Câmara de Deputados e de um Conselho Federal, em substituição ao antigo Senado, mas Getúiio \/argas Jamais convocou a programada eleição indireta, concentrando em suas mãos todos os poderes da República".
Positivismo no Brasil
EdiíorãcíS
O positivismo na cultura brasileira
Miguel Reale
O direito e a dignidade do ser humano no pensamento de Monsenhor Escrivá
Dves Gandra da Sãiva Martins
Sobre substituição de importações
Maíison da Nóbrega
Democracia e governabilidade
Marco Maciel
informação e comunicação
Benedicto Ferri de Barros
Novos rumos da regulação do gás
Amoldo Walld e Maria do C. Figueiredo
O revanchismo
Paulo Napoieão Nogueira da Silva
José Régio e o romance psicológico da presença
Leodegário A. de Azevedo Filho
Psicoterapias da moda podem até matar
Carol Travis
Começa mal o século
Rubens Ricupero
Direitos civis e liberdade econômica
Milton Vargas
São Paulo 2002: um exemplo para nossos dias
Antônio Erffnirio de Moraes
Uma organização do trabalho que nos leve ao bem comum
Jan Wiegerinck
Concórdia de letrados
Luiz Carlos Lisboa
Países ricos, mas conservadores
Robert J- Samuelison
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Positivismo no Brasil
ugusto Comte nunca poderia pensar que sua filosofia mudaria o destino de um país distante de seu centro de especulação c reflexão filosófica: o Brasil.
Não fosse o positivismo, adotado por Benjamin Constant (não con fundir com o verdadeiro. o suiço- francês) e não seria, provavelmente, proclamada a República em 15 de novembro de 1889
Mas, o positivismo que hoje não é cultuado por ninguém, permanecendo de Augusto C.omte, apenas a estátua no pátio da Sorbonne, Bd. St. Michel, o positivismo íLz um mal terrível a um país que era bem governado, bem organizado c estava em paz, quando os republicanos e os posi tivistas resolveram dar fim a instituições da maior respeitabilidade e eficiência.
O professor Miguel Rcale destaca o de um sábio brasileiro, que era positivista, o cientista Paulo Car-
, ao menos quan- do os republicanos, influenciados pelos positivistas, enxotaram para o Exterior o maior estadista do século XIX, Dom Pedro II, o único democrata, incluindo terrível a um -se no rol os americanos, que cultuou, verdadeiramente, a democracia. Teve inúmeros cultores o positivismo no Brasil, desde a trasladação dessa filosofia para o Brasil. Aqui pontificaram Miguel Lemos, Benjamin Constant, Pereira Barreto, numerosos professores da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, e até ergueram um templo, o Templo da Humanidade, cremos que, fora Paris, o único no mundo é o brasileiro. Pois foi em 15 de novembro de 1 889, que Bej Constant pôs positivismo nada entendiam, e deu a impressão de que o ato de Dcodoro. o crianção, nodizerde Afonso Ari de Melo Franco, depôs o presidente do Conselho de Ministros, o visconde de Ouro Preto, e no mesmo aro proclamou a República, quando o velho e doente areclial nada fez, nesse sentido, .senão depor o austero chefe do governo.
O positivismo fez um mal
neiro. Quando fale- pais que era bem governado ceu. Paulo Carneiro estava organizando toda correspondên- 0 03taVa 601 cia de Augusto Comte própria casa do fi- paz lósofo, mas não teve tempo de terminar. Outros, provavelmen te, o farão, embora, como dissemos acima, o positivismo está fora de estudos, senão de uma mino ria e|ue é fiel ao mestre.
cie Ives Gandra da .Silva m
C)utros artigos, inclusive o Martins, sobre a canonização de Monsenhor Lscri\'á, fundador da üpus Dei, enriquecem este número. 9 na a mm na rua um batalhão de jovens, que de nos
As concepções comtianas sobre religião e Dolítica, só tiveram sucesso na América Latina
o positivismo na cultura brasileira
Da Academia Brasileira de Letras
Asimpatia com que apresentei o positivismo inte gral de Paulo Carneiro (3/11) levou alguns eu formaria entre os historiado leitores à conclusão de que que enaltecem o papel de Augusto Comte na Brasil, questão que tem dado lugar a opiniões antagô nicas. A meu ver, no entanto, é preciso dístinguii entre a contribuição do pensador francês à filosofia da ciên cia, que foi benéfica, e a sua desastrada influência nos planos religioso e político.
do Poder Executivo em detrimento do Poder Legislativo, medrou no Brasil com tanta torça que se tornou, por assim dizer, uma constante de nossa atormentada vida política, como passo a demonstrar.
Em São Paulo o maior representante da filosofia de Augusto Comte foi o médico Luiz Pereira Barreto, que, entendendo serem as leis exclusivas do mundo físico, considerava a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco o templo remanescente dos “leguleios’’ perdi dos em talsas abstrações metafísicas, à espera da reden ção que só poderia resultar do triunfo da sociologia positiva.
Uma coisa, em v... como fundamentação autônoma do conhecimento científico, com base na ●erdade, e a doutrina positivista metodologia das ciências naturais que da metade do predominou na segun século 19, prolongando-sc até a guerra desenvolvimentos “m São Paulo o _ maior
Pereira Barreto de 1914, dados por pensadores comoStuartMill e Hcrbert Spencer; e outra coisa são as matéria de com os concepções comtianas em religião e de política, as quais somente América Latina, c tiveram sucesso na no Brasil em particular.
Num país como o nosso, que nao passara pela dúvida metódica de Déscartes, pelo ceticismo de Voltaire e criticismo de muito menos pelo Emanuel Kant, a teoria positiva teve o mérito de substituir o ralo ecletismo inspirado pela filosofia de Victor Coiisin, que se opunha à tradição escolástica sem revisar as idéias dominantes em nosso cenário espiritual.
representante da filosofia de Augusto Comte foi o médico Luiz
O certo é que o corpo docente da histórica Faculdade de Direito não aco lheu a teoria política pregada por Augusto Comte, a qual redundava num autoritarismo que punha em risco os valores da democracia. Efetivamente, o autor do de Politiqiie Positive^ partindo da tese de que somente a soci ologia, por ele fundada, estaria em con dições de determinar as leis inflexíveis que regeriam a sociedade, concluira pre gando um governo liderado por filóso fos positivistas, sem participação do elei torado, a seu ver destituído da capacida de de escolha dos verdadeiros dirigentes sociais. Só se pode. pois, louvar a citada Faculdade de Direito por ter recusado apoio à sociocracia comtiana.
Nesse sentido, pode-se dizer que o positivismo prescntoLi a forma de “criticismo que começou a situai a inteligência brasileira no âmbito da_ modernidade, tornando-nos partícipes das idéias univeisais que ti nham então a Europa como principal foco iriadiadoi.
Infelizmente,aoutraeinfeliz contribuição comtiana acterizada pelo fortalecimento reno campo político, car
Não filtaram, porém, adeptos da doutrina política positivista no meio do corpo discente, como foi o caso de )úlio de Castilhos. que foi quem introduziu essa ideologia no Rio Grande do Sul, nele se instalando por vário anos. Seguntio aquele líder gaúcho, o governo deveria ser confiado a dirigentes selecionados, não pelo voto, mas por seu saber e experiência, com predomínio do Poder Executivo até o ponto de ter somente ele com petência para dar início ao processo legislativo, restan-
Âugusto Comte, cujo nome completo era Isidore-Auguste-Marie-François-Xavier Comte, nasceu em 19 de janeiro de 1798, em Montpeliier, e faleceu em 5 de setembro de 1857, em Paris. Filósofo e autoproclamado líder religioso, deu à ciência da Sociolo^a seu nome e estabeleceu a nova disciplina em uma forma sistemática
do ao Parlamento apenas o poder de fiscalização das propostas e atos governamentais.
o princípio da com
A Constituição do Rio Grande do Sul consagrou essa esdrúxula diretriz que conflita divisão harmônica dos três poderes estatais, não obstante deverem os Estados obedecer aos princípios consagra dos pela Constituição de 1891.
Foi, pois, graças a uma especiosa interpretação que o “castilhismo” se implantou nos pampas, sendo admiti da a reeleição do presidente do Estado, a permanência de Borges de Medei décadas no poder.
Não é estranhável, por conseguinte, que Getúlio Vargas, antigo secretário de Borges de Medeiros, viesse a instaurar, em 1937, o Estado Novo, fechando o Congresso Nacional, não por influência do facis consoante se costuma dizer, mas sim cm razão da posição de inferioridade do Legislativo político comtiano, como bem lembrou João de Scantimburgo em recente pronunciamento na Academia Paulista de Letras.
No te-se que a Constituição de 1937 previa a eleição de uma Câmara de Deputados e de um Conselho Federal, em substituição ao antigo Senado, mas Getúlio Vargas jamais convocou a programada eleição indireta trando em suas mãos rodos os poderes da República.
de 1977, decretou o recesso parlamentar, com base no Ato Institucional n.'> 5, a fim de impor a reforma do Poder Judiciário tal como cra j:)or ele desejada.
Note-se que não foi apenas no Brasil ejue vingou a no meu
idéia política comtiana, pois loi nela que entc“ndcr, sc baseou a fundação, no México, do Partido Revolucionário Institucional (PRl), uma contradição de influencia marxista. Seu em termos, com laivos incontrastado poder durou até a penúltima eleição presidencial, com reiteradas proclamações, por parre de ilustres juristas, dc tratar-se dc agremiação dc caráter legitimamente democrático....
Também no Brasil o “casrilhismo , que vem sendo estudado com Vclez Rodriguez, foi julgado compatível cracia, continuando a representar um papel signifleatiflguração de nosso presidencialismo. E até nos Estados 0 que permitiu tos por quatro acuidade por Antônio Paim e Ricardo com a demomo, vo na con mesmo possível afirmar que, enquanto Unidos da América o regime presidencial não exclui a imensa projeção do Poder Legislativo, entre nós preva lece o primado do Executivo, sobretudo quando, graças a sucessivas e reiteradas medidas provisórias, se implan tou o “presidencialismo imperial”, caracterizado pela incessante atividade legislativa, último resquício da tradição comtiana. ® no sistema ,concen-
Não se pense, todavia, que a perniciosa influência positivista, na versão de Augusto Comte, tenha desapa recido de nossa experiência política, encontrando pre adeptos no meio militar. Prova dessa triste herança tivemos quando o presidente Ernesto Geisel, em abril
Miguel Reale jurista, filósofo, vienibro da Academia Brasileira de Leti-as, foi reitor da USB sem-
(Trnnscrito, data venia, de “O Estado de S. Paulo")
Sua canonizacâo se dará no próximo dia 6 de outubro
o direito e a dignidade o ser humano no pensamento de lonsenhor Escrivá
Professor universitário
Omo )iova
cante que pareça aos resgatando assim do esquecimento a cristãos. vida c o ideal dos primeiros
9 dc janeiro
hem-avenrurado josemaría Escrivá, cuj centenário se comemorou em deste ano, c cuja canonização se daiá no pióxidia 6 de outubro, veio recordar aos nossos tempos uma ver dade velhn cüího o Evangelho e, como o Evangel)o, a da grandeza divina do cotidiano'desse cotidiano
estas crises mundiais “são crises de santos”. Se cada homem, cm seus afazeres diários, cumprisse o plano divino para ele e buscasse a santidade na vida ordinária, nos seus deveres cotidianos, no exercício consciencioso da sua profissão, fatalmentc não haveria crises, pois onde há santos, as crises se esboroam.
sem nada de extraordinário cm que Cristo quis passar a maior parce da sua vida -, mensagem válida para qualquei existência humana, por mais ínsignifiolhos dos homens, eus nao nos deu o dom da vída para nada, mas para procurarmos sermos perfeitos como Ele é perfeito
A característica íiindamental de sua percepção da vontade divina foi a de que há uma ordem no mundo querida por Deus e que, no livre arbítrio por Ele outorgado a todos os homens, po dem eles escolher o caminho que lhes pareça melhor, desde que compreen dam que Deus não nos deu o dom da vida para nada. mas para procurai e encontrar c sesuir o plano que Ele ,se dia 2 de propôs ao chamar-nos à existência: ser mos pcrleitüs como Ele é perfeito.
Nessa ordem, aqueles qtie, no exei ci cio da sua liberdade, opram, com a g^rça
Deus no lugar em que se encontram, mundo, fazendo-o divina, por seguir seriamentc a sem saírem dele, podem construii o melhor. Por isso, ao Etlar da crise dos homens sem fé, sem idéias e, muitas \^ezcs, sem honra que diiigcm os destinos do mundo, concltiiu, em íorma gráfica e lapidar, que
Todos os homens são fllhos de Deus, e compreender esta verdade fundamen tal é o que orienta os passos das pessoas para o bem. O mal decorre, fundamen talmente, da falta dessa perspecti^'a. Ora, incentivar cada ser humano a encontrar a chamada divina no meio das suas ocupações diárias, para cxcrcélas com a consciência de ser fllho muito amado de Deus, é a essência do pensa mento de Josemaría Escrivá e a razão de ser do Opus Dei. Ainda jovem - tinha apenas dezesseis anos - vislumbrou que Deus lhe pedia algo, mas só entendeu claramence esse pedido no outubro de 1928. Seus primeiros tem pos de seminarista foram de busca in cessante da missão que Deus lhe confi aria e, antecipando-se por especial pro videncia divina ao carisma que rcceberia - e que consistiria cm partir da ordem natural dos alazeres humanos para transformá-los em trampolim para a ordem divina -, decidiu complementar seus estudos de Eilosofla e Teologia com o de Direito.
Por que o Direito? O Direito é o instrumento dc ordenação da sociedade - cm outros países, usa-se a
expressão “ordem jurídica” em vez de “regime jurídico sistema jurídico” e não é uma fantasia pensar que meandros da Ciência missão
fruto clíi iniciativa c responsabilidade de leigos, conscientes dos imperativos cristã como vocação de ser\'iço, e tudo ordem e harmonia, tendo cm vista a elevação das realidades humanas diárias à ordem sobrenatural.
a maioria como da sua vocação cm perfeita ou Deus o levou a penetrar nos Jurídica como outro meio de prepará-lo para a que lhe confiaria e que ainda desconhecia.
Com efeito, os conhecimentos jurídicos vieram a ser fundamentais para que mons. Escrivá configurasse, no plano civil e canônico, a Obra que fundara, uma obra sem precedentes anteriores esem espaço no regime legal da Igreja então vigente que permitisse a sua aprovação. “Os senhores chegaram com cem anos de antecedên cia”, haviam de dizer a um dos seus filhos em Roma.
E revelou-se um profundo conhecedor da referida Ciência, fazendo uso des-
Poder-se-ia resumir este primeiro aspecto da vida do fundador do Opus Dei como demonstração inequívoca dc uma mente jurídica privilegiada e vocação efetiva com
Direito. A sua formação permitiu-lhe, dc Deus, formalizar o para o competência técnica c graça caminho jurídico, o “iter juris”, do Opus Dei, confor mando-o na exata dimensão para que ofertasse. Igreja, a imensa perspectiva da grandeza divina do humano, ou seja, o cami nho da santidade na vida na ses conhecimentos para q ir perfilando o itinerário o jurídico que terminou g. pela aprovação do Opus < Dei como Prelazia pesso al em 1982.
Apraz-me recordar aqui, de passagem, que o beato Josemaría Escrivá defendeu a sua tese de doutoramento em direi to civil, na Universidade Central deMadrid, esco lhendo por tema uma das figuras mais curiosas da Igreja, a Abadessa dc Ias Huclgas, que tinhajurisdição eclesiástica e civil sobre um vasto territó rio. A perfeição jurídica da tese, a descrição históricaaltamence documen tada c o esforço por de tectar essa integração dos dois direitos, o canônico e o civil, em verdade torna esta obra doutorai notável fonte de ensinamento ju rídico c cristão, embora sobre
cotidiana.
