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Diário da Cuesta

SENHOR DIRETAS Na Câmara

do Deputados

Nascido em 6 de Outubro de 1916, em Itirapina/SP, Ulisses Guimarães foi eleito Deputado Estadual em 1947 e 11 vezes Deputado Federal por São Paulo (de 1951 a 1995); exerceu a Presidência da Câmara dos Deputados em três períodos (1956-1957; 1985-1986 e 1987-1988); e também a Assembleia Nacional Constituinte, em 1987 e 1988

Ficou conhecido como o “Senhor Diretas”, por ter liderado campanhas pela redemocratização, em 1983 e 1984. Morreu em um acidente de helicóptero no litoral do Rio de Janeiro, dia 12 de outubro de 1992. Seu corpo nunca foi encontrado.

“Digressão”

“A felicidade está nas coisas calmas, ordinárias. Uma mesa, uma cadeira, um livro com um cortador de cartas enfiado nas páginas.

A pétala que cai da rosa, e a luz baluginante enquanto sentamos em silêncio ou, talvez, lembrando-nos de alguma besteira, de repente nos rimos.”

Virginia Woolf

Saboreando um capuccino e ouvindo uma música, nesta tarde chuvosa, voltei no tempo.

Um tempo não muito longínquo.

E aí sorrio pensando o que seria esse tempo?

Lembrei de um comentário a um post sobre o Dia do Idoso, que por acaso comemora-se hoje.

Em seu comentário o amigo, apesar de sua idade, não se sentia um idoso e percebi que concordo com ele, também não me sinto uma.

Houve um tempo em que saia cedo de casa e descia da minha casa até a Rua Amando.

Dava uma parada na loja do Boticário para comprar algum presente.

Depois seguia caminho até uma loja de aviamentos que ficava numa esquina da General Telles.

Às vezes comprava uma baguete recheada e um delicioso bolo de frutas na Padaria Jacarandá.

Seguindo a caminhada descia a Quintino Bocaiuva e indo até a Rua Amando dava uma parada na Logika.

Isso antes da boa reforma que fizeram lá.

As vezes encontrava algumas amigas pelo caminho e conversávamos um pouco.

Depois ia ao Banco.

Aproveitava para almoçar num restaurante em frente o Café do Ponto.

Sempre encontrava por lá um ou outro conhecido.

De lá passava pelas Lojas Pernambucanas e atravessava a rua para comer um petit gateau no Chiquinho.

Tudo muito apreciado e saboreado com aquela leveza do dia de férias.

E só então retornava para casa.

E a sensação era daquela felicidade das coisinhas simples em minha própria companhia.

E vinha a hora da sesta, Mindy deitada ao lado do meu cadeirão recebendo de vez em quando um ou outro afago, ao que se espreguiçava sorrindo.

Então vinha a hora de assistir um capítulo de uma das minhas séries favoritas.

Basicamente muito disso mudou.

Dia desses dei-me conta que preciso retomar esses programinhas matutinos, nem que seja para ficar na fila do Idoso no Banco.

Buscando quadros de idosos para ilustrar a crônica, percebi que poucos se atrevem a pintar rostos de idosos.

Meditei sobre isso intrigada, e cheguei a uma conclusão simples.

Quem se atreveria a tentar reproduzir tantos intrincados caminhos, experiências de vida em seus sulcos e rugas?

Aventurar-se a perder entre os claros e escuros das marcas que o tempo criou?

Acabar esquecendo uma só dessas tantas e belas inusitadas cores de uma vida?

É preciso muita sensibilidade para adentrar nesses intrincados e lindos rostos para reproduzir com um mínimo de autenticidade as muitas lições e sensações que os anos ali esculpiram a ferro e fogo.

Há que se pedir licença e benção ao ser humano á nossa frente e tentar com muito carinho e cuidado desvendar cada sorriso, brilho de olhar longínquo que conseguir captar.

Identificar na paleta a verdadeira cor desse semblante em sua suave e desvanescente pele que as muitas manchas das inúmeras primaveras, verão, outonos sombrios e invernos com seus ventos ali o cinzel do tempo esculpiu.

Minha Mãe, Saudades!

É um óleo sobre tela, 50cm x 35cm, de autoria do artista plástico, dramaturgo e escritor botucatuense, Quim Marques (1968).

“Ah, que vontade de escrever bobagens bem meigas, bobagens para todo mundo me achar ridículo e talvez alguém pensar que na verdade estou aproveitando uma crônica de rapaz; e, entretanto, eu hoje não me sinto rapaz, apenas um menino, com o amor teimoso de um menino, o amor burro e comprido de um menino lírico...”

Rubem Braga

E é como um menino que estou homenageando a minha mãe.

