DIGESTO ECONÔMICO, número 256, julho e agosto 1977

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Se os números do exemplo fos sem modificados de sorte que o lu cro líquido antes do imposto de renda mais juros fosse inferior aos juros a serem pagos, a área corres pondente aos recursos próprios fi caria diminuída, ou seja, haveria uma descapitalização da empresa já que parte do patrimônio líquido deveria cobrir o diferencial.

independente dos resultados opera cionais e de fluxo de caixa.

TABELA XVI

EXIGÍVEL EM RELAÇÃO AO PATRIMÔNIO LÍQUIDO

Exigível

Ano

Patrimônio

recursos

recursos

Imaginemos que, por qualquer razão, (mantida a mesma estrutura de capital, 200 de exigível e 100 de recursos próprios) o retorno sobre os investimentos sobe a 237o, isto é, um crescimento de 157o (37o/ 20%). Como os recursos próprios participam com 33% do capital to tal aplicado, a taxa de crescimen to da rentabilidade dos próprios seria de 19,87o (91,17o/ 467o). A rentabilidade dos próprios seria agora de 54,17o pelo acréscimo de 9,17o (37o/0,33).

Em suma, se houver um aumen to no retorno sobre os investimen tos, o processo de alavancagem faz com que a rentabilidade sobre o ca pital próprio sofra variações maio res nas taxas de crescimento. O mesmo raciocínio é válido em sen tido contrário.

Se a alavancagem sobe, o crédito acaba sendo alterado pela assunção de maiores riscos. A situação se agrava mais para as empresas que usam excessiva alavancagem quan do o crédito passa a ser racionado em face de política de contenção inflacionária e o ajustamento da empresa não pode processar-se ins tantaneamente, dada a necessidade de pagar os juros e as amortizações.

cia

Se atentarmos para a origem dos recursos das empresas brasileiras, nota-se um crescente nível de en dividamento (curto longo prazo). .De acordo com a tabela XV, em 1970 o grau de endividamento es tava em 44,67o e em 1975 atingiu a 52,5% e o processo, provavelmente, teve mais impulso em 1976. Em ou tras palavras, é cadente a tendênde participação de recursos próprios provenientes de lucros re tidos, depreciações e subscrições adicionais, tanto assim que a par ticipação do patrimônio líquido neste período declina de 55,47o pa ra 47,5%, e tudo indica que deve prosseguir a queda em 1976. Em 1970, para cada cruzeiro de capital próprio, as empresas brasi leiras utilizavam 81 centavos de re cursos de terceiros. Em 1974 e 1975, a relação se situa em níveis extre mamente elevados, ou seja, 1 cru zeiro e 12 centavos e 1 cruzeiro e 11

É coincidente a intensificação do grau de endividamento com crudescimento da inflação a partir centavos, respectivamente, para ca da cruzeiro de capital próprio. Os dados preliminares de 1976 elevam ainda mais esta relação. Isto é preocupante, pois se uma empresa depende basicamente de recursos exigíveis, qualquer deterioração do lado das receitas ou dos custos po de levar a situações difíceis de su perar. Se a atividade econômica das empresas é respaldada crescen temente no fornecimento de crédi tos adicionais, qualquer flutuação no ciclo econômico ou mesmo uma desaceleração pode desequilibrar a estrutura sobre a qual montaram a expansão. Não resta a menor dúvi da de que no caso brasileiro são urgentes as medidas destinadas a inverter o processo de endivida mento.

A tendência ao endividamento pode ser atribuída a uma série de fatores: 1) custo mais barato do ca pital de empréstimo, insuficiente geração de lucros, inadequada de preciação, dificuldade em alargai* a base de “equity” por problemas do mercado de capitais, impedindo o acesso às poupanças disponíveis, etc; 2) impossibilidade de agir dife rentemente em face de situações prevalescentes; 3) atitude conscien te ení aumentar a alavancagem dos débitos sobre os lucros, olvidando o risco de tal comportamento.

O atual nível de endividamento é altamente pernicioso, pois além de ajudar a inflação de crédito, torna praticamente impossível a execu ção de uma política monetária mais restrita e mais prolongada. O famo so-“stop and go” ou o “arrependi mento”, comumente observado no

combate à inflação, é em grande parte, explicado pela impossibilida de de as empresas aguentarem um ti'atamento mais severo na área do crédito, exatamente pela dependên cia exti*ema do endividamento e pela necessidade de renovação constante dos empréstimos. O pro cesso inflacionário ampliou-se em 1976 e os primeiros dados globais indicam um visível aumento no en dividamento e portanto, maiores di ficuldades na implementação de po líticas monetárias vigorosas, exata mente no momento em que é mais premente sua utilização.