Por este prisma, é dc compreender que, desde o primeiro momento, tenha batalhado intransigentemente pela pcrl ta adequação do direito particular do Opus Dei dom que recebera de Deus; não estava em suas mãos consentir em h)rreiao mula canônica alguma que distorcesse esse carisma ou sc prestasse a equívocos. Lutou, pois. fim da \’ida por are o obter, dentro das leis ordinárias da Igreja, uma solução jurídica que sc ajustasse plcnamenre à inspiração divina recebi da, sem a mutilar ou desfigurar. Essa solução, que deixou absoluramente ●filada antes de ser cha- per mado por Deus, ctistoullie, no real sentido da . E Deus premiou
expressão, “sangue, suor c lagrimas esforço por salvaguardar c garantir o carisma o seu lalecimento, em
Obra quando, sete anos apos
um caso muito particular. O bem-aventurado Josemaría Escrivá encarava o Direito como a pauta da ordem social projetada para a ordem individual, mas, principalmente, como refiexo da ordem sobrenatural. O Direito ofertou-lhe a base da o seu
1982, o papa João Paulo II, pela Constituição Apostó lica “Ut sit”, erigiu o Opus Dei como Prclaz.ia pessoal, figura jurídica nova prevista pelo Concilio Vaticano toda a Igreja, sancionada por Paulo VI no Decreto “Ecclcsiae Sanctae” e acolhida mais tarde pelo novo Código de Direito Canônico de 1983. Por fim, Deus, afinal o Supremo Legislador, dcrermina^'a inovadoramente os contornos jieculiares de uma realidade vital, comprovada pela sua grande expansão pelos qua tro cantos do mundo. A missão do Direito é plasmar a vida, não abafá-la - como sempre insistia mons. E.scri\'á que lhe iiermitiu ordenar a estruturação de todos aspectos do Opus L)ci, que se compõe - numa estrutura aparemememe complexa, mas na realidade simples como são as obras dc Deus - de homens c mulheres, solteiros ou casados, de qualquer profissão ou posição social, c de um pequeno número dc sacerdotes em comparação com o número de leigos, dudo, numa variedade imensa de atividades apostólicas - assistcnciais, de promoção social, de ensino nos diversos níveis eicos uma II para
Monsenhor Escrivá será santificado i>or João IPaulo DD
-, a fim de fortalecê-la c assegurar, neste caso, a pereni dade do Opus Dei em Seu serviço e em serviço da Igreja e da humanidade.
Passemos agora a um segundo ponto. DoÍs jusnaturalistas que sc pautaram pelas lições de Escrivá {Izquierdo e Elervada) resumiram o seu ensinamento ao definirem o Direito em três vocábulos: neste campo Direito é a “Ordem Social Justa”. Para mons. Escrivá'ida vinha sempre antes, cabendo ao reperimo-lo -, a ^ Direito apenas dar forma às suas garantias.
Este fino senso de justiça permitiram-lhe distinguir com clareza as marcantes distorções do positivismo jurídico e do farisaísmo legalista. Sendo o Direito a expressão da Justiça, mons. norma jurídica, tanto na eclesiástica, a forma de amparo e acolhimento dos direitos naturais dos homens, individual e socialmcnte.
Escrivá viu sempre na sociedade civil quanto na
Inrimamcnte relacionado com este seu amor pela justiça, encontra-se o seu amor à liberdade e a consequente rejei ção dc qualquer tipo de tirania ou mentalidade de partido único. De ri- direitos fun- gor, nada agride tanto os damentais dos homens, filhos de Deus, como a asfixiante mentalidade de par tido único” ou de “tirania das idéias ou,
o que é pior, das ideologias .
E aqui chego a um aspecto da figura dc Josemaría Escrivá, ou seja, a visão lúcida que tinha da dignidade do ser humano, fruto da sua profunda relevante fé cristã. O homem é imagem e seme lhança do Senhor, tendo sido elevado à condição de filho dc Deus, em gesto de magnífico amor divino.
Em “H Cristo que passa” declara:
“Esta é n grande ousadia da fé cristã: proclamar o valor e a dignidade da natureza humana e afirmar que, mediante a graça, que nos eleva ã ordem sobrenatural, fomos criados para alcançar a dignidade de filhos de Deus. (E nsto que passa, n-13.Ó). ●
Em que se fundamenta e.ssa dignidade? Precisamen- tc nesse dom gratuito da nossa filiação divina, íiliaçao que não há riqueza terrestre que a possa superai.
O beato Escrivá tem, portanto, uma i éia ce\a díssima do homem. Explica:
“A fé cristã leva-nos a ver o Senhor, a apreciar, portanto, tudo o que é no ?ie e e o, ; dignidade decadapessoa, feita aimagem : a admirar o dom especialíssimo da liberdade, que nos faz donos dos nossos próprios atos e nospei mit^e nosso destino eterno ’
graça do céu - construir o - com a (EC99).
Esta dignidade deve ser respeitada por todos os seres humanos, como decorrência da graça poi eles leccbida.
todos os cristãos e a todos os seres
Mons. Escrivá sempre teve a preocupação de ensinar aos seus filhos humanos, que vejam no próximo a essência da sua dignidade, para respeitá-la como Deus a respeita. O “outro” deve ser respeitado por ter a dignidade própria da raça dos filhos de Deus.
Escreve em outro trecho: “As ãhnns não podem ser tratadas em massa! Não é lícito ofender a dignidade humana e a dignidade dosiflhos de Deus deixando de atenderpessoalmente a cada um com a humildade de quem se sabe instrumento e veiculo do amor de Cristo:porque cada alma é um tesouro maravilhoso; cada homem é único, insubstituível. Cada um vale todo o sangue de Cristo ”. (EC 80).
Em outras palavras, não é possível massificar, coletivizar, despersonalizar o próprio homem. Como dizia Hen'^ada (estudo em “A personalidade de Monsenhor Josemaría Escrivá ”) não coletivizar é uma decisão de justiça. E uma forma de se fazer justiça com cada ser humano, res peitando a sua individualidade, a sua personalidade, a sua liberdade. Não há conversão em massa, não há conversão verdadeira sem que esteja alicerçada na conversão individual, com respeito à dignidade própria de cada pessoa, que recebeu individualmente a redenção do sangue derramado no Calvário.
s primeiros tempos de seminarista de Josemaría Escrivá foram de busca incessante da missão que Deus lhe confiara
Reconhecer a dignidade do ser hu mano leva-nos à plena consciência da igualdade radical de todos os homens, outro aspecto marcante das convicções de Josemaría Escrivá.
E o vocábulo “radical” é utilizado aqui na densidade da sua origem, o que vale dizer é a “raiz” da igualdade. To dos os homens são iguais porque são “filhos de Deus” e Deus não faz distin-
ção entre os seus filhos.
Diz mons. Escrivá:
“Só há uma raça na tara: a raçadosfilhosdeDeiis”(EC 13).
E repetia, em muitas ocasiões:
“Diante de Deus, como homens, como criaturas, todos somos igiais . ò, Não há diferenças entre as raças e os sexos. Pala sobre a dignidade da mulher:
“Num plano essencial - que deve ser objeto de reconhe cimento jurídico, tanto no direito civil como no eclesi ástico -, aí, sim, pode-se falar de igualdade de direitos, porque a mulher tem, exatamente como o homem, a dignidade de pessoa e de iflha de Deus ” (Questões atuais do Cristianismo, n- 87).
E sobre as discriminações raciais, respondendo a uma pergunta sobre a situação nos EUA;
“Ante 0 problema racial dos Estados Unidos, cada membro da Obra terá presente os ensinamentos claros mundo como criação do a reconhecer a de Deus, e
da doutrina cristã sobre a igualdade de todos os homens e a injustiça de qualquer discriminação .[..J. Defenderá, portanto, os legítimos direitos de todos os cidadãos e opor-se-á a qualquer situação ou projeto discriminatório. Terá em conta, além disso, que um cidadão não deve contentar-se com respeitar os direitos dos outros homens, maspj-ecisa ver - em todos - irmãos a quem deve um amor sincero e um serviço desinteres(Questões atuais do Cristianismo, n° 29).
Concluindo a sua visão de sólida justiça e imensa misericórdia de acordo com as características próprias de cada pessoa:
“Deus, pela Suajustiçaepela Sua misericórdia - infinitas eperfeitas -, trata com o mesmo amor, e de modo desigual, osfilhos desiguais. Por isso, igualdade não significa medir a todos com a mesma bitola” {S\x\co, n° 601).
Vincula, pois, a dignidade do ser humano a questão de justiça e a justiça a uma questão de igualdade - todos, todos, todos os seres humanos tendo direito, por justiça, a receber o tratamento dig no de filhos de Deus, sem diferenças, distinções, privilégios, visto que todos os homens sem exceção foram redi midos por Cristo e merecem dos outros tratamento condizente com esse “status” próprio de filhos do Rei Supremo.
A evidência, esta monolítica vinculação entre a dignidade, igualdade e justiça leva-me a uma outra considera ção de não menor relevância, qual seja a do respeito aos direitos fundamentais do ser humano.
Auma
pluralismo - devem identificar-se no mesmo einpenho em servira humanidade. De outro modo, o seu cristianismo não será a Palavra e a Vida deJesus: será um disfarce, um logro perante Deus e perante os homens ” (EC 167).
O direito à vida, à liberdade, à existência digna, ao salário justo, à própria imagem e muitos outros foram reiteradamente defendidos por Josemaría Escrivá, que especificava e defendia tal dimensão do cristão e do homem, colocando-se pcrmancntcmcnte como defen sor desse conjunto de direitos essenciais.
Lê-se, entre os seus escritos:
“Temos obrigação de defender a liberdade pessoal de todos, sabendo que foi Jesus Cristo quem nos adquiriu liberdade (Gal IV, 31) [...] Devemos difiindir
essa
cia esc7-aviza.
missão do _ Direito é plasmar a vida, não abafá-lacomo sempre insistia mons.
Escrivá
Tem-se, entre os jusfilósofos, que o momento maior do Direito Contem porâneo foi a promulgação da Declara ção Universal dos Direitos Humanos, em que, pela primeira vez, de forma global, as Nações Unidas reconheceram que há direitos que estão acima das regulações humanas e que ao Estado cabe apenas reconhecê-las. São os direitos fun damentais de todos os seres humanos. Dez de dezembro de 1948 marca para todos os países o reconhecimento da prevalência dos direitos fundamentais do homem sobre o direito dos legisladores, que devem, ao reconhecêlos, apenas regular as suas garantias.
O fundador do Opus Dei sempre teve muito claras as conseqüências que resultam dessa dignidade e igual dade nos direitos essenciais do ser humano.
Diz;
“Um homem e uma sociedade que não reajam perante tribtdações ou as injustiças, e não se esforcem por aliviá- las, não são nem homem nem sociedade à medida do amor do Coração de Cristo. Os cristãos - conservando sempre a mais ampla liberdade a hora de estudar e de aplicar as diversas soluções, e, portanto, co7n lun lógico
ta7nbÓ777 a verdade, porque veritas Uberabit vos (Jo VIU, 32), a ve7'dade 7ios libei-ta, ao passo que a ig7W7‘à7iCii777pre-7íos defe7ider o dEeito, que todos os ho77jens tê77i, de vive7\ de possuir o 7iecessário pã7a dese7ivolver U77ta exis tência dig7ia, de trabalhar e desca7tsa7\ de escolher o seu estado, de fo7‘77mr um lar, de t7-azerfilhos ao 77iu7ido de7tt7'o do 772atrÍ77iÔ7iio e de poder educá-los, de passar scrc7ia77ic7ite o te77ipo da doe7iça ou da velhice, de ter acesso à cidtura, de associar-se co77i os de77jais cidadãospa7-a atingirfÍ7is lícitos, e, C77iprÍ77ieiro lugar, de co7ihecer e a77iar a Deus co77í plena libe7-dade, po7-que a consciência - se for 7-eta - descobriiápegadas do Criador e77i todas as coisas ” (AD 171).
No que diz respeito, concretamente à liberdade religiosa, ouvi-o dizer aqui São Paulo, perante um público vasto, que daria a vida para defender o direito de certa esposa, à época evangé lica, de ter um credo diferente do do seu marido, sem menoscabo de ele, sacerdote de Jesus Cristo, estar convencido de que a plena verdade estava na fé católica, apostólica e romana. Por todas estas razões, sentia-se também seguro, tranqüilo e incisivo ao dizer:
“O Opus Dei não te7n ne7ihu77ia orientação econÔ7nica política, 7ie77i na Espa7iha 7ic7n e77i mnihiun outi-o luga7'. É certo que, hnpelidos pela doutrina de Cristo, seus me77ib7'OS defende7n se7npi'e a liberdade pessoal e o direito que todos os ho7nens tê7u de viver e trabalhar, de ser a7nparados na doença e na velhice, de constituir tnn lar e trazer filhos ao 77nindo, de educar esses filhos de aco7'do com o talento de cada um, e de leceber wn em ou t]-atamento digno de homens e de cidadãos. Mas a Obra não lhes propõe nenhum caminho específico, nem eco nômico, nem político, nem cultural. Cada um dos seus membros tem plena libei-dadepara pensar e agir nessas matérias como melhor lhepai-ecer. Em todos os assuntos temp07‘ais, os sócios da Obra são libérrimos: no Opus as
Dei cabem pessoas de todas as tendências políticas, culturais, sociais e econômicas que a co7ísciência cristã possa admitir” (Q/IC 48).
Como se percebe claramente, o respeito externado aos direitos humanos foi um atributo constante e visível da sua personalidade.
Volto agora a falar da justiça, a que Cícero, no primeiro ataque advocaucio moderno aos positivistas - captado pela doutrina romana - se referiu como podendo opor-se à norma escrita de conteúdo ético {sum77mm ius, sum7na injmíd), pois de formalismo pode levar a grandes inj ustiças e, na doutrina católica que mons. Escrivá sublinhou constante mente, deve ser necessariamente complementado pela caridade, que, de rigor, é o “ágape cristão”.
Um pensamento do seu livro Sulco mostra bem o tempero que oferta ao dizer:
“Ao 7‘esolveres os asstmtos, pivcwa nunca exagerar a justiça ao ponto de esqueceres a caildade”(Sulco n^ 973).
porque cada alma é uma obra-prima de Deus. A melhor caridade consiste em exceder-se generosamente na justiça. É uma caridade que costuma passar desaper cebida, mas que é fecunda no Céu e na terra ” (AD 83).
À evidência, na reflexão e compreensão desta mara vilhosa dimensão da grandeza divina do humano, a “monumentalidade” da vida corrente, a partir da certe za da filiação suprema, tem que se manifestar em obras, como mons. Escrivá diz com incisividade:
amor. como m
É de justiça reconhecer ao próximo a dignidade a que tem direito, mas a justiça pede necessariamenteanifestação e transbordar do amor de Deus por todos os homens, todos eles filhos Seus por igual. Justiça, dignidade e caridade cristã formam unidade indissolúvel, que o fun dador do Opus Dei realça ao dizer:
“ Vivendo a caridade - o Amor - vive7ntodas as vh^tudes himmnas e sob7-enauni~
ons.
“Se o cristão não ama com obras, fracassa como cristão, que é fi-acassar também como pessoa. Não podemos pensar nos outivs homens como se fossem números ou degraus para podermos subir; ou massa para ser exalta da ou humilhada, adulada ou desprezada, conforme os casos. Devemos pensar nos outros - em primeiro lugar nos que estão ao nosso lado - como verdadeiros filhos de Deus que são, com toda a dignidade desse título mara vilhoso. Com os filhos de Deus temos que nos comportar comofilhos de Deus: 0 nosso amor deve ser sacrificado, diá rio, feito de mil detalhes de compreen são, de sacrifício silencioso, de dedica ção que não se percebe” (EC 36).
