Carmem Lima, da qual houve os filhos: Celina, Professora; Regina, Professora; e Dante, estudante. Aldo, casado com Alice Ignácio, da qual houve os filhos: José, Cecília, Pedro, Marisa e Luiz, todos estudantes; Orlando, casado com Edith Carvalho, residentes em Curitiba; Profa. Odila, casada com Benjamin Nicolau, residentes em Manduri; Inês e Noêmia, solteiras, residem em Botucatu. (Pesquisa de Sebastião de Almeida Pinto).

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