0 re-

do final de 1973.

É possível que as empresas bramuito sileiras não se preocupassem com 0 ônus da dívida, na expecta tiva de aumento permanente^ lucros e manutenção de políticas monetárias expansivas. A inflação agigantada, além de impor presas maiores necessidades de cre dito, reduz a capacidade de repagamento, pois não se pode contar mais com folga de Üquidez e pei*manência das políticas fiscais e mo netárias anteriores.

Se as empresas brasileiras se des tacam pela substancial participação de recursos de terceiros, é preciso levar em conta que existe um per manente desencaixe em forma de amortizações. Se os lucros nos às em]uros e crescem razoavelmente e o “cashflow” acompanha o ritmo, o servi da dívida não é preocupante. Mas quando flutuações na liquidez das empresas se tornam frequentes ço

BRASIL: — GASEIFICAÇÃO DO CARVÃO DO SUL — A instalação de uma usina de gaseificação de carvão junto às reservas do Rio Grande do Sul, com um gasoduto até o Rio de janeiro traria de imediato uma economia para o Brasil de derivados ds petróleo acima de US$ i bilhão, com implicações benéficas na siderurgia. Solucionaria o grave problema da poluição industrial, e daria ajuda substancial à agricul tura — trigo, soja e pecuária, com a produção de fertilizantes e apro. veitamento das cinzas para adubar os solos e para a construção de barragens substituindo 30% do cimento. A usina e o gasoduto tra riam para o Brasil uma economia em derivados de petróleo, que jamais outro produto podería trazer, cuja relação principal, em dólares, é: 1. óleo combustível, 75% dos 32% consumidos — 786 milhões; 2. GLP (4,5% dos 6% do consumo) — 8,8 milhões; 3. Enxofre do carvão (3% do volume — Importação) — 36,7 milhões; 4. Fertilizantes nitrogenados (Importação) — 136,7 milhões e 5. Álcool metílico (Metanol — Importação) — 2,5 milhões, TOTAL — 979 milhões. Além disso, diversos outros derivados poderíam ser somados a essa lista: subprodutos para borracha sintética; subprodutos para fibras sinté ticas; subprodutos para plásticos; alcatrão para estradas; gás liquefeito obtido do carvão; cinzas (economia de 30% de cimento nas barra gens das hidrelétricas ou corrigenda do pH da terra aumentar a pro dução de trigo); carvão coque com o uso do gás da gaseificação como redutor do ferro. O carvão do Rio Grande do Sul, com até 50% de cinzas, tem a vantagem de estar a céu aberto. Com lavagem e trata mento esta taxa desce a 35% de cinza, podendo as reservas assegurar gaseificação para mais de 300 de melhor qualidade, tem cerca de 30% de cinzas que com o trata mento e lavagem desce a menos de 25%, podendo atender a mais de 50 anos de produção, A África do Sul trabalha com um carvão se melhante ao nosso com 30% de cinzas, e as duas Alemanhas e a Austrália com um carvão inferior ao nosso, — o linhoto. Uma usina para produção de gasojina sintética e álcool metílico a partir do carvão poderia ser construída nas jazidas de Santa Catarina onde o carvão, embora subterrâneo, é mais rico, com apenas 30% de cinzas. Dependendo do dimensionamento da usina, sua produção poderia substituir de 20% a 70% do consumo de gasolina natural pela sinté tica e 10% a 20% do óleo diesel, proporcionando uma economia anual variável de 300 a 600 milhões de dólares. Combinada com a produção de gás no Rio Grande do Sul, esta segunda opção pode trazer um corte drástico de até 44% na importação de petróleo por ano, com uma economia anual de quase 2 bilhões de dólares.

O carvão de Santa Catarina. anos.

O Futuro do Modelo Brasileiro

Aquestão crucial que está por trás de uma parcela ponderá vel dos problemas que vêm sendo debatidos pela socieda de brasileira nos últimos anos diz respeito à própria natu reza de nosso sistema econômico. A pergunta adequada, que deve ser explicitada, é justamente até que ponto uma economia de mercado pode, no caso brasileiro, servir efetivamente como base institucio nal a partir da qual um amplo de senvolvimento econômico, social e político possa ser realizado. Em termos ainda mais objetivos, ques tiona-se a possibilidade de se en contrar o equilíbrio sociaUnente adequado entre Estado e empresa privada, tomando-se como referên cia 0 peso e a extensão já adqui ridos pelo setor público, quer na exploração direta de atividades econômicas, quer na própria natu reza e forma das intervenções in diretas.