Escrivá
sempre se preocupou em ensinar aos seus filhos, a todos os cristãos e a todos os seres humanos uma
enwne)
se tw-aisdo c7Ístão, queformam uma dade e que 7ião se podem reduzir a ações exaustivas. A ca7Ídadeexi~ ge que se viva ajustiça, a solidariedade, a ‘responsabilidadefamiliai; aalegia, a castidade, a a7nizade... ”(Qiiestões atu ais do Cristianismo, n^ 62).
Idêntica reflexão em forma diversa se lê neste outro ponto de Forja: “Se sefazjustiça a seco, épossívelque as pessoas sesi7ttam feridas.
-Po7'tanto, deves agir semp7‘e por amor a Deus, queaessa justiça ac7'escenta7-á o bálsa7no do amor ao p7 oximo, e que purifica e limpa o a7nor terreno. Quando ^ ^ pe7'meio, tudo se sobrenaturaliza (Forja n 3 )‘ É importante ter consciência de como - para mons. Escrivá - a justiça e a dignidade humana, a partir caridade, conformam a verdadeira dimensão do cristão.
Lembra que:
“Nunca me cansarei de 7ne referir àjustiça, mas aqui so podemos apontar alguns dos seus aspectos, sempei er e vista qual é aifnalidade de todas estas reflexões: ec^iflcar uma vida interior real e autêntica sobre os alicerces profundos das virtudes humanas. Justiça é dar a cada um 0 que éseii. Mas eu acrescentaria que isso não basta. Por muito que cada um mei'eça, ép)'eciso dai -lhe mais.
As obras, porém, não podem ser ape nas iniciativas de mero assistencialismo, mas de promoção do ser humano. Diz o bem-aventurado Josemaría Escrivá:
“A caridade cristã não se limita a socorrer 0 necessitado de bens econômicos; dirigese, antes de tudo, a respeitar e compreen der cada indivíduo enquanto tal, com a sua dignidade intrínseca de homem e de filho de Deus” (EC36E).
E, mais adiante, num trecho longo que faço questão de reproduzir, escla rece:
“Convencei-vos de que só com ajustiça não resolvereis nunca os grandesproble mas da hmnanidade. Qtiando se faz justiça a seco, não vos admireis de que a gente se sinta magoada: pede muito mais a dignidade do homem, que éfilho de Deus. A caridade tem que ir dentro e ao lado, porque tudo dtdcifica, tudo deifica: Deus é amor (IJo I,V 16). [...] Para chegarmos da justiça estrita à abundância de caridade, temos todo um trajeto a percorrer. E não são 7nuitos os que perseveram até o fim. Alguns se confor7nã7n com aproximar-se dos umb7‘ais: p7-escindem da justiça e limitam-se a um pouco de beneficência, que qualificam como caridade, sem perceber que isso é apenas uma parte pequena do que estão obrigados a fazer. E mostram-se muito satisfeitos de si mes7720s, como 0 fariseu que pensava ter preenchido a medida da lei poi-que jejuava dois dias por semana e pagava o dizimo de tudo 0 que possuía (Cfr. Lc XVIII, 12).
A caridade - que é como um genei‘oso exorbita7‘-se da justiça - exigeprimeEo o cumprimento do dever. Comeda
rtarnen-
çn~se pelo que é justo, continua-se pelo que é mais eqüitativo... Mas, para amar, requer-se muita fmura, muita delicadeza, muito respeito, muita afabilidade; mima palavra, épreciso seguir o conselho do Apóstolo: Levai uns as cargas dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo (Gal VI, 2). Então, sim, já se viveplenamcnte a caridade, já se realiza o preceito de Jesus. Para mim, não existe exemplo mais claro dessa união prática entre a justiça e a caridade que o compo to das mães. Amam com o mesmo caCnibo todos osfdhos e precisamente esse amor as leva a tratá-los de modo diferente - com uma justiça desigual - já que cada édiferente dos outros. Pois bem, também com os nossos semelhantes a caridade aperfeiçoa e completa a justiça, porque nos move a conduzir-nos de maneira desigual com os desiguais, adaptando-nos as suas circunstâncias concretas, para comunicar alegria a quem está triste, ciência a quem }ino possui formação, afeto a quem se sente só... A justiça estabelece que se dê a cada um o que c seu, 0 que não signiifca dar a todos o mesmo. O igualitarismo utópico éfon te das maiores injustiças. Para agirmos sempre assim - como essas mães boas -, precisamos esquecer-nos de nós mesmos, não aspirar a nenhum espirito de senhorio que não o de servir os outros, como Jesus Cristo, que prega va: O Filho do homem não veio para ser ser\'ido, mas para ser\ãr (Mt X,X 28). Isso requer a inteireza de submeter a vontade própria ao modelo divino, de trabalhar por todos, de lutarpela felici dade eterna cpelo bem-estar dos outros. Não conheço melhor caminho para sermos justos que o de uma vida de entrega e de serviço ” (AD 172 e 173). Chegou estas considerações - bem limitadas - sobre o fundador do Opus Dei, cm grande parte baseadas nos seus próprios escritos, relembrando que para ele a vida antecedia o Direito, c este devia conformar-se com ela, perfilando a realidade do homem eda sociedade legítima liberdade, assim como jamais admitindo direito capaz dc abafar, mutilar ou ferir a dignidade humana, maravilhoso atributo dos filhos da raça de Deus. Justiça c caridade, liberdade e igualdade, digni dade e filiação divina foram as tônicas dominantes da sua personalidade, realidades e virtudes que, antes de se extravasarem para rodos os âmbitos da sociedademesmo os aparenremenre menos influentes, como o das profissões modestas, ou o das atividades e do campo - sc cristalizaram no meio universitário, sendo inúmeros os Centros e Residências universitá rias, as iíscolas superiores e Universidades que se inspiração e o incentivo dc mons.
Escrivií nas mais diversas nações dos cinco continen tes.
H neste Centro cie Esrtidos de especialização e jiósgraduação na nossa cidade, qtie promo\’ida sob o impulso de mons. h.scri\’á. e neste ato acadêmico em comemoração do centenário do seu nascimento, termino com timas pala\-ras suas sobre a missão da Unis'crsidade: mais uma obra se entende interessar-se e trabalhar em lal. da liberdade de todos.
“Se por política favor da paz, da justiça sol então todos na Universidade, como corporação, tem a obrigação de sentir esses ideais e de fomentar a preocupa ção por resolver os grandes problemas da vida humana. Se, em vez disso, por política se entende a solução concreta de um determinado problema, a par de outras soluções possíveis e legítimas, em cotifronto com os que ■a Universidade
sustentam o contrario, penso que nao c a instância (fue deve pronunciar-se a esse respeito.
A Universidade é o lugar onde as pessoas dar soluções a esses se preparam para problemas; é a casa comum, lugar dc esttido e dc amizade; lugar onde devem de diversas momento maior cio conviver cm paz pessoas tendências (jue, em cada nwmcnto, se jam expressão do legitimo pluralisnio existe na sociedade ((juesiões atu-
Direito contemporâneo foi a promulgação da Declaração
Universal dos Direitos Humanos que ais do Cristianismo, //' 76J. E foi este pluralismo nos estudos e não stí aí, mas em demais atividades humanas unn-ersirarios todas as deixadas por Deus à dos homens - a doutrina que e pregou até à homem de fé e de i\'re opmiao e opção mons. Escrivá viveu exaustao, como :v. mtalidacle orientada para a justiça, baseada na consciência da sua filiação me divina, um mistérioextraordinárioque momento dc concluir agradecia todos os dias.
E a partir dessa formidável percepção, rodos os homens a fazerem da sua vida uma vida dc áco aos demais. .Só assim c jiossnx'! que cada qual se comporte como verdadeiro filho de Deus, que comece alor à sua prcipria dignidade, e dienidade em todos os ensinou a ser\
easLia jior respeitar c dar depois reconheça essa mesma semelhantes, tratando-os com respeito, justiça e Lim seus fina caridade. Esta é a sim[ãles c fantástica lição dc mons. F.scrivá para a humanidade de rodos os tempos. »
I v 1-: s G N n a a n .-\ .S i. a M r 'r i n s
Professor lànérito das Universidades Mackeiizie, Paulista e Hscola de Comando e Estado Maior do E.xército, presidente do Conselho de Estudos lurídicos da ledcração do (.oniereio do Estado de São Paulo e do Centro de .Exteiisão Universitá ria, membro das Academias de Cultura Portuguesa (Lisboa), Brasileira de Letras lurídieas e Paulista de Letras operarias
sob criara m
O financiamento de seguidos déficits teria aumentado perigosamente o passivo externo
Fstá na moda a expressão “vulnerabilidade externa”, que decorrería do elevado déficit em conta -Acorrente (grosso modo, exportações menos o financi-
im¬ portações de bens e serviços). Afirma-se que amentü dc seguidos déficits no atual governo teria aumentado perigosamente o passivo externo (dívida externa mais estoque de capital estrangeiro). A saída seria substituir importações, dizem candidatos a Presi dência, empresários, economistas e comentaiistas ■_ local e internacional, todada mídia. À luz da experiência foco deveria ser o aumento das via, o exportações e das importações.
Esrudo recente de Ocravio dc Barros c Fernando Barbosa evidencia um sério equívoco no cálculo do passivo externo. Medido corretamente, seu valor seria inferior cm USS S1 bilhões. Além desta, cabe destacar quatro outras conclusões relevantes do estudo: (1) o passivo exter no tende a exibir uma
A própria identificação dos bens a substituir segue o velho método, isto é, o seu peso na pauta de importa ções. E daí que surgiría a prioridade aos produtos eletrônicos. A dúvida é como seria atraída uma Intel sem oferecer os incentivos fiscais concedidos pela Costa Rica. Ou como dar crédito do BNDES a juros mais baixos sem dizer que não é subsídio.
Adívida externa da maioria
das nações latino^ americanas é elevada relativamente às exportações nítida trajetória não explosiva; (2) o cambio flutuante vem promovendo o ajuste externo, pois o déficit, de USS 34 bilhões em 1998, cairá para pouco mais de USS 20 bilhões em 2002; (3) a forma adequada de avaliar a vulnerabilidade externa não é usar o déficit em conta corrente, mas a externo e as têm relação entre o passivo exportações; e (4) as importações sua dinâmica própria e não devem ser alvo de redução para melhoria do passivo.
É verdade que os defensores da nova política falam
“substituição competitiva de importações , assina lando que não haveria incentivos fiscais, crédito subsi- e escolha dos vencedores instrumentos básicos da cm diado, proteção alfandegária pela burocracia, que foram os antiga política industrial. Fica difícil, todavia, enxeigai como se faria o novo sem o uso cie pelo menos paice do velho.
Estudos de organizações multilaterais têm mostrado que moratórias e reestruturações da dívida externa, em consequência de excessiva vulnerabilidade externa, têm sido mais freqüentes na América Lati na nos últimos 150 anos do que na Ásia, incluindo vários casos nas duas últimas décadas. A dívida externa da região não é exagerada em relação ao PIB, contrariamente ao que se pensa. Acontece que, diferentemente dos pa íses asiáticos, a dívida externa da maio ria das nações latino-americanas é ele vada relativamente às exportações. Essa diferença tem origem basica mente na combinação de desequilíbrios macroeconômicos e de políticas de subs tituição de importações iniciadas nos anos 1930 na América Latina, as quais apenas recentemente começaram a ser revertidas. Essa combinação gerava ine ficiência na economia e dificultava o crescimento das exportações, a não ser qtiando estas eram turbinadas por for tes subsídios. A vulnerabilidade externa e a correspon dente elevação dos prêmios de risco da região têm a ver, portanto, com a baixa corrente de comércio, que limita a capacidade de ajuste rápido a pioras súbitas na liquidez internacional.
Os asiáticos adotaram políticas para aumentar simulraneamenre as exportações e as importações e não para substituir estas últimas. Entre 1980 e 2000, a China aumentou em 1.000% suas exportações c im-
portações. No mesmo período, a Coréia do Sul aumen tou as exportações em quase 900% e em mais de 600% importações. Cingapura e Malásia exibem comporsemelhante. Na América Latina, o México é o único que segue esse padrão. Aqui, as importações e exportações cresceram apenas 134% e 173%, respecti vamente.
É evidente que no curto prazo a substituição de importações teria efeitos positivos nas contas externas e na economia. Também é verdade que sempre haverá espaço para uma política Industrial sadia. Não parece, as tamento
entretanto, que a substituição ele importações seja a melhor saída para reduzir a \'ulncrabi!idaele externa, inclusi^^e por conta das atuais limitações fiscais. Lm vez de incentivos Fiscais, subsídios e concessão de poderes à burocracia, melhor seria lutar pela redução dos custos estruturais que inibem as exportações. ®
M .-\ I !. s o N n A N
é ex-minisiro (Iti luizcnda (Transcrito data venin, dc “O Estado dc S. Paido")
Lojista, pense no seu cliente: use ú SCPC
O SCPC da ACSP foi criado em 1955 e desde então vem prestando relevantes serviços aos lojistas c às instituições financeiras, propiciando segurança nas operações de ifnanciaweiilo e beneficiando o consumidor ao assegurar-lhe acesso ao crédito de forma rápida e desburocratizada.
CONSULTE O SCPC
.-\o consultar o SCPC, o lojista obtém, instantaneamente, a informação sobre a existência ou não de débito cm nome do solicitante de crédito, permitindo-lheconceder o financiamentocom maior segurança.
REGISTRO DE DÉBITO
No caso de inadimplência do consumidor, basta en\'iar as informações para o SCPC, que notificará o devedor e passará a informar a existência de débito a todos os usuários do serviço que consultarem o sistema, que agora opera cm base nacional. Não há necessidade nem vantagem no protesto do devedor, pois a eficácia do SCPC como instrumento de cobrança vem sendo demonstrada nos quarenta e cinco anos de suas atividades.
CANCELAMENTO
-A renegociação ou pagamento tio débito implica imediata reabilitação do consumidoi', sem qualquer óiuis ou burocracia para o mesmo, habiliiando-o a voltar ao mercado. No caso de protesto, o consumidor terá maiores dificuldades para reabilitar seu crédito, além de arcar com custos adicionais para o cancelamento do protesto.
PENSE NO SEU CLIENTE
O consumidor brasileiro, cm sua grande maioria, é bom pagador, mas muitas vezes enfrenta dificuldades c não consegue cumprir seus compromissos. .A experiência demonstra que, ao ser notificado de sua inclusão no SCPC, ele procura renegociar seu débito para poder se habilitar a novas compras. Cerca de 60% dos cancelamentos das restrições ocorrem cm ate 60 dias após a comunicação, pelo SCi^C, ao consumidor inadimplente, o que mostra a eficácia do serviço.
FIDELIDADE
Para manter a fidelidade dc seu cliente, inc!usi\’e daquele que SC toi noLi inadimplente, use o SCPC. para se proteger no ato da concessão do crédito e também jiara a cobrança posterior. É mais simples para o lojista e melhor para o consumidor!
As frágeis transformações conseguidas costumam resultar precárias, inadequadas ou insatisfatórias
Democracia e governabilidade
Vice-presidente da República
Agovernabilidade é uma decorrência direta e imeionalidade da arquitetura política
diata da raciom adotada nos sucessivos períodos históricos de cada país. Lamentavelmente as mudanças institucionais brasileiras têm sido fruto mais de nossas dificuldades conjunturais do que de nossas deficiências estruturais. Exatamente por isso as frágeis transformações que conseguido costumam resultar precárias, inade quadas ou insatisfatórias.