Atenção!

- Estátua!

Capturando um momento passado e o registrando para sempre...

Saudades...

Sim, saudades como as de um menino...

Meu pai Antônio, minha mãe Fióca , meu irmão Décio, minha irmã Fióca Helena e eu

A vida, me disseram um dia, passa rapidamente e, quando percebemos, ela já passou...se foi...

Minha mãe se chamava Rita, mas tinha o apelido de Fióca, coisas daquele seu tempo no interior... Uma sua irmã era a tia Fiinha (Lucila) e a outra, a tia Nenê (Jandira ). Meus pais resolveram dar o nome de Fióca Helena para a minha irmã, a Fióquinha. Sempre achei essa escolha muito criativa Minha mãe e minha irmã – Fióca e Fióquinha – faziam aniversário no dia 6 de outubro...

Ela sempre foi uma guerreira. Num determinado momento de sua vida, enfrentando dificuldades, passou a buscar peças para o enxoval das noivas, em São Pedro, perto da sua Piracicaba E saia pelas ruas íngremes de Botucatu, nas casas de sua clientela de moças casadoiras... Sempre se deu bem. Nunca ouvi uma reclamação de sua boca.

Minha irmã Fióca Helena, minha mãe Fióca, meu irmão Décio e eu.

Era uma raridade na família. Visitava os parentes distantes e nunca deixou de ir a um enterro de alguém da família, mesmo que distante. Era sempre solidária. Convidada pelo então Bispo, Dom Henrique Golland Trindade, era vice-presidente da Vila dos Meninos “Sagrada Família”, entidade assistencial presidida pelo Sr. Luiz Baptistão. Permaneceu e trabalhou pela entidade desde a sua criação (1953), até a sua inauguração (1966).

Gostava como ela cuidava da nossa casa, das plantas, da comida, da arrumação, dos quadros, dos enfeites. Os meus aniversários eram sempre alegres e cheios de amiguinhos e parentes. Num deles, o bolo era uma piscina, me lembro bem. Num outro, era um campo de futebol. Era costume a presença dos primos e das primas e dos adultos também, as tias e as pessoas mais amigas.

política. O meu retorno a Botucatu, onde instalei meu escritório de advocacia.

Mais uma vez, a volta para a capital. Novos desafios profissionais. A importância de pertencer a um grupo competente e prestigiado. Foi quando a perdi Já vinha adoentada, mas a perda sempre é amarga e sinalizadora... Sim, sinalizadora. Um vazio tomou conta de mim. A dimensão da sua lembrança era e é imensa Diferente das outras ausências de pessoas queridas... Diferente.

Depois, a adolescência e, antes, o internato em São Paulo por dois anos. Um mundo novo e surpreendente se abriu para mim. Cresci com aquela “independência” repentina, cheia de novidades e responsabilidades. Passei a ser mais um entre tantos. Foi bom e me entrosei bem. Os jogos, o horário de estudo, as missas... O Colégio era dos Padres Salesianos. Todo dia tinha missa e, no final da tarde, tinha a reza. Lá, garanti minhas indulgências plenárias...

Tiro de Guerra. Os Bailes de Carnaval e o conselho de sempre: “- Não exagere em nada. Tome cuidado.” O bom período no Colégio La Salle, onde

eu me descobri aluno assíduo e presente. A volta a São Paulo para fazer o Curso Preparatório. Em Botucatu, o prof. Agostinho Minicucci tinha feito meu teste vocacional. Surpresa. Estava fazendo o Curso Científico, visando a Medicina e o teste deu “política e direito”...

Entrei nas Faculdades de Direito e de Sociologia e Política. Não fui trabalhar em jornal, mas fui para a política

O mais jovem de toda a equipe, “careca” da São Francisco e batalhando pelas causas da minha cidade. Cada vez tinha menos oportunidade de vê-la. Mas ela sempre acompanhava cada passo que eu dava.

O meu casamento com a Beth, os nascimentos do Marcelo e do Armandinho. A sua presença sempre meiga e incentivadora. A minha eleição para vereador de Botucatu. A sua preocupação com os imprevistos da

E é assim que eu escrevo esta crônica. Diferente. Não é o avô da Laura, do Neto e do Caio, nem o pai do Marcelo e do Armando que a está escrevendo mas “apenas um menino, com o amor teimoso de um menino, o amor burro e comprido de um menino lírico...” (AMD)

ULYSSES SILVEIRA GUIMARÃES

“O Poder não corrompe o homem; é o homem que corrompe o poder. O homem é o grande poluidor”. (Discurso de 18/6/1967)

Conheci o Doutor Ulysses na cidade de Lins no ano de 1957 quando como Militar do Exército, fiz parte da guarda de honra que o recebeu na entrada do Quartel do 4º Batalhão de Caçadores, quando em visita ao seu cunhado Coronel Milton Fernandes de Mello, Comandante do Batalhão de Infantaria.

