LEMBRANDO O AVÔ ITALIANO
ROBERTO DELMANTO
Pedro Delmanto, meu avô paterno, nasceu em Zoppi, pequena cidade da província de Salerno, no Sul da Itália
Na segunda parte do século 19, a parte meridional do país passava por grave crise econômica e social.
Desesperados, muitos jovens deixaram suas famílias para vir tentar a sorte no Novo Mundo.
Foi o que aconteceu com meu avô, de 17 anos, e seu irmão Costabile, de 19.
Foram para Sorocaba, no Estado de São Paulo, onde Pedro trabalhou como sapateiro. Seu patrão, exigindo-lhe período integral, não permitiu que continuasse os estudos. Mas despertou nele o entusiasmo pelos calçados.
Em Botucatu, para onde se mudou, ele e o irmão abriram uma fábrica de calçados. Tendo Costabile regressado à Itália, Pedro, com sua inteligência privilegiada e grande determinação, expandiu seus negócios comprando um curtume e abrindo uma loja. Fechava, assim, o círculo calçadista.
Importou as melhores máquinas da Alemanha, trouxe da Finlândia um técnico especializado no tingimento de couros e, em 1908, ganhou no Rio de Janeiro um concurso nacional de calçados.
Diligente e econômico, não deixava, entretanto, de cortar, ele próprio, as peças que chegavam do curtume para melhor aproveitá-las. Meu pai Dante, ainda jovem, ao chegar em casa à noite, testemunhou várias vezes esse fato. Apaixonou-se por Albina, uma das três filhas de Alessio Varoli, também imigrante italiano, originário do Vêneto, no norte da Itália.
Alessio já viera para cá com recursos, tendo em Botucatu uma fábrica de bebidas. Com bom nível de estudo, tornou-se Consul Honorário da Itália na região. No aniversário da unificação do país natal, antes dividido em vários reinos, desfilava em uma carruagem ao lado das três filhas, representando a figura do rei Vitório Emanuel.
Não correspondido, Pedro casou-se com a outra filha dele, Maria, com quem teve sete filhos e uma vida conjugal muito feliz. Seus amigos brincavam com ele, dizendo que não tendo podido casar-se com Albina, teve de conformar-se em tê-la como digníssima cunhada...
Ficando rico, meu avô construiu, com recursos próprios, o melhor hospital da região, a “Casa de Saúde Sul Paulista”, convidando para dirigí-la um professor da Faculdade de Medicina de Nápoles, exilado no Brasil.
Quando meu pai, seu terceiro filho, cursando a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, ganhou uma bolsa de estudos em Haia, na Holanda, Pedro foi se encontrar com ele e, juntos, percorreram toda a “Bota”. Seu último empreendimento foi a compra de uma fazenda de café.
Mas aí veio a Grande Crise de 1929, e meu avô perdeu tudo, literalmente tudo.
Era o ano de formatura de meu pai que, heroicamente, trouxe seus pais e os quatro irmãos menores para São Paulo, passando a sustentá-los.
Depois da tristeza dos primeiros anos, meu avô recobrou a alegria de viver, seu humor e sua irreverência.
Agradecido ao meu pai, dizia que ele era uma “mosca bianca”, uma mosca branca que não existe…
Quando os netos lhe perguntavam por quê, tendo sido tão abonado, veio perder a tudo, ele, parodiando o famoso filme, dizia: “O vento levou…”
Inventivo, criou uma bandeja elétrica para matar moscas, que infelizmente não patenteou, mas, mais tarde, viria a fazer sucesso em bares e restaurantes.
Não gostava de médicos e de padres.
Quanto aos primeiros, dizia que eles não queriam que morrêssemos, mas também não queriam que ficássemos completamente curados... Quando meu pai lembrava que ele tinha três filhos médicos, Pedro respondia que os seus eram diferentes.
Morava no Jardim América, na mesma rua de meus pais, próximo à Igreja Nossa Senhora do Brasil.
O pároco era Monsenhor Carvalho, que se destacara na Revolução Constitucionalista de 32 como capelão.
Mas, além da igreja nunca ficar pronta, ele pagava muito mal os padres auxiliares.
Um deles, já idoso, recém-contratado, resolveu visitar os paroquianos, batendo um dia à porta da casa de meus avós, também idosos.