Karl Deutsch, cm “um sistema político é um conjunto de unidades reconhecíveis que se caracteri zam pela coesão c pela covariaçao coesão resulta a capacidade dos sistemas de constituírem um conjunto de diver sas partes que se influenciam mutuainente. A covariação, por sua vez, é a qualidade que propicia às partes ponemes de qualquer sistema mi. em conjunto. “Se uma unidade muda, a outra muda também”, ressalta Dcutsch. Outra singularidade do sistemas é que eles constituem algo diferente simples soma, junção ou justaposiçãoOs resultados temos
mente, decisões racionais e coerentes para o atendimen to de demandas da sociedade. Essa capacidade de tomar decisões racionais e coerentes é o que convencionamos chamar de governabilidade.
O sistema político é dotado desse requisito essencial na medida em que os seus diversos componentes cum prem, em conjunto, o papel de atender às demandas coletivas, tempestiva e racionalmente.
Políticã e Governo , explica que . Da onvencionamos chamar de governabilidade nossa capacidade de tomar decisões racionais e coerentes comudarem da de seus componentes produzidos pelo conjunto do sistema são diversos daqueles que cumprem suprem cada um Daí por que a concepção da política, assinala Norberto Bobbio, cm ‘'Estudo sobre o Estado', torna-se compatível qualquer das concepções ideológicas a respeito de papel, seja ela positiva, negativa ou neutra. Sei ve paia os que advogam a progressiva extinção do Estado e paia os que preconizam a ampliação de seu papel como execu tor ou como regulador das relações econômicas e sociais sob sua égide. ou dos componentes, sistêmica” com seu que se processam em seu interior e
Nessa concepção, os sistemas políticos nada mais são do que mecanismos capazes de produzir, permanente-
Trata-se de um enorme, vasto e complexo sistema decisório, de cuja eficiência depende a “funcionalida de” do sistema político. Este, de acordo com o que já constatou há mais de meio século o professor Maurice Duverger, é o resultado direto do sistema eleitoral adotado. Quando prevalece a modali dade majoritária, a tendência é a exis tência de poucos partidos ou de “parti dos dominantes”. Quando se utiliza a modalidade proporcional, o resultado usual é o aumento do número de par tidos e a inexistência de partidos domi nantes.
Os sistemas eleitorais obedecem a uma ou a outra alternativa em todos os países democráticos. O essencial é que sejam coerentes e consistentes entre si, única maneira de diminuir a conflitividade e a “entropia” do siste ma político. O que a experiência uni versal demonstra - e o nosso caso não foge à regra - é que podemos, com maior ou menor êxito, utilizar mecanismos corretivos e moderadores dos efeitos produzidos pela escolha de um ou de outro sistema e, nesse caso, temos de levar em consideração que os sistemas representativos devem cumprir, simul taneamente, duas funções essenciais: garantir a governabilidade e assegurar a diversidade.
Não podemos m.Lximizá-las, já que são capacidades concorrentes. De tal sorte que. quando aumentamos a
resultado afeta a governabilidade. Da diversidade, mesma forma, se favorecemos a governabilidade, atingi mos a diversidade. O ideal é que o conjunto do sistema representativo assegure o máximo de governabilidade possível com o máximo de represenratividade desejável.
As experiências nos mostram que, ao longo de todos esses quase dois séculos de vida independente, passa mos por crises agudas de natureza política e institucional. Com a Constituição de 1988, porém, que representou a conclusão de longo processo de transição para o Estado de Direito, tornamo-nos uma autêntica democracia. Essa foi uma conquista importante. Disso nin guém dúvida. Precisamos, agora, melhorar a governabilidade. A democracia é condição necessária, porém não suficiente para atingir tal objetivo.
Urge, agora, dar um passo indispensável: passarmos
dc uma democracia de procedimento, que praticamos, para uma democracia de decisão, que assegure a deseja da governabilidade.
Impõe-se, assim, a necessidade das chamadas refor mas políticas, entendidas não apenas como mudanças do sistema eleitoral capazes de ensejar o íortalecimento dos nossos partidos, mas também aperfeiçoar o sistema de governo, fortalecer o sistema federativo e revigorar os valores republicanos.
Essas reformas certamente propiciarão a efetividade do sistemapolítico e darão ao País um salto de qualida de, garantindo, por meio de regras definidas e claras, a plena governabilidade de que tanto carecemos. ●
c vice-presidente da República
Livros de interesse permanente de João de Scantimburgo da Academia Brasileira de Letras
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O mal na
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Marco
Para se comunicarem, tribos primitivas usavam fogueiras que emitiam fumaça
nformação e comunicação
Da Academia Paulista de Letras de Barros
m bè-à-bnsobre injormíiticíí escrito em lingua gem corrente. Este artigo não se destina aos que já estão por dentro, mas aos que ainda permaTiecem de fora.
a corrente, brecar o carrinho em lugar de empurrá-lo. E podemos pensar que tudo isso se reduz a dois sinais: o Sim e o jVãõ, o liga e o desliga, o passa/não passa, o Um e o Zero.
A informática começou com o primeiro piens. Quando Adão piscou um olho para comunicando com ela. E quando ela piscou de volta, ifurmação psicológica, informa-mesma forma. esta\'a lhe dando uma in cão da qual resultamos todos nós. Da tribos primiti\'as usa^’am fogueiras para se comunicarem, transmitindo infortnações visuais com rolos dc fumaça. Fortalezas árabes usavam na Espanha sinais luminosos dados jior espelhos para transmitir itiforniações bélicas. Quando acionamos a tecla de um pia no emitimos uma informação sonora e, se continuarmos teclando, emitimos
Homo snEva, estava se
Neste ponto, chegamos à linguagem informática. Toda ela é escrita com uns-e-zeros. Podemos transfor mar palavras, números, sons, cores, movimento e até ordens mecânicas em uma sucessão de Zeros e Uus. Cada um desses Zeros .ç constitui um bit, isto é, um sinal da linguagem informática, que registra uma infor mação. E usando essa linguagem pode mos nos comunicar por telefone, rádio ou satélite. Basta emitir essa série de sinais de passa-não-passa, Sim ou Não, Zero ou Um. E isto c a coisa mais simples e a mais fácil de ser feita, por que se trata de emitir e/ou interromper um sinal.
A linguagem /\põe o homem em comunicação com a natureza, os seres, e até... os próprios homens
uma mcnsaiicm sonora. O mesmo acon- O tcce quando acionamos o botão de um interruptor, comunicando-lhe a infor●ente clé- maçao ac que qticremos cori trica. Quando empurramos um carri nho de mão, passamos-lhe a informa ção mecânica de que deve ir para a frente. 1 tido isso é feito por sinais, os sinais reunidos podem compor linguagem. A lingtiagem põe o homem uma em comunicação com a natureza, os seres e até ... os próprios homens. Dai sua importância. Daí dizer Eliot \'ocacÍonado para o ctilto da palavra, é um domesticadoi da tribo humana, à qual transmite prudência e prev dência (aftcrsigiit and foresight). Quando decompomos tod; rentes, no fundo ve tura comum. Os selvagens po iumaça subir ou abafá-lo, o ficar mudo, podemos calcar a amortece-la, calcar o comutador elétrico paia desligar que o poeta
Há muitas coisas admiráveis nesta que é chamada de linguagem digital, por referência a dois dígitos.
A primeira é que ela seja uma lingua gem franca, universal, que serve para informar tanto sobre palavras c núme ros, como sobre som, cor e movimen tos, assim como para comandar movi mentos físicos, mecânicos, reais, de instrumentos e máquinas.
las essas linguagens dife .■rificamos que elas têm tima estiu dem deixar o rolo de espelho pode reluzir ou tecla do piano, ou
A segunda é que se tenha levado tanto tempo para inventá-la, quando ela repousa sobre a operação a mais simples do pensamento humano, a saber, o princípio fundamental da lógica, denominado de princípio da identidade ou da não-contradição. que informa não se poder simultaneamente afirmar e negar uma mesma coisa. Embora esse princípio seja conhecido desde a mais remota antigüidade, aparentemente o homem ficou atolado em uma terceira alternativa, não contem plada pela lógica, que é o d alvez. um sinal que não diz. Siui nem Não. Suponhamos que em lugar de piscar de volta para Adão E\'a houvesse permanecido de olho
arregalado, lançando Adão nas profundezas insondáveis do Talvez, onde se refugia todo o mistério do mundo eoAc/zso e o Destino cém sua morada. Supomos c\\ic o sapiens-sapiens não ter aparecido e sequer se teria inventado a informática.
Por incrível que pareça, para separar o Sim do Não c evitar a confusão do Talvez, os primeiros computado res, os mainframes eram máquinas de várias toneladas, com milhares de válvulas de vácuo, que bai.xavam a carga elétrica das cidades quando eram ligados e se esquentavam como fornos. Só quando se inventaram os semicondutores, os transistores feitos em pastilhas de silício, foi possível afastar o Talvez e separar os milhões de Sins-e-Nãos que com põem umalinguagem, cri- i ando-se os circuitos ele- J trônicos dos microcom- ^ putadores. 5
A terceira, é que essa q linguagem cria um loctis f próprio para a cultura y humana, que até aqui se ^ guardava nos cérebros individuais, nos livros, nas bibliotecas, nos mu seus. Na atualidade ela tem seu lugar específico nos bancos de dados das redes informáticas. A quarta é que ela permite de certa forma abolir o espaço e eliminar o tem po. Assim, rodos os luga res, todos os tempos, toda a cultura, ficam ao alcan ce do usuário dc um com putador. Potencialmente, a comunicação é ca paz de atingir a velocida de da luz e criar uma simultaneidade universal de acontecimentos. Exem plos recentes são os fenômenos da morte de Lady Di os jogos dc futebol... ou crashesá(tho\s7i, ou quebradeii de moedas. E quinta, é que ela está criando hábirat para o homem e sua cultura, a Bitsfera, o planeta no qual passam a se realizar todas atividades que até aqui tinham lugar exclusivamcnre mundo físico do aqui e agora. Sc considerarmos que a popularização das redes informáticas se deflagrou ape nas a partir de 1994 e que na atualidade já há mais dc 60 milhões dc neteitzens atuando nos mais de 50.000 diferentes lugares iWtci) dessa rede, ficilmcnte entende remos que nunca a história da humanidade presenciou um movimento migratório tão numeroso. E isto é apenas o começo, porque, por enquanto, não há mais
no mundo. No ano 2
do que uns 200/300 milhões de computadores pessoais a população da internet será de centenas de milhões, quiçá um bilhão de pessoas. (As estatísticas da Net já nasceni arcaicas, dada a \’elocidade exponencial com que seus números crescem).
O computador - a máquina
Estamos na ara da comunicação e da informação
e processar mlormaçoes simplesmente reduzindo-as a
Pelo que até aqui dissemos, ficou claro que o compuuiilizando a tador não passa de uma máquina que linguagem da lógica é capaz d dc qualquer natureza, Sim e Não, Zero c ê/w. Ela é, portanto, apenas um parente mais sofisticado da fumaça das fogueira.s. dos sinais dc espelho, dos toques em teclas e botões. Hoje já é possível falar-se com o computador, mas característicamente, na maioria dos casos continua-se a usar um teclado datilográfico, digitandose teclas c botões.
Sua grande novidade, o que a distingue dos ou tros instrumentos c arte fatos mecânicos criados pelo homem, é que sendo uma máquina jirocessadora de linguagem ela e
cmmentcmcnte uma ma quina intelectual, capaz dc auxiliar o homem cm seus trabalhos mentais, dando conta de todas as fadonhas e demoradas tarefas de processamento do oceano dc zeros e uns
que en^'oI^'cm nossas ati vidades. Muitos pensa ram que, sendo capaz dc executar tais tarefas, o
computador era uma má quina capaz de stibstituir a inteligência htimana. Não é. Ela é uma máquina stimamente burra, que não pensa e só sabe trabalhar com o mais elementar princípio da lógica, isto é, apenas com o que possa ser redtizicio -a Zero ou Um. Na realidade, ela é mais burra do que Sctc-deburrinho Pedres de Guimarães Rosa, pois e 'a um novo as Ouros, o ele sabia de instinto no (]ua)ido era a hora e a vez conhecia o tempo certo 0 Sim, 0 Não e o Talvez. Era um sábio brasileiro
Ess.f Burriniio Pmiuis Um burrinho muito mais inteligente, sem do que c]uaiqucr com dúvida, puracior de última geração, A
criação é o que distingue a inteligência humana da inteligência do animal e da máquina. E a criação é uma construção que configura e dá sentido ao universo infinito e errático do Talvez. Pode-se por isso dizer que é no universodoTalvez- enãonodasleisdeterministas - que, para o bem c o mal, reside a liberdade.
Quando se fala cm computador, pensa-se em uma caixa dc plástico envolvendo algo complicadíssimo por dentro. Sem ,sc falar no teclado, no vídeo, nas caixas de som, nas impressoras, scanners, modems e demais equi pamentos conectados a ela. Na realidade, o computa dor propriamente dito c apenas uma pastilha de silício do tamanho de uma unha, na qual estão desenhados e embutidos circuitos e semicondutores aos milhões,
comandando o caminho lógico dos Sims e Nãos. Essa pastilha, a unidade central de processamento (CPU) não SC acha apenas nos PC, ou computadores pessoais, de mesa ou dc bolso. Na atualidade, um carro moderno vem equipado com dezenas de computadores que coman dam muitas de suas funções mecânicas. Computadores se encontram em apa relhos cirúrgicos, em portas automáti cas, em carrinhos que se deslocam inteligentemenrc pelo piso de fábricas, em robôs que fabricam robôs, nas centrais bancárias e telefônicas.
dadeira Babel Hngüíscica no mundo informático e um regime de universal incompatibilidade entre as diferentes máquinas, sistemas operacionais e programas.
Assim, originalmente, a possibilidade de interconectar computadores, organizando-os em redes, capacitandoos a se intercomunicarem, dependia de que os compu tadores fossem máquinas que tivessem a mesma arqui tetura eletrônica, usassem o mesmo sistema operacional e os mesmos programas. As primeiras redes consistiam, assim, de um único computador central ao qual esca vam ligados terminais, que na realidade não eram computadores, mas simples teclados e telas de vídeo capazes de acessar o que estivesse dentro do computa dor central. Muitas das redes internas ainda funcionam nesta base, como as de empresas e bancos.
\ Y yWw, world VVwide web, ou
internet, a rede universal que permite a qualquer computador, de qualquer parte do mundo, se comunicar com qualquer outro computador \-
Tais pastilhas são capazes de proces sar qualquer conjunto de ordens escri tas na linguagem digital do Zero e Um. E c isso que permite que leiam e reproduzam programas ou aplicativos capazes de fazer cálculos, desenhos, músicas, e de gravá-los e reproduzi-los, os programas, chamados genericamen te de software. A execução desses pro gramas depende dc um certo número todos. E o World Wide de ordens gerais comuns a chamado operntionalsystcm, baseou plataformasobicas quais sao escritos e que permite usá-los, ou rodá-los , como se diz no jargão da informática. Na atualidade, a mais comum dessas plataformas é o Windows. Há, contudo, uma linhagem diversa de computadores pes cional diferente, o soais, que usa um sistema opera Apple, que é muito mais lógico e preciso do que Windows, porém exige máquinas mais caras e não teve por isso a expansão de mercado alcançada pelo sistema operacional cia Microsof de Bill Gates. 0
As redes
Se todos os computadores trabalham com a lingua gem informática, deviam todos poder se comunicai si. Isto, entretanto, ●entre sucede. Na prática, tanto por nao razões de ordem técnica, como por motivos a linguagem básica da informática se subdividiu em uma infinidade de linguagens especiais, criando-se uma ver-
Entretanto, a universal incompatibilidade en tre máquinas, sistemas operacionais e programas, não é uma limitação imposta pela linguagem informática, que, como vimos, é uriversal, simples e comum. Assim, em determinada altura, voltou-se a desen volver uma linguagem informática ca paz de decodificar e ler as informações contidas em quaisquer máquinas, sis temas operacionais e programas, co meçando-se a estabelecer a possibilid de de uma universal comunicação en tre eles. Tais linguagens decodificadoras universais, permitem a leitura dos jar gões digitais e, portanto, das mensa gens sonoras, óticas ou gráficas, exis tentes em qualquer computador. Foi isso que viabilizou o estabelecimenio de uma rede universal, permitindo a qualquer computador de qualquer parte do mundo se comunicar com qualquer outro computador. Chama-se a essa rede universal de luivw, Web, ou de internet. Ela é constituída de uma infmid ide de SLib-redes interconectáveis e por todos os compu tadores que a ela se liguem. Cada uma dessas numerosas redes contém numerosos sites, formando em conjunio uma espécie de biblioteca ou enciclopédia universal de informações. Empregando essas linguagens co-decodificadoras universais, qualquer operador que saiba usá-las pode se comunicar diretamente com qualquer outro computador. Entretanto, o uso dessas linguagens é ainda aiso extremamente técnico e torna-se mais fácil para o usuário comum registrar-se em um provedor, que se incumbirá de ler as mensagens emiticias e trans miti-las pelas “infovias” (vias de informação = telefone, rádio ou satélite) para o computador destinatário.