A viabilização a longo prazo do sistema de mercado depende da sua capacidade de combinar efi ciência produtiva com justiça so cial, assegurando ainda o contrôle preponderantemente nacional da produção de bens e serviços de uma maneira geral. Não se deve esperar que esse equilíbrio possa ser alcançado de forma espontâ nea. Pelo contrário, dada tureza e profundidade dos dese quilíbrios já existentes, é impres cindível a ação coerente dos ins-

A estabilização da taxa de infla’ ção a uiveis baixos, ainda que vositivos, é condição sine qua non para a ampliação dos investimen tos privados e sua utilização mais eficiente, afirma o autor: O pro fessor Carlos Geraldo Langoni é da Fundação Getulio Vargas, do Rio de Janeiro. O artigo foi ori ginalmente publicado no ^‘Jornal do Brasil".

trumentos de política econômica e social a fim de evitar que a dinâ mica das distorções preexistentes alimente o fatalismo da expansão desmesurada do núcleo estatal, cujo limite é a alteração definitiva e praticamente indolordas própras bases do sistema econômico. Aquilo que poderia ser denominado “para doxo da eficiência” serve para ilustrar o funcionamento desses mecanismos de ajustamento: a tendência para a modernização gerencial com a internalização de padrões estritamente empresariais, combinada com a posição de mo nopólio, em geral assegurada por lei, atribui a algumas empresas estatais uma extraordinária capa cidade de investimento que acaba por transbordar em busca de opor tunidades lucrativas fora do pró prio setor de origem. Com relação ao capital estrangeiro é o domín*o a na-

cialmente a Deus, como a seu Fim último ou Bem supremo, também a cultura organiza-se nas diversas dimensões de seu espírito, ordena das na procura de Deus.

Em tal sentido, o desenvolvi mento dos seres materiais, isto é. da utilidade pela técnica e da be leza pela arte, subordinada ao de senvolvimento do bem humano

pela moral e o deste subordinado ao desenvolvimento da contempla ção da verdade, organiza-se como um caminho ascensional em bus ca de uma Beleza, Verdade e Bon dade identificadas com Deus e para as quais está o homem essen cialmente ordenado pelo seu espi rito e para as quais são aque*as beleza, verdade e bondade, imedia tamente intentadas para os pri meiros passos da cultura, autêntico O desenvolvimento cumpre-se como hierárquicamente três setores da cultura

tempo até o Deus da eternidade, são precisamente os passos do de senvolvimento ou cultura. A cul tura não é senão o trajeto do ser corpóreo espiritual finito em busca de seu Fim ou Bem transcendente infinito.

Não há. pois, autêntico desen volvimento ou cultura, sem est? aperfeiçoamento hierarquicamente ordenado nas coisas e no homem, mediante a penetração do espirito deste neles, em busca da conse cução dos valores de beleza, ver dade e bondade e. em última ins tância. em busca de Deus. que as realiza em plenitude.

Os limites do desenvolvimento são os limites desta penetração hu manista ou. brevemente, do hu manismo.

E, desde que o homem é corpó reo, persiste, na existência, de um modo sucessivo, isto é. é tem-poral. E. desde que é espiritual, possui um duplo domínio sobre essa du ração temporal, a qual dá unidade sua sucessão, pela inteligê7icin que em seu ato a comprende ou abrange no seu presente, passado e futuro, e, pela sua liberdade, que decide pelo domínio de sua ativi dade e ser temporal.

uma realização ordenada dos ou huma nismo, pela conquista dos valores de beleza, verdade e bondade, em busca da Meta divina da Beleza, Verdade e Bondade infinitas. em para além do desenvolvimento e da pró pria cultura, isto é, na plenitude humana pela posse de Deus eternidade. na

Todos os aspectos do autêntico desenvolvimento intrgram-se e identificam-se na atividade espiri tual do homem essencialmente or denada a Deus.

O desenvolvimento e a cultura são a obra do homem na vida tem poral, mas em busca de seu Fim transcendente divino, para lá do tempo. Os passos do homem no e ao mesmo tempo espi-

E, já que é temporal e diluido na duração e, ao mesmo tempo, dono de seu ser e atividade tem poral por seu espírito, que o uni fica em sua inteligência e vonta de, é um ser histórico. Somente um ser corpóreo — e por isso tem poral ritual — e por isso dono de sua atividade e de seu ser rico.