Era hora de almoço, e minha avó, grande cozinheira e muito religiosa, convidou-o para almoçar.
O faminto padre adorou, e daí em diante, como quem não quer nada, duas ou três vezes por semana aparecia na casa deles, na hora do almoço ou do jantar, sendo sempre convidado para participar da boa mesa.
Meu avô foi se irritando e, um dia, estando os três “velhinhos” na sala de visitas, perguntou ao religioso: “Padre… O senhor vem tanto aqui em casa. Está esperando eu morrer para se casar com a minha mulher?”
O padre, atônito, retirou-se e nunca mais voltou. Em compensação, minha avó ficou vários meses sem falar com meu avô…
Meu pai adorava seu pai, que sempre fora muito carinhoso e extremamente dedicado à família. Lembrava-se que o pai fazia com que os filhos, ainda no início do século19, não deixassem de ir regularmente ao dentista, designando um funcionário de confiança para acompanhá-los. E a quem meu pai, menino, por vezes “subornava”, indo ambos ao cinema…
Preocupado com a saúde de meus avós no inverno, perigoso para os idosos, fazia com que eles sempre passassem esse período em nosso apartamento de Santos.
Quando retornavam e nós, netos, perguntávamos a meu avô como tinham sido suas férias, ele dizia: “O sanatório estava ótimo…”
Em São Paulo, gostava de ir ao centro da cidade encontrar-se com conterrâneos. Embora meu pai lhe oferecesse seu carro com motorista, ele fazia questão de ir de ônibus.
Certa feita, foi junto com minha avó e, estando o ônibus cheio, nenhum homem se dispunha a dar lugar a ela. Meu avô passou, então, a comentar em voz alta como os homens não tinham educação, deixando de pé uma senhora idosa. Imediatamente, vários se levantaram, oferecendo-lhe o assento…
Partiu tranquilo aos 94 anos, de morte natural. Uns 20 anos antes, seu médico alertou meu pai que Pedro tinha um problema no coração e poderia morrer cedo. “Enterrou” esse médico e mais dois.
Não abria mão de um “bicchiere” de vinho tinto no almoço e outro no jantar. Jamais foi operado ou internado nem precisou ir ao dentista ou perdeu um único dente.
Nunca aprendeu bem o português, falando nosso idioma italianado. Gostando muito de mim e eu dele, não sei por quê, me chamava de “poeta”...
No início do século XX, o cavalo era meio de transporte e Pedro Delmanto andava com orgulho pela cidade.
Você Sabia? Pelé marcou oito gols pelo Santos em um mesmo jogo em 1964
Pelé marcou oito vezes na vitória do Santos por 11 a 0 contra o Botafogo-SP, em 1964 (Foto: Acervo/Gazeta Press)
No dia 21 de novembro de 1964, pouco mais de nove mil pessoas foram para a Vila Belmiro assistir o Santos enfrentar o Botafogo-SP, em partida válida pelo Campeonato Paulista. O que elas não sabiam é que presenciariam uma goleada de 11 a 0 do Peixe, com direito a atuação de gala de Pelé, que balançou as redes oito vezes.
Até então, nenhum jogador havia marcado oito gols em uma mesma partida. Diante da equipe de Ribeirão Preto, Pelé superou a façanha de Araken, outro atleta do Santos que anotou sete tentos em 1927 contra Portuguesa e Ipiranga. O recorde pertence hoje a Dadá Maravilha, que guardou dez gols no Santo Amaro quando atuava pelo Sport, em 1976.
Só no primeiro tempo, o Rei do futebol deixou sua marca cinco vezes. Pepe, com gol olímpico, e Coutinho foram os outros responsáveis por deixar o Santos com uma vantagem de seis gols no intervalo. Na segunda etapa, Pelé marcou mais três e Toninho completou a goleada.
Após a partida, Oswaldo Brandão, técnico do Botafogo-SP, foi demitido. Duas semanas depois, o treinador comandou o Corinthians na derrota por 7 a 4 para o Santos, no Parque São Jorge, em mais uma grande exibição de Pelé, que mandou a bola para o fundo da meta corinthiana em quatro oportunidades.
O Santos se sagrou Campeão do Campeonato Paulista de 1964, vencendo 20 das 30 partidas disputadas, empatando quatro e perdendo seis. Com 34 gols, Pelé foi o artilheiro da competição.