Na internet podem-se fazer muitas coisas.
Pode-se, chamando-se um browser, que é uma espé cie de veículo que conduz aos diferentes lugares da rede, visitar um museu, fazer uma resenha de passagem ou de
hotel, verificar um saldo bancário, comprar um livro, ou simplesmente passear inconseqüentemente daqui para lá. Ao passeio exploratório e descompromissado, chama-se surfar.
Pode-se mandar e receber correspondência pelo correio eletrônico, o e-mail. Todos os usuários de provedores recebem um nome e endereço eletrônico, ao par de uma senha que o identifica junto ao provedor. Pode-se entrar em grupos de bate-papo, os chats-, havendo centenas deles onde se discutem os mais variados assuntos. Também se podem fazer reuniões ou conferências, com pessoas situadas em qualquer parte do mundo, sobre assuntos os mais variados. Eventualmente, pode-se entrar em grupos fechados, especializados em assuntos específicos. Um certo tipo de hncker, delinqüentes que habitam a internet, especializa-se em piratear e colecionar novos programas, como crianças colecionam e trocam figurinhas. São grupos altamente técnicos e mais fechados do que as máfias e as maçonarias.
Pode-se fazer pesquisas sobre qualquer assunto. Bas ta indicar uma “palavra-chave”e o relacionará as dezenas ou centenas de lugares da Net onde assuntos são tratados, podendo levar o usuário a cada um deles.
Pode-se criar na internet um lugar próprio ou home-pãge, para qualquer finalidade: divulgar traba lhos pessoais, criar grupos de bate-papo, tentar vender qualquer coisa. Um grande número das maiores empre-
Diário do Comércio
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sas mundiais dc todos os gêneros, assim como entidades governamentais de todos os países, têm seus lugares (sites) com endereço na internet, não só para prestar informações, mas para o desenvolvimento das mais variadas atividades. A rigor, tudo o que se faz fisicamcnfora da internet pode ser feito nela “virtualmente”. Um novo hábitat
A internet é, como dissemos, um novo hábitat para a atividade e a cultura humana. Ela está sc desenvolven do como um território ecumênico que transcende as fronteiras, ignora as diferenças étnicas, religiosas, ideo lógicas e os governos. Os neteitzeus vêm criando uma linguagem própria, que já possui mais dc 4.500 termos específicos (mais do que a linguagem corrente da medi cina); estão formulando regras de comportamento ade quado (a netiqueta) e desenvolvendo entidades e pro cessos de auto-regulamenração, policiamento e sanções aos infratores de suas regras; numerosos grupos dc trabalho acompanham seu desenvolvimento e buscam aperfeiçoar os processos de convivência na Nct.
Haveria muito o que falar sobre os problemas desse novo hábitat para o homem. Mas é matéria para outra ocasião. ●
N E P I ÇT O dcj Acnclemin Paulista dc Letras c da Academia Internacional dc Direito e Economia. Autor de Qjic Brasilé este?-Um depoimcnto.(Ed.Senac)
Mais informações ligue:
SÃO PAULO Central de Cidade; Estado; I Atendimento Rtia Boa Vista, 51 (Hentro
Paulo
Suas qualidades naturais de poder calorífico e não poluente, representam boa fonte de energia
pesar dc ser nova a gás no Brasil, há aspectos regulatórios essenciais pleno a serem definidos, necessários para desenvolvimento do setor no País. A participação do gás na matriz energética nacional antecedeu a crise de energia elétrica e sc consagrou pelas suas qualidades naturais de poder calorífico e não poluente, sendo reconhecido como importante fonte de energia, justifi cando, assim, a sua utilização crescente, especialmentc no segmento industrial do País. Os fatores que o elegeram como capazes de contribuir como forma dc energia alternativa fo ram considerados determinantes para fazer prosperar um mercado, tornan do-o atrativo [aara os investidores (na cionais e estrangeiros) de empreendi mentos de grande porte, e que vinha suprindo até então as necessidades do setor industrial restrito na maior parte do País, enquanto que nos centros de São Paulo c Rio de lanciro atendia também aos consumidores dos seg mentos residenciais e comerciais.
A'egulamentação da indústria do gás enfrenta
desafios que remontam à sua origem
As perspectivas de ampliar a aplicaconjugou-se a tudo Brasil-Bolíção do gás natural concretização do gaso via, que possibilitou a importação do gás advindo das reservas bolivianas para o seu aproveitamento e as negociações de contratos de importação. Houve, assim, a introdução de novos agentes neste cenário, do qual, no inicio. participavam tão-somente a empresa supridora, queexplorat'a, produzia e transportava o gas, de um lado e, na outra ponta, as concessionárias distri buidoras de gás canalizado, que eram estatais.
833/97, que
A cstrtirura originai do modelo, que passou por formações em virtude das Emendas Constitucionais n"s 5 e 9, de 1995, foi adaptacia para possibilitar a exploração c o transporte de petróleo e gás em parcerias formadas pela transnr-
União e empresas privadas ou estatais e a possibilidade de exploração do senáço de distribuição de gás natural direta ou mediante concessão outorgada a empresas privadas. Foram também estruturadas as agências reguladoras, na órbita federal e estadual. A União criou pela Lei n° 9.478/ 97, seguida dos Decretos n”s 2.455/98 e 3-388/00, a Agência Nacional do Petróleo (ANP), autarquia especial vinculada ao Ministério das Minas e Energia, cabendo-lhe regulamentar, contratar e fiscalizaras athádades econômi cas do setor de petróleo c gás (exploração, produção e transporte). No Estado de São Paulo, foi implantada uma agência local específic.t encarregada dos asstintos de energia (gás e energia elétrica), a Comissão de Senáços Públicos de Energia (CSPE), criad.i pela Lei Complementar n é competente para regular, controlar e fiscalizar a geração, produção, transnii.'são e distribuição de energia, e se encortracomo autarquia vinculadaà Secretaria de Estado de Energia. A nova disciplina legislativa brasilei ra para a indústria de petróleo e gás, oi'a implementada pela ANP, visa compatibilizar o desenvolvimento da indústria nacional com as mudanças econômicas ocorrentes, de modo a es timular as parcerias entre a supridora, as concessionárias estaduais de distri buição de gás natural e os agentes pri vados, assegurando a competitividade no setor energético. Desse modo, adotou-se um modelo de composição acionária denominado “tripartire”, do qual constam participações estatais, da Petrobras (via PR Distribuidora) e de empresas privadas, baseado no princípio do rateio dos custos (investimentos), das riscos (financiamento e mercado) e dos benetícins. Assim, associações diversas surgiram nas regiões N deste e Sul para o fim dc distribuição de gás canaliziu lo.
o gás natural é o ideal por não poluir e ter alto poder calorífico
Por outro lado. a regulamentação da indústria do gá vem enfrentando desafios que remontam à sua origem em sártLide da submissão
ernaserem as aoctrans1rma
órgãos de esferas gov mentais diversas, como decorrência do fato de atividades econômicas de suprimento (produç porte) de um lado, e de distribuição, de outro, da competência respectiva da União c dos Estados. Tal situação pode acarretar conflitos quando do estabelecí mento de políticas de preços. Em decorrência a ANP divulga os preços para a produção, fixados de fo conjunta pelos Ministerios das Minas c Energia e Ua Eazenda, enquanto, para a prestação de serviços públi cos de distribuição dc gás canalizado, a definição do valor das tarifas compete aos Poderes Conceden estaduais. Aliados ao problema inicial, pólio de atividades de uma cadeia de diversificada em mãos de uma única
acesso ao en-
doras, com a inclusão cio transporte, ao passo que cabe às Agencias ou às Secretarias Estaduais o controle das atividades da distribuição. A divisão da competência é possível, mas a comparibilização e harmonização das regulamentações se impõe.
Quanto à importação dc gás, com a possibilidade de participação de terceiros na atividade de transporte, na parte brasileira do gasoduto Bolívia-Brasil, até então detida pela Petrobras, empresa controladora do empre endimento, abre-se a oportunidacie cie proporcionar os almejados benefícios concorrenciais as concessionárias de distribuição de gás c aos grancies usuários. O direito ao uso das instalações para transporte, conhecido como realizado via negociai ainda se encontra em compasso dc espera, com a recente prorrogação das etapas seguintes do Concurso Aberto, após terem sido apresentadas as manifestações de interc.ssc na capacida de proveniente da expansão dos sistemas de transj^orte de gás natural pelas transportadoras I BC c 1 ranspetro.
tes ivrc acesso temos o monoprestação empresa e as questões ainda pendentes de solução no âmbito do transporte, da estrutura de preços do gás importado e dos tributos. Todos esses problemas quanto não solucionados interferem negativamente no desenvolvimento do mercado, deixando em dificuld: os agentes c investidores potenciais, pela ausência dc definições que venham superar os contratempos sofri dos pelos mesmos. As particularidades da regulamenta ção do setor de gás revelam, portanto, um verdadeiro desafio na medida em
O regime de livre acesso já tinha sido al\’o de regulação 169/98 da Agência Nacional do Petróada por não ter alcançado os Portaria n
pela Portaria n leo que, todavia, foi revog; objetivos pretendidos. Editada renovaram-se as esperanças dc introduzir a concorrên cia na oferta do gás natural, tendo sido, incltisis’e impulsionada pela crise do setor elétrico. Assim, ^●isando priorizar ü programa de termoelétricas foram estabe lecidas regras para um concurso aberto a ser implementado pelos transportadores. Para tanto foi ide 98/01. que estabelece a competência à ANP desde a cadeia produtiva até o momento da enirega da “commodity” às concessionárias distribtii-
Posto de abastecimento de gás natural
claborndo um iVlanual, dcuilliando os proccdimcncos dc oicrui c alocação dc capacidade para o transporte firme, como conseqüência da expansão das instalações próprias para tanto, de modo qiie somente por concurS(3 abcrio poderiam ocorrer as expansões da recic dc iransponc em operação no País. Hm função no^’amente do luturo do setor elétrico, a continuidade do processo de abertura à malha de tintos depende de novos dclineamcnios a serem propostos pela Câmara dc Gestão da Crise (GCU).
Considera-se outro fator de impasse para alavancar o setor as tpiestõcs de natureza tributária. Efetivamente, a regulamentação vigente enseja o represamento obrigató rio dos créditosdo ICMS pelas concessionárias distribui doras, só considerando a possibilidade de compensação quando a operação alcançar a etapa de venda da pela Usina Térmica. Trata-se, pois impeditiva da celebração de acordos entre distribuidoras e empreendedores das plantas tcrmoelétticas, quando se pensa nos \’olumes consideráveis para fornecimento e o ônus financeiro que pode acarretar às concessionárias encarregadas da distribuição.
Assim sendo, o desenvolvimento do setor, que pas sou muito rapidamente de uma concepção monopolista para a abertura à iniciativa pri^’ada, sendo caracterizado pela entrada mais agressiva dos investidores em área que constitui um mercado cativo, não encontrou, desde logo, o arcabouço regulatório parasupo decorrentes dos acordos que passaram a ser celebrados.
Assim, a concretização de alguns negócios aguardam a criação ou a adaptação de regras que se coaciunem com a realidade que se apresenta. Houve, por assim dizer, um desencontro temporal entre as necessidades ditadas pelas transações dos agentes e as regras existentes.
Este mercado, que não é mais só potcncialmcnte valioso, mas constitui uma alternativa \’iá\’el para os problemas nacionais dc energia, clama com urgência por medidas legais e regulamentares capazes dc compatibilizar as atividades de uma variedade de agentes, composta pelos produtores, carregadores, transportadores, distri buidores e consumidores finais. Os seus interesses são suportados por vários contratos que dispõem condições de naturezas diversas, mas necessitam obter um trata mento harmônico, a fim de que não se tornem ineptos à implementação dos objetivos pretendidos pelas partes. De outro modo, as regras vigentes constituirão obstácu los aos propósitos de crescimento deste mercado e daque les que investem no setor e desejam contribuir para o desenvolvimento da infra-estruturae, consequentemente, do País, mas precisam ter a garantia de que os seus aportes de recursos serão devidamente respaldados e os seus direitos adequadamente protegidos. ● energia de outra situação
A R N o L D o W A L D é nHvognHo v professor coterlrórico de Direiío dd UHRJ M A R A n O C A R M o P 1 G t' E l R E D O t) E A L M E D A ddvogadíi em Sõo Paulo da Wa/d Associados Adi'ogados, foi assessora jurídica da Comgás rtar as variaveis
O profissionalismo das forças armadas acentuoU'Se depois do retorno dos civis ao poder
o revanchismo
Paulo Napoleáo Nogueira da snva
A“Folha de S. Paulo” publicou (26.8.2001, Ca derno 2, Cultura, p. 1), A convivência dos 7nilitares C0772 a democracia. Nela estão depoimentos de 14 ex-ministros da Marinha, Exército e Aeronáutica sobre a ótica e o comportamento das Forças Armadas a partir da “Nova República”.
O ponto comum nesses depoimentos é o revanchismo da mídia. Segundo o brigadeiro Sócrates da Costa Monteiro, a Revolução de 1964 perdeu totalmente a batalha da mídia, até hoje é execrada, e nada do que foi positivo é noticiado. Como também disse o almirante Henrique Sabóia, a anistia foi estrada de uma via só: os militares anistiaram Icgalmente, mas até agora não foram moralmente anistiados. Na verdade, acrescentamos ao depoimento, essa ati tude da mídia e da classe política desconfirma a Constituição.
Professor de Direito Constitucional
Quem deflagrou a revolução, os certeza, não. Que já se conspirava em 1963, é certo; mas marchas da Família com o que deu o seu start foram as Deus e pela Liberdade”, organizadas pela Igreja Cató lica, que reuniram mais de milhão de pessoas em São Paulo Rio dc Janeiro, assim como cm outro tanto no Belo Horizonte, além dc números menores, mas signi ficativos, em outras cidades.
O que pretendia a Igreja? Apenas lutar vigorosamente visivelmente tomava conta do contra o comunismo que governo de João'Goulart. De anotar, ainda não havia os rcoloeia da “padres dc passeata libertação”. Mas, não quem protestou; po matizes viviam quartéis, clamando contra o avanço do e sua O foi só a Igreja líticos dc todos os batendo às portas dos
A inflação, que /A no
governo Goulart chegou a 81 % ao mês, em um ano foi reduzida a 25% ao ano comunismo.
Quando ficou claro que era preciso agir, quem organizou a revolução?