- Gostando de Política desde aquela época, sempre mantive uma aproximação com o Deputado através das notícias que eram publicadas em todos os Jornais, Revistas e do Programa “A voz do Brasil” que transmitia fatos acontecidos no Congresso Nacional (Câmara e Senado) e o seu nome era muito citado como líder de Partidos, em especial do PSD – Partido Social Democrático pelo qual foi eleito Deputado Estadual por São Paulo em 1947. Posteriormente elegeu-se Deputado Federal onde esteve durante onze Mandatos consecutivos. Formado em Direito pela Universidade de São Paulo em 1940, antes de ingressar na Política foi Secretário da Federação Paulista de Futebol. Foi Presidente de Partidos MDB e PMDB e no ano de 1987 comandou a Assembleia Nacional Constituinte e no ano seguinte 1988, no dia 5 de Outubro promulgou a 7ª Constituição do Brasil.

rães Dona Mora, (1922-1992),o Senador Severo Fagundes Gomes(1924-1992) e sua esposa Anna Maria Henriqueta Marsiag Gomes (1928-1992) e Jorge Cameratto ( - 1992) Piloto do Helicóptero Esquilo, prefixo PT-HMK, que transportava o grupo de amigos caiu no Mar 30 minutos depois de levantar voo em Angra dos Reis, litoral do Rio de Janeiro com destino à São Paulo.O Dr. Ulysses como gostava de ser chamado foi Professor na USP, na Universidade Mackenzie, Faculdade de Direito de Itu e de Direito Constitucional na ITE – Instituição Toledo de Ensino de Bauru onde também atuou como Diretor desta Instituição.

A Ordem dos Advogados do Brasil muito deve ao Dr. Ulysses uma vez que ele, como Deputado Federal apresentou no dia 22/6/1992 o Projeto de Lei nº 2.938 criando o Estatuto e o Código de Ética e Disciplina da OAB, transformado na Lei nº 8.906 de 4 de julho de 1994 sancionado pelo Presidente da República Itamar Franco; seu falecimento não permitiu ver seu Projeto totalmente debatido, emendado, aprovado e sancionado.

Formado em Direito no ano de 1940, seu primeiro discurso político ocorreu à sombra de uma Figueira no Distrito de Itaqueri da Serra, município de Itirapina-SP, sua verdadeira terra natal, já que na época do nascimento (1916), todas as pessoas lá nascidas eram registradas em Rio Claro, que era então a sede do município.

Aproxima-se o dia 5 de outubro de 2025, trinta e sete anos são passados e a História não pode morrer...

O notável brasileiro, paulista de Rio Claro, nasceu no dia 6 de outubro de 1916, data muito própria de sua consagração política, faleceu no dia 12 de outubro de 1992 em acidente aéreo na companhia de sua esposa Ida de Almeida Guima-

O reverenciado foi o comandante da resistência democrática (1964/1985) após 21 anos sob a ditadura militar. Com a instauração do bipartidarismo em 1965 (ARENA-PMDB), a Aliança Renovadora Nacional era da extrema-direita, vigorante até 1979 como Partido Oficial do governo militar. Dr Ulysses filiou-se ao Movimento Democrático Brasileiro e na condição de Presidente do Partido participou de todas as campanhas pelo retorno do país à democracia, inclusive a luta pela anistia ampla geral e irrestrita. Em 1979 o MDB converteu-se em PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro, do qual seria o Presidente Nacional. Liderou várias campanhas pela redemocratização, como a das eleições diretas em 1984, popularmente conhecidas como Diretas Já.

A hora revela os gigantes e revela os anões. Quando o arbítrio, a prepotência eram palavras de ordem, a figura do nosso Ilustre conterrâneo se agigantou no estado de direito, das liberdades públicas e sociais, do direito do Homem. Dr. Ulysses conheceu a traição. Traição que ronda os grandes porque é a moeda corrente dos pequenos; lutou contra tudo e contra todos em defesa de um país civilizado. Percorreu o Brasil como um bandeirante da liberdade. Seu desaparecimento no mar juntamente com seus amigos passou a encarnar também a própria sociedade civil na luta contra o autoritarismo e a exceção da ditadura. No trágico acidente somente ele não foi encontrado, dado como desaparecido e sua morte oficialmente reconhecida. Dr. Ulysses morreu. O mar o quis somente para si, Eternamente. FONTE: Fundação Ulysses Guimarães – Brasilia-DF

Roque Roberto Pires de Carvalho –email:roquerpcarvalho@gmail.com

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