é histô-

Assim, o desenvolvimento ou cultura do homem em sua vida no tempo é essencialmente histór co. filho de um espirito encarnado.

A cultura é o desenvolvimento temporal e histórico para a pene tração do espírito encarnado do homem, nas coisas e em seu pró prio ser. para a realização cres-

cente da beleza, verdade e bondade na história em busca da Beleza, Bondade e Verdade infinitas, em cuja possessão o homem cessará de aperfeiçoar-se e desenvolver-se com a atualização plena ‘de seu ser na Eternidade, para lá do tem po e da história e além, portanto, do desenvolvimento ou da própria cultura.

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ESTADOS UNIDOS: - PEROXI-COMPOSTOS EVITAM ATAQUES

CARDÍACOS — Peróxidos monocíclicos, uma série de compostos desen volvidos por pesquisadores do Duke University Medicai Center (Dui'ham, N.C.), podem auxiliar na prevenção e tratamento de tos ataques cardíacos. Até agora as drogas têm demonstrado em condi ções de laboratório, que interferem na coagulação sanguínea. Se no corpo humano elas funcionarem da mesma forma, poderiam ajudar a impedir a formação de plaquetas ao longo das paredes internas das térias, um processo há muito associado por médicos pesquisadores com acessos e moléstias cardiovasculares. Daniel B. Menzel, que comanda a equipe pequisadora Duke, diz que elas imitam a ação de um hormônio descoberto recentemente, denominado prostaciclina. Este também pos sui propriedades anti coaguléçntes, acessos e cerarporém se decompoe rapidamente. “Os peróxidos monociclicos são as primeiras drogas sintetizadas quimicamente. que possuem propriedades da prostaciclina”, diz Menzel.

o

BRASIL.

- LXJPORTAÇàO DE MINÉRIOS — A Companhia Vale do Rio Doce aumentou em 18 por cento o seu faturamento externo no ano passado, atingindo cerca de US$ 720 milhões contra 611 milhões ob tidos em 1975. O lucro líquido do ano passado foi de CrS 2.200 milhões, contra 1.600 milhões em 1975. O preço médio da tonelada de minério de ferro passou de USÇ 12,92 para 15,24. Apesar de alguns dos principais produtores mundiais de aço terem reduzido substancialmente suas com pras de matéria-prima em 1976, devido aos estoques acumulados no ano anterior, ano realmente dificil para a siderurgia mundial, a Vale do Rio Doce conseguiu aumentar em um por cento o volume físico de suas vendas, nos mercados externo e interno, que somaram 50.600 mil t, contra 50.100 mil t no ano anterior. Quanto à elevação do preço médio da tonelada de minéiio de feiro, os dados revelam que a política da co mercialização da Vale do Rio Doce vem atingindo bons resultados Em 1973 o preço médio era de US$ 8, passando para 9.74 em 1974 e depoic para US$ 12 chegando a 15,24 em 1976.

tar agindo de acordo com a Vontade-geral” (3).

a existência de mente “estatista' uma verdade da filosofia política

bem-intencionado”. Só

Citação perturbadora, é claro, que dará razão a qualquer autori tarismo que Rousseau não poderia imaginá-lo, nem ele, nem os revolucioná rios franceses, seus epígonos. Na realidade o que. quer dizer para eles a liberdade do cidadão? Ela consiste em ser detentor da sobe rania pública, em voltar a ser de alguma sorte cidadão da cidade da antiguidade... Assim, suposta a instituição em principio sob con trole de todos os cidadãos, por que preocupar-se com os instrumentos de controle do Executivo? A defe sa do indivíduo contra os abusos do poder passa a ser doravante questão secundária.

liberal, ao definir esta a liberdade como limitação do poder do Esta do e ao arrolar como loucura pre tender politizar integralmente o homem.