Têm razão o brigadeiro e o almiran te, como outros que depuseram no mesmo sentido. E, no entanto, é dc justiça reconhecer que no episódio da posse de José Sarney na Presidência, o que permitiu a volta do poder civil, as Forças Armadas se comportaram estri tamente no seu papel de garantir o cumprimento da Constituição. E, quando do impedimento de Fernando Collor não se manifestaram: mais uma militares? Com
Quatro civis: Júlio de Mesquita Filho, diretor do jornal “O Estado dc S. Pau lo”, Ademar de Barros, governador de São Paulo, Magalhães Pinto, governa dor de Minas Gerais c Garlos Laccrcia, dor da Guanabara. Como governa articLiladores militares, três marechais reformados - Odílio Dcnys, ex-minis tro da Guerra dc Juscelino e de Jânio. Nelson de Mello, ex-chefe da Casa Mide Juscelino. e Cordeiro de Farias, figura emblemática os almirantes Sílvio Hcck e Grtinevald Radmacker, e os brigadeiros Grün Moss c Correia de Mello, “militar”, quem foram os de Estado, os que verdadeiramenre vez pautaram-sc nas competências po líticas previstas na Constituição.
O profissionalismo das Forças Armadas itar do Exército - c mais na sua mis são constitucional, se já estava presente antes de 1983, accn tuou-se depois do retorno pleno dos civis ao poder. y\ propósito da Revolução de 1964, algo dev reíleiido e dito, a bem da \’erdadc, e de
Durante todo o regime c ser iiao permitir que as gerações futuras continuem sendo culruralmente esbulhadas pelo absurdo conceito do mente correto”, no qual a mídia - sobretudo ignorância e por falta dc senso democráticoencastela, transformando em correto o historlcamc
principais ministros procediam â administração:' Roberto C.ampos, Otávio Gouveiade Bulhões, Mário Henrique Simonsene Delfim Netto, na área econcâmica e financeira; Antônio Azeredo da .Silveira c Mário Gibson Barbosa, nas relações exteri ores; 1 vo Arzuae outros, na Agricultura; Milton Campos, Gama e Silva, e Perrônio Portela, na Justiça; assim conto em outros ministérios. Enfim, quase tod poiiticapor se ●nle incorreto. os cwis.
jVIas, o que fez de bom o regime “militar”, hoje é ocultado pela mídia que só sc acém a aspectos que possam ser objeto - justa ou injustamente - de “malhação . Aqui, deve-se acautelar os internautas e leitores, não se está defendendo o retorno de um eventual regime de preponderância militar, mas somente defeiiclencio n verdade histórica em relação ao que realmente ocorreu.
Não hoLU’e o denominado “milagre econômico bra sileiro”. porque milagres só Deus faz. Mas, houve, sim, uma grande realização humana: o Brasil, que em 1964 ocupava o 4.3" lugar no raiikingà-\s economias mundi ais - um ^■erdadeil■o ve.xame em face de suas dimensões
continentais - em apenas oito anos, 1972 - já ocu- o pava a 8- posição! |
A inllação. que no go- < verno Goulart era de 81 % ao ;;/d, cm um ano foi reduzida para 23% ao ano, e se manteve em pa tamares suportáveis du rante anos. A agricultura tinha financiamento, sem burocracia ou entraves: a qualquer pequeno agri cultor - imaginc-sc aos grandes - o Banco do Bra sil da^●a credito imediato. O reequipamento da in dústria igualmente: nanciamento de máqui nas pelo ITNAAáE era concedido o fiquase que no ato. Sem as falcatruas dos pseudo-projetos q regime posterior a 1983 têm caracterizado a atuaue no cão da SUDAM, SUDE NE c outros órgãos.
Lembre-se, ainda, Sistema Financeiro da Habitação. Além, o Brasil construindo
primeiros anos da “Nova República”. A propósito combustíveis tiveram o mesmo custo durante anos.
E, finalmente, a política era séria: não havia a pletora de “ambições menos dignas” - a que se referiu Rui Barbosa - disputando o primeiro lugar do Estado. Nem, presidentes ofendidos e desprestigiados, contestados, como agora, ou desmentindo no dia seguinte o que haviam afirmado na véspera.
Havia, além de tudo, um grande respeito institucional pela História do País, e pela formação cívica dos jovens: além das cadeiras de Educacão Moral e Cívica, Orsanização Social e Política Brasileira, e de Estudos de Problemas Brasileiros, era celebrado o culto aos símbo los nacionais, inclusive com hasteamento da bandeira e canto do Hino no início das aulas. Adas, o poder civil pós-1983 acabou com tudo isso entendendo que era prá tica “militar”.
Os miiitsros brssilBíros têm vocaçso comprovada o ● indústria naval. passou a tei navios para a maior parte cm pé dc igualdade com as navais escandinava, inglesa, c norte-americana. Substi tuiu o obsoleto sistema dc comunicações, pela telecodo mundo, e indústrias concorrendo municações via satélite.
Além, a indústria bélica brasileira incomodava os Esta dos Unidos. Fuiropa Ocidental, e União Soviética: seus clientes importadores eram a Líbia, o Iraque, o Irã, Israel, os próprios Estados Unidos, Grã-Bretanha, França etc. Acima de tudo, não se cogitava de aumento de preços nos supermercados: meses c anos a fio, o consumidor cncontracai o mesmo custo para todos os produtos; e não ha\'ia dttrante os cinco prateleiras vaztas. como
A conseqüência é a de que os nossos jovens, hoje, antes de aprender a escrever no idioma naci onal. preferem freqüentar cursos de inglês.
Em face dessas realida des, é de indagar por qual motivo a mídia continua penalizando as Forças Armadas, excluindo-as da anistia concedida pelo próprio regime de 1964.
A razão é simples. Em 1964 os militares saíram às ruas, motivados pelos apelos e “marchas” da sociedade civil e dos po líticos, por entenderem que - no seu grosso - a classe política estava moralmcnte falida; entendimento que, anore-se, não seria inadequado nos dias atuais. Relembre-se, a propósito, que já no seu “Diário” de 1861, Dom Pedro II anotou só ver na cla.sse política interes.ses e disputas pessoais: o problema é antigo.
Em ^●irtude de sua constatação quanto à lalcnda da cla.sse política, o regime de 1964 cortou suas asas: com petências foram retiradas ao Congresso, exigências fo ram impostas à criação de partidos. Tudo isso provocou grande ressentimento dos políticos - sempre preocupa dos com sua situação pessoal, e não com a do País - e provocou retaliação após 1983.
Ocorre que, para tal retaliação, a classe política necessira\'a da comunicação de massa, da mídia: e esta também , os
fora coarctada no seu sensacionalismo e mercantilismo pela Revolução. Resultado: uniram-se ambas, após 1985, para e.-cecrar as Forças Armadas; temerosas - e, acautelando-se - de que não viessem a ser, no futtiro novamente reduzidas às suas verdadeiras dimensões.
Assim, por obra da mídia c da classe política as atuais gerações são levadas a abominar o período de 196419S5. Na verdade, se soubessem exatamente a realida de, talvez agradecessem por esse período, mormence nas circunstâncias em que ele se iniciou c desenvolveu.
Relembre-se, a partir de 1985 os consulados portu gueses no Brasil chegaram a ter um número flutuante e permanente, superior a 250.000 brasileiros pedindo visto para irem viver em Portugal; a cidade de Governa dor Valadares tornou-se campeã nacional de imigrados para os Estados Unidos. Hoje, brasileiros continuam indo buscar melhores oportunidades em Portugal, Es tados Unidos e Japão. Nada disso havia durante o denominado “ciclo militar”.
E, a censura? Com certeza, ela é uma instituição nacional. Nada pior do que a censura dc Floriano Peixoto, de Artur Bernardes nos seus quatro anos sob estado de sítio, e de Vareas.
Entretanto, muito pior é a censura atual da “democratura” civil que vivemos, com a mídia inteiramence aliada ao governo - cooptada e “bancada” - só
for dc interesse deste e das oligarquias dependem.
^’eicuIando o que das quais unia e outro “Fazem as cabeças” de incautos telespectadores, como foi no caso de um programa da Rede Globo - ‘Fantásdos remédios elaborados à tico” - sobre os “perigos base de er\'as medicinais como se não fosse isso o que os laboratórios fazem; c sobre assinada”, óbvia fonte de arrecadação para o l:,stado loteado por facções políticas que mal\'ei'sam imjninementeo dinheiro público arrecadado com a la! carteiia assinada”. Em qualquer j^aís que se preza, ninguém recolhe paraa pre\'idénc!U social: todos se aposentam ao limites de idade estabelecidos. CO dinheiro sai do recolhimento normal dos impostos.
Parece que está na hora de o povo brasileiro ser libertado dessa submissão, desse condicionamento de carteira o aumento da
atingir os consciências, feito a quatro mãos pela classe j-iolíiica c pela mídia. De ter. enfim, a sua Hi.^itória n.ão imii.s sujeita ã decomposição dos cadáveres, mas eonheeida e mantida na sua verdadeira feição e nos seus reais signi1 ser feira. ficados. É hora de alguma cois;
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A exemplo das novelas de Camilo Castelo Branco, Machado de Assis chegou a antecipar-se a Proust
m José Régio, no que sc refere à ficção, podemos dizer que se no.s deparam algumas obras de -í/inequívoca densidade psicológica, mas sem de terminismo, e isso desde Ojogo da cabra cega até às narrativas dcH velha casa (Uma gota de sangue, 1945; As raízes do futuro. 1947; Os avisos do destino, 1953),sem esquecer a no\’ela Davam oraíides passeios aos domingos (1941) e o romance O/, ríiicipe co))i orelhas de burro (1942), até chegarmos às Histórias de niulheres (1946).
Porque a análise de todas e.ssas obras ocuparia um espaço de reflexão crítica muito além dc uma simples intervenção, limitare mos as nossas considerações à analise do conto “Histórila de Rosa Brava conforme o texto inserido em Cotitos e tiovelas. com introdução dc Eugênio Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1999, p. 117 - 149.
Como bem observa Oscar Lopes, A obra de José Régio. Porto, 1956, o achado literário de umaintrospecção constante, estimulada pela psicanálise vulgarizada, dá a Régio pressão. Refletindo a segunda fase do Modernismo, sendo
e Lúcio Cardoso encontraram, no autor de Do77j Casmiirro e de Ademórias póstumas de Brás Cubas, uma tradição plcnamenre consolidada.
No caso dos escritores ò.?ipresençã. nomeadamente dc losc Régio, a sua produção literária apresenta “uni dade na diversidade”, para usarmos palavras suas em seu Diário. Ainda no Diário, escre^'e Régio: “Difícil será sustentar que n 'As raízes do futuro não haja a louvar ao menos a imaginação psicológica, a vibração de humani dade, e a maleabilidade do estilo.” E assim conclui: “Pode-se dizer, talvez, que, no Diário. há vários estilos: um para as análises psicológicas, outro para as descrições das paisagens ou interiores, outro para as cenas assinadas etc.”
embremos que __ Régio morreu um tanto magoado com a crítica que pouca atenção dava à sua obra de ficção em uma nova exa primeira a de Orpheit e a terceira a do Neo-realismo, do ponto de vista da literattira compa rada. nos escritores prescncistas apontam-se influências, entre vários outros, dc Proust, Stendhal, Valéry, Gide e Apollinairc. Isso. cm particular, no que se refere à busca dc um romance dc introspecção. Se, no século XIX, o romance dc atmosfera psicológica, em Portugal, foi mais romântico que realista, a e.xemplo das novelas dc Camilo Castelo Branco, no Brasil, Machado de Assis chegou a antecipar-se a Proust, na construção de um romance psicológico, hoje tiniversalmente reconhecido e aplaudido. Ainda no Brasil, já agora na primeira metade do século XX, Cornélio Pena. Otávio de Faria
Portanto, nos romances, novelas e contos. Régio sabia que importava muito “a obsen^ação miúda e humilde, a análise psicológica, a verdade interior sugerida pelo pormenor objetivo, e até uma espécie dc arte de miniatura...”, como se lê em carta a um jovem escri tor. E Eugênio Lisboa, na introdução já aqui referida, com razão, assinala que “os seus livros em prosa precisam de ser lidos, relidos e examinados.” A propó sito, lembremos que Régio morreu um tanto magoado com a crítica que pouca atenção dava à sua obra de ficção.
Vejamos, pois, no centenário do seu nascimento, pelo menos alguns traços que marcaram a sua obra ficcional, a começar pelo modo de estruturação de suas personagens, cm geral esféricas (Forster), cada uma apresentando particular problemática psicológica. Nesse sentido, bem se .sabe cjue, na construção das personagens, reside a tônica das narrativas dc caráter introspectivo.
Quanto ao método de apresentar as personagens, não diriamos que seja, como seria de desejar-se, domi-
os ou
nantemente intrínseco ou dramático, mas extrínseco descritivo. Veja-se, por exemplo, no citado conto “História de Rosa Brava”, como é apresentada a perso nagem Marilia:
Desde muito nova, demais, se recomendou Marilia por modos mui afáveis, seus gestos mesurados e macios, movimentos de cisne, e um sorriso e um meio baixar
progenitores {Margarida e Rodrigo) c os filhos Isabel, a mais velha; Rosa Brava, uma das personagens ccnrrais da narrativa c que dá título ao conto; o rapaz de cognome Chico, único filho, entre filhas, pois o outio - Quim, rinalmentc,
Quinziro - morreu com um ano e meio, e a doce e meiga Marilia, outra personagem ^ narrativa, ao lado do primo e depois marido, Rogério Luís, o Lu-Lu, e Rosa Brava, a estigmatizada. Como confidentes, tem-se central da seus seus depálpebras tão doces, tão discretos, que eram a sedução pouco f-ágil, no sentir de seu
de toda a gente. Beleza primo Rogério, (p.l 17). Como se vê, a personagem aqui é apresentada pelo rador que lhe traça o perfil externamenre. Assim, ela não se apresenta em função de seu comportamento narrativa. Mas há, tam bém, recurso ao método o intrínseco ou dramático, | revelando-se a psicologia ^ um nar na esta ultima assim carac terizada como filh giinda: monstro na famíli da personagem por de monólogos ou diálo gos. Veja-se, no mesmo conto, p. 124, o diálogo dos progenitores Marilia, em relação não a ela, mas ao seu irmão Chico, único rapaz entre
personagens secundárias ou a tia Glória, mãe de Rogério Luís e madrinha da doce Marilia; Bernardo Painho, que se casa com Isabel; o Dr, Simão; Treza Mulata; e a Velha Gertrudes, entre outras. O núcleo dramático essencial do conto vai ser estruturado em função de três personagens: a doce Marilia, o primo Rogé rio Luís c Rosa Brava, mesmo
a sé¬ tima espécie de -lít; um ser anormal, uma criatu ra incompreensível de agreste, um bicho malia no ou um espírito ruim ” (op. cir. p. 126). E tal caracterização é ícii; gundo da própria família
as raparigas: — Tem ao menos vergo nha do teu iflho, que já entende o que dizes. E bater-lhe. \ sepomo de vista nem sempre coincidente com o ponto de vista do narrador da narrativa. Veja-se, na descrição do narrador: se tornares a não lhe de beijos depois. - Mal lhe toqiiei: fez um alarido!...
—Nisso de alarido, tam bém tem a quem sair!... — Tocou, sim, pai,desmentiu o petiz- ba teu-me! Masjádisse que não torna...