Pelé é o ídolo máximo do Santos
“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.”
(Fernando Pessoa)
Maria De Lourdes Camilo Souza
Tenho um mesmo sonho que se repete. É noite, estou em algum canto perdido de uma cidade desconhecida.
Quero voltar para casa.
Penso aonde pego um ônibus ?
Aonde estou?
Vou chamar um uber.
Chego a um destino.
Já não é mais ali a minha morada.
Abro o portão branco descascado e vou até a porta da varanda.
Mas não consigo abri-la.
Está vazia.
Olho através do vidro da porta , está vazia.
Não existem mais os vasos de folhagens verdes e fartas, que eu regava pelas manhãs.
Não tenho mais as chaves.
Levanto os olhos para o céu estrelado.
Lembro de quando fomos assistir ao filme do E.T. O extraterrestre.
Estávamos em Santos de férias, e fomos ver o lançamento do filme no cinema do Gonzaga.
Marcelo , meu sobrinho mais velho era menino. Sentamo-nos numa fileira bem na frente.
Enquanto assistíamos o filme escutava os soluços do Marcelo, que se emocionou vendo o E.T. olhando para o céu e apontando para uma estrela brilhante muito distante com seu dedo magrelo e nodoso, dizendo: “minha casa”.
O mesmo dedo que se acendia para curar seu amigo doente.
Anos depois, li que “somos poeira de estrelas”
E fiquei com aquilo na cabeça não por achar poético, mas porque de alguma forma me fazia sentido.
Vez ou outra sonho de novo.
E me pergunto: de qual estrela serei? Sirius? Plêiades?
Voltarei um dia para minha casa?
“Pegar carona numa cauda de cometa
Ver a Via Láctea estrada tão bonita
Brincar de esconde esconde numa nebulosa
Voltar para casa nosso lindo balão azul.”
Rumo ao planeta azul
Visitando Santo Antônio de Pádua, a maior paróquia de Istambul
Situada no distrito de Beyoglu, em Istambul, a Matriz de Santo Antônio de Pádua, considerada uma joia espiritual da Avenida Istiklal, é a maior igreja católica da Turquia. Suas origens remontam aos frades franciscanos que ali chegaram durante a era otomana. Esses missionários buscavam estabelecer um local de culto para a comunidade católica residente na cidade. O templo original, erguido em 1725, deu espaço para a atual igreja basilical, de estilo neogótico veneziano, construída entre 1906 e 1912.
Na época, viviam em Istambul cerca de 40 mil italianos, a maioria de ascendência genovesa e veneziana. O edifício, prova da rica herança multicultural de Istambul, foi projetado pelo arquiteto levantino Giulio Mongeri (1873-1951), autor de outros edifícios importantes da Turquia, traz também influências barrocas e rococós, com sua fachada elegante e detalhes intrincados.
Característica singular dessa igreja é a sua distinta torre sineira, erguendo-se majestosamente acima dos edifícios circundantes. A torre é adornada com elementos decorativos e coroada com uma cruz, acrescentando um destaque vertical à própria silhueta.
O bispo diplomata Angelo Giuseppe Roncali (1888-1963), o futuro Papa São João XXIII, pregou na Matriz de Santo Antônio durante dez anos, enquanto serviu como delegado apostólico na Grécia e na Turquia, entre 1935 e 1944. Aliás, ele é conhecido como “o Papa Turco” devido à sua fluência na língua turca e ao seu amor declarado frequentemente pela Turquia e por Istambul, em particular. Para homenageá-lo, uma estátua sua está instalada no pátio da igreja.
Desde 2016, uma batalha judicial se desenrola em torno dessa igreja, colocada à venda por um homem que alega agir em nome do proprietário legal do local. De acordo com notícias, Sebahattin Gök obteve uma procuração dos proprietários do terreno e tentou vendêlo antes que advogados agindo em nome do Vaticano tomassem medidas para impedir a negociação.
Embora o número de católicos em Istambul seja muito pequeno, diariamente são celebradas missas na Matriz de Santo Antônio de Pádua para visitantes em turistas em diferentes horários nas seguintes línguas: inglês, italiano, polonês e turco.
• Cronista e pesquisador, membro da Academia Botucatuense de Letras, é autor de 57 livros sobre a história regional.