E não foi só o pensamento libe ral o único a antever o risco dessa concepção

rouseauniana (como

Benjamim Constant, no escrito de 1819: Diference entre la Liberte des Anciens et Ia Liberte des Modernes). O próprio Hegel, na Filosofia do Direito, critica o ideal de uma fusão entre Estado e socie dade, de uma imitação involuntá ria da cidade antiga. E, acrescenta Hegel, apesar de em verdade não haver liberdade fora do Estado, constituições modernas deveríam contudo deixar aos homens certa li berdade face ao Estado. Pretender transplantar, sem mais, a “liberda de política” dos gregos para o mun do moderno seria na realidade subjugar a sociedade civil ao despotis mo. .. O que importa em reconhe cer — reconhecimento extraordi nário num pensador tão radical-

Embora o liberalismo tenha sido e continue também a ser a ideolo¬ gia egoísta dos bem-aquinhoados (os que entram em delírio ao ver o mais tímido projeto de reforma agrária ou de previdência social), ele tem pelo menos dois méritos: 1) fazer-nos ver o Estado — e qual quer Estado — como força inevita^●elmente e.xtrínseca a nos e cuja nocividade é preciso coibir; 2) tor nar-nos bastante céticos para des confiar que qualquer transforma ção política empreendida em nome de uma cidade perfeitamente integradora só possa vir a dar em in centivo à estatização. O que afinal viu-se ser a sorte de todas as re voluções desde 1789, sem que se tenha pensado bastante sobre o assunto... Infortúnio apenas? Ou antes, realização desta admirável profecia feita por Schelling em 1810.

“Sabe-se dos esforços que foram feitos, sobretudo depois da Revo lução Francesa e da conceituação kantiana, para demonstração da viabilidade de um Estado que seja apenas condição de maior liberda de para todos. Ora, tal Estado é im possível, já que de duas, uma: ou se tira do poder de Estado a força de que necessita ou não — o que é capaz de gerar o despotismo... As sim é natural que ao cabo de um as

período onde tudo íoi a liberdade, as cabeças mais lógicas, ao buscar noção do Estado perfeito, nada descubram de mellior que a formu lação técnica do pior despotis mo

Veja-se, por exemplo, o Marx dos primeiros escritos. Abolida a socie dade de classes, garante-nos ele, aparecerá um sistema institucional inédito a que não caberá mais o nome de Estado, já que suprimirá i.tté a distinção entre governantes e governados, sendo assim a organi zação política não mais que “auto determinação do povo”. Muito bem. Mas, é de se indagar, com Haberse não vai nisso mais que simples retoque do projeto rous- Marx, afinal, não mas, seauniano e se estava encarregando o proletaria do de trabalho que os burgueses rousseanianos de 1789 não soubelevar a cabo, isto é — de no, a criação de “uma organizaenglobando simultaneamente

ram vo çao

Estado e sociedade” (5), de uma societas” e comunidade em que “domínium” fossem, por um passe de mágica, consubstanciais... O que equivale em termos de século XX, um sistema em que a oposição selogo vista como sinônimo de a greve, de sabotagem, a na do traição, etc. . . O interessante, porém, é que pesadelo seja sempre simples esse cumprimento literal do belo sonho inicial. Assim é. O Gulag é filho le gítimo da límpida “Cidade ética”, exatamente como o autoritarismo hcdierno é filho legítimo do mito

to mais policial um regime, quanto mais tencionar exprimir a nação Ioda, ou 0 povo todo. Eis ai uma das piores ilusões po líticas da modernidade (a que Hegel, façamos-lhe justiça, não se deixou levar): achar que, para aca bar com 0 poder ou pelo menos pa ra tornar humanamente suportável essa coisa maléfica que os romanos inventaram com o nome de dominium, bastaria a interpenetração da soeieías e do doxninium — fa zer o “homem indivíduo real capaz de assumir em si o cidadão abstra to”, como dizia Marx... Por que não deixar o cidadão com sua abs tração? Por que não deixar o in divíduo defrontar-se com o Estado? Ko fundo, todas as tiranias deste século se reduzem a corolários des sa quimera. E, na origem desta, si tua-se principalmente um diagnós tico histórico equivocado: os críti cos da Revolução Francesa, de di reita como de esquerda, presumi ram dever atribuir a índole opres siva e abstrata da instância de do minação forjada em 89 à realidade de um Estado burguês impotente para unificar a sociedade civil — salvo verbalmente. A verdade está bem do outro lado: o autoritarismo 'Estado moderno” então em trabalho de parto nascia da preten são a assumir em si o máximo da sociedade civil, ou seja, a contro lá-la de fato e a discipliná-la rigo rosamente — pretensão diametral mente oposta à ideologia norteamericana. E se tratava na época a (4).

Nação soberana” de 89 — e de pretensão bastante vã; concedaassim como, de maneira geral, po- mo-lo aos marxistas, que aprendede-se tomar como axioma ser tan- ram a fazer melhor. Mas já era deda

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