Com três ou quatro anos, já tinha birras c teimosias indomáveis; ao
que pode ría parecer-se com Chico, é certo. Mas o Chico era rapaz, que diabo! Ou, en tão, chorava, chorava, cho rava horas esquecidas
No pequeno diálogo, pai repreende à mãe por ter batido no filho e o filho desmente a mãe na presença do pai. que lhe dá pleno apoio. Isso revela que Castelo de Vide, é (numa palavra apenas) goza de certos 0 grande romancista analisa a sociedade sob a aparência fictícia norc-se: o sem motivo justificado ou visível, - chorava pertinazmente certos dias chove. E debalde lhe perguntar. ambiente da lam como em que tinha, que lhe doía, por que chorava. Era de fiaze beça! Obrigada a lembrar-se de ela à custa de a ouvir, a mãe acabaria por se desesperar. Batia-lhe e gritava: - Ora agora berra br ai, diabo! 126). 'observe-se: Rosa podia parecer com Chico era homem, que diabo! A mãe batia nela, com apoio do , como no caso do filho homem. Rosa era estigmatizada, apenas por ser. narrativa, em machista. O filho, por ser homem privilégios, ao contrário do que se verifica com as filhas, mulheres. E quem mais sofre com isso, adiante veremos, vai ser, precisamente. Rosa Brava. O conto em questão, cm dez seqüéncias narrativas, apresenta estrutura de enredo com etapas de apresenta ção, involução, clímax, preparação para o desenlace e desenlace sutilmente entrelaçadas. Em síntese, uma fa mília alentejana, ao longo do percurso narrativo, é apre sentada ao leitor, membro por membro, cada um com suas inconfundíveis características psicológicas. A saber: perdera ca por serem mas este pai, que não protest Como se vê, todo o direito a isso. incognoscível e única. A sua ava com plexa e admirável personalidade forte, afinal, mdti iu a Velha Gertrudes a levá-la à bruxa Treza Mulata, com que fazia e desfazia bruxedos, talhíiva o ar, expelia os
demônios dos corpos, deitava cartas, lia nas mãos da gente o que está para vir...” (p. 127). Mais adiante, ainda escreve o narrador:
Esperneando e berrando. Rosa fora balanceada, em cruz, por cima duni fogareiro cm que ardiam ervas misteriosas, ao som de uma cantilena que a Mulata ia respondendo entre os dentes, num tom compenetrado e nocturno, com latins mascarados, nomes de bichos peçonhentos, palavrasa modo de feias, apelos aos santos e aos diabos. Pois senhores, a pequena padccente chega va a morder a Mulata nas mãos! Como o fumo das ervas a engasgava, não cessava de rouquejar e torcer-se. Fora necessária a força da bruxa para a dominar. Mas nisso vira esta um bom sinal: Escorraçados desse pequeno corpo danado, que já tinhain por seu, os mafarricos não se iriam sem o atanazarem... (p. 127).
Por tudo isso - e ainda por muito mais! - Rosa era conhecida em casa. na vizinhança em Castelo de Vide, em toda parte, pelo apelido ou cognome de Brava\ a Rosa Brava, a que ao próprio pai inspirava espanto e repugnância, “como se nela fermentassem forças desconhecidas, temíveis, odiosas
declarar, “ao fundo do quintal, sob as nespereiras” (p. 137): “Gosto de ti a valer. Mais que de ninguém... pois é com paixão. Rosa Brava, estou doido por ti!” (p. 138).
E acrescenta:
— Nunca disse 7iada a Marilia que ine coinprometesse com ela; 7iem a ninguém. Não tenho culpa dos projectos que façam sobre a minha pessoa. Eu, é em ti que penso quando falo com outras. E écojitigo que hei-de casar, se me quiseres... (p. 138).
À noite, sozinha em seu quarto, informa o narrador que Rosa Brava havia sustentado uma grande luta: “Pela primeira vez se via ao espelho reparando em si, nos seus traços e feições, comparando-os mentalmente com os das irmãs, interrogando-os, interrogando-se”.
E vem este admirável monólogo interior: “Era feia? Não era feia! Magra e um pouco desajeitada, sim; sobre tudo porque bem pouco tratava de se ajeitar.” (p. 139).
omo se ve, Rosa era estigmatizada apenas por ser, com todo o direito a isso, incognoscível e única que a tornassem um perigoso mistério vivo.” (p. 133).
Pois bem, chegtiemos logo ao nú cleo dramático essencial do conto: o primo Rogério Luís. habituado a obe decer à mãe, tia Glória, exatamente o Lu-Lu, que estava desti nado, por um complô familiar, a casarse com a doce Marilia, se enamorou de Rosa. A mãe o adorava. Veja-se: (fuando Rogério vinha a férias (ele estudava Direito, vontade da Glória andava em êxtase! Ele pegava no seu livro favorito, dela, e com suave e longínqua ironia declamava:
São estes os sítios?
São estes, mas eu
O mesmo não sou.
Marilia tu chamas? Espera, que eu vou.
Portanto, Rosa Brava, até então es tigmatizada e marginalizada, passa a ocupar o centro da narrativa, conquis tando - escreve o narrador - “um dos melhores partidos da redondeza; se não o melhor: um perfeito rapaz, e rico, inteligente, delicado, admirado..., aque le de quem ninguém supunha haver mulher digna senão a linda Marilia, a jóia da casa! Esse a escolher a ela,preferira Rosa Brava.” (p. 139).
O narrador conclui: “E tia CRória derretida! A verda de é que toda a melhor sociedade de Castelo de Vide mais ou menos admirava Rogério.” (p.l34).
Mas adiante, lê-se ainda: “Para os tios. tornara-se ele
numas férias. sem vocaçao e por mae, em Coimbra), tia a grande esperança do genro ideal: tão rico, tão instru ído, tão delicado e afável de feitio, impossível era que não fizesse feliz a mimosa Marilia.” (p. 134-135)-
E então, para resumir, vem a preparação para o desenlace e o pixSprio desenlace da narrativa, em termos que só breud poderia explicar: o Rogério Luís, o Lu-Lu, ao contrário de rodas as perspectivas, apaixona-se não por Marilia, mas por Rosa Bra\'a, Chega mesmo a
Mas o monólogo interior prossegue: Simidtaneainente se poderia vmgar e fa zer bem às mesmas pessoas de quem se vingava, porque ia ser rica! Ia ser feliz! Embora não o pudesse ter por seu verda deiro senhor, Rogério não lhe desagrada va. Á7ites seria ela que o dojninaria, (eis, talvez, a razão por que se sentia inclinada para ele) mas com reconhecimento: Não era ele a única pessoa queparecia adivinhála? Qtic lhe queria? Qjiesofiapor ela? Recusaria a única mão que se lhe oferecia no mimdo? Repeliria esta oportunidade de fazerfeliz um ser humario? E por quê? Porque os pais haviain sonhado essa ynão para o ai-jesus da Marília?OuaprópriaMariliajáatinhaasua?(p. 141). Mas quatro dias depois, ao reencontrar-se com Rogé rio e a ouvir dele a frase “Quero casar contigo, não posso ser feliz com nenhuma outra”, Rosa, fiel a si mesma, simplesmente, não aceita: “- Eu não sou mulher que te sin^a, Lu-Lu, nem tu és homem para mim.” (p. 144). Mas, acrescente-se para concluir, que Rogério ainda não se foi, porque Rosa o chamou: — Rogério... por que havemos de ifcar mal? Fui grosseira... perdoa. As minhas palavras não diziam 0 que penso de ti. Sei que és um excelente rapaz, eu é que não te mereço. Não precisas ir muito longe para encontrares quem te mereça... bem sabes. O que desejo é que sejas feliz! E pela niinha parte... podes
protecionismo, que aos poucos volte ao normal a situação argentina. Tudo pode acontecer, mas, se quisermos ficar no terreno da “tirania dos fatos”, há como esconder que Quando os cães difícil imaginar que haverá indispensável aos crescimento tabela, das dos periféricos como nós.
das eleições francesas. Em um caso como saiu vitoriosa no outro, a opinião unânime dos mercados e analistas econômicos era contrária, mas de pouco ou nada valeu. O segundo aspecto -- particularmente presente barril de pólvora do Oriente Médio e nas primeiras rachaduras na fortaleza do dólar - é que tais fatos aumentam sensivelmente a já alta taxa de incerteza, imprevisibilidade e insegurança onal. Não quer isso dizer que se caminha necessaria- - a catástrofe. É possível que o futuro nos boas surpresas que o conflito palestino-israecaminho da paz, que as comerciais exorcizem os fantasmas do nao os tempos se anunciam bicudos, da guerra voltam a correr soltos, é clima de confiança investimentos de longo prazo e ao acelerado das economias centrais e, por no do sistema internacimente para reser\'e lense acabe por encontrar negociações R u D c N s R I c u I' H R o e sccretnrio-gernl (Id Uuctnd (Cotifcvínicia dns M/íçõcs Unidas sobre Comércio e Desenvolvimoito)
Menor preço pel mesmo
Síão é possível haver um só homem ivre numa sociedade sem liberdade
Direitos civis e liberdade econômica
IWIItoii Váirga»
Dircitos, nós os temos. Sabemos que eles são jiossos. Podemos Inclusive deixar de reclama-
los para, estrategicamente, alcançar maiores benefícios. E possível que tenha o direito de impedir que outros digam o que queiram. Um liberal, entretan to, afirmaria; “não estou de acordo com o que dizes; mas, batcr-me-ci até a morte para defender teu direito de dizê-lo”. Portanto, é possível que hajam direitos meus contrários aos interesses dos outros e que, defen dendo os meus. restrinjo o dos outros. É, aliás, esta a crise atual do liberalismo.
A liberdade, entretanto, nao é mi nha nem tua. Ela não nos pertence; pelo contrário: é a liberdade que nos tem c nos protege. “Liberdade abre as asas sobre nós”, invoca o hino patrióti co. Assim, a liberdade é um ambiente em que se vive; por isso não c possível haver um só homem livre numa socie dade sem liberdade. A liberdade invo-
Engenheiro e acadêmico paulista
Já nessa época a lei romana tinha estabelecido e assegurado ao povo romano seus direitos civis. E, por isso mesmo, apoiado em seus direitos, o cidadão roma no Paulo de Tarso, pode espalhar e difundir o cristianis mo, minando as bases do Império Romano, ao pregar a liberdade como vida cristã.
Numa generalização, apenas sugestiva mas não do cumentada, poder-se-ia dizer que, desde então, a histó ria do ocidente vem contornando o conflito (ou a confusão) entre a idéia de direito - doada ao povo romano - e a liberdade - como maneira de ser humana.
Um dos episódios mais interessan tes desse conflito de idéias, deu-se quan do, no século XVII, um judeu-português de Antuérpia procurou demons trar, num tratado de moral, da mesma demonstram os inguém tem o poder de dar a liberdade. Ela existe ou não existe
qtie, para ele, leis absurdas, conflitantes e irracionais não poderiam existir. E preciso, porém, lembrar que Spinosa não pretendeu mais que exprimir, cm termos racionais, a crença bíblica que Deus se dirigia aos homens através da lei mosaica. Portanto, para ele, viver em liberdade, isto é de acordo com a lei, era vii'er com Deus, sob Sua liberdade. Isto mesmo foi expresso, na “Declaração da Independência’ na, no segundo item do seu preâmbulo: “os homens foram dotados por Deus com certos direitos inalienáveis, quais estão: a vida, a liberdade e a procura da felicidade”. Deus então aparece como o grande legisla dor que doa a liberdade aos homens. Nessas condições não SC pode entender a liberdade como um “direito civil”. Nesse contexto ela é um “direito natural' baseamencaentre os
maneira em que se teoremas de geometria, que a liberdade é a lei. Isto é, atuaria livremente aquele que atuasse sempre de acordo com as leis estabelecidas racionalmente. Pois ca-sc, propicia-sc, mas nunca se a rece be de graça; pelo contrário cia é que nos recebe e domina. “Somos condenados a liberdade”, diz Sartre ao referir-se à condição humana de existência no mundo de aqui e agora. É possível fugir a liberdade (conio quem foge de casa): c possível impedir que outros vivam livremente; mas não é possível nem ter nem impor a liberdade. No início da nossa era, um judeu-romano de Tarso disse, ao edificar o cristianismo: “ama e fiça o que quiser”. Quis dizer que o homem livre de fizer tudo o que deseja é aquele de quem cada ato é um ato de amor ao próximo. Isto é: para os cristãos viver em liberdade é crer na primeira das leis; “ame ao próximo como a ti mesmo”. I alvez seja por isso mesmo que entre nós a deturpação da liberdade, a libertinagem, está tão ligada A deturpação do amor.
Através de cartas, Edmuiid Wilson e Vladimir Nabokov confessaram sua mútua admiração
Concórdia de letrados
Liiiz UslHMi
Amais famosa polêmica daliceracuranorce-americana ceve como assunco, por escranho que pare ça, a liceraciira russa, e como procagoniscas o crícico Edmund Wilson, aucor famoso de Rumo h Estação Finlândia, e Vladimir Nabokov, escricor russo radicado nos Escados Unidos, mundialmencc conheci do por seu romance Lolita. Os anos crícicos dessa relação foram 1965 e 1966, mas ances e depois da crise eles crocaram carcas confessando sua múcua admiração e lembrando os bons cempos, acé a morre dc Wilson. As carcas crocadas pelos dois durance 30 anos, edicadas, anocadas e escudadas num ensaio por Simon Karlinsky, foram publicadas na obra Dear Bnnny, Dear Volódyn. The NabokoV- Wilson Letters, 1940-1971 (Caro Coelho, Caro Volódia. A corres pondência de Nabokov e Wilson).
A hiscória desses dois liceracos não podia ser mais diference. A primeira lembrança que Edmund Wilson cinha de sua mãe era a de uma surra que ela lhe deu com uma escova de cabelo. Ele foi soldado na Primeira Guerra Mun dial e macou muicos alemães nas crincheiras de Verdun c do Marne. De
volta a seu pafs, era um sujeito tacitur no e entediado, que só sentia prazer na hia dos autores de sua bibliote-
Ensaísta
escudos na Alemanha c na Inglarcrra, após a cornada de poder pelos bolcheviscas cm 1917. Scupaifoi assassinado radical dircicisca. Como Wilson, foi devorador dc li^'ros, mas, graças à sua
cm Berlim por um desde cedo um formação, bascance criccrioso nas e.scolhas e na adminis tração do seu tempo. Ainda jo^'em, alem de ru.sso íalava flucncemcncc alemão, francês e inglês. Quando mudouEstados Unidos durance a Segunda Guerra, já SC ]')ara os havia traduzido para o inglês alguns dos seus ensaios e Dois deles, bivitntion to a Behcading pequenos romances (Convite para uma Decapitação) c The Gifi (A Dádiva), jnandados por ele ao críiico Edmund Wilson, que gostou do que leu. A troca dc cartas entre eles começou 1940, quando Nobokov ainda se Nabokoff Um primo seu dizia-lhc que cra absurdo duas pessoas de arecidos iião se conhcccforam em
Liando foi internado num sanatório para doentes nervosos acusou as mulheres de sua vida de o terem levado à loucura assinava gostos tao p melhor, c deu-lhe o endereço dc rem WiLson. Durance três décadas eles tro¬ caram cartas e se visitaram, com as rcspccrivas esposas, t|ue também fica ram muito amigas. Seu assunto cra naturalmcnce sua paixão particular, a literatura. E literatura russa dc prefe rência, embora discutissem igualmenDickens, janc Austen, Elaubert, ProLisc, Joyce, Edna Millay e Hcrmann Broch, além de obscuros poetas russos, naturalmente. Nabokov exerceu desde começo grande influência em son, indicando-lhc autores russos que o norte-america no mal conhecia, embora tivesse escudado a língua russa e fosse um antigo freqüentador das traduções inglesas dc Pushkin, 'Eolscoi c Turgueniev. O grande desafio de Wilson na época era exatamenre. aproveitando seu notá vel manejo do inglês, traduzir os grandes russos com a máxima fidelidade possível ao espírito do original.
ce compan quando se cansava das prostitutas, amorosa deu-lhe o ca. Sua inquietação apelido de Coelho, e quando foi inter nado num sanarório para doentes nervosos acusou as mullicres de sua vida de o terem levado à loucura. Nos intervalos entre seus casos de amor e internações psiquilia desesperadamenre e acabou acumulando apreciáveis conhecimcnios dc historia, litcratuia e linWil- o ácricas. guas estrangeiras.
Vladimir Nabokov era filho de um político liberal foi chefe dc chancelaria e alto funcionário do em São Petersburgo. russo que governo provisório de Kerenslc) Volódia como era chamado cm família, recebeu a educa¬ ção esmerada dos jovens ricos na Rússia c continuou seus
A afinidade e múcua simpatia dos dois apoiava-sc no fato dc serem ambos cultos e brilhantes, dominancio campos ligciramencc diferentes onde se consideravam respectivamente mestres absolutos. Para eles, não havia
VlaríiimiBr DimBtríov1cB!i Nabokov, nasceu em São peteesbuego emni X899 o veôo a falecer em Lausane a 2 tJe lulbo 1977. VOadinsair Nabokov é simplesmente o criador de “Lolita”, o que já é muito
substiruto para a excelência literária. Edmund Wilson cinha acabado de publicar Rumo à Estação FÍ7ilândia, um estudo admirável do marxismo-leninismo na práti ca, e Nabokov havia escrito A Dádiva, uma análise ficcional dos sonhos políticos e filosóficos russos. Sobre esse tema comum eles conversaram em longas e bem pensadas carcas, durance um quarto de século. Outro ponto entre eles era o romance de Wilson Me^nórias do Condado de Hecate, que contribuiu para o colapso do moralismo vitoriano nos Estados Unidos, tal como Lolita, de Vladimir Nabokov, faria também. O Coelho sensual e sofisticado que se revelara na obra do primei ro, era do mesmo estofo do Humbert Humberc que se materializou no livro do secundo. Os autores se uniam nessa ponte lançada por sci,' personagens, e escreviam deliciados sobre sua vingança comum.
A primeira discordância entre eles formou-se em torno de Lênin. Wilson achava que Scalin havia traído a causa do marxismo, impondo uma ditadura que do
Edmund Wiison, 1895 -1972. É considerado um dos críticos literários e sociais americanos dos mais importantes do século 20. “Rumo ã estação Finlândia” é um clássico sobre acontecimentos do século
proletariado só tinha o nome. Nabokov pensava que todo o mal do stalinismo estava latente no leninismo. Para ele, uma abordagem honesta do regime soviético tinha de passar por um conhecimento prévio e profun do do temperamento russo, que molda a ideologia e a filosofia a seu jeito. Scalin era Ivã, o Terrível, com uma desculpa ideológica debaixo do braço. Para entender o mundo soviético, dizia Vladimir Nabokov numa carta, o ideal era ter nascido na Rússia e ser bom observador. Se isso não fosse programado pelo destino, era preciso ler dedicação a obra de Gogol (a começar por Almas Mortas), Turgueniev Anotações de um Desportista e Um Ninho de Gente Boa) e Andrei Bely (a partir de Petersburgo).
Wilson não bateu pé na questão porque até aquela época dava um grande crédito ao amigo em todas as discussões. Mas à medida em que o norte-americano avançou nos estudos de língua russa, e o outro revelou um certo narcisismo, o Coelho passou a discutir de com
igual para igual com ele. Volódia não se esquecia de que devia a Wilson todo o apoio que recebeu quando um exilado russo quase anônio meio chegou da Europa como . Foi o norte-americano que o levou para universitário e o aproximou da imprensa literaria respei tável (para um europeu culto) nos Estados Unidos. Seus artigos no Atlantic Monthly, no The New Repuhlic e no Literary Chronicle tinham marcado o começo de tudo. Os críticos que analisaram mais tarde a célebre polêmica dois intelectuais e amigos admitiam que Wilson havia provocado o tigre que havia em Nabokov com vara quando perdeu a cerimônia com ele.
mento no amigo que o “traiu”. No New York limes Review of Books, Wilson vergastou pela última vez o tradutor do Onegiiin: “Ele não aceita crítica e se diz único e incomparável, afirmando que todos que discor dam dele são ignorantes ou ridículos. Seus maus modos literários revelam sua impossibilidade de argumentar, no caso.”
curta.
A história tem de ser contada desde o início para ser melhor compreendida. Em janeiro de 1964 que permaneceu na Europa, o casal Wilson visitou os Nabokov na Suíça, para onde estes haviam mudado depois do sucesso de Lolita. Hospedado no Montreux Palace Hotel, onde viveu o resto dos seus dias, Nabokov recebeu os amigos com a efusão habitual. Meses depois, no ensoube que exatamente naqueles dias Wilson havia preparado mental mente uma crítica impiedosa aos quatro volumes que o russo havia traduzido e tado da obra Eugene Oneguin, de Pushkin, e não lhe fizera qtialquer men ção ao fato durante a visita.
E então vem o comentário mais cáustico de Wilson: “Seu estilo e perverso, pedante, inaceitável. O sr. Nabokov passa inúmeras páginas comparando palavras e frases de vários tradutores das estrofes de Pushkin”, e não prova nada. Wilson analisa, cruel: “A virtuosidade verbal de Nabokov revela seu desejo de punir-se, bem como ao leitor, por suas tendências dostoievskianas sadomasoquistas já notadas por Sartre.”
Num comentário à obra de Nabokov N Verdadeira
Vida de Sebvasião Knight, ele o havia comparado a Gogol, ProListc Kafl-ta, aos quais o russo amava. Marx e Agora ele o comparava Dostoiévski, que Vladimir desprezava. A referência a Sartre, então, deve ter tanto. enlouquecido o russo, que o considera va seu inimigo pessoal. Cinco anos de pois, passado o vcndaval, os dois se corresponderam brevemente, por inici ativa de Nabokov. Wilson tivera um
romance Memórias
vitoriano nos Estados Unidos comen
A dura resenha crítica saiu no Neiv York Review ofBooks de 15 de julho de 1965, e ela praticamente destruiu uma amizade que havia começado em 1940, quando Nabokov chegou à América. Em fevereiro de 1966, saiu na revista Encounter a resposta devastadora do críticos. Em 1971, no
russo aos seus mesmo ano em que morreu, Wilson fez de sua resenha sobre o uma revisão
do Condado de Hecate contribuiu para o colapso do moralismo
Oneguin, acrescentando alguma crítica a romances de Nabokov, mas esse texto renovadamente duro só foi publicado após sua morte, no livro A Windoiv on Rússia (Uma Janela para a Rússia), em 1972. O que mais machucou o autor de Lolita foi o silêncio de Wilson durante suas férias na casa dos Nabokov em Montreux, eles que eram amigos e confi dentes. Traição da mais reles, nada literário ou estético pendendo do caso, segundo o magoado Volódia. A essa altura, Nabokov era autor consagrado, e de fato não se impressionou com os argumentos críticos do de outros críticos. Uma nova edição do mereceu dele uma só vírgula de mudança, ou amigo
Oneguin não radução quase literal da obra de Pushkin voltou a ser ticada, agora por outros especialistas em literatura eslava, para os quais Nabokov havia sacrificado tudo à inclusive a elegância, a eufonia, a clareza, o
eat cri sua teoria, bom gosto, o falar moderno e até a gramática”. O pcj-maneceu impávido
derrame c tinha o braço direito paralisa do. Volódia foi novamente carinhoso com o amigo Coelho, como nos velhos tempos. Wilson contou-lhc então que tinha acabado de mandar (março de 1971) para a revista The New Yorkervwxí relato de sua visita a Nabokov, na época da grande crise entre os dois, relato baseado num diário que Wilson mante ve a vida inteira.
“Espero - dizia ele nessa última carta que escreveu ao amigo russo - que esse relato não desequilibre novamente nossas relações pes soais. Isso não deve acontecer.” Só não aconteceu porque Wilson morreu pouco depois, c Nabokov já não tinha um antagonista. Mas Nabokov vingou-se no seu livro Fala, Memória, contando: “O que me surpreen deu sempre é que aquelas entradas no seu diário ele as fez enquanto era meu hóspede em Ithaca (oncie Nabokov lecionava), e revelam sentimentos e idéias tão vingati vos e mesquinhos na época que, se tivessem sido expres sos de viva voz, eu lhe teria pedido que se retirasse de minha casa imediatamente.
Denr Bunny, Dear Volodya. The Nabokov-Wilson Letters, 1940-1971, introduzida por Sinuni Karlinsky. University of Califórnia Press. 388 págs.
Luiz Carlos Lisboa russo mas descarregou seu ressenti- é escritor e jornalista brasileiro
China,
índia, Rússia e México estão se esforçando para se reconstruir
Países ricos, mas conservadores
Robçrt J, Samiieison
As vezes as maiores verdades são as mais óbvias e menos levadas em consideração. Uma delas é a .. . seguinte: sociedades prósperas são profunda¬ mente conservadoras. O conseiv^adorismo não é partidá rio ou ideológico. E pessoal e psicológico, como quando se diz: “Por favor, não perturbe, deixe as coisas ficarem como estão”. Vemos essa verdade confirmada rotineira mente. São as sociedades mais pobres (China, Índia, Rússia, México) que estão sc esforçando para se recons truir. Enquanto isso, os enclaves de grande prosperidade Lindo - Estados Unidos, Europa e Japão - estão essendalmente contentes com no m o que têm. Não ceder se tornou uma filosofia públiíca, praticada igualmente pela esquerda e pela direita.
Prêmio Nobel
mantêm a tradição, causariam o sofrimento alheio, se não o fizessem.
“Há uma surpreendente incoerência entre o que os dados econômicos demonstram e o modo de vida cotidiano das pessoas”, escreve a cientista política Susan Pharr, de Harv^ard. As lojas estão congestionadas com clientes. A renda é alta, e a maioria tem emprego.
“Para grande número de japoneses, a década perdida foÍ surpreendentemente boa- talvez seja por isso que os líderes e o povo, na mesma medida, têm relutado em fazer uma reforma econômica.”
No computo geral, talvez isso seja bom. Desestimula ondas de experi mentações dilaceradoras e provavclinfrutíferas. Contudo, o conservadorismo se torna causador do s europeus têm resistido a mudanças de fatores relevantes que impedem a criação de empregos mente próprio fracasso quando impede os países de atacarem problemas inegá veis. Nos EUA, o Conçresso e a Casa D Branca não pode reciuzir despesas com programas ou desnecessários ou ineficientes. As m pessoas sc sentem com pleno direito a certos benefícios. Há gente que será prejudicada. O Japão e a Europa estão ainda mais firmemente atados a essa idéia de não ceder.
No Japão, a economia teve um desempenho tão ruim que os últimos dez anos agora levam a pecha de “a década perdida”. Em 1990, odesempregoerade2,l%. Agora está beirando os 6%. Apesar disso, os japoneses não conseguiram mobilizar entusiasmo por ações deci sivas (baixa contábil acelerada de empréstimos bancári os incobráveis, mais competição em setores protegidos - agricultura, construção, varejo) que poderiam final mente melhorar o crescimento econômico. As pessoas
É isso precisamente. A história é semelhante na Europa, onde a prospe ridade generalizada faz parecerem tole ráveis os índices de desemprego (atual mente, acima de 8% na zona do euro).
Os europeus têm resistido a mudanças de fatores relevantes que impedem a criação de empregos: altos impostos sobre a folha de pagamento, restrições a demissões e salário mínimo elevado. Em certo nível de raciocínio, não se pode reclamar. Se os japoneses preferem mais entretenimento e menos competi ção a um maior crescimento econômi co, a opção cabe a eles. Recente matéria de capa á?iNewsweek, edição para aAsia, capta a disposição de animo: “O Japão não se preocupa. O antigo demolidor parece destinado a tornar-se a Suíça da Ásia - rico, satisfeito e sem sobressaltos”. Em 1990, os pregados japoneses, em média, trabalharam 212 ho ras mais, por ano, do que os americanos, diz a Organiza ção para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em 1999, trabalharam 31 horas menos. De forma parecida, a maioria dos europeus rejeitou o modelo americano de economia de mercado. Os europeus querem mais proteção social. O acréscimo de 2% ou 3% no índice de desemprego para os trabalha-
Os paisos não podem ser economicamente conservadores: ficam sempre pobres
osos benefícios concedidos ser um preço pequeno pela dores, que ganham os vantaj a desempregados, parece adicional dos mais de 90% restantes. Sc essas e com os custos dos segurança opções são democráticas - refletindo a vontade popular há de ruim nisso? Apenas isto: a escolha pode dar fracasso e ser até mesmo suicida.
A economia japonesa depende atualmente de volu mosos déficits do governo. Porém, nenhum país pode aumentar continuamente a dívida do governo com pidez do que o crescimento da receitaque o Japão está fazendo. Em 2002 que o correr do tempo.
O que melhor exemplifica a rejeição coleci\-a é a recusa cm lidar com a questão dos idosos programas de aposentadoria íinanciados pelo go\vrno. - em sociedades avançadas - ficarão muito caros com
Nos Estados Unidos, os -o que causa ao dirigentes políticos nao ●aduais e modestos pensam seriamente cm aumentos gi do limite de idade para aposentadoria ou em redução de benefícios da Previciéncia Social e do seguro-saiidc para bigüidadc européia e semelhanie a natalidade é menor, os aposentadoria chega mais cedo.
Na Alemanha e na Itália, a média é de 61 anos. Esses 20 anos ou 25 anos. na idosos. A am mas as e mais ra pressões são piores porejue benefícios maiores e a a precisamente o dívida total do governo alcançará 142% da renda OCDE. Em 1990, a dívida era de nacional, prevê 65% do Produto Interno Bruto (PIB) - cm números de 2002. nos EUA a proporção é dc 58% do PIB.
A menos que o Japão possa induzir um crescimento econômico mais rápido - e acabar com sua dependência do endividamento um dia virá uma crise imensa. Isso inclui a possibilidade de não pagar a dívida. Os emprestadores podem se recusar a fazer empréstiporque não acreditam que o ser\4ço da dívida possa Isso poderia levar <à falência instituições fmana aposentados viverão outros expectativa média.
Na Erança, os homens se aposenram aos 59 anos. em média, diz o Centro de Desenvolvimento P.srratégico e Estudos Internacionais (CSLS. pelas iniciais em inglês).
Os governos europeus já gasn PIB. Pelas estimativas oficiais, os programas de apo sentadoria elevarão esses custos consideravelmente. Entretanto, as cstimatis'^as oficiais são provavelmente baixas, como mostra Richard Jackson num no\'o esiuCSIS. Ele se vale de suposições menos generosas de expectativa de vida, mftalidade e gastos com saúde, para concluir que os aumentos de custos poderiam ser 70% maiores no próximo meio sécu! modos, será inevitável lazer imensas de 40% a 50% do im mos ser pago.
ceiras que já mantêm carteiras de empréstimos ao gover no. Só porque o Japão é mais rico do que a Argentina, isso não significa que seja in\ailnerável a um abalo financeiro parecido. As práticas políticas européias são destrutivas desemprego adicional não cem distribuição do para o O. porque o iforme. Na França, o desemprego na fúxa etária entre 15 e 24 anos era de 21% em 2000. Na Itália, os números chegavam a .52%, enquanto nos EUA o índice era de 9%. Isso explica cm parte jior que a Europa tem problemas para assimilar imigrantes mais jovens. Eis aí um conservadorismo, nasuapior versão: relutância a adaptar-se a mudanças inevitáveis c perigos óbvios. Os americanos não devem se vangloriar, pois nosso sistema uma paralisia semelhante. A prosperidade
De ambos os Lin mudanças - um dia. Mas esse dia não é hoje. O impulso instintivo faz adiar. Não importa que as pequenas mudanças entes sofridos agora possam evitar grandes mtidanças e tarde. O “mais tarde” fica num futuro e os mcon\'eni' rupturas mais distante. Não é digno de preoctipação. A ilusão c rcspeiobrigatória. Todos podemos ser conser- tavel, are mesmo \’adores agora, e talvez insensatos também. jiadece de transforma num narcótico, acostumando as pessoas a pra zeres imediatos e entorpecendo-as ante problemas futuros. se (Tynnscrito, Anta venin, Ac “O F^ídAo Ac S. P/7iilo)